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Informativo 861-STF (02/05/2017) Márcio André Lopes Cavalcante | 1 Márcio André Lopes Cavalcante DIREITO ADMINISTRATIVO CONSELHOS PROFISSIONAIS Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios Importante!!! Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios. STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861). DIREITO PROCESSUAL CIVIL COISA JULGADA CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de 1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport O Sport Club do Recife conseguiu, em 1999, uma decisão judicial transitada em julgado declarando que ele foi o campeão brasileiro de futebol do ano de 1987. Ocorre que, em 2011, a CBF editou a Resolução 2/2011 reconhecendo que, além do Sport, o Flamengo também teria sido campeão brasileiro em 1987. O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento de sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF fosse condenada a anular a Resolução e reconhecer o clube pernambucano como o único campeão de 1987. O STF concordou com o pleito do Sport. A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em julgado e não podia ser alterada por resolução posterior da CBF. A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de elemento estruturante do Estado Democrático de Direito. A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão. STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

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Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 1

Márcio André Lopes Cavalcante

DIREITO ADMINISTRATIVO

CONSELHOS PROFISSIONAIS Conselhos profissionais não estão sujeitos ao regime de precatórios

Importante!!!

Os pagamentos devidos, em razão de pronunciamento judicial, pelos Conselhos de Fiscalização (exs: CREA, CRM, COREN, CRO) não se submetem ao regime de precatórios.

STF. Plenário. RE 938837/SP, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

COISA JULGADA CBF não poderia ter editado resolução declarando tanto o Sport como o Flamengo campeões de

1987 porque já havia uma decisão transitada em julgado considerando vencedor o Sport

O Sport Club do Recife conseguiu, em 1999, uma decisão judicial transitada em julgado declarando que ele foi o campeão brasileiro de futebol do ano de 1987.

Ocorre que, em 2011, a CBF editou a Resolução 2/2011 reconhecendo que, além do Sport, o Flamengo também teria sido campeão brasileiro em 1987.

O Sport não se conformou com esta postura da entidade e ingressou com ação de cumprimento de sentença pedindo que, em respeito à decisão judicial transitada em julgado em 1999, a CBF fosse condenada a anular a Resolução e reconhecer o clube pernambucano como o único campeão de 1987.

O STF concordou com o pleito do Sport.

A decisão judicial que conferiu ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 transitou em julgado e não podia ser alterada por resolução posterior da CBF.

A coisa julgada, como manifestação do princípio da segurança jurídica, assume a estatura de elemento estruturante do Estado Democrático de Direito.

A autonomia das entidades desportivas não autoriza a transformação da CBF em órgão revisor de pronunciamentos jurisdicionais alcançados pela preclusão.

STF. 1ª Turma. RE 881864 AgR/DF, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

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Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 2

PRECATÓRIOS Incidem juros da mora entre a data da realização dos cálculos e a da requisição ou do precatório

Importante!!!

Incidem os juros da mora no período compreendido entre a data da realização dos cálculos e a da requisição de pequeno valor (RPV) ou do precatório.

STF. Plenário. RE 579431/RS, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).

Obs: cuidado para não confundir com a SV 17: Durante o período previsto no parágrafo 1º (obs: atual § 5º) do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. O período de que trata este RE 579431/RS é anterior à requisição do precatório, ou seja, anterior ao interregno tratado pela SV 17.

DIREITO PENAL

CRIMES NA LEI DE LICITAÇÕES Se o sotfware adquirido sem licitação tinha mais especificações do que os das

concorrentes e era mais adequado ao seu objeto, não há o crime do art. 89

Determinado Secretário de Educação fez contratação direta, com inexigibilidade de licitação, com a empresa "X", por meio da qual adquiriu mil licenças de uso do software "XX" para organizar os horários e grades escolares da rede de ensino estadual, no valor total de R$ 1 milhão.

O Ministério Público denunciou o Secretário pela prática do crime do art. 89 da Lei nº 8.666/93 argumentando que outras empresas ofereciam softwares diferentes, mas com as mesmas funcionalidades, por preço menor. Dessa forma, o Parquet alegou que seria possível sim a concorrência entre as empresas, não sendo caso de inexigibilidade de licitação.

O STF entendeu que não houve crime.

O laudo pericial constatou que o “software” da empresa escolhida tinha mais especificações do que os das concorrentes e era mais adequado ao seu objeto.

O STF afirmou também que não há nos autos prova de conluio com a empresa escolhida e de recebimento de qualquer vantagem econômica pelo então Secretário.

Por fim, asseverou que o crime previsto no art. 89 da Lei nº 8.666/1993 exige o dolo, consubstanciado na vontade livre e consciente de praticar o ilícito penal, que não se faz presente quando o acusado atua com fulcro em parecer da Procuradoria Jurídica no sentido da inexigibilidade da licitação.

STF. 1ª Turma. Inq 3753/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

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Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 3

DIREITO PROCESSUAL PENAL

COLABORAÇÃO PREMIADA Se a colaboração do agente não foi tão efetiva ele terá direito

apenas a redução da pena, e não ao perdão judicial

A colaboração premiada foi tratado com detalhes pela Lei nº 12.850/2013. No entanto, o julgado do STF envolveu fatos que aconteceram antes da Lei nº 12.850/2013. Desse modo, o julgamento foi feito com base na colaboração premiada disciplinada pela Lei nº 9.807/99.

A Lei nº 9.807/99 prevê o instituto da colaboração premiada, assegurando ao colaborador a redução da pena (art. 14) ou até mesmo o perdão judicial (art. 13)

O réu colaborador não terá direito ao perdão judicial, mas apenas à redução da pena, caso a sua colaboração não tenha tido grande efetividade como meio para obter provas, considerando que as investigações policiais, em momento anterior ao da celebração do acordo, já haviam revelado os elementos probatórios acerca do esquema criminoso integrado.

STF. 1ª Turma. HC 129877/RJ, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

EXECUÇÃO PENAL Não viola a SV 56 a situação do condenado ao regime semiaberto que está cumprindo pena em

presídio do regime fechado, mas em uma ala destinada aos presos do semiaberto

João foi condenado a pena em regime semiaberto. Diante da falta de vagas em colônia agrícola ou industrial, ele se encontra cumprindo a reprimenda em um presídio do regime fechado. Vale ressaltar, contudo, que neste presídio existe uma ala destinada somente aos sentenciados dos regimes semiaberto e aberto, concedendo-lhes os benefícios próprios destes regimes.

João encontra-se preso justamente nesta ala do presídio.

A situação de João viola a SV 56 ("A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS.")?

NÃO. Segundo o STF decidiu no RE 641.320, "os juízes da execução penal podem avaliar os estabelecimentos destinados aos regimes semiaberto e aberto, para qualificação como adequados a tais regimes. São aceitáveis estabelecimentos que não se qualifiquem como “colônia agrícola, industrial” (regime semiaberto) ou “casa de albergado ou estabelecimento adequado” (regime aberto) (art. 33, §1º, “b” e “c”, do CP). No entanto, não deverá haver alojamento conjunto de presos dos regimes semiaberto e aberto com presos do regime fechado."

Assim, os presos do regime semiaberto podem ficar em outra unidade prisional que não seja colônia agrícola ou industrial, desde que se trate de estabelecimento similar (adequado às características do semiaberto).

No caso de João, embora o presídio onde ele está não seja efetivamente uma colônia penal agrícola, esse estabelecimento preenche, na medida do possível, as condições do regime semiaberto, inclusive dando condições para que internos se ausentem nas ocasiões legalmente previstas.

STF. 2ª Turma. Rcl 25123/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 18/4/2017 (Info 861).

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Informativo 861-STF (02/05/2017) – Márcio André Lopes Cavalcante | 4

DIREITO TRIBUTÁRIO

IMUNIDADE TRIBUTÁRIA Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca

se o bem está desvinculado de finalidade estatal

A INFRAERO (empresa pública federal) celebrou contrato de concessão de uso de imóvel com uma empresa privada por meio da qual esta última poderia explorar comercialmente um imóvel pertencente à INFRAERO. Vale ressaltar que esta empresa é uma concessionária de automóveis.

A empresa privada queria deixar de pagar IPTU alegando que o imóvel gozaria de imunidade tributária. O STF não aceitou a tese e afirmou que não incide a imunidade neste caso.

A atividade desenvolvida pela empresa tem por finalidade gerar lucro.

Se fosse reconhecida a imunidade neste caso, isso geraria, como efeito colateral, uma vantagem competitiva artificial em favor da empresa, que teria um ganho em relação aos seus concorrentes. Afinal, a retirada de um custo permite o aumento do lucro ou a formação de preços menores, o que provoca desequilíbrio das relações de mercado.

Não se pode aplicar a imunidade tributária recíproca se o bem está desvinculado de finalidade estatal.

STF. Plenário. RE 434251/RJ, rel. orig. Min. Joaquim Barbosa, red. p/ o ac. Min. Cármen Lúcia, julgado em 19/4/2017 (Info 861).

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

BENEFÍCIO DE PRESTAÇÃO CONTINUADA Estrangeiros residentes no Brasil têm direito ao BPC

Importante!!!

Os estrangeiros residentes no País são beneficiários da assistência social prevista no art. 203, V, da Constituição Federal, uma vez atendidos os requisitos constitucionais e legais.

STF. Plenário. RE 587970/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 19 e 20/4/2017 (repercussão geral) (Info 861).