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Direito de propriedade privada
e liberdade de empresa: o caso
da propriedade das farmácias
Andreia Chora
Sara Garcia
Acórdão do Tribunal Constitucional
nº 187/01 – Reserva da propriedade
de farmácias a titulares de diploma
em farmácia
Provedor de Justiça – fiscalização
sucessiva (art. 281º/2/d)
Objecto:
Lei nº 2125, de 20 de Março de 1965
Base II
2. O alvará apenas poderá ser concedido
a farmacêuticos ou sociedades em
nome colectivo ou por quotas, se todos
os sócios forem farmacêuticos e
enquanto o forem.
Fundamentos:
Restrição do direito de propriedade
privada (art. 62º/1):constitui um
“exclusivo de base corporativa”
Violação do princípio da igualdade (art.
13º):
Tratamento desigual: farmacêuticos e não
farmacêuticos.
Decisão do TC:
Princípio da indivisibilidade entre a
propriedade e a direcção técnica da
farmácia
Evolução histórica
Tradição partilhada pela maioria dos
países da Europa Ocidental
Decisão do TC
Liberdade de escolha de profissão e
liberdade de iniciativa económica
Não são direitos absolutos
Os limites aos limites do art. 18º/2 e 3
Norma deve ser geral e abstracta
Não retroactiva
Não pode afectar o contéudo essencial
do direito fundamental
Núcleo
Restrição deve limitar-se ao necessário para
salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos.
Princ. da proibição do excesso:
• Adequação
• Necessidade
• Princípio da proporcionalidade
Fim visado: protecção da saúde pública
- Esta norma é adequada para esse fim?
- Existe uma alternativa menos gravosa?
- É razoável?
Medicamentos não são mercadorias
comuns a sua manipulação envolve
riscos
Necessidade de assegurar a presença
permanente de um farmacêutico
Situação do farmacêutico enquanto
trabalhador por conta de outrem: fica
sujeito aos poderes disciplinar e de
direcção.
Pode prejudicar a independência do
farmacêutico.
Esta medida visa impedir a formação de
“trusts” farmacêuticos e separar a
activadade farmacêutica da actividade
médica
Votos de Vencido Maria Helena Brito
1) Liberdade de Transmissão de propriedade (art.
62.º CRP)
2) Direito de iniciativa económica (art. 61.ºCRP)
3) Princípio da Igualdade (art. 13.º CRP)
4) Liberdade de escolha da profissão( art. 47.º/1
CRP)
5) Princípio da proporcionalidade (art. 18.º/2
CRP)
Voto de vencido
Guilherme da Fonseca – Voto de
Vencido do Conselheiro Vital Moreira ao
acórdão n.º 76/85
A reserva de propriedade das farmácias
para os farmacêuticos constitui uma
prerrogativa corporativa que viola o
princípio da igualdade, por ser
desnecessária.
A reserva da propriedade da farmácia
não é necessária para:
a) Defender e garantir o interesse da saúde pública e os
interesses dos cidadãos em geral;
b) Defender e garantir a independência profissional do
farmacêutico;
c) Condicionar e controlar o acesso à propriedade de
farmácias;
d) Assegurar a presença do farmacêutico na farmácia.
Para realizar os interesses públicos
relevantes nesta matéria, basta
que:
Cada farmácia tenha obrigatoriamente um
director técnico farmacêutico;
A preparação de fármacos ,manipulados na
farmácia, bem como a venda dos medicamentos,
sejam efectuadas pelo director técnico ou por
colaboradores seus.
Ora, o decreto-lei nº 48/547 dispõe expressamente que
“nenhuma farmácia pode laborar sem farmacêutico
responsável que efectiva e permanentemente assuma e
exerça a direcção técnica” (artigo 83º, nº 1)
“O aviamento de receitas e a venda ou entrega de
medicamentos ou substâncias medicamentosas ao
público são actos a exercer exclusivamente nas
farmácias pelos farmacêuticos ou pelos seus directos
colaboradores, sob inteira responsabilidade dos
primeiros (...)” (artigo 29º).
Independência profissional do
Farmacêutico
• Possibilidade de subordinação jurídica sem
dependência técnica.
• O que prevalece na figura dupla
do proprietário-farmacêutico? É a deontologia
do farmacêutico que prevalece sobre os
interesses mercantis do proprietário ou são
estes que limitam e subvertem aquela?
Comentário Jorge R. Novais
Reserva de propriedade de farmácias a
farmacêuticos vs. propriedade livre com
director técnico farmacêutico.
O TC prescindiu totalmente de qualquer
valoração assente na necessidade da medida
porque as alternativas restritivas disponíveis
tinham diferentes graus de aptidão para atingir
o fim – liberdade de conformação do legislador
A primeira alternativa ,ainda que sendo mais
restritiva, assegurava com mais eficácia os fins
da saúde pública.
O que o TC deveria ter feito era saber se o
ganho de independência do farmacêutico
alcançado pela reserva de propriedade e
coincidência entre proprietário e director
técnico justifica a enorme diferença de
intensidade de restrição da livre iniciativa
económica provocada.
Relatório da UCP – A situação
Concorrencial no Sector das
Farmácias Recomendação 2.1. Caso a instalação de novas farmácias
seja liberalizada, não se justifica manter as actuais restrições
ao trespasse e cessão de exploração da farmácia contidas
nos artigos 70.º e 71.ºdo Decreto-Lei n.º 48547, de 1968.
Recomendação 5. Deve ser eliminada a reserva da
propriedade de farmácia para licenciados em Ciências
Farmacêuticas e obrigatoriedade de que a direcção técnica
da farmácia seja exercida pelo seu proprietário.
a) Existência de outros sectores em que o consumidor
se debate com assimetrias de informação face ao
prestador de serviços, sendo os problemas daí
resultantes resolvidos no quadro de um mercado
regulamentado
b) Bélgica, Holanda, Irlanda, Reino Unido admitem a
propriedade de farmácias por não farmacêuticos, não
se encontrando nenhuma evidência de que daí resulte
qualquer inconveniente
a) Existiam (à data do relatório) em Portugal cerca de
200 farmácias que não pertenciam a farmacêuticos,
algumas das quais há muitas décadas
Regime actual
Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de Agosto
Artigo 14.º
Proprietárias de farmácias
1 - Podem ser proprietárias de farmácias
pessoas singulares ou sociedades comerciais.
Tribunal de Justiça (2009)
“Estados-membros podem decidir o nível
de protecção da saúde pública e exigir
que os medicamentos sejam distribuídos
por farmacêuticos, que gozem de uma
verdadeira independência profissional".
Debate
A Propriedade livre das
farmácias permitiria o acesso a
entidades verdadeiramente
incompatíveis(laboratórios de
produtos farmacêuticos,
médicos, enfermeiros, etc..)?
A quem compete a última
palavra na ponderação dos bens
que há a fazer entre o interesse
de liberdade e o interesse
público pretensamente
justificador da restrição? Ao Juiz
ou ao legislador democrático?