dez anos que encolheram o mundo - daniel piza (trecho)

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Mais que uma simples retrospectiva da primeira década do século XXI, em Dez anos que encolheram o mundo Daniel Piza propõe a análise dos principais fatos que influenciaram o curso da história nesse período. Dividido em cinco grandes temas, este livro relembra acontecimentos que levaram o mundo a uma nova configuração política e econômica, mostrando o desencadeamento dos fatos e suas consequências, para criar um panorama completo do cenário mundial. Além disso, Piza analisa em detalhes as mudanças nas artes, na cultura e no comportamento, os avanços em ciência e tecnologia, as catástrofes naturais e os efeitos da ação do homem na natureza e comenta os destaques nos esportes. Dez anos que encolheram o mundo obrigatória para aqueles que não estão no mundo a passeio, mas procuram compreendê-lo em profundidade.

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Page 1: Dez anos que encolheram o mundo - Daniel Piza (trecho)
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Introdução, 8

PArtE 1 / POLÍTICA & ECONOMIA, 13

O 11 de setembro .................................................................................................................. 14

Outros atentados, guerras e déspotas ................................................................................ 17

Barack Obama, o fenômeno controverso ......................................................................... 20

A globalização: da hiperliquidez à crise mundial ........................................................... 24

A ascensão da China e outros emergentes........................................................................ 29

Europa sob nuvens ............................................................................................................... 32

Política e vida privada .......................................................................................................... 34

Os anos Lula .......................................................................................................................... 36

Corrupções e outras decepções .......................................................................................... 41

Para além da estabilidade .................................................................................................... 44

PArtE 2 / CULTURA & COMPORTAMENTO, 53

Cinema: a tecnologia e o mal .............................................................................................. 54

Fantasias ................................................................................................................................. 59

Documentos .......................................................................................................................... 62

Depois da retomada ............................................................................................................. 65

TV, não telinha ...................................................................................................................... 68

Arquitetura nômade ............................................................................................................ 72

Do software ao show ............................................................................................................ 75

Em torno da MPB ................................................................................................................. 79

Literatura migrante .............................................................................................................. 81

A força da não ficção ............................................................................................................ 84

Artes plásticas e cênicas ...................................................................................................... 87

Novas misturas da moda ..................................................................................................... 90

Gastronomia a sério ............................................................................................................. 93

Comportamentos reais e virtuais ...................................................................................... 96

SumárIo

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PArtE 3 / CIÊNCIA & TECNOLOGIA, 99

Genes, embriões e controvérsias ....................................................................................... 100

Desafios da medicina .......................................................................................................... 103

O cérebro por decifrar ........................................................................................................ 105

Novos ancestrais .................................................................................................................. 108

Plutão, Marte e o acelerador de partículas ...................................................................... 110

Google, Facebook e a web 2.0 ............................................................................................ 113

A multiplicação dos gadgets ............................................................................................... 116

PArtE 4 / MEIO AMBIENTE & METRÓPOLES, 121

Debate aquecido ................................................................................................................... 122

Tragédias naturais e o homem .......................................................................................... 125

Violências múltiplas ............................................................................................................ 128

A saturação das metrópoles ............................................................................................... 131

PArtE 5 / ESPORTES, 139

O negócio do espetáculo..................................................................................................... 140

Ídolos, recordes e polêmicas .............................................................................................. 142

Em busca da endorfina ....................................................................................................... 145

Aos pés das estrelas ............................................................................................................. 147

Brasil Futebol Clube ............................................................................................................ 150

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INTRODUÇÃO

“Um homem pisoU na LUa, Um mUro caiU em BerLim, Um mUndo foi conectado peLa nossa ciência e peLa nossa imaginação.”

Barack oBama

EstE livro não prEtEndE sEr apenas uma retrospectiva. Mais que uma listagem de fatos e nomes, tem a intenção de ref letir sobre as tendências de cada área e as tendências comuns ao longo da primeira década do século XXi. É uma empreitada temerária escrever história a quente, pois muitos anos são necessários para que se tenha uma noção do que caracterizou determinada década, sem contar que a simples di-visão em décadas já é um ato arbitrário. Mas o esforço de partir de um espaço de tempo definido, atravessar seus acontecimentos e encontrar pontes entre eles pode ser recompensador. narrados com essa preocupa-ção, os fatos podem ser mais bem-vistos com associações e contextuali-zações; afinal, é de sua natureza que também não venham dentro de li-mites de tempo ou área.

Há controvérsias sobre o conceito de década, que para alguns seria do ano 0 ao ano 9, ou seja, a década anterior teria sido de 2000 a 2009. Mas outros lembram que os séculos começam no ano 01 e terminam em um ano 00, tanto que o século XXi começou em janeiro de 2001 e ter-minará em dezembro de 2100. nomenclaturas à parte, analisar o decênio que foi de janeiro de 2001 a dezembro de 2010 pareceu uma maneira ra-zoável de abordar as mudanças do mundo no começo de um novo século. Muitas dessas mudanças já vinham ocorrendo ou sendo gestadas em anos, décadas e séculos anteriores, mas o corte temporal é importante até para que isso seja compreendido. organizando o fluxo de eventos em “nuvens”, como se diz na computação, é possível montar pastas e atalhos.

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Das tendências comuns às cinco grandes áreas que este livro sinte-tiza, a que mais chama a atenção é a transformação que uma simples in-venção – essa mesma computação ou, para usar o termo mais amplo, a tecnologia da informação – trouxe para todas as facetas do cotidiano, das mais ordinárias (brincando com o termo francês para computador, or-dinateur) às mais sofisticadas. Da caixa de uma padaria ao biólogo num laboratório, é raro o profissional hoje que não esteja diante de um com-putador. Desde projetos de engenharia como pontes estaiadas e jatos exe-cutivos, cujos ângulos são calculados por raios de laser, até empreitadas científicas como a decifração do genoma e o mapeamento do cérebro, que necessitam de contagens e escaneamentos que os computadores an-tigos jamais poderiam realizar, praticamente tudo hoje passa pela infor-mática. Este livro mesmo contou com processador de texto, internet e e-mail em todos os instantes.

Até mesmo a política tem sido mudada pela ampliação das tecno-logias, não apenas por campanhas na rede mundial e endereços em re-des sociais, mas também por acompanhamentos de estatísticas, cobran-ças de comportamento dos políticos, vigilância de seus gastos, trocas de informações e organização de protestos, etc. O que dizer da economia, então? A consolidação da economia criativa – que reúne informática, en-tretenimento, turismo, esportes e outros setores que não vivem exclusiva-mente da venda de mercadorias de uso “prático” reproduzidas em larga escala – ocupou espaço que era da produção industrial nos resultados de muitos países. O mercado financeiro mundial ficou cada vez mais inter-dependente, com consequências boas e ruins (e ainda por saber quais são quais). Filmes, aviões e muitos outros produtos passaram a ser fabricados em conjunto pelos países mais diversos.

É nesse sentido que se pode dizer que o mundo “encolheu”. Não que as distâncias tenham morrido, como alegaram alguns. Muito menos que ele seja um só, e todo mundo tenha de seguir um consenso tão breve quan-to arrogante. Ao contrário: as culturas falam mais entre si agora do que ja-mais falaram antes, mas isso tem valorizado a diversidade, não a uniformi-dade. O acesso a outras tradições e visões de mundo só fez aumentar, o que, por sua vez, também colocou em xeque os sistemas que não permitem esse acesso. O número de democracias no planeta aumentou, ainda que nem sempre se entenda que há vários modos de atingi-la e formatá-la. O mundo

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encolheu pela rapidez e pela abrangência com que se interliga, mas não pre-cisa nem quer ser “um só”, como se as especificidades não existissem.

Temas comuns entraram definitivamente na agenda, como a preo-cupação com a sustentabilidade do meio ambiente – outra tendência que se acentuou neste início de século –, mas as soluções terão de ser tão he-terogêneas quanto os ecossistemas. Um país como o Japão terá de ter uma política ambiental bem distinta da de um país como o Brasil, digamos. Além disso, um mundo “encolhido” – mais aproximado, conectado, inter-dependente do que jamais foi – pode ser em si uma boa notícia, ao menos para quem acredita em direitos humanos universais e desconfia de ideolo-gias que isolam as culturas, o que já era mentira séculos atrás (como con-tar a história da cultura japonesa sem falar da chinesa, ou como falar de uma cidade como São Paulo sem falar da imigração japonesa?).

Não se trata, portanto, de argumentar que estamos numa “aldeia global”, como o sociólogo canadense Marshall McLuhan, para quem a interconexão iniciada pela TV trazia o risco de volta a um estágio tribal, no qual as liberdades individuais são tolhidas. Mas de ver um mundo que se comunica e se influencia mutuamente com intensidade inédita, o que traz ganhos, perdas e, sobretudo, outros níveis de complexida-de. O título deste livro remete ao do jornalista americano John Reed, Dez Dias que Abalaram o Mundo, que descreve os acontecimentos de outubro de 1917 que levaram à Revolução Russa. No século seguinte, diminuíram as revoluções que pretendem abalar o mundo e salvá-lo com utopias coletivistas. Agora ele muda gradualmente e, apesar de dis-cursos conservadores, muda muito – como a primeira década do sécu- lo XXI demonstra.

Daniel Piza abril de 2011

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11 / POLÍtICA & ECONOMIA

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o 11 De setembro

NOVA YORk ACORDOU NA MANHã de 11 de setembro de 2001 com imagens e estrondos terríveis, que mais pareciam cenas de um filme de ca-tástrofe hollywoodiano: um avião comercial e logo depois outro avançaram contra as duas torres gêmeas do World Trade Center, na região sul da ilha de Manhattan, penetraram nelas como lanças de aço e explodiram, matan-do centenas de pessoas e levando os prédios abaixo. Nos primeiros momen-tos, pensou-se em acidente, mas um terceiro avião despencou meia hora de-pois sobre a sede do Pentágono, a centenas de quilômetros dali, e não tardou para que se percebesse que se tratava de uma ação terrorista. No interior da Pensilvânia, um quarto avião se espatifou no solo pouco tempo depois, e mais tarde se soube que os passageiros impediram que os sequestradores chegassem ao alvo, possivelmente o Capitólio ou a Casa Branca. Foram cer-ca de 3 mil mortos no total, incluindo os 19 suicidas.

Os alvos tinham significado óbvio: os poderes civil, militar e comer-cial dos EUA. Nas torres do WTC trabalhavam mais de 17 mil pessoas das mais diversas origens, de asiáticos a hispânicos, de europeus a africanos. A organização terrorista que assumiu o atentado, a Al Qaeda, comanda-da pelo saudita Osama Bin Laden, queria expressar o ódio à globalização da economia e à hegemonia da América, apoiadora de Israel. Os ataques vinham sendo planejados ao menos desde 1996 por Osama e pelo terro-rista paquistanês khalid Sheik Mohammed, que já havia participado da explosão de uma bomba em 1993 no mesmo WTC. O governo do presi-dente americano, George W. Bush, cercado de “falcões” (defensores de uma política externa intervencionista), reagiu dizendo que caçaria Osama onde quer que ele estivesse e, no mês seguinte, atacou o regime do grupo Talibã, no Afeganistão, responsável por acolher e ajudar os terroristas da Al Qaeda. A popularidade do presidente saltou para mais de 90% nas pes-quisas feitas logo depois do ataque.

As reações foram muito além de decisões políticas. O compositor ale-mão Stockhausen afirmou que os atentados eram “a mais bela obra de arte já feita” e a intelectual americana Susan Sontag disse que os EUA colheram o que semearam, como se fossem a causa do fundamentalismo islâmico. Do outro lado, o premiê italiano Silvio Berlusconi falou na necessidade de novas

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