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Milene Migliano Gonzaga, Centro de Convergência de Novas Mídias UFMG e aluna de mestrado
do PPCGOM UFMG, Belo Horizonte
Comunicação Oral
Diálogos públicos no centro de Belo Horizonte – uma cartografia possível das
práticas comunicativas urbanas
Pretendemos apresentar os procedimentos metodológicos das derivas cartográficas realizadas
com a utilização de cameras fotográficas digitais no Centro de Belo Horizonte, durante a pesquisa
Cartografias de Sentidos, bem como relacioná-los às perspectivas dos situacionistas. Os registros
produzidos fazem parte da nossa pesquisa de mestrado que busca construir indagações sobre as
interações comunicativas encontradas sob a forma de textos e imagens no suporte urbano, as
quais denominamos diálogos públicos. Interessa-nos abordar as possíveis articulações dos modos
de operar destas práticas culturais, tais como cartazes manufaturados, inscrições nos muros,
pixações, grafittis, stickers e máscaras. O Centro de BH é um dos que ainda mantém sua
importância simbólica e geográfica, se conformando como espaço público privilegiado para o
encontro da diversidade cultural, econômica e social. Para abarcar esta complexidade
buscaremos apresentar categorias que apontem as contiguidades e inovações das práticas
comunicativas, bem como a relação das experiências dos sujeitos e os contextos territoriais,
observadas nos registros e experimentadas na pesquisa.
Sessão Temática 1 - Cidade Imaterial
Diálogos públicos no centro de Belo Horizonte – uma cartografia
possível das práticas comunicativas urbanas
Apresentação
Os diálogos públicos são interações comunicativas não presenciais que foram encontrados e
registrados durante o desenvolvimento da Pesquisa Cartografias de Sentidos do Centro de Belo
Horizonte. A pesquisa busca mapear a diversidade dos usos e apropriações do sujeitos em suas
práticas cotidianas compartilhadas no espaço urbano, além de desenvolver procedimentos de
produção de registros. Os procedimentos de mapeamento da pesquisa se utilizam das novas e
velhas tecnologias de registro, produzindo apreensões das situações e experiências urbanas,
estimulando e buscando capturar os sentidos sensoriais, cognitivos e afetivos em dinâmica na
cidade.
Dentre a pluralidade de situações experimentadas durante as saídas ao centro de Belo
Horizonte, encontramos diversas práticas comunicativas dos sujeitos comuns disponibilizadas na
cidade. Ao vivenciar o espaço urbano, os sujeitos passam, esperam, trabalham, se encontram,
constituindo relações sociais. Entre as relações estabelecidas nas cidades, muitas se
desenvolvem a partir das demandas de comunicação: interações face a face, sinalização de
trânsito, pregões dos ambulantes, discursos em palanques. Em nossa pesquisa no Centro de Belo
Horizonte, encontramos gestos significantes que se materializam como inscrições, colagens e
desenhos nos muros, tapumes, grades de proteção, caixas de luz e de telefone no centro da
cidade, que denominamos diálogos públicos. Estes gestos produzem relações de comunicação
entre os que percorrem a cidade a pé, pois o caminhar pela cidade é intepenetrar territórios
diversos da vista do alto, o caminhante “se arrisca, cruzando umbrais, e, assim fazendo, ordena
diferenças, constrói sentidos, posiciona-se.” (ARANTES, 2000; 119).
Por meio de seqüências de ações e gestos significativos, os diálogos públicos evidenciam
a potência da cidade como suporte, ao mesmo tempo que revela sua eminente capacidade
comunicativa frente à interculturalidade em contato e negociação, em acordos ou dissonâncias.
Os diálogos públicos se constituem na cidade continuamente, buscando e estabelecendo uma
comunicação que não tem lugar instituído e, nesse movimento, (re)inventam outras sociabilidades
urbanas possíveis; são práticas culturais que colocam em relação sujeitos diversos mas que, ao
co-experienciar o mesmo espaço urbano, tem algo em comum e por isso demandam e produzem
postagem de suas opiniões e informações, tácita e taticamente.
Os usos da cidade como espaço de comunicação não presencial foram registrados por
nós, a partir da pesquisa Cartografias de Sentidos utilizando câmeras fotográficas digitais,
definindo alguns procedimentos metodológicos de apreensão da diversidade da vida urbana. Na
sequência, buscaremos esclarecer como se estabeleceram as derivas cartográficas e, em
seguida, um pouco sobre o desenvolvimento dos procedimentos de registro fotográfico em relação
à dinâmica do espaço urbano do Centro de Belo Horizonte.
Derivas cartográficas
Uma das propostas do projeto de pesquisa Cartografias de Sentidos é produzir metodologias de
mapeamento dos espaços que articulem os sentidos perceptivos e cognitivos dos sujeitos, formas
de registro que não tem a pretensão de esgotar a complexidade da vida urbana, mas estimular o
compartilhamento de experiências e olhares sobre a cidade experimentada.
Caminhar todo o Centro em saídas de campo únicas se mostrou uma solução inviável, não
só por causa da extensa área a ser percorrida, mas também pela diversidade de ambiências
atravessadas nestas caminhadas. Por isso, decidimos dividí-lo em quadrantes relacionados à
localização dos pontos de ônibus e/ou de sua concentração, isto é, uma mesma área conteria ao
menos um pólo principal de entrada e saída de veículos e pessoas. Tal definição possibilitou
maior conformidade com a experiência de percorrer o centro da cidade pensando os
deslocamentos, os territórios, os usos. Cada área foi percorrida em uma saída - onde foram
coletados registros das práticas culturais urbanas em som, vídeo, imagens fotográficas e texto -
começando a partir destes portos, e terminando na volta a eles.
Na busca de mecanismos e ferramentas metodológicas capazes de nos auxiliar a captar a
complexidade e diversidade das práticas culturais na cidade, acessamos referências, como os
situacionistas. As derivas situacionistas incitavam a apropriação do caminhar na cidade como
forma de participar da vida e dinâmica pública, produzindo e encontrando situações urbanas. A
Internacional Situacionista surgiu como movimento artístico-político europeu a partir de 1957, que
buscava refletir a utilização da arte na vida cotidiana por meio de procedimentos de manipulação
do tempo e do espaço na cidade. O procedimento de deriva “corresponderia ao pensamento
urbano dos situacionistas, uma crítica radical ao urbanismo" (JACQUES, 2004:03). Um andar no
qual o caminhante pudesse perceber a diversidade de ambientes proporcionada pela cidade,
apropriando-a com cadernos de nota, pelo registro da memória, criando participações.
Quando situacionistas surgiram, os urbanistas estavam re-programando os sentidos das
cidades européias sem estabelecer uma participação dos sujeitos nas novas configurações do
espaço. Por isso se apropriavam da cidade, criando situações que construíam críticas ao trabalho
dos urbanistas, que pensavam as cidades sem vivenciá-las. As derivas estruturavam estas
críticas, compartilhando e se apropriando da cidade; também se constituíam como formas de
pesquisar a relação dos efeitos do meio geográfico no comportamento afetivo dos indivíduos.
Mas nossas derivas se diferenciam das situacionistas, pois tem outro objetivo: o registro
procedimental dos usos da cidade por meio de ferramentas digitais e não digitais. Buscamos
construir outros mapas a partir das experiências e registros das derivas, não mais situacionistas,
mas cartográficas.
A partir destas derivas direcionamos nosso olhar para como os habitantes se relacionam
com o espaço urbano, e buscamos compreender como as relações complexas estabelecidas em
um espaço micro do social, se conectam com grandes transformações no âmbito macro, mesmo
sendo protagonizadas por sujeitos que não participam da sua dinâmica estratégica. No nosso
planejamento buscamos instituir as derivas cartográficas em vários dias da semana, em horários
diferentes, a fim de captar maior diversidade dos usos da cidade.
Mapeamento fotográfico
Nossa primeira incursão de campo foi realizada em três percursos do centro da cidade:
Avenida Paraná, Avenida Afonso Pena e Avenida Amazonas, fotografando as fontes sonoras e as
diversas formas de comunicação, bem como a disposição de mercadorias, planos mais fechados,
planos detalhe. Nestes três espaços, encontramos muitas pessoas fazendo compras, esperando
ônibus, atravessando o Hipercentro. Ao fotografar, nosso corpo esbarrava nos outros, ao mesmo
tempo que precisava de estabilidade para realizá-las; buscamos atingir a estabilidade usando o
mínimo zoom e colocando o braço bem firme, seja esticado, seja dobrado.
No segundo momento da pesquisa, realizamos as derivas cartográficas a partir da divisão
do Centro de Belo Horizonte em 10 zonas de visita que foram percorridas pelos pesquisadores,
das mais diversas áreas de formação. Saímos sempre de um mesmo ponto da cidade e
cumprimos a pé os quadrantes determinados. Nestas derivas cartográficas, saímos munidos de
cadernos de campo e canetas, para realizar o registro do que experienciamos nos percursos entre
os quarteirões da cidade, realizando o mapeamento total de cada esquina do Hipercentro.
Ao determinar os roteiros das derivas cartográficas passamos a caminhar na cidade com o
olhar atento para as mensagens, coladas, desenhadas, faladas, nas paredes em forma de
pixação. Deparamo-nos com uma grande multiplicidade de elementos comunicativos e
encontramos formas de comunicar diferentes das usuais. Inscrições produzidas com o que se tem
a mão - um lápis escolar, extrato vegetal de uma folha de árvore, cartazes manufaturados com os
restos de jornais, o conjunto de adesivos produzidos para estarem colados nas paredes, pixação
reivindicatória, grafitti patrocinado - tais interações comunicativas também constituem a dinâmica
das trocas na cidade. Estes diálogos públicos são registrados em plano de detalhe, fotografados
bem próximo à inscrição, mas dando conta de sua totalidade, para posterior análise e recuperação
dos traços que visibilizam seus modos de operar. Além deste registro, também procuramos
realizar um enquadramento do lugar onde o diálogo público está, como uma praça, as pessoas
em volta conversando, quais são as outras informações visuais que estão localizadas próximas;
este tipo de registro é o que chamamos de plano geral, pois dá conta de fixar no instantâneo um
momento com uma série de situações co-presentes, uma centelha daquele instante vivido. O
mapeamento e registro dos diálogos públicos no centro de Belo Horizonte é produzido toda vez
que percebemos alguma alteração significativa em um diálogo já estabelecido ou quando um novo
lugar de encontro se estabelece. Para poder acompanhar a maior parte das transformações dos
diálogos públicos, passamos a caminhar com uma câmera fotográfica digital sempre acessível na
mochila; quando necessário o gesto de fotografar é (re)atualizado no espaço da cidade.
Em um terceiro momento da pesquisa, realizamos o mapeamento fotográfico das 9 praças
públicas que existem no centro da cidade, buscando compor enquadramentos que dessem conta
de situar as relações de usos que os sujeitos estabeleciam nas praças. Estas imagens que
buscam dar conta de uma situação específica, vivida em uma experiência relacional, são as
chamadas cenas. Visibilizam o abraço de um garoto com a estátua de Carlos Drummond na Praça
Professor Alberto Deodato, a relação dos moradores de rua com os bancos da praça, o jardineiro
regando as plantas, pessoas usando os telefones públicos.
Pouco mais de uma ano após esta investida de registro das praças, estabelecemos um
outro tipo de deriva cartográfica para apreender as aglomerações de pessoas, seus usos da
cidade e relações estabelecidas. Mapeamos três pontos de ônibus sempre seguindo um tempo
determinado para os registros (20 minutos). A presença dos pesquisadores com os cadernos de
campo sempre suscitava a pergunta: vocês são da prefeitura? E em seguida à resposta de que
éramos um grupo de pesquisa, tomavam a palavra e reclamavam alguma condição,
indisponibilidade, alguma situação. Algumas vezes, não mais preocupados sobre alguma taxa de
impostos que poderia ser incindida sobre sua situação de trabalho informal, os sujeitos contavam
um pouco do seu cotidiano, posavam para fotos, voltavam à sua atividade anterior ou mesmo nos
davam atenção até o final do período determinado; como foi o caso do vendedor de uma loja da
Rua dos Tamoios (fig. 01).
Durante estas saídas, também realizamos a produção das imagens panorâmicas,
escolhendo um eixo para fotografar as imagens numa seqüência linear a partir dele. Como
estávamos sem tripés para cumprir tal tarefa, nem todas as imagens preservam exatamente o
mesmo eixo, mas dão conta de mostrar um pouco do movimento em um mesmo produto que tem
como qualidade a apreensão de apenas um instante. A fotografia panorâmica na verdade é uma
montagem de alguns instantes seqüenciais de espaços próximos e contíguos da cidade.
No início deste ano (2008), fizemos a quinta investida a campo e estabelecemos
procedimentos de registro com os quatro suportes, cadernos de campo, gravador de som digital,
câmera fotográfica e de vídeo digitais. Os procedimentos têm regras gerais para todas as
ferramentas, mas se adequaram às especificidades dos aparelhos técnicos, e de certa forma
agregaram às experiências anteriores das derivas passadas. Voltamos às nossas zonas de visita
e escolhemos dois portos importantes em cada uma delas, que eram todos pontos ou terminais de
ônibus. Fomos ao primeiro porto escolhido em determinado quadrante, ficamos 20 minutos
registrando as situações, partimos realizando um percurso pré-determinado, que também era
registrado e chegamos ao segundo porto do quadrante, que também era capturado pelas quatro
ferramentas de registro. Este material produzido durante quinze dias de contato com a cidade nos
propiciou uma nova experiência no Centro, facilitando o entendimento da nossa abordagem
fotográfica do espaço urbano. Após o preenchimento de todos requisitos de documentação das
fotos, organizamo-las em:
Cena: São as imagens fotográficas que se detêm na reprodução no instantâneo de uma situação,
prática cultural ou interação comunicativa entre ao menos dois sujeitos na cidade. Algumas vezes,
estas cenas são retratadas por intuito da fotógrafa; outras, porque lançados no fluxo urbano,
somos atravessados e interpelados - pesquisadora e aparato técnico - pelo caminho dos sujeitos
na cidade que se colocam co-presentes no espaço-tempo do registro. Todas situações em que os
sujeitos passaram pela frente da lente, impossibilitando o registro de outra coisa são consideradas
cena. Quando, no meio de uma pequena multidão e quantidade de situações retratadas,
encontramos o olhar de um sujeito direcionado para a lente, ou melhor, para a fotógrafa,
consideramos cena, já que a interação comunicativa está neste instante sinalizada. Quando nos
preparamos e tivemos êxito no enquadramento de capturar uma relação de compra e venda, de
conversa familiar, de encontro entre conhecidos, de utilização de telefone público ou celular, de
sinalização para o ônibus, de leitura de um jornal, enfim, qualquer interação, seja com quem está
presencialmente no espaço, ou compartilhando apenas o tempo por intermédio de um
suporte/aparato técnico. (fig. 02)
Detalhe: Estão relacionadas com o olhar atento para as nuances dos objetos e signos, que
quando destacados em um enquadramento que privilegia apenas seu corpo, retratam a situação
de apropriação dos materiais e suportes da cidade. Algumas vezes encontram convergência com
os lugares onde estão, em outras, poderiam estar em qualquer cidade, onde destacamos a
condição paradoxal e complementar das práticas culturais encontradas nos espaços urbanos: a
localidade e a globalidade se interpenetram constituindo a complexidade urbana. Neste caso,
destacamos os cartazes colados indicando mudança de endereço, as notificações coladas por um
senhor no centro da cidade, os stickers, os grafittis, as pixações, as gambiarras para se manter
uma estrutura funcionando, a utilização das árvores como armários para capacetes, o despejo da
água do isopor próximo ao bueiro (fig. 03).
Plano geral: São as que tem seu enquadramento ampliado, abordando o contexto da cidade e,
geralmente, mais de uma situação, ou seja, cena acontecendo no momento do instantâneo. São
imagens onde a complexidade de elementos da cidade se explicita, já que buscam enquadrar os
equipamentos urbanos, as placas e sinalizações, as ruas e seus usos diferenciados (fig. 04).
Diálogos públicos
No mapeamento fotográfico realizado percebemos que as práticas comunicativas
fomentam e instituem relações entre os sujeitos, instituindo modos de comunicação urbana,
diferentes das estratégias comerciais e oficiosas. A pluralidade das práticas institui outros lugares
de comunicação e se relacionam com as modalidades já estabelecidas, tal como a publicidade e
as placas de sinalização, compondo um quadro complexo. A composição de diálogos públicos
configura e transforma as relações já existentes no espaço urbano.
A formulação do termo diálogos públicos, parte do entendimento que diálogo é uma prática
comunicativa que pressupõe a interlocução entre ao menos dois sujeitos.
“A vida urbana pressupõe encontros, confrontos das diferenças, conhecimentos e reconhecimentos recíprocos (inclusive no confronto ideológico e político) dos modos de viver, dos ‘padrões’ que coexistem na Cidade.” (LEFEBVRE, 2001:15)
As informações são disponibilizadas no suporte cidade, suas ruas, equipamentos, veículos,
objetos materiais que permitem que uma escrita se constitua. Walter Benjamin já nos esclarecia
em seus apontamentos sobre as cidades, principalmente em “Rua de Mão Única”, a potência do
espaço urbano como um novo lugar cognitivo – “a escrita da cidade”; a cidade como suporte e
conteúdo ao mesmo tempo. É importante ressaltar que a novidade da “escrita da cidade” a invoca
não apenas como suporte material dos textos, mas também como forma significante, como um
lugar de imersão: o simples estar na cidade aciona nossa leitura e escrita, relações que
estabelecemos, contínua e contiguamente, com o ambiente em que estamos.
Para se revelar como um texto legível, a cidade depende da apreensão de cada sujeito,
pois “são textos triviais, percebidos na maioria das vezes, de passagem, de modo distraído”
(BOLLE, 1994: 274) que articulados às experiências próprias conformam nossos afetos,
entendimentos e conhecimentos a respeito dos espaços. Cada sujeito experimenta o espaço
comum da cidade, acionando e acessando suas memórias, experiências, seu próprio corpo.
Dessa maneira, a cidade é re-significada por cada sujeito que a experimenta, produzindo e
reproduzindo diversos sentidos. Ao compartilhá-los com os outros habitantes que ali convivem, a
cidade se estabelece como um lugar possível de se realizarem trocas simbólicas.
Os encontros mapeados que se constituem como diálogos não se utilizam do acaso para
estabelecer contato. Todos que caminham no espaço da cidade, realizando sua escrita da cidade,
construindo enunciados em cada um dos seus passos (CERTEAU, 1984), são alvo do texto; os
diálogos estão na rua disponíveis a qualquer um que compartilha aquele espaço público. As ruas
da cidade conformam o ambiente mais acessível em nossa atualidade, e é nesta condição de
público que as interações comunicativas que registramos na cidade ganham visibilidade: por isso,
diálogos públicos.
Durante o acompanhamento das transformações destas práticas comunicativas,
percebemos que três lugares se estabeleceram como territórios de diálogos públicos:
1 - Praça da Estação: acompanhamos alguns diálogos públicos que se conformaram em
um tapume de obras durante a transformação da Estação Central de Trens no Museu de Artes e
Ofícios, nas escadarias que ligam a praça a Rua Sapucaí. As inscrições, colagens de cartazes e
adesivos, pixações e pinturas, se conectam e relacionam entre si e a outros territórios, desde a
primeira reivindicação neste espaço, compartilham sentidos e informações do estar na cidade e
estabelecem um sentido de comunicação atento para as administrações e necessidades da
cidade (fig. 05).
2 - Praça Sete de Setembro: local planejado e apropriado para o encontro da diversidade,
um sujeito recorta partes das notícias, das manchetes, das fotos e legendas, de jornais dos dias
anteriores, e reorganiza os recortes em páginas de papel no tamanho A4, inserindo textos
próprios e comentários - as notificações. Depois, as cola em paredes na praça, publicizando tácita
e taticamente, suas idéias a respeito do mundo. Outros sujeitos intervêm nestes papéis, seja
inscrevendo suas opiniões e críticas, seja rasgando as notificações, seja enaltecendo o trabalho
do notificador, seja colando outros papéis, conformando as paredes da praça como um lugar de
comunicação (fig. 06).
3 - Rua da Bahia entre a Avenida Afonso Pena e a Rua Tamoios: um portão desativado foi
apropriado por sujeitos praticantes de intervenções urbanas denominadas stickers, que
praticamente cobriram toda a superfície com suas mensagens. Neste portão podemos observar
conflitos de grupos, disputas por espaço e por qualidade dos trabalhos que se conectam e são
atravessados pelos sentidos da cidade de Belo Horizonte. Os stickers transportam em seus
desenhos, inscrições e iconografias vários sentidos da experiência urbana, os quais são
veiculados na internet, proporcionando a circulação e a colagem de seus sentidos para outras
localidades (fig.07).
Bibliografia
ARANTES NETO, Antonio Augusto. Paisagens Paulistanas: transformações no espaço público. Campinas SP: Editora da Unicamp; São Paulo: Imprensa Oficial, 2000 BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas Vol. I – Magia e Técnica, Arte e Política. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000 _________________. Obras Escolhidas Vol. II - Rua de Mão Única. São Paulo: Editora Brasiliense, 2000 BOLLE, Willi. Fisiognomia da Metrópole Moderna: Representação da História em Walter Benjamin. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1994 CANCLINI, Nestor Garcia. Diferentes, Desiguais, Desconectados. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2005 CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano. Petrópolis: Vozes, 2004. GORELIK, Adrián. Miradas sobre Buenos Aires: história cultural e crítica urbana. Buenos Aires: Siglo Veintiuno editores Argentina, 2004. JACOBS, Jane. Morte e Vida de Grandes Cidades. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
JACQUES, Paola Berenstein. Apologia da Deriva: escritos situacionistas sobre a cidade. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. ________________________. Eloge aux errants: bref historique dês errances urbaines in Le passant ordinaire. Bordeaux, 2004. LEPETIT, Bernard. Por uma nova história urbana. Org. SALGUEIRO, Heliana Angotti. São Paulo: Edusp, 2001. LEFEVBRE, Henry. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001. SILVA, Armando. Os imaginários urbanos na América Latina. in: BRANDÃO, Carlos Rodrigues e MESQUITA, Zilá (org). Territórios do cotidiano: uma introdução a novos olhares e esperiências. Porto Alegre/Santa Cruz do Sul: Editora Universidade/UFRGS/ Editora Universidade de Santa Cruz do Sul/ UNISC, 1995. SIMMEL, Georg. A metrópole e a vida mental. in: VELHO, Otávio Guilherme. O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar, 1973.
ANEXO 1 – Imagens Fotográficas Figura 01
Figura 02
Figura 03
Figura 04
Figura 05
Figura 06
Figura 07