dias depois

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Dias Depois Por Monique A. Carvalho Personagens: HOMEM MULHER (Luz baixa. Há uma mesa no centro com uma cadeira, onde uma mulher magra e muito branca se encontra sentada e dormindo com os braços estirados sobre a mesa. Um homem entra com ar autoritário. Traz uma xícara de café bem quente em uma mão e uma pasta na outra. A mulher não acorda. O homem se aproxima sem discrição, coloca a xícara sobre a mesa, olha a mulher com curiosidade e abre a pasta procurando algo. A mulher se mexe com suavidade, mas não acorda. O Homem olha sua xícara ao lado da mulher, para de folear o conteúdo da pasta e dá quatro batidas na mesa.) HOMEM Acorda! (impaciente) Eu não tenho todo o tempo do mundo! (Mulher se mexe um pouco mais e suavemente) HOMEM Vamos! MULHER (ergue a cabeça muito sutilmente e olha para o homem) Já começou? HOMEM Já começou sim e você precisa esclarecer umas coisas. (pausa) Só para confirmarmos. Seu nome? MULHER Conceição. HOMEM Casada? (Mulher olha fixamente o homem sem responder) HOMEM Exatamente onde queremos chegar. A senhora foi vista por um vizinho com um homem dentro de sua casa na madrugada do dia 25. Estou me fazendo compreender? (A mulher nada responde e continua a olhá-lo fixamente com as mãos sobre os joelhos) HOMEM Este homem parece ter passado um período de tempo na sua casa, mas naquela noite, segundo nossas fontes, a senhora passou dos limites da compostura e… (A mulher cruza as pernas sem tirar os olhos do homem. O homem olha as pernas brancas da mulher e desvia o olhar). HOMEM Seduziu um jovem de 17 anos. MULHER Como o Sr. Tem a ousadia de insinuar uma coisa como essa? (Mulher se levanta bruscamente da cadeira e apoia as mãos na mesa comprimindo os seios no decote) O meu marido não vai gostar dessas insinuações, ainda mais desses olhares que o Sr. está me dando. Estou ficando constrangida.

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Page 1: Dias depois

Dias Depois Por Monique A. Carvalho

Personagens:

HOMEM

MULHER

(Luz baixa. Há uma mesa no centro com uma cadeira, onde uma mulher magra e muito

branca se encontra sentada e dormindo com os braços estirados sobre a mesa. Um

homem entra com ar autoritário. Traz uma xícara de café bem quente em uma mão e

uma pasta na outra. A mulher não acorda.

O homem se aproxima sem discrição, coloca a xícara sobre a mesa, olha a mulher com

curiosidade e abre a pasta procurando algo. A mulher se mexe com suavidade, mas não

acorda. O Homem olha sua xícara ao lado da mulher, para de folear o conteúdo da

pasta e dá quatro batidas na mesa.)

HOMEM – Acorda! (impaciente) Eu não tenho todo o tempo do mundo!

(Mulher se mexe um pouco mais e suavemente)

HOMEM – Vamos!

MULHER – (ergue a cabeça muito sutilmente e olha para o homem) Já começou?

HOMEM – Já começou sim e você precisa esclarecer umas coisas. (pausa) Só para

confirmarmos. Seu nome?

MULHER – Conceição.

HOMEM – Casada?

(Mulher olha fixamente o homem sem responder)

HOMEM – Exatamente onde queremos chegar. A senhora foi vista por um vizinho

com um homem dentro de sua casa na madrugada do dia 25. Estou me fazendo

compreender?

(A mulher nada responde e continua a olhá-lo fixamente com as mãos sobre os joelhos)

HOMEM – Este homem parece ter passado um período de tempo na sua casa, mas

naquela noite, segundo nossas fontes, a senhora passou dos limites da compostura e…

(A mulher cruza as pernas sem tirar os olhos do homem. O homem olha as pernas

brancas da mulher e desvia o olhar).

HOMEM – Seduziu um jovem de 17 anos.

MULHER – Como o Sr. Tem a ousadia de insinuar uma coisa como essa? (Mulher se

levanta bruscamente da cadeira e apoia as mãos na mesa comprimindo os seios no

decote) O meu marido não vai gostar dessas insinuações, ainda mais desses olhares que

o Sr. está me dando. Estou ficando constrangida.

Page 2: Dias depois

HOMEM – (incrédulo) Por favor, senhora! Vamos voltar às perguntas.

MULHER – (aponta para a xícara de café) Posso?

(Homem confirma com a cabeça e volta a olhar para a pasta)

HOMEM – Aqui diz que seu marido faleceu na madrugada de ontem enquanto dormia.

MULHER – (Pegando a xícara e assoprando o café sem tirar os olhos do

homem) Como? (Se exalta) Ele era um bom homem. (Acalme-se

repentinamente) Felizmente teve o que merecia: uma morte tranquila.

HOMEM – É por isso que a senhora está aqui hoje. Devido ao seu histórico com esse

jovem e ao seu relacionamento com seu marido, tudo indica que a senhora esteja

envolvida neste caso.

(Mulher calmamente leva a xícara à boca e por um reflexo a afasta)

MULHER – Aih! (geme) Queimei meu lábio. Aih! Está muito vermelho? (Se aproxima

do homem e lhe mostra os lábios)

HOMEM – (Atordoado) Não está lin.. normal.

MULHER – Obrigada! Minha mãe está aqui?

HOMEM – Sua mãe foi liberada, senhora.

MULHER – Que bom! Minha mãe não é mais uma jovenzinha que suportaria situações

tão constrangedoras como essa. Nem eu sou mais jovem..

HOMEM – Como assim, senhora?

MULHER – Senhora… (Abaixa os olhos segurando a xícara com as duas mãos) e

viúva (triste). Preciso saber quem fez isso com meu marido!

HOMEM - Perdão, senhora. Vamos solucionar este caso o mais rápido possível.

(A mulher sorri deslumbrante. O homem a olha com admiração)

HOMEM – Quando chegamos a sua casa, a senhora estava atordoada e tomou vários

comprimidos antes de nos acompanhar.

MULHER – Eu não sou tão forte. (A mulher começa a chorar segurando a xícara).

HOMEM – Se acalme, senhora. (Coloca a pasta sobre a mesa e tenta tirar a xícara da

mão da mulher.

MULHER – (com as mãos dele sobre a sua, o olha e sorri) Obrigada.

Page 3: Dias depois

(O homem para por um instante e desvia o olhar de seu rosto, olhando para baixo em

direção aos seios).

MULHER – (Ainda em contato com o homem) Há dois quadros que meu marido

gostava muito, ambos são de mulheres vulgares. Eu não vou conseguir e nem quero

mais olhar para eles na minha parede. O senhor gosta de quadro de mulheres?

HOMEM – (Desconcertado tira a xícara das mãos da mulher e toma um gole do

café) Droga!

MULHER – Eu disse que estava quente.