direito processual penal

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Curso completo para concurso de direito: processual penal.

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  • DIREITO PROCESSUALPENALIntensivo II

    Prof. Renato Brasileiro__________________________________________________________________________________________________2010

    Todos os Direitos Reservados proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos direitos do autor (Lei 9.610/908) crime estabelecido pelo art. 184 do Cdigo Penal. Contato: [email protected]

    QUESTES PREJUDICIAIS

    Para a gente comear a entender questes prejudiciais, vou usar o exemplo da balada. Imagine o seguinte exemplo: Rafael, depois que passou no concurso, saiu noite na balada em So Paulo. Quando chega na balada, se depara com uma moa linda e v que vai rolar alguma coisa. Mas quando isso acontece, ele vira pra ela e diz: vou parar por aqui e antes que voc pense que o problema com voc, eu tenho que dizer que tenho uma questo prejudicial. Eu no posso estar aqui, nada pode acontecer entre a gente porque, na verdade, eu tenho um rolo antigo que estou resolvendo. Ou seja, ele primeiro vai resolver esse problema antigo, antes de encarar o novo. Essa a questo prejudicial.

    Brincadeiras parte, vamos ver uns exemplos sempre citados pela doutrina. E impressionante. Vamos ao artigo 235, do Cdigo Penal:

    Bigamia - Art. 235 - Contrair algum, sendo casado, novo casamento: Pena -recluso, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.

    Este o crime de bigamia. Qual o detalhe importante para que vocs entendam? Eu s posso ser processado criminalmente pelo delito de bigamia se sou casado e caso novamente. Imaginem vocs que eu esteja sendo processado por bigamia. Na minha defesa, eu digo que no posso estar respondendo criminalmente pelo delito de bigamia porque o meu primeiro casamento nulo e, inclusive, tramita no cvel uma ao que visa anulao do meu primeiro casamento. Se o meu primeiro casamento nulo, eu no posso ser condenado pelo delito de bigamia. Essa a idia da questo prejudicial. Ou seja, uma questo que deve ser enfrentada pelo juiz e que vai repercutir no mrito da causa. Se amanh dizem que o meu primeiro casamento nulo, eu no posso ser condenado por bigamia.

    Ento, esta a idia inicial que vocs tm que ter em mente sobre questo prejudicial.

    1. CONCEITO

    Questes prejudiciais so questes que devem ser avaliadas pelo juiz com valorao penal ou extrapenal e devem ser decididas antes do mrito da ao principal.

    Essa questo pode ser de valorao penal ou extrapenal. No exemplo que eu dei extrapenal (questo do casamento) e deve ser decidida antes do mrito da ao principal, ou seja, o juiz no pode me condenar por bigamia sem antes analisar se o meu primeiro casamento seria vlido ou no.

    2. NATUREZA JURDICA

  • DIREITO PROCESSUALPENALIntensivo II

    Prof. Renato Brasileiro__________________________________________________________________________________________________2010

    Todos os Direitos Reservados proibida a reproduo total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio. A violao dos direitos do autor (Lei 9.610/908) crime estabelecido pelo art. 184 do Cdigo Penal. Contato: [email protected]

    Apesar de alguma posio bem minoritria em sentido contrrio, prevalece na doutrina o seguinte: as questes prejudiciais funcionam como elementar da infrao penal.

    O art. 235, por exemplo fala em contrair algum, sendo casado, novo casamento. Percebam vocs que a questo prejudicial a em relao ao casamento (sendo casado) est inserida dentro do tipo penal. Se est inserida dentro do tipo penal, temos a o qu? Uma elementar da infrao penal. Por isso, prevalece nadoutrina que a natureza jurdica da questo prejudicial de elementar da infrao penal.

    3. CARACTERSTICAS

    A doutrina vai trabalhar com trs caractersticas das questes prejudiciais:

    3.1. Anterioridade A questo prejudicial deve ser decidida antes da questo prejudicada. Isso lgico e claro: Antes de o juiz me condenar pelo crime de bigamia ele precisa, antes, analisar a questo prejudicial, ou seja, o meu primeiro casamento.

    3.2. Essencialidade ou Interdependncia Significa o seguinte: o mrito da ao principal depende da resoluo da questo prejudicial. Voc tem que analisar sempre se essa questo prejudicial importante para o deslinde da causa. Vamos imaginar o Romrio, que est enfrentando alguns pequenos problemas a. Quanto a isso, o art. 244, do CP:

    Abandono Material - Art. 244 - Deixar, sem justa causa, de prover a subsistncia do cnjuge, ou de filho menor de 18 (dezoito) anos ou inapto para o trabalho, ou de ascendente invlido ou maior de 60 (sessenta) anos, no lhes proporcionando os recursos necessrios ou faltando ao pagamento de penso alimentcia judicialmente acordada, fixada ou majorada deixar, sem justa causa, de socorrer descendente ou ascendente, gravemente enfermo:

    Imagine voc que eu esteja sendo processado em relao a esse crime do abandono material e esteja tramitando no cvel uma ao negatria de paternidade. Como que eu posso ser condenado pelo crime de abandono material se aquela pessoa que se est dizendo que eu abandonei no meu filho? Esse o raciocnio: h uma relao de essencialidade e interdependncia. Eu s posso julgar a demanda penal aps resolver essa questo prejudicial.

    3.3. Autonomia - A questo prejudicial pode ser objeto de uma ao autnoma. No exemplo que eu estou trabalhando (bigamia), a questo da anulao do casamento tem existncia autnoma, mesmo que amanh o processo penal amanh venha a ser extinto pela extino da punibilidade ou qualquer outra causa, aquela ao de anulao de casamento vai tramitar normalmente. Por isso se diz que a questo prejudicial tem essa caracterstica.

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    Pergunta que j caiu em segunda fase: Diferenciar as questes prejudiciais das questes preliminares.

    4. QUESTO PREJUDICIAL vs. QUESTO PRELIMINAR

    Questo Prejudicial - Como vimos, prejudiciais so as questes que devem ser avaliadas pelo juiz com valorao penal ou extrapenal, e devem ser decididas antes do mrito da ao principal.

    Questo Preliminar - o fato processual ou de mrito que impede que o juiz aprecie o fato principal ou uma questo principal.

    Essas questes preliminares so muito bem e facilmente trabalhadas no mbito cvel, agora, geralmente a pessoa que vai advogar na rea criminal pela primeira vez (e engraado voc perceber isso), a preocupao dela saber se o seu cliente praticou ou no praticou o crime, se culpado ou se inocente. Na verdade, para o advogado criminal, a preocupao deve ir muito alm disso. Quer dizer, voc no deve, jamais, pautar a sua defesa to somente no mrito, se culpado ou inocente. s vezes voc consegue provocar uma certa lentido no processo e at mesmo a prescrio somente com base nessas questes preliminares. s vezes voc pode arguir uma exceo de litispendncia, uma exceo de suspeio, ou seja, so fatosprocessuais ou de mrito que, se acaso ocorrerem no caso concreto vo impedir que o juiz analise o mrito. Ento, o juiz no vai chegar ao ponto de dizer se voc culpado ou inocente porque antes ele vai declarar extinto o processo, vai mandar para outro juiz e assim por diante.

    2 Diferena: As questes prejudiciais esto ligadas ao direito material (funcionam como elementar da infrao penal), enquanto que as questes preliminares esto ligadas ao direito processual.

    3 Diferena: As questes prejudiciais esto ligadas ao mrito da infrao penal, enquanto que as questes preliminares esto ligadas existncia de pressupostos processuais de existncia e de validade.

    4 Diferena: Cuidado porque as questes prejudiciais, como j vimos, so autnomas. Cuidado com a autonomia que uma caracterstica das questes prejudiciais, enquanto que as questes preliminares so sempre vinculadas quele processo penal especfico.

    5 Diferena: Quem decide uma questo prejudicial e quem decide uma questo preliminar? A pergunta pode parecer boba, mas interessante voc raciocinar o seguinte: pensa bem! Se a questo preliminar tem natureza vinculada (est vinculada ao processo penal), quem pode decidir essa questo? Somente o juzo penal. Agora, e o caso da questo prejudicial? Se tem existncia autnoma significa tranquilamente que pode ser decidida tanto por um juzo penal, quanto por um juzo extrapenal. A questo preliminar deve ser sempre decidida por um juzo penal, enquanto que a prejudicial pode ser decidida tanto por um juzo penal quanto por um juzo extrapenal.

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    QUESTO PREJUDICIAL QUESTO PRELIMINARPenal ou extrapenal Processual ou de mritoLigada ao direito material Ligada ao direito processualLigadas ao mrito da infrao penal Ligadas existncia de pressupostos

    processuaisSempre autnomas Sempre vinculadasDecidida por um juzo penal ou extrapenal

    Sempre decidida por um juzo penal

    5. SISTEMAS DE SOLUO DAS QUESTES PREJUDICIAIS

    Como eu fao para resolver uma questo prejudicial? So quatro os sistemas trabalhados pela doutrina para soluo das questes prejudiciais.

    5.1. Sistema da COGNIO INCIDENTAL ou do PREDOMNIO DA JURISDIO PENAL(Importante ficar atento para as expresses sinnimas) - De acordo com esse primeiro sistema, o juiz penal sempre competente para conhecer a questo prejudicial, mesmo sendo ela heterognea (questo prejudicial de outro ramo do direito, do patrimnio, estado civil. Depois vou explicar.).

    O prprio nome desse sistema j diz tudo: sistema do predomnio da jurisdio penal. Significa que o juiz penal decide tudo, inclusive, a questo prejudicial heterognea. Se fssemos discutir sobre os pros e os contras deste sistema, qual seria a ntida vantagem da adoo desse primeiro sistema? Celeridade. Ento, esse primeiro sistema, sem dvida, vem ao encontro da celeridade e da economia processual. Em um nico processo, voc vai decidir tudo. E qual a crtica que recai sobre ele? De certa forma, esse sistema acaba violando o princpio do juiz natural porque, ao permitir que o juiz penal analise questes prejudiciais de outros ramos do direito ele, de certa forma, estaria usurpando uma competncia do juzo extrapenal. J imaginou um juiz penal, com 20 anos em uma vara penal ter que examinar uma questo sobre casamento? Ia complicar para ele, e muito. Seria uma violao do princpio do juiz natural. Ento, esse sistema, da mesma forma que atende celeridade, de certa forma viola o juiz natural ao permitir que o juiz penal valore uma questo prejudicial de outro ramo do direito.

    5.2. Sistema da PREJUDICIALIDADE OBRIGATRIA ou da SEPARAO JURISDICIONAL ABSOLUTA - o segundo sistema trabalhado pela doutrina. O que significa esse segundo sistema? Como ser resolvida a questo prejudicial? O juiz penal nunca ser competente para decidir a questo prejudicial heterognea, nem mesmo de maneira incidental.

    fcil visualizar que absolutamente contrrio ao anterior, no qual o juiz decidia tudo. Aqui, a separao absoluta. Ou seja, quando o juiz penal se deparar com uma questo prejudicial de outro ramo do direito, ele para tudo e manda para o juzo extrapenal. Ele no pode decidir. Qual a vantagem e qual a desvantagem?

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    A vantagem que h respeito ao juiz natural (cada juiz decide as questes pertinentes sua matria, de seu mbito de competncia). O grande problema dessa separao jurisdicional a celeridade. J h grande lentido em um processo, quanto mais se eu tiver que separar.

    5.3. Sistema da PREJUDICIALIDADE FACULTATIVA De acordo com esse terceiro sistema, o juiz penal tem a faculdade de decidir ou no sobre as questes prejudiciais heterogneas. O nome j est dizendo tudo! Sistema da prejudicialidade facultativa. o juiz que decide.

    5.4. Sistema ECLTICO ou MISTO Ele, nada mais do que a fuso do sistema da prejudicialidade obrigatria com o sistema da prejudicialidade facultativa.

    *Qual o sistema adotado pelo Cdigo de Processo Penal?

    Quanto s questes prejudiciais heterogneas relativas ao estado civil das pessoas, vigora o sistema da prejudicialidade obrigatria.

    Quando eu me deparar com uma questo prejudicial de outro ramo do direito heterogneo, pertinente ao estado civil das pessoas, eu tenho que paralisar tudo. O juiz penal no pode, de forma alguma, enfrentar essa questo. Prova disso, o art. 92, do CPP:

    Art. 92 - Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

    Aqui, o CPP adotou o sistema da prejudicialidade obrigatria. Quando voc se deparar com uma questo prejudicial heterognea que diga respeito ao estado civil das pessoas, automaticamente voc para, manda para o cvel para essa questo ser dirimida pelo juzo extrapenal.

    Quanto s demais questes heterogneas, vigora o sistema da prejudicialidade facultativa.

    Se for uma questo heterognea que versa sobre estado civil, voc para tudo. Se for outra questo heterognea, a o juiz decide. Prova disso o art. 93, que consagra o sistema da prejudicialidade facultativa:

    Art. 93 - Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior, da competncia do juzo cvel, e se neste houver sido proposta ao para resolv-la, o juiz criminal poder, desde que essa questo seja de difcil soluo e no verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, aps a inquirio das testemunhas e realizao das outras provas de natureza urgente.

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    Ento, percebam que pela prpria expresso usada no art. 93, poder, nesse sistema, colocado no art. 93, vige o sistema da prejudicialidade facultativa, ou seja, o juiz penal vai decidir se ele manda ou no par o cvel.

    6. CLASSIFICAO DAS QUESTES PREJUDICIAIS

    6.1. QUANTO NATUREZA DA QUESTO PREJUDICIAL

    Quanto natureza da questo prejudicial, a doutrina faz a seguinte classificao:

    a) Questo prejudicial HOMOGNEA ou COMUM ou IMPERFEITA A questo prejudicial homognea pertence ao mesmo ramo do direito da questo prejudicada.

    As duas questes, tanto a prejudicial quanto a prejudicada, pertencem ao mesmo ramo, ou seja, obviamente do direito penal. Qual o melhor exemplo? Pense bem. Voc est julgando um crime e surge uma questo prejudicial s que tambm pertencente ao direito penal. O melhor exemplo a receptao e o crime anterior. Vamos dar uma olhada no art. 180, do Cdigo Penal:

    Receptao - Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito prprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influi para que terceiro, de boa-f, a adquira, receba ou oculte:

    Algum j foi na 25 de Maro? Para que eu seja condenado por receptao o juiz penal tem que, antes disso, enfrentar uma questo prejudicial, qual seja, a de que aquela coisa que eu adquiri seria produto de crime. uma questo prejudicial porque deve ser enfrentada pelo juiz, est dentro do tipo penal (grifado) e homognea porque pertence tambm ao direito penal. No questo patrimonial, no questo relativa ao estado civil, no tem nada disso. questo de direito penal.

    Um segundo exemplo, bem na moda: lavagem de capitais e o crime antecedente. Mesmssima coisa da receptao. Nesse crime h questo prejudicial homognea. Para que o juiz me condene por lavagem, no basta que ele demonstre que eu estou dissimulando, que estou ocultando aqueles valores. Ele tem que, na sentena, analisar a questo de que aqueles valores que eu estava ocultando eram provenientes de um dos crimes antecedentes. Um dos exemplos , exatamente, o trfico de drogas. Olha o art. 1, I, da Lei de Lavagem de Capitais (Lei 9.613/98):

    Art. 1 Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localizao, disposio, movimentao ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de crime: I - de trfico ilcito de substncias entorpecentes ou drogas afins;

    O juiz vai ter que demonstrar que os valores que estou ocultando ou dissimulando so provenientes, de acordo com o art. 1, de trfico de drogas.

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    Prestem ateno na pergunta: Quando o CPP trata, em seu Captulo I, das questes prejudiciais, inaugurado pelos arts. 92 e 93, a quais questes prejudiciais o Cdigo se refere? Ele est se referindo questo prejudicial homognea ou est falando de uma questo prejudicial heterognea? Vamos entender. Leia comigo o art. 92, para que voc entenda:

    Art. 92 - Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada (at a podia ser receptao, mas a vem:), sobre o estado civil das pessoas (...).

    Se est falando sobre o estado civil das pessoas, isso questo prejudicial heterognea. Agora vamos para o art. 93:

    Art. 93 - Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior (...).

    Quando fala diversa, qualquer questo prejudicial que no seja relativa ao estado civil, mas da competncia do juiz cvel. Eu pergunto: O art. 93 est se referindo a qual questo prejudicial? homognea ou heterognea? Tambm heterognea.

    O CPP no trata das questes prejudiciais homogneas nos arts. 92 e 93, mas to-somente das heterogneas.

    Interessante voc perceber que o CPP, quando se preocupa com a questo prejudicial, ele se preocupa com a questo prejudicial de outro ramo do direito, que so as heterogneas. A fica a pergunta no ar, para a gente concluir: se o legislador no se preocupou com as prejudiciais homogneas nos arts. 92 e 93, como que eu soluciono o problema de uma questo prejudicial homognea no processo penal? Cuidado e isso bem tranquilo. Para pra pensar: Como que eu resolvo o problema de um crime de receptao e o crime anterior? Como que eu resolvo o problema da lavagem de capitais e do crime antecedente?

    As questes prejudiciais homogneas so resolvidas por meio da conexo e da continncia.

    O art. 76, III, do CPP traz uma das modalidades de conexo, a chamada conexo probatria, instrumental.

    Art. 76 - A competncia ser determinada pela conexo: III - quando a prova de uma infrao ou de qualquer de suas circunstncias elementares influir na prova de outra infrao.

    Pensem nos exemplos da receptao e da lavagem de capitais. Ento, como que voc resolve a questo prejudicial homognea? Reunindo os processos. Ao reunir os processos da lavagem e do crime antecedente, da receptao e do crime anterior, voc proporciona ao juiz uma melhor viso do quadro probatrio. melhor juntar porque ele j avalia tudo ali.

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    Um exemplo interessante: uma quadrilha na regio de Campinas (trfico de drogas). O que eles faziam com o dinheiro? Lavavam. Mas no se lava na esquina de casa. Eles faziam isso, abrindo vrias contas correntes em todo o interior paulista. So vrias contas. Conseguiram pegar todas as contas. O juiz de Campinas separou o processo e mandou que o agente fosse processado em cada uma dessas cidades onde ele abriu conta. Seria a melhor coisa a fazer? No. No d para fazer um negcio desses. Quando voc manda uma denncia para cada uma dessas cidades, voc vai dificultar em muito a produo probatria. Em cada uma dessas cidades voc ter que provar que aquele dinheiro que estava sendo lavado era proveniente do trfico de uma quadrilha de Campinas. O ideal que esse juiz de Campinas reunisse todos os processos com base na conexo probatria (questo prejudicial homognea) e ele, juiz, decidisse tudo porque ele teria uma melhor viso do quadro probatrio.

    b) Questo prejudicial HETEROGNEA ou INCOMUM ou PERFEITA ou JURISDICIONAL A questo prejudicial heterognea pertence a ramo do direito diverso da questo prejudicada.

    Na homognea, tudo direito penal. Na heterognea, as questes pertencem a ramos diversos (um necessariamente direito penal e outro civil, por exemplo). S para ficar claro: tem gente que responde na prova que questo heterognea aquela relativa ao estado civil das pessoas. Est errado. um erro comum voc achar que s isso. O estado civil espcie de questo prejudicial heterognea. Mas no necessariamente toda questo prejudicial heterognea tem que versar sobre estado civil.

    Exemplo bem tranquilo: Imagine que eu, Renato, estou sendo processado por ter subtrado um celular aqui na sala. Diante do juiz eu digo que no posso estar respondendo por furto porque da ltima vez que eu li, furto era subtrair coisa alheiamvel e esse celular, que estou sendo acusado de ter subtrado, meu. Eu comprei com Tcio na semana passada e tenho testemunhas que confirmam isso. Essa uma questo prejudicial heterognea porque diz respeito ao patrimnio, a outro ramo do direito. No exemplo questo prejudicial heterognea que no tem nada a ver com o estado civil das pessoas.

    6.2. QUANTO COMPETNCIA DA QUESTO PREJUDICIAL

    A doutrina divide entre:

    a) Questo prejudicial NO DEVOLUTIVA - Uma questo prejudicial no devolutiva ser sempre analisada pelo juzo penal.

    No vai devolver o conhecimento da matria a qualquer outro rgo jurisdicional. Sempre decidida pelo juiz penal. Quais so as questes prejudiciais que sempre so decididas pelo juzo penal? As homogneas, logicamente. Pertencem ao mesmo ramo. Ento, as questes prejudiciais no devolutivas so exatamente as homogneas.

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    b) Questo prejudicial DEVOLUTIVA O juiz penal devolve o conhecimento dessa questo prejudicial ao seu juiz natural.

    Ele vai remeter, ento, o conhecimento dessa matria ao rgo jurisdicional com competncia para dirimi-la. Cuidado: essa questo prejudicial devolutiva subdivide-se em:

    Questo prejudicial devolutiva ABSOLUTA Jamais poder ser analisada pelo juzo penal. aquela questo que o juiz penal odeia porque na hora que se depara com ela, tem que mandar para o cvel, para o juiz extrapenal decidir. Quais so elas? So as questes heterogneas relacionadas ao estado civil das pessoas. Sempre que o juiz penal se deparar com isso, jamais poder decidir. Automaticamente cessa a sua competncia e ele se v obrigado a remeter as partes para que o cvel dirima a questo.

    Questo prejudicial devolutiva RELATIVA Pode, eventualmente, ser analisada pelo juzo penal. Quais so as questes prejudiciais de natureza relativa que podem ser avaliadas pelo juzo penal? So as heterogneas, exceo daquelas relativas ao estado civil das pessoas. Sempre que voc se deparar com uma questo prejudicial devolutiva relativa, de outro ramo do direito e que no diga respeito ao estado civil, fica na mo do juiz. o exemplo que eu dei do celular. Se aquele celular foi comprado ou no pelo suposto autor do crime, uma questo prejudicial devolutiva relativa. O juiz penal vai decidir se ele analisa essa questo ou se vai aguardar a deciso do cvel sobre essa questo patrimonial.

    6.3. QUANTO AOS EFEITOS DA QUESTO PREJUDICIAL

    a) Questo prejudicial OBRIGATRIA ou NECESSRIA ou EM SENTIDO ESTRITO Sempre acarreta a suspenso do processo.

    Como o prprio nome j diz, questo prejudicial obrigatria. O juiz penal, deparando-se com ela, obrigatoriamente vai ter que suspender o processo. Se eu estou falando que questo prejudicial obrigatria, se obrigatoriamente vai acarretar a suspenso do processo, voc j pode imaginar porque obrigatria: porque uma questo que jamais vai poder ser analisada pelo juiz penal. Tanto que ele se v obrigado a suspender o processo. E qual a questo prejudicial obrigatria? exatamente a questo prejudicial devolutiva absoluta. Ou seja, aquela heterognea relacionada ao estado civil das pessoas porque como ela no pode ser enfrentada pelo juiz penal, no por outro motivo, ele se v obrigado a suspender o processo.

    b) Questo prejudicial FACULTATIVA ou EM SENTIDO AMPLO Podem, eventualmente acarretar a suspenso do processo.

    O prprio nome j diz tudo. Quais seriam essas questes? Seria o caso da devolutiva relativa porque vai depender do caso concreto. O juiz penal tem ou no, de acordo com a lei, a faculdade de determinar a suspenso do processo, da ser

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    chamada de questo prejudicial facultativa que corresponde exatamente questo prejudicial devolutiva relativa.

    Agora, vou falar sobre a devolutiva absoluta e depois sobre a devolutiva relativa.

    7. QUESTO PREJUDICIAL DEVOLUTIVA ABSOLUTA

    A questo prejudicial devolutiva relativa uma questo prejudicial heterognea relativa ao estado civil das pessoas.

    7.1. PRESSUPOSTOS da questo prejudicial devolutiva absoluta

    a) Primeiro pressuposto: Tem que ser uma questo prejudicial relativa existncia da infrao penal, ou seja, deve ser uma elementar da infrao penal.

    Para que eu possa falar em questo prejudicial gerando a suspenso do processo, tem que ser uma questo prejudicial a que a existncia da infrao esteja condicionada. Essa a idia, ou seja, uma elementar. A surge um ponto em que voc obrigado a saber diferenciar uma elementar de uma circunstncia. Isso importante, no s para o direito penal, mas tambm para o direito processual penal, especificamente neste ponto.

    Elementar um dado essencial da figura tpica, cuja ausncia pode produzir uma atipicidade absoluta ou relativa.

    Quando eu falo em elementar, um dado que est ligado ao tipo penal. Lembrem-se: alguns doutrinadores simplificam e vo dizer que a elementar est ligada ao tipo penal. E aqui, tipo diz respeito ao tipo principal. No estou falando de qualificadoras. Quando eu falo numa elementar, da elementar que est dentro do fato tpico, ou seja, se voc retira essa elementar, de duas uma: ou voc produz uma atipicidade absoluta (no crime, a conduta atpica) ou relativa (desclassificao). Ento, quando voc retira essa elementar, ou voc vai produzir uma atipicidade absoluta ou vai produzir uma atipicidade relativa. Exemplo: funcionrio pblico uma elementar do crime de peculato. Se voc retira o funcionrio pblico, voc vai sair do crime de peculato e cai na apropriao indbita. Mas o particular pode responder por peculato. E para entender o porqu importante entender essa diferena. O art. 30 tem a chave do problema:

    Art. 30 - No se comunicam as circunstncias e as condies de carter pessoal, salvo quando elementares do crime.

    Da voc saber a importncia do que elementar. Porque tudo aquilo que elementar se comunica ao terceiro, desde que ele tenha conscincia.

    Circunstncias So dados perifricos que gravitam ao redor da figura tpica. Podem aumentar ou diminuir a pena, mas no interferem no crime.

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    fcil voc perceber que, enquanto a elementar acaba afetando o tipo penal, a circunstncia, ao contrrio, acaba alterando a pena. O tipo continua o mesmo, mas a pena vai ser alterada. Exemplos: agravante e atenuante. Ou seja, o fato de incidir ou no uma agravante ou uma atenuante, vai aumentar ou diminuir a minha pena, mas o meu crime continua sendo o mesmo. Isso pode parecer bobagem, mas vocs vo perceber que no porque j caiu em prova. Para que eu possa falar uma questo prejudicial, essa questo prejudicial deve recair sobre uma elementar e uma circunstncia? Ou s elementar ou s circunstncia? As questes prejudiciais que acarretam a suspenso do processo, somente quando recair sobre uma elementar. Ento, se recair sobre uma circunstncia, no vai produzir a suspenso do processo. O juiz no vai se preocupar com isso no.

    Mas isso cai em prova? Cai. E olha o exemplo campeo! Foi uma questo feita pela UNB, Cespe (DPU ou AGU). Imaginem que um filho tenha praticado um roubo contra o seu pai. Ento no entram aquelas escusas porque aquelas escusas incidiriam s se o crime no for cometido com violncia. Ento, eu dei um chute, um soco, apontei uma arma e pratiquei um roubo contra o meu pai. A questo dizia que o cidado estava respondendo pelo crime de roubo. Como foi praticado contra o pai, vai incidir uma circunstancia agravante. Isso est no art. 61, II, e:

    Art. 61 - So circunstncias que sempre agravam a pena, quando no constituem ou qualificam o crime: II - ter o agente cometido o crime: e) contra ascendente, descendente, irmo ou cnjuge;

    Ento, olha a questo da prova: eu estou respondendo contra um crime de roubo praticado contra ascendente. A a questo dizia: Durante o processo, o acusado disse: ele no meu pai. Tramita no cvel uma ao negatria de paternidade. questo prejudicial devolutiva absoluta, vai gerar a suspenso do processo? Percebem por que essa questo campe? Ela maravilhosa! Por que? Porque o aluno, desavisado, na hora que ele v paternidade, ao negatria de paternidade, pensa logo: isso diz respeito ao estado civil, ento, uma questo prejudicial. A ele erra e erra bonitinho. O detalhe que, nesse caso, diz respeito a uma circunstancia agravante. Ento, no tem nada a ver com a existncia do crime. O roubo, independentemente de ele ser meu pai ou no, o roubo est caracterizado, no guardando relao com a existncia da infrao penal. Por isso, no se trata de uma questo prejudicial devolutiva absoluta. O juiz vai decidir normalmente. Mas e se ele condena e aplica a agravante e amanh o cvel diz que no pai. No tem problema. Depois s entrar com uma reviso criminal e extirpa essa agravante.

    Primeiro pressuposto: Deve versar a prejudicial sobre uma elementar, sobre a existncia do crime. Caso contrrio, no acarreta a suspenso do processo.

    b) Segundo pressuposto: A questo prejudicial deve ser sria e fundada

    Para que o juiz suspensa o processo, no basta voc alegar. Tem que demonstrar uma certa plausibilidade da prejudicial que voc est invocando.

    c) Terceiro pressuposto: Deve envolver o estado civil das pessoas.

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    Ento os pressupostos devem recair sobre a existncia, deve ser sria e fundada e deve versar sobre o estado civil das pessoas. Vejamos agora quais so as consequncias de uma questo prejudicial devolutiva absoluta.

    7.2. CONSEQUNCIAS da questo prejudicial devolutiva absoluta

    a) Obrigatria suspenso do processo e do prazo prescricional.

    Nesse ponto, vamos fazer uma incurso.

    Essa suspenso do processo e da prescrio vai perdurar at qual momento? Imagina no velho exemplo da bigamia. Suspendeu o processo penal para aguardar o resultado da deciso.

    Deve permanecer suspenso at o trnsito em julgado da ao civil.

    Art. 92 - Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

    Ento, vejam vocs, eu vou suspender o processo penal e tambm a prescrio at o trnsito em julgado da ao civil. Eu estou dizendo que vai ocorrer a suspenso do processo e, concomitantemente suspenso do processo tambm vai ocorrer a suspenso da prescrio. Essa suspenso da prescrio est prevista no Cdigo Penal, em seu art. 116, I:

    Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentena final, a prescrio no corre: I -enquanto no resolvida, em outro processo, questo de que dependa o reconhecimento da existncia do crime; (que exatamente a questo prejudicial heterognea)

    Ento, a primeira consequncia a suspenso do processo e da prescrio. A, olha a pergunta boa para prova oral: Sempre que o processo ficar suspenso, a prescrio fica tambm? E quais so as outras hipteses de suspenso do processo? Essa pergunta muito boa. O primeiro erro do aluno: o aluno acreditar que pelo fato do processo ficar suspenso, automaticamente a prescrio tambm. Voc no pode pensar em suspenso da prescrio automtica porque suspenso da prescrio norma prejudicial ao acusado. Ento, depende de expressa previso legal. Sempre voc deve procurar no dispositivo legal para ver se ele prev, ao lado da suspenso do processo, tambm a suspenso da prescrio. E, geralmente, isso que acontece. Por isso, a pergunta difcil de ser respondida. J dei um exemplo aqui da questo prejudicial. Vamos lembrar exemplos em que o processo fica suspenso e a prescrio tambm.

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    O primeiro exemplo importante: art. 366, do CPP. Ele se refere ao cidado que citado por edital, que no comparece e no constitui advogado. Para esse indivduo, o art. 366, CPP (EU NO ENTENDO PORQUE O RENATO INSISTE EM CITAR ESSE ARTIGO. PELO QUE SEI, FOI REVOGADO PELA LEI 11.719/08 MAS ESSE MESMO QUE ELE EST LENDO NA AULA A REDAO NOVA, IGNORADA POR ELE EST ABAIXO), suspende o processo e tambm a prescrio. Vocs vo perceber que o legislador expresso sobre o assunto:

    Art. 366 - Se o acusado, citado por edital, no comparecer, nem constituir advogado, ficaro suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produo antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar priso preventiva, nos termos do disposto no Art. 312.

    Art. 366. A citao ainda ser feita por edital quando inacessvel, por motivo de fora maior, o lugar em que estiver o ru. (Alterado pela L-011.719-2008)

    Vejam que o legislador falou sobre as duas coisas (O RENATO EST FALANDO DO ARTIGO REVOGADO COMO SE ESTIVESSE VIGENTE): suspende o processo e tambm a prescrio. o que acontece no art. 366.

    Qual a outra hiptese em que o processo fica suspenso e a prescrio tambm? Tem outra hiptese importante, que a do art. 89, da Lei dos Juizados. a famosa e conhecida suspenso condicional do processo para os crimes cuja pena mnima seja igual ou inferior a um ano. Ento, quando o processo fica suspenso l nos juizados, a lei prev que, alm da suspenso do processo, tambm ficar suspensa a prescrio. Ento, a lei expressa nesse sentido. Quando voc pega a lei dos Juizados, voc vai perceber que est prevista a suspenso da prescrio no art. 89, 6:

    Art. 89 - Nos crimes em que a pena mnima cominada for igual ou inferior a um ano, abrangidas ou no por esta Lei, o Ministrio Pblico, ao oferecer a denncia, poder propor a suspenso do processo, por dois a quatro anos desde que o acusado no esteja sendo processado ou no tenha sido condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam a suspenso condicional da pena (Art. 77 do Cdigo Penal).

    6 - No correr a prescrio durante o prazo de suspenso do processo.

    Geralmente, suspenso o processo, tambm estar suspensa a prescrio, mas quando que suspende o processo e a prescrio continua correndo? A que a pergunta difcil de ser respondida. Cuidado com isso. Tem uma hiptese que no pode ser ignorada por vocs: no caso de supervenincia de doena mental, ou seja, aquele caso em que a doena mental surge aps a prtica delituosa. Fiquem atentos para no errar na hora da prova. Quando o pancado pratica o crime j no estado pancado (art. 26, caput), ou seja, no momento do crime ele j inimputvel, o processo continua ou no? Continua. Eu fao o incidente de insanidade, vejo l que ele inimputvel, o que o juiz providencia? A nomeao de um curador e o processo segue. exatamente por isso que a gente tem a chamada sentena absolutria

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    imprpria, que a sentena que impe medida de segurana ao inimputvel. Mas se a doena superveniente prtica do crime, o que eu fao? Suspendo o processo. E, quanto a isso, o legislador vacilou. E vacilou por qu? Porque de apesar de ter previsto a suspenso do processo, ele no previu a suspenso da prescrio. Ento, essa a pergunta campe, ou seja, em qual hiptese o processo fica suspenso mas a prescrio corre normalmente? Resposta: supervenincia de doena mental. o que diz o art. 152, do CPP:

    Art. 152 - Se se verificar que a doena mental sobreveio infrao o processo continuar suspenso at que o acusado se restabelea, observado o 2 do Art. 149(prev nomeao de curador).

    1 - O juiz poder, nesse caso, ordenar a internao do acusado em manicmio judicirio ou em outro estabelecimento adequado.

    2 - O processo retomar o seu curso, desde que se restabelea o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presena.

    A lei no previu a suspenso da prescrio. No adianta voc querer colocar ela a porque voc estaria fazendo uma analogia em malam partem, estaria criando via analogia, uma norma prejudicial ao acusado.

    b) Possibilidade de produo de provas urgentes.

    a segunda consequencia de uma questo prejudicial devolutiva absoluta. Imaginem vocs uma testemunha doente, algum com idade avanada. Neste caso, se voc tem uma prova qu eo juiz reputa urgente, ela ser produzida.

    c) Nos crimes de ao penal pblica, o MP pode promover a ao civil referente questo prejudicial, ou dar prosseguimento quela j iniciada, mesmo que no tivesse legitimao originariamente.

    Essa ltima consequencia talvez seja uma das mais interessantes porque para o MP vige, nos crimes de ao penal pblica, o princpio da obrigatoriedade. Ele obrigado a oferecer denncia caso haja elementos ali. Se, diante de uma prejudicial heterognea, relativa ao estado civil das pessoas, se o MP ficasse com suas mos presas, pensem bem: voc acha que o acusado ia ingressar com ao civil para discutir o estado civil das pessoas. O acusado no iria propor essa ao civil porque ele sabe que enquanto ela no for proposta, o processo penal no ter seguimento contra mim. E o acusado ficaria de braos cruzados. Por isso, a lei prev a possibilidade de o MP entrar com essa ao civil, mesmo que no tivesse legitimidade originariamente. Ento, essa a idia, um desdobramento lgico do princpio da obrigatoriedade.

    Vamos concluir o estudo da questo prejudicial devolutiva absoluta fazendo a leitura do art. 92, do CPP, que o dispositivo que trata da devolutiva absoluta:

    Art. 92 - Se a deciso sobre a existncia da infrao depender da soluo de controvrsia, que o juiz repute sria e fundada, sobre o estado civil das pessoas, o

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    curso da ao penal ficar suspenso at que no juzo cvel seja a controvrsia dirimida por sentena passada em julgado, sem prejuzo, entretanto, da inquirio das testemunhas e de outras provas de natureza urgente.

    Pargrafo nico - Se for o crime de ao pblica, o Ministrio Pblico, quando necessrio, promover a ao civil ou prosseguir na que tiver sido iniciada, com a citao dos interessados.

    Ento, vejam vocs que a sntese do que aqui foi trabalhado em relao questo prejudicial devolutiva absoluta.

    8. QUESTO PREJUDICIAL DEVOLUTIVA RELATIVA

    8.1. PRESSUPOSTOS da questo prejudicial devolutiva relativa

    a) Primeiro pressuposto: Deve versar sobre a existncia da infrao penal.

    At a, mesma coisa da anterior: no pode recair sobre uma circunstncia, sobre uma agravante, sobre uma atenuante. Deve recair sobre uma elementar.

    b) Segundo pressuposto: Deve ser de difcil soluo

    o exemplo do furto em que eu disse que, na verdade, o celular era meu, que eu tinha comprado da vtima. Analisar essa questo prejudicial relativamente simples. O juiz ouve as testemunhas e pronto. Se questo simples, pode ser enfrentada pelo prprio juiz penal, ou seja, no de difcil soluo.

    c) Terceiro pressuposto: No pode ser uma questo prejudicial heterognea relativa ao estado civil das pessoas.

    J foi dito isto, mais de uma vez. Se for uma prejudicial heterognea que diga respeito ao estado civil, voc j no est mais diante de uma devolutiva relativa, mas sim diante de uma devolutiva absoluta.

    d) Quarto pressuposto: No deve o direito civil limitar a prova quanto questo prejudicial.

    Esse o pressuposto, a meu ver, mais interessante, e que poderia ser questionado pelo examinador. Vamos ao art. 93:

    Art. 93 - Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior, da competncia do juzo cvel (leia-se, questo prejudicial heterognea), e se neste houver sido proposta ao para resolv-la, o juiz criminal poder, desde que essa questo seja de difcil soluo e no verse sobre direito cuja prova a lei civil limite (pressuposto), suspender o curso do processo, aps a inquirio das testemunhas e realizao das outras provas de natureza urgente.

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    Quando fala em diversa da prevista no artigo anterior, qual a prejudicial prevista no artigo anterior? aquela relativa ao estado civil. Ento, o art. 93 trata de qualquer questo que no aquelas relativas ao estado civil. E, vejam vocs, que o pressuposto para o reconhecimento desta prejudicial que a lei civil no limite a produo da prova quanto a essa prejudicial.

    A o examinador pergunta: Por que existe esse pressuposto? Qual a justificativa para a existncia desse pressuposto? Presta ateno: nesse pressuposto, voc anotou que a lei civil no pode limitar a prova. Raciocine comigo: no processo penal, em sede de provas, vige um princpio muito importante, que foi trabalhado com vocs no semestre passado, o chamado princpio da liberdade das provas. No processo penal, devido importncia do bem jurdico em disputa, que a sua liberdade de locomoo, voc tem um princpio importante, que o princpio da liberdade das formas e que diz o seguinte: eu tenho liberdade para produzir, me valer de qualquer meio de prova, salvo as ilcitas, ilegtimas. Mas no processo penal, eu tenho liberdade. Essa mesma liberdade se repete no processo civil? No direito civil, quanto dvidas, por exemplo, h certa limitao. No d para querer provar a existncia dessa dvida alta com base em prova testemunhal.

    Por que existe esse pressuposto que voc acabou de anotar? Se, por acaso lei civil limitasse a prova, quanto questo prejudicial, o acusado estaria sendo prejudicado. E bem tranquilo o raciocnio. Pensando no exemplo do celular, no processo penal, eu posso provar uma dvida com prova testemunhal. No processo civil, eu estaria sujeito a uma limitao. Ento, o raciocnio esse: Eu no posso mandar algum para o cvel se no cvel a produo probatria vai sofrer algum cerceamento. E a eu estaria violando o princpio da ampla defesa que no processo penal acaba decorrendo toda essa liberdade probatria. A razo de ser desse pressuposto exatamente o princpio da liberdade das provas, de modo a favorecer a defesa do acusado no processo penal. Por isso, a lei civil no pode limitar a prova quanto essa questo prejudicial.

    e) Quinto pressuposto: J deve ter sido proposta a ao civil.

    Vejam que, ao contrrio do anterior, em que a ao civil no precisava ter sido proposta, a ao civil, aqui, j deve ter sido proposta para no provocar uma lentido ainda maior no processo.

    8.2. CONSEQUNCIAS da questo prejudicial devolutiva relativa

    a) O juiz tem a faculdade de reconhecer a existncia ou no da questo prejudicial

    J comentamos sobre isso. Aqui, o juiz tem essa faculdade. A prpria lei diz: o juiz criminal poder. Ento, ele que entende se caso ou no de reconhecer uma prejudicial. Se ele reconhecer, qual a consequencia? Mesma coisa que anteriormente: Vai ocorrer a suspenso do processo e tambm a suspenso da prescrio.

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    Mas, cuidado! Por quanto tempo esse processo fica suspenso? Na prejudicial anterior, era at o transito em julgado. Aqui, vocs vo anotar e tomar muito cuidado porque aqui, na devolutiva relativa, o juiz que estabelece um prazo para a suspenso do processo. Vejam a diferena. Agora o juiz fala: 'reconheo a prejudicial, suspendo o processo por dois anos, trs anos, quatro anos.' Ele pode at prorrogar esse prazo, mas no um prazo indefinido e indeterminado como era anteriormente.

    Mas, e se por acaso, esse prazo venha a termo e no h deciso no cvel? Se esse prazo acaba se esgotando sem deciso do juzo extrapenal, o juiz penal reassume a competncia para solucionar a prejudicial. No adianta voc dizer que ele marca um prazo sem consequencia alguma. Tem que ter alguma consequencia. Para encerrar esse prazo, sem deciso, o juiz penal reassume sua competncia. O juiz penal diz: Eu te dou dois anos para voc resolver isso. Se voc no resolver, me devolve que eu mesmo vou decidir isso aqui no processo penal.

    b) Produo de provas de natureza urgente.

    A mesma coisa que a anterior: prova pericial em testemunha gravemente enferma pode ser determinada em razo de seu carter urgente.

    c) Nos crimes de ao penal pblica deve o MP intervir na ao civil j proposta.

    Percebam que agora o MP no tem mais aquela legitimao que a gente comentou. Mas ele intervm para provocar uma movimentao, para que o processo venha a termo e haja uma deciso definitiva.

    O art. 93 vai tratar da questo prejudicial devolutiva relativa:

    Art. 93 - Se o reconhecimento da existncia da infrao penal depender de deciso sobre questo diversa da prevista no artigo anterior, da competncia do juzo cvel, e se neste houver sido proposta ao para resolv-la, o juiz criminal poder, desde que essa questo seja de difcil soluo e no verse sobre direito cuja prova a lei civil limite, suspender o curso do processo, aps a inquirio das testemunhas e realizao das outras provas de natureza urgente.

    1 - O juiz marcar o prazo da suspenso, que poder ser razoavelmente prorrogado, se a demora no for imputvel parte. Expirado o prazo, sem que o juiz cvel tenha proferido deciso, o juiz criminal far prosseguir o processo, retomando sua competncia para resolver, de fato e de direito, toda a matria da acusao ou da defesa.

    2 - Do despacho que denegar a suspenso no caber recurso.

    3 - Suspenso o processo, e tratando-se de crime de ao pblica, incumbir ao Ministrio Pblico intervir imediatamente na causa cvel, para o fim de promover-lhe o rpido andamento.

    9. OBSERVAES FINAIS

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    9.1. RECURSOS CABVEIS

    A primeira pergunta que eu gostaria de fazer para vocs no que tange s observaes finais seria quanto ao cabimento de recurso. Ser que cabe recurso nessas hipteses questo prejudicial? Temos que trabalhar com as possibilidades:

    O juiz indefere a suspenso Cabe recurso? O 2, do art. 93, categrico:

    2 - Do despacho que denegar a suspenso no caber recurso.

    O juiz defere a suspenso O juiz fala: realmente, existe uma questo prejudicial relativa ao estado civil, vou suspender o processo. Cabe recurso? Em caso afirmativo, qual seria? Vamos ao art. 581, XVI, que prev o cabimento do RESE:

    Art. 581 - Caber recurso, no sentido estrito, da deciso, despacho ou sentena: XVI - que ordenar a suspenso do processo, em virtude de questo prejudicial;

    Ento, se o juiz suspende, cabe RESE, se ele no suspende, no cabe recurso, porm, no se impressione com isso: a doutrina vai dizer que cabe habeas corpus em favor do acusado. Imaginando que o ato do juiz seja arbitrrio, voc pode dizer que h certo constrangimento sua liberdade de locomoo ento, por esse motivo, voc pode impetrar um habeas corpus.

    9.2. O MOMENTO DE ARGUIR A NULIDADE

    Imaginem vocs que o juiz penal decide uma prejudicial heterognea relativa ao estado civil das pessoas. Suponhamos que, no caso de bigamia, em que se discutia se o primeiro casamento seria ou no nulo, o juiz penal tenha dito assim: no moderno direito processual penal, o juiz criminal decide tudo. Ele inovou, dizendo: deixa comigo porque eu j fui juiz cvel durante alguns anos e sei se o casamento nulo ou no. ento, o juiz penal apreciou uma prejudicial heterognea relativa ao estado civildas pessoas. Qual a consequncia? Algum problema? Cuidado com isso porque esse juiz, na verdade, como se ele estivesse decidindo uma causa da justia do trabalho, da justia militar. Ele est praticando uma grave violao de sua competncia. Ento, nesse caso, vocs podem concluir o seguinte: se o juiz penal resolve uma prejudicial heterognea relativa ao estado civil das pessoas, vai ocorrer uma nulidade absoluta. E nulidade absoluta por qual motivo? Sem dvida alguma, em razo de sua incompetncia em razo da matria. J foi dito mais de cinco vezes que a prejudicial heterognea relativa ao estado civil das pessoas tem que ser, obrigatoriamente, analisada pelo juzo cvel. Ento, se o juiz penal decidiu sobre ela, ele maculou o processo com uma nulidade absoluta por conta da incompetncia em razo da matria.

    A eu pergunto, s para enriquecer: essa nulidade absoluta pode ser questionada at quando? Ser que tem momento para voc arguir isso a, ou se voc ficar calado morre? Quando eu pergunto sobre o momento de se arguir a nulidade absoluta voc, automaticamente, j tem que me dizer o seguinte: Renato, uma

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    nulidade absoluta no est sujeita precluso. Essa uma diferena absoluta da nulidade absoluta para a relativa. Mas voc no respondeu minha pergunta. At quando? Ser que eu posso arguir a qualquer momento? A que est o erro do aluno porque, em regra, a nulidade absoluta s pode ser questionada at o trnsito em julgado. Quer dizer, voc no tem um momento. Ela no est sujeita precluso. Voc pode arguir na resposta acusao, no interrogatrio, em alegaes, preliminar de apelao, etc., mas, em regra, voc s pode arguir at o trnsito em julgado. Transitou em julgado, acabou. Agora, por que que eu fiz questo de dizer em regra? Voc tem que tomar cuidado, porque no processo penal, quando falamos da defesa do acusado, a situao muda um pouco porque, no caso de uma nulidade absoluta o vcio to grave, to grave, que voc pode discutir isso mesmo aps o trnsito em julgado. Ento, basicamente, voc tem que anotar o seguinte:

    Em regra, uma nulidade absoluta pode ser questionada at o trnsito em julgado, salvo em benefcio do acusado, quando a nulidade absoluta poder ser questionada mesmo aps a formao da coisa julgada, seja por meio de habeas corpus, seja por meio de reviso criminal.

    interessante voc ficar atento a isso porque a gente acha que at o trnsito em julgado sempre. Mas quando em benefcio da defesa, voc tem instrumentos. Ento, em uma situao dessas, mesmo que j estivesse transitado em julgado eu poderia ingressar com uma reviso criminal, com habeas corpus, por causa da gravidade dessa violao do juiz natural, aqui colocado para vocs.

    9.3. QUESTO PREJUDICIAL SUSPENDE IPL?

    Existe suspenso de inqurito policial por conta de questo prejudicial? Negativo. No h suspenso de inqurito policial. O que se suspende o curso do processo penal. Suspende o processo e suspende tambm o prazo prescricional. Agora, cuidado para no achar que o inqurito policial pode ser suspenso por conta de uma questo prejudicial. No pode!

    9.4. A VINCULAO ENTRE OS JUZOS CVEL E CRIMINAL

    Vamos fazer um raciocnio sobre uma pergunta boa: vamos imaginar que, de um lado esteja o juzo cvel e, do outro lado, o juzo penal. No juzo penal, o cidado est sendo processado pelo art. 235 (bigamia no tem como fugir. Para ficar claro tem que ser esse mesmo). A o acusado diz que o primeiro casamento dele nulo. Temos uma prejudicial heterognea relativa ao estado civil. O juiz penal pode decidir sobre a validade desse casamento? No. Ento, ele manda para o cvel para apreciar a questo da validade do casamento. A pergunta que fao a seguinte: Essa deciso do juzo cvel vincula o juzo penal? O juzo penal est obrigado a acatar o que o juiz cvel decidir? E o contrrio? Imagine o exemplo do furto, em que eu invoquei a questo do patrimnio (o celular meu, eu comprei). O juiz penal, nesse exemplo, vai decidir a questo patrimonial porque no de difcil soluo. Mas vou mudar a pergunta: na hora que o juiz penal aprecia essa prejudicial heterognea, ser que essa deciso dele vincula o juzo cvel? Imagine que amanh o cidado ingresse

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    com uma ao para verificar a propriedade desse celular. Ser que o juzo cvel fica preso deciso do juiz penal? O raciocnio tranquilo:

    Quando o juiz penal aprecia a questo patrimonial, ele faz isso de maneira incidental porque, na verdade, o que interessa e vai estar protegido pela coisa julgada o crime. Mas a questo patrimonial como enfrentada de forma incidental, isso, de modo algum faz coisa julgada no cvel. O juiz cvel no vai ficar preso ao juzo penal. E o contrrio? O juiz cvel que decide sobre o casamento vincula o juiz penal? Sem dvida alguma que sim. Essa deciso do juiz cvel repercute no juzo penal. E cuidado! Mesmo que no fosse sobre o casamento. S para ficar bem claro! Se essa questo do patrimnio se, ao invs de ter sido apreciada pelo juzo penal, tivesse sido apreciada pelo juiz cvel, ela tambm vincularia a deciso do juiz penal. Ento, o que for decidido no cvel vai vincular o juzo penal, mas o que for decidido pelo juzo penal, no vincula o cvel. Anote o seguinte:

    Tem fora de coisa julgada na esfera penal a deciso cvel quando a questo prejudicial for heterognea, pouco importando se houve ou no a suspenso do processo criminal. Por outro lado, a deciso do juiz criminal sobre questo prejudicial facultativa no faz coisa julgada na esfera civil, na medida em que sua apreciao se d de maneira incidental.

    Quando se diz que houve a suspenso, mais bvio, voc fala: se houve a suspenso, bvio que vai repercutir, por isso ficou suspenso. Agora, quando fala que no houve a suspenso, o aluno erra! Mesmo que no tenha havido a suspenso, a partir do momento que o juiz cvel me d uma deciso dizendo que aquilo ali o patrimnio, essa deciso repercute. Ento, mesmo que no tenha havido suspenso, eu posso ingressar com uma reviso criminal, mas aquela deciso cvel vai repercutir na esfera criminal.

    O juiz criminal no tem que se preocupar com a questo patrimonial. bvio que ele enfrenta isso. Mas a deciso dele dizer se voc subtraiu ou no coisa alheia mvel. o furto que est protegido pelos limites objetivos da coisa julgada e no a questo patrimonial. Ento voc tem que estar preparado para ver o que est protegido, o que faz coisa julgada e o que no faz coisa julgada.

    9.5. PRINCPIO DA SUFICINCIA DA AO PENAL

    Isso cai em prova? Caiu na DPU (fase oral). Essa pergunta boa porque voc no acha isso nos livros pelo ndice. Para comear, no est na parte dos princpios. Voc entra no captulo de ao penal e tambm no acha. que a matria est relacionada s questes extrajudiciais. Quando o examinador pergunta o que princpio da suficincia da ao penal? Por que est ligado a questes prejudiciais? Em algumas espcies de questes prejudiciais, a ao penal j suficiente. Ou seja, basta a ao penal para que a prejudicial seja resolvida. J em outras questes prejudiciais, a ao penal no suficiente. Por isso que preciso remeter para o cvel. essa a idia do princpio da suficincia da ao penal. Anotem:

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    Em relao s questes prejudiciais heterogneas que no versam sobre o estado civil das pessoas, e desde que essa questo no seja de grande dificuldade, o juiz criminal pode enfrentar toda a matria, ou seja, a ao penal suficiente para a anlise da questo.

    O juiz penal pode, s no processo penal, resolver tudo. J nas questes prejudiciais heterogneas relativas ao estado civil, no vige esse princpio porque, com relao a essas prejudiciais, ele vai ter que remeter para o cvel.

    10. DECISO FINAL DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO NOS CRIMES MATERIAIS CONTRA A ORDEM TRIBUTRIA

    um tema de dissertao de concurso.

    No Brasil, o cidado pratica crime contra a ordem tributria direto. Muitas vezes o processo penal referente a um crime contra a ordem tributria tem incio e processamento sem que a Receita Federal tenha decidido administrativamente ainda. um grande problema em razo das decises contraditrias. O juiz criminal condena: voc sonegou imposto de renda. E se depois a Fazenda diz que no havia aquele dbito tributrio? Ento, esse o grande problema. A relao entre a instnciacriminal e a administrativa no que tange aos crimes contra a ordem tributria.

    Se isso cai em dissertao de concurso, o primeiro ponto que vocs devem abordar o art. 83, da Lei 9.430/96 (dispe sobre a legislao tributria), que em 1996, provocou muita controvrsia.

    Art. 83. A representao fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributria definidos nos arts. 1 e 2 da Lei n 8.137, de 27 de dezembro de 1990, ser encaminhada ao Ministrio Pblico aps proferida a deciso final, na esfera administrativa, sobre a exigncia fiscal do crdito tributrio correspondente.

    Esse artigo est dizendo que a representao fiscal ( uma representao) s ser encaminhada ao MP aps a deciso final administrativa. Quando surge esse artigo, muitos advogados de defesa, que atuam nessa rea, comearam a sustentar o seguinte? A partir desta lei, deste artigo 83, o MP, em relao a crimes contra ordem tributria, s estaria autorizado a oferecer denncia aps o esgotamento da instncia administrativa. Vocs acham que o MP gostou disso? Vocs acham que o MP gosta de ficar dependendo de deciso administrativa para oferecer denncia? bvio que no. Anotem:

    Contra este art. 83 foi ajuizada a ADI 1571 e nessa ADI, trs concluses foram firmadas pelo STF:

    1 Concluso do STF: O art. 83 no criou condio de procedibilidade na ao penal por crimes contra a ordem tributria. O MP ficou feliz, j que ele no queria que isso fosse condio de procedibilidade.

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    2 Concluso do STF: Esse dispositivo tem como destinatrio as autoridades fazendrias, prevendo o momento em que devem encaminhar ao MP notitia criminis de crime contra a ordem tributria.

    No faz sentido o fisco encaminhar ao MP uma comunicao da prtica do delito se, no prprio fisco ainda no h deciso definitiva. algo lgico.

    3 Concluso do STF: Portanto, o MP pode oferecer denncia independentemente dessa representao fiscal, caso tenha conhecimento da prtica do delito por outros meios.

    Apesar do Supremo no ter declarado a inconstitucionalidade, ele simplesmente fez uma interpretao do dispositivo, o MP ficou superfeliz.

    PASSO SEGUINTE: NATUREZA JURDICA DESSA DECISO FINAL ADMINISTRATIVA.

    Posto isso, o problema que se coloca o seguinte: se essa deciso final do procedimento administrativo no condio de procedibilidade, qual a sua natureza jurdica? Duas correntes.

    1 Corrente Essa primeira corrente uma corrente que examinador de MP gosta de ouvir, apesar de minoritria: O MP no obrigado a aguardar o exaurimento da via administrativa para oferecer denncia. A voc se pergunta. Tudo bem que no obrigado a aguardar, mas como fica a apurao do dbito tributrio? Sabe o que o examinador do MP gostaria de ouvir? Logo, a apurao do dbito tributrio na via administrativa funciona como uma questo prejudicial facultativa. Posso denunciar e, na verdade, uma prejudicial. Ento, quer dizer, se, por acaso o acusado discutir isso no processo, o juiz criminal pode, reconhecendo essa prejudicial, suspender o processo aguardando a deciso na instancia administrativa com base no art. 93, do CPP. minoritria, mas corrente que examinador de MP adoraria ouvir.

    2 Corrente A deciso final do procedimento administrativo funciona como condio objetiva de punibilidade. Essa hoje a posio que tem prevalecido nos tribunais superiores. A ttulo de exemplo, dois julgados: STF: RHC 90.532 e no STJ: HC 54.248.

    CONDIO OBJETIVA DE PUNIBILIDADE x CONDIO DE PROCEDIBILIDADE

    E qual a diferena entre uma condio objetiva de punibilidade e uma condio de procedibilidade? Uma pergunta como essa complica pro aluno que decora e no quer entender. Para concluir, vamos colocar, de um lado a condio de procedibilidade e a condio objetiva de punibilidade, que no se confundem. No so muitos os manuais que trazem essa diferena. Um doutrinador que trata sobre isso Jlio Mirabette.

    Condio de procedibilidade

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    Est ligada ao direito processual.

    As condies de procedibilidade so condies necessrias ao regular exerccio do direito de ao.

    Essas condies de procedibilidade, podem ser genricas (legitimidade, interesse, possibilidade e justa causa) ou condies especficas (representao do ofendido, requisio, entrada do agente no territrio, laudo de exame de verificao da natureza da droga, etc.).

    Qual a consequncia da ausncia de uma condio de procedibilidade? Por exemplo, o MP ofereceu denncia em um crime de ao penal privada, ou seja, ilegitimidade ad causam. Lembrem-se:

    Se essa ausncia da condio de procedibilidade for verificada no incio do processo, o que vai acontecer? Rejeio da pea acusatria. Uma das hipteses de rejeio essa: ausncia de uma das condies da ao penal.

    Agora, se essa ausncia for verificada durante o curso do processo, qual a consequncia? Apesar de alguns doutrinadores acharem que, se o juiz j recebeu.No poderia reavaliar isso, voc tem que prestar ateno que so questes de ordem pblica, relacionadas s condies da ao. Nesse caso, durante o processo, voc vai aplicar o Cdigo de Processo Civil de maneira subsidiria e isso vai gerar a extino do processo sem julgamento do mrito.

    E uma ltima diferena importante: essa deciso, relativa ausncia de uma condio de procedibilidade faz coisa julgada formal e material ou s coisa julgada formal? SE o juiz est rejeitando a pea acusatria, se amanh eu corrijo o defeito, nova demanda pode ser instaurada. Ento prestem ateno, aqui s vai haver formao de coisa julgada formal.

    Condio objetiva de punibilidade

    Est ligada ao direito material. A gente sabe que a punibilidade no faz parte do conceito de crime. Ela uma consequncia.

    Conceito: Cuida-se de condio exigida pelo legislador para que o fato se torne punvel, e que est fora do injusto culpvel. Chama-se condio objetiva porque independe do dolo ou da culpa do agente. A condio objetiva de punibilidade encontra-se entre o preceito primrio e o secundrio da norma penal incriminadora, condicionando a existncia da pretenso punitiva do Estado. Essa uma condio objetiva de punibilidade. Percebam que est ligada ao direito material. como se existisse uma condio entre o tipo penal e a pena. Se essa condio no implementada, eu no posso impor a voc essa sano penal. mais ou menos isso.

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    Para concluir. Eu pergunto: Qual a consequncia da ausncia de uma condio objetiva de punibilidade? Se no ocorre o implemento da condio, no h fundamento de direito para o ajuizamento de uma ao penal.

    Como que eu posso oferecer denncia contra algum se essa condio, da qual fica dependendo a pretenso punitiva, no foi implementada? Mutatis mutandis a mesma coisa que eu oferecer denncia contra voc por uma conduta que no prevista como tipo penal. E, para concluir, essa deciso, como est relacionada ao direito material e como para chegar na punibilidade eu antes preciso dizer se a sua conduta tpica, ilcita e culpvel, cuidado! Essa deciso far coisa julgada formal e material.

    PROCEDIMENTOS INCIDENTAIS

    Na aula de hoje, iniciamos o ponto seguinte da matria, comeando a falar sobre procedimentos incidentais. Hoje, falaremos sobre excees. Vamos trabalhar com as vrias excees. So cinco ao todo.

    1. EXCEES: CONCEITO

    Excees so procedimentos incidentais em que se alegam determinados fatos processuais referentes a pressupostos processuais ou a condies da ao, objetivando a extino do processo ou sua simples dilao.

    Voc tem a um conceito extenso, mas completo. Exceo um procedimento incidental, no verificado em todo e qualquer processo, em alguns pode ocorrer, atravs do qual se ataca a inexistncia de algum pressuposto processual ou a inexistncia de alguma condio da ao. E seu objetivo buscar, de duas uma, ou a extino do processo ou a sua dilao.

    E eu brincava com vocs na aula passada. Geralmente o advogado criminalista de primeira viagem, em seu primeiro processo criminal. Voc pega a primeira audincia criminal da sua vida, sem experincia. No momento do interrogatrio, o acusado resolve confessar a prtica do delito. Diante de uma confisso, aquele advogado criminalista de primeira viagem coloca a mo na cabea e pensa: o que estou fazendo aqui nesse processo? Isso porque, diante de uma confisso, voc vai ter uma extrema dificuldade em fazer a defesa do acusado, j que quem no est habituada no processo criminal se limita a preocupao com os fatos (culpado ou inocente) quando, na verdade, no processo penal, voc tem que se preocupar com muitas outras coisas. E a numa situao dessas, a exceo bem demonstra isso, voc no precisa nem analisar se o acusado culpado ou inocente. Voc vai buscar a extino do processo, uma dilao para que voc possa, talvez, a longo prazo, conseguir uma prescrio e a extino da punibilidade.

    Ento, essa a idia da exceo e o que ns vamos trabalhar na aula de hoje.

    2. EXCEO vs. OBJEO

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    Exceo em sentido estrito a defesa que s pode ser conhecida pelo juiz se alegada pela parte.

    Cuidado com essa definio e com essa distino, porque exceo aquela matria de defesa que s pode ser apreciada pelo juiz caso haja a arguio pela parte. Bom exemplo, no processo civil, seriam as excees de incompetncia relativa. L no processo civil, grosso modo, a incompetncia relativa seria exceo porque s pode ser conhecida se arguida pela parte. Se a parte no faz isso, o juiz no pode conhecer de ofcio. L no processo civil. Agora, o que vem a ser, tecnicamente, a palavra objeo?

    Objeo a matria de defesa que pode ser conhecida de ofcio pelo juiz.

    Mesmo que no haja pedido, o juiz pode apreciar a objeo. Exceo, s se alegada pela parte. Por que estou trabalhando com essa distino com vocs? Vamos l para o Cdigo, art. 95, do CPP:

    Art. 95 - Podero ser opostas as excees de: I - suspeio;II - incompetncia de juzo;III - litispendncia;IV - ilegitimidade de parte;V - coisa julgada.

    Vejam que ele est localizado no Captulo II, que trata das excees. Pergunto: ser que todas essas matrias, a elencadas, suspeio, incompetncia, litispendncia, ilegitimidade e coisa julgada, podem ser conhecidas de ofcio pelo juiz? Ou ser que ele precisa ser provocado?

    O CPP usa a expresso exceo de maneira equivocada, pois todas as excees podem ser conhecidas de ofcio pelo juiz.

    Se voc parar para pensar, tecnicamente, a utilizao da palavra exceo a estaria equivocada, porque, na medida em que podem ser conhecidas de ofcio pelo juiz, o ideal seria usar a expresso objeo. Mas o CPP no muito tcnico em relao a isso. Cuidado porque apesar de o Cdigo usar a expresso exceo, o ideal seria que tivesse usado objeo. Afinal de contas, tudo aquilo que est inserido no art. 95 pode ser conhecido de ofcio pelo juiz.

    3. MODALIDADES DE EXCEO

    Ns vamos usar a expresso exceo, mas fiquem sabendo vocs que no tecnicamente a correta. Quais so as modalidades de exceo? Isso bem simples e vamos trazer do processo civil. Vamos tratar das seguintes excees?

    Excees dilatrias Excees peremptrias

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    3.1. EXCEES DILATRIAS

    O que vem a ser uma exceo dilatria? O prprio nome j diz tudo, dilatria aquela exceo que busca a simples procrastinao do processo, ou seja, voc vai cozinhar o processo, vai enrolar o processo, vai ganhar um tempo no processo.

    O que o tempo significa para o acusado o tempo no processo penal? Ele bom ou ruim? O aluno costuma dizer que bom, mas esquece de ponderar o seguinte: o acusado est preso ou est solto? A pessoa tem que pensar nisso porque quando voc est solto, o tempo o seu maior aliado porque favorece a prescrio. Mas, para quem est preso, o tempo inimigo. At mesmo defender um cliente seu muito diferente quando o cliente est preso e quando est solto. Quando est solto, voc pode pedir uma prova pericial, arrolar uma testemunha por precatria, voc tem ampla liberdade probatria. Agora, quando est preso, a situao diferente. Tem que tomar cuidado at com a estratgia que voc est patrocinando.

    Quais so, ento, as excees que provocam a procrastinao do processo? So duas:

    Exceo de suspeio E sempre que a gente da suspeio, vamos trabalhar junto com a exceo de impedimento e tambm com a exceo de incompatibilidade. Leia-se, reconhecida a suspeio do juiz, vamos remeter os autos ao substituto legal. Vai demorar um pouco, mas o processo vai seguir os eu curso normal.

    Exceo de incompetncia do juzo Essa seria a segunda exceo dilatria. A partir do momento que for reconhecida a incompetncia do juzo, os autos sero remetidos ao substituto legal.

    Ilegitimidade da parte A a gente chega no terceiro ponto e aqui, na letra c, temos um srio problema porque aqui h uma enorme discusso em relao ilegitimidade de parte. Em relao ilegitimidade de parte, coloquem um asterisco nesse ponto porque h discusso na doutrina. Alguns doutrinadores entendem que a exceo de ilegitimidade seria dilatria, outros entendem que seria peremptria. Ento, a, do jeito que eu coloquei, vocs podem anotar que a posio de Mirabete e de Fernando Capez.

    Sobre a ilegitimidade, pare para pensar num exemplo tranquilo: se eu, MP, ofereo denncia em um crime de ao penal privada, o juiz vai dizer que eu no posso fazer isso. O juiz, reconhecendo a sua ilegitimidade, vai gerar a procrastinao do processo ou sua extino? Para mim, a extino, a no ser que voc obrigue o ofendido a ingressar em juzo, o que no vai ao encontro ao princpio da oportunidade. Alm das excees dilatrias, que so mais comuns, temos tambm as chamadas excees peremptrias

    3.2. EXCEES PEREMPTRIAS

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    As excees peremptrias vo provocar a extino do processo. Por isso, so mais raras.

    a) Exceo de litispendncia Uma vez reconhecida a litispendncia, o processo instaurado em segundo lugar ser extinto.b) Exceo de coisa julgada Reconhecida a coisa julgada, o processo ser extinto.c) Exceo de ilegitimidade de parte (segundo alguns doutrinadores) LFG, Pacelli vo colocar a exceo de ilegitimidade como peremptria.

    Para concluir, lembrem o seguinte:

    As excees so processadas em autos apartados; As excees no so dotadas de efeito suspensivo; Grosso modo, a exceo decidida por um juiz de primeira instncia

    Isso basicamente a regra. Mas cuidado com isso porque, geralmente, amatria da exceo deve ser trabalhada por meio de uma exceo (petio autnoma veiculando a exceo de incompetncia, de ilegitimidade). A, pergunto: se, por acaso, voc no entra com a exceo e aborda esse assunto dentro das alegaes finais ou dentro da resposta acusao. Ao invs de entrar com a exceo, coloca como preliminar de suas alegaes ou de sua resposta acusao. Ser que o fato de voc ter colocado isso no local incorreto impede que o juiz aprecie o seu pedido? De modo algum. Cuidado! Voc usar a exceo mera formalidade. Se o juiz pode conhecer de ofcio, tanto faz se voc colocou numa exceo ou se colocou numa preliminar. Isso simples formalidade que no deve, de forma alguma, prejudicar o conhecimento do que voc alegou. Basta lembrar do princpio da instrumentalidade das formas. O importante o juiz tomar conhecimento!

    Em regra, as excees no so dotadas de efeito suspensivo. Cuidado! Tem uma que tem efeito suspensivo, desde que a parte contrria reconhea, que a exceo de suspeio. Devido aos efeitos produzidos casa seja julgada procedente, dotada de efeito suspensivo. Vamos dar uma olhada no art. 111, do CPP e depois vamos ver o art. 102:

    Art. 111 - As excees sero processadas em autos apartados e no suspendero, em regra, o andamento da ao penal.

    Esse traz a regra geral. Vamos ao art. 102, do CPP (a vocs vo perceber que a exceo de suspeio pode ter efeito suspensivo):

    Art. 102 - Quando a parte contrria reconhecer a procedncia da argio, poder ser sustado, a seu requerimento, o processo principal, at que se julgue o incidente da suspeio.

    Ento, cuidado com isso porque, em geral as excees no tm efeito suspensivo, mas, no caso da suspeio, caso a parte contrria concorde, o processo poder ser suspenso.

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    Eu disse que quem decide, geralmente, so os juzes de primeira instncia. Salvo, em qual hiptese? Cuidado! No caso da exceo de suspeio, quem vai decidir o tribunal. Ento, geralmente, quem decide uma exceo o juiz de primeira instncia, mas no caso de exceo de suspeio, quem decide o tribunal. bvio, n? A no ser que ele reconhea. Mas se no concordar, ele obrigado a remeter isso ao tribunal para que o tribunal d a palavra final.

    Essa uma introduo importante para que voc entenda como funcionam as excees. A partir de agora, vamos analisar cada uma das excees de maneira separada.

    4. EXCEO DE SUSPEIO

    Ao falarmos desse tema, procurem se lembrar que o mesmo procedimento da exceo de impedimento e tambm de incompatibilidade.

    O que vem a ser suspeio? Sem dvida alguma, e isso vale tanto para a suspeio, como para as hipteses de impedimento, como tambm para as hipteses de incompatibilidade, a suspeio, o impedimento e a incompatibilidade, todas afetam o que h de mais sagrado no magistrado, que a sua imparcialidade. Tudo isso est muito ligado imparcialidade do juiz, que uma das garantias do exerccio da jurisdio.

    Mas agora, para que a gente possa trabalhar, vamos primeiro entender o que vem a ser suspeio. Isso s vezes cai em prova e eles vo cobrar a diferena entre suspeio e impedimento e entre impedimento e incompatibilidade.

    Em regra, as hipteses de suspeio referem-se a uma relao externa ao processo.

    Eu no gosto de pedir a ningum para decorar nada. Mas se voc lembrar disso, j vai ajudar alguma coisa. Ou seja, a suspeio algo que afeta a sua imparcialidade e que est fora do processo. Detalhe: as hipteses de suspeio so taxativas. Ento, o que est no Cdigo. Voc no pode querer ampliar as hipteses do Cdigo. Se so taxativas, vamos fazer uma anlise delas. Art. 254. Vocs vo perceber, pela primeira hiptese, o que uma relao externa:

    Art. 254 - O juiz dar-se- por suspeito, e, se no o fizer, poder ser recusado por qualquer das partes:I - se for amigo ntimo ou inimigo capital de qualquer deles;II - se ele, seu cnjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por fato anlogo, sobre cujo carter criminoso haja controvrsia;III - se ele, seu cnjuge, ou parente, consangneo, ou afim, at o terceiro grau, inclusive, sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes;IV - se tiver aconselhado qualquer das partes;V - se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;

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    VI - se for scio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

    Caput Ento, a vem o primeiro ponto importante, qual seja, o juiz dar-se- por suspeito. Vou falar sobre isso daqui a pouco, mas amanh como juzes, o ideal que voc declare a sua suspeio de ofcio. Juiz que no faz isso de ofcio e tem ela declarada pelo tribunal, pega muito mal. Por que? Porque fica parecendo que voc, de maneira deliberada, ocultou a suspeio, com o intuito de ajudar ou prejudicar a parte, a depender da hiptese. Ento, se voc visualizou uma causa de suspeio, declare isso de ofcio.

    Inciso I Cuidado com isso. No simplesmente conhecer a pessoa. Se s isso, juiz na cidade do interior, onde todo mundo se conhece, no poderia trabalhar. Ento, tem que ser uma amizade ntima ou inimizade capital. Para a maioria da doutrina, a amizade ntima ou inimizade capital com o advogado no causa de suspeio. Isso cai em prova e derruba muita gente! Percebam que o artigo fala por qualquer das partes. Por isso, que a maioria da doutrina diz que essa amizade ntima deve ser entre o juiz e o acusado e no entre o juiz e advogado (se bem que h doutrina dizendo que o advogado estaria incluso a, mas posio minoritria e nas vezes que eu vi cair em prova, o entendimento era de que amizade do advogado com o juiz no gera suspeio).

    Inciso II Imagine que sua esposa est respondendo a um processo criminal muito semelhante a um processo que voc tenha que decidir e voc sabe que a sua deciso pode acabar repercutindo no outro processo.

    Inciso III ento, aquele interesse cruzado: eu decido aqui, se amanh estiver ali uma deciso que vai me beneficiar.

    Qual a consequncia do reconhecimento da suspeio? Imagine que um juiz suspeito tenha praticado um ato decisrio e depois declarada a suspeio dele. Qual a consequncia? Sem dvida alguma, uma nulidade absoluta. Exceo de suspeio julgada procedente resultar no reconhecimento de uma nulidade absoluta.

    Art. 564 - A nulidade ocorrer nos seguintes casos: I - por incompetncia, suspeio ou suborno do juiz;

    Ento, claramente, a suspeio vai gerar uma nulidade absoluta. E por que absoluta? Porque essa, do inciso I, no est sujeita sanao. Como no tem como convalidar, vai produzir mesmo uma nulidade absoluta.

    4.1. IMPEDIMENTO

    Em regra, as hipteses de impedimento referem-se a uma relao interna com o processo.

    Quer dizer, s lembrar da suspeio, do primeiro exemplo, a primeira hipteses de suspeio a amizade ntima ou inimizade capital. Percebam que a amizade no

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    est dentro do processo. J o impedimento algo que est l dentro, tem a ver com a relao interna com o processo. As hipteses de impedimento esto elencadas no art. 252:

    Art. 252 - O juiz no poder exercer jurisdio no processo em que:I - tiver funcionado seu cnjuge ou parente, consangneo ou afim, em linha reta ou colateral at o terceiro grau, inclusive, como defensor ou advogado, rgo do Ministrio Pblico, autoridade policial, auxiliar da justia ou perito;II - ele prprio houver desempenhado qualquer dessas funes ou servido como testemunha;III - tiver funcionado como juiz de outra instncia, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a questo;IV - ele prprio ou seu cnjuge ou parente, consangneo ou afim em linha reta ou colateral at o terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado no feito.

    Inciso I Primeira hiptese de impedimento. Esse inciso I muito tranquila. s vezes, em uma comarca pequena pode at acontecer: marido e mulher, juiz e promotora. claro que no podem atuar no mesmo processo. Mas se a esposa j est funcionando como promotora no caso, o marido no pode entrar como juiz. Ento, vale quem chegou primeiro. Se o marido j estava atuando como juiz, a esposa no pode entrar como promotora. Se ela j estava atuando como promotora, o marido no pode entrar como juiz. Ento, essa a primeira hiptese de impedimento.

    Inciso II o caso do juiz que faz tudo. o Romrio no time do Vasco (era tcnico, jogador, reserva, diretor financeiro e tinha uma esttua no estdio). Seria uma hiptese de impedimento. Se voc, juiz, j atuou como defensor, como promotor, voc tem que se declarar impedi