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Didi-Huberman, G. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998. 234p. (Coleção: TRANS) Khinepoliticom 22.abr.2014 Isabel de Castro

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Page 1: Didi-Huberman, G. O que vemos, o que nos olha. São Paulo ... · PDF fileUma economia simbólica, semiológica e discursiva (p.9-10). ... Ela é dialética, porque procede de um momento

Didi-Huberman, G. O que vemos, o que nos olha. São Paulo: Ed. 34, 1998. 234p. (Coleção: TRANS)

Khinepoliticom 22.abr.2014

Isabel de Castro

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Referências: Louis Marin (‘50), para a Teoria francesa da Arte: Demonstrar que a imagem da arte é uma economia paradoxal de Sentido. Uma economia simbólica, semiológica e discursiva (p.9-10). Humbert Damisch, Theorie du nuage (1972), dispositivos pictóricos clássicos (nuvens renascentistas e barrocas) suscetíveis de perturbar a organização da visibilidade cumprida pela perspectiva (p.10-11).

Georges Didi-Huberman – (Saint-Étienne, 1953) fenomenologia merleau-pontyana ou psicanálise lacaniana (p.7)

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Didi-Huberman (‘80): conceitos de incarnat (cor-sangue-vermelho-olhar-desejo), pan (pano da pintura), sintoma (obra enquanto corpo do fantasma). A Pintura Encarnada, sobre a A obra prima ignorada, de Honoré de Balzac. A pintura pensa. Três paradigmas: semiótico (Sentido-sema), estético ( Sentido-aïsthèsis) e patético ( Sentido-pathos). Esse entrelaçamento poderia ressair uma estrutura de pele (p. 15-18).

Georges Didi-Huberman – (Saint-Étienne, 1953) fenomenologia merleau-pontyana ou psicanálise lacaniana

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Didi-Huberman (‘90): O que vemos, o que nos olha: História medieval e clássica X movimento minimalista EUA (‘70 + crítica de arte da época).

Uma antropologia da forma, uma metapsicologia da imagem. Aquilo que vemos vale – vive - apenas por aquilo que nos olha. Contra a crença e a tautologia (you see what you see). Walter Benjamin: aura. Ideia de que o conjunto dos sintomas e dos não-sentidos contidos nas imagens artísticas poderia constituir a substância de uma nova História da Arte (p.18-22).

Georges Didi-Huberman – (Saint-Étienne, 1953) fenomenologia merleau-pontyana ou psicanálise lacaniana

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Porque é importante... Político: 1. Arranca o monopólio das novas tecnologias e da gestão midiática do simulacro. 2. Propõe uma filosofia das imagens: heterogênea, múltipla e nômade (p.22).

Georges Didi-Huberman – (Saint-Étienne, 1953) fenomenologia merleau-pontyana ou psicanálise lacaniana

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Escultura :

verticalidade e base (pedestal), que celebra uma data, uma pessoa ou um lugar.

Egito, IV dianastia, Guizé A. Rodin, Balzac, 1891 Donatello, Guattamelata, Roma, c. 1430

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Escultura Modernista e Instalação minimalista : utiliza apenas o pedestal e sua geometria

leva em consideração o espaço onde está inserida e o material de que é constituída.

C. Andre, Lever, 1966 C. Brancusi, Coluna Infinita, 1913

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Objeto mininalista:

não é vertical, não celebra nada, é geométrico.

T. Smith, Die, 1962

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Pintura minimalista :

figura geométrica, redução da forma e da cor.

A. Reinhardt, Black Square, 1964

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A dupla distância como aura. -Espaçamento tramado do olhante e do olhado, do olhante pelo olhado. Relendo Walter Benjamin. AURA: uma trama singular de espaço e tempo.

A dupla distância – p.147-168

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Poderes do espaçamento, do olhar, da memória. 1. Ambiguidade – dialética das distâncias obra da ausência, que vai e vem, sob os nossos olhos e fora da nossa visão, anadiômena da ausência. 2. Poder do olhar – atribuído ao próprio olhado pelo olhante “isto me olha” sentir a aura é conferir-lhe o poder de levantar os olhos, poesia (p.148). 3. Poder da memória – tramado no tempo além da imagem da visibilidade: sonho (Baudelaire, Proust (algo dos olhos que os olharam)

Valéry ( as coisas que vejo me veem tanto quanto as vejo) p.149.

A dupla distância – p.147-168

Pompéia, c. 70 a.C.

Sandro Botticelli, 1485. Ticiano, 1525.

Alexandre Cabanel, 1863.

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Poderes do desejo. Partindo Benjamin, o “choque” da memória involuntária, seguido de seu valor de sintoma,

ultrapassa o domínio da arte (p.151).

A dupla distância – p.147-168

O que a palavra “culto” nem sempre quer dizer. Valor de “culto” – Poder de experiência. Ex: Verônica (p.152)

Sudário Turim, aqueropita, sem mãos humanas

Domenico Fetti, Véu de Verônica,

c.1620

El_Greco, Sta. Verônica,

c.1580

Veronica , Sagrada Familia

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A dupla distância – p.147-168

Secularizar a aura. A ausência de ilusões e o declínio da aura são fenômenos idênticos. Poder de proximidade da fotografia – Modernidade (p.153). Posição de Benjamin X valor cultual (p.153) X modernidade (atrofia da experiência, mundo mecanizado) (p.154).

Questão entre ver, crer e olhar. Culto = eusébia (irrepreensível, inocente, “piedoso”, dirigido a Deus) (p.154)

Cultus – colere – lugar trabalhado, (terra, morada, obra de arte) - mundo do ornatus, cultura, estética (p.156)

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A dupla distância – p.147-168

A distância como imanência sensorial: Erwin Straus. A aparição não é apanágio (propriedade, característica) da crença. A distância não é apanágio do divino. Aura não é credo (p.158). Para Benjamin, a imagem aurática se torna dona de nós. Não esquecer a origem ritual da obra de arte. Rupturas da Modernidade: Dante – James Joyce Fra Angelico – Tony Smith Gerando fenomenologia fundamental: Distância como choque: como capacidade de nos atingir, de nos tocar. Uma nova dimensão do sublime: “a forma pura do que surge” (p.159). Aparição da aura – dupla distância/duplo olhar/trabalho da memória, protensão – fenomenologia: Imanência visual (p.160). Erwin Straus, Do sentido dos sentidos, reflexão sobre a distância mesma, forma espaço-temporal, trama singular de espaço e tempo – forma fundamental de sentir (p.160)

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A dupla distância – p.147-168

A distância como imanência sensorial: Merleau-Ponty. Fenomenologia da percepção – paradigma da profundidade (p.162): Distância que se abre diante de nós – paradoxal. Paradigma em que se constitui o espaço em geral, sua dimensionalidade fundamental Nossa experiência é sentir sua aura, a aparição de sua distância e o poder desta sobre nosso olhar, sobre nossa capacidade de nos sentir olhados (p.164).

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A dupla distância – p.147-168

Profundidade e “voluminosidade” na escultura. Uma temporalização dialética em que a distância podia ser deduzida de uma relação de desejo com a memória – poder da ausência e da perda - uma dialética da espessura e da profundidade (p.164). Esse fantasma de coisa mal qualificado, essa pura voluminosidade (volume tátil construído

+ luminosidade ótica incircunscritível) (p.165).

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A imagem crítica – p.169-199

A noção de imagem dialética. O que é uma imagem crítica? Própria fenomenologia: experiência visual além do dilema da crença e da tautologia (p.169). Uma ponte entre a dupla distância dos sentidos (sensoriais) e a dos sentidos (semióticos). A relação dessas duas distâncias constitui na imagem a sua aura. A dupla distância é originária e a imagem é originariamente dialética, crítica. 1. A origem não é um conceito, categoria lógica, porque é um paradigma histórico (p.170) 2. A origem não é fonte das coisas, pertence à história.

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A imagem crítica – p.169-199

Turbilhão no rio: o sintoma. A origem surge diante de nós como um turbilhão no rio, como um sintoma. Perturba o curso normal do rio, catástrofe ou torna visíveis os corpos de repente, aspecto de choque e de formação, seu poder de morfogênese e de novidade, inacabada e aberta ritmos e conflitos, dialética em obra. Benjamin: somente as imagens dialéticas são autênticas – imagem crítica (uma imagem em crise, uma imagem que critica a imagem). Uma imagem que critica nossas maneiras de vê-la. Ao nos olhar, ela nos obriga a olha-la verdadeiramente, nos obriga a escrever esse olhar, não para transcrevê-lo, mas para constituí-lo (p.172).

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A imagem crítica – p.169-199

Beleza e “sublime violência do verdadeiro”. A imagem dialética: efeitos de deformações. No nível do sentido produz ambiguidade, a imagem visível da dialética, para Benjamin. A verdade é um conteúdo do belo. É um processo, um choque, primeiro um lapso ou inexprimível, que forçará a ordem do discurso ao silêncio da aura (p.173).

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A imagem crítica – p.169-199

Dialética da memória. A imagem dialética torna-se imagem condensada. Não há imagem dialética: sem um trabalho crítico da memória X tudo o que resta como indício de tudo o que foi perdido. Memória como escavação arqueológica (p.174). 1. Objeto memorizado como próximo, ao reencontrá-lo . 2. Seu lugar aberto, visível, desfigurado: não o temos como tal. A história não é impossível, ela é anacrônica, situação anacrônica. O pensamento dialético não busca reproduzir o passado, representá-lo – o produzirá – uma queda, um choque, uma síntese não tautológica – ela se torna origem - sublime violência do verdadeiro, imagem fulgurante (p.177).

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A imagem crítica – p.169-199

Imagem e conhecimento. A imagem mostra o motor dialético da criação como conhecimento e do conhecimento como criação. Oferece uma possível superação do dilema da crença e da tautologia. A imagem como crítica e crítica como trabalho da imagem. 1. A imagem dialética produz ela mesma uma leitura crítica (p.183). 2. A crítica da imagem produz ainda uma imagem dialética (p.184). Alegoria: espécie de melancolia e espécie de ironia (p.185).

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A imagem crítica – p.169-199

O paradigma do despertar. Karl Marx: a reforma da consciência consiste apenas em despertar o mundo do sonho que ele faz consigo mesmo (p.188). Benjamin: que a história deve ser aquilo mesmo que pode dissolver nossas mitologias (p.189). Não há despertar sem o sonho do qual despertamos.

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A imagem crítica – p.169-199

A história como Traumdeutung. Freud e Benjamin: sonho não é pura negatividade ou privação. O próprio esquecimento deixa traços, como restos noturnos que continuarão trabalhando – infletindo, transformando, figurando – a própria vida consciente. Ambiguidade – dialética em suspensão. A imagem dialética se oferece assim, paradoxalmente, como a memória de um esquecimento reivindicado (p.190). Benjamin trabalhou com três figuras da modernidade no esboço da dialética do despertar: Marx (dissolver o arcaísmo das imagens de sonho e impor a razão);

Proust (reconvocar essas imagens para superá-las numa forma não arcaica da linguagem poética);

Freud (interpretar, para pensar a eficácia e a estrutura dessas imagens, ultrapassando-as no que haveria de se

tornar uma nova forma de saber sobre o homem) (p.191).

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A imagem crítica – p.169-199

Quando uma obra consegue reconhecer o elemento mítico e memorativo do qual procede para ultrapassá-lo, quando consegue reconhecer o elemento presente do qual participa para ultrapassá-lo, então ela se torna uma “imagem autêntica” no sentido de Benjamin. Ela é dialética, porque procede de um momento de despertar, porque fulgura o chamado na memória do sonho num projeto da razão plástica (p.193). Não admitindo uma leitura crente, nem tautológica, fechada ou específica, modernista ou formalista (p.194).

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A imagem crítica – p.169-199

Nem crença, nem tautologia: o exemplo de Ad Reinhardt. Formas dotadas de intensidades (p.199).

Black Square, 1964

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Fim.

Obrigada.