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UNIVERSIDADE ALUNO RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL

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UNIVERSIDADE

ALUNO

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL

CIDADE

2013

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ALUNO

RESPONSABILIDADE PENAL DA PESSOA JURÍDICA EM MATÉRIA AMBIENTAL

Projeto de pesquisa de curso apresentado como pré-requisito para obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Prof. Orientador:

CIDADE

2013

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SUMÁRIO

1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO.......................................................................031.1 TEMA...............................................................................................................03 1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ...................................................................031.3 JUSTIFICATIVA..............................................................................................031.4 OBJETIVOS....................................................................................................04

2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................06

3 METODOLOGIA................................................................................................14

4 REFERÊNCIAS..................................................................................................15

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1 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Responsabilidade penal da pessoa jurídica em matéria ambiental.

1.1 TEMA

O Direito ambiental surgiu a partir da preocupação com a degradação das

espécies, da destruição lenta e gradativa dos recursos naturais e da piora na

qualidade de vida do ser humano, em razão da corrida pelo desenvolvimento

econômico no panorama mundial. A tutela legal do meio ambiente torna-se, pois, o

principal instrumento de defesa ecológica, pois a participação do profissional do

Direito tem o condão de impulsionar, mediante a coerção legal, aqueles que não

colaboraram com o processo de preservação/conservação. O tema é de grande

interesse, tanto para a sociedade em geral como para os operadores do Direito, na

medida em que auxilia na interpretação e aplicação do direito penal à tutela do meio

ambiente, fomentando as discussões acerca da relevância da punição penal da

pessoa jurídica para proteção e preservação ambiental.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA

A problemática do tema reside na análise legal, doutrinária e jurisprudencial

da responsabilidade penal por dano ambiental e seus reflexos jurídicos para a

pessoa jurídica poluidora, mediante a demonstração da eficácia ou não do direito

penal para a proteção do meio ambiente e efetiva responsabilização, considerando-

se os postulados do direito penal mínimo e fragmentário.

1.3 JUSTIFICATIVA

O tema é de grande interesse, tanto para a sociedade em geral como para os

operadores do Direito, na medida em que auxilia na interpretação e aplicação do

instituto da responsabilidade penal aplicada ao direito ambiental, fomentando as

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discussões acerca da relevância do dano ambiental e da necessidade tanto de sua

prevenção quanto de uma efetiva punição.

Desse modo, o presente trabalho justifica-se pela sua relevância jurídica e

social, haja vista que o meio ambiente, como patrimônio da coletividade e

pertencente ao âmbito dos direitos difusos e coletivos merece respaldo jurídico apto

a garantir sua preservação para as presentes e futuras gerações. Assim, a

responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica busca não só punir como e,

principalmente,inibir as ações danosas, uma vez que a sanção, ainda que efetiva,

pode ser ineficaz no sentido de reparar o meio ambiente ante as conseqüências

nocivas do dano ambiental.

Nesse sentido, tendo em vista que o direito é flexível e passível de

questionamento de acordo com o desenvolvimento da sociedade e o aparecimento

de situações cada vez mais complexas que exigem solução justa e eficaz por parte

da justiça, justifica-se a discussão em torno da responsabilidade penal ambiental e

suas conseqüências jurídicas para a pessoa jurídica poluidora e para a sociedade

afetada. Sendo assim, mostra-se necessário discorrer sobre a responsabilidade

penal ambiental, o dano, a responsabilidade penal da pessoa jurídica e as formas de

prevenção, de forma a contribuir com o aperfeiçoamento do Direito.

Portanto, este projeto tem sua justificativa nas reflexões que poderá suscitar,

colaborando para o seu aprimoramento, na medida em que quanto mais discussões

são suscitadas e novas propostas de pensamento e aplicação do direito ambiental

são demonstradas, em tema tão relevante para a sociedade, mais embasamentos

são disponibilizados aos operadores do direito, contribuindo para a promoção da

defesa dos direitos difusos e coletivos e da justiça social, bem como, pela boa

aplicação das leis, pela rápida administração da justiça e pelo aperfeiçoamento da

cultura e das instituições jurídicas, de modo a se efetivar o desenvolvimento jurídico

e social.

1.4 OBJETIVOS

Este estudo tem por objetivo analisar o instituto da responsabilidade penal da

pessoa jurídica em razão de dano ao meio ambiente em seus fundamentos e seus

desdobramentos jurídicos ante a importância da tutela ambiental para a coletividade

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presente e futura. Ainda, objetiva-se analisar doutrinariamente o dano ambiental e a

responsabilidade penal ambiental; objetiva-se, igualmente refletir sobre as

conseqüências jurídicas da responsabilidade penal ambiental para a pessoa jurídica

e sua eficácia para a preservação do meio ambiente; busca-se ainda elencar os

desdobramentos jurídicos da responsabilidade penal ambiental para o poluidor e

para a sociedade afetada; analisar a legislação pertinente em seus aspectos

protetivos mais relevantes e, por fim, demonstrar a importância das tutelas protetivas

ambientais.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na definição de Piva1 o Direito Ambiental pode ser definido como “o ramo do

direito positivo difuso que tutela a vida humana com qualidade através de normas

jurídicas protetoras do direito à qualidade do meio ambiente e dos recursos

ambientais necessários ao seu equilíbrio ecológico”. De acordo com a lição de

Antunes2:

Na realidade, o Direito Ambiental deve buscar um equilíbrio entre os diferentes aspectos que compõem o sistema de proteção legal do meio ambiente. Privilegiar qualquer um dos diferentes componentes do Direito Ambiental é esvaziar sua principal característica que é, exatamente, a de efetivar uma ponderação entre valores que, aparentemente, são contraditórios.

Ainda, de acordo com a doutrina de Antunes3, o dano ambiental pode ser

definido como a “lesão aos recursos ambientais, com conseqüente degradação –

alteração adversa ou in pejus – do equilíbrio ecológico e da qualidade de vida”.

Desse modo, a Constituição Federal reconhece expressamente o direito

fundamental de todos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, consoante o

seu art. 2254:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações

Nesse sentido, existe a obrigação constitucional de não se degradar o meio

ambiente e dessa obrigação decorre a obrigação de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações, de forma que, os responsáveis, direta ou

indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental estão obrigados,

independentemente da existência de culpa, a indenizar e/ ou reparar os danos

causados ao meio ambiente, nos termos do artigo 14, § 1º da Lei 6.938/1981.

1 PIVA, Rui Carvalho. Bem ambiental. 1. ed. São Paulo: Max Limonad, 2000, p.47.2 ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999, p.150.3 Apud MILARÉ, Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, pp. 421-422.4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:

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Assim, a referida Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, ao consagrar a

responsabilidade objetiva daquele que causa dano ao ambiente, adotou a teoria do

risco integral. O dever de reparar o dano surge independentemente da culpa do

agente e da licitude da sua conduta, bastando à demonstração da existência do

dano (o nexo entre atividade e dano). De acordo com Nery Júnior5

E felizmente, a Lei de Política Nacional do Meio-Ambiente (Lei Federal nº 6.938 de 31 de agosto de 1981) deu um passo para frente, colocando-se na vanguarda legislativa na tutela dos interesses difusos. Isto porque traçou um novo perfil para a reparação do dano ambiental, regulando como ‘objetiva’ a responsabilidade do poluidor que ofende o meio-ambiente. Prescinde, portanto, da ‘culpa’, para haja o dever de reparar. Isto, de extrema importância porque o legislador abandonou o sistema clássico do direito civil, de tratar a responsabilidade como sendo subjetiva, exigindo-se a culpa como fundamento do dever de indenizar, partindo para um novo esquema ao indicar como sendo objetiva essa responsabilidade. Essa circunstancia atende satisfatoriamente às aspirações da coletividade na defesa do meio ambiente.

A doutrina atual não exige a identificação em uma mesma pessoa de ser

o causador do dano e ser o responsável pela sua reparação. Assim a idéia de culpa

como fundamento teórico da responsabilidade foi sendo parcialmente substituída

pela idéia do risco da atividade. Essa nova visão foi incorporada na Constituição

Brasileira, como se denota do art. 37, § 6°, que responsabiliza as pessoas jurídicas

de direito público pelos danos causados, sem qualquer referencia a culpa,

sufragando a teoria do risco integral como vigente no âmbito das atividades estatais.

Outrossim, segundo lição de Vitta6:

Se o meio ambiente ecologicamente equilibrado é bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo, evidentemente a responsabilização deverá ser solidária: pessoas físicas, jurídicas, particulares e Estado.

Dessa forma, como dito, a teoria que sustenta a responsabilidade ambiental,

nos moldes acima mencionados, é a teoria do risco integral, pelo qual a

responsabilidade advém de uma simples verificação da ocorrência de um advento e

de outra verificação no sentido de saber se deste advento emanou do dano. Essa

teoria é conseqüência do princípio do poluidor- pagador, em que se devem pagar os

custos das mediadas que sejam necessárias para eliminar a contaminação ou para

5 NERY JUNIOR, Nelson. Responsabilidade civil por dano ecológico e a ação civil pública. Revista Justitia, São Paulo, v. 126, n. 48, pp.168-189, jul./set. 1984, pp.171-172.6 VITTA, Haroldo Garcia. O meio ambiente e a ação popular. Saraiva: São Paulo, 2000, p.27.

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reduzi-las ao limite fixado pelos padrões ou medidas equivalentes que assegurem a

qualidade de vida, inclusive fixados pelo Poder público competente. Nesse sentido,

segundo Milaré7:

Não se discute, necessariamente, a legalidade da atividade. É a potencialidade do dano que a atividade possa trazer aos bens ambientais que será objeto de consideração

Entende-se, assim, que a necessidade da existência de dano para a

responsabilização, não se aplica à responsabilidade ambiental, bastando o perigo ou

a ameaça. Segundo doutrina de Nery Junior8 são consequências da adoção do

critério da responsabilidade objetiva pelo dano ambiental a prescindibilidade da

culpa para o dever de reparar; a irrelevância da licitude da atividade e a irrelevância

do caso fortuito e da força maior como causas excludentes da responsabilidade. Em

igual sentido, expõe Venosa9:

Basta, portanto, que o autor demonstre o dano e o nexo causal descrito pela conduta e atividade do agente. Desse modo, não se discute se a atividade do poluidor é lícita ou não, se o ato é legal ou ilegal: no campo ambiental, o que interessa é reparar o dano. Verificamos, portanto, que no em matéria de dano ambiental, foi adotada a teoria da responsabilidade objetiva sob a modalidade do risco integral. Desse modo, até mesmo a ocorrência de caso fortuito e força maior são irrelevantes. A responsabilidade é lastreada tão-só no fato de existir atividade da qual adveio o prejuízo.

Ainda, de acordo com Nery Junior 10:

Segue daí que o poluidor deve assumir integralmente todos os riscos que advém de sua atividade, como se isto fora um começo da socialização do risco e do prejuízo. O interesse público que é ínsito ao direito do meio-ambiente deve sobrepor-se à atividade particular voltada, normalmente, para o lucro.

Destaca Silva11

Não exonera, pois, o poluidor ou degradador a prova de que sua atividade é normal e lícita, de acordo com as técnicas mais modernas. [...] Não libera o responsável nem mesmo a prova de que a atividade foi licenciada de acordo

7 MILARÉ, 2001, p.433.8 NERY JUNIOR, 1984, pp.171-172.9 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 4. ed. v. IV. São Paulo: Atlas, 2004, p. 186.

10 NERY JUNIOR, 1984, p.173. 11 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p.216.

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com o respectivo processo legal, já que as autorizações e licenças são outorgadas com a inerente ressalva de direitos de terceiros, nem que exerce a atividade poluidora dentro dos padrões fixados, pois isso não exonera o agente de verificar, por si mesmo, se sua atividade é ou não prejudicial, está ou não causando dano.

Assim, quem degrada o meio ambiente responde administrativa, civil e

penalmente por seu ato. Desse modo, o bem jurídico ‘ambiente’ impõe, para seu

eficaz resguardo, a intervenção da tutela penal, posto que se reveste,

indiscutivelmente, de significativa importância para o regular equilíbrio e sustentação

da vida humana sobre a terra.

Ainda, consoante ressalta Milaré12 o Direito Ambiental, possui três esferas de

incidência, quais sejam: a preventiva, a reparatória e a repressiva. Nesse sentido,

fica evidente que a esfera preventiva é a mais importante, na medida em que a

sanção, uma vez que se verifica após a consumação do dano, pode ser ineficaz

diante das conseqüências devastadoras do dano ambiental para o meio ambiente e

para a sociedade. Segundo Feldmann13:

A degradação ambiental, como regra, é irreparável. Como reparar desaparecimento de uma espécie. Como trazer de volta uma floresta de séculos que sucumbiu sob a violência do corte raso? Como purificar um lençol freático contaminado por agrotóxicos?

Igualmente, ressalta Antunes14:

A reparação visa fazer com que o lesado, através do recebimento de uma indenização, seja recolocado no status quo ante, como se a lesão não houvesse ocorrido. Esta é uma concepção teórica, pois na maior parte das vezes, é impossível a reconstrução da realidade anterior: e. g., morte de uma pessoa, destruição de uma obra de valor histórico, artístico o paisagístico; extinção de uma espécie animal etc. Existem bens que são únicos e nesta qualidade, são insubstituíveis.

Sendo assim, diante da dificuldade de reparação dos danos ambientais a

proteção ao meio ambiente deve ocorrer antes, de maneira preventiva, evitando-se

maiores prejuízos ao ambiente e à coletividade. Nesse sentido, entende-se que as

sanções civis e administrativas não se prestam, sozinhas, a garantir a proteção e a

punição adequada ao meio ambiente, motivo pelo qual parte da doutrina considera a

tutela penal de extrema importância.

12 MILARÉ 2001, p.419.13 Apud MILARÉ, op. cit., p. 420.14 ANTUNES, 1999, p.141.

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Contudo, nota-se que o Código Penal, considerado ultrapassado pela mais

moderna doutrina, não atende às necessidades sociais de proteção ao meio

ambiente, estando em descompasso com os avanços tecnológicos e ao

entendimento que hoje se tem no tocante à preservação ambiental. Segundo a lição

de Dotti15:

[...] em tal proceder histórico, o direito penal vai assimilando, em maior ou menor proporção e tempo, as exigências e as solicitações necessárias à preservação e ao desenvolvimento da personalidade. Como conseqüência, na medida em que se modificam as bases necessárias aos comportamentos individuais e coletivos, também se alteram as estruturas formais do direito penal. [...] Frente a esta perspectiva o jurista deve agir como um autêntico depositário de consciência pública vertendo-se sobre a realidade social e as aspirações mais profundas da comunidade. Os posicionamentos mais modernos buscam excitar um senso de responsabilidade ecológica, pois se o homem continua com essa degradação massiva do meio ambiente, daqui algum tempo não haverá mais vida na Terra, pois tudo funciona como um ciclo ecológico. Cada ser tem sua participação nessa cadeia ecológica, obrigatoriamente ligadas entre si. Se destruída uma parte dessa cadeia, automaticamente, e mesmo que ´demore´ ver os resultados, o restante da cadeia não sobreviverá.

Outrossim, há uma tendência moderna de descriminalização de condutas e

uma tentativa de aplicação de medidas alternativas para a sanção dos delitos

penais, tendo em vista o entendimento de que o direito penal deve ser aplicado

como ultima opção, diante de bens cuja lesividade seja altamente prejudicial ao

convício em sociedade, além da constatação da falência e inefetividade da sanção

penal no Brasil. Nesse sentido, destaca Ferreira16 que:

[...] uma tendência para a descriminalização de certas condutas tipificadas na lei penal, de fato instala-se na doutrina contemporânea, sobretudo pela falência das penas privativas de liberdade e sua impossibilidade de evitar a ocorrência de crimes e conseguir a repercussão dos criminosos, sendo motivada também pela descrença na administração da justiça penal para resolver o problema da violência e da criminalidade na sociedade moderna.

Nesse sentido, reside a problemática da tutela penal do meio ambiente, tendo

em vista a busca por normas e sanções efetivas e justas, tanto em relação proteção

(a priori), quanto à sanção (a posteriori), haja vista que as empresas, evidentemente

mais poluidoras, se valem de brechas legislativas, da corrupção, da burocracia,

entre outros fatores que engessam a maquina administrativa, para auferir vantagens

15 DOTTI, René Ariel. Ecologia - proteção penal do meio ambiente. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977, p. 497. 16 FERREIRA, Ivete Senise. Tutela penal do patrimônio cultural - biblioteca de direito ambiental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995, p. 69.

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econômicas em detrimento do meio ambiente. Ademais, muitas vezes a condenação

em multa sequer causa prejuízo à empresa, demonstrando a ineficácia desta

modalidade de sanção penal. De acordo com Lopes17:

[...] a má definição dos tipos, de modo a deixar duvida sobre a ação proibida ou ordenada, ou uma cominação de pena imprópria ou desproporcionada pode, realmente, redundar cm graves e irreparáveis conseqüências para os direitos humanos.

Sendo assim, o objeto jurídico principal do crime ambiental é a preservação

do meio ambiente, tendo em vista que a preservação é mais importante que a

reparação posterior, a qual pode não trazer o status quo ante ao dano. Segundo

leciona Milaré18:

Sim, porque o ambiente – elevado à categoria de bem jurídico essencial à vida, à saúde e à felicidade do homem – integra-se, em verdade, de um conjunto de elementos naturais, culturais e artificiais, de molde a possibilitar o seguinte detalhamento: meio ambiente natural (constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, a fauna, enfim, a biosfera); meio ambiente cultural (integrado pelo patrimônio artístico, histórico, turístico, paisagístico, arqueológico, espeleológico etc.); e meio ambiente artificial (formado pelo espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações e pelos equipamentos públicos: ruas, praças, áreas verdes, enfim, todos os logradouros, assentamentos e reflexos urbanísticos, caracterizados como tal). Todos esses elementos estão definitivamente protegidos pelo Direito Penal, como se vê da nova arquitetura tipológica da Lei 9.605/98

O objeto material por sua vez pode recair sobre as florestas, animais, águas,

ar, entre outros elementos que compõem a biodiversidade. O tipo subjetivo reside no

dolo, na vontade livre e consciente de causar o dano ambiental e consuma-se com a

mera possibilidade de dano, ainda que este não tenha se concretizado. Os crimes

ambientais são crimes de perigo, caracterizando-se pela simples possibilidade de

dano,ou seja, a mera possibilidade de que determinada ação ou omissão venha a

ocasionar dano já basta para a sua configuração no tipo penal. O sujeito passivo é

toda coletividade.

Nesse sentido, a intervenção do Direito Penal sobre os crimes ambientais

deverá observar a proporcionalidade na aplicação das sanções. Outrossim, as

17 LOPES, Jair Leonardo. Novas figuras delituosas. In: Reforma Penal. São Paulo: Saraiva, 1985, p. 14.18 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed., rev., atual. e ampl. – São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 446.

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sanções penais por crimes ambientais seguem as disposições do Código Penal,

quais sejam, a pena privativa de liberdade, a restritiva de direitos e a pena de multa

Assim, em termos de proteção penal infraconstitucional do meio ambiente, a

lei 9.605/98 representou profundo avanço na legislação brasileira por sistematizar

quase todas as condutas passíveis de sanções penais e administrativas que são

lesivas ao meio ambiente, comparando-se ao Código de Defesa do Consumidor e ao

Estatuto da Criança e do Adolescente, as quais são leis de terceira dimensão.

Todavia, ainda há brechas que são aleatoriamente preenchidas pelo Código

Penal, pela Lei de Contravenções Penais e pelo Código Florestal. Nesse aspecto, a

Lei dos Crimes Ambientais dispõe em seu art. 79 de forma expressa a aplicação

subsidiária do Código Penal e do Código de Processo Penal. De acordo com Milaré

e Costa Jr.19:

[...] o legislador federal atento [...] à falibilidade de sua obra, sempre passível de lacunas ou contradições, estabeleceu que, em caso de insuficiência da normatização específica, deve o intérprete socorrer-se das disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal com caráter subsidiário[...]

Referida lei, como já mencionado, trouxe o instituto da responsabilidade penal

por dano ao meio ambiente dada a peculiaridade deste, especialmente, no tocante à

responsabilização da pessoa jurídica.Contudo, a Lei 9.605/98 também apresenta

pontos negativos, como o excesso de normas penais em branco excessivo rigor em

determinadas situações.

Nesse aspecto, deve haver bom senso e cautela na sua aplicação, pois a

utilização dos recursos naturais igualmente se presta a manutenção do ser humano.

Ressalta-se que a pressão internacional por normas cada vez mais rígidas de

proteção ao meio ambiente incide principalmente sobre os países emergentes por

parte dos países já desenvolvidos e com sua biodiversidade reduzida a patamares

ínfimos, os quais são os que mais poluem e tampouco objetivam reduzir suas

emissões de poluentes para não prejudicar sua economia.

Assim, pode-se dizer que a intervenção do direito penal deve se dar de forma

limitada pelos princípios constitucionais penais, a fim de não ocasionar violação a

outros direitos fundamentais.Desse modo, é importante a observância dos princípios

19 MILARÉ, Edis; COSTA JR., Paulo José da. Direito penal ambiental: comentários à lei 9.605/98, Campinas: Millennium, 2002, pp. 101-102.

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penais da fragmentariedade e da intervenção mínima.Novamente, destaca

Antunes20:

Aquele que tenha sido condenado por crime contra o meio ambiente não está isento da obrigação de reparar o dano causado como, também, não estará isento de pena se, após ter causado o dano ambiental, resolver repará-lo. A sanção administrativa tem uma função eminentemente repressiva e pedagógica. É exercida para que o poluidor e a sociedade saibam que não é admissível a prática de ilícitos ambientais.

Ainda, segundo Milaré21:

[...] o poluidor deve assumir integralmente todos os riscos que advêm de sua atividade. O interesse público, que é a base do Direito Ambiental, encontra na responsabilidade civil objetiva uma forma de convivência com a atividade particular voltada, normalmente, para o lucro...a utilidade dos particulares não pode prejudicar a utilidade comum.

Portanto, torna-se indispensável a plena e efetiva conscientização da

sociedade acerca da importância da preservação do meio ambiente, obrigação esta

não exclusiva do Estado, mas também de toda coletividade, o que somente se

alcançará com uma educação ambiental verdadeira, apta a modificar os padrões de

consumo e de conduta perante o meio ambiente.

20 ANTUNES, 1999, p.151.21 MILARÉ, 2001, p.434.

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3 METODOLOGIA

Esse trabalho foi desenvolvido com base em pesquisas exploratórias

envolvendo levantamento bibliográfico, bem como, pela análise de artigos e

jurisprudências que tratam da responsabilidade penal da pessoa jurídica por dano ao

meio ambiente.

Assim, serão utilizado, inicialmente, o método de pesquisa hipotético-

dedutivo, partindo-se das regras gerais expostas na mais relevante Doutrina

Ambientalista acerca da problemática do dano ambiental, sua prevenção e medidas

de proteção jurídica ao meio ambiente, reunindo-se os dados existentes, de modo a

possibilitar a sistematização e a análise do entendimento doutrinário e

jurisprudencial mais substancial em relação às suas conseqüências jurídicas do

dano ambiental para o caso concreto.

Por meio da pesquisa bibliográfica qualitativa procura-se entender e

esclarecer a motivação da men legis, a partir do estudo advindo da interpretação

doutrinária e jurisprudencial da responsabilidade penal ambiental da pessoa jurídica

e suas consenquencias.

Desse modo, serão analisadas as definições, entendimentos e discussões

doutrinárias e jurisprudências da responsabilidade penal por dano ambiental por

meio da técnica de pesquisa bibliográfica, a qual se respaldará em fontes primárias

e secundárias, haja vista que a discussão do tema proposto é particularmente

composta por Doutrinas, Artigos, Pareceres, Jurisprudências e Estudos.

A partir da seleção e análise dos dados principais constantes do material de

pesquisa, procedeu-se à proposta de estudo, delimitando os itens/aspectos que

deveriam ser abordados e seus respectivos desdobramentos.

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4 REFERÊNCIAS

ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 1999.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Manual de Direito Penal: parte geral. v. 1. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:

_______. Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998. Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em:

_______. Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Lei de Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: < www.planalto.gov.br>. Acesso em:

CARVALHO, Érika Mendes de. Tutela Penal do patrimônio florestal brasileiro. São Paulo: Editora RT, 1999.

DOTTI, René Ariel. Ecologia – proteção penal do meio ambiente. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1977.

FERREIRA, Ivete Senise. Tutela penal do patrimônio cultural - biblioteca de direito ambiental. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1995.

FRAGOSO, Heleno Cláudio. Lições de Direito Penal. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1985.

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LOPES, Jair Leonardo. Novas figuras delituosas. In: Reforma Penal. São Paulo: Saraiva, 1985.

MILARÉ, Édis. Direito do Ambiente: um Direito adulto. Revista de Direito Ambiental, SP: Editora RT, v.15, pp.34-55, 1999.

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_______. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. 2. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001.

______; COSTA JR., Paulo José da. Direito penal ambiental: comentários à lei 9.605/98. Campinas: Millennium, 2002.

MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal. v.1. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

MORAES, Márcia Elayne Berbich de. A (in)eficiência do Direito Penal Moderno para a tutela do meio ambiente na sociedade de risco (Lei 9605/98). Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004.

NERY JUNIOR, Nelson. Responsabilidade civil por dano ecológico e a ação civil pública. Revista Justitia, São Paulo, v. 126, n. 48, pp.168-189, jul./set. 1984.

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_______. Direito Ambiental Constitucional. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2000.

VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: Responsabilidade Civil. 4. ed. v. IV. São Paulo: Atlas, 2004.

VITTA, Haroldo Garcia. O meio ambiente e a ação popular. Saraiva: São Paulo, 2000.

16