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DEZ POEMAS CONTRA O COMÉRCIO E O ENCARCERAMENTO DE PÁSSAROS Poemas de Antonio Costta Edição e arte de Sammis Reachers

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DEZ POEMAS

CONTRA O COMÉRCIO E O

ENCARCERAMENTO

DE PÁSSAROS

Poemas de Antonio Costta Edição e arte de Sammis Reachers

SONETO DO PASSARINHO

Como é belo um pássaro em liberdade

Voando pelos campos bem cedinho;

Ou no galho d’árvore fazendo um ninho,

Cantando de tanta felicidade!...

Como é belo o gozar da liberdade!

E como é triste o mesmo passarinho

Numa gaiola longe do seu ninho

Cantando só por causa da saudade!

Mas o homem ao perder a liberdade

Não suporta a grande fatalidade

E contrata logo um bom advogado!...

Porém se ele for pobre, pobrezinho...

Como aquele coitado passarinho

Passará a vida inteira engaiolado!

PASSARINHO PRESO

Se a gente ficasse um dia somente

Por trás da grade de uma prisão,

Compreenderíamos qual a razão

Do pássaro cantar constantemente!

Todavia não creio que canta contente,

Que está na gaiola por opção;

Seu canto é um choro de solidão,

De sua família e de seu ambiente.

Às vezes me sinto qual passarinho

Que um dia encantou-se pelo caminho

E sem esperar - caiu num alçapão!...

Hoje na bela gaiola da vida

Embora não falte água e comida...

-Chora de saudade do seu torrão!

PASSARINHO TRISTE

Pássaro triste, tardo no trinado,

Sequer sem repetir seu repertório,

Por que o teu silêncio de velório,

Nessa gaiola tua, em tom dourado?

Estarás triste ou hás de estar cansado

De tanto canto por ninguém ouvido?

Ou, por tentar o vôo, estás ferido

Das grades onde estás aprisionado?

Quem das aves calou a voz mais bela?

A saudade? Só pode ser por ela,

Que vem do ninho por detrás da serra...

Mas em teus olhos a esperança é certa:

Quando esquecerem a gaiola aberta,

Hás de voar de volta à tua terra!

PÁSSARO POETA

Pássaro poeta que voa bem alto,

Bem longe da mata e também do asfalto;

Serás um condor? Talvez albatroz?...

Quem sabe uma águia voando veloz!

Pássaro que voa distante de nós,

Pobres humanos a lhe admirar;

Seu vôo sem motor nos deixa na foz

Querendo ter asas para voar!

Como não podemos, resta imitar,

Seu vôo garboso, seu belo cantar,

Sua altivez sobre a terra e o mar...

Pássaro poeta arqueiro do ar,

Buscando uma presa para atacar...

Quem sabe uma rima para rimar!

ÉS UM PÁSSARO POETA EM EXTINÇÃO

Não sei se és um canário ou azulão,

Se és galo de campina ou patativa;

Eu só sei que teu canto nos cativa...

-És um pássaro poeta em extinção!

Não sei em que árvore faz teu ninho,

No brejo ou no cerrado do sertão;

Eu só sei que cantas pelo caminho...

-És um pássaro poeta em extinção!

Por que será que cantas bem cedinho,

Todo dia, oh poeta passarinho?

-será para espantar a solidão?...

Como é belo e feliz o teu cantar,

Ao ouvi-lo quem pode imaginar

Que és pássaro poeta em extinção?

MINHA TERRA TEM PALMEIRAS

Minha terra tem palmeiras

Mas não canta o sabiá

Foram contrabandeadas

As aves que tinham lá.

Admiro a minha terra,

A beleza do lugar;

Minha terra tem palmeiras

Mas não canta o sabiá.

Minha terra tem palmeiras

Bem poucas, é bom falar;

Foram muitas arrancadas

Pro pregresso se instalar.

Progresso?... Meu Deus do céu!

Que progresso tem por lá?

Se cortaram as palmeiras...

Se não canta o sabiá!

PARA QUE DEUS CRIOU OS PÁSSAROS

Quando Deus, os pássaros, ele criou

Não foi para viverem em cativeiro;

Não precisa de asas um prisioneiro...

Como pode, na prisão, dá seu vôo?

Quando Deus criou os passarinhos

Foi para que vivessem em liberdade,

Mas não engaiolados, na cidade,

Cantando com saudades de seus ninhos!

Quando Deus fez os pássaros da terra

Não foi para lhes declararmos guerra,

Prendendo-os por ganância e malvadeza...

Traficando a sua beleza e o cantar,

Cerceando o direito de voar...

Livremente por toda natureza!

INOCENTE PASSARINHO

Cumprir pena sem ser um criminoso,

Está preso sem nunca ter matado,

Sem direito à defesa, condenado,

Como um réu que nunca foi doloso.

Apesar do recinto luxuoso,

De não faltar nunca água nem comida,

Mas nada disso atenua a sua lida,

De quem vive um destino tenebroso.

Não entendo por que tanta maldade,

Ao lhe tirarem um dia a liberdade

Para um eterno cativo lhe fazer!...

Terá sido – inocente passarinho –

Por que cantavas sempre bem cedinho

Anunciando um novo amanhecer?!

NUNCA MAIS

Nunca mais pude ouvir o teu cantar,

Passarinho que cantava “bem-te-vi”;

Os pardais ocuparam o teu lugar...

Mas teu canto, animado, não esqueci!

Nunca mais pude ouvir o sabiá,

Na palmeira cantando tão feliz;

O tal galo-de-campina, onde está?

O canário, o pinta silvo e o concriz?

A resposta não demora, alguém diz:

Os levaram pra fora do país!

Foram presos e contrabandeados!...

Que restou, pois, daquela natureza?

Um silêncio nos invade, é a certeza

De que somos, nós mesmos, os culpados!

O HOMEM E O PÁSSARO NA MESMA GAIOLA

Coitado do homem da grande cidade,

Trancado em casa, entre a grade e o portão;

Tal qual passarinho, sem liberdade,

Quase vivendo em igual condição!

Os dois na prisão, cantando saudade,

O homem trancado na sua mansão;

Um por causa da humana crueldade,

E o outro com medo do astuto ladrão!

Coitado do homem, não se dá por conta,

Que a liberdade ele mesmo afronta,

Ao manter o pássaro na prisão...

Na realidade ele está mais preso

Do que o passarinho que vive a esmo,

Sem nunca saber o motivo, a razão!

Poesia pela Liberdade dos Pássaros

Este breve opúsculo é uma pequena iniciativa para, através da

poesia, estimular a reflexão, denunciando e combatendo o

encarceramento de aves e também seu comércio ilegal.

Os poemas e as imagens, bem como esta seleta inteira, se com fins

não-comerciais, podem ser livremente republicados e divulgados,

sem a necessidade de prévia autorização dos autores.

Compartilhe, imprima, disponibilize a partir de seu blog ou site,

presenteie crianças e adultos, utilize em sua escola, distribua para

sua lista de e-mails...

O encarceramento de aves é um dos poucos absurdos ainda de

alguma maneira ‘aceitos’ por nossa sociedade. Culturalmente

acostumados, ou melhor, anestesiados, muitos deixam de perceber

que isto é algo terrivelmente cruel e sistematicamente

desrespeitoso para com os direitos dos animais. É já a hora de

proclamarmos um grande basta!

Aprisionar asas: poderia haver um crime maior?

●●●●●●

Antonio Costta é poeta de Pilar - PB. É autor dos livros Chuva de

Poesias, Poesia Nordestina, Um Juntador de Palavras, Coletânea Poética

e Poesia Cristã (algumas destas obras estão disponíveis para

download gratuito – clique sobre os títulos). Mantém o blog http://antoniocostta.blogspot.com/

Sammis Reachers é poeta, antologista e editor. Organizou dentre

outras, as antologias: Antologia de Poesia Cristã em Língua

Portuguesa, Águas Vivas volumes 1 e 2, e SABEDORIA: Breve

Manual do Usuário (antologia de frases). Todas estas obras estão

disponíveis para download gratuito (clique sobre os títulos).

Mantém diversos blogs, dentre os quais Poesia Evangélica, Mar

Ocidental e Cidadania Evangélica.