diabetes mellitus tipo 2. -...

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i VIVIANE TANNURI FERREIRA LIMA FALCÃO "IMPORTÂNCIA DO CONTATO INTERCELULAR NO PÂNCREAS ENDÓCRINO MEDIADO PELAS JUNÇÕES CELULARES E SEU PAPEL NA PATOGÊNESE DA DIABETES MELLITUS TIPO 2." Campinas, 2014

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VIVIANE TANNURI FERREIRA LIMA FALCÃO

"IMPORTÂNCIA DO CONTATO INTERCELULAR NO

PÂNCREAS ENDÓCRINO MEDIADO PELAS JUNÇÕES

CELULARES E SEU PAPEL NA PATOGÊNESE DA

DIABETES MELLITUS TIPO 2."

Campinas, 2014

ii

iiiiii

iii

iv

v

vi

vii

RESUMO

As junções intercelulares (JIs) e suas proteínas estruturais estão envolvidas em vários

processos celulares tais como adesão e comunicação celular, diferenciação, proliferação e

homeostase celular em diversos órgãos. No pâncreas endócrino, JIs parecem estar

envolvidas na regulação da citoarquitetura das ilhotas pancreáticas, bem como na

biossíntese e secreção de insulina. O objetivo desta tese foi investigar o possível papel do

contato intercelular mediado pelas junções intercelulares e suas proteínas estruturais na

disfunção das células beta pancreáticas na patogênese do Diabetes mellitus tipo 2 (DMT2).

Para tanto, investigamos a distribuição e expressão celular de proteínas juncionais (a saber,

E-, N-, VE-caderinas, ZO-1, β- e α - cateninas) no pâncreas endócrino de camundongos

C57BL/6/JUnib alimentados com uma dieta rica em gorduras (dHL) durante 8 meses.

Inicialmente, foi feita uma caracterização metabólica dos animais e uma análise estrutural e

morfométrica do pâncreas endócrino, já que estudos avaliando o efeito da administração de

dHL por tempo prolongado são escassos. Os animais do grupo dHL (alimentados com

ração contendo 21%g lipídios por 8 meses) tornaram-se obesos, mostrando importante

aumento do ganho de peso (170%) em relação ao grupo controle (que recebeu ração padrão

com 4,5%g lipídios pelo mesmo período de tempo). Ainda, os camundongos obesos

exibiram distúrbios metabólicos característicos e indicativos dos estágios iniciais do

estabelecimento da DMT2, como resistência periférica a insulina, com um aumento (de

27,34%, p=.0,0005) da área sob a curva de ITT, bem como marcada hiperglicemia em

jejum (52%, p<0,0001) e hiperinsulinemia pós-prandial (88%, p=0,0058) em relação ao

grupo controle. Ilhotas pancreáticas isoladas de camundongos alimentados com dHL

mostraram uma deficiência significativa da secreção de insulina estimulada por glicose

(p<0,05), associada a um aumento da expressão do gene da insulina (isoformas 1 e 2),

analisado por qPCR. A histologia do pâncreas endócrino não revelou alterações marcantes

na morfologia e citoarquitetura das ilhotas entre os grupos de animais. Entretanto, os

animais dHL apresentaram um aumento significativo do volume relativo de células β por

pâncreas total (aumento de 57,1%, p<0,036) e da área relativa de células β por ilhota em

relação ao grupo controle (p<0,003), indicando uma expansão compensatória da massa de

célula β, associada com uma significativa diminuição (p<0,003) da área ocupada pelas

células α em relação à área total da ilhota (30%, p<0,003). Com relação à distribuição

celular das proteínas juncionais nas ilhotas pancreáticas, a N-caderina, E-caderina, ZO-1 e

cateninas estão distribuídas na região de contato intercelular das células endócrinas

pancreáticas, enquanto que a VE-caderina está limitada ao endotélio. Verificou-se, por

imunoistoquímica, uma diminuição na marcação intercelular das células β para N-caderina

(p<0,0001), E-caderina (p<0,0001) e α-catenina (p<0,0001) e um aumento na imunoreação

para VE-caderina (p<0,004) nas ilhotas de camundongos diabéticos em relação ao grupo

controle. No caso particular da imunofluorescência para N-caderina, verificou-se um

aumento na marcação difusa do interior das células β, indicando uma redistribuição dessa

viii

proteína da região de contato intercelular para o citoplasma. Entretanto, não observamos

diferenças significativas no grau do conteúdo celular dessas proteínas juncionais, analisado

por Western Blot, em homogeneizados de ilhotas isoladas entre os grupos experimentais.

Conforme revelado por qPCR, um aumento na expressão gênica da VE- e N-caderinas, bem

como de ZO-1, foi observado em ilhotas isoladas de camundongos diabéticos em

comparação com os controles. Em conclusão, as proteínas juncionais estudadas são

expressas por células endócrinas e endoteliais das ilhotas pancreáticas e, em particular, a

distribuição/expressão de N-, E- e VE-caderinas, bem como α-catenina nas ilhotas é

significativamente alterada em camundongos obesos e diabéticos, o que pode ter

repercussão no desenvolvimento da DMT2.

ix

ABSTRACT

Intercellular junctions (IJs) and their cell adhesion molecules (CAMs) participate in

important cellular processes such as adhesion, growth/death and signaling. In the endocrine

pancreas, IJs play a role in regulating islet cytoarchitecture, insulin biosynthesis and

secretion. In this PhD thesis, we investigated the islet histology and cellular distribution and

content of CAMs (E-, N-, VE-cadherins, ZO-1, α- and β-catenins) in the endocrine

pancreas of C57BL/6/JUnib mice fed a high fat (HF) diet for a prolonged time period (8

months). After HF diet exposure, mice became obese and displayed marked metabolic

disturbances indicative of type 2 diabetes mellitus, such as marked peripheral insulin

resistance and hyperglycemia, and moderate hyperinsulinemia. Isolated pancreatic islets of

HF-fed mice showed a significant impairment of glucose-stimulated insulin secretion

associated with an increase in insulin (isoforms 1 and 2) gene expression as revealed by

qPCR. Histology of the endocrine pancreas revealed no marked changes in islet

morphology and cytoarchitecture between animal groups, although HF-fed mice showed a

57% increase in the relative β cell volume (per total pancreas) in comparison with controls.

As shown by immunohistochemistry, ZO-1, E-, N-cadherin and catenins, were expressed at

the intercellular contact site of pancreatic endocrine cells while VE-cadherin was restricted

to the islet vascular compartment. A cellular redistribution of N- and E-cadherins and α-

catenin (from the contact region to the cytoplasm in endocrine cells) and an increase in VE-

cadherin islet content were seen in diabetic mice as compared to controls. No significant

differences in islet immunoreaction for the other CAMs were observed between the animal

groups. As revealed by qPCR, an increase in gene expression of VE- and N-cadherins as

well as of ZO-1, not accompanied by significant changes in islet protein content, was

observed in isolated islets of diabetic mice as compared to the controls. In conclusion,

CAMs are expressed by endocrine and endothelial cells of pancreatic islets and, in

particular, the islet distribution/content of N-, E- and VE-cadherins as well as α-catenin are

significantly altered in obese and diabetic mice.

x

xi

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 25

1.1 ESTRUTURA DA PRESENTETESE.......................................................... 25

1.2 INTRODUÇÃO AO TEMA DESSA TESE................................................. 25

1.2.1 JUNÇÕES CELULARES............................................................................. 25

1.2.2 PÂNCREAS ENDÓCRINO: MORFOLOGIA E FUNÇÃO........................ 29

1.2.3 DIABETES MELLITUS TIPO 2 E DISFUNÇÃO DA CÉLULA β.............. 34

1.3OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DESSA TESE........................................... 33

CAPÍTULO 2

2. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................. 41

2.1 PROTOCOLOS EXPERIMENTAIS........................................................... 41

2.2 ANIMAIS......................................................................................................... 42

2.3 DIETA HIPERLIPÍDICA............................................................................... 42

2.4 AVALIAÇÃO METABÓLICA DO ANIMAL............................................... 43

2.5 ISOLAMENTO DE ILHOTAS PANCREÁTICAS........................................ 43

2.6 SECREÇÃO ESTÁTICA DE INSULINA....................................................... 44

2.7 AVALIAÇÃO MORFOLÓGICA E MORFOMÉTRICA DO PÂNCREAS

ENDÓCRINO......................................................................................................... 44

2.8 IMUNOISTOQUÍMICA PARA INSULINA................................................... 45

2.9 AVALIAÇÃO DA CITOARQUITETURA DAS ILHOTAS

PANCREÁTICAS................................................................................................. 46

2.10 IMUNOLOCALIZAÇÃO E ANÁLISE DO GRAU DE MARCAÇÃO

DAS PROTEÍNAS JUNCIONAIS EM CORTES DE PÂNCREAS

ENDÓCRINO......................................................................................................... 47

xii

2.11 AVALIAÇÃO DO GRAU DE MARCAÇÃO POR

IMUNOFLUORESCÊNCIA.................................................................................. 48

2.12 WESTERN BLOT.......................................................................................... 49

2.13 PCR EM TEMPO REAL................................................................................ 50

2.14 ANÁLISE ESTATÍSTICA............................................................................. 56

CAPÍTULO 3

3. ARTIGO CIENTÍFICO................................................................................... 57

3.1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 57

3.2 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 60

3.3 RESULTADOS............................................................................................... 64

3.4 DISCUSSÃO................................................................................................... 70

3.5 FIGURAS........................................................................................................ 81

CAPÍTULO 4

4.1 CONCLUSÕES............................................................................................... 99

4.2 CONCLUSÃO ESQUEMÁTICA................................................................. 101

CAPÍTULO 5

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................... 103

ANEXOS............................................................................................................... 119

xiii

Aos meus filhos,

fonte da minha inspiração:

Felipe,

Thiago,

Marcela e

Germana e Duda que tem um espaço especial em meu coração,

À Marcelo,

Meu amor, meu companheiro...

“O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esperança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte ---

Os beijos merecidos da Verdade”.

Fernando Pessoa

xiv

xv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus que é o Senhor de todas as coisas e nos guia por caminhos que por vezes

não conseguimos entender, e que sempre nos levam ao crescimento.

A Marcelo, Felipe, Thiago e Marcela, marido e filhos que souberam entender meus

momentos longos de ausência, de muito trabalho, de alegrias, de saudades. Se vocês não

estivessem sempre do meu lado, apoiando, cuidando, amando, não sei se teria conseguido

transpor os desafios. Sem o amor de vocês, nada seria possível!

A meus pais Nemyr e Marilene por me mostrarem, que todos os momentos da vida, mesmo

aqueles mais difíceis, nos trazem grandes ensinamentos e que portanto, é preciso respeitá-

los sempre. Amo vocês!

Aos meus irmãos, Eliane, Janine e Flávio e meus cunhados e cunhada, Mauro, Rodolfo e

Adriana e minha irmã de coração, Verônica, vocês são especiais, toda a alegria e torcida,

mesmo que de longe, foi sempre sentida muito de perto...

A minha orientadora Professora Dr Carla Beatriz Collares Buzato, a quem eu gostaria de

agradecer especialmente e muito carinhosamente, sua competência, gentileza e

generosidade em atos e palavras me ensinaram muito. Ensinar é um exercício de

imortalidade. Como disse Cora Coralina Coralina “Feliz aquele que transfere o que sabe e

aprende o que ensina”.

Aos meus queridos Ricardo, Dani e Carol, conviver com vocês nestes 4 anos foi para mim

uma grande experiência! Vocês não podem imaginar a importância que têm em minha vida

e como são especiais para mim, companheiros de bancada, de alegrias, as vezes de tristezas,

de desafios...saudades sempre!!!

xvi

A minha doce Célia, sua generosidade me encanta! Cada mimo, cada palavra, cada gesto,

vêm sempre carregado da sua nobre delicadeza. Só tenho a agradecer a convivência nestes

anos que me fez aprender muito, muito...

A Mariane, Vanessa, Max, Letícia, e Mariana, agradeço pelo carinho, pelo

companheirismo, pelas horas na bancada, no biotério, pelos momentos de descontração,

comendo as delícias da Dani e ou da Célia...muito obrigada!

A Leandro, Bárbara e mais recentemente Valquíria, queria agradecer pelos bons momentos,

boas conversas, pelo ótimo trabalho no laboratório...

Gostaria de agradecer aos professores do DINTER em nome da professora Sarah Arana e

do professor Paulo Juazeiro, vocês foram muito importantes em minha formação. Os

ensinamentos passados foram valiosos...

A todos os professores do DHE, que estiveram sempre disponíveis em auxiliar nos

momentos de necessidade.

A Cíntia, D. Raquel, Natália, Stephanie, técnicas do DHE que em todos os momentos

estavam sempre prontas a contribuir e ajudar.

A todos os estudantes e funcionários do DHE, especialmente os colegas do laboratório da

profa Maria Alice, que estiveram sempre presentes e disponíveis a ajudar quando

necessário.

A Adriana, Nara e Helena que participaram comigo dos momentos difíceis para realização

da técnica do PCR em tempo Real, e que estiveram firmes, apoiando e ensinando sempre!

Meu agradecimento especial.

A todos os técnicos e estudantes do Laboratório do Centro de Onco-hematologia Pediátrica

(HUOC-UPE), fundamentais em meu aprendizado, o meu agradecimento!

xvii

A professora Dra Maria Tereza Cartaxo Muniz, minha co-orientadora, pela ajuda, apoio e

conhecimento compartilhado. Muito obrigada!!

A professora Dra Anna Carolina, que me acolheu, me ensinou, me acompanhou, pegou na

minha mão, trabalhou junto me ensinando não apenas a técnica do qPCR, mas

principalmente a importância de ser solidário. Se existem anjos no universo, certamente

você foi um deles nessa jornada!!! Muito obrigada por tudo.

Ao Professor Dr Marcos Morais – Departamento de Genética da UFPE – Universidade

Federal de Pernambuco, que gentilmente me cedeu o laboratório, para que eu pudesse

desenvolver o qPCR. Muito obrigada!

A todos que fazem a Direção da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Graças pelo

apoio, amizade, e compreensão nos períodos em que a ausência foi necessária. Muito

obrigada por tudo!!!

A professora Deuzany Leão, companheira de todas as horas, pela criatividade, carinho,

compreensão e paciência nos momentos longos de ausência.

A professora Vera Gregório que me incentivou e foi muito importante na minha decisão em

cursar o doutorado. Muito obrigada por tudo!!!

As professoras Amparo, Katiúscia, Sandra, Fábia, Betânia, Claúdia e Jael, por conduzirem

brilhantemente a FENSG nos meus períodos de ausência, buscando sempre fazer o melhor.

Ao corpo administrativo da FENSG, a quem agradeço em nome de Léa, Eliete, Madalena,

Sandra, Nadir, Fátima e Vera, todos vocês foram muito importantes no caminhar desta

etapa, meu agradeceimento especial!

xviii

A professora Laurecir, a quem admiro, pelo conhecimento, carinho, apoio, dedicação para

que tudo acontecesse no momento certo e a contento. Só tenho a agradecer pela amizade e

acolhimento. Você foi muito importante em todo este processo!!!

A Universidade de Pernambuco pelo apoio nestes quatro anos a quem gostaria de agradecer

em nome da Professora Dra Viviane Colares, pró-reitora de pós-graduação e pesquisa.

As minhas queridas amigas e companheiras Neves e Izabel, sem o apoio de voês não sei se

teria conseguido. A amizade e o aprendizado construído ficarão para sempre!!! Agradeço

de coração a oportunidade de conviver com vocês e agora enfim...chegou o momento de

podermos dizer...conseguimos!!!

A turma do DINTER com quem aprendi muito, fiz amigos sólidos...estamos todos na reta

final, os momentos que passamos juntos serão sempre lembrados. Parabéns a todos!!!

A Eduardo pelas aulas de Bioquímica tão importantes para o nosso aprendizado!

A Andréa pelo carinho, os lanches no final da tarde ficarão na lembrança!!

Meu agradecimento aos professores membros da banca examinadora, que gentilmente

aceitaram o convite e que certamente terão contribuições valiosas para esta Tese.

A Líliam sempre tão disponível em atender, esclarecer incansavelmente! Obrigada pelo

carinho!

À Universidade Estadual de Campinas e ao Programa de Pós-Graduação em Biologia

Celular e Estrutural, pela oportunidade concedida.

Agradeço às agências de fomento CAPES-DINTER, CNPq e FAPESP pelo apoio

financeiro concedido.

xix

De tudo ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre começando...

A certeza de que é preciso continuar...

A certeza de que podemos ser interrompidos antes de terminar...

Portanto façamos:

Da interrupção, um caminho novo...

Da queda, um passo de dança...

Do medo, uma escada...

Do sonho, uma ponte...

Da procura, um encontro...

(Fernando Sabino)

xx

xxi

LISTA DE TABELAS

CAPÍTULO 2

Tabela I - Composição das Rações Utilizadas........................................... 42

Tabela II - Grau de Alteração da Citoarquitetura........................................ 47

Tabela III - Diluição e Fabricante dos Anticorpos para Imunoistoquímica.. 48

Tabela IV - Diluição e Fabricante dos Anticorpos para Western Blot......... 50

Tabela V - Concentração e Integridade do RNA......................................... 51

Tabela VI - Primers Específicos Utilizados no qPCR.................................. 52

Tabela VII - Valores de Eficiência e slope da Reação de qPCR.................... 54

xxii

xxiii

LISTA DE FIGURAS

CAPÍTULO 1

FIGURA 1 - Representação esquemática das proteínas integrantes e associadas

às junções intercelulares.................................................................. 27

CAPÍTULO 2

FIGURA 2 - Verificação da amplificação dos fragmentos por RT-

PCR................................................................................................ 53

FIGURA 3 - Verificação da amplificação dos fragmentos por RT-

PCR..................................................................................................

. 53

FIGURA 4 - Verificação da especificidade de amplificação dos

primers........................................................................................... 56

CAPÍTULO 3

FIGURA 5 - Camundongos C57BL/6J se tornam obesos e diabéticos após a

alimentação com dieta hiperlipídica (dHL) por tempo

prolongado...................................................................................... 81

FIGURA 6 - Ilhotas pancreáticas de camundongos diabéticos apresentam

diminuição da secreção de insulina estimulada por

glicose............................................................................................ 83

FIGURA 7 - A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) (8 meses)

induz a expansão da massa de células beta, sem alteração

marcante na citoarquitetura da ilhota...............................................

85

FIGURA 8 - A exposição prolongada (8 meses) à dieta hiperlipídica (dHL)

induz uma diminuição significativa no conteúdo juncional de E-

caderina, que não é acompanhada por alterações na expressão

dessa molécula de adesão em células β dos camundongos

diabéticos........................................................................................

87

xxiv

FIGURA 9 - A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) induz

marcada redistribuição celular de N-caderina, que não é

acompanhada por alteração significativa no conteúdo celular

dessa molécula de adesão em células β dos camundongos

diabéticos........................................................................................

89

FIGURA 10 - Aumento na imunomarcação para VE-caderina em ilhotas

pancreáticas de camundongos diabéticos após a exposição

prolongada a dieta hiperlipídica (dHL)............................................

91

FIGURA 11 - A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) induz

diminuição do teor juncional de α-catenina, mas nenhuma

mudança significativa na marcação de ZO-1 e β-catenina em

células β de camundongos diabéticos.............................................. 93

FIGURA 12 - Nenhuma alteração significativa no conteúdo celular de ZO-1, α-

e β-cateninas foi visto em homogeneizados de ilhotas dos

camundongos diabéticos em comparação com os controles............

95

FIGURA 13 -

Efeito da exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) sobre

a expressão gênica de proteínas juncionais em estudo e insulina

em ilhotas pancreáticas de camundongos diabéticos em

comparação com os controles.........................................................

97

FIGURA 14 Conclusão Esquemática................................................................... 107

25

Capítulo 1

CAPÍTULO 1

1. INTRODUÇÃO

1.1 ESTRUTURA DA PRESENTE TESE

Essa tese está estruturada em cinco capítulos. O atual Capítulo apresenta uma visão

geral do tema, descrevendo de forma sucinta o pâncreas endócrino com ênfase à célula β,

bem como a importância das interações celulares mediada pelas junções celulares no

processo de secreção de insulina e a repercussão da disfunção da célula β na patogênese da

diabetes mellitus tipo 2. No Capítulo 2, há a descrição detalhada de todas a metodologias e

procedimentos empregados no desenvolvimento dessa tese. O Capítulo 3, por sua vez,

aborda, na forma de artigo científico escrito na língua portuguesa, os resultados obtidos e a

discussão dos mesmos em face à literatura científica, destacando a relevância das

descobertas desse estudo. No Capítulo 4, são apresentadas as conclusões gerais obtidas com

o desenvolvimento desta tese. Por fim, no Capítulo 5, está a lista de referências citadas ao

longo de toda a tese.

1.2 INTRODUÇÃO AO TEMA DESSA TESE

1.2.1 Junções Celulares

As células organizadas em tecidos e/ou órgãos se aderem e interagem entre si por

meio de uma série de especializações da membrana plasmática denominadas junções

intercelulares (Collares-Buzato, 2013; Diamond, 1977). Ultraestruturalmente são

identificados quatro tipos de junções intercelulares: 1) a junção de oclusão (tight junction)

(JO), local onde ocorre uma fusão aparente das membranas plasmáticas de células

adjacentes; 2) a junção aderente (JA) (zonula ou fasciae adherens), região caracterizada

pela aproximação e alinhamento de duas membranas adjacentes, delimitando um espaço

intercelular de 15-20 nm, e onde, na sua face citoplasmática, ocorre ancoragem dos

26

Capítulo 1

microfilamentos do citoesqueleto; 3) o desmossomo (ou maculae adherens), onde as

membranas adjacentes aparecem como duas placas lineares, paralelas e elétron-densas, às

quais se associam os filamentos intermediários do citoesqueleto e 4) a junção comunicante

(ou gap junction), região de íntima aproximação de membranas adjacentes onde se inserem

uma coleção de canais intercelulares, que conectam os citoplasmas de duas células vizinhas

(Collares-Buzato, 2013).

Funções específicas têm sido atribuídas a cada uma das junções intercelulares, tendo

como base sua morfologia e composição bioquímica. Dentre as junções intercelulares, a

junção comunicante foi uma das primeiras a ser estudada e caracterizada bioquimicamente.

A função primordial desta junção é mediar a comunicação intercelular direta (Collares-

Buzato, 2013; Mese et al., 2007; Musil, 1994). Atualmente, sabe-se que os canais

intercelulares das junções comunicantes são formados por proteínas transmembranas

pertencentes à super-família das conexinas, que são codificadas por vários genes e

expressas de maneira animal- e célula- específica (Mese et al., 2007). As junções

comunicantes formam a base morfo-funcional das sinapses elétricas no sistema nervoso

central, permitindo a condução rápida do impulso nervoso (Rozental et al., 2000);

participam do acoplamento celular importante na secreção hormonal pelas glândulas

endócrinas (Meda et al., 1991); em células musculares, a junção comunicante permite que o

músculo cardíaco funcione como um sincício e coordena a contração da musculatura lisa

(Paul, 1995). Algumas doenças têm sido associadas à disfunção da junção comunicante,

como por exemplo, a cardiopatia na Doença de Chagas (Campos de Carvalho et al., 1992),

a Doença de Charcot-Marie-Tooth, uma neuropatia periférica ligada ao cromossomo X

(Ressot & Bruzzone, 2000) e alguns tipos de catarata e surdez hereditárias (Lai-Cheong et

al., 2007; Mathias et al., 2010; Mese et al., 2007).

As outras junções intercelulares, a saber, a JO, a JA e os desmossomos, estão

envolvidas na adesão intercelular. Embora bioquimicamente bem distintas entre si, elas

apresentam uma estrutura molecular análoga. Cada unidade juncional é formada por

proteínas transmembranas específicas que interagem com o citoesqueleto através de um

complexo protéico associado à região citoplasmática da junção (Madara, 1998) (Figura 1).

27

Capítulo 1

Fig. 1. Representação esquemática das proteínas integrantes e associadas às junções

intercelulares constituintes do complexo unitivo (junção de oclusão, aderente e

desmossomos) e suas interações com componentes do citoesqueleto. Esquema adaptado de

Collares-Buzato (2013).

A junção aderente e os desmossomos contém moléculas de adesão dependentes de

cálcio, pertencentes à super-família das caderinas (Ebnet, 2008; Geiger & Ayalon, 1992).

Tais moléculas são glicoproteínas de superfície que promovem a coesão de células

adjacentes e interagem com o citoesqueleto por intermédio das cateninas (α-, β-, δ-

cateninas e p120), alfa-actinina e vinculina, no caso da junção aderente, e do complexo

desmoplaquina/placoglobina, nos desmossomos (Ebnet, 2008; Knudsen et al., 1995;

Mathur et al., 1994). A formação e a manutenção da arquitetura tecidual são conseqüências

da firme adesão entre células vizinhas promovida pela junção aderente e desmossomos

28

Capítulo 1

(Geiger & Ayalon, 1992). A junção aderente está também envolvida na formação e

manutenção da estrutura de todas as junções intercelulares, na conservação da polaridade

celular e no reconhecimento intercelular durante a organogênese (Eaton & Simons, 1995;

Geiger & Ayalon, 1992). O comprometimento do mecanismo de adesão celular pode levar

ao desencadeamento do processo tumoral, à dediferenciação e hipermotilidade celular no

câncer e metástase (Collares-Buzato, 2007; Conacci-Sorrell et al., 2002). A importância

dos desmossomos como estrutura de adesão é também apreciada pelo seu envolvimento no

pênfigo, uma doença dermatológica crônica (pênfigo vulgar e pênfigo foliáceo) (Shimizu et

al., 1995; Waschke, 2008).

A junção de oclusão, por sua vez, exerce um papel fundamental de barreira de

difusão pela via paracelular, essencialmente em endotélios e epitélios de revestimento

(Farquhar & Palade, 1963; Mitic et al., 2000). Além disto, este tipo de junção realiza a

manutenção da distribuição assimétrica (polaridade) de proteínas e lipídios entre os

domínios apical e basolateral da membrana de células epiteliais e funciona como

dispositivo de adesão intercelular em outros tipos celulares (Gumbiner, 1987; Schneeberger

& Lynch, 1992). As proteínas ocludina e claudinas são os principais constituintes da rede

complexa de cordões de vedação que forma a junção de oclusão, responsáveis pelo contato

íntimo entre células adjacentes (Furuse et al., 1993; 1998). Proteínas citoplasmáticas

conhecidas como zonula occludens – ZOs (ZO-1, ZO-2, ZO-3) (Gumbiner et al., 1991),

cingulina (Citi et al., 1988), antígeno 7H6 (Zhong et al., 1993) e simplequinas formam um

complexo proteico que liga as proteínas transmembranas com o citoesqueleto na junção de

oclusão (Anderson, 2001; Ebnet, 2008; Guillemot et al., 2008). A junção de oclusão está

envolvida no processo de absorção intestinal de nutrientes (Madara, 1990), na

espermiogênese (Byers & Pelletier, 1992) e no trânsito de moléculas através dos capilares

cerebrais (Rubbin & Staddon, 1999). A função de barreira desempenhada pela junção de

oclusão pode ser modulada em várias condições experimentais (Collares-Buzato et al.

1994, 1998; Peixoto & Collares-Buzato 2005) bem como estar comprometida em alguns

estados patológicos como na transmigração de patógenos e/ou células através de epitélios e

endotélios durante infecção bacteriana intestinal (Jepson et al., 1995; 2000) e inflamação

(Evans et al., 1983).

29

Capítulo 1

Em adição à sua reconhecida função como dispositivos de adesão, pesquisas têm

indicado que essas junções intercelulares e suas proteínas integrantes estão associadas a

diferentes tipos de vias de transdução de sinais citoplasmáticos (Benmerah et al., 2003;

Conacci-Sorrell et al., 2002; Matter & Balda, 2003). A ideia vigente é que as proteínas

juncionais funcionariam como transdutores de sinais extra e intracelulares, transmitindo e

convertendo tais sinais no interior da célula e, assim, modulando a expressão gênica e

vários processos celulares tais como diferenciação, motilidade, proliferação e morte celular

(Kim et al., 2009; Li et al., 2009; Luebke-Wheeler et al., 2009; Luther et al. 2005; Parnaud

et al., 2011).

Tem sido demonstrado que as cateninas (em especial a β-catenina e a p120) da

junção aderente interagem com receptores de fatores de crescimento (tais como EGF, FGF

e HGF) e regulam a ação destes fatores na célula (Conacci-Sorrell et al., 2002).

Adicionalmente, várias proteínas juncionais, como a beta- e p120-cateninas, as ZOs (ZO-1

e ZO-2), a simplequina e cingulina, podem migrar para o núcleo e ativar fatores de

transcrição gênica (tais como o TCF/LEF-1 e a SAF-B proteína ligante ao DNA)

(Benmerah et al., 2003; Ebnet, 2008; Guillemot et al., 2008; Matter & Balda, 2003).

Apesar do conhecimento que se tem acumulado nesta área da fisiologia celular, o

estudo das junções intercelulares no que se refere à sua composição bioquímica e função

em certos tipos celulares ainda é relativamente escasso. Um exemplo disto é o pâncreas

endócrino.

1.2.2 Pâncreas endócrino: morfologia e função

No pâncreas endócrino, cinco tipos celulares (células β ou B, células α ou A, células

δ ou D, células PP e células ε, produtoras de grelina) se arranjam em unidades morfológicas

e funcionais denominadas ilhotas de Langerhans (Orci, 1976; Orci & Unger, 1975). Cada

ilhota é constituída por cordões de células, estas de formato poliédrico, entremeados por

uma rica rede de capilares sanguíneos do tipo fenestrado. Uma delicada cápsula de tecido

30

Capítulo 1

conjuntivo frouxo rico em fibras reticulares envolve as ilhotas e as separam do tecido

pancreático exócrino adjacente. Esta organização histológica das ilhotas pode estar alterada

em casos de disfunção pancreática, como na diabetes do tipo 2, onde alterações estruturais

têm sido documentadas (Janssen et al., 2003; Hong et al., 2002).

A homeostase glicêmica depende do equilíbrio da liberação dos hormônios do

pâncreas endócrino. Cada um deles tem uma função definida, como a insulina secretada

pelas células β pancreáticas, tem função hipoglicemiante. A insulina é o regulador mais

importante deste equilíbrio metabólico necessário para a manutenção da regulação da

glicose, porém outras substâncias também estão envolvidas no processo de utilização da

glicose, entre elas podemos citar o glucagon. Este hormônio é secretado pelas células α

pancreáticas e quando os níveis sanguíneos de glicose e insulina são baixos, estimula a

glicogenólise e a gliconeogênese pelo fígado e medula renal. No período pós-prandial, a

carga de glicose induz a elevação na insulina e queda do glucagon dando origem a uma

reversão destes processos.

O hormônio somatostatina é secretado pelas células δ (delta), que constituem cerca

de 5% a 10% das células das ilhotas pancreáticas. A somatostatina inibe hormônios

hipofisários, gastrointestinais e pancreáticos após a ingestão de alimentos, além disso,

possui funções neuroendócrinas. Um dos efeitos da somatostatina é aumentar o período de

absorção do alimento para o sangue; também é liberado para inibir a secreção de insulina e

glucagon (Kailey et al., 2012; Strowski et al., 2000) e aumentar o uso pelos tecidos dos

nutrientes absorvidos. Entretanto, não se sabe a real influência endócrina da somatostatina e

raramente ela é quantificada na prática clínica (Strowski, et al., 2000). Os demais

secretagogos do pâncreas endócrino parecem não ter sua função totalmente esclarecida: o

polipeptídeo P parece exercer uma função inibidora na secreção do pâncreas exócrino, e a

grelina, atualmente tem sido relacionada à inibição da secreção de insulina no homem e à

proliferação das células β durante desenvolvimento fetal em roedores (Andralojc et al.,

2009; Ekblad & Sundler, 2002; Kanno et al., 2002; Orci, 1976).

Com relação à disposição ou arranjo dessas células endócrinas na ilhota, temos no

caso de várias espécies (incluindo a de roedores), as células β ocupando o centro e as

31

Capítulo 1

células α e delta, localizadas na periferia da ilhota (Brissova et al., 2005; Carvalho et al.,

2006). As células PP, preferencialmente, também estão dispostas na periferia da ilhota

(Orci, 1984). Esta citoarquitetura ou arranjo preferencial dos tipos celulares dentro da

ilhota parece ser fundamental para o funcionamento deste órgão endócrino. Alterações da

citoarquitetura normal das ilhotas são verificadas durante o desenvolvimento da diabetes

experimental ou em experimentos in vitro: nesses casos, o padrão normal do arranjo das

células endócrinas, conforme anteriormente mencionado, é perdido e células não-β, como

por exemplo, as secretoras de glucagon, passam a ter distribuição aleatória ocupando

inclusive o centro das ilhotas (Cirulli et al. 1993; Hong et al., 2002; Wong et al., 2003).

Em cada ilhota, as diferentes células endócrinas se conectam, homotipica ou

heterotipicamente, por meio das junções intercelulares do tipo oclusão, comunicante,

aderente e desmossomos, como demonstrado por microscopia eletrônica (In’t Veld et al.,

1984; Orci et al., 1975). Tais contatos intercelulares parecem ser cruciais para o perfeito

funcionamento deste órgão. Dentre as junções intercelulares, as junções comunicantes têm

sido as mais estudadas no pâncreas endócrino, sendo documentada a presença de dois

principais subtipos de conexinas expressas pelas células endócrinas pancreáticas, a

conexina 43 (Cx43) e a conexina 36 (Cx36), dentre as quais a Cx36 parece ser a única

expressa pelas células β (Carvalho et al., 2010; Charpantier et al., 2007; Meda et al., 1991;

Nlend et al., 2006; Serre-Beinier et al., 2000, 2009; Vozzi et al., 1995). Há evidências da

importância da adesão e do acoplamento das células β no controle da secreção de insulina.

Células β, isoladas das ilhotas pancreáticas, mostram significante comprometimento da

resposta secretora estimulada de insulina - secreção basal de insulina aumentada, baixa

sensibilidade à glicose, diminuição na biossíntese de insulina. Entretanto, quando os

contatos entre as células β são restabelecidos, há uma rápida reversão dessas disfunções

(Bosco & Meda, 1997; Halban et al., 1982; Pipeleers et al., 1982, 1994). Diversos

procedimentos experimentais conhecidos por induzirem significativa secreção pancreática

de insulina, como exposição a altas concentrações de glicose, a certas drogas como

glibenclamide e ao tratamento com o hormônio prolactina, induzem significante aumento

na expressão de conexina e no acoplamento das células β mediado pelas junções

comunicantes (Collares-Buzato et al., 2001; Meda et al., 1979; Sorenson et al., 1987). Tem

32

Capítulo 1

sido também demonstrado nas linhagens de células β, MIN6 e INS-1E, que um nível

apropriado de interação intercelular e de expressão das conexinas é necessário para uma

adequada secreção de insulina estimulada pela glicose ou por secretagogos não-

metabolizáveis (Calabrese et al., 2003 e 2004; Le Gurun et al., 2003; Leite et al. 2005,

Vozzi et al., 1995). Calabrese e colaboradores (2003) demonstraram que uma significativa

redução da expressão da proteína Cx36 na linhagem MIN6, por meio da exposição ao

oligonucleotídeo antisense desta conexina, induziu um comprometimento marcante na

sincronização das oscilações da concentração intracelular de cálcio entre células adjacentes,

e consequente redução na secreção de insulina. Mais recentemente, foi sugerida a

participação dessas estruturas de membrana e de sua proteína constitutiva, a Cx36, no

processo de disfunção secretora da célula β que ocorre durante a pré-diabetes experimental

(Carvalho et al., 2012).

Com relação à junção de oclusão e à junção aderente, relatos sobre sua composição

bioquímica, bem como sua regulação nas células endócrinas pancreáticas são escassos. A

junção de oclusão parece ser regulada in vitro no pâncreas endócrino, uma vez que é

observado, em criofraturas, um aumento no número de cordões de vedação da junção de

oclusão entre células das ilhotas com aumento da concentração extracelular de glicose

(Semino et al., 1987) e após tratamento de ilhotas com pronase (Orci et al., 1973). A

estrutura molecular da junção de oclusão no pâncreas endócrino in situ ainda permanece

desconhecida. Tem sido demonstrada a presença de moléculas de adesão associadas à

junção aderente, como a E-caderina e a N-CAM (do inglês, Neural Cell Adhesion

Molecule) entre as células endócrinas (Moller et al., 1992). Em adição, tem sido

documentada uma distribuição diferencial da molécula de N-CAM nas células das ilhotas

pancreáticas normais: uma expressão maior nas células localizadas na periferia da ilhota em

comparação à das células β encontradas no cerne da ilhota (Cirulli et al., 1994). Acredita-se

que essa expressão diferencial da N-CAM contribua para a manutenção da citoarquitetura

celular da ilhota (Moller et al., 1992). Experimentos in vitro demonstraram que há uma

relação direta entre o grau de expressão das proteínas de adesão E-caderina e PSA-NCAM

com a secreção induzida de insulina pela glicose na linhagem de células β pancreáticas

MIN6 e em populações de células β isoladas (Bernard-Kargar et al., 2001; Hauge-Evans et

33

Capítulo 1

al., 1999; Lilla et al., 2003; Meda, 2013). Dados do nosso grupo mostram que uma

expressão aumentada de α- e β-cateninas está associada a uma resposta secretora

aumentada de insulina em ilhotas de ratos recém-nascidos em condições in vitro (Collares-

Buzato et al. 2004).

Ainda, recentemente demonstramos que os contatos intercelulares, mediados pelas

proteínas associadas às junções intercelulares, parecem desempenhar um papel importante

no processo de maturação funcional da célula β durante o desenvolvimento (Santos-Silva et

al., 2012). Células β de fetos e recém-nascidos, que sabidamente apresentam baixa resposta

secretora de insulina, mostram um baixo conteúdo celular de ZO-1, N-CAM, cateninas e F-

actina em relação às células β de ratos jovens e adultos, que respondem adequadamente à

glicose. Em adição, na ausência de contatos intercelulares, a secreção de insulina

estimulada por glicose foi completamente bloqueada em ilhotas de ratos adultos isoladas,

mas não afetada em ilhotas de recém-nascidos.

Embora, a participação das junções intercelulares na regulação da secreção de

insulina, em condições in vitro, pareça notória, o papel destas especializações de membrana

na fisiologia e disfunção da célula β pancreática ainda constitui um tema pouco explorado.

Teoricamente, a adesão e reconhecimento intercelular mediadas pelas junções intercelulares

poderiam influenciar a atividade secretora do pâncreas endócrino afetando vários processos

celulares, à semelhança do que acontece em outros órgãos, tais como organização

histológica e citoarquitetura (Yamagata et al., 2002), a comunicação intercelular mediada

pelas junções comunicantes (Rogers et al., 2007; Yamasaki et al., 1999), o grau de

diferenciação celular, e/ou a proliferação e morte celular, bem como na homeostase

funcional da célula/tecido (Carvell et al., 2007; Conacci-Sorrell et al., 2002; Gumbiner,

1996; Morin, 1999; Steinberg & McNutt, 1999).

34

Capítulo 1

1.2.3 Diabetes mellitus tipo 2 e disfunção da célula β

O Diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) é uma doença multifatorial, caracterizada por

um estado de hiperglicemia crônica decorrente de defeitos na produção ou na ação da

insulina (Ferrannini, 1998; Pories et al., 2011; Acharjee et al., 2013), e corresponde a forma

mais comum da doença (mais de 90% dos casos de diabetes) (Ashcroft et al., 2012; Sacks

et al., 2011; American Diabetes Association, 2013). Segundo dados da Organização

Mundial de Saúde, DMT2 está entre as doenças mais prevalentes do mundo, com a

expectativa de atingir 350 milhões de pessoas em 2025 (American Diabetes Association,

2013). Essa doença está associada a complicações metabólicas, clínicas e sociais,

relacionadas à urbanização crescente, sedentarismo, dieta inadequada e, sobretudo à

obesidade (Ashcroft et al., 2012; Saini, 2010).

A DMT2 geralmente inicia-se na vida adulta, e é caracterizada inicialmente por

hiperglicemia moderada associada à resistência periférica à insulina, a qual é parcialmente

compensada por hiperplasia das células β. Em fases mais avançadas da doença, ocorre

diminuição da massa e função secretora das células β levando à dependência de reposição

hormonal com insulina (Prentki & Nolan, 2006; Rhodes, 2005; Tripathy & Chaves, 2010).

A patogênese da DMT2 ainda não é totalmente conhecida, contudo estudos apoiam

a opinião da importância da adequada biossíntese de insulina. A insulina, como comentado

anteriormente, é um hormônio com função hipoglicemiante, sintetizada inicialmente como

um polipeptídio precursor com uma única cadeia com 86 aminoácidos chamada de pré-

próinsulina, que após processamento proteolítico e clivagem, formam as cadeias A e B da

insulina ligadas por pontes dissulfeto, e o peptídeo-C (Nelson & Cox, 2011). Tanto a

insulina quanto o peptídeo–C remanescente são embalados em grânulos de armazenamento

ligados a membrana, o estímulo da secreção de insulina resulta na liberação destas

moléculas na circulação porta. Enquanto a insulina é intensamente metabolizada no fígado,

o Peptídeo-C é mais lentamente depurado o que o tornará um marcador útil e preciso de

35

Capítulo 1

secreção endógena de insulina (Nelson & Cox, 2011). A glicose e outros nutrientes regulam

a secreção de insulina pela célula β pancreática (Prentki & Nolan, 2006; Rhodes, 2005;

Tripathy & Chaves, 2010). Ela é transportada por um transportador facilitador de glicose

(GLUT1 em humanos, GLUT2 em roedores). O metabolismo subsequente da glicose pela

célula β altera a atividade dos canais iônicos, levando a secreção de insulina. As incretinas

liberadas pelas células neuroendócrinas do trato gastrintestinal, após a ingestão do alimento

amplificam a secreção de insulina, bem como suprimem a secreção do glucagon (Khan et

al., 2006; Prentki & Nolan, 2006). Um exemplo de incretina é o GLP-1 (peptídio I

semelhante ao glucagon), liberado pelas células L do intestino delgado que estimula a

secreção de insulina, quando a glicose sanguínea está acima do nível de jejum (Prentki &

Nolan, 2006). Análogos de incretinas assim como o GLP-1 vem sendo usados para

aumentar a secreção endógena de insulina (Khan et al., 2006; Prentki & Nolan, 2006).

Depois que a insulina é secretada, é então lançada no sistema venoso portal, onde se liga a

receptores específicos desencadeando eventos bioquímicos para que ocorra sua ligação a

moléculas sinalizadoras intracelulares como os substratos do receptor de insulina (IRS).

Estes iniciam uma cascata de reações de fosforilação e desfosforilação, resultando nos

efeitos metabólicos e mitogênicos generalizados da insulina (Rhodes, 2006). Podemos citar

como exemplo a ativação da via fosfotidilinositol-3’-quinase (PI-3-quinase), que estimula a

translocação de um transportador de glicose (GLUT4) para a superfície celular afim de

efetuar a captação da glicose (Rhodes, 2005; Guo et al, 2014). A homeostasia da glicose

reflete um equilíbrio entre a produção hepática de glicose e captação e utilização periférica

da glicose. Portanto, um declínio adicional na secreção de insulina e um aumento na

produção hepática de glicose resulta na manifestação do diabetes mellitus tipo 2, que tem

como primeiros sintomas a resistência periférica à insulina ditada pela ação prejudicada da

insulina nos tecidos periféricos e órgãos, especialmente o músculo esquelético, o fígado e

os adipócitos (Thipathy e Chaves, 2010).

Não está completamente determinado quais são os fatores que contribuem para a

resistência periférica à insulina (Jonietz, 2012); sabe-se que o excesso de tiglicerídeos livres

pode ser a uma das causas (Ding et al., 2010; Kahn et al., 2006). Outros fazem a relação

com o excesso de peso ou obesidade, e o estímulo de citocinas inflamatórias liberadas a

36

Capítulo 1

partir do tecido adiposo e ainda outros fatores inflamatórios que podem promover a

inflamação em tecidos cincunvizinhos, entre eles a ilhota pancreática (Shoelson et al.,

2006; Lackey et al., 2013).

Na patogênese do DMT2, a célula β promove uma resposta adaptativa modificando

sua função secretora (Sone & Kagawa, 2005; Liew & Andrews, 2008). Como resposta a

esta função, a normoglicemia se mantém, mesmo que haja um quadro bem inicial de

resistência periférica à insulina. Posteriormente, com o aparecimento da hiperglicemia, há o

aumento compensatório da massa de célula β, e, consequentemente, aumento adicional de

insulina (hiperinsulinemia) buscando manter os níveis normais de glicose sanguínea (Kahn

et al., 2006; Prentki & Nolan, 2006). As células β pancreáticas, após um longo tempo

expostas a condição de hiperglicemia e hiperinsulinemia, tem sua função secretora

comprometida (Conget et al, 2001; Hollingdal et al, 2000), levando a um agravamento do

quadro de sensibilidade diminuída à insulina e intolerância à glicose (Liu et al., 2010).

Tem sido bem documentada a associação entre obesidade e diabetes mellitus tipo 2

(DMT2) (Kahn et al., 2006; Acharjee et al., 2013; Tripathy & Chaves, 2010). A gordura,

principalmente a localizada na região abdominal, pode elevar o risco de desenvolver DMT2

em 10 vezes. Para cada aumento de 10% no peso corporal, há aumento de 2 mg/dL na

glicemia em jejum (Jung, 1997). Cerca de 90% dos portadores de DM2 estão acima do peso

ou são considerados obesos (Buchwald, 2009).

Parece haver um sinergismo entre exposição crônica aos ácidos graxos não

esterificados, cuja concentração plasmática normalmente está aumentada na obesidade, e

hiperglicemia, levando a um quadro comumente referido como "glicolipotoxicidade" da

célula β (Del Prato, 2009; Kahn et al., 2006). O declínio da massa relativa de célula β pode

estar relacionada à combinação de exaustão secretora desta célula e a glicolipotoxicidade,

levando a apoptose. Essa disfunção resulta na progressão do DMT2 para um estado

dependente de insulina exógena (Conget, 2001; Hollingdal, 2000; Liu, 2013).

Como mencionado anteriormente, informações relativas às junções intercelulares no

pâncreas endócrino ainda são escassas. Portanto, o estudo dessas especializações da

37

Capítulo 1

membrana plasmática usando como modelo as células pancreáticas endócrinas parece

consistir numa importante área de pesquisa. Estudos dessa natureza auxiliariam no

estabelecimento da verdadeira função e relevância dos contatos intercelulares mediado

pelas junções celulares na fisiopatologia do pâncreas endócrino, contribuindo para o

conhecimento da variabilidade bioquímica e dos diferentes mecanismos de regulação destas

especializações de membrana no organismo.

Diversos modelos in vivo e in vitro tem sido utilizados para estudar o Diabetes

Mellitus tipo 2, podendo envolver o tratamento com dietas de alto teor de gordura, uso de

animais geneticamente modificados e cultura de células especialmente a MIN6. Em nosso

estudo, utilizamos como modelo experimental camundongos que podem desenvolver um

quadro de Diabetes Mellitus tipo 2 como resultado da ingestão de ração com alto teor de

lipídios (De Souza et al., 2005; Surwitt et al., 1988; Shafrir et al., 1999; Winzell and

Ahren, 2004). Dentre as várias linhagens de camundongos, a linhagem C57BL/6J parece

possuir uma vulnerabilidade metabólica maior, devido, possivelmente, a uma pré-

disposição genética, que, quando desafiada por dieta ou outras manipulações, resulta em

obesidade e severo distúrbio da homeostase glicêmica (Surwitt et al., 1988; Ronchi et al.,

2013). Em camundongos C57 pré-diabéticos, o quadro inicial de hiperglicemia moderada é

acompanhado por hiperinsulinemia e por um incremento significativo na massa de célula β

como forma de compensar metabolicamente a resistência periférica à insulina (Carvalho et

al., 2012). Entretanto, a repercussão na função pancreática endócrina da ingestão de dieta

hiperlipídica por um período prolongado tem sido pouco investigada, bem como são

escassos os trabalhos descrevendo alterações funcionais e estruturais do pâncreas endócrino

neste modelo (Ahren et al., 1997; Sone & Kagawa, 2005).

38

39

Capítulo 1

1.3 OBJETIVOS E RELEVÂNCIA DESSA TESE

Nessa Tese de Doutorado, investigamos o possível papel do contato intercelular

mediado pelas junções intercelulares e suas proteínas estruturais na disfunção das células β

pancreáticas em modelo de diabetes mellitus tipo 2.

Para atender o objetivo proposto desenvolvemos as seguintes etapas: 1) a

caracterização metabólica do modelo animal de diabetes tipo 2, avaliando-se o ganho de

peso corpóreo, glicemia em jejum e pós-prandial, a concentração plasmática de insulina e a

secreção estimulada de insulina por ilhota em camundongos C57 tratados com dieta

hiperlipídica pelo período de 8 meses; 2) a avaliação do aspecto morfológico e

morfométrico do pâncreas endócrino frente ao uso de dieta hiperlipídica no modelo animal

empregado; 3) a investigação das possíveis alterações na distribuição celular de proteínas

juncionais (a saber, E-, N-, VE-caderinas, ZO-1, β- e α - cateninas), por imunoistoquímica,

em ilhotas pancreáticas de animais controles e tratados com a dieta hiperlipídica; e 4) a

avaliação das possíveis alterações na expressão gênica e protéica das proteínas juncionais

em estudo, por Western Blot e Real-Time qPCR, em ilhotas pancreáticas de animais

controles e tratados com a dieta hiperlipídica.

A hipótese inicial dessa Tese é que o contato intercelular mediado pelas proteínas

juncionais no pâncreas endócrino desempenharia um papel na patogênese da DMT2. Várias

evidências experimentais, citadas anteriormente, demonstram que as junções intercelulares

e suas proteínas estruturais participam do desenvolvimento e manutenção da estrutura e

citoarquitetura das ilhotas pancreáticas, bem como da função secretora e

proliferação/sobrevida da célula β pancreática em condições in vitro e em animais

transgênicos ou nocaute para moléculas de adesão. A relevância da presente Tese reside no

fato que investigamos a bioquímica e organização das junções associadas à adesão

intercelular na célula β in vivo numa condição fisiopatológica como a diabetes. Trabalhos

como este e os resultados obtidos, através do seu desenvolvimento, podem fornecer

subsídios à investigação sobre terapia celular e genética da diabetes.

40

41

Capítulo 2

CAPÍTULO 2

2. MATERIAL E MÉTODOS

2.1 Protocolos experimentais

O quadro abaixo representa as etapas desenvolvidas no decorrer desta Tese.

Papel do contato intercelular mediado pelas junções intercelulares na disfunção da célula β

pancreática

Modelo experimental de Diabetes Mellitus tipo 2

Ingestão de dieta hiperlipídica (dHL)

Grupo Controle: camundongos

C57BL/6 em dieta normal por 8 meses

Metodologias:

1. Avaliação metabólica do animal (peso, glicemia, conc. plasmática de insulina,secreção estática de insulina/ilhota;

2. Avaliação morfométrica do pâncreas endócrino;

3. Distribuição celular de proteínas juncionais no pâncreas endócrino (porimunoistoquímica);

4. Expressão gênica e proteica de proteínas juncionais em ilhotas pancreáticas (porqPCR e Western Blot).

Grupo Tratado: camundongos

C57BL/6 em dHL por 8 meses

42

Capítulo 2

2.2 Animais

Camundongos, machos, da linhagem C57BL/6/J Unib, foram obtidos a partir das

colônias de reprodução do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica na Área da

Ciência para Animais de Laboratório (CEMIB) da Universidade Estadual de Campinas

(UNICAMP, Brasil). Os animais foram alojados a 22 ± 1 ° C, em ciclo claro/escuro de 12 h

de luz, e tiveram livre acesso a água ad libidum e ração.

Os camundongos foram utilizados seguindo as diretrizes do Conselho Nacional de

Controle de Experimentação Animal (CONCEA- MCTI, Brasil). Todos os protocolos

experimentais utilizados foram aprovados pelo Comissão de Ética no Uso de Animais

(CEUA) da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Brasil) sob os protocolos

nº1885-1 e 3122-1.

2.3 Dieta hiperlipídica (dHL)

Ao completar 6 a 8 semanas, os camundongos C57BL/6/J Unib foram divididos em

dois grupos. Um grupo (controle) foi alimentado por 240 dias (8 meses) com uma dieta

padrão para roedores (Nuvital CR1, Colombo, Paraná, Brasil) e o outro grupo (tratado) foi

alimentado com uma dieta rica em gordura (dHL) (21% em peso) e hipercalórica, tendo o

cuidado de, nesta ração, manter preservado o conteúdo de sais minerais e vitaminas

necessários ao desenvolvimento do animal. A composição das rações está mostrada na

Tabela I.

Tabela I. Composição das rações utilizadas.

Componentes em g% Ração Padrão Ração Hiperlipídica

Proteínas 22,0 20

Carboidratos 53,0 50,0

Lipídeos 4,5 21,0

Outros* 20,5 8,0

Kcal/g 2,9 4,7

* Fibras, vitaminas e minerais

43

Capítulo 2

2.4 Avaliação metabólica do animal

Todos os animais foram pesados antes do início do período da dieta, e no final do

mesmo; os valores foram expressos como a porcentagem de ganho de peso corporal em

relação ao peso corporal inicial.

A glicemia foi determinada, através de um glicosímetro (Advantage II Accu-Chek,

Roche Diagnostic ®, Mannheim, Alemanha), em amostras de sangue coletado da cauda de

camundongos alimentados (pós-prandial) ou submetidos a 12 horas de jejum. O Teste de

Tolerância à Insulina (ITT) foi realizado através de injeção intraperitoneal de insulina (0,5

U/kg de peso corporal de insulina humana - Biohulin ® R Biobrás, Montes Claros, MG,

Brasil) em animais alimentados (Bonfleur et al., 2010). Subsequentemente, a glicemia foi

medida em amostra de sangue coletado a partir da cauda, nos tempos 0, 10, 15, 30 e 60

minutos, após a administração deste hormônio. Os resultados da área sob a curva glicêmica

foram estimados utilizando o software GraphPad Prism versão 5 for Windows (GraphPad

Software, La Jolla, CA, USA). A concentração plasmática de insulina (em animal

alimentado) foi avaliada através da coleta de alíquotas de sangue da veia cervical em

capilares heparinizados e, após centrifugação, as amostras de plasma foram estocadas a –

20°C. A dosagem de insulina plasmática foi determinada por radioimunoensaio. Todas as

amostras de sangue foram coletadas no período compreendido entre 09:00 e 11:00 horas da

manhã.

2.5 Isolamento de ilhotas pancreáticas

As ilhotas foram isoladas após injeção de 3 ml de solução de colagenase tipo V (EC

3.4.24.3, Sigma, St. Louis, MO, USA) (1,7 mg/mL em solução de Hank’s, pH 7,4;

composição do Hank’s: NaCl 136mM, KCl 5,4mM, CaCl2.2H2O 1,26mM, MgSO4.7H2O

0,81mM, KH2PO4 0,44mM, Na2HPO4 0,34mM, NaHCO3 4,2Mm, suplementada com 5,6

mM de glicose e 1 mg/mL de albumina) no pâncreas, através da canulação do ducto

pancreático, seguido de incubação a 37ºC por 11 min e lavagem das mesmas para remoção

da colagenase com solução de Hank’s. Após a separação com Histopaque 1077 (Sigma), as

44

Capítulo 2

ilhotas pancreáticas foram coletadas individualmente sob lupa, sendo utilizadas tanto para a

determinação da secreção estática de insulina, como homogeneizadas em coquetel anti-

protease para immunoblotting ou em RNAlatter®Tissue Collection (Applied Biosystems,

Carlsbad, CA, USA) para o uso em Real Time-PCR (como descrito a seguir).

2.6 Secreção estática de insulina

Para medir a secreção estática de insulina, após o isolamento, pools de 5 ilhotas

foram colocados em microtubos e pré-incubados em solução de Krebs (composição: 139

mM Na+, 5 mM K+, 1 mM Ca2+, 1mM Mg2+, 123,6 mM Cl-, 24 mM HCO3- ) contendo 5,6

mM de glicose em banho-maria a 37°C durante 30 minutos. Após a aspiração cuidadosa do

tampão, as ilhotas foram divididas em dois grupos, as que foram suplementadas com 2,8

mM de glicose e as suplementadas com 16,7 mM. Após incubação de 1h a 37°C, alíquotas

de 500μl do sobrenadante foram retiradas e armazenadas a – 20ºC para dosagem da

concentração de insulina no meio, determinada por radioimunoensaio (Carvalho et al.,

2010).

2.7 Avaliação histológica e morfométrica do pâncreas endócrino

Para análise do aspecto histológico do pâncreas endócrino, os camundongos (n= 4

animais por grupo experimental) foram sacrificados em câmara de CO2, decapitados e o

pâncreas foi retirado, e fixado em solução de 4% de paraformaldeído (diluído em tampão

fosfato-salina) durante 24 h. Os pâncreas foram seccionados em 5 fragmentos (1,

correspondendo à cabeça e 4 à região da cauda); cada fragmento foi processado pelas

técnicas rotineiras de embebição em parafina (Histosec pastilhas, Merck, Darmstadt,

Germany). Foram obtidas secções semi-seriadas de 5 µm (com espaçamento de 100 µm

entre cortes) até esgotamento total do bloco. As lâminas selecionadas foram coradas com

Hematoxilina-Eosina ou processadas para imunoperoxidase indireta para insulina (Carvalho

et al., 2012; Oliveira et al., 2014).

45

Capítulo 2

Para análise morfométrica do pâncreas, foi medido o volume total de células β em

relação ao pâncreas total (Volume relativo VR células β/pâncreas) utilizando método

estereológico descrito na literatura, com pequenas modificações (Inuwa e Mardi, 2005).

Seis cortes histológicos foram analisados por pâncreas (dois cortes de cada bloco, 1, 3 e 5).

Todos foram fotografados com objetiva panorâmica com o auxílio de uma câmera digital

(Nikon FDX-35) acoplada a um microscópio de luz (Nikon Elipse E800), e as imagens

capturadas por um sistema de análise de imagens (Image Pro Plus for Windows). A medida

do volume relativo das células β (imunomarcadas para insulina) foi realizada utilizando o

software livre ImageJ (http://rsbweb.nih.gov/ij/download.html). Para tanto, a somatória das

áreas dos perfis das ilhotas imunomarcadas para insulina foi dividida pela respectiva área

da secção histológica do pâncreas, multiplicando-se por 100. Foram analisadas 126 ilhotas

do grupo controle e 112 do grupo tratado, provenientes de 4 animais por grupo.

2.8 Imunoistoquímica para insulina

Após a remoção de parafina, os cortes foram reidratados e lavados com Tris-salina

(TBS; Trisma base 0,01 M, NaCl 0,15 M), em seguida foi feito o bloqueio da peroxidase

endógena com uma solução de 0,3% de peróxido de hidrogênio (em metanol) por 30 min

seguido de incubação com 5% de leite em pó desnatado em solução de TBS/0,1% Tween

20 (TTBS) por 1h. Os cortes foram então incubados com anticorpo anti-insulina (Dako,

diluição 1:50) por 12 horas a 4ºC e após lavagem com TBS, foram incubados com anti-IgG

conjugado com peroxidase (Horseradish Peroxidase, HRP, Sigma, diluição 1:1500), por 1

hora e 30 min à temperatura ambiente (TA). A revelação do complexo antígeno-anticorpo

foi feita com solução de diaminobenzidina a 10% (DAB) (Sigma) e 0,2% de H2O2 (Merck)

em TBS. Em seguida, os cortes foram lavados em água destilada e contra-corados com

solução aquosa de Hematoxilina de Ehrlich (diluída 1:10 em água destilada), desidratados

em soluções crescentes de etanol e, montados em Bálsamo Sintético do Canadá (Synth -

Brasil) para observação ao microscópio de luz.

46

Capítulo 2

2.9 Avaliação do padrão de citoarquitetura das ilhotas pancreáticas

A análise da citoarquitetura das ilhotas pancreáticas foi realizada a partir de reações

de imunofluorescência com dupla marcação para insulina e glucagon em cortes histológicos

de pâncreas preparados conforme anteriormente descrito (seção 2.7). Os cortes foram

incubados com o anticorpo primário policlonal anti-glucagon (Dako, Copenhagen,

Denmark; diluição 1:75 em 3% de leite desnatado em Tris-salina (TBS; Trisma base 0,01

M, NaCl 0,15 M)) por 3h em temperatura ambiente (TA), seguida de lavagem dos cortes

com tampão Tris-salina (TBS, pH 7,4) e posterior incubação overnight a 4°C com o

anticorpo secundário específico conjugado com fluoresceína (Sigma, diluição 1:125 em 1%

de leite desnatado em TBS). Os cortes foram novamente lavados com TBS e incubados

overnight ou, por 3h à TA com o anticorpo primário anti- insulina (Dako, diluição 1:75 em

TBS com 3% de leite desnatado), e em sequência, após nova lavagem com TBS, incubados

com o anticorpo secundário específico conjugado com rodamina (Sigma, diluição 1:100 em

1% de leite desnatado em TBS) por 2h em TA. Por fim, as lâminas foram montadas em

meio de montagem (Vectashield, Vector Laboratories, Burlingame, CA, USA) para

observação em microscópio de fluorescência acoplado a um sistema de captura de imagens

(Axio Observer-D1, Zeiss, Germany).

Considerando o padrão típico das ilhotas de roedores (Brissova et al., 2005;

Carvalho et al., 2006), as análises das imagens foram classificadas de acordo com um

sistema de scores que estabeleceu o grau de alteração da citoarquitetura conforme o número

de células α deslocadas, ou não contíguas, do manto periférico formado por esse tipo

celular, posicionado ao redor do core de células β na ilhota. Apenas as células α deslocadas,

observadas a partir da terceira fileira de células endócrinas que constituem o manto, foram

contadas, e foram categorizadas conforme a seguinte classificação descrita na Tabela II.

Para cada ilhota analisada (um total de 138 ilhotas do grupo controle e 117 ilhotas do grupo

tratado referentes a 4 animais por grupo experimental) foi atribuído um score e calculou-se

o valor médio de alteração segundo essa classificação por grupo experimental.

47

Capítulo 2

Tabela II. Grau de alteração da citoarquitetura no pâncreas endócrino

Grau de alteração

da citoarquitetura

Número de células deslocadas da periferia da ilhota

0 Nenhuma célula α deslocada da periferia da ilhota

1 1 a 3 células α deslocadas da periferia da ilhota

2 4 a 6 células α deslocadas da periferia da ilhota

3 Mais que 6 células α deslocadas da periferia da ilhota

A área relativa ocupada por células α e β pancreáticas também foi mensurada nessas

imagens de ilhotas duplamente imunomarcadas. As medidas de área relativa das células α

(glucagon-positivas) e β (insulina-positivas) pancreáticas foram realizadas pelo software

livre ImageJ (http://rsbweb.nih.gov/ij/download.html) e expressas em porcentagem em

relação à área total da ilhota.

2.10 Imunolocalização e análise do grau de marcação das proteínas juncionais em cortes

de pâncreas endócrino

A localização celular de proteínas juncionais (a saber, E-, N-, e VE-caderinas, α- e

β-cateninas, e ZO-1) foi feita em cortes de congelamento de pâncreas por meio de

imunofluorescência indireta, como previamente descrita (Collares-Buzato et al., 2004;

Santos-Silva et al., 2012). Os cortes de pâncreas dos diferentes grupos experimentais

foram incubados overnight a 4°C, com um dos seguintes anticorpos primários diluídos em

3% leite desnatado em TBS (diluições apresentadas na Tabela III): anti-E-caderina

(ABCam, Cambridge, UK), anti- N-caderina (ABCam), anti-VE-caderina (ABCam), anti-

ZO-1 (Zymed/Invitrogen, Carlsbad, CA, USA), anti-α-catenina (Sigma), ou anti-β-catenina

(Zymed/Invitrogen). Posteriormente, procedeu-se a incubação dos cortes com o anticorpo

secundário específico conjugado com FITC (Sigma). Quando necessário, foi feita a co-

localização destas proteínas e insulina, realizando uma incubação adicional durante 1hora e

30 minutos com o anticorpo policlonal anti-insulina (diluição 1:100, Dako) seguida de seu

anticorpo secundário policlonal específico conjugado com TRITC (Sigma). Por fim, as

lâminas foram montadas com meio de montagem (Vectashield, Vector) e a localização da

48

Capítulo 2

fluorescência no espécime, detectada por um microscópio de varredura confocal a laser

(TCS SP5 II, Leica, Wetzlar, Germany) e/ou por microscópio de fluorescência

convencional acoplado a um sistema de captura de imagens (Axio Observer-D1, Zeiss,

Hamburg, Germany).

Tabela III. Diluições e fabricantes dos anticorpos primários monoclonais utilizados para a

detecção das proteínas juncionais por meio da técnica de imunofluorescência indireta.

Anticorpo Primário Fabricante Cat number Animal Produzido Diluição

Primário

Diluição

Secundário

ZO-1 Zymed/Invitrogen 617300 Coelho 1:200 1:200

Alfa-catenina Sigma C2081 Coelho 1:1000 1:800

Beta-catenina Zymed/Invitrogen 138400 Camundongo 1:200 1:800

N-caderina ABCam 18203 Coelho 1:50 1:150

E-caderina ABCam 11512 Coelho 1:50 1:150

VE-caderina ABCam 33168 Coelho 1:75 1:175

2.11 Avaliação do grau de marcação por imunofluorescência

Para avaliar a intensidade da fluorescência e garantir a comparação entre os grupos

controle e dHL, as lâminas foram processadas e analisadas na mesma sessão de observação,

utilizando parâmetros idênticos para a captura das imagens no microscópio confocal. Todas

as imagens foram analisadas usando o software ImageJ (http://rsbweb.nih.gov/ij/). Nas

imunoreações para ZO-1 e β-catenina, os valores de fluorescência total da ilhota foram

expressos como densidade integrada de pixels e normalizados pela área da ilhota. Nas

imunoreações para E-caderina, N-caderina e α-catenina, a densidade integrada pixels de 50

pontos por ilhota, na região intercelular da célula β (co-imuno marcadas com insulina) foi

medida em todas as imagens capturadas. Para a VE-caderina foi medida a área linear de

imunoreação para essa proteína, expressa em unidade arbitrárias e normalizada pela área da

ilhota. Para a N-caderina, foi utilizada a ferramenta “Grid” do ImageJ, determinando a área

49

Capítulo 2

de marcação citoplasmática difusa para essa proteína na ilhota (como índice de

redistribuição celular), normalizada pela área total da ilhota e expressa em unidades

arbitrárias.

2.12 Western Blot

O conteúdo celular das proteínas juncionais estudadas foi avaliado por Western Blot

em homogeneizados de ilhotas pancreáticas isoladas utilizando protocolo semelhante ao

descrito anteriormente (Santos-Silva et al., 2012). Aproximadamente 300 a 400 ilhotas

isoladas por grupo (conforme descrito anteriormente no item 2.5) foram sonicadas em um

coquetel anti-protease (composição: 10 mM imidazol pH 7,4, 4 mM EDTA, 1 mM EGTA,

200 μM DTT, 0,5 μg/ml pepstatina, 200 KIU/ml aprotinina, 200 μM

fenilmetilsufonilfluoreto e 2,5 μg/ml leupeptina, 30 μg/ml inibidor de tripsina; Sigma).

Alíquotas com 50-70 μg do homogeneizado foram incubadas a 37 oC por 1 h em 30% do

volume de 5x tampão de Laemmli (1 mol fosfato de sódio/ L (pH 7,8), 10% de SDS, 2% de

β-mercaptoetanol, 50% de glicerol e 0,1% de azul de bromofenol, Sigma) e, então,

aplicadas em gel de 8 ou 10% de SDS-PAGE. Após eletroforese, as proteínas foram

transferidas eletroforeticamente para membrana de nitrocelulose (Bio-Rad, Hercules, CA,

USA), e esta corada reversivelmente com solução de Ponceau S (Bio-Rad) para verificação

do perfil protéico e controle da quantidade de proteína aplicada nas linhas do gel. As

proteínas foram detectadas pela incubação da membrana com os mesmos anticorpos

primários utilizados no método de imunofluorescência (com diluições ajustadas ao método

de immunoblotting; Tabela IV) seguida da incubação com os respectivos anticorpos

secundários conjugados com peroxidase (Sigma). As bandas imunorreativas foram

detectadas por quimioluminescência (kit SuperSignal West Pico Chemiluminescent

Substrate, Pierce, Thermo Fisher Scientific, Waltham, MA, USA) utilizando filme para

auto-radiografia. Após stripping, as membranas foram reincubadas com um anticorpo anti-

β-actina (Zymed/Invitrogen, diluição 1:1500) e, posteriormente, com seu respectivo

anticorpo secundário conjugado com peroxidase, como um controle interno do conteúdo

protéico total aplicado. A densidade óptica das bandas foi analisada pelo software livre

ImageJ (http://rsbweb.nih.gov/ij/) e expressa uma razão de proteína juncional/β-actina.

50

Capítulo 2

Tabela IV. Diluições e fabricantes dos anticorpos primários monoclonais utilizados para a

detecção das proteínas juncionais por meio da técnica de Western Blot.

Anticorpo

Primário

Fabricante Cat

number

Animal

Produzido

Diluição

Primário

Diluição

Secundário

ZO-1 Zymed/Invitrogen 617300 Coelho 1:300 1:1000

Alfa-catenina Sigma C2081 Coelho 1:1000 1:1000

Beta-catenina Zymed/Invitrogen 138400 Camundongo 1:1000 1:1000

N-caderina ABCam 18203 Coelho 1:600 1:1000

E-caderina ABCam 11512 Coelho 1:500 1:1000

VE-caderina ABCam 33168 Coelho 1:600 1:1000

2.13 PCR em tempo Real

2.13.1 Extração de RNA total

Pools de 300 a 400 ilhotas pancreáticas foram isoladas conforme descrito na seção

2.5, mantendo as mesmas condições experimentais para os grupos controle e tratado,

compondo as triplicatas técnicas e biológicas do estudo. O RNA total, utilizado nos ensaios

de RT-qPCR, foi extraído com o kit RNAqueous®-Micro (Ambion®, WAustin, Texas,

USA), seguindo as orientações do fabricante. A qualidade e concentração do RNA foram

estimadas por leitura em espectrofotômetro Nanodrop ND-1000 UV-Vis (Nanodrop

Technologies, Wilmington, USA), a partir da absorbância a 260 nm, e cálculo da razão

260/280 nm. A integridade da molécula de RNA foi analisada por eletroforese em gel de

agarose 0,8% em tampão TBE (Tris 90mM, ácido bórico 90 mM, EDTA 50 mM, pH 8,0)

na presença de brometo de etídio e posteriormente estocadas a -80ºC até o momento do uso.

A Tabela V abaixo apresenta os dados da quantificação do RNA.

A síntese de cDNA foi realizada utilizando o Kit ImProm™ – II Reverse

Transcription System (Promega, Madison, USA), a partir de amostras de 1μg de RNA total,

acrescidos de Primer Oligo-(dT) (0,5 mg/reação), e H2O q.s.p, para completar um volume

final de 5µl que foi submetida a desnaturação a 70ºC por 5 minutos em termociclador e

51

Capítulo 2

posteriormente a 4ºC por 10min. Em seguida, para a transcrição reversa, adicionou-se a

mistura, água q.s.p. 5µl , solução tampão de Buffer (5X), MgCl2 (3,75 mM), dNTP

(0,5mM/ para cada dNTP), Transcriptase reversa (RT) 1µl, RNAsin (20U) 1µl (MIX II)

para um volume final de 15 µl. As amostras foram, então, colocadas em termociclador a

250C por 5 minutos, seguidos de 420C por 1 hora e ainda 700C por 15 minutos. A

integridade e quantificação do cDNA originado foi verificada como anteriormente descrito

para o RNA. As amostras cDNA foram estocadas a -200C até o procedimento de qPCR.

Tabela V. Concentração e integridade do RNA por leitura em espectrofotômetro

Amostras/

Grupos

Animais

Ilhotas

Relação

260/280

Concentração

µg/µl

Vol.

Final

Ctr 9 3 400 2.1 0,386 15µl

Ctr 11 3 310 2.08 0,048 15µl

Ctr 12 3 420 2.1 0,194 15µl

dHL 1 3 270 2.1 0,247 15µl

dHL 6 3 150 1,95 0,4107 15µl

dHL 10 3 310 2.02 0,0603 15µl

dHL 14 3 350 2.05 0,365 15µl

2.13.2 Primers

Os primers foram desenhados a partir da ferramenta Primer-BLAST do NCBI

(National Center for Biotechnology Information, http://www.ncbi.nlm.nih.gov), seguindo

os parâmetros de iniciadores utilizados para qPCR (Tabela VI), e posteriormente testados

quanto à capacidade de amplificação e especificidade pela reação de PCR.

52

Capítulo 2

Tabela VI. Primers específicos utilizados nos experimentos de qPCR desenhados através

do Primer Blast (NBCI).

Gene Nº Gene Bank Proteína Sequência do primer 5’ – 3’

ins 1 NM_008386.3

Ins 1 Forward TGACTCCTGAGAGGAAGGTTTATTC

Reverse

TTGCTGTGACTCCCCTGCTA

ins 2 NM_001185083.1

NM_008387.4

NM_001185084.1

Ins 2 Forward

CCGGGAGCAGGTGACCTT

Reverse

GATCTACAATGCCACGCTTCTG

Actb NM_007393.3

β-actina Forward

CTAAGGCCAACCGTGAAAAGAT

Reverse

CACAGCCTGGATGGCTACGT

ctnna1 NM_009818.1 α-catenina Forward

GTGATCAGTGCTGCCAAGAA

Reverse

CTCTCTTCACCAACGGCTTC

ctnnb1 NM_007614.3

β-catenina Forward

CGCGTCAGCTCGTGTCCTGTG

Reverse

CTTCAGGTACCCTCAGGCCCGC

cdh1 NM_009864.2 E-caderina Forward

ATGGGGCACCACCATCAC

Reverse

CTGGGTACACGCTGGGAAAC

cdh2 NM_007664.4 N-caderina Forward

CTGACAATGGAATCCCGCCT

Reverse

CCGCCTCTTGAGGTAACACC

cdh5 NM_009868.4 VE-caderina Forward

CGAACTGGATTCTCGGGGTAA

Reverse

GCAAATTCCGGAGGGTTGTC

tjp1 NM_009386.2

NM_001163574.1

ZO-1 Forward

CAGCCGCATCTTCTTGTG

Reverse

AGGAGCGAGACCCCACTAA

rps29 NM_009093.2

Rps29 Forward GACCAGGAGCTAAAGTTGATTGGA

Reverse

TCTTGGCCAGGGTAAACTTGA

2.13.3 RT-PCR

Para testar os primers quanto à capacidade de amplificação e especificidade foi

realizada a reação de PCR com o kit TaqPlatinum® DNA Polymerase (Invitrogen)

53

Capítulo 2

contendo Tampão de Reação (1X), dNTP (0,1 mM), MgCl2 (0,75 mM), Primer Forward

(sense) e Reverse (antisense) (0,1 μM), cDNA (20ng/µL), Taq DNA polimerase (1U/μL) e

o volume de H2O para uma reação de 25µl tratada com DEPC. As condições estabelecidas

para RT-PCR foram: um ciclo inicial de 94 ̊C por 2 minutos, 35 ciclos de 94̊C por 30

segundos, 61̊C por 30 segundos, 72̊C por 35 segundos e um ciclo final de 72̊C por 2

minutos. Os produtos amplificados foram separados em gel de agarose 2% no tampão de

eletroforese TBE (Tris 90mM, ácido bórico 90 mM, EDTA 50 mM, pH 8,0) na presença de

brometo de etídio. As bandas foram visualizadas no gel sob luz ultravioleta e fotografadas

(Figuras 2 e 3).

Figura 2. Verificação da amplificação dos fragmentos por RT-PCR revelam a presença dos

transcritos para os genes em estudo. Eletroforese em gel de agarose 2% com marcador de peso

molecular Ladder de 100pb (Fermentas), rsp29 (94 pb), actb (96 pb), gapdh (90 pb), ctnna1 (124

pb) ncam (107 pb), cdh5 (98 pb), tjp1 (117pb). Primer ncam (não foi analisado nesta tese).

Figura 3. Verificação da amplificação dos fragmentos por RT-PCR revelam a presença dos

transcritos para os genes em estudo. Eletroforese em gel de agarose 2% com marcador de peso

molecular Ladder de 100pb (Fermentas), ins1 (90 pb), gjd2 (130 pb), cdh1 (118 pb), ins 2 (111 pb)

e cdh2 2 (99 pb). Primer gjd2 (não foi analisado nesta tese).

PM rps29 actb gapdh ctnna1 ncam cdh5 tjp1

3100

pb

54

Capítulo 2

2.13.4 Eficiência de amplificação dos primers

A eficiência de amplificação dos primers sob diferentes concentrações de cDNA foi

avaliada utilizando-se diluições seriadas do cDNA (10 -1, 10 -2, 10 -3, 10-4, 10-5) que foram

submetidas à amplificação em triplicatas. A eficiência da amplificação (E) para cada gene

utilizado foi estimada por quantificação absoluta, obtida pela equação E = 10 (-1/slope)

(Ramakers et al., 2003), onde o slope corresponde ao valor da inclinação da curva em

regressão linear. Estes cálculos foram gerados por SDS Software 1.3.1™ (Applied

Biosystems®). Eficiências com valores entre 90% e 110% (-3.6 > slope > -3.1) foram

consideradas como ideais e utilizadas como 100% para os cálculos de expressão relativa

(Tabela VII).

Tabela VII. Valores de eficiência da reação e slope dos genes utilizados nos ensaios de

qPCR.

Gene Slope R2

ins 1 -3,29 0,99

ins 2 -3,221 0,99

Actb -3,12 0,99

ctnna1 -2,785 0,99

ctnnb1 -3,326 0,99

cdh1 -3,193 0,98

cdh2 -3,31 0.99

cdh5 -3,078 0,999

tjp1 -3,208 0,99

rps29 -3.068 0,99

55

Capítulo 2

2.13.5 Determinação do gene referência

Para iniciar o ensaio de qPCR, foram testados três genes de expressão constitutiva

(housekeeping genes), nos grupos controle e tratado: actb, rps29, gapdH. A média

geométrica dos Cts (cycle threshold) desses genes candidatos foram analisados, assim como

o desvio padrão (SD) da média, a fim de verificar a estabilidade de expressão tanto para o

grupo controle como para tratado. Após plotagem destes dados no software Excel,

verificamos que o gene referência rps29 obteve a menor variação do SD entre todos os

genes alvo, sendo assim selecionado como gene referência em nosso estudo.

2.13.6 Análise de expressão gênica relativa por RT-qPCR

As amplificações por RT-qPCR foram realizadas em triplicatas e utilizando 20 ng

de cDNA por reação. As reações foram preparadas com reagentes padronizados para PCR

em tempo real (SYBR® Green PCR Master Mix, Applied Biosystems) adicionado os

conjuntos de primers (Foward e Reverse) e H2O q.s.p. As condições da reação foram 50 °C

durante 2 minutos, 95 °C durante 10 minutos e 40 repetições de 95 °C por 15 segundos e

61,5 °C por 1 minuto, seguida de uma etapa final para a construção da curva de melting de

95ºC por 15 segundos, 60 ºC por 1min e 95 ºC por 30 segundos e 60 ºC por 15 segundos.

As leituras da fluorescência foram realizadas pelo equipamento 7500 Fast Real-Time PCR

System7500 (Applied Biosystems, USA) a cada ciclo de amplificação e, posteriormente,

analisados pelo Sequence Detection Software (SDS) v1.3 (Applied Biosystems) (Figura 4).

Todas as reações foram submetidas às mesmas condições de análise. A quantidade relativa

(QR) foi calculada utilizando-se o método de Ct comparativo 2-ΔΔCt (Livak & Schimittgen,

2001), seguindo a seguinte fórmula, QR = E-ΔΔCt, onde 2 corresponde à eficiência da

reação, ΔΔCt = ΔCt tratado - ΔCt controle (Livak & Schmittgen et al., 2001) e ΔCt = Ct

gene alvo - Ct gene referência.

56

Capítulo 2

Figura 4. Verificação da especificidade de amplificação dos primers revelam a

presença de transcritos específicos para os genes em estudo. Curva de melting para os

genes cdh2, tjp1, ins 1, cdh1, cdh5, ctnnb1, ins2, ctnna1, actb, rps29, gapdh gerado a partir

do decaimento da fluorescência captada pelo equipamento durante o aumento progressivo

da temperatura.

2.14 Análise Estatística

A significância estatística entre os dois grupos experimentais foi determinada

usando-se o teste t-Student (bicaudal) ou o teste de Mann-Whitney, enquanto que para

múltiplas comparações (como na análise da secreção estática de insulina e RT-qPCR) foi

empregado o teste One Way ANOVA seguido do pós-teste de Bonferroni. Para a análise

estatística da frequência de alteração da citoarquitetura, foi utilizado o teste Chi quadrado.

Todas as análises estatísticas foram feitas com o auxílio do Software Graph Pad Prism

versão 5.00 (GraphPad Software, USA). O nível de significância adotado foi de p<0,05.

57

CAPÍTULO 3: Artigo Científico

ALTERAÇÕES NA DISTRIBUIÇÃO E EXPRESSÃO DE MOLÉCULAS DE ADESÃO NAS CÉLULAS

ΒETA PANCREÁTICAS DE CAMUNDONGOS DIABÉTICOS SUBMETIDOS À DIETA

HIPERLIPÍDICA POR PERÍODO PROLONGADO.

3.1 Introdução

A interação entre células vizinhas, que é fundamental para a homeostase tecidual

(particularmente em epitélios), depende de especializações da membrana plasmática

denominadas junções intercelulares (JIs). São identificados quatro tipos de JIs que são

estruturalmente e funcionalmente distintos, a saber: a junção de oclusão (tight junction)

(JO), a junção aderente (JA) (zonula ou fasciae adherens), os desmossomos (ou maculae

adherens), e a junção comunicante (ou gap junction). Os três primeiros tipos de junções

estão diretamente envolvidos no processo de adesão intercelular, enquanto que a junção

comunicante, umas das primeiras a ser estudada bioquimicamente, tem como função

primordial mediar a comunicação intercelular direta (Ebnet, 2008; Harris & Tepass, 2010;

Mese et al., 2007). Tem sido demonstrado que as JIs e suas proteínas estruturais, além de

serem dispositivos de adesão/comunicação, estão associadas a diferentes tipos de vias de

transdução de sinais citoplasmáticos, modulando a expressão gênica e vários processos

celulares, tais como, motilidade, diferenciação, proliferação e morte celular em diversos

órgãos, inclusive no pâncreas endócrino (Benmerah et al, 2003; Conacci-Sorrell et al,

2002; Ebnet, 2008; Jain &. Lammert, 2009; Meda, 2013).

O pâncreas endócrino é constituído por cinco tipos celulares: as células β,

produtoras de insulina, as células α, sintetizadoras de glucagon, as células δ, produtoras de

somatostatina, as células PP, produtoras do polipeptídeo P e as células ε, produtoras de

grelina (Andralojc et al., 2009, Orci, 1976). Essas células endócrinas possuem um arranjo

típico dentro da ilhota pancreática, definido como citoarquitetura, que é espécie-específica

Capítulo 3

58

(Brissova et al., 2005). No caso de roedores, as células β ocupam a região central e as

demais ficam na periferia da ilhota (Brissova et al., 2005; Carvalho et al., 2006; 2012).

Essas células se conectam homotípica ou heterotipicamente por junções intercelulares (JIs),

do tipo de oclusão, aderente, desmossomos e comunicantes, que parecem ser cruciais para o

perfeito funcionamento do órgão (Halban et al., 1982; Jain &. Lammert, 2009 Orci, 1976).

Embora a bioquímica das JIs seja ainda pouco explorada no pâncreas endócrino,

tem sido demonstrado que as células endócrinas pancreáticas expressam algumas proteínas

juncionais, tais como: Cx36 e Cx30.2 (da junção comunicante) (Carvalho et al., 2010;

Coronel-Cruz et al., 2013; Nlend et al., 2006), a ZO-1 e claudina 8 (da junção de oclusão)

(Collares-Buzato et al., 2004; Meda, 2013; Rieck et al., 2009; Santos-Silva et al., 2010), a

N-CAM, E-, e N-caderinas, bem como as cateninas (da junção aderente) (Carvell et al,

2007; Collares-Buzato et al., 2004; Meda, 2013; Moller et al., 1992; Parnaud et al., 2011;

Santos-Silva et al., 2010). Há evidências experimentais mostrando que tais proteínas

associadas às JIs participam da formação/manutenção da citoarquitetura da ilhota (Esni et

al., 1999; Santos-Silva et al., 2012; Yamagata et al., 2002), do mecanismo de maturação

funcional da célula β que ocorre in vitro e durante o desenvolvimento animal (Collares-

Buzato et al., 2004; Leite et al., 2005; Santos-Silva et al., 2012), do processo de

biossíntese e secreção de insulina (Calabrese et al, 2003; Hauge-Evans et al., 1999; Rogers

et al., 2007), bem como da proliferação e morte da célula β (Wakae-Takada et al., 2013;

Meda 2013; Parnaud et al., 2011). Contudo, estudos investigando o possível papel das

junções intercelulares na disfunção secretora da célula β pancreática são escassos.

Recentemente, demonstramos que camundongos obesos e pré-diabéticos, que exibem

significativo comprometimento da resposta secretora de insulina frente à glicose,

apresentam uma redução na expressão de Cx36 associada com diminuição do número de

canais intercelulares e acoplamento entre as células β mediado pelas junções comunicantes

(Carvalho et al., 2012). Entretanto, no melhor do nosso conhecimento, a participação de

outras proteínas juncionais no processo da patogênese da diabetes melittus tipo 2 (DMT2)

não está ainda esclarecida.

Capítulo 3

59

A DMT2 é uma doença metabólica-endócrina, de alta prevalência na população

mundial nos dias atuais devido a sua associação com o sedentarismo e a obesidade

(Tripathy & Chaves, 2010). A célula β pancreática desempenha um papel fundamental na

patogênese da DMT2, sendo capaz de uma resposta adaptativa, que envolve aumento da

função secretora de insulina e da sua massa relativa no pâncreas endócrino (Liew &

Andrews, 2008; Sone & Kagawa, 2005) na tentativa de compensar o quadro de resistência

periférica à insulina, característico da fase inicial da doença (Chang-Chen et al., 2008;

Tripathy & Chaves, 2010). Num estágio mais avançado da DMT2, entretanto, ocorre a

exaustão funcional das células β, devido em parte ao estado de hiperglicemia crônica,

resultando em morte celular e redução total da secreção de insulina, tornando o indivíduo

dependente de reposição hormonal (Butler et al., 2003).

O uso de camundongos da linhagem C57 alimentados com dieta

hiperlipídica/hipercalórica vem sendo reportado na literatura como um modelo valioso no

estudo da patogênese do diabetes mellitus tipo 2 e de outras doenças associadas à obesidade

(Drolet et al., 2006; Herrera, 2009; Winzell e Ahrén, 2004; Shafrir et al., 1999; Surwitt et

al., 1988). O foco da maioria desses trabalhos reside em investigar a resposta de tecidos

periféricos e os mecanismos de sinalização desencadeados pelo tratamento com tais dietas

por períodos relativamente curtos (dias a semanas), entretanto o efeito da exposição

prolongada (por vários meses) à dieta hiperlipídica/hipercalórica sobre a função e estrutura

do pâncreas endócrino, tem sido pouco explorado (Ahrén & Paccini 2002).

Desta forma, o presente estudo teve como objetivo principal investigar a

distribuição e expressão celular de algumas proteínas juncionais (a saber, E-, N-, VE-

caderinas, ZO-1, β- e α - cateninas) no pâncreas endócrino de camundongos alimentados

com uma dieta rica em gorduras (dHL) durante 8 meses. Como trabalhos avaliando o efeito

da administração de dHL por tempo prolongado são escassos, objetivamos também fazer

uma caracterização metabólica e uma análise funcional, estrutural e morfométrica do

pâncreas endócrino desses animais.

Capítulo 3

60

3.2 Materiais e Métodos

3.2.1. Animais e dieta

Camundongos, machos, da linhagem C57BL/6/J Unib, foram obtidos a partir das

colônias de reprodução do Centro Multidisciplinar para Investigação Biológica na Área da

Ciência para Animais de Laboratório (CEMIB) da Universidade Estadual de Campinas

(UNICAMP, Brasil). Os animais foram alojados a 22 ± 1 ° C, em ciclo claro/escuro de 12 h

de luz, e tiveram livre acesso a água ad libidum e ração. Ao completar 6 a 8 semanas, os

animais foram divididos em dois grupos. Um grupo (controle), foi alimentado por 240 dias

(8 meses), com uma dieta padrão para roedores (Nuvital CR1, Colombo, Paraná, Brasil)

(contendo % em peso: 4,5 g% de lipídios, 53 g% de carboidratos e 23 g% de proteínas), e o

outro grupo (tratado) foi alimentado com uma dieta rica em gordura (dHL) (contendo 21

g% de lipídios, 50 g% de carboidratos e 20 g% de proteínas). Todos os protocolos

experimentais utilizados foram aprovados pelo Comissão de Ética no Uso de Animais

(CEUA) da Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP, Brasil).

3.2.2 Avaliação metabólica do animal

Para investigar o efeito da exposição prolongada à dieta hiperlipídica sobre o estado

metabólico dos animais, foram avaliados os seguintes parâmetros: ganho de peso corpóreo

(percentagem em relação ao peso inicial antes da dieta), glicemia (em jejum de 12 horas ou

no estado alimentado, ou seja, pós-prandial), insulinemia (pós-prandial) e resposta ao teste

de tolerância à insulina (ITT) (Bonfleur et al., 2010; Carvalho et al, 2012; Capítulo 2, seção

2.4). Os resultados da área sob a curva glicêmica do ITT foram estimados utilizando o

software GraphPad Prism versão 5 for Windows (GraphPad Software, La Jolla, CA, USA).

Todas as amostras de sangue foram coletadas no período compreendido entre 09:00 e 11:00

horas da manhã.

Capítulo 3

61

3.2.3 Secreção estática de insulina em ilhotas pancreáticas isoladas

As ilhotas foram isoladas por digestão do pâncreas com colagenase e separação por

gradiente com Histopaque 1077 (Sigma) (Carvalho et al., 2010; 2012; Capítulo 2, seção

2.5). Pools de 5 ilhotas foram colocados em microtubos e, após pré-incubação em solução

tampão de Krebs contendo 5,6 mM de glicose, foram expostos ao tampão contendo 2,8 mM

(basal) ou 16,7 mM de glicose (estimulada) (Capítulo 2, seção 2.6). A dosagem da

concentração de insulina no meio, determinada por radioimunoensaio.

3.2.4 Avaliação histológica e morfométrica do pâncreas endócrino

Para análise do aspecto histológico do pâncreas endócrino, os camundongos (n= 4

animais por grupo experimental) foram sacrificados em câmara de CO2, decapitados e o

pâncreas foi retirado, pesado e fixado como anteriormente descrito (Capítulo 2, seção 2.7).

Após inclusão em parafina e microtomia, os cortes histológicos selecionados foram corados

com Hematoxilina-Eosina ou processados para imunoperoxidase indireta para insulina

(Oliveira et al., 2014; Carvalho et al., 2012; Capítulo 2, seção 2.7).Para análise

morfométrica do pâncreas, foi medido o volume total de células β em relação ao pâncreas

total (Volume relativo VR células β/pâncreas) utilizando método estereológico descrito na

literatura, com pequenas modificações (Inuwa e Mardi, 2005; Capítulo 2, seção 2.7).

3.2.5 Avaliação do padrão de citoarquitetura das ilhotas pancreáticas

A análise da citoarquitetura das ilhotas pancreáticas foi realizada a partir de reações

de imunofluorescência com dupla marcação para insulina e glucagon em cortes histológicos

de pâncreas preparados conforme anteriormente descrito (Bonfleur et al., 2010; Capítulo 2,

seção 2.9). Considerando o padrão típico das ilhotas de roedores (Brissova et al., 2005;

Carvalho et al., 2006), as análises das imagens foram classificadas de acordo com um

sistema de scores que estabeleceu o grau de alteração da citoarquitetura conforme o número

de células α deslocadas, ou não contíguas, do manto periférico formado por esse tipo

Capítulo 3

62

celular, posicionado ao redor do core de células β na ilhota (Capítulo 2, seção 2.9). A área

relativa ocupada por células α (glucagon-positivas) e células β pancreáticas (insulina-

positivas) também foi mensurada nessas imagens de ilhotas duplamente imunomarcadas

(Capítulo 2, seção 2.9).

3.2.6. Imunolocalização e análise do grau de marcação das proteínas juncionais em

cortes de pâncreas endócrino

A localização celular de proteínas juncionais (a saber, E-, N-, e VE-caderinas, α- e

β-cateninas, e ZO-1) foi feita em cortes de congelamento de pâncreas por meio de

imunofluorescência indireta usando anticorpos primários e, posteriormente, anticorpos

secundários conjugados com fluorocromo, como previamente descrito (Collares-Buzato et

al., 2004; Santos-Silva et al., 2012; Capítulo 2, seção 2.10). Quando necessário, foi feita a

co-localização destas proteínas e insulina, realizando uma incubação adicional com o

anticorpo policlonal anti-insulina seguida de seu anticorpo secundário policlonal específico

conjugado com TRITC. A análise semi-quantitativa da intensidade e distribuição da

fluorescência foi feita nas imagens digitalizadas obtidas das ilhotas imunomarcadas. Foram

avaliados os seguintes parâmetros expressos em unidades arbitrárias: grau de fluorescência

total da ilhota normalizado pela área da ilhota (para as proteínas ZO-1 e β-catenina), grau

de fluorescência da região intercelular das células β normalizado pela área da ilhota (para as

proteínas E-caderina, N-caderina e α-catenina), área linear de imunoreação normalizada

pela área da ilhota (para a VE-caderina) e área de marcação citoplasmática difusa (como

índice de redistribuição celular) normalizada pela área total da ilhota (para a N-

caderina)(Capítulo 2, seção 2.10).

3.2.7 Western Blot

O conteúdo celular das proteínas juncionais estudadas foi avaliado por Western Blot

em homogeneizados de ilhotas pancreáticas isoladas (pools de 300 ilhotas/grupo) utilizando

protocolo descrito anteriormente (Santos-Silva et al., 2012; Capítulo 2, seção 2.12). As

bandas imunorreativas foram detectadas nas membranas por quimioluminescência

Capítulo 3

63

utilizando filme para auto-radiografia. A densidade óptica das bandas foi analisada pelo

software livre ImageJ (http://rsbweb.nih.gov/ij/) e expressa como uma razão da proteína

juncional de interesse/β-actina (controle interno) (Capítulo 2, seção 2.12).

3.2.8 PCR em tempo Real (RT-qPCR)

A expressão gênica das proteínas juncionais em estudo (a saber, E-, N-, e VE-

caderinas, α- e β-cateninas, e ZO-1), bem como de insulina (isoformas 1 e 2), foi avaliada

pelo método de RT-qPCR em pools de ilhotas pancreáticas isoladas dos grupos

experimentais conforme descrito no Capítulo 2 (seção 2.13). O RNA total, utilizado nos

ensaios de RT-qPCR, foi extraído com o kit RNAqueous®-Micro Kit. A síntese de cDNA

foi realizada utilizando o Kit ImProm™ – II Reverse Transcription System (Promega,

Madison, USA). Os primers foram desenhados a partir da ferramenta Primer-BLAST do

NCBI (National Center for Biotechnology Information, http://www.ncbi.nlm.nih.gov)

(sequência dos primers mostrada na Tabela V Capítulo 2, seção 2.13.2). As amplificações

por RT-qPCR foram realizadas em triplicatas e utilizando 20 ng de cDNA por reação. As

leituras da fluorescência foram realizadas pelo equipamento 7500 Fast Real-Time PCR

System7500 (Applied Biosystems, USA). A quantidade relativa (QR) de RNAm de cada

gene de interesse analisado foi calculada utilizando-se o método de Ct comparativo 2-ΔΔCt

(Livak & Schimittgen, 2001) em relação ao gene de referência selecionado (gene rps29)

(Capítulo 2, seção 2.13.5)

3.2.9 Análise Estatística

A significância estatística entre os dois grupos experimentais foi determinada

usando-se o teste t-Student (bicaudal) ou o teste de Mann-Whitney, enquanto que para

múltiplas comparações (como na análise da secreção estática de insulina e RT-qPCR) foi

empregado o teste One Way ANOVA seguido do pós-teste de Bonferroni. Para a análise

estatística da frequência de alteração da citoarquitetura, foi utilizado o teste Chi-quadrado.

Todas as análises estatísticas foram feitas com o auxílio do Software GraphPad Prism

versão 5.00 (GraphPad Software, USA). O nível de significância adotado foi de p<0,05.

Capítulo 3

64

3.3 Resultados

Caracterização metabólica dos animais e análise morfológica das ilhotas pancreáticas

após exposição prolongada a uma dieta hiperlipídica.

As Figuras 5 e 6 apresentam os dados relativos à caracterização metabólica do

modelo apresentado. Como a obesidade pode ser um fator preditor do DMT2 e quando

acompanha esta doença é considerada como parte do processo patogênico, em nosso estudo

avaliamos o ganho de peso dos grupos controle e tratado com dieta hiperlipídica (dHL). Na

Fig. 5a, observa-se o ganho de peso de ambos os grupos, entretanto o grupo alimentado

com dieta hiperlipídica (dHL) apresentou, ao longo de todo período de análise, um ganho

de peso significativamente mais elevado (170%) (***p<0,0001) do que o exibido pelos

animais do grupo controle (37%). A Figura 5b mostra o resultado da glicemia pós-prandial,

na qual observa-se que os animais submetidos à dieta hiperlipídica por 8 meses

apresentaram um aumento significativo desse parâmetro em relação aos animais do grupo

controle (*p<0,02). Ao avaliar a glicemia em jejum após a administração da dHL (Fig. 5c),

nota-se que o grupo controle manteve uma média de glicemia em jejum de

aproximadamente 84 mg/dL, o que está dentro de valores normais de concentração de

glicose no sangue. Entretanto, o grupo alimentado com dieta hiperlipídica apresentou uma

glicemia de aproximadamente 130 mg/dL, em média, caracterizando uma significativa

hiperglicemia nestes animais (***p<0,0001). Na Fig. 5d, temos os resultados da

concentração plasmática pós-prandial de insulina determinada por radioimunoensaio. No

grupo dos animais tratados (dHL), houve um aumento significante (de 88%) na

concentração de insulina plasmática em comparação com o grupo mantido em ração padrão

(**p<0,006). As Fig. 5e e 5f apresentam os resultados do teste de tolerância à insulina

(ITT) nos grupos experimentais. Nossos resultados indicam que a exposição à dieta

hiperlipídica por 8 meses (grupo dHL) induz nos camundongos tratados uma significativa

resistência periférica à insulina em comparação com os animais alimentados com dieta

balanceada (área sob a curva de ITT,*** p=0,0005).

Capítulo 3

65

Os dados referentes à secreção estática de insulina são apresentados na Fig. 6.

Nenhuma diferença significativa foi observada entre as ilhotas isoladas dos dois grupos

experimentais (C vs dHL) quanto ao grau de liberação de insulina após exposição à

concentração basal de glicose (2,8 mM). Entretanto, as ilhotas pancreáticas isoladas dos

animais tratados (n=23-30 pools de ilhotas/grupo) apresentaram um comprometimento

significativo da função secretora de insulina quando estimuladas com 16,7 mM de glicose

(3,9±0,4 ng/mL insulina/h) em relação às do grupo controle (7,1±1,2 ng/mL insulina/h,

**p<0,05).

Como mostram as Figuras 7a e b, o aspecto morfológico das ilhotas de

camundongos dos grupos controle e submetido à dieta hiperlipídica foi similar. Em ambos

os grupos, as ilhotas pancreáticas apresentaram uma morfologia normal com sua forma

variando entre arredondado a ovalado, cujo parênquima é constituído por cordões de

células endócrinas entremeados por capilares. Nas Figuras 7c e 7d, observam-se imagens de

ilhotas provenientes de secções de pâncreas submetidas à reação imunoistoquímica de

dupla marcação para insulina (vermelho) e glucagon (verde). Não se observaram diferenças

significativas quanto à citoarquitetura das ilhotas do grupo controle em relação ao grupo

tratado. A citoarquitetura é definida como a disposição diferencial das células endócrinas

dentro da ilhota pancreática, sendo que, no caso do pâncreas endócrino de roedores, as

células β se organizam preferencialmente na região central da ilhota enquanto que as

células não-β formam um manto na periferia. A avaliação da citoarquitetura das ilhotas,

conforme o sistema de ranks utilizado nessa pesquisa (Capítulo 2, seção 2.9), mostrou uma

organização similar entre os grupos experimentais (Figura 7f), onde mais de 50% das

ilhotas foram classificadas como grau 0, ou seja sem alteração da citoarquitetura (Figura

7e). Quanto ao aspecto morfométrico das ilhotas, verificou-se um significativo aumento no

volume relativo da célula β por pâncreas (*p<0,036 Fig 7i) e da porcentagem de células β

por ilhota em animais do grupo tratado com dHL em relação ao grupo controle (**p<0,003,

Fig. 7j), indicando um aumento da massa dessas células, como demonstrado nas imagens

das secções de pâncreas processadas por imunoperoxidase para insulina (grupo controle

Fig. 7g vs grupo tratado Fig. 7h). Ainda, observou-se uma diminuição significativa da

porcentagem da área relativa das células α nas ilhotas dos camundongos diabéticos (11,06 ±

Capítulo 3

66

0,84 % (66) quando comparadas com ilhotas de animais do grupo controle (15,82 ± 1,24 %

(85) (**p<0,003).

Considerando a análise metabólica dos animais e a avaliação

histológica/morfométrica das ilhotas, os dados descritos acima apontam que a exposição

prolongada (por 8 meses) a uma dieta hiperlipídica desde a fase juvenil induz, em

camundongos, um quadro típico de diabetes mellitus tipo 2 (glicemia jejum >130 mg/dL, e

significativa resistência periférica à insulina associada com comprometimento da secreção

estática de insulina). Entretanto, observa-se ainda nos animais tratados uma tentativa de

compensação pancreática frente à maior demanda de insulina traduzida em aumento da

massa de célula β.

Distribuição e conteúdo celular de proteínas associadas às junções intercelulares nas

ilhotas pancreáticas dos animais diabéticos.

As Figuras 8 a 12 revelam a distribuição e o conteúdo celular no pâncreas endócrino

das seguintes proteínas juncionais: as moléculas de adesão, E-caderina, N-caderina e VE-

caderina (Fig 8, 9, 10 respectivamente), e as proteínas adaptadoras ou de ancoragem ao

citoesqueleto, a ZO-1, α- e β-cateninas (Figs 11 e 12).

Pode-se observar que de uma forma geral tanto as proteínas da junção aderente (E-,

N-, VE-caderina) como as de ancoragem ao citoesqueleto (ZO-1, α- e β-cateninas)

apresentaram uma forte e bem definida marcação intercelular, com pouca ou nenhuma

reação citoplasmática destas proteínas nas células endócrinas das ilhotas pancreáticas do

grupo controle. Dentre todas as proteínas juncionais analisadas, somente a N-caderina

mostrou-se específica ao pâncreas endócrino, sendo que todas as outras foram observadas

tanto nas ilhotas como no parênquima exócrino. Ainda, a VE-caderina foi detectada

somente no endotélio tanto no pâncreas endócrino como exócrino. A marcação ZO-1 foi

também observada na forma de linhas no interior das ilhotas e no parênquima exócrino

correspondendo a vasos (na ilhota e pâncreas exócrino) ou ductos (no pâncreas exócrino).

Capítulo 3

67

As Figuras 8a e 8c mostram imagens da dupla imunofluorescência para E-caderina

(em verde), e a sua co-localização para insulina (em vermelho) (Fig 8b e 8d), nas ilhotas do

grupo controle (a e b) e do grupo tratado com dieta hiperlipídica dHL (c e d). Observa-se

que os animais expostos à dHL por oito meses apresentaram uma diminuição da marcação

para esta proteína na região de contato intercelular (Fig. 8c) em comparação com o grupo

controle (Fig. 8a). A análise semiquantitativa do grau de fluorescência da marcação

intercelular para esta proteína, revelou que essa diminuição é estatisticamente significativa

para o grupo tratado (***p< 0,0001, Fig. 8e).

Para a avaliação do grau de expressão da E-caderina, foram realizadas análises dos

extratos protéicos das ilhotas pancreáticas de ambos os grupos por Western Blotting. Pode-

se observar, na Fig 8f, a imunodetecção dessa proteína em homogeneizados de ilhotas

pancreáticas de animais dos grupos controle e dieta. A mesma membrana foi reincubada

para detecção da β-actina, utilizado como controle interno da reação (Fig. 8g). Na Figura

8h, são apresentados os valores da quantificação do extrato proteico, feita através da

medida da densidade óptica das bandas da E-caderina normalizada pelos valores obtidos

para β-actina. O resultado não revelou alterações significativas no conteúdo proteico dessa

molécula de adesão em ilhotas dos camundongos diabéticos em relação às do controle.

Avaliamos por imunoistoquímica, a distribuição celular da molécula de adesão, N-

caderina em ilhotas pancreáticas, tanto para o grupo controle Fig. 9a, como para o grupo

tratado Fig. 9b. Notamos que, em comparação ao grupo controle, as células endócrinas nas

ilhotas de camundongos diabéticos mostram uma redistribuição celular dessa molécula de

adesão, com uma marcação intercelular menos nítida associada a uma reação citoplasmática

mas intensa e difusa para essa proteína. Essa avaliação qualitativa foi comprovada

quantitativamente, como mostram as Fig 9c e 9d, onde em 9c observa-se a avaliação semi-

quantitativa da marcação juncional da N-caderina que revela uma diminuição significativa

na marcação intercelular para essa proteína nas ilhotas dos camundongos diabéticos em

relação às dos animais controle (***p<0,0001). Na Figura 9d, observa-se um aumento

significativo da região da ilhota mostrando marcação citoplasmática difusa para N-

Capítulo 3

68

caderina, quando normalizada pela área da ilhota, no grupo tratado com dHL em relação ao

grupo controle (***p< 0,0001).

Como mostra a Figura 9e, a N-caderina foi imunodetectada em homogeneizados de

ilhotas pancreáticas de animais dos grupos controle e tratado por immunoblotting. A mesma

membrana foi reincubada para detecção da β-actina (controle interno da reação) (Fig. 9f).

Na Figura 9g, são apresentados os valores da quantificação do extrato protéico, feita através

da medida da densidade óptica das bandas da N-caderina normalizados pelos valores

obtidos para β-actina. O resultado não revelou diferenças estatisticamente significantes no

conteúdo de N-caderina nos homogeneizados de ilhotas dos grupos experimentais, embora

tenha sido observada uma tendência de aumento (de aproximadamente 31%) no conteúdo

celular dessa proteína nas ilhotas dos animais diabéticos em relação ao controle.

As Figuras 10a a 10d mostram imagens de imunofluorescência para VE-caderina e

insulina em cortes de pâncreas de camundongos, tanto para o grupo controle (Fig. 10a-b),

como para o grupo tratado com dHL (Fig. 10c-d). Nota-se que a exposição por 8 meses à

dieta HL induziu um aumento na marcação para VE-caderina nas ilhotas pancreáticas dos

animais diabéticos (Fig. 10c) em relação às do grupo controle (Fig. 10a). Esses dados foram

confirmados através da avaliação quantitativa da área linear de marcação para essa proteína

em vasos/capilares, normalizada pela área da ilhota, que mostrou um aumento na

imunofluorescência para VE-caderina sugerindo aumento da vascularização, nas ilhotas dos

camundongos diabéticos (**p=0,0040, Fig. 10e)

Adicionalmente, foi analisada a expressão proteica da VE-caderina, por

immunoblotting, em homogeneizados de ilhotas de ambos os grupos (Fig 10f); a proteína β-

actina foi utilizada como controle interno da reação (Fig. 10g). A densitometria das bandas

da VE-caderina quando normalizada pelos valores obtidos para β-actina (Fig. 10h), não

revelou alterações estatísticas significantes em ambos os grupos, apesar da tendência de

aumento (em 11,2%) verificada no grupo tratado com dHL.

Na Figura 11, observamos imagens de ilhotas, capturadas por microscopia confocal,

processadas por imunofluorescência para detecção das proteínas ZO-1 (Fig. 11 a e c em

Capítulo 3

69

verde, com co-localização de insulina, em vermelho, Fig. 11b e d), α-catenina (Fig. 11 f e h

em verde, com co-localizção de insulina, em vermelho, Fig. 11g e i), β-catenina (Fig. 11 k e

m em verde, com co-localização de insulina, em vermelho, Fig. 11 l e n). Observa-se que,

no caso da α-catenina, houve uma diminuição estatisticamente significante (***p< 0,0001),

da detecção da marcação para essa proteína juncional na região de contato intercelular nas

células β (Fig. 11h e i) em ilhotas dos animais tratados com dHL, quando comparadas às do

grupo controle (Fig. 11f e g). Esses dados foram confirmados através da mensuração do

grau de fluorescência das ilhotas, normalizado pela área da ilhota, como mostrado na Fig

11j. Entretanto, quanto ao grau de imunomarcação nas ilhotas para as proteínas ZO-1 (a-b

grupo controle, c-d grupo tratado) e β-catenina (k-l, controle, m-n tratado) não houve

alterações estatisticamente significantes entre os dois grupos experimentais (Fig. 11e e Fig.

11o, respectivamente).

Ilhotas isoladas dos grupos controle e tratados com dHL foram analisadas quanto à

expressão proteica de ZO-1 (Fig. 12a-c), α-catenina (Fig. 12 d-f), β-catenina (Fig. 12g-i),

por Western Blot. Após a imunotransferência das proteínas, a mesma membrana foi

reincubada com β-actina, garantindo o controle interno da reação, como mostra a Fig. 12b,

e, h, para as proteínas ZO-1, α-catenina, β-catenina, respectivamente. Os valores de

quantificação do extrato proteico foram realizados por densitometria conforme

demonstrado para ZO-1 (Fig. 12c), α-catenina (Fig. 12f) e β-catenina (Fig. 12i). Não foram

observadas diferenças estatisticamente significantes entre os grupos experimentais.

Análise da expressão gênica das proteínas juncionais e de insulina em ilhotas

pancreáticas

A expressão dos genes das proteínas juncionais analisadas nesse estudo (a saber E-,

N-, VE-caderinas, ZO-1, α-catenina, β-catenina) e da insulina (isoformas 1 e 2) foi

analisada por qPCR em ilhotas pancreáticas isoladas de animais controle e tratados com

dHL por 8 meses (Figura 13). Os valores obtidos foram comparados entre si e normalizados

contra o gene de referência (rps29). Observou-se um aumento estatisticamente significativo

de expressão dos genes cdh2 (N-caderina, p<0,01), cdh5 (VE-caderina, p<0,04), tjp1 (ZO-

Capítulo 3

70

1, p<0,02) e de ins2 (p=0,0082) nas ilhotas dos camundongos diabéticos quando comparado

as do grupo controle. Um aumento (de 456%) na expressão gênica de ins1 foi também

verificado nos animais tratados em relação aos controles, embora não tenha atingido

significância estatística.

3.4.Discussão

A incidência do diabetes mellitus tipo 2 (DMT2) vem aumentando em todo o

mundo e despertando a preocupação das autoridades em saúde pública para o problema

(Ashcroft & Rorsman, 2012). Este fato vem promovendo o interesse contínuo em buscar

novas metodologias que se apliquem na terapia celular e molecular dessa disfunção (Tahara

et al., 2011).

Trata-se de uma doença de patogênese bastante complexa e que, em seu estágio

inicial, observa-se uma hiperglicemia moderada, significativa resistência periférica à

insulina e hiperinsulinemia associada com um aumento da massa de células β. Existem

vários modelos animais de diabetes tipo 2, sendo a linhagem de camundongos C57BL/6J

amplamente utilizada para estudar distúrbios metabólicos e seus comprometimentos

relacionados ao diabetes mellitus não dependente de insulina (tipo 2) e à obesidade. Em

geral, estes estudos têm enfocado o efeito de dietas, como as com alto teor de lipídios e/ou

carboidratos, administradas normalmente por períodos curtos (dias a alguns meses) (Ahrén

& Pacini, 2002; Winzell & Ahren, 2004; De Souza, 2005; Drolet et al., 2006, Ghaisas et

al., 2009; Peyot et al., 2010).

No entanto, trabalhos investigando o efeito metabólico da exposição prolongada à

dieta hiperlipídica são raros (Sone & Kagawa 2004; Calligaris et al., 2013). No melhor de

nosso conhecimento, o presente estudo é inédito ao empregar machos alimentados com

dieta com alto teor de lipídios (21% em peso) (dHL) por 8 meses desde a fase juvenil e

avaliar não somente a repercussão sobre a homeostasia glicêmica mas particularmente

sobre a biologia da célula β (estrutura e função secretora). Para tanto, realizamos a

Capítulo 3

71

caracterização metabólica do animal que apresentou um importante ganho de peso,

reforçando a correlação existente entre DMT2 e obesidade.

Como tem sido frequentemente demonstrado, a condição de obesidade adulta em

humanos tem aumentado sua incidência em todo mundo sendo associada à influência de

fatores externos, principalmente a mudança no estilo de vida (Ashcroft & Rorsman, 2012).

Especialmente a obesidade centrípeta ou central, pode ser um fator preditor do DMT2 e,

quando acompanha esta disfunção metabólica, é considerada como parte do processo

patogênico. A maior massa de adipócitos origina maiores níveis de ácidos graxos

circulantes, assim como esses adipócitos secretam adipocinas que regulam o peso corporal,

o apetite, o dispêndio de energia, e ainda modulam a sensibilidade à insulina. Uma maior

produção destes produtos pode levar a resistência à insulina, onde a progressão deste estado

e consequente hiperinsulinemia compensatória, podem tornar as ilhotas pancreáticas

incapazes de preservar o estado normoglicêmico do indivíduo (Prentki & Nolan, 2006;

Kahn et al, 2006; Guilherme et al, 2008). Peyot e colaboradores (2010) também

observaram que, em camundongos C57Bl/6, quanto maior o índice de obesidade, mais

pronunciada é a perturbação da homeostase glicêmica. É importante ressaltar que os

camundongos empregados neste estudo, apresentam entre 12 e 13 meses de vida, portanto

aproximadamente de 30 a 33 anos se comparados com a idade do ser humano (Andreollo et

al, 2012), fase da vida em que normalmente se iniciam os primeiros sintomas do DMT2.

O comprometimento da homeostase glicêmica pode ser observado a partir dos dados

encontrados nos animais alimentados com dHL que apresentaram resistência periférica à

insulina associada à elevada hiperglicemia de jejum e pós-prandial e hiperinsulinemia

moderada. A análise morfológica do pâncreas endócrino não revelou alterações

significativas, entretanto observou-se uma expansão compensatória da massa de células β

por pâncreas (aumento relativo), confirmando que estes animais se encontravam em um

estágio inicial porém já estabelecido do diabetes mellitus tipo 2. Sone e Kagawa (2005)

descreveram, em seu estudo, as alterações causadas pelo aumento da porcentagem relativa

de células β pancreáticas e aumento de massa dessas células após tratamento com dieta

hiperlipídica por 4 meses empregando camundongos C57. Dados recentes do nosso grupo

Capítulo 3

72

mostram que a exposição à dieta hiperlipídica por apenas 60 dias já é o suficiente para

induzir, em camundongos dessa linhagem, pré-diabetes associado com obesidade e

hipercolesterolemia (Carvalho, 2009; Carvalho et al., 2012; Oliveira, 2011; Oliveira et al.,

2014).

Em comparação com os estudos anteriores, notamos que o tratamento por 8 meses

induziu alterações mais severas indicativas de um estágio já estabelecido de DMT2 mas

ainda associado com compensação secretora, embora parcial, do pâncreas endócrino.

Oliveira e colaboradores (2014) mostraram que a expansão de massa da célula β observada

em camundongos C57 tratados com dHL por 60 dias é resultado de hipertrofia e hiperplasia

dessa célula endócrina nas ilhotas pancreáticas. Embora não tenhamos avaliado o tamanho

e número de células β por ilhota no presente estudo, é provável que ambos os eventos

estejam também contribuindo para o aumento da massa de célula β nos animais tratados

com dieta por 8 meses. Provavelmente este aumento é influenciado por uma maior

demanda de insulina exigida pelo organismo para tentar manter a homeostase glicêmica e

contrabalancear a resistência à insulina dos tecidos periféricos, principalmente do músculo

esquelético, tecido adiposo e fígado (Kahn et al., 2006; Prentki & Nolan, 2006).

Adicionalmente, observamos uma diminuição significativa da área ocupada por células α

no grupo tratado com dHL. Estudos recentes mostram que as células α são dotadas de

plasticidade incomum, podendo se transdiferenciar em célula β (Collombat et al., 2009; Liu

& Habener, 2009; Habener & Stanojevic, 2012). Esta transdiferenciação das células α pode

levar a uma diminuição tanto dessa célula endócrina pancreática como da sinalização do

seu secretagogo, o glucagon, que por sua vez, desempenha importante papel na estimulação

de células progenitoras associadas a ductos próximos às ilhotas a expressarem neurogenina

3, promovendo a proliferação dessas células precursoras (Collombat et al., 2009; Liu e

Habener, 2009). Este fato poderia explicar a relação entre a diminuição da área ocupada

pelas células α encontradas no nosso estudo e a fase que antecederia o decaimento da

expansão da massa de células β, a partir do qual dar-se-ia o início à fase tardia ou insulino-

dependente da DMT2.

Capítulo 3

73

Quanto à histologia do pâncreas endócrino, as ilhotas de ambos os grupos

experimentais apresentaram-se como estruturas ovaladas ou arredondadas imersas no

parênquima exócrino e com as células endócrinas pancreáticas dispostas em cordões

anastomosantes entremeados por capilares sanguíneos. Sabe-se que a citoarquitetura (ou

organização das células endócrinas dentro da ilhota) pode diferir conforme a espécie animal

e estado fisiopatológico, inclusive em modelos de diabetes (Gómez-Dumm et al., 1990;

Cabrera et al., 2006; Kim et al., 2010). Em ilhotas de humanos, observa-se uma

organização cordonal trilaminar, onde cada cordão apresenta uma camada de células β entre

duas camadas de células α; nessa organização, as células α são encontradas na região

central da ilhota (Bosco et al., 2010). Os outros tipos celulares parecem ficar entremeados

às células β e α (Cabrera et al., 2006; Bosco et al., 2010). Entretanto, em camundongos,

tem-se que as células β são predominantes e localizadas no centro da ilhota e, as células

não-β formam um manto que se localiza na periferia deste micro-orgão, (Brissova et al,

2006, Cabrera et al, 2006; Kim et al, 2010).

Kim e colaboradores (2010) afirmam que apesar de diferenças na organização

celular das ilhotas entre camundongos e humanos, as mesmas apresentam características

comuns em resposta à demanda por insulina. Ainda em casos de obesidade, diabetes e

gravidez, observou-se que as ilhotas de camundongos, nestas condições, apresentaram uma

redistribuição em sua organização celular, onde as células não-β encontraram-se misturadas

as células β (Kim et al., 2009). Entretanto, salienta-se que os camundongos que exibiram

tal modificação na redistribuição celular das ilhotas apresentaram um valor de glicemia de

aproximadamente 388 mg/dl em 15 semanas, o que provavelmente reflete um estágio

avançado do diabetes, enquanto que em nosso estudo os camundongos C57, com

tratamento prolongado com dHL por 8 meses, apresentaram glicemia de jejum de

aproximadamente 130 mg/dl que reflete um estágio menos tardio do DMT2. Isto

provavelmente explica a ausência de alterações significativas tanto na histologia como na

citoarquitetura das ilhotas pancreáticas nos nossos animais diabéticos.

Embora não tenhamos observado modificações estruturais nas ilhotas dos

camundongos tratados com dHL, as células β desses animais mostraram severo

Capítulo 3

74

comprometimento da secreção estimulada de insulina, demonstrando falha na função

secretora destas células quando estimuladas com 16,7 mM de glicose. Os resultados do

qPCR das isoformas 1 e 2 da insulina revelaram, entretanto, que os animais tratados

apresentaram um aumento de expressão gênica desse hormônio, sugerindo que

provavelmente exista uma disfunção no processo pós-traducional, ou seja, nas etapas de

acoplamento do sinal da secreção de insulina propriamente dita. Como a manutenção da

homeostase glicêmica depende principalmente da capacidade funcional/secretora das

células β, o comprometimento desta função resulta invariavelmente no diabetes mellitus

(Nittala A et al., 2007). O grau de secreção de insulina é ditado pela biossíntese da proteína,

formação dos grânulos, e sua liberação por exocitose pelas células β pancreáticas. A

biossíntese, assim como a secreção basal e estimulada de insulina, dependem da

citoarquitetura da ilhota, de estruturas celulares da célula β, como canais de membrana

(canais de potássio ATP-dependentes e canais de cálcio voltagem dependentes), proteínas

integrais de membrana (transportador GLUT-2, receptor para insulina IR),

proteínas/enzimas citoplasmáticas (IRS, glicoquinase), bem como o citoesqueleto (Suckale

& Solimena, 2006; Kahn et al, 2009), que são influenciados pela expressão diferencial de

moléculas de adesão, Cx36 e proteínas associadas ao citoesqueleto (De Souza et al., 2005;

Jain & Lammert, 2009; Carvalho et al., 2012; Meda, 2013). Os nossos dados, indicando um

comprometimento do processo de acoplamento estímulo-secreção de insulina nas células β

dos animais diabéticos, está em acordo com trabalhos da literatura que mostram que tanto a

hiperglicemia crônica como a obesidade podem comprometer a transdução de sinal para a

insulina tanto nos tecidos periféricos como no pâncreas endócrino (Eldar-Finkelman et al.,

1999; Rhoedes et al. 2005; Liu et al., 2010).

Levando-se em consideração os dados obtidos referentes à caracterização

metabólica dos animais como um todo, podemos afirmar que os camundongos C57BL/6J

tratados com dieta por tempo prolongado (8 meses) apresentaram alterações metabólicas

compatíveis com um quadro já estabelecido de diabetes mellitus tipo 2, já que estão obesos,

hiperglicêmicos (>130mg/dl), e resistentes à insulina, embora ainda apresentem uma

resposta compensatória parcial do pâncreas endócrino revelada por um estado

hiperinsulinêmico e pela massa aumentada de células β.

Capítulo 3

75

Como parte integrante e relevante dos objetivos do presente estudo, fomos

investigar a distribuição e conteúdo celular das proteínas juncionais, de adesão E-, N-, VE-

caderinas, α e β-cateninas e ZO-1, nesse modelo animal de DMT2 com o intuito de

estabelecer uma possível associação entre essa doença e alteração/comprometimento das

junções intercelulares no pâncreas endócrino. Constatamos que, de uma forma geral, tanto

as proteínas da junção aderente (E-, N-, VE-caderina) como as de ancoragem ao

citoesqueleto (ZO-1, α- e β-cateninas) apresentaram uma forte e bem definida marcação

intercelular, com pouca ou nenhuma reação citoplasmática destas proteínas nas células das

ilhotas pancreáticas do grupo controle, mostrando a relação entre sua distribuição e a

manutenção da organização celular da ilhota pancreática e a homeostase glicêmica.

Observamos também que ZO-1 e as caderinas estudadas também são expressas por células

do parênquima exócrino, com exceção da N-caderina que se manteve exclusiva às células

endócrinas na ilhota pancreática. Ainda, a VE-caderina foi detectada somente nas células

endoteliais de vasos encontrados tanto no pâncreas endócrino como exócrino.

As junções celulares no pâncreas endócrino têm um papel importante que é

evidenciado pela observação de que algumas proteínas constitutivas são essenciais para que

as células β se organizem em estruturas tridimensionais, as ilhotas pancreáticas, durante o

desenvolvimento do pâncreas de roedores e para a manutenção dessa estrutura no adulto

(Kim et al., 2009, Bosco et al., 2010; Santos-Silva et al., 2012). Ao investigarmos a

distribuição celular de E-, N-caderina, α-catenina, constatamos que nas ilhotas dos animais

tratados houve uma diminuição na marcação intercelular, que não foi acompanhada de

alteração significativa do conteúdo celular dessas proteínas.

Dentre essas proteínas juncionais, a mais estudada no pâncreas endócrino é a E-

caderina. Há várias evidências experimentais mostrando a importância dessa molécula de

adesão no processo de secreção de insulina e na homeostase da massa de célula β. A

presença na região de contato intercelular e/ou expressão aumentada de E-caderina na

célula β está associada com aumento da secreção estimulada de insulina, do conteúdo total

da proteína e RNAm de pré-pró-insulina (Hauge-Evans et al, 1999; Yamagata et al., 2002;

Calabrese et al., 2004; Bosco et al., 2007; Carvell et al., 2007). Culturas de células MIN6

Capítulo 3

76

organizadas em estruturas tridimensionais (pseudo-ilhotas), que expressam mais E-

caderina, mostram uma maior secreção do que quando essas células estão organizadas em

monocamadas (Hauge-Evans et al, 1999; Calabrese et al., 2004). Ainda, a exposição destas

células a um anticorpo-anti E-caderina resulta em inibição da secreção de insulina

estimulada por glicose em ilhotas isoladas (Rogers et al, 1997; Calabrese et al, 2004).

Embora ainda haja controvérsias, tem sido proposto que o papel da E-caderina no processo

secretório seja indireto por meio de sua função em manter a arquitetura da ilhota ou em

garantir a estrutura das junções comunicantes, e portanto, a comunicação intercelular

(Carvell et al., 2007; Rogers et al., 2007). Além da sua função sobre a secreção de insulina,

a E-caderina também parece desempenhar um papel no processo de proliferação e

sobrevivência da célula β, onde baixa expressão de E-caderina está associada com alta

capacidade de proliferação (Carvell et al., 2007; Wakae-Takada et al., 2013) enquanto que

alta expressão dessa molécula de adesão resulta em proteção da célula β contra apoptose

induzida por agentes citotóxicos como citocinas-pró inflamatórias (Parnaud et al., 2011;

Shirakawa et al., 2011; Ngamjariyawat et a.l., 2013). Carvell e colaboradores (2007)

verificaram que a baixa expressão de E-caderina, em associação com uma diminuição no

contéudo celular de α-catenina, resultou em redução dos níveis de p27Kip1, inibidor de

quinase dependente de ciclina, que é envolvido na fase G1 do ciclo celular, o que pode

justificar a sua íntima relação com a capacidade de proliferação celular. Ainda, uma

possível ativação da via Wnt canônica pode estar também envolvida na proliferação da

célula β mediada pela E-caderina (Maschio, 2014; Wakae-Takada et al., 2013). Portanto, os

dados obtidos no presente trabalho, mostrando uma diminuição no conteúdo juncional de

E-caderina e da α-catenina (proteína de ancoragem ao citoesqueleto) nas células endócrinas

da ilhota dios camundongos diabéticos, podem estar relacionados à reduzida resposta

secretora de insulina e à expansão da célula β verificadas nesses animais.

A N-caderina, cuja função ainda não está bem estabelecida no pâncreas endócrino,

parece desempenhar funções semelhantes à E-caderina no que se refere à secreção de

insulina e sobrevida da célula β frente a condições citotóxicas (Pernaud et al., 2011;

Johansson et al., 2010). Em pâncreas de humanos, a N-caderina está limitada à célula β e

parece ser importante na manutenção e viabilidade desta célula (Parnaud et al., 2011). Em

Capítulo 3

77

estudo com camundongos nocaute para N-caderina, a análise de ablação específica de N-

caderina no pâncreas demonstrou que esta proteína é dispensável para a organogênese e

morfogênese pancreática, mas necessária para o turnover dos grânulos de secreção de

insulina nas células β por um mecanismo ainda desconhecido. O número de grânulos de

secreção de insulina é significativamente reduzido em células β-N-caderina-deficiente e,

como uma consequência deste fato, a secreção de insulina apresenta-se diminuída

(Johansson et al., 2010). Além da diminuição do conteúdo juncional (similar ao verificado

com a E-caderina), que pode estar também relacionada ao comprometimento da secreção de

insulina e aumento da massa de célula β, observamos um aumento da marcação

citoplasmática difusa e aumento na expressão gênica de N-caderina nas ilhotas dos animais

tratados com dHL por 8 meses. Embora não tenhamos uma explicação conclusiva para

esses dados, é possível sugerir que o aumento no pool citoplasmático dessa caderina esteja

relacionada a uma internalização da mesma (e talvez posterior degradação) a partir do pool

intercelular. Quanto à alteração na expressão gênica dessa proteína, Wakae-Takada e

colaboradores (2013) demonstraram que a perda de E-caderina está associada com um

aumento “compensatório” da expressão de outras caderinas (particularmente de N- e VE-

caderinas) em ilhotas de camundongos nocaute para E-caderina (com 1 mês de idade). Em

face desses trabalhos e dos resultados por nós obtidos, é possível sugerir que a N-caderina

desempenhe papéis adicionais na biologia da célula β que poderiam refletir no seu

envolvimento na patogênese da DMT2.

Sabe-se que a função adesiva das caderinas depende da sua associação com

microfilamentos de actina mediada por um complexo protéico formado pelas cateninas

(alfa-, beta- e gama-catenina, e p120) e, na ausência de junção de oclusão, também por ZO-

1 (Aberle et al., 1996; Lewis et al., 1997; Miravet et al., 2003; Perez-Moreno et al., 2003;

Yin e Green, 2004). Tem sido demonstrado que a participação da α- e β-cateninas e ZO-1

não se restrigem apenas a componentes estruturais das junções intercelulares, mas

funcionam como moléculas sinalizadoras, importante em vários processos celulares, tais

como diferenciação e proliferação em outros tecidos/células (Jin et al., 2008; Murtaugh et

al., 2008). Por exemplo, em estudos in vitro, células β da linhagem INS-1, a partir da

inativação de GSK-3β, revelaram estimulação da proliferação celular sendo mediada pela

Capítulo 3

78

estabilização nuclear de β-catenina e indução de ciclina D (Figeac et al., 2009). Ainda,

nosso grupo demonstrou que a maturação da maquinaria secretora de insulina, observada

em condições in vitro e in vivo, ocorre em paralelo com aumento da expressão das

cateninas e ZO-1 em ilhotas pancreáticas de ratos recém-nascidos (Collares-Buzato et al,

2001; 2004; Santos-Silva et al, 2012). Entretanto, no presente trabalho, não verificamos

alterações na distribuição e conteúdo celular de β-catenina e ZO-1 nas ilhotas dos animais

diabéticos, mas somente a α-catenina mostrou uma diminuição da sua imunoreação na

região intercelular nas células β como discutido anteriormente.

Adicionalmente, observamos um aumento da imunodetecção da VE-caderina

verificado nas ilhotas pancreáticas dos animais diabéticos, assim como o aumento

significativo da expressão gênica desta proteína verificado por qPCR. A VE-caderina é uma

proteína expressa por células endoteliais e encontrada exclusivamente nas junções

aderentes do epitélio vascular de outros órgãos (Corada et al., 1999; Breier, et al., 1996;

Dejana et al., 2001; Ahrens et al., 2003), e de acordo com o presente trabalho também é

expressa pelo endotélio no pâncreas endócrino. A ZO-1 também mostrou uma marcação

linear dentro da ilhota, muito semelhante à VE-caderina, indicando que essa proteína

juncional também está associada à parede vascular no pâncreas endócrino, além da sua

presença na região de contato intercelular nas células endócrinas pancreáticas.

Curiosamente, observamos um aumento da expressão gênica de ZO-1 nas ilhotas dos

nossos animais diabéticos. O aumento da área linear e expressão gênica da VE-caderina,

bem como da ZO-1, fortemente sugere um aumento da vascularização das ilhotas

pancreáticas nos animais alimentados com dHL por 8 meses. Sabe-se que a ilhota

pancreática é bastante vascularizada (cinco vezes mais que o pâncreas exócrino), o que está

diretamente relacionado com a sua função endócrina. Tem sido demonstrado, em vários

modelos animais de resistência à insulina, que há a indução da formação de novos vasos

(angiogênese) e/ou dilatação dos vasos já existentes dentro da ilhota (Agudo et al., 2012;

Dai et al., 2013). Em uma interrelação física e funcional com as células β, as células

endoteliais estão envolvidas não somente com o fornecimento de oxigênio e nutrientes às

células endócrinas, mas parecem induzir a expressão do gene da insulina, promover a

proliferação celular e produzir substâncias vasoativas, angiogênicas e fatores de

Capítulo 3

79

crescimento (revisado por Zanone et al., 2008). Fatores de crescimento como o VEGF-A

(fator de crescimento endotelial vascular) liberados pelas células β induzem a formação da

rede capilar e aumento das fenestrações no endotélio, resultando em aumento da

permeabilidade vascular (Zanone et al., 2008). Por outro lado, tem sido demonstrado que

hiperglicemia leva a um aumento no fluxo e pressão sanguínea dos capilares da ilhota

(Zanone et al., 2008). Este aumento poderia, com o tempo, contribuir para o dano do

endotélio e o espessamento da parede capilar, diminuindo assim a perfusão das ilhotas.

Ainda ressalta-se que hiperglicemia induz a produção de NO (óxido nítrico) pelo endotélio,

podendo resultar em citotoxicidade para as ilhotas e assim prejudicar a secreção de insulina

(Henningsson et al., 2002; Zanone et al., 2008). Portanto, o aumento da vascularização,

como revelado pela expressão aumentada de VE-caderina, nas ilhotas dos animais tratados

por tempo prolongado com dHL, pode estar relacionado com o aumento da massa de célula

β (considerando o feedback positivo da célula β sobre a vascularização) (Duvillie et al.,

2002; Zanone et al., 2008) e, ainda, com o comprometimento da secreção de insulina

mediado por fatores potencialmente liberados pelo endotélio exposto a altas concentrações

de glicose (Zanone et al., 2008).

Em conclusão, os resultados obtidos demonstram que o modelo animal, empregando

camundongos C57BL/6 alimentados com dHL por 8 meses, apresentou manifestações

metabólicas de um estágio já estabelecido de diabetes tipo 2, porém ainda associado com

compensação secretora, embora parcial, do pâncreas endócrino. As proteínas juncionais

estudadas foram expressas por células endócrinas e endoteliais das ilhotas pancreáticas e,

em particular, a distribuição/expressão de N-, E- e VE-caderinas, bem como da α-catenina

nas ilhotas é significativamente alterada em camundongos obesos e diabéticos, o que pode

ter relevância no desenvolvimento da DMT2. Se as alterações nas proteínas juncionais

observadas nas ilhotas dos animais tratados com dHL são causa ou efeito das alterações

funcionais verificadas nas células β durante o estado pré-diabético e diabético propriamente

dito, é uma questão a ser esclarecida. Jonas e colaboradores (1999) demonstraram que a

exposição crônica à hiperglicemia desencadeia a perda da diferenciação de célula β em

modelo animal de diabetes. Esse resultado favorece a idéia que as alterações observadas no

presente trabalho são possivelmente consequência da dediferenciação celular já que é bem

Capítulo 3

80

conhecido que esse processo está diretamente associado à perda de expressão de proteínas

juncionais e consequente diminuição da adesão entre as células (Kim et al., 2009; Li et al.,

2009; Luebke-Wheeler et al., 2009; Luther et al., 2005). Por outro lado, as evidências

mostrando que as proteínas juncionais podem interferir diretamente em processos como a

comunicação intercelular (Calabrese et al., 2004; Rogers et al., 2007), a proliferação da

célula β (Kim et al., 2009; Zhang et al., 2012) e, provavelmente, a biossíntese e liberação

de insulina (Saini, 2010; Zanone, 2008), sugerem um efeito causal das alterações nas

junções intercelulares sobre a célula β na diabetes. Estudos futuros empregando animais

transgênicos e/ou nocautes, para algumas das proteínas juncionais e, submetidos à dieta HL

poderão fornecer informações valiosas sobre o papel exato do contato célula β-célula β no

desenvolvimento da DMT2.

Capítulo 3

81

3.5 Figuras

Figura 5. Camundongos C57BL/6J se tornam obesos e diabéticos após a alimentação

com dieta hiperlipídica (dHL) por tempo prolongado.

Dieta hiperlipídica (dHL) por 8 meses induziu um aumento significativo (***p <0,0001) no

ganho de peso corporal de camundongos em comparação com os camundongos controle

(Ctr) alimentados com uma dieta regular (a) (Ctr, n = 25; dieta dHL, n = 25). Glicemia pós-

prandial e de jejum (painéis b e c, Ctr n = 15; dHL, n = 16), bem como os níveis de insulina

no plasma (no estado alimentado) (painel d, Ctr n = 25; dHL, n = 25) também tiveram

aumento estatisticamente significante (* p<0,020 em b; ***p <0,0001 em c e **p<0,006

em d) em camundongos alimentados com dHL. A curva do teste de tolerância à insulina

(ITT) (e) revelou um maior aumento (***p= 0,0005) dos valores de AUC (f) em dHL do

que em camundongos controles (Ctr n = 7; n = 7 dHL). Todos os dados são expressos como

média ± SEM.

Capítulo 3

82

83

Figura 6. Ilhotas pancreáticas de camundongos diabéticos apresentam diminuição da

secreção de insulina estimulada por glicose.

Os pools de ilhotas isoladas de camundongos controle (Ctr) (c) (barras abertas) e

camundongos alimentados com dHL (barras pretas) foram expostos a 2,8 mM ou 16,7 mM

de glicose por 60 min. Em comparação com os Ctr (barras abertas), as ilhotas de

camundongos dHL (barras pretas) mostraram valores semelhantes de secreção de insulina

basal, na presença de 2,8 mM de glucose, mas uma diminuição significativa na liberação de

insulina, quando estimulada por 16,7 mM de glucose (**p<0,05). As barras representam a

média ± SEM de 3 experimentos independentes (23-30 pools de 5 ilhotas isoladas a partir

de 6 camundongos por grupo).

Capítulo 3

84

Figura 7. A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) (8 meses) induz a

expansão da massa de células beta, sem alteração marcante na citoarquitetura da

ilhota.

Nenhuma alteração significativa foi observada na histologia (a, b) e citoarquitetura (como

determinado pela distribuição diferencial de células β insulina-positivas (vermelho) e de

células α glucagon-positivas (verde) (seta) (c, d, e, f) das ilhotas de camundongos tratados

com dHL em comparação com o grupo controle. No entanto, um aumento significativo no

volume relativo das células β por pâncreas (i) (* p<0,036) e na percentagem de células β

das ilhotas por pâncreas (j) (** p <0,003) (j), indicando uma expansão da massa de células

beta no grupo tratado com dHL (h), foi visto em secções de pâncreas processadas por

imunoperoxidase de insulina (setas), em comparação com os controles (g) (6

secções/animal; n= 4-6 animais/grupo). Barras de escala: a, b e c-d, 20 µm. Aumento de 2x

em g-h (barra 500 µm).

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85

86

Figura 8. A exposição prolongada (8 meses) à dieta hiperlipídica (dHL) induz uma

diminuição significativa no conteúdo juncional de E-caderina, que não é

acompanhada por alterações na expressão dessa molécula de adesão em células β dos

camundongos diabéticos.

Imagens a – d correspondem à imunofluorescência para E-caderina, obtidas por

microscopia confocal (verde, a e c), e co-imunomarcadas para insulina (vermelho, b e d) de

ilhotas pancreáticas de camundongos tratados com dHL (painel c e d) e os controles Ctr

(painel a e b). Nota-se que a exposição de 8 meses à dHL induz uma diminuição da

imunomarcação para E-caderina na região de contato intercelular das células β (c) em

relação ao grupo controle (a), que foi confirmado quantitativamente (gráfico em e). Todas

as imagens são representativas de pâncreas de 6 animais por grupo de 3 experimentos

independentes. Barras de escala: 50 µm. O conteúdo total de E-caderina foi determinado

por Western Blot em homogeneizados de ilhotas isoladas de camundongos de ambos os

grupos experimentais (painel f). A mesma membrana foi re-incubada com um anticorpo

anti-β-actina, utilizado como controle interno da reação (painel g). Ilhotas de camundongos

dHL não mostraram alterações significativas nos níveis totais de expressão de E-caderina

em comparação as ilhotas controle (h). As barras representam a média ± SEM de 5

membranas obtidas a partir de 5 experimentos independentes (n = 6

animais/grupo/experimento).

Capítulo 3

87

Cap

ítulo

3

87

Cap

ítulo

3

Capítulo 3

88

Figura 9. A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) induz marcada

redistribuição celular de N-caderina, que não é acompanhada por alteração

significativa no conteúdo celular dessa molécula de adesão em células β dos

camundongos diabéticos.

Imagens a e b correspondem à imunofluorescência para N-caderina, obtidas por

microscopia confocal, de ilhotas pancreáticas de camundongos tratados com dHL (painel b)

e os controles Ctr (painel a). Nota-se que a exposição por 8 meses à dHL induz

redistribuição de N-caderina da região intercelular para o citoplasma das células β,

aumentando a área de células β dentro da ilhota exibindo uma marcação citoplasmática

difusa (seta em b); ambos os parâmetros qualitativos foram confirmados quantitativamente

(gráficos em c e d, respectivamente). Todas as imagens são representativas de pâncreas de 5

animais por grupo de 3 experimentos independentes. Barra de escala: 50 µm. O conteúdo

total de N-caderina foi determinado por Western Blot em homogeneizados de ilhotas

isoladas de camundongos de ambos os grupos experimentais (painel e). A mesma

membrana foi re-incubada com o anticorpo anti- β-actina, utilizado como controle interno

da reação (painel f). Ilhotas de camundongos dHL não mostram alterações significativas

nos níveis de N-caderina em comparação com ilhotas controle (g). As barras representam a

média ±SEM de 6 membranas, a partir de 6 experimentos independentes (n = 4

animais/grupo/experimento).

Capítulo 3

89

Cap

ítulo

3

89

Cap

ítulo

3

Capítulo 3

90

Figura 10. Aumento na imunomarcação para VE-caderina em ilhotas pancreáticas de

camundongos diabéticos após a exposição prolongada a dieta hiperlipídica (dHL).

Imagens a – d correspondem à imunofluorescência para VE-caderina, obtidas por microscopia

confocal (verde, a e c), e co-imunomarcadas para insulina (vermelho, b e d) de ilhotas

pancreáticas de camundongos tratados com dHL (painel c e d) e os controles Ctr (painel a e b).

A VE-caderina foi encontrada exclusivamente em células endoteliais. Nota-se que a exposição

por 8 meses à dHL induz um aumento da marcação da ilhota para VE-caderina (c) em relação

ao grupo controle (a), que foi confirmado quantitativamente (gráfico em e) e sugere aumento

da vascularização das ilhotas nos camundongos diabéticos. Todas as imagens são

representativas de pâncreas de 9 animais por grupo de 3 experimentos independentes. Barra de

escala: 50µm. O conteúdo total de VE-caderina foi determinado por Western Blot em

homogeneizados de ilhotas isoladas de camundongos de ambos os grupos experimentais

(painel f). A mesma membrana foi re-incubada com um anticorpo anti-β-actina, utilizado

como controle interno da reação (painel g). Ilhotas de camundongos dHL mostraram uma

tendência de aumento, embora não significativa, de VE-caderina, em comparação com os

níveis nas ilhotas dos controles (h). As barras representam a média ± SEM de 5 membranas a

partir de 5 experimentos independentes (n= 6 animais por grupo/experimento).

Capítulo 3

91

Cap

ítulo

3

91

92

Figura 11. A exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) induz diminuição do

teor juncional de α-catenina, mas nenhuma mudança significativa na marcação de

ZO-1 e β-catenina em células β de camundongos diabéticos.

Imagens a - n correspondem à imunofluorescência para as proteínas ZO-1 (verde, a e c), α

catenina (verde, f e h), β-catenina (verde, k e m) e a correspondente co-imunomarcação para

insulina (vermelho, b,g,l e d,i,n), analisadas por microscopia confocal, em ilhotas

pancreáticas de camundongos dHL (painéis d,i,n) e Ctr (painéis b,g,l). Nota-se que a

exposição por 8 meses à dHL induz uma diminuição da marcação para α-catenina na região

de contato intercelular das células β (h, i), em comparação com o grupo controle (f, g), e

este dado foi confirmado quantitativamente (gráficos em j). No entanto, não houve

diferença significativa em relação ao grau de imunomarcação da ZO-1 (b vs d e gráfico em

e) e da β-catenina (g vs i e gráfico em o) das ilhotas entre os grupos experimentais. Todas

as imagens são representativas de pâncreas de 6 animais por grupo de 5 experimentos

independentes. Barra de escala: 20µm.

Capítulo 3

93

Cap

ítulo

3

93

Cap

ítulo

3

94

Figura 12. Nenhuma alteração significativa no conteúdo celular de ZO-1, α- e β-

cateninas foi visto em homogeneizados de ilhotas dos camundongos diabéticos em

comparação com os controles.

O conteúdo total de ZO-1 (a), α-catenina (d) e β-catenina (g) foi determinado por Western Blot

em homogeneizados de ilhotas isoladas de camundongos de ambos os grupos experimentais.

A mesma membrana foi re-incubada com um anticorpo anti-β-actina, utilizado como controle

interno da reação (painéis b, e, h). Ilhotas de camundongos dHL não apresentaram diferenças

significativas quanto o conteúdo total de ZO-1 (c), α- catenina (f) e β-catenina (i) em

comparação com ilhotas dos controles. As barras representam a média ± SEM de 7 membranas

de pelo menos 7 experimentos independentes (n = 8 camundongos/grupo/experimento).

Capítulo 3

95

Cap

ítulo

3

95

Cap

ítulo

3

96

97

Figura 13. Efeito da exposição prolongada à dieta hiperlipídica (dHL) sobre a expressão

gênica de proteínas juncionais em estudo e insulina em ilhotas pancreáticas de

camundongos diabéticos em comparação com os controles.

A expressão gênica foi determinada por qPCR em homogeneizados de ilhotas de

camundongos diabéticos dHL e controles. Ilhotas de camundongos dHL mostraram um

aumento significativo na expressão dos genes cdh2 (N-caderina, *p<0,01), cdh5 (VE-caderina,

*p<0,04), tjp1 (ZO-1, *p<0,02) e ins2 (**p=0,0082) em comparação com ilhotas de

camundongos controle. Ilhotas de camundongos dHL mostraram uma tendência de aumento,

embora não significativo, na expressão do gene ins 1 em comparação com o grupo controle.

As barras representam a média ±SEM de 6 camundongos por experimento, de 3-4

experimentos independentes.

Capítulo

98

99

CAPÍTULO 4

4.1 Conclusões:

O tratamento dos animais C57BL/6 com dieta hiperlipídica (dHL) por tempo

prolongado (8 meses) induziu significativo ganho de peso corpóreo e resistência

periférica à insulina associada com elevada hiperglicemia de jejum e pós-prandial e

hiperinsulinemia moderada. Essas alterações, como um todo, são indicativas de

estabelecimento de DMT2.

Ainda, ilhotas pancreáticas isoladas de camundongos alimentados com dHL

mostraram uma deficiência significativa da secreção de insulina estimulada por

glicose associada a um aumento da expressão do gene da insulina (isoformas 1 e 2),

revelado por qPCR. Isto sugere um comprometimento do acoplamento estímulo-

secreção (ou seja, pós-traducional) nas células β dos animais diabéticos.

A histologia do pâncreas endócrino não revelou alterações marcantes na morfologia

e citoarquitetura das ilhotas entre os grupos de animais (controle e tratado com

dHL). Entretanto, os animais dHL apresentaram um aumento significativo da massa

relativa de células β, indicando expansão compensatória deste tipo celular, assim

como uma redução significativa no número de células α.

Numa segunda etapa do desenvolvimento dessa Tese, fomos investigar a

distribuição e conteúdo celular das proteínas juncionais, E-, N-, VE-caderinas, α e

β-cateninas e ZO-1 nas ilhotas pancreáticas, desse modelo animal de DMT2, com o

intuito de estabelecer uma possível associação entre essa doença e

alteração/comprometimento das junções intercelulares no pâncreas endócrino. Com

relação à distribuição celular das proteínas juncionais nas ilhotas, a N-caderina, E-

caderina, ZO-1 e cateninas estão distribuídas na região de contato intercelular das

células endócrinas pancreáticas, enquanto que a VE-caderina está limitada ao

endotélio (onde a presença da ZO-1 foi também observada).

Capítulo 4

100

Verificou-se, por imunoistoquímica, uma diminuição na marcação intercelular das

células β para N-caderina, E-caderina e α-catenina, sem modificação significativa

no conteúdo total dessas proteínas avaliado por Western Blot, nos camundongos

diabéticos submetidos à administração prolongada de dHL. A redistribuição celular

destas moléculas de adesão pode estar relacionada com a disfunção secretora e

aumento na proliferação da célula β verificado nos animais diabéticos.

Em adição, as ilhotas dos animais diabéticos mostraram um aumento significativo

na imunoreação e expressão gênica de VE-caderina bem como de ZO-1, sugerindo

aumento da vascularização o que está de acordo com a expansão da massa de

células β observadas nesses animais.

Os nossos resultados em conjunto mostram que a distribuição e expressão celular de

algumas proteínas juncionais se alteram durante o desenvolvimento da DMT2, em

camundongos, o que pode ter relevância na patogênese dessa doença metabólica.

Capítulo 4

101

4.2 Conclusão Esquemática

Figura 14. Conclusão Esquemática.

Este esquema mostra as principais conclusões desta Tese em face à literatura especializada.

Temos as células β pancreáticas e sua relação funcional com as células endoteliais dos

capilares das ilhotas pancreáticas no estado normal (não-diabético) e diabético. Tais células

estão unidas por junções do tipo oclusão, aderente e comunicante que mantém a estrutura e

a citoarquitetura da ilhota. No estado normal, quando a célula β é estimulada pela glicose,

há o desencadeamento de vários eventos intracelulares que incluem: 1) a entrada da glicose

no citoplasma, mediada pelo GLUT2; 2) a metabolização da glicose com aumento da

relação ATP/ADP dentro da célula, levando ao fechamento dos canais de potássio

dependentes ATP dependentes e consequente despolarização da membrana; 3) a abertura

dos canais de Ca+2 voltagem dependentes, levando à entrada de cálcio e aumento deste íon

no citoplasma; 4) reorganização do citoesqueleto resultando em exocitose dos grânulos de

insulina. Os canais intercelulares das junções comunicantes permitem a passagem de íons

Ca+2 entre células vizinhas, diminuindo a heterogeneidade funcional conhecida da

Capítulo 4

102

população de células β. No estado diabético (de hiperglicemia crônica), demonstramos que

a célula β secreta menos insulina quando estimulada, embora a expressão gênica das

isoformas de insulina tenha se mostrado aumentada, indicando que a disfunção secretora

não reside na biossíntese mais provavelmente na tradução de sinal e secreção deste

hormônio pela célula β.

Quanto às proteínas juncionais, observamos uma diminuição do conteúdo juncional da N- e

E-caderinas e α-catenina nas células β, sugerindo um comprometimento do processo de

adesão intercelular. Dados de literatura mostram que diminuição na expressão de E-

caderina, através do emprego de oligonucleotídeos anti-sense ou anticorpos, resulta em

inibição da secreção de insulina estimulada por glicose em linhagem de células β,

provavelmente via inibição da comunicação intercelular mediada por Junções

Comunicantes (Rogers et.al., 1997; Calabrese et al., 2004; Carvel et al., 2007; Roger et al.,

2007)). Portanto, a diminuição do conteúdo juncional das referidas moléculas de adesão nas

células β pode ter uma relação direta/indireta com a disfunção secretora de insulina

reportada nos animais diabéticos.

Ainda, é sabido que as proteínas juncionais funcionam como moléculas sinalizadoras,

migrando inclusive para o núcleo e induzindo expressão gênica de proteínas relacionadas à

proliferação, diferenciação, dentre outras funções celulares (Wakae-Tacada et al., 2013).

Podemos hipotetizar que essas proteínas a E-cad, N-cad e α-catenina, ao serem

internalizadas nas células β dos animais diabéticos, poderiam ter a mesma função e,

portanto, estarem envolvidas no processo de proliferação dessas células endócrinas,

resultando em expansão da sua massa nas ilhotas nos animais diabéticos. Dados da

literatura (Carvell et al., 2007) mostram que uma diminuição da expressão de E-cad, com

oligonucleotídeos anti-sense, está relacionada com alta capacidade de proliferação de

linhagem de célula β.

Quanto à célula endotelial, observamos aumento do conteúdo proteico e da expressão

gênica da VE-caderina, indicando aumento da vascularização das ilhotas dos animais

diabéticos. Essa hipervascularização das ilhotas pode estar relacionada à manutenção da

massa expandida de células β reportada nesses animais.

Dados de literatura mostram que a glicose induz a célula β, bem como a célula endotelial a

expressarem diversos fatores de crescimento (Zanone et al..2008) Os fatores de origem

endotelial podem estar envolvidos no estímulo da proliferação da célula β. O VEGF (fator

de crescimento vascular endotelial), que é conhecido por ser liberado pela célula β no

ambiente em alta concentração de glicose, por sua vez poderia contribuir ou estar envolvido

na hipervascularização da ilhota no estado diabético.

Ainda, sabe-se que a exposição crônica à glicose leva a célula endotelial a liberar Óxido

Nítrico (NO), o qual tem um efeito negativo sobre a secreção de insulina (Henningsson et

al.2002; Zanone el al, 2008). Portanto, é possível sugerir que a hipervascularização da

ilhota, num ambiente de hiperglicemia, poderia também contribuir para o

comprometimento da função secretora da célula β no animal diabético.

Capítulo 4

103

CAPÍTULO 5

5.1 Referências Bibliográficas

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Capítulo 5

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ANEXO

Capítulo 5