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20
dezembro de 2002 DIREITOS HUMANOS O QUE VOCÊ TEM A VER COM ISSO?

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02

DIREITOS HUMANOSO QUE VOCÊ TEM A VER COM ISSO?

O Olhar atento

S e eu morrer, morre comigo um certo modo de ver,disse o poeta. Um poeta é só isso: um certo modo de

ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar.Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o quevocê vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O quenos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosi-dade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.(...) Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E ve-mos? Não, não vemos. (...) Nossos olhos se gastam nodia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração omonstro da indiferença.

Otto Lara Resende

O Olhar atento

S e eu morrer, morre comigo um certo modo de ver,disse o poeta. Um poeta é só isso: um certo modo de

ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar.Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o quevocê vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O quenos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosi-dade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.(...) Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E ve-mos? Não, não vemos. (...) Nossos olhos se gastam nodia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração omonstro da indiferença.

Otto Lara Resende

LUPA

1

Os participantes desse projeto perceberamcom outros olhos aquilo que está sempre próximo, mas ninguém enxer-

ga direito: as promoções e violações dosnossos direitos à saúde, educação, igualdade, se-

gurança, moradia, trabalho e renda, cultura e lazer. Você também pode ficar de olho aberto!

A Lupa que você tem nasmãos é mais do que uma revista, é

um jeito de olhar, se mover, ter ati-tude diante do que se vê. Esse

é o recado das 180

observadores, moni-tores e coordenadoresque ampliaram a maneira

como enxergavam os seus direitos e deveresnas 27 comunidades que participaram da Rede

de Observatórios de Direitos Humanos. A Rede de Observatórios é umprojeto coordenado pelo Instituto São Paulo contra a Violência e

Núcleo de Estudos da Violência, da Universidadede São Paulo, com apoio da Secretaria deEstado de Direitos Humanos e Secretaria deEstado de Assistência Social, do governo fe-

deral. Também foram reunidas outras 35 orga-nizações, como associações demoradores, organizações

não-governa-mentais e

centros depesquisa.

Chega! Está na hora de enxergar.

Chega! Está na hora de falar.

Chega! Está na hora de ouvir.

Chega! Está na hora de acordar!

Eu sou uma pessoa, você é outra.

A minha luta é um passo pequeno, masse você lutar comigo, o passo aumenta.

Vem comigo! Vem com a gentelutar pelos nossos direitos!

ObserObservatório ontem e hojevatório ontem e hoje

N o ano 2000, um grupo de jovens da periferia de SãoPaulo colocou em prática, pela primeira vez, o proje-

to Observatório de Direitos Humanos. Eles perceberamuma série de violações e promoções de seus direitos nos

bairros de Jardim Ângela, Capão Redondo eHeliópolis, em São Paulo, e em Jardim

Jacira, em Itapecirica da Serra. Mais doque isso, constataram que a sua comu-

nidade se mobilizava para buscarsoluções. Na segunda etapa,

em 2001, os grupos traba-lharam em torno

do eixoedu-

cação,entrevis-taramprofes-sores, alu-

nos, fun-cionários,

pais e mora-dores para

saber como es-tavam as escolas

da sua região. Foi essa turmaque escolheu o nome desta publi-cação, quando participou daprimeira oficina de comunicação do

Observatório. A Lupa é para ver deperto, enxergar os detalhes da sua

família, sua escola e seu bairro. De lá paracá, o projeto cresceu e chegou a outros cinco

estados brasileiros.

Venha ver de perto o que acontece em:

Belém, Pará: força das águas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. XX

Recife, Pernambuco: antenados manguesais . . . . . . . . . . . . . pg. XX

Alagoinha, Arcoverde e Pesqueira, Pernambuco: arte do sertão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. XX

Salvador, Bahia: praia da criação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . pg. XX

Vitória, Espírito Santo: solidariedade todo dia . . . . . . . . . . . . . pg. XX

Rio de Janeiro: com a boca no trombone . . . . . . . . . . . pg. XX

São Paulo: hip-hop e muito mais . . . . . . . . . . . . . . pg. XX

LUPA

2

Qual é a estradaDe sonho, de pedra?Quem fez, quem fazA tua estrada?

Qual é a tua estrada?E a tua?

É para cima, para baixo, Para frente, para trás?

Você que fez? Você quefaz?Tem certeza?Qual é a tua estrada?Está pronta, acabada?

Grupo de teatro Engenho Teatral doCampo Limpo

LUPA

3

Expediente

Conheça quem faz a Lupa em cada cidade onde o Observatório acontece:

Lupa é uma produção da Rede de Observatório de Direitos Humanos

Coordenação Nacional: Instituto São Paulo Contra a Violência eparceria (Pro-bono) Núcleo de Estudos da Violência da Universidade deSão Paulo (NEV/CEPID/FAPESP/USP)

Grupo Executivo: Marcelo Daher(Coordenador Executivo), Renato Alves eCristina Hilsdorf

Equipe de apoio: Helena Massi e TatianaDidion

Colaboradores de Pesquisa:Prof.Fernando Salla, Prof.Andrei Koerner,Maria Goreti de Jesus

Oficina de Comunicação e Edição detexto: Antenor Vaz, Gabriela Goulart e Taís Peyneau

Edição de Arte: Rogério Fernando Ferreira

Em Belém-PA:

Coordenadores: MarceluHazeu (coordenador) e MilenyMatos

Monitoras: Josiane FerreiraSousa, Maria Clara Silva deLima e Kátia Regina Chagas dosPassos.

Observadores (as): ÁbiaMeurilim Oliveira Nogueira,Alan Jofre Tenório Gonçalves,Alex Sandro Gomes Franco,Alexandre Tejado Barbosa,Cláudia Renata Guiomar dosSantos, Cleber Tavares SantaBrígida, Cyntia AlexsandraGomes do Nascimento, DaltonLuiz da Costa Marques,Elizabeth Brito Texeira, EranildeNogueira de Farias, Mariza da Silva Lima, Neriane de Cássia SousaCarvalho, Paulo Roberto Costa dos Santos, Raimunda Creuza da CostaFerreira e Samuel Davi Rebouças da Silva.

Em Recife-PE:

Coordenação: Mércia MariaAlves da Silva (coordenadora) eFlávia Luciana Gomes.

Monitores(as): Fabricia Mourade Lima, Fernanda Paes eNicodemos Felipe de Souza.

Observadores (as): FláviaCristiane Ferreira da Silva,Girlene Batista de Lima, JulianaFerreira da Silva, JusianeJerônimo da Silva, LaudiceaFernandes Bezerra, LedenilzaSantana do Nascimento,Luciana Ramos do Amaral,Marcio Roberto Pinto Soares,

Maria Edvania Nogueira deOliveira, Micelane dos SantosRibeiro, Priscila Correia Ribeiro,Ricardo Ferreira de Aguiar,Rosângela Rodrigues da Silva,Tatiana Barbosa e WashingtonBarros do Nascimento.

Em Alagoinha, Arcoverde e Pesqueira-PE:

Coordenação: Genecy Raimundo Leal(coordenador) e Elias Sidclei Oliveira Soares.

Monitores(as): Valéria Maria Freitas deBarros e Gilberto de Brito Júnior.

Observadores (as): Ana Patrícia Feitoza daSilva, Ana Paula de Oliveira Silva, Andreza Rodrigues de Souza,Emanuela Ferreira Leal, Emilânia de Melo Guimarães, Eralda TerezaGalindo, Joselma Barbosa da Silva, Jussara Cláudia Tenório de Oliveira,Magda Maria Cavalcante Vasconcelos, Maria Auxiliadora dos Santos,Maria Nazaré da Silva, Marta Ferreira de Lima, Rosenilda Oliveira, TatianaCarneiro de Albuquerque Soares de Santana e William Firmino MagriIannantuone.

LUPA

4

No Rio de Janeiro-RJ:

Coordenação: Jussara Lúcia de MeloNogueira (coordenadora), SandraMaria da Silva e Lobelia Faceira.

Monitores(as): Marianna AguiarEstevam do Carmo, Rodrigo SalgueiroBarbosa, Nelson Moreira Castro Filho,Camila Clementino Lamarão, EduardoNogueira Bello Simas, José RobertoRodrigues dos Santos e Alex SandroRibeiro Borges.

Observadores (as): Alessandra Rodrigues Barbosa,Alexandre Paulo, Aline Costa da Cunha, Ana Cristinade Souza Gonçalves, Antonio Carlos Santos BizarroJr., Bruno Armelau Santos, Bruno Tarta doNascimento, Bruno Teodoro de Oliveira, CarlosRenato Silveira Ávila, Daniel dos Santos Leite, Davidda Silva das Graças, Denise Santos, Diogo Mauro daSilva Fernandes, Ediléia Nascimento Aguiar, Joice daSilva Eugênio, Leandro da Conceição Caldeira,Leandro Moreira Cardoso, Lílian Martins, LinoLeopoldino do Nascimento, Lourdes CristinaFerreira Santos, Luciane Sabino, Marcela da RochaNunes, Marco Antonio Fidélis de Souza, Marcos Vinicius Silva Avelino,Margarete Pereira Fraga, Michelle Antero Lopes, Roberta Silva de Souza,Rosane Keller, Tatiana Lima da Silva e Vanessa Gomes Oliveira.

Em Salvador-BA:

Coordenação: MargaridaAlmeida (coordenadora) eRenata Camarotti.

Monitores(as): Alexandre Santa Ritta,Wallace Nogueira e Yane Barreto.

Observadores (as): Ângela Jesus deSouza, Edivane dos Santos Beirão,Jaqueline Machado dosSantos, Jonas Graciliano ,Jorge da Silva Santos, JosileneSantos Oliveira, Márcio deAlmeida Araújo, Maurício JoséS. Machado, Priscila Reis deOliveira, Railda Silva Pereira,Renata Gonzaga, RosimeireSilva da Anunciação, Tatianedas Virgens de Jesus, Alanade Carvalho e Ulisses Ferreira.

Em São Paulo-SP:

Coordenação: ÂngelaMeirelles de Oliveira e MoisésBaptista.

Monitores(as): AdrianaCampos Silva, Ana Carolina

Mennela, Eduardo Ribas D’Avila, JoãoRodrigues da Costa, Luis RicardoCicaroni e Julia Nepomuceno.

Observadores (as): Adriano JúlioSouza, Ana Letícia Evangelista Paixão,Anderson Dantas da Cruz, AndréOliveira Santos, Ângela de Assis Silva,Anne Denise da Costa, Carlos AlbertoRibeiro, Caroline Priscila Rogel, ClaudioLuis Ferreira Pereira, Cristina Pereira deSouza, Daniela dos Santos de Souza,Daniela Mariano, Danilo FernandesLima, Douglas Emídio de Almeida, Edilson Andreoli Mesquita, EdmilsonDias Rocha, Emerson Teixeira de Souza, Everton Danilo Ramos, IgorFonseca Becyk, Isabel Medeiros Barbosa, Janaína do Nascimento,Jefferson H. Leal, Kênia Paloma de Oliveira, Luiz Ricardo Pereira,Margareth de Souza Barros, Marinez Zito Rosa, Micheli Cristina Flauzinados Santos, Regiane Alves Pereira,Sérgio Martins da Cruz e WellingtonAngelo Mariano.

Em Vitória-ES:

Coordenação: Edineia Figueirados Anjos Oliveira(coordenadora) e Madalena LuizaScaramussa.

Monitoras: Cleonice InversoMartins, Neidiany Vieira Jovarini eSônia Amâncio

Observadores (as): AurílioMendes de Araújo, Carlos CostaReis, Darlene Rodrigues Ferreira,Edimar Morais Silva, Fauser deAssis Santos, Gilsilene Gomes,Gisele Simões dos Santos,Janderson Pereira Gonçalves,Jaqueline Conceição Gomes,Juliana Sena Rocha, NaldemirSimões Ceciliote, SandraAparecida Alves Ferreira, ThalytaBoelho Monteiro, Vagner Conceição Bertolote e Vanderlúcio Sant’ana.

LUPA

5

“Tenho a força de uma raça Que vive depés no chão Mas traz no peito a certezaQue sou o pulmão do mundo E sou dela coração.

Sou luz, sou cor sob este céu anil SouEsplendor, sou Amazônia, sou o olhar do Brasil”.

Esplendor Amazônico (Rita Reis)

A Lupa chegou paraprovar o gosto do

açaí, ouvir as lendas noNorte e ver de perto asconquistas e dificuldadesda região Amazônica. Aten-ção, moradores de Bengui, chegou ahora de conhecer como estão as ques-tões de trabalho e renda! Pessoal de Vilada Barca, a violência policial foi o temapesquisado! Povo de Terra Firme, con-heça o que acontece na área de culturae lazer!

Ponto de encontroMeninos e meninas de três comunidades diferentes tiveram umponto de encontro: o Movimento Emaús, uma organização não-governamental que já tem mais de 30 anos de história. Suasações atingem o Pará e a região Amazônica em quatro frentes,promovendo os direitos das crianças e adolescentes. Oscoordenadores desse encontro foram Marcel Hazeu e MilenyMatos. Para saber mais sobre o Movimento Emaús, ligue para (91)224-7967.

LUPA ATERRISSA EM BELÉM, NO PARÁ!

LUPA

6

Ábia Maurilim OliveiraNogueiraOlá! Sou a Ábia, tenho 19 anose sou técnica em enfermagem.Moro em Tapanã, bairro vizinhode Bengui, com minha mãe emeu padrasto. Faço parte do Grupo de AdolescentesMultiplicadores, da Escola Cidade de Emaús. Tenho umsonho: fazer vestibular para medicina.

O bairro Bengui, quefica na periferia de

Belém, há uma hora docentro, tem cerca de 67mil habitantes. No bairro,faltam ruas asfaltadas, ilu-minação pública e sanea-mento básico. Saúde e se-gurança também deixama desejar. Segundo oGrupo de Mulheres deBengui, que trabalha coma geração de emprego erenda, cerca de 58% dapopulação vive do comér-cio informal.

Onde os observadores se encontramCidade Emaús

A Cidade Emaús foi criada em 1980, como uma opção de ensinofundamental e médio, educação profissionalizante, palestras, debates,palestras e comercialiação de produtos.

Alexandre TejadoBarbosaMeu nome é Alexandre, tenho19 anos e não saí do Benguinem para nascer. Nasci emcasa, pelas mãos de umaparteira! Sou amante de música regional, dança,orquestras, óperas, teatro e jogos eletrônicos. Atuarna comunidade era algo que eu queria há muito

tempo. Tenho vários sonhos, um deles diz respeito à minha mãe: podercomprar uma casa para ela.

Claudia Renata Guiomar dos Santos.Oi pessoal, sou a Claudia, tenho 22 anos e nasci emBelém. Comecei a trabalhar muito aos dez anos.Quando eu entrei na escola Emaús que as coisas

começaram a mudar. Me dei conta de que tinha ape-nas 15 anos e estava perdendo a fase da vida quehoje faço questão que todos vivam com intensidade.

BENGUIDe olho em: Trabalho e Renda

OONNDDEE EESSTTAAMMOOSSOONNDDEE EESSTTAAMMOOSS

QQUUEEMM SSOOMMOOSSQQUUEEMM SSOOMMOOSS

LUPA

7

Samuel Davi RebouçasSilvaOi! Meu nome é Samuel. Alémde observador, atuo na comu-nidade no Grupo de Adoles-centes Multiplicadores, ondeprocuro repassar para a juventude assuntos de seu in-teresse. Comecei a atuar na comunidade por meio deum grupo de dança, o Geração Funk. Depois montei

um na minha escola. Estou no segundo ano na Escola Emaús.

Minha mãe, Maria Arcângela, quando era adolescente, fez um curso decorte e costura na escola profisisonalizante Cidade de Emaús. O cur-

so foi de grande utilidade, principalmente quando meu pai, João Jotapé, fi-cou desempregado. Minha mãe procurou o Banco do Povo aqui em Belém,que é uma política pública de financiamento da prefeitura, na tentativa deconseguir recursos para abrir o seu próprio negócio. Hoje ela é uma micro-empresária na área de confecções. Eu também fiz um curso de informáti-ca na Cidade de Emaús e, após o curso, participei de um projeto chamado“Meu primeiro emprego”, mas como tinha a carteira “branca”, ninguém que-ria me dar uma chance para trabalhar. Como é que posso ter experiênciase não me dão uma primeira oportunidade?

A situação financeira na minha casa melhorou muito depois que meus doisirmãos, Benedito e Guilherme, conseguiram se virar. Benedito está fazendoestágio em uma agência bancária, conseguido no Centro de IntegraçãoEmpresa Escola - CIEE. E Guilherme conseguiu trabalha na CompanhiaElétrica do Pará.

Dalton Luiz da CostaMarquesSou um típico jovem brasileiro,vivendo em situações que mefazem tão único e tão comumcomo a maioria das pessoas.Meu nome é Dalton, tenho 19 anos e moro com mi-nha avó. Sou um cara extrovertido, adoro ler, princi-palmente sobre religião. Sou bastante místico, escuto

até que sou ateu, mas não é isso. É que eu não vejo necessidade de bus-car fora o que está dentro.

O CIEE fica na Av. Alm. Barroso, Para mais informações, falar com João Cláudio.

O Grupo de Mulheres de Bengui (GMB) realiza pesquisas e trabalhacom a questão do emprego e renda no bairro.

O Banco do Povo oferece linhas de crédito para financiamento popularem forma de dinheiro e equipamento para pequenos empreendedores.

Uma história de Bengui

QUERO ENTRAR NESSA. COMO PARTICIPAR?

Nunca é tarde para começara estudar no Bairro Bengui,se depender do Movimentode Alfabetização de Adultos

(MOVA). A comunidadeidentifica o Movimento comouma iniciativa de sucesso.

LUPA

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T erra Firme está localizado naperiferia de Belém e tem cerca

de 200 mil moradores. Apesar dedistante do centro, o bairro temum comércio intenso, tanto formalquanto informal, sendo esta amaior fonte de ocupações. A cul-tura local vai desde o Carimbó aoHip Hop, passando pelo Brega, es-tilo muito comum no Pará. Hávários espaços de lazer e tambémuma rádio comunitária.

Onde os observadores se encontramCentro Sócio Cultural São Domingos GusmãoO Centro Sócio Cultural São Domingos Gusmão é uma entidade da Igreja Católica semfins lucrativos que promove ações de formação profissional, educação e cultura. OCentro faz atendimento a famílias da comunidade, oferece reforço escolar, alfabetizaçãode jovens e adultos e realiza o Projeto Adolescer, que promove o esporte, o lazer e aeducação para adolescentes.

Cleber Tavares Santa BrígidaOi para todos! Sou o Cleber. Tenho18 anos e estou no 3º ano do en-sino médio. Meu sonho é fazerOdontologia. Participo de umgrupo de jovens da Igreja Católica,

o JAVE – Jovens de Arte, Vida e Expressão. Já par-ticipei do Projeto Adolescer. Quero poder colher bonsfrutos como observador e cumprir com meu dever,fazer com que o povo se conscientize dos Direitos Humanos.

Elizabeth Brito TeixeiraMe chamo Elizabeth, tenho 23anos e nasci em Belém, ondemoro. Meu bairro carece devárias coisas, mas mesmo as-sim gosto muito daqui, pois te-nho muitos amigos e desenvol-vo trabalhos na comunidade. Participo do Grupo deJovens, Pastoral da Criança, entre outros. Boa parte

de meus amigos são de lá e também meu namorado.

Neriane de Cássia SousaCarvalhoMe chamo Neriane, tenho 19anos. Nasci no Maranhão, masvivo em Belém há 16 anos.Desde que vim para cá com

minha mãe e meu irmão moramos em Terra Firme.Sempre gostei de estudar. Estou cursando ServiçoSocial na Universidade Federal do Pará. Minha vidamudou muito desde que comecei a faculdade. Mais do que o conheci-mento acadêmico, me envolvi com o Movimento Estudantil, que deu umnovo sentido para minha vida.

Mariza da Silva LimaMe chamo Mariza, tenho 22anos. Sou a caçula de sete fi-lhos. Terminei o segundo graue estava em dúvidas quanto aprestar o vestibular. Ainda bemque minha mãe me incentivou. Estou no 5º semestrede Serviço Social na Universidade Federal do Pará.Dedico meu tempo livre ao trabalho voluntário em

várias organizações do meu bairro. Meu objetivo é transformar as questõessociais, pois tenho muito amor pelo meu bairro.

Raimunda Creuza da Costa FerreiraOlá! Me chamo Raimunda, tenho 21 anos. Nasci naIlha de Marajó, numa fazenda. Tenho dois irmãos.Moro com eles e minha mãe em Terra Firme.Participo da Pastoral da Juventude também faço parte

da campanha Natal sem Fome e do Paravidda. São serviçosque realizo com prazer, faço de coração, pois amo a minha co-munidade. Um super beijo, Tchau!

TERRA FIRME De olho em: Cultura e no Lazer

OONNDDEE EESSTTAAMMOOSSOONNDDEE EESSTTAAMMOOSS

QQUUEEMM SSOOMMOOSSQQUUEEMM SSOOMMOOSS

MMiittooss&& MMiinnhhooccaass

Algumas frases são tãorepetidas que parecem verdade. Sãomitos que acabam colaborando para a violação dos direitoshumanos. Ao longo desta revista, você vai perceber que épossível criar algumas minhocas na cabeça e desconstruirfrases feitas.

MMiittoo::Direitos Humanos só

existem para proteger bandidos.

MMiinnhhooccaass:: Não existem duas classes de sereshumanos. As pessoas que fizeram algo contra a lei eas que não fizeram têm direito a manter a sua integridadefísica e moral. Os direitos humanos existem para mim, paravocê, para qualquer pessoa.

LUPA

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QUERO ENTRARNESSA. COMOPARTICIPAR?

Naçãode Resistência Periférica se

encontra todo Domingo às 17h. É um grupomuito bom que sempre traz reflexões importantes

sobre a necessidade de melhorar as condições de vida naperiferia.. Eles organizam filmes, shows e palestras.

Uma das coisas que mais encanta os ouvidos são as histórias deMaria sobre o Bumba-meu-boi Prenda de São João. Desde 1986, aSociedade Civil Boi Marronzinho alegra as ruas de Terra Firme nos

meses de maio e junho. A comunidade acompanha animada o arrastão,que sempre acaba em grande festa. O grupo procura manter vivo o Boi

Bumbá, parte da cultura tradicional paraense. Ele também se apresenta emescolas e terreiros juninos, além de fazer festa em projetos sociais da

comunidade. O Boi Marronzinho é aberto à participação de todos, sem limitede idade. Quem quiser participar ou agendar uma apresentação pode falar

com o coordenador do grupo, Joelso Ataíde dos Santos.

A prefeitura, por meio da Fumbel, promove o Ônibus Biblioteca, quefunciona como biblioteca móvel. Ele vem para o bairro toda terça-

feira e fica entre a praça e a Igreja. Qualquer pessoa do bairropode se cadastrar e pegar livros emprestados paradevolver na outra semana. Também é possível ler

nas cadeiras armadas do lado de fora doônibus.

Gente simples, pobres, sem muitos recursos / Cansadas de esperarreforma agrária sair do discurso / Tudo o que querem é a terra pra poderfazer uso / O Incra não dá crédito, não aceita, não cumpre prazo / Ogoverno age com total descaso / Insensibilidade diante do drama / Emprofundo desprezo pela vida humana / Planejam o que ninguém imagina /Enquanto a hora da matança se aproxima.

Sem justiça não existe paz – MBGC (Manos da Baixada de Grosso Calibre). Sobre a chacina de Eldorado dos Carajas.

Paraquem gosta de jogar bola,

tem os campinhos em frente àEletronorte, na Av. Perimetral e o Centro

Sócio-Cultural Santa Maria (CSCSM), que fica napassagem castanheira. Para quem pode pagar, tem as

arenas do Domingão, na Av. São Domingos.

Se você é como eu, que gosta de dançar e ficar bem informado,tem a rádio comunitária. O endereço não digo não, pois ela é

clandestina! Nessa rádio toca brega, toadas de boi, hip-hop, e MPB.Os locutores são muito legais e sempre dão informações sobre a

comunidade.

Os moradores também costumam se virar. O Ely, por exemplo, que é ator,abriu um espaço em frente a sua casa para apresentar as suas peças. Commuita dificuldade, ele consegue levar para as pessoas a alegria do teatro. O

nome do local é Espaço Ribalta, que fica na rua 24 de Dezembro.

Temos também o Clube dos Pais, que fica na Rua Vitória. Lá acontecemtorneios esportivos para os sócios jogarem. Em uma rua próxima ao Clube

dos Pais, tem o torneio junino da Quadrilha Rosa Vermelha. Eu já fui láassistir aos ensaios, que começam sempre em março de cada ano e até

conheci o Seu João, que é um dos diretores da quadrilha.

Para aqueles que gostam de um luar, é só ir para a Praça Tenente deSouza, onde acontece o Sarau de Poesia, que é promovido pelogrupo Varal de Poesia. Outro agito está na Praça Olavo Bilac,

onde acontece o encontro de todas as tribos. Rock, MPB,Clube de Brega. A praça está bem na frente da Igreja São

Domingos de Gusmão.

Neste Domingo, haverá um Bingo Dançante naRua dos Milagres, organizado pelo

presidente do CentroComunitário.

LUPA

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O lá, gente! Meu nome é Vila da Barca, surgi há maisde 50 anos, minha origem tem duas versões: uma

é de uma embarcação portuguesa que encalhou naBaía do Guajará. Outra é de que era uma embarcaçãoitaliana e que pegou fogo e meus primeiros moradoresaproveitaram a madeira que sobrou para fazer as suascasas. Estou às margens da Baía do Guajará. A área édominada pelo rio e o principal meio de vida é a pesca.Mas há ruas de terra firme também.

VILA DA BARCADe olho na violência

“Transformados até a alma / Sem cultura e opinião / O nortista sóqueria / Fazer parte da nação. Ah, chega de malfeituras / Ah! Chegade triste rima / Devolvam a nossa cultura / Queremos o Norte lá emcima / Por que, onde já se viu? Isso é Belém, isso é Pará, isso é Brasil”.Belém, Pará, Brasil (Mosaico de Ravena)

Onde a gente se encontraAssociação de Moradores da Vila da Barca (AMVB)A Associação funciona há 18 anos, para unir e mobilizar os moradoresde Vila da Barca em busca de melhores condições de vida. AAssociação também tem um grupo de convivência para a terceiraidade, Programa de Alfabetização de Jovens e Adultos em parceriacom a Secretaria Municipal de Educação, Escola de Informática eCidadania, promove ações de fiscalização e promoção da saúde ereivindicação de melhorias em áreas de infra-estrutura, como osaneamento básico. Trav. Coronel Luis Benter - Rua Nelson Ribeiro, nº66 - Telégrafo.QQUUEEMM SSOOMMOOSSQQUUEEMM SSOOMMOOSS

Alan JôfreOi! Me chamo Alan. Não souuma pessoa fácil, sou um poucoexplosivo, mas sou sincero.Apesar disso, sou muito queridoe conhecido na comunidade.Participo de vários trabalhos sociais: ajudo no grupode idosos, sou do Núcleo de Defesa de Vila da Barcae do grupo Arco-íris, de defesa dos Direitos dosHomossexuais.

Alex Sandro Gomes FrancoOlá! Me chamo Alex, nasci no inte-rior do Pará, mas me criei em Vilada Barca. Já terminei o 2º grau e fuireprovado recentemente no ves-tibular para Engenharia Elétrica naUniversidade Federal do Pará. Mas

eu ainda chego lá. Sou secretário do Núcleo de Defesada Criança e do Adolescente de Vila da Barca e acabei

de fazer o curso Político Sócio-Ambiental da Universidade Popular. É que es-tou buscando ser um líder comunitário e um cidadão melhor.

Cyntia Alexsandra Gomesdo Nascimento.Olá, sou a Cyntia, tenho 19 anos.Nasci em Recife, Pernambuco,mas moro em Belém. Um dosmeus sonhos é ser da Marinha.

Comecei a atuar na comunidade por meio do Núcleode Defesa. Queremos reivindicar nossos direitos quesão desrespeitados.

Paulo Roberto Costa dos SantosOi, me chamo Paulo Roberto, mas gosto mais de serchamado pelo segundo nome. Nasci na bela Ilha deMarajó. Morei lá até os 8 anos, quando vim para Vila daBarca. Me adaptei logo e também pude começar a ir

para a escola. Antes ficava muito longe da minha casa esó dava para ir de canoa. Participo do Núcleo de Defesae do Grupo Arco-Íris.

Eranilde Nogueira deFariasOlá! Me chamo Eranilde, masgosto que me chamem deNilde. Sou daqui mesmo, nasciem casa, pelas mãos de umaparteira. Gosto de dançar, cantar, passear, ir a shows,participar na comunidade e, bem, namorar também!Sou líder comunitária. Há um ano estou no CentroComunitário Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, onde sou diretora social.

OONNDDEE EESSTTAAMMOOSS OONNDDEE EESSTTAAMMOOSS

LUPA

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QUERO ENTRAR NESSA. COMO PARTICIPAR?

jovens e crianças. Fica na Passagem Praiana, nº58

A Fundação Curro Velho fica em Vila da Barca e atende acomunidade do bairro e da vizinhança com vários cursos, como

serigrafia, fotografia, teatro, danças folclóricas, trançado em palha eoutros.

A SDDH - Sociedade de Defesa dos Direitos Humanos, que nasceu em1977, a partir de debates sobre o regime militar que governava o Brasil

na época, tem como objetivo mudar uma cultura de violência eviolação dos Direitos Humanos. A instituição se especializou em

atender casos de violência extrema contra a vida, como tortura ehomicídios. O SDDH fica na Travessa D. Pedro.

investigada.

O Arco-íris existe desde 2001 e é um grupo quebusca dignidade e respeito para os Homossexuais de

Vila da Barca. Além disso, faz palestras para adolescentessobre Sexualidade e Doenças Sexualmente Transmissíveis e

trabalha com os idosos. O grupo montou um time de futebol e divulgasuas idéias nos jogos.

O Núcleo de Defesa da Vila da Barca atua desde 2001 formando einformando adolescentes e jovens sobre cidadania.

O Grupo de Idosos de Vila da Barca reúne a terceira idade da comunidadeem diversas atividades. As reuniões são segundas, quartas e sextas na

Associação de Moradores. Tem atividades culturais, esportivas,cuidados de saúde, atendimento psico-terapêutico e cabeleireiro. O

grupo é coordenado pela dona Marilde.

A igreja Assembléia de Deus de Vila daBarca tem corais de senhoras,

S evocê quer saber o que a

comunidade está faz para reduzir oscasos de violência, fique ligado:

Conheci a Adriana, que trabalha como camareira. Ela me disseque estava cansada de levar tanta porrada do marido, mas

conseguiu forças para denunciar na Delegacia da Mulher. E eu resolvianotar onde é que fica, pois mulher é para ser amada, não para ser

espancada. Anote aí: o telefone é 246-4863 e o endereço é: TravessaVileta, entre a Av. Almirante Barroso e a Av. 1º de dezembro. Não tenha

medo, denuncie!

A ouvidoria da polícia fica na Avenida Preste Teodora e o telefone de lá é:212-2517. A corregedoria, que funciona 24 horas por dia, fica na Gaspar

Viana, entre a Santo Antônio e a 15 de Novembro, no bairro doComércio. O telefone é 212-3902. Você pode falar com a Delegada

Vera Loureiro, que é responsável pelo atendimento. Acorregedoria é como se fosse a polícia da polícia civil e

militar, portanto, qualquer denúncia será

LUPA

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Como viver de maneiradigna?

Se em casa nada temFico triste ao ouviradolescentes naesquina dizendo:Apenas dez reais,meu bem!

Como posso lutarpelos direitos?

Num país que se dizviver em democracia

Onde o desemprego reinaTirando da boca o pão de cada dia.

Como posso dormir em paz?Se o mercado pede trabalhador profissionalizadoOnde irei conseguirPara deixar de ser explorado?

Meus filhos já não tên infânciaVão pra feira, fazer carretoO que ajuda no nosso sustento,Um dia isso termina, eu prometo!

Prometo que serei respeitadoPelo governo e pelo mundo.Deixarei de ser esse “nobre vagabundo”.

Raimunda Creuza Ferreira, Belém.

O boto Na Amazônia existe o mitoDo boto que desperta paixãoVem do rio para as festasCom seu olhar de sedução

Da natureza irradia o encantoNa ingenuidade, a moça perde a lucidezEntrega ao boto sua purezaE este lhe deixa a gravidez

Além desta, existem outras lendasQue deixam a região Amazônica eufóricaResgatando do NorteA cultura folclórica

Raimunda Creuza

A Terra é pai d´égua!Ábia, Mariza e Neriane

Outro dia, estava no quintal de minha casa ensaiandocom o meu grupo de Carimbó, quando vi algo estranhono céu, que começou a se aproximar, desceu no meuquintal e abriu uma porta. De dentro do objeto es-tranho saiu um extra-terrestre, uma coisa lilás bri-lhante! Meus amigos se assustaram e saíram cor-rendo. Fiquei impressionada quando percebi queele falava a minha língua e se apresentou comoEtvaldo. Ele foi logo me perguntando: “O quevocês estavam fazendo?” Respondi que estáva-mos nos divertindo e ele perguntou o que era di-versão. Tentei explicar que diversão é quando es-tamos em uma situação que nos proporcionafelicidade, alegria, bem-estar, prazer, conheci-mento, relaxamento e geralmente acontecenas horas vagas, quando o ser humano nãoestá trabalhando. Ele escutou tudo e depoisquestionou: “Como vocês se divertem?”.E eu recomecei a explicação dizendo que aspessoas do nosso mundo criam espaçospróprios para a diversão e quando elas nãotêm esses espaços, transformam outros lo-cais. Por isso temos praças arborizadas ondepodemos conversar, namorar, andar de skate,conhecer pessoas diferentes, assistir a umshow; temos locais fechados como boates,temos festividades, passeios, retiros e gin-canas promovidas por comunidades reli-giosas. As comunidades católicas, por exem-plo, se reúnem em uma grande festa reli-giosa chamada de “Círio de Nazaré”, emhomenagem à padroeira dos paraenses. Elesfazem uma grande procissão, que é acom-panhada por quase dois milhões de terrestrespelas ruas de Belém. E durante 15 dias, nosdivertimos no arraial de Nazaré. No Pará, ainda temos muitas áreas verdes. Nocentro da cidade, existe o Bosque RodriguesAlves e o Museu Emílio Goeldi. Nas áreas maisdistantes da cidade há vários igarapés, que sãopequenos braços de rios, rodeados por árvores,por onde podem passar canoas e pequenos bar-cos. As pessoas gostam de se reunir com os ami-gos e ir para as ilhas descansar, tomar banho, re-laxar, comer peixe, beber. Outra opção é o teatro,onde acontecem apresentações culturais comopeças, concertos musicais e apresentações dedanças regionais como o Carimbó, Lundu, Siriá e ou-

tras. Essas apresentações também acontecem em es-paços abertos. Aqui na cidade existe a Aldeia Cabana,

no bairro da Pedreira, que é um grande espaço ondetambém podem acontecer essas atividades.

Encantado com as possibilidades de diversão, o ET ex-clamou: “O povo do meu planeta precisa conhecer vocês!

Agora é que entendi uma coisa que ouvi de um outro ter-ráqueo - A Terra é pai d´égua mesmo!!!”.

Nobre vagabundoComo sobreviver nesse caos?Onde o trabalhador não é respeitadoTrabalha duro, como escravo,Para no final do mês ser mal remunerado.

Um bom observador não se contenta

apenas com a aparência, mas busca um

segundo olhar, tem a sensibilidade

de ver muito mais além, pois o óbvio

não é o seu limite. Grupo de Bengui, Belém, PA

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Ponto de encontroO Cendhec – Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social –trabalha, desde 1989, na área de proteção jurídica e psicológica,educação para a cidadania e organização e apoio à luta decomunidades de bairros populares, chamadas ZEIS, Zonas Especiais deInteresse Social. O Cendhec fica na Rua Gervásio Pires, 921, bairro BoaVista, na cidade de Recife.

O e-mail é [email protected].

LUPA ATERRISSA EM RECIFE,PERNAMBUCO!

N o ritmo do coco e da embolada, Lupa andou pelosrios que cortam Recife, conhecendo gente que

valoriza a sua história, a sua cultura, a sua cidade.Vamos ver de perto como está a segurança da comu-nidade de Coelhos, ver a luta pela moradia em Entra

Apulso e descobrir como os moradores de Sítio Grandee Dancing Days buscam o seu direito pela saúde.

“Preste atenção, meu amigo que eu agora vou contar / Entre as quatro co-munidades tem muita coisa pra mudar / Cada uma tem a sua história, origeme chegada / Mas o que há de semelhança é que todas foram aterradas / Ehoje digo a vocês com muita sinceridade / que do esforço deste povo se cri-aram comunidades”.

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Armado com os direitos humanos, Lego-Legoapresenta sua comunidade:

M esmo estando próxima ao centro comer-cial de Recife, há muitos problemas de in-

fra-estrutura e de violência na comunidade deCoelhos. Não dá para achar normal tantos es-pancamentos! Ao mesmo tempo em que políciacolabora para a diminuição da violência, princi-palmente a do tráfico, é a própria polícia queprovoca mais violência, partindo do principiopreconceituoso de que “todos lá são bandidos”.

Onde os observadores seencontram:Na Creche Vovô Arthur, construída pela prefeitura, em parceria com acomunidade de Coelhos, professores, estagiários e outros profissionaiscuidam de 108 crianças entre 0 e 4 anos. A instituição também cedeespaço para grupos culturais, festas de casamento e aniversários. Acreche fica na Av. Beira Rio s/n. O telefone é: (81) 3222-8740 ou 3423-1736 (falar com João, que é o coordenador).

Jusiane Gerônimo da SilvaAdoro fazer novas amizades ejogar futebol com as minhasamigas, até formamos um time!Outra diversão é ver o time domeu coração, o Santa Cruz, jo-gar. Também adoro ouvir músicae passear. Depois que me formar vou fazer um con-curso para a Polícia Militar.

COELHOSDe olho na segurança

Juliana Ferreira da SilvaOi! Um dos meus sonhos é veruma sociedade mais justa, semdesigualdades sociais e com di-reitos para todos. O que é difícilnão é impossível. Com o

Observatório, passei a olhar os problemas da comu-nidade sem querer apontar um culpado, mas sim encontrar uma solução.

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Ricardo Henrique AguiarJá participei da Associação de Moradores por dois anos. Sou casado e tenho dois filhos. Estou na segunda sériedo Magistério e trabalho como auxiliar administrativo em uma creche da comunidade. Uma das minhas maioresdiversões é jogar futebol com meus colegas de rua.

Ainda há muito a fazerApesar de existir na comunidade uma grande quantidade de casas de alve-naria, ainda há muita gente morando em casas de palafita, às margens do rioCapibaribe, sem saneamento básico e sem condições de pagar um aluguel.Algumas pessoas têm vergonha de dizer que são lavadeiras, comerciantes,biscateiros, domésticas. São trabalhadores do mercado informal, que não têmcarteira assinada, descanso semanal, nem um salário digno.Temos uma praça, mas ela fica em uma avenida muito movimentada, o queé um risco para as crianças. Ela também está sem bancos e sem iluminação.

QUERO ENTRAR NESSA. COMO PARTICIPAR?

OCentro Cultural Leão do

Norte promove dançasfolclóricas. Para participar, é

preciso estar matriculado, mas nãoprecisa pagar nada. O centro fica na

Rua Jorge Lobo, nº 32. O fundador é oSr. Aelson Hora.

A OAF (Organização do Auxílio Fraterno)resgata crianças e adolescentes que viviamnas ruas ou em famílias de baixa renda.São oferecidos cursos profissionalizantes ede capacitação. A OAF fica na Rua dos

Coelhos, em frente ao IMIP (InstitutoMaterno Infantil de Pernambuco).

O Movimento Pró-Criança é umaorganização da arquidiocese

de Recife e Olinda quetrabalha na

profissionalizaçãode adolescentes e jovens.Para obter mais informações,vá até a Rua dos Coelhos, nº 462.

Uma moradora conhecida comoGracinha distribui sopas em sua casa,no largo dos Coelhos. O LAR (LegiãoAssistencial de Recife) também fornecesopa uma vez por semana, ao lado daponte Poeta Joaquim Cardoso. Há tambémuma Igreja Evangélica, na Rua RegoMelo, que serve sopa toda quarta-feira,com apoio de uma pequena empresade manutenção de arcondicionado.

Ledinilza Santana doNascimento, 23

Olá! Tenho 23 anos e um filhi-nho lindo de dois. Sou uma pes-soa amiga e companheira. Tenhoorgulho do meu bairro. Há pro-blemas sim, como em muitos lugares. Meu objetivoagora é terminar o Magistério e cursar Pedagogia ouJornalismo. Nunca vou deixar de sonhar.

Márcio Roberto PintoSoares, 23Oi! Concluí o ensino médio commuito sacrifício, sem nunca tersido reprovado. Uma das minhasgrandes paixões é a música e um

dos meus projetos é prestar vestibular para Sociologia.Quero realizar um projeto usando a música pois acre-dito que a cultura é fundamental no trabalho social.

O i, meu nome é Arapulso, o Aratu de EntraApulso, uma comunidade que está pro-

fundamente marcada por lutar pelo direito àmoradia. Há 50 anos, pessoas de vários lu-gares aterraram o mangue e construíram seusbarracos. Hoje, a ocupação está muito próxi-ma de um dos bairros mais nobres de Recifee de um grande Shopping Center, o que au-menta a pressão pela retirada da comu-

nidade da área. Mas os moradores resistem a pulso firme.

O aratu é uma espécie de caranguejo pequeno e de cor ver-melha que se esconde nas árvores do mangue, é ligeirinho epersistente, assim como os moradores que lutam para per-manecer no lugar.

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ENTRA APULSODe olho na moradia

Onde os observadores se encontramA Creche Comunitária Nossa Senhora da Boa Viagem surgiu da mobilização demoradores e moradoras, sobretudo as mulheres. Hoje a creche atende 110crianças de 0 a 6 anos, oferece cinco refeições por dia e busca contribuir parasua formação integral e bem estar. Contato Cláudia, (81) 3466-9423

Laudicéia Fernandes BezerraNunca participei ativamente daAssociação de Moradores do meubairro, mas gosto da maneira comoas pessoas daqui têm firmeza paraencarar a realidade. Gostaria dedeixar um último recado: estudesempre, que o estudo é a fonte da sabedoria.

Priscila Correia RibeiroMoro na comunidade há 12anos. Gosto muito de Entra aPulso, pois aqui tenho minha fa-mília, amigos e namorado. Estougostando muito do Observatório

dos Direitos Humanos porque vejo a comunidadecom outros olhos. Espero que eu possa ajudar aspessoas da minha comunidade.

Rosângela Rodrigues da SilvaOlá, tudo bem? Nasci no interior dePernambuco, na Região da Zona daMata. Imaginem só: vim de fériasquando fui chamada para fazer ocurso de Gestor Social em DireitosHumanos. Fui selecionada para o observatório e olhaeu aqui! Acho muito interessante trabalhar com os di-reitos que estão sendo violados. Tenho expectativasde melhorar a comunidade.

Washington Barros do NascimentoEstou cursando o 3º ano do ensino médio. Gosto daescola e dos colegas de lá. Nunca tinha me ligado à

Associação de Moradores. Eu achava isso até desinteres-sante, mas agora me interesso muito. Uma das minhasconquistas foi entrar neste projeto.

Tatiana BarbosaQuando quero alguma coisaprocuro lutar até conseguir. Nãodesisto no primeiro obstáculo,até porque sempre os encontreipela frente. Tenho meus defeitos,como todo ser humano. Termineio ensino médio e vou fazer ves-tibular para Serviço Social.

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MMiittoo::Aqui não temcultura pois ogoverno não incentiva.

MMiinnhhooccaass:: O incentivo do governo é importante, mas isso nãosignifica que não haja cultura. Cultura é o modo de pensar,agir e falar. Só que nem sempre o governo dá apoio para aformação de grupos que trabalham as danças, músicas e

outrasexpressões artísticas.

Mas há uma grande diversidadecultural em nossas cidades: o movimentohip-hop, o brega, o boi bumbá, rádios comunitárias,quadras juninas, festividades religiosas. A populaçãoparece acreditar que cultura é só teatro, cinema, biblioteca.Com isso, a cultura popular acaba desvalorizada.

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Ainda há muito a fazerDesde a sua ocupação, a comunidade de Entra Apulso vive uma falta de in-fra-estrutura que acarreta outras violações dos direitos. As ruas não são as-faltadas e as casas ficam alagadas quando chove. Muitos moradores nãocobram melhorias porque não conhecem os seus direitos.

A educação não anda lá essas coisas. O ensino é fraco e a infra-estruturadas escolas públicas é péssima. Os moradores poderiam fazer mais reu-niões com os professores e diretores para juntos resolverem esses proble-mas. Mas os moradores muitas vezes não participam nem das reuniõesque o próprio colégio organiza!

Não existe posto de saúde na comunidade. Por isso, os moradores têm quese dirigir à Beira do Rio, onde o posto de saúde também não dispõe demédicos suficientes para atender a todos.

Os poucos grupos culturais que existem não têm lugar próprio para realizarseus ensaios e divulgar seus trabalhos.

Naluta pela legalização das terras, a

comunidade de Entra Apulso coloca em práticaa Lei Municipal do Prezeis (Plano de Regularização

das Zonas Especiais de Interesse Social). Os moradoressão representados por Vera Lúcia Barros da Silva e Maurício

da Silva, que foram eleitos para fazerem parte da Comul(Comissão de Urbanização e Legalização). As reuniões são

realizadas duas vezes por mês no período da noite, para quetodos possam participar. Os advogados e assistentes sociais do

Cendhec prestam assessoria técnica para o grupo.

O Grupo Ação, que surgiu em um curso de formação de gestores sociaisem direitos humanos, trabalha para cobrar as políticas públicasnecessárias para melhorar a comunidade.

O sistema de coleta seletiva, que acontece em Entra a pulso, evita adiminuição das doenças infecto-contagiosas. Mas infelizmente, muitosmoradores acabam acumulando lixo sem selecionar o que pode ser

reciclado. É bom ficar ligado!

Existem dois grupos culturais em Entra Apulso: o Abadá Capoeira, coordenadopor Edvanilson da Silva, mais conhecido como “Topeira” e o grupo Rosa

dos Ventos, que é coordenado por Luciano da Silva, mais conhecidocomo “Zacarias”. A única exigência para participar é que as

crianças estejam estudando. Mais informações pelotelefone (81) 3463-9807.

QUERO ENTRAR NESSA. COMO PARTICIPAR?

M eu nome é Bil Espirro. Vimlá das bandas da Imbiri-

beira, onde estão os bairros deSítio Grande e Dancing Days.Sou presidente da Associação doMangue de Sítio Days. Como emmuitas outras comunidades ondefaltam recursos básicos, o núme-ro de meninas grávidas nas duascomunidades é alto e preocu-pante. Como este fato vem sendotratado pela população? Hápalestras no Posto de Saúde deDancing Days e o trabalho doConselho de Mães do ConjuntoCastelo Branco, que tambémpromove discussões sobre sexua-lidade.

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SÍTIO GRANDE EDANCING DAYSDe olho na: saúde

Onde os observadores seencontram:O Espaço Educacional e Cultural Luiza Matias organiza atividades comodança, música e artes plásticas para as crianças e adolescentes dacomunidade. Contato Cristina (81) 3472-3854

Maria Edvânia NogueiraMoro em Dancing Days há seteanos. Estou no segundo ano esonho em me formar emVeterinária. Estou gostando muito

do trabalho como observadora, percebo que adquiribastante conhecimento e conheci pessoas legais.

Meu objetivo é transmitir o que aprendi para minha comunidade, pois sóconscientes dos nossos direitos podemos mudar as coisas.

Flávia Cristiane Ferreira da SilvaEstou terminando o 2º grau esonhando com o curso de enfer-magem. Vim morar com “mãein-ha” em Sítio Grande depois quemeus pais se separaram. Este projeto tem sido umaforma de conhecer melhor meus direitos.

Girlene Batista de LimaOlá! Concluí o ensino médio emContabilidade. Estou querendofazer faculdade, mas ainda nãosei qual. Gosto muito dos meusamigos e muito mesmo domeu namorado, que faz parteda minha vida há três anos. Esta é a primeira vez queparticipo de um projeto social. Espero multiplicarmeus conhecimentos!

Micelane dos SantosOi! Vou tentar vestibular paraServiço Social, porque eu meidentifico com a profissão. Nomeu tempo livre gosto de lerlivros românticos. O trabalhocom o observatório faz me sentir

muito bem. Tenho perspectivas de ajudar minha co-munidade e continuar o trabalho que iniciamos.

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