dimensionamento dos imóveis rurais - prof capel

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS Disciplina: JUR 3401 - DIREITO AGRÁRIO. Prof.: Hélio Capel Filho 4. DIMENSIONAMENTO DOS IMÓVEIS RURAIS 4.1. Módulo Rural: conceito, importância, elementos de sua fixação. Tipos. Para resolver a questão da classificação de terras para os fins de se estruturar a Política de Reforma Agrária, o Estatuto da Terra instituiu uma unidade de medida denominada Módulo Rural, definido conforme o tipo de solo e a exploração, para que as diferentes regiões tivessem valores similares. Assim, o módulo rural depende da localização da propriedade, da fertilidade do solo, do clima da região e do tipo de produto cultivado. Paulo Tormin o define como: “(...) a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família de composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo social e econômico da referida família.” Prevê o art. 4º, inciso III do E.T., que a área do módulo rural é a mesma fixada para a propriedade familiar : “Art. 4o. Para efeitos desta Lei, definem-se : (...) III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior.” Desta forma, tem-se que Módulo Rural foi estabelecido como medida da “propriedade familiar”. Para esclarecer, o Decreto nº 55.891/65 regulamentou o seguinte: “Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições de seu aproveitamento econômico. Parágrafo Único. A fixação do dimensionamento econômico do imóvel que, para cada zona de características ecológicas e econômicas homogêneas e para os diversos tipos de exploração, representará o módulo, será feita em função: a) da localização e dos meios de acesso do imóvel em relação aos grandes mercados; b) das características ecológicas das áreas em que se situam; c) dos tipos de exploração predominantes na respectiva zona.” São assim seis (6) os elementos conceituais do Módulo Rural: 1) é uma medida de área; 2) suficiente para absorver a mão-de-obra do agricultor e sua família; 3) varia de acordo com a região do país; 4) varia de acordo com o tipo de exploração da terra; 5) deve possibilitar uma renda mínima ao homem que nele trabalha; 6) deve permitir o progresso social ao homem que o habita.

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁSDEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS

Disciplina: JUR 3401 - DIREITO AGRÁRIO.Prof.: Hélio Capel Filho

4. DIMENSIONAMENTO DOS IMÓVEIS RURAIS

4.1. Módulo Rural: conceito, importância, elementos de sua fixação. Tipos.

Para resolver a questão da classificação de terras para os fins de se estruturar a Política de Reforma Agrária, o Estatuto da Terra instituiu uma unidade de medida denominada Módulo Rural, definido conforme o tipo de solo e a exploração, para que as diferentes regiões tivessem valores similares.

Assim, o módulo rural depende da localização da propriedade, da fertilidade do solo, do clima da região e do tipo de produto cultivado.

Paulo Tormin o define como:

“(...) a área de terra que, trabalhada direta e pessoalmente por uma família de composição média, com auxílio apenas eventual de terceiro, se revela necessária para a subsistência e ao mesmo tempo suficiente como sustentáculo social e econômico da referida família.”

Prevê o art. 4º, inciso III do E.T., que a área do módulo rural é a mesma fixada para a propriedade familiar :

“Art. 4o. Para efeitos desta Lei, definem-se : (...) III – “Módulo Rural”, a área fixada nos termos do inciso anterior.”

Desta forma, tem-se que Módulo Rural foi estabelecido como medida da “propriedade familiar”. Para esclarecer, o Decreto nº 55.891/65 regulamentou o seguinte:

“Art. 11. O módulo rural, definido no inciso III do art. 4º do Estatuto da Terra, tem como finalidade primordial estabelecer uma unidade de medida que exprima a interdependência entre a dimensão, a situação geográfica dos imóveis rurais e a forma e condições de seu aproveitamento econômico.

Parágrafo Único. A fixação do dimensionamento econômico do imóvel que, para cada zona de características ecológicas e econômicas homogêneas e para os diversos tipos de exploração, representará o módulo, será feita em função:

a) da localização e dos meios de acesso do imóvel em relação aos grandes mercados;b) das características ecológicas das áreas em que se situam;c) dos tipos de exploração predominantes na respectiva zona.”

São assim seis (6) os elementos conceituais do Módulo Rural:

1) é uma medida de área; 2) suficiente para absorver a mão-de-obra do agricultor e sua família; 3) varia de acordo com a região do país; 4) varia de acordo com o tipo de exploração da terra; 5) deve possibilitar uma renda mínima ao homem que nele trabalha; 6) deve permitir o progresso social ao homem que o habita.

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O art. 5º do E.T. estabelece que a dimensão da área dos módulos rurais será fixada em conformidade com as características econômicas e ecológicas homogêneas, de cada zona, de acordo com os tipos de exploração rural que nela possam ocorrer.

Quem estabelece a área em hectare de módulo rural de cada região do país é o INCRA, que já mapeou a área e concluiu que no país existem 242 regiões e sub-regiões, considerando sua homogeneidade e características econômicas e ecológicas, e que a exploração da terra pode ser agrupada em 5 tipos diferentes.

Conforme a espécie de exploração ou atividade rural, o módulo será denominado:

a) exploração hortigranjeira , inclusive a pecuária de pequeno porte (plantação de tomate, alface, cenoura, etc.; b) lavoura permanente (plantação de café, parreira e outros que produzam durante vários anos);c) lavoura temporária (plantação sazonal - de milho, arroz, feijão, etc);d) exploração pecuária: de médio porte ou grande porte : boi , cavalo, etc.; e) exploração florestal (plantação de árvores para corte: eucalipto, acácia-negra, etc.).

Existem ainda dois outros itens que se extraem da definição legal de Módulo Rural:

• O Módulo da Propriedade – resultado da soma de módulos de exploração indefinida, quando no imóvel existem varias explorações, sem indicação específica;

• E Módulo do Proprietário – quando o proprietário possui vários imóveis, correspondendo à soma da quantidade de módulos obtido em cada área e dividido pelo total das áreas que possui. O resultado é uma espécie de módulo médio.

O cálculo para a fixação do módulo rural é de competência do INCRA e se faz

através dos dados cadastrais fornecidos pelo proprietário ou possuidor do imóvel. Para alguns doutrinadores, existem mais de 1.200 tipos diferentes de módulo rural,

sendo o menor deles de 2 (dois) hectares, e o maior, de 120 (cento e vinte) hectares.A criação do Módulo Rural teve especial importância no desenvolvimento da

Política Agrária no Brasil, pois:

a) evidencia a preocupação com o estabelecimento de áreas de terras que fossem ideais para a perfeita e eficaz exploração agropecuária;b) resultaria numa estrutura agrária democratizada;c) visava evitar o fracionamento dos imóveis em áreas inferiores à necessária para o desenvolvimento produtivo, evitando-se assim a proliferação do minifúndio;d) o módulo rural passou a ser utilizado para fins de classificação do imóvel como empresa rural, latifúndio ou propriedade familiar, permitindo definir quais são os imóveis desapropriáveis;e) passou a ser utilizado como unidade tributária padrão, permitindo a fixação de tributação progressiva;f) é referência para enquadramento sindical, distribuição de terras devolutas, projetos de reforma agrária;g) útil para fixar a indivisibilidade do imóvel.

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4.2. Módulo Fiscal e seu uso atual.

O Módulo Fiscal é uma unidade de medida agrária, expressa em hectares criado pela Lei nº 6.746/79, que alterou os arts. 49 e 50 da do E.T. Referida lei foi regulamentada pelo Decreto n. 84.685/80 e tinha por escopo fixar os parâmetros para o Imposto Territorial Rural.

Com o referido Decreto, o Módulo Fiscal passou a ser também a medida adotada para a classificação dos imóveis rurais.

A Lei n. 8.629/93 reforçou este entendimento ao utilizar a expressão módulo fiscal para definir, no art. 4º, a pequena e a média propriedade.

Ao tratar do ITR na Lei nº 8.847/94, o legislador abandonou, por fim, o Módulo Fiscal como parâmetro e base de cálculo para tributar o ITR, voltando a utilizar, para tanto, o “hectare”.

A partir de então o módulo fiscal passou a ser utilizado para se estabelecer o conceito de pequena, média e grande propriedade para efeito de desapropriação por interesse social, para fins de reforma agrária.

A diferença entre módulo rural e módulo fiscal é que o primeiro, o módulo rural, é calculado para cada imóvel rural em separado. Sua área reflete o tipo de exploração predominante no imóvel rural, segundo sua região de localização. Já o Módulo Fiscal é estabelecido para cada município, e procura refletir a área mediana dos Módulos Rurais das propriedades rurais do município.

4.3. Fração Mínima de Parcelamento.

A Fração Mínima de Parcelamento foi criada através da Lei n. 5.868/72, regulamentada pelo Decreto 72.106/73.

O art. 39 do referido Decreto prevê que nenhum imóvel rural poderá ser desmembrado ou dividido em área de tamanho inferior àquele previsto no art. 8º da Lei 5 868/72.

A finalidade foi a de se evitar o fracionamento de imóveis agrários em áreas menores que o mínimo necessário para garantir desenvolvimento sócio-econômico do para o produtor.

Na prática o instituto hoje se flexibiliza, pois a tecnologia de hoje, com novas técnicas de produção intensiva, plantio direto com irrigação inteligente, permite garantir sucesso econômico em áreas pequenas, dependendo, evidentemente, da localização e do tipo de cultura explorada.

E, de certa forma, a inserção da Fração Mínima de Parcelamento no Ordenamento Jurídico brasileiro, por si, já foi uma flexibilização jurídica, pois o art. 65 do E.T. já estabelecia a indivisibilidade do imóvel em área inferior à dimensão do módulo. A finalidade era a mesma, evitar divisão em áreas pequenas demais para o aproveitamento econômico. Nos termos do art. 8º da Lei n. 5.868/72 e seus parágrafos, a fração mínima de parcelamento acabou por permitir a divisão de imóveis em área inferior à do módulo rural, possibilitando divisão até a medida do módulo de exploração hortigrangeira, que é de 2 ou 3 hectares na maioria dos municípios.

Como o Princípio Fundamental norteador é a garantia da função social da propriedade agrária, o que vigora atualmente são regras relativas à fração mínima de parcelamento, conforme tabela verificável nos cartórios de registros de imóveis e, de resto, na classificação dos imóveis, aplica-se o instituto do módulo fiscal.