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GRADUAÇÃO 2018.1 DIREITO E CINEMA: NAZISMO AUTOR: GABRIEL LACERDA

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GRADUAÇÃO2018.1

Direito e Cinema: nazismo

Autor: GAbriel lAcerdA

SumárioDireito e Cinema: Nazismo

iNfORmAÇõeS GeRAiS ...........................................................................................................................................3

CAleNDáRiO .......................................................................................................................................................4

iNtRODUÇÃO AO CURSO .........................................................................................................................................6

AUlA i — A CAmiNhO De beRlim .............................................................................................................................7

AUlA ii — O pODeR DA vONtADe ..............................................................................................................................9

AUlA iii (tURmA A) — A ONDA...............................................................................................................................12

AUlA iii (tURmA b) — ARqUitetURA DA DeStRUiÇÃO .................................................................................................13

AUlA iv — >CONSpiRACy ....................................................................................................................................15

AUlA v (tURmA A) — UmA mUlheR CONtRA hitleR ...................................................................................................21

AUlA v (tURmA b) — SeSSÃO eSpeCiAl De jUStiÇA ....................................................................................................22

AUlA vi — jUlGAmeNtO De NURembeRG .................................................................................................................25

AUlA vii — A liStA De SChiNDleR .........................................................................................................................30

direito e ciNeMA: NAZiSMo

3FGV direito rio

Informações geraIs

A ATC vale 30 créditos. As aulas serão às 6as. feiras, das 11.10 às 12.50 e consistirão sempre na exibição da versão compacta de um filme sobre o tema do nazismo, seguida de debates.

Constam desta apostila textos de vários documentos, relacionados aos fil-mes que serão discutidos em aula. O exame desses textos, antes da aula, é recomendável, embora não indispensável.

Recomenda-se também, embora não seja obrigatório, que os alunos ad-quiram o livro Nazismo, Cinema e Direito, de autoria do professor, à venda na livraria da |Fundação.

Os alunos que adquirirem o livro deverão trazê-lo para aula. Todos, sem exceção, devem ter sempre consigo a apostila. Os textos de apoio nela trans-critos são essenciais ao acompanhamento dos debates.

A primeira e a última aula serão ministradas em conjunto, Para as demais aulas, a turma será dividida em duas turmas, A e B. Em algumas aulas, o mesmo filme será exibido para as duas turmas. Em outras, haverá um filme para a turma A, outro filme diferente para a Turma B, conforme mostrado no calendário abaixo.

Para efeito de frequência, os alunos poderão escolher os filmes que pre-ferirem. Quem assistir a 7 filmes diferentes, quaisquer que sejam eles, terá frequência integral. Quem assistir a menos de cinco filmes, será reprovado por falta.

A avaliação será feita por uma prova e um trabalho escrito. Será concedido um ponto a mais na avaliação a quem assistir 8 filmes e dois pontos a mais para quem assistir a todos 9 filmes.

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CalendárIo

aula I — 23 de fevereiro — em conjunto

A caminho de Berlim (documentário sobre a história do nazismo desde suas origens até o princípio da 2ª. guerra mundial)

aula II — 2 de março — turma a— 9 de março — turma B

O poder da vontade (documentário alemão sobre o congresso do Partido Nazista de 1934)

aula III — 16 de março — turma a

A Onda (filme alemão sobre uma experiência realizada nos Estados Uni-dos em uma escola secundária mostrando como um grupo se deixa contami-nar por uma mensagem de autoritarismo).

— 23 de março — turma B

Arquitetura da Destruição (documentário mostrando o modo como o na-zismo procurou construir uma estética própria, interferindo em manifestações artísticas e criando um culto racista a um suposto ideal de beleza e saúde).

aula IV — 6 de aBril — turma a— 26 de aBril — turma B

>Conspiracy – (filme americano, procurando reproduzir uma reunião re-alizada em janeiro de 1942 em que diversos membros do segundo escalão da hierarquia nazista foram comunicados da decisão de implementar a “solução final da questão judaica”, ou seja, o extermínio dos judeus).

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aula V— 4 de maio — turma a

Uma mulher contra Hitler (filme alemão contando a história de Sophie Scholl, moça presa e condenada durante a guerra por distribuir panfletos contra o nazismo em uma universidade).

— 11 de maio — turma B

Sessão especial de Justiça (filme francês mostrando como se formou, na França de Vichy (parte do pais não ocupada pelos alemães após o armistício de 1940), um tribunal constituído especialmente para condenar à morte au-tores de atos de protesto já presos e sentenciados, para evitar que os alemães levassem a cabo as ameaças de matar reféns franceses inocentes, em represália a um atentado em que um militar alemão foi assassinado no metrô de Paris).

aula VI — 18 de maio — turma a— 25 de maio — turma B

Julgamento de Nuremberg (filme americano reconstituindo o julgamen-to em que líderes do primeiro escalão nazista foram condenados por crimes contra humanidade).

aula VII — 8 de junho — turma a e turma B em conjunto

A Lista de Schindler – (Filme norte americano contando de forma ro-manceada a história de Oskar Schindler, oficial nazista, que montou uma fábrica de objetos de metal na Polônia ocupada, com o objetivo de ganhar dinheiro e acabou salvando a vida mais de 1000 judeus).

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Introdução ao Curso

Uma das disciplinas mais relevantes em uma escola de medicina é a ana-tomia, o estudo do corpo humano. É sobre o corpo humano que se exerce a medicina; por isso, é essencial conhece-lo. Nada melhor para conhecer o corpo humano que examinar cuidadosamente seu interior. Por esse motivo, é de extrema importância ao estudante de medicina que acompanhe autóp-sias. Nos cadáveres, aprende-se anatomia, vendo e pegando órgãos, músculos e ossos.

As sociedades, como os seres humanos, morrem. Estudar o cadáver de uma sociedade que morreu, conhecendo como era seu direito e como se re-lacionava com os outros sistemas sociais, ajuda a compreender essas relações em sociedades vivas.

A abominável sociedade nazista, um exemplo paradigmático de estado totalitário ditatorial, com uma ideologia definida, durou apenas 12 anos. Causou uma catástrofe mundial, uma guerra que deixou mais de 60 milhões de mortos, Protagonizou a barbárie do holocausto, o massacre, burocratica-mente organizado, com método e consciência, visando a extinção de todo um povo.

O nazismo foi amplamente estudado sob as mais diversas facetas, por cau-sa do mal que fez.

O objetivo do curso é analisar o regime nazista sob a ótica jurídica. Serão examinados e discutidos, entre outros, os seguintes temas: como foi pos-sível, em um país regido por uma constituição democrática, a tomada do poder por um ditador; qual o arcabouço legal que cobriu os assassinatos em massa de civis inocentes; quais os artifícios jurídicos mobilizados para justi-ficar invasões e os reflexos sobre outros ordenamentos legais, a sufocação de oposições e, final e felizmente, qual foi o processo de responsabilização dos perpetradores de tantos crimes.

Conhecer a história e os mecanismos de funcionamento do regime nazista é também importante para identificar e evitar que se desenvolvam no futuro situações semelhantes.

O nazismo foi um episódio trágico da história do mundo, possivelmente o mais abominável de quantos regimes ditatoriais existiram. O nazismo, tal como existiu na Alemanha de 1933 a 1945, está morto. Mas a observação nos mostra que até hoje existem, e possivelmente por muito tempo existirão, ditaduras, ditadores e regimes que guardam pontos de semelhança com o infame terceiro Reich.

Conhecer o regime nazista ajudará a manter uma necessária atitude de vigilância.

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ComentárIos soBre os fIlmes a serem eXIBIdos

aula I— 23 de feVereIro —

a CamInho de BerlIm

O filme é um bem organizado documentário sobre a história do nazismo desde o final da primeira guerra mundial, em 1918, até o início da segunda, em 1939; Relaciona, ordenadamente, os fatos mais relevantes da época. Po-derá ser cotejado com a cronologia constante do livro escrito pelo professor.

O foco da aula será examinar os fatos e os textos que permitiram que Hi-tler chegasse a ser democraticamente nomeado primeiro ministro e pudesse em pouco tempo a se transformar em um autocrata.

MATERIAL DE APOIO

constituição de Weimar – artigo 48(fundamento do decreto de emergência)

Em caso de grave ameaça ou perturbação da Ordem Pública, o Presi-dente pode tomar as medidas necessárias para restabelecer a lei e a ordem, se necessário, usando força armada. Para esse fim, o Presidente poderá suspender parcial ou inteiramente os direitos civis, mencionados nos ar-tigos 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153.

ordem Presidencial para a proteção do povo e do estado3

Com base no Art. 48, parágrafo 2o da Constituição do Reich alemão, e em defesa contra atos de violência comunista que põem em perigo o estado, fica determinado o seguinte:

§ 1. Os art. 114, 115, 117, 118, 123, 124 e 153 da Constituição do Reich Alemão ficam suspensos até segunda ordem. É, portanto, permitido restringir os direitos de liberdade pessoal, liberdade de opinião, inclusive liberdade de imprensa, liberdade de organização e reunião, sigilo de co-municações postais, telegráficas e telefônicas; fica também permitido emitir ordens de busca domiciliar, ordens de confisco e restrições à propriedade além dos limites legais normalmente aplicáveis.

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ato habilitante (ermächtigungsgesetz)

O Reichstag promulgou a seguinte lei aqui proclamada, com o consenti-mento do Reichsrat, tendo estabelecido que as exigências para uma emenda constitucional foram satisfeitas.

Art. 1 – Além do procedimento estabelecido na Constituição, as leis do Reich podem também ser promulgadas pelo Governo do Reich, inclusive as leis referidas nos Art. 85, parágrafo 12 e 87 da Constituição.

Art. 2 – As leis promulgadas pelo governo do Reich podem não estar em harmonia com a Constituição desde que não afetem as instituições do Rei-chstag e do Reichsrat. Os direitos do Presidente permanecem inalterados.

Art. 3 – As leis promulgadas pelo governo do Reich serão emitidas pelo Chanceler e publicadas na Gazeta do Reich. Entrarão em vigor no dia seguinte à publicação, a não ser que prevejam data diferente. Os Art. 68 a 77 da Constituição não se aplicam às leis promulgadas pelo governo do Reich.

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aula II— 2 de março — turma a— 9 de março — turma B

o poder da Vontade

O filme é um clássico do cinema documentário. A cineasta alemão Leni Riefenstahl registrou, com extrema maestria, o Congresso do Partido Nazis-ta, realizado em setembro de 1934, um ano e meio depois de Hitler ter toma-do o poder. Muitos dos recursos técnicos que utilizou tornaram-se clássicos desse tipo de filme.

Observar as cenas retratadas ajuda a compreender o fenômeno que esta-mos estudando.

MATERIAL DE APOIO

trechos do livro de organização do Partido nazista1

O princípio do Líder, representado pelo Partido, impõe a completa res-ponsabilidade dos líderes do partido nas suas respectivas esferas de atribui-ção. A responsabilidade por todas as tarefas dentro de uma esfera maior de jurisdição compete ao respectivo líder dentro do partido: isto é, ao Führer para todo o território do Reich, ao líder distrital para o território do distri-to, ao líder local para o território do grupo local.

(…)O Reich alemão está fundado no reconhecimento que a verdadeira von-

tade do povo não pode ser revelada através de votações parlamentares e ple-biscitos, mas que a vontade do povo em sua forma pura e não corrompida pode ser apenas expressa pelo Führer.

(…)

O partido é a hierarquia dos führers.

Todos os diretores políticos (Politische Leiter) apontados pelo Führer são responsáveis perante ele. Possuem plena autoridade em relação aos escalões inferiores.

(...)O direito romano, que serve a uma ordem materialista do mundo, deve

ser substituído pelo direito comum germânico”.

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HANS FRANK (Inicialmente advogado de Hitler, mais tarde, Comissário de Justiça (mais ou menos equivalente a Procurador Geral). Posteriormente, Governador Geral dos Territórios Ocupados na Polônia. Um dos condena-dos à morte pelo Tribunal de Nuremberg).

discurso no congresso do Partido em 1934

Partimos da lei da comunidade, e esta lei comum, é a verdadeira rever-são interna de nosso ponto de vista legal e de nosso sistema legal.

discurso aos juristas em 1936

A ideologia Nacional Socialista é a fundação de todas as leis básicas, especialmente como explicada no programa do partido e nos discursos do Führer.

Não há independência da lei contra o Nacional Socialismo. Digam a vocês mesmos em cada decisão que proferirem: “Como o Führer decidiria em meu lugar?”. Em toda a decisão, perguntem a vocês mesmos: “Esta decisão é compatível com a consciência Nacional Socialista do povo ale-mão? Então terão uma firme fundação de ferro que, aliada com a unidade do Estado Popular Nacional Socialista e com o reconhecimento da eterna natureza da vontade de Adolf Hitler, dotará sua esfera de decisão com a autoridade do Terceiro Reich, e isto para todo tempo.

A base para a interpretação de todas as fontes legais é a ideologia Nacio-nal Socialista, tal como expressa particularmente no programa do partido e nas declarações do Führer.

Quando se trata de decisões do Führer, expressas na forma de lei ou decreto, um juiz não tem o direito de revisão judicial. Um juiz está tam-bém sujeito a outras decisões do Führer, na medida em que deem expressão inequívoca do desejo de estabelecer uma lei.

discurso em Berlim em 1938

(a teoria constitucional não deve ser mais vista como uma ciência) (…) das relações entre cidadãos dotados de direitos públicos subjetivos, de um lado, e, de outro, os representantes do estado carregando o peso das obri-gações correspondentes. Deve, ao contrário, ser vista como uma teoria de ordem baseada no elemento pessoal da lealdade da nação em seguir o líder que legitimou.

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REINHARDT HÖHN (Jurista de alta reputação na Alemanha nazista autor de livros e artigos, professor universitário).

Na comunidade, o indivíduo se despoja completamente de sua perso-nalidade individual não mais se sente como uma pessoa individual, ele se funde com o espírito da comunidade. Torna-se o portador desse espírito e está agora pronto a fazer sacrifícios, mesmo se seus interesses individuais sejam, por isso, severamente prejudicados.

ROLAND FREISLER (Desde 1942, até sua morte em um bombardeio em 1945, presidente do Tribunal Popular que julgava crimes políticos)

Nós, alemães, marchamos em colunas. Como soldados, olhamos para frente. E só vemos uma pessoa: nosso líder. Para onde ele aponta, nós mar-chamos. E para onde quer que ele aponte, ele sempre marcha primeiro, a nossa frente. Isto está de acordo com nossa natureza germânica. Diante disso todo o “direito constitucional” do passado foi varrido como pedaços de palha soltos ao vento.

A separação dos poderes; a supervisão da liderança pelos liderados; a proteção de direitos pessoais pelas cortes; um estado baseado na norma legal, que ninguém desejava menos que os próprios órgãos da justiça, ou seja, a revisão de verdadeiros atos de liderança para determinar se estão formal-mente de acordo com a lei; restrições à vanguarda e limitações a seus ins-trumentos de liderança; a regra dos números sobre a vontade, de números anônimos, ou seja, da irresponsabilidade.

Tudo isso, antes cuidadosamente protegido em constituições com garan-tias legais foi agora banido.

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aula III— 16 de março — turma a

a onda

Um professor de uma escola do ensino fundamental na California, ao final da década de 1960, organizou em aula uma experiência, mostrando como é fácil e simples contagiar um grupo de jovens organizando-os em um movimento autoritário e como, em pouco tempo, o senso comum desapare-ce, engolido em uma atmosfera de agressividade. A experiência foi retratada em um filme americano.

Posteriormente, um cineasta alemão elaborou sobre o episódio, trans-portando-o para uma escala alemã e acrescentando alguns fatos imaginados.

O resultado é plausível, espantoso e esclarecedor. O filme ajuda a entender como foi possível o nazismo e, ao mesmo tem-

po, faz uma advertência relevante.

MATERIAL DE APOIO

trecho do discurso final do professor que conduziu a experiência

Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram as-sassinados? Como alegar que não estavam envolvidos? O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho.

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aula III— 23 de março — turma B

arquItetura da destruIção

Uma das características comuns dos regimes ditatoriais absolutistas é que eles geralmente tentam ser também totalitários, procurando controlar prati-camente todos os aspectos da vida dos cidadãos.

O nazismo confirma essa regra e a leva a um extremo tão absurdo quanto internamente coerente. Hitler pregava que os alemães era uma raça superior, mais apta e mais forte e, por isso, de acordo com as leis da própria natureza, tinhan direito de impor sua vontade e seus interesses a outras raças inferiores.

A doutrinação nesse sentido era completa. Começava nas escolas, bem cedo. Grupos de jovens eram organizados para consolidar a ideologia pela convivência orientada em um bem estruturado programa de atividades es-portivas e recreativas.

O filme, originalmente um seriado para televisão, retrata, com cuidado meticuloso e filmes de época, o que foi feito no campo das artes, principal-mente as artes plásticas: a arquitetura monumental, o repúdio suportado pela propaganda oficial da arte dita degenerada, identificada com deformidades e doenças, a promoção de uma arte supostamente saudável retratando a natu-reza, o belo, corpos humanos fortes e bem proporcionados.

O filme ilustra e induz à reflexão sobre o que é um estado verdadeiramen-te totalitário.

MATERIAL DE APOIO

(trecho de ensaio sobre o filme)

Uma das grandes preocupações do nazismo foi a divulgação de suas concepções estéticas de arte, ligadas às suas concepções ideológicas e políticas, utilizando a arte como arma de propaganda de seus ideais.

Baseavam suas produções em interpretações do evolucionismo darwinista e nas teorias sobre a eugenia, buscando apresentar a perfeição natural atra-vés da eliminação dos corpos impuros e perniciosos que não estavam de acor-do com a busca da raça pura alemã, uma raça forte e superior às demais.

Uma das premissas da arte nazista era a restauração do naturalismo, só que idealizado de acordo com as concepções de superioridade ariana. O in-tuito seria a fuga das abstrações complicadas e a concentração na expressão de um mundo que imperaria no futuro, um mundo belo, idílico, clássico e vir-tuoso, como seria a forte nação alemã após sua vitória sobre os demais povos.

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Os temas escolhidos pelo regime nazista para serem expressos artistica-mente deveriam estar de acordo com a concepção de arte do nacional-socia-lismo. De acordo com o que Hitler escreveu em 1935: “Enquanto estamos certos de expressar corretamente na política o espírito e a fonte da vida de nosso povo, também acreditamos ser capazes de reconhecer seu equivalente natural e realizá-lo” (Aventuras na História, Edição 47, julho de 2007, p. 36). Com esta perspectiva, os nazistas organizaram, em 1937, a exibi-ção da Grande Arte Alemã, na recém-criada Casa da Arte Alemã.

Para além da concepção e produção de uma arte nazista, o regime hitle-rista passou a perseguir o que considerava uma arte degenerada, ligada aos movimentos vanguardistas modernos, que então se difundia pela Europa. Vários artistas foram perseguidos na Alemanha, como os pintores Otto Dix, Emil Nolde e Erich Heckel. Outros foram retirados de seus postos de dire-ção de instituições culturais, e milhares de obras de arte foram destruídas. A Bauhaus, principal centro de difusão das vanguardas nas artes visuais e na arquitetura, foi fechada.

Ainda antes de sua chegada ao poder, Hitler havia assim definido a pro-dução artística moderna em seu livro Mein Kampf (Minha Vida, 1923), e no Congresso do Partido Nazista em Nuremberg, em 1933, repetiu a definição: “Se cada coisa a que derem à luz foi resultado de uma experiên-cia interior, então eles são um perigo público e devem ficar sob supervisão médica. [...] Se era pura especulação, então deviam estar numa instituição apropriada para o engano e a fraude”.

O resultado prático desta perspectiva de perseguição ao modernismo se deu com a realização da exposição Entartete Kunst - em português, Arte Degenerada. Realizada em Munique, em 1937, o objetivo da mostra era defenestrar a arte moderna, apresentando os trabalhos confiscados em toda a Alemanha de modo desordenado, alternando obras de artistas consagra-dos com fotos de doentes mentais, apresentando-as com comentários políti-cos moralizantes e títulos alterados.

Ao lado de obras de Pablo Picasso, Henri Matisse, Piet Mondrian, den-tre outros, o pintor e político nazista Adolf Ziegler definiu assim as obras expostas: “Em torno de nós vê-se o monstruoso fruto da insanidade, im-prudência, inépcia e completa degeneração. O que essa exposição oferece inspira horror e aversão em todos nós” (Aventuras na História, Edição 47, julho de 2007, p. 32). As obras selecionadas pelo Ministro da Propaganda Joseph Goebbels foram vistas por mais de 2 milhões de pessoas, e representou mais uma das batalhas realizadas pelos nazistas, agora no campo da arte, para a imposição de suas concepções de superioridade biológica e social.

(Trecho pesquisado na Internet, http://brasilescola.uol.com.br/historiag/a-arte-nazista-combate-ao-modernismo.htm, consultando em 20/11/2017)

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aula IV — 6 de aBrIl — turma a— 26 de aBrIl — turma B

>ConspIraCy

Não sabe como nem porque Hitler desenvolveu seu ódio ao judeus. Mas esse ódio é manifestado e desde o início de sua carreira. No início era apenas um preconceito, presente em muitos outros povos e em diferentes momentos históricos.

Já no Século VI, o tão celebrado Código de Justiniano (547) continha dispositivo do seguinte teor:

Quem tentar um cristão a dar as costas à religião e o converter ao juda-ísmo perderá todos os seus bens e será punido com a morte.

Relações sexuais entre judeus e cristãos são proibidas sob pena de pu-nição severa.

Se judeus ousarem circuncidar Cristão, perderão todos os seus bens e serão banidos pelo resto da vida.

Os judeus não podem manter os cargos públicos que ocupam.Quem ousar construir uma nova sinagoga será multado em cinquenta li-

bras de ouro, terá sua inteira fortuna confiscada e será punido com a morte.

Esse mesmo clima atravessa toda a Idade Média; por toda parte os judeus são confinados em guetos, agredidos em manifestações populares, expulsos de cidades ou países, situação que não se modifica com a Reforma nem com o Renascimento.

Tão logo assumiu o poder Hitler, iniciou medidas concretas de persegui-ção aos judeus. Assim é que, em 1935 são proclamadas as chamadas Leis de Nuremberg, abaixo transcritas, seguidas de várias outras, todas com o objeti-vo de tornar insuportável para os judeus a vida na Alemanha.

Com a expansão territorial do nazismo, o número de judeus sob juris-dição alemã cresceu substancialmente. Era grande o número de judeus na Áustria, anexada em 1938, bem como na Tchecoeslováquia, ocupada inte-gralmente em março de 1939. Com o início da guerra, em setembro de 1939, foi tomada a Polônia, país de grande população judaica e, pouco de-pois ficaram também sob controle alemão os territórios da Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Dinamarca, Holanda, França, Iugoslávia e Grécia.

Não se sabe exatamente quando foi tomada a decisão de implantar a chamada “solução final”, ou seja o extermínio da população judaica.

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Já em 1939, logo após a conquista da Polônia, o chefe do Serviço de Segu-rança, Heinrich Heydrich, enviava aos chefes de grupos especiais (esquadrões policiais que seguiam as tropas invasoras) um memorando preparatório de seguinte teor:

Aos chefes de todos os Einsatzgruppen da Polícia de SegurançaBerlim, 21.9.1939Ref.: Questão judaica no território ocupado

Com referência à reunião de hoje em Berlim, gostaria de destacar uma vez mais que as medidas gerais projetadas (o objetivo último) devem ser man-tidas estritamente confidenciais.Deve se distinguir entre:1. O objetivo último (que é uma medida de longo prazo) e2. Os estágios na direção do objetivo último (que serão implementados sem delongas).As medidas projetadas requerem a mais ampla preparação, tanto técnica como econômica.IO primeiro passo na direção do objetivo último deve ser a concentração dos judeus de áreas rurais em cidades maiores.Deve ser implementado com toda rapidez.É absolutamente necessário que as comunidades judaicas de menos de 500 pessoas sejam rompidas e concentradas nas cidades mais próximas.IIConselho dos Anciães Judaicos1. Será organizado em todas as comunidades judaicas um Conselho de Anciães Judaicos.Este deverá ser tornado integralmente responsável no sentido pleno da pala-vra pelo exato e pronto cumprimento de todas as ordens passadas ou atuais.2. No caso de sabotagem dessas ordens, serão aplicadas ao Conselho as me-didas mais severas.3. Os Conselhos Judaicos devem realizar uma contagem provisória dos judeus e comunicar sem delonga os respectivos resultados.4. Os Conselhos de Anciães devem ser notificados das datas e prazos, das dependências e finalmente das rotas para a partida. Serão então pessoal-mente responsáveis pela partida dos judeus das áreas rurais.A razão a ser dada para a concentração de judeus nas cidades é de que os judeus têm tomado parte importante nas atividades de franco--atiradores e saques.

Heinrich Heydrich

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Em 20 de janeiro de 1942, quando já as tropas alemães tinham pene-trado na Rússia e começavam a sofrer as consequências do inverno, vários funcionários do segundo escalão da burocracia nazista foram convocados, pelo mesmo Heinrich Heydrich, para uma reunião secreta, em uma casa que havia sido tomada de um rico judeu, às margens do lago de Wansee, próximo a Berlim.

Dessa reunião foi feita uma ata (texto integral no livro do professor), dis-tribuída aos participantes. Um exemplar dessa ata foi localizado e, com base nele, foi feito um filme, imaginando como teria transcorrido a reunião, cujo objetivo era comunicar a decisão de Hitler de dar início a solução final e solicitar a colaboração do segundo escalão da burocracia .

MATERIAL DE APOIO

memorando de herman Goering, chefe da SS e coordenador do Plano Quadrienal, para heinrich heydrich

Berlim, 3.7.1941Do: Marechal do Reich AlemãoComissário do Plano QuadrienalPresidente do Conselho Ministerial de Defesa NacionalPara: Chefe da Polícia de Segurança e do Serviço de SegurançaGruppenfuehrer Heydrich

Complementando a tarefa que lhe foi conferida em 24 de janeiro de 1939, de chegar, por meio de emigração e evacuação, a uma solução tão favorável quanto possível nas circunstâncias que prevaleciam à época, pelo presente eu o incumbo de fazer todas as preparações organizacionais, técni-cas e materiais para uma solução completa da questão judaica na esfera de influência alemã na Europa.

Na medida em que a competência de outras entidades governamentais for afetada, estas devem cooperar.

Encarrego-o, ademais, de me submeter em futuro próximo um plano global das medidas organizacionais, técnicas e materiais para a implemen-tação da desejada solução final da questão judaica.

Hermann Goering.

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18FGV direito rio

aS leiS de nuremBerG

lei de proteção ao Sangue alemão e à honra alemã -15/09/1935

Plenamente convencido pelo conhecimento de que a pureza do sangue alemão é essência para a existência continuada do povo alemão, e animado pelo desejo inflexível de salvaguardar a nação alemã por todo o futuro, o Rei-chstag decidiu unanimemente aprovar a lei abaixo, por este ato promulgada.

Seção 1 – (1) São proibidos casamentos entre Judeus e nacionais de sangue ale-mão ou assemelhado. Os casamentos celebrados em desacordo com a presente são nulos, mesmo se, com o propósito de evitar esta lei, forem concluídos no exterior.

(2) Somente o Promotor Público pode iniciar processos de anulação.

Seção 2 – São proibidas as relações extraconjugais entre Judeus e nacionais de sangue alemão ou assemelhado.

Seção 3 – Não será permitido aos Judeus ter como empregadas domésticas mulheres de sangue alemão ou assemelhado.

Seção 4 – (1) É proibido aos Judeus hastear a bandeira do Reich e nacio-nal e exibir as cores do Reich.

(2) Poderão por outro lado exibir as cores judaicas. O exercício dessa autoridade é protegido pelo Estado.

Seção 5 – (1) Uma pessoa que agir em desacordo com a proibição contida na Seção 1 será punida com trabalhos forçados.

(2) Uma pessoa que agir em desacordo com a proibição contida na Seção 2 será punida com prisão ou com trabalhos forçados.

(3) Uma pessoa que agir em desacordo com a proibição contida nas Seções 3 ou 4 será punida com prisão de até um ano e com uma multa ou com uma dessas penalidades.

Seção 6 – O Ministro do Interior do Reich em concordância com o re-presentante do Führer emitirão os regulamentos legais e administrativos necessários para a implementação e suplementação desta lei.

Seção 7 – Esta lei entrará em vigor no dia seguinte à sua promulgação, exceto pela Seção 3 que entrará em vigor apenas em 1o de janeiro de 1936.

Nüremberg, no 15o dia de setembro de 1935, no Realinhamento de Liber-dade do Partido do Reich.

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Primeiro decreto Suplementar de 14/11/1935

Com apoio no Artigo III da Lei de Cidadania do Reich de 15 de setembro de 1935, fica, pelo presente, decretado:

Art. 1 – (1) Até que sejam promulgadas novas disposições a respeito dos documentos de cidadania, todos os súditos de sangue alemão ou semelhante que possuíam o direito de voto nas eleições para o Reichstag quando da entrada em vigor da Lei da Cidadania, manterão presentemente os di-reitos de cidadãos do Reich. O mesmo se aplica também àqueles a quem o Ministro do Interior do Reich, em conjunto com representante do Führer, conceder a cidadania.

(2) O Ministro do Interior do Reich, em conjunto com represen-tante do Führer, pode revogar a cidadania.

Art. 2 – (1) As disposições do Artigo I se aplicarão também a súditos que tenham mistura de sangue judeu misto.

(2) O indivíduo com mistura de sangue judeu é aquele que des-cende de um ou dois avós que, racialmente, eram judeus plenos, uma vez que, de acordo com a Seção 2 do Artigo 5, não é ele considerado como judeu. Avós de sangue plenamente judeus são aqueles que pertenceram à comunidade religiosa judaica.

Art. 3 – Somente os cidadãos do Reich, como detentores de direitos políticos plenos, podem exercer o direito de votar em assuntos políticos e têm o direito de ocupar cargos públicos. O Ministro do Interior do Reich, ou qualquer entidade a quem ele dê poderes para tanto, pode criar exceções, durante o período de transição, a respeito da ocupação de cargos públicos. As medidas não se aplicam a assuntos que digam respeito a organizações religiosas.

Art. 4 – (1) Um Judeu não pode ser um cidadão do Reich. Não pode exercer o direito e voto e não pode ocupar cargo público.

(2) Os funcionários judeus serão aposentados em 31 de Dezem-bro de 1935. Caso esses funcionários tenham servido na frente durante a Guerra Mundial, pela Alemanha ou por seus aliados, receberão como pensão, até que tenham atingido a idade limite, o último salário integral recebido, com base no qual sua pensão teria sido computada.Não serão, contudo, promovidos por antiguidade. Quando chegarem à idade limite, sua pensão será computada, novamente de acordo com o últi-mo salário recebido e no qual sua pensão deveria ter sido calculada.

(3) Estas disposições não dizem respeito a assuntos de organiza-ções religiosas;

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20FGV direito rio

(4) As condições relativas ao serviço de professores nas escolas públicas judaicas permanecem inalteradas até a promulgação de novas leis sobre o sistema escolar judaico.

Art. 5 – (1) Um Judeu é um indivíduo que descende de pelo menos três avós que eram, racialmente, Judeus plenos.

(2) Também se considera Judeu um indivíduo que descenda de dois avós Judeus plenos se,

(a) for membro de uma comunidade religiosa judaica na data da promulgação desta lei ou ingressou nela posteriormente.(b) quando esta lei foi promulgada era casado com uma pessoa judia ou casou-se posteriormente com uma pessoa judia;(c) é prole do casamento com um Judeu, no sentido da Seção I, contraído depois da entrada em vigor da Lei de Proteção ao sangue e à honra alemães de 15 de setembro de 1935;(d) é prole de uma relação extramarital com um Judeu, no sentido da Seção I, ou de vínculo conjugal depois de 31 de julho de 1936.

Art. 6 – (1) Na medida em que existem nas leis do Reich ou nos Decretos do Partido Nacional Social Alemão dos Trabalhadores ou seus afiliados, algumas exigências para a pureza do sangue alemão que vão além do Arti-go 6, essas restrições permanecem inalteradas.

Art.7 – O Führer e Chanceler do Reich poderá isentar qualquer pessoa das disposições destes decretos administrativos.

outras leis de exclusão

• Lei no 174 (1938) – Obrigou os judeus a adotarem um nome de uma lista de nomes considerados judaicos. Todos os homens eram obrigados a ter o nome Israel e as mulheres o nome Sarah como nome do meio.• Lei no 195 – Proibiu os judeus de vaguearem em público.• Lei no 197 – Proibiu os judeus de ter carteira de motorista.• Lei no 234 – Proibiu proprietários de alugarem imóveis para judeus.• Lei no 242 – Proibiu crianças judias de frequentarem escolas alemãs.• Lei no 392 – Fechou as escolas judaicas.

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aula V— 4 de maIo — turma a

uma mulher Contra hItler

Hitler era certamente muito popular e uma substancial maioria do povo alemão o apoiou. Os sacrifícios impostos pela guerra, porém, começaram a minar substancialmente esse apoio.

Já no início de 1943, começava a ficar evidente que a Alemanha não con-seguiria vencer a guerra. Os russos repeliam o ataque alemão e começavam a expulsar as tropas invasoras. Os Estados Unidos e o Reino Unido ganhavam terreno na África e começavam a caminhada em direção à Europa ocupada.

Na própria Alemanha formavam-se movimentos clandestinos contra o ditador.

O filme Uma Mulher contra Hitler conta de forma fidedigna o que acon-teceu com Sophie Scholl e seu irmão, presos quando distribuíam panfletos na Universidade de Munique, onde ambos estudavam.

MATERIAL DE APOIO

trechos das chamadas cartas da rosa Branca, exemplos dos panfletos que eram distribuídos por Sophie Scholl.

Desde a conquista da Polônia, 300 mil judeus foram assassinados nesse país da forma mais bestial (…). O povo alemão dormita em um sono tolo e estúpido e encoraja esses criminosos fascistas… Cada homem procura se exonerar desse tipo de culpa, cada um continua seu caminho com a mais plácida e calma das consciências… Mas ele não pode ser exonerado. Ele é culpado! culpado! culpado!

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O dia do acerto de contas chegou. Liberdade e honra! Por dez anos, Hitler e seus camaradas espremeram, estrangularam e deturparam as duas grandes palavras alemãs, como arrivistas que jogam aos porcos os mais sacrossantos valores de uma nação. Trezentos mil alemães foram condenados à morte e à perdição pela genial, incoerente e irresponsável estratégia do cabo da Primeira Guerra Mundial. Führer, nós agradecemos.

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aula V— 11 de maIo — turma B

sessão espeCIal de JustIça

Filme dirigido pelo conhecido cineasta Costa Gravas descreve, de forma romanceada um episódio ocorrido na França, em Agosto de 1941.

Derrotada militarmente em 1940, a França firmou com a Alemanha um armistício. Segundo os termos desse acordo, a parte norte do país, incluindo Paris, ficava sob ocupação alemã, e a parte sul, permanecia sob o governo francês, chefiado ditatorialmente pelo Marechal Philippe Pétain, baseado em Vichy, uma pequena cidade, conhecida estação de águas minerais.

Em junho de 1941, quando os alemães romperam o pacto firmado com a União Soviética em 1939 e invadiram seu território, os comunistas franceses tentaram organizar um movimento terrorista. Em uma primeira ação, um oficial alemão foi assassinado a tiros em uma estação do metrô de Paris.

Para evitar represálias por parte das forças de ocupação, que ameaçavam executar sumariamente reféns franceses, escolhidos aleatoriamente. o gover-no de Vichy ofereceu-se para condenar à morte um número determinado de pessoas já presas e condenadas por atos de protesto ou sabotagem e instituiu para isso um tribunal – a Sessão Especial de Justiça, que dá título ao filme.

Será exibida a íntegra da primeira parte do filme que mostra a formação da corte. A versão integral, incluindo a segunda parte, que mostra como transcorreram os próprios julgamentos, está disponível na biblioteca.

O filme suscita questões de extrema relevância sobre as relações entre di-reito e política, direito e ética, exemplificando de forma aguda como as for-mas jurídicas podem ser manipuladas para atender a circunstâncias.

MATERIAL DE APOIO

lei constitucional aprovada pela Parlamento da frança quando do armis-tício com a alemanha em 10 de julho de 1940

A Assembleia Nacional adotou, O Presidente da República promulga a lei constitucional do seguinte teor:

Artigo único:

A Assembleia Nacional dá todo poder ao governo da República, sob autoridade e assinatura do Marechal Pétain, para o efeito de promul-gar por um ou vários atos, uma nova constituição ao Estado Francês.

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23FGV direito rio

Esta constituição deverá garantir os direitos do trabalho da família e da pátria.

Ela será ratificada pela nação e aplicada pelas assembleias que ela tiver criado.

A presente lei constitucional, deliberada e adotada pela Assembleia Na-cional, será executada como lei do Estado.

Feito em Vichy, a 10 de julho de 1940.Albert Lebrun

Pelo Presidente da República, O marechal de França, presidente do conselho, Philippe Pétain

lei de 14/08/1941, que reprime a atividade comunista ou anarquista

Art. 1o – São instituídas junto a cada tribunal militar ou cada tribunal marítimo uma ou mais seções especiais às quais serão submetidas todas as infrações penais, quaisquer que sejam, cometidas com intenção comunista ou anarquista. Nas partes do território onde não houver tribunais milita-res ou marítimos, a competência das seções especiais acima previstas será atribuída a uma seção da corte de apelação que deliberará sem enunciar motivos, pronunciando-se somente sobre a culpabilidade e a pena.

Art. 2o – A seção especial junto a cada tribunal militar ou marítimo será composta:

(…)

A seção especial junto à corte de apelação é composta de um presidente de câmara de dois conselheiros e dois membros do tribunal de primeira ins-tância, designados por ordem do primeiro presidente. (…) Nas seções espe-ciais junto à corte de apelação, o procurador geral designará por portaria os membros do ministério público.

Art. 3o – Os indivíduos detidos em flagrante de infração penal resultante de uma atividade comunista ou anarquista serão trazidos, diretamente e sem instrução prévia, perante a seção especial. Não haverá qualquer prazo entre a citação do acusado perante a seção especial e a reunião desta. Na falta de um defensor escolhido pelo acusado e presente à audiência, o presi-dente da sessão designará imediatamente um defensor de ofício.

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Art. 4o – Não se tratando de caso de prisão em flagrante, o processo será instruído em um prazo de oito dias. Nenhum recurso será admitido contra os despachos proferidos pelo juiz de instrução que apresentará diretamente o caso e o indiciado à seção especial. Em relação aos acusados presentes, esta deliberará no prazo de dois dias a partir da recepção dos autos pelo presidente.

Art. 5o – Se o acusado perante a seção especial não puder ser capturado ou quando, depois de ter sido capturado, se ele tiver se evadido... o presidente da seção especial emitirá uma ordem indicando a infração pela qual o acusado está sendo processado e determinando que ele estará obrigado a se apresentar no prazo de dez dias. (…)

Art. 6o – Se o acusado se reapresenta ou é detido antes que sua pena seja abrangida pela prescrição, o julgamento emitido na sua ausência será anu-lado de pleno direito e ele será pronunciado e julgado na forma prescrita pela presente lei para os acusados presentes.

Art. 7o – Os julgamentos emitidos pela seção especial não são susceptíveis de qualquer recurso ou pedido de revisão; são executáveis imediatamente.

Art. 8o – A seção especial poderá aplicar penas de prisão, com ou sem mul-ta, trabalhos forçados por tempo certo ou perpetuamente, a morte, sem que a pena aplicada possa ser inferior à prevista pela disposição determinada para a qualificação do fato objeto da acusação. (…)

Art. 9o – O Art. 463 do Código Penal e a lei de 26/03 não serão aplicáveis aos indivíduos processados por força da presente lei.

Art. 10 – A ação pública perante a jurisdição prescreve em dez anos a partir da perpetração dos fatos, mesmo se estes forem anteriores à promul-gação da presente lei. Todas as jurisdições de instrução ou de julgamento são declaradas incompetentes de pleno direito com respeito aos fatos e redis-tribuídos à seção especial competente que conhecerá ademais das objeções feitas aos julgamentos à revelia e às prisões por contumácia.

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aula VI— 18 de maIo — turma a— 25 de maIo — turma B

o Julgamento de nuremBerg

Terminada a guerra, as potências vencedoras tiveram que decidir o que fazer com os líderes da Alemanha derrotada. Depois de muitas discussões, mencionadas no filme, ficou decidido instituir um tribunal internacional, perante o qual seriam trazidos figuras proeminentes do regime nazista.

Foram realizados vários julgamentos. O primeiro deles teve como réus os líderes de maior expressão, capturados pelos aliados, entre os quais:

Herman Goering – Segunda pessoa do regime, comandante da força aérea;Rudolf Hess – Vice de Hitler que, no início da guerra, voou para a Ingla-terra para tentar negociar a paz.Joachim von Ribbentrop – Ministro da Relações ExterioresAlbert Speer – Arquiteto. Ministro do Armamento.Alfred Jodl – General, comandante do exército.Hans Frank – Jurista e governador da Polônia ocupadaErnst Kaltenbrunner – Chefe do serviço de segurança

O filme retrata trechos reais do julgamento. A versão editada passa-se in-teiramente na sala do tribunal.

MATERIAL DE APOIO

estatuto do tribunal militar de nuremberg, 08/08/1945. Principais artigos

Art. 1 – De acordo com Acordo assinado neste dia 8 de agosto de 1945 pelo governo dos Estados Unidos da América, o governo Provisório da República Francesa, o governo do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, e o governo das Repúblicas Socialistas Soviéticas, será estabelecido um Tribunal Internacional Militar (doravante chamado “o Tribunal)” para o justo e pron-to julgamento e punição dos principais criminosos de guerra do Eixo Europeu.

Art. 2 – O Tribunal será formado de 4 membros, cada um com um substituto.Cada um dos Signatários apresentará um membro e um substituto.(…)

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Art. 6 – O Tribunal estabelecido pelo Acordo referido no Art. 1 do presentepara o julgamento e punição dos principais criminosos de guerra dos paísesdo Eixo Europeu terá o poder de julgar e de punir pessoas que, agindo no interesse de países do Eixo Europeu, seja como indivíduos seja como mem-bros de organizações, cometeram qualquer dos crimes a seguir indicados. Os seguintes atos, ou qualquer deles, são crimes incluídos na jurisdição doTribunal para cada um dos quais haverá responsabilidade individual:

(a) Crimes contra a paz: a saber, planejamento, preparação, início ou condução de guerra de agressão, ou guerra em viola-ção de tratados, acordos ou garantias internacionais, ou parti-cipação em um Plano Comum ou Conspiração para realizar de qualquer dessas condutas.

(b) Crimes de Guerra: a saber, violações das leis e costumes da guerra. Essas violações incluirão, mas não se limitarão a ho-micídio ou maus tratos de prisioneiros de guerra ou pessoas nos mares, assassinato de reféns, pilhagem de propriedade pública ou particular, destruição cruel de cidades, vilas ou aldeias, ou devastação não justificada por necessidade militar.

(c) Crimes contra a Humanidade: a saber, homicídio, extermi-nação, escravização, deportação, e outros atos desumanos contra qualquer população civil, antes ou durante a guerra, ou perse-guição com bases políticas, raciais, ou religiosas na execução de ou em relação a qualquer crime dentro da jurisdição do Tribu-nal, em violação ou não da lei doméstica do país ou onde o ato foi perpetrado.

Os líderes, organizadores, instigadores ou cúmplices que tenham participado na formulação de um Plano Comum ou Conspiração para cometer qualquer dos crimes acima são responsáveis por to-dos os atos cometidos por qualquer pessoa na execução desse plano.

Art. 7 – A posição oficial dos réus, seja como Chefes de Estado ou funcioná-rios responsáveis em departamentos governamentais, não será considerada como os exonerando de responsabilidades ou atenuando a punição.

Art. 8 – O fato de que o réu agiu de acordo com ordem de seu governo ou de um superior não o exonerará de responsabilidade, mas pode ser considerado uma atenuante da punição, se o Tribunal entender que assim o exige a justiça.(...)

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Art. 12 – O Tribunal elaborará as regras para os seus processos. Essas regras não devem ser inconsistentes com as disposições deste Estatuto.

Art. 16 – A fim de assegurar um julgamento justo para os réus, serão ob-servados os seguintes procedimentos:

(a) A Denúncia incluirá todos os pormenores especificando em detalhe as acusações contra os réus. A cópia da Denúncia e de todos os documentos que a acompanhem, traduzida para um idioma que ele entenda, será fornecida ao réu com tempo razo-ável antes do Julgamento.

(b) Durante qualquer exame ou julgamento preliminar o réu terá direito de dar qualquer explicação relevante às acusações feitas contra ele.

(c) Será feito um exame preliminar do réu e seu julgamento será conduzido em ou traduzido para um idioma que o réu entenda.

(d) O réu terá direito a conduzir sua própria defesa perante o Tribunal ou a ter a assistência de advogado.

(e) O réu terá o direito, por si mesmo ou por seu advogado para apresentar provas no curso do Julgamento em apoio de sua defe-sa, e para examinar qualquer testemunha convocada pela Pro-motoria.

(…)

Art. 18 – O Tribunal:

(a) limitará o julgamento à expedita discussão das questões sus-citadas pelas acusações.

(b) tomará medidas estritas para evitar qualquer ação que possa causar atraso não razoável, e excluirá quaisquer questões ou de-clarações irrelevantes, qualquer que seja sua natureza.

Art. 19 – O Tribunal não ficará subordinado às regras técnicas de prova. Adotará e aplicará na máxima extensão possível um procedimento não técnico e expedito, e aceitará qualquer forma de prova que no seu entendi-mento possuir valor probante.

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28FGV direito rio

Art. 20 – A decisão do Tribunal no que diz respeito à culpa ou inocência de qualquer réu enunciará os motivos nos quais se baseia, e será final não sujeita a revisão.

Art. 27 – O Tribunal terá o direito de condenar qualquer réu à morte ou outra punição determinada por ele como sendo justa.

moção apresentada por todos os advogados de defesano tribunal de nuremberg em 19/11/1945

(…) Está se fazendo uma distinção entre guerras justas e injustas e pede--se que a Comunidade de Nações tome contas do Estado que deflagra uma guerra injusta e negue-lhe, se for o vencedor, os frutos de seu ultraje. Mais do que isso, pede-se não apenas que o Estado culpado seja condenado e sua responsabilidade estabelecida, mas, além disso, que os homens responsáveis por deflagrar uma guerra injusta sejam julgados e condenados por um Tri-bunal Internacional. A esse respeito, está se indo atualmente muito além mesmo do mais estrito dos juristas do início da Idade Média.

Este pensamento está na base das três primeiras acusações da Denúncia que foram apresentadas neste Julgamento, a saber, a Denúncia por Crimes contra a Paz. A Humanidade insiste que esta ideia no futuro seja mais que uma demanda, torne-se lei internacional válida.

Contudo, não é hoje lei internacional válida. Nem no Estatuto da Liga das Nações a organização mundial contra a guerra, nem no Pacto Kellogg--Briand, nem em qualquer dos Tratados assinados depois de 1918 na pri-meira onda de tentativas para proibir guerras de agressão, a ideia foi exposta. Mas, acima de tudo, a prática da Liga das Nações tem sido, até o passado recente, bastante clara a esse respeito. Em várias ocasiões a Liga teve que de-cidir sobre a legalidade ou ilegalidade de uma ação pela força de um membro contra o outro, mas sempre condenou essa ação pela força meramente como uma violação da lei internacional pelo Estado, e nunca pensou em levar a julgamento os estadistas, generais e industriais do estado que recorreu à força.

E quando a nova organização para a paz mundial (as Nações Unidas) foi constituída no verão passado em São Francisco, não se criou nenhum princípio legal pelo qual um tribunal internacional deveria aplicar puni-ções sobre aqueles que tivessem deflagrado uma guerra injusta. O presente Julgamento, portanto, não pode, no que concerne aos Crimes contra a Paz, invocar a lei internacional existente; ao contrário está procedendo de acordo com uma nova lei penal, uma lei penal aprovada apenas depois do crime.

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Isto repugna a um princípio de direito, sagrado ao mundo civilizado, cuja violação parcial pela Alemanha de Hitler foi veementemente censu-rada dentro e fora do Reich. Este princípio estabelece que somente pode ser penalizado quem ofende uma lei em existência na ocasião em que é come-tido o ato sujeito a pena. Esse princípio é um dos princípios fundamentais dos sistemas políticos dos próprios Signatários do Estatuto deste tribunal, a saber, a Inglaterra, desde a Idade Média, os Estados Unidos desde sua criação, a França desde sua grande revolução, e a União Soviética.

(…)

Finalmente, a Defesa considera seu dever apontar aqui uma outra pe-culiaridade deste Tribunal que discrepa dos princípios modernos de direito comumente reconhecidos: os Juízes foram apontados exclusivamente por Estados que tomaram parte nesta guerra.

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aula VII— 8 de Junho — turma a e turma B em ConJunto

a lIsta de sChIndler

O filme retrata a trajetória de Oskar Schindler, um nazista, natural da região dos sudetos, que, no início da guerra mudou-se para uma cidade da Polônia, onde adquiriu e operou uma fábrica de utensílios culinários para fornecer ao exército alemão.

Schindler beneficiou-se da perseguição aos judeus tanto para adquirir a fábrica, quanto para operá-la. Comprou as instalações de um judeu a preço vil, utilizou trabalho escravo de judeus. Corrompendo oficiais nazistas con-seguiu contratos vantajosos.

Com tudo isso, Schindler enriqueceu. Aos poucos, porém, Schindler foi se compadecendo do destino dos ju-

deus. Antes que a cidade onde vivia fosse invadida pelas tropas russas, o comando nazista ordenou que fosse desmontado o campo para onde fora transferida a fábrica de Schindler, sendo os judeus que nela trabalhavam en-viados a campos de extermínio.

Schindler, então, conseguiu convencer o comandante do campo, median-te suborno, a obter a transferência de sua fábrica e de seus funcionários para sua cidade natal na região dos sudetos. Na ocasião, preparou também uma lista que incluía diversos outros internos como funcionários da fábrica, com isso salvando mais de mil vidas.

A discussão sobre o filme não será uma discussão estritamente jurídica, mas moral, não sendo necessário material de apoio.

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gaBrIel laCerdaAdvogado, formado pela Puc – rJ e mestrado pela universidade de Harvard (euA). É sócio aposentado do escritório trench rossi Watanabe, trabalhou em outros escritórios. trabalhou também como advogado interno em algumas empresas, inclusive caemi, brascan, Petrobrás. Foi professor da Puc-rJ, e responsável por cursos na coppe/uFrJ e na FGV onde participou da equipe do ceP. Atualmente conduz a atividade complementar; direito no cinema na Graduação da Fundação Getúlio Vargas. escreveu, os livros direito no cinema, Nazismo cinema e direito, em Segredo de Justiça, eu tenho direito, o estado é Você, Agir bem é bom, entre outros.

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FINANÇAS PÚBLICAS

FGV DIREITO RIO 214

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Sérgio GuerraDIRETOR

Antônio Maristrello PortoVICE-DIRETOR

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO