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Diálogos para a Transformação Digital Brecha Digital, Estatísticas, Regimes Regulatórios Mg. Oscar M. González Mg. Edgar Olvera Jiménez Dr. Rodrigo Ramírez Pino Mg. José F. Otero Maio 2020

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Diálogos para a

Transformação Digital

Brecha Digital, Estatísticas, Regimes Regulatórios

Mg. Oscar M. González

Mg. Edgar Olvera Jiménez

Dr. Rodrigo Ramírez Pino

Mg. José F. Otero

Maio 2020

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Diálogos para Transformação Digital

Brecha Digital, Estatísticas, Regimes Regulatórios

Maio 2020

Serie de Diálogos en Brecha Zero

© 2020 5G Americas. All Rights Reserved

Foto de capa: Pexels

Imagens: Pixabay

Ícones: Pixelmeetup

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Conteúdo

Preâmbulo 4

Introdução 6

Caminho a ser percorrido em direção à transformação digital 8

Importância Estatística 19

Complexidade na Estrutura Regulatória 32

Conclusões 47

Participantes 48

Sobre o Brecha Zero 48

CLÁUSULA DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE 51

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Preâmbulo

O dinamismo típico da indústria das telecomunicações, muitas vezes faz o leitor focar-se nas inovações que estão sendo criadas em diferentes laboratórios ao redor do mundo. É contemplar, com o passar do tempo, como os distintos dispositivos vão convergindo em somente um, o celular que deixou para trás o mundo da comutação para se converter em um mundo IP no controle remoto da nova realidade digitalizada.

Cada semana, para não dizer a cada dia, um novo paradigma é superado. Surgem novas aplicações que nos ensinam o quão imprescindíveis são algumas ações que antes não imaginávamos que poderiam existir. Novas empresas são criadas e com elas o ciberespaço vai se tornando mais tangível, com artefatos que já invadem o território da nossa privacidade para facilitar nossas vidas.

Um mundo de zeros que é acompanhado de marcos legais em constante revisão, como também de uma realidade muito particular da América Latina: as numerosas exclusões digitais que foram formadas com o passar dos anos. O que inicialmente se entendia como uma simples separação entre quem têm acesso à Internet e quem não tem, atualmente tem se diversificado, não se trata apenas da falta da conectividade, mas também de componentes como tecnologia, dispositivos, software, sistemas operacionais e treinamento.

Tendo isto em mente, há quase cinco anos, em outubro de 2015, a 5G Americas criou o Brecha Cero em espanhol e o Brecha Zero em português, dois portais que com o tempo se transformaram nos principais repositórios de informação sobre como as tecnologias de informação e comunicação (TIC) na América Latina e no Caribe são utilizadas para fomentar o desenvolvimento econômico e social das pessoas. O objetivo é muito simples, mostrar como a tecnologia é uma ferramenta importante que nos permite melhorar muitos aspectos de nossas vidas.

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Como parte da constante reinvenção do Brecha Zero por meio da publicação de infográficos, colunas, entrevistas e estudos, nesta ocasião decidimos explorar com alguns dos principais especialistas da região temas que são urgentes para traçarmos um diagnóstico, de onde nos encontramos e até onde devemos chegar se a meta auto-imposta é a mesma almejada por toda a indústria: a transformação digital.

Uma transformação que cada vez mais se mostra complexa, contudo, necessária se o que desejamos é melhorar as condições de vida daquelas pessoas que são parte da economia informal, de trabalhadores explorados com jornadas de trabalho de 16 a 20 horas, de famílias que vivem em lugares remotos nas quais é quase impossível ter acesso de forma constante com um especialista de saúde. Estas são as pessoas a quem o Brecha Zero dá voz, com o intuito de contextualizar as necessidades que temos em um mundo onde as semelhanças são maiores que as diferenças.

Sendo assim, lhes apresentamos a primeira edição do “Diálogos para uma Brecha Zero”, do qual participam três pessoas que tiveram o privilégio de ser protagonistas do setor das TIC, cada um em seu país de origem e que agora são parte da grande família de especialistas que considera a tecnologia essencial e necessária para nossas vidas.

Leiam suas opiniões, palavras, reflexões e análises para entendermos o porquê precisamos contar com melhores dados relativos ao setor. Escutar o quanto é importante termos o poder de desenvolver a infraestrutura de forma rápida durante situações críticas como terremotos, furacões, tsunamis e pandemias. E aprender quais são as dificuldades enfrentadas pelos governos que inibem e não permitem a materialização de iniciativas que impulsionariam o acesso às redes de telecomunicações. Essa é a primeira edição e só me resta agradecer a Oscar Gonzalez da Argentina, Rodrigo Ramírez do Chile, e Edgar Olvera do México pelo tempo fornecido e pelas conclusões. Ao menos eu aprendi muito conversando com cada um deles, e espero que sua experiência seja semelhante à minha.

José F. Otero

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Introdução

A pandemia do COVID19 forçou os governos da América Latina a flexibilizar suas abordagens relacionadas às políticas públicas. Por um lado, isso se deve a grande incógnita que envolve o vírus que transmite essa doença, além de sua capacidade de sofrer mutações para se tornar mais letal ou contagioso. Por outro lado, são observadas as primeiras conseqüências da pandemia na economia regional, onde espera-se uma queda acentuada do produto interno bruto (PIB) de cada país da região, na ordem de -1% a -5%, atingindo até - 10%. Diante dessa emergência, é possível notar que o setor de telecomunicações está reagindo de maneiras distintas relativas aos seus esforços para manter seus usuários conectados. Precisamente essa urgência é o que torna importante a garantia de acesso aos serviços de telecomunicações, principalmente para aqueles que desempenham tarefas de missão crítica, como médicos e enfermeiros. Para alcançar esse objetivo, o Estado deve gerar incentivos destinados à

implantação de uma economia digital. Isso garante oportunidades e concede liberdades para expandir o uso de novas tecnologias, como na implantação de infraestrutura, seja para reparos, manutenção ou expansão de serviço. A conectividade vai além da provisão de serviços de teletrabalho ou tele-educação, é uma ferramenta que pode significar a diferença entre a vida e a morte para diferentes pessoas. A diferença entre ser infectado pelo COVID19 e o receber notícias atualizadas, que permitam uma melhor coexistência enquanto durar o estado de emergência.

Da mesma forma é necessário repensar a carga tributária, principalmente em tempos de emergência, com a finalidade de aumentar a infraestrutura e os serviços digitais. Essa abordagem deve ser feita de maneira bem calibrada e sem prejuízo às provedoras que oferecem serviços de telecomunicações. Uma boa política pública nesse sentido deve levar em consideração a quantia de dinheiro alocada mensalmente

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para as telecomunicações, bem como os padrões de uso do serviço e quaisquer dificuldades que possam surgir no pagamento destes. É extremamente importante a criação de alternativas de pagamento que sirvam para manter o fornecimento dos serviços para a população impactada negativamente pelo COVID19. É necessário encontrar um equilíbrio entre a oferta do serviço com alternativas viáveis que evitem atrasos de pagamento e eventuais desconexões. É importante isentar de tributação os serviços digitais para torná-los mais acessíveis e assim proporcionar uma maior adoção por parte da população de baixa renda. O setor precisa de uma política de dados mais transparente, precisa ser mais confiável para que os próprios Estados possam desenvolver políticas públicas eficientes. Além de gerar maior colaboração com o setor privado e outros setores produtivos. Os déficits de informação estão aumentando nas áreas rurais, pelo distanciamento dos grandes centros urbanos. Contar com

informações sobre essas áreas possibilita gerar melhores planos de investimento e atender às demandas dos diferentes setores. Essa mesma falta de dados não nos permite dimensionar o alcance exato das implementações de tele-educação, teletrabalho e outras formas de conectividade em diferentes setores. Por último, deve se buscar um novo papel para o Estado frente à nova era digital, é necessário mudar os formatos tradicionais. Os diferentes atores do setor de telecomunicações devem promover uma nova geração de políticas públicas de conectividade. A pandemia pode ser uma oportunidade para aprendermos uma lição ao planejar políticas de infraestrutura, conectividade, investimento e inclusão digital. Espero que aprendamos as lições que esta pandemia nos deixa para que estejamos melhor preparados para enfrentar qualquer outro evento natural que crie uma interrupção no nosso modo de vida.

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Caminho a ser percorrido em

direção à transformação digital

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Jose F. Otero: Como redefinir o caminho até a famosa transformação digital que todos almejam dados os eventos dos últimos meses?

Oscar González: Vou utilizar opiniões subjetivas, principalmente no caso da Argentina, mas acho que (a América Latina) é uma região com muitas semelhanças em suas realidades sociais e econômicas; às vezes com diferenças na infraestrutura, mas os problemas são muito parecidos.

Dois aspectos positivos. O primeiro é que isso (a Pandemia causada pelo Covid-19) serviu como um catalisador da necessidade de impulsionar o uso de redes e serviços digitais, da importância da Internet e da conectividade, porque de forma repentina a sociedade passou a funcionar de uma maneira muito mais apoiada sobre as diferentes redes e plataformas digitais. De repente, a tele-educação, o teletrabalho, as aplicações da economia digital que foram tão questionadas, estão no centro das atenções. Esse é um primeiro aspecto positivo.

O Segundo, creio que podemos começar com uma revisão das atitudes que nossos atores econômicos e líderes políticos costumam ter em relação à economia digital. Eu acho que haverá uma revisão nesse aspecto e espero que aconteça. Porquê precisamos realmente modernizar nossos mercados, ter uma visão mais ampla sobre a concorrência e a possibilidade de modificar estruturas de produção, na maneira pela qual as receitas são geradas e também na formação de recursos humanos entre outros.

Consequências negativas, ou pelo menos uma das principais que vejo, e também as mais acentuadas são as deficiências de infraestrutura, além de algumas deficiências de políticas públicas e regulações tradicionais. Talvez essa situação deva nos levar a refletir.

Também é muito evidente, além da questão da infraestrutura, os problemas de assimetria em termos de acesso; seja por falta de capacidade financeira ou

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por falta de habilidades digitais dos cidadãos em acessar serviços digitais.

Vejo essas duas questões positivas e duas questões negativas, que não são novas, simplesmente foram realçadas ou evidenciadas de maneira mais marcante a partir dessa situação, dentro dessa conjuntura.

Edgar Olvera: Eu gostaria de colocar três idéias no debate. A primeira é: estávamos preparados para uma situação dessa natureza? Especialmente em um país como o México, onde vivemos, periodicamente enfrentando vários eventos que constantemente nos colocam a prova. A segunda, é a capacidade de reação que colocamos em prática de uma maneira geral e a terceira, que aspectos positivos ou negativos podem nos ensinar esse tipo de adversidade? Como vocês sabem, no México, passamos, alguns anos atrás pela pandemia da gripe H1N1, onde houve um manejo diferente, uma reação diferente.

Mas, a princípio, desde então, tivemos o primeiro sinal vermelho que nos colocou à prova. E o teste colocado foi se éramos um país em todas as suas dimensões; no setor da saúde, na economia, na infraestrutura, na população, na educação, na capacidade, que estava preparado para enfrentar esse tipo de batalha. E o que aprendemos naquela época foi que não estávamos.

A Influenza (H1N1) chegou ao nosso país e o transformou no maior foco do surto e depois em dispersão. E os sistemas de saúde tiveram a oportunidade de reagir, foram implantados os apoios necessários naquele momento, na diminuição e posteriormente na rápida recuperação.

Mas depois desse evento, embora tenha nos deixado lições, os esforços foram mínimos ou ruins. O objetivo era universalizar os serviços de saúde, buscando reequipar o sistema de saúde, mas, como sempre em todas as administrações, toda vez que há uma alternância no poder, o país se reinventa, a política se reinventa. E todas as boas ações geradas (anteriormente) vão sendo deixadas de lado e, mais tarde, ao não darmos continuidade a elas e quando um novo evento ocorrer, passaremos pelo mesmo desafio novamente.

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Assim, no caso do México com essa nova pandemia, a COVID-19, o que aconteceu foi aquilo que foi mencionado há pouco: não estamos totalmente preparados , nem na parte econômica, nem na infraestrutura, nem as pessoas, nem os serviços, nem financeiramente para lidar com esse tipo de pandemia.

Ao contrário da gripe, tivemos a oportunidade de obter informações e aprender com outros países onde o surto começou e, apesar disso, mesmo que houvesse a capacidade, o interesse ou a intenção de reagir para que, quando a pandemia chegasse em nosso país, o impacto fosse amenizado, decidimos não aproveitá-la. Decidimos não observar e estamos vendo isso refletido de certa maneira na taxa de crescimento (de infecção) que está sendo superada dia a dia com vários casos, com um número maior de mortes que ocorrem dia a dia e que evidenciam que, por um lado, não estávamos preparados e que, por outro lado, a capacidade de reação não está sendo nem a necessária e nem suficiente, porque não conseguimos sanar essas carências.

Terceiro, que lições isso nos trará? Bem, muitas. A princípio, faremos novamente aquilo que fazemos quando uma tragédia como essa acontece, procuraremos aprender. Quando ocorre um terremoto, nos anos seguintes ao terremoto realizamos simulações mais freqüentes, procuramos educar as pessoas, equipar edifícios, fortalecer regulamentos, reduzir riscos, mas, à medida que a data (de início) desse evento se distancia e nos aproximamos de um outro evento o anterior é esquecido. E o mesmo acontecerá novamente, isso exigirá que testemos as políticas públicas de saúde. Quais serão os sistemas de detecção? Quais serão os sistemas de aviso? Qual será a infraestrutura hospitalar necessária para enfrentá-la? Acima de tudo, porque esses episódios hoje ocorrem com maior frequência e a capacidade de disseminação da comunicação, da maneira que fazemos hoje, é muito mais fácil de ser alcançada. Vamos recomeçar a curva de aprendizado, da prevenção, até que a memória nos falhe novamente e voltemos a priorizar a economia, o

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emprego e outros tipos de prioridades que nunca vão desaparecer, mas que tem sua importância diminuída quando um evento dessa natureza cai no centro das prioridades de um governo.

Veremos isso refletido em vários impactos ou de formas diversas em todos os setores, nas telecomunicações, que é na verdade o setor que nós nos dedicamos todos esses anos.

Acredito que o impacto no setor de telecomunicações, pelo menos no México, tenha sido de 'regular' a 'bom'. Por quê de 'regular' a 'bom'? Primeiro, porquê a tendência de crescimento de infraestrutura, serviço e capacidade não foram projetadas para responderem a esse tipo de emergência. Foram guiadas pela lógica de um mercado em crescimento, pela lógica de procurar aumentar os investimentos, de fazer as empresas funcionarem e de políticas de cobertura para priorizar faturamento, eficiência de custos, mas não necessariamente para fornecer infraestrutura ao país para garantir que nesse tipo de emergência a conectividade consiga suprir as atividades econômicas, sociais e educativas de um país.

Eu digo isso, não para menosprezar os esforços da indústria, mas digo porque a prioridade não foi desenvolvida para equipar este país para uma emergência, e sim para equipá-lo para apoiar setores produtivos. De tal maneira que, quando a mudança na dinâmica de consumo no México ocorreu, encontramos uma infraestrutura preparada para atender a um determinado perfil de demanda, mas não para atender a um perfil de demanda gerado pela necessidade de se isolar em casa.

As implantações de infraestrutura para suportar larguras de banda, uma vez que são principalmente destinadas a centros produtivos, para o comércio, para os prédios, para a indústria, para as escolas, mas não para as casas. Isso coloca a indústria “em pausa” por um momento, para pensar se é conveniente concentrar investimentos no crescimento da demanda, nas larguras de banda destinadas a residências, porque é o que é necessário no momento ou porque, eventualmente, isso pode se tornar uma bolha, quando esse episódio terminar, retornaremos às atividades produtivas e, então, precisaríamos focar as larguras de banda em termos

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de investimento em, infraestrutura, serviço, onde se encontravam tais atividades, ou não, depois dessa epidemia, faremos uma espécie de reequilíbrio entre o tempo e a largura de banda que consumimos nesses locais produtivos, nas linhas de conexão entre locais domésticos e produtivos ou no segmento residencial. E assim, esse tipo de aprendizado ou evento nos forçará a procurar focar os investimentos durante a epidemia ou após a epidemia, em função de como o mercado se comporta agora.

Quanto aos problemas relacionados à digitalização ou alfabetização digital, acesso às tecnologias, entendo que essa é a parte boa que vem dessa epidemia ou dessa emergência, porque hoje mais do que nunca, as pessoas são forçadas a fazer uso de tecnologias. Anteriormente, quem não dependia tanto da tecnologia para realizar seu trabalho, hoje se vê obrigado a aprender devido a necessidade. Você precisará de um computador para se conectar, encontrar uma maneira de usar, não apenas ligar ou operar um computador, mas baixar aplicativos, usá-los, gerenciar armazenamento de dados, gerenciar arquivos e essa realidade que pensávamos que aconteceria no decorrer dos anos na medida em que a cobertura e a tecnologia chegassem aos mais desconectados, acredito, agora, que esse fenômeno incentivará e irá acelerar esse processo.

Rodrigo Ramírez: A primeira discussão que ocorreu no Chile foi precisamente se os modelos preditivos ou matemáticos baseados em dados e na capacidade de realizar testes (poderiam prever), que tipo de quarentena seria recomendada? Quarentena total, parcial?

Há uma discussão de políticas públicas focada principalmente na incapacidade dos governos de testar e de testar massivamente. Coloquei como o primeiro ponto, porque a partir daí a conversa foi: 'O Chile é um país absolutamente legalista', um país que faz tudo com base em leis; portanto, a questão sobre a velocidade do estado, em vez de fazer parte de um decisão do executivo, tudo passa pelo Congresso.

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Digo isso porque hoje a primeira discussão é se a Internet é um serviço básico ou um serviço público e se, no meio de

uma pandemia, as empresas de telecomunicações devem garantir acesso gratuito aos cidadãos mais pobres e aos cidadãos que perderam seus empregos sem adição de juros sobre a conta, essa tem sido a conversa no Parlamento.

No Chile, o serviço público é entendido como aqueles mercados monopolistas onde existe apenas uma empresa, a fornecedora de água, eletricidade e gás, onde eles têm controle absoluto do mercado e aqui em Santiago do Chile, em casa, eu tenho apenas um fornecedor de água, um fornecedor de luz e outro para eletricidade, não posso mudar. Aqui dentro de casa eu tenho cinco serviços diferentes.

Por que eu digo isso? Porque o legislativo mostra cada vez mais que é completamente ignorante em matéria de telecomunicações, absolutamente. A precariedade de

infraestrutura, de acesso, de acessibilidade e a desigualdade fazem parte da inaptidão das estruturas legislativas e regulamentares de nossos países. Porque a América Latina conhece crises e conhece emergências, e sabe que, de tempos em tempos, viveremos, entre outras coisas, terremotos, tsunamis, furacões e no entanto nossa estrutura reguladora mudou muito pouco. Lembro que, desde o último grande terremoto no Chile, pouco mais de dez anos se passaram e a única inovação em questões regulatórias de telecomunicações foi a figura do operador de infraestrutura, que apareceu no mercado para garantir infraestrutura, principalmente onde a empresa não tinha capital disponível para continuar investindo na recuperação do país.

Hoje em dia, eu entendo que o Chile e a América Latina lançam licitações no meio de uma crise para pedir permissão e pedir um favor à indústria das telecomunicações, para que possam por favor, suprir essas demandas.

“A pouca transparência

dos dados em nosso setor

tornou-se evidente. Somos

cegos, tornamos as

políticas públicas cegas.

Fazemos políticas públicas

com base nos dados que

eles nos fornecem, a partir

daí construímos uma

narrativa que permite ao

Chile dizer que possui os

melhores indicadores de

conectividade, penetração,

acesso, mais telefones

celulares do que cidadãos,

e essa tem sido a

narrativa”. Rodrigo

Ramírez Pino

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No Chile, devido à pandemia, [os primeiros] trinta dias de quarentena, ocorreram nas comunidades ricas do país ou destinadas a profissionais de renda média concentrados na região metropolitana, a quarentena está concentrada ali. [Em 15 de abril] entraram as comunidades pobres do país, hoje se tivermos problemas no atendimento e no consumo de redes, tráfego, na última milha, se tivermos problemas nos transportes ou na conexão nacional, internacional, isso será totalmente desnaturado quando os setores pobres e o rural estiverem em quarentena.

Lá, a discussão será diferente, porque se hoje a economia digital nos atinge em cheio, para um país que sempre entendeu a digitalização com base na construção de indicadores. Durante esses dias, me dei conta de que criamos indicadores ruins.

No Chile, construímos uma farsa em termos de indicadores agregados e totais relacionados a conectividade. Falta um pouco de esclarecimento e percebemos que a rede 4G no Chile, na qual dependem 16 milhões de pessoas, são apenas relatórios auto-reportados, não tenho a capacidade de ver transparência nos dados abertos, de identificar quais são os dados do nosso setor.

Como primeiro ponto, a pouca transparência dos dados em nosso setor tornou-se evidente. Somos cegos, tornamos as políticas públicas cegas. Fazemos políticas públicas com base nos dados que eles nos fornecem, a partir daí construímos uma narrativa que permite ao Chile dizer que possui os melhores indicadores de conectividade, penetração, acesso, mais telefones celulares do que cidadãos, e essa tem sido a narrativa.

Quando eventos como esse ocorrem, são absolutamente alterados porque, no discurso do cidadão, os telecentros no Chile estão novamente em funcionamento quando as políticas públicas os mataram e os aniquilaram. O Chile tinha no início dos anos 90 uma das maiores políticas de telecentros da América Latina, hoje não existe nenhuma.

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Os que ainda existem são direcionados a atendimento de imigrantes que estão no perímetro central da cidade. Mas no campo, todos os telecentros desapareceram. O Chile, subsidiou indiretamente toda a implantação da infraestrutura.

Não existe serviço de acesso universal, como na maioria dos países, porque permitimos que o mercado executasse uma política reguladora neoliberal que nunca assumiu essa grande lacuna.

Então, acho que como país teremos um problema estrutural porque uma crise como essa atinge países com poucas fontes de renda, pouquíssima fonte com exceção do cobre.

Então o Chile tem essa ambivalência, hoje em dia os grandes subsídios são para bancos, para que o banco empreste dinheiro ao pequeno produtor, para que o banco libere crédito ao pequeno empreendedor do setor de telecomunicações e, no final, está sempre dependendo de recursos financeiros.

Hoje o país precisa de liquidez e vamos nos encontrar em uma crise em que não poderemos pagar por água, luz, eletricidade ou internet. Já estamos quase no mesmo patamar que os Estados Unidos.

Mais do que a crise do subprime, hoje os níveis de desemprego estão acima dos níveis tradicionais. Portanto, sem dúvida, isso terá um impacto, mas as autoridades devem entender que a conectividade será o que sustentará a vida social e econômica de nossos países; portanto, hoje é o momento de facilitar essa implantação ou esse investimento, que está estagnado.

Se a indústria de telecomunicações for obrigada por lei a fornecer serviço gratuito durante a pandemia, iremos paralisar o setor. É uma descapitalização, não há possibilidade de se manterem em funcionamento se todos os usuários, não apenas os setores mais pobres, durante toda a duração da pandemia não pagarem, não há possibilidade de desenvolvimento.

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O estado do Chile continua ausente olhando da arquibancada, não há emprego, não há incentivo e não há criação de incentivos para promover a implantação e o investimento. Então, a primeira reflexão que tenho é que a política de transparência de dados do nosso setor é ruim e se tornou evidente. Uma política pública totalmente feita às cegas.

Não temos bons dados para fazer políticas públicas, não temos diálogo com outras indústrias, que também realizam uma reflexão constante. Hoje em dia, como nos envolvemos e ajudamos o setor de saúde? Diretamente não podemos, temos um número infinito de intermediários e dependemos da vontade de um município, do prefeito para poder fornecer conectividade a um hospital onde não possui UTI e leitos de emergência, o hospital está desconectado, é caso a caso. Não existem políticas que incluem teletrabalho, tele-educação, é tudo setorial.

No Chile, a Lei do Trabalho foi aprovada em 26 de março, o que a lei diz é que o empregador garantirá ao trabalhador as condições para que ele possa operar em casa. A lei não diz isso, mas se supõe a inclusão de acesso à Internet. Um mês depois, ou menos, após a aplicação da normativa de teletrabalho, as reclamações relacionadas ao empregador por não dar a garantia ao trabalhador para que este possa ter essas condições mínimas são de uma a cada cem.

Então, a experiência que tivemos no Chile é que estamos enfraquecendo nossas capacidades, no nosso caso, não acho que seja o caso da Argentina ou do México, as capacidades do Estado de participar não apenas em situações de emergência, mas como um elo comum que promove o desenvolvimento tecnológico do país.

A nossa depende da vontade e do investimento do mundo privado, o que é bom, mas carece de uma estratégia. Então o Chile sempre maquia bem seus indicadores, estratégias e tudo o que fazemos, mas é só olhar um pouco mais de perto e encontraremos evidências do que aconteceu com a crise social anterior

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a esta pandemia, onde havia mais de um milhão e meio de cidadãos concentrados nas praças do Chile as sextas-feiras, colocando a prova um governo que marcava menos de 4% de popularidade.

Isso aconteceria com qualquer um, não é exclusividade desta administração, mas o que quero transmitir é essa fragilidade do Estado chileno. No seu caso de [Edgar Olvera e Oscar González] eu sinto, olhando de fora, por mais críticas que alguém possa fazer, o cidadão tem a sensação de que o Estado está de alguma forma mais próximo. No caso chileno, a percepção, dos mais pobres aos mais ricos, é que o Estado não está presente. O Estado não está garantindo segurança neste mundo de incertezas. As pessoas hoje vivem completamente sob uma nuvem de incertezas e sinto que no México ou na Espanha ou a experiência que [José Otero] possa ter com seu olhar mais regional, sinto que o caso chileno (a obrigação) do Estado (é dar) certas garantias a sociedade e aos cidadãos.

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Importância Estatística

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JFO: Vejo que há muitas coincidências. Uma das conseqüências que tivemos nessa pandemia e que vemos constantemente na imprensa, especialmente na imprensa de telecomunicações, são praticamente só elogios a respeito de "que bom que essas telecomunicações nos salvaram com o teletrabalho" ou "que bom que com a tele-educação, não vamos paralisar toda a economia. ' No entanto, há muito pouca análise séria em termos de qual é o escopo real da tele-educação, qual é o escopo real do teletrabalho ou se existe algum tipo de transformação na educação ou na pedagogia ou algo muito diferente do tradicional quando ferramentas online são usadas. Pelo menos nos Estados Unidos, os números apresentados são que cerca de 25% das pessoas realizam o teletrabalho e esse número pode chegar a 50%.

Imagino que na América Latina esses números não sejam alcançados, por exemplo, no México temos 56% dos trabalhadores trabalhando na economia informal, na Argentina a situação macroeconômica parece estar caminhando para um default e no Chile tivemos protestos devido ao descontentamento com a situação do governo, entre outras razões, pela distribuição de renda.

Estamos usando esta pandemia oficial ou não oficialmente como cortina de fumaça para dizer 'quão boas são as telecomunicações' e no campo ela não está presente, nas áreas rurais não está presente, os professores de zonas rurais não existem? Tocando no ponto que Rodrigo mencionou, para que servem então os dados? Ou só é de interesse o que está acontecendo na cidade?

OG: Eu realmente gostei da ideia de Edgar de como os seres humanos esquecem das coisas rapidamente. Em relação ao que você acabou de dizer José, parece-me que não precisamos ser tão duros com nós mesmos, falando agora em termos do setor de TIC. Pelo menos no caso da Argentina, viemos de quase 6 anos de recessão,

“Há muito pouca análise

séria em termos de qual é o

escopo real da tele-

educação, qual é o escopo

real do teletrabalho ou se

existe algum tipo de

transformação na

educação ou na pedagogia

ou algo muito diferente do

tradicional quando

ferramentas online são

usadas”. José F. Otero

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de um distúrbio macroeconômico muito importante, que engloba as três últimas administrações. Recessão, um nível significativo de desemprego, diminuição permanente na atividade industrial agregada, com alguns períodos mais intensos, mas isso tem sido uma constante por muitos anos.

Por esse motivo, como disse Edgar, quando um novo problema aparece, os anteriores desaparecem e tudo começa a ser analisado por um novo prisma. Penso que, se tomarmos o cuidado de não esquecer pelo que passamos, talvez possamos ser um pouco autoindulgentes e não ser tão severos com relação à reação que nosso setor teve (frente a pandemia).

Concordo plenamente com o tópico das medições, acho que, em geral, na região e no mundo, todos procuramos maneiras de medir, basicamente, impulsionadas pela indústria. Contamos quantas linhas, contamos quantos dados, mas muitas vezes nos falta uma análise mais fina e desagregada dessas informações e é por isso que apontei as assimetrias. Portanto, há sim um problema de medição.

Um exemplo específico para dar nesse cenário de pandemia. Assim que houver um aumento na demanda, longe de discutir e medir o que realmente estava acontecendo com as redes, a primeira atitude de todos os governos da região foi pedir aos usuários que continuassem pagando o mesmo por serviços de menor qualidade. Em outras palavras, havia antes de medir e solicitar relatórios dos operadores de rede sobre a capacidade de suportar o crescimento da demanda, uma decisão de fato para assumir que havia um risco de colapso da rede. Até agora, não vi uma medição que informasse não apenas o aumento da demanda, mas também alguns relatórios sobre qual era a capacidade das redes instaladas para suportar o aumento do consumo ou quais eram as práticas em termos de gerenciamento de rede entre redes de acesso e redes atacadistas e como as redes de acesso estão preparadas para atender seus usuários e consumidores. Há uma série de perguntas, porém, mais uma vez foi mais simples não ter tais informações, não medir, não pedir informações, mas dizer diretamente 'isso está ficando fora de controle, vamos diminuir a qualidade do serviço nas plataformas, por favor, peça que vejam vídeos o

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mínimo possível, etc. 'Isso me chamou a atenção, como um exemplo prático do que significa a falta de medições.

JFO: Durante um evento patrocinado pela Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL), segundo a Cámara Argentina de Internet CABASE (Câmara Argentina da Internet), o pico de tráfego na Argentina oscila entre 20% e 40%, valores coincidentes com os apresentados pela Móvil da Entel boliviana. Por outro lado, as declarações do CEO da TELECOM na Argentina mencionam que o tráfego em sua rede atingiu o pico de 60%. Finalmente, um representante do regulador colombiano indicou que os números mencionados pelo CABASE estão dentro do comportamento do tráfego observado na Colômbia.

Com relação à diminuição da qualidade de sinal que o Netflix e o Facebook haviam implementado, essas são medidas que ajudam muito, mas não representam elementos de sobrecarga da rede, porque ao planejar a infraestrutura da operadora, é levando em consideração o pior cenário, em que todos estão conectados, quem teve problemas com a rede é porque não fez um planejamento de rede correto.

OG: É precisamente o meu ponto. Antes de pressupor uma eventual saturação da rede, talvez uma ação de todo o ecossistema e de todos os reguladores, teria sido reconhecer como o tráfego é gerenciado e como os próprios operadores poderiam resolver eventuais falhas na rede, falhas de gerenciamento e outras. Parece-me que, se eu posso apontar um problema, não deveria apontar para os usuários, mas sim para os atores que operam as redes. Compartilho a opinião sobre a questão da importância das medições.

Uma questão que quero ressaltar novamente é a acessibilidade, porque me parece que nossos países têm um sério problema de poder aquisitivo, o que não é necessariamente um problema de infraestrutura, que a rede ou o tubo ofereça cobertura, mas sim relacionado às pessoas terem acesso efetivo a essa infraestrutura. Acho que temos um gargalo ou limite muito grande que

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não tem nada a ver com o setor, mas é estrutural em termos socioeconômicos.

Se essas situações atípicas se transformarem, não em conjuntura, mas em uma situação mais habitual, temos um problema muito sério. Sobre o que José apontou relacionado a tele-educação, não importa o quanto o governo habilite as plataformas, os dados consumidos pelo acesso às plataformas educacionais não são cobrados, se as pessoas não tiverem um serviço pré-contratado, se não houver habilidades digitais desenvolvidas para poder utilizar essa infraestrutura, é muito difícil e cria uma lacuna ainda maior.

Penso que será muito interessante, antes que ousemos dizer como seguir daqui pra frente, medir e avaliar tudo isso para realmente saber o que realmente ocorreu. É uma boa oportunidade para nós, do setor digital, obtermos boas informações sobre onde estamos, em termos socioeconômicos, para poder realizar a transformação digital de maneira mais universal, sem gerar divisões, rupturas ou assimetrias maiores do que o que já temos na questão estrutural da América Latina.

Parece-me que este é um ótimo tópico para definir como proceder daqui pra frente. E aí, se eu considerar que as políticas públicas serão necessárias, embora não sejam de natureza prescritiva. Neste ponto, eu realmente não acredito no desenvolvimento de serviços e redes digitais, isso que Rodrigo destacou sobre o Estado precisar definir exatamente o que é feito, como é feito, quem o faz. Creio que necessitamos de um Estado muito presente, mas com muito profissionalismo, como incentivador e como promotor, e não como um órgão de prescrição das soluções que precisam ser encontradas.

Temos que promover uma reviravolta no papel do estado nesta nova era digital. Temos que encorajar uma real mudança nos formatos tradicionais, incluindo os de tomada de decisão. Então, eu realmente gosto de falar sobre a responsabilidade do todo, de todos os atores. Porque nessa situação, quando as soluções prescritas pelo estado forem colocadas em prática, isso provavelmente já terá passado. É preciso que haja tempo hábil para implementá-las. Embora um trabalho mais aberto e colaborativo entre governos,

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órgãos reguladores, setor privado e usuários talvez nos ajude muito mais a encontrar soluções.

EO: Foram abordados alguns tópicos importantes e quero repensar um pouco essa linha de raciocínio, compartilhar e também aprender com suas experiências. Comecei dizendo, na história das políticas públicas dos países, como no caso do México, o histórico da memória de 'continuidade versus esquecimento' tem sido fundamental. Infelizmente, no México, entendemos e aprendemos perante as dificuldades como dizemos no México.

Por quê? Porque decidimos refinanciar o banco depois que ele quebrou e o governo o resgatou. E com esse problema, que surgiu antes dessa crise, aprendemos a ter mecanismos de controle, requisitos de financiamento, sistemas de segurança para bancos. Da mesma forma que, aprendemos e demos continuidade a partir do anos 90, quando a crise de 2008/2009 chegou, o país se posicionou melhor diante desse tipo de embate econômico.

O mesmo aconteceu com o sistema de câmbio, adotamos um sistema de livre flutuação cambial, liberamos os preços do petróleo e aprendemos a contratar hedges para nos manter em uma faixa que nos garantiria uma renda determinada pela alta dependência que tínhamos das receitas do petróleo e depois mantivemos uma parte do orçamento geral estável. Mas somente a partir da experiência de que não estávamos preparados, apenas quando chegávamos no limite, aprendíamos e assim estabelecíamos as políticas.

O segundo aprendizado foi manter e passar o aprendizado adiante, a cada mudança que ocorria, dessa forma, você tinha proteção em termos de financiamento bancário, em termos de reservas internacionais em uma administração moderada ou flutuante da taxa de câmbio, hedges de petróleo e assim por diante.

“Temos que promover

uma reviravolta no papel

do estado nesta nova era

digital. Temos que

encorajar uma real

mudança nos formatos

tradicionais, incluindo os

de tomada de decisão.”

Oscar M. González

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Portanto, quando novas crises surgem, não é que você esteja a salvo de sofrê-las, mas a postura com a qual você a recebe e a força com que pode vencê-la são muito maiores do que quando acontecem pela primeira vez. Isso é fundamental, acredito que deveríamos transferir essa pequena fórmula para o setor de telecomunicações, o setor declarou há pouco tempo, que se desenvolve em nossos países sob uma lógica completamente diferente. Uma lógica de negócios, mercado e lucratividade, mas não existe uma política de aprendizado baseada nessa lógica para esses tipos de embates, situações ou crises. Por exemplo, cada operador de telecomunicações no México possui protocolos para reparo, restauração e restituição de conectividade no prazo de doze horas seguintes após a ocorrência de um terremoto. Mas isso foi implementado e construído ao longo do tempo.

Agora, para esse tipo de problema, em que a conectividade já desempenha um papel fundamental, principalmente se dividirmos entre os setores produtivos que dependem dela em relação aos que ainda continuam a colocar tijolo por tijolo e precisam de mão de obra física. Portanto, precisamos que a política seja elaborada não apenas para essa lógica de mercado, mas também para estabelecer um certo requisito para enfrentar esse tipo de crise.

Hoje, por exemplo, no México, a discussão não gira em torno de se devemos prestar serviços gratuitos ou não, já houve uma tentativa, José estava muito bem inteirado sobre esse assunto, do regulador, de convocar o setor para não cobrar contas de consumo nos próximos meses. O problema é que a preocupação do setor com a cobrança de contas não deriva do desejo de cobrar contas, e sim do fato de que a atividade econômica deve ser reduzida, porque as pessoas vão receber menos renda e diante da decisão de pagar por eletricidade ou dados, eles pagarão por eletricidade. Entre a decisão de comprar alimentos para subsistência ou pagar uso de dados, eles pagarão por alimentos para subsistir.

Então, o que está sendo vislumbrado pelo setor para os próximos meses, se isso continuar, é o efeito que isso terá nas pessoas, uma vez que a atividade econômica diminuiu e continua a diminuir na medida em que as pessoas perdem empregos e renda, eles começarão a sofrer problemas de

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liquidez devido ao não pagamento de contas ou cancelamentos ou suspensões de serviço.

E isso é uma grande preocupação, porque, mesmo que o governo queira obrigar as redes a fornecerem os serviços de forma gratuita, elas precisam ter um certo nível de liquidez de receita para manter pelo menos a operação. O caixa das empresas de telecomunicações não estão transbordando para poder sustentar 3, 4, 5, 6 meses de serviços gratuitos. Portanto, se além de tudo isso o governo não apresentar um (projeto de) estímulo, porque uma política dessa natureza é praticamente uma sentença condenatória, fará com que o serviço entre em colapso em algum momento. Nem mesmo para quem puder pagar pelo serviço haverá disponibilidade. Essa discussão diminuiu de intensidade, mas segue exigindo atenção.

Por outro lado, a resistência do governo em apoiar ou encorajar as empresas permanece estoica, irracional, com ouvidos moucos, justamente porque não entende a mecânica dessa cadeia que acabamos de descrever. Se temos um serviço ativo, precisamos que, de um lado, tenha quem pague por ele e por outro quem o consuma de tal maneira que esse serviço continue em vigor e, por sua vez, continue gerando dentro dessa cadeia ou ciclo renda, emprego, consumo ou aquisição junto a fornecedores de tal forma que a engrenagem continue a girar. Se a qualquer momento você interrompe essa cadeia, o serviço entrará em colapso e o fará de maneira séria e afetará especialmente os setores produtivos que dependem da conectividade.

Outra questão é a referente às larguras de banda, a infraestrutura está se sustentando relativamente bem com alguns episódios de saturação, mas pelo menos provou que o dimensionamento das redes no México foi feito de tal forma que está suportando a demanda e a demanda está apresentando certos picos muito semelhantes aos descritos por José entre 20% e 40%, dependendo da rede em questão. Mas esse dimensionamento, mesmo quando geralmente não sofre episódios de saturação ou lentidão, há áreas específicas em que a conectividade está aumentando

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(a demanda) e está incentivando (a instalação de) redes.

Uma situação atípica, quando estamos trabalhando de casa as pessoas estão demandando (da rede) de uma maneira diferente da exigida no escritório ou no local de trabalho. Por um lado, usamos largura de banda para o trabalho, mas a ociosidade cresce. Os tempos de transferência que costumávamos usar hoje estão sendo consumidos em casa de duas maneiras; em mais atividades de trabalho, mais emails, mais mensagens, mais vídeos, mais ligações ou mais lazer, mais filmes, mais memes, mais redes sociais. Nesse momento, o que eles estão fazendo é transferir o consumo de dados das áreas produtivas que foram projetadas anteriormente para essa largura de banda, movendo-as nessa direção. E é por isso que eu estava me referindo à indecisão das empresas sobre se é apropriado, neste momento, fazer o investimento para reforçar a infraestrutura onde está a bolha de demanda hoje ou se esperamos que essa contingência passe e canalizemos os recursos para quando os setores produtivos regressarem.

Por enquanto, gerenciar a rede tem sido a solução, diminuir a velocidade, gerenciar um pouco ou desviar o tráfego para outros pontos ajudou a aliviar um pouco essa concentração. Mas, à medida que a situação vai se agravando e mais pessoas continuam a consumir recursos a partir de casa, especialmente essa parte produtiva, terão que refletir sobre isso.

No México, como certamente em todos os seus países, existem dois Méxicos; aquele que está conectado, abundante, aquele que quer que sua economia cresça e aquele que vai mais devagar que o outro. O outro tem baixos níveis de conectividade ou definitivamente não está conectado, nesta equação de investimentos em rede ele não está presente na mesa (de negociação). Não há plano de negócios para as operadoras que planejam expandir a infraestrutura para fornecer conectividade a esses locais porque a demanda que está sendo gerada nesse sentido não mudou desde a contingência. As pessoas nessas áreas seguem atividades físicas, em vez de serviço ( que demandam maior conectividade), não estão exigindo conectividade imediata, mas apenas uma para se manterem informados, ter acesso a notícias, manter acesso

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à educação. Mesmo essas áreas não tem plano de acesso à tele-educação para os próximos anos.

Faço essa descrição geral, porque é precisamente toda essa problemática em relação ao ensino que nos permite modelar as seguintes políticas de infraestrutura, conectividade, investimento e conectividade social; pela importância das telecomunicações para o suporte de todos os setores produtivos.

Hoje é essa epidemia que se traduz em uma série de (maneiras de se evitar) contatos físicos, eventualmente e com alguma permanência, não sabemos como será a segunda epidemia ou a próxima epidemia que nos colocará em um desafio ainda maior do que o que vivemos nos últimos anos com uma frequência maior. Mas o que isso nos permite é, além de apoiar a dinâmica do mercado com a qual as redes de telecomunicações crescem, como estamos projetando políticas de tal forma que elas incentivem à medida que as redes crescem e injetam investimentos, nós estamos preparando ao mesmo tempo para reforçá la em caso de emergência a necessidade de conectividade, não apenas dessa natureza de voz e vídeo, mas também a conectividade de indústrias, áreas agrícolas e educação.

Mas não apenas nos lugares em que temos conectividade, mas também por causa do contágio, eles precisam parar porque não há outra maneira de obter educação, se não for através do contato físico em uma sala de aula, mas para reforçar essas infraestruturas dessa maneira, que fornece conectividade a hospitais ou clínicas para que possam enviar um diagnóstico imediato e detectar o surto, usar os aplicativos e sistemas que instalamos nos telefones, detectar o paciente zero, rastrear pessoas, os níveis de concentração, diminuição da concentração ou contato de pessoas, atividades comerciais que nos permitem fazê-lo.

“toda essa problemática em

relação ao ensino que nos permite

modelar as seguintes políticas de

infraestrutura, conectividade,

investimento e conectividade

social; pela importância das

telecomunicações para o suporte

de todos os setores produtivos”.

Edgar Olvera Jiménez

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Não se trata de uma política intervencionista que vamos começar, depois de alguns anos, a obrigar todas as operadoras a pagarem taxas de conectividade em troca disso, mas é uma política abrangente onde se busca o fortalecimento. Assim como depois de 1918 a Europa fortaleceu o sistema de saúde para lidar com epidemias como a febre espanhola, pois agora precisamos acompanhar esse sistema de saúde para lidar com novas epidemias ou pandemias, a infraestrutura de conectividade que, por enquanto, tem sido uma fórmula que combina duas coisas: evitar o contágio e também manter de certa maneira as áreas produtivas (ativas), que é o efeito imediato após o contágio, não apenas a mortalidade, mas o colapso econômico de um país onde precisaremos de pelo menos entre três, cinco, sete ou dez anos, dependendo de quão preparados estamos para a recuperação da atividade econômica.

JFO: Bem, você tocou em muitos pontos, indiretamente, indicou a mesma coisa que Rodrigo disse: não temos as informações exatas porque não há pesquisa nas áreas rurais de todas as localidades para saber exatamente quais são as métricas de uso, as necessidades de cada uma; na falta delas, não podemos traçar um roteiro sobre como investir, como contribuir ou como pedir que os diferentes setores contribuam. Como não temos isso, o caminho para a transformação digital não é tão fácil quanto parece.

Uma questão que gostaria de mencionar é que parece que uma pandemia surge a cada dez anos, no início do século a H1N1, a gripe aviária, há dez anos e agora essa. Então, temos que nos acostumar com isso, que a cada década temos uma nova. Nesta nova realidade, além dos fenômenos naturais, aos quais estávamos nos acostumando, também existem doenças.

RR: Isse (imagem) é de um município chamado 'Puente Alto', que é o município mais populoso do Chile, onde vivem 700.000 pessoas. Hoje está em quarentena e este é um gráfico de como é a rede 4G nesta cidade. Esse município possui os indicadores mais altos de população, quando se mede o acesso e a penetração da 4G no Chile, essa cidade apresenta uma porcentagem alta porque é a cidade mais populosa, mas quando você entra em detalhes como

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etnografia dos dados, percebe que é uma cidade absolutamente precária (na cobertura de) 4G. O vermelho representa uma cobertura 4G ruim ou sem cobertura.

Fonte: Tutela

O detalhe, recapitulando o que estávamos falando, é fazer políticas públicas às cegas, o que acho um grande problema. Eu sinto que o Estado não tem uma participação ativa nas atividades, o Chile é o país mais neoliberal dos neoliberais e a ausência do Estado é muito perceptível. Aqui no Chile é 'salve-se quem puder'. Aqui, se você tiver um problema, terá que ir ao banco, ao sistema de saúde privados e depois ao sistema privado de tudo.

Hoje, os ricos, aqueles com renda mais alta, pagam por escolas particulares e uma porcentagem significativa ficou sem trabalho. E hoje o que se discute é que as escolas particulares, que não estão abertas, não vão devolver nada do que já foi pago por um serviço que não foi entregue.

Por quê? Porque no Chile foi imposto que a educação era um negócio. Não existe serviço público de educação conceitual, com um formato em que o estado tenha

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uma participação ativa, mas é uma definição. Quando falamos sobre a Internet como serviço público, é apenas uma definição, não (estamos dizendo que o) Estado (deva) custear ou subsidiar, mas sim como uma 'origem', onde paramos para fazer uma interpretação de que, especialmente hoje, precisamos de serviços públicos acessíveis.

Acredito que há várias definições sobre o que está acontecendo conosco que têm ficado mais claras, em termos de como as universidades não estão prontas para a vida digital. Como a educação digital ou online, sempre foi questionada. Não sei se no seu caso, mas no Chile, qualquer instituto ou universidade que implementou algo on-line, foi precário, era mal visto, comum. O que é relevante é a sala de aula em que o professor passa quarenta e cinco minutos falando ininterruptamente, aqui todas as universidades que implementaram projetos on-line morreram. Houve uma que foi comprada pela Apollo [Education Group, Inc., agora conhecida como Vanta Education], um grupo norte-americano, que comprou uma universidade [UNIACC] e a transformou em cem por cento on-line, mas teve que se reinventar.

Hoje temos pedagogia, didática em sala de aula, então, como eles disseram bem, a tele-educação, a tecnologia não é nada, se é assim que faço didática, pedagogia com o digital, ninguém está preparado. No Chile, discutimos isso com José na época, sobre como as universidades não estavam preparadas. Entre as coisas que ficaram claras; não temos tele-educação, não temos teletrabalho, quando muito (são utilizadas para) responder e-mails ou reuniões virtuais.

Não há como o sistema público ter acesso a sistemas integrais / interoperáveis onde eu possa realizar uma operação que não seja a partir do escritório, outras operações, de sistema público. O grande fomentador de telecomunicações no Chile é o lar e o segundo é o serviço público, esses são os dois maiores fomentadores de conectividade no Chile. O sistema produtivo ainda é marginal.

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Fico feliz pelo que o Edgar relatou sobre o sistema mexicano, mas no Chile a banda larga está em casa. A banda larga não está em uma PME, em uma empresa de médio porte. No Chile, a banda larga é a banda larga doméstica. A menos que seja um sistema de internet dedicado à empresa, mas, em geral, o que consome dados no Chile, mais de 50%, é o lar.

Então 20% (do consumo) é (realizado pelo) estado e, em seguida, vem a parte produtiva, astronomia e um pouco mais de alguns outros serviços. Mas, em geral, mais de 60% do total, é para consumo doméstico e público. Perto de 1% da agricultura foi automatizada no Chile. O país mais agrícola da região, juntamente com a Argentina, a potência alimentícia, apenas 1% possui algum grau de sofisticação tecnológica.

Revendo o que outros países fizeram, pode-se dizer que, no caso chileno, as autoridades não tinham muito mais margem, a menos que essa discussão no parlamento saia e a lei saia depois que a pandemia terminar. A lei provavelmente acabará sendo votada em abril do próximo ano. Portanto, acho que é um caminho ruim, porque os caminhos que os decretos e normativas implementadas pelo executivo percorrem são muito mais convincentes.

Hoje em dia posso dizer a uma empresa de telecomunicações: ‘veja, vamos para o segmento mais pobre, não cobraremos e depois inventaremos uma forma de repactuação. Vamos assistir ao longo do caminho’. Mas se eu criar uma lei, vou processá-la, vou contestá-la e o tempo vai passando.

Então gostei do que a Colômbia fez, não sei o que vocês acham, primeiro focando na IVA. Temos uma dívida incobrável, este será o setor, estamos resolvendo questões de IVA, tanto o IVA do consumidor quanto o IVA que temos que declarar. Eu acho que é uma boa medida, taxa rápida, que também facilita os encargos para o usuário e a empresa. A implantação da infraestrutura, simplificando os prazos de implantação.

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Alguns municípios do Brasil, assim como a Colômbia, emitiram essa portaria onde incentivam a implantação de infraestrutura, demandando menos tempo. Por exemplo, o que demorava um ano hoje se faz em menos de 30 dias. Eu creio que para o setor em que trabalho (setor de infraestrutura) é um bom exemplo a ser seguido.

OG: Eu acho que a Colômbia é um bom exemplo, porque, como Rodrigo aponta, a empresa fatura e imediatamente tem que pagar o IVA. Na Argentina, voltando a falar sobre como está a situação, o serviço móvel paga 27% de IVA e também paga um imposto que chamamos de 'imposto interno', que é superior a 4%, não me

lembro exatamente a alíquota. É um imposto cobrado sobre produtos de luxo, uísque importado, perfumes importados e carros de luxo. É por isso que digo que é preciso levar em consideração de onde vem e como estava a situação no momento em que isso é implementado.

E como devemos também resistir a uma espécie de discurso duplo, em termos de políticas públicas, sobre a importância de redes, conectividade, serviços digitais e outros, versus as recompensas e punições estabelecidas para uma atividade econômica do ponto de vista tributário. O que eu friso vem do início dos anos 90, quando o telefone celular era apenas uma realidade para 50.000 pessoas na cidade de Buenos Aires, então fazia sentido que fosse considerado um bem de luxo e cobrado impostos internos e o mais alto IVA que temos e assim por diante.

Pois bem, esses são os "legados" que precisamos rever para realmente impulsionar a infraestrutura e os serviços digitais.

EO: (Existem) dois momentos, você precisa diferenciar as políticas. No momento (atual), é o contingenciamento em que algumas medidas severas ou alguns estímulos possam ser justificados, dependendo do perfil que você deseja impulsionar. No momento, não se vê no México a imposição de novas taxas, o aumento de novos impostos ou taxas mas há serviços indiretos que estão sofrendo aumento. Hoje [14 de

“…E como devemos

também resistir a uma

espécie de discurso

duplo, em termos de

políticas públicas, sobre

a importância de redes,

conectividade, serviços

digitais e outros, versus

as recompensas e

punições estabelecidas

para uma atividade

econômica do ponto de

vista tributário.”. Oscar

M. González

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abril], acordamos com a notícia de que o serviço de energia elétrica aumentou 4% no segmento residencial.

A ligação entre essas duas indústrias é fundamental e o impacto econômico está nas contas duplas. Portanto, no momento, não parece uma política adequada aplicar esse aumento de 4%; não há política da empresa de que fornece eletricidade para apoiar ou protelar o pagamento de contas. Visto que, para outras indústrias, elas estão sofrendo pressão do governo para fazer o mesmo. Portanto, há um perfil de três áreas: a primeira é que existem alguns setores que, diante dessa contingência, estão dando um passo à frente para gerar uma política para ajudar o cliente antes que o governo a imponha, e me parece a coisa mais inteligente a se fazer.

O banco decidiu há algumas semanas implantar programas para adiar pagamentos, não permitir pagamentos com cartão de crédito hipotecário, adiar. Não cobrar juros padrão, mas cobrar juros normais comuns de acordo com a categoria do financiamento. Essa política incidiu sobre cinco ou seis produtos, hipotecas, créditos, veículos, cartões de crédito, crédito consignado, etc. (O Banco) deu um passo à frente e impediu o governo de adotar uma política diferente ou que pudesse afetá-los e isso me pareceu uma medida engenhosa naquele momento. No caso das telecomunicações, que é a outra área, procuram manter um perfil discreto, protegendo um pouco o discurso da necessidade e da importância da conectividade que ela possui no momento. Se protegendo com o discurso de que para manter as redes com vigor, eles precisam de receita, dizendo que os serviços atualmente são altamente tributados e algum aumento de preço nos serviços prejudicará o nível de renda das pessoas o que causaria (um aumento de) desconexão, o que não seria bom para o governo. Mas eles estão negligenciando um pouco o próximo passo, onde, se essa quarentena se prolongar e começarmos a ter problemas no pagamento, a demanda social poderá, diante de um governo com o perfil que temos no México, consolidar ou transformar

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uma política que agora é neutra, que evita interferir nas telecomunicações e se tornar uma política tributária um pouco mais impositiva.

Impositiva no sentido de solicitar que os pagamentos sejam adiados, ou que seja uma política 'do menos pior', ou que o consumo seja tolerado, ou que seja dado um consumo livre mínimo garantido para que a população tenha um mínimo de conectividade e, então, começará uma intervenção governamental que não pode ser consistente com a política das empresas.

Aprender mais uma vez com esses outros setores pode ajudar a antecipar os desejos do governo e vir acompanhado de um discurso de apoio às políticas do governo, como fez o banco (setor bancário), pode ser bom. O terceiro cenário é que as indústrias governamentais não estão apoiando o setor elétrico, embora este (o setor elétrico) seja aberto em termos de geração e em termos de distribuição e comercialização no México, ainda é o setor que possui 99% do controle do mercado feito pelo estado, e por isso não tem políticas de suporte estabelecidas.

O setor de água potável permanece sendo propriedade do estado, embora municipalizado até os extremos ou no âmbito estadual, operados por estados e municípios e não pela federação, também não há políticas de apoio nesse quesito. Assim, a preocupação cresce à medida que o governo começa a dar indicações de que não será até 30 de abril que começaremos a retomar a atividade econômica, indicando que poderá ser postergado até 30 de maio e onde de acordo com informações, os pico mais severo não ocorrerá mais em abril, mas devem ocorrer em junho. Portanto, isso é uma má notícia para todos os setores da economia, porque o isolamento continuará a interromper a atividade econômica. E isso gerará pressão em vários aspectos, na renda, na cadeia produtiva, na economia em geral.

RR: Vai ser assim, não há possibilidade de que em nossos países (do Cone Sul) o pico não seja no inverno. Precisamos lembrar também de que todo o nosso sistema de saúde pública, devido a influência do inverno, entra em colapso. Portanto, teremos todo o nosso sistema público em colapso,

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entre um médico que precisará diagnosticar se é coronavírus ou uma doença que apresenta os mesmos sintomas da gripe. A Argentina, que para muitos é um bom modelo, o presidente Fernández também anunciou que irá prorrogar a quarentena total.

EO: É evidente que a postergação será necessária, além disso, não basta apenas dobrar a curva. Em que níveis de contágio poderemos dar continuidade a atividade econômica, se atingir 10 contágios por dia, o risco ainda é iminente para que haja um ressurgimento. Até que exista algo que a controle, que cure, será difícil retomar 100% da atividade econômica. É que, à medida que as camadas da atividade econômica vão se restabelecendo, outras camadas vão seguindo (a retomada).

Embora não seja possível, infelizmente dependemos ainda da camada física que nas economias de nossos países continua a ser a maioria, os outros terão que esperar. Por exemplo, no México, as leis trabalhistas referentes ao pagamento de salários não permite, pelo menos nessa questão, a única obrigação que uma empresa tem de continuar pagando seu trabalhador sem ir ao trabalho, nem mesmo de forma remota, é pagar a ele um salário mínimo durante os primeiros 30 dias dessa contingência e depois desses 30 dias ela não precisa mais pagar. Você pode demiti-lo sem qualquer responsabilidade ou compensação para os trabalhadores. Isso não é apenas uma questão legal, mas também é uma questão humana.

Qual empresa que não tem receitas por 30 dias possui fundos suficientes para pagar um mês adicional de salário a um trabalhador que não está produzindo porque a planta não está funcionando? Então o fenômeno do encerramento de negócios passa a afetar as atividades a seguir, a conectividade fornecida pelas operadoras vão começar a ser canceladas. Os serviços continuam tendo pessoas como base em economia, consultoria, gerenciamento de projetos, financiamento, alocação de capital, porque estão sendo prejudicadas na medida em que a produtividade se torna um pouco mais rudimentar e um pouco mais básica.

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É isso que preocupa um pouco mais o prolongamento dessa inatividade econômica. Pensar no desenho de políticas após essas crises é uma questão bastante complexa e acredito que temos métricas que nos permitem criar um desenho básico em termos de cobertura, cruzamento de cobertura e serviços em face de contingências futuras versus serviços de telecomunicações onde a conectividade deve ser reforçada . Onde priorizar as larguras de banda e com base nisso depois de analisar investimentos ou estímulos para que possíveis investimentos ou ajuda governamental sejam implantadas. Mas sempre será insuficiente, insuficiente porque o efeito é extenso. O efeito não é apenas cruzar indústrias e planejar melhor o futuro, mas o efeito de interromper a atividade econômica é o que afeta não apenas a indústria de telecomunicações, mas todas. E essa é a estratégia que mais ocupará o tempo dos governos, como reativar a economia.

OG: Voltando à ideia de Rodrigo, a questão das medições. Porque não é um problema apenas no setor de telecomunicações. A questão das testagens, quanto tempo isso durará, uma vez que não se sabe o nível de imunização que temos, quantas pessoas já estão infectadas pelo vírus e produziram anticorpos, a dificuldade para quem precisa tomar a decisão de retornar à vida normal, em maior ou menor grau, sem dados, sem informações precisas.

Em nossos países, o nível de testes é muito baixo devido a problemas logísticos, devido a problemas de recursos, não temos receita para comprá-los, não sendo possível executá-los adequadamente, enfim, uma série de problemas estruturais na região, as condições socioeconômicas são muito complexas.

Na Grande Buenos Aires, temos 6 milhões de pessoas vivendo em moradias precárias, onde também há pessoas vivendo em condições críticas de superlotação.

Como uma pandemia é gerenciada nessas condições, sem indicadores e sem medições? É um pouco "artístico", é de alguma maneira até intuitivo.

E o custo econômico provavelmente será devastador para muitos setores e muito difícil para a economia como um todo.

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Complexidade na Estrutura

Regulatória

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JFO: Estamos chegando ao final e peço a cada um de vocês para destacar qual é a sua principal preocupação ou qual tópico gostariam que déssemos seguimento no futuro.

RR: Olha, eu queria perguntar ao Oscar, se tivéssemos os mesmos cargos que tínhamos antes, o que teríamos feito. Se existe algo que foi feito ou que não foi feito, o que nós teríamos feito? Porque é difícil estar em momentos de crise e emergência onde há total incerteza e tentar inovar ou utilizar tudo em que você acredita (ser eficaz) também é compreensível.

Oscar sempre promoveu o uso de satélites, então podese dizer: 'Atualmente, nesta situação de crise, há muita tecnologia de escanteio, que pode ser útil, ou não ...' e se é hora de utilizar. Se é a hora de resgatar o que estava esquecido e usar, ou talvez seja o momento de aproveitar a zona branca da TV Digital, ou seja, é o momento de cobertura.

Penso que é uma ótima pergunta, porque acredito que o desafio para a nossa indústria é exatamente o que dizem todos os consultores pagos, que é preciso pensar fora da caixa e isso é verdade.

Por exemplo neste prédio onde moro, tenho cinco vizinhos que não têm internet e eu me planejo para abrir meu sinal de Wi-Fi às oito da noite para que eles possam se conectar. Assim, outros vizinhos concordaram qual melhor hora para abrirmos nosso sinal de Wi-Fi de nossos apartamentos. Então, sinto que não é mais uma questão de especialistas em telecomunicações, acho que o que nós, o que nosso setor deve fazer, deve ser um pouco mais humilde e procurar essas pequenas soluções criativas e inovadoras que as pessoas têm e a partir daí refazer novas estruturas de políticas de conectividade.

Acredito que tudo o que fizemos foi adequado e pertinente até o final da última década, mas hoje acredito que precisamos aprender com o que fizemos, mas se continuarmos avançando no mesmo passo, não conseguiremos atender às novas necessidades. Hoje

“O desafio para a nossa

indústria é … ser um pouco

mais humilde e procurar essas

pequenas soluções criativas e

inovadoras que as pessoas têm

e a partir daí refazer novas

estruturas de políticas de

conectividade..” Rodrigo

Ramírez Pino

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estamos diante de uma sociedade que nasce e se reproduz em um contexto diferente, com diferentes necessidades e com diferentes valores, 'multivalor'.

Fomos criados sob os três valores franceses e hoje em dia um cidadão tem um valor para uma determinada coisa e outro valor para outra coisa. Aqui no Chile deu-se: os setores mais ricos querem pagar pela educação porque não queriam que seus filhos estudassem junto com a classe operária e para eles isso faz a diferença. Mas, por sua vez, você deseja saúde para todos e, portanto, é um cidadão com vários valores (multivalor), carregando muitos valores em sua bagagem. Portanto, estamos em uma sociedade diferente, acredito que um desafio para o nosso setor, não querendo ser fundacionalista, mas acredito que precisamos voltar a examinar e criar uma nova geração de políticas públicas de conectividade.

OG: Bem, mais do que conclusões, vou fazer uma síntese. Acredito que essa pandemia, mesmo com a falta de dados ou medições, nos ajudou a concretizar uma situação e identificar na prática quais são os gargalos e déficits que temos e também a partir disso identificar as falhas de nossos marcos regulatórios e políticas públicas.

Eu também acho que será um catalisador. A partir de agora, será difícil se opor à necessidade de modernizar nossa visão e nosso foco em tecnologia, economia digital e serviços digitais.

Eu geralmente acredito que não devemos nos concentrar no contexto de tanta incerteza, sem primeiro aprender muito sobre o que está acontecendo conosco e o que já aconteceu, mas ouso apontar pelo menos quatro pontos nos quais precisamos fazer coisas concretas.

Por um lado, a questão da acessibilidade, do acesso, dos lugares que estão claramente fora do sistema em situações como essas. E nessa estrutura, uma revisão muito profunda do papel que os governos desempenharam em direção ao serviço universal, que sou particularmente crítico, devido à ineficiência que as políticas em geral tiveram naquele momento para resolver esses problemas que agora estão cristalizados; isso em termos de infraestrutura.

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A segunda questão: acho que sim, é mais do que óbvio que teremos que fazer muitas coisas em relação aos dados. Como começamos a usar dados, quais dados devem ser públicos, como a privacidade é tratada. Em resumo, como a economia de dados também gera benefícios para o todo; por exemplo, na saúde.

Sem entrar em tentações autoritárias como as da China ou de outros países que exercem controle policial sobre seus cidadãos utilizando dados, não estou falando nesse sentido. Mas sim, a possibilidade de diferenciar entre dados privados e dados públicos e como os dados serão gerenciados para que possam ser usados ou capitalizados adequadamente também pela sociedade.

De acordo com o que apontava Rodrigo, acho que, entre o estado ausente e o (estado) ativo, existe um caminho intermediário , que a meu ver é muito positivo e construtivo, é o de um estado que efetivamente se abra para diferentes possibilidades, que realmente convoque de maneira geral, crie incentivos e conceda maior liberdade para o uso de várias tecnologias. Penso, portanto, que o papel do Estado precisa ser fortemente reformulado, mais como promotor, como fomentador, como facilitador do que como esse tipo de “reitor” que sempre foi até o momento. Porque hoje, com a grande quantidade de tecnologias disponíveis, projetos, etc., creio que se trata de articular diferentes interesses, diferentes possibilidades; e acredito que, com boas práticas e com equilíbrio, há espaço para todos, o que seria benéfico para todos os cidadãos.

Por fim, concordo com Rodrigo que seria ótimo ter largura de banda de fibra em todos os lugares e adoraria que isso acontecesse, mas, enquanto isso, acho que é preciso apostar fortemente em tecnologias de acesso de todos os tipos, sejam elas via satélite ou sem fio. Como todas as modalidades de uso livre ou compartilhado de espectro, redes de baixa potência para setores produtivos como IoT, constelações de órbita baixa, etc ... E é claro que no centro de tudo sempre haverá a 5G, redes de quinta geração fixa e móvel, que também nesse momento precisamos

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trabalhar com afinco para ver como essa nova geração de redes pode ser implantada em todos os lugares.

Quando digo 'de que maneira', quero dizer quais serão os modelos de negócios e como os investimentos serão sustentados, tentando, tanto quanto possível, que essa possibilidade de levar 5G para todo o mundo não diminua mais a velocidade do que o necessário. Acredito que não se pode ser ingênuo, a 5G tem uma oferta ambiciosa de serviços com altas larguras de banda e velocidades muito altas, se estamos falando de carros autônomos, alguns verticais e outros, mas também precisamos encontrar uma maneira para que tanto a conectividade como os serviços digitais cheguem a todos. Porque esse é, de alguma maneira, o objetivo moral que esse setor deve ter.

EO: Muito bem. As previsões de crescimento para todos os países devido ao impacto do coronavírus estão praticamente em queda. Eles variam de menos um a menos cinco e, no nosso caso, há previsões que vão até menos dez (porcento). Isso significa que o impacto nas economias será severo para todos.

A primeira preocupação é com a reativação da economia, que medidas os países adotarão, especialmente o México. Em dois aspectos, neste momento durante a contingência e depois quando a contingência acabar e as pessoas começarem a serem liberadas para exercer suas atividades normalmente. Durante a contingência, os governos devem entender que um dos fatores que pode mitigar o impacto ocasionado pela contingência, é o setor das telecomunicações. Porque ele pode manter uma certa parte da atividade econômica viva e também é a chave para ajudar na recuperação mais rápida das demais atividades.

E isso é uma mudança de foco, é uma mudança de foco entendê-lo como um serviço público, mas não como um serviço público que deva ser tributado, deva ser gratuito e custeado pelo investidor, mas como um serviço público que serve para sustentar outras atividades econômicas e também como um serviço que promoverá uma recuperação mais rápida. Se mudarmos essa visão, a prioridade será diferente, porque ao invés de cobrar pelo serviço, precisamos mudar nossa visão.

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Para prestar esse serviço (de maneira adequada), precisamos em vez de taxar devemos isentar taxas, devemos isentar impostos, para que esses impostos facilitem a acessibilidade ligada à parte estrutural do ingresso de pessoas. Portanto, a acessibilidade permite que a penetração desses serviços seja mais ampla.

Tendo em mente que é este serviço (de telecomunicações) que sustentará a atividade econômica atual e ajudará na recuperação de forma mais célere no futuro. Esse é um tópico completamente diferente com um tratamento completamente diferente. O que a indústria precisa no momento? Você não precisa de fontes de financiamento, mas o que você precisa é manter um nível de atividade e um nível de renda que permita superar essa crise, essa quarentena.

A demanda existe, o que é necessário é o pagamento. A parte do pagamento vem do fundo criado para manter a operação. Talvez o setor, neste momento, vá atrasar investimentos em mudanças tecnológicas, investimentos para crescimento, redimensionamento de investimentos, mas isso não implica que não possa ser apoiada nesse momento com facilidades ou acessibilidade para o desenvolvimento ou facilidades de acesso a um determinado tipo de infra-estrutura, com facilidades de acesso ao espectro radioelétrico.

Acredito que a melhor fórmula que um governo possa ter é oferecer todas as facilidades que está em suas mãos para que o mercado escolha, neste momento e/ou mais tarde, a melhor opção. Se for preciso abrir todas as lacunas de serviços, coloque-os agora junto com outras ofertas de espectro, junto com outras ofertas de serviços via satélite e deixe o mercado decidir o que, neste momento, pode ajudar a aliviar da melhor maneira a contingência, porque fará isso de maneira mais sustentável do que um governo faria se usasse esses recursos.

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Em outras palavras, fornecer as facilidades para acesso a investimentos e infraestrutura, apoiar o trabalho dos operadores com políticas que tornam a carga (tributária) mais flexível e menor e, se possível, apoiar ou aumentar o consumo por meio de subsídios governamentais

direcionados, prestar auxílio à população de baixa renda, para que se transforme também em renda ou pagamento de serviço mínimo para as operadoras. Isso aliviaria (o caixa das) empresas de telecomunicações durante essa transição.

Isso relacionado às políticas com as quais Rodrigo está tão preocupado, que estão em andamento em seu país, é ver as

telecomunicações de maneira diferente. Se dermos essa oportunidade, se dermos esses apoios hoje, nesse momento o setor ajudará na recuperação dos outros setores que voltarão (à ativa) assim que pudermos nos recuperar.

Eu enfatizo que, o foco do governo que não tributa os operadores nesse momento, deveria ser distinto. Aliviar a carga (tributária) de operadores para manter o serviço ainda mais se estivermos diante de um cenário que pode durar mais de sessenta ou até noventa dias, o que é muito complicado para uma economia.

O outro aspecto é: "e o que acontece depois". Sustentar essas políticas após a retomada, até que um certo nível (da economia) seja aliviada e, a partir daí, comece a pensar em uma nova abordagem, uma nova abordagem para políticas públicas relacionadas ao investimento em indústrias, com o crescimento de [telecomunicações], mas também acompanhada pela necessidade de outras indústrias que são as que devemos acompanhar.

Por exemplo, se após essa pandemia entendermos que os serviços de saúde devem estar 100% conectados, mesmo nos locais onde não há conectividade, eles se tornam uma prioridade de estado.

“Acredito que a melhor

fórmula que um governo

possa ter é oferecer todas as

facilidades que está em suas

mãos para que o mercado

escolha, neste momento

e/ou mais tarde, a melhor

opção.”. Edgar Olvera

Jiménez

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Portanto, as políticas são modeladas para que o investidor saiba que, a partir de então, será um investimento e terá um ônus mínimo de obrigação, mas que será focada em um ponto específico que deve atender os parâmetros da saúde porque, eventualmente, quando a próxima contingência chegar, o operador não precisará realizar esforços ou investimentos, por pura necessidade ou porque o governo o impõe, mas porque a rede foi preparada ou acompanhou gradualmente o crescimento de outros setores.

Se aprendermos que, após essa contingência, uma maneira de não interromper a atividade educacional é fornecer a tele-educação em todos os níveis de ensino, então devemos definitivamente acompanhar a política educacional com uma política de conectividade, já definitivamente como uma política de Estado. Porque então, quando a próxima contingência chegar, poderemos dizer que temos infraestrutura de conectividade mas uma infraestrutura de conectividade que pode atender aos requisitos da educação.

Se descobrirmos que, depois disso, não vale a pena passar cinco dias úteis no escritório trabalhando, mas que podemos passar dois ou cinco ou três dias fazendo home office, reduzir o vai e vem, a mobilidade, aliviar os problemas de tráfego e também canalizar o trabalho para nossa residência ou para uma casa de veraneio.

Veremos como a largura de banda aumenta e os picos de demanda que vimos durante a semana vão para os centros turísticos ou de veraneio e, em seguida, retornam aos locais de trabalho durante a semana. Essa nova tendência dará um novo rumo e maiores informações aos investidores para reforçar essa parte da conectividade.

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Assim, quando a próxima pandemia chegar, não nos preocuparemos se há conectividade nas escolas, se há conectividade em clínicas ou hospitais. Se houver conectividade, poderemos nos dirigir a nossos abrigos sabendo que tudo pode seguir caminhando e o impacto será menor.

Um terceiro aspecto que gostaria de destacar nesta conversa é (que nós devemos) nos preparar utilizando os ensinamentos (adquiridos durante essa pandemia) para projetar novos modelos e tirar proveito dessas dificuldades que nos colocam à prova hoje, que evidenciam nossas deficiências e evidenciam nossas deficiências para canalizá-las de uma maneira que isso nos permita enfrentar os próximos problemas, não sei se, com a mesma precisão de ciclos que José disse um momento atrás, a cada dez anos, mas diferentes ciclos que são combinados entre pandemia, terremoto, furacões, tsunami para que sempre tenhamos uma infraestrutura melhor preparada em todos os aspectos.

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Conclusões

- A pandemia de Covid-19 reduzirá todas as previsões de crescimento dos países ao redor do mundo. Em geral, é esperada uma queda na ordem de -1 a -5, chegando a -10.

- Um novo papel para o Estado deve ser buscado na nova era digital, é necessário mudar os formatos tradicionais. O setor deve promover uma nova geração de políticas públicas de conectividade.

- O Estado deve criar incentivos para a implantação de uma economia digital. Isso aumentará as oportunidades e concederá uma maior liberdade para expandir o uso de novas tecnologias. O Estado deve ter um papel de fomentador, facilitando o acesso às tecnologias, para que todos os cidadãos possam se beneficiar.

- O setor deve ter uma política de transparência de dados melhor, deve ser mais confiável para que os próprios países possam desenvolver políticas públicas eficientes. Além de promover uma colaboração maior com o setor privado e outros setores produtivos.

- As deficiências de informação estão aumentando nas áreas rurais e longe de grandes centros urbanos. Ter informações nessas áreas possibilita a criação de planos de investimento melhores além de atender às demandas dos diferentes setores.

- A falta de dados não nos permite medir o escopo exato da tele-educação, do teletrabalho e de outras implementações de conectividade em diferentes setores.

- A pandemia pode ser uma oportunidade ao fornecer um aprendizado para o melhor planejamento de políticas de infraestrutura, conectividade, investimento e conectividade social.

- É necessário a reavaliação da carga tributária, principalmente em momentos de emergência, para fomentar a infraestrutura e os serviços digitais.

- É importante isentar serviços digitais para torná-los mais acessíveis obtendo assim uma maior penetração.

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Participantes

Oscar M. González é advogado especializado em Tecnologia da Informação e Comunicação. Ex-Subsecretário de Regulamentação da Secretaria de Tecnologias da Informação e Comunicação do Ministério da Modernização da Argentina. É advogado, formado pela Universidade Nacional de Córdoba e mestre em direito pela Universidade de Maastricht, Holanda. Atuou como diretor da ARSAT e assessor da Comissão de Sistemas, Mídia e Liberdade de Expressão do Senado da Nação (Comisión de Sistemas, Medios de Comunicación y Libertad de Expresión del Senado de la Nación). É Ex-Presidente e atual membro do Conselho de Administração da Associação Argentina do Direito das Telecomunicações.

Edgar Olvera Jiménez é mestre em Administración de la Tecnología (Administração da Tecnologia) pela Universidade Autônoma do México e graduado em direito pela Universidade Autônoma de Querétaro, com mais de 25 anos de experiência no governo mexicano e especializado em telecomunicações, mídias e tecnologias, infraestrutura , defesa do consumidor, regulamentação, direito administrativo, litígios, contratos públicos e concorrência econômica.

Atualmente, é sócio do escritório global de advocacia Greenbrerg Traurig, no qual é responsável pela área de Telecomunicações, Mídia e Tecnologia (TMT) na América Latina, Espanha e Portugal. Edgar foi chefe de equipes multidisciplinares e de projetos altamente complexos em questões legais e regulatórias, satélite, redes de telecomunicações e conectividade. No setor privado atende a vários perfis de clientes do setor de TMT (fornecedores e desenvolvedores de infraestrutura, OTTs, operadoras de serviços de telecomunicações, fornecedores de equipamentos e software para redes e usuários finais, desenvolvedores de IA, produtores de shows, produtores e fornecedores de conteúdo, empresas de rádio e televisão, operadoras de satélite entre outros).

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Antes de ingressar no escritório, atuou como Subsecretário de Comunicações do Ministério das Comunicações e Transportes (SCT), e anteriormente foi Coordenador de Projetos Técnico-Regulatórios da SCT, Diretor de Conciliação e Programas Especiais e Director General Adjunto en la Procuraduría Federal del Consumidor - PROFECO (Diretor Geral Adjunto do Ministério Público Federal do Consumidor).

Rodrigo Ramírez Pino foi Presidente da Câmara Chilena de Infraestrutura Digital. Ex-Subsecretário de Telecomunicações do Governo do Chile, onde comandou a instituição com a responsabilidade de coordenar, promover, fomentar e desenvolver as telecomunicações do país, transformando esse setor em um motor para o desenvolvimento econômico e social do Chile. Cursou a Universidade de Barcelona, onde concluiu o Mestrado em Administração de Empresas e Comunicação Estratégica, mais tarde concluiu o Doutorado em Comunicação pela mesma instituição. Com vasta experiência em gerenciamento de equipe e planejamento estratégico, implementou iniciativas para o desenvolvimento digital. Além disso, foi Secretário Executivo do Comitê de Ministros para o Desenvolvimento Digital, Infraestrutura de Telecomunicações e Governo Eletrônico. Dessa forma, consolidou a Política Nacional de Infraestrutura de Telecomunicações, além de participar da definição das diretrizes, programas e ações necessárias à sua implementação, colaborando também na coordenação, monitoramento e avaliação. Nesse período, também foi Secretário Executivo do Comitê de Ministros para o Desenvolvimento Espacial.

José Felipe Otero Muñoz é vice-presidente para a América Latina e Caribe da 5G Américas. Cursou inúmeras instituições acadêmicas, incluindo a Universidade de Boston (EUA), Universidade de Leicester (Inglaterra), Universidade de Edimburgo (Escócia), Universidade de Georgetown (EUA) e Universidade de Cambridge (Inglaterra) . Desempenhou papel como pesquisador associado no Instituto de Estudos Universitários, Centro de Investigación y Docencia Económicas - CIDE (Centro de Pesquisa e Ensino Econômico) do México. Com quase 25 anos de experiência no setor de telecomunicações, incluindo mais de 20 anos trabalhando como consultor

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em mais de 100 projetos de pesquisa, é autor de inúmeros estudos sobre o setor de telecomunicações regional. Trabalhou em instituições como a Comissão Interamericana de Telecomunicações (CITEL), uma agência compreendida pela Organização dos Estados Americanos (OEA), pelo Banco Mundial e pela Corporação Interamericana de Investimentos. Faz parte de projetos vinculados à entrada de novas operadoras no mercado, desenvolvimento da indústria de TV paga, convergência, MVNOs e tecnologias avançadas de transmissão de dados, entre outros.

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Sobre o Brecha Zero O BrechaZero.com.br é o blog da 5G Americas e irá abordar as tecnologias da informação e comunicações (TICs), principalmente, as redes de banda larga sem fio, e seus impactos para o desenvolvimento em diferentes âmbitos para a sociedade, como saúde, educação, inclusão social, trabalho, igualdade de gêneros e outros. O propósito do BrechaZero.com.br é informar sobre as diferentes iniciativas, serviços, tendências, histórias e a utilização de tecnologia aplicada para a superação de exclusões de toda índole, especialmente de caráter social e econômico, e para a melhora na qualidade de vida das populações.

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