dh: a terceira via

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A terceira via Quem tem estado atento às campanhas de comunicação das empresas de dis tribuição alimentar terá notado uma recente disputa em folhetos e anúncios de rádio e televisão entre algumas das princi pais cadeias pelo título da marca que vende mais barato Recorreu se mesmo à publicida de comparativa método que apesar de perfei tamente legal se usado com variáveis inteira mente comparáveis tem pouca tradição em Portugal A lógica subjacente a esta disputa é que numa altura em que os portugueses e portuguesas estão mais vigilantes dos seus gastos em ali mentação e outros bens para o lar o preço au mentou ainda mais a sua importância nas es colhas do consumidor A maioria dos estudos de intenção de compra declarada ou inferida valida este pressuposto Um estudo recente da Deloitte sobre o com portamento do shopper europeu apresentado na última sessão do Forum ECR Europe indi ca que o preço é a principal variável da identi dade básica do produto que inclui também a marca peso ou volume data de validade e presença em promoção sobre a qual o consu midor pesquisa informação de suporte ao pro cesso de escolha A segunda dimensão de influência dessa esco lha éa abrangência e profundidade do portfo lio da loja tema que é gerido ao nível das de cisões de formato hiper super low ou hard discount e da gestão de categorias habitual mente realizada de forma eficaz por cada ca deia Mas o mesmo estudo aponta também uma terceira via uma outra dimensão do proces so de escolha relativa à procura de informação de ingredientes específicos valor nutricional ou utilização de produtos orgânicos usada pe lo consumidor para gestão e equilíbrio da die ta alimentar do seu agregado familiar Não é que falte informação no rótulo das em balagens Antes pelo contrário existem dema siados dados em letra demasiado pequena para que o respectivo conteúdo tenha algum im pacto na decisão de compra Nas palavras de um dos consumidores inquiridos «será mesmo preciso colocar um quadro nutricional deta lhado para saber que um bolo com 3 camadas de chocolate não é muito bom para a saúde O desafio que se coloca a produtores e distri buidores é descobrir de que forma essa infor mação pode ser usado para melhorar o que agora comummente se designa pela activa ção do consumidor Efectivamente outra evidência do estudo é uma crescente dormên cia do consumidor uma reacção à overdose de mensagens promocionais que resulta num au mento da resistência à mudança de hábitos de consumo Dos mais de 6000 consumidores inquiridos em 6 países Quando questionados sobre a razão pela qual escolheram a loja 53 indicaram ser a sua loja habitual 49 não se lembra de ver ou ouvir qual quer informação relevante para a alteração da loja que habitualmente frequenta Como contrariar então esta tendência e au mentar o envolvimento do consumidor sem para isso ter que aumentar a proliferação de referências ou promoções no linear A resposta varia entre categorias um bom exemplo é a codificação de cores da embala gem método usado muito por marcas de cigarros refrigerantes ou leite para indicar a concentração do ingrediente ou nutriente mais decisivo para a escolha do consumidor seja este a nicotina açúcar ou gordura Outra ideia interessante é a introdução de standards transversais de codificação que clari fiquem e simplifiquem a informação de con teúdo nutricional de cada produto a exemplo do que a FIPA tem procurado fazer com o Pla no para a Rotulagem Nutricional Independentemente do método utilizado existe aqui uma oportunidade de activação uma vez que os consumidores mais activos na procura de informação são também aqueles mais sujeitos a aumentarem o seu envolvimen to no processo de consumo Crise à parte entendo que no longo prazo estratégias de terceira via que envolvam o consumidor em propostas de valor para além da variável preço geram fidelização e criam vantagens competitivas sustentáveis Pedro Miguel Silva Manager de Consultoria da Deloitte Distribuição Hoje 50 S/Cor 374 8000 Nacional Distribuição Mensal Página (s): Imagem: Dimensão: Temática: Periodicidade: Classe: Âmbito: Tiragem: 01102009 Distribuição

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Artigo da edição de Novembro 2009 da Distribuição Hoje

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Page 1: DH: A Terceira Via

A terceira via

Quem tem estado atento às campanhasde comunicação das empresas de distribuição alimentar terá notado umarecente disputa em folhetos e anúncios

de rádio e televisão entre algumas das principais cadeias pelo título da marca que vendemais barato Recorreu se mesmo à publicidade comparativa método que apesar de perfeitamente legal se usado com variáveis inteiramente comparáveis tem pouca tradição emPortugalA lógica subjacente a esta disputa é que numaaltura em que os portugueses e portuguesasestão mais vigilantes dos seus gastos em alimentação e outros bens para o lar o preço aumentou ainda mais a sua importância nas escolhas do consumidor

A maioria dos estudos de intenção de compradeclarada ou inferida valida este pressupostoUm estudo recente da Deloitte sobre o com

portamento do shopper europeu apresentadona última sessão do Forum ECR Europe indica que o preço é a principal variável da identidade básica do produto que inclui também amarca peso ou volume data de validade epresença em promoção sobre a qual o consumidor pesquisa informação de suporte ao processo de escolha

A segunda dimensão de influência dessa escolha é a abrangência e profundidade do portfolio da loja tema que é gerido ao nível das decisões de formato hiper super low ou harddiscount e da gestão de categorias habitualmente realizada de forma eficaz por cada cadeia

Mas o mesmo estudo aponta também umaterceira via uma outra dimensão do processo de escolha relativa à procura de informaçãode ingredientes específicos valor nutricionalou utilização de produtos orgânicos usada pelo consumidor para gestão e equilíbrio da dieta alimentar do seu agregado familiarNão é que falte informação no rótulo das embalagens Antes pelo contrário existem demasiados dados em letra demasiado pequena paraque o respectivo conteúdo tenha algum impacto na decisão de compra Nas palavras deum dos consumidores inquiridos «será mesmopreciso colocar um quadro nutricional detalhado para saber que um bolo com 3 camadasde chocolate não é muito bom para a saúde»

O desafio que se coloca a produtores e distribuidores é descobrir de que forma essa informação pode ser usado para melhorar o queagora comummente se designa pela activação do consumidor Efectivamente outraevidência do estudo é uma crescente dormên

cia do consumidor uma reacção à overdose demensagens promocionais que resulta num aumento da resistência à mudança de hábitos deconsumo Dos mais de 6000 consumidores

inquiridos em 6 paísesQuando questionados sobre a razão pelaqual escolheram a loja frequentada53indicaram ser a sua loja habitual49 não se lembra de ver ou ouvir qualquer informação relevante para a alteraçãoda loja que habitualmente frequenta

Como contrariar então esta tendência e au

mentar o envolvimento do consumidor sem

para isso ter que aumentar a proliferação dereferências ou promoções no linearA resposta varia entre categorias um bomexemplo é a codificação de cores da embalagem método já usado há muito por marcas decigarros refrigerantes ou leite para indicar aconcentração do ingrediente ou nutrientemais decisivo para a escolha do consumidorseja este a nicotina açúcar ou gorduraOutra ideia interessante é a introdução destandards transversais de codificação que clarifiquem e simplifiquem a informação de conteúdo nutricional de cada produto a exemplodo que a FIPA tem procurado fazer com o Plano para a Rotulagem NutricionalIndependentemente do método utilizadoexiste aqui uma oportunidade de activaçãouma vez que os consumidores mais activos naprocura de informação são também aquelesmais sujeitos a aumentarem o seu envolvimento no processo de consumoCrise à parte entendo que no longo prazo sóestratégias de terceira via que envolvam oconsumidor em propostas de valor para alémda variável preço geram fidelização e criamvantagens competitivas sustentáveis

Pedro Miguel SilvaManager de Consultoria da Deloitte

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Tiragem:01­10­2009

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