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Relatório da Força-Tarefa Independente No. 66 Samuel W. Bodman e James D. Wolfensohn, Presidentes Julia E. Sweig, Directora do Projeto Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

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Brasil G

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o. 66

Relatório da Força-Tarefa Independente No. 66

Samuel W. Bodman e James D. Wolfensohn, Presidentes

Julia E. Sweig, Directora do Projeto

Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

www.cfr.org

Brasil G

lobal e Relações E

stados Unidos-B

rasilR

elatório da Força-Tarefa Independen teNo. 66

Jed N. Bailey Energy Narrative

Samuel W. Bodman R. Nicholas BurnsHarvard Kennedy School of Government Louis E. CalderaCenter for American Progress Eileen B. ClaussenPew Center on Global Climate Change Nelson W. CunninghamMcLarty Associates Eli Whitney Debevoise IIArnold & Porter LLP Paula J. DobrianskyThomson Reuters Shepard L. FormanCenter on International Cooperation José A. FourquetDBS Financial Group Maria C. FreireAlbert and Mary Lasker Foundation Stanley A. Gacek*U.S. Department of Labor Sergio J. GalvisSullivan & Cromwell LLP Kevin P. GreenIBM Corporation Donna J. HrinakPepsiCo, Inc. Robert L. HutchingsLyndon B. Johnson School of Public Affairs G. John IkenberryWoodrow Wilson Schoolof Public and International Affairs

Timothy M. KingstonThe Goldman Sachs Group, Inc.

Thomas E. LovejoyThe H. John Heinz Center for Science, Economics, and the Environment

Jennifer L. McCoyGeorgia State University

Joy OlsonWashington Office on Latin America

Brian D. O’NeillLazard Ltd.

Michelle Billig PatronPIRA Energy Group

David PerezPalladium Equity Partners

Riordan RoettThe Johns Hopkins University

David J. RothkopfGarten Rothkopf

Andrew SmallPontifical Mission Societies in the United States

Julia E. SweigCouncil on Foreign Relations

Tanisha N. Tingle-SmithVerdade Consulting

James D. WolfensohnWolfensohn & Company, LLC

*Gacek participou na Força-Tarefa sob sua afiliação com a American Federation of Labor e Congress of Industrial Organizations. Como um oficial da atual administração, ele não foi pedido a participar do consenso da Força-Tarefa.

Os relatórios de Força-Tarefa Independentes patrocinados pelo CFR oferecerem análises e prescrições políticas para os maiores problemas de relações externas que os Estados Unidos enfrenta, desenvolvidos através de deliberações não-partidárias que buscam o consenso.

Me m bros Da Força-Ta r e fa

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Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

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Relatório da Força-Tarefa Independente No. 66

Samuel W. Bodman e James D. Wolfensohn, PresidentesJulia E. Sweig, Directora do Projeto

Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

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O Council on Foreign Relations (CFR) é um think tank e editora, sem fins lucrativos, independente e apar-tidário, que se dedica a ser um recurso para seus membros, funcionários do governo, executivos, jornalistas, educadores e alunos, líderes sociais e religiosos, e outros cidadãos interessados para ajudá-los a melhor entender o mundo e as escolhas de política externa que enfrentam os Estados Unidos e demais países. Fun-dado em 1921, o CFR realiza sua missão mantendo um grupo diverso de membros, com programas espe-ciais para promover interesses e desenvolver expertise na próxima geração de líderes de política externa; convocando reuniões em sua sede em Nova Iorque e em Washington, DC, e outras cidades onde represen-tantes sênior de governos, membros do congresso, líderes globais, e pensadores proeminentes se juntam ao CFR para discutir e debater grandes questões internacionais; apoiando um Programa de Estudos que fomenta pesquisa independente, permitindo aos acadêmicos do CFR produzir artigos, relatórios, e livros e realizar mesas redondas que analisam questões de política externa e fazem recomendações de política concretas; publicando a Foreign Affairs, o periódico proeminente sobre assuntos internacionais e política externa americana; patrocinando Forças-Tarefas Independentes que produzem relatórios com ambos opi-niões e prescrições de política nos assuntos mais importantes de política externa; e provendo informação atualizada e análise sobre eventos mundiais e política externa americana no seu website, www.cfr.org.

O Council on Foreign Relations não toma posição institucional em questões de política e não tem afiliação com o governo americano. Todas as visões expressadas em suas publicações são de inteira responsabilidade do autor ou autores.

O Council on Foreign Relations patrocina Forças-Tarefa Independentes para avaliar assuntos atuais e de crítica importância para a política externa norte-americana e oferecer avaliações e recomendações aos tomadores de decisão. Diversos em suas experiências e perspectivas, membros das Forças-Tarefa visam chegar a consensos significativos mediante deliberações privadas e apartidárias. Uma vez criadas, as For-ças-Tarefa são independentes do CFR e únicas responsáveis pelo conteúdo de seus relatórios. Membros das Forças-Tarefa são convidados a participar de um consenso indicando que endossam “a tônica geral e os julgamentos feitos pelo grupo, ainda que não necessariamente todas suas conclusões e recomendações.” Membros também têm a opção de apresentar visões adicionais ou discordantes. As afiliações dos membros são listadas apenas para fins de identificação e não implicam em representação institucional.

Copyright © 2011 por Council on Foreign Relations®, Inc. Todos os direitos reservados. Impresso nos Estados Unidos da América.

Esse relatório não pode ser reproduzido inteiro ou em partes, em nenhuma forma além da reprodução permitida pelas Seções 107 e 108 do U.S. Copyright Act (17 U.S.C. Seções 107 e 108) , e trechos por revisores para a imprensa, sem permissão escrita expressa do Council on Foreign Relations.

Esse relatório foi traduzido de sua versão original por Dani Nedal, com a ajuda de Daniel Rio Tinto, Isadora de Andrade, e Ligia Alonso.

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Membros da Força-Tarefa são convidados a se unir a um consenso significando que eles concordam com o “direcionamento geral das políticas alcançado pelo grupo, embora não necessariamente todas as conclusões e recomendações.” Eles participam da Força Tarefa em suas capacidades individuais, não institucionais.

Membros Da Força-Tarefa

Jed N. BaileyEnergy Narrative

Samuel W. Bodman

R. Nicholas BurnsHarvard Kennedy School of Government

Louis E. Caldera* Center for American Progress

Eileen B. ClaussenPew Center on Global Climate Change

Nelson W. Cunningham*McLarty Associates

Eli Whitney Debevoise II*Arnold & Porter LLP

Paula J. Dobriansky* Thomson Reuters

Shepard L. Forman* Center on International Cooperation

José A. Fourquet*DBS Financial Group

Maria C. Freire Albert and Mary Lasker Foundation

Stanley A. Gacek†U.S. Department of Labor

Sergio J. Galvis*Sullivan & Cromwell LLP

*O indivíduo aprovou o relatório e assinou a visão adicional.

† Gacek participou na Força-Tarefa sob sua afiliação com a American Federation of Labor e Congress of Industrial Organizations. Como um oficial da atual administração, ele não foi pedido a participar do con-senso da Força-Tarefa.

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vi

Kevin P. Green*IBM Corporation

Donna J. Hrinak*PepsiCo, Inc.

Robert L. HutchingsLyndon B. Johnson School of Public Affairs

G. John IkenberryWoodrow Wilson School of Public and International Affairs

Timothy M. KingstonThe Goldman Sachs Group, Inc.

Thomas E. LovejoyThe H. John Heinz Center for Science, Economics, and the Environment

Jennifer L. McCoyGeorgia State University

Joy Olson*Washington Office on Latin America

Brian D. O’Neill*Lazard Ltd.

Michelle Billig Patron PIRA Energy Group

David PerezPalladium Equity Partners

Riordan Roett*The Johns Hopkins University

David J. Rothkopf* Garten Rothkopf

Andrew Small Pontifical Mission Societies in the United States

Julia E. Sweig*Council on Foreign Relations

Tanisha N. Tingle-Smith*Verdade Consulting

James D. WolfensohnWolfensohn & Company, LLC

Membros Da Força-Tarefa

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Prólogo ixAgradecimentos xiMapa xv

Relatório da Força-Tarefa 1Resumo 3Introdução 8A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos 14A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas 32Brasil como um Diplomata Regional e Global 48O Brasil e os Estados Unidos 68Conclusão 80 Visões Adicionais 84Notas de Rodapé 87Membros da Força-Tarefa 91

Conteúdo

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O Brasil emergiu como um motor de crescimento na América do Sul e uma força ativa na política mundial na década desde que o Council on Foreign Relations (CFR) convocou sua primeira Força-Tarefa Indepen-dente no país. Durante este período, o Brasil tirou quase trinta milhões de seus cidadãos da pobreza, aumentou sua classe média significati-vamente, se tornou cada vez mais ativo em instituições multilaterais e fóruns internacionais, e resistiu à recessão global recente—tudo em um contexto pacífico, orientado para o mercado e democrático.

Com certeza, o Brasil ainda luta com preocupações internas impor-tantes—o restante de sua população desfavorecida, os crescentes desafios das mudanças climáticas, e sua atual transformação de uma economia baseada em commodities para uma economia industrial, para citar apenas algumas. No entanto, a mensagem desse relatório difi-cilmente poderia ser mais clara: o Brasil é importante não só regional-mente, mas globalmente. Suas decisões e ações irão afetar o futuro da economia, do meio ambiente e da energia mundiais, bem como o futuro da diplomacia e da estabilidade global. O Brasil é um dos países seletos que mais irão influenciar o século XXI. As políticas externas de Brasil e Estados Unidos devem se ajustar de acordo.

Essa Força-Tarefa Independente examina a relação Brasil-Estados Unidos em face dos consideráveis desenvolvimentos dos últimos dez anos. Chega em um momento em que o novo governo brasileiro, lide-rado pela presidente Dilma Rousseff, teve alguns meses para se estabe-lecer e mapear um curso para o país para os próximos (diversos) anos. A Força-Tarefa recomenda que esse período seja visto como uma oportu-nidade para Brasil e Estados Unidos aprofundarem sua parceria através de maiores laços econômicos e governamentais.

Com seu crescente papel regional e global, o Brasil irá enfrentar novas responsabilidades e expectativas. Enquanto o Brasil busca se tornar mais ativo em sua região e no exterior, alguns irão procurá-lo

Prólogo

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x Prólogo

para orientação e alguns irão esperar que este assuma mais responsa-bilidades no cenário internacional. A Força-Tarefa recomenda que o Brasil receba um assento em um Conselho de Segurança das Nações Unidas expandido, em parte por reconhecimento de seu crescente papel global, mas também para encorajar sua participação construtiva em assuntos globais.

Gostaria de agradecer os presidentes da Força-Tarefa, Samuel Bodman e James Wolfensohn, por suas lideranças no decorrer deste projeto. Meus agradecimentos se estendem a todos os membros da Força-Tarefa e observadores por contribuírem com seu tempo, expe-riência significativa e expertise para produzir um relatório profundo. Também convido os leitores a olhar as visões adicionais escritas por diversos membros da Força-Tarefa, as quais aparecem ao fim do relatório.

Esse relatório não seria possível sem a supervisão de Anya Schme-mann, diretora do programa de Forças-Tarefa do CFR, que guiou esse projeto do início ao fim, e sem a pesquisadora sênior Julia Sweig, que dirigiu de forma hábil essa Força-Tarefa e supervisionou a pesquisa e a elaboração deste projeto. Todos contribuíram para um documento substantivo e abrangente que irá ajudar formuladores de políticas e outros a entenderem melhor a realidade do Brasil.

Richard N. HaassPresidenteCouncil on Foreign RelationsJulho de 2011

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Agradecimentos

O relatório da Força-Tarefa Independente sobre o Brasil é o produto de muito trabalho e esforço dos membros dedicados e observadores desta Força-Tarefa. Em particular, agradeço nossos distintos presidentes, Jim Wolfensohn e Sam Bodman, pela liderança e direção séria. Tem sido um prazer trabalhar com eles.

Eu sou profundamente grata pelo tempo e atenção dos membros da Força-Tarefa e observadores, bem como por suas expertises e orienta-ções inestimáveis. Agradecimentos especiais são devidos a Jed Bailey, Michelle Billig Patron, David Rothkopf, e Tanisha Tingle-Smith por suas contribuições escritas. João Castro Neves, Luis Cubeddu, Shep Forman, Stan Gacek, Riordan Roett, e David Vergara também oferece-ram assistência vital durante o processo.

Eu tive a sorte de viajar ao Brasil e à região em três ocasiões para consultas que informaram o relatório. Me beneficiei de briefings com oficiais de governo além de representantes do setor privado e sociedade civil em Montevidéu, Assunção, Brasília, Foz do Iguaçu, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. O ministério das Relações Exteriores, em especial o ministro Antônio Patriota e o embaixador Mauro Vieira e seus escri-tórios, tornaram possíveis inúmeras consultas de alto nível. Ademais, agradeço aos diversos funcionários de uma série de ministérios que ofe-receram seu tempo e opiniões. O embaixador Thomas Shannon abra-çou esse esforço e, como o embaixador Vieira, ofereceu briefings aos membros e observadores da Força-Tarefa em Washington, DC, e gen-tilmente recepcionou uma delegação da Força-Tarefa enquanto estáva-mos em Brasília. Devo um agradecimento especial ao Matias Spektor por sua inteligência e orientação no decorrer desse esforço.

Meus agradecimentos vão para o conselho consultivo brasileiro da Força-Tarefa, cujos conhecimentos e perspectivas abrilhantaram sobre-maneira esse esforço e cujas orientações no decorrer desse processo

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xii Agradecimentos

permitiram reuniões instrutivas com representantes da sociedade civil brasileira no Rio de Janeiro e em São Paulo. Particularmente, meus agradecimentos vão para Yvonne Bezerra de Mello, José Pio Borges, Leona Forman, Israel Klabin, Celso Lafer, Luiz Felipe Lampreia, Geor-ges Landau, Maria Regina Soares de Lima, Marcelo Neri, Jair Ribeiro, Carlos Ivan Simonsen Leal, Amaury de Souza e Ana Toni.

Também recebemos contribuições úteis de diversos membros do CFR. A equipe de Reuniões em Washington organizou um evento com membros do CFR em Washington, com o membro da força-tarefa Riordan Roett e Kellie Meiman como observadora; a equipe de Reu-niões de Nova York organizou um evento para membros do CFR em Nova York, liderado pelos membros da Força-Tarefa Sergio Galvis e Donna Hrinak; o Programa Corporativo organizou uma mesa redonda em Washington, DC, para executivos, liderados pelo membro da Força-Tarefa David Rothkopf; e o Programa de Outreach organizou uma sessão em Nova Iorque para líderes de ensino superior com os mem-bros da Força-Tarefa Shepard Forman e Donna Hrinak.

Estendo agradecimentos adicionais à equipe de publicação do CFR, a qual assistiu na edição dos relatórios e na preparação deste para publi-cação, e aos departamentos de Comunicação, Reuniões, Corporativo, Assuntos Externos, e equipes nacionais, que trabalharam para que o relatório alcançasse a maior audiência possível. Meus colegas, Laurie Garret, Michael Levi, Shannon O’Neil, e Jonathan Pearl também ofere-ceram orientação considerável.

Anya Schmemann, junto a Kristin Lewis e Shelby Leighton do Pro-grama Força-Tarefa do CFR, foi instrumental para esse projeto do começo ao fim. A sabedoria, experiência, e paciência de Anya e sua equipe mantiveram esse projeto nos trilhos, enquanto suas perguntas e contribuições valiosas ajudaram a criar um produto final o mais forte possível. Minha assistente de pesquisa Eliza Sweren-Becker merece a grande parte do crédito e meus agradecimentos eternos por sua pes-quisa e esboços repetidos desse relatório. Tive sorte de me beneficiar do comprometimento, camaradagem e inteligência de Eliza do início ao fim. Também estendo meus agradecimentos ao sucessor de Eliza, David Herrero, por ter guiado o relatório sem dificuldades até sua publicação final.

O CFR também expressa seus agradecimentos à Alcoa Foundation pelo seu apoio à iniciativa Brasil Global. Muito obrigada ao presidente

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xiiiAgradecimentos

do CFR Richard N. Haass e diretor de estudos James M. Lindsay, além de Janine Hill e Amy Baker, que emprestaram seu apoio a essa iniciativa por reconhecerem a necessidade de que os Estados Unidos entendam e produzam melhores políticas para o Brasil. Eu espero que esse esforço progrida nesse sentido.

Julia E. SweigDiretora do Projeto

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Brasil

Fonte: Cortesia da E

nciclopédia Britância, Inc., copyright 2000; usado com

permissão.

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Relatório da Força-Tarefa

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Resumo

Os Estados Unidos agora se deparam com um Brasil que passou por uma mudança econômica e social pacífica para se tornar a pedra angu-lar do crescimento e estabilidade sul-americanos e uma potência e pre-sença significativa no cenário mundial.1

A Força-Tarefa direciona suas conclusões e recomendações não só a formuladores de políticas americanos que focam nas Américas, mas também àqueles nos Estados Unidos e em outros lugares que sejam responsáveis por decisões sobre questões globais estratégicas ou eco-nômicas, além de mecanismos multilaterais nos quais a voz e as ações do Brasil são relevantes. As conclusões e recomendações desse rela-tório fornecem um framework para políticas bipartidárias—globais, regionais e bilaterais—que levam em consideração as oportunidades e desafios da ascensão brasileira enquanto Estados Unidos e Brasil se aproximam de questões importantes do século XXI.

P OR QUE O BRASI L?

O Brasil é e continuará sendo um força integral na evolução de um mundo multipolar. Está classificado como a quinta maior porção de terra do mundo, quinta maior população, e oitava maior economia. O Brasil, que pode se tornar a quinta maior economia mundial até 2016, é o B de BRICs (junto com Rússia, Índia, e China*), um grupo de mercados em expansão que representaram 23 porcento do Pro-duto Interno Bruto global (PIB) em 2010 e coletivamente chegarão a vinte cinco trilhões de dólares, ultrapassando a economia americana dentro da próxima década. A proeza econômica do Brasil o coloca em posição de liderança na América Latina e no mundo, e impulsiona a

*A África do Sul formalmente se afiliou ao fórum BRIC no fim de 2010, formando então o Fórum BRICS.

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4 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

importância estratégica da região globalmente, especialmente para os Estados Unidos.

Dado o território, economia, população e base de recursos de cada país, Brasil e Estados Unidos necessariamente interagem em um mundo cada vez mais globalizado e multipolar. Além das característi-cas geoestratégicas que unem Estados Unidos e Brasil, os dois países também são surpreendentemente parecidos: ambos são multiétnicos, jovens democracias que defendem valores comuns no que diz respeito a liberdade de mercado, Estado de direito, direitos individuais, liberdade religiosa e diversidade e igualdade.

Apesar dessas similaridades, a relação Brasil-Estados Unidos é pro-pensa a mal entendidos e colaborações entre os dois países têm sido limitada. A eleição de Dilma Rousseff como nova presidente do Brasil oferece uma oportunidade para uma aproximação renovada. Os presi-dentes Barack Obama e Dilma ressaltaram um desejo mútuo de melho-rar e aprofundar a relação, e a Força-Tarefa urge para que esforços sejam feitos por ambos os países para que esse objetivo seja alcançado. A Força-Tarefa acredita que agora é o momento para Estados Unidos e Brasil avançarem seus interesses de política externa revigorando e aprofundando essa relação crítica.

RE SUMO DAS PR I NCI PAIS CONCLUSÕE S E RECOMENDAÇÕE S

A Força-Tarefa recomenda que os decisores americanos reconheçam a posição brasileira como ator global, que tratem sua emergência como uma oportunidade para os Estados Unidos, e trabalhem com o Brasil para desenvolver políticas complementares.

Dada a ascensão brasileira nas últimas duas décadas, os Estados Unidos deve agora alterar sua visão da região e procurar uma relação mais ampla e madura com o novo Brasil. É hora da política externa americana refletir a nova realidade regional e se ajustar para avançar os interesses americanos, dado o que já mudou e as mudanças que prova-velmente virão.

Brasil e Estados Unidos estão entrando agora em um período que tem grande potencial de solidificar uma amizade madura, uma que implica confiança sempre crescente de forma a assegurar interesses mútuos. Esse tipo de relação requer que os dois países vão além de suas

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5Resumo

oscilações históricas entre interpretações erradas, elogios públicos e repreensão, e, ao invés, abordar a cooperação e as discordâncias inevi-táveis com respeito mútuo e tolerância.

A Força-Tarefa recomenda comunicação aberta e regular entre Obama e Dilma e entre oficiais sênior de ambos os países. Conforme o Brasil continua em ascensão e os Estados Unidos se adapta a uma ordem multipolar, um diálogo frequente irá ajudar a antecipar e desar-mar tensões que irão vir a tona conforme cada país reage e se ajusta a uma dinâmica geopolítica nova e em evolução. O contato em alto esca-lão irá sinalizar para as burocracias de cada um dos países—historica-mente desconfiadas umas das outras—que a relação é uma prioridade e que o sucesso de cada um é do interesse do outro.

A crescente importância geoestratégica do Brasil merece coordena-ção de alto nível e abrangente de políticas americanas em diversas agên-cias. A Força-Tarefa recomenda que o Conselho de Segurança Nacional (NSC) institucionalize um mecanismo de coordenação interagência permanente para que uma gama de agências americanas responsá-veis por questões funcionais—incluindo finanças, comércio, trabalho, energia, meio ambiente, agricultura, saúde, segurança nacional, defesa e diplomacia—coordene melhor o que ainda é uma política americana altamente descentralizada para o Brasil.

Essa reorganização vai requerer um diretor do NSC exclusivamente para o Brasil, ao invés de um diretor para Brasil e Cone Sul. Além disso, a Força-Tarefa recomenda que o Departamento de Estado crie um escritório separado para questões brasileiras fora do escritório para questões do Cone Sul. O objetivo é uma política americana que trate o Brasil como ator global com políticas formuladas não só por experts na região com experiência limitada.

A Força-Tarefa encoraja os formuladores de política americanos a reconhecerem que a independência quase certamente continuará sendo uma marca da política externa brasileira, mesmo quando os dois países desenvolverem uma relação mais próxima. Sob Dilma, o Brasil pro-vavelmente continuará a engajar—econômica e diplomaticamente—em regiões e em questões além do domínio histórico da América do Sul. Brasileiros vão resistir uma aproximação muito estreita com os Estados Unidos, e a intensificação da relação não necessariamente irá resultar no Brasil apoiando os Estados Unidos. Mas os Estados Unidos e o Brasil podem ajudar uns aos outros a avançarem interesses mútuos sem concordância indiscriminada sobre políticas entre os dois.

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6 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

A Força-Tarefa acredita que é do interesse dos Estados Unidos aco-lher a liderança regional do Brasil e encorajar a promoção brasileira de inclusão, desenvolvimento e democracia. Desenvolver uma política mais abrangente sobre o Brasil não deve vir às custas de aprofundar as relações com outros parceiros americanos nas Américas.

Os Estados Unidos precisará se ajustar a um Brasil mais assertivo e independente. E o Brasil deve se ajustar ao seu novo papel de potên-cia global. Enquanto os Estados Unidos se adapta ao Brasil, também deve encoraja-lo a usar sua nova influência diplomática e multilateral de forma que atenda não somente seus interesses nacionais, mas os de seus vizinhos e além.

O Brasil e os Estados Unidos enfrentam desafios domésticos simi-lares—incluindo educação, inovação, saúde, e infra-estrutura—que devem servir como oportunidade para aprofundar a compreensão e cooperação bilateral. A Força-Tarefa nota a importância crítica do pro-gresso contínuo do Brasil em corrigir suas restrições domésticas signifi-cativas, as quais poderiam prejudicar a sustentabilidade do crescimento brasileiro no longo-prazo e deter suas ambições internacionais.

A Força-Tarefa encoraja ambos os governos a manter e expandir canais de comunicação sobre comércio e política monetária, especial-mente com respeito à China. O Brasil e os Estados Unidos se aproxi-mam da China com cuidado, balanceando seus relacionamentos que são complementares, mas também competitivos. Ambos Brasil e Esta-dos Unidos têm preocupações sobre o yuan desvalorizado da China, e apesar de uma aproximação conjunta não ser realista, a Força-Tarefa sugere que Brasil e Estados Unidos concordem em uma linguagem comum para descrever os desafios apresentados pela China para enco-rajar a China a permitir que o yuan valorize.

Com compreensão sobre o ambiente político de divisão nos Esta-dos Unidos, a Força-Tarefa encoraja o Congresso americano a incluir uma eliminação da tarifa ao Etanol em qualquer projeto de lei que diga respeito a reformas no regime de créditos de imposto de etanol e biocombustíveis.

A Força-Tarefa recomenda que o governo Obama agora subscreva inteiramente ao Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU). A Força-Tarefa encoraja o governo a resolver dimensões regionais, multilaterais e globais de governança a um passo tal que engaje o Brasil em um diálogo intenso sobre essa questão.

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7Resumo

O relatório da Força-Tarefa faz um balanço do crescimento e desen-volvimento extraordinário do Brasil, incluindo recursos domésticos, restrições e fatores internacionais que afetaram a trajetória econômica brasileira. O relatório considera a abordagem brasileira a energia e mudanças climáticas como fator econômico relevante e como forma de ajudar a entender como o Brasil compreende seu papel global e como pretende reformular instituições globais. Examina o estilo, a agenda e o crescente engajamento como ator global e regional brasileiro. Por fim, a Força-Tarefa considera a relação EUA-Brasil e propõe formas como os Estados Unidos pode trabalhar com e ao lado do Brasil para avançar interesses e objetivos comuns.

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O Brasil transcendeu seu status de maior país da América Latina e o que dispõe de mais recursos para agora ser incluído entre uma das potên-cias principais do mundo. O Brasil não é uma potência militar conven-cional, não rivaliza com a China ou a Índia em população ou tamanho da economia e não pode rivalizar com a história geopolítica da Rússia. Ainda assim, como o Brasil define e projeta seus interesses, um pro-cesso em andamento, é crítico para a compreensão do caráter da nova ordem global multipolar e imprevisível.

No curso de uma geração, a prioridade doméstica brasileira de cres-cimento inclusivo se traduziu em uma redução significativa da desi-gualdade, na expansão da classe médiae em uma economia vibrante, tudo isso enquadrado em um contexto democrático. Essas conquistas internas impulsionam a agenda brasileira no cenário internacional. Internacionalmente, o Brasil alavancou suas qualidades domésticas e conquistas para cimentar seu papel em áreas tão diversas quanto ener-gia e mudanças climáticas, paz e segurança e comércio e finanças. Com-preender e desenvolver uma estratégia para ajudar no sucesso desse novo Brasil está no interesse nacional dos Estados Unidos.

ATUAL P OLÍ T ICA AMER ICANA PARA O BRASI L

De acordo com os pronunciamentos recentes do presidente Obama, a política americana para o Brasil é baseada em “interesses mútuos e respeito mútuo,” baseado na crença que uma relação forte com o Brasil promove ambos os interesses brasileiros e americanos. No entanto, as práticas dos Estados Unidos e do Brasil nem sempre acompanharam essa retórica. Em uma relação que é mais frequentemente caracterizada pela distância do que por amizade próxima, colaboração substantiva tem sido superficial e propensa a mal entendidos.

Introdução

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9Introdução

Valendo-se dos alicerces estabelecidos pelos governos Clinton e Bush, os Estados Unidos estão agora formando as bases para um rela-cionamento bilateral com o Brasil. Brasil e Estados Unidos trabalham juntos em um número de questões distintas, como cooperação de bio-combustíveis, defesa, missões de paz, não-proliferação, entre outros.2 Os presidentes Obama e Dilma recentemente definiram uma agenda em expansão que inclui aviação civil, espaço, inovação, ciência e tec-nologia e educação. Oficiais de alto-escalão dos dois países ocasional-mente mantêm canais de comunicação sobre questões importante de segurança internacional. Ainda, por motivos variados, incluindo prioridades concorrentes e política doméstica em cada um dos países, nenhum dos governos ainda foi capaz de tecer os fios díspares de seus empreendimentos comuns em um tecido de projeto estratégico coeso.

A Força-Tarefa encoraja formuladores de políticas brasileiros a recorrer às conclusões e recomendações desse relatório para informar suas próprias decisões com relações aos Estados Unidos. A nova pre-sidência no Brasil oferece uma oportunidade para redefinir a relação. A cúpula que se deu recentemente entre presidentes Obama e Dilma em março de 2011 ressaltou o desejo de ambos os países de melhorar e aprofundar suas relações.

A Força-Tarefa acredita que é do interesse dos Estados Unidos com-preender o Brasil como um ator internacional complexo cuja influência nos assuntos globais mais importantes do dia só tende a crescer. Ade-mais, o sucesso da transformação pacífica do Brasil—um projeto que se estendeu por duas décadas que abraçou a democracia, mercados e políticas sociais robustas—também é do interesse americano. Apesar da crescente proeminência brasileira, a Força-Tarefa acredita que as complexidades e a importância do Brasil são insuficientemente com-preendidas e subestimadas em Washington.

BRASI L HOJE

O mundo assiste com grande interesse enquanto Dilma tenta construir em cima do legado do enormemente popular ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (Lula) enquanto traça seu próprio caminho. Dilma deteve duas posições de gabinete e serviu como Ministra da Casa Civil do Lula antes de ser escolhida pelo partido dominante como candidata. Filha de um imigrante búlgaro e uma professora escolar, Dilma foi presa e

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10 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

torturada pelo seu ativismo clandestino; ela é uma economista que nunca tinha concorrido em uma eleição. Ambiciosa, impulsionada por resultados e pragmática, Dilma agora se destaca como uma das mulhe-res mais poderosas e influentes do mundo.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o Lula presidiram ao longo de 16 anos de consolidação democrática e políticas econômicas sólidas. O Brasil estava bem posicionado para sobreviver a recessão mundial de 2008—tendo estabilizado sua moeda, combatido a inflação rampante, fortalecido seu sistema bancário e acumulado reservas de dólar—e emergiu em 2009 relativamente incólume.

Em uma quebra com o passado, as eleições presidenciais de 2010 e transição política recente não balançaram seu forte mercado de ações, títulos ou moeda, sinalizando a confiança internacional em sua estabi-lidade. Fluxos de investimento estrangeiro direto (IED) no Brasil per-manecem altos: dentre países fora da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil só perde para a China como destino de investimento estrangeiro. Apesar de pressões inflacio-nárias continuarem sendo um desafio sério, é esperado que a economia brasileira cresça 4 porcentoporcento esse ano, depois de um 2010 parti-cularmente forte (7,5 porcento de crescimento).

O país que Dilma herdou em 2011 é substancialmente diferente do que o que Lula herdou em 2003, assim como o ambiente internacional o é. Nos primeiros estágios de sua presidência, Dilma salientou a neces-sidade da agenda doméstica brasileira guiar e ser servida pelo engaja-mento internacional do país. Nessa linha, as prioridades de política externa do Brasil sob sua liderança devem enfatizar a integração com a América do Sul, estabelecendo laços mais profundos e investimentos com a África, gerenciando uma relação complexa com a China, melho-rando as relações com os Estados Unidos e fortalecendo a influência brasileira na reestruturação das instituições multilaterais.

O Brasil é uma economia de mercado, apesar da participação esta-tal significativa nas políticas industriais continuar sendo uma caracte-rística do modelo econômico brasileiro. A propriedade e operação do governo brasileiro em grandes empreendimentos, seu papel como fonte primária de capital e financiamento de moeda local de longo-prazo, sua intervenção em decisões das companhias e seus altos níveis de gastos sociais são todos aspectos da agenda de desenvolvimento brasileira. Por exemplo, o governo Dilma encorajou as maiores empresas priva-das brasileiras, conhecidas como as campeãs nacionais, a reinvestirem

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11Introdução

domesticamente, mesmo às custas de valor para os acionistas. Além disso, empresas de peso (brasileiras e entidades estrangeiras) em seto-res estratégicos se beneficiam de crédito subsidiado do banco de desen-volvimento estatal (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES). Brasileiros em todo o espectro ideológico parecem aceitar e esperam que o governo tenha um papel significativo de investi-dor, provedor de bens sociais e motor de crescimento.

Além da criação de empregos gerada pelo forte crescimento eco-nômico, programas sociais em larga-escala dão conta de reduções significativas nos níveis de pobreza, desigualdade, desemprego e des-nutrição—problemas que assolaram o Brasil por décadas e que reque-rem atenção contínua. Em particular, os programas de bem-estar social instituídos federalmente, Fome Zero e Bolsa Família, e o aumento do salário mínimo são largamente responsáveis pelo progresso social significativo que o Brasil alcançou no curso da última década.3 Entre 2003 e 2009, a classe média-baixa, que agora conta com mais da metade da população total, cresceu em quase trinta milhões de pessoas. Essa classe consumidora crescente ajuda a alimentar uma economia relati-vamente diversificada, mesmo que ainda dependente de commodities.4

O território gigante e diversificado é rico em recursos naturais. Exportações de matéria-prima impulsionam a economia. O Brasil é o maior produtor de carne, cana de açúcar, e café e o segundo maior pro-dutor de soja. Sua força na agricultura é fortalecida por seus recursos hídricos e por conquistas tecnológicas em adaptar plantações—soja, por exemplo—a condições tropicais. Ademais, o Brasil é lar da sexta maior reserva de urânio comprovada, e suas reservas de ferro estão entre as cinco maiores do mundo.

Massivos depósitos de óleo, descobertos em 2006 na costa do Rio de Janeiro, devem posicionar o Brasil entre os dez maiores produtores de energia nessa década. O Brasil exportou cerca de 57 mil barris por dia de etanol de cana em 2009, rivalizando—e, por algumas estimativas, ultrapassando—os Estados Unidos como exportador.5 Recursos reno-váveis fornecem quase 50 porcento da matriz energética relativamente limpa do Brasil, com produtos à base de cana de açúcar por si só cor-respondendo a 19 porcento de todo o fornecimento. Hidroeletricidade também tem um papel importante, provendo aproximadamente 75 por-cento da eletricidade no Brasil. Água é uma fonte de energia renovável e, dada a escassez global eminente de água, um trunfo importante (espe-cialmente usada para apoiar a agricultura). O Brasil é lar de 18 porcento

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da água fresca disponível no mundo, sendo a maior parte derivada da Bacia Amazônica. A floresta amazônica é em si um recurso valioso, reciclando dióxido de carbono para produzir mais de 20 porcento do oxigênio do mundo.

Apesar das conquistas domésticas significativas de inclusão social, crescimento estável, estabilidade política e uso de seus recursos natu-rais, desafios enormes são iminentes. De fato, alguns dos maiores desa-fios podem ser resultado dos trunfos e realizações do Brasil. O Brasil deve ser capaz de extrair suas reservas de óleo de forma sustentável e navegar as exigências políticas e sociais de distribuir os benefícios da riqueza advinda do óleo, um processo propenso a politização.

Apesar de investimentos na educação, inovação e pesquisa e desen-volvimento estarem crescendo, o Brasil ainda não tem trabalhadores e profissionais qualificados suficiente, embora Lula tenha criado mais universidades e escolas técnicas que qualquer outro presidente antes dele. Um foco duradouro no ensino superior fortaleceu as universida-des brasileiras, mas a qualidade da educação pública nos níveis médio e fundamental continua pobre. Além dos esforços governamentais, a sociedade civil abastada—incluindo uma mídia ativa, uma extensa rede de organizações da sociedade civil sobre trabalho, meio-ambiente, direitos humanos e religiosas, e um setor privado crescentemente ciente das implicações sociais e ambientais de seus empreendimentos- reco-nhece e trabalha para solucionar esses desafios.

O Brasil permanece sendo o décimo país mais desigual do mundo, e mais de um dentre quatro brasileiros ainda vivem abaixo da linha da pobreza. Nas favelas do Brasil, gangues armadas do tráfico e do crime presidem economias informais e provocam perdas humanas e financei-ras. Espera-se que a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016 atraiam investimentos significativos, além de milhões de visitantes. Mas os eventos posam desafios de infraestrutura massiva, segurança e de saúde pública, e as construções para os jogos já estão atrasadas de acordo com o cronograma. Infraestrutura subdesenvolvida perma-nece sendo um grande problema no vasto território do Brasil rural, o qual não participa ativamente da economia global e raramente sente o alcance do governo. Apesar de esforços intensificados para monitorar a região, as porosas fronteiras de nove mil milhas permanecem vulnerá-veis ao comércio ilícito e redes transnacionais de crime.

A relação do Brasil com seus dez países vizinhos é apenas um dos aspectos complexos da agenda internacional gigante e ampla da

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13Introdução

América do Sul. As conquistas econômicas e domésticas do Brasil, com respeito a saúde pública, fome, pobreza, desigualdade, energia limpa e leis ambientais, constituem a base pra um papel brasileiro mais robusto dentro da ONU, da Organização Mundial da Saúde (OMS), do G-20, do Banco Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI) e negociações sobre mudanças climáticas. Nas últimas duas décadas, mudanças em políticas em inúmeras dessas organizações suavizaram o caminho para um maior papel brasileiro dentro delas. Os programas sociais brasileiros serviram de modelo para outros projetos similares ao redor do mundo.

Esse relatório não tenta explicar, nem poderia fazer justiça a, todos os aspectos do perfil doméstico e internacional do Brasil. O relatório, ao invés, foca em quatro itens distintos e relacionados que a Força-Tarefa acredita que irão, em larga medida, determinar a agenda internacional e bilateral no médio e longo prazo: a economia brasileira, incluindo seus motores e obstáculos; o perfil energético e de mudanças climáticas bra-sileiro; o histórico, as prioridades e ambições brasileiras como diplo-mata global e regional; e a relação do Brasil com os Estados Unidos.

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O crescimento econômico brasileiro torna possível alguns feitos a nível doméstico e muito da sua agenda internacional. O estável crescimento brasileiro impulsiona o gigante sul-americano para o imaginário global, inicialmente entre os investidores que procuram um mercado emer-gente. Para os brasileiros, a mistura bem-sucedida entre capitalismo e democracia social agora justificam a promoção dos ideais e interesses econômicos no Brasil no estrangeiro. Da mesma forma, o Brasil ala-vancou a boa-fé de sua economia doméstica em poder internacional, comercial e diplomático, que exerce em várias regiões do globo.

A MACROECONOM IA DO BRASI L DE HOJE

Políticas macro sensíveis, acesso melhorado aos fluxos de capital, uma transição de uma economia importadora para uma economia exportadora e um longo período de preços de commodities favoráveis e condições fáceis de financiamento contribuíram para uma profunda transformação econômica e social nos últimos anos. O PIB per capita do Brasil é agora duas vezes mais alto que era a dois anos atrás e a taxa de pobreza foi reduzida quase pela metade.

A Presidente Dilma assumiu funções sobre um crescimento econô-mico de 7,5 porcento em 2010, com expectativas de uma expansão de 4 a 5 porcento em 2011. A forte performance econômica em 2010 teve por base a robusta demanda doméstica, alimentada pelo crescimento rápido do crédito e políticas monetária e fiscal expansivas. A taxa de desemprego é a mais baixa nos últimos oito anos, e os salários reais cres-ceram significativamente. Assim, ainda que o Brasil vá enfrentar desa-fios no curto prazo—em sua maioria associado com uma economia que cresce rapidamente—os prospectos de longo-prazo do país são positi-vos, se a abundância for bem gerenciada.

A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

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15A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

No entanto, a história econômica não é despida de preocupações. No momento em que este relatório foi escrito, pressões inflacionárias cresceram notavelmente, e em alguns dos maiores setores da economia brasileira, há preocupação de que um sobreaquecimento esteja ocor-rendo. As pressões do sobreaquecimento estão manifestando-se não somente através do aumento da inflação mas também através de um crescentedéficit comercial em e um crescimento rápido do preço do crédito e dos ativos.

Também há preocupações que o Brasil agora esteja mais vulnerável ao balanço dos preços das commodities a nível global; o país é muito dependente da futura demanda asiática e portanto estaria muito vulne-rável a retrocessos na China e em seus vizinhos; a expansão acelerada do crédito, especialmente nos mercados imobiliário do Rio e São Paulo, assim como no preço dos ativos pode ter consequências preocupantes com características de “bolha”; e alguns dos mais importantes motores da expansão brasileira, como por exemplo a exploração das reservas de petróleo do Pré-sal, pode levar mais tempo do que o antecipado para atenderem às projeções.

A Presidente Dilma deixou claro que ela reconhece estes riscos, e seus nomeados para encabeçar o Ministério da Fazenda e o Banco Central tem um mandato forte para oferecer uma continuidade crí-tica e seguir os programas ortodoxos dos dois governos precedentes, respondendo a estas questões, das quais a ameaça inflacionária parece ser a mais urgente. De fato, uma das maiores fontes de consenso para políticas macroeconômicas no Brasil reside na memória coletiva da inflação rampante.

DE SAFIOS FU TUROS

O novo governo irá enfrentar uma série de desafios econômicos que irão demandar ajustes nas políticas. No curto prazo, o governo brasi-leiro deve continuar atento e firme em suas políticas para evitar o sobre-aquecimento e lidar com as consequências de uma grande entrada de capital e uma moeda em franca apreciação—o real valorizou-se cerca de 40 porcento contra o dólar nos últimos dois anos—enquanto ten-tando moldar as políticas para proteger e potencializar os ganhos eco-nômicos e sociais da década passada.

Juntamente com outros países emergentes, o Brasil expressou sua

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preocupação com a decisão do Federal Reserve dos EUA de injetar US$600 bilhões num esforço para estimular a economia americana (o chamado QE2), algo que—os brasileiros temiam—viria a levar ainda mais dinheiro à países com altas taxas de juros, uma vez que os investi-dores iriam buscar um retorno maior de seus recursos. A resposta nega-tiva brasileira foi em parte por conta de uma frustração com a falta de diálogo com os Estados Unidos em questões monetárias, mas também foi planejada para simultaneamente balancear as criticas à China. Entre os instrumentos utilizados em resposta, o Brasil aumentou seus impos-tos sobre as operações financeiras, o IOF, em compras de títulos nacio-nais com capital estrangeiro.

O Brasil se destaca na região por um nível relativamente alto de dívida pública, altos níveis de receita pública e baixo investimento público. Entre 2005 e 2008, por exemplo, o setor público brasileiro investiu, em termos do seu PIB, metade do que Argentina, Chile, Colômbia, México, Peru e Uruguai investiram. Melhorias nesta área não serão fáceis e requererão mudanças fundamentais nas estratégias fiscais. A baixa qualidade das infraestruturas físicas, por exemplo, refletem este baixo nível de investimento público. Para preparar-se para a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas em 2016, o Brasil precisa iniciar um programa de alta-prioridade para melhorar a infraestrutura. Reformas no setor trabalhista, nas pensões e na segurança social—questões que precisam ser abordadas pelo governo Dilma—iriam trazer grandes melhoras nas contas públicas e proveriam mais flexibilidade para outras prioridades para os fundos.

Conduzir negócios e formar pequenas e médias empresas no Brasil ainda continua a ser um desafio, considerando a complexidade do sis-tema fiscal, altas taxas sobre o trabalho e sobre as corporações, e o processo lento de apreciação judicial dos contratos—questões que o próprio governo brasileiro reconhece como obstáculos. Os regimes complexos protecionistas de impostos e regulação dificultam o inves-timento estrangeiro e desaceleram as condições para um crescimento mais equânime e robusto. Assim como nos Estados Unidos, lidar com estes desafios estruturais no Brasil é difícil devido às políticas domés-ticas nos níveis federal, estadual e municipal. A política comercial também testará o governo Dilma. O Brasil está nos estágios iniciais de desenvolvimento, entre suas pequenas e médias empresas, da faci-lidade e inclinação para ver o investimento estrangeiro como condutor do crescimento e do desenvolvimento.

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17A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

ConclusõesA Força-Tarefa nota que, neste contexto, a atenção imediata aos riscos de inflação e ao sobreaquecimento de maneira mais geral deve ser dada. Em 2010, a inflação alcança 5,8 porcento, muito acima do alvo de 4,5 porcento. De qualquer forma, a Força-Tarefa percebe que o governo Dilma—que perseguiu uma rodada de cortes orçamentários, aumentou as taxas de juros e tomou medidas para regular o crédito ao consumidor—reagiu prudentemente, ainda que uma maior atenção às preocupações e uma maior vontade de reconhecer estas ameaças mais cedo fosse necessária. Esta também é uma área, considerando a impor-tância econômica global do Brasil, em que é do interesse dos Estados Unidos e outras potências do G20 trabalhar conjuntamente com o Brasil para evitar problemas que possam produzir contágio regional e global significativo.

A RELAÇÃO COMERCIAL E DE I NVEST I MEN TOS COM A CH I NA: R ISCOS E RECOMPENSAS

As relações econômicas do Brasil com a China são ao mesmo tempo mutuamente benéficas, competitivas e um verdadeiro desafio à diversi-ficação da economia brasileira. Comércio e investimento foram o foco da visita de Dilma a China em abril de 2011, a primeira grande viagem de sua presidência. O Brasil teve ganhos consideráveis das suas relações comerciais e de investimentos com a China na última década. Os preços das commodities alcançaram níveis recorde, causados especialmente pelo impressionante crescimento da economia chinesa e sua demanda por recursos naturais. Na primeira metade de 2010, a China tornou-se o principal comprador das exportações brasileiras, na frente dos Esta-dos Unidos, e a segunda fonte de importações do Brasil, só atrás dos Estados Unidos.

Este crescimento no fluxo comercial, no entanto, iniciou um relacio-namento desequilibrado, gerando uma preocupação crescente entre os decisores brasileiros e o setor privado acerca da desindustrializa-ção. Até o primeiro trimestre de 2010, aproximadamente 79 porcento das exportações brasileiras para a China consistiam de bens básicos e matérias-primas (soja, minério de ferro e petróleo), enquanto mais de 90 porcento das importações da China eram bens de capital ou manu-faturas. Em 2009, a parcela que o setor industrial representava no PIB

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18 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

brasileiro caiu para 15,5 porcento, a mais baixa desde 1947. Muitas pes-soas no Brasil estão preocupadas que as condições monetárias mais flexíveis nos Estados Unidos e algumas operações de intervenção estrangeira para balancear o câmbio na China, fizeram com que o real aumentasse de preço em relação ao dólar e ao yuan, e as importações baratas chinesas causassem dano à base manufatureira do Brasil.

Como parte de uma estratégia chinesa para garantir seu acesso a recursos naturais no mundo em desenvolvimento, a China passou a ser o investidor mais importante no Brasil em 2010, com estimati-vas de US$12 a 20 bilhões investidos primariamente nos setores do aço, petróleo, mineração, transportes e energia. A vindoura Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, assim como a necessidade de explorar as recém encontradas reservas offshore de petróleo estão chamando cada vez mais investimentos para o Brasil, particularmente nos pro-jetos de infraestruturas. No Brasil, há uma crescente preocupação sobre até que ponto a China irá obedecer as regras de mercado, em particular no tocante ao setor imobiliário e os direitos de propriedade intelectual.

Os investimentos do Brasil na China são muito mais modestos, mas ainda assim relevantes, com empresas brasileiras instalando-se na China tendo como alvo consumidores chineses, e para usar o país como plataforma de exportação para outras regiões, inclusive para o próprio Brasil. Ainda, algumas das grandes empresas brasileiras—financiadas por empréstimos governamentais de baixos juros—não conseguem competir com as ainda mais pesadamente subsidiadas companhias chi-nesas. Por exemplo, a fabricante brasileira de aviões Embraer, que tem uma fábrica na China, compete com um fabricante regional que fabrica um avião muito semelhante ao modelo brasileiro.

O governo Dilma identificou em sua relação com a China um de seus maiores desafios estratégicos. Enquanto as assimetrias entre Brasil e China continuarem, acordos comerciais com outras grandes econo-mias—notavelmente a União Europeia (discussões já em curso) e os Estados Unidos—vão ser mais atrativos para o Brasil. Em seus primei-ros meses na presidência, Dilma moderou a abordagem crítica de Lula às políticas monetárias norte-americanas e a Força-Tarefa espera que Dilma procure laços mais estreitos com os Estados Unidos para contrabalan-cear a China. O Secretário do Tesouro Americano, Timothy F. Geithner, visitou São Paulo e Brasília antes da reunião de ministros das finanças do

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19A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

G20 em fevereiro de 2011, enfatizando o impacto da política monetária da China em ambas as economias, durante sua estada no Brasil.

Conclusões e RecomendaçõesChina e Brasil estão auxiliando-se no crescimento mútuo, atendendo às necessidades de um ao outro e fortalecendo suas posições inter-nacionalmente. A parceria Brasil-China deverá ver um crescimento significativo nos anos que se seguem e, como é o caso normalmente, a Força-Tarefa espera um aprofundamento e extensão dos laços eco-nômicos para criar um incentivo para maior cooperação política e diplomática. A Força-Tarefa reconhece que a importância crescente da relação com a China acresce na capacidade e inclinação brasileira para agir independentemente dos Estados Unidos e de seus outros vizinhos no hemisfério.

Tanto o Brasil quando os Estados Unidos tem um interesse em mitigar a volatilidade das economias emergentes. A Força-Tarefa reco-nhece a preocupação forçosamente exposta de que o segundo quanti-tative easing (compra de títulos ativos por parte do Banco Central) dos EUA e a desvalorização artificial do yuan por parte da China, atraem hot money (investimentos de curtíssimo prazo) para o Brasil elevando o valor do real e acrescentando pressões de superaquecimento, no for-mato de uma inflação aumentada, um crescente déficit comercial e um rápido crescimento do crédito e do preço dos ativos. Com a lenta recu-peração dos EUA, interesses americanos são, pelo menos agora, diver-gentes em alguns níveis, e o Brasil e os EUA dificilmente conseguirão coordenar suas políticas monetária consistentemente, porque ambos os países são sensíveis a suas circunstâncias e eleitorados domésticos. De qualquer forma, a Força-Tarefa descobriu que a escalada das críticas brasileiras da política monetária chinesa ilustra um alinhamento entre as preocupações brasileiras e norte-americanas, e portanto proveem uma oportunidade para uma maior coordenação e cooperação entre o Brasil e os Estados Unidos no futuro.

A Força-Tarefa encoraja ambos os governos a manter e expandir seus canais de comunicação sobre política monetária, especialmente no que diz respeito à China, para reforçar a importância da mensagem que uma moeda chinesa flutuante seria benéfica para a economia global. O Brasil e os Estados Unidos deveriam abordar a China cuidadosamente, balanceando relações que são complementárias e competitivas. A

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20 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

Força-Tarefa sugere que o Brasil e os Estados Unidos concordem sobre uma linguagem comum que descreva o desafio da moeda chinesa subva-lorizada, para sublinhar suas preocupações comuns.

AT I VOS DOMÉ ST ICOS

Por gerações, uma economia abundante e variada em recursos prome-teu trazer prosperidade ao Brasil. Em 1970, o Brasil parecia destinado a irromper no rol das nações mais ricas do mundo. Mas em 1982, o então chamado “milagre econômico” murchou com o início da crise da dívida latino-americana. Agora, porém, a expertise brasileira na agricultura tropical e sua crescente produção de recursos minerais coincidiu com o crescimento global dos preços e da demanda por commodities.

O Brasil está novamente bem posicionado para fazer uso produ-tivo de seus recursos naturais. A renda e os empregos gerados por estes recursos irão provavelmente continuar a expandir a classe média e sustentar o crescimento doméstico, ajudando a economia brasileira a passar de oitava maior para a quinta maior economia do mundo em 2016. Na próxima década, o desenvolvimento doméstico do Brasil, se apoiará em quatro pilares de crescimento: agricultura, mineração e metalurgia, uma classe média crescente e produção de energia.6

AgriculturA

O Brasil usa sua força e seus conhecimentos no setor de agricultura para garantir a segurança alimentar tanto em casa e fora dela. O Brasil é quarto maior produtor mundial de alimentos; o líder mundial em pro-dutos como soja, cana-de-açúcar, café e carne de vaca; e um dos maiores produtores de itens como tabaco, algodão, suco de laranja e caju. Como um país com pouco menos de 200 milhões de pessoas, o Brasil produz comida suficiente para garantir os requisitos mínimos de calorias para cerca de 250 milhões. Ainda que dez milhões de brasileiros ainda não tenham segurança alimentar garantida, esta margem é 75 porcento menor que na década passada e muito crédito é devido ao programa Fome Zero e ao forte crescimento econômico. Muito crédito também vai para os avanços do Brasil em tecnologia agrícola.

As inovações agrícolas brasileiras fizeram da agricultura mais efi-ciente e expandiram a atividade para partes do país onde as plantações

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21A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

não cresciam há cerca de uma década, transformando o Brasil em uma potência agrícola de escala industrial. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem trabalhado desde sua criação, em 1973, para desenvolver novas terras agricultáveis e modificou várias semen-tes para crescerem nestes ambientes.7 A agricultura agora corresponde a cerca de um quarto do PIB nacional e 40 porcento das receitas de exportação. De acordo com algumas estimativas, os pastos cobrem cerca de 25 porcento do país e 150 milhões de acres de terra cultivável continuam não cultivados.

Dentro do quadro dos BRICS, o Brasil passou a ser um ator prin-cipal no esforço internacional de mitigar problemas na produção de alimentos e de fome, em que incluiu o comprometimento para desen-volver uma estratégia conjunta para assegurar o acesso a alimentos para populações vulneráveis. A cooperação é mais forte na África. Embrapa África, em conjunto com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), tem funcionários estacionado em Gana, Moçambique, Senegal e Mali, com o objetivo de coordenar programas de segurança alimentar, que geram uma boa imagem para o Brasil e uma oportunidade para coo-peração com os Estados Unidos. Algumas iniciativas em curso, da América Latina ao Oriente Médio e até na Oceania, apontam para as ambições globais do Brasil.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa vê que a capacidade de inovação tecnológica do Brasil no setor agrícola permitiu que o país capitalizasse seus recursos natu-rais e as condições da economia global para criar seu lugar na cena internacional. Ainda mais importante, considerando o bilhão de pes-soas subnutridas no mundo, a crescente contribuição brasileira para os estoques globais de alimentação fazem do país uma parte fundamental de qualquer iniciativa de segurança alimentar.

O Brasil e os Estados Unidos estão entre os maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo. As tecnologias agrícolas desen-volvidas por companhias norte-americanas já estão em uso no Brasil, aumentando a produtividade da terra, e as barreiras para uma maior expansão (considerando as que ainda existem) são objeto de discussões bilaterais entre os governos. A Força-Tarefa encoraja o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) a aumentar sua capacidade de coo-peração sobre inovação e utilização de novas tecnologias, bem como do desenvolvimento de padrões. O USDA deve auxiliar os cientistas

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22 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

norte-americanos com fundos para que estes trabalhem com seus cole-gas na Embrapa. Adicionalmente, a Força-Tarefa recomenda que o USDA consulte com a Embrapa sobre o desenvolvimento de organis-mos geneticamente modificados (OGMs) para garantir que os produ-tos norte-americanos correspondem aos padrões brasileiros.

MinerAção e MetAlurgiA

A extração mineral provê ao Brasil o material necessário para resol-ver o déficit de infraestruturas do país, e também serve como a maior fonte de receita nacional. O país produz e exporta quantidades signi-ficativas de níquel, cobre, bauxita, minério de ferro e outros elemen-tos de ligas comuns como o aço. De fato, o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de bauxita (usado no método mais custo-benefício de produzir alumínio) e o nono maior produtor de aço. O país está aumentando sua produção de aço com investimentos de companhias chinesas e norte-americanas e impulsionando suas exportações com novas fábricas e portos. Assim como na agricultura, os recursos mine-rais do Brasil são uma commodity valiosa que faz do país um parceiro comercial vital para qualquer membro da comunidade internacional, especialmente aqueles destinados a ter um crescimento dependente de infraestrutura.

clAsse MédiA crescente e deMAnsA doMésticA

Talvez o maior componente do crescimento econômico do Brasil em casa seja sua classe média em expansão. O Bolsa Família e o Fome Zero subsidiaram empréstimos para moradia e um aumento no salário mínimo (que teve um crescimento real de 62 porcento durante os anos Lula) retiraram cerca de 30 milhões de pessoas da pobreza nos últimos oito anos. Ainda que mais de dez milhões de brasileiros (5,21 porcento da população) vivam com menos de US$1,25 por dia e o Brasil ainda continue a ser o terceiro país mais desigual da América Latina, o Coefi-ciente de Gini do Brasil diminuiu de 0,61 para 0,54 desde 2001.

O maior e mais acelerado crescimento de rendimentos está ocor-rendo entre os brasileiros da classe C, a classe média brasileira.8 Em 2009, 61,1 porcento de todos os brasileiros eram membros das classes A, B ou C, uma alta dos 37,9 porcento em 2003. O poder de compra

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23A Economia Brasileira: Motores e Obstáculos

agregado da classe C é responsável por entre 31 e 46 porcentoda eco-nomia brasileira. Os consumidores da classe C formam o maior grupo econômico do Brasil.9 Em um contraste marcante com a China, o Brasil tem visto os baixos salários crescerem numa margem muito mais acele-rada que os altos salários na última década, o que atesta uma redução na desigualdade de renda.

Como as classes médias cresceram em tamanho e prosperidade, seus hábitos de compras também mudaram. De acordo com o Censo Brasil 2010, 69 porcento da classe média brasileira tem casa própria, mais de 20 porcento tem carro, 89 porcento tem telefone celular, 50 porcento tem computador (dos quais 30 porcento tem acesso a internet banda larga); e todos tem televisões. A base manufatureira brasileira vende bastante para este mercado interno (de fato, o Ministério do Desen-volvimento, Indústria e Comércio Exterior encoraja as empresas bra-sileiras a exportarem mais), mas alguns produtos brasileiros tem sido vencidos por produtos chineses na competição de preços.

A expansão do crédito marca o crescente poder de compra dos bra-sileiros. Ainda que a parcela do crédito doméstico no Brasil pareça pequena (cerca de 46 porcento do PIB, comparada com 80 porcento no Chile) considerando seu nível de renda, os usuários do crédito no Brasil pagam uma taxa de juros relativamente alta, de 20 a 25 porcento. Como os novos consumidores endividam-se rapidamente, as autorida-des monetárias do governo Dilma estão muito preocupadas com o risco de uma alavancagem excessiva e estão tomando medidas para restringir o crédito.

ConclusõesO Brasil criou deliberadamente um vasto ambiente em que a mobili-dade social está ao alcance de uma grande maioria da população. O mer-cado doméstico no Brasil é um agente crucial da economia e irá atrair um número crescente de parceiros internacionais, na região e fora dela, que esperam ganhar maior acesso aos consumidores brasileiros. À luz das contribuições da crise da bolha imobiliária para a crise financeira norte-americana, a Força-Tarefa acredita que garantir o conhecimento na área das finanças e do desenvolvimento de veículos para a poupança entre os novos consumidores no Brasil será crítico para prevenir um estiramento financeiro com possíveis danos para os prospectos de cres-cimento do Brasil.

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EMPECI LHOS DOMÉ ST ICOS

Os sucessos brasileiros em corresponder a desafios já antigos, como a pobreza e a desigualdade, são inegáveis. Ao mesmo tempo, a classe média brasileira em expansão, as substanciais reservas petrolíferas encontradas em águas profundas, e os vindouros eventos esportivos internacionais de grande porte elevam as expectativas e criam novos desafios para o Brasil. Suas maiores empreitadas para a próxima década são as de absorver e construir suas realizações e reduzir os déficits sociais ainda existentes. Como o Brasil agirá frente à estas questões irá influenciar significativamente seu crescimento econômico e afetar a maneira como o Brasil se projeta internacionalmente.

A capacidade brasileira de competir no cenário internacional, no longo prazo, com China e Índia, depende muito de uma melhora na infraestrutura, na qualidade da educação básica, em aumentar o número de profissionais qualificados para as crescentes indústrias brasileiras, e finalmente em criar uma série de condições socialmente e ambiental-mente sustentáveis em que a inovação e os pequenos negócios possam crescer. Se não conseguir lidar com estes desafios, o Brasil estará arris-cando ficar para trás.

O que está em jogo para o Brasil é muito significativo: as expectativas populares de uma trajetória progressiva e positiva põe muita pressão nos líderes democraticamente eleitos no país. À luz de sua experiência com hiperinflação, desigualdade, pobreza e exclusão social, a incapaci-dade de atender às expectativas pode ter implicações profundamente negativas para a saúde da democracia e do contrato social.

infrAestruturA

O Brasil ainda precisa de um investimento maciço em infraestruturas básicas de todos os tipos, para atender as necessidades correntes e as que serão fruto do seu crescimento acelerado. 43 porcento dos lares brasileiros—cerca de 25 milhões de famílias—vivem em moradias inadequadas, sem acesso consistente à água tratada, esgoto e coleta de lixo. Pelos já datados portos brasileiros passam 95 porcento das exportações nacionais, mas ainda assim o Brasil está na posição 123 de 139 países avaliados no mais recente relatório de competitividade global do Fórum Econômico Mundial. A falta de um sistema ferrovi-ário nacional integrado força a maioria dos produtores no interior a

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enviarem sua produção para os portos com o uso de caminhões, mas só 10 porcento das estradas nacionais—cerca de 200 mil quilômetros cruzando um país de mais de 7,7 milhões de quilômetros quadrados—é pavimentada.

Os aeroportos também estão sobrecarregados, com sete dos maio-res vinte aeroportos do país em estado de congestão frequente. O aeroporto internacional de São Paulo é considerado o terceiro pior do mundo em termos de atrasos. As telecomunicações receberam investi-mentos significativos após a privatização há uma década, permitindo que o uso de telefones celulares crescesse para quase 800 linhas por cada 1000 pessoas em 2008, um salto, especialmente se considerarmos que as linhas terrestres de telefone existem na proporção de 300 para cada 1000 pessoas no mesmo ano.

Dilma foi a arquiteta do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC, implementado de 2007 a 2010), totalizando R$642 bilhões, e seu sucessor, o PAC II (cobrindo 2011 até 2014), de quase R$1 trilhão, que pretende resolver estas lacunas na infraestrutura. Um acréscimo na capacidade de geração de energia elétrica corresponde a metade do orçamento proposto para o PAC II, 40 porcento para habitação e trans-porte e os 10 porcento finais para água, esgoto e infraestrutura urbana. Se completamente implementado, o PAC II iria muito além de impul-sionar o investimento brasileiro em infraestruturas, sobrepondo seu histórico de 2 porcento do PIB para 4 a 5 porcento, como muitos ana-listas acreditam que seja necessário para manter o rápido crescimento econômico. O nordeste brasileiro, que recebe investimento significativo do governo brasileiro em infraestruturas (por exemplo, o complexo do porto de Suape, perto de Recife), é a região do Brasil que cresce mais rapidamente, expandindo cerca de dois pontos percentuais mais rápido que o resto do país.

A implementação completa não está assegurada, todavia. O PAC original sofreu de atrasos na sua implementação, e, só 40 porcento dos fundos selecionados foram gastos até o fim de 2009, ainda que os estímulos de um ano eleitoral apressaram os gastos com o PAC para 74 porcento do total proposto. Grandes projetos relacionados a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, tais como uma linha ferroviária de alta velocidade entre São Paulo e o Rio de Janeiro, estão bastante atrasados. O custo do projeto e suas restrições, em termos da disponibilidade de trabalho e de fundos do BNDES devem aumentar a medida em que as datas críticas se aproximam.

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A politização dos grandes projetos e a falta de financiamentos ade-quados fora do BNDES (os bancos comerciais não conseguem fornecer recursos ao volume, taxa de juros e teor necessários) limitam o numero de iniciativas simultâneas que podem ser realizadas e já atrasam o desenrolar dos projetos logo após sua aprovação. De fato, uma avalia-ção de fevereiro de 2011, pelo próprio BNDES, sobre o investimento de curto prazo em infraestruturas identificou apenas R$380 bilhões em projetos de geração de eletricidade, telecomunicações, saneamento e transporte entre 2011 e 2014.

Conclusões e RecomendaçõesComo o anfitrião tanto da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpi-cos de 2016, o Brasil tem uma oportunidade única de alavancar, através destes eventos, a infraestrutura urbana para o topo de sua agenda nacio-nal, de modo a apoiar um forte crescimento econômico e promover o desenvolvimento sustentável. O Rio de Janeiro, em particular, oferece uma oportunidade de antecipar necessidades antigas de crítica infra-estrutura urbana, em uma megacidade em franco desenvolvimento, alavancando investimentos para estabelecer um exemplo em termos de economia verde e cidades inteligentes do futuro, inclusive para os Esta-dos Unidos. De qualquer maneira, será importante que estes investi-mentos sejam realizados sem acrescer às pressões de superaquecimento.

As indústrias norte-americana e brasileira, trabalhando em conjunto com agências federais e locais dos governos, estariam bem posicionadas para prover soluções inovadoras para os desafios de investimento em infraestrutura de uma cidade grande. A Força-Tarefa aprecia o desen-volvimento da Iniciativa Conjunta EUA-Brasil para a Sustentabilidade Urbana (JIUS), como pensada pela Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) e formalmente iniciada durante a visita de Obama ao Brasil em Março de 2011.

A Força-Tarefa encoraja o apoio entre agências e o progresso no JIUS, que trabalha para identificar e apoiar infraestrutura em setores especí-ficos através de investimentos em projetos de transporte, qualidade do ar, água e esgotos, energia, detritos e reabilitação de terras. O JIUS vai alavancar os investimentos planejados e focará no crescimento verde e sustentável como uma forma de garantir que a infraestrutura brasileira para os grande eventos mundiais seja verde, inteligente e energetica-mente eficiente.

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educAção

O acesso à educação pública nos níveis primário e secundário frus-tou o Brasil durante quase toda sua história. O programa de assistên-cia social Bolsa Família conseguiu atingir taxas de inscrição recordes para o ensino primário e secundário. Mas aos 12 anos, os estudantes brasileiros, especialmente mulheres, começam a deixar a escola. Esse índice acelera rapidamente aos 16 anos, a idade em que os adolescentes podem trabalhar legalmente. A qualidade da educação pública continua sendo baixa e muito variável conforme os estados, localização dentro de uma cidade e o status socioeconômico. De acordo com as avaliações da educação nacional brasileira, entre 1995 e 2007, nenhuma melhora significativa foi observada nos níveis de alfabetização para os estudan-tes brasileiros em termos das notas analisadas.

No mesmo período, o Brasil dedicou recursos significativos para a educação: transferências condicionais de dinheiro eram, pela primeira vez, ligadas a presença nas escolas em 2001 e os gastos com educa-ção aumentaram em 66 porcento entre 2000 e 2007, de acordo com a OCDE. O gasto público do Brasil com educação em termos da per-centagem do PIB (5,2 porcento) é comparável com o norte-americano (5,5 porcento) e maior que os de Rússia, Índia e China. Mesmo assim, o Brasil está muito abaixo destas economias emergentes nos indica-dores para matemática, ciências e leitura. De fato, entre os 139 países estudados pelo Fórum Econômico Mundial sobre sua competitividade, a qualidade geral do ensino primário no Brasil foi avaliada como ocu-pando a posição 127. O Brasil também deu este mesmo resultado num estudo transnacional da OCDE de dezembro de 2010, ainda que este tenha demonstrado uma melhora marginal na qualidade do ensino de matemática e ciência.10

Historicamente, o Brasil gastou mais pesadamente na educação superior. De qualquer forma, o número de escolas técnicas e vocacio-nais no Brasil fica muito aquém de satisfazer a demanda brasileira por trabalhadores qualificados.11 As escolas técnicas e vocacionais públi-cas, que cresceram no governo Lula, somam cerca de 30 porcento de todas as instituições superiores. As instituições terciárias brasileiras não treinam alunos suficientes para produzir produtos de alto valor-agregado. As companhias privadas geralmente tem que dar educação aos seus próprios empregados. Até 2007, cerca de 80 porcento (quatro

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em cada cinco) dos trabalhadores qualificados no Brasil passaram por um programa de treinamento dentro de suas empresas. Num país com uma necessidade de infraestruturas enorme, em 2008, só 6 porcento dos mestrados e doutorados conferidos foram em engenharias e arqui-tetura. Da mesma forma, só 13 porcento dos pós-graduados estavam um campo relacionado às ciências em 2010.

Os brasileiros normalmente reconhecem que talvez o maior desafio que lhes é colocado no momento é o de prover educação pública uni-versal e de qualidade nos níveis primário, secundário e vocacional. O governo brasileiro estabeleceu uma meta de obter educação no nível estabelecido pela OCDE até 2021. O Ministério da Educação brasileiro e uma coalizão público-privada está apoiando o projeto Educação para Todos da UNESCO, e comprometeu-se a gastar 7 porcento do PIB em educação em 2015. Conjuntamente a estes esforços, o movimento Todos pela Educação, financiado pelo setor privado, trabalha para juntar a sociedade civil, educadores, escolas e oficiais do governo para garantir educação básica de qualidade para a juventude brasileira até 2022.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa percebe que a capacidade brasileira de manter seu con-trato social no longo prazo, sustentar sua trajetória econômica e soli-dificar sua posição como um ator global depende no desenvolvimento de um sistema educacional melhorado e integrado nos níveis primário e secundário. Um sistema de educação melhorado não somente rete-ria os estudantes como também proveria educação de qualidade com acesso a oportunidades e postos de trabalho, bem como na educação terciária. Da mesma forma, o crescimento econômico contínuo do Brasil depende da capacidade do país de converter sua maciça classe consumidora em uma que também produz e que apoia a demanda por trabalho, além de gerar inovação. Isso, por sua vez, requer investimento mais eficiente em todos os níveis da educação pública e um foco na ciên-cia e na engenharia nas instituições de educação terciárias.

Como a preocupação sobre a qualidade da educação e reforma e crescente tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, a Força-Tarefa encoraja o Departamento de Educação dos EUA, e os profissionais norte-americanos a trabalharem com suas contrapartes brasileiras e o Ministério da Educação do Brasil para compartilhar lições aprendi-das e melhores práticas, incluindo o modelo de faculdade comunitária nos EUA. A Força-Tarefa recomenda um aumento na pesquisa e nas

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parcerias em intercâmbios entre universidades e instituições acadêmi-cas norte-americanas e brasileiras, particularmente nos campos rela-cionados à engenharias, matemática, ciências e relações internacionais.

A Força-Tarefa encoraja o Bureau de Assuntos Educacionais e Cul-turais do Departamento de Estado dos EUA a aumentar os recursos disponíveis (através de iniciativas como o Programa Fulbright) para que acadêmicos norte-americanos trabalhem e ensinem no Brasil e para que o mesmo aconteça com brasileiros nos EUA, o que requererá uma maior flexibilidade e rapidez na atribuição de vistos. A Força-Tarefa também recomenda que os Departamentos de Estado e de Defesa aumentem os recursos disponíveis para programas em língua portuguesa.

inovAção

Fomentar a inovação e o empreendimento está diretamente nas agen-das doméstica e internacional do governo brasileiro. De fato, o Ministé-rio da Ciência e Tecnologia reconheceu e começou a endereçar o déficit brasileiro em inovação. O governo brasileiro também reconheceu a importância da transferência de tecnologia do exterior como um motor de inovação doméstica e de crescimento. As tendências são positivas já que, nos últimos cinco anos, o governo brasileiro moveu-se em direção da comercialização da inovação, desviando-se do sistema de investi-mento estatal em ciência e tecnologia que caracterizou a era militar e que imperavam desde então. Por exemplo, o governo Dilma iniciou a privatização da indústria de aviação civil brasileira, tradicionalmente controlada pelos militares.

A pesquisa e o desenvolvimento (P&D) são subfinanciadas no Brasil em relação a outros países, e os recursos disponíveis não produzem resultados nas mesmas proporções que são vistas em outros lugares.12 Notavelmente, o Brasil e a Coreia do Sul tinham seu PIB similar a trinta anos atrás. Hoje, a Coreia do Sul é três vezes mais rica que o Brasil (em termos do poder de compra). A Coreia do Sul investe 3 porcento do seu PIB em inovação, enquanto no Brasil esse valor é de pouco mais de 1 porcento.

A vantagem comparativa, histórica e corrente, do Brasil em commo-dities tem distorcido a estrutura de incentivos à inovação. Em 2000, os bens manufaturados eram cerca de 60 porcento das exportações brasi-leiras e os bens primários eram pouco mais de 20 porcento. Em 2009, os bens primários superaram os manufaturados—uma virada que

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demonstra claramente a crescente desvantagem competitiva. O grande volume de demanda externa, da Índia e especialmente da China, por matérias primas como soja, minério de ferro e carne de vaca empurra-ram a ênfase crescente do Brasil em exportação de commodities.

A qualidade da educação cientifica e do know-how na academia bra-sileira é forte, mas a distância entre esta e o mercado é grande. Nas universidades, os acadêmicos de destaque tendem a ver uma falta de conexão entre a pesquisa acadêmica que conduzem e a aplicação comercial de seus resultados. A academia não é vista como um instru-mento de desenvolvimento econômico como em Boston ou São Fran-cisco, por exemplo.

O ambiente regulatório ineficiente e complexo do Brasil—juntamente com a má infraestrutura, educação inadequada, impostos altos e com-plexos e requerimentos rígidos para a empregabilidade—fazem com que seja custoso e difícil comercializar novas tecnologias e abrir negócios no Brasil. De acordo com o Banco Mundial, leva cerca de 120 dias para regis-trar uma empresa no Brasil, contra 22 no Chile e 6 nos EUA.

O tradicional envolvimento do Estado na indústria, desde o tempo da independência do Brasil, através das políticas de industrialização, e até agora, fez com que os brasileiros sempre procurassem o direciona-mento do Estado para saber o que e como produzir. A Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP, ligada ao Ministério da Ciência e Tecnolo-gia) dispõe de um orçamento anual de aproximadamente 2,5 bilhões de dólares para custear o desenvolvimento científico e tecnológico, con-templando desde pesquisa e desenvolvimento para grandes empresas, até sistemas locais de inovação. Atualmente, a FINEP disponibiliza financiamentos para três mil empresas no Brasil (nacionais e estran-geiras), sendo, a maioria delas, estreantes. Ainda, algumas companhias para-estatais têm se consolidado como fontes de inovação, demons-trando a capacidade do Brasil em tornar-se um inovador de renome mundial em certos setores da ciência e da tecnologia.

O Brasil aumentou sua produtividade agrícola através da Embrapa e construiu a segunda maior indústria de biocombustíveis do mundo, como resultado do Pró-álcool, o programa governamental de promoção do etanol combustível. A estatal Petrobras, da mesma maneira, emergiu na linha de frente da tecnologia de perfuração de poços de petróleo em grandes profundidades. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), uma instituição de saúde pública, e seus programas Farmanguinhos e Bio-Manguinhos em particular, são exemplos de categoria internacional

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da inovação no setor da saúde. Estes sucessos sugerem que as políticas industriais dirigidas pelo Estado podem render resultados em larga escala, ainda que alguns economistas estejam divididos sobre os benefí-cios de longo prazo deste tipo de políticas. Mesmo que ainda haja falta de uma cultura forte de inovação no setor privado, o empreendedo-rismo individual é comum—um em cada oito adultos forma sua própria empresa, um dos índices mais altos no mundo, ainda que muitos destes estejam fora da economia formal.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa observou que os baixos níveis de inovação no Brasil e a ausência de mecanismos necessários para promover a inovação refreiam o potencial do país no longo prazo.13 O legado do intervencionismo estatal na indústria será difícil de contornar, e efetivamente, muitos bra-sileiros preferem o status quo. Considerando que uma mudança drástica na cultura de inovação no Brasil é improvável no curto prazo, o governo brasileiro pode se empenhar em encorajar pequenas e médias empre-sas, começando por simplificar a burocracia e promover o setor privado na colaboração com as universidades.

A Força-Tarefa urge por uma ação do Congresso norte-americano para permitir uma maior transferência de tecnologia nas compras bra-sileiras de material militar fabricado nos EUA. Estas transferências iriam maximizar o comércio bilateral, a indústria norte-americana e a cooperação em assuntos de defesa, enquanto simultaneamente também apoiariam a agenda brasileira no campo da tecnologia e inovação.

O investimento brasileiro em pesquisas no campo da saúde tem pro-porcionado benefícios sensíveis e sucessos importantes no desenvolvi-mento de meios interventivos para doenças, inclusive para o HIV/AIDS e para as chamadas doenças negligenciadas que afetam principalmente países pobres ou em desenvolvimento (como a malária, tuberculose e lepra). A Força-Tarefa encoraja o Departamento de Saúde e Serviços Humanos e os Institutos Nacionais de Saúde dos EUA a criar e manter parcerias com suas contrapartes brasileiras, objetivando construir uma capacidade global de lidar com questões de saúde e colaborar em proje-tos de pesquisa científica que poderiam ajudar a gerar novas formas de diagnóstico, terapêutica e vacinas.

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Os perfis energético e ambiental brasileiros fazem do país um dos maio-res atores internacionais em dois dos mais centrais e intimamente liga-dos desafios globais: segurança energética e mudanças climáticas. Com cerca de 50 bilhões de barris de petróleo sob águas brasileiras, uma pro-dução anual de 167 milhões de barris de etanol combustível (e planos para aumentar esta produção para mais de 400 milhões de barris até 2019), usinas hidroelétricas que produzem por volta de 75 porcento da eletricidade nacional e a sexta maior reserva comprovada de urânio do mundo, o Brasil está destinado a se tornar um importante exportador de variados produtos energéticos.

Um impressionante boom petrolífero gerou um interesse internacio-nal significativo. A companhia brasileira Petrobras, em 2010, se capita-lizou em 70 bilhões de dólares, constituindo a maior oferta pública de ações a nível mundial. Os achados do Pré-sal (petróleo encontrado em rochas existentes sobre a profunda camada de sal na costa do Brasil) estão destinados a marcadamente influenciar a economia e política bra-sileiras, e, provavelmente, seu meio ambiente também.

A matriz energética brasileira está entre as menos intensivas em emissões considerando as maiores economias, e o Brasil se comprome-teu voluntariamente a reduzir sua pegada de carbono e o desfloresta-mento (ainda que este último ainda seja significativo). O caminho para uma economia com menor uso de carbono requer investimento signifi-cativo (em incentivos para prevenir o desflorestamento, por exemplo) que podem levar ao crescimento do PIB e à criação de empregos, ainda que o país reconheça uma continuada preocupação de que iniciativas de sustentabilidade poderiam atrasar o crescimento.14

O monitoramento e a aplicação da legislação que concerne ao clima e ao desflorestamento continuam sendo difíceis e imperfeitas. Todavia, questões relativas à energia e ao meio ambiente respondem à plata-forma mais substancial de projeção internacional do Brasil.

A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas

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33A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas

ENERGIA

A matriz energética brasileira é, dentre as principais economias, uma das menos intensivas em carbono porque a maior parte de sua ele-tricidade é produzida por hidro-motricidade e outros combustíveis renováveis; o etanol combustível extraído da cana-de-açúcar também corresponde a uma larga fatia dos combustíveis utilizados nos trans-portes.15 O Brasil está também desenvolvendo suas substanciais reser-vas de hidrocarbonetos e urânio.

A manutenção da posição energética brasileira com uma baixa inten-sidade de carbono será um desafio a concretizar. A contínua industria-lização e a crescente qualidade de vida estão criando um aumento de demanda por energia que parece ultrapassar a capacidade da infraes-trutura nacional. A resultante pressão sobre esta infraestrutura requer desenvolvimento continuado de todos os elos da cadeia produtiva do setor energético. Provavelmente, o maior desafio para o Brasil será atender a demanda crescente mantendo a participação das energias renováveis na matriz energética em 50 porcento, o valor atual.

Preocupações referentes ao trabalho e uso das terras, inclusive com impacto potencial na biodiversidade do Cerrado e da Amazônia, con-tinuam a contrapor-se ao crescimento da produção de etanol.16 Ao mesmo tempo, a produção de eletricidade está se diversificando para além da hidro-motricidade para as usinas movidas à gás natural, já que a maioria das possibilidades de construção de novas hidroelétricas de grande capacidade teriam que estar em áreas muito distantes dos centros de demanda, ou em locais sensíveis para o ambiente, como a Amazônia.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa concluí que o setor energético continuará a ser um com-ponente crítico nas agendas política e econômica do Brasil, movido pelo crescente consumo energético per capita, desenvolvimento de fontes domésticas de produção de energia e a necessidade de expandir a infra-estrutura do setor. O investimento do Brasil nesta indústria é um ótimo exemplo da complementariedade entre suas agendas interna e externa. Os Estados Unidos e o Brasil compartilham interesses na melhora da eficiência energética, redução do peso do carbono, a promoção dos bio-combustíveis, a expansão do uso do gás natural e o gerenciamento dos recursos costeiros de exploração e beneficiamento de petróleo.

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A Força-Tarefa aplaude a formação de um Diálogo Estratégico bilateral, anunciado por Obama e Dilma, objetivando responder a um largo espectro de questões relacionadas à energia, incluindo o desenvolvimento seguro e sustentável das atividades de exploração de petróleo em águas profundas no Brasil, assim como a cooperação em biocombustíveis e outros renováveis, eficiência energética e ener-gia nuclear com fins energéticos. Este diálogo pretende encorajar par-cerias no setor energético, a criação de empregos nos dois países, o aumento da segurança do suprimento de energia e atender aos desafios impostos pelas mudanças climáticas.17 A Força-Tarefa urge que os dois países garantam que essa iniciativa torne-se uma empreitada autossus-tentável, que una representantes dos governos, dos órgãos reguladores e do setor privado numa plataforma para a conversação, cooperação e colaboração, onde for apropriado.

os depósitos do pré-sAl

A abertura do setor de exploração de petróleo à competição de mer-cado em 1997 e a privatização parcial da Petrobras determinou uma era de rápido crescimento na produção de petróleo e investimentos na exploração. A privatização de várias companhias estatais de distribui-ção e geração de eletricidade no mesmo período também aceleraram o investimento em redes de distribuição e na capacidade de geração. A produção petrolífera brasileira mais que dobrou após a liberalização do mercado, alcançando 2,6 milhões de barris por dia em 2009, transfor-mando o Brasil de um importador de petróleo para um exportador do mesmo. A Petrobras continua a ser o ator dominante na indústria, mas é acrescido de mais de 40 companhias nacionais e estrangeiras que ativa-mente investem nos quase quinhentos blocos de exploração e produção já leiloados até o momento.

A descoberta da formação Pré-sal no campo de Tupi em 2006 abriu uma das fronteiras mais importantes em termos da exploração do petró-leo. De acordo com o órgão regulador do petróleo no Brasil, a Agência Nacional do Petróleo, as reservas do Pré-sal podem totalizar cerca de 50 a 80 bilhões de barris equivalentes de hidrocarbonetos exploráveis—potencialmente representando seis vezes as reservas atuais confirma-das do Brasil, hoje cotadas em pouco menos de 13 bilhões de barris.18 Se confirmadas, estas estimativas colocariam o país entre os detento-res das dez maiores reservas de petróleo do mundo, no espaço entre

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35A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas

Venezuela e Rússia. As reservas do Pré-sal têm potencial para fazer do Brasil um dos maiores exportadores de petróleo globalmente.19 O petróleo proveniente do Pré-sal deverá começar a fluir em volumes sig-nificativos nos próximos cinco a sete anos. De acordo com as previsões mais otimistas, o Brasil pode produzir até quatro milhões de barris de petróleo por dia em 2010, sendo um milhão exportados.20

O Brasil é um dos poucos países do hemisfério ocidental—o Canadá é outro—que irá obter crescimento na produção de petróleo na pró-xima década. Apesar das dificuldades de fazer negócio no Brasil, o setor petrolífero do país é um dos mais atrativos setores para investimentos externos. De fato, no fim de 2010, a Petrobras obteve 70 bilhões de dóla-res na maior oferta de ações do mundo. Entretanto, esta capitalização levantou preocupações com a politização da empresa, uma vez que o Governo aumentou ainda mais sua participação e minimizou as capaci-dades dos acionistas minoritários.

As reservas do Pré-sal são uma grande promessa, mas vários desa-fios intimidadores persistem. As características geofísicas do reserva-tório e sua posição sobre quilômetros de sal e água fazem com que a dificuldade técnica da exploração seja importante. Sua localização, a mais de trezentos quilômetros mar adentro—distância muito grande para ser coberta por um helicóptero sem o apoio de uma plataforma intermediária—e a relativamente grande parcela de dióxido de carbono associada com ao gás natural produzido aumentam a complexidade logística da operação. A legislação brasileira do petróleo sofreu uma revisão e designa a Petrobras como o operador em qualquer desenvol-vimento e impõe uma série de restrições locais. Isto deverá causar um estrangulamento na capacidade da Petrobras e do país em suprir o capi-tal requerido, as matérias primas, os equipamentos e o gerenciamento dos recursos humanos necessários.

Uma preocupação sobre o risco de operar muitos projetos simultâ-neos e a deterioração de seus investimentos levou a Petrobras a redu-zir suas atividades na América do Sul, privilegiando suas operações domésticas e novos projetos na África Ocidental, no Golfo do México e na Austrália, onde a expertise em extração em águas profundas garante sinergias e vantagens que asseguram a competitividade.

Finalmente, os políticos brasileiros continuam a debater sobre a melhor forma de dividir e gastar os recursos que os governos estão ante-cipando receber da exploração do Pré-sal. Notavelmente, 50 porcento dos recursos provenientes do petróleo do Pré-sal vão ser direcionados

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para estabelecer programas socioeconômicos do Estado. No passado, eram os estados que albergavam as reservas que recebiam o grosso dos recursos do petróleo. O novo regime em funcionamento para o Pré-sal propõe a divisão destes recursos entre todos os estados federados bra-sileiros, beneficiando o interior e os estados mais pobres no Nordeste em detrimento dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Os deta-lhes finais ainda aguardam resolução através da efetivação da legislação definitiva que constituirá o quadro legal que começou a ser discutido em 2010.

Conclusões e RecomendaçõesEnquanto o Brasil desenvolve sua reserva no Pré-sal e diversifica os rol dos exportadores globais de energia, a Força-Tarefa considera que um aumento da exportação brasileira é do interesse estratégico dos Esta-dos Unidos. Enquanto os EUA procuram diversificar seu suprimento energético, a importação crescente do Brasil poderia auxiliar a reverter a dependência de países menos estáveis. Ainda que os EUA não irão ter uma influência significativa no desenvolvimento do Pré-sal, o Ex-Im Bank, o Overseas Private Investment Corporation e a Agência Norte-Americana de Comércio e Desenvolvimento podem prover financia-mento para facilitar a participação de companhias norte-americanas.

A Força-Tarefa reconhece que a exploração de petróleo no Pré-sal vai ter um efeito dramático no país, enquanto este se reinventa como uma potencia energética e desenvolve um quadro de regulação e distribuição que corresponda às prioridades brasileiras.

Considerando o acidente e vazamento de 2010 em águas profundas no Golfo do México, a Força-Tarefa está consciente dos riscos da per-furação muito abaixo da linha d’água. O desenvolvimento deste recurso coloca desafios técnicos, logísticos, ambientais e políticos significativos, e o ritmo de crescimento de produção é incerto. A Força-Tarefa enco-raja o Governo dos EUA a compartilhar as lições aprendidas do desas-tre no poço envolvendo a plataforma BP Macondo e aprecia a série de workshops patrocinados pelo governo que foi formado no início de 2011 pelos Estados Unidos e pelo Brasil, com o objetivo de partilhar as melho-res práticas best practices na exploração segura de recursos marítimos. Os Estados Unidos pode aumentar esse mecanismo bilateral, visando lançar um esforço multilateral que inclua o setor privado e os governos de outros produtores de petróleo em águas profundas, como a Noruega, Austrália, Nigéria, Angola e outros produtores emergentes na África.

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37A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas

gás nAturAl

O consumo de gás natural, responsável por 9 porcento do uso energé-tico brasileiro, comparado com 24 porcentonos Estados Unidos, está crescendo rapidamente, impulsionado pela expansão na geração de energia em usinas termoelétricas a gás e no crescimento da demanda industrial. Dois terminais flutuantes de gás natural liquefeito permitem ao Brasil importar gás de outros fornecedores que não os seus vizinhos (que, ainda que tenham oferta suficiente, tendem a ser menos confiá-veis). A Força-Tarefa lembra que o domínio da Petrobras no setor de gás natural atrasou o desenvolvimento de um mercado doméstico competi-tivo, e pode dificultar as iniciativas para diversificar as fontes de geração de energia elétrica.

O Brasil importa por volta de 25 porcento do gás que consome da Bolívia—uma relação que já teve dificuldades quando em 2006 este último nacionalizou suas reservas de hidrocarbonetos (incluindo ope-rações da Petrobrás, agora novamente obtendo lucro). Dilma, que está muito atenta às suas relações com os países (Argentina, Paraguai e Uru-guai) do Mercosul (Mercado Comum do Sul), pode valorizar sua rela-ção energética com a Argentina e com a Bolívia, visando sustentar uma oferta mais consistente por parte da vizinhança. Este é um exemplo que demonstra como Dilma prioriza a integração sul-americana, e que mesmo encontrando obstáculos, serve suas agendas diplomáticas e de crescimento doméstico. A produção futura de gás do Pré-sal vai redu-zir drasticamente a dependência brasileira no gás boliviano e pode vir a fazer do Brasil um exportador de gás natural liquefeito. No curto prazo, porém, e enquanto o gás do Pré-sal ainda não estiver em produção, o Brasil irá aumentar suas importações de gás natural.

eletricidAde

A demanda brasileira por eletricidade, impulsionada por uma crescente eletrificação, industrialização e por uma classe média crescente capaz de consumir eletrodomésticos, tem um crescimento projetado em 50 porcento na próxima década. Este rápido crescimento na demanda mantém uma pressão constante no sistema elétrico para adicionar novas capacidades de geração.

A força elétrica hidro-motriz corresponde a 75 porcentoda capaci-dade elétrica instalada e mais de 85 porcento da geração.21 Ainda que

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haja um grande número de projetos hidroelétricos em construção, a parcela hidro-motriz da geração de energia está em declínio. O Brasil já desenvolveu cerca da metade da sua capacidade produtiva hidroelétrica economicamente viável, causando um distanciamento significativo entre os novos centros de geração e os centros de demanda no sudeste. Adicionalmente, muitos dos locais tecnicamente adequados para a instalação destas capacidades são ambientalmente sensíveis, como na Amazônia, e sofrem a oposição de grupos indígenas e ambientais, com-plicando o processo de licenciamento e atrasando a construção.

Por conta destas dificuldades, o Brasil irá provavelmente buscar pro-jetos de pequena e média escala—gerando 50 megawatts ou menos, o que os brasileiros chamam micro-hidroeletricidade—e é esperado que o gás natural seja o incremento necessário para a geração da demanda crescente de energia.

A confiança brasileira na eletricidade hidro-motriz pode também determinar uma maior vulnerabilidade às mudanças climáticas, princi-palmente no que toca ao regime de chuvas.22 Prevêse que ambos extre-mos do regime de chuvas—secas e inundações—devem se tornar mais exagerados no Brasil, dando importância à capacidade de armazenar e gerenciar o consumo da água. Paradoxalmente, estas medidas em resposta às mudanças climáticas estão de acordo com a tendência para reservatórios menores, que eles próprios acabam por diminuir a pegada ambiental dos novos desenvolvimentos em energia hidro-motriz.

Somando ao suprimento de eletricidade para consumo doméstico, o Brasil pretende explorar, beneficiar e enriquecer urânio para expor-tação (um direito garantido pelo Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual o Brasil é signatário). O governo reiniciou a construção de uma terceira usina nuclear e está planejando construir quatro outras nos pró-ximos 20 anos, além de estar expandindo suas instalações para o enri-quecimento de urânio. Recentemente, no entanto, a virada brasileira para a energia nuclear vem sofrendo escrutínio doméstico crescente, especialmente depois do efeito devastador do terremoto e tsunami de Março de 2011 para as usinas nucleares japonesas.

ConclusõesA Força-Tarefa conclui que ainda que o Brasil tenha, no momento, um dos mais altos índices mundiais de participação de energias reno-váveis em sua matriz energética, esse índice será erodido pelo con-tínuo aumento da demanda, desafios ambientais a grandes projetos

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39A Agenda Brasileira para Energia e Mudanças Climáticas

hidro-motrizes e o desejo por uma diversidade em termos das fontes de energia. Áreas de interesse mútuo com os Estados Unidos incluem o desenvolvimento de tecnologia hidroelétrica de geração e de distribui-ção, com a expansão da capacidade de transmissão em longas distân-cias, o desenvolvimento e utilização das tecnologias smart grid e um uso gerenciado do gás natural (ainda que através de tecnologias diferentes) de maneira consciente com o meio ambiente.

etAnol coMbustível

O etanol combustível de cana de açúcar tem um papel importante no setor energético brasileiro desde a crise energética da década de 70. O Brasil é um dos maiores produtores, consumidores e exportadores mundiais de etanol combustível, e pretende dobrar sua produção de biocombustíveis ao longo da próxima década. O aumento na produção irá corresponder inicialmente a uma crescente demanda doméstica, mas as exportações devem triplicar, atingindo cerca de 180 mil barris por dia em 2020. A produção total de etanol combustível excede 430 mil barris por dia, dos quais aproximadamente 80 porcento servem o mercado doméstico. O desenvolvimento de veículos bicombustível (veículos flex-fuel), capazes de serem alimentados por qualquer mistura de etanol e gasolina, no início dos anos 2000 aumentaram significativa-mente a popularidade do etanol entre os consumidores.23

A indústria brasileira de etanol está se consolidando, à medida que pequenos produtores são absorvidos e os maiores atores do setor ener-gético como Petrobras e Shell estão entrando na indústria. Algumas dificuldades logísticas, especialmente no transporte do etanol entre a produção localizada e os maiores mercados, tem desacelerado o desen-volvimento do setor recentemente. Diversos projetos de dutos estão sendo desenvolvidos para diminuir estes gargalos. Adicionalmente, algumas preocupações sobre condições de trabalho e a consequente pressão sobre as terras agricultáveis porém protegidas na Amazônia para aumento do cultivo de cana de açúcar têm levantado questões refe-rentes à sustentabilidade.

Para corresponder às futuras metas no campo dos biocombustí-veis, os EUA provavelmente terão que aumentar suas importações de biocombustíveis do Brasil. Com a indústria americana do etanol com-bustível favorável à diminuição das tarifas de importação em troca de créditos de produção de longo prazo e incentivos à infraestrutura, os

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tomadores de decisão norte-americanos podem usar esta proposta como uma abertura na relação EUA-Brasil. Aqueles que querem cortes agressivos no orçamento americano percebem a eliminação das tarifas (cerca de 54 centavos por galão de etanol importado) como uma vitó-ria rápida, e os defensores da indústria estão cada vez mais abertos a aumentos nas importações na medida em que fica evidente que será impossível atingir a meta sem essas importações.

Conclusões e RecomendaçõesO Brasil e os EUA são os países dominantes na produção e consumo de etanol combustível; combinados, os dois representam 89 porcentodo mercado global de etanol, o que oferece oportunidades muito signifi-cativas para a cooperação. Muitos programas bilaterais vem focando no desenvolvimento conjunto de tecnologia relacionada e no estabele-cimento de padrões e estruturas internacionais que promovam o mer-cado global de etanol combustível.

Ainda que o Brasil e os EUA estejam trabalhando para desenvolver capacidade produtiva de etanol em outros países, a política protecionista norte-americana referente a importação de etanol de cana de açúcar ainda continua a ser uma barreira no desenvolvimento de um mercado global livre para o etanol. A Força-Tarefa recomenda que o governo Obama leve esta questão ao Congresso norte-americano, com o objetivo de reduzir ou eliminar tarifas e subsídios de forma a proporcionar um comércio inteligente, energia limpa e uma política externa estratégica.

Entendendo as dificuldades presentes no âmbito da política domés-tica dos Estados Unidos, a Força-Tarefa encoraja o Congresso a incluir provisões sobre eliminação de tarifas sobre o etanol em qualquer pro-jeto de lei sobre reforma do regime de deduções tarifárias sobre etanol e biocombustíveis. A Força-Tarefa recomenda que os Estados Unidos use esta eliminação de tarifas como contrapartida na negociação de redu-ções nas barreiras a manufaturados norte-americanos no Brasil. Essa redução mútua nas tarifas, em nome da redução dos efeitos das mudan-ças climáticas, pode ser promovida como modelo para outros acordos similares entre outros países, além de servir para afastar o medo de que critérios relacionados à questão do clima possam vir a ser usados para aumentar barreiras comerciais frente a países em desenvolvimento. No meio tempo, os EUA podem iniciar medidas para facilitar um mercado internacional de etanol mais integrado, cooperando com os brasileiros na delimitação de padrões em biocombustíveis.

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MUDANÇAS CLI MÁT ICAS

O sucesso econômico brasileiro trouxe benefícios e desafios em termos do meio ambiente. A crescente qualidade de vida fez com que a proteção ambiental entrasse em pauta prioritária tanto no governo como entre a população. Ao mesmo tempo, o crescimento econômico trouxe um aumento no consumo de bens e energia, bem como maiores mudanças no uso da terra de modo a sustentar a expansão da agricul-tura no país.

O contínuo crescimento econômico do Brasil irá aumentar as ame-aças ao seu meio ambiente, mesmo com alguma iniciativa para se con-trapor a essas ameaças. Por exemplo, o crescimento da demanda por energia elétrica é atendido com o uso de usinas de geração movidas a gás natural e um crescente parque automóvel determina um aumento na demanda por gasolina e diesel. A exploração dos recursos energéti-cos do Pré-sal também representam um elevado risco de danos ao meio ambiente, já que um acidente poderia criar um desastre na “Amazônia Azul.” O desflorestamento da floresta amazônica, que apresenta um declínio geral, ainda continua a ser o maior desafio ambiental do Brasil, e a maior fonte de emissão de gases estufa no Brasil.

ConclusõesOs esforços do governo Dilma para mitigar as emissões de gases estufa e os esforços internacionais para fortalecer os compromissos globais de combate às mudanças climáticas provavelmente serão considerados secundários frente a outras prioridades brasileiras, como crescimento econômico e desenvolvimento social. De qualquer forma, há várias áreas de interesse mútuo entre o Brasil e os EUA no que toca à redução dos efeitos das mudanças climáticas, abrindo oportunidades significa-tivas para a cooperação.

perfil AMbientAl brAsileiro

O setor energético brasileiro relativamente verde é reconhecido como inovador no desenvolvimento de economias amigas do meio ambiente. A propósito, as emissões de gases do efeito estufa provenientes da pro-dução de energia e de processos industriais—setores responsáveis pela grande maioria das emissões a nível mundial—respondem a apenas 20 porcentodas emissões totais do Brasil.

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Sendo o lar de mais de 60 porcento de toda a Floresta Amazônica—uma área equivalente em tamanho à União Europeia—bem como as planícies do Cerrado e o Pantanal, o Brasil abriga flora e fauna que estão entre as mais extensas e diversas do mundo. Ainda que a Amazônia seja um dos maiores absorvedores de carbono e regulador do clima a nível global, ela também é altamente susceptível à mudanças de temperatura. Os modelos climáticos em uso divergem sobre o impacto da elevação das temperaturas na sazonalidade e no volume de chuvas nesse ecos-sistema complexo. A maioria prevê, todavia, a exacerbação dos perío-dos de seca e chuva sazonais, enquanto outros sugerem que mesmo um aumento moderado de temperatura poderiam ter efeitos catastróficos para a floresta, com consequências profundas para os padrões pluviais e para os ciclos de carbono no continente e no planeta.

A importância da Amazônia no processo de redução dos efeitos das mudanças climáticas e sua vulnerabilidade frente ao aumento das tem-peraturas faz com que o gerenciamento das reservas florestais seja um problema dominante na tomada de decisão climática brasileira, e sua posição em negociações internacionais. De fato, o desflorestamento na Amazônia, por si só, respondeu a 40 porcento das emissões totais de gases estufa do país em 2005. A expansão da agricultura determina as mudanças no uso da terra, e o uso intensivo da terra para agricultura e pecuária, cobrindo desde a cultura de subsistência até o agrobusiness, são responsáveis pela segunda maior emissão de gases estufa no Brasil.

os esforços brAsileiros de redução dos efeitos dAs MundAçAs cliMáticAs

As mudanças climáticas estão tornando-se cada vez mais importantes para os brasileiros, devido à elevação na renda per capita e a crescente preocupação acerca da questão. Pesquisas recentes indicam que cerca de 50 porcento dos brasileiros acreditam que as questões ambientais são a principal razão de preocupação, e 90 porcento julgam que a mudança climática a nível global é um problema sério—cerca do dobro do número de americanos que pensam da mesma forma. A preocupação do governo brasileiro em ampliar os esforços de redução de emissão dos gases cau-sadores do efeito estufa reflete essa conscientização pública.Programas governamentais anteriores que ajudaram a criar no Brasil uma economia pouco intensiva em carbono, inclusive o programa Pro-alcool, que suporta o etanol combustível e usinas hidroelétricas de grande escala,

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foram essencialmente projetos de desenvolvimento econômico, sendo as questões ambientais secundárias. Programas similares com benefícios duplos continuam a existir, como leilões dedicados para a geração de energias renováveis e programas de eficiência energética como o Procel e o Reluz (eletricidade) e o Conpet (gás natural e petróleo).

Mais diretamente focado em lidar com as mudanças climáticas, o governo brasileiro implementou políticas visando limitar o desflores-tamento sob o guarda-chuva de um Plano de Ação para a Prevenção e Controle da Deflorestação na Amazônia Legal. Este também criou sis-temas de monitoramento com plataformas terrestres e espaciais e criou vastas áreas protegidas do desenvolvimento econômico.24 O Brasil também implementou programas inovadores para conciliar situações de pobreza na zona rural com a preservação ambiental, como o Bolsa Floresta, que realiza pagamentos condicionais a preservação da floresta e é baseado no altamente bem sucedido Bolsa Familia.25

Em 2010, em sequência ao Acordo de Copenhagen, o Brasil subme-teu à Conferência-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climá-ticas (UNFCCC) um programa voluntário de redução de emissões, codificado na lei nacional através do estabelecimento da Política Nacio-nal para Mudanças Climáticas. Esta política propõe reduzir as emissões brasileiras do tipo business-as-usual (BAU) em 36 a 39 porcento, repre-sentando mais ou menos um bilhão de toneladas de dióxido de carbono equivalentes até 2020 em 11 áreas alvo.26

Reduzir o desflorestamento na Amazônia e no Cerrado deverá, por si só, ser responsável por 60 porcento da meta proposta.27 Programas de gerenciamento da agricultura devem promover mais 14 a 16 por-centoe programas energéticos adicionariam mais 17 a 20 porcento. Se completamente implementado, o plano seria capaz de cortar para cerca de 1,7 bilhões de toneladas as emissões de gases estufa, ou seja, reduziriam em 10 porcento a quantidade emitida em 2005. Para dar perspectiva a essas estatísticas, as reduções em questões implicariam que as emissões de gases estufa por unidade de PIB em 2020 seriam cerca de 47 porcento menores que em 2005, se considerarmos que o crescimento econômico brasileiro seja o mesmo na próxima década que o da média histórica recente.

ConclusõesApesar das metas brasileiras, reduzir os efeitos das mudanças climá-ticas geralmente conflita com outras prioridades governamentais,

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como a redução da pobreza, desenvolvimento econômico e a expansão do comércio. Reduzir o desflorestamento na Amazônia compete com projetos hidro-motrizes de grande escala e com a construção de rodo-vias de dimensões transcontinentais que pretendem ligar o interior do Brasil com o Oceano Pacífico. Reduções no uso da terra e das emissões agrícolas competem com o crescimento da agricultura. Até mesmo as propostas de redução anunciadas têm capacidade limitada e podem atrapalhar uma a outra—expandir a produção de biocombustíveis e energia elétrica de origem hidro-motriz pode aumentar as emissões por uso da terra. A Força-Tarefa avisa que esses conflitos podem vir a reduzir a eficácia do programa de redução das emissões de gases estufa e põem sua sustentabilidade em risco.

A Força-Tarefa aprecia a posição agressiva brasileira visando a redução de suas emissões de gases estufa, indo materialmente além de suas obrigações sob os acordos globais acerca do tema. Alcançar estas metas, todavia, será dificultado por uma miríade de prioridades rivais, como crescimento econômico, desenvolvimento social e o comércio.

iMplicAções internAcionAis

As credenciais verdes do Brasil—particularmente seus sucessos recen-tes na redução do desmatamento na Amazônia, sua baixa emissão de carbono no setor de energia e seu plano voluntário de redução drástica de emissões até 2020, apesar da crescente pressão das emissões fruto do rápido crescimento econômico—e sua posição como uma econo-mia em desenvolvimento líder lhe torna uma plataforma credível para mediar entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

O Brasil compartilha interesses estratégicos com diversos países, tornando-se uma ponte natural entre vários blocos de negociação, e com uma participação ativa nas negociações climáticas globais. Na ver-dade, o Brasil já tem um histórico significativo como ator significativo neste assunto. A conferência de 1992 da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) foi realizada no Rio de Janeiro e o Brasil foi o primeiro signatário do UNFCCC, resultado da Rio-92.

A posição do Brasil em seus programas de combate ao desflores-tamento mudou significativamente nos últimos anos, movendo-se de ser um dos maiores obstáculos para a inclusão dos programas de gerenciamento de florestas no debate climático global para ser o pro-positor de um plano detalhado próprio para gerenciar a floresta amazô-nica na Conferência de Bali em 2007. A crescente confiança e vontade

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brasileira de propor sua própria agenda tem traduzido-se como uma mais larga visibilidade em mudança climática. Como um membro do bloco BASIC, que também inclui África do Sul, Índia e China, o Brasil desempenhou um papel proeminente nas negociações em Copenhagen (COP-15) e Cancun (COP-16). Este foi mais notável em Cancun, onde o Brasil ajudou a gerenciar as preocupações da delegação Boliviana sem que estas desviassem o debate mais amplo.

Como um não-signatário do Anexo I do Protocolo e Quioto, o Brasil foi um dos maiores participantes do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM).28 O Brasil é a terceira maior sede de projetos do CDM: 100 projetos registrados e mais 350 em processo de acreditação—repre-sentando cerca de 7 porcentodo total global. Estes projetos são, por definição, discretos e mesuráveis que reduzem emissões de carbono no panorama BAU projetado. Os projetos brasileiros focam-se quase que exclusivamente no setor energético—principalmente geração de biomassa, pequenos projetos hídricos, eólicos e de substituição de combustíveis—ainda que cinco dos projetos registrados, totalizando 12 porcento das reduções em emissões esperadas, centram-se em métodos de capturar emissões dos depósitos de lixo.29

No entanto, da mesma maneira que muitas economias em desen-volvimento, o Brasil é cauteloso em programas internacionais—parti-cularmente naqueles relacionados ao uso da terra e à Amazônia—que podem infringir sua soberania ou restringir seu crescimento econô-mico. O Brasil também é crítico a programas como o CDM e o UN-REDD (Reduzindo Emissões de Desflorestamento e Degradação Florestal), argumentando que uma abordagem mais ampla é necessária para evitar a fuga de carbono (mudança de atividades que emitem car-bono ao invés de reduzi-la verdadeiramente).

Sob o governo Dilma, espera-se que o compromisso do Brasil de combater os efeitos das mudanças climáticas seja continuado, embora no contexto do crescimento econômico. Dilma está bastante familiari-zada com as questões climáticas, tendo exercido o cargo de Ministra das Minas e Energia, liderando inclusive a delegação brasileira na COP-15. Seu discurso de posse endereçou diretamente a obrigação brasileira de provar que é possível ter crescimento econômico sustentável.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa reconhece que, assim como todas as iniciativas de Dilma, os objetivos em mudanças climáticas vai estar ligado a priori-dades de crescimento ditadas domesticamente. Internacionalmente, o

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Brasil vai provavelmente continuar a se posicionar como um intermedi-ário entre países desenvolvidos e em desenvolvimento—atuando como modelo para os últimos, mostrando que o desenvolvimento sustentável pode ser alcançado enquanto mantendo a necessidade de diferenciar responsabilidades e conseguir maiores esforços de redução dos países desenvolvidos.

Um acordo sobre o futuro do processo do UNFCCC é muito pouco provável no curto prazo porque o Brasil quer obter um acordo com garantias legais, enquanto os Estados Unidos não estão em busca de um. Ainda assim, a Força-Tarefa urge que ambos os países continuem sua abordagem construtiva e pragmática apresentada na cúpula de 2010 em Cancun, começando a implementar a adaptação, mitigação, transparência, tecnologia e financiamento determinados pelas partes envolvidas. A Força-Tarefa encoraja o Brasil e os EUA a focarem-se em iniciativas bilaterais para a mitigação dos efeitos das mudanças climá-ticas, que oferecem largo espectro de oportunidades para cooperação, especialmente no tocante à agricultura, uso da terra, gerenciamento dos recursos florestais e cooperação subnacional entre estados federa-dos e regiões.

A Força-Tarefa reconhece que a importância e a complexidade da Amazônia sugerem que esta deva ser gerenciada de maneira abran-gente, coordenando todas as partes relevantes, com o objetivo final de preservá-la das mudanças climáticas, desflorestamento e dos incêndios. Abrigando a maior porção da Amazônia e a maior economia da região, o Brasil assume uma liderança natural entre as culturas, jurisdições políticas, academia e indústria. A Força-Tarefa recomenda que os EUA, sempre que possível, utilize sua voz junto as instituições financeiras internacionais e outros arranjos multilaterais para ajudar a mobilizar recursos que possam ajudar a iniciativa de coordenação brasileira.

Há uma ampla margem onde EUA e Brasil podem trabalhar em con-junto para melhorar os esforços de coleta de dados e modelagem cli-mática, especialmente na região amazônica. Os modelos de previsão climática atual são inadequados para medir as potenciais consequên-cias das mudanças climáticas sobre a floresta amazônica e outros ecos-sistemas brasileiros. O Brasil já estabeleceu um número significativo de grupos de pesquisa internacionais e programas para melhorar o enten-dimento global da Amazônia, seu papel como regulador do clima e sua vulnerabilidade aos efeitos das mudanças climáticas.

A Força-Tarefa encoraja um maior apoio e colaboração dos EUA para com os programas brasileiros de monitoramento da deflorestação

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e mudanças climáticas, que contribuam para o avanço do entendimento dos complexos ecossistemas brasileiros e melhorem a utilidade dos modelos climáticos de uma maneira geral. Estes programas incluem: o Experimento de Grande Escala de Biosfera-Atmosfera na Amazônia, um programa voltado para o entendimento do papel da Amazônia nas mudanças ambientais globais; os variados sistemas de monitoramento terrestre e espacial em tempo real do desflorestamento pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE); modelos climáticos regionais e globais em desenvolvimento pelo Brasil e pela África do Sul; e o Pre-diction and Research Moored Array in the Tropical Atlantic, que estuda as interações entre o oceano e a atmosfera. Estes esforços bilaterais ajuda-riam a ampliar as ambições científicas e tecnológicas do Brasil no campo da tecnologia espacial, além de abordar simultaneamente o desflores-tamento e as mudanças climáticas e relação entre eles. O memorando de entendimento (MOU) entre Brasil e EUA sobre biocombustíveis é um bom exemplo de como ambos os países podem promover a adoção de tecnologias favoráveis ao clima em outros países, ainda que a execu-ção destes projetos tenha que ser reforçada. A Força-Tarefa incentiva o desenvolvimento de iniciativas para reduzir o desflorestamento, como o Bolsa Floresta, em outros países.

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Como agora a presença brasileira é sentida globalmente, potências anti-gas—os Estados Unidos, nomeadamente—estão se esforçando para entender, prever e trabalhar em conjunto (onde e quando apropriado) com o Brasil. Como um membro não-permanente do CSNU de 2010 até 2011, o Brasil se engajou em debates sobre as questões de segurança mais prementes na mesa, incluindo a Líbia, o conflito Israel-Palestina, além de questões de desarmamento nuclear e não-proliferação de uma maneira geral e considerando o caso Iraniano especificamente.

Para aumentar a influência de potências não tradicionais e avançar a agenda Sul-Sul, o Brasil juntou-se com Rússia, Índia e China para criar o fórum BRIC. O grupo dos BRICS—que em 2011, passa a incluir a África do Sul—teve sua primeira cúpula formal em 2009, com o obje-tivo de responder à crise financeira global e desde então concentra-se primariamente em coordenação econômica.30

O Brasil também opera no fórum IBSA, estabelecido entre Índia, Brasil e África do Sul em 2003, para fortalecer parcerias econômicas entre eles, coordenar esforços em negociações do comércio global e a expansão do CSNU. Da mesma maneira, o Brasil tem trabalhado com outros países do BASIC para levar posições comuns às conferências de mudanças climáticas da ONU.

Os capacetes azuis brasileiros, sob os auspícios das Nações Unidas, estão espalhados pelo mundo todo, especialmente na África Lusófona e no Haiti, onde o Brasil lidera a Missão das Nações Unidas para a Estabi-lização do Haiti (MINUSTAH) desde 2004 e fez uma entre as maiores e mais rápidas contribuições financeiras ao país desde o terremoto de 2010. Empresas multinacionais brasileiras operam e investem na Ásia, África, Europa e nas Américas. O Brasil também tem um papel de liderança em instituições regionais, antigas e novas (como a União das Nações Sul-Americanas e a Comunidade dos Estados Latino-Americanos e do

Brasil como um Diplomata Regional e Global

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49Brasil como um Diplomata Regional e Global

Caribe), a maioria das quais evitam a adesão dos EUA para valorizar uma identidade sul-americana ou latino-americana.

O Brasil tem historicamente obtido benefícios em trabalhar com as instituições e regimes de governança global existentes. Dessa maneira, o Brasil não pretende esvaziar essas instituições, mas adaptar e emprega-las como plataformas para avançar os interesses brasileiros. O Brasil encoraja reformas que possam reestruturar essas organiza-ções para refletir mais precisamente a emergente ordem multipolar. Nesse sentido, o Brasil vem argumentando por melhor representação de países emergentes e em desenvolvimento na ONU, Banco Mundial, FMI e OMC.

AS NAÇÕE S UN I DAS

O Brasil tem uma longa história de tentativas frustradas de conseguir um assento na alta mesa global nas Nações Unidas.31 O movimento para uma reforma do Conselho de Segurança foi re-energizada em 2010 com o começo de novas negociações intergovernamentais textuais, mas mudanças significativas ainda são um prospecto distante.

Iniciando nos anos 90, Alemanha, Japão e Índia se juntaram ao Brasil para formar o Grupo dos Quatro (G4) numa atitude concertada para aceder ao CSNU como membros permanentes. O G4 advoga por seis novos assentos permanentes—e quatro não permanentes. Numa demonstração de compromisso, o G4 se colocou disponível para aceitar que este novos assentos permanentes não tivessem poder de veto.

Argumentando que o CSNU representa uma ordem do pós-guerra desatualizada, tanto o Brasil quanto a Alemanha tentaram demonstrar que sua associação em um CSNU expandido iria aumentar a legitimi-dade do órgão e sua eficiência. O Brasil baseia-se também no fato de que é o maior país da América do Sul em termos de território, população e economia. Notavelmente, ainda que México, Venezuela, Argentina e Colômbia tenham, em vários momentos, questionado a propriedade com que o Brasil representa a região, nem os atuais membros perma-nentes nem os membros do G4 confirmam que a associação ao CSNU está baseada exclusivamente em representatividade geográfica.

O Brasil e seus aliados no IBSA também relembram a importância de expandir a associação permanente e não-permanente no CSNU.

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50 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

O Brasil conta também com o apoio de outros parceiros. Em 2010, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP)—que inclui Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor Leste—afirmaram seu apoio pela can-didatura brasileira para um assento permanente no CSNU. Grandes potências como o Reino Unido, a França e a Rússia também apoiam a inclusão do Brasil.

A participação brasileira em Operações de Manutenção da Paz da ONU também tem favorecido sua candidatura a uma associação per-manente no CSNU. Os brasileiros participaram de mais de 20 Opera-ções de Manutenção de Paz da ONU desde 1985. Sob os auspícios da ONU, o Brasil enviou tropas ou observadores para a África lusófona em particular, incluindo Angola e Moçambique, e agora está traba-lhando com o Escritório das Nações Unidas para Drogas e Crime, visando construir uma academia policial em Guiné-Bissau. Como membro não-permanente do CSNU durante os anos 90, o Brasil não votou a favor das operações de paz no Haiti. Nos anos seguintes, porém, a política externa brasileira virou-se cada vez mais para trabalhar com e em instituições multilaterais. No ano de 2004, o Brasil se voluntariou como líder da MINUSTAH. Em 2010, respondeu ao terremoto hai-tiano com aumento no apoio em pessoal e financeiro, reafirmando seu compromisso com o desenvolvimento do Haiti e com as Operações de Manutenção da Paz da ONU.

De maneira geral, porém, a Força-Tarefa entende que as contri-buições brasileiras para a ONU poderiam ser ampliadas: o Brasil é o décimo quarto contribuinte de tropas entre todos os contribuintes de tropas da ONU, ainda atrás do pequeno vizinho Uruguai e da Índia e Nigéria, entre outros; além disso ele também provê menos de um por cento do orçamento regular das Nações Unidas—e só 0,2 porcentodo orçamento das operações de paz.

O Brasil divergiu do P5 na negociação de um acordo de troca de com-bustível nuclear com o Irã e a Turquia em 2010, seguido também pelo voto contrário ao dos P5 acerca da rodada de sanções a ser aplicada, contradizendo diretamente o objetivo estratégico norte-americano de conter as ambições nucleares do Irã. De qualquer forma, o Brasil está implementando as sanções integralmente e aparentemente os EUA dei-xaram a porta aberta para um eventual acesso do Brasil à participação permanente no CSNU. Numa conferência de imprensa conjunta com o ministro das Relações Exteriores em Fevereiro de 2011 antecipando

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a viagem de Obama, a Secretária de Estado Hillary Clinton declarou, “Nós realmente admiramos a crescente liderança global do Brasil e suas aspirações a um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Nós esperamos ter um diálogo construtivo com o Brasil sobre essa questão durante a visita do Presidente Obama e em diante. Nós acreditamos que há muitas, muitas áreas de liderança multi-lateral que o Brasil demonstrará e nós queremos apoiar estes esforços.”

Enquanto em Brasília, Obama quase chegou a endossar o Brasil, mas acabou por apenas afirmar uma disposição geral de “garantir que as novas realidades do século XXI sejam refletidas nas instituições inter-nacionais . . . inclusive nas Nações Unidas, onde o Brasil aspira a um assento no Conselho de Segurança.”32 O endosso de Obama em 2010 à Índia como um membro permanente do Conselho de Segurança é um bom presságio para o Brasil de uma maneira geral, no sentido de que o apoio norte-americano às reformas é demonstrado. Ao contrá-rio da Índia, o Brasil renunciou aos seu programa militar nuclear déca-das atrás e assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Endossar o Brasil seria um forte sinal de que países que respeitam as regras dos tratados multilaterais e instituições serão recompensados.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa aprecia a iniciativa do Presidente Obama e da Secretária de Estado Clinton de encorajamento e abertura à discussão da proposta de associação permanente do Brasil ao CSNU. Mas a Força-Tarefa recomenda que o governo Obama faça o endosso completo desta. A Força-Tarefa acredita que um assento permanente no CSNU levaria o Brasil a aumentar sua responsabilidade e transparência em vários assuntos de interesse global. A Força-Tarefa encoraja o governo a dis-cutir as dimensões regional, diplomática, multilateral e da governança global nesta etapa, enquanto constitui diálogo intenso com o Brasil sobre este assunto.

A Estratégia de Segurança Nacional Norte-Americana de 2010 reco-nhece que “a arquitetura internacional do século XX está vergando” e Obama já demonstrou seu apoio à reforma e expansão do CSNU, argu-mentando na Índia que “uma ordem internacional justa e sustentável” inclui “uma Organização das Nações Unidas que é eficiente, efetiva, credível e legítima.” A Força-Tarefa concorda que um CSNU expandido é do interesse dos Estados Unidos. Nesse sentido, o endosso do Brasil como membro permanente do CSNU não representará um desgaste às

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demandas de Alemanha, Índia e Japão (membros do G4, assim como o Brasil), mas na verdade facilita seu caminho de acesso também.

Um endosso formal dos Estados Unidos ajudaria a superar as sus-peitas que persistem no governo brasileiro de que o desejo norte-ame-ricano de relações maduras entre iguais seja meramente retórico. Com a reforma a anos de distância, há muito pouco a perder e bastante para ganhar de um apoio oficial norte-americano ao assento brasileiro no momento.

Com o Brasil como um membro permanente no CSNU, os EUA e o Brasil trabalhariam conjuntamente em todos os assuntos de segurança internacional, desenvolvimento e nos desafios humanitários a frente, potencialmente criando condições para uma relação Brasil-EUA mais próxima e uma cooperação em um ainda maior espectro de questões, incluindo regionalmente. Para os EUA, construir uma estratégia para o Brasil não é um jogo de soma-zero no que se refere aos laços norte-ame-ricanos na América Latina. De fato, a Força-Tarefa encoraja os EUA a desenvolverem diálogos bilaterais, regionais e globais robustos com outros países da América Latina.

A discussão desta questão importante deverá incluir uma revisão extensiva das possíveis repercussões, incluindo o impacto sobre os parceiros americanos na região, como Canadá e México. Ainda que o racional para um assento brasileiro no CSNU reformado esteja para além do critério regional, a Força-Tarefa urge que o Brasil, como força essencial regional e globalmente, leve as visões Latino-Americanas dos problemas globais.

Abstenções

Em geral, o Brasil é deferente à autodeterminação e à soberania, e vai provavelmente manter seu padrão de abstenções frequentes na ONU. A Força-Tarefa aconselha aos decisores norte-americanos que não enten-dam uma abstenção brasileira necessariamente como desacordo com os princípios de uma resolução. Na verdade, os brasileiros utilizam a abstenção como forma de expressar uma frustração com o tratamento não-sistemático das questões, geralmente levantando, por exemplo, a contradição da comunidade internacional de censurar o Irã mas não a Arábia Saudita. Na política externa brasileira, as justificativas que acompanham as abstenções são uma maneira de expressar preocupa-ção, enquanto insistindo numa universalidade.

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Uma abstenção justificada pode parecer equivocada aos olhos dos decisores norte-americanos. A Força-Tarefa encoraja os decisores dos EUA a observarem a forma com que o Brasil age na ONU dentro do quadro de uma amizade em amadurecimento: interesses mútuos nem sempre resultarão em ações idênticas. Os brasileiros veem sua abs-tenção como uma maneira de exercer liderança global, não como uma abdicação da responsabilidade—eles notam que uma abstenção não é um voto negativo. Ao mesmo tempo, o Brasil não arrisca perder sua independência quando vota com os Estados Unidos esporadicamente.

direitos HuMAnos

A Força-Tarefa sente se encorajada pelo compromisso afirmado pela Presidente Dilma Rousseff para com os direitos humanos. A história pessoal da presidente ilumina a questão dos direitos humanos e o Brasil tem emprestado sua voz para avançar várias dimensões e endereçar ameaças aos direitos humanos pelo mundo. Dilma assinala que o Brasil terá uma ênfase em direitos humanos, e numa abordagem diferente do predecessor, conforme afirmação em entrevista logo após sua eleição, em que deixou claro que não teria optado pela abstenção na resolu-ção da ONU sobre direitos humanos no Irã.33 Desde o início do man-dato Dilma, o Brasil fez uma série de aberturas em assuntos ligados aos direitos humanos na América Latina, no Oriente Médio e no Irã, e Dilma manteve a posição do Secretário de Direitos Humanos como uma posição de nível ministerial.

A Força-Tarefa também nota que o Brasil contribuiu consideravel-mente para o melhoramento das condições de cumprimento de direitos humanos dos seus cidadãos nos últimos tempos. A transição histórica brasileira de um governo militar para um democraticamente eleito pro-duziu crescimento econômico significativo e uma sociedade aberta, e reduziu dramaticamente a pobreza e a desnutrição infantil em cerca de 80 porcento.

Os Presidentes Obama e Dilma podem ser vozes poderosas cla-mando por igualdade racial, étnica e de gênero nos seus países e no estrangeiro, tendo quebrado barreiras como o primeiro presidente afro-americano nos EUA e a primeira mulher presidente no Brasil. Da mesma forma, tanto a Presidente Dilma quanto a Secretária Clin-ton identificaram a importância da educação das meninas e do avanço das mulheres como assuntos de desenvolvimento e segurança e podem

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usar suas credenciais para elevar ainda mais o assunto nas dimensões doméstica e internacional.

Conclusões e RecomendaçõesO Brasil ampliaria suas credenciais e influência na área dos direitos humanos e no Conselho de Direitos Humanos da ONU se aplicasse seus princípios de universalidade a si próprio, da mesma maneira que demanda dos demais. Por exemplo, o número de execuções extraju-diciais pela polícia é muito alta: as polícias do Rio de Janeiro e de São Paulo juntas matam mais de mil pessoas a cada ano. O Brasil ainda não aprovou a legislação que irá estabelecer a Comissão da Verdade para investigar abusos de direitos humanos durante o período ditatorial. A Força-Tarefa aprecia a voz e influência positiva para avançar a causa dos direitos humanos nas Américas e internacionalmente, e encoraja o Brasil e os Estados Unidos a procurarem maneiras de cooperar ampla-mente no que toca aos direitos humanos.

A Força-Tarefa encoraja tanto os Estados Unidos quanto o Brasil a se comprometerem a apoiar a United Nations Entity for Gender Equa-lity and the Empowerment of Women, que foi estabelecido em 2010 e que até o momento não recebeu nenhuma contribuição financeira, nem do Brasil, nem dos EUA.

COMÉRCIO I N TERNACIONAL

O Brasil pretende reestruturar a arquitetura do comércio global visando avançar tanto a liberalização do comércio e um acesso a mercados mais igualitário, provendo um grau de proteção aos seus mercados domés-ticos. O Brasil, juntamente com a Índia, encabeçou a criação do G20 em Cancun, em 2003, para fortalecer o poder negociador dos países em desenvolvimento na OMC. (O papel do Brasil no G20 financeiro será discutido abaixo.)

Como uma ponte entre os mundos desenvolvido e em desenvolvi-mento, o Brasil alternativamente se compromete com a liberalização e com a sua solidariedade com os países em desenvolvimento, que, assim como o próprio Brasil, estão as vezes inclinados para o protecionismo industrial e agrícola. Por exemplo, o Brasil apoiou exceções aos limi-tes tarifários para “produtos especiais” em países em desenvolvimento, confrontados com uma alta nas importações. Por outro lado, em 2008,

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o Brasil separou-se da Argentina, China e Índia, endossando uma pro-posta que reduziria o teto nos subsídios agrícolas norte-americanos em troca de cortes nas tarifas industriais.

A Força-Tarefa avalia que um acordo próximo na Agenda de Desen-volvimento de Doha é improvável; no meio tempo, o Brasil—com o G20 e independentemente—irá provavelmente continuar a balancear seus interesses de livre comércio com seus interesses desenvolvimentistas nas negociações comércio. Essa dualidade de interesses reflete o caráter ambivalente do Brasil como país desenvolvido e em desenvolvimento.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa aprecia o novo acordo sobre comércio e cooperação eco-nômica e o estabelecimento de uma Comissão EUA-Brasil para as Rela-ções Econômica e Comercial, anunciado durante a visita presidencial de Março de 2011.34 A Comissão pretende promover a cooperação bila-teral econômica e comercial, inclusive advogando em prol da remoção aos obstáculos ao comércio e investimento, particularmente no setor da regulação. Ainda que obter resoluções em questões de subsídios e acesso a mercados poderá continuar a ser difícil, a Força-Tarefa encoraja que as discussões realizem-se no quadro anual estabelecido. O representantes comerciais brasileiro e norte-americano devem focar-se primeiro em questões menos controversas em que há alinhamento de interesses, como a facilitação do comércio e modernização dos serviços alfandegários. A Força-Tarefa pede que ambos os países se afastem das práticas protecio-nistas e subsídios, abraçando uma arquitetura comercial mais aberta.

O resultado da disputa comercial do algodão entre os EUA e o Brasil em 2011 (que evitou uma retaliação autorizada pela OMC por parte do Brasil frente aos subsídios norte-americanos) foi baseada na premissa de que o governo Obama iria trabalhar com o Congresso Americano para adequar seu regime de subsídios agrícolas às normas impostas pela OMC, na próxima lei agrícola (farm bill) em 2012. A Força-Tarefa aplaude este passo e encoraja sua implementação.

ARQU I TETURA FI NANCEI RA GLOBAL

Formalmente conhecido como o Grupo dos Vinte Ministros das Finan-ças e Governadores dos Bancos Centrais, o G20 pretende dar uma maior representatividade às economias emergentes não pertencentes

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ao, e cujos interesses não estavam diretamente representados pelo G8.35 No auge da crise financeira, o Brasil conseguiu solidificar sua liderança e credibilidade no G20 através de uma contribuição unifi-cada de 10 bilhões de dólares ao FMI. Considerando a ênfase do G20 em economias em desenvolvimento mas sub-representadas, o Brasil é um líder natural no grupo. O Brasil trabalhou com o G20 para avançar seus reduzidos esforços para ganhar direitos de voto para as economias emergentes no FMI e no Banco Mundial, e várias reformas aumenta-ram o poder de voto do Brasil.36

O Brasil provavelmente continuará seus esforços para reestruturar a arquitetura das instituições globais e regimes de modo a que estes melhor reflitam a emergência de potências não tradicionais. O Brasil já se provou bem sucedido em aumentar sua parcela nos votos oficiais das instituições financeiras globais, porém ainda não na extensão que pre-tende. Com a prioridade brasileira—a reforma do FMI e do Banco Mun-dial—pelo menos parcialmente atendida, a Força-Tarefa espera que o Brasil advogue contra medidas protecionistas e cortes orçamentários em países ricos, continuando a argumentar em favor de mecanismos de monitoramento governamental mais rigorosos e do balanceamento dos mercados financeiros, além de enfatizar a necessidade de evitar aquilo que considera manipulação—especialmente a desvalorização artifi-cial—das moedas norte-americana e chinesa.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa reconhece a voz brasileira no G20 e nas instituições de Bretton Woods. A Força-Tarefa nota que ceder espaço às potências emergentes nas instituições de Bretton Woods fortalece as instituições globais. A Força-Tarefa aprecia o apoio dos EUA à abertura à associa-ção de membros do G20, inclusive o Brasil em instituições internacio-nais importantes como o Financial Stability Board (FSB), assim como o apoio norte-americano a mudanças nas cotas e participações no FMI e no Banco Mundial, e a Força-Tarefa reconhece o papel construtivo do Brasil em advogar por essas mudanças.

A diante, a Força-Tarefa vê uma agenda positiva para os EUA e para o Brasil no G20, nas instituições financeiras internacionais, no FSB, e em outras instituições internacionais que lidam com finanças e questões monetárias, tais como reforma da regulação financeira, desequilíbrios globais, política cambial, a disponibilidade de crédito em economias em recuperação e em desenvolvimento, o combate à lavagem de dinheiro e

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uma agenda desenvolvimentista que se baseia na consistente experiên-cia brasileira com transferências de recursos condicionada.

O BRASI L E SUA REGIÃO

De longe o maior país na América do Sul—em termos territoriais, populacionais e econômicos—o Brasil faz fronteira com dez dos 12 países do continente. Um dos últimos países da América do Sul a deixar de ser uma monarquia e abolir a escravatura, o Brasil não passou por uma revolução anticolonial convulsiva (contra, nesse caso, a coroa Portuguesa). Com uma história atípica e uma identidade diferente da de seus vizinhos, o Brasil hesita em caracterizar-se a si mesmo como Latino-Americano, enfatizando sua identidade como Sul Americana. Ao mesmo tempo, os países da região relutam em aceitar o gigante lusó-fono como par. A crescente interdependência entre o Brasil e seus vizi-nhos complica ainda mais as distinções e assimetrias, que refletem-se em relações caracterizadas ao mesmo tempo como ambivalentes, indi-ferentes, tensas e deferentes.

O investimento brasileiro e o comércio têm aumentado na região. A crescente economia brasileira depende da melhoria da infraestrutura e da integração energética no continente. Considerando a fronteira bra-sileira de mais de 14 mil quilômetros e seu crescente consumo domés-tico de drogas e a questão da exportação das mesmas, o país tem um interesse significativo em cooperar com seus vizinhos para combater o tráfico transnacional ilegal de drogas, pessoas e itens falsificados. Os brasileiros estão aumentando sua presença física na América do Sul: por exemplo, mais de 30 mil brasileiros vivem na Bolívia e controlam cerca de 40 porcento de toda produção de soja daquele país.37 Os brasi-leiros estão também comprando terras agricultáveis na fronteira com o Paraguai; há dezenas de milhares de brasileiros no Paraguai que passa-ram a ser conhecidos como Brasiguayos.

O Brasil encoraja uma maior cooperação na América do Sul no âmbito das organizações como o Mercosul e a Unasul, sob a cuidadosa liderança do Brasil, desenhada para causar o mínimo de fricção possível. De fato, oficiais brasileiros ativamente evitam o título de líder regional para não antagonizar seus vizinhos e manter as boas relações na região. O resto da América do Sul depende crescentemente no comércio com e no investimento do Brasil. Mas os vizinhos menores do Brasil estão

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preocupados em constituir uma dependência muito acentuada com este—economicamente e como seu interlocutor global. Alguns países sul-americanos estão cautelosos que o Brasil, um novo potencial líder hegêmonico com olhos para o poder global, possa não ter os interesses da região como prioridade.

O Brasil orgulha-se de uma longa tradição de não intervenção nos assuntos internos de seus vizinhos. Mas como o Brasil está olhando para a maneira como exercer seu poder e influência para além da região, é legítimo perguntar que papel o Brasil pretende ter nos arredores de casa, além da esfera econômica. Pensando na sua própria história e no seu governo militar, o Brasil repudiou golpes militares na região: Paraguai em 1996, Equador em 2000 e Honduras em 2009. De qualquer forma, o Brasil tem pouco falado em casos de erosão da democracia, preferindo uma diplomacia silenciosa à condenação pública, ou alegando que esta conduta questionável é um assunto de foro da autoridade soberana ou que deve ser observado em iniciativas multilaterais. A Presidente Dilma, que foi presa e torturada pelo regime militar por suas atividades clan-destinas, tem o potencial de ser uma voz poderosa em favor dos direi-tos humanos e dos valores democráticos na América Latina, ajudando a garantir que seu entorno é ocupado por democracias estáveis que irão, em troca, potencializar o posicionamento econômico do Brasil.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa percebe que enquanto o Brasil enraíza-se na América do Sul para avançar sua agenda doméstica e global, os Estados Unidos se beneficiaria da identificação de espaços onde ambos possam tra-balhar juntos, avançando objetivos mútuos. A Força-Tarefa acredita, portanto, que é do interesse dos Estados Unidos entender o projeto regional brasileiro e aprestar a liderança brasileira no hemisfério, espe-cialmente quando este avança valores comuns de inclusão, desenvolvi-mento, democracia e direitos humanos.

Todos os países nas Américas estão ajustando-se ao crescimento do Brasil. Os esforços dos EUA em fazê-lo não refletem uma redução na importância de seus demais relacionamentos na América Latina, mas na verdade um reconhecimento de que os Estados Unidos tem um claro interesse nacional em solidificar uma relação madura e que até agora fora inadequadamente desenvolvida com o Brasil.

O Brasil está engajado na defesa coletiva da democracia, condenando e trabalhando preventivamente para evitar golpes militares tradicionais.

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No entanto, o país evita engajar-se no que os decisores norte-america-nos chamariam de promoção da democracia ou dos direitos humanos. Por exemplo, ainda que o governo atual brasileiro não endosse o pre-sidente venezuelano Hugo Chávez em seus abusos de poder executivo e das questões de direitos humanos, também não faz nenhum esforço visível para encorajá-lo a terminar estas atividades. Em vez disso, o Brasil escolheu liderar pelo exemplo de sua democracia de boa-fé e políticas sociais bem sucedidas. O maior papel diplomático do Brasil nos Andes e dentro das instituições multilaterais sul-americanas trouxe uma visão diferente da proposta pela Venezuela. A diplomacia brasi-leira ajudou a neutralizar a ressonância ideológica de Chávez na região, ainda que não através do tipo de censura publica que é mais popular nos Estados Unidos.

A Força-Tarefa encoraja os Estados Unidos a continuar a aprofundar o diálogo com o Brasil sobre oportunidades de usar suas visões e forças diferentes para encorajar as instituições e práticas democráticas fortes na região. Ambos os países devem colaborar para encontrar propostas coletivas para fortalecer a democracia na região.

As relAções coMerciAis do brAsil nA região

Considerando que o Brasil emergiu como motor do crescimento regional, a assimetria das relações comerciais brasileiras, bem como suas práticas protecionistas fazem deste um alvo de ressentimentos. A economia do Brasil permanece relativamente fechada: o comércio corresponde a cerca de 25 porcento do PIB brasileiro, o que representa cerca 50 porcento do valor na Argentina e menos de 33 porcento no Chile. De fato, dos anos 1990 até os anos 2000, o Brasil priorizou o bloco comercial mais fraco constituído no Mercosul em detrimento da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), apoiada pelos EUA. Além dos benefícios do mais restrito Mercosul, o Brasil percebeu que reduzir suas barreiras ao comércio—o que tinha implicações signifi-cativas na política doméstica—não seria correspondido com medidas recíprocas da parte dos Estados Unidos, especialmente no setor crí-tico, o da agricultura.

Mesmo assim, o Brasil vê as assimetrias regionais como um obs-táculo potencial para seu objetivo de uma América do Sul pacífica e estável. O interesse brasileiro em reduzir estes desequilíbrios pode significar que Dilma irá fortalecer o Mercosul de forma a aprimorar

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a estabilidade regional, desenvolver infraestruturas que beneficiam as indústrias brasileira e sul-americana, garantir maior acesso a recursos (particularmente gás natural) e estabelecer a América do Sul como a âncora estratégica do Brasil em sua agenda global. Um mercado comum e uma união aduaneira sul-americanos fortes iriam privilegiar a imagem do continente como coeso e internacionalmente relevante como bloco comercial e melhorariam a capacidade negocial brasileira no que se refere aos países desenvolvidos e seus blocos comerciais.

Ciente da fraca aderência da Venezuela ao tratado democrático do Mercosul, o governo Lula mesmo assim apoiou sua controversa adesão ao Mercosul, baseando-se nos potenciais ganhos comerciais e econô-micos. A inclusão da Venezuela pode refletir um julgamento do Brasil e de outros membros integrais do Mercosul de que sua integração avança os objetivos comerciais da região e traz a Venezuela “para dentro do cír-culo”, facilitando portanto a conversação e negociação, além de desviar a atenção da Venezuela de conflitos potenciais na região dos Andes.

O Brasil negociou acordos comerciais com todos os seus vizinhos, a exceção de dois (Guiana e Suriname) e continua a aprofundar suas relações comerciais na região. Por exemplo, em 2010, o comércio bila-teral com a Argentina—o principal parceiro comercial da Argentina na America Latina—bateu o recorde de US$32,95 bilhões (passando o recorde anterior de US$30,864 bilhões em 2008). Integralmente, o comércio brasileiro com a América Latina excede o fluxo entre Brasil e China e Brasil e os Estados Unidos (ainda que nenhum país indivi-dualmente consiga ultrapassar o comércio bilateral com qualquer um dos dois).

A Colômbia, sob o Presidente Juan Manuel Santos, é o país mais assertivo em seus esforços de aprofundar e balancear seu comércio com o Brasil.38 O Brasil, como um sinal de sua tentativa de expansão para a porção norte do continente, também virou-se para a Colômbia como um destino atrativo para os investimentos brasileiros. Enquanto o Brasil encorajou a diplomacia bilateral entre os presidentes Santos e Chávez, também beneficiou-se economicamente das tensões entre eles: as exportações brasileiras para a Venezuela suplantaram exportações tradicionalmente vindas da Colômbia, fazendo da Venezuela um país ainda mais dependente dos produtos brasileiros.

Apesar dos problemas de relacionamento entre a Bolívia e o Brasil—decorrentes da expropriação das operações de gás natural da Petrobras na Bolívia, em 2006—a empresa continua a administrar atividades de

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extração no país e hoje é o maior contribuinte individual do fisco local.39 De fato, a diplomacia bilateral e multilateral do Brasil e a assistência em operações antinarcóticos na Bolívia são exemplos de uma estratégia de engajamento que ajudou a avançar os interesses brasileiros econômicos e de segurança, bem como a estabilidade regional.

O Brasil tem um comércio surpreendentemente pequeno com o México—a segunda maior economia da América Latina—de cerca de US$7 bilhões em 2010. México e Brasil estão negociando um acordo de livre comércio. Assim, o Brasil irá competir não somente com os EUA, mas também com a China pelo mercado Mexicano. Notavelmente, desde 2008, as vendas brasileiras para o México triplicaram, enquanto as chinesas multiplicaram vinte vezes. Ainda, a virada do México para o sul reflete uma tendência crescente para que os países latinoamericanos procurem o Brasil em sua tentativa de acelerar o crescimento.

O Brasil tem uma oportunidade única de demonstrar liderança em questões comerciais, não apenas no Mercosul e com membros asso-ciados vizinhos, mas largamente no hemisfério ocidental também.40 O progresso econômico significativo no Brasil desde a falência nas discus-sões da ALCA o coloca em posição de ajudar a liderar uma tentativa de ressuscitar negociações hemisféricas, com uma plataforma forte.

relAções de investiMento brAsileiro nA região

Os países latino-americanos tendem a ver o investimento estrangeiro direto do Brasil (FDI) e os seus projetos na região com alguma descon-fiança. Um nacionalismo evidente geralmente acompanha o investi-mento brasileiro. Ao mesmo tempo, os investimentos do país são muito importantes para muitas economias latino-americanas.41 Em 2009, o BNDES ofereceu o recorde de US$8,3 bilhões em crédito para projetos fora do Brasil. Em 2010, os investimentos gerais do BNDES atingiram mais de US$100 bilhões, crescendo 23 porcento em relação a 2009 e excedendo os do Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID) e do Banco Mundial.

O investimento brasileiro também pode contribuir com expertise. Entre 2010 e 2014, a Petrobras—com sua reputação mundialmente conhecida em exploração e extração de petróleo em águas profundas—comprometeu US$400 milhões para desenvolver as reservas suba-quáticas de petróleo na Colômbia. A Odebrecht, companhia brasileira de construção civil, com financiamento do BNDES, está investindo

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US$400 milhões na renovação do porto Cubano de Mariel, o que aumentará a presença comercial e de investimentos do Brasil no Golfo do México e na bacia do Caribe.

Os países latino-americanos precisam e apreciam, ainda que as vezes fiquem ressentidos, o papel ativo do Brasil em suas economias.42 Dese-quilíbrios comerciais e a capacidade brasileira de investir pesadamente no estrangeiro servem para marcar a assimetria que define a relação do Brasil com sua vizinhança. O Brasil, portanto, procura manter uma pegada leve na região. Raramente os funcionários do governo brasileiro referem a existência de uma estratégia coordenada de investimento na América do Sul, tentando evitar a reputação de potência hegemônica exploradora. Com a liderança significativa de Dilma durante seu termo encabeçando a Casa Civil, o governo Lula deliberadamente procedeu uma consolidação e capitalização das campeãs nacionais—Braskem, Vale, Bunge, JBS, Petrobras, para citar algumas—visando encorajar sua crescente internacionalização e competitividade na América Latina e no mundo.

ConclusõesA Força-Tarefa verifica que o Brasil vai aprofundar suas relações econô-micas com a América do Sul enquanto tentando minimizar o conflito e eventuais reações negativas a sua crescente presença financeira e física. De qualquer maneira, enquanto o perfil brasileiro continua a crescer, irá provavelmente encontrar expectativas para uma ampliada abertura aos mercados, transparência e financiamento público de entidades não-brasileiras, e terá de corresponder a essas expectativas.

orgAnizAções MultilAterAis

As ambições regionais e globais do Brasil não são mutuamente exclu-sivas. O Mercosul e a Unasul são parte de um esforço maior do Brasil para estabelecer a América do Sul—uma massa terrestre onde histori-camente não houve uma identidade coesiva—como um bloco comer-cial atrativo e um ator global estratégico, com o Brasil como sua âncora.

Retoricamente, pelo menos, o Brasil tem priorizado a integração regional e permanece timoneando várias instituições multilaterais latino-americanas, notavelmente o Mercosul, a Unasul e a ainda bas-tante inarticulada, Comunidade de Estados Latino-americanos e Cari-benhos (CELAC). Como o habitual, o Brasil tende a minimizar seu papel de liderança nestas organizações em evolução.

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O Mercosul inclui Argentina, Paraguai, e Uruguai como membros integrais, e a Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, e Peru como membros associados. A incorporação da Venezuela como membro integral ainda aguarda a aprovação do congresso do Paraguai. A revitalização do Mer-cosul foi uma prioridade declarada para Lula quando este assumiu sua posição em 2003; e ainda que o progresso tenha sido lento, os membros integrais conseguiram chegar a um consenso na distribuição dos recur-sos obtidos pela alfândega e acordaram em eliminar a dupla cobrança da tarifa externa comum em Agosto de 2010.

O Brasil foi fundamental, em 2004, na formação da Unasul, que pretende criar um mercado único sul americano para avançar a coope-ração econômica e em infraestrutura, bem como no desenvolvimento. Em 2008, o Brasil liderou a formação do Conselho Sul-Americano de Defesa, como uma suborganização de segurança cooperativa sob a Unasul. Esta última serve de alternativa a OEA e pretende prover soluções regionais para problemas regionais. Ao mesmo tempo, a Unasul, que adotou um caráter democrático em 2010 está geralmente mais focada em questões políticas e sociais que o Mercosul, e oferece um contrapeso frente a Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América (ALBA), dominada pela Venezuela. A Unasul tem tido muito sucesso na mediação ad hoc, gerenciando a revolta policial no Equador e as tensões entre Colômbia e Venezuela em 2010.

A CELAC, fundada em 2010, é descendente do Grupo do Rio e da Cúpula Latino-Americana e Caribenha. Ainda nos estágios iniciais de formação, a CELAC seria a primeira associação formal de Estados a incluir todas as nações Latino-Americanas e Caribenhas e excluir os Estados Unidos e o Canadá. Uma reunião de presidentes da CELAC iria ajudar a elucidar a proposta de Dilma para a Venezuela, dentre outros países.

Conclusões e RecomendaçõesA medida que o Brasil enraíza-se na América do Sul e fortalece suas instituições multilaterais como o Mercosul e a Unasul, a Força-Tarefa vê com bons olhos o crescente papel brasileiro na diplomacia sul ameri-cana, prevenção de conflitos e nos esforços de pacificação e segurança. A Força-Tarefa apoia a criação e consolidação de instituições regionais efetivas e entende que a ênfase regional e brasileira no multilatera-lismo é uma dimensão intrínseca de suas políticas externas, necessá-rias para estabelecer um ambiente estável e democrático. Ainda que os Estados Unidos não seja nem tenha que ser um membro formal destas

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instituições subregionais, a Força-Tarefa encoraja os Estados Unidos a trabalhar com a Unasul, com o Mercosul e eventualmente com a CELAC para estabelecer e definir canais de comunicação adequados.

O PAPEL CRE SCEN TE DO BRASI L NA ÁFR ICA

O Brasil é o último dos BRICS a fazer uma jogada estratégica de modo a avançar sua legitimidade global e status através de canais econômi-cos diversificados e de laços diplomáticos na África. Sob a liderança de Lula, o Brasil conferiu peso considerável a priorização das relações Bra-sil-África. Enquadrado na agenda Sul-Sul do Brasil, Lula fez 11 visitas oficiais ao continente, tendo viajado para 25 países—mais que qualquer outro presidente brasileiro ou chefe de Estado dos BRICS. Na primeira parte deste século, o Brasil dobrou seu número de embaixadas na África para 34, indo além de sua tradicional esfera de influência nas antigas colônias portuguesas. Aumentando suas relações com os 53 membros do bloco africano na ONU rendeu bons frutos à candidatura brasileira por um assento permanente num Conselho de Segurança expandido.

Com a maior população mundial de descendentes africanos, o Brasil está estrategicamente ajustando suas profundas afiliações históricas, linguísticas e culturais para forjar laços políticos e econômicos. Em suas várias visitas ao continente, Lula pediu desculpas pelo papel brasileiro no comércio de escravos africanos. Ainda que largamente encoberto pelas iniciativas chinesas de alta visibilidade na África, estabeleceu-se um novo nível de diálogo entre África e Brasil, algo que o governo Dilma pretende aprofundar.

O comércio entre Brasil e África cresceu para aproximadamente US$26 bilhões de dólares em 2008, um avanço dos US$3 bilhões em 2001, fazendo do Brasil o décimo parceiro comercial da África. Enquanto a China tem uma pegada econômica mais espalhada no con-tinente, o Brasil concentra-se em indústrias extrativas, tais como petró-leo e mineração, com alguns parceiros mais significativos: Nigéria, Angola, Algéria, África do Sul e Líbia, que por si só respondem por 77 porcento do comércio brasileiro com a África.

Empresas multinacionais brasileiras estão continuamente adqui-rindo presença na África e tem sido bem sucedidas em conectar e envolver comunidades locais, em um esforço concertado para construir capacidades. Por exemplo, a Odebrecht opera em Angola desde 1975.

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Hoje, é o maior empregador no setor privado do país, com negócios que vão da produção de alimentos e etanol, escritórios, fábricas e supermer-cados. Petrobras e Vale estão na vanguarda do processo de reposiciona-mento da África como próximo local de interesse para desenvolvimento de recursos naturais e de infraestrutura.

Em sintonia com seus esforços para aumentar a demanda internacio-nal por biocombustíveis, o Brasil é um pivô da expansão das iniciativas relacionadas a este tipo de energia na África. A sinergia entre o setor privado e as agências de desenvolvimento como o BNDES e a ABC (Agência Brasileira de Cooperação) em promover o desenvolvimento de tecnologias e biocombustíveis na África. O Brasil fez uso de sua experiência com energias renováveis para auxiliar a África a preencher sua lacuna em termos de conhecimento.

Os parceiros africanos também se beneficiam do compartilhamento de conhecimentos e da assistência técnica do Brasil, particularmente no tocante à tecnologia de agricultura em zonas tropicais. O Brasil já investiu mais de US$4 bilhões no setor agrícola da África nos últimos cinco anos, para desenvolver capacidade produtiva. Num acordo sim-bólico, a Embrapa abriu um escritório regional em Gana, objetivando aprofundar a colaboração em pesquisa e fortalecer seu papel de conse-lheiro no continente.

Através da transferência de tecnologia, treinamento, pesquisa e desenvolvimento e infusão de capital, o Brasil está explorando um novo território na construção de um novo paradigma de desenvolvimento. Por exemplo, o Programa África-Brasil de Cooperação em Progra-mas de Proteção Social, lançado em 2009, cria uma plataforma para que especialistas brasileiros trabalhem com suas contrapartes afri-canas para facilitar trocas em vários programas de desenvolvimento social como o Bolsa Família e em iniciativas de prevenção e tratamento do HIV/AIDS. O Brasil também é ativo em uma série de organiza-ções multilaterais—a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Fórum Social Mundial, a OMC, o Fórum de Diálogo do IBAS e a Cúpula África-América do Sul—advogando pelo desenvolvimento sustentável na África.

ConclusõesA África provavelmente continuará a ser parte do cálculo estratégico global do Brasil a medida em que este busca maior influência internacio-nal, recursos naturais e um mercado expandido para seus bens—ambos

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produtos concretos e materiais assim como a própria narrativa brasi-leira. A Força-Tarefa percebe que o crescente envolvimento do Brasil na África oferece um modelo instrutivo de governança democrática e desenvolvimento econômico.

O OR I EN TE MÉDIO

Durante sua presidência, Lula fez um esforço concertado para estabele-cer a presença brasileira no Oriente Médio e para receber líderes regio-nais no Brasil e na América Latina em geral. Para além das justificativas econômicas (US$20 bilhões de comércio entre o Brasil e as nações árabes em 2008) e laços culturais (cerca de 12 milhões de brasileiros tem ascendências no Oriente Médio), o Brasil vê-se como um ator legí-timo no processo de paz Israel-Palestina, que julga pode beneficiar-se de novas vozes diplomáticas.

O Brasil, a África do Sul e a Índia (um trio que não surpreende, con-siderando seus esforços para aceder ao CSNU como membros per-manentes) foram os únicos países extra regionais, não-islâmicos e não tradicionais a participar na conferência de paz em Anápolis (Annapolis Middle East Peace Conference) em 2007. Telegramas diplomáticos vaza-dos demonstram que os funcionários norte-americanos perceberam que Lula e seu ministro Celso Amorim se engajavam no Oriente Médio observando apenas o lado Palestino e de forma intrusiva.43 Os esforços de Lula para atuar como pacificador foram marcados por uma série de encontros individuais com o presidente palestino Mahmoud Abbas e o presidente israelense Shimon Peres, ambos tendo visitado Brasília em 2009 parecendo encorajar a participação brasileira nas negociações. No entanto, se a participação brasileira será produtiva é algo passível de debate em Israel.

Em uma de suas últimas ações como presidente, o Lula declarou o reconhecimento completo pelo Brasil do Estado Palestino dentro das fronteiras pré-1967. Esta declaração deflagrou uma série de declarações similares na região.

A posição de Dilma em algumas questões de segurança do Oriente Médio—condenação das atrocidades na Líbia e o voto para aprovar um enviado especial para direitos humanos no Irã—sinalizaram alguma diferenciação da política estritamente não intervencionista de Lula. Mesmo assim, O Brasil absteve-se de autorizar a intervenção na Líbia

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através do CSNU, assim como fizeram Rússia, Índia, China e Alema-nha. O voto formal brasileiro numa discussão eminente da ONU sobre a Palestina no Outono de 2011, irá ser outro indicativo das diferenças da política externa de Dilma e de seu predecessor sobre o Oriente Médio.

ConclusõesA Força-Tarefa percebe que o engajamento brasileiro nas negociações de paz Oriente Médio foi consistente com a política externa expansiva de Lula, e que ela provavelmente deverá evoluir enquanto o Brasil criar uma plataforma que apoie sua candidatura a membro permanente do CSNU. Especialmente à luz do episódio do Irã em 2010, a Força-Tarefa julga que o engajamento brasileiro nas questões de segurança do Oriente Médio pode diluir suas credenciais para negociar outras ques-tões internacionais preocupantes em que sua participação seja mais lógica e mais necessária. A Força-Tarefa também reconhece que desen-volvimentos sociais, políticos e diplomáticos relacionados a recente revolta no mundo Árabe (Primavera Árabe) pode ser vista pelo Brasil como uma oportunidade de continuar a aprofundar seus laços diplomá-ticos, comerciais e econômicos na região.

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O Brasil e os Estados Unidos tem muitos interesses em comum, mas suas políticas externas divergiram ocasionalmente—seja sobre Amé-rica Latina e o Oriente Médio, ou sobre comércio e política cambial. Ao mesmo tempo, os dois países estão aprofundando sua conectividade em outros países, subnacionalmente e através de seus setores privados e sociedades civis. Os Estados Unidos e o Brasil são de muitas maneiras bastante similares: multiétnicos e multirraciais, ricos em recursos natu-rais, democracias relativamente novas e com uma visão inegavelmente excepcionalista de suas histórias.

A despeito das afinidades nacionais, as relações entre EUA e Brasil tem sido normalmente caracterizadas por mal entendidos e pela má compreensão, mais recentemente demonstrada pelo conflito sobre qual seria a melhor estratégia para conter o programa nuclear iraniano. Este desentendimento foi instrutivo para ambos os países: os Estados Unidos aprendereu a antecipar a independência brasileira e ambos aprenderam que as expressões de amizade nem sempre se transformam em ação coordenada. O Brasil também aprendeu que sua ação no Irã arriscou diluir suas credenciais para negociar outras questões interna-cionais preocupantes. Mas o Brasil e os Estados Unidos começaram um diálogo sobre a cooperação em segurança alimentar e direitos trabalhis-tas no Oriente Médio, em sequência aos protestos no mundo Árabe. Adicionalmente, o Brasil e os Estados Unidos estão colaborando em uma série de questões em países das Américas e da África.

As reuniões entre Obama e Dilma no Brasil este ano sinalizaram que ambos os países pretendem firmar laços mais estreitos em ques-tões bilaterais, regionais e globais. A viagem de Obama, durante o perí-odo de tensões elevadas no Oriente Médio e da ação militar na Líbia, marcam o desejo americano de levar as relações para um caminho mais positivo. A Força-Tarefa aprecia os dez novos acordos bilaterais celebra-dos pelos dois presidentes, que incluem acordos sobre biocombustíveis,

O Brasil e os Estados Unidos

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uso do espaço, intercâmbio educacional, promoção de melhores condi-ções de trabalho em outros países, e—significativamente—um quadro para negociar novos acordos econômicos e comerciais.44 De qualquer forma, a Força-Tarefa considera preocupante que não exista nenhum mecanismo no governo norte-americano para coordenar estas iniciati-vas e propor políticas ao Brasil.

H ISTÓR IA RECEN TE

Excetuando-se um breve período de alinhamento após o Golpe Militar de 1964, o Brasil sempre evitou uma “relação especial” com os Estados Unidos. Apesar de uma história de má compreensão e distanciamento cuidadoso, a maioria dos brasileiros—ainda mais após a campanha e eleição de Obama em 2008—maravilharam-se e deleitaram-se com o fato de que os Estados Unidos elegeu um homem afro-americano com uma mensagem de multilateralismo e de mente aberta. O reconheci-mento por parte de Obama de que deveria haver uma evolução no papel dos EUA na ordem global, levou muitos brasileiros a acreditar que as relações dos EUA com a América Latina, e especialmente com o Brasil, iriam evoluir e melhorar. O discurso de Obama na Cúpula das Améri-cas em Abril de 2009, sobre uma relação mais igualitária com a região, serviu para reafirmar essa expectativa.45

Mas a lembrança de 2009 acabou por desfazer as esperanças de um mar de mudanças na política norte-americana para a América Latina. As propostas norte-americanas em duas questões em particular—o golpe em Honduras e as bases militares na Colômbia—colocaram os dois países em estado de tensão. Ainda que essas situações tenham acal-mado por agora, elas são muito instrutivas, porque refletem a diferença com que o Brasil e os Estados Unidos veem o mundo.

Os desacordos não preveniram que o Brasil e os Estados Unidos avançassem na cooperação em assuntos discretos. No início de 2010, a Secretária de Estado Clinton fez uma viagem com muitas paradas pela América Latina, tendo passado um dia no Brasil e assinando uma série de acordos bilaterais.46 Logo após a visita de Clinton, o Brasil e os Estados Unidos resolveram uma disputa comercial que estava em aberto há oito anos, sobre subsídios dos EUA a agricultores de algo-dão, com uma resolução que os negociadores aplaudiram e rotularam como inovadora.47

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Apenas oito meses após as críticas brasileiras ao acordo de bases na Colômbia e enquanto as tensões acerca do Irã cresciam, o Secretário de Defesa norte-americano Robert M. Gates e o Ministro da Defesa do Brasil Nelson Jobim assinaram o Acordo de Cooperação e Defesa EUA-Brasil (DCA) em abril de 2010. O DCA é um acordo de salva-guarda que embasa cooperação futura em assuntos de defesa, inteligên-cia e segurança, e é o primeiro arranjo do seu gênero entre os dois países desde 1977.

irã

Apesar do crescente potencial na frente bilateral, forjar laços cooperati-vos numa questão de segurança internacional—o Irã—provou-se muito mais difícil. No início da presidência de Obama, ele e Lula discutiram a contenção das ambições nucleares do Irã. Lula e seu Ministro de Rela-ções Exteriores entenderam, alguns dizem incorretamente, que a Casa Branca teria dado uma luz verde para que fosse perseguido o acordo que em última instância foi o Acordo Brasil-Turquia de Troca de Com-bustível Nuclear, negociado com o Irã na primavera de 2010.48 O Brasil projetou o acordo como o primeiro passo para garantir que o programa nuclear iraniano continuaria a ser pacífico. Mas no momento em que o acordo foi conseguido, os EUA e outros P5 ficaram convencidos de que as sanções seriam a melhor maneira de trazer o Irã para a mesa de nego-ciações. De fato, Washington pediu ao Brasil para apoiar as sanções e enviou Clinton ao Brasil em março de 2010 para solicitar a cooperação de Brasília. Após ter sido anunciado o Acordo de Troca de Combustível Nuclear e após a reação negativa de Washington, o Brasil manifestou seu sentimento de traição com um voto negativo no CSNU sobre uma nova rodada de sanções.

Ainda que aparentemente Dilma tenha desenfatizado a dimensão securitária das relações com o Irã, a iniciativa brasileira de negociar com o país no ano passado não foi meramente um produto das persona-lidades ocupando os seus gabinetes no momento. Na verdade, o enga-jamento com o Irã demonstrou a crença brasileira no valor intrínseco de sua participação e contribuição em questões maiores de segurança internacional. O Brasil pagou um alto custo, doméstica e diplomatica-mente, por falhar em sua iniciativa de curto prazo. Até o momento, o governo Dilma afastou-se de engajar novamente essa questão. A par-ticipação brasileira alertou as grandes potências de sua presença na

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segurança global e serviu de aviso que o Brasil continuaria a ser um ator internacional significante.

Conclusões e RecomendaçõesA experiência do Irã ilustra a necessidade de os dois países estabele-cerem mecanismos para antecipar e mitigar mal-entendidos e visões conflitantes das questões de segurança internacional. A Força-Tarefa recomenda fortemente a institucionalização de um processo aberto e regular de comunicação entre os presidentes de seus países e seus fun-cionários de mais alto nível. Perspectivas diferentes devem surgir entre dois países grandes e complicados, mas nenhum dos dois deverá permi-tir que sua perspectiva domine totalmente a relação.

segurAnçA nucleAr

Como o Brasil aspira tornar-se um dos maiores exportadores de urânio processado, um objetivo do Brasil em se opor as sanções ao Irã era cer-tamente proteger a nascente indústria brasileira de enriquecimento e seu potencial mercado de energia nuclear.

A Força-Tarefa reconhece o papel positivo que o Brasil tem tido no que diz respeito à segurança nuclear na América do Sul, através da rede bilateral de cooperação e inspeção de instalações nucleares entre Brasil e Argentina. Da mesma forma, a Força-Tarefa reconhece a visão brasi-leira de que o regime bilateral de inspeção—e o regime de salvaguar-das mais amplo estabelecido sob o acordo quadripartite abrangente de salvaguardas entre Brasil, Argentina, a Agência Brasil-Argentina para Contabilidade e Controle (ABACC) e a Agência Internacional da Ener-gia Atômica (AIEA)—ajuda a explicar a relutância brasileira (e argen-tina) em aderir ao mais invasivo Protocolo Adicional da AIEA.

Ainda que Washington e Brasília tenham concordado em discor-dar sobre a relutância brasileira em adotar o Protocolo Adicional, a Força-Tarefa acredita que este tem um papel fundamental em pro-mover a segurança nuclear global e que a adoção universal deste é um importante objetivo. Para além disso, considerando o compromisso brasileiro com a não-proliferação e sua crescente indústria de energia nuclear pacífica, a Força-Tarefa antecipa que o Brasil continuará a ter um papel muito importante em moldar a política nuclear internacional. A Força-Tarefa, portanto, recomenda que os Estados Unidos e o Brasil conduzam discussões bilaterais antecipando-se à Cúpula de Segurança

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Nuclear de Seul em 2010, e continuem suas discussões multilaterais através do Grupo de Fornecedores Nucleares (NSG) visando reforçar os padrões internacionais que governam o controle de exportação de material nuclear.

A Força-Tarefa reconhece que no futuro próximo, será improvável que o Brasil aceite uma mudança nos parâmetros do NSG, de modo a requerer a adoção do Protocolo Adicional como uma condição para o fornecimento de tecnologia nuclear. No curto prazo, portanto, a Força-Tarefa recomenda que os Estados Unidos proponha uma solução con-junta com o Brasil, em que os termos das salvaguardas do quadro da ABACC sejam voluntariamente colocadas no mesmo espírito das do Protocolo Adicional. Os Estados Unidos deve, de qualquer forma, manter seu objetivo longevo de atualizar os parâmetros do NSG para ganhar adoção universal do Protocolo Adicional e requerê-lo como condição para o fornecimento de tecnologia nuclear. Adicionalmente, os Estados Unidos deve manter seu objetivo de longo-prazo de conse-guir reduções significativas dos arsenais nucleares.

COMÉRCIO E I NVE ST I MEN TO EN TRE EUA E BRASI L

As relações comerciais entre os EUA e o Brasil cresceram dramatica-mente na década passada, com o comércio total de bens tendo cres-cido de US$28,2 bilhões em 2002 para um pico de US$60,7 bilhões em 2008.49 Com o crescimento do comércio, pontos de fricção também ficaram mais aparentes. Exemplos recentes incluem a autorização da OMC em 2010 para que o Brasil impusesse tarifas retaliatórias contra os subsídios ao algodão americano (resolvidas temporariamente) e o caso em aberto referente às medidas antidumping americanas contra o suco de laranja brasileiro.

Os Estados Unidos também lidera como investidor direto no Brasil, totalizando US$ 56,7 bilhões em investimentos diretos no ano de 2009, primariamente nos setores manufatureiros, e de finanças e seguros. Apesar da dificuldade de algumas empresas estrangeiras competirem de forma justa com os atores domésticos no mercado brasileiro, o setor privado dos EUA está cada vez mais otimista em fazer negócios no Brasil porque o país melhorou significativamente em seus problemas de corrupção, contratos, negociações, e aquiescência com as normas

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internacionais de negócios nas últimas décadas. De qualquer forma, a parcela de investimentos diretos dos EUA no Brasil em relação ao PIB decresceu nos últimos 15 anos.

As multinacionais brasileiras também tem investido cada vez mais nos Estados Unidos, com investimentos diretos totais que alcançaram os US$780 milhões em 2008. A Gerdau, um dos maiores produto-res de aço do Brasil, comprou a AmeriSteel em 1999 e usou a compa-nhia como plataforma para outras aquisições na América do Norte na década passada. A cervejaria belgo-brasileira ImBev fundiu-se com a Anheuser-Busch em 2008, criando a quinta maior companhia de bens de consumo do mundo, controlando cerca de 25 porcento do mercado global de cervejas.

RecomendaçõesA ausência de um tratado bilateral de impostos (BTT) é um complica-dor para muitas empresas norte-americanas tentando estabelecer suas operações no Brasil. Um BTT eliminaria a taxação dupla sobre o inves-timento. O Brasil é o único país com um PNB maior que US$1 trilhão que não celebrou um BTT com os Estados Unidos. Para encorajar os brasileiros a fazerem negócio nos Estados Unidos e vice-versa, a Força-Tarefa recomenda que ambos os governos tomem medidas para redu-zir ou eliminar a dupla taxação, trabalhando em um tratado bilateral de impostos e consolidando reformas com o objetivo de criar um clima justo para o investimento estrangeiro.

COOPERAÇÃO: OU TROS PAÍSE S, SUBNACIONAL E SETOR PR I VADO

As conexões mais ricas e profundas entre o Brasil e os Estados Unidos geralmente não envolvem relações bilaterais diretas entre os governos, mas geralmente relações de colaboração em outros países, no nível sub-nacional ou em parcerias com o setor privado. Algumas das iniciativas de colaboração mais promissoras do Brasil com os Estados Unidos se dãop fora das fronteiras dos dois países—em combate às drogas, saúde e metas de desenvolvimento, promoção do trabalho decente e coopera-ção em biocombustíveis.

A Força-Tarefa percebe que existe um espaço amplo para os gover-nos federais dos Estados Unidos e do Brasil capitalizarem suas relações

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com outros países, com o setor privado, sindicatos e organizações da sociedade civil. O crescimento destas interações secundárias e terciárias apresenta-se como uma oportunidade de gerar confiança e demonstrar a comunalidade das duas sociedades, enquanto estabelecendo parâme-tros fundamentais para relações bilaterais mais bem estruturadas que beneficiariam da confiança e das parcerias já estabelecidas.

coMbAte às drogAs

Os esforços de combate às drogas na Bolívia representam uma opor-tunidade efetiva para cooperação em países terceiros que maximiza as capacidades dos EUA e do Brasil e permite que os três países apren-dam uns com os outros. Apenas algumas semanas após Evo Morales expulsar a U.S. Drug Enforcement Agency (DEA) da Bolívia em 2008, o Brasil e a Bolívia anunciaram uma aliança estratégica para combater a produção e o tráfico de drogas. O Brasil tem um interesse nacional sig-nificativo na guerrilha associada às drogas na Bolívia: a fronteira entre o Brasil e a Bolívia é maior que a fronteira entre os EUA e o México e a polícia brasileira estima que 60 porcento da cocaína que entra no país venha da Bolívia.50

Os brasileiros perceberam que não tem capacidade de equiparar a capacidade norte-americana de financiar as forças policiais da Bolívia e equipá-las com equipamentos caros como helicópteros de patrulha. Em Agosto de 2009, apenas oito meses após a entrada em vigor do tratado entre Brasil e Bolívia, funcionários do Itamaraty começaram uma série de discussões com diplomatas norte-americanos sobre o interesse boli-viano de fundar uma cooperação trilateral com os Estados Unidos. De acordo com os diplomatas americanos, o desejo de colaborar com os Estados Unidos no combate às drogas sinaliza uma alteração conside-rável da situação corrente e uma “reviravolta” no Itamaraty.51

Esforços trilaterais de combate às drogas na Bolívia tem o poten-cial para uma maior efetividade em reduzir o cultivo de coca e o tráfico de drogas, além de criar espaços para discussão, parceria e criação de confiança entre o Brasil e os Estados Unidos. Ao mesmo tempo em que avançam uma agenda comum, os EUA e o Brasil podem capita-lizar suas vantagens comparativas. Os Estados Unidos prove experi-ência e financiamento, mas evitam deixar uma pegada profunda. O Brasil—sem o perfil controverso histórico dos EUA na região—pode ter mais responsabilidades, atendendo às expectativas de ser uma

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potência regional que usa seus recursos para o bem de sua vizinhança. No momento, negociações estão decorrendo com o governo boliviano para iniciar esforços conjuntos de monitoramento. Apesar das boas intenções e um alto grau de abertura e cooperação entre o Brasil e os EUA, uma colaboração trilateral bem sucedida requer um compro-misso da Bolívia em complemento à boa vontade já existente e o con-senso bilateral.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa aprecia o envolvimento brasileiro no combate às drogas, redução dos danose de resolução de problemas de criminali-dade transnacional em suas fronteiras, especialmente com a Bolívia, e encoraja que haja uma maior cooperação entre os dois países em outras áreas. A Força-Tarefa encoraja a liderança brasileira como uma voz para reforma das iniciativas estratégicas de combate às drogas na região.

A Força-Tarefa apoia a promoção das políticas de redução de danos (que tratam uso de narcóticos como um problema de saúde publica e pro-movem a redução do consumo), sustentadas pelo ex-presidente Cardoso e os também ex-presidentes Ricardo Lagos (Chile), Ernesto Zedillo (México) e César Gaviria (Colômbia), adicionalmente às de interdição e erradicação.52 A Força-Tarefa encoraja o DEA e o USAID e seus pares brasileiros trabalhando na Bolívia a assegurar o governo boliviano que o apoio ao combate as drogas—como o monitoramento e erradicação do cultivo de coca—não são ofensivos à soberania da Bolívia.

sAúde e desenvolviMento

O Brasil e os Estados Unidos estão trabalhando conjuntamente para desenvolver assuntos de saúde na América Central e no Caribe e na África Lusófona. De fato, a ABC e o USAID têm funcionários traba-lhando internamente, entre si, para avançar a cooperação em países ter-ceiros. Por exemplo, as instituições de saúde e assistência do Brasil e dos EUA apoiam a Cooperação Técnica Trilateral de Assistência EUA-Bra-sil-Moçambique, que trabalha para fortalecer a resposta moçambicana a epidemia de HIV/AIDS. Em 2010, uma parceria entre USAID, ABC e Embrapa lançou um programa para apoiar ONGs que vão estabelecer programas de segurança alimentar em Moçambique. Em São Tomé e Príncipe, na costa ocidental da África, o Brasil e os EUA se compro-meteram a financiar um projeto antimalária de longa duração. Em El

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Salvador, entidades brasileiras e norte-americanas estão auxiliando no desenvolvimento de um Instituto de Saúde Pública.

Mesmo antes do terremoto de 2010, funcionários dos governos do Brasil e dos EUA identificaram o Haiti como um local onde os dois países poderiam trabalhar juntos. Em 2009, a ABC e o USAID fizeram uma viagem conjunta a Porto-Príncipe, para explorar opções de coope-ração trilateral, incluindo assistência técnica conjunta para treinar tra-balhadores da indústria de vestimentas e a colaboração do U.S. Southern Command com o Batalhão Brasileiro de Engenharia (BRAENGCOY) na MINUSTAH para projetos de infraestrutura. Após o terremoto e sobre os auspícios da missão da ONU liderada pelo Brasil, os EUA e o Brasil estão trabalhando juntos, em cooperação com um número signi-ficativo de outros parceiros, para prover segurança e reconstruir a infra-estrutura do Haiti.

Conclusões e RecomendaçõesA Força-Tarefa aprecia o aprofundamento da cooperação EUA-Brasil em saúde e desenvolvimento nas Américas e na África. O investimento e engajamento do setor privado brasileiro na África, bem como os esforços EUA-Brasil para a construção de capacidades (como os pro-jetos conjuntos USAID-ABC) em agricultura, biocombustíveis e saúde pública, tem o potencial para deslocar o paradigma regional de desen-volvimento da provisão de fundos de assistência ineficientes e do auxí-lio chinês, geralmente ligado a exploração de recursos.

Nas Américas, a Força-Tarefa encoraja o USAID e a ABC a avança-rem a cooperação no Haiti e aplaude a colaboração bilateral e multilate-ral já existente sob a liderança brasileira da MINUSTAH. Também no Caribe, a Força-Tarefa considera que os Estados Unidos pode aprender com a presença brasileira em Cuba. O governo brasileiro e seu setor privado se comprometem com Cuba em uma série de questões e indús-trias, incluindo energia e agricultura, e podem compartilhar experiên-cia instrutiva no que diz respeito às muitas dimensões do processo de transição cubano.

A Colômbia é um solo fértil para a colaboração entre os EUA e o Brasil em saúde, gênero, segurança e questões sociais. Mais de três milhões de colombianos (em maioria mulheres e crianças de ascendência indígena ou africana) foram deslocadas de suas terras, fazendo delas, de acordo com o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados, a maior população de pessoas internamente deslocadas (IDPs). Uma dimensão crítica da resolução do problema nos conflitos na Colômbia reside numa

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estratégia rural sensível, que inclua a distribuição de terras obtidas ili-citamente, entre outras medidas.53 Para avançar a paz e a segurança na Colômbia, o Brasil e os Estados Unidos tem uma série de recursos e de expertises que em conjunto poderiam ajudar a Colômbia a proteger e auxiliar seus IDPs e desenvolver suas regiões rurais de uma maneira socialmente, economicamente e ambientalmente sustentável.

biocoMbustíveis

Desenvolver programas de biocombustíveis no hemisfério ociden-tal é uma das metas principais de um MOU de 2007 assinado pelo Brasil e pelos Estados Unidos. Em 2009, os dois países concordaram em expandir a cooperação científica sobre padrões e pesquisas em biocombustíveis.

El Salvador e Haiti foram alguns dos primeiros países, juntamente com a República Dominicana e St. Kitts e Nevis, a receber assistência bilateral de biocombustíveis do Brasil e dos Estados Unidos. Em 2008, o Brasil e os Estados Unidos expandiram a cooperação em biocombus-tíveis de modo a incluir a Guatemala, Honduras, Jamaica, Guiné-Bissau e Senegal. Estas economias da América Central e do Caribe beneficiam-se do desenvolvimento de biocombustíveis para consumo doméstico. Ao mesmo tempo, expandir estes mercados atiça os investimentos em bio-combustíveis na região, que tem acesso preferencial ao mercado norte-americano através da Iniciativa da Bacia do Caribe. (A Força-Tarefa encoraja o levantamento de medidas protecionistas dos EUA que limi-tam a expansão dos biocombustíveis brasileiros no mercado americano, como já discutido.) O Brasil está nos estágios mais básicos em auxiliar Cuba a desenvolver sua capacidade nascente em biocombustíveis.

RecomendaçõesA Força-Tarefa encoraja a expansão do programa EUA-Brasil de bio-combustíveis para incluir um número maior de países em desenvolvi-mento, e também para incluir suporte ao lado da demanda, por exemplo através da difusão de veículos flex.

MundAçAs cliMáticAs

A cooperação subnacional EUA-Brasil para o combate às mudanças climáticas não necessariamente contradiz os esforços nacionais bila-terais para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, ainda que estes

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78 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

acordos interestatais e regionais reflitam uma sensação de queos acor-dos de alto nível não sejam suficientemente ambiciosos nem estejam atingindo seus objetivos.

Iniciativas como o California Global Warming Solutions Act de 2006 (AB32 conseguiu dar força de lei ao objetivo de redução de emissão de gases estufa até 2020), e o Regional Greenhouse Gas Initiative (um pro-grama regulatório baseado no mercado para reduzir as emissões de gases estufa), que abarcou dez Estados do nordeste e do meio-atlântico dos Estados Unidos vão bem além dos padrões federais norte-ameri-canos para limitar as emissões de gases estufa. Com a Conferência-Quadro das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (UNFCCC) se desdobrando lentamente, o então Governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger inaugurou a primeira Cúpula de Governadores para as Mudanças Climáticas Globais, em 2008, que iniciou a colaboração subnacional para as mudanças climáticas e em que os estados brasilei-ros tiveram um papel significativo.

Conclusões e RecomendaçõesAs iniciativas bilaterais para mudanças climáticas no nível dos estados e regional pode melhorar a cooperação entre Brasil e EUA a nível fede-ral. A Força-Tarefa recomenda que o executivo e o legislativo procurem entender e antecipar as consequências significativas dos projetos sub-nacionais para suas políticas externas.

setor privAdo

A Força-Tarefa percebe que a conectividade entre os Estados Unidos e o Brasil é frequentemente dirigida não pelos seus governos, mas pelo setor privado. Mesmo quando a agenda do setor público entre estes dois países pareceu fraca, os laços entre empresas cresceram num passo robusto, trazendo os dois países ainda mais perto do que já havia acon-tecido. De fato, os setores privados do Brasil e dos EUA entendem-se melhor que seus funcionários do governo. Mesmo que os dois governos tenham auxiliado a realizar as reuniões semianuais do fórum de CEOs EUA-Brasil (um grupo de 10 CEOs brasileiros e 10 CEOs norte-ameri-canos de várias industrias), e funcionários senior dos governos falem ao grupo, o ímpeto para este esforço de seis anos deriva das comunidades empresariais em cada país, que reconhecem as oportunidades existente entre eles mas confrontam-se com uma série de barreiras que limitam o comércio e o investimento.

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79O Brasil e os Estados Unidos

O fórum fez progressos na reforma dos vistos (estendendo a vali-dade dos vistos no Brasil de cinco para dez anos) e na liberalização da aviação (aumentando os voos de passageiros em 50 porcento desde 2008), e iniciou medidas para encorajar um BTT. De qualquer forma, os requerimentos de vistos para viajantes ainda continuam a ser onerosos. A Câmara de Comércio Brasil-EUA e o Conselho Empresarial Brasil-EUA são dois exemplos de instituições do setor privado trabalhando para desenvolver laços comerciais e de investimento mais apertados entre os dois países.

RecomendaçõesPara aumentar e facilitar o comércio entre o Brasil e os EUA, assim como expandir a conectividade social e cultural, a Força-Tarefa reco-menda que os Estados Unidos tome o primeiro passo para tornar desne-cessário a obtenção de vistos para brasileiros, revisando imediatamente os critérios para a participação brasileira no programa de isenção de vistos (Visa Waiver Program). Esta iniciativa seria certamente extendida pelo Brasil para os viajantes norte-americanos.

Para viabilizar esta etapa, a Força-Tarefa recomenda consultas bila-terais robustas entre o U.S. Department of Homeland Security e sua contraparte no Brasil. Considerando o crescente fluxo e conectividade entre os setores privados, a Força-Tarefa recomenda um acordo de por-tabilidade de segurança social, que beneficiaria os cidadãos dos dois países inclusive evitando dupla taxação sobre estes benefícios.

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A visita do Presidente Obama ao Brasil em Março de 2011 constituiu uma nova fase na relação entre o Brasil e os EUA. Com acordos em uma larga quantidade de assuntos—incluindo comércio e finanças, infra-estrutura, investimentos, aviação civil, energia, trabalho, educação e questões sociais—os presidentes Obama e Dilma sinalizaram aos seus países que esta relação bilateral está preparada para evoluir para uma amizade robusta e madura entre iguais. Mesmo que muitos dos anún-cios concretos durante a visita reflitam apenas “os frutos mais fáceis de colher” na cooperação.

Se os Estados Unidos e o Brasil estão interessados em uma relação séria e profunda, sua conversação deve continuar. Assim como as rela-ções dos EUA com potências como a Índia, a China, a Rússia ou a Ale-manha, um diálogo franco e de alto nível com o Brasil vai permitir que ambos os países identifiquem, reconheçam e gerenciem possíveis desa-cordos, que não devem desestabilizar a relação como um todo.

Nesse sentido, a Força-Tarefa recomenda que Obama acolha um encontro interministerial com o Brasil, como fez o Presidente George W. Bush em 2003. As figuras principais dos governos brasileiro e norte-americano precisam comunicar-se abertamente e especifica-mente sobre as situações que permaneçam como obstáculos, incluindo: comércio, acesso a mercados e subsídios; prioridades para e aborda-gens à segurança internacional; a reforma do Conselho de Segurança da ONU; e o exercício dos valores de direitos humanos. Com quadros de trabalho agora estabelecidos para o diálogo em várias destas questões, os dois países podem fazer progresso genuíno.

PLATAFORMA COMUM

Os desafios domésticos similares devem servir de plataforma comum entre o Brasil e os Estados Unidos. As prioridades domésticas de

Conclusão

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81Conclusão

Dilma—educação de qualidade para todos, inovação em ciência e tec-nologia, acesso à saúde publica de qualidade e projetos de infraestru-tura (PAC e PAC II)—devem ressonar fortemente no governo Obama na medida em que os Estados Unidos também trabalha para melhorar em cada uma dessas áreas. Com um entendimento de que os ambien-tes políticos envolvendo cada governo são marcadamente diferentes, os dois governos podem partilhar as suas melhores práticas e desen-volver ainda mais o diálogo entre experts que trabalham nestas inicia-tivas domésticas.

Os Estados Unidos deve antecipar que a expressão brasileira de valores compartilhados—o livre mercado, o Estado de direito, os direi-tos individuais, liberdades religiosas e diversidade e igualdade—pode diferir da visão norte-americana. Ainda, estes valores compartilhados determinam que cada país tem um papel importante no sucesso do outro. A Força-Tarefa espera que o Brasil continue a definir seu inte-resse nacional independentemente dos Estados Unidos e que este não possa decidir quando e onde o Brasil vai engajar internacionalmente. Mesmo assim, muitas das recomendações da Força-Tarefa são desenha-das para criar um ambiente em que a política externa brasileira possam reforçar os objetivos da política externa norte-americana.

PARCER IA MADURA

A Força-Tarefa não espera nem recomenda que o Brasil e os Estados Unidos busquem nenhum tipo de relação especial. Pelo contrário, a Força-Tarefa encoraja os decisores norte-americanos a reconhecerem que o Brasil e os Estados Unidos podem ter uma relação madura e fun-cional em questões bilaterais e globais sem ter um alinhamento com-pleto e automático. Obama deu um bom exemplo nesse sentido: ao lado de Dilma em Brasília, ele saudou a liderança brasileira em assuntos relativos à paz, segurança e outros temas globais apenas um dia após o Brasil (juntamente com China, Rússia, Índia e Alemanha) ter se abstido na resolução do CSNU que autorizou a zona de exclusão aérea na Líbia.

Tratar um ao outro com igualdade é uma questão de diplomacia e de respeito: o que não implica que os Estados Unidos e o Brasil operem no mesmo contexto global. Os Estados Unidos vai continuar a exercer sua influência numa escala diferente e com instrumentos diferentes do Brasil. Ao mesmo tempo, o Brasil continuará a engajar—econômica e diplomaticamente—regiões e questões para muito além da América do

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82 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

Sul. Enquanto estes dois países tem uma crescente interseção na defini-ção da ordem do dia internacional, o governo dos EUA deverá começar a incorporar prospectos de cooperação com o Brasil em sua visão estra-tégica global.

COORDENAÇÃO DE P OLÍ T ICAS

No Brasil e nos Estados Unidos, a coordenação interagências de polí-ticas mais gerais é bastante limitada. Isso é especialmente verdadeiro nos EUA, onde as iniciativas que concernem ao Brasil são levadas a cabo por uma variedade de agências com pouca ou nenhuma sincro-nização ou estratégia.54 A Força-Tarefa acredita que os esforços con-juntos existentes e áreas potenciais de cooperação iriam beneficiar-se do desenvolvimento de uma visão mais coesa e coordenada de um país vis-à-vis ao outro.

A crescente importância geoestratégica do Brasil sustenta méri-tos e demanda uma coordenação completa das políticas americanas em várias agências, num nível sênior. A Força-Tarefa chama à aten-ção que incorporar o Brasil às discussões de alto nível em termos de política—sejam sobre paz e segurança, finanças globais ou mudanças climáticas—não deverá ter sucesso se deixadas a cargo das diretorias regionais, dos bureaus em várias agências do executivo, ou aos subco-mitês do Congresso.

A medida que o Brasil expande seu alcance no globo e solidifica seu envolvimento numa grande variedade de assuntos internacionais, a Força-Tarefa recomenda que o Conselho de Segurança Nacional (NSC) dos EUA institucionalize um mecanismo de interação interagência para que as várias agências norte-americanas responsáveis por questões fun-cionais como finanças, comércio, energia, ambiente, agricultura, saúde, segurança interna, defesa e diplomacia melhor cordenem o que conti-nua a ser uma política altamente descentralizada dos EUA para o Brasil. Isto requereria um diretor do NSC especial para o Brasil, ao invés de um diretor para o Brasil e Cone Sul.

O objetivo é dar ao Brasil uma atenção maior, melhor e mais coor-denada no governo norte-americano e de ter agências e departamentos para além daqueles que trabalham em questões do hemisfério ocidental participando na formulação de políticas mais abrangentes. Dentro do Departamento de Estado, a Força-Tarefa recomenda que seja criado um

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83Conclusão

Escritório para Assuntos Brasileiros separadamente ao escritório que trata do Cone Sul no escritório de Assuntos do Hemisfério Ocidental.

APROVEI TANDO O MOMEN TUM

A cooperação entre os Estados Unidos e o Brasil tem potencial demais para permitir que problemas de comunicação ou discordâncias inevi-táveis criem obstáculos para possíveis ganhos. Uma relação fortalecida entre os EUA e o Brasil poderia ser a base para um crescimento econô-mico no Brasil, nos Estados Unidos, e globalmente, assim como para uma paz duradoura e uma estabilidade global na região, para a não-proliferação nuclear, o progresso internacional em mitigar os efeitos das mudanças climáticas, desenvolver um mercado global de energias renováveis, segurança alimentar global e um trabalho mais efetivo das instituições internacionais. Os presidentes Obama e Dilma deram o passo inicial para progredir em muitos destas frentes . O momento para construir sobre esta fundação positiva é agora.

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Como é tradicional nos relatórios da Força-Tarefa, temos visões indivi-duais em vários assuntos discutidos, mas nós concordamos fortemente com a mensagem central do relatório de que os decisores dos EUA devem reconhecer a posição brasileira de ator global, tratar sua emer-gência como uma oportunidade para os Estados Unidos e trabalhar com o Brasil para desenvolver políticas complementares.

Nossas visões adicionais estão relacionadas à recomendação de que o governo Obama deve endossar integralmente a adesão brasileira como membro permanente do CSNU. Nós concordamos que o Brasil é meritório de inclusão como um membro permanente. Nós acredita-mos que uma visão mais gradual provavelmente teria mais sucesso em navegar pelas complexidades diplomáticas apresentadas pelo apoio dos EUA ao Brasil.

Existe, de forma realista, espaço para apenas um membro perma-nente na América Latina—na Ásia, ao contrário, a visão consensual é a de que poderiam haver dois novos membros—e isso apresenta uma situação difícil para as prioridades dos EUA na sua própria região. Isso não significa que o Brasil não seja a escolha certa. Na verdade, trabalho diplomático fundamental precisa ser realizado primeiro para lidar com reações adversas de aliados dos EUA que perceberiam a escolha do Brasil como um bloqueio direto às suas ambições mul-tilaterais. Ainda mais, o Congresso dos EUA precisa ser consultado e persuadido a garantir o apoio adequado para uma guinada polí-tica dessa importância. Falhar nestas etapas cruciais pode arriscar o sucesso final do apoio norte-americano à candidatura brasileira ao assento permanente no CSNU.

Portanto, apoiamos a posição norte-americana articulada pelo Presi-dente Obama no Brasil em Março de 2011, ainda que concordemos com o sentido de urgência apontado pelo relatório da Força-Tarefa. De acordo com isto, pediríamos ao governo Obama para iniciar imediatamente o

Visões Adicionais

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85Visões Adicionais

trabalho fundamental para permitir o endosso futuro da candidatura permanente do Brasil ao CSNU, ao invés da recomendação do relatório que indica o endosso imediato e posterior engajamento nestas etapas fundamentais.

Louis E. Caldera, Nelson W. Cunningham, Eli Whitney Debevoise II, Paula J. Dobriansky, José A. Fourquet, Sergio J. Galvis, Kevin P. Green, Brian D. O’Neill, Riordan Roett

Este relatório contribui de forma importante para a evolução da política externa norte-americana que visa o Brasil. Em particular, na parte do relatório que reconhece que o papel emergente do Brasil como potência global e recomenda que este não seja mais visto pela lente limitadora e opaca dos assuntos hemisféricos, o relatório contribui significativa-mente e já em atraso.

Tendo isso em mente, acreditamos que o relatório poderia ter ido além. Ele apropriadamente recomenda que os Estados Unidos inicie imediatamente o apoio à candidatura brasileira ao CSNU. Mas o rela-tório oferece recomendações adicionais para consultas hemisféricas e negociações intensivas com o Brasil sobre o assunto que estabelecem condições bastante diferentes das em que os EUA apoiaram a candida-tura da Índia para este papel. Nós acreditamos que isto envia uma men-sagem errada para o Brasil e para o mundo. Se os Estados Unidos apoia, assim como o governo Obama afirmou, estruturas de liderança nas ins-tituições internacionais que reflitam as realidades internacionais, o país deve apoiar, sem qualificações, a candidatura brasileira. Como o quinto país mais populoso do mundo, a oitava maior economia em perspectiva de passar a quinta maior no curto prazo, seria contraproducente para o Brasil não estar entre o primeiro grupo de grandes potências seja dentro do Conselho de Segurança ou em qualquer outro fórum internacional.

O relatório também sugere que o Brasil não deve se envolver nas questões de segurança no Oriente Médio. Nós acreditamos que não seria apropriado para um relatório como este ou para os Estados Unidos tentar ditar a forma como o Brasil deverá perseguir seus inte-resses nacionais no mundo. Enquanto algumas discordâncias possam surgir como resultado, uma das conclusões mais importantes deste rela-tório é reconhecer que discordâncias como esta podem surgir nas rela-ções que estamos desenvolvendo com as potências emergentes como

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86 Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

Brasil, Índia e China. Considerando que o maior desafio dos Estados Unidos na era multipolar que se apresenta vai ser o de forjar novas coa-lizões em que os atores emergentes—como o Brasil—podem e devem ter um papel importante, e os Estados Unidos terão que trabalhar para ir além das atitudes antigas e tratar estes países com o respeito que a muito merecem.

Shepard L. Forman, Donna J. Hrinak, David J. Rothkopf, Julia E. Sweig, Tanisha N. Tingle-Smith

Desde que este relatório foi concluído, alguns desenvolvimentos pre-ocupantes no fronte dos direitos humanos vêm a tona, considerando que o governo brasileiro recentemente anunciou a aprovação oficial da construção da Usina Hidroelétrica de Belo Monte, orçada em US$17 bilhões, que grupos indígenas, a comunidade de direitos humanos e os ativistas do meio ambiente estiveram em oposição por décadas. Mais cedo neste ano, a Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos (CIDH) havia estipulado que os brasileiros suspendessem todas as facetas do projeto até que certos critérios fossem atendidos. Além de ignorar estas demandas, a Presidente Dilma cortou relações com a CIDH em resposta, chamando o embaixador para a Organização dos Estados Americanos e anunciando planos de retirar sua contribuição anual à CIDH. Não só é preocupante que o governo esteja indo a frente com a construção da barragem, mas que no processo está causando danos ao sistema interamericano de direitos humanos e à sua comis-são, que é um dos órgãos interamericanos mais efetivos em existência. O governo brasileiro precisa voltar a engajar-se com a comissão para resolver este aparente impasse.

Joy Olson

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1. O Council on Foreign Relations preparou uma Força-Tarefa sobre o Brasil em 2001. O relatório da Força-Tarefa Independente de Fevereiro de 2001, Uma Carta ao Presi-dente e um Memorando sobre o Brasil, está disponível online em www.cfr.org/brazil/letter-president-memorandum-us-policy-toward-brazil/p3900.

2. Para propósitos desse relatório, biocombustíveis se referem especificamente a com-bustíveis de álcool.

3. Bolsa Família, um programa de bem estar social iniciado pelo ex-presidente Lula, provê transferências de dinheiro para famílias com a condição de que as crianças este-jam matriculadas no ensino primário e recebam saúde básica.

4. A venda de matérias-primas representam aproximadamente 43 porcento das expor-tações brasileiras, contra 23 porcento há apenas 10 anos. Vincent Bevins, “Is Brazil too dependent on exporting basic goods?” FinancialTimescom, http://blogs.ft.com/beyond-brics/2010/07/12/is-brazil-too-dependent-on-exporting-basic-goods (Aces-sado em 2 de Outubro de 2010).

5. No entanto, uma escassez de oferta juntamente com uma demanda explosiva levou o Brasil a importar etanol dos Estados Unidos no início de 2011.

6. As promessas e desafios do setor energético brasileiro são tão fundamentais para os contornos do novo Brasil que energia é tratado em maior profundidade na seção final desse relatório.

7. Tipos de soja e trigo, historicamente plantados em climas temperados como a Dakota do Sul e a Coréia, foram alterados para crescer no Brasil tropical. Um exército de mi-lhares de caminhões espalham dezenas de milhões de toneladas de cal nos solos na região agrícola central do país desde o fim dos anos 90 até o início dos anos 2000. A cal reduz a acidez do solo a níveis que essas plantações cresçam, criando terra arável de forma efetiva do que antes eram colinas empoeiradas.

8. Classe C é a classe média brasileira, que ganha entre R$1.115 e R$4.807 por mês e está entre as classes A e B e as classes D e E.

9. No entanto, com médias de recebimentos mensais de R$2.950 e R$5.350, a classe B mais rica gastou R$1 trilhão em 2010 e ainda pode ser o principal motor da economia de consumo brasileira.

10. Deficiências na educação resultam em parte pelo alto nível de repetência, distribuição ineficiente de recursos entre estados e municípios e muito pouco gasto dos governos locais com programas de desenvolvimento não relacionados à educação, que estudos mostram serem tão importantes para resultados educativos quanto investimentos na educação em sí.

11. Firmas brasileiras requerem uma média de seis semanas para preencher uma vaga es-pecializada, comparado com quatro semanas na África do Sul e somente duas sema-nas na Índia e na China.

Notas de Rodapé

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88 Notas de Rodapé

12. A China, em comparação, dedica 1,54 porcento do seu PIB em Pesquisa e Desenvol-vimento (P&D), que equivale a 5,27 vezes o gasto bruto do Brasil com investimento. A Rússia gasta 1,04 porcento de seu PIB em P&D, um pouco mais que o Brasil, em termos brutos. A porcentagem americana de 2,77 porcento é 17 a 30 vezes maior que o gasto brasileiro em termos brutos.

13. Exportação de commodities está diretamente dependente dos preços de mecado e de-manda externa e portanto são mais vulneráveis a choques exteriores.

14. Cristophe de Gouvello, “Brazil Low-carbon Country Case Study,” World Bank Group, May 31, 2010, p. xxvii.

15. O Brasil emite uma média de 1,4 toneladas cúbicas de dióxido de carbono (t CO2) por tonelada equivalente de petróleo (tep) de energia consumida—menos de 60 porcento da média global de 2,41 t CO2 por tep.

16. O Cerrado é a savana brasileira. 17. “Fact Sheet: U.S.-Brazil Strategic Energy Dialogue,” http://www.whitehouse.gov/

sites/default/files/uploads/Brazil_Strategic_Energy_Partnership.pdf. 18. De acordo com a Energy Information Administration americana, reservas provadas

são quantidades estimadas que análise de informações geológicas e de engenharia de-monstram com certeza razoável que são recuperáveis sob as condições econômicas e operacionais.

19. O Brasil já é um exportador de petróleo, mas importa gradações mais leves de petróleo, diesel e nafta para preencher lacunas da produção doméstica.

20. Essas estimativas são mais baixas que as projeções oficiais da Petrobras. 21. A biomassa provê 5 porcento adicional de geração. Poder nuclear, gás natural, e usinas

movidas a carvão respondem pelo resto. 22. O painel intergovernamental sobre mudanças climáticas relata que a maioria dos mo-

delos climáticos globais apontam um aumento nas precipitações no sul do Brasil e uma diminuição no noroeste em uma amplitude de cenários futuros. Projeções para a baía amazônica são menos confiáveis, no entanto, com muita discordância dentre modelos mesmo com cenários parecidos.

23. Veículos flex chegaram a 94 porcento das vendas de carros novos no Brasil no período de Agosto de 2009, e até março de 2010 o Brasil tinha mais de dez milhões de veículos flex nas ruas.

24. Os sistemas de monitoramento são coordenados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

25. Mecanismos de financiamento relacionados incluem o protocolo verde, que requer que bancos estatais se assegurem da sustentabilidade dos projetos que financiam, impostos voltados para o meio ambiente e restrições de crédito a infratores ambien-tais, e fundos enormes, como o Fundo Nacional de Mudanças Climáticas e o Fundo Amazônia. Esses dois fundos em particular tem amplos mandatos para combater as mudanças climáticas em um nível sistêmico, integrando projetos de redução especí-ficos com esforços para melhorar pesquisa, educação, comunicação e formulação de políticas.

26. Apesar de comumente usado, a base “business-as-usual” não é uma medida bem defi-nida, varia de país a país, e está sujeita a interesses da indústria.

27. Aproximadamente 79 porcento do cerrado já foi convertido para uso agrícola. En-quanto a conversão da floresta do cerrado emite menos dióxido de carbono do que a conversão da Amazônia, a preservação do cerrado também é importante por que mantém o nível alto de biodiversidade.

28. A CDM permite países do Anexo I (aqueles com alvos de redução mandatórios) a

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89Notas de Rodapé

financiar projetos de redução de emissão em países fora do Anexo I (que não tem alvos mandatórios) e usam os créditos resultantes para reduzir parcialmente seus objetivos de redução.

29. Mais de 70 porcento dos projetos registrados são patrocinados por países da União Européia que podem usar os créditos resultantes dentro do sistema de créditos de car-bono da União Européia.

30. Países em desenvolvimento normalmente são referidos como parte do Sul Global, uma categorização que evoluiu das delineações da Guerra Fria entre Primeiro, Se-gundo e Terceiro Mundo.

31. Como membro fundador da Liga das Nações, o Brasil tentou e falhou em 1919 obter um assento permanente no Conselho das Potências Principais e Aliadas do orgão. O Brasil foi eleito membro não-permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas cinco vezes no pós-guerra fria e o recorde de dez vezes no total. Em alinhamento com esforços mais amplos de expandir a influência de potências não tradicionais, o Brasil trabalhou com outros países fora do P5 para buscar um assento permanente em um Conselho de Segurança reformado.

32. Barack Obama, “Remarks by President Obama and President Rousseff of Brazil in Brasília, Brazil,” March 19, 2011, Palacio do Planalto.

33. Lally Weymouth, “What Does It Mean to You To Be the First Female President of Brazil?” Washington Post, December 3, 2010, http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/ content/article/2010/12/03/AR2010120303241.html.

34. Ver http://www.whitehouse.gov/sites/default/files/uploads/Brazil_ATEC.pdf. 35. O G-20 ganhou importância crescente durante a crise financeira global de 2008 e 2009

e foi elevado a reuniões ao nível dos chefes de Estado. Durante a cúpula de 2009 em Pittsburgh, o G-20 substituiu oficialmente o G-8 como fórum principal para coorde-nação economica global.

36. Desde 2008, países em desenvolvimento e em transição ganharam 4,59 pontos em poder de votação no Banco Mundial, aumentando seu total de poder de voto para 47,19 porcento. A porcentagem brasileira aumentou de 2,07 para 2,24 porcento. No FMI, o Brasil agora possui 1,38 porcento dos direitos de voto. Em outubro de 2010, antes da Cúpula do G-20 na Coréia do Sul, os ministros das finanças concordaram em realocar mais de 6 porcento dos direitos de voto do FMI a economias emergentes e a reatribuir dois assentos do Conselho previamente europeus. O Diretor-Geral chamou o acordo, aprovado em dezembro de 2010, “histórico” e “a maior reforma desde sempre na go-vernança da organização.” As reformar, apoiadas pelos Estados Unidos, colocam o Brasil dentre os dez maiores cotistas.

37. “Ignore Brazil’s Election, Here Are the Real Problems Facing the Country,” Stratfor, October 5, 2010.

38. O Chile, no entanto, ultrapassa a Colômbia em fluxo total de comércio com o Brasil. 39. Paulo Vieira da Cunha, “The Brazilian Economy—The Choices for Dilma,” lecture,

Inter-American Dialogue, Washington, DC, November 10, 2010. 40. Os membros associados do Mercosul são: Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru. 41. O Banco Central relata que oitocentas firmas brasileiras investem no exterior. Amé-

rica do Sul e Central recebem a maior parte do investimento brasileiro, cerca de 23,2 porcento. Por sua vez, essas regiões são responsáveis por 32,3 porcento das receitas estrangeiras de firmas brasileiras investindo no exterior. O BNDES estendeu emprés-timos ou linhas de crédito para companias brasileiras na Argentina, Chile, Costa Rica, Cuba, República Dominicana, Equador, El Salvador, Honduras, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela. Na Argentina, por exemplo, aproximadamente 30 por-cento dos investimentos estrangeiros vêm do Brasil.

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90 Notas de Rodapé

42. Apesar de latino-americanos tenderem a criticar o Brasil pelos seus interesses econô-micos, o Brasil aponta para exemplos quando pôs a estabilidade e desenvolvimento regional acima do interesse nacional. Em 2007, por exemplo, o Brasil aceitou redu-zir a dívida paraguaia derivada do Tratado de Itaipú de 1973, o qual especificava que o Brasil essencialmente financiaria a construção inteira da hidroelétrica que os dois países dividem, e que o Paraguai—com recursos escassos—iria pagar o Brasil em pa-gamentos amortizados deduzidos da energia elétrica que o Paraguai vendia somente para o Brasil. Paraguaios viam Itaipú como um símbolo da dominância brasileira. De fato, o vice ministro de Relações Exteriores assegurou que o acordo original de 50 anos refletia “a realpolitik de uma formiga olhando para um elefante.” Em 2009, Lula rene-gociou os termos do tratado, prometendo triplicar a compensação paga ao Paraguai pela sua energia não utilizada e compremetendo-se com a construção de uma linha de transmissão para Assunção. Para alguns no Brasil, o gesto de Lula foi visto como uma concessão com ares de altruísmo. Para o Paraguai e outros na América Latina, foi um passo para corrigir o acordo injusto histórico.

43. Por exemplo, ver: Lisa Kubiske, “Peres and Abbas Visits in Perspective,” U.S. Embassy in Brasília, December 2, 2009.

44. Refira-se ao apêndice dos acordos bilaterais assinados em: http://www.cfr.org/brazil_task_force/.

45. Barack Obama, “Remarks by the President at the Summit of the Americas Opening Ceremony,” Port of Spain, Trinidad and Tobago, April 17, 2009.

46. Ver apêndice dos acordos bilaterais assinados em: http://www.cfr.org/brazil_ task_force/.

47. Os Estados Unidos concordou em modificar o programa de empréstimos e estabelecer um fundo de assistência temporário para a indústria de algodão brasileira. Em troca, o Brasil abandonou planos de impor mais de 800 milhões de dólares em sanções, as quais foram aprovadas pela OMC em 2009.

48. Letter from President Barack Obama to President Luiz Inácio da Silva, April 20, 2010, http://www.politicaexterna.com/11023/brazil-iran-turkey-nuclear-negotiations- obamas-letter-to-lula.

49. O comércio declinou para 26 porcento em 2009, impulsionado largamente pela queda em 34 porcento das importações americanas do Brasil, mas recuperou-se para 28 porcento em 2010 chegando a 59,3 bilhões de dólares, suportados por um aumento de 35 porcento nas exportações americanas. Em 2010, os Estados Unidos exportou 35,3 bilhões de dólares em bens para o Brasil, principalmente produtos químicos, compu-tadores e equipamentos eletrônicos, equipamento de transporte,e outras maquinas e metais fabricados. As imporações americanas do Brasil foram só 23,9 bilhões de dó-lares, sendo as importações de petróleo bruto responsáveis por quase 33 porcento do total, seguido de principalmente manufaturas de metal, produtos agrícolas e máqui-nas. O comércio Brasil-Estados Unidos foi bastante balanceado no último quarto de século. Os Estados Unidos era importador líquido do Brasil de 1985 a 1994 antes de se tornar um exportador líquido de 1995 a 2001, voltando a ser importador de 2002 a 2007, e mais uma vez exportador de 2008 até a presente data.

50. Carlos Valdez, “Cocaine Flows Over Brazil-Bolivia Border,” Washington Post, June 10, 2007, http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2007/06/10/AR2007061000668_pf.html.

51. Lisa Kubiske, “Keeping Lit Brazil and Bolivia’s Flickering Interest in Trilateral Counter-narcotics Cooperation with the U.S.,” U.S. Embassy in Brasília, September 14, 2009.

52. “Drugs and Democracy: Toward a Paradigm Shift,” Latin American Commission on Drugs and Democracy, February 11, 2009, http://www.drogasedemocracia.org/Arquivos/ declaracao_ingles_site.pdf.

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91Notas de Rodapé

53. Para mais detalhes, ver o relatório patrocinado pelo CFR de uma comissão indepen-dente, Andes 2020: A New Strategy for the Challenges of Colombia and the Region, http://www.cfr.org/chile/andes-2020/p6640.

54. O Itamaraty—sob o novo ministro de Relações Exteriores—está desenvolvendo um departamento que irá simplificar políticas sobre os Estados Unidos.

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92

Jed N. Bailey é especialista em mercados energéticos em países em desenvolvimento e o fundador do Popo Agie Group, uma incubadora focada em produtos e serviços que promovem aprendizado para todas as idades. Anteriormente, era vice-presidente de consultoria de pesquisa aplicada na IHS CERA, onde era responsável pela pesquisa global e sob medida da IHS CERA sobre a prática de consultoria. Bailey é autor de mais de setenta relatórios da IHS CERA e dirigiu o estudo multi-cliente da IHS CERA que examinou os futuros energéticos de Brasil, China, México, América do Sul e Sudeste asiático. Foi amplamente citado em publicações que vão desde a The Economist e o Financial Times até o Iran Daily e apareceu no canal Bloomberg e na CNN Internacional. Seus projetos atuais no Popo Agie Group incluem o desenvolvimento do Kaleidoshapes, um brinquedo para crianças de construção e teatro, a experimentação com a apresentação gráfica de dados complexos, e exploração do uso de narrativas em estratégias corporativas e comuni-cações. Bailey possui bacharelado da Universidade do Wyoming e um título de Mestre do Massachusetts Institute of Technology.

Samuel W. Bodman foi o secretário americano de Energia de 2005 a 2009 e anteriormente serviu como vice-secretário do Tesouro e vice-secretário de Comércio. Bodman atualmente serve na diretoria da Hess Corporation, da AES Corporation e da Weatherfold Internacional. É trustee do Massachusetts Institute of Technology (MIT), da Cornell University, e do Instituto Carnegie, além de trustee vitalício do Isa-bella Stewart Gardner Museum. É membro da National Academy of Engeneering e da American Academy of Arts and Sciences. Também é presidente do conselho consultivo do University of Texas Energy Ins-titute e membro da força-tarefa sobre energia do Hoover Institute na Stanford University. Serve no Conselho Consultivo Internacional da King Abdullah University of Science and Technology. Bodman possui

Membros da Força-Tarefa

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93Membros da Força-Tarefa

bacharelado da Cornell University e PHd do MIT, onde também foi professor de engenharia química. Começou seu trabalho no setor finan-ceiro como direitor técnico da American Research and Development Corporation. Em 1983 se tornou presidente e CEO da Fidelity Invest-ments e diretor do Fidelity Group of Mutual Funds. Em 1987, se uniu a Cabot Corporation, onde foi presidente, CEO e diretor.

R. Nicholas Burns é professor de prática diplomática e política inter-nacional na Harvard Kennedy School e diretor do projeto The Future of Diplomacy e professor catedrático para os programas de Oriente Médio e sobre Índia e Sul da Ásia. Está no Conselho de Diretores do Belfer Center for Science and International Affairs e no conselho de diversas organizações sem fins lucrativos. O Embaixador Burns serviu no serviço diplomático norte-americano por 20 anos até sua aposen-tadoria em abril de 2008, servindo diversas vezes como subsecretário de Estado para assuntos políticos, embaixador americano na OTAN e na Grécia e porta-voz Departamento de Estado. Foi diretor sênior para questões da Rússia, Ucrânia e Eurásia no Conselho de Segurança Nacional e assistente especial do presidente William J. Clinton e, antes disso, diretor de assuntos soviéticos no governo George H. W. Bush. Também serviu no consulado em Jerusalém e nas embaixadas do Egito e Mauritânia. Recebeu os prêmios: Secretary of State’s Distinguished Service Award, Johns Hopkins University’s Woodrow Wilson Award for Public Service e Boston College’s Alumni Achievement Award. Tem um bacharelado da Boston College e um título de Mestre da John Hopkins School of Advanced International Studies.

Louis E. Caldera é o vice-presidente de programas da Jack Kent Cooke Foundation, onde lidera o programa de bolsas da fundação e é responsável pelos sistemas de comunicação e informação da funda-ção, desenvolvimento de programas e funções de avaliação. Caldera tem uma distinta carreira de serviço público que inclui serviço como oficial no exército americano, legislador na Califórnia, secretáro do exército no governo Clinton e presidente da Univesidade do New Mexico. Também serviu no governo Clinton como diretor gerente e Chief Operating Officer da Corporation for National and Community Service. Antes de se unir à Jack Kent Cooke Foundation, Caldera foi senior fellow do Center for American Progress, um think tank progres-sista, onde ele focou em educação no nível superior, imigração e outras

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94 Membros da Força-Tarefa

questões de políticas públicas que afetam as comunidades pobres e etnicamente diversas dos Estados Unidos. Serviu no Departamento de Defesa do time de transição de Barack Obama. Caldera é graduado da U.S. Military Academy at West Point e tem diplomas de direito e negócios da Universidade de Harvard.

Eileen B. Claussen é presidente do Pew Center on Global Climate Change and Strategies for the Global Environment. Claussen foi secretária de Estado assistente para oceanos e assuntos interacionais ambientais e científicos. Antes de se unir ao Departamento de Estado, Claussen serviu por três anos como assessora especial do presidente e diretora sênior para assuntos globais de meio-ambiente no Conselho de Segurança Nacional. Também foi presidente do United Nations Multilateral Montreal Protocol Fund. Claussen foi diretora dos pro-gramas atmosféricos na U.S. Environmental Protection Agency (EPA), onde era responsável por atividades relacionadas à depleção da camada de ozônio, do Title IV do Clean Air Act e dos programas de eficiência da EPA. Claussen é membro do Council on Foreign Relations, do conse-lho consultivo da Ecomagination, do painel consultivo do programa de economia ambiental de Harvard e do comitê consultivo da U.S. Com-modity Future Trading Commission. É recipiente do Department of State’s Career Achievement Award e do Distinguished Executive Award for Sustained Extraordinary Accomplishment. Também foi Timothy Atke-son scholar in residence na Universidade de Yale.

Nelson W. Cunningham é sócio e co-fundador da McLarty Associa-tes. Sob sua liderança, McLarty Associates se tornou um empresa com alcance global e mais de quatro dúzias de empregados e consultores em Washington e ao redor do mundo. Cunningham serviu como assessor especial para o Presidente Clinton para assuntos do Hemisfério Oci-dental e como conselheiro geral no White House Office of Administra-tion. Anteriormente, serviu como conselheiro geral para o presidente do Comitê Judiciário do Senado, Joseph R. Biden, focando em ques-tões de justiça constitucional, criminal e judicial. Também serviu como assistant U.S. attorney no distrito do sul de Nova Iorque de 1988 a 1994. Cunningham foi consultor de campanha e membro da equipe de tran-sição de Obama e Biden e foi assessor de política externa na campanha de 2004 de John Kerry além dos outros candidatos do partido demo-crata. É membro ativo dos conselhos do Institute of the Americas, do

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95Membros da Força-Tarefa

Business Council for International Understanding, do American Secu-rity Project e do U.S.-India Business Council e é membro do conselho do presidente sobre atividades internacionais em Yale, do comitê con-sultivo sobre política econômica internacional do Departamento de Estado, do comitê consultivo do Export-Import Bank, do Council of the Americas e do Council on Foreign Relations. Cunningham se gra-duou na Yale College e em Stanford Law School.

Eli Whitney Debevoise II é sócio sênior no escritório de advocacia Arnold & Porter LLP, com envolvimento particular em transações financeiras internacionais, políticas públicas, arbitragem internacional, litígio multi-jurisdicional, comércio bancário e comércio internacional. O escritório age como conselheiro legal para o Brasil em alguns assun-tos transacionais e de litígio. Ele voltou à Arnold & Porter LLP em 2010 após servir como diretor executivos dos EUA para o Banco Mundial em 2007. Durante seu mandato no Banco, teve um papel de destaque nas negociações de aumento de capital e realinhamento de quotas e parti-cipou nas preparações para as cúpulas do G-8 e do G-20. Debevoise deu aula na Harvard Law School, na Yale Law School, na Tuck School of Business em Dartmouth e no Hungarian Institute for the Training of Bankers. Em 2010, deu a palestra Lauder leadership lecture no Lauder Institute na University of Pennsylvania. Escreveu artigos sobre finanças soberanas, sistema bancário internacional, arbitragem internacional, regulação de securities, resolução de disputas na OMC, controle de exportação americano e imunidade soberana. Debevoise se graduou na Universidade de Yale e na Harvard Law School. Tem um doutourado honorário em direito da Vermont Law School e é recipiente da Ordem de Rio Branco.

Paula J. Dobriansky é a vice-presidente sênior e chefe global de assun-tos governamentais e regulatórios na Thomson Reuters. É fellow adjunta sênior no John F. Kennedy Belfer Center for Science and Inter-national Affairs em Harvard e detém a distinta cadeira de segurança nacional na U.S. Naval Academy. De maio de 2001 a janeiro de 2009, a embaixadora Dobriansky serviu como subsecretária de Estado para democracia e assuntos globais. Em fevereiro de 2007, foi indicada como enviada especial do presidente para a Irlanda do Norte. Serviu como vice-presidente sênior e diretora do escritório de Washington do Coun-cil on Foreign Relations (CFR) e como primeira George F. Kennan

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96 Membros da Força-Tarefa

senior fellow for Russian and Eurasian studies do CFR. Suas outras indicações no governo incluem diretora associada para políticas e pro-gramas na United States Information Agency, vice-secretária de Estado assistente para direitos humanos e assuntos humanitários e diretora de assuntos europeus e soviéticos no Conselho de Segurança Nacional. De 1997 a 2001, serviu no U.S. Advisory Commission on Public Diplo-macy. A embaixadora Dobriansky recebeu um BSFS da Georgetown University’s School of Foreign Service e títulos de Mestre e PhD da Universidade de Harvard. É recipiente de várias honras, incluindo a maior honra do secretario de Estado, a Distinguished Service Medal.

Shepard L. Forman é diretor emérito e senior fellow do Center on International Cooperation da New York University. Antes de fundar o centro, dirigiu o programa de direitos humanos, governança e negócios internacionais na Ford Foundation. Serve nas diretorias do Internatio-nal Peace Institute, do Global Fairness Initiative, do Peace Dividend Trust e do Scholars at Risk, entre outros. Forman recebeu seu PhD em antropologia da Columbia University e fez seu pós-doutorado em desenvolvimento econômico no Institute of Development Studies em Sussex, Inglaterra. Serviu no corpo docente da Indiana University, na University of Chicago, e na University of Michigan e conduziu pesquisa de campo no Brasil e no Timor. É autor de dois livros sobre Brasil e inúmeros artigos e policy papers sobre ajuda humanitária e recons-trução pós-conflito e statebuilding. É coeditor, com Stewart Patrick, de Good Intentions: Pledges of Aid to Countries Emerging from Conflict e Multilateralism and U.S. Foreign Policy: Ambivalent Engagement; com Romita Ghosh de Promoting Reproductive Health: Investing in Health for Development; e, com Bruce Jones e Richard Gowen, de Cooperating for Peace and Security. Também editou Diagnosing America: Anthropology and Public Policy, que examina a aplicação de estudos antropológicos a problemas sociais nos Estados Unidos.

José A. Fourquet é diretor do DBS Financial Group, uma das maiores firmas de consultoria financeira do Estado da Florida. Anteriormente, Fourquet trabalhou por quarto anos como diretor e chefe da divisão de investimentos privados de Miami da Lehman Brothers, Inc. Antes de se unir à Lehman, o Presidente George W. Bush nomeou Fourquet e o senado Americano o confirmou em unanimidade para servir como dire-tor executivo dos EUA do Banco Interamericano de Desenvolvimento

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97Membros da Força-Tarefa

de 2001 a 2004. Anteriormente, Fourquet trabalhou por cinco anos como vice presidente das divisões de fixed income, currency e commodi-ties da Goldman, Sachs & Co., em Nova Iorque. Fourquet começou sua carreira como operations officer na Central Intelligence Agency (CIA) e passou mais de seis anos trabalhando na América Latina e no Caribe, onde coletou, avaliou e reportou inteligência de alta prioridade do inte-resse dos policymakers americanos. Fourquet graduou-se em Geor-getown University com bacharelado em government e um certificado especial da School of Foreign Service em estudos latino-americanos. Também obteve um MBA em finanças da Columbia Business School, onde foi introduzido na sociedade de honra Beta Gamma Sigma.

Maria C. Freire é presidente da Albert and Mary Lasker Foundation. Antes disso, liderou a Global Alliance for TB Drug Development, transformando a organização em líder mundial no desenvolvimento de remédios contra a tuberculose. Expert reconhecida internacionalmente em comercialização de tecnologia, Freire dirigiu o Office of Techno-logy Transfer no U.S. National Institutes of Health (NIH) e estabele-ceu o Office of Technology Development na University of Maryland em Baltimore e em Baltimore County. Freire obteve seu bacharelado na Universidad Peruana Cayetano Heredia (Lima, Peru) e seu PhD em biofísica da University of Virginia. Ativa no comitê consultivo do NIH e diretora do international advisory steering committee do Instituto Carlos Slim de la Salud (México), do painel consultivo da Association of American Medical Colleges para pesquisa e no painel consultivo internacional do Ministerial Working Group on Scaling up of Primary Health Systems, Freire foi uma das dez comissárias selecionadas para a World Health Organization’s Commission on Intellectual Property Rights, Innovation and Public Health (CIPIH). Membro do Institute of Medicine of the National Academies of Science, recebeu o prêmio Department of Health and Human Services Secretary’s Award for Dis-tinguished Service, também recebeu o Arthur S. Flemming Award, e o Bayh-Dole Award.

Stanley A. Gacek* é um advogado trabalhista com experiência nos Estados Unidos e internacional. É um expert reconhecido em questões socias e trabalhistas brasileiras e é autor de uma análise comparativa minuciosa dos sistemas de leis trabalhistas dos Estados Unidos e do Brasil, chamada Sistemas de Relações do Trabalho: Exame dos Modelos

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98 Membros da Força-Tarefa

Brasil-Estados Unidos. Gacek atualmente serve como funcionário de relações internacionais no bureau de assuntos internacionais do Depar-tamento do Trabalho e é responsável por políticas e análises comparati-vas de leis trabalhistas e por representar o governo americano em suas discussões bilaterais com ministros do trabalho do mundo afora. Antes do seu atual emprego com o Departamento do Trabalho, Gacek serviu como conselheiro especial para trabalho internacional no Solidarity Center/AFL-CIO e foi diretor associado do departamento internacio-nal do AFL-CIO. Foi diretor assistente de assuntos internacionais do AFL-CIO (para as Américas) de 1997 a 2005. Serviu como diretor assis-tente para assuntos internacionais da United Food and Commercial Workers International Union (UFCW) de 1984 a 1997 e foi conselheiro geral assistente do UFCW’ de 1979 a 1984. Gacek recebeu seu bachare-lado em estudos sociais da Universidade de Harvard e seu JD da Har-vard Law School. Foi professor adjunto da Universidade de Harvard em 2008 e foi um membro ativo da District of Columbia Bar Association.

Sergio J. Galvis é parceiro da Sullivan & Cromwell LLP e encabeça os negócios da firma no Brasil e na América Latina. Por mais de 20 anos, Galvis trabalhou com assuntos envolvendo partes de mais de 25 países da Ásia, Europa e América Latina. Sua experiência recente no Brasil inclui a proposta de combinação da LAN Airlines com a TAM S.A. Em 2010, recebeu o prêmio Distinguished Global Citizen Award no evento anual Global Kids. Foi nomeado pelo National Law Journal como um dos 50 advogados de minoria mais influentes nos Estados Unidos e pela Hispanic Business magazine como um dos 100 hispânicos mais influentes nos Estados Unidos em 2008. Recebeu três vezes o prêmio Burton Award for Legal Achievement, mais recentemente em 2011 pelo seu artigo “Introducing Dodd-Frank,” publicado na Latin Lawyer. Em 2002, Galvis foi parte de um grupo de advogados eminentes chamados por um grupo de trabalho do G-10 para ajudar a desenvolver cláusulas de ação coletiva para financiamento de dívidas soberanas.

Kevin P. Green se uniu à IBM em novembro de 2004 e lidera as relações comerciais com o Departamento de Defesa e a comunidade de inteli-gência, que inclui a marinha americana, os marines, o exército ameri-cano, a força aérea americana, e agências do comando conjunto e do Departamento de Defesa e agências de National Security Intelligence. Antes de entrar na IBM, o almirante Green passou 33 anos como oficial

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99Membros da Força-Tarefa

da marinha, completando sua carreira na marinha como deputy chief of naval operations (DCNO) para operações, planos e política. Como DCNO, coordenou operações navais globais, planejamento estraté-gico, operações de informação e desenvolvimento de políticas navais e gerenciava as relações com o escritório do secretário de Defesa, com o Estado Maior Conjunto, o pessoal do Conselho de Segurança Nacio-nal, o serviços militares norte-americanos, outras agências federais e marinhas aliadas. Como flag officer, comandou as forças navais ame-ricanas do comando do sul, o Abraham Lincoln carrier battle group e o Naval Training Center, em Great Lakes, Illinois. Serviu no gabinete do Secretário da Defesa, no quartel general da Frota Atlântica, e no Bureau of Naval Personnel e comandou um esquadrão de destroyers e uma fra-gata com mísseis teleguiados. Se graduou na U.S. Naval Academy e no National War College e recebeu seu título de mestre da Naval Postgra-duate School.

Donna J. Hrinak é vice-presidente de políticas públicas da PepsiCo, Inc. Serviu como embaixadora americana em quatro países—Brasil, Venezuela, Bolívia, e República Dominicana—e como deputy assis-tant secretary of state para México e Caribe. Também teve missões em Colômbia, Honduras, México e Polônia. As honras da embaixadora Hrinak incluem o U.S. government’s Distinguished Public Service Award e o State Department’s Career Achievement Award. Em 2005, foi nome-ada mulher de negócios internacionais do ano pela sessão de Miami da Organization of Women in International Trade. Está no conselho de diretores do Inter-American Dialogue e no conselho consultivo da McLarty Associates. Mora em Purchase, NY.

Robert L. Hutchings é decano da Lyndon B. Johnson School of Public Affairs na University of Texas em Austin. Antes disso, Hutchings era diplomata residente na Woodrow Wilson School of Public and Interna-tional Affairs na Universidade de Princeton. Também foi catedrático do mestrado em políticas públicas e serviu por cinco anos como reitor assis-tente. De 2003 a 2005, de licença para serviço público em Princeton, foi presidente do U.S. National Intelligence Council. Também serviu como fellow e diretor de estudos internacionais no Woodrow Wilson Inter-national Center for Scholars, como diretor de assuntos europeus no Conselho de Segurança Nacional e como consultor especial do secre-tário de Estado, com o posto de embaixador. O embaixador Hutchings

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100 Membros da Força-Tarefa

foi deputy director da Radio Free Europe e esteve no corpo docente da University of Virginia, teve cargos de adjunto na Johns Hopkins Uni-versity School of Advanced International Studies e na Georgetown University’s School of Foreign Service. É diretor do Atlantic Council of the United States e da Foundation for a Civil Society e é membro do Council on Foreign Relations, do British-North American Committee e do comitê executive da Association of Professional Schools of Inter-national Affairs.

G. John Ikenberry é o Albert G. Milbank professor of politics and international affairs at Princeton University na Woodrow Wilson School. Também lecionou na Georgetown University e na University of Pennsylvania. Teve postos no Departamento de Estado, no policy planning staff e no Carnegie Endowment for International Peace, como associado sênior. Ikenberry também foi fellow não residente da Brookings Institution. Durante 2002–2004, foi fellow transatlân-tico do German Marshall Fund. Em 1998–99, Ikenberry foi fellow no Woodrow Wilson International Center for Scholars. Em 1997–98, foi international affairs fellow do CFR no Japão, patrocinado pela Hitachi Ltd. e passou um ano afiliado com o Institute for International Policy Studies em Tóquio. Publicou em todas as maiores publicações de relações internacionais e escreveu amplamente em jornais de política além de autorar uma série de livros. Também é revisor de livros sobre assuntos legais e políticos para a Foreign Affairs. Ikenberry acabou de publicar um livro novo, Liberal Leviathan: The Origins, Crisis, and Transformation of the American World Order. Recebeu seu PhD da Uni-versity of Chicago.

Timothy M. Kingston é parceiro e diretor da Goldman, Sachs & Co., e co-lidera o esforço das potências mundiais na divisão de investi-mentos. Entrou na Goldman Sachs em maio de 1988, e sua carreira se ampliou em várias áreas funcionais e geográficas, incluindo dez anos no grupo da América Latina, onde ele serviu como chief operating offi-cer e se concentrou no Brasil. Kingston serve no conselho consultivo do Programa Latin American studies na Universidade de Princeton e no conselho norte-americano do INSEAD e é diretor da North Ame-rican-Chilean Chamber of Commerce. Anteriormente, foi diretor do Mercado Livre. Kingston se graduou na Universidade de Princeton e tem um MBA do INSEAD.

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101Membros da Força-Tarefa

Thomas E. Lovejoy foi eleito professor da George Mason Univer-sity em março de 2010. Também possui a cadeira de biodiversidade no Heinz Center for Science, Economics, and the Environment e foi presidente do mesmo entre 2002 e 2008. Começando nos anos 70, ajudou a trazer atenção para a questão do desflorestamento tropical, e em 1980, publicou a primeira estimativa das taxas de extinção global. Lovejoy trabalhou na interação entre mudanças climáticas e biodiver-sidade por mais de 20 anos, cunhando o termo diversidade biológica e originando o conceito de trocas debt-for-nature. É fundador da série de televisão aberta “Nature” e serviu como conselheiro sênior ao pre-sidente do United Nations Foundation, foi o principal conselheiro do Banco Mundial sobre biodiversidade e é especialista de destaque em meio-ambiente da região da América Latina, foi secretário assistente para assuntos ambientais e externos environmental and external affairs da Smithsonian Institution e vice-presidente executivo do World Wil-dlife Fund (WWF) americano. Serviu em conselhos consultivos nos governos Reagan, George H.W. Bush e Clinton. Em 2009 foi nomeado conservation fellow pela National Geographic Society. Preside o painel de ciência e tecnologia do Global Environment Facility. Recebeu seu bacharelado e PhD da Universidade de Yale.

Jennifer L. McCoy é diretora do Carter Center’s Americas program e é professora de ciências políticas da Georgia State University desde 1984. Como parte de suas responsabilidades gerenciando o Americas program, ela dirige o Carter Center’s Friends of the Inter-American Democratic Charter group, e já gerenciou o projeto do Carter Center sobre mediação e monitoramento na Venezuela de 2002 a 2004. Dirigiu missões de monitoramento de eleições para o Carter Center na Bolívia, Nicarágua, Panama, México, Venezuela, Jamaica e Peru e participou de delegações para eleições em Indonesia, Haiti, Suriname e Guiana. A carreira acadêmica de McCoy inclui trabalho de campo extensivo na Venezuela, Nicaragua e Uruguai, onde conduziu pesquisa como fellow da Fulbright em 1991 e 1992. Especialista em democratização, proteção internacional coletiva e promoção de democracia, e política latino-americana, o livro mais recente de McCoy é International Mediation in Venezuela (com Francisco Diez). Também é editora e contribuidora do The Unraveling of Representative Democracy in Venezuela (com David Myers), Do Politicians Learn from Political Crises? e Venezuelan Demo-cracy Under Stress.

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102 Membros da Força-Tarefa

Joy Olson é diretora executiva do Washington Office on Latin America (WOLA) e é especialista de destaque em direitos humanos e políticas americanas para a América Latina. Sob a direção de Olson, o WOLA está sendo pioneiro em novas abordagens de advocacia em direitos humanos, focando nas causas por trás da injustiça, desigualdade e vio-lência. O Washington Post reconheceu o WOLA como uma das organiza-ções sem fins lucrativas mais bem gerenciadas da região de Washington. Olson é especialista em políticas militares e de segurança e é defensora da causa para uma maior transparência dos programas militares na América Latina. Foi co-fundadora do projeto Just the Facts, que faz com que informações sobre as políticas militares dos Estados Unidos para a América Latina se tornem publicamente acessíveis. Por mais de uma década, co-autorou um estudo sobre tendências na assistência de segurança americana, incluindo o relatório Waiting for Change. Antes de se unir ao WOLA, Olson dirigiu o Latin America Working Group, uma coalizão de 60 organizações não-governamentais trabalhando para promover políticas americanas pacíficas e justas em relação à América Latina. Olson testemunhou ao Congresso Americano sobre questões de política na América Latina desde direitos humanos no México até políticas anti-drogas e os problemas da pobreza e desigual-dade na região. Frequentemente é vista na mídia, incluindo CNN, CNN Español, BBC, PBS NewsHour, Rádio Pública Nacional e uma variedade de mídias nacionais e internacionais. Olson recebeu seu título de mestre da National Autonomous University of Mexico, seguido de dois anos de trabalho com desenvolvimento comunitário em Honduras.

Brian D. O’Neill é vice-presidente da Lazard International. Suas res-ponsabilidades incluem América Latina e Canadá. O’Neill tem expe-riência extensa em trabalhar junto a governos, corporações locais e multinacionais e instituições financeiras. É diretor da Signatura Lazard no Brasil e do MBA Lazard na América Central e do Sul. Foi o par-ceiro indicado para lidar com a aliança stratégica da empresa Alfaro, Davila y Rios S.C. no México. O’Neill foi vice-secretário assistente na Secretaria do Tesouro de 2007 a 2009. Por cinco meses em 2008, foi o diretor americano em exercício do Banco Interamericano de Desen-volvimento. Antes disso, trabalhou para o JPMorgan Chase por mais de 30 anos, onde cumpriu vários papéis de liderança, incluindo chair-man of investment banking for Latin America and Canada de 2001 a

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103Membros da Força-Tarefa

2006. Viveu e trabalhou na América do Sul por 12 anos em Santiago, Chile, Buenos Aires, Argentina, e São Paulo, Brasil. O’Neill é diretor do Council of the Americas, da Americas Society, e do Inter-American Dialogue. É membro do Council on Foreign Relations e membro do conselho consultivo do David Rockefeller Center for Latin America Studies na Universidade de Harvard.

Michelle Billig Patron é diretora sênior do PIRA Energy Group. Antes de entrar no PIRA, Patron era international affairs fellow no Council on Foreign Relations e conduzia pesquisa energética no Deutsche Bank. Previamente em sua carreira, serviu como conselheira de política inter-nacional no Departamento de Energia (DOE) nos governos Clinton e George W. Bush. Durante esse período, foi consultora do secretário de Energia e outros oficiais sêniores do governo americano em relação aos grandes países produtores e consumidores de energia, incluindo Venezuela, Mexico, Brazil, China, Nigéria e a União Européia. Em 2001, Patron serviu como attaché de energia na embaixada americana em Pequim. Antes do DOE, trabalhou na Agência Internacional de Energia, na Casa Branca, na UNICEF e no Center for International Environmental Law. Patron tem um bacharelado da Universidade de Columbia e um título de mestre da Johns Hopkins School of Advanced International Studies. Foi comentadora nas mídias CNBC, BBC, NPR, the New York Times e the Economist e escreveu para a Foreign Affairs, pro Financial Times e pro Los Angeles Times.

David Perez foi diretor gerente da Palladium Equity Partners desde 2003. Anteriormente, trabalhou em posições sênior na General Atlan-tic Partners e Atlas Venture e também trabalhou na Chase Capital Par-tners e James D. Wolfensohn, Inc. Perez está no conselho de diretores das empresas do portfólio particular do grupo Palladium, Aconcagua Holdings, Inc.; American Gilsonite Company; Capital Contractors, Inc.; DolEx Dollar Express, Inc.; Jordan Healthcare Holdings, Inc.; e Prince Minerals, Inc. Perez é diretor do conselho de diretores da Natio-nal Association of Investment Companies, é membro do Council on Foreign Relations e é presidente do conselho de diretores do Ballet His-pánico. Perez tem um BS/MS da Dresden University of Technology, um diploma MEng em engineering management da Cornell University e um MBA da Harvard Business School.

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104 Membros da Força-Tarefa

Riordan Roett é o professor de ciências políticas na cadeira Sarita and Don Johnston e diretor de estudos ocidentais na Johns Hopkins Paul H. Nitze School of Advanced International Studies (SAIS). Em 2004, a SAIS anunciou o estabelecimento da cadeira Riordan Roett de estu-dos latino-americanos. De 1983 a 1995, Roett serviu como consultor do Chase Manhattan Bank em várias capacidades. Entre 1994–95 foi o analista político sênior na divisão de mercados emergentes do grupo de mercados e capital internacional do banco. Também faz parte do quadro de diretores de diversos fundos na Legg Mason, Inc. É membro do Council on Foreign Relations e do Bretton Woods Committee e é ex-presidente nacional da Latin American Studies Association. É autor e editor de vários livros, incluindo o mais novo, entitulado The New Brazil. Roett concluiu o Bacharelado, o Mestrado e o PhD na Universi-dade de Columbia.

David J. Rothkopf serviu como presidente e Chief Executive do Garten Rothkopf. Também é professor visitante do Carnegie Endowment for International Peace e preside o Carnegie Economic Strategy Roundta-ble e o National Strategic Investment Dialogue. Ele é autor de Runing the World: The Inside Story of the National Security Council e Superclass: The Global Power Elite and the World they are Making. Seu próximo livro, Power, Inc.: The Epic Rivalry Between Big Business and Government—and the Reckoning that Lies Ahead será publicado em 2012. Ele também escreve em seu blog diário na foreignpolicy.com. Antes de inaugurar o Garten Rothkopf, ele foi presidente, CEO e co-fundador do Intelli-bridge Corporation, uma das principais provedoras de análises inter-nacionais e inteligência open source. Antes disso, foi diretor executivo da Kissinger Associates, firma de consultoria internacional fundada e presidida pelo ex-secretário de Estado dos EUA Henry A. Kissinger. Rothkopf serviu como subsecretário de Comércio, dirigindo 2.400 funcionários da International Trade Administration. Ele participou do governo Clinton em 1993 como vice-subsecretário de Comércio para desenvolvimento de políticas de comércio internacional. Rothkopf foi co-fundador, diretor e CEO da International Media Partner, Inc.—e editora que publica as revistas CEO e Emerging Markets—e organiza-dor das CEO Institutes.

Andrew Small é atualmente diretor do comitê para relações ultrama-rinas entre bispos americanos e a Igreja Católica na América Latina e

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105Membros da Força-Tarefa

Caribe. Padre Small foi consultor de política externa na Conferência Americana de Bispos Católicos de 2004 a 2009. Escreveu extensiva-mente sobre o papel da Igreja no domínio público e testemunhou frente ao Congresso americano sobre os impactos da política de comércio dos EUA em países em desenvolvimento.

Julia E. Sweig é Nelson and David Rockefeller senior fellow for Latin American studies, diretora para estudos latino-americanos e diretora da iniciativa Global Brazil no Council on Foreign Relations (CFR). Ela é autora do livro Cuba: What Everyone Needs to Know e de Friendly Fire: Losing Friends and Making Enemies in the Anti-American Century, assim como inúmeras publicações sobre política externa americana e latino-americana. Seu trabalho intitulado Inside the Cuban Revolution: Fidel Castro and the Urban Underground recebeu o prêmio Herbert Feis da American Historical Association por melhor livro do ano de uma acadêmica independente.

Tanisha N. Tingle-Smith é diretora e fundadora da Verdade Con-sulting, uma consultoria de análise de risco e pesquisa focada no Brasil. Seu trabalho é especializado nas relações internacionais bra-sileiras, com enfoque na geoeconomia das relações brasileiras com o Sul Global. Ela apresentou e contribuiu para artigos e capítulos de livros de universidades americanas e internacionais. De 2008 a 2009 ela foi consultora para o Programa das Nações Unidas para Desen-volvimento no intercâmbio de desenvolvimento sul-sul entre Brasil e África. Antes disso, serviu como analista de política externa e consul-tora da CIA e dos departamentos de Estado e Tesouro. Ela recebeu reconhecimento profissional e prêmios por seu trabalho analítico. De 1995 a 2001, foi analista e assistant vice president para pesquisa eco-nômica da América Latina com a Salomon Smith Barney e Merrill Lynch. Ela foi membra temporária do Council on Foreign Relations. Ela possui mestrado na School of International and Public Affairs da Universidade de Columbia.

James D. Wolfensohn foi presidente da Wolfensohn & Company, LLC, presidente do conselho consultivo internacional do Citigroup e consultor da administração sênior para estratégia global e assuntos internacionais do Citigroup. Em 2006, estabeleceu o Wolfensohn Center for Development no Brookings Institution. Wolfensohn foi

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106 Membros da Força-Tarefa

presente do Grupo do Banco Mundial de 1995 a 2005. Ele foi enviado especial em Gaza, no Oriente Médio; presidente e CEO do James D. Wolfensohn, Inc.; executivo parceiro do Salomon Brothers, New York, executive deputy chairman e diretor administrativo da Schroders, Lon-dres; e diretor administrativo do Darling & Co., Australia. Ele é pre-sidente emérito do conselho de administração do John F. Kennedy Center for Performing Arts e do Carnegie Hall. Além disso, foi presi-dente da International Federation of Multiple Sclerosis Societies, presi-dente do Conselho do Institute for Advanced Study na Universidade de Princeton, diretor do Business Council for Sustainable Development, presidente do comitê de finanças e diretor da Rockefeller Foundation e do Population Council e membro do conselho da Rockefeller Univer-sity. Ele foi trustee honorário do Brookings Institution e membro do Council on Foreign Relations e também da Century Association.

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107

Fulton ArmstrongU.S. Senate Committee on Foreign Relations

Daniel Kurtz-PhelanU.S. Department of State

Elizabeth LaraWolfensohn & Company, LLC

Michael A. LeviCouncil on Foreign Relations

Carl E. MeachamU.S. Senate Committee on Foreign Relations

Kellie Meiman HockMcLarty Associates

Shannon K. O’NeilCouncil on Foreign Relations

Peter A. QuilterU.S. House of Representatives Committee on Foreign Affairs

Matias SpektorGetulio Vargas Foundation (Fundação Getulio Vargas)

Jason SteinbaumHouse Subcommittee on the Western Hemisphere

Observadores da Força-Tarefa

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108

U.S. Strategy for Pakistan and AfghanistanRichard L. Armitage e Samuel R. Berger, Presidentes; Daniel S. Markey, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 65 (2010)

U.S. Policy Toward the Korean PeninsulaCharles L. Pritchard e John H. Tilelli Jr., Presidentes; Scott A. Snyder, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 64 (2010)

U.S. Immigration PolicyJeb Bush e Thomas F. McLarty III, Presidentes; Edward Alden, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 63 (2009)

U.S. Nuclear Weapons PolicyWilliam J. Perry e Brent Scowcroft, Presidentes; Charles D. Ferguson, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 62 (2009)

Confronting Climate Change: A Strategy for U.S. Foreign PolicyGeorge E. Pataki e Thomas J. Vilsack, Presidentes; Michael A. Levi, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 61 (2008)

U.S.-Latin America Relations: A New Direction for a New Reality Charlene Barshefsky e James T. Hill, Presidentes; Shannon O’Neil, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 60 (2008)

U.S.-China Relations: An Affirmative Agenda, A Responsible Course Carla A. Hills e Dennis C. Blair, Presidentes; Frank Sampson Jannuzi, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 59 (2007)

National Security Consequences of U.S. Oil Dependency John Deutch e James R. Schlesinger, Presidentes; David G. Victor, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 58 (2006)

Russia’s Wrong Direction: What the United States Can and Should Do John Edwards e Jack Kemp, Presidentes; Stephen Sestanovich, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 57 (2006)

More than Humanitarianism: A Strategic U.S. Approach Toward Africa Anthony Lake e Christine Todd Whitman, Presidentes; Princeton N. Lyman e J. Stephen Morrison, Diretores do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 56 (2006)

Relatórios da Força-Tarefa Independente Publicado pelo Council on Foreign Relations

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109Relatórios da Força-Tarefa Independente

In the Wake of War: Improving Post-Conflict Capabilities Samuel R. Berger e Brent Scowcroft, Presidentes; William L. Nash, Diretor do Projeto; Mona K. Sutphen, Diretor SubstitutoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 55 (2005)

In Support of Arab Democracy: Why and How Madeleine K. Albright e Vin Weber, Presidentes; Steven A. Cook, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 54 (2005)

Building a North American Community John P. Manley, Pedro Aspe, e William F. Weld, Presidentes; Thomas d’Aquino, Andrés Rozental, e Robert Pastor, Vice Presidentes; Chappell H. Lawson, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 53 (2005)

Iran: Time for a New Approach Zbigniew Brzezinski e Robert M. Gates, Presidentes; Suzanne Maloney, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 52 (2004)

An Update on the Global Campaign Against Terrorist Financing Maurice R. Greenberg, Presidente; William F. Wechsler e Lee S. Wolosky, Diretores do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 40B (Somente publicação online, 2004)

Renewing the Atlantic Partnership Henry A. Kissinger e Lawrence H. Summers, Presidentes; Charles A. Kupchan, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 51 (2004)

Iraq: One Year After Thomas R. Pickering e James R. Schlesinger, Presidentes; Eric P. Schwartz, Project ConsultantRelatório da Força-Tarefa Independente No. 43C (Somente publicação online, 2004)

Nonlethal Weapons and Capabilities Paul X. Kelley e Graham Allison, Presidentes; Richard L. Garwin, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 50 (2004)

New Priorities in South Asia: U.S. Policy Toward India, Pakistan, and Afghanistan (Chairmen’s Report) Marshall Bouton, Nicholas Platt, e Frank G. Wisner, Presidentes; Dennis Kux e Mahnaz Ispahani, Diretores do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 49 (2003)Co-patrocinado com a Asia Society

Finding America’s Voice: A Strategy for Reinvigorating U.S. Public Diplomacy Peter G. Peterson, Presidente; Kathy Bloomgarden, Henry Grunwald, David E. Morey, e Shibley Telhami, Presidentes do Comitê de Trabalho; Jennifer Sieg, Diretor do Projeto; Sharon Herbstman, Coordenador do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 48 (2003)

Emergency Responders: Drastically Underfunded, Dangerously Unprepared Warren B. Rudman, Presidente; Richard A. Clarke, Conselheiro Sênior; Jamie F. Metzl, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 47 (2003)

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110 Relatórios da Força-Tarefa Independente

Iraq: The Day After (Chairs’ Update) Thomas R. Pickering e James R. Schlesinger, Presidentes; Eric P. Schwartz, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 43B (Somente publicação online, 2003)

Burma: Time for Change Mathea Falco, Presidente Relatório da Força-Tarefa Independente No. 46 (2003)

Afghanistan: Are We Losing the Peace? Marshall Bouton, Nicholas Platt, e Frank G. Wisner, Presidentes; Dennis Kux e Mahnaz Ispahani, Diretores do Projeto Relatório do Presidente da Força-Tarefa Independente (2003)Co-patrocinado com the Asia Society

Meeting the North Korean Nuclear Challenge Morton I. Abramowitz e James T. Laney, Presidentes; Eric Heginbotham, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 45 (2003)

Chinese Military Power Harold Brown, Presidente; Joseph W. Prueher, Vice Presidente; Adam Segal, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 44 (2003)

Iraq: The Day After Thomas R. Pickering e James R. Schlesinger, Presidentes; Eric P. Schwartz, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 43 (2003)

Threats to Democracy: Prevention and Response Madeleine K. Albright e Bronislaw Geremek, Presidentes; Morton H. Halperin, Director; Elizabeth Frawley Bagley, Diretor Associado Relatório da Força-Tarefa Independente No. 42 (2002)

America—Still Unprepared, Still in Danger Gary Hart e Warren B. Rudman, Presidentes; Stephen E. Flynn, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 41 (2002)

Terrorist Financing Maurice R. Greenberg, Presidente; William F. Wechsler e Lee S. Wolosky, Diretores do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 40 (2002)

Enhancing U.S. Leadership at the United Nations David Dreier e Lee H. Hamilton, Presidentes; Lee Feinstein e Adrian Karatnycky, Diretores do ProjetosRelatório da Força-Tarefa Independente No. 39 (2002)Co-patrocinado com Freedom House

Improving the U.S. Public Diplomacy Campaign in the War Against Terrorism Carla A. Hills e Richard C. Holbrooke, Presidentes; Charles G. Boyd, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 38 (Somente publicação online, 2001)

Building Support for More Open Trade Kenneth M. Duberstein e Robert E. Rubin, Presidentes; Timothy F. Geithner, Diretor do Projeto; Daniel R. Lucich, Diretor Substituto do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 37 (2001)

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111Relatórios da Força-Tarefa Independente

Beginning the Journey: China, the United States, and the WTO Robert D. Hormats, Presidente; Elizabeth Economy e Kevin Nealer, Diretores do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 36 (2001)

Strategic Energy Policy Update Edward L. Morse, Presidente; Amy Myers Jaffe, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 33B (2001)Co-patrocinado com o Instituto de Políticas Públicas James A. Baker III da Rice University

Testing North Korea: The Next Stage in U.S. and ROK Policy Morton I. Abramowitz e James T. Laney, Presidentes; Robert A. Manning, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 35 (2001)

The United States and Southeast Asia: A Policy Agenda for the New Administration J. Robert Kerrey, Presidente; Robert A. Manning, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 34 (2001)

Strategic Energy Policy: Challenges for the 21st Century Edward L. Morse, Presidente; Amy Myers Jaffe, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 33 (2001) Co-patrocinado com o Instituto de Políticas Públicas James A. Baker III da Rice University

A Letter to the President and a Memorandum on U.S. Policy Toward Brazil Stephen Robert, Presidente; Kenneth Maxwell, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 32 (2001)

State Department Reform Frank C. Carlucci, Presidente; Ian J. Brzezinski, Coordenador do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 31 (2001) Co-patrocinado com o Center for Strategic e International Studies

U.S.-Cuban Relations in the 21st Century: A Follow-on Report Bernard W. Aronson e William D. Rogers, Presidentes; Julia Sweig e Walter Mead, Diretores do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 30 (2000)

Toward Greater Peace and Security in Colombia: Forging a Constructive U.S. Policy Bob Graham e Brent Scowcroft, Presidentes; Michael Shifter, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 29 (2000)Co-patrocinado com o Inter-American Dialogue

Future Directions for U.S. Economic Policy Toward Japan Laura D’Andrea Tyson, Presidente; M. Diana Helweg Newton, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 28 (2000)

First Steps Toward a Constructive U.S. Policy in Colombia Bob Graham e Brent Scowcroft, Presidentes; Michael Shifter, Diretor do ProjetoInterim Report (2000)Co-patrocinado com o Inter-American Dialogue

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112 Relatórios da Força-Tarefa Independente

Promoting Sustainable Economies in the Balkans Steven Rattner, Presidente; Michael B.G. Froman, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 27 (2000)

Non-Lethal Technologies: Progress and Prospects Richard L. Garwin, Presidente; W. Montague Winfield, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 26 (1999)

Safeguarding Prosperity in a Global Financial System: The Future International Financial ArchitectureCarla A. Hills e Peter G. Peterson, Presidentes; Morris Goldstein, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 25 (1999)Co-patrocinado com o Instituto Internacional de Economia

U.S. Policy Toward North Korea: Next Steps Morton I. Abramowitz e James T. Laney, Presidentes; Michael J. Green, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 24 (1999)

Reconstructing the Balkans Morton I. Abramowitz e Albert Fishlow, Presidentes; Charles A. Kupchan, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 23 (Somente publicação online, 1999)

Strengthening Palestinian Public Institutions Michel Rocard, Presidente; Henry Siegman, Diretor do Projeto; Yezid Sayigh e Khalil Shi-kaki, Autores PrincipaisRelatório da Força-Tarefa Independente No. 22 (1999)

U.S. Policy Toward Northeastern Europe Zbigniew Brzezinski, Presidente; F. Stephen Larrabee, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 21 (1999)

The Future of Transatlantic Relations Robert D. Blackwill, Presidente e Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 20 (1999)

U.S.-Cuban Relations in the 21st Century Bernard W. Aronson e William D. Rogers, Presidentes; Walter Russell Mead, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 19 (1999)

After the Tests: U.S. Policy Toward India and Pakistan Richard N. Haass e Morton H. Halperin, Presidentes Relatório da Força-Tarefa Independente No. 18 (1998) Co-patrocinado com o Brookings Institution

Managing Change on the Korean Peninsula Morton I. Abramowitz e James T. Laney, Presidentes; Michael J. Green, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 17 (1998)

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113Relatórios da Força-Tarefa Independente

Promoting U.S. Economic Relations with Africa Peggy Dulany e Frank Savage, Presidentes; Salih Booker, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 16 (1998)

U.S. Middle East Policy and the Peace Process Henry Siegman, Coordenador do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 15 (1997)

Differentiated Containment: U.S. Policy Toward Iran and Iraq Zbigniew Brzezinski e Brent Scowcroft, Presidentes; Richard W. Murphy, Diretor do Projeto Relatório da Força-Tarefa Independente No. 14 (1997)

Russia, Its Neighbors, and an Enlarging NATO Richard G. Lugar, Presidente; Victoria Nuland, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 13 (1997)

Rethinking International Drug Control: New Directions for U.S. Policy Mathea Falco, Presidente Relatório da Força-Tarefa Independente No. 12 (1997)

Financing America’s Leadership: Protecting American Interests and Promoting American Values Mickey Edwards e Stephen J. Solarz, Presidentes; Morton H. Halperin, Lawrence J. Korb, and Richard M. Moose, Diretor do ProjetosRelatório da Força-Tarefa Independente No. 11 (1997)Co-patrocinado com o Brookings Institution

A New U.S. Policy Toward India and Pakistan Richard N. Haass, Presidente; Gideon Rose, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 10 (1997)

Arms Control and the U.S.-Russian Relationship Robert D. Blackwill, Presidente e Author; Keith W. Dayton, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 9 (1996) Co-patrocinado com o Nixon Center for Peace e Freedom

American National Interest and the United Nations George Soros, Presidente Relatório da Força-Tarefa Independente No. 8 (1996)

Making Intelligence Smarter: The Future of U.S. Intelligence Maurice R. Greenberg, Presidente; Richard N. Haass, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 7 (1996)

Lessons of the Mexican Peso Crisis John C. Whitehead, Presidente; Marie-Josée Kravis, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 6 (1996)

Managing the Taiwan Issue: Key Is Better U.S. Relations with China Stephen Friedman, Presidente; Elizabeth Economy, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 5 (1995)

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114 Relatórios da Força-Tarefa Independente

Non-Lethal Technologies: Military Options and Implications Malcolm H. Wiener, Presidente Relatório da Força-Tarefa Independente No. 4 (1995)

Should NATO Expand? Harold Brown, Presidente; Charles A. Kupchan, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 3 (1995)

Success or Sellout? The U.S.-North Korean Nuclear Accord Kyung Won Kim e Nicholas Platt, Presidentes; Richard N. Haass, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 2 (1995)Co-patrocinado com o Fórum de Relações Internacionais de Seul

Nuclear Proliferation: Confronting the New Challenges Stephen J. Hadley, Presidente; Mitchell B. Reiss, Diretor do ProjetoRelatório da Força-Tarefa Independente No. 1 (1995)

Para comprar uma cópia impressa, ligar para o Brookings Institute Press: 800.537.5487. Nota: Os relatórios Força-Tarefa estão disponíveis para download no website do CFR, www.cfr.org. para maiores informações, contactar [email protected]

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Relatório da Força-Tarefa Independente No. 66

Samuel W. Bodman e James D. Wolfensohn, Presidentes

Julia E. Sweig, Directora do Projeto

Brasil Global e Relações Estados Unidos-Brasil

www.cfr.org

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Jed N. Bailey Energy Narrative

Samuel W. Bodman R. Nicholas BurnsHarvard Kennedy School of Government Louis E. CalderaCenter for American Progress Eileen B. ClaussenPew Center on Global Climate Change Nelson W. CunninghamMcLarty Associates Eli Whitney Debevoise IIArnold & Porter LLP Paula J. DobrianskyThomson Reuters Shepard L. FormanCenter on International Cooperation José A. FourquetDBS Financial Group Maria C. FreireAlbert and Mary Lasker Foundation Stanley A. Gacek*U.S. Department of Labor Sergio J. GalvisSullivan & Cromwell LLP Kevin P. GreenIBM Corporation Donna J. HrinakPepsiCo, Inc. Robert L. HutchingsLyndon B. Johnson School of Public Affairs G. John IkenberryWoodrow Wilson Schoolof Public and International Affairs

Timothy M. KingstonThe Goldman Sachs Group, Inc.

Thomas E. LovejoyThe H. John Heinz Center for Science, Economics, and the Environment

Jennifer L. McCoyGeorgia State University

Joy OlsonWashington Office on Latin America

Brian D. O’NeillLazard Ltd.

Michelle Billig PatronPIRA Energy Group

David PerezPalladium Equity Partners

Riordan RoettThe Johns Hopkins University

David J. RothkopfGarten Rothkopf

Andrew SmallPontifical Mission Societies in the United States

Julia E. SweigCouncil on Foreign Relations

Tanisha N. Tingle-SmithVerdade Consulting

James D. WolfensohnWolfensohn & Company, LLC

*Gacek participou na Força-Tarefa sob sua afiliação com a American Federation of Labor e Congress of Industrial Organizations. Como um oficial da atual administração, ele não foi pedido a participar do consenso da Força-Tarefa.

Os relatórios de Força-Tarefa Independentes patrocinados pelo CFR oferecerem análises e prescrições políticas para os maiores problemas de relações externas que os Estados Unidos enfrenta, desenvolvidos através de deliberações não-partidárias que buscam o consenso.

Me m bros D a F orça-Ta r e fa