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DINÂMICA DEMOGRÁFICA E MERCADO DE TRABALHO NA TERCEIRA IDADE: A REALIDADE CEARENSE 2015

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DINÂMICA DEMOGRÁFICA E MERCADO DE TRABALHO NA

TERCEIRA IDADE: A REALIDADE CEARENSE

2015

2

3

MARDÔNIO DE OLIVEIRA COSTA

Dinâmica Demográfica e Mercado de Trabalho na Terceira Idade:

A Realidade Cearense

Fortaleza

2015

4

Estudo realizado pelo Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT) - Organização Social

Decreto Estadual nº 25.019, de 03/07/98.

Análise e Redação

Mardônio de Oliveira Costa

Apoio Técnico

Arlete da Cunha de Oliveira

Erle Cavalcante Mesquita

Editoração eletrônica e layout

Clarissa Cássia Martins de Oliveira David Pinto

Revisão

Regina Helena Moreira Campelo

Correspondências para:

Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT Av. da Universidade, 2596 - Benfica CEP 60.020-180 Fortaleza-CE Fone: (085) 3101-5500 Endereço eletrônico: [email protected]

C837d COSTA, Mardônio

Dinâmica Demográfica e Mercado de

Trabalho na Terceira Idade: A Realidade

Cearense/ Mardônio de Oliveira Costa -

Fortaleza: Instituto de Desenvolvimento do

Trabalho, 2015, 55p.

1. Mercado de Trabalho. 2. Terceira Idade. I.

Título.

CDD 331.3

CDD: 311.12

5

Ministro do Trabalho e Emprego

Manoel Dias

Governador do Estado do Ceará

Camilo Santana

Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social

Josbertini Virginio Clementino

Coordenador do SINE/CE

Robson de Oliveira Veras

6

7

Instituto de Desenvolvimento do Trabalho - IDT

Presidente

Antônio Gilvan Mendes de Oliveira

Diretora Administrativo-Financeiro

Sônia Maria de Melo Viana

Diretor de Promoção do Trabalho e Empreendedorismo

Antenor Tenório de Britto Júnior

Diretor de Estudos e Pesquisas

Francisco Assis Papito de Oliveira

8

9

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...........................................................................................................11

1. O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL ......................................................12

2. O PERFIL DOS IDOSOS .......................................................................................22

3. NÚMEROS DA FORÇA DE TRABALHO IDOSA .............................................28

4. PARTICULARIDADES DO TRABALHO NA TERCEIRA IDADE ................36

5. O RENDIMENTO MENSAL DOS IDOSOS ........................................................49

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................53

REFERÊNCIAS ...........................................................................................................55

10

11

INTRODUÇÃO

Com trajetórias de queda iniciadas na primeira e segunda metade do Século XX,

respectivamente, as outrora elevadas taxas de mortalidade e fecundidade têm registrado

declínios constantes no país, fenômeno denominado de transição demográfica, o que

tem imposto à população brasileira um acentuado processo de envelhecimento. Como

ocorrido em diversas regiões do país, o Estado do Ceará também tem se deparado com

esse fenômeno e deve sentir os seus rebatimentos em diversas áreas (educação, saúde,

mercado de trabalho, previdência social, etc.), dadas as proporções cada vez maiores de

pessoas com 60 anos ou mais na sua população, tal qual na sua força de trabalho.

Diante dessa realidade inconteste, o presente estudo objetiva conhecer a situação

laboral da força de trabalho com mais de sessenta anos de idade, no Ceará, público este

denominado pelas políticas públicas como população idosa ou da “terceira idade”.

Assim, conceitualmente falando, considerar-se-ão como idosos os indivíduos nessa

faixa de idade, em conformidade com o Estatuto do Idoso. Quantos são? Quem são?

Como se inserem no mercado de trabalho estadual? Qual o rendimento mensal do idoso

e sua relevância na renda familiar? Estas são algumas das diversas questões a serem

respondidas. Para tanto, utilizou-se como fonte de informação a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), tendo como referência temporal os anos de 2009 e 2013.

Com esse foco principal de investigação, este trabalho, inclusa esta introdução,

encontra-se estruturado em sete partes. Na segunda parte, são apresentados e analisados

diversos indicadores que retratam a dinâmica demográfica recente no Estado do Ceará,

fazendo-se alguns paralelos com as realidades do Brasil e do Nordeste, evidenciando o

processo de envelhecimento populacional. Na terceira parte, traça-se o perfil dos idosos

cearenses, considerando diversos aspectos (sexo, situação do domicílio, escolaridade,

idosos chefes de família e tamanho das famílias). Na seção seguinte, dimensiona-se a

força de trabalho idosa cearense, analisada tanto quantitativamente, por meio da taxa de

atividade, quanto qualitativamente, segundo recortes diversos, quando é destacado o

processo de envelhecimento da força de trabalho do estado. Algumas especificidades do

trabalho na terceira idade são salientadas, na quinta parte, e o rendimento do trabalho

dos idosos, na seção seguinte, em que o nível de pobreza entre eles é abordado, em

seguida, as considerações finais. Ademais, ao final de cada seção, é elaborada uma

síntese das principais constatações.

12

1 O ENVELHECIMENTO POPULACIONAL

Indicadores gerados a partir da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

(PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indicam

que a população residente do Estado do Ceará passou de 8.509 mil, em 2009, para 8.798

mil pessoas, em 2013. Por sua vez, a população de 60 anos ou mais de idade cresceu de

895 mil para 1.166 mil pessoas, no mesmo período, o que fez com que sua

representação na população total do estado se elevasse de 10,5% para 13,3%, no

período, conferindo maior expressividade a esse segmento da população cearense, haja

vista que a cada 100 pessoas residentes no Ceará, 13 possuíam 60 anos ou mais, de

outra forma, eram pessoas idosas ou que estavam na terceira idade, em 2013 (Tabela 1).

Tabela 1 – População residente de 60 anos ou mais, segundo a situação do domicílio e sexo,

por grupos de idade – Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

O patamar e a tendência de alta da representatividade desse segmento

populacional, registrados no estado, são muito similares aos observados no Brasil, com

seus 26,3 milhões de idosos, e no Nordeste (6,9 milhões), na medida em que as

proporções de idosos nas respectivas localidades elevaram-se de 11,3% para 13,0%, no

Brasil, e de 10,4% para 12,4%, no Nordeste, nas quantificações de 2009 e 2013.

Observa-se ainda que, relativamente à Região Nordeste, a população de idosos do Ceará

apresentou-se ligeiramente sobrerrepresentada, pois enquanto o Estado do Ceará tem

respondido por quase 16,0% da população residente no Nordeste, ele tem alcançado

representação próxima a 17,0% da população idosa nordestina, nos últimos anos. Em

comparação com a realidade nacional, há um contexto de muito equilíbrio, com

representações de 4,4% nas populações total e de idosos do país, em 2013.

Situação do

domicílio/Sexo

60 a 64 anos 65 a 69 anos 70 anos

ou mais

60 anos

ou mais

2009 2013 2009 2013 2009 2013 2009 2013

Total

Total 258 345 213 247 424 574 895 1.166

Homens 114 163 104 117 183 242 401 522

Mulheres 144 182 109 130 241 332 494 644

Urbana

Total 195 245 158 177 313 405 665 827

Homens 84 111 75 79 129 155 287 345

Mulheres 111 135 83 98 184 250 378 482

Rural

Total 63 99 55 70 111 169 230 339

Homens 30 52 29 38 54 87 113 178

Mulheres 33 47 26 32 57 82 117 161

13

Considerando um horizonte de tempo mais longo, por exemplo, de 2001 a 2013, o

total de pessoas com 60 anos ou mais cresceu de 707 mil para 1.166 mil (4,3% a.a.), no

Ceará, e de 15.626 mil para 26.279 mil (4,4% a.a.), no Brasil, evidenciando que o forte

ritmo de crescimento da população idosa no estado se mostra muito semelhante ao

indicador nacional, conforme exposto nos Gráficos 1 e 2. Isto denota que parcelas cada

vez maiores das populações são compostas por pessoas com mais idade, o que pode

caracterizar o processo de envelhecimento populacional, como é visto a seguir.

Gráfico 1 – População residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo –

Brasil - 2001, 2005, 2009, 2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Gráfico 2 - População residente de 60 anos ou mais de idade, por sexo – Estado

do Ceará - 2001, 2005, 2009, 2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

14

No Ceará, o crescimento da população idosa foi bem mais intenso em 2009/2013

(30,3%) do que nos dois períodos anteriores: 2001/2005 (12,2%) e 2005/2009 (12,9%),

o que reforça a argumentação do parágrafo anterior.

A propósito, “considera-se envelhecimento populacional uma mudança nos pesos

dos vários grupos de idade no total da população, com um maior peso nas idades mais

avançadas e um menor nas idades mais jovens” (CAMARANO, 2004, p. 16).

Ilustrando melhor este processo de envelhecimento populacional no Estado do

Ceará, o Gráfico 3 apresenta as trajetórias relativas às populações de menos de 15 anos

(crianças e adolescentes), de 15 a 59 anos (pessoas em idade intermediária) e de 60 anos

ou mais (idosos), considerando o período compreendido entre os anos de 2001 e 2013.

Verifica-se muito facilmente que a única população em trajetória de queda foi a de até

14 anos (com menos 510 mil crianças e adolescentes ou -1,8% a.a., ao longo desse

período), enquanto movimentos de alta vêm ocorrendo sistematicamente nos segmentos

com mais de idade, o que caracteriza o citado processo de envelhecimento populacional

no estado.

Saliente-se ainda que o movimento de alta da população com 60 anos ou mais

acusou maior intensidade após 2009, registrando uma trajetória de aproximação, em

termos absolutos, para a população de até 14 anos, como observado no Gráfico 3.

Gráfico 3 - População residente segundo grupos de idade – Estado do Ceará -

2001, 2003, 2005, 2007, 2009, 2011, 2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

15

Projeções do IBGE estimam que o Ceará terá pouco mais de 1,8 milhão de

crianças e adolescentes e sua população idosa totalizará quase 1,6 milhão de pessoas,

em 2030, aproximadamente 400 mil idosos a mais que o contingente de 2013. Portanto,

alguns anos após 2030, os segmentos populacionais compostos por crianças e

adolescentes e o de idosos serão numericamente muito similares, no Estado do Ceará.

No recorte por Unidade da Federação, ao se elaborar o ranking dos estados com

as maiores populações de idosos, em 2013, o Ceará ocupava a oitava posição, atrás da

Bahia (1.885 mil) e de Pernambuco (1.246 mil). Daí, conclui-se que o Ceará ocupava a

terceira posição no ranking dos estados do Nordeste. Em termos de Brasil, nas três

primeiras posições, estavam os Estados de São Paulo (6.080 mil), Minas Gerais (2.796

mil) e Rio de Janeiro (2.624 mil), as regiões com os maiores contingentes de idosos do

país, tal qual em 2001, como pode ser percebido no Gráfico 4.

Gráfico 4 - Ranking dos dez estados brasileiros com as maiores populações de 60

anos ou mais de idade – 2001/2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Ademais, em termos da participação relativa dos idosos nas populações estaduais,

considerando somente os dez primeiros colocados no ranking, podem-se dividir esses

estados em quatro grupos: Rio Grande do Sul (16,6%) e Rio de Janeiro (16,0%) nas

primeiras posições; Santa Catarina (14,1%), São Paulo (13,9%), Minas Gerais (13,6%),

Pernambuco (13,5%) e Ceará (13,3%) em uma posição intermediária, seguidos pelos

estados do Paraná (12,7%) e Bahia (12,5%) e, na última colocação, o Pará (9,5%). Por

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

7.000

o P

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Pern

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a

Pa

3.573

1.788 1.748

1.218 1.139882

704 707500

247

6.080

2.7962.624

1.885 1.857

1.401 1.246 1.166939

763

2001

2013

16

conseguinte, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro detiveram as maiores proporções de

pessoas na terceira idade, enquanto o Ceará colocava-se na sexta posição, em 2013.

Retomando a análise estadual, esse contingente populacional registrou um

incremento de 271 mil pessoas, em 2009/2013, o equivalente a adição de 67,8 mil

idosos por ano, no Ceará, fruto da robusta taxa de crescimento médio anual de 6,8%, no

período, numa forte evidência de quão rápida a população de idosos cresce no Ceará.

Esse desempenho refletiu o aumento mais intenso dos idosos de 70 anos ou mais (7,9%

a.a.), de 60 a 64 anos (7,5% a.a.) e, em menor proporção, o daqueles de 65 a 69 anos

(3,8% a.a.). Portanto, o segmento dos idosos que cresceu relativamente mais rápido foi

o de 70 anos ou mais (574 mil), alterando ligeiramente o perfil etário dessa população,

com estes passando a responder por quase metade dos idosos do estado. Assim, além do

rápido crescimento do número de idosos no estado, a constatação que chama atenção é

que de cada dois cearenses com, no mínimo, 60 anos de idade, um tem 70 anos ou mais,

conforme exposto na Tabela 2.

Tabela 2 – População residente segundo grupos de idade –

Estado do Ceará – 2009/2013 (Em 1.000 pessoas)

Grupos de

idade 2009 2013

Crescimento

ao ano

Até 14 anos 2.305 2.048 -2,9%

15 a 29 anos 2.372 2.346 -0,3%

30 a 59 anos 2.937 3.240 2,5%

60 a 64 anos 258 345 7,5%

65 a 69 anos 213 247 3,8%

70 anos ou mais 424 574 7,9%

60 anos ou mais 895 1.166 6,8%

População total 8.509 8.798 0,8%

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Para ratificar o forte ritmo de crescimento da população cearense de 60 anos ou

mais de idade, destaca-se que, no mesmo intervalo de tempo, as populações total (0,8%

a.a.) e de 30 a 59 anos (2,5% a.a.) cresceram em ritmo bem mais moderado, enquanto a

população de 0 a 14 anos (-2,9% a.a.) registrou redução, tal qual a população de 15 a 29

anos (-0,3%), alterando os pesos desses segmentos na população estadual. Na verdade, a

população de idosos no Ceará aumentou 64,9%, entre os anos de 2001 e 2013, o

correspondente a uma taxa de 4,3% a.a., conforme já exposto, um crescimento quatro

17

vezes mais rápido que o da população total (1,1% a.a.), provocando alterações etárias na

população do Ceará.

Esses números reforçam a constatação de que o processo de envelhecimento da

população cearense já é uma realidade, posto que os segmentos mais jovens respondem

por parcelas cada vez menores da população total, enquanto houve fortalecimento da

presença dos grupos com mais idade, realidade que deve se perpetuar nos próximos

anos, em consonância com as projeções populacionais do IBGE, consolidando a

transição demográfica no estado. Isto pode ser percebido no Gráfico 5, a partir das

ilustrações das trajetórias populacionais para os anos compreendidos entre 2000 e 2030,

quando a perda de participação relativa das crianças e adolescentes de até 14 anos se

contrapõe à crescente representação da população de 60 anos ou mais, no Brasil e no

Ceará. Observa-se, pois, que as trajetórias populacionais no Ceará se mostram muito

semelhantes às projetadas para o país, caminhando para um ritmo mais intenso de

envelhecimento de sua população, a partir de 2020.

Gráfico 5 – Evolução da composição da população residente segundo grupos de idade

– Brasil e Estado do Ceará – 2000, 2005, 2010, 2015, 2020, 2025, 2030

Fonte: IBGE – Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação, por sexo e idade,

para o período 2000 - 2030. Elaboração do autor.

Estes movimentos elevaram a idade média da população estadual. Estudos do

IBGE revelam que a idade média dos cearenses evoluiu de 26,9 anos, em 2001, para

30,3 anos, em 2013, sendo estimado que esta deverá alcançar 32,7 anos, em 2020, e

36,3 anos, em 2030. Assim sendo, em média, o cearense deverá estar aproximadamente

seis anos mais velho, por volta de 2030, tendo por base a realidade de 2013.

18

O índice de envelhecimento da população do estado, dado pela razão entre as

populações de 65 anos ou mais e de 0 a 14 anos de idade, calculado pelo mesmo

Instituto, confirma essa trajetória, pois este se apresenta em constante elevação,

traduzindo a crescente proporção de idosos em relação ao número de jovens da região.

Esse indicador registrou os seguintes valores: 17,6%, em 2001; 22,6%, em 2009;

26,7%, em 2013; e é estimado que alcance o patamar de 37,2%, em 2020, e de 60,2%,

em 2030. Nesse contexto, é observado que, para cada grupo de 100 pessoas com até 14

anos de idade, havia quase 27 com 65 anos ou mais, no Ceará, em 2013. Este número

deverá alcançar a marca de 60 pessoas, em 2030, segundo projeções do IBGE. “Assim,

embora a fecundidade ainda seja a principal componente da dinâmica demográfica

brasileira, em relação à população idosa é a longevidade que vem progressivamente

definindo seus traços de evolução” (IBGE, 2002, p. 11). Isto parece se aplicar muito

bem à dinâmica demográfica cearense.

A presença cada vez mais significativa da população idosa é um fenômeno

mundial e, no Brasil, este envelhecimento é fomentado pelo crescimento da expectativa

de vida dos brasileiros, que atualmente é estimada em quase 75 anos, reflexo da

trajetória de queda da taxa de mortalidade. Aliás,

[...] considera-se que uma das transformações sociais mais

importantes do Século XX foi a queda da mortalidade, que

atingiu, grosso modo, todos os grupos etários, desde o período

intrauterino até as idades mais avançadas, acarretando

implicações bastante importantes na família e na sociedade

(CAMARANO et al, 2004, p. 6).

Esse envelhecimento populacional é também muito influenciado pela redução das

taxas de fecundidade (número médio de filhos tidos por mulher ao final de sua vida

reprodutiva) e de natalidade (número de nascidos vivos, por mil habitantes). “Taxas

menores de natalidade e de mortalidade transformam a estrutura etária da população,

diminuindo o peso da presença de crianças e aumentando, em um primeiro instante, o peso

do grupo de adultos e, posteriormente, o peso dos idosos” (KIELING ; DATHEIN, 2010,

p. 32).

Proporções maiores de idosos na população do estado é também consequência de

expectativas de vida crescentes. A expectativa de vida do cearense é, atualmente, de

pouco mais de 73 anos, discretamente acima da média nordestina (cerca de 72 anos),

mas ligeiramente abaixo da média nacional (74,9 anos). A expectativa de vida dos

19

cearenses (73,2 anos), em 2013, é resultante das expectativas masculina (69,2 anos) e

feminina (77,2 anos), o que aponta para uma sobrevida das mulheres de oito anos, em

relação aos homens. E mais, entre 2001 e 2013, a população residente no Estado do

Ceará aumentou a sua sobrevivência em 3,4 anos, em média, um incremento de 4,9%,

embora em ritmo aquém do incremento nacional (4,6 anos ou 6,5%) (Gráfico 6). Estes

incrementos na expectativa de vida possibilitam que um maior número de pessoas

alcance idades mais avançadas.

Gráfico 6 - Esperança de vida ao nascer - Brasil, Nordeste e Estado do Ceará -

2001, 2005, 2009, 2013 (Em anos)

Fonte: IBGE – Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação, por sexo

e idade, para o período 2000 - 2030. Elaboração do autor.

Adicionalmente, como a temática do presente estudo aborda predominantemente a

realidade laboral dos idosos no Ceará, cabe mencionar que, ao completar 60 anos de

idade, em 2012, o brasileiro tinha, em média, um adicional de 21,6 anos de vida, ou

seja, viveria até os 81,6 anos, em média, segundo o IBGE.

Oportuno salientar que, considerando-se todos os estados nordestinos, no que

concerne à esperança de vida ao nascer na região, em 2013, o Estado do Ceará (73,2

anos) colocava-se na segunda posição do ranking, atrás apenas do Rio Grande do Norte

(75,0 anos) e bem acima das maiores economias do Nordeste, como os estados da Bahia

(72,7 anos) e de Pernambuco (72,6), segundo estatísticas constantes na Tábua Completa

de Mortalidade 2013, elaborada e divulgada recentemente pelo IBGE. Assim, conclui-se

que o povo cearense se mostra um dos mais longevos do Nordeste brasileiro e que há

diferenciais substantivos da expectativa de vida entre os estados nordestinos, onde este

20

indicador variou de um mínimo de 69,7 a um máximo de 75 anos, sendo a menor

esperança de vida registrada no Maranhão.

Por sua vez, a trajetória da taxa de natalidade é de queda, independente da região

estudada e, além disso, as taxas cearenses têm se mostrado inferiores às da região

Nordeste, como é percebido no Gráfico 7. Isto significa um número menor de crianças

que nascem anualmente por cada mil habitantes, movimentos que reforçam o processo

de envelhecimento da população de qualquer região.

Gráfico 7 – Taxa bruta de natalidade - Brasil, Nordeste e Estado do Ceará -

2001, 2005, 2009, 2013 (Em % )

Fonte: IBGE – Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação, por sexo

e idade, para o período 2000 - 2030. Elaboração do autor.

Outro indicador muito utilizado nas análises demográficas é a razão de

dependência, um indicador calculado a partir da razão entre as populações de 0 a 14

anos e de 65 anos ou mais e a população de 15 a 64 anos, que mensura quantas pessoas

não economicamente ativas vivem ou dependem do trabalho de cada economicamente

ativo. Fruto dos movimentos demográficos anteriormente relatados, a razão de

dependência mostrou-se em queda entre os anos de 2000 (66,5%) e 2013 (50,4%),

indicando que o número necessário de pessoas economicamente ativas para prover uma

economicamente inativa vem recuando de forma sistemática, no Estado do Ceará, assim

como vem ocorrendo nos planos regional e nacional. E mais, essa trajetória deverá se

manter até 2026, conforme apontam as estimativas do IBGE.

Complementarmente, “vale destacar que o significativo aumento da população

em idade ativa, apta a trabalhar, foi o principal fator determinante dessa situação,

21

disponibilizando para o mercado um contingente expressivo de mão de obra em busca

de emprego” (IPECE, 2014, p. 17). Essa afirmação pode ser objetivamente constatada

pelos números da Tabela 2, em que a população cearense de 15 a 64 anos cresce de 5,6

mil, em 2009, para 5,9 mil pessoas, em 2013. Isto também poderá significar maior

pressão sobre o mercado de trabalho estadual, o que certamente alimentará os

indicadores de desemprego, caso não sejam geradas oportunidades de trabalho em

número compatível com a expansão da força de trabalho.

Enfim, os indicadores apresentados demonstram que a transição demográfica vem

se consolidando ano após ano, no Estado do Ceará. As transformações demográficas daí

decorrentes, que explicitam proporções crescentes dos idosos na população estadual,

particularmente com 70 anos ou mais de idade, e na sua força laboral, estão a exigir um

novo redirecionar dos focos das políticas públicas, notadamente nas áreas da saúde,

educação e, particularmente, mercado de trabalho, em decorrência da presença mais

robusta da população idosa no mundo laboral, em especial, a de 60 a 64 anos, e,

principalmente, do crescimento continuado da força de trabalho nos próximos anos, o

que poderá impactar os indicadores de desemprego no estado. Lembrar que uma das

consequências do processo de envelhecimento da população de uma região é o

prolongamento do período economicamente ativo de sua força de trabalho, o que pode

indicar uma pressão adicional sobre o mercado de trabalho regional, com rebatimentos

nos indicadores de desemprego, distribuição das oportunidades de trabalho criadas e de

remuneração do trabalho.

22

2 O PERFIL DOS IDOSOS

A maioria dos idosos cearenses é constituída por mulheres (55,2% ou 644 mil),

mesmo porque, entre elas, a esperança de vida ao nascer é estimada em 77,2 anos,

enquanto a esperança de vida masculina é oito anos menor (69,2 anos), em 2013, de

acordo com o IBGE. Na verdade, no Ceará, o número de mulheres idosas supera em

pouco mais de 23% o número de homens idosos. Assim, a razão de sexo na terceira

idade (razão entre os números de idosos e idosas) tem se situado em torno de 81 idosos,

ligeiramente acima do indicador nacional, que passou de 79,4, em 2009, para 80,1

idosos, em 2013. Lê-se, portanto, que havia 81 homens com 60 anos ou mais de idade

para cada 100 mulheres da mesma faixa etária, na região, em 2013.

No recorte por grupos de idade, a maior longevidade feminina também poderia

explicar, em boa medida, a redução da razão de sexo de aproximadamente 90 homens

para cada 100 mulheres, nas faixas de 60 a 64 e de 65 a 69 anos, para quase 73, na faixa

de 70 anos ou mais. Assim, para cada grupo de 100 mulheres, com idade mínima de 60

anos, houve uma redução de 90 para 73 homens, ao se passar da faixa de 60 a 69 para a

de 70 anos ou mais, como indicado no Gráfico 8. Conclui-se que, a partir dos 70 anos

de idade, houve uma redução substancial do número de homens, para cada 100

mulheres idosas, no Estado do Ceará, no período de 2009 a 2013, elevando o grau de

feminização da população idosa cearense. Lembrar que os indivíduos de 70 anos ou

mais respondem por metade dos idosos do Ceará.

Gráfico 8 - Razão de sexo na terceira idade por grupos de idade – Estado do

Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Projeção da população do Brasil e Unidades da Federação, por

sexo e idade, para o período 2000 - 2030. Elaboração do autor.

23

Segundo a situação do domicílio, isto é, a localização espacial dos idosos, apesar

da crescente participação dos residentes em áreas rurais do estado, elevada para 29,1%,

em 2013 (339 mil), fenômeno que pode ser, em parte, explicado pela emigração dos

idosos para seu local de origem nas zonas rurais do estado, a maioria das pessoas da

terceira idade reside em centros urbanos (70,9% ou 827 mil), fato que pode estar

associado à própria concentração demográfica dessas localidades. De cada dez idosos

cearenses, sete residiam em áreas urbanas e três em áreas rurais, no citado ano, o que

deve impactar no mercado de trabalho urbano do estado.

Destaca-se ainda que o grau de urbanização da população idosa no Ceará seguiu a

mesma trajetória da população residente, mas em um patamar ligeiramente inferior. A

taxa de urbanização da população cearense foi estimada em 73,0%, em 2013,

verificando-se uma queda diante dos 77,6%, de 2009, e entre os idosos, este declínio foi

de 74,3%, em 2009, para 70,9%, em 2013, como pode ser percebido no Gráfico 9.

Gráfico 9 – Grau de urbanização das populações total e de 60 anos ou mais de

idade – Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Apesar do declínio do nível de urbanização da população idosa, as zonas urbanas

dos municípios cearenses, precipuamente dos mais populosos, devem passar por

transformações diversas, no intuito de atender mais e melhor às demandas das pessoas

24

de mais idade, nas áreas de saúde, mobilidade, lazer, segurança, acessibilidade, dentre

outras, demandas estas que deverão se intensificar com o passar dos anos1.

No que concerne à escolaridade dos idosos cearenses, o nível de analfabetismo

entre eles é muito expressivo, especialmente nas áreas rurais. A conceituação utilizada

na PNAD é a de que pessoa analfabeta é aquela não classificada como alfabetizada. São

alfabetizadas as pessoas capazes de ler e escrever pelo menos um bilhete simples no

idioma que conhece, inclusive as pessoas alfabetizadas que se tornaram física ou

mentalmente incapacitadas de ler ou escrever.

No Ceará, a taxa de analfabetismo entre os idosos, apesar de elevada, diminuiu 4

p.p, ao decair de 47,3%, em 2009, para 43,3%, em 2013. Isto foi resultado do declínio

do analfabetismo de homens e mulheres nesse perfil etário, cujas taxas diminuíram algo

em torno de 4 p.p: de 51,0% para 46,8%, no primeiro caso, e de 44,1% para 40,4%, no

segundo. O analfabetismo entre os idosos decresceu inclusive nas zonas urbanas do

estado, de 43,8% para 35,7%, respectivamente, mas aumentou mais de 3 p.p na área

rural, ao variar de 58,9%, em 2009, para 62,2%, em 2013. Assim, de cada dez idosos, o

número de analfabetos foi de 3,6 idosos, na zona urbana, e de 6,2, na zona rural.

Na verdade, a PNAD revela ainda uma migração do analfabetismo adulto da zona

urbana para a zona rural do estado, pois a fração rural do analfabetismo na terceira idade

cresceu sobremaneira, de 28,8% para 41,8%, respectivamente, decorrente, em boa

medida, do declínio da taxa de urbanização dos idosos. O número de idosos analfabetos

no meio urbano para cada analfabeto idoso no meio rural reduziu de 2,5 para 1,4, no

período.

Em valores de 2013, de um total de 1.166 mil idosos cearenses, 505 mil eram não

alfabetizados, sendo 245 mil homens e 260 mil mulheres. Segundo a situação do

domicílio, 295 mil idosos não alfabetizados residiam em áreas urbanas e 211 mil, em

áreas rurais do estado. Portanto, as políticas públicas que objetivam reduzir o

analfabetismo na terceira idade devem se voltar mais para as áreas rurais do estado,

possibilitando uma maior autonomia a esse segmento, o que nos remete aos programas

de alfabetização de adultos do Ceará.

1 Vide Política Nacional do Idoso (Lei Nº 8.842, de 4 de Janeiro de 1994) e Estatuto do Idoso (Lei Nº

10.741, de 2003).

25

De fato, os idosos cearenses são, em boa parcela dos casos, pessoas menos

escolarizadas, com algo em torno de três anos de estudo, sendo que metade deles tem

menos de um ano de estudo. Esta realidade é um pouco melhor quando se trata da

região metropolitana de Fortaleza, onde a escolaridade média deles se situava próxima a

cinco anos. Conforme ilustrado no Gráfico 10, metade deles era sem instrução ou tinha

menos de um ano de estudo (556 mil), enquanto apenas 4,0% declararam possuir 15

anos ou mais (52 mil), o correspondente ao ensino superior completo. Ainda assim, é

perceptível que houve ligeira melhora na escolarização dessa população, pois diminuiu

a parcela de idosos com até três anos de escola, enquanto cresceu a proporção daqueles

com, no mínimo, onze anos.

Gráfico 10 – População de 60 anos ou mais de idade por anos de estudo –

Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Apesar da baixa escolaridade, cerca de 64% dos idosos do estado são pessoas de

referência das famílias, os responsáveis pelos domicílios onde residem, ou seja, os

maiores responsáveis pelas famílias ou assim considerados pelos seus demais membros,

segundo conceituação do IBGE. Este patamar foi observado em 2009 (63,8%) e

praticamente mantido em 2013 (64,1%), com 571 mil e 747 mil idosos chefes de

família, respectivamente. Na condição de cônjuge (376 mil), a proporção de idosos

declinou de 34,0% para 32,2%, respectivamente. Por conseguinte, cerca de 1/3 dos

idosos cearenses era cônjuge, enquanto 2/3 eram chefes de domicílio, o que evidencia a

relevância de seu papel na estruturação/manutenção das famílias cearenses.

26

E mais, sabendo-se que o número de famílias residentes em domicílios

particulares no Ceará cresceu de 2.609 mil, em 2009, para 2.822 mil famílias, em 2013,

e que o número de idosos considerados como a pessoa de referência da família também

cresceu, de 571 para 747 mil, respectivamente, constata-se que também aumentou a

proporção de famílias chefiadas por pessoas da terceira idade, de 21,9% para 26,5%,

uma proporção ligeiramente acima das médias brasileira (24,9%) e nordestina (25,1%).

Portanto, pouco mais de ¼ das famílias residentes em domicílios particulares no Ceará

era chefiada por pessoas de 60 anos ou mais de idade.

Quanto ao tamanho dessas famílias, considerando os residentes em domicílios

particulares onde o idoso é a pessoa de referência, constatou-se que os idosos residiam

em famílias que tinham, em média, quase três membros, mais exatamente 2,8, em 2009,

e 2,7 membros por família, quatro anos depois. Consequentemente, os rendimentos

mensais dos idosos chefes de família eram compartilhados por quase três pessoas.

Falando em rendimentos, conforme conceituação adotada pelo IBGE, a PNAD

qualifica como aposentado a pessoa que, na semana de referência da pesquisa, é

jubilada, reformada ou aposentada pelo Plano de Seguridade Social da União ou por

Instituto de Previdência Social Federal - Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),

estadual ou municipal, inclusive pelo Fundo de Assistência e Previdência do

Trabalhador Rural (FUNRURAL). Já o pensionista é aquela pessoa que, na semana de

referência da pesquisa, recebe pensão das forças armadas, do Plano de Seguridade

Social da União ou de Instituto de Previdência Social Federal - Instituto Nacional do

Seguro Social (INSS), estadual ou municipal, inclusive do Fundo de Assistência e

Previdência do Trabalhador Rural (FUNRURAL), deixada por pessoa da qual era

beneficiária.

Isso posto, salienta-se que, no universo da terceira idade cearense, quando da

classificação de seus integrantes em sem rendimento, aposentados e/ou pensionistas,

verificou-se que o conjunto dos aposentados se mostrou o mais numeroso e com

participação discretamente em alta (71,6%); na segunda colocação estão os pensionistas

(12,9%); seguidos pelos aposentados e pensionistas (8,3%) e idosos sem nenhum

rendimento (7,2%), estes com fração mais significativa, em 2013, em face dos 4,9%, de

2009. Estes números sinalizam que, no Estado do Ceará, a quase totalidade das pessoas

com 60 anos ou mais de idade tinha a garantia de alguma renda, por menor que seja.

27

Sumariando, as estatísticas trabalhadas mostram que a população de idosos do

Ceará tem registrado crescimento substancial nos anos recentes, com o adicional de

quase 68 mil idosos por ano, entre 2009 e 2013. Essa população somou 1.166 mil

pessoas, equivalendo a 13,3% da população estadual, o que requer uma atenção

redobrada das instituições que lidam com as políticas públicas focadas nesse segmento

populacional, o que ensejará cada vez mais infraestrutura, recursos e pessoal

especializado, dada a perspectiva de envelhecimento crescente da população, conforme

atestam as projeções populacionais do IBGE, para o Brasil, regiões e estados.

O envelhecimento populacional, no Brasil, e particularmente no Ceará, tem sido

fomentado pela expectativa de vida em constante elevação, especialmente entre as

mulheres, fruto da redução dos indicadores de mortalidade, associada a taxas de

fecundidade e natalidade cada vez menores, fazendo com que as proporções de pessoas

com mais idade se apresentem continuamente crescentes.

O estudo mostra ainda que o Ceará é o oitavo estado brasileiro com o maior

número absoluto de idosos, alcançando a sexta colocação ao se tratar de números

relativos, para o ano de 2013. Essa população é constituída, em sua maioria, por

mulheres, expressiva parcela reside em áreas urbanas, quatro em cada dez idosos não

são alfabetizados, metade tem, no mínimo, 70 anos de idade, 2/3 são responsáveis pelos

domicílios onde residiam e a razão de sexo na população de 70 anos ou mais registra

forte queda, o que pode ser explicado, em boa medida, pela maior expectativa de vida

das mulheres. Portanto, os idosos integram um universo eminentemente feminino e

urbano e metade deles tem, no mínimo, 70 anos de idade, universo este que tende a

continuar se expandindo nas próximas décadas.

Mas, em que medida esta população encontra-se inserida no mercado de trabalho

cearense, quais suas estratégias de inserção, quanto ganham mensalmente os idosos,

qual a relevância desse ganho para suas famílias? Perguntas como estas são respondidas

na sequência deste estudo.

28

3 NÚMEROS DA FORÇA DE TRABALHO IDOSA

Entende-se como força de trabalho, ou população economicamente ativa (PEA), o

conjunto de indivíduos, de 10 anos ou mais de idade, que estavam inseridos no mercado

de trabalho, trabalhando e/ou procurando trabalho, em determinado momento. A PEA

mede o nível de oferta de mão de obra vigente em uma economia, em um período de

tempo específico2.

Por falar em oferta de mão de obra no estado, fruto dessas transformações

demográficas, oportuno destacar, inicialmente, a tendência de contínuo crescimento da

população em idade produtiva (15 a 59 anos), em termos absolutos e relativos, nos anos

recentes, o chamado “bônus demográfico”, tendência que pode ser observada no

Gráfico 11. Essa trajetória deverá ser mantida nos próximos anos, segundo o IBGE,

significando uma pressão adicional por trabalho no Ceará, o que exigirá ainda mais das

políticas públicas focadas no mercado de trabalho estadual. “Trata-se de uma “janela

de oportunidades” que requer políticas públicas adequadas, no sentido de permitir que

este potencial demográfico seja colocado a serviço do desenvolvimento econômico e do

bem-estar da população” (KIELING; DATHEIN, 2010, p. 33).

Gráfico 11 – Participação relativa dos segmentos de 0 a 14, 15 a 59 e 60 anos ou

mais de idade na população residente – Estado do Ceará – 2001, 2003, 2005,

2007, 2009, 2011, 2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

2 No caso da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2013, o período de

referência considerado foi a semana de 22 a 28 de setembro.

29

Em consonância com números do IBGE, atualmente, a população de 15 a 59 anos

é responsável por pouco mais de 63% da população cearense, devendo alcançar o seu

máximo, em 2022 (65,5%), e, ainda assim, ela continuará a crescer, em termos

absolutos, nos anos seguintes, totalizando 6,2 milhões de indivíduos, em 2030, quando

se terá quase 2/3 da população cearense com esse perfil etário. No transcorrer desses

anos, o Ceará contará com um contingente populacional em que predominará a

população economicamente ativa, o que é de suma importância para o desenvolvimento

socioeconômico do estado, além de amenizar os impactos nos gastos previdenciários

decorrentes do envelhecimento populacional no estado.

Importante chamar atenção para o fato de que a tendência do aumento

progressivo de pessoas em idade ativa, previsto para o País até 2030,

consubstancia o fenômeno denominado “bônus demográfico”. A expressão

vem sendo muito utilizada na área da demografia, objetivando chamar

atenção dos gestores das políticas públicas para o momento que se está

verificando na dinâmica populacional brasileira. Ele tem efeitos sobre a

inserção de novos e velhos contingentes populacionais no mercado de

trabalho, sobre os custos da previdência social e sobre os indicadores da

violência, por exemplo. Assim, além da busca de soluções para problemas

histórico-estruturais da sociedade brasileira, há que se enfrentar os novos

obstáculos que começam a surgir, em decorrência do processo de

envelhecimento da população (IBGE, s.d, p. 16).

Ainda com referência à força de trabalho cearense, outro importante aspecto a

salientar são as alterações que o envelhecimento da população tem provocado no perfil

etário de sua população economicamente ativa, com a presença em constante elevação

da PEA de 40 anos ou mais de idade. Ao se analisarem as alterações etárias ocorridas

entre 2001 e 2013, verifica-se que todos os grupos até 39 anos tiveram suas

participações diminuídas no período, o que se contrapõe a uma presença mais robusta da

força de trabalho de 40 anos ou mais na constituição da PEA do Ceará, conferindo-lhe

um perfil mais velho, mais experiente. Portanto, em termos estaduais, o envelhecimento

populacional tem ocasionado envelhecimento da força de trabalho, em que se sobressai

o prolongamento do período economicamente ativo da população.

As análises desse conteúdo mostram que se, por um lado, a participação das

pessoas com até 39 anos declinou para 56,9% da PEA estadual, em 2013, por outro, a

parcela com 40 anos ou mais passou a responder por 43,1%, quando respondia por

34,1% da PEA cearense, em 2001, um crescimento de 9 p.p. nesses treze anos. Isto

decorreu da crescente incorporação dos grupos de 40 a 49 (20,1% ou 847 mil), 50 a 59

(14,2% ou 600 mil) e de 60 anos ou mais (8,8% ou 370 mil), delineando o novo perfil

etário da PEA cearense. Portanto, o envelhecimento da população cearense tem

30

impactado no processo de envelhecimento de sua força de trabalho, dotando-a de

características mais maduras (experiência profissional, qualificação, discernimento,

habilidade na resolução dos problemas, dentre outras) (Gráfico 12).

Gráfico 12 – População economicamente ativa por grupos de idade – Estado do

Ceará – 2001/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Em face dessa nova realidade demográfica, além de outros condicionantes,

mostra-se imprescindível o Estado do Ceará dar sequência a essa trajetória de

crescimento econômico verificada no período recente, de modo a possibilitar a geração

de oportunidades de trabalho em número compatível com o crescimento futuro de sua

força de trabalho, para se evitarem incrementos significativos nas taxas de desemprego,

nos anos vindouros, especialmente entre os jovens, as mulheres, os menos escolarizados

e os mais pobres. A realidade de mais pessoas em idade produtiva, por si só, não

assegura que elas serão absorvidas pelo mercado de trabalho. Daí porque se faz

necessário o compromisso com o crescimento econômico e com a geração de emprego.

Este esforço de geração de novas ocupações se mostra ainda mais premente

quando se sabe que parte das pessoas com 60 anos ou mais ainda permanecerá no

mercado de trabalho, por mais alguns anos, forçada pela baixa renda disponível, mesmo

porque o nível de renda dos idosos, ainda ativos, tende a ser um pouco mais elevado do

que o dos não ativos.

Além disso, pouco mais da metade dos brasileiros não dispõe de uma reserva

financeira para quando se retirar do mercado de trabalho. Estudo realizado pelo Banco

31

HSBC3, com a participação de quinze países, inclusive o Brasil, constatou que 53% dos

brasileiros não estão economizando e nem pretendem começar a poupar exclusivamente

para o período em que vão deixar o mercado de trabalho. Portanto, a

indisponibilidade/insuficiência de renda, por ocasião da retirada do mercado de

trabalho, é um forte indutor do prolongamento do período economicamente ativo dos

indivíduos, ao lado da maior esperança de vida, especialmente em regiões onde o

rendimento mensal da força de trabalho é relativamente menor, como no Ceará.

No Estado do Ceará, números da PNAD estimam que a força de trabalho da

terceira idade (PEA com 60 anos ou mais) totalizara 370 mil pessoas, em 2013, o

equivalente a 8,8% da PEA estadual (4.215 mil), sinalizando que uma em cada onze

pessoas economicamente ativas tinha 60 anos ou mais. Essa participação aumentou em

quase 1 ponto percentual (p.p.), pois a parcela da PEA da terceira idade respondia por

7,9% da PEA estadual (4.380 mil), em 2009, com 348 mil idosos economicamente

ativos. Por conseguinte, os trabalhadores com, no mínimo, 60 anos de idade integram

importante segmento da força de trabalho cearense, tanto quantitativa quanto

qualitativamente, devido à experiência laboral que detêm.

Por sexo, a contribuição da força de trabalho masculina de 60 anos ou mais, na

constituição da força de trabalho masculina do estado, cresceu de 8,5%, em 2009, para

9,9%, em 2013, enquanto a fração feminina da mesma coorte oscilou de 7,2% para

7,3%, respectivamente. Portanto, a proporção de homens idosos na PEA masculina

supera a de mulheres idosas na PEA feminina, ganhando destaque em 2013 (Tabela 13).

Tabela 3 – População economicamente ativa de 60 anos ou mais de idade, segundo a

situação do domicílio, por sexo – Estado do Ceará – 2009/2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

3 O Futuro da Aposentadoria – Um Ato de Equilíbrio. Jornal Diário do Nordeste – Negócios, p. 1, Edição

de 19/1/2015.

Situação do

domicílio

Total Homens Mulheres

2009 2013 2009 2013 2009 2013

Total 348 370 209 238 139 132

Urbana 249 211 144 138 105 73

Rural 99 159 65 100 34 58

32

Atentar para o fato de que, enquanto a força de trabalho estadual encolheu (-

3,8%), o conjunto dos economicamente ativos de 60 anos ou mais cresceu (6,3%), no

quinquênio em estudo. Na verdade, a PEA da terceira idade cearense foi acrescida de 22

mil pessoas, no intervalo de tempo em questão. Isto foi consequência da robusta

expansão da força de trabalho idosa da zona rural (adicional de 60 mil pessoas) e da

masculina (29 mil a mais), dado que as PEAs feminina (-7 mil) e urbana (-38 mil)

diminuíram, quantitativamente falando.

Mesmo assim, as forças de trabalho masculina e das áreas urbanas são as de maior

inserção de idosos no mundo laboral da região. Assim, a força de trabalho idosa

cearense é eminentemente masculina e urbana. Apesar do declínio para 57,0%, em

2013, a PEA idosa urbana é a mais expressiva, com quase seis idosos urbanos para cada

quatro rurais compondo a força de trabalho da terceira idade no Ceará. No recorte por

sexo, os homens de 60 anos ou mais elevaram sua representação, passando a responder

por 64,3% dos idosos economicamente ativos do estado, no ano em apreço. Isto

decorreu das trajetórias delineadas pela PEA masculina, que registrou crescimento, ao

passo que a feminina decresceu, entre 2009 e 2013, conforme citado no parágrafo

anterior.

A taxa de atividade, também conhecida como taxa de participação, é um indicador

que mensura a parcela dos segmentos populacionais que se encontra inserida no

mercado de trabalho (ocupados e desempregados), como proporção do total desses

segmentos, em determinado momento e região. Na abordagem das taxas de atividade da

população idosa, aferindo o peso dos idosos economicamente ativos no total da

população idosa, esses indicadores mostram que algo em torno de 31,7% dos idosos

cearenses eram economicamente ativos, ou seja, encontravam-se inseridos no mercado

de trabalho estadual, em 2013.

Entre eles, como usualmente ocorre, a presença masculina no mercado laboral

(45,5%) excede em muito a feminina (20,5%), isto é, a proporção de homens com 60

anos ou mais de idade exercendo alguma atividade é substancialmente maior que a das

mulheres da mesma faixa etária, o que evidencia, uma vez mais, o perfil

majoritariamente masculino desse segmento, como pode ser percebido no Gráfico 13.

33

Gráfico 13 – Taxa de atividade da população idosa por sexo - Estado do Ceará –

2001 - 2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

As elevadas participações de idosos no mercado de trabalho é uma particularidade

nacional e o Ceará não é exceção, posto que a parcela dos homens com 60 anos ou mais,

trabalhando e/ou em busca de uma ocupação, sempre ultrapassou a marca dos 44% do

total de indivíduos de mesma idade, nos últimos treze anos, tendo alcançado o seu

máximo (55,8%) em 2006.

[...] a ausência de restrições legais ou institucionais à continuidade do

trabalho após a aposentadoria e – como veremos – a forma de inserção dos

idosos no mercado de trabalho explicam o fato de que há uma grande

proporção de aposentados economicamente ativos. A percepção da

aposentadoria, juntamente com uma remuneração proveniente do mercado de

trabalho, acaba se tornando uma estratégia de sobrevivência ou de melhoria

de situação econômica do idoso e de sua família (FURTADO, 2005, p. 16).

No triênio 2011/2013, com média anual de 31%, as taxas de atividade dos idosos

no mercado de trabalho do Ceará eram bem inferiores às registradas nos anos de 2001 a

2009, quando quase 38% dos idosos cearenses, em média, constituíam a força de

trabalho da região, apesar de a PEA de 60 anos ou mais do estado ter crescido em

termos absolutos. Na verdade, no último triênio, as taxas de atividade dos idosos foram

as menores, desde 2001, independente de sexo, mas ainda se encontravam em patamares

elevados. De fato, no triênio 2011 – 2013, a taxa de atividade média dos homens

(44,9%) recuou 13,5% e a média das mulheres (20,0%) diminuiu 25,4%, em relação às

respectivas taxas médias anuais de atividade dos anos de 2001 a 2009. Isto demonstra

34

que as mulheres se retiraram relativamente mais do mercado de trabalho cearense do

que os homens, no período analisado.

Deve-se salientar que essa tendência foi constatada no país, onde a fatia de idosos

economicamente ativos diminuiu de 30,0%, em 2009, para 27,9%, em 2013, e no

Nordeste, de 32,6% para 29,3%. E mais, a fração de idosos economicamente ativos no

Ceará, ligeiramente acima dos 30%, supera os resultados do Brasil e Nordeste,

conforme os indicadores apresentados, denotando uma maior presença relativa dos

idosos cearenses na oferta de mão de obra local, apesar da redução já referida dos

últimos anos. Assim, o Ceará detém uma parcela relativamente maior de idosos na

composição de sua força de trabalho, frente às realidades brasileira e nordestina.

Como já citado, a redução da taxa de atividade das pessoas de 60 anos ou mais é

resultante da menor presença de idosos (45,5%) e idosas (20,5%) no mercado de

trabalho do Ceará, em 2013, paralelamente a 2009. Ratificando essa assertiva, o número

de idosos cearenses não economicamente ativos, para cada idoso economicamente ativo,

cresceu de 1,6, em 2009, para 2,2, em 2013, ou seja, aumentou o número de idosos sem

trabalhar e/ou procurar trabalho. De qualquer maneira, os idosos representam,

atualmente, quase 9,0% da força de trabalho estadual, o que ressalta a importância desse

segmento na oferta de mão de obra cearense.

Essa menor participação, ou maior nível de inatividade da mão de obra de 60 anos

ou mais, pode ser explicada, em boa parte, pela melhora na oferta de emprego no

estado, especialmente com carteira assinada, nas condições de renda das famílias, em

decorrência da política de valorização do salário mínimo, dos programas de

transferência de renda e dos ganhos reais de salário, pela redução do desemprego, etc.,

situação propiciada também pelo ritmo de crescimento da economia do estado, que

deteve taxas superiores à média nacional, nos últimos anos. Desde 2008, o Produto

Interno Bruto do Ceará cresce acima do PIB do país e, citando 2010, ano de forte

crescimento econômico, o PIB cearense cresceu 7,9% e o nacional, 7,5%.

Portanto, apesar de significativa, a presença da mão de obra com 60 anos ou mais

de idade no mercado de trabalho cearense apresenta-se em um patamar um pouco

abaixo do verificado até 2009, o que não é um resultado de todo negativo, na medida em

que essa redução pode favorecer a geração de mais oportunidades de trabalho para

outros grupos de idade, especialmente os mais jovens.

35

Em termos absolutos, no Estado do Ceará, o número de idosos economicamente

ativos somou 370 mil pessoas (238 mil homens e 132 mil mulheres) e os não

economicamente ativos totalizaram 796 mil (284 mil homens e 512 mil mulheres).

Entre os economicamente ativos, foram estimados 368 mil ocupados e 2 mil

desempregados, na semana de referência da pesquisa, como aferiram os números da

PNAD de 2013.

Em poucas palavras, pode-se destacar o contínuo crescimento da população em

idade produtiva, o envelhecimento da força de trabalho do Ceará, com peso crescente

daqueles com 40 anos ou mais de idade, e os menores patamares das taxas de atividade

dos idosos, refletindo a saída recente de parte deles do mercado de trabalho estadual,

nos anos recentes, independente de sexo, em boa medida, reflexo das melhoras na

economia cearense e nas condições de vida das famílias. Não obstante, a presença dos

idosos no mundo laboral cearense é muito significativa, tal qual no Brasil, sendo os

homens maioria na composição da força de trabalho idosa do estado.

36

4 PARTICULARIDADES DO TRABALHO NA TERCEIRA IDADE

O contingente de ocupados de 60 anos ou mais, que totalizou 346 mil pessoas, em

2009, alcançou a marca de 368 mil, em 2013, o que fez com que a proporção de idosos

cearenses efetivamente trabalhando recuasse de 38,7% para 31,6%, no mesmo intervalo

de tempo. Este segmento foi contemplado com a geração de 22 mil postos de trabalho,

número suficiente para absorver os 22 mil idosos que passaram a integrar a população

economicamente ativa idosa da região, no período analisado, como indicam os valores

da Tabela 4. Isto ajudou a manter o baixo nível de desemprego dessa faixa etária em

relativa estabilidade, tal qual o número de desempregados, em cerca de 2 mil pessoas.

Tabela 4 - Pessoas de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de

referência, por situação do domicílio e sexo – Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Nota: Em 1.000 pessoas.

Quanto à expansão da demanda por mão de obra, o Gráfico 14 disponibiliza o

número total de ocupações geradas no Estado do Ceará, entre os anos de 2009 e 2013,

por grupos de idade. Por meio da análise desse conteúdo, ficam muito evidentes a

eliminação de postos de trabalho para os mais jovens, até os 29 anos, e o surgimento de

novas oportunidades para aqueles com idade de, no mínimo, 30 anos. O grupo mais

contemplado foi o de 50 a 59 anos, com o adicional de 103 mil ocupações, seguido pelo

de 30 a 39 anos (32 mil) e, em seguida, o de 60 anos ou mais (22 mil). Nesse último, o

grande favorecido foi o segmento de 60 a 64 anos, com 24 mil novas ocupações,

demonstrando que a expansão das oportunidades de trabalho para a terceira idade está

por demais concentrada nos idosos dessa faixa etária, indicando também que, dentre os

idosos, os mais jovens (60 a 64 anos) relutam mais em deixar o mercado de trabalho.

Situação do

domicílio

Total Homens Mulheres

2009 2013 2009 2013 2009 2013

Total 346 368 207 237 139 130

Urbana 247 209 142 137 104 72

Rural 99 159 65 100 34 58

37

Gráfico 14 - Número de ocupações geradas, por faixa de idade - Estado do

Ceará e Região Metropolitana de Fortaleza – 2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Nota: Foi considerada como base de comparação o ano de 2009.

Nessa linha de raciocínio, deseja-se salientar que se mostrou crescente a parcela

dos ocupados de 60 a 64 anos (45,4% dos ocupados idosos ou 166 mil), enquanto

diminuiu a daqueles com 70 anos ou mais de idade (28,5% ou 105 mil), em 2013. Já os

ocupados de 65 a 69 anos apresentaram pequenas variações numéricas, com uma fração

de 26,1% e totalizando 96 mil ocupados. Isto demonstra que a idade é um fator limitante

da presença da força de trabalho idosa no mundo laboral, o que já era esperado, em

virtude das restrições impostas pela idade mais avançada, realidade que se mostra ainda

mais evidente a partir dos 70 anos.

O mesmo Gráfico 14 mostra também essa realidade para a região metropolitana

de Fortaleza (RMF), que, em linhas gerais, deteve comportamento similar ao do estado.

Cabe destacar que, na RMF, relativamente aos resultados estaduais, os impactos da

eliminação de postos de trabalho entre os jovens foram bem menores e foram geradas

mais ocupações para os segmentos de 30 a 39 (50 mil), 40 a 49 (18 mil) e,

especialmente, de 60 anos ou mais (30 mil). Assim, em 2013, 37,5% das novas

ocupações destinadas aos idosos cearenses localizaram-se na área metropolitana de

Fortaleza e a demanda por mão de obra no Ceará tem se apresentado muito direcionada

para a força de trabalho mais adulta, acirrando, cada vez mais, os problemas de inserção

juvenil no mercado laboral estadual.

Seguindo a tendência de menor participação relativa dos idosos no mercado de

trabalho cearense, em 2013, a parcela das pessoas de 60 anos ou mais trabalhando na

38

semana de referência foi de 31,6% do total de idosos do estado, frente a representações

de algo em torno de 39,0%, nos anos de 2001, 2005 e 2009. Assim, para cada grupo de

dez pessoas nessa faixa etária, o número de idosos trabalhando recuou de quatro para

três pessoas, como pode ser constatado no Gráfico 15.

Gráfico 15 - Proporção de idosos ocupados na semana de referência, por região

- Brasil, Nordeste e Estado do Ceará - 2001, 2005, 2009, 2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Os números do Gráfico 15 mostram inclusive que a participação dos ocupados de

60 anos ou mais no universo da terceira idade cearense tem registrado patamares

superiores aos observados no Brasil e na Região Nordeste, nos anos apresentados, o que

reflete a maior dependência das famílias cearenses dos rendimentos dos idosos, em

função do nível de pobreza a que estão expostas, dos baixos níveis de remuneração do

trabalho, precipuamente as residentes nas zonas rurais, onde o trabalho na produção

para o próprio consumo é bem mais incidente entre os idosos, dentre outras motivações.

Adicionalmente, as participações observadas nas três regiões mostram trajetória

de queda, independente da região, o que comprova o movimento de saída de parte dos

idosos do mundo laboral nacional, regional e estadual, nos últimos anos, fato já

mencionado anteriormente. No Brasil (29,3%) e no Nordeste (32,2%), esta saída foi

captada já a partir de 2009 e, no Ceará (31,6%), foi percebida mais claramente em 2013.

O perfil ocupacional da terceira idade no Ceará mostra-se mais masculinizado e

voltando-se para o meio rural, pois a ocupação masculina ampliou (30 mil), tal qual na

zona rural (60 mil), onde foram destaque as atividades de produção para o consumo

39

próprio, que ocupavam 34,1% dos idosos, em 2013. Por outro lado, foram observadas

quedas nos níveis ocupacionais no meio urbano (-38 mil) e entre as mulheres (-9 mil).

Como se pode apreender das análises da Tabela 4, a taxa de urbanização da

ocupação na terceira idade (proporção urbana do total de idosos ocupados) diminuiu de

71,4%, em 2009, para 56,8%, em 2013. Esses movimentos contribuíram para ampliar as

disparidades ocupacionais entre homens e mulheres idosos e reduzir as verificadas entre

as zonas urbanas e rurais do estado. Do universo de 368 mil idosos cearenses ocupados,

em 2013, 237 mil eram homens (64,4%) e 159 mil residiam em áreas rurais (43,2%), de

onde se pode inferir que havia seis homens e quatro mulheres em grupos de dez idosos

trabalhando, no ano em questão.

Mas quais as estratégias de inserção e/ou permanência no mercado de trabalho

adotadas pelos trabalhadores da terceira idade, no Ceará? A análise a seguir sobre a

evolução da ocupação daqueles com 60 anos ou mais, por posição na ocupação no

trabalho principal, fornecerá alguns indícios sobre a temática em questão.

Informações extraídas da Tabela 5 indicam que há três estratégias principais de

inserção no mercado de trabalho do Ceará das quais os idosos mais se utilizam. Por

ordem de importância, são elas: 1. o trabalho por conta-própria; 2. na produção para o

consumo próprio; 3. como empregado.4

4 Na PNAD, o IBGE considera como conta-própria a pessoa que trabalha explorando o seu próprio

empreendimento, sozinha ou com sócio, sem ter empregado e contando, ou não, com ajuda de trabalhador

não remunerado. Trabalhador na produção para consumo próprio é aquele que trabalha, durante pelo

menos uma hora na semana, na produção de bens do ramo que compreende as atividades da agricultura,

silvicultura, pecuária, extração vegetal, pesca e piscicultura, para a própria alimentação de pelo menos um

membro da unidade domiciliar. E o empregado a pessoa que trabalha para um empregador (pessoa física

ou jurídica), geralmente obrigando-se ao cumprimento de uma jornada de trabalho e recebendo em

contrapartida remuneração em dinheiro, mercadorias, produtos ou benefícios (moradia, comida, roupas

etc.). Nesta categoria, incluem-se a pessoa que presta serviço militar obrigatório e também o sacerdote,

ministro de igreja, pastor, rabino, frade, freira e outros clérigos.

40

Tabela 5 - Pessoas de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de

referência, por posição na ocupação no trabalho principal, segundo o sexo –

Estado do Ceará – 2009/2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

O trabalho por conta-própria, apesar de ter perdido um pouco de sua

representatividade, em 2013, quando equivalia a 37,9% dos ocupados idosos, ainda se

apresentava como a principal porta de entrada/permanência no mercado de trabalho para

essa força de trabalho. O trabalho na produção para o próprio consumo e o trabalho

assalariado (empregado) ganharam espaço, atingindo frações de 34,1% e 18,8%,

respectivamente, no mesmo ano.

Importante ressaltar que pouco mais de 1/3 dos idosos declarados ocupados se

encontrava trabalhando em atividades para o consumo próprio, fração superior a de

2009, quando somavam 30,2%, uma atividade eminentemente rural. Esta elevação

ocorreu em uma conjuntura muito favorável para o mercado de trabalho no Ceará,

inclusive com expansão do emprego com registro em carteira e ganhos reais de salário.

Esta hierarquização e as tendências de alta e de baixa das estratégias de inserção

se mantêm quando são arrolados os homens idosos com trabalho na semana de

referência: trabalho por conta-própria (43,3%); trabalho na produção para o consumo

próprio (26,1%); como empregado (21,9%). Entre as idosas, o trabalho na produção

para o consumo próprio assume a primeira posição, com quase metade delas (48,0%),

seguido pelo trabalho por conta-própria (27,4%) e pelas empregadas (13,1%).

Outra conclusão que se pode extrair dessas análises é que as mulheres da terceira

idade estão expostas a um nível mais elevado de precarização do trabalho, por suas

participações relativamente mais robustas em categorias onde a qualidade do trabalho

Posição na

ocupação

Total Homens Mulheres

2009 2013 2009 2013 2009 2013

Empregados 50 69 38 52 12 17

Trabalhadores

domésticos 7 10 - 2 7 9

Conta-própria 143 139 101 103 43 36

Empregadores 22 14 19 14 2 -

Não remunerados 18 10 2 4 15 5

Produção para

consumo próprio 104 125 44 62 60 63

Construção para

uso próprio 1 1 1 1 - -

Total 346 368 207 237 139 130

41

deixa muito a desejar, como o trabalho na produção para o consumo próprio, o trabalho

doméstico e o não remunerado, além da menor representatividade delas no trabalho

assalariado. Observar que nove de cada dez trabalhadores domésticos com, no mínimo,

60 anos, são mulheres, a proporção de mulheres não remuneradas (3,8%) é o dobro da

verificada entre os homens (1,7%) e o percentual de idosas que trabalham para consumo

próprio (48,0%) é quase duas vezes maior do que o de idosos (26,1%), apesar do

equilíbrio existente em termos absolutos pois, dos 125 mil idosos que se ocupavam na

produção para consumo próprio, eram 62 mil homens para 63 mil mulheres (Tabela 5).

Quanto às oportunidades de trabalho que surgiram para a mão de obra na terceira

idade, no Ceará, nesse período, um adicional de cerca de 22 mil ocupações, em linhas

gerais, destacaram-se o trabalho na produção para o próprio consumo (21 mil),

especialmente entre os homens (18 mil); o trabalho como empregado (19 mil, dos quais

14 mil para os homens); e, em menor medida, o trabalho doméstico, com 3 mil novas

ocupações, oportunidades eminentemente femininas. Isto fez com que a proporção de

idosos que se ocupavam através dessas categorias crescesse, em 2013, frente a 2009.

Fato é que o trabalho por conta-própria (139 mil) e, notadamente, o trabalho para

o próprio consumo (125 mil) e aquele como empregado (69 mil) funcionaram como

sustentáculo do nível de ocupação da força de trabalho de 60 anos ou mais, no mercado

de trabalho cearense, em 2013, o que nos remete à necessidade de avaliar o tipo de

trabalho exercido pelos idosos, quando se sabe que boa parte deles é a maior

responsável pelos seus domicílios. Ademais, a constatação de que o trabalho para o

próprio consumo consta nessa lista esclarece, em boa medida, o porquê da expansão do

nível ocupacional da terceira idade na zona rural cearense.

Dando continuidade a essa temática, com o maior número de idosos trabalhando

como empregado (69 mil), também cresceu a parcela dos empregados com registro em

carteira, para 27,5%, o que quer dizer que pouco mais de ¼ dos empregados de 60 anos

ou mais tinha carteira de trabalho assinada (19 mil), em 2013. Por seu turno, o total de

militares e funcionários públicos estatutários da terceira idade foi duplicado para 17 mil

pessoas (24,6%). Apesar de as duas categorias citadas responderem pela metade dos

idosos assalariados, elas tinham uma participação conjunta de apenas 9,8% no conjunto

dos idosos ocupados do estado, no referido ano. Em 2009, esta participação era bem

menor (5,8%), denotando algum avanço na qualidade do trabalho exercido pelos

trabalhadores na terceira idade, no Ceará. Observa-se ainda que, entre eles, a relação era

42

de três homens empregados para cada mulher, constatação que reforça a realidade de

maior precariedade do trabalho das idosas (Tabela 6).

Tabela 6 – Empregados de 60 anos ou mais de idade, no trabalho principal da

semana de referência, por categoria de emprego principal, segundo o sexo –

Estado do Ceará – 2009/2013 (Em 1.000 pessoas)

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Na medida em que empregados com registro em carteira, militares e funcionários

públicos estatutários respondiam por menos de 10% dos idosos que estavam

trabalhando, não seria surpresa se a fração de idosos contribuintes para instituto de

previdência também fosse mínima. Números da PNAD5 comprovam que esta cresceu de

9,0%, em 2009, para 16,0% dos idosos ocupados, em 2013 (Gráfico 16).

Gráfico 16 - Proporção de pessoas ocupadas contribuintes para instituto de previdência,

por grupos de idade – Estado do Ceará – 2009/2013 (Em %)

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

5 São consideradas as contribuições para instituto de previdência federal (Instituto Nacional do Seguro

Social - INSS ou Plano de Seguridade Social da União), estadual (instituto de previdência estadual,

incluindo os servidores das forças auxiliares estaduais), ou municipal (instituto de previdência municipal,

incluindo os servidores das forças auxiliares municipais), no trabalho principal, no secundário e em pelo

menos um dos demais trabalhos da semana de referência da pesquisa.

Categoria de

emprego

Total Homens Mulheres

2009 2013 2009 2013 2009 2013

Empregados com

carteira assinada 11 19 7 17 4 3

Militares e func.

púb. estatutário 9 17 6 10 3 8

Outros sem carteira

assinada 30 32 25 25 5 7

Total 50 69 38 52 12 17

43

Este crescimento foi verificado entre idosos (de 10,6% para 18,1%) e idosas (de

6,8% para 12,3%), estas com um patamar de contribuição inferior ao do segmento

masculino, mais um indicativo que reforça a maior exposição delas a trabalhos mais

precarizados.

Da análise mais pormenorizada do Gráfico 16, pode-se concluir ainda que: 1. a

proporção de contribuintes, em 2013, foi superior a observada quatro anos atrás,

independente da idade; 2. o mais elevado patamar de contribuição encontra-se entre os

trabalhadores de 25 a 29 anos de idade, decrescendo continuamente nas faixas etárias

seguintes; 3. a redução na proporção de contribuintes intensifica-se após os 59 anos; e 4.

o nível de contribuição dos idosos equipara-se ao dos adolescentes de 15 a 19 anos.

Portanto, houve avanço nesse aspecto, pois o número de ocupados não

contribuintes para cada contribuinte foi reduzido à metade, de 10,1, em 2009, para 5,2,

em 2013. Dos 368 mil idosos trabalhando, 59 mil (16,0%) contribuíam para o instituto

de previdência, em 2013. No Ceará, eles somavam 43 mil homens para somente 16 mil

mulheres, com frações de contribuintes de 18,1% e 12,3%, respectivamente, uma

indicação de que é muito reduzido o número de contribuintes, relativamente ao total de

idosos economicamente ativos do estado, de acordo com a Tabela 7. Assim, é

relativamente pequeno o número de idosos que trabalham no Ceará e ainda continuam a

contribuir para o instituto de previdência, o que é resultante de suas estratégias de

ocupação no estado, cujo objetivo maior é o de complementação da renda.

Tabela 7 – Pessoas de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de

referência, por contribuição para instituto de previdência, no trabalho

principal, segundo o sexo – Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Nota: Em 1.000 pessoas.

Dando continuidade à avaliação da qualidade do trabalho na terceira idade, nas

análises dos conteúdos das Tabelas 8 e 9, buscou-se comparar as estratégias de

permanência no mundo laboral da força de trabalho de 60 anos ou mais de idade com as

Contribuição

para instituto de

previdência

Total Homens Mulheres

2009 2013 2009 2013 2009 2013

Contribui 15 59 10 43 5 16

Não contribui 152 308 84 195 68 114

Total 167 368 94 237 73 130

44

adotadas pela população ocupada de 10 anos ou mais, buscando identificar diferenciais

existentes, inclusive por sexo. A Tabela 8 ilustra valores de 2009 e a Tabela 9, de 2013.

O conteúdo das tabelas mencionadas revela uma realidade muito distinta das

formas de ocupação da força de trabalho da terceira idade, quando comparada à

realidade ocupacional dos indivíduos de 10 anos ou mais, no Estado do Ceará, nos anos

de 2009 e 2013, assim como é perceptível na esfera nacional e no Nordeste brasileiro.

Não obstante, foram detectadas algumas semelhanças, como o crescente nível de

assalariamento com registro em carteira, como revelaram alguns indicadores avaliados.

Apesar do avanço em 2013, o nível de assalariamento dos idosos (18,8%) é muito

inferior ao dos ocupados de 10 anos ou mais (52,4%). Enquanto, nesse caso, um em

cada dois ocupados era assalariado, entre os idosos chegou-se a cerca de um em cada

cinco. Esta realidade é ainda mais díspare ao se considerar o emprego com carteira

assinada.

Tabela 8 - Pessoas de 10 anos ou mais e de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,

segundo a posição na ocupação no trabalho principal – Estado do Ceará – 2009 (Em %)

Posição na ocupação no trabalho

principal

Ocupados de 10 anos ou mais Ocupados de 60 anos ou mais

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Empregados 50,4 56,2 42,6 14,5 18,4 8,6

Empregados com carteira assinada 22,5 24,2 20,2 3,2 3,4 2,9

Militares e func. público estatutário 5,2 4,3 6,4 2,6 2,9 2,2

Outros sem carteira assinada 22,7 27,8 15,9 8,7 12,2 3,6

Trabalhadores domésticos 7,1 1,1 15,1 2,0 0,0 5,0

Conta-própria 23,6 26,5 19,8 41,4 49,2 30,9

Empregadores 3,2 4,1 2,0 6,4 9,2 1,4

Não remunerados 7,4 6,4 8,7 5,2 1,0 10,8

Produção para o próprio consumo 8,2 5,4 11,9 30,2 21,6 43,2

Construção para o próprio uso 0,1 0,2 0,0 0,3 0,5 0,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Mensurando o trabalho por conta-própria, que respondeu por frações decrescentes

dos idosos ocupados, a proporção dos idosos que se ocupavam de forma autônoma

(37,9%) superou em muito a média global dos ocupados (23,4%), notadamente entre os

idosos do sexo masculino (43,3%). No recorte por sexo, esta forma de ocupação tem

registrado diferenças significativas entre os ocupados da terceira idade, com expressiva

maioria masculina, em que a relação era de três idosos para cada idosa, em 2013.

45

Tabela 9 - Pessoas de 10 anos ou mais e de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência,

segundo a posição na ocupação no trabalho principal – Estado do Ceará – 2013 (Em %)

Posição na ocupação no trabalho

principal

Ocupados de 10 anos ou mais Ocupados de 60 anos ou mais

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Empregados 52,4 55,9 47,7 18,8 21,9 13,1

Empregados com carteira assinada 25,3 27,1 23,0 5,2 7,2 2,3

Militares e func. público estatutário 6,2 4,0 9,2 4,6 4,2 6,2

Outros sem carteira assinada 20,8 24,8 15,4 8,7 10,4 5,4

Trabalhadores domésticos 6,3 0,8 13,6 2,7 0,8 6,9

Conta-própria 23,4 26,7 18,9 37,9 43,3 27,4

Empregadores 2,3 3,0 1,4 3,8 5,9 0,0

Não remunerados 3,5 2,8 4,5 2,7 1,7 3,8

Produção para o próprio consumo 12,1 10,7 14,0 34,1 26,1 48,0

Construção para o próprio uso 0,1 0,1 0,0 0,3 0,4 0,0

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Outra categoria com participação relativamente mais elevada da mão de obra de

60 anos ou mais é a dos que trabalhavam na produção para o próprio consumo, que

avançou para 34,1%, em 2013, quase três vezes mais que o estimado para o universo

dos ocupados (12,1%), o que explica, em grande medida, o crescimento da ocupação

dos idosos no meio rural do estado. Este avanço refletiu os incrementos verificados

entre os idosos (26,1%) e idosas (48,0%) nessa alternativa de ocupação, o que também

enfatiza, em termos relativos, a representação bem mais expressiva das mulheres dessa

coorte ocupando-se na produção para o próprio consumo.

Os idosos costumam ter uma presença mais significativa em ocupações exercidas

em seu próprio negócio, atividades mais voltadas para o empreendedorismo, como

empregador ou por conta-própria. No caso dos empregadores, a proporção declinou para

3,8%, em 2013. Nesse caso, é notória a presença masculina (5,9%), sem representação

das mulheres, ao contrário do ocorrido no emprego doméstico, que ocupava 6,9% das

idosas.

Outro avanço registrado nas alternativas ocupacionais dos idosos foi a crescente

proporção de militares e funcionários públicos estatutários, que alcançou a marca de

4,6%, em 2013, dessa vez com maior representação feminina (6,2%), o que pode estar

associado a maior presença das mulheres no setor público.

Estas características gerais das alternativas ocupacionais na terceira idade podem

ser claramente percebidas através do Gráfico 17, em que se destacam o baixo nível de

46

assalariamento, a crescente proporção de contra própria e a intensificação do trabalho na

produção para o próprio consumo após os 59 anos. Ratificando afirmações anteriores, o

Gráfico 17 demonstra que, com relação aos idosos, as formas de ocupação mais comuns

são as atividades por conta-própria e o trabalho na produção para o próprio consumo,

vindo na terceira colocação o trabalho assalariado.

Gráfico 17 – Distribuição das pessoas de 10 anos ou mais ocupadas na semana de

referencia, segundo a posição na ocupação no trabalho principal, por faixa etária –

Estado do Ceará – 2013 (Em %)

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

Diante dessa realidade, que se apresenta muito heterogênea, são evidentes os

diferenciais entre idosos e o total de ocupados de 10 anos ou mais, no que concerne às

formas de inserção/permanência no mercado de trabalho do Ceará, realidade que se

repete no recorte por sexo, quando é evidenciada a desigualdade ocupacional existente

entre homens e mulheres na terceira idade.

Assim sendo, no Estado do Ceará, dentre as particularidades do trabalho na

terceira idade, são destaques: redução da significativa proporção de idosos ocupados

(31,6%); 2/3 dos ocupados idosos são do sexo masculino; a geração de 22 mil

ocupações, onde o maior favorecido foi o grupo de 60 a 64 anos; o trabalho por conta-

própria, na produção para o consumo próprio e como empregado como as principais

estratégias de inserção no mercado laboral; as mulheres mais expostas à elevada

precarização do trabalho; parcela crescente dos empregados com registro em carteira

(27,5%), assim como a fração de idosos contribuintes para a previdência social (16,0%).

47

Dessa forma, fica evidente a elevada presença dos idosos no mercado de trabalho

estadual, notadamente dos homens, nos centros urbanos, e que houve melhora na

qualidade dos empregos ocupados por eles, dada a maior fatia trabalhando como

assalariado, inclusive com carteira assinada, mas, ainda assim, os idosos tendem a se

ocupar em atividades não assalariadas, como por conta-própria, na produção para o

próprio consumo e, em menor medida, como empregadores ou não remunerados.

Por fim, estas constatações sugerem que, em termos das políticas públicas

direcionadas para a geração de oportunidades de trabalho para os idosos, as iniciativas

deveriam estar mais voltadas para o trabalho por conta-própria, para o

empreendedorismo e o fortalecimento da agricultura familiar e, em menor medida, para

o trabalho assalariado. Em termos da agricultura familiar, alternativas com sua inclusão

nos projetos de irrigação do governo estadual, assessoramento técnico de mais

qualidade, além da formação e apoio a jovens e agricultores familiares, seriam

estratégias muito bem-vindas, possibilitando às famílias gerar alguma renda extra, além

do próprio consumo em si, contribuindo para a redução da pobreza no campo.

A Tabela 10 sintetiza uma lista dos principais indicadores inerentes às populações

cearenses de 10 anos ou mais e de 60 anos ou mais de idade, nos anos estudados.

Tabela 10 – Principais indicadores populacionais e de mercado de trabalho das pessoas de 10

anos ou mais e de 60 anos ou mais de idade – Estado do Ceará – 2009/2013

Indicadores 2009 2013

População Total 8.509 mil 8.798 mil

População Idosa 895 mil 1.166 mil

População Economicamente Ativa Total (PEA) 4.380 mil 4.215 mil

População Idosa Economicamente Ativa 348 mil 370 mil

Crescimento da População Total - 3,4%

Crescimento da População Economicamente Ativa Total - -3,8%

Crescimento da População Idosa - 30,3%

Crescimento da População Idosa Economicamente Ativa - 6,3%

Proporção de Idosos na População Total 10,5% 13,3%

Proporção de Idosos Economicamente Ativos na População Idosa 38,9% 31,7%

Proporção de Idosos Economicamente Ativos na PEA Total 7,9% 8,8%

Proporção de Idosos Ocupados Contribuintes para a Previdência 9,0% 16,0%

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

48

A Tabela 11, por sua vez, apresenta as estimativas do total de ocupados e dos

ocupados de 60 anos ou mais, nas diversas categorias, segundo o sexo, nos anos de

2009 e 2013.

Tabela 11 - Pessoas de 10 anos ou mais e de 60 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de

referência, segundo a posição na ocupação no trabalho principal – Estado do Ceará – 2009/2013

Posição na

ocupação Ano

Total de ocupados Ocupados de 60 anos ou mais

Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres

Empregados 2009 987 628 359 50 38 12

2013 2.080 1.279 801 69 52 17

Empregados com

carteira assinada

2009 441 270 171 11 7 4

2013 1.008 621 387 19 17 3

Militares e func.

púb. estatutário

2009 101 48 54 9 6 3

2013 247 92 155 17 10 8

Outros sem carteira

assinada

2009 445 310 134 30 25 5

2013 825 566 259 32 25 7

Trabalhadores

domésticos

2009 139 12 127 7 - 7

2013 248 19 229 10 2 9

Conta-própria 2009 464 296 167 143 101 43

2013 928 611 317 139 103 36

Empregadores 2009 63 46 17 22 19 2

2013 92 69 23 14 14 -

Não remunerados 2009 145 72 73 18 2 15

2013 138 63 76 10 4 5

Produção para o

próprio consumo

2009 160 60 100 104 44 60

2013 480 244 236 125 62 63

Construção para o

próprio uso

2009 2 2 - 1 1 -

2013 2 2 - 1 1 -

Total 2009 1.959 1.117 842 346 207 139

2013 3.967 2.286 1.681 368 237 130

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios.

Nota: Em 1.000 pessoas.

49

5 O RENDIMENTO MENSAL DOS IDOSOS

Quando da análise do rendimento mensal dos cearenses na terceira idade,

considerando todas as fontes de renda, é notória a concentração de indivíduos no

interstício entre ½ e 1 salário mínimo. Para a apuração dos rendimentos, segundo as

classes de salário mínimo, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD)

considera o valor em vigor no mês de referência da pesquisa - R$ 678,00, em setembro

de 2013.

Foi estimada uma parcela de cerca de 56% dos idosos com rendimento mensal

entre ½ e 1 salário mínimo, com valores monetários variando de R$ 339 a R$ 678,

quadro que não foi alterado nos cinco anos analisados, o que expressa a manutenção da

centralização dos rendimentos mensais dos idosos cearenses em torno do mínimo, o que

pode incentivar a sua transição para a inatividade, haja vista que os padrões de

rendimento podem ser mais equivalentes.

Ratificando esta concentração em torno do salário mínimo, em 2013,

considerando todas as fontes de renda, para cada idoso que percebia rendimento mensal

de mais de 2 salários, havia quatro com remuneração entre ½ e 1 salário mínimo. Por

outro lado, se houve ligeiro incremento na proporção de idosos com rendimento mensal

na faixa de mais de 1 a 2 salários (27,7%), diminuiu a representação no intervalo de

mais de 2 salários (13,6%), como exposto no Gráfico 18.

Gráfico 18 - Distribuição da população de 60 anos ou mais por classes de

rendimento mensal de todas as fontes de renda - Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

50

Este quadro, em que seis de cada dez idosos tinham um rendimento mensal de, no

máximo, 1 salário mínimo (R$ 678), deixa transparecer o baixo nível de renda dessa

população no estado, realidade que é agravada pela constatação de que 64% deles eram

os maiores responsáveis pelos domicílios onde residiam, com quase três pessoas por

família, em média, nas análises de 2009 e 2013.

Esta realidade reflete o padrão de rendimento mensal do trabalho vigente no

Ceará, onde 28,8% dos ocupados de 10 anos ou mais (1.143 mil) percebiam

rendimentos de todos os trabalhos na faixa de mais de ½ a 1 salário, cujo valor médio

era de R$ 598, em 2013. Nessas condições, os idosos tinham duas vezes mais chance de

auferir rendimento mensal nessa faixa do que a força de trabalho ocupada.

A renda disponível e o tamanho das famílias dos idosos cearenses refletem-se no

nível de pobreza vivenciado por eles. Considerando como idosos pobres aqueles que

residiam em domicílios particulares com renda domiciliar per capita de até ½ salário

mínimo, constatou-se que o nível de pobreza a que os idosos cearenses estavam

expostos foi estimado em 16,7%, em 2013, quando era de 19,3%, em 2009, um

indicativo de que o nível de pobreza na terceira idade decresceu no Ceará, entre os anos

de 2009 e 2013, conforme ilustração do Gráfico 19.

Gráfico 19 - Distribuição da população de 60 anos ou mais, residentes em

domicílios particulares, por classes de rendimento mensal domiciliar per capita

- Estado do Ceará – 2009/2013

Fonte: IBGE – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios. Elaboração do autor.

51

Apesar do avanço, com uma população estimada de 1.166 mil idosos, a pobreza

na terceira idade atingia cerca de 194,7 mil pessoas no estado, além do que

aproximadamente 67% deles residiam em domicílios particulares com rendimento

mensal domiciliar per capita de, no máximo, 1 salário (R$ 678), e pouco mais de 9%

habitavam domicílios onde este superava 2 salários mínimos (R$ 1.356), em 2013.

Mesmo sabendo que o número estimado de idosos pobres sofre influência direta

do tamanho da população de idosos, é oportuno frisar que, no Ceará, a redução da

pobreza na terceira idade só ocorreu em termos relativos, pois o número absoluto de

pessoas com 60 anos ou mais auferindo rendimento mensal domiciliar per capita de até

½ salário mínimo cresceu de aproximadamente 172,7 mil, em 2009, para cerca de 194,7

mil, em 2013, o que corresponde a um adicional de 5,5 mil idosos pobres/ano.

E mais, o nível de exposição à pobreza dos idosos cearenses é praticamente duas

vezes mais elevado que o vigente no país, ou seja, uma pessoa com 60 anos ou mais de

idade, que resida no Estado do Ceará, tem uma probabilidade duas vezes maior de ser

pobre, relativamente à média nacional, realidade muito próxima à da região Nordeste e

que não difere muito do que ocorre na região metropolitana de Fortaleza. De fato, em

2009, a taxa de pobreza na terceira idade foi estimada em 11,2%, no Brasil, no Nordeste

alcançou 20,9%, no Ceará, somou 19,3% e declinou ligeiramente para 18,1% na região

metropolitana de Fortaleza, segundo a Síntese de Indicadores Sociais – Idosos, 2010, do

IBGE.

Adicionando outros elementos à análise, o Instituto de Pesquisa e Estratégia

Econômica do Ceará (IPECE) divulgou recente estudo sobre a realidade atual da

extrema pobreza no Ceará6, em que enfatiza alguns avanços nessa área, com reduções

do número de cearenses extremamente pobres em termos absolutos (-22,3 mil) e

relativos (-3,1%), em 2013, paralelamente ao ano anterior. Nesse ínterim, esse indicador

variou de 8,49% para 8,26% da população cearense. Entretanto, no recorte por faixa

etária, essa mesma trajetória não foi percebida, ao se referir à população de 60 anos ou

mais, posto que a taxa de extrema pobreza nesse segmento aumentou substancialmente

de 0,96%, em 2012, para 1,49%, em 2013, apesar do baixo patamar. Além disso, o

número de idosos extremamente pobres cresceu de 10,5 mil para 16,3 mil,

respectivamente, um significativo incremento de 54,5% ou 5,8 mil idosos a mais. Isto

6 Informe Nº 81- Caracterizando a Redução da Extrema Pobreza no Ceará – 2012 e 2013.

52

significa que, no Estado do Ceará, em 2013, 16,3 mil idosos residiam em domicílios

com renda per capita domiciliar menor ou igual a R$ 83,68 (valor deflacionado para

setembro de 2013, pelo Índice Nacional de Preço ao Consumidor), ou seja, eram

extremamente pobres.

Por fim, ao se cotejarem os perfis de rendimento mensal ilustrados nos Gráficos

18 e 19, constatam-se indícios da influência dos rendimentos dos idosos no perfil de

renda de suas famílias. Nesse aspecto destacam-se: 1. a concentração de famílias na

faixa de mais de ½ a 1 salário (50%); o quarto de famílias com renda per capita de mais

de 1 a 2 salários; e 3. a proporção de famílias com renda per capita acima de 2 salários

(quase 10%), perfil semelhante ao da distribuição dos rendimentos mensais de todas as

fontes de renda dos idosos.

As principais conclusões sobre o nível de rendimento mensal dos idosos cearenses

refletem o baixo nível de renda mensal auferido pela expressiva maioria de seus

integrantes, uma realidade preocupante, pois 64% dos idosos eram chefes de seus

domicílios. Outros destaques relevantes são citados a seguir: manutenção da

concentração dos rendimentos mensais na faixa de ½ e 1 salário mínimo; seis de cada

dez idosos têm rendimento mensal de, no máximo, 1 salário mínimo; pouco mais de 9%

habitavam domicílios com rendimento mensal domiciliar per capita superior a 2

salários mínimos; o idoso cearense tem duas vezes mais chance de ser pobre,

relativamente à média nacional; o nível de pobreza na terceira idade decresceu no

Ceará, mas somente em termos relativos; e o contingente de idosos pobres cresceu,

assim como os extremamente pobres.

Em face de tudo o que foi exposto, conclui-se o presente trabalho com uma

citação muito oportuna de Kieling e Dathein, a qual, embora se refira ao plano nacional,

também deve ser considerada no âmbito estadual. Eles enfatizam que:

O aproveitamento da janela de oportunidade aberta pela demografia, visando

ao desenvolvimento econômico e social do País, requer incluir o componente

populacional no planejamento das políticas públicas de Estado. É necessária,

portanto, a identificação de pontos de estrangulamento e de oportunidades

geradas pelas dinâmicas atual e futura da composição etária (KIELING;

DATHEIN, 2010, p. 35).

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do reconhecimento de que é imperiosa a necessidade de que a sociedade,

de modo geral, e os gestores públicos, em particular, devem tomar consciência de que o

processo de envelhecimento da população está se consolidando e ocorrendo em um

ritmo cada vez mais forte no país, o presente estudo teve como objetivo principal

fomentar o debate sobre esse processo no Estado do Ceará, dadas as suas inúmeras

consequências nas diversas áreas de atuação humana, assim como subsidiar a

elaboração de políticas públicas do trabalho focadas na terceira idade. Daí o porquê das

duas temáticas abordadas: o envelhecimento populacional e a inserção da força de

trabalho de 60 anos ou mais no mercado de trabalho estadual.

O estudo revelou que o envelhecimento populacional vem se consolidando no

Ceará e ocorrendo com significativa intensidade após 2009, com sérios reflexos em

diversas áreas tais como: educação, saúde, previdência, segurança, mobilidade e,

especialmente, mercado de trabalho. A população de 60 anos ou mais cresceu 6,8% ao

ano, respondeu por 13% da população cearense e por cerca de 9% de sua força de

trabalho, em 2013. No Ceará, a inserção dos idosos no mundo de trabalho, em termos

relativos, é maior que as médias nacional e nordestina, o que destaca a elevada presença

do segmento no mercado de trabalho cearense.

Destaca-se a nítida tendência de elevação da pressão sobre o mercado de trabalho

estadual, decorrente do crescimento contínuo da população de 15 a 59 anos de idade nos

anos vindouros, além da maior presença da população de 60 anos ou mais no mercado

laboral, dado o prolongamento da condição de economicamente ativo da força de

trabalho.

Esta nova realidade vai exigir ainda mais das políticas públicas do trabalho, o que,

por sua vez, exigirá um Sistema Público de Emprego mais forte e mais bem preparado

para enfrentar esses novos desafios do mundo laboral, além do comprometimento com o

crescimento econômico e com a geração de mais empregos, sob pena de se conviver

com taxas de desemprego mais elevadas, devido ao maior número de pessoas a

demandar postos de trabalho, no futuro bem próximo, o que penalizará notadamente os

segmentos mais fragilizados do mercado de trabalho (mulheres, jovens, menos

escolarizados e os mais pobres, dentre outros).

54

Só assim se aproveitará melhor essa “janela de oportunidades”, criada pelo bônus

demográfico (aumento progressivo da população em idade ativa de 15 a 59 anos),

utilizando com mais eficiência e eficácia este potencial demográfico para o

desenvolvimento econômico e social do Estado do Ceará.

O estudo demonstrou que o envelhecimento populacional cearense vem ocorrendo

em uma velocidade muito semelhante à media nacional e que é um fenômeno

notadamente urbano, majoritariamente feminino, de baixa escolaridade e pobre, com 2/3

dos idosos responsáveis pelos respectivos domicílios.

Cresceu o nível ocupacional dos idosos no estado. Foi estimado um total de 22

mil novas ocupações, em 2013. A maioria deles se ocupa trabalhando por conta-própria,

na produção para o próprio consumo e, em menor medida, no trabalho assalariado,

independente de sexo, citando as três alternativas de ocupação mais usuais.

Atendo-se a outros aspectos laborais, salienta-se ainda que os diferenciais de sexo

persistem mesmo após os 60 anos de idade. Vários indicadores sinalizaram as condições

e/ou formas de inserção laboral mais precárias das idosas.

Quanto ao rendimento mensal, o estudo revelou que mais da metade dos idosos

percebiam renda na faixa salarial de ½ a 1 salário mínimo, realidade que vem se

mantendo nos últimos cinco anos. Sinalizando o baixo nível de renda dos idosos

cearenses, foi estimado ainda que eles tinham uma probabilidade duas vezes maior de

perceberem rendimentos mensais nessa faixa do que o universo de ocupados.

E mais, apesar de 64% dos idosos chefiarem os domicílios onde residem, quase

17% deles eram pobres, totalizando 194,7 mil idosos pobres no Ceará. Aqui, eles têm

duas vezes mais chance de serem pobres do que a média nacional, ou seja, a exposição

dos idosos à pobreza é duas vezes maior, enfatizando a importância de políticas que

assegurem uma renda mínima digna para esta população.

Enfim, diante dessa nova realidade demográfica do país e, particularmente do

Estado do Ceará, a inclusão do componente populacional apresenta-se cada vez mais

premente, quando do planejamento e elaboração das políticas públicas de Estado.

55

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