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1 EDIÇÃO N 0 2 | Data: 13 de Julho de 2018 DIÁRIO DO ACAMPAMENTO Conceição Osório, pesquisadora e docente universitária Úlmo painel do dia de ontem constuído por jovens C onceição Osório, pesquisadora e docente universitária, afirma que pouca parcipação das mulheres nos processos eleitorais deve-se ao facto de não serem consideradas pelos órgãos que dirigem eleições. Segunda ela, é por isso que a parcipação políca das mu- lheres deve responder dois elementos que em algum momento entram em contradição. O primeiro é a possibili- dade de inclusão, de pluralismo, de di- versidade de voto, que só a democracia permite, e a permanência onde só o sistema democráco permite que haja pluralismo, contraditório, conflito de ideias, debate e inclusão. E o segundo “Mulheres são excluídas pelos órgãos que dirigem eleições” elemento é a permanência de diversas ordens que restringem o acesso da mu- lher no campo políco. Osório idenficou três pos de obstá- culos que dificultam o acesso das mu- lheres ao poder, nomeadamente os de parda, de entrada e de permanência. Obstáculos de parda são resultado da socialização de mulheres e homens, enquanto os de entrada são impostas pelo papel social das mulheres e, final- mente, os obstáculos de permanência enquadram-se na dinâmica do campo políco no qual as mulheres não se sen- tem idenficadas. Jovens apontam factores responsáveis pelo seu fraco engajamento em processos políticos J ovens de diferentes instuições mostraram-se preocupados com o seu fraco engajamento em proces- sos eleitorais e de tomada de decisões polícas. Os jovens dizem que estão a enfrentar dificuldades impostas pelo ango sistema comunista liderado por uma elite políca que até hoje connua não valorizar a juventude. Apontam também como barreiras que dificultam a sua parcipação no processo de tomada de decisões polí- cas, a fraca movação que muita das vezes nasce da pouca credibilidade em todos processos polícos e eleitorais no país. Para os jovens, enquanto o proces- so eleitoral não for livre e justo, sempre haverá a fraca adesão dos jovens e das mulheres. O segundo factor tem a ver com a educação. A educação moçambicana é muito precária, o que impede o sur- gimento de “bons cidadãos”. Ou seja, se a educação é deficiente isso se vai reflecr noutras áreas, sobretudo, na forma de pensar, de agir e naquilo que se acredita. Outros factores apontados pelos jo- vens são os sócio-culturais. Os jovens afirmam que a mulher e eles mesmos são educados no sendo de obedecer determinada autoridade dentro da famí- lia. Nesse contexto, o jovem e a mulher são meros obedientes, não devendo to- mar lugares importantes dentro dessa sociedade.

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EDIÇÃO N0 2 | Data: 13 de Julho de 2018 DIÁRIO DO ACAMPAMENTO

Conceição Osório, pesquisadora e docente universitária

Último painel do dia de ontem constituído por jovens

Conceição Osório, pesquisadora e docente universitária, afirma que pouca participação das mulheres

nos processos eleitorais deve-se ao facto de não serem consideradas pelos órgãos que dirigem eleições. Segunda ela, é por isso que a participação política das mu-lheres deve responder dois elementos que em algum momento entram em contradição. O primeiro é a possibili-dade de inclusão, de pluralismo, de di-versidade de voto, que só a democracia permite, e a permanência onde só o sistema democrático permite que haja pluralismo, contraditório, conflito de ideias, debate e inclusão. E o segundo

“Mulheres são excluídas pelos órgãos que dirigem eleições”elemento é a permanência de diversas ordens que restringem o acesso da mu-lher no campo político.

Osório identificou três tipos de obstá-culos que dificultam o acesso das mu-lheres ao poder, nomeadamente os de partida, de entrada e de permanência. Obstáculos de partida são resultado da socialização de mulheres e homens, enquanto os de entrada são impostas pelo papel social das mulheres e, final-mente, os obstáculos de permanência enquadram-se na dinâmica do campo político no qual as mulheres não se sen-tem identificadas.

Jovens apontam factores responsáveis pelo seu fraco engajamento em processos políticos

Jovens de diferentes instituições mostraram-se preocupados com o seu fraco engajamento em proces-

sos eleitorais e de tomada de decisões políticas. Os jovens dizem que estão a enfrentar dificuldades impostas pelo antigo sistema comunista liderado por uma elite política que até hoje continua não valorizar a juventude.

Apontam também como barreiras que dificultam a sua participação no processo de tomada de decisões polí-ticas, a fraca motivação que muita das vezes nasce da pouca credibilidade em todos processos políticos e eleitorais no país. Para os jovens, enquanto o proces-so eleitoral não for livre e justo, sempre haverá a fraca adesão dos jovens e das mulheres.

O segundo factor tem a ver com a educação. A educação moçambicana é muito precária, o que impede o sur-gimento de “bons cidadãos”. Ou seja, se a educação é deficiente isso se vai reflectir noutras áreas, sobretudo, na forma de pensar, de agir e naquilo que

se acredita.Outros factores apontados pelos jo-

vens são os sócio-culturais. Os jovens afirmam que a mulher e eles mesmos são educados no sentido de obedecer

determinada autoridade dentro da famí-lia. Nesse contexto, o jovem e a mulher são meros obedientes, não devendo to-mar lugares importantes dentro dessa sociedade.

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Nelson Manganhe, membro do Parlamento Juvenil

O Balanço é positivo. Vejo o Acampamento como espaço de crescimento em vários níveis: politico, civíco e de cultura ge-ral. Um dos aspectos positivos é sobretudo em relação ao facto de haver preocupação no enga-jamento dos jovens e mulheres nos processos eleitorais.

Sara SitoeRepresentante do CAIC

O Balanço é positvo. Este é um espaco ímpar para os jo-vens discutir assuntos do seu interesse, sobretudo discutir sua participação em eleições. A sessão de hoje foi boa por ter dar espaço aos jovens para discutir os seus problemas. Esta ultima sessão (do dia) foi muito forte para mim.

Francisco TembeEstudante de Direito da UEM

Os temas escolhidos são pertinentes. Temos de debater a abstenção dos jovens neste acto de cidadania e definir as possíveis soluções. O debate abre a mente dos participantes. Só com a educação e conheci-mento é que podemos transmi-tir esta mensagem aos demais.

Cipriano MugalelaEngenarquite construções e serviços

A iniciativa de juntar homens e mulheres é boa. Acho que as mulheres devem ter oportuni-dades. Acho que são iniciativas de louvar. O balanço é positivo porque até discute a situação da mulher. Acho que nós os ho-mens temos medo de dar espa-ço de liderança às mulheres.

O porta-voz do Acampamento In-ternacional sobre Direitos Hu-manos, Cidadania e Acesso a

Informação, Augusto Uamusse, avalia positivamente evento que está a decor-rer desde a última terça-feira, em Boa-ne, província de Maputo. Segundo Ua-musse, o Acampamento está a ser um sucesso e o terceiro dia trouxe uma ino-vação: a criação de um painel composto por jovens.

De acordo com o porta-voz do evento, foi feita uma revisão do plano para dar mais oportunidade aos jovens para ex-

Quarta edição está a ser um sucesso cos, por isso, achamos que fosse possí-vel colher aquilo que são as expectativas dos participantes e refizemos o nosso plano inicial“, disse Uamusse.

Para o porta-voz do Oxfam, ontem, foi um dia muito interessante e provei-toso para os participantes uma vez que o tema estava virado para o papel das mulheres e da juventude nos processos eleitorais na África Austral. Sustenta que o terceiro dia do acampamento 2018 contou com painel que trouxe uma luz o que contribuiu para maior consensua-lização dos jovens.

BALANÇO E EXPECTATIVAS

Augusto Uamusse, porta-voz do Acampamento

O Carlos Shenga, docente do Insti-tuto Superior de Administração Pública (ISAP), afirmou, ontem,

durante a sua apresentação, que a mu-lher e os jovens tendem a participar me-nos nos processos eleitorais que os ho-mens adultos.

Para Shenga o papel dos Jovens no pro-cesso eleitoral na África Austral não deve ser subestimado visto que mais da meta-de do eleitorado da região é jovem.

Segundo Shenga, algumas sociedades da África Austral, senão mesmo todas, caracterizam-se por uma divisão signifi-cativa de espaço rural e urbano.

Shenga diz ainda que a educação for-mal tem um impacto positivo na partici-

“Mulheres e jovens tendem a abster-se das eleições”

Falando das plataformas para enga-jamento juvenil e da mulher, Ama-rília Muthemba, do Centro de Estu-

dos de Democracia e Desenvolvimento (CEDE), disse que os jovens e as mulheres não têm recursos, não tem experiência e que a única forma para aumentar a sua participação na política é reforçar a edu-cação para o voto.

Mulheres e jovens tendem a participar menos

Carlos Shenga, docente do ISAP

Amarília Muthemba, do CEDE

pação eleitoral, enquanto o acesso as notícias através dos meios de comunica-ção social apresenta um efeito negativo.

pressarem o seu sentimento. “Tivemos uma inovação, pois, não somos estáti-

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Alexandre FumoEstudante da Uni. de Botswana

Faço um balanço positivo. Tenho apreciado muito a forma como os oradores apresentam seus temas, mas notei um as-pecto negativo na parte dos painelistas. Todos eram pessoas mais velhas, de 50 anos pra cima, e eu me pergunto: será que não podiam trazer pessoas mais jovens?

Felizarda CatarinaEstudante da Universidade Pedagógica

Comparativamente ao pri-meiro dia, faço um balanço positivo. Eu não conseguia per-ceber qual é o plano de fundo deste acampamento, mas hoje estou mais contextualizada e isso é de se louvar e espero que amanhã a perspectiva seja maior.

Angelina MagembiriAsso. de estudantes de Moçambique

O balanço é positivo. Estou satisfeita. Espero mudanças na parte dos jovens, e que cada jovem possa replicar para ou-tros jovens tudo aquilo que aprendeu aqui. E só assim que podemos ter uma sociedade de mudança.

Wanderleia NoaCEC

Este evento permitiu que os jovens e as mulheres pudes-sem ter mais informações de como exercer essa cidadania ao mesmo tempo que reflectiram sobre como influenciar outras camadas da sociedade, tendo em conta as tendências actual-mente existentes e as TICs.

BALANÇO E EXPECTATIVAS

Os vencedores da 4ª edição do Acampamento Internacional

Justino Almeida30 Lugar

Escola Secundária da LiberdadePrémio: Smart Phone

Hermínio Zacarias20 Lugar

Instituto Ind. Amando GuebuzaPrémio: Tablet

Judite Tembe10 Lugar

Escola Secundária da LiberdadePrémio: Computador

Isabel Cidália30 Lugar

Instituto Ind. Amando GuebuzaPrémio: Smart Phone

Letícia Sitoe20 Lugar

Escola Secundária da LiberdadePrémio: Tablet

Lucas Miambo10 Lugar

Instituto Ind. Amando GuebuzaPrémio: Computador

Seis estudantes do Instituto Industrial de Computação Armando Emílio Gue-buza (IICAEG) e da Escola Secundária da Liberdade (ESL) foram, ontem, pre-

miados, durante a 4ª edição do Acam-pamento Internacional sobre Direitos Humanos, Cidadania e Acesso à Infor-mação. Trata-se dos estudantes Lucas

Miambo, Hermínio Zacarias e Isabel Cidália, todos da IICAEG e Judite Tem-be, Letícia Sitoe e Justino Almeida, da ESL.

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POESIA BREVES

FICHA TÉCNICADirecção: OXFAM / IBIS e MISA - Moç.Redação: Berta Muiambo, Graciano Cláudio, Orbai NobreEditor: Lázaro MabundaFotografia: Orbai NobrePaginação: António Xerinda

“ACREDITO NA MUDANÇA”

IA cada dia a sociedade se torna degeneradaDesalmada e com um olhar inativoAquela pessoa desamparadaO mais fácil é dar-lhe nomes pejorativos (marginal, inculto...)Quando não é contigo, pouco entendes o pavor de uma vida sofrida

IISomos todos vitimas do egoísmo e ambição De um grupo de gente que corre no seu DNA a corrupçãoSua governação está transformada numa total decepção São indivíduos que só pensam na sua própria satisfação

IIISerem eleitos é o que realmente lhes interessaPor isso 2018 o povo já está a espera de tanta promessaEssa é a característica da nossa política É só ser eleito que já sai se achando perfeitoMas no fundo não tem peito para suportar a critica

IVSe antes o poder esteve no PovoHoje a governação precisa de um renovoÉ tanta manipulação do inocente e depois sua destruiçãoE por causa da ambição, o Pais está afundado na corrupção A perfomance dos chamados donos de influenciaQue nem se quer se lembrar da palavra decência

VNão me engane com a historia de mera coincidência Devastaram o nosso De SalemaE tudo fica mais claro, aqui o sistema mudou de lemaSe antes pensávamos que éramos a força da mudança Mano/mana, o que grita alto é a força da mudança

VIE a paz?A paz continua sendo o actual hino da nação Que timidamente espreitaPorque continua presa nas decisõesDe pessoas que o povo respeitaFalo de gente influenteQue não conhece a dor de perder por bala um parente

Isso tudo é o que aparta os jovens dos processos eleitorais

VIIMas eu acredito na mudançaE só o politico fazer a diferençaIsso devolve aos jovens a confiançaJuntos pela paz, a nossa mutua crença Sara Dos Sitoe

AMCS lança o manual de formação e orçamento

Pessoas não fazem devido uso das redes sociais

Egídio Vaz, pesquisador e expert em comunicação, disse, ontem, durante a 4ª edição do Acampamento Internacio-nal sobre Direitos Humanos, Cidadania e Acesso à Informação, que em Moçam-bique há pessoas nas comunidades com acesso às tecnologias e às redes sociais, mas que não fazem o devido uso, senão mesmo para ver fotos e vídeos, não se preocupando em ler informação coloca-da à disposição nas mesmas redes so-ciais.

A Associação da Mulher na Comunicação Social-AMCS lançou, ontem, durante o 4º Acampamento do Internacional sobre Direitos Humanos, Cidadania e Acesso à Informação, o seu Manual de Formação e Orçamento na Óptica de Género.

O manual surge para colmatar lacunas no processo de planificação e orçamen-tação ao nível dos vários parlamentos.

Com o manual pretende-se traçar novos paradigmas no tratamento das questões alinhadas com planificação e orçamento ao nível parlamentar. Por ou-tro lado, pretende trazer de forma mais inclusiva a questão da mulher como ac-ção concreta e não como mero discurso de convivência.