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Dias de Marias Jessica Benevides João Melhorance Laurence Alves Luísa Leitão

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Relatório de projeto IV - G1 Jéssica Benevides, João Melhorance, Laurence Alves e Luísa Leitão

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Page 1: Dias de Maria

Dias de MariasJessica BenevidesJoão Melhorance

Laurence AlvesLuísa Leitão

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Page 3: Dias de Maria

PUC-RIO Departamento de Artes

e Design – 2014.2

DSG1004 Projeto Avançado

Estratégia e Gestão

Profs. Guilherme Toledo e Joana Pessoa

Jéssica Benevides, João Melhorance, Laurence

Alves e Luísa Leitão

Page 4: Dias de Maria

05 introdução

instituições 07 instituto Refazer 11 associação Saúde Criança 17 instituto Ressurgir

análises 21 pesquisa de campo 25 jogo de palavras 29 entrevistas

insights 31 conclusões 33 objetivo

35 referências

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Page 5: Dias de Maria

Na disciplina de Projeto Avançado – Estratégia e Gestão nos foi pro-posto o tema: Empreendedorismo Cidadão. A sugestão inicial foi a de buscar informações sobre quem são esses empreendedores, o que fazem e que instituições trabalham com esse assunto. Individualmente, fizemos pesquisas iniciais sobre projetos que nos interessaram e os ex-pomos em sala de aula. Assim, notamos que o tema “capacitação” era elemento de interesse comum entre os componentes deste grupo, então nos reunimos e fomos conhecer mais de perto essas instituições que têm sua atuação mais voltada ao tema da capacitação.

Entramos em contato com três instituições: Refazer, localizada em Botafogo, Ressurgir, no Rio Comprido, e Saúde Criança, que antes se chamava Renascer e que possui duas sedes, uma dentro do Parque Lage e outra no Jardim Botânico. Visitando esses locais e observando seu trabalho, percebemos que o tema “capacitação” era apenas uma pequena parcela de um sistema mais complexo que tem seu enfoque na reestruturação familiar.

Após algumas semanas de acompanhamento dessas instituições, de realização de entrevistas e Jogos de Palavras com as diversas pessoas en-volvidas em seus projetos, conseguimos compreender melhor e nos in-teirar sobre sua história, sua estrutura, seu funcionamento e sua missão. Dessa forma, como já tínhamos desenvolvido um maior entendimento sobre nosso objeto de estudo, pudemos avançar para a próxima etapa do projeto, por meio da identificação de um objetivo, que irá guiar o andamento e o desenvolvimento dele a partir de então.

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•••introdução

Page 6: Dias de Maria

1perfil das instituições Instituto Refazer

Missão“Evitar a reinternação e/ou agravamento da doença de crianças e

adolescentes de baixa renda encaminhados pelo Instituto Fernandes Figueira.”

Estatísticas • Desde 1995 – 1.700 famílias foram atendidas, mais de 10

mil cestas básicas e 19 mil medicamentos fornecidos. (Dados de 2012) • No último trimestre (Abril a Junho de 2014), foram realiza-

dos 240 atendimentos, tendo 6 crianças sido desligadas da instituição devido a sua melhora de saúde. Ocorreram 3 atendimentos emergen-ciais, 8 crianças receberam oxigênio domiciliar e infelizmente, 3 chega-ram a óbito.

• No programa Prevenir, foram 188 participantes que precisa-ram ser divididos em 18 grupos, chegando a ter 6 grupos por mês.

• No projeto Tijolo, de 5 obras que foram iniciadas em 2013, 1 foi concluída e mais 2 já estão em fase de conclusão.

Desde 1995, o Refazer procura evitar a reinternação e/ou o agra-vamento da doença de crianças e adolescentes de baixa renda encami-nhados pelo Instituto Fernandes Figueira, hospital referência em trata-mento materno-infantil. A dinâmica familiar é muito alterada a partir do momento em que um de seus membros é internado no hospital. Assim, o instituo busca disponibilizar meios para promover a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, bem como a de suas famílias.

Não só o material hospitalar e remédios são providos; alimentos e cursos voltados para a capacitação profissional também são oferecidos às famílias. Os programas da instituição buscam alcançar todas as pos-síveis necessidades, desde o momento em que chegam ao Refazer ao momento da despedida e do consequente desligamento da instituição.

A rotina do Instituto é composta por um conjunto de programas complementares ao tratamento hospitalar, formando os pilares para o reestruramento familiar, sendo eles: o Atendimento (ou Acolhida) em conjunto com a Musicoterapia e o Repasse, o Programa Prevenir (palestras sobre saúde e cidadania), o Programa Tijolo (de melhoria de moradias) e a Grife (programa de capacitação e geração de renda).

sede da instituição em Botafogo

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Page 7: Dias de Maria

AtendimentoNa primeira ida até o instituto, o atendimento se trata do momento

de cadastramento da criança e sua família na instituição, é quando eles entram para a base de dados do sistema da Refazer. Além disso, o Aten-dimento é uma visita que deve ser feita à instituição mensalmente, para atualização dos dados do sistema, para uma posterior análise do desem-penho daquela família dentro da instituição e de como os programas da Refazer estão influenciado em sua vida. Junto do Atendimento que ocorre mensalmente, acontecem o Repasse e a Musicoterapia.

De acordo com as instruções de profissionais do Instituto Fernan-des Figueira, as famílias acolhidas passam a receber os benefícios in-dicados pelo hospital, como medicamentos, leites especiais, aparelhos respiratórios e cadeiras de roda. Além das necessidades individuais, to-das as famílias recebem cestas básicas e auxílio transporte para o com-parecimento aos atendimentos.

A Musicoterapia utiliza a música para comunicar, curar, inspirar, liberar e nutrir o processo de descoberta de cada um, resgatando pos-sibilidades sensoriais, afetivas e emocionais dos assistidos, resultando em um aumento significativo da autoestima, o que contribui para a melhoria da saúde emocional e da qualidade de vida das famílias.

Programa PrevenirO Programa Prevenir oferece palestras com conteúdo socioeduca-

tivo voltados para cidadania, prevenção de doenças, fortalecimento da autoestima, educação financeira, entre tantos outros temas que são dis-cutidos com os responsáveis das crianças e adolescentes assistidos. Ele acontece mensalmente, junto com o atendimento das famílias e é rea-lizado pela equipe de voluntários do Instituto. Estimula a assimilação natural da informação, o que provoca um efeito multiplicador dos co-nhecimentos junto às comunidades de origem. A Refazer acredita que seja visível o empoderamento gerado pelo conteúdo abordado por esse programa, assim, os responsáveis se sentem incluídos e fortalecidos.

Durante a participação dos pais e responsáveis no programa de prevenção, as crianças e os adolescentes são entretidos com atividades lúdicas criadas de acordo com o conteúdo das palestras socioeducativas que estão sendo ministradas para os adultos.

atividades da musicoterapia sendo realizadas com as crianças assistidas.

o atendimento no momento do Repasse

palestras do Programa Petrobrás Desenvolvimento & Cidadania

atividades de recreação para crianças

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Page 8: Dias de Maria

Programa TijoloFrequentemente, a inadequação das moradias impossibilita uma

melhora de saúde da criança assistida. Mofo, reboco aparente, falta de saneamento ou espaço para a mobilidade de uma cadeira de ro-das são alguns exemplos dos problemas que originaram o Programa Tijolo. Criado em 2003, o programa reforma as casas que necessitam de alguma alteração, oferecendo melhores condições de saúde para a família. No entanto, as famílias precisam dar contrapartida no pro-grama, então, a mão de obra é frequentemente oferecida por amigos e familiares, o que colabora para aumentar a produtividade e a sensação de pertencimento.

Grife RefazerA Grife Refazer é um programa de capacitação e geração de renda,

criado em 2006, para beneficiar diretamente as mães das crianças e adolescentes assistidos. O programa é uma das maneiras que a insti-tuição encontrou para dar continuidade ao trabalho feito na Refazer após a despedida das famílias. As mães vão até o instituto uma vez por semana, onde aprendem a bordar, costurar e montar bijuterias e o que produzem se torna um complemento à renda familiar. Estilistas e voluntárias orientam o processo de criação e produção, valorizando a habilidade individual de cada mãe. As mães produzem em suas pró-prias casas, o que a possibilita estar perto de seus filhos. Jane Coelho, a responsável pela Grife, defende que o maior impacto do programa é que as mães saem sabendo que elas são capazes de produzir e de gerar renda para cuidar de sua família.

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casa reformada pelo programa

as mães que participam do programa de renda trabalhando e o ateliê

Page 9: Dias de Maria

MissãoPromover o bem-estar biopsicossocial de crianças e suas famílias

que vivem abaixo da linha da pobreza, compreendendo saúde de forma de forma integrada e como instrumento de inclusão social.

Estatísticas • Desde 1991 a 2013, foram 50 mil pessoas atendidas. 3997

famílias atendidas na franquia social Sáude Criança. 3384 instrumen-tos de trabalhos fornecidos. 20522 crianças e adolescentes cadastrados. 2092 cursos profissionalizantes efetuados.

• Na área de Saúde, foram 1082 beneficiários atendidos. Eram 42 desnutridos graves, 36 desnutridos moderados, 34 obesos e 237 saudáveis, segundo o setor de nutrição da Matriz, em 2013.

• A saúde das crianças beneficiadas pelo Saúde Criança melho-rou significativamente. O tempo de internação dessas crianças caiu, em média, 90 por cento, e elas estão 11 pontos percentuais menos propensas à cirurgia ou tratamento clínico do que as crianças que não receberam benefícios do SC, segundo a pesquisa da universidade de Georgetown, realizada em Outubro de 2013.

• No setor de Psicologia e Psiquiatria, foram 1256 atendidos. • 467 crianças atendidas na faixa etária de 6 a 18 anos estão

devidamente matriculadas em escolas públicas. 42 matriculados em instituições particulares de ensino pela bolsa de estudos do Instituto Kinder do Brasil. E 18 crianças que não estudam devido a alguma doença impeditiva.

• No Atendimento feito pelo Serviço Social, passaram pela Triagem 134 beneficiários e foram feitos 225 encaminhamentos. Foram 56 visitas domiciliares em estágio inicial, 9 em acompanha-mento e 17 em estágio final. Pelo PAF, foram planejadas 848 ações, 788 foram encerradas e 184 estavam em andamento. No Aconchego Família, 144 assistidos foram atendidos e 18 realizaram atividades no Aconchego Adolescente.

• No setor Jurídico, foram efetuadas 44 ações de leite especial, 83 de medicamentos, 44 de documentos de propriedade, 34 de ação alimentícia e 55 de benefícios sociais.

• No ano de 2013, no programa de geração de Renda, 129 alu-nos foram matriculados em oficinas internas e 22 em oficinas externas. Para os alunos que concluíram as oficinas da matriz, foram entregues 71 instrumentos de trabalhos.

1perfil das instituições Associação Saúde Criança

sede da instituição no Parque Lage

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• O bem-estar economico das famílias do Saúde Criança me-lhorou substancialmente.

• A renda dos beneficiá- rios quase dobrou, e eles tinham quase 12 pontos percentuais a mais de probabilidade de estarem emprega- dos do que os adultos de famílias semelhantes que não foram expostos ao SC, segundo a pesquisa da universidade de Georgetown, realizada em Outubro de 2013.

• No programa de Moradia, foram 15 casas reformadas e 1 doada, devido ao apoio dos parceiros.

O Saúde Criança, fundado pela Dra. Vera Cordeiro, foi a organiza-ção social pioneira, no Brasil, a trabalhar para reestruturar e promover o autossustento das famílias de crianças em risco social, provenientes de unidades públicas de saúde. A Associação Saúde Criança (ASC) Zona Sul, a sede que estamos acompanhando, é uma Organização Social, que presta assistência às crianças e adolescentes atendidos na pediatria e/ou berçário dos Hospitais Municipal Miguel Couto – HMC e Instituto de Cardiologia Aloysio de Castro – IECAC, no Rio de Janeiro, e às suas famílias. O trabalho realizado visa reestruturar a vida dos pacientes em situação de vulnerabilidade sócio-economica por meio de um Plano de Ação Familiar (PAF).

O projeto teve início em 1991, quando a Dra. Vera Cordeiro cons-tatou que muitas crianças eram internadas com um problema de saúde, eram curadas e pouco tempo depois de receberem alta, retornavam ao Hospital para nova internação, geralmente, pelo mesmo problema de saúde anterior. Dessa forma, construía-se um ciclo vicioso nos hospitais públicos do país e notou-se que, em muitos casos, a verdadeira causa das doenças eram as condições de vida dessas famílias. Assim, foi criado o Saúde Criança, que originalmente era denominado Renascer, para complementar as ações feitas pelo Estado.

Após um grupo de profissionais da unidade pública de saúde par-ceira selecionar e encaminhar as famílias à associação, o responsável pela família passa pelo Atendimento, momento em que o PAF é ela-borado, em parceira com uma equipe formada por assistentes sociais,

Momento do Atendimento na sede da Saúde Criança Zona Sul, localizada no

Parque Lage

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nutricionistas, psicólogos, psiquiatras e advogados. Cada família é aten-dida, individualmente, a partir das suas necessidades e potencialidades, durante um período de, aproximadamente, dois anos, para que possa adquirir autonomia e dignidade. Todo o trabalho da instituição é base-do no Plano de Ação Familiar (PAF) que consiste em um conjunto de ações com metas e prazos de execução, e engloba cinco áreas: a Saúde, a Profissionalização, a Moradia, a Educação e a Cidadania.

SaúdeA área de Saúde é trabalhada com toda a família, mantendo o foco

na criança atendida. Além de medicamentos, alimentos especiais e equipamentos médicos, também são oferecidos tratamentos odonto-lógicos e nutricionais, que são realizados por profissionais voluntários, sem qualquer custo para a instituição. Há também um olhar voltado para a saúde mental dos membros das famílias. Portanto, é oferecido atendimento psicológico em grupo e individual, um trabalho realizado por um grupo de psicólogas voluntárias que acompanham as famílias durante todo o período de atendimento.

Bem NutrirDentro da área de Saúde há o projeto Bem Nutrir. O projeto se

baseia no acompanhamento individualizado de beneficiários que pos-suam condição alimentar que requeira atenção especial, promovendo a conscientização sobre os cuidados especiais que precisam ser tomados. Além disso, ele busca levar de forma didaticamente acessível, interativa e personalizada, conhecimentos sobre os benefícios de uma alimenta-ção equilibrada, saudável e de baixo custo.

MoradiaO programa de moradia visa melhorar a estrutura da casa em que

a família reside, buscando sanar problemas estruturais básicos e assim, proporcionar uma melhora na saúde e condição de vida de todos. As assistentes sociais fazem uma visita à residência da família para iden-tificar os problemas. Na maioria dos casos, os reparos feitos são para conserto de telhado, colocação de piso, rede elétrica e de esgoto e con-serto de infiltrações e rachaduras. Além disso, quando identificada a necessidade, busca-se doações de móveis, eletrodomésticos e utensílios domésticos para a família. Por fim, para que seja contemplada pelo programa de moradia, a residência precisa ser própria não estar em área com risco de desabamento ou deslizamento e não estar localizada em área de conflito.

CidadaniaO programa de Cidadania, realizado pela equipe de atendimento

com o apoio da voluntária da área jurídica, tem como objetivo prin-cipal garantir que a família atendida tenha toda documentação básica, obtenha benefícios do governo quando tiver direito, conheça seus di-reitos e saiba reivindicá-los. Também é dado apoio jurídico em questões específicas, como solicitação de medicamentos, alimentos e benefícios

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atividade de conscientização sobre os cuidados com a nutrição

antes e depois da reforma

Page 12: Dias de Maria

à Defensoria Pública, obtenção de documentação específica, pedidos de pensão alimentícia, entre outros casos.

Aconchego FamíliaAo chegar à sede da Associação Saúde Criança para o atendimento

mensal, o responsável familiar é recebido no Programa Aconchego Fa-mília. O encontro, conduzido por uma assistente social e voluntários, é um momento de reflexão e troca de experiências, palestras, discussões e debates. São abordados assuntos como o planejamento familiar, os cuidados básicos, o desenvolvimento infantil, a saúde, a alimentação alternativa, a higiene, os relacionamentos familiares, a violência, e os acidentes domésticos, entre outros temas. Também acontecem Rodas de Terapia Comunitária, cujo objetivo é confortar, acolher e aproximar.

ProfissionalizaçãoO programa de geração de renda é trabalhado através da profissio-

nalização, seu principal objetivo é oferecer à família uma forma de au-tossustento para que ela possa se manter financeiramente, após deixar o atendimento do Saúde Criança - Zona Sul (sede do Parque Lage). São oferecidos cursos internos (que ocorrem no Saúde Criança Matriz – sede do Jardim Botânico) e externos (pagos pelo Saúde Criança Zona Sul), de acordo com o interesse e afinidade com os temas oferecidos: gastronomia, manicure e pedicure, cabeleireiro e depilação. Em geral são as mães que realizam os cursos, pois são maioria entre os respon-sáveis pela família no atendimento da associação. No entanto, alguns adolescentes, irmãos das crianças atendidas, também se interessam pe-los cursos e têm permissão pra participar deles.

Em paralelo aos cursos, a instituição busca auxiliar as famílias a conseguir emprego, por meio da divulgação de oportunidades de tra-balho oferecidas por empresas parceiras ou anunciadas em jornais. São feitas ainda doações de equipamentos de trabalho para que a pessoa que concluiu o curso consiga iniciar suas atividades profissionais. Além disso, ainda há um auxílio àquelas famílias que não fizeram curso pelo Saúde Criança, mas que precisam de algum tipo de ferramenta ou apa-relho para trabalhar.

EducaçãoA área de educação tem como objetivo fazer com que todas as

crianças das famílias atendidas estejam matriculadas e frequentando a escola ou a creche. Também é realizado um acompanhamento do desempenho escolar das crianças e, quando identificada a necessidade, é oferecido um suporte individualizado, realizado por profissionais vo-luntários, como o atendimento psicopedagógico. A instituição ainda fornece aulas particulares de inglês para os jovens que tenham interesse.

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conversa entre responsáveis e psicólogas

curso de gastronomia oferecido pelo programa de geração de renda

Antonio, pai de uma criança atendida pela instituição, estava desempregado e, para

sustentar sua família de cinco pessoas, a Saúde Criança o doou uma barraca

ambulante de milho e hoje, ele trabalha em Copacabana

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Cursos de capacitação realizados em 2013 e a quantidade de membros matriculado em cada um.

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1perfil das instituições Instituto Ressurgir

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Missão“Incluir socialmente através da conscientização dos direitos da

criança e do adolescente, disponibilizando meios que promovam a me-lhoria da qualidade de vida das famílias assistidas.”

Estatísticas • Desde a fundação da Ressurgir até Dezembro de 2009, foram

1651 famílias assistidas e 6279 beneficiários.

Em 1995, a Associação Ressurgir – Escola de Família foi fundada por uma equipe de profissionais de saúde do Hospital Municipal Sal-les Netto para apoiar as famílias das crianças internadas. Devido ao baixo nível sócio economico das famílias assistidas, esse apoio não era suficiente e quase 100% das crianças que recebiam alta, retornavam ao hospital, na maioria das vezes, em piores condições.

Dessa forma, o trabalho foi ampliado tendo como objetivo pro-piciar ações preventivas de recuperação da saúde física e psicológica, promovendo a inclusão social das crianças, adolescentes e suas famí-lias encaminhadas pelo hospital por meio do CRAS (Centro de Re-ferência de Assistência Social) e por escolas públicas do entorno. Para isso, foi preciso utilizar ferramentas sólidas para propiciar a criação de oportunidades para mudança, então, a partir desta busca desco-briu-se no tripé: Hospital (saúde) – Ressurgir (educação) – Univer-sidade (trabalho) a parceria necessária para executar um trabalho educativo e transformador.

A maioria das famílias beneficiadas é chefiada por mulheres com renda inferior a um salário mínimo, uma vez que se sustentam por meio de sub empregos. Os componentes dessas famílias chegam à Res-surgir com total falta de perspectivas, de moradia digna, com a saúde debilitada e baixa autoestima. Os adultos, muitas vezes, possuem baixa escolaridade, não estando preparados ou adequados para serem inse-ridos no mercado de trabalho, além de se considerarem impedidos de prosperarem e de participarem na sociedade, em função de estarem diretamente ligados às doenças cronicas de seus filhos.

Assim, definiu-se que o Hospital teria o papel de tratar, curar e acompanhar o desenvolvimento da criança e do adolescente, propor-cionando à sua família a segurança necessária em relação à saúde de seus filhos. A Ressurgir seria responsável por prover o apoio material, psicos-social e educacional necessário para a recuperação da saúde da criança,

sede da instituição no Rio Comprido

Page 15: Dias de Maria

evitando a reinternação e intermediando as ações entre os três parceiros visando à inclusão social de toda família. E a Universidade contribuiria com a disseminação de conhecimentos, ensinando e aprendendo, na interação: professores – alunos – famílias, desenvolvendo nos estudan-tes princípios de solidariedade, valores éticos e compromisso social. Tal parceria também proporciona às famílias o atendimento médico e nu-tricional, orientações sobre saúde, tratamento odontológico realizado na sede da Associação, consultas e exames no hospital Universitário e consultoria jurídica na Universidade. Por fim, a comunidade como um todo é beneficiada, pois adquire conhecimento, reconhecimento do seu papel na sociedade e auxílio na prevenção de doenças, assim como em seu tratamento.

O trabalho é realizado através de três núcleos: Núcleo I: Atividades Psicossociais; Núcleo II: Atividades psicopedagógicas para todas as fai-xas etárias e Núcleo III: Atividades de capacitação para descoberta de talentos e geração de renda, que seguem ações diferenciadas, segundo as necessidades básicas das famílias em atendimento.

Núcleo I: Atividades Psicossociais. Dentro do Núcleo I estão os programas: Apadrinhamento Social,

Saúde Integral da Família e Sorriso Aberto. O objetivo das atividades psicossociais é proporcionar às famílias assistidas, as quais apresentam na sua totalidade crianças e adolescentes com problemas de desnutri-ção, o acesso ao equilíbrio nutricional, atendimento a saúde, e ações educativas e preventivas, e encaminhamentos para rede de serviços, in-dependente da faixa etária do beneficiário. São oferecidas consultas, exames médicos e odontológicos, doações de cestas básicas, vestuário, cobertores, medicamentos e leites.

Apadrinhamento SocialO Apadrinhamento Social promove o comprometimento de pes-

soas físicas ou jurídicas para o apadrinhamento, por um período pré--determinado, para que as famílias possam se reestruturar ou amenizar seu sofrimento, devido a doenças graves ou cronicas de um de seus membros.

Saúde Integral da FamíliaO programa busca a integração e o conhecimento dos problemas

sociais vivenciados pelas famílias beneficiárias, assim como os de suas comunidades. Adultos e idosos são avaliados, educados e orientados para a saúde com o objetivo de formar agentes multiplicadores do saber nas comunidades em que vivem.

Sorriso AbertoO Sorriso Aberto consiste na educação para a prevenção da saúde

bucal.

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relação universidade – Ressurgir – comu-nidade

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Núcleo II: Atividades psicopedagógicas para todas as faixas etárias

No Núcleo II, o atendimento é separado por faixa etária, focado na descoberta de oportunidade para o crescimento social e cultural. Esse contém os programas: Brinquedoteca, Eca e Inclusão Digital.

Brinquedoteca (6 meses a 14 anos de idade)

A Brinquedoteca promove o desenvolvimento psico-social-afetivo e cognitivo da criança, através de atividades lúdicas e recreativas. Ela estimula a inteligência, a criatividade, a autonomia e a sociabilidade, criando um espaço de discussão das situações geradoras de conflitos em casa e na escola, estimulando, dessa forma, a interação entre pais e filhos e orientando os pais na superação das possíveis dificuldades.

Eca – Direito das crianças dever de todos; Desco-brindo Talentos; Investindo na Criança (0 a 17 anos de idade)

Busca trabalhar com crianças e adolescentes com problemas de aprendizado através de ações pedagógicas e culturais, como o reforço escolar, a dança, o teatro musical e a leitura, a interpretação e a elabo-ração de textos. Assim, é desenvolvida a capacidade de reflexão ligada aos direitos e deveres dos jovens, por meio de estudos e oficinas de arte para plena compreensão, capacidade de debates e multiplicação do Es-tatuto da Criança e do Adolescente. Além disso, são realizadas visitas a museus, teatros, cinemas e espaços turísticos.

Inclusão Digital (todas as idades)

O programa promove oficinas de informática educativa, visando o conhecimento de novas tecnologias, o que facilita a inserção e inclusão no mundo atual.

Núcleo III: Atividades de capacitação para desco-berta de talentos e geração de renda

O núcleo III, que é voltado para a geração de renda, oferece ati-vidades de capacitação a partir dos 14 anos de idade, na condição de aprendiz, e representa um incentivo à busca e descoberta de talentos para um futuro profissional. Nele encontra-se o projeto: Mãos Que Fazem Ressurgir Vidas.

Projeto Mãos Que Fazem Ressurgir Vidas (Produção)

O projeto consiste em uma equipe de mães produtoras na área de artesanato, que promove a confecção e venda de produtos, objetivando recursos para o projeto de geração de renda e seus participantes.

aulas de dança e teatro

Page 17: Dias de Maria

2análises pesquisa de campo

Depois do tema de trabalho ser definido como capacitação, escolhemos três instituições que lidam com o assunto para visitarmos: "Saúde Cri-ança", "Refazer" e "Ressurgir".

A Saúde Criança, antiga Renascer, foi a que deu origem às outras duas instituições. Ela recebe famílias indicadas pelo Hospital Miguel Couto em sua sede no Parque Lage e presta atendimentos realizados por voluntários nas áreas de saúde, direitos civis, nutrição e psicolo-gia. Essas famílias têm alguma criança que esteja passando por alguma doença grave, como o câncer, e deve retornar ao menos uma vez por mês para reavaliação. O tempo de permanência no projeto costuma ser de dois anos. As mães participam de atividades como a hora do ac-onchego - um tipo de terapia em grupo - e cursos de capacitação como para cabeleireiro, manicure, pedicura, gastronomia e costura.

A Refazer segue um modelo muito parecido, tendo a maior dif-erença no tipo de curso, que se mantém na área da costura. As mães podem gerar renda com o auxílio da instituição, sediada em Botafogo, costurando peças para a Grife Refazer.

A Ressurgir, localizada no Rio Comprido, recebe famílias de 27 comunidades da região indicadas por diferentes órgãos governamen-tais. As crianças podem fazer aulas de dança e informática, por exem-plo, e a família recebe atendimento psicológico quando necessário. As mulheres das comunidades podem participar de cursos de costura e de pintura em madeira, aula na qual também aprendem a reutilizar ob-jetos descartados. Todos os meses as mães são avaliadas quanto ao seu rendimento e assiduidade, podendo ser transferidas para outro curso ou desligadas do programa. Caso queiram, colaboram com a produção a ser vendida e ganham participação nos lucros. Algumas ex-partici-pantes podem ser convidadas a dar aula na instituição.

Durante as visitas, procuramos observar a relação entre funcionári-os e mães, as atividades realizadas, a estrutura, o que estava sendo dito e como se comportavam. Além disso, focamos nossa atenção no nosso tema de pesquisa: a capacitação e os projetos envolvidos com isso.

O primeiro lugar visitado foi a Refazer. Quem nos recebeu e nos guiou foi a Débora, gerente administrativa. Ela nos mostrou toda a in-stituição, desde o lugar onde as famílias são recebidas pela primeira vez até o ateliê de costura. Lá, ela mencionou que muitas mães do projeto não fazem as aulas por falta de vontade ou por não entenderem que isso pode ser bom para elas. Débora também falou da satisfação em saber que o projeto foi importante na vida das famílias. Na sala dela estava

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Page 18: Dias de Maria

emoldurado um cartaz de uma mãe agradecendo por tudo o que a Re-fazer a ajudou a conquistar.

Na Saúde Criança, Teresa, do setor de comunicação, nos levou primeiro à sede do Parque Lage, onde foi fundada a instituição e ocorre o atendimento às famílias. Pudemos presenciar o momento de conversa entre as mães, a Hora do Aconchego, o que evidenciou a importância da união entre elas. Conhecemos o lugar e os voluntários, a maioria reunida numa grande sala onde ocorrem os atendimentos. Depois an-damos até a outra unidade, também no bairro do Jardim Botânico. Nela funciona parte do setor administrativo e ocorrem os cursos. Neste dia havia apenas uma aluna, tendo aula de manicure. Não era um dia de aula, no entanto. Novamente a questão da vontade das mulheres das famílias de fazer os cursos foi levantada e apontada como algo essencial, já que a reestruturação deve partir de dentro da família.

Na visita à Ressurgir, fomos guiados pelo Marcelo, coordenador de cursos. Ele começou nos apresentando à assistente social, pela qual todas as famílias passam, e à psicóloga, que atende tanto os pais quan-to crianças e adolescentes, caso necessário. Vimos uma atividade de dança e jogos para crianças e uma aula de informática para outras em uma faixa etária acima. Por ser esse o foco da Ressurgir, passamos a maior parte do tempo na área de cursos. Marcelo nos levou à sala onde estão expostos alguns dos produtos feitos lá, que são vendidos tanto para o público em geral quanto para empresas. Ele demonstrou grande orgulho do trabalho feito por ele e pelas mulheres e contou histórias de ressurgimento através desses cursos. Depois, ao conversar com as mulheres em aula naquele momento, pudemos confirmar essas históri-as e perceber o valor dado pelas alunas e professoras. Mais uma vez a importância da vontade das mães foi frisada.

Pudemos perceber que a capacitação, causa da escolha desses lugares, é só parte de um longo trabalho feito pelos locais. Ainda estão envolvidas questões de saúde, direitos e autoestima, nas quais passamos a prestar mais atenção após conhecer. Também identificamos que o maior retorno que as instituições recebem das famílias atendidas é saber que elas se reestruturam e se desenvolvem após passarem pelo projeto, mas as mães também podem contribuir para a sustentabilidade dos projetos com o trabalho dentro da instituição enquanto estiverem lá. Lembrando, é claro, que o objetivo é que elas consigam se tornar inde-pendentes, como indicou Marcelo ao dizer: "Aqui é bom. Mas eu vou lutar pra que ela consiga coisa melhor."

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Diretrizes do projetoEixo do usuárioEixo financeiroPapel do governo

Capacitação

Reestruturação

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Necessidade

Querer

Vontade

Autoestima

Mercado

Instituição

Patrocínio Parceiros

Investimentos

Profissionalização Saúde Moradia Educação Cidadania

Estímulo

AlimentaçãoAcompanhamentoPsicológicoDireitos

Governo

Renda

Diretrizes do projetoEixo do usuárioEixo financeiroPapel do governo

Capacitação

Reestruturação

Mães

Necessidade

Querer

Vontade

Autoestima

Mercado

Instituição

Patrocínio Parceiros

Investimentos

Profissionalização Saúde Moradia Educação Cidadania

Estímulo

AlimentaçãoAcompanhamentoPsicológicoDireitos

Governo

Renda

Com base no que conhecemos das instituições por meio das visitas guiadas realizadas e nas informações, que já possuíamos anteriormente devido à pesquisa desk, elaboramos um Mapa Mental com o intuito de sintetizar e organizar os dados obtidos.

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Page 20: Dias de Maria

2análises jogo de palavras

Criança Mãe

Cidadania

ProfissionalizaçãoHabilidade

Sociedade

Capacitar

Direitos

Estabilidade

Autossustento

Moradia

Prevenir

Saúde

Qualidade

Vida

Transformar

Educação Renda

QuererConscientização

Autoestima

Reestruturar

IndependênciaFamília

Futuro

Optamos fazer o jogo de palavras para entender melhor como as pes-soas que estamos estudando compreendem a sua própria realidade, ou seja, para que conseguíssemos olhar as instituições sob o mesmo ponto de vista delas. Assim, procuramos fazer essa dinâmica com pes-soas de posições variadas nas instituições: coordenadoras, presidente e uma mãe. Isso permitiu que cruzássemos as perspectivas de cada uma e possibilitou nortear, a partir disso, nosso roteiro para as entrevistas, sabendo com clareza em quais pontos gostaríamos de nos aprofundar.

Teresa Pazo – Associação Saúde CriançaRealizamos a atividade na Associação Saúde Criança com a coorde-

nadora administrativa Teresa Pazo. Ela optou por agrupar as palavras em linhas horizontais e, verticalmente, os grupos, formando uma hi-erarquia do processo que a família passa desde que entra na associação até estar apta para sair. Teresa resolveu retirar do jogo as palavras: ben-eficiar e ajudar, isso porque ela quis nos mostrar que a entidade não possuí caráter assistencialista, eles não estão ali somente para ajudar, mas a pessoa tem um papel a desempenhar na instituição, com direitos e deveres.

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Criança Mãe Ajudar

Cidadania

Sustentabilidade

Profissionalização

Beneficiar

Habilidade

Sociedade

Capacitar

Direitos

Estabilidade

Autossustento

Moradia

Prevenir

Saúde

Qualidade

Vida

Transformar

Educação

Renda

Querer

Conscientização

Autoestima

Reestruturar

Independência

Família

Futuro

Criança

Mãe

Ajudar

Cidadania

Sustentabilidade

Profissionalização

Habilidade

Sociedade

Capacitar

Direitos

Estabilidade

Autossustento

MoradiaPrevenir

Saúde

Qualidade

Vida

TransformarEducação

Renda

QuererConscientização

Autoestima

Reestruturar

Independência

Família

Futuro

Débora Farias – Instituto RefazerA Débora, ao fazer o jogo de palavras, decidiu não descartar nenhu-

ma nem adicionar nenhuma. A arrumação montada por ela se assemel-hava à estrutura diamante, a qual estamos sendo constantemente ob-servando nesse projeto. Ela decidiu organizar as palavras de forma a nos mostrar o funcionamento da instituição, o passo a passo dos benefícios, beneficiados é beneficiários da Refazer. Partindo de "criança", segundo ela, a raiz de tudo, até chegar à "independência", "família" e "futuro", os objetivos da instituição, o resultado esperado por ela.

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Page 22: Dias de Maria

Mãe Profissionalização

Habilidade

Capacitar

Vida

Querer Independência

Sidineia Souza – Instituto RefazerSidineia é uma das mães que participa da Grife Refazer desde seu

início, começou o jogo com a palavra “mãe” e explicou que sua vida inteira gira em torno de ser mãe, por isso ela escolheu essa palavra primeiro. Em seguida, ela selecionou “profissionalização”, “capaci-tação” e “querer”, dizendo que o mais importante dentro da institu-ição, para ela, era o programa de geração de renda e ela ingressou nele porque queria muito sua “independência”. Por fim, saiu do curso com uma “habilidade” que se tornou fundamental para sua “vida”.

Observamos através dos jogos o quanto é semelhante a visão das pessoas que trabalham nas instituições e como ela difere da mãe benefi-ciada. Enquanto os funcionários buscam estruturar e demonstrar para nós como funciona a instituição, a mãe foca na importância que as palavras têm para ela mesma, com facilidade para descartar todas as outras.

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Andrea Carvalho – Instituto RefazerAndrea Carvalho, presidente da Refazer, dividiu o bloco de palavras

em dois grupos, o primeiro relacionado à estrutura de funcionamento da instituição e o segundo, ao programa de capacitação e geração de renda. Ela escolheu iniciar com a palavra “criança” que é o foco da instituição e ao seu redor organizou as palavras relacionados aos progra-mas da Refazer e construiu o restante de sua organização a partir disso.

Page 23: Dias de Maria

2análises entrevistas

Colocando em prática o que aprendemos nas aulas de Pesquisa em De-sign, da professora Samara Tanaka, um dos métodos que utilizamos para coletar informações sobre as instituições que escolhemos e pessoas que fazem parte delas foi a Entrevista. Nós nos planejamos para entrevistar não só os funcionários da instituição, que estiveram em maior contato conosco, mas também as pessoas que foram ou ainda são beneficiadas por essas entidades. Na maior parte das entrevistas, começamos como uma conversa, de forma a estimular o desenvolvimento de confiança e conforto em nós pelos entrevistados. Dessa forma, como aprendemos em sala, a entrevista conseguia fluir melhor, sem qualquer trava que a timidez ou estranhamento poderiam causar. Além disso, as perguntas se moldavam de acordo com o decorrer da entrevista e das respostas do entrevistado, ou mesmo continuavam a se desenvolver como uma conversa informal.

Com a presidente da Refazer, Andrea, iniciamos com a pergun-ta sobre como ela havia começado no Instituto Refazer. Assim, con-hecemos sua história na instituição, desde o voluntariado em um dos projetos – denominado Tijolo, que atua na reforma e construção de casas – até a sua chegada à presidência. A partir daí, fizemos perguntas menos pessoais e mais institucionais com o intuito de entender melhor o funcionamento da instituição, tendo como feedback respostas claras e objetivas. Tal procedimento foi repetido com a Débora, gerente ad-ministrativo da Refazer, que é quem mais esteve em contato conosco desde a nossa primeira visita.

Ao contrário da Andrea, suas respostas não foram tão pontuais, e conhecemos mais profundamente o dia a dia da Refazer e os sentimen-tos, valores e pessoas envolvidas nessa rotina. Ela deixou muito claro a questão da via de mão dupla – que viria a se tornar nossa oportunidade de projeto – explicando os valores que eles passam para as mães, bem como o comprometimento e os deveres que elas têm quanto à sociedade e à Refazer. Além disso, explicou o retorno que eles, da instituição, têm, sendo este sobretudo emocional, visto que para eles, o melhor feedback é ver que a criança está saudável e a família estruturada e pronta para seguir com seus próprios passos. Emocionada, ela descreveu a alegria de poder ver esses resultados tão de perto.

É interessante observar que um dos pontos mais repetidos pela Débora, da Refazer, também fica claro nas conversas desenvolvidas com as mulheres beneficiadas pela Associação Ressurgir, do Rio Com-prido: o querer. Em suas respostas a nossas perguntas, ficou claro que elas estavam ali empenhadas por reconhecer os cursos oferecidos pela

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Page 24: Dias de Maria

instituição como uma oportunidade. Como soubemos em entrevista com o Marcelo – coordenador de cursos da Ressurgir –, as beneficiárias não precisam obrigatoriamente estar vinculadas à uma criança assistida e isso permite que outras mulherem vão até lá pedir para participar das oficinas, como muitas nos contaram que fizeram.

No entanto, observamos que isso não acontece com a mesma fre-quência na Refazer, por meio da entrevista com a Sidineia, mãe que já foi beneficiada pela instituição e que continua a participar dos cur-sos oferecidos pela Grife Refazer. Ela nos contou que poucas mães se mostram inclinadas a participar ou mesmo a permanecer nesse progra-ma, por inúmeros motivos, tal como não ter alguém para cuidar dos filhos e em seguida, comentou como resolveu essa questão, que levava seu filho consigo para as aulas. Ela também afirma que ainda vê nele e em seu filho mais velho, depois de tantos anos, a motivação para continuar na Grife, principalmente devido à sua preocupação com a educação dos dois.

Através da entrevista com Marcelo, notamos outra diferença em relação às outras duas instituições: o foco massivo na capacitação, que nas outras era apenas uma parcela do processo inteiro. Contudo, ape-sar dessas diferenças estruturais, tanto com ele quanto com a Débora, pudemos perceber a emoção latente que envolve o trabalho de ambos e a importância do querer e da vontade daqueles que são beneficia-dos. Débora conseguiu ilustrar essa questão com a seguinte frase – que parece ser diretriz de ambas instituições entrevistadas: "A gente não dá, a gente ensina".

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3insights conclusões

Depois das pesquisas de campo e entrevistas, reunimos todos os da-dos para chegarmos a conclusões e, assim, identificarmos o objetivo do projeto.

Entendemos a estrutura de funcionamento das três instituições e percebemos os pontos de tangência entre elas: a família, geralmente liderada pela mãe, é indicada para o atendimento por algum órgão; há a divisão entre programas específicos para família, mãe e criança; age-se sobre os tópicos de profissionalização, saúde, moradia, educação e cidadania; é feito o acompanhamento mensal da situação; a família, após certo período, recebe alta da instituição ou é desligada caso não apresente progresso por falta de interesse.

Percebemos que nem todas as famílias passam pela etapa da profis-sionalização, como dito pelos funcionários que nos acompanharam. Eles expressaram o desejo de que mais mães participassem desses pro-gramas, o que permitiria que a produção se diversificasse, aumentasse, trouxesse retorno às instituições e também que, mesmo trabalhando por conta própria, elas pudessem contribuir mais para a reestruturação da família, agindo mais pela própria causa.

Passamos a refletir, então, sobre os motivos para isso acontecer. Havia a possibilidade de não ser necessário para algumas famílias, mas nos foi informado que muitas delas poderiam, sim, tirar proveito dos cursos e não o faziam. Também foi apontado como algo decisivo a falta de desejo de muitas das mães, mas não estava claro o que causava essa falta. Pensamos que talvez elas não fossem informadas sobre os cursos e seus benefícios, mas no primeiro encontro com a instituição elas já são avisadas.

A explicação à qual chegamos, considerando as entrevistas e o mod-elo de funcionamento das famílias e das instituições, foi que as mul-heres dessas famílias não percebiam seu próprio valor para os projetos. Muitas delas não veem que as instituições não funcionam tão bem sem elas e, principalmente, que as próprias famílias precisam delas para se reerguerem.

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3insights objetivo

Identificamos que as três instituições apresentam um discurso semel-hante que defende o fato de não praticarem apenas o assistencialismo, que existe uma relação de mão-dupla entre o instituto e a família. Se as famílias não desenvolverem um próprio crescimento em paralelo ao trabalho que está sendo efetuado pelos programas, então, a instituição não terá realizado um bom desempenho, o que é prejudicial a seu au-tossustento, uma vez que uma instituição precisa demonstrar bons re-sultados para que consiga receber fomento e patrocínios. No entanto, muitas vezes, as famílias não enxergam que precisam dar um retorno à instituição e que possuem um papel a desempenhar lá dentro.

Dessa forma, definimos que o nosso objetivo de projeto seria fazer com que as mães entendam e conheçam o seu valor, bem como o de seu trabalho, o que acreditamos que ampliará seus resultados, poten-cializando, assim, o retorno para a instituição e consolidando a via de mão-dupla.

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obje

tivo

Pesquisas

Início das aulas

a 31/08

Organização das

informações

01/09 a 13/09

Briefing

13/09

G1Definição de

Objetivo

24/09

Análise e geração de

alternativas

25/09 a 08/10

Experimentação com

protótipos

8/10 a 25/10

Definição do Partido

Adotado

26/10

Matriz e

Análise SWOT

27/10

Relatório; Posicionamento

Viabilidade;

28/10 a 03/11

Modelo de

negócios

05/11

G1,5Apresentação das soluções

12/11

Detalhamento técnico

13/11 a 26/11

G2Apresentação

e Relatório

03/12

cronograma do projeto

Page 27: Dias de Maria

•••referências bibliográficas

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