direito das sucessÕesprofessor.pucgoias.edu.br/sitedocente/admin... · web viewautores como...

102
PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – PUCGOIAS CURSO DE DIREITO PROF. ANTÔNIO JOSÉ RESENDE DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS SUCESSÕES 2018 GOIÂNIA – GO DIREITO CIVIL:

Upload: others

Post on 08-Feb-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS – PUCGOIAS

CURSO DE DIREITO

PROF. ANTÔNIO JOSÉ RESENDE

DIREITO CIVIL V – DIREITO DAS SUCESSÕES

2018GOIÂNIA – GO DIREITO CIVIL:

DIREITO DAS SUCESSÕES

Conforme Lei nº 10.406, de 10-01-2002 (Código Civil)

Page 2: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

1

Prof. Me. Antônio José ResendeMestre em Filosofia pela UFMG (1999),

Especialista em Direito Civil e Processo Civil (PROORDEM/ESD), Advogado e Professor na PUCGOIAS, FANAP e ISC.Contatos: (62) 981510162; [email protected]

SUMÁRIO: 1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS SUCESSÕES; 1.1 – Considerações iniciais; 1.2 - Conceito e previsão legal da sucessão mortis causa; 1. 3 – O vocábulo SUCESSÃO; 1.4 – Conteúdo do Direito das Sucessões; 1.5 – Princípio da “SAISINE” (ou direito de “saisine” – “droit de la saisine”).

1 – INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS SUCESSÕES

1.1 – Considerações Iniciais

O objetivo deste texto é apresentar o conteúdo normativo do Direito das Sucessões previsto no ordenamento jurídico pátrio, quanto à sucessão mortis causa.

Este material possui caráter didático e tem como finalidade orientar o estudo e a pesquisa sobre o fundamento jurídico do direito sucessório, visando a sua compreensão para a aplicação prática nos procedimentos da Doação, do Testamento, do Inventário e da Partilha.

São apresentados comentários doutrinários com o objetivo de auxiliar a compreensão dos temas que serão estudados, bem como colocar o aluno em contato com as principais interpretações doutrinárias.

Destacam-se também as principais previsões jurisprudenciais acerca do direito sucessório, necessárias para a compreensão da sua evolução e aplicação na atualidade.

Pretende-se abordar os aspectos principais do tema em comento, com o rigor necessário da atividade acadêmica, porém sabemos que é impossível aprofundá-los nesta abordagem sintética.

Para isto, é necessário o aprofundamento do estudo através da leitura do próprio código e dos comentadores desta área específica do Direito Civil pátrio.

Page 3: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

2

A morte constitui um fato jurídico de grande relevância para o âmbito do direito, uma vez que este acontecimento desencadeia uma série de efeitos que afetam profundamente as relações jurídicas entre os indivíduos.

Há uma finalidade intrínseca na transmissão dos bens do autor da herança para seus herdeiros, para manter o patrimônio no âmbito da família.

Ocorre uma circulação de bens e riquezas que são transmitidos de geração para geração. Fortalece a economia porque forma uma espécie de poupança a ser transmitida aos descendentes.

É evidente que esta noção tem que ser compreendida no contexto da sociedade capitalista e da livre iniciativa.

Sabe-se que historicamente há diversas concepções sobre o direito de herança. Autores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão da herança servia como um desestímulo ao trabalho.

Para Cristiano Chaves de Faria e Nelson Rosenvald (2015), no viés da interpretação constitucional do Direito das Sucessões pode-se falar em função social da sucessão.

Esta noção decorre da própria função social da propriedade, bem como do direito subjetivo à propriedade.

Afirmam Cristiano Chaves de Farias e Nelson Rosenvald (2015: 19) que, “há, pois, uma relevante função social no direito sucessório. Isso porque a transmissão patrimonial de alguém que faleceu gera a conservação das unidades econômicas, em prol da proteção de seu núcleo familiar”.

Enfim, o Direito das Sucessões tem como finalidade regulamentar a transmissão do conjunto de relações jurídicas patrimoniais do falecido para aqueles que deverão sucedê-lo.

Desta forma, não deve haver bens sem titularidade. Por isso, a necessidade da normatização da sucessão no patrimônio deixado pelo falecido.

1.2 - Conceito e previsão legal da sucessão mortis causa

PREVISÃO CONSTITUCIONAL: Direito à herança – art. 5º, XXX e XXXI; Direito de propriedade e a sua função social – art. 5º, XXII e XXIII, art. 170, II e III; Princípio da dignidade da pessoa humana – art. 170, II e III; Construção de uma sociedade justa, livre e fraterna – art. 3º, I, todos da CF/1988.

Page 4: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

3

PREVISÃO LEGAL: O Direito das Sucessões está previsto nos artigos 1.784 a 2.027, do Livro V, da Parte Especial do Código Civil (Lei nº 10.406, de 10-01-2002), portanto em sua última parte.

Arts. 1.784 a 1.828, CC/2002 (Título I – Da Sucessão em geral, Capítulo I – Disposições gerais);

Arts. 1.829 a 1.844, CC/2002 (Título II – Sucessão legítima, Capítulo I – Da Ordem da vocação hereditária);

Arts. 1.845 a 1.856, CC/2002 (Capítulo II – Dos Herdeiros necessários). Arts. 1.857 a 1.990, CC/2002 (Título III – Da Sucessão Testamentária). Arts. 1.991 a 2.027, CC/2002 (Título IV – Do Inventário e da Partilha).

Inventário e Partilha – Os procedimentos normativos encontram-se nos artigos 610 a 667, do Código de Processo Civil (Lei nº 13.105, de 16-3-2015).

Testamento e Codicilo – art. 735 a 737, CPC.

Da Herança Jacente – art. 738 a 745, CPC.

Dos bens do ausente – art. 744/745, CPC.

CONCEITO: Direito das sucessões é o conjunto de normas que disciplina as transferências das relações jurídicas patrimoniais de alguém, depois da sua morte, ao herdeiro em virtude de lei ou de testamento.

Em outros termos, pode-se dizer que são disposições reguladoras da transmissão de bens ou valores e dívidas do falecido, ou seja, a transmissão do ativo e do passivo do de cujus ao herdeiro. O herdeiro insere-se na titularidade de uma relação jurídica advinda do falecido, assume direitos e obrigações do antigo titular.

O falecido é denominado autor da herança ou de cujus. Esta expressão latina é a abreviatura da frase “de cujus sucessione (ou hereditatis) agitur” – aquele de cuja sucessão (ou herança) se trata.

HERANCA – É o patrimônio do de cujus, ou seja, o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem aos herdeiros. É o conjunto de direitos e obrigações que se transmitem, em razão da morte, a uma pessoa ou a um conjunto de pessoas, que sobrevivam ao falecido. Somatório em que se incluem os bens e as dívidas, os créditos e os débitos, os direitos e as obrigações, as pretensões e as ações de que era titular o falecido, e as que contra eles foram propostas, desde que transmissíveis. Direitos personalíssimos (intuitu personae) não são transmissíveis.

ESPÓLIO – o acervo hereditário recebe o nome de espólio. Trata-se de massa patrimonial administrada e representada pelo inventariante. Constitui-se em uma universalidade de bens de existência transitória.

Não tem personalidade jurídica, mas tem capacidade jurídica para demandar e ser demandado (art. 75, VII, CPC). É ente despersonalizado, em sentido jurídico.

SUCESSÃO – direito subjetivo à sucessão, de titularizar bens de quem morreu.

Page 5: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

4

1. 3 – O vocábulo SUCESSÃO

Do latim succedere, traduz a ideia de alguém que assume o lugar de outra pessoa, passando a responder pelos seus bens, direitos e obrigações.

Sucessão é o ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra substituindo-a na titularidade de determinados bens, direitos e obrigações.

A palavra sucessão, na acepção jurídica, apresenta dois sentidos:

em sentido amplo : ato pelo qual uma pessoa assume o lugar de outra, substituindo-a na titularidade de determinados bens e direitos. Ato pelo qual alguém sucede a outrem, investindo-se no todo ou em parte nos direitos que lhe pertenciam.

Trata-se da sucessão inter vivos. Ex: Numa compra e venda, o comprador sucede ao vendedor; numa doação, o donatário sucede ao doador. Isto ocorre em todos os modos derivados de adquirir o domínio ou o direito. Não se verifica apenas no direito das obrigações, ocorre também no direito das coisas (Ex: acessio possessionis), e ate no direito de família, quando os pais decaem do poder familiar e são substituídos pelo tutor nomeado pelo juiz.

em sentido estrito : a palavra é usada para designar a sucessão decorrente da morte de alguém. Designa a transferência parcial ou total de herança a um ou mais herdeiros. É a sucessão causa mortis ou mortis causa.

No sentido objetivo é o conjunto de leis que regulamentam o conjunto de direitos e obrigações patrimoniais de uma pessoa depois da sua morte; em sentido subjetivo, é o direito de suceder.

A sucessão é também denominada delação ou devolução necessária.

1.4 – Conteúdo do Direito das Sucessões

Secessão em geral – são as regras gerais sucessórias, que se aplicam a toda e qualquer sucessão. São regras universais de sucessão, aplicáveis tanto à sucessão legal ou legítima quanto à sucessão testamentária (art. 1.784 a 1.828, CC).

Sucessão legítima – é aquela que se opera por força da lei. É a sucessão do cônjuge/companheiro, filhos, pais, irmãos etc. (art. 1.829 a 1.856, CC).

Sucessão testamentária – é estabelecida de acordo com a vontade do autor da herança (art. 1.857 a 1.990, CC).

Inventário e Partilha – são as regras processuais sucessórias, que são estudadas de forma mais detida em Direito Processual Civil (art. 1.991 a 2.027, CC; art. 610 a 667, CPC).

Page 6: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

5

1.5 – Princípio da “SAISINE” (ou direito de “saisine” – “droit de la saisine”)

O princípio da “saisine” é um instituto do Direito das Sucessões, previsto no artigo 1.784 do Código Civil, consistente em uma ficção jurídica que proporciona aos herdeiros a posse indireta do patrimônio deixado causa mortis pelo falecido.

Determina que no momento da morte do autor da herança, o de cujus, transmite-se o domínio e a posse dos bens da herança aos herdeiros, independentemente de quaisquer formalidades.

- Art. 1784 do CC: Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.

- Surgiu na Idade Média e foi instituído pelo direito costumeiro francês.

- A expressão “saisine” deriva do vocábulo latino sacire, que significa “apropriar - se”, “se imitir na posse”, “por para dentro”.

- Instituído na França desde o século XIII, determina que a propriedade e a posse da herança passem aos herdeiros com a morte do autor da herança (de cujus).

- O próprio falecido transmite ao sucessor o domínio e a posse da herança ( le mort saisit le vif). Isto ocorre por efeito direto da lei.

- Embora a morte não se confunda com a transmissão da herança, já que a morte é pressuposto para a transmissão da herança, a lei, por uma ficção jurídica, torna-as coincidentes em termos cronológicos, presumindo que o próprio falecido investiu seus herdeiros no domínio e na posse indireta de seu patrimônio, porque o patrimônio não pode ficar sem titular.

- Por força desse princípio, no mesmo instante em que acontece a morte, abre-se a sucessão e transmite-se a herança aos herdeiros legítimos e testamentários, ainda que ignorem o fato da morte.

- Não há direito subjetivo sem titular, por isso os bens não podem ficar sem donos.

1. 5.1 - Consequências:

Deste princípio decorrem varias consequências, dentre elas podemos destacar:

- Fixação da norma legal que disciplinará a sucessão. A legitimação para suceder é regulada pela lei vigente ao tempo da abertura da sucessão (art. 1.787, CC). Direito intertemporal.

Ex. morte antes da CF/1988 - o filho adotado nada herda se concorre com filhos consanguíneos do adotante, mesmo que o inventário seja feito apos a CF/1988.

- Verificação da capacidade para suceder.

Page 7: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

6

- O herdeiro que sobrevive ao de cujus, mesmo que por um instante, herda os bens deixados e os transmite aos seus sucessores, se falecer em seguida.

- é na ocasião da transmissão da herança (ou seja, no momento da morte) que se deve verificar o valor dos bens que compõem o acervo hereditário, de forma a determinar o monte partilhável e o valor do imposto de transmissão causa mortis.

- Cálculo da legítima.

- Súmula 112 (STF): O imposto de transmissão causa mortis é devido pela alíquota vigente ao tempo da abertura da sucessão. (DJE de 13.12.1963).

Ver artigos:

CC, art. 1.784 – Para a sucessão aplica-se a Lei do tempo da morte do autor da herança.

CC, art. 1.206 e 1.207 – Transmissão da posse aos herdeiros legítimos, testamentários e legatários.

Art. 613, CPC – “Até que o inventariante preste o compromisso, continuará o espólio na posse do administrador provisório”.

Administrador provisório e Inventariante = posse direta; Herdeiros = posse indireta (art. 1.197, CC).

Art. 10, da Lei nº 4.657/1942 (LINDB).

OBSERVAÇÃO 1: DIFERENÇA ENTRE MEAÇÃO E HERANÇA:

Vale lembrar que os institutos da meação e da sucessão se diferenciam.

MEAÇÃO – A meação decorre do Direito de Família e se refere à divisão dos bens comuns, dependendo do regime de bens adotado no casamento.

HERANÇA – Por outro lado, a sucessão ocorre sobre os bens deixados pelo falecido, sendo deferida a transmissão causa mortis. Assim, excluída a meação há o patrimônio do falecido, que é a herança a ser dividida legalmente entre os herdeiros.

OBSERVAÇÃO 2: Custas processuais e o imposto (ITCD – Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doação) devem ser calculados sobre a herança e não da meação.

Exclui a meação, para calcular custas e tributo sobre a herança.

SUMÁRIO: 2 – DA SUCESSÃO EM GERAL; 2.1 – Espécies de Sucessão; 2.2 – Espécies de Sucessores; 2.3 – Lugar de Abertura da Sucessão; 2.4 – Da Herança e sua Administração; a) Indivisibilidade e unidade da herança; b) Administração provisória da herança; c) Responsabilidade dos herdeiros; d) Cessão de direitos hereditários; e) Direito de preferência do co-herdeiro; 2.5 – Abertura do Inventário; 2.6 – Legitimação para suceder; 2.6.1 – Legitimação para suceder por testamento; 2.6.2 – Não podem ser nomeados herdeiros testamentários nem legatários (art. 1.801, CC); 2.7 – Aceitação da Herança; a) Conceito; b) Espécies de aceitação; c) Características da aceitação; d) Irretratabilidade da aceitação (art. 1812,

Page 8: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

7

CC); 2.8 – Renúncia da Herança; a) Conceito; b) Forma; 2.8.1 – Espécies de Renúncia; a) Abdicativa ou renúncia propriamente dita (renúncia própria); b) Renúncia Translativa ou imprópria; 2.8.2 – Restrições legais ao direito de renunciar; 2.8.3 – Efeitos da Renúncia; 2.8.4 – Ineficácia e Invalidade da Renúncia; 2.8.5 – Irretratabilidade da Renúncia; 2.9 – Excluídos da Sucessão; 2.9.1 – Exclusão por INDIGNIDADE – é uma sanção civil que acarreta a perda do direito sucessório (art. 1.814 – 1.818, CC); a) Pressupostos para exclusão por indignidade; b) Causas de exclusão por indignidade; c) Procedimento para exclusão do indigno da herança; d) Efeitos da indignidade; e) Reabilitação ou perdão do indigno (art. 1.818, CC); 2.9.2 – Excluídos da sucessão por DESERDAÇÃO (art. 1.961 – 1.965, CC); 2.9.10 - Validade dos atos praticados pelo herdeiro aparente; 2.10 – HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE; a) HERANÇA JACENTE; b) HERANÇA VACANTE; 2.11 – DA SUCESSÃO DO AUSENTE.

2 – DA SUCESSÃO EM GERAL

A morte completa o ciclo vital da pessoa humana, e, juridicamente extingue a sua personalidade. Ocorre, para os efeitos legais, o fim da existência da pessoa natural.

O art. 6º, do Código Civil, dispõe: “A existência da pessoa natural termina com a morte”.

- Exige-se a prova da morte real, mediante apresentação da certidão de óbito. Cabe ao médico atestar o óbito, indicar a data e a hora em que ocorreu. É o registro do óbito que prova a morte (art. 9º, I, CC).

- A morte e o fato que transforma a mera expectativa do herdeiro em direito.

- Não há que se falar em herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a abertura da sucessão do ausente, presumindo-lhe a morte.

O estudo doutrinário e a normatização sobre o término da pessoa natural (personalidade civil) concebem a morte sob três aspectos:

a) Morte real. O término da pessoa natural ocorre com a morte – art. 6º do CC/2002. Nesse caso, quando há o corpo (cadáver) para que seja examinado e emitido o atestado de óbito.

b) Morte civil: Código Comercial, art. 157, que trata de extinção do mandato mercantil (Artigo revogado, conforme art. 2.045 do CC/2002); art. 1.816 do CC/2002 (A pessoa excluída da sucessão (deserdação), no inventário, é considerada como se morta fosse. No entanto, essa sanção não atinge os seus herdeiros, isto é, os filhos do herdeiro excluído recebem a herança que lhe seria devida).

OBSERVAÇÃO: Essa terminologia da morte civil não é mais utilizada no nosso Direito atual.

Page 9: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

8

c) Morte presumida: art. 6º e art. 7º do CC/2002. Que ocorre de duas formas:

Morte presumida sem a decretação de ausência (procedimento): o Código Civil prevê hipóteses em que não há certeza da morte (presença do corpo e atestado de óbito), mas sim uma probabilidade muito alta de ela ter ocorrido. Previsto no art. 7º, I, do CC/2002. São casos, por exemplo, de incêndio, inundação, terremoto, queda de avião, situações em que o corpo da pessoa não é encontrado. Também se aplica aos militares que não retornam de guerra após dois anos do seu término (art. 7º, II do CC/2002).

Para esses casos há o procedimento de justificação de óbito (art. 88 da Lei nº 6.015/1973 e art. 861 do CPC). Após a justificação e registro, a família já está habilitada a fazer o inventário para transferência da propriedade aos herdeiros legítimos e testamentários. Na hipótese de retorno do presumivelmente morto, pode-se aplicar por analogia o art. 39 do CC/2002, que versa sobre hipótese parecida, mas no procedimento de ausência.

Critério utilizado para a declaração de morte presumida: somente “depois de esgotadas as buscas e averiguações” – parágrafo único, do art. 7º do CC/2002.

Ausência (morte presumida com decretação de ausência): A ausência como presunção de morte e a sua declaração judicial. Destina-se a transferir de modo lento e gradual o patrimônio de alguém que simplesmente desapareceu, sem que um acidente trágico ou uma guerra tivesse dado causa ao sumiço. A pessoa simplesmente deixa seu domicílio sem notícias e sem procurador (art. 22 do CC/2002). Nestes casos, a probabilidade de morte não é tão alta quanto na morte presumida, e por isso a lei estabelece um procedimento específico, abaixo explicitado.

- Pressupostos da ausência: ver arts. 22 a 29 do CC/2002.

FÁTICO: desaparecimento da pessoa – art. 22 do CC/2002;

JURÍDICO: Sentença declaratória de ausência – art. 9º, IV do CC/2002.

OBS. A Declaração de ausência deverá ser registrada no Cartório de Registros Civis, para que tenha validade – arts. 77 a 88 da lei 6.015 de 1973 (Lei de Registros Públicos).

COMORIÊNCIA E SUCESSÃO

O art. 8º, do Código Civil, trata do instituto da comoriência, que também tem efeitos para o direito sucessório. Senão vejamos.

Comoriência: a lei estabelece presunção de morte simultânea para os casos em que não se puder provar a ordem (tempo) de falecimentos, o que é comum em acidentes de trânsito, desastres aéreos e naufrágios. Tal presunção é denominada comoriência (art. 8º do CC/2002) e tem importantes repercussões no campo do

Page 10: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

9

direito de sucessão, principalmente se os falecidos forem casados, mas só tem lugar na hipótese de ser impossível identificar quem faleceu primeiro.

O exemplo seguinte mostra como ocorrem determinadas implicações da comoriência no direito sucessório.

Imagine que Antonio é casado, em segundas núpcias, pelo regime de comunhão universal de bens, com Benedita e tem, do primeiro casamento, um filho, Carlos. Considere, ademais, que a mãe de Benedita, Darcy, é viva. Para simplificar, essas pessoas não têm nenhum outro descendente ou ascendente vivo. Pois bem, falecendo Antonio antes de Benedita, metade dos bens do casal caberá a ela em razão do regime de bens do casamento, e a outra metade será transmitida por sucessão aos herdeiros dele. No caso, como o falecido deixou um filho, é ele que passará a titularizar os bens transmitidos pela morte de Antonio. Em conseqüência, do patrimônio originalmente em nome do casal, Benedita ficará com 50%, correspondente à sua meação, e Carlos, com os restantes 50%. Vindo Benedita a falecer em seguida, todo o seu patrimônio será transmitido à única herdeira, sua mãe Darcy.

Veja como se alteram os direitos sucessórios, caso Benedita morra antes de Antonio. Se assim for, metade dos bens do casal caberá a Antonio, em razão do regime do casamento, e a outra metade será transmitida por sucessão aos herdeiros de Benedita. Como a falecida não deixou descendentes, a mãe e o cônjuge viúvo são herdeiros concorrentes. Cada um ficará com metade dos bens transmitidos pela morte de Benedita. Desse modo, do patrimônio originalmente em nome do casal, Antonio ficará com 75% (50% de sua meação e mais 25% como herança) e Darcy, com 25%. Vindo a morrer, depois, Antonio, todo o seu patrimônio será transmitido ao único herdeiro, o filho Carlos.

[...] E se Antonio e Benedita falecerem ao mesmo tempo? Estavam, admita-se, viajando de avião, e o aparelho caiu provocando a morte de todos os seus ocupantes. Nesse caso, Antonio deixa a metade que lhe cabe no patrimônio do casal para o seu único herdeiro, o filho Carlos; e Benedita deixa a sua metade para sua única herdeira, a mãe Darcy.1

2.1 – Espécies de Sucessão

O art. 1.786, do Código Civil, prevê – “a sucessão dá-se por lei ou ato de última vontade”.

1 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: parte geral. v. 1. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 230-231. Grifos do autor.

Page 11: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

10

Quanto à fonte, a sucessão pode ser:

a) Sucessão Legítima ou ab intestato – ocorre em virtude da lei, de acordo com a ordem da vocação hereditária, presumindo a vontade do autor da herança.

*Art. 1.788, CC – pessoa que morre sem testamento, a herança é transmitida aos herdeiros legítimos indicados na lei (art. 1.829, CC), de acordo com uma ordem de preferência (ordem de vocação hereditária).

Representa a vontade presumida do falecido de transmitir seu patrimônio às pessoas indicadas na lei, porque se quisesse de outra forma teria deixado testamento.

*Art. 1.788, CC, segunda parte – a sucessão pode ser ao mesmo tempo legítima e testamentária - quando o testamento não abrange todos os bens do de cujus, os não incluídos passam aos herdeiros legítimos.

* Art. 1.788, CC, parte final – se o testamento caducar ou for julgado nulo, a sucessão será legítima. Ex. falta dos bens deixados, revogação do testamento.

A sucessão legítima ocorre, portanto, quando:

Não há testamento/Inexistência de testamento; Testamento caducar (CC, art. 1.939 e 1.940) ou for considerado nulo (CC, art.

1.788; art. 1.863, CC). Herança vacante, isto é, sem herdeiros, vai para o Município, DF ou União –

art. 1.822, CC.

b) Sucessão Testamentária – dá-se por disposição de última vontade do autor da herança, expressa em testamento, legado ou codicilo. Estes são mecanismos ou meios necessários para o exercício da autonomia privada do autor da herança.

ATENÇÃO! Ler o art. 1.789, CC.

Testamento: Quando o autor da herança dispõe da uma porcentagem do seu patrimônio para uma ou mais pessoas. Ex. O autor da herança deixa um testamento dispondo de 0,5% do seu patrimônio para uma determinada pessoa.

Este é um herdeiro testamentário, que recebe a título universal.

Legado: Ocorre quando o autor da herança dispõe de um bem determinado (especificado/individualizado) para uma determinada pessoa.

Este é um herdeiro legatário, que recebe a título singular.

Codicilo: ato de última vontade para disposições de pequeno valor. Ex. pessoa dispõe em um documento assinado sobre como quer o seu enterro, ou para quem quer dar as suas joias, relógio, suas roupas etc.

ATENÇÃO! Art. 1.846, CC – Havendo herdeiros necessários – herança dividida em duas partes: porção disponível e legítima (assegurada aos herdeiros necessários).

Page 12: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

11

Isto significa que a pessoa que tem herdeiros necessários (descendentes, ascendentes e o cônjuge – art. 1.789, 1.846 e 1.845, CC), somente pode dispor em testamento da metade dos seus bens (parte disponível), a outra metade é a legítima, destinada aos herdeiros necessários, conforme a ordem da vocação hereditária.

Não havendo herdeiros necessários, a liberdade de testar é plena. Neste caso, o testador pode afastar da sua sucessão os herdeiros colaterais (parentes na linha colateral até o 4º grau) e a companheira/companheiro (art. 1.850, CC).

Quanto aos efeitos a sucessão pode ser:

a) Sucessão a título universal – o herdeiro sucede na totalidade, fração ou porcentagem da herança.

Pode ocorrer na sucessão legitima e na testamentaria.

Ex. O pai morre e deixa um carro, uma casa e um terreno, os herdeiros são chamados a suceder em todos os bens, ou em frações ou partes ideais da herança e não sobre determinados bens. Ou o pai morre e deixa testamento, os herdeiros são chamados a suceder na parte que lhes cabe.

A sucessão hereditária (mortis causa) consiste na sucessão a título universal, ou seja, transmite-se uma universalidade de bens (CC, art. 1.791).

b) Sucessão a título singular – quando o testador deixa um bem certo e determinado (legado) ao beneficiário (legatário). Legatário não é o mesmo que herdeiro. Não representa o falecido e não responde pelas dívidas e encargos da herança.

Legatário adquire a propriedade:

- Bens fungíveis – só na partilha.

- Bens infungíveis – desde a abertura da sucessão.

Legatário adquire a posse:

- tanto dos bens fungíveis ou infungíveis pode requerer aos herdeiros, mas estes só são obrigados a entregar após a partilha.

OBS. 1: A sucessão legítima é sempre a titulo universal porque transfere aos herdeiros a totalidade ou fração ideal do patrimônio do de cujus. A sucessão testamentária pode ser a título universal ou a título singular, conforme a vontade do testador.

VEDAÇÃO LEGAL DO PACTO SUCESSÓRIO:

OBS. 2: De forma expressa a lei proíbe pacto sucessório: a herança de pessoa viva não pode ser objeto de contrato (art. 426, CC). Qualquer avença que afronte essa vedação legal é nula (art. 166,VI, CC).

Page 13: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

12

ATENÇÃO! A sucessão inter vivos, na alienação ou na doação, também é realizada a título singular (individual), ou seja, ocorre com a transmissão de um bem singular (determinado).

2.2 – Espécies de Sucessores

Quanto à espécie os herdeiros podem ser:

a) Herdeiro legítimo – é o herdeiro indicado pela lei em ordem preferencial (art. 1829, CC): descendente, ascendente, cônjuge, companheiro e parentes colaterais até o 4º grau.

b) Herdeiro Testamentário (ou instituído) – é o beneficiado pelo testador em ato de última vontade, com uma parte ideal do acervo hereditário, sem individuação de bens.

c) Herdeiro Necessário (legitimário ou reservatário) – é o descendente ou ascendente sucessível (são os parentes em linha reta não excluídos da sucessão) e o cônjuge (art. 1.845, CC).

d) Herdeiro Universal – herdeiro único. Recebe a totalidade de herança. Recebe os bens mediante auto de adjudicação lavrado no Inventário.

e) Legatário – sucessor contemplado em ato de última vontade do de cujus (por meio de testamento ou codicilo) com bem certo e determinado. Recebe a título singular.

Herdeiros legítimos e necessários – art. 1.845 e art. 1.829, CC:

Herdeiros legítimos, porém não necessários – art. 1.829, IV, e art. 1.790, CC:

- descendente

- ascendente

- cônjuge

- Parentes colaterais até o 4º grau

- Companheiro/Companheira

Page 14: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

13

PARA LEMBRAR!

Havendo herdeiros necessários, o testador só poderá dispor da metade da herança – art. 1.789 e art. 1.846, CC.

Os herdeiros legítimos são aqueles previstos pela lei que receberão a herança em conformidade com a ordem da vocação hereditária (art. 1.829, CC). São herdeiros legítimos: descendentes, ascendentes, cônjuge, companheiro/companheira e parentes colaterais até o 4º grau.

Os herdeiros necessários são: os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.Estes não podem ser afastados da herança por meio de testamento. A eles está reservada a metade da herança (50%), que constitui a legítima (art. 1.846, art. 1.789, CC).

Os herdeiros legítimos que não são necessários, ou seja, os parentes colaterais até o 4º grau e o companheiro/companheira, podem ser excluídos da sucessão, se o autor da herança fizer testamento dispondo do seu patrimônio para outras pessoas (art. 1.850, CC).

2.3 – Lugar de Abertura da Sucessão

O art. 1785, do Código Civil normatiza que “a sucessão abre-se no último domicílio do falecido”.

O Código de Processo Civil trata do local da abertura da sucessão no art. 48, in verbis:

Art. 48. O foro de domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade, a impugnação ou anulação de partilha extrajudicial e para todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. (Grifo nosso).

Parágrafo único. Se o autor da herança não possuía domicílio certo, é competente:

I - o foro de situação dos bens imóveis;

II - havendo bens imóveis em foros diferentes, qualquer destes;

III - não havendo bens imóveis, o foro do local de qualquer dos bens do espólio.

Art. 49. A ação em que o ausente for réu será proposta no foro de seu último domicílio, também competente para a arrecadação, o inventário, a partilha e o cumprimento de disposições testamentárias.

Esse é o foro competente para o processamento do inventário, mesmo que o óbito tenha ocorrido em outro local (até no exterior) e mesmo que haja bens em outros lugares.

Ver arts. 70 e 71, do Código Civil – Conceito e relatividade de domicílio.

Page 15: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

14

Ver art. 76, do Código Civil – Domicílio necessário ou legal.

Ver art. 611, CPC – Abertura do Inventário.

Pergunta-se, há distinção entre a abertura da sucessão e a abertura do Inventário?

OBSERVAÇÕES:

Predomina o entendimento jurisprudencial que aberto o Inventário em qualquer outro juízo, a incompetência é relativa – prorrogável ante o silêncio dos interessados, não pode ser reconhecida de ofício pelo juiz.

A lei estabelece a competência da autoridade judiciária brasileira para o inventário dos bens aqui situados (Art. 10, da Lei nº 4.657/1942 - LINDB).

Mesmo se o morto fosse estrangeiro e tivesse domicílio fora do país, o fato de ter bens aqui firma a competência da justiça brasileira (art. 48, CPC).

Se o falecido deixa bens fora do Brasil, o foro competente para o inventário é o do país onde se situam os bens.

O juízo do inventário atrai as ações que lhe sejam relativas (art. 48, caput, CPC).

2.4 – Da Herança e sua Administração

a) Indivisibilidade e unidade da herança

A Herança é uma universalidade indivisível, é um todo unitário.

Art. 1.791, CC – a herança defere-se como um todo unitário, ainda que haja vários herdeiros. Ver art. 91, CC – universalidade de direito.

Existindo um herdeiro ou vários herdeiros, a herança será sempre uma, ou seja, una.

Art. 1.791, parágrafo único, CC – Forma-se um condomínio entre os herdeiros. Condomínio eventual ou pro-indiviso. É uma espécie de condomínio necessário ou legal.

Até a partilha, os direitos dos herdeiros são regidos pelas normas relativas ao condomínio (art. 1.314 a 1.326, do CC). Cada um dos herdeiros tem os mesmos direitos e deveres em relação ao todo.

Page 16: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

15

Antes da partilha nenhum herdeiro tem a posse ou a propriedade exclusiva sobre um bem certo e determinado. Só a partilha individualiza os bens que cabem a cada herdeiro e lhes atribui os quinhões de cada sucessor.

A indivisibilidade nasce no momento da abertura da sucessão. A herança constitui um núcleo unitário. Não é suscetível de divisão em partes materiais enquanto permanecer como herança.

O herdeiro pode alienar ou ceder sua quota ideal, antes da partilha (direito a sucessão aberta) – art. 80, II, e art. 1.793, CC. Considera-se, para efeito sucessório, que durante o Inventário todos os bens são imóveis, mesmo para os que são móveis. Faz-se uma escritura pública de cessão de direitos hereditários.

Arts. 1793 a 1795, CC – há direito de preferência dos co-herdeiros (art. 1.794, CC), somente se estes não quiserem adquirir, pode-se alienar a terceiro.

Ver art. 504, do Código Civil.

Art. 1.795, CC – prazo para requerer: 180 dias.

O co-herdeiro que não for informado sobre a cessão ou não concordar com ela pode depositar o preço em juízo e receber a cota cedida a estranho – direito de preferência (regras relativas ao condomínio).

OBS. 1: Cada um dos herdeiros tem os mesmos direitos e deveres em relação ao todo.

A indivisibilidade diz respeito ao domínio e a posse dos bens hereditários, desde a abertura da sucessão ate a partilha.

OBS. 2: É ineficaz a cessão de direitos hereditários sobre qualquer bem da herança considerado singularmente.

OBS. 3: Art. 2.013, e segs., CC – co-herdeiro pode pedir partilha.

b) Administração provisória da herança

O art. 1.797, do Código Civil, prevê a hipótese da administração provisória da herança.

Desta forma, até que o inventário seja instaurado e nomeado inventariante e que este preste compromisso, o espólio continua na posse do administrador provisório (art. 613 e art. 614, CPC).

A administração provisória da herança, até o compromisso do inventariante, cabe, sucessivamente (CC, art. 1.797):

I) ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura da sucessão;

II) ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens e, se houver mais de um nessas condições, ao mais velho;

Page 17: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

16

III) ao testamenteiro;

IV) a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao conhecimento do juiz.

OBS: Na prática, somente em heranças de grande monta ou quando ha dificuldades para nomear-se um inventariante, e que surge a figura do administrador provisório.

c) Responsabilidade dos herdeiros

CC, art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se houver inventário que a escuse, demostrando o valor dos bens herdados.

- A responsabilidade dos herdeiros no âmbito do inventário para o pagamento das dívidas limita-se ao valor do patrimônio deixado pelo falecido.

- Direito romano – o herdeiro respondia pelas dívidas do de cujus de forma ilimitada e absoluta. O seu patrimônio se confundia com o do falecido, o que podia prejudica-lo e prejudicar seus próprios credores.

Para evitar este inconveniente, após um tempo, permitiu-se a aceitação da herança livre das dívidas.

Finalmente, Justiniano em 531 disciplinou a aceitação da herança sob benefício do inventário, onde o herdeiro só aceitava a herança se, após o inventário, se verificasse que o ativo superava o passivo.

- No Brasil, o CC/1916 tornou regra geral a aceitação da herança sob benefício do inventário impondo que as responsabilidades dos herdeiros nunca ultrapassariam as forças da herança. Tal determinação foi reproduzida no art. 1792 do CC/02. (Pode-se dizer que no nosso ordenamento, a aceitação da herança é sempre a benefício do inventário).

- Assim, se o passivo for maior que o ativo, a situação é de insolvência civil – instaura-se procedimento de declaração de insolvência (CPC/1973, arts. 748 e 991, VIII; CPC/2015, art. 1.052), incumbindo ao inventariante requerê-la – concurso de credores, regendo-se as preferências e privilégios creditórios pelas regras próprias.

- O herdeiro deve fazer o inventário para provar as forças da herança para os credores. Na ausência de inventário ou com um inventário lacunoso, o herdeiro deve usar outros meios de prova para evidenciar o “excesso” (existência de débito além das forças da herança).

- No inventario é feito um levantamento do patrimônio do falecido, relacionando-se os bens, créditos e débitos. As dívidas são da herança, que responde por elas (art. 1.997, CC). Só serão partilhados os bens e valores que restarem depois do pagamento das dívidas.

Page 18: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

17

d) Cessão de direitos hereditários

Os direitos patrimoniais têm como característica própria serem transmissíveis – transmissibilidade.

O direito a sucessão aberta, como qualquer direito patrimonial de conteúdo econômico, pode ser comercializado. Se não houver nenhuma cláusula de inalienabilidade (art. 1.848, CC) imposta aos bens deixados pelo de cujus, o herdeiro pode promover a transferência de seus direitos ou quinhão por meio de cessão.

Não pode fazer isso depois de julgada a partilha.

Cessão da herança ou cessão de direitos hereditários – transferência que o herdeiro, legítimo ou testamentário, faz a outrem de todo quinhão ou de parte dele, que lhe compete apos a abertura da sucessão - negocio jurídico translativo inter vivos. Só pode ser celebrado apos a abertura da sucessão.

- Arts. 1793 a 1795 – regras específicas sobre a cessão dos direitos hereditários.

- Direito a sucessão aberta – bem imóvel – ainda que todos os bens deixados sejam móveis (art. 80, II, CC).

- Como o direito a sucessão aberta considera-se bem imóvel, o negócio jurídico exige escritura pública e outorga uxoria ou marital, como condição de validade do negócio.

- O que se considera imóvel não é o direito aos bens componentes da herança, mas o direito a herança, como uma unidade abstrata.

- O cessionário adquire a título universal, porque recebe uma cota-parte do patrimônio.

- Pode ser gratuita (assemelhando-se a uma doação) ou onerosa (assemelhando-se a uma compra e venda).

O cedente garante a existência do direito cedido, não a sua extensão ou quantidade de bens, correndo o cessionário o risco da herança ser mais ou menos absorvida pelas dívidas. O cessionário assume o lugar e a posição jurídica do cedente (mas não assume a qualidade de herdeiro, que e pessoal e intransferível), fincando sub-rogado em todos os direitos e obrigações, como se fosse o próprio herdeiro, recebendo, na partilha, o que o herdeiro cedente haveria de receber.

O co-herdeiro pode ceder quota-parte ou parcela de quota-parte da herança, mas nunca um ou mais bens determinados – Isso decorre da Indivisibilidade da herança e da incerteza relativa aos bens que tocarão a cada co-herdeiro por ocasião da partilha.

- Se o cedente discriminar as coisas que pretende alienar, a alienação será ineficaz perante os outros co-herdeiros (art. 1.793, § 2º, CC). Nada impede que o cedente especifique um bem como integrante de sua quota-parte, mas isso não obriga os demais herdeiros – se estes concordarem com a cláusula inserida no instrumento de cessão, podem acordar que o bem especificado faça parte da quota que caberia ao cessionário, mas não estão obrigados a fazê-lo.

Page 19: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

18

OBS: Ler o art. 1.793, §1º, CC.

- A cessão abrange os direitos hereditários havidos até a data da realização da cessão. Se depois dela, houver em favor do cedente substituição (ele ser indicado no lugar de herdeiro ou legatário que não aceitar ou não puder aceitar a herança) ou direito de acrescer (ex. renúncia de co-herdeiro), os direitos resultantes presumem-se não abrangidos no ato de alienação do quinhão hereditário.

e) Direito de preferência do co-herdeiro

Sendo o direito a posse e propriedade da herança indivisível, aplicando-se as normas relativas ao condomínio (art. 1.791, CC) o co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa estranha a sucessão se outro herdeiro a quiser, tanto por tanto (art. 1.794, CC; art. 1.795, CC).

Repete a regra do art. 504, caput, do CC – relativa ao condomínio.

- O co-herdeiro preterido pode exercer seu direito de preferência ou prelação, pela ação de preempção, ajuizada no prazo decadencial de 180 dias, contados da data em que teve ciência da alienação, e na qual efetuara o depósito do preço pago, havendo para si a parte vendida a terceiro.

- Qualquer impugnação a cessão, que não puder ser decidida de plano pelo juiz, as partes devem recorrer às vias ordinárias, ficando reservada a quota da herança sub judice.

- A preferência só pode ser exercida nas cessões onerosas, como se depreende da expressão “tanto por tanto”. Se é feita gratuitamente não há direito do co-herdeiro, assim como se é feita a outro co-herdeiro que, logicamente, não é pessoa estranha a sucessão.

2.5 – Abertura do Inventário

O art. 1.796, do Código Civil, prevê que o Inventário deverá ser instaurado no prazo de 30 dias, a contar da abertura da sucessão, ou seja, do dia da morte do autor da herança.

Page 20: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

19

O atual Código de Processo Civil alterou esse prazo, que é diferente daquele estabelecido na codificação civil.

Art. 611. O processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte. (CPC/2015).

O art. 983 do CPC de 1973, com redação dada pela Lei nº 11.441/2007 previa o prazo de 60 dias para abertura do inventario, e que o mesmo deveria ser finalizado nos 12 meses subsequentes, com prorrogação desse prazo pelo juiz, ato a ser praticado de ofício ou a requerimento das partes. Nestes aspectos não houve alteração, somente quanto ao prazo, que a contagem passou a ser de 2 (dois) meses.

Este prazo consta nos Códigos Tributários dos Estados – CTE, que se adequaram para a previsão do CPC, inclusive o Código Tributário do Estado de Goiás – CTE-GO.

Cada Estado pode instituir multa sobre o imposto a recolher, como sanção pela não observância desse prazo (STF, Súmula 542).

O Inventario é o processo em que se faz a relação, descrição e avaliação dos bens deixados pelo autor da herança. Apura-se o patrimônio do de cujus, pagam-se as dívidas passivas, cobram-se as dívidas ativas, pagam-se os legados, o imposto causa mortis e procede-se a partilha, com a expedição dos formais.

O inventário até a Lei nº 11.441, de 4-1-207, que alterou o caput do art. 982, do CPC/1973, era um procedimento judicial e contencioso. Com a nova redação do art. 982 passou-se a permitir o inventario extrajudicial por escritura pública, desde que todos os interessados sejam capazes e haja acordo. Havendo incapaz ou lide, o inventário será judicial.

O novo CPC, Lei nº 13.105, de 16-3-2015, contempla em §§ 1º e 2º, do art. 610, o inventário extrajudicial por escritura pública, desde que sejam todos capazes e haja acordo.

Vale lembrar que se houver testamento deixado pelo falecido o inventário terá que ser processado somente na via judicial.

O tabelião não tem competência legal para realizar inventário quando há testamento deixado pelo autor da herança.

2.6 – Legitimação para suceder

O Capítulo III, do Título I, do Livro V, do Código Civil, que compreende os artigos 1.798 a 1.803, trata da Vocação Hereditária, ou seja, daqueles que são legitimados a suceder na herança deixada pelo falecido.

Page 21: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

20

O rol das pessoas legitimadas para suceder está previsto no art. 1.798, do Código Civil, in verbis:

Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.

Na legitimação sucessória, vigora o princípio de que todas as pessoas tem legitimidade para suceder, exceto aquelas expressamente excluídas.

Constitui um direito eventual à sucessão, seja por lei ou por testamento.

LEMBRE-SE! CC, art. 1.787:

Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao tempo da abertura daquela.

Portanto:

Regra = legitimidade passiva para suceder. Exceção = ilegitimidade para suceder.

A capacidade sucessória é distinta da capacidade civil. Estão interligadas, mas a capacidade sucessória legitima as pessoas para o exercício específico de um direito.

Capacidade civil é a maior ou menor extensão dos poderes (aptidão) de uma pessoa para adquirir direitos ou exercê-los, por si ou por outrem.

Ex. Idade para exercer certas funções ou direitos.

A CAPACIDADE CIVIL constitui-se de:

a) Capacidade de direito ou de gozo: é aquela derivada da personalidade civil para adquirir direitos e contrair obrigações na ordem civil (art. 1º do CC/2002). (essa é a capacidade de adquirir direitos e contrair obrigações que é inata. A pessoa a adquire no nascimento com vida, art. 2º, CC);

b) Capacidade de fato ou de exercício: é a capacidade para exercer por si mesma os atos da vida civil. Quando não tem nenhuma restrição legal de idade ou de sanidade para exercer por si mesma responsabilidade civil.

c) Se o sujeito de direito (pessoa) possui as duas, de direito e de fato, adquire, portanto, a capacidade civil plena (18 anos completos ou 16 anos completos com emancipação, e não ter incapacidade mental).

Capacidade sucessória é uma capacidade específica para receber herança ou legado, conforme as regras sucessórias.

A capacidade sucessória pode também ser considerada em seu aspecto ativo.

Neste sentido, a capacidade sucessória é a capacidade que o indivíduo tem de fazer parte de uma sucessão, seja como Sucessor ou como Testador.

A norma sucessória prevê os legitimados para a sucessão e os distribui entre a Capacidade Sucessória Ativa e Passiva. 

Page 22: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

21

ATIVA, que é a capacidade para testar, ou seja, para fazer um testamento e distribuir seus bens.

PASSIVA, que vai indicar que tem capacidade para receber os bens, o que juridicamente se chama "legitimação para suceder".

Elementos da capacidade sucessória, ou seja, para suceder:

a) Ter personalidade jurídica: ter vida. Existir (art. 1.798, CC);b) ou já ter concepção (concebida) na época da morte do autor da herança

(abertura da sucessão);c) ter título sucessório, isto é, figurar na ordem da vocação hereditária (art.

1.829, CC) ou estar beneficiado por testamento.

Estão legitimados para suceder os nascidos (existentes/vivos) ou já concebidos (nascituros – incluindo os implantados no útero materno ou em laboratório) no momento da abertura da sucessão (1.798, CC).

Vale tanto para sucessão legítima como para a testamentária.

Em outros termos, ter aptidão específica para aquela herança e não ser considerado indigno ou deserdado. Como veremos a seguir.

Rol das pessoas nascidas legitimadas a suceder, segundo a ordem da vocação hereditária (art. 1.798 c/c art. 1.829, CC):

os parentes descendentes e ascendentes em linha reta; o cônjuge; os parentes colaterais até o 4º grau; o companheiro(a) (art. 1.790, CC e Lei nº 8.971/1994).

Rol dos legitimados a suceder conforme a 2ª parte do art. 1.798, CC, os já concebidos no momento da abertura da sucessão:

o nascituro (art. 2º, CC); Enunciado 267 CJF , da 3ª Jornada de Direito Civil - A regra do art. 1.798 do

Código Civil deve ser estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a petição da herança.

Embrião criopreservado (congelado) – art. 1.597, III - V, CC: i) Fecundação artificial homóloga (material genético provindo dos próprios cônjuges, ou seja, do marido (pai) e da esposa (mãe); ii) Fecundação artificial heteróloga (material genético de doador não identificado – banco de semem).

Observações:

Filiação por adoção. Filhos por adoção recebem herança igualmente aos demais. Não há distinção entre filhos independentemente da sua origem – CF/1988, art. 227, § 6º; Resp 823384/RJ; CC, art. 1.618 e 1.619 – adoção de pessoas maiores; ECA, art. 39 a 52-B – adoção de menores; ECA, art. 41.

Filiação socioafetiva – Filiação afetiva. “Posse de estado de filho”: é reconhecido como filho de quem sempre considerou ser seu pai. Verifica-se:

Page 23: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

22

tractus (comporta-se como pai e filho); nomem = sobrenome (nome de família); fama (imagem social ou reputação como filho/pai).

“Adoção à brasileira” = registra como se fosse filho seu. CPC, art. 267, IV – falecimento do adotado, processo extingue-se. ECA, art. 47, § 7º - falecimento do adotante prossegue a ação.

CC, art. 1.799, I: A pessoa ainda não concebida tem legitimidade para ser herdeiro testamentário (art. 1.800, CC). Prazo - art. 1.800, § 4º: dois anos da morte do testador até o nascimento do beneficiário (filiação eventual).

Se o feto nascer morto, não há aquisição de direitos, não recebe nem transmite direitos. Sua quota hereditária será devolvida aos herdeiros legítimos do de cujus, ou ao substituto testamentário, se tiver sido indicado.

Somente pessoas, naturais ou jurídicas podem ser contempladas na sucessão. Não podem ser contemplados animais, salvo indiretamente, pela imposição a um herdeiro testamentário do encargo de cuidar de um animal especificamente.

Tanto as pessoas naturais como as jurídicas, de direito publico ou privado, podem ser beneficiadas por testamento.

Excluem-se as coisas inanimadas e as entidades místicas, como os santos.

Só as pessoas vivas ao tempo da abertura da sucessão podem ser herdeiras. Se no instante da abertura da sucessão o herdeiro já é morto, defere-se a herança aos outros da sua classe, ou aos da classe imediata se for o único.

2.6.1 – Legitimação para suceder por testamento

Art. 1.799, CC – Rol dos legitimados a herança por testamento

Indica outras pessoas que também podem ser contempladas, além das existentes ou já concebidas quando da abertura da sucessão – pessoas que só podem receber herança ou legado por disposição de última vontade.

Inciso I – exceção à regra geral – permite que os filhos não concebidos (prole eventual), de pessoas indicadas pelo testador, e vivas ao abrir-se a sucessão, possam receber a herança. O testador dá um salto, passando por cima dos genitores, contemplando os filhos que estes tiverem, e se tiverem.

Apos a liquidação ou a partilha, os bens da herança serão confiados a um curador nomeado pelo juiz (art. 1.800, CC). LER art. 1.801, CC – o curador poderá ser a própria pessoa cuja prole eventual o testador quis contemplar, e sucessivamente, as pessoas que podem ser nomeadas curadoras do interdito (art. 1.775, CC).

OBS: Neste caso, não se trata mais do nascituro, mas sim do concepturo.

LER: §§ 2º e 3º, do art. 1.800, CC.

Prazo de espera – 02 anos (art. 1.800, § 4º, CC).

Page 24: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

23

Inciso II – Pessoas jurídicas.

A existência legal das pessoas jurídicas começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro (art. 45, CC).

Inciso III – Fundações (art. 62, CC).

Podem ser criadas por escritura pública ou por testamento.

Por não existir, ainda, a pessoa jurídica idealizada pelo testador, os bens ficarão sob a guarda provisória da pessoa encarregada de instituir a fundação, até o registro de seu estatuto, quando passara a ter existência legal.

2.6.2 – Não podem ser nomeados herdeiros testamentários nem legatários (art. 1.801, CC)

Pessoas que não podem adquirir por testamento por serem consideradas suspeitas. Poderiam abusar da confiança do testador e alterar sua vontade para obter algum benefício para si ou para seus parentes, cônjuge ou companheiro. Poderiam até interferir na liberdade do testador.

- CC, art. 1.802 – nulas as disposições feitas as pessoas que são proibidas de suceder.

- Presume-se a interposição de pessoas quando são beneficiados os previstos no paragrafo único do art. 1.802, CC.

- CC, art. 1.803 – é licita a disposição de bens para filho de concubina, porque não há discriminação entre filhos. Independentemente da origem da filiação, todos os filhos tem os mesmos direitos (art. 227, §6º, CF).

2.7 – Aceitação da Herança

a) Conceito

- Ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro legítimo ou testamentário manifesta a vontade de aceitar a herança.

- Trata-se de uma confirmação, já que, aberta a sucessão, a herança transmite-se desde logo aos herdeiros legítimos e testamentários (art. 1.784, CC – Principio da Saisine).

- Revela a concordância do beneficiário em receber a herança. Só é herdeiro quem deseja sê-lo.

Page 25: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

24

Ninguém deve ser herdeiro contra a própria vontade.

- A aceitação torna definitiva a transmissão da herança ao herdeiro, desde a abertura da sucessão (tem efeitos ex tunc).

- Tem efeito retrooperante – retroage a data do óbito.

- A aceitação nada mais e do que o não exercício do direito de renunciar a herança.

OBS: A aceitação costuma ser tácita (o herdeiro pratica atos que demonstram a intenção de aceitar a herança, como por ex: intervir no inventário, representado por advogado, concordando com as primeiras declarações).

b) Espécies de aceitação

Quanto à forma:

1) Aceitação expressa – é manifestada por declaração escrita (pública ou particular) em que o herdeiro declara seu desejo de receber a herança (art. 1.805, 1ª parte, CC).

Manifestação oral não vale como aceitação.

2) Aceitação tácita – resulta de qualquer ato que demonstre intenção de aceitar a herança (art. 1.805, 2ª parte, CC). Ex: intervenção no inventário, representado por advogado, concordando ou impugnando as primeiras declarações; cessão de direitos etc.

OBS: Já se decidiu que o simples requerimento de abertura de inventário não traduz o proposito de aceitar a herança, por se tratar de obrigação legal do herdeiro.

Também não exprimem aceitação os atos oficiosos, como o funeral, os meramente conservatórios ou de administração e guarda provisória (art. 1.805, § 1º, CC) – não importam automaticamente em aceitação da herança.

- Clóvis Bevilaqua define:

• atos oficiosos – organização do velório, funeral, cerimonias religiosas (atos praticados por sentimento humanitário, altruísta, sem qualquer interesse).

• atos meramente conservatórios – necessários e urgentes para impedir a perda ou deterioração dos bens.

• atos de administração ou guarda provisória – praticados pelo herdeiro para atender uma necessidade urgente, sem a intenção de ter os bens para si, ou seja, com o ânimo de entregá-los, logo que possível, a quem deva guarda-los e conserva-los.

Page 26: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

25

OBS1: O herdeiro pode pagar as dividas do morto por motivos de ordem moral, por exemplo, e isso não necessariamente importara em aceitação da herança.

OBS2: O art. 1.805, § 2º, CC, dispõe que: a cessão gratuita pura e simples aos demais co-herdeiros não importa em aceitação. Tal ato equivale a uma renúncia.

3) aceitação presumida (art. 1807, CC)

Ocorre quando algum interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança, requer ao juiz, depois de passados 20 dias da abertura da sucessão, que marque ao herdeiro (por meio de notificação judicial) prazo razoável (não maior que 30 dias), para se pronunciar se aceita ou não a herança, SOB PENA DE HAVER A HERANCA POR ACEITA.

- Notificação judicial. Juízo competente – juízo do inventário.

- Direito (prazo) para deliberar – esgotado o prazo estipulado pelo juiz para que o herdeiro manifeste se aceita ou não a herança, o seu silencio será interpretado como aceitação.

- Nesta espécie de aceitação não há qualquer ato positivo do herdeiro, a simples omissão é tida como aceitação da herança.

Quanto à pessoa que a manifesta (ou quanto ao agente):

1) Aceitação direta – feita pelo próprio herdeiro.

2) Aceitação indireta – quando alguém a faz pelo herdeiro. Esta pode acontecer em quatro hipóteses:

Aceitação pelos sucessores – o herdeiro que falece antes de aceitar a herança morre na posse de um direito, que se transmite aos seus sucessores.

Trata-se de sucessão hereditária do direito de aceitar/renunciar (art. 1.809, caput, CC).

- A morte do herdeiro antes da aceitação da herança impede a transmissão direta da herança (ainda não aceita) aos seus sucessores, mas transfere-lhes o direito de aceita-la ou renuncia-la.

Não apenas os direitos sucessórios são transmitidos, como também o prazo para deliberar.

► Esta espécie de aceitação (pelos sucessores) não ocorre na pendência de condição suspensiva, estipulada pelo testador, ainda não verificada (art. 1.809, caput, CC). Pois, se o herdeiro falecer antes do implemento da condição, o seu direito sucessório será extinto, já que a condição suspensiva obsta a aquisição do direito (art. 125, CC).

Ex: o testador nomeia Joselito como seu herdeiro, sob a condição de obter o primeiro lugar em determinado concurso público. Se Joselito falecer antes de verificada a condição (ou seja, antes de passar no tal concurso), os eventuais

Page 27: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

26

direitos que ele receberia são como se nunca tivessem existido. Os herdeiros de Joselito não o sucederão no direito de aceitar a herança.

► art. 1.809, paragrafo único, CC – impõe uma condição para que os sucessores do herdeiro falecido possam aceitar ou renunciar a primeira herança – devem concordar em receber a segunda herança.

Ex: Falece José e deixa dois filhos. Um dos filhos (Joselito) morre antes de aceitar a herança, transmitindo seus bens para os seus filhos. Estes últimos (filhos de Joselito) só poderão aceitar a herança do avô (José) em nome do pai (Joselito), se previamente aceitarem a herança paterna. Se renunciarem à herança do pai (Joselito) não poderão deliberar sobre a herança do avô (José).

Aceitação pelo tutor ou curador – mediante autorização judicial (art. 1.748, II, c/c art. 1.781, CC). O tutor ou curador pode receber herança, legado, doações, representando o incapaz.

Aceitação por mandatário (art. 653 a692, CC) ou por gestor de negócios (arts. 861 a 875, CC).

É pacífico o entendimento de que se admite a aceitação da herança por procurador (mandatário). Porém é controvertida a aceitação feita pelo gestor de negócios.

• Gestão de negócios – ocorre quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na administração do negócio alheio, dirigindo-o segundo a vontade e o interesse presumível de seu dono.

Trata-se de uma intervenção motivada pela necessidade ou utilidade, com a intenção de trazer proveito para o dono do negócio.

OBS: A princípio nada impede que a herança seja aceita pelo gestor de negócios, para evitar prejuízos ao herdeiro, mesmo sem sua autorização. Para alguns autores, ela esta condicionada a confirmação posterior do herdeiro. Para outros, não é necessário confirmar, mas a aceitação só é válida quando a não aceitação imediata pudesse prejudicar o herdeiro, uma vez que a ausência de aceitação, o silêncio do herdeiro, importa em aceitação.

Aceitação pelos credores

Art. 1.813, CC – afasta a possibilidade de haver renúncia lesiva a credores.

- a renúncia à herança pode configurar fraude contra credores.

Se o herdeiro prejudicar credores com sua renúncia à herança, os credores podem aceita-la em nome do renunciante, nos autos do inventario não encerrado, mediante autorização judicial.

- O devedor não pode abrir mão de seu patrimônio lesando os credores.

- O que ocorre neste caso e que a renúncia e ineficaz em relação aos credores. Tanto que pagas as dívidas, o que sobrar não retorna ao herdeiro renunciante, mas é dividido entre os demais co-herdeiros.

Page 28: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

27

Pode-se dizer que a renúncia não é eficaz até o montante das dívidas do herdeiro.

- Prazo decadencial de 30 dias para os credores se habilitarem no inventário – art. 1.813, § 1º, CC (a contar do conhecimento da renúncia) – cabe aos credores provar quando tomaram conhecimento da renúncia prejudicial efetuada pelo herdeiro.

- Se o processo de inventário já estiver encerrado ou se houver decorrido o prazo para o credor se habilitar, este deverá se valer da ação pauliana para anular o negócio jurídico fraudulento (art. 158 a 165, CC).

- Pagas as dívidas, o remanescente e devolvido aos herdeiros e não ao renunciante, que perdeu a condição de herdeiro.

c) Características da aceitação

- ato jurídico unilateral – porque se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade;

- de natureza não receptícia – porque não depende de ser comunicado a outrem para que produza efeitos;

- indivisível e incondicional – não se pode aceitar a herança em parte, sob condição ou a termo (art. 1.808, CC).

A herança deve ser aceita sempre na sua totalidade. O herdeiro não pode aceitar apenas uma parte ou fração do quinhão que lhe cabe na herança, nem pode aceitar determinados bens e outros não, ou ainda, desde certo tempo ou ate certo tempo.

Ex. de condição: receber apenas bens imóveis – não é possível.

OBSERVAÇÕES:

- art. 1.808, § 1º, CC - Se o sucessor do de cujus for ao mesmo tempo herdeiro e legatário, poderá aceitar a herança e o legado; renunciar a ambos; aceitar a herança e renunciar ao legado ou aceitar o legado e renunciar a herança.

- art. 1.808, § 2º, CC - o herdeiro chamado à sucessão a mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões que aceita e aos que renuncia.

Uma pessoa pode ser ao mesmo tempo herdeiro legítimo e herdeiro testamentário (sucessores a título universal). São heranças com origens diferentes. Por isso pode aceitar um quinhão e renunciar ao outro.

A primeira vista pode parecer que os §§ 1º e 2º do art. 1.808, CC, estariam abrindo exceções ao princípio da indivisibilidade da herança. Mas as exceções são apenas aparentes, porque em ambos os casos permanece a proibição de aceitar ou renunciar a herança parcialmente.

Page 29: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

28

O que ocorre é que no § 1º difere-se herança de legado e no § 2º as heranças tem origens distintas (sucessão legítima e sucessão testamentária).

d) Irretratabilidade da aceitação (art. 1812, CC)

Os atos de aceitação e renúncia são irrevogáveis. Como declaração unilateral da vontade, a aceitação gera efeitos imediatos e definitivos.

Depois de agir como herdeiro, este não pode mais renunciar, não pode abrir mão da condição de herdeiro.

O herdeiro, depois de já ter aceito a herança por escrito (aceitação expressa), ou já ter praticado atos típicos de herdeiro (aceitação tácita) ou já ter silenciado quando notificado a se manifestar (aceitação presumida), não pode mais renunciar a herança, o que poderá fazer é ceder seus direitos hereditários.

2.8 – Renúncia da Herança

a) Conceito

A renúncia da herança consiste em ato jurídico unilateral pelo qual o herdeiro manifesta a intenção de não aceitar a herança.

O herdeiro prefere conservar-se completamente estranho a sucessão, ou seja, é o repúdio manifestado pelo sucessor antes de assumir a postura de herdeiro e enquanto não agir como herdeiro.

Como já dito, o herdeiro não é obrigado a aceitar a herança. Sua recusa denomina-se renúncia ou repúdio.

OBS1: a transferência do quinhão hereditário à pessoa certa não é renúncia, é cessão.

Acontece como na aceitação, ou seja, tem efeito retrooperante (ex tunc), o herdeiro que renuncia é havido como se nunca tivesse sido herdeiro e como se nunca a sucessão lhe houvesse sido deferida.

Todos os herdeiros seja herdeiro legítimo, testamentário e o legatário podem renunciar.

OBS2: A renúncia é sempre gratuita. A cessão pode ser gratuita ou onerosa e é feita em favor de determinada pessoa. Na renúncia o herdeiro não pode escolher quem ficará com o seu quinhão.

OBS3: Na renúncia o herdeiro abdica de todos os direitos, se afasta do inventário sem nada receber e sem dirigir o seu quinhão para uma ou mais pessoas. Se quiser contemplar determinada pessoa, não se trata de renuncia, mas sim de cessão.

Page 30: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

29

OBS4: Quando o herdeiro legítimo renuncia, os bens retornam ao acervo hereditário e são recebidos pelos demais herdeiros. Os coerdeiros recebem a parte do renunciante por “direito de acrescer”.

Desconstitui-se o ato translativo ocorrido no momento da morte e gera-se a ficção de o renunciante jamais ter sido herdeiro.

b) Forma

CC, art. 1806 – A renúncia da herança deve constar expressamente de instrumento público (escritura pública juntada aos autos de inventário) ou termo judicial (lavrado nos próprios autos de inventário).

A renúncia não pode ser realizada por escrito particular. No inventário extrajudicial – a renúncia pode ser levada a efeito na escritura pública do inventário.

OBS: Termo nos autos é a forma mais simples e menos dispendiosa. Pode ser assinado pela parte ou por procurador com poderes especiais (Art. 661, § 1º, CC).

A renúncia é negócio solene – sua validade depende de observância da forma prescrita em lei.

Não pode ser tácita e nem se presume (deve ser feita por escritura pública ou termo nos autos). Deve resultar de ato positivo. Também não se admite promessa de renúncia porque implicaria em pacto sucessório (o que é proibido por lei – art. 426, CC).

Não é válida se for manifestada em documento particular. Veja decisão do STJ no Resp 431965/SP:

“CIVIL. HERANÇA. RENÚNCIA. A renúncia à herança depende de ato solene, a saber, escritura pública ou termo nos autos de inventário; petição manifestando a renúncia, com a promessa de assinatura do termo judicial, não produz efeitos sem que essa formalidade seja ultimada. Recurso especial não conhecido.”

OBS: Como não se pode aceitar a herança em parte, também não pode haver renuncia em parte. Mas como já visto, pode haver renúncia da herança e aceitação do legado e vice-versa – art. 1.808, CC.

2.8.1 – Espécies de Renúncia

Page 31: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

30

a) Abdicativa ou renúncia propriamente dita (renúncia própria)

Ocorre quando o herdeiro a manifesta sem ter praticado qualquer ato que exprima aceitação e quando é pura e simples (em benefício do monte, sem indicação de qualquer favorecido).

Art. 1.805, § 2º, CC (o legislador usa equivocadamente a expressão “cessão gratuita, pura e simples” como sinônimo de renúncia. Melhor seria se tivesse usado o termo renúncia).

Esta é a verdadeira renúncia, feita gratuita e genericamente em favor de todos os co-herdeiros. Nesta o único imposto devido é o causa mortis. O renunciante não paga o imposto causa mortis porque não participou da sucessão.

b) Renúncia Translativa ou imprópria

Ocorre quando o herdeiro renuncia em favor de determinada pessoa. Na verdade, não se trata de renúncia e sim de cessão da herança.

Pode-se dar esse nome (renúncia translativa) também no caso da renúncia pura e simples, se manifestada depois da prática de atos que importem em aceitação da herança (habilitação no inventário, concordando com as primeiras declarações, p.ex.).

No caso da renúncia feita em favor de determinada pessoa (que é cessão na realidade), são devidos dois impostos. O causa mortis e o inter vivos.

Ex: Se o filho renuncia à herança paterna em favor de seus filhos, presume-se que aceitou a herança (incide o imposto causa mortis - ITCD) e transmitiu aos filhos por ato inter vivos (incide o imposto inter vivos). Neste caso, pagará o imposto duas vezes.

2.8.2 – Restrições legais ao direito de renunciar

Para que possa ser exercido, são necessários alguns pressupostos:

a) Capacidade jurídica plena do renunciante – a renúncia exige agente capaz

Renuncia efetivada por incapaz não tem validade, ainda que feita por seu representante legal (vez que este tem poderes de administração e não de alienação).

O representante legal do incapaz só poderá renunciar mediante prévia autorização judicial, e o juiz somente a concederá se provada a necessidade ou evidente utilidade para o incapaz- art. .1691, CC (o que dificilmente ocorre em se tratando de renuncia de direitos).

b) Anuência do cônjuge

Page 32: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

31

Se o renunciante for casado é necessária a anuência (outorga marital ou uxoria), exceto se o regime de bens for o da separação de bens (art. 1.647, I, CC).

Se o regime for o da participação final nos aquestos com cláusula de livre disposição dos bens imóveis particulares, não é necessária a anuência do cônjuge (art. 1.656, CC).

Se porventura o cônjuge discordar e recusar a dar sua anuência sem motivo justo, poderá o juiz suprir a outorga denegada (art. 1.648, CC; arts. 73 e 74, do CPC).

c) Que não prejudique credores

Não pode haver renúncia lesiva a credores (art. 1.813, CC).

Se ocorrer renúncia pra prejudicar credores, estes podem aceitar a herança em nome do renunciante, mediante autorização judicial nos autos do inventário.

2.8.3 – Efeitos da Renúncia

a) Exclusão da sucessão do herdeiro renunciante – é o primeiro e principal efeito da renúncia.

O herdeiro renunciante demite-se da sucessão.

Em outros termos, quem renuncia deixa de ser herdeiro desde a abertura da sucessão (efeito ex tunc).

Principio da Saisine – com a abertura da sucessão a herança transmite-se desde logo ao herdeiro.

Mas, se ele a renuncia, a transmissão tem-se como se não efetuada (art. 1.804, parág. único, CC).

b) Acréscimo da parte do renunciante à dos outros herdeiros da mesma classe (art. 1.810, 1ª parte).

Se o de cujus tinha vários filhos e um deles renuncia, a sua quota passa aos irmãos, pois o renunciante e considerado como se nunca tivesse existido.

Diferente da morte – se o de cujus tinha vários filhos e um dele e pré-morto, a sua parte passara aos filhos (netos do falecido) – que herdarão por representação.

Art. 1.810, 2ª parte – Se o renunciante for o único da sua classe a herança passa aos da classe subsequente.

Então se o de cujus deixa um filho único e este renuncia a herança, esta passa aos filhos do renunciante – que herdarão por direito próprio e por cabeça.

Page 33: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

32

Diferente da pré-morte, em que os filhos herdam por representação ou estirpe.

c) Proibição da sucessão por representação

O destino da herança deve ser compatível com a ideia de que o renunciante desaparece da sucessão.

Art. 1.811, 1ª parte – ninguém pode suceder representando herdeiro renunciante.

Se um filho do renunciante lhe toma o lugar na sucessão, representando-o, não teria aquele na verdade saído da sucessão, pois continuaria representado pelo filho.

Art. 1.811, 2ª parte – Se porém o renunciante for o único da sua classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem à herança, poderão os filhos vir à sucessão por direito próprio e por cabeça.

Logo, a parte do renunciante só passa aos filhos se ele for o único de sua classe ou se todos os outros da mesma classe também renunciarem.

Cabe destacar que a herança será dividida em partes iguais (entre os netos), mesmo que o morto tenha deixado vários filhos renunciantes, cada qual com diversa quantidade de filhos.

2.8.4 – Ineficácia e Invalidade da Renúncia

Ineficácia – pode ocorrer pela suspensão temporária dos efeitos da renúncia pelo juiz, a pedido dos credores prejudicados, a fim de se pagarem.

Invalidade absoluta (nulidade) – ocorre se não houver sido feita por escritura pública ou termo judicial, ou quando manifestada por pessoa absolutamente incapaz, não representada e sem autorização judicial.

Invalidade relativa (anulabilidade) – quando proveniente de erro, dolo ou coação, a ensejar a anulação do ato por vício de consentimento, ou quando realizada sem a anuência do cônjuge.

2.8.5 – Irretratabilidade da Renúncia

Previsão do art. 1.812, CC – São irrevogáveis os atos de aceitação ou renúncia da herança. Logo, não há que se falar em arrependimento do renunciante.

Depois de ter revelado que assumiu os bens que lhe foram transmitidos (por escrito ou agindo como herdeiro), não pode mais renunciar. Isso porque a lei não admite comportamentos contraditórios.

Page 34: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

33

Principio “nemo potest venire contra factum poprium” que tutela a confiança e não tolera condutas incoerentes. Se o herdeiro aceita a herança, não pode renuncia-la, o que pode fazer e cessão de direitos hereditários.

2.9 – Excluídos da Sucessão

A exclusão do herdeiro da sucessão pode ocorrer por meio de dois institutos, a indignidade e a deserdação, para quem agiu de forma injusta contra o autor da herança.

A sucessão hereditária fundamenta-se, dentre outras coisas, em uma razão de ordem ética – a afeição real ou presumida do falecido ao herdeiro ou legatário.

São institutos que não se confundem, apesar de terem as mesmas consequências: exclusão do herdeiro.

Na renúncia o herdeiro e excluído da sucessão porque assim o quis. Enquanto na indignidade, o herdeiro indigno sofre os efeitos da penalidade mesmo contra a sua vontade.

2.9.1 – Exclusão por INDIGNIDADE – é uma sanção civil que acarreta a perda do direito sucessório (art. 1.814 – 1.818, CC)

Se o herdeiro ou legatário pratica atos ofensivos contra o de cujus pode ser privado do direito sucessório.

Trata-se de uma questão moral de não se beneficiar o ingrato com o patrimônio deixado pelo ofendido.

O instituto da indignidade tem como objetivo impedir que uma pessoa suceda a outra, extraindo vantagem de seu patrimônio, depois de cometer contra ela atos lesivos graves.

Não basta qualquer ato ofensivo para que o herdeiro seja excluído da sucessão por indignidade. Somente os casos previstos no art. 1.814 do CC, que podem ser divididos em: atentado contra a vida, contra a honra e contra a liberdade de testar do de cujus.

a) Pressupostos para exclusão por indignidade

Que o herdeiro ou legatário seja incurso nos casos legais de indignidade (art. 1.814, CC);

Não tenha sido reabilitado (perdoado) pelo de cujus (art. 1.818, CC);

Page 35: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

34

Haja uma sentença declaratória da indignidade. O indigno só é afastado da sucessão mediante sentença judicial transitada em julgado (Art. 1.815, CC).

b) Causas de exclusão por indignidade

As causas previstas no ordenamento civil para imputar os efeitos da indignidade ao herdeiro são as seguintes:

Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:

I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;

II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;

III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

Os atos ofensivos que caracterizam a indignidade estão enumerados de forma taxativa (numerus clausus) no art. 1.814 do CC – não comportando interpretação extensiva ou por analogia.

Para Maria Berenice Dias, a escolha feita pelo legislador reproduz uma preocupação antiquada e conservadora, pois prioriza a imagem social e deixa de fora crimes que tem repercussão mais danosa a pessoa da vítima.

Neste sentido, afirma a doutrinadora, melhor seria delegar ao juiz o encargo de identificar se o ato do herdeiro justificaria a exclusão da herança. Por exemplo, e um absurdo excluir da sucessão o filho que cometeu injúria contra a mãe e contempla-lo se ele a estuprou (já que o estupro não está no rol do art. 1.814, CC).

O inciso I, do art. 1.814, CC, trata da mais grave de todas as causas, pois a ingratidão do herdeiro neste caso e evidente. Há inclusive um proverbio alemão que expressa muito bem esta situação, que diz: “mão ensanguentada não apanha herança”.

Observa-se que não é necessário que o herdeiro seja autor do homicídio, se for co-autor ou partícipe é suficiente para sua exclusão.

► O CC/1916 previa a hipótese de indignidade se o homicídio doloso (consumado ou tentado) fosse cometido contra o autor da herança. O CC/2002 pune também o herdeiro que comete homicídio contra o cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente do autor da herança.

► Não se pune o homicídio culposo com a exclusão por indignidade.

Page 36: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

35

► Não se exige que haja condenação criminal para que o indigno seja excluído da sucessão. O indigno é quem comete o fato e não quem sofre a condenação penal.

- A prova do fato e da culpabilidade pode ser feita no juízo cível.

- Se houver sentença condenatória, reconhecendo a materialidade e autoria do causador do dano, além do dolo, não há que se reexaminar a questão no cível. Por outro lado, se houver absolvição em razão da inexistência do crime ou da autoria, a exclusão por indignidade será afastada.

- Prevalece no Brasil o princípio da independência da responsabilidade civil em relação à penal (art. 935, CC) – Enquanto os fatos não estiverem definidos na esfera criminal, as ações cível e criminal correrão de forma independente e autônoma para apurar ambas as responsabilidades: a civil e a penal. Se já foi proferida sentença criminal condenatória, e porque se reconheceu a culpa ou dolo do causador do dano e a sentença faz coisa julgada no cível.

Se o réu for absolvido na esfera penal por alguma excludente de antijuridicidade também se afasta a pena de indignidade, porque não houve voluntariedade, não existiu o elemento subjetivo (dolo).

Da mesma forma acontece nos casos de loucura/embriaguez, aberratio ictus - art. 73, CP - erro na execução ou erro por acidente (A quer matar B e atira nele, por desvio, má pontaria, acerta C); e nos casos de erro sobre a pessoa (A quer matar B, vê C na rua e atira nele pensando ser B), porque o ato lesivo não foi voluntário.

► Há autores que entendem que a instigação/induzimento ao suicídio deve equiparar-se ao homicídio doloso para efeito de indignidade.

OBS: se o menor comete o delito, a doutrina diverge se pode ser declarado indigno. Chega a ser imoral que um adolescente possa se beneficiar de sua menoridade e receber a herança, após ter matado o pai.

O inciso II, do art. 1.814, CC: “os que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro”, aponta duas hipóteses de exclusão:

denunciação caluniosa em juízo contra o de cujus (art. 339, CP)

A lei exige que a imputação do crime tenha sido proferida em juízo (não importa em indignidade se o herdeiro a fizer em jornais, livros, cartas, ou até mesmo na esfera administrativa).

A jurisprudência restringe ainda mais, exigindo que a denunciação caluniosa tenha sido praticada em juízo criminal. Logo, acusação feita no juízo cível (em ação de separação, interdição, por exemplo) não conduziria a indignidade sucessória.

Giselda Hironaka apresenta uma visão crítica sobre o tema, pensa a autora que pode ser feita a acusação caluniosa em qualquer juízo, porque o que a lei exige e que o fato imputado caluniosamente seja considerado crime.

Page 37: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

36

Também não há necessidade de condenação criminal, basta que tenha sido instaurado o procedimento ou investigação em virtude da postulação do herdeiro que imputou caluniosamente ao autor da herança a pratica de um crime.

prática de crimes contra a honra do de cujus, ou de seu cônjuge/companheiro.

Crimes contra a honra – calúnia, difamação e injúria (arts. 138 a 140 do CP).

Há quem diga que, pela má redação do art. 1.814, II, CC o crime de denunciação caluniosa só exclui o herdeiro se praticado contra o de cujus. Se for contra o companheiro/cônjuge não exclui.

A melhor solução apontada pela doutrina e pela jurisprudência e quem em ambos os casos (denunciação caluniosa e crimes contra a honra), a regra atinja a ofensa ao autor da herança e ao cônjuge/companheiro.

Também não e necessário haver condenação criminal. Para Washington de Barros Monteiro e necessário.

E possível ocorrer crime contra a honra mesmo após a morte da vítima (art. 138, § 2o, CP).

os que por violência ou meios fraudulentos inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.

A lei preserva a liberdade de testar – a vontade testamentária deve ser livre.

A inibição ou impedimento pode ser tanto mediante violência (física) ou fraude (moral).

Esta regra visa punir quem atenta contar a liberdade de testar – ex.: impedir a feitura de testamento; alterar o que estava pronto; exercer pressão sobre o testador; ocultar, viciar, inutilizar ou falsificar o testamento; atrapalhar o cumprimento das disposições testamentárias.

A fraude e a violência são vícios que podem ensejar a anulação do testamento. Isso não impede que o indigno sofra a pena de exclusão da sucessão.

c) Procedimento para exclusão do indigno da herança

Previsão legal: CC, art. 1.815.

Prazo para propositura da ação: CC, art. 1.815, parág. único – 04 anos da abertura da sucessão.

Depende de propositura de ação específica (declaratória de indignidade), intentada por quem tenha interesse na sucessão.

Page 38: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

37

O Código Civil de 1916 estabelecia que a ação somente poderia ser proposta por quem tivesse interesse na sucessão.

Ex. um filho do falecido ajuizava a demanda para excluir seu irmão indigno.

O Código Civil de 2002 não prevê expressamente que a ação deve ser movida por quem tenha interesse na sucessão. Mas deve-se observar a regra geral do art. 17, do CPC, que dispõe que “para postular em juízo é necessário ter interesse e legitimidade”.

Por certo que prevalece implícito o princípio de que a ação de exclusão por indignidade deve ser proposta por quem tenha interesse na sucessão.

Tem interesse: o coerdeiro favorecido com a exclusão do indigno; o Município, o DF e a União na falta de outros sucessores legítimos e testamentários (art. 1.822, CC; art. 1.844, CC).

Os credores do interessado (que seria beneficiado com a exclusão) não têm legitimidade para propor a ação. Ninguém pode pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado por lei (art. 18, CPC).

O Enunciado 116, CJF/STJ, da 1ª Jornada de Direito Civil/2002, diz que o MP tem legitimidade para propor a ação (por ser o guardião da ordem jurídica e haver interesse público e social – norma de ordem pública – de evitar que o sucessor ingrato receba vantagem, beneficiando-se do patrimônio deixado por sua vítima). Principalmente no caso de interessados menores ou de inexistência de outros herdeiros.

Para quem entenda que o MP não é parte legítima os menores devem estar representados por seus representantes legais e não havendo outros herdeiros que não o indigno, cabe ao Município, DF ou União requerer sua exclusão da sucessão (art. 1.844, CC).

► a ação deve seguir o rito ordinário para permitir maior produção de provas e assegurar a ampla defesa do acusado de indignidade.

►Prazo decadencial de 04 anos para a propositura da ação – 04 anos contados da abertura da sucessão (Art. 1.815, p. único, CC).

Com o óbito do indigno antes da sentença, extingue-se a ação, já que a indignidade é uma sanção civil, tem caráter de pena, e não pode passar da pessoa do indigno.

- A ação para exclusão do indigno não pode ser proposta em vida do autor da herança, até mesmo pela inexistência de sucessão, o que acarretaria a ausência de interesse processual (necessidade/utilidade).

- Em vida, o ofendido pode deserdar o seu ofensor.

d) Efeitos da indignidade

O reconhecimento judicial da indignidade produz vários efeitos, dentre eles:

Page 39: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

38

Os descendentes do herdeiro excluído sucedem como se aquele fosse morto antes da abertura da sucessão- pré-morto (art. 1.816, CC).

Os efeitos da exclusão são pessoais. Os herdeiros sucedem o indigno por representação como se ele fosse pré-morto. Fundamenta-se no princípio de que a pena não pode passar da pessoa do delinquente (principio da personalização da pena).

Somente os DESCENDENTES sucedem o indigno. Se não existirem, os demais herdeiros receberão a parte do indigno.

Os bens retirados do indigno chamam-se ereptícios.

Os efeitos da sentença retroagem à data da abertura da sucessão – o indigno e considerado premorto ao de cujus – Como consequência deve restituir os frutos e rendimentos que dos bens da herança houver percebido, mas tem direito a ser indenizado pelas despesas com a conservação dos bens (art. 1817, p. único).

O excluído da sucessão não terá direito ao usufruto e administração dos bens que passem a seus sucessores, nem à sucessão eventual desses bens. (art. 1816, p. único).

Os pais são, por lei (art. 1.689, I e II, CC), usufrutuários e administradores dos bens dos filhos menores.

Esta regra (art. 1.816, p. único, CC) impede que o indigno tire proveito, indiretamente, das rendas produzidas pela herança da qual foi afastado.

A lei impede também que o indigno herde de seus descendentes quanto aos bens que eles receberam do de cujus em decorrência da exclusão daquele por indignidade.

e) Reabilitação ou perdão do indigno (art. 1.818, CC)

► O herdeiro que incorre em indignidade pode ser perdoado pelo ofendido, porque ninguém melhor que ele para avaliar o grau da ofensa.

É ato formal e privativo da vítima, e ato personalíssimo, só o próprio ofendido pode fazê-lo.

A lei impõe ao ofendido que o faça por declaração expressa em testamento ou ato autêntico (escritura pública ou declaração feita em Cartório autenticada por escrivão). Não tem valor documento particular, declarações verbais, cartas etc.

Para Maria Berenice Dias o escrito particular firmado pelo de cujus e por duas testemunhas, bem como o codicilo, são válidos para a reabilitação do indigno.

Admite-se o perdão tácito ou parcial (art. 1.818, p. único, CC) somente na via testamentária quando o testador houver, após a ofensa, contemplado o indigno em testamento. (Neste caso este poderá suceder no limite da deixa testamentaria).

Page 40: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

39

Para a maioria da doutrina, o perdão, uma vez concedido, e irretratável.

Nulo o testamento que contém o perdão, este não terá efeito, salvo se tiver sido adotada a forma pública de testamento, quando poderá valer como ato autêntico.

2.9.2 – Excluídos da sucessão por DESERDAÇÃO (art. 1.961 – 1.965, CC)

A deserdação consiste em ato de última vontade do autor da herança para punir aquele que pode ser excluído da sucessão, fundado em motivo legal (art. 1.962 e 1.964, CC).

Atinge somente os herdeiros necessários (CC, art. 1.961).

As hipóteses de deserdação estão previstas no art. 1.962 do Código Civil , in verbis:

Art. 1.962. Além das causas mencionadas no art. 1.814, autorizam a deserdação dos descendentes por seus ascendentes:

I - ofensa física;

II - injúria grave;

III - relações ilícitas com a madrasta ou com o padrasto;

IV - desamparo do ascendente em alienação mental ou grave enfermidade.

Sobre a reabilitação do deserdado, ver art. 1.818, CC.

Requisitos:

- existência de herdeiros necessários;

- testamento válido;

- declaração de causa.

Efeitos da deserdação:

- atinge somente o deserdado e não os seus descendentes;

- o deserdado não tem direito a usufruto ou à administração, nem à sucessão dos bens que couberem aos seus sucessores (CC, art. 1.816, p. único).

Page 41: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

40

2.9.10 - Validade dos atos praticados pelo herdeiro aparente - art. 1817, caput

O excluído da sucessão e considerado herdeiro aparente em relação as alienações onerosas efetuadas a terceiros de boa-fé.

Regra geral, para todos os demais efeitos, a sentença de exclusão retroage, exceto para invalidar os atos praticados pelo indigno, neste caso a sentença tem efeito ex nunc, sendo válidas as alienações efetuadas pelo excluído antes da sentença.

Decorre da necessidade de privilegiar a boa fé de terceiros que negociaram com o falso herdeiro (art. 1827, p. único).

Herdeiro aparente: é o que se encontra na posse dos bens hereditários como se fosse legítimo sucessor do de cujus, assumindo posição notória, ostensiva, sendo por todos considerados, por força de erro comum ou geral, como verdadeiro herdeiro (Zeno Veloso).

Para que os atos praticados sejam válidos é necessário que o negócio tenha sido realizado a titulo oneroso. A alienação feita a titulo gratuito pelo indigno antes da sentença de exclusão não será considerada valida, devendo prevalecer o direito do herdeiro real.

Portanto, para a validade do ato praticado pelo herdeiro aparente e necessário: negócio jurídico oneroso e terceiros adquirentes de boa-fé.

A intenção do legislador é prestigiar a boa fé do terceiro adquirente. Se provada a má-fé do contratante, consistente no conhecimento de tratar-se o vendedor de herdeiro indigno/aparente, não se convalida a alienação, pois assumiu o risco natural de aquisição de bem de quem tinha o risco de perder a propriedade.

Além disso, se a disposição da herança ocorrer a título gratuito (o herdeiro indigno doar algum bem a terceiro), o ato não será válido, uma vez que o terceiro não terá prejuízo, apenas será privado de um ganho. O art. 1.817, CC, se aplica apenas às “alienações onerosas”.

Aos herdeiros prejudicados subsiste o direito de propor ação objetivando o ressarcimento de perdas e danos contra o herdeiro aparente.

DISTINÇÕES ENTRE ILEGITIMIDADE PARA SUCEDER, INDIGNIDADE E DESERDAÇÃO:

ILEGITIMIDADE PARA SUCEDER

INDIGNIDADE DESERDAÇÃO

Inaptidão de alguém para receber a herança por motivos de ordem geral, independentemente de

Perda da aptidão para suceder por culpa do beneficiado.

Exclusão de herdeiro necessário por ato do testador, com base em uma das causas previstas

Page 42: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

41

seu mérito ou demérito. em lei.Impede que nasça o direito a sucessão. Obsta a conservação da

herança.Obsta a conservação da herança.

Também chamada incapacidade sucessória.

Decorre da lei e pode atingir todos os sucessores (legítimos ou testamentários e legatários)

Só ocorre na sucessãotestamentária e serve para afastar os herdeiros necessários. Para excluiros colaterais, basta que o testador não os contemple em testamento.

O incapaz sucessório nãoadquire a herança em momento algum.

O indigno adquire a herança quando da abertura da sucessão eperde com o trânsito em julgado da sentença que o exclui da sucessão.

O deserdado adquire a herança na abertura da sucessão e a perdequando da sentença da ação ordinária – art. 1.965, CC

A incapacidade decorre da lei, que determina quem e legitimado a suceder.

A vontade do de cujus de excluir o ingrato; presumida (decorre da lei).

A vontade do de cujus de excluir e expressa (no testamento).

Art. 1.798 a 1.803, CC.Hipóteses expressamente previstas no art. 1.814, CC.

Hipóteses de deserdação: todas as da indignidade, além das previstas no art. 1.962 e 1.963, CC.

2.10 – HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE

a) HERANÇA JACENTE

Previsão legal: CC, art. 1.819 a 1.823; CPC, art. 738 a 743.

A herança é considerada jacente quando não há herdeiro legítimo, testamentário ou legatário (CC, art. 1.919).

Page 43: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

42

Maria Helena Diniz: “ter-se-á herança jacente quando não houver herdeiro legítimo ou testamentário, notoriamente conhecido, ou quando for repudiada pelas pessoas sucessíveis”.

Quando se abre a sucessão e o de cujus não deixou herdeiros nem testamento, diz-se que a herança e jacente (art. 1819, CC).

A herança é jacente quando não há quem dela possa cuidar legitimamente.

Existe jacência quando não se sabe de herdeiros: ou porque não existem, ou porque não se sabe de sua existência, ou ainda porque os herdeiros conhecidos renunciaram à herança.

A herança jacente tem uma série de medidas que objetiva proteger os bens de um titular ainda desconhecido.

A jacência não se confunde com a vacância. O estado de jacência é uma passagem fática, transitória. A vacância á a entrega dos bens a Fazenda Pública por não haver herdeiros que se habilitem no período da jacência.

Natureza Jurídica:

Segundo Silvio Venosa a herança jacente é uma entidade com personificação anômala, representada por um curador.

Para Carlos Roberto Goncalves é um ente despersonalizado – um acervo de bens administrado por um curador, sob a fiscalização da autoridade judiciaria, até que se habilitem os herdeiros incertos ou desconhecidos, ou se declare a vacância.

Características:

- Transitoriedade;

- A herança jacente tem legitimação ativa e passiva para estar em juízo. O CPC, no art. 75, VI, determina a representação processual por um curador, tanto da herança jacente quanto da herança vacante.

- Herança jacente é diferente de espólio (apesar de ambos não terem personalidade jurídica), porque na primeira a sucessão ocorre porque não há herdeiros conhecidos e no segundo os herdeiros são conhecidos.

Procedimentos:

O procedimento de arrecadação dos bens da herança jacente está disciplinado nos arts. 738 a 743, do CPC, quais sejam:

Arrecadação dos bens (Juiz determina).

Page 44: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

43

Nomeação do curador, para administrar os bens até a entrega a sucessor devidamente habilitado ou à declaração de vacância.

Arrolamento dos bens (CPC, art. 740). Não havendo curador, ficam os bens com depositário (CPC, art. 740, § 2º). Não realização da arrecadação ou a sua suspensão caso se apresentem

cônjuge, companheiro(a), herdeiros legítimos ou testamenteiro, representante do MP ou Fazenda Pública (CPC, art. 740, § 6º).

Publicação de Edital – 3 meses (CPC, art. 741). Citação de sucessor por Edital (§ 1º).

Prazo para habilitação de sucessores: 6 meses, contados da 1ª publicação do Edital.

Falecido estrangeiro comunica-se o fato a autoridade consular (§ 2º). Provada a habilitação do cônjuge, companheiro ou outro sucessor, converter-

se-á a Arrecadação em Inventário. Após um ano da publicação do 1º Edital, a herança será declarada vacante

(CPC, art. 743, caput). Herança vacante, depois de 5 (cinco) anos passa ao Município, Distrito

Federal ou União (CC, art. 1.822). Ocorre uma aquisição da propriedade resolúvel (CC, art. 1.350 e 1.360) pelo ente público, que se torna aquisição definitiva da propriedade depois do prazo estabelecido de 5 (cinco) anos.

O § 2º, do art. 743, CPC, prevê que: “Transitada em julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os credores só poderão reclamar o seu direito por ação direta”.

Hipóteses de Jacência:

- sem testamento: pode ocorrer tanto na inexistência de herdeiros conhecidos como na renuncia da herança pelos herdeiros conhecidos.

- com testamento: quando o herdeiro testamentário não existir ou não aceitar a herança e não houver herdeiros das demais classes.

OBS:

Há outros casos de jacência. Ex. testador nomeia filho já concebido e ainda não nascido de determinada pessoa, a herança é arrecadada como jacente e aguarda-se o nascimento com vida do beneficiário, se este não ocorre no prazo de dois anos, a herança passa aos herdeiros legítimos (art. 1.800, §§ 3º e 4º, CC).

Quando o de cujus deixa bens para uma pessoa jurídica ainda em formação.

Pendência de condição suspensiva.

Nenhuma dessas situações conduz a vacância da herança, somente se não for possível a entrega do bem ao beneficiário.

Page 45: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

44

b) HERANÇA VACANTE

Previsão legal: art. 1.820, CC.

A vacância é o estado definitivo da herança que foi jacente. Quando declarada a vacância, os bens do falecido que não tem herdeiros de nenhuma espécie, são transmitidos ao ente público, como já acima mencionado.

Portanto, os bens que compõem a herança vacante são entregues ao Município, ao Distrito Federal ou à União, conforme a localização do bem em relação à competência de cada ente público.

OBSERVAÇÕES:

A declaração de vacância defere a propriedade dos bens arrecadados ao ente publico, mas ainda não em caráter definitivo, portanto, configura uma propriedade resolúvel, conforme retro mencionado.

O STJ tem admitido a aquisição por usucapião de bem da herança jacente se ainda não houve declaração de vacância (REsp 73458/SP e REsp 36959).

CIVIL. USUCAPIÃO. HERANÇA JACENTE. O Estado não adquire a propriedade dos bens que integram a herança jacente, até que seja declarada a vacância, de modo que, nesse interregno, estão sujeitos a usucapião. Recurso especial não conhecido. (Terceira Turma, Resp 36959-SP, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 24.04.2001, DJ 11.06.2001, p. 196).

USUCAPIÃO. Herança jacente. O bem integrante de herança jacente só é devolvido ao Estado com a sentença de declaração da vacância, podendo, até ali, ser possuído ad usucapionem. Precedentes. Recursos não conhecidos.” (Quarta Turma. REsp 253719-RJ, Rel. Min, Ruy Rosado de Aguiar, j. 26.09.2000).

2.11 – DA SUCESSÃO DO AUSENTE

Previsão legal:

CC, art. 6º e 7º

CC, art. 22 a 39

CPC, art. 744/745

CPC/1973, art. 1.159 a 1.169.

Page 46: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

45

Trata-se da sucessão do ausente quando ocorre a morte presumida com decretação de ausência (CC, art. 22 – 39).

Lembre-se que a norma civil considera três tipos de morte:

Morte real – quando há o corpo para exame e emissão de atestado de óbito (art. 6º, CC).

Morte presumida sem declaração de ausência e com justificação para registro e emissão da certidão do óbito (art. 6º e 7º, CC). Neste caso, não há prazo específico previsto na norma para abertura da sucessão, depende somente da observância dos critérios do art. 7º, caput e parág. único, CC.

Morte presumida por ausência ou com declaração de ausência (art. 22 – 39, CC).Ocorre nos casos em que a pessoa desaparece sem conhecimento de seu paradeiro, ou seja, quando não há conhecimento ou notícias de onde a pessoa se encontra.

Neste caso, há três fases procedimentais para a sucessão do ausente:

Curadoria dos bens do ausente – art. 22 a 25, CC. Abertura da sucessão provisória – art. 26 a 36, CC. Declaração da sucessão definitiva – art. 37 a 39, CC.

Ver nos arts. 22 a 39, do Código Civil, os critérios procedimentais para a realização da sucessão do ausente.

SUMÁRIO: 3. SUCESSÃO LEGÍTIMA E ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA; 3.1 – Noções fundamentais sobre sucessão hereditária legítima; 3. 2 – Sucessão dos descendentes; 3.3 – Concorrência do cônjuge com os descendentes – análise do art. 1.829, CC/20023.4 – Hipóteses previstas no art. 1.829, I, do Código Civil, para concorrência do cônjuge com herdeiros descendentes; 3.4 – Hipóteses previstas no art. 1.829, I, do Código Civil, para concorrência do cônjuge com herdeiros descendentes; 3.5 – Reserva da quarta parte (25%) da herança ao cônjuge sobrevivente – art. 1.832, CC/2002; 3.6 – Se um ou alguns dos descendentes do falecido são pré-mortos, os filhos do pré-morto (netos) recebem por representação (art. 1.835 e 1.832, CC); 3.7 – Se todos os descendentes de uma classe são pré-mortos ao falecido, os da classe seguinte herdam por cabeça (direito próprio), e não por representação; 3.8 – Concorrência do cônjuge com os

Page 47: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

46

ascendentes (art. 1.929, II, CC); 3.9 – Cônjuge como único sucessor (art. 1.829, III, c/c art. 1.838, CC); 3.10 – Sucessão dos colaterais (art. 1.839 a 1.843, CC); 3.11 – Sucessão do companheiro/companheira.

3. SUCESSÃO LEGÍTIMA E ORDEM DA VOCAÇÃO HEREDITÁRIA

CC/2002, arts. 1.829 a 1.856; 1.790; 1.814 a 1.818

3.1 – Noções fundamentais sobre sucessão hereditária legítima

A sucessão hereditária – causa mortis, como já mencionamos, pode ser: legítima, testamentária e legatária.

A sucessão legítima ou ab intestato ocorre em caso de inexistência, invalidade ou caducidade de testamento e, também, em relação aos bens nele não compreendidos.

Lembre-se que o testamento tem que ser realizado em conformidade com a previsão legal da sucessão legítima (CC, art. 1.845 e 1.846; 1.857, § 1º).

São herdeiros legítimos, isto é, aqueles previstos na lei para receberem herança do falecido: descendentes, ascendentes, cônjuge, companheiro (a) e parentes colaterais até o 4º grau.

A ordem de vocação hereditária constitui uma relação preferencial, decorrente de lei, das pessoas que são chamadas a suceder o falecido. Em outros termos, é a distribuição dos herdeiros em classes preferenciais, quanto às pessoas que são chamadas preferencialmente para suceder nos bens do falecido, fundada em relações de família e de sangue.

O chamamento dos herdeiros para a sucessão na herança deixada pelo falecido é feito por classes, sendo que a mais próxima exclui a mais remota. Por isso, diz-se que tal ordem é preferencial (art. 1.836, § 1º, CC).

Os herdeiros podem ser legítimos, testamentários, legatários, ou por codicilo.

Os herdeiros legítimos (art. 1.829, CC/2002), aqueles previstos em lei, abrangem:

1) os herdeiros necessários (art. 1.845, CC/2002) que são: descendentes (filhos, netos, bisnetos...), ascendentes (pai/mãe, avô/avó, bisavô/bisavó...) e o cônjuge;

Obs.: A reserva da metade da herança em caso de doação ou testamento feito pelo titular do patrimônio, somente existe para os herdeiros legítimos necessários (art. 1.845 e art. 1.789, ambos do CC/2002). Portanto, a metade (50%) da herança constitui a legítima, isto é, a parte reservada, de pleno direito, aos herdeiros necessários do de cujus.

Page 48: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

47

2) os colaterais (até o 4º Grau, conforme art. 1.592, CC/2002);

3) a companheira ou o companheiro (art. 1.790, CC/2002).

Conforme previsto no art. 1.829, CC/2002, a sucessão defere-se na seguinte ordem: I – aos descendentes, II – aos ascendentes, III – ao cônjuge sobrevivente, IV – aos colaterais (até 4º grau: irmãos, tios, sobrinhos).

A companheira ou o companheiro sobrevivente participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, conforme previsão do art. 1.790, CC/2002.

Caso a herança seja declarada jacente, e finalmente vacante, isto é, quando não há herdeiros do falecido, prevê o art. 1.822 e art. 1.844, CC, e art. 1.142 e s., do CPC, que esta passará aos Municípios, Distrito Federal ou União.

Portanto, esta é a ordem para os herdeiros receberem os bens deixados pelo falecido. Sendo que, se existem herdeiros de uma classe excluem os das demais, ou seja, os mais próximos excluem os mais remotos.

Esta regra aplica-se inclusive aos descendentes, salvo o direito de representação (art. 1.833, CC/2002), isto é, quando o pai falece e o seu filho também tinha falecido antes dele, se este tem filhos, os seus filhos herdam do avô representando o pai falecido (pré-morto).

3. 2 – Sucessão dos descendentes

Aberta a sucessão, são primeiramente chamados a suceder os descendentes do falecido. A classe dos descendentes é a primeira a ser chamada à sucessão.

A lei privilegia a classe dos descendentes colocando-os em primeiro plano no rol dos herdeiros sucessíveis. O fundamento para este fato é a continuidade da vida humana e a vontade presumida do autor da herança.

Em geral, contemplam-se todos os descendentes (filhos, netos, bisnetos), porém os de grau mais próximo excluem os mais remotos, salvo os chamados a suceder por direito de representação (art. 1.833, CC). Por exemplo, com o falecimento do pai, os filhos são seus herdeiros (herdam por cabeça). Mas, se houver um filho pré-morto ao pai falecido, os filhos dele (netos) herdarão por representação (por estirpe).

Assim, em primeiro lugar são chamados os filhos do falecido (sucedem por cabeça e por direito próprio), recebendo cada um uma quota (quinhão) igual da herança, porque se acham à mesma distância do pai como parentes em linha reta.

3.3 – Concorrência do cônjuge com os descendentes – análise do art. 1.829, CC/2002

Page 49: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

48

Dois fatores são verificados para definir o direito de concorrência do cônjuge com os descendentes na herança deixada pelo falecido.

O primeiro fator é o regime de bens adotado no casamento, em relação ao qual a lei atribui ou nega a qualidade de concorrente ao cônjuge sobrevivente.

O outro fator diz respeito à natureza da descendência, para definir a extensão do direito sucessório do cônjuge supérstite, quando concorre com os descendentes.

Por exemplo, se são filhos comuns do casal (bilaterais), ou se são filhos exclusivos do falecido (unilateral).

3.4 – Hipóteses previstas no art. 1.829, I, do Código Civil, para concorrência do cônjuge com herdeiros descendentes:

a) Na comunhão universal de bens o cônjuge sobrevivente não herda, somente recebe sua meação (art. 1.829, I, CC).

b) Na separação obrigatória de bens (legal) o cônjuge supérstite também não herda (art. 1.829, I c/c art. 1.641, CC). Ver Súmula 377, do STF, que apresenta a seguinte interpretação: “No regime da separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”. Há meação do cônjuge sobrevivente, mas não há herança, ou seja, o cônjuge sobrevivente não concorre com os descendentes.

Observe-se que no art. 1.829, I, CC/2002, o legislador não fez menção aos regimes de separação total de bens convencional e o da participação final nos aquestos, por isso, se não foram incluídos nas exceções, nestes regimes o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes.

Portanto, nos regimes de separação total de bens convencional, aquele escolhido livremente pelos nubentes, e no regime da participação final nos aquestos, há concorrência do cônjuge sobrevivente com os herdeiros descendentes, isto é, com os filhos do casal.

Se forem filhos somente do cônjuge falecido, ao cônjuge sobrevivente não tem a reserva da quarta parte prevista no art. 1.832, do Código Civil.

c) Quanto ao cônjuge casado no regime da comunhão parcial de bens, no tocante ao seu direito de concorrência com os herdeiros (art. 1.829, I, CC), há diversidade de interpretações doutrinárias e jurisprudenciais. Veja-se explanação sobre as concepções acerca da matéria.

Há quatro concepções ou correntes no atual direito civilista pátrio sobre a partilha dos bens e as regras de concorrência entre as pessoas chamadas a suceder no patrimônio do falecido.

Page 50: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

49

Estas interpretações da aplicação do art. 1.829, do Código Civil, dispõem-se, regra geral, da seguinte forma:

PRIMEIRA CORRENTE:

Para a primeira corrente, prevista no Enunciado n. 270, do CJF/STJ – Conselho de Justiça Federal, da III Jornada de Direito Civil (2004), na comunhão parcial de bens (art. 1.829, I, CC), o cônjuge sobrevivente só concorre com os descendentes nos bens particulares do falecido, ou seja, aqueles bens que não entram na meação. Veja-se no quadro abaixo. Esta é a interpretação adotada tradicionalmente desde a vigência do Código Civil de 2002.

Regimes: Meação: Cônjuge herda bens particulares (BP)?

Cônjuge herda bens comuns (BC)?

Comunhão universal Sim Não Não

Comunhão parcial Sim Sim, em concurso com os descendentes

Não

Separação obrigatória

Não definido Não Não

Separação convencional

Não, em princípio Sim, em concurso com os descendentes

Não há, em princípio, bens comuns.

Exemplo 1:

Cláudia é casada em comunhão parcial de bens com Roberto. Antes de casar com Cláudia, Roberto possuía um apartamento, um terreno e uma moto. Cláudia possuía um carro. Na constância do casamento adquiriram uma casa e um terreno. Tiveram dois filhos, Joaquim e Larissa. Com o falecimento de Roberto, Cláudia receberá a sua meação constituída por 50% do valor da casa e 50% do valor do terreno adquirido na constância do casamento. Cláudia também concorrerá com os herdeiros, recebendo um terço do valor do apartamento, do terreno e da moto, pertencentes a Roberto a título de bens particulares. Os herdeiros receberão 25% cada da meação de Roberto, e também receberão 1/3 cada um nos bens particulares do pai falecido.

A partilha dos bens na sucessão ficará da seguinte forma:

1. Casa: 50% para Cláudia, 25% para Joaquim e 25% para Larissa.2. Terreno, adquirido na constância do casamento: 50% para Cláudia, 25% para Joaquim e 25% para Larissa.

Page 51: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

50

3. Apartamento (bem particular de Roberto, o de cujus): 1/3 para Cláudia (cônjuge sobrevivente), 1/3 para o herdeiro Joaquim e 1/3 para a herdeira Larissa.4. Terreno, adquirido por Roberto antes do casamento: 1/3 para Cláudia (cônjuge sobrevivente), 1/3 para o herdeiro Joaquim e 1/3 para a herdeira Larissa.5. Moto: 1/3 para Cláudia (cônjuge sobrevivente), 1/3 para o herdeiro Joaquim e 1/3 para a herdeira Larissa.

Exemplo 2:

Roberto e Cláudia casaram-se em comunhão parcial de bens. Ambos não possuíam bens antes do casamento, bem como não receberam bens em herança ou doação. Tiveram dois filhos, Joaquim e Larissa. Na constância do casamento adquiriram uma casa, residência da família. Com a morte de Roberto, não havendo bens particulares do falecido, Cláudia receberá somente a sua meação referente ao valor da casa (50%). Os outros 50% do valor da casa, ficarão 25% para o herdeiro Joaquim e 25% para Larissa. Neste caso, não há concorrência do cônjuge sobrevivente (supérstite) com os herdeiros, na herança deixada pelo de cujus.

SEGUNDA CORRENTE:

Na comunhão parcial de bens (art. 1.829, I, CC), o cônjuge concorre quanto ao total da herança, se houver bens particulares do falecido. Caso não haja bens particulares do falecido, ocorre somente a meação, e não há, neste caso, concorrência do cônjuge sobrevivente com os herdeiros.

Esta concepção é defendida por Francisco Cahali, Guilherme Calmon Nogueira da Gama, Inácio de Carvalho Neto, Maria Helena Diniz e Mário Roberto Carvalho de Faria, segundo explica Flávio Tartuce, em Direito Civil: Direito das Sucessões, vol. 6, 2014: 176. Mais conhecida como tese da doutrinadora Maria Helena Diniz. Dispõe-se a sucessão hereditária, conforme quadro apresentado a seguir.

Regimes: Meação: Cônjuge herda bens particulares (BP)?

Cônjuge herda bens comuns (BC)?

Comunhão universal Sim Não Não

Comunhão parcial Sim Sim, em concurso com os descendentes

Sim, em concurso com os descendentes

Separação obrigatória

Não definido Não Não

Page 52: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

51

Separação convencional

Não, em princípio Sim, em concurso com os descendentes

Sim, se os houver, em concurso com os descendentes.

Exemplo 1:

Francisco e Clara casaram-se em regime de comunhão parcial de bens. Francisco ao casar já possuía uma casa no valor de R$ 320.000,00. Durante o casamento com Clara adquiriram um apartamento no valor de R$ 280.000,00. O casal tem dois filhos bilaterais, Ronaldo e Clarisse. Com a morte de Francisco (art. 1.929, I, CC), Clara receberá a sua meação, ou seja, 50% do valor do apartamento, que corresponde a R$ 140.000,00. E concorrerá com os herdeiros recebendo 1/3 da meação de Francisco no valor do apartamento e 1/3 no valor da casa, que era bem particular de Francisco, concorrendo com os herdeiros.

A partilha dos bens seguirá a seguinte disposição:

1. Apartamento: Clara ficará com a sua meação que corresponde a 50% do valor do apartamento. Os outros 50% do valor do apartamento será dividido entre Clara, Ronaldo e Clarisse, sendo 1/3 para cada um deles.

2. Casa: Clara receberá 1/3, Ronaldo ficará com 1/3 e Clarisse 1/3.

Neste caso, o cônjuge sobrevivente concorre com os herdeiros na totalidade da herança do falecido. Para esta concepção dos juristas acima elencados, isto ocorre porque há bens particulares do falecido, conforme prevê o art. 1.829, I, in fine, CC.

Exemplo 2:

Francisco e Clara são casados em regime de comunhão parcial de bens. Francisco não possuía bens particulares, isto é, ao casar não possuía bens, e não adquiriu bens por herança ou doação. Clara ao casar possuía um carro. Na constância do casamento adquiriram uma casa e um carro. Tem dois filhos: Ronaldo e Clarisse. Com o falecimento de Francisco, a partilha dos bens na sucessão ficará da seguinte forma:

1. Casa: 50% para Clara; 25% para Ronaldo e 25% para Clarisse.

2. Carro: 50% para Clara; 25% para Ronaldo e 25% para Clarisse.

Neste caso, para esta segunda corrente, o cônjuge sobrevivente não concorre com os herdeiros quando não há bens particulares do falecido.

TERCEIRA CORRENTE:

Page 53: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

52

A condição para o cônjuge concorrer com os descendentes, na comunhão parcial de bens, é a inexistência de bens particulares do falecido (Maria Berenice Dias). Caso não haja bens particulares do falecido, o cônjuge sobrevivente concorre com os descendentes na herança deixada pelo de cujus.

Para Berenice Dias, a concorrência somente se refere aos bens comuns, conforme interpretação do inciso I, do art. 1.829, do CC/2002. Mas, o cônjuge sobrevivente só concorre com os herdeiros se o falecido não deixou bens particulares.

Exemplo 1:

Sansão e Dalila realizaram casamento adotando o regime da comunhão parcial de bens. Sansão faleceu e não deixou bens particulares. Na constância do casamento, os cônjuges compraram um apartamento, um carro e um sítio para lazer da família. Da relação conjugal nasceram dois filhos, Rebeca e Venceslau. Sansão faleceu em 30 de agosto de 2014. Ao fazer o inventário, a partilha dos bens será procedida da seguinte forma:

1. Apartamento: 50% serão de Dalila, valor que corresponde à sua meação; os outros 50%, que corresponde à parte de Sansão, Dalila receberá 1/3, Rebeca 1/3 e Venceslau 1/3.

2. Sítio: 50% serão de Dalila, valor que corresponde à sua meação; os outros 50%, Dalila receberá 1/3, Rebeca 1/3 e Venceslau 1/3.

3. Carro: 50% serão de Dalila, valor que corresponde à sua meação; os outros 50%, Dalila receberá 1/3, Rebeca 1/3 e Venceslau 1/3.

Veja-se que neste caso o cônjuge sobrevivente concorre com os herdeiros em relação aos bens comuns do casal.

Exemplo 2:

Sansão e Dalila realizaram casamento adotando o regime da comunhão parcial de bens. Sansão faleceu e deixou como bens particulares 60 hectares de terra recebidos de herança do seu pai, e uma casa que havia comprado antes do seu casamento com Dalila. Na constância do casamento, os cônjuges compraram um apartamento, um carro e um sítio para lazer da família. Da relação conjugal nasceram dois filhos, Rebeca e Venceslau. Sansão faleceu em 30 de agosto de 2014. Ao fazer o inventário, a partilha dos bens será procedida da seguinte forma:

1. Apartamento: 50% de Dalila, que corresponde à sua meação; 25% da herdeira Rebeca e 25% do herdeiro Venceslau.

2. Sítio: 50% de Dalila, que corresponde à sua meação; 25% da herdeira Rebeca e 25% do herdeiro Venceslau.

3. Carro: 50% de Dalila, que corresponde à sua meação; 25% da herdeira Rebeca e 25% do herdeiro Venceslau.

4. Imóvel rural (60 hectares): 50% da herdeira Rebeca e 50% do herdeiro Venceslau.

5. Casa: 50% da herdeira Rebeca e 50% do herdeiro Venceslau.

Page 54: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

53

Para Maria Berenice Dias, como afirmado acima, quando há bens particulares do falecido o cônjuge sobrevivente não concorre com os herdeiros. Vale dizer que, para esta interpretação, a inexistência de bens particulares do falecido torna o cônjuge concorrente (Exemplo 1).

Ao contrário, a existência de bens particulares do falecido afasta o direito de concorrência do cônjuge sobrevivente (Exemplo 2).

Portanto, se há bens particulares do falecido, o cônjuge sobrevivente não herda. Quando não há bens particulares do falecido, o cônjuge sobrevivente herda, concorrendo com os herdeiros, quanto ao patrimônio comum do casal.

QUARTA CORRENTE:

As dificuldades de interpretação do inciso I, art. 1.829, do Código Civil de 2002, tem gerado várias controvérsias doutrinárias. Recentemente o STJ emitiu Acórdão criando nova disciplina sobre a partilha de bens na sucessão e concorrência do cônjuge sobrevivente com os herdeiros.

Estas decisões do STJ, que não configuram propriamente uma corrente doutrinária, mesmo porque ainda não há respaldo na doutrina para esta tese, foi apresentada em julgamento do REsp 1-117.563/SP, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j. 17.12.2009, DJe 06.04.2010 e REsp 1.377.084/MG, 3ª Turma, Rel. Min. Nancy Andrighi, j., 08.10.2013, DJe 15.10.2013, e diz, quanto a interpretação do art. 1.829, I, CC, que no regime de comunhão parcial de bens, o cônjuge concorre sempre, mas somente quanto aos bens comuns do casal.

Portanto, nos bens particulares deixados pelo falecido, o cônjuge sobrevivente não concorre, pois se isto fosse admitido estaria contrariando a vontade do falecido, manifestada ao escolher o regime da comunhão parcial de bens, em acordo realizado pelos nubentes quando da escolha do regime de bens adotado no casamento.

Exemplo 1:

Sara e Abraão são casados no regime da comunhão parcial de bens. Abraão ao casar com Sara era proprietário de um apartamento no valor de R$ 120.000,00 e uma sala comercial no valor de R$ 140.000,00, e recebeu de seu pai falecido em herança um lote no Condomínio Felicidade com valor de R$ 90.000,00. Na constância do casamento adquiriram uma casa no Condomínio Brisas do Vento, no valor de R$ 320.000,00 e dois automóveis, um de R$ 42.000,00 e outro de R$ 66.000,00. Desta relação conjugal nasceram dois filhos, Vinicius e Nicole. Abraão faleceu em 06.09.2014, em um trágico acidente de carro.

Pergunta-se, como deverá ser procedida à partilha dos bens, conforme recente decisão do STJ quanto à interpretação do inciso I, do art. 1.829, do Código Civil de 2002?

Plano de Partilha dos Bens:

1. Casa no Condomínio Brisas do Vento. Valor R$ 240.000,00. 50% para Sara, sua meação, no valor de R$ 120.000,00; dos 50% do valor do referido imóvel, herança deixada pelo de

Page 55: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

54

cujus, caberá 1/3 para Sara, cônjuge sobrevivente, que receberá R$ 40.000,00; 1/3 para Vinicius e 1/3 para Nicole, ambos com valores de R$ 40.000,00.

2. Automóvel no valor de R$ 42.000,00. 50% para Sara, meação, com valor de R$ 21.000,00; dos outros 50%, 1/3 para Sara, 1/3 para Vinicius e 1/3 para Nicole, todos com valor de R$ 7.000,00.

3. Automóvel no valor de R$ 66.000,00, sendo 50% para Sara, R$ 33.000,00; dos 50% correspondentes ao valor da herança, Sara receberá 1/3, Vinicius 1/3 e Nicole 1/3, todos com valor de R$ 11.000,00.

4. Apartamento no valor de R$ 120.000,00, que deverá ser partilhado entre os herdeiros. Vinicius receberá 50%, no valor de R$ 60.000,00 e Nicole 50%, no valor de R$ 60.000,00.

5. Imóvel sala comercial, no valor de R$ 140.000,00, sendo 50% para Vinicius e 50% para Nicole, cada um receberá R$ 70.000,00.

6. Imóvel, sendo um lote no Condomínio Felicidade no valor de R$ 90.000,00. Para Vinicius caberá 50% e a Nicole 50%, cada um receberá o valor de R$ 45.000,00.

Exemplo 2:

Sara e Abraão são casados há doze anos no regime da comunhão parcial de bens. Ambos os cônjuges não possuíam bens antes de se casarem. Na constância do casamento adquiriram uma casa no Condomínio Brisas do Vento, no valor de R$ 320.000,00 e dois automóveis, um de R$ 42.000,00 e outro de R$ 66.000,00. Desta relação conjugal nasceram dois filhos, Vinicius e Nicole. Abraão faleceu em 06.09.2014, em um trágico acidente de carro.

Pergunta-se, como deverá ser procedida à partilha dos bens, conforme recente decisão do STJ quanto à interpretação do inciso I, do art. 1.829, do Código Civil de 2002?

Plano de Partilha dos Bens:

1. Casa no Condomínio Brisas do Vento. Valor R$ 240.000,00. 50% para Sara, sua meação, no valor de R$ 120.000,00; dos 50% do valor do referido imóvel, herança deixada pelo de cujus, caberá 1/3 para Sara, cônjuge sobrevivente, que receberá R$ 40.000,00; 1/3 para Vinicius e 1/3 para Nicole, ambos com valores de R$ 40.000,00.

2. Automóvel no valor de R$ 42.000,00. 50% para Sara, meação, com valor de R$ 21.000,00; dos outros 50%, 1/3 para Sara, 1/3 para Vinicius e 1/3 para Nicole, todos com valor de R$ 7.000,00.

3. Automóvel no valor de R$ 66.000,00, sendo 50% para Sara, R$ 33.000,00; dos 50% correspondentes ao valor da herança, Sara receberá 1/3, Vinicius 1/3 e Nicole 1/3, todos com valor de R$ 11.000,00.

Observação: Para a interpretação do STJ quanto ao inciso I, do art. 1.829, CC/2002, no aplicável ao regime da comunhão parcial de bens, independente de existirem ou não bens particulares do falecido, o cônjuge sobrevivente concorre na herança com os herdeiros, mas somente nos bens do patrimônio comum do casal. Os bens particulares deixados pelo falecido são partilhados somente com os herdeiros.

Page 56: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

55

Em síntese, pode-se afirmar que as regras de concorrência quanto ao regime de bens adotado no casamento segue a seguinte ordem:

Regimes em que o cônjuge sobrevivente (supérstite) herda em concorrência:

Regime da comunhão parcial de bens, se houver bens particulares do falecido. Obs.: Ver divergência das “4 correntes”.

Regime da participação final nos aquestos. Regime da separação convencional de bens, decorrente de pacto

antenupcial. A jurisprudência tem admitido a comunicação dos aquestos no regime da separação convencional de bens, quando tenham resultado do esforço comum dos cônjuges.

Regimes em que o cônjuge sobrevivente não herda em concorrência:

Regime da comunhão parcial de bens, não havendo bens particulares do falecido.

Regime da comunhão universal de bens. Regime da separação legal ou obrigatória de bens. Obs.: Ver divergência da

Súmula 377, STF.

3.5 – Reserva da quarta parte (25%) da herança ao cônjuge sobrevivente – art. 1.832, CC/2002

O art. 1.832, do Código Civil, prevê que:

Em concorrência com os descendentes (art. 1.829, I) caberá ao cônjuge quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça, não podendo a sua quota parte ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer.

Se o cônjuge concorrer com um, dois ou três filhos, não há porque considerar a reserva da quarta parte, uma vez que ele já estará recebendo ½, 1/3, ou ¼.

Se concorrer com quatro filhos ou mais, neste caso há reserva da quarta parte ao cônjuge sobrevivente.

Decorrem desta previsão legal as seguintes regras, em síntese:

1ª – Se concorrer com apenas 1 (um) descendente, o cônjuge recebe a metade (50%) da herança do falecido;

2ª – Se o cônjuge concorrer com 2 (dois) descendentes, todos herdam o valor de 1/3 dos bens deixados pelo de cujus;

3ª – Se o cônjuge concorrer com 3 (três) descendentes, todos herdam ¼ (25%) cada um;

Page 57: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

56

4ª – Se o cônjuge concorrer com 4 (quatro) ou mais descendentes, ao cônjuge é reservada a quarta parte (25%) da herança deixada pelo falecido, e cada herdeiro receberá uma quota igual nos 75% do patrimônio do espólio (isto é, do patrimônio deixado pelo falecido aos seus herdeiros).

5ª – Quando o cônjuge concorre com descendentes exclusivos do autor da herança, ou seja, somente filhos do falecido (unilaterais), não há reserva da quarta parte (25%), recebe quinhão igual ao dos herdeiros descendentes.

6ª – Quando o cônjuge concorre com filiação híbrida, ou seja, com filhos de ambos (bilaterais) e filhos exclusivos do falecido, neste caso, o cônjuge tem reserva da quarta parte (25%) somente quanto ao valor dos bens referentes aos filhos comuns do casal. Quanto à concorrência com filhos exclusivos do falecido não há reserva da quarta parte, portanto, o cônjuge recebe quinhão igual aos dos descendentes.

3.6 – Se um ou alguns dos descendentes do falecido são pré-mortos, os filhos do pré-morto (netos) recebem por representação (art. 1.835 e 1.832, CC)

Aquele que recebe por representação, por ser filho do herdeiro falecido, pré-morto ao autor da herança, diz-se que herda por estirpe, e não por cabeça (direito próprio).

Exemplo:

João tem dois filhos. Ronaldo, que tem dois filhos e Mariana, que possui um filho. Quando João faleceu, o seu primeiro filho, Ronaldo, já havia falecido (pré-morto). Os filhos de Ronaldo recebem a herança de João (avô) representando o pai falecido antes do titular da herança. Desta forma, Mariana recebe 50% da herança, e os filhos de Ronaldo recebem 25% cada, correspondentes aos 50% do pai já falecido (Ronaldo).

3.7 – Se todos os descendentes de uma classe são pré-mortos ao falecido, os da classe seguinte herdam por cabeça (direito próprio), e não por representação

Ver arts. 1.840 (renúncia da herança) e 1.811, ambos do CC/2002.

Exemplo:

João têm 3 filhos (F1, F2 e F3): Carlos Eduardo, João Vitor e Marielle. Carlos Eduardo tem dois filhos (N1 e N2); João Vitor tem 1 filho (N3); e Marielle tem três filhos (N4, N5 e N6). Quando João morreu, titular do patrimônio, seus três filhos eram pré-mortos. Neste caso, os filhos de seus filhos, isto é, seus netos (N1, N2, N3, N4, N5 e N6), herdarão por cabeça, e não por representação. Cada herdeiro receberá 1/6 do patrimônio do falecido.

3.8 – Concorrência do cônjuge com os ascendentes (art. 1.929, II, CC)

a) Não havendo descendentes, herdam os ascendentes, em concorrência com o cônjuge.

Page 58: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

57

ATENÇÃO: Para esta hipótese, independentemente do regime de bens, sempre haverá concorrência do cônjuge com os herdeiros.

Ver os seguintes artigos: art. 1.837, CC; art. 1.836, § 1º, CC.

É importante ressaltar, que o chamamento para a sucessão segue uma ordem preferencial e é feito por classes, sendo que a mais próxima exclui a mais remota (art. 1.836, § 1º, CC).

Por isto, se houver pais vivos, excluem da sucessão os avós do falecido. Caso os pais do falecido já estejam mortos, quando da sua morte, herdarão os seus avós. Se os avós também já forem mortos, herdarão os seus bisavós.

Exemplo 1:

João e Maria são casados há dez anos, mas não tem filhos. Somente o pai de João é vivo. Sua mãe já falecera há seis anos. Com a morte de João, Maria, cônjuge sobrevivente, receberá 50% dos bens, sua meação, mais 25% da herança deixada pelo esposo falecido, concorrendo com o ascendente de João, seu pai, que receberá 25% da herança.

Exemplo 2:

João e Maria são casados há dez anos, mas não tem filhos. Os pais de João são vivos. Com o falecimento de João, Maria, cônjuge sobrevivente, receberá a sua meação (50%), mais 1/3 da herança deixada pelo esposo falecido, concorrendo com os ascendentes de João. Os pais de João receberá 1/3 cada. Receberão, portanto, da seguinte forma: Maria receberá 50% (meação) + 1/3 da herança; Pai de João receberá 1/3; e a mãe 1/3.

b) Hipótese do art. 1.836, §2º, CC – inexistindo ascendentes em 1º grau (pais), são convocados os avós (2º grau). Neste caso, a herança será dividia metade para a linha paterna e metade para a linha materna.

Exemplo 1:

João faleceu e não tinha filhos. Seus pais também eram falecidos. Seus avós paternos e seus avós maternos receberão ¼ cada um, do montante da herança.

Exemplo 2:

João faleceu e não tinha filhos. Seus pais também eram falecidos. Seus avós paternos estavam vivos. Na linha materna, somente sua avó estava viva. Portanto, seu avô e sua avó da linha paterna, receberão ¼ cada um; e sua avó materna receberá 50% da herança. Pois, nesta hipótese, os ascendentes da linha paterna recebem 50%, e os da materna 50%.

3.9 – Cônjuge como único sucessor (art. 1.829, III, c/c art. 1.838, CC)

Inexistindo herdeiros descendentes e ascendentes, “será deferida a sucessão por inteiro ao cônjuge sobrevivente” (art. 1.838, CC).

Page 59: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

58

O cônjuge participa da ordem da vocação hereditária em 3º lugar (1.829, III, CC).

Como é herdeiro necessário, tem garantida a legítima (CC, art. 1.845).

Se inexistirem herdeiros descendentes e ascendentes, recebe a herança por direito próprio.

Lembre-se que o cônjuge tem direito real de habitação (art. 1.831, CC).

3.10 – Sucessão dos colaterais (art. 1.839 a 1.843, CC)

Os parentes colaterais, sejam eles naturais ou civis, dispõem-se da seguinte forma:

2º grau = irmãos;

3º grau = sobrinhos e tios;

4º grau = sobrinhos-netos, tios-avós, e primos.

Regras para sucessão de colaterais:

1ª) A condição para que colateral seja herdeiro é a inexistência de descendentes, ascendentes e cônjuge do falecido.

2ª) Entre os colaterais, os mais próximos excluem os mais remotos, salvo direito de representação concedido exclusivamente aos filhos de irmãos (sobrinhos), já falecidos (pré-morto) (art. 1.840, CC). Ver acima 2.4, do item 2.

Em outros termos, na sucessão por parente colateral, só há uma hipótese de representação. Diz respeito à de irmão do falecido pelo respectivo filho (CC, art. 1.840, in fine, e art. 1.853, CC).

Assim, se o morto tinha dois irmãos, mas apenas um deles ainda estava vivo na abertura da sucessão, o outro será representado por sua descendência, isto é, pelos sobrinhos do autor da herança.

Nos demais casos, todos os colaterais herdam exercendo direito próprio, isto é, por cabeça e não por estirpe. Por exemplo, se os herdeiros do falecido são um primo e dois sobrinhos-netos, cada um deles terá direito a um terço da herança, independentemente das linhas a que pertencem, ou de quem sejam seus pais ou avós.

3ª) Figuram em quarto lugar na ordem da vocação hereditária. Serão chamados a suceder se não houver cônjuge sobrevivente (CC, art. 1.839).

4ª) Se houver companheiro, concorrerão com ele, cabendo àquele um terço da herança (CC, art. 1.790, III).

Page 60: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

59

5ª) São herdeiros legítimos, mas não são necessários (art. 1.829, IV, CC). Por isso, a eles não é reservada parte da herança.

Concorrência dos irmãos enquanto herdeiros colaterais. Observar as regras dos arts. 1.841 e 1.842, CC:

Concorrendo apenas irmãos bilaterais, estes receberão em partes iguais. Concorrendo irmãos bilaterais e irmãos colaterais, os colaterais receberão a

metade do que aqueles receberem. Concorrendo somente irmãos colaterais receberão partes iguais.

Concorrência dos sobrinhos. Os sobrinhos serão herdeiros se morrer alguém sem cônjuge, descendente, ascendente ou irmãos. Ver CC, art. 1.843:

Se os pais deles eram todos irmãos bilaterais ou unilaterais do falecido, a cada sobrinho será destinada uma porção igual da herança.

Mas se, entre os pais dos herdeiros, havia irmãos bilaterais e unilaterais do falecido, os sobrinhos filhos dos unilaterais herdarão a metade da quota atribuída aos sobrinhos descendentes dos bilaterais (CC, art. 1.843, §§ 1º a 3º).

Os tios do falecido só são chamados a sucedê-lo quando não houver sobrinhos (CC, art. 1.843, in fine).

3.11 – Sucessão do companheiro/companheira

O art. 1.790, do Código Civil, prevê que a companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:

“I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II – se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;

III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança;

IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.”

O tratamento dado ao companheiro pelo Código Civil de 2002 é flagrantemente discriminatório.

Na ordem da vocação hereditária, o cônjuge é herdeiro necessário (CC, art. 1.845) e figura em terceiro lugar (CC, art. 1.829, III), enquanto o companheiro embora herdeiro legítimo, está em último lugar, depois dos parentes colaterais de quarto grau (CC, art. 1.790, IV).

O companheiro/companheira não é herdeiro necessário.

Page 61: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

60

Assim, o companheiro pode ser afastado da sucessão, via testamento, enquanto o cônjuge não pode, porque é herdeiro necessário.

Outra postura discriminatória contra o companheiro, é que ele só faz jus à totalidade da herança se não existir nenhum parente sucessível.

SUMÁRIO: 4. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA; 4.1 – Testamento: capacidade, formas; 4.2 – Disposições Testamentárias; 4.2.1 – Redução; 4.3 – Legados; 4.3.1 – Classificação; 4.3.2 – Caducidade, Extinção, Modificação; 4.3.3 – Alienação, Evicção; 4.4 – Direito de Acrescer entre Herdeiros e Legatários; 4.5 – Substituições; a) Substituição vulgar; b) Substituição fideicomissária; 4.6 – Revogação e Rompimento do Testamento; 4.6.1 – Revogação (art. 1.969 a 1.972, CC); 4.6.2 – Rompimento do testamento; 4.7 – Testamenteiro.

4. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA

4.1 – Testamento: capacidade, formas.

Page 62: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

61

4.2 – Disposições Testamentárias

4.2.1 – Redução

4.3 – Legados

4.3.1 – Classificação

4.3.2 – Caducidade, Extinção, Modificação

4.3.3 – Alienação, Evicção

4.4 – Direito de Acrescer entre Herdeiros e Legatários

4.5 – Substituições

Previsão legal: art. 1.947 a 1.960, CC.

Conceito: Substituição é a indicação de certa pessoa para recolher a herança, ou legado, se o nomeado faltar, ou alguém consecutivamente a ele.

Pode faltar o beneficiário em casos de:

Premoriência. Exclusão por indignidade ou por falta de legitimação. Quando há renúncia. Não implemento da condição imposta pelo testador.

Espécies de substituições:

a) Substituição vulgar

A substituição vulgar pode ser:

Simples (ou singular) – quando há um só substituto. Coletiva (ou plural) – quando há mais de um substituto. Recíproca – quando são nomeados dois ou mais beneficiários, estabelecendo

o testador que reciprocamente se substituem (art. 1.948, CC).

b) Substituição fideicomissária

Na substituição fideicomissária, o testador estabelece que, na morte do primeiro testamentário (fiduciário), os bens não serão destinados aos respectivos sucessores, mas sim a outra pessoa (fideicomissário).

Limitação: O art. 1.952, CC, estabelece que a referida estipulação somente é permitida “em favor dos não concebidos ao tempo da morte do testador”. Limita, desse modo, a instituição do fideicomisso somente em benefício da prole eventual. Se ao tempo da morte do testador já houver nascido o fideicomissário, adquirirá este a propriedade dos bens fideicomitidos, convertendo-se o direito do fiduciário (parág. único).

Page 63: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

62

Partes que compõem o fideicomisso:

O fideicomitente = testador; O fiduciário ou gravado, em geral, pessoa de confiança do testador, chamado

a suceder em primeiro lugar para cuidar do patrimônio deixado; O fideicomissário, último destinatário da herança, ou legado. Aquele que

ficará com a herança definitivamente.

Espécies de fideicomisso:

Fideicomisso vitalício, em que a substituição ocorre com a morte do fiduciário;

Fideicomisso a termo, quando ocorre no momento prefixado pelo testador; Fideicomisso condicional, se depender do implemento de condição

resolutiva.

Direitos e deveres do fiduciário – ver art. 1.953, CC.

Direitos e deveres do fideicomissário – ver Art. 1.593, parág. único, art. 1.596, art. 1.597, art. 1.955 e art. 1.954, todos do CC.

Caducidade do fideicomisso:

Se faltar o fideicomissário, por morrer depois do testador, mas antes do fiduciário, ou antes de realizar-se a condição resolutória do direito deste último, pela renúncia da herança ou legado, se não houver prejuízo para terceiros, ou pela exclusão por indignidade ou falta de legitimação.

Se faltar a coisa, em caso de perecimento, sem culpa do fiduciário. Subsistirá, no entanto, sobre o remanescente, se parcial o perecimento.

Nulidade do fideicomisso: São nulos os fideicomissos instituídos sobre a legítima, bem como os que ultrapassam o segundo grau (CC, art. 1.959).

4.6 – Revogação e Rompimento do Testamento

4.6.1 – Revogação (art. 1.969 a 1.972, CC)

a) Noção:

O testamento é um ato personalíssimo e pode ser alterado, no todo ou em parte, a qualquer momento, pelo testador.

Nula é a cláusula pela qual o declare irrevogável, pois a liberdade de testar é de ordem pública.

Exceção: Apenas o reconhecimento de paternidade feito em testamento é insuscetível revogação (CC, art. 1.609, III).

b) Forma de revogação:

O testamento pode ser revogado pelo mesmo modo e forma como pode ser feito (art. 1.969, CC).

Page 64: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

63

c) Espécies:

Quanto à sua extensão:

Total = quando retira a inteira eficácia do testamento; Parcial = quando atinge somente algumas cláusulas, permanecendo

incólumes as demais (CC, art. 1.970 e parág. único).

Quanto à forma:

Expressa = a que resulta de declaração inequívoca do testador manifestada em novo testamento.

Tácita = quando o testador não declara que revoga o anterior, mas há incompatibilidade entre as disposições deste e as do novo testamento;

Em caso de dilaceração ou abertura do testamento cerrado, pelo testador, ou por outrem, com o seu consentimento (CC, art. 1.972).

4.6.2 – Rompimento do testamento

a) Noção e base legal

Base legal: art. 1.973 a 1.975, CC.

Rompe-se o testamento, desconstituindo-se seus efeitos, quando sobrevém ao testador descendência ou se existiam herdeiros necessários que ele desconhecia (art. 1.973, CC).

A norma civil considera como base legal para o rompimento do testamento a presunção de que o testador não teria disposto de seus bens em testamento se soubesse da existência de algum herdeiro necessário.

b) Hipóteses legais:

a do de cujus que, ao testar, não tinha nenhum descendente e posteriormente vem a tê-lo, havido do casamento ou não;

a do de cujus que, ao testar, ignorava a concepção e existência de um filho, ou imaginava, enganadamente, que um seu descendente houvesse morrido;

a do de cujus que, ao testar, ignorava a existência de outros herdeiros necessários, tais como ascendentes e cônjuge (CC, art. 1.974).

4.7 – Testamenteiro

A matéria é tratada nos arts. 1.976 a 1. 1990, CC.

a) Conceito:

Testamenteiro é a pessoa que executa o testamento. A lei faculta ao testador encarregar pessoa de sua confiança para cumprir as disposições de sua última vontade.

Pode nomear, em testamento ou codicilo (CC, art. 1.883), um ou mais testamenteiros, conjuntos ou separados (art. 1.976, CC).

Page 65: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

64

Na falta de testamenteiro nomeado pelo testador, a execução testamentária compete a um dos cônjuges, e, em falta destes, ao herdeiro nomeado pelo juiz (art. 1.984, CC).

b) Capacidade para ser nomeado:

Qualquer pessoa idônea e capaz, exceto pessoa jurídica, pois é ato personalíssimo (art. 1.985, CC).

c) Espécies:

instituído: o nomeado pelo testador; dativo: o nomeado pelo juiz (CPC, art. 1.127); universal: aquele a quem se confere a posse e a administração da herança ou

parte dela, art. 1.977, CC; particular: é o que não desfruta desses direitos.

SUMÁRIO: 5 – INVENTÁRIO E PARTILHA; 5.1 – Administração provisória da herança; 5.2 – Registro do testamento; 5.3 – Espécies de Inventário.

5 – INVENTÁRIO E PARTILHA

CC, art. 1.991 a 2.027; CPC, art. 610 a 667.

Inventário e partilha são procedimentos subsequentes à abertura da sucessão, por meio dos quais se identificam os bens do acervo e os sucessores, liquida-se a herança e, em seguida, distribuem-se os bens entre os herdeiros, e pagam-se os legados.

O inventário é uma forma processual ou administrativa dos bens do falecido passarem para os seus sucessores (herdeiros, legatários etc.).

Page 66: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

65

A partilha é forma processual legal de se definir os limites da herança (quinhão) que caberá a cada um dos herdeiros e legatários. O formal de partilha é o documento final que detalha o quinhão que deverá receber cada herdeiro, conforme previsão da norma civil.

A sucessão se concretiza, juridicamente, pelo inventário ou pelo arrolamento.

Pode o inventário ser realizado pela via extrajudicial, isto, administrativa, quando não houver herdeiros incapazes, lide e testamento.

5.1 – Administração provisória da herança

A administração da herança, antes do compromisso do inventariante, incumbe, sucessivamente, conforme prevê o art. 1.797, CC:

I – ao cônjuge ou companheiro;

II – ao herdeiro que estiver na posse do bem, e ao mais velho, se mais de um for possuidor;

III – ao testamenteiro;

IV – a quem o juiz nomear, se faltarem as pessoas indicadas anteriormente, ou se forem removidas do cargo.

Ver art. 613-614, do CPC.

5.2 – Registro do testamento

O art. 1.979, CC, prevê que “o testamenteiro nomeado, ou qualquer parte interessada, pode requerer, assim como o juiz pode ordenar, de ofício, ao detentor do testamento, que o leve a registro”.

Ver art. 735-737, CPC, registro, arquivamento e cumprimento do testamento.

5.3 – Espécies de Inventário:

MODALIDADES DE INVENTÁRIO NO NCPC:

• Inventário comum ou tradicional - arts. 610 a 646;• Inventário na forma de arrolamento sumário - arts. 659 a 663;• Inventário na forma de arrolamento comum – art. 664;• Inventário extrajudicial/administrativo – art. 610, §§1º e 2º.

a) Inventário judicial pelo rito tradicional (arts. 610 a 646 do CPC). O inventário constitui processo judicial de caráter contencioso.

Page 67: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

66

Requisitos: quando houver herdeiro menor, incapaz e conflito entre os interessados, somente poderá ser realizado pela via judicial (art. 610, caput, CC).

b) Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário – previsto no art. 659 a 663 do CPC, sendo cabível quando todos os interessados forem maiores e capazes, abrangendo bens de quaisquer valores.

c) Inventário judicial pelo rito do arrolamento comum – regulamentado no art. 664 a 667, do CPC, sendo cabível quando os bens do espólio forem de valor igual ou menor que 1.000 (mil) salários mínimos (CPC, art. 664). O CPC/1973, art. 1.036, previa o valor de 2.000 OTN – Obrigação do Tesouro Nacional. Tinha que que ser convertido em reais para aplicar.

d) Inventário extrajudicial ou por via administrativa – previsto no art. 610, §§ 1º e 2º, CPC. O Inventário pela via extrajudicial, ou seja, em Cartório, estava previsto no art. 982 do CPC/1973, inserido pela Lei n. 11.441, de 4-1-2007, atualizada com a Lei n. 11.965/2009.

Realiza-se por meio de “escritura pública, a qual constituirá título hábil para o registro imobiliário”.

OBSERVAÇÕES:

1) Da Partilha – art. 647 a 658, CPC.2) Emenda da Partilha – art. 653, CPC.3) Sobrepartilha – art. 670, CPC.

5.4 – Inventário

a) Conceito: Inventário é um meio processual ou administrativa, realizado para descrever a avaliar os bens do falecido, que possibilita a posterior divisão do acervo entre os herdeiros.

b) Partes interessadas ou legitimidade para requerer o inventário: CPC, art. 615 e 616 – quem estiver na posse e na administração do espólio, cônjuge, herdeiros, credores, adm. Pública; companheiro ou companheira; Observação: O art. 989, CPC de 1973, dizia que o Juiz podia de ofício, que fora revogado pelo novo CPC.

c) Juízo competente: o foro competente para processar o inventário é o do último domicílio do morto (art. 48, CPC e art. 1.785, CC).

d) Prazo: CPC, art. 611 – 2 meses a contar da abertura da sucessão; ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes.

e) Abertura (art. 611 e 615, CPC).

Page 68: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

67

f) Dos sonegados (art. 1.992 a 1.996, CC).

g) Procedimento:

1 – Pedido de abertura (art. 615, caput e parág. único, do CPC). Apresentar certidão de óbito do autor da herança.

2 – Nomeação do inventariante (art. 617, CPC).

3 – Compromisso do inventariante. Prazo: 05 dias. (art. 617, parág. único, CPC e art. 618, CPC).

4 – Primeiras declarações. Prazo: 20 dias.

5 – Individualização do de cujus e dos herdeiros.

6 – Individualização dos bens; que deverão ser descrito o ativo e o passivo.

7 – Citação dos interessados (oficial de justiça, edital).

8 – Fase das impugnações. Prazo: 15 dias. Art. 627, CPC.

9 – Avaliação dos bens.

10 – Manifestação sobre o laudo. Prazo: 15 dias.

11 – Últimas declarações.

12 – Da colação (art. 2.002 a 2012, CC). A finalidade da colação é igualar a legítima. Só o cônjuge sobrevivente e o descendente tem obrigação de colacionar. Se o marido fez doação para a mulher, é considerado antecipação da legítima. Doação para filhos tem que colacionar. Tendo dois filhos e um neto. Os filhos são descendentes de 1º grau e o neto de 2º grau. Se em vida fez doação ao neto, esta doação não será trazida à colação. Se ultrapassar os 50% da parte disponível, terá que haver redução.

13 – Cálculo do imposto (ITCD), CPC, art. 630.

14 – Recolhimento das custas e impostos.

15 – Pagamento das dívidas (art. 1.997 a 2.001, CC; art. 642 a 646, CPC).

16 – Partilha (CPC, art. 647 ss.).

h) Sobrepartilha (art. 2.022, CC).

Referências

Page 69: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

68

Coelho, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil, família, sucessões. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das sucessões. 28.ed. São Paulo: Saraiva, 2014. v.6.

FARIAS, Cristiano Chaves; ROSENVALD, Nelson. Direito Civil. 6. ed. Salvador: Juspodivm, 2014. v. 6.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 8. ed. São Paulo: Saraiva.

NADER, Paulo. Curso de direito civil: direito das sucessões. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013. v. 6.

RIZZARDO, Arnaldo. Direito das sucessões. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

RODRIGUES, Silvio. Direito civil: direito das sucessões. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 7.

TARTUCE, Flávio. Direito civil, vol. 6: direito das sucessões. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2014.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: direito das sucessões. vol. 7, 14. ed. São Paulo: Atlas, 2014. Resolução do Conselho Nacional de Justiça nº 35, de 24 de abril de 2007.

ANEXOS

PORTAL ROTA JURÍDICA

Notícias do TJGO Ação de reconhecimento de paternidade posterga prescrição de herança

Page 70: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

69

25/01/2016 09h56

Apesar de a ação de petição de herança prescrever em 20 anos, herdeiros não legítimos podem postergar o término do processo, para fins de investigação do laço sanguíneo. Esse é o entendimento da 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO), que negou provimento a um recurso ajuizado pelos filhos reconhecidos contra uma mulher que, apesar de não ser registrada como filha, pleiteou integrar a partilha dos bens do pai falecido. A relatoria do voto – acatado à unanimidade – foi do desembargador Olavo Junqueira de Andrade.

Dessa forma, o prazo para decadência da ação de petição de herança passa a contar a partir da tramitação em julgado do processo de investigação de paternidade, este imprescritível. O magistrado relator elucidou que, nesses casos, aplica-se a teoria jurídica do actio nata, ou seja, o prazo flui excepcionalmente e a prescrição começa a correr quando o titular do direito violado reivindica, e consegue comprovar, sua sucessão.

No processo em questão, o falecimento do pai ocorreu em 1990, mas, somente em 2008, foi reconhecida a filiação da autora da ação, também por via judicial. Em 2014, ela ajuizou outra demanda, desta vez, para exigir a herança deixada pelo genitor – contestada, na apelação, pela viúva e pelas irmãs legítimas, sob argumento de que o grande intervalo de tempo transcorrido teria provocado a perda do direito à reivindicação dos bens.

O desembargador frisou que o prazo de 20 anos não poderia ser contado a partir do falecimento do pai, uma vez que, “por óbvio, a ação de investigação de paternidade não se pode cumular com a petição de herança, devendo aguardar o decesso do reconhecido pai”. (Texto: Lilian Cury – Centro de Comunicação Social do TJGO)

Page 71: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

70

ROTA JURÍDICA

CNJ

Provimento estabelece nova regra a respeito do desejo de autor de testamentoPostado em 20 de julho de 2016 às 7:47

A Corregedoria Nacional de Justiça publicou, na segunda-feira (18), provimento com uma nova regra que assegura a realização da vontade última das pessoas  expressa em seu testamento. Assinado pela corregedora Nancy Andrighi, o documento determina a obrigatoriedade das autoridades competentes checarem a existência de testamento no banco de dados do Registro Central de Testamentos On-Line (RCTO), da Central Notarial de Serviços Compartilhados (Censec), antes de dar continuidade aos procedimentos de inventários judiciais e extrajudiciais.

Criado em 2012 por meio do Provimento nº 18 da Corregedoria do CNJ, o RCTO é administrado pelo Colégio Notarial do Brasil. Atualmente, o banco de dados dispõe de cerca de meio milhão de informações sobre testamentos de pessoas de todo território nacional. Entretanto, o próprio Colégio Notarial, em ofício enviado à Corregedoria no começo de junho, informou que a ferramenta estaria sendo subutilizada e sugeriu a criação da regra uniformizando os procedimentos de consulta ao RCTO em todo o Brasil.

Segundo o Colégio Notarial, é significativa a quantidade de testamentos, tanto públicos quanto cerrados, que não são respeitados pela falta de conhecimento sobre sua existência. No comunicado, os notários ressaltam que “o cumprimento da vontade expressa por testamento toma substancial relevo quando envolve questões que ultrapassam as disposições patrimoniais, como, por exemplo, no reconhecimento de paternidade ou, ainda, no caso de constituição de fundações”.

Para a corregedora Nancy Andrighi, a obrigatoriedade vai assegurar que as disposições da última vontade do falecido sejam de fato respeitadas e cumpridas, além de prevenir litígios desnecessários. “Muitas vezes sequer os familiares sabem da existência do testamento. Por isso é essencial que a autoridade competente confira o banco de dados do RCTO antes de proceder um inventário”, explica a ministra.

Com a medida, agora é obrigatória a juntada de certidão acerca da inexistência de testamento deixado pelo autor da herança, expedida pela Censec, nos processamentos de inventários e partilhas judiciais, bem como para lavrar escrituras públicas de inventário extrajudicial.

As Corregedorias dos Tribunais de Justiça deverão informar os responsáveis pelas Serventias Extrajudiciais sobre o disposto no Provimento – bem como sobre a obrigatoriedade de promover a alimentação do RCTO. Fonte: CNJ

Page 72: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

71

Leia a íntegra do Provimento nº 56, de 14 de julho de 2016.

PORTAL ROTA JURÍDICA

Sucessão

Maioria do STF considera inconstitucional tratamento diferenciado a cônjuge e companheiroPostado em 1 de setembro de 2016 às 8:47

O Supremo Tribunal Federal iniciou nesta quarta-feira (31) o julgamento de Recurso Especial que discute a legitimidade do tratamento diferenciado dado a cônjuge e a companheiro, pelo artigo 1790 do Código Civil, para fins de sucessão. Até o momento, sete ministros votaram pela inconstitucionalidade da norma, por entenderem que a Constituição Federal garante a equiparação entre os regimes da união estável e do casamento no tocante ao regime sucessório. O recurso teve repercussão geral reconhecida pela Corte em abril de 2015.

Os ministros Edson Fachin, Teori Zavascki, Rosa Weber, Luiz Fux, Celso de Mello e Cármen Lúcia acompanharam voto do relator do caso, ministro Luís Roberto Barroso, que votou pela procedência do recurso. O ministro sugeriu a aplicação de tese segundo a qual “no sistema constitucional vigente é inconstitucional a distinção de regimes sucessórios entre cônjuges e companheiros, devendo ser aplicado, em ambos os casos, o regime estabelecido no artigo 1829 do Código Civil de 2002”.

Em seu voto, o ministro considerou que a Constituição brasileira contempla diferentes formas de família legítima, além da que resulta do casamento. “Nesse rol, incluem-se as famílias formadas mediante união estável.”

Para ele, não é legítimo desequiparar para fins sucessórios os cônjuges e os companheiros, “tal hierarquização entre entidades familiares é incompatível com a Constituição”.

Page 73: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

72

“Assim sendo o artigo 1790 do Código Civil ao revogar as leis 8.971/94 e 9.278/96 e discriminar a companheira, ou companheiro, dando-lhe direitos sucessórios bem inferiores aos conferidos a esposa, ou ao marido, entra em contraste com os princípios da igualdade, da dignidade humana, da proporcionalidade, como vedação à proteção deficiente, e da vedação do retrocesso.”

Ao fim de seu voto, Barroso apresentou a seguinte modulação: “com a finalidade de preservar a segurança jurídica o entendimento ora firmado e aplicável apenas aos inventários judiciais em que não tenha havido transito em julgado da sentença de partilha, e às partilhas extrajudiciais em que ainda não haja escritura pública.”

Caso concreto

A decisão de primeira instância, no caso concreto, reconheceu ser a companheira de um homem falecido a herdeira universal dos bens do casal, dando tratamento igual ao instituto da união estável em relação ao casamento. O TJ/MG, contudo, reformou a decisão inicial, dando à mulher o direito a apenas um terço dos bens adquiridos de forma onerosa pelo casal, ficando o restante com os três irmãos do falecido, por reconhecer a constitucionalidade do artigo 1790. A defesa da viúva, então, interpôs recurso extraordinário ao Supremo, contestando a decisão do Tribunal mineiro, com o argumento de que a CF não diferenciou as famílias constituídas por união estável e por casamento, ficando certo que qualquer forma de constituição familiar tem a mesma proteção e garantia do Estado.

Viúva pode restabelecer nome de solteira Publicado por Expresso da Notícia

É juridicamente possível o pedido de restabelecimento do nome de solteira pela viúva quando presentes circunstâncias próprias que justifiquem a alteração do registro. O entendimento unânime é da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A viúva requereu ao juiz de Direito da Vara de Registros Públicos de Brasília (DF) a supressão do sobrenome de seu marido, morto em 1996, de modo que pudesse voltar a assinar e usar seu nome de solteira. A requerente é diplomata, como base de sua intenções, que sempre usou o nome de batismo, com ele tendo se formado em cursos superiores, inclusive o do Instituto Rio Branco. Tendo passado a ser conhecida pelo nome já consagrado no Ministério das Relações Exteriores (MRE).

Page 74: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

73

Em 1984, adotou, pelo casamento, o nome do marido, continuando entretanto a usar no meio profissional, familiar e no exterior o nome de solteira. Não resultou filhos da sua união com o marido, que contudo possuía um filho do primeiro casamento. Como usa apenas o nome de solteira, procurou suprir judicialmente o sobrenome do marido de seu nome uma vez que houve a dissolução do casamento com a morte do marido, sendo facultado à viúva o direito de voltar a usar o nome de solteira, em analogia à Lei do Divórcio (Lei 6.515/77). Argumentou, ainda, que a manutenção do nome de casada, após extinto o vínculo, seria excepcional, “só podendo ser permitida verificando-se que o retorno ao uso do nome de solteira importará em prejuízo evidente para a sua identificação, manifesta distinção entre o seu nome de família e os dos filhos havidos da união dissolvida e de dano grave reconhecido em decisão judicial”.

As duas instâncias da Justiça de Brasília indeferiram o pedido. O Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDF) entendeu que a opção da mulher de incorporar o nome do marido torna impossível posterior modificação, sendo irrenunciável o direito ao nome e incabível a analogia com a disciplina da Lei do Divórcio, além de imprópria, por não se tratar de restaurar, suprir ou retificar, a invocação do artigo 109 da Lei dos Registros Publicos – 6.015/73 (Quem pretender que se restaure, supra ou retifique assentamento no Registro Civil, requererá, em petição fundamentada e instruída com documentos ou com indicação de testemunhas, que o juiz o ordene, ouvido o Ministério Público e os interessados, no prazo de cinco dias, que correrá em cartório”). Diante disso, houve recurso ao STJ.

O ministro Carlos Alberto Direito, relator do caso no STJ, entendeu que não há impossibilidade jurídica alguma no pedido, não havendo nenhum dispositivo legal que impeça a mulher viúva de requerer a supressão do nome de mando do falecido marido. O certo é que a legislação vem abrandando o princípio de ser irrenunciável o nome, tornando o uso dos apelidos do marido uma faculdade, o que é acompanhado pela jurisprudência em casos excepcionais. O ministro não crê que o direito ao nome de mando seja irrenunciável, sendo juridicamente possível o pedido da diplomata, uma vez presentes circunstâncias próprias que justifiquem a alteração do registro e ausente qualquer prejuízo a terceiro.

A dissolução do casamento gera para a mulher a possibilidade de retorno ao nome de solteira; o mesmo princípio pode ser adotado com relação à morte do consorte, para a restauração do nome anterior, entende Carlos Alberto Direito. Não há imutabilidade imposta pela lei, nem pode ser considerado irrenunciável o uso de nome que pode ser acrescido ao uso da mulher por sua vontade e mantido também por sua conveniência, sendo opcional, ainda, a manutenção do nome de casada em caso de divórcio, conforme a Lei do Divórcio, concluiu.

Amplie seu estudo

Tópicos de legislação citada no texto Lei nº 6.515 de 26 de Dezembro de 1977 Artigo 109 da Lei nº 6.015 de 31 de Dezembro de 1973 Lei nº 6.015 de 31 de Dezembro de 1973

Page 75: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

74

Disciplina a aplicação da Lei nº 11.441, de 04-01-2007, pelos serviços notariais e de registro.

Art. 3 “As escrituras públicas de inventário e partilha, separação e divórcio consensuais não dependem de homologação judicial e são títulos hábeis para o registro civil e o registro imobiliário, para a transferência de bens e direitos, bem como para promoção de todos os atos necessários à materialização das transferências de bens e levantamento de valores (DETRAN, Junta Comercial, Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financeiras, companhias telefônicas, etc.)."

Direitos distintos

Sucessão deve seguir lei vigente no momento da morte do autor da herança4 de junho de 2018, 17h20

A sucessão rege-se pela lei vigente ao tempo da sua abertura, o que ocorre com a morte do autor da herança. Com esse entendimento, a 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça concluiu que as regras de sucessão do Código Civil de 2002 podem se aplicar à adoção simples feita durante a vigência do Código de 1916.

Assim, os ministros asseguraram a um homem o direito de participar da sucessão de sua irmã adotiva em concorrência com os irmãos consanguíneos dela.

Ato jurídico perfeito de adoção não garante às partes o direito ao regime sucessório então vigente, afirma Nancy Andrighi.

Ambos foram adotados de forma simples e por escritura pública em 1947, na vigência do CC de 1916 e sem todos os direitos de sucessão. Em 2012, depois que a irmã morreu, o homem ingressou com ação para participar da sucessão.

O pedido foi rejeitado em primeira instância, mas o Tribunal de Justiça de Minas Gerais garantiu o direito por entender que, apesar do ato jurídico perfeito da adoção simples, a abertura da sucessão somente ocorreu em 2012, época em que o tema já era regido pelo artigo 227 da Constituição de 1988 e pelo artigo 1.596 do CC de 2002.

Page 76: DIREITO DAS SUCESSÕESprofessor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin... · Web viewAutores como Immanuel Kant, Montesquieu, Augusto Comte, Fichte e Stuart Mill pensavam que a transmissão

75

Conceitos desvinculadosSegundo a relatora do recurso especial, ministra Nancy Andrighi, a conclusão do tribunal estadual foi acertada. Ao contrário do que sustentaram os recorrentes (irmãos consanguíneos da morta), não há no caso violação a ato jurídico perfeito de adoção simples, e o direito adquirido ao regime sucessório apenas se materializou com a morte da autora da herança, em 2012.

“É preciso desvincular o conceito de ato jurídico perfeito da ideia de direito adquirido, pois, embora um determinado ato jurídico possa gerar direitos subjetivos a um determinado titular — que seriam invioláveis por legislação superveniente, não em virtude do ato jurídico perfeito, mas da proteção ao direito adquirido —, essa não é uma consequência óbvia ou indispensável da consumação, havendo atos jurídicos aptos a gerar mera expectativa de direito”, disse a relatora.

“O ato jurídico perfeito de adoção não é capaz de conferir às partes também o direito ao regime sucessório então vigente. Trata-se, pois, de mera expectativa de direito, condicionada à abertura da sucessão durante a vigência do CC/1916, suficiente para, aplicando-se as regras de direito intertemporal, adequadamente isolar os institutos jurídicos que possuem natureza diversa”, disse.

Nancy Andrighi lembrou que o ato de adoção permanece perfeito, pois o direito de filiação é distinto do sucessório, sendo que este é regido pela lei vigente ao momento da abertura da sucessão.

“Em suma, havendo regra jurídica nova – de índole legal ou constitucional – alterando o regime sucessório, deverá ela ser aplicada às sucessões que forem abertas após a entrada em vigor do novo diploma legal, não havendo que se falar em violação a ato jurídico perfeito que lhe seja antecedente se este não conferiu às partes direito adquirido”, concluiu a ministra. Com informações da Assessoria de Imprensa do STJ.

REsp 1.503.922

Revista Consultor Jurídico, 4 de junho de 2018, 17h20.