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09/03/2015 1 DIREITO CONSTITUCIONAL I IV. Poder Constituinte 1. Introdução Histórica Teoria do Poder Constituinte : desenvolvida no século XVIII, momento de profunda mudança de mentalidade em relação aos séculos anteriores. Passagem da Idade Média para a Moderna: substituição do teocentrismo para o antropocentrismo - Deus - centro de tudo deu lugar ao homem. Surgimento do racionalismo : as teorias políticas não mais explicadas com base na existência de Deus, mas por motivos racionais. Ideias racionalistas : desenvolvimento do Iluminismo e do Constitucionalismo, fazendo surgir a Teoria da origem popular do poder .

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09/03/2015

1

DIREITO CONSTITUCIONAL I

IV. Poder Constituinte

1. Introdução Histórica

Teoria do Poder Constituinte:

desenvolvida no século XVIII, momento de

profunda mudança de mentalidade em

relação aos séculos anteriores.

Passagem da Idade Média para a

Moderna: substituição do teocentrismo

para o antropocentrismo - Deus -

centro de tudo deu lugar ao homem.

Surgimento do racionalismo: as

teorias políticas não mais explicadas

com base na existência de Deus, mas

por motivos racionais.

Ideias racionalistas: desenvolvimento

do Iluminismo e do

Constitucionalismo, fazendo surgir a

Teoria da origem popular do poder.

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Abade francês Emmanuel Sieyès:

desenvolve a teoria do poder

constituinte em sua obra denominada "O

que é o Terceiro Estado?"' às vésperas

da Revolução Francesa.

Tratou da situação do Terceiro Estado

(povo), na ordem dos Estados Gerais (clero,

nobreza e povo). Ele questionava a condição

do povo, o que era o povo, e o que tem sido

o povo.

Sieyès sustentava que existiria um

poder de origem popular chamado de

poder constituinte e que teria a força de

elaborar a Constituição com uma

característica de superioridade.

Seria superior aos próprios poderes

constituídos, pois estes seriam criados

pelo poder constituinte.

Para a análise do poder

constituinte é possível encontrar na

doutrina uma divisão dicotômica do

poder constituinte.

Nesta divisão se verifica o poder

constituinte originário e o poder

constituinte derivado.

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2. O Poder Constituinte

Originário, Genuíno ou de

Primeiro Grau

Poder que cria a Constituição de um

Estado.

Ele inaugura a ordem jurídica

constitucional, que é o seu ponto de

partida.

Inicial: não está fundado na ordem

jurídica anterior. Criará o fundamento

primeiro da nova ordem jurídica que é a

própria ordem constitucional. Ele pratica

atos jurídicos primários, iniciais,

prevendo os poderes constituídos, como

Legislativo, Executivo e Judiciário, daí

esse traço de poder criador, inaugural, daí

sua superioridade.

Por ser inicial e superior é

autônomo, como consequência de ser

um poder inaugural.

Autônomo: porque não está

vinculado à ordem jurídica anterior, por

isso que é um poder político e não

um poder jurídico.

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Por ser inicial, superior e autônomo

é também um poder ilimitado.

Sieyès já considerava o poder

constituinte originário ilimitado, mas

para ele deveria se respeitar o direito

natural, já que é anterior ao poder

constituinte e anterior ao próprio

Estado.

Jorge de Miranda: essa

característica da teoria primeira do

poder constituinte originário decorria

da oposição que se fazia àquela época ao

Poder Absoluto dos governantes. A

ideia era criar um poder popular com a

mesma força para reagir àquele poder,

daí o chamado Absolutismo do

Poder Constituinte (traço

ilimitado).

Se existia esse propósito àquela época, a

doutrina contemporânea, como faz Jorge

Miranda, concorda que deve ser possível

identificar algumas limitações a esse poder

constituinte originário, como, por exemplo,

limites transcendentes, que são aqueles

que decorrem além do direito natural,

decorrem também de valores éticos,

superiores e de uma consciência

jurídica coletiva da sociedade.

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Limites imanentes: decorrem da

natureza, da configuração do Estado, como o

princípio da soberania nacional, já que

não teria sentido imaginar que um poder

imaginário que criaria a Constituição de um

Estado não respeitaria a ideia da soberania

nacional. Por lógica teria o próprio poder

originário que respeitar a noção de direito

sustentada por ele mesmo no movimento

revolucionário que o impulsionou.

Limites heterônimos: emanam da

conjugação de outros ordenamentos

jurídicos (Direito Internacional), que

impõem a integração do Estado na

comunidade internacional. O Estado deverá

adaptar-se às regras de direito

internacional, da mesma forma que os

Estados já existentes.

O Poder Constituinte Originário é

incondicionado, já que não está

submetido a condições preestabelecidas

de exercício. É ele quem define as

regras procedimentais para o seu

exercício. Isto é, não há, por exemplo, a

obrigatoriedade de uma Assembleia

Nacional Constituinte, muito embora

seja desejável.

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O titular do poder constituinte

originário seria a Nação (passado,

presente e futuro) – diferente de

povo.

Sieyès: representantes designados

pelo povo para elaborar a

Constituição.

Para ele, a Assembleia Nacional

Constituinte seria formada por

representantes extraordinários do povo,

porque seriam eleitos especificamente

com essa atribuição e depois de

encerrados os trabalhos está seria

dissolvida. Esse é o modelo ideal, mas

não obrigatório, por se tratar de poder

incondicionado.

A CF/88 não observou esse modelo,

porque a Assembleia Nacional Constituinte

foi formada pelos congressistas eleitos em

1986 que exerceram a função parlamentar

e constituinte.

Também alguns senadores com o mandato

em curso participaram da Assembleia sem

terem sido eleitos para tanto, não

recebendo a delegação do povo para o

exercício do poder originário.

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E após a promulgação da Constituição, a

constituinte não foi dissolvida passando a

atuar como Congresso Nacional.

Por isso alguns alegaram que o texto de

1988, não representava autenticamente

outra Constituição, mas não foi a ideia que

prevaleceu, pois o poder constituinte

originário é incondicionado e aquela foi a

forma encontrada para o seu exercício.

Classificação do poder constituinte, como

leciona Jorge Miranda:

Poder constituinte material - seria a

própria força revolucionária que provocou a

ruptura com a ordem jurídica anterior e a

necessidade e impulso para adoção de nova

ordem constitucional.

Este poder é permanente, pois a

qualquer momento o povo pode impor sua

vontade. Não é plausível que uma geração

pudesse impor suas regras a gerações

futuras, segundo Sieyès. É inclusive o que

dispôs o art. 28 da Declaração de Direitos

do Homem e do Cidadão do século XVIII.

Daí o caráter de permanência própria do

poder constituinte originário.

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Poder constituinte formal - é o

nome dado a forma pela qual se reveste

aquela manifestação revolucionária (o

poder constituinte material), como, por

exemplo, a Assembleia Constituinte,

esta sim deveria ser temporária, já que

dissolvida com o término de seus

trabalhos.

Portanto, o poder constituinte

material seria permanente, mas o poder

constituinte formal que elabora a

Constituição em nome do titular, este

seria temporário.

2. 1. Distinção entre espécies de

poder constituinte originário

Poder Constituinte Originário

Histórico Fundacional: é aquele

que faz a primeira Constituição de um

país.

No caso brasileiro, foi aquele que fez

a Constituição de 1824.

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Poder Constituinte Originário

Revolucionário: é o que faz uma

nova Constituição. O termo

"revolucionário" refere-se a um sentido

amplo de revolução, não apenas no

sentido bélico, mas na concepção de

ruptura profunda e substancial com a

ordem política e social anterior.

Provoca uma mudança drástica de

estrutura, o que exige uma nova ordem

constitucional, que reflita essa nova

ordem política e social.

Por isso, que todo poder que cria uma

nova constituição é chamado de

revolucionário.

Isso pode ocorrer de forma pacífica,

através de manifestações populares

pacíficas e até por manifestações

plebiscitárias.

Assim, todas as Constituições

Brasileiras depois da de 1824 são

revolucionárias.

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3. Poder Constituinte Derivado

Pode ser dividido em:

3.1 Reformador: esta é a expressão

que designa o poder encarregado de

reformar a Constituição.

O titular desse poder, em regra, é

o povo (art. 1º, parágrafo único, da

CF), mas de fato os representantes

populares é que exercem esse

poder.

Em certos países (Itália, Espanha) há a

participação direta do poder de

reforma. Após a reforma constitucional,

em certos casos, há um referendo

popular para que o povo se manifeste

sobre a reforma aprovada, se aceita ou

não a modificação do texto

constitucional proposta pelo

Legislativo.

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É um poder secundário ou de

segundo grau, pois é instituído pelo

Poder Originário. Ele não se funda em

si mesmo. É um poder subordinado à

Constituição, por isso é considerado um

poder jurídico ou de direito ao

contrário do Poder Originário que é

um poder de fato, um poder político.

Como é subordinado, trata-se um

poder limitado pela própria CF, como

as limitações materiais, (cláusulas

pétreas), não podendo alterar a CF o

que bem entender, devendo respeitar o

núcleo que recebeu proteção especial,

por vontade do Constituinte originário.

É um poder condicionado, já que

sujeito a regras procedimentais

definidas pela própria CF, como por

exemplo, o art. 60 da CF (regras

procedimentais para aprovação de

emendas).

É um poder instituído, derivado,

subordinado, limitado e condicionado.

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Pode ser classificado de duas maneiras

distintas:

(1ª) tendo em vista o

ordenamento que irá reformar, aí

teremos um poder reformador federal

se o objetivo é a reforma da

Constituição Federal e ainda o poder

reformador estadual das Constituições

Estaduais.

(2ª) tendo em vista a extensão

das modificações que se pretende

realizar, aí podemos ter o poder

revisional, que é mais amplo, mais

abrangente do texto constitucional,

ressalvada a essência da CF que não

poderá ser atingida e, por outro lado,

temos o poder de emenda, quando

temos reformas pontuais de temas

específicos.

O poder reformador seria o gênero

do qual são espécies o poder revisional

e o poder de emenda.

A CF de 1988 previu em sua parte

permanente no art. 60 que a emenda

constitucional é instrumento de

reforma, de exercício do poder

constituinte reformador.

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Considere-se também que o § 3º, do

art. 5º, da CF estabelece que os tratados

de direitos humanos firmados pelo

Brasil terão status de emenda

constitucional, se apreciados e

aprovados pelo mesmo quorum

previsto para as emendas.

O art. 3º do ADCT previu o poder

revisional, estabelecendo que a CF

deveria se submeter à revisão depois de 5

anos da sua promulgação (a partir de

5/10/93). Não houve a previsão de uma

data específica, mas poderia se dar a

qualquer tempo a partir desta data. Ela

deveria ser aprovada por maioria absoluta

em sessão unicameral do Congresso

Nacional.

A revisão foi realizada em 1994 e

apenas tratou de questões pontuais,

assumindo natureza de emendas de

revisão.

O STF se manifestou na ADIN

815/96 que esta era a única revisão

permitida na CF.

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No momento da realização da

revisão constitucional surgiram

algumas correntes doutrinárias em

relação à sua natureza, como se

verá:

(1ª) sustentou que o poder revisional

teria natureza de poder constituinte

Originário já que o art. 3º do ADCT não

havia especificado se a revisão deveria ou

não respeitar as cláusulas pétreas e pelo

silêncio teria reconhecido a natureza de

poder originário que seria o único apto a

ignorar cláusulas pétreas. Não foi a

posição que prevaleceu.

(2ª) sustenta que a revisão tem a

natureza de poder constituinte

derivado reformador, o que foi

chancelado na mesma ADIN acima

citada. Portanto, deve respeitar as

cláusulas pétreas.

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Isso decorre da própria lógica do

sistema constitucional, pois se a emenda

tem processo de aprovação mais

rigoroso do que o processo de revisão,

não teria sentido imaginar que a

revisão, com o mecanismo

procedimental menos complexo do que

a emenda pudesse ignorar cláusula

pétrea.

O próprio art. 3º do ADCT definiu

condições de exercício do poder

revisional, estabelecendo quorum de

maioria absoluta, sessão unicameral, etc.,

mas, contudo, o poder originário é

incondicional e a revisão já recebeu regras

procedimentais da própria da CF,

portanto, um poder condicionado, isto é,

derivado. Essa corrente foi a que

prevaleceu.

(3ª) parte da doutrina entendeu que

aquela revisão não deveria ser aprovada

naquele momento e em nenhum outro,

porque a razão de ser daquela revisão

estava no art. 2º do ADCT, que previa o

plebiscito sobre escolha da forma e

sistema de governo, que seria realizado

em 1993.

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A lógica para essa vertente doutrinária era

de que como a CF de 1988 previu um

plebiscito para 1993 para manifestação

popular direta sobre a forma e sistema de

governo, se o plebiscito alterasse a forma ou o

sistema de governo, haveria a necessidade de

uma adaptação da CF, por isso a revisão foi

prevista no art. 3º do ADCT. E como estes

não foram alterados, não haveria razão para a

aprovação da revisão. Essa posição não

prevaleceu.

Portanto, hoje a Constituição só pode

ser alterada por emendas ou tratados

internacionais sobre direitos humanos

que forem aprovados pelo Congresso

Nacional (da mesma forma que as

emendas constitucionais).

Vale destacar ainda que, em razão de

embaraços que as cláusulas pétreas

podem causar a determinado país e uma

determinada sociedade, surgiu na

doutrina uma teoria que fazia uma

classificação tricotômica: poder

originário, poder reformador e o

poder híbrido (modalidade

intermediária).

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Os textos das Constituições devem ter uma

estabilidade assegurada, mas deve se

reconhecer que o passar do tempo provoca a

necessidade de atualizações do texto

constitucional, porque a sociedade e suas

necessidades mudam, os interesses do Estado

sofrem alterações e existem novas realidades

que não podem ser desprezadas, e as cláusulas

pétreas podem embaraçar a adaptação da

Constituição a uma nova realidade social.

E nem sempre é conveniente

simplesmente adotar uma nova

Constituição, em face dos notórios

problemas dessas fases transitórias de

regimes.

Para se evitar que todo momento surja uma

nova Constituição, o que gera instabilidade

institucional, é que surgiu a tese que as

clausulas pétreas seriam normas imutáveis,

mas teriam uma rigidez agravada, ou seriam

normas que poderiam ser alteradas, mas por

um processo ainda mais rigoroso do que

aqueles previstos para alteração das normas.

Esse seria o chamado poder híbrido. É

doutrina minoritária e não tem sido aplicada

no Brasil.

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3.2. Decorrente: só existe nos países

que adotam a forma de estado Federativo.

Nas Federações existem estados-membros

autônomos. Devido a autonomia dos

estados-membros, nas federações cada ente

federado tem a chamada capacidade de

auto-organização, ou seja, o poder de

elaborar suas próprias Constituições, as

chamadas Constituições Estaduais.

Portanto, identifica-se o poder constituinte.

Resta evidente, que pelas

características desse poder

constitucional, deve ser classificado

como poder constituinte

derivado, já que não é um poder

inicial que se funda em si mesmo, pois

sua existência decorre de previsão na

Constituição Federal.

Também não é um poder autônomo,

já que está limitado e condicionado pela

Constituição Federal. A Constituição

Estadual deve respeitar as normas da

Constituição Federal.

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Para que esse poder constituinte não

fosse confundido com o poder derivado

típico, que é o poder constitucional de

reforma (revisão e emenda), recebeu o

nome de poder constituinte

derivado decorrente.

No Brasil, a CF/88 prevê esse poder

no art. 25, observando sempre o

respeito à Constituição Federal.

Também ficou estabelecido no art. 11

do ADCT um limite temporal a este

poder estadual, segundo o qual deveria

ser exercido e concluída sua tarefa no

prazo de 1 ano da promulgação da

CF/88.

Surgiu uma discussão relativa ao

reconhecimento ou não de um poder

constituinte derivado municipal, devido

ao fato que a CF/88 inovou ao incluir

os Municípios no rol dos entes da

federação brasileira, ao lado da União,

Estados-membros e do Distrito Federal.

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Esse reconhecimento vem expresso

no art. 1º da CF/88 (a República

Federativa do Brasil é formada pela

união indissolúvel dos Estados-

membros, Distrito Federal e

Municípios) e o art. 18 que prevê como

entes autônomos da Federação a União,

Estados-membros, DF e os Municípios.

Como receberam status de ente da

Federação possuem autonomia política,

financeira, administrativa e capacidade

de auto-organização. O art. 29 da CF

prevê que cada Município elaborará sua

própria Lei Orgânica, no prazo de 6

meses da promulgação da Constituição

do respectivo Estado-membro (art. 11,

parágrafo único, do ADCT).

A CF/88 agiu diferentemente do

modelo anterior, já que antes dos

Estados elaboravam as Leis

Orgânicas de seus Municípios.

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Alguns autores chegaram a

denominar a Lei Orgânica Municipal

como uma verdadeira Constituição

Municipal, até mesmo porque sua

essência é muito semelhante às

Constituições estaduais, já que

disciplinam a organização dos próprios

poderes do Município.

Teria, portanto, uma essência de

Constituição, mas prevaleceu o

entendimento, na doutrina e na

jurisprudência, que Lei Orgânica

Municipal não possui status de

norma constitucional e, portanto, não é

produzida por um poder constituinte

derivado decorrente. Assim, Lei Orgânica

Municipal tem status de norma legal.

A violação da Lei Orgânica

Municipal não gera

inconstitucionalidade, mas

apenas ilegalidade.

A mesma discussão recaiu sobre a Lei

Orgânica do DF, já que a CF/88 o

considerou como ente autônomo da

federação.

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A natureza do DF não é a mesma dos

Estados, tampouco dos Municípios. O

DF exerce as competências dos

Estados-membros e dos Municípios

(art. 32, da CF). Desse modo, a Lei

Orgânica Distrital tem natureza

híbrida, pois trata de assuntos de

competência estadual e outras de

natureza municipal.

A parte da Lei Orgânica do DF que

trata de matérias que seriam de

competência estadual tem status de

norma constitucional, portanto, pode

ser protegida através dos meios de

controle de constitucionalidade perante

o TJ/DF, conforme a parte final Lei nº

9.868/99.

Consequentemente, a parte desta Lei

que trata de matérias que seriam de

competência municipal não tem status

de norma constitucional, mas de norma

legal.

Portanto, daí o poder que a elaborou

ter natureza híbrida.

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Por ser um poder constituinte

limitado, o poder decorrente se sujeita

a várias restrições impostas pela CF, por

isso, a doutrina apresenta várias

classificações dos princípios da

CF que restringem a atuação do

poder decorrente.

Muitas vezes são princípios que

vinculam os Municípios, mesmo não

existindo na esfera municipal o poder

constituinte decorrente.

De acordo com a classificação mais

conhecida, esses princípios da CF

podem ser divididos da seguinte forma:

(1º) Princípios Constitucionais

Estabelecidos: são aqueles que impõem

aos entes federados limitações

explícitas, diretas, como também

limitações implícitas e indiretas,

restringindo a atuação dos entes

federados.

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Exemplos: art. 19 da CF impõem

limitações explícitas, inclusive a todos os

entes da federação, estabelecendo que

todos eles não podem instituir um culto

oficial, nem relação de dependência com

seus representantes; não podem recusar fé a

documentos públicos; nem discriminar

brasileiros em razão da procedência

nacional, impedindo a discriminação dos

próprios entes.

(b) art. 149, da CF prevê que é

privativo da União instituir a CIDE, isto

significa que os demais entes não têm

competência para tanto, portanto, uma

limitação implícita.

(2º) Princípios Constitucionais

Sensíveis: são aqueles expressos na CF e

que se forem violados geram ou

poderão gerar a intervenção federal

no Estado transgressor.

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Esses princípios estão relacionados no

art. 34, VII, da CF (forma republicana de

governo, regime democrático e o sistema

representativo, autonomia municipal, os

direitos da pessoa humana, a prestação de

contas pela Administração Pública (direta e

indireta) e a aplicação de parte dos recursos

estaduais, originários de transferências, nos

setores de ensino e saúde).

Nesse caso, a intervenção deve seguir um

procedimento específico. Cabe ao

Procurador Geral da República propor

perante o STF a chamada a AÇÃO

DIRETA DE

INCONSTITUCIONALIDADE

INTERVENTIVA (ADIN Interventiva).

Julgada procedente, o STF requisita ao

Presidente da República o decreto

interventivo.

(3º) Princípios Constitucionais Extensíveis: são

normas da CF que disciplinam a organização da

União. Em nenhum momento fazem referência

a instituições dos Estados, DF e dos Municípios.

Mas devido a importância desses princípios para

a unidade e harmonização do federalismo

brasileiro, estes princípios devem ser

observados pelos demais entes da federação no

momento em que disciplinarem as instituições

equivalentes, daí o nome princípios extensíveis,

pois são extensíveis aos demais entes.

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De acordo com o STF, são exemplos de

princípios extensíveis as normas da CF sobre

processo legislativo, eleição do Chefe do

Executivo, matéria orçamentária, organização

e funcionamento de Tribunal de Contas,

dentre outras. Também foi considerado pelo

STF como princípio extensível a norma que

prevê que cabe ao Congresso Nacional

autorizar o Presidente da República a

permanecer mais de 15 dias fora do país.

No entanto, em muitos casos é

inviável a reprodução na íntegra da

norma que a CF previu para União, isso

em razão das peculiaridades dos demais

entes. É preciso um critério de

adequação desses princípios extensíveis

às outras esferas da federação

(princípio da simetria).

Isso não afasta a autonomia dos entes

federativos na produção de normas,

ainda que consideradas as normas de

reprodução obrigatória.

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4. Limitações Impostas pela

Constituição Federal ao Poder

Reformar referentes às Emendas.

Há dois grupos de limitações:

(a) as circunstanciais

(b) as formais/processuais/procedimentais.

Uma doutrina minoritária identifica uma

limitação temporal à Emenda no § 5º do

art. 60, da CF. Para esses doutrinadores, se

uma proposta de emenda fosse rejeitada ou

tida por prejudicada, só será possível

apresentar uma nova proposta de emenda

envolvendo o mesmo assunto na sessão

legislativa seguinte (ano de

trabalho/atividades do Poder Legislativo).

Posição majoritária: a limitação do art. 60, §

5º da CF é mera limitação

formal/procedimental, pois na realidade há a

ideia de que a limitação temporal é aquela que

impede a alteração da Constituição num certo

período de tempo e a CF/88 não estabeleceu,

em relação à emenda, uma relação temporal.

A qualquer momento após sua aprovação a

CF/88 poderia ser emendada (única previsão

refere-se à revisão do art. 3º, ADCT).

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5. Limitações Materiais do art. 60,

§ 4º da CF

As limitações materiais referem-se às

cláusulas pétreas ou núcleo intangível

da Constituição, seria a parte que

representaria o núcleo da CF, portanto,

merecedora de proteção especial em

face do poder de reforma.

São interpretadas de forma restritiva,

já que a regra é a possibilidade de

reforma dos dispositivos

constitucionais, exceto aqueles que a

própria CF impede.

A doutrina analisa as limitações desse

dispositivo sob diversos pontos de

vistas, inclusive acerca do controle

judicial sobre as propostas de emendas,

já que prevê a vedação dessas propostas

que violem cláusulas pétreas, daí ser

possível o controle jurisdicional.

Evidentemente, depois de aprovadas

também se permite o controle judicial.

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A expressão "tendente a abolir"

utilizada pelo constituinte gerou

discussão doutrinária e concluiu-se que

emenda não poderá suprimir/banir

cláusula pétrea. Contudo, no caso de

emendas que as fortaleça é

permitida a alteração.

Há quem entenda que emenda não

poderia eliminar cláusulas pétreas, mas

poderiam criá-las e uma vez

incorporadas ao sistema jurídico seriam

alçadas a essa qualidade (cláusula

pétrea), não podendo ser suprimidas,

em razão do princípio do não

retrocesso.

Mas há aqueles que entendem que a

criação de novas cláusulas pétreas caberia

exclusivamente ao poder constituinte

originário, a quem compete dispor sobre o

poder de reforma e seus limites, não

podendo o poder derivado dispor sobre o

próprio poder derivado.

O § 4º do art. 60 da CF prevê as cláusulas

pétreas expressas:

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I - a forma federativa de estado.

Não fez menção a forma nem a sistema de

governo, portanto, podem ser modificados.

Forma de estado se refere ao modo

distribuição do poder estatal pelo seu

território. Portanto, há uma opção de uma

centralização ou descentralização através da

concessão de autonomias ao poder local.

Forma de governo refere-se ao modo

de atribuição do poder, se o poder será

atribuído de modo hereditário ou por

eleições e se será exercido de modo

vitalício ou temporário.

Sistema de governo se refere ao

relacionamento entre os poderes

Legislativo e Executivo.

Esse dispositivo só consagrou

como cláusula pétrea a forma

federativa, isso significa que uma

emenda não pode modificar o estado

brasileiro para um estado unitário.

Também não pode haver emenda

que enfraqueça o pacto federativo.

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Exemplo: a emenda não poderá

extinguir a capacidade de autogoverno,

auto-organização dos Estados-membros;

não poderá suprimir a autonomia

política, administrativa, financeira, etc.,

ou seja, a emenda não pode eliminar

tributos estaduais, municipais, por

exemplo.

II - Voto direito, secreto, universal e

periódico.

A CF adotou o voto obrigatório, mas

não o incluiu no rol das cláusulas

pétreas, portanto, é possível que uma

emenda adote o voto facultativo.

O voto direto decorreu do espírito que

norteou a CF de 1988, pouco depois do

movimento das “Diretas Já”. O fato é que é

possível destacar que a cláusula do voto

direto impõem a perpetuação do modelo

adotado pela CF de eleição popular dos

cargos que integram o Poder Legislativo e

Executivo de todas as esferas da federação.

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Portanto, é a manutenção do modelo de

eleição popular direta para os poderes

Executivo e Legislativo, ressalvada a

hipótese de eleição indireta no caso de

vacância definitiva do cargo de Presidente e

Vice-presidente. Se isso ocorrer nos dois

últimos anos do mandato presidencial

haverá eleição indireta que será realizada

pelo Congresso Nacional, mas é a própria

CF que traz essa exceção.

O princípio republicano não é cláusula

pétrea implícita, já que o voto direto seria

incompatível com a Monarquia, como

alegado por alguns doutrinadores. Ocorre

que, o voto direto também é assegurado

pela Monarquia Constitucional, pois o povo

exerceria o direito ao voto para eleição dos

membros do Legislativo e para o Chefe de

Governo.

O voto popular deve ser secreto para

garantia da liberdade do voto, a fim de

que o eleitor não sofra qualquer espécie

de pressão.

O voto universal designa a vedação de

restrições ao direito ao sufrágio de

cunho discriminatório.

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O voto periódico impõe a alternância, a

rotatividade do poder. A periodicidade

máxima aceitável depende da razoabilidade

dentro de certo momento histórico.

Há quem entenda que esse prazo seria de

8 anos, já que o poder constituinte

originário indicou um dos mandatos com

prazo máximo de 8 anos (Senador).

III - separação de poderes.

É a imposição do modelo de distribuição

das funções do Estado entre entes estatais

distintos, evitando-se um Estado Absoluto.

Isso tem sido usado como argumento por

parte daqueles que entendem que o

presidencialismo seria cláusula pétrea, já

que no presidencialismo não há uma

separação propriamente dita, mas uma

cooperação de poderes.

Para aqueles que não admitem essa

tese, afirmam que no sistema

parlamentarista, embora exista um

modelo de cooperação entre

Legislativo e Executivo, há a distinção

de poderes com atribuições reservadas

a cada um deles, atendendo ao

princípio genérico da separação de

poderes.

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IV - direitos e garantias individuais.

Dessa forma, por exemplo, emenda não

poderá introduzir no Brasil a pena de

morte, salvo em caso de guerra externa. Há

discussão doutrinária em relação ao alcance

da expressão “direitos e garantias

individuais” para fins de cláusula pétrea.

Parte da doutrina entende que, para

fins de cláusulas pétreas esse dispositivo

deve ser interpretado restritivamente,

porém há quem entenda, como Paulo

Bonavides, que essa interpretação

deve abranger os direitos fundamentais,

em face do modelo adotado na CF.

6. Limitações Implícitas

Há discussão doutrinária relacionada à

existência de limites implícitos ao poder

reformador e, portanto, da existência ou

não de cláusulas pétreas implícitas. Como a

regra geral é a possibilidade de reforma da

CF, muitos entendem que é incoerente o

reconhecimento de limites implícitos, mas

boa parte da doutrina reconhece a sua

existência.

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Seriam elas: o titular do poder

constituinte originário; o titular do

poder constituinte derivado e; o § 4º, do

art. 60 da CF, pois se não fosse uma

cláusula pétrea implícita, seria possível a

aprovação de uma emenda alterando a

relação das cláusulas pétreas.

Há quem entenda também que todo

art. 60 representa uma clausula pétrea

implícita, pois se fosse possível sua

alteração, uma emenda poderia

transformar a CF que é rígida em uma

que é flexível, alterando as regras

procedimentais de reformas,

equiparando o processo de reforma ao

processo da lei ordinária.

Discussão acerca da forma e do sistema de

governo.

Há argumentação no sentido de

considerar República e Presidencialismo

como cláusulas pétreas implícitas, calcada

no fato de que ambos foram objeto do

plebiscito de 1993, previsto do art. 2º, do

ADCT.

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Por ter passado pelo crivo popular

direto e, para alguns, essa manifestação

popular seria uma manifestação do poder

constituinte originário, esses institutos

tornaram-se cláusulas pétreas implícitas

em razão do plebiscito de 1993, o que

não impediria a realização de outras

consultas populares, mas isso ainda é

controvertido no plano doutrinário.