direitos de propriedade comum das tecnologias sociais

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Direitos de propriedade comum das tecnologias sociais como ambiente de inovação social (Termo de referência para um marco regulatório) CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - CDS / UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO Gleba A, Bloco C - Av. L3 Norte, Asa Norte - Brasília-DF, CEP: 70.904-970 Telefones: (61) 3368-5594, 3368-4091, 3368-1971, 3368-5815, Fax: 3368-5146 E-mail : [email protected] | Site: www.unbcds.pro.br CADERNOS PRIMEIRA VERSÃO 2 Ricardo T. Neder Pesquisa apoiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, MCT - Secretaria de Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento e Inclusão Social, SECIS SÉRIE MONOGRAFIAS SERIADAS SOBRE TECNOLOGIA, INOVAÇÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE PRIMEIRA VERSÃO!

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Direitos de propriedade comum das tecnologias

sociais como ambiente de inovação social

(Termo de referência para um marco regulatório)

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - CDS / UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO

Gleba A, Bloco C - Av. L3 Norte, Asa Norte - Brasília-DF, CEP: 70.904-970

Telefones: (61) 3368-5594, 3368-4091, 3368-1971, 3368-5815, Fax: 3368-5146E-mail : [email protected] | Site: www.unbcds.pro.br

CADERNOS PRIMEIRA VERSÃO

2

Ricardo T. Neder

Pesquisa apoiada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia,

MCT - Secretaria de Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento

e Inclusão Social, SECIS

SÉRIE MONOGRAFIAS SERIADAS SOBRE TECNOLOGIA,INOVAÇÃO SOCIAL E SUSTENTABILIDADE

PRIMEIRA VERSÃO!

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OBSERVATÓRIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIAL NA AMÉRICA LATINA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNB

Ob.MTS - OBSERVATÓRIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIALNA AMÉRICA LATINA CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO

PRIMEIRA VERSÃO

Número 02 ano 2. 2009

Ricardo T. Neder

2OO9

Direitos de propriedade comum das tecnologias

sociais como ambiente de inovação social

(Termo de referência para um marco regulatório)

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - CDS / UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB

CAMPUS UNIVERSITÁRIO DARCY RIBEIRO

Gleba A, Bloco C - Av. L3 Norte, Asa Norte - Brasília-DF, CEP: 70.904-970Telefones: (61) 3368-5594, 3368-4091, 3368-1971, 3368-5815, Fax: 3368-5146E-mail : [email protected] | Site: www.unbcds.pro.br

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Sumário

0 7 INTRODUÇÃO

09 1 . PROPRIEDADE INTELECTUAL E INOVAÇÃO

1 5 2. REGULAMENTAÇÃO INTERNACIONAL DAPROPRIEDADE INTELECTUAL

23 3. REGIME JURÍDICO DA PROPRIEDADEINTELECTUAL NO BRASIL – VISÃO GERAL

24 3.1 PROPRIEDADE INDUSTRIAL (9.279/97)

24 3.2 CONCESSÃO DE PATENTES:

26 3.3 REGISTRO DE DESENHOS INDUSTRIAIS

2 7 3.4 REGISTROS DE MARCAS

2 7 3.5 LEI DOS DIREITOS AUTORAIS – 9.610/98

29 3.6 LEI DE PROTEÇÃO AOS PROGRAMAS DECOMPUTADOR – LEI 9.609/98

30 3 . 7 LEI DE PROTEÇÃO AOS CULTIVARES – LEI9.456/97

32 3.8 LEI DE PROTEÇÃO À PROPRIEDADEINTELECTUAL DAS TOPOGRAFIAS DECIRCUITOS INTEGRADOS - LEI 11.484/2007

34 4. O PROJETO DE LEI FEDERAL SOBRETECNOLOGIAS SOCIAIS

38 5. O QUE PENSA O MOVIMENTO PELA TS?

43 6. OPORTUNIDADES

43 6.1. FOMENTO AO REGIME INTERDISCIPLINAR

44 6.2. O FOMENTO AO REGIME UTILITARISTA E OMTS

O Observatório do Movimento pela Tecnologia Social naAmérica Latina é um programa de pesquisa, docência eextensão afeto a linha de pesquisa Ciência, Tecnologia e

Inovação para Sustentabilidade do Centro deDesenvolvimento Sustentável da UnB.

Página: http://professores.cds.unb.br/omts/pub/?

FICHA TÉCNICA - CATALOGRÁFICADireitos de propriedade comum das tecnologias sociais como ambiente

de inovação social. (Termo de referência para um marco regulatório).

Observatório do Movimento pela Tecnologia Social na América Latina.

Centro de Desenvolvimento Social. Universidade de Brasília. Abril

2009. Apoio institucional SECIS – Secretaria de Ciencia e Tecnologia

para o Desenvolvimento e Inclusão Social. Ministério da Ciência e

Tecnologia. (Proc.CDT/SECIS Centro de Desenvolvimento

Sustentável). Equipe técnica: Ricardo Toledo Neder (coordenador.),

Maria Rita Reis (Bacharel em direito e Pesquisadora do Observatório)

Alessandro Luís Piolli e Willian Toshio Minatogawa Higa

(pesquisadores do Observatório e Mestres em Política Científica e

Tecnológica pela UNICAMP). Agradecimento especial a Rosangela

Muniz (gerente do Núcleo de Propriedade Intelectual e Industrial -

NUPITEC, do CT-UnB).

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46 6.3. O FOMENTO AO REGIME REGULATÓRIODAS NORMAS TÉCNICAS PARA O MTS

4 7 6.4. O FOMENTO AO REGIME DEMOBILIDADE DAS REDESSOCIOTÉCNICAS

5 1 7 . O QUE PENSAM OS PESQUISADORES?

5 3 8. PATENTES E TECNOLOGIAS SOCIAIS

5 7 9. CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADOÀ BIODIVERSIDADE, TECNOLOGIAS SOCIAISE PROPRIEDADE INTELECTUAL

60 9.1 LEGISLAÇÃO SOBRE ACESSO ARECURSOS GENÉTICOS NO BRASIL

64 9.2 CASO DO CUPUAÇU

64 9.3 MÁQUINA COLETADORA DE AÇAÍ

65 9.4 VELA DE URUCURÍ DESENVOLVIDAPELO IEPA

66 9.5 ENCAUCHADOS E NANOCOMPÓSITOS DEBORRACHA – O POTENCIAL DEFORMAÇÃO DE UMA REDESOCIOTÉCNICA

6 7 9.6 A SEGUNDA TENTATIVA DEREGULAMENTAÇÃO

68 9.7 PROJETO DA EMBRAPA INTEGRAPEQUENAS PROPRIEDADES AOAGRONEGÓCIO

7 0 10.NOTAS E REFERÊNCIAS

7 6 11.APÊNDICE 1

INTRODUÇÃO

Tem havido nos últimos anos ampla mobilização da opinião públicapela divulgação sistemática de ações, experiências, políticas econceitos em torno da tecnologia social. Integram estas ações umaRede brasileira de Tecnologia Social (RTS), os Prêmios anuais deTecnologia Social da Fundação Banco do Brasil, e sobretudo as açõesde incentivo da FINEP (FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS)aos ambientes de inovação de 88 Incubadoras de CooperativasPopulares nas universidades públicas no País.

Complementar a este quadro, pela primeira vez no país criou-se umaSecretaria de Ciência e Tecnologia para Desenvolvimento e Inclusãosocial (SECIS/MCT). O MDA, o MDS, o SEBRAE nacional têmpromovido editais para financiamento de projetos de tecnologiassociais da comunidade de pesquisa no País. Desta forma, não se podeargumentar desconhecimento do que é tecnologia social. Ainda épouco, mas o início está construído.

Em torno do movimento pela Tecnologia Social foram investidoscerca de 500 milhões de reais nos últimos cinco anos, segundo dadosda RTS. O acervo de experiências e conhecimentos é significativoem matéria de projetos demonstrativos e em escala real. Dentre eles,os da Economia Solidária e formas de encadeamento da produção eação social, o modelo PAIS de horticultura familiar para segurançaalimentar e nutricional, a Articulação do Semi-Árido - ASA. Estescasos são apenas uma pequena ponta do iceberg.

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A seu modo e estilo cultural, homens e mulheres nestes ambientesapresentam inovações com o trabalho aplicado ao processamentodos produtos extrativistas, às práticas agropecuárias com rebanhose sementes, alimentação humana e animal.

Diante destes ambientes que políticas de extensionismo, ciência etecnologia lhes são apropriadas? O campo deste estudo abordaprecisamente os obstáculos e as oportunidades para a fomento aeste ambiente institucional e político adequado para o plenodesenvolvimento das potencialidades contidas na política brasileirapara a inovação & tecnologia social (ITS) diante dos direitos depropriedade intelectual (DPI) e seu contexto na política científica,tecnológica e de inovações brasileira.

Tal como consta na lei 10.973, 2/12/2004 chamada de Lei daInovação, o País conta hoje com inúmeros incentivos à inovação e àpesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo. Grandesaportes de recursos dos fundos setoriais de Ciência e Tecnologia,além dos orçamentários da União podem ser transferidos medianteconvênios adequados e sob chamadas.

Este estudo visa precisamente avaliar as condições necessárias paraque estes recursos destinados às políticas de inovação empresarialpossam ser igualmente viabilizados para ambientes de políticaspúblicas de desenvolvimento e inclusão social por meio de umaregulamentação adequada da política de CT&I para inovaçõessociais.

1. PROPRIEDADE INTELECTUAL E INOVAÇÃO

A relação entre Propriedade Intelectual e Inovação é controvertida,sendo possível sintetizar as posições sobre o tema em duas correntes.A primeira , baseada na economia da inovação de origemneoclássica no pensamento econômico, considera que oreconhecimento dos direitos de propriedade intelectual e aampliação progressiva dos níveis de proteção é fundamental. Seufoco é dirigido para a criação de um ambiente institucional quefavoreça a inovação e a ampliação do comércio de bens e serviços.

Esta visão supõe que o fundamento básico do sistema de patentes éa necessidade de assegurar proteção ao regime de

apropriabilidade de renda gerada pelo conhecimento1. Trata,segundo seus praticantes, de mecanismos para um supostofortalecimento da proteção legal à propriedade intelectual comooportunidade para países e empresas alcançarem um padrãomínimo de proteção. Este padrão induziria à criação de umambiente institucional propício para a inovação. E, porconseqüência, haveria também a transferência de tecnologia emparticular entre países desenvolvidos e países emdesenvolvimento2. Esta proteção é justificada, nesta abordagem, portrês argumentos:

� Trata-se de uma recompensa, pela qual os DPI constituiriam umaforma de recompensar os esforços dos desenvolvedores datecnologia;

� Trata-se de um investimento que pede recuperação, segundo a qualos desenvolvedores de tecnologia, através dos DPI deveriam ter

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a possibilidade de recuperar os investimentos realizados em P&D;

� Trata-se de um incentivo – baseia-se na idéia de que os direitos depropriedade intelectual possibilitam a mobilização de recursospara outras inovações.

As patentes possibilitariam a “expansão do conhecimento públicosobre tecnologia”, já que, através delas, o inventor é obrigado adisponibilizar e divulgar nas bases de patentes o conhecimento sobrea tecnologia. Para esta corrente, os mecanismos de garantia dosdireitos de propriedade intelectual assumem papel diferenciado, apartir da década de 1980. Desde este ponto até hoje houve umaaceleração no campo das relações de trabalho e mudanças técnicasmediante cinco processos interligados:

� a intensidade do desenvolvimento científico e tecnológico que

caracteriza a sociedade contemporânea;

� a redução do tempo requerido para o desenvolvimento tecnológico

e incorporação dos resultados no processo produtivo;

� a redução do ciclo de vida dos produtos no mercado;

� a elevação dos custos de pesquisa e desenvolvimento e dos riscos

implícitos na opção tecnológica; e

� a importância dos ativos intangíveis na economia contemporânea3.

Para uma segunda corrente estes pressupostos descrevemparcialmente, e de forma muito especialista ou enviesada, umacomplexidade vivida pela sociedade diante da questão tecnológicae da reorganização do trabalho no conjunto da vida social e cultural.

O conjunto de interações acima entre os agentes sociais e econômicos,portanto, mostra a ausência ou exclusão das análises acerca dasaplicações e suas conseqüências das tecnologias no dia-a-dia dasociedade. Apresentam, em geral, as inovações exclusivamentecomo decorrência do cálculo econômico dos atores empresariais.Essas análises (da primeira vertente) partem do pressuposto de que

o mercado é instância social e economicamente eficiente a partirdo momento que existe um sistema sólido de direitos de propriedade.Por um lado, os direitos de propriedade permitem converter osativos em capital e gerar assim as rendas correspondentes para osdetentores desses direitos4.

De acordo com a lógica da primeira vertente, a fragilidade de ummarco regulatório de propriedade intelectual prejudica diretamentea produção de inovação e os ganhos de produtividade, e, em últimaanálise, o desenvolvimento da economia. Adotada esta perspectiva,os direitos de propriedade intelectual são considerados elementoscentrais na política de inovação.

A obtenção de certificados de proteção (patentes, por exemplo)constituiria o principal objetivo a ser atingido e o principal referencialde sucesso de uma estratégia de políticas de ciência, tecnologia &inovação.

A interdependência, contudo, entre a garantia de direitos depropriedade intelectual em padrões rígidos e a inovação não éconsenso, apesar da avalanche do marqueting e do debate sobrepropriedade intelectual no mundo e da ampliação dos direitos depropriedade intelectual (DPI) após a adoção do Acordo sobreDireitos de Propriedade Intelectual sobre o Comércio (ou TRIPS,em inglês).

Em 1975, a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio eDesenvolvimento - UNCTAD publicou um estudo concluindo quenão é possível estabelecer empiricamente a contribuição do sistemade patentes para os países em desenvolvimento. Se o sistema depatentes foi um dos fatores que garantiram o fluxo de inovaçõestecnológicas nos países atualmente classificados comoindustrializados ou se a sua importância cresceu nesses países àmedida que se tornaram líderes tecnológicos não é ponto conclusivona literatura econômica referente a esse tema5.

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Diversos autores apontam que todos os estudos empíricos mostramque, de 1980 até hoje, não há correlação positiva entre a quantidadede patentes registradas e o progresso técnico, este podendo ser avaliadoa partir das despesas em Pesquisa & Desenvolvimento (P & D).

Da mesma maneira, um aumento da taxa de crescimento do númeropatentes registradas não corresponde um aumento da taxa decrescimento das despesas em P & D.

Ao relativizar o papel supostamente central desempenhado pelapropriedade intelectual no estímulo à inovação, Pereira (1995)explica que a capacidade de inovação das empresas é função doestoque acumulado de conhecimento, dos processos passados deaprendizado e do próprio meio institucional na qual se inserem.

Além disso, a própria dinâmica de competição e formas de apoiogovernamental através de créditos para pesquisa e desenvolvimento,programas de compras governamentais ou outros mecanismos deincentivo tem se mostrado, frequentemente, fator preponderantena determinação do progresso técnico6.

Neste contexto, padrões rígidos de propriedade intelectual poderiaminclusive constituir obstáculos ao estabelecimento de políticasnacionais de inovação. A ampliação dos direitos de propriedadeintelectual, com a possibilidade de que sejam registrados fragmentosde produtos ou processos completos, inviabiliza a replicação emoutra(s) empresa(s) que não a proprietária do ativo.

Os DPIs podem ainda possibilitar o fortalecimento de estratégias deconcentração do mercado. Firmas que não alcançaram determinadamassa crítica em termos de DPI não podem penetrar no mercado.Na medida em que os processos tecnológicos que elas queremimplementar contêm componentes protegidos, sua entrada é impedida.

Essas firmas são o objeto de uma estratégia hold-up (ou bloqueio)por parte das firmas que já atuam no mercado. Essas constituemuma rede fechada dentro da qual elas trocam suas patentes.

Constroem assim barreiras à entrada eficazes e mantêm sua vantagemdiferencial em relação às firmas excluídas da rede7. Além disso,efetiva difusão tecnológica, decorrente da publicação da patente,seria possível apenas às empresas que estejam pesquisando inovaçõessimilares (a simples informação sobre a inovação tecnológica estádisponível para as empresas concorrentes, em média, somente apósum ano, com ou sem a concessão da patente8).

Quanto aos outros argumentos (incentivo, retribuição erecuperação), eles poderiam ser igualmente estimulados através demecanismos de desenvolvimento da política de inovação que nãoimpliquem no estabelecimento de direitos monopólicos ou deexclusividade.

Apesar da importância deste debate para a política de inovação, aentrada em vigor do Tratado sobre Direitos de PropriedadeIntelectual Relacionados ao Comércio, conduziu à obrigatoriedadede regulamentação de padrões rígidos de propriedade intelectual,em todos os países membros da Organização Mundial do Comércio.Sua assinatura deixou ao Brasil, e outros países latinoamericanos,pouca liberdade para manejar os instrumentos de propriedadeintelectual de acordo com os interesses nacionais. Este marcoregulatório passou a influenciar de forma marcante a política nacionalde inovação, conforme expressa a Lei de Inovação brasileira.

Veremos a seguir, como este marco regulatório afeta as inovações etecnologias sociais (ITS) e as políticas públicas a elas subjacentes, jáque não se pode aplicar propriedade intelectual e industrial a estamodalidade de inovação. Por conseqüência, embora as inovaçõesexistam de fato, elas não são reconhecidas pelo marco regulatório.

Diante disto, a incompatibilidade do marco regulatório vigente comas especificidades de um ambiente de ITS é efetivamente um obstáculoao reconhecimento seu principal patrimônio cultural e político?

São necessárias outras políticas de regulamentação do sistemabrasileiro de inovação?

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Grande parte destas e outras questões – que serão vistas naspróximas seções – passam pelo entendimento de como o Brasil eoutros países latino-americanos se posicionam diante desta matériano quadro internacional. E, sobretudo, no contexto das relações detroca cultural, sociopolítica e dos processos de aculturamento dassoluções e tecnologias, cujo modelo de industrialização tomou-secomo referencia hegemônica no país. A próxima seção abordaprecisamente este ultimo ponto.

2. REGULAMENTAÇÃO INTERNACIONAL DAPROPRIEDADE INTELECTUAL

A regulamentação internacional da propriedade intelectualdesempenhou, desde o século 19, um papel de mecanismo de políticacomercial dos países hegemônicos sobre os dependentes (casolatino-americano). Isto ficou marcado no tratamento do tema pelalegislação interna brasileira.

Vale lembrar que o Brasil foi um dos onze países que firmaram oprimeiro tratado internacional sobre propriedade industrial, aConvenção de Paris, que entrou em vigor em 1884. Neste Tratado, aproteção da propriedade industrial tem por objeto as patentes deinvenção, os modelos de utilidade, os desenhos ou modelosindustriais, as marcas de serviço, o nome comercial e as indicaçõesde procedência ou denominações de origem, bem como a repressãoda concorrência desleal.

A propriedade intelectual na Convenção de Paris (CUP) aplica-senão só à indústria e ao comércio propriamente ditos, mas tambémàs indústrias agrícolas e extrativas e a todos os produtosindustrializados ou naturais, como por exemplo: vinhos, cereais,tabaco em folha, frutas, animais, minérios, águas minerais, cervejas,flores, farinhas.

Caracterizada por conceder liberdade de regulamentação aos países-membro e por não possuir mecanismos de sanção nem de soluçãode controvérsias, o princípio basilar da Convenção de Paris é o“tratamento nacional”, pelo qual os países signatários deveriam

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conceder paridade de tratamento entre inovadores nacionais eestrangeiros9.

A Convenção foi concebida para facilitar o fluxo de tecnologia entreas nações contratantes, criando requisitos comuns para a concessãode patentes e garantindo tratamento nacional para estrangeiros10.Os outros dois princípios estabelecidos pela Convenção de Paris sãoo “direito de prioridade”11 e o da “independência das patentes”, esteúltimo implícito.

Pelo direito de prioridade, ao inventor que deposita um pedido depatente em um dos países membros da Convenção, confere-se odireito de prioridade nos depósitos realizados em qualquer dosoutros países, por um prazo estabelecido na Convenção – atualmenteestes prazos são de 12 meses para invenções e modelos de utilidadee de seis meses para os desenhos ou modelos industriais e para asmarcas de fábrica ou de comércio.

A independência das patentes foi reconhecida pela CUP, ao se admitirque as decisões tomadas em um país quanto a um pedido não têmqualquer influência na decisão sobre a patenteabilidade de outropaís, desde que respeitado o princípio do tratamento nacional.

Outro aspecto importante da Convenção de Paris é a exploraçãolocal obrigatória, que autoriza os países membros a revogar o direitode exclusividade concedido pela patente em caso de não-exploração.

A Convenção de Paris sofreu seis revisões periódicas, a saber:Bruxelas (1900), Washington (1911), Haia (1925), Londres (1934),Lisboa (1958) e Estocolmo (1967). As diversas revisões daConvenção de Paris caminham sempre no sentido de valorizar oreconhecimento extranacional dos direitos de propriedadeindustrial e restringir o alcance e a eficácia das demandas defabricação local12.

Baseada nas legislações de propriedade intelectual dos paíseseuropeus, poucos paises em desenvolvimento aderiram à

Convenção de Paris até a década de 60: o Brasil foi o único queassinou o documento original, em 1884, a República Dominicanaaderiu em 1890, o México em 1903 e Cuba em 1904. Somente apartir da década de 60, a maior parte dos países em desenvolvimentoaderiu o Acordo, passando a funcionar como bloco, e a defenderposições de forma unitária. A Convenção conta atualmente com aadesão de 171 países.

O campo da propriedade intelectual referente aos direitos autoraistambém foi regulamentado internacionalmente no final do séculoXIX, com a promulgação da Convenção de Berna sobre direitos autorais.

Aplica-se o disposto na Convenção de Berna às obras literárias ouartísticas, que, na definição da Convenção, compreendem todas asproduções no domínio literário, científico, artístico, qualquer queseja a sua maneira ou forma de expressão13.

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONVENÇÃO DE BERNA

RECIPROCIDADE – as obras originárias de um estado-membro são

protegidas em todos os outros; o tratamento nacional – a obra

estrangeira deve gozar do mesmo estatuto de proteção da obra

nacional; a proteção automática, de que decorre o fato de que a

proteção não é vinculada ao registro ou ao depósito de cópias. A

Convenção de Berna caracteriza-se também por estabelecer “padrões

mínimos” de proteção, obrigatórios a todos os países que dela façam

parte. Conforme explica José de Oliveira Ascensão, esta convenção

deu o tom às convenções internacionais nestes domínios, pois a sua

estrutura fundamental foi seguida pelos instrumentos posteriores. A

Convenção foi aditada 05 vezes, desde então: em 04/05/1896, em

Paris; e em 20/03/1914 em Berna. Revisões: em 13/11/1908, em

Berlim; em 02/06/1928, em Roma; em 26/06/1948, em Bruxelas;

em 14/07/1967, em Estocolmo; e em 24/06/1971, em Paris.

Em 1967, as Partes da Convenção de Paris e a Convenção de Berna

realizam a chamada Revisão de Estocolmo, destinada a reorganizar e

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unificar as estruturas administrativas das Convenções. De acordo

com Gandelman, a agenda compreendia a criação de uma organização

internacional especializada e a inclusão de novas tecnologias nas regras

de proteção de propriedade intelectua14.

Em 1967, é criada a Organização Mundial de Propriedade Intelectual– OMPI, com o mandato de fomentar a proteção da propriedadeintelectual mediante a cooperação dos Estados e em cooperaçãocom outras organizações internacionais.

É importante mencionar ainda a existência de outra organizaçãointernacional na área de propriedade intelectual: a União para Proteçãode Variedades Vegetais – UPOV, destinada a regulamentar os direitosde propriedade intelectual sobre sementes e mudas. A Convenção UPOVfoi adotada em 1961 e revisada em 1972, 1978 e 1991.

Paralelamente ao processo de institucionalização internacional daregulamentação sobre Propriedade Intelectual 15, inicia-se ummovimento, liderado por países do sul (países em desenvolvimento),de revisionismo do sistema internacional de propriedade

intelectual, voltado especificamente para a Convenção de Paris.

Tal movimento postula que a única maneira de criar leis nacionaisque funcionem como instrumento de estímulo à pesquisa e aodesenvolvimento de conhecimento próprio e participar do regimeinternacional é promovendo mudanças neste último.

Surgem assim dois posicionamentos entre as décadas de 1970 e 1980.

O REVISIONISMO DO SISTEMA INTERNACIONAL DE PROPRIEDADE INTELECTUAL

a) a propriedade intelectual constitui um bem público universal,

necessário para promover o desenvolvimento econômico e social da

humanidade, posição defendida pelos países em desenvolvimento e;

b) a propriedade intelectual justamente por ser um bem privado,

necessita de proteção como qualquer outra propriedade (posição dos

países desenvolvidos)16.

Como conseqüência deste processo, em 1971, houve uma revisão daConvenção de Berna, criando-se disposições que conferiam tratamentoespecial aos países em desenvolvimento. Com a aprovação destetexto, aumenta a pressão do grupo dos países em desenvolvimento,reunidos no G7717, para revisão da Convenção de Paris.

Em 1974, a União das Nações Unidas para o Comércio eDesenvolvimento (UNCTAD) publica um estudo intitulado “O papeldo sistema de patentes na transferência de tecnologia para os paísesem desenvolvimento”. O estudo adota uma perspectiva crítica emrelação à Convenção de Paris e ao sistema de patentes, considerandoque este pode impactar negativamente o desenvolvimento tecnológicodestes países e, sobretudo, avaliando negativamente o papel do sistemade patentes no incremento ao desenvolvimento tecnológico.

A pressão dos países em desenvolvimento reunidos no G77,direcionava-se para a criação, no âmbito da Convenção de Paris, dedispositivos que assegurassem tratamento diferenciado aos paísesem desenvolvimento.

Uma das medidas concretas dos países em desenvolvimento foi aorganização desta agenda18, embora isto não tenha evitado que apolarização entre as posições na OMPI a um ponto máximo.Enquanto, entre os países do G 77 havia um consenso revisionista,entre os países industrializados e tecnologicamente poderososhavia consenso de rejeição às reivindicações dos primeiros19.

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REIVINDICAÇÕES

� Supressão da disposição do art. 5ª, quarter, segundo a qual

quando um produto for introduzido num país da União

no qual exista uma patente protegendo um processo de

fabricação desse produto, o titular da patente terá, com

referência ao produto introduzido, todos os direitos que

a legislação do país de importação lhe conceder, em

virtude da patente desse processo, com referência aos

produtos fabricados no próprio país20.

(Os países em desenvolvimento precisam desenvolver a capacidade

de controlar as importações de produtos com processos de fabricação

patenteados, pois com a importação, o titular da patente do processo

de fabricação passava a ter direitos também sobre os produtos

fabricados no país por aquele processo).

� Melhor definição do termo “falta de exploração”, previsto no art.

5(2) da Convenção, que prevê que Cada país da União terá a

faculdade de adotar medidas legislativas prevendo a concessão de

licenças obrigatórias para prevenir os abusos que poderiam resultar

do exercício do direito exclusivo conferido pela patente, como, por

exemplo, a falta de exploração. (Países em desenvolvimento se

encontram diante da mera importação que não pode ser

considerada como exploração do produto).

� Penalidades mais fortes para a não-utilização efetiva das patentes

com a possibilidade de concessão de licença compulsória exclusiva,

concedendo-se um direito exclusivo ao licenciado (assim, impedindo

que o titular da patente estrangeira exercesse o controle sobre a

tecnologia em território nacional, no caso de licença compulsória).

As Conferências Diplomáticas da Convenção que ocorreram nesteperíodo (1980-1984) fracassaram e as discussões sobre PropriedadeIntelectual ganharam espaço em outro espaço internacional de

negociação: o GATT, o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio21, doqual iria se originar, em 1995, a Organização Mundial do Comércio.Desde 1979, vinham os Estados Unidos demonstrando insatisfaçãocom o que consideravam proteção insuficiente para a propriedadeintelectual, e tentando transferir para o âmbito do GATT (AcordoGeral sobre Tarifas e Comércio) as discussões no sentido de reforçaros mecanismos de proteção aos direitos dos titulares. Houveresistência por parte de vários países e o tema só veio a ser incluídoem pauta em 1989, após obtenção de concordância de Brasil e Índia,que insistiam que a OMPI (administradora da Convenção de Paris) enão o GATT era o foro adequado para a discussão de propriedadeintelectual. Transferidas as negociações para o âmbito do GATT, foipossível que os países desenvolvidos, sobretudo os Estados Unidos,obtivessem os resultados que, na OMPI, a polarização dos debates ea dinâmica das negociações impedia. Assim, um dos acordos firmadosao final da Rodada Uruguai foi o Acordo sobre Direitos de PropriedadeIntelectual relacionados ao Comércio (TRIPS – sigla em inglês).

A partir do TRIPS foi possível ampliar o âmbito de aplicação dosdireitos de propriedade intelectual, com a obrigatoriedade deestendê-los para formas de vida (plantas e animais) e obter umconjunto de normas vinculantes, com a possibilidade, inclusive, doestabelecimento de sanções comerciais por seu descumprimento.

O Acordo abrange todas as categorias de propriedade intelectualem um só instrumento, regulamentando o direito do autor e osdireitos conexos, as marcas, as indicações geográficas, os desenhosindustriais, as patentes, as topografias de circuitos integrados, aproteção de informação confidencial e o controle de práticas deconcorrência desleal em Contratos de Licenças.

Mais que buscar uniformizar as legislações internas de propriedadeintelectual, o TRIPS tem como objetivo estabelecer um padrãomínimo de proteção, obrigatório aos países membros da OMC comdisposições capazes de provocar aplicação de penalidades pelo seudescumprimento. O sistema de propriedade intelectual passa a seraplicada sobre toda a gama de processos de inovação, sem exceções.

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Com o TRIPS, o cenário internacional referente à propriedadeintelectual muda profundamente. Apesar das revisões dasConvenções de Paris apontarem para o aumento crescente do graude restrição conferido pela concessão de patentes, os Tratadosfirmados perante a OMPI são de caráter individual e voluntário, oque permite aos Estados-membros aderirem apenas àqueles quejulgarem mais favoráveis.

O sistema da União de Paris garantia aos Estados-membros certograu de diversidade de legislações nacionais e, por conseqüência,diferentes sistemas de política industrial. Com o acordo TRIPS e oestabelecimento do conteúdo mínimo a ser cumprido por todos osMembros, as economias passam a adotar um regime único,padronizado e com pouca margem de flexibilidade aplicado sobreuma gama enorme de novos setores da atividade intelectual.

Assim, sob influência do TRIPS, os países em desenvolvimento –incluindo o Brasil – revisaram toda sua legislação de propriedadeintelectual, adequando-se aos padrões estabelecidosinternacionalmente. A adesão de países em desenvolvimento à OMPIaumentou neste período, mas a agenda revisionista perdeu suaforça, pois a adesão à OMC não permitiria aos países emdesenvolvimento modificar sua legislação.

Mesmo após a entrada em vigor do TRIPS, iniciativas bilaterais,envolvendo principalmente os acordos de livre comércio ou deinvestimentos firmados com os Estados Unidos e União Européia,procuraram ampliar o âmbito de aplicabilidade dos DPI. De acordocom relatório do Escritório Americano de Patentes, cerca de 70países (dados de 2000) estavam revisando suas legislações internaspara estabelecer padrões de proteção à propriedade intelectualsuperiores ao TRIPS. Estes acordos são chamados de “TRIPS- plus”ou TRIPS –extra” e têm como objetivo suprimir a aplicabilidade dasflexibilidades do TRIPS e aumentar os níveis de proteção aos direitosde propriedade intelectual.

3. REGIME JURÍDICO DA PROPRIEDADE INTELECTUALNO BRASIL – VISÃO GERAL

O regime jurídico da propriedade intelectual22 no Brasil é regido porum conjunto de leis elaboradas ao final da década de 1990, sobinfluência da nova regulamentação internacional sobre o tema,materializada no Acordo sobre Direitos de Propriedade Intelectualda Organização Mundial do Comércio.

O MARCO REGULATÓRIO DE INOVAÇÃO EM VIGOR (ANOS 2000)

� A Lei de Propriedade Industrial (9.279/96): Regulamenta a concessão de

patentes de invenção e de modelos de utilidade, o registro de desenho

industrial, do registro de marca, além de prever medidas de

repressão às falsas indicações geográficas e a repressão à

concorrência desleal.

� A Lei dos Direitos Autorais (9.610/98): Regulamenta os direitos autorais

sobre obras intelectuais.

� A Lei de Proteção aos Programas de Computador (Lei 9.609/98): Dispõe sobre a

proteção da propriedade intelectual de programa de computador,

sua comercialização no País, e dá outras providências.

� A Lei de Proteção aos Cultivares (9456/96): Regulamenta a proteção dos

direitos relativos à propriedade intelectual referente aos cultivares,

que poderá obstar a livre utilização de plantas ou de suas partes de

reprodução ou de multiplicação vegetativa, no País.

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� A Lei de Proteção à propriedade intelectual das topografias de circuitos integrados

(11.484 de 2007): Dispõe sobre os incentivos às indústrias de

equipamentos para TV Digital e de componentes eletrônicos

semicondutores e sobre a proteção à propriedade intelectual das

topografias de circuitos integrados.

Veremos, brevemente, cada um a seguir:

3.1 Propriedade Industrial (9.279/97)

A lei de propriedade industrial regula os direitos e obrigações referentesà propriedade industrial, estabelecendo que a proteção à propriedadese efetua mediante os seguintes mecanismos: concessão de patentesde invenção e de modelo de utilidade; concessão de registro dedesenho industrial; concessão de registro de marca; repressão às falsasindicações geográficas e repressão à concorrência desleal.

Tanto as patentes como os registros de desenhos industriais emarcas são concedidos pelo Instituto Nacional de PropriedadeIntelectual (INPI).

3.2 Concessão de patentes

De acordo com a lei, é patenteável toda a invenção que atenda aosrequisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial.São também patenteáveis os “modelos de utilidade”, consideradoscomo todo objeto de uso prático suscetível de aplicação industrialque apresente nova forma ou disposição, que envolva ato inventivoque resulte em melhoria funcional em seu uso ou em sua fabricação.

Depreende-se que são requisitos para o patenteamento: a novidade,atividade inventiva e aplicação industrial. A invenção e o modelo deutilidade são considerados novos quando não compreendidos noestado da técnica, constituído por tudo aquilo tornado acessível ao

público antes da data de depósito do pedido de patente, pordescrição escrita ou oral, por uso ou qualquer outro meio, no Brasilou no exterior. Portanto, para que se conceda uma patente, o produtonão poderá ter sido divulgado ou deixado acessível ao público.

A atividade inventiva é caracterizada sempre que, para um técnicono assunto, não decorra de maneira evidente ou óbvia do estado datécnica. Em relação ao modelo de utilidade, considera-se dotado deato inventivo sempre que não decorra de maneira comum ou vulgardo estado da técnica.

A lei não considera invenção nem modelo de utilidade a meradescoberta, teorias científicas e métodos matemáticos, concepçõespuramente abstratas, esquemas, planos, princípios ou métodoscomerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, desorteio e de fiscalização.

Não são patenteáveis as obras literárias e artísticas e os programasde computador, pois são aplicados mecanismos próprios depropriedade intelectual.

É vedado o patenteamento de técnicas e métodos operatórios oucirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, paraaplicação no corpo humano ou animal; e do todo ou parte de seresvivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ouainda que dela isolados, inclusive o genoma ou germoplasma dequalquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

A lei excluiu da possibilidade de patenteamento o que for contrárioà moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde públicas;as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos dequalquer espécie, bem como a modificação de suas propriedadesfísico-químicas e os respectivos processos de obtenção oumodificação, quando resultantes de transformação do núcleoatômico; e o todo ou parte dos seres vivos.

Em relação aos seres vivos, a lei permite o patenteamento dos

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microorganismos transgênicos, desde que atendam aos requisitosde patenteabilidade. Definiu-se como microorganismos transgênicosos organismos, exceto o todo ou parte de plantas ou de animais,que expressem, mediante intervenção humana direta em suacomposição genética, uma característica normalmente nãoalcançável pela espécie em condições naturais.

A patente23 confere ao seu titular o direito de impedir terceiro, semo seu consentimento, de produzir, usar, colocar à venda, vender ouimportar o produto objeto de patente e o produto ou processo obtidodiretamente por processo patenteado. Também se assegura ao titularo direito de impedir que terceiros contribuam para que outrospratiquem tais atos.

A exploração por terceiro ocorrerá por meio do “contrato de licençapara exploração”, que deverá ser averbado no INPI. A patente deinvenção vigora pelo prazo máximo de 20 anos e mínimo de 10. Apatente de modelo de utilidade vigora pelo prazo de máximo de 15anos e mínimo de 07.

3.3 Registro de Desenhos Industriais

Desenho Industrial é definido como a forma plástica ornamental deum objeto, ou de um conjunto ornamental de linhas e cores, quepossa ser aplicado a um produto, proporcionando resultado visualnovo e original em sua configuração externa e que possa servir detipo de fabricação industrial.

O registro do desenho industrial confere ao registrante a propriedadesobre ele e o direito de exploração exclusiva.

São requisitos da concessão do registro, portanto, a novidade(quando não compreendido no estado da técnica), a originalidade(quando dele resulte uma configuração visual distintiva em relaçãoa objetos anteriores) e a aplicação industrial.

A lei proíbe o registro do desenho industrial contrário à moral e aosbons costumes ou que ofenda a honra ou imagem de pessoas, ouatente contra a liberdade de consciência, crença, culto religioso ouidéia e sentimentos dignos de respeito e veneração.

O registro vigora pelo prazo de 10 anos, prorrogável por três períodossucessivos de 05 anos cada.

3.4 Registros de Marcas

Podem ser registrados como marcas os sinais distintivosvisualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais.A lei distingue 03 espécies de marca: marca de produto ou serviço –a usada para distinguir o produto ou serviço de outro semelhante ouafim, de origem diversa; marca de certificação – utilizada para atestara conformidade de um produto com especificações técnicasdeterminadas – e marca coletiva – criada para identificar produtosou serviços provindos de membros de uma determinada entidade.

A propriedade da marca adquire-se pelo registro validamenteexpedido, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo oterritório nacional. Todavia, a marca notoriamente conhecida emseu ramo de atividade goza de proteção independente de seu registrono Brasil. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda asseguradoo direito de ceder seu registro ou pedido de registro; licenciar seuuso e zelar pela sua integridade material ou reputação.

3.5 Lei dos Direitos Autorais – 9.610/98

A lei dos direitos autorais estabelece mecanismos de propriedadeintelectual aplicáveis às obras intelectuais, definidas como criaçõesdo espírito, expressas por qualquer meio ou fixadas em qualquersuporte, tangível ou intangível, conhecido ou que se invente nofuturo.

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A regulamentação menciona expressamente como objeto deproteção os textos de obras literárias, artísticas ou científicas; asconferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;obras dramáticas e dramático-musicais24.

Como veremos, os programas de computador são objeto delegislação específica, observadas as disposições sobre Direito Autoralque lhes sejam aplicáveis.

A proteção aos direitos do autor independe de registro, mas éfacultado ao Autor registrar sua obra na Biblioteca Nacional, naEscola de Música, na Escola de Belas Artes da Universidade Federaldo Rio de Janeiro, no Instituto Nacional do Cinema, ou no ConselhoFederal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia, sendo os serviçosde registros prestados mediante retribuição.

O direito autoral constitui-se de direitos patrimoniais e morais. Aoautor cabe o direito exclusivo de utilizar, fruir e dispor da obraliterária, artística ou científica. Assim, dependem de autorizaçãoprévia e expressa a utilização de sua obra por quaisquer modalidades,incluindo a reprodução, edição, tradução, adaptação e distribuição.Tais direitos perduram por toda a vida do autor.

Os direitos patrimoniais sobre a obra permanecem ainda que o autorvenda a obra de arte ou manuscrito ou os direitos patrimoniais sobrea obra intelectual: caso o comprador os venda novamente, o autortem direito irrenunciável e inalienável de participar na mais valiaque a eles advierem em benefício do comprador. Esta participaçãoserá de 20% sobre o aumento de preço obtido em cada alienação,considerando a imediatamente anterior.

São direitos morais, a faculdade de reivindicar a qualquer tempo aautoria da obra; o de ter o nome, pseudônimo ou sinal convencionalindicado ou anunciado, como sendo o do autor, na utilização da obra25.

Os direitos morais perduram por 70 anos, contados do dia 01 dejaneiro subseqüente ao falecimento do autor. Após a extinção dos

direitos morais do autor, cabe ao estado zelar pela integridade desua obra. (Não constituem ofensas aos direitos autorais a citação depassagens de qualquer obra, para fins de estudo, crítica ou polêmica,com a indicação do nome do autor e da origem da obra e a utilizaçãode obras protegidas com o fito de produção de prova judiciária ouadministrativa).

3.6 Lei de Proteção aos Programas de Computador – Lei 9.609/98

A lei define programa de computador como

a expressão de um conjunto organizado de instruçõesem linguagem natural ou codificada, contida emsuporte físico de qualquer natureza, de empregonecessário em máquinas automáticas de tratamento dainformação, dispositivos, instrumentos ou equipa-mentos periféricos, baseados em técnica digital ouanáloga, para fazê-los funcionar de modo e para finsdeterminado.

A propriedade intelectual dos programas de computador éconsiderada espécie dos direitos autorais, por isso, dispõe a lei queo regime de proteção à propriedade intelectual de programa decomputador é o conferido às obras literárias pela legislação dedireitos autorais e conexos vigentes no País.

Os Programas de Computador são protegidos pelo direito autoral e,como tal, o registro é opcional, sendo meramente declaratório. Suavalidade é internacional, assim, os programas registrados no INPInão precisam ser registrados nos demais países, desde que estesconcedam, aos estrangeiros, direitos equivalentes. Da mesma forma,os programas de estrangeiros não precisam ser registrados no Brasil,salvo nos casos de cessão de direitos, para garantia das partesenvolvidas.

Não se aplicam, todavia, aos programas de computador os direitos

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morais, próprios dos direitos autorais sobre outras criações, salvoo direito do autor de reivindicar a autoria do programa e de se oporàs modificações não autorizadas, quando estas impliquemdeformação, mutilação do programa de computador, que alteremsua honra ou reputação.

A tutela dos direitos relativos a programas de computador independede registro e é assegurada pelo prazo de cinqüenta anos, contados apartir de 1º de janeiro do ano subseqüente ao de sua publicação.

O direito de exclusividade na exploração comercial abrange o direitode proibir ou autorizar o aluguel comercial, não sendo este direitoexaurível pela venda, licença ou outra forma de transferência davenda do programa.

O uso de programa de computador por terceiro, deverá ser objetode contrato de licença. Na hipótese de ausência deste contrato, odocumento fiscal referente à aquisição ou licenciamento de cópiaservirá de comprovação para a regularidade de seu uso.

O registro de programas de computador, se realizado, é efetivadomediante solicitação ao Instituto Nacional de PropriedadeIntelectual – INPI.

3.7 Lei de Proteção aos Cultivares – Lei 9.456/97

A Lei de Proteção de Cultivares26 regulamentou a propriedadeintelectual no que se refere à matéria viva vegetal, especificamente,sementes e mudas.

Com a edição da Lei de Proteção aos Cultivares, o Brasil adequou-seao Acordo sobre Propriedade Intelectual da OMC, estabelecendoum regime de propriedade intelectual às obtenções vegetais.

Os direitos de propriedade intelectual recaem sobre o material de

reprodução (sementes) ou de multiplicação vegetativa da plantainteira (mudas) e garantem ao titular o direito à reproduçãocomercial no território brasileiro. Fica vedado a terceiros, semautorização, a produção com fins comerciais, o oferecimento à vendaou a comercialização, do material de propagação do cultivar, semautorização do titular.

Tais direitos vigoram pelo prazo de 15 anos, e no caso de videiras,árvores frutíferas, árvores florestais e árvores ornamentais, operíodo de aplicabilidade dos direitos de propriedade intelectual éde 18 anos.

A lei define o “certificado de proteção de cultivar” como a únicaforma de proteção de cultivares e de direito que poderá obstar alivre utilização de plantas ou de suas partes de reprodução ou demultiplicação vegetativa no país.

Os requisitos para a concessão do certificado são: a) distinguibilidade(o cultivar deve se distinguir claramente de outra cuja existência nadata do pedido de proteção seja reconhecida); b) homogênea(utilizada em plantio, em escala comercial, deve apresentarvariabilidade mínima quanto aos descritores que a identifiquem) ec) estável (reproduzida em escala comercial, mantenha a suahomogeneidade através de gerações sucessivas). Cumpridos estesrequisitos, o novo cultivar ou e também cultivar essencialmentederivado, de qualquer gênero ou espécie vegetal podem ser objetode proteção.

O Certificado de Proteção é deferido pelo Serviço Nacional deProteção de Cultivares, vinculado ao Ministério da Agricultura,Pecuária e Abastecimento, a quem cabe também manter o CadastroNacional de Cultivares Protegidos.

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UMA CONQUISTA DO PRINCÍPIO DE DOMÍNIO COMUM

Importante mencionar que a lei de proteção aos cultivares reconheceu

o que se denomina “Direitos dos Agricultores”, estabelecendo que não

fere os direitos de propriedade intelectual do titular – excluindo a

cultura de cana-de-açúcar - aquele que:

1. Reserva e planta sementes para uso próprio, em seu estabelecimento

ou em estabelecimento de terceiros cuja posse detenha;

2. Usa ou vende como alimento ou matéria-prima o produto obtido do

seu plantio, exceto para fins reprodutivos;

3. Utiliza o cultivar como fonte de variação no melhoramento genético

ou na pesquisa científica;

A Lei prevê a possibilidade de licenciamento compulsório parautilização cultivar, por ato da autoridade competente, arequerimento de qualquer interessado. Neste caso, deverá serassegurada a disponibilidade do cultivar no mercado a preçosrazoáveis, a regular distribuição do cultivar e a remuneraçãorazoável do titular. Por ato do Poder Público (declaração do Ministroda Agricultura) o cultivar poderá ser declarado de uso públicorestrito, neste caso, poderá ser explorado diretamente pela Uniãoou por terceiros por ela designados sem autorização do titular, que,todavia, será remunerado e notificado.

3.8 Lei de Proteção à propriedade intelectual das topografias decircuitos integrados - Lei 11.484/2007

Apesar de tramitar projeto de lei sobre o tema desde 1996, apropriedade intelectual de topografias de circuitos integrados foiregulamentada apenas em 2007, com a edição da lei que instituiu oPrograma de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria

de Semicondutores (PADIS), destinado a apoiar pessoas jurídicasque realizem investimentos em pesquisa e desenvolvimento dedispositivos eletrônicos semicondutores classificados nas posições85.41 e 85.42 da Nomenclatura Comum do Mercosul (NCM),mostradores de informação (displays).

Esta lei, além de prever mecanismos de incentivo a empresas queinvestem em P&D, estabeleceu um regime de propriedade intelectualàs topográficas de circuitos integrados – definidos um produto, emforma final ou intermediária, com elementos dos quais pelo menosum seja ativo e com algumas ou todas as interconexões integralmenteformadas sobre uma peça de material ou em seu interior e cujafinalidade seja desempenhar uma função eletrônica.

O reconhecimento dos direitos de propriedade intelectual seráaplicado à topografia que seja original e poderá ser exercido por 10anos, contados da data do depósito ou da 1ª exploração. O registrode topografia de circuito integrado confere ao seu titular o direitoexclusivo de explorá-la, sendo vedado a terceiros reproduzi-las notodo ou em parte, inclusive integrá-la a um circuito integrado;importar, vender ou distribuir topografias protegidas ou produtosque incorporem um circuito integrado no qual esteja incorporadauma topografia protegida.

De forma semelhante aos desenhos industriais e às patentes, autilização dos circuitos integrados protegidos se dá pelolicenciamento da tecnologia.

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4. O PROJETO DE LEI FEDERAL SOBRE TECNOLOGIASSOCIAIS

Tramita na Câmara dos Deputados o PL 3.449/2008, que institui aPolítica Nacional de Tecnologia, Social, cria o Programa eTecnologia Social (PROTECSOL) e dá outras providências.Atualmente, o PL está na Comissão de Trabalho, Administração eServiço Público.

A proposta define tecnologias sociais como o conjunto de atividadesrelacionadas ao planejamento, pesquisa, desenvolvimento,criação, aplicação, adaptação, difusão e avaliação de:

a) técnicas, procedimentos e metodologias;b) produtos, dispositivos, equipamentos e processos;c) serviços;d) inovações sociais organizacionais ee) inovações sociais de gestão desenvolvidas e/ou aplicadas nainteração com a população.

A inovação em tecnologia social é conceituada como a criação denovas tecnologias sociais, assim como a introdução de melhorias,avanços e aperfeiçoamentos em tecnologias sociais já existentes.

A lei determina a inclusão das atividades de tecnologias sociais napolítica de ciência, tecnologia e inovação, estabelecendo que devamreceber tratamento idêntico às outras atividades desenvolvidasno setor de ciência, tecnologia e inovação, especialmente no que

tange aos benefícios, direitos e prerrogativas estabelecidas pelalegislação em vigor.

A Política Nacional de Tecnologia Social deve ser regida pelo respeitoaos direitos fundamentais (em especial o direito ao conhecimento, àeducação, à participação no patrimônio científico, tecnológico ecultural; ao direito à vida, alimentação e à saúde, aodesenvolvimento, ao direito de usufruir do padrão de vida criadopela tecnologia) e adoção de formas democráticas de atuação.

PROPOSTAS PARA UMA POLÍTICA NACIONAL DE TECNOLOGIA SOCIAL

1. Proporcionar soluções derivadas da aplicação de conhecimentos,

da ciência e tecnologia e da inovação para atender necessidades e

demandas de maior qualidade de vida da população em situação de

exclusão social;

2. Integrar as tecnologias sociais com a política de Ciência, Tecnologia

e Inovação;

3. Incluir as tecnologias sociais em projetos de: produção e

democratização do conhecimento, da ciência, tecnologia e inovação;

iniciação científica e tecnológica; extensão universitária;

segurança alimentar, água, geração de trabalho e renda, economia

solidária, aproveitamento e/ou tratamento de resíduos,

microcrédito, energia, meio ambiente, tecnologia de assistência,

agricultura familiar, agroecologia, sementes e raças animais

crioulas, reforma agrária, saneamento básico, educação, arte,

cultura, lazer, inclusão digital, desenvolvimento local

participativo, saúde, moradia popular, direitos da criança e do

adolescente, promoção da igualdade em relação à raça, gênero e de

pessoas com deficiência.

4. Promover a integração social e econômica das tecnologias sociais

na economia do país e no desenvolvimento local sustentável;

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5. Contribuir para a interação entre as esferas do saber acadêmico e

do saber popular e

6. Disponibilizar políticas adequadas de promoção e fomento das

tecnologias sociais mediante a criação de infra-estruturas

necessárias, assim como de instrumentos de crédito e de formação

e capacitação de recursos humanos.

Quanto à participação democrática, propõe-se que as organizaçõesda sociedade civil, produtoras de tecnologias sociais, assim comorepresentantes das comunidades tradicionais, terão assento nosseguintes órgãos: Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia;Conselho Deliberativo do CNPq; Comitês Assessores do CNPq; ComitêMultidisciplinar de Articulação do CNPq; Conselho do FundoNacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico; ComitêsGestores dos Fundos Setoriais do Ministério da Ciência e Tecnologia edemais conselhos e órgãos gestores das agências de fomento à pesquisa.

O PL estabelece que poderão acessar recursos dos fundos de ciência,tecnologia e inovação, destinado à tecnologias sociais, os seguintesatores: a) as associações civis; b) pessoas ou entidadesrepresentativas de populações tradicionais, c) comunidades locaisde povos indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caiçaras, extrativistas,pescadores, agricultores familiares e catadores; d) pessoas ouentidades representativas de assentados e reassentados nosProgramas de Reforma Agrária; e) instituições de ensino superior etecnológico; e) poderes públicos; f) empresas; g) sindicatos e centraissindicais; h) cooperativas; e i) movimentos populares.

No Capítulo 02, são definidas as competências e instrumentos daPolítica Nacional de Tecnologias Sociais.

Ao Ministério da Ciência e Tecnologia cabe mobilizar e coordenarações, recursos humanos, financeiros, materiais, técnicos ecientíficos e promover a participação da população.

São especificadas as seguintes ações a cargo do MCT: planejar edesenvolver estudos e ações visando à promoção, potencialização efortalecimento das tecnologias sociais; - elaborar e implementarprogramas, planos e projetos de Tecnologia Social; regulamentar efiscalizar os serviços, linhas de ação e programas da Política deTecnologia Social; estabelecer diretrizes e definir áreas prioritáriasde ação voltadas para a inclusão social e para a melhoria da qualidadede vida, visando ao aperfeiçoamento das atividades de tecnologiasocial e de seus resultados; estabelecer formas de cooperação comos estados e municípios e também, com a comunidade internacional,para o planejamento, execução e operação de ações relacionadas àstecnologias sociais.

No âmbito do MCT, caberá à Secretaria de Ciência e Tecnologia paraa inclusão social coordenar a gestão da Política Nacional deTecnologia Social.

Na proposta, definem-se como instrumentos da política detecnologias sociais: a extensão universitária, a responsabilidadesocial das empresas, os convênios para desenvolvimento detecnologias sociais e os sistemas de monitoramento, cadastrostécnico de atividades e bancos de dados. Também são definidos comoinstrumentos da Política Nacional de Tecnologias Sociais: o ConselhoNacional de Tecnologia Social; o Programa de Tecnologia Social –PROTECSOL; os programas transversais elaborados em parceria comos órgãos públicos correspondentes; os Fundos de Ciência,Tecnologia e Inovação; o Fórum Nacional de Tecnologia Social; oCBRTS – Centro Brasileiro de Referência em Tecnologia Social; e aRede de Tecnologia Social.

O projeto de lei cria o Programa de Tecnologia Social, com afinalidade prioritária de inserção de pessoas em situação de exclusãonas atividades de tecnologia sociais.

Menciona-se que os atores sociais que forem beneficiados comrecursos financeiros ou incentivos, deverão, em contrapartida,executar “ações de tecnologia social”.

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5. O QUE PENSA O MOVIMENTO PELA TS?

A proposta ora em construção no Congresso Nacional (caso doanteprojeto projeto de lei n° 3449, de 2007 que Institui a PolíticaNacional de Tecnologia Social, cria o Programa de Tecnologia Social– PROTECSOL) pressupõe que políticas de ciência tecnologia einovação possam se relacionar diretamente com as demandassociais. Este trânsito, contudo, é o principal aspecto potencial desucesso da política e, inversamente, também reside aí seu maiorrisco de fracasso.

Por demanda social entende-se o conjunto de proposições e asplataformas projetivas das experiências, situações e novos arranjosentre conhecimento e saberes que integram a agenda brasileira domovimento pela tecnologia social. A TS tem um componentefundamental de inovação sociotécnica pelo qual é impossíveldissociar o vivido pelas pessoas e grupos sociais (por exemplo,movimentos sociais urbanos sem-tetos e pro-urbanização de bairrospopulares, agricultores familiares, seringueiros e extrativistas,ribeirinhos, quebradeiras de babaçu, povos indígenas).

Sem os sujeitos sociais não há possibilidade de apropriação,primeiramente de inovações e tecnologias sociais enquantoresultados de demandas concretas e dos resultados empíricos (é,por exemplo, o saber-fazer na construção civil, saneamento emelhorias do traçado urbano nos bairros populares e favelas feitaspelos moradores). São os resultados alcançados que legitimam astécnicas, e reproduzem as soluções.

No caso de um banco de tecnologia social (visto como um passoimportante, mas insuficiente), ele depende da reaplicação constantedos resultados. Se a tecnologia social deve ser reaplicada, ela se convertetambém em uma tecnologia-em-busca de outros sujeitos sociais.

No caso de inovação sociotécnica, a reaplicação (alcançar escala) édecorrência do engajamento social de movimentos sociais eentidades para assegurar o resultado. Trata-se de um conjunto desujeitos sociais em busca de tecnologia.

Atualmente estes sujeitos e mediadores (extensionistas) sãoformados elos movimentos sociais e pelos agentes extensionistasintermediários (um dos mais destacados neste papel é o daArticulação do Semi-Árido – ASA) ou por redes que conectam outrasredes apoiadas (caso da Rede de Tecnologia Social) financiadores deestudos, pesquisas e projetos (caso da FINEP, do sistema brasileirode inovações).

Incluem-se ainda segmentos de entidades governamentais ouparaestatais (Programa Nacional de Incubadoras Populares –PRONINC/MDS) Secretaria de Inclusão Social do MCT e Fundaçãodo Banco do Brasil), além de ONGS de defesa dos direitos humanos esociais (IBASE, FASE, PTA) e rede de ongs (caso da Associaçãobrasileira de organizações não-governamentais, Abong).

Somente o aprofundamento destas questões anteriores, com quemsão também os próprios sujeitos sociotécnicos da inovação social,poderá resultar numa posição mais compreensiva e democráticasobre o marco regulatório para tecnologia social. Os sujeitos sociais(entendidos estes como os coletivos que geram e utilizam tecnologiasocial, assim como interagem com pesquisadores nas universidades)passam a ser a comunidade sociotécnica.

A partir de 1999, definiram-se um conjunto de ações no Estadobrasileiro em torno de alguns núcleos definidores do movimentopela TS. Podemos apontar como os mais destacados:

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O MOVIMENTO PELA INOVAÇÃO & TECNOLOGIA SOCIAL

a) Pesquisadores e Docentes nas Universidades

Este núcleo é politécnico (várias especialidades) cujos protagonistas,

em geral, tomam a tecnologia social como resultado da C&T

tradicional, especialmente entendida como ciência pública a fim de

gerar inovação para a sociedade, sob demanda em regime

interdisciplinar, entre as várias faculdades e institutos, capaz de

articular as ciências humanas-naturais-e-engenharias em torno do

modo de extensão e inovação (como explicado adiante, este modo não

se confunde com o modo 2 da ciência comercial ou tecnociência);

b) Gestores de Programas Sociais

Este núcleo é gerido pelas entidades civis e empresas públicas em

torno da Fundação Banco do Brasil. A ele está coligada uma dezena de

entidades que são mobilizadas pelo Prêmio Tecnologia Social. Este

forma uma rede virtual com projetos locais e com iniciativas de

governos territoriais e entidades civis. Abrange centenas de projetos

demonstrativos. Tal núcleo apóia a regulamentação de produtos e

serviços gerados pelos agentes sociais: marca de origem, conformidade

sanitária e industrial de tecnologia social;

c) Agentes Extensionistas e Multiplicadores

Este núcleo é formado pelo fórum de entidades da rede de entidades

civis pró-tecnologia social. Trata-se de uma rede de entidades civis

que pretende assumir uma identidade de fórum nacional em defesa

dos investimentos de C&T e inovação social, sob bases sociotécnicas

com resultados gerados pelas instâncias a e b (acima). O movimento

em sua expressão como Rede de Tecnologia Social postula uma

metodologia de trabalho com os atores-sujeitos sociais das experiências

capaz de convertê-los em geradores de conhecimento27;

d) Agentes Sociais e Gestores da Economia Solidária

Trata-se do núcleo de entidades ligadas à inovação social do fórum

nacional de economia solidária, com entidades civis e governamentais

entrelaçadas na construção do movimento pela economia solidária

no Brasil, a fim de gerar um sistema de crédito próprio. Seu impacto

tem-se dado por meio de práticas entre as cooperativas populares.

Assim entendido, o movimento pela tecnologia social (ou MTS) éum movimento pela renovação da política científica, tecnológica ede inovação brasileira que tem como um dos seus componentes certaprodução de tecnologia social – aspecto aliás, que o relaciona com acultura de fomento à inovação em ambientes empresariais28.

Estes e outros temas colocam dois problemas para a futura dimensãosociotécnica e educacional preconizada pelas necessidades deapropriação (como o sujeito social se converte em pesquisador?) ede reaplicação (como estas inovações adquirem escala?). Diantedestas necessidades há duas formas de gestão dos projetos detecnologia social. A primeira reconhece o fato de que há diferençaspara o tratamento da inovação social, e inovação empresarial.

A literatura gerencial, em geral, coloca como benéfico para ainovação empresarial a chamada inovação incremental – como tudoaquilo que é saber-fazer que está ausente do conhecimento científico-tecnológico, porque é gerado pelos trabalhadores(as) na sua práticacotidiana.

Esta visão (da inovação incremental) subestima e, num limite dagestão do tipo gerencial ou vertical, nega a importância da inovaçãosociotécnica na matriz da tecnologia social. O excesso deplanejamento e controle, o aumento do aparato burocrático e umsistema de avaliações de resultados sem incorporação das redessociais tendem a barrar o avanço das experiências autogestionáriase cooperativadas de tecnologia social.

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O segundo aspecto é o fato dos ambientes de tradução ou assimilaçãoda tecnologia social terem como necessidade os próprios atoressociais realizarem experimentações livres, o que contrasta com oaparato institucional, financeiro e econômico construído em tornoda prática inovativa29.

Para que esta dimensão de fazer dos próprios atores sociais os convertaem tradutores de seu saber e de elaboração dele com o

conhecimento científico, torna-se necessário o fomento de quatromodalidades de incentivos. A seguir veremos cada uma delas.

6. OPORTUNIDADES

6.1. O Fomento ao Regime Interdisciplinar

Regime disciplinar ou cognitivo significa o conhecimento científicoproduzido sob determinadas condições sociais e políticas nasuniversidades. Na medida em que ele é gerado por certos sujeitossociais (pesquisadores, docentes, alunos, funcionários cuja origemsocioeconômica influi em seus temas e escolhas, assim como nocomportamento diante da sociedade). Este pessoal está organizadoem instituições de ensino superior, pesquisa e extensão, e seusconhecimentos têm dificuldade em fazer caminhadas pelasociedade. A principal razão é a linguagem e a representação doconhecimento científico não estarem adaptados ou traduzidos paraos sujeitos sociais populares. Aqui, a palavra chave é tradução.

Falta tradução.

A principal barreira imposta pelo regime disciplinar reside nopostulado que exclui as experiências dos saberes-fazer populares

das políticas científicas e tecnológicas. Tal atitude acaba gerandoum viés circular: os pesquisadores nas universidades compartilham,por diferentes motivações, o postulado dessa exclusão porque éassim que aprenderam. E de forma circular, mas viciosa, farão igual,porque foram ensinados desta forma. Trata-se, como se vê, de umadimensão cognitiva ou do tipo de conhecimento gerado pelospesquisadores científicos30.

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A superação desta barreira depende do desenvolvimento deprocedimentos, protocolos, fomento e incentivos às dimensõesinterdisciplinares ausentes ou suprimidas. O novo marco regulatóriopara a inovação social deve premiar a interdisciplinaridade quepromove o saber popular e empodera o sujeito social como produtorde conhecimentos, e o remunera como extensionista, pesquisador-produtor, ou mesmo como pesquisador de carreira (seu perfil é odas novas gerações de povos que podem ser lideranças indigenistas,e de povos tradicionais).

6.2. O Fomento ao Regime Utilitarista e o MTS

O chamado modo 2 de fazer ciência em oposição ao modo tradicionalde fazer ciência básica31 apresenta algumas evidências empíricas quequestionam o argumento da extrema contextualização do campocientífico.

Será que as fronteiras da ciência, hoje, estariam se contraindo a pontode correr o risco de serem extintas pela ciência comercial produtorade tecnologias para empresas e corporações?

Parece óbvia a transformação das interações entre a academia e aempresa. Mas elas se expressam pela articulação entre dois regimesque tradicionalmente operavam sob lógicas distintas. O disciplinartinha autonomia e neutralidade científicas segundo áreasespecialistas.

De outro lado, contudo, o regime comercial e utilitarista adota apesquisa e desenvolvimento multidisciplinar das equipes. No Brasil,o regime utilitarista do modo 2 tem assumido claramente o papel deciência comercial (evidenciado pelo caso dos transgênicos e outrastecnologias, como as atômicas32), que opera de maneiramultidisciplinar.

Há, no Brasil, crescente rivalidade entre os modos 1 (ciência básica)e 2 (tecnociência) para definir o futuro regime utilitarista dapesquisa e do desenvolvimento. O modo 2 vem impondo oraconflito, ora cooptação, ora, ainda, formas de posicionamento dospesquisadores científicos diante da reforma da gestão universitária.O futuro depende, contudo, da ciência básica na graduação e dapós-graduação.

O significado disto para o Movimento pela Tecnologia Social (MTS) élevar seus protagonistas a ter que abrir espaço para destacarpublicamente as vantagens dos investimentos públicos na tecnologiasocial, já que esta é a mesma lógica do Estado voltada para inovaçãoempresarial.

Em outras palavras, o MTS necessita ser tomado como um ambientepróprio para inovações em ciência básica33. O regime utilitarista demercado adequado a esta perspectiva tem um viés, como qualquerprincípio de utilidade: encara a ciência como inteligência coletivadestinada a aumentar a vida decente por meio do incremento daempregabilidade entre jovens e adultos excluídos do mercado formalde trabalho.

Isto se aplica desde os movimentos de agricultura orgânica nosassentamentos rurais, a agricultura familiar agroecológica, aurbanização e o saneamento ambiental nas favelas, o acesso aprojetos integrados vizinhança-escola pública, até adescentralização dos sistemas de transportes nos grandes centrosurbanos.

Renovação das redes de técnicos de assistência e extensão ruralpara difundir soluções típicas da tecnologia social naagrossilvicultura, agroecologia, economia solidária em territóriosespecíficos, baseadas fortemente em inovações sociais (caso doprograma de 1 milhão de cisternas).

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6.3. O Fomento ao Regime Regulatório das Normas Técnicas para o MTS

O regime regulatório estrutura as normas técnicas, os dispositivosde controle de acesso aos ambientes inovadores (selos social,ambiental, sustentável e outros), além dos regulamentos sanitáriose de saúde humana. A questão da certificação para as experiênciasdo MTS nos leva a revisões sobre as experiências passadas domovimento da tecnologia apropriada (TA).

O movimento entendia a TA mais como produto, menos comoprocesso e, de acordo com uma visão claramente normativa, nãoconseguia explicitar como este deveria ser organizado34 Hoje oprocesso é o ambiente de inovação social35.

Hoje, produto e processo se tornaram inseparáveis – no caso daeconomia solidária - como inovação social, que permite o jogocomplementar entre sua apropriabilidade pelos atores sociais e asua reaplicabilidade pelas redes sociais em torno de uma TS.

A apropriabilidade está associada ao ato de incorporação dainovação pelo sujeito social, da qual ele se considera criador coletivo,reaplicabilidade, ao contrário, é o processo desenvolvido entre osmediadores e extensionistas e o sujeito social.

O ato de uma TS ter sido apropriada pelos atores sociais num lugar etransferida para outros territórios com demanda social semelhanteé um processo. Hoje este processo está ligado ao próprio futuro daeconomia solidária.

O futuro da economia solidária e o do MTS estão interligados emvários aspectos. Um destes é que ambos os campos têm interesseem definir certificações participativas para um regime regulatóriocapaz de assegurar as condições legítimas de reaplicabilidade da TS.Em ambos os casos, condições legítimas querem dizer: a certificaçãodiz respeito aos processos autogestionários em cooperativas,associações de produtores e redes de economia solidária.

6.4. O Fomento ao Regime de Mobilidades das Redes Sociotécnicas

O regime de trânsito ou mobilidade dos pesquisadores em novosambientes de inovação – urbano, rural, ambientalista,sustentabilista – dos pesquisadores científico-tecnológicos no Brasildepende do tripé ensino, extensão e pesquisa nas universidadesbrasileiras, assim como da rede de ensino fundamental.

A rede de escolas de ensino fundamental é capaz de fornecer oscontingentes sociais para a tradução das experiências sociotécnicasno binômio apropriabilidade-reaplicabilidade36 e sua multiplicaçãoem redes sociais na sociedade.

O ensino rompe uma circularidade viciosa: especialistas epesquisadores científicos não se interessam por TS, porque não háprogramas e projetos governamentais de fomento para tal tipo deadequação sociotécnica, diante do fomento à inovaçãoimplementado pelo setor empresarial hegemônico.

A empregabilidade dos jovens para trabalharem com extensionistasnos ambientes de inovação – urbano, rural, ambientalista,sustentabilista – é um aspecto chave da tradução. Se os técnicossociais, nas fábricas e nas cooperativas do campo e das cidades criamo hábito nestes campos de atuação, eles(as) poderão atuar entre opesquisador e o sujeito social das incubadoras e empresasautogestoras.

Isto pode gerar uma produção de sentido empírico e práticoarticulado teórico-metodologicamente com valores culturais elocais. Esta articulação, em si, é um passo importante para a traduçãoque inclua saberes científicos gerados na universidade associadosaos do conhecimento de senso comum.

Outra dimensão-chave é o financiamento das redes técnicas, pormeio dos mecanismos de compensação (bolsas de fomento)destinados à transferência de benefícios do sistema de fomento de

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C&T das inovações sociais premiando aquelas que gerem mais postosde trabalho no sistema público-comunitário de inovação social noâmbito das atividades econômicas relacionadas com matérias-primas, energia e infra-estruturas37.

A geração e a difusão de experiências passam pelo engajamento dascomunidades cientificas especialista diante das demandas sociaispor TS. Para ilustrarmos a importância desta mobilidade, é precisorever, a partir de 1998, alguns antecedentes do MTS e o papel dospesquisadores. Neste ultimo sentido, há um ambiente de inovaçãojá avançado que é o Programa Nacional de Incubadoras deCooperativas (PRONINC). O convênio para a criação do Programatinha por base as experiências-piloto (ITCP/COPPE) realizadas naUniversidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com o apoio daFinep e da Fundação Banco do Brasil, além do COEP. Em 1998, foilançado oficialmente o PRONINC com o objetivo de desenvolver ametodologia de incubação de cooperativas populares.

Foram escolhidas as primeiras universidades a serem apoiadas,levando-se em conta uma diversidade regional e institucional quepermitisse melhor observar as possíveis variantes dedesenvolvimentos metodológicos em diferentes universidades aFederal do Ceará, a Federal Rural de Pernambuco, a Estadual daBahia, a Federal de Juiz de Fora e a de São Paulo (USP) 38.

O Significado do PRONINC para o Movimento pela Tecnologia Social

O Programa Nacional de Incubadoras de Cooperativas (PRONINC)

tem por objetivo apoiar e desenvolver as experiências de Incubadoras

Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCP) realizadas por

universidades brasileiras, articulando multidisciplinarmente áreas

de conhecimento de universidades e grupos populares interessados

em gerar trabalho e renda, para construção de cooperativas populares

e empresas de autogestão nas quais os trabalhadores tenham o controle

coletivo de todo o processo de produção, desde a atividade fim até a

gestão do empreendimento.

Assim, essa troca cria um processo de incubação, que foi proposto

como o mais importante instrumento de inserção de universidades

brasileiras no objetivo de gerar trabalho e renda entre grupos

populares, por meio de políticas sociais e de C&T. Foram apoiadas seis

ITCPs. O movimento de adesão ao projeto de cooperativas populares

cresceu e surgiram mais nove incubadoras universitárias.

As ITCPs, cada vez mais, têm se fortalecido com base no movimento

convergente em torno da economia solidária e demais iniciativas da

Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho

e do Emprego. Em 2001, a Fundação do BB criou o programa Banco

de Tecnologias Sociais. O prêmio Tecnologia Social até sua edição

bienal de 2004 certificou 223 TS, e premiou 28. Nota-se que parcela

significativa de TS se concentra em educação, geração de renda e

saúde, meio ambiente e água. Estes projetos não têm uma base de

difusão sociotécnica específica ou reaplicada.

RTS e a Tecnologia Social

A Rede de Tecnologia Social (RTS), pelo seu caráter em rede e pelo

marco analítico-conceitual próprio – que inclui o conceito de

tecnologia social como saber-fazer social – é uma iniciativa de

engajamento no contexto da ciência e da tecnologia única nas

Américas.

Para analisar esse contexto em sua dimensão acadêmica, Dagnino et

al. (2004)39 discutem o desenvolvimento histórico da noção de

tecnologia social. Para esses autores, o marco analítico-conceitual da

TS foi construído mediante contribuições de natureza bastante

diversa, até que fosse originado o conceito de TS adotado pela RTS.

Esse processo teve início na Índia do final do século XIX, com o

movimento da Tecnologia Apropriada (TA).

Gandhi, vale lembrar, em seu movimento de construção de programas

de popularização da fiação manual, foi responsável pela primeira TA

– a Charkha, uma roca de fiar considerada uma forma de lutar contra

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a injustiça social. As idéias de Gandi serviram de inspiração para a

criação do termo tecnologia intermediária (TI) que se refere a uma

modalidade de tecnologia de baixo custo, simplicidade e respeito ao

ambiente, sendo por isso, segundo ele, adequada aos países pobres.

Nas décadas de 70 e 80, a TA teve um aumento de partidários e

muitos artefatos tecnológicos foram construídos com essa visão e,

embora não tenha sido idealizado com esse objetivo, o movimento da

TA pode ser considerado uma significativa inovação para a teoria do

desenvolvimento econômico40.

7. O QUE PENSAM OS PESQUISADORES?

As propostas contemporâneas de reestruturação do regimedisciplinar (cognitivo) para comportar a noção de tecnologia socialpodem ser rastreadas já nos anos 1950. Contudo, esta noção temsido reprimida ou apagada da literatura oficial. Toda tecnologiaimplica, ao contrário do determinismo tecnológico, num processode individuação e concretização na relação do ser humano com atecnologia. É desta intersubjetivação que nasce a provocativaconcepção de que toda máquina sofre de indeterminação, acaso ouincerteza, sem a interação com o ser humano 41.

Autores da corrente da teoria critica da tecnologia vêm elaborandoas dimensões da tecnologia que se reapropriam de aspectos do auto-desenvolvimento e da conexão contextual, a partir dos quais aabstração inicial, que deu origem ao objeto técnico, pode serrecuperada criticamente. Segundo eles, é somente porque atecnologia possui estas possibilidades integrativas que ela pode serrecrutada para reparar o dano que provoca, por exemplo, aoredesenhar processos técnicos para levar em conta seus efeitos sobreos trabalhadores, usuários, e o meio-ambiente 42.

A corrente sociotécnica no Brasil têm, igualmente, insistido nopotencial da difusão científica e tecnológica baseada em um novoregime disciplinar que legitime e apóie todas as formas de adequaçãosociotécnica. E, desta forma, envolvam capacitação e vivência diretados trabalhadores e coletivos de trabalho conexos aos problemasda apropriação científica e tecnológica pelos sujeitos sociaisorganizados em seus ambientes de trabalho e na vida comum.

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(Marcuse, nos anos 1950, já apontava o potencial frustrado daciência e da tecnologia se deixados sob apropriação exclusiva dossistemas produtivos capitalistas e dos mercados43).

A noção de Tecnologia Social é construída a partir da crítica àtecnologia alternativa. A maioria dessas críticas tem relação como determinismo tecnológico e a noção de ciência neutra.Chamam atenção para a necessidade de uma adequadacontextualização do marco analítico conceitual da TS, considerandoimportante um detalhamento dessa questão. Nesse sentido, e semque se discuta a superioridade da expressão ‘tecnologia social’como uma ‘marca’ que identifica os propósitos da RTS,consideramos que ela não deve – e nem precisa – ser entendidacomo um conceito44.

Nesta corrente, a contribuição da teoria da inovação pode seraplicada às características da TS, pois ela só se constitui como tal setiver lugar sob um processo de inovação como ambiente deconhecimento criado para atender aos problemas que enfrenta aorganização ou grupo de atores envolvidos.

De fato, mesmo nos ambientes mais formalizados da tecnologiaconvencional ou tradicional das empresas, tem-se mostrado comoé relativamente pouco importante que esse reconhecimento sejaresultante de alguma pesquisa previamente desenvolvida,sobretudo, se ela se deu sem a participação daqueles queefetivamente irão comercializar os produtos que a tecnologiapermitirá fabricar45.

Dessa forma, ao ser compreendida como processo de inovação,criada de forma coletiva e participativa pelos atores interessados, aTS se aproxima do que foi chamado de inovação social46, conceitoconcebido como o conjunto de atividades que podem englobardesde a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico até a introduçãode novos métodos de gestão de força de trabalho, e que tem comoobjetivo a disponibilização por uma unidade produtiva de um novobem ou serviço para a sociedade47.

8. PATENTES E TECNOLOGIAS SOCIAIS

A necessidade de patenteamento de tecnologias sociais é um assuntoque divide pesquisadores e os vários atores do movimento pelatecnologia social. O Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicasdo Estado do Amapá (Iepa) é uma instituição que aposta nopatenteamento de tecnologias desenvolvidas com e para osmovimentos sociais. Dois exemplos de tecnologias sociaispatenteadas pelo Iepa são a máquina coletadora de açaí e a vela deurucurí, repelente de insetos.

Para Renato Dagnino48, um dos principais teóricos do MTS no Brasil,o patenteamento, ou não, de uma determinada tecnologia éirrelevante para as tecnologias sociais. Isso porque, segundo ele, ogasto de dinheiro, foco e tempo com o processo de patenteamentoseria injustificado. Além disso, para ele, a patente tende a privatizaro que deveria ser público: a tecnologia.

Outros pesquisadores49 julgam que a diferencia entre alguns tiposde patentes e tecnologias sociais podem ser compatíveis, Haveriaquatro combinações possíveis de situações:

1. O primeiro caso seria o de tecnologias facilmente implementáveis,por estarem relacionadas a técnicas robustas, que funcionam emmais de 80% dos casos, baratas e sem interesse para a grandeindústria. Nesse primeiro caso, não haveria necessidade de patente.

O conhecimento é protegido de possíveis pedidos de patentesindevidos pela simples publicação de artigos descritivos na

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literatura científica, ou mesmo em publicações de grande alcance,como grandes jornais, por exemplo. Para que essas inovaçõespossam gerar benefícios sociais, no entanto, seria necessário quehouvesse mecanismos eficientes de divulgação das técnicas, paraque elas se tornem efetivamente acessíveis para os possíveisbeneficiários.

2. O segundo caso possível é o das tecnologias baratas, porém, nãofacilmente implementáveis, por se tratar de técnicas não robustasque funcionam em menos de 80% dos casos e, por isso, de interessepara a grande indústria. Nesse caso, haveria necessidade de patente,para garantir que haverá interesse em se investir na tecnologia e,ao mesmo tempo, garantir retorno financeiro para a instituiçãoque desenvolveu a técnica e que ela poderá ser utilizada porusuários sem fins comerciais, como pequenos agricultores emovimentos sociais, por exemplo.

Os usuários que se beneficiam da técnica, mas não irão vendê-ladevem ter garantia de uso no licenciamento da patente.

3. Já o terceiro caso descrito é o de tecnologias facilmenteimplementáveis, com técnicas robustas, baratas, mas cominteresse para a grande indústria. Neste caso haveria necessidadede patente.

Tal pode ser o caso de uma aplicação tecnocientífica baseada emnanotecnologia dos compósitos de borracha. Essa técnica, queconsiste na simples adição de um mineral que pode ser encontradona natureza ao látex, é facilmente reproduzida pelos seringueiros,que eventualmente teriam benefícios técnicos ao agregar valor aoseu produto.

Muitas empresas que usam o látex, entre elas grandesmultinacionais que fabricam pneus, também irão se interessar peloproduto. Nesse caso não seria interessante, portanto, deixar atécnica sem patente, pois iria permitir a apropriação, por parte

das grandes empresas privadas multinacionais, de uma técnicaque demandou gasto de dinheiro público. Nesta ótica ao permitira apropriação privada gratuita de algo que gerou custos aos cofrespúblicos, o pesquisador estaria falhando em sua função defuncionário público.

Se for um conhecimento protegido o valor recebido das grandesempresas interessadas na tecnologia poderia ser usado nodesenvolvimento de novas tecnologias sociais. Não haveriajustificativa para permitir (ao se omitir de patentear) que umaempresa privada com grande lucratividade se beneficiassegratuitamente da patente, uma vez que, pela lei de patentes, épossível permitir a licença gratuita, por exemplo, para movimentossociais, pequenos agricultores etc, e exigir pagamento para o usopor parte de grandes empresas.

4.Finalmente, o quarto caso possível descrito por Galembeck é o detecnologias que geram benefícios sociais, mas que necessitam degrande aporte de capital. Nesse caso, seria inevitável a patente,pois não seria possível existir benefício social, sem apropriaçãopor uma grande empresa, pela necessidade de grandeinvestimento.

No entanto, nesse último caso, a tecnologia descrita não atendeaos requisitos para ser considerada como tecnologias sociais, umavez que não atendem a demandas diretas de interesse social, nãosão desenvolvidas junto e com participação dos demandantes,sendo os beneficiários diretos empresas privadas.

Essas tecnologias podem ser consideradas convencionais, mas que,por gerarem algum tipo de benefício social (geração de emprego,por exemplo) podem ser consideradas “benéficas”, do ponto devista social.

Os pesquisadores concordam com que há necessidade de políticaspúblicas que estimulem o ambiente de inovação para as demandas

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sociais e não apenas para as demandas das empresas. A políticapara tecnologias sociais deveria se dar pelo investimento públicoexclusivamente para o desenvolvimento de tecnologias queatendessem as demandas sociais feitas em conjunto com os agentesdemandantes. Pesquisadores que atuam com experimentos epesquisa de laboratório, admitem que as inovações podemaparecer por acaso, como foi no caso dos nanocompósitos deborracha. Neste campo, o investimento é bem vindo e pode gerar,mesmo que por acaso, benefícios e ou tecnologias sociais.

MTS reivindica um novo regime de inovação como política públicacapaz de atender direitos comunitários, e outros regimes especiaisde propriedade intelectual de domínio público que fogem dopatenteamento tradicional porque capazes de geração de empregoe novas ocupações, qualificação e melhoria educacional.

9. CONHECIMENTO TRADICIONAL ASSOCIADO ÀBIODIVERSIDADE, TECNOLOGIAS SOCIAIS EPROPRIEDADE INTELECTUAL

O Brasil concentra em seu território a maior biodiversidade deorganismos e de ecossistemas do globo, lidera o ranking dabiodiversidade de plantas, peixes de água doce e mamíferos; ocupaa segunda posição na diversidade de anfíbios; a terceira em aves e aquinta em répteis. Destaca-se que a floresta tropical úmida – quecobre cerca de 7% do planeta – contém, segundo estimativas, cercade 50% da biodiversidade mundial.

O conhecimento associado à biodiversidade, detido pelos povos ecomunidades tradicionais, representa um fator importante nodesenvolvimento de tecnologias sociais, pois sintetizam oaprendizado destas comunidades no manejo e utilização dabiodiversidade.

Os conhecimentos tradicionais associados à biodiversidade tambémsão importantes para a indústria de biotecnologia. Estima-se quecerca de 80% dos fármacos com princípios ativos derivados deplantas têm correlação positiva entre a sua aplicação na medicinatradicional e sua aplicação terapêutica.

A indústria de cosméticos também tem nos conhecimentostradicionais associados à biodiversidade um importante substratopara o desenvolvimento de produtos.

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O fato de que a indústria de biotecnologia – constituída, em suamaioria por empresas transnacionais – apoiar sua estratégia dedesenvolvimento em padrões rígidos de propriedade intelectualgerou um debate intenso, no âmbito nacional e internacional, acercada regulamentação do acesso ao conhecimento tradicional associadoà biodiversidade e à repartição dos benefícios derivados dodesenvolvimento de produtos associados à biodiversidade.

No âmbito internacional, destacam-se as negociações que levaramà promulgação da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB). ACDB reconheceu a importância do Conhecimento Tradicionalassociado à Biodiversidade, e estabeleceu em seu art. 8 (j) que ospaíses-membro da Convenção deverão:

Em conformidade com sua legislação nacional,respeitar, preservar e manter o conhecimento,inovações e práticas das comunidades locais epopulações indígenas com estilo de vida tradicionaisrelevantes à conservação e à utilização sustentável dadiversidade biológica e incentivar sua mais amplaaplicação com a aprovação e a participação dosdetentores desse conhecimento, inovações e práticas;e encorajar a repartição equitativa dos benefíciosoriundos da utilização desse conhecimento, inovaçõese práticas.

O art. 18 (4) da Convenção estabeleceu que os países devem, emconformidade com sua legislação e suas políticas nacionais, elaborare estimular modalidades de cooperação para o desenvolvimento eutilização de tecnologias, inclusive tecnologias indígenas etradicionais, para alcançar os objetivos de uso sustentável dosrecursos genéticos.

A legislação brasileira que regulamenta o Acesso aos RecursosGenéticos é a Medida Provisória 2.816-16/2001. Esta MedidaProvisória criou o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético(CGEN), com atribuições deliberativas e normativas e competência

para autorizar todas as atividades de pesquisa, bioprospecção edesenvolvimento, vinculadas aos recursos genéticos e aosconhecimentos tradicionais associados à biodiversidade no Brasil.

Um dos aspectos centrais desta regulamentação é o direito dascomunidades e povos tradicionais de consentir, ou não, o acessoaos seus conhecimentos e práticas. O consentimento prévioinformado é requisito prévio à autorização de acesso aosconhecimentos tradicionais associados e aos recursos genéticos.Além disso, a Medida Provisória prevê a garantia da repartição debenefícios advindos do uso dos conhecimentos tradicionais.

A legislação não especifica a forma concreta da “repartição debenefícios”, ponto que tem suscitado controvérsias entrecomunidades, empresas e pesquisadores, inclusive ocasionandolitígios judiciais.

A questão adquire maior gravidade ante ao fato de que os produtosbiotecnológicos obtidos com a utilização do conhecimentotradicional associado possuem, através dos Direitos de PropriedadeIntelectual, uma proteção legal monopolista e incompatível com osconhecimentos tradicionais, que se caracterizam por serem gerados,produzidos e transmitidos de forma coletiva, a partir de informaçõestransmitidas oralmente entre gerações.

Para diversos autores, os conhecimentos tradicionais assumem acaracterística de “direito intelectual coletivo” e demanda aconstrução de um regime sui generis de proteção, diferenciado dosistema patentário e baseado no reconhecimento e fortalecimentodas normas internas das comunidades, do respeito aos sistemaspróprios e peculiares de representação, do livre intercâmbio deinformações.

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9.1 LEGISLAÇÃO SOBRE ACESSO A RECURSOS GENÉTICOSNO BRASIL50

Quando o Brasil assinou a Convenção sobre Diversidade Biológica

(CDB), comprometeu-se a regulamentar o acesso aos recursos

genéticos e criar um mecanismo de repartição de benefícios advindos

do desenvolvimento de produtos obtidos, através do acesso ao

conhecimento tradicional associado à biodiversidade. Desde 2001,

uma Medida Provisória (nº 2186-16) regulamenta este tema no Brasil.

O contexto de edição desta Medida Provisória é revelador do cenário a

que a legislação sobre acesso aos recursos genéticos está inserida:

Em julho de 2001, a transnacional do setor farmacêutico Novartis

havia a firmado um contrato com a Bioamazônia, uma fundação

pública, sediada em Manaus. O contrato previa que a ônia coletaria

e enviaria para a Novartis, na Suíça, 10 mil microorganismos

diferentes, repassando à multinacional o direito sobre toda a geração

de produtos produzidos a partir deles, além da permissão de

transferência e uso dos materiais genéticos por ela selecionados. A

Novartis investiria US$ 4 milhões em pesquisas por três anos e a

BioAmazônia teria direito a apenas 1% (um por cento) em royaltiespor

produtos que viessem a ser criados. O caso virou um escândalo

nacional e, dentre as críticas sofridas pelo Governo estava a ausência

de uma legislação que realmente protegesse o patrimônio genético

brasileiro. Um mês depois, publicava-se a MP 2186-16.

A edição da MP interrompeu a discussão sobre o tema que ocorria no

Congresso Nacional, a partir de uma proposta da Senadora Marina Silva.

Aspectos da Legislação no Brasil

De acordo com a Medida Provisória, o acesso ao patrimônio genético

brasileiro só será feito com autorização da União (Governo Federal).

O “acesso” é entendido como a obtenção de amostra do patrimônio

genético para fins de pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico

ou bioprospecção.

As comunidades que criaram, desenvolveram e detêm o

conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético têm o

direito de impedir terceiros de utilizar, realizar testes, pesquisa ou

explorar este conhecimento e também de impedir a divulgação,

transmissão de dados ou informações que constituem estes

conhecimentos.

No caso da comunidade permitir o “acesso” deve ser indicada a origem

do conhecimento em todas as publicações, utilizações, explorações e

divulgações, além de ter o direito de receber benefícios pela exploração

econômica. Neste caso, a repartição de benefícios poderá ser feita

através: da dão de lucros, do pagamento de royalties, do acesso e

transferência de tecnologias ou capacitação de recursos humanos.

A “repartição de benefícios” deve ser objeto de um contrato, aprovado

pelo Conselho de Gestão dos Recursos Genéticos, órgão responsável

por emitir as autorizações de acesso.

Modificação da Lei à Vista: Governo formula proposta de novalegislação sobre acesso aos recursos genéticos

No final de 2007, o governo federal colocou em consulta pública uma

proposta de modificação na legislação sobre acesso aos recursos

genéticos. Até o momento, a “consulta pública” tem sido feita apenas

pela internet, o que praticamente impede que os agricultores e

agricultoras possam realmente dar sua opinião sobre o assunto.

A principal modificação na legislação é a criação de um órgão

específico – o Agrobio – vinculado ao Ministério da Agricultura e

com competência para: acompanhar as atividades relativas à

agrobiodiversidade e à proteção dos direitos dos agricultores; propor,

monitorar e avaliar a execução de políticas públicas relacionadas à

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agrobiodiversidade; acompanhar registros de comercialização de

produtos comerciais oriundos de acesso ao recurso genético ou aos

seus derivados, provenientes da agrobiodiversidade.

Outra novidade é a definição de agrobiodiversidade. Pelo Projeto de

Lei, agrobiodiversidade é o conjunto dos componentes da

biodiversidade relevantes para alimentação ou agricultura e que

constituem os agro ecossistemas; a variedade e a variabilidade de

animais, plantas e microorganismos, nos níveis genéticos, incluindo

os recursos genéticos de espécies animais, vegetais, fúngicas e

microbianas, domesticadas ou cultivadas, e espécies da silvicultura

e aqüicultura que sejam parte integral de sistemas a agrícolas; as

variedades crioulas e os parentes silvestres de espécies cultivadas ou

domesticadas, bem como os componentes da biodiversidade agrícola

que provêem serviços ambientais que mantêm funções chaves do

agroecossistemas, sua estrutura e processos.

Também se define “agrobiodiversidade nativa” como parte da

agrobiodiversidade cujo centro de origem, diversificação ou de

domesticação compreenda área geográfica localizada no território

nacional.

Pela proposta do Governo, criam-se normas diferentes para o acesso à

agrobiodiversidade ou ao conhecimento tradicional a ela associado.

Estas normas são mais flexíveis do que as normas para o acesso a

outros recursos genéticos: basta cadastrar a atividade no Cadastro

Nacional da Agrobiodiversidade e informar a forma de repartição de

benefícios. No caso de acesso a outros recursos genéticos, o órgão

Executivo do Conselho de Gestão dos Recursos Genéticos deverá

conceder uma licença.

Direitos dos Agricultores no Ante projeto de Lei

Outra novidade da proposta de lei apresentada pelo Governo Federal

é a normatização dos “Direitos dos Agricultores”.

Na proposta de lei, os direitos dos agricultores são aqueles decorrentes

de todo conhecimento, inovação ou prática, individual ou coletiva,

associado às propriedades, usos e características da diversidade

biológica, que, em sistema de agricultura tradicional, contribua para a

conservação ou o desenvolvimento de variedade, raça ou linhagem

crioula relevante à alimentação ou agricultura.

O projeto de lei não esclarece o conteúdo destes direitos, mas estabelece

a obrigatoriedade do poder público adotar medidas para “promover

estes direitos”, através: da proteção do conhecimento tradicional

relevante à alimentação e agricultura; do direito de participar de

forma eqüitativa na repartição dos benefícios derivados da utilização

dos recursos genéticos provenientes da agrobiodiversidade e do direito

de participar na tomada de decisões sobre assuntos relacionados à

conservação e ao uso sustentável dos recursos genéticos provenientes

da agrobiodiversidade

Os “direitos dos agricultores” também asseguram ao titular: os direitos

morais sobre o conhecimento tradicional associado relevante à

agricultura e à alimentação ou a variedade, raça ou linhagem crioula

desenvolvida, sendo inalienáveis, impenhoráveis e irrenunciáveis,

e assegurados por prazo indeterminado; e os direitos patrimoniais

sobre o conhecimento tradicional associado relevante à agricultura e

à alimentação ou a variedade, raça ou linhagem crioula

desenvolvida, sendo impenhoráveis e irrenunciáveis, e assegurados

enquanto subsistirem as características que permitiram a tais

conhecimentos serem identificados como de agricultores tradicionais,

dentro dos contextos culturais em que foram gerados.

Por: Maria Rita Reis.

Disponível em: http://www.terradedireitos.org.br/wp-content/

uploads/2008/07/jogo-da-privatizacao-da-biodiversidade.pdf

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9.2 O CASO DO CUPUAÇU

A polpa do cupuaçu é usada em toda a Amazônia e outras regiões do

Brasil para consumo in natura ou para sucos, cremes, sorvetes,

geléias, bolos e tortas. O cupuaçu é cultivado há séculos por povos

indígenas e comunidades locais na Amazônia. Também é relatado,

na literatura etnofarmacobotânica o uso das sementes para dores

abdominais e até para partos difíceis. O cupuaçu começou a ter mais

potencial econômico na medida em que foi disseminado o cupulate –

versão do chocolate feito com sementes dessa fruta. De acordo com o

site da ong Amazon link, o suposto inventor do cupulate, Sr. Nagasawa

Makoto é ao mesmo tempo diretor da Asahi Foods e titular da empresa

americana “Cupuacu International Inc.”, que possui outra patente

mundial sobre a semente do Cupuaçu. No entanto, é de conhecimento

público que a Embrapa desenvolveu, antes, a técnica de fabricação

do cupulate. Além destas patentes, a ASAHI Foods Co. Ltd. também

fez o registro do próprio nome “cupuaçu”, como sendo uma “marca

registrada”, que restringe a venda de uma série de produtos com o

nome cupuaçu, incluindo o cupulate, no Japão, na União Européia e

nos Estados Unidos. Isso resultou em uma disputa entre movimentos

sociais ligados à produção do cupuaçu e essas empresas pelos direitos

do uso da palavra “cupuaçu” para determinados produtos. Ao estudar

as possibilidades de exportação de bombons e outros produtos do

cupuaçu para a Alemanha, a Amazonlink.org foi orientada a não

usar a palavra cupuaçu em hipótese alguma.

Disponível em: http://www.amazonlink.org/biopirataria/cupuacu.htm

Acesso em 7 de março de 2009.

9.3 MÁQUINA COLETADORA DE AÇAÍ

A máquina coletora de açaí foi criada pelo engenheiro agrônomo Ivan

Noel, técnico do Instituto de Desenvolvimento Rural do Amapá

(RURAP) do Iepa. Ele é responsável por prestar assistência técnica

aos moradores do Pancada do Camaipi no Amapá. Essa máquina

inovadora poderá substituir a peçonha,

comumente utilizada pelos extrativistas. A

máquina é formada por três peças de ferro que

são acopladas, o que permite a retirada do cacho

sem a necessidade de que o extrativista suba na

árvore. A idéia Ivan Noel surgiu após uma

reunião entre os moradores de um assentamento e técnicos do

governo, quando foram discutidas as possíveis formas de melhoria

na extração do açaí. A Peconha do Amapá, como foi batizada a

máquina, está em fase de desenvolvimento para ser multiplicada e

patenteada. De acordo com a agência de notícias do estado do Amapá,

técnicos do Iepa estão providenciando a patente da máquina, para

que ela possa ser multiplicada e atender os produtores.

Fonte: Adaptada a partir de: http://www.amapa.gov.br/noticias-gov/

2002/mai/not-22-05-002.htm. Acesso em 9 de março de 2009.

9.4 VELA DE URUCURÍ DESENVOLVIDA PELO IEPA

A Vela de Urucurí foi desenvolvida por pesquisadores do Centro de

Plantas Medicinais e Produtos Naturais do IEPA a partir do

conhecimento tradicional da comunidade do Município de Mazagão.

Essa funciona como repelente para insetos como o Aedes e Anophelles,

transmissores da dengue e malária. A vela se mostrou eficiente,

também, para mosquitos borrachudos, comuns em regiões rurais. O

Urucurí é uma palmeira abundante na região amazônica.

DISPOSITIVO PARA REPELIR OU INIBIR A AÇÃO DE MOSQUITOS E

OUTROS INSETOS VETORES DE ENDEMIAS

Patente número: PI0105920-3. Palavras-chave: insetos vetores de

endemias presentes no extrato presente invenção dispositivo insetos.

Resumo: “DISPOSITIVO PARA REPELIR OU INIBIR A AÇÃO DE

MOSQUITOS E OUTROS INSETOS VETORES DE ENDEMIAS”. O

presente pedido refere-se a um dispositivo capaz de através da

volatilização de substâncias ativas repelentes presentes no extrato

ou no pó das brácteas e/ou sementes da planta urucuri (Atallea

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excelsa) durante um determinado período de tempo, afastar ou inibir

a atividade de picar de mosquitos e outros insetos hematófogos como,

por exemplo, Culicídeos dos gêneros Anopheles, Aedes, Culex e

Simulideos (piuns ou borrachudos) e com isso reduzir a transmissão

de doenças endêmicas, tais como a malária, dengue, febre amarela,

filariose e outras que vêm crescendo nos últimos tempos. O dispositivo

da presente invenção pode estar na forma de uma vela, insenso,

defumador, lamparina, placa aquecida ou semelhante.

9.5 ENCAUCHADOS E NANOCOMPÓSITOS DE BORRACHA –O POTENCIAL DE FORMAÇÃO DE UMA REDE SOCIOTÉCNICA

No Forum Social Mundial, em Belém, foi iniciada a construção de uma

rede inovadora entre comunidades extrativistas, técnicos e

pesquisadores. As discussões iniciais para a formação da rede ocorreram

em uma das oficinas do Fórum, onde havia representantes da Fundação

Djalma Batista, associada ao Instituto Nacional de Pesquisa da

Amazônia, INPA, da Rede Nanotecnologia, Sociedade e Ambiente, da

RTS, de universidades e convidados de movimentos sociais da

Amazônia. Duas iniciativas diferentes foram integradas durante a

oficina, a dos encauchados e dos nanocompósitos de borracha.

A tecnologia social conhecida como encauchados é um excelente

exemplo de demanda social pela inovação tecnológica e pesquisa

científica na química. Implantada em aldeias indígenas e Reservas

Extrativistas, a técnica consiste na pré-vulcanização artesanal do

látex nativo e na adição de substratos naturais, formando um

composto homogêneo que pode ser utilizado na fabricação de bolsas,

produtos artesanais e outros objetos. Com mais renda, a tecnologia

social melhora a auto-estima das populações locais, que resgatam o

sentimento de respeito pela floresta. Um dos pontos-chave da tecnologia

dos encauchados de vegetais da Amazônia é a pré-vulcanização do

látex nativo. O processo é feito a partir do aquecimento do produto,

de forma controlada, com a adição de água de cinzas, agentes

vulcanizantes e substâncias naturais que permitem a sua

estabilização e conservação. Ao látex pré-vulcanizado são

acrescentadas fibras vegetais curtas e corantes vegetais, formando

diversas composições, que serão utilizadas para fabricar um leque de

produtos prontos para o mercado. As composições geradas não são

coaguladas, nem prensadas ou calandradas, nem secam em estufas,

ao contrário dos processos industriais. Recuperando técnicas indígenas

ancestrais, a mistura é desidratada pela evaporação, em temperatura

ambiente. Utilizando moldes artesanais de madeira, MDF, alumínio

reciclado, unidades produtivas instaladas em comunidades indígenas

e de seringueiros produzem toalhas de mesa, jogos americanos, suporte

para mouse, suporte para panela, porta-treco, porta-chave, tapetes,

luminárias, pinturas em látex, a mão, em camisetas com grafismos

da cultura local, entre outros. Já o os nanocompósitos de borracha

são formados a partir de uma técnica que consiste na simples adição

de um mineral que pode ser encontrado na natureza ao látex, sendo

facilmente reproduzida pelos seringueiros, que terão grandes

benefícios ao agregar valor ao seu produto.

Escrito a partir de: http://www.conhecimentoeinovacao.com.br/

materia.php?id=214. Acesso em 2 de abril de 2009.

9.6 A SEGUNDA TENTATIVA DE REGULAMENTAÇÃO

Em evento realizado em maio de 2002, na Câmara dos Deputados, foi

debatido o tema Tecnologias Sociais a partir do workshop “Propriedade

Intelectual – Patente Social”. O objetivo do evento é intensificar a

qualificação da participação da Rede de Tecnologia Social (RTS) e

suas instituições para a construção de um marco legal sobre TS e

patente social.No evento, ocorreram esclarecimentos sobre conceitos

relacionados (propriedade intelectual: direitos autorais, propriedade

industrial e patentes); relatos de experiências, mostrando alguns casos

de avanços, obstáculos e desafios;e algumas das oportunidades de ação.

– estruturação dos trabalhos da RTS e próximos passos Foi criado o

GT Marco Regulatório - Patente Social no âmbito da RTS. No mesmo

mês, a Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática

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da Câmara promoveu uma audiência pública sobre “Tecnologias

Sociais como estratégia de desenvolvimento”, de iniciativa do

deputado federal Guilherme Menezes (PT/BA), com o apoio da RTS.

9.7 PROJETO DA EMBRAPA INTEGRA PEQUENASPROPRIEDADES AO AGRONEGÓCIO

A Plataforma Tecnológica do Caju, projeto com apoio do CNPQ e a

participação de pesquisadores de seis estados nordestinos, visa

divulgar tecnologias que aumentam a produtividade de cajueiros da

região do semi-árido. Segundo Francisco Férrer, chefe-geral da

Embrapa Agroindústria Tropical, que coordena o programa, “este é

um projeto que beneficia a comunidade dos pequenos agricultores, já

que atua em propriedades com área entre cinco e 20 hectares, inserindo

a agricultura familiar no agronegócio”. A idéia é com o desenvolvimento

do projeto empregar mais pessoas no campo, na região.

Nesse sentido, foi encaminhada uma proposta ao Ministério da

Agricultura para a implantação, em quatro anos, de 100 mil hectares

de cajueiro anão precoce, desenvolvido pela Embrapa.

São 13 pesquisadores e vinte bolsistas que estão transferindo a

tecnologia para as secretarias de agricultura dos seis estados

participantes: Maranhão, Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte, Bahia e

Pernambuco. Férrer afirmou à ComCiência que, caso a proposta seja

aprovada, “serão gerados cerca de 55 mil empregos no campo e 19

mil no processamento industrial, totalizando 74 mil empregos

diretos”. Segundo ele, hoje temos 700 mil hectares produzindo caju,

o que representa, aproximadamente, 150 mil empregos diretos e 20

mil na indústria. A maior parte da produção é destinada à exportação.

As secretarias de agricultura dos estados envolvidos, o Ministério da

Agricultura e o Ministério da Ciência e Tecnologia estão analisando

formas de apoio ao projeto. A Plataforma prevê a implementação de

melhorias em todos os segmentos da produção, com técnicas de plantio,

colheita e processamento do caju. O uso de mudas enxertadas de clones

produzidos pela Embrapa, o manejo de pragas e doenças, a fertilização

e a aplicação de técnicas de colheita são algumas das formas de

atuação dos pesquisadores. “Existem dois caminhos para o agricultor

ter o processamento da fruta: o apoio da Fundação Banco do Brasil e

da Embrapa Amparo às Pequenas Agroindústrias da Castanha; ou o

programa com financiamento do Banco do Brasil e Banco do Nordeste,

para os grandes produtores”, comenta Férrer. A castanha do caju é

um dos principais produtos, mas também são comercializados suco

de caju, doces cristalizados e ração animal. Para que os agricultores

produzam alimentos seguros, de modo a garantir a qualidade para o

consumidor final, o programa está ligado ao projeto chamado Produção

Integrada de Frutos. Trabalhando com 24 espécies, como, por

exemplo, melão, caju, uva, manga, banana e coco, o projeto visa

introduzir os agricultores envolvidos no Programa de Alimento

Seguro, coordenado do pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas

Empresas (Sebrae), e conta com a participação de várias instituições

de pesquisa, ensino e produtores.

Fonte: Revista ComCiência/;Por: Alessandro Piolli

Disponível em: http://www.comciencia.br/noticias/2003/15ago03/

caju.htm. Acesso em: 3 de março de 2009.

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10. NOTAS E REFERÊNCIAS

1 .SHERWOOD, R. M. Propriedade Intelectual e Desenvolvimento

Econômico. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1992.

2.CARVALHO, S. M. P. Política de Propriedade Intelectual no Brasil:

intervenções nos campos de saúde e sementes. IPEA, 2005. (Texto

para discussão).

3 . A este respeito, ver YAMAMURA, S., et al. Propriedade Intelectual

em Tratados Internacionais: Controvérsias e Reflexos nas políticas

nacionais de C& T.

4. BERGH, R.J. Van den Property Rights and the Creation of Wealth. Re-

view essay [Review of: Soto, H., The Mystery of Capital, Pub: Black

Swan, London (2003)], 2003, p. 265.

HERSCOVICI, A. Capital intangível e Direitos de Propriedade Intelectual:

uma análise institucionalista. Revista de Economia Política, São

Paulo, v. 27, p. 54-76, 2007.

5. PEREIRA, L. V. Sistema de Propriedade Industrial no contexto

internacional. In: SCHWARTZMAN, S. (coord.) Ciência e Tecnologia

no Brasil: Política Industrial, Mercado de Trabalho e Instituições de

Apoio. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1995, pp 82-113.

6. Ibidem .

7.HERSCOVICI, A. Op. cit.

8. PEREIRA, L. V. Op. cit.

9 . De acordo com o art. 02 da Convenção: “1) Los nacionales de cada uno

de los países de la Unión gozarán en todos los demás países de la Unión,

en lo que se refiere a la protección de la propiedad industrial, de las

ventajas que las leyes respectivas concedan actualmente o en el fu-

turo a sus nacionales, todo ello sin perjuicio de los derechos

especialmente previstos por el presente Convenio. En consecuencia,

aquéllos tendrán la misma protección que éstos y el mismo recurso

legal contra cualquier ataque a sus derechos, siempre y cuando

cumplan las condiciones y formalidades impuestas a los nacionales.

2) Ello no obstante, ninguna condición de domicilio o de establecimientoen el país donde la protección se reclame podrá ser exigida a los

nacionales de los países de la Unión para gozar de alguno de los derechos

de propiedad industrial. 3) Quedan expresamente reservadas lasdisposiciones de la legislación de cada uno de los países de la Unión

relativas al procedimiento judicial y administrativo, y a lacompetencia, así como a la elección de domicilio o a la constitución de unmandatario, que sean exigidas por las leyes de propiedad industrial.”

10.GANDELMAN, M. Poder e conhecimento na economia global. O regime

internacional de propriedade intelectual da sua formação, às regras

de comércio atuais. São Paulo, Civilização Brasileira, 2004. p. 101.

1 1 . 1) Quien hubiere depositado regularmente una solicitud de patente de

invención, de modelo de utilidad, de dibujo o modelo industrial, de

marca de fábrica o de comercio, en alguno de los países de la Unión o su

causahabiente, gozará, para efectuar el depósito en los otros países, de

un derecho de prioridad, durante los plazos fijados más adelante en el

presente.2) Se reconoce que da origen al derecho de prioridad todo

depósito que tenga valor de depósito nacional regular, en virtud de la

legislación nacional de cada país de la Unión o de tratados bilaterales

o multilaterales concluidos entre países de la Unión.3) Por depósito

nacional regular se entiende todo depósito que sea suficiente para

determinar la fecha en la cual la solicitud fue depositada en el país de

que se trate, cualquiera que sea la suerte posterior de esta solicitud.

12.JAGUARIBE, R. & BRANDELLI, O. Propriedade Intelectual: espaços para

os países em desenvolvimento. In: “Propriedade Intelectual.

Tensões entre o Capital e a Sociedade”. Editora Paz e Terra,

2007.

1 3 . Estes dispositivos se estendem a “livros, brochuras e outros escritos;

conferências, alocuções, sermões e outras obras da mesma natureza;

obras dramáticas ou dramático-musicais; obras coreográficas e

pantomimas, cuja representação é anunciada por escrito ou de outro

modo; as composições musicais, com ou sem letra; os trabalhos de

desenho, pintura, arquitetura, escultura, gravura e litografia, as

ilustrações e cartas geográficas; as plantas, esboços e trabalhos

platônicos relativos à geografia, topografia, arquitetura e ciências” .

São também objeto de direito autoral, sem prejuízo do direito do autor

sobre a obra original, as traduções, adaptações, arranjos musicais e

outras reproduções transformadas de uma obra literária ou artística,

assim como as coletâneas.

14.GANDELMAN, M. Op. cit.

1 5 . A OMPI administra atualmente 24 tratados internacionais de

Propriedade Intelectual.

16.PRONER, C. Propriedade Intelectual: Para uma outra ordem jurídicapossível. São Paulo: Cortez Editora, 2007.

1 7 . O G 77 foi estabelecido em 1964, por 77 países em desenvolvimento

que acordaram trabalhar como Grupo Intergovernamental nasnegociações internacionais.

1 8 . INOVAR – entidade sediada em Genebra, Suíça, para acompanhar o

assunto. Tem sido protagonista desta atividade de organização da

a g e n d a .

19.GANDELMAN, M. Op. cit. P. 192

20. Art. 5, quater. Disposição incluída na Revisão de Estocolmo, em 1971.

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2 1 . O Acordo Geral sobre Tarifas de Comércio era um acordo multilateral

de caráter provisório, que, através de “rodadas de negociação”

procurava estabelecer regras para o Comércio Internacional.

2 2 . Segundo a Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI

define-se propriedade intelectual como “soma dos direitos relativos às

obras literárias, artísticas e científicas, às interpretações dos artistas

intérpretes e às execuções dos artistas executantes, aos fonogramas e

às emissões de radiodifusão, às invenções em todos os domínios da

atividade humana, às descobertas científicas, aos desenhos e modelos

industriais, às marcas industriais, comerciais e de serviço, bem como

às firmas comerciais e denominações comerciais, à proteção contra a

concorrência desleal e todos os outros direitos inerentes à atividade

intelectual nos domínios industrial, científico, literário e artístico”.

2 3 . Patente, de acordo Maria Helena Diniz é “o título correspondente a

invenção, de modelo de utilidade, que assegura ao seu autor a sua

propriedade e o seu uso exclusivo por determinado espaço de tempo”.

2 4 . A esta lista acrescenta-se: as obras coreográficas e pantomímicas, cuja

execução cênica se fixe por escrito ou por outra qualquer forma;

composições musicais, tenham ou não letra; as obras audiovisuais,

inclusive as cinematográficas; as obras fotográficas e as produzidas

por qualquer processo análogo ao da fotografia; as obras de desenho,

pintura, gravura, escultura, litografia e arte cinética; as ilustrações,

cartas geográficas e outras obras da mesma natureza; os projetos,

esboços e obras plásticas concernentes à geografia, engenharia,

topografia, arquitetura, paisagismo, cenografia e ciência; as

adaptações, traduções e outras transformações de obras originais,

apresentadas como criação intelectual nova; os programas de

computador; as coletâneas ou compilações, antologias, enciclopédias,

dicionários, bases de dados e outras obras, que, por sua seleção,

organização ou disposição de seu conteúdo, constituam uma criação

i n t e l e c t u a l .

2 5 . Constam ainda como direitos morais do autor o de conservar a obrainédita; o de assegurar a integridade da obra, opondo-se a quaisquer

modificações ou à prática de atos que, de qualquer forma, possamprejudicá-la ou atingi-lo, como autor, em sua reputação ou honra; o de

modificar a obra, antes ou depois de utilizada; o de retirar de circulaçãoa obra ou de suspender qualquer forma de utilização já autorizada,

quando a circulação ou utilização implicarem afronta à sua reputaçãoe imagem; o de ter acesso a exemplar único e raro da obra, quando se

encontre legitimamente em poder de outrem, para o fim de preservar

sua memória, de forma que cause o menor inconveniente possível aseu detentor.

2 6 . Define-se cultivar como: a variedade de qualquer gênero ou espécie

vegetal superior que seja claramente distinguível de outros cultivaresconhecidas por margem mínima de descritores, por sua denominaçãoprópria, que seja homogênea e estável quanto aos descritores através

de gerações sucessivas e seja de espécie passível de uso pelo complexo

agroflorestal, descrita em publicação especializada disponível e

acessível ao público, bem como a linhagem componente de híbridos.

2 7 . A RTS tem uma estrutura de governança composta por: Fórum

Nacional da RTS e Comitê Coordenador da RTS. Essa estrutura é apoiada

pela Secretaria Executiva da RTS. O Fórum Nacional da RTS é um

evento bienal, de caráter consultivo e propositivo, do qual participam

todas as instituições que integram a Rede. Sua principal atribuição é a

elaboração de propostas para atuação da RTS, a serem encaminhadas

ao Comitê Coordenador com vistas à sua operacionalização. As

associadas da Rede estão nas cinco regiões brasileiras, distribuídas da

seguinte forma: Norte: 60, Nordeste: 170, Centro-Oeste: 80, Sudeste:

200 e Sul: 70.

2 8 . Ambientes das tecnologias com inovações estritamente empresariais

tem a preocupação semelhante, o processo de produção, organização

de equipes, resolução de conflitos, priorização e seleção de projetos,

melhoria da interação com atores do sistema de CT&I. Nota-se em

diversos autores, que o tema da inovação social ou sociotécnica possui

componentes culturais e está entrelaçado na literatura mais ampla

de cunho gerencial, econômico e da política governamental na gestão

de projetos de PD&I

ANDRADE, T. Aspectos sociais e tecnológicos das atividades de inovação.

São Paulo: Lua Nova, 66:139-66, 2006. Idem. O problema da

experimentação na inovação tecnológica. Revista Brasileira de

Inovação, Rio de Janeiro, 6 (2), p.311-29, jul./dez. 2007.

BARBIERI, J. C. et al. A emergência da tecnologia social: revisitando o

movimento da tecnologia apropriada como estratégia de

desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro/São Paulo: revista RAP,

2 0 0 7 .

DAGNINO, R. (org.). Um panorama dos estudos sobre ciência,tecnologia e sociedade na América Latina. Tabubaté: Cabral/

Liv.Universitária, 2002.

DAGNINO, R. & DIAS, R. A Política de C&T Brasileira: três alternativas

de explicação e orientação. Revista Brasileira de Inovação, Rio de

Janeiro, 6 (2), p.373-403, jul./dez. 2007.

29.STIEGLER apud ANDRADE. op. cit. pág.156.

30.LACEY, 2006, 2007, FEENBERG, 2007, 1999, LATOUR, 1992, 2000.

3 1 .O chamado modo 2 de fazer ciência é a aplicação tecnológica de umsistema, objeto ou processo que mobiliza conhecimento científico na

universidade para seus aperfeiçoamentos. Também chamado de

tecnocientífico, é responsável por grande parte dos investimentosprivados (empresariais e corporativos) nos países desenvolvidos. Veja

GIBBONS, M. et al. The new production of knowledge: the dynam-ics of science and research in contemporary societies. London: Sage,1 9 9 4 .

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32.ANTOS, L. G. Quando o conhecimento tecnocientífico se torna predação

high-tech: recursos genéticos e conhecimento tradicional no Brasil. In

Santos, B. S. (org.) Semear outras soluções: os caminhos da

biodiversidade e dos conhecimentos rivais. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2005, p.125-62.

ETC GROUP. Tecnologia atômica: a nova frente das multinacionais.

São Paulo: Expressão Popular, 2004

NEDER, R. T. Orçamento das universidades e a agenda de CT&I em

São Paulo: qual saída? ADUSP. São Paulo, 6: 66-70, jan. 2006.

Disponível em: http://www.adusp.org.br/revista/36/r36a08.pdf

33.DAGNINO, R. Ciência e tecnologia para a ‘cidadania’ ou Adequação

Sociotécnica com o Povo? Campinas. UNICAMP: Departamento de

Política Científica e Tecnológica; Grupo de Análise de Políticas de

Inovação. Unicamp. 2008 (datilo)

DAGNINO, R. & DIAS, R. Op. cit.

34.DAGNINO, R. et al. Tecnologia social: uma estratégia para o

desenvolvimento, Rio de Janeiro: Fundação Banco do Brasil, 2004.

DAGNINO, R. (org.). (2002) Op. cit

35.ANDRADE, T. H. N. O problema da experimentação na inovação

tecnológica. Revista Brasileira de Inovação, v. 6, p. 311-329, 2007.

36.THOMAS & KREIMER. “La apropriabilidad social del conocimiento

científico y tecnologico – una propuesta de abordaje teorico-

metodologica”. DAGNINO, R. (Org). (2002) Op. cit.

37.ETC GROUP. Op. cit.

MARTINS, P. (org). RENANOSOMA – nanotecnologia, sociedade e meio

ambiente. São Paulo: Xamã, 2006.

NAVARRO, M. B. M. A nova ordem das relações trabalhistas.Brasília: Humanidades. 53: 69-83 jun 2007.

38.DAGNINO, R. et al. (2004) Op. cit.

39.Ibidem .

40.Ibidem

41.IMONDON, G. A gênese do indivíduo. In A paixão das máquinas. In: O

reencantamento do concreto. Núcleo de Estudos da Subjetividade.

PUC/SP.

Hucitec/EDUC. Cadernos de Subjetividade. São Paulo 97-118, 2003.

ANDRADE, T. (2006) Op. cit.

Idem. O problema da experimentação na inovação tecnológica. Rio de

Janeiro: Revista Brasileira de Inovação, 6 (2), p.311-29, jul./dez.2 0 0 7 .

42.FEENBERG, A. Para uma teoria crítica da tecnologia. Disponível

em: http://www.sfu.ca/~andrewf/ Acesso em: 20 de out. de 2007.

43.MARCUSE, H. Tecnologia, guerra e fascismo. São Paulo: Unesp.

1 9 9 9 .

44.DAGNINO, R. et al. (2004) Op. cit. p. 31.

45.Ibidem. p. 33)

46.DAGNINO, R & GOMES, E. Sistema de inovação Social para prefeituras.

In: Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia para a Inovação.

Anais...São Paulo, 2000.

47.DAGNINO, R. et al. (2004) Op. cit. p. 34.

4 8 . Renato Dagnino é professor titular do Departamento de Política

Científica e Tecnológica do instituto de Geociências da Unicamp.

4 9 . Esses tipos hipotéticos de situações foram propostos por Fernando

Galembeck, professor titular do Instituto de Química da Universidade

Estadual de Campinas, em entrevista para a elaboração desta

publ ica çã o .

50.REIS, Maria Rita (Coord.). O Jogo da Privatização da biodiversidade.

Curitiba: Terra de Direitos (Organização de Direitos Humanos), 2008.Disponível em: http://www.terradedireitos.org.br/wp-content/up-

loads/2008/07/jogo-da-privatizacao-da-biodiversidade.pdf. Acesso em:

8 de mar. De 2009.

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11. APÊNDICE 1

LEI No 10.973, DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004

Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológicano ambiente produtivo e dá outras providências.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacionaldecreta e eu sanciono a seguinte Lei:

CAPÍTULO IDISPOSIÇÕES PRELIMINARES

Art. 1º Esta Lei estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisacientífica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitaçãoe ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrialdo País, nos termos dos arts. 218 e 219 da Constituição.

Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se:

I - agência de fomento: órgão ou instituição de natureza pública ou privadaque tenha entre os seus objetivos o financiamento de ações que visem aestimular e promover o desenvolvimento da ciência, da tecnologia e dainovação;II -criação: invenção, modelo de utilidade, desenho industrial, programade computador, topografia de circuito integrado, nova cultivar oucultivar essencialmente derivada e qualquer outro desenvolvimentotecnológico que acarrete ou possa acarretar o surgimento de novo produto,processo ou aperfeiçoamento incremental, obtida por um ou maiscriadores;III - criador: pesquisador que seja inventor, obtentor ou autor de criação;IV - inovação: introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambienteprodutivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços;V - Instituição Científica e Tecnológica - ICT: órgão ou entidade daadministração pública que tenha por missão institucional, dentre outras,executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científicoou tecnológico;VI - núcleo de inovação tecnológica: núcleo ou órgão constituído por umaou mais ICT com a finalidade de gerir sua política de inovação;

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htmVII -instituição de apoio: instituições criadas sob o amparo da Lei no 8.958,de 20 de dezembro de 1994, com a finalidade de dar apoio a projetos depesquisa, ensino e extensão e de desenvolvimento institucional, científicoe tecnológico;VIII -pesquisador público: ocupante de cargo efetivo, cargo militar ouemprego público que realize pesquisa básica ou aplicada de carátercientífico ou tecnológico; e IX - inventor independente: pessoa física, nãoocupante de cargo efetivo, cargo militar ou emprego público, que sejainventor, obtentor ou autor de criação.

CAPÍTULO IIDO ESTÍMULO À CONSTRUÇÃO DE AMBIENTESESPECIALIZADOS E COOPERATIVOS DE INOVAÇÃO

Art. 3º A União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e asrespectivas agências de fomento poderão estimular e apoiar a constituiçãode alianças estratégicas e o desenvolvimento de projetos de cooperaçãoenvolvendo empresas nacionais, ICT e organizações de direito privadosem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa edesenvolvimento, que objetivem a geração de produtos e processosinovadores.

Parágrafo único. O apoio previsto neste artigo poderá contemplar as redese os projetos internacionais de pesquisa tecnológica, bem como ações deempreendedorismo tecnológico e de criação de ambientes de inovação,inclusive incubadoras e parques tecnológicos.

Art. 4o As ICT poderão, mediante remuneração e por prazo determinado,nos termos de contrato ou convênio:

I - compartilhar seus laboratórios, equipamentos, instrumentos,materiais e demais instalações com microempresas e empresas de pequenoporte em atividades voltadas à inovação tecnológica, para a consecuçãode atividades de incubação, sem prejuízo de sua atividade finalística;II - permitir a utilização de seus laboratórios, equipamentos,instrumentos, materiais e demais instalações existentes em suas própriasdependências por empresas nacionais e organizações de direito privadosem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, desde que talpermissão não interfira diretamente na sua atividade-fim, nem com elaconflite.

Parágrafo único. A permissão e o compartilhamento de que tratam os

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incisos I e II do caput deste artigo obedecerão às prioridades, critérios erequisitos aprovados e divulgados pelo órgão máximo da ICT, observadasas respectivas disponibilidades e assegurada a igualdade de oportunidadesàs empresas e organizações interessadas.

Art. 5º Fica a União e as de suas entidades autorizada a participarminoritariamente do capital de empresa privada de propósito específicoque vise ao desenvolvimento de projetos científicos ou tecnológicos paraobtenção de produto ou processo inovadores.Parágrafo único. A propriedade intelectual sobre os resultados obtidospertencerá às instituições detentoras do capital social, na proporção darespectiva participação.

CAPÍTULO IIIDO ESTÍMULO À PARTICIPAÇÃO DAS ICT NO PROCESSO DEINOVAÇÃO

Art. 6º É facultado à ICT celebrar contratos de transferência de tecnologiae de licenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração decriação por ela desenvolvida.

§ 1º A contratação com cláusula de exclusividade, para os fins de quetrata o caput deste artigo, deve ser precedida da publicação de edital.

§ 2º Quando não for concedida exclusividade ao receptor de tecnologia ouao licenciado, os contratos previstos no caput deste artigo poderão serfirmados diretamente, para fins de exploração de criação que deles sejaobjeto, na forma do regulamento.

§ 3º A empresa detentora do direito exclusivo de exploração de criaçãoprotegida perderá automaticamente esse direito caso não comercialize acriação dentro do prazo e condições definidos no contrato, podendo a ICTproceder a novo licenciamento.

§ 4º O licenciamento para exploração de criação cujo objeto interesse àdefesa nacional deve observar o disposto no § 3o do art. 75 da Lei no9.279, de 14 de maio de 1996.

§ 5º A transferência de tecnologia e o licenciamento para exploração decriação reconhecida, em ato do Poder Executivo, como de relevanteinteresse público, somente poderão ser efetuados a título não exclusivo.

Art. 7º A ICT poderá obter o direito de uso ou de exploração de criaçãoprotegida.

Art. 8º É facultado à ICT prestar a instituições públicas ou privadasserviços compatíveis com os objetivos desta Lei, nas atividades voltadasà inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo.

§ 1º A prestação de serviços prevista no caput deste artigo dependerá deaprovação pelo órgão ou autoridade máxima da ICT.

§ 2º O servidor, o militar ou o empregado público envolvido na prestaçãode serviço prevista no caput deste artigo poderá receber retribuiçãopecuniária, diretamente da ICT ou de instituição de apoio com que estatenha firmado acordo, sempre sob a forma de adicional variável e desdeque custeado exclusivamente com recursos arrecadados no âmbito daatividade contratada.

§ 3º O valor do adicional variável de que trata o § 2º deste artigo ficasujeito à incidência dos tributos e contribuições aplicáveis à espécie,vedada a incorporação aos vencimentos, à remuneração ou aosproventos, bem como a referência como base de cálculo para qualquerbenefício, adicional ou vantagem coletiva ou pessoal.

§ 4º O adicional variável de que trata este artigo configura-se, para osfins do art. 28 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, ganho eventual.

Art. 9º É facultado à ICT celebrar acordos de parceria para realização deatividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica edesenvolvimento de tecnologia, produto ou processo, com instituiçõespúblicas e privadas.

§ 1º O servidor, o militar ou o empregado público da ICT envolvido naexecução das atividades previstas no caput deste artigo poderá receberbolsa de estímulo à inovação diretamente de instituição de apoio ouagência de fomento.

§ 2º As partes deverão prever, em contrato, a titularidade da propriedadeintelectual e a participação nos resultados da exploração das criaçõesresultantes da parceria, assegurando aos signatários o direito aolicenciamento, observado o disposto nos §§ 4º e 5º do art. 6º desta Lei.

§ 3º A propriedade intelectual e a participação nos resultados referidasno § 2º deste artigo serão asseguradas, desde que previsto no contrato, naproporção equivalente ao montante do valor agregado do conhecimentojá existente no início da parceria e dos recursos humanos, financeiros emateriais alocados pelas partes contratantes.

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Art. 10. Os acordos e contratos firmados entre as ICT, as instituições deapoio, agências de fomento e as entidades nacionais de direito privadosem fins lucrativos voltadas para atividades de pesquisa, cujo objeto sejacompatível com a finalidade desta Lei, poderão prever recursos paracobertura de despesas operacionais e administrativas incorridas naexecução destes acordos e contratos, observados os critérios doregulamento.

Art. 11. A ICT poderá ceder seus direitos sobre a criação, mediantemanifestação expressa e motivada, a título não-oneroso, nos casos econdições definidos em regulamento, para que o respectivo criador osexerça em seu próprio nome e sob sua inteira responsabilidade, nos termosda legislação pertinente.

Parágrafo único. A manifestação prevista no caput deste artigo deveráser proferida pelo órgão ou autoridade máxima da instituição, ouvido onúcleo de inovação tecnológica, no prazo fixado em regulamento.

Art. 12. É vedado a dirigente, ao criador ou a qualquer servidor, militar,empregado ou prestador de serviços de ICT divulgar, noticiar ou publicarqualquer aspecto de criações de cujo desenvolvimento tenha participadodiretamente ou tomado conhecimento por força de suas atividades, semantes obter expressa autorização da ICT.

Art. 13. É assegurada ao criador participação mínima de 5% (cinco porcento) e máxima de 1/3 (um terço) nos ganhos econômicos, auferidospela ICT, resultantes de contratos de transferência de tecnologia e delicenciamento para outorga de direito de uso ou de exploração de criaçãoprotegida da qual tenha sido o inventor, obtentor ou autor, aplicando-se,no que couber, o disposto no parágrafo único do art. 93 da Lei no 9.279,de 1996.

§ 1º A participação de que trata o caput deste artigo poderá ser partilhadapela ICT entre os membros da equipe de pesquisa e desenvolvimentotecnológico que tenham contribuído para a criação.

§ 2º Entende-se por ganhos econômicos toda forma de royalties,remuneração ou quaisquer benefícios financeiros resultantes daexploração direta ou por terceiros, deduzidas as despesas, encargos eobrigações legais decorrentes da proteção da propriedade intelectual.

§ 3º A participação prevista no caput deste artigo obedecerá ao dispostonos §§ 3º e 4º do art. 8º.

§ 4º A participação referida no caput deste artigo será paga pela ICT emprazo não superior a 1 (um) ano após a realização da receita que lheservir de base.

Art. 14. Para a execução do disposto nesta Lei, ao pesquisador público éfacultado o afastamento para prestar colaboração a outra ICT, nos termosdo inciso II do art. 93 da Lei no 8.112, de 11 de dezembro de 1990,observada a conveniência da ICT de origem.

§ 1º As atividades desenvolvidas pelo pesquisador público, na instituiçãode destino, devem ser compatíveis com a natureza do cargo efetivo, cargomilitar ou emprego público por ele exercido na instituição de origem, naforma do regulamento.

§ 2º Durante o período de afastamento de que trata o caput deste artigo,são assegurados ao pesquisador público o vencimento do cargo efetivo, osoldo do cargo militar ou o salário do emprego público da instituição deorigem, acrescido das vantagens pecuniárias permanentes estabelecidasem lei, bem como progressão funcional e os benefícios do plano deseguridade social ao qual estiver vinculado.

§ 3º As gratificações específicas do exercício do magistério somente serãogarantidas, na forma do § 2o deste artigo, caso o pesquisador público semantenha na atividade docente em instituição científica e tecnológica.

§ 4º No caso de pesquisador público em instituição militar, seuafastamento estará condicionado à autorização do Comandante da Forçaà qual se subordine a instituição militar a que estiver vinculado.

Art. 15. A critério da administração pública, na forma do regulamento,poderá ser concedida ao pesquisador público, desde que não esteja emestágio probatório, licença sem remuneração para constituir empresacom a finalidade de desenvolver atividade empresarial relativa àinovação.

§ 1º A licença a que se refere o caput deste artigo dar-se-á pelo prazo de até3 (três) anos consecutivos, renovável por igual período.

§ 2º Não se aplica ao pesquisador público que tenha constituído empresana forma deste artigo, durante o período de vigência da licença, o dispostono inciso X do art. 117 da Lei no 8.112, de 1990.

§ 3º Caso a ausência do servidor licenciado acarrete prejuízo às atividadesda ICT integrante da administração direta ou constituída na forma de

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autarquia ou fundação, poderá ser efetuada contratação temporária nostermos da Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, independentementede autorização específica.

Art. 16. A ICT deverá dispor de núcleo de inovação tecnológica, próprioou em associação com outras ICT, com a finalidade de gerir sua políticade inovação.

Parágrafo único. São competências mínimas do núcleo de inovaçãotecnológica:

I -zelar pela manutenção da política institucional de estímulo à proteçãodas criações, licenciamento, inovação e outras formas de transferênciade tecnologia;II - avaliar e classificar os resultados decorrentes de atividades e projetosde pesquisa para o atendimento das disposições desta Lei;III - avaliar solicitação de inventor independente para adoção de invençãona forma do art. 22;IV - opinar pela conveniência e promover a proteção das criaçõesdesenvolvidas na instituição;V - opinar quanto à conveniência de divulgação das criações desenvolvidasna instituição, passíveis de proteção intelectual;VI - acompanhar o processamento dos pedidos e a manutenção dos títulosde propriedade intelectual da instituição.

Art. 17. A ICT, por intermédio do Ministério ou órgão ao qual sejasubordinada ou vinculada, manterá o Ministério da Ciência e Tecnologiainformado quanto:I -à política de propriedade intelectual da instituição;II - às criações desenvolvidas no âmbito da instituição;III - às proteções requeridas e concedidas; eIV - aos contratos de licenciamento ou de transferência de tecnologiafirmados.

Parágrafo único. As informações de que trata este artigo devem serfornecidas de forma consolidada, em periodicidade anual, com vistas àsua divulgação, ressalvadas as informações sigilosas.

Art. 18. As ICT, na elaboração e execução dos seus orçamentos, adotarãoas medidas cabíveis para a administração e gestão da sua política deinovação para permitir o recebimento de receitas e o pagamento dedespesas decorrentes da aplicação do disposto nos arts. 4º, 6º, 8º e 9º, opagamento das despesas para a proteção da propriedade intelectual e ospagamentos devidos aos criadores e eventuais colaboradores.

Parágrafo único. Os recursos financeiros de que trata o caput deste artigo,percebidos pelas ICT, constituem receita própria e deverão ser aplicados,exclusivamente, em objetivos institucionais de pesquisa,desenvolvimento e inovação.

CAPÍTULO IVDO ESTÍMULO À INOVAÇÃO NAS EMPRESAS

Art. 19. A União, as ICT e as agências de fomento promoverão eincentivarão o desenvolvimento de produtos e processos inovadores emempresas nacionais e nas entidades nacionais de direito privado sem finslucrativos voltadas para atividades de pesquisa, mediante a concessãode recursos financeiros, humanos, materiais ou de infra-estrutura, aserem ajustados em convênios ou contratos específicos, destinados a apoiaratividades de pesquisa e desenvolvimento, para atender às prioridadesda política industrial e tecnológica nacional.

§ 1º As prioridades da política industrial e tecnológica nacional de quetrata o caput deste artigo serão estabelecidas em regulamento.

§ 2º A concessão de recursos financeiros, sob a forma de subvençãoeconômica, financiamento ou participação societária, visando aodesenvolvimento de produtos ou processos inovadores, será precedida deaprovação de projeto pelo órgão ou entidade concedente.

§ 3º A concessão da subvenção econômica prevista no § 1º deste artigoimplica, obrigatoriamente, a assunção de contrapartida pela empresabeneficiária, na forma estabelecida nos instrumentos de ajuste específicos.

§ 4º O Poder Executivo regulamentará a subvenção econômica de quetrata este artigo, assegurada a destinação de percentual mínimo dosrecursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico- FNDCT.

§ 5º Os recursos de que trata o § 4º deste artigo serão objeto deprogramação orçamentária em categoria específica do FNDCT, não sendoobrigatória sua aplicação na destinação setorial originária, sem prejuízoda alocação de outros recursos do FNDCT destinados à subvençãoeconômica.

Art. 20. Os órgãos e entidades da administração pública, em matéria deinteresse público, poderão contratar empresa, consórcio de empresas eentidades nacionais de direito privado sem fins lucrativos voltadas paraatividades de pesquisa, de reconhecida capacitação tecnológica no setor,

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visando à realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, queenvolvam risco tecnológico, para solução de problema técnico específicoou obtenção de produto ou processo inovador.

§ 1º Considerar-se-á desenvolvida na vigência do contrato a que se refereo caput deste artigo a criação intelectual pertinente ao seu objeto cujaproteção seja requerida pela empresa contratada até 2 (dois) anos após oseu término.

§ 2º Findo o contrato sem alcance integral ou com alcance parcial doresultado almejado, o órgão ou entidade contratante, a seu exclusivocritério, poderá, mediante auditoria técnica e financeira, prorrogar seuprazo de duração ou elaborar relatório final dando-o por encerrado.

§ 3º O pagamento decorrente da contratação prevista no caput desteartigo será efetuado proporcionalmente ao resultado obtido nas atividadesde pesquisa e desenvolvimento pactuadas.

Art. 21. As agências de fomento deverão promover, por meio deprogramas específicos, ações de estímulo à inovação nas micro e pequenasempresas, inclusive mediante extensão tecnológica realizada pelas ICT.

CAPÍTULO VDO ESTÍMULO AO INVENTOR INDEPENDENTE

Art. 22. Ao inventor independente que comprove depósito de pedido depatente é facultado solicitar a adoção de sua criação por ICT, que decidirálivremente quanto à conveniência e oportunidade da solicitação, visandoà elaboração de projeto voltado a sua avaliação para futurodesenvolvimento, incubação, utilização e industrialização pelo setorprodutivo.

§ 1º O núcleo de inovação tecnológica da ICT avaliará a invenção, a suaafinidade com a respectiva área de atuação e o interesse no seudesenvolvimento.

§ 2º O núcleo informará ao inventor independente, no prazo máximo de6 (seis) meses, a decisão quanto à adoção a que se refere o caput desteartigo.

§ 3º Adotada a invenção por uma ICT, o inventor independentecomprometer-se-á, mediante contrato, a compartilhar os ganhoseconômicos auferidos com a exploração industrial da invenção protegida.

CAPÍTULO VIDOS FUNDOS DE INVESTIMENTO

Art. 23. Fica autorizada a instituição de fundos mútuos de investimentoem empresas cuja atividade principal seja a inovação, caracterizadospela comunhão de recursos captados por meio do sistema de distribuiçãode valores mobiliários, na forma da Lei no 6.385, de 7 de dezembro de1976, destinados à aplicação emcarteira diversificada de valores mobiliários de emissão dessas empresas.

Parágrafo único. A Comissão de Valores Mobiliários editará normascomplementares sobre a constituição, o funcionamento e a administraçãodos fundos, noprazo de 90 (noventa) dias da data de publicação desta Lei.

CAPÍTULO VIIDISPOSIÇÕES FINAIS

Art. 24. A Lei no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, passa a vigorar comas seguintes alterações:

“Art. 2º .............................................................................................

VII - admissão de professor, pesquisador e tecnólogo substitutos para suprira falta de professor, pesquisador ou tecnólogo ocupante de cargo efetivo,decorrente de licença para exercer atividade empresarial relativa àinovação....................................................................” (NR)

“Art. 4º .............................................................................................

IV - 3 (três) anos, nos casos dos incisos VI, alínea ‘h’, e VII do art. 2º;

..................................................................

Parágrafo único. ..................................................................

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm11/3/2005

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..................................................................

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V - no caso do inciso VII do art. 2o, desde que o prazo total não exceda 6(seis) anos.” (NR)Art. 25. O art. 24 da Lei no 8.666, de 21 de junho de 1993, passa avigorar acrescido do seguinte inciso:

“Art. 24.............................................................................................

XXV - na contratação realizada por Instituição Científica e Tecnológica -ICT ou por agência de fomento para a transferência de tecnologia e parao licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação protegida. ...................................................................” (NR)

Art. 26. As ICT que contemplem o ensino entre suas atividades principaisdeverão associar, obrigatoriamente, a aplicação do disposto nesta Lei aações de formação de recursos humanos sob sua responsabilidade.

Art. 27. Na aplicação do disposto nesta Lei, serão observadas as seguintesdiretrizes:I - priorizar, nas regiões menos desenvolvidas do País e na Amazônia,ações que visem a dotar a pesquisa e o sistema produtivo regional demaiores recursos humanos e capacitação tecnológica;II - atender a programas e projetos de estímulo à inovação na indústria dedefesa nacional e que ampliem a exploração e o desenvolvimento da ZonaEconômica Exclusiva (ZEE) e da Plataforma Continental;III - assegurar tratamento favorecido a empresas de pequeno porte; eIV -dar tratamento preferencial, na aquisição de bens e serviços peloPoder Público, às empresas que invistam em pesquisa e nodesenvolvimento de tecnologia no País.

Art. 28. A União fomentará a inovação na empresa mediante a concessãode incentivos fiscais com vistas na consecução dos objetivos estabelecidosnesta Lei.Parágrafo único. O Poder Executivo encaminhará ao Congresso Nacional,em até 120 (cento e vinte) dias, contados da publicação desta Lei, projetode lei para atender o previsto no caput deste artigo.

Art. 29. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Brasília, 2 de dezembro de 2004; 183º da Independência e 116º daRepública.

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Antonio Palocci FilhoLuiz Fernando FurlanEduardo CamposJosé Dirceu de Oliveira e Silva

Este texto não substitui o publicado no D.O.U. de 3.12.2004

Fonte: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Lei/L10.973.htm . Consultado em 10/3/2009

MARCO LEGAL DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

A Lei n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005, conhecida como Lei doBem, em seu Capítulo III, artigos 17 a 26, e regulamentada pelo Decretonº 5.798, de 7 de junho de 2006, que consolidou os incentivos fiscais queas pessoas jurídicas podem usufruir de forma automática desde querealizem pesquisa tecnológica e desenvolvimento de inovação tecnológica.Esse Capítulo foi editado por determinação da Lei n.º 10.973/2004 – Leida Inovação, fortalecendo o novo marco legal para apoio aodesenvolvimento tecnológico e inovação nas empresas brasileiras. Osbenefícios do Capítulo III da Lei do Bem são baseados em incentivos fiscais,tais como: deduções de Imposto de Renda e da Contribuição sobre o LucroLíquido - CSLL de dispêndios efetuados em atividades de P&D; a reduçãodo Imposto sobre Produtos Industrializados - IPI na compra de máquinase equipamentos para P&D depreciação acelerada desses bens; amortizaçãoacelerada de bens intangíveis; redução do Imposto de Renda retido nafonte incidente sobre remessa ao exterior resultantes de contratos detransferência de tecnologia; isenção do Imposto de Renda retido na fontenas remessas efetuadas para o exterior destinada ao registro emanutenção de marcas, patentes e cultivares; ou subvenções ecônomicasconcedidas em virtude de contratações de pesquisadores, titulados comomestres ou doutores, empregados em empresas para realizar atividadesde pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, regulamentadapela Portaria MCT nº 557.

A Portaria MCT nº 943, de 08/12/2006, aprovou o formulário para queas pessoas jurídicas beneficiárias dos incentivos fiscais previstos noCapítulo III da Lei nº 11.196, de 2005, regulamentados pelo Decreto nº5.798, de 2006, prestem ao Ministério da Ciência e Tecnologia - MCT asinformações anuais sobre os seus programas de pesquisa tecnológica edesenvolvimento de inovação tecnológica.

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OBSERVATÓRIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIAL NA AMÉRICA LATINA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA UNB

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Produção Gráfica: Fernanda C. M. Pestana

CADERNOS DE PESQUISA E EXTENSÃO PRIMEIRA VERSÃO

Ob.MTS - OBSERVATÓRIO DO MOVIMENTO PELATECNOLOGIA SOCIAL NA AMÉRICA LATINA

CENTRO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL - CDSUNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - UNB

A Política Nacional de Tecnologia Social deve ser regida pela adoçãode formas democráticas de atuação e pelo respeito aos direitosfundamentais. Em especial, o direito ao conhecimento, à educação,à participação no patrimônio científico, tecnológico e cultural; aodireito à vida, alimentação e à saúde, ao desenvolvimento e aodireito de usufruir do padrão de vida criado pela tecnologia.

Para pensar em como alcançar esses objetivos, o estudo apresentadoaqui visa, precisamente, avaliar as condições necessárias paraque os recursos destinados às políticas de inovação empresarialpossam ser igualmente viabilizados para ambientes de políticaspúblicas de desenvolvimento e inclusão social por meio de umaregulamentação adequada da política de CT&I para inovações sociais.

O Ob.MTS - OBSERVATÓRIO DO MOVIMENTO PELA TECNOLOGIA SOCIAL DA

AMÉRICA LATINA está integrado às atividades regulares de pesquisa,docência e publicações científicas do CDS/UNB. Tem por objetivo acriação de novos direitos de propriedade intelectual públicos paraa inovação social a partir de experiências marcantes dos sujeitossociais e de pesquisadores na Universidade diante de políticas deEstado & movimentos urbanos e rurais na América Latina.