diagnóstico socioeconômico diversus
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Diagnóstico Socioeconômico da Área Diretamente Afetada e da Área de Influência Direta do empreendimento Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S.A. (Ex-MMX Minas-Rio Mineração S.A.) - Lavra a Céu Aberto com Tratamento a Úmido Minério de Ferro - Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim/MG - DNPM Nº: 830.359/2004 - PA/Nº. 00472/2007/004/2009 - Classe 06.m -TRANSCRIPT
Área Diretamente Afetada (ADA) e Área de Influência Direta (AID) da Mina da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A
- Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim -
Agosto de 2011
Diagnóstico Socioeconômico da Área Diretamente Afetada e da Área de Influência
Direta do empreendimento Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S.A. (Ex-MMX Minas-
Rio Mineração S.A.) - Lavra a Céu Aberto com Tratamento a Úmido Minério de Ferro - Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim/MG - DNPM Nº:
830.359/2004 - PA/Nº. 00472/2007/004/2009 - Classe 06.
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EMPRESA RESPONSÁVEL POR ESTE RELATÓRIO
Razão Social Diversus Consultores Associados Ltda
Nome Fantasia Diversus Ambiente e Cultura
CNPJ 05.119.944/0001-04
Endereço Rua Gentios, 260 - Coração de Jesus
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E-mail [email protected]
EQUIPE TÉCNICA
TÉCNICO FORMAÇÃO RESPONSABILIDADE NO PROJETO
Alexandre Sampaio Economista Pesquisa de Campo e Diagnóstico
Ana Tereza Farias Cientista Social Pesquisa de Campo
Carlos Marques Antropólogo Pesquisa de Campo e Diagnóstico
Gabriela Braga Historiadora Pesquisa de Campo
Leonardo Carvalho Geógrafo Cartografia
Luiz Maia Historiador Pesquisa de Campo e Diagnóstico
Marcelino Marquez Economista Pesquisa de Campo
Marcos Rezende Historiador Pesquisa de Campo, Diagnóstico e Coordenação
Nicolas Mendes Cientista Social Pesquisa de Campo
Ricardo Álvares Antropólogo Pesquisa de Campo, Diagnóstico e Coordenação
Said Félix Historiador Pesquisa de Campo e Diagnóstico
EQUIPE DE APOIO
TÉCNICO RESPONSABILIDADE
Edgard Neves Elaboração de Banco e Cruzamento de Dados
Leonardo Alvim Programação Visual do Banco de Dados
Pedro Libanio Programação HTML do Banco de Dados
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Sumário
1 - Apresentação ................................................................................................................................................... 10
2 - Metodologia ..................................................................................................................................................... 15
2.1 - Introdução ................................................................................................................................................. 15
2.2 - Pesquisa Censitária .................................................................................................................................... 21
2.3 - Entrevistas em Profundidade...................................................................................................................... 25
2.4 - Grupo Focal ou Grupo de Discussão ........................................................................................................... 25
2.5 - Situação etnográfica para analisar o processo de negociação .................................................................... 33
3 - Pesquisa Censitária: Perfil Demográfico, Habitacional e produtivo ................................................................. 37
3.1 - Introdução ................................................................................................................................................. 37
3.2 - Perfil Demográfico ..................................................................................................................................... 37 3.2.1 - Número de Moradores por Localidade ................................................................................................ 37 3.2.2 - Número de Moradores por Sexo ......................................................................................................... 38 3.2.3 - Pirâmide Etária .................................................................................................................................... 39 3.2.4 - Relações de Parentesco Entre Pessoas do Mesmo Núcleo Familiar ..................................................... 40 3.2.5 - Número de Moradores por Local de Nascimento ................................................................................ 41 3.2.6 - Número de Moradores por Deficiência Física ...................................................................................... 43 3.2.7 - Índice de Analfabetismo ...................................................................................................................... 43 3.2.8 - Número de Moradores que Frequentam Escola .................................................................................. 44 3.2.09 - Número de Moradores por Ocupação ............................................................................................... 45 3.2.10 - Renda Monetária .............................................................................................................................. 46
3.3 - Perfil Habitacional ...................................................................................................................................... 47 3.3.1 - Número de Domicílios por Comunidade .............................................................................................. 47 3.3.2 - Condição dos Domicílios ...................................................................................................................... 48 3.3.3 - Condição do Terreno ........................................................................................................................... 49 3.3.4 - Formas de Abastecimento de Água ..................................................................................................... 50 3.3.5 - Condições de Saneamento .................................................................................................................. 52 3.3.6 - Fonte de Energia Utilizada ................................................................................................................... 53 3.3.7 - Disposição Final dos Resíduos Domésticos .......................................................................................... 54 3.3.8 - Número de Cômodos dos Domicílios ................................................................................................... 55 3.3.9 - Material Predominante nas Paredes ................................................................................................... 57 3.3.10 - Material Predominante na Cobertura ................................................................................................ 58 3.3.11 - Material Predominante no Piso ......................................................................................................... 58 3.3.12 - Participação de Membro da Família em Organizações Sociais ........................................................... 59 3.3.13 - Religiosidade ..................................................................................................................................... 60 3.3.14 - Hábitos de Comunicação ................................................................................................................... 62 3.3.15 - Opções de Lazer ................................................................................................................................ 63 3.3.16 - Utilização de Cursos D’Água .............................................................................................................. 65 3.3.17 - Utilização de Sopés e Topos de Montanhas ....................................................................................... 67 3.3.18 - Locais Considerados Mais Bonitos e Agradáveis ................................................................................ 68
3.4 - Perfil Produtivo .......................................................................................................................................... 71 3.4.1 - Produção Pecuária .............................................................................................................................. 71
3.4.1.1 - Produção Pecuária Bovina ............................................................................................................ 72 3.4.1.2 - Tipo de Pecuária Bovina ............................................................................................................... 72 3.4.1.3 - Destino da Produção Pecuária Bovina........................................................................................... 73
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3.4.1.4 - Efetivo Bovino da Pecuária ........................................................................................................... 74 3.4.1.5 - Produção de Galináceos ............................................................................................................... 74 3.4.1.6 - Destino da Produção de Galináceos .............................................................................................. 75 3.4.1.7 - Produção de Suínos ...................................................................................................................... 76 3.4.1.8 - Destino da Produção de Suínos .................................................................................................... 77 3.4.1.9 - Demais Efetivos de Pecuária ......................................................................................................... 77 3.4.1.10 - Destino da Produção dos Demais Efetivos de Pecuária ............................................................... 78 3.4.1.11 - Desenvolvimento de Piscicultura ................................................................................................ 78 3.4.1.12 - Destino da Produção de Piscicultura ........................................................................................... 79
3.4.2 - Produção Agrícola ............................................................................................................................... 79 3.4.2.1 - Desenvolvimento de Produção Agrícola ....................................................................................... 79 3.4.2.2 - Hortaliças ..................................................................................................................................... 80 3.4.2.3 - Destino da Produção de Hortaliças ............................................................................................... 81 3.4.2.4 - Pomares ....................................................................................................................................... 82
3.4.3 - Produção Agroindustrial ...................................................................................................................... 82 3.4.3.1 - Produção de Farinha..................................................................................................................... 83 3.4.3.2 - Destino da Produção de Farinha ................................................................................................... 83 3.4.3.3 - Existência de Forno de Barro ........................................................................................................ 84 3.4.3.4 - Produção de Quitandas ................................................................................................................ 85 3.4.3.5 - Destino da Produção de Quitandas ............................................................................................... 85 3.4.3.6 - Produção de Doces ....................................................................................................................... 86 3.4.3.7 - Destino da Produção de Doces ..................................................................................................... 87 3.4.3.8 - Produção de Queijo ...................................................................................................................... 87 3.4.3.9 - Produção de Cachaça ................................................................................................................... 88
4 - Pesquisa de Percepção Ambiental: O Contexto Regional E o empreendimento Segundo o Olhar dos Entrevistados ........................................................................................................................................................ 89
4.1 - Introdução ................................................................................................................................................. 89
4.2 - O Que os Entrevistados Mais Gostam na Região ........................................................................................ 90
4.3 - Se Mudar, do Que Mais Sentirá Falta ......................................................................................................... 93
4.4 - Principais Problemas da Região .................................................................................................................. 97
4.5 - Opinião a Respeito do Projeto de Mineração ............................................................................................ 101
4.6 - Possíveis Benefícios Decorrentes do Projeto de Mineração ....................................................................... 106
4.7 - Possíveis Problemas Decorrentes do Projeto de Mineração ...................................................................... 110
4.8 - Se o entrevistado percebeu alguma alteração na região .......................................................................... 114
4.9 - O que os responsáveis pelo projeto deveriam fazer para resolver estes problemas? ................................. 120
4.10 - Considera atingido pelo projeto de Mineração? ..................................................................................... 123
4.11 - Sua família terá que ser relocada? ......................................................................................................... 127
4.12 - Sabe dizer o nome de pelo menos três lideranças? ................................................................................. 128
4.13 - Mais alguma coisa sobre o projeto de mineração ou sobre a região? ..................................................... 132
5 - Grupos Focais: Análise Coletiva de Questões Compartilhadas....................................................................... 137
5.1 - Caracterização da região do entorno do empreendimento ....................................................................... 137 5.1.1 - A vida nas comunidades antes do empreendimento ......................................................................... 138 5.1.2 - Principais dificuldades enfrentadas pela população antes do empreendimento ................................ 140 5.1.3 - Perspectivas das comunidades com o futuro ..................................................................................... 142
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5.2 - Alguns aspectos sobre as comunidades .................................................................................................... 144 5.2.1 - O que as pessoas mais gostam na região ........................................................................................... 144 5.2.2 - Formas de lazer / recreação na região ............................................................................................... 145 5.2.3 - Lugares mais bonitos e agradáveis da região ..................................................................................... 147 5.2.4 - De que sentirão falta os moradores se mudarem da região ............................................................... 148
5.3 - Opinião/percepção das pessoas sobre o empreendimento ....................................................................... 149 5.3.1 - Expectativas ao ficarem sabendo sobre o empreendimento.............................................................. 150 5.3.2 - Opinião dos grupos sobre o empreendimento................................................................................... 152 5.3.3 - Atingidos ou não atingidos pelo empreendimento ............................................................................ 155 5.3.4 - Como as comunidades estão sendo atingidas pela mineração ........................................................... 157 5.3.5 - Benefícios e problemas que o projeto pode trazer para a região ....................................................... 158 5.3.6 - Soluções para resolver os problemas causados pela mineradora....................................................... 161 5.3.7 - Mudanças na região após o início do empreendimento .................................................................... 163
5.4 - Relação das comunidades com o empreendimento .................................................................................. 164 5.4.1 - Relacionamento entre comunidades e responsáveis pelo projeto ..................................................... 164 5.4.2 - O que se espera dos responsáveis pelo empreendimento? ............................................................... 166 5.4.3 - Importância do projeto para a região ................................................................................................ 167
6 - Análise Sobre a Condução do Processo de Negociação .................................................................................. 169
6.1 - Contexto do Empreendimento: Desdobramentos e Repercussões do Processo de Negociação .................. 169 6.1.1- Conflitos Empreendimento X Atingidos .............................................................................................. 182 6.1.2 - Conflito Pimenta X Empreendedor: um caso comum na região ......................................................... 193 6.1.3 - Caso Rodrigues: a saída é o ultimo recurso ........................................................................................ 195 6.1.4 - Os atingidos e sua luta ...................................................................................................................... 197
6.2 - Algumas Considerações Sobre as Comunidades Negras Rurais da Região do Empreendimento ................ 211 6.2.1 - Algumas considerações sobre os direitos das comunidades negras rurais com características quilombolas ................................................................................................................................................. 215
6.3 - Um Panorama das Negociações ............................................................................................................... 217
6.4 - Comunidades ........................................................................................................................................... 238 6.4.1 - Ferrugem .......................................................................................................................................... 238 6.4.2 - Mumbuca/Água Santa ....................................................................................................................... 249 6.4.3 - Serra de São José............................................................................................................................... 276 6.4.4 - Taporôco ........................................................................................................................................... 280 6.4.5 - Buriti ................................................................................................................................................. 287 6.4.6 - Parte de Gondó - próximo da Serra da Ferrugem .............................................................................. 293 6.4.7 - Passa Sete ......................................................................................................................................... 296 6.4.8 - Outros entrevistados ......................................................................................................................... 299
7 - sÍNTESE DOS pRINCIPAIS rESULTADOS oBTIDOS e Recomendações .............................................................. 301
7.1 - Procedimentos de Pesquisa e Dados Gerais do Universo .......................................................................... 301
7.2 - Principais Problemas Identificados ........................................................................................................... 305 7.2.1 - Fragmentação e Deficiências do Processo de Licenciamento ............................................................. 305 7.2.2 - Utilização de Empresa Agropecuária para a Aquisição de Terras ....................................................... 306 7.2.3 - Tensão entre Empreendedor e Atingidos .......................................................................................... 309 7.2.4 - Sensação de Insegurança .................................................................................................................. 309 7.2.5 - Baixa Coesão Social ........................................................................................................................... 310 7.2.6 - Fragmentação do Processo de Negociação ........................................................................................ 310 7.2.7 - Desarticulação das Comunidades Atingidas ....................................................................................... 311 7.2.8 - Marginalização dos Atingidos ............................................................................................................ 312
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7.2.9 - Desconsideração de Algumas Comunidades ...................................................................................... 313 7.2.10 - Utilização da Categoria "Emergencial" para Alguns Atingidos e Desrespeito ao Valor Simbólico da Terra ............................................................................................................................................................ 313 7.2.11 - Importância dos Quintais para a Reprodução Social das Famílias .................................................... 314 7.2.12 - Deficiência das Ações de Comunicação Social.................................................................................. 315 7.2.13 - Assistência Social e Médica Deficitária ............................................................................................ 316 7.2.14 - Alteração da Qualidade do Ar .......................................................................................................... 316 7.2.15 - Alteração da Qualidade da Água...................................................................................................... 316 7.2.16 - Diminuição da Vazão de Cursos e Fontes d'Água ............................................................................. 317 7.2.17 - Detonação de Explosivos e Emissão de Ruídos ................................................................................ 317 7.2.18 - Interrupção de Estradas .................................................................................................................. 318 7.2.19 - Alteração do Patrimônio Imaterial ................................................................................................... 318 7.2.20 - Alteração do Patrimônio Material ................................................................................................... 318 7.2.21 - Descumprimento, pelo Empreendedor, de Prazos Acertados .......................................................... 319 7.2.22 - Inadequação do Termo de Acordo Utilizado ao TAC de Irapé .......................................................... 319
8 - Recomendações ............................................................................................................................................. 321
9 - Bibliografia ..................................................................................................................................................... 326
Anexo 01 - Registros Fotográficos ....................................................................................................................... 330
Anexo 02 - Mapa (A1) de Localidades da Área de Estudo ................................................................................... 348
Anexo 03 - Mapas Temáticos .............................................................................................................................. 349
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Índice de Quadros e Figuras Quadro 2.4 a - GF1 Atingidos ................................................................................................................................................ 33 Quadro 2.4 B - GF2 Não Atingidos ........................................................................................................................................ 33 Quadro 2.4 C - GF3 Lideranças .............................................................................................................................................. 33 Figura 3.2.1 - Número de Moradores por Localidade ............................................................................................................ 38 Figura 3.2.2 - Número de Moradores por Sexo ..................................................................................................................... 39 Figura 3.2.3 - Pirâmide Etária................................................................................................................................................ 40 Figura 3.2.4 - Relações DE Parentesco Entre Pessoas de um Mesmo Núcleo Familiar ............................................................ 40 Figura 3.2.5 - Mora no Local Desde que Nasceu? ................................................................................................................. 41 Quadro 3.2.5 - Número de Moradores por Local de Nascimento........................................................................................... 42 Figura 3.2.6 - Número de Moradores por dEFICIÊNCIA fÍSICA ............................................................................................... 43 Figura 3.2.7 - Sabe Ler e Escrever? ....................................................................................................................................... 44 Figura 3.2.8 - Moradores que Frequentam Escola ................................................................................................................. 44 Quadro 3.2.9 - Numero de Moradores por Situação Ocupacional ........................................................................................ 45 Quadro 3.2.10 - Renda Monetária, por Fonte de Renda ........................................................................................................ 47 Figura 3.3.1 - Número de Domicílios por Comunidade ......................................................................................................... 48 Quadro 3.3.1 - Condição dos Domicílios da ADA e AE ........................................................................................................... 48 Quadro 3.3.3 - Condição do Terreno das famílias da ADA e AE ............................................................................................. 49 Figura 3.3.4-A - Formas de Abastecimento de Água ............................................................................................................. 51 Figura 3.3.4-B - Como a Água chega aos Domicílios .............................................................................................................. 52 Figura 3.3.5-A - Domicílios que Possuem Banheiro ou Sanitário ........................................................................................... 52 Figura 3.3.5-B - Tipo de Escoadouro do Banheiro ou Sanitário ............................................................................................. 53 Figura 3.3.6-B - Disponibilidade de Energia elétrica ............................................................................................................. 54 Quadro 3.3.7 - Disposição Final dos Resíduos Domésticos .................................................................................................... 54 Figura 3.3.8 A - Número de Cômodos dos Domicílios, por Intervalos.................................................................................... 56 Figura 3.3.8 B - Número de Cômodos dos Domicílios Utilizados como Dormitório ............................................................... 57 Figura 3.3.9 - Material Predominante nas Paredes ............................................................................................................... 57 Quadro 3.3.10 - Material Predominante na Cobertura .......................................................................................................... 58 Quadro 3.3.11 - Material Predominante no Piso ................................................................................................................... 58 Figura 3.3.12 - Alguém da Família Participa de organizações Sociais .................................................................................... 59 Quadro 3.3.12 - Tipo de Participação Social dos Membros das Famílias ................................................................................ 60 Figura 3.3.13 A - Praticam Religião ...................................................................................................................................... 61 Figura 3.3.13 B - Religiões Praticadas ................................................................................................................................... 61 Figura 3.3.14 - Tem Hábito de Assistir TV ou Ouvir Rádio ..................................................................................................... 62 Quadro 3.3.14 - Canais de Rádio e TV Citados ....................................................................................................................... 62 Figura 3.3.15 - Informaram Opções de lazer......................................................................................................................... 64 Quadro 3.3.15 - Opções de Lazer Informadas ....................................................................................................................... 64 Figura 3.3.16 - Frequenta Cursos d’água e Suas Margens ..................................................................................................... 66 Quadro 3.3.16 - Com Que Finalidade Frequência Cursos d’Água e Suas Margens .................................................................. 66 Figura 3.3.17 - Utiliza Sopés e Topos de Montanhas ............................................................................................................ 67 Quadro 3.3.17 - Finalidades com Que Frequenta Montanhas ............................................................................................... 68 Quadro 3.3.18 - Locais Considerados Mais Bonitos e Agradáveis .......................................................................................... 69 Figura 3.4.1.1 - desenvolve Produção Pecuária ..................................................................................................................... 72 Figura 3.4.1.2 - Tipo de Pecuária Bovina ............................................................................................................................... 73 Figura 3.4.1.3 - Destino da Produção Pecuária Bovina .......................................................................................................... 73 Figura 3.4.1.4 - Efetivo Bovino Pecuária, por Tipo ................................................................................................................. 74 Figura 3.4.1.5 - Possui Produção de Galináceos .................................................................................................................... 75 Figura 3.4.1.6 - Destino da Produção de Galináceos .............................................................................................................. 76 Figura 3.4.1.7 - Possui Produção de Suínos ........................................................................................................................... 76 Figura 3.4.1.8 - Destino da Produção de Suínos .................................................................................................................... 77 Quadro 3.4.1.9 - Demais Efetivos de Pecuária....................................................................................................................... 77 Quadro 3.4.1.10 - Destino da Produção dos Demais Efetivos de Pecuária ............................................................................. 78 Figura 3.4.1.11 - Desenvolve Piscicultura .............................................................................................................................. 78 Figura 3.4.1.12 - Destino da Produção de Piscicultura ........................................................................................................... 79 Figura 3.4.2.1- Destino da Produção Agrícola ....................................................................................................................... 80 Figura 3.4.2.2 - Produção de hortaliças ................................................................................................................................ 81 Figura 3.4.2.3 - Destino da Produção de Hortaliças .............................................................................................................. 81 Figura 3.4.2.4 - Existência de Pomares .................................................................................................................................. 82
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Figura 3.4.3.1 - Produz Farinha ............................................................................................................................................ 83 Figura 3.4.3.2 - Destino da Produção de Farinha .................................................................................................................. 84 Figura 3.4.3.3 - Possui Forno de Barro.................................................................................................................................. 84 Figura 3.4.3.4 - Produz Quitandas ........................................................................................................................................ 85 Figura 3.4.3.5 - Destino da Produção de Quitandas .............................................................................................................. 86 Figura 3.4.3.6 - ProduZ DOCES ............................................................................................................................................. 86 Figura 3.4.3.7 - dESTINO DA ProduÇÃO DE DOCES ............................................................................................................... 87 Figura 3.4.3.8 - dESTINO DA ProduÇÃO DE Queijo ............................................................................................................... 88 Figura 3.4.3.9 - Produz Cachaça ........................................................................................................................................... 88 Figura 4.2 A - O que mais Gosta na Região? ......................................................................................................................... 90 Figura 4.2 B - O que Mais Gosta na Região, por categorias ................................................................................................... 91 Quadro 4.2 - O que mais gosta na região .............................................................................................................................. 91 Figura 4.3-a - Se Mudar, do que Sentirá Falta? ...................................................................................................................... 94 Figura 4.3-B - Se Mudar, do que Sentirá Falta? Por categorias .............................................................................................. 95 Quadro 4.3 - Se Tiver Que Mudar, do Que Mais Sentirá Falta? ............................................................................................. 95 Figura 4.4 A - Principais Problemas da Região ...................................................................................................................... 98 Figura 4.4 B - Principais Problemas da Região, por Categorias.............................................................................................. 98 Quadro 4.4 - Principais Problemas da Região ........................................................................................................................ 99 Figura 4.5 A - Opinião Sobre o Projeto de mineração .......................................................................................................... 102 figura 4.5 B - Opinião Sobre o Projeto, por categorias ........................................................................................................ 103 Quadro 4.5 - Opinião Sobre o Projeto de Mineração .......................................................................................................... 104 Figura 4.6 A - Opinião se o Projeto Trará Benefícios ........................................................................................................... 107 Figura 4.6 B - Opinião se o Projeto Trará Benefícios, por categorias ................................................................................... 108 Quadro 4.6 - Opinião se o projeto trará benefício ............................................................................................................... 108 Figura 4.7 A - Opinião se o Projeto Trará Problemas .......................................................................................................... 110 Figura 4.7 B - Opinião se o Projeto Trará problema, por categorias .................................................................................... 111 Quadro 4.7 - Opinião se o projeto trará problema .............................................................................................................. 112 Figura 4.8 A - Percebeu alguma alteração na região ........................................................................................................... 115 Figura 4.8 B - percebeu alguma alteração na região, por categorias ................................................................................... 116 Quadro 4.8 - Percebeu alguma alteração na região ............................................................................................................ 117 Figura 4.9 - Como resolver os problemas, por categorias ................................................................................................... 121 Quadro 4.9 - como resolver os problemas .......................................................................................................................... 122 Figura 4.10 A - Considera Atingido pelo Projeto de Mineração? ......................................................................................... 124 Figura 4.10 B - Considera Atingido Pela Mineração, Por Categorias.................................................................................... 125 Quadro 4.10 - considera atingido pela mineração ............................................................................................................... 126 figura 4.11 - A Família Terá Que Ser Relocada? .................................................................................................................. 127 Quadro 4.11 - a família terá que ser relocada? ................................................................................................................... 128 Figura 4.12 - Sabe Dizer o Nome de Pelo Menos Três Lideranças? ...................................................................................... 129 Quadro 4.12 - nome de três lideranças locais ..................................................................................................................... 129 Figura 4.13 A - Gostaria de Falar Mais Alguma Coisa Sobre o Projeto ou a Região? ............................................................ 133 Figura 4.13 B - Mais Alguma Coisa Sobre o Projeto ou a Região, Por Categorias ................................................................. 134 Quadro 4.13 - Mais alguma coisa sobre o projeto ou a região ............................................................................................. 134 Comunidade de Ferrugem .................................................................................................................................................. 247 Comunidade de Ferrugem .................................................................................................................................................. 248 Cesta Básica Recebida por Edinei........................................................................................................................................ 261 Famílias ainda em Mumbuca/Água Santa ........................................................................................................................... 271 Famílias ainda em Mumbuca/Água Santa ........................................................................................................................... 272 Famílias ainda em Mumbuca/Água Santa ........................................................................................................................... 273 Famílias de Mumbuca que saíram de suas Áreas ................................................................................................................ 275 Serra de São José................................................................................................................................................................ 279 Serra de São José (Família de Dona Geralda) ...................................................................................................................... 279 Taporôco ............................................................................................................................................................................ 285 Taporôco ............................................................................................................................................................................ 286 Famílias de Buriti que saíram de suas áreas ........................................................................................................................ 291 Buriti .................................................................................................................................................................................. 292 Parte de Gondó .................................................................................................................................................................. 295
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1 - APRESENTAÇÃO
O relatório que segue refere-se aos resultados do Diagnóstico Socioeconômico e Cultural da
Área Diretamente Afetada e da Área de Influência Direta da Mina da Anglo Ferrous Minas-Rio
Mineração S.A. (Ex-MMX Minas-Rio Mineração S.A.) realizado entre agosto de 2010 e maio de
2011.
O empreendimento da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S.A. é composto por mina para
extração de minério de ferro e estruturas correlatas em processo de licenciamento ambiental
em implementação nos municípios de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom
Joaquim, situado nas proximidades da MG-010. Para além da extração propriamente dita, o
projeto prevê ainda a instalação de um mineroduto integrado ao porto marítimo situado em
Barra do Açu, no litoral do Estado do Rio de Janeiro - destinado ao transporte do material
produzido; uma linha independente de transmissão de energia derivada da Subestação
Companhia Energética do Estado de Minas Gerais (CEMIG) em Itabira e uma adutora de água
com captação no Rio do Peixe, bacia do Rio Doce, no município de Dom Joaquim, para
fornecimento de água ao processo industrial, inclusive para o mineroduto.
Segundo definição da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A, a Área Diretamente Afetada
(ADA) é composta pelos espaços territoriais necessários para a implementação do projeto. Por
sua vez, a Área de Influência Direta (AID) é composta pela totalidade dos territórios dos
municípios de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim.
Conforme publicado no Diário Oficial de 15 de junho de 2010, em decisão da 43ª Reunião
Ordinária da Unidade Regional Colegiada Jequitinhonha do Conselho Estadual de Política
Ambiental - COPAM, realizada no dia 10 de Junho de 2010, às 14h00 na União dos Militares do
Estado de MG, Largo Dom João, 84 - Bairro Dom João - em Diamantina/MG, foi determinado:
"Que seja custeado pela empreendedora Anglo Ferrous, um laudo confeccionado por empresa
independente, de notório saber técnico, a ser indicada pela Comissão de Atingidos, relativamente à
caracterização da ADA-área diretamente afetada e AID-Área de influência direta. Prazos: 20 dias para a
indicação de 03 empresas, pela Comissão de Atingidos, devendo a indicação ser protocolada no escritório
da Anglo Ferrous em Conceição do Mato Dentro. 20 dias para a contratação da empresa indicada. Na
reunião da URC subsequente à contratação, apresentação da metodologia".
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Considerando-se que: 1 - se tratava de demanda apresentada pelo representante do Ministério
Público, mas formulada pela Comissão de Atingidos, que inclusive ficou incumbida de indicar
três empresas para a execução dos serviços; 2 - que todas as três indicadas são especializadas
em estudos e pesquisas socioeconômicas e culturais; 3 - que representantes da Comissão de
Atingidos, ao consultar à Diversus Consultores Associados Ltda ME (cujo nome fantasia
Diversus Ambiente e Cultura, ou simplesmente Diversus, será adotado de agora em diante),
acerca da possibilidade de a indicar para compor a “lista tríplice” informou a este respeito, a
Diversus entendeu que o estudo deveria contemplar apenas o Meio Socioeconômico e
Cultural. Isso posto, ficou explítico que os serviços prestados referem-se exclusivamente aos
aspectos ligados ao Meio Socioeconômico.
Além disso, considerando-se que a AID é composta pela totalidade dos municípios de
Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim, importa esclarecer que o
trabalho realizado não cobriu a totalidade destes municípios. Como a demanda apresentada
está relacionada às comunidades localizadas em áreas a serem utilizadas pelo
empreendimento (ADA) ou áreas mais próximas ao mesmo e que vêm, ou poderão vir, a
enfrentar impactos gerados indiretamente pelo mesmo, é fundamental ficar claro que este
diagnóstico está relacionado apenas e tão somente às comunidades situadas em parte da AID,
aqui denominada doravante de Área de Entorno (AE). Desta forma, a pesquisa inicialmente
contemplaria as seguintes comunidades/localidades, conforme comumente conhecidas na
região: Mumbuca, Ferrugem, Água Quente, Sapo (São Sebastião do Bom Sucesso), Turco, Beco,
Arruda, Jassém, Ilha, Córregos e Gondó. Como veremos adiante, durante a execução do
trabalho, outras localidades foram sendo identificadas e incorporadas ao escopo da
investigação: Córrego do Peão, Córrego do Palmital, Cabeceira do Turco, Estrada do Sapo –
Jassém, Passa Sete, Gramichá, Teodoro, Quatis, Serra do São José, Taporôco e Pompéu. Assim,
das 11 localidades apresentadas pelos representantes da “Comissão dos Atingidos” a serem
pesquisadas, outras 11 foram incluídas na coleta das informações.
Os trabalhos foram desenvolvidos tendo-se como foco o levantamento e tratamento de dados
primários que são aqueles coletados diretamente junto à sua fonte, em campo, através de
instrumentos de pesquisa adequados a cada tipo de informação que se pretendia obter. Para
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isso utilizou-se de metodologias quantitativas e qualitativas, entre as quais, destacamos a
aplicação de formulários junto aos moradores da área de entorno, o processamento dos dados
e o georreferenciamento das informações; a realização de grupos focais ou de discussão, bem
como entrevistas em profundidade com roteiros semiestruturados; a descrição densa de uma
situação etnográfica vivida pela equipe em campo. Uma pesquisa documental foi também
realizada principalmente para a produção do capítulo 6 que trata da análise sobre a condução
do processo de negociação.
Portanto, os serviços prestados compreenderam, conforme demandado, um estudo de
caracterização da ADA e da parte da AID classificada como AE, conforme definido
anteriormente, englobando as variáveis socioeconômicas e culturais suscetíveis de sofrer,
direta ou indiretamente, efeitos da implantação e operação do empreendimento.
O documento encontra-se dividido em dez partes. Na sequência desta apresentação, temos o
capítulo 2 que traz o detalhamento metodológico do trabalho. Em seguida, o capítulo 3
apresenta os resultados gerais da pesquisa censitária com dados sobre o perfil demográfico,
habitacional e produtivo da região pesquisada. O capítulo 4 refere-se aos resultados da
pesquisa de percepção ambiental, abordando o contexto regional e o empreendimento
segundo o olhar dos entrevistados. Nesta parte, aspectos relacionados aos impactos, positivos
e negativos, causados pela mineração também são apresentados pela ótica dos participantes.
O capítulo 5, por sua vez, traz a análise coletiva de questões compartilhadas nos grupos focais
ou de discussão. Utilizando desta técnica de pesquisa qualitativa, buscou-se, por meio dos
grupos realizados com lideranças e com aqueles entrevistados que se consideravam, no
momento da investigação, não atingidos ou atingidos pelo projeto de mineração, detalhar as
respostas da pesquisa censitária, bem como aprofundar outros temas observados durante os
trabalhos de campo. Os resultados obtidos com os grupos focais corroboraram os
levantamentos quantitativos aqui apresentados. Ainda, contribuíram na análise sobre a
condução do processo de negociação, pautada do capítulo 6. Neste, uma cuidadosa pesquisa
documental foi conduzida objetivando evidenciar o histórico do problema abordado. Por outro
lado, através de uma situação etnográfica de identificação e coleta de informações vivenciada
pela equipe, as principais questões colocadas pelas famílias afetadas pelo processo de
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negociação encontram-se não apenas descritas no texto como também foram sintetizadas em
tabelas por comunidade pesquisada. No capítulo 7 segue a síntese dos principais resultados
obtidos neste diagnóstico e, na última parte do trabalho, apresentamos as respectivas
recomendações.
Este trabalho tem ainda três anexos. O Anexo 01 apresenta uma seleção de fotografias que
dão uma boa dimensão de aspectos sociais, culturais, econômicos e mesmo da paisagem da
região. O Anexo 02, por sua vez, apresenta a posição geográfica das localidades trabalhadas
em tamanho A1. Além Disso, o Anexo 03 apresenta vários mapas temáticos envolvendo a
região.
Por fim, faz parte dos resultados deste diagnóstico o CD anexo ao documento contendo o
banco de dados da pesquisa com os perfis das famílias que participaram das entrevistas,
observando que a parte de opinião dos moradores não foi publicada individualmente para
resguardar a confidencialidade das respostas fornecidas, como prometido – evitando, assim, a
exposição de pontos de vista pessoais a respeito de temas relacionados ao empreendimento.
A seguir, uma imagem situando a posição geográfica das localidades trabalhadas.
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2 - METODOLOGIA
2.1 - Introdução
O presente estudo contou-se com a utilização de metodologias quantitativas e qualitativas,
pesquisas bibliográficas e documentais conforme os preceitos disciplinares e científicos
demandados em cada etapa do trabalho. A junção de várias ferramentas para coleta das
informações possibilitou uma análise mais pormenorizada das questões que motivaram a
contração do serviço, ou seja, para a caracterização socioeconômica e cultural da Área
Diretamente Afetada e da Área de Influência Direta do empreendimento Anglo Ferrous Minas-
Rio Mineração buscou-se pautar pela complementaridade das formas de levantamento de
dados resultando, inclusive, num intenso diálogo sobre os assuntos investigados ainda em
campo à medida que as diferentes ações eram executadas, sempre que possível, em conjunto
e de acordo com o cronograma previsto, respeitando sempre as especificidades de cada
abordagem. Para a caracterização socioeconômica propriamente dita, uma pesquisa censitária
na área de abrangência do trabalho foi aplicada, não obstante a mesma não atingir, como
qualquer propósito dessa natureza, o índice de 100% do universo de domicílios pesquisados
por motivos que esclareceremos adiante. Concomitantemente, entrevistas em profundidade
foram realizadas com antigos moradores para compreender a dinâmica histórica de ocupação
e sobrevivência das famílias, além da tentativa a priori de mapear os laços de parentesco que
abrangem grande parte dos participantes já mencionados em vários documentos anteriores
consultados pela equipe. Objetivando detalhar certos aspectos que a pesquisa quantitativa não
consegue alcançar, principalmente aqueles pontos que dizem respeito à subjetividade dos
entrevistados, portanto, à particularidade de suas opiniões e à maneira como constroem seus
pontos de vista sobre determinados processos, foram realizados três grupos focais ou de
discussão: o primeiro com lideranças; o segundo, com pessoas que se declararam atingidas
pela mineração e o último com aqueles que não se consideravam atingidos na época do
trabalho – posicionamentos expressos quando da pesquisa quantitativa. Tendo em vista o
contexto de negociação em que as famílias diretamente afetadas estavam submetidas e outras
ocorrências afins apenas identificadas em campo, uma atenção especial foi dada ao tema
nessa investigação. Por meio da observação participante, técnica fundamental numa situação
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etnográfica, conseguiu-se analisar um dos componentes que mais aflige essas famílias: a
mudança compulsória. Segundo Janice Caiafa, “a etnografia é uma pesquisa qualitativa que
lida com dados diversos, que mobilizam diferentes sentidos – embora se fale da
predominância do visual na maioria dos trabalhos. A pesquisa etnográfica leva em conta toda a
profusão das impressões e informações que espocam nos encontros de campo” (CAIAFA,
2007:138). Para sua realização fez-se uso de entrevistas e do diário ou notas de campo -
recurso central para coleta de dados numa pesquisa dessa natureza, pois não basta ouvir o que
os outros falam, é necessário observar a vida social no seu conjunto, anotar as impressões que
o pesquisador tem do seu convívio com o outro e do contexto onde se opera tal comunicação.
Subsidiados ainda pela pesquisa documental (pareceres, relatórios, mídia impressa, entre
outros) e pelas observações de campo dos demais pesquisadores, dois especialistas
percorreram toda área visitando cada família envolvida com a questão para analise do assunto.
Assim, nessa mesma direção, pode-se afirmar que um fator importante que favoreceu as
reflexões da equipe no decorrer do trabalho e contribuiu para a qualidade dos resultados
alcançados foi, sem dúvida, o aproveitamento das observações que cada membro trouxe do
seu contato com o público alvo. Durante a aplicação dos formulários, por exemplo, etapa
inicial do projeto, os entrevistadores apreenderam com precisão a condição social dos
entrevistados, bem como examinaram com mais propriedade a percepção deles sobre o lugar
onde vivem. Em conversas informais que normalmente prosseguiam após as entrevistas,
registradas num clima de boa hospitalidade, característica do interior, as famílias continuavam
revelando suas angústias, seus problemas e o seu apreço pela região. Foi por meio dessa
experiência que os pesquisadores do levantamento quantitativo puderam fornecer algumas
indicações que nortearam a elaboração dos roteiros utilizados tanto nas entrevistas em
profundidade quanto nos grupos de discussão realizados. Portanto, antes mesmo do
processamento técnico das informações obtidas com os questionários, levou-se em
consideração a experiência dos pesquisadores quando da escolha de temas que
necessariamente mereciam ser aprofundados na etapa qualitativa do trabalho. No uso
complementar dos métodos citados, ressalta-se, na contramão da ação, a consulta que os
profissionais responsáveis pela análise das negociações também fizeram ao banco de dados
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proveniente da pesquisa censitária, complementando, desse modo, as anotações feitas por
eles no período em que estiveram trabalhando na região. Em linhas gerais, pode-se afirmar
que os efeitos resultantes do uso de metodologias quantitativas e qualitativas foram
extremamente positivos não apenas para a compreensão do contexto no qual se inseriu o
trabalho como também para a identificação e a leitura minuciosa das particularidades que
envolveu este estudo, principalmente no que se refere ao clima e às pendências das
negociações declaradas pelos entrevistados. Abaixo, segue a descrição detalhada das
metodologias utilizadas e da dinâmica do trabalho.
Antes, porém, é preciso registrar o ambiente deteriorado das relações pessoais e de confiança
que, em alguns casos, dificultou o levantamento dos dados. Isso se evidencia ao longo do
documento. Tendo em vista o processo de negociação já mencionado e o histórico de conflitos
e desamino por ele causado, algumas famílias não se dispuseram a participar do trabalho.
Outras resistiram e, depois de muita explicação a respeito da demanda e do destino dos
resultados alcançados, optaram por colaborar com o levantamento. Nesses casos, ocorridos
principalmente na etapa inicial da pesquisa quantitativa, a aplicação do formulário prevista
para cerca de 50 minutos durava aproximadamente duas horas e meia. Para evitar esse tipo de
contratempo, pensou-se originalmente na realização de “Oficinas de Abertura” para
esclarecimentos sobre o trabalho, nivelamento de informações e apresentação da equipe de
pesquisadores que estaria em campo. Considerando os inúmeros profissionais que já tiveram
contato com a maior parte, senão a totalidade, dos possíveis sujeitos da pesquisa, mostrava-se
fundamental alertá-los sobre a importância de mais este esforço no sentido de fornecer as
informações que eram solicitadas a fim de que a pesquisa atingisse o resultado satisfatório.
Das 11 comunidades inicialmente previstas, as oficinas aconteceriam em sete tendo em vista a
proximidade de algumas que decidimos nucleá-las. Entretanto, em função da situação
desfavorável citada, do descrédito de grande parte do público alvo diante da morosidade da
empresa em solucionar os problemas por eles posteriormente citados, bem como a dificuldade
de mobilização e o desânimo das pessoas – condições típicas de contextos como o aqui
analisado – não foi possível realizá-las. Exceção feita à comunidade de Água Quente onde a
“Oficina de Abertura” aconteceu contando apenas com a participação dos moradores locais,
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embora na programação outras áreas deveriam ter sido envolvidas. Há tempos, o excesso de
pesquisas na região, o trânsito de funcionários de várias empresas nas propriedades,
cadastros, reuniões e as discussões sobre os recém-classificados como “emergenciais” têm
desmotivado a participação das pessoas em iniciativas como essa ou mesmo contribuído para
o descrédito das mesmas na perspectiva dos atingidos. Portanto, o cronograma para coleta de
dados primários sofreu alteração justificável pelo tempo gasto com os esclarecimentos
adicionais. O prazo foi estendido até a última expedição que ocorreu na semana anterior ao
Natal. Na ocasião, alguns domicílios que se encontravam fechados quando da visita dos
pesquisadores nos meses anteriores foram novamente procurados para realização das
entrevistas. O que não significa que se conseguiu preencher os poucos formulários que
restavam, pois algumas casas continuavam sem morador e, em outros casos, o proprietário
não quis participar (situação que se repetiu em outros momentos da pesquisa qualitativa ou
durante o estudo sobre o tema da negociação).
O imprevisto da não realização das “Oficinas de Abertura” antecipou o começo da aplicação
dos formulários e toda equipe foi orientada a informar detalhadamente o projeto aos
entrevistados e só iniciar a aplicação dos mesmos após a anuência dos moradores. Embora
tenha proporcionado o dispêndio de um tempo não previsto para realização da pesquisa
censitária, prolongando o prazo da permanência da equipe em campo e acarretando um atraso
nas atividades seguintes como o processamento dos dados, o fato em si não comprometeu a
meta e a qualidade dos resultados do trabalho, apenas exigiu da equipe um esforço redobrado
e um cuidado ainda maior na busca pela informação. Quando autorizados, na maioria dos
domicílios visitados, a pesquisa rendia ainda informações complementares às questões do
questionário como dito anteriormente, afinal o desejo de falar daqueles que se dispuseram a
participar era enorme. Por fim, os pesquisadores, com permissão, anotavam também as
coordenadas dos domicílios para o georreferenciamento posterior das informações traduzidas
em mapas.
No que tange ao excesso de pesquisadores em campo, envolvidos nas mais diferentes ações do
processo de licenciamento ambiental, e a desconfiança compreensível dos moradores
comentada acima, a equipe da Diversus se preocupou com a distinção dos seus técnicos de
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modo que as explicações prestadas sobre a contratação do serviço aos moradores
correspondessem, na prática, à identificação visual da equipe, objetivando reverter a
dificuldade ora apresentada. Para isso, os técnicos utilizaram uniforme da empresa de fácil
assimilação, portaram crachás personalizados com nome e o número dos documentos pessoais
dos pesquisadores e, em cada residência, entregaram cartões de visita da empresa com
endereço, contatos telefônicos e e-mail dos responsáveis pelo projeto para eventuais contatos
se necessário. Como os veículos utilizados no trabalho deviam obedecer aos modelos de
segurança exigidos pela contratante, a logomarca da empresa foi colocada nos dois lados para
diferenciá-los das outras caminhonetes de tração 4x4 que circulavam na região. Tudo isso
visando angariar a confiança do público alvo, principalmente no que se refere à origem da
demanda posta em reunião no SUPRAM-Jequitinhonha pela comissão dos atingidos. Soma-se a
isso, outro ponto importante, já mencionado, que foi a abordagem inicial dos pesquisadores
que só adentravam nas propriedades após a autorização dos proprietários e só começavam a
pesquisa após o aceite das pessoas, claro, depois da explicação pormenorizada sobre o assunto
contextualizando-o no cenário de avaliação dos possíveis impactos causados pela mineração.
Por fim, é necessário mencionar o acréscimo de comunidades abrangidas pelo trabalho,
localizadas no perímetro coberto pela pesquisa. A Comissão de Atingidos havia indicado 11
comunidades. No decorrer do trabalho, outras 11 foram identificadas pela equipe em campo, o
que, de certa maneira, prolongou também a permanência dos pesquisadores na região. O
aumento do número de comunidades foi resultado direto da prospecção/reconhecimento de
campo realizado no início das atividades e da indicação dos próprios moradores entrevistados.
Em certos casos, ajudantes locais acompanharam os pesquisadores, de casa em casa, para não
correr o risco de algum domicílio não ser contemplado. O informante era uma pessoa da
própria comunidade, conhecido na região, de bom trato com os vizinhos e, na maior parte das
vezes, parente dos entrevistados. Isso favoreceu muito o andamento do trabalho, a localização
das moradias às vezes de difícil acesso e a receptividade dos entrevistados. De qualquer modo,
o ajudante foi orientado durante as entrevistas a permanecer fora do ambiente de sua
realização para não haver interferências na condução do assunto nem constrangimentos por
parte dos participantes. Assim, as localidades pesquisadas foram:
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Conceição do Mato Dentro Alvorada de Minas Dom Joaquim
São Sebastião do Bom Sucesso São José do Jassém Pompéu
Serra da Ferrugem Água Quente São José da Ilha
Água Santa Passa Sete
Cabeceira do Turco Gramichá
Turco Teodoro
Beco Quatis
Córrego do Peão São José do Arruda
Córrego Palmital Serra do São José
Córregos Taporôco
Estrada do Sapo – Jassém
Gondó
Algumas comunidades são próximas umas das outras, por vezes, confundidas sob uma mesma
denominação. Caso verificado com as famílias que se localizam em grotas de difícil acesso e, no
geral, são colocadas como pertencentes ao núcleo principal dos moradores mais próximo.
Situação ocorrida nas adjacências de Água Quente, Turco, Beco e São José do Jassém. O
trabalho aqui apresentado levou em consideração a declaração dos moradores durante as
entrevistas que afirmaram o nome de origem contrapondo ao senso comum que os agrupavam
num mesmo local. A equipe técnica percorreu ainda a região de Buritis não mencionada no
quadro acima porque já se encontrava praticamente inabitada. Duas famílias ainda residiam no
local, na divisa com Taporôco e Água Santa. No estudo sobre o processo de negociação, os
documentos analisados atribuíram às mesmas o caráter emergencial pela condição de moradia
desfavorável em função da implantação inicial do empreendimento, como ocorrido em Água
Santa e na Serra da Ferrugem (ver capítulo 6). Pelos documentos, a região onde as duas
famílias habitavam não foi nomeada como Buritis e ambas foram localizadas na comunidade
de Água Santa. Talvez resida aí a invisibilidade momentânea dessa região onde foi possível
verificar somente as ruínas das casas. Quando da aplicação dos questionários, os dois
entrevistados disseram que as pessoas conheciam o lugar como Buritis ou Taporocô – pela
proximidade física e, certamente, por causa dos vizinhos que são parentes. Razão pela qual no
banco de dados as respostas fornecidas pelas duas famílias terem sido computadas
juntamente com o grupo que reside em Taporôco. Contudo, no decorrer da pesquisa
qualitativa, compreendeu-se que o local tratava-se de uma área recentemente negociada pela
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empresa. Assim, procedeu-se à identificação dos seus antigos moradores, espalhados em
diferentes localidades, para, em seguida, entrevistá-los a respeito da negociação dos terrenos
e da atual condição de vida das famílias após a mudança. Detalhes sobre o assunto serão
apresentados no capítulo que trata da análise sobre a condução do processo de negociação.
Considerando o momento e o contexto da pesquisa, em agosto do ano passado deu-se inicio o
levantamento de dados primários, que são aqueles coletados diretamente junto à sua fonte,
em campo, através de instrumentos de pesquisa adequados a cada tipo de informação que se
deseja obter. A execução da proposta começou pela pesquisa censitária e foi seguido pelas
entrevistas em profundidade, pelos grupos de discussão e a análise do processo de negociação.
2.2 - Pesquisa Censitária
Devidamente uniformizados, portando crachá de identificação com foto e número de Registro
Geral, os pesquisadores percorreram toda a região do entorno do empreendimento e sua área
diretamente afetada. Ao todo, como apresentado acima, foram 22 comunidades visitadas e
417 domicílios pesquisados. É importante reafirmar que os aplicadores somente adentraram a
propriedades particulares com o devido consentimento de seus proprietários/responsáveis e
previamente ao início dos trabalhos de coleta de informações prestaram todos os
esclarecimentos, a respeito do mesmo, demandados por seus interlocutores. Somente
participaram do processo de pesquisa aqueles que se dispuseram fornecer as informações
solicitadas. Apesar de todo esforço da equipe em esclarecer e sensibilizar os moradores para
pesquisa, alguns indivíduos não quiseram colaborar com o trabalho pelos motivos já
apresentados. Somam-se a isso aquelas residências fechadas cujo proprietário ou morador não
foi encontrado no período de permanência da equipe em campo que se estendeu até
dezembro de 2010. As duas situações, ou seja, a recusa em responder o questionário e a
ausência de moradores nos domicílios não permitiram o cumprimento da meta dos 100%,
situação comum nesse tipo de trabalho.
Na pesquisa censitária, buscou-se por meio da aplicação de um questionário o levantamento
detalhado de informações sobre as famílias, os domicílios e as propriedades, além das formas
de lazer/recreação dos moradores e sua interação com o meio ambiente regional. Aspectos
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socioculturais da população pesquisada e a opinião/percepção dos entrevistados acerca do
empreendimento em questão com a indicação dos prováveis impactos gerados pelo mesmo
foram também investigados. Como comumente ocorre em pesquisas deste tipo, todas as
informações foram coletadas a partir do ponto de vista dos entrevistados, não sendo
responsabilidade da equipe fazer a aferição ou a checagem das respostas.
Considerando-se o tamanho significativo da área e a grande quantidade de famílias, domicílios
e propriedades ali existente, foram utilizadas 4 (quatro) duplas de pesquisadores, todos com
curso superior completo na área de ciências humanas e experiência prévia com este tipo de
pesquisa. Cada dupla circulou em um veículo específico (veículo 4x4, conforme especificações
da Anglo Ferrous, sem qualquer identificação do empreendedor), conferindo maior mobilidade
em campo. A partir da indicação de 11 comunidades pela Comissão dos Atingidos, a equipe
técnica da Diversus foi distribuída de modo que cada dupla fica-se responsável por um núcleo
de moradores. Todos foram orientados a procurar um ajudante nas localidades bem
relacionado com os vizinhos e conhecedor dos lugares para que os mesmo pudessem auxiliar,
inclusive, na identificação de outras áreas como aconteceu. Nas extremidades, apontamos os
seguintes povoados como limite da área pesquisada: ao leste, São José de Jassém e Pompéu;
ao sul, Cabeceira do Turco; ao norte, Arruda; ao oeste, Córregos. Entre Arruada e o último
distrito, a equipe identificou três localidades importantes que serão analisadas no decorrer
deste documento: Taporôco, Serra de São José e Buritis. Na parte interna dessa linha
imaginária, novas localidades foram surgindo conforme os moradores declaravam nas suas
entrevistas.
Assim cercou-se a realização da parte quantitativa do trabalho de modo a abranger tanto a
área diretamente afetada (ADA) pela mineração em si quanto o seu entrono (AE) – não
circunscrito apenas nas imediações onde está sendo instalada a estrutura da extração do
minério de ferro, mas incluindo localidades próximas afetadas também pelo mineroduto e a
adutora de água do empreendimento conforme mostrado no mapa a seguir, por se tratar de
uma mesma operação mesmo que os licenciamentos ambientais ocorram separadamente e
por órgãos específicos. Os prováveis impactos causados pelo empreendimento foram
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analisados no seu conjunto e as localidades estudadas necessariamente deveriam estar no
perímetro acordado e sugerido pela Comissão dos Atingidos.
A aplicação dos questionários concentrou-se em agosto, setembro e outubro. Ao todo foram
aproximadamente três campanhas alternadas de 20 dias cada. Como dito, outros moradores
foram entrevistados ainda em dezembro, mas o volume maior do material levantado ocorreu
nos três meses citados. Isso trouxe implicações no tempo necessário para o processamento
dos dados. A codificação, a checagem das respostas e a consistência do banco de dados foram
praticamente transferidas para fevereiro de 2011 já que no meio dessas duas ações (campo e
escritório) a equipe da Diversus aguardou a devolução dos formulários entregues aos
participantes para conferência de dados via correio.
Um procedimento adotado nessa pesquisa objetivando a segurança e a tranquilidade dos
entrevistados quanto às informações fornecidas aos pesquisadores foi a devolução dos
formulários preenchidos aos mesmos para certificação dos dados levantados. Os técnicos da
Diversus, durante 15 dias do mês de dezembro, retornaram a todos os domicílios visitados
para entrega do material que consistia na compilação dos resultados por família (cópia das
informações) e numa carta explicativa sobre como checar as respostas e enviá-las à Diversus.
Um envelope selado com o endereço da empresa para postagem foi disponibilizado para cada
participante. Inicialmente, a data prevista para devolução era 17 de janeiro. Mas, assim como
aconteceu na aplicação dos questionários, o prazo dessa ação também foi prorrogado até
meados de março. As informações que chegaram via correio foram avaliadas e corrigidas pela
equipe novamente e, só depois, processadas no banco de dados. Por último, elas foram
reenviadas a cada entrevistado que as encaminhou, também via correio. Dos 417 formulários
aplicados, 33 foram devolvidos para correção. Basicamente, tratava-se de algum acréscimo nas
características gerais dos domicílios, no perfil das pessoas (correção de nomes e idade) ou
novas sugestões referentes aos aspectos socioculturais e à opinião/percepção deles a cerca do
empreendimento. A identificação de outros 7 (sete) questionários foi corrigida in loco quando
da entrega dos resultados aos moradores. Apenas 4 (quatro) fichas com os resultados não
foram entregues porque os domicílios encontravam-se fechados na ocasião, todos localizados
na região de Gondó.
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Desse modo, o banco de dados do projeto só foi finalizado em abril de 2011 após criteriosa
análise de sua consistência tendo em vista os intervalos da aplicação dos questionários e a
devolução do material pelos entrevistados. Como as campanhas de campo aconteceram em
períodos alternados (soma-se a isso as entrevistas pontuais realizadas em dezembro), a
consistência dos dados foi fundamental para corrigir até mesmo situações comuns em que um
ou mais parente recebem o (s) entrevistador (es) mais de uma vez em épocas diferentes. Aqui,
pouquíssimos foram os casos ocorridos, três ou quatro domicílios localizados em lugares mais
ermos e de difícil acesso.
Constituído o bando de dados e de posse das coordenadas dos domicílios, iniciou-se o
georreferenciamento das informações e a elaboração dos relatórios acompanhados de mapas
temáticos. Para tanto, solicitou-se a Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A o fornecimento
das imagens de satélite IKONOS, fotografias aéreas coloridas e ortofotocarta colorida recentes,
assim como as estruturas da mina e de apoio, com os limites das áreas de influência do
empreendimento em formato shapefile. Infelizmente, o material fornecido pelo
empreendedor não foi suficiente. Por um lado, as imagens não cobriam toda a área e eram de
qualidades diferentes. Além disso, os shapefiles das obras industriais da casa de bomba nº 1 da
área do mineroduto não foram repassados à equipe da Diversus sob a alegação de que a área
de estudo abrangia apenas a região da mina. Como informado anteriormente, o
empreendimento foi analisado no seu conjunto e para suprir a referida ausência utilizou-se de
imagens do Google Earth sem identificar a estrutura física citada.
Finalmente, os dados obtidos foram transformados ainda noutro Banco de Dados com
interface intuitiva e de fácil acesso, em padrão web, que será disponibilizado tanto ao
empreendedor quanto à Comissão de Atingidos, Ministério Público e outros possíveis
interessados, com destaque para os membros da URC Jequitinhonha. Trata-se do perfil das
famílias pesquisadas, porém sem a parte de percepção/opinião tendo em vista a
confidencialidade da informação garantida ao entrevistado.
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2.3 - Entrevistas em Profundidade
Objetivando compreender o processo de ocupação da região, a formação dos núcleos
investigados e a relação de parentesco existente entre o público alvo da pesquisa, a equipe da
Diversus, entre novembro e dezembro de 2010, realizou 12 entrevistas em profundidade com
antigos moradores da região. A partir de um roteiro pré-estruturado, buscou-se informações
sobre a chegada das famílias, a dinâmica da produção econômica local, as dificuldades e os
melhoramentos na estrutura física dos povoados ao longo do tempo. O conteúdo serviu para
traçar um perfil das comunidades identificadas, mostrar a interação entre as mesmas e
orientar, principalmente, a análise do processo de negociação.
2.4 - Grupo Focal ou Grupo de Discussão
O Grupo de discussão ou Grupo Focal é um tipo de pesquisa qualitativa bastante disseminada
em outros estudos na sociedade, com resultados comprovadamente eficazes. Segundo os
pesquisadores da FIOCRUZ, Otávio Cruz Neto, Marcelo Rasga Moreira e Luiz Fernando Mazzei
Sucena,
A técnica de grupos focais vem, desde a década de 80, conquistando um locus privilegiado nas
mais diversas áreas de estudo. Tal crescimento foi, em grande medida, impulsionado pela
pesquisa de mercado, que, resgatando procedimentos clássicos das ciências sociais, das áreas
de psicologia e serviço social, conjugados às “modernas” tecnologias e paradigmas de business,
marketing e mídia, reelaborou-a com o objetivo de captar os anseios dos consumidores,
definindo padrões a serem seguidos pelas empresas em seus futuros lançamentos (Neto,
Moreira e Sucena, 2002)
Coube-nos então, adaptá-la à especificidade da pesquisa em execução. O que competia era
fazer foco num diálogo mais proveitoso com o público direto ou indiretamente afetado pela
mineração escolhido para participar do debate entorno dos impactos causados pelo
empreendimento. De acordo com as premissas de S. A. Iervolindo e M. C. F. Pelicioni,
A essência do grupo focal consiste justamente na interação entre os participantes e o
pesquisador, que objetiva colher dados a partir da discussão focada em tópicos
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específicos e diretivos (por isso é chamado grupo focal) (Iervolindo e Pelicioni, 2001:
116).
Assim, o objetivo principal do uso dessa metodologia foi coletar informações através da
interação grupal. Com isso, o que se almejou foi a construção de um delineamento de pesquisa
que tinha como parâmetro norteador as visões dos participantes em relação a experiência em
tela.
Nesse processo, buscou-se alcançar a compreensão dos participantes em relação ao tema da
mineração presente no seu cotidiano, através de suas próprias palavras e comportamentos.
Portanto, nunca é demais repetir: o diálogo é primordial. Os participantes descrevem,
detalhadamente, suas experiências, o que pensam em relação a certos comportamentos,
crenças, percepções e atitudes.
Deve-se mencionar ainda que o Grupo Focal tem origem na entrevista em grupo. O termo
“grupo”, inclusive, refere-se às questões relacionadas ao número de participantes, às sessões
semiestruturadas, à existência de um setting informal e à presença de um moderador que
coordena as atividades e lidera o grupo de participantes. Por sua vez, o termo “focal” é
designado pela proposta de coletar informações sobre um tópico específico. É importante
destacar que por meio dele não se pretende atingir um consenso de opiniões, mas
compreender como os participantes formulam os seus pontos de vista sobre determinada
questão e como os mesmos argumentam, defendem ou refazem sua percepção diante da
presença e do contraponto de outros atores envolvidos na discussão.
Salienta-se também que o Grupo Focal (GF) pode ser utilizado como um método independente
no processo de pesquisa. Ou seja, como principal fonte na coleta de dados qualitativos. Ou
então pode ser usado como um modo complementar de análise de dados colhidos
preliminarmente, por outras formas, fontes e metodologias, caso em questão. Esses dois
modos de se utilizar a metodologia do Grupo Focal estão descritas com mais detalhes no
trabalho de Antoni, Martins, Ferronato, Simões, Maurente, Costa e Koller nas pesquisas sobre
adolescentes em situação de risco:
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Segundo Morgan (1997), o uso do GF requer uma cuidadosa combinação entre os
objetivos da pesquisa e os dados que pode produzir. O Grupo Focal pode ser utilizado
em pesquisas que necessitem de um método independente, servindo como a principal
fonte de dados qualitativos, assim como ocorre em pesquisas que usam a entrevista
individual ou a observação participante. Pode ser incluído como uma fonte
complementar de dados em estudos que dependem de outro método primário. Nesta
forma, a discussão em grupo, frequentemente, serve como uma fonte de dados
preliminares em um estudo basicamente qualitativo. Pode ser usado, por exemplo, para
generalizar questionários de pesquisa ou para desenvolver a aplicação de programas de
intervenção. Pode, ainda, ser utilizado em estudos com multimétodos, ou seja, os
dados obtidos são adicionados aos dados colhidos através de outros instrumentos,
como a entrevista individual (Antoni, C., Martins, C., Ferronato, M. A., Simões, A.,
Maurente, V., Costa, F. e Koller, S. H, 2001).
A opção de se adotar o Grupo Focal nessa pesquisa pautou-se pelos “estudos multimétodos”.
Ou seja, serviu como complemento às entrevistas individuais anteriormente realizadas.
Para a adoção do Grupo Focal, deve-se definir claramente o problema a ser avaliado e as
questões a serem trabalhadas. Alguns pontos de investigação do formulário quantitativo
aplicado na etapa anterior somados às percepções de campo dos pesquisadores ajudaram na
formatação do roteiro geral. Para a condução do processo com os participantes, deve-se
escolher um facilitador e um relator para registrar a discussão, no caso, dois técnicos
especialistas nessa área se responsabilizaram pela sua realização, conforme os procedimentos
básicos, a saber: a composição do Grupo Focal deve ser homogênea, de acordo com
determinados perfis, mas sem se esquecer de preservar certas características peculiares a cada
individuo convidado. Deve-se atentar para que haja um balanço entre uniformidade e
diversidade do grupo. Nele, devem-se respeitar sempre os critérios estabelecidos previamente,
de acordo com o objeto da avaliação. Uma pré-seleção pode ser feita para identificar os que
melhor se enquadram nos critérios definidos. Quanto ao tamanho do grupo, geralmente se
trabalha com um percentual entre 6 a 10 membros. O local para as reuniões dos participantes
deve favorecer a interação entre eles. Além disso, é muito importante a utilização de
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equipamento para registrar e acompanhar as discussões e opiniões. O facilitador/mediador
deve inicialmente explicar os objetivos do encontro aos participantes, como eles foram
selecionados e os motivos pelos quais não foram dadas muitas informações sobre a reunião
até aquele momento. Não se pode deixar de alertar sobre o uso de gravadores e o sigilo das
informações obtidas durante o encontro. Ele deve também deixar claro que todas as opiniões
interessam no processo de discussão e são importantes para a eficácia do encontro. Portanto,
não existem boas ou más opiniões. Depois, deve-se fazer uma rodada inicial de falas,
possibilitando a todos a oportunidade de se fazer um comentário geral sobre o tema (uma
breve apresentação dos participantes também é sempre bem vinda). Tudo depende do ponto
de vista que se adota, do que está sendo avaliado e da natureza das informações que se deseja
obter. São essas coisas que determinam se a discussão será mais ou menos estruturada. No
momento do Grupo Focal, o facilitador não pode intervir, devendo apenas proporcionar uma
atmosfera favorável à discussão. Ele deve também controlar o tempo e estimular que todos
falem e participem. Em certas situações, no entanto, o facilitador poderá fazer várias
perguntas abertas sobre o tema, para guiar a discussão. Nesse instante, é importante que ele
tenha uma lista de questões, um roteiro, que podem ou não ser usadas, de acordo com a
necessidade. Para a eficácia do Grupo Focal, é necessário evitar a monopolização da discussão
por um dos participantes. Para que isso ocorra, é importante encorajar os mais reticentes e
acanhados a participar do grupo. Além disso, o facilitador deve estar atento às expressões
gestuais dos participantes e saber interpretá-las. Há uma concordância em que o facilitador
deve ter uma boa experiência na condução de grupos e ser sensível para interpretar as falas e
gestos percebidos. Ele também deve ser capaz de ouvir, ter clareza de expressão, ser flexível,
vivo e simpático, além de ter senso de humor. Na etapa seguinte à realização do GF, o técnico
responsável escuta repetidas vezes as falas registradas agrupando os fragmentos dos discursos
de acordo com as categorias identificadas. A análise deve extrair tudo que for relevante e
associado com o tema ou com a categoria. As categorias podem ser geradas a partir das
informações obtidas. O guia (ou roteiro) usado pelo facilitador pode servir como um esquema
inicial das categorias. Durante a discussão também podem surgir novas variáveis. Não se pode
deixar de mencionar que a premissa que molda a técnica do Grupo Focal é a de que os
pequenos grupos tendem a reproduzir nos jogos de conversação o discurso dominante das
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relações macrossociais. Por fim, deve-se elaborar um relatório dos resultados do Grupo Focal,
evitando generalizações e acentuando as relações entre os elementos identificados,
pontuando ou avaliando as interpretações dos participantes. Em linhas gerais, pode-se afirmar
que o uso da técnica do Grupo Focal permite um clima mais favorável para as discussões, os
participantes geralmente se sentem mais à vontade e confiantes para expressarem suas
opiniões e, acima de tudo, a obtenção de informações não fica limitada a uma prévia
concepção dos avaliadores, bem como a qualidade das mesmas favorece o melhor
entendimento dos pesquisadores sobre o tema desenvolvido.
Nessa perspectiva, realizaram-se três Grupos Focais na região afetada pela mineração a fim de
complementar as informações ora levantadas ou aprofundá-las conforme já explicado. Os
grupos foram organizados nos seguintes perfis: atingidos pela mineração, não atingidos e
lideranças comunitárias.
A razão para a definição dos grupos com os dois primeiros perfis (atingidos e não atingidos pela
mineração) se deu a partir do entendimento das pessoas da região acerca de suas situações
em relação ao empreendimento. No período entre final de agosto e meados de Novembro de
2010, quando se realizou a pesquisa de caracterização socioeconômica e cultural na área
diretamente afetada e de entorno da mineração, foi inquirido aos entrevistados, entre outras
questões, se eles se consideravam “atingidos” ou não pelo projeto de mineração em
implantação. O aprofundamento dessas percepções foi o que motivou a realização de Grupos
Focais com as pessoas que assim se reconheceram.
Já com o grupo das lideranças comunitárias partiu-se de outra questão abordada no
questionário aplicado. Foi perguntado se o entrevistado saberia dizer o nome de pessoas da
região que representavam os atingidos pelo projeto de mineração. Depois, a partir de uma lista
de nomes mais citados, chegou-se a opção de também realizar um grupo com lideranças
comunitárias. Para a realização do terceiro perfil do Grupo Focal, buscou-se garantir a
presença de convidados que representassem as diversas comunidades espalhadas na região do
entorno do empreendimento.
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Após a definição dos GFs, houve a formação de uma lista de cerca de 10 membros para cada
um, embora na prática os grupos contaram com a participação de sete convidados, em virtude
da ausência de algumas pessoas que tinham confirmado suas presenças na época do
recrutamento. Tal lista foi formada a partir da aceitação dos participantes e em acordo às
condições e disponibilidade de cada um. Por exemplo, foi combinado que os participantes que
não tivessem meios de se locomoverem até a comunidade de São Sebastiao do Bom Sucesso,
local de sua realização, seriam levados no veículo usado pela Diversus.
Assim, em cada região visitada, ao menos duas ou três pessoas foram convidadas para
participarem dos Grupos Focais. Poucos se negaram a participar, por motivos diversos e
justificáveis. A maior parte demonstrou interesse em participar de tal experiência. No
momento do convite era também explicado que a participação do convidado não lhes seria
penosa ou custosa. A sua função seria a de contribuir para o aprofundamento das questões
mencionadas nas entrevistas. Além disso, o tempo ocupado pelo participante seria curto.
Para escolha da amostra de composição dos GFs buscou-se respeitar se o convidado era
compatível com o perfil do grupo. Inicialmente, houve a seleção de alguns nomes para o
convite à participação no grupo com as lideranças locais, principalmente das pessoas mais
citadas como representantes dos atingidos, de modo a garantir a representatividade de várias
comunidades da região no encontro, como mencionado acima.
O convite aconteceu no período de devolução dos formulários das entrevistas. Conforme havia
sido prometido para os entrevistados à época da aplicação dos questionários quantitativos,
uma equipe de quatro profissionais da Diversus retornou às casas para a entrega dos
formulários com as respostas sobre o domicílio e as famílias residentes. O que se pretendia era
que cada entrevistado pudesse rever suas respostas. Caso ele quisesse fazer alguma alteração,
poderia devolver o envelope (que já estava selado) para o escritório da Diversus, em Belo
Horizonte, onde seriam feitas as correções.
No processo de entrega dos materiais, buscaram-se ainda informações sobre algumas pessoas
nas regiões visitadas que poderiam ser convidadas para participarem dos grupos. Além disso,
nas conversas para entrega dos formulários, os profissionais ficaram mais atentos ao “perfil”
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dos entrevistados para que se pudesse fazer o convite imediato e inclusão dos mesmos nos
GFs. Isso se deu principalmente com os convidados para os grupos dos atingidos e não
atingidos, sendo que algumas pessoas foram convidadas segundo o feeling do profissional
envolvido no ato de entrega do formulário com base em sua declaração registrada no
formulário. Em uma listagem que cada técnico levou para dar baixa nos domicílios
contemplados com a entrega do material, também constava se o entrevistado se considerava
atingido ou não atingido pelo projeto da mineração. Portanto, durante o processo de entrega
dos questionários aconteceu o processo de escolha dos participantes dos Grupos Focais.
Com poucas recusas e moradores não encontrados no momento do convite - alguns estavam
na lida diária em terrenos vizinhos - fez-se o recrutamento. As pessoas foram selecionadas in
loco pelo pesquisador com base no perfil de cada grupo, a partir da lista de alguns nomes
previamente selecionados e/ou indicados pelos moradores. No momento do convite, houve
uma breve explicação acerca das intenções e do que era um “Grupo Focal”, do seu
funcionamento e do (s) motivo (s) da (s) escolha (s). Mas tudo sem aprofundar muito, para que
os participantes não chegassem com ideias preestabelecidas ao encontro no Centro
Comunitário de São Sebastião do Bom Sucesso. Além disso, foi enfatizado aos participantes
que as discussões e depoimentos travados no grupo seriam sigilosas.
Para dar segurança e organização aos Grupos Focais foi elaborado o roteiro de discussão. Esse
roteiro serviu como orientação nos trabalhos a serem realizados e nos temas/questões a
serem abordados. As questões foram agrupadas em quatro grandes temas para suscitar a
discussão nos grupos e incentivar a participação de todos. Embora o roteiro fosse utilizado
como norteador da discussão, outras questões foram colocadas quando era necessário
elucidar algum ponto abordado - mas sempre dentro do foco dos trabalhos.
A localidade escolhida para a realização dos Grupos Focais foi a comunidade de São Sebastião
do Bom Sucesso, distrito de Conceição do Mato Dentro. A escolha se deu por sua localização
estratégica em relação às demais comunidades da área diretamente afetada ou de influência
direta da Mina da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A. A Escola Estadual João Mariano
Ribeiro foi o espaço mais adequado que se encontrou para a realização dos encontros.
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Acertado o local, a próxima etapa foi a definição dos dias e horários para a realização dos
grupos. Em função do centro comunitário também funcionar como sala de aula durante as
manhãs, optou-se por realizar o primeiro grupo (com os atingidos) às 14h do dia 17 de
Dezembro, numa sexta-feira. Os outros dois grupos (não atingidos e lideranças locais)
aconteceram no sábado, dia 18 de Dezembro, respectivamente às 09h e 14h. O turno da noite
não foi escolhido em virtude da dificuldade de mobilizar convidados nesse período - as
comunidades são espalhadas numa região fundamentalmente rural. Além disso, o mês de
Dezembro é marcado por fortes chuvas na região, o que dificulta os deslocamentos na região.
Como explicado anteriormente, o convite aos participantes de cada grupo se deu entre os dias
11 e 20 de Dezembro de 2010. Ao confirmar a participação nos grupos, o técnico responsável
pelo convite combinava com o convidado o horário para buscá-lo no dia da reunião, salvo
aqueles que preferiram ir por conta própria, por morar próximo da comunidade de São
Sebastião do Bom Sucesso ou por dispor de veículo próprio.
O primeiro GF, o grupo dos atingidos pela mineração, marcado para as 14h do dia 17 de
dezembro, sofreu um atraso de aproximadamente uma hora para o seu início. Isso ocorreu
devido à distância e dificuldade de se chegar às comunidades de Serra de São José e
Taporouco, presentes na reunião desse dia, já que o caminho tradicional percorrido pelos
moradores encontrava-se interditado pela empresa. O veículo que foi às duas comunidades,
uma ao lado da outra, porém de acessos sinuosos e cheios de obstáculos, demorou quase duas
horas para trazer os convidados. Esse contratempo fez com que um participante, dentre os que
chegaram no horário estabelecido, fosse embora sob a alegação de ter que outros
compromissos. Ao final, o grupo ocorreu satisfatoriamente com sete convidados.
Os GFs com os não atingidos e com lideranças locais, respectivamente marcados para as 9h e
14h de sábado, ocorreram dentro do horário previsto. Ambos os grupos contaram com a
participação de sete pessoas, em função da ausência de outras que haviam confirmado
presença, mas por motivos pessoais não apareceram nas reuniões. Deve-se mencionar, ainda,
que os três Grupos Focais iniciaram-se seguindo o mesmo padrão de organização e condução:
preparação do espaço, dos equipamentos e recepção aos convidados. Depois, explicação da
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metodologia e do tempo de duração para, em seguida, ocorrer a discussão que durou
aproximadamente 2 (duas) horas.
Abaixo, segue a relação dos participantes, por sexo, idade e comunidade:
QUADRO 2.4 A - GF1 ATINGIDOS PARTICIPANTE SEXO IDADE COMUNIDADE
1 M 38 Serra da Ferrugem
2 F 23 Água Quente
3 M 37 Serra de São José
4 M 46 Taporouco
5 F 46 São Sebastião do Bom Sucesso
6 M 23 São Sebastião do Bom Sucesso
7 F 40 Água Santa
QUADRO 2.4 B - GF2 NÃO ATINGIDOS PARTICIPANTE SEXO IDADE COMUNIDADE
1 F 37 São Sebastião do Bonsucesso
2 M 38 São José da Ilha
3 M 52 Turco
4 M 27 Beco
5 M 57 Cabeceira do Turco
6 F 54 Cabeceira do Turco
7 M 47 Turco
QUADRO 2.4 C - GF3 LIDERANÇAS PARTICIPANTE SEXO IDADE COMUNIDADE
1 M 25 Turco
2 F 61 Córregos
3 F 28 São José da Ilha
4 M 34 São Sebastião do Bom Sucesso
5 M 30 Serra da Ferrugem
6 M 51 São Sebastião do Bom Sucesso
7 M 42 Beco
2.5 - Situação etnográfica para analisar o processo de negociação
Na busca por adequação de procedimentos metodológicos visando atender aos cronogramas
disponíveis sem implicar em maiores perdas de qualidade optou-se por uma “caracterização
geral” do processo de negociação. Assim, os trabalhos foram desenvolvidos com base em duas
etapas: consultas a informações secundárias e pesquisa de campo. O trabalho de campo
ocorreu no período entre outubro e dezembro do ano de 2010, período em que foram
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visitadas durante cinco (05) campanhas de campo as comunidades identificadas no processo
de pesquisa anterior como os grupos que poderiam ser ou foram deslocados em função do
empreendimento, como: as comunidades de Mumbuca/Água Santa, Ferrugem (Serra da
Ferrugem), parte de Gondó, Passa Sete, Buriti, Taporoco e Serra de São José além de
moradores que já se deslocaram para as áreas urbanas ou outras áreas rurais dos municípios
de Conceição do Mato Dentro, Alvorada de Minas e Dom Joaquim.
A partir de uma relação preliminar de comunidades, a equipe foi identificando, em campo,
outras com as quais também procurou manter contato sempre que possível. Para execução
desse trabalho optou-se pela realização de visitas domiciliares nas quais os técnicos
entrevistaram os membros de cada família.
As entrevistas com as famílias atingidas foram realizadas diariamente, durante o período em
que a equipe esteve em campo. Como já mencionado, a etapa de campo foi dividida em cinco
fases (05) totalizando ao todo 25 dias alternados. Em cada uma delas utilizou-se a metodologia
qualitativa de pesquisa
As pesquisas qualitativas remetem a processos e significados que não são rigorosamente
medidos em termos de quantidade, freqüência ou intensidade. Nesta o pesquisador enfatiza a
pesquisa como algo construído na realidade, no relacionamento pesquisador-pesquisado e na
investigação propriamente dita. Estas técnicas permitem a utilização de uma série de métodos
(como a observação participante em festas, rituais, entrevistas em profundidade) com pessoas
chaves, bem como a leitura e discussões de textos a respeito do objeto a ser estudado e a
intercalação destas técnicas com técnicas de caráter quantitativo1.
Na análise qualitativa deste trabalho utilizou-se a entrevista aprofundada com roteiro pré-
estabelecido, fotografias, a busca por mini-histórias de vida, fatos biográficos, anotações de
campo, observação participante, leitura de documentos, consulta a outras fontes como
matérias de jornal, etc.
1 CORTES, Soraya M. Vargas “Técnicas de coleta e análise qualitativa de dados” e BECKER, Howard S. no livro Métodos de Pesquisa em Ciências Sociais são importantes defensores dessa visão.
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O objetivo foi apreender as expectativas de cada núcleo familiar sobre o processo de
negociação e suas demandas particulares em relação às propostas que foram apresentadas
durante o processo. Também se procurou compreender um pouco a relação dos moradores
com o lugar onde residem, as relações familiares locais, história do grupo familiar, processo de
negociação e percepções sobre o empreendimento. Uma questão percebida nesse processo foi
à dificuldade da maioria das famílias em falar do passado próximo, descrito como um processo
doloroso, pois a maioria já estava em negociação e a ansiedade geral era no sentido de saber
quando as “pré-negociações” feitas, naquele momento, com o empreendedor, se
concretizariam2.
Ressalta-se, como dito, que o pouco tempo para a elaboração dessa proposta foi um fator
limitante para que pudéssemos realizar uma discussão mais aprofundada com a comunidade
nos moldes ideais de um trabalho de cunho etnográfico. Desnecessário lembrar que as
temporalidades variam de acordo com os grupos, as circunstancias e as realidades. Assim
sendo, enfrentou-se no contexto da elaboração desse relatório o conflito entre o tempo do
empreendimento e o tempo social dos agrupamentos humanos, de modo especifico, a
temporalidade de grupo(s) majoritariamente negros camponês(es) tradicional(is), diante de
um processo que interferirá na sua conformação social e de seus descendentes. As pessoas
dessas comunidades já se encontram bastante desgastadas devido ao longo processo de
negociação/implantação do empreendimento e a ansiedade diante das incertezas do mesmo,
conforme relatado por algumas famílias. Somem-se a este contexto as demais necessidades e
compromissos: de trabalho, comunitários e mesmo emergências de saúde, com o qual
precisam conciliar.
Por fim, procurou-se explicar às famílias a finalidades deste estudo, esclarecendo, desde o
primeiro contato, a peculiaridade do trabalho e a origem da demanda. Para isso se apresentou
com uniforme e crachá específicos, além de distribuir os cartões de visita da empresa para
contatos futuros objetivando diferenciar nossa ação em relação aos outros profissionais da
2 Quando se realizaram as visitas de campo, várias famílias de Ferrugem e Mumbuca tinham participado de uma “pré-negociação” com a empreendedora, no Fórum de Conceição do Mato Dentro, mais precisamente em 15 de setembro. Ver capítulo a frente.
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própria empresa e/ou aqueles envolvidos noutras etapas do licenciamento ambiental no
mesmo período, portanto condição similar aos pesquisadores envolvidos nas etapas anteriores
comentada acima. Ainda assim, algumas pessoas acabavam por fazer certa confusão entre
nossas atividades e as demais atividades desenvolvidas pelo empreendedor na região. Essa
confusão foi reforçada pelo fato de estarmos em campo em função dos desdobramentos do
processo de licenciamento e por estarmos atuando em uma área de interesse da mineradora.
Neste relatório foram adotados pressupostos metodológicos que buscaram compreender a
realidade a partir das entrevistas realizadas. Tal estudo procurou descrever alguns traços
culturais e de produção da comunidade, com vista a valorizar o saber local, num processo que
privilegiou, sobretudo, o patrimônio cultural dessas comunidades.
Por fim, é importante destacar que este trabalho não se prestou a realizar um inventário de
todos os grupos e famílias direta e indiretamente impactados, mas sim procurou apresentar
um quadro mais representativo sobre os grupos impactados e como tem se dado o processo
de negociação entre empreendedor e as famílias/grupos. Na medida do possível procuramos
entrevistar o maior número de famílias diretamente afetadas, para isso optou-se por utilizar a
categoria êmica de atingidos não diferenciando-os entre impactados direta ou indiretamente.
Buscou-se demonstrar no relatório que os impactos gerados pela remoção de determinadas
comunidades consideradas como “diretamente atingidas”, porque o empreendimento se
sobrepõe a sua territorialidade, afeta os demais grupos sociais e as comunidades do entorno,
que pela legislação seriam considerados “indiretamente atingidos”, mas que mantém
importantes laços sociais, principalmente de parentesco. No caso em estudo, o impacto se
apresenta tanto aos que saem quanto aos que ficam, pois tal relação entre eles será se não
inviabilizada ao menos dificultada.
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3 - PESQUISA CENSITÁRIA: PERFIL DEMOGRÁFICO, HABITACIONAL E
PRODUTIVO
3.1 - Introdução
Uma pesquisa do tipo censitária busca sempre cobrir a totalidade do universo pesquisado,
considerando-se uma área previamente delimitada. Raramente, entretanto, consegue atingir
esta meta.
O foco deste trabalho foram os domicílios. Portanto foram caracterizadas as famílias que
possuem vínculo de moradia na região. Obviamente que existem inúmeras outras formas de
vínculo, mas na impossibilidade de contemplar a todas, optou-se por privilegiar aquelas
famílias que possuem o vínculo considerado mais forte. No entanto, alguns domicílios e
famílias que não residem na região, ou que residem apenas durante uma parte da semana,
também foram caracterizados. Infelizmente, porém, nem todos nesta situação foram
encontradas durante as etapas de pesquisa, embora as equipes tenham ido até o domicílio de
referência, na área, por pelo menos duas ou três vezes.
Assim, esta pesquisa contemplou a 417 domicílios, dos quais 405 (97,12%) com moradores e
12 (2,88%) sem moradores permanentes. Foram caracterizadas 1.480 pessoas vivendo em 22
localidades, que vão desde distritos, passando por comunidades bem delimitadas a até regiões
formadas por uma sequência de propriedades ao longo de uma estrada de referência, caso da
estrada entre São José do Jassém e o distrito de São Sebastião do Bom Sucesso (Sapo).
A seguir serão apresentados os dados gerais do universo pesquisado, considerando-se seu
perfil demográfico, características habitacionais e estruturas produtivas.
3.2 - Perfil Demográfico
3.2.1 - Número de Moradores por Localidade
O distrito de Córregos, pertencente ao município de Conceição do Mato Dentro, se destaca
dentre os demais pelo número de moradores em sua sede: 295, ou 19,93% da população
caracterizada por este estudo. São Sebastião do Bom Sucesso, outro distrito de Conceição do
Mato Dentro, mais conhecido como Sapo, também se destaca, com um número total de
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pessoas caracterizadas de 123 moradores, o que equivale a 8,31% da população caracterizada.
Os dados a respeito das demais comunidades encontram-se na Figura 3.1.1, sendo possível
perceber que na Área de Entorno do empreendimento existem desde comunidades com 14
(Quatis) ou 16 (Teodoro e Córrego Palmital) pessoas caracterizadas a até 184 (São José da Ilha).
Das comunidades de Água Santa e Serra da Ferrugem, únicas consideradas como “diretamente
afetadas” durante o processo de licenciamento ambiental participaram da pesquisa,
respectivamente, 76 (5,14%) e 38 (2,57%) moradores.
FIGURA 3.2.1 - NÚMERO DE MORADORES POR LOCALIDADE
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.2 - Número de Moradores por Sexo
A população masculina se mostra ligeiramente maior que a feminina. Enquanto os homens
totalizam 775 (52,36%) das pessoas caracterizadas, as mulheres correspondem a apenas 705
(47,64%) do total de 1.480 pessoas.
Dos três municípios que compõem a AID, Dom Joaquim é o único em que o número de
mulheres (51%) supera o de homens (49%). Nos outros dois há um forte equilíbrio, mas o
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número de homens é ligeiramente superior (50,17% em Alvorada de Minas e 50,27% em
Conceição do Mato Dentro).
FIGURA 3.2.2 - NÚMERO DE MORADORES POR SEXO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.3 - Pirâmide Etária
A pirâmide etária do conjunto da população caracterizada possui uma base mais estreita,
indicando que o número de pessoas entre 0 e 4 anos é menor que entre 5 e 9 anos, entre 10 e
14 anos e entre 15 e 19 anos, sendo semelhante aos de 20 a 24 anos e apenas um pouco maior
que as demais faixas etárias de população adulta. Apesar de não ter uma base muito larga,
este tipo de estrutura da pirâmide etária demonstra que a população jovem está aumentando
em relação à adulta e principalmente às faixas etárias mais elevadas. Pelo que foi observado
em campo, a base da pirâmide não é mais larga porque parte da população jovem se desloca
para centros maiores em busca de oportunidades de estudo e mesmo de trabalho, embora
fique claro que grande parte dela permanece na região.
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FIGURA 3.2.3 - PIRÂMIDE ETÁRIA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.4 - Relações de Parentesco Entre Pessoas do Mesmo Núcleo Familiar
A Figura 3.2.4 ilustra as informações quantitativas sobre as relações de parentesco entre
pessoas de um mesmo núcleo familiar caracterizado. Interessante perceber que em 66
(4,46%), das 1480 pessoas caracterizadas, residem sozinhas.
FIGURA 3.2.4 - RELAÇÕES DE PARENTESCO ENTRE PESSOAS DE UM MESMO
NÚCLEO FAMILIAR
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.2.5 - Número de Moradores por Local de Nascimento
A maioria da população caracterizada é constituída por pessoas nativas da região. Conforme
demonstra a Figura 3.2.5, 64,8% dessa população mora no mesmo local desde que nasceu. No
entanto, um percentual significativo da população caracterizada pelo estudo é composto de
pessoas que vieram de outros lugares. Enquanto 960 pessoas informaram que sempre
moraram no local onde nasceram, outras 518 pessoas (35,0%) responderam que não nasceram
no local onde vivem.
FIGURA 3.2.5 - MORA NO LOCAL DESDE QUE NASCEU?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
O Quadro 3.2.5 demonstra o número de moradores por local de nascimento. Considerando os
três municípios que compõem a AID, mais da metade das pessoas nasceu no município de
Conceição do Mato Dentro, ou seja, 59,73% da população caracterizada. Ressalta-se que a
maior parte da área de influência do empreendimento considerada pela pesquisa está nesse
município. Na sequência, 15,74% e 10,20% dos moradores nasceram respectivamente em
Alvorada de Minas e Dom Joaquim, que também aparecem nessa ordem quando se considera
a área de entorno do empreendimento. Somando-se os percentuais de todos os outros
municípios, 13,08% dos moradores nasceram em outros municípios, com destaque para Belo
Horizonte, local de nascimento de 4,66% da população caracterizada, e a cidade do Serro, onde
2,70% pessoas nasceram. Salienta-se que não há informação onde 20 pessoas nasceram
(1,35%).
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QUADRO 3.2.5 - NÚMERO DE MORADORES POR LOCAL DE NASCIMENTO
MUNICÍPIO ONDE NASCEU FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Conceição do Mato Dentro 884 59,73
Alvorada de Minas 233 15,74
Dom Joaquim 151 10,20
Belo Horizonte 69 4,66
Serro 40 2,70
NS/NR 20 1,35
Guanhães 19 1,28
Congonhas do Norte 8 0,54
Senhora do Porto 5 0,34
Diamantina 4 0,27
Morro do Pilar 2 0,14
Nova Lima 2 0,14
Ouro Fino 2 0,14
Ouro Preto 2 0,14
Rio Piracicaba 2 0,14
Santa Luzia 2 0,14
São Paulo 2 0,14
Vitória da Conquista 2 0,14
Açucena 1 0,07
Betim 1 0,07
Caratinga 1 0,07
Carmésia 1 0,07
Ceilândia 1 0,07
Congonhas 1 0,07
Contagem 1 0,07
Couto de Magalhães de Minas 1 0,07
Francisco Beltrão 1 0,07
Gouveia 1 0,07
Governador Valadares 1 0,07
Inhapim 1 0,07
Itá 1 0,07
Itabira 1 0,07
Itabirito 1 0,07
Itamarajú 1 0,07
Itueta 1 0,07
João Monlevade 1 0,07
Lagoa da Prata 1 0,07
Lagoa Santa 1 0,07
Maringá 1 0,07
Pará de Minas 1 0,07
Pouso Alto 1 0,07
Ribeirão das Neves 1 0,07
Rio Vermelho 1 0,07
Santa Inês 1 0,07
Santa Maria do Suaçuí 1 0,07
Teófilo Otoni 1 0,07
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Vila Rica 1 0,07
Virginópolis 1 0,07
Vitória 1 0,07
Total 1480 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.6 - Número de Moradores por Deficiência Física
Antes de evidenciar os dados referentes a essa questão, deve-se ressaltar que o entrevistado
foi inquirido a informar se no domicílio existe alguma pessoa com algum tipo de deficiência
física. Nesse sentido, as respostas para essa pergunta relacionam-se muito mais com algum
tipo de disfunção ou interrupção dos movimentos de um ou mais membros. A Figura 3.2.6
demonstra que 1398 (94,4%) moradores não possuem qualquer deficiência física, enquanto
apenas 5,5% da população caracterizada, ou 82 pessoas, possuem.
FIGURA 3.2.6 - NÚMERO DE MORADORES POR DEFICIÊNCIA FÍSICA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.7 - Índice de Analfabetismo
Dentre a população caracterizada, 360 (24,32%) não sabe ler nem escrever e 1119 (75,61%)
moradores são alfabetizados, como demonstra a Figura 3.2.7. Considerando-se as pessoas com
5 anos de idade ou mais que são alfabetizadas, segundo o Censo Demográfico 2010 do IBGE,
76,78% da população de Conceição do Mato Dentro é alfabetizada, enquanto 72,78% e 78,12%
das populações de Alvorada de Minas e Dom Joaquim são alfabetizadas, respectivamente. O
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que se percebe com esses dados é que a população caracterizada considerada alfabetizada
está dentro da média dos três municípios que compõem a AID.
FIGURA 3.2.7 - SABE LER E ESCREVER?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.8 - Número de Moradores que Frequentam Escola
A Figura 3.2.8 demonstra que 475 (32,09) moradores da área de influência do
empreendimento frequentam alguma série ou período escolar. Outros 1005 (67,91%)
moradores não frequentam a escola.
FIGURA 3.2.8 - MORADORES QUE FREQUENTAM ESCOLA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.2.09 - Número de Moradores por Ocupação
Considerando a situação ocupacional da população caracterizada, 360 (24,32%) moradores só
estudam. O Quadro 3.2.9 também destaca que 131 (8,85%) pessoas recebem
aposentadoria/pensão. Porém, quando se considera as pessoas que recebem
aposentadoria/pensão e ainda exercem outra ocupação, como dona-de-casa, diarista,
comerciante, proprietário rural, etc., o número de pessoas que recebem
aposentadoria/pensão quase que dobra, saltando para 239 (16,16%) moradores. As outras
ocupações que se destacam no quadro de situação ocupacional são: 125 (8,45%) donas-de-
casa, 123 (8,31%) diaristas/trabalhadores eventuais, 106 (7,16%) proprietários rurais, ainda
que exerçam outras ocupações, e 104 (7,03%) pessoas que trabalham com carteira assinada.
QUADRO 3.2.9 - NUMERO DE MORADORES POR SITUAÇÃO OCUPACIONAL
SITUAÇÃO OCUPACIONAL FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA
Aposentado/pensionista 131 8,85
Aposentado/pensionista/dona de casa 50 3,38
Aposentado/pensionista/familiar sem renda 7 0,47
Aposentado/pensionista/profissional Liberal 1 0,07
Contrato 7 0,47
Diarista/eventual 123 8,31
Diarista/eventual/aposentado/pensionista 8 0,54
Diarista/eventual/dona de casa 4 0,27
Diarista/eventual/estudante 3 0,20
Diarista/eventual/familiar sem renda 1 0,07
Dona de casa 125 8,45
Dona de casa/familiar sem renda 18 1,22
Empregado c/carteira 104 7,03
Empregado c/carteira/dona de casa 1 0,07
Empregado s/carteira 70 4,73
Empregado s/carteira/aposentado/pensionista 5 0,34
Empregado s/carteira/dona de casa 2 0,14
Empregado s/carteira/estudante 6 0,41
Estagiário 1 0,07
Estudante 360 24,32
Estudante (não trabalha/maior que 18) 6 0,41
Familiar sem renda 40 2,70
Familiar sem renda/estudante 22 1,49
Funcionário público 31 2,09
Funcionário público/aposentado/pensionista 1 0,07
Funcionário público/empregado c/carteira 1 0,07
Funcionário público/familiar sem renda 1 0,07
Não trabalha 46 3,11
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NS/NR 18 1,22
NS/NR/Estudante 2 0,14
NSA 100 6,76
Presta serviços como autônomo 30 2,03
Presta serviços como autônomo/diarista/eventual 2 0,14
Presta serviços como autônomo/dona de casa 1 0,07
Presta serviços como autônomo/empregado c/carteira 2 0,14
Presta serviços como autônomo/familiar sem renda 1 0,07
Produtor rural 1 0,07
Profissional Liberal 9 0,61
Profissional Liberal/empregado c/carteira 1 0,07
Proprietário do comércio 9 0,61
Proprietário do comércio/aposentado/pensionista 5 0,34
Proprietário do comércio/diarista/eventual 1 0,07
Proprietário do comércio/empregado c/carteira 1 0,07
Proprietário do comércio/empregado s/carteira 1 0,07
Proprietário do comércio/NSNR 1 0,07
Proprietário rural 55 3,72
Proprietário rural/aposentado/pensionista 26 1,76
Proprietário rural/diarista/eventual 4 0,27
Proprietário rural/dona de casa 2 0,14
Proprietário rural/empregado c/carteira 3 0,20
Proprietário rural/funcionário público 2 0,14
Proprietário rural/NS/NR 1 0,07
Proprietário rural/presta serviços como autônomo 4 0,27
Proprietário rural/profissional liberal 2 0,14
Proprietário rural/proprietário do comércio 6 0,41
Proprietário rural/recebe porcentagem 1 0,07
Recebe Porcentagem 4 0,27
Recebe Porcentagem/aposentado/pensionista 5 0,34
Trabalhador familiar com renda 5 0,34
Total 1480 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.2.10 - Renda Monetária
Antes de entrar na questão da renda monetária, deve-se salientar que alguns moradores se
recusaram em informar a renda, alegando se tratar de algo confidencial ou até mesmo por não
saber dar essa informação. O Quadro 3.2.10 demonstra que circula mensalmente pela Área de
Entorno do empreendimento um montante de R$ 477.182,00, o que equivale a uma renda
média por domicílio de R$ 1.178,23. Em termos percentuais, a renda proveniente dos
rendimentos do trabalho responde por 63,06% (R$ 300.894,00) daquele montante, enquanto a
renda que tem origem nas aposentadorias responde por 28,97% (R$ 138.252,00). Se somar a
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renda do trabalho e da aposentadoria, 92,03% da renda da população caracterizada situam
nessas duas faixas.
QUADRO 3.2.10 - RENDA MONETÁRIA, POR FONTE DE RENDA
FONTES DE RENDA RENDA MONETÁRIA
ABSOLUTO RELATIVO (%)
Renda do trabalho R$ 300.894,00 63,06
Aposentado/pensionista R$ 138.252,00 28,97
Aluguel R$ 6.710,00 1,41
Pensão alimentícia R$ 4.790,00 1,00
Bolsa família R$ 13.763,00 2,88
Outros ganhos R$ 12.773,00 2,68
Total R$ 477.182,00 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3 - Perfil Habitacional
3.3.1 - Número de Domicílios por Comunidade
Foram aplicados 417 questionários, dos quais em 405 foram caracterizados os respectivos
domicílios de seus responsáveis. Os demais 12 questionários foram relativos a entrevistados
que possuíam mais de um domicílio ou cujo domicílio não se encontrava ocupado (com
moradores) no momento da pesquisa.
A vila (sede do distrito) de Córregos, em Conceição do Mato Dentro, destaca-se como a
localidade pesquisada com o maior número de domicílios ocupados, tendo sido registrados 96.
Nota-se que a vila de São Sebastião do Bom Sucesso, também sede de distrito, possui número
de domicílios duas vezes menor, correspondente a apenas 31. Em Cabeceira do Turco,
localizada a norte da vila de São Sebastião do Bom Sucesso, foram registrados 30 domicílios,
enquanto que em Beco foram registrados 28. No município de Alvorada de Minas destacam-se,
em termos quantitativos, as localidades de São José da Ilha, com 43 domicílios registrados,
Água Quente, com 26 domicílios e São José do Jassém, com 24 domicílios. A Figura 3.2.1
demonstra o número de domicílios registrados em cada localidade pesquisada. Quanto às
localidades consideradas diretamente afetadas, em Água Santa foram registrados 17 domicílios
e em Serra da Ferrugem 9 domicílios, pois alguns já haviam se mudado e outros não quiseram
participar da pesquisa.
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FIGURA 3.3.1 - NÚMERO DE DOMICÍLIOS POR COMUNIDADE
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.2 - Condição dos Domicílios
Conforme declararam 357 (85,61%) entrevistados, a maioria dos domicílios pesquisados é da
própria família que reside. Outros 23 (5,52%) participantes informaram que o local de moradia
é cedido por parentes. Ambos os resultados expressam, de certa maneira, o vínculo dos
moradores com a região e sugere as relações históricas de vizinhança e parentesco entre elas.
Apenas um morador não soube ou não quis responder essa questão.
QUADRO 3.3.1 - CONDIÇÃO DOS DOMICÍLIOS DA ADA E AE
CONDIÇÃO DO DOMICÍLIO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Próprio (já pago) 357 85,61
Cedido por parente 23 5,52
Cedido por empregador 13 3,12
Alugado 8 1,92
Posse 7 1,68
Cedido de outra forma 4 0,96
Próprio (ainda não pago) 2 0,48
NS/NR 1 0,24
Terra de Santo 1 0,24
Usufruto 1 0,24
Total 417 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.3.3 - Condição do Terreno
Assim como ocorrido com a condição do domicílio, a maioria dos terrenos onde as casas estão
localizadas é do próprio (já pago) entrevistado. Esta afirmação foi fornecida por 294 (70,50%)
participantes. Outros 39 (9,35%) responderam que a área foi cedida por parentes. Em terceiro
lugar aparece o item “Terra de Santo” com 27 (6,47%) citações - são lugares onde o povoado
surge a partir do patrimônio doado à igreja para construção de uma capela em homenagem ao
santo cuja devoção ou uma graça foi alcançada pelo antigo proprietário. Na área em estudo,
destacam-se nesse quesito as localidades de São José do Jassém e São José da Ilha. Cinco
(1,20%) entrevistados informaram ainda que o terreno onde vivem é próprio, porém não
souberam ou não quiseram detalhar se o mesmo já foi pago ou não. Dos 34 (8,16%) casos
cedidos, 16 (3,84%) foram pelo empregador e 18 (4,32%) não especificaram suas respostas
justificando-as apenas como “cedido de outra forma”.
QUADRO 3.3.3 - CONDIÇÃO DO TERRENO DAS FAMÍLIAS DA ADA E AE
CONDIÇÃO DO TERRENO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Próprio (já pago) 294 70,50
Cedido por parente 39 9,35
Terra do Santo 27 6,47
Cedido de outra forma 18 4,32
Cedido por empregador 16 3,84
Alugado 8 1,92
Posse 8 1,92
Próprio 5 1,20
Agregado 1 0,24
Usufruto 1 0,24
Total 417 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Por se tratar de área predominantemente habitada por população tradicional ou famílias que
ocupam a região a várias gerações, não foi possível dimensionar a área da propriedade e do
domicílio tendo em vista a variedade das informações declaradas pelos entrevistados,
principalmente no que diz respeito às nomenclaturas utilizadas, mas, sobretudo, pela
dificuldade de alguns chefes de família em atribuir um valor em faixas de terreno, por
exemplo, comum que é de usufruto de um ou mais parente. Como explicado nos
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procedimentos metodológicos da pesquisa censitária, a equipe da Diversus trabalhou com os
dados fornecidos pelos participantes não ocorrendo, em campo, sua aferição.
3.3.4 - Formas de Abastecimento de Água
A forma de abastecimento de água predominante nas comunidades é nascente e/ou poço. Dos
417 pesquisados, 171 (41,01%) responderam a existência deles na própria propriedade. Sem
especificar a localidade, 107 (25,66%) afirmaram o uso de nascentes e 28 (6,71%) de poço
artesiano, separadamente. Já 34 (8,16%) entrevistados usufruem das mesmas fontes, porém a
captação da água é comum a todos, ou seja, pertence à comunidade. Situação descrita por 02
(0,48) pessoas no que diz respeito ao abastecimento via cisterna.
Ainda sobre poço e nascente, 01 (0,24%) entrevistado registrou o uso da nascente na Serra do
Sapo, outro (0,24%) informou a existência de ambas as fontes na propriedade, mas que utiliza
também o rio que passa no local. Um (0,24%) entrevistado apenas citou as duas opções sem,
no entanto, especificar o lugar de ocorrência delas. Condição invertida com aqueles 17 (4,08)
que mencionaram a propriedade do vizinho, só que não detalharam a forma do
abastecimento.
Rede pública e cisterna foram destacadas por 27 (6,47%) e 12 (2,88%) entrevistados,
respectivamente. Outras citações foram: “brejo”, “poço” e “rio” com 03 (0,72%) menções
cada, “manual” e “represa” com uma (0,24%) indicação apenas, também para cada opção.
Cinco (1,20%) participantes não souberam ou não quiseram responder a questão.
Ressalta-se que dos três casos que mencionam o rio como forma de abastecimento, dois são
da Comunidade de Água Quente e o outro de São José do Jassém, localidades banhadas pelo
córrego Passa Sete. Quando da realização deste diagnóstico, muitos moradores dos dois
lugares disseram nas entrevistas em profundidade e em contatos informais com os técnicos da
Diversus que não estavam utilizando mais a água do córrego em função da intervenção
provocada pela mineração em sua cabeceira. Declararam que nem os animais bebiam-na. Isso,
provavelmente, favoreceu o baixo resultado do item aqui apresentado, tendo em vista a data
de ocorrência deste trabalho.
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FIGURA 3.3.4-A - FORMAS DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Para 284 (68,11%) entrevistados, a água chega à residência canalizada em pelo menos um
cômodo. Outros 99 (23,74%) disseram que a mesma é canalizada até o terreno, quase sempre
nas proximidades do domicílio. Em 23 (5,52%) casos, a água sequer é canalizada. Dez (2,40%)
entrevistados não souberam ou não quiseram responder essa questão.
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FIGURA 3.3.4-B - COMO A ÁGUA CHEGA AOS DOMICÍLIOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.5 - Condições de Saneamento
Conforme demonstra a Figura 3.3.5-A, ¾ dos domicílios pesquisados possuem banheiro ou
sanitário em casa. Portanto, dos 417 entrevistados, 314 (75,30%) responderam positivamente
a pergunta, outros 102 (24,4%) declaram não tê-los em sua residência. Somente 01 (0,24%)
participante não soube ou não quis responder a questão.
FIGURA 3.3.5-A - DOMICÍLIOS QUE POSSUEM BANHEIRO OU SANITÁRIO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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Metade do escoadouro do banheiro ou do sanitário dos domicílios daqueles entrevistados que
responderam afirmativamente a questão anterior é a fossa negra com 157 (50%) indicações. A
rede geral de esgoto pluvial aparece na segunda posição com 85 (27,07%) menções. Em
seguida aparecem “rio, córrego ou lago”, “fossa séptica” e “vala” com 43 (13,69%), 20 (6,37%)
e 7 (2,23%) citações, respectivamente.
FIGURA 3.3.5-B - TIPO DE ESCOADOURO DO BANHEIRO OU SANITÁRIO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.6 - Fonte de Energia Utilizada
A maioria dos entrevistados informou que utiliza energia elétrica em suas residências. Apenas
37 (8,87%) participantes declaram a indisponibilidade da mesma em suas casas. No entanto,
aqueles que não dispõem de energia elétrica utilizam fontes alternativas como lamparina,
lampião, vela e até mesmo motor (01 caso verificado em campo, ou seja, 0,24% do total de
domicílios caracterizados).
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FIGURA 3.3.6-B - DISPONIBILIDADE DE ENERGIA ELÉTRICA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.7 - Disposição Final dos Resíduos Domésticos
De acordo com 244 (58,51%) entrevistados, a queima do lixo na propriedade é a única forma
de disposição final dos resíduos domésticos produzidos pela família. Em alguns casos, como se
pode perceber por meio do Quadro 3.3.7, esse costume está associado também à coleta
pública, à transformação dos materiais orgânicos em adubo, à prática de enterrá-los ou,
simplesmente, à sua disposição na cidade. Alguns entrevistados declaram ainda que os
resíduos além de queimados, são também deixados em terrenos baldios e logradouros ou até
mesmo jogado nos cursos d´água. A coleta pública na região foi mencionada várias vezes, em
determinadas situações, junto com as práticas anteriormente citadas. De qualquer modo, é
importante mencionar que os serviços de limpeza prestados pelas prefeituras tiveram 42
(10,07%) e 38 (9,11%) citações com exclusividade, assim descritas: “é coletado em caçamba de
serviço de limpeza” e “é coletado por serviço de limpeza”, respectivamente.
QUADRO 3.3.7 - DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS DOMÉSTICOS
FORMAS DE DISPOSIÇÃO FINAL DOS RESÍDUOS DOMÉSTICO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
É coletado em caçamba de serviço de limpeza/é queimado (na propriedade)/é enterrado (na propriedade) 1 0,24
É enterrado (na propriedade)/adubo 1 0,24
É enterrado (na propriedade)/leva para cidade 1 0,24
É queimado (na propriedade)/adubo 1 0,24
É queimado (na propriedade)/é jogado no rio ou córrego 1 0,24
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É queimado (na propriedade)/junta em saco e deixa na propriedade 1 0,24
É queimado (na propriedade)/leva para BH 1 0,24
É queimado (na propriedade)/reciclagem 1 0,24
É queimado (na propriedade)/vidro (junta) 1 0,24
Fossa 1 0,24
Material não orgânico leva para cidade 1 0,24
É coletado por serviço de limpeza/é coletado em caçamba de serviço de limpeza 2 0,48
É queimado (na propriedade)/fossa 2 0,48
É queimado (na propriedade)/leva para conceição o que não poder ser queimado 2 0,48
Joga terreno 2 0,48
NS/NR 2 0,48
É queimado (na propriedade)/leva para cidade 3 0,72
Leva para cidade 3 0,72
Leva lixo para Conceição do Mato Dentro 4 0,96
É coletado por serviço de limpeza/é queimado (na propriedade) 7 1,68
É queimado (na propriedade)/joga terreno 7 1,68
É jogado em terreno baldio ou logradouro 8 1,92
É coletado em caçamba de serviço de limpeza/é queimado (na propriedade) 12 2,88
É jogado em terreno baldio ou logradouro/É queimado (na propriedade) 12 2,88
É queimado (na propriedade)/É enterrado (na propriedade) 16 3,84
É coletado por serviço de limpeza 38 9,11
É coletado em caçamba de serviço de limpeza 42 10,07
É queimado (na propriedade) 244 58,51
Total 417 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.8 - Número de Cômodos dos Domicílios
A quantidade de cômodos em cada domicílio é ilustrada na Figura 3.3.8 -A. Observa-se que 190
(45,56%) entrevistados declaram possuir de sete a nove cômodos em sua moradia. Na
sequência aparecem os intervalos de 4-6 e 10-15 com 141 (33,81%) e 68 (16,31%) citações,
respectivamente. Em 07 (1,68%) residências o número de cômodos ultrapassa a faixa dos 15.
Apenas 11 (2,64%) moradores informaram que a casa onde vivem tem no máximo 03
cômodos.
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FIGURA 3.3.8 A - NÚMERO DE CÔMODOS DOS DOMICÍLIOS, POR INTERVALOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
A quantidade expressiva de cômodos existentes em mais da metade dos domicílios
pesquisados é uma caraterística comum da região e do interior de Minas. Outro aspecto
interessante é a quantidade de cômodos utilizados como dormitório que não somente atende
os membros das famílias residentes como também acolhe aqueles que moram fora e têm por
hábito visitar com frequência os parentes nos feriados, nas férias escolares e nas épocas de
festa nas comunidades.
Conforme consta na Figura 3.3.8 –B, 124 (29,74%) entrevistados destinam três cômodos da
casa para dormitório e 100 (23,98%) participantes disseram que o seu domicílio possui quatro
quartos de dormir. Outros 31 (7,43%) declaram ter mais de quatro cômodos com essa
finalidade. Por outro lado, 115 (27,58%) entrevistados responderam que em suas residências
há somente dois quartos e 44 (10,55%) moradores contam apenas com um. Três (0,72%)
participantes afirmaram não possuir dormitórios, certamente são domicílios em estado de
abandono ou inacabados.
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FIGURA 3.3.8 B - NÚMERO DE CÔMODOS DOS DOMICÍLIOS UTILIZADOS COMO
DORMITÓRIO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.9 - Material Predominante nas Paredes
O material predominante nas paredes para um pouco mais da metade dos entrevistados é o
tijolo de alvenaria com 213 (51,08%) citações. Na sequência aparecem as construções com
adobe e de pau-a-pique, mencionadas 123 (29,05%) e 63 (15,11%) vezes, respectivamente.
FIGURA 3.3.9 - MATERIAL PREDOMINANTE NAS PAREDES
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.3.10 - Material Predominante na Cobertura
O material predominante na cobertura das casas é a telha de barro com 183 (43,88%) citações,
seguido por telhado com forro e telha de cimento amianto com 92 (22,06%) e 65 (15,59%)
indicações.
QUADRO 3.3.10 - MATERIAL PREDOMINANTE NA COBERTURA
COBERTURA PREDOMINANTE FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Telha de barro 183 43,88
Telhado com forro 92 22,06
Telha de cimento amianto 65 15,59
Telhado vão 27 6,47
Telha colonial 13 3,12
Telhado com laje 9 2,16
Laje de cobertura 8 1,92
Telhado com forro de taquara 8 1,92
Telhado com forro de madeira 2 0,48
Laje de cobertura/telha de cimento amianto 1 0,24
Telha cumbuca 1 0,24
Telha de barro com forro de taquara 1 0,24
Telha de barro/telha de cimento amianto 1 0,24
Telha de barro/telhado com forro 1 0,24
Telha de barro/telhado com laje 1 0,24
Telha de cimento amianto com forro 1 0,24
Telha de cimento amianto/telhado com laje 1 0,24
Telhado com forro de esteira 1 0,24
Telhado com forro de pvc 1 0,24
Total 417 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.11 - Material Predominante no Piso
O material predominante no piso das casas é a nata de cimento com 157 (37,65%) citações,
seguido por cerâmica e cimento grosso com 77 (18,47%) menções cada uma. Terra batida foi
indicada ainda por 71 (17,03%) entrevistados.
QUADRO 3.3.11 - MATERIAL PREDOMINANTE NO PISO
PISO PREDOMINANTE FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Nata de cimento 157 37,65
Cerâmica 77 18,47
Cimento grosso 77 18,47
Terra batida 71 17,03
Madeira 11 2,64
Ardósia 10 2,40
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Nata de cimento/cimento grosso 3 0,72
Cerâmica/nata de cimento/ardósia 2 0,48
NS/NR 2 0,48
Artesanal 1 0,24
Cerâmica/cimento grosso 1 0,24
Cerâmica/madeira 1 0,24
Cimento grosso/madeira 1 0,24
Nata de cimento/ardósia 1 0,24
Nata de cimento/madeira 1 0,24
Nata de cimento/terra batida 1 0,24
Total 417 100,00
3.3.12 - Participação de Membro da Família em Organizações Sociais
Para as informações sobre a participação política dos entrevistados, sobre a religião que os
membros da família praticam, sobre os hábitos de assistir televisão e ouvir rádio, o lazer da
família e os usos dos cursos d´água, sopé e alto de montanhas, trabalhou-se com o universo de
414 entrevistados tendo em vista que três participantes tinham mais de um domicílio
pesquisado, portanto, a opinião deles sobre os itens acima não foi coletada mais de uma vez
num mesmo instrumento.
Perguntados sobre a participação dos membros da família em organizações sociais, 176
(42,51%) entrevistados responderam afirmativamente a questão e 227 (54,83%) disseram que
não participam de nenhuma organização. 11 (2,66%) participantes não souberam ou não
quiseram responder a pergunta.
FIGURA 3.3.12 - ALGUÉM DA FAMÍLIA PARTICIPA DE ORGANIZAÇÕES SOCIAIS
Página 60 de 362
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
As organizações sociais nas quais os membros da família atuam mais citadas pelos
entrevistados foram: sindicato de trabalhadores, movimento de igreja, organização dos
atingidos pela mineração e associação comunitária com 72 (32,73%), 62 (28,18%), 33 (15,00%)
e 29 (13,18%) indicações cada uma.
QUADRO 3.3.12 - TIPO DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL DOS MEMBROS DAS FAMÍLIAS
TIPO DE PARTICIPAÇÃO SOCIAL FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Sindicato de trabalhadores 72 32,73
Movimentos de igreja 62 28,18
Organização dos atingidos pela mineração 33 15,00
Associação Comunitária 29 13,18
Cooperativa 8 3,64
Partido político 5 2,27
Sindicato patronal 3 1,36
NS/NR 2 0,91
Associação dos Produtores de Gondó 1 0,45
Conselho Municipal de Saúde 1 0,45
Greenpeace 1 0,45
Ipsemg 1 0,45
Responsável para área de esportes do distrito (voluntário) 1 0,45
Unimed 1 0,45
Total 220 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.13 - Religiosidade
No que diz respeito à vida religiosa dos entrevistados, 391 (94,44%) participantes afirmaram
que pratica alguma religião, 15 (3,62%) disseram que não e 08 (1,93%) não souberam ou não
quiseram responder a questão.
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FIGURA 3.3.13 A - PRATICAM RELIGIÃO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
A religião católica é predominante entre os entrevistados que praticam a fé com 321 (82,10%)
citações, seguida pela religião evangélica com 51 (13,04%) menções. Outros 17 (4,35%)
entrevistados comungam os dois credos concomitantemente. Dois (0,51%) participantes não
souberam ou não quiseram especificar suas respostas.
FIGURA 3.3.13 B - RELIGIÕES PRATICADAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.3.14 - Hábitos de Comunicação
Em relação ao hábito de assistir televisão ou ouvir rádio, 366 (88,41%) entrevistados
responderam afirmativamente a questão e outros 48 (11,59%) participantes disseram não
possuir tal costume.
FIGURA 3.3.14 - TEM HÁBITO DE ASSISTIR TV OU OUVIR RÁDIO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Procurou-se investigar também quais os canais de televisão e quais as estações de rádio
preferidas dos entrevistados. Ao todo, foram geradas 751 respostas. A mais citada foi a Rede
Globo com 267 (35,55%) indicações, seguida pela Rádio FM Bom Jesus, o SBT, a Record e a
Rádio Itatiaia com 133 (17,71%), 114 (15,18%), 93 (12,38%) e 31 (4,13%) menções,
respectivamente.
QUADRO 3.3.14 - CANAIS DE RÁDIO E TV CITADOS
CANAIS DE RÁDIO E TV CITADOS FREQUÊNCIA
ABSOLUTO RELATIVO (%)
Globo 267 35,55
FM Bom Jesus 133 17,71
SBT 114 15,18
Record 93 12,38
Rádio Itatiaia 31 4,13
Bandeirantes 25 3,33
Rede Vida 13 1,73
Rádio Guanhães 12 1,60
Rede TV 7 0,93
Canção Nova 5 0,67
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Rede Aparecida 5 0,67
NS/NR 4 0,53
Canal do boi 3 0,40
Não tem preferência 3 0,40
Rádio Itabira 3 0,40
TV Século XXI 3 0,40
Canal Rural 2 0,27
Rádio Aparecida 2 0,27
Rádio Inconfidência 2 0,27
Rádio Nacional 2 0,27
Record News 2 0,27
TV a cabo 2 0,27
AM - NS/NR 1 0,13
Canais de esportes 1 0,13
Canal do Pastor Valdomiro 1 0,13
Canal Futura 1 0,13
Canal religioso 1 0,13
MTV 1 0,13
Programas evangélicos 1 0,13
Rádio evangélica 1 0,13
Rádio Grande BH 1 0,13
Rádio Matozinhos FM 1 0,13
Rádio Mix 1 0,13
Rádio Tupi 1 0,13
Rádio Voz da Libertação 1 0,13
Rede Cultura 1 0,13
Rede Gazeta 1 0,13
Rede Minas 1 0,13
RIT - canal da igreja universal 1 0,13
TV Cultura 1 0,13
751 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os programas mais citados foram: novela (28,71%) e jornal (26,21%), além de programas
esportivos, transmissões de futebol e desenhos animados. Foram citados ainda inúmeros
programas, sem que nenhum tenha se destacado entre os demais, sendo que a maior parte
deles são voltados para o entretenimento (músicas principalmente) e a religiosidade.
3.3.15 - Opções de Lazer
No que diz respeito ao lazer dos entrevistados, 380 (91,79%) participantes mencionaram uma
ou mais forma existente na região gerando uma lista com 881 citações, 21 (5,07%)
entrevistados disseram não haver e 13 (3,14%) não souberam ou não quiseram responder a
pergunta.
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FIGURA 3.3.15 - INFORMARAM OPÇÕES DE LAZER
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Jogar futebol com 185 (21,00%) respostas, assistir TV/ouvir rádio com 158 (17,93%), nadar com
156 (17,71%) e pescar com 123 (13,96%) indicações foram as opções de lazer mais citadas
pelos entrevistados.
QUADRO 3.3.15 - OPÇÕES DE LAZER INFORMADAS
OPÇÕES DE LAZER INFORMADAS FREQUÊNCIA
ABSOLUTO RELATIVO (%)
Jogar futebol 185 21,00
Assistir TV/ouvir rádio 158 17,93
Nadar 156 17,71
Pescar 123 13,96
Jogar cartas (baralho) 48 5,45
Boteco 27 3,06
Dançar/forró 24 2,72
Festas 24 2,72
Andar cavalo 17 1,93
Festas religiosas 15 1,70
Visitar parentes/Visitar vizinhos 13 1,48
Igreja 12 1,36
Passear na região 8 0,91
Sinuca 7 0,79
Andar de bicicleta 5 0,57
Caçar 4 0,45
Cachoeiras 4 0,45
Ficar em casa 4 0,45
Ir a Conceição do Mato Dentro 4 0,45
Ouvir música 4 0,45
Caminhada 3 0,34
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Conversar amigos 3 0,34
Sair/passear 3 0,34
Voley 3 0,34
Curtir a natureza 2 0,23
Ir ao quiosque 2 0,23
Jogar peteca 2 0,23
Piquenique 2 0,23
A roça 1 0,11
Andar nas matas 1 0,11
Banho 1 0,11
Bingo 1 0,11
Caiaque 1 0,11
Churrasco 1 0,11
DVD 1 0,11
Ir a Sapo 1 0,11
Ir buscar lenha 1 0,11
Jogar sinuca 1 0,11
Montanhismo 1 0,11
Passear na serra 1 0,11
Quadrilhas 1 0,11
Rezar 1 0,11
Sair da comunidade 1 0,11
Trabalhar 1 0,11
Truco 1 0,11
Ver os passarinhos cantar 1 0,11
Viajar 1 0,11
Total 881 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.16 - Utilização de Cursos D’Água
Indagados sobre o uso dos cursos d´água da região e de suas margens, 292 (70,53%)
entrevistados afirmaram frequentá-los gerando 473 citações sobre a finalidade de tal ato, 110
(26,57%) disseram que não e 12 (2,90%) não souberam ou não quiseram responder a questão.
Neste quesito, na Comunidade de Água Quente, mesmo que dois entrevistados apenas
tenham mencionado na época da pesquisa o córrego como fonte de abastecimento, na
questão sobre os usos do curso d´água da região verifica-se que dos 26 entrevistados que
participaram das entrevistas, 15 responderam que costumam frequentá-los. Obviamente que a
pergunta abrange os cursos d´água da região e não apenas o Córrego Passa Sete, em
particular. De qualquer modo, pela proximidade da comunidade com o referido córrego, pode-
se deduzir que o mesmo esteja subtendido em suas respostas, afinal muitos moradores
relataram os usos que faziam de suas águas antes da presença da mineração.
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FIGURA 3.3.16 - FREQUENTA CURSOS D’ÁGUA E SUAS MARGENS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
De acordo com o Quadro 3.3.16, “Nadar” com 237 (50,11%) respostas e “Pescar” com 135
(28,54%) menções foram os itens mais indicados pelos entrevistados quando perguntados
acerca da finalidade com que utilizam os cursos d´água da região. Usos domésticos como
“lavar roupa”, “banho/tomar banho” e “lavar vasilhas” aparecem com 34 (7,19%), 18 (3,8%) e
4 (0,85%) citações, respectivamente. Ressalta-se que os usos acima reproduzem, no geral,
aspectos verificados em localidades específicas como, por exemplo, a comunidade de Água
Quente.
QUADRO 3.3.16 - COM QUE FINALIDADE FREQUÊNCIA CURSOS D’ÁGUA E SUAS MARGENS
FINALIDADE FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Nadar 237 50,11
Pescar 135 28,54
Lavar roupa 34 7,19
Banho 10 2,11
Tomar banho 8 1,69
Passear 7 1,48
Lavar vasilha 4 0,85
Churrasco 3 0,63
Divertir 3 0,63
Beber 2 0,42
Cachoeira 2 0,42
NS/NR 2 0,42
Para saber como está a água 2 0,42
Piquenique 2 0,42
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Uso doméstico 2 0,42
Brincar na água 1 0,21
Bucar lenha 1 0,21
Buscar água 1 0,21
Caçar 1 0,21
Caiaque 1 0,21
Comer 1 0,21
Conhecer o lugar 1 0,21
Extração de argila 1 0,21
Fazer churrasco 1 0,21
Fazer festa 1 0,21
Ficar no quiosque 1 0,21
Fotografar 1 0,21
Ir para outra margem 1 0,21
Jogar bicho morto na água 1 0,21
Lanchar 1 0,21
Lavar mandioca 1 0,21
Levar visitantes 1 0,21
Paisagem 1 0,21
Pic-nick 1 0,21
Ver o rio 1 0,21
Total 473 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.17 - Utilização de Sopés e Topos de Montanhas
Quanto à utilização de sopés e topos de montanhas, 220 (53,14%) entrevistados responderam
que têm por hábito percorrê-los, 178 (43,00%) disseram que não e 16 participantes não
souberam ou não quiseram responder a questão.
FIGURA 3.3.17 - UTILIZA SOPÉS E TOPOS DE MONTANHAS
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Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Buscar lenha com 119 (36,28%) respostas, “passear/distrair/divertir” com 65 (19,82%) e
“apreciar a natureza/apreciar a paisagem” com 42 (12,80%) citações foram os itens mais
indicados pelos entrevistados como demonstra o Quadro 3.3.17.
QUADRO 3.3.17 - FINALIDADES COM QUE FREQUENTA MONTANHAS
COM QUE FINALIDADE FREQUENTA MONTANHAS FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Buscar lenha 119 36,28
Passear / Distrair / Divertir 65 19,82
Apreciar a natureza / Apreciar a paisagem 42 12,80
Telefonar (sinal de celular) 17 5,18
Piquenique 11 3,35
Buscar material para fazer vassoura 10 3,05
Participar de cultos religiosos 10 3,05
Pegar plantas medicinais 8 2,44
Procurar animal / Buscar animal 7 2,13
Andar a cavalo/cavalgada 5 1,52
Festa do Cruzeiro 5 1,52
Fazer caminhadas 4 1,22
Buscar taquara 3 0,91
Buscar arnica 2 0,61
Buscar broto de samambaia para alimentação 2 0,61
Buscar madeira para fazer cerca 2 0,61
Caçar 2 0,61
NS / NR 2 0,61
Pasto para o gado 2 0,61
Andar de bicicleta 1 0,30
Buscar orquídeas 1 0,30
Cuidar da lavoura 1 0,30
Estudo das espécies nativas 1 0,30
Missa 1 0,30
Montanhismo 1 0,30
Ouvir rádio FM 1 0,30
Por conta do trabalho 1 0,30
Procissão na Festa do Divino 1 0,30
Usa a serra como caminho para ir ao Sapo 1 0,30
Total 328 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.3.18 - Locais Considerados Mais Bonitos e Agradáveis
Entre as 547 citações que se referem aos lugares mais bonitos e agradáveis indicados pelos
entrevistados, destaca-se a própria propriedade/casa com 91 (16,64%) respostas, o que
demonstra o vínculo afetivo das famílias com o local onde moram. Na sequência aparece o
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município de Conceição do Mato Dentro com 25 (4,57%) citações, seguido de Córregos e Rio
Santo Antônio com 23 (4,20%) indicações cada. A Barragem de Dom Joaquim foi lembrada 22
(4,02%) vezes. De modo geral, percebe-se por meio do Quadro 3.3.18 que a paisagem das
cidades, o patrimônio histórico edificado, as serras e as cachoeiras são frequentemente
mencionadas pelos participantes, com ou sem especificação do lugar.
QUADRO 3.3.18 - LOCAIS CONSIDERADOS MAIS BONITOS E AGRADÁVEIS
LUGARES MAIS AGRADÁVEIS FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
A própria propriedade / Casa 91 16,64
Conceição do Mato Dentro 25 4,57
Córregos 23 4,20
Rio Santo Antônio 23 4,20
Barragem em Dom Joaquim 22 4,02
Serrinha, em Córregos 20 3,66
As serras / as montanhas 18 3,29
Cachoeira do Tabuleiro 18 3,29
A natureza / As paisagens 16 2,93
Serra de São José 16 2,93
Dom Joaquim 12 2,19
As águas da região / Os rios da região 10 1,83
Comunidade do Sapo 10 1,83
Igreja Nossa Senhora Aparecida, de Córregos 10 1,83
Serra de Ferrugem 10 1,83
Cachoeira do Passa Sete 9 1,65
Paisagem de Água Quente 9 1,65
Igreja de Nossa Senhora da Conceição 8 1,46
Candonga / Cachoeira Candonga 8 1,46
Cachoeiras próximas ao Jassém 7 1,28
Itaponhacanga 7 1,28
Santuário Bom Jesus do Matozinhos 7 1,28
Poção do Rio Santo Antônio 6 1,10
Cachoeiras da região de Córregos 4 0,73
Comunidade de Água Santa 4 0,73
Comunidade do Beco 4 0,73
Igreja de São Sebastião do Bonsucesso 4 0,73
São José da Ilha 4 0,73
São José do Jassém 4 0,73
Serra do Sapo 4 0,73
Três Barras 4 0,73
Alto do cruzeiro, no Beco 3 0,55
Cachoeira Arara Azul 3 0,55
Cachoeira de Benta 3 0,55
Cachoeira do Joaozinho Generoso 3 0,55
Cachoeira do Teodoro 3 0,55
Córrego Campinas 3 0,55
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Gondó 3 0,55
Outra propriedade 3 0,55
Salão de Pedras, em Conceição do Mato Dentro 3 0,55
Serras da região de Cabeceira do Turco 3 0,55
Serro 3 0,55
A serra do Sapo 2 0,37
Alto da serra, em Cabeceira do Turco 2 0,37
Cachoeira do Pacífico 2 0,37
Cachoeira do Taporouco 2 0,37
Campo de futebol, em São José da Ilha 2 0,37
Curral de Pedras (Tapera) 2 0,37
Diamantina 2 0,37
Fazendas da região de São José da Ilha 2 0,37
Igreja 2 0,37
Meu quintal 2 0,37
Não tem lugar feio 2 0,37
Praça da Igreja, em Córregos 2 0,37
Quatiz 2 0,37
Retiros próximos de Córregos 2 0,37
Rio do Peixe 2 0,37
Serra do Falcão 2 0,37
Serras da região de Córregos 2 0,37
Turco 2 0,37
A estrada do lugar onde vive 1 0,18
A natureza de Córregos 1 0,18
A natureza, os campos e as matas de Cabeceira do Turco 1 0,18
Alto da serra 1 0,18
Alto da serra em Córregos 1 0,18
Alto do cemitério, em Córregos 1 0,18
Alto do cruzeiro 1 0,18
Alto do cruzeiro, em Córregos 1 0,18
Alvorada de Minas 1 0,18
Área da reserva florestal, na região do Sapo 1 0,18
As montanhas do entorno de Água Santa 1 0,18
As Ninfas, em Conceição do Mato Dentro 1 0,18
Cachoeira do Encanto 1 0,18
Campo de futebol, no Sapo 1 0,18
Comunidade de São José do Arruda 1 0,18
Congonhas do Norte 1 0,18
Córrego Passa Sete 1 0,18
Córrego Zalu 1 0,18
Encontro do Rio São José com o Rio do Peixe 1 0,18
Encontro dos dois rios, perto de São José da Ilha 1 0,18
Escola de São José do Jassém 1 0,18
Fazenda Amaral 1 0,18
Fazenda Boa Vista 1 0,18
Fazenda de Breno Costa 1 0,18
Fazenda de Sirlei 1 0,18
Fazenda do João Generoso 1 0,18
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Fazenda do Rodrigo 1 0,18
Fazenda Hermógenes Madureira Simões 1 0,18
Fazenda Jardim 1 0,18
Fazenda Joaquim Costa 1 0,18
Fazenda Retiro Grande 1 0,18
Fazenda São José 1 0,18
Ginásio São Francisco, em Conceição do Mato Dentro 1 0,18
Igreja do Beco 1 0,18
Igreja Nossa Senhora de Fátima 1 0,18
Igreja Senhor dos Passos, em Córregos 1 0,18
Igrejinha do Cruzeiro, em Dom Joaquim 1 0,18
Itapera / Santo Antônio do Norte 1 0,18
Lugar onde vive / Lugar onde mora 1 0,18
Mato Grosso 1 0,18
Morro do Cruzeiro 1 0,18
Nascentes de Córregos 1 0,18
Onde morava anteriormente 1 0,18
Ouro Fino 1 0,18
Perto da propriedade onde vive 1 0,18
Pesque e Pague, em Dom Joaquim 1 0,18
Poço Durão 1 0,18
Poço perto de São José da Ilha 1 0,18
Poços de pescaria 1 0,18
Retiro da Salvina 1 0,18
Rio Preto, em Santo Antônio do Norte 1 0,18
Rios do Beco 1 0,18
Serra da Proninha, no caminho para Congonhas do Norte 1 0,18
Serra do Brumado 1 0,18
Serra do Cipó 1 0,18
Serra do Pinho 1 0,18
Serra Tomaz, em Conceição do Mato Dentro 1 0,18
Serras na direção ao Serro 1 0,18
Um lugar alto, entre Córregos e São José do Arruda 1 0,18
Uma árvore perto do Entroncamento 1 0,18
Vargem Grande 1 0,18
Total 547 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4 - Perfil Produtivo
3.4.1 - Produção Pecuária
As informações sobre produção pecuária são relativas a 418 propriedades, sendo que uma
delas não possuía domicílio no terreno.
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3.4.1.1 - Produção Pecuária Bovina
A atividade pecuária bovina é desenvolvida em 126 (30,16%) das propriedades caracterizadas.
Dentre as demais 292 (69,86%) predominam aquelas localizadas em áreas urbanas, como sede
de distritos ou povoados mais adensados, além de propriedades com áreas disponíveis
menores, o que dificulta o desenvolvimento de pecuária bovina.
FIGURA 3.4.1.1 - DESENVOLVE PRODUÇÃO PECUÁRIA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.2 - Tipo de Pecuária Bovina
A pecuária bovina desenvolvida na região é predominantemente leiteira, o que se dá em 92
(73,02%) das propriedades que desenvolvem este tipo de atividade. A Figura 3.4.1.12
demonstra que também se desenvolve, em menor escala, a pecuária mista (16,67%) e de corte
(7,94%).
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FIGURA 3.4.1.2 - TIPO DE PECUÁRIA BOVINA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.3 - Destino da Produção Pecuária Bovina
A produção pecuária bovina destina-se principalmente para o próprio consumo da família
produtora, o que ocorre em 53 (42,06%) dos casos. A Figura 3.4.1.3 demonstra, porém, que
também se destaca o percentual de famílias (34,92%) que vendem o excedente da produção.
Apenas 20 (15,87%) dos produtores têm a produção pecuária bovina totalmente voltada para o
mercado.
FIGURA 3.4.1.3 - DESTINO DA PRODUÇÃO PECUÁRIA BOVINA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.1.4 - Efetivo Bovino da Pecuária
A quantidade de gado misto corresponde a 1888, ou 42,41% do total de4452 cabeças apuradas
entre as áreas caracterizadas que têm produção pecuária bovina, enquanto que o plantel
leiteiro foi igual a 1887, ou 42,39%. Portanto, percebe-se claramente que a produção leiteira
predomina na região sobre o gado de corte, sendo o efetivo específico deste igual a 625, ou
14,04% do total. No caso do efetivo misto, o que se observou em campo é que os produtores,
no momento da reprodução dos animais, permanecem com as fêmeas (para produção do leite)
e comercializam os machos para produtores que se dedicam à atividade de recria e engorda de
gado.
FIGURA 3.4.1.4 - EFETIVO BOVINO PECUÁRIA, POR TIPO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.5 - Produção de Galináceos
A produção de galináceos, com predomínio massivo de frangos e galinhas, é bastante
disseminado na região, como ocorre em inúmeras áreas rurais do país. Assim, a Figura 3.4.1.5
demonstra que dentre as áreas caracterizadas, a produção de galináceos foi registrada em 300
(71,77%) delas. O efetivo total informado chegou a 9.289 aves, o corresponde a uma média de
30,96 aves por área em que são produzidas.
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FIGURA 3.4.1.5 - POSSUI PRODUÇÃO DE GALINÁCEOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.6 - Destino da Produção de Galináceos
Este tipo de produção tem um papel muito importante para a reprodução social das famílias
que residem na região, provendo não apenas parte das proteínas animais utilizadas nas dietas
alimentares, através de carne e ovos, como também renda para algumas das famílias que
comercializam o excedente da produção. É esse o caso de 25 (8,33%) das áreas em que foi
registrada a produção de galináceos, sendo que apenas em uma (0,33%) a produção é
destinada totalmente ao mercado. Não obstante, o que realmente predomina são as famílias
que têm este tipo de produção totalmente voltado para seu próprio consumo, o que ocorre
em 272 (90,67%) dos casos.
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FIGURA 3.4.1.6 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE GALINÁCEOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.7 - Produção de Suínos
Em 101 (24,16%) das áreas caracterizadas foi registrada a criação de suínos, como demonstra a
Figura 3.4.1.17. O efetivo total informado foi de 466 animais, o que equivale a uma média de
4,61 animais por criador.
FIGURA 3.4.1.7 - POSSUI PRODUÇÃO DE SUÍNOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.1.8 - Destino da Produção de Suínos
A produção de suínos também é predominantemente voltada para o próprio consumo das
famílias produtoras, o que ocorre em 88 (80,20%) dos casos. Também há casos em que as
famílias comercializam o excedente (12,87%). Voltados exclusivamente para o mercado,
apenas 4 (3,96%) dos que produzem suínos.
FIGURA 3.4.1.8 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE SUÍNOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.9 - Demais Efetivos de Pecuária
Também foram registrados efetivos de caprinos e de animais de transporte e trabalho, como
cavalos e mulas. O Quadro 3.4.1.19 demonstra que os caprinos eram criados em apenas 3
(0,72%) das áreas caracterizadas, enquanto que haviam cavalos e/ou mulas disponíveis em 135
(32,30%) das áreas. Foi registrado um efetivo de 25 caprinos, o que corresponde a uma média
de 8,33 por criador. Por sua vez, o efetivo de cavalos e mulas chegou a 414 animais, com uma
média de 3,07 do criador.
QUADRO 3.4.1.9 - DEMAIS EFETIVOS DE PECUÁRIA
EFETIVO SIM NÃO TOTAL
ABSOLUTO RELATIVO (%) ABSOLUTO RELATIVO (%) ABSOLUTO RELATIVO (%)
Cavalo/Mula 135 32,30 283 67,70 418 100,00
Caprino 3 0,72 415 99,28 418 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.1.10 - Destino da Produção dos Demais Efetivos de Pecuária
Também neste caso, fica evidente que a produção destina-se quase que exclusivamente para
atender às necessidades das próprias famílias produtoras, sendo que apenas dois produtores
declararam comercializar o excedente de cavalos e mulas, neste caso quando ocorre alguma
recria ou necessitam de algum recurso monetário em algum momento de crise ou imprevisto.
QUADRO 3.4.1.10 - DESTINO DA PRODUÇÃO DOS DEMAIS EFETIVOS DE PECUÁRIA
DESTINO
EFETIVOS
CAVALO/MULA CAPRINO
ABSOLUTO RELATIVO (%) ABSOLUTO RELATIVO (%)
Consumo 131 97,04 3 100,00
Venda do Excedente 2 1,48 0 0
Venda 0 0 0 0
NS/NR 2 1,48 0 0
Total 135 100,00 3 100,00
Fonte:Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.1.11 - Desenvolvimento de Piscicultura
A piscicultura é uma atividade pouco desenvolvida na região, mas ainda assim foi registrada
em 14 (3,35%) áreas, dentre as caracterizadas, conforme demonstra a Figura 3.4.1.11.
FIGURA 3.4.1.11 - DESENVOLVE PISCICULTURA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.1.12 - Destino da Produção de Piscicultura
A produção da piscicultura também é predominante voltada para o consumo próprio, o que
ocorre exclusivamente em 50% dos casos e em conjunto com a venda do excedente em
14,29% dos casos. Apenas em 2 (14,29%) áreas se produz peixe para o mercado.
FIGURA 3.4.1.12 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE PISCICULTURA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.2 - Produção Agrícola
O universo de informações sobre produção agrícola também corresponde a 418 propriedades,
assim como a produção pecuária.
Nesta região é bastante frequente a existência de quintais, no quais se encontram hortas e
pomares, além de cultivos com fins paisagísticos, como flores de tamanhos e tonalidades
variadas, orquídeas de diversos tipos, comumente penduradas em árvores com largas copas
que proporcionam um ambiente agradável entorno dos domicílios.
3.4.2.1 - Desenvolvimento de Produção Agrícola
Segundo as informações dos entrevistados, em 230 (55,02%) das áreas caracterizadas ocorre o
desenvolvimento de algum tipo de produção agrícola, excetuando-se hortas e pomares nos
quintais. Dentre outros, foram citados cultivos de mandioca, milho, feijão, cana-de-açúcar,
café, arroz e amendoim, além de cultivos voltados exclusivamente para o tratamento dos
efetivos de pecuária, como pastagens, capineiras e sorgo.
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A Figura 3.4.2.1 demonstra que a produção obtida em 145 (63,04%) das áreas se destina
exclusivamente para o consumo das famílias produtoras. Aquelas áreas cuja produção agrícola
destina-se prioritariamente para o próprio consumo, mas também se faz a comercialização do
excedente totalizaram 64 (27,83%) casos. Em apenas 13 (5,65%) das áreas nas quais se
desenvolve algum tipo de atividade agrícola, com exceção de hortas e pomares, a produção é
volta exclusivamente para a venda.
FIGURA 3.4.2.1- DESTINO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.2.2 - Hortaliças
A produção de hortaliças é muito comum na região, estando presente em 330 (78,95%) das
áreas caracterizadas, como ilustra da Figura 3.4.2.2.
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FIGURA 3.4.2.2 - PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.2.3 - Destino da Produção de Hortaliças
A Figura 3.4.2.3 ilustra o quanto se desta a produção de hortaliças voltada para o consumo
próprio, o que ocorre com 322 (97,58%) daqueles que têm este tipo de produção agrícola.
Exclusivamente voltada para o mercado, em apenas 4 (1,29%) das áreas produtoras de
hortaliças há informações de que isso ocorre.
FIGURA 3.4.2.3 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.2.4 - Pomares
Os pomares estão presentes em 320 (76,56%) das áreas caracterizadas. Este tipo de cultivo
geralmente é desenvolvido no próprio quintal, no entorno dos domicílios. Através dele as
famílias se provêm de diversas variedades de frutas típicas da região ou exóticas. Estas árvores
também têm a função de prover sombra para as habitações, garantindo um ambiente mais
agradável e salubre aos seus moradores. Em vários casos, seus frutos servem, ainda, para a
fabricação de doces e outros pratos.
FIGURA 3.4.2.4 - EXISTÊNCIA DE POMARES
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3 - Produção Agroindustrial
As informações quantitativas sobre a produção agroindustrial da região foram coletadas em
um momento específico da pesquisa, atingido a um universo de 409 domicílios.
Importante observar que este tipo de produção é muito importante para várias famílias, em
alguns casos sendo a principal fonte de renda de que dispõem. Trata-se de um tipo de
produção caseiro, desenvolvido em moldes tradicionais, que vem se perpetuando há gerações.
E tais produtos também são importantes para o comércio dos municípios da região, com
destaque para Conceição do Mato Dentro no qual ocorre pelo menos uma feira semanal e os
produtos também são repassados a proprietários de mercados ou mercearias localizados na
sede municipal, muitas vezes em forma de escambo, quando são trocados por outros tipos de
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produto de interesse das famílias produtoras. Também ocorre o comércio de porta em porta,
principalmente de quitandas, pois os vendedores já possuem clientela fixa.
3.4.3.1 - Produção de Farinha
Foi constatado o desenvolvimento de produção de farinha em 92 (22,49%) dos domicílios,
conforme ilustra a Figura 3.4.3.1.
FIGURA 3.4.3.1 - PRODUZ FARINHA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.2 - Destino da Produção de Farinha
A produção de farinha é predominantemente consumida pelas próprias famílias produtoras, o
que ocorre isoladamente em 49 (53,26%) casos e associada com a venda do excedente em
outros 25 (27,17%). As famílias que destinam a produção especificamente para a venda
totalizaram 18 (19,57%).
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FIGURA 3.4.3.2 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE FARINHA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.3 - Existência de Forno de Barro
Os fornos de barro são uma tradição da região, utilizados há gerações para o preparo de
quitandas como biscoitos e bolos. Sua existência foi registrada em 191 (46,70%) domicílios
pesquisados.
FIGURA 3.4.3.3 - POSSUI FORNO DE BARRO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.3.4 - Produção de Quitandas
A produção de quitandas, contudo, não ocorre apenas através de fornos de barro. Assim, o
número de famílias que preparam quitandas chegou a 239 (58,44%), o que demonstra a
importância deste tipo de habito para a maioria das famílias da região.
FIGURA 3.4.3.4 - PRODUZ QUITANDAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.5 - Destino da Produção de Quitandas
Aquelas famílias que informaram que comercializam as quitandas, não obstante, correspondeu
a apenas 26, das quais 13 (5,44%) produzem a quitanda especificamente para sua distribuição
no mercado e outras 13 (5,44%) tanto para o mercado quanto para o consumo dos familiares.
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FIGURA 3.4.3.5 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE QUITANDAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.6 - Produção de Doces
A produção de doces também é bastante comum na região, ocorrendo em 243 (59,41%)
domicílios caracterizados.
FIGURA 3.4.3.6 - PRODUZ DOCES
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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3.4.3.7 - Destino da Produção de Doces
O consumo próprio é o principal destino desta produção, o que ocorre em 210 (86,42%) dos
casos. Aqueles que vendem (5,76%) ou que vendem o excedente (7,82%) representam uma
parcela bem menor entre os produtores de doce da região, como demonstra a Figura 3.4.3.6.
FIGURA 3.4.3.7 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE DOCES
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.8 - Produção de Queijo
Dentre as caracterizadas, apenas 52 famílias produzem queijo. Destas, 27 (51,92%) o destina
totalmente para venda, 12 (23,08%) comercializa o excedente e 10 (19,23%) apenas para o
consumo da própria família.
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FIGURA 3.4.3.8 - DESTINO DA PRODUÇÃO DE QUEIJO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
3.4.3.9 - Produção de Cachaça
A Figura 3.4.3.9 demonstra que a produção de cachaça é desenvolvida por 84 (20,54%) das
famílias caracterizadas a este respeito. Isso não significa, contudo, que todas tenham um
alambique. Na verdade, foram identificados na região apenas três alambiques. Assim, todas as
demais famílias cultivam a cana-de-açúcar e produzem a cachaça à meia ou mesmo à terça
com os produtores que dispõem da estrutura necessária para a fabricação da cachaça.
FIGURA 3.4.3.9 - PRODUZ CACHAÇA
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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4 - PESQUISA DE PERCEPÇÃO AMBIENTAL: O CONTEXTO REGIONAL E O
EMPREENDIMENTO SEGUNDO O OLHAR DOS ENTREVISTADOS
4.1 - Introdução
O objetivo deste capítulo consiste em tentar apreender, por meio de perguntas abertas feitas
durante a pesquisa censitária, qual a visão dos entrevistados sobre as características da região
e sua interrelação com o empreendimento. Assim, foram formuladas questões visando
estimular a reflexão sobre aspectos ligados tanto ao presente quanto ao futuro da região,
tendo em vista o nível de informações que possuem sobre as características do projeto e
aquilo que estão vislumbrando como sua consequência, seja do ponto de vista positivo ou
negativo.
Ao todo participaram deste bloco de questões 416 entrevistados. Como em toda pesquisa
deste tipo, porém, nem todos se sentiram à vontade para responder a todas as questões, ainda
que tenha lhes sido garantido que suas respostas seriam tratadas com confidencialidade. Daí,
inclusive, estes dados não serem apresentados no CD com os perfis familiares que acompanha
este Diagnóstico, tendo em vista a importância de se evitar a exposição de pontos de vista
individuais a respeito deste tipo de questão.
Importante atentar para o fato de que para cada questão o entrevistado poderia dar mais de
uma resposta, por isso o número de resposta é maior que o número de entrevistados. E o
número de entrevistados que efetivamente responderam cada questão varia, pois como dito
anteriormente, nem todos responderam a todas as questões.
Para facilitar a leitura dos resultados, agrupamos as respostas em categorias como “aspectos
ambientais”, “aspectos culturais”, “aspectos econômicos”, “aspectos sociais”, “aspectos de
saúde”, “infraestrutura”, entre outros, podendo ter graduações de uma para outra
dependendo do enunciado da questão. Obviamente que este tipo de classificação serve
apenas para agregar os dados por categorias que facilitem a observação dos resultados, uma
vez que um mesmo fator pode inclusive ser facilmente classificado em mais de uma categoria,
o que sempre vai variar a partir da visão específica de quem está fazendo a classificação. Não
obstante, este é um exercício interessante para perceber as categorias mais citadas.
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4.2 - O Que os Entrevistados Mais Gostam na Região
Questão: O que você mais gosta aqui na região?
Esta questão foi respondida por 397 entrevistados, dos quais 17 (4,09%) responderam que não
gostam de nada na região e 380 (91,35%) citaram um ou mais aspectos. Outros 19 (4,57%)
entrevistados não quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura 4.2-A.
FIGURA 4.2 A - O QUE MAIS GOSTA NA REGIÃO?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 380 entrevistados forneceram 590 respostas ao serem questionados sobre o que mais
gostam na região. Agrupadas por categorias, conforme apresentado no gráfico 4.2-B, nota-se o
grande predomínio de aspectos culturais entre os fatores apontados pelos entrevistados como
características que mais gostam na região. Assim, 301 (51,02%) das respostas têm relação com
algum fator cultural. Fatores ambientais foram citados 148 (25,08%) vezes, aspectos
econômicos foram citados 100 (16,95%), alguma opção de lazer foi apontada 15 (2,54%) vezes,
de infraestrutura 5 (0,85%) vezes e outros aspectos ainda foram citados 21 (3,56%) vezes.
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FIGURA 4.2 B - O QUE MAIS GOSTA NA REGIÃO, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Características como tranquilidade, sossego, silêncio e paz foram citadas 102 (17,29%) vezes,
sendo as que mais se destacaram entre todas as respostas, o que traduz o modo de vida
peculiar dos moradores marcado principalmente pela convivência entre parentes e antigos
vizinhos que se mobilizam tanto para lida no mundo do trabalho quanto para a realização de
festas e outros momentos lúdicos vividos conjuntamente. Deste modo, o Quadro 4.2 também
confirma a importância atribuída à amizade e aos vizinhos como uma característica das mais
valorizadas pelos entrevistados, citada 74 (12,54%) vezes.
QUADRO 4.2 - O QUE MAIS GOSTA NA REGIÃO
O QUE MAIS GOSTA FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS CULTURAIS 301 51,02
Tranquilidade / Sossego / Silêncio / Paz 102 17,29
Amizades / Vizinhos 74 12,54
Parentes / Família 19 3,22
Da casa 15 2,54
Da Igreja 12 2,03
Festas 12 2,03
Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Córregos 12 2,03
Festas religiosas / Encontros religiosos 10 1,69
Do povo do lugar 8 1,36
Liberdade 7 1,19
Assistir futebol / Jogar futebol 6 1,02
Da igreja de São José da Ilha 3 0,51
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Dançar / Organizar forró 3 0,51
Igreja (Quatis) / Igreja (Água Quente) 3 0,51
Campo de futebol, em Córregos 2 0,34
Do patrimônio histórico 1 0,17
Fazendas e roças, em Córregos 1 0,17
Igreja Deus é Amor 1 0,17
Igreja Evangélica de São José da Ilha 1 0,17
Igreja Nossa Senhora da Conceição 1 0,17
Banda de música de Córregos 1 0,17
Canteiro de coqueiro, no centro da Ilha 1 0,17
Casas antigas, em Córregos 1 0,17
Casas, da Ilha 1 0,17
Cruzeiro 1 0,17
Honestidade das pessoas 1 0,17
Quando a Ilha está movimentada 1 0,17
Rua, em Córregos 1 0,17
ASPECTOS AMBIENTAIS 148 25,08
Água pura / Abundante 31 5,25
Da região / Do lugar 26 4,41
Natureza exuberante / Belezas naturais 21 3,56
Clima / Temperatura 12 2,03
Montanhas 6 1,02
Rio Santo Antônio 6 1,02
Ir ao rio / Do rio 5 0,85
Passarinhos / Pássaros 5 0,85
Barragem de Dom Joaquim 3 0,51
Jardins / Flores 3 0,51
Localização 3 0,51
Cachoeiras, em córregos 2 0,34
Contato com a terra 2 0,34
Das cachoeiras 2 0,34
Nascentes 2 0,34
Paisagem de cima da Serrinha / Serrinha 2 0,34
Rio em São José da Ilha 2 0,34
Cerrado 1 0,17
Córrego Passa Sete 1 0,17
Córrego Zalu 1 0,17
Do Rio São José 1 0,17
Nadar 1 0,17
Nadar no Córrego Passa Sete 1 0,17
Rochedão 1 0,17
Serra da Ferrugem 1 0,17
A disponibilidade de serviço 2 0,34
Cuidar dos animais 2 0,34
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Caçar 1 0,17
Das criações 1 0,17
Roça em Brumado 1 0,17
ASPECTOS ECONÔMICOS 100 16,95
Trabalhar na roça 38 6,44
Plantas / Plantações 15 2,54
De trabalhar / Do serviço 10 1,69
Criação de gado / Olhar o gado 7 1,19
Pescar 7 1,19
Quintal 7 1,19
Frutas / Pomar 5 0,85
A propriedade 4 0,68
Buscar lenha 4 0,68
Andar a cavalo 3 0,51
OPÇÕES DE LAZER 15 2,54
Passear 6 1,02
Lazer 3 0,51
Nada 2 0,34
Andar de bicicleta 1 0,17
Andar de moto 1 0,17
Ficar olhando o povo na rua 1 0,17
Olhar as estradas 1 0,17
INFRAESTRUTURA 5 0,85
Acesso ao telefone 1 0,17
Escola de Córregos 1 0,17
Acesso a ônibus / Ponto de ônibus perto 2 0,34
Proximidade com Conceição do Mato Dentro 1 0,17
OUTRAS 21 3,56
De tudo 15 2,54
Bebida e comida 2 0,34
Candonga 2 0,34
Fartura 1 0,17
Qualidade de vida 1 0,17
TOTAL 590 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.3 - Se Mudar, do Que Mais Sentirá Falta
Questão: Se você se mudar daqui, do que mais sentirá fala?
Essa questão foi respondida por 399 entrevistados, dos quais 18 (4,33%) responderam que não
sentirão falta de nada caso tenham que mudar da região e 381 (91,59%) citaram um ou mais
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aspectos. Outros 17 (4,09%) entrevistados não quiseram ou não souberam responder,
conforme ilustra a Figura 4.3-A
FIGURA 4.3-A - SE MUDAR, DO QUE SENTIRÁ FALTA?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 381 entrevistados que responderam a pergunta forneceram 685 respostas para a questão.
De acordo com as categorias apresentadas na Figura 4.3-B, percebe-se novamente o
predomínio dos aspectos culturais (43,94%), seguido pelos fatores ambientais (14,31%) e
econômicos (13,43%). Na sequencia, itens relacionados à infraestrutura foram citados 77
(11,24%) vezes, aspectos sociais 68 (9,93%) vezes e outros aspectos ainda foram mencionados
49 (7,15%) vezes.
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FIGURA 4.3-B - SE MUDAR, DO QUE SENTIRÁ FALTA? POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
O apego ao lugar onde moram foi o aspecto que mais se destacou entre as respostas
fornecidas. Como se pode perceber no Quadro 4.3, o que mais os entrevistados sentirão falta
em caso de mudança é do próprio lugar onde residem com 103 (15,04%) citações. Corrobora
para isso outras indicações que exprimem a qualidade de vida na região como, por exemplo, a
tranquilidade e o sossego com 91 (13,28%) menções e a presença dos amigos com 60 (8,76%)
citações. Ainda, a liberdade e o modo de vida do local foram indicados 12 (1,75%) e nove
(1,31%) vezes, respectivamente. A água foi outro elemento importante ressaltado 38 (5,5%)
vezes, assim como as plantações (4,09) e a proximidade da família/dos parentes (4,38%).
QUADRO 4.3 - SE TIVER QUE MUDAR, DO QUE MAIS SENTIRÁ FALTA?
DO QUE MAIS SENTIRÁ FALTA? FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
CULTURAL 301 43,94
Do lugar / Do meu lugar / Do local 103 15,04
Da tranquilidade / Sossego 91 13,28
Dos amigos 60 8,76
Da liberdade 12 1,75
Do modo de vida do lugar 9 1,31
Da Igreja 6 0,88
Da confiança entre as pessoas 3 0,44
Da história que vai deixar 2 0,29
Da Igreja de Nossa Senhora Aparecida 2 0,29
Da Igreja de Nossa Senhora da Conceição 2 0,29
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Da Igreja de São José 2 0,29
Da receptividade da população local 2 0,29
Das festas religiosas 2 0,29
Do forró 1 0,15
Do patrimônio histórico 1 0,15
Do voluntarismo 1 0,15
Dos irmão evangélicos 1 0,15
Perder as raízes 1 0,15
AMBIENTAL 98 14,31
Água / Das águas 38 5,55
Da natureza 14 2,04
Dos animais 10 1,46
Das matas 7 1,02
Da beleza do lugar 6 0,88
Do Rio Santo Antônio 6 0,88
Do clima 5 0,73
Da região 3 0,44
Da vista bonita / Paisagem 3 0,44
Cachoeira Arara Azul 1 0,15
Cachoeira do Joaozinho Generoso 1 0,15
Do canto dos pássaros 1 0,15
Do Córrego Passa Sete 1 0,15
Do Rio Zalu 1 0,15
Dos peixes do rio 1 0,15
ECONÔMICO 92 13,43
Das plantas / Plantações 28 4,09
Da roça 17 2,48
Da minha terra / Da terra 13 1,90
Da criação / Das criações 11 1,61
Do pomar 11 1,61
Da horta 7 1,02
Do serviço / Do trabalho 4 0,58
Do acesso aos alimentos da terra 1 0,15
INFRAESTRUTURA 77 11,24
Da casa / Da minha casa 41 5,99
Da comunidade 21 3,07
Da facilidade de pegar ônibus 3 0,44
Proximidade da estrada 3 0,44
Das coisas que possui 2 0,29
Da Casa Paroquial 1 0,15
Da escola 1 0,15
De Córregos 1 0,15
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De São José da Ilha 1 0,15
Do lugar ser muito perto de Conceição do Mato Dentro 1 0,15
Do terreno que possui próximo a esta propriedade 1 0,15
Vai sentir falta até das estradas do lugar 1 0,15
SOCIAL 68 9,93
Da família / Dos parentes 30 4,38
Dos vizinhos 27 3,94
Da segurança 11 1,61
OUTROS 49 7,15
Vai sentir falta de tudo 47 6,86
De nada 1 0,15
De tirar um cochilo debaixo das árvores 1 0,15
TOTAL 685 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.4 - Principais Problemas da Região
Questão: Quais são os principais problemas enfrentados pelos moradores da região? (não
estimular a resposta)
Como mostra o enunciado da questão, as respostas dos entrevistados foram coletadas de
forma espontânea, ou seja, sem o pesquisador orientar ou estimular a reflexão do participante.
Pretendíamos averiguar, de modo geral, quais os principais problemas da região antes mesmo
de investigar as questões mais específicas relacionadas ao empreendimento. Assim, 387
moradores responderam a pergunta, dos quais 66 (15,87%) alegaram não existir problemas na
região e 321 (77,16%) citaram um ou mais aspectos. Outros 29 (6,97%) entrevistados não
quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura 4.4-A.
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FIGURA 4.4 A - PRINCIPAIS PROBLEMAS DA REGIÃO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 321 entrevistados que afirmaram haver problemas na região forneceram 659 indicações
sobre os mesmos. Conforme a figura 4.4B, aspectos relacionados à infraestrutura (61,0%)
predominaram sobre os demais. Na sequência, vieram os problemas ambientais mencionados
140 (21,24%) vezes, os aspectos econômicos citados 81 (12,29%) vezes e os problemas sociais
com 36 (5,46%) menções.
FIGURA 4.4 B - PRINCIPAIS PROBLEMAS DA REGIÃO, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
A quantidade de problemas indicados pelos 321 entrevistados produziu uma lista pulverizada
de dificuldades enfrentadas pelos moradores da região como atesta o Quadro 4.4. A falta de
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calçamento nas ruas, citada 53 (8,04%) vezes, e o excesso de poeira, mencionado 51 (7,74%)
vezes foram os itens que mais se destacaram. Atenção também deve ser dada aos problemas
relacionados à água na região. A falta de abastecimento de água foi sinalizada 36 (5,46%)
vezes, principalmente na localidade de Córregos onde teve 33 menções. Problemas com a
escassez de água e a poluição/sujeira dos rios foram indicados 35 (5,31) e 15 (2,28%) vezes
respectivamente. Para o primeiro caso, os lugares que mais citaram o problema da escassez de
água foram, em ordem decrescente, São José da Ilha, Beco, Água Quente e Cabeceira do Turco.
Em relação à poluição/sujeira dos rios, aparecem no topo da lista São José do Jassém e, com
duas citações cada, as localidades de Água Quente, Córregos e São Sebastião do Bom Sucesso.
Citações específicas, porém não menos importante, como a diminuição das nascentes (0,46%),
a sujeira da água do córrego Passa Sete (0,46%) mencionada em Água Quente e Passa Sete, a
água salobra que vem do poço artesiano (0,30%), a rede de água ultrapassada (0,30%) e não
ter onde nadar mais (0,15%), juntos, evidenciam a recorrência do tema enquanto preocupação
diária dos entrevistados.
QUADRO 4.4 - PRINCIPAIS PROBLEMAS DA REGIÃO
PROBLEMAS FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
INFRAESTRUTURA 402 61,00
Falta de calçamento nas ruas 53 8,04
Falta de transporte / Dificuldade de transporte 50 7,59
Falta de abastecimento de água 36 5,46
Falta de atendimento médico 31 4,70
Os problemas com a saúde / Assistência da saúde é ruim 27 4,10
As estradas são ruins / O acesso é ruim 26 3,95
As condições das estradas quando chove 22 3,34
Falta de saneamento básico / Falta de rede de esgoto 21 3,19
A distância do ponto de ônibus 16 2,43
Falta de iluminação pública 15 2,28
Falta de limpeza urbana / Falta de coleta de lixo 11 1,67
Falta de assistência da prefeitura 9 1,37
Falta de telefone público 9 1,37
O grande movimento de veículos nas estradas 9 1,37
Falta de energia elétrica 8 1,21
Falta de Posto de Saúde / Falta de acesso à saúde 8 1,21
A distância da escola 6 0,91
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Falta de ambulância / Falta de transporte médico 6 0,91
Dificuldade com o transporte escolar 3 0,46
Falta de policiamento 3 0,46
Não tem o ensino de 5ª série em diante 3 0,46
Falta construir a ponte 2 0,30
Falta de dentista 2 0,30
Falta de estrutura para o atendimento do médico 2 0,30
Falta de farmácia 2 0,30
Falta de máquina para preparar a terra para o plantio 2 0,30
Falta de rede de telefonia fixa 2 0,30
Falta de sinal para celular 2 0,30
A distância até a cidade 1 0,15
As rachaduras nas casas por causa do trânsito pesado 1 0,15
Distância para ter acesso a bens e serviços 1 0,15
Falta de assistência do Estado para com o patrimônio cultural 1 0,15
Falta de assistência técnica da Emater 1 0,15
Falta de comunicação 1 0,15
Falta de Lan House 1 0,15
Falta de padaria 1 0,15
Falta escola de ensino superior 1 0,15
Interdição do caminho para Gondó e Conceição do Mato Dentro 1 0,15
Interdição do caminho para Mumbuca e o Sapo 1 0,15
Interditaram o caminho 1 0,15
Local apropriapriado para velório 1 0,15
Queda constante da energia elétrica 1 0,15
Não tem / Nenhum problema / Nada 2 0,30
ASPECTOS AMBIENTAIS 140 21,24
A poeira 51 7,74
A escassez de água / Falta de água 35 5,31
A poluição da água / A sujeira do rio 15 2,28
O barulho por causa da mineração 10 1,52
A seca que atinge os animais e as plantações 5 0,76
Obter lenha 5 0,76
As enchentes 4 0,61
A diminuição das nascentes 3 0,46
A sujeira da água do Córrego Passa Sete 3 0,46
A água salobra que vem do poço artesiano 2 0,30
A rede de água ultrapassada 2 0,30
A destruição do meio ambiente 1 0,15
A diminuição da água do Córrego Passa Sete 1 0,15
Alagamento das casas na época das chuvas 1 0,15
Atualmente é o gado que morre intoxicado no período da seca 1 0,15
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Não ter onde nadar mais 1 0,15
ASPECTOS ECONÔMICOS 81 12,29
Falta de emprego 31 4,70
Falta de mão-de-obra para a roça 11 1,67
Falta de dinheiro / Falta de renda local 10 1,52
Dificuldade para conseguir algumas coisas que não tem na roça 6 0,91
A mineração / A Anglo 4 0,61
Falta de emprego para as mulheres 4 0,61
O comércio fraco 4 0,61
Dificuldade para escoar a produção 3 0,46
A crise que a roça vive 2 0,30
Falta de condições para o desenvolvimento da agropecuária 2 0,30
Muitos peões de fora na região 2 0,30
Dificuldade de achar serviços como diaristas na região 1 0,15
Encarecimento dos imóveis na região 1 0,15
ASPECTOS SOCIAIS 36 5,46
Falta de união entre os moradores 9 1,37
Falta de lazer 5 0,76
A pobreza da região 4 0,61
Baixa qualidade do ensino 4 0,61
Alcoolismo 3 0,46
A chegada de um prostíbulo na região 1 0,15
A mudança dos vizinhos 1 0,15
Aumento de drogas 1 0,15
Aumento dos roubos na região 1 0,15
Ausência de projetos sociais 1 0,15
Dependência do poder público 1 0,15
Falta de opção de esportes para os jovens 1 0,15
Falta de partilha das terras 1 0,15
Insegurança com o dia de amanhã 1 0,15
Não saber para onde vai mudar 1 0,15
O fato da comunidade deixar de existir 1 0,15
TOTAL 659 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.5 - Opinião a Respeito do Projeto de Mineração
Questão: Qual a sua opinião a respeito do projeto de mineração em implantação aqui na
região?
A partir dessa questão procurou-se investigar a percepção dos entrevistados acerca da
implantação do Projeto de Mineração e de sua intervenção, positiva ou negativa, na região. A
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pergunta sobre a opinião dos participantes a respeito do projeto foi respondida por 294
(70,67%) entrevistados. Outros 122 (29,33%) entrevistados não quiseram ou não souberam
responder, conforme ilustra a Figura 4.5-A
FIGURA 4.5 A - OPINIÃO SOBRE O PROJETO DE MINERAÇÃO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 294 entrevistados que emitiram sua opinião sobre o empreendimento forneceram 467
respostas. Destas, 115 (24,63%) tratam de aspectos econômicos positivos, 107 (22,91) de
aspectos ambientais negativos, 73 (15,63%) de aspectos sociais negativos e 60 (12,85%) de
aspectos positivos gerais. Na sequência aparecem os aspectos negativos gerais (7,28%) e as
respostas neutras (7,07%), além de outras respostas com 45 (9,64) indicações.
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FIGURA 4.5 B - OPINIÃO SOBRE O PROJETO, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Como se pode perceber no Quadro 4.5, os entrevistados mais otimistas com o Projeto de
Mineração declararam que o empreendimento trouxe emprego e renda para a região com 80
(17,13%) citações. Isso não significa que os participantes que comungam dessa opinião, na
mesma questão, não pudessem expressar acerca de fatores negativos advindos com a chegada
da mineração ou vice-versa. É importante esclarecer que a pergunta foi formulada de modo
mais geral - na sequência do formulário buscou-se investigar o assunto com mais detalhe,
direcionando os temas. Além disso, a questão permitia mais de uma resposta. Em termos
ambientais, o problema com a diminuição das águas e os prejuízos causados ao meio ambiente
foram lembrados com 23 (4,93%) respostas cada um. As localidades que destacaram o
problema da diminuição das águas foram Córregos (seis citações), Beco (três citações), Água
Quente, Gondó e São José da Ilha (com duas citações cada). As demais que o citaram tiveram
apenas uma indicação por localidade. É importante lembrar que, agora, a questão da
diminuição da água está diretamente associada ao empreendimento. O item “estão sujando as
águas dos rios” apareceu com 11 (2,36%) menções, assim distribuído: quatro citações em Água
Quente, duas em São José do Jassém e, com uma indicação cada, as localidades de Teodoro,
Pompéu, Passa Sete, São Sebastião do Bom Sucesso e Gondó. Com exceção das duas últimas,
as demais comunidades se localizam próximas ao córrego Passa Sete que num passado recente
sofreu uma intervenção negativa por parte do empreendimento mencionada durante a
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pesquisa. Este aspecto pode ser ratificado, inclusive, pela resposta de um entrevistado de
Passa Sete que especificou o problema da sujeira da água no referido córrego como mostra o
quadro abaixo. Este problema aparecerá com mais ênfase na questão 4.7 que trata
particularmente dos possíveis problemas decorrentes do projeto de mineração em
implantação.
Outros dois pontos mencionados na categoria aspectos ambientais (negativos) foram o
excesso de poeira e o incômodo do barulho das explosões com 17 (3,64%) e 16 (3,43%)
citações respectivamente. As comunidades pesquisadas que mais citaram o problema da
poeira foram Córregos (seis indicações), São Sebastião do Bom Sucesso (três indicações), Serra
da Ferrugem e Beco (duas indicações cada). Quanto às explosões, o incômodo foi mencionado
principalmente por Córregos (sete citações) e Serra de São José (três citações), mas apareceu
também, com uma citação cada, em Taporôco, Quatis, Gondó, Cabeceira do Turco, Beco e
Água Santa.
A remoção das famílias foi o que se despontou nos aspectos sociais com 26 (5,57%) respostas,
seguido pela afirmação de que a mineração está afetando muita gente na região com 10
(2,14%) indicações. Outros preferiram a neutralidade afirmando que o Projeto de Mineração
vai trazer coisas boas e ruins para região, aparecendo 26 (5,56%) vezes.
QUADRO 4.5 - OPINIÃO SOBRE O PROJETO DE MINERAÇÃO
OPINIÃO SOBRE O PROJETO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS ECONÔMICOS (POSITIVOS) 115 24,63
Trouxe emprego e renda para a região 80 17,13
Vai trazer desenvolvimento para a região / Progresso para a região 24 5,14
Vai dar emprego para o pessoal mais jovem 4 0,86
Melhorou a vida das famílias que negociaram com a empresa 3 0,64
A mineradora valorizou as terras da região 2 0,43
Acha que devem oferecer mais emprego para as mulheres 1 0,21
Vai acabar com a pobreza na região 1 0,21
ASPECTOS AMBIENTAIS (NEGATIVOS) 107 22,91
Está acabando com as águas na região / As águas estão secando 23 4,93
Está prejudicando a natureza / Prejudicando o meio-ambiente / Está derrubando árvores 23 4,93
Vai trazer muito pó / Trouxe muita poeira 17 3,64
Tem o incômodo do barulho das explosões 16 3,43
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Estão sujando as águas da região 11 2,36
Aumentou o movimento de veículos 7 1,50
A mineração vai destruir a Serra da Ferrugem 2 0,43
O projeto é inadequado para a região que estava se preparando para o ecoturismo 2 0,43
As plantações próximas ao rio não estão nascendo 1 0,21
Ouviu dizer que vão pegar água do rio 1 0,21
Pode atrapalhar a vida dos moradores se mexer na cabeceira do córrego 1 0,21
Pode trazer animais peçonhentos para as áreas urbanas 1 0,21
Sujou a água do Córrego Passa Sete 1 0,21
Vão construir uma barragem entre o Sapo e Água Santa 1 0,21
ASPECTOS SOCIAIS (NEGATIVOS) 73 15,63
Vão retirar muita gente da região / Vão remover muitas famílias 26 5,57
Está afetando muita gente na região 10 2,14
Vai vir todo tipo de gente para a região / Vai vir muita gente estranha para a região 9 1,93
Vai causar rachaduras em algumas casas e construções 7 1,50
Vai acabar com o sossego na região 5 1,07
A mineradora não leva as informações até a população 3 0,64
Aumentou a insegurança 3 0,64
O empreendimento está destruindo as comunidades tradicionais 3 0,64
Acabou com a tranquilidade da população nos pontos de ônibus 2 0,43
Não vai ser bom para o povo 1 0,21
No início eram mais atenciosos com a população 1 0,21
O pessoal deve se reunir mais com as comunidade para explicar sobre o projeto 1 0,21
O projeto está gerando pouco emprego para a região 1 0,21
O projeto não é sustentável do ponto de vista social 1 0,21
ASPECTOS POSITIVOS GERAIS 60 12,85
Acha que vai ser bom para a região / Pode ser bom para a região 27 5,78
É a favor do projeto 21 4,50
Reformou o hospital de Conceição do Mato Dentro 3 0,64
A mineradora instalou antena para sinal de celular 2 0,43
Acha bom porque está espantando os bichos para longe de casa 2 0,43
Acha bom porque muitos filhos da região estão voltando para trabalhar na empresa 2 0,43
Acha bom porque as pessoas estão conseguindo sair da roça 1 0,21
Desde que haja compensações, considera excelente o empreendimento 1 0,21
Está trazendo o asfalto para a região 1 0,21
ASPECTOS NEGATIVOS GERAIS 34 7,28
Vai trazer muita destruição para a região 15 3,21
Não vai trazer nada de bom / Não vai trazer benefícios 4 0,86
Vai haver muita mudança na região 4 0,86
Vai acabar com a riqueza do município 3 0,64
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A atuação da mineradora não é ética 1 0,21
A construção da barragem pode prejudicar os moradores de Jassém 1 0,21
A economia local vai acabar 1 0,21
Acha que não vai trazer problemas para a região 1 0,21
Estão divulgando muitas coisas que não estão sendo feitas 1 0,21
Não consegue entender o que o pessoal da mineração fala 1 0,21
Não podem mais buscar taquara e candeia na serra 1 0,21
Teme ser atingido se a barragem tiver algum problema 1 0,21
RESPOSTAS NEUTRAS 33 7,07
Vai trazer coisas boas e ruins para a região 26 5,56
Por enquanto não estão sendo prejudicados 4 0,86
É necessário minerar, mas sem prejudicar a comunidade. 3 0,64
OUTRAS RESPOSTAS 45 9,64
A implantação do projeto na região não tem mais retorno 6 1,28
A mineradora tem que ter responsabilidade socioambiental 5 1,07
Eles não têm respeito a ninguém 5 1,07
Melhorou as estradas 4 0,86
Achou ruim a interdição das estradas entre algumas comunidades 3 0,64
A condição das estradas piorou 2 0,43
A mineradora tem que se preocupar com o desenvolvimento sustentável 2 0,43
Acha que a mineração deve conservar a qualidade da água na região 2 0,43
Acha que a mineradora deve oferecer cursos para a comunidade 2 0,43
Acha que a mineradora deve trabalhar em parceria com as comunidades 2 0,43
Acha que os empreendedores não se importam com a região 2 0,43
Acha que pode aumentar o número de roubos 2 0,43
A mineração tem que ser justa com as famílias relocadas 1 0,21
Acha que deve haver um acordo entre as pessoas e a firma 1 0,21
Ainda não trouxe benefícios 1 0,21
Está melhorando a vida de muitas pessoas 1 0,21
O projeto trouxe reconhecimento para a riqueza da região 1 0,21
Preferiria que não tivesse mineração 1 0,21
Trouxe muito movimento para a região 1 0,21
Vai ser muito lucrativo para a empresa 1 0,21
TOTAL 467 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.6 - Possíveis Benefícios Decorrentes do Projeto de Mineração
Questão: Você acredita que este projeto trará benefícios para a região?
Esta questão foi respondida por 372 entrevistados, dos quais 83 (19,95%) não acreditam que o
Projeto de Mineração trará benefícios para região e 289 (69,47%) consideram que sim citando
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um ou mais aspectos. Outros 44 (10,58%) entrevistados não quiseram ou não souberam
responder, conforme ilustra a Figura 4.6-A.
FIGURA 4.6 A - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ BENEFÍCIOS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Dos 289 entrevistados que responderam positivamente a questão, 11 entrevistados não
quiseram ou não souberam justificar suas respostas. Assim, 429 citações foram fornecidas
pelos 278 entrevistados que justificaram suas respostas. Conforme a Figura 4.6B, os aspectos
econômicos (70,0%) predominaram na lista de benefícios que a mineração poderá trazer para
região. Em seguida, aparecem os aspectos relacionados à infraestrutura mencionados 64
(14,55%) vezes e os aspectos sociais com 33 (7,50%) indicações. 18 (4,9%) respostas foram
agrupadas no item “outros” e seis (1,36%) menções referiram aos aspectos culturais.
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FIGURA 4.6 B - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ BENEFÍCIOS, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Geração de emprego (47,27%) e geração de renda/dinheiro para região (13,64%) foram os
aspectos mais citados pelos entrevistados quando perguntados sobre os benefícios que o
Projeto de Mineração trará para a região. A melhoria do hospital/posto de saúde também foi
mencionada 31 (7,05%) vezes, seguida por arrumar as estradas/melhora no transporte/asfalto
com 17 (3,86%) respostas.
QUADRO 4.6 - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ BENEFÍCIO
OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ BENEFÍCIO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS ECONÔMICOS 308 70,00
Emprego / Serviço / Trabalho 208 47,27
Renda / Dinheiro para região 60 13,64
Desenvolvimento do comércio 8 1,82
Valorização dos terrenos / Imóveis 6 1,36
Melhorou o padrão de vida da população / Econômico / Social 5 1,14
Progresso 4 0,91
Vai encher os cofres da prefeitura 3 0,68
Conforto 2 0,45
Vai melhorar as condições financeiras das famílias 2 0,45
Crescimento das cidades 2 0,45
A negociação para alguns que estão ficando ricos 1 0,23
Incrementação do turismo 1 0,23
Indenização da empresa para comprar casa boa 1 0,23
Construção de pousadas 1 0,23
Mais imóveis poderão ser alugados 1 0,23
Privilégios para quem tem terra 1 0,23
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Transporte 1 0,23
Valorizou o lugar 1 0,23
INFRAESTRUTURA 64 14,55
Melhorou o hospital / posto de saúde 31 7,05
Arrumar as estradas / Melhora no transporte / Asfalto 17 3,86
Melhorou a escola / Educação / Transporte escolar / Construção de escolas 7 1,59
Antena de celular / Sinal de celular 5 1,14
Melhorar as cidades / Benefícios para as cidades 2 0,45
Construção de cabine de segurança, no Sapo 1 0,23
Iluminação pública 1 0,23
ASPECTOS SOCIAIS 33 7,50
Cursos de capacitação / Ensinamento para os trabalhadores 6 1,36
A mineradora não deixa ninguém sem moradia, pois há o pagamento dos imóveis 5 1,14
Mudança para outro lugar melhor 4 0,91
Médicos para a região 3 0,68
Ajuda da mineradora às pessoas da região 3 0,68
Suprimir as carências da população local 2 0,45
Investimento na educação, no Sapo 1 0,23
Melhores condições de saúde 1 0,23
Parceria da empresa com o poder público para melhorar o serviço 1 0,23
Reforma da escola 1 0,23
Tratamento odontológico 1 0,23
Trazer faculdade para o município 1 0,23
Ajudar os problemas da comunidade 1 0,23
Benefícios sociais para a população 1 0,23
Qualidade de vida 1 0,23
Investimento da saúde, no Sapo 1 0,23
OUTROS 18 4,09
Aumento da população / Movimento 5 1,14
Melhorou a região 4 0,91
Mineradora compra a serra das pessoas 3 0,68
Fazer coisas de ferro 2 0,45
Melhorar o Sapo 1 0,23
Reforma na cidade 1 0,23
Diminuição da ocorrência de animais perigosos 1 0,23
Sem especificar 1 0,23
NS / NR 11 2,50
ASPECTOS CULTURAIS 6 1,36
Reforma da igreja / Reforma da igreja de Dom Joaquim 4 0,91
Ajuda a igreja 1 0,23
Internet 1 0,23
TOTAL 440 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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4.7 - Possíveis Problemas Decorrentes do Projeto de Mineração
Questão: Você acredita que este projeto trará problemas para a região?
Esta questão foi respondida por 367 entrevistados, dos quais 66 (15,87%) não acreditam que o
Projeto de Mineração trará problemas para região e 301 (72,36%) consideram que a atividade
prejudicará a região citando um ou mais aspectos. Outros 49 (11,78%) entrevistados não
quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura 4.7-A.
FIGURA 4.7 A - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ PROBLEMAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Dos 301 entrevistados que declararam que o empreendimento trará problemas para região,
três (0,53%) não quiseram ou não souberam justificar sua resposta. Assim, 564 citações foram
fornecidas pelos 298 entrevistados que responderam a questão. Os aspectos ambientais
predominaram com 273 (78,15%) ocorrências, seguidos pelos aspectos sociais mencionados
215 (37,92%) vezes e os problemas com infraestrutura citados 40 (7,05%) vezes. Aspectos
econômicos (4,06%) e questões relacionadas com a saúde dos moradores (2,10%) também
foram lembrados. Somente um entrevistado não especificou exatamente qual o problema ao
justificar sua opinião como “todos” problemas possíveis.
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FIGURA 4.7 B - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ PROBLEMA, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
A contaminação/a falta ou a diminuição dos cursos d’água e nascentes foi o problema
destacado entre os entrevistados que responderam afirmativamente a questão com 114
(20,08%) ocorrências. Apenas a localidade “Córrego do Peão” não fez qualquer menção ao
problema da água. As demais a citaram como o principal problema que a mineração poderá
gerar ou já causou aos moradores da região. Em Córregos foram 18 citações, seguido por Beco
com 15 respostas, Água Quente e Cabeceira do Turco com 10 menções cada uma. Nas
proximidades da comunidade de Água Quente, aparecem também as localidades de São José
do Jassém com nove citações, Passa Sete com cinco, Quatis com quatro, Estrada do Sapo-
Jassém com três e Teodoro com duas indicações. Ainda, Pompéu, Córrego do Palmital e
Gramichá com uma resposta cada. É importante ressaltar que todas as localidades
mencionadas acima são banhadas ou estão bem próximas ao córrego Passa Sete que num
passado recente sofreu uma intervenção negativa por parte da mineração sempre recordada
nas entrevistas em função da contaminação de suas águas, conforme declararam aos
pesquisadores. Em Água Quente, muitos entrevistados citaram que nem mesmo o rebanho
bovino bebe a água daquele córrego. Quando da realização das entrevistas, o empreendedor
estava perfurando poços artesianos para os moradores da comunidade, porém não foi possível
averiguar o nível de satisfação dos beneficiários em função do término da pesquisa ter
ocorrido antes da entrega dos mesmos à população. Segue o restante das localidades em que
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o problema da água foi citado: Gondó (nove vezes); São Sebastião do Bom Sucesso (sete); São
José da Ilha (seis); São José do Arruda e Turco (três cada); Água Santa, Taporôco e Serra da
Ferrugem (duas cada) e Serra do São José (uma vez).
A chegada de pessoas estranhas à região depois da implantação do empreendimento foi outro
fator mencionado, logo após o problema da água, com 101 (17,81%) citações. Na sequência
apontaram o excesso de poeira com 47 (8,29%) respostas, o problema com as explosões das
bombas com 46 (8,11%) citações, a questão da relocação das famílias atingidas com 44 (7,76%)
menções e a degradação da natureza aparecendo 40 (7,05%) vezes, como demonstra o Quadro
4.7 abaixo.
QUADRO 4.7 - OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ PROBLEMA
OPINIÃO SE O PROJETO TRARÁ PROBLEMA FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS AMBIENTAIS 273 48,15 Falta de água / Sujeira da água / Prejudicar a água / Diminuição dos cursos d'água /Destruição das nascentes 114 20,08
Poeira/pó de minério 47 8,29
Explosão de bombas / Barulhos / Detonação / Abalo de casas / Abalo de igrejas 46 8,11
Degradação da natureza / Destruição da beleza natural / Destruição ambiental 40 7,05
Espantar os bichos e animais / Prejudicar os bichos 5 0,88
Barragem pode arrebentar 4 0,71
Perfuração dos solos 3 0,53
Poluição sonora / Barulho causado pela circulação de veículos 2 0,35
Vai destruir as matas de madeira de lei da região 2 0,35
A mineradora mudou a imagem da cidade 1 0,18
Água represada ao lado do Restaurante do Negão 1 0,18
Aumento de buracos na serra 1 0,18
Colocar em risco a população que tiver próxima à barragem 1 0,18
Contaminação do ar 1 0,18
Furacões 1 0,18
Mal cheiro por causa das explosões 1 0,18
Mudança de temperatura 1 0,18
Ocupação da serra pela mineradora 1 0,18
Vai faltar lenha 1 0,18
ASPECTOS SOCIAIS 215 37,92
A vinda de muitas pessoas estranhas para a região 101 17,81
A questão da relocação / Pessoas terão que sair das casas 44 7,76
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Prostituição / Violência 9 1,59
Tirar a tranquilidade / Sossego 9 1,59
Maconheiros / Drogas 5 0,88
A mineradora não resolve se vai ou não comprar os terrenos 4 0,71
Aumento da população 4 0,71
Degradação social 3 0,53
Falta de liberdade 3 0,53
Insegurança 3 0,53
Vai acabar com comunidade tradicionais da região 3 0,53
Separar os amigos e a família 2 0,35
Tirar a liberdade 2 0,35
Acabar com a paz 1 0,18
Conflitos com os atingidos 1 0,18
Desentendimento entre famílias 1 0,18
Excesso de veículos tira a tranquilidade de ir e vir à noite 1 0,18
Falta de policiamento 1 0,18
Falta de respeito 1 0,18
Fluxo de carros impedem as pessoas de sairem de casa 1 0,18
Interdição do caminho de acesso a Mumbuca e ao Sapo 1 0,18
Medo da casa cair 1 0,18
Muita gente vai ficar prejudicada 1 0,18
Muitos peões chapados 1 0,18
Não está oferecendo trabalho para as pessoas da região 1 0,18
Onde vem o progresso, vem a coisa ruim 1 0,18
Os jovens estão na cidade trabalhando para a mineradora 1 0,18
Perigo de atropelamento de crianças 1 0,18
Perigo para as crianças em virtude de pessoas estranhas no local 1 0,18
Perseguições às pessoas que reclamam da mineradora por parte de funcionários da própria mineradora 1 0,18
Pressão para as pessoas sairem do local 1 0,18
Promessas não cumpridas pelos responsáveis pelo projeto 1 0,18
Se tiver de vender a terra não imagina para onde poderia ir 1 0,18
Tirar a riqueza da região / População na pobreza 1 0,18
Vai acabar com a demanda de emprego, pois vai exigir mais qualificação 1 0,18
Vai aumentar o número de mães solteiras na região 1 0,18
INFRAESTRUTURA 40 7,05
Fluxo de carros maior que estraga a área / Veículos pesados 15 2,65
Tráfego intenso e perigoso de veículos 10 1,76
Conceição do Mato Dentro não tem estrutura para receber tanta gente 3 0,53
Aumento do trânsito 2 0,35
Buracos na rua 2 0,35
Crateras / Buracos na rua 2 0,35
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Telefones com problemas 2 0,35
Asfalto 1 0,18
Estradas ruins 1 0,18
Mais buracos 1 0,18
Pode causar crescimento desordenado das cidades 1 0,18
ASPECTOS ECONÔMICOS 23 4,06
Área verde não será permitida para o plantio/pastos 10 1,76
Dificuldade de arrumar trabalhadores para a lavoura 4 0,71
Aumento do custo de vida 3 0,53
Aumento dos preços dos aluguéis 3 0,53
Aluguéis aumentarão 1 0,18
Comércio diminuiu 1 0,18
Vai causar danos às propriedades 1 0,18
ASPECTOS SAÚDE 12 2,12
Chegada de doenças trazidas pelas pessoas de fora 6 1,06
Problema de saúde 4 0,71
A poluição vai acarretar várias doenças respiratórias 2 0,35
TODOS (SEM ESPECIFICAR) 1 0,18
NS / NR 3 0,53
TOTAL 567 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.8 - Se o entrevistado percebeu alguma alteração na região
Questão: Você já percebeu alguma alteração na região onde vive que acredita estar
relacionada ao projeto?
Esta questão foi respondida por 398 entrevistados, dos quais 109 (26,20%) declararam não
perceber nenhuma alteração na região relacionada ao Projeto de Mineração e 289 (69,47%)
afirmaram já ter identificado alguma mudança em função do empreendimento. Outros 18
(4,33%) entrevistados não quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura
4.8-A.
Página 115 de 362
FIGURA 4.8 A - PERCEBEU ALGUMA ALTERAÇÃO NA REGIÃO
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Dos 289 entrevistados que já identificaram alguma alteração na região decorrente do Projeto
de Mineração, 35 (6,96%) não quiseram ou não souberam justificar suas respostas. Assim, 468
citações foram fornecidas pelos 254 entrevistados que participaram da questão especificando
suas respostas. Novamente, os aspectos ambientais, os aspectos sociais e a parte de
infraestrutura se destacaram com 220 (43,74%), 97 (19,28%) e 70 (13,92%) citações
respectivamente. Em seguida, vieram os aspectos econômicos positivos (6,76%) e negativos
(3,58%), além de algumas menções isoladas agrupadas em torno da categoria “outros”. Uma
atenção deve ser dada à interdição de estradas citada 12 (2,39%) vezes pelos participantes,
pois reflete um problema identificado principalmente nas regiões de Água Santa, Taporôco e
Serra de São José como veremos mais adiante neste documento.
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FIGURA 4.8 B - PERCEBEU ALGUMA ALTERAÇÃO NA REGIÃO, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Em relação ao fechamento de estradas, alguns entrevistados das comunidades de Beco,
Cabeceira do Turco, São José do Arruda e Passa Sete também citaram o problema dos acessos
interrompidos que ligavam Serra de São José e Taporôco às localidades de Tapera, Água Santa
e São Sebastião do Bom Sucesso.
Antes da chegada do empreendimento, o caminho percorrido pelos moradores de Taporôco e
Serra de São José até as comunidades de Água Santa e São Sebastião do bom Sucesso - lugares
onde moram seus parentes ou onde eles comercializam seus produtos e adquirem bens de
primeira necessidade - era, respectivamente, de 12,45 e 16,6 quilômetros. Com a interrupção
da estrada, as famílias das duas localidades acima citadas são obrigadas, agora, descer a serra
até a MG010 na altura de São José do Arruda para depois seguir até o destino. Esse novo
traçado aumentou a distância percorrida para 19,4 e 19,5 quilômetros, respectivamente.
Como ocorrido na questão anterior, o problema da água foi o principal ponto realçado pelos
entrevistados. Das 220 (43,74%) respostas referentes à categoria meio ambiente, 72 (14,31%)
dizem respeito à poluição dos cursos d´água. Outras citações sobre a questão da água foram
fornecidas, porém, para o melhor entendimento da amplitude desse problema, optou-se por
não agrupá-las de início objetivando apresentá-las separadamente tendo em vista a
especificidade do problema. Assim, apareceram ainda os seguintes aspectos relacionados à
água: a diminuição das nascentes; a impossibilidade dos córregos para uso doméstico e
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dessedentação de animais; os problemas com nascentes porque o empreendedor passou o
trator por cima delas e a dificuldade para utilizar água nas plantações. Alguns casos específicos
merecem menção como, por exemplo, a poluição e a mortandade de peixes no córrego Passa
Sete e a diminuição das águas do córrego Passa Sete/Rio Santo Antônio/Córrego Zalu.
Somados todos esses itens às 72 respostas indicadas em “Poluição da Águas”, chega-se ao
resultado de 89 (17,71%) citações sobre os problemas com a água causados, segundo os
entrevistados, pela mineração.
Outra alteração percebida pelos participantes refere-se às detonações de bombas que
provocam, inclusive, trinca nas casas e nas igrejas. Este aspecto foi citado 55 (10,9%) vezes,
sendo a maior parte das respostas fornecidas pelo distrito de Córregos (com 30 citações).
Aparecem na sequência as localidades de Água Santa (quatro); Serra da Ferrugem e Passa Sete
(três cada); São Sebastião do Bom Sucesso, Teodoro, São José do Arruda e Estrada Sapo-
Jassém (duas cada); Taporôco, Serra de São José, São José do Jassém, Quatis, Gondó, Beco e
Áqua Quente (uma citação cada). Em Taporôco e Cabeceira do Turco, um entrevistado em cada
localidade também mencionou problemas de saúde devido ao uso de explosivos.
Na parte social, 26 (5,17%) respostas estão relacionadas ao aumento de pessoas na região
procedentes de outros lugares do estado ou do país. Consequentemente, alguns entrevistados
revelaram certo medo e insegurança no que tange a alteração citada (2,19%). Outro item
indicado foi o aumento de carros/o perigo de acidentes/o desrespeito no trânsito com 47
(9,34%) menções.
QUADRO 4.8 - PERCEBEU ALGUMA ALTERAÇÃO NA REGIÃO
PERCEBEU ALGUMA ALTERAÇÃO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS AMBIENTAIS 220 43,74
A poluição das águas / A água chega suja 72 14,31
Barulho de bomba / Outros barulhos / Explosões que estremecem e trincam as casas e igrejas 55 10,93
Poeira em excesso 32 6,36
Desmatamento / Destruição da natureza 12 2,39
Aumento da preocupação com a falta de água / Diminuição do nível das águas 8 1,59
Barulho excessivo dos carros 5 0,99
Diminuição das nascentes 3 0,60
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Não se pode mais lavar roupa ou utensílios domésticos no córrego 3 0,60
Diminuição das águas do Córrego Passa Sete/Rio Santo Antônio/Córrego Zalu 3 0,60
Poluição das águas do Córrego Passa Sete 3 0,60
A criação não está bebendo água 2 0,40
A migração dos animais da área onde está sendo implantada a mina 2 0,40
Aparecimento de bichos selvagens na região, devido ao desmatamento 2 0,40
Aumento do lixo não orgânico 2 0,40
Casas muito empoeiradas 2 0,40
Destruição da Serra da Ferrugem 2 0,40
A comunidade precisa ir à nascente e desentupir com pá, pois a mineradora passou o trator em cima da nascente 1 0,20
Aparecimento de pernilongos na região por causa do esgoto do alojamento da ARG 1 0,20
Aumento da preocupação com a fauna local 1 0,20
Aumento da preocupação com a poluição 1 0,20
Aumento da temperatura 1 0,20
Clima seco, menos chuva 1 0,20
Falta de lenha 1 0,20
Mortalidade de peixes no Córrego Passa Sete 1 0,20
Não podem mais usar água nas plantações 1 0,20
Recortes na serra 1 0,20
Resíduo de minério, no Córrego do Onça 1 0,20
Serro toda entrecortada de estradas 1 0,20
ASPECTOS SOCIAIS 97 19,28
Aumento de pessoas / De pessoas de fora / Aumento de homens 26 5,17
Aumento do medo por causa das pessoas estranhas / Falta de segurança 11 2,19
Famílias que deixaram o lugar contrariadas 7 1,39
Maior movimentação de pessoas 5 0,99
As pessoas estão indo embora da região 4 0,80
Conflitos entre as pesoas nas comunidades 4 0,80
Menos tranquilidade 4 0,80
Não há mais liberdade 3 0,60
Problema de saúde causado pelas péssimas condições do ar, poeira 3 0,60
Aumento da criminalidade 2 0,40
Insegurança das pessoas sobre a permanência no local, em Córregos 2 0,40
Pessoas que tiveram que deixar a localidade 2 0,40
Problemas de saúde devido aos explosivos 2 0,40
A mineradora comprou parte do terreno de Água Santa, mas utiliza todas as terras da região 1 0,20
A mineradora está comprando terrenos onde a empresa está se instalando 1 0,20
Aumento da demanda por serviços sociais 1 0,20
Aumento dos lucros de algumas pessoas 1 0,20
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Boate na região que trará problemas para as famílias 1 0,20
Carros da empresa que servem à população 1 0,20
Comunidade do Sapo mais movimentada 1 0,20
Está acabando com a tranquilidade da região 1 0,20
Insegurança 1 0,20
Mais associações comunitárias, em Córregos 1 0,20
Mais movimento em Conceição do Mato Dentro, de pessoas e veículos 1 0,20
Muitas boatos, informações confusas 1 0,20
Não se pode plantar e nem tirar lenha nos lugares comprados pela mineradora 1 0,20
Não tem mais locais para pescar 1 0,20
Perda da identidade acolhedora da comunidade 1 0,20
Pessoas de fora que trazem perigo para os moradores 1 0,20
Promessa não comprida da empresa de fazer melhorias na área da saúde 1 0,20
Prostituição 1 0,20
Sapo está lotado de gente 1 0,20
Tensões na região 1 0,20
Trânsito pesado pelo fato de as pessoas beberem e se drogarem 1 0,20
Trinca nas casas devido ao grande fluxo de veículos na MG10, principalmente de veículos pesados 1 0,20
INFRAESTRUTURA 70 13,92
Aumento de carros / Perigo de acidentes / Desrespeito ao trânsito 47 9,34
Melhoria nas estradas / Asfalto 7 1,39
Movimento em Conceição está maior do que sua capacidade de comportá-lo 5 0,99
Instalação de antena de celular 3 0,60
Reforma do hospital de Conceição do Mato Dentro 2 0,40
Telefones que não funcionam direito 2 0,40
As estradas ficaram muito cheias 1 0,20
Com o excesso de carros da mineração, as estradas estão cheias de buracos 1 0,20
Cortes de fornecimento de energia elétrica nos finais de semana 1 0,20
Estradas melhorando 1 0,20
NS / NR 35 6,96
ASPECTOS ECONÔMICOS POSITIVOS 34 6,76
Aumento da oferta de trabalho 18 3,58
Aumento do comércio em Conceição do Mato Dentro 7 1,39
Aumento do número de restaurantes 2 0,40
A situação financeira do município é outra 1 0,20
Aumento das condições econômicas das pessoas 1 0,20
Construção de pousadas 1 0,20
Crescimento das cidades da região 1 0,20
Mais comércio, no Sapo 1 0,20
Melhora nas condições das pessoas 1 0,20
Valorização dos lotes 1 0,20
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ASPECTOS ECONÔMICOS NEGATIVOS 18 3,58
Aumento dos preços, em Conceição do Mato Dentro 6 1,19
Dificuldade de achar gente para trabalhar na roça / Falta de mão-de-obra 6 1,19
A diminuição das lavouras da região, pois ninguém está plantando como antes 2 0,40
Diminuição da atividade agro-pecuarista 1 0,20
Perda de emprego 1 0,20
Queda de produtividade de hortaliças 1 0,20
Terrenos cultiváveis ocupados 1 0,20
OUTROS 17 3,38
Embelezamento da região, mais iluminada 2 0,40
As pessoas da região estão deprimidas 1 0,20
Comentários sobre o perigo de Córregos afundar 1 0,20
Comunidade do Sapo mais limpa 1 0,20
Conceição do Mato Dentro ficou mais bonita e movimentada 1 0,20
Cursos técnicos oferecidos em Conceição do Mato Dentro 1 0,20
Dom Joaquim ficou mais bonita e movimentada 1 0,20
Melhorou o atendimento no Sapo 1 0,20
Mudança da paisagem do Serro 1 0,20
Na época das chuvas chegam muitas ...para as encostas ... 1 0,20
O movimento aumentou no Turco 1 0,20
Oportunidade de fazer contato com pessoas bem informadas 1 0,20
Porteiras abertas 1 0,20
Presença de médicos em Córregos, de 15 em 15 dias 1 0,20
Vai melhorar 1 0,20
Visibilidade do local é zero 1 0,20
INTERDIÇÃO DE ESTRADAS 12 2,39
Impossibilidade de transitar por todos os terrenos da região, lugares fechados, onde também não se pode buscar lenha 7 1,39
Estrada de Água Santa foi retirada 1 0,20
Estradas fechadas 1 0,20
Interdição da estrada para Mumbuca e o Sapo 1 0,20
Interdição dos caminhos que ligam Serra de São José a Tapera e Água Santa 1 0,20
Proibição de circular por determinados caminhos 1 0,20
TOTAL 503 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.9 - O que os responsáveis pelo projeto deveriam fazer para resolver estes
problemas?
Questão: O que você acredita que os responsáveis pelo projeto deveriam fazer para resolver
estes problemas?
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Como mostrado acima, 254 entrevistados já identificaram alguma alteração na região como
consequência direta do empreendimento e, por sua vez, justificaram suas respostas.
Entretanto, dos 254 entrevistados mencionados, 81 deles não souberam ou não quiseram
sugerir alguma solução para os problemas por eles mesmos apontados. Assim, 173
entrevistados forneceram 300 respostas para essa questão. A maior parte delas concentrou-se,
como era de se esperar, nos aspectos sociais com 114 (29,92%) ocorrências e nos aspectos
ambientais citados 109 (28,61%) vezes. Em seguida aparece a categoria infraestrutura com 35
(9,19%) menções. Aspectos econômicos tiveram apenas três (0,79%) citações. Itens isolados
foram agrupados na categoria “outros” (10,24%), como ilustra a Figura 4.9.
FIGURA 4.9 - COMO RESOLVER OS PROBLEMAS, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Entre as várias sugestões fornecidas, destacam-se o controle da emissão de poeira com 26
(6,82%) citações e a instalação de sistema de tratamento das águas com 25 (6,56%) respostas.
A negociação com as famílias diretamente atingidas foi também ressaltada em função da
necessidade de maior agilidade no processo por parte da empresa com 18 (4,72%) menções.
Outros aspectos merecem atenção como, por exemplo, o conserto das estradas e ruas da
cidade que foi citado 17 (4,46%) vezes e a necessidade da empresa visitar e ouvir mais as
comunidades com 15 (3,94%) ocorrências. Nessa direção, foi sugerido que o empreendedor
precisa melhorar a comunicação com a população local em 8 (2,10%) citações. Alguns
entrevistados manifestaram ainda seu descrédito com o projeto de mineração e o processo em
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questão ao afirmarem que não tem mais jeito de resolver esses problemas / não tem mais
como fazer nada num total de 24 (6,30%) respostas.
QUADRO 4.9 - COMO RESOLVER OS PROBLEMAS
COMO RESOLVER OS PROBLEMAS FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS SOCIAIS 114 29,92
Agilizar o processo de negociação com os atingidos 18 4,72
Visitar mais as comunidades / Ouvir mais as comunidades 15 3,94
Assumir responsabilidade pela segurança local / Proporcionar segurança para os moradores 12 3,15
Indenizar as pessoas atingidas pela mineração de forma justa 12 3,15
Melhorar o sistema de comunicação entre a empresa e a população 8 2,10
Investir mais em projetos sociais 5 1,31
Punir os motoristas que desrespeitam o limite de velocidade 5 1,31
Tratar a todos com respeito 5 1,31
Reciclar seu pessoal para ensiná-los a respeitar as comunidades locais 4 1,05
Respeitar os direitos da população 4 1,05
Serem mais transparentes 4 1,05
Ajudar as pessoas atingidas 3 0,79
Ajudar o povo a plantar 2 0,52
Contratar mais pessoas da região para evitar a vinda de pessoas de fora 2 0,52
Acha que é a população que deve se mobilizar para cobrar da empresa 1 0,26
Criar espaços para esportes para ocupar a juventude 1 0,26
Criar espaços para formação em música para a juventude 1 0,26
Dar ajuda financeira para os moradores da região 1 0,26
Dar assistência para a população no que ela precisar 1 0,26
Ensinar seus funcionários a respeitar as mulheres 1 0,26
Fazer mudanças no projeto para não prejudicar os moradores 1 0,26
Não deveria permitir a abertura de casas de prostiuição 1 0,26
Não empregar ladrões e nem usuários de drogas 1 0,26
Oferecer cursos de capacitação para a população local 1 0,26
Permitir que as pessoas fiquem em suas terras 1 0,26
Preservar a paz e a tranquilidade da região 1 0,26
Prevenir contra o uso de drogas 1 0,26
Resolver o problema dos caminhos interditados 1 0,26
Respeitar a forma de organização das comunidades 1 0,26
ASPECTOS AMBIENTAIS 109 28,61
Controlar a emissão de poeira 26 6,82
Instalar sistema de tratamento das águas 25 6,56
Fazer poços artesianos 11 2,89
Explorar sem causar muito impacto ambiental 8 2,10
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Fazer um levantamento dos problemas causados pelo projeto e procurar resolvê-los 5 1,31
Reflorestar / Plantar árvores 5 1,31
Construir um reservatório de água para a comunidade 4 1,05
Preservar as nascentes das águas 4 1,05
Assumir os prejuízos com as rachaduras das casas 3 0,79
Não desviar a água do córrego 3 0,79
Diminuir o rítmo das explosões 2 0,52
Levar os bichos para outras matas 2 0,52
Limpar a água do Córrego Passa Sete 2 0,52
Respeitar as leis ambientais 2 0,52
Colocar filtro para medir a poluição e poeira 1 0,26
Dar garantias de que a barragem não vai se romper 1 0,26
Fazer um estancamento para impedir o fluxo de lama para a água 1 0,26
Fazer um estudo hidrogeológico para resolver o problema da água 1 0,26
Não mexer na Serra do Sapo para não diminuir o nível da água 1 0,26
Não prejudicar o acesso à água aos moradores 1 0,26
Parar com as explosões 1 0,26
NS / NR 81 21,26
OUTROS 39 10,24 Não tem mais jeito de resolver esses problemas / Não tem mais como fazer nada 24 6,30
Propor soluções rápidas para os problemas 11 2,89
Ir embora da região / Parar com o projeto 4 1,05
INFRAESTRUTURA 35 9,19
Consertar as estradas/ruas da cidade 17 4,46
Aumentar o número de médicos no hospital / Trazer mais médicos 6 1,57
Desviar o trânsito do centro da cidade / Desviar o trânsito da cidade 3 0,79
Fazer cisternas 3 0,79
Melhorar a sinalização nas estradas 2 0,52
Colocar um ponto de ônibus mais próximo da comunidade do Beco 1 0,26
Diminuir o número de veículos que circulam nas ruas 1 0,26
Implantar mais telefones públicos 1 0,26
Implantar uma antena de celular em Córregos 1 0,26
ASPECTOS ECONÔMICOS 3 0,79
Oferecer mais emprego para as pessoas da região 2 0,52
Criação de um Fundo de Participação dos Distritos afetados pela mineração 1 0,26
TOTAL 381 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.10 - Considera atingido pelo projeto de Mineração?
Questão: Você se considera atingido pelo Projeto de Mineração?
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Esta questão foi respondida por 397 entrevistados, dos quais 152 (36,45%) declararam ser
atingidos pelo Projeto de Mineração e 245 (58,89%) afirmaram que não. Outros 19 (4,57%)
entrevistados não quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura 4.8-A.
FIGURA 4.10 A - CONSIDERA ATINGIDO PELO PROJETO DE MINERAÇÃO?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Quando perguntados pelo motivo que consideram atingidos pela mineração, 151 entrevistados
forneceram 228 respostas, pois um participante não soube ou não quis responder a questão.
De acordo com as categorias apresentadas na Figura 4.10B, os entrevistados consideram-se
atingidos principalmente nos aspectos ambientais e nos aspectos sociais com 116 (50,66%) e
79 (34,50%) citações respectivamente. Em seguida aparecem os aspectos econômicos com
nove (3,93%) indicações. Algumas respostas isoladas foram agrupadas na categoria “outros”
(10,48%).
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FIGURA 4.10 B - CONSIDERA ATINGIDO PELA MINERAÇÃO, POR CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
O problema da diminuição das águas/das nascentes/sujeira nos córregos foi o aspecto que
mais se destacou nas respostas dos entrevistados com 58 (50,66%) citações. A localidade de
Água Quente, com 16 citações, e Beco, com nove respostas, foram as duas regiões que mais se
manifestaram a esse respeito. Ainda nos aspectos ambientais temos o problema com o
barulho das máquinas e das explosões das bombas com 26 (11,35%) respostas e a poeira em
excesso com 24 (10,48) menções.
Nos aspectos sociais, a desapropriação das famílias foi o item mais ressaltado com 22 (11,35%)
respostas. Outros dois pontos diretamente vinculados ao anterior foram colocados
separadamente tendo em vista a especificidade dos argumentos. O primeiro diz respeito à
parte da negociação, pois trata da obrigação de vender a propriedade pelo preço imposto pela
mineradora com três citações. O segundo refere-se à sensação daqueles que ficaram no local
assistindo as famílias indo embora com duas respostas. O problema com as trincas nas paredes
também foi mencionado em 16 (6,99%) citações distribuídas nas localidades de Córregos (10
vezes), Serra de São José (três), Cabeceira do Turco (duas) e São Sebastião do Bom Sucesso
(uma vez).
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QUADRO 4.10 - CONSIDERA ATINGIDO PELA MINERAÇÃO
CONSIDERA ATINGIDO PELA MINERAÇÃO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS AMBIENTAIS 116 50,66 Diminuição da água /das nascentes /Sujeira do rio/ Córrego 'Zé do Zeca' secou e Por causa da água do Córrego Passa Sete 58 25,33
Barulhos das máquinas e das explosões das bombas / Tiros 26 11,35
Poeira em excesso 24 10,48
Medo da barragem de rejeitos 3 1,31
Mora perto da serra 1 0,44
O mineroduto vai passar dentro de sua propriedade 1 0,44
Pasto está pura poeira 1 0,44
ASPECTOS SOCIAIS 79 34,50
Desapropriação / Terá que se mudar / A comunidade vai virar represa 22 9,56
Trincas na parede da casa / Rachaduras nas paredes / Proporcionam pingueiras 16 6,99
Gente estranha na região, que leva a confusão 10 4,37
Interrupção de caminhos / Não pode transitar na região 6 2,62
Insegurança 4 1,75
Obrigado a vender a propriedade pelo preço imposto pela mineradora 3 1,31
Assistir famílias indo embora 2 0,87
Perda da tranquilidade 2 0,87
Acabou com a tradição e a cultura da comunidade 1 0,44
Desestruturação dos serviços sociais 1 0,44
Emocionalmente / Psicológico 1 0,44
Falta de informações sobre a mina 1 0,44
Há comentários de que serão removidos para a construção da barragem 1 0,44
Impossibilidade de buscar lenhas 1 0,44
Liberdade de sair foi tirada 1 0,44
Não tem mais ajuda 1 0,44
Os filhos e netos que têm terras na região não podem mais usufruir o local 1 0,44
Paz e sossego do local foram afetados 1 0,44
Perda de parte da propriedade 1 0,44
Perigo 1 0,44
Propriedade já foi invadida por funcionários da empresa 1 0,44
Se tiver que mudar para um terreno próximo da cidade, terá que comprar lenha 1 0,44
OUTROS 24 10,48
Porque mora nas proximidades da mineração 11 4,80
Aumento de tráfego de veículos 6 2,62
Pelos problemas visíveis 1 0,44
Porque estão comprando toda a área 1 0,44
Satisfação com a negociação 1 0,44
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Problema com as estradas / Estradas ruins 2 0,87
Sem direitos 1 0,44
Valorização do imóvel 1 0,44
ASPECTOS ECONÔMICOS 9 3,93
Falta de mão-de-obra 4 1,75
Familiares trabalham para a mineradora 2 0,87
Gado diminui 1 0,44
O terreno está abandonado, sem plantações 1 0,44
Perdeu clientes no bar que tem no Sapo 1 0,44
NS / NR 1 0,44
TOTAL 229 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.11 - Sua família terá que ser relocada?
Questão: Sua família terá que ser relocada?
Esta questão foi respondida por 350 entrevistados, dos quais 276 (66,35%) declararam que a
família não será relocada e 74 (17,79%) afirmaram que sim. Outros 66 (15,87%) entrevistados
não quiseram ou não souberam responder, conforme ilustra a Figura 4.8-A.
FIGURA 4.11 - A FAMÍLIA TERÁ QUE SER RELOCADA?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Quando perguntados sobre o local para onde provavelmente deverão mudar, dos 74
participantes que responderam afirmativamente a pergunta anterior, 29 deles não souberam
ou não quiseram responder a questão. Assim, 45 entrevistados forneceram 48 opções de lugar
especificados no Quadro 4.11 abaixo:
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QUADRO 4.11 - A FAMÍLIA TERÁ QUE SER RELOCADA?
A FAMÍLIA TERÁ QUE SER RELOCADA? (PROVÁVEL DESTINO) FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
NS / NR 29 37,66
Conceição do Mato Dentro 15 19,48
Roça perto de Conceição do Mato Dentro 14 18,18
Belo Horizonte 4 5,19
Quer ir para qualquer roça / Para outra roça 3 3,90
Itaponhacanga 2 2,60
Região de São José da Ilha, em Dom Joaquim 2 2,60
Cabeceira do Turco 1 1,30
Córregos 1 1,30
Dom Joaquim 1 1,30
Gostaria de voltar para Morro do Pilar 1 1,30
Próximo ao Córrego Passa Sete 1 1,30
Próximo ao Gondó 1 1,30
Serra da Proninha, na direção de Congonhas do Norte 1 1,30
Uma área mais longe da mineração, por causa do barulho 1 1,30
TOTAL 77 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.12 - Sabe dizer o nome de pelo menos três lideranças?
Questão: Você saberia dizer o nome de pelo menos três lideranças da região que, na sua
opinião, representam os atingidos pelo projeto de mineração?
Esta questão foi respondida por 404 entrevistados, dos quais 228 (54,81%) declararam que não
conhece alguma liderança na região e 176 (42,31%) citaram um ou mais nomes. Outros 12
(2,88%) entrevistados não quiseram ou não souberam responder a pergunta, conforme ilustra
a Figura 4.8-A.
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FIGURA 4.12 - SABE DIZER O NOME DE PELO MENOS TRÊS LIDERANÇAS?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 176 entrevistados que disseram conhecer alguma liderança forneceram 386 nomes, em sua
maioria, com a indicação da comunidade onde moram ou atuam. Em pouquíssimos casos,
mencionaram o nome de instituições ou associações, porém não sabiam ao certo como se
chamavam as pessoas que ocupavam os cargos das mesmas. A lista completa pode ser vista no
Quadro 4.12 a seguir:
QUADRO 4.12 - NOME DE TRÊS LIDERANÇAS LOCAIS
NOME DE TRÊS LIDERANÇAS LOCAIS FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
Nome Comunidade Agamenon Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Agnaldo Simões Beco 13 3,37
Alípio Soares São José da Ilha 1 0,26
Anísia Associação 1 0,26
Anísia Beco 2 0,52
Antônio Cachoeira 1 0,26
Antônio de Almeida Beco 1 0,26
Antônio de Bento NS/NR 1 0,26
Antônio João Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Antônio Mário Córregos 1 0,26
Antônio Marques da Lomba São José do Jassem 3 0,78
Antônio Pimenta da Silva Ferrugem 4 1,04
Antônio Quiroga NS/NR 1 0,26
Antônio Vagner Pires Fazendeiro 1 0,26
Associação Comunitária Córregos 5 1,30
Atanael São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Bartolomeu Água Quente 9 2,33
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Breno Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Caio NS/NR 1 0,26
Carlos - professor São José do Jassem 1 0,26
Carlos Eduardo - diretor escola Diamantina 1 0,26
Carmita São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Conceição Levi Beco 1 0,26
Corjesus Almeida Beco 1 0,26
Dalvinha Água Santa 4 1,04
Das Graças Água Quente 1 0,26
Délio Souza NS/NR 1 0,26
Denise Belo Horizonte 1 0,26
Dinarte São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Dom José Maria Pires Córregos 4 1,04
Dona Tatá Presidente da associação 1 0,26
Dorinha Belo Horizonte 3 0,78
Dr. Reinaldinho Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Edson Rosa Turco 1 0,26
Elci São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Eleonora Córrego Teodoro 3 0,78
Elisangela São José da Iha 1 0,26
Elton São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Ênio Virgílio São José da Ilha 1 0,26
Érica Córregos 1 0,26
família Pimenta Córregos 1 0,26
Fernanda - filha de Jésus São José da Iha 1 0,26
Fernanda Ferreira - professora São José da Iha 3 0,78
Fernando Córregos 1 0,26
Flávia Água Quente/BH 25 6,48
Flávia Candidata a prefeita 1 0,26
Flávia Conceição do Mato Dentro 3 0,78
Francisca São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Gabi Conceição do Mato Dentro 2 0,52
Geovani Itaponhacanga 1 0,26
Geraldo Água Quente 1 0,26
Geraldo Gordo Cachoeira 1 0,26
Geraldo Rodrigues Água Santa 2 0,52
Gerusa São José do Arruda 1 0,26
Gilson São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Giordane Presidente 1 0,26
Helvécio NS/NR 1 0,26
Irani Córregos 1 0,26
Irineu NS/NR 1 0,26
Isabel Córregos 2 0,52
Ivete Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Jacira Gramichá 1 0,26
Jadir Beco 2 0,52
Janaira Simões Ferreira - professora São José da Iha 2 0,52
Jardel de Souza NS/NR 1 0,26
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Jesu de Adão Ruela Água Santa 1 0,26
Jesus São José da Ilha 1 0,26
Jesus de Cota São José da Iha 1 0,26
Jésus Simões São José da Iha 2 0,52
João Beco 1 0,26
João de Cota São José da Ilha 1 0,26
João de Deco Beco 3 0,78
João dos Santos Turco 1 0,26
João Rodrigues Beco 5 1,30
Joaozinho NS/NR 1 0,26
Joãozinho Generoso Faz. Sagrado Coração de Jesus 1 0,26
Joaquim Serra da Ferrugem 1 0,26
Jonas Paiva Conceição do Mato Dentro 1 0,26
Jordânio Santo Antônio do Norte 3 0,78
José Adilson NS/NR 1 0,26
José Augusto Cabeceira do Turco 2 0,52
José Carlos São José da Iha 1 0,26
José Celso NS/NR 1 0,26
José da Bota Cabeceira do Turco 1 0,26
José Flávio Gramichá 1 0,26
José Geraldo São José da Iha 1 0,26
José Lúcio Água Quente 3 0,78
José Matozinho Água Quente 1 0,26
José Pepino Água Quente / Beco 19 4,92
José Rosa Água Santa 1 0,26
José Tabuão Gondó 1 0,26
José Virgílio Água Quente 1 0,26
José Virgílio São José da Ilha 1 0,26
Josiane Água Quente 1 0,26
Juninho Cabeceira do Turco 1 0,26
Júnior Vargem Grande / São José do Jassém 25 6,48
Júnior Guerra Passa Sete 7 1,81
Kim Soares - Alípio São José da Iha 1 0,26
Lair Córregos 3 0,78
Lea Perpétua Córregos 1 0,26
Lécio Gramichá 1 0,26
Léo Associação 1 0,26
Léo Córregos 7 1,81
Lourdinha Ribeiro São José da Ilha 1 0,26
Lúcio Água Santa 1 0,26
Lúcio Aspron Gondó 1 0,26
Lúcio Pimenta Água Quente/Beco 1 0,26
Luís Fernando Córregos 10 2,59
Magna Córregos 1 0,26
Maria de Bento NS/NR 1 0,26
Maria do leite Aspron Gondó 1 0,26
Maria Guerra São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Maria Odete Córregos 1 0,26
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Marli Córregos 2 0,52
Maurício São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Mauro Lúcio Associação Comunitária do Sapo 19 4,92
Membros da Associação São Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Miguel Rodrigues Viana Beco 1 0,26
Murilo São José da Iha 1 0,26
Natalina Ferreira Ferrugem 1 0,26
Nélia Rodrigues Quatis 1 0,26
Nilza Beco 2 0,52
NS/NR Diretor ASPROGONDÓ 1 0,26
NS/NR Presidente da Associação de São
Sebastião do Bom Sucesso 1 0,26
Odete Córregos 1 0,26
Osvaldo Assis Água Santa 6 1,55
Padre Itamar Córregos 4 1,04
Patrícia Passa Sete 29 7,51
Patrícia Vargem Grande 1 0,26
Paulo Belo Horizonte 1 0,26
Pedro Gaeta Água Santa 9 2,33
Raimundo Rodrigues Beco 1 0,26
Reginaldo Turco 1 0,26
Renato Tomas Córregos 1 0,26
Renato Tomaz Madureira Córregos 1 0,26
Robinho Córregos 1 0,26
Robson (de Maria Pimenta) Ferrugem 1 0,26
Romero Fazenda Empoeira 1 0,26
Romero Otoni São José do Jassém 1 0,26
Ronilto Água Santa 1 0,26
Sandra Mumbruca 1 0,26
Sandra perto do escritório da mineradora 1 0,26
Sandra Celestina São Sebastião do Bom Sucesso 11 2,85
Shirley Saldanha Córregos 1 0,26
Suzana Passa Sete 4 1,04
Teófilo Turco 1 0,26
Tereza NS/NR 1 0,26
Tonico - vereador São José do Jassem 3 0,78
Valdinho Água Quente 1 0,26
Valdinho Água Santa 1 0,26
Wellerson Aparecido Associação de Córregos 6 1,55
Zinho São José do Jassem 1 0,26
TOTAL 386 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
4.13 - Mais alguma coisa sobre o projeto de mineração ou sobre a região?
Questão: Você gostaria de falar mais alguma coisa sobre o projeto, ou a região, que não tenha
sido perguntado?
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Finalizando a parte de percepção ambiental, os entrevistados foram convidados a
manifestarem ainda algum ponto de vista específico acerca do projeto de mineração e/ou
sobre a região onde moram caso a matéria não tivesse sido contemplada na entrevista. Neste
sentido, 331 (79,57%) participantes consideraram suficientes as respostas fornecidas durante a
pesquisa não emitindo qualquer opinião adicional ao que foi perguntado no bloco. Outros 72
(17,31%) aproveitaram a oportunidade para opinar ou reforçar certas preocupações sobre o
empreendimento e as transformações por ele causadas no ambiente em que vivem. Apenas 13
(3,13%) entrevistados não souberam ou não quiseram responder esta questão, como ilustra a
figura 4.13.
FIGURA 4.13 A - GOSTARIA DE FALAR MAIS ALGUMA COISA SOBRE O PROJETO
OU A REGIÃO?
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Os 72 entrevistados que manifestaram algo a mais sobre o projeto de mineração e/ou a região
forneceram 97 respostas para a questão. De acordo com as categorias apresentadas na Figura
4.13-B, percebe-se que os aspectos de comunicação entre o empreendedor e a população local
foram os itens mais destacados pelos entrevistados com 30 (30,93%) citações, seguido pelos
aspectos sociais negativos e pelos aspectos ambientais mencionados 27 (27,84%) e 19
(19,59%) vezes respectivamente.
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FIGURA 4.13 B - MAIS ALGUMA COISA SOBRE O PROJETO OU A REGIÃO, POR
CATEGORIAS
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
Em linhas gerais, outra vez os problemas relacionados à questão da água ganharam
notoriedade. No que diz respeito ao social, alguns entrevistados reforçaram a necessidade da
empresa de tratar a população local com mais respeito e indenizar com justiça as famílias
diretamente afetadas. O uso de explosivos, novamente, foi lembrado pelos participantes.
Contudo, os aspectos relacionados à falta de comunicação do empreendedor com as
comunidades merecem atenção, o que evidencia a ausência de informações por parte da
população local a respeito do projeto de mineração, gerando enorme ansiedade nas pessoas
que moram na região acerca do futuro delas nesse cenário recentemente alterado pela
atividade mineradora.
QUADRO 4.13 - MAIS ALGUMA COISA SOBRE O PROJETO OU A REGIÃO
MAIS ALGUMA COISA SOBRE O PROJETO OU A REGIÃO FREQUÊNCIA
ABSOLUTA RELATIVA (%)
ASPECTOS SOCIAIS POSITIVOS 4 4,12
Acha que o projeto vai trazer muitos benefícios para a região 2 2,06
Acredita que em Córregos a mineração não vai prejudicar em nada 1 1,03
Gostaria de parabenizar a mineradora pelo progresso que está trazendo para a região 1 1,03
ASPECTOS SOCIAIS NEGATIVOS 27 27,84
Gostaria que a empresa tratasse a população com mais respeito 6 6,19
A mineradora deve indenizar com justiça as pessoas atingidas pelo projeto 3 3,09
Página 135 de 362
As explosões estão causando rachaduras nas casas 2 2,06
Preocupa-se com a possível perda de segurança e tranquilidade da comunidade 2 2,06
A mineradora deve priorizar a resolução dos problemas 1 1,03
A mineradora deveria cumprir suas promessas com relação à construção de hospitais e escolas 1 1,03
A mineradora deveria fazer um aporte social maior, principalmente em relação à saúde 1 1,03
A população enfrenta sérios problemas por causa da saúde 1 1,03
Como é a negociação com as pessoas que vão ter que sair da região 1 1,03
Gostaria de não ser perturbado pelo pessoal da mineração 1 1,03
Gostaria de registrar a insatisfação com o poder público em relação à sua atuação no processo de licenciamento 1 1,03
Gostaria de saber como o povo deve proceder se a nascente secar 1 1,03
Gostaria que a empresa fosse mais transparente em relação aos impactos que serão causado pelo projeto na região 1 1,03
O problema mais sério é a imprudência dos motoristas na MG10 1 1,03
O vizinho está vendendo sua propriedade para a mineradora 1 1,03
Preocupa-se com as prováveis consequências que a mineradora vai trazer para a região 1 1,03
Quando a empresa traz o aparelho para monitorar o efeito das bombas, as explosões são menores do que aquelas que acontecem normalmente 1 1,03
Tem medo de ter que vender sua casa por um preço muito baixo 1 1,03
ASPECTOS AMBIENTAIS 19 19,59
Ouviu dizer que a mineração gasta muita água e por isso tem medo que falte água 7 7,22
O que vai acontecer com o volume e a qualidade da água do Rio Santo Antônio a curti, médio e longo prazo 3 3,09
A água do rio ficou imprópria para lavar roupa. Agora utiliza a água que vem da mina da Fazenda do Joaozinho Generoso 1 1,03
A capital mineira do ecoturismo, tombada pela UNESCO, esta assistindo a sua biodiversidade ruir junto com suas montanhas 1 1,03
A Serra da Ferrugem, tombada por lei municipal, teve a área de tombamento alterada para deixar livre á area de interesse mineratório 1 1,03
Gostaria que a mineradora não degradasse a Serra de São José, que é muito bonita 1 1,03
O acordo de monitoramento da água não foi cumprido 1 1,03
o aparecimento da Anglo Ferrous Brasil e suas empreiteiras poluiram as águas, desrespeitaram o povo e dividiu as comunidades 1 1,03
O ideal seria comprar áreas degradadas para recuperar para reservas 1 1,03
O Plano Diretor até hoje vigente, não permite a instalação de atividade mineratória deste porte no município 1 1,03
Ouviu dizer que a região do Sapo está tendo muitos problemas com a água 1 1,03
ASPECTOS ECONÔMICOS 5 5,15
A empresa deveria qualificar a mão de obra da região 2 2,06
A VINOCOR prejudicou a população, pois ocupou terras que serviam de pasto para o gado 2 2,06
A cozinha industrial que veio de fora atrapalhou os negócios dos 1 1,03
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comerciantes locais
ASPECTOS DE COMUNICAÇÃO 30 30,93
Gostaria de receber mais informações sobre o projeto 5 5,15
Planos da empresa para a comunidade de Córregos 4 4,12
Quais as comunidades vão ser realmente atingidas pelo projeto 4 4,12
Gostaria de saber sobre os aspectos ambientais e socias que serão provocados pelo projeto e as medidas adotadas para minimizá-los 3 3,09
Se há perigo de acidentes para quem mora abaixo da represa de rejeitos 3 3,09
Gostaria de saber o que a empresa vai fazer de melhoria para a população 2 2,06
Gostaria que esclarecessem sobre o que vai acontecer na região 1 1,03
O empreendimento deveria criar um ambiente mais interativo com as comunidades, para discutir assuntos sob as estradas vicinais, as reservas legais que poderiam ser usada para soltura de animais,etc 1 1,03
Planos da empresa para a comunidade do Sapo 1 1,03
Se a mineradora vai dar emprego para as pessoas mais velhas e com baixa escolaridade 1 1,03
Se os moradores do Beco terão de sair do lugar onde vivem 1 1,03
Se pode plantar antes de ser relocado, pois se aproxima a época do plantio 1 1,03
Se tem intenção de preservar a área da mata nativa 1 1,03
Se vão atingir os distritos de Córregos e Tapera 1 1,03
Se vão chamar alguém de Córregos, pois recolheram currículos de várias pessoas do distrito 1 1,03
OUTROS 12 12,37 A empresa tem a licença para remover madeiras de lei que poderiam ser uteis para o cercamento de fazendas. Por que a empresa não cadastra as pessoas para aproveitar estas preciosas estacas de cercas? 1 1,03
A rede de esgoto entope todo dia e quando chove alaga a rua 1 1,03
Como se dará a exploração e o transporte das pedras da Fazenda Cachoeira, próxima de Córregos 1 1,03
Deveria calçar a rua e iluminar a porta da escola em Córregos 1 1,03
Deveria criar uma associação que mobilizasse todas as comunidades do entorno da mineração 1 1,03
Gostaria de resolver a questão de sua aposentadoria. O entrevistado disse que conta com a ajuda de uma pessoa da Anglo 1 1,03
Gostaria que a mineradora colocasse rede de esgoto na comunidade 1 1,03
Gostaria que seus filhos não perdessem os vínculos com a região por causa da mineradora 1 1,03
O início do empreendimento foi através da empresa Borga Gato Agropastoril AS, que chegou a região para adquirir terras sob alegação de criar cavalos 1 1,03
Ouviu dizer que a empresa parou de mexer na Serrinha, em Córregos, porque os moradores se mobilizaram contra 1 1,03
Pesquisadores comentaram sobre a existência de 5 cavernas e vários sítios arqueológicos na propriedade 1 1,03
Tem interesse em negociar seu terreno 1 1,03
TOTAL 97 100,00
Fonte: Pesquisa de Campo, setembro a dezembro de 2010.
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5 - GRUPOS FOCAIS: ANÁLISE COLETIVA DE QUESTÕES COMPARTILHADAS
Foram realizados três Grupos Focais, todos na comunidade de São Sebastião do Bom
Sucesso/Conceição do Mato Dentro, conforme planejado.
A condução dos trabalhos transcorreu em acordo com aquilo que foi delineado. As reuniões
gravadas foram posteriormente transcritas integralmente para o estudo e a revisão dos
resultados. A análise das informações levantadas buscou evidenciar os pontos relevantes
discutidos em grupo, com atenção às questões que motivaram a realização dos encontros. Ou
seja, buscou-se compreender as diferentes percepções dos participantes acerca da
implantação do projeto da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração S/A na região, completando,
assim, a parte quantitativa da pesquisa. A apresentação dos resultados a seguir obedeceu à
ordem do roteiro utilizado durante a sua realização: partindo das impressões mais gerais dos
participantes para atingir os pontos específicos da investigação.
5.1 - Caracterização da região do entorno do empreendimento
O primeiro tópico abordado nas reuniões girou em torno de aspectos relacionados ao modo de
vida da região onde se instalou o empreendimento de mineração. Os pontos levantados para
discussão foram norteados em acordo às seguintes questões: como era a vida nas localidades
antes do início de implantação do empreendimento? Quais eram as dificuldades que
enfrentavam as pessoas? Quais eram as perspectivas das pessoas com o futuro delas na
região?
Ao se falar sobre a vida nas localidades antes da instalação do empreendimento, buscou-se
criar uma interação entre os participantes de cada grupo. O moderador estimulou o
envolvimento de todos de modo que os participantes pudessem expor suas ideias para, em
seguida, adentrar no detalhamento das diferentes vivências relacionadas às recentes
mudanças em curso na região.
Embora nesse primeiro momento a intenção fosse falar sobre como era a vida na região, quase
que como um “aquecimento” para os desdobramentos do roteiro de discussão, o que se verá,
a seguir, é que as falas já vieram carregadas de sentidos e referências sobre as questões atuais
que a região enfrenta.
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5.1.1 - A vida nas comunidades antes do empreendimento
A princípio, como foi dito, essa seção deveria agrupar falas que tratassem de aspectos
relevantes da realidade local em um momento anterior ao início do empreendimento.
Contudo, o que se viu foi que os participantes dos três grupos mencionaram,
espontaneamente, fatos e acontecimentos relativos ao tempo presente para confrontá-los
com as mudanças ocorridas nos hábitos de vida e costumes locais. Portanto, impressões sobre
o passado são resultados de reflexões e estímulos do presente.
Nas falas comuns aos três grupos, a implantação do empreendimento da Anglo Ferrous na
região aparece como o responsável pelo desencadeamento de uma série de transformações
que alteraram, e continua alterando, o ritmo de vida das pessoas e do lugar. A liberdade, a
tranquilidade, a segurança, a paz e o sossego, antes qualidades que distinguiam e valorizavam
as comunidades, agora aparecem relacionadas - de forma negativa - com o tempo de
transformação e incertezas em que vive a população local, conforme revelam as citações
abaixo:
“A gente nunca teve intenção de sair do lugar onde a gente nasceu e foi criado. A liberdade que a
gente tinha antes, hoje a gente não tem mais.” (GF Atingidos)
“Eu sou de Belo Horizonte. Comprei um rancho aqui e vim buscar tranquilidade. Até um tempo atrás,
eu presenciei essa tranqüilidade. Mas, aí apareceu essa empresa...” (GF Não Atingidos)
“A segurança e o trânsito aqui na região eram diferentes. Antes, você não tinha preocupação com a
segurança e nem preocupação em casa. Hoje acabou, está cheio de gente estranha na região.” (GF
Não Atingidos)
Córregos era tida como a pátria da tranqüilidade. E agora, com essa mineradora e os estrondos...”
(GF Lideranças)
“Na Serra da Ferrugem, era uma paz que você podia desfilar nu pelas estradas. Para você encontrar
com alguma pessoa, só se fosse alguém de dentro de casa mesmo. Hoje, você encontra com gente
com telefone celular pela estrada afora.” (GF Lideranças)
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Um ponto levantado por participantes de dois grupos para caracterizar a realidade local diz
respeito à importância da atividade agrícola para as famílias entrevistadas. A importância da
agricultura na região foi ressaltada nas falas de dois Grupos Focais (atingidos e não atingidos).
Segundo esses grupos, o povo sempre esteve envolvido com a atividade agrícola. Na região, a
agricultura de meação ainda é muito praticada, mesmo com a dificuldade atual de se encontrar
trabalhadores rurais para cultivar o terreno e dividir a produção, em virtude de muitos estarem
trabalhando para a mineradora. O que aponta para um novo rearranjo produtivo na região, ou
seja, a possibilidade de emprego nas firmas que prestam serviço para mineração está
desestruturando a dinâmica local. Nas visitas realizadas às famílias, é notório a perspectiva dos
mais jovens serem contratados pelas empresas, entretanto a baixa qualificação na maioria das
vezes os impede de realizarem essa vontade. Outra condição verificada diz respeito aos mais
velhos que acabam sobrecarregados na lida diária das atividades agropecuárias.
O deslocamento de pessoas da zona rural para a zona urbana, em busca de garantias de
emprego e condições de vida melhor, foi também mencionado por um dos participantes do
grupo dos atingidos para explicar o cenário atual de baixa produtividade agrícola. Porém,
segundo outro participante desse mesmo grupo, hoje os habitantes locais não precisam mais
sair da região em busca de emprego, pois a mineradora já oferece postos de serviços para os
moradores da região. Por esses motivos, é muito difícil achar pessoas para trabalhar na
produção agrícola local.
“Eu produzia muito, porque tinham pessoas que trabalhavam comigo como meeiros. E hoje, o
pessoal já partiu em busca de melhorias, em busca de garantias de emprego. Hoje, eu não produzo
praticamente nada.” (GF Atingidos)
“Hoje, não tem como produzir mais. Uma pessoa sozinha não tem como produzir. Achar pessoas para
trabalhar ficou difícil. A mineradora parece que dá estabilidade melhor.” (GF Atingidos)
“Antes, nós vivíamos da plantação. O povo estava todo envolvido com a roça. A gente plantava,
colhia e vivia da agricultura. Hoje em dia, nem água a gente tem direito.” (GF Não atingidos)
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5.1.2 - Principais dificuldades enfrentadas pela população antes do empreendimento
Deve-se ressaltar que, de modo geral, foram bastante diversificadas as citações dos
participantes de cada grupo relacionadas às dificuldades que as comunidades enfrentavam
antes da chegada do empreendimento na região.
Para o grupo realizado com os atingidos, as dificuldades sempre fizeram parte da rotina do
trabalhador rural na sua peleja na roça. Nas palavras dos atingidos, a vida na roça é sofrida, de
muita luta, de modo que as dificuldades são normais para todas as pessoas que moram no
meio rural. Mas, atualmente, segundo esse grupo, a angústia maior é decorrente de um tipo
novo de sofrimento: ter que sair de sua terra e não saber para onde se vai.
“É uma roça brava que a gente tem em Taporouco. A gente fala roça brava porque é sofrida.” (GF
Atingidos)
“A vida de trabalhador rural nunca foi brincadeira, sempre foi luta mesmo.” (GF Atingidos)
“A dificuldade que a gente tinha era normal. A gente mora na roça.” (GF Atingidos)
“A gente sempre trabalhou, lutou muito para ter a terra que a gente tem. É pouca coisa que a gente
tem, mas é sofrido. Hoje, você não sabe para onde você vai. Você sabe que vai sair. É outro tipo de
sofrimento.” (GF Atingidos)
O grupo realizado com aqueles que se consideraram “não atingido” salientou que a falta de
perspectiva do jovem com o futuro continua sendo a maior dificuldade que as comunidades
enfrentam. Se antes o destino da juventude era a foice e a enxada, hoje o jovem se encontra
sem o devido preparo para as oportunidades de trabalho que a mineração trouxe para a
região. O máximo que se pode esperar para os jovens são os serviços que não exigem muita
qualificação. Ressalta-se, no entanto, a promessa de pessoas ligadas à mineradora de efetivar a
instalação de uma unidade do SENAI na região. Mas isso ainda não se concretizou:
“Aqui, antes, o jovem não tinha muita perspectiva. O futuro era bater foice e trabalhar com a
enxada.” (GF Não Atingidos)
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“Não mudou em nada o pensamento do jovem aqui. Ele não amadureceu, pois a empresa chegou e
ele não se preparou para isso. Tem a promessa do SENAI, mas até agora não vi nada na prática. As
perspectivas não mudaram muito não. Quem bateu a enxada vai arrumar no máximo serviço de
portaria.” (GF Não Atingidos)
Assim, mesmo para os que se declararam “não atingidos”, a perspectiva de trabalho aberta
com a chegada da mineração – o que seria um fator positivo - contempla muito pouco os
moradores da região, tendo em vista o problema da baixa qualificação dos mesmos indicado
acima.
Para o grupo com as lideranças locais, a falta de serviços públicos é uma das maiores
dificuldades que as comunidades enfrentavam e ainda enfrentam na região. A falta de água
canalizada, energia elétrica, estrada e calçamento foram alguns dos itens citados. A pouca
oferta de infraestrutura foi atribuída à ausência do poder público para promover o
fornecimento desses bens e serviços. Cabe mencionar, no entanto, que o agravamento da
questão da falta d’água foi atribuído à chegada da mineração, como se verá com mais detalhes
adiante.
“Acho que deficiências a gente tinha, mas sempre deficiências locais, como a falta de infraestrutura.
Antes, tinham famílias que não tinham água. Mas, uma coisa era lidar com a falta de água quando
não se tinha uma fonte de geração; outra é lidar com a falta de água após a mineração chegar.” (GF
Lideranças)
“Eu acho que a dificuldade que tinha era a falta do bem público, porque o poder público era bem
ausente em relação a isso.” (GF Lideranças)
“A dificuldade em Córregos eram mais localizadas, como a falta de água canalizada. A gente buscava
água nas bicas, mas depois canalizou. O calçamento das ruas é ruim. Mas antes eram buracos e os
porcos andavam soltos pelas ruas afora.” (GF Lideranças)
“Antes não tinha luz, a gente usava era lamparina.” (GF Lideranças)
“Eram coisas simples, como estrada e água, eram essas coisas que faltavam para a gente.” (GF
Lideranças)
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5.1.3 - Perspectivas das comunidades com o futuro
Nesse tópico, o moderador procurou averiguar quais eram as perspectivas dos participantes
com o futuro das comunidades antes do projeto de mineração chegar à região. Segundo os
relatos, o que se esperava para o futuro das comunidades não era outra coisa senão continuar
levando a vida no ritmo dos costumes e das tradições locais. Nessa perspectiva, o sentimento
comum percebidos nos depoimentos dos participantes dos três grupos era o de valorizar e de
continuar com os ensinamentos e os modos de vida das antigas gerações.
Isso ficou evidente quando aspectos como a valorização do passo cadenciado dos mais velhos,
do ofício dos pais, do respeito às raízes locais e do apreço com o modo artesanal de se fazer
alguns produtos apareceram nas falas dos convidados. Até mesmo o desejo de se constituir
uma nova família vai nessa direção, pois, o que se aspirava, segundo os depoimentos, era
simplesmente criar os filhos, viver em paz e permanecer na região:
“A gente acompanhava o ritmo dos nossos velhos. Se é para trabalhar, então vamos. Eles punham a
enxada na cacunda e saíam com os filhotinhos atrás para trabalhar. Hoje, seguimos o mesmo ritmo.
Morreu meu pai, o meu filho segue do mesmo jeito.” (GF Atingidos)
“A expectativa era a valorização do que o povo já tinha como identidade e comercializar produtos
como o queijo, o polvilho, a farinha e até mesmo o pequeno piscicultor. Era alavancar o
desenvolvimento local aperfeiçoando uma tradição histórica.” (GF Lideranças)
“Era seguir com os nossos pais e eles ensinado para a gente. Era conservar nossa cultura.” (GF
lideranças)
“Como eu nasci aqui, a minha perspectiva com o futuro era constituir uma família, criar os filhos e
aqui mesmo ficar. Se tivesse que sair, era só para estudar.” (GF Não Atingidos)
A riqueza da cultura local, inclusive, foi mencionada em um dos grupos como uma
oportunidade de geração de negócios para da região, através do desenvolvimento do turismo
rural. Isso foi observado na fala de um participante do grupo de “não atingidos”; essa era sua
perspectiva para o desenvolvimento da região, antes de se iniciar o processo de instalação do
projeto da mineração.
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“Eu tinha projetos diferentes para aqui. A gente tinha uma perspectiva de um agro-turismo baseado
na cultura da região. Poder ajudar o pessoal de forma que cada um participasse com aquilo que tem.
Se alguém produz um queijo bom na região, ele ia participar com isso.” (GF Não Atingidos)
Conforme a citação anterior, se antes se tinha a expectativa de melhorar a qualidade de vida
naquilo que a região tem de mais relevante (o seu patrimônio cultural), os participantes dos
Grupos Focais agora demonstraram novas preocupações com o futuro. Nos depoimentos,
nota-se que já se vislumbra um horizonte de novos desafios. Isso deriva de outro ponto
comum nas falas dos convidados dos três grupos, que revela uma mistura de impotência e
sobressalto com a velocidade das transformações em curso na região. As citações, a seguir,
demonstram esse sentimento:
“A gente plantava e nunca pensou que algum dia a gente ia sair. Ir embora para outro lugar nunca
passou pela minha cabeça.” (GF Atingidos)
“A gente nunca pensou em toda essa transformação que está acontecendo depois que a mineradora
chegou.” (GF Não Atingidos)
“Eu mesmo fui um que já plantei, rocei e pensava que assim seria a minha vida. Mas, hoje, estou
provisório, eu não sei o dia certo que vou ter que sair.” (GF Lideranças)
“Antes, ninguém comprava feijão, arroz, tudo era colhido na roça. A gente queria era manter essa
cultura. Hoje, está tudo indo embora porque o povo colocou uma ilusão na cabeça.” (GF Lideranças)
Em que pese o sentimento de incerteza com os novos tempos, a expectativa de crescimento e
desenvolvimento com a chegada da mineração foi ressaltada em um dos grupos. A citação
abaixo faz referência ao empreendimento como uma oportunidade de mudança para quem
quer fugir da difícil peleja com a roça.
“Antes da mineração, nós não tínhamos nenhuma expectativa de crescimento. Quem é que vai
crescer com roça hoje? Porque a roça caiu muito, piorou muito a situação da roça.” (GF Não
Atingidos).
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Como era de se esperar, a associação da mineração com o provável desenvolvimento da região
faz parte do discurso daqueles que normalmente não se sentem afetados pelo
empreendimento (opinião comum nessa etapa em que a instalação acontece).
5.2 - Alguns aspectos sobre as comunidades
O segundo tópico abordado nas reuniões foi relativo às questões referentes ao lazer dos
moradores das comunidades e a interação dos entrevistados com o ambiente regional. Nesse
tópico foram abordadas questões relacionadas àquilo que os participantes dos grupos mais
gostam na região, as formas de lazer e a recreação nas comunidades, os lugares que
consideram mais bonitos e agradáveis e de que sentirão falta se, porventura, mudassem da
região.
Ao levantar algumas questões nos grupos de discussão sobre a interação socioambiental, o que
se buscou fazer foi compreender como os participantes dos grupos repartem suas atividades,
como vivem e como relacionam entre si.
5.2.1 - O que as pessoas mais gostam na região
Quando os participantes foram estimulados a responder sobre o que mais gostam na região,
um ponto comum nas falas dos três grupos foi o destaque dado à convivência entre as pessoas
nas comunidades. A importância do convívio e da relação comunitária entre os moradores da
região foi salientada pelos integrantes de todos os grupos. Segundo as citações abaixo, a boa
convivência está alicerçada nas relações de amizade, nos laços de parentesco e na confiança de
se conhecer a origem de cada um, conforme as falas seguintes:
“O mais importante é você estar no meio de pessoas que você conhece a origem. Você tem
confiança, conhece o passado.” (GF Atingidos)
“O que a gente mais gosta é de juntar os amigos quando pode. Quando é dia de sábado e domingo.”
(GF Atingidos)
“O que mais gosto é do convívio entre as pessoas.” (GF Não Atingidos)
“O convívio entre as pessoas. Em cada lugar você tem um primo, um parente.” (GF Lideranças)
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Além do destaque da convivência (viver bem e ter boa relação comunitária) entre as pessoas
mencionadas nos três Grupos Focais, apenas o grupo com os “não atingidos” salientou outros
aspectos relacionados à região de que gostam. Os integrantes desse grupo destacaram o clima
saudável, a qualidade da água e a tranquilidade da região, conforme as citações abaixo:
“O clima aqui é muito bom. É um clima saudável, você não vê aqui aquele calor desesperado. A água
também é muito boa.” (GF Não Atingidos)
“O que eu mais gosto na região é a tranqüilidade.” (GF Não Atingidos)
No entanto, segundo outros relatos percebidos nos grupos, essas qualidades e especificidades
locais estão se perdendo por causa do impacto socioambiental trazido pela instalação do
empreendimento na região. Isso se verá mais adiante quando se tratar dos problemas que o
projeto pode trazer para a região.
5.2.2 - Formas de lazer / recreação na região
Os grupos relacionaram também algumas formas de lazer e recreação comuns em todas as
comunidades. Entre as citações, pôde-se notar que as cavalgadas e as festas religiosas fazem
parte do calendário anual de festividades.
As festas religiosas, uma tradição em certas localidades, atraem muitas pessoas, da região e de
outras localidades. Em uma delas, no mês de junho, há uma peregrinação na época do Jubileu
– um evento que mobiliza um contingente de pessoas de vários lugares do estado. Na área
pesquisada, há uma caminhada em romaria em direção ao Santuário de Bom Jesus do
Matozinhos, em Conceição do Mato Dentro nessa data.
Outras formas de lazer e recreação citadas pelos participantes dos grupos foram à prática de se
jogar futebol, de dançar nos finais de semana e de nadar nos cursos d’água, conforme se pode
denotar em algumas falas:
“Todo ano a gente participa de cavalgada.” (GF Atingidos)
“O Jubileu é uma junção de todas as cidades. Vem gente de fora para pagar promessas.” (GF
Atingidos)
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“As festas religiosas em Córregos são uma tradição do lugar.” (GF Lideranças)
“O lazer em nossa comunidade também é esse. Eles adoram uma cavalgada e o futebol. E tem uma
caminhada todo o mês de junho que vai a pé até Conceição. Essa caminhada na época do Jubileu
todo mundo participa. Vai uma turma a pé e os cavaleiros juntos para a benção.” (GF Lideranças)
“Aqui é jogar bola, nadar no ribeirão e na cachoeira.” (GF Não Atingidos)
“Em nossa comunidade é jogar bola, o forró aos sábados e uma festinha de igreja de vez em quando.”
(GF Não Atingidos)
Pode afirmar, pelos relatos acima, que é por meio do calendário de festas e dos encontros
esportivos que também se estreitam as relações de convivência entre as comunidades – algo
tão valorizado em diversos depoimentos. Os grupos de discussão salientaram esses momentos
de interação social que ocorrem nessas datas de confraternização.
Como exemplo, deve-se destacar a festa de Nossa Senhora Aparecida, em Água Santa, as
cavalgadas entre as comunidades de São José da Ilha e de São Sebastião do Bom Sucesso e os
rodeios na região de Água Quente. Esses eventos apareceram nas falas dos grupos, conforme
descritos abaixo:
“Quando tem festa em nossa comunidade de Água Santa, como todo ano tem a festa de Nossa
Senhora Aparecida, vem pessoas de outras comunidades.” (GF Atingidos)
“As comunidades se encontram muito nas festas e nas cavalgadas. Por exemplo, tem a cavalgada que
sai daqui do Sapo até a Ilha e também o contrário.” (GF Lideranças)
“Quando é possível, estamos todos juntos. Como no rodeio que tem lá perto da casa dela. Não dá é
no corre-corre do dia-a-dia.” (GF Não atingidos)
“Através do esporte, um time de uma comunidade vai até a outra para jogar bola.” (GF Lideranças)
Percebe-se por meio dos depoimentos acima transcritos que as relações familiares intra e
entre comunidades é uma característica importante na região em estudo – fato comprovado
também pelos resultados da pesquisa quantitativa e na análise do processo de negociação.
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Ainda em relação às formas de lazer e recreação vividas nas comunidades, ressalta-se que em
dois grupos foi muito comentado a dificuldade atual de se poder nadar nos cursos d’água da
região. Segundo as declarações, a água está imprópria para o banho. Além disso, tem havido a
interdição do lugar pelos responsáveis pela mineração, conforme expressam as falas abaixo:
“Hoje não pode nadar porque a rede de esgoto é jogada no ribeirão.” (GF Não Atingidos)
“Um lugar que eu ia muito era na cachoeira do Passa Sete. Mas, hoje, não pode ir mais à cachoeira.”
(GF Atingidos)
5.2.3 - Lugares mais bonitos e agradáveis da região
Entre os lugares da região citados como mais bonitos e agradáveis destacam-se a Serra da
Ferrugem, a Serra de São José, a cachoeira do Tabuleiro e a Barragem de Dom Joaquim.
Inclusive, em uma das falas no grupo com as lideranças, fez-se referência a Serra da Ferrugem
como tendo uma extensão em âmbito regional. Segundo o participante, essa serra se inicia ao
lado da torre do Matozinhos, próximo à sede de Conceição do Mato Dentro, indo até o
município de Alvorada de Minas.
“Eu acho esse monte aqui muito bonito. A Serra da Ferrugem.” (GF Não Atingidos)
“O monumento mais bonito é a Serra da Ferrugem. É um cartão postal. A serra começa para o lado da
torre do Matozinhos, passa pelo Sapo, vai para Tapera e salta para outro município...” (GF Lideranças)
“A Serra de São José. É o lugar onde a gente nasceu. A serra mais alta que a gente tem é a nossa.” (GF
Atingidos)
“Tem a Serra de São José. Será que ela vai ser atingida também?” (GF Lideranças)
“O lugar que acho mais bonito é a cachoeira do Tabuleiro.” (GF Atingidos)
“Eu acrescento... a cachoeira do Tabuleiro.” (GF Não Atingidos)
“A Barragem de Dom Joaquim é um lugar muito bonito.” (GF Atingidos)
“Tem a Barragem de Dom Joaquim que a gente freqüenta.” (GF Não Atingidos)
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Com apenas uma citação em um dos grupos, mas que devem ser lembradas como belezas
naturais da região são: as cachoeiras do Pacífico (na direção a Córregos), do Passa Sete, Três
Barras e Itacolomi, o Santuário de Bom Jesus do Matozinhos (com referência ao seu Jubileu), a
região do Gondó, a Lapinha (em Córregos), o muro de pedras e a comunidade de Água Santa.
5.2.4 - De que sentirão falta os moradores se mudarem da região
A convivência entre as pessoas locais, ressaltada pelos grupos quando inquiridos sobre o que
mais gostam na região, foi destacada novamente nos três Grupos Focais, mas agora em
resposta à questão relacionada ao que sentirão mais falta se tiverem de mudar da região.
A propósito disso, deve-se ressaltar que aspectos como o convívio entre as pessoas, as
relações familiares, o aconchego dos amigos e da vizinhança são melhores contextualizados e
entendidos na medida em que essas citações expressam a convicção bastante difundida nos
moradores locais de que a perda desse modo de vida característico da região é iminente. O
que se sente, nos depoimentos, é a nostalgia antecipada da provável perda desse estilo de vida
usufruído durante gerações em comunidade.
As citações seguintes revelam o valor do convívio cotidiano com os amigos e a vizinhança. Um
sentimento muito forte notado nas declarações dos participantes de todos os grupos. Por meio
das citações percebe-se ainda o que representaria para eles uma mudança da região:
“Eu vou sentir falta da origem das pessoas. Para qualquer lugar que for eu não vou conhecer a origem
da grande maioria das pessoas.” (GF Atingidos)
“De me sentir seguro. Da proximidade dos amigos e das pessoas que me viram nascer e crescer.” (GF
Atingidos)
“Esse elo que tem entre nós aqui. Eu vou à casa de qualquer um de vocês e a porta dos fundos vai
estar aberta para eu entrar. Eu não preciso de muita cerimônia. Isso é muito importante e a gente dá
muito valor a isso.” (GF Não Atingidos)
“Eu vou sentir falta do aconchego do pessoal daqui.” (GF Não Atingidos)
“Eu acho que, se eu sair de minha comunidade, eu vou me sentir igual a um passarinho preso em
uma gaiola.” (GF Lideranças)
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“Do convívio entre as pessoas. Da vida cotidiana, que isso faz parte. (GF Lideranças)
Outros aspectos como a liberdade, a tranquilidade, os hábitos, a religiosidade e a cultura local
também foram citados pelos participantes dos grupos. Tudo feito e relacionado a essa mesma
questão, conforme se pode notar abaixo:
“Vou sentir falta da liberdade que tenho na comunidade... Do meu trabalho na igreja dentro da
comunidade.” (GF Lideranças)
“Até do rio sujo, pois quando eu quero dar um pulo eu vou lá e dou um pulo. E da tranqüilidade do
lugar.” (GF Não Atingidos)
“Eu vou sentir falta de tudo, até mesmo de uma caçada errada. Aqui é o meu habitat, é aqui que eu
me sinto em casa.” (GF Lideranças)
“Como a gente sempre faz no dia 13 de junho, vou sentir falta de reunir duas ou três pessoas e ir a
primeira missa do Senhor Bom Jesus.” (GF Atingidos)
“Das histórias dos mais velhos. Eu acho que isso vai fazer falta demais.” (GF Atingidos)
Por fim, não se pode deixar de mencionar que a localização da região - de fácil acesso para
várias cidades - e o clima privilegiado foram aspectos mencionados em dois Grupos Focais,
conforme destacados abaixo:
“Da localização que a gente tem aqui. Do acesso fácil para Conceição, Belo Horizonte e Diamantina.”
(GF Lideranças)
“Eu vou sentir falta do clima. Comparando com outros lugares por onde andei, o clima daqui é
totalmente diferente.” (GF Não Atingidos)
5.3 - Opinião/percepção das pessoas sobre o empreendimento
No tópico “opinião/percepção sobre o empreendimento”, tratou-se com os grupos algumas
questões diretamente concernentes à implantação do projeto de mineração na região. O
ponto central das discussões foi sobre o modo como cada grupo percebe e avalia a presença
do empreendimento na localidade. Em outras palavras, o que se buscou foi compreender de
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que forma a implantação da mineração é vivenciada pelas diversas comunidades das áreas
diretamente afetadas ou de influência direta do empreendimento.
Para atingir o objetivo de abarcar a complexidade das situações vivenciadas, o roteiro discutido
com os participantes dos grupos começou abordando alguns temas preliminares até se chegar
à avaliação do projeto no último bloco. Assim, a seção iniciou com a reação dos grupos quando
tomaram conhecimento sobre a chegada desse empreendimento na região, suas expectativas.
Na sequência, os participantes dos Grupos Focais foram estimulados a emitir um parecer
acerca do projeto que está em fase de implantação.
Uma questão crucial tratada nesse tópico refere-se ao esforço da equipe de compreender as
razões pelas quais os indivíduos consideram-se atingidos ou não pela execução do projeto
para, sem seguida, estender a reflexão à investigação dos impactos causados sobre as
comunidades dentro da área delimitada para a pesquisa. O passo seguinte buscou levantar, de
forma objetiva e direta, os problemas e os benefícios que, na visão dos participantes, a
mineração poderá trazer para a região. Além disso, especificamente em relação aos
problemas, buscou levantar a discussão sobre o que os responsáveis pelo projeto da
mineração deveriam fazer para resolver ou minimizar os impactos de suas atividades. Por fim,
fechando esse bloco, indagou-se aos participantes dos grupos se houve mudanças e alterações
significativas nas comunidades onde vivem. Ou mesmo se houve mudanças na região como um
todo a partir do inicio das obras de implantação do projeto de mineração. Segue, portanto, a
análise das questões concernentes aos impactos decorrentes da implantação do projeto de
mineração na região.
5.3.1 - Expectativas ao ficarem sabendo sobre o empreendimento
Quando questionados sobre como tomaram conhecimento, pela primeira vez, da chegada de
um empreendimento no ramo de mineração na região, os participantes dos três Grupos Focais
remontaram ao tempo das primeiras sondagens do terreno. Em seguida, enfocaram os
desdobramentos da chegada da mineração à região. Nessa época, ao relembrarem dos
primeiros contatos com algumas pessoas de fora da região, as primeiras reações dos
moradores foi uma mistura de receio e suspeita, pois não era costume encontrar com pessoas
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estranhas circulando e estudando a região. De fato, isso se pode constatar em algumas falas
que traduzem sentimentos de susto, curiosidade e surpresa com aquelas pessoas e seus
comportamentos incomuns. Nessas circunstâncias, as primeiras notícias sobre a chegada do
empreendimento foi se espalhando pela região, conforme se observa nas declarações abaixo:
“O primeiro contato com eles foi em cima da serra. Como não tinha o costume de ir gente lá, eu
assustei com eles subindo. Eu perguntei o que eles estavam fazendo e eles disseram que estavam
fazendo uma pesquisa para marcação de mineração... E no ano seguinte, começaram com as
pesquisas.” (GF não Atingidos)
“Foi há uns cinco anos atrás que encontrei dois caras na porta da igreja do Sapo com um mapa no
chão... Eles falaram que ia chegar aqui uma mineração de todo tamanho. Eu tomei aquele choque
quando fiquei sabendo.” (GF Lideranças)
“No alto daquela serra pousou um avião. Lá no alto da serra, eu me lembro. Dessa época para cá,
começou a chegar gente, chegar gente... E olha como está aí.” (GF Atingidos)
Deve-se ressaltar que no grupo com as lideranças comunitárias foi mencionado as primeiras
audiências públicas para a apresentação do projeto na região. Segundo essa menção, a
empresa MMX expôs o empreendimento para a população na biblioteca pública de Conceição
do Mato Dentro (não souberam informar exatamente quando isso aconteceu). Nesse
encontro, a empresa salientou que o projeto não iria causar impactos na região, pois seria
construído um mineroduto. Além disso, o empreendimento iria trazer desenvolvimento e gerar
empregos na região.
“Eu me lembro do primeiro contato. Foi uma audiência pública. Eles apresentaram o projeto na
biblioteca municipal de Conceição. Era a MMX falando que ia trazer desenvolvimento e gerar muitos
empregos. Que não iria ter impactos, que seria o sistema de mineroduto.” (GF Lideranças)
Contudo, em outro momento do processo de negociação com os órgãos competentes para o
licenciamento do projeto, o grupo com as lideranças fez referência à indignação causada pela
autorização para a instalação do empreendimento na região da Serra da Ferrugem - a serra era
uma área de preservação ambiental. Segundo a declaração de uma das lideranças locais, a
Serra da Ferrugem era considerada um patrimônio do município, tombada por lei municipal:
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“Pela Lei 90 do município de Conceição, a Serra da Ferrugem é patrimônio histórico. Eles
‘destombaram’ essa parte aqui para a mineração.” (GF Lideranças)
“Eu pensei que isso não ia acontecer nunca, porque essa serra era preservada e era uma área
turística.” (GF Lideranças)
Passada a surpresa com as notícias relacionadas à construção do empreendimento na região,
as primeiras expectativas da população com a chegada da mineração na localidade estiveram
relacionadas com a geração de emprego na região. Abaixo seguem três afirmativas que
confirmam isso:
“Quando saiu o primeiro comentário, a expectativa da gente era com o emprego, com a geração de
emprego para a comunidade. (GF Lideranças)
“Muita gente pensou que ia dar muito emprego, mas nunca pensou nas conseqüências não. A
expectativa foi boa.” (GF Atingidos)
“Emprego a empresa vai dar para muita gente. E as outras empresas que vêm através da Anglo,
também vão oferecer muito emprego.” (GF Não Atingidos)
5.3.2 - Opinião dos grupos sobre o empreendimento
Após os relatos das primeiras impressões sobre o início do empreendimento, a chegada das
pessoas novas na região e as primeiras ações relacionadas à exploração do minério, além das
expectativas com a notícia do empreendimento, os grupos foram estimulados a darem um
parecer sobre o projeto de mineração em curso. As citações revelam várias opiniões, algumas
positivas, outras negativas, que refletiram as diferentes formas de como as pessoas vivenciam
a situação e as novidades.
Segundo a opinião de dois grupos - num modo positivo de ver o empreendimento -, a geração
de emprego foi novamente mencionada em alguns depoimentos. Em outros, a circulação de
dinheiro na região e a oportunidade de geração de negócios para os empreendedores locais
também foram destacadas. Nos grupos com os atingidos e não atingidos, a opinião positiva de
alguns participantes desses grupos sobre o projeto pode ser conferido com as seguintes frases:
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“Num ponto vai ser bom. Emprego tem tudo para ser bom.” (GF Atingidos)
“O lado positivo é que minha irmã sonha em sair da região para trabalhar em um escritório. Quem
sabe, um dia, ela consegue trabalhar aqui sem precisar sair da região!” (GF Atingidos)
“Vai girar muito dinheiro. Já está girando e vai girar muito mais. Vai ter mais empregos e geração de
negócios de todo jeito. Muitos vão ter que expandir e construir.” (GF Atingidos)
“O jovem hoje pode estudar e saber que pode arrumar um bom emprego através da empresa.” (GF
Não Atingidos)
“Para mim, que já viu como as oportunidades fazem as pessoas crescerem na vida, essa empresa,
principalmente para os jovens, é a melhor coisa que apareceu na vida deles.” (GF Não Atingidos)
Noutro modo de ver o empreendimento (negativamente), as preocupações estão relacionadas
com a segurança da localidade, por causa da chegada de pessoas estranhas na região. Os
pontos mais destacados foram o provável aumento do consumo de drogas, o cerceamento de
liberdades individuais e a forma desrespeitosa da empresa interferir nos espaços e costumes
dos nativos. Os mesmos grupos das citações acima (atingidos e não atingidos) também
expressaram suas preocupações com a implantação do projeto na região:
“Primeiro, vai trazer muita gente estranha para a região. Segundo, vai trazer muitas drogas. Tem hora
que a gente tem até medo de ficar no ponto.” (GF Atingidos)
“Hoje em dia, ninguém tem coragem de ficar no ponto. E a água do rio que a gente tinha liberdade,
hoje não tem mais.” (GF Atingidos)
“Eles deveriam respeitar os nossos espaços, respeitar os nossos costumes. E isso não houve. Eles
passaram por cima de tudo.” (GF Não Atingidos)
“Eu acho que nós estamos pagando muito caro por isso. Está havendo uma falta de respeito total,
uma falta de consideração para com as pessoas nativas daqui.” (GF Não Atingidos)
No caso específico do grupo dos atingidos, algumas declarações ainda denotaram uma atitude
de contrariedade com a instalação da empresa na região. Os motivos são bastante justificáveis.
São eles: a privação de sua moradia; a perda das origens, do convívio com a vizinhança; as
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discórdias familiares pela disputa da titularidade do terreno. Segue abaixo algumas
declarações:
“Para mim não é bom a mineração porque vou ter de largar o meu lugar de morar.” (GF Atingidos)
“Por mais que o dinheiro compra, ele não compra as suas origens. E a vizinhança? E a humildade de
todas aquelas pessoas reunidas?” (GF Atingidos)
“A gente já sabe de casos de brigas de família porque um é posseiro e o outro também é dono.
Alguns estão se apossando e está dando muita discórdia.” (GF Atingidos)
Num modo de ver o empreendimento de maneira crítica, mas sem citar consequências
positivas ou negativas para a região, o grupo com as lideranças locais levantou algumas
questões pertinentes ao impacto da mineração para a vida das pessoas que vivem na região.
As preocupações desse grupo estão vinculadas às transformações que vem alterando o ritmo
de vida do lugar. Além disso, existe a preocupação com a falta de planejamento dos municípios
para receber um investimento de envergadura tão alta. Esse grupo também se mostrou
consciente sobre as oscilações do mercado global que podem agora, efetivamente, afetar a
economia regional, uma vez que a setor econômico da região está se encaminhando para a
dependência de um único produto. As falas abaixo exprimem essa atitude crítica:
“Está havendo uma dificuldade de adaptarmos a esse empreendimento. De certa fora, está mudando
a vida não só daqui do Sapo, mas a vida de todo o pessoal da região.” (GF Lideranças)
“A gente vê esse empreendimento chegar sem o mínimo de infra-estrutura.” (GF Lideranças)
“A gente tem que ter uma visão global do que acontece. Hoje, o minério de ferro daqui vai para a
China. E no dia em que a China falar que não precisa mais do minério do Brasil? O que esse povo vai
fazer.” (GF Lideranças)
“Se a economia de Conceição, Alvorada e Dom Joaquim for só mineração, e o dia em que esse
minério acabar?” (GF Lideranças)
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5.3.3 - Atingidos ou não atingidos pelo empreendimento
A questão sobre considerar-se atingido ou não pelo empreendimento deve ser analisada com
muita cautela. Antes, cabe abrir um parêntese para relembrar os critérios levados em conta na
proposta de organizar os grupos nos perfis de atingidos pela mineradora, não atingidos e
lideranças comunitárias.
Conforme mencionado, os Grupos Focais com os atingidos e com os não atingidos pela
mineradora aconteceram a partir de listagens desses públicos; eles assim se definiram na
época da pesquisa quantitativa de caracterização socioeconômica e cultural da região. Já o
Grupo Focal com as lideranças locais aconteceu a partir dos nomes citados pelos próprios
entrevistados, nessa mesma pesquisa, como representantes das comunidades na relação com
a empresa de mineração.
Porém, ao analisar os resultados dos Grupos Focais, essa distinção não aparece totalmente
demarcada. Diante disso, o caminho escolhido para decompor as situações levantadas foi o de
iniciar a análise pelo grupo que se considera atingido pela mineradora, para depois examinar
os outros dois grupos.
As pessoas denominadas como “atingidos” pela mineração indicaram várias circunstâncias em
que se reconhecem nessa condição. A interrupção de uma estrada crucial para determinada
comunidade, o isolamento depois da mudança de quase toda a vizinhança, a proximidade com
a mina (o que inviabiliza investir na propriedade), as rachaduras nas casas por causa das
explosões das bombas foram algumas das argumentações. Isso sem mencionar as declarações
daqueles que assim se definiram por motivos óbvios: estão em processo de negociação com a
empresa (ou até mesmo já negociaram) para saírem de suas propriedades, já que estão em
área diretamente afetada pelo empreendimento.
“Eles só estão se encostando. Agora, nós temos só três pessoas lá perto. Então, nós somos o que?
Nós somos atingidos.” (GF Atingidos)
“Estrada que a gente tinha antes não pode passar mais. Nós podíamos vir ao Sapo de moto ou carro
passando por Água Santa. Hoje, se eu quiser vir ao Sapo, tenho que dar a volta lá em São José do
Arruda.” (GF Atingidos)
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“No meu caso eles não falaram se vão precisar de minha área ou não. Eu fico na dúvida. Eu estou com
a dúvida. Eu não posso investir mais porque depois não tem valorização. Então, chega e faz uma
proposta boa que a gente vai procurar outro caminho.”
“Tem aquelas bombas que causam rachaduras em casa. A estrada que usava para trazer o queijo, eu
tenho que montar num burro e passar de casa em casa. Antes, eu vinha de moto.” (GF Atingidos)
“Eles tiraram todo mundo, ficaram três casas lá. Eles tiraram todo mundo e nós ficamos num cerco.”
(GF Atingidos)
Outrossim, deve-se mencionar que tanto o grupo que se denomina “não atingidos” na
pesquisa quantitativa quanto o grupo com as lideranças locais se consideraram, de fato,
atingidos pelo empreendimento por outras razões. Quando inquiridos sobre se eles se
enquadram nessa condição, os motivos mencionados em seus depoimentos estão relacionados
aos problemas de sujeira e assoreamento da água, o excesso de poeira, o barulho das
máquinas e as pessoas estranhas que estão invadindo a região. Suas declarações seguem
abaixo:
“Está descendo cascalho, está assoreando a nossa água.” (GF Não Atingidos)
“Eu queria ir a uma reunião com os cabeças da empresa e oferecer para eles água da mina e servir
para eles tomarem. Era considerada água saudável. Eu queria ver eles tomarem.” (GF Não Atingidos)
“Antes de a mineradora começar a mexer era tudo normal. Não tinha excesso de poeira.” (GF Não
Atingidos)
“Para dormir eu não agüento. É barulho de máquinas trabalhando até tarde. A poeira em casa, eu já
não agüento mais. Eu tenho um filho com problemas de vista e a poeira provoca irritação alérgica.”
(GF Lideranças)
“A região é toda atingida, não só pelo barulho, mas com as pessoas estranhas. A gente não sabe de
onde vem, nem o coração como que é.” (GF Lideranças)
Dessa maneira, quando colocados num espaço comum para discussão, como a metodologia
utilizada propõe, alguns participantes refizeram seu modo de ver a questão e declararam-se
também atingidos pela mineração. As respostas aqui ultrapassam o nível mais imediato dos
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problemas, quer seja, da saída ou não do seu terreno, para um entendimento mais integrado
envolvendo outras situações como poeira, problema com a água e interrupção dos acessos
entre comunidades. Isso em função da dinâmica do grupo já que no questionário a pergunta
sobre se o entrevistado era atingido ou não pela mineração não podia ser orientada/dirigida
pelo pesquisador.
Ressalta-se, ainda, que as lideranças demonstraram uma preocupação muito grande com a
proporção do impacto ambiental em âmbito regional. Abaixo seguem partes de duas
declarações:
“Está interferindo em todo meio ambiente. Eu não vivo isolado no meu canto, eu tenho uma vida
cotidiana. Está interferindo regionalmente.” (GF Lideranças)
“A Ilha, de certa forma, também é atingida, não diretamente, porque não tem um envolvimento
direto, mas pela região.” (GF Lideranças)
5.3.4 - Como as comunidades estão sendo atingidas pela mineração
Como esse estudo tem como objetivo compreender de que forma a implantação desse
empreendimento é vivenciado pelas diversas comunidades do entorno do projeto, nesse
tópico buscou-se ampliar a discussão anterior (sobre o fato de se considerar atingido ou não
pelo projeto) e estender a investigação para os impactos sobre as comunidades dentro da área
delimitada para a pesquisa.
Mesmo tendo havido a repetição de várias situações descritas nos relatos da questão
precedente (como assinalou uma liderança, ‘a pessoa não vive isolada no seu canto, ela tem
uma vida coletiva’), os depoimentos reforçaram as vivências coletivas das diversas
comunidades próximas à área do empreendimento.
Deve-se mencionar ainda que situações como a rachadura da casa, a poeira excessiva, a
insegurança por causa do fluxo de pessoas estranhas, a qualidade da água e o fechamento de
uma estrada também foram enfatizados em todos os grupos. Essas situações se multiplicam no
espaço coletivo das comunidades, conforme se nota abaixo:
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“A estrutura da comunidade é formada de casas antigas, muitas de pau a pique, e estão
apresentando rachaduras.” (GF Lideranças)
“O patrimônio histórico de Córregos está sendo abalado. A poeira que sobe aqui vai toda para lá.”
(GF Lideranças)
“Hoje, em nossa comunidade, ninguém está podendo sair e deixar a casa aberta. Hoje, não são
apenas os nativos, tem muita gente de fora.” (GF Atingidos)
“A estrada para nossa comunidade toda vida foi essa, desde que nasci e fui criado.” (GF Atingidos)
“Daqui a cinco anos não vai ter como morar aqui no Sapo. A tendência é tudo aumentar: a poeira, a
insegurança...” (GF Não Atingidos)
“A qualidade da água está piorando... Uma água que a comunidade bebia e ainda bebe dela.” (GF
Não Atingidos)
O aumento do fluxo de veículos, principalmente de veículos pesados na área urbana, foi um
ponto bastante criticado em um dos grupos (um grande problema para a região). Em outro
ponto, a dificuldade de achar trabalhador, até mesmo para limpar um quintal, pode inclusive
comprometer a produção agrícola na região, como anunciam partes de depoimentos abaixo:
“Hoje, se você procurar um trabalhador para limpar um quintal, eles falam que não podem porque
trabalham para a empresa.” (GF Lideranças)
“O que a gente percebe é que está havendo uma descaracterização da vida cotidiana na região, pois
aqui é uma região de agricultura. Hoje não existe agricultura mais.” (GF Lideranças)
“Principalmente os caminhões pesados, deveriam nos respeitar. Se tem uma estrada ao lado, porque
passar dentro do Sapo? (GF Atingidos)
“O asfalto na entrada do Sapo está ruim. Você viu a entrada do Sapo? Olha para você ver. Eles estão
apenas começando, e como se diz, os incomodados que se retirem.” (GF Atingidos)
5.3.5 - Benefícios e problemas que o projeto pode trazer para a região
Para fazer uma síntese dos impactos positivos ou negativos que, na opinião dos participantes
dos Grupos Focais, o empreendimento da Anglo Ferrous poderá causar na área de entorno do
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projeto, foi pedido aos três grupos que enumerassem, de forma objetiva e direta, os
problemas e os benefícios que, na visão dos participantes, a mineração poderá trazer para a
região.
Nesse sentido, seguem abaixo os problemas que foram relacionados nos três Grupos Focais.
Mas, não se pode deixar de ressaltar que a ordem deles não tem nenhuma importância de
cunho estatístico. O objetivo foi apenas fazer um levantamento dos problemas, conforme a
apresentação abaixo:
Interdição de estradas;
Diminuição das nascentes;
Aumento de pessoas estranhas;
Aumento do consumo de drogas;
Aumento do custo de vida;
Insegurança;
Explosões;
Aumento dos acidentes;
Diminuição da mão-de-obra local;
Sujeira da água;
Barulho;
Poeira;
Desmatamento.
Nesse aspecto, as citações que seguem abaixo apenas ilustram os problemas levantados pelos
grupos:
“Nós estamos perdendo o direito de usar a estrada.” (GF Lideranças)
“Estão acabando com as nascentes de água.” (GF Lideranças)
“No meu modo de ver, são as pessoas estranhas.” (GF Atingidos)
“Vão aumentar as drogas e tantas coisas ruins,” (GF Atingidos)
“O preço das coisas disparou em Conceição.” (GF Não Atingidos)
“O problema é a insegurança.” (GF Não Atingidos)
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“Uma conseqüência negativa são as explosões” (GF Lideranças)
“Acidentes estão acontecendo direto.” (GF Lideranças)
“A mão-de-obra no Sapo não existe mais.” (GF Atingidos)
“Você podia beber água do córrego. Hoje é pura lama.” (GF Atingidos)
“As máquinas não param e a noite toda é aquele barulho.” (GF Atingidos)
“A poluição e a poeira.” (GF Lideranças)
“Estão acabando com as matas.” (GF Lideranças)
Ainda segundo a visão dos participantes dos três grupos, o empreendimento também poderá
impactar positivamente a região em alguns aspectos. Seguem abaixo a relação dos benefícios
com a implantação do projeto da Anglo Ferrous para a região:
A implantação de uma escola profissionalizante;
Geração de emprego;
Progresso;
Geração de renda;
Mais lazer;
Melhoria da saúde.
Por fim, devem-se citar alguns trechos de declarações que ilustram os benefícios citados
acima:
“A escola técnica dizem que vai chegar ano que vem.” (GF Não Atingidos)
“As pessoas não precisam ir embora para trabalhar.” (GF Atingidos)
“Vai trazer o progresso, mas também suas conseqüências.” (GF Lideranças)
“Eu recebo 5.500 reais de aluguel da empresa.” (GF Lideranças)
“Eu acho que a empresa vai investir no lazer.” (GF Não Atingidos)
“Eles estão reformando o hospital de Conceição.” (GF Atingidos)
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5.3.6 - Soluções para resolver os problemas causados pela mineradora
Nesse momento, colocou-se para os participantes dos grupos de discussão a seguinte questão:
o que os responsáveis pelo projeto da mineração deveriam fazer para a resolução dos
problemas causados pela mineração na região? Foram apresentadas várias sugestões e os
pareceres serão examinados separadamente.
Iniciando pelo grupo de discussão com os atingidos, a principal reivindicação por parte de seus
componentes foi a cobrança de maior agilidade com a alocação das famílias diretamente
atingidas em suas novas propriedades. Os sentimentos de aflição, inquietude, angústia e
ansiedade que aparecem nas declarações dos participantes desse grupo demonstram a
extensão de suas urgências, conforme segue abaixo:
“Eu pediria para eles resolvessem o mais rápido sobre o lugar para onde nós vamos, para a gente não
ficar nessa ansiedade: será que dia, meu Deus, que isso vai acontecer!” (GF Atingidos)
“Tira as pessoas para elas não ficarem passando a agonia que estão passando.” (GF Atingidos)
“Tem muita gente que fechou e ainda não recebeu. Eles estão na expectativa. Muita gente não está
plantando e fica esperando o dia de amanhã.” (GF Atingidos)
“O assentamento está demorando. Eles deveriam falar que vai ser amanhã e pronto. E ser amanhã
mesmo.” (GF Atingidos)
As outras reivindicações desse grupo estão relacionadas às questões dos caminhos
interditados e da água. Em relação a certos caminhos na região - que sempre se utilizou para
se chegar a determinados lugares - a sugestão passa pelo direito de algumas pessoas utilizarem
esses acessos para suas terras, mesmo que para isso se busque uma solução pontual:
“Então, o que está precisando? Que o acesso a minha terra seja como era antigamente. Então, o que
a empresa deveria fazer era dar uma autorização para as pessoas que ficaram sem acesso.” (GF
Atingidos)
A limpeza da água foi outra reivindicação bastante conclamada por muitos. Mas, deve-se
ressaltar que para um participante desse grupo a questão da água está sendo em parte
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resolvida em sua comunidade, pelo menos no que se refere ao consumo. No entanto, os
outros usos do rio como, por exemplo, nadar, lavar roupa e a dessedentação dos animais não
foram levados em consideração:
“Em nossa comunidade, já estão resolvendo o problema do abastecimento da água. Agora, se eles
puderem limpar o rio, seria bom.” (GF Atingidos)
Com relação aos “não atingidos” pela mineradora, são justamente respostas sobre a água que
esse grupo de discussão quer dos responsáveis pelo empreendimento. A preocupação com a
qualidade da água foi a única interrogação feita pelos integrantes desse grupo:
“Eu falei para o representante da empresa sobre a questão da qualidade de nossa água. Essas
sondagens que vocês estão fazendo, vocês vão nos apresentar o antes e o depois? A empresa nunca
apresentou o resultado dessa pesquisa, ficou de trazer o resultado, mas nunca apresentou.” (GF Não
Atingidos)
“Só sabemos de perfurações nos lençóis freáticos e nós utilizamos dessa água. É essa pergunta que
está no ar, que a gente já fez, mas não obtivemos resposta.” (GF Não Atingidos)
O grupo com as lideranças comunitárias levantou a necessidade de se apontar e denominar os
verdadeiros responsáveis pela viabilização do empreendimento na região. A primeira questão
colocada por esse público não foi direcionada aos responsáveis pelo projeto da mineração,
mas teve a intenção de cobrar o posicionamento dos órgãos públicos municipais em relação a
sustentabilidade do projeto.
“A gente bate apenas na mineradora. E o que a gente cobra da Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, que nunca veio aqui dar satisfação para a comunidade?” (GF Lideranças)
“A gente percebe que grandes perguntas ficam sem respostas. Qual é o nosso objetivo aqui? É
discutir a sustentabilidade desse projeto. E nunca tem resposta em relação a isso.” (GF Lideranças)
“A gente tem que cobrar também dos órgãos públicos.” (GF Lideranças)
“O prefeito, ou quem autorizou, deveria ter exigido que a mineradora viesse preparar os distritos
primeiro para depois entrarem.” (GF Lideranças)
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Nesse sentindo, uma proposta desse grupo foi que a empresa estabelecesse um canal efetivo
de comunicação com a população para informá-la sobre os objetivos, as finalidades e as
consequências do empreendimento para a região. Segue uma declaração:
“Acho que a empresa tinha que preparar o povo. Falar que estão aqui com o consentimento de tal
órgão e quais são os objetivos, finalidades e as conseqüências para a região... Tinham que preparar o
povo.” (GF Lideranças)
Por fim, esse grupo deixou claro que espera uma conduta de respeito, consideração e transparência por parte da
empresa com a população em geral, conforme as declarações abaixo:
“Primeiro, eles tinham que ter respeito com a população.” (GF Lideranças)
“A gente quer que eles tratem a gente bem.” (GF Lideranças)
“Antes de pensar em soltar bombas, eles deveriam ter mais consideração com as pessoas daqui, que
os receberam muito bem.” (GF Lideranças)
5.3.7 - Mudanças na região após o início do empreendimento
Finalizando essa sessão, perguntou aos participantes dos grupos se houve mudanças e
alterações na região após o inicio da implantação do projeto de mineração. Duas citações
foram recorrentes nas declarações dos três grupos de discussão: os aumentos do custo de vida
e do trânsito local. Abaixo segue declarações de todos os grupos:
“Você vai fazer uma compra hoje, aumentou muito depois que a mineração chegou.” (GF Atingidos)
“Houve uma supervalorização entre aspas dos imóveis: o aluguel disparou. E a questão da
alimentação nem se fala.” (GF Não Atingidos)
“Mudou muita coisa. Um pacote de arroz que antigamente custava sete reais, hoje custa quinze.” (GF
Lideranças)
“Você tromba com essas carretas e se você não parar, se você estiver de moto, você pára debaixo
delas.” (GF Atingidos)
“Hoje, você depara com Mitsubishi em alta velocidade e caminhões pesados. Trouxe esse transtorno
para as nossas vidas.” (GF Não Atingidos)
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“Os carros, se você der bobeira, eles passam por cima da gente.” (GF Lideranças)
Segundo dois grupos (atingidos e não atingidos), a tranquilidade e a hospitalidade das pessoas
não são mais as mesmas após a chegada da mineração na região. Nesses grupos, examinando
os depoimentos, o que fica evidenciado é o sentimento de insegurança causado nas pessoas
por causa da aglomeração de estranhos na localidade onde vivem. Associado a isso, o que se
nota é a desconfiança de se conviver com quem não se conhece.
“A transformação que a gente está tendo é a intranqüilidade. Não se deixa mais a porta aberta; não
se deixa mais nossos filhos saírem sozinhos. Tudo isso é reflexo de que? É reflexo desse aglomerado
de gente que estamos recebendo de pára-quedas.” (GF Não Atingidos)
“A hospitalidade não é como antes. Se chega uma pessoa em casa, às vezes, eu trato até um pouco
mal. É a dúvida que você tem com quem não é conhecido. Não é como antes: vamos chegar, vamos
entrar, vamos tomar um café...” (GF Atingidos)
5.4 - Relação das comunidades com o empreendimento
Nesse último bloco, a discussão girou em torno de questões que envolvem as estratégias de
comunicação entre a empresa e as comunidades, a partir das relações de interesses que se
confrontam em um espaço de convivência mútua.
A questão posta para os grupos foi a seguinte: como os convidados avaliam o relacionamento
entre as comunidades (ou seus representantes) e os responsáveis pelo projeto? Ou seja, em
que circunstância se estabelece o diálogo da empresa com as comunidades das áreas
diretamente afetadas e de influência do empreendimento?
5.4.1 - Relacionamento entre comunidades e responsáveis pelo projeto
Uma questão levantada em dois grupos (não atingidos e lideranças) enfatiza o distanciamento
da empresa em relação às comunidades locais. O que se aspira, nesses grupos, é o
estabelecimento de um canal de comunicação mais direto com os representantes da empresa.
Alguns depoimentos manifestaram a vontade de perceber a empresa mais presente no dia-a-
dia das comunidades. O que não se aprova é o fato da empresa se aproximar dos moradores
apenas nos momentos das negociações de seu interesse. Outro ponto abordado, em um dos
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grupos, diz respeito ao desconhecimento que seus participantes têm sobre a empresa, uma
vez que a mineradora ainda não veio se apresentar para as pessoas de seu entorno, como seria
de praxe.
Em suma, os discursos percebidos demonstram a insatisfação com o distanciamento da
empresa. Isso faz com que se tenha uma imagem do empreendimento negativa – ela é vista
apenas como voltada para seus negócios, como as próximas citações demonstram:
“Quando chegou a primeira empresa, a MMX, ela se apresentou e a gente sabia o que era a empresa.
Esta que está aí, a Anglo, até hoje não veio falar o que ela é. O pessoal não sabe o que ela é porque
ela não se apresentou.” (GF Lideranças)
“A relação com eles a gente não tem praticamente nenhuma. Só quando eles precisam mexer com
alguma coisa é que eles vão falar com fulano, beltrano.” (GF Não Atingidos)
“Só quando eles estão interessados em seu terreno é que eles vão te procurar.” (GF Não Atingidos)
“A gente não entra em contato porque não sabe a quem recorrer.” (GF Lideranças)
Conforme esses dois grupos, os poucos momentos em que a comunidade estabelece diálogos
com os representantes da empresa não resultaram em ações práticas por parte dela. Houve,
inclusive, quem denunciasse a perda do contato com um interlocutor do projeto, conhecido
por muitos, devido mudanças internas na empresa:
“Temos alguns contatos, mas são muito poucos. Eles são abertos para o diálogo. Para conversar são
ótimos, mas na prática...” (GF Lideranças)
“São bons de diálogos, futuristas, desenham um mundo fantasioso. Mas, na prática, a gente não
percebe nada de ação.” (GF Lideranças)
“O diretor foi lá umas três vezes e depois sumiu. Você chega lá e já tem outra pessoa. Você precisa
falar com aquela pessoa, mas ela não está lá mais. Tem outra pessoa no lugar.” (GF Não Atingidos)
No entanto, houve também quem citasse e elogiasse as primeiras reuniões que ocorreram no
distrito de São Sebastião do Bom Sucesso, no mesmo local da realização dos grupos de
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discussão (Escola Estadual João Mariano Ribeiro). Numa dessas citações, inclusive, se discutiu
um assunto de interesse social, conforme abaixo:
“No início, a gente tinha aqui reuniões nesse mesmo local. Eu participei de pelo menos umas três ou
quatro. Inclusive, até me impressionou no início. Quando saiu a gripe suína, nós nos reunimos aqui.
Mas acabou o contato.” (GF Não Atingidos)
5.4.2 - O que se espera dos responsáveis pelo empreendimento?
Uma questão colocada nos grupos se refere ao aprimoramento do relacionamento entre a
empresa e as comunidades locais. O resultado dessa questão será apresentado abaixo, com
algumas sugestões propostas pelos grupos de discussão para os responsáveis pelo projeto.
No grupo com lideranças, uma das sugestões para a empresa se aproximar mais das
comunidades foi a utilização do horário que a Anglo Ferrous tem a seu dispor numa rádio de
Conceição do Mato Dentro. A proposta é usar esse espaço como um canal de informação sobre
os assuntos de interesse regional.
“Eles têm um espaço na Rádio Bom Jesus. Eles falam de trânsito e até de culinária. Por que eles não
utilizam esse espaço como um canal de comunicação com as comunidades?” (GF Lideranças)
“A empresa tem um horário na rádio, mas fala de coisas que não tem nada a ver. Por que não utiliza
esse horário para falar que vai ter audiência para discutir a LI2 em Diamantina?” (GF Lideranças)
Com relação ao desconhecimento sobre a empresa - uma vez que alguns participantes
alegaram o seu distanciamento em relação aos moradores locais -, o grupo com as lideranças
também sugeriu que os responsáveis pela mineração apresentassem o projeto da mina para a
população das áreas diretamente afetadas e de influência direta do empreendimento. Para
esse grupo, e em consideração aos moradores dessa região, os moradores deveriam estar mais
cientes sobre as etapas do projeto:
“Nós deveríamos estar mais cientes do que está acontecendo. Qual é o projeto da mina? Nós somos
moradores e são sabemos sobre o projeto.” (GF Lideranças)
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“Deveriam enviar alguém para apresentar o projeto para nós... serem mais claros com a gente. Está
todo mundo perdido.” (GF Lideranças)
Em face aos impactos na região com a implantação do projeto, os três grupos cobraram mais
transparência dos responsáveis pelo empreendimento. As falas abaixo indicam uma demanda
por esclarecimento das dúvidas com o andamento do processo:
“Eu gostaria que a empresa esclarecesse nosso público. Nós vamos ficar aqui um ano, dois anos...”
(GF Lideranças)
“Eles deveriam ser mais humanos... mais transparentes.” (GF Lideranças)
“Eu espero que a empresa nos respeite. Eu espero que ela desenvolva seu processo, mas de uma
forma diferente. Uma forma mais humana, uma forma mais transparente por parte da empresa.” (GF
Não Atingidos)
“A gente tem intenção de construir em nosso lote. A gente não construiu ainda porque não sabe se a
gente vai ou não vai sair.” (GF Atingidos)
5.4.3 - Importância do projeto para a região
A última questão do roteiro de discussão foi sobre a avaliação dos participantes dos grupos
concernentes ao projeto em implantação. Deve-se registrar, de antemão, que o grupo que a
princípio havia se declarado como “não atingidos” preferiu se omitir dessa questão.
Os dois grupos que se posicionaram frente ao quesito (atingidos e lideranças) fizeram algumas
ressalvas sobre o empreendimento que demonstrado abaixo. Entretanto, como a discussão em
cada grupo seguiu por caminhos diferentes, as respostas desses grupos para essa questão
serão apresentadas separadamente.
Iniciando pelo grupo dos atingidos. Ao pedir aos seus integrantes que fizessem uma avaliação
do projeto em implantação na região, alguns iniciaram a participação nessa etapa com a
cobrança de soluções para as suas pendências - o nível de ansiedade desse segmento era
muito alto. No entanto, deve-se ressaltar que essas mesmas pessoas também deixaram nas
entrelinhas, em seus discursos, o desconhecimento do projeto para avaliá-lo com mais
propriedade. Segue abaixo:
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“Acho que precisa de solução. O projeto existe, mas nós não tivemos acesso a ele. Qual é o projeto?
O que eles estão apresentando? O que eles estão querendo?” (GF Atingidos)
“Falta compromisso por parte deles. Igual eles chegam à casa da gente e fazem uma proposta. Eu
queria que eles fizessem e cumprissem.” (GF Atingidos)
Os membros do grupo com as lideranças iniciaram suas colocações fazendo alguns
questionamentos sobre as consequências do empreendimento na região. Os impactos ao meio
ambiente e o desemprego que deverá provocar, após a conclusão da etapa de implantação do
projeto, foram os principais problemas e preocupações levantadas em suas discussões:
“Com a mineradora eu tenho muito medo do futuro. Será que nossas matas vão continuar? Nossas
águas vão continuar? Será que, no final, não vai sobrar só crateras para nós?” (GF Lideranças)
“Hoje estão empregando muito. Mas, na hora do maquinário e do pessoal qualificado, vai ter muita
gente na rua. O serviço braçal vai acabar. Vai ter muita gente desempregada.” (GF Lideranças)
No entanto, os depoimentos desse grupo também reconheceram a importância do projeto
para a região. Para seus participantes, o desafio do empreendimento está justamente no
conceito de desenvolvimento sustentável, através do empenho em se buscar uma atitude
transparente e responsável em relação ao ambiente e à sociedade:
“Eu acredito que o empreendimento é um desafio muito grande. Para esse empreendimento ser
sustentável falta muita transparência. Não só da empresa, mas de quem governa a cidade e o estado
de Minas Gerais.” (GF Lideranças)
“O projeto é muito bom porque vai trazer benefícios para a região. Mas, eles precisam melhorar o
tratamento com as pessoas e resolver os problemas que estão causando.” (GF Lideranças)
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6 - ANÁLISE SOBRE A CONDUÇÃO DO PROCESSO DE NEGOCIAÇÃO
6.1 - Contexto do Empreendimento: Desdobramentos e Repercussões do
Processo de Negociação
Apesar dos documentos relativos ao licenciamento indicarem que a MMX tinha permissão de
pesquisa na região pelo menos desde 2002, os atingidos3 disseram que desconheciam a
atuação da mesma antes de 2006. Também informaram que desconheciam a relação entre a
empresa MMX e a Empresa Borba Gato4 que começou a adquirir propriedades na região sobre
o pretexto de que desenvolveria uma criação de equinos e, num segundo momento, informara
que plantaria eucalipto. Em 2006 a empresa MMX teria anunciado seu interesse em minerar a
região, mas a relação entre ela e a Borba Gato foi escondida durante alguns meses, ao ver dos
atingidos, como forma de adquirir propriedades a custos mais baixos e sem causar o alarde
sobre a real destinação das terras e desta forma evitar possíveis resistências a estas primeiras
aquisições. Só no segundo trimestre de 2007 é que os atingidos “descobriram5” a relação entre
as empresas. Esse período inicial, de atuação da Borba Gato, é citado pelos atingidos como um
dos argumentos para a desconfiança dos mesmos em relação à falta de transparência na
atuação do empreendedor.
3 Adotar-se-á neste estudo a categoria êmica de atingidos para referir-se aos moradores da região impactada. Tal opção deve-se ao fato de que os próprios moradores se denominaram deste modo. Denominação esta aceita inclusive pelos órgãos públicos com atuação no caso em análise. 4 A empresa precursora da entrada da MMX na região se denominava Borba Gato. O nome remete ao famoso bandeirante Borba Gato que foi genro de Fernão Dias e trabalhou na Bandeira do sogro que tinha por objetivo descobrir a Serra das Esmeraldas (mítica Serra do Sabaraçu), de que tanto se falava a época, na região que posteriormente denominou-se Minas Gerais. A função de Borba Gato na bandeira era preceder junto com uma parte do grupo a bandeira principal, comandada por Fernão Dias, desbravando e preparando as áreas que seriam usadas como sítios quando da vinda do agrupamento principal. Borba Gato foi um dos primeiros descobridores do ouro das Minas, e talvez isso, amplie a desconfiança de várias famílias de que mais do que minerar ferro a empresa teria em perspectiva a retirada de ouro e até mesmo diamante. 5 Utilizamos o termo “descobriram” porque de fato algumas das lideranças dos atingidos, intrigados sobre a atuação da Borba Gato teriam feito pesquisa procurando descobrir o real interesse e a ligação da empresa com a MMX.
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Foto
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Placa da Borba Gato ainda presente nas áreas de propriedade da Anglo Ferrous. Outubro de 2010.
O empreendimento pretendido “extração de minério de ferro em lavra a céu aberto e ao
posterior beneficiamento por flotação”, tinha previsão de entrar em operação em 2013, com a
exploração de 26,5 milhões de toneladas e 30 anos de uso. O empreendimento teve o seu
processo de licenciamento fragmentado. Além da extração propriamente dita, o projeto previa
a implantação de três estruturas complementares e associadas: (1) um mineroduto - integrado
ao porto marítimo situado em Barra do Açu no litoral do Estado do Rio de Janeiro - destinado
ao transporte do material produzido (cujo licenciamento seria realizado pelo IBAMA, por ter
impacto em mais de um estado). O mineroduto segundo Parecer Técnico n° 33 / 2007 -
COMOC/CGTMO/DILIC/IBAMA visa o transporte de 24,5 mtpa de minério de ferro produzido
em Conceição do Mato Dentro. A tubulação localiza-se entre as cidades de Alvorada de Minas
(MG) e São João da Barra (RJ) com cerca de 24 polegadas, 525 Km de extensão, enterrada no
mínimo a 0,76m. A faixa de servidão será no máximo de 30m. (2) Uma linha independente de
transmissão de energia - derivada da Subestação Companhia Energética do Estado de Minas
Gerais (CEMIG) na cidade de Itabira - para suprir a demanda energética; e (3) uma adutora de
água - com captação no Rio do Peixe, bacia do Rio Doce, no município de Dom Joaquim - para
fornecimento de água ao processo industrial, inclusive para o mineroduto. A vazão de água
prevista para o bombeamento do minério chega a 3.123m3 de água por hora. Também era
previsto o licenciamento de um porto, por onde o minério seria exportado.
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A fragmentação do processo de licenciamento gerou uma dificuldade adicional para os
atingidos, o acesso ao processo licitatório e a compreensão sobre o empreendimento, visto
que as estruturas eram licenciadas por órgãos diferentes (Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente – IBAMA e Sistema Estadual do Meio Ambiente – SISEMA) em locais e em momentos
diferentes. A fragmentação do processo de licenciamento acarretou em um processo mimético
de fragmentação dos atingidos, que diante da ausência de comunicação por parte do
empreendedor tinham dúvidas sobre quem e como seriam atingidos acarretando a
conseqüente fragmentação das negociações. Essa fragmentação de negociações pode ser
exemplificada pela implantação da Mina, enquanto parte dos atingidos estavam realizando
uma “pré-negociação” com o empreendedor algumas famílias vizinhas ainda não haviam sido
procuradas ou mesmo classificadas adequadamente (ver caso descrito a frente da Comunidade
de Taporôco). Outro exemplo são as famílias impactadas por processos colaterais do
empreendimento, como a implantação da obra de captação de água no Bairro Lopes,
município de Dom Joaquim que apesar de iniciada, ainda não sabiam como se daria a
negociação para a saída delas.
Outro processo de fragmentação entre os atingidos foi a criação recente da categoria de
“emergenciais” para os moradores das comunidades de Mumbuca e Ferrugem, que
considerados em situação emergencial tiveram seu processo de “pré-negociação” estabelecido
no Fórum de Conceição de Mato Dentro, enquanto famílias de Buriti (ver adiante), Taporôco e
Gondó, também diretamente afetadas pela implantação e possível expansão da mina, inclusive
tendo parte das famílias realocadas, tiveram processos diferentes de negociação, sendo que
algumas delas, como em Taporôco, ainda não foram procuradas, acarretando na separação de
seus parentes residentes nas comunidades vizinhas de Mumbuca e Ferrugem.
A própria categoria de emergenciais implica em uma classificação que é construída não raras
vezes por externos à comunidade, que muitas das vezes não consideram e respeitam suas
sugestões. No caso de Taporôco e Serra de São José, a situação, guardada as proporções, são
similares ao período inicial de atuação da Borba Gato, pois muitas das famílias desconhecem o
interesse na aquisição de suas terras pelo empreendimento e o direito que possuem sobre a
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terra quando da exploração mineral. Situação verificada em campo com as famílias que
residiam em Buriti que já negociaram suas áreas noutras condições.
Nesse caso, a “emergência” parece ter sempre estado a favor do empreendimento. As
situações emergenciais como ficaram expostas nos depoimentos de vários entrevistados são
vistas como um empecilho ao desenvolvimento do projeto e, portanto, são sempre
representadas nos discursos de transferências das famílias como ônus e não como
conseqüência de um empreendimento que modifica a paisagem social, cultural, ambiental e
econômica da região. Até mesmo entre as famílias consideradas “emergenciais” foi criada uma
nova subdivisão quando da reunião da SUPRAM de Diamantina de dezembro de 2010 que
aprovou a Licença de Instalação – Fase 2 (a licença de instalação também fora fragmentada em
duas) e determinou o reassentamento de quatro famílias em um prazo inferior aos demais.
Dentre estas quatro famílias, uma era de Passa Sete e nem fazia parte das famílias de
Ferrugem e Mumbuca/Água Santa, anteriormente indicadas como emergenciais.
A fragmentação das licenças também gerou situações como a concessão das Licenças Prévias
do Porto e do Mineroduto, antes mesmo da licença prévia da Mina, ou seja, o Mineroduto e o
Porto, fase intermediaria e final do processo produtivo e dependente do funcionamento da
Mina foram aprovadas antes mesmo da Mina. Tal circunstância funcionou como mais um
elemento de pressão diante do processo de instalação da Mina. Sendo comum na fala de
vários entrevistados o sentimento de impotência diante desta situação que tornou o
empreendimento minerário irreversível. Uma vez que iniciadas as instalações das etapas
intermediarias e finais a etapa inicial (mina) torna-se um imperativo.
A documentação juntada ao processo de licenciamento ambiental, notadamente o Parecer
Único do Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA Nº 001/2008, informa que: “(...) o
empreendimento em questão visa à extração de minério de ferro em lavra a céu aberto e ao
posterior beneficiamento por flotação.” (Pg. 04) Informa ainda que na região o minério de ferro
possui um teor mais baixo que o existente no quadrilátero ferrífero e que o empreendimento
“localiza-se nas serras da borda leste do Espinhaço Meridional em região de domínio da
‘Reserva da Biosfera Serra do Espinhaço” (pg.04) e de contato dos biomas, Mata Atlântica e
Cerrado,
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“(...) nas cabeceiras do rio Santo Antônio, a extremo oeste da bacia do rio Doce, nas proximidades do
divisor de águas das bacias dos rios São Francisco e Jequitinhonha. As serras onde se situam os
maciços pretendidos à mineração denominam-se Sapo, Ferrugem e Itapanhoacanga e inserem-se em
território dos municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas - integrantes do
Programa “Estrada Real” - nos arredores das vilas de São Sebastião do Bom Sucesso e
Itapanhoacanga.” (pg.04)
No que se refere à análise socioeconômica, as informações contidas nos processos de
licenciamento foram consideradas já naquela época insuficientes e fora solicitado a realização
de estudos complementares. No acima referido parecer único 001/2008 o SISEMA reconhece
que o empreendimento terá impacto de abrangência regional, com uma significância bem mais
expressiva e seus efeitos negativos poderão tornar-se irreversíveis nos municípios da AID. Na
página 87, por exemplo, o parecer afirma que:
“Serão alteradas radicalmente algumas montanhas que compõem as serras da Ferrugem, do Sapo e a
de Itapanhoacanga, atributos da beleza cênica da região. (...) A alteração da paisagem urbana e rural,
em seus diversos níveis (culturais, econômicos, físicos, bióticos, urbanísticos, etc) também gera
impactos potenciais sobre a potencialidade turística da região.”
Ressalte-se que estes danos irão atingir os modos, saberes e fazeres das populações locais bem
como o patrimônio material e imaterial, tangível e intangível, não somente destes grupos, mas
de toda a sociedade brasileira vide o caso da produção de queijo Serro, Patrimônio Imaterial
do Brasil6:
6 O Queijo Serro tornou-se Patrimônio Imaterial Brasileiro por proposição do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA/MG que argumentou seu Registro no Livro dos Saberes, do Modo de Fazer com o objetivo a preservação das características no que se refere à receita original e ao processo de fabricação artesanal do Queijo do Serro, reconhecendo, protegendo e estimulando sua produção, garantindo a sustentabilidade de seus produtores e da economia local. "E como produto cultural, há de ser respeitado mais como ´sabência` do que como ciência, mais como arte do que como técnica, mais como composição histórica do que como combinação química." (Maria Coeli Simões Pires. Queijo do Serro- Patrimônio Cultural do Brasil. Belo Horizonte, 2001, p.50). O Queijo Serro, portanto, é um forte elemento da cultura local, mineira e nacional, constituindo-se em si, um Bem de Natureza Imaterial do Patrimônio Cultural de Minas Gerais, digno de Registro no Livro dos Saberes e Fazeres pois seu processo produtivo é mantido, não obstante às vicissitudes que marcaram as trajetórias econômicas regional e local. É exatamente a tradicional técnica que compõe não só o imaginário dos locais, mas a patente de reconhecimento do produto que se vem preservando pelo esforço sucessivo do aprendizado de gerações. Enfim, o Queijo do Serro possui dois registros como bem cultural imaterial: primeiro como modo de fazer queijo artesanal da região do Serro pelo IEPHA e, no plano nacional (IPHAN), como modo
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“Alguns cursos d’água terão suas disponibilidades hídricas reduzidas, principalmente nascentes que
podem se extinguir presentes nas serras do Sapo, de Itapanhoacanga e da Ferrugem. Esses cursos
d’água não só compõem a paisagem da região, mas são atualmente utilizados para o abastecimento
humano, dessedentação de animais, irrigação, agroindústria (fabricação de queijo e cachaça), lazer,
pesca recreativa”. (pg. 87).
No caso do patrimônio material e imaterial da região pode-se destacar a importância do
território específico desses grupos na constituição da identidade dos mesmos, não é por outro
motivo que a comunidade que se denomina Ferrugem tem seu nome relacionado à Serra que
será objeto de mineração7, ou a comunidade de Água Santa, também denominada por
Mumbuca, que tem o nome relacionado a uma água considerada em toda região como
“curativa”, o que se confirma pela pratica de visitação entre as comunidades da região que iam
se banhar em suas águas com propriedades que eles crêem curativas ou mesmo o hábito de
levar um pouco da mesma para dar aos doentes da família. Os relatos comunicados pelas
famílias de Água Santa/Mumbuca à nossa equipe sobre as características das águas foram
também registradas na Informação Técnica 03/2009 do Ministério Público Federal (MPF) de
junho de 2009:
“As águas do terreno (o relatório fala inicialmente do terreno em situação de ´litígio` entre a Anglo
Ferrus e alguns herdeiros da família Pimenta, uma das grandes família de atingidos na comunidade de
Água Santa/Mumbuca e em Ferrugem) guardam, ainda, uma especificidade: duas das fontes
existentes são de água quente, considerada curativa pelos herdeiros e pela população do entorno.
Delas advém o nome da localidade: Água Santa. De acordo com os relatos, a Água Santa era muito
visitada, utilizada para banhar crianças, e para curar sarnas e outras doenças de pele. Pessoas vinham
de todas as partes da vizinhança, e mesmo de longe, para se tratar ou apenas banhar-se, havendo
indícios de constituírem, essas práticas ritualizadas, como na indicação das sextas-feiras como o dia
mais apropriado para o banho. Já foi aventada a possibilidade, por moradores da região, de se
construir uma Igreja junto às duas fontes.” ( pg.07)
artesanal de fazer Queijo de Minas, nas regiões do Serro e das serras da Canastra e do Salitre. A Bacia leiteira que compreende o queijo do Serro abrange a os municípios do Serro, Alvorada de Minas, Conceição do Mato Dentro, Dom Joaquim, Sabinópolis, Santo Antônio do Itambé, Serra Azul de Minas, Rio Vermelho, Materlândia e Paulistas. 7Apesar da serra em questão ser denominada como Serra do Sapo, localmente ela é conhecida como Serra da Ferrugem.
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Segundo os moradores, para além da propriedade curativa, o Córrego apresentaria uma
pequena lagoa onde, segundo relatos, apareceria a imagem de Nossa Senhora. Em razão do
empreendimento o grupo foi tendo seu acesso a essa área dificultada, sendo que hoje
praticamente não possui acesso a área. Também dizem que com a “mexida” nas áreas das
águas, a “água santa” teria perdido seu valor “curativo”. Alguns moradores chegaram a
comentar que a “santa” seria “enterrada” junto com a bacia de rejeitos que o
empreendimento pretende criar sobre a comunidade.
Ainda de acordo com os atingidos, outras celebrações como a festa que se realiza nas
proximidades do dia 12 de outubro, em homenagem a Nossa Senhora Aparecida, foi celebrada
em 2010 em caráter de “despedida”. Perguntados sobre como ficariam as festas, as imagens e
os cruzeiros utilizados por toda a comunidade, já que as famílias devem ir para locais
diferentes, eles não souberam informar.
A crença na “santa” e a “água santa” foram comentadas não somente na comunidade que era
“guardiã” de tais atributos, como também nas outras comunidades visitadas como: Serra de
São José, Taporôco, Buriti, Ferrugem, entre outros, indicando a relação entre as diversas
comunidades residentes na região e o valor simbólico de algumas paisagens que serão
afetadas pelo empreendimento. Perder-se-á neste processo ainda outros espaços de
sociabilidade como os marcos geográficos que demarcam suas histórias e perfazem não
somente uma paisagem natural, mas, principalmente, uma paisagem cultural. Ou seja, a
paisagem resultado da ação humana sobre a natureza. Ação esta que perpassa pelo menos
quatro (04) gerações familiares. A relação familiar/territorial se expressa pelos laços familiares
entre os moradores nessas comunidades e entre as comunidades.
Para além do patrimônio imaterial, o Parecer Único 001/2008 do SISEMA reconhece também
danos ao patrimônio material da região, principalmente em relação aos bens tombados, por
exemplo, em Itapanhoacanga onde a Igreja de São José e algumas cachoeiras são patrimônios
tombados, inclusive, em nível federal. Outro dano causado ao meio sócio-econômico-cultural
diz respeito aos danos a paisagem cênica, física, e ao perfil sócio-econômico da região sendo
reduzidas as atividades, saberes e fazeres mais rotineiramente ligados ao modo de ser da
região:
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“(...) embora não sejam afetados diretamente o patrimônio histórico e arquitetônico, as festividades
tradicionais, a produção do queijo do Serro, nem os principais patrimônios naturais da região, o
empreendimento irá promover intervenções que afetarão sobremaneira atributos da região. (...) As
transformações culturais e paisagísticas decorrentes da implantação do empreendimento deverão
comprometer, de forma irreversível elementos que conferem à região, como um todo, o atributo
‘agradabilidade’, reduzindo sua atratividade em termos turísticos. Além disso, como já comentado
neste parecer, deve-se prever também a possibilidade de ocorrência de um cenário de
potencialização da exploração mineral na região, o que reduziria ainda mais as chances de
consolidação da região como roteiro turístico no estado de Minas Gerais”. (pg. 87-89).
Ainda no que se refere aos danos sociais, culturais e econômicos dos atingidos o Parecer
chama a atenção para a atividade agrícola dos pequenos produtores como o cultivo de cana-
de-açúcar, feijão, milho e banana e a produção de aguardente a serem renunciadas. Ao
entrevistarmos os moradores, muitos reclamaram da qualidade da água, do ar e do barulho
proporcionado pela atividade em execução pelo empreendimento. Em seu Parecer a SISEMA já
reconhecia estes danos:
“A equipe técnica analista destaca que as condições de armazenamento da água subterrânea nos
aqüíferos das serras do Sapo/Ferrugem estarão modificadas, o que impede o retorno às condições
hidráulicas iniciais, e compromete o restabelecimento do aqüífero àquela condição. (...) mesmo
considerando-se a adoção de medidas de controle ambiental pertinentes e as ações contempladas
nos programas de medidas potencializadoras, o impacto potencial é negativo, com intensidade alta,
pois as restituições, das condições naturais do aqüífero serão capazes de causar importantes
modificações locais quantitativas e qualitativas no ambiente, mas que representam significado crítico
para a AID do empreendimento”. (pg. 93)
Em relação à poeira o Parecer Único 001/2008 em sua pagina 18 reconhece seus danos às
populações atingidas, devido a uma somatória de fatores: localização do empreendimento,
topografia do terreno, direção do vento. Em relação ao barulho, ainda em 2008, o SISEMA
considerou este um problema bastante sério e grave, ressalte-se que na nossa estada em
campo entre outubro e dezembro de 2010 tal problema persistia. Segundo os moradores, além
do barulho, as explosões geram desconforto como, por exemplo, sobressalto (sustos). Outra
reclamação recorrente é de que não seriam avisados com antecedência do horário e número
de tiros programados, o que gera certa ansiedade nas famílias impactadas, sendo relatado
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inclusive e principalmente no caso dos moradores mais idosos danos em sua saúde. No quesito
incômodo sonoro, os moradores que residem mais próximos à área da obra (sede da planta
industrial da mina) reclamam que o ritmo intenso da mesma, com trabalhos durante a noite é
outra fonte constante de barulho e incômodo.
A este respeito Dona Rita Rodrigues de Souza, 80 anos, informou ao MPF, que as máquinas
trabalham noite e dia na terraplanagem na Água Santa. “(...) o barulho à noite é o que mais
incomoda”, afirmou. O senhor José Rosa Teixeira disse que “sente que sua saúde piorou, assim
como a da sua esposa, desde a chegada da mineradora, pelas contrariedades que vêm
passando desde então”. Outra reclamação são as inúmeras rachaduras nas casas, que são
atribuídas pelos moradores às constantes explosões.
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Rachadura em casa do Taporôco. Nov./2010. Rachadura em casa do Taporôco. Nov./2010.
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Rachadura em casa da Serra de São José. Nov./2010.
Rachadura casa da Serra de São José. Nov./2010.
Para além dos incômodos sonoros, poeira, aumento da movimentação de carros, fechamento
de estradas, etc o senhor Geraldo Rodrigues da Silva disse que “vive atualmente com muita
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insegurança, devido a informações desencontradas repassadas por pessoas que vêm
intermediando a venda de terras na região, comprando terrenos dos moradores para repassar
à mineradora”. O senhor Geraldo, “se sente sob permanente pressão”. (INFORMAÇÃO
TÉCNICA, MPF, Nov.2009). Apesar destas declarações terem sido dadas cerca de um ano antes
de nossa visita, podemos in lócus, quando de nossa visita, constatar o problema por meio dos
depoimentos que ainda relatavam a tensão que o barulho, inclusive a noite, e mesmo o forte
cheiro dos materiais utilizados, continuavam gerando. O próprio Parecer Único do SISEMA
reconhece estes danos e a precariedade das formas de controle do mesmo:
“A avaliação do EIA /RIMA desconsiderou que os efeitos desse impacto para a saúde humana podem
ser mais prejudiciais ainda, comprometendo até mesmo a acuidade auditiva de pessoas, caso não
estejam sendo devidamente monitorados. Ressalta-se que, ainda que mais ocasionalmente,
atividades de desmonte por explosivos de maciços ou de estruturas têm se revelado até mesmo em
outros tipos de empreendimento - como motivo de elevado incômodo e queixas constantes
reclamadas por populações vizinhas, devido ao elevado nível de ruído emitido das detonações.
Verifica-se, certamente, que, no desenvolvimento de um empreendimento minerário, esse efeito
sonoro assume intensidade bem maior, pois além de mais constante, tem vibração e altura muito
mais elevadas”. (pg 90)
Ainda de acordo com os depoimentos de alguns moradores, pessoas ligadas ao
empreendimento teriam lhes dito que o número de explosões irá aumentar significativamente,
o que geraria a necessidade da saída mais rápida, o que parece certa inversão, pois segundo o
Parecer Único concedido na liberação da Licença Prévia o empreendedor deveria
primeiramente planejar formas de não impactar - inclusive promovendo políticas de
reassentamento - as famílias a serem atingidas. Uma das finalidades do processo de
licenciamento é exatamente o planejamento, prevenção e mitigação destes impactos e, na
impossibilidade desta, a compensação dos danos sociais e ambientais, antes que eles ocorram
e não a posteriori.
Os moradores informaram que não recebem nenhuma tipo de assistência social e médica
específica em relação a ansiedade gerada não só pelas explosões mas por todo o processo
tenso de negociação (ver a frente maiores repercussões); ao contrário, segundo eles, o acesso
aos hospitais teria sido dificultado devido ao fechamento dos caminhos (ver a frente) que eles
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utilizavam e que hoje se encontram interditados por determinação do empreendedor que teria
adquirido os terrenos por onde passam esses caminhos8.
Considerando que o empreendimento como um todo, como mencionado em pareceres e nas
informações técnicas, tem gerado impactos e alterações significativas no modo de vida desses
grupos, podendo gerar alterações de saúde como relatadas por alguns moradores e que tal
estado pode agravar-se pelo longo e tenso processo de negociação, seria importante a
generalização de algumas poucas ações localizadas de assistência especial a essas famílias,
principalmente no momento em que vai se aproximando a realocação de parte desses grupos
e aumentam-se as ansiedades e angústias em relação a essa mudança9. Em campo, durante as
entrevistas, coletamos informações sobre a visita de um assistente social em apenas duas
famílias.
Outro dano recorrentemente citado pelos atingidos é o fechamento de uma significativa rede
de estradas que ligavam as comunidades e o acesso delas aos distritos e às sedes dos
municípios. A justificativa para não utilização das estradas, por parte do empreendedor, é a
segurança, de fato necessária diante de uma atividade de risco como a utilização de explosivos.
No entanto, cabe mais uma vez a indagação em consonância com as falas de atingidos e
mesmo de conselheiros do COPAM: não seria necessário primeiro se criar uma política de
compensações e mitigação a este e aos outros impactos gerados por esses “bloqueios” de
trajetos. Visto que não existe transporte público na região e as estradas de servidão são
importantes meios de locomoção.
8 Foi-nos relatado um caso em que uma ambulância solicitada para o transporte de um doente em estado grave, na região de Taporôco, fora inicialmente impedida de utilizar uma das estradas, o que acarretou enorme descontentamento e estresse nos envolvidos. A não utilização daquele caminho geraria o aumento de cerca de 50 minutos no atendimento da pessoas enferma. Por fim após acalorada discussão foi permitida a passagem da ambulância. Segundo o relato, o motorista da ambulância, teria dito que não passaria mais por aquele caminho. Situações como essas são relatadas como exemplificação de danos e descuido causado pelo empreendedor em sua relação com os atingidos. 9 O único caso de assistência médica que se pode registrar enquanto estivemos em campo, foi o de uma criança em Ferrugem que apresenta problemas com a visão e a família acredita que o problema foi agravado em função da poeira gerada pelo empreendimento. A casa da família fica muito próxima da área do empreendimento. Segundo eles, a empresa teria os procurado para conhecer melhor o caso e sinalizado (ainda não concretizado) que ajudariam no tratamento da criança.
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Segundo os entrevistados os trajetos foram acrescidos no que tange às distancias, sendo
comum exemplificarem: um deslocamento que anteriormente durava trinta (30) minutos hoje
dura no mínimo duas (2) horas, o que dificulta ou mesmo em alguns casos impede o contato
entre famílias que moram em comunidades próximas, mas que devido aos novos trajetos
encontram-se bastante distanciadas.
As falhas em relação à comunicação entre o empreendimento e atingidos foram de tal maneira
que o próprio SISEMA registrou nas ATAS das reuniões do COPAM e no Parecer Único Nº
001/2008 que os grupos diretamente impactados pelo empreendimento (moradores,
proprietários de terras, usuários dos cursos hídricos situados em áreas requeridas para
instalação do empreendimento) desconheciam a magnitude em que serão afetados e não
estavam participando de qualquer processo de definição das medidas a eles destinadas para
compensação e mitigação dos impactos. Em que pesem algumas melhorias na relação entre
empreendedor e atingido e avanços em busca de uma mesa de negociação das mitigações e
compensações elas continuam bastante aquém do necessário como testemunham os
depoimentos colhidos em campo e as documentações mais recentes como ATAS do COPAM e
o Parecer Único 757545/2010.
O Parecer Único Nº 001/2008 do SISEMA, afirma:
“(...) em alguns programas o enfoque não é ambiental, estando mais direcionado para as
necessidades do empreendimento/empreendedor. Este é o caso, por exemplo, do Programa de
Comunicação Social, cujo conteúdo se centra na preservação da imagem do empreendedor frente à
população da AID. (...) Esse problema também transparece em uma das linhas de ação do Programa
de Adequação da Infra-estrutura Viária, quando o público-alvo é definido como o próprio
empreendedor. (...) O Programa [de Comunicação] é extremamente genérico em todos os seus itens
e, principalmente, não atende ao objetivo de criar condições para efetiva participação dos grupos de
interesse nas decisões sobre questões que lhes dizem respeito”. (pg.100 e101).
Aliás, como afirmaram vários moradores em entrevista durante a realização deste trabalho,
ainda persiste a ausência de comunicação por parte do empreendedor, de modo que para as
famílias/comunidades não é possível saber se são ou não considerados atingidos. Tal
desinformação oficial gera uma rede informal de rumores que tem como conseqüência o
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aumento das especulações e das ansiedades, como no caso do grupo de famílias moradoras da
Serra de São José, que teriam sido informadas por um “funcionário10” do empreendimento que
a comunidade não seria “diretamente atingida”, mas que o empreendedor teria interesse na
aquisição das terras onde moram para passar uma estrada por lá, fato também relatado por
um morador de Taporôco.
Do mesmo modo que os atingidos afirmaram à nossa equipe as dificuldades do processo
durante a realização deste trabalho, o SISEMA também registrou no Parecer Único 001/2008
uma série de falhas do empreendedor em relação às populações atingidas, como por exemplo,
as ausências de listagem das áreas e mapas das áreas efetivamente atingidas, ausência da lista
de processos (áreas efetivamente a serem trabalhadas) junto ao Departamento Nacional de
Produção Mineral – DNPM, a não inclusão de um município – Dom Joaquim – na área da AID,
ausência de estudos a respeito dos impactos nos locais de lazer da população atingida,
ausência de estudos sobre danos nosológicos e doenças especificas da atividade mineraria,
sobre impacto do afluxo de população atraído pelo empreendimento, ausência de análise
aprofundada das organizações sociais existentes nas áreas impactadas, ausência de avaliação
dos impactos sobre os serviços e infraestrutura urbana, ausência do total de propriedades a
ser afetado por esta intervenção (e informações divergentes a respeito do número de
domicílios, populações e famílias atingidas, pois um mesmo estudo apresenta pelo menos três
informações divergentes a respeito do número de domicílios atingidos), ausência de indicação
de área dos novos canteiros de obras, ausência de um plano de impacto sobre as localidades
como Itaponhacanga, São Sebastião do Bom Sucesso (Sapo), ausência de um estudo
arqueológico mais adequado, visto que o estudo apresenta falhas e erros consideráveis, dentre
10 Em relação a este tópico percebe-se na região uma grande confusão em relação aos funcionários do empreendimento. Esta confusão é bastante deletéria ao processo, pois cria maior insegurança, dissabor e ansiedade nos atingidos. Foi comum durante as entrevistas que os atingidos demonstrassem grande confusão não sabendo nem mesmo como se referir ou a quem se referir como intermediário do empreendimento na negociação. Como já dito, soma-se a este fenômeno a atuação inicial da Borba Gato e mesmo de terceiros que visam (ainda que sem autorização do empreendedor) atuar na intermediação, conseqüentemente a desinformação esta formada. Não se espanta, portanto, o relato do aumento de casos de violência e mesmo da alta exposição destes atingidos a diversas pessoas estranhas, o que inclui os diversos pesquisadores que atuam na área. Foi possível perceber entre alguns atingidos uma desconfiança (legitima) da nossa real intenção, ou mesmo confusão sobre nosso trabalho, confusão em relação a finalidade de nossa atuação, ou mesmo de nossos vínculos e, por outro lado entre alguns uma boa vontade que pode ser usado de forma deletéria por pessoas má intencionadas.
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outras. Como já dito, em que pesem algumas melhorias na relação entre empreendedor e
atingido e avanços em busca de uma mesa de negociação das mitigações e compensações elas
continuam bastante aquém do necessário como testemunham os depoimentos colhidos em
campo e as documentações mais recentes como ATAS do COPAM e o Parecer Único
757545/2010.
6.1.1- Conflitos Empreendimento X Atingidos
Nas entrevistas realizadas durante a elaboração deste relatório foram constantes as
reclamações em relação a ausência de diálogo por parte do empreendedor.
Pelo que se apreende das entrevistas realizadas por esta equipe, reforçados pelos documentos
dos órgãos de fiscalização, matérias jornalísticas e demais fontes consultadas, a relação entre
atingidos e empreendedor quase sempre fora conflituosa. Na imprensa, por exemplo, no dia
28/03/2010 o Jornal Estado de Minas publicou uma matéria com o título: “Disputa entre
mineradoras e preservação deixa cidade em pé de guerra. Conceição do Mato Dentro pega
literalmente em armas para negociar com mineradora britânica”. A matéria transcreve o clima
de insegurança e medo entre os atingidos pelo empreendimento bem como a ausência de
informações fornecidas pelo empreendedor. Segundo o Jornal: “Os pequenos proprietários de
terra reclamam que estão sendo pressionados e acuados para vendê-las. (...) Antes da
mineração, o hectare custava entre R$ 500 a R$ 1 mil. Hoje, a Anglo colocou o preço da área
que é prioridade para ela entre R$ 12 mil e R$ 15 mil, diz Aécio Vieira” (grifos nossos)
Outra reclamação constante dos moradores, confirmada nesta reportagem, diz respeito aos
conflitos cotidianos com o empreendedor, no que se refere principalmente à contaminação ou
diminuição do nível de água dos córregos que abastecem as famílias e os impedimentos em
relação à utilização das estradas, caminhos e passagens. Na visão do Jornal:
“A especulação imobiliária rural no município ganhou contornos irracionais, chegando ao conflito
armado. Foi o que ocorreu na comunidade de Água Santa, localizada ao pé da Serra da Ferrugem.
Aécio Lopes Vieira, técnico em agropecuária, conta que há três anos Sebastião Simões Pimenta, 46
anos, conhecido como Tião, e sua família, montaram uma barricada armada para impedir a passagem
dos carros da Anglo na propriedade onde vivia com a mãe, de 91 anos. A empresa teria dado o troco
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proibindo-o de usar uma trilha habitual que cortava caminho para um distrito vizinho, o Sapo,
também usando homens armados. Felizmente, nenhum tiro foi trocado.”
A referência sobre essa situação de conflito entre a Anglo e parte da família Pimenta nos foi
descrita em campo (ver próxima seção) e relatada na Informação Técnica 03/2009 do MPF
como “A Disputa judicial entre Anglo Ferrous do Brasil e Herdeiros da Água Limpa”, e teria sido
uma das razões que motivaram parte da família Pimenta a abandonar as negociações com a
Anglo e contratar “advogados” para negociarem por eles11.
Casos de diminuição das águas e assoreamento do leito dos córregos foram também relatados
pela maioria dos entrevistados. Alguns moinhos antes utilizados como fonte de sustento das
famílias pararam devido ao assoreamento dos leitos desses córregos. Em alguns casos, em que
a família estava em processo de negociação com a empresa, essa retirou os moinhos e os
deixou à beira do rio, dizendo que eles seriam transferidos para as novas áreas às quais as
famílias seriam realocadas futuramente. No entanto, os atingidos afirmam que enquanto o
processo não se concretiza, eles ficam sem utilizar seus moinhos e sem qualquer tipo de
ressarcimento pelo tempo parado.
Foto
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Área do córrego assoreada, onde funcionava um
dos moinhos. Moinho no chão.
11 O medo da pressão exercida localmente no processo de negociação faz com que algumas famílias indiquem como interlocutores do processo de negociação parentes que moram fora e que seriam menos passíveis a pressão. Em nossa pesquisa de campo ocorreram alguns casos em que não fomos recebidos e tais parentes foram indicados, sendo que alguns não passavam nem o contato desses parentes.
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Ainda segundo a matéria do Jornal Estado de Minas publicada em 28/03/2010, assinada pela
jornalista Zulmira Furbino,
“A esperança inicial de prosperidade, a mesma que fez o valor de pequenas glebas de terras – antes
desvalorizadas por estarem localizadas em terreno íngreme e acidentado – saltarem para a casa do
milhão, e que também aquece o comércio local, está cedendo lugar à desilusão e a uma preocupação
cada vez maior com o inchaço da população e com a sustentabilidade do crescimento de Conceição
do Mato Dentro. Além dos problemas na área urbana, as famílias que ainda permanecem na área
rural estão angustiadas porque vêem os córregos que servem às suas propriedades serem
assoreados e sua pequena produção de rapadura, farinha, queijo e cachaça serem afetadas de forma
contundente pela poluição. Só na área de Água Santa, 100 famílias padecem com o problema.
Poucos moradores da região diretamente afetadas aceitam falar sobre o assunto. Eles estão com
medo. É o caso de dona Maria de Fátima Simões, que tem nove filhos, cinco dos quais deficientes
mentais. E de sua vizinha, que prefere nem falar o nome, porque está temerosa com o que pode
acontecer com seu marido, que já sofreu dois derrames depois que as obras da terraplenagem de
estações de bomba 1 do mineroduto começaram, bem do lado da casa onde nasceu e criou os filhos.
Edgar Pimenta de Souza e seu irmão, Delfino Pimenta de Souza, formam uma exceção a essa regra. O
córrego que passa em sua terra, o Pereira, está quase totalmente assoreado. O gado já não bebe
água.
O moinho e o engenho pararam de funcionar por causa da areia que desceu da montanha de
terraplenagem. Com isso, eles deixaram de produzir 32 rapaduras (R$ 2,50 cada) e 150 litros de
cachaça por dia (R$ 3 cada).
Os produtos eram comercializados no distrito do Sapo e em Conceição de Itaponhacanga. O prejuízo
mensal com a paralisação da produção é de R$ 9 mil. ´A areia entupiu o engenho e, para piorar, cinco
meeiros plantavam com a gente desistiram. Ninguém quer fazer a plantação de uma roça de milho,
de mandioca ou de feijão para depois deixar para trás`, afirma Delfino. Segundo ele, a proposta da
empresa para aquisição dos 15 hectares de terra, uma herança que terá que dividir com 10 irmãos,
foi de R$ 1,8 milhão. ´É pouco. Não dá nem R$ 200 mil para cada um. Não dá nem para comprar uma
rocinha. Como é que vamos viver?`, desabafa.
Ataniel Juscelino da Silva e sua esposa, Solange Maria de Fátima, estão desolados com os rumos que
as coisas vão tomando depois que as empresas prestadoras de serviço da Anglo Ferrous se instalaram
para valer no local. Os dois são donos da Mercearia Bar e Restaurante São Sebastião do Bonsucesso,
o nome oficial do distrito do Sapo. Ele foi o primeiro do lugar a negociar com a mineradora. ´Quando
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eles chegaram, pediram permissão para fazer sondagens e pesquisas. Mas depois as coisas foram
mudando`, queixa-se.
Relatório do Sistema Estadual do Meio Ambiente (Sisema) para a licença prévia do empreendimento
afirma que sua implantação implicará grande comprometimento dos aspectos naturais da região,
com destaque para os recursos hídricos e para a biodiversidade. A empresa reconhece o
assoreamento dos córregos na região, diz que o projeto como um todo tem 212 condicionantes,
das quais 70 já foram cumpridas. Ainda segundo a mineradora, quando a obra estiver pronta, os rios
voltarão ao normal.” (grifos s nossos)
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Córrego assoreado em Mumbuca, outubro de 2010
Os conflitos entre empreendedor e atingidos alcançaram tal monta que várias destas
desavenças tornaram-se casos de polícia ou de justiça. Alguns moradores relataram já ter feito
Boletins de Ocorrência junto a Policia Militar e a Companhia de Policia Militar do Meio
Ambiente e ao Ministério Público Federal - MPF, seja para denunciar danos que eles
consideram ambientais, seja para denunciar o impedimento do direito de ir e vir devido ao
fechamento de estradas, passagens e caminhos. A falta de resultados práticos em relação a
essas denúncias e uma possível conivência de alguns órgãos governamentais são citados como
motivos de descrença e revolta por parte de algumas famílias, como nos disse um dos
atingidos em tom de desabafo: “De papel a minha mesa já ta cheia, mas resolver meu
problema eles não resolvem. A gente já fez todo tipo de denúncia e não dá em nada. O trabalho
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deles ninguém para, mas a gente fica igual burro amarrado no pau, sem ter para onde ir, só
esperando.”
Lúcio Guerra Junior, veterinário e proprietário na região declarou ao MPF que “desde um ano e
meio atrás, vem reclamando da qualidade da água do Córrego Pereira, que passa em sua
propriedade; (...) que, porém, hoje, a água do Córrego Pereira, e agora também de Passa Sete,
se encontra mais suja do que antes”. Lúcio dizia, há época que não sabia mais o que fazer
(INFORMAÇÃO TÉCNICA, MPF, Nov.2009).
Ainda nesta direção registra-se na INFORMAÇÃO TÉCNICA No. 05/2010 do MPF que a
Comunidade de Água Quente, localizada na bacia do Córrego Passa-Sete, passa por sérios
problemas em relação à água do referido córrego:
“A comunidade se utilizava da água do Passa-Sete para várias de suas atividades diárias — horta,
dessendentação de animais, banho, lavagem de roupas —, o que se tornou impossível devido às
péssimas condições da água. Esta, afirmam, era cristalina; desde meados do ano passado vem ficando
toldada, como um ´caldo`, além de estar diminuindo. Segundo o Sr. José Nunes Reis dos Santos, a
situação torna-se ainda mais crítica no período da estiagem, quando seca a nascente que fornece
água a uma parte da comunidade. De acordo com uma das moradoras, Sra. Maria da Consolação,
havia uma cachoeira linda próxima à sua casa, a qual costumava ser utilizada no lazer da comunidade,
e que está ´perdida` devido à sujeira da água. Foram relatados casos de coceiras e irrupções em
pessoas que se arriscaram a tomar banho na água do córrego, e hoje todas as famílias levam suas
crianças — cotidianamente — para tomar banho no Rio Arruda, em localidade vizinha. Outras
atividades encontram-se prejudicadas. 'Sá' Aninha, 95 anos, é a matriarca da comunidade, constituída
pelas famílias de seus filhos e netos; ´aqui — afirmou —, é todo mundo uma família, mexeu com um
mexeu com todos, igual caixa de marimbondo`. De acordo com ela, com a escassez de água, está
muito difícil manter as hortas, o que causa um grande prejuízo à comunidade; na expressão de Sá
Aninha, a horta ´é parte da casa` — o que equivale dizer que é parte essencial das condições de
produção e reprodução de cada família. A tarefa de lavar roupas se tornou, por seu turno,
significativamente mais operosa: para lavar roupas na ´bica`, as mulheres vêm gastando o dobro do
tempo antes utilizado para a mesma tarefa, quando esta era realizada no córrego. Também foi
apontada a maior dificuldade com as criações, posto que estas não estão aceitando mais a água do
córrego.
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Segundo informação repassada pelo Sr. Viguetti ao grupo de vistoria, a Anglo Ferrous, para solucionar
os problemas causados à comunidade, estava propondo a perfuração de um poço, a construção de
um reservatório e a instalação de uma estação compacta de tratamento, acoplada a uma bomba
movida a energia elétrica, para distribuição da água. O Sr. Viguetti voltou a afirmar que a empresa
trabalharia com os padrões legais, e não com parâmetros de qualidade anteriormente observados.”
(pag.07 e 08).
Em fins de dezembro de 2010, poços artesianos estavam sendo construídos na comunidade de
Água Quente. Por um lado, não foi possível identificar na ocasião se o mesmo compensava ou
resolvia o problema e qual a opinião e o nível de satisfação dos moradores. Por outro lado, os
usos das águas vão além da utilização para o consumo humano, as mesmas são utilizadas
também como fonte de lazer, pesca, para a dessedentação de animais e para outros usos
domésticos como lavação de roupa.
Em alguns casos os atingidos denunciam também intimidações e violações do direito de
propriedade por parte de funcionários ou prestadores de serviço do empreendimento. Podem-
se inferir a partir dos depoimentos que as condições de vida de diversas comunidades se
transformaram, alheias à suas próprias vontades, visto que todo o processo de licenciamento
ambiental do empreendimento é justificado como necessário para o desenvolvimento local e
regional.
Do ponto de vista judicial, o empreendimento enfrenta varias batalhas. No ano de 2009, o
Ministério Público pediu a cassação da licença prévia para a implantação do PROJETO MINAS
RIO. O pedido do Ministério Público foi negado na primeira instância, no entanto ainda neste
mesmo ano, a segunda instância do Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinou a
suspensão, em caráter liminar, do projeto de exploração de ferro da empresa Anglo Ferrous. O
Ministério Público acusou o município de Conceição do Mato Dentro de descumprir sua
própria legislação ao avalizar o empreendimento. O aval é passo obrigatório para o processo
de licenciamento nos órgãos ambientais de Minas Gerais. A lei orgânica municipal prevê o
pagamento de uma caução por parte “de quem explorar recursos minerais no município”, de
forma a garantir a recuperação de áreas degradadas. Segundo o MP, o não cumprimento desta
medida invalida o processo de licenciamento. Outro argumento do MP aceito pelo
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desembargador Dárcio Mendes é que 14 condicionantes exigidas pelo SISEMA para a
concessão de futura licença de instalação referem-se a ações que deveriam balizar, na
verdade, a concessão da licença prévia. Por fim, em sua decisão, o desembargador escreveu
que "há pontos obscuros ainda indevidamente esclarecidos no processo de licenciamento".
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A querela judicial continuou, e em setembro de 2009, o presidente do Superior Tribunal de
Justiça-STJ ministro Cesar Asfor Rocha derrubou a liminar concedida em agosto de 2009, pelo
Tribunal de Justiça de Minas Gerais, que determinara a paralisação do processo de
licenciamento da mina de ferro em Conceição do Mato Dentro. Portanto, em um período
aproximado de um mês, a decisão mineira foi revertida no STJ de Brasília, o ministro Asfor
Rocha concordou com o ESTADO DE MINAS GERAIS, pois o recurso foi impetrado pelo poder
executivo do Estado de Minas Gerais, que argumentou que a concessão da licença prévia para
a mina "não traz riscos imediatos ao meio ambiente". Faz indispensável notar que o Ministério
Público Mineiro arguia também a própria legitimidade do processo, visto que a mina é o ponto
inicial do sistema Minas-Rio, que também inclui a construção do maior mineroduto do mundo
e do Porto de Açu, no Rio de Janeiro e, como já relatado neste relatório foi a última a receber
as licenças quando deveria ser a primeira.
Outra frente de batalha judicial enfrentada pelo empreendimento foi o desrespeito às
comunidades residentes no local, notadamente populações rurais tradicionais com forte
ascendência negra. A este respeito, foi produzido pelo Ministério Público Federal, uma
Informação Técnica de número 03/2009 que relata “a situação observada no município de
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Conceição do Mato Dentro – MG, entre comunidades rurais que estão sendo afetadas pelo
empreendimento minerário da empresa Anglo Ferrous do Brasil.”
Este documento elucida que o Informe é uma necessidade diante da denuncia contida tanto no
Parecer Único SISEMA Nº 001/2008, já citado e analisado aqui, quanto às denuncias chegadas
à procuradoria por parte de atingidos e movimentos sociais a respeito de violações do
empreendedor aos direitos dos moradores dos núcleos rurais circundantes ao
empreendimento, formado notadamente por populações com características tradicionais.
Este Informe revela alguns dados importantes que se refletem no processo ora vivido de
negociação, mitigação e indenização dos atingidos. Relata o caso da família Pimenta. Faz-se
necessário entender um pouco melhor este caso, que servirá como um modelo exemplar para
vários outros casos semelhantes que recolhemos em nosso trabalho in situ. A família Pimenta
trata-se de uma parentela: “Os Pimenta constituem uma parentela antiga em Conceição do
Mato Dentro, de pelo menos quatro gerações, cuja origem remonta à escrava – ou filha de
escravos - Bernardina Pimenta, que trabalhava para a família Simões, grande proprietária de
terras e escravos.” (pg.03).
O documento informa que a área ocupada pela parentela constitui-se no que a literatura a
respeito das relações nos sistemas agrários brasileiro denomina de terra de herdeiros, ou seja,
um sistema de uso ou posse comum da terra. Como corretamente afirma: “As áreas coletivas,
sujeitas a direitos comunitários e regras específicas de acesso, recebem diversas denominações
regionais.” (pg.04). Afirma também que o próprio sobrenome da família indicaria sua origem
afro descendente:
“Os Pimenta trazem no nome da família a marca de sua afrodescendência: ele refletiria
características físicas de Bernardina, negra, cujo cabelo era ´ruim como pimenta`. Se tais
características físicas não são hoje encontradas em todos os membros da família, é porque, com o
casamento de Amélia Ubaldina - a segunda união de uma Pimenta com um membro da família
Simões – os Pimenta teriam ´mudado de cor`, adquirindo características mestiças, em termos
fenotípicos. Hoje, dizem, há Pimenta de todas as cores, o que não desconstitui a marca da origem,
que carregam no próprio nome. Historicamente, a família parece ter ocupado uma posição
intermediária na estrutura social, constituindo-se como pessoas livres tanto a partir da herança como
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através do trabalho: Amélia, famosa pela força de seu trabalho, teria aumentado em muito o
patrimônio de seu marido. Não obstante, não poderiam ser considerados 'ricos', sendo tradicionais
criadores de cavalo e burro para tropa – atividades que teriam sido importantes no contexto regional
nas primeiras décadas do século XX -, o que os distinguiria da elite econômica da região, formada por
criadores de gado.” (pg. 04 e05).
No decorrer deste documento se faz uma análise pormenorizada da questão da
terra/territorialidade da família Pimenta, não adentraremos nos detalhes aqui, mas faz-se
necessário, até mesmo para explicar os vários reclames narrados pelos atingidos a esta equipe
de pesquisa, reforçar o caráter comum a esta região: a existência de terras de herdeiros. Em
muitas das terras da região nunca houve formais de partilha e, mesmo quando da presença
desta figura jurídica positiva, a organização social seguia – característica comum nestes grupos
- uma ordem própria, daí ser tão comum a chamada terra “no bolo”, terra familiar onde
normas, valores são criados, regulados e respeitados pelos membros do grupo12. Segundo o
Ministério Público Federal: “O reconhecimento desse direito de uso aponta, em primeiro lugar,
para a configuração de uma comunidade de parentesco, territorializada, em que as relações
familiares constituem a principal forma de mediação do acesso à terra e a recursos
naturais.”(pg. 06)
A presença da terra de herdeiros, ou terra comum, denota toda uma característica própria
para o uso e alienação destas terras, sendo este tipo próprio de uso desconhecido pelo direito
positivo e muitas vezes desconsiderado ou não considerado em toda sua complexidade (o que
representa no contexto das relações sociais locais), como no atual processo de negociação. Ao
desconhecer a especificidade destes valores e normas internas ao grupo, desconhecem-se
também os valores que esta terra alcança para seus moradores, como o já citado, local
chamado de Água Santa na terra dos Pimentas: fonte utilizada para banhar crianças e para
12 Entre muitas outras literaturas destacam-se pelo menos as seguintes como exemplificadora deste fenômeno: MOURA, M. M. Os herdeiros da terra. São Paulo: Hucitec, 1978. 100p. WOORTMANN, E. F. Herdeiros, parentes e compadres. São Paulo-Brasília: Hucitec/Edunb, 1995. 336p. COMERFORD, J. C. "Como uma família". Sociabilidade, reputações e territórios de parentesco na construção do sindicalismo rural na Zona da Mata em Minas Gerais. Rio de Janeiro: Relume Dumará. 2003. E mais especificamente para a questão das populações tradicionais e quilombolas: ALMEIDA, A.W.B. de. "Terras de preto, terras de santo, terras de índio: uso comum e conflito." IN HEBETTE, J. e CASTRO, E. (orgs) Na trilha dos grandes projetos. Belém, NAEA/UFPA, 1989.
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doenças de pele. Ou mesmo sua ritualização através da idéia acalentada de se construir uma
Igreja junto a nascente destas águas e pelo seu caráter miraculoso na descrição de alguns
moradores.
A “terra de herança”, mais do que uma situação complexa, aos olhos do direito trata-se de
uma estratégia racional de grupos familiares em permitir que a propriedade familiar não seja
excessivamente fragmentada, o que diminuiria o acesso a determinados recursos naturais
entre os familiares, ao mesmo tempo em que permite que os herdeiros “ausentes” desse
grupo mantenham o direito ao possível retorno em determinados momentos da vida. As saídas
e os retornos, provisórios ou permanentes, é parte de uma estratégia de sobrevivência desses
grupos, bem como a operacionalidade do modo de produção com base no trabalho familiar. A
não divisão física da área também dificulta a venda por parte de um familiar, o que acarretaria
no enfraquecimento do tipo de apropriação adotado, o familiar-camponês.
Outro exemplo de desentendimento, e queixa recorrente, como já dito, é o fechamento das
estradas, principalmente a estrada que saía de Água Santa e passava por Gondó, Córregos,
Tapera e daí a Capitão Felizário. Sua importância era tamanha que é chamada ainda hoje pelos
moradores como estrada real. Estas estradas comporiam a estrada que ligava Conceição do
Mato Dentro a Serro e Diamantina, caminho por onde circulava a “Jardineira”, antigo
transporte coletivo da região.
O impedimento das estradas constitui-se em enorme prejuízo material e imaterial para estas
populações como já relatado, no entanto, retorna-se novamente ao tema para apresentar
exemplos de conflitos instalados por este impedimento. O atingido José Rosa Teixeira, 63 anos,
em depoimento ao MPF em 21/11/2009 (INFORMAÇÃO TÉCNICA, MPF, Nov.2009), declarou
que:
“(...) sempre utilizou essa estrada, por toda a vida para ir para Conceição do Mato Dentro para
Córregos [refere-se a estrada ´que sai da MG-10, passa pela residência do declarante e vai até
Córregos`]; que há cerca de noventa dias o declarante tem conhecimento que a passagem de pessoas
nessa estrada vem sendo embargada por seguranças contratados pela Anglo Ferrous, a partir da
serra; (...) que tem evitado passar pela estrada para não ter problemas com os seguranças da
mineradora(...)”
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Outro depoente ao MPF, senhor Geraldo Rodrigues da Silva, observou que o empreendedor:
“(...) impede as pessoas de passarem nos terrenos comprados por ela (...); que a mineradora possui
seguranças que ficam percorrendo as estradas, para vigiar as áreas já compradas por ela; que os
seguranças embargam as pessoas de passarem por esses terrenos, mesmo quando há caminhos que
já eram utilizados pelos moradores; que trabalhadores da mineradora, ao contrário, passam por
terrenos que são dos moradores, sem pedir autorização”.
6.1.2 - Conflito Pimenta X Empreendedor: um caso comum na região
O atual conflito entre a família Pimenta e os empreendedores do Projeto MINAS-RIO pode ser
tomado como uma mimese do que ocorre na região. Ainda que os contornos de violência
envolvidos neste caso não se repitam necessariamente em outros, ele é mimético na medida
em que apresenta uma série de reclamações feitas pelos atingidos, quais sejam: dificuldades
para o diálogo, desrespeito por parte do empreendedor, violação do direito de ir e vir, violação
do direito de propriedade, medo generalizado a respeito do futuro, intimidação por parte do
empreendedor em algum momento do processo, entre outros.
Segundo relatos contidos inclusive em processos judiciais e boletins policiais, um membro da
família - da parentela - Pimenta teria vendido parte de suas terras de herdeiro ou “no bolo”
para o empreendedor. A outra parte da parentela que não se sentiu representada no acordo se
recusou a sair das terras ocupadas, ocasionando segundo registro policial e jurídico enorme
pressão – inclusive com relato de uso de violência excessiva13 – por parte do empreendedor
para a saída dos mesmos. Ocorre que as terras não foram formalmente divididas. Fenômeno,
como já dito, que se repete em diversas famílias da região e que no nosso entender vem
sendo desrespeitado no processo de negociação ora em curso.
Em geral a empresa tem priorizado a negociação com os herdeiros que vivem no terreno, de
forma a negociar sua saída. Sendo que os parentes ausentes têm sido preteridos na negociação
sendo oferecidos aos mesmos, em geral, um valor financeiro total, para ser dividido entre eles,
13 Para uma descrição pormenorizada, inclusive sobre o uso de violência policial aparentemente excessiva ver Informação técnica n.003/2009 do Ministério Publico Federal, parte do PROCESSO ADMINISTRATIVO - PA. no. 1.22.000.000183/2007-25, da Procuradoria da Republica em Minas Gerais.
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referente ao valor de 20 hectares, (R$15.000,00 x 20 = R$300.000,00). Essa compensação dos
herdeiros ausentes é bastante desigual em relação aos herdeiros “presentes”. Essas
negociações, por conseqüência, ao tornarem uma terra de herdeiros em terra mercadoria
geram conflitos entre familiares e insere na realidade fatual uma lógica financista e alienante
em que alguns são acusados de se aproveitar da negociação em benefício próprio. O efeito
colateral deste processo foi bem relatado pelo Ministério Publico Federal, em seu Informe
Técnico 03/2009:
“Não obstante, ao investir sobre terras de herança, a empresa acaba por provocar também o efeito
inverso, quer seja, a movimentação de direitos que permaneciam parados, por parte de herdeiros
que se encontravam ausentes ou que faziam um uso distinto do território – como a coleta, o uso da
água - que aquele definido estritamente pela moradia.”(pg. 20).
Como dito anteriormente, a priorização da negociação com os “herdeiros presentes” e a
postergação da negociação com os “herdeiros ausentes” enfraquece o poder de negociação
destes últimos. A tomada de posse por parte da empreendedora antes da negociação dos
“herdeiros ausentes” pode gerar mais conflitos, não só com a própria empresa, como
verificado no caso relatado da família Pimenta, como também entre os próprios familiares que
se sentem traídos por aqueles que usufruíam das “terras de herança”.
Segundo algumas lideranças da Comissão dos Atingidos, o contrato que seria assinado entre o
empreendedor e os “herdeiros presentes” garantiria a posse precária do imóvel, ou seja, o
empreendedor tomaria posse das terras antes necessariamente de resolver a negociação com
os demais herdeiros. Outra questão, levantada foi a transferência dos atingidos e a
responsabilidade com os custos para a resolução e divisão dos direitos de herança transferindo
ônus do empreendedor aos atingidos, como se estes estivessem “oferecendo suas terras” e
não sendo “obrigados a saírem delas” em favor do empreendimento. Em alguns casos, as
heranças se remontam aos avôs, o que gera um processo complexo que geralmente criam
conflitos entre os familiares, ao transformar o que era para eles um “direito de uso” familiar
em “mercadoria”.
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6.1.3 - Caso Rodrigues: a saída é o ultimo recurso
Outra parentela grande na região é os Rodrigues que ocupam majoritariamente a área
conhecida como Mumbuca, apesar de haverem familiares em várias das comunidades do
entorno desta, como Ferrugem, Passa Sete, Beco, entre outras. Os Rodrigues, como os
Pimenta, relatam uma história que permite ligá-los a antepassados negros e escravos. No caso
dos Rodrigues tal ligação é ainda mais aparente pelo recurso a configuração fenotípica da
maioria de seus membros. Os Rodrigues resistiram enquanto puderam em relação à alienação
de suas terras, aliás, ainda hoje em suas falas resistem ao processo de perda das mesmas, visto
que no entender destes o atual processo de negociação é algo compulsório, ainda que possa
representar algum ganho financeiro. Os relatos dos Rodrigues dão a real dimensão do que a
literatura chama de territorialidade, ou seja, um vínculo com a terra de trabalho, moradia,
vivencia, que vai muito além da relação terra-mercadoria, sendo, aliás, esta dimensão a mais
desimportante. A terra aqui significa a própria existência do grupo. Fenômeno, como já dito,
que se repete em diversos grupos da região e que em nosso entender vem sendo
desrespeitado no processo de negociação ora em curso.
Como visto em nosso trabalho, entre outubro e dezembro, o processo deflagrado tem
significado, como previsto na literatura, a desintegração deste grupo. Foi nos relatado que
este processo acarretou na divisão da família diante da impossibilidade de permanência e
esgotado todos os meios possíveis de resistência, a retirada compulsória significará a
desintegração do grupo, pois os mesmos serão realocados em áreas não contíguas.
Segundo os relatos coletados, tornou-se comum na região a presença de muitos corretores de
imóveis, que se acredita ajam como fomentadores autorizados pelo empreendedor. Ocorre
que tais corretores pelo que se percebe têm agido nas duas pontas seja como comprador seja
como vendedor de terras, o que não raro leva a confusões entre os atingidos, que muitas vezes
não conseguem entender a real intenção do corretor ou mesmo para quem ele trabalha.
Ademais tais corretores desconhecem a idéia de terra no bolo ou de herdeiros como descrito
acima e utilizam uma série de estratégias para a compra das terras e dos direitos de
herdeiros, que significam prejuízos, quando não para os atuais ocupantes, com certeza para
o conjunto de parentes.
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Ademais a estratégia utiliza-se do já referido estado de tensão encontrado na região, assim é
comum segundo os relatos um discurso da inevitabilidade da obra e da necessidade de saída,
bem como de abordagens, ás vezes consideradas hostis, jogos de insinuações que levam a um
grau ainda maior de insegurança com o famoso disse me disse entre moradores, pressões
diante do argumento de que outros herdeiros já teriam cedido e vendido suas partes. Segundo
os atingidos, a cada um é sugerido que ele restará sozinho e isolado.
Outra estratégia bastante comum é a de apresentar a obra como a redenção de toda a região
não sendo possível, portanto, que um grupo de moradores torne-se impedimento para o
desenvolvimento. Ressalte-se que este discurso é uma constante na região, mas não somente
nela, nas ATAS das reuniões do COPAM durante o processo de licenciamento foi comum ouvir
Conselheiros utilizarem-se do mesmo argumento.
Outro desconforto narrado são as mazelas trazidas pelo empreendimento em sua atual fase de
instalação, que representa diversos riscos para os moradores e diversos dissabores como
exemplificam os já relatados fechamentos das estradas, as necessidades de constante
identificação para circular pela região, as entradas sobre terras particulares sem a devida
autorização por parte de funcionários ou terceirizados do empreendimento, etc. Como registra
a INFORMAÇÃO TÉCNICA No. 05/2010 do MPF
“Para essas famílias, noites sem dormir, horas em dobro gastas em uma única atividade (como lavar
roupas ou captar água em local mais distante), impossibilidade de criar seu próprio animal, de contar
com os produtos da horta ou com a venda ou troca do fubá produzido em moinho próprio ou de um
vizinho, implicam em tal sobrecarga do conjunto das forças produtivas que, no limite, inviabilizam a
própria vida.” (pg.14)
Por fim outro foco de tensão que se pode registrar e, exemplifica o desarranjo desta situação
nas relações familiares e comunitária, é a contratação de um dos familiares para atuar na
negociação com seu grupo de parentes e vizinhos. Pode-se observar esta prática durante a
estadia em campo e o desconforto e dano que tal prática gera ao grupo.
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6.1.4 - Os atingidos e sua luta
A falta de clareza a respeito do empreendimento, fato este reconhecido pelos órgãos técnicos
públicos envolvidos com a questão do licenciamento, levou à formação da Comissão de
Atingidos. Essa Comissão atuou no fortalecimento do pleito das comunidades atingidas, para
tanto solicitou a participação do Ministério Público no processo de negociação, denunciou
através de cartas, protestos, manifestos, entrevistas na imprensa, mobilizações virtuais e em
grupos ligados aos movimentos sociais a situação vivida na região e as pressões, em suas
palavras, que a comunidade estava sofrendo, bem como as diversas irregularidades no
processo segundo o seu ponto de vista.
Uma das denuncias em relação ao processo de negociação, confirmada por diversos atingidos
à equipe que elaborou este relatório, faz referência à forma de negociação: o empreendedor
procurava de forma separada e individualizada os entes das famílias. Como demonstrado
acima, desrespeita os modos e a forma local de organização do uso territorial, acarretando
e/ou catalisando brigas, conflitos.
A atuação da Comissão de Atingidos é reconhecida pelos órgãos públicos, como o Ministério
Público Estadual e Federal, pelo COPAM e demais órgãos do SISEMA e pelo empreendedor.
Paralelamente ao processo, nos órgãos públicos de licenciamento, existe a atuação dos
Ministérios Públicos Federais e Estaduais na região. Como já relatado, o Ministério Público
Estadual em suas atividades constitucionais entrou com uma ação judicial pedindo a
paralisação do empreendimento e o Ministério Público Federal atua principalmente para
resguardar os direitos específicos das comunidades tradicionais. O Ministério Público Estadual
para além do caminho jurídico (pedido de suspensão do processo de licenciamento) buscou
por via de um Termo de Ajustamento de Condutas - TAC uma negociação mais equilibrada
entre empreendedor e atingidos.
De modo geral, a atuação do Ministério Público Estadual é bem vista e elogiada, no entanto,
alguns atingidos reclamam que a pressão por parte do empreendedor e seus apoiadores
seriam tão forte que poderia até mesmo induzir este órgão ministerial a cometer erros em
relação à real dimensão dos impactos causados pelo empreendimento.
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Em relação ao SISEMA, a 42ª Reunião Ordinária da URC - Unidade Regional Colegiada
Jequitinhonha, ocorrida no dia 13 de maio de 2010, encontra-se o seguinte relato:
“Ilmar Santos: (...) foram estabelecidos alguns deveres ao empreendedor e aos representantes dos
atingidos, onde, dentre outros, destaca que o empreendedor deveria encaminhar à SUPRAM
Jequitinhonha os critérios a serem considerados para a constituição do cadastro dos atingidos, bem
como este mesmo cadastro deveria também ser elaborado pela comissão dos atingidos. Relembra
que de acordo com a última reunião, esse cadastro deveria ser atualizado, principalmente
considerando aquelas famílias que se encontram em caráter emergencial. Verifica que o
empreendedor enviou tais critérios dentro do prazo determinado à SUPRAM Jequitinhonha e que a
mesma encaminhou à comissão dos atingidos; Declara que esta comissão discordou de alguns
pontos mencionados no relatório do empreendedor, elaborando outro documento. Sendo assim, diz
que a comissão solicita que seja de competência da SUPRAM Jequitinhonha a elaboração de parecer
elucidando estas questões. Relata que, como ainda não houve manifestação oficializada por parte da
SUPRAM quanto a este assunto, julga difícil deliberar sobre esta condicionante de nº 91, porém, a
discussão da mesma deverá transcorrer naturalmente, facilitando e aprimorando o processo”.
(pg.04).
Nesta mesma reunião têm-se as seguintes manifestações a respeito dos impactos do
empreendimento e da ausência de uma adequada negociação:
“Ilmar Santos: Abre a palavra para manifestação dos conselheiros. Alessandra – SUPRAM
Jequitinhonha: Explica sobre cadastro enviado no EIA RIMA citado pelo empreendedor, em que não
há evidencias do mesmo no referido relatório, mesmo porque foi aprovado por esta URC na licença
prévia, uma condicionante solicitando caracterização e apresentação de todas as propriedades
atingidas pelo empreendimento. Referente ao cadastro apresentado em janeiro do corrente ano, diz
que não foi enviada ainda uma informação oficial da SUPRAM ao empreendedor, pelo fato do
representante da empresa em reunião com os atingidos, ter admitido que o cadastro estava
incompleto. Luiz Cláudio Ferreira de Oliveira: Manifesta, mais uma vez, sua preocupação acerca dos
atingidos próximos ao empreendimento e entende que o Conselho e o Estado devam acelerar a
solução do problema referente aos mesmos de forma realmente emergencial. Pedro Gaeta –
atingido: Alega que estando na área emergencial, é impossível sobreviver, pois não tem mais como
produzir. Relata ter sido contra a implantação do empreendimento, bem como a grande maioria dos
atingidos e apela para que as negociações sejam feitas em caráter de urgência. Sandra – vice
presidente da Associação das comunidades locais atingidas pelo empreendimento: Relata que os
atingidos, independente do nível de impacto, estão passando por grandes dificuldades e que a
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empresa prometeu diminuir os impactos de poeira e ruído, o que não aconteceu. Apela, pede socorro
para que a situação seja resolvida imediatamente. Mauro Lúcio – presidente da Associação dos
atingidos de São Sebastião do Bom Sucesso: Ressalta que não existem atingidos direta ou
indiretamente, mas que todos estão prejudicados e têm que estar cadastrados. Solicita resolução
desse problema antes que se conceda a licença de operação. Jose Adilson Miranda Gonçalves –
atingido: Relata que os atingidos estão passando por grande dificuldade devido a despejo de água
pelo minerioduto, sendo esta água não potável, entre todos os outros impactos. Mais uma vez,
solicita ajuda, o que já vem sendo pedido há mais de 2 anos. Cintia – atingida: Diz que sua casa está
muito próxima ao empreendimento, que tem sofrido muito com impactos, especificamente poeira,
causando inclusive, problemas de saúde à sua família. Questiona ate quando terá que esperar por
uma resposta e pede atitude de todos. Dalva – atingida: Como moradora da comunidade de
Mumbuca, relata que não tem opção de escolha, pois todos serão obrigados a saírem de suas
propriedades. Solicita que cada comunidade aprove o seu respectivo cadastro. Informa que há
famílias que não têm condições físicas e mentais de negociar sozinhos com a empresa,
principalmente os que optarem pela negociação monetária. Solicita ajuda do Ministério Público e
Defensoria Pública para esses moradores. Lúcio Guerra Junior: Relata que, atualmente, está sendo
discutida uma situação que já deveria ter sido resolvida no inicio de todo esse processo.” (pg. 05 e
06, grifos nossos).
Durante a realização deste trabalho, em dezembro foi concedido a Licença de Instalação da
fase II do empreendimento Anglo Ferrous Minas Rio Mineração S/A. O Parecer Único Nº.
757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA, que concedeu a Licença de Instalação da Fase II, traz
novamente várias ressalvas no que se refere ao processo de impacto e negociação com os
atingidos: “Em 26/10/2010 foram solicitadas Informações Complementares, através do Ofício
Nº 825/2010 referente às estruturas do empreendimento e da aquisição fundiária, que foram
protocoladas na SUPRAM/JEQ em 29/10/2010.” (pg. 02).
O Parecer Único em análise reconhece também o direito dos atingidos sobre as posses
minerarias
“(..) ficou constatado que algumas estruturas do empreendimento poderão intervir em direitos
minerarios de terceiros (DNPM nº.830.328/2006; 830.488/2010; 831.901/2005 e 832.835/2007),
ficando, portanto, sujeitos a instituição de servidão mineraria nos termos do art.59 do Código de
Mineração. Dessa forma, toda e qualquer intervenção em direito minerario de terceiro, deverá ser
precedida da instituição de servidão mineraria ou acordo entre as partes. O mesmo raciocínio vale
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para os proprietários/posseiros do solo, que terão suas propriedades/posses atingidas totalmente ou
parcialmente pela estruturas do empreendimento.” (pg. 03).
Ressalte-se em relação ao processo de negociação com os atingidos, que no capitulo 11,
denominado Meio Socioeconômico, o Parecer Único afirma:
“Em 17/12/2009, em reunião realizada em Diamantina, o processo de Licença de Instalação – Fase 1,
da Anglo Ferrous Minas - Rio Mineração S/A foi levado a apreciação e julgamento na 39 ª Reunião
Ordinária da URC - Jequitinhonha.
Naquela ocasião, o Parecer Único SISEMA n°002/2009 com condicionantes foi aprovado, com a
inclusão de novas condicionantes acrescentadas pela URC, as quais passaram a integrar novas
obrigações a serem também cumpridas pelo empreendedor.
Dentre as condicionantes incluídas ressalta-se a condicionante 91, conforme copiamos abaixo:
´Aprovada como condicionante as diretrizes gerais de reassentamento, determinadas pelo Secretário
de Estado de Meio Ambiente, Dr. José Carlos de Carvalho: A prioridade para a reconstituição dos
direitos é o reassentamento; A indenização monetária, portanto, é instrumento secundário em
relação ao reassentamento, e só poderia ser ativado após a conclusão das negociações do
reassentamento; O prazo para conclusão das negociações do reassentamento é março de 2010 e
para a implantação do reassentamento o prazo é até julho 2010; O processo de reassentamento, em
termos de área, infraestrutura, viabilidade agrícola e demais direitos sociais e produtivos atenderá no
mínimo, às diretrizes aprovadas pelo Copam para o Reassentamento na UHE Irapé; O empreendedor
deverá fornecer o cadastro das famílias atingidas até 10-01-2010; As negociações com as famílias
atingidas obrigatoriamente contarão com a participação ativa das famílias; A Supram Jequitinhonha
deverá acompanhar as negociações; Todas as questões pertinentes aos direitos socioambientais,
produtores e de Reassentamento das famílias atingidas, obrigatoriamente, deverão ser objeto de
avaliação e aprovação pela URC JEQ, sob parecer da SUPRAM.`(pg. 23)
Como se pode atestar pela passagem acima, todos os prazos acertados foram descumpridos
pelo empreendedor, ademais segundo o Parecer Único, os estudos anteriores a respeito dos
impactos sócio-ambientais eram insuficientes, incompletos e mesmo omissos. Por esta razão a
Comissão de Atingidos solicitou a paralisação das atividades mais impactantes até o
restabelecimento do processo de negociação. Nesta solicitação, uma vez mais, a Comissão de
Atingidos denunciava que os moradores estavam se sentindo pressionados a saírem do local, o
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que poderia comprometer o andamento das negociações das propriedades já impactadas.
Segundo o Parecer Único, em abril de 2010, foi solicitado ao empreendedor por sugestão da
Comissão de Atingidos a elaboração de uma “Proposta Metodológica para complementação de
dados socioeconômicos” e de um Cadastro de Atingidos Emergenciais.
A elaboração da metodologia destes dois estudos complementares foi objeto de intenso
debate entre empreendedor, atingidos, órgãos públicos fiscalizadores e conselheiros do
COPAM, por fim na 45ª reunião da URC em 12/08/2010, foi aprovada a decisão da 43ª RO que
determinava:
"Que seja custeado pela empreendedora Anglo Ferrous, um laudo confeccionado por empresa
independente, de notório saber técnico, a ser indicada pela Comissão de Atingidos, relativamente à
caracterização da ADA- área diretamente afetada e AID - Área de influência direta.”(pg. 26).
Paralelamente à contratação do estudo complementar, foi levado a cabo pelo empreendedor,
Ministério Público Estadual, Defensoria Pública Estadual, órgãos públicos de fiscalização –
SUPRAM e apoiadores dos atingidos como Comissão Pastoral da Terra – CPT, precisamente nos
dias 15 e 16 de setembro de 2010, um processo de negociação que incluía a assinatura por
parte de alguns atingidos e o empreendedor de um Termo de Acordo onde a validação do
cadastro patrimonial era um pré -requisito e também era feita a escolha da forma de
remanejamento pelos atingidos, conforme opções apresentadas pelo empreendedor.
Na 47ª reunião da URC em 14/10/2010 foi apresentado o Cadastro Socioeconômico e
Patrimonial, o Programa de Negociação Fundiária e Monitoramento da Qualidade das Águas,
que foram aprovados ficando pendente a discussão do Cadastro Socioeconômico da Área
Indiretamente Afetada, principalmente da Comunidade de Água Quente já tratada inclusive,
conforme demonstrado, por um TAC entre Empreendedor e Ministério Público Estadual.
Na opinião da equipe responsável por este relatório as decisões relatadas acima representam
uma incoerência, principalmente por parte dos órgãos públicos de fiscalização. Vejamos:
decide-se pela necessidade de apresentação de Cadastro Socioeconômico e Patrimonial, em
consonância com a condicionante 91 do Parecer Único, aprovado em 2008. O próprio órgão
técnico de licenciamento considerou, conforme pareceres e ATAS de reuniões do COPAM a
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apresentação dos referidos cadastros como imprescindível na implantação de um Programa de
Negociação Fundiária e logo na seqüência autoriza-se a validação de um cadastro patrimonial
considerado insuficiente e, ainda mais, tal cadastro insuficiente torna-se o embasamento para
o Programa de Negociação Fundiária ocorrido em setembro de 2010.
Como exemplo, da insuficiência do cadastro validado, cita-se o próprio Parecer Único Nº.
757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA:
“Assim o documento validado pela URC Jequitinhonha na sua 43ª RO e qualificado pela empresa
como um ´cadastro socioeconômico da área diretamente afetada pelo empreendimento` não
contemplou algumas informações técnicas imprescindíveis para determinação da dinâmica social e
produtiva das propriedades a serem adquiridas.
Como exemplo, cita-se a importância da apresentação de dados inerentes à referida análise, tais
como fontes de renda do núcleo familiar, níveis de produção, usos e disponibilidade dos recursos
naturais existentes, informações sobre as relações de trabalho formal e/ou informal e regimes de
parceria e arrendamento, grau de dependência do núcleo familiar da renda proveniente das
atividades exercidas na propriedade e detalhamento de quais são essas atividades, o que subsidiará a
análise de medidas necessárias a reestruturação do modo de vida e produção das famílias atingidas.
Ressalta-se que deve ser objeto de cadastro socioeconômico e patrimonial toda a população que
mantém vínculos de residência, de propriedade ou posse, de produção e de trabalho com as
propriedades/unidades agropecuárias e estabelecimentos comerciais, industriais, de extração
vegetal, afetados diretamente pela implantação do empreendimento, inclusive nas áreas destinadas
à implementação de medida mitigadora ou compensatória (por exemplo, áreas de compensação,
Reserva legal, etc).
Deverão constar no referido cadastro os proprietários, posseiros, arrendatários, parceiros, meeiros,
agregados, trabalhadores permanentes (com ou sem vínculo formal de trabalho) e temporários.
Devem ser identificados todos os trabalhadores que estão sendo afetados - com suas respectivas
relações de trabalho, condições de moradia, características da família (se residentes), tempo de
trabalho e renda.
Um cadastro socioeconômico é resultado de um conhecimento amplo que deve contemplar o
diagnóstico e caracterização da área do empreendimento bem como de suas peculiaridades e
vulnerabilidades. A construção de um cadastro pressupõe aprofundado conhecimento da área a ser
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atingida pelo empreendimento, o que é responsabilidade do empreendedor e seus consultores
responsáveis pela elaboração dos estudos e programas ambientais propostos.” (grifos nossos, pg. 28).
Entende-se que a negociação com base em um documento considerado insuficiente pelo órgão
técnico regulador, poderá vir acarretar em prejuízos aos atingidos. A decisão de iniciar o
Programa de Negociação Fundiária sem a conclusão dos estudos complementares, do qual faz
parte este relatório é temerária, pois ao contrário do que afirma o empreendedor não é
“impertinente um levantamento cadastral nesse momento visto que as negociações estariam
sendo concretizadas em um curto espaço de tempo” (PARECER ÚNICO Nº. 757545/2010
SUPRAM-JEQUITINHONHA pg. 29), ao contrário exatamente para se iniciar as negociações
seriam necessário um levantamento cadastral aprofundado, tal qual descrito acima pelo
Parecer Único Nº. 757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA. Como lembra o MPF em sua
INFORMAÇÃO TÉCNICA No. 05/2010
“É a implementação dessa mínima garantia às comunidades afetadas que se encontra sob sério
risco, caso a situação verificada ao longo da vistoria perdure durante as negociações: as famílias
vem sendo paulatinamente inviabilizadas em seus locais de moradia, há meses, sem que nenhuma
medida, por parte de qualquer órgão fiscalizador, seja do Estado, seja da União, tenha sido
efetivada, para impedir que tal situação se perpetuasse; no atual momento, já desesperadas com
sua situação, essas famílias começam a manifestar urgência em abandonarem seus lugares,
negociando seus patrimônios sem a tranquilidade necessária para assegurarem que suas condições
de vida sejam recriadas em outro lugar.”(grifos nossos, pg.15).
Discorda-se também da argumentação do empreendedor em relação aos seguintes tópicos,
citados na Informação Técnica n. 05/2010 do MPF:
“(,,,) com relação à fonte de renda dos núcleos familiares, o empreendedor destacou que essa
informação está implícita em seu ofício AFB-EXT: 180/2010, onde especifica a atividade econômica
dos moradores. De acordo com o empreendedor esta informação corresponde a principal fonte de
renda. Os moradores denominados trabalhadores rurais ´possuem apenas atividade de subsistência
em sua propriedade, podendo trabalhar também em propriedades de terceiros. Esta produção de
subsistência é variável e não sistematizada, sendo que os próprios proprietários têm dificuldade
em quantificá-la.”(grifos nossos, pag.29)
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Os estudos têm demonstrado e a situação aqui analisada comprova que a complementação de
renda é algo corriqueiro nos grupos camponeses, principalmente, entre pequenos camponeses
em situação de intenso contato com outros modos de produção (os pomares, as hortas, os
fornos nos quintais para produção de doces e quitandas, as trocas e o auxílio entre famílias que
completam a dieta alimentar dos grupos em questão), como é o caso em tela, portanto a
adoção somente da principal fonte de renda e a produção entendida no seu aspecto principal
pode sub-representar o real potencial de ganho do atingido.
Entende-se em consonância com os diversos documentos e pareceres da própria SUPRAM (já
citados neste relatório) que tal cadastro é insuficiente e a elaboração de estudos
complementar imprescindível e uma requisição dos próprios atingidos. Em um caso como
este, repleto de denuncias de enormes pressões, tal validação deveria ser melhor debatida e
esclarecida. Em nosso trabalho de campo podemos constatar in situ que parte dos atingidos
não compreende tais cadastros ou a forma como o mesmo foi elaborado.
“(...) - de acordo com o empreendedor, não há como informar o quantitativo de pessoas a serem
atingidas nas áreas destinadas à implementação de medida mitigadora e compensatória (áreas de
compensação, Reserva legal, etc.), pois as referidas áreas ainda não foram definidas.” (PARECER
ÚNICO Nº. 757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA pg. 29)
A informação acima produzida pelo próprio empreendedor se apresenta como mais um sinal
temerário para o processo de negociação fundiária em execução. O próprio empreendedor
reconhece, por esta afirmação, que o Programa de Negociação Fundiária age sobre um
universo desconhecido. Se o empreendedor desconhece o publico atingido, tornam-se
verossímeis as afirmações ouvidas em campo: “não sei se sou atingido”, “não se tem
informações corretas sobre o empreendimento” “sobre suas dimensões e danos” e outras do
gênero.
Agrava-se a situação relatada, quando se constata seja in situ seja conforme Pareceres Únicos
da SEMAD que, existe um conflito, por exemplo, sobre o real impacto do empreendimento
sobre a Comunidade de Água Quente. Afirma os atingidos que a referida Comunidade será
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diretamente afetada pelo empreendimento, relatam também o processo de preocupação e
ansiedade entre os moradores deste núcleo de residência com a barragem de rejeitos, no
entanto, contrapõe o empreendedor alegando que o grupo é afetado por impactos locais e
que para tanto serão realizadas medidas mitigáveis e temporárias caso porventura ocorra
algum tipo de afetação. Seria, portanto, mais seguro um estudo aprofundado da real situação
da Comunidade de Água Quente. O Parecer Único Nº. 757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA
reconhece diversas outras incongruências e insuficiências nos materiais produzidos pelo
empreendedor para toda a região do empreendimento:
“Foram observadas inconformidades em alguns cadastros, como citado abaixo:
- Embora sejam citados os recursos hídricos principais da propriedade onde foi realizado o
levantamento patrimonial, não há informação de uso dos mesmos pelo proprietário e/ou
comunidade;
- Falta quantitativo de produção em algumas propriedades e informação sobre possível
comercialização;
- Embora informem a existência de galinheiros, currais e chiqueiros, em alguns cadastros não
informam o quantitativo de animais, quaisquer que sejam. Item 7.3.2.7 da NBR14653-3. Pelas
fotografias constantes no processo é possível verificar que nas propriedades há atividades de
pecuária, suinocultura, avicultura, etc...; - Não informa o tipo de exploração da terra (lazer, turismo,
agricultura, pecuária, silvicultura, agroindústria...) nem qual a exploração principal; Item 5.1.2 da
NBR14653-3;
- Não contemplam informações sobre os limites e confrontações das propriedades; Item 7.3.2.1 da
NBR14653-3.” (pg. 31).
Com base em nossas visitas em situação etnográfica iremos apresentar a opinião dos atingidos
e as observações da equipe obtida em campo em relação a algumas das condicionantes
presentes no Parecer Único Nº. 757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA no item classificado
como socioeconômico.
A Condicionante 19 obriga o empreendedor a realizar monitoramentos através de sismógrafos
para todo o desmonte com uso de explosivos em todas as residências situadas num raio de até
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1000 m. O barulho, a poeira e os danos às casas foram recorrentemente citados durante as
entrevistas. Sendo relatado em vários casos serem estes danos causadores de males aos
moradores, principalmente, no que se refere à saúde dos afetados e a estrutura das casas.
A condicionante 30 inclui no público-alvo do Programa de Monitoramento Socioeconômico os
produtores e moradores rurais que permanecerão na(s) área(s) remanescente(s) da(s)
propriedade(s) afetada(s). Em relação a este ponto o que se pode constatar é a grande
desinformação ainda presente na região, de modo que muitos moradores das varias
localidades e núcleos habitacionais não sabem afirmar se serão ou não afetados pelo
empreendimento e qual será o grau de afetação.
A condicionante 44 dentre outras previdências determina:
“(...) aumento das distâncias; o estado de conservação das vias; transporte de mercadorias; consulta
aos proprietários do entorno sobre a utilização daquele acesso afetado; a freqüência de uso; o
sentido do caminhamento para saber se é em direção à propriedade adquirida, entre outras
investigações. Apresentar comprovação: da participação de cada proprietário afetado na decisão
sobre a melhor forma de recomposição do acesso (medidas mitigadoras); da realização da medida
mitigadora acordada (servidão de passagem, melhoria de acesso existente que atenda
satisfatoriamente as necessidades dos usuários ou construção de novo acesso) e da recuperação
ambiental dos acessos desativados”
Como já dito neste relatório, seja através das entrevistas seja pela observação in situ por parte
dos pesquisadores, vários dos caminhos, estradas e áreas de servidão encontram-se
interditadas, o que representa enormes danos aos atingidos. Foram relatados em varias
entrevistas que a interdição destes caminhos significa um isolamento de partes da mesma
parentela, aumento substancial (às vezes duplicação ou mais) do caminho a ser percorrido,
isolamento, etc.
A condicionante 57 que determina a inclusão da comunidade de Água Quente nos Programas
do Meio Socioeconômico atendendo o pleito dos atingidos. Entende-se a partir da observação
em campo, que a comunidade é no mínimo indiretamente atingida pelos impactos do
empreendimento.
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A condicionante 58, que obriga apresentar análise técnica individualizada da avaliação da
viabilidade da continuidade das atividades econômicas e produtivas e das condições de
permanência das famílias residentes na área remanescente. A primeira demanda, segundo os
vários entrevistados, era ao menos saber como o empreendimento iria afeta-los e como o
empreendimento pretendia mitigar ou compensar tais problemas. A incerteza em relação ao
seu futuro, simultaneamente as alterações do contexto de vida em que vivem gera um grau de
insegurança e desanimo que afeta significativamente estas famílias. Sua territorialidade, suas
relações sociais, sua percepção de espaço social parece se desmanchar e o empreendedor e o
poder público não possuem ou não conseguem transmitir informações seguras ao grupo. São
inúmeros os relatos de famílias que teriam acionado o poder público, inclusive com denuncias,
como o IBAMA, o MPF. O MPE, sobre possíveis impactos sofridos e o desfechos se comprovam
pouco efetivos.
Também como já sugerido por esta equipe, a condicionante 59 recomenda comprovar, por
meio de relatórios técnicos, a capacidade agrícola do solo, a acessibilidade viária, a
qualidade/quantidade da infra-estrutura social básica e a disponibilidade de água.
A condicionante 60 que determina a apresentação de projetos executivos para
reassentamentos/remanejamentos individuais/coletivos, bem como das alternativas de áreas
viáveis à sua implantação na região de inserção do empreendimento, é uma informação
ausente, segundo os entrevistados, o que permite uma insegurança e ao mesmo tempo a
formação de uma grande rede de desinformação comum em situações como estas. O
empreendedor tem adotado a tática de permitir que o próprio atingido escolha o local de
realocação, em que pese à vantagem deste sistema – maior liberdade de escolha -, por outro
lado, como afirma os próprios atingidos, a região não possui mais estoques de terras
disponíveis para tamanha liberdade e a supervalorização do valor da terra impulsionado pelo
empreendimento tem tornado boa parte das terras da região inviáveis. Neste sentido um
projeto executivo que balizasse minimamente a escolha dos atingidos poderia ser de grande
valia. Também chega a ser irrealista considerar que várias destas famílias, de pequenos
agricultores que em geral sempre moraram na mesma região, e nunca se envolveram em
compra e venda de terras, possuam desenvoltura para “prospectar” terras. O próprio trabalho
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de “prospecção” de terras é um “custo” que acaba sendo repassado ao atingido, tanto de
tempo gasto quanto de recursos financeiros. Em dezembro, durante a ultima estada em
campo, fomos informados que a Comissão Pastoral da Terra pretendia trabalhar junto aos
atingidos no que se refere à questão do remanejamento, no entanto, não pode-se no escopo
deste trabalho avaliar esta atuação.
A condicionante 62 determina a Inclusão no Programa de Reestruturação Produtiva dos
herdeiros não residentes, contemplados pelo Programa de Negociação Fundiária, que optarem
pelo remanejamento individual/coletivo, no período de 30 dias após concessão da LI fase II.
Como tratado em tópicos específicos neste relatório, a questão dos herdeiros e principalmente
dos herdeiros ausentes, considerados como não residentes, é algo central neste processo, e
como apresentado, algo que não se resolve de maneira corriqueira. Foram-nos relatados
diversos casos de conflitos entre herdeiros, o próprio Ministério Público Federal através de
uma Informação Técnica de número 03/2009 (já analisada neste relatório) denuncia tal
situação e o rompimento de vínculos parentais camponeses (para uma maior compreensão da
questão ver tópico abaixo, a respeito da caracterização das comunidades negras rurais). As
famílias entrevistadas não relataram conhecer nenhum “Programa de Reestruturação
Produtiva dos herdeiros não residentes”, a única compensação que relataram foi a proposta do
empreendedor de adquirir os direitos de herança destes herdeiros através de ressarcimentos
financeiros, que estavam sendo previstos para momentos futuros. Alguns dos herdeiros
ausentes relataram não terem sido procurados, como caso de famílias do Taporôco que teriam
direito de herança em Mumbuca e que conforme relatam, não teriam sido procurados até
aquele momento.
A condicionante 66 determina a aquisição de áreas para remanejamento coletivo/individual
antes da efetivação do remanejamento, neste caso, boa parte dos atingidos reclamou da
morosidade do processo, da falta de informação do empreendedor, da dificuldade de
encontrar uma área compatível e com as qualidades necessárias e da pressão sofrida por parte
do empreendedor.
Por fim, a condicionante 72 que obriga a verificação da necessidade de inclusão ou não no
Programa de Negociação Fundiária das 32 propriedades adquiridas antes da apresentação do
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Programa de Negociação Fundiária é essencial, visto que, no trabalho de campo foi possível
colher vários depoimentos, alguns dramáticos que mostram a situação difícil em que se
encontram vários dos primeiros proprietários induzidos a alienarem suas terras. Ressalte-se
que a negociação se deu em termos bastante aquém do Programa de Negociação Fundiária,
mesmo as ocorridas no decorrer de 2010. Acrescente-se que vários destes antigos
proprietários denunciam terem sido alvo de negociações sob forte pressão psicológica e
alguns relatam terem sido enganados uma vez que venderam suas propriedades em um
contexto em que o comprador (notadamente a Borba Gato Empreendimentos), afirmava
estar adquirindo terras para a formação de uma fazenda criatório de cavalos e não para um
empreendimento minerário. Foi possível, por exemplo, localizar o caso de uma família que no
período de um ano as terras valorizaram mais de 500% resultando em claro prejuízo ao ex-
proprietário que não só desconhecia a real finalidade da negociação como também a condição
pecuniária da mesma obedecia outra realidade. Por fim, algumas famílias não foram
contempladas com o reassentamento individual que teriam direito; são os casos
principalmente das pessoas que moravam em terras de parentes, com os pais ou sogros, e não
receberam qualquer tipo de compensação, mitigação ou indenização.
Ainda em dezembro de 2010, durante a elaboração deste relatório, realizou-se a 49ª Reunião
Ordinária da Unidade Regional Colegiada Jequitinhonha do Conselho Estadual de Política
Ambiental - COPAM, em que se reafirmou varias das medidas compensatórias analisadas acima
e se acresceram mais algumas outras. De um modo geral, as novas medidas (que se
reproduzem abaixo) referenciam as reclamações que foram registradas durante a elaboração
deste relatório por parte dos atingidos, a indefinição do número de imóveis atingidos pelo
empreendimento seja na área direta e indiretamente afetada, a reclamação constante (já
descrita neste relatório) de danos estruturais as residências causadas pela atividade mineraria
com uso de explosivo. Por fim, as condicionantes desta última reunião do COPAM atende
também a reivindicação de parte dos atingidos de transferência das famílias mais próximas do
empreendimento (não obstante elas não terem sido consultadas sobre os prazos
estabelecidos) e, portanto, bastante afetada pelo atual nível de atividade e a definição de um
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prazo exeqüível para o cumprimento da mitigação, compensação, indenização e realocação
dos atingidos.
"Apresentar complementação do cadastro sócio-econômico da comunidade de Água Quente,
contendo diagnóstico de usos d’água prejudicados ou potencialmente prejudicados pelo
empreendimento, bem como propostas para solução efetiva de abastecimento regular e retomada
dos usos tradicionalmente desenvolvidos. Prazo: 40 (quarenta) dias a partir da concessão da LI
Apresentar a validação, pela comunidade de Água Quente com a presença da Pastoral da Terra, do
cadastro sócio-econômico apresentado, contendo diagnóstico de usos d’água prejudicados ou
potencialmente prejudicados pelo empreendimento. Prazo: 15 (quinze) dias a partir da convocação
pela Supram;
Apresentar relatório detalhado demonstrando a situação de todos os imóveis que sofrem
intervenção direta da empresa, com apresentação dos respectivos títulos de domínio ou servidão.
Prazo: Na formalização da LO;
Elaborar projeto técnico-executivo de anel rodoviário a ser implantado para desvio do trânsito da
área urbana do Município de Conceição do Mato Dentro. Prazo: 12 (doze) meses a partir da
concessão da LI - fase 2;
Apresentar à Supram e ao Ministério Público, laudo técnico de condição estrutural das residências da
ADA e AID, após notícia de possíveis ocorrências ao órgão ambiental ou Ministério Público. Prazo: O
constante da notificação do Ministério Público ou do Órgão Ambiental (Supram, Policia de Meio
Ambiente)";
Providenciar a transferência imediata das 04 famílias localizadas próximas ao empreendimento.
Prazo: 20 (vinte) dias a partir da concessão da LI Fase 2;
Efetuar o pagamento integral de todas as famílias atingidas das Comunidades de Água Santa,
Mumbuca e Ferrugem e realocação das mesmas. Prazo: 180 (cento e oitenta) dias a partir da
assinatura do contrato14;
Incluir as propriedades do entorno do empreendimento no Programa de Reestruturação Produtiva.
Prazo: 30 (trinta) dias após concessão da LI fase 2”.
14 O que pode se considerar um prazo grande de convivência entre os atingidos e o processo de instalação do empreendimento, com todos os impactos que tal processo já tem gerado.
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O Programa de Negociação Fundiária em execução no Projeto Minas-Rio tem como referência
o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) de Irapé, que foi celebrado entre a Empresa
Companhia Energético de Minas Gerais - CEMIG, responsável pelo empreendimento, a
Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM) e as populações atingidas pelo empreendimento
(dentre as quais se destacam a Comunidade Quilombola de Porto Coris - Associação
Quilombola Boa Sorte) através da intermediação do Ministério Público Federal, mas como se
demonstrará (ver capitulo especifico) acaba por se afastar deste, o que pode representar
prejuízo aos atingidos.
6.2 - Algumas Considerações Sobre as Comunidades Negras Rurais da Região do
Empreendimento
Os estudos iniciais do empreendimento não apresentaram a presença de comunidades
tradicionais na região do projeto, notadamente populações afro-descendentes. Diante da
denuncia da existência de populações rurais com traços tradicionais, foram encomendados
estudos complementares que revelaram a existência na área do empreendimento de dez (10)
comunidades negras rurais: duas (02) na área diretamente afetada e oito (08) em áreas
indiretamente afetadas pelo empreendimento.
Neste estudo complementar, “Comunidades Negras Rurais: Informações Complementares -
Estudos de Impacto Ambiental – Anexo 04” realizado a pedido da MMX, no ano de 2008
relacionava as comunidades de Ferrugem e Mumbuca/Água Santa como “comunidade negras
rurais”:
“Mas a principal característica comum dentre as comunidades pesquisadas é, efetivamente, além do
fato de serem comunidades negras rurais e possuírem características de ocupação tradicional do
território de formas semelhantes, a memória, seja ela explícita ou velada neste primeiro momento,
do vínculo de seus antepassados ao sistema escravista em vigor no Brasil a até 120 anos passados,
mantendo viva a lembrança da formação pretérita da comunidade. Não raro, ao se conversar com
uma pessoa idosa de determinada comunidade, estes contam que seus avós nasceram e morreram
neste mesmo local. Portanto, trata-se de terceira ou quarta geração, pelo menos, os atuais
moradores da maioria destas comunidades.
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Estes moradores, por sua vez, preservam vivas não apenas a memória dos antepassados, e seu
sofrimento pela escravidão, como práticas culturais diretamente vinculadas a esta época, como a
realização dos festejos religiosos, o tipo de sistema construtivo das moradias, a utilização de
determinados utensílio de trabalho, o tipo de sistema produtivo, a tradição de ocupação e
transmissão da posse da terra, dentre outros” (ECOLAB, 2008, p.60, grifos nossos)
O documento ainda destaca a importância de um estudo mais aprofundado e recomenda:
“Aprofundar o entendimento sobre estas dinâmicas internas deste tipo de comunidade é
importante. Por outro lado, porque a dinâmica socioeconômica da região tende a sofrer alterações
em função da implantação de um projeto de grande vulto. Por outro, justamente porque estas
alterações de certo terão reflexo na cultura local. Assim, conforme determina a Constituição Federal
em seu artigo 216, é fundamental um conhecimento mais aprofundado da situação para se propor
as devidas formas de acautelamento que caberão neste caso.
(...)
Para isso, entretanto, é fundamental o aprofundamento das pesquisas a respeito das comunidades,
visando conhecer melhor suas dinâmicas internas (...).
(...)
A medida que se aprofunda o conhecimento específico sobre as comunidades, em especial sobre
aquelas que serão diretamente afetadas, a equipe de pesquisa poderá coletar subsídios para
produção de materiais de registro e memória, como a produção de vídeo documentário, cartilhas,
livro, exposição fotográfica etc. (...).
Este tipo de ação é importante por permitir que gerações presentes e futuras tenham acesso a
aspectos importantes da cultura local que serão inevitavelmente afetados pela implantação do
empreendimento (...)”. (ECOLAB, 2008, p.60-61, grifos nossos).
Assim se refere o Parecer Único do SISEMA 001/2008:
“Na opinião da equipe técnica analista, a proposta concebida pelo empreendedor para a
reestruturação das atividades econômicas afetadas pelo projeto Minas Rio ainda se apresenta um
pouco genérica, não contemplando nem mesmo algumas especificidades já identificadas nos estudos
de diagnóstico socioeconômico do próprio EIA/RIMA”. (pg.114).
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É sabido pela literatura especializada que a região onde se localiza o empreendimento foi uma
região com forte utilização de mão-de-obra escrava que se reflete nos dias de hoje através da
presença significativa de população negra. Para se ter uma idéia desta presença, o Censo
Demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2000,
demonstrou que pretos e pardos, juntos, representavam a maioria populacional da região,
sendo 66,83% do total populacional residente em Conceição do Mato Dentro e 81,37% em
Alvorada de Minas. Note-se que os pretos e pardos são segundo este mesmo censo 45,43% em
Minas Gerais, 52,27% na mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte (na qual os municípios
se inserem). No entanto, na microrregião de Conceição do Mato Dentro este número chega a
71,47%.
As comunidades negras rurais pesquisadas guardam características em comum, demonstrando
que existe certo padrão regional a este respeito. Algumas destas características são comuns a
outras comunidades não predominantemente negras, por se tratar de um modelo presente
nesta e em outras áreas rurais, entretanto, outras características são bastante específicas de
comunidades negras rurais.
As Comunidades visitadas são formadas em sua maioria por parentelas negras, que habitam
uma mesma região e segundo relatos memorialísticos há longa data. É comum nos relatos dos
moradores a citação de fatos, celebrações, saberes e fazeres (sistema construtivo das
moradias, a utilização de determinados utensílios de trabalho, o tipo de sistema produtivo, a
tradição de ocupação e transmissão da posse da terra, etc.) que remontam a tradicionalidade
da ocupação do território mantendo viva a lembrança da formação pretérita da comunidade.
O acesso à terra é do tipo posse familiar, por isso é bastante comum, a presença de posses
multi-familiares, formadas normalmente pela casa do chefe da família (que pode ser tanto o
homem quanto a mulher) que funciona como uma espécie de casa principal e por diversas
casas menores habitadas pelos filhos e suas respectivas famílias, ainda que não seja incomum
a presença de casas habitadas por filhos ainda solteiros.
As moradias são predominantemente de pau-a-pique ou adobe, com telhas de barro e piso de
terra batida. Algumas possuem outras coberturas, como telhas de amianto ou mesmo palhas
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de sapê. O uso de um preparado de estrume, cinza e água, é comumente aplicado no piso de
terra batida objetivando diminuir tanto a poeira quanto a presença de animais peçonhentos.
O abastecimento de água para consumo humano é geralmente feito através da canalização de
nascentes e/ou córregos, que são levados até os quintais através de canos ou mangueiras e
distribuído através de um sistema de bica que escorre livremente no quintal.
O uso de fogões à lenha e fornos de assar quitandas se mantém intenso, sendo que na maioria
dos domicílios ele se encontra dentro de casa. Os quintais são densamente utilizados para a
produção de gêneros alimentícios, com a presença de diversos tipos de árvores frutíferas,
hortaliças e leguminosas. Em muitas das posses, devido ao diminuto tamanho, logo na
seqüência do quintal localiza-se a “roça” onde são cultivadas culturas como milho, mandioca e
feijão. Em varias propriedades têm-se ainda pequenas áreas de currais onde se cria
principalmente algumas poucas vacas voltadas prioritariamente para o consumo domestico de
leite. Aliás, praticamente toda a produção da unidade familiar é voltada para o consumo
domestico. Ressalte-se que normalmente todo este conjunto formado por casa, quintal, roça e
curral são formadores de pequenas posses familiares, em alguns casos essas posses são
insuficientes para o próprio consumo familiar, levando os seus moradores a busca de trabalho
remunerado sem maiores garantias normalmente chamado trabalho por dia para fazendeiros
da região, ou a utilização da chamada meia ou terça, que consiste, na utilização de terras
pertencentes a fazendas vizinhas (ou mesmo distante, como é o caso de moradores de
comunidades mais adensadas) e a divisão da produção na meia ou terça com o proprietário da
terra. Encontram-se também casos de compadrio e agregação.
De um modo geral, a maioria das comunidades é atendida por luz elétrica, em algumas
possuem cemitérios, capelas, e escola. No entanto, existem comunidades que não possuem
nenhum tipo de equipamentos público, sendo constante a critica em relação aos sistemas de
saúde e educação que exigem quase sempre o deslocamento da população.
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6.2.1 - Algumas considerações sobre os direitos das comunidades negras rurais com
características quilombolas
Os desafios colocados à democracia brasileira ampliam-se a cada dia. As exigências de ordem
teórica e prática têm expandido o leque de questões a serem consideradas. Constantemente,
novos atores sociais, novas questões e novos dilemas têm apresentado elementos que revelam
as contradições e as possibilidades de avanço da democracia e do processo de emancipação
social, em uma perspectiva que responde às questões de uma cidadania que requer
simultaneamente reconhecimento da diferença, redução das desigualdades e inclusão através
da redistribuição mais eqüitativa de recursos (MARQUES, 2010).
A etimologia da palavra quilombo, segundo o Dicionário Aurélio (1988) significa “s.m. bras.
Valhacouto de escravos fugidos”. Dito de outra maneira, quilombo designa os redutos
constituídos pelos negros fugidos da escravidão no Brasil Colonial e Imperial. Segundo Blanco e
Blanco (http://www.filologia.org.br/ivjnf/15.html):
“O dicionário do Brasil Colonial nos informa que a palavra quilombo é originária banto (língua
africana) kilombo e significa acampamento ou fortaleza e foi usada pelos portugueses para
denominar as povoações construídas por escravos fugido.”
A idéia de quilombo percorre há longo tempo o imaginário da nação e é uma questão
relevante desde o Brasil Colônia, passando pelo Império e chegando à República.
O quilombo continua, portanto a ser o objeto de redefinições sucessivas em numerosos
trabalhos onde se busca o exercício dialético de alargar o campo de aplicação do vocábulo,
como exige-se a leitura constitucional do art.68 ADCT da Constituição Federal do Brasil
promulgado em 1988. A categoria remanescentes de comunidades de quilombos confunde-se
no senso comum com a definição histórica e passadista de Quilombo tão bem definida por
Almeida (2002) como frigorificada, e por isso mesmo, trata-se de uma concepção a ser
superada, ou melhor, ressemantizada.
A visão ressemantizada permite aos grupos que se auto-identificam como remanescentes de
quilombo ou quilombola uma efetiva participação na vida política e pública, como sujeitos de
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direito. Além disso, a referida re-significação afirma a diversidade histórica e a especificidade
de cada grupo (MARQUES, 2009).
De que se trata, portanto, os chamados remanescentes de quilombo, ou Quilombolas? Pode-se
responder que se trata de um fenômeno sociológico caracterizado, segundo Almeida (2002)
por: 1- identidade e território são indissociáveis; 2- processos sociais e políticos específicos,
que permitiram aos grupos uma autonomia; 3- territorialidade específica, cortada pelo vetor
étnico no qual grupos sociais específicos buscam em face de sua trajetória, portanto, passado e
presente uma afirmação étnica e política.
Tais grupos não precisam apresentar (e muitas vezes não apresentam) nenhuma relação direta
com o que a historiografia convencional trata como quilombos. Os remanescentes de
quilombos são grupos sociais que se mobilizam ou são mobilizados por organizações sociais,
políticas, religiosas, sindicais, etc., em torno do auto-reconhecimento como outro específico.
Conseqüentemente ocorrem buscas pela manutenção ou reconquista da posse definitiva de
sua territorialidade. Tais grupos podem apresentar todas ou algumas das seguintes
características: definição de um etnônimo, rituais ou religiosidades compartilhadas, origem ou
ancestrais em comum, vínculo territorial longo, relações de parentesco generalizado, laços de
simpatia, relações com a escravidão, e principalmente uma ligação umbilical com seu
território, etc (MARQUES, 2009).
Com a redefinição do termo quilombo, a nova sematologia retira o acento da atribuição formal
e das pré-concepções e passa a considerar a categoria remanescentes de quilombo como um
auto-reconhecimento por parte dos atores sociais envolvidos.
“Aqui começa o exercício de redefinir a sematologia, de repor o significado, frigorificado no senso
comum. O estigma do pensamento jurídico (desordem, indisciplina no trabalho, autoconsumo,
cultura marginal, periférica) tem que ser reinterpretado e assimilado pela mobilização política para
ser positivado. A reivindicação pública do estigma ´somos quilombolas` funciona como alavanca para
institucionalizar o grupo produzido pelos efeitos de uma legislação colonialista e escravocrata. A
identidade se fundamenta ai. No inverso, no que desdiz o que foi assentado em bases violentas.
Neste sentido, pode-se dizer que: o art.68 resulta por abolir realmente o estigma (e não
magicamente); trata-se de uma inversão simbólica dos sinais que conduz a uma redefinição do
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significado, a uma reconceituação, que tem como ponto de partida a autodefinição e as práticas dos
próprios interessados ou daqueles que potencialmente podem ser contemplados pela aplicação da lei
reparadora de danos históricos” (Almeida 1996: 17).
Segundo Marques (2009:351) remanescentes de quilombo pode ser entendido como uma
convenção prescritiva, ou frigorificada, que fala do passado, mas aponta para o presente e
futuro através de uma invenção performativa.
6.3 - Um Panorama das Negociações
Propõe-se nestas considerações a partir do olhar etnográfico, das entrevistas realizadas bem
como da pesquisa documental uma análise do processo de negociação em consonância com os
exames realizados nos capítulos precedentes. Procura-se apresentar o processo de negociação
que tem sido realizado em consonância com o documento “Programa de Negociação
Fundiária15” da Anglo Ferrous Minas-Rio Mineração SA, revista em função da condicionante 91
da Licença de Instalação concedida em 11/12/2009. A Condicionante previa como “diretrizes
gerais de reassentamento” o caso da UHE Irapé:
“A prioridade para a reconstituição dos direitos é o reassentamento; A indenização monetária,
portanto, é instrumento secundário em relação ao reassentamento, e só poderia ser ativado após a
conclusão das negociações do reassentamento; O prazo para conclusão das negociações do
reassentamento é março de 2010 e para a implantação do reassentamento o prazo é até julho 2010;
O processo de reassentamento, em termos de área, infraestrutura, viabilidade agrícola e demais
direitos sociais e produtivos atenderá no mínimo, às diretrizes aprovadas pelo Copam para o
Reassentamento na UHE Irapé; O empreendedor deverá fornecer o cadastro das famílias atingidas
até 10-01-2010; As negociações com as famílias atingidas obrigatoriamente contarão com a
participação ativa das famílias; A Supram Jequitinhonha deverá acompanhar as negociações; Todas as
questões pertinentes aos direitos socioambientais, produtores e de Reassentamento das famílias
atingidas, obrigatoriamente, deverão ser objeto de avaliação e aprovação pela URC JEQ, sob parecer
da SUPRAM.” (Parecer Único Nº. 757545/2010 SUPRAM-JEQUITINHONHA, p.23, grifos nossos)
15 Infelizmente só tivemos acesso a este documento no início de 2011, após termos concluído a fase de campo.Programa de Negociação Fundiário – Revisão a partir da Condicionante 91 da LI. Plano de Controle Ambiental. Belo Horizonte, 31 de Agosto de 2010. Mimeo, 24p. Documento no. PG-004-AF-08/10-v3.
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Como as diretrizes para o Reassentamento na UHE Irapé envolvem o Termo de Acordo, que
aqui será denominado por TAC Irapé (2002) assinado entre Ministério Público Federal, o
Estado de Minas Gerais, a empreendedora da UHE, Fundação Estadual de Meio Ambiente e a
Comissão dos Atingidos pela referida Barragem, procuraremos avaliar a proposta do Programa
de Negociação Fundiária tendo por modelo o referido TAC Irapé.
Conforme citação acima, a deliberação incluía um conjunto de atividades e cronogramas que
ao nosso entendimento deveriam estar relacionadas que são:
o empreendedor deveria fornecer o cadastro das famílias atingidas até 10/01/2010;
o prazo para conclusão das negociações de ressentamento seria março de 2010;
o prazo para a implantação do reassentamento seria até julho de 2010
O cadastro das famílias atingidas, assim como os dados sócio-econômicos das mesmas foram
considerados insuficientes pela Comissão dos Atingidos e pela avaliação técnica da SUPRAM. O
Parecer Único de abril de 2010 da SUPRAM solicitava ao empreendedor a elaboração de uma
“Proposta Metodológica para complementação de dados socioeconômicos” e de um Cadastro
de Atingidos Emergenciais.
A elaboração da metodologia destes dois estudos complementares foi objeto de intenso
debate entre empreendedor, atingidos, órgãos públicos fiscalizadores e conselheiros do
COPAM, que por fim na 45ª reunião da URC em 12/08/2010 aprovaram a contratação de um
laudo, custeado pelo empreendedor, confeccionado por empresa independente, de notório
saber técnico, a ser indicada pela Comissão de Atingidos, para à caracterização da ADA - área
diretamente afetada e AID - Área de influência direta.
Simultaneamente a elaboração deste estudo a empresa promoveu um processo de avaliação
das benfeitorias (cadastros patrimoniais) daquelas famílias que haviam sido considerados
como “emergenciais”, encaminhou em final de agosto de 2010 o seu Programa de Negociação
Fundiária e já em 15 de setembro de 2010, realizava um primeiro processo de negociação com
a maioria destas famílias com a assinatura de um “Termo de Acordo para Validação do
Cadastro Patrimonial e Definição, pelo Atingido, da Modalidade de Negociação”, que como o
nome já diz, prevê a validação do Cadastro Patrimonial. Este Termo de Acordo foi assinado no
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Fórum de Conceição do Mato Dentro, contou a participação de Anglo Ferrous, de um
conselheiro da URC COPAM Jequitinhonha, um representante do Ministério Público Estadual
de Minas Gerais, da SUPRAM/JEQUITINHONHA e da Pastoral da Terra, sendo importante
destacar a ausência do Ministério Público Federal um dos maiores questionadores do processo
de Licenciamento do empreendimento, inclusive tendo produzido uma série de vistorias e
documentos durante o período de cerca de três anos.
Portanto, simultaneamente a autorização da contratação de um estudo que pudesse realizar
uma avaliação sobre a área de impacto do empreendimento, o Sistema de Licenciamento
aprovava um processo de negociação com algumas famílias, independente de saber com maior
clareza sobre a dimensão de tais impactos e as relações familiares e sociais destas famílias
“urgentes” com o grupo envolvente e o impacto que a mudanças causará nessas famílias
separadas de outras que a princípio não teriam sido consideradas “urgentes”16. Em relação a
essas sobreposições de medidas, apresentamos alguns questionamentos que foram apontados
pelo próprio parecer técnico da Supram:
- O Cadastro Socioeconômico e Patrimonial, validado e utilizado neste processo de pré-acordo foi
considerado, em consonância com a condicionante 91 do Parecer Único aprovada em 2008, pela
SUPRAM- Jequitinhonha, como insuficiente e como corolário desta conclusão entendeu este
órgão ser imprescindível na implantação de um Programa de Negociação Fundiária um estudo
que contemplasse algumas informações técnicas imprescindíveis para determinação da
dinâmica social e produtiva das propriedades a serem adquiridas. Bem como:
“(...) um cadastro socioeconômico é resultado de um conhecimento amplo que deve contemplar o
diagnóstico e caracterização da área do empreendimento bem como de suas peculiaridades e
vulnerabilidades. A construção de um cadastro pressupõe aprofundado conhecimento da área a ser
16 O caso de Dona Eva Expedito Pimenta que não teria sido procurada para renegociação é elucidativo, pois sua filha, vizinha a ela, estava em processo de negociação. Em entrevista à Diversus a família de José Ercio se considerou como sendo da região denominada de Taporôco, mesma região da mãe, mas sua família foi enquadrada como “urgente” e foi qualificada no “Termo de Acordo” como sendo de Mumbuca, uma das 02 comunidades consideradas “urgentes”. No caso de Dona Eva, além desta filha que estaria em processo de mudança, outra já teria se mudado e ela e outro filho que moram próximos não teriam ainda sido procurados. Ela tem outras três filhas que moram em uma comunidade próxima, Serra de São José, e que também não sabiam se teriam que se mudar pois teriam sido informados que o empreendedor pretendia passar uma estrada por suas terras. Como dito anteriormente a criação de tais categorias sem um rigor geram a fragmentação de grupos sociais e familiares.
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atingida pelo empreendimento, o que é responsabilidade do empreendedor e seus consultores
responsáveis pela elaboração dos estudos e programas ambientais propostos.”
- ausência no processo de licenciamento da real dimensão do número de famílias atingidas, bem
como de propriedades.
- dimensionamento real da fonte de renda dos atingidos, ausência do quantitativo de produção
em algumas propriedades e informação sobre possível comercialização.
- deficiência na analise das benfeitorias como o quantitativo de animais, em alguns casos as
atividades desenvolvidas, por exemplo, se é pecuária, suinocultura, avicultura.
- tipo de atividades complementares na exploração da terra, como por exemplo, atividades de
lazer, turismo, etc.
- ausência de informações sobre os limites e confrontações das propriedades, entre outras.
- como se pretende demonstrar o “Termo de Acordo para Validação do Cadastro Patrimonial e
Definição, pelo Atingido, da Modalidade de Negociação”, proposto pelo empreendedor é
insuficiente quando comparado ao TAC Irapé, que serviu de modelo para a elaboração deste
Termo de Acordo.
Segundo consta, na documentação ajuntada ao processo de licenciamento, notadamente a
partir da constituição da Comissão de Atingidos e da elaboração desta fase de negociação
entre atingidos e empreendedor, o documento denominado “Termo de Acordo para Validação
do Cadastro Patrimonial e Definição, pelo Atingido, da Modalidade de Negociação” tem como
referencia o modelo do TAC Irapé. Houve várias reuniões entre o Sistema Estadual de Meio
Ambiente e a Comissão dos Atingidos para explicar como funcionou o TAC Irapé.
O Programa de Negociação Fundiária encaminhado pelo empreendedor propunha 03 linhas de
ação:
1) negociação com proprietários
2) negociação com não-proprietários
3) negociação com comunidades rurais, das quais informa:
“(...)faz parte deste grupo o conjunto de moradores das duas comunidades inseridas na ADA, que
apresentam características sócio-culturais peculiares. Assim, serão adotadas linhas de negociação
específicas para este grupo de interesse.” (ANGLO, 2010, p.3, grifos nossos)
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Importante destacar nesta passagem que o Programa de Negociação Fundiária do
empreendedor parece desconsiderar as demais comunidades rurais afetadas, ele parece se
concentrar apenas nas duas comunidades que foram consideradas como “emergenciais”. A
grande maioria das famílias da região denominada por Buriti, como pretendemos demonstrar
abaixo, já teria sido realocada. Taporôco e parte da comunidade de Gondó também estão em
processo de negociação e relocação, sem que os nomes destas comunidades estejam
explicitados no documento do Programa de Negociação. Algumas das famílias destas
comunidades, por vezes, são classificadas como sendo de Ferrugem e Mumbuca e algumas
delas inclusive participaram da assinatura do Termo de Acordo em setembro de 2010. Já no
caso de Serra de São José, como em Buriti, a desinformação e os boatos sobre a necessidade
do empreendimento na aquisição da área para uma futura estrada parece também relembrar
um pouco a atuação da empresa Borba Gato, no sentido de adquirir áreas de expansão a
preços “mais em conta” e sem a necessidade da intermediação e acompanhamento dos órgãos
ambientais competentes.
O Programa de Negociação identifica como seu “público alvo”:
“(...) toda a comunidade diretamente afetada pela instalação do empreendimento, representada
pelos proprietários, pelos produtores rurais não proprietários e pela população das comunidades
rurais da área diretamente afetada, devidamente identificados e caracterizados através de
levantamentos socioeconômicos, empresariais, institucionais, de comunicação social e de percepção
ambiental” (ANGLO, 2010, p.3, grifos nossos).
O Programa parece limitar o que considera como área diretamente afetada a simples
sobreposição geográfica entre a planta do empreendimento e as áreas hoje ocupadas,
desconsiderando demais relações sociais. A demanda da Comissão dos Atingidos por este
estudo tem exatamente como um dos interesses compreender melhor o quadro dos
“atingidos” pelo empreendimento e qualificar melhor quem é diretamente ou indiretamente
“atingido”, não apenas pela sobreposição dos “espaços” mas pela complexidade de relações
sociais que possam ser afetadas pelo empreendimento proposto, algo que o TAC de Irapé
(2002) explicita quando inclui como “público alvo” do processo de reassentamento:
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“Parágrafo segundo: Será reconhecido o direito ao reassentamento a pessoas físicas ou entidades
familiares que, embora não atingidas diretamente pela implantação do empreendimento, ficarão
isoladas, seja devido à remoção das famílias vizinhas – implicando desestruturação de relações
sociais, afetivas e produtivas – seja em razão da desativação de serviços básicos hoje existentes
(escolas, posto de saúde, acessos, telefonia, dentre outros);” (TAC Irapé, 2002, p.15, item 5.1.7, grifos
nossos).
O público alvo17 foi caracterizado através de pesquisa realizada por empresa contratada pelo
empreendedor entre o período de agosto de 2008 a dezembro de 2009 (ANGLO, 2010, p.3), ou
seja, o empreendedor trabalhou com os resultados das pesquisas que tanto o Parecer Técnico
como a comissão de atingidos consideravam insuficientes, o que gerou a contratação deste
relatório.
Outro ponto a se destacar é o objetivo do programa proposto, apesar do documento
reconhecer as “características sócio-culturais peculiares” da comunidade de Ferrugem e de
Mumbuca, ou como dito mais a frente (p.7) “grupo social com caracteristicas culturais e
étnicas peculiares”, ele não se propõe entre seus objetivos a preservar ou pelo menos criar
condições para a preservação de tais características, defende a “reprodução ou melhoria dos
atuais níveis de atividade econômica e da qualidade de vida das famílias afetadas” enquanto o
TAC Irapé (2002) é mais explícito em propor que o objeto do termo de acordo era propor
mitigações e compensações dos impactos socioambientais decorrentes da implantação do
empreendimento “(...) de modo a permitir a reconstrituição dos modos de viver, fazer e criar
próprios das comunidades (...) atingidas pelo empreendimento.” (TAC Irapé, p.2, cláusula
primeira). O que se observa no TAC de Irapé é que as ações propostas têm uma relação direta
com o objeto que defende que é o de permitir a reconstituição destes modos de viver fazer e
criar dos grupos atingidos, algo que parece faltar no Programa de Negociação Fundiário da
empreendedora em tela.
17 Como dito anteriormente, infelizmente este Programa só nos foi repassado no início de 2011, após a realização das pesquisas de campo o que não permitiu que entrevistássemos, a respeito das negociações, todas as famílias relacionadas no programa como diretamente afetadas, principalmente as famílias consideradas como independente de uma comunidade.
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O Programa também anuncia que ele teria “intensas interfaces” com outros programas que
compõem o conjunto de medidas mitigadoras e compensatórias do empreendimento. Tal
“interface” se mostra interessante, mas a nosso ver insuficiente por se proporem, em sua
maioria, a iniciar as ações apenas após a realocação das famílias, como se durante todo este
processo de instalação do empreendimento, tais famílias não estivessem sendo impactadas.
Tais programas são:
a) “Programa de Reestruturação Produtiva de Atividades Econômicas Diretamente Afetadas”. O
programa parece compreender que as atividades econômicas só serão afetadas após a
remoção das famílias como explicitado no documento: “as remoções necessárias para a
instalação do empreendimento resultam na supressão de atividades econômicas atualmente
desenvolvidas, as quais terão o incentivo da empresa para sua reconstrução” (ANGLO, 2010,
p.8, grifos nossos). Como pretende-se demonstrar mais a frente, ao descrevermos as
comunidades, as atividades econômicas, produtivas e sociais, já vem sendo impactada desde
as primeiras aquisições fundiárias realizadas pelo empreendimento a cerca de quatro anos,
passando pela questão das remoções de famílias já realizadas, fragmentação de grupos
familiares, os acessos interrompidos e questões relacionadas a qualidade e quantidade da
água. Portanto quando a empresa se propõe a “assegurar a reestruturação das atividades
produtivas em níveis iguais ou superiores à produção e renda anteriormente existentes”
(ANGLO, 2010, p.8, grifos nossos), é importante questionar a que período este “anteriormente
existente” se refere, se for um pouco antes a remoção, o patamar de comparação já será
subvalorizado, pois as famílias têm diminuído suas atividades produtivas ao longo dos últimos
anos. Também é importante questionar como se daria tal comparação uma vez que o próprio
Parecer Técnico do órgão ambiental questionava o Cadastro Sócio Econômico das famílias
atingidas, apresentado pelo empreendedor. Por fim, como já demonstrado, boa parte da
produção encontra-se já paralisada pela insegurança representada por este processo de
deslocamento compulsório.
b) “Programa de Monitoramento Socioeconômico” apresenta que “as ações do programa de
negociação” seriam “rigorosamente monitoradas”, sendo que este monitoramento se iniciaria
“tão logo as negociações forem finalizadas” e se estenderiam por um período de três anos,
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servindo de base para elaboração de relatórios técnicos semestrais que seriam enviados pelo
empreendedor ao órgão licenciador. Neste ponto seria interessante a informação, não
encontrada durante a realização deste estudo se tal programa teria se iniciado para as famílias
que já foram removidas da região de Mumbuca/Água Santa e Buriti, se já houve relatórios
semestrais sobre estes casos e se foram propostas ações para corrigir eventuais fragilidades
das negociações anteriores que comprometeriam a “reestruturação produtiva” destas famílias.
As famílias removidas que entrevistamos, algumas com mais de um ano de mudança, não
informaram sobre nenhum processo “rigoroso” de monitoramento após sua mudança, ou
mesmo alguma nova intervenção do empreendedor em função deste monitoramento.
Algumas dessas famílias se encontram em situação socioeconômica precárias, como relatado
mais a frente.
c) “Programa de Capacitação da Mão-de Obra” que propõe que os “trabalhadores que
perderem os seus postos de trabalho” estariam inseridos neste programa que “proporcionará
um processo de reciclagem ou aprendizagem de uma nova profissão”. Também não localizou-
se nenhum caso entre as famílias já removidas, mesmos os que teriam ido para as áreas
urbanas, de membros que tenham passado por algum processo de reciclagem ou aprendizado
de uma nova profissão. Em um dos Termos de Acordo, um dos atingidos pede para constar em
sua negociação, explicitamente, como um compromisso do empreendedor, um curso para
aprendizado de uma nova profissão.
d) “Programa de Comunicação Social”. O documento fala da importância deste programa para
o Programa de Negociação, para que “(...) haja pleno entendimento das opções de negociação
a serem oferecidas e das condições a serem obedecidas, tanto pelo empreendedor como pelo
proprietário ou famílias que por elas optarem” (ANGLO, 2010, p.8-9, grifos nossos). Durante o
período de campo uma das maiores reclamações das famílias era exatamente em relação à
falta de informação. As famílias de Mumbuca e Ferrugem que teriam assinado o Termo de
Acordo se diziam desinformadas em relação a continuidade do processo, principalmente em
relação a uma previsão de sobre a efetivação do mesmo, quando seriam realocados, quando
receberiam os valores referentes ao ressarcimento financeiro, se tais valores seriam corrigidos
entre o período de assinatura do mesmo e o efetivo pagamento, se poderiam continuar
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plantando, e se seriam ressarcidos caso plantassem e não tivessem tempo de realizar suas
colheitas em função da necessidade do empreendedor, como por exemplo, no caso do plantio
da mandioca cultura que demora cerca de dois anos para sua colheita. Muitas destas famílias
informaram que o último contato com algum representante do empreendedor teria sido no dia
da assinatura do Termo de Acordo em meio de Setembro. Outras famílias, que não estariam
relacionadas entre as comunidades consideradas “emergenciais”, mas que acreditavam ter que
sair, disseram que não foram procuradas recentemente pelo empreendedor para serem
informadas sobre sua situação. Portanto, a nosso ver o Programa de Comunicação Social teria
que ter uma atuação mais eficaz junto a estas comunidades atingidas para que a falta destas
informações não agrave a situação de incerteza, insegurança e ansiedade já demonstradas por
alguns dos atingidos entrevistados.
Com relação ao conjunto de critérios gerais no processo de negociação, um dos itens que
chama a atenção é o chamado “Prazo esperado” onde se informa que “após a conclusão do
processo cartorial, o prazo máximo para quitar a negociação será estabelecido pelo
empreendedor” (ANGLO, 2010, p.10, grifos nossos). Tal declaração dá ao empreendedor uma
autonomia de decisão que no nosso entendimento deveria ser estabelecido em um processo
de negociação entre o empreendedor, órgão licenciador e comissão dos atingidos de forma a
procurar dar maior previsibilidade e transparência aos grupos familiares para que os mesmos
pudessem planejar seu processo de realocação.
Outra sugestão seria a negociação em rodadas coletivas, de forma que os grupos familiares e
as famílias de uma mesma comunidade fossem realocadas na mesma época de forma a
diminuir os impactos das realocações graduais e individualizadas. O TAC Irapé (2002)
estabelece que em relação a “transferência das famílias para as novas áreas” (item 5.1.11,
p.20), esta transferência “seguirá cronograma estabelecido em acordo com a Comissão dos
Atingidos, Prefeituras Municipais e as famílias a serem transferidas” (grifos nossos), sendo que
os custos relativos a esta atividade seriam arcados pelo empreendedor. Também estabelecia
que o empreendedor se comprometesse a “realizar a transferência das famílias, permitindo a
colheita das culturas temporárias na atual propriedade e o início das novas culturas nas terras
do reassentamento, de modo a não haver perdas ou interrupção das atividades” (p.21) e
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ainda em relação às “Culturas Anuais” (item 4.2.2, p.11) o TAC estabelecia que os produtores
que cultivassem as áreas a serem afetadas, poderiam continuar com suas atividades até uma
data estabelecida em função de uma programação estabelecida a ser comunicada previamente
pelo empreendedor e nos casos em que essa alternativa não fosse possível seria calculada uma
indenização com base no valor de comercialização da expectativa de produção.
Para a determinação do tamanho da área do reassentamento, o TAC de Irapé, define como
área de referência mínima para compensação por família a medida de 01 Módulo Fiscal
vigente no Município onde se dará o reassentamento (item 5.1.8.1 do TAC Irapé). O modulo
fiscal é medida definida segundo metodologia e critérios bastante rigorosos e seguros, levando
em consideração vários fatores produtivos, sociais, culturais e ambientais e são variáveis de
município para município. No caso em análise, ficou definido a priori que as novas áreas
possuirão a medida de 20 hectares. O Programa de Negociação Fundiária (ANGLO, 2010, p.15-
16) chega a apresentar a informação incorreta de que “No TA de Irapé, está estabelecido que
cada família deve receber uma gleba de terras correspondente a 20ha, sendo essa gleba
aumentada em mais 10 hectares para cada filho ou filha casado(a) ou com idade superior a 18
anos”(grifos nossos). Tal definição desrespeita o modelo TAC Irapé, uma vez que, se por um
lado o modulo fiscal do município de Conceição do Mato Dentro corresponde a 20 hectares,
por sua vez o modulo fiscal dos municípios de Alvorada de Minas e Dom Joaquim
correspondem a 30 hectares, representando, portanto, tal medida um prejuízo aos atingidos
que forem reassentados nestes dois municípios.
Para além da delimitação de uma área mínima o TAC de Irapé também preza pela qualidade de
solo: segundo o TAC Irapé a área total deve apresentar no “mínimo 50%” de “terras com
capacidade de uso entre as classes I e IV e o remanescente, com capacidade de uso até a classe
VI”. A qualidade da terra em si, não é atributo deste trabalho, e nem sua equipe possui
competência para analisá-la, no entanto, esclarece-se que para mitigar e compensar danos
socioeconômicos e culturais deve se atentar para a qualidade da terra dos reassentamentos e
tal análise deve ser feita por técnicos agrícolas e não somente pela vontade do atingido, como
parece ser o caso pelos relatos dos mesmos, uma vez que vários dos atingidos não possuem
competência técnica necessária para avaliar a qualidade do solo, ainda que possam conhecer
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na prática algumas características da terra na região, fato este reconhecido pelos próprios em
entrevista a esta equipe.
Em consonância com o TAC se estabelece uma área de 10 hectares para os filhos maiores de 18
anos que residam e/ou trabalhem no espaço diretamente impactado, no entanto, afirma o
empreendedor que para além do exigido no TAC IRAPÉ, no caso em questão não será aplicado
o item 5.1.8.2 “a área de cada lote deverá ser igual a 10 ha e o limite de área total para filhos
maiores de dezoito anos será de 1 módulo fiscal por família” podendo as terras adquiridas para
fim de reassentamento neste empreendimento ultrapassar um (01) módulo fiscal.
Para a reconstituição de suas produções agro-pastoris e mesmo para a implantação de novos
sistemas produtivos, segundo o TAC IRAPÉ o empreendedor deverá se comprometer a
contratar uma equipe de assistência técnica por um período de oito (08) anos que orientará e
acompanhará a atividade produtiva do grupo. No entanto, no projeto apresentado pelo
empreendedor o período de assistência técnica ficou reduzido a dois (02) anos, o que se torna
insuficiente quando se recorda que estes são grupos que também cultivam espécies, por
exemplo, as frutíferas com um ciclo de desenvolvimento maior do que dois (02) anos.
Acrescente-se que o plano de assistência técnica e extensão rural devem ser desenvolvidos
respeitando a tradição (saberes e fazeres) de cultivo do grupo ainda que ofereça condições
para o desenvolvimento de novas atividades.
No Termo de Acordo proposto pela Anglo Ferrous, o fornecimento de cesta básica, assistência
técnica/auxilio sementes, construção de nova casa com infra-estrutura básica como água, luz,
telefone e indenizações diversas foram monetarizados. Não foi possível durante a realização
deste trabalho de campo obter os critérios que animaram tal monetarização. No entanto, foi
possível inferir que foram adotados valores de referência e os mesmos foram fixados, em
geral, por famílias. Os valores adotados foram de R$115.200 para os gastos com fornecimento
de cesta básica, assistência técnica e auxilio sementes; R$50.000,00 para a construção de uma
casa com água e luz, R$50.000,00 a título de “ajuda para iniciar os trabalhos na terra18”. Esse
18 Esta rubrica genérica “ajuda para iniciar trabalhos na terra” aparece somente em parte dos Termos de Acordo. O documento não informa o critério para uma família receber ou não essa “ajuda”.
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valor aparece no termo sob a denominação de “Total pelo T.A. de Irapé”, e como dito é fixo
por família, independente do tamanho ou mesmo das especificidades das famílias.
Em relação à área de moradia, o empreendedor se comprometeu a repassar para construção
da nova casa os custos com mão-de-obra e materiais, no entanto, o Parecer Único Nº.
757545/2010 registra que não há informação, no contexto do Programa de Negociação
Fundiária, se a moradia será construída pelo empreendedor ou se serão disponibilizados
recursos financeiros aos atingidos. Tal informação também não é de domínio dos atingidos que
nas entrevistas a esta equipe passaram informações desencontradas a respeito da nova casa.
Muitos relataram que receberão um valor em dinheiro para adquirir a nova residência. Tal
situação é um agravante devido à grande especulação e inflação no preço dos imóveis,
tornando qualquer quantia insuficiente para se adquirir uma nova residência, fato este
(inflação e supervalorização imobiliária) comentado por todos na região. Apesar dos Termos
de Acordo assinados apresentarem um padrão único de valor e dimensão de casa, o Programa
de Negociação Fundiária elaborado pelo empreendedor informava que a dimensão da casa
seria de 62,8m2, podendo aumentar “em até 40m2, dependendo do número de pessoas
residentes” ou:
“(...), podendo ser superior a essa área(os 62,8m2), caso a atual casa ocupada pela família tiver
dimensão superior. Nesse caso, a família terá direito a uma nova moradia com as mesmas dimensões
da residência anterior” (ANGLO, 2010, p.14).
O empreendedor em consonância com o referido TAC Irapé se compromete a implantação de
infra-estrutura básica (acessos, energia elétrica comunitária e domiciliar, saneamento básico,
equipamentos comunitários, escola, posto de saúde e posto telefônico). No entanto, de
acordo com aos Termos de Acordo assinados com os atingidos as negociações estão sendo
feitas de maneira individualizada, seria necessário um maior detalhamento da aplicação
destes itens, nas varias localidades para onde estão se transferindo os atingidos.
Em relação à localidade do Córrego Passa Sete, um grupo de famílias acima da comunidade de
Água Quente, que segundo o empreendedor não será diretamente atingido, pode ter o seu
destino afetado. Recorremos ao disposto no TAC de Irapé que enfatiza que, uma família (no
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caso em questão um somatório de famílias), mesmo estando fora da ADA, não deve
permanecer na área original sob risco de isolamento. Lembrando ainda que apesar dessas
famílias de Passa Sete não serem destacadas pelo empreendedor como diretamente atingidas,
uma delas, a de João Moreira de Souza, foi considerada, na reunião da SUPRAM do
Jequitinhonha de Dezembro de 2010, como uma das quatro mais urgentes de serem
reassentadas pela proximidade em relação ao empreendimento. Segundo o TAC Irapé
(2002:15)
“Será reconhecido o direito ao reassentamento a pessoas físicas ou entidades familiares que, embora
não atingidas diretamente pela implantação do empreendimento, ficarão isolados, seja devido à
remoção das famílias vizinhas – implicando desestruturação de relações sociais, afetivas e produtivas
– seja em razão da desativação dos serviços básicos hoje existentes (escola, posto de saúde, acessos,
telefonia, dentre outros).”
Ainda em relação ao Termo de Validação do Cadastro, o mesmo foi feito por um “responsável”
pela família, como já analisado neste relatório, tal opção fere um modo de vida baseado nas
chamadas terras de herança ou “no bolo”. Para além desta modalidade de ocupação do solo já
analisada, existe outras preocupações mais imediatas e comezinhas, como por exemplo, qual o
critério para a definição do responsável pela família. O imediatismo em determinados
momentos da negociação podem prejudicar uma maior participação e compreensão do
processo pelas famílias atingidas como um todo.
Como relatado, optou-se por atender no processo de Negociação Fundiária os chamados
grupos vulneráveis e priorizaram-se as “Comunidades de Água Santa/Mumbuca e Ferrugem
que possuem sítios considerados emergenciais para fins de realocação” (Termo de Acordo,
2010, p.1). De fato, somente as famílias que foram qualificadas como sendo de
Mumbuca/Água Santa e parte das famílias de Ferrugem participaram desse Termo de Acordo.
Pelo menos duas famílias que na entrevista realizada pela Diversus se denominaram como
sendo de Taporôco participaram e foram qualificadas no Termo de Acordo como sendo de
Mumbuca. Outras famílias de Taporôco, vizinhas e aparentadas destas duas, não foram nem ao
menos procuradas. Como alegado por parte da Comissão dos Atingidos, ao criar a categoria
de “emergenciais”, amplia-se o processo de fragmentação das famílias atingidas, inclusive
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por este critério estar baseado principalmente no aspecto da sobreposição espacial entre
empreendimento e estas comunidades, o próprio órgão técnico do SISEMA reconheceu que
tal divisão era temerária diante das deficiências dos relatórios apresentados durante o
processo de licenciamento. Por fim os próprios atingidos demonstraram que tal divisão é
danosa e representa riscos a suas demandas, sendo inclusive este estudo fruto da
necessidade de um maior esclarecimento a respeito das comunidades atingidas.
Além disso, como se procurou demonstrar neste trabalho, toda a região constitui-se em um
grande território, portanto, alterações nas chamadas comunidades diretamente atingidas
(segundo classificação do empreendedor) atinge diretamente as demais, seja por serem
formadas por parentela, seja por possuírem relações de produção que são reflexo das relações
sociais existentes entre estes grupos, sejam por compartilharem os mesmos recursos como
estradas e passagens, sejam por comungarem mesmas crenças, etc. Pode-se afirmar com base
nos levantamentos feitos em campo, por esta equipe que as famílias de Taporôco, Buriti e
Gondó, - onde ocorrem negociações individuais, gerando o enfraquecimento dos laços
sociais entre as famílias - enfrentam danos semelhantes aos dos moradores de Água
Santa/Mumbuca e Ferrugem agravados pelo processo de re-ocupação do solo que as tornam
“isoladas” do convívio dentro de sua própria comunidade como também com as
comunidades próximas que estão em processo de negociação.
O TAC Irapé por sua dimensão sócio-cultural ressalta a importância dos aspectos autóctones
dos grupos de atingidos valorizando os modos de produção e socialização específicos dos
grupos envolvidos, sua reprodução social, saberes e fazeres, elementos por vezes
desconsiderados ou subestimados em processos de avaliação de impacto. Ao optar por liberar
a realização deste Termo de Acordo antes do termino do estudo que ajudaria na melhor
compreensão da população atingida e suas características e ao validar os estudos que foram
classificados como insuficientes acredita-se que a tomada de decisões sobre mitigações e
compensações tendo por base tais estudos podem gerar equívocos e outros impactos aos
grupos a que se pretende proteger.
Ainda em relação às avaliações das benfeitorias das famílias atingidas, O TAC de Irapé prevê
um Termo que o empreendedor por intermédio de um perito avaliador, “elaboraria proposta
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de metodologia e respectiva planilha a serem utilizadas nas avaliações, encaminhando-a para
apreciação de perito avaliador indicado pela Comissão de Atingidos” (TAC, p.10, item 4). Caso
houvesse discordância entre os peritos em relação a “metodologia” e/ou da planilha a ser
utilizada, caberia ao Ministério Público Federal indicar a que considerasse mais adequada. O
TAC de Irapé ainda apresenta algumas indicações sobre como deveriam ser avaliadas as terras,
benfeitorias reprodutivas, como culturas perenes (que incluía pomares domésticos), culturas
anuais, pastagens, matas plantadas, benfeitorias não reprodutivas e recursos extrativistas
vegetais. Este tipo de avaliação procura valorizar todo um ambiente construído ao longo de
anos por famílias camponesas que costumam ser sub-avaliadas em avaliações convencionais
de mercado.
Outra deficiência apontada pelos atingidos diz respeito a caducidade deste cadastro
patrimonial, pois os mesmos foram feitos no primeiro semestre de 2010 e ao fim do ano de
2010 ainda não havia se efetivado as negociações. Este intervalo de tempo representa na
atividade agrícola um tempo considerável podendo o atingido no período ter obtido novas
benfeitorias e produções, não consideradas no antigo cadastro. Ou mesmo ter iniciado as
atividades prementes do cultivo. Por outro lado, a mandioca, produto típico das roças locais,
tem um ciclo produtivo de no mínimo dois (02) anos como já mencionado e a insegurança
sobre a permanência ou não na terra ou a crença em uma saída inevitável da área atingida,
tem levado várias famílias a optarem pelo abandono desta cultura. Desnecessário demonstrar
quão deletéria é tal decisão para um grupo que se baseia na agricultura familiar de
subsistência. Se os atingidos reclamam deste tipo de insuficiência do cadastro, os técnicos do
SISEMA também demonstraram várias falhas metodológicas e de conteúdo no mesmo.
Quando questionados a respeito desta insegurança em relação à produção, várias famílias em
processo de negociação disseram ter recebido orientação, de funcionários do
empreendimento, para que paralisassem as plantações, pois possivelmente não teriam tempo
para a realização das colheitas do que semearem. Com isso, as maiorias das famílias
paralisaram suas atividades agrícolas na espera pela efetivação de seu reassentamento, tendo
perdido, pelo menos o período de chuva de final de ano.
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Não há nenhuma indicação no Termo do Acordo sobre compensações referentes a essa perda,
assim como no caso dos moinhos que foram inviabilizados devido ao assoreamento dos
córregos. O valor desses moinhos foi considerado na avaliação das benfeitorias, mas
aparentemente não foi considerada a compensação por sua inatividade desde o período do
assoreamento até a efetiva mudança das famílias, que até dezembro de 2010 não havia
ocorrido. No referido TAC Irapé tal situação se encontra contemplada, visto que se prevê no
caso das culturas perenes, incluindo pomares domésticos, que além do valor da indenização
das culturas qual seja “a soma do custo de reposição (aquisição de mudas, sementes, insumos,
plantio e tratos culturais)” será considerado também o “valor da produção cessante durante
um período a ser calculado em função do ciclo produtivo identificado na região para a
entrada em produção da nova cultura” (TAC, p.11, item 4.2.1). Se tal medida fosse
contemplada no Termo de Acordo em análise evitar-se-ia o prejuízo financeiro e
principalmente os danos a saúde dos atingidos, uma vez que a inatividade em uma realidade
camponesa representa uma enorme angustia e ansiedade sendo considerado um
afrontamento ao seu modo de vida.
A cláusula primeira do TAC Irapé apresenta como objetivo desse termo “a mitigação e
compensação dos impactos socioambientais decorrentes da implantação do empreendimento
(...) de modo a permitir a reconstituição dos modos de viver, fazer e criar próprios das
comunidades (...) atingidas pelo empreendimento, (...)”. (MPF, 2002, Pg. 02, grifos nossos). No
entanto, como exposto ao longo deste relatório, o empreendedor não precedeu de estudos
mais específicos a respeito destes modos de viver, fazer e criar próprios das comunidades que
estão sendo atingidas pelo empreendimento. No EIA-RIMA o empreendedor inclusive
desconsiderou a existência de agrupamento humano tradicional na região, sendo necessário
posteriormente um estudo complementar que apresentou a existência de pelo menos dez (10)
comunidades negras rurais na região do empreendimento.
Como demonstrado na seção anterior, as comunidades apresentam fortes características
tradicionais, inclusive, algumas poderiam ser qualificadas como quilombolas, pois apresentam
características que os permitiriam solicitar o auto reconhecimento em consonância com o
Decreto Federal 4.887/2003 que “regulamenta o procedimento para reconhecimento,
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delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas por remanescentes das comunidades
dos quilombos de que trata o art.68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da
Constituição Federal do Brasil”:
“Art.2º. Consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins desse Decreto, os grupos étnico-raciais, segundo critérios de auto-atribuição, com trajetória históricas própria, dotados de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a resistência à opressão sofrida” (Grifos nossos)
As comunidades de Ferrugem, Mumbuca, Serra de São José, Taporôco, entre outras, são
comunidades predominantemente negras com uma “trajetória histórica própria”, pois são
grupos familiares que habitam o mesmo território a cerca de quatro (04) gerações, apresentam
uma relação territorial própria e em relação a presunção de “ancestralidade negra relacionada
com a resistência à opressão histórica sofrida”, conforme atesta Informação Técnica 003/2009
produzido pelo Ministério Público onde a história das principais famílias formadoras das
comunidade de Ferrugem e Mumbuca/Água Santa foi destacada. Sobre os Pimentas se diz que:
“Os Pimenta constituem uma parentela antiga em Conceição do Mato Dentro, de pelo menos quatro
gerações, cuja origem remonta à escrava – ou filha de escravos – Bernardina Pimenta, que trabalhava
para a família Simões, grande proprietária de terras e escravos. (...) Os Pimenta trazem no nome da
família a marca de sua afrodescendência: ele refletia características físicas de Bernardina, negra, cujo
cabelo era ruim como pimenta`” (Pg. 03 e 04).
Quanto aos Rodrigues, o documento do MPF (03/2009) diz: “Como a família Pimenta, os
Rodrigues constituem uma parentela de ascendência afrobrasileira, de presença antiga na
região, remontando várias gerações até o tempo da escravidão” (Pg.22). Os relatos sobre
alguns dos patriarcas da família estão sempre relacionados a opressão da época da escravidão,
como o caso de Isaías Rodrigues, avô de Raimundo Rodrigues, um dos mais velhos dos
Rodrigues vivos. Isaías era filho de Zacarias Rodrigues da Silva, que era escravo. Ele teria
engravidado Cristina Maria de Jesus que não só era escrava como era “descendente de gente
pegada na África” (Pg. 22). Os dois só teriam conseguido sair da fazenda onde Cristina Maria
era escrava, depois de “liberados” pela Princesa Isabel.
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Segundo a Informação Técnica 03/2009 do MPF, para a Antropologia “não há uma diferença
qualitativa entre comunidades remanescentes de quilombo e comunidades negras tradicionais,
do ponto de vista de constituírem sujeitos coletivos aos quais deve ser garantido e preservado
o direito de se reproduzirem enquanto coletividades específicas, histórica e culturalmente
diferenciadas.” (Pg.26).
Ainda em consonância com o TAC Irapé o empreendedor se comprometia com a “constituição
de equipe multidisciplinar responsável pelos Programas de Remanejamento” (TAC Irapé,
pg.08), bem como uma série de clausulas de controle e fiscalização das condicionantes
acertadas no acordo incluindo os próprios atingidos entre os fiscalizadores e multas
pecuniárias pelo não cumprimento ou atraso nas condicionantes. Sobre a constituição de uma
equipe multidisciplinar responsável pelos Programas de Remanejamento, segundo os
moradores, em geral a mesma se constitui de dois (02) funcionários da Anglo Ferrous ligados a
área do direito e engenharia. Seria importante a contratação de uma equipe especializada para
o bom andamento da realocação das famílias, considerando que tal realocação não se resume
a mudança da família, mas compreende um processo mais longo de adaptação ao novo
território até que atinjam um patamar produtivo próximo do que tinham em suas terras
tradicionais.
Segundo os moradores dessas comunidades, não houve um planejamento sobre ações e
programas de remanejamento, ao contrário, a falta de planejamento foi uma das causas de
ansiedades presentes nas comunidades visitadas. A maioria das famílias que participaram da
assinatura do Termo de Acordo em setembro não possuíam (quando da realização das visitas
in locus) ciência de quando esse pré-acordo será executado. Durante a realização do trabalho
de campo para elaboração deste relatório, entre outubro e dezembro, a maior parte das
famílias, como dito, estava paralisada, impedida de plantar em plena época de chuva porque
não sabiam se poderiam colher o que plantaram e o “pré-acordo” não estabelecia a
possibilidade de outras compensações para os casos de atrasos na execução dos mesmos.
Algumas famílias relataram que lhes foi prometido na assinatura do Termo de Acordo o
recebimento no prazo de trinta (30) dias de uma parte da compensação monetária acertada.
Portanto, em sua concepção estavam sendo duplamente prejudicados: teriam “vendido”, mas
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ainda não recebido por sua terras, e como esse “pré-acordo” define o prazo para validação das
benfeitorias a serem indenizadas, qualquer melhoria executada depois das avaliações, a priori,
não será compensada.
O TAC Irapé também não faz distinção entre os atingidos, entende-se, fato corroborado pela
fala dos moradores das Comunidades que a caracterização de duas (02) comunidades como
emergencial, “urgentes” ou “mais atingidas” parece injusto visto que todas sofrem as
conseqüências do empreendimento e ademais a escolha de duas comunidades como
prioritárias tem significado uma inação ou paralisação da negociação em outras comunidades
bastante afetadas como Buriti, Taporôco e parte de Gondó, conforme relatos de seus
moradores. O próprio Programa de Negociação Fundiária encaminhado pelo empreendedor só
menciona as duas comunidades, algumas famílias são apresentadas como sendo da
“adjacência” da comunidade de Ferrugem e outras são qualificadas apenas por propriedades
“na área rural” (ANGLO, 2010, p.7).
Em consonância com preocupações como esta é que se deveria priorizar, principalmente no
caso que envolva grupos familiares intrinsecamente relacionados em uma rede social
específica, a realocação coletiva. O reassentamento como mecanismo principal de
reconstituição dos direitos dos atingidos está relacionado ao objetivo de permitir a
reconstituição dos modos de viver, fazer e criar próprios das comunidades.
Os moradores, principalmente de Mumbuca, informaram que chegaram a ser feitos alguns
debates a respeito do processo de realocação coletiva, no entanto, pelo que deixaram
perceber tal debate foi insuficiente soando para muitos como uma perda de direito. Por outro
lado, algumas famílias afirmaram ter interesse em se mudar para uma área independente,
porém contígua a outros familiares. No entanto, pela análise do documento final do Termo de
Acordo não havia sugestão sobre a opção de se mudar conjuntamente, diferente do
reassentamento coletivo que prevê a comunidade como um todo e não alguns grupos
familiares, ou mesmo qualquer tipo de vantagem para tal opção. Ao contrário, as opções
propostas pelo Termo de Acordo eram:
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“I – Aquisição de Área: consiste na valoração da terra e benfeitorias, sendo negociado diretamente
com o proprietário e pago em valor monetário.
II – Reassentamento Coletivo: reassentamento coletivo das famílias atingidas, sendo que cada chefe
de família receberá 20 ha(vinte hectares) de terra, acrescido de 10ha (dez hectares) por filho casado
ou maior de idade, residente na propriedade, e 20ha(vinte hectares) para todos os demais filhos não
residentes na propriedade. Este modelo prevê, ainda, a construção de uma casa em modelo a ser
definido em consenso com a comissão dos reassentados, fornecimento de água, luz, cesta básica,
sementes e assistência técnica, por até 02 (dois) anos.
III – Valor Monetário + Remanejamento Individual: corresponde a uma indenização em valores
monetários e remanejamento individual. Neste modelo, além do valor pecuniário correspondente à
propriedade e suas benfeitorias, o chefe da família terá direito a 20ha(vinte hectares), mais 10ha(dez
hectares) para cada filho maior ou casado, residente na propriedade e, ainda, para todos os demais
filhos não residentes na propriedade, outros 20ha(vinte hectares). Este modelo prevê, também, a
construção de uma casa de 60m2(sessenta metros quadrados), fornecimento de água, luz, cesta
básica por 01 (um) ano, sementes e assistência técnica por 03 anos e assistência social por 01 (um)
ano.” (Item 04 do Termo de Acordo, grifos nossos).
O Termo de Acordo proposto inverte a proposição estabelecida pelo TAC Irapé e também
aprovada pela Supram Diamantina de incentivar o reassentamento coletivo em contraposição
ao individual. Aqui se privilegia o assentamento individual que se apresenta como condição
“financeiramente” mais vantajosa, essa opção oferece uma indenização “em valores
monetários” do “valor pecuniário correspondente à propriedade e suas benfeitorias”. Por sua
vez o modelo de reassentamento coletivo não prevê o valor monetário da propriedade e suas
benfeitorias.
O caso da parentela dos Rodrigues é mais uma vez emblemático, as seis (06) famílias que
compõe a parentela na região de Mumbuca/Água Santa se localizam em uma região bastante
próxima ao centro das atividades da mineração e por isto mesmo, necessitariam, conforme
decisão da URC Jequitinhonha de dezembro (a mesma reunião que liberou a segunda parte da
Licença de Implantação do empreendimento) que parte das famílias deveria ser realocada em
regime de urgência, no prazo máximo de vinte (20) dias. Tal decisão demonstra mais uma vez o
despreparo e o não cumprimento de prazo por parte do empreendedor e a inversão de
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prioridades, pois a situação de gravidade dessas famílias foi transformada em realocação
precária e temporária, ou seja, seriam transferidos momentaneamente para uma terceira área
até que concluam as negociações, ou mesmo seriam transferidos sem as obras de infra-
estrutura necessárias na área em que seriam realocados. Essas famílias que teriam
demonstrado interesse em se mudar para áreas contínuas, possivelmente seriam separadas
por esta decisão da SUPRAM, pois apenas parte das famílias seria realocada em caráter mais
urgente.
O Termo do Acordo possui uma contradição, pois uma parte do documento encontra-se a
seguinte informação “(...) cesta básica por 01 (um) ano, sementes e assistência técnica por 03
anos e assistência social por 01 (um) ano.” Já na folha resumo, do Termo de Acordo que
qualifica e quantifica os valores parciais e totais que cada família receberá encontra-se grafado
a seguinte informação “fornecimento de cesta básica, sementes/assistência técnica (2anos)”,
ou seja, desaparece a rubrica assistência social e transforma um (01) ano de cesta básica e três
(03) anos de sementes e assistência técnica em dois (02) anos de assistência alimentícia e
técnica. Como já dito aqui, no TAC Irapé a assistência técnica era de oito (08) anos a “(...)se dar
em todas as etapas – fase projetiva, de implantação e de consolidação – do reassentamento da
população rural afetada (...)” (Pg.12 do Anexo do TAC Irapé).
A rubrica compensação: “cesta básica”, “sementes” e “assistência técnica” durante o período
de dois (02) anos foi fixada em valores monetários definidos por família e de maneira
universal, de modo que independente das particularidades de cada família, elas irão receber
R$115.200,00 (cento e quinze mil e duzentos reais), o que equivale a R$4.800,00 reais por mês.
O valor apresentado aparece em conjunto com outros dois (02) itens, “cesta básica” e
“insumos e sementes”, portanto, não se tem com clareza o valor previsto para cada item.
Também não fica claro se o valor estabelecido será repassado monetariamente às famílias
ou em produtos, como a compra das cestas, ou das sementes e o pagamento dos serviços de
assistência pelo empreendedor. Essa falta de clareza pode representar prejuízos
principalmente em relação à assistência técnica e compra de sementes e insumos vitais para
a colonização de uma área a principio sem maiores familiaridades.
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6.4 - Comunidades
6.4.1 - Ferrugem
A comunidade de Ferrugem encontra-se próxima do distrito de São Sebastião do Bom Sucesso
(Sapo), no município de Conceição do Mato Dentro com o qual mantém extensa rede de
relações sociais, culturais, econômicas, como por exemplo, a participação nas festas. A
Comunidade de Ferrugem é diretamente impactada pelo empreendimento por ser região da
mina, e também porque na entrada da mesma localiza-se um dos grandes acampamentos de
trabalhadores das empresas terceirizadas para trabalhar no empreendimento.
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Acampamento visto da estrada próximo a entrada de Ferrugem.
Alteração do empreendimento próximo a uma das casas de Ferrugem, ao fundo São Sebastião do Bom Sucesso
São doze (12) famílias que possuem laços de parentesco entre si e são membros das parentelas
dos Pimenta e dos Rodrigues. Segundo os relatos orais e os documentos produzidos pelo
Ministério Público já analisado neste relatório, tratam-se de “terras de herança” e que estão na
posse destas parentelas a cerca de quatro (04) gerações, ou como se diz na região desde os
“tempos dos bisavós”. No “Termo de Acordo” para a negociação fundiária, Ferrugem foi
denominada por “área da mina”.
Possuem laços de parentesco com membros das comunidades de Mumbuca/Água Santa,
Taporôco, Buriti e Serra de São José, onde três (3) filhas de Dona Eva Expedita Pimenta
casaram-se com os filhos de Dona Geralda Gonçalves da Silva. Algumas das famílias relatam
que no passado a comunidade possuía uma efervescência social maior, pois gostavam de
dançar o “batuque”, uma celebração de origem afro-brasileira, bem como possuíam um
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calendário de festas como a “fogueira de São Pedro” e a festa da “Santa Cruz”. Segundo Dona
Maria Mercês Pimenta Rosa, sua bisavó Adélia, teria sido escrava e sua avó, Ana Maria de
Jesus, parteira na região.
Na comunidade ainda existem outros marcadores de sociabilidade como o Cruzeiro localizado
na área próxima a casa de José Leandro da Paixão que segundo o mesmo foi levantado pelo
seu Avô, Joaquim Simões em pagamento a uma promessa. Após a morte do avô, a promessa,
por ter se tornado uma manifestação de fé dos moradores, continuou a ser cumprida e todo
ano a família se reunia para “levantar o cruzeiro” onde se “rezava o terço, depois levantava o
preço”. Ainda segundo José Leandro, antes a comunidade era mais unida, hoje “falta tempo”.
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Cruzeiro localizado na área próxima a casa de José Leandro da Paixão.
A união do grupo também tem sido fragmentada pelo processo de negociação que gerou a
formação de dois grupos internos. Durante o período de realização deste trabalho, outubro a
dezembro de 2010, foi possível constatar a divisão da comunidade. Um grupo de famílias está
negociando com o empreendedor, tendo inclusive participado da assinatura do “Termo de
Acordo” no processo de Negociação Fundiária, no Fórum de Conceição do Mato Dentro, em 15
de setembro de 2010. Outra parte das famílias por discordarem dos métodos de negociação
promovidos pelo empreendedor nestes últimos anos preferiu negociar a parte, constituindo
para tanto advogados e ações jurídicas.
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Das doze famílias visitadas na comunidade, sete (07) assinaram o “Termo de Acordo”,
enquanto as outras cinco (05) não tinham assinado e estariam negociando a parte. Esta divisão
gera certa fragmentação entre as famílias que são aparentadas. Apesar de manterem uma
relação amigável, a visão de algumas das famílias que estavam em processo avançado de
negociação sobre as que teriam procurado “advogado” é negativa, reproduzindo um discurso
sobre a inevitabilidade do empreendimento e parece recriminar estes últimos como se a
utilização de advogados para mediar o conflito fosse algo tido como usurpador ou mesmo uma
postura de “confrontação”, que deveriam evitar.
Segundo os relatos, não houve, em Ferrugem uma discussão sobre as negociações e nem
mesmo um debate sobre negociações coletivas, elas teriam ocorrido de forma individual, “casa
a casa”. Em geral, as famílias afirmam que não desejam sair, só o fazem por não ter mais
nenhuma outra opção.
As famílias que assinaram o “Termo de Acordo” foram:
Antônio Silva de Oliveira e Sônia Maria Paula Oliveira
Joaquim Ferreira Sobrinho e Maria Luiza de Fátima Ferreira Sobrinho
Maria do Carmo Pimenta e Milton Moreira dos Santos
Joaquim Eusébio da Silva e Geralda Leandro da Paixão e Silva
Maria Mercês Pimenta Rosa/José Ronaldo Pimenta Rosa (filho)
Sebastião João de Paula e Luiza Rodrigues de Paula
José Leandro da Paixão
Dentre as (07) famílias que assinaram o “Termo de Acordo”, três (03) receberiam um valor de
R$50.000 (cinqüenta mil) referente a “ajuda para iniciar trabalhos na terra”. Não fica claro, nos
Termos porque somente três (03) das sete (07) famílias receberiam essa ajuda, uma vez que
todas são eminentemente camponesas, ainda que alguns membros das famílias, atualmente,
trabalhem em outras atividades, inclusive no próprio empreendimento.
O valor médio das indenizações pelas benfeitorias ficou em torno de R$112.650,00, valor
superior a média na comunidade de Mumbuca/Água Santa, o que retrata uma melhor
estrutura das benfeitorias da comunidade de Ferrugem, além de possivelmente uma maior
capacidade de negociação dos moradores de Ferrugem, como por exemplo, em uma das
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negociações, o valor de R$75.000,00 das benfeitorias, foi acrescido de R$100.000,00 sobre a
denominação de “benfeitorias não quantificadas”.
A área que o empreendedor teria se proposto a adquirir, destas sete (07) famílias, seria de
aproximadamente 96 ha, o que dá uma média de cerca de 14ha por família. Conforme
classificação fundiária, de acordo com a Lei Federal 8.629/93, das sete (07) áreas, cinco (05)
seriam consideradas como minifúndios, ou seja, áreas inferiores a um (01) módulo fiscal (que
no município de Conceição de Mato Dentro equivale a 20ha). Duas seriam consideradas
pequenas propriedades, que seriam imóveis com áreas compreendidas entre 1 e 4 módulos
fiscais. No entanto, não fica claro pelo Termo de Acordo se nesta área “a ser adquirida” inclui-
se as “terras de herança”, problemática já discutida neste relatório. Segundo o relato dos
atingidos eles estariam negociando apenas suas respectivas partes, sendo que as partes
referentes aos demais herdeiros ausentes seriam negociadas separadamente.
Ainda segundo alguns relatos, o empreendedor estaria negociando com alguns dos herdeiros
ausentes uma oferta em valor financeiro que ainda não teria sido bem aceito pela maioria
destas famílias. Os valores comentados seriam de cerca de quarenta mil reais R$40.000, por
herdeiro, dependendo do tamanho da família, pois o valor tende a diminuir quanto maior o
número de membros. A saída dos atuais parentes que permanecem na terra, antes do acerto
com os parentes de fora, pode significar um enfraquecimento do poder de negociação destes,
uma vez que negociarão sobre uma área já em posse do empreendedor. Em alguns “Termos de
Acordo”, consta que no valor referente a terra a ser adquirida estaria incluído o valor da
propriedade, da posse e dos “direitos hereditários”, de quem estava em processo de
negociação19.
Como já dito, as terras da região são, em geral, “terra de herança” ou “no bolo”, portanto, tal
negociação fere tanto um modo de organização social e cultural do grupo, como os direitos
econômicos dos mesmos. Um exemplo são as terras de um atingido que pertencem a cinco
(05) irmãos herdeiros, no entanto, como três (03) estão ausentes o empreendedor negocia
19 O Termo de Acordo não explicita, mas baseado nas informações colhidas em campo, acreditamos que os “direitos hereditários” mencionados no documento, sejam apenas da pessoa que estava em processo de negociação e não dos demais familiares detentores de direitos de herança sobre a área.
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apenas com os dois (02) que residem no local. Caso semelhante a este ou até mesmo com
maior complexidade se repete em todo o grupo, como é relatado de maneira pormenorizada
na Informação Técnica produzida pelo MPF.
Só para se ter uma idéia, ainda deveria estar em processo de inventário as terras de José Rosa
da Silva, avô de várias das famílias ainda moradoras da comunidade, como de Maria do Carmo
Pimenta, Maria Mercês Pimenta Rosa e de Joaquim Eusébio da Silva, fora os parentes que
moravam fora da comunidade, como por exemplo, os três irmãos de Joaquim Eusébio. Os pais
de Joaquim Eusébio da Silva, Sebastião Fernandes da Silva, que também era tio das duas
Marias citadas acima, e sua mulher, Maria Pereira da Silva faleceram nos últimos dois anos e
provavelmente seus inventários não foram finalizados. A época do estudo realizado pela
ECOLAB, em 2008, Sebastião Fernandes da Silva, ainda vivo, informara que as heranças de seu
pai nunca tinham sido formalmente repartidas.
Também do lado da família de José Leandro da Paixão, e de sua irmã, Geralda Leandro da
Paixão, esposa de Joaquim Eusébio da Silva, a terra da família ainda estaria em situação de
inventário, sendo que eles têm mais três (03) irmãs que moravam fora de Ferrugem.
Outros problemas relatados neste processo de negociação dizem respeito:
1 - a divisão das parentelas já que segundo relatos alguns parentes que desejam ou necessitam
morar próximos encontram dificuldades em fazer valer esta opção visto que não conseguem
terras suficientes para atender a toda a parentela, levando a uma fragmentação dos mesmos
pela região.
2 - uma dificuldade em se definir quem efetivamente fala pela parentela, visto que como
explicitado estas terras estão “no bolo” o que levou em alguns casos a fragmentações nos
núcleos domésticos ou casos em que parte do núcleo negocia sem a anuência de outra parte.
3 - desmobilização da força produtiva visto que a maioria dos atingidos parou de cultivar a
terra após o inicio das negociações. Ressalte-se que tal atitude é totalmente compreensível
uma vez que o “Termo de Acordo” não explicita nenhum tipo de ressarcimento ou indenização
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dos plantios realizados depois da assinatura do mesmo e que não possam ser colhidos antes da
mudança.
4 - A indefinição do tempo para a concretização das negociações e a efetiva mudança era outro
fator de muita dúvida e ansiedade. O “Termo de Acordo” não estabelecia um prazo para sua
execução20.
5 - Outra queixa diz respeito ao tempo necessário para a primeira produção nas novas terras,
ainda que no Termo se fale em ajuda de custo com sementes, adubos, apoio técnico e cestas
básicas, vários atingidos demonstram preocupação neste sentido.
6 - Foi facultado aos atingidos indicarem possíveis áreas para onde poderiam ser realocados, o
que é positivo, no entanto, alguns deles se queixam de que tal escolha encontra-se tolhida seja
pela ausência de terras com qualidade na região – fruto do processo de reorganização
territorial inerente a um empreendimento destas proporções, bem como dificuldades mais
prosaicas como as de visitar as possíveis áreas de interesse devido a ausência de transporte na
região e tempo para realizar tais visitas já que tem que conciliar com suas rotinas de trabalho.
7 - Preocupação com a qualidade da casa que seriam construídas. Alguns atingidos temiam que
as casas fossem do tipo “casas populares” que possivelmente não teriam a mesma segurança e
qualidade das casas que atualmente possuem. Outra reclamação neste quesito é do valor
nominal da casa, definido em cinqüenta mil reais (R$50.000,00), o que segundo alguns podem
ser um valor insuficiente para a construção de uma boa casa, em razão da alta de preços de
materiais e mão de obra especializada na região em virtude do próprio impacto do
empreendimento e da alta demanda que se terá de material de construção.
20 Apesar da assinatura do Termo de Acordo em meados de setembro não ter uma previsão de sua execução, na reunião da SUPRAM Jequitinhonha de dezembro de 2010, aproximadamente três meses depois da assinatura por parte de algumas famílias do Termo de Acordo, estabelecia o prazo de cento e oitenta dias (seis meses), a partir da assinatura do “Contrato” para “efetuar o pagamento integral de todas as famílias atingidas das comunidades de Agua Santa, Mumbuca e Ferrugem e realocação das mesmas”. A Ata não detalha como seria estabelecido tal contrato, o prazo para a assinatura dos mesmos e a responsabilidade da cada um para sua assinatura.
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Entre as famílias que assinaram o “Termo de Acordo”, destacamos aqui a situação do casal
Maria do Carmo Pimenta e Milton Moreira dos Santos. Milton teria assinado o “Termo de
Acordo”, mas quando entrevistamos Maria disse ainda não ter negociado.
Também merece destaque o caso de Dona Maria Mercês Pimenta Rosa (73 anos) que tem
sérias limitações de mobilidade e problemas de hipertensão. Nos últimos anos ela tem contado
com a ajuda da irmã Maria do Carmo Pimenta, citada acima. O caso dela merece atenção
especial tanto por essa relação com a irmã, que caso vá morar longe dela irá fazer grande falta,
lembrando que o Milton, companheiro da irmã, é quem estaria negociando e segundo Maria,
sem seu conhecimento, mas também merece cuidado especial devido ao seu problema mais
grave de saúde.
O casal Antônio Silva de Oliveira e Sônia Maria Paula Oliveira e o pai de Sonia, Sebastião João
de Paula estariam interessados em uma área próxima a São José da Ilha, no município de Dom
Joaquim21, já a irmã de Sônia, Maria Luiza e seu marido, Joaquim Ferreira Sobrinho, estariam
olhando uma área um pouco mais distante, depois da “Ilha”, apesar de ser na mesma direção.
Eles tinham interesse de serem vizinhos, mas as opções de propriedades disponíveis não
permitiam. Segundo relatado, o empreendedor deixa a opção das famílias indicarem áreas,
mas também, em alguns casos, leva as famílias para conhecer áreas passíveis de negociação.
Maria Luíza e Joaquim também têm uma filha e uma cunhada (da Maria) que são portadoras
de necessidades especiais.
Além do plantio, seu Sebastião João de Paula cria gado e produz queijo. Uma de suas grandes
preocupações era em relação ao tempo necessário para a formação de pastagens na nova área
que necessitaria de quatro (04) a cinco (05) meses para crescer. Ele fez questão de colocar em
seu “Termo de Acordo” que necessitaria pelo menos de 20ha de pasto com capim formado
para receber 45 cabeças, entre gado e eqüinos.
21 Como estas famílias estariam sendo remanejadas para o município de Dom Joaquim, deveria estar sendo proposto a compensação com base ao Modulo Fiscal de Dom Joaquim, que é de 30ha e não o de Conceição do Mato Dentro que é de 20ha, como foi o caso de todas essas famílias. Em geral, estas famílias declararam que tinham preferência pela área rural de Conceição do Mato Dentro, mas não teriam tido opções de áreas nesta região rural.
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Seu Joaquim Eusébio da Silva e Dona Geralda Leandro da Paixão e Silva também teriam olhado
uma área próximo de São José da Ilha. O irmão de Dona Geralda, José Leandro da Paixão, ainda
não tinha olhado uma área, por ter dificuldade em realizar tais visitas sem um carro. A
empresa não o teria levado para conhecer áreas, mas segundo ficou sabendo, as áreas
disponíveis estavam na região de São José da Ilha e Córregos.
Dos que ainda não teriam assinaram o “Termo de Acordo”, temos:
Natalina Ferreira da Silva
Valdenira Rodrigues/Hermínio Antônio Rodrigues (filho)
Antônio da Silva Pimenta
Maria da Silva Pimenta Vasconcelos
Robson Rodrigues Marques e Cíntia Maria Coelho Marques
Destas, pelo menos três famílias contrataram um mesmo advogado. Esta opção é descrita,
pelos mesmos, como uma necessidade diante da forte pressão que teriam recebido por parte
do empreendedor ao longo deste processo de negociação. Tal situação agrava-se, pois partes
destes atingidos possuem idades mais avançadas e relatam casos de piora na saúde ou mesmo
desenvolvimento de novas doenças como depressão, estresse, etc. Pelo menos três pessoas
destas famílias teriam sido ativas na Comissão dos Atingidos e, hoje, encontram-se descrentes
com os andamentos do licenciamento do empreendimento. Antônio Pimenta esteve envolvido
no caso do litígio em relação a terra de herança dos Pimentas na comunidade de Água
Santa/Mumbuca, descrita anteriormente.
Preocupa também a situação destas famílias, pois vários são de idade bastante avançadas,
como Dona Valdenira Rodrigues (85anos) e Dona Natalina (78 anos). Ainda em relação a Dona
Natalina, mora com ela dois filhos, um deles tem tido problemas de depressão que acreditam
estar relacionado a todo o processo de pressão das negociações e possível mudança. Tanto
Dona Natalina quanto Dona Valdenira não quiseram conversar conosco sobre esse processo de
negociação, informando que ele estava sendo conduzido através de filhos que moravam fora
da comunidade, um em Belo Horizonte e o outro em Brasília. Acreditamos que esse processo
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de indicar um “negociador externo” seja uma forma de diminuir a pressão local, assim como no
caso da contratação de Advogado.
O casal Robson Rodrigues Marques e Cíntia Maria Coelho Marques, junto com seus filhos,
mudaram-se para a casa da mãe do primeiro, Dona Maria da Silva Pimenta Vasconcelos,
também moradora de Ferrugem em dezembro de 2009. Segundo informaram, o motivo da
mudança estaria relacionado a atual situação de insalubridade da moradia deles em virtude
principalmente da forte poeira causada pelo grande fluxo de veículos da mineração em sua
porta. Eles acreditavam que uma das conseqüências desta situação de insalubridade seria o
agravamento da deficiência visual adquirida pelo filho de três (03) anos.
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COMUNIDADE DE FERRUGEM
FAMÍLIAS SITUAÇÃO (1) TERMO DE ACORDO
(2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA
(5)
TRABALHO INICIAL
(6)
ÁREA EM VISTA
(7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA
(8)
OBSERVAÇÃO
Antônio da Silva Pimenta
Com advogado Não Não se aplica Não sabemos
Não sabemos Não se aplica
Não se aplica Não se aplica
Antônio Silva de Oliveira e Sônia Maria Paula Oliveira
Em negociação Sim 3 31/7/2010 Pequena Propriedade
Não São José da Ilha (Dom Joaquim)
Sebastião Possuem portadores de necessidades especiais na família
Joaquim Eusébio da Silva e Geralda Leandro da Paixão e Silva
Em negociação Sim 3 2/8/2010 Minifúndio Sim São José da Ilha (Dom Joaquim)
Não informou
Joaquim Ferreira Sobrinho e Maria Luiza de Fátima Ferreira Sobrinho
Em negociação Sim 3 31/7/2010 Minifúndio Não São José da Ilha (Dom Joaquim)
Sebastião
José Leandro da Paixão
Em negociação Sim 3 2/8/2010 Minifúndio Não Indefinida Não informou
Maria da Silva Pimenta Vasconcelos
Com advogado Não Não se aplica Não sabemos
Não sabemos Não se aplica
Não se aplica Não se aplica
Maria do Carmo Pimenta e Milton Moreira dos Santos
Em negociação Sim 3 30/7/2010 Minifúndio Sim Não informou Não informou
Aparece qualificada como sendo de Mumbuca, no Termo de Acrodo, mas é Ferrugem
Maria Mercês Pimenta Rosa/José Ronaldo Pimenta Rosa (filho)
Em negociação Sim 3 16/9/2010 Minifúndio Sim Não informou Não informou
Aparece qualificada como sendo de Mumbuca, no Termo de Acrodo, mas é Ferrugem. Além da idade avançada (73 anos), tem problemas de mobilidade e hipertensão.
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(continuação)
COMUNIDADE DE FERRUGEM
FAMÍLIAS SITUAÇÃO (1) TERMO DE ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA (8)
OBSERVAÇÃO
Natalina Ferreira da Silva Não sabemos Não Não se aplica Não sabemos
Não sabemos Não se aplica
Não se aplica Não se aplica
Dna Natalina tem 78 anos e um dos filhos estaria com problema de depressão.
Robson Rodrigues Marques e Cintia Maria Coelho Marques
Com advogado Não Não se aplica Não sabemos
Não sabemos Não se aplica
Não se aplica Não se aplica O filho de 3 anos está com deficiência visual
Sebastião João de Paula e Luiza Rodrigues de Paula
Em negociação Sim 3 29/7/2010 Pequena Prop. Não São José da Ilha (Dom Joaquim)
Sebastião
Valdenira Rodrigues/Hermínio Antônio Rodrigues (filho)
Não sabemos Não Não se aplica Não sabemos
Não sabemos Não se aplica
Não se aplica Não se aplica Dna Valdenira tem 85 anos
(1) Situação do atingido em relação ao processo de negociação. Indicamos por "em negociação" para os que assinaram o Termo de Acordo, para os que estavam negociando com advogados, indicamos por “com advogado”, e os "não sabemos" para os que não assinaram o Termo de Acordo, mas estavam negociando em separado, talvez com a ajuda de advogados.
(2) Termo de Acordo - se o atingido assinou ou não o Termo de Acordo realizado no Fórum de Conceição do Mato Dentro em meado de setembro de 2010. (3) Opção de Negociação: consiste na escolha na modalidade de negociação apresentado pelo Termo de Acordo. As opções, como descritas com mais detalhes anteriormente
são: (1) Aquisição de Área; (2) Reassentamento Coletivo; (3) Valor Monetário + Remanejamento Individual (4) Data Avaliação - consiste na data que o cadastro patrimonial teria sido entregue ao atingido conforme consta no Temo de Acordo. (5) Classificação da Área - Classificação fundiária, de acordo com a Lei Federal 8.629/93, que considera as áreas menores que 1 Modulo Rural, Minifúndios, entre 1 e 4 Módulos
Rurais, Pequena Propriedade; entre 4 a 15 Módulos, Média Propriedade e acima de 15 Módulos, grande propriedade. (6) Trabalho Inicial - consiste em informar se o Termo de Acordo do atingido previa o recebimento de R$50.000,00 que consistiria em "ajuda para iniciar os trabalhos na terra". (7) Área em Vista - se o atingido já estava em negociação de alguma área junto ao empreendedor e onde se localiza tal área. (8) Mudança em Família - se e quais atingidos tinham intenção, declarada na nossa entrevista de campo, de se mudar para áreas vizinhas ou próximas entre si.
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6.4.2 - Mumbuca/Água Santa
A comunidade de Mumbuca/Água Santa fica na divisa entre os municípios de Conceição do
Mato Dentro e Alvorada de Minas22. A comunidade foi classificada no documento do “Termo
de Acordo” como “área da barragem de rejeito”.
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Casa de mumbuca com empreendimento ao fundo.
Empreendimento visto de Mumbuca.
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Empreendimento visto de Mumbuca
Assim como em Ferrugem, Mumbuca/Água Santa é formada principalmente pela parentela dos
Pimentas e Rodrigues, sendo comum, algumas famílias apresentarem descendentes destes
dois ramos familiares, como um Pimenta casado com um Rodrigues. Essa forte relação de
22 Lembrando que o Módulo Fiscal de Alvorada de Minas é de 30ha, enquanto o de Conceição do Mato Dentro é de 20ha.
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parentesco entre as famílias da comunidade é uma das características comuns aos grupos
étnicos, onde o casamento endogâmico fortalece os laços internos do grupo e o contraste em
relação aos “de fora”. Nas palavras de um morador “aqui quase todo mundo é família”. A
característica de ser uma comunidade negra é reforçada pelas várias histórias contadas pelo
grupo que remontam a ascendentes que teriam sido escravos como contado por Dona.
Almerinda que relatou que o avô materno, conhecido como “Toninho Pretinho” foi escravo e
havia sido vendido23.
As famílias de Mumbuca/Água Santa possuem em média, pouca terra, portanto, uma das
estratégias de sobrevivência para além da venda da força de trabalho, muitas vezes por
“empreitada” ou na “diária”, é o plantio “à meia”, ou “à terça” de mandioca, milho e feijão,
nas terras dos fazendeiros locais. As vendas de terras de alguns destes fazendeiros para o
empreendimento minerário nos últimos 04 anos dificultaram a permanência destas atividades
e trouxe impactos para a produção do grupo, visto que a empresa adquirente cessou tais
atividades e em vários casos proibiu o acesso e a passagem por suas áreas. Alguns exemplos
destas proibições e dos impactos gerados sobre as áreas que extrapolavam as propriedades
destas famílias, mas que eram áreas de uso destes grupos, são: os “caminhos” utilizados para o
descolamento de moradores; o acesso a topos de morros utilizados para o lazer (passeios),
religião (locais preferidos para rezas e comemorações religiosas) e parte da subsistência, pois
eram espaços reservados para coleta de lenha; os córregos de água que eram utilizados tanto
para o lazer (passeios de fim de semana, nadar e pescar) quanto para o as afazeres do dia-a-
dia, uma vez que até recentemente eram usados para captação de água e lavagem de roupas e
hoje estariam comprometidos, segundo os moradores, pela sujeira, principalmente em épocas
de chuvas, pelo assoreamento do leito e diminuição do volume de água; além de não poderem
cultivar nas terras que eram utilizadas para os plantios “a meia” ou “a terça”.
Um dos exemplos de terras de cultivo que eram utilizadas para plantios “a meia” são as terras
do Passa Sete que ladeiam o córrego de mesmo nome vizinho a Mumbuca/Água Santa e que
foram adquiridas pela empresa Borba Gato que encerrou a prática do plantio nestas terras,
23 ECOLAB, 2008, p.44.
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bem como fechou a cachoeira do Passa Sete, área considerada pelo grupo como uma das
opções de lazer dos fins de semana.
Segundo os moradores, o nome Água Santa vem de uma fonte onde aparecia a imagem de
Nossa Senhora. A água era considerada curativa pela comunidade e pelos grupos vizinhos que
vinham de longe para se banhar em suas águas ou mesmo para buscar águas para os familiares
enfermos. Segundo eles, a água “fervia”, “ficava quente” e as pessoas tinham que se banhar na
bica e não no poço. Hoje a área utilizada para os banhos está em poder do empreendedor que
veda o acesso à bica.
A comunidade realizava as festas de São Sebastião (20 de janeiro) e de Nossa Senhora
Aparecida (nas proximidades de 12 de outubro). Nesta última, a comunidade e devotos de N.
Sra. Aparecida moradores de comunidades vizinhas realizavam uma procissão que levava a
imagem da santa, que pertence à comunidade, e fica guardada na casa de um dos moradores
até o local onde pretendiam construir uma Capela em homenagem a Santa24. Neste local
ocorria o levantamento do mastro e da bandeira da Santa, acompanhados de uma missa e
outras festividades como a entrega de presentes (brinquedos) para as crianças e comes e
bebes a todos os participantes. Também foram destacadas as participações nas festas
tradicionais de Itaponhacanga e Córregos.
Como dito, um dos lazeres da comunidade, o banho de cachoeira, nos fins de semana,
principalmente na região de Passa Sete foi comprometido com a poluição da água e a
proibição de acesso. O Forró, outro lazer dos sábados, que ocorria “cada fim de semana em
uma casa diferente”, também parou a cerca de seis meses com a perspectiva da realocação
das famílias.
A situação de pessoas mais idosas e com necessidades especiais é outro fator de preocupação
no contexto do processo de implantação do empreendimento. A comunidade é formada por
pessoas com idade bem avançada e que deveriam ter um acompanhamento médico e
psicológico especial para lidar com este processo de mudança, como: Dona Amélia Ducelina
24 A área onde a comunidade pretendia erguer a Capela é uma área mais elevada, uma espécie de platô hoje bastante próxima à área onde a empresa tem trabalhado.
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Pimenta (94 anos), Maria Rosa da Silva (90 anos), Almerinda Ducelino Pimenta (86 anos), e Rita
Rodrigues de Souza (80 anos), entre outros. Vários moradores estão na faixa dos 70 anos. A
preocupação em relação aos mais velhos é tanto pela fragilidade física da idade avançada, mas
principalmente com relação ao impacto psicológico que tal mudança acarreta nestas pessoas
que em geral nasceram e sempre viveram neste território, herdado dos pais e avós. Também
se destaca o grupo de pessoas com situações médicas mais frágeis e que necessitam de um
acompanhamento mais rigoroso, como o José Rosa, de 64 anos, que já sofreu 02 derrames,
sendo o último aproximadamente três anos, além dos portadores de doença de chagas e os
casos de pessoas portadoras de necessidades especiais, tanto física, como Sebastião Simões
Pimenta, que anda com o auxilio de muletas devido seqüela de uma paralisia infantil, e de
Vanderley dos Santos Monteiro, filho de Nilson dos Santos Monteiro que é paralítico em
função de um acidente por atropelamento, quanto mentais como no caso de cinco filhos de
Dona Maria de Fátima Teixeira Simões e seu marido, José Lírio Pimenta Simões25.
Assim como indicado em Ferrugem considera-se primordial um trabalho urgente de assistência
médica e psicológica para estas pessoas, principalmente para os mais idosos que representam
uma importante referencia ao grupo, pois além de serem antecedentes de várias das famílias
da comunidade são fontes de conhecimento de uma cultura tradicional que é repassada
principalmente pela oralidade. Quando realizamos nossas visitas muitas destas pessoas foram
preservadas das entrevistas a pedido dos familiares que informavam a preocupação com os
desgastes gerados por todo este processo de negociação e possível mudança.
Assim como em Ferrugem, também em Mumbuca/Água Santa, somente parte das famílias,
aproximadamente 12, foram consideradas aptas no “Termo de Acordo” para receberem um
valor de R$50.000,00 para “trabalhos iniciais na terra”, enquanto outras 11 foram excluídas
25 A família de Dona Maria de Fátima Teixeira foi incluída na reunião da SUPRAM/Diamantina, reunião em que ela não participou, como uma das 04 famílias em situação mais urgentes pela proximidade da área de implantação do empreendimento. Na reunião foi deliberado que a empresa teria um prazo de 20 dias para realizar a realocação destas famílias. Soubemos por informação da Comissão Pastoral da Terra - CPT que está acompanhando este processo que a empresa teria uma boa área a disposição para a realocação destas famílias, mas que um dos grandes receios de Dona Maria de Fátima é a segurança dos filhos portadores de necessidade especial, porque a área apresentada possui algumas lagoas e córregos mais profundos.
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deste beneficio. Mais uma vez, não ficaram claro quais os critérios utilizados para que tais
famílias fossem consideras aptas ou não a receber tal recurso.
O valor médio das benfeitorias/indenizações, sem considerar o valor das terras, das 21 famílias
que tivemos acesso ficou em torno de R$98.000,00. Em alguns casos, o valor das benfeitorias
foi bem baixo, por exemplo, sete (07) famílias tiveram suas benfeitorias estimadas entre
R$9.000,00 a R$33.000,00, considerando que todas estas possuem pelo menos uma casa, com
pomares e jardins.
Em relação às terras das 21 famílias que tivemos acesso, o empreendedor iria adquirir cerca de
169 ha, uma média de aproximadamente 8ha por família. Destas 21 famílias, conforme a
classificação fundiária, apenas 02 seriam consideradas pequenas propriedades, que seriam
imóveis com áreas compreendidas entre 01 e 04 módulos fiscais; todas as demais 19 seriam
consideradas minifúndios, que são área inferiores a 01 módulo fiscal, sendo ainda que destas,
11 teriam áreas inferiores a 01ha. Com um valor baixo de benfeitorias e de terras a serem
ressarcidas, muitas famílias negociaram com o empreendedor parte das áreas a qual teriam
direito como forma de ter um valor monetário razoável, já que outros valores seriam
ressarcidos em forma de serviços, como “assistência técnica”, “construção de casa”, entre
outros.
Vários entrevistados nos informaram que estariam paralisando o plantio nos últimos anos em
função dos impactos sofridos, inclusive com o novo ordenamento territorial gerado pela
aquisição de propriedades na região e diante do processo de negociação e possível saída,
portanto, a avaliação das benfeitorias reprodutivas como plantio, que foi realizado no primeiro
semestre de 2010, pode ter sido sub-avaliada em função de um possível impacto já gerado
pelo empreendimento como um todo desde sua chegada na região.
A questão das “terras de herança”, assim como em Ferrugem, também deve merecer atenção
especial neste processo de negociações por ser comum na comunidade e por ser foco de
conflitos como o relatado anteriormente, que envolve a família de Sebastião Pimenta, que
ainda mora de aluguel em terras próximas de onde vivia.
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Nas entrevistas realizadas ficou claro que as “terras de heranças” são uma questão que ainda
não estaria resolvida com os familiares que não moram na área, sendo que o empreendedor
tem priorizado a negociação com os herdeiros moradores do local, deixando os demais para
um segundo momento. Foram-nos relatados alguns processos de negociação com “herdeiros
de fora”, mas que não teriam se concluído, estando ainda em fase de propostas. Assim como
em Ferrugem, a saída dos atuais parentes que permanecem na terra, antes do acerto com os
parentes “de fora”, pode significar um enfraquecimento do poder de negociação destes “de
fora”, pois provavelmente o empreendedor tomará posse da área a qual ainda possuem
direito. Em alguns dos “Termos de Acordo”, consta que o valor referente à terra a ser adquirida
estaria incluído o valor da propriedade, posse e “direitos hereditários”.
Das 32 famílias existentes na comunidade até cerca de três (03) anos atrás, 07 já mudaram em
função de negociações realizadas com o empreendimento. Hoje todas as demais famílias estão
em processo de negociação, à exceção de Sebastião Simões Pimenta.
Sebastião Simões Pimenta mora de aluguel em uma casa na comunidade, próxima de onde ele
morava anteriormente. Portador de deficiência física, em conseqüência de uma paralisia
infantil, ele mora junto com sua mãe de 91 anos, Maria Rosa da Silva, e dois irmãos, Calixto
Simões Pimenta e Leonor Simões Pimenta. Sebastião teria participado de uma negociação de
terras, que são “terras de herança”, as mesmas relatadas anteriormente, que também foram
alvo de informes pelo Ministério Público Federal que gerou um conflito judicial em torno de
outros descendentes dos Pimentas, inclusive Antônio Pimenta da Ferrugem. Segundo
Sebastião Pimenta, eles teriam sido muito pressionados para negociar as terras devido a
necessidade da empresa em tomar posse desta área. Quando finalizaram a negociação, a
empresa teria dado 60 dias para eles saírem, o que coincidia com o período das chuvas (verão).
Aliado a esta questão climática, ele disse que um dos “corretores” que trabalhava com a Borba
Gato teria atravessado uma negociação sua de uma área na região de Retiro, no município de
Dom Joaquim. O “corretor” teria adquirido a área, dizendo inicialmente que o fazia para ele,
não lhe repassou a propriedade e ele teria ficado sem opção de área para se mudar com a
família. Então, deslocou-se com a família para uma área vizinha. O local onde a família estava
residindo de aluguel pertence a uma das famílias em processo de negociação e, portanto, ele
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deverá em breve sofrer um novo deslocamento compulsório. Ele possui a expectativa de uma
possível nova negociação com o empreendedor. A primeira negociação teria se dado a quase
(02) anos.
As negociações das 07 famílias que já saíram nestes últimos anos foram muito variadas e,
portanto, seria importante uma reavaliação da situação destas para corrigir possíveis
precariedades nestes processos. Destas, 03 fizeram permutas de terras e 04 teriam recebido
apenas uma compensação financeira.
As 03 famílias que receberam terras em troca de suas posses e propriedades foram para a
região de Gondó (José Mário, Jesus e Andreza26); No caso dos irmãos: Jesus e Maria Andreza,
eles fizeram uma permuta recebendo uma área em troca da que ocupavam há
aproximadamente 02 anos. José Mário Pimenta Simões, que saiu no início de 2010, também
fez uma permuta de terras, situação bem diferente do seu genro, Edinei Aparecido Pimenta de
Castro que por ter sua casa próxima a área de “propriedade” do sogro e por trabalhar nas
“terras do sogro”, teria recebido apenas um valor monetário cerca de R$130.000,00 (cento e
trinta mil) e seis meses de “cesta básica”.
Dos quatro que não teriam recebido terras, apenas uma compensação financeira, Edinei se
mudou para a área urbana de Conceição do Mato Dentro, assim como Delcio Simões Pimenta.
As duas irmãs de Delcio saíram na mesma época que o irmão, uma foi para a área urbana de
Itaponhacanga (Onira) e a outra foi para a área urbana de Alvorada de Minas (Alice). Esta
remoção das famílias em função, principalmente, da necessidade espacial do empreendimento
tem gerado uma fragmentação dos grupos familiares, pois alguns são removidos/reassentados
de forma separada e em períodos diferentes.
A família Simões dos Santos, os 03 irmãos, filhos de Benjamin: Delcio Simões dos Santos, Onira
Simões dos Santos e Alice teriam recebido, há aproximadamente 03 anos, cerca de
R$65.000,00 (sessenta e cinco mil reais) cada um a título de indenização dos direitos de cada
um em relação a suas terras e suas respectivas residências. No caso de Delcio, seu filho Nelson,
26 Andreza tem uma casa na área urbana de Conceição do Mato Dentro, onde seu marido trabalha e nos fins de semana ficam em suas terras em Gondó.
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que já teria uma residência própria, independente dos pais, recebeu apenas R$1.000,00 (mil
reais). A justificativa dada, segundo nos foi relatado, foi que ele “moraria com o pai27”.
Delcio Simões Pimenta: recebeu R$65.000,00 na negociação dos quais R$43.000 teria sido
revertido para a aquisição de uma casa na região urbana de Conceição do Mato Dentro, na
região do Alto do Baú. Não possui ainda o titulo de propriedade deste imóvel, pois pelo acordo
com o empreendedor este se responsabilizou pela regularização da transferência, os
emolumentos cartoriais e a emissão de títulos e documentos da nova residência. Ele afirma ter
recebido apenas o documento de compra e venda. A residência adquirida no Alto do Baú onde
reside com a esposa e filhos está em uma situação precária com rachaduras bem significativas.
Ele teria começado a construir uma nova casa, mas o dinheiro não foi suficiente e a obra está
paralisada, tendo apenas concluído a fundação e levantado parte das paredes. Nem a mudança
teria sido custeada pelo empreendedor, já que Delcio gastou a quantia R$500,00 (quinhentos
reais) para realizá-la, metade do valor em que foi avaliada a casa de seu filho. O filho Nelson,
recebeu pela sua residência de 04 cômodos, conforme nos relatou Delcio, apenas R$1.000
reais. Com a mudança, seu filho passou habitar um pequeno cômodo de menos de 3 metros
quadrados sem ventilação e iluminação natural, construída de forma precária por ele mesmo
na entrada do lote do pai. O filho tem um problema na coluna que limita sua capacidade para
realizar trabalhos mais pesados e quando residia na Mumbuca trabalhava em um pequeno bar
da família. Amadoramente, Nelson faz artesanato, mas não tem muito mercado para os seus
produtos. A situação da família de Delcio merece uma atenção especial e urgente devido a um
possível quadro de precariedade das relações familiares, que pode gerar riscos a integridade
física dos mesmos, conforme informado por carta ao Promotor de Conceição assinada entre
outras por sua irmã Darcília encaminhada em fevereiro de 2010 ao Ministério Público Estadual
e ao Promotor de Justiça da comarca de Conceição do Mato Dentro28.
27 Este tipo de argumento foi utilizado em outros casos que serão aqui relatados e que a nosso ver geraram algumas situações de precariedade. 28 Nesta carta é relatada a pressão sofrida pelos irmãos para saírem da área e em uma passagem diz o seguinte comentário em relação a Delcio: “Esse irmão Délcio, passado um tempo, sentindo a falta da família, o isolamento, as dificuldades, já tentou algumas vezes até o suicídio (já tomou remédio e já colocou uma corda no pescoço)” (Carta de solicitação de Providências encaminhada ao MPE e Promotor de Justiça da Comarca de Conceição do Mato Dentro, 2010, mimeo)
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Rachaduras na casa do Delcio Rachaduras na casa do Delcio
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Casa do Delcio em construção, que se encontra com as obras paralisadas por falta de recursos.
A frente da casa do Nelson, filho de Delcio.
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A frente da casa do Nelson Lateral da casa do Nelson
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Ficaram ainda na região de Mumbuca/Água Santa, entre outros parentes, seu irmão,
Mongeninho e sua avó, Amélia Simões Pimenta, que teria sido a parteira de seus 03 filhos.
Quando morava em Mumbuca, ele trabalhava para um parente, Dona Natalina, da
comunidade de Ferrugem. Após se mudar ele começou a trabalhar como biscate e hoje
trabalha como caseiro de uma chácara próxima de sua casa. Outra irmã que mora próximo de
onde morava é a Darcília Cezário de Sena, casada com Sebastião Cesário de Sena. Eles moram
no Passa Sete, mesma região de Mongeninho e os demais irmãos que se mudaram, mas são
separados pela rodovia.
A outra irmã de Delcio, Onira Simões dos Santos e seu marido, Cristalino Pereira do Amaral, se
mudaram para a área urbana de Itaponhacanga. Segundo Cristalino, foram cerca de 05 meses
de forte pressão por parte do empreendedor para que negociassem suas terras onde eles não
teriam sossego “nem para almoçar”. Quando saíram, não tinham muito conhecimento sobre o
empreendimento, apenas foram informados que seriam “atingidos”. Segundo sua declaração,
no local da residência tinham horta, galinheiro e mandiocal. Onira teria saído bastante
contrariada. A opção por Itaponhacanga teria sido por ser um local mais próximo. O valor que
receberam, aproximadamente R$65.000,00 segundo Cristalino, não foi suficiente nem mesmo
“para arrumar a casa”. O que denota como já descrito neste relatório a desorganização de
todo o espaço social da região e um aumento exponencial da especulação imobiliária, o que
tem tornado os valores quase sempre insuficientes para a realocação, principalmente nos
casos das famílias que negociaram anteriormente à assinatura do “Termo de Acordo” entre
empreendedor e atingidos mediados pelo Ministério Público Estadual e Defensoria Pública
Estadual.
A outra irmã, Alice, e seu marido, José Paulo foram para a região urbana de Alvorada de Minas.
Alice tem problemas de saúde que necessitam de cuidados especiais e toma diariamente uma
série de medicamentos controlados. Segundo sua própria descrição, ela sofre de “problema de
nervosismo”. Ela disse que o dinheiro que recebeu do empreendedor foi insuficiente, o valor
oferecido permitiu a compra de uma área, mas foi escasso para bancar toda a construção da
nova residência que foi concluída recentemente com auxílio da aposentadoria que recebe por
invalidez. Por pressão da empresa para que saísse rápido, ela teve que mudar para essa nova
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área antes mesmo de sua casa estar concluída, o que fez com que tivessem que dormir por um
tempo, no chão, em uma precária casa de serviço que fica no lote. Na conversa, Onira ficava
bastante exaltada ao relembrar este processo de mudança. Hoje ela reside a maior parte do
tempo sozinha na nova casa, uma vez que o marido conseguiu trabalho somente em uma área
rural distante da nova residência, onde dorme alguns dias da semana.
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A casa da esquerda teria sido a casa para qual Alice se mudou. A casa da direita é a que ela
terminou com dinheiro próprio.
Fundo da casa onde Alice teria morado após a mudança e atrás, a casa que construiu.
Os irmãos Jesus e Maria Andreza, são da parentela dos Rodrigues, netos do finado Pedro
Rodrigues, cujas terras ainda não estavam partilhadas entre seus herdeiros. Eles negociaram e
saíram de Mumbuca/Água Santa entre setembro e outubro de 2008, portanto, há
aproximadamente 02 anos. Jesus trabalhava em uma fazenda que fora comprada pela Borba
Gato, passou a trabalhar, por aproximadamente 02 anos com esta empresa. Segundo ele, seu
avô, Sr. Pedro Rodrigues, previa que viria a mineração, pois desde o seu tempo de moço havia
pesquisa sendo feita e uma conversa nesta direção. Ele trocou seu terreno, cerca de 38 ha, por
uma boa área na região de Gondó, com uma casa e um pequeno curral29. Já Maria Andreza
recebeu uma área de 20 ha, segundo ela, sem nenhuma casa ou benfeitorias, apesar de ter
uma casa construída em sua antiga propriedade na Mumbuca. Ela também, segundo informou,
29 Apesar de Jesus se demonstrar satisfeito com sua negociação, seus filhos não teriam sido levado em consideração neste processo.
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não teve acesso a nenhum outro tipo de serviço como assistência técnica, ajuda para o plantio
ou mesmo algum tipo de cesta básica.
José Mario Pimenta Simões, também conhecido por Marinho, saiu de sua área no início de
2010, mais precisamente em princípio de fevereiro. Sua área era no alto da serra, bem “no pé
do serviço” (da mineradora), já bem próxima da comunidade de Buriti30. Marinho é filho de
Dona Amélia Ducelino Pimenta e irmão de Inês Simões Pimenta (esposa de Ciro), Marília
Pimenta Simões e José dos Passos Simões Pimenta, todos estes ainda residindo em Mumbuca.
Marinho diz que o empreendedor ficou uns 02 anos “mexendo” bem próximo de sua área, com
explosões, que teriam trincado sua casa, outras problemas vividos seriam o intenso trânsito de
veículos e o fechamento de caminhos que davam acesso a sua área, o que teria “prendido sua
saída”. No processo de negociação, a empresa sugeriu sua ida para uma “área provisória”, mas
ele não aceitou. Na mesma época saiu seu genro e sobrinho, Edinei Aparecido Pimenta de
Castro, filho de Inês e Ciro e hoje, viúvo da filha de Marinho, Marilane. Edinei morava na
“pedreira perto da serra”, segundo ele, na área próxima onde o “pessoal estava trabalhando”,
o que lhe tornava cada vez mais difícil o uso da estrada para entrar e sair de sua área.
Com já dito aqui, as negociações dos dois foram bem diferentes. Marinho teria trocado sua
área em Mumbuca por uma área equivalente na região de Gondó. Segundo informou, não
recebeu nada em dinheiro, nem mesmo pelas benfeitorias no seu terreno, apesar da área que
recebeu já haver alguma infra-estrutura como casa e um curral. Também não teve direito a
“assistência técnica”, nem qualquer auxilio para reiniciar sua produção. Para além da permuta
de áreas teve direito a 06 meses de cesta básica, que teria sido prorrogado recentemente para
mais 06 meses. Seu filho maior de idade também não recebeu nada. Ao todo mora nesta nova
terra ele, esposa e (04) filhos.
Já Edinei Aparecido Pimenta de Castro, que tinha uma área de menos de 01 ha, mais uma casa
construída recebeu apenas o valor de R$130.000,00 reais e 06 meses de Cesta Básica. Segundo
tinha sido informado à época de sua entrevista, a Cesta Básica seria prorrogada por mais 06
meses, mas disse que não lhe fora oferecido a possibilidade de permuta ou mesmo
30 Falaremos um pouco mais a frente sobre a comunidade de Buriti.
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indenização em forma de terras. Com o dinheiro ele comprou uma casa no valor de
R$115.000,00 no bairro Vila São Francisco. Onde moram juntos, ele e seu filho de 04 anos de
idade. Como é viúvo e tem um filho pequeno o desemprego é uma opção que lhe permite
cuidar do filho, pois não teria com quem deixá-lo. Pelo que informou seus pais (Ciro e Inês), no
processo de negociação com o empreendedor para a saída de Mumbuca, pretendem comprar
uma casa próxima a dele, inclusive para ajudar na criação do neto31. Enquanto seus pais
seguem aguardando o desfecho da negociação, Ednei também espera.
Abaixo descrevemos a Cesta Básica que ele recebe por mês. Como Edinei fez este exercício de
cabeça pode haver algum produto que possa ter se esquecido.
CESTA BÁSICA RECEBIDA POR EDINEI ÍTEM PRODUTO QUANTIDADE UNIDADE
1 Arroz 2 Sacos de 5kg
2 Açúcar 4 Kg
3 Óleo de Soja 3 Litros
4 Fubá 2 Pacotes
5 Farinha de Mandioca 1 Pacote
6 Farinha de Trigo 2 Pacote
7 Biscoito Maria 4 Pacotes
8 Carne de Boi de 1ª. 5 Kg
9 Manteiga 2 Vasilhas
10 Sabão 4 Quadro
11 Sabão em Pó ½ Kg
12 Pó de Café ½ Kg
13 Leite 7 Litros
14 Suco 10 Saquinhos
Fonte: Trabalho de campo.
Esta política de “realocação” de famílias realizado em função do empreendimento, seja pela
Borba Gato, MMX e agora com a Anglo Ferrous, parece estar gerando um processo de
desmembramento familiar e comunitário destas comunidades, conforme identificaram vários
entrevistados, gerando uma divisão entre vizinhos e famílias, não só fisicamente por levar
familiares para locais distantes como também gerando algum tipo de discórdia entre eles. Bem
31 A ajuda de Ciro e Inês na criação dos netos não é nenhuma novidade na família. O neto Daniel, hoje casado e vizinho dos avôs, já morou com eles e hoje, outro neto, Rafael, também mora com a família de Ciro. A casa maior de Ciro e Inês funciona como um complemento da casa dos filhos e neto que moram próximo a eles.
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como um desconforto ao realizar negociações de modo individualizado e com critérios diversos
ao longo do tempo.
Um exemplo do desmembramento das famílias é o caso da família de Dona Amélia Ducelina
Pimenta de 93 anos Segundo sua filha, a terra deles seria herança das terras de seu avô, pai de
Amélia. A matriarca dessa família mora hoje com um dos filhos, José dos Passos Simões
Pimenta e próxima de duas filhas Marília Pimenta Simões Peixoto e Inês Pimenta de Castro,
casada com Ciro Cloves de Castro, sendo que este casal tem hoje 02 filhos e 01 neto que
moram próximos. No entanto, um terceiro filho de Dona Amélia, José Maria Pimenta Simões
(Marinho), conforme relatado acima, que também morava em Mumbuca/Água Santa já foi
realocado para Gondó a cerca de um ano. O genro do Marinho, como também já
mencionamos acima, que também é seu sobrinho, filho de Dona Inês e Ciro, Edinei Aparecido
Pimenta de Castro, também morava nas terras próximos do sogro, e também foi realocado,
mas para a área urbana de Conceição do Mato Dentro. Uma outra filha de José Maria Pimenta
Simões também é casada com um parente, Daniel Pimenta de Castro (neto de Ciro e Inês)
continuou morando em Mumbuca/Água Santa, apesar da mudança de seus pais.
Devido a falta de oportunidade de áreas maior, Dona Amélia deve se mudar apenas com uma
das filhas, Marília Pimenta Simões Peixoto, enquanto a outra, Inês Pimenta de Castro, tenta
mudar junto com os 02 filhos e o neto que ainda moram próximo deles: Lindália de Castro
Neves casada com Walmir Alves Neves; Antônia Leonina de Castro e seu marido Élson Miranda
de Souza32; e Daniel Pimenta de Castro que é casado com sua parente, Dyonaine do Rosário
Pimenta de Castro. A idéia de Dona Inês e seu marido, Ciro Cloves de Castro, é comprar uma
casa na região urbana, próximo do filho Edinei e manter com os outros filhos uma área rural
para poderem plantar. A empresa teria oferecido a eles uma área próxima do Tijucal, mas eles
acharam que ficariam muito longe. Este é um grupo familiar que plantava no Passa Sete e que
tiveram de paralisar as atividades agrícolas por causa do empreendimento. Eles produziam
farinha para vender em Conceição do Mato Dentro.
32 Reforçando o exemplo da relação de casamentos entre as mesmas famílias, uma das características de grupos étnicos tradicionais, a avó de Élson era parenta da avó de sua esposa, Antônia Leonina.
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Um dos casos que preocupavam a família era a situação de Rafael Miranda de Castro e Souza,
filho de Élson e Antônia Leonina, um dos netos de Inês e Ciro que estaria às vésperas de
completar 18 anos, no dia 4 de novembro do ano de 2010, pouco mais de um mês depois da
assinatura do “Termo de Acordo” e por isso não foi considerado maior de idade o que lhe
permitiria receber os 10 ha que os filhos maiores de 18 anos teriam direito. O caso dele é
importante, pois ele é o filho mais velho do casal que tem outros 04 filhos, com idade entre 10
e 14 anos e que em poucos anos irão exercer uma demanda por terras em um espaço limitado
há apenas 20 hectares que os pais receberiam na negociação. Segundo relataram, apesar de
não ter sido “documentado” pelos negociadores do empreendedor, eles teriam se
comprometido a incluí-lo na categoria dos filhos maiores de 18 anos, até porque o acordo não
fora efetivado antes dele completar seus 18 anos. Lindália de Castro Neves, a outra filha de
Ciro e Inês, casada com Walmir Alves Neves tem 03 filhos, sendo que todos menores de 18
anos, entre 10 e 15 anos.
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Entrada da casa de Ciro Cloves de Castro Cozinha da casa de Ciro Cloves de Castro
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Detalhe dos 2 fogões de lenha da cozinha do Ciro Cloves de Castro
Forno a lenha com moenda de cana
Lindália, assim como Osvaldo Assis, filho de dona Elza Anedina de Assis, trabalharam para o Sr.
Pedro Gaeta que tem uma área na Mumbuca. A esposa de Pedro, Dalva Maria Generoso
Brandão Murta Gaeta, é sobrinha de Dona Suzana Generoso que tem uma grande Fazenda na
região. Dalva, assim como Osvaldo e Pedro, fizeram parte da Comissão dos Atingidos
representando Mumbuca/Água Santa. Sendo, aliás, atores importantes nesta comissão. Pedro
e esposa também estavam em processo avançado de negociação com o empreendedor.
A filha de Amélia Pimenta, Marília Pimenta Simões Peixoto, junto com o companheiro, Toni da
Silva Peixoto, pretendem uma área próxima a Gondó para ser realocada junto com a mãe.
Os netos de Dona Amélia, cujos pais faleceram há alguns anos, os irmãos Mongeninho Simões
dos Santos, Onira Simões dos Santos, Delcio Simões dos Santos e Alice, também moravam nas
terras herdadas de seus pais na região de Mumbuca/Água Santa33. Eles ainda possuem outros
irmãos que não moravam mais na área, mas também teriam direito a terra de herança. Hoje,
dos 04 irmãos que moravam no local, só Mongeninho ainda permanecia, apesar de estar em
processo de negociação junto com os demais moradores de Mumbuca/Água Santa para sair.
Os outros 03 irmãos, como dito anteriormente, teriam recebido cerca de R$65.000 reais para
sair de suas casas e terras. Onira foi para a área urbana de Itoapoacanga, Alice foi para a área
33 Alguns caracterizam o local de moradia deles como fazendo parte do Passa Sete, córrego que passa próximo e dá nome a região.
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urbana de Alvorada de Minas e Delcio foi para a área urbana de Conceição do Mato Dentro. Os
irmãos que eram vizinhos e realizavam trabalhos juntos, principalmente Mongeninho e Delcio,
hoje pouco se vêem. Como nos foi dito por um dos irmãos que saíram: “para não ser
maltratado ou aborrecido em algum lugar, a gente tem que sair sem querer.” Outra irmã deles,
Darcília Pires de Sena, mora próxima de Mongeninho, na própria região do Passa Sete. Casada
com Sebastião Cesário de Sena, eles eram uma das famílias que plantavam a meia no terreno
da fazenda de Alessandro Lodi, aquirida pela Borba Gato. Darcília mora próxima da família de
João Moreira de Souza que foi considerado como uma das quatro famílias mais urgentes em
serem realocadas, na reunião da Supram Diamantina de Dezembro de 2010. Falaremos sobre
as famílias do Passa Sete um pouco mais a frente.
Os demais irmãos herdeiros que não moravam nas terras, teriam recebido há 03 anos, uma
proposta de R$1.000,00 pelos seus direitos de herança da terra, proposta não aceita pelos
atingidos. Segundo relataram, os negociadores, na época, diziam que “só tinha direito quem
morava na área”. Recentemente, eles teriam recebido outra proposta financeira pela parte
deles na herança da terra, mas ainda não teriam aceitado. Quanto aos irmãos que saíram em
uma situação mais desvantajosa como Alice, Onira e Delcio com seu filho Nelson, ainda não
havia nenhuma proposta concreta em relação a uma possível revisão de suas negociações.
Inicialmente a intenção de Mongeninho é de ter uma casa na cidade de Conceição do Mato
Dentro, além de uma terra agricultável com os filhos na zona rural, mas ainda não tinha
escolhido estas áreas, pois como trabalha não possui tempo para pesquisar a casa e a terra
com estas características. A esposa de Mongeninho, Márcia Simões Pimenta Santos é filha de
Pedro Simões Pimenta e Josefina Soares Pimenta, também moradores da Comunidade.
Pedro Simões Pimenta, com 73 anos, é “nascido e criado” na comunidade. Suas terras seriam
parte da herança de seus pais. Pedro serve de exemplo de como a produção familiar vem
decrescendo em função, direta ou indiretamente, do empreendimento. Seu moinho, que
ficava próximo a casa de seu avô, que serviu tanto para ele criar seus filhos, como também era
utilizado para moer milho para o pessoal da região, “entupiu” de terra removida pelas obras do
empreendimento que desceram com a chuva. Sem funcionar ele foi desmontado por “pessoas
da Anglo”, assim como o moinho do Edgar (também da comunidade), e aguarda definição, na
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beira do córrego sobre seu destino. A farinha produzida no moinho também servia para
engordar a pequena criação de porcos. Sem a farinha foi suspensa a criação de porcos. Com a
indefinição sobre sua mudança diminuiu sua produção agrícola. Tinha duas hortas, hoje só
possui uma. Também parou com a apicultura e não tem plantado milho e mandioca
aguardando a definição em relação a sua possível mudança. Ele tinha olhado uma área
próxima de Gondó.
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Horta do Pedro Simões Pimenta Galinheiro do Pedro Simões Pimenta
A mãe de Josefina Soares Pimenta, Maria Soares Pimenta, junto com outros de seus irmãos, se
mudou no meio do ano para a região de Córregos e ela diz que ficou difícil de ir vê-la pela
distância. Maria e família moravam na região denominada por Buriti que é vizinha a
comunidade de Mumbuca/Água Santa. Os laços familiares entre as famílias destas duas
comunidades é muito estreito, em geral são quase todos pertencente a parentela dos Pimenta.
Procuraremos falar um pouco mais a frente sobre a comunidade de Buriti.
Outra filha de Pedro e Josefina que mora na comunidade é Simone Simões Pimenta que é
casada com Valter de Souza Peixoto, primo de terceiro grau. Junto com eles moram 04 filhos
menores de idade. Valter é irmão de Daria de Souza Peixoto, casada com Carlos Roberto de
Sena, também moradores da comunidade. Apesar de ainda não ter nenhuma terra em vista,
eles queriam se mudar para próximo dos familiares. A família plantava a terça no terreno da
vizinha, também moradora da comunidade, Elza Anedina de Assis.
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Elza que tem Doença de Chagas, e é viúva de Osório Pimenta, mora com outros 04 filhos, todos
maiores de idade. Um dos filhos, Osvaldo de Assis, era um dos representantes da comunidade
na Comissão dos Atingidos. Eles estariam analisando uma área para se mudar.
Valter é vizinho da irmã, Daria de Souza Peixoto, que é casada com Carlos Roberto de Sena. O
casal mora no mesmo terreno que a mãe e os irmãos de Carlos Roberto, respectivamente
Helena Maria Cesário de Sena, Ronivon Cesário de Sena e Odete Cesário de Sena. O casal tem
04 filhos menores de idade. O terreno seria uma posse cedida ao seu pai falecido João Bento
Cesário de Sena, há mais de 50 anos. O interesse da família era de se mudar para próximo da
Conceição do Mato Dentro. Helena foi criada pela mãe de Mongeninho Simões dos Santos, do
qual é vizinha. Na sua casa ainda moram outras duas filhas maiores de idade. Não ficou claro
na conversa se eles iriam se mudar para áreas próximas um dos outros.
Almerinda Ducelino Pimenta, irmã de Dona Amélia Ducelina Pimenta, que hoje mora próximo
da irmã, deve se mudar com o genro Nilson dos Santos Monteiro e sua filha, Vanda Célia
Pimenta Monteiro, para outra área. Nilson trabalha para Humberto Jardim, antigo proprietário
da Fazenda Jardim, adquirida pelo empreendedor. Com a venda da Fazenda Jardim, ele
continuou trabalhando para o Humberto Jardim, mas em Morro do Pilar, bem mais longe de
sua casa. Só vai para casa nos fins de semana. Ainda não tinha uma área em vista, mas preferia
que fosse próximo a Conceição do Mato Dentro em função da facilidade para trabalhar e para
os meninos irem para a escola. Almerinda não teve direito a terra “por morar com o genro”. No
“Termo de Acordo” do Nilson foi acertada a construção de (02) casas de R$50.000,00, sendo
que uma delas seria de usufruto de Dona Almerinda. Consta também no “Termo de Acordo” de
Nilson que ele seria de Ferrugem e não de Mumbuca, como de fato é34.
Outra grande família são a dos descendentes de Pedro Rodrigues, que assim como seu pai
teriam sido amansadores de burros na região, principalmente na região do Passa Sete. Hoje
ainda moram na comunidade 03 filhos de Pedro Rodrigues: Geraldo Rodrigues, Rita Rodrigues
34 Mesmo erro que consta no “Termo de Acordo” de Valter de Souza Peixoto e sua esposa Simone Simões Pimenta. No caso de Ferrugem, também duas famílias desta comunidade foram caracterizadas no “Termo de Acordo” como sendo de Mumbuca: Maria do Carmo Pimenta e Milton Moreira dos Santos; e Maria Mercês Pimenta Rosa.
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de Souza, Maria Rodrigues da Silva, casada com José Rosa Teixeira e um neto, Pedro Rodrigues
Filho, também conhecido por Pedro Sabino. Já Maria de Fátima Teixeira Simões, casada com
José Lírio Simões Pimenta, está relacionada à família por ser irmã de José Rosa Teixeira, da qual
é vizinha.
Outros 02 netos, como apresentado anteriormente, saíram há aproximadamente 02 anos: a
família de Jesus Damásio Silva e de sua irmã Maria Andreza foram para a região de Gondó.
Outros irmãos que moram fora de Mumbuca/Água Santa, filhos de Pedro Rodrigues, tem
direito a terra de herança de seu pai, e segundo relatado pelos Rodrigues, estes irmãos não
teriam aceitado, até aquele momento, a proposta feita pelo empreendedor. Quando os
visitamos, os Rodrigues que ainda permaneciam na terra, pretendiam mudar para uma área
próxima um do outro. Geraldo Rodrigues da Silva que mora com a esposa e filha é vizinho da
irmã Rita Rodrigues de Souza. Outro membro da família que mora próximo é o sobrinho de
Geraldo, Pedro Rodrigues Filho, também conhecido por Pedro Sabino. Pedro mora com a
esposa e uma filha maior de idade.
José Rosa Teixeira é o guardião da imagem de Nossa Senhora Aparecida que é utilizada nas
festas que ocorriam próximo a 12 de outubro, dia de Nossa Senhora Aparecida. Também era
em suas terras que a comunidade tinha a proposta da construção de uma igreja. Parte das
terras suas e de sua irmã, Maria de Fátima, seriam de herança dos pais, das quais outros 07
irmãos ainda teriam direito. José Rosa, assim como sua irmã, está muito próximo da área de
trabalho da empreendedora. Seus dois ex-vizinhos, Marinho e João Élcio já foram realocados.
Marinho, José Mario Pimenta Simões, um dos filhos de Dona Amélia saiu no início do ano,
como apresentamos anteriormente, e o João Élcio, que é irmão de Josefina Soares Pimenta
(que ainda está em Mumbuca) e filho de Maria Soares Pimenta, como a mãe, moravam na área
considerada como Buriti.
A irmã de José Rosa, Maria de Fátima Teixeira Simões, assim como seu marido, José Lírio
Pimenta Simões são nascidos e criados em Mumbuca/Água Santa. Hoje eles moram na terra de
herança dos pais de Maria de Fátima, sendo que sua mãe ainda é viva. Maria de Fátima tem
nove filhos que ainda moram com ela, sendo que cinco deles são portadores de necessidades
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especiais advindas de um desenvolvimento mental insuficiente “deficientes mentais”. Seu
marido, José Lírio, plantava a meia com os parentes e vizinhos de Delfino Pimenta de Souza,
também conhecido por Delzinho, e os irmãos deste, Edgar e Suzana, atividade que parou com
a proximidade da possível mudança e com o assassinato de Delzinho.
Delzinho foi uma das lideranças da Comunidade na Comissão dos Atingidos. Conversamos com
o Edgar, seu irmão que disse que além dele morariam ainda na área os irmãos Suzana e Pedro.
Os três são irmãos de Francisca Pimenta de Souza, mulher de Marinho, José Mario Pimenta
Simões, e se mudaram no início do ano. Eles não teriam participado da reunião ocorrida no
Fórum onde os demais moradores assinaram o “Termo de Acordo”, mas segundo ele, o
“acordo” com eles estaria sendo feitos “de boca”, sendo que cada um dos irmãos receberiam 8
ha. Se tal informação estiver correta, ela estaria diferente do modelo que se tem considerado
20 hectares para o “chefe de família” e 10 para os maiores de 18 anos residentes na área. A
intenção dos 03 era de ficarem próximos. Eles já teriam olhado uma área próxima do centro
urbano de Conceição do Mato Dentro. A família possui outros seis irmãos que moram fora de
Mumbuca e que também são “herdeiros da terra”, mas que devem receber apenas uma
indenização monetária, mas Edgar não soube informar o valor discutido. Eles pararam de
plantar, principalmente mandioca e horta a cerca de 06 meses, sendo que a mandioca,
demoraria pelo menos 02 anos para poder ser colhida, momento em que segundo as
expectativas passadas pelo empreendedor não estarão mais na região. O moinho também já
foi desmontado, assim como o de Pedro, e já não funcionava devido ao assoreamento do leito
do rio. O barzinho deles que funcionava próximo a casa, hoje se encontra fechado.
A maioria das pessoas, com quem conversamos na comunidade aguardava com muita
ansiedade alguma informação referente ao andamento do processo de “negociação”. Segundo
os entrevistados, representantes do empreendedor haviam informado que a parte da
“negociação” referente ao ressarcimento em dinheiro seria depositada em até 30 dias após a
assinatura do “Termo de Acordo” que ocorrera em 15 de setembro de 2010. A grande maioria
das famílias tinha parado suas atividades produtivas por acreditar que o processo seria mais
rápido e que acabariam “perdendo serviço”, pois segundo teriam entendido, o empreendedor
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não irá compensar a produção agrícola plantada após o processo de avaliação. A chegada da
época da chuva e a perda de um ano de plantio ampliaram ainda mais esta ansiedade.
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FAMÍLIAS AINDA EM MUMBUCA/ÁGUA SANTA
FAMÍLIAS SITUAÇÃO
(1) TERMO DE
ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA (8)
OBSERVAÇÃO
Almerinda Ducelina Pimenta
Em negociação
Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Não se aplica Não se aplica
Não se aplica
Almerinda
Tem 86 anos. Almerinda foi incluída na negociação de seu genro, Nilson, tendo direito apenas ao usufruto de uma casa a ser construída. A justificativa para esta inclusão foi de que ela mora na área dele.
Amélia Dulcelino Pimenta
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Sim Gondó Amélia Tem 94 anos.
Antônia Leonina de Castro/Élson Miranda de Souza
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Sim Indefinida Ciro
Caso do filho Rafael que fez 18 anos cerca de 1 mês após a assinatura do Termo de Acordo e não teria sido relacionado para receber 10ha.
Carlos Roberto de Sena/Dária de Souza Peixoto
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Sim Indefinida Não Informou
Ciro Cloves de Castro/Inês Simões Pimenta
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Não Indefinida Ciro
Pretendia ter uma casa na área urbana, próximo do filho Edinei e uma área rural junto com os filhos.
Daniel Pimenta de Castro/Dyonaine do Rosário Pimenta de Castro
Em negociação
Sim 3 3/8/2010 Minifúndio Sim Indefinida Ciro
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(continuação)
FAMÍLIAS AINDA EM MUMBUCA/ÁGUA SANTA
FAMÍLIAS SITUAÇÃO
(1) TERMO DE
ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA (8)
OBSERVAÇÃO
Edgar Campos Pimenta/Suzana/Pedro
Negociado de Boca
Conversando Não informou
Todos 3 são irmãos de Delfino Pimenta de Souza (Delzinho) que fora assassinado.
Elza Anedina de Assis/Osvaldo Assis (filho)
Em negociação
Sim 3 3/8/2010 Pequena Propriedade
Não Não informou
Não Informou Dna. Elza tem doença de Chagas.
Geraldo Rodrigues da Silva
Em negociação
Sim 3 27/7/2010 Minifúndio Não Não informou
Rodrigues
Helena Maria Cesário de Sena
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Sim Não Informou
Não informou
Jorge Simões Pimenta
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Não Não Informou
Não informou
José Rosa Teixeira/Maria Rodrigues Silva Teixeira
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Não Não Informou
Rodrigues José Rosa tem 64 anos e já sofreu 2 derrames.
Lindalia de Castro Neves/Walmir Alves Neves
Em negociação
Sim 3 2/8/2010 Minifúndio Sim Indefinida Ciro
Maria de Fátima Teixeira Simões/José Lírio Pimenta Simões
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Pequena Prop. Não Não Informou
Rodrigues Tem filhos portadores de necessidades especiais.
Marília Pimenta Simões Peixoto/Toni da Silva Peixoto
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Sim Gondó Amélia
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(continuação)
FAMÍLIAS AINDA EM MUMBUCA/ÁGUA SANTA
FAMÍLIAS SITUAÇÃO
(1) TERMO DE
ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA (8)
OBSERVAÇÃO
Mongeninho Simões dos Santos/Marcia Simões Pimenta Santos
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Sim Indefinida Não Informou
Nilson dos Santos Monteiro/Vanda Célia Pimenta Monteiro
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Não Indefinida Almerinda
Tem um filho paralítico. Apesar de serem de
Mumbuca, aparecem qualificados como sendo de
Ferrugem no Termo de Acordo.
Odete Maria de Sena
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Sim Não
informou Não Informou
Pedro Gaeta/Dalva
Em negociação
Não informou Não informou Não
informou Não informou
Não informou
Não informou
Não Informou
Pedro Rodrigues Filho
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Não Não
informou Rodrigues
Pedro Simões Pimenta/Josefina Soares Pimenta
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Não Não
informou Não Informou
Rita Rodrigues de Souza
Em negociação
Sim 3 28/7/2010 Minifúndio Não Não
informou Rodrigues Tem 80 anos.
Ronivon Cezario de Sena
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Não Não
informou Não Informou
Valter de Souza Peixoto/Simone Simões Pimenta
Em negociação
Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Sim Indefinida Mudar com
parentes
Apesar de serem de Mumbuca, aparecem
qualificados como sendo de Ferrugem no Termo de
Acordo.
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(1) Situação do atingido em relação ao processo de negociação. Indicamos por "em negociação" para os que assinaram o Termo de Acordo, para os que estavam negociando com advogados, indicamos por “com advogado”, e os "não sabemos" para os que não assinaram o Termo de Acordo, mas estavam negociando em separado, talvez com a ajuda de advogados.
(2) Termo de Acordo - se o atingido assinou ou não o Termo de Acordo realizado no Fórum de Conceição do Mato Dentro em meado de setembro de 2010. (3) Opção de Negociação: consiste na escolha na modalidade de negociação apresentado pelo Termo de Acordo. As opções, como descritas com mais detalhes anteriormente são: (1)
Aquisição de Área; (2) Reassentamento Coletivo; (3) Valor Monetário + Remanejamento Individual (4) Data Avaliação - consiste na data que o cadastro patrimonial teria sido entregue ao atingido conforme consta no Temo de Acordo. (5) Classificação da Área - Classificação fundiária, de acordo com a Lei Federal 8.629/93, que considera as áreas menores que 1 Modulo Rural, Minifúndios, entre 1 e 4 Módulos Rurais,
Pequena Propriedade; entre 4 a 15 Módulos, Média Propriedade e acima de 15 Módulos, grande propriedade. (6) Trabalho Inicial - consiste em informar se o Termo de Acordo do atingido previa o recebimento de R$50.000,00 que consistiria em "ajuda para iniciar os trabalhos na terra". (7) Área em Vista - se o atingido já estava em negociação de alguma área junto ao empreendedor e onde se localiza tal área. (8) Mudança em Família - se e quais atingidos tinham intenção, declarada na nossa entrevista de campo, de se mudar para áreas vizinhas ou próximas entre si.
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FAMÍLIAS DE MUMBUCA QUE SAÍRAM DE SUAS ÁREAS
FAMÍLIAS SITUAÇÃO TEMPO DE
NEGOCIAÇÃO MODALIDADE
CONDIÇÃO ATUAL
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
ASSISTÊNCIA MÉDICA
CESTA BÁSICA
OBSERVAÇÃO
Sebastião Simões Pimenta/Maria Rosa da Silva
Demanda Renegociação
Espécie Mora de Aluguel em Mumbuca
Não Não Não Informou
Dna. Maria tem 90 anos. Sebastião é portador de necessidades especiais.
José Mario Pimenta Simões Negociou Início de 2010 Permuta de Terra
Gondó Não Não 6 meses Filhos maiores não tiveram direito a terra.
Jesus Ares Damazo Silva Negociou Cerca de 2 anos Permuta de Terra
Gondó Não Não Não
Maria Andreza Negociou Cerca de 2 anos Permuta de Terra
Área urbana de Conceição do Mato Dentro
Não Não Não
Edinei Aparecido Pimenta de Castro
Negociou Início de 2010 Espécie Área urbana de Conceição do Mato Dentro
Não Não 6 meses A empresa ficou de ampliar para mais 6 meses a Cesta Básica
Onira Simões dos Santos e Cristalino Pereira do Amaral
Negociou Cerca de 3 anos Espécie Área urbana de Itapanhoacanga
Não Não Não
Delcio Simões dos Santos e Arlete Miranda de Souza dos Santos
Negociou Cerca de 3 anos Espécie Área urbana de Conceição do Mato Dentro
Não Não Não
Nelson Simões dos Santos Saiu em Função da negociação do pai.
Cerca de 3 anos Espécie
Área urbana de Conceição do Mato Dentro. Na área do pai, Delcio
Não Não Não Recebeu R$1.000, 00 pela sua casa.
Alice e José Paulo Negociou Cerca de 3 anos Espécie Área urbana de Alvorada de Minas
Não Não Não
Alice tem problemas "nervosos" e toma um conjunto de medicações controladas.
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6.4.3 - Serra de São José
A Serra de São José pertence ao município de Alvorada de Minas, e fica segundo os moradores
distante de São José do Arruda aproximadamente 01 hora, de Itaponhacanga 01hora e 30
minutos, e cerca de trinta minutos, sempre a pé, da atual área de trabalho da mineração. O
nome da Serra estaria relacionado à construção de um antigo cruzeiro, em homenagem a São
José.
Na Serra de São José encontram-se dois grupos. Um grupo familiar, a parentela em torno de
Dona Geralda Gonçalves da Silva. E um pequeno grupo, de dois proprietários de terras que não
moram no local, cujos caseiros tomam conta das propriedades.
Não foi possível localizar no período de campo e na área de estudo os dois proprietários,
apenas seus respectivos caseiros. O primeiro proprietário José Renato Resende, mora em Belo
Horizonte. Toma conta de sua área a família formada pelo casal Luciano Alves de Moura e Lídia
Francisca Rodrigues dos Santos que moram no lugar junto com seus três filhos.
O segundo proprietário, conhecido como “Joaozinho das Pedras” tem um retiro na Serra de
São José. Seu caseiro, “Geraldo Lú”, mora na casa do retiro há 14 anos. Joãozinho mora em
Conceição do Mato Dentro. Os dois caseiros disseram desconhecer se e quais as áreas seriam
impactadas diretamente.
Sobre a parentela, são ao todo seis residências formadas por parentes de Dona Geralda. Dona
Geralda tem 79 anos e com ela residem dois filhos maiores de idade, uma nora (esposa de um
dos filhos) e dois netos. Os filhos são: Carlos Roberto Pedro da Silva e Adilson Pedro da Silva.
Outros três filhos, cada qual com sua casa e família são: Albertino Pedro da Silva que é casado
com Cleusa Simões Pimenta Silva e moram com eles seis filhos; José Carlos da Silva que é
casado com Elenice Simões Pimenta e tem três filhos; e Antônio Bernadete Pedro da Silva que
é casado com Eni Simões Pimenta da Silva, sendo que com eles ainda moram seis filhos.
Além destes, outras duas netas de Dona Geralda, filhas de Antônio Bernadete, moram em suas
respectivas casa, próximas do pai: Marinete Pedro Simões da Silva que é casada com Edvaldo
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Geraldo de Jesus e Ivone Simone Silva da Cruz que é casada com Adilson José Pereira da Cruz.
Todas duas já são mães.
Além destes cinco filhos que moram na área, Dona Geralda ainda tem outros quatro filhos que
residem fora, sendo dois em Conceição do Mato Dentro e dois em Belo Horizonte. Nos finais
de ano, a família toda se reúne na comunidade.
Três filhos de Dona Geralda casaram-se com três irmãs, filhas de Eva Expedita Pimenta que
mora em Taporôco e cujos vizinhos e alguns familiares também estavam em processo de
negociação com a empresa.
Segundo a família relatou, apesar do empreendedor ter realizado algumas pesquisas em que
teriam colhido amostras de pedras na comunidade, eles teriam sido informados por uma
pessoa da empresa que a área que residem e as terras que cultivam poderiam ser requisitados
para a construção de uma estrada. Apesar desta informação sobre o interesse na área, o grupo
não teria sido procurado e não sabia se seriam diretamente afetados. Uma das preocupações
era a possível separação dos familiares, caso fosse necessário a realocação de todos.
Quanto ao impacto indireto, eles apontaram a questão das explosões que, além de os
assustarem, estariam gerando rachaduras nas casas. Informaram sobre a poluição gerada pela
poeira, sobre a interdição de alguns caminhos utilizados pelo grupo como, por exemplo, o
caminho que os ligavam a Tapera e aquele que os ligavam a Mumbuca/Água Santa, além do
grande aumento de movimento de veículos na estrada. Também relataram como impacto a
mudança de vários amigos e vizinhos e a diminuição do volume das águas. Uma das grandes
preocupações do grupo era com as “mexidas” que a empresa estava realizando nos córregos,
nas “cabeceiras das águas que lhes abastecem”, intervenções que eram realizadas sem o
consentimento do grupo. Em uma das visitas que realizamos o grupo estava bastante
preocupado com a informação que tiveram que o empreendimento planejava um barramento
de água que iria afeta-los significativamente.
A comunidade utiliza a água tanto para o abastecimento das casas quanto para o plantio e para
as criações, como também para o lazer, pesca e banhos. A Serra é um espaço de referência
religiosa, local onde existia o Cruzeiro de São José que Dona Geralda ainda pretende reerguer.
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É utilizada ainda como área de trabalho, local para apanha de lenha, para pasto das criações e,
por fim, também como um espaço de lazer para o grupo.
As terras do grupo familiar são aproximadamente 27 alqueires, sendo que destes, cerca de 25
alqueires pertencem a Dona Geralda como parte da herança de seu marido, cuja família habita
a região a algumas gerações, e a outra parte teria sido comprada. Outros 02 alqueires seriam
do filho Antônio Bernadete que teria herdado de seu padrinho. Além desta área, Dona Geralda
ainda possui um terreno de aproximadamente 02 alqueires próximo da propriedade de José
Renato.
A maioria dos homens, maiores de idade, além de cultivarem suas próprias terras e possuírem
algumas criações, trabalha como lavradores ou trabalhadores rurais (como eles mesmos se
classificaram) na região, recebendo o pagamento por cada dia trabalhado, o chamado trabalho
por dia. Os filhos menores estudam em São José do Arruda e os maiores em Itaponhoacanga.
Além dos impactos apontados pelo grupo como consequência das explosões (rachaduras nas
casas, poeira, barulho) e outros como a interdição dos acessos e o aumento da movimentação
das estradas utilizadas pelas famílias, novas preocupações foram constatadas no período da
pesquisa em relação à desinformação quanto aos outros problemas possíveis como, por
exemplo, alterações e possível utilização dos cursos de água que abastecem o grupo pelo
empreendedor e, principalmente, a realocação ou não dos mesmos.
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SERRA DE SÃO JOSÉ
FAMÍLIAS SITUAÇÃO OBSERVAÇÃO
José Renato Resende Não encontramos Mora em Belo Horizonte
Luciano Alves de Moura/Lídia Francisca Rodrigues dos Santos Não foi procurado Caseiro do José Renato. Disse desconhecer possível impacto
"Joãozinho das Pedras" Não encontramos Mora em Conceição do Mato Dentro
"Geraldo Lú" Não foi procurado Caseiro do "Joãozinho das Pedras". Disse desconhecer possível impacto
SERRA DE SÃO JOSÉ (FAMÍLIA DE DONA GERALDA)
FAMÍLIAS SITUAÇÃO OBSERVAÇÃO
Geralda Gonçalves da Silva Não foi procurada Matriarca do Grupo. Tem 79 anos de idade.
Adilson Pedro da Silva Não foi procurado
Albertino Pedro da Silva/Cleusa Simões Pimenta Silva Não foi procurado Cleusa é filha de Dna. Eva Pimenta de Taporoco.
Antônio Bernadete Pedro da Silva/Eni Simões Pimenta da Silva Não foi procurado Eni é filha de Dna. Eva Pimenta de Taporoco.
Carlos Roberto Pedro da Silva Não foi procurado
Ivone Simone Silva da Cruz/Adilson José Pereira da Cruz Não foi procurada
José Carlos da Silva/Elenice Simões Pimenta Não foi procurado Elenice é filha de Dna. Eva Pimenta de Taporoco.
Marinete Pedro Simões da Silva/Edvaldo Geraldo de Jesus Não foi procurada
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6.4.4 - Taporôco
Taporôco fica em Alvorada de Minas, próximo das comunidades de Mumbuca, Serra de São
José e Buriti, a qual é vizinha. A proximidade com Buriti gera certa dúvida sobre onde começa
uma e termina a outra. Para efeito deste estudo, utiliza-se a denominação informada pelas
famílias ao questionário aplicado em setembro de 2010, já no âmbito deste relatório. Os dados
destes questionários aplicado em Taporôco permitem inferir que quase todas as famílias de
moradores do Buriti haviam sido realocadas, faltando apenas algumas propriedades, enquanto
Taporôco começava a ser realocado, iniciando por duas famílias que estariam mais próximas
de Buriti. Segundo um dos moradores o nome Taporôco seria de origem indígena, pois o local
teria sido ha muito tempo atrás um “lugar de índio”.
Algum dos principais problemas relatados pelos entrevistados em relação ao empreendimento
minerário fora a interdição das estradas utilizadas pelo grupo para ir a Mumbuca, São
Sebastião do Bom Sucesso e Gondó, os barulhos e tremores gerados pelas explosões que
estariam causando rachaduras nas casas e o cheiro de pólvora gerado por algumas destas
explosões. Também fora relatado como problema relacionado ao empreendimento, a
mudança gradual de parentes, vizinhos e amigos, e a indefinição em relação às famílias que
serão realocados. No dizeres de um dos moradores: “a gente mesmo sabe que vai sair, mas
eles não decidem. A gente até perdeu o gosto de investir aqui porque sabe que vai sair de uma
hora para a outra”.
Um dos principais problemas da região, apontados pelos entrevistados, é a dificuldade de
acesso ao transporte que foi agravado com a proibição pelo empreendedor de utilização de
estradas e áreas de servidão que serviam de atalhos. Assim como em outras comunidades,
alguns dos entrevistados questionaram a liberdade que a empresa tem para entrar e passar
por suas terras, de caminhonete e veículos pesados, sem pedir permissão, enquanto eles não
podem utilizar seus antigos caminhos. Outro impacto seria o impedimento de utilizar os
moinhos em função do assoreamento dos córregos gerados, segundo informaram, pela
remoção de terras nas áreas em obra. Os homens adultos, em geral, são trabalhadores rurais
que além do cuidado com suas próprias criações e roças, trabalham como diaristas para
terceiros. As crianças em idade escolar freqüentam a escola de São José do Arruda.
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A parentela dos Pimenta, 05 famílias diretamente aparentados de Dona Eva Expedita Pimenta,
compõe grande parte desta região. Além da própria Dona Eva, moram na região as famílias de
seu filho, João Simões Pimenta, e das filhas: Neusa Simões Pimenta, esposa de João Ércio
Simões Pimenta, e Iraci Simões Pimenta, companheira de Vladimir Rogério da Silva. Iraci que
tinha uma casa com o ex-marido Egídio, próximo da mãe, após a separação deste morou até
recentemente um pouco mais afastada, próximo a propriedade de “Toninho35 do Eucalipto”,
proprietário de terra que mora em Belo Horizonte. Já o ex-marido, Egídio, teria ficado com a
casa próximo de sua sogra e tomaria conta dos quatro filhos dele com Iraci. A mãe de Vladimir,
Dona Conceição Simões da Silva, também conhecida por Suzuca mora na região. Além destas
famílias moram na região o casal de irmãos Augusto Juscelino de Souza e Maria Juscelino de
Souza, cujos vários vizinhos, moradores do Buriti, mudaram em função de negociações
anteriores com o empreendedor.
Deste grupo, duas famílias participaram do processo de negociação realizado no Fórum, pois
teriam sidos caracterizadas como moradoras de Mumbuca. A família dos irmãos Augusto e
Maria Juscelino e a família da filha de Dona Eva, Neusa Simões Pimenta e João Ercio. Não ficou
muito claro o destino da família da outra filha de Dona Eva, Iraci Simões Pimenta. Na primeira
entrevista realizada, em setembro de 2010, Iraci teria informado que eles estavam se
mudando em 15 dias em função de um processo de negociação envolvendo “Toninho do
Eucalipto”, cujas terras, Fazenda Itaporoco, eles trabalhavam há alguns anos. Quando
visitamos novamente o grupo em novembro, não encontramos Iraci. No questionário
respondido em setembro, às vésperas de sua mudança, ela relatou que sentiria saudades da
casa de sua mãe, Dona Eva. As demais famílias, com exceção do Toninho do Eucalipto - que
não conseguimos conversar, disseram que ainda não teriam sido procuradas pela
empreendedora para negociar.
Da família de João Ercio e dos irmãos Augusto e Maria Juscelino, vizinhos, o empreendedor
estaria em processo de adquirir, segundo Termo de Acordo, 11,12ha. E pagaria uma
indenização das benfeitorias por volta de R$40.000,00 por família. Considerando que todas as
35 Antônio Carlos.
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duas famílias possuem casas e áreas formadas, principalmente os irmãos Augusto e Maria
Juscelino que tem pomar bem formado com plantações de abacate, limão, laranja, ameixa,
coco, jabuticaba, cana, banana e café, o valor nos parece baixo. Nenhuma das duas famílias
recebeu, no “Termo de Acordo”, direito ao valor de R$50.000,00, referente ao trabalho inicial
de preparação da terra, conforme outras famílias de Mumbuca/Água Santa e Ferrugem
receberam.
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Maria Juscelino na porta da cozinha de sua casa. Horta com pomar e casa de trabalho dos irmãos Augusto e Maria Juscelino
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Parte do pomar dos irmãos Augusto e Maria Juscelino.
Parte do pomar e da área de plantio dos Irmãos Augusto e Maria Juscelino.
Os irmãos Augusto e Maria Juscelino possuem idade bastante avançada, ele estava para
completar 70 anos e ela com 65. Eles se mostraram muito abalados com a proximidade de uma
possível mudança das terras onde nasceram e residiram durante toda a vida. Seu Augusto tem
hipertensão e estaria realizando uma série de exames quando da nossa visita. As terras eram
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de herança e segundo eles, dos 15 irmãos, sete ainda eram vivos. Não nos ficou claro se os
demais outros cinco irmãos vivos ainda teriam direito a herança da terra e se tivessem, se o
empreendedor teria os procurado para negociar. Na entrevista em setembro, Dona Maria
Juscelino se emocionou muito ao falar sobre o processo de negociação. Quando entrevistados
em novembro, os irmãos não sabiam ainda para onde iriam. Maria Juscelino informou que eles
gostariam de morar na roça, mas que provavelmente iriam se mudar para a periferia de
Conceição do Mato Dentro, devido a idade avançada deles e a dificuldade que teriam de
formar uma nova área.
Com João Ercio e sua esposa Neusa, filha de Dona Eva, moram dez filhos e dois netos, sendo
que dos filhos, três são maiores de idade. O casal tem outros dois filhos maiores de idade que
moram fora da comunidade. João Ercio relatou que a cerca de cinco anos tem “problemas de
nervo” e que toma diariamente cerca de sete remédios controlados. Uma das filhas, Elcinelia
Simões Pereira dos Santos, que morava na região vizinha, em Buriti, junto com o marido,
Magno Ferreira dos Santos, no terreno do seu sogro, Valdomiro Pereira dos Santos, tivera que
sair por conta da negociação deste. Como não quiseram se mudar com Valdomiro, hoje moram
em uma casa emprestada pelo mesmo, na área urbana de Córregos. A esposa de Valdomiro,
Dolores, é irmã de Dona Eva. Tendo que se mudar, João Ercio tem interesse em ir para
Itapoacanga onde já moram sua mãe e alguns irmãos. Ele disse que na negociação no Fórum
esqueceu de mencionar sobre os filhos maiores de idade que moram fora e conforme o
modelo de negociação que tem sido adotado pelo empreendedor, também teriam direito a
ressarcimento.
Como dito anteriormente, o ex-marido de Iraci, Egídio, ficou com a casa que pertencia ao casal,
próximo da sogra, Dona Eva. A mãe de Vladimir, atual companheiro de Iraci, Conceição Simões
da Silva, mora na região há muito tempo. Parente dos Pimentas, inclusive de Dona Eva, seu pai
também foi criado na região. Segundo ela, o primo de seu pai, João Pimenta, teria sido “dono
de Buriti”. Atualmente o marido mora em Belo Horizonte onde trabalha como soldador há
alguns anos. Com ela mora um irmão que tem deficiência mental. A área “posseada” por Dona
Conceição é de propriedade de Dona Suzana Generoso e possivelmente seria uma parte da
área desta proprietária que o empreendedor tem interesse em adquirir. Conceição disse que
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não foi procurada pela mineradora para negociar, mas teria sido informada por funcionários da
empresa que seria realocada em virtude da construção de uma estrada que serviria ao
empreendimento. Também teria sido informada que Dona Suzana estaria em processo de
negociação desta área. Sua casa é uma das poucas da região que não recebeu energia elétrica
e um dos motivos, segundo ela, seria devido a sua possível mudança. Caso tenha que se
mudar, sua região de preferência para realocação seria Itaponhacanga onde moraria parte de
sua família.
Dona Eva Pimenta, de 68 anos, viúva recentemente, mora com um neto. Ela teria herdado a
área onde mora de seu pai que nascera nesta região. Apesar de ter vivido a maior parte de sua
vida em Taporôco, ela nasceu em Mumbuca/Água Santa, onde ainda possui terras e muitos
familiares. Segundo informou não teria sido procurada pelo empreendedor para negociar suas
terras, nem em Taporôco, nem em Mumbuca/Água Santa. Quando o marido ainda era vivo, a
cerca de dois anos, ele teria sido sondado para vender sua área. Com a idade mais avançada,
Dona Eva conta com a ajuda dos filhos que moram próximos a ela, mas o processo de mudança
de alguns gerará importante impacto a seu modo de vida atual. Ao todo tem dez filhos, sendo
que dos três que moram mais próximos a ela, uma havia se mudado e outra estava para se
mudar. Se tiver que se mudar, ela preferia ir para Itaponhacanga.
Já o filho de Dona Eva, João Simões Pimenta, mora com a esposa, Helena dos Santos Pimenta e
três filhos, dos quais dois são maiores de idade. João disse não saber se sua família seria
realocada e que também não teria sido procurado pelo empreendedor para negociar.
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TAPORÔCO
FAMÍLIAS SITUAÇÃO (1) TERMO DE
ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA
(8) OBSERVAÇÃO
Augusto Juscelino de Souza
Em negociação Sim 3 30/7/2010 Minifúndio Não Indefinida Augusto
Augusto tem 69 anos. Foi classificado pelo Termo de Acordo como sendo de Mumbuca
Conceição Simões da Silva Não foi procurada Não Não se aplica Não informou
Não informou Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Egídio (ex marido de Iraci) Não foi procurado
Não Não se aplica Não informou
Não informou Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Eva Expedita Pimenta Não foi procurada Não Não se aplica Não informou
Não informou Não se aplica Não se aplica Não se aplica Dona Eva tem 68 anos.
Iraci Simões Pimenta/Vladimir Rogério da Silva
Não encontramos Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica
João Ercio Simões Pimenta/Neusa Simões Pimenta
Em negociação Sim 3 29/7/2010 Minifúndio Não Indefinida Não informou
Foi classificado pelo Termo de Acordo como sendo de Mumbuca. Tem vários problemas de saúde.
João Simões Pimenta/Helena do Santos Pimenta
Não foi procurado
Não Não se aplica Não informou
Não informou Não se aplica Não se aplica Não se aplica
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(continuação)
TAPORÔCO
FAMÍLIAS SITUAÇÃO (1) TERMO DE
ACORDO (2)
OPÇÃO DE NEGOCIAÇÃO
(3)
DATA AVALIAÇÃO
(4)
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA (5)
TRABALHO INICIAL (6)
ÁREA EM VISTA (7)
MUDANÇA EM FAMÍLIA
(8) OBSERVAÇÃO
Maria Juscelino de Souza Em negociação Sim 3 30/7/2010 Minifúndio Não Indefinida Augusto
Dona Maria tem 65 anos. Foi classificado pelo Termo de Acordo como sendo de Mumbuca
"Toninho do Eucalipto" Não encontramos Não se aplica Não se aplica Não se aplica
Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica
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6.4.5 - Buriti
A localidade de Buriti avizinha-se a Mumbuca/Água Santa e Taporôco. Segundo alguns
moradores da região, a sua ocupação ocorreu em função da presença de tropeiros. Tratava-se
o Buriti de uma rancharia onde os tropeiros que utilizavam os caminhos da região
pernoitavam.
A maioria das famílias que residiam neste lugar já foram relocadas em função do
empreendimento minerário. O processo de relocação começou a cerca de quatro anos quando
um dos moradores chamado Zezeco, em processo de separação de sua esposa, vendeu parte
de suas terras. Segundo seus filhos ele recebeu parte do dinheiro na época da venda e o valor
restante somente a cerca de um ano. Sua venda se deu ainda no contexto de atuação da
empresa Borba Gato. Com o dinheiro ele comprou uma casa na área urbana de Conceição do
Mato Dentro, na entrada da cidade, perto da ponte. Ele morava na “cabeceira da água” do
Buriti, ou seja, as principais nascentes da localidade estariam em sua propriedade e a aquisição
desta área foi apontada por outros moradores da região como um dos fatores que os levaram
a vender suas áreas, pois quando a empresa passou a “mexer” próximo à estas nascentes, eles
foram afetados pela diminuição do volume de água e passaram a temer pela qualidade da
água. A ex-mulher de Zezeco, Maria Soares Pimenta e alguns filhos só saíram em janeiro de
2010. Maria e Zezeco são os pais de Josefina Soares Pimenta, esposa de Pedro Simões Pimenta,
casal que ainda mora em Mumbuca/Água Santa, e ainda estão em processo de negociação.
Dona Maria Soares relata que sua saída se deveu em muito às dificuldades que vinha passando
em Buriti, como a proibição da utilização da estrada em determinados horários, principalmente
nos horários das explosões. Outro impacto que sofriam era a sujeira da água, principalmente
nos períodos de chuva. Dona Maria, em idade bastante avançada, sofre de hipertensão e ficava
muito incomodada com as explosões próximas a sua casa. A negociação da área teria se
arrastado por alguns anos e só recentemente a empresa fez uma proposta concreta que incluía
a troca de sua área por outra na região de Córregos. A propriedade adquirida era dos pais de
José Teixeira de Saldanha, conhecido por Taboão. Como veremos um pouco mais a frente,
Taboão mora hoje em Gondó, próximo da Serra do Sapo, de Córregos, e também deve ser
realocado em função do empreendimento. Para a mesma área mudaram-se três filhos de Dona
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Maria sendo que alguns possuíam casas nas terras da mãe no Buriti. Outros dois filhos, Élson e
Edmilson se mudaram para outros lugares.
Élson tinha uma área de cerca de 10 alqueires que foi vendida ainda na época da MMX, a cerca
de três anos. Com o dinheiro ele adquiriu uma propriedade em Dom Joaquim, na região da
Ilha. Élson mora com sua mulher e quatro filhos menores de idade. Sobre o terreno antigo
destaca uma Lapa onde às vezes eles cozinhavam. Esta Lapa segundo o mesmo teria muito
rastro de “bichos” e teria sido morada de Levi, um negro alto e forte que morava sozinho e que
em sua opinião seria “índio”.
Edmilson morava no terreno de sua mãe, Dona Maria, onde possuía uma casa com quintal e
uma pequena criação. Não foi contemplado na negociação, pois lhe foi alegado que morava na
área pertencente à mãe. Mudou-se na mesma época que sua mãe em janeiro de 2010 e hoje
mora com a esposa, Darcilene Maria de Carvalho, em uma casa de aluguel na zona urbana de
Córregos. Também não estariam recebendo outras ajudas como “cesta básica”. A família de
Darcilene é de Passa Sete onde vivem desde a época de seus bisavôs e onde ainda mora sua
mãe, Celeste Pacífico Carvalho. Celeste é esposa de Valderes Antônio de Carvalho. Celeste e
Valderes moram a poucos metros da família de João Moreira de Souza que teria sido
considerado na reunião de Dezembro de 2010 da Supram Diamantina como uma das quatro
famílias mais urgentes de serem realocadas. O caso de Passa Sete será descrito mais a frente.
Fernando Bicalho Pimenta, também conhecido por Fernando da Doca, saiu em agosto de 2008.
A propriedade, de 32 alqueires era dele e de outros quatro irmãos. Seu avô, João Pimenta era
da região, tendo nascido em Mumbuca/Água Santa. A negociação foi realizada em dinheiro.
Hoje ele mora de aluguel na zona urbana de Córregos, junto com a esposa e o filho de nove
anos e teria comprado mais recentemente um pequeno terreno rural próximo onde possui
algumas criações. O terreno rural ainda não possui casa construída.
Valdomiro Pereira dos Santos, irmão de (Zezeco), e parte de sua família se mudaram de Buriti
em março de 2010. Sua esposa, Dolores é irmã de Dona Eva Pimenta que mora no Taporoco.
Ele, junto com cinco filhos, todos maiores de idade e com família constituída foram morar em
uma área próxima da região de Três Barras. A negociação envolveu a permuta de terras e um
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valor em dinheiro. A nova área possui apenas uma casa para as seis famílias. Ele também
comprou uma casa na área urbana de Córregos que está emprestada a um dos filhos que não
quis se mudar com o restante da família, Magno Pereira dos Santos que é casado com Elcinélia
Simões Pereira dos Santos, filha de Neusa Simões Pimenta e neta de Dona Eva Expedita
Pimenta, as duas ainda moradoras de Taporôco, sendo que a primeira estava em processo de
negociação. Com Magno e Elcinélia moram seus sete filhos menores de idade. Eles só se
mudaram de Buriti em abril de 2010. Apesar de ter morado nas terras do pai, Magno tinha
uma casa própria, da qual não teria recebido nenhum ressarcimento. Magno que trabalhava na
própria propriedade, hoje trabalha como diarista na área rural.
Não obtivemos informação sobre outro ex-morador de Buriti, Darlan Macedo Terra. Algumas
famílias, ainda possuíam áreas na região do Buriti em setembro de 2010, como a filha de Seu
Valdomiro, Eunice Pereira dos Santos, casada com Alberto Mota da Silva. Eunice e Alberto
vivem em Buriti, mas também tem uma casa na área urbana de Córregos onde ficam “no
período de aula”. A área seria de herança de Alberto e outros três irmãos, sendo que só
Alberto havia construído casa. Em setembro de 2010, Eunice ainda não sabia se a sua família
seria realocada, pois até então, eles aguardavam algum contato da mineradora.
Outra família que ainda teria área no Buriti é a de Ana de Souza Rocha. Além da casa de Ana,
possuíam outra casa quase pronta pertencente ao seu filho Haroldo de Souza Rocha. Haroldo
mora hoje na área urbana de Córregos, onde tem uma casa. Segundo Haroldo, a utilização da
área ficou inviabilizada porque eles teriam ficado ilhados, cercados pela área adquirida pelo
empreendedor. O único acesso se dá por uma estrada que passa pela área da mineradora. Em
setembro de 2010, Haroldo informara que ainda não teria sido procurado pelo empreendedor
para negociar suas terras. Por fim, Maria Odete de Almeida, possui uma área em Buriti de
cerca de sete alqueires. A propriedade é gerenciada pelo filho, Itamar de Avelar Sobrinho. E
segundo eles o empreendedor já teria feito um levantamento da propriedade.
Como Taporôco e a Serra de São José, a comunidade de Buriti não foi indicada na listagem
prévia das localidades a serem pesquisadas pela Diversus. Ainda, ela não foi considerada como
emergencial mesmo ocorrendo as negociações como mostradas nesse documento, até mesmo
pelo fato de restarem poucas famílias proprietárias na região. Algumas delas venderam suas
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terras ainda na época da Borba Gato e da MMX, mas todas as aquisições, ainda que não o
soubessem, ocorreram em função do empreendimento em tela. A comunidade só foi
identificada por esta pesquisa quando já estávamos em campo. O fato da maioria das famílias
terem sido realocadas anteriormente, utilizando-se para isso critérios bem diversos dos que
foram acordados recentemente em relação às demais famílias de Mumbuca e Ferrugem, a
comunidade de Buriti deveria ser motivo de um levantamento mais aprofundado para estudar
a forma como tais famílias foram realocadas e corrigir possíveis insuficiências ocorridas em
algumas negociações, como apontadas aqui, tipo negociações só em dinheiro, ou apenas com
os proprietários de terras, desconsiderando os demais moradores e trabalhadores, entre
outros. O fato de o processo ter se dado sem um acompanhamento mais explícito do órgão
licenciador reforça esta necessidade de revisão das negociações que eventualmente tenham
gerado prejuízo a algumas famílias, visto que a função do licenciamento é procurar mitigar e
compensar os impactos gerados pelo empreendimento. A insuficiência de informação dos
estudos prévios e de implementação não devem causar prejuízo às famílias que não foram
consideradas neste documento.
Foto
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Local de casa de família realocada na região de Buriti
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FAMÍLIAS DE BURITI QUE SAÍRAM DE SUAS ÁREAS
FAMÍLIAS SITUAÇÃO TEMPO DE
NEGOCIAÇÃO MODALIDADE
CONDIÇÃO ATUAL
ASSISTÊNCIA TÉCNICA
ASSISTÊNCIA MÉDICA
CESTA BÁSICA OBSERVAÇÃO
Darlan Macedo Terra Negociou Não sabemos Não sabemos Não sabemos
Não sabemos Não sabemos Não sabemos
Edmilson Pimenta/Darcilene Maria de Carvalho
Saiu em Função da negociação de Dna. Maria
Início de 2010 Não se aplica Mora de Aluguel em Córregos
Não Não Não
Um dos filhos de Dna. Maria que não foi contemplado na negociação
Elson Pimenta Negociou Cerca de 3 anos Espécie Comprou área em São José da Ilha
Não Não Não
Fernando Bicalho Pimenta
Negociou Agosto de 2010 Espécie Mora de Aluguel em Córregos
Não Não Não
Magno Pereira dos Santos/Elcinelia Simões Pimenta dos Santos
Saiu em Função da negociação de Seu Valdomiro
Abril de 2010 Não se aplica
Mora em Córregos em uma casa emprestada pelo pai.
Não Não Não
Um dos filhos de Seu Valdomiro que não foi contemplado na negociação
Maria Soares Pimenta Negociou Início de 2010 Permuta de Terra
Mora na área rural de córregos.
Não Não Não
Dna. Maria tem idade bastante avançada. Os filhos que moravam em suas terras não foram contemplados na negociação.
Valdomiro Pereira dos Santos
Negociou Março de 2010 Permuta de Terra
Mora próximo a 3 Barras
Não Não Não
Os filhos não foram comtemplados na negociação. 5 filhos casados moram com ele. 1 Mora em Córregos
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Zezeco (ex marido de Maria Soares Pimenta)
Negociou Cerca de 4 anos Espécie
Área urbana de Conceição do Mato Dentro
Não Não Não
BURITI
FAMÍLIAS SITUAÇÃO TERMO DE ACORDO
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA
OBSERVAÇÃO
Ana de Souza Rocha Não foi procurada Não Não sabemos
Eunice Pereira dos Santos/Alberto Mota da Silva Não foi procurada Não Não sabemos
Haroldo de Souza Rocha Não foi procurado Não Não sabemos Mora em Córregos
Maria Odete de Almeida Foi procurada Não Não sabemos
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6.4.6 - Parte de Gondó - próximo da Serra da Ferrugem
Gondó fica próximo à Córregos, Buriti e Ferrugem. As áreas desta região, próximas da Serra da
Ferrugem/Serra do Sapo, serão diretamente impactadas pelo empreendimento minerário.
Alguns dos impactos já sentidos, conforme informado pelas famílias da região são: as
explosões que para além do barulho afetariam a estrutura das casas, a diminuição significativa
do volume de água dos córregos inviabilizando a utilização de moinhos e inclusive ocasionando
o ressecamento de nascentes – fato relacionado pelos atingidos ao processo de realização das
pesquisas. Outro impacto seria o aparecimento próximo às residências de animais que antes
não se aproximavam como jaguatirica, raposa e gato do mato, que segundo eles estariam
relacionado ao desmatamento e às explosões. Na proximidade deste grupo existem cinco
nascentes que eles acreditam que serão seriamente comprometidas com o processo de
exploração da Serra.
As famílias proprietárias de forma geral têm relações de parentesco entre si, e relações
históricas com a região, no entanto, a maioria não reside atualmente nas terras, sendo que
alguns moram em Conceição do Mato Dentro e outras em Belo Horizonte. Destas, algumas já
teriam sido procuradas para negociar, enquanto outras ainda aguardavam um primeiro
contato do empreendedor, o que foi caracterizado por um dos entrevistados como uma
negociação “em pulos”, pois eles estariam procurando os proprietários em etapas e conforme
maior necessidade de se apropriarem de determinadas áreas.
Uma das famílias que reside na área é a José Teixeira de Saldanha, também conhecido por
Taboão. Taboão tem 65 anos e mora com a mulher em uma área de aproximadamente 86
hectares. Nascido e criado na região, a área que fora de seu pai em Córregos foi adquirida pelo
empreendedor para realocar uma das famílias de Buriti. Taboão foi procurado pela empresa
para negociar, segundo ele, cerca de 60 dias antes de entrevista-lo (portanto em outubro de
2010). A empresa lhe fez uma proposta, no entanto, não retornara até dezembro para dar
prosseguimento as negociações. Algumas das áreas próximas seriam de seus sobrinhos como
Mauro Lúcio dos Reis e sua irmã, casada com Alcino. Segundo Mauro, o cunhado Alcino já teria
negociado e hoje mora em Ribeirão das Neves. Quanto a Mauro, a empresa estaria ainda
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realizando o cadastro patrimonial de sua propriedade. Outra propriedade que estaria em fase
mais avançada de negociação é a da sogra de Mauro, Dona Martinha, que tem sua propriedade
na parte mais alta de Gondó, no alto da Serra.
Já os irmãos Ernesto Mateus Santana e Irineu, cada um com uma propriedade de cerca de 52
hectares, herdadas do pai ainda em vida, não teriam até dezembro de 2010, quando
entrevistamos Irineu, sido procurados pela empresa. Irineu trabalha na prefeitura de
Conceição do Mato Dentro, sabe que a área de ambos faz parte da ADA e que provavelmente
terão que ser realocados. Segundo ele a construção da sua casa na área, iniciada em 2004,
assim como o aproveitamento de sua propriedade teria sido paralisado devido a esta possível
necessidade de sair.
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PARTE DE GONDÓ
FAMÍLIAS SITUAÇÃO TERMO DE ACORDO
CLASSIFICAÇÃO DA ÁREA
OBSERVAÇÃO
Alcino (cunhado do Mauro) Negociou Não sabemos Não sabemos Mora em Ribeirão das Neves
Ernesto Mateus Santana Não foi procurada Não Pequena Propriedade
Irineu Santana Não foi procurada Não Pequena Propriedade
José Teixeira de Saldanha Foi Procurado Não Pequena Propriedade
Seu José Teixeira tem 65 anos.
Mauro Lúcio dos Reis Foi Procurado Não Não informou
Martinha (sogra do Mauro) Foi Procurada Não sabemos Não sabemos
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6.4.7 - Passa Sete
A região do Córrego do Passa Sete fica próxima a Mumbuca/Água Santa, Gramichá, Água
Quente e Córrego Teodoro. Sendo que estes grupos tem fortes relações familiares e de
compadrio. Parte das famílias que compõe o Passa Sete foram descritas na região de
Mumbuca, devido a proximidade e relação das famílias com esta região e por estarem
separados pela Rodovia dos demais que serão aqui descritos. Por estarem próximos, alguns
identificaram a sua localidade como sendo parte de Água Quente.
Os descritos em Mumbuca são: Helena Maria Cesário de Sena, Odete Maria de Sena, Ronivon
Cesário de Sena, Carlos Roberto de Sena, Mongeninho Simões dos Santos e os três irmãos
deste que já teriam saído, Delcio, Alice e Onira. Com exceção dos que já teriam saídos, os
demais estariam negociando junto com Mumbuca/Água Santa.
As informações constantes aqui foram colhidas nas entrevistas ocorridas entre setembro e
outubro, através de um questionário que fora aplicado em um primeiro momento da pesquisa,
de forma que não foram realizadas entrevistas mais focadas no processo de negociação
especificamente.
São aproximadamente sete famílias, destas, a família de João Moreira de Souza, foi relacionada
a outras três que foram consideradas emergenciais para o reassentamento na reunião da
Supram Diamantina de Dezembro de 2010. As demais famílias, algumas a poucos metros de
distância de João Moreira, a época da entrevista não sabiam se seriam ou não reassentados. A
grande maioria se considerava atingida, principalmente em relação a questão da piora da
qualidade da água do Córrego do Passa Sete que tem uma função importante na reprodução
social destas famílias, não só pelo abastecimento para o consumo humano, como também
para o uso nas roças, para o consumo das criações, pesca para alimentação, além das
atividades de lazer e até mesmo a lavagem das roupas. Há época das entrevistas informaram
que o consumo da água estaria seriamente prejudicado a cerca de um ano. Apesar de estarem
próximos a rodovia, as casas não possuíam acesso a energia elétrica. Além da água, foram
relatados como problemas relacionados ao processo de implantação do empreendimento:
grande aumento do transito nas vias, poluição gerada por este aumento de trânsito, já que as
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vias são de terra, barulho das explosões, destruição das matas nativas, e o aumento de pessoas
“estranhas” na região.
João Moreira de Souza morava, na época da entrevista, com dois irmãos, Olandina e Adão,
este estava muito doente e veio a falecer pouco depois. João também estava com a saúde mais
debilitada e na ausência dos dois irmãos, quando Adão teve que ser internado, teria recebido
ajuda dos vizinhos do Passa Sete. Como dito anteriormente, a família de João teria sido
relacionada, junto com outras três aos casos emergenciais para realocação, durante a reunião
da Supram de Diamantina de Dezembro de 2010, enquanto os vizinhos próximos, que estavam
a poucos metros dele, não terem nem ao menos participado do processo de negociação
ocorrido com as comunidades de Mumbuca e Ferrugem, em setembro de 2010. Não fica claro
o porque da família de João Moreira ser considerada atingida, inclusive sendo classificada
como uma das situações de maior urgência para realocação, enquanto seus outros vizinhos,
amigos e compadres, morando a poucos metros do mesmo, não tenham sido nem mesmo
considerados como diretamente atingidos.
Os vizinhos mais próximos de João Moreira são a família de Valderes Antônio de Carvalho e
Celeste Pacífico Carvalho. Com eles moram três filhos, sendo que dois maiores de idade. Eles
também tem uma filha, Darcilene, mulher de Edmilson, que já teriam saído da região onde
moravam, nas terras do sogro e da sogra, na região do Buritis, como já descrito anteriormente.
Darcilene estava morando com o marido, de aluguel, na área urbana de Córregos.
Celeste é irmã da Cleusa Pacífico Moreira Rodrigues, casada com João Rodrigues da Silva.
Valderes é irmão de Marlene Moreira Carvalho Cesário, casada com José Helvécio Cesário.
Estas duas famílias, que descreveremos a seguir, moram próximas e também compõe o Passa
Sete.
João Rodrigues da Silva é irmão, entre outros, de Geraldo Rodrigues da Silva, Maria Rodrigues
Silva Teixeira (casada com José Rosa) e Rita Rodrigues de Souza, todos ainda moradores de
Mumbuca/Água Santa. A área de aproximadamente cinco alqueires e meio é de herança de
seu pai, Pedro Rodrigues que teria dividido entre os filhos antes de morrer. A divisão não foi
feita em cartório. Ainda hoje existe a casa que pertenceu ao pai.
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Hoje teriam parte do terreno o próprio João Rodrigues; José Rodrigues, que tem casa em seu
lote, mas mora atualmente na comunidade do Beco; Maria Rodrigues que mora em Mumbuca
e estava em processo de negociação para ser realocada, inclusive tendo sido considerada como
uma das famílias em situação mais emergencial; Sebastião Rodrigues que mora em Rondônia;
Maria Andreza, neta do Pedro Rodrigues, irmã de Jesus, que hoje mora na área urbana de
Conceição e teria negociado sua área em Mumbuca por outra na região de Córregos; e os
herdeiros de Eugênio Rodrigues, falecido. Apesar de hoje, apenas João Rodrigues morar nestas
terras, a maioria dos herdeiros tem plantações e algumas criações em suas respectivas terras
de herança.
José Helvécio Cesário e esposa, Marlene, moram na área junto com cinco filhos maiores de
dezoito anos e com Maria Francisca de Jesus que tem oitenta e oito anos, mãe de um dos
conjugues. José Helvécio acreditava que seria realocado, apesar de não saber para onde.
Outra família da comunidade, Sebastião Cesário de Sena e sua esposa, Darcília Cezário de Sena,
com dois filhos menores de dezoito anos moram na região. Darcília é irmã de Mongeninho,
ainda residente próximo da área de Mumbucq, e de Délcio, Onira e Alice que teria saído da
região onde moravam, conforme relatado anteriormente. Esta era uma das famílias que
plantava a meia na área da Fazenda do Passa Sete, uma das primeiras áreas adquiridas pela
Borba Gato.
Por fim ainda temos a família de Maria da Consolação Silva que mora com um filho que é
deficiente mental e próxima a sua casa, a família de outro filho, Geraldo Marcelo da Silva e
Lucinéia Teixeira da Silva que moram junto com três filhos menores. A área que moram, seria
parte da Fazenda Sagrado Coração de Jesus, e teria sido cedida pelo proprietário.
Maria da Consolação está a cerca de 500 metros das primeiras casas que compõe a
comunidade de Água Quente. O Passa Sete também está muito próximo da região identificada
por Gramicha que contaria com outros quatro grupos familiares: Lécio Pacífico dos Santos e
Ilda Soares Pimenta Santos que mora com quatro filhos menores; Renato Luiz de Araújo e
Jacira Pacífico dos Santos Araújo com o irmão, Marcílio dos Santos, maior de idade e com
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quatro filhos menores; Francinaldo Moreira Dama Ferreira e Maria Pacífico dos Santos e
próximo dele mora sua mãe, Maria Moreira Ferreira que tem oitenta e três anos de idade.
6.4.8 - Outros entrevistados
Sebastião, também conhecido como Tião de Pedro Joaquim, atualmente mora na entrada da
cidade de Conceição do Mato Dentro, próxima a ponte. Com 76 anos de idade, ele teria
vendido uma área de 44 hectares em Água Limpa a cerca de três anos. Segundo Tião, a venda
foi realizada depois de muitas idas de representantes da Borba Gato para que ele vendesse. No
final ele acabou aceitando o preço que eles ofereceram. Seu Tião tem 15 filhos, sendo que 05
moram com ele em sua residência. A negociação foi feita apenas com o mesmo e os seus filhos
não teriam sido considerados na mesma.
A família de Ronaldo mora próxima a São Sebastião do Bom Sucesso e da comunidade da
Ferrugem de onde a sua família é originária e onde tem parentesco. A propriedade da família
fica próxima ao grande acampamento dos trabalhadores do empreendimento. Ronaldo diz que
até o momento não teriam recebido nenhuma proposta de negociação, apenas algumas
“sondagens”.
Conversamos ainda com Patrícia Generoso, filha de Dona Suzana Generoso, e o seu marido
Lúcio Guerra Júnior. Patrícia e Júnior são importantes lideranças da comissão dos atingidos e
apresentavam certo desapontamento em relação à forma como o processo de licenciamento
do empreendimento estaria se desenvolvendo. Parte das terras da família, hoje em
propriedade de Dona Suzana, seria de interesse do empreendedor que já teria feito uma oferta
que não fora aceita. Segundo a mesma, a oferta feita não teria indicado o valor das
benfeitorias, dos recursos naturais e tampouco realizado a delimitação da área objeto de
interesse em relação a propriedade total. Eles teriam solicitado a complementação destes
dados e não teriam sido atendidos. A aquisição destas terras deverá afetar várias famílias que
moram nas mesmas, além de outras que se relacionam com estas terras, seja pelas fontes de
águas, pelos plantios “a meia” ou “a terça”, seja porque ela se avizinha as várias das
comunidades aqui apresentadas.
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Também conversamos com algumas das famílias que teriam vendido sua área na região de
Passa Sete, os irmãos Simone, Mônica, Magno e Capitão, que são primos de Alessandro antigo
proprietário da Fazenda Passa Sete onde muitas das famílias de Mumbuca trabalhavam. As
terras vendidas pelos irmãos seriam de herança do avô. Dois dos irmãos teriam vendido
primeiramente para terceiros e outros dois teriam vendido outra parte para a Borba Gato a
cerca de três anos. Segundo disseram, a empresa teria informado que o interesse na área seria
para a utilização agro-pastoril. Dois dos irmãos, Magno e Simone, teriam direito a uma área de
cerca de nove hectares ainda não negociada na região.
Por fim, há o caso de Antônio Ibrain dos Santos. Durante 15 anos, Antônio foi caseiro fichado,
com carteira assinada, na Fazenda Jardim, hoje sede da empresa Anglo Ferrous. Após a
aquisição da área pela empresa MMX, ele permaneceu no local com a família ainda três meses
prestando serviço para empresa Borba Gato (serviços gerais). Depois, o segurança patrimonial
da empresa MMX, Heraldo, pediu para o entrevistado desocupar a área dando 30 dias para o
mesmo arranhar outro local. Então, com o dinheiro do fundo de garantia, Antônio Ibrain
adquiriu um pequeno terreno de 200 m2 próximo da estrada que liga os municípios de
Conceição do Mato Dentro e Serro, logo após o trevo da entrada de São Sebastião do Bom
Sucesso. Segundo ele, comprou a área por R$7.000,00 (sete mil reais). Conforme declarou à
nossa equipe, Antônio não recebeu nenhuma indenização. Hoje, ele mora com a esposa e seis
filhos no local. Possui uma pequena horta e, depois de um longo período desempregado, foi
contratado pela empresa Ecovil de Belo Horizonte responsável pela restauração da escola de
Bom Sucesso. Além disso, para garantir o sustento da família, depois de um dia trabalhoso
como servente de pedreiro, presta serviço à noite, como diria “faz um bico”, num bar na
mesma comunidade para completar a renda familiar. Seu desejo é retornar para área rural.
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7 - SÍNTESE DOS PRINCIPAIS RESULTADOS OBTIDOS E RECOMENDAÇÕES
7.1 - Procedimentos de Pesquisa e Dados Gerais do Universo
Os resultados apresentados corroboram a adequação da adoção complementar de
metodologias quantitativas e qualitativas quando do estudo de casos como o aqui analisado,
tendo em vista, inclusive, a complexidade das relações e dos conflitos que o envolve.
Como demonstrado no documento, buscou-se levantar informações junto ao público alvo por
meio de diferentes instrumentos, levando sempre em consideração as declarações fornecidas
pelos participantes. Soma-se a isso a pesquisa documental também realizada. No
processamento dos dados, os resultados de cada etapa mostraram-se bastante integrados e o
aprofundamento de determinados temas como o processo de negociação e a percepção dos
atingidos em relação ao empreendimento não se distanciou da opinião geral fornecida pela
maioria dos moradores entrevistados. Assim, utilizando-se da pesquisa censitária, das
entrevistas em profundidade, dos grupos de discussão e de situações etnográficas foi possível
elaborar o perfil mais abrangente, até o momento, do grupo de atingidos pela implantação do
projeto de mineração salientando os seus principais problemas e suas maiores angústias e
ansiedades.
Para tanto, foram realizadas 417 entrevistas através da metodologia censitária, caracterizando-
se 405 domicílios (12 não têm moradores) nos quais vivem 1480 moradores. Além das 11
comunidades sugeridas pela Comissão dos Atingidos, outras 11 localidades foram identificadas
em campo e incorporadas a este trabalho em função de sua proximidade geográfica do
empreendimento, conforme destacado através dos mapeamentos realizados, com destaque
para os casos que envolvem Buriti, Serra de São José e Taporôco, bem como das demais
famílias contatadas que haviam vendido suas terras na época das negociações conduzidas pela
empresa Borba Gato Agropastoril S.A. e hoje se encontram espalhadas na periferia de
Conceição do Mato Dentro ou em Itapanhoacanga, vivendo em condições vulneráveis de
sobrevivência.
Os dados censitários proporcionaram um perfil socioeconômico da região pesquisada, com
dados apurados diretamente junto às famílias. Pôde-se observar, por exemplo, que 64,8% da
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população pesquisada mora no mesmo local desde quando nasceu, um forte indicativo da
importância atribuída pela população, principalmente mais velha, ao seu território.
Sobre a percepção da população atingida observou-se, em linhas gerais, que alguns pontos
foram recorrentes durante as falas dos entrevistados, tanto na pesquisa quantitativa
(Percepção Ambiental) quanto nos Grupos Focais e nos contatos domiciliares mantidos na
etapa do levantamento dos dados para análise do processo de negociação.
Assim, foram relatados problemas de comunicação e transparência nas ações do
empreendedor; processos de negociações diferentes ou insuficientes para os atingidos por não
levar em consideração as decisões da SUPRAM Jequitinhonha no que diz respeito ao TAC de
Irapé; ausência de acompanhamento psicossocial para as famílias atingidas; desconsideração
das formas tradicionais de posse da terra e de produção como hortas, quintais, pomares e
fabricação de quitandas; não cumprimento dos prazos acordados nas negociações e/ou
desinformação geral sobre os encaminhamentos a esse respeito; problemas com interdição
dos acessos; incômodos decorrentes da detonação de explosivos, transtorno decorrentes da
diminuição e contaminação das águas; não consideração dos diferentes usos dos córregos e
rios para o lazer, a dessedentação de animais e outros costumes domésticos. Esses itens serão
novamente explicitados adiante, o que não substitui a leitura do documento na íntegra para
sua melhor compreensão.
A região vivencia uma situação de notória intranquilidade e insegurança com a velocidade das
transformações em curso. Tal percepção foi detectada durante a convivência com as pessoas
no transcorrer da Pesquisa Censitária e posteriormente confirmada na realização dos Grupos
Focais.
No que se refere a essa técnica de pesquisa, é importante esclarecer que os três grupos
realizados obedeceram a recortes diferenciados de montagem, segundo a percepção dos
convidados sobre suas situações frente ao empreendimento na época da pesquisa
quantitativa. O entendimento das pessoas em considerar-se ‘atingidas’ ou ‘não atingidas’ pela
implantação das estruturas do empreendimento minerário, à época da caracterização
socioeconômica, implicou na organização dos grupos por essas categorias. A montagem de
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mais um grupo (com as lideranças locais) foi uma solução ulterior encontrada e que veio
contribuir para o aprofundamento dessa e de outras questões. Percebeu-se que essa distinção
(atingidos ou não atingidos) não pôde ser plenamente sustentada quando a questão foi
aprofundada nos grupos de discussão. No geral, todos se sentem (e são), de alguma forma,
atingidos pelo projeto de mineração. Mas, o que se detectou é que o grupo com os “atingidos”
revelou uma ansiedade maior para a resolução de seus problemas imediatos, por causa das
pendências de caráter mais emergenciais, principalmente no que se refere ao processo de
negociação, às escolhas das áreas e à interrupção dos plantios e das criações. O grupo
formados por aqueles que se declaram como “não atingidos” durante a aplicação da pesquisa
censitária mostrou-se perturbado com as interferências na região e com os efeitos diretos na
rotina das comunidades. Por sua vez, as ‘lideranças’ concordaram com a posição do grupo dos
“não atingidos”, mas os membros desse grupo reforçaram ainda a preocupação com o impacto
ambiental em âmbito regional. Portanto, os três grupos revelaram situações de intervenção do
empreendimento no cotidiano das pessoas e de apreensão com as consequências sobre as
diversas comunidades, mas sobretudo em função da falta de informações sobre o projeto e
transparência nas ações da empresa conforme declararam. Um dado importante a ser
ressaltado foi o fato dos GFs criticarem o distanciamento entre os responsáveis pelo
empreendimento e as comunidades do entorno da mina. Para eles, a importância de se
estreitar o canal de comunicação com as comunidades do entorno atenderia as aspirações dos
grupos em se inteirar mais sobre o projeto e reforçaria o compromisso de sustentabilidade
aparentemente assumido pelo empreendedor.
O capítulo seguinte teve por objetivo fazer uma caracterização geral sobre o processo de
negociação para mitigação e compensação dos impactos sociais, culturais e étnico-ecológicos
sofridos pelas comunidades diretamente atingidas e que terão que passar por processos de
reassentamento.
A partir de uma relação preliminar de comunidades, a equipe foi identificando, em campo,
outras com as quais também procurou manter contato sempre que possível. Para esse
trabalho optou-se pela realização de visitas domiciliares nas quais os membros de cada família
foram entrevistados no período de outubro a dezembro de 2010. Com este objetivo foram
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realizadas pesquisas qualitativas junto às famílias nesta situação, inclusive aquelas que não são
consideradas em nenhum documento oficial a que tivemos acesso ou aquelas referenciadas
oficialmente mas que passaram por processos de negociação anteriores à determinação da
utilização do TAC de Irapé como parâmetro para todos as ações de negociação visando ao
reassentamento das famílias atingidas.
Assim, foram visitadas famílias nas comunidades de Ferrugem, Água Santa/Mumbuca
(incluindo parte do Córrego do Passa Sete), parte de Gondó, Taporôco, Serra de São José, Buriti
e famílias que migraram destas localidades para outras localidades na região, tais como
Itaponhacanga, Córregos, Alvorada de Minas, Dom Joaquim, Lagoa Azul (Três Barras) e área
urbana de Conceição do Mato Dentro. A maior parte destas famílias compõe comunidades
rurais predominantemente negras, com ocupação tradicional do território.
Os procedimentos de pesquisa visaram apreender as expectativas de cada núcleo familiar
sobre o processo de negociação e suas demandas particulares em relação às propostas que
foram apresentadas pelo empreendedor. Também procurou compreender, minimamente, a
relação da família com o local de moradia, as relações de parentesco, a história do grupo
familiar e a percepções sobre o empreendimento.
Neste relatório foram adotados pressupostos metodológicos que buscaram compreender a
realidade a partir das entrevistas realizadas. Por fim, é importante destacar que este trabalho,
não se presta a realizar um inventário de todos os grupos e famílias direta e indiretamente
impactados, mas sim procura apresentar um quadro mais representativo sobre os grupos
impactados e como tem se dado o processo de negociação entre empreendedor e as
famílias/grupos. Na medida do possível procurou-se entrevistar o maior número de famílias
diretamente afetadas e para isso optou-se por utilizar a categoria êmica de atingidos, não
diferenciando-os entre impactados direta ou indiretamente. Buscou-se demonstrar no
relatório que os impactos gerados pela remoção de determinadas comunidades consideradas
como “diretamente atingidas”, porque o empreendimento se sobrepõe a sua territorialidade,
afeta os demais grupos sociais e comunidades do entorno, que pela legislação seriam
considerados “indiretamente atingidos”, mas que mantém importantes relações sociais,
principalmente de parentesco. No caso em estudo, o impacto se apresenta tanto aos que
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saem, quanto aos que ficam, pois tal relação entre eles será se não inviabilizada, ao menos
dificultada.
7.2 - Principais Problemas Identificados
Cumpre reforçar que a leitura desta parte do trabalho não substitui sua leitura na íntegra para
melhor compreensão dos argumentos aqui desenvolvidos.
Além disso, muitos dos problemas relatados estão intimamente ligados entre si, o que algumas
vezes faz com que pareça que um ou outro já foi de alguma forma citado. Optou-se, não
obstante, por efetivamente listar cada um dos que foram considerados passíveis de maior
destaque em função de sua complexidade e magnitude, com influência direta nos principais
problemas apontados pelos entrevistados ao longo do trabalho.
7.2.1 - Fragmentação e Deficiências do Processo de Licenciamento
As estruturas do projeto foram, e continuam sendo, licenciadas por órgãos diferentes: Instituto
Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA e Sistema Estadual do Meio Ambiente - SISEMA.
Resultante das normatizações em vigor no que respeita à responsabilidade compartilhada
entre as esferas de poder nos níveis federal, estadual e municipal quanto ao licenciamento
ambiental, este fato resultou em uma dificuldade adicional para os atingidos pelo
empreendimento, principalmente no que se refere ao acesso ao processo de licenciamento e à
compreensão do empreendimento e suas consequências para a região e para as suas vidas.
Além de gerar distorções, como a liberação de licenças de instalação para o mineroduto antes
mesmo da análise da viabilidade da extração do minério, esta fragmentação gerou um
processo de insegurança decorrente de ações desencontradas entre os órgãos e
principalmente de ações de comunicação ineficientes, ora reportando ao mineroduto ora às
estruturas de mineração (cava, planta de beneficiamento, pilhas de estéril e barragem de
rejeitos), muitas vezes sem a devida clareza sobre quantos, quais, quando, onde e como são os
atingidos pelo projeto como um todo ou por suas estruturas específicas.
A consequência mais evidente deste tipo de situação é a insegurança vivenciada pelas famílias
residentes ou com outras relações com a região, como direitos de herança, casas para fins de
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lazer ou vínculo produtivo (emprego, arrendamento ou áreas com produção à meia). Várias
das famílias entrevistadas não têm nenhum nível de informação sobre como a vida de seus
membros será alterada em decorrência da implantação do empreendimento. Não foram
informadas, ou pelo menos não o foram de forma satisfatória, sobre quais são os planos do
empreendedor para curto, médio e longo prazo, sendo que o próprio empreendedor parece
fazer pouco caso disso, tendo em vista que vem realizando reassentamento de famílias para
áreas que poderão ser impactadas pelas expansões do projeto em um futuro próximo, como a
região de Gondó.
Ficou evidente que os órgãos licenciadores se precipitaram ao conceder as licenças de
implantação da mina quando ainda pairavam dúvidas a respeito dos dados apresentados pelo
empreendedor. Primeiramente decidiram pela necessidade de apresentação de Cadastro
Socioeconômico e Patrimonial, em consonância com a condicionante 91 do Parecer Único,
aprovado em 2008, para então iniciar o processo de negociação fundiária. O próprio órgão
técnico de licenciamento considerou, conforme Pareceres e Atas de reuniões do COPAM a
apresentação dos referidos cadastros como imprescindível para a implantação de um
Programa de Negociação Fundiária e logo na sequência autorizou a validação de um cadastro
patrimonial considerado insuficiente. Não obstante, tal cadastro insuficiente tornou-se o
embasamento para a fase do Programa de Negociação Fundiária ocorrida em setembro de
2010.
7.2.2 - Utilização de Empresa Agropecuária para a Aquisição de Terras
Ainda durante o processo de análise da viabilidade econômica do empreendimento, através da
realização de sondagens geológicas e elaboração do planejamento sobre as demais estruturas
necessárias para viabilizar o processo de extração, beneficiamento e transporte do minério de
ferro, naquele momento sob o controle da MMX, iniciaram-se as ações visando à aquisição das
terras que se vislumbravam como necessárias para a implantação do projeto.
Para isso foi criada, ou apenas utilizada, uma empresa denominada Borba Gato Agropastoril
S.A., responsável pela aquisição, ou tentativa de aquisição, de terras na região com a
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justificativa de que serviriam para a criação de animais, em um primeiro momento, ou para
plantação de eucaliptos, em um momento posterior.
Este procedimento – aparentemente sendo reproduzido ainda hoje em outras áreas da região,
provavelmente necessárias para as futuras expansões do empreendimento – implicou em um
processo de fragilização das comunidades com características tradicionais existentes na região,
dificultando, por exemplo, o estabelecimento de processos de negociação coletivos visando à
manutenção, tanto quanto possível, de suas estruturas comunitárias, como a proximidade de
parentes e compadres, importantíssimas para o modo de vida camponês36 em função de suas
redes de solidariedade.
Este processo também criou distorções absurdas em que famílias foram muitíssimo mal
remuneradas por suas propriedades, posses ou direitos de herança, conforme reportado no
Cap. 6., além de acabar com a comunidade de Buriti, nem mesmo citada nos estudos
realizados ao longo do processo de licenciamento. Tudo isso num contexto em que se
procurou fazer a aquisição de áreas necessárias ao empreendimento paralelamente, ou à
margem, do processo de licenciamento ambiental do mesmo.
Talvez por isso mesmo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) do empreendimento não faça
qualquer menção às famílias diretamente afetadas pelas estruturas do projeto, apenas se
reportando genericamente, às páginas 690 e 691, que:
“O empreendimento da MMX se desenvolverá integralmente no meio rural dos municípios de
Alvorada de Minas e Conceição do Mato Dentro. No seu contexto de inserção são desenvolvidas
atividades antrópicas, principalmente, a pecuária leiteira para a fabricação de queijo e a agricultura
de subsistência. O empreendimento utilizará uma área de 2.401,45 hectares. As propriedades
diretamente afetadas suprimirão as atividades que atualmente desenvolvem acarretando numa
perda da produção do setor primário, bem como na diminuição da produção de queijo.
A área afetada pelo empreendimento representa 3,8% da área agrícola dos municípios afetos (sic), já
que estes possuem, segundo o Censo Agropecuário de 1996, uma área de 63.033 hectares utilizados
para lavouras (permanentes e temporárias) e pastagens (naturais e plantadas). O percentual de 3,8%
36 Cf., por exemplo, WOORTMAN, 1995.
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de área agrícola diretamente afetada pelo empreendimento é, na realidade, ainda menor, pois de
toda a área ocupada pelo empreendimento, somente 37% desta é ocupada com pastagens (limpas e
sujas). Ou seja, o empreendimento irá ocupar 903,87 hectares utilizados pela agropecuária, o que
representa 1,4% do total de hectares utilizados para lavouras e pastagens da AID.”
Ou seja, argumentou-se que os impactos antrópicos do empreendimento eram mínimos, posto
que representavam apenas 1,4% da área ocupada com lavouras e pastagens em toda a Área de
Influência Direta. Não se importou em saber, algo básico em um Estudo de Impacto Ambiental,
quem eram, como viviam e como poderiam ser impactados pelo projeto as pessoas que
viviam, produziam ou possuíam outras relações com ou nestes “irrisórios” 1,4% de área
“produtiva” dos municípios de Conceição do Mato Dentro e Alvorada de Minas, nem
tampouco como estes impactos poderiam ser evitados, minimizados ou compensados. Ao se
optar, por pressa, imperícia ou má fé, fazer uma descrição genérica sobre a área, que com
mínimas adaptações numéricas valeria para qualquer empreendimento em qualquer lugar de
Minas Gerais, os verdadeiros e principais impactos quanto ao meio antrópico foram
subsumidos junto com a população existente na área e se transformaram em uma mínima
“redução da área produtiva” acarretando na redução da produção leiteira para fabricação de
queijo e na redução da produção para subsistência. Portanto, o EIA não foi capaz de entender
e avaliar a importância fundamental das roças e dos quintais para a reprodução social destas
famílias, assim como da produção de quitandas, doces e farinha de mandioca, fonte de renda
tão ou ainda mais importante que o queijo.
Tendo em vista uma “falha” de tal monta, fica muito difícil entender como um EIA genérico,
válido, sob este aspecto, para quase que qualquer área rural do estado de Minas Gerais, pôde
servir de base para a concessão de licenças que permitiram, e permitem, a implantação do
empreendimento, pois todas as demais informações relativas ao Meio Antrópico, em que pese
sua importância, não podem substituir ao verdadeiro e completamente desconsiderado
impacto que o empreendimento gerou, e está gerando, para a vida de todas as pessoas que
possuem nome, sobrenome, dignidade e mereciam um mínimo de respeito de todas as partes
envolvidas neste processo, desde antes do EIA.
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7.2.3 - Tensão entre Empreendedor e Atingidos
Foi identificado um estado de tensão entre empreendedor e atingidos, expresso
principalmente através das recorrentes reclamações de violações do direito à propriedade
privada; ao direito de ir e vir, através da utilização de estradas tradicionalmente acessadas pela
população local e de problemas relacionados à diminuição da vazão de água associada ou não
à diminuição de sua qualidade, dentre outros fatores, como o próprio processo de negociação
que se mostra não só complicado como mesmo inviável, em alguns casos, fora das lides da
justiça.
Um dos atingidos chegou a ser retido, segundo seu ponto de vista em área pertencente à sua
família e negociada por apenas um dos herdeiros, por seguranças a serviço do empreendedor e
conduzido à delegacia de polícia de Conceição do Mato Dentro, aumentando ainda mais a
tensão entre as partes.
A situação está de tal forma acirrada que o principal Jornal do Estado trouxe em manchete:
“Disputa entre mineradoras e preservação deixa cidade em pé de guerra. Conceição do Mato
Dentro pega literalmente em armas para negociar com mineradora britânica”.
7.2.4 - Sensação de Insegurança
As informações desencontradas e imprecisas decorrentes de comentários extra-oficiais que
circulam na região ou mesmo linguagem e meios ineficientes utilizados pelo empreendedor no
processo de transmissão das informações, associada a um processo de licenciamento
fragmentado e que se arrasta há anos, a práticas questionáveis utilizadas com o objetivo de
aquisição de terras na região, ao estado de tensão em níveis diversos entre o empreendedor e
várias das famílias afetadas, dentre outros elementos, tais como a grande movimentação de
pessoas estranhas e veículos pesados na região, as rápidas alterações observadas na paisagem
regional, notadamente nas estruturas relacionadas ao mineroduto, as detonações de bombas
etc., geram uma forte sensação de insegurança na maior parte da população local.
Isso pode ser identificado através da Pesquisa de Percepção Ambiental (Cap. 4), em que
diversos entrevistados citam estes tipos de problemas como algumas das consequências do
empreendimento. Conviver com todas estas mudanças e incertezas tem sido um processo
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penoso para as famílias residentes na região, principalmente aquelas que se encontram na
Área Diretamente Afetada.
Quanto às demais famílias, localizadas na Área de Entorno do empreendimento, sobre estas
também paira uma sensação de insegurança quanto ao futuro, no caso decorrente
principalmente do nível de informação sobre o empreendimento, longe de poder ser
considerado satisfatório, embora possam ser associados a isso fatores tais como o grande
afluxo de pessoas estranhas à região, responsável pela alteração das condições de
sociabilidade observadas previamente ao empreendimento, dentre outras alterações de igual
ordem.
7.2.5 - Baixa Coesão Social
Este mesmo conjunto de dificuldades citados anteriormente, com um forte destaque em
relação à forma como se iniciou o processo de aquisição de terras na região, utilizando uma
empresa de agropecuária como fachada, provocou um praticamente irreversível problema de
redução do nível de coesão social observado entre as famílias atingidas. Assim, no cenário
atual o que se observa são os núcleos familiares tentando fazer cada qual sua própria
negociação, buscando para si a forma mais vantajosa que conseguem, isoladamente,
vislumbrar.
Se anteriormente a cultura camponesa regional conformava diversos e profundos laços de
solidariedade entre as famílias, compostas por parentes, compadres e amigos, atualmente não
se observa este nível de cumplicidade entre as famílias afetadas direta ou indiretamente. Isso
faz com que, isoladamente, elas se tornem mais frágeis frente aos processos de intensa
mudança pelo qual passa a região e que interferem direta e decisivamente em suas vidas.
7.2.6 - Fragmentação do Processo de Negociação
Neste cenário de fragilidade social, também se fragmenta, aparentemente em atendimento
aos interesses das famílias, todo o processo de negociação. Isoladamente, cada família se torna
muito mais frágil frente ao desenrolar do processo de mudanças compulsórias decorrentes da
implantação do empreendimento. Não se estabelecem condições favoráveis para a discussão,
em bom nível, de alternativas coerentes de reassentamento coletivo, o mais recomendado, em
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termos de minimização de impactos, em situações deste tipo. Esta alternativa, demonizada
pelas informações extra-oficiais que circularam pela região, parece nunca ter sido calmamente
considerada pelas partes envolvidas. Aparentemente as famílias afetadas temem perder
direitos individuais, inclusive de propriedade, enquanto para o empreendedor tende a ser mais
fácil e menos dispendioso realizar negociações individuais.
A consequência direta de todo este processo é que enquanto parte dos atingidos estavam
realizando uma “pré-negociação” com o empreendedor, algumas famílias vizinhas ainda não
haviam sido procuradas ou mesmo classificadas adequadamente em termos dos impactos que
as afetam, como a Comunidade de Taporôco. Outras, por sua vez, estão tão insatisfeitas que se
manifestam dispostas a levar a situação para o âmbito judicial.
7.2.7 - Desarticulação das Comunidades Atingidas
Cada qual negociando isoladamente, como vem ocorrendo e já ocorreu, extra-oficialmente, em
Buriti, tem uma consequência nefasta para as comunidades: sua total desarticulação. Ou seja,
significa o fim destas comunidades enquanto tal, passando cada família a se inserir em outras
localidades ou na periferia de áreas urbanas, como sedes de municípios ou de distritos da
região.
Esta desarticulação física dos domicílios e áreas produtivas também provoca uma
desarticulação social e econômica intensa, inclusive internamente às famílias.
Um de seus resultados mais visíveis é a instauração de processos de atrito entre familiares
herdeiros de uma mesma área, por exemplo. Enquanto a área está parada ou sendo utilizada
por uma mínima parte dos herdeiros todos os demais tendem a manter a ética camponesa em
que os que permanecem na terra têm o direito pleno de explorá-la produtivamente para
garantir a reprodução social de sua família. No entanto, a partir do momento em que aquela
área deixa de ser um território explorado pelos familiares residentes no local para se
transformar em um valor monetário, todos os herdeiros se sentem com iguais direitos a todos
os demais parentes.
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Outro exemplo observado com grande frequência são as desarticulações econômicas
acarretadas pelo desânimo enfrentado pelas famílias frente ao futuro, o que faz com que
reduzam suas áreas produtivas ou a fabricação de produtos agroindustriais, reduzindo
significativamente seu nível de renda.
7.2.8 - Marginalização dos Atingidos
No contexto do licenciamento de empreendimentos com esta dimensão é comum se observar
a marginalização dos atingidos, considerados culpados por uma parcela da sociedade local ou
regional por eventuais “atrasos” em sua efetivação, pois esta parcela da sociedade tende a ver
no projeto apenas oportunidades econômicas para os municípios envolvidos.
Vítimas desta situação, os diretamente atingidos passaram a ser vistos enquanto “entrave do
progresso” e a ser estigmatizados por parte da sociedade local, inclusive por parte daqueles
que costumeiramente adquiriam itens produzidos pelos mesmos, o que fez com que
passassem a enfrentar situações de constrangimento, seja público ou privado, diretos ou
indiretos.
Esse aspecto contribuiu para a diminuição da auto-estima dos afetados, que em muitos casos
efetivamente passaram a sentir um grande “peso nas costas” e a nutrir um sentimento de
culpa, que somado aos graves incômodos decorrentes das ações de implantação de algumas
estruturas relacionadas ao mineroduto (licenciado pelo IBAMA), se viram em uma situação em
que o maior anseio de grande parte deles, senão todos, passou a ser justamente mudar do
local no qual sempre viveram.
Ressalte-se que o discurso que prega que as comunidades são o entrave para o “progresso” é
uma constante na região, mas não somente nela. Através das Atas das reuniões do COPAM
durante o processo de licenciamento é possível notar que alguns Conselheiros utilizaram o
mesmo argumento. Sempre há a crença de que os seres humanos conseguem se adaptar
facilmente a outras realidades e contextos, o que é uma meia verdade, pois esta adaptação
requer tempo e, quando ocorre, vem acompanhada de muito sofrimento físico e psicológico,
algo impossível de se mensurar, mas bastante evidente.
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7.2.9 - Desconsideração de Algumas Comunidades
Apesar de diretamente afetadas, ou estarem recebendo visitas com o objetivo de negociação
ou outros, as comunidades de Buriti, Taporôco, Serra de São José e mesmo Gondó não são
referidas na documentação oficial. A consideração da urgência das comunidades de Ferrugem
e Água Santa parece ter obscurecido a presença destas demais comunidades. O próprio
Programa de Negociação Fundiária, revisto a partir da Condicionante 91 da LI e apresentado
pela Anglo Ferrous em agosto de 2010 só cita as comunidades de Ferrugem e Mumbuca/Água
Santa. As demais famílias, quando aparecem, são classificadas como “adjacências” ou “área
rural”.
7.2.10 - Utilização da Categoria "Emergencial" para Alguns Atingidos e Desrespeito ao Valor
Simbólico da Terra
Acategoria emergencial para alguns atingidos, ainda que tenha tido um papel importante na
medida em que reconheceu o real e imediato impacto do empreendimento sobre os
moradores, foi mais uma forma de fragmentação do grupo de atingidos.
Assim, famílias de Buritis, Taporoco e Gondó, também diretamente afetadas pela implantação
e possível expansão do empreendimento, inclusive tendo parte das famílias realocadas,
passaram por processos diferentes de negociação, representando prejuízos sociais, materiais e
simbólicos quando comparados às recentes negociações feitas já sobre o modelo do TAC Irapé.
Em alguns casos, como em Taporoco, algumas famílias ainda não foram procuradas,
acarretando na separação de seus parentes residentes nas comunidades vizinhas de Mumbuca
e Ferrugem.
Os documentos analisados e principalmente os procedimentos adotados em relação ao
processo de negociação demonstram um total desconhecimento, ou desconsideração, das
especificidades não somente territoriais, mas também sócio-culturais das comunidades
diretamente afetadas, notadamente tradicionais e de ascendência afro-brasileira com
potencial para serem classificadas, conforme a legislação brasileira constitucional e
infraconstitucional denomina, como “remanescentes de quilombos”.
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Conforme demonstrado no relatório a existência de terras de herdeiros é uma característica
comum nesta região, assim como a territorialidade específica decorrente não apenas desta
mas de outras características históricas e culturais observadas na região, fazendo com que seja
estabelecida com a terra um vínculo de trabalho, moradia e vivencia que vai muito além da
visão da terra enquanto uma mercadoria. A terra para estes grupos significa a própria
existência do grupo, fenômeno que vem sendo desrespeitado no processo de negociação ora
em curso.
7.2.11 - Importância dos Quintais para a Reprodução Social das Famílias
O processo de territorialização das comunidades diretamente atingidas proporcionou a
conformação de uma estrutura organizacional do processo produtivo que engloba, com graus
diferenciados de importância para cada família, a existência de roças e quintais, além de
pastagens e áreas preservadas ou em descanso. O destaque fica por conta das roças e quintais,
fundamentais para a principal atividade econômica de diversas famílias: a agroindústria
familiar, parte dela denominada pelas famílias produtoras como “quitandas”.
O tripé produtivo formado por roças, quintais e quitandas garante a reprodução social dos
vários núcleos familiares que se mantêm na região por gerações seguidas.
Nas roças se cultiva principalmente mandioca, milho e feijão. A mandioca é utilizada para a
produção de farinha e de polvilho, produtos muito apreciados pela população da região e
facilmente comercializados nas sedes municipais, principalmente Conceição do Mato Dentro.
Algumas famílias vendem estes produtos, principalmente a farinha, e outras preferem utilizar
um sistema mais tradicional, que não envolve diretamente dinheiro, pois é feito o escambo por
produtos de interesse para as famílias, como arroz, sal, óleo, macarrão ou outros. O milho tem
um uso misto, servindo tanto para a produção de quitandas, como bolos e biscoitos, quanto
para a manutenção das criações, como galinhas e porcos. Já o feijão é voltado prioritariamente
para a alimentação da família, mas havendo algum excedente o mesmo é comercializado em
feiras de Conceição do Mato Dentro, também contribuindo para o orçamento familiar seja por
não ser necessário comprar feijão ou por ser possível sua venda.
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Os quintais estão ao redor das casas. Neles se encontra grande variedade de árvores frutíferas
nativas e exóticas, tornando o clima entorno da moradia bem mais ameno e provendo a família
de grande diversidade de alimentos nutritivos e saborosos ao longo de todo o ciclo anual.
Também se observa a existência de hortas, geralmente cercadas, pois as galinhas e outras
criações vivem soltas pelo quintal, se alimentando dos frutos que caem das árvores e da ração
de milho lhes oferecida diariamente. As hortas não funcionam, ou funcionam apenas
parcialmente, no verão, devido ao forte calor. Elas possuem uma boa variedade de verduras e
legumes, contribuindo decisivamente para uma alimentação mais equilibrada por parte das
famílias. Na parte da frente da casa é comum observar jardins floridos, cuidados com capricho.
Já na parte posterior se encontra, logo após a cozinha, situada no último cômodo dos fundos
ou em cômodo à parte, as estruturas produtivas utilizadas para o preparo da farinha e das
quitandas. Para a farinha é utilizado uma grande área coberta sob a qual se encontra a
torradeira, empregada no processo de secagem e torra do produto. Outra estrutura existente
nas proximidades são os fornos de barro, geralmente empregados para assar quitandas como
bolos e, principalmente, biscoitos. Os doces, por sua vez, são feitos em tachos de cobre, seja
em forno específico ou no próprio fogão à lenha da família. A lenha, inclusive, é utilizada em
todos estes utensílios produtivos, mas se observa nenhum processo de desmatamento para
provê-la, tendo em vista que as famílias têm o hábito de buscar galhos secos no meio das
matas, principalmente nos altos de morros da região.
7.2.12 - Deficiência das Ações de Comunicação Social
As ações de comunicação social desenvolvidas pelo empreendedor não têm se mostrado
eficiente, tendo em vista o nível de desinformação e incertezas expressos pelos entrevistados.
Este é um aspecto fundamental para garantir um bom nível de informação sobre os projetos e
suas características, inclusive deixando bastante explícito para todos os moradores da região,
com destaque para aqueles diretamente atingidos, quais são efetivamente os impactos diretos
e indiretos que sofrerão e quais medidas estão sendo adotas pela empresa, e seus prestadores
de serviços, a este respeito.
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7.2.13 - Assistência Social e Médica Deficitária
Empreendimentos deste tipo, e com esta magnitude, sempre geram um processo de ansiedade
na população da região, o que se agrava dentre aqueles que passarão por um processo de
relocação/negociação.
Em que pese este aspecto ser bastante evidente, as ações de assistência social e médica não se
mostraram adequadas e suficientes, tendo em vista o nível de ansiedade e insegurança
vivenciados pelos entrevistados, o que transparece claramente através das pesquisas de
percepção ambiental realizadas.
7.2.14 - Alteração da Qualidade do Ar
Tanto as entrevistas quanto as observações feitas em campo apontaram para uma nítida
alteração da qualidade do ar decorrente, direta ou indiretamente (intensificação do tráfego de
veículos na região) de atividades ligadas ao empreendimento. A topografia da região, ao que
parece, proporciona que a ação do vento espalhe a poeira por várias regiões, causando grande
incômodo aos moradores da região.
Foram relatadas situações em que pessoas tiveram, segundo o olhar dos entrevistados,
agravamentos de quadro de saúde decorrentes deste problema, como a criança com problema
de visão que residia em domicílio situado ao longo de uma das vias de acesso ao
empreendimento e que em função da poeira gerada pela grande movimentação de veículos
estava coçando os olhos e agravando seu problema ocular, que a pode levar à perda total da
visão.
7.2.15 - Alteração da Qualidade da Água
Também foram registradas reclamações sobre a alteração da qualidade da água em cursos
d’água que nascem na região de intervenção do empreendimento. As águas se tornaram mais
turvas, o que em diversa situações dificultou ou mesmo impediu sua utilização pelos
moradores que dela sempre fizeram uso, seja para uso doméstico ou para dessedentação de
animais.
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7.2.16 - Diminuição da Vazão de Cursos e Fontes d'Água
Outro problema relatado pelos entrevistados é a diminuição do volume das águas de alguns
cursos d’água. Uma das grandes preocupações e reclamações observadas era com as
alterações que a empresa estava realizando nos córregos, e nas cabeceiras das águas que lhes
abastecem, o que os estavam afetando significativamente. A utilização das águas pelas pessoas
destas comunidades vai muito além do simples abastecimento residencial, pois perpassa todo
um modo próprio de utilização das mesmas que se relaciona ao modo de ser destes grupos
como pesca, lazer, banhos, lavagens de roupas. A desconsideração de tais usos faz com que as
medidas propostas para a solução deste problema possa ser sub-avaliadas.
7.2.17 - Detonação de Explosivos e Emissão de Ruídos
A detonação de explosivos gera incômodos, como a emissão de ruídos, e a suspeita de que
residências e prédios históricos, principalmente na sede do distrito de Córregos, estão
sofrendo rachaduras como decorrência deste tipo de procedimento.
Informações sobre os procedimentos de segurança adotados pelo empreendedor são, segundo
o mesmo, repassadas aos moradores da região. Pela mesma forma, estariam sendo adotados
procedimentos de monitoramento sobre seus efeitos para a região. Não obstante,
considerando-se o número e a intensidade das reclamações registradas sobretudo em
Córregos, ou as informações não estão sendo repassadas de forma satisfatória ou os
monitoramentos não têm sido eficientes.
Alem disso, a utilização de máquinas pesadas no processo de implantação do empreendimento
(no caso, quando os trabalhos de campo foram realizados, relativos ao mineroduto), inclusive
no período noturno, causa grande transtornos aos moradores da região, a maioria deles
diretamente afetados e que absurdamente ainda não foram reassentados. Acostumados à vida
rural, na qual o silêncio noturno só é quebrado pelos sons da natureza, o ruído de motores e
sons de alarme de ré soam como um incômodo capaz de perturbar o sono a paz.
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7.2.18 - Interrupção de Estradas
Outro impacto recorrentemente citado pelos atingidos é o fechamento de uma importante
rede de estradas que ligavam as comunidades e o acesso delas aos distritos e às sedes dos
municípios. A justificativa para não utilização das estradas, por parte do empreendedor, é a
segurança, de fato necessária diante de uma atividade de risco como a utilização de explosivos
e grande movimentação de máquinas e veículos pesados. No entanto, cabe a indagação, em
consonância com as falas de atingidos e mesmo de conselheiros do COPAM: não seria
necessário primeiro se criar uma política de compensações e mitigação a este e aos outros
impactos gerados por esses “bloqueios” de trajetos, visto que não existe transporte público na
região e as estradas de servidão são importantes meios de locomoção?
7.2.19 - Alteração do Patrimônio Imaterial
Os impactos do empreendimento estão atingindo os modos viver, os saberes e os modos de
fazer das comunidades da região, causando uma nítida alteração em seu patrimônio intangível.
Ações visando ao registro de parte deste patrimônio foram adotadas pelo empreendedor, após
recomendação neste sentido durante a fase de Informações Complementares ao EIA. Ao que
parece, não obstante, as comunidades não vêm sido suficientemente informadas sobre os
procedimentos adotados e nem tampouco foram consultadas sobre como se dará sua
disponibilização para o púbico potencialmente interessado, com destaque para eles próprios.
Ou seja, a que tipo de resultado terão acesso direto, ao final destas ações de registro de seu
patrimônio.
Porém, mais do que isso, mais uma vez se registra a importância de um processo de
reassentamento coletivo, único capaz de proporcionar a perpetuação de grande parte deste
patrimônio intangível através da manutenção das relações sociais e produtiva das
comunidades.
7.2.20 - Alteração do Patrimônio Material
O patrimônio material das comunidades diretamente atingidas também será alterado, tendo
em vista sobretudo a necessidade de seu reassentamento.
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Embora também deva estar sendo foco do registro do patrimônio cultural das comunidades
atingidas, também é fundamental garantir às famílias reassentadas a reprodução de suas
estruturas produtivas, tais como casas de farinha, fornos para fabricação de quitandas e fogão
a lenha, dentre outras, não bastando, portanto, se prever um montante financeiro com fins
indenizatórios para estes casos.
7.2.21 - Descumprimento, pelo Empreendedor, de Prazos Acertados
Conforme demonstram as Atas e Pareceres da SEMAD, o empreendedor vem
sistematicamente descumprindo prazos acertados em relação aos programas e às
condicionantes determinadas pelo órgão ambiental. Este é também o caso do processo de
negociação, que mesmo tendo ocorrido em setembro de 2010 com a maioria das famílias
diretamente atingidas ainda não havia seguido em frente em meados de 2011.
As análises dos impactos socioambientais realizados ao longo do processo de licenciamento do
empreendimento foram constantemente consideradas insuficientes, incompletas e mesmo
omissas em alguns casos, tanto pelo órgão ambiental quanto por representantes da sociedade
civil da região. Tal aspecto ilustra a baixa relevância que, ao que parece, o empreendedor vem
atribuindo aos impactos socioambientais que seu projeto provoca às comunidades da região.
7.2.22 - Inadequação do Termo de Acordo Utilizado ao TAC de Irapé
O Programa de Negociação parece limitar o que considera como área diretamente afetada a
simples sobreposição geográfica entre a planta do empreendimento e as áreas hoje ocupadas,
desconsiderando demais relações sociais.
O “Termo de Acordo para Validação do Cadastro Patrimonial e Definição, pelo Atingido, da
Modalidade de Negociação”, proposto pelo empreendedor, não se mostrou adequado ao
Termo de Ajustamento de Conduta adotado para a UHE Irapé, conforme determinação de
condicionante do COPAM.
O Termo de Acordo proposto inverte a proposição estabelecida pelo TAC Irapé e também
aprovada pela Supram Jequitinhonha de incentivar o reassentamento coletivo em
contraposição ao individual. O mesmo privilegia o reassentamento individual, que se apresenta
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como condição “financeiramente” mais vantajosa. Essa opção oferece uma indenização “em
valores monetários” do “valor pecuniário correspondente à propriedade e suas benfeitorias”.
Por sua vez o modelo de reassentamento coletivo não prevê o valor monetário da propriedade
e suas benfeitorias.
No Termo de Acordo proposto pela AngloFerrous, o fornecimento de cesta básica, assistência
técnica/auxilio sementes, construção de nova casa com infra-estrutura básica como água, luz,
telefone e indenizações diversas foram monetarizados. Não foi possível durante a realização
deste trabalho de campo obter os critérios que animaram tal monetarização. Os valores
aparecem no termo sob a denominação de “Total pelo T.A. de Irapé”, e é fixo por família,
independente do tamanho ou mesmo das especificidades das famílias. O valor apresentado
aparece em conjunto com outros dois (02) itens, “cesta básica” e “insumos e sementes”,
portanto, não se tem com clareza o valor previsto para cada item. Também não fica claro se o
valor estabelecido será repassado monetariamente às famílias ou em produtos, como a
compra das cestas, ou das sementes e o pagamento dos serviços de assistência pelo
empreendedor.
Essa falta de clareza pode representar prejuízos principalmente em relação à assistência
técnica e compra de sementes e insumos vitais para a colonização de uma área a principio sem
maiores familiaridades.
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8 - RECOMENDAÇÕES
A seguir serão pontuadas, de forma bastante clara a direta, algumas recomendações visando
minimizar os conflitos ocasionados pelo empreendimento, principalmente no sentido de
proporcionar uma solução justa e digna para o processo de reassentamento das famílias
diretamente atingidas.
Suspensão da implantação do empreendimento enquanto não for resolvida a questão das famílias em situações consideradas emergenciais, inclusive com sua transferência para as novas áreas.
Só promover o reassentamento de cada família após cumpridas as demais clausulas de negociação, como casa pronta com a infraestrutura necessária, como água potável canalizada, luz, documentação da nova terra regularizada e em nome da família, inicio da preparação de plantios, entre outros.
Garantia de um processo de mudança saudável, com um mínimo de estresse e ansiedade para as famílias, através do estabelecimento de um prazo mínimo de 90 dias para a efetiva mudança após a comunicação, pelo empreendedor, de que as condicionantes de mudança já foram executadas.
Arcar com os custos necessários para a adequada transferência das famílias, sejam eles referentes às documentações ou mesmo ao transporte da mudança em veículos apropriados para tal.
Promover a revisão do Programa de Negociação Fundiária adequando-o ao TAC Irapé, conforme determinação de condicionante do Copam/Supram Jequitinhonha.
Ter uma programação de negociação e reassentamento com critérios claros e transparentes.
Rediscutir com as famílias a possibilidade de relocação/reassentamento coletivo, para áreas contíguas, nos casos em que isso for viável e houver o interesse das famílias envolvidas. Manter os parentes, compadres e amigos por perto é uma forma de amenizar a angústia provocada pela mudança compulsória e toda a alteração no modo de vida que isso implica, como a necessidade de adaptação a um novo contexto ambiental, social e até mesmo econômico. Contudo, não é suficiente que apenas as equipes de negociação do empreendedor se envolvam neste processo, sendo fundamental envolver a assessoria técnica e política de uma equipe capaz de perceber que não se trata apenas de um processo de negociação de terras, algo que parece não ter ocorrido até o momento.
Negociar com todo o grupo de famílias, levando-o em consideração para priorização dos reassentamentos alguns critérios:
agrupamentos familiares coletivos que queiram ir para áreas vizinhas;
situações de maior risco social e físico;
famílias que possuam pessoas mais idosas e com limitações físicas.
Resolver a questão das negociações das “terras de herdeiros” antes do efetivo posseamento das terras pelo empreendedor.
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Poder de escolha para os herdeiros ausentes sobre a forma de recebimento, de suas partes nas terras mantidas em comum na unidade fundiária em que um grupo de pessoas unidas por relação de parentesco componham sistemas de reprodução social comumente designados de “terras no bolo”. A escolha estaria entre receber em valor financeiro, como tem sido oferecido pelo empreendedor, ou receberem um módulo fiscal, por grupo familiar, por propriedade, no município e próximo ao local onde os demais parentes serão reassentados.
Estabelecer critérios para a correção financeira dos valores estabelecidos nos Termos de Acordo assinados, entre o período de assinatura destes termos e o efetivo pagamento.
Programa de Negociação Fundiária, ao tomar como referência o TAC Irapé, deve permitir a reconstituição dos modos de viver, fazer e criar dos grupos atingidos. A área tem que ser suficiente para a transferência de todas as atividades:
-Casas, benfeitorias e áreas de pomares e pequenos cultivos (quintais);
-Áreas de benfeitorias coletivas;
-Roça (cultivos atuais);
-Outras áreas de produção agropastoril ou agroindustrial.
Adequação das negociações de forma a garantir que cada chefe de família tenha direito a no mínimo 1 Módulo Fiscal37, conforme estabelecido no TAC Irapé, “no município onde se dará o reassentamento” (TAC Irapé, Item 5.1.8, p.15-16). O Modulo Fiscal na região varia de 20 hectares em Conceição do Mato Dentro, a 40 hectares no Serro, sendo que em Dom Joaquim e em Alvorada de Minas, onde várias das famílias devem ser reassentadas, o módulo fiscal é de 30 hectares. O Programa de Negociação Fundiária apresentado pelo empreendedor, assim como o Termo de Acordo proposto, considerou a área fixa de 20 ha, para cada chefe de família, que é a dimensão do menor Módulo Fiscal dos quatro citados, correspondente ao município de Conceição do Mato Dentro, independente de onde as famílias sejam reassentadas. Apesar de grande parte das famílias desejarem ser reassentadas em Conceição do Mato Dentro, tal desejo não tem se mostrado factível devido à falta de opções apresentadas pelo empreendedor, de forma que devem ser reassentados na região de Dom Joaquim, Alvorada de Minas e até mesmo Serro.
Conforme orientação do TAC Irapé, também sugere-se que os “lotes” devem ter no mínimo 50% de terras com capacidade de uso entre as classes I e IV e o remanescente, com capacidade de uso até a classe VI, conforme Manual Brasileiro para Levantamento da Capacidade de Uso da Terra - ETA - Brasil/Estados Unidos. Devem ter disponibilidade de água “originada de cursos d`água superficiais e perenes, que sejam acessíveis às famílias reassentadas e que tenham vazão suficiente para atender ao consumo humano, dessedentação de animais e uso agrícola”, condições de acesso o ano todo aos núcleos urbanos mais próximos e acesso a energia elétrica (TAC Irapé, p.13), os lotes ainda deverão possuir uma “disponibilidade equilibrada de diferentes ambientes que propiciem a diversidade e sustentabilidade da agricultura familiar, bem como
37 O Modulo Fiscal é uma unidade de medida expressa em hectares, fixada para cada município, considerando os fatores como: tipo de exploração predominante no município; renda obtida com a exploração predominante; outras explorações existentes no município que, embora não predominantes, sejam significativas em função da renda ou da área utilizada; e o conceito de propriedade familiar.
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condições que permitam a continuidade das atividades produtivas anteriormente desenvolvidas” pelas famílias (TAC Irapé, p.17. “Deve ficar assegurado o acesso fácil, rápido e seguro aos serviços de educação, saúde e telefonia” cabendo ao empreendedor a articulação com as respectivas prefeituras municipais (TAC Irapé, p.16).
OPrograma de Negociação Fundiária considerando que haverá população remanescente no perímetro atual, deve priorizar a proximidade e a acessibilidade ao atual território na compra das novas áreas para realocação. As áreas devem ser suficientes para comportar pelo menos as famílias atingidas que desejam continuar morando próximas ou vizinhas, de modo a permitir a manutenção das relações sociais existentes.
Os projetos de desenvolvimento sustentável após o reassentamento deverão ser construídos com a participação direta da comunidade, tendo o suporte técnico de profissionais da confiança destes. Para a reconstituição de suas produções agropastoris e mesmo para a implantação de novos sistemas produtivos, segundo o TAC IRAPÉ o empreendedor deverá se comprometer a contratar uma equipe de assistência técnica por um período de oito (08) anos que orientará e acompanhará a atividade produtiva do grupo. No entanto, no projeto apresentado pelo empreendedor o período de assistência técnica ficou reduzido a dois (02) anos, o que se torna insuficiente quando se recorda que estes são grupos que também cultivam espécies, por exemplo, as frutíferas com um ciclo de desenvolvimento maior do que dois (02) anos. Acrescente-se que o plano de assistência técnica e extensão rural deve ser desenvolvido respeitando a tradição (saberes e fazeres) de cultivo do grupo, ainda que ofereça condições para o desenvolvimento de novas atividades.
Caso não tenha sido realizado nos últimos meses, providenciar um levantamento das benfeitorias atuais, seja reprodutiva ou não reprodutiva, visto que segundo informações dos moradores e documentos juntados ao processo de licenciamento os anteriores eram claramente insuficientes e incompletos.
É importante prever a indenização das perdas ocorridas durante o período do processo de negociação. No referido TAC Irapé tal situação se encontra contemplada, visto que se prevê, no caso das culturas perenes, incluindo pomares domésticos, que além do valor da indenização das culturas qual seja “a soma do custo de reposição (aquisição de mudas, sementes, insumos, plantio e tratos culturais)” a consideração também do “valor da produção cessante durante um período a ser calculado em função do ciclo produtivo identificado na região para a entrada em produção da nova cultura” (TAC, p.11, item 4.2.1). Se tal medida fosse contemplada no Termo de Acordo em análise evitar-se-ia o prejuízo financeiro e principalmente os danos à saúde dos atingidos, uma vez que a inatividade em uma realidade camponesa representa uma enorme angustia e ansiedade sendo considerado um afrontamento ao seu modo de vida.
Prever o ressarcimento de colheitas que não puderem ser feitas em função da necessidade de mudança do grupo.
Reavaliação das Avaliações das Benfeitorias/Cadastro Patrimonial. Sugere-se aqui a contratação de uma equipe técnica especializada, indicada pela Comissão dos Atingidos, ou pelas famílias que já assinaram os “Termos de Acordo” para que sejam conferidas, em conjunto com as famílias, as Avaliações de suas benfeitorias.
Garantir a assistência médica e psicológica específica ao grupo durante o período de implantação do empreendimento e pelo menos até 02 anos após o possível reassentamento do grupo. Tal
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medida se deve ao período de grande tensão gerado pela possível necessidade de mudança de seu território tradicional, território esse em que nasceram, se criaram e constituíram família. Tal mudança, por fatores alheios aos seus próprios desejos, pode gerar problemas de saúde significativos, inclusive psicológicos. O que já ocorre, registre-se, com os moradores mais idosos, fato este evidenciado pelo aumento de casos de depressão e estresse. A situação merece maior atenção pela idade mais avançada de alguns dos moradores com mais de 80 anos e que são importantes referências ao grupo como todo. Se naturalmente a idade desses moradores já exigiria uma atenção especial, todo esse processo de negociação e pressão que tem vivido exige uma atenção redobrada. O bem estar dessas pessoas é fator primordial para a manutenção da atual sociabilidade do grupo.
Elaboração de um Projeto de Sustentabilidade Socioeconômica e Etnodesenvolvimento que tenha o grupo como agente principal e conjugue melhorias técnicas sem, no entanto, desconsiderar a expertise dos mesmos nas atividades propostas. Sugere-se, por exemplo, a realização de cursos de melhorias no manejo dos cultivos atuais, mas considerando as características locais e o desejo dos moradores.
O empreendedor deve se comprometer a estabelecer com os atingidos um processo de interação e negociação que garanta à comunidade uma participação efetiva, autônoma e informada, na definição das medidas necessárias ao seu adequado reassentamento.
Sugere-se a definição de um calendário para a concretização das negociações e a efetiva mudança, acordado com os atingidos, pois estes são fatores de muita dúvida e ansiedade nos atingidos, visto que o “Termo de Acordo” não estabelece um prazo para sua execução.
O empreendedor deve se comprometer a apresentar uma proposta que contenha um cronograma executivo das medidas compromissadas com os atingidos.
É necessária a elaboração de relatórios com periodicidade acordada entre empreendedor e atingidos sobre as atividades que estiverem sendo executadas, para fins de acompanhamento dos compromissos assumidos. Os relatórios devem ser discutidos com os atingidos e ser encaminhados aos órgãos públicos competentes para que estes tomem providências em casos de atrasos ou inadequação no cumprimento dos compromissos. Possibilidade de que o descumprimento dos compromissos assumidos em uma possível negociação possa acarretar na suspensão do mesmo.
Revisão de todas as negociações das famílias de proprietários, posseiros, moradores ou trabalhadores das propriedades negociadas antes do “Programa de Negociação Fundiária”, que teria sido protocolado em 31 de agosto de 2010, para corrigir falhas que coloquem estas famílias em situação de maior vulnerabilidade.
Revisão do Programa de Negociação Fundiária para incluir os casos não contemplados principalmente a região de Buriti, algumas propriedades em Gondó, as famílias de Taporôco e Serra de São José que ainda não foram procuradas e que desejem se mudar junto com os familiares e vizinhos que já estão em processo de negociação e os moradores que já saíram, ainda que através de negociações indiretas com a “Borba Gato Agropastoril”.
Participação direta das comunidades diretamente atingidas nos projetos de registro e conservação de sua memória coletiva, conforme interesse das próprias pessoas das comunidades, através da geração de imagens, filmes e fotos sobre a história dos grupos, suas características,
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pontos de referências territoriais, festas e tradições. Além do registro em si, é importante garantir a conservação deste material e a acessibilidade deste grupo aos registros realizados.
Informar, da forma mais clara e precisa possível, à população do entorno do projeto e toda a sociedade interessada, quais serão as etapas seguintes previstas para o projeto, como frentes de expansão planejadas em um horizonte de tempo de 5 ou 10 anos. Tal aspecto tenderá a diminui o nível de ansiedade de grande parte da sociedade regional, principalmente daqueles residentes em áreas vizinhas ao projeto.
Adotar uma postura mais próxima e mais transparente para com as comunidades e seus representantes. O tratamento diferenciado que vem se dispensando entre aqueles que são aparentemente favoráveis ou contrários ao “Projeto Minas-Rio”, pelo contrário, tem demonstrado uma postura revanchista por parte de representantes do empreendedor, numa visão maniqueísta do contexto regional, acirrando os ânimos entre as partes e dificultando decisivamente as possibilidades de diálogo, com o objetivo de conhecimento e enfrentamento dos problemas de forma justa e transparente.
Adotar ações mais eficazes de comunicação social, assim como o efetivo, e sincero/transparente, estabelecimento de diálogo com todas as partes envolvidas, independente de sua postura mais favorável ou mais crítica ao projeto. É preciso perceber que aqueles que se opõem ao projeto estão exercendo seus direitos de cidadania e que se manter atento às suas críticas e sugestões contribui para que a implantação do empreendimento (já garantida através da LI) seja menos traumática para a sociedade regional, com destaque para aqueles diretamente atingidos.
Com mais transparência e de forma mais acessível, esclarecer a população local sobre os procedimentos adotados pelo empreendedor acerca do monitoramento da quantidade e qualidade da água, da emissão de poeira, do uso de explosivos e geração de ruídos, em especial, no que tange à questão hídrica, as comunidades banhadas pelo córrego Passa Sete como, por exemplo, Água Quente.
Outro ponto necessário para esclarecimento diz respeito às condições estruturais e ao monitoramento da futura barragem de rejeitos, pois a maioria da população a jusante está ansiosa quanto ao risco de rompimento da mesma, situação identificada durante as visitas de campo.
Adotar instrumentos de comunicação adequados à realidade local também é imprescindível para que o repasse de informações flua de forma eficiente e espontânea, permitindo que o público-alvo se sinta efetivamente como parte do processo, inclusive com o direito de solicitar maiores esclarecimentos sobre os pontos que julgar necessário, algo que não foi possível observar durante os procedimentos de pesquisa.
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ATA 42ª reunião da UNIDADE REGIONAL COLEGIADA SUPRAM-JEQUITINHONHA em
13/05/2010
ATA 45ª reunião da UNIDADE REGIONAL COLEGIADA SUPRAM-JEQUITINHONHA em
12/08/2010
ATA 47ª reunião da UNIDADE REGIONAL COLEGIADA SUPRAM-JEQUITINHONHA em
14/10/2010
Informação Técnica 03/2009 do Ministério Público Federal (MPF) (INFORMAÇÃO TÉCNICA,
MPF, Nov.2009)
INFORMAÇÃO TÉCNICA No. 05/2010 do Ministério Público Federal (MPF) (INFORMAÇÃO
TÉCNICA, MPF, 2010)
Jornal Estado de Minas “Disputa entre mineradoras e preservação deixa cidade em pé de
guerra. Conceição do Mato Dentro pega literalmente em armas para negociar com mineradora
britânica”. assinada pela jornalista Zulmira Furbino 28/03/2010
Parecer Técnico n° 33 / 2007 - COMOC/CGTMO/DILIC/IBAMA
Parecer Único do Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA Nº 001/2008 SUPRAM-
JEQUITINHONHA
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Parecer Único do Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA Nº. 757545/2010 SUPRAM-
JEQUITINHONHA
PROCESSO ADMINISTRATIVO - PA. Nº. 1.22.000.000183/2007-25, da Procuradoria da Republica
em Minas Gerais.
Programa de Negociação Fundiário – Revisão a partir da Condicionante 91 da LI. Plano de
Controle Ambiental. Belo Horizonte, 31 de Agosto de 2010. Mimeo, 24p. Documento no. PG-
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Gerais, a Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG e a Fundação Estadual do Meio
Ambiente, com a intervenção da Fundação Cultural Palmares, da Associação Quilombola Boa
Sorte e da Comissão dos Atingidos pela Barragem de Irapé, objetivando a adoção de Medidas
que visem a melhoria da qualidade do Meio Ambiente, a reconstituição de direitos das
populações atingidas pela barragem de Irapé e o conseqüente encerramento da Ação Civil
Pública n. 2001.38.0043661-9”. Belo Horizonte, 05 de julho de 2002, Mimeo, 63pgs.
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Anexos Anexo 01 - Registros Fotográficos
Anexo 02 - Mapa (A1) de Localidades da Área de Estudo
Anexo 03 - Mapas Temáticos
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ANEXO 01 - REGISTROS FOTOGRÁFICOS
Treinamento Equipe Diversus
Reunião na Comunidade de Água Quente
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Equipe Diversus – Pesquisa Quantitativa
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Devolução dos Formulários
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Grupos Focais
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Paisagens da região
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Moradias
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Quintais
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Horta
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Tacho para produção de farinha
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Forno de Barro
Moinho
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Fogão a lenha
Uso de lenha
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Produção de doce de leite
Criação de aves
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Criação de porcos
Criação de peixe
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Usos d’água
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Produção Pecuária
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Produção Agrícola
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ANEXO 02 - MAPA (A1) DE LOCALIDADES DA ÁREA DE ESTUDO
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ANEXO 03 - MAPAS TEMÁTICOS
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