direito administrativo

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Organização administrativa – parte I Órgãos públicos Análise geral O Estado é ente político dotado de personalidade jurídica, e que como tal atua por meio dos agentes públicos. É pessoa jurídico-administrativa, com personalidade de Direito Público. O Estado tanto pode desenvolver por si mesmo as atividades admi- nistrativas ou pode prestá-las através de outros sujeitos, transferindo para particulares o seu exercício ou criando outras pessoas ou órgãos para desempenhar a atividade (a execução de atividades). O Estado atua através de órgãos públicos ou de entidades, ambos criados para melhor atender as atividades públicas, em face do princípio da especialização e dos fenô- menos da desconcentração e da descentralização. Os órgãos integram a Administração direta. Conceito de órgão público Órgãos públicos são unidades abstratas que sintetizam os vários círculos de atribuições do Estado. Ou seja, são estruturas entes que possuem um feixe de atri- buições, mas que não possuem personalidade jurídica, não passam de repartições de atribuições, que expressam sua vontade através dos agentes públicos. O órgão não se confunde com pessoa jurídica, é parte integrante desta. Enquanto a pessoa jurídica é o todo, os órgãos são as partes integrantes deste todo. Também não se confunde com a pessoa física, o agente público, pois ele apenas congrega as funções que o agente vai exercer. A Lei 9.784/99, que estabelece o processo administrativo fede- ral em seu artigo 1.º, parágrafo 2.º, define órgão: “unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta.” Por não terem personalidade jurídica, as relações entre os órgãos são na verdade relações entre os agentes enquanto titulares das respectivas competências. Ou seja, não

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Page 1: direito administrativo

Organização administrativa – parte I

Órgãos públicos

Análise geral

O Estado é ente político dotado de personalidade jurídica, e que como tal atua por meio dos agentes públicos. É pessoa jurídico-administrativa, com personalidade de Direito Público. O Estado tanto pode desenvolver por si mesmo as atividades admi-nistrativas ou pode prestá-las através de outros sujeitos, transferindo para particulares o seu exercício ou criando outras pessoas ou órgãos para desempenhar a atividade (a execução de atividades).

O Estado atua através de órgãos públicos ou de entidades, ambos criados para melhor atender as atividades públicas, em face do princípio da especialização e dos fenô-menos da desconcentração e da descentralização. Os órgãos integram a Administração direta.

Conceito de órgão público

Órgãos públicos são unidades abstratas que sintetizam os vários círculos de atribuições do Estado. Ou seja, são estruturas entes que possuem um feixe de atri-buições, mas que não possuem personalidade jurídica, não passam de repartições de atribuições, que expressam sua vontade através dos agentes públicos.

O órgão não se confunde com pessoa jurídica, é parte integrante desta. Enquanto a pessoa jurídica é o todo, os órgãos são as partes integrantes deste todo. Também não se confunde com a pessoa física, o agente público, pois ele apenas congrega as funções que o agente vai exercer. A Lei 9.784/99, que estabelece o processo administrativo fede-ral em seu artigo 1.º, parágrafo 2.º, define órgão: “unidade de atuação integrante da estrutura da Administração direta e da estrutura da Administração indireta.”

Por não terem personalidade jurídica, as relações entre os órgãos são na verdade relações entre os agentes enquanto titulares das respectivas competências. Ou seja, não

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há relações entre órgãos ou entre órgãos e outras pessoas, pois, não tendo personali-dade, não podem ser sujeitos de direitos e obrigações. Nas relações do Estado, os que se relacionam são os agentes, manifestando as respectivas competências. Nas relações entre o Estado e outras pessoas, os que se relacionam são o Estado de um lado (atuando por seus agentes) e as pessoas de outro.

Classificação dos órgãos públicos

Quanto à esfera de ação

centrais; ■

locais. ■

Os órgãos centrais exercem atribuições em todo o território nacional, estadual ou municipal, por exemplo: ministérios. Os órgãos locais atuam sobre parte do territó-rio, por exemplo: Delegacias Regionais da Receita Federal, postos de saúde.

Quanto à posição estatal

independentes; ■

autônomos; ■

superiores; ■

subalternos. ■

Os órgãos independentes têm origem na Constituição Federal (CF) e represen-tam os três poderes sem subordinação hierárquica ou funcional, são políticos. Exemplo: casas legislativas, tribunais, chefia do executivo. Os autônomos (cúpula da Adminis-tração Pública, subordinados à chefia dos órgãos independentes) possuem autonomia administrativa, técnica e financeira. Exemplo: ministérios, secretarias, Ministério Público. Os superiores são de direção, controle e comando, mas sujeitos a controle hie-rárquico e subordinação de uma chefia. Não têm autonomia administrativa nem finan-ceira. Exemplo: gabinetes, coordenadorias, departamentos. Os subalternos são subordi-nados hierarquicamente a órgãos superiores de decisão, com funções de execução. Por exemplo seções de expediente, pessoal, portaria.

Quanto à estrutura

simples; ■

compostos. ■

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Os simples ou unitários são constituídos por um único centro de atribuições, sem subdivisões internas. Os compostos são constituídos por vários outros órgãos. Exem-plo: ministérios, secretarias de Estado.

Quanto à composição

singulares; ■

coletivos. ■

Os singulares são integrados por um único agente. Exemplo: diretoria de escola, Presidência da República. Os coletivos são integrados por vários agentes (tribunal é órgão colegiado).

Competências públicas

Conceito

Competência é uma demarcação de poderes, um feixe de deveres-poderes ou um círculo de deveres-poderes. É atribuída ao Estado, a seus órgãos e agentes para que pos-sam atender a certas finalidades públicas, para que cumpram o dever legal de atender os interesses da coletividade.

Ou seja, os poderes implicam os deveres de atuar em nome do interesse alheio, englobando uma sujeição. Os poderes têm caráter meramente instrumental. A ordem jurídica pretende não que um sujeito desfrute de um poder, mas que realize certa fina-lidade. O realce é na ideia de dever e não de poder.

Assim, as competências administrativas são feixes de atribuições concebidos para proporcionar a realização em concreto dos fins legais, via órgãos e agentes. Os poderes, desse modo, ficarão limitados ao necessário e suficiente para o cumprimento da lei, jamais podendo excedê-los. O plus no uso da competência, seja em extensão, seja em intensidade, desbordando dos seus limites, enseja desvio de poder, abuso, arbítrio e ilegalidade, ensejando a fulminação do ato administrativo pela autoridade administra-tiva superior de ofício ou por provocação, ou pelo judiciário.

Características das competências

obrigatórias; ■

irrenunciáveis; ■

intransferíveis; ■

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imodificáveis; ■

imprescritíveis. ■

Todas as competências são:

Obrigatórias ■ – de exercício obrigatório para os órgãos e agentes públicos. Devem sempre ser exercitadas, não cabendo ao agente escolher.

Irrenunciáveis ■ – o seu titular não pode abrir mão delas.

Intransferíveis ■ – não podem ser objeto de transação, repasse, cabendo dele-gação só nos casos previstos em lei.

Imodificáveis ■ – pela vontade do próprio titular, pois não podem ser aumentadas ou diminuídas, porque decorrem da lei.

Imprescritíveis ■ – sempre existirão, mesmo que não se utilizem delas.

Administração Pública indiretaÉ composta pelas entidades, que são pessoas jurídicas de Direito Público ou

Privado criadas pelo Estado para melhor atender às suas demandas. São em quatro: autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia mista.

Autarquia

ConceitoO Decreto-Lei 200/67 conceitua autarquia como serviço autônomo, criado por

lei, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios, para executar ativida-des típicas da Administração Pública, que requeiram, para seu melhor funcionamento, gestão administrativa e financeira descentralizada.

Análise geralPessoa jurídica de Direito Público. ■

Possui as mesmas prerrogativas e sujeições da Administração Pública. ■

Regime jurídico de Direito Público semelhante à Administração Pública cen- ■tral.

Aparece perante terceiros como a própria Administração Pública. ■

Não possui capacidade política (não cria o próprio direito, não faz suas pró- ■prias normas) mas tem sua própria estrutura, autonomia financeira. É pessoa

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pública administrativa sob regime de Direito Público (possui poder de auto-administração).

É um braço do Estado. Tem responsabilidade pessoal própria por qualquer ■dano.

Tem pessoal próprio (com a Emenda Constitucional 19/98, o regime jurídico ■único foi afastado). O Supremo Tribunal Federal, em ação direta de incons-titucionalidade, ADIn 2.135-4, suspendeu a eficácia da emenda 19/98 neste ponto, havendo atualmente a exigência de regime único estatutário.

Patrimônio próprio com as mesmas características da Administração Pública, ■central (impenhorabilidade, inalienabilidade e imprescritibilidade). A outorga de patrimônio é necessária para o exercício da capacidade de autoadministra-ção.

A autarquia é por excelência descentralização administrativa por serviço, exer-cendo-o com as mesmas características e efeitos da atividade administrativa do Estado. A autarquia é serviço público descentralizado.

Características

As características da autarquia são:

criação por lei formal, específica e unitemática; ■

personalidade jurídica de Direito Público (é titular de direitos e obrigações ■próprios e sujeita-se ao regime jurídico de Direito Público quanto à criação, extinção, poderes, prerrogativas, privilégios e sujeições);

capacidade de autoadministração (não é pessoa política – União, Estados, ■Municípios. Possui autonomia, o que significa que se autoadministra a partir das regras criadas pela pessoa pública política que lhe deu vida, não cria o direito);

especialização dos fins ou atividades (desenvolve capacidade específica para a ■prestação de serviço determinado e não de capacidade genérica. Essa capaci-dade específica originou o princípio da especialização, que a impede de exer-cer atividades diversas daquelas para as quais foi instituída);

sujeição a controle ou tutela (controle para garantir que a autarquia não se ■desvie de seus fins institucionais. Controle político, jurídico, administrativo, do Ministério Público, do Tribunal de Contas e do cidadão);

pessoal (concursado – cargo público); ■

licitação (obrigatória); ■

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patrimônio – bens públicos (impenhoráveis, inalienáveis e imprescritíveis); ■

dirigente político (nomeado e demissível ■ ad nutum);

receitas (próprias e orçamentárias). ■

Fundação públicaDefinida pela Lei 7.596/87. É entidade de Direito Público, criada por ato legisla-

tivo, sem fins públicos, com autonomia administrativa. Regime igual ao da autarquia e da Administração Pública central. A ideia é que se reúne um patrimônio. Atribuição de personalidade jurídica a um patrimônio.

Realiza precipuamente fomento e atividades de relevância ao interesse público; exemplo: museus públicos.

Empresas públicasFormada por capital integralmente público e predominantemente da União.

Explora atividade econômica ou presta serviço público. Possui regime jurídico híbrido, público e privado. Não admite o elemento lucro e somente pode ser criada na forma do artigo 173 da CF. Possui quadro de pessoal próprio, contratado no regime celetista após concurso público. Realiza licitação e admite sua organização em qualquer forma comercial admitida em direito.

Sociedades de economia mistaPatrimônio público e privado. É sociedade anônima, pois importam nessa socie-

dade os recursos e a impessoalidade. Explora atividade econômica ou presta serviço público. Regime de Direito Privado.

A sociedade de economia mista admite o elemento lucro na parte privada do capi-tal. O capital acionário majoritário é do Poder Público. Possui quadro de pessoal com-posto por empregados celetistas, após concurso público. Licitação é realizada quando não interfere na concorrência.

Tanto a empresa pública como a sociedade de economia mista não gozam de imunidade nem de indisponibilidade de bens. A empresa pública pode falir, pois quem é sempre solvente é a Administração Pública central e a empresa pública atua em igual-dade com o particular. A sociedade de economia mista só não pode falir porque a lei das sociedades anônimas veda.

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Memorizar o conceito de autarquia, fundação pública, sociedade de economia mista e empresa pública, assim como o conceito de órgão.

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Organização administrativa – parte II

Entidades paraestatais da Administração Pública e Terceiro Setor

Entidades paraestataisSão entes paraestatais de natureza intermediária entre as pessoas públicas e pri-

vadas. Seriam pessoas semipúblicas ou semiprivadas.

É algo que não se confunde com o Estado pois caminha ao seu lado, paralelamente.

Serviço social autônomoOs serviços sociais autônomos são entes paraestatais, de cooperação com o Poder

Público, com administração e patrimônio públicos, com forma de instituições particu-lares convencionais. Exemplo: SESI, SENAI e SESC. Não integram a Administração direta ou indireta, mas trabalham ao lado do Estado. Por isso, recebem autorização do Poder Público para prestarem serviços, arrecadarem e utilizarem na sua manutenção contribuições parafiscais.

Não prestam serviço público, mas atividade privada de interesse público (servi-ços não exclusivos do Estado), que por isso são incentivadas pelo Poder Público. A atua-ção estatal, no caso, é de fomento e não de serviço público. Essas entidades têm regime de Direito Privado e vínculo com a Administração Pública através de convênio.

Organizações sociaisNovo tipo de entidade, pessoas jurídicas de Direito Privado, sem fins lucrati-

vos, instituídas por particulares para desempenhar serviços públicos não exclusivos de Estado, com incentivo e fiscalização do Poder Público, mediante vínculo através de con-trato de gestão. Integram o Terceiro Setor. Reguladas pela Lei 9.637/98, que também define sua qualificação discricionária.

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Organizações da sociedade civil de interesse público

Reguladas pela Lei 9.790/99. Pessoas jurídicas de Direito Privado, sem fins lucra-tivos, com o mesmo conceito das organizações sociais. A diferença é a qualificação vin-culada na organização da sociedade civil de interesse público e a qualificação discricio-nária na organização social. Integram o terceiro setor.

Reforma administrativaO Estado Social frente à perspectiva de globalização possuía dois caminhos: ou

fortalecia o universo estatal para não se subordinar ao domínio dos países centrais ou inseria-se no contexto global de forma subordinada, acompanhando a ideologia do neoliberalismo e reduzindo a soberania.

Neste ponto e acompanhando tendência internacional de reducionismo e redi-mensionamento das atividades ditas estatais, o Estado brasileiro passou a direcionar os recursos públicos ao custeio de atividades essenciais, retirando-se paulatinamente de setores da sociedade, os quais passam a ser geridos pela iniciativa privada e apenas fiscalizados pelo Poder Público.

A Administração Burocrática do Estado Social (de prestações) fulcrada no pro-cedimento, na seleção legal de pessoal, no trinômio lei, legitimidade e democracia, e no controle efetivo de meios e resultados reorienta-se para um modelo gerencial de admi-nistração, calcado no consenso e na procedimentalidade, na transferência para o setor público não estatal dos serviços sociais e científicos competitivos, em que os meios não são controláveis, apenas importando o alcance do fim destinado.

O Estado pretende não só coordenar e orientar, quando não direcionar, a atividade da iniciativa privada, atuando como ente regulador, através das agências reguladoras.

Para tanto, diferencia-se interesse público de interesse estatal e reorienta-se a dicotomia público-privado, criando um novo setor na esfera da Administração Pública, o setor público não estatal. Há uma nítida tendência de publicização, no intuito de investir o particular na prestação do serviço público e houve um intenso processo de privatização de estatais.

O que se observa, atualmente, é uma crescente manifestação no sentido de agilizar os procedimentos administrativos, implantando-se para tanto o modelo gerencial.

A busca da manutenção e respeito ao núcleo de direitos fundamentais fulcrados no cidadão desde o Estado Liberal e presentes ainda no Estado Social deve ser a tônica da dita reengenharia do Estado brasileiro.

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Justificativas para a coordenação gerencial, conforme Diogo de Figueiredo Moreira Neto (1999):

potencial criativo e cooperativo dos entes da constelação social (colaboração) ■e estatal (cooperação);

redução de custos para o Estado e a sociedade (economicidade); ■

simplificação da máquina gestora do Estado (racionalidade); ■

reforço da máquina reguladora do Estado (publicização); ■

renovação das modalidades de prestação de serviços do Estado (modernização); ■

atendimento às demandas reprimidas pelo fracasso do Estado social e socialista ■(legitimidade);

racionalização da atribuição e distribuição de competência ao Estado (subsi- ■diariedade).

A Administração Pública, estruturada nas autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista, de burocrática assume também uma feição gerencial.

núcleo estratégico; ■

prestação de serviços exclusivos do Estado; ■

prestação de serviços não exclusivos do Estado; ■

entes voltados à produção de bens e serviços. ■

Núcleo estratégico

Inclui as políticas de gestão, engloba as carreiras típicas de Estado, ministérios, Poder Legislativo, Judiciário, Ministério Público. Esse é o Estado mínimo da reforma. O princípio do núcleo estratégico é a efetividade. É o último resquício da Administração Pública burocrática. É o único que continua com controle procedimental.

Prestação de serviços exclusivos do Estado

Exemplo: poder de polícia, de tributar. Tanto o núcleo estratégico como a pres-tação de serviços exclusivos do Estado exercem poder de tributar e de punir. Podem ser prestados por agentes de carreiras típicas ou por agências executivas e reguladoras. Segundo o plano diretor da reforma, as agências surgiram da qualificação de autarquias ou fundações, em que se firma um contrato de gestão (exemplo: ANEEL, ANATEL e ANP). Fiscalizam e exercem poder de polícia.

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Controle de resultados feito pelas agências reguladoras

Essas agências reguladoras são pessoas jurídicas de Direito Público, integrantes da Administração Pública federal indireta, submetidas a regime autárquico, com auto-nomia em relação à Administração da qual fazem parte.

Apresentam-se como autarquias em regime especial, cada qual com carac-terísticas diferenciadas, podendo ter maior ou menor grau de autonomia e função normativa. As agências reguladoras têm por função regular a prestação de serviços públicos, normatizando-os.

Por serem autarquias devem ser criadas por lei específica (unitemática) e formal, decorrente de processo legislativo, e instaladas por decreto regulamentar de competência do chefe do Poder Executivo.

Seu objetivo é servir de instrumento na busca da eficiência na prestação do serviço público ou de atividades de interesse público.

O patrimônio é público estatal. Será público aquilo que pertencer a uma finalidade pública, e estatal o que pertencer ao Estado.

Serviços não exclusivos do Estado (Terceiro Setor)

Inclui as organizações sociais, as organizações da sociedade civil e os serviços sociais autônomos. Podem desempenhar grande papel no preenchimento de interesse público das lacunas da ação estatal. Não se apresentam como substitutivas ou excluido-ras dessa ação, mas como um importante complemento. Situam-se dentro do universo jurídico no chamado Terceiro Setor, nem públicas nem exclusivamente estatais.

A sua natureza jurídica é de pessoa jurídica de Direito Privado, absolutamente sem finalidade lucrativa e obrigatoriamente submetida a princípios juspublicísticos, não com-pondo a Administração indireta, mas integrando o terreno do espaço público não estatal, no chamado Terceiro Setor, como já assinalado.

Produção de bens e serviços

O Estado não desempenha atividades, ele fiscaliza o seu desempenho pelo par-ticular. Controle: de fins, de eficiência, a posteriori, não de meios, de resultados. O que está intimamente ligado à ideia de fomento.

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Agências reguladorasA realidade jurídica brasileira não possui um marco regulatório único. Assim

cada agência reguladora possui um universo específico na sua lei criadora.

No plano ideal, toda agência reguladora deve possuir as características apresen-tadas a seguir.

Natureza jurídica

Pessoa jurídica de Direito Público. Autonomia ampliada em relação à administra-ção da qual ela faz parte. A restauração do conceito original de autarquia. Goza de ampla autonomia no nosso sistema jurídico. É a autarquia em regime especial.

Criação

Por lei formal, específica e unitemática, mediante delegação legislativa, pois senão a agência não tem como exercer sua autonomia. Essa delegação tem limites. O legislador confere os standards jurídicos nos quais a agência vai se basear.

Instalação

Mediante decreto que contenha a regulamentação da lei e a aprovação do regi-mento interno.

Dirigentes

São agentes políticos. A sua investidura se dá por ato complexo (indicação do Executivo e aprovação do Legislativo). Não são demissíveis ad nutum e possuem estabi-lidade via mandato. Possuem impedimentos e suspeições. Após o prazo de vigência do mandato, eles possuem algumas garantias, similares à da estabilidade sindical, que se consubstanciam na quarentena, significando que o dirigente vai continuar recebendo por um certo tempo, para evitar que ele utilize as informações e sofra prejuízos em função da sua atuação enquanto dirigente.

Pessoal

O ideal seria que fossem servidores públicos, com estabilidade sob o regime esta-tutário. Seria como carreira de Estado na qual a estabilidade é indispensável ao exercício da função. Esse regime aplica-se às atividades afins.

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Receitas

Próprias e orçamentárias (estas destinadas pelo legislador). As próprias se cons-tituem em taxas para o exercício do poder de polícia, multas, sanções, de todas as ativi-dades que ela exerça de maneira remunerada.

Contratos

Contratos de concessão são contratos administrativos. Também existem os con-tratos de administração (quando compra alguma coisa etc.).

Licitação

O legislador poderá delegar poderes para que a agência possa ter seu estatuto licitatório próprio.

Controles

Mesmo autônomas não são imunes a controle. O controle político não pode ocorrer, pois quebra a autonomia. O controle interno deve existir; o externo, feito pelo Tribunal de Contas, também incide. O controle social também existe e é exercido por ouvidorias, audiência pública e impossibilidade de segredo das informações.

Privilégios

Todas das autarquias normais e mais alguns típicos da autonomia ampliada. São eles: não pode haver contingenciamento do orçamento da agência (bloqueio dos valores pelo ministro, redução da verba), as decisões não podem ser revistas (não há duplo grau de jurisdição).

Funções administrativa, sancionatória e regulamentarAdministrativa ■ : (fiscalização – exercício do poder de polícia); prevenção (estabelecendo condutas, reduzindo, ampliando restrições etc.).

Sancionatória ■ : a doutrina entende possível em face de que os poderes todos exercem funções atípicas, inclusive a judicante. Assim, a agência pode exercê-la, desde que não se faça coisa julgada, respeite-se o princípio da anterioridade e o ordenamento jurídico. O único problema é que os tipos são em branco, abertos, abstratos. Deve-se adotar os princípios da razoabilidade e proporcionalidade.

Normativa ■ : Carlos Ari Sundfeld (2000) sustenta que o princípio da legali-dade estrita relaciona-se ao poder normativo jurídico e à criação das normas

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eminentemente jurídicas, porém o poder normativo sobre normas técnicas não é acobertado pelo princípio da legalidade estrita, não sendo competência privativa do legislativo, aceitando inclusive que a norma técnica pode reduzir direitos. Diz que a lei estabelece os standards e a agência os regulamenta.

Poderes da Administração PúblicaSão decorrência dos princípios. São inerentes à Administração Pública para que

possa sobrepor a vontade da lei à vontade individual, o interesse público ao interesse privado. É dever-poder, os poderes são irrenunciáveis e encerram prerrogativas de auto-ridade, as quais por isso mesmo só podem ser exercidas nos limites da lei.

Três espécies: poder normativo, poder disciplinar e poder hierárquico.

Poder normativo ou regulamentar

Os atos pelos quais a Administração Pública exerce o seu poder normativo têm em comum com a lei o fato de emanarem normas, ou seja, atos com efeitos gerais e abstratos. Os atos normativos podem ser originários ou derivados.

Originários ■ : emanados de um órgão estatal em virtude de competência própria, outorgada imediata e diretamente pela Constituição. Compreende os atos emanados do legislativo.

Derivados ■ : têm por objetivo a explicitação ou especificação de um conteúdo normativo preexistente, visando sua execução prática. É o regulamento.

Doutrinariamente, admitem-se dois tipos de regulamentos: regulamento execu-tivo e regulamento autônomo.

O regulamento executivo complementa a lei, contém normas para sua fiel exe-cução da lei – artigo 84, IV, Constituição Federal (CF). Não inova na ordem jurídica, criando direitos, obrigações, proibições, medidas punitivas, até porque ninguém é obri-gado a fazer ou deixar de fazer senão em virtude de lei – artigo 5.º, II.

O regulamento autônomo ou independente inova na ordem jurídica, por-que estabelece normas sobre matérias não disciplinadas em lei, não completa nem desenvolve nenhuma lei prévia.

A CF limitou consideravelmente o poder regulamentar, não deixando espaço para o regulamento autônomo. No direito brasileiro só existe o regulamento executivo, hierarquicamente subordinado a uma lei prévia, sendo o ato de competência privativa do chefe do Executivo.

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Poder disciplinarÉ o que cabe à Administração Pública para apurar as infrações disciplinares dos

servidores públicos e aos sujeitos à disciplina administrativa, como aqueles que com a Administração Pública contratam, e aplicar penalidades.

Não abrange particulares não sujeitos à disciplina interna da Administração Pública, pois nesse caso as medidas punitivas encontram fundamento no poder de polí-cia do Estado.

É decorrência da hierarquia, é discricionário, o que deve ser entendido com res-salvas.

A Administração Pública não tem liberdade de escolha entre punir e não punir, pois conhecendo falta praticada deve necessariamente instaurar procedimento adminis-trativo para apuração e, se for o caso, punição. A discricionariedade reside limitadamente nos procedimentos previstos para apuração de falta. Nenhuma penalidade pode ser apu-rada sem o devido processo legal, o contraditório e ampla defesa.

Poder hierárquicoA organização administrativa é baseada na hierarquia e na distribuição de com-

petências. Há uma relação de coordenação e subordinação entre os vários órgãos que integram a Administração Pública, ou seja, estabelece a hierarquia.

Decorrem diversos poderes:

editar atos normativos (resoluções, portarias, instruções), com o objetivo de ■ordenar a atuação dos órgãos subordinados;

dar ordens aos subordinados, o que implica no dever de obediência, salvo para ■as ordens manifestamente ilegais;

controlar a atividade dos órgãos inferiores, para verificar legalidade, podendo ■anular ou revogar os atos (STF, Súmula 473);

aplicar sanções em caso de infrações disciplinares; ■

avocar atribuições desde que não sejam de competência exclusiva do órgão ■subordinado;

delegar atribuições que não lhe sejam privativas. ■

A hierarquia é princípio, um critério de organização administrativa, mas pode ser também ordenamento hierárquico definido por lei com distribuição de competên-cias, e ainda, relação pessoal, obrigatória, de natureza pública, relação de coordenação e subordinação entre o inferior e o superior.

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Memorizar os conceitos de organização social, organização da sociedade civil de inte-resse público e agências reguladoras.

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