direitos das mulheres rurais na cplp - actuar-acd.org · a maioria das mulheres rurais depende dos...

20
DIREITOS DAS MULHERES RURAIS NA CPLP Newsletter Temática Novembro 2015

Upload: phungdiep

Post on 09-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

DIREITOS DAS

MULHERES RURAIS

NA CPLP

New

sle

tter

Te

máti

ca

N

ove

mbro

20

15

A Agricultura Familiar assume um papel central e hoje inquestionável na agricultura global, produzindo mais de metade das

necessidades alimentares mundiais (Altieri, 2009). As mulheres são uma maioria significativa deste setor, sendo indiscutível

a contribuição fundamental que trazem à produção agrícola.

Também nos países de língua portuguesa, como é o caso de Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, as mulheres exer-

cem a maioria do trabalho agrícola (Sarmento, 2013), tendo desenvolvido ao longo de gerações conhecimentos quanto ao

uso e gestão de recursos naturais. A percentagem de mulheres economicamente ativas que trabalham na agricultura, pesca,

caça ou florestas atinge, em alguns casos, percentagens na ordem dos 90%, como na Guiné-Bissau e em Moçambique

(FAO, 2011). Os seus direitos em relação ao acesso e controlo sobre os recursos naturais terão, por isso, de ser eficazmente

assegurados.

O princípio básico para a inclusão de uma abordagem de género nas políticas de gestão de recursos naturais consiste na

garantia do acesso e controlo a esses recursos por parte das mulheres, independentemente do seu estado civil ou dos seus

familiares do sexo masculino. Incorporar a perspetiva de género na análise e na gestão de recursos hídricos e fundiários

contribuirá para a visibilidade das desigualdades existentes no que respeita ao acesso e controlo dos recursos, à distribuição

de poder, à participação nos processos de tomada de decisão (ACTUAR, 2010), combatendo, assim, essas desigualdades, e

contribuindo para atingir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, recentemente aprovados na Cimeira das Nações

Unidas (setembro de 2015), particularmente o ODS #5, especificamente dedicado à igualdade de género, e que sublinha a

necessidade de realizar reformas para dar às mulheres direitos iguais aos recursos económicos, bem como o acesso à pro-

priedade e controlo sobre a terra e outras formas de propriedade.

“REDSAN-CPLP e MSC-CONSAN exigem que os direitos das mulheres

rurais sejam reconhecidos nas Diretrizes Regionais de Promoção da

Agricultura Familiar na CPLP” por Joana Rocha Dias, REDSAN-CPLP

Reconhecer os direitos das mulheres ao acesso e controlo sobre a terra e outros recursos naturais representa, portanto, um

elemento crucial para superar a pobreza e a insegurança alimentar. Isto passa pelo desenvolvimento e implementação de

legislações nacionais adequadas, as quais poderão obter em alguns instrumentos internacionais ferramentas para o reconhe-

cimento da importância da governança responsável da terra para a Segurança Alimentar e Nutricional (ACTUAR, 2014).

Neste sentido, é fundamental que estes elementos sejam considerados e sublinhados nas Diretrizes Regionais de Promoção

da Agricultura Familiar na CPLP, em formulação no âmbito do Grupo de Trabalho sobre Agricultura Familiar do Conselho de

Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP (ver caixa de texto). Recordamos, aliás, que a Estratégia de Segurança Alimentar

e Nutricional da CPLP (ESAN-CPLP), aprovada pelos Estados-Membro em 2011, define três prioridades de intervenção, entre

as quais, a importância de aumentar a disponibilidade de alimentos com base nos pequenos produtores, através de ações

concretas relativas também ao empoderamento das mulheres rurais (Eixo 3).

Assim, a REDSAN-CPLP e o Mecanismo de Facilitação da Participação da Sociedade Civil no CONSAN-CPLP conside-

ram imprescindível que as Diretrizes Regionais de Promoção da Agricultura Familiar na CPLP, atualmente em formu-

lação no âmbito do Grupo de Trabalho de Agricultura Familiar, confiram centralidade às agricultoras e agricultores

familiares como produtores de alimentos em todas as estratégias que visem a realização progressiva do Direito Hu-

mano à Alimentação Adequada, assegurando, por um lado, o empoderamento e participação plena e efetiva das mu-

lheres e a igualdade de oportunidades em todos os níveis de tomada de decisão na vida política, económica e públi-

ca, e por outro lado, os seus direitos de acesso e controlo sobre a terra, água, biodiversidade e conhecimentos tradi-

cionais associados.

A discussão sobre Diretrizes Regionais de Promoção da Agricultura Familiar na CPLP

O Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP (CONSAN-CPLP) foi criado em 2012, e consiste num órgão de

assessoria à Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP no que diz respeito à Segurança Alimentar e Nutri-

cional. Funciona como uma plataforma ministerial e multi-atores de coordenação das políticas e programas desenvolvidas

na área de Segurança Alimentar e Nutricional. Prevê a participação efetiva e qualificada da Sociedade Civil, através do

Mecanismo de Facilitação da Participação da Sociedade Civil no CONSAN-CPLP, de acordo com estatutos específicos,

aprovados em 2012.

Replicando este processo a nível nacional, os países da CPLP comprometeram-se a criar espaços nacionais de concerta-

ção intersectorial de políticas públicas para a agricultura e para a segurança alimentar, os quais preveem a participação

formal da Sociedade Civil na formulação e acompanhamento de políticas, legislação e programas de ações para a Segu-

rança Alimentar e Nutricional.

Alguns países de língua portuguesa contam já com conselhos nacionais, enquanto espaços de coordenação interministeri-

al e multi-atores para a Segurança Alimentar e Nutricional, assegurando a participação social (é o caso do Brasil, Cabo

Verde, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste). Assim, e dado o interface profundo entre a Segurança Alimentar e Nutricional

e o acesso a recursos naturais, torna-se prioritário assegurar que estas estruturas de coordenação interministeri-

ais e multi-atores integrem uma abordagem de género na definição de propostas de políticas, programas e estraté-

gias de promoção da segurança alimentar nos países em causa.

No âmbito do CONSAN-CPLP, foi criado em 2012 o Grupo de Trabalho de Agricultura Familiar da CPLP (GT AF), que reú-

ne representantes do Governo e da Sociedade Civil, com o objetivo de definir prioridades e estratégias relacionadas com o

princípio de intervenção 3 da ESAN-CPLP. Este GT AF tem vindo a empreender esforços no sentido da elaboração de

Diretrizes Regionais de Promoção da Agricultura Familiar na CPLP, diretrizes estas que estão presentemente em processo

de elaboração e auscultação dos diferentes atores. Mais informações em www.msc-consan.org

“Mulheres rurais, Direitos e Nutrição” por Joana Catarina Paiva, Secretariado

MSC-CONSAN

“As mulheres rurais produzem grande parte dos alimentos do mundo, protegem o meio ambiente e ajudam a

reduzir o risco de desastres nas suas comunidades. Apesar disso, continuam a estar sujeitas a desvantagens

e discriminação que as impedem de desenvolver o seu potencial”.

Ban Ki-moon, Secretário-geral da ONU (2012)

Desde sempre que as mulheres, devido a padrões culturais, constituem o pilar da vida familiar e doméstica, sendo respon-

sáveis pela alimentação, educação e meio de subsistência da sua família. A prevalência da tradição no meio rural, que

diferencia o papel social em função do género, contribui para diminuir o estatuto social da mulher, cuja dignidade depende

do seu estado civil, sendo as oportunidades de participação e intervenção na comunidade reduzidas ou mesmo nulas. Es-

tas situações representam uma violação ao direito das mulheres, sendo importante a emancipação da mulher, através da

erradicação dos preconceitos sociais, onde a competência do Estado é importante no desenvolvimento de ações de pro-

moção social da mulher.

O elevado índice de analfabetismo das mulheres rurais (81%) e da mortalidade materna infantil, o fraco acesso à informa-

ção e a oportunidades de formação, às novas tecnologias de produção e irrigação, a falta de acesso à terra e água potável,

aos mercados, ao financiamento, à proteção judicial e social, à assistência técnica e ao conhecimento sobre conservação

de alimentos, impedem o crescimento das mulheres rurais e consequente desenvolvimento local. Apesar disso, muitas

ações têm sido desenvolvidas nos últimos anos, estando a ser providenciados apoios ao acesso a recursos agrícolas pro-

dutivos e naturais, que contribuem para aliviar a fome e potenciar a capacidade das comunidades de se adaptarem às alte-

rações climáticas, à degradação das terras e a deslocamentos. Para isso é importante que as mulheres rurais comecem a

ter um papel mais participativo na gestão dos recursos naturais, nas consultas comunitárias e nas negociações sobre as

mudanças climáticas, nos órgãos e processos de tomada de decisão e em fóruns nacionais, regionais e internacionais.

A maioria das mulheres rurais depende dos recursos naturais para os seus meios de subsistência, sendo elas as responsá-

veis pela produção, processamento e preparação da maior parte das refeições das sociedades, isto é, são elas as respon-

sáveis pela Segurança Alimentar e Nutricional dos seus domicílios, escolas, hospitais, centros de dia, lares de idosos, entre

outros.

As mulheres rurais são responsáveis por mais de

metade da produção de alimentos (60% a 80%) a

nível mundial e desempenham um papel impor-

tante na preservação da biodiversidade através

da conservação de sementes, na recuperação de

práticas agroecológicas e garantem a Soberania

e Segurança Alimentar e Nutricional desde a pro-

dução de alimentos saudáveis.

As mulheres rurais vivem em situa-

ção de desigualdade social e políti-

ca, que se expressa fortemente na

dimensão económica com menos

acesso à terra, apenas 30% dos

títulos individuais estão em nome

de mulheres, 10% dos créditos e

5% de assistência técnica.

A destruição dos meios de subsistência, a expropriação dos terrenos e dos oceanos, o trabalho não remunerado, a descrimi-

nação no acesso à segurança social, entre outros fatores, contribui para que as mulheres rurais e outros produtores de ali-

mentos em pequena escala (pequenos agricultores, pastores, pescadores, trabalhadores agrícolas, agricultores sem terra,

jovens rurais e outros) não vejam o seu Direito Humano à Alimentação Adequada a ser cumprido, através de uma dieta sau-

dável, sendo necessário criar medidas urgentes que ajudem a combater a desnutrição nestes grupos vulneráveis.

“É urgente e necessário criar medidas de combate à desnutrição nos grupos mais vulneráveis

como as mulheres”

Estando mais de metade da população mundial a sofrer de desnutrição, é

importante que as mulheres rurais tenham formação e acesso a recursos

que lhes permitam melhorar a forma como produzem, processam e prepa-

ram os alimentos. Como tal, a Organização das Nações Unidas para a Ali-

mentação e a Agricultura (FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS)

organizaram, em novembro de 2014, a Segunda Conferência Internacional

sobre Nutrição (ICN2), que tinha como objetivo manter a nutrição nas agen-

das nacionais e internacionais de desenvolvimento, tendo sido proposto aos

Governos mundiais um quadro político flexível que identifica os grandes

desafios da nutrição e as prioridades para o reforço da cooperação interna-

cional em matéria de nutrição.

A realização plena dos direitos das mulheres é fundamental para o exercício

do Direito Humano à Alimentação Adequada para todos, pois são elas a

base da alimentação da família. É a partir das Mulheres que os recém-nascidos obtêm o seu primeiro alimento e, se estas

não estiverem devidamente nutridas, estarão a contribuir para a morte prematura, para a redução da esperança média de

vida, para o aumento da incidência de doenças transmissíveis e não transmissíveis, para a diminuição das capacidades físi-

cas e mentais e para a diminuição da qualidade de vida das suas crianças, influenciando as gerações futuras e o futuro do

seu país. Promover e proteger os direitos das mulheres, incluindo o reconhecimento social do trabalho não remunerado, atra-

vés de mecanismos de apoio social e comunitário e da redistribuição das tarefas domésticas, deve ser parte integrante de

uma estratégia eficaz para a redução da desnutrição em todas as suas formas.

Assim devem ser criadas medidas como a “janela de oportunidade dos 1000 dias e a abordagem do ciclo de vida para a nu-

trição”, uma vez que as necessidades nutricionais das mulheres e crianças vão mudando ao longo da vida; elas têm necessi-

dades específicas desde a gravidez até ao segundo aniversário da criança (1000 dias), sendo importante promover e garantir

os seus direitos. Deve igualmente ser apoiado o aleitamento materno exclusivo e continuado, uma vez que permite a mitiga-

ção da desnutrição em todas as suas formas, bem como as doenças infantis e mortes, devendo os Estados-Membro desen-

volver políticas de alimentação infantil, através da implementação

das resoluções e diretrizes existentes, reforçando os direitos de

todas as mães que trabalham, no contexto da promoção integral e

proteção dos direitos de todas as mulheres. Os Estados-Membro

devem também promover estratégias eficazes para o empodera-

mento e a promoção da autonomia das mulheres rurais e o cumpri-

mento dos seus direitos, através de legislação e medidas adminis-

trativas, da institucionalização de políticas públicas com enfoque

na igualdade de género, e do desenvolvimento de ações que ga-

rantam o fim da violência contra as mulheres.

A desnutrição é uma das principais causas de morte

nas crianças com idade inferior a 5 anos, por isso, a

janela de oportunidade dos 1000 dias é tão importan-

te, pois a nutrição, durante a gestação e nos primei-

ros dois anos de vida, é determinante na proteção

contra obesidade e doenças crónicas na vida adulta.

Para tal, é necessário que os direitos das mulheres e

crianças sejam promovidos e garantidos.

“Mulheres Rurais em Angola” por Ricardina Machado, UNACA

A UNACA – Confederação das Associações de Camponeses e Cooperativas Agro-

pecuárias de Angola, é uma organização histórica que surge num momento de pro-

fundas transformações socioeconómicas e políticas, constituindo sem sombra de

dúvidas um dos maiores elementos catalisadores na defesa dos legítimos interes-

ses dos camponeses angolanos, tendo em conta que 70% da população do país é

camponesa. A UNACA está implementada em todo o território nacional através da

Confederação, nas aldeias por Associações/Cooperativas, nos Municípios pelas

Uniões e nas Províncias pelas Federações.

“Dois terços da população angolana que vive nos meios rurais são camponesas”

Em Angola, estima-se que mais de dois terços da população que vive nos meios rurais são camponesas, vivendo essencial-

mente da agricultura. Isto significa que a agricultura constituí a fonte principal de alimentos e de emprego para as popula-

ções nas zonas rurais.

No entanto, importa refletir sobre os resultados e a eficiência das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento da

Agricultura Familiar no contexto pós-guerra de Angola. Os seus principais desafios prendem-se com a participação dos agri-

cultores na formulação, implementação e avaliação dos programas e projetos

gizados ao melhoramento das suas condições de trabalho.

Como é habitual em Angola, todos os anos é comemorado o Dia Internacional

da Mulher Rural a 15 de outubro. A UNACA realiza seminários e workshops

sobre variados temas concernentes de apoio à mulher rural, o que tem permiti-

do maior intervenção da UNACA e maiores apoios a esta franja da sociedade.

Recentemente, o Executivo Angolano aprovou um programa de apoio à mulher

rural, onde a UNACA, como ator preponderante, faz parte desta comissão de

apoio que culminou com a realização do Fórum da Mulher Rural que permitiu

auscultar diretamente as suas necessidades e elaborar o programa acima re-

ferido que já está a ser implementado pelo Ministério da Família e Promoção

da Mulher, acompanhado pelas Organizações da Sociedade Civil.

Importa salientar que não existe nenhuma descriminação positiva em relação

às mulheres rurais em Angola, uma vez que o Governo Angolano sempre des-

tinou recursos para incentivar a Agricultura Familiar e em particular as mulhe-

res rurais.

Ricardina Machado - Vice-

Presidente da Direção da UNACA

10.777 ORGANIZAÇÕES

de CAMPONESES

De algum tempo a esta parte, a UNACA

desenvolve entre outras ações, a sensi-

bilização, mobilização e organização de

camponeses sobre a importância da

produção agrícola, o combate ao des-

perdício da produção agropecuária, in-

centivando a aderência aos programas

de educação e alfabetização, do micro

crédito, crédito agrícola de campanha,

aproveitando melhor os apoios do Exe-

cutivo e outras organizações afins, tendo

constituído 10.777 organizações de ba-

se, das quais 8.662 são Associações e

2.115 Cooperativas integradas por

993.501 indivíduos, sendo 479.951 Ho-

mens e 513.550 Mulheres Rurais.

“Mulheres Rurais em São Tomé e Príncipe” por Maria de Fátima Silva,

AMAGRU

A AMAGRU - Associação das Mulheres Agricultoras Unidas de São Tomé e

Príncipe é uma estrutura feminina no ramo agrícola que atualmente conta com

500 membros associadas abarcando 26 comunidades.

Maria de Fátima, líder desta associação garante que AMAGRU nasceu com o

objetivo de reforçar economicamente as mulheres agricultoras no meio rural,

bem como melhorar as suas condições de vida.

“As mulheres rurais de São Tomé e Príncipe contribuem

para alavancar o Arquipélago”

As mulheres agricultoras em São Tomé e Príncipe têm vindo a lutar no seu dia-a

-dia para ganhar um espaço que dignifique e reconheça o trabalho feminino no

seio das Associações, Uniões e Federações das agricultoras do mundo rural.

Em 2005 nos dados oficiais de São Tomé e Príncipe constava que as mulheres

chefes do agregado familiar constituíam 36,6% do total dos chefes de famílias

dos quais; divorciadas (52%), separadas (74%), e viúvas (78%), sendo que a

maior parte se encontra no meio rural.

Nesta caminhada para emancipação e igualdade de oportunidades das mulheres para com os homens, as agricultoras

têm vindo a aumentar a sua produção agrícola e diversificando as suas áreas agrícolas, com apoios de diversos par-

ceiros, bem como alguns benefícios posto a disposição pelas autoridades, contribuindo assim para garantir melhorias

na Segurança Alimentar e Nutricional no país.

No passado dia 21 de dezembro do ano findo, pouco mais de 100 mulheres agricultoras participaram na Feira Agrícola,

exibindo os seus produtos, por ocasião do dia de São Tomé, feira esta organizada pelo Ministério de Agricultura e De-

senvolvimento Rural.

Ao longo do ano passado, apesar das limitações e dificuldades encontradas, a AMAGRU realizou em parceria com o

Instituto Nacional para Igualdade e Equidade de Género (INPG) campanhas de sensibilização das mulheres rurais so-

bre a saúde reprodutiva, diferentes formas de exploração sexual, casamento e relação familiar bem como a emancipa-

ção e participação das mulheres na vida pública e consumo abusivo de álcool, numa ação que percorreu diversas co-

munidade dos distritos de Mé-Zochi, Lobata e Cantagalo na ilha de São Tomé.

Uma outra ação desenvolvida como forma de agregar e trocar a experiência foi o intercâmbio entre diferentes comuni-

dades agrícolas, no que tange atividades recreativas e desportivas como forma de fomentar as boas relações e o con-

vívio entre as associadas filhadas.

De recordar que AMAGRU foi criada em agosto de 2012, com o apoio da Federação Nacional dos Pequenos Agriculto-

res de São Tomé e Príncipe (FENAPA-STP); federação que tem apoiado as ações desenvolvidas pela AMAGRU.

Maria de Fátima - Associação

das Mulheres Agricultoras Unidas

de São Tomé e Príncipe

(AMAGRU)

“Mulheres Rurais no Brasil” por Alessandra Lunas, CONTAG

A CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura conta com

27 Federações de Trabalhadores na Agricultura e mais de 4.000 Sindicatos de Tra-

balhadores e Trabalhadoras Rurais filiados que compõem o Movimento Sindical de

Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais pela luta dos direitos de mais de 15,7 mi-

lhões de homens e mulheres do campo e da floresta, que são agricultores(as) fami-

liares, acampados(as) e assentados(as) da reforma agrária, assalariados(as) rurais,

meeiros, comodatários, extrativistas, quilombolas, pescadores artesanais e ribeiri-

nhos.

“As Mulheres Trabalhadoras Rurais estão cada vez mais participativas e capacitadas”

A Secretaria de Mulheres Trabalhadoras Rurais da CONTAG apoia, discute, propõe, negocia e monitoriza com as mulheres

trabalhadoras rurais a coordenação e implementação de políticas e estratégias para a superação de todas as formas de

discriminação e desigualdades de género existentes no meio rural e promove ações de capacitação destas mulheres de

forma a qualificar a sua participação no Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e nos espa-

ços de formulação e implementação de políticas públicas de desenvolvimento rural.

Este processo político-organizativo tem garantido conquistas significativas como a implementação de políticas afirmativas

que asseguram a participação qualificada das mulheres trabalhadoras rurais nos cargos de direção, em atividades e progra-

mas de capacitação, em espaços de construção de ações estratégicas e políticas do MSTTR, e participação da Comissão

Nacional de Mulheres Trabalhadoras Rurais em espaços institucionais de formulação e implementação de políticas públicas

de desenvolvimento rural.

Para dar voz às mulheres trabalhadoras rurais, a CONTAG, em parceria com Federações, Sindicatos e outras organizações

parceiras, organiza a cada 4 anos a “Marcha das Margaridas”. A Marcha das

Margaridas é uma ampla ação estratégica das mulheres do campo, da flo-

resta e das águas, na conquista pela visibilidade, reconhecimento social e

político e cidadania plena. Esta marcha tem um papel fundamental no apro-

fundamento da Democracia Participativa, desencadeando um processo mas-

sivo de denúncia das condições de vida das mulheres no campo; de qualifi-

cação; proposição e negociação de políticas públicas de desenvolvimento

rural sustentável e solidário com igualdade de género.

Atualmente, a Marcha das Margaridas assume um papel extremamente im-

portante, não só pelo seu grande poder de mobilização, mas também pelo

seu apoio às lutas das mulheres e pelo papel fundamental que ela apresenta

para garantir as mudanças necessárias.

Alessandra Lunas - Secretária das

Mulheres Trabalhadoras Rurais da

CONTAG

A Marcha das Margaridas já permitiu

diversas conquistas ao nível do acesso à

Terra e a documentação, apoio às mu-

lheres assentadas e políticas de apoio à

produção na agricultura familiar, trabalho

e previdência social, saúde, educação e

luta contra a violência que tanto afeta as

Mulheres do Campo e da Floresta.

As ‘Margaridas’ saem às ruas para defender:

a alimentação como um Direito Humano;

a soberania dos povos do campo, da floresta

e das águas para produzir alimentos saudá-

veis e diversificados;

o direito das Mulheres a uma vida digna, com

reconhecimento , fortalecimento e valorização

do seu trabalho na agricultura familiar, no

extrativismo e na pesca artesanal;

a agroecologia relativamente à diversidade de

tradições, culturas, saberes, bem como prote-

ção à socio biodiversidade, ao património

genético e aos bens comuns e igualdade en-

tre homens e mulheres;

o acesso ao crédito, reconhecimento da pro-

dução para o autoconsumo como renda.

“Margaridas seguem em marcha por desenvolvimento sustentável com democracia, justiça, autonomia, igual-

dade e liberdade” Brasília (Brasil), 11-12 de agosto de 2015

Marcha das Margaridas

Desde 2000 que a CONTAG, Federações e Sindicatos brasilei-

ros promovem a Marcha das Margaridas, ação estratégica que

visa a conquista da visibilidade, do reconhecimento social e

político e da cidadania plena das mulheres do campo, da flo-

resta e das águas. Este ano, a Marcha das Margaridas contou

com o lema “Margaridas seguem em Marcha por Desenvolvi-

mento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igual-

dade e Liberdade”, onde 70 000 mulheres de 16 países, inclu-

indo países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa,

estiveram nas ruas mais uma vez para protestar contra as de-

sigualdades sociais, denunciar todas as formas de violência,

exploração e dominação e apresentar propostas para avançar

na construção da democracia e da igualdade para as mulhe-

res. A Marcha das Margaridas luta por um desenvolvimento

sustentável, centrado na vida humana e no respeito ao meio

ambiente, à diversidade racial, étnica, geracional e cultural e à

autodeterminação dos povos. Tem a garantia da Soberania

Alimentar e o fortalecimento da Agricultura Familiar como es-

tratégias para romper com a lógica do modelo de desenvolvi-

mento capitalista e patriarcal que privilegia a concentração de

terra e de riquezas e gera pobreza e desigualdades.

“Mulheres Rurais em Moçambique”

entrevista com SAQUINA MUCAVELE , MUGEDE

A MuGeDe - Mulher, Género e Desenvolvimento é uma organização Moçambicana

que trabalha na área do meio ambiente, desenvolvimento rural, género, soberania e

segurança alimentar, lobby e advocacia. É uma organização sem fins lucrativos, criada

oficialmente em 2004. A MuGeDe tem como objetivos promover a educação cívica e

ambiental, o desenvolvimento das comunidades rurais e a promoção da igualdade de

oportunidades entre homens e mulheres em todos os aspetos do desenvolvimento. A

MuGeDe trabalha principalmente com as mulheres e raparigas, tanto em áreas urba-

nas e rurais para realizar as atividades de desenvolvimento socioeconómico.

MULHER RURAL

Como carateriza a mulher rural? Quais as suas principais dificuldades?

A mulher rural (MR) vive no meio rural, a maioria (87%) vive da agricultura e 49% são vítimas de práticas tradicionais e

culturais nocivas e de casamentos prematuros, sofrendo com todo o tipo de desvantagens socioeconómicas, políticas e

culturais. As MR sofrem com diversas adversidades, como os impactos negativos das mudanças climáticas, que se traduz

em roturas de estruturas familiares deixando-as com a responsabilidade dos filhos e às vezes emigrações não voluntárias;

a fraca assistência técnica, devido ao número reduzido de extensionistas para atender a todas as demandas; o fraco con-

trolo sobre o acesso à terra, uma vez que a sua produção é controlada pelo homem; o excesso do número de horas de

trabalho na agricultura que lhe impossibilita a participação noutras atividades, como oportunidades de formação e de de-

senvolvimento, o que exacerba a sua marginalização e discriminação, entre outras causas. As MR enfrentam ainda dificul-

dades de acesso à educação, os níveis de analfabetismo rondam os 81,2% (cerca de 6,1 milhões não sabe ler nem escre-

ver); de acesso a infraestruturas agrícolas, dificultando o seu trabalho e impedindo uma maior produção e produtividade; e

de acesso a dinâmicas de desenvolvimento como impedimentos a grandes investimentos.

MOVIMENTO MOÇAMBICANO DA MULHER RURAL

Quase 20 anos após a implementação do Dia Internacional da Mulher Rural, a 15 de

outubro de 1995, quais considera que foram as principais conquistas das mulheres em

Moçambique?

Ao longo dos últimos 20 anos, as MR beneficiaram de algumas oportunidades de desenvolvimento, como formações, parti-

lha de experiências, viagens de intercâmbio, participação em Fóruns de discussão e de tomada de decisão a todos os ní-

veis, entre outros. O facto de terem sido criadas diversas associações que apoiam as MR a vários níveis, como educação,

defesa dos Direitos Humanos e direitos das mulheres, direito ao voto e à participação nos órgãos e processos de tomada

de decisão, permitiram o seu empoderamento, o acesso a apoios agrícolas e atividades de geração de renda, que contribu-

íram para a melhoria da produção e produtividade, alternativas de sobrevivência e desenvolvimento sustentável. Este facto

verifica-se pela crescente representatividade das mulheres nos conselhos consultivos e parlamentares, nas diretorias, se-

cretarias e ministérios. As MR participam em reuniões, partilham os seus problemas e encontram soluções comuns, exigem

os seus direitos e contribuem de forma ativa para o desenvolvimento da sua comunidade, província e país.

Saquina Mucavele - Diretora

Executiva da MuGeDe

Em 2011 a MuGeDe, em colaboração com as Mulheres Rurais Moçambicanas, criou o

Movimento Moçambicano de Mulheres Rurais (MMMR). Porquê a necessidade de cri-

ar este movimento?

As Mulheres Rurais de Moçambique dirigiram-se à MuGeDe a solicitar ajuda para a criação de um espaço onde as mesmas

pudessem reunir e expressar as suas opiniões, exprimir as suas iniciativas criadoras, um espaço comum para mulheres

interessadas no desenvolvimento. Pretendiam um espaço onde fosse possível congregar MR de diversas micro-

organizações de áreas de especialização diferentes, de forma a contribuir para o empoderamento da MR. Este espaço teria

como objetivo principal o empoderamento integrado, criar visibilidade e fortalecer a voz da Mulher Rural Moçambicana, onde

elas pudessem desenvolver a cultura, exortar e preservar os valores culturais, promover a solidariedade, o espírito de entre

ajuda, um espaço de aprendizagem e de entretenimento, de advocacia e de influência para melhorar as políticas e leis naci-

onais a favor da MR e das suas comunidades. As MR pretendiam sobretudo um espaço de convergência da Mulher Rural

Moçambicana. Foi com este objetivo que a 27 de outubro de 2011 as MR em conjunto com a MuGeDe criaram o Movimento

Moçambicano das Mulheres Rurais (MMMR).

Quais as principais conquistas do MMMR?

Até ao momento foram estabelecidas diversas parcerias com o Governo, ONGs da Sociedade Civil e outros parceiros a

todos os níveis. A realização da 1ª Reunião Nacional culminou com a estruturação nacional do MMMR, a eleição dos re-

presentantes e a aprovação de instrumentos, guiões e regulamentos do MMMR. O MMMR foi implementado em todas as

Províncias, com a realização do mapeamento das organizações de mulheres rurais, a eleição dos representantes, defini-

ção da estrutura definida e divulgação dos instrumentos aprovados na reunião nacional. As parcerias estabelecidas permi-

tiram o reconhecimento da importância do papel do MMMR, por parte do Governo e parceiros, contribuindo para o desen-

volvimento não só da Mulher Rural Moçambicana como também do país. O MMMR é convidado a participar ativamente

nos processos de discussão e tomada de decisão sobre os interesses e defesa dos direitos da Mulher Rural Moçambicana,

demonstrando a sua credibilidade junto dos mesmos. Nas celebrações do Dia Mundial da Mulher Rural em 2014 participa-

ram o Governo, OSC, parceiros e mulheres rurais, que estiveram presentes massivamente. Recentemente o MMMR lan-

çou um livro do mapeamento das ONGs de Mulheres Rurais Moçambicanas, com financiamento e parceria da UN

WOMEN.

Face às conquistas e atividades desenvolvidas pelo MMMR, como é que este é visto pe-

lo Governo Moçambicano, Sociedade Civil, Setor Privado e população geral, em Mo-

çambique e também noutros países?

Como mencionei anteriormente, o Governo, OSC, po-

pulação, parceiros e Setor Privado reconhecem a im-

portância do papel do MMMR, pelas suas conquistas e

trabalho realizado, dando-lhe força e encorajamento,

recomendando sempre mais abrangência, de modo a

envolver todas as MR interessadas, representando os

seus interesses.

POLÍTICAS GOVERNAMENTAIS

O elevado índice de analfabetismo das mulheres rurais, as dificuldades de acesso à

terra e água, infraestruturas, capital financeiro, tecnologias e serviços, entre outros,

têm dificultado a produção, transformação e comercialização dos produtos das mu-

lheres rurais. Neste sentido, quais foram as políticas e programas mais significativos

que contribuíram para a promoção da mulher rural em Moçambique?

Inúmero algumas das políticas, programas, leis que considero que em muito contribuíram para a promoção da mulher

rural Moçambicana: Constituição de 1975, com alterações de 1990 e 2004, Lei de Terras, Lei da Família, Lei contra a Vio-

lência Doméstica, Estratégia Presidencial para o combate ao VIH/SIDA, Convenção para as Mudanças Climáticas, Géne-

ro e Mudanças Climáticas, PROAGRI (substituída pela PEDSA), PEDSA, PNISA, ESANII, Lei do Direito Humano à Ali-

mentação Adequada (para aprovação no Parlamento), Política de Género, Lei de Agricultura e Segurança Alimentar e

Nutricional (para aprovação no Parlamento), Declaração das Primeiras-Damas de Génova (1992), Declaração de CEDAW

(1993), BENJING (1995), entre outras.

Que conquistas para as mulheres rurais gostaria de ver concretizadas num futuro

próximo (3-5 anos)?

Face aos elevados números de MR a viverem em Moçambique (a maioria da população Moçambicana é constituída por

mulheres rurais) e às necessidades e desafios específicos, gostaria que estas estivessem protegidas por Lei própria e

fundo específico de modo a contribuir para a melhoria do seu trabalho agrícola, comercialização e conservação dos pro-

dutos, apoio a projetos de geração de renda, acesso à educação, saúde e tecnologias e acesso à participação de diver-

sos fóruns e tomadas de decisão. Gostaria igualmente que houvesse promoção e apoio no estabelecimento dos centros

de alfabetização e educação de adultos em todos os distritos do País, de forma a permitir que toda a MR pudesse ter

oportunidade de estudar, assim como apoio ao empoderamento da MR fosse feito de forma integrada para mudar a sua

condição e elevação do seu estatuto e que a participação da MR fosse massiva em todos os órgãos e processos de toma-

da de decisão a todos os níveis, através de espaços de aprendizagem e influência de políticas, programas e estratégias a

seu favor, reconhecimento e valorização política do seu trabalho.

Que potencialidades e desafios destaca da articulação das mulheres rurais para a

concretização do Direito Humano à Alimentação Adequada na CPLP?

A efetivação do Fórum da Mulher Rural (FMR) na CPLP traz consigo muitas valências para a concretização do Direito

Humano à Alimentação Adequada (DHAA), tendo em conta que as mulheres rurais são uma maioria e estão unidas com o

mesmo objetivo. Existe a necessidade de divulgação do DHAA junto das MR, daí querermos insistir no lançamento da

Campanha pelo FMR na CPLP junto dos Estados-Membro, assim como lobby e advocacia pelos Movimentos e Fóruns de

Mulheres Rurais para a aprovação da Lei do DHAA, atendendo que as MR constituem a maioria da população em todos

os Estados-Membro da CPLP.

DIA INTERNACIONAL da MULHER RURAL

Foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU), na sua Resolução 62/136 de 18 de dezembro de 2007,

"o papel e a contribuição essencial da mulher rural no desenvolvimento rural e agrícola, na melhoria da segurança ali-

mentar e na erradicação da pobreza rural”, tendo sido estabelecido o dia 15 de outubro como o Dia Internacional da

Mulher Rural. Em 2012, o Secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que “a capacitação das mulheres rurais é

crucial para acabar com a fome e a pobreza. Ao negar os direitos e oportunidades às mulheres, negamos aos seus

filhos e às sociedades um futuro melhor.”

As mulheres rurais são responsáveis por mais de metade da produção de alimentos ao nível mundial e desempenham

um papel importante na prevenção da biodiversidade através da conservação de sementes, na recuperação de práti-

cas agrícolas e garantem a soberania e segurança alimentar desde a produção de alimentos saudáveis. Por isso, a

promoção da igualdade de género e a capacitação das mulheres permitirá melhorar significativamente os esforços

para reduzir a pobreza rural.

“Mais de 500 milhões de mulheres rurais no mundo, vivem na linha da pobreza mas produzindo mais de 60-80% da

alimentação”, por Women World Summit Foundation (WWSF)

Comemorações do Dia Internacional da Mulher Rural

Para comemorar o Dia Internacional da Mulher Rural, a MuGeDe promoveu, a 27 de outubro de 2014, em parceria com os

Ministérios da Agricultura e da Mulher e Ação Social, FAO, ONU Mulheres e o Movimento Moçambicano das Mulheres

Rurais, o evento “Mulher Rural Garante da Agricultura Familiar e do Direito à Alimentação Adequada” no Distrito de Mo-

amba, Província de Maputo. Este evento teve como objetivo comemorar o dia da mulher rural, refletindo sobre o seu pa-

pel, o seu reconhecimento e sua capacitação de competências, através da elaboração de políticas específicas para as

mulheres rurais e empoderamento sociopolítico, cultural e económico.

“Mulher Rural Garante da Agricultura Familiar e do Direito à Alimentação Adequada”

Moamba, Maputo, Moçambique, 15 de outubro de 2014 - Dia Internacional da Mulher Rural

“Mulheres Rurais em Cabo Verde”

entrevista com EDELFRIDE ALMEIDA, VERDEFAM

A Associação Cabo-verdiana para a Protecção da Família (VERDEFAM) foi criada em 1995

por um grupo de homens e mulheres ativistas preocupados com o planeamento familiar e a

saúde sexual e reprodutiva. A VERDEFAM tem como visão uma sociedade onde os adolescen-

tes e jovens, mulheres e homens exercem os seus direitos sexuais e reprodutivos e têm aces-

so a serviços e métodos contracetivos modernos e de qualidade. Cabo Verde é um arquipélago

formado por 10 ilhas, localizado no Oceano Atlântico, com uma população a volta dos 500.000

indivíduos, dos quais mais de 60% tem menos de 25 anos de idade, uma população maioritari-

amente jovem. Assim sendo, grande parte dos nossos projetos são dedicados aos jovens na

área da educação sexual, prevenção do aborto de risco e das gravidezes não desejadas, vio-

lência baseada no género, oferta de méto-

dos contracetivos, atividades de informação, educação para mudança de

comportamento de risco face às drogas e às infeções sexualmente trans-

missíveis, com intervenções nas escolas e nas comunidades e junto às

populações mais desfavorecidas.

Quais as principais dificuldades e conquistas da VERDEFAM?

Em termos de dificuldades podemos apontar a grande dependência de financiamento externo que a VERDEFAM precisa para

levar a cabo os seus objetivos e resultados que pretende atingir, ao mesmo tempo que procura meios e estratégias para con-

seguir a sua autossustentabilidade. Outra dificuldade prende-se com o facto de não poder cobrir todas as ilhas e concelhos do

país. Em termos de conquistas podemos salientar o reconhecimento do trabalho realizado nestes 20 anos e o engajamento de

jovens para a continuidade da visão e missão da VERDEFAM. O apoio e complementaridade dada ao setor público e dos ga-

nhos que o país tem conseguido na área da saúde, com destaque para a saúde sexual e reprodutiva.

Quais as principais dificuldades que a VERDEFAM encontrou na abordagem com as mu-

lheres, em especial com as mulheres rurais, sobre os seus serviços? Quais as principais

conquistam com estas mulheres?

A VERDEFAM não tem tido problemas maiores na abordagem dos direitos e a saúde sexual e reprodutiva com as mulheres, e

em particularmente com as mulheres rurais. Deparamos que apesar dos esforços, existe menos acesso aos serviços no meio

rural e que existem épocas do ano em que a procura de serviços nos concelhos mais rurais diminui, facto derivado das tarefas

relacionadas com as chuvas e sementeira.

A VERDEFAM é membro de pleno Direito da Federação Internacional

Para o Planeamento Familiar e da Plataforma das ONGS de Cabo Ver-

de, e desde a sua criação tem conseguido um grande reconhecimento

a nível nacional, participando nas ações e estratégias no domínio dos

Direitos e Saúde Sexual e Reprodutiva.

Edelfride Barbosa Almei-

da - Presidente do Conse-

lho Diretivo Nacional da

VERDEFAM

A VERDEFAM tem um leque diversificado de profissionais e de meia centena de voluntários o que permite prestar

informação e serviços em sete estruturas fixas nas cinco ilhas e três estruturas móveis, possibilitando a realização

de um trabalho de proximidade e contemplando grupos que procuram menos os serviços como os profissionais de

sexo, homossexuais, toxicodependentes. Em termos de serviços a VERDEFAM oferece anualmente 55.887 servi-

ços de contraceção, 46.693 serviços de consultas, tratamento de Infeções Sexualmente Transmissíveis, incluindo

HIV/SIDA.

De que forma as atividades realizadas pela VERDEFAM contribuíram para a melhoria

da qualidade de vida das mulheres, em especial das mulheres rurais?

Temos contribuído para a melhoria da qualidade de vida das mulheres, nomeadamente diminuição do número de filhos por

cada mulher em Cabo Verde, situação igualmente visível nos conselhos rurais, mas reconhecemos que ainda há muito para

fazer.

Em que medida os parceiros da VERDEFAM têm sido um importante contributo para a

realização das atividades da associação?

A VERDEFAM trabalha em parceria com as organizações de base comunitária, precisa do apoio técnico e material do setor

público de saúde. O apoio recebido dos seus financiadores externos tem sido importante para a sua existência durante estes

20 anos, satisfazendo a população, principalmente a mais pobre e vulnerável através de serviços com consultas e exames

complementares de diagnóstico, ecografia, citologia, autoexame mamário, testes de gravidez e de HIV, entre outros.

Num futuro próximo (3-5 anos) que resultados a VERDEFAM pretende alcançar?

Alargar os seus serviços de forma a conseguir chegar a mais comunidades e procurar desenvolver estratégias para chegar

aos pré-adolescentes, tendo em conta que a prevenção deve ser feita para atingir as faixas etárias mais baixas; reforçar o

Planeamento Familiar.

“Mulheres Rurais na Ásia” pela Beyond Beijing Committee

Ao longo dos anos, a Beyond Beijing Committee (BBC) tem trabalhado sobre os Direitos Humanos das mulheres e a sua

saúde sexual e reprodutiva, tendo uma abordagem prioritária no aborto seguro. A BBC acredita que o aborto só deve ser

realizado em último recurso, destacando a importância do planeamento familiar e o uso de métodos contracetivos, defendo

que as mulheres precisam ter acesso à informação para fazerem as suas escolhas de forma consciente.

No Nepal, qualquer diálogo sobre interação sexual é tabu e considerado como falta de moralidade, o que torna difícil o direci-

onamento para os direitos de saúde sexual e reprodutiva. Apesar das dificuldades encontradas, a BBC trabalha atualmente

em três distritos diferentes: Lalitpur, Makwanpur e Morang, concentrando-se em dez Comités de Desenvolvimento em cada

distrito. A BBC fornece informações às mulheres rurais sobre o desenvolvimento de novas legislações, defendendo a conti-

nuidade do acesso aos serviços de saúde de qualidade. Atualmente a BBC conduz um estudo de base para reunir informa-

ções sobre a estigmatização do aborto, uma vez que muitas mulheres rurais têm que passar por uma gravidez indesejada

devido a normas sociais, arriscando por vezes a sua própria vida. Este estudo irá ajudar a compreender os efeitos do aborto

nas mulheres ao nível físico, emocional, assim como discriminação e estigmatização infligidas.

A Beyond Beijing Committee (BBC) é uma organização de rede feminista de Direitos Humanos comprometida em

alcançar a igualdade de género, desenvolvimento sustentável e os direitos humanos das mulheres. Foi formada após

a 4ª Conferência Mundial das Nações Unidas sobre as mulheres, em Pequim, setembro de 1995. A BBC sentiu a

necessidade de dar a conhecer às mulheres locais os seus direitos, tendo sido criada uma plataforma de apoio à

população rural marginalizada ao nível nacional e internacional, que conta atualmente com uma rede de mais de 200

membros no Nepal.

Após o terremoto de 25 de abril de 2015, a BBC distribuiu kits básicos de ajuda às mulheres grávidas e recém mamãs e kits

de higiene menstrual, tendo sido a única organização com foco nestas mulheres. Após este período de catástrofe, a BBC cri-

ou um espaço amigável para as mulheres, em especial as mulheres rurais da zona mais afetada Bhaktapur, desenvolvendo

diferentes atividades de aconselhamento e cura, legítima defesa, fornecendo informações sobre os direitos de saúde sexual e

reprodutiva. Este espaço amigável de mulheres foi um sucesso, tendo sido abertos outros dois espaços noutras áreas afeta-

das: Sakhu e Kavra.

No Nepal tem sido feito um enorme progresso para o desenvolvimento das Mulheres, apesar de ainda ser necessário alcan-

çar áreas excluídas devido a razões geográficas. Atualmente, as mulheres rurais exercem os seus direitos, permitindo mudar

e desafiar as normas sociais existentes. Através dos Objetivos do Milénio, o Nepal tem conseguido implementar estratégias

que permitem às mulheres terem consciência de como podem melhorar as suas vidas, através de melhor educação, saúde,

erradicação da pobreza e da fome, melhor taxa de mortalidade, igualdade de género, entre outras.

Devido à elevada taxa de mortalidade e ao crescente número de membros numa família, o Governo do Nepal decidiu atribuir

tarifas de transporte às mulheres grávidas que se desloquem aos hospitais para terem os seus bebés. Com a ajuda de ONGs

nacionais e internacionais, a partilha de informação e de conhecimentos tem permitido que as mulheres exerçam os seus di-

reitos de saúde sexual e reprodutiva, prevalecendo o aumento do uso de métodos contracetivos e planeamento familiar, ape-

sar de ser necessário a intervenção do Governo em algumas áreas.

Apesar do progresso significativo na última década em relação à educação das mulheres, a realidade é que o fosso de analfa-

betismo entre homens e mulheres ainda é grande. A taxa de alfabetização é 71,6% para homens e 44,5% para as mulheres

(UNESCO, 2011). Em 2011, dos 7,6 milhões de analfabetos adultos no Nepal, 67% eram do sexo feminino. Apesar do peque-

no acréscimo de inscrições femininas no ensino, o número de desistências no ensino secundário continua a aumentar, devido

à discriminação parental em relação aos filhos do sexo masculino e feminino.

O Governo do Nepal está a tentar responder às necessidades das mulheres rurais, uma vez que as mulheres constituem cer-

ca de metade da população e a sociedade já percebeu que o avanço social, económico, político, não é possível sem a ajuda

das mulheres.

“Mulheres Rurais em Portugal” por Mónica Couto, MARP

A MARP - Associação das Mulheres Agricultoras e Rurais Portuguesas é uma

associação nacional constituída por agricultoras e ainda por pessoas singulares

ou coletivas de direito privado ligadas à produção agroflorestal das explorações/

empresas de base familiar e a outras atividades que, de alguma forma, contribu-

am para a manutenção e desenvolvimento sustentado, dos espaços e ecossiste-

mas, para a criação e qualificação de emprego, para a melhoria da qualidade de

vida e de trabalho, para a qualidade da produção agroflorestal, em especial, no

e para o desenvolvimento do Mundo Rural Português.

“As desigualdades das mulheres das zonas rurais são mais sentidas que noutras zonas

do país”

Do total da população agrícola familiar em Portugal, as mulheres representam cerca de 50%, não são as titulares da explora-

ção agrícola e frequentemente são estas que, ficam excluídas do sistema normal de Segurança Social. Em Portugal as mu-

lheres representam a maioria da população, dos desempregados e a maior parte das pessoas com um rendimento anual lí-

quido inferior à média nacional. Segundo as últimas estatísticas, as dirigentes femininas da exploração agrícola representam

cerca de 29%, tendo-se verificado um aumento de apenas 8% em 20 anos (de 1989 a 2009).

Não existem políticas agrícolas que incentivem a igualdade de género, a fixação da mulher no setor agrícola e no meio rural,

o que contribui sistematicamente para o êxodo rural. É essencial a criação de medidas que valorizem e reconheçam o papel

preponderante da mulher no que se refere à alimentação e o seu contri-

buto para a garantia da Soberania Alimentar e da preservação da paisa-

gem. É necessário apelar para a importância devida a este modelo de

Agricultura Familiar do ponto de vista económico, social e ambiental e

lutar contra a falta de apoios e incentivos que criem condições para fixar

as jovens ao meio rural e lhes permita viver dignamente com os frutos do

seu trabalho.

O aumento dos custos de produção, as descidas nos preços de venda

da produção, determinados pelas grandes cadeias de distribuição, e o

aumento dos impostos representam grandes dificuldades para o mundo

rural e para as agricultoras que sofrem com as políticas nacionais e co-

munitárias e com a retração de apoios e investimento no setor. Se a esta

dura realidade, juntarmos o aumento do desemprego, o encerramento

de serviços públicos em meio rural, isolando cada vez mais estas popu-

lações, a queda dos rendimentos na produção, as mulheres agricultoras

e rurais sofrem na primeira linha.

As mulheres Portuguesas e, nestas, as mulheres agricultoras e rurais,

vão continuar na linha da frente nesta luta pela defesa das mulheres, do

mundo rural e da agricultura familiar.

Mónica Couto da Silva - MARP

AGRICULTORAS PORTUGUESAS

Portugal enfrenta(ou) uma crise económico-

financeira que em muito ceifou os direitos d@s

portugues@s, situação que afeta todos, em

especial as Mulheres, pois são estas que mais

sentem e mais sofrem com a discriminação no

trabalho, seja na produção agroalimentar seja

no trabalho doméstico, trabalho este invisível e

nunca reconhecido.

As desigualdades que atingem as Mulheres das

zonas rurais são ainda mais marcadas pelo

isolamento, falta de qualificação escolar e pro-

fissional, falta de oportunidades, acumulação

das dificuldades económicas e sociais que con-

tribuem vergonhosamente para a sua marginali-

zação e esquecimento.

EDITORIAL

O MSC-CONSAN - Mecanismo de Facilitação da Participação da Sociedade Civil

no CONSAN-CPLP facilita a participação coordenada das organizações da sociedade

civil e das organizações não-governamentais nas negociações, tomada de decisões e

trabalhos regulares no Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional da Comunidade

dos Países de Língua Portuguesa (CONSAN-CPLP), assim como é responsável pela

implementação da Estratégia de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP (ESAN-

CPLP) junto do Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional da CPLP.

Mais informações em www.msc-consan.org

A ACTUAR – Associação para a Cooperação e o Desenvolvimento é uma associação

portuguesa sem fins lucrativos, fundada em 2007. Tem como principais objetivos promover o

desenvolvimento e o combate à pobreza, e a proteção e promoção dos Direitos Humanos,

contribuindo para a eliminação de todas as formas de exclusão social e desigualdade, garan-

tindo a todos e todas os seus direitos fundamentais, privilegiando o fortalecimento das capa-

cidades dos grupos mais vulneráveis à insegurança alimentar e às mudanças climáticas,

nomeadamente, agricultores familiares, pescadores, pastores/criadores de gado, mulheres,

jovens, pessoas com HIV/SIDA, populações sem-terra, povos indígenas, entre outros. Mais

informações em www.actuar-acd.org

A PCCLPL - Plataforma de Camponeses da CPLP é um espaço de articu-

lação das organizações que representam os agricultores familiares dos paí-

ses de língua portuguesa. Reúne os agricultores e trabalhadores rurais no

sentido de influenciar a agenda política relacionada com a Agricultura Famili-

ar, a Soberania Alimentar e o Direito Humano à Alimentação Adequada. Mais

informações em www.pccplp.org

A REDSAN-CPLP - Rede Regional da Sociedade Civil para a Seguran-

ça Alimentar e Nutricional na CPLP é um espaço de articulação de organiza-

ções da Sociedade Civil dos países de língua portuguesa que trabalham em

conjunto no sentido de influenciar a agenda política para a Segurança Ali-

mentar e Nutricional com base na perspetiva do Direito Humano à Alimenta-

ção e da Soberania Alimentar, junto dos Governos nacionais, da CPLP e or-

ganismos internacionais para a definição e implementação das políticas públi-

cas relacionadas com os alimentos e alimentação. Mais informações em

www.redsan-cplp.org

FICHA TÉCNICA

Criação e Produção Visual

Joana Catarina Paiva

Edição e Produção de Conteúdos

Joana Catarina Paiva

Fotografias

Miguel de Barros

Apoio

Rede Internacional de Segurança Alimentar (IFSN)

AGRADECIMENTOS

IFSN - The International Food Security Network

Esta Newsletter foi produzida em parceria com a Rede Internacional de Segurança Alimentar

(IFSN). O projeto IFSN é cofinanciado pela União Europeia e implementado pela ActionAid junta-

mente com 11 parceiros oficiais, trabalhando em parceria com mais de 1100 Organizações da

Sociedade Civil em mais de 31 países em cinco continentes para o reforço das redes nacionais e

regionais de Segurança e Soberania Alimentar e Nutricional para assegurar o Direito Humano à

Alimentação Adequada nos países do Sul. Mais informações em www.ifsn.info

UNIÃO EUROPEIA

Esta Newsletter é cofinanciada pela União Europeia. Os conteúdos constantes nesta publicação são da

inteira responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião da União Europeia.

AMAGRU Beyond Beijing Committee

CONTAG MARP

MuGeDe REDSAN-CPLP

UNACA VERDEFAM