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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA - DECO ALLANA PEREIRA SANTOS DA SILVA Dieta de morcegos filostomídeos (Mammalia: Chiroptera) no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe São Cristóvão 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA - DECO

ALLANA PEREIRA SANTOS DA SILVA

Dieta de morcegos filostomídeos (Mammalia: Chiroptera)

no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe

São Cristóvão

2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

DEPARTAMENTO DE ECOLOGIA - DECO

ALLANA PEREIRA SANTOS DA SILVA

Dieta de morcegos filostomídeos (Mammalia: Chiroptera)

no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe

Adriana Bocchiglieri

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Departamento de Ecologia

da Universidade Federal de Sergipe como

parte dos requisitos para obtenção do título

de Bacharel em Ecologia.

São Cristóvão

2014

ii

AGRADECIMENTOS

Nesse momento é como se um filme de quatro anos de duração estivesse passando

pela minha cabeça. Por isso, é com saudade e nostalgia (e algumas lágrimas que insistem em

cair) que escrevo esse pequeno texto para agradecer todos aqueles que estiveram ao meu lado

e me ajudaram a concluir uma importante etapa dessa trajetória, que ainda tem um longo

caminho a ser trilhado.

Agradeço primeiramente aos meus pais, Ana e Cícero, por todo amor, dedicação e

sacrifício para que eu desfrutasse de uma boa educação. Por terem me dado a "bagagem" que

me proporcionou chegar até aqui e que sempre vou carregar comigo. Obrigada a vocês por

terem me tornado quem eu sou hoje. Agradeço também à toda minha família pelo carinho,

apoio e suporte.

Se estou onde estou hoje, também devo agradecer a minha orientadora, Drª Adriana

Bocchiglieri. Com você aprendi não apenas sobre a vida acadêmica e como ser um bom

profissional, mas também sobre a vida em geral. Só tenho a agradecer pela disponibilidade,

pelas conversas de horas, pelos ensinamentos, pelos conselhos e também pelos puxões de

orelha ao longo desses quase quatro anos. OBRIGADA! Daqui a menos de um ano estarei de

volta ao laboratório!

Agradeço à Profa. Dra. Ana Paula Albano Araújo à Dra. Daniela Faria Florencio pela

disponibilidade e pelas contribuições dadas a esse trabalho. Agradeço também à SEMARH,

FAPITEC e ao CNPq, pelo apoio e bolsas de iniciação científica concedidas durante a

graduação; ao Instituto Chico Mendes (ICMBio) por autorizar a realização deste trabalho no

Parque Nacional Serra de Itabaiana, assim como ao Sr. Marleno Costa por viabilizar as

campanhas de campo e disponibilizar a infraestrutura do PNSI e à Universidade Federal de

Sergipe pelo apoio logístico e à participação em evento cientifico.

Agradeço aos meus amigos e companheiros de campo da Serra de Itabaiana, onde eu

descobri meu amor pelos morcegos: Paulo, Valquíria, Saulo, Sara e Ray. Lembro sempre com

carinho dessa época, onde todo mundo aprendendo junto, das conversas e das risadas.

Também agradeço aos meus amigos e companheiros de campo da Mata do Junco: Day,

Arthur, Déborah e Ray (novamente), assim como os demais, pelas risadas sem fim, pelas

conversas, pelos conselhos, pelo apoio. Já estou com saudade de ir à campo com vocês!

iii

Agradeço imensamente à Dani pela disponibilidade sempre que precisei de ajuda com os

programas estatísticos ou com a interpretação de algum dado. Tem um pedacinho seu nesse

trabalho! Agradeço à todos aqueles que fazem ou fizeram parte do Laboratório de

Mastozoologia da UFS. Foi, e será, muito bom dividir esse tempo com vocês.

E novamente, mas separadamente, agradeço a Day, por ser aquela amiga que

compartilha os mesmos pensamentos, que passa pelas mesmas situações e que exatamente por

isso me entende. A Ray, que no começo aprendeu um pouco comigo sobre os morcegos, mas

que algum tempo depois já estava me ensinando coisas que eu não sabia sobre eles. À

Déborah e Arthur, pelas conversas, pelo apoio e pela ajuda sempre que precisei.

Aos meus amigos de curso, em especial Eduardo, Rafaella, Tatiane, Luana e Jéssica

Lima, ou como costumávamos nos denominar: "aqueles que sobreviveram". Saibam que

vocês me deixam muito orgulhosa e feliz por serem os primeiros ecólogos formados em

Sergipe. Agradeço também à todos os professores do curso de Ecologia que passaram por

nossa turma.

Aos meus amigos da biologia, Egival, Juninho, Rafinha, Rafa, Thomaz, Lucas,

Isadora, Ingrid, Tirzah, Carol, Mari e Rebeca por me acolherem como um dos seus, pelas

conversas sobre tudo e sobre nada nos sofás do CALB, pelo carinho e pelo apoio. A saudade

de vocês só aumenta!

Não poderia deixar de agradecer à Valter e Tacyana, ou "meus pais adotivos", como

eu costumava chamá-los. Vocês são pessoas admiráveis e inspiradoras para mim! Tenho

muito a agradecer à vocês. Obrigada pela força, pelas conversas, pelos vários conselhos, pelas

broncas e pelo carinho. Agradeço também à Flávio pelo carinho e apoio, além de tudo que me

ensinou. Saudades dos nossos campos na linda Caatinga.

Só tenho a dizer que aprendi um pouquinho com cada um de vocês e agradeço por

tudo aquilo que acrescentaram na bagagem que vou levar durante toda a vida.

iv

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... v

LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................... vi

RESUMO ............................................................................................................................ vii

INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

OBJETIVOS ........................................................................................................................ 10

Objetivo geral .................................................................................................................. 10

Objetivos específicos ........................................................................................................ 10

MATERIAL E MÉTODOS .................................................................................................. 10

Área de Estudo ................................................................................................................. 10

Coleta de Dados ............................................................................................................... 12

Análise de dados .............................................................................................................. 13

RESULTADOS ................................................................................................................... 14

DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 22

v

LISTA DE TABELAS

11

Tabela 1. Número de amostras (N) e frequência de ocorrência (%) dos itens alimentares

presentes na dieta de cinco espécies de morcegos frugívoros no Parque Nacional de Itabaiana,

Sergipe. ................................................................................................................................ 17

Tabela 2. Sobreposição do nicho trófico entre as espécies de morcegos frugívoros do Parque

Nacional de Itabaiana, Sergipe. ............................................................................................ 18

vi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Mapa indicando a localização do Parque Nacional Serra de Itabaiana no estado de

Sergipe, nordeste do Brasil. Retirado de Dantas & Ribeiro (2010). ....................................... 11

Figura 2. Sementes de Vismia guianensis (A), Ficus sp. 4 (B), Piper sp. 1 (C), Piper

arboreum (D), Solanum sp. 2 (E), Solanum sp. 3 (F), Cecropia pachystachya (G) e Cecropia

sp. 1 (H) encontrados nas amostras fecais de morcegos capturados no PNSI, Sergipe, 2011-

2013. Escala: 1mm..................................................................................................................15

Figura 3. Frequência de ocorrência (%) das famílias vegetais, insetos e espécies não

identificadas (N.I.) nas amostras fecais encontradas nas espécies de morcegos filostomídeos

no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe, 2011-2013....................................................16

vii

RESUMO

As diversas espécies de morcegos possuem uma grande variedade de hábitos alimentares,

atuando nos processos ecológicos das florestas tropicais e favorecendo a manutenção da

diversidade nesses ambientes através da dispersão de sementes. O presente estudo teve como

objetivo caracterizar a dieta e verificar se há segregação de nicho alimentar entre os morcegos

da família Phyllostomidae que ocorrem no Parque Nacional Serra de Itabaiana (PNSI). A área

estudada representa uma transição entre a Mata Atlântica e Caatinga, localizado no agreste do

estado de Sergipe. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2011 a junho de 2013, em

duas noites/mês, utilizando redes de neblina das 18:00 às 24:00h, alternadamente em duas

áreas florestais associadas a riachos. Os animais capturados foram acondicionados em sacos

de algodão por cerca de meia hora para coleta de amostras fecais. As amostras de cada espécie

de morcego foram analisadas para quantificar a frequência de ocorrência de cada item

alimentar em suas dietas. Para cada espécie de morcego foram avaliadas diferenças na

composição da dieta entre machos e fêmeas, através do teste G, a largura e sobreposição do

nicho. Foram coletadas 170 amostras fecais pertencentes a cinco espécies de morcegos

frugívoros: Carollia perspicillata (N = 86), Phyllostomus discolor (N = 34), Dermanura

cinerea (N = 18), Artibeus lituratus (N = 18) e Artibeus planirostris (N = 14). Sementes de

Vismia guianensis (Hypericaceae) prevaleceram na dieta de C. perspicillata (49,2%).

Sementes de Urticaceae foram mais frequentes em P. discolor (93,7%) e A. lituratus (44,4%)

e Moraceae foi mais frequente na dieta de A. planirostris (49,9%) e D. cinerea (58,3%). Não

houve diferença na composição da dieta entre machos e fêmeas das espécies estudadas.

Carollia perspicillata foi a espécie mais generalista enquanto P. discolor foi a mais

especialista, refletindo em estratégias diferenciadas na exploração dos recursos. Houve alta

sobreposição de nicho trófico entre as espécies, porém a frequência no consumo dos itens

variou entre as espécies ao longo do ano. Provavelmente, isso deve-se à uma estratégia para

minimizar a competição pelo recurso, visto que os principais frutos consumidos referem-se às

espécies vegetais características de ambientes alterados e que são frequentemente encontradas

na localidade.

8

INTRODUÇÃO

As interações entre plantas e animais são fundamentais para a manutenção da

integridade das comunidades biológicas (Jordano et al. 2006), tendo um importante papel na

preservação da dinâmica dos ecossistemas (Blüthgen 2012). Nas florestas tropicais, por

exemplo, grande parte das árvores produzem frutos que são consumidos por animais (Jordano

et al. 2006). A maioria desses animais atua dispersando sementes para locais distantes da

planta-mãe, onde a probabilidade de predação e competição são mais baixas, aumentando

assim as chances de germinação e estabilização (Fischer & Chapman 1993).

Alguns morcegos são considerados espécies chave para a dispersão de sementes na

região Neotropical (Lobova et al. 2009). Devido à grande riqueza de espécies e variedade de

hábitos alimentares, os morcegos representam importante papel nos processos ecológicos e

consequente manutenção da diversidade nas florestas tropicais (Fleming & Heithaus 1986).

Segundo Bredt et al. (2012), ao menos 542 espécies de plantas são dispersas por morcegos,

que atuam como peças fundamentais nos processos de sucessão de áreas degradadas e

clareiras naturais (Muller & Reis 1992). Além disso, esses animais são considerados

potenciais indicadores do grau de distúrbio de um ecossistema devido ao fato de explorarem

diferentes recursos tróficos (Fenton et al. 1992).

A família Phyllostomidae, endêmica do continente americano (Fábian et al. 2008; Reis

et al. 2011), é a única da região Neotropical com representantes frugívoros (Mello et al.

2011). Essa família é amplamente distribuída por todo território brasileiro, sendo encontrada

em áreas de floresta nativa, fragmentos florestais e ambientes urbanizados e rurais (e.g. Bredt

& Uieda 1996; Novaes & Nobre 2009). Além de frutos, a dieta desse grupo inclui variados

itens de origem vegetal como folhas, pólen, néctar e partes florais (Carvalho 1961; Reis et al.

2007; Fabián et al. 2008).

Os frutos consumidos por esses animais geralmente possuem características

relacionadas a uma polpa carnosa, coloração discreta, odor aromático e uma exposição na

parte mais externa da planta para facilitar a apreensão durante o voo, caracterizando a

síndrome quiropterocórica (Mikich 2002). Entretanto, há frutos que não se encaixam em todas

essas características, mas que também são dispersos por morcegos, como os frutos que

possuem sementes únicas e grandes (Mello & Passos 2008).

Nesse sentido, a seleção de frutos pelos filostomídeos está diretamente ligada à

dispersão das sementes, principalmente de espécies de plantas de estágio primário de sucessão

9

como Cecropia, Piper, Solanum, Vismia e Ficus (Muller & Reis 1992; Andrade et al. 2013).

Tais relações entre morcegos frugívoros e as plantas que possuem frutos que são consumidas

por eles normalmente influenciam a distribuição geográfica e abundância de ambos os grupos,

assim como seus períodos de reprodução (Bredt et al. 2012). Algumas famílias de plantas

podem estar mais associadas a uma determinada subfamília de Phyllostomidae como as

piperáceas que são o principal alimento para Carolliinae, assim como as cecropiáceas,

moráceas e solanáceas são preferidas pelas espécies de Stenodermatinae (Mello & Passos

2008; Lobova et al. 2009).

Morcegos frugívoros podem apresentar uma tendência à dieta especializada em

determinadas espécies vegetais que constituem a Mata Atlântica, por exemplo, localizadas

principalmente em bordas de matas e clareiras (Passos et al. 2003). A preferência por

determinados frutos pode explicar como estes animais partilham seus recursos alimentares,

permitindo a coexistência de espécies ecologicamente semelhantes no bioma (Passos et al.

2003).

Alguns autores observaram também que a dieta de machos e fêmeas de uma mesma

espécie de morcego podem apresentar diferenças quanto a frequência e abundância no

consumo dos itens alimentares, a depender da região onde essas espécies se encontram

(Alvarez & Sanchèz-Casas 1999) ou se ela se encontra em período reprodutivo (Zortéa 2003).

Estudos realizados em áreas de Mata Atlântica relatam que a dieta dos morcegos pode

estar diretamente relacionada a fatores como a disponibilidade de alimento, sazonalidade e

partilha de recursos (Muller & Reis 1992; Passos et al. 2003; Passos & Graciolli 2004).

Segundo Passos & Graciolli (2004), o consumo de frutos é influenciado por sua

disponibilidade; o que pode tornar algumas espécies de morcegos mais generalistas ou

especialistas de acordo com a abundância da sua principal fonte de alimento no ambiente.

Informações sobre os hábitos alimentares da maioria das espécies de morcegos

frugívoros que ocorrem no Brasil, principalmente no nordeste brasileiro, ainda são escassas.

Em Sergipe, Mikalauskas (2007) cita algumas informações sobre a dieta de sete espécies de

morcegos, evidenciando assim a escassez de informações sobre esse tema no estado. Assim,

estudos sobre ecologia alimentar são necessários para entender como os morcegos frugívoros

atuam na manutenção da biodiversidade dos remanescentes florestais de Sergipe.

10

OBJETIVOS

Objetivo geral

Caracterizar a dieta dos morcegos da família Phyllostomidae que ocorrem no Parque

Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe.

Objetivos específicos

(i) Identificar os itens vegetais consumidos pelas espécies de morcegos na localidade;

(ii) Avaliar se existe diferença na composição da dieta entre machos e fêmeas das

espécies de morcegos filostomídeos na área de estudo;

(iii) Caracterizar o nicho trófico dessas espécies e

(iv) Avaliar se existe segregação na dieta entre os morcegos da comunidade.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de Estudo

O Parque Nacional Serra de Itabaiana (PNSI) (10°40’ S; 37°25’ W) está localizado na

mesorregião do agreste sergipano, entre os municípios de Areia Branca, Itabaiana, Campo do

Brito, Itaporanga D’ajuda e Laranjeiras (Carvalho & Villar 2005) (Figura 1). Com

aproximadamente 7966 ha, o PNSI compreende um conjunto geológico composto pelas serras

do Cajueiro, Comprida e de Itabaiana, sendo esta última a maior delas (Carvalho & Villar

2005; Sobral et al. 2007; Dantas et al. 2010). Para o presente estudo, as coletas foram

realizadas na serra de Itabaiana, que é a mais preservada dentre as três (Mendes et al. 2010).

O clima da região é tropical (Dantas & Ribeiro 2010), com transição entre o litoral

úmido e sertão semiárido (Teles et al. 2013). Durante o período de estudo, a precipitação

variou de 6,73 a 286,56 mm e a temperatura média foi 24°C (SINDA 2014).

11

Figura 1. Mapa indicando a localização do Parque Nacional Serra de Itabaiana (em verde) no

estado de Sergipe, nordeste do Brasil. Retirado de Dantas & Ribeiro (2010).

O PNSI conserva remanescentes de Mata Atlântica e Caatinga que sofreram uma forte

pressão antrópica (Sobral et al. 2007) e, por localizar-se em uma área de ecótono, abriga um

mosaico de plantas que reflete essa transição (Mendes et al. 2010). A vegetação é composta

por áreas abertas constituídas por solos de areias brancas, recoberto por gramíneas e

ciperáceas, arbustos, subarbustos, arvoretas e palmeiras (Vicente et al. 2005). As áreas

fechadas abrangem o entorno dos riachos com vegetação arbórea secundária distribuída pelas

encostas (Vicente et al. 2005).

A vegetação que ocorre associada ou próxima aos riachos apresenta-se em pequenas

manchas, sendo encontradas árvores de até 10 m de altura, formando um sub-bosque mais

estruturado do que outras manchas de mata da área (Vicente et al. 2005). A estrutura arbórea

distribuída ao longo dos riachos na entrada do PNSI sofre uma grande pressão antrópica dos

visitantes, apresentando espécies como Vismia guianensis (Aubl.) Choisy (observação

pessoal), Cecropia pachystachya Trécul, entre outras, comuns na regeneração de áreas

florestais e clareiras (Mendes et al. 2010). Espécies das famílias Piperaceae e Moraceae,

amplamente consumidas por morcegos (e.g. Muller & Reis 1992; Marinho-Filho 1991; Mello

12

& Passos 2008; Lobova et al. 2009; Silveira et al. 2011; Weber et al. 2011), também ocorrem

em abundância na localidade (Mendes et al. 2010).

Apesar de ser considerado pelo Ministério do Meio Ambiente como uma área de alta

importância para a conservação da biodiversidade (Sobral et al. 2007), atualmente o PNSI

encontra-se altamente antropizado e reduzido a aproximadamente 10% da sua cobertura

original (Mikalauskas et al. 2006; Sobral et al. 2007).

Coleta de Dados

As campanhas foram realizadas mensalmente, entre agosto de 2011 a junho de 2013

(exceto em junho e outubro de 2012), em duas noites/mês alternadas em duas áreas florestais

associadas aos riachos Coqueiro e Água Fria. As capturas foram realizadas segundo licença

do SISBIO (# 27225-2 e 34843-1), utilizando-se entre sete e 10 redes de neblina estendidas ao

nível do solo, ao longo de trilhas pré-existentes e próximas aos riachos, ficando expostas das

18:00 às 24:00h e sendo vistoriadas a cada 30 minutos.

Os morcegos capturados foram acondicionados em sacos de algodão durante cerca de

meia hora para defecar, tempo suficiente para a rápida passagem do alimento pelo trato

digestivo desses animais, segundo Morrison (1980). Em seguida, foram identificados de

acordo com Gardner (2008), Peracchi et al. (2010; 2011), Reis et al. (2007) e Vizotto e Taddei

(1973). Dados morfométricos de comprimento cabeça-corpo, da cauda e peso foram obtidos

para auxiliar na identificação dos espécimes utilizando-se régua e balança de precisão do tipo

pesola. Posteriormente, os animais foram marcados com anilhas plásticas numeradas e soltos

no local de captura.

As amostras fecais coletadas durante o manuseio dos animais na rede e nos sacos de

pano foram acondicionadas em tubos plásticos do tipo eppendorf contendo álcool 70%,

etiquetadas e depois levadas ao laboratório para análise sob lupa estereomicroscópica da

marca Zeizz (modelo Stemi 2000-C).

O material foi separado em categorias (sementes, fragmentos de insetos e polpa),

contado e identificado até o menor táxon possível com consulta a Lobova et al. (2009) e

através de comparação com material botânico coletado na área de estudo durante o período de

pesquisa e que se encontra depositado no Herbário da UFS (ASE 24.747). Posteriormente, as

sementes encontradas nas amostras fecais foram fotografadas em lupa da marca Nikon

(modelo SMZ 1000).

13

Análise de dados

As amostras de fezes foram analisadas para quantificar a frequência de ocorrência de

cada item alimentar na dieta das espécies de morcego. A frequência de ocorrência das

espécies vegetais foi calculada com base apenas nas amostras fecais que apresentavam

sementes.

Para avaliar a diferença na composição da dieta entre machos e fêmeas das espécies de

morcegos realizou-se o teste G no programa BioEstat 5.0 (Ayres et al. 2007), com nível de

significância de 5%.

Para avaliar a largura do nicho (B) das espécies utilizou-se o inverso do índice de

diversidade de Simpson (1949):

n

i

ip

B

1

2

1

onde pi é a proporção da categoria de recurso utilizada e n é o número de categorias

consideradas. O valor de B varia de 1 (uso exclusivo de um tipo de recurso) a n (uso

homogêneo de todos os tipos de recursos).

Para calcular a sobreposição do nicho entre as espécies de morcegos foi utilizado o

índice de Pianka (Pianka 1973), que varia de 0 (não há sobreposição) a 1 (sobreposição total),

segundo:

n

i

ikij

n

i

ikij

kjjk

pp

pp

1

22

1

))((

onde Øjk é a medida de sobreposição de Pianka entre as espécies j e k; pij é a proporção

do recurso i em um total de recursos utilizados pela espécie j; pik é a proporção do recurso i

em um total de recursos utilizados pela espécie k e n é o número total de recursos.

Para avaliar a probabilidade da sobreposição de nicho observada ser maior ou menor

do que a esperada ao acaso, foram realizadas 5.000 simulações das frequências das categorias

alimentares para o índice de Pianka. A partir das simulações são originadas “pseudo-

comunidades” e os padrões dos dados são comparados estatisticamente ao acaso com a matriz

14

original. O cálculo do índice de sobreposição e as simulações foram realizadas no programa

EcoSim 7.72 (Gotelli & Entsminger 2009).

Através das simulações de sobreposição no uso dos recursos alimentares é possível

identificar se existe uma maior similaridade entre as espécies da comunidade na exploração

do recurso (maior sobreposição observada do que a esperada ao acaso) ou uma segregação no

uso deste (menor sobreposição observada do que a esperada ao acaso).

RESULTADOS

Foram coletadas 170 amostras fecais de cinco espécies de morcegos filostomídeos:

Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) (N = 86), Phyllostomus discolor Wagner, 1843 (N =

34), Dermanura cinerea (Gervais, 1856) (N = 18), Artibeus lituratus (Olfers, 1818) (N = 18)

e Artibeus planirostris Spix, 1823 (N = 14). As espécies apresentaram uma dieta

especializada em determinadas famílias botânicas e, do total de amostras analisadas, 111

(65,3%) continham sementes, 52 (30,6%) continham restos de polpa e 17 (10%) exibiram

fragmentos de insetos. Em somente uma amostra (0,6%), referente à P. discolor, não foi

possível identificar o conteúdo fecal.

As sementes encontradas nas fezes dos morcegos no PNSI estavam distribuídas em

seis famílias, sendo que Hypericaceae foi a mais frequente (28,8%), seguida de Urticaceae

(24,3%), Piperaceae (18,9%), Moraceae (15,3%), Solanaceae (13,5%) e Araceae (0,9%). Em

quatro amostras, referentes à C. perspicillata e P. discolor, não foi possível identificar as

sementes (N.I.); sendo estas classificadas em três morfoespécies. Espécies do gênero Ficus e

Solanum foram divididas em quatro morfoespécies, Cecropia em duas, Piper em quatro e

Philodendron em apenas uma (Figura 2).

Carollia perspicillata foi a espécie com maior número de amostras fecais, das quais

25,6% continham polpa e 73,3% continham sementes pertencentes a cinco famílias de

plantas: Hypericaceae (49,2%), Piperaceae (30,2%), Solanaceae (19%), Urticaceae (3,2%) e

Araceae (1,6%) (Figura 3). Para C. perspicillata, a espécie vegetal mais frequente foi Vismia

guianensis (Aubl.) Choisy (36,0%), seguida por Solanum sp.1 (9,8%) e Piper arboreum Aubl.

(8,4%) (Tabela 1).

15

Figura 2. Sementes de Vismia guianensis (A), Ficus sp. 4 (B), Piper sp. 1 (C), Piper arboreum (D),

Solanum sp. 2 (E), Solanum sp. 3 (F), Cecropia pachystachya (G) e Cecropia sp. 1 (H) encontrados

nas amostras fecais de morcegos capturados no PNSI, Sergipe, 2011-2013. Escala: 1mm.

A B

C D

E F

G H

16

Figura 3. Frequência de ocorrência (%) das famílias vegetais, insetos e espécies não

identificadas (N.I.) nas amostras fecais encontradas nas espécies de morcegos filostomídeos

no Parque Nacional Serra de Itabaiana, Sergipe, 2011-2013.

Dermanura cinerea apresentou uma dieta composta principalmente por frutos do

gênero Ficus (58,3%) e Solanum (16,6%), tendo consumido também frutos de Urticaceae,

Hypericaceae e Piperaceae em iguais proporções (8,3%) (Figura 3; Tabela 1). Artibeus

lituratus consumiu principalmente Cecropia pachystachya Trec. e Ficus sp. 1 (ambos 44,4%),

além de Solanum sp. 2 (11,1%) (Figura 3; Tabela 1).

A dieta encontrada para A. planirostris foi basicamente composta por frutos de Ficus

spp. (49,9%) e C. pachystachya (41,6%), além do consumo de insetos (7,1%) (Figura 3;

Tabela 1).

Amostras de fezes de P. discolor revelaram uma dieta composta principalmente por

sementes de C. pachystachya (93,7%), pertencente à família Urticaceae, e por insetos (41,2%)

(Figura 3; Tabela 1).

0

20

40

60

80

100

Carollia perspicillata

Dermanura cinerea

Artibeus lituratus

Artibeus planirostris

Phyllostomus discolor

Fre

qu

ên

cia

de

Oco

rrên

cia (

%)

Espécies de Morcegos

Araceae Hypericaceae Moraceae Piperaceae Solanaceae Urticaceae N.I. Insetos

17

Tabela 1. Número de amostras (N) e frequência de ocorrência (%) dos itens alimentares

presentes na dieta de cinco espécies de morcegos frugívoros no Parque Nacional de Itabaiana,

Sergipe.

Morcegos

Itens consumidos

C.

perspicillata D. cinerea A. lituratus A. planirostris P. discolor

N % N % N % N % N %

ARACEAE

Philodendron sp. 1 1,4

Subtotal 1 1,4

HYPERICACEAE

Vismia guianensis 31 43,6 1 8,3

Subtotal 31 43,6 1 8,3

MORACEAE

Ficus sp. 1 6 50,0 4 44,4 2 16,6

Ficus sp. 2 3 25

Ficus sp. 3 1 8,3

Ficus sp. 4 1 8,3

Subtotal 7 58,3 4 44,4 6 49,9

PIPERACEAE

Piper arboreum 6 8,4

Piper sp. 1 4 5,6

Piper sp. 2 4 5,6

Piper sp. 3 1 1,4 1 8,3

Piper sp. 4 5 7,0

Subtotal 20 28,0 1 8,3

SOLANACEAE

Solanum sp. 1 7 9,8 1 8,3

Solanum sp. 2 2 2,8 1 8,3 1 11,1

Solanum sp. 3 2 2,8

Solanum sp. 4 1 1,4

Subtotal 12 16,8 2 16,6 1 11,1

URTICACEAE

Cecropia pachystachya 1 1,4 1 8,3 4 44,4 5 41,6 15 93,7

Cecropia sp. 1 1 1,4

Subtotal 2 2,8 1 8,3 4 44,4 5 41,6 15 93,7

Não identificada

N.I. sp. 1 1 6,3

N.I. sp. 2 1 1,4

N.I. sp. 3 2 2,8

Subtotal 3 4,2 1 6,3

Insetos 2 2,3 1 7,1 14 41,2

Não houve diferença na composição da dieta entre machos e fêmeas em todas as

espécies estudadas (p > 0,3736).

18

Os maiores valores de largura de nicho foram encontrados para as espécies C.

perspicillata (B = 4,48), D. cinerea (B = 3,42) e A. planirostris (B = 3,10). Artibeus lituratus e

P. discolor apresentaram as menores larguras de nicho (2,45 e 2,13; respectivamente).

Os valores de sobreposição nicho (Tabela 2) foram maiores entre A. lituratus x A.

planirostris (Øjk = 0,78) e D. cinerea x A. lituratus (Øjk = 0,77). A menor sobreposição

encontrada foi entre C. perspicillata x A. planirostris (Øjk = 0,01).

Tabela 2. Sobreposição do nicho trófico entre as espécies de morcegos frugívoros do Parque

Nacional de Itabaiana, Sergipe.

A. planirostris C. perspicillata D. cinerea P. discolor

A. lituratus 0,78 0,02 0,77 0,51

A. planirostris 0,01 0,41 0,58

C. perspicillata 0,18 0,05

D. cinerea 0,10

Os filostomídeos no PNSI apresentaram uma sobreposição média de 0,3454, que é

significativamente maior do que a esperada ao acaso (Pobs > Pesp = 0,0044), revelando uma

sobreposição na dieta entre as espécies na área.

DISCUSSÃO

No Parque Nacional Serra de Itabaiana, Carollia perspicillata foi mais abundante

entre as espécies de morcegos frugívoras durante o período de estudo, diferentemente do

observado na maioria dos trabalhos sobre ecologia alimentar de morcegos (e.g. Passos et al.

2003; Pinto & Ortêncio Filho 2006; Silveira et al. 2011). A dominância de C. perspicillata na

localidade pode ser explicada pelo fato desta se alimentar de frutos de espécies de plantas que

ocorrem em áreas abertas, como clareiras e bordas de mata (Reis et al. 2011), comuns no

PNSI (Mendes et al. 2010).

Sua dieta foi baseada principalmente em V. guianensis, consumido em abundância

durante todo o seu período de frutificação na área de estudo; o que não corrobora outros

estudos que relatam sua preferência por frutos da família Piperaceae, principalmente do

gênero Piper (e.g. Mikich 2002; Mello et al. 2004; Reis et al. 2011). De acordo com Willig et

al. (1993) e Mello et al. (2004), essa espécie de morcego consome diferentes itens alimentares

19

dependendo da localidade estudada e, consequentemente, da disponibilidade das espécies de

plantas na área.

No nordeste brasileiro, V. guianensis apresenta período de frutificação durante a seca,

entre os meses de dezembro e janeiro (da Costa et al. 2004). Lobova et al. (2009) observaram

que, na Costa Rica, espécies de Vismia também iniciam sua frutificação sequencial na estação

seca. Essa estratégia parece minimizar, entre as plantas, a competição interespecífica por

dispersores, garantindo recurso alimentar para frugívoros por um longo período de tempo,

além de facilitar o aumento da especialização dos morcegos nos frutos (Heithaus et al. 1975).

O consumo abundante dos frutos dessa espécie parece estar relacionado à secreção de uma

substância rica em lipídios, proporcionando uma fonte de reserva nutricional (Mourão &

Beltrati 2001), que pode estar sendo utilizada durante o período de reprodução por C.

perspicillata.

Vismia spp. é uma planta pioneira que ocorre em hábitats secundários e perturbados

(Lobova et al. 2009), dominando principalmente as bordas de floresta secundária da Mata

Atlântica (Almeida-Cortez & Melo-De-Pinna 2006). No presente estudo foi possível observar

que, na ausência de frutificação de V. guianensis, frutos de Piper spp. foram mais consumidos

por C. perspicillata, seguido por Solanum spp. e Cecropia spp. Mello et al. (2004)

observaram que, em uma área de Mata Atlântica do Rio de Janeiro, quando espécies de Piper

estavam no período de baixa produção de frutos, C. perspicillata consumia em grandes

quantidades frutos de Solanum spp., além de Cecropia spp. e insetos em menor frequência,

concluindo que a dieta dessa espécie variava sazonalmente de acordo com a disponibilidade

do recurso no ambiente.

Mesmo demonstrando preferência pelo consumo de V. guianensis, C. perspicillata foi

a espécie mais generalista nesse estudo. Willig et al. (1993) e Charles-Dominique (1991)

relatam que o consumo de diferentes frutos por essa espécie está associado aos açúcares e

aminoácidos em baixa concentração e às adaptações comportamentais na seleção e remoção

dos frutos rapidamente associadas ao alto custo energético do voo.

Dermanura cinerea apresentou uma dieta composta por várias espécies de plantas,

porém com maior consumo de Ficus spp., planta que depende dessa espécie de morcego para

dispersão segundo Reis et al. (2007) e Lobova et al. (2009). Frutos de Ficus spp. são um

importante recurso alimentar para espécies de Artibeus (Dermanura) (Lobova et al. 2009),

apresentando longos períodos de frutificação que refletem em uma constante disponibilidade

desses frutos, possibilitando sua escolha por essas espécies (Mikich 2002). No PNSI, D.

20

cinerea consumiu também frutos de C. pachystachya, V. guianensis, Solanum e Piper, como

também reportado por Carvalho (1961) e Reis & Peracchi (1987), e que correspondem a

espécies típicas de ambientes alterados (Lobova et al. 2009). Em um estudo realizado por

Lopez & Vaughan (2007), morcegos do gênero Dermanura apresentaram uma dieta diversa

com pouca dominância de frutos de Ficus, sendo considerada por Bernard (2001) uma espécie

especialista de dossel.

Artibeus lituratus é citada como uma espécie que apresenta uma dieta variada,

predominantemente frugívora, consumindo frutos de diversas espécies (e.g Passos &

Passamani 2003; Passos et al. 2003; Passos & Graciolli 2004; Reis et al. 2007; Brusco &

Tozato 2009); o que não foi obervado nesse estudo. Passos & Graciolli (2004), no sul do

Brasil, relatam que frutos de Cecropia foram consumidos em maiores proporções que Ficus e

Solanum. Os mesmos autores ainda observaram que, na ausência de Cecropia, a principal

fonte de alimento na área do estudo, essa espécie de morcego apresenta-se em menor

abundância, sugerindo que estes animais poderiam migrar para áreas onde há uma maior

disponibilidade desse recurso.

Essa condição remete a uma plasticidade alimentar que permite à espécie uma

adaptação às diferentes situações de oferta de alimento (Brusco & Tozato 2009). Passos &

Passamani (2003) observaram que A. lituratus é um dispersor potencial de sementes,

principalmente de Cecropiaceae, e também facilitador da germinação, sendo um importante

agente na recuperação de áreas degradadas. Entretanto, Zortéa & Mendes (1993) e Novaes &

Nobre (2009) reportam que essa espécie é oportunista, consumindo inclusive folhas em áreas

urbanas.

Artibeus planirostris, de acordo com Reis et al. (2007), apresenta hábito alimentar

predominantemente frugívoro, consumindo menos frequentemente partes florais e insetos. No

presente estudo, essa espécie consumiu preferencialmente frutos de Ficus spp. e Cecropia

pachystachya, similar ao registrado por Brito et al. (2010) no sul do Brasil, Na ilha de Barro

Colorado, no Panamá, Morrison (1980) também relata o consumo de Cecropia e encontrou

sementes de Ficus em 80% das amostras fecais dessa espécie, indicando que frutos desse

gênero constituem a maior parte da sua dieta. Entretanto, Carvalho (1961) registrou também o

consumo de outras espécies como Psidium guayava e Jambosa vulgaris, revelando uma dieta

mais variada para essa espécie.

Phyllostomus discolor concentrou sua dieta em frutos de C. pachystachya e insetos,

sendo a mais especialista na área de estudo entre as espécies de morcegos. Mesmo sendo

21

considerada uma espécie onívora (Fleming 1988; Bredt et al. 2012), pode haver a

predominância de alguns itens alimentares em sua dieta (Reis et al. 2007); sendo que o

consumo de frutos pela espécie parece variar geograficamente e sazonalmente (Lobova et al.

2009). No Panamá, Bonaccorso (1979) registrou que na estação úmida P. discolor consome

frutos e insetos, sendo que frutos do gênero Cecropia tornam-se particularmente importantes

em sua dieta, a ponto dos indivíduos migrarem para áreas onde há disponibilidade desse

recurso durante a estação. No PNSI, essa é uma espécie de planta comum na área, ocorrendo

nas bordas de mata e clareiras (Mendes et al. 2010).

Entretanto, o consumo de Ficus (Gianini & Kalko 2004) e de Solanum e Vismia no

norte do Brasil (Reis & Peracchi 1987) já foram reportados em sua dieta. Willig et al. (1993),

em uma área de cerrado no nordeste do país, encontraram para P. discolor uma dieta

composta apenas por insetos, principalmente coleópteros e formigas. Já Heithaus et al. (1975)

e Sazima & Sazima (1977) relatam essa espécie como visitante floral, refletindo nas

estratégias de forrageamento em grupo e de forma solitária. Dessa maneira, a variedade na

dieta dessa espécie pode ser um reflexo da variação espaço-temporal na abundância de seus

recursos no ambiente (Heithaus et al. 1975).

Em relação à diferença no consumo dos recursos alimentares entre machos e fêmeas,

um estudo comparativo entre a dieta de morcegos nectarívoros (subfamília Glossophaginae)

realizado por Alvarez e Sánchez-Casas (1999) mostrou que os dois sexos podem se alimentar

de recursos similares ou diferentes, porém em algumas áreas um sexo pode exibir uma

preferência por determinadas espécies de planta. No presente estudo, o consumo dos recursos

alimentares pelas espécies analisadas não diferiu entre os sexos, provavelmente devido ao

consumo constante de espécies vegetais de ambientes alterados e que são abundantes na

localidade.

Embora tenha sido observada sobreposição na composição da dieta entre as espécies

de morcegos do PNSI, diferenças nas proporções dos itens consumidos entre as espécies

revela um mecanismo de partilha dos recursos que possibilita a co-ocorrência das espécies,

conforme já relatado por Brito et al. (2010), e que reflete na variação da dieta de acordo com a

oferta dos recursos no ambiente (Passos et al. 2003).

Altas taxas de sobreposição de nicho entre espécies congenéricas sugerem que existe

um potencial de competição entre as espécies, que as mesmas coexistem em equilíbrio ou

ainda que há diferenciação em outra dimensão do nicho, permitindo a partição de recursos

(Lopez & Vaughan 2007).

22

Entretanto, a seletividade demonstrada por A. lituratus, A. planirostris e P. discolor

pode sugerir que as estratégias dessas espécies estejam relacionadas à qualidade nutricional e

minimização da pressão de competição em determinadas épocas do ano, devido ao extenso

período de frutificação das plantas do gênero Ficus e Cecropia, conforme reportado por

Muller & Reis (1992), Passos et al. (2003) e Lobova et al. (2009).

A composição da dieta dos morcegos frugívoros no PNSI evidencia o grau de

perturbação na localidade e remete à necessidade de estratégias que visem minimizar as ações

antrópicas na região. Nesse sentido, a partir das informações obtidas nesse estudo, trabalhos

que visem uma melhor compreensão da atuação desses morcegos frugívoros na dispersão de

sementes sobre as áreas que abrangem o Parque Nacional Serra de Itabaiana podem contribuir

para o planejamento de recuperação e conservação destes ambientes.

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