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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LILIAN LEANDRO DA FONSECA DIAGNÓSTICOS E ENCAMINHAMENTOS DADOS POR PROFESSORES A ALUNOS EM SITUAÇÃO DE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA CUIABÁ-MT 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LILIAN LEANDRO DA FONSECA

DIAGNÓSTICOS E ENCAMINHAMENTOS DADOS POR

PROFESSORES A ALUNOS EM SITUAÇÃO DE

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA

CUIABÁ-MT

2014

LILIAN LEANDRO DA FONSECA

DIAGNÓSTICOS E ENCAMINHAMENTOS DADOS POR

PROFESSORES A ALUNOS EM SITUAÇÃO DE

DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal

de Mato Grosso como requisito para a obtenção

do título de Mestre em Educação na Área de

Concentração Educação e na Linha de Pesquisa

Educação em Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Marta Maria Pontin Darsie

CUIABÁ-MT

2014

Resumo

Este trabalho corresponde a uma pesquisa de mestrado pertencente ao Grupo de Estudos e

Pesquisas em Educação Matemática - GRUEPEM, do Programa de Pós-Graduação, do

Instituto de Educação, da Universidade Federal de Mato Grosso – PPGE/IE/UFMT.

Temos as dificuldades de aprendizagem em Matemática como tema dessa pesquisa, que

visa responder a seguinte questão: o que revelam os diagnósticos e os

encaminhamentos dados por professores que atuam no 5º ano do Ensino

Fundamental a alunos em situação de dificuldades de aprendizagem em

matemática? Foi realizado levantamento de produções que contemplassem o tema para

melhor compreensão do assunto e composição do aporte teórico da pesquisa. Já que o

termo dificuldade de aprendizagem tem sido utilizado de maneira generalizada em

diferentes áreas o que dificulta sua melhor conceituação. Para composição teórica e

melhor interpretação dos dados, temos por base CHABANNE (2006), CHARLOT

(2000/2013) e SILVA (2009). Na compreensão que a aprendizagem acontece quando há

mobilização do sujeito, fatores relacionados ao contexto sócio afetivo, ao ensino e ou ao

tempo de desenvolvimento cognitivo do ser humano, podem influenciar na aprendizagem

da Matemática, de modo que o aluno possa momentaneamente apresentar-se em situação

de dificuldade de aprendizagem na Matemática. A Metodologia utilizada foi a qualitativa

de análise interpretativa, fundamentada em BOGDAN & BIKLEN (1994), TRUJILLO

(2009). A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas estaduais do município de Cuiabá,

estado de Mato Grosso. Essas escolas são parceiras do projeto Observatório da Educação,

com foco em Matemática e Iniciação às Ciências - polo UFMT e estão localizadas em

bairros da região sul. Os sujeitos da pesquisa somam em 2 professores regentes e 2

professores articuladores do 5º ano do ensino Fundamental, sendo dois de cada escola.

Como instrumentos de análise da pesquisa, destacamos: documentos fornecidos pelo

projeto, documentos fornecidos pelas escolas, caderno de alunos encaminhados para sala

articulação, questionários e entrevistas aos professores regentes e articuladores. Como

categorias para análise dos dados consideramos a abordagem tradicional e a

construtivista. As análises demonstraram que os professores parecem transitar entre as

duas abordagens exploradas nessa pesquisa, tanto para ensino e aprendizagem da

Matemática, quanto para dificuldade de aprendizagem em matemática. A sala de

articulação apresenta um número significativo de alunos ausentes, dificultando o apoio

pedagógico para que os alunos avancem na aprendizagem. Na indicação de alunos para

sala de articulação, alguns professores regentes não descrevem em documentos a

dificuldade do aluno para melhor encaminhamento de atividades pelo articulador. Estes

demonstram não ter um processo diagnóstico adequado de cada aluno, o que nos leva a

refletir sobre sua formação. Tanto nos documentos dos professores quanto nos relatórios

dos articuladores foi possível perceber a tendência destes em homogeneizar as

dificuldades dos alunos e focarem nas quatro operações fundamentais, indo de encontro

aos resultados do simulado aplicado no ano de 2013 que evidenciaram a necessidade do

professor explorar outros descritores, como geometria e resolução de problemas. Na

análise de atividades propostas em sala de articulação percebemos uma significativa

presença de atividades de memorização em relação a outras propostas, como situação problema. Esses dados demonstram a fragilidade das escolas para alunos em situação de

dificuldade de aprendizagem em Matemática, reforçando a necessidade de maior

discussão das DAM na formação inicial e continuada.

Palavras-chave: Educação Matemática, Ensino Fundamental, Dificuldade de

Aprendizagem em Matemática.

ABSTRACT

This study corresponds to a research of masters degree of to the Group of Studies and

Research in Mathematics Education - GRUEPEM, of post-graduation program of

Education Institute of Federal University of Mato Grosso - PPGE / IE / UFMT . The

learning difficulties in mathematics is a subject of this research, which aims to answer the

following question: what is revealed on diagnoses and referrals given by teachers

who work in the 5th year of elementary school to students with learning disability in

mathematics? Survey of productions that addressed the issue for the better

understanding of the subject and composition of the theoretical contribution of the

research was conducted. Since the term learning disability has been used in a generalized

way in different areas hindering their best conceptualization. To better composition and

theoretical interpretation of the data, we based CHABANNE (2006), CHARLOT (

2000/2013) and Silva (2009). Understanding that learning happens when there is

mobilization of the subject factors related to socio-affective context, teaching and or time

of cognitive development of human beings can influence the learning of mathematics, so

that students can briefly be presented in situation of learning difficulties in mathematics.

The methodology used was qualitative interpretative analysis supported by BOGDAN &

BIKLEN (1994), TRUJILLO (2009). The research was conducted in two public schools

in the city of Cuiabá, state of Mato Grosso. These schools are partners of the Observatory

for Education project, focusing on Mathematics and introduction to Science at Home -

Pole UFMT and neighborhoods are located in the southern region. The subjects of

research are two school teachers and two articulators teachers of the 5th year of

elementary school, two in each school. As categories for data analysis considered the

traditional and constructivist approach. As analytical tools of research include:

Documents provided by the project, documents provided by schools, students referred for

tender joint room, questionnaires and interviews with school teachers and articulators

teachers. The analyzes showed that teachers appear to transfer between the two

approaches explored in this research, both for teaching and learning of mathematics, and

for learning disability in math's. The tender joint room has a significant number of absent

students, making the pedagogical support for students to advance in learning difficult. In

the indication of students to articulation room, some school teachers do not describe in

the documents the difficulty the student to better forwarding activities by articulator.

These shows do not have a proper diagnosis process of each student, which leads us to

reflect on their training. Both the documents of the teachers and the reports of the

articulators was possible to realize the trend in homogenizing these students difficulties

and focus on the four fundamental operations, according to the results of the simulated

applied in 2013 that showed the need for the teacher to explore other descriptors, such as

geometry and resolution of problems. These demonstrate the fragility of schools for

students in a situation of learning difficulties in Mathematics, strengthening the need for

greater discussion of DAM in initial and continuing training.

Keywords: Mathematics Education, Elementary Education, Learning Disability in

Mathematics.

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Evolução histórica das dificuldades de aprendizagem ..................................... 24

Quadro 2 - Pesquisadores que abordaram o tema Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática de universidades brasileiras, em nível de doutorado ..................................... 38

Quadro 3 - Pesquisadores que abordaram o tema Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática de universidades brasileiras, em nível de doutorado ..................................... 40

Quadro 4: Síntese do ensino e aprendizagem da Matemática na abordagem tradicional e

na abordagem construtivista .............................................................................................. 63

Quadro 5: Relação entre objetivos específicos e instrumentos de coleta de dados ........... 70

Quadro 6: Informações gerais de escolas estaduais ........................................................... 77

Quadro 7: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

regente (Lidia) ................................................................................................................... 87

Quadro 8: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

articuldora (Ana)................................................................................................................ 89

Quadro 9: Concepções de Dificuldade de aprendizagem em Matemática, segundo

professora regente (Lidia) .................................................................................................. 91

Quadro 10: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática, segundo

professora articuladora (Ana) ............................................................................................ 95

Quadro 11: Percepção da sala de articulação, segundo professora regente (Lidia) .......... 96

Quadro 12: Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora (Ana) ..... 98

Quadro 13: Encaminhamentos para sala de articulação, segundo professora articuladora

(Ana) ................................................................................................................................ 101

Quadro 14: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Ana) ............................................................................................................ 103

Quadro 15: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Ana) ............................................................................................................ 106

Quadro 16: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

regente (Aline) ................................................................................................................. 115

Quadro 17: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

articuladora (Rosane) ....................................................................................................... 118

Quadro 18: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática, segundo

professora regente (Aline) ............................................................................................... 120

Quadro 19: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem de Matemática, segundo

professora articuladora (Rosane) ..................................................................................... 123

Quadro 20: Percepção da sala de articulação, segundo professora regente (Aline) ........ 124

Quadro 21: Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora (Rosane)

......................................................................................................................................... 126

Quadro 22: Encaminhamentos para sala de articulação, segundo professora articuladora

(Rosane) ........................................................................................................................... 129

Quadro 23: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Rosane) ....................................................................................................... 130

Quadro 24: relatório do aluno, elaborado pela professora articuladora (Rosane) ........... 131

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Conteúdos de Matemática, de maior dificuldade dos alunos encaminhados para

sala de articulação, segundo professora regente (Lidia) .................................................. 100

Tabela 2: Conteúdos de Matemática, de maior dificuldade dos alunos encaminhados para

sala de articulação, segundo professora regente (Aline) ................................................. 128

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Exercício de adição .......................................................................................... 108

Figura 2: Atividade para escrita do numeral, operações de adição e subtração .............. 109

Figura 3: Atividade de quantidade................................................................................... 111

Figura 4: Atividade de geometria .................................................................................... 112

Figura 5: Atividade de adição .......................................................................................... 133

Figura 6: Problema .......................................................................................................... 134

LISTA DE SIGLAS

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

DA Dificuldade de Aprendizagem

DAM Dificuldade de Aprendizagem em Matemática

DDA Distúrbio Déficit de Atenção

E.F. Ensino Fundamental

GRUEPEM Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática

IE Instituto de Educação

MT Mato Grosso

OBEDUC Observatório da Educação com foco em Iniciação às Ciências e

Matemática

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PPGE Programa de Pós-Graduação em Educação

PPP Projeto Político Pedagógico

RFC Retenção ao final do ciclo

SARESP Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

SBEM Sociedade Brasileira de Educação Matemática

SEDUC/MT Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

TDAH Transtorno Déficit de Atenção e Hiperatividade

UFMT Universidade Federal de Mato Grosso

UNEMAT Universidade do Estado de Mato Grosso

Sumário

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14

CAPÍTULO 1 - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM (DA) .................................. 19

1.2 UTILIZAÇÃO DO TERMO .................................................................................... 25

CAPÍTULO 2 - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA (DAM)32

2.1 ABORDAGEM GERAL DA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA ............................................................................................................. 32

2.2 PRESENÇA DA TEMÁTICA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA NAS PESQUISAS BRASILEIRAS .................................................. 37

CAPÍTULO 3 - PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA

MATEMÁTICA ............................................................................................................. 46

3.1 ABORDAGEM DE ENSINO E APRENDIZAGEM TRADICIONAL E

CONSTRUTIVISTA ...................................................................................................... 47

3.1.1 Ensino e aprendizagem na abordagem tradicional ................................................ 52

3.1.2 Ensino e aprendizagem na abordagem construtivista ............................................ 58

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA ................................................................................ 66

4.1 OPÇÃO METODOLÓGICA ................................................................................... 66

4.2 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 68

4.2.1 Os procedimentos e os instrumentos da coleta de dados da pesquisa ................... 68

4.3 CONTEXTO E SUJEITOS DA PESQUISA ........................................................... 71

4.3.1 O Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e Iniciação às

Ciências .......................................................................................................................... 71

4.3.2 Organização das escolas estaduais de Mato Grosso .............................................. 72

4.3.3 Critérios de seleção das escolas ............................................................................. 76

4.3.4 Critérios de seleção dos sujeitos (Professores regentes, articuladores e alunos) ... 78

4.3.5 Caracterização dos sujeitos (professores regentes, articuladores) ......................... 79

4.3.6 Caracterização das salas de articulação ................................................................. 80

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS NA PESQUISA.................. 82

5.1 ESCOLA PARDAL .................................................................................................. 84

5.1.1 O que diz o Projeto Político Pedagógico da escola Pardal em relação às dificuldades de

aprendizagem.............................................................................................................................84

5.1.2 Concepções de professoras regente e articuladora, da escola Pardal, quanto ao ensino

e aprendizagem da matemática .................................................................................................87

5.1.3 O que os professores entendem sobre Dificuldade de Aprendizagem em Matemática

...................................................................................................................................................90

5.1.4 Como os professores percebem a sala de articulação da aprendizagem ..................96

5.1.5 Conteúdos de Matemática revelados nas fichas de encaminhamento para sala de

articulação ..................................................................................................................................99

5.1.6 Encaminhamentos e organização dos alunos em dificuldade de aprendizagem em

Matemática, segundo a professora articuladora .....................................................................101

5.1.7 Relatório por aluno preenchido pela professora articuladora (Ana) ......................106

5.1.8 Abordagem Matemática revelada, em sala de articulação, nos cadernos de alunos107

5.2 Escola Sabiá ............................................................................................................ 113

5.2.1 O que diz o Projeto Político Pedagógico da escola Sabiá, em relação às Dificuldades de

aprendizagem...........................................................................................................................114

5.2.2 Concepções de professoras regente e articuladora, da escola Sabiá, quanto ao ensino

e aprendizagem da matemática ...............................................................................................115

5.2.3 O que os professores entendem sobre Dificuldade de Aprendizagem em Matemática

.................................................................................................................................................119

5.2.4 Como as professoras percebem a sala de articulação de aprendizagem.................124

5.2.5 Conteúdos de Matemática revelados nas fichas de encaminhamento para sala de

articulação ................................................................................................................................127

5.2.6 Encaminhamentos e organização dos alunos em Dificuldade de Aprendizagem em

matemática, segundo professora articuladora ........................................................................129

5.2.7 Relatório por aluno preenchido pela professora articuladora (Rosane) ..................131

5.2.8 Abordagem de Matemática revelada, em sala de articulação, nos cadernos dos

alunos, ......................................................................................................................................132

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... 135

Referências ................................................................................................................... 141

APÊNDICES ................................................................................................................ 151

14

INTRODUÇÃO

O tema dificuldade de aprendizagem em matemática me chamou atenção

quando fui bolsista do Programa Institucional de Bolsas em Iniciação à Docência -

PIBID, no curso de Pedagogia/UFMT. Nesse programa, auxiliei uma professora de sala

de apoio à aprendizagem, de uma escola municipal de Cuiabá/MT. Nessa sala, eu

percebi que a Matemática não era tão contemplada quanto o Português para o apoio aos

alunos considerados em dificuldade de aprendizagem. Como boa parte dos cursos de

formação em Pedagogia, não abordam esse tema mais profundamente, comecei a

procurar conhecê-lo tanto em relação a como autores discutem esse assunto, como na

prática do professor em sala de aula, pelo PIBID e pelo estágio de docência. Desse

modo, elaborei meu anteprojeto de pesquisa para concorrer a uma vaga no mestrado em

educação, pela Universidade Federal de Mato Grosso com intuito de conhecer mais

profundamente como a Dificuldade de Aprendizagem em Matemática é tratada na

escola.

A pesquisa de mestrado foi desenvolvida no Ensino Fundamental de escolas

estaduais de Mato Grosso. Essas escolas são organizadas por ciclos de formação. O

Ensino Fundamental é dividido em três ciclos que se subdividem em três para

organização do ensino de nove anos. Nessa pesquisa, focamos no 5ºano do Ensino

Fundamental, o que compreende a II fase do II ciclo, nesse ciclo a faixa etária é de 9 a

12 anos. Na organização por ciclos de formação, preza-se a avaliação periódica e

processual para acompanhamento dos avanços e das dificuldades dos alunos. Nesse

processo, parte-se do princípio que há envolvimento entre profissionais que

acompanham os alunos para seu avanço na aprendizagem.

Alunos que apresentam dificuldade de aprendizagem podem ser acompanhados

por outro profissional, além do professor regente, que é o professor articulador. A sala

de articulação torna-se importante dentro do ciclo, para que haja um trabalho

pedagógico além da sala de aula, com os alunos que estiverem em situação de

dificuldade de aprendizagem.

Entendemos que na sala de articulação (termo utilizado para apoio pedagógico

nas escolas Estaduais de Mato Grosso), o professor articulador deve propiciar atividades

mobilizadoras e que façam sentido para o aluno. Desse modo, é importante que haja

troca entre ele e o professor regente, para que as estratégias sejam complementares.

15

Nesse atendimento, o aluno deve se sentir estimulado e confiante, para não parar na

aprendizagem da matemática.

Nesse sentido, as experiências de cada aluno são valorizadas para exploração

formal da matemática. Segundo Mato Grosso (2001), a Educação Matemática deve ser

entendida como atividade humana, construída historicamente e de forte influência

cultural. É preciso que ele se sinta envolvido pela atividade e sinta proximidade com os

conteúdos. Sendo assim, o documento destaca a dimensão interdisciplinar da

matemática, a valorização do lúdico para ensino e aprendizagem, a importância dos

conhecimentos prévios para ampliar aprendizagem matemática, a Resolução de

Problemas de modo que o aluno pense em estratégias para resolvê-los e destacam

propostas de atividades, em que o aluno tenha envolvimento emocional.

Todo envolvimento do aluno com as atividades propostas podem vir a refletir

no seu autoconceito, principalmente de alunos que são atendidos em sala de articulação.

No autoconceito consideramos como o aluno se percebe como ser humano, como

pessoa. A percepção do autoconceito do aluno é importante, pois, influi diretamente em

suas aprendizagens.

Diante dos resultados em Matemática abaixo do esperado nas avaliações

aplicadas pelo governo Brasileiro e, por entendermos a relevância desse espaço

pedagógico para escolas organizadas em ciclos de formação e como Pedagogas,

buscamos melhor compreender o que revelam os diagnósticos e os encaminhamentos

dados por professores que atuam no 5º ano do Ensino Fundamental a alunos em situação

de dificuldades de aprendizagem em matemática?

A pesquisa está organizada em cinco capítulos em que procuramos trazer desde

o histórico das dificuldades de aprendizagem, como o termo vem sendo discutido ao

longo dos anos para melhor entendermos as dificuldades de aprendizagem em

Matemática e, nosso posicionamento teórico quanto ao que entendemos como ensino e

aprendizagem no caminho da uma educação pela matemática. Por fim, descrevemos

nosso percurso metodológico e análise dos levantamentos realizados. Acreditamos que

o trabalho está estruturado de modo a buscarmos investigar e analisar o que revelam os

diagnósticos e os encaminhamentos dados por professores do 5º ano do Ensino

Fundamental a alunos em situação de dificuldades de aprendizagem em matemática.

16

No primeiro capítulo levantamos o processo histórico do termo dificuldade de

aprendizagem e sua utilização. Os estudos sobre esse assunto foram inicialmente

abordados nos Estados Unidos e Canadá. No entanto, foi abrindo caminho para sua

abordagem em países da Europa e América do Sul. No Brasil, foi enquadrado dentro da

categoria de Educação Especial e tornou-se mais expressivo quando o assunto tratado

era o fracasso escolar. Segundo Sisto (2001), esse termo foi oficialmente abordado após

reunião de pais preocupados com seus filhos, que apresentavam dificuldades na leitura.

Esse encontro ocorreu em Chicago, no ano de 1963, com presença de profissionais de

várias áreas.

Mantovanini (2001) confirma que primeiramente, os médicos, educadores e

terapeutas se apoiavam no enfoque orgânico para explicar a não aprendizagem do aluno.

Para a autora, foi na década de 30 que se começa a mudar o conceito de origem da

dificuldade de aprendizagem como, apenas anatofisiológica, para investigar a história

do aluno e as circunstâncias de vida do indivíduo. Agora, “[...] as crianças que não

aprendem deixam de ser anormais e recebem outra designação: “criança problema”

(MANTOVANINI, 2001, p.25).

Ao longo dos anos o termo foi sendo utilizado indiscriminadamente em

diferentes áreas, o que torna mais difícil sua conceituação. Assim como seu

entendimento, o mesmo ocorre com suas variantes. Dependendo da concepção do autor,

o termo é apresentado com sinônimos, como problemas de aprendizagem, distúrbio e

outros. Nesse sentido, consideramos extremamente relevante apresentarmos brevemente

como o termo dificuldade de aprendizagem foi tratado historicamente.

Podemos perceber que, na prática, várias terminologias transitam com o termo

dificuldade de aprendizagem, provavelmente por falta de compreensão do que cada um

abrange. Este termo carrega um peso o qual sua utilização pode interferir na relação

ensino e aprendizagem. Para esse capítulo, tivemos como base autores como, Sisto

(2001), Mantovanini (2001), Scoz (2011), Patto (1999), Collares e Moyses (1996),

Smith e Strick (2001), José e Coelho (2010), Fonseca (1995), Paín (1992), Coll,

Marchesi e Palacios(1995), Jimenez (2008) e Chabanne (2006).

No segundo capítulo discutimos especificamente a Dificuldade de

Aprendizagem em Matemática já que focaremos nos posicionamentos de professores

em relação à dificuldade de aprendizagem em matemática. A matemática tem

17

apresentado índices abaixo do esperado nas avaliações institucionais. Sendo assim,

temos uma parcela significativa de alunos considerados, pelos professores, com

dificuldade de aprendizagem em matemática e, dependendo de como o assunto é tratado

na escola, pode gerar sentimentos de frustação e impotência pelo aluno, o que pode

interferir fortemente em suas aprendizagens futuras. Assim, Traremos contribuições de

García Sánchez (2004), Sampaio (2011) e García (1998), Palacios e Marchesi (1995),

Sisto (2001) e Patto (1993).

Para o terceiro capítulo procuramos demonstrar nosso entendimento de como

ocorre a aprendizagem, percorrendo o caminho da Educação Matemática. Entendemos

que a matemática é fruto de um processo histórico e que está em constante

desenvolvimento. Nessa compreensão, o aluno é entendido como sujeito ativo e deve

ser mobilizado para que haja aprendizagem. Por certo, a forma como a Matemática é

vivenciada aproxima ou afasta o indivíduo dessa área do conhecimento. Caminhamos

por autores como Miorim (1998), Fiorentini; Lorenzato (2012), Bicudo & Borba (2004),

Chabanne (2006), Charlot (2000/2013) e Silva (2009).

No quarto capítulo, apresentamos a metodologia de pesquisa de abordagem

qualitativa e análise interpretativa, devido às especificidades do assunto dificuldade de

aprendizagem em matemática e nos respaldamos em Bogdan; Biklen (1994) e Trujillo

(2009). Acreditamos que na pesquisa de caráter qualitativo, os investigadores da

educação questionam seus sujeitos objetivando perceber sobre o que está em

experimentação e como interpretam.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas estaduais participantes do Projeto

Observatório da Educação com Foco em Matemática e iniciação às ciências -

OBEDUC, polo UFMT. Este tem como principal intenção complementar as atividades

didático-pedagógicas realizadas nas escolas, com adição de intervenção pedagógica para

alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática. Esse projeto,

também tem como objetivo propiciar maior contato entre universidade e escolas, a fim

de contribuir na formação de acadêmicos de licenciatura, assim como o

desenvolvimento de pesquisas em nível de mestrado e doutorado e contribuição na

formação continuada dos profissionais das escolas.

Os sujeitos da pesquisa somam em 2 professores regentes, 2 articuladores que

atendem alunos de 5ºano do Ensino Fundamental. Desse modo, procuramos entender

18

como professores regentes e professores articuladores tratam as dificuldades de

aprendizagem em Matemática, no contexto de duas escolas estaduais de Mato Grosso,

parceiras do OBEDUC/UFMT .

Para o quinto capítulo, dialogamos com os teóricos apresentados nessa pesquisa

para melhor apresentação e interpretação dos dados coletados nesse trabalho. As

análises são apresentadas por escola, em que primeiramente apresentamos as

concepções dos sujeitos quanto ao ensino e aprendizagem da Matemática e, em relação

às dificuldades de aprendizagem em Matemática. Na sequência, trazemos como as

dificuldades de aprendizagem em Matemática são abordadas nos documentos e como é

a organização da sala de articulação. Por último, demonstramos algumas atividades

propostas em sala de articulação.

Os dados apontam para uma concepção de ensino e aprendizagem, que parece

transitar entre as duas abordagens categorizadas nessa pesquisa. Percebemos que os

professores não têm clareza quanto aos aspectos relacionados às dificuldades de

aprendizagem em matemática, provavelmente pela falta de conhecimento sobre o

assunto. Eles demonstram ter falta de apropriação de alguns conceitos matemáticos, o

que pode estar refletindo no tipo de atividades propostas, as quais apresentam maior

tendência a abordagem tradicional. Suas lacunas quanto a conceitos matemáticos,

também podem ser indícios da fragilidade dos documentos apresentados. Por fim,

buscamos responder o problema de investigação dessa pesquisa, assim como, reflexões

acerca de alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática.

19

CAPÍTULO 1 - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM (DA)1

1.1 ORIGEM DO TERMO

Para explorarmos qualquer tema, é importante pesquisarmos como ele foi

tratado historicamente, como surgiu, onde, diante de quais necessidades e qual foi a sua

evolução ou não de acordo com as transformações na sociedade. Sendo nosso tema,

“Dificuldade de Aprendizagem em Matemática”, demonstraremos neste item que com o

histórico das dificuldades de aprendizagem não foi diferente. As literaturas, por

exemplo, datam sobre o tema desde 1800 e revelam que a não aprendizagem geralmente

era centrada na criança. Provavelmente essa posição se deve à forte influência médica

em se apoiar apenas nas causas orgânicas e psicológicas.

O estudo mais sistemático desse tema aponta que, segundo Mantovanini (2001)

e Santos (2012), primeiramente os médicos, educadores e terapeutas apoiavam-se no

enfoque orgânico para explicar a não aprendizagem do aluno. Concepção esta,

fortalecida junto ao grande desenvolvimento das ciências médicas e biológicas,

principalmente por influência da psiquiatria. Aos poucos esse conceito de crianças

anormais foi sendo direcionado dos centros psiquiátricos para escola. Segundo esses

mesmos autores “A criança que não conseguia aprender era taxada de ‘anormal’”

(MANTOVANINI, 2001, p.24), pois “[...] não se investigava o sistema escolar, apenas

se procuravam justificativas para o insucesso escolar dos alunos” (SANTOS, 2012,

p.63). Grosso modo, os alunos eram deixados no canto da sala como incapazes e havia

pouca preocupação, olhar mais atento, com as técnicas e com as metodologias utilizadas

em sala de aula.

Assim, para a autora, foi na década de 30 que começou a mudar o conceito de

origem da dificuldade de aprendizagem como apenas anatofisiológica para investigar a

história do aluno e as circunstâncias de vida do indivíduo. Agora, “[...]as crianças que

não aprendem deixam de ser anormais e recebem outra designação: ‘criança problema’”

(MANTOVANINI, 2001, p.25). Esse novo pensar sobre a criança que não aprende tem

1 Ao longo da pesquisa o termo dificuldade de aprendizagem será apresentado por extenso ou apenas por

DA.

20

como divulgador, no Brasil Arthur Ramos, que foi médico e estudou problemas de

aprendizagem escolar. Na visão desse médico “[...] a maioria das crianças classificadas

como anormais não era portadora de nenhuma anomalia mental, mas sofria a ação das

causas externas. Vítimas da incompreensão do adulto, do seu meio, da sua família, da

escola, foram “anormalizadas” pelo meio (MANTOVANINI, 2001, p.25)”.

A concepção do médico Arthur Ramos torna-se relevante por descentralizar as

causas da não aprendizagem no âmbito orgânico e começar a enfatizar outros elementos

externos ao sujeito, chegando mais próximo do nosso olhar atual e pedagógico diante da

busca por um melhor entendimento das dificuldades de aprendizagem. No entanto,

apesar das contribuições de Ramos ao ampliar a visão para explicações da não

aprendizagem do aluno, a visão médica é enfatizada pela abordagem psiconeurológica

de desenvolvimento, no Brasil, na década de 60.

Dentro da corrente psicanalítica, Artur Ramos foi um dos primeiros no Brasil a

chamar atenção para a relação adulto criança, já que havia predominância de explicação

relacionada à dimensão orgânica. Assim, a criança era a única responsável por sua

dificuldade de aprendizagem. Na década de 60, ainda era forte o apelo orgânico para os

problemas de aprendizagem, assim como sua medicalização. Nessa mesma década

houve introdução, no Brasil, do campo psiconeurológico, fortalecendo-se a utilização de

termos como disfunção cerebral mínima e dislexia. Os estudos na área médica

exerceram e ainda exercem forte influência nos campos da psicologia, psicopedagogia e

fonoaudiologia, por exemplo.

O advento da escola Nova, que “norteou a política da educação dos anos 1920

aos 1960” (SCOZ, 2011, p.19), também influenciou na busca de respostas aos

problemas educacionais, com forte influência dos Estados Unidos e países da Europa.

No entanto, desprezaram os múltiplos aspectos envolvidos quando a criança não

aprende. Primeiro enfatizaram uma resposta meramente orgânica e depois começaram a

atribuir as causas aos fatores sociais.

A partir do encontro realizado em Chicago, no ano de 1963, segundo Sisto

(2001), esse assunto começou a ter um olhar mais atento e passou a ser oficialmente

tratado, após reuniões de pais preocupados com seus filhos, que apresentavam

dificuldades na leitura.

21

Nesse mesmo encontro, ainda de acordo com Sisto, vários profissionais

estiveram presentes, entre eles, podemos destacar, neurologistas e psicólogos. A

intenção desses profissionais era explicar os motivos dessas crianças não conseguirem

ler e indicar soluções, bem como gerar fundos para um futuro apoio a essas crianças

com um olhar mais educativo, visto que, até então, elas eram consideradas pelos

profissionais da área médica como portadoras de lesão cerebral ou de dislexias, por

exemplo.

Como é evidente, as dificuldades de aprendizagem não aparecem de repente e

apenas em 1963. Trata-se de um problema que sempre ocorreu, mas que, a

partir desta data, recebeu dos estudiosos uma unificação terminológica e uma

limitação de campo, já que a unificação conceitual tem percorrido um longo

caminho, com debates, polêmicas, acertos e dasacertos. Por isso, não se pode

deixar de lado certos fatos e interpretações interessantes sobre a história das

dificuldades de aprendizagem (SISTO, 2001, p.22).

Os estudos sobre esse assunto foram inicialmente abordados nos Estados

Unidos e Canadá, entretanto, foi abrindo caminho para sua abordagem em países da

Europa e da América do Sul. No Brasil, foi enquadrado dentro da categoria de Educação

Especial e tornou-se mais expressivo quando o assunto tratado era o fracasso escolar.

A partir de 1970, sob a influência norte americana, começa-se a responsabilizar

as escolas pela aprendizagem dos alunos. Nessa época, fortalece-se a ideia de adaptação

da escola ao meio em que o aluno vive. Ela tinha que se adaptar aos alunos

socioculturalmente desfavorecidos. Mais uma vez a criança é indiretamente

responsabilizada por sua não aprendizagem, pois, por esse entendimento, se o aluno

fosse favorecido socioculturalmente não teria dificuldade de aprendizagem.

Segundo estudos realizados por Patto (1999), as explicações das dificuldades

de aprendizagem de crianças pobres eram provenientes de suas condições sociais. Dessa

forma, nas escolas, os professores discriminavam seus alunos por estes serem de classes

pobres e aqueles de classe média; e como as escolas eram orientadas conforme

princípios regidos pela classe média, não levavam em conta a realidade dos alunos

considerados desfavorecidos socioculturalmente.

Contudo, pesquisas desenvolvidas na época apontaram que crianças

desfavorecidas socialmente “[...] demonstram de modo geral ter toda capacidade de

22

pensar sobre a realidade em que estão inseridas e a respeito daquilo que possui

significado para elas” (MANTOVANINI, 2001, p.30). Desse modo, as escolas

desconsideravam as diferenças sociais, e os profissionais responsáveis por dar o parecer

em relação às explicações da dificuldade da criança em não aprender, geralmente

enfatizavam apenas comportamentos considerados inapropriados para o considerado

ideal ou padrão para aprendizagem. Sendo assim, as crianças deveriam se adequar ao

currículo e não o currículo às crianças.

Esse tipo de consideração veio a contribuir para que outros elementos somados

ao falso diagnóstico viessem a caracterizar de fato um fracasso escolar, haja vista que o

aluno mal entendido e rotulado acabava sofrendo consequências em sua aprendizagem

por não se adequar aos moldes preestabelecidos pela cultura escolar ao ter que ficar

quieto e ser pouco questionador. É lógico que não há uma homogeneidade na

aprendizagem, pois estamos tratando de seres vivos diferentes em vontades,

comportamentos e modos de aprender.

Na década de 80, o assunto dificuldade de aprendizagem começa a ser

discutido por outras causas e não mais focado apenas no aluno, mas atribuindo as causas

à estrutura curricular, à formação do professor e à dificuldade do professor em abordar

conteúdos em sala de aula. Nesse sentido, muda-se o foco devido à sociedade entender

como preconceituoso atribuir a não aprendizagem do aluno ao resultado de seu meio

social. Será que só o professor era o responsável pela aprendizagem da criança? É

lógico que não. Sabemos que existe todo um “sistema” que colaborava negativamente

em responsabilizar alguém e, como o professor estava diretamente ligado à educação

escolar do aluno, torna-se o maior responsável pela não aprendizagem deste, desviando

o foco das secretarias de educação, dos diretores das escolas e, até mesmo, dos cursos

de formação.

No Brasil, o termo está mais presente quando são abordados os temas

repetência e fracasso escolar. Collares e Moysés (1996), a partir de pesquisa realizada

em escolas de Campinas – São Paulo sobre o não aprender dos alunos e o consequente

elevado nível de repetência para época, trouxeram elementos que vão ao encontro de

pesquisas realizadas anteriormente. Desse modo, essas questões ainda estavam

diretamente relacionadas ao modo de funcionamento da escola, ao tipo de práticas

pedagógicas, à formação do professor e à maneira como o professor e, até mesmo, a

23

escola tratavam o aluno e sua família, quando procedentes de classes mais populares.

Como parte dos resultados, as autoras apresentaram fatores intraescolares e

extraescolares. O primeiro está relacionado às práticas escolares inadequadas e ao curso

de formação do professor e o segundo está diretamente caracterizado pelas condições

socioeconômicas dos alunos.

Mantovanini (2001) chama atenção para três grupos em relação ao problema da

não aprendizagem escolar. De acordo com a autora, é possível considerar um grupo com

enfoque orgânico, um com enfoque psicológico e fatores ambientais e um, mais atual,

que aposta em uma perspectiva multidimensional e interdisciplinar, quando se discute

aspectos concernentes à aprendizagem e ao fracasso escolar.

Não temos a pretensão de levantar aspectos ligados ao fracasso escolar.

Todavia, a partir de um acúmulo de não aprendizagens escolares pelo aluno somado a

outros elementos, isso pode se configurar como fracasso escolar, que muitas vezes é

confundido com dificuldades de aprendizagem. É interessante trazermos alguns

resultados de pesquisas realizadas na perspectiva do fracasso escolar, pois os dois

termos, dificuldade e fracasso, apesar de serem distintos, inter-relacionam-se.

Carraher; Schliemann (2011) ressaltam aspectos importantes entre o fracasso

do aluno diante da aprendizagem formal e sistemática da Matemática apresentada na

escola e o sucesso desse mesmo aluno em suas atividades cotidianas ao envolver o

pensamento lógico-matemático. Na contramão da aprendizagem formal e sistemática da

Matemática oferecida pela escola, o aluno acumula um saber matemático de vida que na

maioria das vezes não é explorado como deveria pela escola. Desse modo, faz com que

esse aluno acumule incompreensões e distancie-se cada vez mais do ambiente escolar.

O processo de explicação do fracasso escolar tem sido uma busca de culpados

– o aluno, que não tem capacidade; o professor, que é mal preparado; as

secretarias de educação, que não remuneram seus professores; as universidades

que não formam bem o professor; [...] Mas a criança que aprende matemática

na rua, o cambista analfabeto que recolhe apostas, [...] são exemplos vivos de

que nossas análises estão incompletas, [...] se quisermos criar a verdadeira

escola aberta a todos, pública e gratuita, pela qual lutamos nas praças públicas.

Os educadores, todos nós, precisamos não encontrar os culpados mas encontrar

as formas eficientes de ensino e aprendizagem em nossa sociedade

(CARRAHER; SCHLIEMANN, 2011, p.37).

24

Concordamos com a autora que chegamos ao ponto que procurar culpados é

uma tentativa de nos isentarmos da responsabilidade pela educação. Não adianta a

escola colocar a culpa no aluno ou na família, o professor culpar os professores dos anos

anteriores ou a universidade por ser mais teórica do que prática. Precisamos, sim,

trabalhar em conjunto para que a escola proponha ações que mobilizem o aluno em suas

aprendizagens, as quais estão presentes em sua relação com si e com o mundo. Dessa

maneira, resumir a dificuldade de aprendizagem escolar ao fracasso escolar é interferir

negativamente na trajetória de aprendizagem e de formação desse ser humano como ser

social.

Charlot (2000), em sua percepção sociológica sobre o fracasso escolar,

estabelece sua relação com o saber e a escola. Ele demonstra que, em geral, o fracasso

escolar é caracterizado por fenômenos observáveis, nos quais os alunos “[...] não

constroem certas competências, [...] naufragam e reagem com condutas de retração,

desordem, agressão” (2000, p.16). De maneira distinta, o autor caminha nessa discussão

para além de apenas faltas de competências dos alunos, suas atitudes, deficiências

socioculturais, ou seja, pautado em diferenças. Para ele, não há fracasso escolar, mas

sim, alunos em situação de fracasso. Diferentemente, a dificuldade de aprendizagem

escolar torna-se experiência, pois “é o tempo ‘de experiência que o aluno vive e

interpreta’ [a situação vivenciada]”. (CHARLOT apud CHABANNE, 2006, p.17)

A partir desse breve caminhar histórico no tocante ao termo dificuldade de

aprendizagem, foi possível perceber quão ampla se torna a discussão em relação ao

termo. Assim, para uma melhor visualização, elaboramos um quadro síntese do

histórico das dificuldades de aprendizagem (DA).

Quadro 1: Evolução histórica das dificuldades de aprendizagem

Especificação/

Época

Início século

XX

Década de

30

Década de 60 Década

de 70 e 80

Atualmente

Tipo de

influência

Área médica,

principalmente

psiquiátrica.

Psicanálise e

ambiente

familiar.

Medicina,

psicologia,

fonoaudiologia,

neuropsiquiatria.

Sociologia. Influência de

várias áreas,

principalmente

da Pedagogia.

25

Especificação/

Época

Início século

XX

Década de

30

Década de 60 Década

de 70 e 80

Atualmente

Causa No sujeito.

Sujeito anormal,

com alteração

neurológica.

Fatores

intrínseco e

extrínseco ao

sujeito.

Centrada no

sujeito. Introdução

de Disfunção

Cerebral Mínima e

Dislexia.

Centrada no

nível

sociocultural.

Emocionais,

métodos de

ensino,

instituição

escolar.

Fonte: as autoras

No quadro síntese acima, percebemos que houve uma ampliação de áreas que

discutiram o termo de acordo com o passar das décadas. Mesmo assim, o enfoque

orgânico ainda permeia o ambiente escolar na utilização dessa nomenclatura. De acordo

com as influências sociais e políticas na educação, o termo foi diretamente ampliado,

reelaborado, percebido de maneiras diferentes. Consideramos, assim, ser pertinente

aprofundarmos mais a utilização do termo em diferentes áreas, a ser apresentado no

próximo item, a fim de melhor esclarecermos nosso entendimento diante do assunto,

para uma abordagem na área da Pedagogia.

1.2 UTILIZAÇÃO DO TERMO

O termo Dificuldade de Aprendizagem apresenta-se de diferentes maneiras,

dependendo do foco a ser evidenciado. Em levantamento de pesquisas publicadas nos

últimos cinco anos pelo site do Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino

Superior – Capes, observamos maior atenção para dificuldades de aprendizagem

relativas à leitura e à escrita e, principalmente, direcionado a algum comprometimento

patológico. Uma possível explicação para o uso indiscriminado do termo deve-se ao seu

próprio processo histórico. Essa revisão de pesquisas pode ser visualizada no capítulo 2,

intitulado Dificuldade de Aprendizagem em Matemática.

Se a criança não estivesse acompanhando o ritmo da turma em leitura e escrita,

a escola já considerava ela como portadora de dislexia. Esse e outros diagnósticos

partiram dos consultórios a partir da década de 90 e ainda hoje são utilizados por alguns

profissionais da educação, indiscriminadamente, sem conhecimento adequado.

26

O grande problema em criar rótulos para designar alterações comportamentais

é que eles acabam sendo um reflexo do nível de conhecimento sobre aquele

assunto em um dado momento e, por isso mesmo, quase nunca refletem a

verdade de fato ocorre nestas alterações. Exemplos claros dessa postura são as

denominações dadas ao déficit de atenção, como Disfunção Cerebral Mínima,

Síndrome da Criança Hiperativa, Síndrome da Ausência de controle Moral ou

ainda Reação Hipercinética da Infância, todas em diferentes períodos do século

XX (B. SILVA, 2003, p.16).

De certo modo, é comum uma criança agitada ou indisciplinada ser enquadrada

como hiperativa. Se além de agitadas forem dispersas, não tiverem atenção à aula,

provavelmente serão “diagnosticadas” com transtorno déficit de atenção e

hiperatividade (TDAH) ou com distúrbio do déficit de atenção (DDA). Entretanto, o

TDAH tem sua causa genética, sendo um transtorno neurológico com três importantes

sintomas: desatenção, hiperatividade e impulsividade.

Esses diagnósticos imprecisos muitas vezes causam desânimo no professor,

que tem a intenção de investir na aprendizagem dos alunos e, por outro lado, os alunos

desanimam ao tentar aprender por acharem que não são normais. Além dessas possíveis

consequências, vários alunos ainda são medicados sem ter qualquer transtorno.

Podemos perceber que, na prática, várias terminologias transitam com o termo

dificuldade de aprendizagem, provavelmente por falta de compreensão do que cada um

abrange. É relativamente fácil encontrarmos alunos sendo diagnosticados com

dificuldade de aprendizagem no contexto escolar. Porém, este termo carrega um peso,

que ao ser utilizado pode interferir na relação ensino e aprendizagem. Em várias

situações, essas dificuldades de aprendizagem são provenientes de práticas escolares

inadequadas, formação inicial inadequada do professor e não levam em conta que o

aluno possua alguma deficiência. Nesse sentido, ao aluno cabe carregar um fardo que

pode transformar-se em barreira, que se torna difícil de ser quebrada com a intervenção

pedagógica, por generalização do termo.

Em bibliografias sobre dificuldades de aprendizagem, para composição do

aporte teórico de nossa pesquisa, encontramos o termo sendo utilizado juntamente com

outros, como, por exemplo, problemas de aprendizagem, distúrbios e transtornos de

aprendizagem. A sua utilização concomitante com outros termos dificulta ainda mais

uma conceituação das dificuldades de aprendizagem escolares, mesmo porque é

abordado em diferentes áreas, o que abrange ainda mais seu enfoque.

27

[...] Apesar dos esforços realizados, não há uma definição aceita

universalmente do que seria considerado “dificuldade de aprendizagem”, pois

coexiste um grupo heterogêneo de sintomas e, por isso, é difícil a demarcação

de fronteiras (SISTO, 2001, p.21).

Diante desse emaranhado de definições e variados termos, juntamente com a

abordagem das dificuldades de aprendizagem, entendemos a relevância de pontuarmos

como esse termo é explorado em diferentes áreas, até mesmo para que possamos

delimitar nosso caminho nessa pesquisa quanto ao que consideraremos configurar-se

como dificuldades de aprendizagem escolares.

A argentina Sara Paín (1992), pautada na psicanálise, teoria piagetiana e

materialismo histórico, utiliza o termo “problema de aprendizagem” como sintoma

multifatorial, e o não aprender não é considerado como permanente. A autora destaca

quatro fatores que devem ser considerados para encontrar as causas dos problemas de

aprendizagem. Esses fatores abrangem os aspectos orgânicos, específicos, psicógenos e

ambientais. É possível encontrar posicionamentos para o termo dificuldade de

aprendizagem bem semelhantes a esse, como os apresentados por Smith e Strick (2012)

e José e Coelho (2010).

Outra interpretação de DA, a qual podemos destacar, são as contribuições de

Fonseca (1995), doutor em Educação Especial em Portugal, que conceitua dificuldade

de aprendizagem considerando o que se segue:

As crianças com dificuldade de aprendizagem são crianças intactas, portanto

não são deficientes. Não são deficientes mentais ou emocionais, nem

deficientes visuais, auditivos ou motores, nem devem ser confundidas com

crianças desfavorecidas ou privadas culturalmente. Independente de terem uma

inteligência (média), uma visão, uma audição e uma motricidade adequadas,

bem como uma estabilidade emocional adequada, tais crianças não aprendem

normalmente. Este aspecto é preponderante e fundamental para compreender e

se definir este grupo de crianças (FONSECA, 1995, p.197).

Para o autor, DA apresenta-se dissociada de fatores orgânicos ou de privação

cultural. Ao contrário, é preciso estabelecer que essas crianças sejam consideradas

“normais”, dentro do estabelecido como normal pela sociedade e não necessariamente

socioculturalmente desprivilegiado para intervenções adequadas. Desse modo, é

28

importante definir esses alunos, pois, em um aspecto geral, estamos diante de grupos

distintos com necessidades próprias e, consequentemente, ações pedagógicas mais

especializadas conforme as especificidades. Assim, diferentemente dos autores

anteriores, podemos inferir que para Fonseca as causas orgânicas e/ ou culturais não são

preponderantes para explicar a DA.

Já Coll, Marchesi e Palacios (1995), da Espanha, utilizam indiscriminadamente

os termos dificuldade de aprendizagem, problemas de aprendizagem e atrasos de

aprendizagem, conceituando-os como:

[...] qualquer dificuldade observável enfrentada pelo aluno para acompanhar o

ritmo de aprendizagem dos seus colegas da mesma faixa etária, seja qual for o

fator determinante deste atraso. Certamente, a população assim definida é de

uma grande heterogeneidade, não sendo simples encontrar critérios que a

delimitem com maior precisão. Os alunos deficientes mentais, os que

apresentam deficiências sensoriais e os que apresentam atrasos em um campo

concreto, como a leitura ou a matemática, fariam parte deste conjunto, ainda

que não o esgotassem (COLL, MARCHESI e PALACIOS, 1995, p.24-25).

Podemos perceber que, de certa maneira, essas definições apresentadas acima

apresentam diferenças que podem estar diretamente relacionadas à área abordada por

esses autores, bem como o país concebe esse assunto. Importante salientar que as

maiores influências para o termo DA procedem de países como Estados Unidos da

América e Espanha.

Entendemos ser pertinente trazer as contribuições de Santos (2012) na

conceituação dos termos transtornos de aprendizagem, problemas de aprendizagem e

dificuldades de aprendizagem, pois já apresentamos autores que não distinguem os

termos, o que permite o uso indiscriminado e inadequado dos termos por profissionais

não habilitados para determinadas causas do não aprender, o que pode se tornar um

possível obstáculo e/ou erro em ações futuras.

No que concerne ao termo transtorno de aprendizagem, Santos (2012) entende,

assim como distúrbio e disfunções, que de alguma maneira seria uma disfunção no

sistema nervoso central. Dessa forma,

29

Um distúrbio de aprendizagem está, em geral, associado a questões de

subnormalidade mental, deficiência das funções visuais ou auditivas,

disfunções psicológicas desconexas entre outras.

[...] um distúrbio de aprendizagem não é, portanto, deficiência irreversível, mas

uma forma de imaturidade cognitiva que requer conjugação cuidadosa de

métodos e técnicas de ensino para reversibilidade do quadro (SANTOS, 2012,

p. 69-71).

A partir dessa definição de transtornos ou distúrbios, entendemos que esses

termos devem ser utilizados para um grupo específico de causa centrada no aspecto

orgânico, neuronal, podendo até ocorrer com outros aspectos de ordem emocional ou

ambiental, sem que estes tenham influência direta na não aprendizagem dos alunos

considerados com transtorno ou distúrbio de aprendizagem. Assim, seus cuidados

devem ser para além da escola, com profissional específico, pois a formação inicial do

professor não dá suporte para diagnóstico e as suas ações devem ser em conjunto com

profissional habilitado.

Dentro dessa complexidade de conceituar termos, com os problemas de

aprendizagem não é diferente. No processo histórico da DA, crianças com problemas de

aprendizagem eram consideradas anormais, como já citado por Mantovanini (2001).

Levando a entender que sua causa, nesse caso, era intrínseca ao aluno, ou seja, de ordem

orgânica. Nesse entendimento, podemos considerar que os problemas de aprendizagem

estariam no grupo dos distúrbios, considerando o conceituado anteriormente.

Santos (2012) apresenta algumas definições pautadas em variados fatores, que

interferem no processo natural de aprendizagem. Em uma das definições apresentadas,

podemos destacar “toda dificuldade observável enfrentada pelo aluno para acompanhar

o ritmo natural de aprendizagem” (SANTOS, 2012, p.72) para sua idade e série.

Também é possível ser considerado como sintoma (p.73), já que é um comportamento

do aluno, no qual ele não está aprendendo sem que seja irreversível.

A partir dessas duas definições, o autor procura apresentar algumas definições

para o termo Dificuldades de aprendizagem e tende a considerá-lo como resultante da

relação do sujeito com o meio. Podendo ter ligação com “fatores biológicos e fatores

sociais” (idem, p.81). Nesse caso, o termo dificuldade de aprendizagem torna-se geral e

abrange desde fatores de ordem interna ao aluno como externos a ele, mas com

potencialidade de interferência em suas aprendizagens.

30

Diante das bibliografias pesquisadas, concordamos com Chabanne (2006) ao

considerar que as dificuldades de aprendizagem escolares não são problemas ou algo

orgânico que se configure como patológico, mas devem ser entendidas como “sintomas,

que lembram e revelam o comportamento de uma pessoa, num momento determinado e

num contexto singular” (CHABANNE, 2006, p.16), na construção do conhecimento

pelo aluno, especificamente no ambiente escolar.

Nesse sentido, para o campo pedagógico, entendemos que a dificuldade de

aprendizagem escolar pode ocorrer como consequência da relação aluno – objeto do

conhecimento. Nessa relação, temos elementos externos ao aluno que estão envolvidos

nesse processo e podem influenciar na aprendizagem, como escola, meio social,

formação de professores e organização do ensino. Assim, é importante conhecer como a

criança aprende, pois é normal ter dificuldades dentro do processo por maturação dos

esquemas mentais e fisiológicos, sendo mais específico e normal, dependendo de cada

indivíduo.

A partir desse posicionamento que tomamos no tocante à dificuldade de

aprendizagem escolar, no contexto pedagógico e em discussão sobre o assunto dentro

do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GRUEPEM), iniciado no

ano de 2004, na Universidade Federal de Mato Grosso, pela Professora Dra. Marta

Maria Pontin Darsie, defendemos que a criança “[...] está momentaneamente com

dificuldade em determinada área do aprendizado, em determinado contexto”

(CHABANNE, 2006, p.15).

Utilizamos o verbo estar para substituir o verbo ter, pois é comum, tanto em

bibliografia quanto no dia-a-dia, considerarem que o aluno tem dificuldade de

aprendizagem. E para o nosso grupo de estudos, a utilização do verbo ter parece remeter

a algo intrínseco ao sujeito e irreversível, indo de encontro ao que entendemos como

DA escolar. Assim, dentro do contexto escolar, podemos encontrar alunos em situação

momentânea de dificuldade de aprendizagem, excluindo a causa orgânica, podendo ser

explicada por elementos emocionais, sociais e ou escolares. Nesse entendimento, nosso

grupo prefere se referir a esses alunos como em situação de dificuldade de

aprendizagem em Matemática.

Diante do exposto, no próximo capítulo abordaremos, mais especificamente, a

dificuldade de aprendizagem em Matemática (DAM), objeto desta pesquisa. Dessa

31

forma, apesar de poucas bibliografias sobre o assunto, procuramos apresentar como

alguns autores discutem as dificuldades de aprendizagem em matemática. Sendo assim,

demonstraremos pesquisas que focaram esse assunto, com levantamento realizado no

ano de 2013, divulgado pelo portal do Centro de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino

Superior – Capes.

32

CAPÍTULO 2 - DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA

(DAM)2

A matemática continua sendo a disciplina do currículo básico com os índices

de aproveitamento mais baixos nas avaliações institucionais. No Sistema de

Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) de 2010,

por exemplo, 44% dos alunos da 3.ª série do ensino médio tiveram desempenho

insuficiente na matéria ( Disponível em:www.todospelaeducação.org.br<

Acesso em: 14 abr 2013>).

A passagem acima confirma que, no Brasil, ainda temos uma parcela

significativa de alunos considerados, pelos professores, com dificuldade de

aprendizagem em matemática (DAM). O que está acontecendo com esses alunos? Por

que esse cenário ainda se faz presente? Se desde a Educação Infantil houver um

despreparo dos professores para a abordagem da matemática, os alunos poderão

acumular falhas conceituais na aprendizagem, o que dificultará o contato com conteúdos

nos anos subsequentes. Com os passar dos anos, o aluno pode acumular um conjunto de

incompreensões, desestímulo e aversão diante de tudo que envolva a matemática.

Perante os resultados insatisfatórios apresentados nas avaliações aplicadas nos

últimos anos pelo governo brasileiro, achamos pertinente esclarecer alguns pontos

relacionados às dificuldades de aprendizagem em matemática.

2.1 ABORDAGEM GERAL DA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA

De modo geral, quando o aluno não está correspondendo ao proposto para sua

idade e série, pode ser “enquadrado” pela escola como aluno com dificuldade de

aprendizagem. No caso da matemática, algumas considerações são propostas para

explicar o baixo rendimento escolar, pois vários são os fatores que podem influenciar na

aprendizagem de conceitos matemáticos, tornando-se multifatorial. Neste item, apenas

traremos como a literatura aborda a dificuldade de aprendizagem em matemática.

2 Ao longo do texto, entenda DAM como dificuldade de aprendizagem em matemática.

33

García Sánchez (2004) apresenta as seguintes explicações, que podem justificar

a dificuldade de aprendizagem em matemática:

Próprias do desenvolvimento cognitivo, da construção do conhecimento

matemático;

Relacionadas ao aspecto emocional, crenças diante da Matemática que

podem interferir no seu aprendizado;

Referentes à natureza da matemática, complexidade, hierarquização dos

conceitos e terminologias específicas;

Baseadas em alterações neurológicas; e

Pertencentes ao ensino inadequado, metodologia pouco motivadora,

pouco eficaz e conteúdos não adequados ao nível de desenvolvimento dos

alunos.

Percebemos que algumas das explicações apresentadas acima podem se

manifestar tanto no conhecimento matemático como em outras áreas, não sendo,

portanto, específicas da Matemática.

Já para alteração neurológica específica no campo da aprendizagem

matemática, podemos destacar a acalculia e discalculia. Segundo Sampaio (2011) e

García (1998), a acalculia manifesta-se quando o ser humano perde capacidades

matemáticas, aritméticas, já consolidadas por sofrer lesão cerebral. Já a discalculia

refere-se a um comprometimento espacial, temporal, de caráter evolutivo. Trata-se de

uma desordem na maturação das capacidades matemáticas, que dificulta à criança

compreender os princípios e os processos envolvidos na matemática. Para discalculia,

podemos destacar seis tipos apresentados por García (1998):

Verbal – relacionada com a dificuldade em números, termos, símbolos e

relações;

Practognóstica – enumeração, comparação e manipulação de objetos;

Léxica – leitura matemática, dificuldade em ler enunciados dos

problemas;

Gráfica – escrita da Matemática;

Ideognóstica – dificuldade em realizar operações mentais; e

34

Operacional – relacionada à dificuldade em realizar cálculos numéricos.

“Sem dúvida, convém manter uma reserva prudente antes de transferir o

modelo de lesão ou disfunção às crianças que acham difícil adquirir representações

matemáticas ou habilidades de cálculo na educação normal [...]”. (COLL, PALACIOS E

MARCHESI, 1995, p. 136).

Na prática, vários professores das séries iniciais do Ensino Fundamental podem

achar que alguns alunos são portadores de discalculia, mas não é tão simples identificar

cada subtipo e boa parte dos cursos de formação pouco abordam o assunto para propor

um diagnóstico preciso. Desse modo, diagnósticos imprecisos podem rotular alunos e

dificultar suas aprendizagens, além de influenciar na adequada intervenção pedagógica.

Além do enfoque neurobiológico, Coll, Palacios e Marchesi (1995) também

destacam o enfoque cognitivo, que é considerado o mais efetivo para explicar e resolver

as dificuldades de aprendizagem em matemática. Para isso, é importante conhecer os

processos mentais envolvidos na construção do conhecimento.

A psicologia cognitiva investiga como se dá o conhecimento, percebendo

aspectos relacionados à memória, ao raciocínio, a processos envolvidos na resolução de

um problema, entre outros aspectos. Quando o professor tem conhecimento dos passos

envolvidos na aprendizagem, passa a dar mais significado e valorização às estratégias

utilizadas pelo aluno em uma situação, assim como a visualização do erro do aluno

como parte importante na construção do conhecimento. No entanto, outros fatores que

extrapolam a psicologia cognitiva também devem ser considerados na relação ensino-

aprendizagem, como, por exemplo, o aspecto emocional e o motivacional.

Na Psicologia cognitiva, é comum encontrarmos literaturas que remetem às

contribuições de Jean Piaget (1896-1980) e, também, colaboradores nas apresentações

de testes. Geralmente esses testes são aplicados por psicólogos e psicopedagogos.

Todavia, para o contexto escolar, defendemos a importância de um professor das séries

iniciais compreender algumas habilidades da criança, de acordo com seu

desenvolvimento maturacional, a fim de não subestimar a capacidade dos alunos ou

avançar em conceitos, sem que o aluno esteja preparado para isso.

Com o que foi apresentado até agora nessa pesquisa e baseando-se em nossa

formação como pedagogas, caminharemos pelo entendimento de que a dificuldade

35

ocorre quando há uma “parada” momentânea na aprendizagem do aluno. Essa “parada”

não tem sua causa centrada apenas em um aspecto, mas é multifatorial. Compreendemos

que as causas podem ser explicadas pelo ensino, pelo estado emocional do aluno, pelas

crenças acerca da matemática e pela maturação do aluno. Aparentemente, boa parte

dessas causas não são específicas da matemática. Entretanto, essas explicações

demonstram o caráter específico da não aprendizagem, que está vinculada à sua

historicidade e à vivência diante da aprendizagem na área.

Quanto ao ensino, destacamos a falta de preparo dos professores em cursos de

Licenciatura em Pedagogia, que ainda não abordam a matemática como deveriam.

Assim, muitas vezes o professor das séries/anos iniciais do Ensino Fundamental

apresenta o assunto de maneira bem superficial, pois também não tem clareza dos

conceitos matemáticos presentes em conteúdos para os anos iniciais. Com a abordagem

insuficiente no curso de formação, é natural que remetam ao que aprenderam e como

aprenderam enquanto alunos da educação básica. Desse modo, o ensino da matemática

ainda aparece bastante enraizado ao modelo considerado tradicional de ensino. Podemos

citar Sisto (2001) ao repotar-se à:

Blackwell e Henkin (1989), considerando as necessidades das gerações futuras

e a educação nos Estados Unidos da América, acentuam que quando se espera

que os alunos aprendam matemática por meio de explanação, o que pode

resultar é a memorização e até a utilização de regras em exercícios rotineiros,

nem sempre compreendidos mas resolvidos mecanicamente. Apontam a

tendência de professores apresentarem aos alunos, oralmente, regras de

cálculos e também regras para solução de problemas. Em decorrência, é

possível conseguir que os alunos apresentem respostas corretas em testes

padronizados mas pode ocorrer de eles não conseguirem resolver outros tipos

de problemas que impliquem em alguma diferença ou aqueles da vida cotidiana

(Blackwell e Henkin, apud SISTO, 2001, p.65).

Abordagens como essas em sala de aula possibilitam ao aluno apenas seguir

modelos e quando o exercício é apresentado de outra maneira, ele não consegue resolvê-

lo, pois não foi estimulado à interpretação, mas à reprodução. O professor, assim, limita

a aprendizagem de conceitos matemáticos importantes para o dia-a-dia e o contato dos

alunos com conteúdos subsequentes. Desse modo, possibilitar ao aluno modos

diferentes de vivenciar a matemática, demanda maior domínio de conteúdos pelos

professores. Do contrário, o professor pode “transferir” suas dificuldades em

Matemática para seus alunos.

36

Fatores emocionais também podem interferir na aprendizagem. Podemos

dividir a relação social que esse aluno tem com o seu meio e o seu estado emocional

vinculado à escola. Se na sua vida social esse aluno é frequentemente desestimulado,

cobrado a diferentes ações que fogem a sua vontade ou mesmo são impróprias ao seu

desenvolvimento, ele pode vir a ter alteração de comportamento na escola e, até mesmo,

interromper seu processo normal de aprendizagem.

Do mesmo modo, podemos perceber que a escola, muitas vezes, foca nos

resultados do aluno e não percebe seu processo, sua maneira de se comportar em

diferentes situações apresentadas em sala. Na maioria das vezes, o que o aluno

apresenta não é valorizado e, ainda, acaba sendo rotulado por seu erro. Ocorre falha,

também, quando não se realiza uma análise para tentar entender os motivos pelos quais

esse aluno apresentou algum tipo de resposta que não é considerada certa pelo

professor. Mais uma vez citamos Sisto (2001) ao afirmar que essa maneira de ensinar

matemática dificulta ao aluno atribuir significado à matéria, distanciando-o, assim, de

seu cotidiano.

“Esta ideia pode contribuir para que o aluno não se empenhe ativamente em

pensar sobre a solução de problemas aritméticos e para que fique aguardando que o

professor aponte o procedimento a ser adotado”. (SISTO, 2001, p.66)

Além disso, contribui para que o aluno comece a desconfiar de si mesmo,

achando que não sabe matemática e que não consegue raciocinar por si mesmo. Sempre

acha que o professor ou algum colega precisa dar dicas para as atividades propostas.

Sempre espera outro colega responder primeiro para somente depois expor suas ideias,

não confiando tanto nelas por medo de reprovação pela turma. Esse aluno, geralmente

passa boa parte da educação básica quieto em sala, tentando fazer o necessário para não

chamar atenção, mas na verdade está acumulando dúvidas e incompreensões a cada ano.

As crenças carregadas pela matemática ao longo da história da humanidade,

ainda permeiam o espaço escolar e fora dele. Se o aluno sempre ouve comentários que a

matemática é difícil de entender, ele pode absorver esse sentimento, a partir do

momento que começa a ter alguma experiência ruim com ela.

Muitas vezes o professor desconhece o processo de aprendizagem dos alunos e,

por esse motivo, pode apresentar conteúdos inadequados ao desenvolvimento cognitivo

da criança. Aprender não deixa de ser a interpretação de uma área do conhecimento, a

37

partir de uma construção humana. E esse processo de aprender envolve, da parte de

quem ensina, o conhecimento acerca de como o indivíduo aprende e outros elementos

envolvidos no processo de aprendizagem.

2.2 PRESENÇA DA TEMÁTICA DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM EM

MATEMÁTICA NAS PESQUISAS BRASILEIRAS

Diante do tema escolhido, é natural procurarmos trabalhos desenvolvidos que

se aproximem da nossa escolha. No início do ano de 2013, realizamos um levantamento

de dissertações e teses desenvolvidas no Brasil, disponíveis no portal da Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, site da Capes. Utilizamos

o termo “dificuldade de aprendizagem em matemática” para compreendermos quais as

abordagens teórico-metodológicas eram utilizadas, a fim de identificarmos pontos em

comum ou não com a nossa pesquisa. Importante comentar a possibilidade de existirem

mais pesquisas que tenham discutido o tema e que não foram adicionadas nesse portal.

Mesmo assim, é certo que são poucas as produções que contemplem especificamente

DAM no Ensino Fundamental.

Esse levantamento teve por objetivo, primeiramente, conhecer o que vem

sendo estudado sobre o nosso objeto de pesquisa e, como objetivo específico,

compreender como esses autores entendem esse termo, já que encontramos em

diferentes produções, e até mesmo na fala de educadores, o termo dificuldade de

aprendizagem sendo utilizado de modo controverso.

Assim, na busca em distinguir terminologias e significações quanto às

dificuldades de aprendizagem em matemática, para chegarmos a um termo mais

adequado a nossa pesquisa, reiteramos que o aluno que não acompanha em aula os

conteúdos trabalhados pelo professor e não apresenta uma alteração neurológica,

encontra-se em dificuldade momentânea de aprendizagem formal da matemática, ou

seja, em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática. Dessa forma,

apresentaremos pesquisas que discutiram o termo dificuldade de aprendizagem em

matemática, em quais áreas foram desenvolvidas e como esse assunto foi abordado.

38

Desse levantamento, obtivemos um total de vinte e quatro publicações, sendo

quatro teses de doutorado, dezessete dissertações de mestrado e três dissertações em

mestrado profissional.

Após esse levantamento, realizamos a leitura dos resumos disponíveis para, em

uma primeira aproximação, procedermos à caracterização geral das produções. Na

análise desses trabalhos, foi possível extrair elementos relevantes para a nossa pesquisa.

Quanto às áreas em que os trabalhos foram desenvolvidos, podemos dividir em

dois grandes grupos, a considerar: humanas e da saúde. Verificamos dezoito em

Educação, sendo seis delas especificamente em Educação em Ciências e Matemática,

duas em Psicologia e uma em Linguística. Na área da saúde, foram encontradas seis

produções, divididas em três subáreas: Ciências da Saúde, Engenharia Biomédica e

Genética. No total de produções, apenas três estão concentradas entre os anos de 1996 e

1999, as outras foram defendidas a partir do ano de 2003, com maior concentração no

ano de 2010.

No que se refere ao tipo de instituição, são oito defendidas em instituições

particulares, sendo duas para defesa de doutorado, com maior procedência de

universidades localizadas na região sudeste. Na região centro-oeste, Goiás foi o estado

de maior produção. Abaixo apresentamos a caracterização geral das vinte e quatro

produções encontradas.

Quadro 2 - Pesquisadores que abordaram o tema Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática de universidades brasileiras, em nível de doutorado

Autor Orientador Instituição/ano Título

Paula Cristina

Ramalho Vital.

Mitsuko Aparecida

Makino Antunes

Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo

– 1996

O professor de matemática e

as dificuldades de

aprendizagem em

matemática.

Nadir Soares de Faria Osvaldo Freitas de

Jesus

Universidade Federal

de Uberlândia – 1997

Livro didático de

matemática no cba: sua

importância para a formação

de conceitos..

Rivane Ferraz da

Rocha

Maria Helena Fávero Universidade de

Brasília – 1999

Iniciação à matemática na

escola: um estudo sobre a

representação e a notação de

adultos em processo de

alfabetização.

39

Autor Orientador Instituição/ano Título

Adelaide Giaquinto Jair Militão da Silva Universidade Nove de

Julho – 2003

Do "bagulho" ao enunciado:

uma contribuição para a

atuação de professores do

ensino básico diante de

algumas dificuldades na

aprendizagem da

matemática

Jane Fischer Barros Margareth Schäffer Universidade Federal

do Rio Grande do Sul –

2004

A produção de sentido nas

histórias...matemáticas

Josete Dias Leal Francisco Hermes

Santos da Silva

Universidade Federal

do Pará – 2004

A propriedade distributiva

da multiplicação: uma visão

diagnóstica do processo

Deise Nívia

Reisdoefer

Maria Virginia

Bernardi Berger

Universidade Estadual

de Ponta Grossa – 2006

A evolução dos possíveis e a

construção do conhecimento

lógico-matemático via jogo

de regras em alunos com

dificuldades de

aprendizagem.

Fernanda Chaves

Soares

Raquel Aparecida

Marra da Madeira

Freitas

Pontifícia Universidade

Católica de Goiás –

2007

O ensino desenvolvimental e

a aprendizagem de

matemática na primeira fase

do ensino fundamental.

Ivana Valéria

Denófrio Aranão

Lucíola Inês Pessoa

Cavalcante

Universidade Federal

do Amazonas – 2007

Um olhar sobre o processo

ensino-aprendizagem da

matemática nas séries

iniciais do ensino

fundamental.

Gildazio Souza Mota

Laura Marisa Carnielo

Calejon

Universidade Cruzeiro

do Sul – 2008

Uma estratégia pedagógica

para o ensino de geometria:

o papel de um álbum de

figurinhas.

Jailson da Costa

Pontes

Isauro Beltrán Nuñez Universidade Federal

do Rio Grande do

Norte – 2008

Questões objetivas sobre

funções das provas de

matemática do vestibular da

ufrn dos anos de (2001 a

2008): um diagnóstico sobre

os erros que os candidatos

cometem.

Lusitonia da Silva

Leite.

Maria de Fátima

Teixeira Barreto

Universidade Federal

de Goiás – 2009

Compreensões expressa por

alunos com dificuldades de

aprendizagem em

matemática na lida com o

material cuisenaire.

Maxwell Gonçalves

de Araújo

Juan Bernardino

Marques Barrio

Universidade Federal

de Goiás – 2009

O ensino da matemática para

além do racionalismo.

40

Autor Orientador Instituição/ano Título

Alexandra Fernandes

Morais Rangel.

Vitor Geraldi Haase Universidade Federal

de Minas Gerais –

2010

Lateralidade, orientação

direita/esquerda, gnosias

digitais e destreza motora

em crianças com

dificuldades na

aprendizagem da

matemática..

Eliane Matheus Plaza.

Edda Curi Universidade Cruzeiro

do Sul – 2010

Alguns saberes e

dificuldades de matemática

revelados na prova da cidade

de São Paulo por alunos do

4º ano do ciclo i do ensino

fundamenta

Joanne Lamb Maluf Clarissa Seligman

Golbert

Universidade Federal

Rio Grande do Sul –

2010

Raciocínio quantitativo e

memória de trabalho

Na aprendizagem da

matemática:

Um estudo comparativo

entre grupos

Gabrielle Sousa

Viana

Maria Raquel Santos

Carvalho

Universidade Federal

de Minas Gerais –

2011

Contribuição das deleções

em 22q11.2 para o fenótipo

dificuldade de aprendizagem

da matemática.

Riviane Borghesi

Bravo

Vitor Geraldi Haase Universidade Federal

de Minas Gerais –

2011

Contribuição dos sintomas

de tdah para as dificuldades

de aprendizagem da

matemática..

Eduardo Seige

Ianaguivara.

Alessandro Pereira da

Silva

Universidade de Mogi

das Cruzes – 2012

Ambiente virtual para

avaliar conceitos básicos de

matemática de alunos com

falta de atenção.

Telma Regina França

Rosso

Beatriz Vargas

Dorneles

Universidade Federal

do Rio Grande do Sul –

2012

Contagem numérica e

recuperação de fatos aditivos

em estudantes com

síndromes do x-frágil e de

prader-willi.

Fonte: Dados organizados pelo autor, com base no levantamento realizado no portal

Capes

Quadro 3 - Pesquisadores que abordaram o tema Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática de universidades brasileiras, em nível de doutorado

41

Autor Orientador Instituição Título

Maria Helena Silveira.

Doutorado

Maria Cecília Camargo

Magalhães

Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo –

2010

O glossário como

instrumento de

desenvolvimento em

contexto de ensino de

matemática.

Fernanda de Oliveira

Ferreira.

Doutorado

Vitor Geraldi Haase Universidade Federal de

Minas Gerais - 2010

Transtorno de

aprendizagem da

matemática:

mecanismos cognitivos

subjacentes..

Marcus Vasconcelos de

Castro

Doutorado

Marcia Aparecida Silva

Bissaco

Universidade de Mogi

das Cruzes - 2011

Ambiente virtual para

auxiliar crianças com

dificuldade de

aprendizagem em

matemática.

Gessilda Cavalheiro

Muller

Doutorado

Sergio Roberto Kieling

Franco

Universidade Federal

do Rio Grande do Sul –

2012

Dificuldades de

aprendizagem na

matemática : um estudo

de intervenção

pedagógica com alunos

do 4º ano do ensino

fundamental.

Fonte: Dados organizados pelo autor, com base no levantamento realizado no portal

Capes

Nos títulos das pesquisas, presentes no quadro acima, percebemos que o termo

dificuldade de aprendizagem em matemática é utilizado de maneira abrangente quanto a

sua conceituação, pois em algumas o termo é diretamente relacionado ao

comprometimento orgânico, de ordem neuronal, enquanto em outras foi necessário

realizar a leitura do resumo para entendermos como essa dificuldade de aprendizagem

em matemática foi abordada. Destas, verificamos que algumas explicitaram que DAM

pode ser resultado de multifatores, como formação de professores, modelo de ensino,

estrutura curricular e prática pedagógica.

Ao longo dos anos, o termo foi sendo utilizado indiscriminadamente em

diferentes áreas. Sua conceituação e posterior encaminhamento no contexto escolar

pode ser comprometido justamente pela generalização. Nesse sentido, entendemos que é

pertinente sua classificação para ações eficazes.

Na segunda etapa deste trabalho, após análise detalhada dos resumos, apenas

duas pesquisas explicitaram o tipo de metodologia utilizada, uma como qualitativa

42

descritiva e outra com estudo de caso com enfoque no método clínico piagetiano. No

geral, as pesquisas da área de saúde utilizaram testes comparativos para uma primeira

etapa quantitativa do trabalho.

Em relação ao aporte teórico para pesquisa, verificamos que sete citaram a base

teórica norteadora da pesquisa, sendo elas: base Piagetiana (REISDEFER, 2006); teoria

do ensino desenvolvimental de V.V.Davydov (SOARES, 2007); sócio-interacionista

com Piaget e Vygotsky e processo progressista de aprendizagem com Dante, Carvalho e

Smole (ARANÃO, 2007); Freud – Lacaniano (BARROS, 2004); teoria cognitiva

(FARIA, 1997); Teoria da Atividade (SILVEIRA, 2010) ; Borasi, Curi, Rodatz,

Pochulu, Inanchi e Renón para abordagem do erro (PONTES, 2008); e uma referência

direta à Educação Matemática crítica com base em Skovsmose (Araújo, 2009).

Como apenas uma pesquisa cita claramente a educação matemática, não foi

possível precisar quantas discutiram a DAM na perspectiva da educação matemática,

apenas com a leitura dos resumos. No entanto, podemos pressupor que mais três possam

discutir DAM na perspectiva da Educação Matemática, de acordo com a referência a

alguns autores apresentados no resumo e que seguem suas produções no olhar pela

Educação Matemática.

Para sujeitos e contexto das pesquisas observadas, encontramos dez que

focaram em alunos do Ensino Fundamental, principalmente no contexto de escolas

públicas; uma no ensino superior; uma com adultos de classes de alfabetização; e quatro

focadas em casos clínicos. Algumas pesquisas focaram em livros didáticos e estratégias

pedagógicas.

A partir dessa primeira proximidade com as produções voltadas para DAM, foi

possível selecionar cinco, do total de vinte e quatro produções, que apresentam

proximidade com a nossa pesquisa de mestrado, visto que temos a intenção de

investigar o que o diagnóstico e o tratamento dado por professores revelam acerca dos

alunos de 5º ano do Ensino Fundamental em situação de dificuldade de aprendizagem

em matemática.

De todas as pesquisas levantadas, nos resumos não há menção de investigação

em espaços para apoio pedagógico, como sala de articulação, contexto da nossa

pesquisa de mestrado, mas geralmente tendem a um conteúdo específico da Matemática.

As cinco pesquisas selecionadas compreendem dissertações de Mestrado entre o período

43

de 2004 a 2010, são elas: (ARANÃO, 2007), (MOTA, 2008), (ARAÚJO, 2009),

(PLAZA, 2010) e uma de 2004 (BARROS, 2004), a qual não foi possível localizar a

dissertação por completo, somente foi localizado o resumo. Sendo assim, após a leitura

das produções por completo, podemos destacar alguns aspectos relevantes quanto às

dificuldades de aprendizagem em matemática para a nossa pesquisa de mestrado, haja

vista a intenção de investigar e analisar o que revelam os diagnósticos e

encaminhamentos dados por professores do 5º ano do Ensino Fundamental3 a alunos em

situação de dificuldade de aprendizagem em matemática.

Na leitura das produções selecionadas, percebemos que nenhuma delas traz um

breve histórico do termo dificuldade de aprendizagem, já que o que mais dificulta sua

discussão é a sua abrangente conceituação.

Apenas em uma pesquisa consta no sumário “dificuldade na aprendizagem

matemática” (MOTA, 2008), todavia o autor discutiu superficialmente o assunto,

utilizando o termo defasagem de conteúdo em sala de aula para considerar a

importância de rever conteúdos na intenção de sanar as dificuldades de aprendizagem.

Assim, o autor entende que o modo como a escola vem sendo organizada contribui para

o fracasso escolar e, assim, inicia seu próximo item. Nesse item intitulado “fracasso

escolar”, Mota discute com mais profundidade sobre professor, escola e sistema de

ensino e dialoga com autores como Patto, Carraher, Grando, Freire e D’Ambrósio

(MOTA, 2008).

Em Plaza (2010), percebemos que a autora tem como foco principal a

avaliação e o erro e traz contribuições interessantes para a nossa pesquisa ao discutir

mudança na proposta de trabalho e práticas de ensino. Nesse sentido, ela reforça a

necessidade de outro olhar para o erro dos alunos nas atividades propostas em sala de

aula, a fim de não rotulá-los como os que aprenderam ou não aprenderam determinado

conceito matemático. Contrariamente, o erro é potencialmente importante para que o

professor promova o desenvolvimento cognitivo do aluno, pois o erro pode auxiliar no

processo de aprendizagem. Muitas vezes o professor oferece um tipo de atividade e

acaba sendo tendencioso em rotular alunos como os com ou não dificuldades de

aprendizagem. Temos uma sala de aula heterogênea, com cada aluno tendo sua maneira

de aprender de acordo com o tipo de atividade apresentada.

3 Ao longo da pesquisa, entenda E.F. como Ensino Fundamental.

44

As produções de Aranão (2007) e Araújo (2009) contribuem para a nossa

pesquisa de mestrado ao discutirem a aprendizagem matemática na perspectiva da

Educação em Matemática. Os autores retomam brevemente o histórico do ensino da

Matemática e apresentam autores como Smole e Diniz (ARANÃO, 2007) e Fiorentini e

Miorin (ARAÚJO, 2009), ao abordarem que a matemática deve ser entendida pelo

aluno no resultado de sua historicidade, nas situações vivenciadas, nas atividades que

mobilizem esses alunos e que eles sintam interesse em aprender e entendam a

importância dessa área do conhecimento.

Com esse levantamento, foi possível traçar um panorama de pesquisas

brasileiras sobre dificuldade de aprendizagem em matemática. O levantamento

proporcionou identificar as metodologias e temáticas voltadas ao Ensino Fundamental.

Assim, percebemos que a DAM está sendo abordada em diferentes áreas, apesar do

número de pesquisas ser considerado pequeno, principalmente as teses de doutorado,

que foram encontradas apenas quatro.

Não houve pesquisas que explorassem o contexto do apoio pedagógico. Nesse

sentido, a nossa pesquisa de mestrado torna-se pertinente por buscar compreender

melhor como professores regentes e professores de sala de articulação lidam com o

assunto dificuldade de aprendizagem em matemática. Percebemos, também, que apenas

uma pesquisa voltou-se para o ponto de vista da subjetividade do sujeito, seu

envolvimento emocional no processo de aprendizagem.

Entendemos que o envolvimento emocional reflete no autoconceito do aluno,

principalmente de alunos que são atendidos em sala de apoio à aprendizagem (No

contexto de nossa pesquisa, que são escolas estaduais de Mato Grosso, esse espaço é

denominado como sala de articulação), pois alunos que repetidas vezes não têm êxito

nas atividades vivenciadas podem nutrir sentimentos frustrantes, alteração no

comportamento e, esses alunos, acabam se convencendo que são incapazes. Essa

experiência negativa tende a ser ampliada das relações sociais para além do contexto

escolar.

Entendemos que várias explicações podem contribuir para que alunos estejam

em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática. Um deles, que muitas

vezes na escola pode ser percebido como desinteresse, apatia ou mesmo

“diagnosticado” como aluno hiperativo, podem ser apenas atitudes de um aluno que não

45

entende os motivos pelos quais não avança na matemática e tende a se considerar um

aluno “burro”, que é incapaz de aprender matemática escolar.

Esse conceito que o aluno tem de si deve ser rapidamente percebido pelo

professor para revertê-lo antes que esse aluno entre em estado de latência, se assim

podemos considerar o potencial de aprendizagem encoberto ou em repouso devido a

sucessivos insucessos na aprendizagem e rotulagens no ambiente escolar, os quais

podem ser ampliados para as relações sociais e afetivas, podendo ser dificilmente

revertido.

Sendo assim, foi possível visualizar variados enfoques dados à DAM e refletir

quanto a uma denominação mais adequada. Considerando que esse aluno está, por

fatores que podem ser vários, em dificuldade momentânea e reversível em matemática,

nós professores, precisamos possibilitar a esses alunos vivenciarem a matemática de

diferentes maneiras, a fim de avançarem na aprendizagem e terem autoconceito

positivo.

Nesse sentido, para que a ação pedagógica seja significativa, o aluno é

mobilizado e tem desejo em aprender. Para isso, é importante que se saiba como o aluno

aprende. No próximo capítulo apresentamos nossa base teórica, para subsidiar as análise

dos dados coletados para essa pesquisa, no melhor entendimento à como professores

concebem ensino e aprendizagem em matemática, assim como esses professores

percebem a Dificuldade de aprendizagem em Matemática.

46

CAPÍTULO 3 - PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM DA

MATEMÁTICA

[...] o conhecimento e as habilidades matemáticas fazem parte de nossa vida

cotidiana desde idades tenras, nas tarefas habituais ou relacionadas com o

trabalho e nas demandas sociais (GARCÍA, 1998, p.214).

Podemos perceber que a abordagem do autor acima citado nos remete ao

entendimento que a Matemática se faz presente em nossas ações diárias, estabelecendo

relação direta com qualquer área do conhecimento. É tão comum seu uso no dia-a-dia

da sociedade que às vezes não percebemos que, a todo o momento, pensamos e agimos

matematicamente, simplesmente por esse pensar ser tão natural.

Nos dias atuais, muitos de nós vemos, ouvimos e fazemos uso da matemática a

todo o momento, visto que todos têm direito ao acesso à matemática escolar para

melhor entender e desenvolver as potencialidades da matemática do cotidiano, já que as

duas são a mesma matemática. Entretanto, isso não aconteceu no percurso da história da

matemática.

Historicamente, a Matemática foi desenvolvida por necessidades diárias

ligadas ao contexto social para tornar mais prático o cotidiano do ser humano. Ao longo

do seu desenvolvimento, o conhecimento matemático foi sendo ampliado de acordo

com a realidade econômica, social, política e cultural das sociedades. No entanto, “o

ensino dos conhecimentos matemáticos começou a acontecer de maneira intencional no

período das antigas civilizações orientais” (MIORIM, 1998, p.1).

Segundo BRASIL (1997), essa área do conhecimento possibilita “relações que,

instigam a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair, favorecendo a

estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico” (BRASIL, 1997,

p.24). É comum em nosso dia-a-dia utilizarmos conhecimento matemático em diferentes

situações, pois estamos sempre comparando, medindo ou quantificando. Em várias

áreas do conhecimento, a matemática é um instrumento de considerável importância,

como nas ciências exatas, humanas e agrárias. Desse modo, é extremamente importante

a sua exploração desde idades mais tenras, pois desenvolve capacidades intelectuais,

permite associação com outras áreas do conhecimento e com a vida diária.

47

Sendo assim, é imprescindível conhecer seu trajeto histórico, pois isso

possibilita entender melhor posicionamentos diante da Matemática ao longo dos

tempos. Para tanto, é importante conhecer sua historicidade.

Várias são as abordagens relacionadas a como se dá o conhecimento,

especialmente, o conhecimento matemático. Focamos apenas nas concepções que

subsidiarão a nossa base teórica para posterior análise do material coletado para a

pesquisa. Desse modo, no intuito de defender o nosso posicionamento perante o ensino

e aprendizagem da Matemática, traremos a comparação entre as duas abordagens mais

evidenciadas no atual contexto escolar.

3.1 ABORDAGEM DE ENSINO E APRENDIZAGEM TRADICIONAL E

CONSTRUTIVISTA

Neste subcapítulo procuramos demonstrar como o ensino e aprendizagem da

matemática é defendido pela abordagem tradicional, com enfoque na concepção

empirista e racionalista e pela abordagem construtivista. Como a nossa base teórica é

pautada na Educação Matemática, que consideraremos como abordagem

construtivista, não temos a pretensão de traçar como as várias perspectivas pensavam

o ensino e a aprendizagem dentro dessa abordagem, que também é chamada de

contemporânea. Desse modo, procuramos considerar uma abordagem antiga, de modo

geral mais tradicional, para compararmos com o que consideramos mais adequado

para ensino e aprendizagem da matemática no Ensino Fundamental, nos dias atuais,

direcionados pela abordagem construtivista.

[...] os educadores matemáticos, [...] realizam seus estudos utilizando métodos

interpretativos e analíticos das ciências sociais e humanas, tendo como

perspectiva o desenvolvimento de conhecimentos e práticas pedagógicas que

contribuam para formação mais integral, humana e crítica do aluno e do

professor (FIORENTINI; LORENZATO, 2012, p. 4).

Foi nos anos 60 a 80, que os Estados Unidos da América dão o ponta pé inicial

na criação dos programas de mestrado e doutorado em Educação Matemática, com

maior foco na aprendizagem. Foi entre os anos 80 e 90 que passaram a focar nos

48

professores para compreenderem os conhecimentos e as crenças. Focaram também no

aluno e nos aspectos da aprendizagem da Matemática. No Brasil, a Educação

Matemática surge, institucionalmente, juntamente com a Sociedade Brasileira de

Educação Matemática – SBEM, na década de 60.

A Educação Matemática, como campo profissional e científico, teve como base

três principais fatores para seu surgimento. Fiorentini; Lorenzato (2012) destacam as

preocupações de profissionais da área em socializar a matemática às novas gerações; à

formalização na formação de professores secundários que chegavam ao nível de

especialistas no ensino da matemática, por iniciativa de universidades europeias, e a

estudos que visavam melhor compreender como a criança aprende matemática.

Como professores, devemos valorizar a formação e sua permanente atualização

como base para o desenvolvimento da nossa profissão. Esse desenvolvimento é de nossa

responsabilidade, com olhar “a conduzir um ensino da Matemática adaptado às

necessidades e interesses de cada aluno, contribuindo para melhorar as instituições

educativas, assim como a realização pessoal e profissional” (PEREZ, 2004, p.252).

Atualmente, nas avaliações aplicadas pelo governo brasileiro, a Matemática

ainda não atingiu o esperado. Na abordagem da matemática no ambiente escolar, ainda

encontramos um ensino distante da realidade do aluno. Esse quadro atual pode estar

relacionado ao processo de formação dos professores, tanto para os anos iniciais do

Ensino Fundamental como para a frágil formação didática nos cursos de Matemática e,

ainda, para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Não só há fragilidade nos cursos de formação, mas também na formação

continuada. Nesse quadro, Brasil (1997) destaca que:

[...] as práticas na sala de aula tomam por base os livros didáticos, que,

infelizmente, são muitas vezes de qualidade insatisfatória. A implantação de

propostas inovadoras, por sua vez, esbarra na falta de uma formação

profissional qualificada, na existência de concepções pedagógicas inadequadas

e, ainda, nas restrições ligadas às condições de trabalho (BRASIL, 1997, p.22).

Assim, as novas abordagens da matemática ficam comprometidas, pois o

professor sem o domínio da área terá dificuldade em propor atividades em sala

49

associando tecnologias de informação e resolução de problemas. Suas aulas ficam

comprometidas e limitadas. E o maior prejudicado é o aluno.

Muitos professores enfatizam que desenvolvem suas aulas de matemática

utilizando a resolução de problemas, mas por vezes são apresentadas de modo isolado

ou para a fixação de conteúdos.

[...] A importância de se levar em conta o “conhecimento prévio” dos alunos na

construção de significados geralmente é desconsiderada. Na maioria das vezes,

subestimam-se os conceitos desenvolvidos no decorrer da atividade prática da

criança, de suas interações sociais imediatas, e parte-se para o tratamento

escolar, de forma esquemática, privando os alunos da riqueza de conteúdo

proveniente da experiência pessoal (BRASIL, 1997, p.22).

Nessa contínua formação, em que ampliamos sempre nossos conhecimentos a

partir de nossa formação inicial, salientamos que não apenas o domínio de conteúdos é

necessário para pensarmos como educadores. Além dos conteúdos, precisamos envolver

conhecimentos de currículo de cada área para cada fase do desenvolvimento do aluno,

saber como esse aluno aprende e ter conhecimento didático-pedagógico, que mobilize

os alunos na aprendizagem. Para isso, mais uma vez enfatizamos que é importante

“estudo, trabalho e pesquisa para renovar e, sobretudo, reflexão para não ensinar apenas

‘o que’ e ‘como’ lhe foi ensinado” (PEREZ, 2004, p.252).

Desse modo, para não repetirmos os mesmos equívocos do passado, nossa

atualização deve ser contínua, caminhando juntamente com o desenvolvimento da

sociedade e, nesse caminhar, o mais importante seria nosso olhar reflexivo. Pois, é na

reflexão que desestabilizamos e tomamos consciência da necessidade ou não por

mudança. Essa mudança envolve professor, aluno, e relações tanto didáticas quanto

pedagógicas, ampliando-se para mudanças na escola e fora dela.

Não é difícil encontrarmos professores ainda atrelados a uma abordagem mais

tradicional de ensino e aprendizagem, pois foi o que vivenciaram enquanto alunos da

educação básica e, até mesmo, em alguns cursos de formação, dependendo da época

de ingresso na universidade. Nessa abordagem mais tradicional de ensino, o professor

é considerado como detentor do conhecimento e apenas precisa transmiti-lo ao aluno

na cultura do certo e errado. Desse modo, mesmo que as formações continuadas

apresentem uma proposta de ensino mais voltada para uma educação pela matemática,

50

ainda é difícil para alguns professores romperem com o que já está cristalizado. Nessa

proposta mais atual, o professor apresenta-se como mediador do conhecimento e

valoriza o que o aluno tem de experiências cotidianas, além de auxiliar esse aluno a

reorganizar o conhecimento, ampliando-os.

Não é uma tarefa fácil descrever concepções de ensino e aprendizagem, pois

cada educador tem seu próprio modo de ensinar, de entender a aprendizagem, de

perceber a finalidade da matemática, enfim, de dar sentido ao que entende como

educação. Essas diferentes maneiras do professor conceber a educação fazem com que

ele seja diretamente influenciado por essas várias correntes, que em determinada época

da história da educação foram evidenciadas. Não há esclarecimentos suficientes que

possibilitem aos professores entenderem e posicionarem-se como adeptos ou não.

Muitas vezes essas diversidades de abordagens eram simplesmente impostas e o

professor não tinha o mínimo de conhecimento sobre o assunto.

É importante que o professor assuma postura de pesquisador em sua sala de

aula, tendo um cuidadoso planejamento, pois, caso contrário, ele perderá o foco de sua

busca e não saberá o que fazer com as situações vivenciadas.

O(a) professor precisa, de uma maneira sistemática, realizar experimentações

em sua sala de aula que lhe possibilitem observar quais arranjos (de disposição

física, de interação social, de formato de atividades propostas e de materiais

didáticos utilizados) conduzem a avanços mais amplos de aprendizagem de

seus alunos (BORBA, 2009, p. 13).

O professor, quando assume sua postura de pesquisador, reflete com maior

facilidade sobre as suas estratégias de ensino e aprendizagem, atingindo os objetivos

propostos. Para o aluno em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática, a

posição do professor pesquisador é essencial para reavaliar o porquê de alguns alunos

evoluírem na aprendizagem, enquanto outros podem apresentar uma “parada” nesse

processo e, assim, o professor pode analisar a sua metodologia de ensino.

Dessa forma, segundo Borba (2009, p.15-20), o professor dos anos iniciais do

Ensino Fundamental pode lançar mão da investigação para compreender o que os

alunos possuem de conceitos matemáticos, a natureza das dificuldades de

aprendizagem dos alunos e averiguar os níveis de compreensão de seus alunos nos

diferentes conteúdos explorados em sala para intervenções adequadas aos avanços na

aprendizagem dos seus alunos.

51

Em vários trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Estudos e Pesquisas em

Educação Matemática – GRUEPEM/IE/UFMT, ao investigarem tanto concepções

como práticas no Ensino Fundamental, Ensino Médio e Ensino de Jovens e Adultos

perceberam que vários educadores consideravam seguir a abordagem construtivista.

No entanto, pesquisadores, como Tanus (2008); Trujillo (2009); Paula (2010); Cruz

Silva (2013) e Costa (2013) identificaram, na prática, professores que ainda estavam

atrelados ao ensino tradicional ou transitavam entre as duas abordagens.

Charlot explica que as escolas das sociedades contemporâneas continuam a

exigir resultados, como as avaliações com notas, cabendo ao professor “ter práticas

tradicionais, que nem precisa esconder, e, às vezes, abrir parênteses construtivistas,

que a instituição e a própria professora realçam logo que aparece um debate

pedagógico” (CHARLOT, 2013, p. 117).

Isso nos leva a pensar na provável deficiência da formação desses professores,

na necessidade de maior eficácia de suporte pedagógico nas escolas, para melhor

apoio aos professores e no incentivo ao movimento reflexivo do professor sobre sua

prática de ensino, a fim de que possa haver mudança em suas ações didático-

pedagógicas.

[...]defendemos o tratamento didático-pedagógico para a Matemática, na

direção de uma “Educação Matemática”. Acreditamos que a Educação

Matemática aponta para um trabalho pedagógico que vise mitigar qualquer

processo de “filtragem” social e tente romper com uma visão que coloca a

Matemática como uma disciplina escolar extremamente difícil, uma ciência

que lida com objetos e teorias fortemente abstratas e consequentemente um

saber não acessível a todos. Tal imagem cunhada, tradicionalmente, pelo

ensino da Matemática, tem efeitos danosos para o processo ensino-

aprendizagem. Dessa maneira, trabalhar com Educação Matemática significa

considerar a Matemática tanto em seu caráter informativo, quanto formativo,

compreendê-la em sua gênese e historicidade (DARSIE apud MATO

GROSSO, 2001). Tomá-la no projeto educativo como um conhecimento com

“vida” e não “para a vida” (PAULA, 2010, p.97-98).

A partir das considerações da autora quanto a educar pela matemática,

reiteramos que esse olhar diferenciado para e pela matemática deve levar o aluno a

sentir matemática dando significado a ela. Por isso, é importante a abordagem histórica

da Matemática, como a sociedade foi utilizando seus saberes matemáticos no seu dia-a-

dia, levando o aluno a perceber suas contribuições para seu contexto social.

52

Voltando ao nosso objetivo geral para essa pesquisa, na intenção de investigar

e analisar o que revelam os diagnósticos e encaminhamentos dados por professores do

5º ano do Ensino Fundamental a alunos em situação de dificuldade de aprendizagem

em matemática, é de fundamental importância compreendermos essas duas abordagens

de ensino e aprendizagem, pois concentrará o nosso aporte teórico na interpretação da

pesquisa de campo propriamente dita.

3.1.1 Ensino e aprendizagem na abordagem tradicional

No processo histórico do ensino da matemática, foi sendo nutrida certa aversão

a esse campo de conhecimento, pois muitos pensavam que para aprender matemática

seria necessário ser possuidor de um dom, ser dotado para isso. Assim, os alunos

considerados “menos dotados” e/ou com dificuldades para aprender matemática eram

deixados de lado, o que acabava aumentando suas lacunas na aprendizagem.

Para o tipo de ensino apresentado nas escolas, os alunos só tinham duas

opções: ou desistiam e reprovavam de ano, o que levou muitos à desmotivação e à

desistência por sucessivas reprovações e, até mesmo, por acabarem acreditando que

eram portadores de algo que não os permitia avançar em suas aprendizagens; ou

tentavam decorar fórmulas e esquemas para apenas passarem de ano e, assim,

continuavam a acumular dúvidas e incompreensões, mas pelo menos tinham passado

de série/ano e não se sentiam tão excluídos da escola e do sistema em geral.

Muitos desses alunos de ontem são professores hoje e, possivelmente, ainda

carregam consigo aversão ao ensino da matemática. Sendo um ponto negativo, pois

inconscientemente propagam esse olhar negativo para seus alunos e não se

aprofundam nos conteúdos como deveriam. Isso ocorre porque, muitas vezes, eles não

são apresentados a um modo diferente de ensino e aprendizagem da matemática do

que foi apresentado na sua educação básica e no curso de formação. Concordamos

com Cruz Silva (2013) ao considerar que:

Mesmo estando presente na vida das pessoas e como uma ferramenta

indispensável ao exercício pleno da cidadania, percebe-se que a Matemática

ainda tem sido interpretada como algo estranho e indecifrável, e às vezes até

como algo de pavor e ódio. Esse mal estar também está presente em

53

professores e alunos. O ensino de Matemática tem provocado duas sensações

contraditórias, tanto por parte de quem ensina como por parte de quem

aprende: de um lado, a certeza de que se trata de uma área de conhecimento

importante, que desempenha papel decisivo, pois permite resolver problemas

da vida cotidiana, tem muitas aplicações no mundo do trabalho e funciona

como instrumento essencial para a construção de conhecimentos em outras

áreas curriculares. De outro, o descontentamento diante dos resultados

negativos obtidos com muita frequência em relação à sua aprendizagem em

procedimentos mecânicos, muitas vezes desprovidos de significados para o

aluno (CRUZ SILVA, 2013, p. 49).

A fala da autora nos faz refletir sobre o trabalho realizado pelo Observatório da

Educação com foco em Matemática e iniciação às ciências, pólo UFMT e de uma das

pesquisas em desenvolvimento, que procura traçar o perfil profissional de professores

de 1º ciclo da rede municipal de Cuiabá, pertencentes ao Grupo de Estudos e Pesquisas

em Educação Matemática/GRUEPEM, do Instituto de Educação, da Universidade

Federal de Mato Grosso. O contato direto com professores tanto das escolas da rede

estadual quanto da municipal de Cuiabá/MT, nos revelam o “grito por socorro” desses

profissionais, que querem envolver mais seus alunos na aprendizagem da matemática,

mas não sabem por onde caminhar, já que não compreendem a matemática de modo a

desenvolvê-la em sala de aula de maneira diferente de como aprenderam.

Tanto no projeto quanto na pesquisa desenvolvida pelo GRUEPEM, algumas

práticas são evidenciadas como, por exemplo, a maior valorização das quatro

operações fundamentais nos anos iniciais do Ensino Fundamental. São quatro os

blocos de conteúdos a serem explorados, mas geralmente os professores enfocam que

as dificuldades de seus alunos na matemática estão relacionadas apenas as quatro

operações. Isso fica evidente em pesquisa realizada por Mandarino (2009), ele afirma

que “são diversas as situações de ensino que, evidenciam, principalmente, a

supervalorização do trabalho com as operações” (2009, p.37). Muitas vezes, utilizando

apenas um material didático, é possível explorar mais de um bloco de conteúdo e,

geralmente, a atividade permite a abordagem de vários assuntos. No entanto, também

encontramos “fragmentação no trabalho que se realiza na sala de aula” (2009, p.34).

São revelações de extrema importância para repensarmos o ensino e a

aprendizagem para, de fato, haver um apoio a esses professores no seu dia-a-dia na

escola e a consequente continuidade da sua formação. Entendemos que na ação de

ensinar é imprescindível o domínio da teoria.

54

Ensinamos primeiro a soma, depois a subtração, a multiplicação e a divisão. Se

queremos saber se essa ordem está certa, necessitamos de uma teoria, porque

somente em nome de uma teoria isso se torna aceitável ou um entrave para

poder ensinar. [...] Ela nos dá uma base, um fundamento que nos permite, por

exemplo, criticar certos métodos, criticar a sequência de tudo que recebemos

por tradição. [...] ensinamos a multiplicação antes de ensinarmos a divisão, e

justamente esta é a que decorre de uma ação que as crianças fazem desde muito

pequenas. Se queremos começar com a ação e queremos que as crianças

ganhem as mínimas experiências de dividir, temos de começar com a divisão,

porque, do ponto de vista da ação, a multiplicação é a reversão da ação e não o

contrário (PAIN, 2003, p.65-66).

A todo momento, os professores fazem parte dos discursos para novas

metodologias educacionais, novas maneiras de ensinar e aprender. E, assim, o

professor precisa sobreviver profissionalmente e pessoalmente diante de tantas

cobranças. Na verdade, são estratégias de sobrevivência que por vezes são

confundidas com resistência do professor a essas “novas” propostas pedagógicas.

Quem propõe uma mudança significativa desestabiliza as estratégias de

sobrevivência do professor e este não recusa a mudança, mas a reinterpreta na

lógica de suas estratégias de sobrevivência – o que, muitas vezes, acaba por

esvaziar o sentido da inovação (CHARLOT, 2013, p. 106).

Contudo, tanto os alunos precisam dos professores como estes precisam dos

alunos. Os professores devem procurar novas possibilidades de abordagem para

envolver cada vez mais seus alunos e, de fato, ocorrer a aprendizagem. Sendo que

existe uma tensão que permeia todo ensino e aprendizagem, pois caso o aluno não

aprenda, os dois podem ser culpados, dependendo do lado de quem percebe o objetivo

não alcançado. “[...] o sucesso e o fracasso escolar já não são somente assuntos

pedagógicos, uma vez que acarretam consequências importantes para o futuro

profissional e social da criança” (CHARLOT, 2013, p.108).

Assim, reforçamos a importância de conhecer a teoria e não apenas aceitar o

que foi ensinado como uma verdade. A todo momento, pesquisas são desenvolvidas e,

do mesmo modo que em tratamento de doenças, cada vez mais drogas são testadas e,

por vezes, distanciam-se dos métodos utilizados antigamente, para uma melhor

resposta ao tratamento e com menos efeitos colaterais para o paciente, de modo similar

acontece na educação. Nós, profissionais da educação, precisamos ter competência

55

para saber que tipo de ações são necessárias para cada aluno, de acordo com seu

desenvolvimento, sem tentar homogeneizá-los.

Podemos facilmente utilizar algumas palavras que caracterizam tanto o

professor quanto o aluno nessas duas abordagens que estamos considerando. Na

tradicional, o ensino era na vertical, com a figura do professor acima dos alunos com

palavras que o denominam, como: ativo, transferidor, autoritário, conhecedor e

impositor. Nessa abordagem, entendemos que ensino e aprendizagem caminham

separadamente, pois se tem aquele que ensina e quem aprende bem definidos.

Contrariamente, na abordagem construtivista, sua palavra chave é interação, nas

relações estabelecidas entre o homem e o seu meio físico. Nessa, a matemática é

concebida como uma construção humana.

Para um melhor entendimento da abordagem tradicional, a seguir,

apresentamos as duas maiores concepções presentes nessa abordagem, que são a

empirista e a racionalista.

Concepção empirista

O empirismo tem como base as ideias de Pitágoras (571 – 497 a. C.), tendo

como marco a repetição e o treino para aprender. A [...] aprendizagem matemática

consiste num acúmulo de conteúdos, reprodução de respostas ‘certas’ das questões, de

situações apresentadas” (PAULA, 2010, p.102).

Nessa concepção, o conhecimento ocorre de fora para dentro, e o

conhecimento matemático tem sua base em uma “[...] visão formal, estática e unilateral”

(CRUZ SILVA, 2013, p.50). O ser humano nasce sem conhecimento, pois, somente

poderá adquiri-lo por experimentação dos objetos no meio circundante, na percepção

dos sentidos. Desse modo, os alunos são considerados no mesmo patamar, pois, o

professor entende a classe como homogênea.

Na escola, “a ênfase está no programa, na disciplina e no professor” (PAULA,

2010, p.102), já que o aluno assume um posicionamento passivo diante de um ensino

em que o professor é o transmissor e o aluno é o receptor. No empirismo evidencia-se a

cultura do certo e errado, com exercícios para fixação de regras e alimentando uma

avaliação classificatória. Desse modo, o erro do aluno em determinado exercício apenas

56

sinaliza que ele necessita resolver mais exercícios. Sendo assim, nos dias atuais, ainda

percebemos a influência do empirismo “[...] no sentido de que sujeito e objeto do

conhecimento sejam elementos que não se integram com vistas à construção do

conhecimento” (CRUZ SILVA, 2013, p.50).

Como no empirismo, o professor é o detentor do saber, caso o aluno esteja

apresentando dificuldade em aprender matemática, o professor busca as causas no

próprio aluno, na família e no seu ambiente social. Dessa forma, essas causas

proporcionam “importantes benefícios ideológicos aos docentes. [...] Assim sendo, o

‘verdadeiro’ responsável é a própria sociedade, que produz e reproduz desigualdades,

faltas e deficiências” (CHARLOT, 2000, p.29).

Concepção racionalista

O racionalismo fundamenta-se no pensamento de Platão (427-347 a.C.), Na sua

visão inatista, o conhecimento matemático já existe dentro do sujeito e aflora a partir da

maturidade de suas estruturas orgânicas. Contrariamente à concepção empirista, “O

racionalismo rejeita a informação sensorial como a principal fonte de verdade e defende

ser a razão pura o melhor caminho para alcançar tal verdade” (CRUZ SILVA, 2013,

p.51).

Nessa concepção, a dificuldade de aprendizagem em matemática é culpa do

próprio aluno, que não tem condições de conseguir sistematizar seu conhecimento,

devido a sua incapacidade mental para matemática. Esta, entendida como, “[...] fria,

mecânica padronizada e rígida” (PAULA, 2010, p.104).

Assim como no Empirismo, o aluno assume uma postura passiva e o professor

é o detentor do conhecimento, devendo saber apenas o conteúdo que irá passar ao aluno,

para que este possa desenvolver a matemática que tem dentro de si. Para isso, também

são utilizados exercícios de memorização e repetição. Nesse sentido:

[...] a matemática é reduzida a uma mera linguagem desprovida de contextos

reais e seu aprendizado é necessário apenas para aprender mais matemática.

Nessa perspectiva, o estudo é predominantemente algébrico, tanto em aspectos

o operacionais como nos geométricos: é dada extrema importância às

demonstrações, reduzindo ao mínimo as experiências empíricas (BARALDI

apud PAULA, 2010, p.105).

57

Sendo assim, os alunos são levados a pensar de uma mesma maneira,

unificada, preocupando-se apenas com a utilização correta de símbolos já estabelecidos.

Eles não podem refletir de maneira diferente ou refletir sobre conceitos, e acabam

ficando engessados no modo como a matemática é apresentada. Desse modo, o

professor apenas avalia se o aluno aprendeu o conteúdo dado, pois:

[...] alguns nascem para aprender e aprendem facilmente, outros não nasceram

para o estudo, portanto, quando fracassam, os fracassos são apenas deles. [...]

Conhecimento é apenas algo que deve ser ‘despertado’ no aluno (CRUZ

SILVA, 2013, p.51).

Nesse entendimento, podemos perceber que a utilização do termo aprender, na

visão racionalista, deve ser conceituado como um conhecimento que é exteriorizado a

partir de um impulso dado pelo professor, por exemplo. No entanto, o aluno tem

capacidade por si só de exteriorizar o seu conhecimento matemático.

Na breve contextualização dessas duas concepções pertencentes à abordagem

tradicional, foi possível perceber que não há espaço para discussões em sala de aula a

respeito de uma área do conhecimento. Mesmo porque, as áreas são apresentadas

individualmente, não considerando que há interdisciplinaridade entre elas, assim como,

não há uma preocupação em apresentar o processo histórico de construção de um

conceito.

Desse modo, no ensino considerado tradicional, privilegia-se memorização de

regras nos conteúdos, levando a um ensino unilateral, no qual não há espaço dialógico

entre professor e aluno. O professor assume o papel de estabelecer a ordem e transmitir

o conhecimento matemático, enquanto o aluno apenas precisa receber esse

conhecimento sem contestá-lo.

Assim, geralmente, quando um aluno é considerado, pelo professor, com

dificuldade de aprendizagem em matemática, é notável que a sua deficiência ou falta de

algum conceito leve-o a ser evidenciado e comparado com outros alunos que acertaram

nas atividades propostas. No entanto, seria mais interessante e pedagogicamente correto

que o professor se perguntasse o que aconteceu e qual o motivo que o impossibilitou

atingir o objetivo da atividade para esse aluno.

58

Os conteúdos já estabelecidos, independente da sua importância ou não, devem

ser ensinados e aprendidos. Desse modo, sem que haja discussão para que se estabeleça

relações entre conceitos e a vida cotidiana, a Matemática é concebida como

desvinculada da realidade. Assim, o pensamento que a matemática da escola é

desvinculada do cotidiano vem permeando, durante anos, o ensino e a aprendizagem da

matemática.

3.1.2 Ensino e aprendizagem na abordagem construtivista

No construtivismo, entendemos que ensino e aprendizagem caminham juntos.

Diferentemente da abordagem Tradicional, tanto o professor quanto o aluno trocam

conhecimentos. Os dois dialogam, havendo interação entre eles.

Procuramos trazer considerações do teórico Bernard Charlot (2000), que

apresenta uma reflexão sociológica do saber e autores que dialogam com ele, como

Chabanne (2006), Silva (2009) e Costa (2013). “Quem introduziu a expressão e o

conceito de “relação com o saber” na área da Educação, foi Bernard Charlot” (SILVA,

2009, p.21). Dessa forma:

Apresentamos as ressalvas que Charlot levanta relacionada à concepção

cultural da aprendizagem, sendo analisada partindo do relacionamento do

indivíduo com o saber. Trata-se de um novo olhar acerca da teoria da

aprendizagem. Novo devido as suas teorias se diferenciarem daquelas

expressas por Piaget e pelos teóricos soviéticos. Charlot mostra novos

princípios ao abordar a relação: saber, aprendizagem, sujeito e conhecimento

(COSTA, 2013, p. 57).

Na visão de Bernard Charlot, estamos lidando com seres humanos ativos no

mundo social circundante e eles são resultados de processos psíquicos, nas relações

com si mesmo e com o outro. Desse modo, há mobilização desse ser humano para

aprendizagem quando o ambiente torna-se motivador da existência da relação com o

saber. Essa mobilização independe do espaço escolar, pois aprendemos independente

do lugar, todavia o importante é que haja elemento motivador que mobilize para

aprendizagem.

59

[...] a relação com o saber é o conjunto das relações que um sujeito estabelece

com um objeto, um ‘conteúdo de pensamento’, uma atividade, uma relação

interpessoal, um lugar, uma pessoa, uma situação, uma ocasião, uma obrigação,

etc. (CHARLOT apud COSTA, 2013, p. 58).

A aprendizagem, então, ocorre em variadas relações, pois esse sujeito é um ser

social, aberto para o mundo e presente em várias relações sociais, sempre em

“atividade mental” (SILVA, 2009, p. 22). Esse sujeito, indivíduo, ser humano age no e

sobre o mundo e é singular, visto que pode dar sentido próprio a esse mundo. Assim,

“Estudar a relação com o saber é estudar esse sujeito enquanto confrontado com a

necessidade de aprender e a presença de ‘saber’ no mundo” (CHARLOT, 2000, p.34).

Desse modo, esse autor nos leva a refletir que:

Nascer, aprender, é entrar em um conjunto de relações e processos que

constituem um sistema de sentido, onde se diz quem eu sou, quem é o mundo,

quem são os outros.

Esse sistema se elabora no próprio movimento através do qual eu me construo

e sou construído pelos outros, esse movimento longo, complexo, nunca

completamente acabado, que é chamado educação (2000, p.53).

Educar é proporcionar ao aluno ações pedagógicas significativas, que

possibilitem interação entre professor – aluno e aluno – aluno. Isso faz com que os

alunos sejam mobilizados pelas ações que tenham significados para eles. Nesse

sentido, o professor melhor compreende o movimento de sua sala de aula quando “se

interessa pelo aluno em sua singularidade, em particular por sua interpretação do que

vale ser estudado, por sua interpretação de determinada matéria” (SILVA, 2009, p.21).

Por isso, seguindo a relação do sujeito com o saber, três conceitos são de extrema

importância. São eles: mobilização, atividade e sentido.

Esses três conceitos considerados por Charlot, em parte, estão apoiados na

teoria da atividade do psicólogo russo Alexei Nikolaevich Leontiev (1903 – 1979),

que, inicialmente, foi membro do grupo do também russo Lev Semenovitch Vygotsky

(1896 – 1934). Começaremos pelo conceito de sentido, o qual “para Leontiev o

sentido de uma atividade é a relação entre o que incita a agir e o que orienta a ação,

60

como resultado imediatamente buscado” (CHARLOT, 2000, p.56). Podemos entender

que o sentido para o sujeito está diretamente relacionado ao desejo e à significação.

Como somos seres sociais, tudo que acontece conosco e que tenha relação com nosso

dia-a-dia pode fazer ou não sentido. Evoluímos pelo próprio movimento de

desenvolvimento como seres humanos, nossa dinâmica natural, pertencente e em

confronto com o mundo que nos cerca.

Para tanto, o ensino de Matemática prestará sua contribuição à medida que

forem exploradas metodologias que priorizem a criação de estratégias, a

comprovação, a justificativa, a argumentação, o espírito crítico, e favoreçam a

criatividade, o trabalho coletivo, a iniciativa pessoal e a autonomia advinda do

desenvolvimento da confiança na própria capacidade de conhecer e enfrentar

desafios (BRASIL, 1997, p26).

Para enfrentar os desafios diários, precisamos estar em movimento. E esse

movimento é impulsionado por algo que nos motive, assim, nos mobilize. Algo me

chama a atenção e coloco o que tenho de recursos, no sentido de impulsão interna para

exteriorização por meio da ação. Nesse movimento, é preciso que haja uma razão de

mobilização que é chamada de móbil. Então, no conceito de mobilização, temos algo

externo, que chamaremos motivação, e algo interno, que percebe razão para que haja

ação, que chamaremos de móbil.

Nessa maneira de pensar as relações com o saber, a atividade é conceituada

como “um conjunto de ações propulsionadas por um móbil e que visam a uma meta”

(LEONTIEV, 1975; ROCHEX, 1995 apud CHARLOT, 2000, p. 56). Sendo assim, um

problema apresentado em sala de aula para os alunos, por exemplo, deve ser elaborado

considerando as especificidades dessa turma, motivando os alunos, para que eles

estabeleçam estratégias de resolução com intuito de chegarem a possíveis soluções

para o problema.

Para isso, é importante, desde os anos iniciais do Ensino Fundamental,

esclarecer o que é matemática e o que significa fazer matemática. Caso contrário, se

não houver essa abordagem, haverá grande chance “de que a matemática como

conjunto de saberes seja oculta por práticas escolares ou a matemática é apenas o que

a professora manda fazer na escola e o que estou fazendo na padaria quando verifico o

troco” (SILVA, 2009, p.43).

61

Para o sucesso da atividade proposta, faz-se necessária a apropriação de uma

teoria para entender e saber quais estruturas de pensamento o aluno precisa ter

desenvolvido para o sucesso da atividade. O professor não pode pensar que é

necessário apenas desenvolver atividades de repetição para compreender algo, pois, “o

tema parece obscuro a princípio e essa obscuridade vai impedir que algum dia a

claridade venha” (PAÍN, 2003, p.68). Concordamos que:

Para o indivíduo “que aprende”, o que interessa é justamente o acontecimento.

Esse acontecimento não pode ser programado pelo professor: ele depende de o

aluno estar pronto ou não para reconhecê-lo (CHABANNE, 2006, p.31).

Desse modo, nós como educadores precisamos despertar o sentido da

aprendizagem no aluno pela promoção da atividade intelectual. E a aprendizagem está

diretamente relacionada com o nosso desenvolvimento cognitivo e a nossa relação

com o mundo para que haja saber. Charlot (2000) explica claramente que:

Não há saber senão para um sujeito, não há saber senão organizado de acordo

com relações internas, não há saber senão produzido em uma ‘confrontação

interpessoal’. Em outras palavras, a ideia de saber implica de sujeito, de

atividade do sujeito, de relação do sujeito com ele mesmo, de relação desse

sujeito com os outros (que co-constroem, controlam, validam, partilham esse

saber) (p.61).

Nessa compreensão, aprender é entendido como uma atividade integrada. De

um lado se tem as estruturas cognitivas e de outro o ambiente tanto psicológico quanto

o ambiente das relações estabelecidas na sociedade circundante. Nessa relação do ser

humano com o saber, Chabanne (2006) explica didaticamente as ideias apresentadas

por Charlot, esclarecendo que o indivíduo parte das suas experiências com o mundo

circundante para a construção do saber e que isso irá depender do grau de maturação

de cada um para determinadas ações.

A compreensão e a tomada de decisões diante de questões políticas e sociais

também dependem da leitura e interpretação de informações complexas, muitas

vezes contraditórias, que incluem dados estatísticos e índices divulgados pelos

meios de comunicação. Ou seja, para exercer a cidadania, é necessário saber

calcular, medir, raciocinar, argumentar, tratar informações estatisticamente,

etc. (BRASIL, 1997, p.25).

62

Nesse sentido, a abordagem do conhecimento pelo ser humano com utilização

de instrumentos próprios de sua sociedade e sua representação nesse processo de

aprendizagem, estabelece uma relação de identidade. Essa identificação pode ser

positiva ou negativa, dependendo de como é abordada e, por consequência, podendo

influir em novas aprendizagens.

Para que haja essa relação de identidade do sujeito com a matemática, os

Parâmetros Curriculares Nacionais para abordagem da Matemática no Ensino

Fundamental (1998) entendem que alguns objetivos são de extrema importância nesse

processo. Sendo assim, pontuamos os que consideramos imprescindíveis:

Levar o aluno a compreender a matemática como parte da formação

humana;

Possibilitar um ensino que estimule o interesse e curiosidade do aluno

com vias à resolução de diferentes situações diárias;

Levar o aluno à sistematização de aspectos quantitativos e qualitativos do

ponto de vista do conhecimento matemático, do mais simples ao mais

complexo;

Levar o aluno a estabelecer relações entre conhecimento aritmético,

algébrico, geométrico, métrico, (...);

Levar o aluno a estabelecer relações da matemática com outras áreas do

conhecimento, com potencial para argumentação e relação com a linguagem

matemática;

Possibilitar ao aluno a confiança em si diante do conhecimento

matemático, na valorização do seu autoconceito; e

Levar o aluno a perceber que a matemática é uma ciência em movimento

e que é importante considerar as diferentes representações, diferentes pontos de

vista.

Na apresentação dessas duas abordagens bem delineadas nessa pesquisa,

considerando as discussões realizadas no Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação

Matemática – GRUEPEM/UFMT, do qual somos integrantes, buscamos, a partir dos

63

quadros de pesquisas anteriores, adequar essas duas abordagens em consonância com a

nossa investigação acerca dos alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em

matemática, pois no ensino e aprendizagem construir saber está diretamente relacionado

à herança de um patrimônio, no qual seu formato está atrelado a formas sócio-históricas

do ensino e da aprendizagem.

Desse modo, a seguir apresentamos um quadro síntese comparativo que agrega

a abordagem tradicional e nossa posição teórica apresentada nesta pesquisa, na qual

buscamos respostas para a seguinte pergunta: O que revelam os diagnósticos e os

encaminhamentos dados por professores que atuam no 5º ano do Ensino Fundamental, a

alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática?

Quadro 4: Síntese do ensino e aprendizagem da Matemática na abordagem tradicional e

na abordagem construtivista

Especificação/

Abordagem

Abordagem Tradicional Abordagem Construtivista

Educação Aquisição de conteúdos e

habilidades específicas.

Contempla atividades

contextualizadas que valorizem os

aspectos social e histórico.

Matemática Centralizada em fórmulas e

treinamento de cálculos

mecânicos. Sem relação com o

cotidiano do aluno. Aceita um tipo de

resposta.

Respeita os aspectos histórico do

conceito matemático.

Matemática como ciência dinâmica,

humana e histórica.

Ensino Transmissão de conhecimento

do professor ao aluno. Ensino

unidirecional.

O professor proporciona atividades

que mobilizem os alunos na

elaboração do conhecimento

matemático. Valorização dos

conhecimentos e vivências dos

alunos.

Aprendizagem Mecânica, por repetição. Livresca por

conteúdos prontos e acabados.

Unidirecional e vertical. Com acúmulo

de conteúdos e logicamente,

reprodução destes.

Historicamente situada. Por

organização e reorganização de

estruturas cognitivas. Aprendizagem

processual. Por interação com o

mundo circundante.

Metodologia Atividades de memorização

Descontextualizadas. Memorização de

fatos e regras para atividades propostas

em sala de aula.

Atividades didáticas intencionalmente

elaboradas respeitando a diversidade

cultural.

64

Especificação/

Abordagem

Abordagem Tradicional Abordagem Construtivista

Relação professor-

aluno

Professor transmissor e detentor de

conhecimento. Visão formal do

professor. Aluno em

posição passiva.

Interação entre professor e aluno.

Aluno como sujeito ativo em sua

aprendizagem e em contato com

fenômenos do mundo que o cerca,

pela mediação do professor. Professor

também é aprendiz e problematizador

para possibilitar ao aluno relacionar

conhecimento científico e cotidiano,

de maneira a desenvolver estruturas

de pensamento cada vez mais

complexas.

Avaliação Avaliação por provas em que apenas o

resultado final é considerado, na

cultura do certo

e errado. Provas padronizadas.

O erro como forma de punição ao

aluno e entendido como dificuldade de

aprendizagem.

Avalia-se o processo de

aprendizagem do aluno, considerando

a especificidade de cada aluno na

compreensão da Matemática como

construção social e histórica.

Utilização do erro como compreensão

de como o aluno está desenvolvendo

o conteúdo trabalhado para

elaboração de novas atividades para o

avanço da atividade pelo aluno.

Avaliação também é utilizada para

reflexão do professor em relação as

ações didático – pedagógicas

apresentadas.

Dificuldade de

Aprendizagem

Alunos são homogeneizados quanto as

suas aprendizagens, com fragilidade no

olhar atento para singularidade de cada

aluno no processo de aprendizagem.

Assim, as causas das dificuldades de

aprendizagem são centradas no aluno e

ou no meio social.

Leitura e escrita como pré-requisitos

para aprendizagem da matemática.

O erro, geralmente confundido com

dificuldade de aprendizagem ou um

indicativo que esse aluno tem DA.

Dificuldade de aprendizagem como

sinônimo de algum comprometimento

neurológico.

Considera o aluno em situação de

dificuldade de aprendizagem. Sendo

uma dificuldade momentânea e

totalmente reversível, em respeita o

desenvolvimento cognitivo do aluno.

O erro do aluno nas atividades

propostas é considerado como

instrumento de reflexão do professor

para intervenções adequadas.

Diversidade de ações para avanço do

aluno em suas aprendizagens.

Descentraliza a dificuldade de

aprendizagem no aluno para escola e

nas ações didático-pedagógicas

apresentadas.

Dificuldade de

aprendizagem em

Matemática

Nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, geralmente as

dificuldades em matemática apontadas

pelos professores estão relacionadas às

quatro operações fundamentais e

interpretação de problemas. Com

causas apontadas para pouco apoio da

família e por não saber ler e escrever.

Na Educação Matemática os alunos

em situação de dificuldade de

aprendizagem em matemática são

estimulados nas diferentes propostas

em sala de aula, possibilitando

variadas interpretações. O que vem a

somar na aprendizagem como um

todo, sem que precise esgotar um

assunto no ensino para iniciar outro.

Fonte: Baseado nas produções do Grupo de Estudos e pesquisas em Educação Matemática –

GRUEPEM/IE/UFMT

65

A partir das considerações construídas no desenvolvimento desse trabalho

quanto à dificuldade de aprendizagem em Matemática, nos capítulos seguintes,

apresentamos o percurso metodológico seguido das análises para compreensão dos

objetivos estabelecidos em nossa pesquisa.

66

CAPÍTULO 4 – METODOLOGIA

Com o intuito de obtermos um melhor entendimento diante do objetivo do

estudo proposto de investigar e analisar o que revelam os diagnósticos e

encaminhamentos dados por professores do 5º ano do Ensino Fundamental a

alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática, apresentamos

neste capítulo metodológico, todos os detalhes envolvidos na construção da

investigação. Percorremos o capítulo com exposição da nossa escolha metodológica,

bem como a opção pelas escolas estaduais, a descrição da escolha das salas de

articulação de escolas estaduais localizadas na cidade de Cuiabá/MT.

Além disso, apresentamos a caracterização dos sujeitos envolvidos, os

procedimentos e instrumentos utilizados para posterior análise e interpretação dos fatos

evidenciados em busca de respostas para os objetivos desta pesquisa. Nessa caminhada,

seguiremos Bogdan e Biklen, ao concordarmos que “[...] as ações podem ser melhor

compreendidas quando são observadas no seu ambiente habitual de ocorrência” (1994,

p.48). No ponto de vista de pesquisadora, a proximidade com o ambiente e objeto da

pesquisa torna-se extremamente relevante, tanto para enriquecimento da pesquisa

quanto por propiciar uma reflexão como formadora das séries iniciais do Ensino

Fundamental.

4.1 OPÇÃO METODOLÓGICA

Para melhor confiabilidade das informações diante do diagnóstico e

contribuições propiciadas pelos professores regentes e articuladores para sanar as

dificuldades de aprendizagem em matemática dos alunos de 5º ano do Ensino

Fundamental, preferimos desenvolver a pesquisa pela abordagem metodológica

qualitativa de análise interpretativa devido às especificidades do espaço educacional, em

especial o tema Dificuldade de Aprendizagem em Matemática.

Entendemos que essa opção metodológica está diretamente relacionada às

intenções da pesquisa em vista ao seguinte problema de investigação: O que revelam

67

os diagnósticos e os encaminhamentos dados por professores que atuam no 5ºano

do Ensino Fundamental a alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em

Matemática? Na pesquisa de caráter qualitativo, os investigadores da educação, em

suas relações com seus sujeitos, objetivam perceber como estes interpretam o que está

sendo pesquisado. Assim, para Bogdan e Biklen:

Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que

lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do

informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflete uma

espécie de diálogo entre os investigadores e os referidos sujeitos, dados estes

não serem abordados por aqueles de uma forma neutra (BOGDAN; BIKLEN,

1994, p.50).

Dessa maneira, consideramos que existe uma melhor aproximação com as

intenções da pesquisa, com plena consciência de que esse diálogo entre investigadores e

seus sujeitos demanda certo esforço pessoal e intelectual dos envolvidos, permeado de

subjetividades e particularidades naturais nesse tipo de pesquisa científica. “A pesquisa

qualitativa em educação tem como fonte de dados a complexidade e a diversidade do

ambiente natural onde os fenômenos se apresentam” (TRUJILLO, 2009, p.85).

Nesse sentido, a pesquisa qualitativa, ao permitir toda descrição das

informações coletadas no contato do pesquisador com seu sujeito de pesquisa,

possibilita que se evidencie o processo. Nesse tipo de pesquisa, segundo Trujillo, “os

dados serão analisados de forma indutiva, visto que, pretendemos através das análises

dos dados recolhidos, agrupá-los e identificá-los, interpretando-os teórica e

dialeticamente” (2009, p.87) para melhor compreensão das dificuldades de

aprendizagem em matemática.

Dessa forma, torna-se extremamente enriquecedor para a nossa formação, já

que somos parte desse contexto educacional, no qual a pesquisa está inserida,

contribuindo assim para a construção do conhecimento.

Além de contribuir para a construção do conhecimento, é possível “[...]

compreender o comportamento e experiência humanos. Tentam compreender o processo

mediante o qual as pessoas constroem significados e descrever em que consistem estes

mesmos significados [...]” (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p. 67-70). Partindo desse

entendimento, procuramos entender o que os documentos e as falas dos professores de

68

alunos de 5º ano do Ensino Fundamental revelam acerca da dificuldade de

aprendizagem em matemática, relacionando-os com a nossa base teórica sobre o

assunto.

4.2 PERCURSO METODOLÓGICO

O nosso percurso metodológico ocorreu em três etapas. Primeiramente,

realizamos levantamento de pesquisas que abordassem dificuldade de aprendizagem em

matemática para aprofundarmos como o assunto vem sendo tratado, além da utilização

do termo, já que ele é abordado em diferentes áreas devido a sua generalização ou

ausência de melhor conceituação e distinção de termos relacionados à dificuldade de

aprendizagem. Esse levantamento foi apresentado no segundo capítulo.

A segunda parte da pesquisa se refere ao trabalho de campo propriamente dito.

Nessa parte, buscamos reunir documentos nas escolas estaduais da cidade de

Cuiabá/MT e aplicamos questionários aos professores regentes e articuladores do 5º ano

do Ensino Fundamental. Em concomitância, levantamos as fichas de dificuldade de

aprendizagem em matemática de aluno atendido pelo projeto OBEDUC/UFMT e em

articulação. Essas fichas são preenchidas pelo professor regente, juntamente com o

questionário de concepção dos professores regentes, do 5º ano do Ensino Fundamental,

sobre ensino e aprendizagem de matemática e dificuldade de aprendizagem em

matemática.

Na terceira etapa e última etapa, foi realizada visita às escolas para buscamos

autorização para a realização das etapas subsequentes da pesquisa e, posterior

entrevistas com professores regentes e articuladores.

4.2.1 Os procedimentos e os instrumentos da coleta de dados da pesquisa

Conforme a Portaria nº 453/11/GS/SEDUC/MT, que dispõe sobre os critérios

para atribuição do professor articulador das unidades escolares da rede Estadual de

Ensino de Mato Grosso, quanto à função do articulador, entre as funções elencadas,

destacamos algumas que justificam a escolha de alguns instrumentos que contribuíram

69

para análise dos dados: o relatório individual enviado pelo professor regente a fim de

identificar o perfil de aprendizagem ao considerar o estágio de desenvolvimento de cada

aluno; o plano de intervenção pedagógica construído com o professor regente; o

relatório descritivo da situação de aprendizagem do estudante a ser encaminhado ao

professor regente; e o relatório final do perfil de aprendizagem. Outro instrumento é a

avaliação, visto que a portaria considera como função do articulador fazer avaliação,

considerando-a como ferramenta para realizar intervenção pedagógica.

Nessa mesma Portaria consta que esse profissional deve:

I - ser professor efetivo ou estabilizado, com jornada de trabalho de 30

horas/semanais; II - ter formação em Licenciatura Plena em Pedagogia ou

normal superior; III – ter experiência docente em alfabetização nos últimos 02

anos; IV - caso tenha outra habilitação, porém seu concurso de ingresso for

magistério e optou por continuar atuando nos anos iniciais; atendendo também

ao parágrafo 1º, inciso III, esse professor poderá, excepcionalmente, atuar

como articulador mediante análise e autorização da Coordenadoria do Ensino

Fundamental. V - elaborar projeto de proposta de apoio à aprendizagem dos

alunos com desafios de aprendizagem (Portaria nº 453/11/GS/SEDUC/MT4, p.

1).

A referida portaria utiliza o termo alunos com desafios de aprendizagem, o que

no dia-a-dia é usualmente considerado como alunos com dificuldade de aprendizagem.

E nela não há especificação do que se entende por desafios de aprendizagem.

Após a análise desses documentos, aplicamos um questionário aos

articuladores abordando o seu conhecimento acerca das dificuldades de aprendizagem

em matemática, as características dos alunos selecionados e sobre ensino e

aprendizagem de matemática. Em seguida, realizamos o levantamento de documentos e

questionários e procedemos à entrevista aos articuladores e professores regentes.

Para isso, compreendemos que nesse processo investigativo, os dados

empíricos serão obtidos por meio da coleta e instrumentos (documentos, questionários e

entrevistas), que possibilitam uma riqueza de elementos que são triangulados para

interpretação dos dados, com a intenção de atingir os objetivos iniciais propostos e

responder a seguinte pergunta de investigação:

4 Documento extraído do endereço eletrônico:

http://www.seduc.mt.gov.br/conteudo.php?sid=468&cid=11763&parent=0. Acesso em: jul, 2012.

70

O que revelam os diagnósticos e os encaminhamentos dados por

professores que atuam no 5ºano do Ensino Fundamental a alunos em situação de

dificuldade de aprendizagem em Matemática?

4.2.2 Instrumentos da Coleta de Dados da Pesquisa

Podemos dividir os instrumentos em três grupos. O primeiro grupo é composto

de documentos fornecidos pelo OBEDUC/UFMT, são identificados pela letra O e um

número. O segundo grupo é composto de questionários desenvolvidos pelas

pesquisadoras, são identificados pela letra Q e a letra E para entrevista. O último grupo

estabelece os documentos coletados na escola participante da pesquisa, é identificado

pela letra D. Assim, a seguir, elaboramos um quadro com objetivos específicos da

pesquisa e sua relação com os instrumentos propostos:

Quadro 5: Relação entre objetivos específicos e instrumentos de coleta de dados

Objetivos específicos Instrumentos

Identificar as principais DAM de alunos do 5ºano

do Ensino Fundamental, causas da DAM e

concepções de ensino e de aprendizagem,

apontadas pelos professores regentes.

Questionário ao professor regente (Q1);

Entrevista ao professor regente (E1);

Ficha de encaminhamento do aluno para apoio

pedagógico (D2, O1).

Conhecer às concepções de ensino e de

aprendizagem Matemática e possíveis causas das

DAM, segundo professores articuladores.

Questionário ao articulador(Q2) e entrevista (E2)

aos articuladores.

Comparar e analisar as DAM dos alunos apontadas

pelos professores regentes, com o diagnóstico do

articulador.

Ficha de encaminhamento para articulação

preenchida pelo professor regente (D2),

diagnóstico realizado pelo professor articulador (

D5).

Investigar como as DAM são sistematizadas pelo

professor articulador.

Organização da sala de articulação (Q2 ) e (E2 ),

plano de aula (D4) e relatório semestral (D3) do

articulador.

Analisar as atividades desenvolvidas em sala de

articulação, presentes nos cadernos dos alunos.

Cadernos de dois alunos atendidos em sala de

articulação.

Fonte: dados das autoras

71

4.3 CONTEXTO E SUJEITOS DA PESQUISA

Inicialmente, a pesquisa seria desenvolvida nas quatro Escolas Estaduais de

Cuiabá, situadas nas regiões leste, oeste e sul da capital de Mato Grosso. Escolas estas

parceiras do OBEDUC com foco em matemática e iniciação às Ciências/UFMT/2013.

Como imprevistos podem acontecer e ocorreram no decorrer desses dois anos de

pesquisa, reduzimos para duas escolas situadas na região sul, participantes do projeto,

com turmas de 5º ano do Ensino Fundamental, que ofereciam sala de articulação para

alunos nessa etapa de aprendizagem.

Assim, nossos sujeitos somaram em dois professores regentes de 5º ano do

Ensino Fundamental e dois professores articuladores, no ano de 2013, que auxiliam

alunos de 5º ano do Ensino Fundamental considerados com dificuldades de

aprendizagem pelo professor regente.

A seguir, apresentamos as principais informações em relação ao projeto

Observatório da Educação com foco em Matemática e Iniciação às Ciências, assim

como, a organização das escolas estaduais de Mato Grosso.

4.3.1 O Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e Iniciação às

Ciências5

A partir do Edital CAPES/INEP nº 038/2010, teve início o Projeto

Observatório da Educação com foco em Matemática e Iniciação às Ciências

UNESP/Ilha Solteira, UNEMAT/Barra do Bugres e UFMT/Cuiabá. As atividades

tiveram seu início no ano de 2011 e a cada ano são realizados três encontros entre os

polos.

5 Ao longo da pesquisa utilizamos OBEDUC/UFMT quando nos referimos ao Projeto Observatório da

Educação com foco em matemática e iniciação às ciências.

72

No contexto da pesquisa, focaremos no polo Cuiabá, que abrange seis escolas

estaduais de Cuiabá/MT. Segundo Grotti (2013), o projeto no polo de Cuiabá envolve

um número aproximado de 96 professores de Educação Básica e 1.290 alunos de 5º e 9º

anos do Ensino Fundamental e do 3º ano do Ensino Médio. Entre as seis escolas

parceiras do projeto, apenas quatro delas oferecem turmas de 5º ano do Ensino

Fundamental. As quatro escolas apresentam professor articulador, totalizando oito

articuladores. Para o ensino de 5º ano, são doze turmas e aproximadamente 283 alunos.

O projeto tem fortalecido o diálogo entre as universidades e as unidades

educacionais na promoção de encontros com palestras, oficinas, apoio aos alunos

considerados com dificuldade de aprendizagem em matemática, momentos de apoio aos

professores das escolas e grupo de estudos. As universidades parceiras do projeto

buscam:

[...] a) a articulação dos desafios e necessidades das escolas – tais como

estudantes com desempenho crítico nas disciplinas de Matemática e Ciências

da Natureza –, aos possíveis projetos que elas possam organizar/participar –

com o respeito ao ritmo de cada aluno, a acomodação das inovações e das

mudanças para refazer identidades, a incorporação dos conhecimentos

didáticos e pedagógicos ao próprio processo de formação –; b) o

desenvolvimento das dimensões coletiva e individual do processo; e c) o

enfrentamento de outros muitos desafios que estamos dispostos a encontrar

(PROJETO OBSERVATÓRIO DA EDUCAÇÃO COM FOCO EM

MATEMÁTICA E INICIAÇÃO ÀS CIÊNCIAS apud GROTTI, 2013, p.47-

48).

Essas ações propiciam a formação continuada dos professores, ampliam o

conhecimento e contato dos mestrandos e doutorandos com a escola, o que estimula os

programas de pós-graduação no fortalecimento de pesquisas em educação.

Além disso, há um forte incentivo à formação docente ao oferecer estágio para

graduandos de Licenciatura, antecipando a sua relação com a escola e a integração com

as pesquisas.

4.3.2 Organização das escolas estaduais de Mato Grosso

A proposta inicial, organizar as escolas em ciclo, tinha por intenção a

diminuição da repetência e a regularização do curso de escolarização para que

73

diminuísse o desnivelamento entre séries. Como já comentado anteriormente, nas

décadas de 70 e 80 houve uma grande preocupação, no Brasil, pelo número de

repetências e de alunos que abandonavam os estudos. No entanto, anterior a essa data, a

história da educação nos aponta registros de escolas organizadas com a ideia de

flexibilizar o tempo da instrução, como desde a Revolução Francesa (MAINARDES,

2009). A escola ciclada, como substituta da seriada, tinha como fundamental princípio

um maior tempo para trabalhar o currículo com “[...] flexibilização do tempo, [...]

permitindo assim respeitar os diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos” (MATO

GROSSO, 2001, p.21).

Para Mainardes (2009), no Brasil, desde 1910, discutia-se a respeito de

políticas para acabar com as reprovações. Todavia, foi em 1984, com a inauguração do

Ciclo Básico de Alfabetização, que se utilizou o ciclo referente a políticas para retirada

da reprovação.

Essa flexibilização do tempo propiciada pelo ciclo permite uma maior

percepção do aluno com suas singularidades, distanciando-o de uma visão homogênea

do todo, proporcionando o respeito ao ritmo de cada aluno. Esse modo de pensar o

ensino possibilita ao professor valorizar a heterogeneidade em sala de aula, o que

favorece o enriquecimento da aprendizagem, sem rotular alunos inadequadamente.

Tudo isso visa uma maior troca entre os professores de cada ciclo, além de contribuir de

forma positiva para o ensino-aprendizagem e, ainda, evita a fragmentação do ensino.

Desse modo,

[...] Esses currículos devem evitar as tradicionais listagens de conteúdo ou a

reprodução do livro didático que o professor deve cumprir durante o ano,

obrigando todos os alunos a aprenderem no mesmo ritmo (MATO GROSSO,

2001, p.23).

Entender que os alunos não aprendem no mesmo ritmo e que o conhecimento

passa por um processo de construção e reorganização para novos conhecimentos torna o

trabalho pedagógico mais complexo, à medida que as ações trabalhadas em sala devem

ser mais motivadoras e diversificadas, respeitando a individualidade de cada aluno no

processo de construção do conhecimento. E, ainda, considerando que uns alunos são

mais auditivos, outros mais visuais, variando as experimentações sensoriais, o que

favorece a aprendizagem.

74

Na organização educacional das escolas em ciclos de formação, há maior

atenção ao contexto sociocultural dos sujeitos envolvidos não restringindo-os apenas ao

espaço escolar, mas compreendendo que a educação escolar abrange família e

comunidade na valorização dos direitos e deveres do cidadão como ser social e atuante

na sociedade.

No regime seriado, quanto à abordagem das dificuldades de aprendizagem, na

maioria das vezes era considerado apenas o aspecto cognitivo do aluno, atribuindo,

assim, a sua responsabilidade por sua não aprendizagem. Nesse regime, aumentava-se o

número de alunos repetentes compondo turmas, o que não contribuía para interação

entre os alunos de diferentes idades e, até mesmo, interferia negativamente na

construção de identidade. Já os ciclos de formação permitem uma atenção mais

individual e processual dos alunos que demonstram não acompanhar a turma, pois

considera “[...] aspectos sociais, morais, éticos e afetivos, constitutivos da natureza

humana, num tempo escolar demarcado por critérios diferentes dos estabelecidos numa

escola seriada [...]” (MATO GROSSO, 2001, p.26).

Podemos perceber que essa organização educacional rompe com o que vem

sendo desenvolvido nas escolas seriadas e questiona a lógica estrutural e organizacional

delas. Dessa maneira, é importante que haja uma prévia preparação dos profissionais da

educação, principalmente dos professores para esse tipo de mudança. Na prática,

percebemos que eles não têm entendimento sobre ciclo de formação e caminham na

percepção do regime seriado dentro da nova organização escolar devido às suas

experiências estarem vinculadas ao seriado. Assim, a organização por ciclos de

formação acaba não tendo o desenvolvimento e o êxito esperados.

É importante salientar que estamos considerando, nesta pesquisa, a organização

em ciclos implementada no estado de Mato Grosso e que recebe a denominação de

ciclos de formação, mas no Brasil podemos encontrar outras conceituações para ciclos,

como “[...] Ciclos de Aprendizagem [...] e o Regime de Progressão continuada”

(MAINARDES, 2009, p.58). Não é nossa pretensão aprofundar discussão nos tipos de

ciclo, apenas consideramos importante abordar alguns aspectos relevantes no contexto

que a pesquisa foi desenvolvida.

Desse modo, na escola ciclada, o ensino fundamental é dividido em três ciclos,

os quais se subdividem em três para organização de nove anos, com ingresso do aluno

75

aos seis anos de idade. Como focaremos em alunos do 5º ano do Ensino Fundamental,

que compreende a II fase do II ciclo, com faixa etária de 9 a 12 anos. Nesse sentido,

preza-se pela avaliação periódica e processual para acompanhamento dos avanços e das

dificuldades dos alunos dentro do processo, já que não há reprovação durante as fases

ou pode até ocorrer, mas no final do ciclo, chamado de retenção. Sendo assim, a sala de

articulação torna-se a menina dos olhos dentro do ciclo, com a finalidade de promover

um trabalho pedagógico além da sala de aula aos alunos que estiverem em situação de

dificuldade de aprendizagem e, em conjunto, ao trabalho realizado pelo professor

regente para progressão adequada do aluno.

Interessante que nesse modelo escolar as avaliações da aprendizagem são

formativas, pois elas proporcionam a reorganização do ensino e aprendizagem e

favorecem o aspecto qualitativo. Afastando-se, assim, das avaliações convencionais e

classificatórias.

De acordo com MATO GROSSO (2001), a progressão do aluno é classificada

em três tipos. Na Progressão simples (PS), o aluno desenvolveu-se normalmente dentro

das fases, no ciclo sem acompanhamento pedagógico; na Progressão com Plano de

Apoio Pedagógico (PPAP), o aluno apresenta dificuldades na construção do

conhecimento e necessita de apoio complementar com acompanhamento de professor

articulador; e no terceiro tipo, a Progressão com Apoio de Serviços Especializados

(PASE), que é direcionada a alunos com necessidades especiais. Para a nossa pesquisa,

focaremos nos alunos que tiveram progressão com plano de apoio pedagógico, já que

temos a intenção de perceber o olhar de professores aos alunos em situação de

dificuldade de aprendizagem.

[...] há necessidade da criação de mais oportunidades para a aprendizagem,

principalmente para aqueles que precisam de maior assistência no processo de

aprendizagem, por meio de atendimento individualizado ou em pequenos

grupos. Diversas redes de ensino têm criado tais oportunidades (classes de

apoio, laboratórios de aprendizagem, contraturno) e essas têm sido

consideradas extremamente válidas (MAINARDES, 2009, p.87).

Na sala de articulação, termo utilizado para apoio pedagógico nas escolas

estaduais de Mato Grosso, o professor articulador acompanha grupo de alunos

considerados com dificuldade de aprendizagem nas fases de cada ciclo,

preferencialmente no contraturno. Entendemos que esse profissional, entre suas

76

principais atribuições, deve propiciar atividades motivadoras para que o aluno possa

avançar na aprendizagem. Para isso, é interessante que haja uma proximidade e troca

entre ele e o professor regente para que as estratégias sejam complementares. Nesse

atendimento, o aluno deve se sentir estimulado e confiante para não parar na

aprendizagem, pois esse trabalho realizado pelo articulador é extremamente relevante

para o sucesso do ciclo de formação.

Na proposta apresentada pela Secretaria de Educação do Estado de Mato

Grosso (2001), a Educação Matemática deve ser entendida como atividade humana,

construída historicamente e de forte influência cultural. Nesse sentido, as experiências

de cada aluno são valorizadas para a exploração formal da matemática. Isso possibilita

envolvimento e familiaridade do aluno com a aprendizagem da matemática, haja vista

que a matemática parte de uma necessidade diária do ser humano. Sendo assim, os

autores destacam a dimensão interdisciplinar da matemática, a valorização do lúdico

para o ensino-aprendizagem, a importância dos conhecimentos prévios para ampliar a

aprendizagem matemática, a resolução de problemas, de modo que o aluno pense em

estratégias para resolvê-los, além de focar em propostas de atividades nas quais o aluno

tenha envolvimento emocional.

A importância do envolvimento emocional reflete-se no autoconceito do aluno,

principalmente de alunos que são atendidos em sala de articulação. No autoconceito,

consideramos o entendimento que temos de nós mesmos, como o aluno se percebe

como ser humano, como pessoa. Entender esse lado emocional do aluno é

extremamente relevante, pois influi diretamente em suas aprendizagens.

4.3.3 Critérios de seleção das escolas

Como critérios para seleção das escolas, primeiramente pensamos em escolas

participantes do projeto Observatório da Educação com Foco em Matemática e

Iniciação às Ciências/UFMT/polo Cuiabá, por ser colaboradora do projeto e por

participar das atividades desenvolvidas pelo grupo. Este projeto tem por objetivo geral

diagnosticar as dificuldades em matemática e iniciação a ciências de alunos da educação

básica de escolas estaduais, bem como a proposta de intervenção para os alunos

77

envolvidos e grupos de discussão, contribuindo para a formação continuada dos

professores, entre outros objetivos mais específicos.

O polo Cuiabá, contempla seis escolas estaduais, envolvendo alunos de 4º, 5º e

9º anos do Ensino Fundamental, Ensino Médio e professores. O segundo critério foi

escolher as escolas do projeto que contemplassem o 5 º ano do Ensino Fundamental no

ano de 2013 e que apresentassem sala de articulação.

Segundo a Portaria nº 308/12/GS/SEDUC/MT, inciso IV, o aluno com “desafio

de aprendizagem” (termo utilizado no documento, o qual entendemos como dificuldade

de aprendizagem) deverá ser atendido no turno inverso ao que foi matriculado. Dessa

maneira, além desse quesito, as salas de articulação contempladas para participarem da

pesquisa deverão atender alguns requisitos presentes ou não no referido documento,

mas que entendemos como critérios de seleção para o melhor andamento e

confiabilidade dos resultados da pesquisa. Como a pesquisa tem por foco diagnósticos e

encaminhamentos para alunos do 5º ano do Ensino Fundamental em situação de

dificuldade de aprendizagem em matemática, selecionamos as escolas por:

Serem participantes do projeto que oferecem turmas de 5º ano do E.F;

Terem sala de articulação para 5º ano do E.F; e

Proximidade entre as escolas.

No quadro 6, a seguir, apresentamos informações das escolas estaduais

participantes do projeto OBEDUC/UFMT, que oferecem 5º ano do Ensino Fundamental

e apresentam sala de articulação para atendimento a esses alunos e para preservar os

nomes das escolas utilizamos pseudônimos com nomes de pássaros:

Quadro 6: Informações gerais de escolas estaduais

Curió Maitaca Pardal Sabiá

Ano de fundação 1933 1993 1987 1998

Região de localização Leste Oeste Sul Sul

Níveis de ensino Fundamental e

EJA

Fundamental,

médio e EJA

Fundamental

regular e EJA

Fundamental

78

Curió Maitaca Pardal Sabiá

Total de turmas na escola 44 -- 32 24

Total de alunos da escola 1530 1741 1069 830

Número de turmas de 5º ano 3 4 3 2

Número de alunos de 5º ano 90 120 89 48

Número de turmas de

articulação

3 2 2 1

Articuladores para 5º ano 1 1 1 1

Total de alunos em

articulação

80 55 70 15

Número de alunos com DAM

em articulação

80 55 70 15

Total de alunos de 5º ano E.F.

em articulação

20 25 15 2

Número de alunos de 5ºano

com DAM em articulação

20 25 15 2

% alunos 5º ano DAM/alunos

5º ano

22,22% 20,83 16,85 4,16

Fonte: Obeduc/UFMT

De acordo com os critérios para seleção das escolas, as escolas Pardal e Sabiá,

por contemplarem o critério de proximidade regional, foram as selecionadas, pois as

duas estão situadas na região sul de Cuiabá/MT. Elas apresentam sala de articulação

para alunos de 5º ano do Ensino Fundamental e menor número de alunos, tanto na

escola quanto em sala de articulação.

Em seguida, apresentamos os critérios de seleção dos sujeitos a fim de

confirmar se as duas escolas selecionadas também contemplam critérios para esse item.

4.3.4 Critérios de seleção dos sujeitos (Professores regentes, articuladores e alunos)

Seleção dos professores regentes

79

Que o professor regente atue no 5º ano do Ensino Fundamental, tenha alunos

que foram encaminhados, tanto para intervenção junto ao projeto como para sala de

articulação, seja formado em Pedagogia e aceite participar da pesquisa.

Seleção dos Professores articuladores

Que o professor articulador da aprendizagem seja formado em Licenciatura

plena em Pedagogia, atue em sala de articulação no ano de 2013 em escolas

participantes do Observatório, no atendimento aos alunos de 5º ano do Ensino

Fundamental, e aceite participar da pesquisa.

4.3.5 Caracterização dos sujeitos (professores regentes, articuladores)

Para caracterização dos sujeitos, professores regentes e articuladores, com base

nos questionários aplicados pelo OBEDUC/UFMT/2013 e elaborados pelas autoras,

especificamente para esta pesquisa, apresentamos os tópicos abaixo, por escola:

Escola Pardal

Professor regente: No quadro 6, foi possível observar que a escola Pardal

apresenta três turmas de 5º ano do Ensino Fundamental e um total de 15 alunos

considerados com DAM atendidos em articulação. Entre as três professoras de 5º ano da

escola, Lidia apresenta mais tempo de atuação nos anos iniciais do Ensino Fundamental,

com seis anos nessa escola por contrato. Lidia tem 38 anos, possui graduação em

Pedagogia, concluído em 2007 e, nesse mesmo ano, iniciou especialização em

Psicopedagogia, com duração de um ano. As duas formações foram realizadas na

mesma instituição particular no município de Cuiabá/MT.

Professor articulador: A escola apresenta duas professoras em articulação, mas

apenas uma trabalha com alunos do 5º ano do Ensino Fundamental. Essa professora

articuladora, que chamaremos de Ana, tem 25 anos, concluiu Pedagogia em 2009 e tem

especialização em Educação Especial, a formação e pós-graduação foram realizadas em

80

instituições particulares de Mato Grosso. Ela atua há quatro anos nos anos iniciais do

Ensino Fundamental, sendo que nos seus dois últimos anos de atuação nessa escola, o

ano de 2013 foi seu primeiro como professora de articulação. A situação profissional

dela nessa escola é contratual.

Escola Sabiá

Apresenta duas turmas de 5º ano do Ensino Fundamental, apenas uma

professora articuladora e dois alunos de 5º ano indicados para sala de articulação, que

foram diagnosticados com dificuldade de aprendizagem em matemática.

Professor regente: São dois professores, sendo que apenas um deles

encaminhou alunos para sala de articulação. Desse modo, essa professora, que

chamaremos de Aline, participou da pesquisa. Aline tem 45 anos e concluiu o curso de

Pedagogia em 2001. Ela possui seis anos de experiência nos anos iniciais do Ensino

Fundamental e apresenta curso de especialização em alfabetização e educação especial.

Tanto a graduação quanto a pós-graduação foram realizadas em instituições

particulares. E, nessa escola, Aline apresenta situação profissional do tipo contrato.

Professora articuladora: Rosane é a única professora articuladora da escola

Sabiá e está no seu primeiro ano exercendo essa função, além de ser professora do

Ensino Fundamental, em regime de contrato. Rosane tem 43 anos, concluiu seu curso de

Pedagogia em 2013 e apresenta Especialização em Educação Infantil, Alfabetização e

Psicopedagogia concluído em Cuiabá/MT. Segundo a professora, o curso de

especialização teve duração de um ano e foi realizado em 2013.

4.3.6 Caracterização das salas de articulação

As salas de articulação foram caracterizadas por atenderem alunos de 5º ano do

Ensino Fundamental no ano de 2013 e, segundo a Portaria nº 308/12/GS/SEDUC/MT,

inciso IV, o aluno com “desafio de aprendizagem” (termo utilizado no documento, o

qual entendemos como dificuldade de aprendizagem) deverá ser atendido no turno

inverso ao que foi matriculado. Também, segundo a mesma portaria, consideraremos

81

que a escola tenha sala de aula disponível para apoio pedagógico com o articulador da

aprendizagem.

Julgamos de extrema importância um olhar sensível voltado ao contexto da

sala de articulação, pois esse espaço torna-se rico em elementos que promovem a

aprendizagem do aluno, a melhor compreensão, a relação ensino-aprendizagem e os

aspectos atitudinal, motivacional e social do aluno.

Após a definição dos critérios para escolas e sujeitos, percorremos as escolas e

percebemos, em conversa informal com as articuladoras, que existe um número

considerável de alunos que não frequentam a sala de articulação. As articuladoras

relataram que isso acontece devido a projetos paralelos, que muitas vezes ocorrem no

mesmo horário que o da articulação. Sendo assim, a observação em sala de articulação,

que seria um dos itens da pesquisa, tornou-se inviável em razão da falta de regularidade

dos alunos nesse espaço. Além disso, a falta de assiduidade dos alunos em articulação e

a greve dos professores das escolas estaduais em Mato Grosso, foram fatores que

interferiram em nossa pesquisa. Desse modo, apresentamos a análise dos dados da

pesquisa por escola, compreendendo um total de duas escolas, um professor regente e

um professor articulador, em cada escola.

4.4 PROCEDIMENTOS PARA ANÁLISE DOS DADOS DA PESQUISA

Os dados foram analisados por escola, relacionados por objetivo específico e

instrumento correspondente, que podem nos possibilitar atingir o objetivo esperado.

Foram realizadas discussões em cada escola e, ao final, realizamos uma discussão geral

quanto à atuação do professor regente, do articulador. Esse planejamento foi idealizado

com o propósito de traçar um panorama do objetivo geral da pesquisa, na busca de

investigar e analisar o que revelam os diagnósticos e encaminhamentos dados por

professores do 5º ano do Ensino Fundamental a alunos em situação de dificuldade

de aprendizagem em Matemática, o que apresentaremos no capítulo a seguir.

82

CAPÍTULO 5 - ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS NA PESQUISA

Chegamos ao quinto e último capítulo dessa pesquisa. Neste, cruzamos os

dados qualitativos levantados a partir da fundamentação teórica e metodológica. Desse

modo, esperamos compreender como o assunto Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática vem sendo tratado na escola.

A pesquisa foi desenvolvida em duas escolas: Pardal e Sabiá. Os sujeitos da

pesquisa são quatro professores de 5ºano do Ensino Fundamental: dois professores

regentes e dois professores articuladores. Para preservar seus nomes, utilizamos

pseudônimos de Lidia para professora regente e Ana para professora articuladora da

escola Pardal. Na escola Sabiá, utilizamos os nomes Aline para professora regente e

Rosane para professora articuladora.

Os instrumentos utilizados para análise foram:

Documentos fornecidos pelo OBEDUC/UFMT – dados de formação do

professor regente, questionário sobre dificuldade de aprendizagem em

matemática e do ensino e aprendizagem da matemática e fichas de intervenção

dos alunos preenchidas pelos professores regentes.

Documentos fornecidos pela escola – Projeto político pedagógico da

escola, ficha de encaminhamento para articulação, relatório semestral do

professor, plano do professor articulador, caderno do aluno em sala de

articulação.

Documentos elaborados para pesquisa – questionário de formação do

professor regente e articulador, questionário de concepções sobre ensino e

aprendizagem da matemática e dificuldade de aprendizagem em matemática,

assim como entrevista realizada com professores regentes e professores

articuladores do 5º ano do Ensino Fundamental.

Apresentamos a análise por escola, iniciando por:

Projeto político pedagógico.

83

Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática das professoras

regentes e das professoras articuladoras.

Concepções de DAM das professoras regentes e das professoras

articuladoras.

Como as professoras regentes e articuladoras percebem a sala de

articulação.

Conteúdos matemáticos presentes nas fichas de encaminhamento para

articulação, preenchidas pela professora regente.

Encaminhamentos e organização dos alunos, segundo articuladora.

Como as DAM são tratadas no plano de aula da professora articuladora

Relatório por aluno preenchido pela professora regente.

Abordagem matemática presente nos cadernos de sala de articulação.

Salientamos que as entrevistas são analisadas juntamente com os questionários.

Reforçamos que não temos a pretensão de julgar a maneira como a escola, no

geral, trata o tema dificuldade de aprendizagem em matemática e o ensino e

aprendizagem da matemática, mas procuramos à luz do referencial estabelecido,

juntamente com todos os instrumentos apresentados nessa pesquisa, estabelecer um

diálogo entre pesquisador e sujeitos com intuito de atingir os objetivos específicos dessa

pesquisa, que são:

Identificar as principais DAM de alunos do 5ºano do Ensino

Fundamental, causas da DAM e concepções de ensino e de aprendizagem,

apontadas pelos professores regentes.

Conhecer às concepções de ensino e de aprendizagem Matemática e

possíveis causas das DAM, segundo professores articuladores.

Comparar e analisar as DAM dos alunos apontadas pelos professores

regentes, com o diagnóstico do articulador.

Investigar como as DAM são sistematizadas pelo professor articulador.

Analisar as atividades desenvolvidas em sala de articulação, presentes

nos cadernos dos alunos.

84

5.1 ESCOLA PARDAL

A Escola Pardal está situada em bairro periférico de Cuiabá, MT. As salas de

aula estão situadas em dois amplos corredores, divididos pela área de refeição.

Apresenta ampla biblioteca e uma sala de articulação em parte do espaço destinado ao

estacionamento, o que é inadequado ao aprendizado devido ao movimento de entrada e

saída de veículos.

Sua fundação data do ano de 1987, atendendo apenas alunos de 1ª a 4ª série do

Ensino Fundamental e foi ampliando, ao longo dos anos, pela demanda da sociedade.

Atualmente, a escola funciona nos três turnos:

Matutino – I e II ciclos do Ensino Fundamental.

Vespertino – I, II e III ciclos.

Noturno – Educação de Jovens e Adultos, Ensino Fundamental e Ensino

Médio.

Para o 5ºano do Ensino Fundamental são oferecidas três turmas no período

vespertino, com professoras unidocentes, somente do sexo feminino, e com uma média

de 29 alunos por turma. Quanto ao professor articulador, são duas professoras

Pedagogas que acompanham alunos considerados, em dificuldade de aprendizagem em

Português e/ou Matemática, em horário inverso ao ano/série que o aluno está

matriculado. Uma professora articuladora é responsável por alunos matriculados até o 5º

ano e a outra professora para acompanhamento de alunos a partir do 6º ano do Ensino

Fundamental.

5.1.1 O que diz o Projeto Político Pedagógico da escola Pardal em relação às

dificuldades de aprendizagem

O Projeto Político Pedagógico (PPP) fornecido pela escola data do ano de

2009. Questionamos se não há atualização desse projeto pela escola, pois até o ano de

2013 são 4 anos e no decorrer desses anos novos encaminhamentos foram propostos, no

85

âmbito educacional. Entendemos que não ter um PPP atualizado torna-se um ponto

negativo para educação, pois perde sua função norteadora para com os objetivos

educacionais da escola, uma vez já defasados.

Logo na introdução do referido projeto, há ênfase no desenvolvimento da

leitura e escrita dos alunos e citam a busca periódica da participação da família para

integrá-los nos avanços e dificuldades na aprendizagem dos alunos.

Na descrição do espaço físico da escola, não há menção se existe uma sala

específica para ação do professor articulador. No entanto, em conversa informal com a

professora articuladora, esta relatou que foi construída uma sala ao lado do portão de

entrada da escola, onde há o estacionamento. É uma sala pequena, mas há um acordo:

cada professor, pode enviar uma média de dez alunos para sala de articulação. Assim, a

articuladora organiza o horário de atendimento ao grupo.

Percebemos que, a todo momento, o projeto político defende o ensino e a

aprendizagem seguindo a abordagem construtivista, em que tem, como princípio,

favorecer o desenvolvimento do aluno na apropriação do conhecimento produzido

historicamente, através de um trabalho coletivo, entre escola e sociedade. Para

confirmar a tendência da escola para essa abordagem de ensino e aprendizagem,

destacamos algumas palavras presentes no documento, como: diálogo, interação,

autonomia, cidadania, participação e criticidade.

O presente documento é bem delimitado quanto a organização, administração,

setores, funções, objetivos principais, conselhos e o aspecto pedagógico. No item sobre

avaliação, consta que a avaliação deve ser contínua, utilizada como instrumento

reflexivo do professor e que este deve propor práticas pedagógicas inovadoras e

diversificadas para o aluno. Assim, para dificuldades dos alunos, a escola propõe

“atividades complementares orientadas, pesquisas e provas, além de aulas de reforço e

estudo em grupo com professor articulador” (PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO

DA ESCOLA ESTADUAL PARDAL, 2009, p.91-92).

A escola aposta em diferentes abordagens, para que o aluno avance em suas

aprendizagens. Na avaliação, os aspectos quantitativos e qualitativos devem ser

considerados e socializados por relatórios. Quando os resultados das avaliações são

abaixo do esperado, o documento afirma que a equipe pedagógica deve planejar

intervenções adequadas para que o professor articulador possa sanar as dificuldades dos

86

alunos. Ainda, em relação aos alunos, que não atingem ao mínimo esperado, há uma

classificação (comum a todas as escolas estaduais de Mato Grosso) denominada

retenção ao final do ciclo (RFC); neste caso, deve ser elaborado um plano de apoio

pedagógico entre professor regente, professor articulador e coordenador para sanar as

dificuldades do aluno e, que o mesmo possa avançar no ciclo.

Destacamos que o documento enfatiza o trabalho conjunto entre, professores

regentes, articuladores e coordenação pedagógica nas ações didático-pedagógicas. No

entanto, para o termo dificuldades de aprendizagem não há uma discussão sobre o que

entendem pelo assunto, o que atribuem suas causas ou especificações do tipo de

propostas para o 5ºano do Ensino Fundamental. Apenas para o ensino noturno: como

solucionar o problema das evasões. Quanto ao Ensino Fundamental, não há menção em

relação ao quantitativo de alunos em dificuldade de aprendizagem.

Em conversa informal com as duas professoras articuladoras da escola, no ano

de 2013, as mesmas relataram que um obstáculo a ser superado é o número expressivo

de alunos que não comparecem ao apoio pedagógico desenvolvido pelas professoras

articuladoras. O atendimento é no contra turno ao que o aluno está matriculado, sendo

que, existe um projeto com diferentes atividades, o qual o aluno acaba não

comparecendo a sala de articulação para participar do projeto que contempla atividades

como: xadrez, dança e esportes variados. A escola já enviou notificações aos familiares

dos alunos, mas não houve sucesso como o esperado. Outro elemento evidenciado na

conversa com as professoras articuladoras foi a falta de trabalho conjunto com os

professores regentes e a ausência de apoio da coordenação.

A partir da leitura do projeto político pedagógico da escola, e conversa com as

professoras articuladoras, já podemos inferir que existe uma distância entre o proposto

no documento, em relação às práticas realizadas na escola. Sendo assim, parece que o

documento apenas serve para atender a uma exigência burocrática, o que limita sua

função, já que é um instrumento norteador para atividades didático-pedagógicas

realizadas na escola. Durante o estágio de docência, no curso de Pedagogia/UFMT e em

pesquisas realizadas pelo GRUEPEM/UFMT percebemos que essa evidência não é

específica dessa escola, pois boa parte dos professores desconhecem o conteúdo

presente no PPP e sua importância.

87

As avaliações em matemática têm atingido resultados abaixo do esperado e,

como o PPP é um documento norteador para ações pedagógicas, o documento apresenta

fragilidade quanto ao ensino e aprendizagem da matemática e em relação aos alunos em

situação de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática.

5.1.2 Concepções de professoras regente e articuladora, da escola Pardal, quanto

ao ensino e aprendizagem da matemática

Para esse item, buscamos conhecer as concepções de ensino e aprendizagem da

professora regente e professora articuladora de 5ºano do Ensino Fundamental, da escola

Pardal. Dividimos a apresentação dos dados e análise dos mesmos, em dois tópicos:

concepções da professora regente, Lidia, e o segundo tópico, com concepções da

professora articuladora, Ana.

Concepções de ensino e aprendizagem da matemática, segundo

professora regente

Quadro 7: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

regente (Lidia)

Questão Resposta

O quê é Matemática pra você?

Não respondeu

Em sua opinião, é importante ensinar Matemática,

por quê?

Sim, porque a matemática faz parte do nosso

cotidiano e da vida das pessoas.

Qual seu objetivo em ensinar Matemática aos seus

alunos?

Meu objetivo de ensinar matemática para meus

alunos é para eles reconhecerem, identificarem e

interagirem com a sociedade.

Qual a melhor maneira para ensinar Matemática?

Acredito eu, que não se tem uma receita para

ensinar, mas posso afirmar que a melhor forma de

ensinar é através do lúdico, do concreto.

88

Questão Resposta

Qual a melhor maneira de aprender Matemática?

Através de brincadeiras, jogos é uma forma mais

divertida de se aprender.

Fonte: OBEDUC/UFMT

As respostas da professora, Lidia, quanto ao ensino e aprendizagem da

matemática, tende a abordagem construtivista quando considera que a matemática deve

ser ensinada na escola por ser parte do ambiente circundante. Além disso, a professora

destaca a necessidade da matemática para vida em sociedade. Essas respostas vão ao

encontro, em parte, do nosso entendimento que a matemática é uma ciência humana,

dinâmica e histórica.

Lidia demonstrou não compreender claramente a importância de abordar a

matemática na escola, mesmo que suas respostas estejam voltadas para abrodagem

construtivista, pois percebemos que quanto a relação professor aluno, as respostas da

professora nos deixa intrigados se há verticalidade nessa relação. Parece que o professor

ensina e o aluno aprende, não havendo interação entre os dois. Para Silva (2009) ao

trazer contribuições de Bernard Charlot [...] ‘o sujeito se constrói pela apropriação de

um patrimônio humano’, que se apresenta a ela sob certas formas sociais e culturais.

Resumidamente: só há sentido do desejo, mas o objeto do desejo é social e histórico

(SILVA, 2009, p.25).

A professora enfatiza, a utilização de materiais manipuláveis para o ensino da

matemática. Será que só, assim, se ensina a Matemática? É interessante aprofundar mais

nesse aspecto, para percebermos, até que ponto, apenas utilização de materiais

manipuláveis é necessária para a mobilização dos alunos com conceitos matemáticos e

sistematização destes.

Entendemos que a abordagem de instrumentos próprios da sociedade, nas

ações didático-pedagógicas, pode favorecer a relação de identidade dos alunos com

esses instrumentos e melhor compreensão da linguagem matemática. No entanto, é

importante o domínio dos conceitos matemáticos para que se atinja aos objetivos em

utilizá-los, pois, seu uso inadequado pode vir a interferir negativamente na

aprendizagem da matemática.

89

Concepções de ensino e aprendizagem da matemática, segundo

professora articuladora (Ana)

Quadro 8: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

articuldora (Ana)

Pergunta Resposta

Qual a finalidade da matemática no currículo

escolar?

Ajudar a compreender situações envolvendo as

operações de matemática.

Como o aluno aprende Matemática?

O aluno aprende matemática no dia-a-dia, na

convivência. Através de número de telefone,

número da casa onde mora, quantidade de pessoas

que conversa etc.

Como você ensina Matemática? Gosto de ensinar matemática com objetos

concretos

Você apresenta alguma dificuldade para ensinar

algum conteúdo matemático? Quais? Sim, multiplicação e divisão

Fonte: Dados do questionário elaborados pelas autoras, a articuladora

Geralmente, as professoras regentes indicam seus alunos de 5ºano do Ensino

Fundamental, para sala de articulação, para o avanço destes nas quatro operações e

frações. Em questionário aplicado a professora articuladora, Ana, a mesma afirmou ter

dificuldades em ensinar multiplicação e divisão. Retomamos a importância do domínio

da teoria para abordagem em sala. Se o professor não tiver clareza de como abordar

conteúdos, a aprendizagem fica comprometida e dificulta a progressão de conceitos.

Percebemos que a professora articuladora, Ana, apresenta dificuldade em

definir a finalidade da matemática no currículo, mas existe uma tentativa de

aproximação, tendendo ao entendimento da finalidade da matemática escolar, como

meio para melhor compreensão de situações vivenciadas no dia-a-dia. Esse

entendimento da professora é confirmado, quando ela afirma que o aluno aprende

matemática na convivência, no dia-a-dia. Desse modo, podemos inferir que para a

professora, a matemática escolar auxilia o aluno a sistematizar seu conhecimento

matemático vivenciado em suas relações com o outro, com o meio.

Quanto, a como a professora Ana ensina matemática, esta prefere ensinar com

materiais manipulativos. Sua resposta, se aproxima do entendimento da professora

90

regente (Lidia) e tem permeado a concepção de boa parte dos professores, quando

questionados em relação, a melhor maneira de ensinar e aprender matemática. Essas

Respostas nos permitem questionar, até que ponto essas professoras conhecem as

potencialidades dos materiais utilizados na aprendizagem da matemática e domínio na

utilização destes? Ou apenas reproduzem respostas com tentativa de corresponderem a

uma compreensão voltada para uma abordagem de ensino e aprendizagem

construtivista? “Experiências mostram que o uso de material variado contribui para

aquisição dos conceitos [...]” (BITTAR; FREITAS; PAIS. 2013, p.27) e sua substituição

deve ser gradual.

Reforçamos que não basta, ao professor, dizer que utiliza objetos em sala para

o ensino da matemática, se não houver uma preparação para isso. Preparação esta, que

deve começar por estudar conteúdos matemáticos e ter domínios destes, além de

explorar as possíveis potencialidades de utilização de materiais manipulativos, para que

os alunos possam apropriar-se dos conceitos matemáticos.

Desse modo, é importante um planejamento com objetivos bem definidos para

se alcançar o que se espera sem perder o foco, pois nessa relação do aluno com objeto,

se bem conduzida pelo professor, permite que conhecimentos do senso comum se

transformem em conhecimento científico, pelo aluno.

5.1.3 O que os professores entendem sobre Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática

Para este item e com foco em nosso tema, dificuldade de aprendizagem em

matemática, os dados coletados no questionário e na entrevista foram cruzados para

melhor compreensão das concepções da professora regente e da professora

articuladora do 5ºano do Ensino Fundamental. Ressaltamos que a entrevista foi

realizada após aplicação do questionário em datas distintas.

Concepções de Dificuldade de aprendizagem em matemática,

segundo professora regente

91

Quadro 9: Concepções de Dificuldade de aprendizagem em Matemática, segundo

professora regente (Lidia)

Questão Resposta

Você encontra dificuldades para ensinar os

conteúdos de Matemática? Quais?

Às vezes. O que eu tenho mais dificuldades é

peso, massa e medidas.

Seus alunos apresentam dificuldades para aprender

Matemática? Quais? Por quê?

Alguns sim, fração ou qualquer exercício que

envolva as operações de multiplicação e divisão.

O que pode ser feito para ajuda-los a superar essas

dificuldades?

Tenho buscado apoio através dos meios

tecnológicos, como o computador para ajuda-los a

superar.

O quê você atribui ao baixo desempenho dos seus

alunos na Prova Brasil?

A falta de apoio familiar, nas atividades para casa.

Como você acha que a escola poderia contribuir

para que seus alunos tenham um melhor

desempenho na Prova Brasil?

Criar projetos que envolvam a comunidade escolar

e as famílias dos alunos, porque acredito que

muitos pais não ajudam por não saber também.

Fonte: OBEDUC/UFMT

O quadro 9, revela às concepções da professora regente quanto à dificuldade de

aprendizagem em Matemática. A professora regente respondeu que apresenta

dificuldades em ensinar matemática quando aborda os conteúdos de grandezas e

medidas. Se compararmos com o desempenho no simulado6 de 5ºano do E.F/2013

aplicado pelo OBEDUC/UFMT, de quatro alunos indicados para articulação, para o

mesmo bloco de conteúdos, os quais a professora considera ter dificuldades,

percebemos que para um total de 7 questões, em média, apenas 3 acertos. Esse simulado

é composto por questões objetivas.

Questionamos se esse resultado, pouco atrativo, pode estar relacionado à

dificuldade do professor em ensinar esses conteúdos, levando o aluno a não ter clareza

quanto aos conceitos ou a abordagem em sala, para grandezas e medidas ou ao modo de

6 Simulado de Matemática do 5ºano do Ensino Fundamental, disponível em:

<http://www.portal.inep.gov.br/web/saeb/downloads>. Acesso em: 26 jan.2013.

92

apresentação desse conteúdo, nas avaliações externas. Desse modo, o aluno acumula

incompreensões e não obtém resultados melhores.

Quanto às dificuldades de aprendizagem em Matemática, dos alunos, a

professora enfatiza a dificuldade de aprendizagem em frações e das operações que

envolvam multiplicação e divisão. Curiosamente, não houve menção ao conteúdo de

grandezas e medidas, conteúdos os quais, a professora disse apresentar dificuldades em

ensinar. Possivelmente, ela ainda não tinha abordado esse conteúdo em sala de aula, no

ano letivo de 2013.

Em entrevista, quando questionada em relação às causas das DAM e conteúdos

que os alunos encaminhados para articulação têm mais dificuldades, a professora

respondeu que os alunos têm dificuldades em divisão e na interpretação de problemas.

Mais tarde, na mesma entrevista, quanto aos conteúdos matemáticos que os alunos

apresentam mais dificuldades, a professora disse que “geralmente eles apresentam

dificuldades mais onde o professor tem. Que é meu caso.” A resposta nos causou

surpresa, pois o professor é tão cobrado em ter que saber de tudo, que quando assume

essa postura, nos causa certo estranhamento.

Sou Pedagoga, não sou formada em matemática, então não posso negar, não

posso falar que não tenho dificuldade e não posso falar que tenho dificuldade

porque sou professora. Eu não aprendi isso na faculdade. A gente não tem

noção nenhuma do que vai trabalhar em sala de aula. O conhecimento que

estou aplicando com meus alunos foi de décadas atrás. Então a matéria que os

alunos têm mais dificuldades é onde eu tenho que é transformar medidas, peso,

massa (falas da professora Lidia, em entrevista).

A professora revela ter consciência de seus limites e não aprendizagem de

conteúdos matemáticos, o que é positivo, pois demonstra que existe reflexão sobre sua

prática, em sala de aula. A postura da professora reforça a importância em assumir uma

posição de professor pesquisador, para refletir sobre suas ações didático-pedagógicas e

buscar com estudos, planejamentos para atingir aos objetivos almejados. Nessa reflexão

da professora, é possível identificarmos tanto concepção de ensino e aprendizagem,

quanto causas das DAM de seus alunos, pois quando diz que, “O conhecimento que

estou aplicando com meus alunos foi de décadas atrás”, provavelmente, suas ações em

sala estão referendadas em um ensino bem próximo ao que aprendeu na educação

básica, suscitando, assim, uma abordagem mais tradicional de ensino da Matemática.

93

As falas da professora, nos remete a formação inicial em Pedagogia e formação

continuada, que precisam repensar o ensino e aprendizagem da matemática para os anos

iniciais do Ensino Fundamental.

A professora, também, faz menção às ações propostas pelo OBEDUC/UFMT

que veem contribuindo tanto em sua formação quanto nas intervenções com os alunos.

“Aprendo para passar aos alunos.” É um projeto que tem contribuído bastante nas

escolas que tem vínculo, mas e as outras escolas que não são parceiras do projeto?

Declarações como essa revelam que os professores precisam de um apoio pedagógico

tanto dentro da escola, como um olhar mais atencioso das secretarias e instituições

educacionais, afim de que haja melhora no ensino e aprendizagem dos alunos.

Mais uma vez repetimos a pergunta em relação às causas das DAM e a

professora remeteu as causas ao aspecto psicológico dos alunos, a falta de

acompanhamento da família e a falta de comprometimento do professor. Interessante,

que a professora traz mais um elemento possível de ser causa para explicar as

dificuldades de aprendizagem em matemática dos alunos, indo além do que a

abordagem tradicional considera. Nesta, as causas das dificuldades de aprendizagem em

matemática estão centradas no aluno e no meio social. Sendo assim, para causas das

DAM dos alunos, essa professora transita entre as duas abordagens por também remeter

as dificuldades, às ações didático-pedagógicas propostas pelo professor em sala de aula.

A professora Lidia atribuiu o baixo desempenho na prova Brasil a falta de

apoio da família, nas atividades matemáticas propostas, para serem desenvolvidas em

casa. A resposta da professora em atribuir à família o baixo desempenho dos alunos, nas

avaliações externas, remete às discussões nas décadas de 70 e 80, quanto ao fracasso

escolar, em que alguns teóricos sustentavam ser “um fenômeno social decorrente das

desigualdades na sociedade capitalista. Conforme essa interpretação, a escola contribui

bastante para reproduzir na geração dos filhos as desigualdades sociais que existem

entre os pais” (SILVA, 2009, p.20).

Não defendemos que fracasso escolar seja sinônimo de dificuldade de

aprendizagem. Entendemos que o fracasso é consequência de acúmulo de

incompreensões e outros elementos que interferem na aprendizagem do aluno, o que

pode até resultar em evasão escolar.

94

O fato de alguns familiares não terem compreensão de alguns conceitos

matemáticos, para auxílio nas atividades para casa, dos alunos, não invalida suas

aprendizagens ao ponto de “se tornarem” alunos em situação de dificuldade de

aprendizagem em matemática. Consideramos como uma tendência ao modelo

tradicional de ensino, em que há atribuição de causa à família, em detrimento de lacunas

conceituais em conteúdos matemáticos, por parte de alguns docentes.

Quanto ao procedimento utilizado pela professora quando percebe dificuldades

de aprendizagem em matemática, Lidia busca estratégias, como o uso de tecnologias.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino da matemática apresenta alguns

objetivos relacionados ao que o aluno deve atingir no Ensino Fundamental; dentre eles

destacamos que o aluno deve “saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos

tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos” (BRASIL, 1997, p.6). Nos dias

atuais, nossa sociedade está fortemente ligada às tecnologias de informação e é

importante que a escola utilize esses meios de maneira significativa e motivadora no

processo de ensino e aprendizagem. Como tecnologia de informação, podemos destacar:

computador, calculadora, tablet, vídeo e lousa digital.

O computador pode ser usado como elemento de apoio para o ensino (banco de

dados, elementos visuais), mas também como fonte de aprendizagem e como

ferramenta para o desenvolvimento de habilidades. O trabalho com o

computador pode ensinar o aluno a aprender com seus erros e a aprender junto

com seus colegas, trocando suas produções e comparando-as (BRASIL, 1997,

p.35).

Para mesma pergunta realizada em entrevista, a mesma respondeu que procura

realizar um ensino individualizado, com explicação mais cautelosa. A professora

também citou que utiliza apoio dos alunos monitores (melhores alunos da sala de aula),

pois entende que “o linguajar de um colega é muito mais fácil para ele aprender.”

Desse modo, existe, na fala da professora, oscilação entre as duas abordagens que temos

como categorias, nessa pesquisa.

Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática,

segundo professora articuladora.

95

Quadro 10: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática, segundo

professora articuladora (Ana)

Pergunta Resposta

Quais são, na sua opinião, as principais

dificuldades de aprendizagem que apresentam os

alunos com os quais você trabalha?

Os alunos encaminhados para sala de articulação

têm muita dificuldade em concentração.

A que causas você atribui estas dificuldades? Falta de concentração.

Quais características, comportamentos apresentam

esses alunos?

Não concentra nas atividades propostas, assim o

aluno acaba não fazendo ou respondendo errado.

Fonte: Dados do questionário elaborado pelas autoras para articulador

As respostas da professora Ana em relação às dificuldades de aprendizagem,

evidenciam similaridade entre: dificuldades de aprendizagem dos alunos; as causas;

características comportamentais em sala de articulação. Considerando, que a palavra

concentração permeia todas as respostas, nos demonstra certo equívoco quanto ao

entendimento dessas questões.

De acordo com pesquisas desenvolvidas pelo GRUEPEM/UFMT, em

2012/2013, destacamos que os professores, participantes da pesquisa, consideram que as

causas das Dificuldades de aprendizagem em Matemática estão relacionadas às atitudes,

motivação dessas crianças, meio social os quais estão inseridas e participação da família

na aprendizagem escolar dos seus filhos. Interessante ressaltar que esses dados

coletados no ano de 2012 vão ao encontro dos resultados das pesquisas desenvolvidas

por Collares e Moysés (1996) e Patto (1993), na década de 80. Sendo assim, a resposta

da professora Ana nos remete aos dados obtidos na década de 80.

Contudo, nos cabe investigar, mais profundamente, as evidentes concepções

desta professora, por meio de entrevista, ao tema em estudo. A partir desses novos

dados poderemos nos aproximar do real entendimento do professor.

Em entrevista, a professora foi questionada quanto ao que entende sobre DAM

e, a mesma remeteu aos conteúdos das quatro operações, confirmando não ter clareza

conceitual quanto às DAM. Já para as possíveis causas das DAM, Ana considera que

seja falta de concentração do aluno e por ele não ter interesse em aprender, assim como

respondido na ocasião do questionário.

96

O posicionamento da professora articuladora em relação à conceito, causas e

conteúdos relacionados às DAM dos alunos, emergem a fragilidade conceitual de

elementos que envolvem às DAM e, possivelmente, a falta de conhecimento sobre

DAM também está presente, na concepção de outros professores articuladores. O apoio

aos alunos em situação de DAM, já necessita de uma abordagem diferenciada e

delicada, para que eles não percam o estímulo em aprendizagens futuras. E a escolha do

professor, para esse ambiente, também deve contemplar conhecimento das

especificidades desse espaço. Para isso, é importante que o professor compreenda

diferentes maneiras de abordagem do conteúdo e aspectos relacionados às DA.

5.1.4 Como os professores percebem a sala de articulação da aprendizagem

A sala de articulação é um importante espaço na proposta de ciclo das escolas

Estaduais de Mato Grosso, pois possibilita o desenvolvimento de atividades afim de que

o aluno possa avançar em suas aprendizagens, em sala de aula, com o professor regente.

Sendo assim, é extremamente necessário que professora articuladora e professora

regente trabalhem juntas na elaboração de estratégias, de modo que, os alunos em

situação de dificuldade de aprendizagem, possam compreender os conteúdos e

acompanhar as atividades desenvolvidas em sala. Assim, para esse item, procuramos

conhecer como os professores percebem esse espaço.

Percepção da sala de articulação, segundo professora regente (Lidia)

Quadro 11: Percepção da sala de articulação, segundo professora regente (Lidia)

Pergunta Resposta

Como você vê a sala de articulação? Acredito que a profissional que esteja lá é muito

boa. O que eu vejo dessa sala de articulação que

não vejo tanto resultado é devido aos alunos que

não participam. As mães não têm compromisso de

mandar seus filhos para articulação. Não vejo

resultado nessa sala de articulação, mas não pelo

profissional, mas pela família e pelo próprio aluno

que não tem vontade de aprender.

A sala de articulação contribui desde que o aluno

97

Pergunta Resposta

participe. Por ser no contra turno, os alunos não

veem.

Fonte: Dados da entrevista realizada com a professora Lidia, da escola Pardal.

Mais uma vez, a professora regente, remete a falta de resultados positivos na

articulação, ao pouco envolvimento da família. A família, então, é responsável pela

ausência dos alunos na sala de articulação.

A sala de articulação é importante para o ciclo de formação humana. No

entanto, existe um obstáculo a ser superado que, provavelmente, seja convencer a

família que é importante para aprendizagem do aluno e, que este precisa ter o

compromisso em ser frequente, nesse espaço de aprendizagem. Segundo Mato Grosso

(2001), é de responsabilidade da escola manter diálogo com a família e com o aluno

ressaltando a relevância desse espaço para aprendizagem e, somando ao trabalho

realizado em sala de aula, com o professor regente.

Mesmo assim, é preciso que as ações realizadas em articulação sejam

mobilizadoras para o aluno, caso contrário, o objetivo maior de superação das

dificuldades de aprendizagem será mais difícil de ser alcançado.

Quando a professora diz que “Acredito que a profissional que esteja lá é muito

boa.” Deixa dúvidas se há uma relação entre elas, trocas, pois parece que têm pouco

contato, mas na ocasião da entrevista, a professora revelou que só tem contato com a

professora articuladora quando, ela comunica que os alunos estão faltando as aulas de

apoio. “Acredito que ela também faça uma sondagem e veja a dificuldade do aluno e

trabalha onde está.” Sua resposta indica que, realmente, elas não têm contato na

elaboração de atividades para os alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em

matemática, pois nem sabem como a articuladora procede e encaminha suas ações.

Possivelmente, a professora regente também não tenha conhecimento dos conteúdos

explorados pela articuladora.

Entendemos que, para o sucesso do ciclo de formação humana, dentre vários

objetivos, é importante que haja planejamento em conjunto dos professores de cada

ciclo e, com a sala de articulação não é diferente. Nesse trabalho em conjunto é

98

essencial a participação do coordenador pedagógico no encaminhamento das ações

didático-pedagógicas.

Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora

(Ana)

Quadro 12: Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora (Ana)

Pergunta Resposta

Como você vê a sala de articulação?

Uma sala diferenciada de uma sala normal. Uma

sala onde vamos fazer um trabalho individual,

atuando na dificuldade específica de cada aluno.

Ser professora articuladora foi sua escolha? O que

levou a assumir?

No meu caso sim. Pela contagem de pontos. Não

conhecia o trabalho na sala de articulação e os

professores foram me ajudando.

Como é o processo de avaliação desse aluno? Faço avaliação todos os dias com as atividades

diferenciadas

Existe um registro de avaliação da sala de

articulação?

Sim. Relatório semestral que passo a coordenação

e esta encaminha ao professor regente.

Você tem formação para lidar com DAM? Na área da matemática não.

Existe apoio da SEDUC aos professores

articuladores com formação continuada?

Pela Seduc nunca vi. Já fiz cursos na área da

matemática, mas em instituição particular. Quem

me ajuda é a outra professora articuladora e a

coordenadora.

Fonte: Dados da entrevista realizada com a professora articuladora, da escola Pardal.

A partir dos dados presentes no quadro 12, é possível extrair alguns elementos

relevantes para sala de articulação como as fichas de encaminhamento preenchidas pelo

professor regente, relatórios, relação professor articulador e regente.

Quando questionada da escolha ou não por ser professora articuladora, a

professora disse que foi por contagem de pontos e não conhecia o trabalho realizado em

sala de articulação. Essa resposta nos deixa intrigados, porque a professora trabalha a

quatro anos como professora, e não conhecia a sala de articulação? Torna-se um ponto

negativo para esse espaço tão singular e, para o professor que parece não conhecer o que

dizem os documentos oficiais para o apoio a alunos em situação de dificuldade de

aprendizagem.

99

No entanto, a professora percebe a sala de articulação como “Uma sala

diferenciada de uma sala normal. Uma sala onde vamos fazer um trabalho individual,

atuando na dificuldade específica de cada aluno.” Como a professora disse não

conhecer o trabalho realizado nesse espaço, sua percepção inicial indica que é preciso

um olhar sensível para essa sala.

Sendo assim, esse espaço apresenta algumas especificidades para que haja

mobilização dos alunos para aprendizagem. Ao professor articulador cabe conhecer o

que o professor regente vem apresentando em sala tanto em conteúdo quanto em

atividades propostas para diversificar em estratégias levando em consideração as

singularidades de cada aluno para encaminhamentos mais adequados.

A escola parece responder, em parte, ao que o documento norteador para

articulação indica, pois a professora revela que a escola preza por alguns documentos,

como o relatório semestral e o planejamento; ela disse que tem, mas não é em conjunto.

As respostas da professora articuladora indicam que, tanto em relação aos

documentos importantes para conhecer as dificuldades dos alunos e estratégias de

avanço na aprendizagem da matemática, quanto para formação continuada em

matemática desses articuladores estão fragilizados pela falta de olhar mais atencioso da

coordenação da escola e da Secretaria de Educação de Mato Grosso.

5.1.5 Conteúdos de Matemática revelados nas fichas de encaminhamento para sala

de articulação

As fichas de encaminhamento para articulação são preenchidas pelo professor

regente e encaminhadas para a articuladora de aprendizagem e estão estruturadas da

seguinte maneira:

Timbre da escola, secretaria de educação de Mato Grosso (Seduc) e

Governo do Estado de Mato Grosso.

Identificação com nome da escola, nome do professor regente, nome do

aluno e turma em que o aluno está matriculado.

100

Nível de Alfabetização.

Dificuldade de aprendizagem apresentadas quanto à Linguagem e à

Matemática.

Intervenções já realizadas em Linguagem e Matemática.

Assinatura do professor regente e da coordenação pedagógica.

Data.

Como há um número expressivo de alunos que não comparecem assiduamente

aos encontros com a articuladora, selecionamos, a princípio, documentos de quatro

alunos que são mais frequentes e que participaram do simulados junto ao projeto

Observatório da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências/ UFMT.

Os quatro alunos são da mesma turma e em suas fichas constam que

apresentam, praticamente, as mesmas dificuldades de aprendizagem tanto em

Linguagem, quanto em Matemática. Apenas há variação em uma das quatro operações

fundamentais. A seguir, apresentamos as dificuldades dos alunos de 5º ano do Ensino

Fundamental, da mesma turma, consideradas por seu professor regente, da escola

Pardal:

Tabela 1: Conteúdos de Matemática, de maior dificuldade dos alunos encaminhados

para sala de articulação, segundo professora regente (Lidia)

Aluno Conteúdos de Matemática

Bianca Adição, subtração, divisão, multiplicação e fração.

Fábio Multiplicação, divisão e fração.

Heitor Adição, subtração, divisão, multiplicação e fração

João Subtração (conta de emprestar), multiplicação, divisão e fração.

Fonte: dados da pesquisa

Nessas fichas, percebemos que os professores indicam os alunos, basicamente,

para que haja apoio pedagógico nas quatro operações fundamentais e frações. Essa

indicação está em concordância com questionário aplicado ao professor em relação a

dificuldade de aprendizagem em Matemática dos seus alunos. Porém, quanto ao

resultado do simulado aplicado aos alunos, destacamos que as intervenções devem

favorecer os blocos de espaço e forma, grandezas e medidas e tecnologia da informação.

101

Para um total de 22 questões propostas no simulado OBEDUC/UFMT, apenas

a aluna Bianca não atingiu 50% do total de acertos. Mesmo assim, os resultados desses

alunos estão abaixo do esperado. O Simulado contemplou os quatro blocos de

conteúdos para Ensino Fundamental (espaço e forma, grandezas e medidas, números e

operações/álgebra e funções e tratamento da informação) e maior concentração de

questões para números e operações/álgebra e funções. Este é o bloco em que

corresponde às dificuldades evidenciadas na ficha de encaminhamento e de maior erro

dos alunos, mas entendemos, que na articulação, não é necessário a abordagem apenas

de um bloco de conteúdo. Questionamos se os alunos não têm dificuldades nos outros

blocos, o que não foi evidenciado no simulado, ou se a professora regente enfatiza

quatro operações e frações no Ensino Fundamental, em detrimento dos demais

conteúdos.

5.1.6 Encaminhamentos e organização dos alunos em dificuldade de aprendizagem

em Matemática, segundo a professora articuladora

Para esse item, apresentamos os encaminhamentos da professora articuladora,

como as DAM são tratadas no plano de aula da articuladora e relatório por aluno

elaborado pela professora articuladora.

Quadro 13: Encaminhamentos para sala de articulação, segundo professora articuladora

(Ana)

Pergunta Resposta

Quais são os motivos dos professores que

encaminham os alunos considerados com DAM,

para articulação

Dificuldades em problemas de multiplicação,

dificuldade de concentração para interpretar

problemas.

Há algum encaminhamento oficial, documentos,

fichas ou algo equivalente as dificuldades dos

alunos e sugestões de atendimento pelo professor

regente?

Sim, antes de começar o atendimento na sala de

articulação, o professor regente preenche uma

ficha de encaminhamento indicando o nível

alfabético do aluno e as dificuldades de

aprendizagem, apresentadas em linguagem e

matemática.

Há algum tipo de encaminhamento feito pelo

coordenador pedagógico ou coordenador do ciclo?

Não respondeu.

102

Pergunta Resposta

Como os professores regentes acompanham seus

alunos enquanto estão com você?

Na hora atividade, perguntando sobre a frequência

e o desenvolvimento acompanhado pela

articuladora.

Fonte: Dados do questionário elaborado pelas autoras para articuladora

A professora articuladora, ao ser questionada quanto a que os professores

regentes atribuem às dificuldades dos alunos, respondeu que os alunos têm dificuldade

na operação de multiplicação e falta de concentração em interpretar problemas. A

resposta da articuladora não está equivalente ao respondido pelos professores e nem às

atividades propostas em sala de articulação. Os professores encaminharam os alunos

com dificuldades nas operações e frações e a articuladora apenas citou uma das

operações. Como os alunos foram encaminhados com falta de concentração na

resolução de problemas, consideramos que deveriam ser explorados na articulação, mas

não é o que veremos mais a frente nas atividades propostas de Matemática, nos

cadernos dos alunos, em articulação.

Na segunda pergunta em relação a documentos, a articuladora afirmou que o

professor regente preenche uma ficha para articulação, contendo as dificuldades dos

alunos. De fato, na portaria Nº 453/11/GS/SEDUC/MT, em que dispõe sobre as

atribuições do professor articulador, consta a necessidade de relatório individual

preenchido pelo professor regente e plano de intervenção pedagógica, também

produzido pelo professor regente. Na prática, a articuladora apresentou apenas fichas de

encaminhamento, conforme o já exposto, e que constam somente dados gerais dos

conteúdos. Dessa maneira, não fica claro ao professor articulador quais aspectos devem

ser explorados quanto às especificidades dos conteúdos, considerando que diferentes

conceitos devem ser desenvolvidos em sala de aula para cada um dos blocos de

conteúdos. Portanto, a professora articuladora não tem informações mais concisas

quanto às dificuldades dos alunos, nem acesso às propostas desenvolvidas em sala de

aula com o professor regente.

Em relação a algum documento expedido pela coordenação, a professora não

respondeu. A partir da falta de resposta, podemos levantar a hipótese de que há certo

distanciamento no que se refere ao acompanhamento da coordenação pedagógica aos

103

alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática, e na promoção de

trabalho conjunto entre professor regente e articulador.

Quanto à relação da articuladora com a professora regente, Ana, mais uma vez,

respondeu que existe um diálogo entre elas na hora atividade7 (momento de meio

período, em que os professores elaboram seus planejamentos, compartilham suas

experiências em sala de aula e dialogam em relação ao desenvolvimento cognitivo,

afetivo e comportamental) dos alunos. Mesmo assim, parece que não há um

aprofundamento do professor regente quanto ao proposto em articulação. Em entrevista

sobre sua relação com a professora regente, a professora respondeu que, “Uma vez por

semana no dia da hora-atividade, eu passo de sala em sala e vou conversando. Quando

os alunos estão faltando muito vou até o professor para saber como estão.” O encontro

em hora-atividade nos causa dúvida, pois para regente esse contato é apenas para

comunicar que alunos não comparecem em articulação. Compreendemos que para um

contato efetivo entre elas, deve haver intervenção da coordenação pedagógica da escola

para um planejamento conjunto. E pelas respostas da professora articuladora, parece que

a coordenação apenas repassa relatório preenchido pela articuladora à professora

regente.

Quadro 14: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Ana)

Pergunta Resposta

A partir do encaminhamento desses alunos, como

você procede?

As atividades são preparadas a partir do

desenvolvimento de cada aluno.

Como é organizado o atendimento para esses

alunos, como local, carga horária, número de

alunos/período, como seleciona o grupo e

materiais disponíveis?

Os alunos são atendidos duas vezes por semana,

por 3 horas cada dia. São separados por ano e por

dificuldades.

Quantos alunos de 5ºano do Ensino Fundamental

foram encaminhados para articulação, no ano de

2013?

Em 2013, 15 alunos foram encaminhados para sala

de articulação.

Como são planejadas as intervenções com esses

alunos? Os professores e os coordenadores

Particularmente, na minha hora-atividade, procuro

os professores regentes e pergunto como o aluno

7 Conforme Orientativo 2013 – Ciclos de formação humana, tempo destinado para estudo, análise de

situações de aprendizagem (planejamento, estudo de casos, relato de práticas, gestão da classe...) e para

produção de intervenções que contribuam para o avanço da aprendizagem e desenvolvimento do aluno

(MATO GROSSO, 2013, p.12 ).

104

Pergunta Resposta

planejam com você? está em sala e procuro planejar meu plano de

acordo com o professor.

Quando você percebe que algum aluno

encaminhado não está, de fato, em situação de

dificuldade de aprendizagem, como você procede?

Faço relatório indicando a situação do aluno e o

encaminho para sala de referência.

Fonte: Dados do questionário elaborado pelas autoras para articuladora

Notamos que a organização do atendimento em sala de articulação não se torna

tão eficaz quanto deveria, considerando que, a partir das respostas do questionário e das

visitas na escola, poucos alunos encaminhados para a sala de articulação ocupam este

espaço.

Outro dado que nos instiga é a fragilidade da escola como um todo, pois o

aluno não é da professora regente nem da articuladora, no entanto, deve haver um

trabalho conjunto entre essas professoras e coordenadores pedagógicos.

É interessante ressaltar que o número de alunos indicados para a articulação

está abaixo do número de alunos encaminhados para intervenção junto ao Projeto

OBEDUC com foco em iniciação às ciências e matemática. E na ocasião da entrevista,

em relação a sala de articulação, a professora regente também respondeu que “Estou

mesmo vendo resultado maravilhoso com a intervenção em sala de aula.” remetendo às

intervenções realizadas por alunas de graduação, do curso de Pedagogia da UFMT, que

apoiam a professora regente em suas ações em sala. Enfatizamos que este projeto visa

complementar o trabalho realizado nas escolas e não de substituir o papel dos

professores articuladores de 5º ano do Ensino Fundamental.

Como as dificuldades de aprendizagem em Matemática são tratadas

no plano de aula do professora articuladora

O plano de aula da professora articuladora, que nessa pesquisa chamamos de

Ana, está dividido em quatro partes que compreendem objetivos, conteúdos, estratégias

e avaliação. Nos objetivos, Anna utiliza os termos defasagem juntamente com

dificuldade na aprendizagem de Português e Matemática. E tem por intenção superar

105

essas dificuldades dos alunos com promoção de atendimento individualizado e, por

consequência, elevar a autoestima destes através de uma proposta mais lúdica.

Interessante a preocupação da professora com a autoestima dos alunos, para

além de só auxiliá-los na superação de suas dificuldades. Entendemos que várias

explicações podem contribuir para que alunos estejam em situação de dificuldade de

aprendizagem em matemática. Uma delas, que muitas vezes na escola pode ser

percebido como desinteresse, apatia ou mesmo “diagnosticado” como aluno hiperativo,

podem ser apenas atitudes de um aluno que não entende os motivos pelos quais não

avança na matemática e tende a se considerar um aluno “burro”, que é incapaz de

aprender matemática escolar.

Esse conceito, que o aluno tem de si, deve ser rapidamente percebido pelo

professor para revertê-lo o quanto antes que esse aluno entre em estado de latência, se

assim podemos considerar o potencial de aprendizagem encoberto, ou em repouso

devido a sucessivos insucessos na aprendizagem e, rotulagens no ambiente escolar, que

podem ser ampliados para relações sociais e afetivas, podendo ser dificilmente

revertido.

Para o item conteúdos, a professora destaca a abordagem de números,

numerais, leitura de números, problemas envolvendo as quatro operações e jogos

envolvendo a tabuada.

Quanto às estratégias desenvolvidas, a articuladora destacou em seu plano de

aula:

Fichas para leituras e cartazes.

Histórias: a professora destaca que serão lidas e contadas por ela.

Organização de textos.

Leituras: jornal, poesia, receita, bula, folder, propaganda.

Recortes, pinturas, jogos, colagem, música.

Podemos perceber que o material que a professora qualifica como estratégias,

são recursos ou materiais didáticos. Para estratégias, seria interessante que ela

explicasse a ação realizada com utilização desses materiais.

106

No último item de seu plano de aula, Ana, apresenta que a avaliação dos alunos

será contínua e que as atividades serão elaboradas levando em consideração a

necessidade de cada aluno. O apresentado em seu plano vai ao encontro a entrevista

realizada com a professora articuladora, em que a mesma disse que a avaliação é

contínua e individual. Assim como a professora articuladora, concordamos que a

avaliação da aprendizagem deve ser a cada atividade proposta, considerando seu tempo

de desenvolvimento cognitivo e estimulando o aluno a apresentar suas formas de

resolução das atividades propostas. Sendo assim, tanto a avaliação quanto os

encaminhamentos são utilizados para demonstrar as dificuldades dos alunos e possíveis

avanços ou não na aprendizagem.

5.1.7 Relatório por aluno preenchido pela professora articuladora (Ana)

O Relatório por aluno é produzido pela professora articuladora e entregue na

coordenação, a cada semestre. Ele contempla assiduidade, comportamento do aluno em

sala de articulação e as dificuldades dos alunos, em matemática.

Quadro 15: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Ana)

Aluno Descrição

Bianca Em Matemática, a aluna tem dificuldade em resolver problemas de multiplicação,

necessitando de material concreto. A aluna falta muito a sala de articulação. Frequentou a

sala de articulação no primeiro semestre de 2013.

Fábio O aluno é assíduo e participativo. Em Matemática tem dificuldades em resolver problemas

de multiplicação necessitando de material concreto para seu auxílio. Frequentou a sala de

articulação no primeiro semestre de 2013.

Heitor O aluno é participativo, porém conversa muito. Não consegue se concentrar nas atividades

propostas. Em Matemática resolve contas de adição, subtração e multiplicação com auxílio

de material concreto. O aluno falta muito não tendo bom desempenho. Frequentou a sala de

articulação no primeiro semestre do ano de 2013

João Em Matemática faz interpretação de problemas de adição e subtração com facilidade, porém

tem dificuldades em multiplicação. Frequentou a sala de articulação no primeiro semestre de

2013.

Fonte: Dados da pesquisa

107

Neste documento ela relata as dificuldades dos alunos e suas superações, o

comportamento e o uso de materiais necessários para a realização de algumas atividades

de maneira bastante sucinta.

Percebemos que este relatório pouco pode contribuir para futuras intervenções,

pois entendemos que um relatório semestral é um período de tempo longo para avaliar e

refletir sobre as DAM dos alunos, até porque cada um tem suas especificidades e seu

tempo de desenvolvimento intelectual.

Seria interessante que a professora articuladora especificasse em que tipos de

problemas envolvendo multiplicação, a aluna Bianca apresenta dificuldades. Como

Bianca está apresentando suas maneiras de resolução do problema, porque a

coordenação precisa saber até como, esses problemas são propostos, para tentar auxiliar

a professora regente e articuladora em ações futuras com essa aluna.

5.1.8 Abordagem Matemática revelada, em sala de articulação, nos cadernos de

alunos

Apresentamos algumas atividades aplicadas, em sala de articulação, para

alunos de 5º ano do E.F. em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática.

Quando perguntamos aos professores das séries iniciais do E.F. como abordam a

matemática em suas aulas é, relativamente comum, ouvirmos respostas como: a

presença da matemática, quando perguntam o número de vogais ou sílabas na palavra.

Nas atividades propostas em sala de articulação, em especial na escola Pardal,

encontramos uma atividade como a exemplificada acima. Foi uma atividade intitulada

“de leitura”, em que havia oito palavras iniciadas pela letra A, seguidas por espaço para

adição de número de vogais, consoantes e sílabas. Partindo da explicação dessa

atividade, percebemos que, para alunos de 5ºano do Ensino Fundamental, é uma

proposta que tende a subestimar a capacidade do aluno em expressar sua maneira de

desenvolver a matemática, pois são atividades de repetição da adição, não estão ao nível

de alunos nessa fase de escolarização e são pouco atrativas.

Lembramos que traremos algumas atividades propostas em sala de articulação,

para alunos de 5ºano do Ensino Fundamental, mas para o sucesso de uma atividade,

todo o contexto e encaminhamentos das atividades, em sala de aula, são importantes.

108

Sendo assim, procuramos analisar à luz das categorias (abordagem tradicional e

abordagem construtivista) estabelecidas nessa pesquisa, já que não houve tempo hábil

para observação em sala de aula.

Nas atividades propostas pela professora articuladora, percebemos que existe

abordagem similar na quantidade destinada ao Português em relação a Matemática. O

que consideramos positivo, pois em sala de articulação, no ensino fundamental, é

relativamente comum haver mais propostas voltadas para a Língua Portuguesa.

Figura 1: Atividade de adição

Fonte: caderno de alunos em articulação

No caderno dos alunos encontramos mais atividades como essa, de arme e

efetue, para as operações fundamentais de adição, subtração, multiplicação e divisão.

No ensino tradicional, os exercícios de repetição estavam pautados em reprodução de

regras, exercícios para treinamento de cálculo mecânico, permitindo apenas uma

109

resposta como solução, como na figura 1. Nas séries iniciais, os exercícios clássicos

eram os ditos arme e efetue, instruindo o aluno a encontrar apenas uma resposta certa,

na cultura do certo e errado.

Diferentemente, no ensino construtivista é valorizado o sentido que a atividade

deve ter para o aluno ao ponto de mobilizá-lo na construção do conhecimento. Nessa

mobilização o aluno estabelece várias relações com o que tem de vivência, de

aprendizado, o que possibilita diferentes estratégias para resposta ao proposto na

atividade. Desse modo, é até mais fácil para o professor perceber quando avançar ou

retomar conceitos matemáticos.

Figura 2: Atividade para escrita do numeral, operações de adição e subtração

Fonte: caderno de aluno em sala de articulação

Na figura 2, o aluno deve escrever o nome dos numerais e efetuar contas

simples, mas com um nível de dificuldade, em que nas operações de adição ou

subtração, há falta de um dos números da operação que o aluno deve encontrar. O grau

de dificuldade está, em algumas equações, no aluno executar cálculo inverso ao

110

apresentado para encontrar o número que falta. Exemplo: 8 = 2 + (?). Desse modo, um

aluno de 5º ano do E.F. já responde de imediato o pedido, já que são números pequenos.

No entanto, alunos que não têm apropriação da adição e subtração, podem resolver por

tentativa, até mesmo utilizando os dedos ou por meio de ilustração, até encontrar um

número que somado a dois obtenha oito como resultado. Silva (2009), exemplifica que

Maria saiu de casa com 6 reais, foi ver sua avó que lhe deu dinheiro e voltou

para casa com 9 reais: quantos reais ganhou sua avó? O aluno deve fazer uma

subtração, que na sua mente remete à ideia de retirar coisas, para saber quanto

Maria ganhou. Que coisa estranha...(SILVA, 2009, p.27).

O exemplo da figura 2, acima apresentada, é bem mais problematizado que a

atividade proposta na figura 1, no intuito de demonstrar os vários sentidos do sinal de

menos, por exemplo, que ora trata de diminuição, perda, diferença entre quantidades ou

até mesmo como inversão para voltar ao estado inicial, assim, o professor pode levar ao

aluno perceber que adição e subtração são operações inversas.

Para isso, é importante que desde a educação infantil os alunos sejam

estimulados na exploração da Matemática. Eles precisam ter desejo para que haja

mobilização, tanto externa quanto interna, que impulsione suas ações em vista a uma

meta, na significação em sua relação com o saber Matemático.

111

Figura 3: Atividade de quantidade

Fonte: caderno de aluno em articulação

Na figura 3, podemos perceber que mesmo havendo indução de representação,

no título da atividade, é possível que o aluno demonstre, de modo particular, as

quantidades solicitadas envolvendo dezena e dúzia. Notamos que a atividade tem por

objetivo perceber se o aluno sabe representar, em números, as quantidades equivalentes

às palavras dúzia e dezena e suas variações (meia dúzia, meia dezena), no sistema de

numeração decimal.

A proposta poderia vir em forma de situação-problema, pois haveria maior

aproximação com situações vivenciadas pelo aluno, no mercado, na feira, enfim, no seu

contexto. Nesse sentido “evidencia que os problemas não se classificam em função

unicamente das operações a eles relacionadas a priori, e sim, em função dos

procedimentos utilizados por quem os solicita” (BRASIL, 1997, p.69). Desse modo,

pode propiciar ao aluno não só representar dezena, por exemplo, mas verificar se

112

realmente ele construiu seu valor posicional, no sistema de numeração decimal, com

problemas que permitam diferentes procedimentos de solução.

Figura 4: Atividade de geometria

Fonte: Caderno de aluno em sala de articulação

Ao analisarmos os cadernos dos alunos, procuramos trazer atividades que

envolviam as quatro operações fundamentais, já que esses conteúdos foram destacados

pelas professoras como, de maior dificuldade dos alunos. No entanto, nos cadernos,

havia apenas uma atividade de geometria, representada na figura 4, que nos chamou

atenção pelo tipo de atividade envolvendo conteúdo de espaço e forma proposta até

meados do segundo semestre, de 2013. Mesmo que a imagem esteja falhada, não

podendo visualizar todos os elementos, reiteramos a importância de nós, educadores,

termos domínio do conteúdo a ser trabalhado em sala com os alunos para não confundir

o aluno na apropriação do conceito.

113

É frequente ouvir das professoras das séries iniciais que, por diversos motivos,

mas principalmente por não saberem o que fazer (nem como e nem por quê),

elas acabam não trabalhando nada de Geometria em suas aulas de Matemática.

Mais do que a dificuldade do ensino de Geometria é a omissão desse ensino

que flagramos nas experiências que acompanhamos ou nos depoimentos dos

professores (FONSECA et al., 2005, p.14-15).

O exercício solicita que pinte a bandeira do Brasil, de acordo com a legenda.

Considerar o retângulo como a parte da bandeira representada por verde, em que

representa a flora brasileira, é inadequado, pois para pintar o retângulo, então seria toda

bandeira. Caso as pontas do losango atingissem a metade de cada lado do retângulo

maior, poderia até solicitar a marcação dos triângulos formados. Nesse caso, daria pra

pintar os quatro triângulos de verde.

Essa abordagem, como na figura de número 4, e pouco investimento nos

conteúdos relacionados a Geometria, fortalece a falta de entendimento dos professores

com relação ao conteúdo e habilidades próprias da geometria. Desse modo o aluno

acaba carregando o fardo de ter dificuldade, sem ao menos ter sido apresentado

didaticamente.

A partir da análise da escola Pardal, iniciaremos a apresentação da escola Sabiá

e ao final traremos nossas considerações quanto ao que foi proposto para essa pesquisa.

5.2 Escola Sabiá

A escola Sabiá também está situada na região sul de Cuiabá, no estado de Mato

Grosso. Seu ano de fundação foi em 1998. Apresenta um total de alunos menor que na

escola Pardal, já apresentada anteriormente. A escola Sabiá oferece apenas Ensino

Fundamental para um total de 830 alunos.

Para o 5ºano do Ensino Fundamental, são duas turmas e 48 alunos de 5º ano.

No ano de 2013, 15 alunos da escola foram indicados para sala de articulação, incluindo

DAM, e apenas 2 alunos são do 5ºano do Ensino Fundamental. A partir desses dados,

podemos concluir que poucos alunos foram considerados em dificuldade de

aprendizagem em Matemática.

114

5.2.1 O que diz o Projeto Político Pedagógico da escola Sabiá, em relação às

Dificuldades de aprendizagem

A escola forneceu o Projeto Político Pedagógico do ano de 2009, alegando

utilizar esse mesmo projeto nos anos subsequentes. O referido projeto em seu item 5

intitulado “marco situacional” demonstra que o ensinado nas escolas remete ao ensino

escolar sem vínculo com a realidade do aluno. Diferentemente de uma concepção pronta

e acabada, a escola prioriza um ensino que valorize a história e a cultura da sociedade

de modo a ter um ensino globalizado, com alunos capazes de construírem seus

conhecimentos.

Nos próximos itens do projeto que incluem filosofia da escola, visões

estratégicas e concepção de conhecimento, na escola pública, podemos encontrar

palavras como: coletividade, visão participativa, homem como ser histórico e social e

conhecimento historicamente construído. Essas palavras demonstram a visão de

educação defendida pela escola em que se preza uma educação com valorização

histórico-cultural da sociedade, como o aluno totalmente inserido nela, sendo capaz de

transformá-la.

A todo o momento, na apresentação de concepção de ensino e aprendizagem, a

escola procura se distanciar do modelo considerado, por ela, como tradicional de ensino

ao fazer um contra ponto com o que defende como educação. No entanto, a escola não

se posiciona quanto a defesa de uma concepção ou faz referência a autores de correntes

pedagógicas. Ela apenas afirma que, o aluno deve ser preparado para o trabalho e para

vida em sociedade, com autonomia e criticidade.

Quanto ao espaço físico da escola, esta apresenta biblioteca, laboratório

destinado as aulas de química, física, biologia e informática, mas não há menção se há

sala específica para apoio pedagógico. Em visita a escola, no ano de 2012, percebemos

que não havia uma sala específica para apoio pedagógico e os alunos eram atendidos na

sala dos professores. Contudo, ano de 2013, já tem uma sala específica para articulação.

No item destinado ao currículo do Ensino Fundamental, dentre outras

atribuições, consta que deve haver apoio à aprendizagem para alunos que apresentarem

dificuldades de aprendizagem. E, no espaço destinado a avaliação, diz-se que é parte

integrante para o desenvolvimento do aluno e que é importante para reorganização de

115

ações pedagógicas. Para os alunos em dificuldade de aprendizagem, deve haver apoio

do articulador, no contra turno, com metodologia e material diferenciado.

Podemos perceber que o referido documento, faz menção quanto às DA e

percebe a sala de articulação como espaço diferenciado para ações didáticas, em vista a

superar as dificuldades dos alunos, o que é positivo. No entanto, seria interessante

investigar se os professores participam da elaboração desse documento, se têm

conhecimento de todo seu conteúdo e, até que ponto, o projeto político pedagógico da

escola é utilizado como norteador, nas suas ações pedagógicas?

5.2.2 Concepções de professoras regente e articuladora, da escola Sabiá, quanto ao

ensino e aprendizagem da matemática

Nesse item, relembramos que traremos concepções de uma professora regente

e uma professora articuladora, da escola Sabiá, quanto ao ensino e aprendizagem da

Matemática. Para essa discussão utilizamos questionário e entrevista, na melhor

compreensão das concepções dessas professoras, à luz da teoria estabelecida nessa

pesquisa.

Concepções de ensino e aprendizagem da matemática, segundo

professora regente (Aline)

Quadro 16: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

regente (Aline)

Pergunta Resposta

O quê é Matemática

pra você?

É difícil definir o que é matemática. Ela está em todo lado sem darmos conta

disso. É algo que usamos no dia-a-dia.

Em sua opinião, é

importante ensinar

Matemática, por

quê?

Sim. Ela é importante para nosso dia-a-dia, porque ajuda a pensar e desenvolver

raciocínio lógico.

116

Pergunta Resposta

Qual seu objetivo em

ensinar Matemática

aos seus alunos?

Mostrar ao aluno que a matemática faz parte do seu cotidiano, fazendo o aluno

perceber a presença dela em tudo que fazemos e com isso ele percebe a

importância dela na sua vida e nos estudos.

Qual a melhor

maneira para ensinar

Matemática?

Acredito que ensinar com jogos é uma opção muito atrativa. Explicando na frente

em geral alguns conseguem assimilar o conteúdo, mas outros só ensinando

individualmente.

Qual a melhor

maneira de aprender

Matemática?

Desde o ambiente influi no aprendizado. Mas do jeito que a sala está misturada

em níveis de aprendizagem, na grande maioria tenho que trabalhar

individualmente para que eles possam “aprender”.

Fonte: OBEDUC/UFMT

A partir dos dados apresentados no quadro 16, podemos perceber que a

professora Aline enfatiza a importância do conhecimento matemático na vida de nossa

sociedade. Ao ser questionada quanto ao que entende a respeito da matemática, como

ensinar e aprender matemática, a professora tende para uma abordagem construtivista

em que a matemática é concebida como parte de um processo histórico e cultural e o

professor é o mediador na construção do conhecimento, pelos alunos. Assim, a

Matemática tanto no contexto escolar como fora dela deve ser entendida [...] como

conhecimento com ‘vida’ e não ‘para a vida’”(PAULA, 2010, p.98).

Nesse sentido é interessante destacar as falas de Aline ao responder que o

professor deve “Mostrar ao aluno que a matemática faz parte do seu cotidiano, fazendo

o aluno perceber a presença dela em tudo que fazemos.” Desse modo, consideramos

que há uma tendência a um pensar em educar pela Matemática, o que é bastante

positivo, já que se distancia de uma educação formal, tradicional em que tende a um

entendimento de duas matemáticas: uma escolar e outra matemática do cotidiano. Ao

educar pela matemática, esta não estará oculta nas práticas do cotidiano, pois sua

presença nas práticas escolares é concebida como conjunto de saberes construídos a

partir da necessidade da sociedade como parte de um processo histórico, estabelecendo

uma relação de identidade com essa sociedade.

117

Outro aspecto interessante a ser destacado nas respostas da professora Aline é

quanto a melhor maneira de ensinar e de aprender matemática, em que a mesma

evidencia que “Desde o ambiente influi no aprendizado.” A professora remete a sala

ser heterogênea e cada aluno aprende de uma maneira. A todo o momento, em cada

situação vivida podemos aprender algo desde que a “atmosfera” tanto no ambiente

quanto em nossas capacidades intelectuais estejam em “sintonia” para que haja

aprendizagem.

Do mesmo modo, deve haver na sala de aula um ambiente propício a essa

aprendizagem. Para isso, ressaltamos que vários elementos estão envolvidos no ensino e

aprendizagem. Destacamos a preparação do professor para o conteúdo a ser explorado,

planejamento adequado das aulas para se ter clareza dos objetivos a que se pretende

alcançar, percepção e valorização da heterogeneidade de alunos em sala, considerando

que uns são mais auditivos, outros mais visuais para possibilidade de diferentes

abordagens para o mesmo conteúdo.

A professora também considera que a melhor maneira de se ensinar

matemática é com exploração dos jogos. Não é difícil encontrar esse tipo de resposta

nas falas de professores dos anos iniciais Ensino Fundamental. No entanto, se não

houver clareza nos objetivos toda atividade fica comprometida. Quando ouvimos

professores enfatizando o ensino com jogos parece que remetem a uma metodologia. No

entanto, os jogos são uma estratégia de ensino que incentivam o desenvolvimento

conceitual da matemática ou de outras áreas do conhecimento.

Quando o professor reflete sobre a importância do espaço de aprendizagem,

tipos de materiais potencializadores de aprendizagem, nível de aprendizagem dos alunos

tende a uma postura de professor participante e pesquisador, pois, de maneira

sistemática, organiza recursos no processo de ensino e aprendizagem. Do contrário,

Borba (2009) salienta que

exercer a docência sem um planejamento cuidadoso não pode conduzir a

pesquisas, pois, se o professor não tem clareza do que está pesquisando

(procurando), ele poderá até chegar a achados interessantes, mas nem sempre

se dará conta dos mesmos, uma vez que não tem intencionalidade em sua busca

(BORBA, 2009, p.13).

118

Sendo assim, ao definir claramente os objetivos a serem alcançados e

sistematizar as atividades de investigação podemos verificar o processo de

desenvolvimento das atividades realizadas pelos alunos e, assim, diversificar nas

atividades propostas para que os alunos possam avançar em suas aprendizagens. Desse

modo, reiteramos a relevância da busca por referencial teórico para fundamentar nossas

práticas escolares e a complementação de bases para reflexão sobre a prática por meio

da formação continuada.

Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo

professora articuladora (Rosane)

Quadro 17: Concepções de ensino e aprendizagem da Matemática, segundo professora

articuladora (Rosane)

Pergunta Resposta

Qual a finalidade da matemática no currículo

escolar?

Fazer com que desempenhe trabalho de forma

eficaz.

Como o aluno aprende Matemática? Através de jogos, pois o aluno com a forma lúdica,

aprende com mais facilidade, depois trabalho na

prática.

Como você ensina Matemática? Ensino através de jogos matemáticos, com livros

didáticos, conteúdo no quadro.

Você apresenta alguma dificuldade para ensinar

algum conteúdo matemático? Quais?

Sim! No curso de Pedagogia não dá nenhum

suporte. Aí é uma das dificuldades que temos para

ensinar matemática.

Fonte: Dados do questionário elaborados pelas autoras, ao articulador

A professora Rosane ao ser questionada quanto a finalidade da matemática no

currículo, apresentou resposta tendendo a interpretação de que basta ao professor aplicar

em sala os conteúdos matemáticos presentes no currículo, sem evidenciar uma

preocupação com o aluno. Posturas como essa remetem a um ensino em que a posição

do professor e do aluno estão claramente delimitadas. Tem-se o professor como o que

transmite os conteúdos e o aluno como receptor das informações. Podemos considerar

que essas são características de um ensino pautado na abordagem tradicional.

Contrariamente ao ensino tradicional, a professora afirma que a melhor forma

de aprender é por jogos, com valorização do lúdico e para ensinar a mesma afirma que:

119

“Ensino através de jogos matemáticos, com livros didáticos, conteúdo no quadro.” A

resposta evidencia que a professora considera importante utilizar diferentes estratégias

em sala de aula, indo ao encontro de uma abordagem de ensino e aprendizagem mais

contemporânea. Variar nos modos de ensinar “supera a ideia de uma matemática que se

resume a cálculos e fórmulas e adentra a aprendizagem lógico-racional que privilegia a

assimilação empírica dos conhecimentos” (CRUZ SILVA, 2013, p.95).

A professora articuladora Rosane afirmou que apresenta dificuldades em

ensinar matemática porque o curso de formação em Pedagogia não abordou essa área do

conhecimento como deveria. De fato, vários professores afirmam não terem aprendido

como se ensina e como se aprende matemática nos cursos de formação e que

apresentam lacunas conceituais em conteúdos do ensino fundamental. Dessa forma seus

modos de ver a matemática podem, mesmo que indiretamente, influenciar

negativamente na aprendizagem de seus alunos. Desse modo, quando o professor

apresenta

A falta de conhecimento adequado sobre alguns conteúdos a serem ensinados

leva a: demonstrações de insegurança do professor, irritabilidade, repetição de

receitas de “como fazer”, negação de estratégias diferentes daquela que ele

domina, falta de compreensão de algumas dúvidas dos alunos (MANDARINO,

2009, p. 45).

Essa falta de conhecimento pode vir a influir na adequada seleção dos

conteúdos e favorecer abordagens superficiais. Sendo assim, prejudica a superação de

dificuldades de aprendizagem dos alunos encaminhados para articulação, acumulando,

assim, incompreensões e desestimulando o aluno para novas aprendizagens na

matemática.

5.2.3 O que os professores entendem sobre Dificuldade de Aprendizagem em

Matemática

Para este item e com foco em nosso tema, dificuldade de aprendizagem em

matemática, os dados coletados no questionário e na entrevista foram cruzados para

melhor compreensão das concepções da professora regente e de articulação no 5ºano do

120

Ensino Fundamental. Ressaltamos que a entrevista foi realizada após aplicação do

questionário, em datas distintas.

Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática,

segundo professora regente (Aline)

Quadro 18: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática, segundo

professora regente (Aline)

Questão Resposta

Você encontra

dificuldades para

ensinar os conteúdos

de Matemática?

Quais?

Às vezes. A dificuldade não está em “ensinar”, mas como trabalhar o conteúdo de

várias formas, pois os níveis são completamente diferentes.

Seus alunos

apresentam

dificuldades para

aprender

Matemática? Quais?

Por quê?

Sim. Alguns não conseguem interpretar o que leem e com isso não entendem os

problemas. E a falta de interesse de alguns chega a ser assustador. Alguns nem a

adição desenvolvem.

O que pode ser feito

para ajuda-los a

superar essas

dificuldades?

Trabalho bastante problemas para que eles possam entender. Voltei com o

conteúdo de 3ºano para ir trabalhando as dificuldades e com isso chegar aos

conteúdos de 5ºano e com alguns ainda está bem longe de conseguir.

O quê você atribui ao

baixo desempenho

dos seus alunos na

Prova Brasil?

Não respondeu.

Como você acha que

a escola poderia

contribuir para que

seus alunos tenham

um melhor

desempenho na

Prova Brasil?

Alunos que têm muita dificuldade foram encaminhados para apoio (reforço) que

a escola oferece. Em alguns casos venho uma hora mais cedo para trabalhar com

alguns.

Fonte: OBEDUC/UFMT

A professora Aline atua no 5ºano do Ensino Fundamental e ao ser questionada

se apresenta dificuldades em ensinar matemática, a mesma respondeu que a dificuldade

está em trabalhar o conteúdo de várias maneiras, já que a sala é heterogênea.

Consideramos que, para variar na abordagem de um mesmo assunto, é essencial que o

professor saiba explorar diferentes instrumentos e a potencialidade destes. Sendo assim,

121

entendemos que a professora parece não ter hábito em diversificar no ensino para uma

mesma abordagem e, para reverter essa situação, é importante a valorização da

formação continuada e, principalmente, apoio da coordenação pedagógica da escola.

Na pergunta seguinte, Aline afirmou que apresenta alunos com dificuldades em

matemática e especifica que é na interpretação de problemas e a falta de interesse dos

alunos é a causa dessa dificuldade. No entanto, a professora finaliza a resposta dizendo

que alguns se quer sabem adição. Para as competências a serem alcançadas para alunos

de 5ºano do Ensino Fundamental, não saber adição nos permite pensar que as

dificuldades desses alunos em matemática, provavelmente, estão além de apenas adição

e interpretação de problemas.

Em entrevista com a professora regente a respeito das DAM, a mesma

respondeu que, no ano de 2013, iniciou com quatro alunos apresentando dificuldades

em matemática.

Esses quatro não conseguiam desenvolver com facilidade. Sozinho não,

sempre acompanhado. Agora depois da greve são mais oito alunos novos e

destes, cinco não conseguem desenvolver. [...] apresentam dificuldades em

conteúdos do primeiro bimestre, segunda série, terceira série. São alunos que

estão dando trabalho (Entrevista com professora Aline da escola Sabiá).

Em sequência, a professora respondeu que a multiplicação é o conteúdo que os

alunos apresentam mais dificuldades, “tanto que na divisão eles estão indo bem.” A

fala da professora denota um ensino estanque em que é preciso esgotar um conteúdo

para iniciar outro, sem que possa abordar as operações em conjunto. Essa concepção se

aproxima de uma abordagem tradicional de ensino e aprendizagem.

Interessante comentar que a pergunta estava direcionada aos alunos e a

professora comentou ter dificuldades em frações e remeteu a oficina com frações

oferecida por uma mestranda do PPGE/UFMT, junto ao OBEDUC com foco em

Matemática e iniciação às ciências, que ajudou bastante a professora a abordar esse

conteúdo em sala. “E agora depois da greve que comecei a trabalhar seguindo o livro.

E olha, estou me surpreendendo comigo mesma! As explicações eles pegam

direitinho!” O comentário da professora quanto a oficina oferecida nos leva a pensar e

reafirmar a importância da formação continuada na abordagem de conteúdos

matemáticos.

122

Após diagnosticar as dificuldades dos alunos a professora respondeu que foca

em problemas e retoma conteúdos de outras séries, pois alguns alunos ainda estão

aquém das competências para o 5ºano. Sendo assim, tanto na entrevista quanto no

questionário a professora afirmou que o trabalho com esses alunos é realizado de modo

individual, deixando-os próximos a sua mesa.

No questionário havia uma pergunta em relação às causas do baixo

desempenho dos alunos na prova Brasil e a professora não respondeu. No entanto, em

entrevista ela foi questionada acerca das possíveis causas das DAM dos alunos e

obtivemos respostas como

Se eu nunca tivesse trabalhado com as séries iniciais, hoje eu diria que a

dificuldade seria o que eles passaram lá na aprendizagem deles, no ensino.

Mas acredito que não é isso, é mais interesse mesmo. Nas séries iniciais, a

gente faz umas atividades em sala para eles fixarem e a gente passa a mesma

atividade para casa. Vem tudo sem fazer ou feito com aquela letra perfeitinha

porque foi um parente que fez. A gente precisa do acompanhamento dos pais

desde o comecinho (falas da professora Aline em entrevista).

A professora atribui as causas das dificuldades ao aluno por ser desinteressado

e a falta de apoio da família no desenvolvimento da aprendizagem dos alunos. Para

além das causas, foi possível perceber que Aline propunha para as séries iniciais

atividades de repetição, fixação. Esse tipo de ação nos leva a retomar a abordagem

tradicional de ensino em que privilegia centrar a aprendizagem em cálculos mecânicos,

por repetição. Com uma metodologia voltada para memorização de fatos e regras.

Do mesmo modo, atribuímos a uma abordagem tradicional de ensino e

aprendizagem quando as causas das DAM são apontar para o aluno ou no meio social.

Uma pergunta da entrevista contemplou o que o professor entende por DAM.

A resposta da professora regente nos fez pensar que não há um entendimento conceitual

da DAM. Aline trouxe sua inquietação em relação ao trabalho com conteúdos das

diferentes séries devido a heterogeneidade dos alunos novos no pós greve dos

professores, já que afirmou ter conseguido sanar as dificuldades dos alunos que

acompanhou desde o início do ano de 2013.

Nessa mesma pergunta é interessante destacar o olhar de pesquisador da

professora no processo de ensino e aprendizagem com comentários como “Eu

123

tenho alunos que até agora não conseguem multiplicar com dois números. E

tem uma coisa interessante, eu tinha alunos que tinham dificuldades até na

soma. Aí foi e desenvolveu. Quando chegava na subtração não ia pra frente

porque tinha o tal do emprestar. Começamos a utilizar alguns métodos que

seriam interessantes, como o dinheirinho. Com o troco conseguiu diminuir.

Foi bem mais interessante (falas da professora Aline em entrevista).

A professora também disse que usou dominó para ensinar a tabuada e que a

escola tem vários materiais diferentes que chamam a atenção dos alunos. Ao considerar

que varia em materiais didáticos no processo de ensino e aprendizagem é possível que

atinja características de uma abordagem construtivista, pois proporciona atividades que

mobilizem os alunos e descentraliza a DAM em ações didático-pedagógicas, já que o

aluno avançou na aprendizagem da matemática quando o professor variou nas propostas

em sala de aula.

Concepções de Dificuldade de Aprendizagem em Matemática,

segundo professora articuladora (Rosane)

Quadro 19: Concepções de Dificuldade de Aprendizagem de Matemática, segundo

professora articuladora (Rosane)

Pergunta Resposta

Quais são, na sua opinião, as principais

dificuldades de aprendizagem que apresentam os

alunos com os quais você trabalha?

São as quatro operações e a tabuada.

A que causas você atribui estas dificuldades? Fazendo com que o aluno tenha um bom

desenvolvimento em suas dificuldades

apresentadas.

Quais características, comportamentos apresentam

esses alunos?

São alunos que veem com dificuldade, mas têm

interesse em aprender.

Fonte: Dados do questionário elaborado pelas autoras para articulador

No questionário aplicado à professora articuladora de aprendizagem, a mesma

destacou que as quatro operações e tabuada são as maiores dificuldades dos alunos de

5ºano do Ensino Fundamental e não soube responder quanto as possíveis causas dessas

dificuldades, mas que são alunos que têm interesse em aprender.

124

Em entrevista a professora não soube conceituar DAM e, assim como a

professora regente, respondeu em quais conteúdos os alunos apresentam mais

dificuldades. Estes são a multiplicação e tabuada. A mesma ainda complementou

dizendo que “quando chegam na divisão já não têm as mesmas dificuldades que na

multiplicação.” No entanto, na continuidade da pesquisa perguntamos novamente quais

os conteúdos de maior dificuldade dos alunos, e a professora respondeu que são as

quatro operações. Para causas dessas dificuldades, Rosane disse que é devido a leitura e

falta de estímulo para estudar.

5.2.4 Como as professoras percebem a sala de articulação de aprendizagem

A sala de articulação, como espaço para alunos em situação de dificuldade de

aprendizagem em Matemática e como complementar a sala de aula com professor

regente, deve ser percebida pela coordenação e professores, no sentido, de conhecerem

a dinâmica envolvida nesse local, em vista ao avanço dos alunos na aprendizagem da

Matemática. Para esse item trazemos olhares da professora regente e articuladora.

Percepção da sala de articulação, segundo professora regente

Quadro 20: Percepção da sala de articulação, segundo professora regente (Aline)

Pergunta Resposta

Como você vê a sala de articulação? Eu acho que seria interessante. Eu não sei, mas

acho que ela não trabalha o mesmo conteúdo que a

gente está vendo em sala. Ela tem que ir desde o

comecinho das dificuldades. Isso que ela faz, pega

atividades bem primárias para poder trabalhar.

Você acha que a sala de articulação contribui para

sanar as DAM dos alunos?

Em relação a Nívea, ficou bem mais espertinha e

não vi melhora no Sílvio.

Desses alunos que estão com você desde o início

do ano, como procede para encaminhá-los para

articulação?

Na semana da sondagem, a gente faz várias

atividades em relação aos anos anteriores e

percebemos quem tem dificuldade ou não. A Nívia

não lia. Hoje ela lê e não gagueja mais para ler.

Quando peguei a Nívea ela não fazia nenhuma

atividade. Não somava, não lia. O Silvio ainda

soma. Encaminhei para articulação para ver se ela

trabalhava junto e eu pudesse dar continuidade em

sala de aula.

Agora a Nívea até acompanha, mas o Silvio não.

Em relação ao Silvio, o que você faz quando está

trabalhando o conteúdo de frações?

Ele é tão devagar que fica copiando o conteúdo em

duas aulas já para não desenvolver na atividade. É

125

Pergunta Resposta

muito desinteresse. Usa o caderno de trás para

frente, de frente para trás, não tem organização.

Qual é sua relação com a professora articuladora? A gente troca atividades. A gente compra coleções

de livros didáticos e trocamos. Também

pesquisamos pela internet.

A sala de articulação atendendo no contra turno

faz diferença?

Faz. Esse ano temos poucos alunos e temos

sucesso com a Nívea, mas em anos anteriores

tivemos mais alunos e sucesso.

A todos você indicaria a mesma causa das DAM? Acho que sim. Se fosse só na matemática, mas

estando em outras matérias, penso ser desinteresse

mesmo.

Fonte: Dados da entrevista realizada com a professora Aline, da escola Sabiá.

A professora Aline parece compreender que a sala de articulação não vem

apresentando resultados tão significativos, pois para a professora a articuladora precisa

saber quais conteúdos estão sendo explorados em sala e repensar sobre suas atividades

propostas. Contrariamente, no desenvolver da entrevista, quanto a sala de articulação, a

professora Aline disse que com uma aluna houve melhoras significativas, mas outro

aluno não apresentou avanços e atribuiu esse resultado ao próprio aluno que é

desinteressado.

Antes de encaminhar alunos para sala de articulação a professora disse realizar

“sondagem”, se referindo a diagnóstico, em que propõe atividades de anos anteriores e

percebe os que apresentam dificuldades ou não.

Para relação com a professora articuladora, Aline respondeu que existe boa

relação e que, entre elas, repassam atividades.

Podemos perceber que há pouco contato entre as duas professoras, sendo um

ponto negativo, pois para o sucesso da sala de articulação é importante que as duas

estejam em contato, para que seus planejamentos sejam complementares. Deu para

perceber que apenas existe uma troca de materiais, mas não há uma discussão entre as

duas professoras, em relação ao desenvolvimento dos alunos em sala e no apoio.

Ressaltamos que Mainardes (2009), faz menção aos bons resultados obtidos

por redes de ensino que criam espaço para o atendimento a alunos em DA. Sendo assim,

entendemos que pensar na sala de articulação como mais uma sala na escola, sem

126

conhecer o trabalho realizado pela articuladora, pode inviabilizar seu objetivo e perde o

sentido do encaminhamento de alunos.

Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora

(Rosane)

Quadro 21: Percepção da sala de articulação, segundo professora articuladora (Rosane)

Pergunta Resposta

Como você vê a sala de articulação? Pequeno para eu atender todos eles de uma vez.

Articular a criança, fazer com que ela tenha bom

desempenho. Que tenha as dificuldades e eu possa

trabalhar junto com eles.

Ser professora articuladora foi sua escolha? O que

levou a assumir?

Sim. Como eu gosto de alfabetizar e saí da

faculdade, falei que seria experiência.

Como você procede quando o aluno é

encaminhado para articulação?

No início começo do básico que são as quatro

operações e vou vendo as dificuldades do aluno

para trabalhar em cima disso.

Quando você recebe esse aluno tem alguma ficha

de encaminhamento preenchida pelo professor

regente?

A professora me encaminha uma ficha com as

dificuldades dos alunos e vou trabalhar com aquilo

que o aluno tem dificuldade.

Como é o processo de avaliação desse aluno? Na verdade avalio eles todos os dias. Por exemplo,

se hoje dei uma atividade para ele e consegue

fazer, na próxima semana trago a mesma atividade

e o aluno já me traz dificuldade. A avaliação é a

partir das atividades realizadas aqui com os alunos.

Eu sempre preciso retomar conteúdos porque já

percebi que o que foi visto na outra semana, nesta

o aluno já esqueceu.

Existe um registro de avaliação da sala de

articulação?

Nunca me pediram, mas eu tenho tudo

agendadinho. No meu caderno tenho as

dificuldades dos alunos.

E o relatório do aluno, como é elaborado e é

encaminhado para coordenação? E o que consta

nesse relatório?

No final do ano faço relatório de todos e passo

para coordenação. Consta quando chegaram na

articulação, como estavam no início e no final. O

que superou e o que ainda precisa ser trabalhado.

Você tem formação para lidar com DAM? Sim. Eu acho que tenho formação pela prática e os

cursos contribuíram.

Existe apoio da SEDUC aos professores

articuladores com formação continuada?

Não. Estou a pouco tempo e ainda não participei.

Com que frequência você dialoga com o professor

regente a respeito do desenvolvimento dos alunos

em articulação?

Sim. Constante. Nós temos bom relacionamento.

Por exemplo, a professora diz que o aluno

conseguiu isso, e vou trabalhar isso essa semana.

Fonte: Dados da entrevista realizada com a professora articuladora Rosane, da escola

Sabiá.

127

Em relação aos aspectos relacionados, especificamente, a sala de articulação a

professora Rosane respondeu que tem ficha de encaminhamento, anotações e relatório,

mas no levantamento desses documentos ela não forneceu as fichas e disse não ter e

relatório ainda; estava iniciando, pois era anual. Quanto ao planejamento e outras

anotações, como o diagnóstico, a professora também não forneceu, ou não tinha.

Parece que não há uma preocupação por parte dos professores e coordenação

quanto à importância de: fichas de encaminhamento, relatórios e planejamento conjunto.

O que podemos inferir, é que a professora regente encaminha os alunos e a articuladora,

como ela respondeu, começa com o “ básico que são as quatro operações e vou vendo

as dificuldades do aluno para trabalhar em cima disso.” Sendo assim, remete apenas às

quatro operações como dificuldades dos alunos, em articulação.

Entendemos que os documentos recomendados pela SEDUC/MT, sejam

necessários, assim como um planejamento em conjunto dos professores regentes,

articuladores e coordenadores, para a consolidação desse espaço singular, já que deve

haver um acompanhamento pedagógico diferenciado, para os alunos em situação de

dificuldade de aprendizagem, considerando as particularidades envolvidas na proposta

de ciclo de formação.

5.2.5 Conteúdos de Matemática revelados nas fichas de encaminhamento para sala

de articulação

Para esse item, apesar da professora articuladora dizer que existe ficha de

encaminhamento para articulação, os mesmos não foram disponibilizados no momento

em que levantamos os documentos. Na verdade, nos foi dito que a escola não tem essas

fichas. Para que esse item não fique comprometido, levantamos as fichas dos alunos,

preenchidas pelo professor regente para intervenção junto ao OBEDUC/UFMT.

Ressaltamos que há pouca diferença entre essas fichas fornecidas pelo projeto e as que

as escolas geralmente utilizam. Sendo, assim, a discussão, em relação aos conteúdos

matemáticos, que os alunos apresentam mais dificuldades, não será comprometida.

128

Tabela 2: Conteúdos de Matemática, de maior dificuldade dos alunos encaminhados

para sala de articulação, segundo professora regente (Aline)

Aluno Conteúdos de Matemática

Nívea Ela não é alfabetizada. Só consegue as adições mais simples. Não

tem concentração.

Silvio Aluno não alfabetizado. Desenvolve adição e subtração e não

desenvolve problemas.

Fonte: dados da pesquisa

Percebemos que a referência a uma das quatro operações fundamentais é

enfatizada tanto nas fichas quanto nos questionários e entrevistas. A dificuldade em

resolver problemas aparece, mais uma vez, igualmente, nos questionários realizados

com a professora regente. No entanto, temos mais um elemento revelado nessas fichas,

como ao aluno não ser alfabetizado. Como, a ficha é específica para DAM, parece que o

aluno não ser alfabetizado possa ser entendido como um obstáculo para aprendizagem

da matemática.

A partir da tabela 2, pesquisamos os resultados desses dois alunos, no simulado

aplicado pelo OBEDUC/UFMT. Em um total de 22 questões propostas, obtiveram um

total de 9 acertos. Eles atingiram, em torno de 50% de acertos, nos blocos de conteúdos

referentes à grandezas e medidas e espaço e forma. Para o bloco de número e operações,

os dois alunos não alcançaram 50% de acerto. Como o simulado apresentou apenas

questões objetivas, o instrumento pode auxiliar na elaboração de propostas para um

diagnóstico mais preciso, pois apenas sua utilização não é suficiente para entender que o

aluno esteja em situação de dificuldade de aprendizagem em matemática.

Percebemos que esses documentos, como as fichas com descrição das DAM

dos alunos, dizem muito pouco sobre o desenvolvimento desse aluno. Por exemplo, a

professora diz que a aluna resolve as adições simples, mas o que a professora considera

como adições simples? Em que contexto, a professora percebeu outras dificuldades da

aluna? E até mesmo dizer que não tem concentração, mas será que só na Matemática?

Quanto ao aluno Silvio, dizer que ele não resolve problemas, torna-se incompleto, pois

será que desenvolve problemas de adição e subtração? Que tipos de problemas ele

apresentou dificuldades? Faltam elementos que possam indicar um caminho para que, a

professora articuladora proponha ações efetivas. Desse modo, a articuladora precisa de

129

um diagnóstico bem feito, para não ter respostas precipitadas e pouco reveladoras das

reais dificuldades dos alunos, em matemática.

5.2.6 Encaminhamentos e organização dos alunos em Dificuldade de

Aprendizagem em matemática, segundo professora articuladora

Para esse item, apresentamos os encaminhamentos da professora articuladora,

como as DAM são tratadas no plano de aula da articuladora e relatório por aluno

elaborado pela professora articuladora.

Quadro 22: Encaminhamentos para sala de articulação, segundo professora articuladora

(Rosane)

Pergunta Resposta

Questão 1: Quais são os motivos dos professores

que encaminham os alunos considerados com

DAM, para articulação

Por não saber as quatro operações.

Questão 2: Há algum encaminhamento oficial,

documentos, fichas ou algo equivalente as

dificuldades dos alunos e sugestões de

atendimento pelo professor regente?

Sim. Os professores passam o relatório do aluno

dizendo qual a dificuldade de cada um deles.

Questão 3: Há algum tipo de encaminhamento

feito pelo coordenador pedagógico ou coordenador

do ciclo?

As fichas dos relatórios dos alunos.

Questão 7: Como os professores regentes

acompanham seus alunos enquanto estão com

você?

Não acompanham, pois são horários deferentes.

Fonte: Dados do questionário elaborados pelas autoras, para articulador

Mais uma vez as quatro operações são enfatizadas como conteúdos que os

professores mais consideram que os alunos tenham mais dificuldades.

Quanto a documentos, ressaltamos que essa professora disse ter ficha de

encaminhamento, mas o mesmo não foi fornecido.

O não fornecimento de fichas de encaminhamento e planos de aula

comprometem nossa discussão dos conteúdos presentes nestes, mas nos indica a

130

fragilidade dos aspectos envolvidos nesse espaço para resultados positivos, em sala de

articulação.

Quadro 23: Organização do atendimento em sala de articulação, segundo professora

articuladora (Rosane)

Pergunta Resposta

A partir do encaminhamento desses alunos, como

você procede?

Primeiro faço uma sondagem e depois começo a

tirar suas dúvidas de matemática e assim vou

trabalhando até que o aluno consiga superar suas

dificuldades.

Como é organizado o atendimento para esses

alunos, como local, carga horária, número de

alunos/período, como seleciona o grupo e

materiais disponíveis?

São horários diferentes. Trabalho no local com

alunos no primeiro horário que são do 3ºano e

depois os outros horários com os outros alunos.

Quantos alunos de 5ºano do Ensino Fundamental

foram encaminhados para articulação, no ano de

2013?

11 alunos.

Como são planejadas as intervenções com esses

alunos? Os professores e os coordenadores

planejam com você?

Não, pois são horários diferentes.

Quando você percebe que algum aluno

encaminhado não está, de fato, em situação de

dificuldade de aprendizagem, como você procede?

Primeiro converso com o professor de sala e

mostro que o aluno comigo não demonstrou

dificuldade e junto com a professora tentamos

resolver.

Fonte: Dados do questionário elaborado pelas autoras para articulador

A professora articuladora disse que primeiramente faz uma “sondagem”, ao se

referir a diagnóstico, para saber quais as dificuldades dos alunos e organiza o

atendimento, apenas separando terceiro ano dos demais. Quanto ao planejamento,

respondeu que realiza sem a presença da coordenação e da professora regente. E para

alunos que ela percebe não ter dificuldades, a mesma recorre ao professor regente para

juntas repensarem a melhor maneira de apoio a esses alunos. A resposta da professora

nos deixa intrigados, se realmente há momentos de conversa entre elas e planejamento

de soluções, para com as DAM dos alunos, pois a regente respondeu que elas só trocam

atividades e alegam o fator horário, como impedimento, para conversarem melhor sobre

os alunos. Seria interessante haver um tempo de observação na escola, para entender

qual relação elas estabelecem entre si, em vista ao avanço dos alunos, na aprendizagem

da Matemática.

131

Como as dificuldades de aprendizagem em matemática são tratadas

no plano de aula da professora articuladora

A professora articuladora não apresentou seu plano de aula. Levantamos a

hipótese que ela pode não ter um planejamento, o que compromete suas propostas em

sala de articulação. Não só as aulas podem ficar comprometidas, mas também, a

elaboração do relatório que ela disse ser anual. Um relatório anual para alunos em

situação de dificuldade de aprendizagem em matemática, é um tempo longo,

considerando que o aluno pode avançar na aprendizagem sem necessitar de longo tempo

em articulação.

5.2.7 Relatório por aluno preenchido pela professora articuladora (Rosane)

Quadro 24: relatório do aluno, elaborado pela professora articuladora (Rosane)

Aluno Descrição

Nívea A aluna tem dificuldades nas quatro operações. Extremamente desinteressada. Quando vem

a aula não tem interesse nas atividades dadas em sala de articulação.

Sílvio Tem dificuldade na escrita, mas oralmente sabe desenvolver todas as atividades.

Extremamente desinteressado, desorganizado e faltoso.

Fonte: Dados da pesquisa

Nas fichas de encaminhamento, apresentada anteriormente, foi descrito que o

aluno não era alfabetizado e levantamos a hipótese da professora regente considerar,

não ser alfabetizado, possa vir a ser um obstáculo para aprendizagem da matemática.

Esse relatório apresentado pela professora articuladora desmistifica que o aluno só

aprende matemática se for alfabetizado quando ela disse que o aluno apesar de ter

dificuldade na escrita desenvolve muito bem oralmente.

Esse relatório, por ser anual, apresenta poucas informações do

desenvolvimento do aluno durante seu período em articulação. Seria interessante que

houvesse descrição de como foi realizado o diagnóstico e que fragilidades o aluno

apresentou em Matemática. Em seguida, a articuladora poderia detalhar as ações

propostas para as DAM apresentadas, e como o aluno foi evoluindo no decorrer do

132

tempo, em articulação. Desse modo, a articuladora poderia descrever seu diagnóstico

final e propor ações futuras para com esse aluno. Compreendemos, que um relatório

contendo todas as informações possíveis, acerca da aprendizagem do aluno, contribuiu

para ações didático-pedagógicas mais adequadas, ao seu nível de desenvolvimento,

propostas pelo professor regente.

5.2.8 Abordagem de Matemática revelada, em sala de articulação, nos cadernos

dos alunos,

Nesse último item, do capítulo 5, analisaremos algumas atividades propostas

em sala de articulação, na escola Sabiá, para alunos do 5ºano do Ensino Fundamental

em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática.

Das atividades propostas, nos cadernos dos alunos, encontramos em maior

quantidade, operações de fixação envolvendo as quatro operações fundamentais. Essas

atividades foram passadas no quadro e sempre antes das equações, há uma apresentação

dos nomes de cada parte, conforme a operação apresentada. Na figura 5, abaixo

representada, trazemos um modelo, como exemplo das atividades passadas no quadro.

133

Figura 5: Exercício de adição

Fonte: Caderno do aluno em articulação

Como já foi comentado nas atividades da outra escola, a professora

articuladora, tende a indicar, no título das atividades, que tipo de equação será

explorada. Desse modo, parece que adição é só adição e subtração não tem relação com

a adição, o que não é verdadeiro. Interessante destacar que a professora apresenta as

equações obedecendo a uma hierarquia, das mais simples para as mais complexas. Esse

modo de apresentação de atividades permeou “livros didáticos no início da década de

80” (BITTAR;FREITAS;PAIS, 2013, p.22). Para esses autores, esse tipo de abordagem

“é marcada pela ênfase do trabalho com a técnica” (p.25).

Reiteramos que problematizar situações ao aluno, possibilita que ele pense

sobre que tipo de representações são válidas para se chegar a um resultado. Resultado

este que pode ser obtido por outro aluno, com estratégias diferentes, e que diferentes

estratégias de solução podem enriquecer as discussões, em sala de aula. Sendo

134

importante, que o professor saiba que não precisa ensinar primeiro esses tipos de

operações para depois propor problemas ao aluno.

Figura 6: Problema

Fonte: caderno do aluno em articulação

Atividade como essa, foi pouco explorada pela professora articuladora e, é uma

atividade contextualizada e diretamente relacionada ao dia-a-dia do aluno de 5ªano do

E.F., pois envolve compra, valor monetário, quantidade a mais, a menos e permite

melhor compreensão do sistema decimal. Além disso, se o aluno não tiver domínio da

representação convencional, o problema permite representações espontâneas. No

entanto, atividades como essa, com ilustrações, é importante que estejam em tamanho

adequado para que o aluno possa ver os valores. Nesse problema a tela custa R$36,00 e

o conjunto de pincéis, R$48,00.

A partir da apresentação dos dados da pesquisa e posterior considerações à luz

do referencial teórico, presente nesse trabalho, realizamos nossas reflexões em relação a

problemática dessa pesquisa.

135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos a última parte desse trabalho, o qual iniciamos nossa pesquisa com

intuito de responder a seguinte problemática: O que revelam os diagnósticos e os

encaminhamentos dados por professores que atuam no 5º ano do Ensino

Fundamental a alunos em situação de dificuldades de aprendizagem em

matemática?

Relembramos que, devido ao número significativo de alunos que não chegam

ao nível esperado, nas avaliações externas em Matemática e, por considerarmos, que o

apoio pedagógico oferecido pelas escolas estaduais de Mato Grosso, é de extrema

relevância para o avanço na aprendizagem, de alunos em situação de dificuldade de

aprendizagem nessa disciplina, entendemos que essa pesquisa, torna-se importante, na

intenção de conhecer como professores veem considerando a temática das dificuldades

de aprendizagem em Matemática, no ambiente escolar.

Na busca de respostas para nosso problema de investigação, contamos com a

participação de duas escolas Estaduais (com pseudônimos de Pardal e Sabiá), as quais

uma professora regente e uma professora articuladora, de cada escola, foram os sujeitos

de nossa pesquisa. Sendo assim, para uma escolha metodológica de cunho qualitativo,

com interpretação dos dados nos apoiamos na fundamentação teórica presente nessa

pesquisa.

Pontuamos, que ao estabelecermos as categorias (abordagem tradicional e

abordagem construtivista) de análise, tivemos por intenção buscar aproximações para as

abordagens consideradas, nas falas das professoras, em vista a nossa problemática.

Desse modo, destacamos que seria necessário observar a prática dessas professoras para

termos mais clareza de suas concepções.

Os instrumentos de pesquisa (documentos, questionários e entrevistas) foram

selecionados e elaborados para professoras regentes de 5ºano do Ensino Fundamental e

para professoras articuladoras. A sala de articulação é um espaço diferenciado e

singular, na organização das escolas em ciclos de formação humana, e propicia um

apoio extra aos alunos em situação de dificuldade de aprendizagem.

136

Para as considerações finais, organizamos os resultados gerais juntamente com

cada objetivo específico para essa pesquisa.

Na análise do Projeto Político Pedagógico das escolas pesquisadas, percebemos

que não há um espaço, especificamente para esse assunto. Como o projeto deve ser

elaborado em conjunto (professora regente, articuladora e coordenadora), deveria trazer

como os profissionais da escola veem entendendo as dificuldades de aprendizagem, seus

conceito, causas e ações pedagógicas para sanar as dificuldades dos alunos. Entendemos

que para o sucesso do ciclo de formação humana, é imprescindível o trabalho conjunto

entre professores regentes, articuladores e coordenadores pedagógicos. No entanto,

parece que não há clareza suficiente, dada a ausência dessa discussão no PPP em

apontar como resolver essa situação.

Na busca, em conhecer as concepções das professoras, quanto ao ensino e

aprendizagem da Matemática, a análise nos revelou que existe transição entre as duas

abordagens, tradicional e construtivista. No entanto, percebemos que existe insegurança

nas respostas, pouco consistentes, dessas professoras. Levantamos a hipótese, de que

essas professoras não tenham apropriação de um referencial teórico, que possa dar base

para suas ações didático-pedagógicas, com a Matemática. Além disso, o professor pode

se sentir cobrado para seguir modelos de ensino e aprendizagem e, mesmo que não

tenha compreensão desses modelos, tende a posicionar-se em relação a essas

concepções que, por vezes, não são refletidas em sua prática, em sala de aula.

Nas falas dessas professoras, a melhor forma de ensinar e aprender matemática

se dá pela exploração de material manipulativo. No entanto, na análise dos cadernos de

articulação, foi possível perceber que há uma tendência das professoras articuladoras

pouco explorarem a utilização de materiais manipulativos e utilização exercícios de

livros. Mesmo assim, seria necessário observar a prática dessas professoras, para saber

como estas utilizam os materiais manipulativos e se utilizam. Entendemos que a

aprendizagem ocorre pela coordenação das ações em nível de pensamento, sobre os

objetos. A partir desse movimento de manipulação dos objetos e organização de

pensamento, que cada vez mais o conhecimento se torna mais elaborado e as ações

serão mais sistemáticas.

Para conhecer o que as professoras entendem por Dificuldade de aprendizagem

em Matemática, suas causas e identificar as principais dificuldades de aprendizagem em

137

Matemática dos alunos, aplicamos questionário e entrevista e, na análise, identificamos

a fragilidade conceitual dessas professoras em relação a esse assunto. Quando

questionadas ao que entendem sobre DAM, as mesmas não conseguiram conceituar,

remetem as causas ou ao conteúdo que o aluno apresenta dificuldade.

Nas causas, elas entendem que o aluno é responsável por sua não

aprendizagem devido aos seus comportamentos em sala, como desinteresse e também

atribui a família que não apoiam seus filhos. Apenas uma professora, a regente Lidia, da

escola Pardal, também remeteu às causas ao próprio professor que não tem domínio do

conteúdo ou por falta de comprometimento deste. Essa professora também citou que as

causas podem estar relacionadas ao aspecto psicológico do aluno. Quando a professora

remete ao professor ser uma das causas da não aprendizagem dos alunos em

Matemática, podemos inferir que existe uma reflexão da professora, quanto às suas

ações em sala de aula. Essa resposta é positiva, pois o professor se posiciona quanto às

suas limitações na área da Matemática e tende a buscar estudar mais para apropriação de

conceitos matemáticos.

A partir das análises, foi possível perceber a fragilidade das professoras quanto

ao ensino e aprendizagem de Matemática e quanto às DAM, podendo incidir

negativamente no apoio aos alunos em situação de dificuldade de aprendizagem.

Nas falas das professoras, as quatro operações com números naturais são

apontadas como conteúdos de maior dificuldade dos alunos, com destaque para

multiplicação, exceto a professora Aline, da escola Sabiá, que considerou a divisão

como sendo de maior dificuldade e que eles desenvolvem bem na multiplicação. Essa

professora também comentou ter achado que os alunos teriam dificuldades no conteúdo

de frações, pois a mesma não tem domínio para sua abordagem em sala de aula. Ela

comentou que seguiria o livro, mas o curso oferecido pelo OBEDUC/UFMT

possibilitou melhor desenvolvimento do assunto em sala de aula.

Nos relatos das articuladoras, foi comentado que elas têm um obstáculo a

superar que é a periodicidade dos alunos em sala. No entanto, entendemos que esse

espaço deve ser complementar à sala de aula, com a professora regente. Por isso, a

importância destas professoras, regentes e articuladoras, estabelecerem diálogo quanto

às ações didático-pedagógicas, para com esses alunos e tornar possível que, as

atividades propostas no apoio sejam diferenciadas da sala de aula, para melhor motivar

138

os alunos. Se as propostas forem iguais e pouco mobilizadoras, o aluno pode se sentir

incapaz de aprender e, por consequência, acha que a culpa é dele, influenciando tanto

em novas aprendizagens quanto na percepção que tem de si mesmo.

O alto número de alunos que não comparecem a sala de articulação, torna-se

pertinente pensar uma escola em horário integral, pois os alunos fariam suas atividades

enviadas para casa na própria escola e ainda teriam presença nos apoios pedagógicos.

Esse modo de frequência do aluno na escola favorece sua aprendizagem, desde que a

escola tenha estrutura, tanto física quanto pedagógica para receber os alunos em horário

integral. Mesmo assim, reforçamos que é responsabilidade da escola manter diálogo

com os alunos, ressaltando a importância de estarem em sala de articulação.

Ressaltamos que na Escola Pardal existem fichas de encaminhamento para sala

de articulação de aprendizagem, preenchida pelo professor regente, relatório semestral

elaborado pela professora articuladora e, pela entrevista, não há contato entre elas para

um planejamento conjunto. Já na Escola Sabiá, não há ficha de encaminhamento, o

relatório é anual, a professora articuladora não apresentou planejamento de aula e

também não foi ressaltado que há diálogo entre essas professoras e coordenação para

planejamento conjunto e outras ações, em vista a sanar as DAM dos alunos.

Consideramos, que para o sucesso desse espaço, também se faz necessário o trabalho

conjunto entre professora regente, articuladora e coordenadores para planejamentos

mais adequados e, que nesses documentos, as informações sobre o aluno sejam mais

detalhadas. Assim, fica mais fácil para elaborar propostas que sejam mais eficazes na

melhor aprendizagem desses alunos.

Como o objetivo de analisar as atividades presentes nos cadernos dos alunos,

de articulação, não temos a pretensão de identificar se a atividade responde para uma

abordagem tradicional ou construtivista, pois seria necessário observação em sala de

aula de modo a perceber como a professora encaminha essas atividades. No entanto,

buscamos aproximações, uma tendência dessas professoras, presente em suas atividades

propostas em sala. Sendo assim, verificamos que existe uma maior proximidade para

uma abordagem tradicional. Percebemos um número maior de atividades que podem ser

classificadas como tradicionais, como as atividades de arme e efetue e cópias de livro

didático, mas como mencionado em entrevista, em relação a falta de abordagem da

Matemática nos cursos de formação, talvez essas professoras remetam a atividades

139

consideradas tradicionais por frágil apropriação de conteúdos matemáticos. Elas até

apresentam atividades, como resolução de problemas, no entanto pouco exploram,

provavelmente, por não terem segurança para abordagem de conceitos matemáticos, e

por isso, tendem a utilizarem cópias de livro.

Os dados obtidos nessa pesquisa revelaram que os alunos considerados com

DAM estão em situação de DAM, pois como já conceituado, esses alunos pouco

avançam na aprendizagem da Matemática pelo tipo de abordagem utilizada em sala de

aula. Essa abordagem, provavelmente, seja diretamente influenciada pela deficiência

das professoras quanto ao ensino e aprendizagem da matemática. Essas professoras

parecem pouco refletir em relação a sua atuação profissional, o que dificulta ações

futuras e eficazes com seus alunos. Entendemos que o professor deve ter claro, que

conceitos matemáticos pretendem desenvolver em sala e, ter apropriação deste. Para

isso, ao selecionar as atividades, o professor deve saber como será desenvolvido em

sala, para possibilitar a aprendizagem dos alunos. Também é importante que reflitam

sobre a influência de suas ações na aprendizagem dos alunos e a partir dos resultados

obtidos, elaborar novas ações didático-pedagógicas.

Um aspecto revelador da pesquisa foi a não compreensão dos professores

quanto as DAM, sendo que na escola Pardal, a professora regente apresenta

especialização em Psicopedagogia e a articuladora em Educação Especial. Do mesmo

modo, na escola Sabiá, a professora regente apresenta especialização em Educação

Especial e a articuladora em, Psicopedagogia. Nessas duas modalidades de

especialização, existe um espaço destinado às DA, e ficamos surpresos que as quatro

professoras não saibam conceituar o tema, identificar causas das DA dos alunos, além

da fragilidade em diagnosticar os conceitos matemáticos que os alunos apresentam

dificuldades.

Outro aspecto a ser destacado é em relação ao pouco valor dado, pelos

professores e pela escola, aos planos de aula, relatórios dos alunos e fichas de

encaminhamento dos alunos para sala de articulação. Não ter esses documentos ou

apresentá-los de modo superficial e homogeneizando alunos, denota pouco valor dado

para esses documentos e fragilidade do professor na elaboração destes. Desse modo,

esses documentos pouco dizem acerca do desenvolvimento dos alunos na aprendizagem

e não demonstram como as atividades estão sendo propostas em sala de aula.

140

Também é relevante comentar que as professoras não demonstraram clareza

quanto a como realizam o diagnóstico dos alunos. Suas respostas foram inconsistentes e

não apresentaram planejamento para diagnóstico. Apenas dizem que propõem

conteúdos dos anos anteriores ao que o aluno está matriculado, enfatizando as quatro

operações fundamentais. Desse modo, sem uma preparação, o real diagnóstico das

aprendizagens dos alunos fica comprometido.

Essa pesquisa possibilitou percebermos a fragilidade das professoras para com

o ensino e aprendizagem da matemática e quanto às DAM. Além disso, destacamos a

deficiência na preparação de professoras articuladoras, para o apoio pedagógico de

alunos em situação de dificuldade de aprendizagem em Matemática. Assim, reiteramos

a importância de se repensar o processo de formação inicial do professor da escola

básica e a relação entre conteúdos e prática docente. Para além da formação inicial, a

continuada também merece ser melhor desenvolvida junto aos profissionais da escola,

para a aprendizagem da Matemática e diminuição dos alunos em situação de dificuldade

de aprendizagem em Matemática.

141

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APÊNDICES

Apêndice 1: Questionário de caracterização da escola (O5) ....................................................... 152

Apêndice 2: Caracterização do professor (Q1) ........................................................................... 154

Apêndice 3: Questionário ao professor articulador sobre dificuldade de aprendizagem e

organização da turma (Q 2) ........................................................................................................ 156

Apêndice 4 : Questionário ao articulador sobre ensino da Matemática (Q3) .............................. 159

Apêndice 5: Ficha de dificuldades dos alunos ............................................................................ 160

Apêndice 6: Concepções de professores (O3) ............................................................................ 161

Apêndice 7: Autorização das professoras ................................................................................... 165

Apêndice 8: Roteiro de entrevista com professoras .................................................................... 166

152

Apêndice 1: Questionário de caracterização da escola (O5)

Nome da escola: _______________________________________________________

Endereço: ____________________________________________________________

Bairro: ________________________________________________________________

Telefone(s): ____________________ Email da Escola:

__________________________

Nome do (a) Diretor (a) da Escola:

__________________________________________

Nome dos coordenadores da escola:

______________________________________________________________________

Ano de criação da escola: ______________ Nº. total de alunos: ________

Nº. total de salas de aula: _____________ Nº. total de turmas: _______

Possui biblioteca? _________ Possui sala multimídia? _________

Possui salas anexas?________ Quantas?_________

Possui laboratórios?_______De quê?

________________________________________ Possui recursos midiáticos (data

show, computador, dvd, etc) que podem ser utilizados nos encontros de formação?

Quais?__________________________________________ Níveis de ensino que a

escola oferece: Ensino Fundamental – ( ) Anos Iniciais Regular ( ) Anos

Iniciais EJA Ensino Fundamental - ( ) Anos Finais Regular

( ) Anos Finais EJA Ensino Médio - ( ) Regular

( ) EJA Turnos de funcionamento: ( ) Matutino ( ) Vespertino ( )

Noturno

Nº. total de Professores:

__________________________________________________

Nº. de professores que lecionam na escola nos: ( ) 4º anos ( ) 5º anos

( ) 6º anos (de Matemática)

153

Assinatura

(coordenador/diretor)___________________________________________

154

Apêndice 2: Caracterização do professor (Q1)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Mestranda: Lilian Leandro da Fonseca Orientadora: Profª Drª

Marta Maria Pontin Darsie

Professor (a) gostaríamos de contar com sua colaboração para responder a este

questionário de caracterização, que tem por objetivo levantar informações que serão

importantes para o desenvolvimento de uma pesquisa de mestrado que objetiva

compreender as dificuldades de aprendizagem em Matemática de alunos do 5ºano do

ensino fundamental, que são encaminhados para o(a) professor(a) articulador. Quanto às

informações obtidas, quando citadas na pesquisa, será preservado o seu anonimato.

Agradecemos pelo seu tempo, atenção e pela valiosa colaboração.

CARACTERIZAÇÃO DO PROFESSOR

1. Dados Pessoais

a) Nome

completo:______________________________________________________________

__

b) Data de Nasc.:__________________ c) Naturalidade___________________ d) ( )

Efetivo ( ) Interino

Telefone:_________________________________

celular:_____________________________

E-mail:

2. Formação Acadêmica

Curso:

______________________________________________Instituição:_______________

____________

155

Ano de ingresso: ________ Ano de conclusão: _________ Cidade/Estado:

____________________________

b) Pós-Graduação: ( ) Especialização ( ) Mestrado ( ) Doutorado

Curso: ___________________________________________________

Instituição:______________________

Ano de ingresso: ________ Ano de conclusão: _________ Cidade/Estado:

___________________________

c) Que motivos o levaram escolher a carreira de professor e particularmente nos anos

iniciais?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____ Experiência Profissional

a) Há quantos anos você atua como professor (a) nos anos iniciais do Ensino

Fundamental? E como professor(a) articulador?

______________________________________________________________________

_______________

b) Qual o nome da(s) escola(s) em que você trabalha atualmente como professor(a)

articulador e a quanto tempo trabalha exerce essa função, nessa(s) escola(s),

respectivamente?

______________________________________________________________________

__ Cuiabá-MT, ____ de ____________________de 2012.

Assinatura do professor (a):________________________________________________

Obrigada pela colaboração.

156

Apêndice 3: Questionário ao professor articulador sobre dificuldade de

aprendizagem e organização da turma (Q 2)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Mestranda: Lilian Leandro da Fonseca Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

QUESTIONÁRIO AO PROFESSOR ARTICULADOR

Professor articulador, para continuidade no desenvolvimento da pesquisa de mestrado gostaríamos

de contar com sua colaboração para responder a este questionário quanto a compreensão das

dificuldades de aprendizagem em Matemática de alunos do 5ºano do ensino fundamental, que são

encaminhados para articulação. Quanto às informações obtidas, quando citadas na pesquisa, será

preservado o seu anonimato. Agradecemos pelo seu tempo, atenção e pela valiosa colaboração.

1. Dados gerais:

a) Nome completo: _____________________________________________________

b) Nome da escola: _____________________________________________________

2. Sobre o Ensino de Matemática nos anos iniciais para alunos em situação de

dificuldade de aprendizagem:

a) Quais são os motivos dos professores que encaminham os alunos considerados com

dificuldades de aprendizagem em Matemática, para articulação?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Há algum encaminhamento oficial, documentos, ficha, ou algo equivalente relatando

as dificuldades dos alunos e sugestões de atendimento pelo professor regente?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

157

c) A partir do encaminhamento desses alunos, como você procede?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d) Há algum tipo de encaminhamento feito pelo coordenador pedagógico ou

coordenador de ciclo?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

e) E os professores regentes acompanham seus alunos enquanto estão com você? Qual é

a forma de acompanhamento?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

f) Como é organizado o atendimento para esses alunos, como local, carga horária e

materiais disponíveis?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

g) Como são planejadas as intervenções com estes alunos? Os professores e os

coordenadores planejam com você?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

h) Quando você percebe que algum aluno encaminhado não está, de fato, em situação de

dificuldade de aprendizagem como você procede?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

i) Quais são, na sua opinião, as principais dificuldades de aprendizagem que apresentam

os alunos com quem você trabalha?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

158

j) A que causas você atribui estas dificuldades?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

k) Quais características/comportamentos apresentam esses alunos?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2. Quanto ao ensino aprendizagem da Matemática:

a) Qual a finalidade da Matemática no currículo escolar?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

b) Como o aluno aprende matemática?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

c) Como você ensina matemática?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

d) Você apresenta dificuldade para ensinar algum conteúdo matemático?

Se sim, qual (is)?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Cuiabá-MT, ____ de ____________________de 2012.

159

Apêndice 4 : Questionário ao articulador sobre ensino da Matemática (Q3)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE ESTUDOS E PESQUISAS EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

Mestranda: Lilian Leandro da Fonseca Orientadora: Profª Drª Marta Maria Pontin Darsie

QUESTIONÁRIO AO PROFESSOR ARTICULADOR

Professor(a) articulador(a), para continuidade da pesquisa de mestrado gostaríamos de contar com sua colaboração para

responder a este questionário quanto a compreensão das dificuldades de aprendizagem em Matemática de alunos do

5ºano do ensino fundamental, que são encaminhados para articulação. Quanto às informações obtidas, quando citadas

na pesquisa, será preservado o seu anonimato. Agradecemos pelo seu tempo, atenção e pela valiosa colaboração.

1. Dados gerais:

a) Nome completo: _____________________________________________________

b) Nome da escola: _____________________________________________________

2. Quanto ao ensino aprendizagem da Matemática:

a) Qual a finalidade da Matemática no currículo escolar?

______________________________________________________________________

__b) Como o aluno aprende matemática?

______________________________________________________________________

c) Como você ensina matemática?

______________________________________________________________________

d) Você apresenta dificuldade para ensinar algum conteúdo matemático?

Se sim, qual (is)?

_____________________________________________________________________________________

Cuiabá-MT, ____ de ____________________de 2012.

160

Apêndice 5: Ficha de dificuldades dos alunos

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-IE

Instituto de Ciências Exatas e da Terra

Programa de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática -PPGECEM

Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências

FICHA DE DIFICULDADES DOS ALUNOS:

Escola:

Nome do aluno:

Idade:

Ano de escolarização: Turma:

Quais dificuldades ele (a) apresenta em relação ao conhecimento Matemático?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

____

Qual é a causa dessas dificuldades?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

__

O que vc/Escola tem feito para ajudar esse aluno que apresenta essas dificuldades?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

__

E você professor? Você tem dificuldade em ensinar esses conteúdos?

_

161

Apêndice 6: Concepções de professores (O3)

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-IE

Instituto de Ciências Exatas e da Terra

Programa de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática -PPGECEM

Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências

QUESTIONÁRIO - CONCEPÇÕES DE MATEMÁTICA DE ENSINO E

APRENDIZAGEM

Nome do professor:______________________________________________________

Nome da escola: _______________________________________________________

1) O que é Matemática para você? _________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2) Em sua opinião, é importante ensinar Matemática? Por quê?____________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3) Qual seu objetivo em ensinar Matemática aos seus alunos?_____________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4) Qual a melhor maneira para se ensinar Matemática?__________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Solicitamos sua colaboração para responder a este questionário, que tem por objetivo

levantar informações que serão importantes para o desenvolvimento do projeto Observatório

da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências. Agradecemos pelo seu tempo,

atenção e pela valiosa colaboração.

162

5) Qual a melhor maneira de aprender Matemática? _____________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-IE

Instituto de Ciências Exatas e da Terra

Programa de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática -PPGECEM

Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências

QUESTIONÁRIO - PROBLEMAS E DIFICULDADES

Nome do professor:______________________________________________________

Nome da escola: _______________________________________________________

1) Você encontra dificuldades para ensinar os conteúdos de Matemática?

( ) Sim ( ) Não ( ) Às vezes. Quais?_______________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2) Seus alunos apresentam dificuldades em aprender Matemática? Quais? e Porquê?

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

3) O que pode ser feito para ajudá-los a superar essas dificuldades?________________

Solicitamos sua colaboração para responder a este questionário, que tem por objetivo

levantar informações que serão importantes para o desenvolvimento do projeto Observatório

da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências. Agradecemos pelo seu tempo,

atenção e pela valiosa colaboração.

163

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

4) O que você atribui ao baixo desempenho de seus alunos na Prova Brasil?__________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

____

5) Como você acha que a escola poderia contribuir para que seus alunos tenham um

melhor desempenho na Prova Brasil?________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

164

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE-IE

Instituto de Ciências Exatas e da Terra

Programa de Doutorado em Educação em Ciências e Matemática -PPGECEM

Projeto Observatório da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências

QUESTIONÁRIO - PRÁTICAS DE SALA DE AULA DE MATEMÁTICA

QUESTIONÁRIO - PRÁTICAS DE SALA DE AULA DE MATEMÁTICA

1) Em sua opinião que tipo de recursos e metodologias são mais adequados para o

ensino de matemática? ____________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

______________________________________________________________________

2) Que características são essenciais em uma atividade que favoreça a aprendizagem de

Matemática dos alunos? _____________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

_______________________________________________________________________

3) Você acha que a carga horária destinada ao ensino da Matemática é suficiente?_____

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________

Solicitamos sua colaboração para responder a este questionário, que tem por objetivo

levantar informações que serão importantes para o desenvolvimento do projeto Observatório

da Educação com foco em Matemática e iniciação às Ciências. Agradecemos pelo seu tempo,

atenção e pela valiosa colaboração.

165

Apêndice 7: Autorização das professoras

MESTRADO EM EDUCAÇÃO

GRUPO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO

MATEMÁTICA

AUTORIZAÇÃO DO(A) PROFESSOR(A)

Eu, _____________________________________________________________,

professor (a) da Escola ___________________________________________________,

autorizo o Mestranda Lilian Leandro da Fonseca, acadêmica do Programa de Pós-

Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso, na linha de Pesquisa

em Educação em Ciências e Educação Matemática, sob orientação da Profª Dra. Marta

Maria Pontin Darsie a observar minhas aulas, aplicar-me questionários e realizar

entrevistas, para pesquisa intitulada “diagnósticos e encaminhamentos dados por

professores a alunos em situação de dificuldades de aprendizagem em matemática”

no ano letivo de 3013. Na certeza que, na referida pesquisa, todas as informações

prestadas, documentos analisados não serão repassados a terceiros e os nomes reais

serão mantidos em absoluto anonimato.

Cuiabá-MT, ____de setembro de 2013.

___________________________________________

Professrora(a) da escola

166

Apêndice 8: Roteiro de entrevista com professoras

ENTREVISTA COM PROFESSOR REGENTE

1. Quantos alunos, em média, apresentam DAM em sua sala, nesse ano de 2013?

2. Como você procede quando percebe que o aluno está com dificuldade de

aprendizagem em Matemática?

3. Para você, o que é uma DAM?

4. Por que você acha que esses alunos veem apresentando DAM?

1. A que você atribui essa dificuldade?

2. Quais os conteúdos matemáticos que os alunos apresentam mais dificuldades?

3. Como você vê a sala de articulação?

4. Você acha que a sala de articulação contribui para sanar as DAM?

5. E como você percebe isso?

6. Qual é sua relação com o professor de sala de articulação?

ENTREVISTA COM PROFESSOR ARTICULADOR

1. Como você vê a sala de articulação?

2. Pra você, o que é DAM?

3. Na sua opinião, quais as principais causas das dificuldades de aprendizagem em

Matemática dos alunos atendidos em sala de articulação? (Alguns professores

dizem que é falta de concentração. Nesse caso, perguntar o que leva esse aluno a

não se concentrar nas atividades propostas).

4. Como você procede quando um aluno é encaminhado para articulação? (Ela

utiliza a ficha de encaminhamento para articulação e realiza diagnóstico para

confirmar a DAM do aluno ou elabora as atividades apenas considerando o escrito

nas fichas?)

5.Quais os conteúdos matemáticos que os alunos apresentam mais dificuldades?

6.Com que frequência você dialoga com o professor regente a respeito do

desenvolvimento dos alunos em articulação? Existe esse contato com o professor

regente?

7.Como é o processo de avaliação desse aluno?

167

8. Existe apoio da SEDUC aos professores articuladores com formação continuada?

(Se sim, de que maneira tem contribuído para as ações desenvolvidas em articulação

com alunos com DAM?