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Dinâmica dos investimentos produtivos internacionais Aula 15 e 16_Trajetórias regionais dos investimentos produtivos internacionais: OCDE, BRICS e Brasil profa. Maria Caramez Carlotto SCB 2° quadrimestre de 2015

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Dinâmica dos investimentos produtivos internacionais

Aula 15 e 16_Trajetórias regionais dos investimentos produtivos internacionais: OCDE, BRICS e Brasil

profa. Maria Caramez CarlottoSCB 2° quadrimestre de 2015

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Carlos MedeirosEstado, hegemonia e macroeconomia Visão estruturalista de economia política internacional

que olha para a importância do Estado, dos processo de hegemonia e dos padrões de política macroeconômica.

Papel do Estado como emissor de moeda (banco central) e ator de política externa.

Papel dos conflitos capital e trabalho.

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Três casos

JapãoAlemanha e UEChina

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Japão

Em resumo: se internacionalizou sem a afirmação de uma moeda internacional, mantendo-se portanto preso ao dólar.

Processos políticos de controle da economia japonesa (acordo Plaza, veto de 1997)

Recessão e perda de poder político do Estado.

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A Alemanha, o Euro, o Viés Deflacionista e a Realpolitik. O baixo crescimento das principais

economias europEias ocidentais desde os anos 1980, tem dois grandes fatores explicativos:O papel da Alemanha e da sua crise própria;O processo de convergência macroeconômica

entre as principais economias da Europa Ocidental estabelecido desde Maastricht (1992) e consolidado com em 2002, de uma moeda única.

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contexto macroeconômico global Transformações liberalizantes lideradas pelos EUA

na defesa do dólar (AL: Consenso de Washington; Ásia: Banco Mundial)

Transformações no plano político e econômico europeu pela conjunção dos seguintes vetores: 1. o colapso do socialismo na Europa oriental;2. a unificação da Alemanha;3. o enquadramento dos sindicatos e;4. o triunfo das visões conservadoras em política econômica, e a

aceleração do projeto de unificação da Europa.

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Por que a Alemanha é tão central para explicar a dinâmica da Europa? Ao contrário do Japão, a Alemanha construiu historicamente um

comércio intra-regional fundamental a seus interesses expansivos e, ao mesmo tempo, indutor do crescimento europeu.

De forma ainda mais acentuada que o Japão, as exportações alemãs constituíram, historicamente, um motor essencial de seu crescimento.

Lideradas pelo setor de máquinas e equipamentos, a Alemanha beneficiou-se amplamente da corrida armamentista

As exportações alemãs dirigiam-se em grande parte para a Europa Ocidental, mas foram articuladas com a expansão de um dinâmico mercado interno que arrastava, pelo seu tamanho, as exportações dos países europeus

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Por que a Alemanha é tão central para explicar a dinâmica da Europa? Do ponto de vista político, o resgate do estado nacional europeu no pós-guerra

tinha por vetor o reconhecimento político da impossibilidade de um projeto alemão exclusivamente nacional.

As elites alemãs perceberam, desde a reconstrução do pós-guerra, que os seus interesses nacionais seriam melhor atendidos subsumidos num discurso e numa prática eminentemente europeia (Tratado de Roma).

soft hegemony resultava de um esforço de construir um espaço econômico unificado onde os

interesses econômicos e políticos alemães poderiam se exercer sem confrontos políticos e subordinando-se à liderança dos EUA no plano da segurança e defesa externa da Europa.

Assim, até os anos 1970, a Alemanha transmitiu, através de seu crescimento, amplo estímulo aos países da CEE e, sobretudo com a França, construiu um dinâmico mercado comunitário.

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O marco como moeda regional

Como resultado de sua maior articulação regional e da inserção geopolítica da Europa no pós-guerra, o marco afirmou-se como moeda regional e centro das relações econômicas da comunidade econômica europeia, em contraste evidente com o reduzido papel do yen como moeda regional.

Com a crise do Bretton Woods, e como reação aos conflitos distributivos que a inflação e a instabilidade cambial dos anos 1970 haviam exacerbado, a linha de política econômica adotada pelo Bundesbank, centrada na estabilidade do marco, entrou em rota de colisão com a política econômica keynesiana anterior.

Já no governo de Schmidt (1974-1982) uma linha de ação conservadora em relação ao gasto social começou por se impor como reação ao aumento do déficit público, ao desemprego e às pressões políticas.

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O marco como moeda regional

Tendo em vista a força do marco, a sua valorização em relação ao dólar na segunda metade dos anos 70 arrastou as demais moedas numa direção determinada pela política alemã.

Na formação do Sistema Monetário Europeu, no final da década de 1978, a Alemanha, devido a sua maior produtividade, abriu amplo superávit comercial com os países europeus gerando significativo saldo na sua balança de transações correntes.

Este superávit acompanhado de baixo crescimento transformou-se em saídas de capital, principalmente IDE.

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O marco como moeda regional A direção da política econômica alemã possuía,

adicionalmente, um outro alvo: a redução das pressões migratórias do “milagre” alemão do pós-guerra: fluxo migratório procedente em grande parte da Turquia, Espanha, Itália e Grécia. A política de atração de mão-de-obra foi diretamente promovida

pelo estado alemão e foi responsável pela entrada de quase um milhão de guest-workers turcos entre 1961 e 1973, empregados na construção, nas indústrias metalúrgicas, na mineração e na indústria têxtil e metalúrgica.

A crescente hostilidade ao imigrante e a existência de um processo de ghettoization, pressionando as políticas públicas, preparou as condições para um endurecimento maior nas políticas públicas nos anos 1980 e fez parte das transformações conservadoras na sociedade alemã.

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O marco como moeda regional Ao contrário da direção “keynesiana-expansiva” que marcou o

processo de regionalização europeu desde o Tratado de Roma, a direção do processo de convergência regional criado nos anos 80 tinha, por elemento central, a busca de maior convergência das taxas de câmbio nos termos do SME, com o marco afirmando-se como eixo para a integração comercial e financeira europeia.

Os países com BP mais frágeis (Itália, Espanha, mas também França) eram obrigados, para manter a paridade nos limites fixados pelo SME, a elevar suas taxas de juros de forma a atrair capitais de curto prazo necessários ao financiamento do déficit externo, reproduzindo uma restrição clássica de balanço de pagamentos ao crescimento econômico.

Era inevitável o choque, sobretudo, nos países com maiores restrições externas, entre os sindicatos e o Estado social com o abandono da política de pleno emprego que caracterizou a Europa do pós-guerra.

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O marco como moeda regional A estabilização das taxas de câmbio impunha uma disciplina

aos sindicatos e uma direção de política econômica distinta. Este processo gerou, na maioria dos países europeus, uma

mudança nas coalizões distributivas deslocando os sindicatos de suas posições francamente combativas e na política econômica que passou a responsabilizar os salários e os gastos sociais pelo elevado nível de desemprego.

Com Reagan e a elevação da taxa de juros nos EUA em 1979, os anos 80 assistem na Europa Ocidental o reforço desta estratégia com uma guinada ortodoxa da política econômica centrada na afirmação do marco como eixo da integração comercial e financeira.

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O marco como moeda regional Projeto centrado essencialmente na construção de

um único território monetário, mas que ainda assim afirmava-se politicamente como fator de atração para os estados nacionais mais débeis e, sobretudo, delegava para cima as decisões econômicas mais caras aos trabalhadores.

Por estas razões, dificilmente o processo de inserção internacional da Alemanha poderia ser descrito como o de uma “internacionalização subordinada”, como no Japão

Tratava-se, assim, de uma estratégia guiada pela inserção geopolítica da Alemanha e por vetores políticos e ideológicos internos.

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O marco como moeda regional Os anos 90 foram marcados por dois movimentos centrais:

1) a reconstrução de uma Alemanha unificada, 2) o processo de unificação monetária.

Estes dois processos se condicionaram mutuamente e de certa forma sintetizaram a questão estratégica da Alemanha desde o pós-guerra, a fronteira entre o leste e o oeste.

Com a queda do muro de Berlim e a unificação da Alemanha, o regionalismo incluía, ao lado da estratégia dos anos 80 (expansão dos investimentos diretos, reestruturação industrial), a busca de um grau de liberdade, de forma a financiar os custos da integração e reconstrução industrial do leste.

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O marco como moeda regional A via escolhida para a absorção da Alemanha Oriental foi a

da imediata integração monetária “pelo alto”, com uma paridade aproximada de 1:1 entre o marco oriental e o marco alemão, e unificação de todos os programas sociais de previdência.

Estes novos gastos, bem como a criação de um Fundo voltado para a provisão de infraestrutura e para um programa de reconstrução, levou a um volume de transferências – de cerca de 5% do PIB da Alemanha Ocidental – sem precedentes desde o Plano Marshall => recursos permitiram à Alemanha Oriental um “excedente de importações” (uma absorção agregada superior ao seu PIB) de cerca de 46% do PIB (Sinn & Westermann, 2001).

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O marco como moeda regional Os fundos destinados à ex-Alemanha oriental foram

obtidos, em sua maioria, por emissão de dívida pública cuja expansão foi estimulada pela elevação da taxa de juros do marco.

Com as transferências e os gastos internos em expansão, a posição externa da Alemanha mudou inteiramente; de economia superavitária na balança de transações correntes, a Alemanha tornou-se deficitária nos anos 90

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União Europeia e sua crise

Do mesmo modo, a Alemanha que possuía reduzido ingresso de investimentos de portfólio, começou a captar em curto prazo, numa proporção muito maior do que o seu IED.

Com a desvalorização do marco em relação ao dólar na segunda metade da década, o déficit em transações diminuiu para elevar-se em seguida, provocando forte contração da demanda agregada.

A política monetária alemã no início, e a fiscal no final da década, constituem, assim, a principal causa de sua estagnação e, consequentemente, a da Europa.

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União Europeia e sua crise As condições criadas em Maastricht para a União

Monetária e Econômica, antecedendo a adoção do euro e consolidadas no Pacto de Estabilidade e Crescimento (1997) baseadas nas metas para o déficit fiscal (um teto de 3% do PIB), dívida (teto de 60% do PIB), inflação (uma banda de 1.5% sobre a média ponderada dos três membros do UME com as menores taxas de inflação) e juros (taxas sobre a dívida pública em uma banda de 2% dos três estados da UME com melhor performance) criaram um viés desestabilizador em si: quanto maior a recessão, maior é a possibilidade de quebra da meta de 3% para o déficit levando o corte nos gastos e aprofundamento na recessão.

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União Europeia e sua crise Assim é que a questão geral da criação da moeda

única na Europa reside no fato de que os governos abrem mão de sua soberania monetária, isto é, da capacidade de fixar autonomamente sua taxa de juros, abdicando-a para um Banco Central supranacional (isto é, independente dos governos participantes) pautado pelo modelo clássico atribuído ao Bundesbank, sem que, entretanto, seja criado neste mesmo plano um Tesouro e Governo central que possam financiar os desequilíbrios sub-regionais.

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União Europeia e sua crise Com efeito, os fundos de coesão e os fundos estruturais

geridos pelo Orçamento Europeu e destinados aos países da União Europeia com menor renda per capita, ainda que tenham sido muito importantes para seus principais receptores como Espanha, Portugal, Grécia e Irlanda, não permitem de per si alavancar estas economias e muito menos irradiar, a partir da expansão destas, nos investimentos das demais economias.

A questão essencial é que as condições macroeconômicas formais de acesso impõem aos novos membros um difícil processo de transição que nas condições atuais de baixo crescimento significa elevado desemprego e tensões migratórias.

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União Europeia e sua crise Nos três primeiros anos do novo século, a Alemanha e a França

decidiram descumprir as metas para o déficit fiscal acordadas em Maastricht e as sanções consagradas no Pacto de Solidariedade e Crescimento não foram aplicadas.

Tal decisão corresponde, na prática, ao fim deste pacto. Tal decisão decorre do poder dos dois países na união das nações,

e o seu reconhecimento da impossibilidade de cumprir as metas de convergência sem danosas consequências econômicas e sociais num momento em que a valorização do euro em relação ao dólar deprime a competitividade das exportações europeias.

O afrouxamento destas restrições não altera o comprometimento europeu com uma união economicamente liderada pela Alemanha centrada na estabilidade da moeda e na disciplina dos sindicatos e dos estados mais fracos.

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União Europeia e sua crise Nas condições criadas pelo viés deflacionista

construído pela contenção fiscal, apenas as transferências, exportações e o investimento estrangeiro poderiam surgir como mecanismos autônomos de crescimento.

Com a criação do Banco Central Europeu, a Alemanha se viu constrangida a praticar (até os anos mais recentes quando flagrantemente decidiu não cumprir as metas estabelecidas em Maastricht) uma política fiscal contencionista de forma a atender aos critérios da União Europeia.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

Através de seu alto dinamismo centrado na industrialização acelerada e na sua elevada corrente de comércio, a China constitui hoje um pólo de crescimento mundial e, sobretudo regional. Inserida na área do dólar a China voltou-se, como de resto fizeram os demais países asiáticos, para o mercado americano construindo vultuosas reservas nesta moeda.

A manutenção de controles de capitais e dos mecanismos de coordenação econômica permitiu à China preservar, após a crise asiática de 1997, a estabilidade do yuan e o seu crescimento econômico.

Isto foi possível pelo alto crescimento do mercado interno através de uma política fiscal expansiva.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

Esta capacidade de praticar uma política econômica autônoma a despeito das pressões americanas sobre a taxa de câmbio não apenas singulariza a China no momento atual como vem afirmando uma nova realidade na economia regional asiática.

A desvalorização do yen a partir de 1995 e a contração abrupta dos IDE japoneses vinculados às exportações asiáticas para terceiros mercados (principalmente os EUA) levou à forte instabilidade na dinâmica regional. Com efeito, como estes países possuíam regimes cambiais vinculados ao dólar, a valorização desta moeda em relação ao yen levou a uma valorização real das principais moedas asiáticas, com a exceção do yuan chinês que passara em 1994 por desvalorização.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

A maior pressão competitiva do Japão em segmentos de maior valor unitário da indústria eletrônica (aumentando a concorrência com a Coréia), a queda do preço dos semicondutores e a afirmação da competitividade da China em manufaturas e segmentos de tecnologia de informação (TI) deslocaram as exportações da ASEAN nos mercados mundiais, em particular nos EUA, devido ao novo alinhamento cambial e, no Japão, devido à recessão que se afirmou na segunda metade dos anos 90. Em relação ao mercado americano, a China e o México (Medeiros, 2001) deslocaram produtores da ASEAN.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio. Após abrupta recessão e colapso cambial estas economias, com

exceção da Indonésia, retomaram suas trajetórias expansivas a partir de uma forte recuperação das suas exportações e recomposição, através do FMI, das suas reservas externas. O fator imediato responsável pelo crescimento das exportações foi o boom da “nova economia” nos EUA e seu impacto na TI (Medeiros, 2001); com o estouro da bolha ocorrida em 2000/2001 as exportações asiáticas foram afetadas, mas as exportações regionais se expandiram em função do alto crescimento da China.

Esta transformação – baseada no maior peso da demanda interna – começou por alterar a dinâmica do crescimento regional asiático.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

O contraste entre o Japão e a China nos anos 90 não poderia ser maior. Se nos anos 90 o Japão assistiu a uma desmontagem dos seus mecanismos de regulação sob supervisão dos EUA, ao longo desta década o governo chinês selecionou 120 grupos empresariais para formar um national team em setores de importância estratégica.

A China precisa resolver o seu permanente desafio decorrente de uma imensa população e escassez de terra e matérias primas necessárias a uma elevação sustentada da produção industrial. A necessidade de importações na China é gigantesca. O seu consumo total de minério de ferro (30% do consumo mundial em 2001), platina (21%) e alumínio (15%) está em confronto com os níveis ainda muito modestos destas matérias primas em termos per capita. Ao lado do petróleo e das demais commodities, as necessidades de importações de máquinas e equipamentos e armas sofisticadas pressionam imensamente a necessidade de divisas e situam a importância do mercado externo para a estratégia de desenvolvimento na China.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

É neste sentido que se deve observar a expansão do comércio externo chinês e a configuração de uma dinâmica regional centrada na China. Esta expansão é resultado da afirmação da China como um “duplo pólo” na economia mundial: a de principal produtor de manufaturas baratas e o grande mercado para a produção mundial de máquinas e equipamentos, indústrias de tecnologia e matérias primas.

Este duplo pólo, jamais exercido pelo Japão, tem gerado importante impacto sobre a região asiática. Como reflexo desta realidade, a China vem ampliando um conjunto de iniciativas políticas voltadas para a região.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

Desde 1995 a China vem aumentando substancialmente seu superávit comercial com os EUA e União Européia deslocando, parcialmente, as exportações de outros países asiáticos para estes mercados ao mesmo tempo em que elevou também de forma significativa suas importações na Ásia. Tal como ocorrera com o Japão no passado, a China tornou-se mais e mais vinculada à dinâmica das importações americanas (os EUA respondem por mais de 20% das exportações chinesas).

Mas, ao contrário do Japão, a China revelou-se também um forte magneto para as exportações da ASEAN. As importações chinesas oriundas da Ásia já vinham em ascensão desde os anos 80, mas elevou-se fortemente a partir de 1995 afirmando-se, sobretudo a partir de 1997, uma máquina para o crescimento asiático.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

O deslocamento do comércio promovido pela velocidade das exportações chinesas encontra-se intimamente associado com o deslocamento do investimento externo. Com efeito, a China afirmou-se como um polo de atração dos investimentos externos deslocando fluxos de investimento voltados aos demais países asiáticos. As grandes corporações multinacionais americanas, japonesas e europeias, decidiram consolidar na China a base manufatureira mundial de bens eletrônicos de consumo.

A China transforma-se, assim, num pólo de atração para as atividades processadoras, mas também, graças ao seu mercado interno, num grande centro importador.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

Esta dupla dimensão faz com que a expansão dos investimentos estrangeiros na China volte-se tanto para o mercado externo quanto para o mercado interno chinês.

Novamente verifica-se uma grande diferença entre o volume dos padrões de comércio que a China apresenta com a ASEAN – mais semelhantes ao da Alemanha com a Europa – e os desta região com o Japão, um padrão de especialização vertical tradicional.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

É esta posição da China no comércio mundial e regional que permite entender porque, frente às sucessivas desvalorizações das principais moedas asiáticas decorrentes da crise de 1997 (de até 50% em termos reais), a China manteve fixa a taxa de câmbio nominal do yuan com o dólar e pôs em curso um amplo programa de investimentos e obras públicas voltados a manter o crescimento econômico através da expansão da demanda interna (McKinnon & Scnabl, 2003).

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

É neste contexto que as pressões dos EUA e também do Japão contra o regime cambial chinês e a suposta artificialidade do nível do câmbio real se afirmam. Esta pressão e o fato da China apresentar, tal como o Japão, elevado saldo comercial com os EUA, imensas reservas denominadas basicamente em dólares e ter registrado nos últimos anos baixa inflação, incluindo uma deflação em 1999, levaram a McKinnon & Scnabl (2003) a estender para a China a “síndrome da virtude conflituosa”. Tal síndrome levaria, tal como historicamente ocorreu com o Japão, a uma permanente pressão para a valorização do yuan.

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A centralização da Ásia na China, Política Cambial e a Corrente de Comércio.

No entanto, há uma notável diferença. O Japão é um país credor líquido ao passo que a China é um país devedor líquido. A questão japonesa retratada na “síndrome da virtude conflituosa” é a baixa internacionalização da sua moeda o que o faz ser credor em dólares. A elevada riqueza externa do Japão o expõe ao risco cambial e a pressão deste dollar glut sobre o câmbio leva a uma pressão deflacionária. A posição externa da China é totalmente diferente. A China não tem um problema de solvência, e o comprometimento de suas exportações com o serviço da dívida é muito baixo em termos internacionais. Entretanto, a forte expansão dos investimentos externos vem ampliando o seu passivo externo.

Mas, sobretudo, o que parece diferir imensamente as duas economias é a disposição do governo chinês de praticar uma segura expansão dos gastos públicos e dos investimentos das empresas estatais

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Conclusões Questão macroeconômica geral referente aos países que NÃO

emitem a moeda internacional (União Europeia, Japão e China): a abertura financeira (CC), ao quebrar os “territórios monetários”,

dilui a capacidade dos estados nacionais de regular com autonomia sua política econômica subordinando o crescimento interno às variáveis externas.

ao desvincular as operações financeiras e demandas por divisas da expansão do comércio, a abertura financeira expõe os países a uma maior vulnerabilidade macroeconômica externa decorrente da elevação de passivos externos.

Ao nível das empresas a vulnerabilidade financeira significa uma situação de fragilidade decorrente do “desencontro de divisas” na composição de seus ativos e passivos.

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Conclusões

Os esforços de contenção dos efeitos altamente desestabilizadores da flutuação do câmbio sobre a economia e sobre a posição patrimonial das empresas têm levado a uma política econômica obcecada com a inflação aprisionando a taxa nominal de juros e a política fiscal na função essencial de controle das flutuações cambiais.

Economias em ajuste fiscal constante.

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Conclusões

A meteórica expansão das exportações da China nas últimas décadas se deu, tal como o Japão, na área do dólar e voltada ao mercado americano.

Induzida pelos EUA inicialmente por razões geopolíticas e posteriormente pelos conflitos comerciais deste país com o Japão, a economia chinesa estabeleceu com a americana importante complementaridade.

Tal como o Japão, o crescimento das exportações líquidas resultou num elevado saldo de transações correntes e reservas, fazendo destes dois países os principais credores internacionais.

Mas, ao contrário do Japão e da Alemanha, a China inseriu-se na ordem liderada pelos EUA com maior autonomia em sua política econômica voltada ao alto crescimento.

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Conclusões Questão estrutural: introdução de uma fratura nos capitalismos

nacionais alterando a articulação preexistente de interesses entre as economias nacionais e os capitais, e a riqueza privada.

Este processo se dá: com a “internacionalização dos capitais nacionais” que gera direitos

de propriedade de residentes nacionais sobre ativos denominados em outra moeda e garantidos por um código comercial e por um estado estrangeiro,

com a “internacionalização do mercado interno” em que não residentes adquirem o controle de ativos submetidos a um código e a um Estado nacional estrangeiro.

Desde logo, a introdução de dimensões proprietárias coloca, ao lado das questões macroeconômicas, uma dimensão de poder dos estados nacionais (Hegemonia).

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CICLO DE CINEMAS UFABC30/07 (quinta-feira), 15h

The Corporation (Canadá, 2003). Elaborado no espírito rebelde dos grandes protestos contra a globalização capitalista, o documentário revela o impacto das empresas transnacionais no nosso cotidiano. Com cenas filmadas em diversos continentes, expõe o trabalho semi-escravo a serviço das marcas famosas, a devastação ambiental e a manipulação das consciências por meio das estratégias de marketing. Entre os entrevistados, celebridades como Noam Chomsky, Naomi Klein e, é claro, Michael Moore. Direção: Jennifer Abott e Mark Achbar. Comentários da Profa. Dra. Cristina Reis e da Profa. Dra. Maria Carlotto, ambas da UFABC.PRESENÇA +RESENHA: 10% EXTRA NA NOTA prazo de entrega 06/08, 23:59 por email