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DINÂMICA DO BRASÃO Separados dos atletas, propusemos que a mesma dinâmica fosse feita com os familiares. Constituímos, então, um grupo à parte composto por mães, pais, outros parentes (prima, filha) e amigos. De início, foi pedido que os participantes elegessem quatro valores que eles considerassem os mais importantes para eles. O interessante foi que, ao compartilhar com o restante do grupo os valores escolhidos, foi possível perceber que prevaleceram alguns como Família e Amor, denotando a importância que aqueles indivíduos davam a seus familiares, o que era condizente com o apoio oferecido aos atletas do projeto. Isso também era explicitado pelo próprio fato dos acompanhantes terem comparecido ao evento. Cada membro do grupo, incluindo os estagiários, expôs seus valores pessoais mais importantes e falou um pouco sobre eles, de modo que alguns temas foram recorrentes. Decorreu-se, então, uma discussão a respeito de alguns valores e seus significados, conceitos etc. Os membros mais participativos eram os pais presentes, principalmente dois deles. Em certo momento houve uma troca muito interessante que se deu principalmente entre esses dois pais, sendo um deles um senhor de mais idade cujo filho, na faixa dos 40-50 anos, professor de educação física e dono de uma academia, sofrera um acidente e ficara paraplégico e o outro, um homem de meia idade cujo filho, na faixa dos 20 anos, nascera com uma má formação em uma das pernas e sempre fora atleta. Mais do que interação entre os atletas, a reunião proporcionou uma troca muito enriquecedora entre os familiares deles; nesse caso, entre duas visões muito distintas a respeito da deficiência, a partir de dois pontos de vista também muito diferentes,

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DINÂMICA DO BRASÃO

Separados dos atletas, propusemos que a mesma dinâmica fosse feita com os familiares. Constituímos, então, um grupo à parte composto por mães, pais, outros parentes (prima, filha) e amigos.

De início, foi pedido que os participantes elegessem quatro valores que eles considerassem os mais importantes para eles. O interessante foi que, ao compartilhar com o restante do grupo os valores escolhidos, foi possível perceber que prevaleceram alguns como Família e Amor, denotando a importância que aqueles indivíduos davam a seus familiares, o que era condizente com o apoio oferecido aos atletas do projeto. Isso também era explicitado pelo próprio fato dos acompanhantes terem comparecido ao evento. Cada membro do grupo, incluindo os estagiários, expôs seus valores pessoais mais importantes e falou um pouco sobre eles, de modo que alguns temas foram recorrentes. Decorreu-se, então, uma discussão a respeito de alguns valores e seus significados, conceitos etc. Os membros mais participativos eram os pais presentes, principalmente dois deles.

Em certo momento houve uma troca muito interessante que se deu principalmente entre esses dois pais, sendo um deles um senhor de mais idade cujo filho, na faixa dos 40-50 anos, professor de educação física e dono de uma academia, sofrera um acidente e ficara paraplégico e o outro, um homem de meia idade cujo filho, na faixa dos 20 anos, nascera com uma má formação em uma das pernas e sempre fora atleta. Mais do que interação entre os atletas, a reunião proporcionou uma troca muito enriquecedora entre os familiares deles; nesse caso, entre duas visões muito distintas a respeito da deficiência, a partir de dois pontos de vista também muito diferentes, partindo de situações variadas. Foi interessante observar como se deu o jogo de forças entre dois discursos: um que era um pouco mais frustrado e inconformado, de um pai que relatava ver seu filho, depois de já adulto, voltar a necessitar de cuidados básicos e que em certos momentos ficava sem saber até que ponto sua ajuda era necessária ou intrusiva. Disse também ser muito difícil ainda aceitar e tolerar as limitações do filho, que era muito ativo antes do acidente.

Já o outro discurso partiu de um pai que relatou ter criado inúmeras fantasias para seu primeiro filho ainda durante sua gestação e que foram despedaçadas no momento de seu nascimento, quando ficou ciente de sua deficiência, uma má formação de uma das pernas. No entanto, teve tempo para entender a situação, e, com auxílio médico, buscou dar a seu filho as melhores condições para que suas limitações físicas não o impedissem de realizar atividades normalmente. Atualmente, disse admirar muito seu filho, além de cobrá-

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lo bastante; o garoto em questão já é atleta de alto nível na natação e também vem tendo resultados expressivos no remo.

É interessante também registrar outra experiência relatada pelos pais de um atleta. Ele nasceu com mielomelingocele, doença que consiste na malformação da medula espinhal. Além das dificuldades físicas, há diversas outras complicações, como as neurológicas. Os pais souberam da doença durante a gestação, e apesar de terem ficado bastante confusos inicialmente por não saberem do que se tratava a doença, já passaram a amar o filho. Essa foi uma das razões levantadas para explicar porque o Amor era o valor que mais prezavam.

A escolha dos valores para o brasão coletivo foi mais consensual para os dois primeiros valores, que surgiram quase que unanimemente entre as escolhas individuais, de modo que alguma discussão foi feita apenas a respeito de que termos usar e de qual valor deveria vir antes, se o Amor ou a Família. Já para os demais valores, a discussão foi mais extensa, envolvendo todos os participantes, que não conseguiam decidir-se a respeito dos valores eleitos e sequer tinham consenso a respeito do significado das palavras usadas. A discussão, portanto, se prolongou bastante, até que se decidiu pelo terceiro valor, a Esperança, sem que fosse possível estabelecer um único para ocupar o quarto espaço. A grande dúvida pairou entre Confiança e Responsabilidade. Ante a indecisão, foi designada ao último espaço a possibilidade de cada um preencher o brasão com o que julgasse importante, o que permitiria contemplar todos os outros valores levantados, resolvendo assim o impasse com a colocação de um espaço em branco. Também se buscou, dessa forma, transpor a idéia de que se está em constante construção, e todos são convidados a participar. Uma das familiares que estava participando da atividade se propôs a decorar o brasão e escreveu, individualmente, um pequeno texto para sugerir como lema. O grupo aprovou, mas um dos pais propôs que se utilizasse apenas a última frase, o que resultou no lema eleito: “Amor sem fronteiras”.

A dinâmica foi interessante, pois possibilitou a troca de experiências entre as famílias e as suas impressões ante as diversas deficiências das quais são portadores os atletas do projeto. O grupo de estagiários sentiu o quão importante era para eles a abertura dessa possibilidade de trocar, aproximando-os de outros familiares que também enfrentam diariamente dificuldades e permitindo-lhes não se sentirem desamparados. O brasão elaborado pelo grupo reflete os principais valores que norteiam o modo de lidarem com as deficiências, baseados na união e na cooperação familiares, no amor existente dentro dos vínculos e que lhes permite vencer os mais variados obstáculos, a esperança constantemente

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presente em suas vidas quanto ao futuro e a construção e as possibilidades amplas que vêem nas suas próprias trajetórias e nas dos atletas.

Em relação aos atletas, o discurso foi bastante marcado pela necessidade de se constituir um espírito de equipe entre eles. Eles escreveram em um papel quatro valores que julgavam importantes como motivação, compromisso, força de vontade, e depois, cada um leu e explicou para o grupo o porque dos itens, o que possibilitou um maior conhecimento do que cada um pensava e sentia. Foi proposto então que o grupo conversasse e fizesse um brasão que pudesse reunir e representar – com palavras e/ou desenho – valores comuns ou que achassem fundamentais.

Alguns atletas falavam mais, outros menos, mas chegaram à conclusão de que o mais importante – e que ainda não havia sido citado por ninguém – seria a idéia de equipe. A primeira expressão a ser colocada no brasão foi ‘Espírito de Equipe’.

Discutiu-se muito a respeito da modalidade, que seria um esporte mais individual e daí a necessidade de um ‘espírito de equipe’ a fim de unir e motivar o grupo a seguir em frente. Alguns declararam estar receosos quanto à característica individual do remo, já que estavam mais acostumados a esportes em equipe como o basquete. Este seria para eles um desafio. J., como nadador, destacou que o esporte individual também tem suas vantagens, como a de superar os próprios limites, ou seja, o vencer estaria mais ligado a si mesmo do que ao vizinho de raia. Segundo ele, seria então um esporte mais voltado para dentro e que exigiria mais concentração e consciência dos próprios resultados. Foi ele também quem sugeriu e desenhou (com a aprovação do grupo) o átomo, cujos elétrons representariam os atletas em torno de um objetivo comum (núcleo): superação (lado esquerdo do brasão). O tema superação também está presente no lema: ‘Nós queremos, nós podemos’.

Discutiu-se também que o esporte levado tão a sério não teria ‘graça’, surgindo daí a palavra Alegria (lado direito do brasão), fazendo um contraponto com a obstinação.

Com o brasão colorido e finalizado, os atletas decidiram assinar, um por um, o produto da dinâmica.

Family Ho, 03/01/-1,
Os atletas que mais falaram foram o Joao Carlos e o Jourdan
Family Ho, 03/01/-1,
Jourdan
Family Ho, 03/01/-1,
Caso do Fábio