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17 DIREITO ADMINISTRATIVO Fernando Ferreira Baltar Neto e Ronny Charles Lopes de Torres 1. DIREITO ADMINISTRATIVO E O REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO 1. A doutrina identifica as funções administrativas através de três critérios: (1º) critério subjetivo ou orgânico: leva em conta o sujeito responsável pelo exercício da função admi- nistrativa; (2º) critério objetivo material: busca reconhecer a função através de elementos intrínsecos, ou seja, através de seu conteúdo; (3º) critério objetivo formal: busca reconhecê-la pelo regime que a disciplina. 2. A função administrativa compreende diversas atividades, como: (a) serviços públi- cos: atividade direcionada a proporcionar utilidades ou comodidades para os administrados, para satisfação de suas necessidades; (b) poder de polícia: atividade que contém ou restringe o exercício das liberdades, adequando-as ao interesse público; (c) fomento: atividade admi- nistrativa de estímulo à iniciativa privada de utilidade pública, que desenvolve atividades de interesse coletivo; (d) intervenção: atuação da Administração no domínio econômico, seja de forma direta (através de suas empresas estatais), seja de forma indireta, através da regulamen- tação e da fiscalização da atividade econômica. 3. A Administração Pública é a faceta organizacional do Estado voltada para o atendi- mento das necessidades coletivas, no desempenho de sua função administrativa. A expressão pode ser compreendida em dois sentidos: sentido objetivo (administração pública): consiste na própria atividade administrativa exercida pelos órgãos e entes estatais; e sentido subjetivo (Administração Pública): consiste no conjunto de órgãos, entidades e agentes que tenham a atribuição de executar a função administrativa. Nesse caso, a expressão se inicia com letras maiúsculas. 4. O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que envolve normas jurídicas disciplinadoras da Administração Pública em seus dois sentidos, enquanto atividade admi- nistrativa propriamente dita e enquanto órgãos, entes e agentes que possuem a atribuição de executá-la. 5. A atuação da Administração Pública, em sua atividade administrativa, sofre a influ- ência de um regime jurídico específico, denominado regime jurídico-administrativo, que se caracteriza pela incidência de princípios próprios, que darão especiais contornos à atividade administrativa, fundamentais para a correta aplicação dos institutos pertinentes e para a com- preensão das proteções e das restrições jurídicas que se refletem sobre tal atividade. 6. Os princípios se diferenciam das regras. Eles se expressam em estruturas abertas, flexíveis, podendo, por isso mesmo, ser mais ou menos observados. Havendo conflito entre dois princípios, é sempre possível uma solução que atenda em certa medida a um e em certa Livro 1.indb 17 03/04/2014 12:06:32

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DIREITO ADMINISTRATIVOFernando Ferreira Baltar Neto e Ronny Charles Lopes de Torres

1. DIREITO ADMINISTRATIVO E O REGIME JURÍDICO-ADMINISTRATIVO

1. A doutrina identifica as funções administrativas através de três critérios: (1º) critério subjetivo ou orgânico: leva em conta o sujeito responsável pelo exercício da função admi-nistrativa; (2º) critério objetivo material: busca reconhecer a função através de elementos intrínsecos, ou seja, através de seu conteúdo; (3º) critério objetivo formal: busca reconhecê-la pelo regime que a disciplina.

2. A função administrativa compreende diversas atividades, como: (a) serviços públi-cos: atividade direcionada a proporcionar utilidades ou comodidades para os administrados, para satisfação de suas necessidades; (b) poder de polícia: atividade que contém ou restringe o exercício das liberdades, adequando-as ao interesse público; (c) fomento: atividade admi-nistrativa de estímulo à iniciativa privada de utilidade pública, que desenvolve atividades de interesse coletivo; (d) intervenção: atuação da Administração no domínio econômico, seja de forma direta (através de suas empresas estatais), seja de forma indireta, através da regulamen-tação e da fiscalização da atividade econômica.

3. A Administração Pública é a faceta organizacional do Estado voltada para o atendi-mento das necessidades coletivas, no desempenho de sua função administrativa. A expressão pode ser compreendida em dois sentidos: sentido objetivo (administração pública): consiste na própria atividade administrativa exercida pelos órgãos e entes estatais; e sentido subjetivo (Administração Pública): consiste no conjunto de órgãos, entidades e agentes que tenham a atribuição de executar a função administrativa. Nesse caso, a expressão se inicia com letras maiúsculas.

4. O Direito Administrativo é o ramo do Direito Público que envolve normas jurídicas disciplinadoras da Administração Pública em seus dois sentidos, enquanto atividade admi-nistrativa propriamente dita e enquanto órgãos, entes e agentes que possuem a atribuição de executá-la.

5. A atuação da Administração Pública, em sua atividade administrativa, sofre a influ-ência de um regime jurídico específico, denominado regime jurídico-administrativo, que se caracteriza pela incidência de princípios próprios, que darão especiais contornos à atividade administrativa, fundamentais para a correta aplicação dos institutos pertinentes e para a com-preensão das proteções e das restrições jurídicas que se refletem sobre tal atividade.

6. Os princípios se diferenciam das regras. Eles se expressam em estruturas abertas, flexíveis, podendo, por isso mesmo, ser mais ou menos observados. Havendo conflito entre dois princípios, é sempre possível uma solução que atenda em certa medida a um e em certa

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FERNANDO FERREIRA BALTAR NETO E RONNY CHARLES LOPES DE TORRES

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medida ao outro, o que não ocorre com o conflito entre regras, que exige, sob o prisma tradi-cional, opção por uma delas.

7. O conceito de interesse público envolve, conforme a doutrina, duas concepções, o in-teresse público primário (interesse da coletividade) e o interesse público secundário (inte-resse do Estado, enquanto sujeito de direitos).

8. A CF/88 estabeleceu expressamente que a administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

9. No direito privado, de acordo com o princípio da legalidade, ao particular é permitido fazer tudo o que a lei não proíbe. No âmbito do Direito Administrativo, pela doutrina tradi-cional, existe uma subordinação da ação do administrador, em função do que estabelece a lei, de forma que ele só pode agir nos moldes e limites estabelecidos pela legislação.

10. A impessoalidade repele e abomina favoritismos e restrições indevidas, exigindo tra-tamento equânime e marcado pela neutralidade, noutro prisma, em virtude da impessoalida-de, convém firmar que, quando realiza a função administrativa, o gestor não age nem deve agir em nome próprio, mas em nome do Poder Público.

11. A nomeação de cônjuge, companheiro ou parente em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mesma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na administração pública direta e indireta em qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compreendido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Federal (Súm. Vinculante 13/STF).

12. A publicidade aos documentos públicos de interesse particular ou de interesse cole-tivo ou geral pode ser ressalvada nas hipóteses em que o sigilo seja ou permaneça imprescin-dível à segurança da sociedade e do Estado.

13. O princípio da eficiência foi inserido no texto constitucional pela EC 19/98, passan-do a expressamente vincular e nortear a administração pública. O princípio da eficiência exige que a atividade administrativa seja exercida com presteza, perfeição e rendimento funcional.

14. O STF já proclamou que “a lei pode, sem violação do princípio da igualdade, dis-tinguir situações, a fim de conferir a uma tratamento diverso do que atribui a outra. Para que possa fazê-lo, contudo, sem que tal violação se manifeste, é necessário que a discriminação guarde compatibilidade com o conteúdo do princípio” (ADI 3070).

15. O princípio da segurança jurídica tem por fundamento a necessária previsibilidade dos atos administrativos e estabilização das relações jurídicas. Têm-se limites para a atuação da Administração na prática de seus atos, como: vedação à aplicação retroativa de nova inter-pretação e sujeição do poder de autotutela a prazo razoável.

17. “Nos processos perante o Tribunal de Contas da União asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que

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DIREITO AMBIENTALRomeu Thomé

1. PRINCÍPIOS DE DIREITO AMBIENTAL

1. O princípio do desenvolvimento sustentável tem como pilar a harmonização das seguintes vertentes: crescimento econômico / preservação ambiental / equidade social.

2. O desenvolvimento sustentável busca “um desenvolvimento que faz face às neces-sidades das gerações presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras na sa-tisfação de suas próprias necessidades”.

3. O desenvolvimento sustentável está previsto nos artigos 170, II, III, VI e 225 da Constituição de 1988.

4. O direito a um meio ambiente equilibrado está intimamente ligado ao direito funda-mental à vida e à proteção da dignidade da vida humana, garantindo, sobretudo, condições adequadas de qualidade de vida, protegendo a todos contra os abusos ambientais de qualquer natureza.

5. O princípio da prevenção é aplicado quando se conhece os males provocados ao meio ambiente decorrentes de atividades potencialmente predadoras ou poluidoras (ativi-dades sabidamente perigosas). Como exemplo, temos as atividades de mineração, onde já se conhece os impactos sobre o meio ambiente.

6. Quando não se conhece o impacto de atividades potencialmente causadoras de de-gradação ambiental, deve se aplicar o princípio da precaução. Podemos citar como exemplo as discussões sobre os impactos, ainda desconhecidos, dos alimentos transgênicos (OGM) e da radiofrequência das antenas de telefonia celular ao meio ambiente e à saúde humana.

7. O princípio do poluidor-pagador pode ser entendido como um instrumento econômi-co que exige do poluidor, uma vez identificado, suportar as despesas de prevenção, reparação e repressão dos danos ambientais.

8. Cabe ao Poder Público e à coletividade o dever de defender e preservar o meio am-biente ecologicamente equilibrado para as presentes e futuras gerações.

9. O direito à participação pressupõe o direito de informação ambiental.

10. Incumbe ao Poder Público “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente.”

11. A Constituição de 1988 condicionou o direito de propriedade à sua função social, que engloba a proteção do meio ambiente (função socioambiental da propriedade).

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ROMEU THOMÉ

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2. O MEIO AMBIENTE NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

1. O interesse no meio ambiente saudável, em regra, é classificado como difuso e de 3º geração em decorrência de sua natureza indivisível, bem como por envolver segmentos inde-terminados da sociedade e estar relacionado à proteção de direitos dotados de enorme carga de humanidade e universalidade.

2. Como principais ações constitucionais de defesa do meio ambiente temos a Ação Civil Pública (art. 129, III, CF 88) e a Ação Popular ambiental (art. 5º, LXXIII, CF 88).

3. A competência para legislar sobre proteção do meio ambiente é concorrente, ou seja, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal (art. 24, VI e VII, da CF 88), sendo que a União estabelecerá normas gerais (art. 24, § 1º da CF 88).

4. A competência legislativa dos municípios não está prevista no artigo 24, mas sim no artigo 30, I e II da CF 88: “legislar sobre assuntos de interesse local” e “suplementar a legis-lação federal e a estadual no que couber”.

5. A competência material (administrativa) para proteção do meio ambiente é comum, ou seja, é atribuída conjuntamente à União, Estados, Distrito Federal e Municípios, (art. 23, VI e VII, da CF 88).

6. A criação de uma área ambientalmente protegida pode ser feita por decreto ou por lei.

7. A alteração e supressão de uma área ambientalmente protegida somente pode ser feita por lei.

8. O Estudo Prévio de Impacto Ambiental (art. 225, § 1º, IV) deve ser realizado para subsidiar o procedimento de licenciamento ambiental de atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente.

9. Ao E.P.I.A. deve ser dado publicidade.

10. Incumbe ao Poder Público proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

11. A CF 88 prevê a possibilidade de responsabilização do poluidor, em decorrência do mesmo dano ambiental, nas esferas penal, administrativa e civil.

12. A Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional (art. 225, § 4º), o que não significa que são bens da União.

3. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE

1. Meio ambiente é o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 3, I, da Lei 6.938/81).

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DIREITO CIVILLuciano Figueiredo e Roberto Figueiredo

1. LEI DE INTRODUÇÃO ÀS NORMAS DO DIREITO BRASILEIRO

1. Trata-se de norma jurídica autônoma aplicável sobre todo o ordenamento jurídico (a antiga Lei de Introdução ao Código Civil foi modificada em sua nomenclatura, passando a chamar-se de Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro. A mudança veio em boa hora, ao passo que a Lei de Introdução aplica-se a todo o ordenamento, e não apenas ao Direito Civil. Confira a modificação na Lei 12.376/2010).

2. Lembrar que a vacatio legis, é, em regra, de 45 dias no território nacional e 3 meses no território estrangeiro. Tem como exceção as hipóteses relativas às normas de pequena repercussão, as quais podem ser liberadas da vacatio.

3. O art. 8º, § 1º, da LC 95/98 estabelece regra diferenciada para a contagem da vacatio, sendo que será computado o referido prazo: “com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia subseqüente à sua consumação integral”.

4. A modificação da lei deverá seguir, essencialmente, duas regras, amplamente cobradas nos certames da OAB, quais sejam:

– a modificação de lei já em vigor somente poderá ocorrer por meio de lei nova, conforme § 4º, do art. 1º, da LINDB, havendo novo prazo de vacatio;

– a modificação de lei que esteja em vacatio legis pode acontecer mediante “nova publica-ção de seu texto, destinada à correção”, oportunidade em que o prazo “começará a correr da nova publicação”.

5. Se a lei superou a vacatio e entrou em vigor, em regra se submete ao princípio da con-tinuidade ou permanência, leia-se: permanece em vigor até que outra, no todo ou em parte, venha revogá-la. Portanto, usos e costumes não revogam lei, não se admitindo o denominado consuetudo ab-rogatorio ou dessuetudo.

6. A revogação é gênero, o qual tem como espécies: ab-rogação (revogação total) e der-rogação (revogação parcial).

7. A revogação da lei pode ocorrer de forma expressa ou tácita. A revogação tácita poderá acontecer com fulcro no critério hierárquico (norma superior revoga norma inferior), cro-nológico (norma mais nova revoga a mais antiga) e especial (norma específica revoga norma geral tratando do mesmo tema).

8. Lembrar que o art. 2º, § 2º, da LINDB dispõe que: “A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não revoga nem modifica a lei anterior”.

9. Como relação ao instituto da repristinação (restauração da norma), no ordenamento jurídico pátrio é aceito excepcionalmente, demandando disposição normativa expressa.

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LUCIANO FIGUEIREDO E ROBERTO FIGUEIREDO

10. Obrigatoriedade das normas (LINDB, art. 3º): em regra, o direito brasileiro proíbe a alegação do erro de direito, há exceções como por exemplo, no direito civil,: o casamento putativo (art. 1.561, CC) e o instituto do erro ou ignorância como vício de vontade (defeito do negócio jurídico), regra do art. 139, inciso III, do Código Civil.

11. Integração normativa (LINDB, art. 4º): sabe-se que é vedado ao magistrado deixar de julgar a lide alegando lacuna ou qualquer outra justificativa (vedação ao no liquet). Nesse caso deve o magistrado lançar mão do art. 4º da LINDB, utilizando-se da analogia, dos cos-tumes e dos princípios gerais do direito, nessa ordem preferencial, a fim de solucionar tais problemas.

12. Interpretação da norma (LINDB, art. 5º): a chamada interpretação autêntica é aque-la conferida pelo próprio legislador criador da norma (Poder Legislativo). Nela, o próprio órgão que cria o texto normativo, o interpreta, para que dúvidas não pairem sobre o mesmo. Ao lado dessa interpretação autêntica, admite-se ainda a interpretação realizada pelo próprio Poder Judiciário e pela doutrina.

13. Aplicação da Lei no Tempo (LINDB, art. 6º): a regra é que não pode alcançar a nova lei fatos pretéritos à sua vigência. Nada obstante, o mesmo dispositivo legal prevê exceção a esta regra (retroatividade normativa), desde que atendidos os seguintes requisitos: (i) expressa disposição nesse sentido; (ii) se esta retroatividade não violar o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido. Ademais, permanece possível a ultratividade normativa quando uma norma já revogada (sem vigência) ainda possui vigor. Aplica-se a:

(a) normas circunstanciais: àquelas relativas a regrar um determinado fato, durante a sua vigência, a exemplo de uma guerra.

(b) normas temporárias: aquelas criadas para regular uma determinada circunstância, vigendo durante a existência desta, a exemplo de portarias que alteraram o trânsito no Rio de Janeiro durante o evento do Pan Americano.

São muitas as hipóteses de ultratividade, normativa, sendo a mais lembrada pelo avaliador da OAB à relativa à norma que se aplica ao inventário e partilha De fato, a norma sucessória regente será a da época do óbito, e não a do curso do inventário, na dicção do art. 1.785 do Código Civil (droit de saisine).

14. Eficácia da lei no espaço (direito internacional privado): Tendo em vista a so-berania nacional o Direito Brasileiro está submetido ao Princípio da Territorialidade Moderada/Mitigada; vale dizer: no território brasileiro aplica-se, em regra, a lei brasileira. Excepcionalmente, porém, é aplicável a norma estrangeira no território brasileiro, desde que haja disposição legal expressa neste sentido. Sobre tais hipóteses de mitigação, lembrar que:

a) conflito sobre bens imóveis situados fora do Brasil aplica-se a lei do lugar onde estiver situado (art. 8º da LINDB).

b) o contrato internacional se reputa formado onde residir o seu proponente, sendo esta a legislação aplicável e o foro competente (art. 9º, §2º, LINDB).

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DIREITO CONSTITUCIONALDirley da Cunha Jr

1. TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

1. Origem e conceito de constituição: a noção de Constituição já existia entre os gregos e romanos, no domínio do pensamento filosófico e político. A Constituição consiste num conjunto de normas jurídicas supremas que estabelecem os fundamentos de organização do Estado e da Sociedade, dispondo e regulando a forma de Estado, a forma e sistema de go-verno, o seu regime político, seus objetivos fundamentais, o modo de aquisição e exercício do poder, a composição, as competências e o funcionamento de seus órgãos, os limites de sua atu-ação e a responsabilidade de seus dirigentes, e fixando uma declaração de direitos e garantias fundamentais e as principais regras de convivência social.

2. Concepções sobre a constituição: a Constituição pode ser compreendida a partir de sentidos diversos, segundo o ângulo de visão de seu observador. Efetivamente, o sociólogo vai conceber a Constituição como um fato social ou produto da realidade social, dotada de força própria extraída dos elementos da mesma realidade da qual proveio; o adepto do sentido po-lítico certamente verá na Constituição a síntese de uma decisão política fundamental de um povo acerca do modo e da forma concreta de existência de sua comunidade; enquanto para o jurista a Constituição é uma lei pura, que se distingue das demais em razão de sua superiori-dade jurídica. Todavia, um conceito adequado de Constituição deve partir da sua compreen-são como um sistema aberto de normas em correlação com os fatos sociopolíticos, ou seja, como uma conexão das várias concepções anteriores.

3. Supremacia da constituição: as normas constitucionais são dotadas de supremacia, ostentando posição de proeminência em relação às demais normas, que as elas deverão se con-formar, seja quanto ao modo de sua elaboração (conformação formal), seja quanto à matéria de que tratam (conformação material).

4. Objeto e conteúdo das constituições: as Constituições atuais têm por objeto definir a estrutura do Estado, os seus princípios fundamentais e a organização do poder político; dis-ciplinar o modo de aquisição, a forma de exercício e os limites de atuação do poder político; declarar os direitos e garantias fundamentais; estabelecer as principais regras de convivência social e implementar a ideia de Direito a inspirar todo o sistema jurídico; fixar os fins socioe-conômicos do Estado e as bases da Ordem Econômica e Social.

5. Classificação das constituições: as constituições podem ser classificadas segundo o conteúdo (material e formal); a forma (escrita e não escrita); a origem (democrática e outor-gada); a estabilidade (imutável, fixa, rígida, flexível e semirrígida ou semiflexível); a extensão (sintética e analítica); a finalidade (garantia e dirigente); ao modo de elaboração (dogmática e histórica); e a ideologia (ortodoxa e eclética). A Constituição brasileira de 1988 é formal, quanto ao conteúdo; escrita, quanto à forma; democrática, quanto à origem; rígida, quanto

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DIRLEY DA CUNHA JR

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à consistência ou estabilidade; analítica, quanto à extensão; dirigente ou social, quanto à finalidade; dogmática, quanto ao modo de elaboração; e eclética, quanto à ideologia.

6. Estrutura das constituições: a estrutura das Constituições, de um modo geral, envolve o preâmbulo (parte precedente do texto); a parte dogmática (o seu texto articulado, que re-úne os direitos fundamentais) e as disposições transitórias (que têm por finalidade realizar a integração entre a nova ordem constitucional e a anterior).

7. Elementos das constituições: as Constituições são formadas por elementos orgâni-cos (contidos nas normas que regulam o Estado e o poder); elementos limitativos (corres-pondem às normas que formam o catálogo de direitos e garantias fundamentais); elementos socioideológicos (revelam o comprometimento das Constituições atuais entre o Estado indi-vidual e o Estado social); elementos de estabilização constitucional (contêm-se nas normas que visam garantir a solução dos conflitos constitucionais e a defesa da Constituição); e os elementos formais de aplicabilidade (encontram-se nas normas que prescrevem regras de aplicação das Constituições).

2. TEORIA DA NORMA CONSTITUCIONAL

1. A Constituição como um sistema aberto de normas: dado a necessidade de a Constituição interagir com a realidade político-social de onde ela provém, é imperioso que as normas que a compõem devem estar abertas aos acontecimentos sociais. Por esse motivo, uma Constituição só pode ser compreendida como um sistema jurídico aberto de normas--regras e normas-princípios.

2. A norma constitucional: conceito e natureza: entende-se por normas constitucionais todas as disposições jurídicas inseridas numa Constituição, ou reconhecidas por ela, indepen-dentemente de seu conteúdo.

3. As condições de aplicabilidade da norma constitucional: são condições de aplicabi-lidade das normas constitucionais: (a) a vigência; (b) a validade; e (c) a eficácia. Enquanto a vigência refere-se à obrigatoriedade da norma e a validade à conformidade dela com o texto constitucional, a eficácia diz respeito à capacidade de produzir os efeitos a que se preordenara.

4. As espécies de norma constitucional: os princípios e as regras: as normas constitu-cionais constituem o gênero do qual as normas-princípios e as normas-regras são espécies. Os princípios são normas que veiculam valores e por isso mesmo são dotadas de elevado grau de abstração e providas de um alto grau de generalidade; enquanto as regras são normas com diminuta abstração e reduzida generalidade, na medida em que descrevem situações fáticas hipotéticas.

5. A classificação da norma constitucional: as normas constitucionais podem ser clas-sificadas, quanto à eficácia, entre normas constitucionais de eficácia plena (são aquelas nor-mas completas e autoaplicáveis); normas constitucionais de eficácia contida (são iguais as anteriores, porém distinguindo em razão de permitir reduzir a sua eficácia em certos limites); normas constitucionais de eficácia limitada (são normas incompletas e não autoaplicáveis).

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DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Guilherme Freire de Melo Barros

1. LIÇÕES PRELIMINARES

1. Princípios do Estatuto da Criança e do Adolescente: proteção integral e da absolu-ta prioridade. Proteção integral é o conjunto de mecanismos jurídicos voltados à tutela da criança e do adolescente. Absoluta prioridade é o dever que recai sobre a família, o Poder Público e toda a sociedade de priorizar a criança e o adolescente em suas ações e atitudes.

2. Conceitos de criança e adolescente: criança é a pessoa com até 12 anos incompletos; adolescente é aquele com 12 anos completos e 18 anos incompletos (art. 2º).

2. DIREITOS FUNDAMENTAIS

1. Direitos fundamentais no Estatuto: direito à vida e à saúde; direito à liberdade, ao respeito e à dignidade; direito à convivência familiar e comunitária; direito à educação, à cul-tura, ao esporte e ao lazer; direito à profissionalização e à proteção no trabalho.

2. Maus-tratos: em caso de suspeita de maus-tratos, o Conselho Tutelar deve ser comu-nicado (art. 13), sob pena de caracterização de infração administrativa (art. 245).

3. Apoio psicológico: as mães ou gestantes que manifestem interesse em entregar seu filho à adoção devem receber apoio psicológico (art. 8º, § 5º) e ser encaminhadas à Justiça da Infância e da Juventude (art. 13, p.ú.).

3. DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR

1. Família natural: é formada por pais e seus descendentes. A criança ou o adolescente deve ser criado em sua família natural (art. 19). Esta é a prioridade legal, é a diretriz do Estatuto. Excepcionalmente, após esgotadas as possibilidades de permanência da criança ou adolescente em sua família de origem, busca-se a colocação em família substituta. O norte a ser seguido é o princípio do melhor interesse da criança ou adolescente, ou seja, no caso concreto deve ser buscada a solução que dá maior proteção aos seus direitos.

2. Família extensa ou ampliada: formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade.

3. Criança afastada do convívio familiar: a situação da criança ou adolescente afastada do convívio familiar deve ser reavaliada, no máximo, a cada seis meses (§ 1º), sendo de dois

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GUILHERME FREIRE DE MELO BARROS

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anos o prazo limite para sua permanência em programa de acolhimento – somente dilatável em caráter excepcional, no seu exclusivo interesse (§ 2º).

4. Carência de recursos: a falta ou a carência de recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão do poder familiar (art. 23).

4. FAMÍLIA SUBSTITUTA

1. Modalidades: guarda, tutela e adoção.

2. Diretrizes: (i) Oitiva: a oitiva da criança é por equipe interprofissional; oitiva do ado-lescente obrigatoriamente pelo juiz, sendo necessário seu consentimento; (ii) Preferência le-gal: é por família substituta com grau de parentesco (relação de afinidade e afetividade); (iii) Grupos de irmãos: devem ser mantidos, preferencialmente, juntos; (iv) Família estrangeira: colocação em família substituta estrangeira somente na modalidade adoção.

2. Guarda: trata-se da regularização jurídica de uma situação já consolidada, que é a posse de fato da criança ou do adolescente.

3. Características da guarda: implica o dever de prestar assistência material, moral e educacional. O guardião pode opor-se à vontade de terceiros, inclusive dos pais. Não exige a prévia perda ou suspensão do poder familiar e é revogável a qualquer tempo.

4. Tutela: quando ambos os pais falecem ou são declarados ausentes ou foram destituídos do poder familiar. É necessária a suspensão ou a perda do poder familiar para ser concedida.

5. Características da tutela: Inclui o dever de prestar assistência material, moral e educa-cional, bem como administrar os bens do tutelado. O tutor pode ser nomeado pelos pais, mas deve atender ao princípio do melhor interesse da criança ou adolescente.

6. Adoção: é medida excepcional, cabível apenas quando impossível a permanência da criança ou adolescente na família natural. A adoção é irrevogável (art. 39, § 1º). Através da ado-ção, extingue-se o vínculo do adotando com sua família biológica e forma-se um novo com fa-mília do adotante. O único resquício que subsiste do vínculo anterior é quanto aos impedimen-tos matrimoniais, por razões eugênicas (art. 41). Ainda que os pais adotivos faleçam e estejam vivos os biológicos, o vínculo da adoção não se desfaz, nem se restabelece o anterior (art. 49).

7. Formas de adoção: (i) adoção conjunta: o casal se apresenta como postulante à adoção de criança ou adolescente com a qual não possui vínculo; (ii) adoção unilateral: ocorre quan-do um cônjuge ou companheiro adota o filho do outro (art. 41, § 1º); (iii) adoção póstuma: hipótese em que o adotante falece no curso do processo de adoção, mas manifesta de forma inequívoca sua vontade de adotar (art. 42, § 6º); (iv) adoção internacional: é aquela em que os postulantes são domiciliados fora do Brasil, independentemente da nacionalidade brasileira ou estrangeira (art. 51).

8. Idades: o adotante deve possuir idade mínima de 18 anos e ser 16 anos mais velho do que o adotando. O adolescente a ser adotado deve contar, no máximo, 18 anos para que a adoção seja feita nos termos do Estatuto, perante a Justiça da Infância e Juventude, salvo se já estiver sob guarda ou tutela dos adotantes (art. 40). Caso o adotando seja maior de idade

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DIREITO DO CONSUMIDORLeonardo de Medeiros Garcia

1. ELEMENTOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

1. Saber principalmente que as normas do CDC são de ordem pública e interesse social, prevalecendo sobre a vontade das partes.

2. Prestar atenção nos elementos constantes nas definições.

Ex.: que consumidor é pessoa física ou jurídica. Que a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo, equipara-se a consumidor.

3. Consumidor stricto sensu e equiparado:

3.1. Consumidor stricto sensu ou standard: é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final (CDC, art. 2º, caput).

3.2. Consumidor equiparado: (a) a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo (art. 2º, p.ú.); (b) todas as vítimas de danos ocasionados pelo fornecimento de produto ou serviço defeituoso (art. 17); todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas comerciais ou contratuais abusivas (art. 29).

4. Do mesmo modo que no art. 2º, prestar atenção nos elementos constantes nas definições.

Ex.: (a) serviço somente é enquadrado numa relação de consumo quando prestado me-diante remuneração; (b) produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial; (c) fornecedor é toda pessoa física ou jurídica.

5. Os bancos e as demais instituições financeiras se sujeitam ao Código de Defesa do Consumidor (STF, ADI 2591).

6. Jurisprudência: as relações decorrentes de condomínio e de contratos de locação pre-dial urbana não são consideradas relações de consumo.

7. Previdência privada e seus participantes estão inseridas em relação de consumo (Súm. 321/STJ).

8. As relações havidas entre patrão (empresa ou não) e empregado estão, por força de lei, excluídos da apreciação do CDC, havendo legislação específica (CLT) para estes casos.

9. Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo.

10. No art. 4º do CDC deve-se atentar para o fato que expressa a presença do princípio da boa-fé objetiva e o princípio do equilíbrio nas relações de consumo.

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LEONARDO DE MEDEIROS GARCIA

2. DIREITOS BÁSICOS DO CONSUMIDOR

1. A enumeração do artigo é numerus apertus. Existem outros direitos do consumidor disseminados pelo sistema.

2. A lesão acarreta a modificação das cláusulas contratuais.

3. A onerosidade excessiva acarreta a revisão das cláusulas contratuais.

4. Inversão do ônus da prova ocorre quando for verossímil a alegação ou quando o con-sumidor for hipossuficiente.

5. Inversão do ônus da prova pode ser concedida de ofício ou a requerimento da parte.

6. Possibilidade de ressarcimento integral dos danos sofridos, inclusive de dano moral coletivo.

3. RESPONSABILIDADE PELO FATO E POR VÍCIO DO PRODUTO E DO SERVIÇO

1. Diferença entre fato do produto e vício do produto: CDC, art. 12 (fato do produto); arts. 18 e 19 (vício do produto). O fato é definido como algum defeito no próprio produto que, em razão desta falha que possui, causa danos reais ou potenciais ao consumidor ou a terceiros. O vício do produto é algo que diminui a qualidade ou quantidade de tal forma que tornem estes impróprios ou inadequados ao uso e gozo, ou algo que os desvalorizem.

2. “Independentemente da existência de culpa”: responsabilidade objetiva fundada na teo-ria do risco da atividade.

3. Causas excludentes da responsabilidade objetiva (art. 14, § 3º): a mais cobrada em concursos: “III- a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro”.

4. STJ: culpa concorrente da vítima (consumidor) permite a redução da condenação im-posta ao fornecedor.

5. Atenção para caso fortuito e força maior como excludentes de responsabilidade. O STJ possui entendimento que os consideram como excludentes de responsabilidade, embora não constem expressamente nos textos dos arts. 12 e 14 do CDC. A enumeração das exclu-dentes não seria taxativa e sim exemplificativa.

6. Aquele que pagar a indenização em decorrência do acidente de consumo pode ser ressarcido através de seu direito de regresso contra os demais corresponsáveis na causação do evento danoso.

7. Responsabilidade dos profissionais liberais (art. 14, § 4º): apurada mediante culpa: responsabilidade subjetiva.

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DIREITO DO TRABALHOJosé Cairo Jr

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO DO TRABALHO

1. O Direito individual do trabalho, por intermédio do princípio protetivo, estabelece uma desigualdade no plano jurídico, para compensar a desigualdade no plano fático que existe entre o empregado e o empregador.

2. Princípio do in dubio pro operario: quando surgir interpretações divergentes em relação à mesma norma jurídica a ser aplicada a um determinado caso concreto, será dada preferência àquela interpretação que mais favoreça ao empregado.

3. Pelo princípio da aplicação da regra mais favorável, será utilizada, no caso concreto, a norma que atribua melhores condições de trabalho para o trabalhador

4. Como regra da aplicação da condição mais benéfica, entende-se que prevalece aquela condição mais vantajosa para o empregado, desde que esteja prevista no próprio contrato de trabalho, de forma explícita ou implícita, ou decorrente de sua execução.

5. Princípio da continuidade: considerando o fato de que o salário do empregado é a sua única ou principal fonte de renda, presume-se que a sua vontade é de permanecer prestando serviços indefinidamente, circunstância que alicerça o princípio de continuidade da relação de emprego.

6. Princípio da primazia da realidade: deve prevalecer a realidade dos fatos, desde que devidamente provados por qualquer meio admitido em direito, em detrimento do que ficou registrado nos instrumentos formais de sua constituição.

7. Princípio da não discriminação: proíbe-se a adoção de qualquer prática discrimina-tória e limitativa para efeito de acesso à relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo, origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade, ressalvadas, neste caso, as hipóteses de proteção ao adolescente.

8. Fontes formais do direito são manifestações provenientes do Estado e, excepcional-mente, emanadas da própria sociedade, reconhecidas por esse mesmo Direito, que dão origem às normas e aos princípios que regulamentam a vida em sociedade.

9. Fontes estatais do direito (heterônomas) são atos normativos emanados do Poder Público, derivados do Poder Executivo, Legislativo ou Judiciário, como a Constituição, a lei, o decreto, a sentença normativa etc.

10. Fontes autônomas são atos normativos praticados pelos próprios interessados em estabelecer regras de conduta. Todavia, agem dessa forma por assim estarem autorizados pelo ordenamento jurídico estatal. Consideram-se fontes profissionais do Direito do Trabalho a convenção coletiva, o acordo coletivo de trabalho e o regulamento da empresa.

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JOSÉ CAIRO JR

11. Na falta de lei específica que regule a matéria objeto do conflito, o aplicador deverá utilizar-se das fontes integrativas do direito, na forma prevista pelo art. 8º da CLT Além disso, o direito comum será fonte subsidiária do direito do trabalho, naquilo em que não for incompatível com os princípios fundamentais deste.

12. É de dois anos o prazo máximo de vigência dos acordos e das convenções coletivas, sendo que as vantagens contidas em tais instrumentos não se incorporam ao contrato de trabalho de forma definitiva. Entretanto, por meio de dissídio coletivo não é possível esta-belecer condições de trabalho inferiores àquelas estabelecidas nos instrumentos normativos anteriores.

13. No regulamento de empresa, as condições mais favoráveis aos empregados nele es-tabelecidas incorporam-se definitivamente aos contratos de trabalho em vigor. Posterior alte-ração, em prejuízo para os empregados, só terá validade em relação aos contratos de trabalho celebrados após o início de sua vigência.

14. O local da prestação dos serviços é que define a norma a ser aplicada à relação de em-prego, ou seja, segue-se o princípio da lex loci executione contracti (lei do lugar da execução do contrato) conforme dispõe o art. 198 do Código de Bustamante, que foi ratificado pelo Brasil.

2. RELAÇÃO DE EMPREGO

1. São elementos da relação de emprego a: pessoalidade, a não eventualidade, a onerosi-dade e a subordinação jurídica. Alguns autores ainda incluem a alteridade e a voluntariedade como característica da relação de emprego.

2. A relação de emprego é intuitu personae somente no que diz respeito ao empregado, que não pode ser substituído por outra pessoa na prestação de serviço, sob pena de descarac-terizar essa espécie de relação.

3. A não eventualidade significa que a execução dos serviços do obreiro deve estar inse-rida no âmbito de uma atividade permanente desenvolvida pela empresa, seja ela fim ou meio. Em outras palavras, o trabalho do obreiro não pode estar relacionado a um evento ocasional.

4. Por onerosidade entende-se que a prestação de serviços deve possuir, como corres-pondente, o pagamento de salário por parte do empregador, inclusive nas ocasiões em que o empregado estiver a sua disposição, aguardando ordens.

5. A subordinação representa o fenômeno por meio do qual o trabalhador desloca o co-mando de sua atividade laboral para o empregador, submetendo-se às suas ordens de serviço.

6. Por alteridade entende-se a circunstância de o empregado transferir a propriedade do seu trabalho ao empregador e, consequentemente, os riscos dessa atividade. A teoria da subordinação jurídica é a mais aceita pela doutrina, uma vez que o estado de submissão do empregado decorre da celebração do contrato de trabalho.

7. A relação empregatícia é voluntária, porque o trabalho prestado não tem caráter obri-gatório, excluindo-se, desse modo, as relações de servidão, escravidão e de trabalho forçado a título de pena.

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DIREITO EMPRESARIALAndré Luiz Santa Cruz Ramos

1. DO DIREITO COMERCIAL AO DIREITO EMPRESARIAL

1. O Direito Comercial surgiu na Idade Média, no período do Renascimento Mercantil, com a criação das Corporações de Ofício. Nessa fase inicial, ele compreendia apenas os usos e costumes mercantis de cada localidade, sendo, pois, um direito consuetudinário e corporativista.

2. A 2ª fase do Direito Comercial se iniciou com a Codificação Napoleônica, em 1804 (CC) e 1808 (CCom). O Direito Privado se dividiu e adotou-se a teoria dos atos de comércio como critério delimitador da incidência do regime jurídico comercial.

3. A 3ª fase do Direito Comercial se iniciou com a edição do Código Civil italiano de 1942, que unificou formalmente o Direito Privado e substituiu a teoria dos atos de co-mércio pela teoria da empresa como critério delimitador da incidência do regime jurídico empresarial.

4. Não confundir empresa com a pessoa jurídica que exerce atividade empresarial (so-ciedade empresária), com o local onde se exerce a atividade empresarial (ponto de negócio), nem com o conjunto de bens usados na atividade empresarial (estabelecimento empresarial)

5. O CCom/1850 adotou a teoria dos atos de comércio. Por sua vez, o Regulamento 737/1850 trouxe a enumeração legal dos atos de comércio.

6. O CC/2002 adotou a teoria da empresa, abandonando os conceitos de ato de comércio de comerciante, e os substituindo pelos conceitos de empresa e de empresário. O CC/2002 revogou boa parte do CCom/1850.

Código Comercial de 1850

Parte IParte geral do Direito Comercial

(revogada pelo CC/2002)

Parte IIComércio marítimo

(ainda em vigor)

Parte IIIDireito falimentar

(revogado há bastante tempo)Hoje disciplinado na Lei 11.101/05

7. Atualmente, pode-se afirmar que o Direito Civil é um regime jurídico geral de direito privado, enquanto o Direito Empresarial é um regime jurídico especial de direito privado,

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ANDRÉ LUIZ SANTA CRUZ RAMOS

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porque disciplina especificamente a empresa (atividade econômica organizada) e os empresá-rios (pessoas físicas ou jurídicas que exercem empresa profissionalmente).

8. Pode-se resumir a evolução do Direito Comercial ao Direito Empresarial da seguinte forma:

8.1. Primeira fase:

- Corporações de ofício ► Tribunais consulares ► Usos e costumes mercantis

Nessa fase inicial, o Direito Comercial era um direito consuetudinário e possuía um ca-ráter extremamente corporativista, só se aplicando aos mercadores associados a Corporações de Ofício.

8.2. Segunda fase:

- Codificação Napoleônica ► Divisão do Direito Privado ► Código Comercial ► Teoria dos atos de comércio ► Objetivação do Direito Comercial

Nessa segunda fase, o Direito Comercial se consolida como um regime jurídico autôno-mo, destinado a disciplinar as atividades mercantis – atos de comércio – e aqueles que exercem atividade mercantil profissionalmente – comerciantes.

8.3. Terceira fase:

- CC italiano de 1942 ► Unificação formal do Direito Privado ► Teoria da empresa

Na sua fase atual, o Direito Empresarial passa a ser um regime jurídico que disciplina toda e qualquer atividade econômica organizada, não se restringindo apenas aos atos de comércio. Assim, o Direito Empresarial é o regime jurídico de Direito Privado que disciplina a atividade econômica – empresa – e aqueles que exercem atividade econômica profissionalmente – empresários.

2. O NOVO DIREITO EMPRESARIAL BRASILEIRO

1. É preciso ter muito cuidado com o conceito de empresa, expressão constantemente empregada de forma vulgar e atécnica.

Empresa Empresário

Atividade econômica organizadaPessoa física ou jurídica

que exerce empresa profissionalmente

2. O conceito de empresário está descrito no art. 966 do CC: pessoa física (empresário individual) ou jurídica (sociedade empresária) que exerce profissionalmente atividade econômi-ca organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Atenção: nem toda atividade econômica é empresa (está é apenas a atividade econômica organizada, ou seja, em que se articulam os diversos fatores de produção). Portanto, existem atividades econômicas não empresariais. Aqueles que exercem atividades econômicas não

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DIREITO INTERNACIONALPaulo Henrique Gonçalves Portela

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO

1. A sociedade internacional: do ponto de vista do Direito Internacional clássico, a so-ciedade internacional era composta apenas por Estados soberanos e, de acordo com alguns autores, pelas organizações internacionais e pela Santa Sé. Entretanto, no atual estágio da vida global, a sociedade internacional é formada não apenas por atores tradicionais, como os Estados e as organizações internacionais, mas também por outros entes, como os indivídu-os, as empresas e as organizações não governamentais (ONGs), além dos blocos regionais.

2. Conceito de Direito Internacional Público: com isso, o Direito Internacional não se limita a regular as relações entre os Estados, como entendia a doutrina no passado. Na atuali-dade, o Direito Internacional Público é o ramo do Direito que visa a regular as relações que efetivamente perpassem as fronteiras nacionais, procurando tutelar as relações internacio-nais e o tratamento de temas de interesse internacional, que envolvam não apenas Estados e organizações internacionais, mas também todos os atores que efetivamente integram a sociedade internacional.

3. Objeto: o objeto do Direito Internacional Público inclui: regular as relações entre os Estados e delimitar suas competências nas relações internacionais; regular as relações internacionais naquilo que interesse aos entes que efetivamente participam da socieda-de internacional, como as organizações internacionais, as ONGs e os indivíduos; reduzir a anarquia inerente à sociedade internacional, que não conta com um poder central mundial; regular a cooperação internacional; contribuir para alcançar objetivos e interesses comuns a mais de um povo e; conferir tutela adicional a temas cuja importância transcende as fron-teiras estatais.

4. Terminologia: o Direito Internacional Público é também conhecido como “Direito das Gentes”

5. Características: as características do Direito Internacional Público abrangem: obri-gatoriedade das normas internacionais; descentralização da produção normativa; varieda-de dos temas regulados; direito de coordenação; possibilidade de monitoramento de suas normas por mecanismos internacionais de solução de controvérsias e; possibilidade de res-ponsabilização internacional, com a aplicação de sanções sobre aqueles que descumpram as normas de Direito das Gentes.

6. Fundamento: o estudo do fundamento do Direito Internacional Público visa a deter-minar o motivo pelo qual as normas internacionais são obrigatórias e é objeto de duas teorias: o voluntarismo e o objetivismo. O voluntarismo é uma teoria de caráter subjetivista, que tem a vontade como elemento central e para o qual seriam obrigatórias as normas inter-nacionais que os Estados consentiram em observar. O objetivismo é uma teoria de caráter

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PAULO HENRIQUE GONÇALVES PORTELA

objetivista, para o qual seriam obrigatórias as normas internacionais por fatores externos, como sua origem, importância etc. É irrelevante a vontade. Para Dionísio Anzilotti, há uma teoria mista, pela qual o Direito Internacional fundamenta-se na regra pacta sund servan-da. Logo, as normas internacionais ainda dependem da vontade dos entes capazes de criar as normas de Direito Internacional para existirem. Entretanto, a partir do momento em que os entes estatais expressam seu consentimento em cumprir normas internacionais, devem fazê-lo de boa-fé. Na prática, os Estados obrigam-se a cumprir as normas internacionais com as quais consentiram. Entretanto, a vontade estatal não pode violar o jus cogens.

7. Conflito entre o Direito Internacional e o Direito interno: o Direito Internacional e o Direito interno podem entrar em conflito, tema que é objeto de duas teorias clássicas: o dualismo e o monismo.

8. Dualismo: para o dualismo, o Direito Internacional e o Direito interno são dois orde-namentos distintos e totalmente independentes entre si, cujas normas não poderiam entrar em conflito umas com as outras. No dualismo, o Direito Internacional dirige apenas a con-vivência entre os Estados, ao passo que o Direito interno disciplina as relações entre os indi-víduos e entre estes e o ente estatal. Dessa forma, os tratados não poderiam gerar efeitos no interior dos Estados. Para o dualismo, o tratado só poderia ser aplicado dentro do Estado se fosse incorporado ao respectivo Direito interno.

9. Modalidades do dualismo: da possibilidade de incorporação dos tratados ao ordena-mento interno surgem duas modalidades de dualismo: o dualismo radical (dualismo pro-priamente dito), pelo qual o teor das normas internacionais teria de fazer parte de uma lei nacional para ser incorporado ao ordenamento interno e; o dualismo moderado, que defende que a incorporação das normas internacionais ao Direito interno poderia ser feita por meio de procedimento específico para tal, sem necessidade de nova lei interna. No dualismo, portanto, o conflito ocorreria entre normas internas.

10. Monismo: para o monismo, existe apenas uma ordem jurídica, com normas inter-nacionais e internas interdependentes e que podem entrar em conflito entre si. Para definir qual norma deveria prevalecer, surgiram duas modalidades de monismo: o monismo inter-nacionalista, pelo qual deve prevalecer a norma internacional, e o monismo nacionalista, pelo qual deve prevalecer a norma interna.

11. Modalidades do monismo: o monismo internacionalista divide-se em duas verten-tes: o monismo internacionalista radical, pelo qual uma norma nacional que contrariasse uma norma internacional deveria ser declarada inválida, e; o monismo internacionalista moderado, pelo qual a norma interna cujo teor contrarie norma internacional é apenas derrogada no caso concreto, não deixando de existir. Para o monismo nacionalista, preva-lece também a noção de soberania estatal, pela qual as normas internacionais valem para o Estado apenas nos termos definidos pelo próprio ordenamento jurídico estatal.

12. Outras possibilidades de solução dos conflitos entre normas internacionais e in-ternas: as teorias do dualismo e do monismo são objeto de diversas críticas. Na doutrina de Direito Internacional dos Direitos Humanos, por exemplo, predomina a noção de que deve prevalecer a norma mais favorável ao indivíduo. No campo do Direito Internacional do

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219

DIREITO PENALAlexandre Salim e Marcelo André de Azevedo

1. PRINCÍPIOS PENAIS FUNDAMENTAIS

1. Princípio da legalidade (reserva legal): não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX / CP, art. 1º).

2. Princípio da fragmentariedade: o Direito Penal deve proteger somente os bens jurídi-cos mais relevantes e, mesmo assim, contra ataques graves.

3. Princípio da subsidiariedade: o Direito Penal atua como meio necessário para prote-ger o bem jurídico. Deve ser o último modo de controle social (Direito Penal de ultima ratio).

4. Princípio da ofensividade. Não se pune: a cogitação; condutas desviadas; a autolesão; conduta que não cause ofensa (perigo ou dano) a bem jurídico de terceiro.

5. Princípio da insignificância. Segundo o STF, são condições objetivas para o reco-nhecimento do princípio: (a) mínima ofensividade da conduta do agente; (b) nenhuma pe-riculosidade social da ação; (c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

6. Princípio da retroatividade da lei mais benéfica: a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (CF, art. 5º, XL); a lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado (CP, art. 2º, p.ú.). Súmula 711/STF: “A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à cessação da continuidade ou da permanência”.

6. Abolitio criminis: ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de conside-rar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória (CP, art. 2º, caput). É causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, III). Atenção: não cessam os efeitos extrapenais, como a reparação do dano.

8. Princípios relacionados com a pena (CF, art. 5º):

- XLV: nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido (princípio da pesso-alidade ou personalidade ou intranscendência).

- XLVI: a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes: (a) privação ou restrição da liberdade; (b) perda de bens; (c) multa; (d) prestação social alternati-va; (e) suspensão ou interdição de direitos (princípio da individualização da pena).

- XLVII: não haverá penas: (a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; (b) de caráter perpétuo; (c) de trabalhos forçados; (d) de banimento; (e) cruéis;

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ALEXANDRE SALIM E MARCELO ANDRÉ DE AZEVEDO

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- XLVIII: a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

- XLIX: é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

- L: às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação.

2. APLICAÇÃO DA LEI PENAL

1. Leis temporárias e excepcionais: a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência (CP, art. 3º). Assim, caso o agente pratique o crime durante a vigência da lei temporária ou excepcional, poderá ser processado mesmo que esta já esteja revogada, uma vez que os delitos criados por tais normas de vigência excepcional não se su-jeitam à abolitio criminis.

2. Tempo do crime: teoria da atividade → art. 4º (momento da ação/omissão). Considera-se praticado o crime no momento da conduta (ação ou omissão), ainda que outro seja o mo-mento do resultado.

3. Lugar do crime: teoria da ubiquidade → art. 6º. Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.

4. Território brasileiro: no sentido material, efetivo ou real, o território abrange a su-perfície terrestre (solo e subsolo), as águas interiores, o mar territorial (12 milhas marítimas a partir da baixa-mar do litoral continental e insular – Lei 8.617/93) e o espaço aéreo cor-respondente (teoria da soberania sobre a coluna atmosférica). No caso de território neutro, aplica-se a lei do país do agente.

- Princípio da territorialidade temperada: aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de con-venções, tratados e regras de direito internacional, ao crime cometido no território nacional (CP, art. 5º, caput).

- Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional: (i) as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem; (ii) as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem, respectivamente, no espaço aéreo correspondente ao alto--mar ou em alto-mar.

- É também aplicável a lei brasileira: aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.

5. Extraterritorialidade: trata das hipóteses de aplicação da lei brasileira aos crimes pra-ticados fora do território brasileiro (CP, art. 7º). Ou seja, é possível que o crime seja come-

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DIREITO PROCESSUAL CIVILRinaldo Mouzalas de Souza e Silva

1. PRINCÍPIOS DO PROCESSO CIVIL

1. Considerações iniciais: os princípios constituem o substrato do direito, muitas vezes implícitos no ordenamento jurídico. Cada norma positivada encontra no princípio correlato seu núcleo de legitimidade, a fonte necessária para irradiar seus efeitos de acordo com a ordem jurídica que lhe é sistema.

2. Princípios informativos: os princípios informativos são normas principiológicas de denso caráter geral e abstrato, cuja aplicação é incidente sobre qualquer regra processual, de cunho constitucional ou infraconstitucional, independentemente de tempo ou lugar. São princípios informativos: (a) princípio lógico; (b) princípio jurídico; (c) princípio político; (d) princípio econômico.

3. Princípios fundamentais: os princípios fundamentais são normas principiológicas contextuais, aplicando-se a ordenamentos jurídicos específicos e orientando a elaboração le-gislativa conforme os seus preceitos. Seu elenco é extenso, sendo essenciais ao regramento do processo civil os seguintes princípios: (a) princípio do devido processo legal; (b) princípio do contraditório e o da ampla defesa; (c) princípio da isonomia; (d) princípio da motivação das decisões judiciais; (e) princípio do juiz natural; (f ) publicidade dos atos processuais; (g) princípio da inafastabilidade do controle judicial; (h) princípio da celeridade processual e duração razoável do processo; (i) princípio do duplo grau de jurisdição; (j) princípio da boa-fé e lealdade processual.

2. FONTES DO DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. Considerações iniciais: As fontes do direito processual civil são os lugares de onde procedem este ramo do direito.

2. Fontes formais: São fontes formais as Leis (Constituição Federal, leis ordinárias, leis complementares, tratados internacionais e regimentos internos dos tribunais).

3. Fontes materiais: Princípios gerais do direito, doutrina, jurisprudência e costume.

3. NORMA PROCESSUAL

1. Considerações iniciais: as normas materiais objetivam disciplinar a sociabilidade entre os indivíduos e a eventual solução dos conflitos, sopesando qual dos interesses deve ser alber-gado pelo Direito. As normas instrumentais, diferentemente, têm por objetivo apenas indireto

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RINALDO MOUZALAS DE SOUZA E SILVA

contribuir para a solução dos conflitos de interesse mediante a disciplina de regras jurídicas gerais, fornecendo aos litigantes meios para o alcance do Direito.

2. Natureza e efeitos das normas processuais: as normas processuais são de natureza instrumental e têm como principal efeito a geração de ônus às partes.

3. Direito intertemporal: as normas processuais se aplicam a todos os processos em an-damento no exato momento em que passam a ter vigência, salvo o ato jurídico perfeito, a coisa julgada e o direito adquirido.

4. JURISDIÇÃO

1. Considerações iniciais: a jurisdição é uma das funções do Estado, que visa resolver um litígio posto à sua apreciação, a partir da aplicação da (ou pelo menos na tentativa de aplicar a) vontade objetiva do direito.

2. Objetivos: o objetivo principal da jurisdição é a pacificação social, visando ao bem comum (escopo social). Busca, também, afirmar o poder do Estado, preservando seus precei-tos fundamentais (escopo político), e aplicar a vontade do direito ao caso concreto (escopo jurídico).

3. Equivalentes jurisdicionais: autotutela, autocomposição, mediação e arbitragem.

4. Características: a jurisdição guarda as seguintes características: Inércia, imparcialida-de, substitutividade e definitividade.

5. Princípios da jurisdição: investidura, inafastabilidade, territorialidade ou aderência, juiz natural, indelegabilidade da jurisdição e inevitabilidade.

6. Jurisdição voluntária: integra a vontade de particulares, fazendo com que esta produza efeitos no mundo jurídico.

5. AÇÃO

1. Conceito: ação é o direito público, subjetivo, autônomo, abstrato, condicionado e ins-trumental de provocar a atividade jurisdicional.

2. Condições da ação: são condições da ação a legitimidade das partes, interesse proces-sual e possibilidade jurídica do pedido.

3. Aferição das condições da ação: as condições da ação são aferidas consoante as afirma-ções trazidas pelo autor na petição inicial.

4. Elementos: partes, causa de pedir e pedido.

5. Classificação:

5.1 Segundo o provimento jurisdicional requerido: (a) ações de conhecimento; (b) ações executivas; (c) ações cautelares.

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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHOJosé Cairo Jr

1. TEORIA GERAL DO PROCESSO DO TRABALHO

1. O processo do trabalho é norteado pelo princípio da conciliação, ou seja, a qualquer momento e em qualquer grau de jurisdição deve ser incentivada a solução dos conflitos me-diada pelo magistrado.

2. Os empregados e os empregadores possuem capacidade postulatória (ius postulandi). Assim, poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final.

3. Segundo o TST, o ius postulandi não alcança a ação rescisória, a ação cautelar, o man-dado de segurança e os recursos de sua competência (Súm. 425).

4. Pelo princípio da imediatidade, o juiz deve aproximar-se das partes e dos meios de provas por elas produzidos, a fim de que consiga extrair, pela sua percepção imediata, a verda-de dos fatos alegados e, consequentemente, tornar o julgamento mais justo.

5. A oralidade é a tônica do processo do trabalho. Está presente em várias fases e atos processuais, mormente no que diz respeito à possibilidade de: apresentação da reclamação tra-balhista de forma verbal; defesa oral em vinte minutos; razões finais orais em dez minutos etc.

6. A publicidade constitui princípio da administração pública em geral. No âmbito do Poder Judiciário e, mais precisamente, da Justiça do Trabalho, os atos processuais são públicos, salvo quando o contrário determinar o interesse social, e realizar-se-ão nos dias úteis das 6 às 20 horas.

7. Os atos processuais devem concentrar-se em um único momento ou ato-complexo, representado pela audiência.

8. Uma vez distribuído o processo e o juiz dele tenha tomado conhecimento, passa a vin-cular-se a este, de forma que deve proferir a decisão, salvo algumas exceções previstas em lei.

9. O princípio da celeridade permeia não só o processo do trabalho, como também o processo civil, com mais intensidade no primeiro caso, pois o trabalhador tem, na maioria das vezes, o salário como fonte única do seu sustento e de sua família.

10. A peculiaridade no processo do trabalho reside na possibilidade de um órgão jurisdi-cional criar uma norma genérica e abstrata, por meio de uma sentença normativa proferida nos processos de dissídio coletivo de natureza econômica, que se incorpora, automaticamente, aos contratos de trabalho dos integrantes da categoria econômica e profissional em litígio.

11. A jurisdição normativa foi mitigada com a promulgação da EC 45, passando a exigir o mútuo consentimento para o ajuizamento dos mencionados dissídios coletivos de natu-reza econômica.

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JOSÉ CAIRO JR

12. O significado do princípio do informalismo, também denominado de instrumenta-lidade das formas, diz respeito à existência de uma carga menor de requisitos de validade de um ato processual ou mesmo da possibilidade de convalidação de um ato defeituoso, desde que não prejudique as partes e que sejam atingidos os objetivos fixados na lei.

13. As CCP´s são organismos paritários, formados por representantes de empregados e empregadores, destinados a promover a transação extrajudicial entre esses atores sociais.

14. As empresas e os sindicatos podem instituir Comissões de Conciliação Prévia, de composição paritária, com representantes dos empregados e dos empregadores, com a atribui-ção de tentar conciliar os conflitos individuais do trabalho.

15. O STF, por meio da decisão proferida nos autos da ADI 2139-MC interpretou o art. 625-D da CLT (que impõe a submissão prévia da demanda à CCP) conforme a Constituição Federal de 1988 para declarar o seu caráter facultativo.

16. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas.

2. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA

1. São órgãos da Justiça do Trabalho: o Tribunal Superior do Trabalho; os Tribunais Regionais do Trabalho; e os Juízes do Trabalho.

2. Nas comarcas não abrangidas jurisdição das Varas do Trabalho, a lei poderá atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.

3. O Tribunal Superior do Trabalho, composto por 27 Ministros e com sede na Capital da República e jurisdição em todo o território nacional, é a instância suprema da Justiça do Trabalho.

4. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem a segunda instância da Justiça do Trabalho, gozando de autonomia financeira e administrativa, assim como os demais Tribunais da Justiça Comum.

5. Competência em razão da matéria – CF/88: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II – as ações que envolvam exercício do direito de greve; III – as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV – os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V – os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, res-salvado o disposto no art. 102, I, o; VI – as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII – as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII – a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX – outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei”.

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DIREITO PROCESSUAL PENALLeonardo Barreto Moreira Alves

1. INTRODUÇÃO AO DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Conceito de Processo Penal: O processo penal deve ser entendido não só como meio de aplicação do Direito Penal no caso concreto, mas também como uma forma de proteção dos direitos fundamentais do indivíduo contra a força impingida pelo Estado na persecução penal.

2. Classificação das fontes de Processo Penal: Quanto às fontes do Processo Penal, é possível apontar a existência da fonte de produção ou material e da fonte formal ou de cog-nição. Com relação à fonte de produção ou material, que se refere ao ente federativo respon-sável pela elaboração da norma, o Direito Processual Penal é matéria que deve ser legislada privativamente pela União. No que tange à fonte formal ou de cognição, que se refere ao meio pelo qual uma norma jurídica é revelada no ordenamento jurídico, ela é subdividida em fontes primárias ou imediatas ou diretas e em fontes secundárias ou mediatas ou indiretas ou supletivas. As fontes primárias ou imediatas ou diretas são aquelas aplicadas imediatamente. Consideram-se fontes primárias do Processo Penal a lei e os tratados, convenções e regras de Direito Internacional. As fontes secundárias ou mediatas ou indiretas ou supletivas são aque-las aplicadas na ausência das fontes primárias. Consideram-se fontes secundárias do Processo Penal: costumes; princípios gerais do direito; analogia.

3. Diferença entre analogia e interpretação analógica: A analogia difere da interpretação analógica: nesta a própria lei autoriza o seu complemento, já prevendo hipótese de preen-chimento, geralmente por meio de uma expressão genérica, que resume situações casuísticas precedentes; na analogia, aplica-se o regramento jurídico de uma dada situação semelhante a outra, na qual não há solução aparente – há verdadeira criação de uma norma. A analogia é um modo de autointegração da norma, ao passo que a interpretação analógica é forma de interpre-tação da norma processual penal. Ambas podem ser feitas in malam partem no Processo Penal.

2. PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL

1. Rol de princípios constitucionais expressos: São princípios constitucionais expressos do Processo Penal: princípio da presunção de inocência; princípio da igualdade processual; princípio da ampla defesa; princípio da plenitude de defesa; princípio do favor rei; princípio do contraditório; princípio do juiz natural; princípio da publicidade; princípio da vedação das provas ilícitas; princípios da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo; princípio do devido processo legal.

2. Princípio da presunção de inocência: O princípio da presunção de inocência é prin-cípio por meio do qual se entende que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória.

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LEONARDO BARRETO MOREIRA ALVES

3. Princípio da igualdade processual: O princípio da igualdade processual ou da pari-dade das armas é princípio por meio do qual se entende que as partes devem ter, em juízo, as mesmas oportunidades de fazer valer suas razões e ser tratadas igualitariamente, na medida de suas igualdades, e desigualmente, na proporção de suas desigualdades.

4. Princípio da ampla defesa: Por força do princípio da ampla defesa, entende-se que o réu tem direito a um amplo arsenal de instrumentos de defesa como forma de compensar sua enorme hipossuficiência e fragilidade em relação ao Estado. Divide-se em autodefesa, defesa promovida pessoalmente pelo próprio réu, sem assistência de procurador, sendo disponível, e defesa técnica, defesa promovida por um defensor técnico, bacharel em Direito, sendo ela indisponível.

5. Princípio da plenitude de defesa: O princípio da plenitude de defesa é princípio apli-cado especificamente para o Tribunal do Júri. Trata-se de um plus, um reforço à ampla defesa, que é atribuída apenas para os acusados em geral, permitindo-se que o réu, no Tribunal do Júri, se utilize de todos os meios lícitos de defesa, ainda que não previstos expressamente pelo ordenamento jurídico.

6. Princípio do favor rei: Por força do princípio do favor rei, entende-se que, havendo dúvida entre admitir-se o direito de punir do Estado ou reconhecer-se o direito de liberdade do réu, deve-se privilegiar a situação deste último, por ser ele a parte hipossuficiente da relação jurídica estabelecida no processo penal.

7. Princípio do contraditório: Por força do princípio do contraditório, ambas as partes têm o direito de se manifestar sobre qualquer fato alegado ou prova produzida pela parte con-trária, visando a manutenção do equilíbrio entre o direito de punir do Estado e o direito de liberdade do réu e o consequente estado de inocência, objetivo de todo Processo Penal Justo.

8. Princípio do juiz natural: Em virtude do princípio do juiz natural o julgador a atuar em um determinado feito deve ser aquele previamente escolhido por lei ou pela Constituição Federal. Veda-se com isso o Tribunal ou Juiz de Exceção.

9. Princípio da publicidade: O princípio da publicidade é princípio segundo o qual os atos processuais devem ser praticados publicamente, sem qualquer controle, permitindo-se o amplo acesso ao público, bem como os autos do processo penal estão disponíveis a todos. Esse princípio, porém, comporta exceções (art. 5º, inciso LX, da Constituição Federal): a lei poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem.

10. Princípio da vedação das provas ilícitas: O princípio da vedação das provas ilícitas é estampado no art. 5º, inciso LVI, da Constituição Federal, segundo o qual são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.

11. Princípios da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo: Segundo os princípios da economia processual, celeridade processual e duração razoável do processo, incumbe ao Estado dar a resposta jurisdicional no menor tempo e custo possíveis.

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DIREITO TRIBUTÁRIORoberval Rocha

1. DEFINIÇÕES

1. Definição: ramo do direito que se ocupa das relações entre o fisco e as pessoas sujeitas a imposições tributárias de qualquer espécie, limitando o poder de tributar e protegendo o cidadão contra os abusos desse poder.

2. Relação com outros ramos do direito: o direito é uno e não se pode falar em autono-mia científica ou jurídica do direito tributário, apenas autonomia didática. O CTN estipula normas de inter-relação, como a que diz que a lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados, expres-sa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas constituições dos Estados, ou pelas leis orgânicas do Distrito Federal ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.

3. Atividade financeira do Estado: para financiar suas ações, o Estado vale-se de receitas: (a) originárias, provenientes da exploração do patrimônio do próprio Estado; e (b) derivadas, provenientes do poder de império, dentre as quais se encaixam os tributos.

4. Fontes do direito tributário: (a) fontes materiais, que consistem no conjunto de fato-res sociais determinantes do conteúdo do direito e dos valores que o direito procura realizar; (b) fontes formais, que são os fundamentos de validade da ordem jurídica e que se subdi-videm em: fontes formais (estatais): legislação, jurisprudência e convenções internacionais; e fontes formais (não estatais): costumes, doutrina, negócios privados e normas dos grupos sociais:

4.1. Constituição: fonte de mais alto grau de hierarquia normativa do sistema positivo. No campo tributário, prevê as competências dos entes políticos, os limites ao poder de tribu-tar, os direitos e deveres do cidadão e os princípios da atividade tributante. Não cria tributos, apenas prescreve as permissões para sua instituição.

4.2. Lei complementar: sua função é complementar a própria Constituição. Em matéria tributária, presta-se a: (i) estabelecer normas gerais de direito tributário; e (ii) instituir, excep-cionalmente, tributos da competência residual da União.

4.3. Lei ordinária: regra geral, é a norma que “cria” o tributo, prevendo a ocorrência do seu respectivo fato gerador, e preceitua as denominadas obrigações acessórias.

4.4. Lei delegada: elaborada pelo chefe do Poder Executivo, por delegação do Legisla ti vo. Permitido que verse sobre matéria tributária, desde que não englobe temas vedados especifi-camente pela Constituição, como aqueles reservados à lei complementar.

4.5. Medida provisória: em caso de relevância e urgência, o chefe do Executivo pode editar MP com força de lei ordinária, submetendo-a ao Legislativo imediatamente. Também

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ROBERVAL ROCHA

é permitido que verse sobre matéria tributária, desde que não englobe temas vedados especi-ficamente pela Constituição, como aqueles reservados à lei complementar.

4.6. Tratado internacional: é atribuição do Presidente da República celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos à competência exclusiva do Congresso Nacional para resolver definitivamente sobre eles, caso acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional. Revogam ou modificam a legislação tributária interna e devem ser respeitados pelas leis supervenientes.

4.7. Ato do Poder Executivo federal majorador de alíquota de tributo: são atos com força de lei material para majorar alíquotas de alguns tributos federais: imposto de importa-ção; imposto de exportação; imposto sobre produtos industrializados; imposto sobre opera-ções financeiras; e a Cide-combustíveis.

4.8. Decreto legislativo: competência exclusiva do Congresso Nacional. Entre outras funções, introduz, no ordenamento, o conteúdo dos tratados e convenções internacionais. Também é utilizado pelas assembleias legislativas para absorver o conteúdo dos convênios firmados entre Estados federados. Tem status de lei ordinária.

4.9. Convênio: ato normativo executivo, infralegal, que formaliza ajuste de vontades en-tre entes federativos. A Constituição excepciona o princípio da legalidade, permitindo que certos convênios tenham força de lei, como é o caso dos relativos ao ICMS.

4.10. Normas regulamentares: o decreto e o regulamento instrumentalizam o cumpri-mento das normas tributárias e restringem-se ao conteúdo das leis em função das quais sejam expedidos. São oriundos do Poder Executivo e não têm função legislativa, portanto, não po-dem inovar.

4.11. Normas complementares: esclarecem o conteúdo das normas superiores e auxiliam na sua aplicação: (i) atos normativos expedidos pelas autoridades administrativas; (ii) decisões administrativo-normativas dos órgãos administrativos; (iii) práticas reiteradas das autorida-des administrativas; (iv) convênios que entre si celebrem União, Estados, Distrito Federal e Municípios.

4.12. Legislação tributária compreende: leis; tratados e convenções internacionais; de-cretos; normas complementares que versem, no todo ou em parte, sobre tributos e relações jurídicas a eles pertinentes.

2. TRIBUTO

1. Definição de tributo (características): prestação pecuniária; compulsória; em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir; que não constitua sanção de ato ilícito; instituída em lei; cobrada mediante atividade administrativa; plenamente vinculada.

2. Natureza jurídica: determinada pelo fato gerador da obrigação, sendo irrelevantes para qualificá-la: (i) sua denominação e demais formas legais; (ii) o destino da arrecadação.

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DIREITOS HUMANOSPaulo Henrique Gonçalves Portela

1. DIREITOS HUMANOS – NOÇÕES GERAIS

1. Conceito: os direitos humanos são aqueles direitos essenciais para que o ser humano seja tratado com a dignidade que lhe é inerente.

2. Fundamento dos direitos humanos: as principais teorias a respeito do fundamento dos direitos humanos são a jusnaturalista (o fundamento de tais direitos é uma ordem superior, universal, imutável e inderrogável), a positivista (o alicerce de tais direitos é a ordem jurídica posta) e a moralista (ou de Perelman – o fundamento é convicção social acerca da necessida-de da proteção de determinado valor). Nos tratados internacionais, o fundamento dos direitos humanos é o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da espécie humana.

3 Histórico: dentre os mais importantes marcos históricos da noção de direitos humanos encontram-se: a doutrina cristã; a Magna Carta, do Rei João sem Terra (1215); o Bill of Rights (1689); a Revolução Americana (1776) e a Revolução Francesa (1789), vinculadas ao Iluminismo; o início do processo de internacionalização dos direitos humanos com o apa-recimento do Direito Humanitário (1864); a Revolução Mexicana (1917) e a República de Weimar (1919); a fundação da ONU (1945), que assinalou a internacionalização dos direitos humanos e; a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948).

4. Características dos direitos humanos: as principais características dos direitos huma-nos são as seguintes: universalidade, transnacionalidade, indisponibilidade, irrenunciabi-lidade e inalienabilidade, imprescritibilidade, inerência, historicidade, indivisibilidade, interdependência, complementaridade e primazia da norma mais favorável.

5. Gerações/dimensões dos direitos humanos: A doutrina divide os direitos humanos em gerações ou em dimensões: primeira geração/dimensão (direitos de liberdade/civis e políticos); segunda geração/dimensão (direitos de igualdade/direitos econômicos, sociais e culturais); e terceira geração ou dimensão (direitos de fraternidade/solidariedade/difusos e coletivos).

6. Gerações/dimensões dos direitos humanos e indivisibilidade: a divisão dos direitos humanos em gerações/dimensões não afeta a indivisibilidade desses direitos.

2. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS – NOÇÕES GERAIS. DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS E O DIREITO BRASILEIRO

1. Conceito: o Direito Internacional dos Direitos Humanos visa a proteger e a promover a dignidade humana em todo o mundo, consagrando uma série de direitos dirigidos a todos os indivíduos sem distinção de qualquer espécie.

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PAULO HENRIQUE GONÇALVES PORTELA

2. Histórico: o Direito Internacional dos Direitos Humanos tem como precedente re-moto a doutrina cristã, que traz à baila a noção de universalidade e assinala a existência de influência religiosa no processo de internacionalização dos direitos humanos. Posteriormente, a doutrina assinala como marcos históricos do Direito Internacional dos Direitos Humanos a criação do Direito Humanitário (1864), a fundação da Liga das Nações (1919) e o apare-cimento da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também em 1919. Por fim, os grandes marcos na internacionalização dos direitos humanos são a fundação da Organização da Nações Unidas (ONU), em 1495, e a proclamação da Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948.

3. Características específicas do Direito Internacional dos Direitos Humanos: dentre as características específicas do Direito Internacional dos Direitos Humanos encontram-se a possibilidade de monitoramento e de responsabilização internacional do Estado e o papel primário do Estado e o papel secundário dos organismos internacionais na proteção e pro-moção dos direitos humanos.

4. Papel primário do Estado e papel secundário das organizações internacionais: o Estado tem papel primário/principal na garantia dos direitos humanos, devendo assegurar a todas as pessoas sob sua jurisdição o gozo de seus direitos por meio de ações nos campos executivo, legislativo e jurisdicional. Já as organizações internacionais têm papel secundário/suplementar/complementar, devendo agir apenas quando o Estado for omisso ou falho na garantia dos direitos da pessoa humana.

5. A regra do esgotamento dos recursos internos: em vista do papel primário do Estado e secundário das organizações internacionais na proteção dos direitos humanos, vigora a regra do esgotamento dos recursos internos, segundo a qual, diante de uma violação dos direitos humanos, se deve inicialmente buscar a devida reparação no âmbito interno do Estado, e somente depois de esgotadas todas as instâncias internas se pode dirigir uma reclamação individual a um organismo internacional.

6. Incorporação dos tratados internacionais de direitos humanos ao ordenamento in-terno brasileiro: não há nenhuma diferenciação no processo de incorporação de um tratado de direitos humanos no Brasil em relação aos tratados nas demais matérias, com exceção da possibilidade de aprovação congressual nos termos da norma da CF, art. 5º, § 3º, a qual estabelece que os tratados de direitos humanos aprovados em dois turnos de votação, nas duas Casas do Congresso Nacional, por três quintos dos votos dos membros de cada Casa, serão equivalentes às emendas constitucionais. Com isso, a entrada em vigor do tratado no âmbito interno brasileiro também dependerá de decreto presidencial.

7. Tratados incorporados nos termos da norma da CF, art. 5º, § 3º: até agora, os únicos tratados que foram aprovados pelo Congresso nos termos do § 3º do art. 5º da Carta Magna são a Convenção de Nova Iorque sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e o seu respectivo Protocolo Facultativo.

8. Hierarquia dos tratados de direitos humanos: a hierarquia dos tratados de direitos humanos no Brasil não é uniforme e variará segundo a forma de aprovação congressual. Os tratados aprovados nos termos do § 3º do art. 5º da Carta Magna serão equivalentes às

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ESTATUTO DA OAB E ÉTICA PROFISSIONAL

Eduardo Sodré

1. ATIVIDADE DE ADVOCACIA

1. Regulamentação legal da advocacia: a advocacia, tanto pública como privada, en-contra-se regulada pela Lei 8.906/94 (Estatuto da Advocacia), pelo Regulamento Geral do Estatuto da Advocacia e pelo Código de Ética e Disciplina. (art. 3º, § 1º, da Lei 8.906/94).

2. Exercício da advocacia: o exercício da advocacia é ato privativo de advogado. Para qualificar-se como advogado, a pessoa deve ser inscrita na Ordem dos Advogados do Brasil (art. 3º, caput, da Lei 8.906/94).

3. Atos privativos da advocacia: são atos privativos da advocacia: (a) postulação perante os órgãos do Poder Judiciário, observadas as exceções legais (hipóteses em que a lei dispensa a atuação de advogado); (b) atividades de consultoria, assessoria e direção jurídica (art. 1º, incisos I e II, da Lei 8.906/94).

4. Atos privativos da advocacia praticados por pessoa que não é advogado: encontram-se maculados por nulidade absoluta. Da mesma forma, são nulos os atos praticados por advo-gado suspenso, licenciado, impedido ou incompatível (art. 4º da Lei 8.906/94).

5. Atos que podem ser praticados por estagiários conjuntamente com advogado: os estagiários podem praticar, desde que assistidos por advogado, todos os atos privativos da advocacia (art. 3º, § 2º, da Lei 8.906/94 c/c. art. 29, caput, do Regulamento Geral).

6. Atos que podem ser praticados isoladamente por estagiários: Isoladamente, podem os estagiários: (a) retirar e devolver autos em cartório, assinando a respectiva carga; (b) obter certidões; e c) assinar petições de juntada de documentos (art. 29, § 1º, do Regulamento Geral).

7. Diferença entre acadêmico de direito e estagiário: Entende-se por estagiário o aca-dêmico de direito, ou mesmo bacharel (obviamente ainda não qualificado como advogado), que obtenha, a este título, inscrição junto à Ordem dos Advogados (art. 9º da Lei 8.906/94).

2. DIREITOS DO ADVOGADO

1. Prerrogativas profissionais: O advogado goza de diversas prerrogativas profissionais, todas elas destinadas à garantia da autonomia e da eficiência do exercício da advocacia. As principais encontram-se listadas no art. 7º da Lei 8.906/94, dispositivo cujo cuidadoso estudo é recomendado ao candidato, em especial levando-se em consideração os atuais posiciona-mentos do STF sobre o assunto. Trata-se, do ponto de vista estatístico, de um dos temas com maior incidência de cobrança nas provas dos Exames de Ordem.

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EDUARDO SODRÉ

3. INSCRIÇÃO NA OAB

1. Local da inscrição: A inscrição deverá ser feita no local em que o advogado pretende fixar seu domicílio profissional, assim entendida a sede principal da atividade advocatícia futura (art. 10, caput e § 1º da Lei 8.906/94).

2. Requisitos necessários para inscrição nos quadros da OAB: (a) capacidade civil ple-na; (b) bacharelado em direito; (c) quitação com as obrigações eleitorais e militares; (d) não exercer atividade incompatível com a advocacia (vide art. 28 da Lei 8.906/94); (e) idoneidade moral; (f ) prestar compromisso; (g) aprovação em exame seletivo promovido pela Ordem dos Advogados (art. 8º da Lei 8.906/94 c/c. art. 20 do Regulamento Geral).

3. Idoneidade moral como requisito para a inscrição na OAB: A idoneidade moral, em linha de princípio, se presume. Por outro lado, no âmbito da OAB, ausência deste requisito pode ser arguida por qualquer pessoa interessada. Nesse caso, a inidoneidade moral somente poderá ser declarada por decisão que obtenha, no mínimo, dois terços dos votos de todos os membros do conselho seccional competente, a ser proferida no processo que deverá observar as garantias de contraditório e ampla defesa (art. 8º, § 3º, da Lei 8.906/94). A condenação por crime infamante, todavia, enquanto não obtida a reabilitação criminal, faz presumir a inido-neidade moral (art. 8º, § 4º, da Lei 8.906/94).

4. Número de registro profissional: com a inscrição profissional, o advogado recebe nú-mero de registro, que deverá obrigatoriamente constar em todos os documentos por ele assi-nados no exercício de sua atividade (art. 14, caput, da Lei 8.906/94).

5. Âmbito de validade da inscrição: A inscrição permite ao advogado atuar ilimitada-mente no território da seccional em que ela foi feita. Havendo atuação habitual em outros Estados (outras seccionais), deve ser feita inscrição suplementar. Haverá habitualidade na intervenção judicial que exceder a cinco causas por ano em cada Estado federado (art. 10, § 2º, da Lei 8.906/94 c/c. art. 26 do Regulamento Geral da Advocacia).

6. Licença profissional: deve ser solicitada e concedida sempre que o advogado: (a) a requerer, por motivo justificado; (b) passar a exercer, temporariamente, atividade incompatível com a advocacia; (c) for acometido de doença mental curável (art. 12 da Lei 8.906/94).

7. Cancelamento da inscrição: terá lugar sempre que o advogado: (a) a requerer; (b) sofrer penalidade de exclusão; (c) falecer; (d) passar a exercer, em caráter definitivo, atividade incompatível com a advocacia; (e) perder qualquer dos requisitos necessários para a inscrição (art. 11 da Lei 8.906/94).

8. Distinção entre as hipóteses de licença e de cancelamento da inscrição profissional: As causas que autorizam a licença profissional são passageiras (temporárias), ao tempo em que as causas que levam ao cancelamento da inscrição profissional tendem a ser definitivas.

4. SOCIEDADE DE ADVOGADOS

1. Sociedade de Advogados: é perfeitamente possível o agrupamento de profissionais em sociedades, destinadas à colaboração mútua na prestação de serviços advocatícios (art. 15, caput, da Lei 8.906/94 c/c. art. 37 do Regulamento Geral).

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