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DIREÇÃO ACADÊMICACélia Jussani

DIREÇÃO GERALFlorindo Corral

DIREÇÃO ADMINISTRATIVAGustavo Azzolini

COORDENADORA GERAL DE EADSandra Regina Giraldelli Ulrich

DIAGRAMAÇÃO E ARTE FINALReinaldo Silveira Carvalho

REVISÃO FINALMeire Teresinha Müller

FILOSOFIA E ÉTICA

AUTORASandra Regina Giraldelli Ulrich

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FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pela Biblioteca Central da FAM

U41f

Ulrich, Sandra Regina Giraldelli

Filosofia e ética / Sandra Regina Giraldelli Ulrich ; diagramação e arte final de Reinaldo Silveira Carvalho ; revisão final de Meire Teresinha Müller. -- Americana, 2015. 86 f. : il. Apostila elaborada para a disciplina EAD Filosofia e ética - Faculdade de Americana. Núcleo Geral. 1. Filosofia - Conceitos. 2. Ética - Conceitos. 3. Cidadania. I. Carvalho,

Reinaldo Silveira. II. Müller, Meire Teresinha. III. Título.

CDU 17

Proibida a reprodução total ou parcial por meio de impressão, em forma idêntica, resumida

ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma

1ª edição - 2015

1ª edição, 1ª reimpressão - 2016

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A Faculdade de Americana – FAM é mantida pela Associação Educacional Americanense, está

situada Endereço: Av. Joaquim Boer, 733 – Americana-SP; CEP 13477-360 e foi Credenciada pela Portaria

MEC nº 766/99 – DOU 18/05/1999.

A história da IES começou quando os dirigentes do então Colégio Bandeirantes, atual Instituto

Educacional de Americana, decidiram constituir uma nova entidade mantenedora, a Associação Educacional

Americanense, que tem como mantida a Faculdade de Americana.

O projeto de instalação da Faculdade de Americana – FAM foi resultado das condições econômico-

educacionais que a região de Americana apresenta, além de experiência dos seus dirigentes como

educadores atuantes.

A Associação Educacional Americanense entende que o ensino, a pesquisa e a extensão não

podem deixar de responder de forma dinâmica, eficiente e consequente aos problemas sociais que refletem

as necessidades da comunidade local, regional e nacional.

Para operacionalizar o projeto de criação dos cursos superiores, a entidade mantenedora consultou

especialistas das diversas áreas do conhecimento.

Assim, o projeto FAM foi idealizado com seriedade e acima de tudo com o compromisso de oferecer

a universalidade do saber: caráter substancial das instituições que justificam suas funções na comunidade

onde estão inseridas.

MISSÃO

A missão da FAM é produzir e disseminar o conhecimento nos diversos campos do saber, contribuindo

para o exercício pleno da cidadania mediante formação humanista, crítica e reflexiva, consequentemente

preparando profissionais competentes e atualizados para o mundo do trabalho presente e futuro.

VISÃO

"Tornar-se referência no ensino superior, promovendo o desenvolvimento da educação, cultura e

conhecimento nas regiões do polo têxtil e metropolitana de Campinas".

VALORES

• Ética, credibilidade e transparência;

• Visão humanista entre ensino, pesquisa e extensão;

• Compromisso social;

• Comprometimento com a qualidade;

• Gestão participativa;

• Profissionalismo e valorização de recursos humanos;

• Universalidade do conhecimento e fomento à interdisciplinaridade

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Prezado (a) Aluno (a),

Seja bem-vindo (a) à FAM – Faculdade de Americana!

Sentimo-nos orgulhosos em tê-lo fazendo parte da história que estamos construindo.

Aluno ingressante, que está dando início a esta fase tão importante, ou você que dá continuidade aos seus estudos, esteja certo de que o seu sonho é parte das nossas metas e que estaremos trabalhando, constantemente, para torná-lo um profissional capaz e um cidadão completo.

Uma equipe empenhada também está à sua disposição para esclarecer quaisquer dúvidas que permaneçam em relação ao curso.

Desejamos a todos bons estudos!

PROF. FLORINDO CORRALDireção GeralFAM I Faculdade de Americana

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SUMÁRIO

Introdução à Filosofia: Conceitual e Importância 7

A Filosofia e o Conhecimento 16

O Pensamento Crítico 32

UNIDADE 1

UNIDADE 2

UNIDADE 3

Reflexões sobre Ética, Cidadania e Vida Cotidiana 61

Reflexões sobre Ética, Cidadania e Direitos Humanos 74

Introdução à Filosofia da Moral 44

UNIDADE 4

UNIDADE 5

UNIDADE 6

Referências 86

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

Nesta unidade, propomos que você faça como a águia, que voa alto lá no céu para enxergar melhor o que acontece lá embaixo, ou comporte-se como a gaivota, que fica observando o que acontece na praia, no mar.

Provavelmente você já deve ter passado por uma experiência semelhante: observar algo de cima de um morro ou do terraço de um prédio. O que acontece? A visão do alto é muito mais ampla, não é verdade?

Este é um dos motivos para você estudar Filosofia:, ela permite que você alce voos e construa uma visão do conhecimento que agora passa a fazer parte de sua vida de maneira mais intensa.

Nossa meta será debater sobre o significado de filosofar e como a curiosidade e os questionamentos o impulsionam para a vida.

Ao final desta unidade, você será capaz de:

1. Identificar os principais aspectos que caracterizam a Filosofia;

2. Perceber a importância do olhar filosófico para a vida cotidiana;

3. Ser capaz de refletir sobre a necessidade do perguntar.

“Uma vida sem reflexão não merece ser vivida”, nos diz o filósofo Sócrates. Ora, filosofar é justamente isso, refletir sobre si mesmo e sobre o mundo. Mas, você saberia responder por que devemos refletir?

Imagem de Sócrates

O homem pensa sobre si mesmo porque deseja conhecer-se melhor. E o mesmo se dá no seu pensamento sobre os seus semelhantes e sobre o mundo à sua volta.

Conteúdos e Habilidades

UNIDADE 1

TEMA 1: Introdução à Filosofia: Conceitual e Importância

Leitura Obrigatória

Há muitas maneiras de se pensar o ser humano, mas, em todas elas, sempre nos vem a ideia de que os homens são capazes de desenvolver consciência de si mesmos.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

Há muitas maneiras de se pensar o ser humano, mas, em todas elas, sempre nos vem a ideia de que os homens são capazes de desenvolver consciência de si mesmos. Conseguimos nos lembrar de fatos ocorridos na infância, por exemplo, e a partir dessa lembrança, formamos ideias e conhecimentos. Desse modo, usamos o passado como experiência, questionamos o presente e planejamos o futuro: vivemos no tempo.

De Sócrates aos nossos dias, temos mais de 25 séculos de História da Filosofia, ou melhor, História das Filosofias, uma vez que foram inúmeras as discussões sobre o que é filosofar, seus métodos e objetivos.

A Filosofia se preocupa com o conhecimento. Por isso, ela questiona: a partir de um problema, investiga o conhecimento verdadeiro, na busca de chegar a um conceito que, de algum modo, revele-se uma resposta ainda que temporária.

Aqui estão alguns elementos que trabalharemos na disciplina:

- Para quê filosofar? Se tomarmos o “filosofar” como um modo de pensar, veremos que a filosofia nos acompanha na difícil tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele;

- A Filosofia é útil? por meio da reflexão, podemos ir além do que é imediato,; é construir a possibilidade de superar a situação em que nos encontramos, superá-la e nos colocarmos como um ser livre e capaz de construir o nosso próprio destino.

Origem histórica da Filosofia

Pitágoras de Samos, que viveu no séc. V a.C., disse: “a sabedoria plena e completa pertence aos deuses, mas os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos” (CHAUÍ, 2005, p. 25). Segundo o filósofo, os homens não são movidos por interesses comerciais, mas são movidos pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida (“desejo de saber”).

A filosofia é um modo de pensar que acompanha o ser humano na

tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele. Mais que postura

teórica, é uma atitude diante da vida, tanto nas condições corriqueiras

como nas situações-limites que exigem decisões cruciais (ARANHA;

MARTINS, 2003, p. 91)

Fazer filosofia é estar a caminho; as perguntas em filosofia são mais essenciais que as respostas e cada resposta transforma-se numa nova pergunta.

Filosofia é uma palavra grega, cujo significado é “amizade pela sabedoria”, “amor e respeito pelo saber”. O filósofo é aquele que ama a sabedoria, tem amizade pelo saber, deseja saber.

Philo (philia) = amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais.

Sofhia (sophos) = sabedoria, sábio.

Saiba Mais

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

O filósofo faz perguntas porque ama o conhecimento. O filósofo duvida porque ama as distinções. Muitas pessoas julgam a Filosofia como algo que não tem sentido, um “discurso vazio”. Afinal, para quê tantas perguntas e tantas respostas? Muitas vezes temos até preguiça de filosofar, porque queremos entender tudo rapidamente e dar, apressadamente, a nossa opinião sobre tudo.

Filosofia, então, em sua essência indica estado de espírito, o da pessoa que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

Este modo de pensar e de manifestar os pensamentos surgiu especificamente com os gregos e, por razões históricas e políticas, tornou-se, depois, o modo de pensar e de se posicionar no mundo moderno do qual nós também participamos.

Por meio da filosofia, os gregos instituíram para o Ocidente as bases e os princípios fundamentais do que chamamos razão, racionalidade, ciência, ética, política, técnica e arte.

A Filosofia surge com a insatisfação de alguns gregos com as explicações que as tradições gregas ofereciam e começaram a perguntar e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos e as coisas da natureza, os acontecimentos e as ações humanas podem ser conhecidos pela razão humana, e que a própria razão é capaz de conhecer-se a si mesma.

Surgiu quando se descobriu que a verdade do mundo e dos humanos não era algo secreto e misterioso, que precisasse ser revelado por divindades a alguns escolhidos, mas que, ao contrário, podia ser conhecida por todos, através da razão, que é a mesma em todos.

Ao longo da história da humanidade a Filosofia mudou muito, mas podemos afirmar que a filosofia é a “ciência mãe”, da qual se originaram as ciências modernas, com suas formas de pensar e métodos (MATTAR, 2010, p. 5).

O olhar filosófico

Observe a imagem ao lado....

Os antigos gregos contavam histórias de um monstro mitológico, com cabeça de mulher, corpo de leão e asas de águia – a esfinge. Esse mito, originalmente surgido no Egito, era famoso por seus enigmas. A esfinge ficava no caminho e lançava uma pergunta a alguém que passava. Ao final dessa pergunta, a cruel ameaça: “Decifra-me ou te devoro!”. Ou seja, ou o caminhante sabia a resposta à pergunta da esfinge ou era devorado ali mesmo.

Hoje em dia este mito ainda tem a sua importância. Podemos dizer que a esfinge representa o desejo humano de se conhecer a si mesmo, de questionar. Todos que nós temos esse desejo.

Estátua de PitágorasFonte: Wikipedia.org

Colonização europeia das Américas: fazemos parte do legado que a Filosofia grega deixou para o pensamento ocidental europeu.

Esfinge grega.

Disponível em: <http://davi-historiadospovos.

blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html>.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

O filósofo e a esfinge

Imagine que o filósofo aceite decifrar o enigma colocado pela esfinge. O ser humano possui características muito próprias: adoramos fazer perguntas, questionar, buscar soluções para os problemas, entender nosso mundo! Não é isso que vemos nas crianças? a adorável vontade de conhecer, perguntando, perguntando....

A cabeça de mulher da esfinge representa a intuição humana. É pela

intuição que começamos a encontrar soluções para os problemas mais

complicados da existência humana. O corpo de leão nos faz pensar

na coragem para fazer perguntas, em especial numa época quando

todos acreditam já ter encontrado as respostas para tudo. As asas de

águia nos levam para o alto, para a conquista do conhecimento e da

sabedoria. As asas de águia são um convite para a Filosofia (VIEIRA;

LANDEIRA, 2010, p. 9).

A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e o que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olho (do espírito) para vê-la. Pitágoras de Samos

A palavra filosofia tem origem grega. O termo philiasignifica amizade e sophia, sabedoria. Temos assim a “amizade pela sabedoria”, o desejo de estar próximo do saber, do conhecimento verdadeiro.

E você? gosta de pensar?

Questionar é parte de nossa identidade, relaciona-se com o nosso desejo de saber mais, de superar nossas limitações e “ir além”.

A esfinge egípcia. Disponível em: <http://davi-historiadospovos.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html>. Acesso em 21 fev. 2014.

A grande esfinge foi construída ao lado da Grande Pirâmide de Gizé, no Egito por volta da IV dinastia (2723 a.C.–2563 a.C.). Sua enorme cabeça copia os traços do faraó Quefrén ou possivelmente de seu irmão Faraó Djedefré.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

Uma pergunta nada mais é que uma ideia que orienta a nossa curiosidade, e nos faz procurar respostas. Todos nós somos, por natureza, curiosos; todos nós temos um pouquinho da esfinge que deseja encontrar respostas, a partir de suas intuições, que alça voos altos à procura de sabedoria.

Todo o nosso conhecimento sobre o mundo origina-se justamente da curiosidade básica sobre o que acontece em nosso entorno. Sem curiosidade, os seres humanos teriam sido devorados pela ignorância. De fato, o ser humano é, por natureza, perguntador. As nossas ações mais cotidianas despertam a nossa curiosidade e nos levam a investigações: Com quem vou estudar este ano? Onde vou trabalhar? Será que ela/ele irá se apaixonar por mim? Qual o preço dessa camisa? Onde vou passar minhas férias?... Perguntas assim fazem a humanidade avançar. Como?

Em primeiro lugar, é bom considerarmos que há perguntas de todos os tipos. Podemos perguntar “eu sou feliz?”, mas podemos perguntar “O que é a felicidade?”. Nossas perguntas podem abranger desde necessidades imediatas até dúvidas universais, que inquietam toda a humanidade desde sempre.

Há também aquelas perguntas que fazemos na procura de nos conhecermos melhor. Veja o exemplo de Emília, a boneca do Sítio do Pica Pau Amarelo, de Monteiro Lobato:

Então, podemos concluir que a Filosofia surge como exercício do pensamento e começa no desejo humano de questionar e de conhecer-se melhor. Entretanto, precisamos notar que existem perguntas que são fundamentais na vida e pequenas questões do cotidiano. Podemos partir de perguntas cotidianas e atingir questões universais, que preocupam a humanidade.

Tudo o que precisamos é de uma mente aberta e questionadora, uma mente que não se conforma com o senso comum ou com quaisquer respostas prontas.

Todo o nosso conhecimento sobre o mundo origina-se justamente da curiosidade básica sobre o que acontece em nosso entorno.

Emília pensou, pensou, e por fim disse:

- Bote um ponto de interrogação; ou, antes, bote vários pontos de interrogação. Bote seis...

O Visconde abriu a boca.

- Vamos, Visconde. Bote aí seis pontos de interrogação, insistiu a boneca. Não vê que estou indecisa, interrogando-me a mim mesma?

LOBATO, Monteiro. Memórias da Emília. São Paulo: Companhia Editora Nacional,

1945.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

As questões filosóficas não se preocupam com a mera informação adquirida, mas com algo muito mais profundo, a sabedoria.

Encontrar uma resposta satisfatória para uma pergunta obriga-nos a sair do senso comum e nos faz filosofar.

Segundo Mattar (2010, p. 8): “A filosofia não ensina verdades, mas métodos de raciocínio; não ensina os resultados ou as soluções dos problemas, mas as formas de explorá-los, investigá-los e procurar soluções. Não ensinamos filosofia: ensinamos o filosofar”.

Leia o artigo de Robson Stigar. A relevância da disciplina de filosofia para a emancipação do ser humano. Revista Filosofia Capital. Vol. 5, edição 11, p. 28-35, 2010. O artigo aborda a relevância da disciplina de filosofia para a construção da cidadania e formação integral do Ser Humano, buscando sensibilizar o leitor para uma atitude crítica perante o conhecimento.

Disponível em: <http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/2010/artigos_teses/FILOSOFIA/Artigos/relavancia_da_filosofia.pdf >. Acesso em 18 fev. 2014.

“Todo homem, por natureza, deseja saber”.

Aristóteles

PAUSA PARA REFLETIR...

Quem deseja tornar-se sábio?A questão é que nenhum deus persegue a sabedoria ou deseja tornar-se sábio, pois já o é; e ninguém mais que seja sábio persegue a sabedoria. Nem o ignorante persegue a sabedoria ou deseja ser sábio; nisso, aliás, a ignorância é confrangedora: estar satisfeita consigo mesma sem ser uma pessoa esclarecida nem inteligente. O homem que não se sente deficiente não deseja aquilo de que não sente deficiência.

PLATÃO. O banquete. In: MARCONDES, D. Textos básicos de filosofia: dos pré-socráticos ao Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

Platão (428-348 a.C.) foi o grande filósofo do período grego da Filosofia. Por meio de diálogos ele desenvolve uma profunda reflexão sobre alguns dos principais temas da Filosofia.

Seguindo o raciocínio de Platão, o que é necessário para alguém desejar ser filósofo?

Links Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

Acesse o site: Mundo dos filósofos. Disponível em: www.mundodosfilosofos.com.br. Acesso em: 18 fev. 2014.

Este site traz textos sobre a história da Filosofia, disponibilizados por professores e pesquisadores de diversas áreas de conhecimento.

LEITURAS COMPLEMENTARES

Na Biblioteca Central da FAM você encontrará vários livros que abordam o assunto da disciplina. Selecionamos dois títulos que podem auxiliar você nesse percurso:

ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993. 395p. Leia o capítulo 8 - A reflexão filosófica / Primeira parte: O que é filosofia?

CHAUI, M. Convite à filosofia. 14.ed. São Paulo: Ática, 2012. 520p. Leia a Introdução – Para que Filosofia?

Assista ao vídeo: Ser ou não ser? Apresentação – A vontade de mudar. Viviane Mosè. Rede Globo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=dKQWqC_fBWc >. Em 2005 e 2006, a filósofa, poetisa e psicanalista Viviane Mosè elaborou um quadro para o Programa Fantástico, da Rede Globo de Televisão, intitulado “Ser ou não ser?”. Este é o primeiro episódio da série, onde a autora reflete sobre o sentimento do qual nasce a filosofia: a curiosidade.

Assista ao filme: Matrix. Direção de Larry Wachowski e Andy Wachowski. Estados Unidos, 1999 (136 min). Sinopse: Em um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontra-se conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no exato momento em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade.

(Fonte: Adoro cinema. Disponível em: <http://www.adorocinema.com/filmes/filme-19776/ >.)

Vídeos Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

Matrix deriva da palavra latina mater, que quer dizer “mãe”. O filme reporta a uma reflexão sobre a origem da filosofia, em especial, aos pensamentos de Sócrates e Platão.

Nesta unidade você aprendeu que a Filosofia é uma disciplina importante porque trata de aspectos de nosso cotidiano. A Filosofia faz os homens se lembrarem de si, instiga-os a buscar compreender o mundo por meio de questionamentos.

Você viu o quanto é importante fazer perguntas e como a curiosidade nos move para a busca de respostas.

Trabalhamos os conceitos de sabedoria e ignorância e nos colocamos para a reflexão.

Agora estamos preparados para seguir o nosso percurso pela Filosofia. Na próxima unidade abordaremos a questão do conhecimento e como os primeiros filósofos se colocaram a pensar....

ADMIRAÇÃOPlatão, discípulo de Sócrates, criador da filosofia, dizia que a filosofia começa com a admiração, enquanto Aristóteles, discípulo de Platão afirmava que a filosofia inicia com o espanto. Tanto na admiração quanto no espanto se expressam por gestos e palavras. Na filosofia, essa é uma atitude primeira do filósofo, que provoca o desejo da investigação, da busca de respostas, do querer saber mais.

CONHECIMENTOPara a Filosofia, o conhecimento é a capacidade do homem refletir por meio do raciocínio. Sua essência é a busca pelo saber, não a sua posse.

Os primeiros filósofos na Grécia que questionaram sobre o mundo (cosmos), sobre o homem, a natureza e etc., tentaram encontrar a verdade em um princípio único (arché) que abarcasse toda a realidade, isto é, sobre o Ser. CABRAL, J. F. P., Disponível em: <http://www.brasilescola.com/filosofia/conhecimento.htm >. Acesso em: 18 fev. 2014.

Glossário

Finalizando

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 1

IGNORÂNCIASócrates em sua expressão “só sei que nada sei” se reconhece como ignorante – falta de conhecimento, o que permite o acesso ao saber. É neste sentido que Sócrates afirmava também que “o conhecimento da ignorância é o início da sabedoria”. JAPIASSÚ, H.; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. 5.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2008.

FILOSOFARModo de pensar que acompanha o ser humano na tarefa de compreender o mundo e agir sobre ele, uma atitude sobre a vida. ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Nesta hunidade estudaremos sobre:

- Sócrates

- Platão

- Aristóteles

- Consciência crítica

No tema anterior, nosso propósito foi mostrar como a Filosofia busca respostas para as indagações humanas utilizando o pensamento filosófico. Desde que o homem se organizou em sociedades e iniciou a construção de seu conhecimento sobre o mundo o pensamento filosófico já existia, mesmo não sendo chamado de Filosofia.

As respostas que encontramos há muitos anos ainda são válidas até hoje e muitos conhecimentos, tais como a matemática e as ciências, foram preocupações dos filósofos. Esse percurso possibilitou a construção de uma visão de mundo, do que percebemos como realidade e do que entendemos como verdade, sendo assim, saber utilizar o pensamento filosófico é importante para todo ser humano!

Pode-se dizer que Filosofia é um modo de pensar, uma maneira diferente de se colocar no mundo, é fazer perguntas, buscar soluções para problemas, questionar-se sobre si mesmo, sobre o mundo em que vive. Você pode iniciar o seu percurso com perguntas simples, como “o que é”, “porque é” e “como é”. Essas são as interrogações filosóficas, a partir das quais você consegue questionar as verdades e a realidade a sua volta, buscando respostas mais significativas em um movimento que se torna contínuo.

Conteúdos e Habilidades

TEMA 2: A Filosofia e o Conhecimento

Leitura Obrigatória

Filosofia é um modo de pensar, uma maneira diferente de se colocar no mundo, é fazer perguntas, buscar soluções para problemas, questionar-se sobre si mesmo, sobre o mundo em que vive.

“O ato de filosofar começou a surtir efeito naquelas comunidades

primitivas que frequentemente recorriam a mitos para explicar os

fenômenos não compreendidos”.

(GALLO, 2003, p. 15).

UNIDADE 2

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Esse percurso também pode significar que você nunca chegará a uma verdade absoluta, pois sempre será possível continuar as indagações filosóficas e aprender outras faces da realidade. Por isso que a Filosofia é, então, um movimento de questionamento do conhecimento cotidiano e das crenças.

Então, o que você tem que fazer é colocar-se a pensar! O saber nasce diante da descoberta do mundo e, para descobrir o mundo, é preciso despertar seu interesse pelo desconhecido: sair das tarefas diárias, colocar-se em uma nova perspectiva. A primeira condição do pensamento filosófico é duvidar das certezas, não aceitar o que já está pronto, se admirar com a vida, despertar o interesse pelo novo, pelo desconhecido buscar respostas àquilo que o inquieta!

Os gregos foram os primeiros a repensarem a Filosofia. Segundo Chauí (2005, p. 25), a Filosofia surgiu na Grécia quando alguns gregos, insatisfeitos com as respostas que a tradição lhes dera, buscaram explicações na razão humana, ou seja, perceberam que a verdade do mundo e dos humanos não era algo que precisasse ser revelada a alguns escolhidos pelas divindades, mas que o próprio homem, por meio do raciocínio, pode atingir o conhecimento.

A Filosofia surgiu na Grécia quando alguns gregos, insatisfeitos com as respostas que a tradição lhes dera, buscaram explicações na razão humana, ou seja, perceberam que a verdade do mundo e dos humanos não era algo que precisasse ser revelada a alguns escolhidos pelas divindades, mas que o próprio homem, por meio do raciocínio, pode atingir o conhecimento.

Platão e Aristóteles, AcademiaFonte: Wikipedia.org

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Para entender a relação entre a Filosofia e o conhecimento e como podemos exercitar a atitude filosófica, vamos conhecer três grandes pensadores do período clássico grego: Sócrates, Platão e Aristóteles.

Sócrates

Sócrates nasceu e viveu em Atenas entre 469 e 399 a.C. e é considerado um marco divisório na história da filosofia grega (veja quadro acima). Consta que era filho de um escultor e uma parteira, e não deixou nada escrito, mas seu pensamento nos chegou através de escritos de seus discípulos e adversários. Foi considerado um modelo de filósofo, andava pelas ruas conversando com as pessoas, quando exercitava a filosofia como um exercício do pensamento, do questionamento, da interrogação. Para ele, o autoconhecimento era fundamental, questionava a posição do homem, fazendo a afirmação de que antes de conhecer as coisas “conhece-te a ti mesmo”.

Períodos da Filosofia Grega

1. Período pré-socrático ou cosmológico(final do séc. VII ao final do século V a.C.)

A Filosofia se ocupa fundamentalmente em refletir sobre a origem do mundo e as causas das transformações na Natureza;

2. Período socrático ou antropológico (final do séc. V e séc. IV a.C.)

A Filosofia investiga as questões humanas, isto é, a ética, a política e as técnicas, e busca compreender qual o lugar do homem no mundo;

3. Período sistemático (final do séc. IV ao final do séc. III a.C.)

A Filosofia busca reunir e sistematizar tudo quanto foi pensado nos dois períodos anteriores e se preocupa em demonstrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência;

4. Período helenístico ou greco-romano(final do séc. III a.C. até o século VI d.C.)

A Filosofia se ocupa sobretudo com as questões da ética, do conhecimento humano e das relações entre o homem e a Natureza e de ambos com Deus.

Fonte: CHAUÍ, 2005, p. 38-39.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Sua intenção era questionar as opiniões, fazê-las passar por uma análise criteriosa e pelo pensamento filosófico. Por isso, vivia pelas ruas e interrogar, fazia perguntas e forçava-as a usar a razão, permitindo que o exercício filosófico as levasse ao conhecimento. O homem busca o saber, exatamente porque não sabe: “Só sei que nada sei”. Essa é a afirmação, segundo Sócrates, nos faz perceber que o homem sempre se estará em busca das verdades.

Para agir correto é necessário ampliar os nossos conhecimentos, buscar a distinção entre o certo e o errado, e isto só acontece quando nos utilizamos da razão, alcançando a felicidade real e não baseada em aparências (para ser feliz é preciso fazer os outros felizes).

Sócrates foi considerado um subversivo, um “corruptor de jovens”, porque ele dialogava com todas as camadas sociais de sua época, contrariando os valores dominantes da sociedade ateniense. Por isso, foi perseguido, julgado e condenado a morte. Aceitou a sua sentença (foi condenado a beber um veneno extraído de uma planta chamada cicuta), comentando “A vida não examinada não merece ser vivida”, pois era melhor morrer a deixar de filosofar.

Imagine como Sócrates conseguiu que a Filosofia prosperasse em uma época dominada por injustiças e pelo senso comum. Não deve ter sido fácil, não é mesmo? Então, se você quer saber mais sobre esse filósofo e sua história, verifique no final da unidade links e vídeos importantes....

A Morte de SócratesFonte: Wikipedia.org

Sócrates, tal como sua mãe parteira, possuía o talento de ajudar as pessoas a dar à luz ao conhecimento que residia em suas mentes.

“Ao eleger o diálogo como método de investigação, Sócrates foi o

primeiro filósofo a se preocupar não só com a verdade mas com o modo

como se pode chegar a ela. Eis por que ele é considerado por muitos

o modelo clássico de professor”.. (Márcio Ferrari. Revista Nova Escola)

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Platão

Platão, também ateniense, viveu entre 428 e 347 a.C. e era de origem aristocrática. Conheceu Sócrates quando tinha vinte anos, foi seu discípulo e amigo durante oito anos, até a morte do mestre. Destacou-se desenvolvendo o pensamento filosófico através de diálogos, com vários personagens que conversavam entre si e defendiam ideias diferentes. Na maioria de suas obras, Sócrates era a personagem principal, como veremos adiante.

Platão fundou sua própria escola filosófica, a Academia, nos jardins construídos por seu amigo Academus. Essa escola foi uma das primeiras instituições permanentes de ensino superior do mundo ocidental, tal como a universidade hoje, que se dedicava à pesquisa científica e filosófica, e ainda funcionava como um centro de formação política (Cotrim, 2006, p. 90).

Platão é o primeiro filósofo a examinar sistematicamente o problema do conhecimento. Embora haja controvérsia sobre vários pontos da noção de conhecimento em Platão, os historiadores são consensuais sobre o fato de Platão ter delimitado um critério formal para o saber: a razão.

Embora Sócrates não tenha deixado nenhuma obra escrita, ele aparece com vivacidade nos famosos diálogos de Platão, em que leva seus discípulos a descobrirem por si mesmos a verdade. Esse método é a dialética socrática. Platão atribui a Sócrates todos os seus ensinamentos, por isso não se pode distinguir o que é a criação de um ou de outro.

Platão e a teoria das ideias

Platão nos auxilia a entender como se desenvolve o conhecimento humano e a busca pela verdade. O filósofo grego quis nos mostrar o quanto é difícil chegar ao conhecimento, que requer muitos sacrifícios. Ora, isso não te parece familiar?

Segundo Platão, o processo do conhecimento se desenvolve por meio da passagem de dois mundos:

1) O mundo das sombras e das aparências: aquele que podemos perceber ao nosso redor, dominado pelas sensações (cinco sentidos – audição, visão, olfato, paladar, tato). As sensações nos dão a ideia que temos da realidade. Veja o exemplo: quando temos um sonho ruim, um pesadelo ou se temos uma agradável notícia, pedimos a alguém: “me belisca para ver se estou sonhando!”, se a pessoa ao seu lado realmente levar você a sério e te beliscar, certamente irá doer e você terá a sensação de que está acordada, portanto, a dor trará a ideia de realidade.

PlatãoFonte: Wikipedia.org

A Academia de Platão sobreviveu mais de 800 anos, até que os romanos a consideraram uma ameaça ao recém adotado cristianismo (LAW, 2008).

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

2) O mundo das ideias e das essências: para ultrapassar a esfera das sensações precisamos atingir o plano da razão, da sabedoria, do conhecimento. É nesse plano, segundo Platão, que encontraremos a verdade. Esse plano é perfeito, imutável, não podemos tocá-lo, não é concreto, só o pensamento nos leva até ele. Só a filosofia é capaz de nos conduzir até esse mundo.

Para explicar esse processo que nos leva ao conhecimento, leia o texto a seguir:

O mito da caverna de PlatãoFonte: Wikipedia.org

O Mito da Caverna1

Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração, seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas para a frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na semiobscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma imensa a alta fogueira externa. Entre ele e os prisioneiros - no exterior, portanto - há um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a parte fronteira de um palco de marionetes*. Ao longo dessa mureta-palco, homens transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela os prisioneiros enxergam na parede no fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas, mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam. Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginavam que as sombras vistas são as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que são imagens (estatuetas de coisas), nem

1 - Adaptado da obra A República, Livro VII, de Platão. Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=796 >.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

O trecho acima apresentado é do diálogo intitulado A República, um dos mais importantes e mais extensos escritos por Platão. Esse diálogo foi dividido em dez partes ou “livros” e esse trecho inicia o livro VII, muito conhecido como Alegoria da caverna ou Mito da caverna. A República é um diálogo entre Sócrates e seus amigos, que apresentam o método dialético de investigação filosófica.

A alegoria apresentada é uma forma de mostrar como a Filosofia deve proceder. Mas, o que Platão quer nos mostrar? O interior da caverna simboliza o mundo sensível, que nós acreditamos, mundo ilusório e enganador, porque as sombras são comparadas à realidade. Os homens que ali vivem, presos de costas para a fonte de luz, apenas veem as suas próprias sombras e as do mundo atrás deles, projetadas na parede em frente. Assim se acostumaram com as sombras e passam a acreditar que as projeções são a realidade. Um dos habitantes presos consegue

que há outros seres humanos reais fora da caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no exterior e imaginam que toda a luminosidade possível é a que reina na caverna. Que aconteceria, indaga Platão, se alguém libertasse os prisioneiros? Que faria um prisioneiro libertado? Em primeiro lugar, olharia toda a caverna, veria os outros seres humanos, a mureta, as estatuetas e a fogueira. Embora dolorido pelos anos de imobilidade, começaria a caminhar, dirigindo-se à entrada da caverna e, deparando com o caminho ascendente, nele adentraria. Num primeiro momento ficaria completamente cego, pois a fogueira na verdade é a luz do sol e ele ficaria inteiramente ofuscado por ela. Depois, acostumando-se com a claridade, veria os homens que transportam as estatuetas e, prosseguindo no caminho, enxergaria as próprias coisas, descobrindo que, durante toda a sua vida, não vira senão sombra de imagens (as sombras das estatuetas projetadas no fundo da caverna) e que somente agora está contemplando a própria realidade. Libertado e conhecedor do mundo, o prisioneiro regressaria à caverna, ficaria desnorteado pela escuridão, contaria aos outros o que viu e tentaria libertá-los. Que lhe aconteceria nesse retorno? Os demais prisioneiros zombariam dele, não acreditariam em suas palavras e, se não conseguissem silenciá-lo com suas caçoadas, tentariam fazê-lo espancando-o e, se mesmo assim, ele teimasse em afirmar o que viu e os convidasse a sair da caverna, certamente acabariam por matá-lo. Mas, quem sabe alguns poderiam ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidissem sair da caverna rumo à realidade.

* Imagine que a caverna é uma sala de cinema escura, o fio de luz, a luminosidade

lançada pelo projetor, e as imagens no fundo da parede da caverna, um filme que

está sendo projetado numa tela.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

se libertar das correntes que os prendem às sombras ilusórias, descobre a luz de verdade (o mundo das ideias). Ao olhar a realidade iluminada pelo sol consegue compreender que a realidade está fora da caverna e não dentro. Volta ao meio dos outros habitantes na caverna, mas é hostilizado, pois ninguém acredita em sua verdade. Este é o filósofo!

O objetivo dessa alegoria é mostrar o que é a educação dos indivíduos. Para atingir o conhecimento é preciso percorrer um caminho doloroso, é necessária uma transformação radical, pela qual todo indivíduo se vê de outra forma: é preciso um longo processo para acostumar os olhos à luz do sol fora da caverna. Dentro da caverna temos o homem comum preso às coisas do cotidiano, do lado de fora, encontramos o homem sábio (filósofo) que se volta para a objetividade, descortinando um universo diante de si.

Quando o sábio (filósofo), tomado pelo conhecimento (verdade), resolve voltar para dentro da caverna e libertar seus habitantes, ele é hostilizado. Certamente, Platão traçou o desconforto do homem sábio quando é obrigado a conviver com os homens comuns, não acreditam nele, não o levam a sério.

Segundo Platão, buscar o Bem é estar acima dos interesses individuais. Afirma que o filósofo – aquele que se dedica ao Bem – deve governar, pois sabem perfeitamente distinguir o visível do inteligível, a imagem da realidade, o falso do verdadeiro, sem levar em conta seus interesses, porque governa em nome do Bem.

Platão Divide o mundo entre:Mundo Sensível e Mundo Inteligível

Fonte: Wikipedia

A República é um diálogo entre Sócrates e seus amigos, que apresentam o método dialético de investigação filosófica.

O filósofo, portanto, não é simplesmente um teórico: ele deve mudar seu modo de viver, para seguir o Bem, e é esse conhecimento que o torna apto. Essa forma de pensar ainda é relevante para uma reflexão filosófica.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

“A educação, segundo a concepção platônica, visava a testar as aptidões

dos alunos para que apenas os mais inclinados ao conhecimento

recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a

finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava

a renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria

ser longo, porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se

revelam aos poucos”. (Marcio Ferrari, Revista Nova Escola).

Reflita:E não foi exatamente esse o destino de Sócrates? E quantos cientistas, inventores e revolucionários do pensamento tiveram de enfrentar esse destino ao longo da história?

Fonte: Platão e o mundo das ideias. Disponível em:<http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=796>.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Aristóteles

Aristóteles não era ateniense, nasceu em Estagira, ao norte da Grécia, viveu entre 384 e 322 a.C. e seu pai era médico do rei Filipe, da Macedônia. Aos dezoito anos foi para Atenas e ingressou na Academia de Platão, onde permaneceu por vinte anos como aluno e professor, até a morte de Platão.

Muito competente era o mais qualificado para assumir a direção da Academia, mas foi recusado pelo fato de não ser ateniense. Então, deixou Atenas e aceitou o convite para instruir Alexandre o Grande quando menino, herdeiro do Império macedônio. Com a morte do rei Filipe II, pai de Alexandre, Aristóteles voltou para Atenas e fundou sua própria escola – Liceu. Abandonou Atenas após a morte de Alexandre e sua ligação com os macedônios não era aceita entre os gregos. (COTRIM, 2006)

Aristóteles é considerado o filósofo que, na cultura grega, organizou, sistematizou e ordenou as várias ciências. Apaixonado pela biologia, dedicou vários estudos sobre a natureza e à classificação dos seres vivos.

Apesar de aluno de Platão, Aristóteles discordava de seu mestre, pois rejeitava a teoria das ideias, segundo a qual o mundo que acreditamos ser real não passa de sombras ou ilusões da verdadeira realidade, que se encontra no mundo das ideias.

Gallo (2003, p 19) nos explica como a lógica aristotélica influenciou o pensamento ocidental até hoje:

Outra inovação por parte de Aristóteles foi no campo da lógica, criando um método que denominou de silogismo, por exemplo: todas as criaturas vivas são mortais. O homem é um ser vivo. Portanto, todo homem é mortal. São duas premissas e uma conclusão, que leva a uma forma de raciocínio dedutiva.

Reflita:Não é algo assim que ainda queremos, de algum modo, preservar numa democracia?

AristótelesFonte: Wikipedia.org

Alexandre Magno ouAlexandre, o GrandeFilho de Filipe II, da Macedônia, tornou-se imperador aos 20 anos de idade, foi aluno de Aristóteles e se destacou por tornar a Macedônia o centro de um dos maiores impérios do mundo antigo, expandindo-o em direção da Ásia e da África; fundiu a cultura grega (helênica) com a oriental (Alexandre, o Grande). Disponível em: http://www.sohistoria.com.br/biografias/alexandre/ ).

Não é algo assim que ainda queremos, de algum modo, preservar numa democracia?

Percebemos que, no pensamento de Aristóteles, existe um esforço de

ordenação. Ele estabeleceu uma certa ordem lógica na classificação

do mundo da natureza e afirmou que, para chegar a certas conclusões

sobre ela, era preciso estabelecer certos princípios. Por exemplo: todas

as criaturas vivas são mortais. O homem é um ser vivo. Portanto, todo

homem é mortal. Essa é a forma do que ele chamou de silogismo,

e a lógica formal sistematizada por Aristóteles é a que rege nosso

pensamento até hoje.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Dessa forma, Aristóteles dá importância à observação empírica (prática) dos fenômenos desse mundo, mostrando que o conhecimento deve se fundar no que podemos experimentar, diferente de Platão. Ainda diferenciando-se desse autor, Aristóteles elaborou a escrita de forma dissertativa, procurando argumentar segundo as leis da lógica.

Procuramos traçar aqui como se dá a atitude filosófica, tomando como ponto de reflexão a visão de três filósofos pertencentes à Grécia Antiga, que contribuíram para entendermos a relação entre a filosofia e o conhecimento. Platão foi aluno de Sócrates, Aristóteles foi aluno de Platão, viveram épocas muito próximas, e elaboraram ideias bem diferentes um do outro.

Também foi nosso propósito demonstrar que a filosofia é uma forma de conhecimento, em meio a tantos outros (o mito, a religião, a ciência). Ainda hoje as formas de conhecimento coexistem, junto com outras. A ciência prevalece na atualidade, como uma forma de conhecimento que busca explicar o mundo de maneira racional, sistematizada, organizada. Pode-se dizer que as ciências hoje são filhas da filosofia, pois partiram do mesmo pressuposto: a tentativa de buscar explicações racionais para responder as inquietações humanas, desenvolvendo métodos próprios, constituindo-se áreas próprias de saber.

Sobre esse assunto, conclui Gallo (2003, p. 21):

Consciência crítica2

Um outro aspecto que nos coloca frente à questão do conhecimento é a ideia de consciência – capacidade humana de estar no mundo ciente de algo (com ciência de algo). A consciência humana permite fazer a nossa inteligência ocupar-se dela mesma, ou seja, o homem é capaz de apropriar-se do seu saber, avalia-lo e desenvolve-lo.

Nossa descendência humana pertence ao homo sapiens sapiens, que significa “homem que sabe que sabe”, ou seja, temos conhecimento de nosso saber.

Aristóteles é considerado o filósofo que, na cultura grega, organizou, sistematizou e ordenou as várias ciências. Apaixonado pela biologia, dedicou vários estudos sobre a natureza e à classificação dos seres vivos.

Ética, lógica, metafísica, meteorologia, física, economia, psicologia são alguns dos termos e disciplinas que Aristóteles utilizou e que perduram até hoje.

2 - Baseado em COTRIM, 2006, p. 42-43.

A característica básica da ciência, portanto, é ter um único método

aplicado a vários objetos; muda o objeto, muda a ciência. Já a filosofia,

como vimos, pode ser construída de várias maneiras (não tem um

método único) e possui vários objetos de estudo (de fato, qualquer

coisa pode ser objeto de estudo filosófico. Fica claro, então, que,

embora as ciências tenham surgido da filosofia, hoje elas constituem

formas de conhecimento diferentes. Mas tanto a filosofia como as

ciências caracterizam-se por buscar um conhecimento verdadeiro,

fundamentado racionalmente e que não se contente com explicações

imediatas e definitivas.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

O homem é o único ser vivo que possui a capacidade de imaginar algo, projetar e transformar esse algo em realidade. Vejamos um exemplo: imagine a sua formatura! Daqui há algum tempo seu percurso acadêmico finalizará: você estará recebendo o seu diploma e, se for de sua vontade, haverá uma festa, você estará muito bem vestido, sua família ao redor, encerrando um processo de conhecimento que se inicia nesse momento de sua vida e que você desejou. Tudo isso pode tornar-se realidade, você é capaz de transformar essa imagem em realidade, não é mesmo?

O homem, em função da sua insegurança, das suas angústias e das suas dúvidas, iniciou o processo de questionamento com o mundo e consigo mesmo em busca da verdade, procurando dar soluções aos seus problemas.

O ser humano coloca-se, então, diante de um contínuo processo de reconhecer-se no mundo e reconhecer o mundo em si mesmo. Como assim?

Podemos avaliar o processo de consciência de um indivíduo em três etapas:

- Consciência do si: “conhece-te a ti mesmo” já dizia Sócrates. A consciência de si mesmo exige meditação, concentração. Você exercita o conhecimento de si mesmo?

- Consciência do outro: exige um olhar atento, reconhecer no outro algo que o faz diferente de nós. Mas cuidado! Conhecer o outro exige o cuidado com o pré-julgamento, ou seja, entender o outro na sua diferença, na sua essência, “como ele é” e não como “eu gostaria que ele fosse”.

- Consciência crítica: exige a interação das duas percepções anteriores: refletir sobre si mesmo e olhar atentamente o mundo.

Homo Sapiens SapiensFonte: Wikipedia.org

Assim, a conscientização faz do homem um ser dinâmico, eterno

caminhante destinado à procura e ao encontro da realidade. Caminhante

cuja estrada é feita de harmonia e do conflito com o ser, o saber e o

fazer, dimensões essenciais da existência humana.

(COTRIM, 2006, p. 42).

O ser humano coloca-se diante de um contínuo processo de reconhecer-se no mundo e reconhecer o mundo em si mesmo.

Excesso de reflexão sobre si mesmo, sem atenção sobre o

mundo, conduz ao isolamento, ao egocentrismo, à decepção

e, fatalmente, à amargura de viver. Porém, uma excessiva

consciência do outro, sem a devida compensação na reflexão

de si mesmo, pode levar-nos à perda da identidade pessoal,

à falta de amor próprio. Nesse caso, a busca do equilíbrio é

fundamental. (VIEIRA; LANDEIRA, 2010, p. 32)

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

O caminho para a consciência é a REFLEXÃO! Refletir é uma atitude fundamental na compreensão da realidade.

Leia o artigo de Lucas Pereira Matos. A alegoria da caverna e seu mito hoje. Revista Pandora Brasil, Número 34, p. 68-78. Setembro de 2011. Disponível em: <http://abricoteiros-do-brasil/revista_pandora/filosofia_34/lucas.pdf >. Acesso em: 18 abr. 2014. O artigo pretende analisar o mito da caverna, de Platão, com a atualidade.

Veja a Coleção Grandes Pensadores, da Revista Nova Escola, Editora Abril. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/pensadores/. Biografia e pensamento de educadores que fizeram história, da Grécia Antiga aos dias de hoje, organizados em ordem alfabética, incluindo biografia, contexto histórico e referências sobre os autores. Sugerimos a leitura dos artigos que tratam dos filósofos estudados nessa unidade, todos redigidos por Marcio Ferrari:

Sócrates: o mestre em busca da verdade;

Platão: o primeiro pedagogo, e

Aristóteles: o defensor da instrução pela virtude.

LEITURAS COMPLEMENTARES

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna. Leia o capítulo 8 - A reflexão filosófica / Primeira parte: O que é filosofia?

Links Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática. Leia a Introdução – Para que Filosofia?

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: história e grandes temas. 16 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006. Sugerimos o capítulo 6: A filosofia da Grécia clássica ao helenismo. Item: Platão de Atenas – das aparências ao mundo das ideias, p. 89 a 92.

Todas essas obras encontram-se disponíveis para empréstimo na Biblioteca Central da FAM.

Sugerimos a série Ser ou não ser? Apresentada no programa Fantástico, da Rede Globo de televisão. Apresentada pela filósofa e psicanalista Viviane Mosè, procura trazer temas da filosofia para uma linguagem cotidiana.

Ser ou não ser – Sócrates: só sei que nada sei. Viviane Mosè. Rede Globo. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0fFuJgs04Oo >.

Ser ou não ser – Platão, o Mito da caverna. Viviane Mosè. Rede Globo. Disponível em: <http://youtu.be/ei-kSPL4Lg4 >.

Ser ou não ser – Aristóteles e a lógica. Viviane Mosè. Rede Globo. Disponível em: <http://youtu.be/22bjBDaLNBc >.

Outra forma de entender os filósofos clássicos são os vídeos da Univesptv – canal de comunicação da Universidade Virtual do Estado de São Paulo.

Sócrates: breve vida e obra. Univesptv. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=lquq1Wypk_4 >.

Aristóteles: breve vida e obra. Univesptv. Disponível em: <http://youtu.be/CwKeyqNLA3s >.

Platão: breve vida e obra, Univesptv. Disponível em: <http://youtu.be/wV5v4R8aHvw >.

O mito da caverna – Platão. Disponível em: <http://youtu.be/2S0_-EQO8wc >.

Vídeos Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

Nesta unidade procuramos estabelecer uma relação entre a filosofia nascente, na Grécia Antiga e os caminhos do conhecimento e como nós podemos nos aproximar do “ato de filosofar” por meio de fazer perguntas – perguntas/problemas. Como a Filosofia é uma atividade em constante transformação, apresentamos três grandes pensadores gregos e como viveram a atividade filosófica – cada um à sua maneira.

Sócrates, um mestre a frente de seu tempo, utilizou do diálogo para instigar cidadãos atenienses a pensar. Platão, discípulo de Sócrates, criou a Academia, um lugar de reflesão sobre o conhecimento, em especial, que como percebemos a realidade e a verdade. Escreveu obras nas quais Sócrates é a personagem principal. Aristóteles, aluno de Platão, divergiu de seu mestre sobre a teoria das ideiais, incorporou a natureza em suas análises e instituiu os primeiros alicerces para o surgimento da ciência no mundo moderno.

Por fim, trouxemos a relação entre o conhecimento e a consciência humana, que nos permite entender que temos capacidade de observar o mundo a nossa volta, dar significados a ele, apropriarmos do saber de nossos antepassados, ou seja, produzir conhecimentos. Este tema será melhor abordado na próxima unidade.

AcademiaEscola filosófica fundada por Platão em 387 a.C., nos jardins de seu amigo Academos. Fechada no ano 529 por ordem do imperador romano Justiniano.

AlegoriaSignifica algo como “dizer de outro modo”.

ConhecimentoÉ um termo que designa, em filosofia, o processo pelo qual o sujeito apreende um objeto. O conhecimento sensível nos é dado por meio dos sentidos já o inteligível depende do uso da razão e tem como objeto tipos gerais, e não individuais e concretos, segundo Platão.

Glossário

Finalizando

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 2

FilosofiaPode-se dizer que a filosofia consiste em pensar sobre o pensamento (crenças e conhecimento); uma definição mais específica é que a filosofia consiste em pensar racional e criticamente, de modo mais ou menos sistemático, sobre a natureza do mundo em geral (metafísica ou teoria da existência), da justificação de crenças (epistemologia ou teoria do conhecimento), e da conduta de vida a adotar (ética ou teoria dos valores).

LógicaA ciência dos pensamentos enquanto pensamentos, prescindindo dos outros aspectos e dos outros elementos que se relacionam com eles, e que formam os objetos de outras ciências.

MetafísicaOu filosofia primeira constitui a parte mais importante de toda doutrina filosófica, já que investiga os princípios e causas últimas da realidade, a essência do ser ou “o ser como ser”.

SaberErudição, sabedoria, experiência da vida, do mundo. Aquilo que se sabe. Filosoficamente é a certeza de estar convencido e poder se explicar em toda a sua plenitude uma verdade de ordem diversa daquelas que se atingem por meio da razão.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

O que é o conhecimento?

Possibilidades do conhecimento: a capacidade de conhecer a verdade

a) Dogmatismo: a certeza da verdade

b) Ceticismo: a impossibilidade da verdade

c) Criticismo: busca de superação do impasse

A importância da reflexão

A inteligência, a verdade e a percepção

Essa disciplina visa mostrar como a Filosofia busca respostas para as indagações humanas utilizando o pensamento filosófico.

Na unidade anterior estudamos o pensamento filosófico de Platão, o primeiro filósofo a examinar sistematicamente o problema do conhecimento.

Na obra A República, Platão conta a alegoria de uma caverna onde os homens viviam, presos de costas para a fonte de luz, vendo apenas as suas próprias sombras e as do mundo atrás de si, projetadas na parede em frente. Aprenderam desde o nascimento a acreditarem que as projeções na parede é a realidade. Um desses habitantes presos consegue libertar-se dos grilhões e sair da caverna. Ao olhar a realidade iluminada pelo sol compreende o fato de que até aquele momento apenas vira projeções na parede. Volta ao meio dos outros habitantes na caverna, mas passa a ser hostilizado, pois ninguém acredita na experiência que ele tivera.

Dentre muitas interpretações, podemos entender com Platão que o mundo para nós é como sombras, mas há uma realidade superior e permanente no plano da verdade a que certos indivíduos podem alcançar. A Filosofia e a Ciência seriam a maneira de chegarmos à luz, ao conhecimento, e perceber uma outra realidade que não aquela de projeções.

Conteúdos e Habilidades

TEMA 3: O Pensamento Crítico

UNIDADE 3

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Nesta unidade avançaremos na discussão sobre o conhecimento humano: poderá a “luz” do conhecimento “iluminar” todas as esferas da existência humana?

Ao final desta unidade, você será capaz de:

- Entender a importância do conhecimento para o ser humano;

- Compreender como o conhecimento nos traz a capacidade de conhecer a verdade;

- Conhecer as posturas possíveis diante do conhecimento;

- A importância da reflexão e do pensamento crítico para se atingir o conhecimento.

O que é o conhecimento?

Todo conhecimento coloca o problema da verdade: o que as sombras nos mostram efetivamente da verdade?

Comecemos distinguindo verdade e realidade. Na linguagem cotidiana, esses dois conceitos tendem a se confundir. Vejamos: um colar pode ser um “falso” colar ou uma verdadeira bijuteria; um “falso” dente pode ser um verdadeiro dente postiço. O que você acha?

O falso ou o verdadeiro estão no valor de verdade da afirmação. Há verdade ou não dependendo de como a coisa aparece para nós. Por isso dizemos que algo é verdadeiro quando é o que parece ser. Assim, ao beber o líquido escuro que me parecia café, descubro que o “falso” café é uma verdadeira cevada. A verdade ou falsidade existe apenas no juízo “este líquido é café”, no qual se estabelece o vínculo entre sujeito e objeto, típico do processo do conhecimento.

Leitura Obrigatória

O conhecimento é pretensamente o tema mais importante da filosofia.

O que podemos saber, como podemos saber o que sabemos e o que

é o conhecimento são questões centrais para a filosofia como um todo

– pois outros ramos da filosofia devem dar por certa a possibilidade do

conhecimento para terem alguma coisa a discutir.

Stephen Law

“conhecer a verdade” remete à ideia de conhecer como o objeto é na sua essência, ou seja, em profundidade.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Mas o que queremos dizer por verdade? Do ponto de vista filosófico, “conhecer a verdade” remete à ideia de conhecer como o objeto é na sua essência, ou seja, em profundidade. Vamos ver como isso acontece?

Possibilidades do conhecimento:a capacidade de conhecer a verdade

Na primeira unidade vimos que a Filosofia nasce do “espanto”, da “admiração”. Lembra-se do jovem nordestino que chega à cidade de São Paulo e fica admirado, perplexo diante da grande cidade?1 Nessa história contada por Viviane Mosé refletimos o nascimento da filosofia: a admiração. Na segunda unidade estudamos que os primeiros filósofos buscaram no conhecimento explicações para o que lhes inquietava: a ignorância. Ignorar é não saber alguma coisa, ou ainda, é nem saber que não sabemos, não sabermos que ignoramos.

E foi justamente o que fez Sócrates em Atenas, perguntava, questionava as opiniões, buscava a verdade. Assim também agiu Platão, seu discípulo, que por meio da alegoria da caverna nos mostrou que o homem não deve ficar preso ao que seus olhos veem, mas deve buscar no conhecimento a verdade.

Segundo Marilena Chauí (1999) é o desejo do verdadeiro que nos move para a Filosofia. Se estamos acostumados com os acontecimentos ao nosso redor, se não temos nenhum motivo para duvidar de nossas crenças e opiniões, então acreditamos que sabemos tudo e que não há nada para saber.

Por outro lado, se descobrimos que somos ignorantes, que nossas crenças e opiniões parecem não corresponder ao que acreditamos, instala-se a dúvida, a incerteza, a insegurança. Em outros momentos nos vemos confiantes e seguros, nos enchemos de espanto e admiração e percebemos que nossas crenças e opiniões não dão mais conta do novo e esse sentimento nos faz querer mais e criam em nós o desejo de superar a incerteza. Quando isso acontece, nos tornamos dispostos à busca da verdade.

Somos capazes de conhecer a verdade? Quais são as possibilidades do conhecimento humano?

1 - Assista ao vídeo: Ser ou não ser? Apresentação – A vontade de mudar. Viviane Mosè. Rede Globo. Disponível em:< h t t p : / / w w w . y o u t u b e . c o m /watch?v=dKQWqC_fBWc>.

Na nossa sociedade atual é muito difícil despertar nas pessoas o desejo da verdade.

Assim, seja na criança, seja nos jovens ou nos adultos, a busca da

verdade está sempre ligada a uma decepção, a uma desilusão, a

uma dúvida, a uma perplexidade, a uma insegurança ou, então, a um

espanto e uma admiração diante de algo novo e insólito.

(CHAUÍ, 1999, p.91)

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Na nossa sociedade atual é muito difícil despertar nas pessoas o desejo da verdade. A ciência e os meios de comunicação nos trazem tantas informações que as pessoas acabam acreditando em tudo o que ouvem, se sentem seguras, confiantes e não há incertezas e descrenças porque impera a ignorância. O que você pensa sobre isso? Afinal, o professor “sabe” tudo, detém o conhecimento que lhe é transmitido em sala de aula e absorvido nos livros; o médico domina o conhecimento sobre as doenças e como trata-las, que nem o questionamos quando nos oferece uma receita ou promete uma cura; a propaganda vende sonhos, belezas que se acredita sem pestanejar; os políticos prometem, apresentam suas propostas nas quais as pessoas confiam, dando-lhes o voto e, depois, se sentem enganadas.

Em vista de tudo isso, às vezes as situações cotidianas suscitam nas pessoas dúvidas, incertezas, desconfianças e desilusões, a ponto delas não acreditarem mais no que lhes é mostrado e essas pessoas passam a sentir a necessidade e o desejo de buscar a verdade. Outras vezes não se aceitam as certezas e crenças estabelecidas e passam a desejar além e encontrar explicações, interpretações e novos significados para as situações vivenciadas.

A resposta a esses questionamentos se colocam de acordo com a postura que tomamos diante daquilo que recebemos.

a) Dogmatismo: a certeza da verdade

Dogmatikós, em grego, significa “o que se funda em princípios” ou aquilo que é “relativo a uma doutrina”. Dogmatismo é a doutrina segundo a qual é possível atingir a certeza (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 54).

Tomamos uma atitude dogmática quando, de uma maneira muito espontânea, natural, aceitamos sem nenhum problema a realidade que nos cerca. Assim, a atitude dogmática tende a ser conservadora, ressente-se de novidades, de tudo aquilo que pode desequilibrá-la. Esse conservadorismo pode transformar-se em preconceito. Por exemplo, se o dogmático estiver convencido de que a sua versão de verdade é de origem divina, de uma fonte que não deve ser contestada, afasta todas as situações que ponham em perigo tais crenças reveladas. Em certos casos, aqueles que sustentam opiniões contrárias a essas crenças são tidos como “hereges”, “blasfemadores” ou, até, criminosos (CHAUÍ, 1999).

O Pensador, de Auguste RodinFonte: Wikipedia.org

Quais são as possibilidades do conhecimento humano?

Será possível conhecer a verdade?

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Podemos perceber atitudes dogmáticas em diferentes situações: no âmbito da religião, o dogma corresponde à uma verdade indiscutível de uma doutrina. A verdade é revelada por meio da fé, torna-se um princípio que deve ser aceito, é inquestionável. No cotidiano, a ideia de dogma designa as verdades não-questionadas e inquestionáveis:

Na política, podemos reconhecer a atitude dogmática na figura de um ditador ou no Estado totalitário que se utiliza, por exemplo, a censura e a repressão ou, ainda, uma pessoa autoritária. Um exemplo concreto dessa atitude foi o genocídio de judeus e ciganos nos campos de concentração nazista, em nome do dogma da raça ariana.

O mundo é como a novela da televisão: muita coisa acontece, mas,

afinal, nada acontece, pois quando a novela termina, os bons foram

recompensados, os maus foram punidos, os pobres bons ficaram ricos,

os ricos maus ficaram pobres, a mocinha casou com o mocinho certo,

a família boa se refez e a família má se desfez. Em outras palavras,

os acontecimentos da novela servem apenas para confirmar e reforçar

o que já sabíamos e o que já esperávamos. Tudo se mantém numa

atmosfera ou num clima de familiaridade, de segurança e sossego.

(CHAUÍ, 1999, p. 94)

a pessoa, de posse da verdade, fixa-se nela e abdica de continuar a

busca. O mundo muda, os acontecimentos se sucedem e o dogmático

permanece petrificado nos conhecimentos dados de uma vez por

todas. Disse Nietzsche que “as convicções são prisões”. Resistindo ao

diálogo, o dogmático teme o novo e não raro se torna intransigente e

prepotente. Quando resolve agir, o fanatismo é inevitável, e, com ele, a

justificação da violência. Também chamamos dogmáticos os seguidores

de escolas e tendências quando se recusam a discutir suas verdades,

permanecendo refratários às críticas.

(ARANHA; MARTINS, 2003, p. 55)

No âmbito da religião, o dogma corresponde à uma verdade indiscutível de uma doutrina. A verdade é revelada por meio da fé, torna-se um princípio que deve ser aceito, é inquestionável.

INDICAÇÃO DE LEITURA

No romance de Umberto Eco, O nome da rosa (Editora Record, 2009), uma série de assassinatos misteriosos acontecem em um monastério da Idade Média. Trata-se de uma metáfora do dogmatismo religioso e político que envolvem a Igreja católica na época, que impedia a livre disseminação do conhecimento.

A obra se tornou conhecida depois de ser convertida em linguagem cinematográfica, em 1986, dirigida por Jean-Jacques Annaud e protagonizada por Sean Connery e Christian Slater.

Assista também ao filme, disponível em:<https://www.youtube.com/playlist?list=PL8436D399E1A7C0DB >.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

b) Ceticismo: a impossibilidade da verdade

O termo ceticismo vem do grego sképsis, que significa “investigação”, “procura”: a sabedoria não consiste em alcançar a verdade, mas somen¬te em procurá-la (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 55).

Os céticos não acreditam na possibilidade de o mundo ser conhecido, portanto, concluem que não vale a pena buscar a verdade.

O cético tanto observa e tanto considera que conclui, nos casos mais radicais, pela impossibilidade do conhecimento. O grande representante do ceticismo foi um grego, conhecido como Pirro de Elida (séc. IV-III a.C.), que acompanhou Alexandre Magno em suas expedições de conquista, tendo contato com muitos povos de valores e crenças diferentes. No entanto, ao confrontar-se com tamanha diversidade acabou por abster-se ao invés de aderir a qualquer certeza. Para ele, a úni¬ca atitude coerente do sábio é a suspensão do juízo e, como consequência prática, a indiferença absoluta em relação a tudo.

Portanto, “cético” é aquela pessoa que, mesmo confrontada com fortes evidências, nega-as por negar, em vez de abrir mão de uma certeza. Podemos exemplificar com a figura de um ateu, que na ausência de provas, em vez de dizer que não pode comprovar a “verdade” que defende, não é capaz de ceder.

Fonte: Revista Dom Total.Disponível em: <http://domtotal.com/charges>

Os céticos não acreditam na possibilidade de o mundo ser conhecido, portanto, concluem que não vale a pena buscar a verdade.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

c) Criticismo: busca de superação do impasse

Para a atitude crítica ou filosófica, a verdade nasce da decisão e da determinação de encontrá-la, do espanto, da admiração, do desejo de saber. Na postura crítica, o indivíduo julga e avalia a realidade.

O criticismo desenvolveu-se a partir da filosofia do alemão Immanuel Kant (1724-1804). Representa a tentativa de superar as correntes céticas e dogmáticas. Procura compreender quais as condições que tornam possível o conhecimento da verdade, posicionando-se criticamente diante desse conhecimento. Todo conhecimento da verdade ocorre em condições específicas e é sempre limitado, diz Kant em sua obra Crítica da razão pura (Editora Loyola, 2013). Dessa forma, conhecer a verdade é conhecer o sentido ou a significação constituídas pela nossa consciência reflexiva.

Concluindo, quando questionados inicialmente sobre o conhecimento da verdade, verificamos que existiram diversas maneiras de compreender o que é a verdade e que a verdade é conhecer o sentido ou significado das coisas tal como foram produzidas em nossa consciência reflexiva. Daí a importância de exercitar a nossa consciência.

INDICAÇÃO DE FILME

No filme Matrix, uma inteligência comandada por máquinas aprisiona a consciência humana num mundo inventado. Os céticos alegam que não conseguiríamos reconhecer a farsa neste tipo de caso.

Obra cinematográfica de 1999, dirigida por Larry Wachowski (atual Lana Wachowski) e Andy Wachowski, com Keanu Reeves, Laurence Fishburne e Carrie-Anne Moss.

Gênero: Ação, Ficção científica

Nacionalidade: EUA

Immanuel KantFonte: Wikipedia.org

Vimos que, no correr da história humana, existiram diversas maneiras

de compreender o que é a verdade. O importante é não sucumbir ao

ceticismo radical — que em última instância recusa a filosofia — nem

ao dogmatismo — que se aloja na comodidade das verdades absolutas

—, mas suportar o espanto, a admiração, a controvérsia e aceitar o

movimento contínuo entre certeza e incerteza. O que não significa

renunciar à busca do conhecimento, porque conhecer é dar sentido ao

mundo e interpretar a realidade, é descobrir formas para nela poder

agir. (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 57)

O dogmatismo defende, de forma categórica, a possibilidade humana de conhecer a verdade.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

O dogmatismo defende, de forma categórica, a possibilidade humana de conhecer a verdade. Os céticos não acreditam na possibilidade de o mundo ser conhecido, portanto, concluem que não vale a pena buscar a verdade. O criticismo representa uma tentativa de superar as correntes céticas e dogmáticas. Procura compreender quais as condições que tornam possível o conhecimento da verdade, posicionando-se criticamente diante desse conhecimento. Pois conhecer é dar sentido ao mundo e interpretar a realidade, é descobrir formas para poder agir na realidade.

Se adotarmos um ponto de vista diferente dos céticos e dos dogmáticos, podemos afirmar que o conhecimento será tanto mais verdadeiro quanto mais interagir com todas as suas diferentes áreas de interesse. Quer dizer que o nosso desenvolvimento como ser humano demanda conhecimento, que nos permite afastarmos da aceitação dos fatos sem questionamento (senso comum). É o conhecimento que nos permite mudar a postura que temos diante da verdade. Tal processo ocorre por via da reflexão.

A importância da reflexão

Para não sucumbirmos ao ceticismo nem ao dogmatismo é preciso suportar o espanto, a admiração, aceitar o movimento contínuo entre a certeza e a incerteza. Como vimos, todas as questões filosóficas surgem das questões cotidianas. Isso nos leva a pensar que, em algum momento da vida, todos nós filosofamos, procurando ver o mundo e a nós mesmos como realmente somos, despidos de preconceitos e do senso comum. Para isso é essencial refletir.

Fonte: Elaboração Própria

O caminho para a consciência é a reflexão.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

O caminho para a consciência é a reflexão. A reflexão transforma a nossa mente em um espelho no qual se refletem as realidades ao nosso redor. Olhando em volta de nós mesmos procuramos os aspectos necessários e verdadeiros da vida humana. A reflexão é, desse ponto de vista, uma procura pela verdade, a verdade filosófica. Em latim, refletir é reflectere, ou seja, “voltar atrás”, “dobrar”, “retroceder”. Refletir é retomar o próprio pensamento, fazendo-o desdobrar-se, então dobrando-nos sobre nós mesmos, pensar o já pensado e, dessa maneira, questionando o que já se conhece ou acreditamos conhecer.

Refletir é a própria essência do filosofar, mas refletir sobre o quê? Para encontrar objetos de reflexão que iremos espelhar em nosso pensamento, precisamos de uma atitude de perplexidade.

Admirados, olhamos o mundo ao redor com uma curiosidade quase infantil. Tudo ao nosso redor parece ser fonte de mil ideias imaginativas e cuja compreensão nos permitirá conhecer melhor a nós mesmos e ao mundo que nos cerca. Se você consegue compreender a sensação de que estamos falando, então você pode fazer filosofia. Fazer filosofia exige uma certa dose de perplexidade diante da vida, uma admiração quase infantil, surpreendendo-se com aquilo que a maioria das pessoas considera normal.

A inteligência, a verdade e a percepção2

Como a inteligência humana percebe a verdade? O verbo inteligere, que dá origem à palavra “inteligência” significa literalmente “ler dentro”, descobrir o significado que está por trás das coisas, ou melhor, fazer uso da inteligência para se chegar à verdade.

Por sua vez, a percepção é a capacidade de reter as coisas em seu aspecto exterior a partir do que nos é acessível pelos órgãos dos sentidos (visão, audição, olfato, tato e paladar). A sensação é que nos dá qualidades dos objetos, bem como os efeitos em nós. Assim, sentimos o azul e o vermelho, o grito e o sussurro, o frio e o quente, o doce e o amargo, o liso e o áspero.

2 - Texto baseado em VIEIRA; LANDEIRA, 2010.

“... inteligência” significa literalmente “ler dentro”, descobrir o significado que está por trás das coisas, ou melhor, fazer uso da inteligência para se chegar à verdade.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

A percepção é sempre uma experiência com sentido para o ser humano, fazendo parte de nosso mundo e de nossa vivência. O mundo em que vivemos não é uma somatória de coisas isoladas, mas está organizado de maneira a apresentar forma e sentido a quem o percebe.

Observe no exemplo abaixo como se constrói a percepção da realidade na experiência do filho no conto do uruguaio Eduardo Galeano:

A percepção estabelece a relação entre as coisas e nós mesmos, relacionando-os com o mundo, permitindo-nos construir uma forma de estar nele.

O pensamento nos permite abstrair aquilo que percebemos, reformulando nossa realidade interior. A percepção, nesse sentido, pode facilitar a experiência do pensamento abstrato.

O menino não consegue entender o mar, para ele é algo incompreensível. Como o pai pode ajudá-lo a olhar? Primeiramente, pela percepção! Fazendo o menino ver a sua grandeza (visão); ouvir o barulho das ondas (audição); sentir o cheiro (olfato); colocar a mão na água (tato); sentir o sabor salgado da água (paladar). É assim que a criança entende a realidade, pegando, vendo, sentindo, olhando, cheirando, colocando na boca...

Essa realidade se torna abstrata quando da percepção da realidade quando passamos a fazer uso da inteligência. Se um dia você conheceu o mar e se encantou com ele, basta fechar os olhos e buscar a referência da sua memória: ao fechar os olhos somos capazes de ver o mar, sentir o cheiro da brisa, ouvir o barulho das ondas...

A consciência humana apresenta a capacidade de apreender o conhecimento da verdade por meio de diversos modos que permitem construir a nossa identidade individual e social. Ao conhecer a verdade, somos capazes de questionar a existência da verdade e dos diversos modos de conhece-la.

Diego não conhecia o mar. O pai, Santiago Kovadloff, levou-o para que descobrisse o mar.

Viajaram para o Sul.

Ele, o mar, estava do outro lado das dunas altas, esperando.

Quando o menino e o pai enfim alcançaram aquelas alturas de areia, depois de muito caminhar, o mar estava na frente de seus olhos. E foi tanta a imensidão do mar, e tanto seu fulgor, que o menino ficou mudo de beleza.

E quando finalmente conseguiu falar, tremendo, gaguejando, pediu ao pai:

- Me ajuda a olhar!

(Eduardo Galeano. O livro dos abraços. Porto Alegre: LP&M, 1997.)

A percepção estabelece a relação entre as coisas e nós mesmos, relacionando-os com o mundo, permitindo-nos construir uma forma de estar nele.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Leia o artigo Em que mundo você vive?, de Luis Mauro Martino. Matéria de capa da revista Filosofia Ciência & Vida. Edição n. 58, 2011. Disponível em: <http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/edicoes/58/artigo214587-1.asp?o=r>. Acesso em 01 mar. 2015. Fala-se em “realidade” como algo único e compartilhado por todos, mas uma das principais questões da Filosofia é se existe uma realidade objetiva ou se ela é modificada pelos sentidos. A visão de realidade universal pode levar a problemas éticos na relação com o outro. O artigo aborda o assunto da verdade e da realidade, na visão de Kant, que é percebida pelos sentidos e elaborada como conhecimento pela razão.

Leia o livro Você é aquilo que você pensa, de James Allen e Ricardo S. Marques. Mensagens.org, 2003. Disponível em: <http://www.hlage.com.br/E-Books-Livros-PPS/Voce_e_AquiloQueVocePensa-JamesAllen_e_Ricardo_S_Marques.pdf >. Acesso em 01 mar. 2015. Esse pequeno livro nos estimula para a descoberta e percepção da verdade. Promove o entendimento sobre a importância da reflexão e a necessidade de “parar para pensar” e tomar atitudes mais certeiras.

LEITURAS COMPLEMENTARES

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia: história e grandes temas. 16 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006. Sugerimos o capítulo 4: Teoria do conhecimento: investigando o saber, p. 54 a 64.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 3 ed. revista. São Paulo: Moderna, 2003. Sugerimos a Unidade II – capítulo 4: O que é conhecimento, p. 52 a 59.

Assista ao vídeo: O que é conhecimento?, Disponível em: <http://youtu.be/oc-aGTCvwb0>. Para reforçar no entendimento do significado do conhecimento e as posturas que tomamos frente a realidade que nos cerca.

Assista ao vídeo: Desenvolva seu senso crítico e aprenda melhor! Disponível em: <https://youtu.be/qUyU5j4BZAU>. Essa vídeo-aula faz uma tradução-interpretação de um infográfico sobre as formas de se aprimorar a nossa capacidade para o pensamento crítico.

Vídeos Importantes

Links Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 3

Com essa unidade finalizamos um importante caminho para você se inspirar nos filósofos e começar a pensar! Afinal, ao adentrar no ensino superior você assumiu a vontade de conhecer e elaborar uma consciência crítica diante da realidade que o cerca.

O ser humano é, antes de tudo, criador de conhecimento. De Sócrates aos nossos dias, foram mais de 25 séculos de pensamento filosófico.

Vimos que a Filosofia nos instiga a buscar compreender o mundo por meio de questionamentos, pois a partir de problemas, investigamos o conhecimento verdadeiro, na busca de uma resposta, ainda que temporária. Exercitamos a capacidade humana para conhecer, somos homens que “sabemos que sabemos”, temos conhecimento de nosso saber. A consciência é um conhecimento (das coisas e de si) e um conhecimento desse conhecimento (reflexão).

CONHECIMENTOO conhecimento humano é a verdade acessível ao homem, e esta verdade é relativa, finita e limitada. É um termo que designa, em filosofia, o processo pelo qual o sujeito apreende um objeto. O conhecimento sensível nos é dado por meio dos sentidos já o inteligível depende do uso da razão.

PROBLEMATIZARDar forma de problema, por em dúvida.

REFLEXÃOPensar maduramente, mudar de direção, retroceder, recuar.

ARANHA, M. L. de A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1993.

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. 13. ed. São Paulo: Ática, 2005.

COTRIM, G. Fundamentos de Filosofia: história e grandes temas. 16 ed. reform. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2006

LAW, Stephen. Guia Ilustrado Zahar de Filosofia. São Paulo: Zahar Editora, 2008.

VIEIRA, A.; LANDEIRA, J. L. Cadernos de Filosofia: o olhar filosófico. Brasília: Cisbrasil – CIB, 2010.

Referências

Glossário

Finalizando

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Conteúdo

a) O que é Ética;

b) Ética e Moral;

c) Valores morais

d) Liberdade e responsabilidade.

Essa unidade trata de alguns assuntos muito interessantes, tais como a importância da ética na dimensão humana, como ela influencia na vida das pessoas. Estudaremos os conceitos e definições de ética e moral; liberdade e responsabilidade e consciência ética.

Ao final dessa unidade você será capaz de entender a sua conduta e a dos outros a partir de princípios e valores, bem como estabelecer relações e diferenças entre as palavras ética e moral. Que valores e princípios éticos são necessários para o convívio social e são capazes de embasar futuras propostas de trabalho junto à sociedade. Como a nossa liberdade diante da sociedade exige a responsabilidade perante o outro.

O que é Ética?

Afinal, o que é ética?

Ética é algo que todos precisam ter.

Alguns dizem que têm.

Poucos levam a sério.

Ninguém cumpre à risca...

Conteúdos e Habilidades

UNIDADE 4

TEMA 4: Introdução à Filosofia da Moral

Leitura Obrigatória

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

E para você:

O que é ética?

Você acha que ética é o que você aprendeu em casa, na igreja, na escola, o que é certo e o que é errado?

Pode até ser que sim, pois a ética orienta o que deve ser correto, porém dentro de um contexto histórico e social. Muitos assuntos que antigamente não poderiam ser nem debatidos em sociedade, hoje é questão a ser tratada em lei.

Em nossa vida, julgamos os outros ou nós mesmos se estamos fazendo certo ou errado. Incorporamos isso diante de uma dinâmica de vida, de uma dinâmica social, conforme vivemos experiências.

Imagine se em nossa sociedade, na empresa em que trabalhamos, na escola ou na faculdade que frequentamos não existissem regras. Já pensou o caos que seria? No trânsito, por exemplo, um cruzamento sem semáforos ou placas de sinalização para orientar de quem é a preferência. Seria bem complicado, não é mesmo?

Talvez você esteja se perguntando:

O que isso tem a ver com a ética?

É impossível falar de ética sem falar do ser humano. Ética tem a ver com a delimitação do espaço, com a sociedade. O que nos levou a buscar o outro e o que nos levou a seguir e criar regras para viver com os outros? O fator sobrevivência talvez nos levou a viver em comunidade.

Com a evolução da sociedade humana, ela acabou por organizar e adotar normas de conduta. Isso porque, para vivermos em sociedade, devemos procurar uma relação amistosa com os outros, buscar o bem comum, preservar os valores sociais para que a sociedade cresça de uma forma saudável, mas para isso são necessárias regras, caso contrário essa sociedade vira um caos.

O termo Ética deriva do grego ethos (caráter, modo de ser de uma pessoa). Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade. A ética serve para que haja um equilíbrio e bom funcionamento social, possibilitando que ninguém saia prejudicado. Neste sentido, a ética, embora não possa ser confundida com as leis, está relacionada com o sentimento de justiça social.

A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais. Do ponto de vista da Filosofia, a Ética é uma ciência que estuda os valores e princípios morais de uma sociedade e seus grupos.

Ética é um conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta humana na sociedade

A ética é construída por uma sociedade com base nos valores históricos e culturais.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Cada sociedade e cada grupo possuem seus próprios códigos de ética. Num país, por exemplo, sacrificar animais para pesquisa científica pode ser ético. Em outro país, esta atitude pode desrespeitar os princípios éticos estabelecidos. Aproveitando o exemplo, a ética na área de pesquisas biológicas é denominada bioética.

Além dos princípios gerais que norteiam o bom funcionamento social, existe também a ética de determinados grupos ou locais específicos. Neste sentido, podemos citar: ética médica, ética de trabalho, ética empresarial, ética educacional, ética nos esportes, ética jornalística, ética na política, etc.

Uma pessoa que não segue a ética da sociedade a qual pertence é chamado de antiético, assim como o ato praticado.

Finalmente, deve-se chamar a atenção para o fato de a palavra “moral” ter, para muitos, adquirido sentido pejorativo, associado a “moralismo”. Assim, muitos preferem associar à palavra ética os valores e regras que prezam, querendo assim marcar diferenças com os “moralistas”. Parte-se do pressuposto de que é preciso possuir critérios, valores, e, mais ainda, estabelecer relações e hierarquias entre esses valores para nortear as ações em sociedade. Situações dilemáticas da vida colocam claramente essa necessidade. Por exemplo, é ou não ético roubar um remédio, cujo preço é inacessível, para salvar alguém que, sem ele, morreria? Colocado de outra forma: deve-se privilegiar o valor “vida” (salvar alguém da morte) ou o valor “propriedade privada” (no sentido de não roubar)?

Historicamente podemos verificar que respostas para questões éticas e morais modificam ao longo do tempo. Na Grécia antiga, por exemplo, a existência de escravos era perfeitamente legítima: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem liberdade era considerado normal. Outro exemplo: até pouco tempo atrás, as mulheres eram consideradas seres inferiores aos seres humanos, e, portanto, não merecedoras de direitos iguais (deviam obedecer a seus maridos). Outro exemplo ainda: na Idade Média, a tortura era considerada prática legítima, seja para a extorsão de confissões, seja como castigo. Hoje, tal prática indigna a maioria das pessoas e é considerada imoral. Portanto, a moralidade humana deve ser enfocada no contexto histórico e social.

Ao refletirmos sobre a sociedade contemporânea, em especial o Brasil do século XXI, podemos identificar elementos que identificam questões morais na Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. Trata-se de uma “carta de intenções”, na qual está registrada os princípios que são mais caros à sociedade brasileira e que devem nortear nossas condutas enquanto sociedade.

Na Grécia antiga, a existência de escravos era perfeitamente legítima: as pessoas não eram consideradas iguais entre si, e o fato de umas não terem liberdade era considerado normal.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Veja, por exemplo, o artigo 1º da Constituição, que trata dos princípios fundamentais:

Neste artigo podemos ver que, entre outros, é fundamental para o Brasil a dignidade da pessoa humana. A ideia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, merece tratamento digno corresponde a um valor moral. Segundo esse valor, a pergunta de como agir perante os outros recebe uma resposta precisa: agir sempre de modo a respeitar a dignidade, sem humilhações ou discriminações em relação a sexo ou etnia. Também é fundamental o pluralismo político, embora se refira a um nível específico (a política), também pressupõe um valor moral: os seres humanos têm direito de ter suas opiniões, de expressá-las, de organizar-se em torno delas. Não se deve, portanto, obrigá-los a silenciar ou a esconder seus pontos de vista; vale dizer, são livres. E, naturalmente, esses dois Fundamentos (e os outros) devem ser pensados em conjunto.

Art. 1° - A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se

em Estado democrático de direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Fonte: BRASIL, 2012.

A ideia segundo a qual todo ser humano, sem distinção, merece tratamento digno corresponde a um valor moral.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Enfatizamos outros trechos da Constituição que remetem a questões morais: no art. 3°, lê-se que constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil (entre outros): I) construir uma sociedade livre, justa e solidária; III) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Não é difícil identificar valores morais em tais objetivos, que falam em justiça, igualdade, solidariedade, e sua coerência com os outros fundamentos apontados.

No art. 5°, mais itens esclarecem as bases morais escolhidas pela sociedade brasileira: I) seres humanos e mulheres são iguais em direitos e obrigações; (...) III) ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; (...) VI) é inviolável a liberdade de consciência e de crença (...); X) são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (...).

Dessa forma, podemos levantar três pontos, que consideramos importantes para nossa reflexão sobre ética:

• Os valores eleitos são necessários ao convívio entre os membros dessa sociedade. Trata-se de um consenso mínimo, de um conjunto central de valores, indispensável à sociedade democrática: sem esse conjunto central, cai-se na anomia, entendida seja como ausência de regras, seja como total relativização delas (cada um tem as suas, e faz o que bem entender); ou seja, sem esse consenso destrói-se a democracia, ou, no caso do Brasil, impede-se a construção e o fortalecimento do país.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

• Considera-se o caráter democrático da sociedade brasileira. A democracia é um regime político e também um modo de sociabilidade que permite a expressão das diferenças, a expressão de conflitos, em uma palavra, a pluralidade. Portanto, para além do que se chama de conjunto central de valores, deve valer a liberdade, a tolerância, a sabedoria de conviver com o diferente, com a diversidade (seja do ponto de vista de valores, como de costumes, crenças religiosas, expressões artísticas, etc.). Tal valorização da liberdade não está em contradição com a presença de um conjunto central de valores. Pelo contrário, o conjunto garante, justamente, a possibilidade da liberdade humana, coloca-lhe fronteiras precisas para que todos possam usufruir dela, para que todos possam preservá-la.

• Ética trata de princípios e não de mandamentos. Supõe que o ser humano deva ser justo. Porém, como ser justo? Ou como agir de forma a garantir o bem de todos? Não há resposta predefinida. A ética é um eterno pensar, refletir, construir.

As pessoas não nascem boas ou ruins; é a sociedade, quer queira, quer não, que educa moralmente seus membros, embora a família, os meios de comunicação e o convívio com outras pessoas tenham influência marcante no comportamento das pessoas.

Ética e moral1

Embora Moral e Ética possam ser tomadas como sinônimos, no geral expressam conceitos bastante diferentes. A Ética é entendida como Filosofia moral, isto é, como uma reflexão sobre os valores morais. Ética é a ciência da conduta. É a parte da Filosofia que reflete sobre os conceitos e os princípios que fundamentam a vida moral.

1 - Texto baseado em DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 2012. p. 162-4. Texto baseado Gallo, 2003, p. 75-80.

A democracia é um regime político e também um modo de sociabilidade que permite a expressão das diferenças, a expressão de conflitos, em uma palavra, a pluralidade.

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Segundo o Dicionário Aurélio Buarque de Holanda, Ética é “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.

Alguns diferenciam ética e moral de vários modos:

1. Ética é princípio, moral são aspectos de condutas específicas;

2. Ética é permanente, moral é temporal;

3. Ética é universal, moral é cultural;

4. Ética é regra, moral é conduta da regra;

5. Ética é teoria, moral é prática.

Valores morais

Etimologicamente falando, ética vem do grego “ethos”, e tem seu correlato no latim “morale”, com o mesmo significado: Conduta, ou relativo aos costumes, o que nos faz entender que, na origem da palavra, ética e moral são palavras sinônimas.

A moral é entendida como um conjunto de regras a respeito do bem e do mal, do justo e do injusto. A ideia de uma ausência de freios morais e da liberdade de ações sempre intrigou os filósofos. Como seria a nossa vida com a certeza de não haver nenhuma punição? E se tudo fosse permitido? Platão, em sua obra A república, nos propõe uma reflexão sobre o tema ao contar a história do pastor Giges.

Ser ético nada mais é do que agir direito, proceder bem, sem prejudicar os outros. É ser altruísta, é estar tranquilo com a consciência pessoal. “É cumprir com os valores da sociedade em que vive, ou seja, onde mora, trabalha, estuda, etc”. Ética é tudo que envolve integridade, é ser honesto em qualquer situação, é ter coragem para assumir seus erros e decisões, ser tolerante e flexível, é ser humilde. Todo ser ético reflete sobre suas ações, pensa se fez o bem ou o mal para o seu próximo. É ter a consciência “limpa”.

Disponível em: <http://filosofar-e-preciso.blogspot.com.br/2008/10/o-que-ser-tico.html >. Acesso em 25 mar 2015.

O Anel de Giges

(Platão - A República: O mito do Anel de Giges - os homens só são justos porque temem o castigo. A conduta ética depende apenas do medo da punição?)

[359b - 360a] GLAUCO: Vamos provar que a justiça só é praticada contra a própria vontade dos indivíduos e devido à incapacidade de se fazer a injustiça, imaginando o que se segue. Vamos supor que se dê ao homem de bem e ao injusto igual poder de fazer o que quiserem, seguindo-os para ver até onde os leva a paixão. Veremos com surpresa o homem de bem tomar o mesmo caminho que o injusto, este im¬pulsionado a querer sempre mais, impulso que se encontra em toda natureza, mas ao qual a força da lei impõe limites. O melhor meio de testá-los da maneira como digo seria dar-lhes o mesmo poder que, segundo dizem, teve Giges, o antepassado do rei

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O elemento mais importante da existência ética é o sujeito moral. Somos sujeitos morais na medida em que temos consciência de nós mesmos e nos reconhecemos como dotados de vontade e autonomia. Somos responsáveis por nossas ações e somos livres para nos reconhecermos como causa delas.

da Lídia. Giges era um pastor a serviço do então soberano da Lídia. Devido a uma terrível tempestade e a um terremoto, abriu-se uma fenda no chão no local onde pastoreava o seu rebanho. Movido pela curiosidade, desceu pela fenda e viu, admirado, um cavalo de bronze, oco, com aberturas. E ao olhar através de uma das aberturas viu um homem de estatura gigantesca que parecia estar morto. O homem estava nu e tinha apenas um anel de ouro na mão. Giges o pegou e foi embora. Mais tarde, tendo os pastores se reunido, como de hábito, para fazer um relatório sobre os rebanhos ao rei, Giges compareceu à reunião usando o anel. Sentado entre os pastores, girou por acaso o anel, virando a pedra para o lado de dentro de sua mão, e imediatamente tornou-se invisível para os outros, que falavam dele como se não estivesse ali, o que o deixou muito espantado. Girou de novo o anel, rodando a pedra para fora, e tornou-se novamente visível. Perplexo, repetiu o feito para certificar-se de que o anel tinha esse poder e concluiu que ao virar a pedra para dentro tornava-se invisível e ao girá-la para fora voltava a ser visível. Tendo certeza disso, juntou-se aos pastores que iriam até o rei como representantes do grupo. Chegando ao palácio, seduziu a rainha e com a ajuda dela atacou e matou o soberano, apoderando-se do trono. Vamos supor agora que existam dois anéis como este e que seja dado um ao justo e outro ao injusto. Ao que parece não encontraremos ninguém suficientemente dotado de força de vontade para permanecer justo e resistir à tentação de tomar o que pertence a outro, já que poderia impunemente tomar o que quisesse no mercado, invadiras casas e ter relações sexuais com quem quisesse, matar e quebrar as armas dos outros. Em suma, agir como se fosse um deus. Nada o distinguiria do injusto, ambos tenderiam a fazer o mesmo e veríamos nisso a prova de que ninguém é justo porque deseja, mas por imposição. A justiça não é, portanto, uma qualidade individual, pois sempre que acreditarmos que podemos praticar atos injustos não deixaremos de fazê-lo.De fato, todos os homens creem que a injustiça lhes traz individualmente mais vantagens do que a justiça, e têm razão, se levarmos em conta os adeptos dessa doutrina. Se um homem que tivesse tal poder não consentisse nunca em cometer um ato injusto e tomar o que quisesse de outro, acabaria por ser consi¬derado, por aqueles que conhecessem o seu segredo, como o mais infeliz e tolo dos homens. Não deixariam de elogiar publicamente a sua virtude, mas para disfarçarem, por receio de sofrerem eles próprios alguma injustiça. Era isso o que tinha a dizer.

Fonte: Danilo Marcondes. Textos básicos de ética. Rio Janeiro: Jorge Zahar Ed.,

2007. p.30-32.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Os valores morais são juízos sobre as ações humanas que se baseiam em definições do que é bom/mau ou do que é o bem/o mal. Eles são imprescindíveis para que possamos guiar nossa compreensão do mundo e de nós mesmos e servem de parâmetros pelos quais fazemos escolhas e orientamos nossas ações.

Eles estão presentes nos nossos pensamentos, nas coisas que dizemos e escrevemos e, claro, nas nossas ações. Apesar dessa presença em toda a nossa vida, as ocasiões mais propícias para investigarmos sua importância para a compreensão e direcionamento das ações são aquelas em que somos chamados a fazer escolhas importantes. Nesses momentos, sabemos que não podemos agir em função da primeira coisa que passar pela cabeça; precisamos pensar bem, avaliar o que realmente queremos, quais as consequências se fizermos isso ou aquilo, o que perdemos e o que ganhamos.

Ter consciência moral não significa agir sempre de acordo com os padrões vigentes ou com normas socialmente impostas. Pelo contrário, ter consciência moral significa, acima de qualquer coisa, ter capacidade de escolher, ter autonomia, questionar valores, pensar antes de agir e agir com integridade.

O elemento mais importante da existência ética é o sujeito moral.

Sujeito moral

O sujeito ético ou moral, isto é, a pessoa, só pode existir se preencher as seguintes condições:

a) Ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de refletir e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;

b) Ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, sentimentos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis.

c) Ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e consequências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la, bem como às suas consequências, respondendo por las.

d) Ser livre, isto é, ser capaz de oferecer-se como causa interna de seus sentimentos, atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a sentir, a querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não é tanto o poder para escolher entre vários possíveis, mas o poder de autodeterminar-se, dando a si mesmo as regras de conduta.

Fonte: Marilena Chauí. Filosofia. São Paulo: Ática, 2005. p. 163-4.

Nossa consciência moral é posta à prova quando temos que tomar uma decisão, julgar uma situação ou fazer nossas escolhas.

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A consciência moral implica entendermos nossas ações como intencionais e voluntárias. Nesse sentido, devemos ter consciência de que somos responsáveis por nossas escolhas e nossas atitudes. Nossa integridade é justamente essa coerência entre nossos valores e nosso comportamento.

O filósofo alemão Immanuel Kant, no século XVIII, buscou um princípio, um fundamento para a moral. Ele fundamentou os princípios gerais da ação humana na razão, ou melhor, naquilo que ele chamou de razão prática. Kant formulou uma regra geral, o imperativo categórico, segundo o qual devemos guiar nossas atitudes. “Age de maneira tal que a máxima de tua ação sempre possa valer como princípio de uma lei universal”, disse Kant em seu Fundamentação da metafísica dos costumes (1785).

Assim, a reflexão sobre os valores morais serve para aprendermos a lidar melhor com a nossa capacidade de escolher e com o uso dessa particularidade humana, que é a liberdade. Ao definirmos o que é bom ou mau, estamos projetando um modo de viver humanamente, em sociedade. Por essa razão, a reflexão sobre liberdade e responsabilidade não pode deixar de ser feita tendo em vista as relações humanas.

A moral está baseada num valor ético chamado JUSTIÇA. Quando a ética falha, a moral em ação, e ela é punitiva!

Onde se aprendem as regras morais?

Na cultura em geral, nas religiões, nas leis, ouvindo ou conversando com pessoas que tenham mais experiência e conhecimento.

Immanuel KantFonte: Wikipedia.org

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Liberdade e responsabilidade2

Cecília Meireles, concluindo um poema que escreveu em homenagem à Inconfidência Mineira, primeiro movimento político-social a tentar construir a independência do Brasil, escreveu os seguintes versos:

Liberdade,essa palavra que o sonho humano alimenta:

que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda.

A filosofia, como ferramenta de pensamento, pode nos auxiliar a entender melhor a liberdade, e mesmo a tentar explicá-la.

O Mito de Édipo

Imagine que fôssemos todos sempre e absolutamente capazes de fazer o que quiséssemos, sem nada nem ninguém para impedir. Mas será que o ser humano é, de fato, livre?

Você acredita em destino? Algumas religiões afirmam que o ser humano é um ser determinado por Deus ou deuses. Essa ideia se chama determinista, que afirma que tudo o que fazemos já foi determinado por algo ou alguém. Um exemplo é o Mito de Édipo Rei, de Sófocles:

2 - Texto baseado Gallo, 2003, p. 75-80.

“Liberdade significa responsabilidade. É por isso que tanta gente tem

medo dela”. George Bernard Shaw

A filosofia, como ferramenta de pensamento, pode nos auxiliar a entender melhor a liberdade.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Há, ainda, aqueles que acreditam no esoterismo, que não deixa de ser uma forma de determinismo. Quer exemplos: ler o Tarô, consultar as “cartas”, ler a mão...

Já no cristianismo, por exemplo, adota-se a ideia de livre-arbítrio, pois o homem é dotado da capacidade de escolher entre o bem e o mal. Segundo essa crença, não existe destino, mas escolhemos um caminho a seguir: aquele que nos leva ao paraíso ou o que nos leva ao inferno. Diante dessa concepção, podemos entender que o indivíduo é responsável por suas escolhas.

Mito de Édipo

Laio, Rei de Tebas e marido de Jocasta, vivia amargurado por não ter filhos, pelo que, decidiu consultar o Oráculo, tendo-lhe, este, advertido que filho que gerasse havia de o assassinar. Apesar das advertências, Jocasta engravida e Laio, quando o bebé nasceu, ordenou a um servo que o pendurasse pelos pés numa árvore, para que este morresse. Daí o nome Édipo (que significa pés inchados).

O servo de Laio, desrespeitando as ordens, acabou por colocar a criança num cesto e jogou-a ao rio, acabando este, por ser resgatado por um rei duma terra distante, que o elegeu como seu filho. Este, já homem, também consultou o Oráculo, o qual o aconselhou a evitar a sua pátria, pois iria ser o assassino de seu pai e marido de sua mãe. Desconhecendo as suas origens e pensando-se filho de Pôlibo e Mérope, reis de Corinto, Édipo decidiu partir rumo a Tebas. Durante o seu percurso, e no meio de uma encruzilhada, deparou-se com um velho com o qual manteve uma acérrima discussão acabando por matá-lo.

Chegado a Tebas decifrou o enigma da Esfinge (monstro com cabeça de mulher e corpo de leão), que impossibilitava a entrada na cidade, e como nunca ninguém o havia decifrado, a Esfinge jogou-se ao mar, tendo Édipo libertado a cidade da sua maldição. Creonte, irmão de Jocasta, havia prometido a mão desta a quem libertasse a cidade da Esfinge, ganhando assim, Édipo, o direito a casar com Jocasta, agora viúva.

Casaram, Édipo foi proclamado Rei e tiveram dois filhos e duas filhas, reinando sem grandes dificuldades, até ao dia em que se instala a peste na cidade e Édipo decide consultar o Oráculo, que lhe refere que a peste cessaria quando fosse expulso o assassino de Laio. Édipo dispôs-se a encontrá-lo, mas quando se apercebeu que ele próprio fora o assassino de Laio, seu pai, e o esposo de sua mãe, e vendo que apesar de fugir contra a profecia esta acabou por se realizar, arrancou os olhos e deixou a sua pátria.

Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action&co_obra=2255

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Então, como é que fica, acredita-se no livre arbítrio e no determinismo, ao mesmo tempo? E você? Acredita em quê? Sua vida já está traçada? Você acredita no destino ou na liberdade?

Para o filósofo Jean-Paul Sartre (1905-1980), o homem está “condenado a ser livre”. Mas o que significa isso? Significa que a liberdade é o próprio fundamento do ser do homem.

O autor diz que sempre temos de escolher e que nosso exercício de liberdade é integral, não tem meio termo. No entanto, no cotidiano nem sempre percebemos a liberdade assim, posso ser livre em algumas situações e não ser em outras. Em algumas situações não tenho como fugir, em outras posso lutar e superá-las.

O fundamento da liberdade é o ato da escolha, com a qual nos defrontamos a todo momento: quando resolvemos que roupa vestir, o que comer, aonde ir... Jamais podemos fugir da escolha. Às vezes, temos mais opções, outras vezes, menos opções, mas sempre precisamos nos decidir por uma, e é a esse poder de decisão que chamamos de liberdade.

No entanto, a escolha é uma forma de ação. E toda ação nos coloca consequências. Se fui eu que escolhi e eu que agi, eu devo ser responsável pela escolha e por aquilo que fiz. E, em decorrência, também tenho responsabilidade sobre as consequências de minha ação.

Liberdade = Escolhas = Ação = Consequências = Responsabilidade

É por isso que liberdade e responsabilidade andam sempre juntas. Se sou livre, sou responsável. Se vivemos em um mundo social, todas as nossas ações têm consequencias que geram responsabilidades, pois nossas ações refletirão naqueles que me cercam.

Exemplo: “Estou dirigindo meu carro por uma estrada onde placas indicam que o limite de velocidade é de 100 km/h. Eu sou livre para obedecer ou não essa determinação, mas devo assumir toda a responsabilidade por minha escolha. Pode ser que dirija a 120 ou 140 km/h e nada aconteça, mas também pode ser que eu seja parado pela polícia rodoviária e ganhe uma bela multa — uma consequência ruim para mim. Ou, ainda, pode ser que, pelo excesso de velocidade, eu perca o controle do carro e me envolva num acidente. As consequências de minha escolha estendem-se, então, por um número bem maior de pessoas: aquelas que podem ter ficado feridas ou mesmo morrido no acidente, além de meus familiares e amigos que certamente lamentarão por mim” (Gallo, 2003).

O fundamento da liberdade é o ato da escolha.

Jean Paul SartreFonte: Wikipedia.org

Se vivemos em um mundo social, todas as nossas ações têm consequencias que geram responsabilidades, pois nossas ações refletirão naqueles que me cercam.

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É por isso que Sartre afirma que é quando escolho que me torno humano, e escolho não apenas a mim, mas a toda a humanidade. Se levarmos em consideração a liberdade do outro, se nos responsabilizamos pelo outro, então liberdade é algo que transcende nossos próprios interesses, pois viver em sociedade significa conviver, viver junto, compartilhar. Dessa forma, só se é livre quando o outro também é livre.

Onde se aprende, então, a reflexão ética?

Temos que conhecer e aplicar critérios de escolha. Os critérios de escolha não dependem do que as pessoas acham na hora que têm de decidir sobre o que fazer em determinada situação. Ao contrário, resultam da reflexão.

Perceba que ética serve de base para as relações humanas, porque ela serve de base do direito ou da justiça, isto é, das leis que regulam a convivência entre todos os membros de uma sociedade. O filósofo alemão Leibniz (1646-1716) considera que o direito e as leis decorrem de três preceitos morais básicos:

• Não prejudicar ninguém;

• Atribuir a cada um o que lhe é devido;

• Viver honestamente.

Quer dizer que a ética orienta também a política e, quando a política não está pautada pela ética ocorrem os escândalos e os crimes que os brasileiros presenciam a cada ano nos Poderes Executivo e Legislativo do nosso país, não é mesmo?

“A liberdade só pode ser de fato se for possível para todos. No século

passado o russo Mikhail Bakunin já escrevia que ‘a liberdade do outro

eleva a minha ao infinito’, o que seria confirmado filosoficamente depois

por Sartre. Só posso ser livre se todos aqueles que convivem comigo

também forem livres. Assim, minha liberdade não termina onde começa

a do outro, mas ambas começam juntas e, uma complementando a

outra, podem crescer ao infinito”.

(Gallo, 2003)

Gottfried Wilhelm Leibniz

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Compartilhando

Compartilhe o que você aprendeu! Agora sabemos que as regras que temos em nossa sociedade e em qualquer lugar que há aglomeração humana estão relacionadas à ética. Isso porque quando falamos em ética não podemos deixar de lado o ser humano. Converse com seus colegas e familiares sobre isso, mostre a eles como todos nós convivemos em conjunto e é por meio da ética que podemos viver civilizadamente.

Leia o artigo sugerido: A ética na vida humana, de Eliane Bezerra da Cruz. A autora aborda os aspectos pertinentes a Ética na conduta humana, como uma doutrina norteadora da vida, na sua comunidade e em classe social. Disponível em: <http://www.faete.edu.br/revista/A_ETICA_NA_VIDA_HUMANA-ELIANE_BEZERRA.pdf >. Acesso em: 14.abr.2014.

LEITURAS COMPLEMENTARES

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna. Sugerimos o capítulo 23 - Introdução à filosofia moral

CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática. 1993. Leia na Unidade 8 - O mundo da prática, o capítulo 5 - A existência ética e o capítulo 6 - A filosofia moral.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. São Paulo: Saraiva. Atente-se para o capítulo 13 - Filosofia Moral

Os recentes eventos políticos ocorridos no Brasil, tais como reações violentas da polícia em protestos pacíficos, projetos de leis que inibem manifestações (colocando- as no mesmo plano do terrorismo), cerceamento de atividades religiosas que não a da maioria cristã, entre outras, compelem os cidadãos brasileiros a pensarem sobre sua própria liberdade enquanto indivíduos em território nacional.

Fonte: Projeto de Lei no 499/2013. Disponível em: http://www.senado.gov.br/

atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=115549. Acesso em: 9 jun. 2014.

Links Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

Assista ao vídeo Mário Sérgio Cortella no Programa do Jô. O vídeo mostra a participação do filósofo e professor universitário Mário Sergio Cortella no Programa do Jô, quando discorre sobre o tema ética e moral. A entrevista tem direitos autorais protegidos pela rede Globo. Localizei um trecho disponibilizado no Youtube, porém a qualidade não é boa, mas foi possível incorporá-lo à aula. http://youtu.be/vjKaWlEvyvU

Com duração de 22 minutos aproximados, a entrevista foi motivada pelo lançamento do livro Qual é a tua obra?, escrito por Cortella. Se você tiver tempo, assista na íntegra, pois no início da entrevista ele aborda sobre a Filosofia e sua importância. Caso contrário, você pode adiantar o vídeo. O trecho sobre ética e moral começa aos 12 minutos e 38 segundos. Portanto, o tema dura mais ou menos nove minutos. Não é muito e vale a pena ver e ouvir o que o professor nos ensina.

Acesse o link: <http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-jo/v/professor-mario-sergio-cortella-lanca-livro/844221/

Vimos nessa unidade que o comportamento de uma sociedade está ligado à ética e que uma sociedade, comunidade ou qualquer agrupamento humano pressupõe existência de regras, de normas de conduta para que possamos viver no mínimo da organização.

Até em meio aos bandidos, em guerras há regras, às vezes não são cumpridas, mas existem. Imagine agora em nossa sociedade civilizada, em nossa empresa, no clube etc.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. São Paulo: Moderna, 1993.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: texto constitucional promulgado em 5 de outubro de 1988, com as alterações adotadas pelas Emendas Constitucionais nos 1/1992 a 68/2011, pelo Decreto Legislativo nº 186/2008 e pelas Emendas Constitucionais de Revisão nos 1 a 6/1994. – 35. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012.

Referências

Finalizando

Vídeos Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 4

DIMENSTEIN, Gilberto; STRECKER, Heidi; GIANSANTI, Alvaro César. Dez lições de Filosofia para um Brasil cidadão. 2 ed. atualiz. São Paulo: FTD, 2012.

GALLO, Silvio (coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia. Elementos para o ensino de filosofia. 16 ed. Campinas: Papirus, 2003.

SARTRE, J. P. O existencialismo é um humanismo. Tradução: Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril S.A., 1973.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

A ideia de cidadania está presente desde os primórdios da humanidade. Desde quando o homem começou a viver em sociedade, despertando a necessidade de criar regras, normas, padrões de convivência. Foi necessário estabelecer regras coletivas, mas também era importante garantir as necessidades individuais como, por exemplo, o direito de possuir uma moradia isolada das demais, poder criar animais, plantar e cultivar para a sua subsistência e a de sua família, enfim, assegurar direitos individuais e assegurar o respeito mútuo, como direitos e deveres a todos impostos.

A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas” que quer dizer cidade. O conceito dessa palavra teve origem na Grécia antiga, sendo usado para designar os direitos relativos ao cidadão (aquele que vivia na cidade e participava ativamente das decisões políticas).

Ao longo do tempo esse conceito foi sendo ampliado, passando a englobar um conjunto de valores sociais, morais e éticos que determinam o mais amplo conjunto de deveres e direitos de qualquer cidadão: o direito de ter direitos.

Leitura Obrigatória

UNIDADE 5

TEMA 5: Reflexões sobre Ética,Cidadania e Vida Cotidiana

A origem da palavra cidadania vem do latim “civitas” que quer dizer cidade. O conceito dessa palavra teve origem na Grécia antiga, sendo usado para designar os direitos relativos ao cidadão (aquele que vivia na cidade e participava ativamente das decisões políticas).

Acrópole de Atenas exemplo de pólisFonte: Wikipedia.org

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Direito de ter direitos

Está aí a importância de saber direito o que é cidadania. É uma palavra usada todos os dias e tem vários sentidos. Mas hoje significa, em essência, o direito de viver decentemente.

Cidadania é o direito de ter uma ideia e poder expressa-la. E poder votar em quem quiser sem constrangimento. É processar um médico que cometa um erro. E devolver um produto estragado e receber o dinheiro de volta. É o direito de ser negro sem ser discriminado, de praticar uma religião sem ser perseguido.

Há detalhes que parecem insignificantes, mas revelam estágios de cidadania: respeitar o sinal vermelho no trânsito, não jogar papel na rua, não destruir telefones públicos. Por trás desse comportamento, está o respeito à coisa pública.

O direito de ter direitos é uma conquista da humanidade. Da mesma forma que a anestesia, as vacinas, o computador, a máquina de lavar, a pasta de dente, o transplante do coração.

Foi uma conquista dura. Muita gente lutou e morreu para que tivéssemos o direito de votar. E outros batalharam para você votar aos dezesseis anos. Lutou-se pela ideia de que todos os homens merecem a liberdade e de que todos são iguais diante da lei.

Pessoas deram a vida combatendo a concepção de que o rei tudo podia porque tinha poderes divinos e aos outros cabia obedecer. No século XVIII, a rebeldia a essa situação detonou a Revolução Francesa, um marco na história da liberdade do homem.

No mesmo século surgiu um país fundado na ideia da liberdade individual: os Estados Unidos. Foi com esse projeto revolucionário que eles se tornaram independentes da Inglaterra.

Desde então, os direitos foram se alargando, se aprimorando, e a escravidão foi abolida. Alguém consegue hoje imaginar um país defendendo a importância dos escravos para a economia?

Mas esse argumento foi usado durante muito tempo no Brasil. Os donos de terra alegavam que, sem escravos, o país sofreria uma catástrofe. Eles se achavam no direito de bater e até matar os escravos que fugissem. Nessa época, o voto era um privilégio: só podia votar quem tivesse dinheiro. E para se candidatar a deputado, só com muita riqueza em terras.

No mundo, trabalhadores ganharam direitos. Imagine que no século passado, na Europa, crianças chegavam a trabalhar até quinze horas por dia. E não tinham férias.

As mulheres, relegadas a segundo plano, passaram a poder votar, símbolo máximo da cidadania. Até há pouco tempo, justificava-se abertamente o direito do marido de bater na mulher e até de matá-la.

Em 1948, surgiu a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), ainda na emoção da vitória contra as forças totalitárias lideradas pelo nazismo, na Europa.

Com essa declaração, solidificou-se a visão de que, além da liberdade de votar, de não ser perseguido por suas convicções, o homem tinha direito a uma vida digna. E o direito ao bem-estar.

A onda dos direitos mudou a cara e o mapa do mundo neste final de milênio. Assistimos a derrocada dos regimes comunistas, com a extinção da União Soviética.

Os países do Leste europeu converteram-se a democracia.

Na África do Sul, desfez-se o regime de segregação racial. A América Latina, tão viciada em ditadores, viu surgir na década de 80 uma geração de presidentes eleitos democraticamente.

Fonte: DIMENSTEIN, 2012.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Hoje, a cidadania está muito ligada aos direitos humanos quando tratado como obrigações impostas pelo Estado: os direitos civis, tais como direitos de ir e vir, o direito de se expressar, de acesso a informação, de reunir-se, de organizar-se, de igualdade perante a lei, entre outros. Os direitos políticos, como o direito de votar; os direitos sociais, tais como o direito à saúde, à segurança pública, ao trabalho, à educação, entre outros. Temos ainda os direitos emocionais, quando falamos de livre opção sexual, de casamento ou de separação judicial. A cidadania associa-se, ainda, aos ideais democráticos, pois sem liberdade de imprensa, direito de participação política, e outros, não há cidadania.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos é o documento mais importante para o pleno desenvolvimento da cidadania, pois, ao longo dos seus trinta artigos, reconhece a liberdade e a igualdade entre os homens, proclama direitos à vida, liberdade e segurança pessoal, como também aponta direitos relativos à justiça, à nacionalidade, à propriedade, à participação política, ao trabalho, ao lazer, à educação, à paz, entre outros. Ela foi adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.

Há, ainda, vários instrumentos normativos internacionais que tentam alcançar na prática um convívio social mais sadio. Mas ainda é um problema colocar essas normas em prática, e conseguir tornar o homem um verdadeiro cidadão, ou seja, do homem entender que o próximo tem os mesmos direitos que ele, que para ter direito é preciso cumprir suas obrigações perante a coletividade. Isso significa que a cidadania atinge sua plenitude quando são observados por todos (homens, mulheres, governo) os direitos e deveres.

A cidadania associa-se aos ideais democráticos, pois sem liberdade de imprensa, direito de participação política, e outros, não há cidadania.

Momentos importantes do processo de construção da cidadania:

● Independência dos Estados Unidos e a publicação das cartas de direitos do país (1776);

● A Revolução Francesa (1789), que derrubou o regime absolutista francês e desenvolveu os ideais burgueses;

● A criação da Organização das Nações Unidas - ONU (1945), após a Segunda Guerra Mundial.

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a

possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu

povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida

social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade

dentro do grupo social. (DALLARI, 1998. p.14)

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

A nossa Constituição Federal, promulgada em 1988, é considerada a mais “cidadã” de todas as anteriores, pois nela encontramos diversos preceitos de cidadania. Nela encontramos os elementos que procuramos na construção da cidadania. Vejamos o artigo 5º, que expressa os direitos e deveres mais importantes para um convívio social mais humano, mais justo a todos nós, que sonhamos com uma vida melhor.

É importante considerar que, no Brasil, ainda estamos gestando nossa cidadania, pois ainda predomina uma visão reducionista da cidadania, isto é, os brasileiros ainda entendem que sua participação na sociedade se limita a votar, e de forma obrigatória, pagar impostos, ou seja, fazer coisas que nos sãos impostas. Muitas vezes compreendemos que nossos direitos nos foram concedidos, um favor de quem está em ciam para os que estão embaixo. Acontece que a cidadania não nos é dada, ela é construída, conquistada a partir de nossa capacidade de organização, de participação e de intervenção na sociedade.

Por isso é necessário que o cidadão participe, seja ativo, faça valer os seus direitos. Não é porque existe um Código do Consumidor em todos os balcões de estabelecimentos comerciais que automaticamente deixarão de existir os desrespeitos aos direitos do consumidor! Se o cidadão não se apropriar desses direitos fazendo-os valer, esses serão letra morta, ficarão só no papel.

A cidadania é algo que se expressa na convivência, é no dia-a-dia que ela deve ser exercitada, através das relações que estabelecemos com os outros, com a vida pública e o próprio meio ambiente. Por isso, tratamos de questões como solidariedade, democracia, direitos humanos, ecologia, ética, tudo tem a ver com cidadania.

Portanto, ser cidadão pressupõe:

• Uma postura diante da sociedade em que vive, é ajudar na construção do melhor mundo possível, demonstrando saber que somos responsáveis pela realidade social;

• Um indivíduo que conhece e entende os seus deveres e direitos na sociedade, sabendo reivindicá-los quando necessário, exercendo a cidadania de forma ética, solidária e responsável.

A cidadania não nos é dada, ela é construída, conquistada a partir de nossa capacidade de organização, de participação e de intervenção na sociedade.

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a

inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e

à propriedade...”. (BRASIL, 1988).

Constituição cidadã” (1988):

Direitos fundamentais dos cidadãos brasileiros e as responsabilidades do poder público, da sociedade, da família e do indivíduo.Ainda não conseguimos transportar o texto constitucional para o dia-a-dia da maioria da população.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Um dos requisitos fundamentais para a ampliação dos direitos de cidadania é a educação.

No Brasil temos muito ainda a conquistar. Somos uma sociedade profundamente marcada pela desigualdade social e péssima distribuição de renda. É observando o nosso cotidiano que percebemos que a cidadania no Brasil é garantida nos papeis, mas não existe de verdade. Basta lembrarmos do desemprego, da falta de escola, da inflação, da migração, da desnutrição, dos moradores de rua, das crianças, do desrespeito aos direitos humanos.

Gilberto Dimenstein explica muito bem essa questão: a cidadania brasileira é garantida nos papeis, mas não existe de verdade. É a cidadania de papel!

Ser um cidadão de papel significa ser um cidadão com direitos adquiridos, mas não usufruídos e isso acontece porque há falta de informação. O Estado fornece condições para que sejam conhecidos e proporcionados aos cidadãos, apenas os “benefícios” que a ele, Estado, sejam convenientes e interessantes. Para o Estado, pouco importa que o cidadão tenha conhecimento dos direitos que possui, pois, assim, não há reivindicações e muito menos lutas pela aquisição desses direitos, por parte dos cidadãos (LEMOS, 2014).

Um dos requisitos fundamentais para a ampliação dos direitos de cidadania é a educação.

[...] nos países em que a cidadania se desenvolveu com mais rapidez,

inclusive na Inglaterra, por uma razão ou outra a educação popular foi

introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de

seus direitos e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma

população educada tem sido sempre um dos principais obstáculos à

construção da cidadania civil e política (CARVALHO, 2008, p. 11).

Estou convencido de que a infância, frágil como um papel, é o mais

perfeito indicador do desenvolvimento de uma nação. Revela melhor a

realidade do que o ritmo de crescimento econômico ou renda per capita.

A criança e o elo mais fraco e exposto da cadeia social. Se um país

é uma arvore, a criança é um fruto. E está para o progresso social

e econômico como a semente para a plantação. Nenhuma nação

conseguiu progredir sem investir na educação, o que significa investir

na infância. Por um motivo bem simples: ninguém planta nada se não

tiver uma semente (DIMENSTEIN, 2012).

A democracia é um regime político e também um modo de sociabilidade que permite a expressão das diferenças, a expressão de conflitos, em uma palavra, a pluralidade.

1 - Texto baseado em DIMENSTEIN; STRECKER; GIANSANTI, 2012. p. 162-4. Texto baseado Gallo, 2003, p. 75-80.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Problematizando: Vocês concordam que este é o papel do cidadão no dia a dia? Qual seria, então, o papel do “verdadeiro cidadão”? Vocês conhecem pessoas que agem parecido com o personagem da tirinha?

Refletindo sobre o papel do cidadão ilustrado acima, podemos entender a postura exercida por muitos cidadãos na nossa sociedade brasileira. Entretanto, a verdadeira democracia implica na conquista e efetividade dos direitos sociais, políticos e civis, como enfatizamos anteriormente. Caso contrário, a cidadania permanecerá no papel e continuaremos a esbravejar sem conquistar efetivamente o respeito aos direitos fundamentais do homem.

Fonte: http://jornaldasilva.blogspot.com.br/2010/03/clube-do-panca-e-o-papel-do-cidadao.html

Exercício da cidadania requer aprendizagem e práticaTransformar princípios e valores em atitudes que

beneficiam toda a sociedade é um exemplo de cidadania

Agência USP

Disponível em: Revista Sociologia Ciência & Vida. Edição 34, 2011. Disponível em: <http://sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/Edicoes/0/exercicio-da-cidadania-requer-aprendizagem-e-pratica-207231-1.asp >.

Atitudes como não jogar lixo na rua, dar lugar ao idoso em meios de transporte coletivo e esperar que as pessoas saiam do metrô antes de entrar são questões corriqueiras na vida da população que se encaixam perfeitamente na concepção de cidadania pretendida pelo cientista jurídico Ovídio Jairo Rodrigues Mendes. “No entanto, pela correria diária, essas atitudes não são observadas e acabam por se tornar problemas sociais. E a cidadania requer aprendizagem e prática, sob pena de funcionar como mero rótulo”, destaca.

[...] De acordo com o cientista jurídico, simbolicamente, comportar-se como cidadão implica em quatro momentos: o surgimento do problema social (questões que afetam a comunidade), entendimento e análise lógica desta questão, procura racional de uma solução adequada para o caso, e a confirmação, para o cidadão, de que a solução encontrada satisfaz o problema social enfrentado.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Participação: palavra de ordem1

Participação é a palavra de ordem. Mas, o que é participar? Participar de uma missa, de um torneio esportivo, de uma campanha de aquisição de agasalhos.... Repare que o ato de participar nunca é feito sozinho, não é um ato isolado de alguém que não tem companhia, mas algo que fazemos com os outros.

Somos seres sociais, “animais políticos” como já definiu Aristóteles há mais de 2.500 anos atrás, o que nos leva a necessariamente tomar parte de grupos humanos, a viver nossa vida junto a muitas outras pessoas iguais a nós. Participamos de grupos sociais, estamos constantemente em contato com pessoas, vamos para a escola, para o trabalho, para o clube, para a igreja. Portanto, segundo Gallo (2008, p. 6) “o ato de participar é uma condição humana da qual não podemos escapar. Quem pensa que escapa, está iludindo a si mesmo”.

Muito está por se fazer, pois cidadania se conquista na prática, na vida social e pública, na ação cotidiana!

Para Mendes a questão da cidadania está, hoje, mais vinculada a uma relação de consumo do que a um processo de formação de personalidade. “Quando a pessoa vai fazer um documento no Poupatempo, ela pega um pedaço de papel e, com este ato, se considera um pouco mais cidadã. Mas cidadania não é isso: é viver em harmonia com o outro, transformar princípios e valores em atitudes que não beneficiam só interesses individuais, mas interesses coletivos. Por exemplo, eu varro a rua para evitar que o lixo se acumule e prejudique tanto a mim quanto aos meus vizinhos”, explica.

[...]

Visão egocêntrica de mundo

O pesquisador, no entanto, não se limita a questões individuais. “Muitas decisões governamentais não privilegiam a sociedade como um todo, mas o interesse de setores da população”, conta. [...] Assim, os ‘cidadãos’ reclamam da ausência do Estado porque precisam encontrar um culpado pois pagam impostos e, por isso, devem ser servidos; enquanto que, do outro lado, o Estado se defende das reclamações, acusando os cidadãos de serem os provocadores para todas as desgraças cotidianas”, destaca.

“A culpa está ao mesmo tempo dos dois lados. Falta a consciência de cada um ou uma orientação que esclareça dentro do conceito de cidadania a diferença entre achismos e racionalidade. O achismo é o não viver, pois não há reflexão; a racionalidade é ter a capacidade de interagir, de buscar causas e soluções, que se proponham críticas e equilibradas quanto a interesses individuais e coletivos”, conclui.

1 - Adaptado de GALLO, 2008. p. 26.

O ato de participar nunca é feito sozinho, não é um ato isolado de alguém que não tem companhia, mas algo que fazemos com os outros.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Ações de cidadania

Podemos definir cidadão como um indivíduo que conhece e entende os seus deveres e direitos na sociedade, sabendo reivindicá-los quando necessário, exercendo a cidadania de forma ética, solidária e responsável. Entretanto presenciamos, constantemente, o desconhecimento por parte das pessoas de seus direitos ou o não respeito a eles e às leis instituídas em nosso país que, muitas vezes, não saem do papel.

Para reverter essa situação é necessário participar ativamente da sociedade em que vivemos. São ações, atitudes que nos permitem incorporar a cidadania e construir uma sociedade efetivamente democrática.

Vamos ver alguns exemplos de ações voltadas para a cidadania que possamos entender a ideia de cidadania exemplar:

Criado em janeiro de 2003, o Instituto de Cultura e Cidadania do Rio de Janeiro – A voz do cidadão, mantém um portal na internet e programas de mídia, que tem como objetivo incentivar a cultura da cidadania. Para os integrantes desse movimento, o conceito de plena cidadania não envolve apenas a boa conduta individual, mas sobretudo a atitude exemplar de se responsabilizar e constranger o outro a agir da mesma forma, com respeito às leis e aos direitos civis coletivos.

Um exemplo de ação de cidadania empreendida pelo Instituto foi a campanha denominada “Oi, Cidadão! Flagrantes de Cidadania”, onde se trabalhou a ideia de cidadania exemplar:

O discurso e a prática: desconfiar é preciso!

Preste atenção: certas pessoas falam em transparência, igualdade e direitos para todos, mas, na sua atuação, defendem privilégios de alguns, estimulam práticas sociais que excluem a população mais pobre ou grupos tradicionalmente discriminados, como negros e mulheres.

Repare: em época de eleições, candidatos com histórias e atitudes muito diferentes utilizam em seus discursos a palavra cidadania quase da mesma maneira.

Fonte: Freepik.com

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Vamos, agora, conhecer algumas ações divulgadas pelo Instituto “A Voz do Cidadão”:

“Faça do seu celular uma arma a favor da plena cidadania! Fotografe

situações de cidadania exemplar e envie para nós com um relato sobre

o fato e a lição que você acha que pode tirar e passar adiante. Se

aprovadas, você terá suas imagens divulgadas nesta página e ainda

receberá um certificado de Cidadão Exemplar da Voz do Cidadão. E não

se esqueça de que o conceito da verdadeira cidadania não é apenas

a boa conduta individual, sermos solidários ou agir com civilidade no

espaço público. É sobretudo influenciar e até constranger os outros

para que também ajam da mesma forma. Ou seja, não é apenas não

cometer o delito; é recorrer às instituições adequadas para que este

não se repita”.

F o n t e : < h t t p : / / w w w. a v o z d o c i d a d a o . c o m . b r / d e t a i l C o n t e u d o .asp?ID=5&SM=5%2336>.

Feira de reciclados/Recicloteca - Leblon/Rio de Janeiro

“A cada dia, a consciência da importância da preservação do meio ambiente aumenta. E os esforços para sua divulgação também. Estudantes de Biologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro realizam nos finais de semana, na orla do Rio, uma Feira de Reciclados onde é demonstrado como objetos do dia-a-dia podem se tornar produtos a partir de matéria-prima reciclada. A Recicloteca, entidade que tem o apoio da AmBev também está presente, divulgando informações e cursos sobre o tema”.

S.O.S Calçadas

“Ricardo criou um blog que se dedica a denunciar através de imagens, os abusos de motoristas e donos de estabelecimento com relação ao uso das calçadas”.

Dia mundial de limpeza na praia

“Todo ano, no mês de setembro, o grupo Limpeza na Praia, dirigido pela apresentadora Anna Turano, organiza um evento com o objetivo de recolher objetos nas praias do Rio de Janeiro. A cada ano, o evento alcança mais cidades em todo o país. O mutirão equipado com sacos plásticos biodegradáveis, coleta tampinhas de garrafa, cotonetes, palitos em geral, canudinhos e muitos outros detritos. Também distribuem folders explicativos, informando como esse microlixo pode prejudicar e matar os animais marinhos e contaminar a areia, deteriorando a qualidade da vida humana”.

Fonte: Estas e várias outras ações de cidadania encontram-se disponíveis em: <http://www.avozdocidadao.com.br/flagrante_cidadania_01.asp >.

Nossa consciência moral é posta à prova quando temos que tomar uma decisão, julgar uma situação ou fazer nossas escolhas.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Agora, vamos conhecer a ação de cidadania de uma escola...

Ações de cidadania mobilizam...

Centro Estadual Integrado de Educação Rural (CEIER),em Boa Esperança: Projeto CEIER em Ação.

“O evento foi marcado com palestras sobre sexualidade e saúde bucal, oficinas de maquiagem, unha decorada, culinária, além de serviços como emissão de carteira de identidade, corte de cabelo, atividades recreativas, entre outros. O evento contou ainda com a participação especial do Grupo Reviver (Melhor Idade), de Boa Esperança”.

Fonte: http://www.jusbrasil.com.br/politica/3007303/acao-de-cidadania-em-escola-de-boa-esperanca-promove-servicos-a-comunidade

Projeto Axé, lição de cidadania

Na língua africana ioruba, axé significa força mágica. Em Salvador, Bahia, o Projeto Axé conseguiu fazer, em apenas três anos, o que sucessivos governos não foram capazes: a um custo dez vezes inferior ao de projetos governamentais, ajuda meninos e meninas de rua a construírem projetos de vida, transformando-os de pivetes em cidadãos.

A receita do Axé é simples: competência pedagógica, administração eficiente, respeito pelo menino, incentivo, formação e bons salários para os educadores.

Criado em 1991 pelo advogado e pedagogo italiano Cesare de Florio La Rocca, o Axé atende hoje mais de duas mil crianças e adolescentes.

O processo pedagógico começa na rua, onde os meninos moram, tomam banho, ganham a vida, dormem e muitas vezes morrem, assassinados por grupos de extermínio, traficantes de drogas ou em brigas de gangues. Duplas de educadores de rua se aproximam dos garotos, ganham sua confiança e vão aos poucos conseguindo atraí-los para as atividades do projeto: alfabetização, oficina de serigrafia, fábrica de papel reciclado, escola de circo e diversas atividades culturais.

A cultura afro, forte presença na Bahia, dá o tom do Projeto Erê (entidade criança do candomblé), a parte cultural do Axé. Os meninos participam da banda mirim do Olodum, do Ilê Ayê e de outros blocos, jogam capoeira e têm um grupo de teatro.

Todas as atividades são remuneradas. Além da bolsa semanal, as crianças têm alimentação, uniforme e vale-transporte.

A reconstrução da autoestima, a valorização de suas raízes culturais africanas e a possibilidade de se desenvolverem como seres humanos já tirou muitos meninos da rua, que voltaram para casa ou passaram a morar em pensões.

A experiência do Axé prova que é possível educar os meninos de rua e transformá-los em cidadãos produtivos. Basta dar-lhes na prática o que a Constituição já lhes garante no papel: direito à educação, assistência médica, alimentação. Basta, enfim, tratá-los com o respeito que merecem.

Fonte: http://centroprojetoaxe.blogspot.com.br/

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O constrangimento também é uma forma de conscientização ...

Protesto estaciona cadeiras de rodas em vagas para carros em PiracicabaMobilização teve objetivo de conscientizar população, segundo organização.Nove pontos ficaram ocupados durante duas horas na Praça José Bonifácio.

Uma mobilização colocou cadeiras de rodas em vagas para carros na Praça José Bonifácio, no Centro de Piracicaba (SP), na manhã desta terça-feira (3), Dia Internacional da Pessoa Com Deficiência. A ação teve o objetivo de conscientizar as pessoas sobre o uso indevido das vagas destinadas deficientes e idosos.

Quem passou pela Rua Boa Morte, em frente ao Poupatempo, se deparou com nove cadeiras de rodas ocupando vagas e forçando os motoristas a procurar outro local para estacionar. As cadeiras tinham frases como “É dois pulinhos”, “É só um minutinho” e “Não vi que era uma vaga”, que são, de acordo com os organizadores do protesto, as desculpas mais usadas pelas pessoas que estacionam em local indevido.

“O intuito da mobilização é conscientizar a população e não de conturbar o trânsito”, afirmou André Bandeira, vereador cadeirante e idealizador da ação. Também por isso, o ato foi autorizado pela Secretaria Municipal de Transito e Transportes (Semuttran).

Segundo Bandeira, o centro da cidade tem 69 vagas para pessoas com deficiência e 130 para idosos, mas o número “não é suficiente para todos, ainda mais porque muitas pessoas não respeitam”.

Para o autônomo João Roberto Barreto, que é deficiente físico, “a iniciativa é ótima porque há muito desrespeito”. Ele afirmou ainda que, “se cada um parasse na sua vaga, nós não teríamos tantos problemas e dificuldades”. A mobilização contou também com apoio do Centro de Reabilitação de Piracicaba e da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) da cidade.

Fonte: http://g1.globo.com/sp/piracicaba-regiao/noticia/2013/12/protesto-estaciona-cadeiras-de-rodas-em-vagas-para-carros-em-piracicaba.html

Mobilização em Piracicaba teve cadeiras de rodas em vagas para carro(Foto: Fernanda Zanetti/G1)

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Após a leitura das ações de cidadania expostas acima, podemos afirmar que ao realizar estas ações, as pessoas exerceram o papel de “verdadeiros cidadãos”? Por quê?

Então, você conhece ações de cidadania ocorridas na FAM? Se você ainda não participa de alguma ação, que tal se mobilizar e exercer o seu papel de cidadão no dia a dia?

Acesse o site: O cidadão de papel. Gilberto Dimenstein. Disponível em: http://sites.aticascipione.com.br/cidadaodepapel/index.html. Este site tem a proposta de manter o livro O cidadão de papel, de Gilberto Dimenstein sempre atualizado. Você vai encontrar notícias e informações recentes sobre a cidadania no Brasil, além de um podcast exclusivo comentado por Gilberto Dimenstein.

LEITURAS COMPLEMENTARES

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Ética, educação, cidadania e direitos humanos: estudos filosóficos entre cosmopolitismo e responsabilidade social. Barueri: Manole, 2004. 268p. ISBN 85-204-2135-0.

GALLO, Sílvio (coord.); Grupo de Estudos sobre Ensino de Filosofia (GESEF). Ética e cidadania: caminhos da Filosofia (elementos para o ensino da Filosofia). 16 ed. Campinas, 2008.

Leia a Unidade 2 – Política e cidadania e a Unidade 5 – Ética e civilização.

Assista ao vídeo “Cidadão de Papel”. Disponível em: <http://youtu.be/c8e949j_tPQ>. O vídeo proposto nos ajudará a ampliar a discussão sobre o tema, principalmente entendendo o sentido de exercer uma cidadania no papel.

Assista ao curta: “O dia em que Dorival encarou a guarda”. Direção: Jorge Furtado e José Pedro Goulart. Brasil, 1986. 14 min. O curta metragem aborda a transgressão e a resistência de personagens que sofrem perseguições e opressões políticas. O caso de Dorival possibilita a reflexão sobre a violação de direitos civis, políticos, sociais e humanos, além de discutir questões como o autoritarismo, o racismo e a hierarquia militar. Disponível em: https://youtu.be/zRO1HIVkFTc

Vídeos Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 5

Compartilhe o que você aprendeu!

Ética e cidadania caminham juntas. Agora sabemos que o cidadão é sobretudo o participante.

Converse com seus colegas e familiares sobre isso, mostre a eles que os cidadãos devem se organizar para a defesa de interesses comuns, adquirindo vez e voz.

Até a próxima unidade!

Finalizando

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

Na unidade anterior estudamos sobre a importância da ética em nossa vida cotidiana e que a nossa participação na sociedade é fundamental para a construção de uma sociedade mais justa e democrática. Vimos que ser cidadão pressupõe uma postura diante da sociedade em que se vive, é ajudar na construção do melhor mundo possível, demonstrando saber que somos responsáveis pela realidade social.

Nesta unidade daremos continuidade ao tema Ética e Cidadania! Nesse momento de nossa disciplina procuraremos avançar um pouco mais nos conceitos e desenvolver uma reflexão sobre nossa postura diante do mundo em que vivemos. E, se hoje vivemos num mundo mais livre do que o de nossos pais e avós, devemos esses avanços, pelo menos em parte, à Declaração Universal dos Direitos Humanos. Sem dúvida, essa foi a maior invenção do século XX.

E quais são esses direitos?

Preste bastante atenção! Conhecê-los é fundamental para todos nós, porque eles não podem ser tirados de ninguém, sob nenhuma hipótese; é o primeiro passo para o exercício da cidadania democrática.

Conteúdos e Habilidades

UNIDADE 6

TEMA 6: Reflexões sobre Ética,Cidadania e Direitos Humanos

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

Ao final desta unidade, você será capaz de:

● Reconhecer os direitos humanos como condição básica para a promoção da cidadania, do respeito mútuo e da ética;

● Entender os fundamentos dos Direitos Humanos, em especial o princípio de dignidade humana;

● Conhecer a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como pressuposto para a garantia dos direitos no contexto do século XXI.

Bons estudos!

Ética, cidadania e Direitos Humanos

Inicialmente, vamos relembrar alguns conceitos:

A Ética trata do comportamento dos homens em sociedade. Por isso, fundamenta os direitos humanos, trazendo princípios de conduta universalmente compartilhados, capazes de sustentar o peso da diversidade de culturas, costumes, visões de mundo, convenções e comportamentos próprios das diversas sociedades. Como ciência, investiga os fundamentos e a natureza das normas que regulam o comportamento individual e coletivo em um contexto sócio histórico.

Leitura Obrigatória

A Ética trata do comportamento dos homens em sociedade

Fonte: http://eticanossa.blogspot.com.br/p/charges-criticas.html

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

A Cidadania é um conjunto formalmente definido de direitos e obrigações de um indivíduo perante a sociedade. São obrigações e direitos do indivíduo em sua relação com o Estado.

Os direitos do cidadão e a própria ideia de cidadania não são universais no sentido de que eles estão fixos a uma específica e determinada ordem jurídico-política (SOARES, 2004, p. 4).

Os Direitos Humanos são universais e indivisíveis e tem como alicerce a dignidade humana. Constituem-se em obrigações morais e coletivas.

Agora que vimos as características de ética, cidadania e direitos humanos vamos pensar o que representam em nossas vidas.

A ética representa as decisões que tomamos, certas ou erradas, em relação a nós mesmos ou aos outros. Exemplo: fumar afeta quem fuma e quem está a sua volta.

A cidadania representa nossos direitos e deveres como parte de um país. Exemplo: pagar impostos e ter direito à saúde.

Os direitos humanos representam as garantias que temos, como pessoa humana, em qualquer lugar do mundo. Exemplo: não ser torturado.

O que são Direitos Humanos?

Segundo Rabenhorst (s/d), o que chamamos de “direitos humanos” são aqueles direitos que correspondem à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos pelo simples fato de que somos humanos e definimos dessa forma; foram firmados através de acordos internacionais, que nos garantiram o exercício de valores que consideramos importantes na existência da humanidade.

...aquilo que é considerado um direito humano no Brasil, também

deverá sê-lo com o mesmo nível de exigência, de respeitabilidade e de

garantia em qualquer país do mundo, porque eles não se referem a um

membro de uma sociedade política; a um membro de um Estado; eles

se referem à pessoa humana na sua universalidade.

(SOARES, 2004, p. 5)

A Cidadania é um conjunto formalmente definido de direitos e obrigações de um indivíduo perante a sociedade. São obrigações e direitos do indivíduo em sua relação com o Estado.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

Esses direitos que nos garantem a condição de humanidade, foram conquistados ao longo do tempo, por meio de lutas pela liberdade e pela vida. Vejamos alguns exemplos:

• Durante séculos, milhões de seres humanos foram submetidos a tratamentos cruéis e degradantes, foram escravizados e não eram donos nem de seu próprio corpo. Basta ler a Bíblia para vermos, por exemplo, a legitimidade da escravidão e até mesmo a insinuação de sacrifícios humanos;

• No dia 8 de março de 1857, por exemplo, na cidade norte americana de Nova Iorque, operárias tecelãs fizeram uma greve, ocupando a fábrica de tecidos na qual trabalhavam. Reivindicavam melhores condições de trabalho e a equiparação de salários com os homens, que ganhavam três vezes mais pelo mesmo trabalho. A manifestação foi reprimida com uma brutal violência. As mulheres foram trancadas dentro da fábrica, que foi incendiada. Cerca de 130 tecelãs morreram carbonizadas. Essas mulheres não morreram em vão! Esse sacrifício e a luta de outras tantas permitiu que as mulheres hoje, apesar de continuarem a ser discriminadas, conquistassem uma série de direitos fundamentais e dispõem de um conjunto de instrumentos e instituições que se voltam para a sua defesa e promoção de sua dignidade;

• Até a Constituição de 1988, os trabalhadores que não contribuíam com a previdência no Brasil eram tratados como indigentes nos hospitais e postos de saúde. Hoje, dispomos de um Sistema Único de Saúde, que apesar de todas as dificuldades, presta serviços a todos os cidadãos brasileiros, independentemente de contribuírem com o sistema previdenciário.

Muitos outros exemplos podem ser citados, no entanto é importante compreendermos que o fato de termos direitos não faz o mundo menos injusto, principalmente com relação aos mais vulneráveis. A população brasileira ainda sofre com a falta de emprego, de saúde, de alimentação, de água...., mas podemos cobrar dos governantes e exigir que nossas demandas sejam atendidas, não como um favor, mas porque elas são direitos conquistados e garantidos por meio de tratados internacionais, que o Brasil também assinou, se comprometendo a respeitá-los, garanti-los e protegê-los.

Os “direitos humanos” são fundamentais e essenciais à pessoa humana, porque sem eles a pessoa humana não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida. Ou seja, desde que nascemos devemos ter asseguradas condições mínimas para a sobrevivência, como também devemos ter a possibilidade de receber os benefícios que a vida em sociedade pode nos proporcionar (DALLARI, 2004).

Os direitos humanos são princípios internacionais que servem para proteger, garantir e respeitar o ser humano. Devem assegurar às pessoas o direito de levar uma vida digna. Isto é: com acesso à liberdade, ao trabalho, à terra, à saúde, à moradia, a educação, entre outras coisas.

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Assim, por exemplo, a vida é um direito humano fundamental, porque sem ela a pessoa não existe. Então a preservação da vida é uma necessidade de todas as pessoas humanas. Mas, observando como são e como vivem os seres humanos, vamos percebendo a existência de outras necessidades que são também fundamentais, como a alimentação, a saúde, a moradia, a educação, e tantas outras coisas.

Por outro lado, Soares (2004) amplia essa ideia quando enfatiza que o direito à vida também significa reconhecer que ninguém tem o direito de tirar a vida do outro – a não ser em legítima defesa –, mas isso também não é óbvio, se observarmos exemplos ao longo da história da humanidade. Se Direitos Humanos pressupõe o direito à vida, não se pode admitir nem a pena de morte e os demais castigos cruéis e degradantes, porque isso é diretamente atentado contra a vida, e nem a exploração do trabalho, porque isso incide diretamente sobre o direito à dignidade, inclusive o direito à saúde.

Mas, o que significa dignidade humana? Podemos buscar esse significado na concepção religiosa ou mesmo nas discussões filosóficas sobre a essência da natureza humana. Hoje, numa visão contemporânea, entendemos que foi o homem que criou ele mesmo o direito, que podemos ver sintetizado, por exemplo, no artigo 1o da Declaração Internacional de Direitos Humanos de 1948: “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos”. Esta formulação decorre da própria reflexão do ser humano que a ela chegou de uma maneira que é historicamente dada.

Segundo Soares (2004) concluir que que todos os seres humanos detêm a mesma dignidade foi a grande revolução no pensamento e na história da humanidade:

É evidente que nos regimes que praticam a escravidão, ou qualquer

tipo de discriminação por motivos sociais, políticos, religiosos e étnicos

não vigora tal compreensão universalista, pois neles a dignidade é

entendida como um atributo de apenas alguns, aqueles que pertençam

a um determinado grupo.

O conjunto dos Direitos Humanos Fundamentais visa garantir ao ser humano, entre outros, o respeito ao seu direito à vida, à liberdade, à igualdade e à dignidade; bem como ao pleno desenvolvimento da sua personalidade. Eles garantem a não ingerência do estado na esfera individual, e consagram a dignidade humana. Sua proteção deve ser reconhecida positivamente pelos ordenamentos jurídicos nacionais e internacionais (DALLARI, 2004).

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Essa ideia da dignidade, que fundamenta os direitos humanos e o torna universal, esclarece por que quando ocorre uma violação grave no Brasil é legítima a interferência de outro Estado, como, por exemplo, as comissões europeias e norte-americanas, que vêm investigar violação de direitos dos índios, dos negros, das crianças, das mulheres, dos presos, dos pobres, ou a devastação do meio ambiente. Essa intromissão é legítima porque os direitos humanos superam as fronteiras jurídicas e a soberania dos Estados nacionais.

Portanto, os direitos humanos são fundamentais porque são os mais importantes, são a base de toda e qualquer sociedade que pretenda ser justa e igualitária.

Vimos acima que vivemos em uma sociedade que deseja se organizar com base em valores como a justiça, a igualdade, a equidade, que devemos participar ativamente da vida pública e das decisões políticas, ao mesmo tempo que buscamos uma vida digna para todas as pessoas. Esses valores – justiça, igualdade, equidade – são a base da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Não podemos nos esquecer do contexto histórico da época da promulgação da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Após a Segunda Guerra Mundial, quando a realidade dos campos de extermínio do regime nazista se tornou pública e o mundo se defrontava com os resultados das bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, no Japão, a Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em 1948. Inspirada na Declaração de Independência dos Estados Unidos e na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França, ela se tornou um marco na defesa dos direitos humanos, abrangendo em um único conjunto de princípios todos os direitos civis, sociais e políticos pelos quais as sociedades ocidentais vinham lutando desde o século XVIII.

Em seu artigo primeiro se traduz a ideia de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direito; que todos devem agir, em relação uns aos outros, “com espírito de fraternidade”, ou seja, tornar-se humano depende do amparo e da ajuda de muitos outros; por fim, de que essa ajuda constante de muitas pessoas deve ser completada com o sentimento da solidariedade.

Aí está o ponto de partida para a concepção básica dos direitos humanos neste final de milênio. Se houver respeito aos direitos humanos de todos e se houver solidariedade, mais do que egoísmo, no relacionamento entre as pessoas, as injustiças sociais serão eliminadas e a humanidade poderá viver em paz.

Vamos saber quais são esses direitos:

Direitos civis - são o direito a igualdade perante a lei; o direito a um julgamento justo; o direito de ir e vir; o direito à liberdade de opinião; entre outros.

Em seus trinta artigos, os princípios presentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) articulam-se os direitos e liberdades individuais e os deveres para com a comunidade em que se vive.

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Direitos políticos - são o direito à liberda¬de de reunido; o direito de associação; o direito de votar e de ser votado; o direito de pertencer a um partido político: o direito de participar de um movimento social, entre outros.

Direitos sociais - são o direito à previdência social; o direito ao atendimento de saúde e tantos outros direitos neste sentido.

Direitos culturais – são o direito à educação; o direito de participar da vida cultural; o direito ao progresso científico e tecnológico; entre outros.

Direitos econômicos - são o direito à moradia; o direito ao trabalho; o direito à terra: o direito às leis trabalhistas e outros.

Direitos ambientais - são os direitos de proteção, preservação e recuperação do meio ambiente, utilizando recursos naturais sustentáveis (DALLARI, s/d).

Nas últimas décadas, inúmeros outros documentos vêm sendo elaborados e acordados no mundo inteiro, procurando garantir esses direitos e deveres, contribuindo para a construção de uma cultura de direitos humanos.

Em virtude de novas descobertas, novas conquistas, novas correntes de pensamento os direitos fundamentais da pessoa humana vão ganhando outros contornos, tais como a defesa do meio ambiente, os direitos sociais não vinculados ao mundo do trabalho, à orientação sexual.

As ações a favor dos direitos humanos se desdobraram na criação da Anistia Internacional, em 1961, e se disseminaram nas décadas de 1980 e 1990, na atuação de milhares de ONGs e grupos comunitários que buscam defender as condições mínimas de sobrevivência dos povos nos mais diversos países.

O ato de participar nunca é feito sozinho, não é um ato isolado de alguém que não tem companhia, mas algo que fazemos com os outros.

Declaração Universal dos Direitos Humanos

Adotada e proclamada pela Resolução no 217 A (III), da Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948.

Preâmbulo

Considerando que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamento da liberdade, da justiça e da paz no mundo,

Considerando que o desprezo e o desrespeito pelos direitos humanos resultaram em atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e que o advento de um mundo em que os todos gozem de liberdade de palavra, de crença e da liberdade de viverem a salvo do temor e da necessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do ser humano comum,

FONTE: Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2015

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Considerando ser essencial que os direitos humanos sejam protegidos pelo império da lei, para que o ser humano não seja compelido, como último recurso, à rebelião contra a tirania e a opressão,

Considerando ser essencial promover o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações,

Considerando que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta da ONU, sua fé nos direitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor do ser humano e na igualdade de direitos entre homens e mulheres, e que decidiram promover o progresso social e melhores condições de vida em uma liberdade mais ampla,

Considerando que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em cooperação com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e liberdades humanas fundamentais e a observância desses direitos e liberdades,

Considerando que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da mais alta importância para o pleno cumprimento desse compromisso,

Agora portanto

A Assembleia Geral proclama

A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.

Artigo I Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.

Artigo II Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.

Artigo VI Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei.

Artigo VII Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.

Artigo VIII Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.

Artigo IX Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiência por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI 1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumido inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessárias à sua defesa. 2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento, não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, era aplicável ao ato delituoso.

Artigo XII Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo ser humano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

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Artigo XIII 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a este regressar.

Artigo XIV 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países.2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XV 1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade.

Artigo XVI 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e sua dissolução. 2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII 1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pela observância, em público ou em particular.

Artigo XIX Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica. 2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI 1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país diretamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos. 2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social, à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo com a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII 1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego. 2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por igual trabalho. 3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfatória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção social.4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar para proteção de seus interesses.

Artigo XXIV Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável das horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

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Concluindo... Então, qual a diferença entreética, cidadania e Direitos Humanos!

Uma criança não tem certos direitos do adulto, nem tem deveres em relação ao Estado (cidadania), não é responsável pelos seus atos, nem em relação aos outros (ética); no entanto, ela tem integralmente o conjunto dos Direitos Humanos.

Na perspectiva dos direitos humanos, direitos e deveres são indissociáveis e possuem uma dimensão coletiva: não é só obrigação de cada indivíduo respeitar os direitos fundamentais dos outros, mas é dever da sociedade como um todo efetivá-los e garanti-los.

Artigo XXV 1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, e a sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle. 2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesma proteção social.

Artigo XXVI 1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instrução superior, está baseada no mérito. 2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz. 3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que será ministrada a seus filhos.

Artigo XXVII 1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seus benefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiais decorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual seja autor.

Artigo XXVIII Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamente realizados.

Artigo XXIX 1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível. 2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito apenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem e de satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estar de uma sociedade democrática. 3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidos contrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos.

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

A ética internacional, desenvolvida a partir da Declaração Universal dos Direitos Humanos, reconhece uma dignidade intrínseca e inviolável em toda pessoa humana, à qual cada cultura, civilização, sistema filosófico ou tradição religiosa atribui diferentes fundamentos.

Os valores derivantes deste sentimento ético coletivo – liberdade de cada indivíduo, igualdade, solidariedade – são os fundamentos de uma visão ampliada de cidadania, ligada ao conceito de direitos humanos.

Como vimos, a ética coletiva apresenta uma ampliação do conceito tradicional de cidadania: como o pleno exercício dos direitos que possibilitam a cada pessoa participar plenamente da vida política e social da sua comunidade.

Cidadania e direitos humanos estão indissoluvelmente associados e ser cidadão ou cidadã significa ter garantidos e poder exercer livre e plenamente todos os direitos fundamentais que um indivíduo possui pelo simples fato de ser humano: tanto os civis e políticos como os econômicos, sociais, culturais e ambientais.

BRASIL. Secretaria Especial dos Direitos Humanos; Ministério da Educação; Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Brasil. Cartilha Ziraldo: os Direitos Humanos. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/sedh/documentos/CartilhaZiraldo.pdf >. Acesso em: 10 maio 2014. A cartilha, criada pelo cartunista Ziraldo, explica os Direitos Humanos na figura de seu personagem inesquecível: o menino maluquinho.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Núcleo de Estudos da Violência. Disponível em: http://www.nevusp.org/portugues/index.php?option=com_frontpage&itemid=1 >. Acesso em: 10 maio 2014. Nesse site você encontrará indicações de livros e artigos sobre Direitos Humanos, além de links para outros sites que tratam especificamente do tema em diferentes áreas.

LEITURAS COMPLEMENTARES

BITTAR, Eduardo Carlos Bianca. Ética, educação, cidadania e direitos humanos: estudos filosóficos entre cosmopolitismo e responsabilidade social. Barueri: Manole, 2004. 268p. ISBN 85-204-2135-0.

GALLO, Sílvio (coord.); Grupo de Estudos sobre Ensino de Filosofia (GESEF). Ética e cidadania: caminhos da Filosofia (elementos para o ensino da Filosofia). 16 ed. Campinas, 2008. Unidade 2 – Política e cidadania; Unidade 5 – Ética e civilização.

Na perspectiva dos direitos humanos, direitos e deveres são indissociáveis e possuem uma dimensão coletiva: não é só obrigação de cada indivíduo respeitar os direitos fundamentais dos outros, mas é dever da sociedade como um todo efetivá-los e garanti-los.

Links Importantes

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FILOSOFIA E ÉTICAUnidade 6

1) Vídeo: Mas afinal o que é que são os Direitos Humanos? Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=Ka9Y7QY2zTM >. Acesso em: 10/05/2014. Trata-se de um documentário produzido por United for the Human Rights, o qual apresenta um histórico sobre a noção de direitos humanos no tempo. O documentário apresenta marcos importantes para a criação da noção de direito e aborda também a emergência da Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948, documento soberano que nasceu sob o propósito de marcar uma nova era de respeito aos direitos humanos.

Um dos maiores desafios atuais é superar a noção tradicional de cidadania como conjunto de direitos e deveres vinculado a uma determinada ordem político-jurídica, e ampliá-la para que abranja a totalidade dos direitos universalmente reconhecidos como fundamento para a plena realização da dignidade humana.

Guarde na memória! Existe uma relação estreita entre ética, direitos humanos e cidadania. A ética define os princípios nos quais se fundamenta a construção histórica dos direitos humanos, cuja plena vigência representa a condição necessária e indispensável para a concretização da cidadania.

Ética, cidadania e direitos humanos: vamos falar sobre eles com nossos amigos e familiares?

ARAÚJO, U. F. et. al. Programa Ética e Cidadania: construindo valores na escola e na sociedade. Inclusão e exclusão social. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007. 4 v.

DALLARI, D. de A. Direitos Humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 2004.

DALLARI, D. de A. Direitos Humanos: noção e significado. Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/inedex.htm>. Acesso em: 10 maio 2014.

RABENHORST, E. R. O que são Direitos Humanos? Disponível em: <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/01_rabenhorst_oqs_dh.pdf >. Acesso em: 10/05/2014.

SOARES, M. V. B. Cidadania e Direitos Humanos. In: CARVALHO, J. S. (Org.). Educação, cidadania e Direitos Humanos. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 56-65.

Referências

Vídeos Importantes

Finalizando

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FILOSOFIA E ÉTICAReferências

ASSAF NETO, Alexandre. Matemática Financeira e suas Aplicações 10. ed. – 3.reimpr. - São Paulo: Atlas, 2009.

BRUNI, Adriano. LEAL, Rubens Famá. A Matemática das Finanças. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008. – (série desvendando as finanças, v. 1)

PUCCINI, A. de L. Matemática financeira: objetiva e aplicada. 8. ed. São Paulo: Saraiva. 2009

TOSI, Armando José. Matemática Financeira com Utilização da HP 12C ed. compacta. 4ª reimpr. - São Paulo: Atlas, 2008.

Referências