dez anos de estado social em timor

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BaucauLospalos

Viqueque

ManatutoAileu

ManufahiAinaro

CovalimaOecusse

Ermera

Dili

Liquiça

Bobonaro

7

EdiçãoGoverno da República Democrática de Timor-LesteMinistério da Solidariedade SocialRua de Caicoli, Dili-Ocidental, Timor-LesteTel: (+670) 3339582www.mss.gov.tl

1a Edição Junho 2012Tiragem 1000 exemplares

Coordenação, Autor em Colaboração e Editor: Joana Lucas Coelho, Consultora Independente

Autores:Agapito Assis Cardoso, Aida Maria Mota, Alfredo Bruto da Costa, Amandio Amaral Freitas, Antónia Carmen da Cruz, Cillian Nolan, Christopher Hoffman, Clinton Rapley, Eugénio Soares, Fabio Veras, Florêncio Gonzaga, Francisco do Rosário, Gil da Cruz, Guido Ricardo Belo, Joana Lucas Coelho, Leoneto Faria, Mateus da Silva, Paulo Pedroso.

Design e Artes GráficasImagem, Design & Arquitectura, Lda.Coordenação e design: João R.S. FerroLecidere Office Center, 1o andar, Avenida dos Direitos Humanos, Dili, Timor-LesteEmail: [email protected]: (+670) 3331256 Tm: (+670) 7254992

Impressão e AcabamentoSylvia DíliRua Vila Verde, Díli, Timor-LesteEmail: [email protected]: (+670) 3326902Tm: (+670) 7234646

© Copyright Governo da República Democrática de Timor-Leste, Junho 2012

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ÍndiceGlossário

Agradecimentos

Prefácio

Nota Introdutória

Alocução de Sua Excelência o Primeiro-Ministro

Alocução de Sua Excelência a Ministra da Solidariedade Social

Enquadramento Geral

Nota Metodológica

EIXO 1 - Protecção Social de Cidadania

O Ministério da Solidariedade SocialEugénio João Amado de Maria Soares, DIrector Geral

Programa de Assistência AlimentarAmandio Amaral Freitas, Director Nacional de Assistência Social

Serviço FunerárioAgapito Assis Cardoso, Chefe de Departamento da DNAS

Rede de Serviço de Atendimento Social em Timor-Leste: Uma Resposta de Protecção SocialGuido Ricardo Belo, Coordenador do Centro Regional de Oecussi

Programa Bolsa da Mãe Antónia Carmen da Cruz, Directora Nacional de Reinserção Social

Programa: Subsídio de Apoio a Idosos e InválidosLeoneto Faria, Chefe Departamento da DNSS

Comentário sobre os Programas Sociais de Timor LesteFabio Veras, Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo, Brasil

Serviço Social para as Pessoas Portadoras de Deficiência em Timor-LesteMateus da Silva, Chefe de Departamento da DNAS

Política, Planeamento, Gestão e Avaliação: Questões Relacionadas com a Promoção de Pessoas Portadoras de Deficiência no Contexto do Desenvolvimento NacionalClinton E. Rapley, Director de Serviços de Planeamento, Escritório Regional da ONU na Tailândia

Programa de Apoio a Instituições que Desenvolvem Protecção SocialFlorêncio Gonzaga, Chefe de Departamento da DNRS

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EIXO 2 - Intervenção Social em Situações de Emergência

Intervenção dos Serviços de Gestão de Desastres em Timor-LesteFrancisco F. M. do Rosário, Director Nacional de Gestão de Desastres

Implementação da Estratégia de Recuperação Nacional pelo MSS, 2007-2010 Amandio Amaral Freitas, Director Nacional de Assistência Social

Desenvolver Timor-Leste Olhando para Trás Contexto da Organização Internacional para as Migrações em Timor-LesteNorberto Celestino, Chefe de Missão, OIM Timor-Leste Peter Van Der Auweraert, Chefe da Divisão de Terras, Propriedades e Indemnizações, sede da OIMChris Hoffman, Especialista em situações de emergência e pós-crise na região da Ásia/Pacífico, OIM, Tailândia

EIXO 3 - Combatentes da Libertação Nacional em Timor-Leste

O Regime Especial dos Combatentes da Libertação Nacional em Timor-Leste Gil da Cruz, Director Nacional dos Assuntos dos Combatentes da Libertação Nacional

Valorizar os Veteranos de Timor-LesteCillian Nolan, Analista do Sudeste Asiático, International Crisis Group, Jakarta

EIXO 4 - Segurança Social

Regime Transitório de Segurança SocialAida Maria Soares Mota, Directora Nacional de Segurança Social

Dois Olhares Reflexivos

Uma Reflexão sobre as Condicionantes e a Missão da Protecção Social em Timor-Leste Paulo Pedroso, Professor Auxiliar Convidado, ISCTE - IUL, Portugal

Desafios de um sistema de Protecção Social em Timor-LesteProfessor Doutor Alfredo Bruto da Costa

Conclusões

Bibliografia

Anexo - Programa da Conferência

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AUSAID Australian Government Overseas Aid Program

BdM Bolsa da Mãe

BNCTL Banco Nacional Comércio de Timor-Leste

CHSRR Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos

CLN Combatentes da Libertação Nacional

CNRM Conselho Nacional da Resistência Maubere

CNRT Conselho Nacional de Reconstrução de Timor

CPV Commitment and Payment Voucher

CRDTL Constituição da República Democrática de Timor-Leste

CRRN Conselho Revolucionário da Resistência Nacional

CRS Catholic Relief Service

DNACLN Direcção Nacional dos Assuntos dos Combatentes da

Libertação Nacional

DNAF Direcção Nacional de Administração e Finanças

DNAS Direcção Nacional de Assistência Social

DNFE Direcção Nacional de Formação e Emprego

DNGD Direcção Nacional de Gestão de Desastres

DNRS Direcção Nacional de Reinserção Social

DNSS Direcção Nacional de Segurança Social

ERN Estratégia de Recuperação Nacional

FALINTIL Forças Armadas da Libertação Nacional de Timor-Leste

F-FDTL Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste

FRETILIN Frente Revolucionária de Timor-Leste Independente

IDPs Internally Displaced Persons (pessoas internamente deslocadas)

IGOs International Governmental Organizations

JRS Serviço Jesuíta aos Refugiados

MDG Millenium Development Goals (ODMs – Objectivos de

Desenvolvimento do Milénio)

Glossário

MF Ministério das Finanças

MIS Managing Informational System (Sistema de Gestão e

Informação)

MSS Ministério da Solidariedade Social

MTCI Ministério do Turismo, Comércio e Indústria

MTRC Ministério do Trabalho e Reinserção Comunitária

NRC Comité Norueguês para os Refugiados

OI Organizações Intergovernamentais

OIM Organização Internacional para as Migrações

(IOM – International Organization for Migration)

ONGs Organizações Não-Governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PHHF Programa Hamutuk Hari’i Futuru – Programa Juntos

Construindo o Futuro

PNTL Polícia Nacional de Timor-Leste

PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

SAII Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos

SETS Secretário de Estado do Trabalho e da Solidariedade

UNDP United Nations Development Programme

UNESCAP United Nations Economic and Social Commission for Asia

and the Pacific

UNESCO United Nations Educacional, Scientific and Cultural Organization

UNFPA United Nations Population Fund

UNHCR United Nations High Commissioner for Refugees

UNICEF United Nations Children’s Fund

UNMIT United Nations Integrated Mission in Timor-Leste

UNPOL United Nations Police

WFP World Food Programme

WHO World Health Organization

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O presente livro é o resultado da Conferência do Ministério da Solidariedade Social realizada em Fevereiro de 2012, em Díli, sob o título “10 anos depois: O Contributo dos Programas Sociais na Construção de um Estado Social em Timor-Leste”. Deste modo, não podemos deixar de agradecer a todos os que contribuiram para que aquele evento se tornasse realidade.

Quero desde logo agradecer aos assessores Fátima Almeida e Daniel Carolo que de imediato abraçaram o desafio que lancei de efectuar um balanço do caminho percorrido ao longo destes 10 anos de independência de Timor-leste em matéria de Protecção Social, dando-lhe forma conceptual. A organização de uma pré-conferência, em finais de Janeiro, e a criação das duas comissões, a “científica” e a organizadora, foram estratégias fundamentais para a garantia do sucesso da Conferência.

Em primeiro lugar, quero salientar a receptividade, a responsabilidade e a dedicação do director Rogério Nelson Alves, coordenador geral da Conferência na promoção da articulação entre as duas comissões, de modo a garantir a integração das respectivas acções. O seu empenhamento foi decisivo no processo de preparação da Conferência e nos dias da sua realização.

Um agradecimento especial ao director-geral do MSS, Eugénio João Amado de Maria Soares, pela sua disponibilidade, atitude positiva e conciliadora na liderança da comissão executiva. Nesta comissão, responsável por todo o processo logístico, administrativo e organizativo, não posso deixar de elencar os nomes de Estela Gorete Gusmão, Mário Barreto, Octávia Maria Marçal (gabinete de cooperação e protocolo), Arlindo Mendonça, Imaculada Menezes, Jemmy dos Reis, Luísa das Neves Reis, Maria Jacinta, Pascoal Couto, Rosa Gomes, Sílvia Verdial (departamentos de finanças, logística, aprovisionamento, administração, gestão de recursos humanos e antigos combatentes da libertação nacional) e David Costa, Elyana Benvinda Pires, Januário Gomes, João Bosco, João Soares, José Viana, José Exposto (departamento de informação, comunicação e tecnologia).

Agradecimentos Quero igualmente destacar o contributo da unidade jurídica nas pessoas de Joana Franco, Tânia Almeida, Egídio Carion e Maria Nelinha Cabral, em particular na elaboração das regras de funcionamento da Conferência através da concepção do seu Regulamento, instrumento fundamental para a sua organização.

A relevância da “comissão científica”, responsável por assegurar a concepção e o desenvolvimento das temáticas da Conferência, bem como produzir informação e documentação técnica, traduziu-se na garantia de intervenções com conteúdos reflexivos e apresentações de estudos relevantes sobre protecção social, enquadrados num programa coerente. Um núcleo mais operacional, constituído por mim, por Fátima Almeida e por Daniel Carolo, com o apoio de Sebastião Guterres na relação com os peritos internacionais, foi suportado por uma equipa mais alargada, constituída pelo director-geral, por todos os directores nacionais, chefes de departamento, assessores nacionais e internacionais nomeados pelos directores nacionais. Uma palavra especial ao Amílcar Gabriel que teve por missão integrar todas as intervenções num layout comum da Conferência, de forma a garantir uma padronização das apresentações dos oradores do MSS. Um agradecimento a todos pelo seu compromisso e empenhamento.

A Conferência beneficiou de um conjunto de Presidentes de Mesa bastante conhecedores das políticas, dos programas e serviços apresentados, o que imprimiu uma dinâmica particular no decorrer e na elaboração das conclusões de cada Eixo da Conferência. Falo dos meus colegas, e por ordem de participação na Conferência, Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus, Secretário de Estado dos Assuntos dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional, Mário Nicolau dos Reis e o Secretário de Estado da Segurança Social, Vitor da Costa. O Eixo 3 – Regime Especial dos Veteranos, contou com a colaboração do Presidente da Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos, Virgílio Simith, na elaboração das conclusões do painel. A todos um “bem haja!” pela vossa participação!

Os moderadores de cada Eixo, escolhidos a partir da sua formação e experiência profissional, promoveram a dinamização dos Eixos de uma

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forma independente e imparcial. Deixo aqui um agradecimento especial, e por ordem de participação na Conferência, a Dionísio Babo, Joaquim Soares, José Belo, Roque Rodrigues e Libório Pereira.

Quero congratular os oradores da Conferência, directores nacionais e chefes de departamento do Ministério da Solidariedade Social, responsáveis pelo desenho e/ou implementação dos programas e serviços apresentados, Agapito Assis Cardoso, Aida Maria Soares Mota, Amandio Amaral Freitas, Antónia Carmen da Cruz, Eugénio João Amado de Maria Soares, Florêncio Gonzaga, Francisco do Rosário, Gil da Cruz, Guido Ricardo Belo, Leoneto Faria, Mateus da Silva, pela disponibilidade e determinação revelada para apresentar as suas intervenções a um público alargado e com a presença de peritos e especialistas internacionais. Acredito que a vossa participação constituiu uma oportunidade de valorização pessoal e profissional e, igualmente, contribuiu para o conhecimento e integração da intervenção social promovida pelo Ministério da Solidariedade Social.

O contributo dos peritos internacionais materializou-se nos seus pareceres críticos, comentários e recomendações para a melhoria dos programas e para uma visão integrada da Protecção Social. Neste âmbito, quero expressar a minha profunda gratidão ao Professor Doutor Alfredo Bruto da Costa por ter aceite o nosso convite e pelos desafios lançados, que vieram reforçar a necessidade da reflexão e do debate acerca da prática desenvolvida revelando a importância da assumpção de um novo paradigma de intervenção social. Ao Paulo Pedroso do ISCTE-IUL de Portugal quero agradecer-lhe o seu envolvimento e compromisso com o desenvolvimento de Timor-Leste. Ao Fabio Veras do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Brasil, ao Clinton Rapley do Escritório Regional das Nações Unidas na Tailândia, à Cynthia Burton da Federação Internacional da Cruz Vermelha da Austrália, ao Christopher Hoffman da OIM-Tailândia e ao Cillian Nolan do International Crisis Group de Jakarta, expresso os meus agradecimentos pela vossa participação e pelos valiosos contributos deixados. Penso que todos nós beneficiámos das conversas informais que tivemos e que se estenderam para além dos momentos formais do evento.

O debate e a reflexão ocorridos durante a Conferência saíram reforçados com as análises e os estudos apresentados pelo Banco Mundial e pelo Banco Asiático de Desenvolvimento e, igualmente, valorizados pelo contributo de Jo-Anne Bishop com o estudo sobre a Estratégia de Recuperação Nacional. De igual modo, a presença dos nossos convidados contribuíram para o enriquecimento do debate. Assim, quero deixar um agradecimento especial aos meus colegas do governo, aos representantes de outros orgãos de soberania, representantes de corpos diplomáticos, às instituições da sociedade civil, representantes da Igreja católica e de outras confissões religiosas, universidades e agências e parceiros para o desenvolvimento.

A existência de uma programação cultural, ao longo dos dois dias e meio de Conferência, contribuiu para que o evento tivesse movimento e um ritmo equilibrado, para o que, igualmente contribuiu, o desempenho do seu “mestre de cerimónias”, Anito Matos.

Para finalizar este processo de análise da Conferência quero manifestar o meu reconhecimento e apreço ao senhor Primeiro-Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão, que muito nos honrou com a sua alocução na Cerimónia de Abertura. A sua presença representa para nós um compromisso na construção de um Estado Social em Timor-Leste.

Concluída a Conferência, iniciava-se uma nova etapa, a da produção de um livro que traduzisse não somente as intervenções dos oradores mas também as conclusões e as recomendações emanadas do encontro. Projecto ambicioso! O livro acabou por ir mais além do evento e resgatar toda uma reflexão acerca da intervenção social do Ministério da Solidariedade Social no quadro de um sistema de Protecção Social Integrado. Graças à metodologia proposta pela consultora externa, o resultado final é bastante rico.

Assim, quero agradecer à Joana Lucas Coelho pela sua visão, o seu empenhamento e responsabilidade, bem como a perseverança para

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ultrapassar todos os constrangimentos que foram surgindo ao longo do processo de criação do livro. A sua capacidade de trabalho e competência técnica tornou possível criar um documento institucional do qual muito nos orgulhamos. A obra que aqui se apresenta é composta por um corpo principal de doze artigos que correspondem às doze intervenções dos directores nacionais e chefes de departamento na Conferência. Quero agradecer aos assessores Amílcar Gabriel, Ana Paula Cruz, Cátia Sales, Daniel Carolo, Isabelle Amorim, Karim Elguindi, Nuno Gabriel Sá, Rina Meutia e Sandra Alves Silva, bem como ao Nélson dos Santos da Direcção Nacional da Segurança Social, pelo apoio fundamental que prestaram aos autores na elaboração e redacção dos referidos artigos.

O projecto de criação de um livro conta com um conjunto de actores invisíveis, mas que desenvolvem uma acção fundamental para que este aconteça - é o caso da tradução e revisão dos textos, realizados por Clarisse Silva e Maria Amado, e José Luís Casanova, respectivamente. Ao Jorge Avelino F. Gusmão que concebeu a medalha “valorizando a cidadania”, que serviu de imagem de identificação da Conferência, e à equipa da empresa Ida, na pessoa do João Ferro, que compreendeu a intensidade do projecto e lhe deu a forma da presente obra, os meus reconhecidos agradecimentos.

A realização da Conferência e a sequente produção do presente livro constituem um bom exemplo da importância e da força de processos participados. Penso poder afirmar que para todos nós, equipa do MSS, desde o início da realização da pré-conferência em Fevereiro até à redacção final dos artigos para publicação em Junho, todo este processo constituiu uma oportunidade de capacitação e de formação pessoal e profissional.

Na verdade, o projecto da Conferência foi um PROJECTO INSTITUCIONAL, foi um projecto do Ministério da Solidariedade Social. E nesse sentido, quero deixar aqui expresso o meu profundo agradecimento aos membros do meu gabinete, do gabinete do director-geral, do gabinete de inspecção e auditoria e a todos e a cada um dos funcionários do Ministério,

relativamente aos quais seria impossível escrever aqui os seus nomes. Mas é a todos vós que presto aqui uma homenagem!

Volvidos quase cinco anos intensos de governação, sentia a necessidade de parar e reflectir sobre o caminho percorrido. Muitas dúvidas me assolavam a alma! A alma da mulher-política mas também da mulher-cidadã, da mulher-activista, da mulher-mãe, da mulher companheira...

Lancei o desafio de olhar para o caminho até aqui percorrido! E, graças à cumplicidade e ao compromisso de todos os que directa e indirectamente estiveram envolvidos, o sonho tornou-se realidade.

A todos um sentido e sincero Obrigado!

Maria Domingas Fernandes Alves

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A CHAMA ARDENTE DOS HERÓIS VIBRA NOS CORAÇÕES DOS FILHOS QUE AMAM A PÁTRIAE ACREDITAM FAZER O MELHOR P’LO POVO DE TIMOR-LESTECOM RESPONSABILIDADE, ABNEGAÇÃO E PRUDÊNCIA…

“Dez anos depois” do início da construção de um Estado de Direito Democrático assente nos princípios dos Direitos Humanos e do começo do desenvolvimento de políticas públicas e de programas e servicos sociais, confrontamo-nos no nosso quotidiano com situações de pobreza e forte privação social.

Falo das habitações pouco dignas, das crianças na rua a “pedir um dolar” ou a lavarem taxis, dos jovens com poucas oportunidades de acesso ao emprego, dos constantes episódios de violência doméstica e baseada em género e tantas outras situações que povoam este nosso tão amado País. Um país construído sob o sangue derramado pelos nossos heróis, num mosaico de sofrimento que os filhos e as filhas deste povo Maubere souberam resgatar abnegadamente oferecendo a sua vida em troca da liberdade e da independência deixando a sublime herança de “LIBERTAR O POVO”.

As estatísticas e os resultados de estudos empíricos realizados por diferentes agências de apoio ao desenvolvimento mostram que a maioria das famílias timorenses ainda vivem num limiar abaixo de pobreza absoluta, sobretudo no meio rural, e que por outro lado, os padrões de distribuição da riqueza e do rendimento têm vindo a aumentar as desigualdades sociais, apesar da pobreza absoluta e relativa estar a diminuir.

Prefácio

 

Mas esta constatação não é motivo para desistirmos desta longa e complexa caminhada de construção de um Estado Social alicerçado num desenvolvimento sustentável. Pelo contrário, responsabiliza-nos no sentido de definirmos com clareza e serenidade as obrigações e as responsabilidades de todos os actores: dos orgãos de soberania do Estado, da sociedade civil, incluindo a hierarquia da Igreja Católica e outras confissões religiosas, das comunidades e do mercado que começa a despoletar.

Contudo, é de extrema importância desfraldarmo-nos da dependência crónica, do comodismo, do clientelismo, do favoritismo e das garras da corrupção, que constituem causas de um retrocesso no desenvolvimento de um país com uma população jovem, produtiva e que sonha com um futuro promissor.

Não devemos descurar o facto de que as políticas e as decisões tomadas nos últimos 10 anos e as que serão nos próximos 10, comprometem a vida das gerações vindouras. Se a semente que semearmos hoje é sã e robusta, os nossos filhos colherão frutos bons e sãos.

Este livro que o Ministério da Solidariedade Social agora apresenta pretende ser um contributo de cidadãos-servidores e continuadores do legado deixado pelos heróis e mártires da pátria; faz parte de uma memória institucional que revela um questionamento e uma reflexão profunda acerca do trabalho realizado e das mudanças necessárias para uma efectiva edificação de um Estado Social em Timor-Leste.

Para o Ministério da Solidariedade Social a melhor forma de celebrar os 10 anos de independência de Timor-Leste é renovar o compromisso e redobrar o empenho para a melhoria dos programas sociais, de modo a promover a melhoria das condições de vida da população e a valorização da cidadania.

Maria Domingas Fernandes Alves

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O presente livro resulta do trabalho desenvolvido na primeira conferência realizada pelo Ministério da Solidariedade Social (MSS) de Timor-Leste. Esta conferência, que se integra nas comemorações dos dez anos de independência de Timor-Leste e em que se reconhecem os esforços realizados pelos diferentes Governos Constitucionais, teve como objectivo central efectuar um balanço sobre os primeiros dez anos de programas sociais no país e sobre o seu contributo na construção do Estado Social em Timor-Leste.1

Deste modo, com a presente publicação pretende-se não somente divulgar os programas sociais desenvolvidos e executados pelo MSS, mas igualmente sistematizar os principais resultados e contributos da reflexão e avaliação por peritos, no sentido de promover melhorias concretas nos programas e nos serviços sociais, com vista a uma maior eficácia e alcance dos mesmos no cumprimento dos seus objectivos de Protecção Social.

O livro foi elaborado essencialmente com base em doze artigos produzidos pelas Direcções Nacionais do MSS, em que se descrevem os respectivos programas e serviços, incluindo a apresentação e análise de resultados concretos alcançados, uma componente de avaliação dos respectivos impactes a vários níveis, bem como os principais constrangimentos.

Com esta componente de reflexão, que consideramos essencial, pretende-se sobretudo identificar um conjunto de recomendações e de metas futuras que promovam, no horizonte dos próximos dez anos, a melhoria da eficácia dos programas e dos serviços, com vista a promover a sustentabilidade e a assegurar plenamente a Protecção Social e a valorização da Cidadania.

Tendo por base a necessidade de integração dos diferentes programas sociais desenvolvidos pelas Direcções Nacionais do MSS, e tendo em vista o desenho de uma política integrada e sustentável de Protecção Social para Timor-Leste, os artigos foram organizados segundo os seguintes quatro eixos temáticos:

Nota IntrodutóriaEIXO 1 Protecção Social de Cidadania (Garantias Universais): apresentação de alguns serviços sociais, tais como a distribuição alimentar, o serviço funerário, o serviço de atendimento social, as transferências pecuniárias – concretamente, o programa Bolsa da Mãe e o Subsidio de Apoio a Idosos e Inválidos –, o apoio a instituições da sociedade civil que desenvolvem objectivos de protecção social e o serviço de apoio a pessoas portadoras de deficiência.

EIXO 2 Intervenção Social em Situações de Emergência (Assistência Humanitária): apresentação das acções, de mitigação ou de prevenção, que têm sido desenvolvidas e implementadas perante a ocorrência de “desastres naturais ou sociais”, ou seja, de problemas decorrentes de factores ambientais ou provocados por factores político-sociais.

EIXO 3 Regime Especial dos Combatentes de Libertação Nacional e Veteranos: apresentação das políticas de reconhecimento e valorização, de protecção social e de preservação da memória dos CLN, as quais têm sido, desde a restauração da independência, uma prioridade para o Estado Timorense, assumindo um lugar prioritário nos programas dos quatro Governos Constitucionais.

EIXO 4 Segurança Social dos Trabalhadores (Seguro Social Obrigatório): apresentação da política de Segurança Social para Timor-Leste, a qual instaura um novo marco no sistema de Protecção Social do país, através da introdução de um modelo de seguro social contributivo em que se pretende assegurar a todos os trabalhadores o direito de garantia de rendimento perante os principais riscos sociais associados ao trabalho.

Para além dos doze artigos incluem-se ainda como conteúdos a Intervenção de Sua Exa. o Primeiro-Ministro, a Intervenção da Senhora Ministra da Solidariedade Social, o Enquadramento Geral, os contributos de seis peritos e as Conclusões.

1Conferência realizada nos dias 16, 17 e 18 de Fevereiro de 2012, no Centro de Convenções de Díli.

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Fotografía: MSS

Alocução de Sua Excelência o Primeiro Ministro da República Democrática de Timor-LesteKay Rala Xanana Gusmão Por ocasião da sessão de abertura da Conferência

Excelências,Caros Convidados,Senhoras e Senhores,

Em primeiro lugar, não posso deixar de congratular a Senhora Ministra da Solidariedade Social, e a sua equipa, pela excelente iniciativa de organizarem uma Conferência sobre o contributo dos programas sociais na construção de um Estado Social, um tema que é de toda a importância para Timor-Leste.

Foi há relativamente pouco tempo que conquistámos a nossa Soberania e Independência Nacional. Foi há apenas doze anos que encerrámos um período trágico da nossa história, durante o qual se perderam muitas vidas e que, de uma forma geral, deixou marcas profundas na nossa sociedade.

O período de guerra que atravessámos no passado recente, apesar de ter afirmado a dignidade e o espírito dos timorenses, deixou muitas viúvas, órfãos, deficientes e, também, veteranos e idosos que consagraram a sua vida à causa da libertação nacional, que, hoje, são pobres, porque nunca tiveram a oportunidade de lutar por uma vida melhor, para eles próprios e para as suas famílias.

É exactamente por esta razão que Timor-Leste nunca, em circunstância alguma, poderia formar um Estado que não fosse um Estado Social.

Senhoras e senhores,

Nesta última década, apesar desta carga tão pesada que herdámos,

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e de termos arrancado sem infra-estruturas básicas, sem capital humano qualificado, sem recursos financeiros próprios, sem instituições democráticas e, digo mesmo, sem qualquer tipo de memória institucional, conseguimos construir um Estado Democrático e consolidar a Nação Timorense!

Em apenas dez anos temos motivos para nos orgulhar dos progressos consideráveis que alcançámos em várias frentes – politicamente, socialmente, economicamente e diplomaticamente. Apesar de alguns retrocessos e falhas graves, durante este período de construção do Estado nunca rejeitámos um desafio, nunca desistimos de tentar fazer melhor e temos, pouco a pouco, de forma resiliente, vindo a aprender e a crescer enquanto Nação.

Aprendemos com o nosso Povo que os momentos difíceis têm que ser ultrapassados com coesão, envolvendo todos – o Estado, a Igreja, as ONGs, o sector privado e a Sociedade Civil no seu todo. A essência da construção de um Estado Social em Timor-Leste passa, necessariamente, por uma forte componente de participação democrática para encontrar soluções para a inclusão social e para a protecção dos mais vulneráveis.

Na prossecução da missão de desenvolvimento nacional, o Governo encara as políticas de protecção social como uma prioridade.

À medida que temos vindo a crescer economicamente, e também graças à nossa reserva de recursos naturais, temos que distribuir a nossa riqueza por aqueles que mais necessitam.

Trata-se de dar dignidade àqueles que nos deram a liberdade.

Trata-se de proteger as famílias timorenses que ainda vivem no limiar da pobreza.

Trata-se de dar resposta a situações de emergência humanitária, já também temos que enfrentar os efeitos da mudança climática global ou, como infelizmente aconteceu em 2006, porque saidos de uma situação pós-conflito, teve-se que adoptar uma política de recuperação em grande escala.

Os programas de protecção social implementados pelo Ministério da Solidariedade Social têm sido fundamentais para alcançar estes objectivos.

Os programas sociais têm, nesta fase ainda inicial de construção do País, aliviado a pobreza extrema de um sector fraco da nossa população e protegido os mais vulneráveis. Têm também, ainda que de forma muito modesta, contribuído para dinamizar a economia, já que ao apoiar as redes familiares, estamos a criar oportunidades de empreendorismo que têm levado à abertura de pequenos negócios por todo o País.

Excelências,Senhoras e senhores,

Para construirmos um verdadeiro Estado Social, temos que reforçar ainda mais as políticas do Governo dirigidas aos mais pobres. Não só através da continuação de apoio social aos grupos mais vulneráveis, de onde destaco os idosos, mulheres, crianças em risco e os incapacitados, mas também através da construção de uma base sólida de Protecção Social, ajustada à nossa realidade demográfica, económica e administrativa, jurídica, social e cultural.

Para que isto aconteça estamos a desenvolver uma base legal adequada e mecanismos eficientes, em que se exige responsabilidade aos cidadãos timorenses mas também se oferecem diferentes opções. Neste aspecto, não podemos deixar de ponderar o factor da sustentabilidade do sistema, pois temos que nos precaver dos impactos a médio e longo prazo.

Entendemos que construir um Estado Social, um Estado solidário que valoriza a cidadania, não é transformar a nossa sociedade em duas classes: a dos pedintes e a dos contribuintes!

O Estado Social não é um Estado que faz caridade mas antes um Estado que intervém na sociedade, desenvolvendo sistemas de protecção social para garantir a protecção individual, ao mesmo tempo que cria as condições necessárias para que os mais pobres sejam os agentes de estratégias de dignidade para a saída da pobreza.

Para tal é premente uma profunda avaliação conjunta das possíveis

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soluções para as desigualdades sociais e o envolvimento directo das pessoas carenciadas na procura da saída da pobreza, envolvendo-as nas escolhas dos caminhos a fazer em direcção à prosperidade, numa atitude participativa e responsável da vivência em sociedade.

A participação e a contribuição de todos contra a tragédia da pobreza são os fundamentos de uma cultura democrática. Só com uma atitude colectiva de responsabilização e sentido de cidadania, conseguiremos desenvolver o País em termos económicos, sociais e humanos.

Os princípios gerais que Timor-Leste pretende seguir são básicos e penso que universais:

• Acesso por parte de todos os cidadãos à protecção social;• Princípio da igualdade e da não-discriminação;• Princípio da equidade, para um tratamento igual em situações iguais e um tratamento diferenciado em situações desiguais;• Princípio de complementaridade, nas políticas desenvolvidas pelo Estado e nas acções desenvolvidas em parceria com a Sociedade Civil; • E, finalmente, a inserção social, combatendo as causas da marginalização e da exclusão social e promovendo a capacidade das próprias pessoas para se integrarem numa vida social activa.

Temos, na sequência deste último ponto, que começar também a dar mais atenção aos nossos jovens que, fruto de um legado de violência e desconfiança, podem não ter assimilado os genuínos valores de cidadania. Além disso, encontrando na sua vida quase adulta as adversidades do desemprego e da desocupação, podem, facilmente, entrar em situação de risco.

É neste sentido que digo que a construção de um Estado Social é um tema bastante complexo, sendo que as políticas sociais têm que estar estrategicamente integradas a outras políticas sectoriais de desenvolvimento.

ExcelênciasSenhoras e senhores,

Espero que no decorrer desta Conferência surjam soluções viáveis para a construção de um Estado Social. Apelo para uma reflexão conjunta sobre as formas mais adequadas para o fazer, para melhor avaliar, para aplicar as lições aprendidas e não repetir eventuais erros cometidos, para reforçar os programas implementados e, mesmo, para esboçar novos programas.

No Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030, traçámos algumas estratégias e acções para o futuro, reconhecendo que a: “A verdadeira riqueza de qualquer Nação é a força do seu povo. A maximização da saúde, educação e qualidade de vida gerais do povo timorense são essenciais para se conseguir uma Nação justa e desenvolvida”. Esta é, para mim, a definição de um Estado Social, esta é a visão que tenho e, acredito todos vós tendes, para Timor-Leste.

Este compromisso coloca muitos desafios financeiros, sociais e culturais, mas todos sabemos que um dos aspectos de uma Nação forte, coesa e progressiva, é a capacidade de proteger os direitos e os interesses dos seus cidadãos mais vulneráveis.

Para terminar, senhoras e senhores, não posso deixar de agradecer àqueles que vieram de longe para participar nesta conferência e dar os seus contributos para o desenvolvimento de um Sistema de Protecção Social justo e adequado à nossa sociedade.

Em matéria de solidariedade internacional, temos tido a sorte de poder contar sempre com a ajuda desinteressada de vários países e cidadãos de todo o mundo. Enquanto recipientes de doação internacional, nestes últimos dez anos, temos ainda maior obrigação de aplicar em Timor-Leste sistemas verdadeiramente eficazes de protecção social e ajuda ao desenvolvimento individual dos cidadãos timorenses. Se falharmos em termos de atribuir melhores condições de vida a Todos os timorenses, falhámos no nosso ideal de Independência.

Muito obrigado.

Kay Rala Xanana Gusmão

Díli, 16 de Fevereiro de 2012

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Excelências,Minhas Senhoras e meus Senhores,

É com muita honra e profundo agradecimento que vos acolhemos nesta Conferência subordinada ao tema: “10 anos depois: o contributo dos programas sociais na construção de um Estado Social em Timor-Leste”.Uma vez mais sejam bem-vindos excelências, minhas senhoras e meus senhores.

Agradeço ao mais Alto Omnipotente pelas dádivas concedidas no percurso da Nossa Luta pela Independência até chegarmos ao décimo ano da sua Restauração. Reconhecendo a memória dos mártires e heróis da pátria que deram as suas vidas pela nossa Independência e Liberdade, a qual nos permite organizarmos esta conferência no âmbito das festividades dos “10 anos da restauração da nossa independência, 100 anos da Revolta de Manufahi e 500 anos da chegada dos Portugueses”.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

É realmente um momento oportuno e histórico para avaliarmos a boa vontade política do Estado Timorense na promoção da protecção social e valorização da CIDADANIA, traduzida nos programas dos I, II, III e IV Governos Constitucionais, ao longo dos últimos 10 anos.Honramos os princípios justos e coerentes do nosso Estado que instituiu a “Segurança e Assistência Social” como um direito do cidadão, consagrado no artigo 56º da Constituição da RDTL.

PALAVRAS DE ACOLHIMENTO DE SUA EXCELÊNCIA A MINISTRA DA SOLIDARIEDADE SOCIAL DA RDTL, MARIA DOMINGAS FERNANDES ALVES

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Minhas Senhoras e meus Senhores,

Olhando a nossa história, tentamos reflectir sobre a estrutura sócio-cultural do povo timorense, e de como já estávamos organizados política e administrativamente associando a revolução de Dom Boaventura, um descendente feudal dos pequenos reinados dos Liurais e da pequena elite da sociedade de então.

O gesto revolucionário de Dom Boaventura contra a presença dos Portugueses veio concretizar-se com a Revolução dos Cravos do 25 de Abril de 1974, que o próprio Governo Português, enquanto potência administrante, concede às suas colónias, o direito à auto-determinação e à independência.

Entretanto, e não esquecendo que estávamos em plena “guerra fria”, no palco real da vida quotidiana, devido à imaturidade política dos timorenses, registaram-se inesperadamente os acontecimentos trágicos da guerra civil, que justificaram a invasão da Indonésia e o estabelecimento de um Estado-de-facto por um período de 24 anos, após a Proclamação Unilateral da Independência pela FRETILIN, no dia 28 de Novembro de 1975.

Daí a luta da resistência dos Timorenses pela independência, inicialmente liderada por Nicolau Lobato e, mais tarde, pelo Maun Boot Xanana Gusmão, RECONHECIDA na arena internacional e que culminou com o processo do Referendum no dia 30 de Setembro de 1999, após a reforma do regime militar encabeçada pelo movimento dos estudantes universitários da indonésia para a Democratização, tendo sido o governo de Habibie a anunciar as duas opções, à então 27ª província da Indonésia, Timor-Leste.

Perdoem-me se por ventura ao resgatar aqui os acontecimentos históricos, possa causar algum desconforto, mas não é minha intenção ofender, e muito menos recriminar, os Actores Políticos e países como Portugal que, dada a existência de laços históricos que nos unem, como a língua e a religião, nos ajudaram e ajudam a afirmar a nossa identidade no contexto regional.

Distintos Convidados,Minhas Senhoras e meus Senhores,

No seio do debate teórico acerca do conceito de pobreza – como seja a pobreza absoluta, a pobreza relativa, a pobreza subjectiva - deveríamos reflectir sobre os vários factores históricos, políticos, sócio-económicos e culturais que configuram as causas da pobreza em Timor-Leste - uma possível pobreza estrutural?

Os factores históricos em Timor-Leste demonstram a existência de fortes desigualdades nas oportunidades, no desequilíbrio no acesso às riquezas, provocando fortes discrepâncias geográficas, entre os centros urbanos e rurais, entre o litoral e o interior, e nos comportamentos sócio-culturais que provocaram a exclusão e a marginalização de uma parte da sociedade, tais como a diferenciação do acesso à escola entre rapazes e raparigas. Essas condições de vida traduziram-se na falta de rendimentos para assegurar as necessidades básicas dos cidadãos, na perda de poder e de participação, do empowerment, nas várias dimensões da vida individual, familiar e social. Hoje os dados revelam-nos que existe uma grande discrepância entre Díli e o resto do país: as zonas rurais apresentam os grupos sociais mais pobres e as zonas urbanas os mais ricos. No caso de Díli, os 20% mais ricos detêm 71% do total da riqueza no distrito, enquanto os 20% mais pobres detêm 0,4 % da riqueza (Dados do Inquérito demográfico e de saúde de 2009-2010).

Meus Senhores, minhas Senhoras,

Fazendo uma retrospecção a um passado histórico ainda recente, iniciamos o processo de construção do Estado, com mais de 67% das nossas infra-estruturas destruídas, com a morte de muitos irmãos e irmãs, com muitas famílias separadas por imperativos da Guerra. A estrutura sócio-cultural sofreu todos esses impactos. As comunidades que regressavam da diáspora dos países onde se refugiaram, ou os que estavam em exílio, instalaram-se nas cidades em busca da segurança e do restabelecimento de uma vida sã. Reinava a euforia da independência no meio das cinzas onde as pertenças que constituíam a alma desse povo foram totalmente destruídas pelas

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chamas de fogo. Mas tudo foi aceite em troca da sua liberdade e da sua independência.

Foi com base neste cenário dantesco, que o Estado, após uma avaliação geral e consulta nacional, definiu “A Luta contra a pobreza como uma causa nacional”, desde o I Governo Constitucional (Visão 2020).

Distintos Convidados! Minhas Senhoras e meus Senhores,

A pobreza é um fenómeno multidimensional (social, económico, cultural e subjectivo...) ao qual corresponde a necessidade de desenvolver uma intervenção integrada e multi-sectorial pelos diferentes actores envolvidos, sendo fundamental a articulação estreita entre o Estado, as comunidades e a sociedade civil.

Neste sentido, reconhecemos o papel fundamental das instituições da sociedade civil que prosseguem objectivos de protecção social, numa acção complementar ao Estado.

Na sua governação, o IV Governo Constitucional definiu “os serviços sociais e a descentralização da prestação de serviços” e a “protecção social e serviços sociais” como prioridades nacionais, assumindo o compromisso político no Plano Estratégico Nacional.

Mas a construção de um Estado não se faz em 10 anos, e o nível de desenvolvimento do país tem implicações na implementação dos programas e serviços. Dificuldades na identificação dos beneficiários e nos pagamentos das prestações - resultantes da ausência de entidades bancárias nas áreas mais remotas e do isolamento das populações - são alguns dos factores que contribuem para a menor eficácia e eficiência dos programas.

Contudo, o MSS procurou desenvolver esforços e encontrar soluções para contornar estes constrangimentos, quer reavaliando os seus procedimentos, procurando alternativas de pagamento das prestações sociais (através das

micro-finanças), bem como capacitando os seus recursos humanos - de que destaco a promoção do curso de mestrado em parceria com a UNTL e o ISCTE-IUL (Universidade Portuguesa).

Não posso deixar de referir a importância da realização de estudos e pesquisas, como os que vão ser apresentados durante a Conferência, pelo Banco Mundial e ADB, porque nos ajudam a conhecer e a compreender melhor a realidade social do país e das comunidades, assim como nos ajudam a tornar mais eficaz a nossa prestação e implementação dos programas e serviços sociais.

Meus Senhores e minhas Senhoras,

Nestes 5 anos de governação, o MSS procurou desenvolver o seu trabalho alicerçado em leis, decreto-leis, diplomas ministeriais, manuais de procedimentos e implementação, políticas e directivas internas, contratos e acordos, garantindo assim uma base legal e uma gestão administrativa eficaz e eficiente. Os trabalhos de planeamento da Direcção da Administração e Finanças foram imprescindíveis para a implementação do OGE, para a execução orçamental dentro dos parâmetros da Lei da Gestão Pública Financeira.

Quero igualmente aproveitar a oportunidade para destacar a disciplina e o empenhamento dos funcionários quer nos cargos de chefias, quer técnicos, profissionais, motoristas, assistentes, assessores nacionais e internacionais, que deram o seu maior apoio aos quatro membros do Governo deste Ministério. Foi o empenhamento de todos que tornou possível a implementação dos programas sociais ao longo destes quase cinco anos.

Distintos Convidados,

Timor-Leste torna-se independente num mundo cada vez mais globalizado e interdependente, onde parece não existir fronteiras entre países em vias de desenvolvimento e os já desenvolvidos.

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Vivemos hoje num único planeta onde países no ocidente, com uma administração já desenvolvida e um sistema de segurança social maduro, enfrentam actualmente a crise financeira, a recessão económica onde as políticas de austeridade constituem imperativos para uma solução mais adequada e eficaz. Por outro lado, a mudança climática e seus impactos causam outros prejuízos na vida social dos cidadãos desses países. Embora existam outros factores, como práticas de corrupção, de favoritismo ou desenvolvimento de políticas que impedem um crescimento económico sustentável, as notícias que nos chegam mostram-nos que as primeiras respostas às situações de crise se traduzem sempre no corte das pensões e mais regalias dos trabalhadores e na maior competitividade do mercado de trabalho.

Volvidos 10 anos, Timor-Leste precisa de aprender com as experiências dos países que assistem ao “recuo” do seu Estado Social na promoção e garantia dos direitos sociais dos cidadãos. Neste sentido, queremos ancorar as nossas decisões políticas em estudos técnicos que nos apontem o caminho da sustentabilidade.

É realmente um desafio para Timor-Leste a sua opção por um Estado Social, mas este não pode constituir um fantasma para as decisões na hora certa.

O importante é a coragem e a determinação para a construção do Estado assente em práticas de boa governação, de uma gestão administrativa e financeira transparente e responsável, num investimento seguro do fundo do petróleo, com cidadãos responsáveis, não admitindo oportunismos, favoritismos, garantindo um Estado de Direito democrático e promovendo um ambiente propício ao desenvolvimento do sector privado.

Enquanto membro das Nações Unidas, Timor-Leste teve que aderir a muitas convenções internacionais, inclusivamente aos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio, que impõe as oito metas a atingir em 2015. Com esta corrida desenfreada de situar a sua posição, liderando os estados frágeis, integrado nas comunidades da CPLP e como observador da ASEAN, também terá as suas obrigações como Estado-membro.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Para finalizar, não posso deixar de referir o apoio dos parceiros internacionais na ajuda ao desenvolvimento, desde a cooperação portuguesa, a cooperação brasileira, a todas as agências das Nações Unidas, ao Banco Mundial, ONG’s internacionais e nacionais e agências bilaterais de cooperação.

São já 10 anos de trabalho pelo nosso país procurando apoiar quem mais precisa e valorizando a cidadania de todos!

Esta Conferência é uma oportunidade para mostrarmos o que temos realizado e, sobretudo, uma oportunidade para em conjunto e com a ajuda dos Peritos aqui presentes, aprendermos a fazer melhor! A todos o meu muito Obrigada!

Maria Domingas Fernandes Alves,

Díli, 16 de Fevereiro de 2012

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TIMOR-LESTE

Geografia:

Timor-Leste é um pequeno país do Sudeste Asiático, que ocupa a parte oriental da

ilha de Timor, fazendo igualmente parte do seu território a ilha de Ataúro, a norte da

costa de Díli, o ilhéu de Jaco, no extremo leste, e o enclave de Oecussi, situado na

costa norte da parte ocidental de Timor. O total do território de Timor-Leste perfaz

uma área de aproximadamente 15 mil km², com uma densidade populacional de

cerca de 70 pessoas por Km².

Divisão Administrativa:

13 Distritos, 65 Subdistritos, 442 Sucos e 2228 Aldeias1. Os distritos de Díli, Baucau

e Ermera apresentam um maior volume de população (43%); Manatuto, Aileu e

Manufahi são os menos povoados (13%).

População:

O total da população é de 1.066.582 habitantes, 544.198 homens e 522.211

mulheres, com uma taxa de crescimento anual de 2,4% desde o Censo de 20042. Em

termos de distribuição por grupos etários, a população é predominantemente jovem:

41,4% são crianças (0 - 14 anos), 53,9% estão em idade produtiva (15 - 64 anos)

e 4,7% são idosos (65 ou mais anos)3. Cerca de 77% da população vive em zonas

rurais. Aproximadamente um quinto da população (22%) vive na capital, Díli.

Língua:

O Tétum e o Português são as duas línguas oficiais, sendo o Bahasa Indonésio e o

Inglês consideradas línguas de trabalho e de algum uso na administração pública.

Apesar de o Tétum ser a língua mais usada, são faladas no país mais de 20 línguas

ou dialectos. Quase metade da população compreende o Bahasa Indonésio, menos

de 5% o Português, e cerca de 2% o Inglês4.

Breve caracterização histórico-política:

Timor-Leste esteve sob o domínio de Portugal até 1975 – excluindo o período de

1942 a 1945, em que foi ocupado pelo Japão – ano esse em que o país declarou

Enquadramento Geral

1Fonte: Censos 2010, Timor-Leste.

2Fonte: Censos 2010, Timor-Leste.

3 Fonte: Censos 2010, Timor-Leste.

4Fonte: Relatório de Desenvolvimento Humano em Timor-Leste, PNUD, 2006.

a sua independência do Estado Português (a 28 de Novembro de 1975), mas logo

foi invadido e ocupado por forças indonésias 9 dias depois (a 7 de Dezembro).

Consequentemente, Timor-Leste foi incorporado como província da Indonésia

em Julho de 1976, permanecendo durante 24 anos sob o domínio autoritário e

fortemente opressivo do Governo indonésio. Entre 1974 e 1999, estimam-se 102.800

mortes relacionadas com o conflito (cerca de 18.600 mortes e 84.200 “excesso”

de mortes por fome e doenças), a maioria das quais ocorreu durante o período de

ocupação indonésia.5 Por outro lado, os programas de deslocamento forçado das

populações, financiados pelo Estado, resultaram no restabelecimento de aldeias

inteiras.

Em 1999, na consulta popular realizada a nível nacional, sob a responsabilidade

e condução das Nações Unidas, para determinar se o país permaneceria uma

região autónoma da Indonésia ou se tornaria num Estado independente, a maioria

esmagadora da população votou pela independência de Timor-Leste. Imediatamente

após esta consulta nacional, as milícias anti-independência de Timor, organizadas

com o apoio de militares indonésios, iniciaram uma campanha altamente punitiva e

de violação dos direitos humanos, que destruiu a maioria das infra-estruturas do país

(cerca de 70% da infra-estrutura económica), matou cerca de 1.400 timorenses e

provocou a saída forçada de 300.000 pessoas para Timor Ocidental como refugiados.

Em 1999, a Força Internacional para Timor Leste (INTERFET) foi implementada

no país com vista a assegurar o fim da violência. Após um período de transição,

sob a administração das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET), o país foi

internacionalmente reconhecido como independente a 20 de Maio de 2002,

tornando-se oficialmente conhecido como a República Democrática de Timor-Leste.

Poucos anos após a restauração da independência, em 2006, o país é assolado

por uma crise de origem político-militar, cujo impacto foi devastador para o país,

provocando o colapso das frágeis instituições estatais recentemente constituídas e

a deslocação interna em massa de aproximadamente 100.000 pessoas. O contexto

político-social levou a que a população deslocada procurasse abrigo em campos

de refugiados ou em casas de familiares nos distritos, dando origem a uma crise

humanitária de grandes proporções, com consequências ao nível da saúde, dos

meios de subsistência e do bem-estar da população em geral. 5Fonte: UNESCO, 2009.

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CONTEXTO SOCIAL

Timor-Leste é um dos países mais recentes do mundo, com apenas 10 anos de independência e de governação democrática, e com uma história marcada por uma sucessiva ocupação estrangeira (ver breve caracterização histórico-política). Os vinte e quatro anos de ocupação indonésia, sob um regime extremamente opressivo, deixaram marcas profundas no território de Timor-Leste e no povo timorense. A política de descaracterização do território, de violência e de devastação assolou a população a vários níveis – físico, psicológico e moral – afectando dramaticamente as famílias, as relações geracionais, os aspectos sociais, culturais e religiosos, os meios de sobrevivência, as condições habitacionais e as infra-estruturas.

O país celebra este ano 10 anos de restauração da independência. Ao longo da última década, muitas páginas foram escritas sobre Timor-Leste e a sua maioria deixa transparecer o sonho do povo timorense: ser livre e independente, e decidir o seu próprio destino.

Timor-Leste sobreviveu a um período traumático da sua história e o seu povo mostrou uma capacidade extraordinária de superar as adversidades e uma determinação invulgar em manter o seu destino nas suas próprias mãos.

Em 2002 tornou-se o primeiro Estado do terceiro milénio e, enquanto jovem Nação, teve que ‘recomeçar do zero’. Desde esta data memorável, o Governo deu passos firmes e iniciou a adopção de medidas concretas no sentido de construir um país democrático e um Estado Social, que assegurasse os direitos e as liberdades fundamentais da população, a estabilização nacional, o desenvolvimento integrado e sustentável e a luta contra a pobreza, no quadro geral de apoio e de cooperação das Nações Unidas6, bem como de diversas organizações nacionais e internacionais.

A aprovação da Constituição da República Democrática de Timor-Leste a 22 de Março de 2002 constituiu o primeiro grande passo no processo de construção de um Estado promotor dos direitos, deveres, liberdades e garantias fundamentais de todos os cidadãos timorenses.

6As Nações Unidas estão presentes em Timor-Leste desde 1999. Na sequência da crise de 2006, o escritório das Nações Unidas (UNOTIL) foi substituído pela UNMIT (United Nations Integrated Mission in Timor-Leste), uma missão integrada de manutenção de paz, através da Resolução 1704 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, de 25 Agosto de 2006. A UNMIT está presente em Díli desde essa data, estimando-se que seja encerrada a 31 de Dezembro de 2012. De acordo com o seu mandato, a UNMIT tem como principais competências apoiar o Governo na consolidação da estabilidade, na promoção de uma cultura de governação democrática e na facilitação do diálogo político entre as partes interessadas nacionais, no processo de reconciliação nacional e de promoção da coesão social.

No entanto, não bastando a independência associada à democracia para se atingir o desenvolvimento, serão necessários muitos anos para a construção e consolidação dos pilares de um Estado Social.

Com a perspectiva de recursos financeiros substancialmente maiores, provenientes das receitas do petróleo e do gás, o Governo acredita que a Nação deve ser mobilizada para o combate à pobreza, considerando-o como uma causa nacional e atribuindo uma prioridade elevada à execução efectiva dos programas com vista à redução da vulnerabilidade e da insegurança alimentar, à melhoria dos serviços de saúde e de educação.

Apesar dos esforços dos diversos governos constitucionais, nos últimos 10 anos, em promover o desenvolvimento sustentável, o combate à pobreza e o alcance de resultados eficazes em termos de desenvolvimento social, Timor-Leste permanece ainda como um dos países mais pobres do mundo e um dos mais pobres da região.7

A pobreza é particularmente severa nas áreas rurais, onde há uma forte dependência contínua da agricultura de subsistência e escassez de alimentos. Existe, ainda, um elevado número de pessoas que ainda não dispõe de acesso a serviços básicos – incluindo educação, saúde, água potável e saneamento –, vivendo em situação de grande isolamento.

Nos padrões de distribuição do rendimento e da riqueza verifica-se que têm vindo a aumentar as desigualdades, apesar de a pobreza absoluta e relativa estar a diminuir. A maioria das famílias timorenses ainda vive num limiar abaixo de pobreza absoluta, sobretudo no meio rural. Dados indicativos da prevalência da pobreza em Timor-Leste revelam que em 2001 36% das pessoas viviam em situação de pobreza. Em 2007 este valor ascendeu a 49,9% e em 2009 desceu para 41%.8

Entre 2001 e 2007, o crescimento da pobreza no meio urbano é bastante acentuado (de 25% para 45%), sendo ainda mais expressivo do que no meio rural (de 40% para 52%). No entanto, a incidência da pobreza a nível nacional é mais significativa nas áreas rurais do que nas áreas urbanas – aproximadamente 75% das famílias pobres vivem nas áreas rurais.9

7Segundo dados de 2010, a classificação de Timor-Leste em termos de Índice de Desenvolvimento Humano está acima de alguns países da região do Sudeste Asiático, tais como o Laos, o Cambodja, o Myanmar e a Papua Nova Guiné.

8Fonte: Update of Poverty Incidence in Timor-Leste using the Survey-to-Survey Imputation Method, Banco Mundial, 2009. As estimativas foram obtidas a partir dos estudos Timor-Leste Living Standards Measurement Survey (TLSS 2001) e Timor-Leste Survey of Living Standards (TLSLS 2007).

9Fonte: Timor-Leste – Human Development Report 2011, Managing Natural Resources for Human Development, UNDP, 2011.

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A incidência da pobreza em 2007 aumentou significativamente na sequência dos efeitos da crise de 2006, que provocou retrocessos no processo de desenvolvimento e deixou cerca de 10% da população timorense deslocada das suas casas, obrigando a um esforço massivo de assistência humanitária por parte do Governo, com o apoio fundamental de parceiros nacionais e internacionais. Em 2006, 64% da população sofria de insegurança alimentar, e a estimativa do rendimento per capita era de US$0,88.10

Por outro lado, a queda de nove pontos percentuais em termos da pobreza relativa, entre 2007 e 2009, é atribuída ao aumento dos níveis de crescimento económico, incluindo o aumento do consumo, causados por um maior investimento do Governo em programas de protecção social e em obras de infra-estruturas com uso de mão-de-obra intensiva.

A agricultura, a silvicultura e a pesca são a espinha dorsal da economia timorense, e as plantações de café têm sido igualmente de grande importância. De facto, as actividades profissionais mais frequentes desenvolvidas pela população (incluindo as áreas rurais e urbanas) são a agricultura, a silvicultura e a pesca, os serviços e trabalho de lojas e mercado, artesanato e actividades similares, e trabalhos não qualificados.11

O progresso económico tem sido mais lento. Relativamente à média de rendimentos anuais per capita, numa análise sumária, podemos verificar que entre 2007 e 2009 a média de rendimentos foi crescendo gradualmente: em 2007 era de US$398; em 2008 de US$499, e em 2009 de US$599.

Mas um forte crescimento económico sustentado e uma distribuição equilibrada dos benefícios do crescimento continuam a ser essenciais para as metas e objectivos estabelecidos pelo país, juntamente com a prioridade elevada relativamente à educação, à saúde e aos serviços básicos, tais como o abastecimento de água e o saneamento.

Em termos de desenvolvimento humano, tem-se verificado uma evolução positiva do país nos últimos anos – em 2008 e 2009, Timor-Leste

10Para além dos desafios resultantes do deslocamento interno da população, Timor-Leste, enquanto Estado recentemente independente, enfrenta vários outros desafios, tais como uma elevada taxa de desemprego, a divisão histórico-política desde a guerra civil, as disparidades económicas regionais, o aumento das percepções em relação às clivagens oriente-ocidente, o estado frágil das instituições e um Estado de direito ainda em vias de consolidação.

11Fonte: Censos 2010. A população timorense é maioritariamente rural, com 63% das famílias dedicadas à produção agrícola e 80% à criação de animais.

12O IDH consiste numa medida-resumo de avaliação do progresso, a longo prazo, em 3 dimensões básicas do desenvolvimento humano: 1) uma vida longa e saudável; 2) o acesso ao conhecimento; 3) um padrão de vida decente. Uma vida longa e saudável é medida pela esperança de vida ao nascer. O acesso ao conhecimento é medido i) pela média de anos de educação dos adultos, e ii) pela estimativa de anos de escolaridade das crianças em idade de entrada na escola (consistindo este último na estimativa do número total de anos de escolaridade que uma criança em idade escolar pode receber). O padrão de vida é medido pelo Produto Interno Bruto (PIB) per capita.

apresentava um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)12 com o valor de 0,497, passando a um IDH de 0,502 em 2010, colocando o país na categoria de desenvolvimento humano médio e posicionando-se em número 120, de entre um total de 169 países (segundo a classificação do relatório global de 2010)13. Isto representa um aumento de 17% a partir de 0,428 em 200514. Segundo os últimos dados disponíveis do relatório global de 2011, o país classifica-se na 147ª posição de entre um total de 186 países, apresentando um IDH com o valor de 0,495.15

Uma análise da evolução de Timor-Leste em termos de indicadores de IDH, entre 2005 e 2010, revela que a ‘esperança de vida ao nascer’ aumentou mais de 2 anos (de 59,7 para 62,1), apesar de a ‘estimativa de anos de escolaridade’ e a ‘média de anos de escolaridade’ não registarem alterações durante este período. Relativamente ao Produto Interno Bruto (PIB) de Timor-Leste, o seu valor aumentou em 228% no mesmo período.

O facto de Timor-Leste ter atingido a categoria de desenvolvimento humano médio, indicando um substancial progresso desde 2005, deve-se sobretudo ao aumento do PIB per capita cuja incidência positiva no IDH é maior do que os outros indicadores.16

Relativamente à igualdade de género, apesar de a Constituição da República Democrática de Timor-Leste (CRDTL)17 proibir a discriminação entre os sexos e prever a igualdade entre as mulheres e os homens em todas as áreas da vida – familiar, política, económica, social e cultural – e da aprovação recente da Lei Contra a Violência Doméstica18, as mulheres timorenses são ainda alvo de uma discriminação significativa e geralmente consideradas com um estatuto inferior ao dos homens, no seio da família, no local de trabalho e na comunidade. As mulheres enfrentam diversas barreiras no acesso à educação, sendo mais provável a desistência de raparigas de irem à escola, do que rapazes, e dois terços das mulheres com idade compreendida entre os 15 e 60 anos são analfabetas, em comparação com cerca de metade dos homens.

A uma elevada percentagem de mulheres analfabetas, juntam-se as taxas elevadas de fertilidade e de mortalidade materna. A maioria das mulheres

13Fonte: Global Human Development Report, UNDP, 2010. 14Fonte: Timor-Leste – Human Development Report 2011, Managing Natural Resources for Human Development, UNDP, 2011. 15Fonte: Relatório do Desenvolvimento Humano 2011 – Sustentabilidade e Equidade: Um Futuro Melhor para Todos, PNUD, 2011. 16Este aumento do PIB está relacionado com a disponibilidade de recursos minerais (gás e petróleo).

17Artigos 17º e 50º da CRDTL. 18Lei nº 7/2010, de 7 de Julho.

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trabalha na agricultura de subsistência e no sector informal, geralmente ganhando menos do que os homens. A divisão do trabalho entre homens e mulheres em Timor-Leste é fortemente legitimada por práticas, normas e valores tradicionais patriarcais, particularmente no sector rural. Em termos de violência doméstica, refira-se que aproximadamente um terço das mulheres (38%) sofreu violência física desde os 15 anos de idade.19

Prioridades e desafios do Governo

Depois da restauração da independência, Timor-Leste apelou à comunidade internacional no sentido de obter o seu apoio no que respeita à Declaração do Milénio, e comprometeu-se em atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM)20, integrando-os no primeiro Plano de Desenvolvimento Nacional21 , bem como em planos e programas posteriores.22

Algumas das estratégias assumidas pelo Governo revelam o compromisso de luta contra a pobreza e a promoção da cidadania e do bem-estar dos Timorenses.

O combate à pobreza e a redução das desigualdades sociais, o investimento em sectores como a saúde, a educação, a protecção social, a justiça, a aposta no desenvolvimento económico, na descentralização e no reforço do poder local, a reforma do sector da segurança e de defesa, a reforma e a modernização da administração pública, uma gestão transparente e rigorosa das contas públicas, o investimento em infraestruturas e na formação dos recursos humanos, todas estas estratégias têm um fim comum: promover o desenvolvimento sustentável de Timor-Leste, condições de vida dignas e o bem-estar dos timorenses, a realização da justiça e da equidade social e a expressão plena de cidadania.

Os quatro governos constitucionais têm desenvolvido, ao longo dos últimos 10 anos, medidas de redução da pobreza, de aproximação dos serviços às comunidades e de actuação em situações de emergência, e têm estabelecido programas e benefícios dirigidos às populações em situação de maior isolamento e de vulnerabilidade social.

19Fonte: Timor-Leste Demographic and Health Survey 2009-10, Ministério das Finanças, 2010. 20Timor-Leste subscreveu formalmente os ODMs em Agosto de 2003. 21Plano de Desenvolvimento Nacional de Timor-Leste, Maio de 2002. 22Os ODMs correspondem aos sete objectivos de desenvolvimento nacional estabelecidos pelo Governo: 1) melhorar o desenvolvimento político, as relações internacionais, a defesa e a segurança; 2) reduzir a pobreza e promover o desenvolvimento rural e regional; 3) incrementar o desenvolvimento social e humano: a educação e a saúde; 4) promover a agricultura, pescas e florestas; 5) gerir os recursos naturais e o ambiente; 6) promover a indústria, o comércio e o sector privado; 7) melhorar as infra-estruturas. Segundo o Relatório Nacional de Timor-Leste – Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, de 2009, elaborado conjuntamente pelo Governo e pelo Sistema das Nações Unidas, o país encontra-se a meio caminho no prazo estipulado para atingir os ODMs. Alguns indicadores de desenvolvimento humano demonstram uma melhoria estável, reflectindo um forte compromisso por parte do Governo e do povo de Timor-Leste para instaurar a mudança e trabalhar em vista de um futuro melhor.

É de destacar o Plano de Desenvolvimento Nacional (PDN) 2002-2007 de Timor-Leste, elaborado com base nos fundamentos da Visão 202023, que estabelece a visão, a projecção económica, as estratégias para o desenvolvimento nacional (planos sectoriais), com vista ao desenvolvimento económico e social do país num período de 5 anos dentro de uma perspectiva de 20 anos.

Para além das estratégias de desenvolvimento e de redução da pobreza, o PDN inclui igualmente um quadro de capacitação e uma metodologia de monitorização e de avaliação. Entre os vários desafios estabelecidos pelo Plano, destacam-se “o apoio à população pobre e vulnerável a ajudarem-se a si próprios e a reduzir a pobreza”, e a “melhoria da posição das mulheres no alcance da igualdade entre os géneros e na atribuição de mais poderes”.

O programa de 2007-2012 do IV Governo Constitucional estabeleceu como uma das principais áreas de intervenção a “Solidariedade, a Saúde e a Prestação Social na Luta contra a Pobreza”.

De igual modo, assumiu como uma das suas prioridades promover o crescimento equitativo e a justiça social, e assegurar um sistema de protecção social. “Os serviços sociais do Estado devem ser efectivos e estar capacitados para oferecer um conjunto de programas dirigidos à população carenciada, visando o desenvolvimento e a promoção da dignidade humana. (…) Dever-se-ão desenvolver projectos de protecção social dirigidos aos idosos, viúvas, mulheres e jovens”.

Em 2007 metade da população vivia com menos de US$0,88 per capita por dia, fazendo parte de metade desta população fortemente vulnerável crianças afectadas pela fome e pela subnutrição. A pobreza tem o poder de estar na origem da instabilidade social e da desordem pública, e o IV Governo fez um esforço concertado para reforçar a ligação entre a formulação de políticas e os programas, com vista a alcançar o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio 1 – Erradicar a Extrema Pobreza e a Fome, através da implementação de diferentes programas de transferência pecuniária.

23Em 2002, o Governo recém-empossado desencadeou um amplo processo de consulta ao povo de Timor-Leste em todo o território nacional, o qual expressou a sua visão do futuro, resultando na elaboração de um relatório entitulado “Timor-Leste 2020 – Nossa Nação, Nosso Futuro”. Inspirados pelos valores da resistência, os líderes carismáticos, com o apoio do povo de Timor-Leste, formularam a Visão Nacional para o ano 2020, tornando-se a base para a elaboração do Plano de Desenvolvimento Nacional de 2002-2007.

4544

De entre as sete áreas prioritárias de desenvolvimento definidas para o ano de 200924 , é de destacar a “Protecção social e a provisão de serviços sociais”, sob a competência do Ministério da Solidariedade Social (MSS) e, igualmente, do Ministério da Saúde.

Neste quadro de intervenção, o MSS prioriza quatro objectivos:

1) Reintegração dos IDPs (Internally Displaced Persons) como parte da Estratégia Nacional de Recuperação; 2) Atribuição de pensões aos combatentes de libertação nacional e veteranos; 3) Reinserção social dos grupos vulneráveis; 4) Acesso a cuidados de saúde de qualidade pelas mães e crianças.

24Designadamente: 1) agricultura e segurança alimentar; 2) desenvolvimento rural; 3) desenvolvimento de recursos humanos; 4) protecção social e provisão de serviços sociais; 5) segurança pública; 6) governação transparente e efectiva; 7) acesso à Justiça.

4746

A elaboração dos doze artigos que se apresentam de seguida constituiu um processo

participado e de colaboração estreita entre a consultora e os vários autores –

Directores Nacionais e Chefes de Departamento do MSS –, com o forte apoio dos

assessores. Foi adoptada uma metodologia de trabalho com as seguintes etapas:

1.Definição do modelo e estrutura dos artigos – Consultora.

2.Elaboração do primeiro draft dos artigos, com base no modelo proposto – Autores.

3.Análise de todos os artigos – Consultora.

4.Identificação das lacunas e procura de informação complementar e de imagens

para os artigos – Consultora.

5.Elaboração do guião das entrevistas – Consultora (guião orientativo e específico

para cada artigo/autor, sendo o objectivo das entrevistas aprofundar os artigos e

preencher eventuais lacunas).

6.Realização de doze entrevistas aos autores – Consultora.

7.Análise e reescrita dos artigos (versão mais completa) – Consultora.

8.Recomendações para a melhoria dos artigos e versão finalizada de cada artigo para

validação pelo respectivo autor – Consultora.

Foi igualmente efectuada a revisão de bibliografia e literatura relevante sobre os

programas e serviços do MSS, e de enquadramento geral das políticas e programas

do governo, bem como a recolha de informação e dados estatísticos.

Nota prévia aos artigos:

Na maioria dos textos relativos aos programas e serviços do MSS apresentados

neste livro, optou-se por referir “supervisão e acompanhamento” de actividades,

e não “monitorização”, na medida em que a monitorização é entendida como um

mecanismo que pressupõe uma metodologia e critérios de acompanhamento e de

avaliação das actividades, incluindo avaliação de resultados, de uma forma regular e

sistematizada. A maior parte dos programas do MSS não tem ainda implementado

um mecanismo de monitorização, pelo que se recomenda vivamente melhorar esta

componente essencial de intervenção (ver capítulo Conclusões).

Nota Metodológica

48 Fotografía: MSS

O MINISTéRIO DA SOLIDARIEDADE SOCIALEugénio João Amado de Maria Soares, Director Geral

eixo

1

5150

1. INTRODUçãO

O contexto histórico, social, político e económico, bem como as crises subsequentes vivenciadas em Timor-Leste deram origem a problemas sociais graves que afectaram directamente as condições de vida e os meios de sobrevivência das populações e das comunidades. Perante as emergências sociais decorrentes e as inúmeras prioridades sociais foi necessário dar uma resposta imediata e minimamente organizada.

Neste sentido, a importância da operacionalização de um sistema de protecção social tornou-se crucial com vista ao desenvolvimento de estruturas que promovessem medidas concretas e eficazes de segurança, de protecção e de assistência social à população de Timor-Leste.

Do I ao IV Governos Constitucionais foram criados organismos públicos com o objectivo central de dar uma resposta efectiva às necessidades do povo timorense, de modo a reduzir a sua vulnerabilidade social e assegurar-lhe direitos básicos e condições de vida dignas.

A estrutura do actual Ministério da Solidariedade Social (MSS) surgiu no âmbito do IV Governo Constitucional, cuja acção se tem desenvolvido através da implementação de programas e serviços de apoio aos grupos mais vulneráveis – tais como, vítimas de desastres naturais ou provocados pelo homem, crianças e jovens, pessoas idosas e/ou em situação de invalidez, pessoas portadoras de deficiência, famílias vulneráveis – e, simultaneamente, através de um programa de reconhecimento e valorização dos antigos combatentes da libertação nacional.

Nestes últimos 10 anos, e face à realidade de Timor-Leste, os diferentes Governos Constitucionais têm assumido o combate à pobreza como uma prioridade e causa nacional, procurando, deste modo, desenvolver medidas de redução da pobreza, de aproximação dos serviços, programas e benefícios às populações em situação de maior isolamento e vulnerabilidade, actuando igualmente em situações de emergência, com vista à promoção da dignidade do Ser Humano e à construção de um Estado Social em Timor-Leste.

Propõe-se de seguida analisar o contexto institucional do MSS, o seu percurso histórico, a natureza e as atribuições legalmente estabelecidas, as áreas de intervenção e os grupos-alvo, os respectivos programas e serviços, os actores internos, bem como as parcerias desenvolvidas entre o MSS e outros Ministérios e, igualmente, com as organizações da sociedade civil sem fins lucrativos. Por fim, apresentam-se alguns constrangimentos, conclusões e propostas de metas futuras.

Breve enquadramento do percurso histórico

O início da implementação de medidas de protecção social em Timor-Leste, de programas e de serviços sociais, reporta à época da UNTAET (United Nations Transitional Administration in East Timor), correspondente ao período de 1999 a 2002, do I Governo de Transição.

Durante esse período foi promovido um encontro de grande importância, no qual foram abordadas as necessidades de protecção e de assistência às pessoas idosas, às pessoas portadoras de deficiência, às crianças separadas dos pais e às mulheres vítimas de violência1.

O I Governo de Transição estabeleceu um Gabinete de Assuntos Sociais com intervenção prioritária nas áreas da saúde, educação, trabalho e vertente social. Em 2002, e na sequência do processo democrático eleitoral, a UNTAET entrega o poder aos eleitos e representantes do povo de Timor-Leste. Deste modo, o II Governo de Transição estabelece uma nova estrutura de funcionamento que delega os serviços sociais ao Secretário de Estado do Trabalho e da Solidariedade (SETS) durante o período de 2002-2004.

No III Governo Constitucional, de 2005 a 2006, é constituído o Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária (MTRC), que contempla, para além do Ministro, dois Secretários de Estado – o Secretário de Estado do Trabalho e da Solidariedade e o Secretário de Estado dos Assuntos dos Veteranos e Antigos Combatentes – e cinco Direcções Nacionais – Direcção Nacional da Administração e das Finanças, Direcção Nacional de Emprego e Formação Profissional, Direcção Nacional dos Assuntos dos Veteranos e

1 Este encontro foi liderado pela Austrália, representada por Sandra Sisnoth.

5352

Antigos Combatentes, Direcção Nacional dos Serviços Sociais e Direcção Nacional do Trabalho.

O IV Governo Constitucional (2007 a 2012) veio prosseguir e fortalecer os serviços na área social e, neste sentido, criou o actual MSS, bem como a respectiva estrutura orgânica 2.

Momentos cronológicos mais significativos

• 1999-2002 (Período transitório): Gabinete dos Assuntos Sociais da UNTAET – United Nations Transitional Administration in East Timor.

• 2002-2004: Secretaria de Estado do Trabalho e da Solidariedade Social (SETS).

• 2005-2006: Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária (MTRC).• 2007: Ministério da Solidariedade Social (MSS).• 2008: Orgânica do Ministério da Solidariedade Social.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

Base Constitucional referente à Protecção Social

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste (CRDTL) estabelece como um dos objectivos fundamentais do Estado a promoção da “edificação de uma sociedade com base na justiça social, criando o bem-estar material e espiritual dos cidadãos”.3

E, ainda, que “todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social, nos termos da lei”, cabendo ao Estado organizar o sistema da segurança social “(…) na medida das possibilidades nacionais”.4

O texto constitucional menciona, ainda, a importância de garantir e de promover os direitos e as liberdades fundamentais dos cidadãos, bem como a protecção social dos grupos mais vulneráveis, concretamente:

2 Criação do MSS através do Decreto-Lei nº 7/2007, de 5 de Setembro. Criação da orgânica do MSS através do Decreto-Lei 10/2008, de 30 de Abril.

3 Alínea e) do Artigo 6º da CRDTL.

4 Artigo 56º da CRDTL.

Igualdade entre mulheres e homens:5 “a mulher e o homem têm os mesmos direitos e obrigações em todos os domínios da vida familiar, cultural, social, económica e política”.

Protecção da Criança:6 • A criança tem direito à protecção especial por parte da família, da comunidade e do Estado, particularmente contra todas as formas de abandono, discriminação, violência, opressão, abuso sexual e exploração. • A criança goza de todos os direitos que lhe são universalmente reconhecidos, bem como de todos aqueles que estejam consagrados em convenções internacionais regularmente ratificadas ou aprovadas pelo Estado. • Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio gozam dos mesmos direitos e da mesma protecção social.

Juventude:7 • O Estado promove e encoraja as iniciativas da juventude na consolidação da unidade nacional, na reconstrução, na defesa e no desenvolvimento do país.• O Estado promove, na medida das suas possibilidades, a educação, a saúde e a formação profissional dos jovens.

Terceira Idade:8

• Todos os cidadãos de Terceira Idade têm direito a protecção especial por parte do Estado.• A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal através de uma participação digna e activa na vida da comunidade.

Cidadão portador de deficiência:9 • O cidadão portador de deficiência goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres dos demais cidadãos, com ressalva do cumprimento daqueles para os quais se encontre impossibilitado em razão da deficiência.• O Estado, dentro das suas possibilidades, promove a protecção aos cidadãos portadores de deficiência nos termos da Lei.

5 Artigo 17º da CRDTL.

6 Artigo 18º da CRDTL.

7 Artigo 19º da CRDTL.

8 Artigo 20º da CRDTL.

9 Artigo 21º da CRDTL.

5554

Lei Orgânica do Ministério da Solidariedade Social

A Orgânica do MSS refere que “é um órgão central do Governo e tem por missão conceber, executar, coordenar e avaliar a política, definida e aprovada pelo Conselho de Ministros, para as áreas da Segurança Social, Assistência Social, Gestão de Desastres e dos Combatentes da Libertação Nacional”.10

Realça-se uma particular atenção aos cidadãos em situação de maior vulnerabilidade social. Esta base legal define igualmente as atribuições e competências do Director Geral, das Direcções Nacionais, bem como das Delegações Territoriais.

Legenda:

SEAACLN Secretário de Estado dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional. SEASDN Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais. SESS Secretário de Estado da Segurança Social. GIA - Gabinete de Inspecção e Auditoria. DNAF Direcção Nacional de Administração e Finanças. DNSS Direcção Nacional da Segurança Social. DNGD - Direcção Nacional de Gestão de Desastres. DNAS - Direcção Nacional de Assistência Social. DNRS Direcção Nacional de Reinserção Social. DNACLN Direcção Nacional dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional. Dep. AGRH Departamento de Administração e Gestão de Recursos Humanos. Dep. ITC Departamento de Informação, Comunicação e Tecnologia. Dep. APROV. Departamento de Aprovisionamento. Dep. LOGIST. Departamento de Logística. Dep. P&P Departamento de Plano & Programa.

Dep.AGRH

Dep. CENTRO

REGIONALSAME

Dep.ITC

Dep.APROV.

Dep.LOGIST.

Dep.P&P

Dep.CENTRO

REGIONALMALIANA

Dep.CENTRO

REGIONALOECUSSE

Dep.CENTRO

REGIONALBAUCAU

Dep.CENTRO

REGIONALMANATUTO

Dep.CENTRO

REGIONALERMERA

DNAF DNSS

DIRECTOR-GERAL

DNAS DNRS DNACLNDNGD

GIA

MINISTRA

SEACLN SEASDN SESS

10 Artigo 1º do Decreto-Lei nº 10/2008, de 30 Abril.

A acção política do MSS, com vista à prossecução da missão legalmente estabelecida, é representada pela Ministra da Solidariedade Social e por três Secretários de Estado.11

O Ministério detém 6 Direcções Nacionais, 1 Gabinete de Inspecção e Auditoria, 20 Departamentos e 6 Delegações Territoriais, habitualmente designadas por Centros Regionais. É de salientar ainda a existência de um Gabinete Jurídico que dá apoio jurídico transversal a todo o Ministério.

Segundo a Orgânica do MSS, as Direcções Nacionais deverão intervir no desenvolvimento das políticas e dos programas direccionados às pessoas em situação de vulnerabilidade social, fortalecer as relações e a cooperação com outros órgãos governamentais e não-governamentais na implementação dos serviços de reinserção social, desenvolver programas com vista à promoção e à defesa dos direitos das pessoas.

Relativamente às Delegações Territoriais, compete-lhes operacionalizar as políticas e os programas desenvolvidos pelo MSS, bem como recolher dados quantitativos e qualitativos a nível regional.

Estas Delegações Territoriais abrangem geralmente mais de um Distrito e são, sem dúvida, as que estão mais próximas das realidades, das necessidades e dos problemas quotidianos das populações, constituindo o primeiro atendimento do MSS.12 O MSS pretende criar Centros Regionais em todos os distritos, quando possível, que sejam coordenados por directores distritais – tendo a conta a futura criação de municípios.

A forma de actuação dos diferentes programas e serviços do MSS deve ser efectuada numa perspectiva de estreita colaboração entre si, com a devida articulação das actividades desenvolvidas, com vista a promover a intervenção unitária e integrada das políticas do Ministério.13

11 Secretário de Estado dos Assuntos dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional; Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais; Secretário de Estado da Segurança Social.

12 Refiram-se as áreas de cobertura de cada Centro Regional (CR): CR de Baucau – distritos de Lautem, Baucau e Viqueque; CR de Manatuto – distritos de Manatuto e Dili; CR de Same – distritos de Manufahi e Ainaro; CR de Ermera – distritos de Ermera, Aileu e Liquiça; CR de Maliana – distritos de Bobonaro e Covalima; CR de Oecussi – distrito de Oecussi.

13 Nº 2 do Artigo 17º do Decreto-Lei nº 10/2008, de 30 de Abril.

5756

3. MISSãO, VISãO E VALORES DO MSS

Em 2009, o MSS promoveu uma reflexão conjunta e participativa entre diversos actores do sistema, tendo sido produzido o “Plano Estratégico 2009-2012”, que define a visão, a missão e os valores do Ministério.14 No mesmo ano foi igualmente elaborado o Plano de Longo Prazo 2011-2030, que estabelece as prioridades sociais do MSS a curto, médio e longo prazo.

Visão

Solidariedade Social, Protecção Social e Justiça Social para todos em Timor-Leste. Missão

Promover a solidariedade e assistência social para todos; garantir a segurança social para todos; assegurar a justiça social e a reinserção dos grupos vulneráveis; reconhecer e valorizar os antigos membros do movimento nacional de libertação; assegurar a protecção das vidas humanas, bens e ambiente dos desastres; desenvolvimento organizacional através dos esforços de desenvolvimento institucional.

As organizações são feitas por, e com as pessoas e, no âmbito desta dinâmica, importa preservar os valores pessoais, organizacionais e de serviço, nomeadamente, a solidariedade, as boas práticas de gestão e de liderança, o profissionalismo e a responsabilidade.

Alcançar a paz e a prosperidade são princípios orientadores de intervenção para o MSS.

4. ÁREAS PRIORITÁRIAS DE INTERVENçãO E GRUPOS-ALVO

Do I ao III Governos Constitucionais as áreas de intervenção incidiram prioritariamente na saúde, na educação, no emprego, na formação

14 O Plano Estratégico 2009-2012 do MSS, elaborado com o apoio do UNDP e AUSAID, incorpora as componentes da análise da política nacional, a sua missão, visão e valores, uma análise situacional interna e externa, os objectivos organizacionais e direcionais, as estratégias, as principais áreas de acção, os prazos e os planos de implementação.

profissional e nos serviços sociais, numa perspectiva de acompanhamento, de protecção e de reinserção comunitária dos grupos vulneráveis.

Tendo presente a sua missão, e com vista à garantia de uma maior protecção social, o MSS tem desenvolvido acções nas seguintes áreas: infância e juventude, apoio às mulheres, às pessoas idosas e/ou em situação de invalidez, e às pessoas portadoras de deficiência, reconhecimento e valorização dos antigos combatentes da libertação nacional, e apoio às vítimas de desastres naturais ou provocados pelo homem.

5. PROGRAMAS E SERVIçOS DO MSS

Ao longo dos últimos cinco anos, o MSS tem vindo a desenvolver e a implementar programas sociais com vista a dar uma resposta adequada e efectiva às necessidades das pessoas e das famílias vulneráveis em Timor-Leste, todos eles com o mesmo fim: reduzir a pobreza e promover o bem-estar das populações.

De 2007 a 2009 o MSS concentrou a sua intervenção na resolução do complexo problema dos IDPs (Internal Displaced Persons – pessoas internamente deslocadas), através da Estratégia de Recuperação Nacional (ERN), liderando os programas Hamutuk Hari’i Uma, Hamutuk Hari’i Protesaun e Hamutuk Hari’i Konfiansa. Concretizou a materialização do Estatuto dos Combatentes de Libertação Nacional através do início do pagamento das pensões aos antigos combatentes de libertação nacional, em Julho de 2008, e do pagamento do Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (SAII), em Agosto de 2008, garantindo com esta última medida a cobertura de mínimos de subsistência sociais universais como um direito de cidadania.

O encerramento dos 65 campos de deslocados e o retorno de cerca de 100.000 pessoas às suas comunidades, e o significado social e político da institucionalização de um conjunto de prestações sociais, contribuiram para a concretização do objectivo do Governo de promover a confiança das populações nos órgãos e nas instituições do Estado.

5958

DIRECçÕES PROGRAMAS E SERVIçOS

Direcção Nacional de Assistência Social

• Assistência alimentar e/ou em géneros a pessoas, grupos vulneráveis e instituições.

• Assistência humanitária.• Serviço de transporte funerário e de provisão de caixão.• Assistência a pessoas portadoras de deficiência.• Programa Uma Social (2009).• Institucionalização do programa Hari Paz e Coehsaun Social.

Direcção Nacional de Reinserção Social

• Programa “Bolsa de Mãe” (subsídio de apoio condicional).• Programa de apoio aos orfanatos e colégios.• Programa de apoio a instituições privadas sem fins lucrativos que

desenvolvem objectivos de protecção social (protecção da criança, vítimas de abuso, vítimas de violência baseada em género e vítimas de violência doméstica).

• Apoio na reintegração de crianças vítimas na família.• Programa de tratamento médico no estrangeiro (desenvolvido

entre 2008 até Dezembro 2010, tendo transitado para o Ministério da Saúde).

• Subsídios de apoio à geração de rendimento (apoio a grupos de mulheres na criação de auto-emprego).

• Apoio financeiro e/ou alimentar a pessoas/famílias em circunstâncias de pós internamento hospitalar.

• Apoio à reintegração de jovens delinquentes e reinserção social de prisioneiros.

• Mobilização social nas áreas rurais para a protecção das crianças. • Rede de Serviço de Atendimento Social – Animadores Sociais e

OPL.

Direcção Nacional de Gestão Desastres

• Programa de Recuperação Habitacional somente em casos de desastres naturais ou provocados pelo Homem.

• Programas de assistência humanitária em emergência às vitimas de desastres naturais e/ou provocados pelo Homem.

Direcção Nacional de Segurança Social

• Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (regime não contributivo).• Regime Transitório de Segurança Social (regime contributivo).

Direcção Nacional dos Assuntos dos Combatentes da Libertação Nacional

• Programa de atribuição de pensões aos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

• Programa de atribuição de bolsas de estudo aos filhos dos Mártires e Combatentes da Libertação Nacional.

• Valorização e reconhecimento dos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

• Jardins dos Heróis e Monumentos.• Registo dos Combatentes da Libertação Nacional. • Cerimónias de Homenagem. • Desmobilização dos Combatentes da Frente Armada. • Pesquisa, arquivo e documentação.

Após a fase de emergência, o MSS concentrou os seus esforços na construção de um sistema de protecção social para o país, iniciando simultaneamente um processo de reflexão e de avaliação. O quadro na página ao lado apresenta os programas e serviços que têm sido desenvolvidos e implementados pelas cinco Direcções Nacionais do MSS, a nível nacional.

Destacam-se, igualmente, algumas políticas públicas e leis, tais como a Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, a Lei do Regime Transitório de Segurança Social na Velhice, Invalidez e Morte para os trabalhadores do Estado, a Política Nacional para Gestão de Riscos de Desastres, a Lei Contra a Violência Doméstica, a Lei da Justiça Juvenil, entre outras.

6. PARCERIAS NACIONAIS E INTERNACIONAIS DO MSS

O MSS tem reconhecido e apoiado o trabalho social desenvolvido pelas diferentes organizações da sociedade civil sem fins lucrativos e ONG`s, na promoção dos direitos das pessoas mais vulneráveis, em particular das crianças, das pessoas portadoras de deficiência, das mulheres vítimas de violência doméstica ou de violência baseada no género.

Ao longo do seu mandato, o MSS tem procurado desenvolver um trabalho conjunto e articulado com outros departamentos governamentais, destacando-se os Ministérios da Justiça, da Educação, das Finanças, a Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL), os Administradores dos Distritos e Subdistritos, os Chefes de Aldeia e Suco e, ainda, a Cooperação Portuguesa, a UNICEF e ONG`s.

O MSS tem, igualmente, estabelecido protocolos de apoio financeiro e/ou em géneros a instituições nacionais e internacionais sem fins lucrativos que têm desenvolvido a sua acção no país. Evidencia-se, neste âmbito, a cooperação com as instituições: PRADET, Fokuperes, TIMOR AID, ST. Francisco Aileu, FCJ, ASSERT, Ahisaun Foudation, Klibur Domin, Katilosa, Alma Sister, AGAPE, Irmãos de São João de Deus, DPO, Fundasaun Alola, ETBU, Grupo Esperança.

6160

O apoio financeiro concedido pelo MSS às instituições sem fins lucrativos (através da DNRS e da DNAS), em 2009, foi de US$ 450.000,00. Em 2010 foi de US$ 3.832.000,00, e em 2011 correspondeu a US$ 780.000.00, perfazendo nos três anos o total de US$ 5.062.000,00.

A alocação de orçamento por parte do MSS tem como objectivo apoiar o trabalho social desenvolvido pelas instituições e torná-lo mais exequível face às necessidades e aos problemas específicos das populações vulneráveis.

7. FUNCIONÁRIOS DO MSS

O MSS tem procurado investir na selecção, no recrutamento e na qualificação dos recursos humanos.

Nos últimos anos o Ministério promoveu, em parceria com diferentes organizações internacionais, diversos cursos de formação, nomeadamente de língua portuguesa e inglesa, um Programa de Capacitação destinado aos Animadores Sociais e aos Oficiais de Protecção de Crianças15, um Curso de Mediação e Intervenção na Comunidade16, bem como diversas formações nas áreas da violência doméstica e violência baseada em género, coesão social e paz, intervenção em situações de emergência e desastres naturais ou provocados pelo homem.

Uma das principais necessidades de Timor-Leste centra-se precisamente na qualificação dos seus recursos humanos. No futuro este esforço deve continuar a ser efectuado, com vista a uma maior profissionalização e qualificação dos serviços prestados aos cidadãos. Como se pode verificar no gráfico apresentado na página seguinte, dos 409 funcionários do MSS, apenas 66 têm vínculo permanente (em 2011). Cabe ao Estado avaliar as competências dos seus funcionários e as necessidades dos serviços e propor a passagem de situações de vínculo temporário para permanente.

15 Em parceria com o Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal e a UNICEF.

16 Em parceria com o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) de Portugal e a Escola Superior de Educação do Porto.

* Não inclui nomeações políticas

Gráfico 1Número de Funcionários do MSS 2011

TOTAL*

66

Funcionários Permanentes

Funcionários Temporários

343

409

6362

$0

$75,000,000.00

$150,000,000.00

$225,000,000.00

$300,000,000.00

20072008

20092010

2011

Total  

8. ORçAMENTO DO MSS

Ao longo dos últimos anos, o Orçamento Geral do Estado (OGE) aprovado para a execução das actividades do MSS tem vindo a aumentar, revelando que os governos estão a assumir, cada vez mais, 0 compromisso face às questões sociais. O gráfico seguinte apresenta os montantes disponibilizados para a área social.

Gráfico 2Orçamento de Estado atribuído ao MSS, 2007-2011

Fonte: www.budgettransparency.gov.tl - Portal Ministério das Finanças de Timor-Leste.

Relativamente ao orçamento que o MSS atribui a cada Direcção Nacional, como se pode verificar no quadro em baixo, no ano de 2008, a DNSS, por via do pagamento do SAII, aparece com a maior parcela do orçamento. Por outro lado, em 2009, a DNAS, sendo responsável pela implementação do Programa Hamutuk Harii Futuru, foi a que conheceu a maior fatia do orçamento. Em 2010 e 2011 a DNACLN apresenta as maiores

$21.904.000,00$27.244.000,00

$74.523.000,00$103.747.002,00

$118.728.000,00

$296.998.002,00

transferências de orçamento, tendo em conta a implementação do regime de atribuição de pensões aos combatentes de libertação nacional e veteranos.

quadro 1Alocação Orçamental - Direcções Nacionais do MSS, 2007-2011

Fonte: Relatório “Entrega do Processo de Governação do MSS - 2007-2012”, MSS, Junho 2012.

Beneficiários apoiados pelos programas das Direcções Nacionais e orçamento gasto

Na sequência da concepção e elaboração dos diferentes programas sociais, o MSS tem disponibilizado os montantes do orçamento de Estado, sobretudo para:

• Apoio financeiro e/ou em géneros (alimentícios e outros) dirigidos aos beneficiários dos diferentes programas do MSS e para as instituições que prosseguem fins sociais sem carácter lucrativo.

• Apoio financeiro em situações de emergência e para as vítimas de desastres naturais ou provocados pela intervenção humana.

DIRECçÕES

NACIONAIS2007 2008 2009 2010 2011 Total 5 anos

Despesas Totais 4.798.000,00 20.740.04,45 69.045.000,00 94.941.000,00 112.990.900,00 302.514.943,45

1 DNRS 2.798.000,00 1.454.850,00 4.150.000,00 5.886.400,00 3.344.460,00 17.633.710,00

2 DNSS 16.950.000,00 18.791.000,00 32.205.440,00 33.114.000,00 101.060.440,00

3 DNACLN 150.000,00 16.928.430,00 47.864.000,00 71.630.276,00 136.572.706,00

4 DNGD - 1.104.334,15 1.700.000,00 2.700.000,00 1.540.164,00 7.044.498,15

5 DNAS 2.000.000,00 1.080.859,30 27.475.570,00 6.285.160,00 3.362.000,00 40.203.589,30

6564

$0

$10,000,000.00

$20,000,000.00

$30,000,000.00

$40,000,000.00

$50,000,000.00

$60,000,000.00

$70,000,000.00

$80,000,000.00

$90,000,000.00

$100,000,000.00

0

15,000.00

30,000.00

45,000.00

60,000.00

75,000.00

90,000.00

105,000.00

120,000.00

135,000.00

150,000.00

• Pensões dirigidas aos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

• Pensões dirigidas às pessoas idosas ou em situação de invalidez.

• Apoio financeiro para bolsas de estudo dirigidas aos filhos de mártires e aos filhos menores de famílias em situação de vulnerabilidade social.

• Selecção, recrutamento e qualificação dos recursos humanos.

• Aquisição de materiais e equipamentos.

Os gráficos seguintes demonstram o total de beneficiários e o orçamento gasto nos anos de 2010 e 2011, por cada Direcção Nacional do MSS.

Gráficos 3a e 3b - Orçamento Gasto e Beneficiários 2010a) Esq: Total de Orçamento Gasto por Direcções Nacionaisb) Dir: Número de beneficiários por Direcções Nacionais

Fonte: DNAF-MSS.

$49.7

29.6

40,5

8

12.5

40

$6.0

84.4

04,0

2

1.8

51$6.2

97.2

25,0

0

15.8

72

$2.9

49.0

08,1

0

3.0

77

$30.7

93.1

70,0

0

86.9

77

$95.8

53.4

47.6

7

120.3

17

DN

AC

LN

DN

AC

LN

DN

AS

DN

AS

DN

RS

DN

RS

DN

GD

DN

GD

DN

SS

DN

SS

TOTA

L

TOTA

L

Gráficos 4a e 4b - Orçamento Gasto e Beneficiários 2011a) Esq: Total de Orçamento Gasto por Direcções Nacionaisb) Dir: Número de beneficiários por Direcções Nacionais

Fonte: DNAF-MSS.

É de salientar que o conteúdo orçamental mais significativo, em ambos os anos, é atribuído à DNACLN (implementação do regime de atribuição de pensões). O maior número de beneficiários concentra-se na DNSS, detendo o segundo maior orçamento gasto (implementação do SAII).

No que se refere à DNRS, DNAS e DNGD, o total do orçamento gasto em 2010, foi de US$ 15.330.637, e o total de beneficiários equivale a 20.800. Em 2011 o total do orçamento gasto foi de US$ 7.408.355 e o total de beneficiários correspondeu a 131.693. A intervenção destas três Direcções incidiu, principalmente, nos grupos mais vulneráveis, relativamente aos quais a Constituição da República Democrática de Timor-Leste prevê uma protecção especial, designadamente, as crianças, as pessoas portadoras de deficiência e os idosos.

$0

$9,000,000.00

$18,000,000.00

$27,000,000.00

$36,000,000.00

$45,000,000.00

$54,000,000.00

$63,000,000.00

$72,000,000.00

$81,000,000.00

$90,000,000.00

0

30,000.00

60,000.00

90,000.00

120,000.00

150,000.00

180,000.00

210,000.00

240,000.00

270,000.00

300,000.00

$44.8

32.5

78,8

3

15.1

24

$187.7

99,6

8

108.1

17

$3.5

76.0

51,2

6

21.0

37

$3.6

44.5

04,9

8

2.5

39

$31.8

00.9

60,0

0

90.1

62

$84.0

41.8

94,7

5

236.9

79

DN

AC

LN

DN

AC

LN

DN

AS

DN

AS

DN

RS

DN

RS

DN

GD

DN

GD

DN

SS

DN

SS

TOTA

L

TOTA

L

6766

9. CONSTRANGIMENTOS

Ao longo da implementação das políticas, programas e serviços, o MSS deparou-se com constrangimentos de natureza diversa, dos quais se destacam:

• Falta de regulamentação de cada Direcção Nacional, e dos respectivos programas.

• Falta de critérios de elegibilidade rigorosos e pré-definidos na atribuição dos apoios e subsídios.

• Falta de um mecanismo de monitorização e de avaliação regular e com critérios de avaliação pré-definidos, para o acompanhamento efectivo das actividades, dos serviços e programas.

• Falta de uma abordagem e intervenção integrada das políticas e programas sociais.

• Falta de especialização e capacitação dos recursos humanos.

• Falta de domínio da língua portuguesa por parte de muitos funcionários.

• Dificuldade na identificação dos beneficiários, devido à fragilidade dos documentos de identificação pessoal em vigor em Timor-Leste, e a decorrente dificuldade de realização dos pagamentos aos beneficiários nas áreas rurais mais remotas.

10. CONCLUSãO

Na sequência desta oportunidade de reflexão, é de notar que o desenvolvimento dos programas sociais do MSS tem procurado dar resposta, principalmente, às necessidades de subsistência das populações, assim como a situações de emergência social (conflitos sociais, desastres naturais). A efectivação da resposta às necessidades e aos problemas das pessoas traduz-se de diversas formas, nomeadamente, na distribuição alimentar e/ou em géneros, no apoio financeiro, no encaminhamento institucional, na assistência no transporte funerário e na provisão de caixão, na atribuição de bolsas de estudo, do Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos, do subsídio condicional Bolsa da Mãe, das pensões dos combatentes de libertação nacional, e das pensões do Regime Transitório de Segurança Social.

Existe uma perspectiva e mecanismo de distribuição de apoios, e a avaliação efectuada compreende a listagem do número de pessoas que receberam apoio (exemplo: produtos alimentares), a quantidade distribuída e o montante orçamental disponibilizado. Considera-se que faltam procedimentos para avaliar se os apoios atribuídos contribuem efectivamente para gerar mudanças nas dinâmicas familiares, em aspectos sociais e económicos.

Torna-se fundamental a existência e a definição de critérios de elegibilidade legalmente definidos para a execução dos programas do MSS, de forma a contribuírem para uma maior justiça social, equidade de acesso e maior protecção social das pessoas que vivem em situação de forte vulnerabilidade.

Os programas sociais devem desenvolver-se de forma integrada, pois o seu objectivo comum consiste precisamente em dar resposta a um problema social, multisectorial, que deverá envolver a cooperação inter-ministerial e inter-institucional. Neste âmbito, o MSS tem criado grupos de trabalho interministeriais e inter-sectoriais nas várias áreas de intervenção, que incluem igualmente organizações da sociedade civil e associações religiosas. A multidimensionalidade do fénomeno da pobreza exige não só uma intervenção integrada de diferentes actores, como uma intervenção

6968

territorializada e próxima das comunidades. Neste sentido, o MSS deve assegurar o funcionamento de serviços de atendimento social de proximidade às pessoas e às comunidades.

Igualmente, a implementação de um mecanismo de monitorização e avaliação é essencial para um acompanhamento efectivo e regular das actividades, dos serviços e programas do MSS. Um tal mecanismo pressupõe regularidade, metodologia e critérios de avaliação pré-definidos. Um dos desafios futuros consiste precisamente na melhoria da monitorização e avaliação da prestação dos serviços, na definição de padrões de avaliação com vista a aferir se as medidas adoptadas são eficazes na protecção das pessoas/famílias em situação de maior vulnerabilidade social, e se estão a contribuir efectivamente para a redução da pobreza.

Relativamente ao orçamento aprovado, e como referido, o montante mais significativo tem sido atribuído à DNACLN para a implementação do Regime Especial dos Combatentes da Libertação Nacional como forma de reconhecimento e valorização do seu contributo para a independência do país. O Estado deverá, no futuro, analisar a sustentabilidade financeira dos programas, por um lado, e avaliar o impacto dos apoios concedidos, por outro lado, em termos de melhoria da qualidade de vida dos indivíduos e famílias. Numa perspectiva de sustentabilidade, há ainda que criar condições e assegurar programas de apoio com objectivos de actuação no longo prazo – nomeadamente, de incentivo à criação de actividades sustentáveis nas comunidades. As prestações pecuniárias, sejam elas em forma de subsídios ou de pensões, não são suficientes para retirar as famílias da sua condição de pobreza e de vulnerabilidade.

É fundamental que todos possam contribuir activamente para o desenvolvimento de Timor-Leste.

O texto constitucional assume a protecção especial para as crianças, pessoas idosas e pessoas portadoras de deficiência. A intervenção social implica a existência de profissionais qualificados que desenvolvam um

trabalho de avaliação e acompanhamento dos casos, bem como a afectação de recursos financeiros suficientes para dar resposta às necessidades e aos problemas das pessoas. Importa estabelecer critérios de atribuição dos apoios sociais de modo a que beneficiem as pessoas que mais precisam. O desafio futuro deverá incidir no estudo do impacto social e económico dos benefícios concedidos pelo Governo/MSS, através do Orçamento de Estado, para o combate à pobreza no país.

Tendo presente o contexto de Timor-Leste, a qualificação e profissionalização dos recursos humanos surgem como uma das principais necessidades nacionais, intrinsecamente associada à qualidade dos serviços prestados aos cidadãos.

O MSS considerou fundamental investir na selecção, no recrutamento e na qualificação dos recursos humanos e, apesar da discrepância dos números quanto ao número de funcionários permanentes e temporários, é certo que têm sido realizados esforços junto do departamento da Função Pública no sentido de serem estabelecidos vínculos permanentes e subida de escalões. No entanto, em termos de gestão de recursos humanos, cabe ao MSS avaliar as funções e as tarefas desenvolvidas por cada funcionário no seu quotidiano e o tempo dispensado para cada uma delas. Afectar e rentabilizar os recursos para objectivos prioritários.

O reconhecimento financeiro, particularmente no que respeita ao valor dos salários dos funcionários, deverá ser um assunto de agenda nacional, tendo em conta a produtividade do trabalho desenvolvido. Defende-se que uma boa gestão dos recursos humanos e financeiros contribui para o desenvolvimento do país.

No âmbito das parcerias e da cooperação, o MSS tem vindo a assumir e a reconhecer a importância do estabelecimento de uma salutar articulação com os diferentes departamentos governamentais, entidades públicas e privadas, organizações não-governamentais, instituições sem fins lucrativos, entre outras, no sentido de dar uma resposta ajustada e atempada aos problemas das pessoas e famílias, evitando a duplicação de apoios concedidos aos beneficiários.

7170

Considera-se importante prosseguir com o desenvolvimento de mecanismos de formalização de protocolos entre o MSS e as diferentes instituições, com vista à melhoria da qualidade de vida e bem-estar dos cidadãos.

O MSS iniciou em 2012 o desenvolvimento de um trabalho de caracterização e avaliação da intervenção das instituições na área social com as quais mantém acordos de cooperação, através de apoio financeiro, alimentar e/ou em géneros. Monitorizar e avaliar o trabalho desenvolvido por essas instituições com, e para as pessoas, permitirá perceber melhor as necessidades e os problemas existentes, e intervir de forma preventiva face a diversas problemáticas (maus tratos físicos e/ou psíquicos, abusos sexuais) contribuindo para a melhoria e qualificação das respostas sociais.

11. METAS FUTURAS

A melhoria do trabalho desenvolvido por qualquer departamento governamental deve fazer parte de um processo de evolução e de desenvolvimento, no qual haverá avanços e recuos. Neste ponto, propõem-se algumas metas futuras que poderão contribuir para o aumento da qualidade da prestação de serviços aos cidadãos timorenses.

Metas Futuras Algumas Pistas de Acção

Promover a articulação entre os diferentes programas e serviços do MSS de forma a rentabilizar recursos e tornar eficaz a resposta às pessoas e famílias vulneráveis.

• Elaborar um plano integrado conjunto com as Direcções Nacionais e as Delegações Regionais: objectivos, áreas de intervenção, actividades, tarefas, responsáveis, cronograma e avaliação.

• Elaborar procedimentos e formatos de comunicação entre os diferentes actores do sistema.

• Assegurar a articulação e a partilha regular de informação (ex: reuniões, encontros) entre todos os Directores Nacionais, Chefes de Departamento e Chefes dos Centros Regionais.

Descentralizar e desenvolver serviços de proximidade às famílias e às comunidades.

• Estabelecer Centros Regionais em todos os distritos (extensão faseada aos restantes distritos) e criar legislação própria para o funcionamento dos mesmos.

Estabelecer critérios mensuráveis de atribuição dos apoios/ benefícios.

• Definir o limiar da pobreza em Timor-Leste.• Estabelecer critérios de vulnerabilidade social.• Criar e manter uma base de dados integrada, a nível

do MSS, que permita o cruzamento dos dados, dos beneficiários dos programas e serviços do MSS, bem como os critérios de atribuição.17

Promover e consolidar a articulação interministerial, em particular entre os Ministérios da Solidariedade Social, da Saúde, da Educação e da Justiça.

• Criar mecanismos de actuação integrada e sustentável, que efectivamente combatam a pobreza e promovam o bem-estar das populações no longo-prazo, objectivo último da protecção social.

Continuar a capacitar e a qualificar os recursos humanos do MSS a partir de uma política de formação e de qualificação baseada na avaliação de necessidades.

• Promover acções de formação na vertente de atendimento e acompanhamento dos indivíduos e famílias.

• Promover acções de formação no âmbito da gestão e administração pública para os dirigentes.

• Promover acções de formação em novas tecnologias de informação.

Estudar o impacto social e económico dos apoios/ benefícios concedidos pelo MSS.

• Realizar um estudo de evolução de caso.

Caracterizar e avaliar a intervenção das instituições sem fins lucrativos no âmbito da protecção social.

• Criar uma base de dados informatizada que integre todas as instituições sem fins lucrativos apoiadas pelo MSS.

• Criar um guia de recursos nacional que englobe todas as instituições que operam a sua intervenção no território nacional.

Apoiar a implementação de projectos de intervenção comunitária direccionados às famílias, pessoas idosas, pessoas portadoras de deficiência, crianças e jovens.

• Disponibilizar incentivos financeiros para projectos que contribuam para a redução da pobreza.

17Está actualmente em curso no MSS o Projecto MIS, em parceria com o Banco Mundial, cujo objectivo é consolidar o “Sistema de Gestão de Informação” da rede de bases de dados dos diferentes programas do Ministério. Para além da criação de uma base de dados única com integração dos dados de todas as Direcçoes Nacionais, prevê-se igualmente a formação dos operadores do MSS.

72

PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA ALIMENTARAmandio Amaral Freitas, Director Nacional de Assistência Social

Fotografía: Martine Perret

eixo

1

7574

1. INTRODUçãO

Timor-Leste, como país emergente, tem grandes desafios à sua frente e a responsabilidade de reconstrução e de desenvolvimento célere e simultâneo de todos os sectores da Nação. O alcance de tais objectivos requer uma acção colectiva e integrada por parte de todos os parceiros de desenvolvimento, que actualmente se encontram absorvidos pelo cumprimento das respectivas funções, complexas e exigentes, consumidoras de tempo e recursos. Um dos grandes obstáculos ao desenvolvimento de Timor-Leste, transversal a todos os sectores e que requer especial atenção, consiste na insegurança alimentar. A insegurança alimentar resulta da existência de obstáculos à disponibilização, acesso e utilização (adequada) de alimentos. Estes obstáculos estão intimamente associados a vários elementos inerentes ao subdesenvolvimento, nomeadamente: pobreza e economia local; desastres, agricultura e ambiente; má nutrição, saúde e educação. Esta questão é claramente multifacetada e está relacionada com a junção de mandatos de diferentes ministérios. Este conjunto de problemáticas de diferentes sectores conduz à imposição de um obstáculo massivo ao desenvolvimento, nomeadamente a insegurança alimentar.

Ao MSS foi especificamente atribuída a tarefa de assegurar a assistência social e humanitária, como mecanismo de compensação para grupos vulneráveis, durante todo o processo de materialização dos esforços massivos de desenvolvimento de parceiros especializados. Esta responsabilidade inclui, especificamente, a provisão de assistência alimentar a pessoas com dificuldades sociais extremas, que requerem uma assistência que vai além dos recursos e das capacidades dos seus familiares.

Segurança Alimentar em Timor-Leste

A inadequabilidade do regime alimentar em Timor-Leste deve-se à falta de variedade e de quantidade de alimentos, o que pode resultar em sintomas físicos e indicadores de malnutrição. Segundo dados de 2009-2010, 57% das crianças com idade inferior a cinco anos não apresentam indícios

de um crescimento adequado, e 19% das crianças com idade inferior a cinco anos revelam uma massa muscular reduzida.1 De uma forma geral, a malnutrição reduz as funções cerebrais, bem como a capacidade de aprendizagem. Este facto representa um indicador adicional de que a saúde pública é, e deverá ser, uma preocupação central de Timor-Leste, uma vez que afecta o potencial e as aspirações para o futuro. Esta questão não é apenas responsabilidade das autoridades de saúde, mas de todos os ministérios e parceiros que detêm conhecimentos de bons hábitos alimentares, de recursos que permitem aceder e adquirir produtos dos mercados, de práticas agrícolas e ambientais favoráveis, entre outros.Metade da população do país não consome quantidades suficientes de alimentos de qualidade, e nas áreas rurais este número ultrapassa os 56%. Os dados revelam que a segurança alimentar atinge anualmente valores mínimos nos meses de Novembro e de Fevereiro, correspondentes à “época baixa” de colheita e, em parte, devido a acontecimentos climáticos imprevisíveis e condições ambientais. Mais de 78,9% da população rural e 50,5% da população urbana revelam um consumo considerado baixo, pelo menos durante um mês por ano.

Evolução da assistência alimentar assegurada pelo Governo

A assistência humanitária tem sido uma questão crucial neste Estado-Nação desde o I Governo Constitucional de Timor-Leste. A situação político-social no país em 2006-2007 provocou uma crise humanitária de grandes proporções, com consequências ao nível da saúde, dos meios de subsistência e do bem-estar de uma forma geral. O período de normalização e de recuperação desta vicissitude foi longo, apesar do Governo ter tido uma intervenção significativa através da assistência humanitária, nomeadamente mediante a distribuição de bens alimentares a deslocados internos.2

No final do mandato do Governo em funções, no ano de 2007, os assuntos relacionados com os deslocados estavam ainda por resolver, tendo depois o IV Governo Constitucional assegurado a continuação da assistência humanitária através da distribuição de alimentos e de bens às vítimas.

1Fonte: Censos Nacional Demográfico e de Saúde de Timor-Leste, 2009-2010.

2Muitas vezes designados por Internally Displaced Persons – IDPs.

7776

Com base na experiência da crise de 2006, o IV Governo Constitucional mostrou-se determinado em implementar a assistência alimentar como um programa anual, integrando a distribuição de alimentos no Plano Anual de Acção. O MSS, através da DNAS, actuou neste plano ao nível da gestão logística.

Se compararmos os serviços prestados pelo Governo anterior e os do IV Governo Constitucional, constata-se que, enquanto o primeiro esteve focado numa ajuda humanitária de emergência às vítimas de desastres de origem natural e humana, o segundo desenvolveu o programa, bem como uma rede de segurança de assistência social que se estende às necessidades dos grupos mais vulneráveis em todo o país.

Este programa abrangeu, de uma forma geral, a segurança alimentar de órfãos, viúvas, cidadãos portadores de deficiência e idosos ligados a instituições sociais, bem como de pessoas em áreas rurais e urbanas em situações de insegurança alimentar devido às condições climáticas, ao ambiente e à pobreza, para além das causas supramencionadas.

Mais recentemente, em 2011, durante a fase de desenvolvimento do país, o MSS, através da DNAS, implementou um programa baseado no conceito Comida por Trabalho, com a expectativa de dar um novo rumo ao paradigma da assistência alimentar, com perspectivas a longo prazo e soluções duráveis, que minimizam a dependência e asseguram a sustentabilidade.

As actividades foram implementadas anualmente durante o período de insegurança alimentar, ou seja, de Novembro a Fevereiro. Este programa destina-se essencialmente à população nas áreas rurais, como público-alvo mais afectado pela pobreza e pela insegurança alimentar. Em menos de três meses o Governo procedeu à distribuição de 7000 toneladas de alimentos por todo o território. Esta foi a maior distribuição de alimentos conduzida pelo Governo desde a independência, permitindo aos grupos mais vulneráveis alcançar um nível de vida decente e satisfazer as necessidades humanas básicas.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL3

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste assegura o direito de todos os cidadãos à segurança e à assistência social.4 O Decreto-Lei n.º 10/2008, de 30 de Abril, que aprova a Orgânica do MSS, define as atribuições da DNAS e estabelece como sua missão a elaboração “das políticas relativas à assistência social, actuando junto à comunidade e estimulando sua participação nos programas do Ministério”, bem como a “prestação de assistência humanitária” e a garantia da “gestão e logística dos armazéns do MSS”.5

3. OBJECTIVOS

GeralReduzir a taxa prevalecente de insegurança alimentar no país.

EspecíficoAssistir rápida e eficazmente grupos vulneráveis afectados pela insegurança alimentar, contribuindo para o seu desenvolvimento pessoal e para a melhoria do regime alimentar e bem-estar da família.

4. DETALHES DO PROGRAMA

4.1. Tarefas/responsabilidades

A DNAS é responsável pela gestão e coordenação responsável e transparente de actividades de logística, associadas ao programa de assistência alimentar, nomeadamente:

1. Armazenamento.2. Transporte. 3. Distribuição. 4. Monitorização e avaliação.6 5. Socialização.

3Refira-se que foi elaborada pela DNAS, em 2010, uma proposta de ‘Guia para assistência alimentar e não alimentar’ – Matadalan ba asistensia ai-han ho laos ai-han – que aguarda inputs/aprovação desde o início de 2011. Entre outros, este Guia incluirá a definição de critérios de elegibilidade para a atribuição do benefício. 4Artigo 56º da CRDTL.

5Artigo 10º do Decreto-Lei n º 10/2008, de 30 de Abril.

6A monitorização e a avaliação são ainda objectivos a atingir. Actualmente, a DNAS assegura a supervisão e o acompanhamento das actividades.

7978

Segurança alimentar

A DNAS é membro de um grupo de trabalho inter-ministerial que lida com as questões de segurança alimentar e de nutrição – Food security inter-ministerial task force.7 O grupo de trabalho de segurança alimentar prepara relatórios trimestrais com base em acções de supervisão e acompanhamento das actividades de segurança alimentar, aos níveis nacional e interministerial. Tem vindo, igualmente, a garantir uma boa coordenação, a promover a partilha interministerial de informações e a conduzir uma análise coesa de dados sobre a segurança alimentar, que são importantes para a definição de uma estratégia, bem como de intervenções adequadas com vista à melhoria da segurança alimentar e nutrição.A DNAS é responsável por contribuir para uma rede geral de segurança que apoia os esforços colaborativos do Governo na luta contra a insegurança alimentar. Esta contribuição é realizada especificamente através de três tipos de distribuição gratuita de alimentos:

a) Distribuição institucionalForma de apoio, directamente assistida por ONGs parceiras, a pessoas mais vulneráveis que dificilmente conseguem ser auto-suficientes, devido a condições de saúde ou sociais extremas. Nestes casos, o MSS fornece arroz, bem como outros bens não alimentares a ONGs oficiais e credíveis, como componente do apoio governamental a parceiros de protecção social.

b) Distribuição em caso de calamidadeMobilização rápida da assistência humanitária a pessoas que, devido ao impacto de uma calamidade nacional, não têm acesso às fontes regulares de alimentos.

c) Distribuição geralA DNAS faz a distribuição anual de alimentos nas áreas afectadas pela insegurança alimentar durante períodos de maior escassez.

7Este Grupo de Trabalho é constituído por representantes dos seguintes ministérios: Ministério da Agricultura (coordenação), Ministério das Finanças, Ministério do Turismo, Comércio e Indústria, Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério da Solidariedade Social, Ministério da Economia e Desenvolvimento, Ministério das Infra-estruturas.

4.2. Grupos-alvo

Beneficiários da distribuição institucional

Pessoas vulneráveis institucionalizadas, sob os cuidados de parceiros pré-definidos, que requerem assistência alimentar (beneficiários em situação de insegurança alimentar permanente), designadamente:

• Órfãos e outras crianças abandonadas.• Crianças que vivem em dormitórios/ instalações especiais.8 • Pessoas portadoras de deficiência física, intelectual e sensorial em

situações de insegurança alimentar.• Pessoas que padecem de doença mental.• Mulheres vulneráveis (vítimas de violência baseada no género) e crianças

em abrigos ou outros locais aceitáveis.• Vítimas de tráfico humano.• Casos individuais de refugiados internacionais.

Beneficiários da distribuição em caso de calamidade

• Vítimas do impacto de calamidades de origem natural ou humana (pessoas que vivem em situações de insegurança alimentar devido a uma calamidade).9

• Pessoas em campos de refugiados e em outros locais ad hoc de refúgio devido a uma calamidade.

• Comunidades directamente afectadas por uma calamidade, com perda de acesso a fontes regulares de alimentos.

• Comunidades de alto risco no período inicial de recuperação de uma calamidade, de forma a facilitar o retorno à normalidade.

Beneficiários da distribuição geral

• Pessoas em áreas urbanas e rurais com períodos anuais específicos de insegurança alimentar.

• Pessoas que vivem no limiar da pobreza e, deste modo, em situações de

8Está actualmente em discussão a possibilidade de exclusão das crianças a viver em dormitórios, ou em outras instalações especiais, na medida em que as condições em que vivem são relativamente satisfatórias, distinguindo-as deste modo dos outros grupos-alvo.

9Conceito de calamidade de acordo com a definição oficial, conforme o Matadalan Asistensia Ai-Han e outras fontes oficiais.

8180

insegurança alimentar permanente.• Idosos sem outros meios significativos de apoio.• Viúvos sem outros meios significativos de apoio.

4.3. Identificação dos Beneficiários10

Institucional

Os beneficiários são identificados pelos departamentos especializados e parceiros externos sob os seus mandatos, que estão ao abrigo do mandato geral do MSS, e justificam a sua decisão com base em directivas institucionalmente definidas, identificando estas pessoas perante o Ministério.

Calamidade

Os especialistas em calamidades identificam em que casos é necessária uma distribuição de emergência, e a DNAS mobiliza alimentos, e outros bens, de forma a responder à situação e a promover a recuperação.

Geral

A distribuição geral é, antes de mais, direccionada para um número máximo de comunidades com base nos recursos, durante os períodos anuais de insegurança alimentar. As informações são recolhidas pelas autoridades locais, pelos pontos focais e parceiros.

4.4. Registo de Beneficiários

Compilação de listas de beneficiários

A compilação de listas consiste no pedido de dados populacionais aos líderes comunitários, a outras pessoas-chave ou a agências relevantes que actuem a nível local como animadores sociais. À excepção dos períodos de distribuição geral, as listas são elaboradas com base em directivas no âmbito dos mandatos dos parceiros especializados.

10Relembre-se que, perante a ausência de aprovação de critérios de elegibilidade, propostos no âmbito do “Guia para Assistência Alimentar e não Alimentar” (Matadalan ba asistensia ai-han ho laos ai-han), a identificação dos beneficiários tem seguido orientações definidas internamente a nível do MSS, concretamente, da DNRS (distribuição institucional), da DNGD (distribuição em caso de calamidade) e da DNAS (distribuição geral).

Se já existirem dados sobre os beneficiários, por se encontrarem permanentemente em situações de insegurança alimentar, será suficiente verificar esses dados, em papel ou em formato electrónico, após a sensibilização da população.

No caso de ausência de dados, é entregue um formulário de registo aos líderes comunitários, que deverá ser preenchido.

Socialização

Se, para fins do registo, for solicitado aos líderes comunitários a criação de novas listas, deverá promover-se um encontro a fim de os informar dos motivos do registo, de quando e de que modo será organizado, e de qual o papel das autoridades neste processo. Para além dos líderes comunitários, a população-alvo deverá ser igualmente sensibilizada, de modo a assegurar um processo transparente. Neste ponto, realçam-se os seguintes aspectos:

• Objectivo do registo.• Procedimento do registo para facilitar o processo.• Verificação das listas.• Utilização do formulário de registo (ou seja, como preencher o

formulário).• Data na qual serão recolhidos os formulários de registo preenchidos.• Carácter voluntário do processo de registo e apelo a uma colaboração

honesta.

Critérios de implementação do registo

As listas são elaboradas pelos líderes comunitários (ou parceiros). As visitas ao terreno, efectuadas pela equipa da DNAS, durante a preparação das listas, podem ser úteis pois proporcionam aconselhamento e permitem avaliar se os formulários estão correctamente preenchidos. Durante estas visitas, a DNAS pode verificar se os líderes informaram devidamente todas as pessoas acerca do registo. No final do período de registo, a equipa da DNAS recolhe as listas.

8382

4.5. Supervisão e Acompanhamento das Actividades

Enquanto a distribuição de alimentos a pessoas em situação de insegurança alimentar é importante, é ainda mais importante garantir que os alimentos são usados para o fim a que se destinam. A DNAS procede à supervisão e ao acompanhamento do processo de distribuição de alimentos, em dois momentos diferentes:

a) Durante a distribuição

Esta actividade tem como objectivo assegurar que:• A quantidade e os horários de transporte de alimentos são cumpridos.• Os beneficiários recebem alimentos de acordo com a quantidade pré-

determinada.

b) Pós-distribuição

Ao acompanhar o período pós-distribuição, a DNAS poderá:• Determinar os diferentes níveis de vulnerabilidade e de bem-estar das

famílias participantes.• Compreender de que forma é que os beneficiários usam os recursos

alimentares.• Identificar “lições aprendidas” a curto prazo, no sentido de melhorar a

qualidade da gestão de projecto.

4.6. Parceiros

Autoridades locais

O papel das autoridades locais inclui: • Fornecer informações como forma de apoio à distribuição ao nível de

suco.• Identificar e disponibilizar um armazém temporário ou um local de

armazenamento de alimentos, bem como o ponto de distribuição.• Contribuir para a responsabilidade e a identificação dos beneficiários.• Apoiar o processo de socialização, os procedimentos e as directivas de

identificação.

• Apoiar o registo durante a ocorrência de desastres naturais.

Ministério do Turismo, Comércio e Indústria

• Abastecimento de produtos alimentares.

ONGs locais e internacionais, bem como organizações intergovernamentais

• Identificação e registo dos beneficiários.• Notificação da necessidade de assistência ao nível alimentar.• Concepção conjunta do projecto de segurança alimentar e respectiva

implementação.

5. DADOS DE EXECUçãO

Gráfico 1.Total de BeneficiáriosAssistência Alimentar 2007-2012

quadro 1.Distribuição de arroz - 2007-2012

Tipo de distribuição Tipo de beneficiário N.º de beneficiários

Desastres Família 112 241

Geral Família 353 789

Institucional Indivíduo 12 345

TOTAL 478,375

Desastres 23%

Geral 74%

Institucional3%

8584

6. AVALIAçãO

6.1. Resultados Atingidos

O programa de assistência alimentar da DNAS garantiu o seguinte:

1. Provisão de uma rede de segurança para o país, proporcionando às pessoas vulneráveis um bem-estar temporário, enquanto se procuram soluções a longo prazo em todos os sectores de desenvolvimento.

2. Provisão de uma assistência humanitária célere a pessoas em risco de malnutrição ou que, de repente, deixaram de poder aceder a fontes de alimentos devido à ocorrência de uma calamidade.

3. Provisão de assistência social através da prevenção/ redução da fome e mal-estar dos beneficiários, e garantia do seu direito a um nível de vida decente.

4. Assistência a pessoas que, dada a sua condição de saúde e/ou social, dificilmente conseguem ser auto-suficientes, garantindo-lhes a segurança alimentar através da disponibilização regular de produtos alimentares em quantidade.

5. Melhoria dos requisitos energéticos e ao nível dos hidratos de carbono, permitindo aos beneficiários tornarem-se membros activos e produtivos da sociedade.

6. Assistência aos mais desfavorecidos nas áreas rurais, temporariamente em situações de insegurança alimentar, enquanto decorre o prolongado processo de descentralização das actividades.

7. Provisão de apoio e de recursos a parceiros especializados (ONGs e Governo) com vista a reduzir a vulnerabilidade geral de diferentes tipos de grupos-alvo que vivem em situações de insegurança alimentar.

6.2. Obstáculos e Recomendações

• Falta de uma política concreta na área da assistência social e humanitária – requer a aprovação de políticas e linhas orientadoras.

• Fragilidades em termos de acompanhamento do período pós-distribuição – requer um mecanismo de monitorização e de avaliação que permita auscultar de que forma os beneficiários usam os recursos alimentares, bem como identificar “lições aprendidas” a curto prazo, no sentido de melhorar a qualidade da gestão de projecto.

• Falta de recursos humanos – requer a formação e o recrutamento permanente.

• Centralização da componente administrativa e de gestão em Díli – requer uma descentralização.

• Soluções sustentáveis – requer a colaboração estreita entre agências/ interministerial, nomeadamente na concepção do projecto.

• A distribuição geral não é uma solução sustentável e pode aumentar a dependência para além da fase de recuperação – requer a transição para actividades sustentáveis.

6.3. Caminho a Seguir

Actividades sustentáveis que visam a segurança alimentar

A segurança alimentar, nesta fase de desenvolvimento do país, requer uma concepção precisa de actividades, com vista a abordar as causas múltiplas desta vicissitude de forma rápida e definitiva. Como demonstrado por especialistas de todos os sectores, a segurança alimentar é uma questão transversal, associada à falta de recursos e de capacidade em todos os sectores interrelacionados: agricultura, desastres e ambiente, bem como nutrição e higiene, versus pobreza generalizada e comunidades locais subdesenvolvidas, entre outros.

8786

É evidente que a segurança alimentar é um assunto multifacetado, composto por elementos de desenvolvimento que se interrelacionam, e abordado por diferentes ministérios. No entanto, projectos individuais podem eliminar tais obstáculos ao desenvolvimento. Com base nas discussões e nas conclusões de peritos e profissionais, é evidente que as transferências pecuniárias são superiores à distribuição gratuita de alimentos. Tais ideais são largamente aceites, contribuindo para a mudança da política e da prática dos doadores.

As transferências pecuniárias implicam “a provisão de dinheiro a indivíduos ou famílias como ajuda de emergência, com vista a satisfazer as suas necessidades básicas alimentares e não alimentares, ou de serviços, ou destinada à aquisição de bens essenciais para a recuperação dos meios de subsistência das vítimas. Esta transferência é efectuada com base num número de condições, tais como a participação voluntária em actividades e formações pré-requeridas que contribuem positivamente para a segurança alimentar e auto-sustentabilidade da comunidade.”

Tais projectos multidimensionais terão impacto nos múltiplos factores de subdesenvolvimento em áreas rurais, contribuindo para a melhoria da segurança alimentar de uma forma geral. A componente de actividades do programa pode ter um impacto positivo na agricultura, no ambiente e na prevenção/ mitigação de desastres, ou até mesmo criar acesso aos mercados, hospitais e escolas através de estradas. A componente de formação irá optimizar a sustentabilidade e as boas práticas, e as campanhas de socialização aconselharão as famílias sobre modos de uso responsável dos fundos, e sobre alimentação saudável. As transferências pecuniárias e/ou vouchers (também em conjunto com alimentos) resultarão na estimulação da economia local e encorajarão os membros da comunidade a tornarem-se auto-suficientes ao longo de toda a vida.

Estas considerações podem mudar mentalidades, mas têm também um carácter prático em comparação com as práticas actuais de distribuição, uma vez que podem ser menos dispendiosas ao mesmo tempo que se assumem como uma solução sustentável e concreta. A distribuição dá actualmente resposta apenas às necessidades sociais e humanitárias mais cruciais, tais como: 1) atenuação da fome e mal-estar, e 2) assistência

alimentar rápida aquando da indisponibilidade das fontes habituais. A transição de tais actividades, que provocam elevada dependência, para programas condicionais de auto-ajuda, permitem chegar à base da segurança alimentar, enquanto proporcionam soluções financeiras rápidas e de médio prazo.

Perante este cenário, a DNAS deverá assumir determinados programas que abordam as causas e as soluções permanentes, enquanto responde às necessidades actuais a curto prazo dos beneficiários, indo ao encontro dos ideais de protecção social e humanitária.

Banco Alimentar: Fonte de alimentos

Os bancos alimentares recolhem alimentos de instituições, empresas e doadores, bem como recursos utilizados pelas instituições que trabalham com pessoas vulneráveis.

Trata-se de produtos que não podem ser vendidos, ou porque possuem uma data de validade próxima do fim, ou porque a respectiva embalagem está danificada, ou por qualquer outro tipo de inviabilidade comercial. As empresas podem optar por entregar estes alimentos a um banco alimentar que os distribuirá rapidamente.

7. CONCLUSãO

A segurança alimentar é uma temática que afecta até mesmo os países mais desenvolvidos. Num novo Estado-Nação, em que tudo deverá ser feito pela primeira vez, é natural que se verifiquem obstáculos e barreiras na transição para um desenvolvimento bem sucedido com carácter permanente.

O Governo, através de várias observações internas e independentes, tem vindo a ser aplaudido pelos seus esforços de resposta humanitária em situações de emergência, especialmente durante a crise de 2006-2007, sobretudo através da provisão de assistência alimentar e não alimentar a pessoas vulneráveis e a comunidades de alto risco.

8988

Aquando da transição da fase de emergência para a de recuperação, e eventualmente de desenvolvimento, o Governo reforçou as estratégias de compensação diárias da população com ideais de assistência social, fazendo chegar aos treze distritos porções de arroz com vista a responder aos requisitos energéticos das famílias, bem como às necessidades básicas, para que as pessoas se mantivessem produtivas e em situação de conforto.

Timor-Leste encontra-se, actualmente, numa fase de desenvolvimento caracterizada por um clima de paz, na qual estão disponíveis recursos e apoios como o país jamais conheceu. Por conseguinte, não há qualquer fundamento que justifique a não implementação cuidadosa de projectos sustentáveis, resultado de colaborações sinceras entre os diferentes ministérios e parceiros. Da mesma forma, é útil que se recorra a uma abordagem preventiva/ atenuante com carácter permanente, em vez das habituais abordagens activas que consomem demasiados recursos e vidas, e que contribuem para a desorganização.

As melhorias a nível da gestão e da coordenação entre agências podem assegurar uma eficácia do mais alto nível. Uma acção rápida através da concepção e implementação nacional de projectos que abrangem múltiplas questões poderia eliminar directamente a insegurança alimentar e prevenir futuras calamidades.

Para além disso, todos os cidadãos deverão ser protegidos em todas as fases do tempo presente e futuro, através da provisão de uma resposta rápida e da promoção de soluções de médio a longo prazo, de forma a garantir um desenvolvimento permanente e sustentável para todas as gerações, incluindo aquelas que ainda estão para vir.

ANEXOS - Dados estatísticos 2007-2011

quadro 1. Instituições

quadro 2. Resposta a Calamidades

quadro 3. Distribuição Geral de Alimentos (nível nacional)

Número/ quantidade 2007 2008 2009 2010 2011 TOTAL

Indivíduos 2027 430 1763 3125 5000 12 345

Toneladas 146 32 127 225 360 890

Ração 6 kg 6 kg 6 kg 6 kg 6 kg - - -

Número/ quantidade 2007 2008 2009 2010 2011 TOTAL

Famílias 30 010 31 354 46 885 2976 1016 112 241

Toneladas 2881 3010 4501 23,80 8,13 10 423

Ração 8 kg 8 kg 8 kg 8 kg 8 kg - - -

Número/ quantidade 2007 2008 2009 2010 2011 TOTAL

Famílias 0 11 469 142 520 37 380 136 509 353 789

Toneladas 0 286,73 3563 1869 9282 14 714

Ração 0 kg 0 kg 25 kg 50 kg 50-75 kg - - -

90

SERVIÇO FUNERÁRIOAgapito Assis Cardoso, Chefe de Departamento da DNAS

eixo

1

Fotografía: MSS

9392

1. INTRODUçãO

O serviço de transporte funerário foi criado pela primeira vez em Timor-Leste pelo I Governo Constitucional, após a Restauração da Independência em 2002, para dar resposta às necessidades das famílias timorenses vulneráveis no que respeita o transporte dos familiares falecidos – concretamente, transporte de Díli para os 13 distritos (e vice-versa), sub-distritos e sucos, para o cemitério e igreja, ou entre o hospital e a residência.

As comunidades em Timor-Leste enfrentavam, e ainda enfrentam, fortes dificuldades em assegurar este tipo de transporte, dada a sua vulnerabilidade e impossibilidade de recorrer a outros recursos. Por um lado, os preços incomportáveis praticados pelas empresas privadas de transporte funerário, que impossibilitam o acesso a este tipo de serviço por parte das famílias timorenses de rendimento baixo, e mesmo médio. Por outro lado, a fraca cobertura que os serviços privados apresentam a nível nacional e a limitação do número de veículos disponíveis.

Ora, um tal contexto levou à criação de um serviço público de transporte funerário, sob a alçada do então Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária, para todo o território nacional. No entanto, até 2008, o serviço permaneceu como não gratuito – as famílias contribuíam através do pagamento de uma taxa e do combustível.1

No âmbito do IV Governo Constitucional, o MSS produziu mudanças significativas, decidindo apoiar gratuitamente as comunidades na utilização do serviço de transporte funerário e propondo um quadro legal regulador deste serviço.2 Deste modo, a prestação do serviço rege-se actualmente pelo princípio da gratuitidade e da universalidade, enquadrado por uma base legal.3

O MSS criou, igualmente, uma outra componente de assistência que visa a provisão de caixões. Assim, a partir de 2007, o serviço funerário passa a assegurar dois tipos de apoio: a) assistência no transporte funerário e b) assistência na provisão de caixões.

1Especificamente, no valor de 30 US$ e 30 litros de combustível.

2Decreto-Lei nº 21/2009, de 6 de Maio.

3O serviço funerário reside sob a competência da DNAS do MSS, havendo um departamento especificamente estabelecido e responsável pela coordenação deste serviço.

A provisão de caixão é efectuada actualmente apenas no distrito de Díli, não havendo ainda este tipo de assistência ao nível dos distritos. Deste modo, as populações que vivem nos distritos, têm que se deslocar a Díli se pretendem usufruir desta assistência.

Em 2009, o serviço funerário registou um avanço com a introdução da rede de comunicação via rádio no distrito de Díli, na medida em que permitiu o início da supervisão regular das actividades de atendimento, a comunicação mais efectiva com os motoristas e entre o staff central e os parceiros envolvidos – nomeadamente, uma melhor articulação entre o Centro de Operações4 e o Hospital Nacional Guido Valadares de Díli.

Actualmente a comunicação via rádio limita-se ao distrito de Díli. Deste modo, a comunicação entre o Centro de Operações e os distritos é apenas efectuada via telefone, e a decisão de providenciar assistência de transporte funerário fica limitada ao nível central do MSS, em articulação com os centros regionais. Refira-se que existe já uma proposta para a extensão da rede a outros distritos, mas ainda se desconhece o início da sua implementação – projectos-piloto nos distritos de Baucau, Maliana e Manufahi.

O serviço funerário é financiado pelo Orçamento Geral do Estado.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

O serviço de transporte funerário tem como base legal o Decreto-Lei n.º 21/2009, de 6 de Maio, que institui e regula o serviço de transporte funerário, definindo os respectivos critérios de utilização, as condições de acesso e o modo de financiamento.

Igualmente, a Lei Orgânica do MSS refere que uma das competências da DNAS consiste em “manter à disposição da comunidade um serviço funerário”.5

4O Centro de Operações localiza-se em Bemori, Díli, nas instalações do MSS.

5Artigo 10º do Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril.

9594

3. OBJECTIVOS

O serviço funerário tem como objectivo geral facilitar o processo fúnebre aos familiares do falecido em todo o território, e prestar um serviço que visa a dignidade do falecido, assegurando o transporte do cadáver e providenciando o caixão.

Objectivos específicos:• Reduzir as despesas dos familiares do falecido, associadas aos serviços

fúnebres.• Aliviar o peso ou a dificuldade sentida pelos familiares do falecido. • Permitir às famílias mais carenciadas a prestação de uma última

homenagem ao falecido.• Apoiar os parceiros da área da saúde, da segurança e dos desastres de

acordo com os requisitos.

4. O SERVIçO

4.1. Principais Actividades

Prestação de assistência social através da gestão de transporte funerário e provisão de caixão.

Apoio geral através do atendimento ao público• Transporte funerário disponível ao público.• Provisão de caixão às famílias mais desfavorecidas.

Apoio institucional• Transporte a partir do local do sinistro.• Transporte para os serviços parceiros (hospital, morgue e autópsia).• Transporte para as instalações da Polícia Nacional (no caso de corpo não identificado).6

6Entende-se por “corpo não identificado”: a) de pessoa cuja identidade seja desconhecida; b) de pessoa que não possua familiares ou em relação aos quais se desconheça o domicílio ou o paradeiro.

4.2. Público-alvo

• Familiares do falecido.• Corpos não identificados.

4.3. Registo de Beneficiários

O processo de registo de beneficiários está confinado ao nível central da DNAS – especificamente ao departamento de serviço funerário – e inclui tanto os pedidos efectuados ao MSS, bem como os beneficiários. Deste modo, os processos administrativos estão actualmente centralizados a nível nacional.

Este serviço é providenciado a todos os beneficiários elegíveis na posse da documentação requerida.

Pedido de assistência de transporte funerário – documentação: a) Fotocópia de documento de identificação do falecido.b) Fotocópia de documento de identificação do requerente.c) Declaração médica que autorize a retirada do cadáver de instituição de

saúde, quando o cadáver aí se encontre ou aí passe durante o trajecto.d) Declaração da Polícia Nacional ou declaração médica que autorize o

transporte do cadáver, sempre que a morte ocorra fora de instituição de saúde.

Pedido de assistência na provisão de caixão para as famílias vulneráveis:a) Registo das famílias e recolha de documentação – formulário preenchido

e declaração da autoridade local.b) Avaliação do nível de rendimentos da família.c) Entrega do caixão à família (efectuada directamente na empresa que

produz os caixões).

Apesar de a assistência na provisão de caixão visar o apoio às famílias vulneráveis, não existem ainda critérios de avaliação rigorosos que permitam aferir o grau de vulnerabilidade das famílias, e que permitam uma selecção efectiva dos beneficiários (ver Recomendações).

9796

4.4. Supervisão e Acompanhamento de Actividades

A supervisão do funcionamento do serviço de transporte funerário, a nível de todos os distritos, é efectuada a cada trimestre. No distrito de Díli a supervisão e acompanhamento do serviço, quer a nível de transporte funerário, quer a nível de provisão de caixão, é efectuada com maior regularidade através da rede de comunicação (via rádio).

4.5. Parceiros

• Hospital Nacional Guido Valadares / Hospital Distrital de Referência.• Polícia de Investigação Criminal, aos níveis nacional e distrital.• Autoridades locais nos 13 distritos.• Centros Regionais do MSS.• Empresas de fabrico de caixões.• Responsáveis pelos cemitérios.

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

Com a existência deste serviço, o Estado está a assegurar que todas as pessoas que o solicitem têm direito ao transporte funerário gratuito em qualquer área do território nacional, bem como à provisão de caixão, no distrito de Díli, com base nos recursos disponíveis.

6. DADOS DE EXECUçãO

Relativamente aos dois tipos de assistência, de transporte funerário e de provisão de caixão, registou-se um aumento gradual do número de beneficiários, entre 2007 e 2011; e entre 2008 e 2009 o número de beneficiários quase duplicou nos dois tipos de assistência. No total dos cinco anos alcançaram-se os seguintes resultados (ver Gráfico 1):

• Transporte funerário: total de 3904 cadáveres. • Provisão de caixão: total de 1740 caixões.

Gráfico 1. Assistência na Provisão de Caixão - 2007 a 2011

Gráfico 2. Assistência no Transporte Funerário - 2007 a 2011

0

86

171

257

343

429

514

600

20072008

20092010

2011

165154

330

489

602

0

171

343

514

686

857

1,029

1,200

20072008

20092010

2011

386435

744

1136

1203

9998

Entre 2007 e 2011, o orçamento total do programa, no que respeita a provisão de caixão, foi de 313 200 US$.

7. AVALIAçãO

7.1. Impactos Positivos

Da avaliação efectuada relativamente aos impactos do serviço funerário, no que se refere à implementação dos dois tipos de assistência – transporte funerário e provisão de caixão – regista-se que este permite o acesso gratuito da população e a redução das despesas dos grupos vulneráveis que efectivamente necessitam destes apoios. No entanto, refira-se que este serviço ainda não é acessível a todos, dados os limites a nível de recursos (humanos, financeiros, logísticos e em termos de viaturas). 7.2. Dificuldades

Ao longo da implementação do serviço funerário, registaram-se as seguintes dificuldades:

• A distribuição de combustível não abrange os distritos, uma vez que o orçamento anual para o combustível não é suficiente.

• Um número considerável de pessoas solicita o transporte de caixão para os distritos, e o serviço não consegue ainda garantir este apoio.

• O programa de assistência de provisão de caixão está centralizado no distrito de Dili, não se efectuando ainda a nível dos distritos.

• As famílias com rendimentos baixos não dispõem dos recursos necessários para o aluguer de veículos que façam o transporte de caixões para os distritos.

• O transporte funerário não chega às áreas rurais dadas as más condições da rede rodoviária.

• Um número considerável de pessoas solicitam a provisão de caixão sem apresentar os documentos necessários, o que afecta negativamente o sistema de administração e gestão.

• A gestão e administração do serviço estão demasiado centralizadas, não deixando grande possibilidade de colaboração/articulação estreita com o nível regional/distrital.

7.3. Obstáculos

• Recursos limitados: quantidade insuficiente de viaturas, falta de recursos humanos e orçamento limitado.

• Oferta do serviço em 13 distritos em horário limitado (ainda não é assegurado o funcionamento 24h).

7.4. Recomendações

• Revisão do Decreto-Lei n.º 21/2009 que regula o serviço de transporte funerário, no sentido de se fazer um balanço quanto à utilização do transporte funerário por grupos vulneráveis em relação a pessoas de rendimentos superiores. A utilização deste serviço deveria ser gratuita para as famílias vulneráveis e estar sujeita ao pagamento de uma contribuição monetária para aqueles que dispõem de rendimentos para tal. O orçamento destinado ao combustível não é suficiente para cobrir as necessidades existentes em todos os distritos; nem os recursos disponíveis (viaturas, funcionários, meios logísticos) permitem que o MSS tenha capacidade de resposta a todas as famílias que necessitam efectivamente deste apoio. Recomenda-se, neste sentido, a criação de critérios de atribuição.

• Pesquisa para identificação das famílias vulneráveis e criação de critérios – recomenda-se que a identificação das famílias seja efectuada em colaboração estreita com as autoridades locais (chefes de suco), na medida em que estes detêm um bom conhecimento das comunidades. Criação de critérios de avaliação da vulnerabilidade da família.

101100

• Criação de regulamentação para a provisão de caixão – é fundamental criar um instrumento legal que defina claramente os princípios que regem este tipo de assistência, nomeadamente o público-alvo e as condições de atribuição, na medida em que não existe até à data qualquer regulamentação/critérios que regulem este tipo de assistência. Recomenda-se a definição de critérios justos de atribuição às famílias vulneráveis, falecidos desconhecidos, emigrantes, clandestinos e estrangeiros. O MSS não tem capacidade financeira para dar resposta a todos os pedidos, na medida em que o orçamento é limitado. Por outro lado, esta situação é agravada pelo facto de o MSS dar sempre resposta aos pedidos das famílias dos veteranos e de outras personalidades falecidas, que exigem caixões de maior qualidade e de valor muito superior em relação aos caixões sociais. Recomenda-se a atribuição do mesmo caixão para todos, seguindo os princípios da igualdade e da equidade social. Refira-se que, em 2010, foi entregue na Unidade Jurídica do MSS uma proposta de Manual de Implementação para Assistência na Provisão de Caixão.

• Reforço do orçamento, dos recursos humanos (incluindo motoristas) e dos equipamentos (maior número de viaturas e manutenção das existentes). Atribuição de viatura aos Hospitais Referais.

• Descentralização do serviço – recomenda-se o reforço dos centros regionais em termos de orçamento, de equipamentos e de recursos humanos, de modo a permitir uma descentralização efectiva. Recomenda-se a criação de uma unidade no distrito, para reforço do serviço a nível local. Igualmente, a nível dos distritos, o funcionamento da assistência de transporte funerário em horário contínuo (24h), bem como uma rede de comunicação via rádio.

• Definição clara das competências e funções de cada interveniente no processo de prestação do serviço, de modo a melhorar a comunicação e a colaboração entre o nível central e os distritos.

• Criação e implementação de uma base de dados integrada (nível central e local).

8. CONCLUSãO

O serviço funerário assegurado pelo MSS é legalmente instituído como um serviço universal, na medida em que pretende assegurar o acesso livre a todos os que o solicitam, em todo o território de Timor-Leste, sem estabelecimento de condições de elegibilidade. No entanto, na realidade – e segundo uma avaliação dos cinco anos de funcionamento – este serviço acaba por não conseguir atingir o objectivo de universalidade, pela falta de capacidade (a nível de recursos financeiros, humanos, logísticos, de equipamentos), que limita uma resposta efectiva a todos os pedidos recebidos.

O facto de ser a única entidade pública a prestar este serviço em Timor-Leste, e de modo gratuito, não facilita esta situação. Muitas famílias vulneráveis nas áreas rurais que efectuam o seu pedido, frequentemente não recebem uma resposta por parte do MSS, ficando sem o apoio necessário e sem a opção ou alternativa de recorrer a outros meios.

Dadas as dificuldades e os obstáculos acima referidos, torna-se necessário proceder a um reforço da capacidade de resposta do MSS a vários níveis (financeiro, em termos de viaturas e de funcionários), de modo a permitir igualmente a descentralização do serviço para os níveis regional e distrital, e mesmo sub-distrital (tal como consta no Plano Estratégico 2010-2030 do MSS).

Por outro lado, uma vez que as famílias mais vulneráveis nas áreas rurais não têm acesso ao programa de provisão de caixão, recomenda-se ao Governo, através do MSS, que trace um plano de criação de centros regionais ou direcções de serviço social em todos os distritos.

Recomenda-se ao Governo que crie oportunidades para as companhias privadas funerárias desenvolverem o seu negócio, de modo a que as famílias com recursos financeiros possam optar pela compra do caixão. Igualmente, o MSS, através da criação de critérios de elegibilidade, deveria futuramente apoiar somente as famílias vulneráveis no que respeita este tipo de assistência.

103102

Tais propostas e recomendações permitirão assegurar a sustentabilidade do serviço funerário, a médio e a longo prazo, bem como a prestação de um serviço com maior eficácia e maior cobertura a nível das famílias vulneráveis.

9. METAS FUTURAS

• Criação de regulamentação para a provisão de caixão, que defina claramente os princípios que regem este tipo de assistência, nomeadamente o público-alvo e as condições de atribuição.

• Revisão do Decreto-Lei n.º 21/2009, que permita a criação de critérios de elegibilidade para atribuição do benefício somente às famílias vulneráveis, devendo as famílias com rendimentos suficientes estar sujeitas ao pagamento de uma contribuição monetária.

• Aumento do número e da qualidade dos recursos disponíveis, de forma a ampliar os serviços para o nível de subdistrito, de acordo com o Plano Estratégico 2010-2030 do MSS, incluindo os meios que permitam uma descentralização (centro operacional 24 horas, comunicação via rádio, etc.).

• Privatização da componente de transportes funerários para alternativa às pessoas que dispõem de recursos.

• Formação e capacitação dos motoristas dos carros funerários na área de situações de emergência e de sinistros, que impliquem um maior número de cadáveres, bem como na área de práticas de higiene.

• Melhoria da qualidade das viaturas com condições para transportar o falecido (sistema de refrigeração e purificação de ar, etc.).

• Estabelecimento de meios de transporte que prestem o serviço de transporte de caixões, acessível a pessoas desfavorecidas.

• Extensão da rede de comunicação via rádio para os distritos.

ANEXOS

Mapa 1:Assistência no transporte funerário – 2007-2011

Mapa 2: Assistência na provisão de caixão - 2007-2011

Baucau178

Lospalos158

Viqueque157

Manatuto125Aileu

42

Manufahi42Ainaro

48

Covalima49

Oecusse35

Ermera93

Dili654

Liquiça63

Bobonaro51

Baucau254

Lospalos420

Viqueque198

Manatuto215Aileu

205

Manufahi552Ainaro

420

Covalima350

Oecusse35

Ermera248

Dili953

Liquiça120

Bobonaro210

104

REDE DE SERVIÇO DE ATENDIMENTO SOCIAL EM TIMOR-LESTE: UMA RESPOSTA DE PROTECÇÃO SOCIAL

Guido Ricardo Belo, Coordenador do Centro Regional de Oecussi

eixo

1

Fotografía: MSS

107106

1. INTRODUçãO

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste prevê que o Estado tem que garantir às pessoas o direito à Segurança e à Assistência Social. Contudo, o desenvolvimento de um sistema de protecção social em Timor-Leste encontra-se, ainda, num processo de construção.

Ultrapassada a fase de crise e de emergência que se viveu em Timor-Leste em 2006, o debate sobre a criação de um sistema de protecção social consistente e integrado voltou às prioridades do MSS, estando este sistema numa fase de reestruturação a vários níveis, nomeadamente no âmbito dos serviços de atendimento ao público, procurando-se consolidar a descentralização destes serviços e promover uma intervenção mais integrada no apoio às famílias e/ou indivíduos em situação de vulnerabilidade.

Neste sentido, o MSS traçou objectivos a curto, médio e longo prazo, sendo um dos objectivos a curto prazo, até 2015, o reforço dos Serviços de Atendimento Social, no âmbito dos serviços sociais, em todo o território de Timor-Leste.1

Num contexto de protecção social em Timor-Leste, a criação e implementação de uma Rede de Serviço de Atendimento Social (Rede SAS) surge da necessidade de responder a situações de pobreza e/ou exclusão social, com vista à melhoria da qualidade de vida e do bem-estar das populações e das comunidades, de forma a dar uma resposta próxima e atempada às suas necessidades e problemas. O MSS, ao identificar os problemas básicos das populações em Timor-Leste, criou diversos programas e serviços de acordo com as áreas problemáticas identificadas, de modo a poder dar uma resposta efectiva e de acordo com as necessidades reais da população. Ao institucionalizar a Rede SAS, a nível nacional, o MSS está a proporcionar o acesso directo das comunidades rurais aos serviços de atendimento e apoio social.

A Rede SAS, em funcionamento desde 2003, foi criada através da existência de Centros Regionais do MSS, assim como através da presença, em 1

Plano Estratégico 2009-2012, MSS, Julho 2009.

todos os distritos, de Oficiais de Protecção de Crianças (OPLs), de Pontos Focais da Segurança Social, de Pontos Focais da Assistência Social, e de Animadores Sociais (AS) em todos os sub-distritos do país. Esta rede tem promovido o acesso das pessoas em situação de maior isolamento e de pobreza aos serviços e aos benefícios de protecção social prestados por este Ministério.

O MSS criou várias delegações territoriais, designadamente: em 2003, o centro regional de Maliana e de Oecussi; em 2004, o centro regional de Baucau; e em 2011, os centros regionais de Ermera, de Same e de Manatuto. Apesar de não existir um centro regional por cada distrito, os 6 centros regionais existentes cobrem os 13 distritos e os 65 subdistritos do país. Refira-se que os Centros Regionais representam o MSS a nível local, assegurando a implementação e a operacionalização das suas políticas, programas e serviços, visando responder às necessidades e aos problemas de indivíduos, famílias e/ou grupos que se encontram em situações de vulnerabilidade social.

Esta constitui a primeira tentativa de aproximação dos programas e recursos do MSS a todo o território de Timor-Leste, permitindo assim alguma descentralização, e tendo sido acompanhada, progressivamente, pela contratação de recursos humanos.

Em 2008, e como forma de expandir a Rede SAS junto das comunidades, o MSS apostou num processo de recrutamento, de selecção e de colocação de 13 Pontos Focais da Segurança Social, 13 Oficiais de Protecção de Crianças, 13 Pontos Focais dos Desastres Naturais, colocados um por distrito, e, ainda, de 65 Animadores Sociais, cada um destes colocado em cada sub-distrito do país.

Na prática, os centros regionais, através dos Pontos Focais e dos Animadores Sociais, prestam informação às comunidades relativamente aos programas e aos serviços do MSS – de uma forma mais próxima e a nível local – e identificam as necessidades das comunidades, promovendo respostas sociais através da dinamização de projectos comunitários em colaboração com as instituições locais.2

2Como exemplo de um projecto comunitário de apoio, refira-se a venda de frangos – através do apoio ao negócio a indivíduos e/ou pequenos grupos, o MSS disponibiliza um apoio financeiro para o Animador Social poder efectuar a dinamização junto da comunidade.

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Os centros regionais, ao trabalharem junto das comunidades, têm a capacidade de analisar a realidade social do distrito em questão, bem como os problemas e as necessidades das comunidades, de uma forma mais objectiva. Uma outra actividade do Centro Regional, através dos Pontos Focais e dos Animadores Sociais, diz respeito à divulgação dos dados sobre a realidade social junto dos serviços centrais do MSS.Os Pontos Focais representam, deste modo, as direcções do MSS a nível local, os quais, através de um atendimento informativo, prestam informação às populações relativamente às políticas, programas e serviços da direcção à qual estão vinculados.3 De todos os recursos humanos afectos aos centros regionais, são os OPL`s e os Animadores Sociais que realizam um atendimento social mais organizado, sistemático e regular à população, ao nível das problemáticas sociais. Os OPL`s estão direccionados para uma intervenção social junto das crianças, enquanto os Animadores Sociais estão vocacionados para uma intervenção de âmbito mais alargado. Assim, são os OPL´s que intervêm em todos os casos de crianças em risco ou em perigo, bem como em relação a todas as problemáticas com crianças, tendo uma formação técnica específica.

Noutros casos são os Animadores Sociais que, através do atendimento social semanal nos sub-distritos, atendem, avaliam e acompanham as famílias. As principais funções dos Animadores Sociais consistem na informação, no atendimento social e no encaminhamento dos diferentes pedidos de apoio das pessoas e/ou famílias para as várias direcções do MSS, com vista a dar uma resposta aos pedidos.

Inicia-se, deste modo, o alargamento da Rede SAS, com o estabelecimento de uma rede de Animadores Sociais nos sub-distritos, responsáveis por atender e encaminhar a população, conforme os pedidos de apoio efectuados. Refira-se que os 65 Animadores Sociais foram enquadrados pela DNRS, que apostou neste grande passo – criar uma Rede SAS junto das comunidades. Com o início do trabalho dos Animadores Sociais, o atendimento à população deixou de ser meramente informativo sobre os programas e recursos do MSS, e passou – mesmo que a um nível ainda básico – a identificar as necessidades dos indivíduos e/ou famílias e a iniciar o acompanhamento social.4

3Por exemplo, um indivíduo que pretende beneficiar do serviço de transporte funerário, contacta o Ponto Focal da Assistência Social – que se encontra no Centro Regional do seu Distrito – e todos os procedimentos necessários são iniciados para o acesso a este serviço.

4Concretamente, e a título de exemplo, quando o Animador Social identifica a existência de uma situação de violência doméstica, inicia as diligências necessárias para a resolução da situação ou minimização dos impactos negativos na mulher vítima de violência. Uma das diligências pode passar, numa primeira fase, por sensibilizar a vítima sobre a gravidade do problema; no caso de a mesma não sair de casa, o Animador Social pode contactar uma casa-abrigo e trabalhar em conjunto com as instituições locais, com a Polícia e com outros parceiros necessários para a intervenção. serviço.

Em Timor-Leste, muitas vezes, os problemas sociais – nomeadamente os casos de violência doméstica e/ou baseada no género, e casos de violação de menores – são solucionados com base na justiça tradicional, praticada no país: através da mediação efectuada por um líder da comunidade, conhecido por Lia-nain, é discutida a solução entre as duas famílias – a da vítima e a do abusador – e, por vezes, a oferta de animais à família da vítima consiste na solução do problema, como forma de reparo.

O MSS, ao ter representação institucional em todos os distritos, uma rede de protecção de crianças, com um trabalho direccionado para a protecção de crianças em risco, e uma rede referal sobre a violência doméstica e/ou baseada no género, está a caminhar para a identificação, diagnóstico e monitorização de situações acompanhadas, ou a acompanhar, pelo MSS, bem como para o encaminhamento de situações, articulação com os parceiros locais e apoio na implementação das respectivas actividades a nível local.

Em paralelo, e consciente da importância da capacitação dos recursos humanos no desenvolvimento de um trabalho de intervenção social qualificado, foi desenvolvido em 2009 um Programa de Capacitação destinado aos Animadores Sociais e aos Oficiais de Protecção de Crianças (os técnicos que realizam o atendimento social de casos mais complexos) visando essencialmente melhorar o nível de conhecimento e de formação dos respectivos formandos com vista a um melhor desempenho das suas funções no terreno, promovendo um trabalho integrado de acordo com a estrutura descentralizada do MSS, nomeadamente, com os Centros Regionais.5

Em 2010 e 2011 realizou-se o Curso de Mediação e Intervenção na Comunidade, que veio reforçar a formação inicial dada aos Animadores Sociais, visando essencialmente capacitar os funcionários do MSS com competências básicas de trabalho com a comunidade e de atendimento social, bem como reforçar os conhecimentos de língua portuguesa para uso na comunicação institucional.6

5Este programa contou com a parceria do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social de Portugal e da UNICEF, que apoiaram em termos de assistência técnica, e recursos financeiros e logísticos. Para além deste apoio, houve igualmente uma articulação e cooperação com outras organizações da sociedade civil – tais como a Fokupers, Pradet, Ba Futuro, Plan International – que deram formação nas áreas da violência doméstica, protecção de crianças e apoio psico-social.

6Esta formação, com a duração de 4 meses, realizou-se no âmbito de uma parceria com o Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) que ministrou, em colaboração com a Escola Superior de Educação do Porto.

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Deste modo, os Animadores Sociais começaram a ser o grande elo de ligação (mediador) entre a comunidade local e o MSS, tendo ainda como objectivo de intervenção a mobilização da comunidade no sentido de uma participação activa na resolução dos seus próprios problemas e na promoção de uma atitude de cidadania activa.

O início da Rede SAS tem, igualmente, o objectivo de fomentar a criação de actividades descentralizadas do MSS, promovendo o desenvolvimento integrado em Timor-Leste. De qualquer modo, os técnicos que iniciaram o atendimento social mantêm essencialmente uma função de identificação, diagnóstico e encaminhamento das famílias e/ou indivíduos, estando todos os recursos para a intervenção social centralizados nos serviços centrais do MSS, em Díli.

O nível de apoio vindo do terreno começou a aumentar e sentiu-se a necessidade, por um lado, de organizar os serviços centrais do MSS para melhor responderem aos pedidos dos técnicos e, por outro, de profissionalizar cada vez mais os serviços de atendimento social. Tendo em conta a reestruturação dos serviços centrais do MSS, bem como a reorganização necessária da Rede SAS, com vista à sua profissionalização e consequente melhoria da qualidade do atendimento directo à população e aumento da eficiência e da eficácia na prestação dos serviços públicos, o MSS contratou em 2011 duas técnicas internacionais na área do serviço social. Este recrutamento teve como objectivo apoiar o estabelecimento de serviços de proximidade profissionalizados no âmbito da assistência social, nomeadamente dos serviços de atendimento social a nível regional, incluindo o desenvolvimento de procedimentos dos respectivos serviços e a formação dos funcionários locais.

Neste sentido, desenvolveu-se um projecto-piloto de estabelecimento de um serviço de atendimento social, durante 3 meses, no centro regional de Maliana, com intervenção nos distritos de Bobonaro e de Cova Lima, e no centro regional de Manatuto, com intervenção no respectivo distrito e no distrito de Díli. Deste projecto-piloto surgiu a necessidade de apoiar os serviços centrais do MSS, em articulação com os centros regionais, na reestruturação da Rede SAS, tendo em conta diversos pressupostos

necessários à efectividade dos serviços de atendimento social, designadamente a necessidade de construção partilhada do modelo do serviço, por parte dos decisores e dos executantes do MSS.

Foi proposta e revista uma nova reformulação do modelo de serviço de atendimento social, a implementar com este processo, que deverá ser enquadrado na reestruturação dos Centros Regionais e na descentralização dos serviços numa perspectiva a curto e médio prazo.

Refira-se ainda que o MSS recrutou, em 2011, 13 Pontos Focais do Programa Bolsa da Mãe, colocando um Ponto Focal em cada distrito.7

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

Segundo os termos dispostos na Lei Orgânica do IV Governo Constitucional da República Democrática de Timor-Leste, “(…) o Ministério da Solidariedade Social tem a competência de servir e zelar pelos interesses das pessoas carenciadas, vulneráveis e pobres em toda a sociedade timorense e ajudar a Nação a desenvolver um Estado forte, estável e dinâmico por um longo período”.8 A Rede SAS, enquadrada nos serviços sociais do MSS, deve, assim, responder a todas as pessoas carenciadas, vulneráveis e em situação de pobreza de todo o país, fundamentando a sua acção no quadro legal existente a nível nacional.

Como acima referido, a Constituição da República Democrática de Timor-Leste prevê o direito à segurança e à assistência social.9 Prevê, igualmente, a protecção dos grupos mais vulneráveis da população (ver artigo O Ministério da Solidariedade Social, cap. Enquadramento Legal).10

A Lei Orgânica do Ministério da Solidariedade Social prevê a existência de serviços de assistência social de proximidade a assegurar através das “Delegações Territoriais” - estas “têm por missão a execução das actividades do MSS, bem como a recolha de dados para a concepção de medidas de políticas sectoriais locais, a nível regional.” 11

7O Programa Bolsa da Mãe, coordenado pela DNRS, consiste na atribuição de um subsídio condicional às famílias em situação de pobreza, com o objectivo de apoiar as mães, solteiras ou viúvas, enquanto principais cuidadoras das crianças dos agregados familiares, com vista à redução da pobreza e à promoção do acesso à educação e aos cuidados de saúde primários por parte dos seus filhos.

8Plano Estratégico 2009-2012, MSS, Julho 2009.

9Artigo 56º da Constituição da República Democrática de Timor-Leste (CRDTL).

10Artigos 17º, 18º, 19º, 20º e 21º da CRDTL.

11Artigo 16º do Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril.

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A Lei Contra a Violência Doméstica 12, uma das primeiras leis aprovadas em Timor-Leste, prevê, desde logo, um papel especializado dos serviços sociais, demonstrando a necessidade de uma equipa e de profissionais especializados e qualificados para o efeito. Relativamente ao atendimento às vítimas, “o Governo, através do membro responsável pela solidariedade social, estabelece, gere e supervisiona a rede nacional de centros de apoio às vítimas de violência doméstica, que são responsáveis pela assistência directa, refúgio e orientação das vítimas.” 13 Em termos de assistência social de reinserção, “o Ministério responsável pelos serviços sociais apoia as vítimas no processo de reintegração social assim como na prestação de alimentos quando tal se mostrar necessário.” 14

Convenções Internacionais ratificadas por Timor-Leste, directamente relevantes no âmbito da intervenção social:

• Convenção Internacional dos Direitos da Criança, a 30 de Julho de 2003.• Convenção para Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, a 17 de Setembro de 2003.• Convenção de Haia de 29 de Maio de 1993, relativa à protecção de crianças e à cooperação em matéria de adopção internacional – a 29 de Maio de 1993.• Convenção Transnacional, relativa à Prevenção, repressão e punição do tráfico de pessoas, em especial mulheres e crianças, a 9 de Setembro de 2009. E ainda: • Protocolo facultativo à convenção sobre os direitos da criança relativo à venda de crianças, prostituição infantil e pornografia infantil, a 17 de Setembro de 2003.

3. OBJECTIVOS

A Rede SAS tem como objectivo geral fortalecer o sistema de assistência e de protecção social de modo a incluir todos os cidadãos.

12Lei nº 7/2010, de 7 de Julho.

13Artigo 15º da Lei nº7/2010, de 7 de Julho.

14Artigo 33º da Lei nº7/2010, de 7 de Julho.

Tem como objectivos específicos:

• Facilitar o acesso de programas, serviços e recursos do MSS a todos os cidadãos.• Dar uma resposta atempada às necessidades e aos problemas dos indivíduos e/ou famílias.• Acompanhar os indivíduos e/ou famílias em situação de vulnerabilidade social.• Estabelecer, de forma progressiva, serviços de proximidade às populações/cidadãos.• Melhorar a qualidade do atendimento directo à população.• Promover uma intervenção integrada no apoio às famílias e às pessoas em situação de vulnerabilidade e de emergência social.• Estabelecer critérios de atribuição de apoios aos beneficiários.• Promover o estabelecimento de parcerias entre os diferentes serviços da comunidade.• Apoiar as redes e os grupos de trabalho existentes a nível distrital no âmbito das acções de protecção social.• Aumentar a eficiência e a eficácia na prestação dos serviços públicos.• Apoiar e incentivar a promoção de políticas activas na área da solidariedade capazes de chegar a todos os cidadãos.• Identificar as necessidades e os problemas das comunidades em Timor-Leste.

4. DESCRIçãO DA REDE SAS

4.1. Funcionamento e Actividades

Nos distritos, o atendimento social é desenvolvido por 13 OPLs, dos quais 6 encontram-se sedeados no espaço físico do centro regional, enquanto 7 estão situados nas administrações dos distritos de apoio. Existem ainda 13 Pontos Focais da segurança social que informam e registam os dados no âmbito do Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos, e 12 Pontos Focais que trabalham na área dos desastres naturais. O atendimento social ao nível dos subdistritos é realizado pelos 65 Animadores Sociais, que se

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encontram fisicamente sedeados nas administrações dos subdistritos. No entanto, são os OPL´s e os Animadores Sociais que, de uma forma organizada e sistemática, realizam o atendimento social à população, acompanhando os indivíduos e/ou famílias em diferentes áreas. Os Pontos Focais nas áreas da segurança social e dos desastres naturais realizam um atendimento meramente a nível informativo.15

Ao nível do funcionamento, a Rede SAS tem as seguintes actividades:

• Realizar atendimento social.• Prestar informação aos indivíduos e/ou famílias.• Acompanhar, caso seja necessário, os indivíduos e/ou famílias, através da gestão de caso.• Identificar e sinalizar situações de risco na comunidade.• Assegurar o encaminhamento dos indivíduos e/ou famílias.• Dinamizar a articulação com as entidades locais para responder às necessidades da população.• Participar na dinamização das redes de parceiros a nível local.• Dinamizar acções de sensibilização e projectos sócio-económicos junto da comunidade a nível local.

Sinalização das situações

Em termos globais, as situações são sinalizadas pelos chefes de aldeia e de suco, organizações da comunidade, PNTL, instituições de saúde e escolares, vizinhos e famílias.

Com base na sistematização da informação por parte dos Animadores Sociais e dos OPL`s, verifica-se que as problemáticas da violência doméstica e/ou baseada no género, bem como as violações sexuais de crianças, são das mais prementes no atendimento social. Consoante os distritos e as diferentes realidades do país, são identificados igualmente como problemas sociais: a fraca alimentação das famílias e consequente baixo nível nutricional, a economia deficitária, as viúvas e os incapacitados, as famílias numerosas, o isolamento de algumas comunidades em termos do acesso a bens e a serviços, e a economia de subsistência.16

15Estas áreas de actuação inserem-se nos seguintes programas e serviços do MSS: Programas de assistência humanitária e de emergência às vitimas de desastres naturais e/ou provocados pelo Homem (DNGD), Programa de Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (DNSS).

16Relatórios dos Animadores Sociais e Documento de Trabalho: Pistas Futuras para a Reestruturação do Serviço de Atendimento Social para Timor-Leste, Equipa SAS, Outubro 2011.

Relativamente ao atendimento social informativo, os técnicos referem que os indivíduos e/ou famílias dirigem-se maioritariamente a este serviço para obter informações sobre o Programa Bolsa da Mãe, o Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos, o Programa para os Antigos Combatentes, e o apoio à Assistência Social – nomeadamente, o recurso ao arroz e ao transporte funerário.

Uma vez que os programas e os recursos do MSS não estão descentralizados a nível regional, os pedidos são encaminhados para os serviços centrais em Díli, de modo a serem analisados e a proceder-se às diligências necessárias para o acesso aos programas.

Circuito interno da Rede SAS

Os Animadores Sociais e os OPL’s realizam o atendimento social e registam as informações e pedidos das pessoas e/ou famílias, elaboram um relatório com uma proposta de apoio e encaminham para as direcções nacionais do MSS, nos serviços centrais.17

Refira-se que não existem critérios de atribuição dos benefícios concedidos directamente à população, sendo a decisão sujeita aos funcionários de cada centro regional. Não existe, igualmente, um manual com regras de procedimentos no que respeita ao atendimento social.

No âmbito dos programas desenvolvidos pelo MSS, estes materializam-se a nível local através de: distribuição alimentar, apoio económico, apoio a grupos vulneráveis, apoio a portadores de deficiência, pagamento do subsídio de apoio a idosos e inválidos, apoio de transporte funerário, atribuição de casa social (construída de raíz), apoio às vítimas de desastres naturais, pagamento aos beneficiários do programa Bolsa da Mãe e verificação de dados.

Consoante as situações, os Animadores Sociais e os OPL´s poderão efectuar visitas domiciliárias às famílias, com o objectivo de avaliar as necessidades e as expectativas das pessoas.

17Por exemplo, o Animador Social elabora um pedido de atribuição de roupa e de apoio financeiro a uma família, que é encaminhado e avaliado pelos serviços centrais e, através do próprio Animador Social, é de seguida encaminhado a nível local. No entanto, muitas vezes, após o pedido aos serviços centrais, uma equipa pertencente à direcção nacional onde é realizado o pedido, desloca-se até ao local e entrega pessoalmente o recurso à família, em nome do MSS

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Nas reuniões das Redes Referais e de protecção da criança, nas quais existe um representante de várias instituições locais, são discutidos os casos identificados na comunidade e as possíveis abordagens de intervenção social.18

Refira-se que não existe um mecanismo de monitorização da rede SAS, com visitas ao terreno, organizadas e regulares, com uma metodologia e critérios de avaliação, transversais aos centros regionais.

Existem alguns modos de supervisão e de acompanhamento das actividades de implementação da rede, efectuados por cada centro regional, mas sem obedecer a critérios e a uma metodologia de avaliação pré-definida.19

4.2. Beneficiários

Qualquer cidadão em situação de pobreza e/ou exclusão social, designadamente:

• Crianças e jovens em risco (situação de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquico, abuso sexual).• Mulheres vítimas de violência doméstica.• Pessoas portadoras de deficiência.• Pessoas idosas e/ou em situação de invalidez.• Pessoas ou famílias atingidas por uma situação de desastre natural ou provocado pela mão humana.• Indivíduos e/ou famílias em situação de carência económica e de vulnerabilidade.

4.3. Registo de Beneficiários

O registo dos beneficiários é efectuado a nível regional, em cada Centro Regional. Para além dos beneficiários, são igualmente registados os pedidos concretos de apoio. Ainda não existem formulários para todos os pedidos. Não existe, também, uma base de dados integrada entre o nível regional e central do MSS, que permita o cruzamento e a sistematização dos dados.

18Estas reuniões realizam-se mensalmente e em todos os distritos do país.

19Por exemplo, a nível do centro regional de Oecussi, é realizada uma reunião trimestral entre o coordenador e o staff local para supervisão e acompanhamento das actividades, e verificação dos eventuais problemas e dificuldades.

4.4. Parceiros

Pretende-se que as parcerias funcionem de uma forma simples e desburocratizada, que facilitem o diálogo, a participação e a decisão, e que sejam flexíveis na procura de soluções para a resolução dos problemas ou para a criação de novas respostas.

Neste sentido, com o trabalho em parceria que o MSS tem desenvolvido com várias instituições e agentes privilegiados das comunidades, tem-se procurado encontrar soluções para os problemas das famílias e/ou indivíduos em situação de pobreza e/ou exclusão social, potenciar e divulgar o conhecimento sobre as realidades locais, permitindo criar sinergias entre os diferentes recursos e as potencialidades existentes na comunidade e contribuindo para uma intervenção social comprometida e mais eficaz.

Algumas parcerias são estabelecidas a nível informal, mas não deixam de constituir uma estratégia de intervenção social, que pretende actuar em conjunto, de forma articulada, e com vista ao bem-estar da população.

Parcerias: Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Cooperação Portuguesa, PNTL, Administradores dos distritos e subdistritos, Chefes de aldeia e suco, ONG’s, UNICEF, Fokupers, Pradet, Ba Futuro e Plan International.20

As reuniões das redes de protecção de crianças, onde se encontram representantes de várias instituições e organizações locais, são dinamizadas pelos OPL’s. Em 2011 estes técnicos receberam formação para organizarem, a nível distrital, as redes de protecção às mulheres vítimas de violência doméstica ou violência baseada no género.

Os Animadores Sociais realizam igualmente encontros com diferentes parceiros da comunidade, nomeadamente, escolas, centros de saúde, chefes de aldeia e de suco, administradores de distritos e subdistritos, PNTL, centros de formação e ONGs.

20Relativamente às áreas de intervenção das ONGs parceiras: Fokupers – apoio às mulheres numa perspectiva de defesa dos direitos humanos; apoio e aconselhamento às mulheres de presos políticos e viúvas. Pradet –aconselhamento jurídico e educação civil a vítimas de violência doméstica ou crianças vítimas de abuso. Ba Futuru – educação informal a jovens. Plan International – apoio às comunidades, através de actividades ligadas às artes. Em relação à UNICEF, o apoio prestado tem sido a nível técnico, financeiro e logístico, nomeadamente no desenvolvimento de acções de sensibilização em relação às situações de violência e maus tratos de crianças e jovens, bem como na contratação inicial e formação dos OPL’s.

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A construção da parceria deve ter objectivos comuns e pressupor a definição do objecto da cooperação. De igual modo, deve equacionar, em conjunto, o contributo de cada parceiro e definir acções concretas, envolvendo os parceiros, que permitam ajustar os diferentes modos de intervenção e proporcionar uma aprendizagem da cooperação e a corresponsabilização das entidades parceiras envolvidas no desenvolvimento e no sucesso das acções. Ora, isto pressupõe que os vários agentes definam uma estratégia comum e que esta seja avaliada no final.

Este é um caminho que o MSS tem que percorrer. Neste sentido, e no âmbito da Rede SAS, o trabalho em parceria constitui uma mais-valia, não apenas numa vertente de encaminhamento de situações problemáticas dos indivíduos e/ou famílias, mas igualmente numa vertente de trabalho conjunto e de acompanhamento de acções concertadas com vista ao desenvolvimento das comunidades.

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

O MSS assumiu o compromisso de promover a solidariedade e assistência social a todos e de assegurar justiça social e a reinserção de grupos vulneráveis.21

Esta visão tem subjacente um dos princípios de Protecção Social, o princípio de subsidariedade, que se traduz no trabalho que o MSS tem vindo a realizar ao nível local. Ou seja, é no local que os problemas e as necessidades das populações devem ser resolvidas, de uma forma próxima, concertada e articulada.

Só desta forma é possível identificar os problemas e as necessidades reais das populações, bem como os recursos, as capacidades e as potencialidades das comunidades.

O local é o espaço privilegiado de desenvolvimento de processos participativos, no exercício de uma democracia activa que, por um lado, funciona como um espaço de regulação social e, por outro lado, em que o Estado, a sociedade civil organizada e todos os cidadãos se unem com a finalidade do desenvolvimento local.

21Missão do MSS, Plano Estratégico 2009-2012, MSS, Julho 2009.

Outro princípio subjacente à Rede SAS consiste no princípio da inovação – ou seja, existe uma mudança de paradigma na perspectiva da intervenção social, mesmo que ainda não seja na sua plenitude. Começa a verificar-se uma mudança de práticas a nível local que interfere, claramente, nas dinâmicas de todo o MSS. É através da identificação de necessidades locais que o MSS começa a responder aos problemas, partindo de um breve diagnóstico, mesmo que simples, para uma reflexão sobre as medidas de política social. Os princípios da igualdade, solidariedade, equidade e universalidade, são igualmente princípios fundamentais que a intervenção social deve pautar.

O MSS pretende que o atendimento social seja um veículo de garantia de protecção social a todos os cidadãos. Para isso, através da criação de um Grupo de Trabalho, definiu-se o conceito de atendimento social, capaz de traduzir ideias fundamentais para a garantia e a promoção da protecção social defendida pelo Ministério. Para o MSS, o Atendimento Social consiste na prestação de atendimento, informação, orientação, acompanhamento e apoio profissionalizado a indivíduos e/ou famílias com problemas sociais, bem como na actuação em situações de emergência e/ou crise social, para encontrar, em conjunto com todos os intervenientes, respostas alternativas aos problemas das pessoas.22

Todos os princípios subjacentes à protecção social só podem ser eficazes se o serviço de atendimento social for operacionalizado a nível local, sendo que a implementação dos programas do MSS e respectiva intervenção serão sempre transversais.

6. RESULTADOS DA REDE SAS

• Em 2009, aumento do número de famílias acompanhadas – nomeadamente os casos de famílias vulneráveis, mulheres vulneráveis e crianças em risco – bem como expansão do acesso aos serviços e programas do MSS numa área territorial bastante mais vasta.

• Maior capacidade de identificação e de acompanhamento das

22Este Grupo de Trabalho é constituído por diferentes representantes das direcções do MSS, que antecipadamente se reúnem com os respectivos chefes dos centros regionais, directores nacionais e chefes de departamento. O Grupo realizou as tarefas a que se propôs durante quatro meses, em 2011, constituindo uma mais-valia na definição de questões teóricas e práticas sobre o modelo de serviço de atendimento social que o MSS pretende operacionalizar e implementar em Timor-Leste.

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situações – designadamente, o número de casos de crianças em risco identificadas em 2009 quadriplicou em relação a 2008, reflectindo uma área de cobertura que chegou aos 13 distritos, contrariamente a 2008, em que apenas se cobriram 4 distritos.

• Entre 2009 e 2011, identificação e acompanhamento de 467 casos de protecção de crianças, com a seguinte distribuição por distrito: Ainaro: 40, Aileu: 9, Baucau: 45, Covalima: 26, Dili: 56, Ermera: 58, Lautem: 25, Liquiça: 25, Manatuto: 18, Bobonaro: 53, Manufahi: 26, Viqueque: 64 e Oecussi: 22.

• Diminuição de casos com recurso à solução tradicional (anteriormente mencionada).

• Aumento da viabilidade de verificação de dados e monitorização de casos em todo o país, apesar das limitações a nível de transporte para chegar aos sítios mais isolados.

• Início do processo de coordenação com os parceiros a nível local – apesar de ainda não existir um trabalho em rede consistente, os dados recolhidos indicam que já existe cooperação entre os diversos parceiros.

• Redução dos recursos utilizados em deslocações ao terreno por parte dos serviços centrais. Exemplo: em 2009, os Animadores Sociais foram os principais responsáveis pela recolha e verificação de dados relativos aos beneficiários do Programa Bolsa da Mãe, e constituem um apoio fundamental no processo de pagamento e de monitorização.

• Início de um trabalho ao nível da prevenção de problemas, através de sessões de sensibilização sobre várias temáticas, nomeadamente sobre a violência doméstica, através de técnicos da DNRS.

• Início do acompanhamento social a famílias, efectuado por alguns OPL`s.

7. AVALIAçãO

Tendo em conta o contexto de Timor-Leste e as diversas crises político-institucionais que o país já viveu, a Rede SAS, cuja implementação tem sido progressiva, constitui uma resposta de promoção da Protecção Social com vários impactes ao nível das comunidades.

É em Díli que se concentra grande parte da população do país, bem como os programas e os serviços do MSS, mas é nos (outros) distritos que existe um maior número de problemas de isolamento e dificuldades no acesso a esses mesmos programas e serviços. Com a Rede SAS, a acessibilidade das comunidades rurais e em situação de maior isolamento, relativamente aos programas, aumentou. No entanto, pela forma como a Rede funciona actualmente, não é ainda suficiente para a promoção do desenvolvimento das comunidades. Se, por um lado, a Rede SAS opera a nível local, por outro lado, os programas, recursos e serviços do MSS estão quase todos concentrados nos serviços centrais de Díli, continuando a constituir um constrangimento ao acesso efectivo e rápido das populações. Em Díli não existe um Centro Regional, sendo o atendimento social realizado pelos Animadores Sociais que estão nos sub-distritos, e pelas próprias direcções nacionais.

A Rede SAS acompanha, igualmente, todo um processo de reestruturação do MSS, o qual requer ainda a definição, em termos legais, de funções e de competências de alguns serviços, por parte quer das direcções, quer dos próprios Centros Regionais, que darão outra identidade a esta Rede. A necessidade de reestruturação, que também é fruto de uma análise crítica de potencialidades e de constrangimentos que vão surgindo nas dinâmicas do trabalho, surge, igualmente, associada à exigência relativamente à qualidade dos serviços e às competências atribuídas pela existência de novas Leis que exigem que os Serviços Sociais se especializem cada vez mais, nomeadamente no âmbito da Lei contra a Violência Doméstica, e outras relevantes no âmbito da Protecção Social. Tais factores pressupõem não só uma organização dos serviços de forma a assumir as funções que lhes são atribuídas, mas igualmente a existência de técnicos qualificados para o efeito.

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Numa aproximação diagnóstica sobre o funcionamento e a organização dos centros regionais, onde se encontra o SAS, e sobre o funcionamento do próprio serviço, foram identificados alguns constrangimentos. Esta aproximação diagnóstica foi realizada com base em informações recolhidas junto dos directores nacionais e chefes de departamento, bem como dos chefes de departamento dos centros regionais do MSS.23

7.1. Constrangimentos - Aproximação Diagnóstica

Centro Regional Atendimento Social

CENTRO REGIONAL ATENDIMENTO SOCIAL

• Articulação e coordenação deficitárias entre os centros regionais e os serviços centrais - não estão definidos os procedimentos e mecanismos de articulação e de coordenação.

• Comunicação directa entre os Pontos Focais que estão nos centros regionais e o MSS - indefinição de procedimentos.

• Inexistência de definição de competências dos chefes de departamento do centro regional e do staff (Pontos Focais) - confusão de papéis e funções pelo facto de a Lei Orgânica não definir as competências e/ou funções.

• Recursos do MSS centralizados nos serviços centrais em Díli - o centro regional não tem recursos descentralizados.

• Falta de meios, de recursos humanos, financeiros e materiais.

• Necessidade de formação/ capacitação do staff - aumentar o respectivo nível técnico e profissional, com ênfase nas áreas especializadas relevantes, nomeadamente serviço social, segurança social e protecção social.

• Área geográfica de cobertura do centro regional demasiado abrangente tendo em conta as fracas vias de comunicação - não existindo um centro regional em cada distrito, a área de intervenção é bastante alargada, resultando a não proximidade à comunidade.

• Atendimento sectorial - o mesmo utente e/ou família tem de recorrer a várias direcções e/ou departamentos, consoante a especificidade dos problemas.

• Duplicação de respostas às famílias - o mesmo indivíduo e/ou família pode receber o mesmo tipo de apoio pelas várias direcções.

• Estrutura sectorial dos serviços - as respostas são analisadas por grupo alvo e/ou problema, não conseguindo dar uma resposta integrada a todas as problemáticas apresentadas pelo indivíduo e/ou família.

• Respostas inadequadas aos problemas das famílias - aquando da apresentação de um problema por um indivíduo, como por exemplo uma vítima de violência doméstica, a resposta disponível é a possibilidade de apoio em género e/ou dinheiro, não tendo esta como base uma avaliação mais aprofundada da situação familiar nem uma relação directa com o problema.

• O atendimento social só está parcialmente descentralizado - muitas vezes, as equipas dos serviços centrais deslocam-se aos distritos e subdistritos para uma intervenção directa com as populações.

• Indefinição de competências a nível da coordenação e da monitorização do atendimento social - o staff que realiza o atendimento social articula tanto com o chefe de departamento do centro regional como com as direcções que representa.

23Documento de Trabalho: Pistas Futuras para a Reestruturação do Serviço de Atendimento Social para Timor-Leste, Equipa SAS, Outubro 2011; Proposta para Discussão de um Modelo de Serviço de Atendimento Social, enquadrado no processo de reestruturação dos Centros Regionais, Equipa SAS, Novembro 2011.

7.2. Recomendações

• Transversalidade da Rede SAS em relação a todo o trabalho desenvolvido pelo MSS no que respeita a implementação de políticas, de programas e serviços junto dos cidadãos e das comunidades; para um maior impacto, deve ser enquadrada num processo mais alargado de reestruturação orgânica dos centros regionais, através da revisão da Lei Orgânica do MSS.

• Sistematização das competências e das actividades dos departamentos das direcções nacionais do MSS.

• Criação e implementação de um Manual de procedimentos para o serviço de atendimento social, onde se definam as competências e o modo de funcionamento dos centros regionais, as regras de procedimento para o atendimento, numa perspectiva de uniformização dos procedimentos organizativos, dos instrumentos e dos critérios de avaliação social.24

• Definição de critérios de atribuição dos apoios directos concedidos, transversais a todos os centros regionais – serão fundamentais para garantir uma maior justiça social na distribuição dos benefícios a nível local.

• Criação de um centro regional em Díli e em todos os distritos (que ainda não tenham).

• Afectação dos recursos humanos, materiais, logísticos e financeiros ao serviço de atendimento social.

• Existência de um espaço físico no centro regional com a privacidade adequada à realização eficaz do atendimento social.

• Formação/capacitação dos técnicos que irão integrar a equipa de atendimento social/serviços sociais nas áreas relevantes de intervenção.

• Reforço do atendimento social ao nível do acompanhamento prolongado das famílias – necessidade de focalizar a acção social no trabalho directo com as famílias.

24Refira-se que está actualmente a ser desenvolvido pelo MSS um ‘Manual de procedimentos do serviço de atendimento social’.

125124

• Aumento da eficácia e eficiência no atendimento e nas respostas aos problemas das famílias.

• Melhoria dos níveis de satisfação dos beneficiários, quanto ao atendimento e serviços prestados.

• Trabalho em articulação entre as direcções do MSS.

• Organização e rentabilização dos recursos existentes.

• Criação de uma base de dados dos serviços de atendimento social, e respectiva integração no MIS – base de dados integrada do MSS que se pretende transversal a todos os programas (desenvolvimento em curso).

• Criação de um mecanismo de monitorização da implementação da rede SAS – que permita o acompanhamento e a avaliação do trabalho dos técnicos, das actividades implementadas, do modo de atendimento, etc, de modo regular e sistematizado.

• Definição de uma estratégia comum para o estabelecimento de parcerias, com descrição dos respectivos contributos e das acções a realizar, e avaliação final.

• Trabalho coordenado e em rede com outras instituições parceiras – recomenda-se a assinatura de protocolo de colaboração entre todos os intervenientes no processo.

Relativamente a esta última recomendação, sublinha-se a importância de uma cooperação interministerial e inter-institucional – apesar de a Rede estar sob a competência e ser promovida pelo MSS, o envolvimento de vários ministérios e de instituições locais, através da formalização de um protocolo onde se definam os deveres, os direitos e as responsabilidades de ambas as partes, permitirá uma acção integrada e multisectorial, componentes fundamentais para uma implementação efectiva do serviço social.

8. CONCLUSãO

Podemos afirmar que durante estes últimos 10 anos o MSS procurou estabelecer uma lógica de informação e de aproximação às pessoas, no sentido de criar um serviço de atendimento social qualificado e profissionalizado, investindo no recrutamento e na formação de recursos humanos, de acordo com as possibilidades na disponibilização de recursos materiais e logísticos. A qualidade deverá ser entendida como um conceito dinâmico, em premente evolução, e não como algo que, uma vez atingido, se mantém inalterável. Deve medir-se pela adequação das estratégias às necessidades e às capacidades do contexto e suas especificidades. Assim, consoante as necessidades identificadas, o MSS tem reajustado e adoptado estratégias para melhorar a Rede SAS. Ainda não está em fase de conclusão, e existe um diagnóstico e estratégias delineadas para a sua melhoria.

Por um lado, a prática quotidiana das direcções do MSS incide na dinâmica de atendimento ao público e na gestão de casos, apresentando dificuldades para se concentrar, essencialmente, na elaboração de políticas sociais públicas, na monitorização dos programas e do trabalho desenvolvido pelas delegações regionais, e na recolha de dados estatísticos. Deste modo, é importante que as direcções nacionais se centrem nas competências legalmente atribuídas e descentralizem os serviços de atendimento às populações, a nível local. É igualmente importante que se dê início, progressivamente, a alguns programas e recursos do MSS nos centros regionais. Por outro lado, é necessário que cada direcção reveja os termos de referência de cada departamento, bem como realize o acompanhamento desta transição de funções.

A Rede SAS deve assentar num trabalho sistematizado e organizado, com a finalidade de evitar a fragmentação de duplicação de respostas de intervenção social à população. Deve, ainda, assentar numa intervenção holística e acção integrada, baseadas num pensamento global e no agir próximo das pessoas e dos problemas sociais: agir localmente sobre os problemas sociais, com a capacidade de responder aos problemas das pessoas de forma integrada, com vista à melhoria da qualidade de vida e bem-estar das mesmas e da comunidade.

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Um serviço de atendimento social, para funcionar a nível local, deve ser constituído por uma equipa técnica dotada da devida capacitação e informação sobre as políticas sociais desenvolvidas pelo Estado Democrático, devendo dar uma resposta eficaz às necessidades e problemas das pessoas e famílias, o que deve ser possível com a disponibilização e a descentralização de recursos.

É importante caminhar para a descentralização progressiva dos serviços, desburocratização de procedimentos e formas de actuação que motivem a participação e envolvimento das comunidades locais.

É fundamental ter uma visão a longo prazo, e esta requer uma reflexão em torno da sustentabilidade. O desafio principal de uma rede de serviço de atendimento social é assegurar a melhoria da qualidade de vida e bem-estar das pessoas vulneráveis, contribuindo igualmente para a sua própria sustentabilidade. Será que a Rede SAS contribui efectivamente para o bem-estar sustentável das famílias e comunidades que apoia?

Uma tal concretização só é possível com a adopção de várias medidas, como referido ao longo do texto, nomeadamente: a formação dos recursos humanos – com ênfase na capacitação nas áreas de especialidade relevantes – que permita o atendimento e acompanhamento prolongado e efectivo das famílias, de forma integrada; o trabalho em rede em estreita colaboração e articulação com todos os intervenientes e parceiros a nível local, que garanta uma abordagem interdisciplinar e inter-institucional; a criação de regras de procedimento e de funcionamento comuns e transversais a todos os centros regionais, bem como de critérios de atribuição dos apoios e dos subsídios concedidos.

Algumas vertentes fundamentais do atendimento social (o saber ouvir, o acompanhamento prolongado das familias, o apoio a nível emocional e psicológico, entre outros) ainda não são praticadas, limitando-se a intervenção sobretudo a uma resposta directa de apoio, à concessão de algo material e imediato às populações. O MSS procura dar resposta à realidade actual de Timor Leste numa fase ainda de resolução dos problemas de primeira necessidade.

No entanto, o futuro deverá contemplar a necessidade de se investir num trabalho sobretudo de prevenção, de modo a assegurar a prática de um atendimento e de uma acção social no verdadeiro sentido do termo, que contribua efectivamente para a sustentabilidade das pessoas e das famílias que o procuram. Tal permitirá a passagem de um modelo da assistência social para uma intervenção social pró-activa, empenhada em promover a plena cidadania activa.

9. METAS FUTURAS

• Para atingir o desenvolvimento institucional, o MSS deverá implementar mais centros regionais, a fim de oferecer e preparar todos os distritos com pessoal, recursos e capacidade para desenvolver um serviço efectivo de atendimento social a todos os cidadãos – descentralização do serviço.

• Promover a inclusão das famílias no sistema de protecção social e nos serviços públicos de acordo com as necessidades, fortalecendo as redes sociais de apoio à família e a sua capacidade protectiva face à situação de vulnerabilidade/exclusão.

• Apoiar o processo de reestruturação da organização dos centros regionais.

• Criar uma política de descentralização dos serviços do MSS.

• Criar um manual de procedimentos para a operacionalização de modelo de serviço de atendimento social e assegurar a eficaz socialização com o staff.

• Estabelecer boas práticas e padrões de qualidade nos próprios serviços.

• Continuar a organizar os serviços centrais para melhor responderem aos encaminhamentos.

• Promover o estabele cimento de mecanismos de articulação entre os diversos serviços para providenciar uma resposta eficaz e integrada às famílias.

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• Profissionalizar, progressivamente, os serviços de atendimento social e enquadrá-los no processo de descentralização e de reestruturação das delegações territoriais/centros regionais.

• Criar critérios de atribuição dos apoios e subsídios concedidos, de modo a assegurar uma distribuição justa no âmbito do quadro orçamental limitado do Estado para dar resposta a todos os cidadãos.

• Criar mecanismos de co-responsabilização entre o Estado e as organizações/ instituições da sociedade civil, no sentido de assegurar uma resposta atempada, sem duplicação e ajustada às necessidades das pessoas e famílias.

• Continuar a investir na formação inicial e contínua específica na vertente de atendimento social às populações.

• Disponibilizar de forma racional os recursos materiais, logísticos, financeiros e humanos para o desenvolvimento de um trabalho a nível regional.

• Construir uma base de dados informatizada dos atendimentos efectuados pelos Animadores Sociais, OPL e Pontos Focais.

• Promover acções de sensibilização das populações no sentido de dar a conhecer os seus direitos mas, igualmente, os seus deveres perante a sociedade e o Estado.

Baucau2004

Manatuto2011

Same2011

Oecusse2003

Ermera2001

Maliana2003

ANEXO IV

Mapa - 6 Centros Regionais do MSS

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PROGRAMA BOLSA DA MÃE

Antónia Carmen da Cruz, Directora Nacional de Reinserção Social

eixo

1

Fotografía: MSS

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1. INTRODUçãO

O Programa Bolsa da Mãe surgiu em 2008 como um projecto-piloto, no quadro do IV Governo Constitucional, para apoiar as mães, solteiras ou viúvas, enquanto principais cuidadoras das crianças dos agregados familiares, com o objectivo de promover o acesso à educação e à saúde.1

O nome do programa associa-se ao contexto social de Timor-Leste, no qual a mãe desempenha o papel quotidiano de dona de casa e cuidadora principal dos filhos, para além do papel duplo que as mães viúvas desempenham na ausência dos pais, por diferentes motivos – morte, separação, divórcio, abandono, cumprimento de pena de prisão, doença crónica terminal, deficiência física ou mental. Os dados estatísticos de 2004 vieram igualmente reforçar a relevância do programa, na medida em que o total de famílias chefiadas por mulheres, a nível nacional, era de 37.000, das quais 17.000 chefiadas por viúvas. Perante este contexto, o MSS decidiu intitular o programa de Bolsa da Mãe, mantendo-o até hoje, apesar de actualmente se direccionar igualmente aos agregados familiares monoparentais.2

Este programa consiste na atribuição de uma prestação pecuniária, financiada pelo orçamento geral do Estado, de natureza condicional, sendo estas condições relativas ao requerente, ao agregado familiar, bem como à realização de acções por parte da família (ver mais adiante – Critérios de Elegibilidade).Refira-se que a Bolsa da Mãe surgiu como uma remodelação do anterior programa de Subsídio Escolar, existente desde 2006, cujo objectivo consistia na promoção da assiduidade escolar e da prestação dos alunos provenientes de famílias em situação de pobreza, particularmente as chefiadas por mulheres. O critério de selecção baseava-se no mérito escolar, ou seja, o aluno que obtivesse uma média acima de oito seria elegível para o programa.3

Após um ano de implementação, durante 2006-2007, foi efectuada uma avaliação do programa Subsídio Escolar e identificaram-se algumas fragilidades, nomeadamente em termos dos critérios de elegibilidade. Com base nesta avaliação e nas recomendações das comunidades, o

1Apesar de um tal objectivo, só com o recente aprimoramento do programa, a partir de 2012, incluindo o desenvolvimento da base de dados, foi possível iniciar a monitorização do acesso à educação e à saúde. Refira-se que este programa é coordenado pela DNRS do MSS. No âmbito do mandato do IV Governo, prevê-se a criação de “programas de atribuição de subsídios aos mais pobres e vulneráveis, que irão contribuir para o aumento da equidade social mas também, materialmente, para a formação de capital humano, essencial a um desenvolvimento sustentável”, bem como “o desenvolvimento de projectos-piloto, de transferência de dinheiro condicional, na área da saúde e da educação para as famílias mais pobres”. 2O “agregado familiar monoparental” é constituído apenas por um dos pais – nos casos de o outro falecer, estar ausente ou ser desconhecido – ou ainda por um representante legal ou um detentor da guarda de facto. 3O programa de Subsídio Escolar era implementado em coordenação com as autoridades locais e directamente com os professores e directores das escolas, e cobria quatro níveis de ensino: o básico, o pré-secundário, o secundário e o jovem de formação profissional. Este último era implementado em coordenação e cooperação com a DNFE, do MTRC (anterior estrutura orgânica do actual MSS).

MSS decidiu remodelar o programa, no final de 2007, substituíndo-o pelo programa Bolsa da Mãe.4

Durante os primeiros anos de implementação, o programa Bolsa da Mãe passou por diversas reformulações com vista ao seu aperfeiçoamento, a partir das diversas lições aprendidas no terreno, bem como das recomendações de outros programas de transferência condicional de uma prestação pecuniária.

Deste modo, em 2009 iniciou-se um processo faseado de reestruturação do programa com identificação das melhorias a efectuar, após um ano de implementação. Em Março de 2009, o MSS propôs a revisão da política que sustentava o programa – Política de transferências condicionadas na área da educação para mães viúvas, mães solteiras e órfãos 5 - no sentido de tornar o programa mais justo, com critérios de elegibilidade adequados, visando alcançar efectivamente os objectivos a que se propôs desde o início.

Em Agosto e Setembro de 2009, efectuou-se uma avaliação do programa com visitas a todos os distritos.6 Foram identificadas várias lacunas e necessidades de remodelação, nomeadamente a nível da sua focalização, dos critérios de selecção dos beneficiários, da duração da atribuição do subsídio, da necessidade de cadastramento das famílias e de criação de uma base de dados efectiva, entre outros.7 Em Outubro de 2009, é efectuada uma visita de trabalho ao Brasil para partilha de informação e de experiência, sobretudo no que respeita ao processo de cadastramento das famílias.8

4No processo de avaliação do subsídio escolar, verificou-se que: 1) a selecção dos beneficiários com base no mérito excluía, com forte expressão, os estudantes provenientes de famílias pobres, uma vez que muitos deles não conseguiam alcançar um elevado nível de desempenho escolar, já que não possuíam condições básicas – tais como alimentação suficiente, ambiente do lar, água e higiene, transporte. Como consequência, a maioria dos estudantes seleccionados era proveniente de famílias com melhores condições de vida; 2) havia indicações de nepotismo na selecção dos beneficiários e, igualmente, de manipulação de notas na prestação dos alunos; 3) o programa dava acesso somente aos alunos das escolas públicas, de ensino gratuito, com o intuito de motivar a integração dos mais pobres, mas não tinha em conta a escassez do número de escolas públicas e a limitação de professores nessas instituições de ensino. A realidade demonstrou que, mesmo vivendo em situação de pobreza extrema, as famílias esforçavam-se para integrar os seus filhos na escola, mesmo em instituições privadas; 4) a limitação de funcionários públicos e a falta de capacitação dos poucos que implementavam o programa, contribuíram igualmente para a falta de iniciativas e de criatividade para desenvolver a gestão do programa.

5 Orfãos que estavam ao cuidado de parentes ou amigos; não abrangia as crianças acolhidas por instituições, tais como os orfanatos.

6 Esta avaliação foi efectuada em conjunto com o PNUD, que tem vindo a dar assistência técnica e financeira ao programa desde 2009 (através do Fundo para atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) – Millennium Development Goals (MDGs) Achievement Fund).

7 Refira-se que a selecção das famílias beneficiárias era efectuada com base nas recomendações dos chefes de suco; o pedido de apoio era consentido pelos chefes de suco, não havendo dados de caraterização das famílias; o subsídio era concedido ao beneficiário durante somente 8 meses, e não durante o ano todo.

8 Visita em cooperação com o PNUD de Timor-Leste e o Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo do Brasil.

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No início de 2010, procedeu-se à análise aprofundada do programa Bolsa da Mãe – em articulação com os outros programas do MSS (designadamente, o SAII), a CRDTL, o Plano Estratégico de Desenvolvimento e outros programas do Governo – resultando desta análise uma nota técnica com recomendações para a melhoria do programa.9 A nota técnica foi adaptada à realidade do programa, tendo sido, deste modo, integradas algumas das recomendações, com base na sua relevância e viabilidade de implementação no contexto específico do país.

No final de 2010, realizou-se a formação da equipa da Bolsa da Mãe sobre as necessidades de reestruturação do programa e as lacunas identificadas (actualmente a equipa é composta por 8 técnicos a nível central e 13 pontos focais no terreno). O reconhecimento da necessidade de se estabelecer uma base legal para o programa, deu início a um processo de elaboração de uma proposta de Decreto-Lei, que se prolongou desde 2009 até ao início de 2012.

Em Fevereiro de 2012 é aprovado o Decreto-Lei e produzido o Manual Operacional Bolsa da Mãe, ambos reflectindo as mudanças concretas operadas no programa e a nível da implementação no terreno.10 Estes documentos definem um novo conceito de Bolsa da Mãe que se pretende mais justo, com critérios de elegibilidade mais rigorosos, seguindo determinados indicadores e uma escala de vulnerabilidade, com um novo sistema de pagamento, informação e gestão de dados, e um novo mecanismo de monitorização e de avaliação de todo o processo.

No entanto, até Dezembro de 2012, o programa ainda se encontra numa fase de transição relativamente à implementação do Decreto-Lei. Está actualmente em curso a 1ª fase de implementação do sistema de selecção dos beneficiários com base na escala de vulnerabilidade, e o início do recadastramento dos beneficiários antigos. Em Setembro/Outubro deste ano prevê-se a abertura do registo das famílias beneficiárias com focalização baseada nos censos, visando alcançar uma maior cobertura nas áreas mais remotas do país. Serão estes novos beneficiários que iniciarão o novo programa, em 2013 (ver Anexo I - Quadro comparativo das principais mudanças do programa desde 2008 até 2012).

9Recrutamento de um consultor internacional que, após um processo de consulta detalhado e participado, produziu um documento técnico intitulado “Recomendações para o aprimoramento do programa Bolsa da Mãe e para a implantação do registo único de famílias vulneráveis”, em Junho de 2010.

10Decreto-Lei nº18/2012, de 4 de Abril. Manual Operacional Bolsa da Mãe, Fevereiro de 2012, produzido com o apoio do PNUD.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

O direito de todos os cidadãos à segurança e à assistência social,11 consagrado na Constituição da República Democrática de Timor-Leste, é reforçado no que respeita a protecção social da criança por parte da família, da comunidade e do Estado, bem como a protecção da família como célula base da sociedade e condição para o harmonioso desenvolvimento da pessoa.12

O “Subsídio de Apoio Condicional Bolsa da Mãe” é aprovado pelo Decreto-Lei nº18/2012, de 4 de Abril, o qual legitima a implementação do programa e especifica os respectivos regulamentos operacionais. O diploma valida a atribuição de uma prestação pecuniária, com carácter transitório, periódico, condicional e de montante variável, destinado a agregados familiares em situação de vulnerabilidade económica e social, com crianças a cargo, definindo os critérios e os respectivos procedimentos de atribuição.

3. OBJECTIVOS

Os objetivos gerais do programa consistem: a) na redução da extrema pobreza (MDG 1) de famílias em Timor-Leste, através de uma transferência condicional de subsídio; b) na universalização da educação básica (MDG 2); c) na promoção da igualdade de género e empoderamento da mulher (MDG 3).13

O programa tem como objetivo específico contribuir para a redução da extrema pobreza das famílias em Timor-Leste através da melhoria de acesso aos serviços públicos de educação e de saúde (MDG 2 e 4).

Neste sentido, os resultados que o programa visa atingir são os seguintes:

• Acesso aos anos de escolaridade obrigatória para crianças de 6 a 17 anos de idade.• Acesso ao ensino secundário para crianças de 15 a 17 anos de idade.• Acesso de crianças de 0 a 5 anos ao registro (certidão de nascimento).

11Artigo 56º da CRDTL. 12Artigos 18º e 39º da CRDT.

13Referência aos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) – Millennium Development Goals (MDGs) – a atingir até 2015.

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• Melhoria do rendimento familiar através da participação no programa.• Redução do abandono escolar de crianças.• Melhoria no acesso a saúde para crianças de 0-5 anos.• Integração de acções dos Ministérios (Solidariedade Social, Educação, Saúde, Finanças).

4. O PROGRAMA PASSO A PASSO

O programa Bolsa da Mãe, para além do seu objectivo principal, que é o de contribuir para a redução da pobreza e aumentar o acesso à educação e à saúde, visa igualmente reproduzir um compromisso por parte do Governo na garantia de um sistema de educação e de saúde para toda a população, tendo em conta que o acesso a esses serviços constitui um direito do cidadão. A implementacão do programa está a cargo do MSS, mas conta, igualmente, com a participação do Ministério de Educação e do Ministério da Saúde no que respeita a monitorização da co-responsabilidade. Neste sentido, estes organismos são igualmente responsáveis pela garantia de uma adequada oferta de escolas e de serviços básicos de saúde.

O programa possui as seguintes características principais:

• Existência de um sistema de focalização na identificação dos beneficiários.14

• Corresponsabilidades nas áreas da educação e da saúde, com vista à acumulação de capital humano entre as crianças que participam no programa.• Benefícios pagos em dinheiro e sem nenhuma estipulação prévia de como será utilizado pelas famílias.15

No processo de atribuição do subsídio, o beneficiário assume necessariamente as seguintes obrigações:

• Prestar cuidados de alimentação, higiene, segurança e conforto a todas as crianças a cargo, na medida das suas disponibilidades.• Garantir a frequência regular da escolaridade básica obrigatória por

14A focalização possui três vertentes: 1) crianças dos 0 aos 17 anos de idade (adaptação ao contexto específico do país, em que se justifica o prolongamento da idade até aos 17 anos, e não apenas aos 14 anos, dado o atraso de muitas crianças na frequência escolar); 2) quotas territoriais a partir do mapeamento da pobreza a nível nacional – focalização nas áreas com população mais vulnerável; 3) situação sócio-económica da família – perfil da família. 15Durante o processo de pagamento do subsídio de 2012 está a ser realizada uma pesquisa com uma amostra de 5% do total de famílias beneficiárias, com o objectivo de monitorização do pagamento e avaliação da forma de utilização do subsídio pelas familias.

parte de todas as crianças do agregado familiar em idade escolar (entre 7 e 17 anos) e apresentar os respectivos documentos comprovativos.• Garantir que todas as crianças de 0 a 5 anos de idade a cargo cumprem o plano de vacinação obrigatória e acedem a outros cuidados de saúde primários disponíveis na área de residência, e apresentar os respectivos documentos comprovativos.

Refira-se que o ciclo do programa é de 2 anos – o subsídio é atribuído durante este período, após o qual se segue uma avaliação. Se os dados da família continuam a corresponder aos critérios de elegibilidade, esta pode continuar no programa, desde que esteja igualmente a cumprir as corresponsabilidades e reúna as condições de atribuição previstas na lei.

A intenção do programa é o de reinserir socialmente os beneficiários, e não de os assistir indefinidamente.

4.1. Público-alvo e Critérios de Elegibilidade 16

Condições de atribuição – Agregado familiar 17

Podem candidatar-se ao programa as famílias com crianças de 0 a 17 anos, que vivem abaixo do limiar oficial de pobreza. O programa utiliza uma escala de vulnerabilidade (ver Anexo III - Nota explicativa) que tem como objetivo seleccionar os agregados familiares que, devido a factores económicos e sociais, estejam em especial situação de risco que comprometa a frequência da escolaridade básica obrigatória e o acesso a cuidados de saúde primários das crianças que o compõem, e é aprovada por diploma do membro do Governo com a tutela da assistência social, tendo em conta os seguintes indicadores:

• Situação económica do agregado, dando prioridade aos agregados familiares com pior situação económica.• Número de cuidadores no seio do agregado familiar, dando prioridade aos agregados familiares monoparentais ou equiparados.• Número de crianças que compõem o agregado familiar, dando prioridade aos agregados familiares com maior número de crianças.• Existência de crianças com deficiência física ou mental.

16Refira-se que a atribuição do subsídio está dependente da verificação de condições relativas quer ao requerente quer ao agregado familiar. 17São equiparados a agregados monoparentais os agregados familiares constituídos por ambos os pais, dois representantes legais ou dois detentores da guarda de facto, mas em que um destes se encontre incapacitado para o trabalho, nos termos do previsto para o subsídio de apoio a idosos e inválidos.

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Importa ressaltar que os indicadores acima possuem peso igual. A decisão de medir educação, rendimento monetário e situação familiar com pesos iguais, surgiu principalmente pela falta de estudos prévios sobre esses indicadores, sendo assim arbitrário favorecer algum indicador sobre o outro.

O índice de vulnerabilidade é somente direccionado ao programa, não devendo ser considerado como um índice capaz de medir a vulnerabilidade fora do âmbito dos critérios de elegibilidade do programa Bolsa da Mãe.

São considerados vulneráveis os agregados familiares que fiquem classificados com maior índice de vulnerabilidade, excluindo-se previamente os agregados cujo rendimento per capita se situe acima do limiar oficial de pobreza.

Requisitos gerais de atribuição – Requerente 18

• Ser cidadão timorense.• Ter idade igual ou superior a 17 anos.• Residir em território nacional há pelo menos um ano à data da apresentação do requerimento do subsídio.• Assumir as responsabilidades parentais em relação às crianças a cargo, na qualidade de pai, mãe, representante legal ou detentor da guarda de facto.• Apresentar a documentação e a informação necessária solicitada pela entidade responsável, para avaliação da situação do agregado familiar.• Preencher devidamente o formulário de requerimento do subsídio.

4.2. Corresponsabilidades

Como referido, o programa estabelece um sistema de corresponsabilidades entre o MSS, o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde, cuja monitorização será implementada a partir de 2012.

As acções relacionadas com a educação estão orientadas para o apoio à matrícula escolar e frequência regular durante o ano escolar para as

18O “requerente” refere-se à pessoa que solicita a atribuição do subsídio, por se intitular pai, mãe, representante legal ou detentor da guarda de facto. Refira-se, ainda, que o subsídio pode igualmente ser atribuído a pessoas com idade inferior a 17 anos – desde que cumpram as condições previstas na legislação em vigor, e quando tenham a cargo exclusivamente os seus descendentes. Neste caso, a decisão de atribuição do subsídio está dependente de uma avaliação social e da emissão de parecer favorável por parte dos serviços responsáveis pela protecção da criança.

crianças de 7 a 17 anos de idade de membros de famílias participando no programa. O cuidador principal possui a responsabilidade de relatar todas as informações referentes ao cumprimento das corresponsabilidades.

Relativamente à componente de saúde, o programa visa as crianças de 0 a 5 anos de idade, de membros das famílias beneficiárias. A família é responsável por visitar o centro de saúde mais próximo a fim de receber assistência de prevenção e de imunização. As crianças devem receber todas as vacinas obrigatórias (BVG; DPT; Hepatitis B; Pólio e Sarampo) de acordo com o calendário estabelecido pelos postos de saúde.

4.3. Registo de Beneficiários

A equipa no terreno – 65 Animadores Sociais e 13 Pontos focais – é responsável pelo registo dos beneficiários. Este é efectuado em períodos estabelecidos pelo MSS, que divulga o calendário às administrações públicas, aos chefes de suco e à comunidade. Dentro desse período a população elegível pelo programa pode efectuar a sua candidatura. É realizada, igualmente, uma busca activa nas áreas mais remotas do país, onde o acesso à informação sobre o programa é mais restrito. Segue abaixo uma breve descrição do processo de registo:

• Recolha de dados das famílias potencialmente elegíveis pelo programa através de entrevistas com utilização do novo questionário.• A entrevista visa a obtenção de informação relevante do agregado familiar do requerente, para a verificação das condições de atribuição do subsídio.• A entidade responsável deve explicar ao requerente os objectivos, as fases, os prazos, a obrigatoriedade da celebração de um acordo com obrigações para ambas as partes, os direitos e os deveres, bem como as consequências do incumprimento.• O requerente recebe, por parte da entidade responsável, o comprovativo da entrega do requerimento e dos documentos apresentados, e a declaração que inclui a informação sobre os seus direitos e deveres, bem como as consequências do incumprimento do acordo.• A análise dos dados é efectuada a partir dos critérios de elegibilidade estabelecidos, seguido do processo de selecção de beneficiários,

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tendo em conta o orçamento anual alocado ao programa e a análise dos distritos mais pobres. A focalização do programa é baseada em quotas calculadas por uma estimativa do índice de pobreza por distrito, fundamentada nos dados de estudos realizados sobre a pobreza e a vulnerabilidade no país.

4.4. Comunicação e Disseminação do Programa

Com o intuito de assegurar um processo transparente e a qualidade na recolha de dados, o programa segue determinadas estratégias de comunicação que suportam a sua implementação:

• O calendário do programa é divulgado todos os anos, no mês de Dezembro, a todas as instituições envolvidas na sua implementação. O calendário informa sobre o período de registo de beneficiários, o processo de selecção e os critérios de elegibilidade. Durante o processo de disseminação sobre o registo do programa é enfatizado que o registo não significa uma garantia em receber o benefício.

• A população é informada sobre a confidencialidade dos dados fornecidos pela família, e igualmente dos seus direitos e deveres, incluindo a responsabilidade em fornecer informações correctas sobre a família.

• A população recebe no acto do registo uma brochura explicativa do programa, que contém os critérios de elegibilidade e as características do mesmo (incluindo os contactos dos órgãos executores do programa).

• A população é informada sobre o resultado do processo de selecção, bem como os períodos de reclamações e feedback por parte do órgão executor do programa.

4.5. Benefício

O valor do benefício é calculado com base nos valores de outros benefícios dos programas sociais do MSS, tal como o Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (SAII). Em cada ano civil o montante a atribuir por distrito, a título

de subsídio de apoio, é definido por despacho do membro do Governo com a tutela da Assistência Social, tendo em conta o número de beneficiários registados em cada distrito no ano imediatamente anterior, assim como a disponibilidade financeira do Estado no ano fiscal em causa.

Os valores definidos para o programa em 2012 são os seguintes:

• 1 Criança - $5 Dólares.• 2 Crianças - $10 Dólares.• 3 ou mais crianças - $15 Dólares.

4.6. Sistema de Pagamento

O benefício, desde o início do programa em 2008, tem sido pago directamente em dinheiro ao beneficiário, a nível do subdistrito, uma vez por ano. Para 2012 existe a proposta de seguir o esquema de pagamento utilizado pelos outros programas do MSS (SAII), que implementa o pagamento através do BNCTL, utilizando um sistema de banco móvel.

Deste modo, prevê-se para 2012 o desenvolvimento de um projeto piloto no distrito de Díli utilizando a transferência bancária para pagamento do benefício.19

Pretende-se alargar este sistema, a partir dos anos seguintes, aos distritos onde haja uma estrutura que permita a sua implementação e conforme a disponibilidade do banco.20

Com o intuito de evitar fraudes, o programa não permite substitutos na recepção do benefício – somente o cuidador principal, com documento de identificação, poderá receber o subsídio.

Relativamente à periodicidade do pagamento, de acordo com a legislação aprovada, é estabelecido que não deve decorrer mais de seis meses entre pagamentos. O programa estabeleceu os meses de Julho e de Dezembro para execução do pagamento, de acordo com o calendário escolar.21

19À excepção de Ataúro, uma vez que o banco ainda não possui as condições para assegurar o pagamento local, ficando este agendado para 2013. 20Muito recentemente, em Maio de 2012, a DNRS e o BNCTL tomaram a decisão de alargar o sistema em 2013 a 6 distritos do país – Aileu, Baucau, Díli, Manufahi, Oecussi e Viqueque – seguindo o mesmo processo de pagamento do programa SAII do MSS. 21A decisão de efectuar o pagamento do subsídio duas vezes por ano, e não com maior frequência, baseia-se em algumas especificidades do programa e do contexto do país, designadamente: valor baixo do subsídio, difícil acessibilidade e deslocação de grande parte dos beneficiários que vivem em áreas remotas para receberem o pagamento, e atribuição de um montante mais significativo, que pode ser utilizado pela família de modo mais efectivo.

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4.7. Monitorização e Avaliação

O programa conta com um sistema de monitorização e de avaliação dos resultados. No início de 2012 as equipas no terreno e central foram capacitadas sobre a implementacão do sistema de monitorização do programa. Através dele, é realizado o acompanhamento das corresponsabilidades, tanto a nível do agregado familiar como da entidade responsável e da implementação do programa, com o objectivo de identificar falhas e proceder à sua correcção.

Através da avaliação dos resultados o programa visa melhorar a sua operação e efectividade.

A monitorização do programa tem duas vertentes:

1- Monitorização do processo: visa assegurar que as organizações responsáveis pela implementação do programa tomem conhecimento se os beneficiários foram identificados de modo esperado e se o sistema de pagamento corresponde aos objectivos do programa, bem como recebam um feedback por parte dos beneficiários sobre o processo.

2- Monitorização do impacto do programa a nível dos agregados familiares beneficiários: o impacto do programa será monitorizado através dos indicadores estabelecidos previamente no Quadro Lógico. Pretende-se conhecer como é utilizado o benefício pelas famílias.

4.8. Parceiros

UNDPBANCO MUNDIAL

MINISTéRIO DA JUSTIçA

MINISTéRIO DA EDUCAçãO

MINISTéRIO DA SAúDE

1. Desenvolvimento da base de dados dos beneficiários.

2. Desenvolvimento de um sistema participativo de identificação de beneficiários.

3. Elaboração do sistema de monitorização e avaliação do programa.

4. Melhoria do esquema de pagamento dos beneficiários.

5. Apoio na elaboração do Decreto-lei. dos beneficiários.

Em 2011 foi aprovado pela Ministra da Solidariedade Social o projecto MIS, que tem como objetivo desenvolver um sistema integrado de dados dos beneficiários dos programas do Ministério, com vista à melhoria das operações e serviços.

Este é um parceiro chave, principalmente no que respeita à aprovação do orçamento.

Este é um parceiro chave no que respeita o cumprimento e a monitorização da corresponsabilidade do programa relacionado com os anos de escolaridade obrigátoria, para as crianças de 0 a 17 anos de idade que beneficiam do programa.

Este é um parceiro chave no que respeita o cumprimento e a monitorização da corresponsabilidade do programa relacionado com o acesso à vacinacão e aos cuidados básicos de saúde, para as crianças de 0 a 5 anos de idade que beneficiam do programa.

145144

5. DADOS DE EXECUçãO

O Gráfico seguinte apresenta o total de beneficiários elegíveis e excluídos em 2012, por distrito (ver Anexo II - Dados do programa de 2008 a 2012).

Gráfico 1. Número de Beneficiários Elegíveis e Excluídos em 2012, por Distrito

6. RESULTADOS ATINGIDOS

O programa tem vindo a consolidar-se, alcançando resultados significativos, entre os quais se destacam os seguintes:

RESULTADOS

Desenvolvimento da base de dados dos beneficiários. Ver em Anexo IV tabela sobre o desenvolvimento da base de dados.

Registo de 15.000 famílias.Entrada de dados finalizada em Março de 2012 pela equipa do terreno.

Monitorização e supervisão contínua do registo de beneficiários e da entrada de dados.

Contínua manutenção do sistema e formação em relação à entrada de dados.

Desenvolvimento de um esquema participativo de identificação de beneficiários

Indicadores e escala de vulnerabilidade desenvolvida.

Novo formulário de identificação de beneficiários com inclusão de aspectos relativos a toda a família.

Manual de preenchimento do novo formulário desenvolvido, e formação da equipa do terreno e central.

Desenvolvimento do Marco Lógico do programa com a equipa central.

Formação da equipa do terreno e central sobre o sistema de monitorização e de avaliação do programa.

Elaboração do Decreto-lei do programa

Versão final do Decreto-lei elaborada. Apresentado e aprovado no Conselho de Ministros no dia 8 de Fevereiro de 2012.

Acção Inter-Ministerial

Criação de um canal de comunicação entre os Ministérios de Saúde, de Educação e das Finanças, com o intuito de integrar acções e monitorizar os programas que estão a ser implementados pelos mesmos.

Melhoria do esquema de pagamento do programa

Desde 2008, o pagamento tem sido efectuado através de cash (prestação única). Realizaram-se reuniões com stakeholders durante esse ano para estudar possibilidades de melhorar o modo de pagamento dos beneficiários. Em 2012 haverá um novo sistema de pagamento, tendo como base o sistema do programa SAII do MSS, já em curso, através do BNCTL.

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3000

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AVALIAçãO

DESAFIOS RECOMENDAçÕES METAS FUTURAS

Registo de beneficiários

Durante 2011 houve o recadastramento de beneficiários e em Janeiro de 2012 a auto-canditatura de novas famílias ao programa. O êxito do período do registo depende da eficiente divulgação do respectivo calendário. Até 2011 ainda não existia um sistema de comunicação entre agentes envolvidos para garantir uma disseminacão eficaz.

Seguir o calendário anual do programa e divulgá-lo todos os anos, durante o mês de Dezembro, disseminá-lo a toda populacão e agentes envolvidos.

Desenvolvimento do sistema de comunicacão do programa e formação das equipas no terreno e central..

Entrada de Dados

Alguns distritos tiveram problemas em relação à conexão à internet durante o período de entrada de dados de beneficiários.

Avaliar a conexão com o provedor e procurar estratégias junto da equipa, tais como a distribuição de formulários entre os distritos.

Estabelecer o acompanhamento da entrada de dados a nível central. Continuar a comunicaçao com os Pontos focais.

Comunicação A comunicacão entre as equipas central e de terreno depende muito de canais informais, tais como as ligações e o envio de comunicados.

A comunicacão entre a equipa central e do terreno deve seguir o calendário operacional do programa, seguindo um sistema de periodicidade, como a monitorização de feedback.

Formação da equipa central e do terreno. Estabelecimento de canais e formas de comunicação homogéneas, bem como periodicidade no envio e recepção de feedback.

7. AVALIAçãO: DESAFIOS, RECOMENDAçÕES E METAS FUTURAS

O programa apresenta alguns desafios em termos de implementação, monitorização de acções e resultados esperados. No quadro seguinte apresentam-se as recomendações e as metas futuras que permitirão ultrapassar os constrangimentos e as dificuldades encontradas ao longo do processo de implementação do programa.

AVALIAçãO

DESAFIOS RECOMENDAçÕES METAS FUTURAS

Pagamento O actual sistema de pagamento requer um longo período para ser concluído e possui um calendário restrito, somente 2 dias por sub-distrito. Requer uma coordenação eficaz entre o Ministério das Finanças e o MSS.

O pagamento de beneficiários deve iniciar-se em 2012, e ser efectuado pelo menos 2 vezes por ano, não devendo superar o prazo de 6 meses entre pagamentos (Decreto-Lei). O antigo esquema deve ser substítuido pelo esquema de transferência bancária (projeto piloto em Díli, e a partir de 2013 cobertura de 6 distritos no país). Nos distritos que ainda não possuem infra-estruturas deve-se continuar a efectuar o pagamento em dinheiro através de bancos móveis.

Acordo estabelecido entre a DNRS e o BNCTL, para efectuar o pagamento aos beneficiários utilizando o sistema bancário, à semelhança do SAII.

Recursos Humanos

As funcões da equipa central e de terreno ainda não estão bem definidas.

As funções e responsabilidades da equipa central e do terreno devem ser analisadas e elaboradas as devidas reformulações.

Análise das funcões e responsabilidades da equipa central e do terreno. Termos de refêrencia devem ser revistos e, se necessário, reformulados pela Direcção.

Focalização O processo de identificação e de selecção de beneficiários teve alterações durante 2011 que ainda não foram assimiladas pelos agentes envolvidos e pela população em geral.

Desenvolver um plano de trabalho que inclua todas as fases das mudanças na focalizacão do programa e disseminar com a equipa e os agentes envolvidos.

O processo de focalizacão do programa é disseminado a agentes envolvidos e um sistema de feedback sobre dúvidas é elaborado, a fim de avaliar as percepções dos envolvidos sobre as mudanças na identificação e na selecção de beneficiários.

149148

AVALIAçãO

DESAFIOS RECOMENDAçÕES METAS FUTURAS

Coordenacão Inter-Ministerial

O programa é implementado pelo MSS com o apoio dos Ministérios da Educacão, das Finanças e da Saúde, mas nos anos anteriores ainda não existia um sistema de coordenação das acções e da monitorização.

Uma relação efectiva entre os Ministérios é essencial para harmonizar as políticas relacionadas com a Protecção Social. Reuniões Inter-ministeriais iniciaram-se em 2011 e protocolos de acordo serão elaborados.

Um sistema de monitorização das condicionalidades será coordenado entre os Ministérios envolvidos. Reuniões trimestrais agendadas. Assinatura e implementação de protocolos de acordo com os Ministérios, que permitam o acompanhamento rigoroso das famílias e o preenchimento das condicionalidades.

Infra-estrutura do país: suficientes meios para implementar o programa, para beneficiar efectivamente os grupos mais vulneráveis e alcançar os objectivos previstos

O programa é implementado em todos os sub-distritos do país. As dificuldades a nível das infra-estruturas – condições das estradas, eletricidade, conexão à internet – são consideradas factores de risco na implementacão das actividades, os quais influenciam o alcance dos resultados previstos.

Monitorização dos riscos e das dificuldades durante a implementação das actividades do programa.

Desenvolvimento de relatórios semestrais com levantamento dos principais problemas encontrados durante a implementacão das actividades, relacionados com as infra-estruturas do país. Estabelecimento de reuniões semestrais com os ministérios com o intuito de articular acções que possam minimizar os problemas na implementação das actividades.

Sistema integrado de partilha de dados entre os Ministérios (Educação, Saúde, Solidariedade Social). Base de dados isolados

Não existe um sistema único de base de dados com informações relativas aos beneficiários dos programas dos diversos ministérios, dificultando o cross-checking de informações, sobretudo no que respeita a identificação de documentos de identidade.

Criacão de um sistema único de dados referentes à populacão que recebe apoio por parte dos Ministérios da Solidariedade Social, da Educacão e da Saúde.

Ainda não existe um plano de trabalho estabelecido em relação a este ponto.

AVALIAçãO

DESAFIOS RECOMENDAçÕES METAS FUTURAS

Dados disponíveis sobre a situação de vulnerabilidade das famílias, estudos sobre o impacto do programa na redução da pobreza

A falta de dados actualizados sobre a pobreza e a vulnerabilidade social dificultaram a definição de aspectos do programa relacionados com a elaboração da escala de vulnerabilidade; definicão dos valores do benefício e acesso ao impacto do programa na redução da pobreza.

Definir que pesquisas de base serão utilizadas para a análise de parâmetros do programa (i.e. Estudo sobre Protecção Social, Banco Mundial, 2012; Social Geographical Index, UNDP, 2012; Household and Living Standard Survey, Banco Mundial, 2011).

Análise das últimas pesquisas realizadas pelo Banco Mundial, com dados sobre a pobreza e a vulnerabilidade social em Timor-Leste, bem como realizacão de uma avaliacão externa sobre o impacto do programa na redução da pobreza.

Falta de documentos de identificação da população

Durante o processo de pagamento e de registo de beneficiários, ao longo de 2011, constatou-se que um grande desafio para o programa consiste na apresentação de documentos de identificacão por parte da população (igualmente comprovado pelo estudo de Protecção Social realizado pelo Banco Mundial, que enfatiza que 74% da população considera a apresentação de documentos uma das maiores dificuldades para aplicar ao programa).

Análise da base de dados dos beneficiários e encaminhamento dos casos de falta de documentos de identificacão ao Ministério da Justiça.

Oferecer à populacão que não possui documentos de identificação o acesso a esse serviço e dispôr de fotocopiadoras no acto do registo e pagamento do benefício nas administrações locais.

Integração do programa com outras políticas públicas

Um dos principais desafios de um subsídio de apoio condicional é a sua integracão com outros programas de desenvolvimento do Governo, com o intuito de dar continuidade ao processo de investimento no capital humano e na redução da pobreza.

Para que haja um impacto na redução da pobreza e da vulnerabilidade é necessário que o programa Bolsa da Mãe seja integrado com outros programas de desenvolvimento – tais como, capacitacão e inclusão no mercado de trabalho, combate à malnutrição, combate ao trabalho infantil e à violência doméstica.

Ainda não existe um plano de trabalho estabelecido em relação a este ponto.

151150

AVALIAçãO

DESAFIOS RECOMENDAçÕES METAS FUTURAS

Cobertura do programa e orçamento

A actual cobertura do programa é muito baixa em comparação com os outros programas de Assistência Social do MSS. O orçamento alocado ao programa é igualmente muito baixo, se comparado com o orçamento dos outros programas de assistência social.

Ampliar a cobertura do programa a nível nacional. Aumento do orçamento alocado ao programa a partir da identificacão de potenciais beneficiários.

Ainda não existe um plano de trabalho estabelecido em relação a este ponto.

8. CONCLUSãO: REFLEXãO SOBRE O FUTURO: E OS PRóXIMOS 10 ANOS?

O Plano Nacional do Governo de Timor-Leste (2012-2030) tem como principal pilar da assistência social os programas de pensão dos Combatentes de Libertação Nacional e dos Veteranos, de subsídio de apoio a idosos, inválidos e mulheres chefes de família. As estratégias relacionadas com as políticas públicas estão focadas na garantia à população mais vulnerável de um apoio por parte do Governo, que visa a inclusão social destes grupos e o desenvolvimento de políticas que incentivem o crescimento económico.

A meta do Governo até 2015 consiste na criação de um pacote social que cubra a saúde, a educação, a habitação e as oportunidades de trabalho.

O programa Bolsa da Mãe possui uma enorme potencialidade, não somente no que diz respeito à protecção da população mais vulnerável, mas também no investimento em capital humano através do acesso à educação e à saúde. O programa promove, igualmente, uma acção conjunta e integrada, incentivando a responsabilidade das famílias em relação à educação e à saúde das crianças, assegurando, por parte do Governo, a acessibilidade da população a serviços de qualidade.

Relativamente à sustentabilidade do programa é importante enfatizar que programas de transferência de subsídios de apoio condicional devem ser integrados com outros programas de desenvolvimento do Governo. Devem ser desenvolvidos estudos sobre o impacto do programa no crescimento económico e desenvolvimento social do país, bem como análises sobre a viabilidade financeira do mesmo, que possibilitem estimar a abrangência que o programa pode vir a alcançar no futuro.

Neste âmbito, propõe-se ao Governo que reflicta sobre opções sustentáveis de financiamento, tais como a criação de um fundo de solidariedade, proveniente do orçamento geral do Estado, independente do regime contributivo, que suporte a execução financeira dos programas sociais.

Com uma acção interministerial, o programa poderá facilitar, do mesmo modo, o desenvolvimento de uma rede de acções no que respeita um sistema de cross-checking entre base de dados, um sistema de monitorização e avaliação dos programas desenvolvidos em parceria e encaminhamento de casos especiais aos órgãos responsáveis (tais como casos de violência doméstica e abusos contra crianças).

Na medida em que o objectivo de redução da pobreza requer uma intervenção multisectorial e uma acção intregrada, torna-se fundamental assegurar a cooperação inter-institucional e inter-ministerial. Por outro lado, o acompanhamento e a avaliação dos recursos humanos é igualmente importante, consoante o desenvolvimento do programa e as necessidades futuras. A partir de 2012 haverá mudanças fundamentais no programa que poderão implicar um reforço dos recursos humanos:

a) implementação de um mecanismo de monitorização e de avaliação, que requer uma acção integrada com a educação e a saúde; b) acção inter-ministerial, que requer uma coordenação eficaz entre os vários ministérios; c) aumento da amplitude do programa. Propõe-se, deste modo, uma avaliação das necessidades futuras do programa em termos de recursos humanos.

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Um dos maiores desafios actuais do programa é a inovação no sistema de pagamento do subsídio. A passagem para o modo de pagamento por transferência bancária produzirá uma grande mudança e melhoria para os beneficiários.

No entanto, há ainda que avaliar a melhor solução, dadas as dificuldades do processo (nomeadamente, beneficiários a viver em áreas remotas, em condição de forte vulnerabilidade e com dificuldades para lidar com o novo sistema). É fundamental melhorar a forma de pagamento, mas de modo a não prejudicar os beneficiários.

Como próximos passos a tomar sublinha-se a necessidade de desenvolver:

1) regulamento sobre a exclusão de universitários, e definição dos respectivos critérios; 2) regulamento sobre o benefício/montante; 3) protocolos de acordo com o Ministério da Saúde e da Educação, para a monitorização das condicionalidades.

ANEXO I - quadro comparativo das principais mudanças do programa desde o seu início em 2008 até 2012

BOLSA DA MãE

2008 - 2010 2011 - 2012

Identificação de Beneficiários

Somente uma criança e, em alguns casos, duas em cada família que participa no programa.

Todas as crianças de 0 a 17 anos de cada família beneficiária que participa no programa.

Linear (ajuste durante o programa) quotas por subdistrito.

Quotas definidas por subdistritos com base no mapeamento da pobreza do país (utilização dos dados do Censos 2010).

Critérios relacionados com o género bem definidos, mas não bem definidos os que se relacionam com a pobreza e vulnerabilidade.

Critérios relacionados com o género bem definidos. Uma escala de vulnerabilidade que contém várias dimensões (Educação, Saúde, Monetária e Perfil Familiar) e indicadores (já presentes no novo formulário), possíveis de serem mensurados para classificar e seleccionar as famílias.

Selecção e avaliação efectuada pelos chefes de sucos e animadores sociais com base em critérios subjectivos.

Selecção e avaliação com base em quotas territoriais e pesquisas. Os chefes de sucos participarão através do apoio ao processo operacional, informando os beneficiários sobre a existência do program, mas não serão responsáveis pela identificação de beneficiários. Os Animadores Sociais terão a supervisão dos Pontos focais e da equipa central do MSS.

O formulário utilizado recolhia somente informações sobre a mãe (ou cuidadora) e do beneficiário, a criança. As informações eram utilizadas principalmente para uso administrativo.

O novo formulário irá recolher informações socioeconómicas e demográficas das famílias e dos seus membros. As informações servirão de base para a monitorização e administração do sistema do programa.

O período de registo foi definido basicamente em 2008. As listas de espera de beneficiários foram utilizadas para a expansão do programa em 2009 e 2010

O processo de registo é constituído pelo recadastramento dos beneficiários antigos e a autocandidatura através de novo registo.

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BOLSA DA MãE

2008 - 2010 2011 - 2012

Sistema e Base de Dados

Até 2009, a gestão do programa foi efectuada através de Folhas de Cálculo (Excel). Em 2010, foi desenvolvido um sistema administrativo com base no MS Access.

Uma base de dados nova web-based e centralizada no MSS, com acesso on-line de cada escritório do distrito para facilitar o registo dos dados dos beneficiários.

Não havia uma equipa ICT dedicada ao programa. O sistema desenvolvido era gerido por profissionais com contratos de curta duração.

Cada distrito é equipado com infraestrutura de ICT básica e conexão à internet, de modo a ligar-se ao banco de dados central.

Não existe a integração do sistema de dados do programa com outros sistemas de informação dos outros programas do MSS.

O MIS está em fase de definição das especificações e dos requisitos técnicos e a trabalhar sobre os aspectos técnicos de integração e comunicação entre diferentes bancos de dados.

Todo o processo de entrada do dado é feito a nível central. Não existem definições claras de monitorização e administração dos dados.

A entrada de dados é descentralizada. A equipa central do MSS será responsável pela supervisão, monitorização, capacitação e avaliação de todo o processo. Criação de sistemas de monitorização e de análise do processo de registo e dos dados armazenados.

Monitorização e Avaliação

Até 2010 não houve monitorização e avaliação do programa.

O novo sistema de informação de dados permitirá a implementação e a monitorização de todo o processo do BdM. Um manual de monitorização e de avaliação foi desenvolvido, e toda a equipa recebeu formação no início deste ano.

Não existe coordenação a nível de monitorização e avaliação dentro do MSS.

Em 2012 serão estabelecidas reuniões interministeriais para coordenar a monitorização e avaliação do programa.

Enquadramento Legal

Não existe um enquadramento legal. Foi entregue uma nota técnica no Departamento Jurídico do MSS e realizadas algumas reuniões.

Decreto-Lei do programa finalizado e aprovado em Conselho de Ministros. Promulgação e publicação no Jornal da República.

BOLSA DA MãE

2008 - 2010 2011 - 2012

Mecanismo de Opinião/ Comunicação

Não existem mecanismos de feedback. O sistema de comunicação e disseminação do programa está a ser fortalecido pela equipa central e do terreno – o Manual Operacional do programa inclui instruções relativas a este. Em 2012, a equipa central e do terreno serão capacitadas sobre o novo sistema de comunicação e disseminação do programa.

Processo de Pagamento

O pagamento é efectuado anualmente através de cash.

O pagamento em 2011 foi efectuado através de cash (uma prestação). Realizaram-se reuniões com stakeholders durante esse ano para estudar possibilidades de melhorar as formas de pagamento aos beneficiários. Em 2012, haverá um novo sistema de pagamento tendo como base o sistema do programa SAII do MSS, já em curso, através do BNCTL.

BDM 2008 BDM 2009 BDM 2010 BDM 2011 BDM 2012

Orçamento $558,880.00 $795,760.00 $1,021,760.00 $1.410,760 $2.500,000

Número de Beneficiários

(Famílias)

7.051 9.582 13.458 13.908 13.931Famílias

com crianças de 0 a 17 anos de idade.

ANEXO II - Dados do Programa de 2008 até 2012

157156

ANEXO III - Nota Explicativa: Escala de Vulnerabilidade

Foi desenvolvida uma escala de vulnerabilidade com o intuito de determinar a priorização da selecção das famílias para o programa. A escolha das dimensões e dos indicadores da escala dependeram dos dados disponíveis. Outro critério na escolha dos indicadores consistiu em evitar a criação de incentivos negativos no comportamento das famílias – por exemplo, se consideramos como indicador, no processo de selecção das famílias, as crianças fora da escola, isto poderia criar um incentivo (negativo) para as familias não enviarem os seus filhos à escola, de modo a preencherem os requisitos de qualificacão do programa.

É importante, igualmente, enfatizar que as escolhas dos indicadores no processo de selecção devem ser cuidadosamente justificadas, já que o modo de mensuração possui um impacto directo sobre o público-alvo do programa.

Foram escolhidas as seguintes dimensões como base para a análise do processo de selecção dos beneficiários, na medida em que fornecem dados objectivos e mensuráveis:

1- Rendimento total familiar (incluindo o rendimento de pensões ou outro tipo de suporte por parte dos programas sociais).2- Perfil Familiar:- Posição do chefe da família.- Número de crianças de 0 a 17 anos de idade.- Número de crianças com menos de 17 anos de idade com alguma deficiência fisica ou mental.

A decisão de considerar as dimensões com pesos iguais surgiu a partir de várias discussões com a equipa técnica do programa e a DNRS, e também pelo facto de não existirem dados estatísticos prévios que possam justificar certas escolhas. Deste modo, a falta de uma linha de base contendo a análise de tais dimensões é a principal razão para que na análise das dimensões nenhuma delas possua maior peso que a outra, evitando-se assim a prevalência de uma dimensão sobre outra e a arbitrariedade na

análise dos factores. Dimensões com pesos iguais também permitem uma análise mais fácil e objectiva dos resultados.

Os outros indicadores recolhidos a partir do formulário não serão utilizados na escala, devido à falta de exactidão e disparidade que podem demonstrar, tais como:

• Tipo de deficiência física, grau de deficiência e causa: não existe nenhum estudo prévio no país sobre a prevalência de tipos de deficiência, respectivos graus e como mensurá-los, sendo totalmente arbitrário utilizar este tipo de indicador na escala.

• Área total utilizada para o cultivo, medida através de hectares ou do grau de produtividade de uma terra: também no contexto do país não há modo de recolher este tipo de dado com exactidão constituindo, novamente, uma escolha arbitrária de valor.

Factores de análise:

1- Unidade de Análise: Família.2- Dimensões: Rendimento monetário familiar; Perfil Familiar; Saúde.3- Indicadores – Indicadores filtrados a partir do formulário do programa:3.1- Posição do chefe de família.3.2- Número de crianças de 0 a 17 anos de idade.3.3- Rendimento familiar.3.4- Número de crianças abaixo de 17 anos de idade com alguma deficiência física ou mental.4- Estabelecimento de cortes: são estabelecidos cortes para cada dimensão – por exemplo, para o indicador relacionado com a deficiência (pelo menos uma criança na família com idade abaixo de 17 anos de idade com algum tipo de deficiência).5- Cálculo do peso das variáveis de cada indicador para cada família; de seguida, cálculo do peso total.

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Processo de selecção:

• Um valor que varia de 0 a 4 é designado para cada indicador. • Multiplica-se o valor de cada indicador: entre 0 (menos vulnerável) a 4 (mais vulnerável).• Para cada família, a escala de vulnerabilidade é avaliada a partir de uma fórmula aritmética que irá medir o resultado do peso de todos os indicadores, concretamente:

Em que é o peso de cada resultante atribuído a cada indicador avaliado e o número de indicadores que são considerados.

O resultado mais importante obtido a partir desta amostra de dados será o desvio padrão da amostra, calculada como se segue:

Enquanto corresponde ao peso médio previamente calculado para cada família, corresponde à média aritmética de todos os pesos da família, e ao número de famílias na amostra.

 

   

   

 

ANEXO IV

A tabela seguinte demonstra o status de acções relacionadas com o sistema da base de dados e o seu status actual:

A tabela seguinte resume as acções a serem realizadas de Julho a Setembro de 2012:

ACçãO ESTADO

Desenvolvimento do banco de dados Concluído

Registo de beneficiários Concluído

Avaliação da vulnerabilidade Concluído

Segmentação Concluído

Criação de listas de pagamento Concluído

ACçãO ESTADO TEMPO ESTIMADO

Registo informático de frequência escolar das crianças (0-17)

Ainda não desenvolvido

2 mesesRegisto informático de imunizações das crianças (0-17)

Ainda não desenvolvido

Mudanças na forma de registo actual Ainda não desenvolvido 1 semana

Mover o sistema a partir do servidor externo para o novo servidor MSS

Não concluído 1 semana

Sistema de entrega em TI MSS gerente (José Viana)

Não concluído TBD

TOTAL 2,5 a 3 meses

160

PROGRAMA: SUBSÍDIO DE APOIO A IDOSOS E INVÁLIDOS

Leoneto Faria,Chefe Departamento da DNSS

eixo

1

Fotografía: MSS

163162

1. INTRODUçãO

Em Timor-Leste a maioria da população ainda vive em situação de pobreza, sendo particularmente afectados aqueles cuja capacidade para o trabalho é reduzida ou inexistente, sobretudo os cidadãos idosos e os cidadãos inválidos. Estes grupos sociais vivem em situação de grande vulnerabilidade.

Até 2008 o país não dispunha ainda de qualquer tipo de prestação de protecção social destinada a estes grupos, que permitisse melhorar a sua situação de fragilidade social.

Em 2008 o IV Governo Constitucional criou a primeira medida de protecção social para os cidadãos, o Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (SAII).1

Esta é uma prestação pecuniária, com carácter universal, logo de natureza não contributiva, que consiste no pagamento de um subsídio mensal a todos os cidadãos timorenses residentes com mais de 60 anos de idade, ou com mais de 18 anos se comprovadamente incapacitados para trabalhar.

O seu financiamento é integralmente suportado pelo Orçamento do Estado. Refira-se que este subsídio não é cumulável com outras prestações pecuniárias de protecção social, provenientes de regimes contributivos ou não contributivos, pagas pelo Estado ao mesmo beneficiário.

O primeiro pagamento directo aos beneficiários do SAII foi efectuado em Agosto de 2008.

Pode assim considerar-se que, por iniciativa do Governo, o sistema de protecção social em Timor-Leste começou por ser edificado a partir do que poderá ser considerado um primeiro pilar de protecção de cidadania, por conseguinte, universal e não contributivo, assegurando protecção social a todos os cidadãos idosos e inválidos.2

1Decreto-Lei n.º 19/2008, de 19 de Junho.

2Refira-se que, antes da implementação do SAII, existiam já serviços de apoio a grupos vulneráveis, designadamente um serviço de assistência social especificamente direccionado a pessoas com deficiência – sob a coordenação do Departamento de assistência a pessoas com deficiência, da Direcção Nacional de Assistência Social do MSS. (vd. Capítulo Serviço social de apoio a pessoas portadoras de deficiência).

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste (CRDTL), para além do Artigo 56.º que estabelece que todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social, consagra determinados direitos relativos a estes dois grupos sociais, concretamente:

“Terceira idade (Artigo 20.º):

1. Todos os cidadãos de terceira idade têm direito a protecção especial por parte do Estado.

2. A política de terceira idade engloba medidas de carácter económico, social e cultural tendentes a proporcionar às pessoas idosas oportunidades de realização pessoal através de uma participação digna e activa na vida da comunidade.”

“Cidadão portador de deficiência (Artigo 21º):

1. O cidadão portador de deficiência goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres dos demais cidadãos, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontre impossibilitado em razão da deficiência.

2. O Estado, dentro das suas possibilidades, promove a protecção aos cidadãos portadores de deficiência, nos termos da lei.”

A Lei Orgânica do MSS define os órgãos que o compõem, bem como as suas competências, nomeadamente a Secretaria de Estado da Segurança Social e a Direcção Nacional da Segurança Social (DNSS). A DNSS é responsável pela elaboração de políticas de seguro social, de natureza contributiva e não contributiva.

O Decreto-Lei n.º 19/2008, de 19 de Junho, tendo como base a CRDTL, estabelece uma prestação de apoio aos idosos e inválidos, que visa garantir a subsistência dos seus destinatários.

165164

Em 2010 foi aprovado um Diploma Ministerial Conjunto, entre o MSS e o Ministério das Finanças, que estabelece o aumento do montante do SAII – inicialmente no valor de US$20, que passou para os US$30 mensais.

3. OBJETIVOS

3.1. Objectivo geral

Reduzir a pobreza focalizando nos grupos mais vulneráveis da população – idosos e inválidos.

3.2. Objectivo específico

O presente subsídio tem como objectivo garantir a subsistência aos cidadãos que, dada a sua idade e invalidez física ou psíquica, não têm capacidade (suficiente) para o trabalho. Pretende-se assegurar um nível de subsistência mínima e universal, com vista a uma melhor qualidade de vida e bem-estar destas pessoas.

4. O SUBSÍDIO DE APOIO A IDOSOS E INVÁLIDOS

4.1. Público-alvo

Todos os idosos e inválidos.

4.2. Condições de Atribuição

Têm direito ao subsídio de apoio todos os cidadãos timorenses idosos e inválidos, que satisfaçam as seguintes condições:

a) Condição geral• Ser cidadão timorense.• Residir em território nacional há pelo menos um ano à data de

apresentação do requerimento da pensão.

b) Condições de atribuição aos idosos• Ter idade igual ou superior a 60 anos.

c) Condições de atribuição aos inválidos• Ter idade igual ou superior a 18 anos.• Ser portador de condição mental ou física, de qualquer proveniência,

que determine incapacidade absoluta e definitiva para exercer uma actividade laboral.

4.3. Registo dos Beneficiários

O registo dos beneficiários é efectuado a nível local pelos 13 Pontos focais do MSS a trabalhar nos distritos. A recolha dos dados dos beneficiarios é realizada em colaboração com as autoridades locais e os chefes de suco, sendo estes dados enviados directamente para o MSS, a nível central, ou através dos pontos focais que estão nos seis centros regionais do Ministério.

Ao nível da cobertura do programa, estão registados no sistema 100.327 idosos, desde o início do processo de registo, em Outubro de 2007, até à data (Maio de 2012). No entanto, 10.200 dos idosos registados não cumprem os requisitos, havendo deste modo uma diferença entre o número de beneficiários (idosos) e o número de idosos registados no sistema. Os serviços centrais do MSS imprimem a lista de registos e enviam para os distritos. Os pedidos dos indivíduos que não cumprem os requisitos ficam pendentes, sendo estes notificados/ informados.

Actualmente, todo o registo é efectuado na base de dados do MSS específica para o programa SAII. No processo de registo, são requeridas as seguintes acções:

• Apresentação de requerimento juntamente com a entrega de uma fotocópia do cartão eleitoral do requerente.

• Declaração da autoridade local, atestando que o requerente reside em território nacional há mais de um ano a partir da data de submissão do requerimento.

167166

• Os requerentes na categoria de “inválidos” têm que apresentar um atestado médico comprovando a sua incapacidade absoluta e definitiva – sendo obrigatória a entrega de documento original.3

4.4. Benefício (montante)

O montante do subsídio não pode ultrapassar um terço do salário mínimo estipulado para a função pública no ano corrente, nem ser inferior ao total atribuído no ano anterior.

O montante atribuído mensalmente no primeiro ano correspondeu a US$20. Em 2010 o valor do subsídio foi aumentado para US$30, conforme o Diploma Ministerial (Conjunto/MSS/MF/2010).

4.5 Processo de Pagamento

Até muito recentemente o pagamento do benefício era efectuado de modo directo, em dinheiro, em todo o território nacional, ao nível dos sub-distritos. Actualmente existem duas modalidades de pagamento, conforme os distritos em causa:

• Pagamento directo: efectuado nos distritos de Ainaro, Bobonaro, Ermera, Lautem, Liquiça, Manatuto e Manufahi. Este modo de pagamento é processado pelo Ministério das Finanças, através do respectivo ponto focal a nível distrital, em colaboração com a sucursal do banco no distrito. Os beneficiários recebem o subsídio nos centros de pagamento a nível dos sub-distritos, nos dias e no horário estabelecido para o efeito (duas vezes por ano é afixado pelas autoridades locais o calendário estabelecido para a recepção do pagamento).

• Transferência bancária: projectos-piloto nos distritos de Díli, Baucau, Viqueque, Aileu, Covalima e Oecussi, a funcionar desde Janeiro de 2012 (exceptuando o distrito de Díli, que iniciou em 2011). Nestes distritos, é obrigatório o pagamento por transferência bancária.

3Inicialmente o reconhecimento do requerente como incapacitado para o trabalho não permitia avaliar o grau de invalidez. A partir do início de 2012, o Ministério da Saúde estabeleceu uma classificação relativamente aos diferentes graus de invalidez (de 0 a 4), seguindo os padrões estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde. Os indivíduos que apresentam, mediante exame médico de avaliação, certificação de invalidez com os graus mais elevados (3 e 4) são considerados como potenciais beneficiários. Os cidadãos com o grau de invalidez 1 ou 2 não são considerados. Refira-se, ainda, que a incapacidade para o trabalho é avaliada de acordo com as funcionalidades físicas, sensoriais e mentais, a idade, as aptidões profissionais e a capacidade de trabalho remanescente dos candidatos.

4.6. Supervisão e Acompanhamento

O MSS efectua a supervisão e o acompanhamento das actividades a nível local através dos Centros Regionais, com o objectivo de, por um lado, conhecer os efeitos efectivos do SAII em termos de melhoria de vida dos beneficiários – se, de facto, contribui para assegurar a sua subsistência mínima; e, por outro lado, avaliar o modo de atendimento e o trabalho dos técnicos, o processo de pagamento, os problemas e as dificuldades surgidas.

São regularmente efectuadas auditorias, quer externas – por uma empresa internacional através do Ministério das Finanças – quer internas – pelo Gabinete de Inspecção e Auditoria Interna do MSS.

Refira-se, ainda, que pontualmente é efectuada a verificação da implementação do programa por parte de entidades autónomas, designadamante a Comissão Anti-corrupção e a Procuradoria-Geral dos Direitos Humanos, às quais qualquer beneficiário pode recorrer.

4.7. Parceiros

Os principais parceiros na implementação deste programa são:

• A nível ministerial: Ministério da Saúde, Ministério das Finanças, Ministério da Administrração Estatal e Secretaria de Estado da Segurança.

• A nível local: autoridades locais, através do Ministério da Administração Estatal.

A necessidade de coordenação entre o MSS e os ministérios com as tutelas da saúde, finanças e administração estatal, refere-se, respectivamente, à emissão de atestados médicos, ao processo de pagamento e à criação de representações da entidade responsável.

169168

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

• É o primeiro programa universal que visa assegurar a subsistência a todos os cidadãos com mais de 60 anos de idade ou incapacitados.

• Em Timor-Leste todas as pessoas nesta situação têm direito a receber um subsídio mensal, permanente, sem qualquer discricionariedade, até ao fim da sua vida.

• Por isso, o SAII pode ser considerado como um esquema de pensão social universal.

6. DADOS DE EXECUçãO

Os dois gráficos seguintes apresentam dados sobre a evolução do número de beneficiários e do montante do financiamento do SAII de 2008 a 2011.

Gráfico 1.Cobertura Total do SAII, 2008-2011

0

14,285.71

28,571.43

42,857.14

57,142.86

71,428.57

85,714.29

100,000.00

66,51272,675

86,97790,710

20082009

20102011

Gráfico 2. Total de Gastos do SAII, 2008-2011

Fonte: Direcção Nacional da Segurança Social de Timor-Leste.

Refira-se que, em 2010, efectuou-se uma reverificação do SAII para resolver as situações anómalas (Resolução do Governo n.º 2/2010). Segundo estes dados, em 2010 residiam em Timor-Leste 87.220 idosos e 48.243 pessoas inválidas. Em termos de cobertura, relativamente ao total de população idosa e inválida no país, o SAII atingiu 95.02% (82.879 idosos) e apenas 8.49% (4.098 inválidos), respectivamente.4

7. AVALIAçãO

7.1. Impactos do Programa

Segundo um estudo realizado recentemente pelo Banco Mundial sobre protecção social5:

4Fonte: DNSS, 2010.

5Estudo sobre Protecção Social em Timor-Leste, Banco Mundial, 2011.

0

5,000,000.00

10,000,000.00

15,000,000.00

20,000,000.00

25,000,000.00

30,000,000.00

35,000,000.00

15,871,035 16,801,860

30,793,17031,800,960

20082009

20102011

171170

1. Em Timor-Leste, os impactes do SAII na vida dos beneficiários são positivos e expressivos. Deste modo, seguindo os resultados deste estudo, pode-se considerar que o contributo do SAII é muito importante para a melhoria de vida dos idosos e inválidos.

2. Segundo o Banco Mundial, a grande maioria dos idosos utiliza o subsídio em despesas de alimentação (88,2%), e uma minoria em despesas de educação (5,7%). Relativamente aos inválidos, o subsídio é igualmente utilizado sobretudo na compra de alimentos (77,1%), e, em parte, em despesas de saúde (7,8%).

3. O estudo revela ainda que a partir de 2008, ano em que se iniciou a atribuição do SAII, verificaram-se mudanças significativas na vida dos beneficiários, tais como: aptidão financeira para o pagamento das propinas da escola dos filhos, e até mesmo dos netos, compra de alimentos durante um mês, entre outros.

7.2. Dificuldade de Execução

• Fraudes e falsificação de documentos no processo de verificação da identidade dos cidadãos: a apresentação de documentos comprovativos é um requisito fundamental para fazer prova da idade e respectivo direito ao subsídio. Têm-se verificado muitas fraudes e a falsificação de documentos (ex. 514 falsificações em 2009 no distrito de Oecussi). A causa deste problema relaciona-se com a inexistência de um documento de identificação nacional comum a toda a população, que ofereça garantias de fiabilidade (como por exemplo, o Bilhete de Identidade).

• Ausência de registo de óbitos e falta de cooperação efectiva por parte de alguns líderes locais: a ausência de registo oficial de óbitos não permite resolver as situações de falsificação; esta situação é dificultada ainda pela falta de cooperação efectiva de alguns líderes locais que, muitas vezes, encobrem os óbitos para poderem receber o subsídio.

• Sistemas de pagamento muito rudimentares – a falta de bancos no

território de Timor-Leste obriga a que o pagamento das prestações seja efectuado por transporte e directamente entregue em dinheiro aos beneficiários. No local de pagamento não há registo efectivo do pagamento aos beneficiários.

Têm surgido problemas e dificuldades no modo de pagamento directo – muitas pessoas que aparecem para receber não cumprem os requisitos, nem fazem parte da lista de beneficiários, e exigem o pagamento no local.

• Falta de rede de comunicação/ infra-estruturas de qualidade a nível local.

Porém, nota-se que nenhuma destas dificuldades prejudica o objectivo do programa, que é garantir a todos um rendimento de subsistência.

7.3. Recomendações

• Melhoria da rede de comunicação e da acessibilidade física a nível local. Estabelecer uma parceria com o Ministério das Infraestruturas, por um lado, para assegurar linhas de comunicação entre os distritos e a criação de uma base de dados integrada a nível local e central, e, por outro lado, para melhorar a acessibilidade física aos centros de pagamento nos sub-distritos.

• Descentralização do processo de registo de beneficiários para os seis Centros Regionais. Recomenda-se uma efectiva cooperação para a criação de uma base de dados descentralizada e integradora do nível local e central. Não há ainda capacidade ou recursos humanos suficientes para esta descentralização.

• Esta descentralização poderia ser feita complementarmente à criação de municípios em Timor-Leste, conforme os planos do Governo.

• Manter o montante do SAII, mas adequar conforme, e na eventualidade de aumento do salário da função pública.

• Avaliação do programa e melhoria do mecanismo de atribuição do subsídio.

173172

Como observação final, sublinha-se a intenção actual de se manter o programa como o primeiro pilar de protecção social. No entanto, deixa-se em aberto a possibilidade futura de atribuição de uma pensão social somente às pessoas com baixo rendimento – o que implicaria a definição de critérios de elegibilidade.

8. CONCLUSãO

Em torno de uma reflexão sobre a sustentabilidade do SAII, recomenda-se uma avaliação geral do programa, para a melhoria do mecanismo de atribuição do subsídio, bem como para a eventualidade de uma futura atribuição somente aos idosos e aos inválidos em situação de efectiva vulnerabilidade.

Por outro lado, tendo em conta a importância de avaliar atempadamente a sustentabilidade financeira do programa, foram realizados estudos atuariais com projecções a partir de 2012 até 2036 (ver Quadro 3 em Anexo).6 De acordo com estas projecções, o número total de beneficiários descerá tendencialmente até 2019. A partir desse ano, o número aumentará gradualmente até 2036, ano em que atingirá os 123.993 beneficiários, correspondendo a um encargo de 44.637.566 US$.

Por último, refira-se que o MSS tem desenhado e definido diversas políticas, mas não se tem dedicado à realização de estudos do impacte dos programas, para avaliação da sua viabilidade financeira e sustentabilidade. Quais os efeitos reais destes programas na redução da pobreza?

Alguns desafios – sustentabilidade do programa:

1. Adaptação do subsídio relativamente aos preços dos bens no mercado (adaptação à inflação) – garantir que o benefício do subsídio consiga atingir o objectivo de subsistência mínima.

2. Uma vez que este é um programa universal, na ausência de outros programas a evolução do número de beneficiários dependerá sobretudo da evolução da população com mais de 60 anos de idade.

6Estes estudos atuariais foram realizados pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social de Portugal, em Janeiro de 2012.

3. Identificação/ óbitos.

4. Diminuição do número de beneficiários devido ao desenvolvimento do sistema de pensões contributivo.

9. METAS FUTURAS

1. Melhoria do mecanismo de pagamento do SAII.

2. Estabelecer uma parceria com o Ministério das Infraestruturas, por um lado, para assegurar linhas de comunicação entre os distritos e a criação de uma base de dados integrada a nível local e central, e, por outro lado, para melhorar a acessibilidade física aos centros de pagamento nos sub-distritos.

175174

ANEXOS

quadro 1. Número de Beneficiários SAII, por Distrito, 2008-2011

Fonte: Base de dados SAII, Direcção Nacional da Segurança Social de Timor-Leste.

Distrito 2008 2009 2010 2011

Aileu 3,038 3,293 2,977 2,940

Ainaro 3,458 5,203 5,664 5,816

Baucau 10,471 9,576 13,270 13,938

Bobonaro 6,856 6,757 9,127 9,451

Covalima 4,564 5,023 5,977 6,093

Dili 5,281 6,841 7,542 7,985

Ermera 6,564 7,038 7,468 7,772

Lautem 3,976 4,533 5,702 5,785

Liquiça 5,245 5,439 5,632 5,755

Manatuto 3,361 4,114 4,845 4,831

Manufahi 3,597 4,235 4,591 4,857

Oecusse 3,987 4,111 4,355 4,984

Viqueque 6,114 6,512 9,827 9,955

Total 66,512 72,675 86,977 90,162

quadro 2. Número de Beneficiários SAII, Desagregados por Idosos e Inválidos, e por Género

Fonte: Base de dados SAII, Direcção Nacional da Segurança Social de Timor-Leste.

Distrito 2008 2009

2010 2011

Idosos Inválidos Idosos Inválidos

Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens

Aileu 3,038 3,293 1,386 1,544 30 44 1,387 1,463 35 55

Ainaro 3,458 5,203 2,926 2,523 101 127 3,019 2,520 116 161

Baucau 10,471 9,576 6,585 5,731 480 623 6,564 5,662 832 880

Bobonaro 6,856 6,757 4,584 4,394 82 153 4,722 4,404 120 205

Covalima 4,564 5,023 3,045 2,790 78 83 3,166 2,768 76 83

Dili 5,281 6,841 3,850 3,286 237 342 3,892 3,343 318 432

Ermera 6,564 7,038 3,616 3,607 135 163 3,727 3,611 190 244

Lautem 3,976 4,533 3,222 2,428 59 83 3,232 2,379 72 102

Liquiça 5,245 5,439 2,799 2,685 87 120 2,823 2,593 132 207

Manatuto 3,361 4,114 2,438 2,153 135 138 2,408 2,130 145 148

Manufahi 3,597 4,235 2,147 2,220 100 133 2,301 2,292 116 148

Oecusse 3,987 4,111 2,264 2,103 24 44 2,487 2,393 32 72

Viqueque 6,114 6,512 5,238 4,081 251 302 5,279 4,058 279 339

Total 66,512 72,675 44,100 39,545 1,799 2,355 45,007 39,616 2,463 3,076

177176

quadro 3. Projecção da Estimativa do Número de Beneficiários e dos Encargos Anuais, com o Pagamento do Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos, 2012 – 2036

Fonte: Estudo atuarial efectuado pelo Ministério do Trabalho e da Segurança Social de Portugal, em Janeiro de 2012, a pedido da DNSS e com dados da Base de Dados SAII e dos Censos de

2004.

Ano

Beneficiários Idosos Beneficiários Inválidos Total

Número de

beneficiários

Encargo anual

em US$

Número de

beneficiários

Encargo anual

em US$

Número de

beneficiários

Encargo anual

em US$

2012 89.710 32.295.554 5.844 2.103.704 95.553 34.399.258

2013 87.216 31.397.599 5.714 2.057.209 92.930 33.454.808

2014 85.928 30.934.087 5.982 2.153.351 91.910 33.087.438

2015 85.169 30.660.735 6.029 2.170.493 91.198 32.831.228

2016 84.200 30.311.878 6.061 2.181.870 90.260 32.493.747

2017 82.811 29.811.997 6.388 2.299.561 89.199 32.111.558

2018 82.534 29.712.273 6.430 2.314.955 88.965 32.027.228

2019 81.575 29.366.939 6.531 2.351.136 88.106 31.718.075

2020 84.432 30.395.439 6.761 2.433.901 91.193 32.829.339

2021 83.981 30.233.126 6.669 2.400.799 90.650 32.633.925

2022 84.885 30.558.715 7.199 2.591.676 92.084 33.150.391

2023 84.894 30.561.997 7.124 2.564.639 92.018 33.126.636

2024 85.747 30.868.986 7.418 2.670.374 93.165 33.539.360

2025 89.056 32.060.212 7.498 2.699.115 96.554 34.759.326

2026 88.938 32.017.632 7.639 2.749.934 96.577 34.767.566

2027 89.296 32.146.562 7.989 2.875.925 97.285 35.022.487

2028 91.934 33.096.075 8.090 2.912.331 100.023 36.008.406

2029 93.309 33.591.411 8.174 2.942.623 101.483 36.534.035

2030 99.283 35.741.753 8.377 3.015.705 107.660 38.757.458

2031 100.567 36.204.176 8.181 2.945.242 108.748 39.149.418

2032 103.773 37.358.196 8.551 3.078.321 112.324 40.436.517

2033 105.960 38.145.526 8.309 2.991.065 114.268 41.136.591

2034 108.857 39.188.527 8.471 3.049.445 117.328 42.237.973

2035 114.756 41.312.051 8.368 3.012.514 123.124 44.324.565

2036 115.932 41.735.682 8.061 2.901.884 123.993 44.637.566

179178 Fotografía: MSS

COMENTÁRIO SOBRE OS PROGRAMA SOCIAIS EM TIMOR-LESTEFabio Veras, Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo, Brasil

181180

Timor-Leste, através do Ministério da Solidariedade Social (MSS), logrou construir as bases de um sistema de protecção social abrangente e complexo nos últimos anos. As apresentações realizadas pelas diversas direcções nacionais do MSS durante a conferência “10 anos depois: o contributo dos programas sociais na construção de um Estado Social em Timor Leste”, revelam a determinação de actuar sobre as diversas fontes de riscos sociais.

Os programas sociais tocam nos quatro papéis que a protecção social pode desempenhar: proteger, prevenir, promover e transformar. Protegem, através da assistência social, dos programas de segurança alimentar e dos serviços sociais. Previnem, por meio do sistema de segurança social, cujo desenho inicial foi apresentado na conferência. Promovem, através do efeito multiplicador das transferências de renda e de iniciativas ainda embrionárias de integração dos programas de segurança alimentar com a agricultura familiar. E transformam, ao garantir os direitos fundamentais dos cidadãos à protecção social.

Apesar desta base abrangente, os desafios são enormes. Por um lado, há a necessidade de calibrar os incentivos gerados pelos programas, particularmente os de transferências de renda, e melhorar a integração entre os mesmos. Por exemplo, o Subsídio de Apoio aos Idosos e Inválidos (SAII), que paga US$ 30 mensais aos timorenses com mais de 60 anos e que, segundo os estudos preliminares do Banco Mundial, é o programa melhor focalizado e de maior alcance para o combate à pobreza, necessitará estar em linha com o Sistema de Segurança Social de carácter contributivo.

Da mesma forma, o Sistema de Segurança Social que se inicia com o regime transitório para os trabalhadores do Estado, necessitará de parâmetros flexíveis para que seja atuarialmente viável e não signifique um peso para o país no futuro, particularmente para os investimentos nas crianças e nos jovens, bem como na promoção da formalização de pequenas e médias empresas.

Cabe ressaltar que a constituição de um regime único para o sector público (funcionários do Estado) e o sector privado, assim como os limites incorporados à pensão por morte, são extremamente importantes para evitar que o sistema gere inequidades, ao invés, de corrigi-las.

Por outro lado, há a necessidade de melhorar a coordenação e maximizar as sinergias entre os diversos programas, dentro do MSS e entre o MSS e outros ministérios. Dentro do MSS, será importante desenvolver um registo de beneficiários, que tanto pode ser único como pode ser baseado na comunicabilidade de bases de dados distintas a partir de números únicos de identificação de beneficiários. Entre o MSS e os outros ministérios, há a necessidade de reforçar a inter-sectorialidade da questão da segurança alimentar que envolve, por exemplo, a questão agrícola e fundiária, o apoio a pequenos produtores, compras governamentais, alimentação escolar, e a assistência social e humanitária.

No que se refere ao Programa Bolsa da Mãe, de atribuição de um subsídio de apoio condicional, há a necessidade de coordenar as actividades do programa com as acções locais nas áreas da saúde e da educação. Desde a garantia da provisão (oferta) dos serviços de saúde e de educação à monitorização das corresponsabilidades.

É importante destacar as mudanças que estão em curso no desenho do Programa Bolsa da Mãe. De um programa com um foco categórico em mães solteiras e viúvas com filhos, consideradas como um grupo vulnerável, o programa passará a focar nas crianças que vivem em agregados familiares em situação de vulnerabilidade económica e social.

O desenho anterior tinha disfunções, tais como o pagamento de uma bolsa a estudantes universitários cujas mães fossem elegíveis e limitava-se a um beneficiário por família.

Ao invés de uma simples focalização categórica, a eligibilidade do programa passará a depender de um índice de vulnerabilidade, baseado em indicadores que visam medir a situação económica do agregado familiar, dando prioridade ao agregados familiares em pior situação, a núcleos familiares monoparentais ou em que um dos cônjuges esteja incapacidado para o trabalho (equiparado), às famílias com um maior número de crianças e àquelas que possuem crianças com algum tipo de deficiência.

183182

Esta mudança é fundamental para melhorar a focalização do programa que, também segundo os dados preliminares do Banco Mundial, se encontra mal focalizado. Ademais, o uso de cotas para a focalização geográfica permitirá uma expansão territorial do programa baseado em indicadores de vulnerabilidade mais objectivos.

No entanto, ainda há grandes desafios para que a Bolsa da Mãe se torne, de facto, um programa de atribuição de um subsídio de apoio condicional. Apesar de não existir um modelo ideal deste tipo de programa, em geral caracteriza-se por:

1) pagamentos regulares e previsíveis em dinheiro (via de regra à mulher); 2) utilização de algum método de focalização; 3) existência de corresponsabilidades, particularmente nas áreas da saúde e da educação.

Além dessas características, os programas têm um duplo objectivo: aliviar a pobreza no curto prazo, por meio de transferências monetárias regulares, e quebrar a transmissão intergeracional da pobreza no longo prazo, por meio dos investimentos no capital humano das crianças (corresponsabilidades).

No caso de Timor Leste, as mudanças que estão a ser realizadas devem deixar mais claros os objectivos do programa e melhorar sua focalização. Devem, igualmente, levar a uma maior integração com as áreas da saúde e da educação, mas o programa têm dois sérios desafios: os pagamentos não são feitos em intervalos curtos, mas apenas uma ou duas vezes ao ano, e a pequena escala do programa.

A periodicidade do pagamento é importante para garantir o objectivo de aliviar a pobreza. É o pagamento mensal (ou bimensal) do programa, e sem atrasos, que garante um impacto do mesmo sobre a segurança alimentar dos beneficiários. Pagamentos de montantes acumulados em um único período do ano, leva a um tipo de consumo diferente. Os dados preliminares do Banco Mundial apontam para a utilização do benefício apenas em gastos com educação, o que reforça a visão de que no desenho anterior ele funcionava mais como uma bolsa de estudo do que como um programa de transferências condicionadas.

Encontrar maneiras inovadoras para realizar o pagamento em intervalos menores é um desafio grande para o programa. Soluções inovadoras que têm sido experimentadas em outras partes do mundo incluem os serviços de correios, correspondentes bancários e pagamentos via companhias de celular, que tendem a possuir grande capilaridade.

Avançar nesta direcção permitirá ao programa ter efeitos mais integrais sobre o bem-estar das famílias vulneráveis com filhos. Além disso, é importante que com o novo desenho da Bolsa da Mãe, o programa ganhe escala para que possa ter impacto nos indicadores socio-económicos do país. Ajudando a combater a pobreza e ao mesmo tempo a melhorar os indicadores de desenvolvimento humano do país.

SERVIÇO SOCIAL PARA AS PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA EM TIMOR-LESTE

Mateus da Silva, Chefe de Departamento da DNAS

eixo

1

Fotografía: David Palazon

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1. INTRODUçãO

As pessoas portadoras de deficiência vivem em situação de forte vulnerabilidade em Timor-Leste, dada a sua condição de pobreza e os diversos constrangimentos que dificultam a sua participação e inclusão na sociedade. A participação de todos e a igualdade plena são ainda objectivos por alcançar no processo de desenvolvimento de Timor-Leste, que se pretende sustentável, equitativo e inclusivo, permanecendo a deficiência como um factor ainda alvo de discriminação e incompreensão generalizadas.1

No contexto do país, as pessoas portadoras de deficiência enfrentam grandes dificuldades de integração e participação na comunidade, dificuldades agravadas quer por obstáculos existentes no ambiente físico, quer por constrangimentos no acesso aos serviços sociais, de saúde, educação, emprego e formação profissional, desporto e cultura.

Os direitos da universalidade e da igualdade estão consagrados na Constituição da República Democrática de Timor-Leste, que estabelece que “todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres”. E, especificamente, “o cidadão portador de deficiência goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres dos demais cidadãos, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontre impossibilitado em razão da deficiência.”

Assegurar o acesso universal aos serviços sociais e às redes de protecção social, à informação e comunicação, bem como às oportunidades de participação e de contribuição para a vida civil e política, são objectivos a alcançar no quadro de uma governação inclusiva e equitativa. Igualmente, a eliminação das barreiras, visíveis e invisíveis, que diminuem o alcance dessa mesma acessibilidade.

Neste sentido, e tendo em conta que uma das obrigações do Estado é a promoção da protecção dos direitos dos cidadãos portadores de deficiência, na medida das suas possibilidades, têm vindo a ser implementados, desde o I Governo Constitucional até ao IV Governo

1Por “pessoas com deficiência” entende-se as pessoas que apresentam dificuldades específicas devido à perda e/ou anomalia congénita ou adquirida de funções, entre as quais as psicológicas e/ou estruturais do corpo que, em conjunto com o meio, lhes limitem o desempenho de actividades e a participação em condições de igualdade com os demais indivíduos.

2Neste sentido, procedeu ao recrutamento de três consultores internacionais, em períodos diferentes, com o objectivo de desenvolvimento de uma proposta de política nacional para a deficiência.

3Buba Moris Rasic refere-se ao desenvolvimento de capacidades com vista à promoção da auto-suficiência.

actualmente em exercício, programas de apoio às pessoas portadoras de deficiência, com vista à promoção da sua inclusão e participação equitativa na comunidade.

Desde a independência de Timor-Leste que o apoio institucional e o trabalho desenvolvido na área da deficiência têm sido fruto de um processo gradual. Em 2002, no âmbito do I Governo, foi criado um Grupo de Trabalho para discussão e abordagem da temática da deficiência em Timor-Leste, composto por ONGs. Em 2004, o MTRC iniciou um processo de reflexão em torno desta problemática, visando a definição de uma política nacional para a deficiência.2

No âmbito do IV Governo, e através do MSS, foi criado um departamento especificamente orientado para prestar apoio aos cidadãos portadores de deficiência e, igualmente, a idosos, integrado na DNAS. Existe, deste modo, um serviço no MSS direccionado para o apoio institucional e atendimento social das pessoas portadoras de deficiência. Este departamento integra cinco serviços, nas seguintes áreas: educação inclusiva, apoio institucional, assistência social, doenças crónicas e Buba Moris Rasic.3 A colaboração com os distritos é efectuada através dos técnicos para a área da deficiência colocados nos centros regionais do MSS.4

Em Agosto de 2010, o MSS editou um guia de recursos intitulado “Ajénsias CBR iha Timor-Leste”, elaborado pelo Grupo de Trabalho para a Deficiência (Disability Working Group), que inclui a missão, os programas, as actividades, os beneficiários, os obstáculos e os desafios do trabalho desenvolvido pelas ONGs que apoiam as pessoas portadoras de deficiência. Igualmente, o MSS produziu um documento de “Estratégia Nacional para a Reabilitação Comunitária em Timor-Leste” (Timor-Leste National Strategy for Community Based Rehabilitation), com o objectivo central de estabelecer orientações para a implementação de programas de reabilitação a nível comunitário.5

Em Maio de 2011 é estabelecido um Grupo de Trabalho interministerial e multidisplinar, por decisão do Conselho de Ministros, com o objectivo de estudar e conceber uma proposta de Política Nacional para a Deficiência em Timor-Leste.6

4Para além do serviço para as pessoas portadoras de deficiência, refiram-se igualmente o programa Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos, sob a coordenação da DNSS, bem como o programa Bolsa da Mãe e o programa de apoio a instituições sem fins lucrativos com intervenção na área da deficiência, ambos coordenados pela DNRS.

5O termo Community Based Rehabilitation é definido como uma estratégia de desenvolvimento comunitário com vista à reabilitação, igualdade de oportunidades e inclusão social das pessoas com deficiência. Acrescente-se, ainda, o “Relatório sobre os direitos das pessoas com deficiência em Timor-Leste”, que inclui recomendações dirigidas a vários departamentos

6Este grupo de trabalho é coordenado pelo Ministério da Solidariedade Social e composto por representantes do Ministério da Justiça, do Ministério da Saúde, do Ministério da Educação, do Ministério das Infra-Estruturas, da Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto, da Secretaria de Estado da Formação Profissional e Emprego, e da Secretaria de Estado da Promoção da Igualdade. governamentais, realizado pela Secção de Direitos Humanos e Justiça Transicional da UNMIT – Human Rights and Transitional Justice Section – em 2011.

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A constituição deste grupo revela o reconhecimento pelo Governo que o trabalho intersectorial e inter-institucional é fundamental para uma abordagem e intervenção eficazes na área da deficiência – o envolvimento e a coordenação entre diversas instituições públicas e privadas deverão ser asseguradas na promoção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência. Uma das recomendações deste grupo é, precisamente, a necessidade de aprovação de um conjunto de medidas que envolvem diferentes departamentos e organismos do Estado, num esforço conjunto para a promoção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência e a sua total integração na vida comunitária.

Na sequência deste processo, a Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência foi aprovada por Resolução do Governo nº 14/2012 de 9 de Maio. O objectivo central da Política Nacional é assegurar a participação activa e plena das pessoas portadoras de deficiência no meio familiar e na comunidade em geral, bem como o respeito efectivo dos seus direitos, estabelecendo meios para a eliminação das formas de discriminação com base na deficiência. Mais especificamente, trata-se de promover a igualdade de oportunidades e a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência; definir as áreas de intervenção e as estratégias do Governo para a prevenção, tratamento, reabilitação e integração deste grupo vulnerável; criar um mecanismo de coordenação e articulação entre os sectores público e privado, e a sociedade civil, para uma efectiva monitorização e avaliação das estratégias propostas para cada área de intervenção.

De igual modo, são estabelecidas como linhas programáticas para melhorar a vida e o bem-estar das pessoas portadoras de deficiência em situação de vulnerabilidade: a) a criação de uma estrutura responsável pela protecção dos direitos das pessoas com deficiência; b) a concepção de serviços de apoio às pessoas com deficiência e respectivas famílias; c) a criação de um protocolo de intervenção precoce da deficiência na infância; d) a promoção do acesso efectivo à educação em condições de igualdade de género em todos os níveis de ensino.7 Refira-se que o trabalho desenvolvido pelo MSS na área da deficiência tem seguido o conceito de serviço social, entendido este como “uma profissão que promove a mudança, a resolução de problemas nas relações humanas e a capacidade e empenhamento

7Refira-se, a este propósito, que uma das metas do Governo, no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento até 2015, é a frequência do ensino básico por parte de mais de 40% de crianças com deficiência. Por outro lado, ambos os Planos do MSS – Plano Estratégico 2009-2012 e Plano de Longo Prazo 2011-2030 – prevêem medidas de protecção social deste grupo-alvo.

das pessoas na melhoria do bem-estar das pessoas. Para este serviço, um trabalhador social aplica teorias de comportamento humano e dos sistemas sociais, focalizando a sua intervenção no relacionamento das pessoas com o meio que as rodeia. Os direitos humanos e a justiça social são princípios fundamentais do serviço social”.8

Ao longo da implementação do serviço para as pessoas portadoras de deficiência, os funcionários foram capacitados no âmbito da aplicação da lei orgânica, do estatuto da função pública e do Plano Estratégico do Ministério, incluindo o código de ética dos serviços sociais como guia para a implementação do plano anual de acção com vista às mudanças sociais para cidadãos portadores de deficiência, especificamente no que respeita as relações humanas, as oportunidades e liberdades.9

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

• Constituição da República Democrática de Timor-Leste:

Artigo 16: Universalidade e igualdade

Todos os cidadãos são iguais perante a lei, gozam dos mesmos direitos e estão sujeitos aos mesmos deveres.

Ninguém pode ser discriminado com base na cor, raça, estado civil, sexo, origem étnica, língua, posição social ou situação económica, convicções políticas ou ideológicas, religião, instrução ou condição física ou mental.

Artigo 21: Cidadão portador de deficiência

O cidadão portador de deficiência goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres dos demais cidadãos, com ressalva do exercício ou do cumprimento daqueles para os quais se encontre impossibilitado em razão da deficiência.

O Estado, dentro das suas possibilidades, promove a protecção aos cidadãos portadores de deficiência, nos termos da lei.

8Definição pela Federação Internacional de Trabalhadores Sociais.

9Plano Estratégico 2009-2012, MSS.

191190

• Decreto-lei nº 10 /2008 de 30 de Abril, que estabelece a Orgânica do Ministério da Solidariedade Social - Artigo 10º, que refere, entre as diversas competências da Direcção Nacional de Assistência Social, “Desenvolver e implementar programas com vista à promoção dos direitos das pessoas portadoras de deficiência”.

• Resolução do Governo nº 15/2011, de 18 de Maio, que cria um Grupo de Trabalho multidisciplinar para estudar e conceber um projecto de Política Nacional para a Deficiência.

• Resolução do Governo nº 14/2012 de 9 de Maio, que aprova a Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência. Este documento define as áreas de intervenção e as estratégias de cada departamento governamental e organismo do Estado, com vista a garantir a participação plena das pessoas com deficiência no meio familiar e em comunidade, a eliminação das formas de discriminação com base na deficiência e o respeito efectivo dos seus direitos.

3. OBJECTIVOS

Objectivo geral

Promover a garantia de direitos universais e a equidade social, contribuindo para o processo de integração e participação activa das pessoas portadoras de deficiência na vida familiar e comunitária, com vista à melhoria do seu bem-estar e qualidade de vida. Aumentar a dignidade, a capacidade, a inclusão, e assegurar os direitos das pessoas portadoras de deficiência.

Objectivos específicos

Assegurar uma resposta às necessidades das pessoas portadoras de deficiência em Timor-Leste, através da implementação de medidas de apoio concretas, bem como da mediação e coordenação efectiva com os agentes e as instituições a trabalhar na área da deficiência.

4. O SERVIçO DE APOIO A PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIêNCIA

4.1. Componentes Essenciais

Apoio Institucional

Em 2006, o MTRC iniciou o apoio financeiro à ONG ASSERT, tendo posteriormente esse apoio sido alargado a mais doze ONGs, entre 2009 e 2011. Deste modo, actualmente, o MSS concede apoio financeiro a 13 ONGs nacionais que intervêm na área de apoio a pessoas portadoras de deficiência, para a implementação das respectivas actividades. Estas ONGs são os beneficiários directos (ver Quadro 2 em Anexo).

Áreas específicas de intervenção:

• Reabilitação comunitária.• Reabilitação física.• Atribuição de cadeira de rodas.• Buka moris rasik.10 • Atribuição de prótese e órtese.• Doenças crónicas.• Educação de língua gestual.• Educação de escrita em Braille.• Formação.• Saúde mental. • Desporto.

Assistência social directa

O MSS presta apoio directo às pessoas que se dirigem ao serviço social respectivo da DNAS, designadamente:

• Apoio alimentar imediato (atribuição de sacos de arroz).• Atribuição de equipamentos de mobilidade (muletas, cadeira de rodas).• Atendimento social e encaminhamento para os serviços de referência especializados, conforme as necessidades das pessoas – por exemplo, na área da saúde, hospital referal ou outras instituições de saúde, assistência

10Este programa promove o desenvolvimento de capacidades, com vista à promoção da auto-suficiência

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médica específica para doenças crónicas (VIH/SIDA, TBC, epilepsia); assistência humanitária; outros programas do MSS. Relativamente a este tipo de apoio, o MSS efectua a mediação e a coordenação com os parceiros/ agências nas diversas áreas, de modo a que as pessoas possam ser encaminhadas e recebam o apoio que necessitam. Igualmente, articula com as outras direcções relevantes, nomeadamente a DNSS e a DNRS, no que respeita o encaminhamento para os programas SAII e Bolsa da Mãe, respectivamente.

4.2. Beneficiários

Directa ou indirectamente, o MSS presta assistência a pessoas com:• Deficiências físicas.• Deficiências mentais.• Deficiências sensoriais.• Doenças crónicas (Lepra/ TB/ Epilepsia).

4.3. Registo de Beneficiários

O registo dos beneficiários que recebem a assistência social directa é efectuado na base de dados geral da DNAS, que integra os vários tipos de beneficiários dos diversos programas da Direcção.

4.4. Supervisão e Acompanhamento

Não existe um mecanismo de monitorização e de avaliação da implementação do serviço e dos apoios concedidos, mas sim actividades de verificação e de acompanhamento – designadamente, visitas mensais dos técnicos do departamento a nível central às instituições no terreno; realização de um relatório trimestral com a execução financeira e implementação das actividades, enviado à Direcção de Administração e Finanças do MSS.

4.5. Parceiros

ONGs nacionais apoiadas pelo MSS: ASSERT, KATILOSA, Alma Sister,

AGAPE, DPO, PRADET, KUI AILEU, Grupo Esperança, SOTL, Klibur Domin, ETBU, AHISAUN, Timor Aid. (ver Quadro 2 em Anexo – Lista geral de parceiros).

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

Com a efectiva implementação da Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência em Timor-Leste, deverão ser assegurados determinados direitos das pessoas portadoras de deficiência, concretamente:

• Acessibilidade de todos a um sistema de saúde de qualidade.• Acessibilidade de todas as crianças a um sistema de educação de qualidade.• Acessibilidade de todos à formação profissional e emprego.• Acessibilidade de todos à assistência social, com a criação de um sistema de atendimento alcançável por todos.• Estabelecimento de oportunidades para os cidadãos portadores de deficiência participarem em actividades desportivas e culturais.• Criação de um sistema de desenvolvimento físico que garanta a mobilidade aos cidadãos portadores de deficiência.• Criação de um sistema de informação e de comunicação acessível aos cidadãos portadores de deficiência.

6. DADOS DE EXECUçãO

De 2003 a 2011, o Governo prestou assistência a um total de 15.675 pessoas portadoras de deficiência, representando um investimento de 1.643.650 US$.

De seguida, apresentam-se dois Gráficos indicativos do número de beneficiários, por tipo de apoio directo concedido (cadeira de rodas e muletas), de 2003 a 2011.

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Gráfico 1. Beneficiários de Cadeiras de Rodas

Gráfico 2.Beneficiários de Muletas

0

5

10

15

20

25

30

35

19

3129

27

1721 21

1513

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

quadro 1. Número de beneficiários, por tipo de apoio directo concedido e respectivo orçamento financeiro (2006 a 2011)

7. AVALIAçãO

O apoio financeiro concedido pelo MSS a treze ONGs nacionais com intervenção na área da deficiência, tem permitido a implementação de diversas actividades de apoio às pessoas portadoras de deficiência em Timor-Leste (como referido no ponto 4). Do mesmo modo, a prestação do apoio social directo aos beneficiários, através do serviço do MSS com esta competência, tem assistido este grupo vulnerável sob diversas formas, contribuindo, ainda que de modo limitado e pontual, para a melhoria da sua condição de vulnerabilidade.

Por outro lado, a aprovação da política nacional constitui um passo fundamental, à qual se deverá suceder a implementação de medidas e projectos concretos que estabeleçam apoios adequadamente dirigidos às necessidades das pessoas com deficiência a nível nacional. O trabalho conjunto e a intervenção integrada entre as várias instituições do Governo – através do grupo de trabalho interministerial – as organizações da sociedade civil e as organizações internacionais, deverão assegurar a promoção dos direitos das pessoas com deficiência, bem como da sua integração e participação na vida familiar e em comunidade.

Tipo de apoio N.º beneficiários Total beneficiários Investimento

Associado à Assistência Humanitária

9580 sacos de arroz = US$ 162 860

15 675

US$ 162 860

Associado à ASSERT 160 muletas = US$ 9600 US$ 9600

Cadeira de rodas193 cadeiras de rodas

= US$ 48 250US$ 48 250

Associado à DNRS 177 estudantes US$ 13 640

Associado à DNSS 5565 inválidos US$ 2 003 400

Total US$ 2 237 750

0

5

10

15

20

25

30

35

24

15

23

33

11 10 10 12

22

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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Constrangimentos

• Orçamento limitado, ainda não suficiente.• Falta de capacitação dos recursos humanos.

Refira-se que o programa de apoio institucional teve um investimento total de US$ 1 810 359,8 atribuído como subvenção pública, para um período de dez anos. A execução deste montante foi supervisionada pelo Ministério relevante que conduziu visitas mensais a cada ONG parceira, de modo a verificar a implementação das actividades de acordo com o plano estabelecido. No âmbito desta supervisão, o MSS avaliou igualmente os progressos e os obstáculos colocados à execução orçamental. Verificou-se que o processo foi dificultado devido ao atraso na transferência do orçamento previsto para as respectivas contas das ONGs, o que fez com que no final do ano fiscal houvesse ainda fundos que tiveram de retornar aos cofres do Estado, bem como devido a conflitos internos ao nível das ONGs que, por não terem sido resolvidos, afectaram a implementação dos programas e, por conseguinte, a execução orçamental.

Recomendações

• Reforço do investimento financeiro por parte do Governo, que assegure a preparação de um orçamento com vista ao desenvolvimento e implementação dos programas e actividades de assistência aos cidadãos portadores de deficiência em Timor-Leste.

• Capacitação dos recursos humanos, com vista à implementação adequada dos programas e actividades de apoio aos cidadãos portadores de deficiência e à prestação de um atendimento de qualidade e efectivo ao público-alvo. Recomenda-se, igualmente, a capacitação em monitorização e avaliação.

• Cooperação estreita com os ministérios e organizações relevantes, incluindo a sociedade civil.

• Sensibilização e socialização das comunidades sobre a problemática da deficiência, de modo a promover a não discriminação e a compreensão

11A compreensão do conceito pressupõe a compreensão da ideia de que qualquer pessoa pode adquirir uma deficiência, não se limitando a que nasça com ela.

do conceito de ‘deficiência’ – é fundamental apostar na socialização do conceito, na medida em que a sua correcta compreensão facilitará fortemente a integração das pessoas com deficiência na comunidade (entende-se que é na comunidade que é realizável a reabilitação destas pessoas).11

• Estudo que permita a quantificação e a caracterização das pessoas com deficiência em Timor-Leste, na medida em que é fundamental assegurar a disponibilidade de dados (quantitativos e qualitativos).

8. CONCLUSãO

Durante o mandato do I Governo Constitucional, através da SETS/MTRC, foi lançado um programa direccionado para os cidadãos portadores de deficiência, que apresentava algumas lacunas na medida em que o apoio financeiro concedido às ONGs era ainda limitado, restringindo-se à ONG ASSERT.

Nessa altura, não existia ainda uma política nacional que visasse a promoção dos direitos dos cidadãos portadores de deficiência, nem tão pouco um guia para a reabilitação comunitária. A coordenação e articulação entre o Ministério e as agências e instituições com intervenção na área da deficiência, não funcionavam adequadamente.

O IV Governo Constitucional, através do MSS, veio dar continuidade ao trabalho anteriormente desenvolvido e deu passos significativos, concretamente: empenhou-se na elaboração de uma política nacional dirigida aos cidadãos portadores de deficiência, aprovada muito recentemente; criou instrumentos de trabalho importantes, tais como o guia de recursos sobre o trabalho desenvolvido pelas ONGs que apoiam as pessoas portadoras de deficiência em Timor-Leste e a Estratégia Nacional para a Reabilitação Comunitária em Timor-Leste; apoia financeiramente treze ONGs com intervenção nesta área; fortaleceu a colaboração e articulação com as agências e instituições relevantes, permitindo o encaminhamento das pessoas com deficiência; criou uma rede de serviço

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interministerial no sentido de desenvolver um plano de intervenção integrado dirigido aos cidadãos portadores de deficiência em Timor-Leste. Relativamente a este último ponto, sublinha-se a transversalidade da questão da deficiência, que requer a estreita cooperação interministerial, e com as organizações da sociedade civil. De igual modo, refira-se a importância de reforçar e incluir a perspectiva da deficiência na definição dos programas e do orçamento do Governo.

O trabalho desenvolvido pela SETS/MTRC e, posteriormente, pelo MSS, teve um arranque positivo, coeso, com o objectivo de atingir um desenvolvimento inclusivo, não discriminatório ou injusto para os cidadãos portadores de deficiência, com vista ao reconhecimento dos mesmos direitos e deveres a todos.

9. METAS FUTURAS

• Investimento nos recursos humanos em termos de quantidade e de capacitação.

• Investimento financeiro no sector de assistência a cidadãos portadores de deficiência.

• Criação de um Conselho Nacional para cidadãos portadores de deficiência em Timor- Leste.12

• Promoção de oportunidades para cidadãos portadores de deficiência com vista ao desenvolvimento das suas competências pessoais e profissionais.

• Ratificação da Convenção Internacional para os Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiência (Aprovada em Assembleia Geral da ONU a 14 de Dezembro de 2006).

• Implementação efectiva da Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, já aprovada.

• Criação de um Manual de implementação da Política Nacional (parceria com a ONG Handicap International para apoio técnico).

ANEXOS

quadro1. Apoio financeiro do MSS às ONGs locais parceiras, 2006-2011 (US$)

12Este Conselho teria como funções essenciais: a) supervisão e coordenação da implementação da Política Nacional para a Inclusão e Promoção dos Direitos das Pessoas com Deficiência; b) promoção dos direitos humanos; c) monitorização e avaliação; d) assessoria técnica.

Instituição Distrito 2006 2007 2008 2009 2010 2011

ASSERT Díli 66 000 87 788 150 000 150 000 150 000 100 000

KATILOSA Baucau - - - 26 870 50 000 50 000

Alma Sister Díli - - - 30 000 27 200 25 270

AGAPE Díli - - - - 10 000 25 260

DPO Díli - - 30 000 15 000 30 000 17 832

PRADET Díli - - - 19 995 23 942,5 26 810

KUI AILEU Díli - - - 22 750 - -

G Esperança Díli - - - 21 234 25 012 24 661,4

SOTL Díli - - - - 416 234 24 661,4

Klibur Domin Liquiça - - - 7755 35 000 49 068

ETBU Díli - - - 3000 4845,5 10 525

AHISAU Díli - - - 2622 1000 -

Timor AID Díli - - - 50 024 - -

Total 66 000 87 788 180 000 349 250 773 234 354 087,8

201200

Lista geral de parceiros

Instituições Apoiadas / ParceirosASSERT KATILOSA Alma Sister AGAPE DPO PRADET KUI AILEU G Esperança SOTL Klibur Domin ETBU AHISAU Timor AID

Outros ParceirosPDHJTLMTL (Missão de Leprosos de Timor-Leste)St. Joao de Deus Uma Mahon (Safety Houses for Vulnerable Persons)Clinica Bairo PiteEpilepsia Timor-LesteKomisaun Luta Hasoru HIV/SIDAHandicap InternationalUNMIT Human Rights and Transitional Justice Section

Governo/ MinistériosEducaçãoSaúdeSEPI - Secretaria de Estado Promoção IgualdadeJustiçaInfraestruturaSEFOPE - Secretaria de Estado da Formação Profissional e Emprego SEJD - Secretaria de Estado da Juventude e Desporto

Doadores Internationais (Bi-Laterais) 2006-2012JICA (Governo do Japão)AUSAid (Governo da Australia)USAid (Governo dos EUA)

203202 Fotografía: MSS

POLÍTICA, PLANEAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO: QUESTÕES RELACIONADAS COM A PROMOÇÃO DE PESSOAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO NACIONALClinton E. Rapley, Director de Serviços de Planeamento,Escritório Regional da ONU na Tailândia

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O presente documento irá examinar opções que favorecem o desenvolvimento contínuo sustentável, equitativo e inclusivo de Timor-Leste, com particular incidência na perspectiva social e no papel das pessoas portadoras de deficiência como agentes de desenvolvimento e beneficiários do mesmo.

O documento baseia-se na experiência como assessor1 durante a primeira metade de 2005 junto da Divisão dos Serviços Sociais daquela que era na altura a Secretaria de Estado do Trabalho e Solidariedade, cujas funções estiveram relacionadas com a elaboração de um enquadramento político nacional focado na deficiência e no desenvolvimento.

O desenvolvimento a partir de uma perspectiva social reflecte uma mudança fundamental na preocupação política – de questões de assistência social e protecção social para o papel do bem-estar social e outros serviços como investimentos que capacitam para a participação no desenvolvimento e consolidam capacidades institucionais a todos os níveis, com vista a apoiar processos participativos e inclusivos de desenvolvimento que contribuam para a melhoria dos níveis de vida e bem-estar de todos.

No contexto de formulação do enquadramento político nacional dedicado à deficiência e ao desenvolvimento, o foco principal era a redução da pobreza e o desenvolvimento inclusivo.

O processo de consultação distinguiu-se pelo seu carácter participativo, centrado nas pessoas e territorial: as consultações regionais em Baucau, Maliana, Ainaro e Díli envolveram representantes do Governo e da sociedade civil de todos os distritos de Timor-Leste. Mais de 500 participantes estiveram envolvidos, 40% dos quais eram pessoas portadoras de deficiência. O input político e operacional foi generosamente disponibilizado através de consultações periódicas junto de ministérios e departamentos relevantes, bem como por meio de encontros com membros do Grupo de Trabalho na área da deficiência baseado em Díli.

Quatro conceitos básicos estiveram na base das deliberações políticas e processos de elaboração, nomeadamente:

1) A deficiência é algo normal; pode acontecer a qualquer pessoa a qualquer momento.

1Financiado pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (acordo de projecto n.º DAI026 – Capacitação para o desenvolvimento de políticas sociais).

2) A deficiência deve ser vista como uma condição e não um atributo, tal como o género ou a idade.

3) A incapacidade é um termo biomédico que está associado à perda ou limitação de uma função física, sensorial, mental ou intelectual.

4) A desvantagem é uma situação socialmente – ou ambientalmente – determinada que pode resultar na perda ou limitação de oportunidades de participação com base na igualdade na vida social e no desenvolvimento.

Como contribuição sugerida para o conjunto de instrumentos de desenvolvimento disponibilizados ao Governo, o projecto de enquadramento focou-se em opções que:

1) Promovem a acessibilidade, com uma adaptação sensata, nos sistemas gerais da sociedade.

2) Incorporam a deficiência como um tema transversal nas estratégias nacionais de desenvolvimento, bem como nas políticas e planos.

3) Prestam referências claras, concisas e abrangentes de informação pública e consultações sobre a promoção dos cidadãos timorenses portadores de deficiência.

Partindo das consultações junto de representantes do governo e da sociedade civil, foi definida a seguinte “visão” para o projecto de enquadramento:

– Promover um ambiente, no qual não existem obstáculos à participação e igualdade plenas e efectivas entre homens e mulheres em todos os aspectos do desenvolvimento, o que contribui para melhorias contínuas, sustentáveis e equitativas aos níveis de vida e de qualidade de vida, numa maior liberdade para todos.

Foi proposta uma única “meta” para o projecto de enquadramento como forma de focar o diálogo político num processo de desenvolvimento nacional que é participativo, sustentável, equitativo e inclusivo:

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– Atingir a participação e igualdade plenas de todos os cidadãos com vista a tornarem-se agentes e beneficiários na promoção dos objectivos primordiais de desenvolvimento nacional que visam o desenvolvimento inclusivo e a redução da pobreza.

Foram identificados cinco objectivos que promovem a meta proposta de participação e igualdade plenas:

1) Alcançar a acessibilidade, com uma adaptação sensata, nos sistemas gerais da sociedade.

2) Atingir o acesso universal a serviços sociais e redes de segurança social.

3) Promover a igualdade de oportunidades no que toca a iniciativas individuais, com base na igualdade entre homens e mulheres, para assim produzir rendimentos e riqueza em mercados abertos.

4) Promover a igualdade de oportunidades na participação e contribuição para a vida civil e política.

5) Promover informação e comunicações em formas e formatos acessíveis a todos.

Com a decisão de adoptar o enquadramento como base para uma política nacional focada na deficiência e no desenvolvimento, a respectiva implementação ver-se-á confrontada com três áreas de preocupação de cariz operacional:

1) Reforçar a perspectiva da deficiência em processos de planeamento e orçamentação como uma decisão de investimento e não como uma questão de consumo social e de protecção social.

2) Consolidar as competências no que se refere aos enquadramentos legais e administrativos que estão em sintonia com a promoção de pessoas portadoras de deficiência no contexto do desenvolvimento.

3) Incorporar a perspectiva da deficiência na monitorização e avaliação do planeamento, de forma a medir o progresso na remoção progressiva de barreiras que impedem o acesso aos sistemas gerais da sociedade.

No entanto, a política e desenvolvimento sociais em Timor-Leste encontram-se numa encruzilhada: a promoção dos objectivos de desenvolvimento sustentável e inclusivo, e de redução da pobreza requer um compromisso político e uma actuação que estimule a acessibilidade nos sistemas gerais da sociedade para todos, homens e mulheres de forma idêntica. Envolve também a promoção e o desenvolvimento progressivo de instituições participantes de vários níveis, que unem decisões sobre políticas e planos a orçamentos e prioridades na alocação de recursos, bem como à gestão, monitorização e avaliação da implementação de programas.

A consolidação de competências necessárias para a participação no desenvolvimento pressupõe a existência de compromissos sustentáveis e previsíveis em termos de recursos para investir em serviços de bem-estar social e infra-estruturas sociais essenciais, especialmente aos níveis de suco e subdistrital.

A remoção progressiva de barreiras à participação dos cidadãos no desenvolvimento deverá estar entre os indicadores de referência identificados ao avaliar-se os resultados sobre a melhoria dos níveis de vida e das oportunidades de obter meios de subsistência sustentáveis para todos os cidadãos em todas as regiões.

PROGRAMA DE APOIO A INSTITUIÇÕES QUE DESENVOLVEM PROTECÇÃO SOCIAL

Florêncio Gonzaga, Chefe de Departamento da DNRS

eixo

1

Fotografía: MSS

211210

1. INTRODUçãO

O Governo de Timor-Leste tem vindo a desenvolver um sistema de protecção social através da definição de políticas e da implementação de programas e serviços sociais direccionados à população mais vulnerável, sob a liderança, nos últimos cinco anos, do MSS.

Os timorenses mostraram já ao mundo que são um povo com uma capacidade enorme de sobrevivência e auto-organização, sobretudo ao longo das últimas décadas. Durante o período de ocupação da Indonésia, diferentes congregações religiosas vieram para Timor-Leste para prestar assistência às comunidades a nível local, as quais, por iniciativa própria, fundaram vários projectos com o objectivo de dar uma resposta imediata à situação social vulnerável do país, assegurando alguma protecção e satisfação das necessidades básicas das comunidades locais.1

Estas iniciativas privadas foram desenvolvendo as suas actividades, dentro de recursos limitados, em diferentes áreas de intervenção – protecção da criança, apoio às vítimas de tortura e de abuso sexual, apoio a pessoas portadoras de deficiência, idosos e mulheres em situação de vulnerabilidade – assumindo-se como um instrumento para promover condições de vida dignas e direitos básicos à população. Inicialmente estas iniciativas não recebiam qualquer apoio por parte do Governo Indonésio. Contudo, uma vez oficialmente instituídas, acabaram por ter algum apoio governamental sob a forma de espécie (nomeadamente, sacos de arroz, materiais, equipamentos e roupa).

Todas estas instituições tiveram origem em congregações religiosas, estando elas próprias na origem do actual programa de apoio institucional do MSS. A única organização criada durante a ocupação Indonésia com origem na sociedade civil, e que ainda hoje é uma das ONGs apoiadas pelo MSS, é a Fokupers, que intervém sobretudo em defesa e protecção das vítimas de tortura e abuso sexual, apoio e aconselhamento às mulheres de presos políticos e viúvas. Nunca recebendo apoio do Governo, esta organização sobreviveu graças a donativos pontuais, mas sobretudo graças à determinação de um grupo de pessoas voluntaria e determinantemente dedicadas à defesa da dignidade e dos direitos humanos.

1Alguns exemplos de congregações: CIJ (Congregasaun Imitasaun tuir Jesus), Alma, Canossiana, Carmelitas, Concepcionista, Dominicana, Franciscana, Missionária, Dominicana do Rosário, PRR (Putri Rainha Rosário), Salesiano, SCMM, SSPS (Servant of Spirito Santo), SVD (Soverdi), Ursulin, e São João de Deus.

Após a independência de Timor-Leste, e até hoje, os vários governos constitucionais continuaram a prestar apoio a estas instituições, de diversos modos, mas não existia ainda um mecanismo organizado de assistência até à criação de um programa específico pelo MSS no âmbito do IV Governo Constitucional.2

Em 2008 o MSS inicia um processo de apoio organizado a estas várias instituições, com alocação de orçamento específico e estabelecimento de parcerias, de modo a prestar apoio de modo sistematizado e efectivo ao nível mais básico das comunidades. Na medida em que estas instituições não conseguiam dar uma resposta efectiva e capaz às comunidades, pelos seus escassos recursos (humanos, financeiros, materiais), o MSS decidiu apoiá-las financeiramente, reforçando os seus meios e a sua capacidade de intervenção.

A implementação do programa de apoio do MSS às instituições que desenvolvem actividades de protecção social é coordenada, consoante as áreas de intervenção, pela Direcção Nacional de Reinserção Social (DNRS) e pela Direcção Nacional de Assistência Social (DNAS), as quais efectuam o acompanhamento e a avaliação da execução das actividades. Actualmente, 74 instituições são apoiadas pelo programa (vd. Quadro de caracterização em Anexo).

Do total das 74 instituições, sete são financiadas pela Cooperação Portuguesa, sendo igualmente acompanhadas pelo Gabinete de Protocolo e Cooperação do MSS, e avaliadas pela entidade financiadora.3

É reconhecido pelo MSS o importante papel destas instituições como complemento ao papel do Estado na garantia do desenvolvimento social e da protecção aos mais vulneráveis. Neste sentido, a aposta na formação dos recursos humanos, através da colaboração com parceiros internacionais, foi fundamental para melhorar a sua capacidade de resposta e de intervenção social. Numa 1ª fase, através da cooperação com agências das Nações Unidas (UNICEF, UNFPA, UNDP) realizaram-se acções de formação e de capacitação das instituições sobre os procedimentos do MSS. Numa 2ª fase, as próprias instituições deram formação aos seus

2Durante o I Governo Constitucional o apoio era dado sobretudo através da atribuição de sacos de arroz; igualmente, o Governo intermediava com os doadores de modo a que estas instituições recebessem apoio.

3Concretamente: Centro Comunitário Tereza Saldanha – Aileu; Orfanato Santa Terezinha – Baucau; Lar do Bom Samaritano – Ermera; Centro Imaculada Conceição – Lautém; Centro de Formação Integral Santa Elisabeth – Manatuto; Centro Nossa Senhora de Fátima – Oecussi; Centro Santíssima Eucaristia Madre Trindade – Viqueque.

213212

funcionários em diversas áreas de intervenção, tais como protecção de crianças, violência doméstica, entre outros.

O MSS tem, deste modo, reconhecido e valorizado o trabalho destas instituições, insistindo na continuação e consolidação da cooperação com vista a uma maior aproximação daqueles que vivem em situações de vulnerabilidade e fragilidade social.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste prevê o direito à segurança e à assistência social e, igualmente, a protecção dos grupos mais vulneráveis da população.4

Segundo os termos dispostos na Lei Orgânica do IV Governo Constitucional da República Democrática de Timor-Leste, “o Ministério da Solidariedade Social tem a competência de servir e zelar pelos interesses das pessoas carenciadas, vulneráveis e pobres em toda a sociedade timorense e ajudar a Nação a desenvolver um Estado forte, estável e dinâmico por um longo período”.

A Lei Contra a Violência Doméstica (Lei nº 7/2010, de 7 de Julho) estabelece medidas que visam garantir o respeito pelos direitos humanos e a integridade da família como unidade social e cultural fundamental de Timor-Leste, reconhecendo que é a família que, acima de tudo, tem o dever especial de protecção e defesa dos grupos especialmente vulneráveis, tais como as mulheres, as crianças, os idosos e as pessoas portadoras de deficiência, contra todas as formas de violência, exploração, discriminação, abandono, opressão, abuso sexual e outros maus tratos.

Nos termos da Lei, compete ao Governo promover e desenvolver o Plano de Acção Nacional para a prevenção e apoio no domínio da violência doméstica, em colaboração com toda a sociedade, em particular com a família e os órgãos de poder local.

4Artigos 56º e 17º a 21º da CRDTL.

3. OBJECTIVOS

Objectivo geral

Complementar o papel do Estado, de forma a garantir um Estado Social efectivo através do desenvolvimento social, de acordo com os planos e os programas acordados no Plano Anual de Acção do MSS, Planos Anuais de Acção da DNRS e da DNAS e no Plano Estratégico de Desenvolvimento 2011-2030 do Governo.

Objectivos específicos

Pretende-se que as instituições com objectivos de protecção social:

• Assegurem uma assistência social de qualidade e adequada às necessidades dos grupos mais vulneráveis.• Forneçam apoio imediato e de forma transparente, de acordo com o definido pelo Governo.• Constituam parceiros importantes do Governo, de forma a contribuir para a redução da pobreza no país e atenuar a vulnerabilidade social.No que se refere às instituições com objectivos de protecção social, o programa do MSS visa reforçar o papel das instituições de apoio a situações de vulnerabilidade social no sentido de se tornarem parceiros do Governo com vista à edificação de um Estado Social eficaz e efectivo.

4. O PROGRAMA

4.1. Público-alvo

Beneficiários directos – instituições que:

• Desenvolvem e implementam actividades de protecção social.• Asseguram a vida de crianças em situação de risco e abusos.• Prestam assistência directa ou indirecta a idosos.• Asseguram condições de vida dignas a pessoas com deficiência.• Capacitam jovens que não participam no desenvolvimento nacional.

215214

Beneficiários indirectos:

• Crianças em situação de risco e vítimas de abusos.• Mulheres que vivem em situações de vulnerabilidade devido a situação de violência doméstica e viúvez, ou porque assumem o papel de chefes de família.• Pessoas portadoras de deficiência.• Idosos.•Jovens que não participam no processo de desenvolvimento nacional.

4.2 Condições de Atribuição do Benefício

Para que as instituições com objectivos de protecção social recebam apoio financeiro por parte do MSS devem obedecer às seguintes condições:

• Possuir um mandato legal.5 • Desenvolver actividades com impacto positivo nas vidas de cidadãos em situação de vulnerabilidade.• Apresentar uma proposta de plano de actividades que se adeque e esteja de acordo com os objectivos do MSS, e respectivo orçamento.• Estabelecer um acordo/protocolo de cooperação com o MSS, de forma a assegurar a implementação dos programas e a execução orçamental, com base nas premissas definidas no acordo mencionado.

Os pedidos de apoio são dirigidos à Direcção Nacional ou Departamento respectivo do MSS, conforme a área de intervenção da instituição. Os técnicos do MSS acompanham o processo de avaliação dos pedidos de apoio, analisando a candidatura com base na proposta do plano de actividades, do grupo alvo e do orçamento.

No final do primeiro ano de apoio os técnicos responsáveis do MSS fazem a avaliação, de modo a determinar se o desempenho da instituição foi positivo, ou não, e se devem continuar a prestar apoio, ou não. Se a avaliação é positiva, a instituição continua a receber o apoio. Se é negativa, na maioria dos casos, o MSS cessa o apoio.

5Registo obrigatório no Ministério da Justiça. Em caso de ser uma ONG, tem que estar igualmente registada na FONTIL.

No entanto, por vezes, o MSS encontra-se perante a difícil e delicada situação de ‘fechar’ a instituição, que não tem capacidade por si só de continuar a assegurar as suas actividades sem o apoio financeiro do MSS. Nestes casos, o Ministério, por imperativos de solidariedade e de responsabilidade moral, continua a prestar o apoio, apesar da avaliação negativa. Neste processo de avaliação, destacam-se alguns documentos internos e de trabalho do MSS, que estabelecem directivas e procedimentos a seguir, designadamente:

• Política, Procedimento e Padrões para Centros de Acolhimento e Colégios Internos, MSS, Julho de 2008 (com o apoio da UNICEF).• Política de protecção à criança em risco de abuso, MSS, Maio de 2008. • Política e Procedimentos para a gestão de casos na protecção à criança, MSS, 2008 (com o apoio da UNICEF).• Estratégia de mobilização social para a protecção à criança, MSS e UNICEF, Maio 2009.

4.3. Benefício

O apoio às instituições é concedido de dois modos: a) distribuição trimestral de sacos de arroz; b) apoio financeiro durante um ano. O apoio financeiro é atribuído apenas às actividades que estão de acordo com o Plano do MSS, ficando de fora aquelas que não se coadunam com os objectivos e o mandato do MSS.

Se há orçamento disponível, o MSS concede outras ajudas pontuais para a realização de determinadas actividades (em termos financeiros e materiais). Igualmente, estabelece a coordenação com outros doadores para a concessão de apoios pontuais ou de donativos.

4.4. Registo dos Beneficiários

Não existe uma base de dados única de registo dos beneficiários deste programa, mas cada direcção (DNRS ou DNAS) regista os dados das instituições na respectiva base de dados.

217216

4.5. Supervisão e Acompanhamento

O acompanhamento do trabalho das instituições e implementação das respectivas actividades são efectuados pelos Oficiais de Protecção de Crianças (OPLs) a nível regional e distrital. A DNRS e a DNAS decidem se o acompanhamento deverá ser trimestral ou mensal. A avaliação da instituição é efectuada, como já referido, com base na execução financeira e no plano de actividades, bem como no modo de atendimento dos beneficiários.

4.6. Parceiros

• Agape • Ahisaun• Alma Sister • ASSERT• Ba Futuru • Care Internacional• Caritas Austrália • Casa Vida• CDI • Child Fund• Colégios (30) • Cruz Vermelha de Timor-Leste• ETBU • FFSO• FOKUPERS • Fórum Comunicação Juventude• Fórum Peduli Wanita Oecusse • Fórum Tau Matan• Fundação Alola • Fundação Moris Foun• Grupo Esperança • Hatutan Lia Tatoli• Holly Spirit • ICA TUTUN• ICTJ • IOM• Irish Aid • JSMP• Justiça e Paz • Justice Facility• KATILOSA • Klibur Domin• Luta ba Futuru • Ministério da Saúde da RDTL• NGO Esperança • NGO Gertak• Orfanatos (21) • OXFAM• Plan Internacional • PRADET• Rádio Comunidade • RHTO• Save the Children • Tolhae• Uma Mahon Luzeiro • UNFPA• UNICEF • World Vision

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

As instituições com objectivos de protecção social apoiadas pelo MSS têm assegurado o seguinte:

• Apoio directo a um total de 6002 pessoas em situação de vulnerabilidade no período de 2008-2011.

• Compromisso em capacitar as pessoas em situações de vulnerabilidade social através da realização de acções de formação relevantes.

6. DADOS DE EXECUçãO

Gráfico 1. Apoio Orçamental do MSS às Instituições - 2011

A maioria da alocação orçamental está concentrada em Díli, uma vez que as instituições e os beneficiários estão maioritariamente situados na capital.

0

40000

80000

120000

160000

200000

240000

280000

320000

360000

400000

Aile

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Ain

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Bau

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Bob

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ueq

ue

5.000 0

59.045

80920.000

396.188

6.618 5.809

49.877

5.000 5.809 5.809 6.618

2

219218

Gráfico 2. Apoio em Espécie do MSS às Instituições - 2011

Gráfico 3. Número de Beneficiários (indirectos), por Distrito - 2011

0

400

800

1200

1600

2000

2400

2800

3200

3600

4000

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Ain

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Bob

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á

Man

atuto

Man

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0

448

3.424

1.072

256

2.391

472

852

215374

996 948

1.124

0

300

600

900

1200

1500

1800

2100

2400

2700

3000

80 156

1.345

373

139

2.685

163

358

86 173

345 329 390

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Ain

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Bau

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Viq

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7. AVALIAçãO

7.1. Impactos

O programa de apoio institucional teve impactos positivos, a vários níveis, designadamente:

• As instituições puderam assegurar melhores condições de vida às pessoas em situação de vulnerabilidade social, de acordo com as suas necessidades específicas, assumindo a responsabilidade de garantir aos beneficiários o acesso a recursos que permitem uma mudança de vida e uma participação no processo de desenvolvimento nacional, através da promoção de actividades que beneficiam a capacitação e a disseminação de informação relevante (legislação, direitos sociais, etc.).

• As instituições puderam assegurar a partilha de responsabilidades com o Governo, com vista à consolidação do objectivo de edificação de um Estado Social.

• As instituições puderam assumir o compromisso de trabalharem em conjunto com o Governo na capacitação de recursos humanos com vista ao desenvolvimento nacional.

7.2. Obstáculos

• Inexistência de uma política adequada que defina e regule as instituições com objectivos de protecção social em Timor-Leste.

• Inexistência de uma regulamentação que estipule os procedimentos e os termos da cooperação entre o MSS e as instituições (incluindo a organização, a relação das instituições com os beneficiários, as competências de cada um, os modos e formatos de comunicação), bem como os critérios de atribuição do benefício.

• Falta de recursos humanos e de especialização dos técnicos nas áreas de intervenção.

• Orçamento limitado do MSS, o que, por sua vez, limita a implementação das actividades.

221220

• Inexistência de um mapeamento das instituições e das necessidades reais das populações.

• Falta de coordenação e de cooperação ao nível da implementação das actividades entre o MSS e as instituições, bem como de uma comunicação clara e regular.

7.3. Recomendações

• Regulamentar as instituições através de uma política concreta, de modo a estabelecer os termos da cooperação entre o MSS e as instituições, os procedimentos, as competências de cada parte, os modos e formatos de comunicação e de partilha de informação.

• Estabelecer o enquadramento legal do programa.

• Estabelecer critérios de selecção das instituições e de atribuição do apoio.

• Realizar o mapeamento das instituições no território nacional, de forma a identificar as respectivas capacidades e responsabilidades no que respeita a assistência social.

• Reforçar e capacitar os recursos humanos em áreas de especialização relevantes.

• Atribuir recursos financeiros suficientes para que as instituições possam melhorar a gestão de atendimento social e a implementação das actividades.

• Definir um mecanismo de coordenação e cooperação efectivo, que implique uma maior regularidade de comunicação por parte das instituições, com o MSS. A comunicação regular sobre os problemas que surgem ao longo da implementação das actividades (e não somente no final do ano) é fundamental para que o MSS possa dar um apoio efectivo para resolver esses constrangimentos.

• Sistematizar os dados e a informação do programa numa base de dados única.6

6Está actualmente a ser desenvolvido no MSS um projecto com o objectivo essencial de caracterizar e definir o apoio do Estado às instituições da sociedade civil que prosseguem objectivos de protecção social, com vista a sistematizar a informação e o apoio técnico necessários à adequada tomada de decisão política. Principais actividades: a) organização da informação e identificação das instituições apoiadas desde 2011; 2) caracterização de cada uma das instituições; 3) caracterização dos apoios dados pelo MSS; 4) sistematização e definição de conceitos e da terminologia utilizada; 5) preparação de uma proposta de acção para o próximo Governo.

8. CONCLUSãO

As instituições que implementam actividades de protecção social são parceiros importantes do Governo, partilhando responsabilidades e assegurando apoios concretos às populações mais vulneráveis de Timor-Leste.

Ao longo de muitos anos, e mesmo durante a ocupação indonésia, estas instituições puderam garantir alguma assistência social a pessoas que, de outro modo, não teriam qualquer apoio ou acesso a recursos e a direitos básicos. Desde a independência de Timor-Leste que estas instituições receberam o apoio do Governo e, desde 2007, puderam beneficiar de uma ajuda regular e organizada, o que permitiu uma melhor e maior implementação de actividades e, consequentemente, uma resposta mais adequada às necessidades específicas dos grupos-alvo. No entanto, apesar de já se ter feito muito, há ainda muito por fazer. O estabelecimento de uma regulamentação e de critérios de selecção das instituições e de atribuição do apoio são fundamentais para a melhoria e maior eficácia do programa.

Por outro lado, é necessário identificar as necessidades reais das populações no território, bem como efectuar um mapeamento das instituições, de modo a que o MSS possa tomar decisões fundamentadas relativamente à atribuição de apoio a esta ou aquela instituição. A sistematização da informação e dos dados numa base de dados única, e a caracterização detalhada de cada instituição, permitirão uma operacionalização mais eficaz do programa.

9. METAS FUTURAS

• Criação de regulamentação que estipule os procedimentos e os termos da cooperação entre o MSS e as instituições, bem como os critérios de selecção e atribuição do benefício.

• Mapeamento das instituições e das necessidades reais no território nacional, que permita futuramente uma decisão fundamentada por parte do MSS.

223222

ANEXOS

quadro 1. Caracterização das Instituições Apoiadas pelo MSS - 2011

Nome da instituição Distrito Grupo-alvoNúmero

deBeneficiários

Apoios

Apoio emespécie

(sacos de arroz)

Apoio monetário

(US$)

Centro Comunitário Tereza Saldanha Aileu Crianças e Jovens 80 0 5.000,00

Colégio Santa Josefina Bakita Ainaro Crianças e Jovens 43 31 / trimestre 0,00

Colégio São Luís Gonzaga Ainaro Crianças e Jovens 113 81 / trimestre 0,00

Colégio Aspirantado Santo Filipe Beato Rinaldi Baucau Crianças 124 89 / trimestre 0,00

Orfanato Al Amal Baucau Crianças 19 14 / trimestre 809,00

Orfanato Beata Laura Viquna Baucau Crianças 120 86 / trimestre 809,00

Orfanato Santa Terezinha Baucau Crianças 60 43 / trimestre 5.809,00

Orfanato São Domingos Savio Baucau Crianças 290 209 /

trimestre 809,00

Orfanato São Jose Alawa Baucau Crianças 61 44 / trimestre 809,00

Colégio Canociana Kota Lama Baucau Baucau Crianças e Jovens 88 63 / trimestre 0,00

Colégio CIJ Kota Baru Baucau Crianças e Jovens 30 22 / trimestre 0,00

Colégio Dom Bosco Baucau Crianças e Jovens 273 196 / trimestre 0,00

Colégio Santa Maria Mazzarello Baucau Crianças e Jovens 120 86 / trimestre 0,00

Colégio Santa Ursula Baucau Crianças e Jovens 5 4 / trimestre 0,00

Katilosa Baucau Pessoas portadoras de deficiência 155 0 50.000,00

Colégio Atabae Bobonaro Crianças e Jovens 21 15 / trimestre 0,00

Colégio Infantil Sagres Bobonaro Crianças e Jovens 200 144 / trimestre 0,00

Colégio Santo António Bobonaro Crianças e Jovens 124 89 / trimestre 0,00

Orfanato Santo António Yasra Bobonaro Crianças e Jovens 28 20 / trimestre 809,00

Centro Holly Spirit Covalima Crianças e Jovens 80 22 / trimestre 20.000,00

Colégio Canociana Suai Covalima Crianças e Jovens 59 42 / trimestre 0,00

Casa Vida Díli Crianças 30 42 / ano 10.000,00

Colégio Asrama Putri Díli Crianças 5 4 / trimestre 0,00

Colégio Canossiana Díli Crianças 147 95 / trimestre Depende dos casos

Forum Comunicação Juventude Díli Crianças 200 0 15.000,00

Orfanato Dominicana Díli Crianças 70 36 / trimestre 809,00

Orfanato Ismaik Díli Crianças 104 75 / trimestre 5.809,00

Orfanato Nossa Senhora de Assunção - CIJ Díli Crianças 20 14 / trimestre 809,00

Orfanato Prr Kuluhun Díli Crianças 28 20 / trimestre 809,00

Orfanato Samaria Díli Crianças 30 21 / trimestre 809,00

Orfanato Santa Josefina Bakita Díli Crianças 31 22 / trimestre 809,00

Colégio Canossiana Has Laran Díli Crianças e Jovens 73 53 / trimestre 0,00

Colégio Matter Day Díli Crianças e Jovens 13 9 / trimestre 0,00

Orfanato Santa Clara Díli Crianças e Jovens 10 7 / trimestre 809,00

Fokupers Díli Mulheres 50 25 / ano 36.993,00

Fundação Alola Díli Mulheres Depende dos casos 0 22.600,00

International Centre for Transitional Justice Díli Mulheres Depende dos

casos 0 20.000,00

AGAPE Díli Pessoas portadoras de deficiência 42 40 / ano 25.260,00

AHISAUN Díli Pessoas portadoras de deficiência 46 20 / ano 0,00

Alma Sister Díli Pessoas portadoras de deficiência 49 25 / ano 25.270,00

Assossiação Hi'it Ema Raes Timor (ASSERT) Díli Pessoas portadoras de

deficiência 1082 0 100.000,00

225224

Grupu Esperança Díli Pessoas portadoras de deficiência 79 197 / ano 24.661,40

Pradet Díli Pessoas portadoras de deficiência 424 251 / ano 26.810,00

Rais Hadomi Timor Oan (RHTO) Díli Pessoas portadoras de

deficiência 19 10 / ano 17.832,00

Special Olimpico Timor-Leste Díli Pessoas portadoras de

deficiência 28 252 / ano 50.573,52

East Timor Blind Union Díli Pessoas portadoras de deficiência 105 105 / ano 10.525,00

Orfanato Hop East Timor Ermera Crianças 23 17 / trimestre 809,00

Orfanato Lar do Bom Samaritano Ermera Crianças 80 58 / trimestre 5.809,00

Colégio Canociana Gleno Ermera Crianças e Jovens 60 43 / trimestre 0,00

Colégio A.D.M (Amal kasih Darah Mulia) Lautém Crianças 47 33 / trimestre 0,00

Colégio Dom Bosco Lautém Crianças e Jovens 131 94 / trimestre 0,00

Colégio São Miguel Arcanjo Lautém Crianças e Jovens 20 14 / trimestre 0,00

Orfanato Dom Bosco Lospalos Lautém Crianças e Jovens 100 72 / trimestre 809,00

Centro Imaculada Conceição Lautém Crianças 60 0 5.000,00

Orfanato Santa Terezinha do Menino Jesus Liquiça Crianças 28 20 / trimestre 809,00

Colégio Santa Teresia Prr Liquiça Crianças e Jovens 17 12 / trimestre 0,00

Klibur Domin Liquiça Pessoas portadoras de deficiência 41 87 / ano 49.068,00

Centro Formasaun Integral Santa Elisabeth Manatuto Crianças e Jovens 60 43 / trimestre 5.000,00

Colégio Dominicana Sister do Rosário Manatuto Crianças e Jovens 53 38 / trimestre 0,00

Centro São João de Deus Manatuto Pessoas portadoras de deficiência 60 50 / ano 0,00

Colégio Rainha da Paz Manufahi Crianças e Jovens 17 12 / trimestre 0,00

Colégio CIJ Dotik Manufahi Crianças 29 21 / trimestre 0,00

Colégio Santa Clara Manufahi Crianças 86 62 / trimestre 0,00

Colégio São Francisco Assis Manufahi Crianças 125 90 / trimestre 0,00

Colégio São Henriques - CIJ Manufahi Crianças 18 13 / trimestre 5.000,00

Colégio Sao Miguel - CIJ Manufahi Crianças 40 29 / trimestre 0,00

Orfanato CIJ Maria Virgem Manufahi Crianças 30 22 / trimestre 809,00

Orfanato Topu Honis Children Home Oecussi Crianças 98 71 / trimestre 809,00

Centro Nossa Senhora de Fátima Oecussi Crianças e Jovens 178 128 /

trimestre 5.000,00

Colégio Nuestra Senhora do Rosário Oecussi Crianças e Jovens 53 38 / trimestre 0,00

Orfanato São José Viqueque Crianças 86 62 / trimestre 809,00

Centro Santíssima Eucaristia Madre

TrindadeViqueque Crianças e Jovens 179 129 /

trimestre 5.000,00

Colégio Santa Josefina Bachita Viqueque Crianças e Jovens 50 36 / trimestre 0,00

Orfanato São Francisco Assis - FCJM Viqueque Crianças e Jovens 75 54 / trimestre 809,00

Mapa 1. Número de Instituições por Distrito - 2011

Baucau12

Lospalos05

Viqueque04

Manatuto03Aileu

01

Manufahi07Ainaro

02

Covalima02

Oecusse03

Ermera03

Dili25

Liquiça03

Bobonaro05

226

INTERVENÇÃO DOS SERVIÇOS DE GESTÃO DE DESASTRES EM TIMOR-LESTE

Francisco F. M. do Rosário, Director Nacional de Gestão de Desastres

eixo

2

Fotografía: MSS

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1. INTRODUçãO

A região da Ásia-Pacífico é a mais afectada do mundo por destrastes naturais e conflitos sociais. Os registos de ocorrência de calamidades entre 2000 e 2009 revelam que esta região lidera com 40% dos casos a nível mundial. Em 2009, um terço dos conflitos ocorreram nesta mesma região.1

Timor-Leste situa-se na região da Ásia-Pacífico, estando deste modo exposto à ocorrência de várias calamidades naturais – tais como tempestades, inundações, cheias, ciclones, deslizamento de terras, seca, incêndios, pestes, epidemias, sismos e tsunamis – bem como a outras fatalidades provocadas pelo homem, nomeadamente a degradação ambiental e os conflitos sociais.

A situação geográfica e as condições climáticas de Timor-Leste são factores que favorecem a ocorrência de desastres naturais com uma frequência superior à esperada, afectando cerca de 1,1 milhão de habitantes. Por outro lado, o nível de educação, a estrutura social, a cultura de apatia e a vivência prolongada num regime colonial contribuiram para um nível elevado de pobreza, criando assim diversas dependências sociais. Todos estes factores contribuem para uma grande vulnerabilidade física e social, em especial nas áreas rurais.

Como jovem nação, preocupada com o crescimento económico, a segurança, a justiça social e a boa governação, torna-se necessário estabelecer como prioridade máxima a gestão de desastres com vista ao desenvolvimento nacional, de forma a atenuar o risco de desastre, bem como a vulnerabilidade da população e, por conseguinte, a pobreza. Dados indicativos da prevalência da pobreza em Timor-Leste revelam que, em 2009, 41% da população de Timor-Leste vivia em situação de pobreza.2 Uma tal condição intensifica o nível de vulnerabilidade social perante a ocorrência dos desastres naturais.

Em 2001-2012 foram registados 514 desastres naturais com impacto em aproximadamente 200.000 famílias, particulamente devido às secas (El Niño) verificadas em 2003-2004 – afectando cerca de 130.000 pessoas – inundações, ciclones, desabamentos e conflitos sociais ocorridos em 2006.

1De acordo com os dados de 2011 do Gabinete Regional da Ásia-Pacífico de Coordenação de Assuntos Humanitários, situado em Bangkok, Tailândia.

2Fonte: Update of Poverty Incidence in Timor-Leste using the Survey-to-Survey Imputation Method, Banco Mundial, 2009.

Em 2000, durante o mandato da UNTAET, foi criado um Gabinete Nacional de Gestão de Desastres (GNGD), responsável por questões relacionadas com os desastres naturais. Este gabinete funcionava sob a tutela do Departamento da Polícia que assumiu a função de coordenação de desastres e de situações de emergência após a saída de Timor-Leste do Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários das Nações Unidas (UNOCHA).

Após a restauração da independência, em 2002, o GNGD foi transferido para o Ministério do Interior como departamento, sob a alçada da Direcção Nacional de Protecção Civil, com a função de coordenação na gestão de desastres e de situações de emergência em todo o território.

No início do ano de 2007, no âmbito do mandato do IV Governo Constitucional, o GNGD foi anexado sob a tutela do Ministério da Solidariedade Social (MSS), Secretaria de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, como Direcção Nacional de Gestão de Desastres (DNGD). As respectivas funções são definidas na Orgânica do MSS, nomeadamente, a coordenação e a implementação de políticas de gestão de desastres em Timor-Leste.3

Ao longo do mandato do IV Governo Constitucional, a capacidade institucional é estabelecida como uma prioridade, com vista a criar e a consolidar uma estrutura de gestão de riscos de desastre aos níveis nacional e distrital. Isto implica, igualmente, a incorporação da gestão de desastres nas políticas, nos programas e nos planos das agências governamentais, das ONGs, da sociedade civil e demais partes interessadas. No entanto, a nível da implementação, o Governo viu-se perante desafios e limitações várias em termos de recursos humanos, financeiros e materiais.

O MSS, através do Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, estabeleceu como uma das suas metas principais desenvolver um sistema de prevenção de desastres, integrado e flexível, capaz de responder à realidade nacional e procurando incluir todos os parceiros interessados, nacionais e estrangeiros, como intervenientes em caso de calamidades.

3Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril.

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Neste sentido, foi elaborada uma Política Nacional para Gestão de Riscos de Desastres, em Março de 2008, que visa o estabelecimento de um sistema eficiente e efectivo de gestão de riscos de desastre, que dê uma resposta às necessidades de emergência das vítimas e que atenue o risco de desastre. Neste documento, a gestão de desastres é definida como um assunto transversal e abrangente de um ponto de vista político, sócio-cultural, económico e ambiental.

A gestão de riscos deverá estar focada na redução de perigos e riscos, e no aumento da capacidade de resposta rápida e de recuperação, de forma a atenuar a vulnerabilidade que fragiliza as comunidades em caso de desastre. A gestão de desastres é uma responsabilidade interministerial e multisectorial e, como tal, os respectivos programas e actividades devem visar as diferentes vertentes de assistência, nomeadamente, a prevenção, a mitigação, a preparação, a resposta e a recuperação.

De acordo com a Política Nacional referida, a DNGD é responsável pela coordenação e pela implementação de programas de prevenção, mitigação, preparação e recuperação. A DNGD auxilia, igualmente, o Coordenador Nacional para Desastres (CND) durante os momentos de resposta operacional.

De acordo com a sua estrutura organizacional e funcional, a Gestão de Riscos é liderada, a nível nacional, pelo Vice-Primeiro-Ministro para os Assuntos Sociais como Coordenador Nacional de Desastres (CND), coadjuvado pela Ministra da Solidariedade Social e pelo Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais como Vice-Coordenadores.

Sendo a gestão de desastres uma temática transversal, que requer a cooperação interministerial e multi-sectorial, esta estrutura inclui igualmente uma Comissão Interministerial para a Gestão de Desastres (CIGD), a nível nacional, que apoia o Coordenador Nacional, tendo como função o desenvolvimento de políticas e de programas de gestão de riscos de desastre, de acordo com a área de competências de cada ministério ou sector.4

4A actual Comissão Interministerial foi precedida pela Comissão Nacional de Prevenção de Calamidades Naturais (CNPCN), estabelecida pelo Gabinete do Primeiro Ministro, como resposta do Governo ao medo da população perante terramotos/ tsunamis, após a ocorrência dos tsunamis asiáticos de Dezembro de 2004 (Despacho 01/PM/2005). A Comissão Interministerial é composta pelo Vice Primeiro-Ministro, a Ministra da Solidariedade Social ou o Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, dez ministérios, sete secretarias de estado, o Comando das F-FDTL, o Comando-Geral da PNTL, o Secretário-Geral da Cruz Vermelha (CVTL), representantes da sociedade civil, incluindo a Rede Feto e as Nações Unidas.

A DNGD é o organismo responsável pela coordenação intersectorial com os parceiros a nível nacional – designadamente, governamentais, ONGs e outras partes interessadas da sociedade civil, académicos, sector privado, comunicação social, confissões religiosas – com vista a implementar programas de gestão de riscos de desastre, dar respostas de emergência, ajudar na recuperação, e disponibilizar apoio técnico ao Governo e à população. Para as relações internacionais existe já um órgão competente sob a coordenação do UNOCHA, através do grupo de trabalho das Nações Unidas.

A nível distrital, a estrutura de gestão de desastres abrange os administradores distritais como coordenadores da Comissão Distrital de Gestão de Desastres (CDGD), com o apoio da Comissão Subdistrital de Gestão de Desastres (CSDGD) liderada pelos administradores de subdistrito, e os chefes de suco ao nível da Comissão de Suco (CSGD).

Refira-se que a DNGD inclui, ainda, o Centro Nacional de Operações de Desastre (CNOD), os Departamentos de Preparação e Formação (que inclui a Prevenção e Mitigação) e de Gestão de Emergências e Recuperação.5

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste refere a responsabilidade do Governo em definir as prioridades que orientam os objectivos e as estratégias com vista a garantir a segurança dos seus cidadãos, da sociedade civil, os bens e propriedades dos timorenses, bem como a salvaguarda dos recursos naturais, em caso de desastres naturais ou causados pelo homem. O direito à vida, com dignidade, deverá ser garantido.

A Orgânica do MSS, aprovada por Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril, define a DNGD como um organismo responsável pela coordenação e implementação de políticas nacionais de gestão de riscos de desastre em Timor-Leste, de forma a estabelecer um sistema eficiente e eficaz de gestão de desastres.6

5O Centro Nacional de Operações de Desastre funciona 24h por dia, durante o ano, e está equipado com aparelhos de comunicação, fornecimento seguro de energia e estruturas resistentes a desastres. Possui três níveis de pessoal: a) staff essencial, que faz parte da gestão de risco de desastre e da resposta de emergência (bombeiros, técnicos de saúde e PNTL); b) staff de outras divisões da gestão de desastres a serem activados em casos de emergência; c) staff de outros ministérios a serem activados em emergências de maior porte.

6Artigo 12º do Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril.

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3. OBJECTIVOS

O objectivo geral da gestão de desastres é o de garantir a segurança da população e de recursos em Timor-Leste.

Objectivos específicos

• Garantir a protecção de todas as pessoas em caso de ocorrência de um desastre natural, ou de outra calamidade provocada pelo homem.

• Desenvolver um sistema de gestão de desastres de qualidade que possa responder às necessidades emergentes.

• Ajudar na recuperação efectiva e eficiente numa fase pós-desastre, de forma a minimizar o impacto na região afectada.

• Promover a preparação das comunidades e fortalecer a capacidade de recuperação rápida perante desastres, com a ajuda de profissionais, da sociedade civil e de serviços interministeriais, com especial atenção dada aos grupos vulneráveis – mulheres, crianças, idosos e cidadãos portadores de deficiência.

• Despertar a consciência para as questões da degradação ambiental, e promover a protecção.

4. INTERVENçãO DOS SERVIçOS DE GESTãO DE DESASTRES – MSS

4.1. Programas da DNGD

4.1.1. Programa de Assistência Humanitária

A assistência e ajuda humanitária respondem a situações de emergência, nomeadamente quando um desastre afecta o dia-a-dia da população, bem como os seus recursos materiais. Aquando de um desastre, o Centro Nacional de Operações em caso de Desastre, activo 24h, informa os actores relevantes sobre a necessidade de se tomarem medidas imediatas de acordo com o papel de cada um, conforme definido na Política Nacional de

Gestão de Riscos de Desastre, através de um encontro de coordenação de emergência interministerial e intersectorial.

A equipa responsável faz o levantamento dos dados, bem como a avaliação no terreno, com vista a proceder a uma análise e a esboçar um plano de intervenção urgente, de modo a assistir as vítimas.

Entre 2007 e 2012, a DNGD disponibilizou serviços de assistência de emergência a aproximadamente 25.184 famílias.

4.1.2. Programa de Recuperação Habitacional

Quando ocorre um desastre natural provocando estragos ao nível das infra-estruturas, dos bens materiais, campos de cultivo, etc., a população nas áreas rurais é o grupo mais afectado, dada a sua vulnerabilidade física e social. O IV Governo Constitucional reconhece o impacto das mudanças climáticas nas habitações das comunidades. Deste modo, em 2008, estabeleceu uma Política de Recuperação Habitacional para as Vítimas de Desastre que consiste em fornecer materiais de construção às vítimas para que possam retornar à sua vida normal com dignidade. O objectivo deste programa é o de recuperar as habitações das vítimas de desastres naturais e de calamidades provocadas pelo homem.

Esta assistência tem como base o nível de estragos, de acordo com as três classificações seguintes: “totalmente danificada”, “semi-danificada” e “danos ligeiros”.

A todos os beneficiários (independentemente da classificação em termos de nível de estragos) é atribuído um montante de US$150, por família, para fins de mão-de-obra – através de pagamento directo em dinheiro. Os beneficiários sob a classificação “totalmente danificada” e “semi-danificada” recebem adicionalmente um montante de US$218 por família, para fins de aquisição de madeira de construção.

Ao longo dos quatro anos de implementação do programa (2009-2012), a DNGD distribuiu já materiais de construção a 5575 beneficiários (famílias).

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Verificação e acompanhamento do Programa

Em 2011 a DNGD realizou visitas de acompanhamento do programa, efectuando a verificação de 5575 beneficiários de 13 distritos, aos quais foi atribuído material de construção (incluindo todos os níveis de estragos acima referidos). Dada a limitação em termos de recursos humanos e financeiros, a DNGD conseguiu, numa primeira fase, verificar a recuperação das casas dos beneficiários em seis distritos, nomeadamente em Liquiça, Baucau, Bobonaro, Covalima, Viqueque e Ainaro, num total de 2122 casas.

No âmbito destas visitas, verificou-se que 1340 casas (63,14%) estão já construídas, 187 (8,81 %) encontram-se em processo de construção e 595 (28,03%) aguardam arranque da obra.

Para além dos programas supramencionados, a DNGD implementou também outros programas prioritários que visam a preparação, prevenção e mitigação de desastres, apresentados de seguida.

4.1.3. Programa de Capacitação e Formação

Através deste programa foram já realizadas acções de formação aos funcionários da DNGD, pontos focais dos ministérios relevantes, membros da CDGD, parceiros de ONGs, membros da sociedade civil e das comunidades de base, de forma a transmitir conhecimentos básicos sobre o conceito de gestão de desastres no antes, durante e pós-ocorrência, abrangendo desde o nível nacional, ao de suco, passando pelo distrital e subdistrital. Os funcionários da DNGD participaram igualmente em acções de capacitação no estrangeiro.7

Realizaram-se as seguintes formações: a) gestão de riscos de desastre nas comunidades locais (CBDRM) em 20 subdistritos, com a participação de 824 pessoas (não inclui as formações promovidas por ONGs internacionais parceiras nos distritos); b) gestão de emergências, na qual participaram 26 pessoas; c) formação de formadores em gestão de riscos de desastre com um total de 43 participantes, em Díli.

7Nomeadamente em formações, workshops, estudos comparativos, seminários, conferências regionais e internacionais na Tailândia, Filipinas, Austrália, Indonésia, Singapura, EUA (Hawai), China, Coreia do Sul, Reino Unido, Japão, Portugal, Espanha, Índia e Camboja.

4.1.4. Programa de Educação e Sensibilização

O programa de educação e sensibilização consiste na realização de campanhas de sensibilização públicas direccionadas às comunidades, aos níveis distrital, subdistrital e de suco, bem como na divulgação de informação através dos meios de comunicação social, com o objectivo de despertar nas comunidades a consciência de que devem mudar o seu comportamento e mentalidade, com vista a contribuírem para a redução dos riscos de desastre e para o desenvolvimento nacional.

A DNGD realizou campanhas de sensibilização em conjunto com os ministérios relevantes, através da Direcção Nacional de Florestas, Direcção Nacional de Produção Alimentar e Direcção Nacional do Meio-Ambiente, com o objectivo de proteger o meio-ambiente e prevenir o risco de desastre. O público-alvo destas campanhas são as autoridades e os líderes locais, chefes de suco, chefes de aldeia, oficiais de subdistrito, membros da sociedade civil, representantes da Igreja, jovens, organizações de mulheres, e a comunidade em geral, cobrindo deste modo todos os distritos.

As campanhas de sensibilização são constituídas por duas partes:

• Parte I: informar e transmitir documentários acerca da Gestão de Riscos de Desastre nas comunidades de base, através da demonstração de filmes sobre desastres naturais ocorridos em Timor-Leste e distribuição de folhetos e brochuras. Registou-se uma participação de 4956 pessoas (2007-2011).

• Parte II: encontro/mini-workshop com as autoridades e os líderes locais, chefes de suco, chefes de aldeia, oficiais de subdistrito, sociedade civil, representantes da Igreja, jovens e organizações de mulheres, com um total de 1045 participantes.

Em 2011, no distrito de Covalima, deu-se início a uma campanha educativa piloto acerca de sismos e tsunamis, direccionada aos alunos das escolas primárias, com o objectivo de os informar e sensibilizar para a importância de se protegerem e partilharem informação com os familiares e vizinhos. A selecção do local para a realização das campanhas tem como critério o

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nível de risco de ocorrência de sismos e tsunamis, em especial na costa sul. Até ao momento, foram abrangidas por estas campanhas um total de 781 pessoas (incluindo alunos e professores).

Foram desenvolvidos materiais educativos de sensibilização sobre sismos e tsunamis (Mestre Tsunami), bem como brochuras traduzidas em Tétum, de forma a disseminar mais fácil e rapidamente a informação.8

Igualmente, a DNGD promoveu formações para 41 formadores, os quais incluíam funcionários da DNGD, pontos focais da CDGD dos 13 distritos, coordenadores regionais, pontos focais dos ministérios relevantes e representantes de algumas ONGs. Com este programa, pretendia-se que os formadores realizassem campanhas educativas junto de escolas em áreas costeiras com maior risco de ocorrência de sismos e tsunamis.9

4.1.5. Programa de Mitigação

A mitigação é uma medida que limita o impacto dos desastres nas comunidades, a todos os níveis, e que implica o desenvolvimento de leis para a gestão de riscos de desastre, de políticas, de procedimentos operacionais, de manuais, de regulamentos quanto à utilização da terra e códigos de protecção de habitações, de actividades de reflorestação, normalização de leitos de rio/canais de água, educação cívica, campanhas de sensibilização, entre outros. A mitigação física de grande escala é desenvolvida por cada ministério competente.

4.1.6. Programa de Preparação

Fortalecimento da capacidade institucional

Pretende-se estabelecer e aumentar a capacidade institucional da DNGD, do Centro Nacional de Operações em caso de Desastre, bem como do Centro Distrital de Operações em caso de Desastre, nos distritos de Lautém e Bobonaro; estabelecer uma Comissão Distrital de Gestão de Desastres, uma Comissão Subdistrital de Gestão de Desastres e uma Comissão de Gestão de Desastres ao nível de suco. Com a aprovação da Política Nacional

8Actividades realizadas com o apoio financeiro e a assistência técnica da UNESCO em Jacarta.

9Apoio da UNESCO em Jacarta e cooperação com o Ministério da Educação, que permitiu a realização de acções de formação para 26 professores do Ensino Básico em dez distritos.

de Gestão de Riscos de Desastre, o MSS-DNGD formalizou, em 2009, a constituição das Comissões de Gestão de Desastres nos 13 distritos e, de seguida, com o apoio de ONGs internacionais parceiras, estabeleceu e formalizou a Comissão Subdistrital de Gestão de Desastres e a Comissão de Suco.

Alerta antecipada

A DNGD, através do CNOD, recebe informações por parte de fontes credíveis do serviço nacional e internacional de meteorologia através de meios de comunicação (e-mail, fax e SMS), de forma a dar um alerta antecipado sobre uma possível situação de desastre iminente, que poderá ter um impacto destrutivo na população – tais como, chuvas torrenciais, ciclones, sismos, tsunamis ou períodos de seca prolongados. Esta informação é transmitida aos actores mais relevantes (VIP – very importante person), aos coordenadores de gestão de desastres dos níveis nacional e distrital, aos parceiros e ao público em geral, por telefone, rádio, televisão, rádio-frequência, através da PNTL, dos Bombeiros e de outros canais disponíveis na UNMIT.

Chamada de emergência

Aquando de um desastre, é necessário contactar as pessoas-chave que dão assistência de emergência, através de mecanismos de coordenação das instituições relevantes, nomeadamente a DNGD-CNOD, o Centro Nacional de Operações da PNTL, UNPOL, Hospital/Ambulância, Direcção Nacional de Protecção Civil (DNPC)/Bombeiros, Cruz Vermelha (CVTL), Segurança Civil, Obras Públicas, Electricidade e o Serviço de Água e Saneamento. Com isto, pretende-se que haja uma assistência a vários níveis, seja a nível da evacuação, busca, resgate, ou prestação de ajuda humanitária, através de um contacto telefónico para as autoridades locais aos níveis de suco e subdistrital, para a polícia comunitária e centros de operação nos distritos.

Socorro e evacuação

Aquando de uma situação de desastre/emergência, os membros da equipa de gestão de desastres reúnem-se no Centro de Operação em

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caso de Desastre para analisar a situação e recolher informações de base acerca das vítimas. De seguida, é enviada uma equipa ao terreno para levantamento de dados e de informações sobre os estragos e as necessidades das vítimas.

Se a situação implicar evacuação, a equipa composta por membros da DNGD, DNPC/Bombeiros, PNTL, F-FDTL, Segurança Civil, Cruz Vermelha de Timor-Leste (CVTL), OIM e Forças Internacionais de Estabilização (FIE/FSI), assume todos os procedimentos, disponibilizando temporariamente um local seguro e digno para as vítimas até poderem retornar às suas comunidades.

Em Díli existem já Centros de Evacuação no ex-GMT (ginásio do campus universitário) e no Ginásio de Díli, que funcionam como abrigos temporários para vítimas de desastre, em especial para as crianças, mulheres, idosos e cidadãos portadores de deficiência. 4.2. Público-alvo/ beneficiários

• Os beneficiários dos programas de resposta de emergência são as pessoas/famílias vítimas de desastres naturais, e de outras calamidades provocadas pelo homem, que não possuem a capacidade de lidar com o impacto no seu dia-a-dia.

• Os beneficiários do programa de recuperação habitacional são as famílias cujas casas foram danificadas, devido a desastres naturais ou a outras calamidades provocadas pelo homem, de acordo com as três categorias seguintes: “totalmente danificada”, “semi-danificada” e “danos ligeiros”.

4.3. Condições de Atribuição

Relativamente aos beneficiários do programa de assistencia humanitária, não existem condições pré-definidas para a sua selecção. A escolha dos beneficiários apoia-se em visitas de verificação no terreno efectuadas pela equipa, juntamente com as autoridades locais e chefes de suco.

Quanto ao programa de recuperação habitacional, o mecanismo utilizado para determinar se uma pessoa/família é elegível como beneficiário envolve a formação de uma equipa composta por membros dos níveis nacional, distrital (CDGD), subdistrital (CSDGD) e de suco (CSDMC), que identificam, em conjunto, o nível de estragos das casas. De seguida é preenchido um formulário de verificação, cujos dados são posteriormente introduzidos numa base de dados, para análise e processamento, com vista à atribuição de materiais de construção de acordo com o nível de estragos. Este processo deve ser reconhecido pelas autoridades locais ou pelo chefe de suco.

4.4. Registo dos Beneficiários

O registo dos beneficiários tem como base os relatórios e as propostas apresentadas pelos proponentes ou autoridades locais, após um processo de levantamento e de verificação de dados, por parte da equipa responsável junto dos familiares das vítimas em locais onde tenham ocorrido desastres. Os proponentes considerados elegíveis são registados numa base de dados, para análise do impacto em termos socioeconómicos, de modo a posteriormente se definir qual o tipo de intervenção humanitária e de recuperação a aplicar.

Até 2011 o registo era efectuado em folhas Excel, uma vez que não havia ainda a capacidade técnica para a utilização e gestão de uma base de dados. A partir desse ano, com o apoio da IOM e da AUSAID, a DNGD inicia o registo dos beneficiários em duas base de dados, a nível central – concretamente, uma relativa aos beneficiários da assistência humanitária, outra relativa aos beneficiários da recuperação habitacional.

4.5. Parceiros/ Co-responsabilidade

A Gestão de Riscos de Desastre e o apoio de emergência tem como parceiros diversas agências das Nações Unidas – UNDP, WFP, UNHCR, IOM, UNESCO/UNESCAP, UNICEF – ministérios relevantes, bem como ONGs nacionais e internacionais – Oxfam, Care, Concern, World Vision, CRS, Troicare, Auscare, Hivos, Save the Children, Plan International, IFRC/RC, CVTL, Haburas, Hasatil, Rede Feto.

241240

Estas parcerias têm como objectivo desenvolver a capacidade institucional, a formação e capacitação dos recursos humanos, a consolidação da resistência e a capacidade de resposta à emergência e recuperação das comunidades através do programa CBDRM (Community-based Disaster Risk Management), bem como a criação de uma plataforma nacional pelo grupo de trabalho do CBDRM, com vista à partilha de informações e de lições aprendidas sobre as actividades de redução de riscos de desastre ao nível de base.

4.6. Actividades Realizadas

Outras actividades realizadas pela DNGD durante o mandato do IV Governo Constitucional, incluem:

• Levantamento de dados relativamente aos riscos e à vulnerabilidade em todo o território de Timor-Leste.10

• Organização de encontro de coordenação regular do grupo de trabalho do CBDRM.

• Criação e manutenção de duas base de dados: 1) Base de dados Desinventar, com registo das fontes de risco, da frequência dos desastres e do tipo de estragos em todo o território; 2) Base de dados com registo dos beneficiários que receberam apoio ao nível de materiais de construção para recuperação das suas casas.

• Desenvolvimento de um manual de construção de habitações através de materiais locais.

• Apoio pessoal e financeiro ao secretariado da CDGD nos 13 distritos.

• Campanhas de reflorestação em sete locais identificados como áreas de risco em quatro distritos, designadamente Díli, Liquiça, Bobonaro e Manatuto. Plantação de 8000 árvores e realização de uma campanha que envolveu cerca de 3000 pessoas.

• Cooperação melhorada com os parceiros na promoção de acções de capacitação e na implementação do programa CBDRM, aos níveis nacional (Care, Concern, Oxfam, Auscare, Trocaire, CVTL, Hivos, Save the Children) e regional (Indonésia, Filipinas, Tailândia, Austrália, EUA-Hawai, China e Camboja).

• Melhoria da gestão de informação e de comunicação.

10Refira-se que o UNDP está actualmente a desenvolver uma pesquisa sobre avaliação de riscos e perigos – Hazard Risk Assessment – no âmbito de um projecto de apoio técnico de 3 anos (até 2013). Esta pesquisa envolve, entre outras componentes, um levantamento e mapeamento detalhado das áreas de perigo e risco em Timor-Leste, com uma tipologia de caracterização das áreas conforme a vulnerabilidade de risco.

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

Com a política e programa de Gestão de Riscos de Desastre, o Estado assegura o direito de todas as pessoas à vida, num ambiente protegido contra ameaças de desastre natural, seguro e digno, com vista à participação dos cidadãos no desenvolvimento social, económico, cultural e ambiental.

6. DADOS DE EXECUçãO

Apresentam-se de seguida diversos dados relativos à execução do programa de emergência (total de beneficiários de 2007 a 2011) e à execução financeira em termos das componentes de resposta e recuperação, de prevenção e mitigação (2008-2011).

Gráfico 1. Total de Beneficiários - Apoio Emergência por Distrito, 2007-2011

0

1,000

2,000

3,000

4,000

5,000

6,000

7,000

8,000

5601 6177

3741

7376

16952007 2008 2009 2010 2011

243242

Gráfico 2. Orçamento - Resposta e Recuperação (RR) Prevenção e Mitigação (PM) 2008-2011

Gráfico 3. Alocação Orçamental - Resposta e Recuperação versus Prevenção e Mitigação

Response and Recovery98%

Prevention and Mitigation2%

7. AVALIAçãO

A implementação dos programas supramencionados tem permitido a amenização do impacto de desastres naturais no dia-a-dia da população.

7.1. Obstáculos e Desafios

Na implementação das políticas, estratégias, programas e actividades de gestão de desastres, durante o período de 2007 a 2012, a DNGD viu-se perante os seguintes obstáculos e desafios:

1. Falta de compreensão (por parte das pessoas em geral, mas sobretudo do Governo) relativamente ao facto de a gestão de desastres ser um factor-chave para o desenvolvimento nacional, e que requer uma solução multi-sectorial. Falta de compreensão, igualmente, da política nacional.

2. Falta de sensibilidade (por parte dos parceiros governamentais) no que respeita a gestão de riscos de desastre ao nível governamental, uma vez que se parte do pressuposto de que a DNGD-MSS é a única agência responsável pela gestão de riscos de desastre e respectivos impactos.

3. A DNGD mantém-se fiel ao compromisso que assumiu, aquando da sua criação sob a tutela do MSS. Aproximadamente 98% da alocação orçamental, bem como o conteúdo do programa anual da DNGD, estão focados na resposta de emergência e recuperação ou noutro tipo de assistência social, tendo ficado para segundo plano a questão da redução de riscos de desastre e o sector da coordenação e articulação de trabalho (ver Gráfico 3).

4. A posição da DNGD na estrutura organizacional aumenta a complexidade e a dificuldade no desempenho do seu papel como órgão de coordenação.

5. A defesa da Redução de Riscos de Desastre (RRD) no sentido de despertar a vontade política interministerial é ainda insuficiente. O “ego” sectorial é demasiado evidente.

0

1000000

2000000

3000000

4000000

2008 2009 2010 2011

1.000.000

1.356.810

2.660.000

3.344.460

30.000 43.190 40.000 29.000

RR RR RR RRPM PM PM PM

245244

6. O programa anual da DNGD está demasiado orientado para a dotação orçamental, deixando para segundo plano o programa proposto.

7. Não existe ainda um sistema adequado de alerta antecipado.

8. O apoio orçamental à redução de riscos de desastre através dos sectores competentes é ainda inadequado.

9. Os recursos humanos, materiais e financeiros são limitados.

10. A coordenação da implementação da gestão de riscos de desastre, bem como os respectivos programas e actividades, requer melhorias.

7.2. Recomendações

1. A gestão de desastres deverá ser uma prioridade nacional, o que passa pela sua integração em políticas, programas, planos e actividades dos sectores governamentais relevantes, das ONGs, das agências das Nações Unidas, da sociedade civil e do sector privado, focados na prevenção e mitigação dos riscos de desastre de acordo com as recomendações do Hyogo Framework for Action (HFA) 2005-2015.11

2. A responsabilidade de cada agência/instituição deverá ser definida por lei (Lei de Gestão de Desastres), de forma a reforçar a responsabilização e coordenação interministerial e intersectorial.

3. Deverá insistir-se na capacitação técnico-profissional dos funcionários activos na área de gestão de desastres, a curto, médio e longo prazo.

4. É necessário consolidar o sistema de aviso e alerta antecipado, de forma a tornar-se credível, oportuno e fidedigno, reduzindo o impacto dos desastres naturais.

5. Deverá apostar-se na melhoria dos recursos de logística, equipamento, material, transporte e de armazém aos níveis nacional, regional e distrital.

11Criar e desenvolver a resiliência da Nação e da comunidade perante os desastres, constituindo uma oportunidade única na promoção de uma aproximação sistemática e estratégica relativamente à redução do risco de desastre e da vulnerabilidade social. O Hyogo Framework for Action foi adoptado por 168 governos – através da Conferência Mundial para a Redução de Desastre (A/CONF.206/6) realizada de 18 a 22 de Janeiro de 2005, em Kobe, Hyogo, Japão – e promulgado pela Assembleia Geral das Nações Unidas sob a Resolução 60/195.

6. É necessário dar continuidade aos programas de sensibilização pública, em especial em áreas em risco de desastre natural (nomeadamente em instituições de educação), quanto à gestão de riscos de desastre, como forma de amenizar o impacto dos desastres.

7. Deverá incentivar-se os académicos, o sector privado, as ONGs e os membros da sociedade civil a contribuirem para a redução de riscos de desastre e preparação em caso de emergência.

8. Deverá diminuir-se o sentimento de dependência através da educação cívica, de forma a mudar-se a percepção e reforçar-se a capacidade de resposta e de recuperação das famílias, vizinhos, grupos, sociedade civil e das comunidades perante um desastre. 9. Deverá identificar-se e analisar-se os riscos e a vulnerabilidade em todo o território, como referência para a elaboração de um plano de desenvolvimento estratégico sustentável em todos os sectores relevantes.

10. Os Centros de Operações de Desastres devem estar operacionais 24 horas e dispôrem de recursos humanos, financeiros e materiais (de comunicação) adequados aos níveis nacional, regional e distrital.

11. O novo Governo deverá definir claramente o papel de cada instituição/direcção, e nomear uma agência governamental única responsável pela coordenação interministerial, com vista a implementar as políticas e as estratégicas existentes.

12. Deverá ser criado um grupo de trabalho multi-sectorial focado na resposta de emergência que inclui a evacuação e busca/resgate através da cooperação civil-militar.

13. Deverá ser aplicada a lei de isenção de taxas alfandegárias para facilitar a ajuda humanitária e de emergência externa.

14. A coordenação e a cooperação regional e internacional com o grupo “Cluster UN” deverão ser consolidadas com vista à preparação em caso de emergência.

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15. É necessário reforçar a legislação existente para que haja uma base legal que permita uma coordenação efectiva e uma solução multi-sectorial para a gestão de desastres.

8. CONCLUSãO

O artigo 12.º da Lei Orgânica do MSS define a DNGD como um organismo responsável pela coordenação e implementação de políticas nacionais de gestão de riscos de desastre em Timor-Leste, de forma a estabelecer um sistema eficiente e eficaz de gestão de desastres.

No entanto, no desempenho do seu papel, a DNGD viu-se perante um série de obstáculos e desafios devido ao facto de se considerar que a gestão de desastres é uma responsabilidade exclusiva do MSS.

De acordo com a política nacional, a gestão de desastres é uma prioridade nacional no mandato do IV Governo Constitucional, composta pelas seguintes componentes:

1) identificação e análise de riscos, bem como de capacidade; 2) sistema de aviso/alerta antecipado; 3) capacitação, consciencialização pública; 4) consolidação da rede de trabalho com os parceiros aos níveis nacional, regional e internacional, com vista à prevenção, preparação, resposta e recuperação.

A gestão de desastres não é uma responsabilidade exclusiva do MSS, requerendo o envolvimento de outros ministérios.

Por outro lado, o MSS deverá investir mais na prevenção e na mitigação, de forma a diminuir a vulnerabilidade das comunidades perante uma situação de desastre. A prevenção resolverá muitos problemas e permitirá não somente a redução dos riscos e dos impactos dos desastres na população, mas, igualmente, a redução da pobreza e da vulnerabilidade.

Na implementação dos programas, a DNGD viu-se limitada no desenvolvimento de legislação relacionada com a gestão de riscos de desastre, uma vez que havia duplicação de funções com outras instituições governamentais, tais como a Direcção Nacional de Protecção Civil.

É necessário integrar a gestão de riscos de desastre nas políticas, programas, planos de implementação de actividades dos ministérios, do sector privado, das ONGs e da sociedade civil. Esta é uma temática transversal e multi-sectorial que requer uma abordagem integrada e o envolvimento de todas as partes, incluindo o Governo, ONGs, sociedade civil e comunidades, famílias e vizinhos.

9. METAS FUTURAS

• O desenvolvimento da lei de gestão de riscos de desastre é uma prioridade para a coordenação intersectorial.

• Aumento da capacidade em termos de recursos humanos, materiais, equipamentos e de logística aos níveis nacional, regional e subdistrital.

• Consolidação da capacidade de recuperação das comunidades perante situações de desastre natural e contribuição para o desenvolvimento socio-económico, cultural e ambiental.

• Descentralização das competências e da responsabilidade de gestão de desastres, de forma a reforçar o papel da Comissão Distrital de Gestão de Desastres na redução de riscos de desastre e na preparação às respostas de emergência.

• Continuação de levantamento de dados quanto aos vários riscos e perigos naturais, como instrumento de tomada de decisão.

• Integração da gestão de riscos de desastre no currículo das escolas primárias e envolvimento de mulheres.

• Criação de uma Instituição de Pesquisa Especializada na Universidade Nacional de Timor-Leste (UNTL), em Díli, focada na redução de riscos de desastre e mudanças climáticas.

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ANEXOS

quadro 1. Total de Beneficiários - Apoio de Emergência, por Distritos

Distritos 2007 2008 2009 2010 2011

Ainaro 0 998 166 317 95

Aileu 0 265 0 15 0

Baucau 144 2489 25 88 70

Bobonaro 0 191 22 0 3

Covalima 3508 809 74 1218 379

Dili 0 539 3153 4295 70

Ermera 0 190 0 273 18

Lautem 0 75 4 0 298

Liquica 0 983 177 125 63

Manufahi 926 97 44 207 31

Manatuto 0 158 2 309 139

Oecusse 0 20 0 0 69

Viqueque 1023 182 81 516 241

Total 5601 6996 3748 7363 1476

quadro 2. Total de Beneficiários - Recuperação Habitacional, por Distritos

Distritos 2009 2010 2011

Ainaro 202 114 117

Aileu 47 0 74

Baucau 227 57 722

Bobonaro 119 1 285

Covalima 46 42 221

Dili 0 714 594

Ermera 171 3 449

Lautem 196 0 180

Liquica 322 0 130

Manufahi 15 14 209

Manatuto 58 0 333

Oecusse 177 0 146

Viqueque 129 100 307

Total 1709 1045 2821

IMPLEMENTAÇÃO DA ESTRATéGIA DE RECUPERAÇÃO NACIONAL PELO MSS, 2007-2010

Amandio Amaral Freitas, Director Nacional de Assistência Social

eixo

2

Fotografía: Martine Perret

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1. INTRODUçãO

Estima-se que em 2006 cerca de 10% da população timorense tenha deixado as suas casas devido à crise que assolou o país no mesmo ano. O impacto da crise foi devastador para o país, lançando o colapso de instituições estatais frágeis recentemente constituídas e o deslocamento interno em massa de aproximadamente 100.000 pessoas.

As lembranças do cenário de morte e de destruição em 1999 reflectiram-se claramente nos rostos daqueles que ficaram conhecidos como “deslocados” ou IDPs (Internally Displaced Persons), os quais viveram durante períodos prolongados em 65 campos ad-hoc, em Díli e nos distritos.

Em 2007 o ressurgimento de atritos nacionais em torno das eleições de forma alguma contribuiu para mitigar a deslocação interna registada em 2006. Perante este contexto, encontrar uma solução de restabelecimento e de reintegração sustentáveis constituiu uma prioridade elevada para o IV Governo Constitucional. Assim, em Dezembro de 2007, é posta em prática pelo Governo a Estratégia de Recuperação Nacional (ERN), através do Programa Hamutuk Hari’i Futuru (PHHF) – Programa Juntos Construindo o Futuro.1

Esta estratégia constitui a primeira resposta nacional a desastres em Timor independente, caracterizada pelos esforços massivos de assistência humanitária por parte do Governo, com o apoio livre e sincero de parceiros nacionais e internacionais, com vista a dar uma resposta concertada às necessidades dos IDPs e das comunidades afectadas em todo o país.2

Todo o processo de implementação da ERN esteve sob a coordenação do Gabinete do Vice-Primeiro Ministro. O Ministério da Solidariedade Social foi um agente decisivo no grupo de trabalho do PHHF, na medida em que liderou e geriu três dos cinco pilares do programa (ver páginas seguintes).3

O MSS, tendo um papel chave na implementação da ERN e no controle de um retorno com sucesso, e no restabelecimento e na reintegração de aproximadamente 100.000 IDPs, acumulou uma vasta experiência e

1Refira-se que, antes de Novembro de 2007, a resposta ao problema dos IDPs foi liderada pelo Ministério do Trabalho e Reinserção Comunitária (MTRC). A ERN foi oficialmente aprovada pelo Conselho de Ministros a 17 de Dezembro de 2007, sendo orientada para a realização dos três objectivos gerais seguintes: 1) Adoptar uma nova visão com vista à recuperação nacional, que não promovesse somente a aceitação mútua, mas que reforçasse igualmente as comunidades, as economias locais, a estabilidade e as relações entre o Governo e a população; 2) Estabelecer uma abordagem do “Governo como um Todo”, para dar resposta à variedade de questões incluindo as de foro social, legal, económico, de segurança, e de estruturas físicas, de modo a permitir, de forma concertada, o restabelecimento das pessoas deslocadas; 3) Atender às necessidades dos IDPs e das comunidades afectadas.

.2Foram criados grupos de trabalho para coordenar a implementação dentro de cada pilar, designadamente: 1) Retorno e Reintegração: líder - MSS; Co-implementadores: Ministério das Infraestruturas, Ministério da Justiça e Ministério da Administração Estatal; 2) Consolidação da paz e confiança:

conhecimentos específicos. Na condução das diversas actividades o MSS recebeu o apoio total da OIM e do UNDP, bem como de inúmeras ONGs. As questões operacionais resolveram-se com base numa Força Tarefa Operacional da ERN (Operational Task Force – OTF), presidida pelo Director da DNAS do MSS.4

Não obstante o ambiente pesado que se sentiu na sequência das tentativas de assassinato dos dois líderes do país em 2008, o regresso e o processo de reintegração mantiveram-se estáveis. O mundo ficou expectante quanto a possíveis sinais de ressurgimento de violência e ao aumento do número de deslocados. No entanto, não se verificou nenhum dos casos.

O encerramento do PHHF, mais especificamente da componente de transferências pecuniárias do programa de recuperação, inicialmente previsto para Dezembro de 2009, foi adiado para o início e, posteriormente, meados de 2010. Não obstante o regresso e a reintegração rápidos e voluntários da população deslocada, o programa de transferências pecuniárias do Governo, criado para dar assistência a famílias vulneráveis na construção de habitações danificadas, em consequência da situação de emergência e dado o grande número de reivindicações, confrontou-se com dificuldades administrativas.

O prazo para a apresentação de solicitações de transferências pecuniárias para fins de reconstrução foi finalmente definido para 31 de Dezembro de 2010, com base na decisão do Conselho de Ministros. Esta extensão final surgiu como uma oportunidade para os beneficiários que não puderam cumprir os prazos e o protocolo do programa, ou que se atrasaram na entrega dos pedidos para registo.

De uma forma mais significativa, foi uma oportunidade para o Governo se organizar e partir da experiência recente para assim concluir o programa de forma satisfatória, eliminando igualmente qualquer dúvida ou reconsideração que possa ter surgido em momentos anteriores.

líder – MSS; Co-implementadores: Ministério da Administração Estatal e Ordenamento do Território, Ministério da Justiça, Ministério da Defesa e Segurança, Ministério da Educação; 3) Protecção humanitária e social: líder – MSS; Co-implementadores: Provedoria dos Direitos Humanos, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Direcção Nacional de Estatística, Secretário de Estado da Segurança, Ministério da Justiça, Direcção Nacional de Água e Saneamento, Ministério da Agricultura e Pescas, e Ministério da Administração Estatal; 4) Segurança: líder – Ministério da Defesa e Segurança; Co-implementadores: Ministério da Administração Estatal e Ordenamento do Território, Ministério da Justiça, Ministério da Educação e MSS; 5) Desenvolvimento socioeconómico: líder – Ministério da Economia e Desenvolvimento; Co-implementadores: Ministério das Infraestruturas, Ministério da Agricultura e Pescas e MSS. Refira-se que três dos grupos de trabalho se reuniram regularmente (habitação, protecção social e construção da confiança); o grupo de trabalho para a segurança reuniu-se pontualmente durante um curto período, e grupo para o desenvolvimento socioeconómico reuniu-se apenas uma vez.

3Decreto-Lei Nº 10/2008, de 30 de Abril

4 Foi criado, igualmente, um Comité de Coordenação Humanitária para assegurar uma coordenação eficaz das actividades humanitárias ao nível da comunidade internacional, presidido pelo Representante Especial Adjunto do Secretário-geral da UNMIT e incluindo representantes de agências da ONU, de ONGs e de organizações internacionais.

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O MSS facilitou o regresso e a reintegração das pessoas deslocadas através de apoio alimentar, transferências pecuniárias e transporte, fornecendo diversas opções, designadamente o regresso aos distritos e comunidades de origem, a integração local e o alojamento temporário em casas de transição.

Relativamente a esta última opção, as pessoas que mostraram dificuldades em regressar às suas casas escolheram viver temporariamente em alojamentos provisórios, com o apoio do Governo, da NRC e da OIM. Estas famílias esperaram por receber a transferência pecuniária a que tinham direito de modo a poderem regressar à sua vida quotidiana, enquanto outras receberam apoio em termos de resolução de conflitos. Após 30 de novembro de 2010, mais de dois meses após o encerramento do último campo e apesar das portas terem sido fechadas, muitas famílias ainda permanecem a viver nestes alojamentos temporários.

No processo de regresso e reintegração, muitos deslocados foram escoltados por monitores do Governo, de ONGs e IGOs, e com acompanhamento policial. As equipas de diálogo e de mediação deslocaram-se aos locais para mitigar as disputas surgidas, em complemento à estabilização da comunidade e às actividades de construção de paz, ao longo das áreas de risco e das áreas de intenso retorno dos deslocados internos.

Todos os IDPs deixaram os campos voluntariamente e utilizaram as várias oportunidades oferecidas pelo Governo. O programa, através do apoio contínuo da equipa e do coordenador, bem como de parceiros nacionais e internacionais, em circunstâncias difíceis e arriscadas, fechou 65 campos de deslocados em menos de um ano, assegurando um processo de retorno de todos os habitantes às comunidades quase sem indícios de violência relevante.

Uma componente significativa do processo de retorno e de re-integração consistiu na resposta à necessidade rápida de reabilitação das casas danificadas. Foi realizada uma avaliação dos danos e implementado um programa de transferências pecuniárias, de modo a facilitar a transição através do processo de recuperação e do retorno durável à normalidade.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

• Resolução do Governo n.º 9/2006, de 22 de Novembro (Assistência às Vítimas da Crise).• Resolução do Governo n.º 15/2007, de 31 de Dezembro (Assistência às Vítimas da Crise).• Resolução do Governo n.º 16/2007, de 31 de Dezembro (Programa Hamutuk Hari’i Uma).• Resolução do Governo n.º 8/2010, de 18 de Fevereiro (encerra o programa Hamutuk Hari’i Uma).• Diploma Ministerial n.º 1/2010, de 25 de Agosto (processo ‘5000’ e “Regulamento dos processos especiais no âmbito do encerramento do programa Hamutuk Hari’I Uma e Montantes Pakote rekuperasaun).• Resolução do Governo n.º 2/2012, de 8 de Fevereiro (Constituição da Comissão de Reverificação dos casos de deslocados internos em Timor-Leste).

3. DETALHES DO PROGRAMA

Como referido, o PHHF compôs-se de cinco pilares.5 Contudo, o presente artigo incide somente sobre as três componentes implementadas sob a liderança do MSS e com o apoio de diversos ministérios. Estas componentes estão directamente relacionadas com as necessidades humanitárias e sociais da população mais vulnerável, durante as fases de emergência e de recuperação.

3. 1. Retorno e Reintegração (Hamutuk Hari’i Uma - HHU)

3.1.1. ObjectivoFornecer aos IDPs opções viáveis que lhes permita regressar ou reinstalar-se, respeitando os seus direitos e dignidade, bem como as normas internacionais referentes aos princípios orientadores da deslocação interna.

3.1.2. ParceirosMinistério das Infra-estruturas, Ministério da Justiça (Direcção Nacional de Terras e Propriedades) e Ministério da Administração Estatal.

5 Os cinco pilares são os seguintes: 1) Retorno e Reintegração (Hamutuk Hari’i Uma); 2) Protecção humanitária e social (Hamutuk Hari’i Protesaun); 3) Segurança (Hamutuk Hari’i Estabilidade); 4) Desenvolvimento socioeconómico (Hamutuk Hari’i Ekonomia Sosial); 5) Consolidação da paz e confiança (Hamutuk Hari’i Konfiansa).

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Organização Internacional para as Migrações (OIM), Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

3.1.3. Actividades• Agilizar o retorno dos IDPs às comunidades de origem, o abrigo temporário ou a reinstalação, através da gestão de logística, com o apoio da polícia nacional e internacional, de equipas de diálogo e mediação do MSS/PNUD, Governo e monitores pertencentes a organizações não-governamentais (ONGs) e da OIM.• Avaliar as habitações destruídas durante a crise de 2006-07, de forma a calcular níveis de assistência financeira parcial para a reconstrução de habitações e, por conseguinte, de vidas. • Socializar um manual de construção, em conjunto com a OIM, com vista a promover boas práticas de construção.

3.1.4. Detalhes

Operações

Foi estabelecido um programa de transferências pecuniárias, organizado em várias componentes, com o objectivo de manter um nível elevado de responsabilidade e de precisão. Este programa atraiu as atenções, ofuscando o trabalho fundamental da acção humanitária célere e dos esforços de consolidação da paz, acabando por ser um processo controverso e complexo.6

O registo por família foi feito primeiramente em campos de refugiados. A cada família registada foi entregue um recibo oficial correspondente a um ficheiro físico nos arquivos. Estes dados foram reunidos numa base de dados, permitindo o cruzamento rápido de dados e fomentando uma maior responsabilidade.

As equipas, compostas nomeadamente por monitores e pessoas da área da engenharia e de arquitectura, analisaram os pedidos apresentados pelos IDPs, vistoriando e fotografando as residências dos requerentes. Verificou-se que nem todos os IDPs tinham habitações destruídas e que nem mesmo o registo no PHHF implicava obrigatoriedade de pagamento.

6 A falta de dados estatísticos e de documentação legal sobre as terras e propriedades dificultou bastante o processo; também não se sabia se muitas das casas tinham sido destruídas em 1999 ou em 2006.

O valor monetário dos danos foi calculado por peritos em infra-estruturas, com base em informações numéricas a partir de folhas de verificação, e em informações qualitativas a partir de formulários de monitorização. Estes dados foram entregues a consultores imparciais que criaram e rectificaram listas de pagamento, justificando-as.

Processo de pagamento

A modalidade utilizada durante o processo de transferências pecuniárias foi, numa primeira fase, a transferência bancária para o banco central e, posteriormente, para bancos comerciais.7

As componentes administrativas deste sistema complexo eram multi-dimensionais – funcionários e técnicos nacionais, juntamente com as organizações parceiras, trabalharam incessantemente para atender face a face milhares de beneficiários, em circunstâncias difíceis e de algum modo inseguras, com o mínimo de recursos, e com o desejo sincero de assegurar o retorno das famílias às suas comunidades.

O sistema surgiu a partir de registos de beneficiários no interior dos campos, e fora dos campos, que tinham sido capazes de retornar na fase inicial do processo de recuperação. As inscrições foram gravadas digitalmente numa base de dados, constituindo o quadro para a elegibilidade dos serviços da componente HHU.

As verificações consistiram em avaliações dos danos físicos das casas saqueadas e queimadas, dados estes que foram utilizados no processo de estimação do pagamento por técnicos do PHHF de várias instituições. Os pagamentos foram realizados com base em dados visuais, qualitativos e quantitativos.

Na primeira fase, os pagamentos designados para a reconstrução de habitações oscilavam entre $500 - $4500 (quatro níveis de pagamento).8

As pessoas cujas casas não apresentavam danos tinham direito a solicitar um montante de $200 para apoiar as despesas de retorno e outras necessidades.

7 Na primeira fase, os pagamentos efectuaram-se através de transferências por CPV, a partir do MSS para o Ministério das Finanças e, de seguida, para o Banco Central. Na segunda fase, os respectivos montantes foram transferidos para quatro bancos comerciais em Timor-Leste.

8 A determinação do montante do benefício dependia do nível de destruição da casa.

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Para a segunda fase, foi definido um montante fixo de $500 para a aquisição de bens pessoais, dados como perdidos ou roubados.

Não havendo registo de destruição da habitação, e perante a apresentação de uma queixa de perda de bens domésticos dentro dos prazos definidos, o pagamento era efectuado com base na modalidade da segunda fase.

Os beneficiários que não reivindicaram os seus direitos, ou que não levantaram o pagamento no prazo de três anos, ou durante as várias extensões de prazo, podem não ter recebido o pagamento em qualquer uma das fases.9

3.2. Consolidação da Paz e Confiança, e Coesão Social (Hamutuk Hari’i Konfiansa - HHK) 10

3.2.1. ObjectivoDesenvolver uma relação de confiança entre a população e o Governo, bem como fortalecer as comunidades, assegurando a participação dos deslocados internos no planeamento e na gestão de iniciativas que promovem o retorno, o restabelecimento e a reintegração.

3.2.2. ParceirosMinistério da Administração Estatal e Ordenamento do Território, Ministério da Justiça, Ministério da Defesa e Segurança, Ministério da Educação.

IOM, UNDP, Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), Catholic Relief Service (CRS), Belun, CARE.

3.2.3. Actividades• Actividades que visam a consolidação da paz, tais como eventos desportivos, teatro e artes, e uma telenovela nacional, de forma a fortificar a solidariedade no seio das comunidades.• Mitigação de conflitos através de diálogos e processos de mediação, com o objectivo de resolver situações de rivalidade e de ocupação ilegal de habitações, de forma a assegurar uma coexistência pacífica.• Fortalecimento das comunidades através da melhoria das infra-estruturas em áreas de alto risco, com vista a melhorar as condições

9Se os pagamentos não fossem levantados dentro do prazo estabelecido, seriam devolvidos ao Cofre de Estado pelo Banco Central. 10Refira-se que a secção que implementou as actividades desta componente foi institucionalizada e integrada no Governo, com o apoio do UNDP, como Departamento para a construção da Paz e Coesão Social. Este Departamento continua a trabalhar na resolução de conflitos de modo sustentável e no reforço da paz e estabilidade nos 13 distritos do país.

das comunidades, e assegurar a existência de recursos adequados e de condições favoráveis para receber os IDPs.11

3.3. Protecção Humanitária e Social (Hamutuk Hari’i Protesaun - HHP)

3.3.1. ObjectivoElaborar uma resposta para fazer face à vulnerabilidade da população, especialmente focada nas necessidades específicas dos deslocados internos.

3.3.2. ParceirosProvedoria dos Direitos Humanos, Ministério da Saúde, Ministério da Educação, Direcção Nacional de Estatística, Secretário de Estado da Segurança, Ministério da Justiça, Direcção Nacional de Água e Saneamento, Ministério da Agricultura e Pescas e Ministério da Administração Estatal. Autoridades locais.

World Food Program (WFP), OIM, Comité Norueguês para os Refugiados (NRC), UNMIT, UNICEF, Plan, Triangle, CARE.

3.3.3. Actividades• Provisão de alimentos, abrigo, água, instalações sanitárias, apoio médico, protecção da criança, bem como respostas a outras necessidades e direitos básicos.• Integração de pontos focais, de monitores e representantes para garantir a representação e a comunicação aberta entre os ocupantes dos campos, o Governo e os parceiros.• Gestão e organização de campos.• Criação de alojamento temporário para pessoas que apresentam dificuldades no retorno às comunidades de origem.

3.4. Grupos-alvo• Pessoas que abandonaram as suas casas devido ao risco de conflito ou do possível impacto do mesmo.• Pessoas que vivem em comunidades com um risco elevado de conflito.

11 A melhoria das infra-estruturas incluía a construção de centros comunitários, campos de futebol, capelas, escolas e saneamento básico.

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3.5. Critérios de Elegibilidade

• HHP: Registo/ permanência em campos dentro do período de tempo estipulado.• HHU: Registo no programa dentro do período de tempo estipulado e posse de habitação que tenha sido danificada devido à crise de 2006-2007.• HHK: Todas as pessoas em risco ou que requerem mediação ou apoio ao diálogo devido a disputas a nível comunitário. Todas as pessoas que habitam áreas de alto risco com um número elevado de IDPs.

3.6 Parceiros

- AusAid - Autoridades locais- Belun - DARE- Cáritas - CRS- Cruz Vermelha - European Union- JRS - NRC - OIM - ONGs locais- Plan International - Triangle- UNDP - UNFPA- UNHCR - UNICEF- UNMIT - WFP- WHO

4. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

Resultados: através deste programa o Estado procura assegurar que todas as pessoas em situação de deslocação interna e/ou afectadas pela crise de 2006-2007 tenham direito a assistência humanitária temporária, mecanismos de mitigação de conflitos e reabilitação de habitações, de forma a facilitar o regresso à normalidade durante o período de vigência do programa, imediatamente após a crise.

5. DADOS DE EXECUçãO

Estima-se que 150.000 pessoas tenham abandonado as suas casas durante a crise de 2006-2007. Apresentam-se, de seguida, alguns dados de execução do programa:

• Encerramento adequado de campos de IDPs (2009): 65.• Encerramento adequado de áreas de habitação temporárias: 5.• Número de IDPs em campos de refugiados por tempo prolongado: (mínimo) 106.200.• Retorno voluntário facilitado pelo Governo (mínimo): 106.200.

Transferências pecuniárias para a reabilitação de residências:• N.º mínimo de beneficiários/famílias: 17.615.• Orçamento: $56.800.000.12

Mitigação de conflitos• Mediações: 770.• Diálogos: 55.

Actividades de consolidação da paz• Actividades regulares: teatro, programa de TV (telenovela Suku Hali), desporto, entre outros, em áreas onde se registou o risco de conflito.

Estabilidade/fortalecimento da comunidade• Melhoria das infra-estruturas em comunidades de alto risco: 23.

6. AVALIAçãO

6.1. Impactos do Programa

• Retorno sustentável e voluntário de deslocados internos com +99% de retornos permanentes (sem ocorrer uma nova deslocação ou ressurgimento de violência).

12 Este montante refere-se ao orçamento do MSS no âmbito da liderança dos 3 pilares do PHHF e inclui os custos operacionais.

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• Preservação dos direitos humanos e acesso a bens necessários que garantem um nível de vida “decente” através da provisão dos seguintes serviços:

a) HHP: Abrigo, bens alimentares e não alimentares, água, instalações sanitárias, educação para crianças, redes de saúde, comunicação com o Governo e protecção geral.b) HHK: Mitigação e resolução de conflitos, fortalecimento das comunidades através de melhorias ao nível das infra-estruturas, e actividades que visam a consolidação da paz.c) HHU: Assistência financeira para a reconstrução de habitações e reposição de bens pessoais, com o objectivo de facilitar o regresso à normalidade em toda a duração do programa, durante a fase de recuperação.

6.2. Constrangimentos

• Dificuldades na organização causadas pela situação de emergência.• Falta de coordenação efectiva a nível da comunicação e organização interministeriais. • Riscos elevados em termos de segurança.• Dificuldades na implementação de um processo de transferências pecuniárias em todos os programas supramencionados.• Falta de dados e de documentação legal sobre terras e propriedades.• Dificuldades no processo de avaliação das casas em termos de data da destruição.

7. CONCLUSãO

O processo de recuperação nacional registou melhorias ao longo do tempo, tendo culminado com sucesso a 31 de Dezembro de 2010, não obstante as dificuldades extremas inerentes à construção de um novo país, com recursos e experiências limitados. Como referido, o programa abrangeu aproximadamente 100.000 pessoas. Com a sua primeira resposta a um desastre nacional desta dimensão, o Governo deu início a um processo de

tentativa/erro, encontrando soluções ao longo do caminho com base quer nos inputs de parceiros especializados quer em lições aprendidas.

Até ao encerramento do último campo de IDPs, em Setembro de 2009, não se verificaram situações significativas que pusessem em risco a segurança. Em caso de alguma carência, os IDPs eram providos de acordo com as necessidades específicas. Muitas crianças tiveram acesso à educação.13 No caso das famílias, foi garantida uma nutrição adequada, água e instalações sanitárias, no âmbito do programa Hamutuk Hari’i Protesaun.

De forma a cumprir o estipulado na Estratégia Nacional de Recuperação, foi apresentada às famílias uma série de opções que visavam apoiar essas famílias no retorno às suas comunidades.

O Governo, com o apoio fundamental dos seus parceiros, organizou o retorno dos IDPs encerrando os campos antes de a situação atingir níveis críticos característicos de uma crise, que favorecem a ocorrência de doenças, de violência e de violação de direitos humanos – cenários verificados em muitos outros países do mundo.Os pilares do PHHF guiaram-se pelo princípio da sinergia, de acordo com a concepção inicial. O sucesso da assistência financeira (HHU) às vítimas da crise de 2006-2007 deve-se ao facto de ter sido complementada pelo pilar Hamutuk Hari’i Konfiansa (HHK). Isto permitiu que as soluções a curto prazo do HHU fossem complementadas por soluções sustentáveis, tais como a estabilidade da comunidade e a mitigação de conflitos.

Consequentemente, o número registado de casos reincidentes de deslocação e de violência foi mínimo. Graças à provisão de alimentos, água, instalações sanitárias, educação e medicamentos, foi possível preservar um ambiente de tranquilidade, assegurando a saúde dos ocupantes (HHP). As famílias puderam deixar os campos, porque lhes foi dada a possibilidade de reabilitarem as suas casas, adquirirem bens necessários e, ainda, disporem de algum dinheiro para alimentação e transporte (HHU). Ao mesmo tempo, assegurou-se um processo seguro de reintegração através do diálogo e da mediação, bem como de melhorias ao nível de infra-estruturas que permitiram às comunidades acomodar facilmente os retornados em massa (HHK).

13 Através do estabelecimento de escolas temporárias nos campos de IDPs.

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Numa Nação com escassa documentação oficial, bem como regras no que se refere a terras e propriedades, e tendo em conta o estilo de habitações em Timor-Leste, a melhor solução disponível era a de desenvolver um programa de reabilitação (solução a curto prazo) em conjunto com actividades que promovem a estabilidade das comunidades e de consolidação da paz (solução a longo prazo).

É indiscutível que o equilíbrio entre todos os elementos da Estratégia Nacional de Recuperação do MSS e parceiros foi a chave para o sucesso do retorno e da reintegração dos deslocados, possível graças à perseverança dos timorenses – um povo para o qual o conceito de dificuldade é familiar.

No entanto, neste processo, tornou-se evidente a dificuldade em manter um equilíbrio entre os ideais humanitários e os prazos e decisões concretas a tomar. A assistência prolongada, a não ser quando é vital, pode fomentar em alguns casos a dependência e atrasar o regresso dos beneficiários à normalidade. Terminar de modo claro os esforços de emergência e de recuperação, demarcando-os do processo de desenvolvimento, é evidentemente uma decisão difícil para qualquer instituição com fortes ideais humanitários e afeição pelo seu povo, que sofreu tanto no passado, sem qualquer apoio durante décadas.

8. LIçÕES APRENDIDAS

1. O Governo deveria escolher e disponibilizar espaços para futuros campos de IDPs em caso de possíveis deslocações internas resultantes de desastres naturais ou conflitos.14

2. O Governo deveria assegurar o abastecimento permanente de lonas, água potável, tanques de água, instalações sanitárias e bens não alimentares em armazéns definidos.

3. Os membros do Governo e do Parlamento deveriam respeitar os mais altos padrões em termos de direito de propriedade.

14Conforme já mencionado, a crise de 2006 levou a que muitas pessoas procurassem refúgio em campos de deslocados em locais pouco seguros – tais como o hospital (risco de saúde pública), Metinaro, jardins públicos (constantemente em risco de inundação durante a época das chuvas).

4. Os membros das forças de segurança – PNTL e F-FDTL – deveriam respeitar os seus padrões profissionais.

5. O Governo deveria aperfeiçoar os seus mecanismos de coordenação interministerial - a melhoria destes mecanismos é particularmente importante durante uma situação de emergência e igualmente na fase de recuperação, assegurando ao mesmo tempo um desenvolvimento sustentável. A existência de uma coordenação/ comunicação interministerial permitirá simultaneamente uma maior eficácia e uma menor pressão sobre o Ministério.

6. O Governo deveria tentar identificar as causas da violência e de outros problemas sociais e políticos que conduziram à mesma, bem como abordar a necessidade de proceder a reformas no sector da segurança, o acesso à justiça e disputas não resolvidas em torno de questões relacionadas com as terras.

7. O Governo deveria implementar uma política nacional de habitação e abordar a questão urgente de falta de habitações em Díli.

8. O Governo deveria abordar as necessidades em termos de infra-estruturas em Díli e nos arredores – em especial, no que se refere ao acesso à água, instalações sanitárias e estradas.

9. O Governo deveria continuar a priorizar o diálogo e a mediação através da criação de uma Unidade de Consolidação da Paz no âmbito do MSS.

10. Sempre que necessário, os membros de alto nível do Governo – Primeiro-Ministro, Vice-Primeiro-Ministro – deveriam anunciar publicamente que a política do Governo se aplica a todos de forma equitativa, que quaisquer fraudes põem em risco o acesso aos benefícios, e que existe um período definido para a atribuição de benefícios.15

11. O período de registo (dos beneficiários) deverá ser definido e cumprido, não havendo cedência a qualquer pedido de extensão devido à pressão por

15Este tipo de divulgação pública de alto nível irá reduzir a quantidade de pressão individual e ameaças exercidas sobre ministros, secretários de estado e funcionários públicos.

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parte dos requerentes.12. É necessário que a informação seja pública e se insista numa socialização contínua da informação ao longo do processo (especialmente no que se refere à base legal). Particularmente:

13. Reforçar a natureza de assistência do pacote de recuperação e invalidar a ideia de que se trata de um programa compensatório, bem como explicar que se trata de uma oportunidade única do Governo, ao invés de ser vista como uma oportunidade “de direito” ou caritativa.

14. Reforçar continuamente as condições de não elegibilidade (menores de idade, casas danificadas em 1999, entre outros), a natureza criminal da fraude e facilitação de fraude, e referir claramente os prazos. Melhorar a transparência e acentuar os aspectos positivos de tal programa perante o público.

15. Referir as datas de conclusão de actividades, os prazos de entrega de requisições e de levantamento dos pagamentos (antes do retorno dos fundos ao Ministério das Finanças).

16. A grande importância da tecnologia: GPS com o registo dos endereços e outros dados relacionados com o requerente. Tal é obrigatório, de forma a evitar verificações repetidas e manipulação por oportunistas. O método de comparação de fotografías de satélite pré-desastre e pós-desastre tem vindo a ser utilizado para a avaliação de danos. Esta prática deverá estar associada ao GPS.

17. É obrigatória a existência de uma base de dados eficaz, que forneça alertas quanto a entradas repetidas. Este tipo de base de dados pode assegurar um controlo significativo dos projectos por parte dos gestores, desde que a mesma relacione todos os componentes de uma forma centralizada.

18. Deverá proceder-se à digitalização de todos os documentos com vista a evitar a perda de quaisquer documentos e fornecer verificações rápidas, garantindo um serviço ao cliente mais eficiente. A existência de um sistema

sólido desperta a confiança e a motivação dos funcionários.

19. Como ferramenta de socialização pode recorrer-se aos ‘sms’ para o contacto com determinados beneficiários específicos; deste modo, são requisitos básicos a recolha e a utilização de números de telefone dos beneficiários.

20. A comunicação nunca deverá ser feita com representantes não oficiais. Os IDPs deverão ser atendidos individualmente dado que é seu direito democrático comunicarem com o Governo, mas também protegidos contra oportunistas e manipuladores que recorrem a propaganda.

21. Se os beneficiários não aceitarem o facto de serem considerados não elegíveis, colaborar com cargos superiores ou entidades legais que possam confirmar imediatamente a situação.

22. Assegurar que existe uma lista de não elegibilidade, de modo a que pessoas já identificadas como não elegíveis não possam voltar a entrar no sistema. Na altura, o MSS pressupôs de que se teria negligenciado ou esquecido determinadas pessoas. Porém, uma nova verificação dos dados indicou que essas mesmas pessoas tinham sido já classificadas como não elegíveis para o pacote de recuperação.

23. Assegurar que os casos fraudulentos são punidos e a lei é cumprida.

24. É obrigatório que haja um certo nível elevado de segurança, bem como protecção por partes das forças policiais. Reiterando o supramencionado, é necessário assegurar que a lei seja cumprida para que os crimes não se repitam.

25. Proporcionar o máximo de oportunidades em termos de formação e linhas de orientação, mesmo em situações pós-crise, de forma a assegurar um serviço motivado e efectivo.

26. Assegurar a transição de uma fase pós-recuperação para uma fase de desenvolvimento, incluindo melhorias ao nível socioeconómico. Implementar actividades conforme o definido nos dois últimos pilares (que

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não do MSS) do PHHF.27. Minimizar dependências. Não excluir a assistência imediata, mas garantir desde o início que os esforços de emergência são complementados por soluções a médio e a longo prazo.

28. Fomentar mais oportunidades económicas, trabalho (reconstrução) por comida – work (rebuilding) for food – e programas de desenvolvimento local.

29. Utilização de cupões para que apenas os produtos locais e lucrativos sejam adquiridos através dos pacotes dos beneficiários.

30. Garantir um mecanismo de monitorização e de avaliação ao longo de todo o processo por determinadas partes.

9. METAS FUTURAS

• Aposta na prevenção ao invés da cura: salva mais vidas e os custos passam a metade.• Ênfase em aspectos socioeconómicos, desenvolvimento de meios de subsistência e fortalecimento da economia local e da auto-sustentabilidade, como medidas preventivas e atenuantes.• Definição geral de decisões e de políticas sobre quem são as partes interessadas, quais os procedimentos, quem é responsável por dar uma resposta.• Dar uma resposta de forma sistematizada e uniforme, com recursos e pessoal disponíveis.

ANEXO

Mapa: Campos IDP - Dezembro 2007

 

271270 Fotografía: Martine Perret

DESENVOLVER TIMOR-LESTE OLHANDO PARA TRÁS – CONTEXTO DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL PARA AS MIGRAÇÕES EM TIMOR-LESTENorberto Celestino, Chefe de Missão, OIM Timor-Leste

Peter Van Der Auweraert,Chefe da Divisão de Terras, Propriedades e Indemnizações, sede da OIM

Chris Hoffman,Especialista em situações de emergência e pós-crise na região da Ásia/Pacífico, OIM, Tailândia

273272

A Organização Internacional para as Migrações (OIM) iniciou funções em Timor-Leste em Agosto de 1999. Desde então que a OIM tem vindo a prestar assistência de retorno e de reintegração a aproximadamente 190 000 timorenses que fugiram para Timor Ocidental aquando da violência pós-referendo em 1999, a participar no desarmamento e reintegração de ex-combatentes das FALINTIL, e a ocupar-se da estabilização comunitária e de programas ao nível das infra-estruturas. Em resultado da agitação social de 2006, a missão da OIM em Timor-Leste rapidamente iniciou o seu trabalho de apoio ao Governo na resposta à deslocação interna e ao desenvolvimento de soluções duradouras para a população afectada. Com o fecho dos campos de deslocados internos (Internally Displaced Persons – IDPs) no início do ano de 2010, a OIM deu assistência ao retorno voluntário de mais de 17 000 famílias às suas comunidades.

A OIM ajuda também o Governo de Timor-Leste a alcançar os seus objectivos de desenvolvimento a longo prazo, através da provisão da assistência técnica e aconselhamento com vista a consolidar ainda mais a capacidade institucional. Desde 2005 que a missão da OIM tem vindo a trabalhar de perto com o Governo no sentido de desenvolver sistemas de migração coerentes e bem coordenados para garantir uma gestão eficiente da migração para cidadãos timorenses, visitantes, imigrantes, migrantes irregulares e requerentes de asilo, bem como dar um apoio técnico à Direcção Nacional de Gestão de Desastres. A missão tem estado a dar também apoio e assistência técnica ao Governo e à sociedade civil na gestão de novas tendências emergentes, tais como o tráfico humano e o contrabando de migrantes.

1. CINCO SUCESSOS DA RESPOSTA AOS IDPS NO PAÍS

O “pacote de recuperação” Este pacote era de natureza substancial, especialmente no contexto de Timor-Leste. Tinha como público-alvo os IDPs que optassem por regressar ou reinstalar-se, e estava intimamente relacionado com a dimensão dos danos das respectivas casas. Assegurar que as famílias eram acompanhadas da forma o mais adequada e focada possível equivalia à aceitação do pacote.

Equipas de diálogo O motivo mais importante para o facto das questões sociais não terem escalado para uma dimensão que se temia, terá sido provavelmente o trabalho das “equipas de diálogo”, as quais prepararam os IDPs e as comunidades de acolhimento para o retorno e (re)integração. As equipas de diálogo são uma mais-valia não só para esta resposta, mas também para o futuro do desenvolvimento do país. Ao assegurar um processo de participação e um esforço colaborativo e consultivo, foi possível que as equipas de diálogo fossem bem sucedidas.

Ambiente estável para o retorno O caminho seguido durante o processo de retorno foi o do diálogo e mediação para promover e facilitar a reintegração social dos IDPs através de uma grande variedade de processos que envolveram as autoridades, os IDPs e as comunidades afectadas. A criação do Departamento de Construção da Paz no Ministério da Solidariedade Social (MSS) em 2011 foi uma iniciativa inovadora com vista a garantir a continuidade do diálogo e mitigação de conflitos em períodos de paz.

FlexibilidadeUm ponto forte na abordagem adoptada pelo MSS no que respeita estes esforços de diálogo e mediação foi certamente a sua flexibilidade. Dependendo das necessidades e contexto locais, os diálogos abrangiam desde conversas mediadas directas entre duas famílias, a processos complexos que envolviam as comunidades em geral e os grupos de IDPs. A percepção do Governo quanto à sua cidadania e flexibilidade em relação às suas necessidades fez com que o processo dos pacotes de retorno fosse bem sucedido.

Acesso a terrasEmbora haja ainda muitas questões por resolver, não podemos esquecer que os IDPs regressaram às suas casas e vivem em áreas ou na proximidade de áreas de onde eram originários antes da crise, não obstante a controvérsia ainda existente em torno do uso de terras/propriedade. A aceitação e o espírito de compreensão, perdão e solidariedade nas comunidades retornadas foram relevantes para o sucesso da estratégia de recuperação.

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2. CAMINHO A SEGUIR

Abordagem integradaFormação, parcerias e um plano e caminho detalhados que integrem as abordagens dos ministérios e as iniciativas dos parceiros, e paralelamente um departamento ou ministério responsável focado na resposta de emergência, prevenção e recuperação, é a única via que conduz a uma resposta consolidada.

Deslocação no futuro, redução do risco de desastreDe forma a assegurar que os efeitos das emergências são mitigados antes da sua ocorrência, é importante preparar e considerar o apoio à programação de meios de subsistência, estabilização dos grupos e comunidades afectados, a programas de reabilitação de infra-estruturas sociais, e à capacitação de autoridades nacionais e distritais, bem como ter uma percepção clara dos riscos actuais e futuros que afectam o país.

Pensar na recuperação e retorno, bem como nos casos residuais, assim que se começa a implementar a resposta de emergênciaDe uma forma geral, alguns exemplos de planeamento que devem ser seguidos antes de surgir a necessidade de resposta incluem: garantir que existe procedimentos-padrão e stocks previstos para a assistência de emergência, que há capacidade de gestão de campos, stocks para abrigos de emergência, procedimentos de distribuição de alimentos e de bens não-alimentares, e que foram planeadas competências necessárias para prestar assistência médica de emergência. Inclui-se aqui ainda a consolidação do enquadramento comum e do vosso (do Governo) papel global e capacidade de dar resposta às necessidades dos IDPs, incluindo os sistemas de alerta precoce e de monitorização, e a provisão de/participação em formações que prestam aconselhamento e orientação quanto aos enquadramentos legais e mecanismos processuais que melhor garantem a protecção dos cidadãos de Timor-Leste numa situação de crise ou de desastre.

Registo e identificação dos IDPs o quanto antesO registo e a caracterização dos IDPs deverão ser feitos nas primeiras duas semanas após uma crise ou desastre. Se os dados de registo forem de qualidade, o planeamento e a prestação de serviços serão precisos, permitindo assim direccionar a assistência para casos vulneráveis e necessitados. Para além disso, o registo constitui o ponto de partida para todos os pedidos de subvenção, para a resposta de emergência, incluindo o planeamento de campos, o planeamento de recuperação, bem como para actividades de recuperação e transição.

Consideração pelas questões de género e por grupos que requerem especial atençãoEm muitas culturas em todo o mundo, as questões em torno do género (feminino e masculino) são de difícil gestão dadas as normas culturais e contextos históricos. Timor-Leste não esteve imune a estas dificuldades. A provisão de ajuda e assistência deverá ser feita de uma forma coordenada para salvar vidas e responder às necessidades humanitárias da população, tendo sempre em conta os direitos e dignidade das pessoas afectadas através de processos participativos. As questões transversais deverão ser entendidas como princípios-chave subjacentes durante a assistência humanitária e recuperação para populações vulneráveis. Tal deverá incluir, entre outros, considerações de género, direitos humanos, questões ambientais e protecção para grupos especiais (crianças, órfãos, idosos, portadores de deficiência, etc.).

O REGIME ESPECIAL DOS COMBATENTES DA LIBERTAÇÃO NACIONAL EM TIMOR-LESTE

Gil da Cruz, Director Nacional dos Assuntos dos Combatentes da Libertação Nacional

eixo

3

Fotografía: MSS

279278

1. INTRODUçãO E ENqUADRAMENTO LEGAL

A questão dos Combatentes da Libertação Nacional (CLN) tem sido, desde a restauração da independência de Timor-Leste, uma prioridade para o Estado, assumindo sempre um lugar prioritário nos programas dos quatro Governos Constitucionais que, até ao momento, estiveram à frente dos destinos do país.

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste consagra o reconhecimento e a valorização da “resistência histórica do Povo Maubere contra o domínio estrangeiro” e a responsabilidade do Estado em assegurar “protecção especial aos mutilados de guerra, órfãos e outros dependentes daqueles que dedicaram as suas vidas à luta pela independência e soberania nacional”, bem como a protecção de “todos os que participaram na resistência contra a ocupação estrangeira”.1

O Governo, assumindo como sua responsabilidade o reconhecimento e a valorização do contributo dos que lutaram pela independência nacional, assim como o dever de protecção social dos que participaram nessa luta – incluindo os que ficaram incapacitados e os dependentes daqueles que deram as suas vidas pela libertação da pátria – tem vindo a aprovar diversos diplomas legais que instituem a atribuição de variados benefícios no âmbito do presente Regime.

Efectivamente, a criação e aprovação do Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional em 2006, inicia o processo de implementação do Regime Especial dos CLN em Timor-Leste traduzindo um forte investimento do Estado nesta matéria.2 O Estatuto vem resolver a difícil questão de quem deve ser considerado Combatente da Libertação Nacional, num movimento de resistência que incluía muitas células clandestinas semi-autónomas, fortemente dependente de comunidades de apoio não formais.3 Neste diploma são igualmente definidos os critérios de distinção das diferentes categorias de Combatentes, designadamente dos Combatentes Veteranos da Libertação Nacional, dos Combatentes Fundadores do Movimento de Libertação Nacional, e dos Mártires da Libertação Nacional.4

1Artigo 11º da CRDTL.

2Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril. 3Artigo 4.º da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril, com as alterações decorrentes da Lei n.º 9/2009, de 29 de Julho e da Lei n.º 2/2011, de 23 de Março. 4é estabelecido o critério de ‘tempo mínimo de participação’ para a atribuição do título de CLN e, igualmente, apesar de não atingirem esse tempo mínimo, as pessoas portadoras de deficiência grave que impossibilita o exercício de actividade produtiva e garantia da subsistência. A contagem do tempo dedicado à luta como serviço prestado ao Estado segue o critério de considerar apenas o período dedicado a ‘tempo inteiro’, ou seja, a dedicação com carácter exclusivo à luta de libertação nacional, por determinação das estruturas directivas da Resistência, não acumulada com actividade estudantil ou laboral normal e remunerada, assim como os períodos de encarceramento e desterro – sendo contado como tempo de serviço prestado ao Estado e calculado em dobro (Artigo 24º). Na base deste critério está o dever do Estado em apoiar aqueles que não tiveram oportunidade de investir na sua formação, por dedicação exclusiva à luta e que, deste modo, necessitam actualmente de apoio económico.

O preâmbulo do Estatuto estabelece as três dimensões que as políticas públicas dirigidas aos Combatentes da Libertação Nacional devem incorporar:

1) o reconhecimento e a valorização, que constituem a dimensão moral;

2) a protecção social ou sócio-económica, que traduz a dimensão solidário-retributiva;

3) a preservação da memória, que reflecte a dimensão da conservação e disseminação dos valores e feitos da resistência contra a ocupação estrangeira.

Este diploma define, igualmente, as regras gerais de registo e os direitos e deveres dos CLN.5 Refira-se que a implementação destes direitos tem sido realizada de forma gradual, “com base nas possibilidades financeiras e capacidade institucional do Estado”.6

As inúmeras exigências dos Combatentes, aliadas à dificuldade de implementação de algumas das medidas preconizadas pelo Estatuto, levaram a que o Governo assumisse a responsabilidade de promover a revisão do Estatuto, através da criação da Comissão Eventual para Revisão da Lei n.º 3/2006, em Setembro de 2008, com representação dos órgãos com a tutela dos Combatentes da Libertação Nacional.7

Esta Comissão realizou consultas com representantes das três Frentes da Luta (Armada, Clandestina e Diplomática), bem como com os Deputados da Comissão e do Parlamento Nacional, após o que redigiu um relatório final onde foram apresentadas algumas propostas de alteração do Estatuto.

Este relatório foi aprovado pelo Primeiro-Ministro e submetido ao Parlamento Nacional, para ser considerado no trabalho de revisão do Estatuto, resultando na aprovação da Lei n.º 9/2009, de 29 de Julho, que contempla importantes alterações ao Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional.8

5Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril, com as alterações decorrentes da Lei n.º 9/2009, de 29 de Julho e da Lei n.º 2/2011, de 23 de Março (Artigos 13º a 20º, 23º e 34º). 6Artigo 40º da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril, com as alterações decorrentes da Lei n.º 9/2009, de 29 de Julho e da Lei n.º 2/2011, de 23 de Março. 7 Despacho do Primeiro-Ministro (Despacho n.º 26/IVGC/GPM/IX/08).Entre as dificuldades de implementação de algumas das medidas, refira-se a impossibilidade de implementar a pensão de vulnerabilidade económica, pela inexistência de critérios de definição, pelo que acabou por ser extinta sem nunca ter sido implementada. 8Designadamente, alterações ao nível dos critérios de atribuição e dos montantes das pensões (cujo valor subiu), maior abrangência em termos de beneficiários, criação da Prestação Pecuniária única para Combatentes com 4 a 7 anos de tempo inteiro de participação e Familiares dos Mártires da Libertação Nacional (não abrangidos pelo regime de atribuição de pensões), extinção da pensão especial de subsistência por vulnerabilidade económica (impossibilidade de definição e medição).

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Síntese da legislação mais relevante aprovada:

• Lei nº 3/2006, de 12 de Abril – Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional.

• Decreto-Lei nº 15/2008, de 4 de Junho – Pensões dos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

• Resolução do Governo n° 10/2008, de 4 de Junho – Distinção com valor de pensão superior a figuras proeminentes na Luta de Libertação e Independência de Timor-Leste.

• Despacho do Primeiro-Ministro (Despacho n.º 26/IVGC/GPM/IX/08) – Criação da Comissão Eventual para Revisão da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril.

• Decreto-Lei nº 8/2009, de 15 de Janeiro – Regime de Atribuição de Bolsas de Estudo aos Filhos dos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

• Despacho Conjunto n.º 1/2009, de 22 de Maio – Regulamento do Segundo Período de Registo dos Combatentes da Libertação Nacional.

• Lei nº 9/2009, de 29 de Julho – Primeira alteração da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril (Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional).

• Decreto-Lei n.º 35/2009, de 2 de Dezembro – Altera o Decreto-Lei n.º 15/2008, de 4 de Junho (Pensões dos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional).

• Decreto do Governo n.º 1/2010, de 18 de Fevereiro – Comissão Eventual de Verificação de Dados do Primeiro Período de Registo dos Combatentes da Libertação Nacional.

• Lei n.º 2/2011, de 23 de Março – Segunda alteração da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril (Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional).

• Decreto-Lei n.º 37/2011, de 17 de Agosto – Cerimónias de desmobilização e reconhecimento dos Combatentes da Libertação Nacional da Frente Armada.

• Decreto-Lei nº 5/2012 de 15 de Fevereiro – Prestação Pecuniária Única para Combatentes e Familiares dos Mártires da Libertação Nacional.

Antes de se proceder a uma caracterização das três dimensões que o presente regime estabelece, refiram-se algumas componentes gerais do processo de implementação, nomeadamente o processo de registo e respectiva base de dados, a verificação/ supervisão de actividades e os parceiros de implementação.

Em termos de registo de dados, existe uma base de dados única e geral na Direcção Nacional dos Assuntos dos Combatentes da Libertação Nacional (DNACLN), que inclui: 1) o registo dos Combatentes de Libertação Nacional; 2) o sistema de gestão das pensões; 3) o sistema de gestão das bolsas de estudo. Deste modo, todos os dados – processos de requerimento, vários tipos de beneficiários segundo as diversas atribuições, avaliação dos processos de reclamação, contestação e recurso hierárquico, perfil e historial de cada beneficiário – estão integrados num sistema único. Esta base de dados é partilhada com a Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos (CHSRR), o principal parceiro da DNACLN.9

Relativamente à supervisão e verificação do processo de atribuição das pensões, são efectuadas auditorias regulares por uma empresa externa, através do Ministério das Finanças. No que respeita aos parceiros, e como referido anteriormente, a CHSRR é a principal parceira da DNACLN no processo de implementação do regime. A nível da colaboração com os distritos, a Direcção articula directamente com as autoridades administrativas distritais e com os centros regionais do MSS, uma vez que não existem pontos focais da Direcção colocados nos distritos.

2. DIMENSãO DE RECONHECIMENTO E VALORIzAçãO

2.1. Registo dos Combatentes da Libertação Nacional

Em Setembro de 2002 foram criadas duas Comissões – a Comissão para os Assuntos dos Antigos Combatentes (CAAC) e a Comissão para os Assuntos dos Veteranos das FALINTIL (CAVF) – com o objectivo de proceder ao registo dos antigos combatentes da Resistência Armada nos períodos de 1975 a 1979 e de 1980 a 1999, respectivamente.

9A gestão da base de dados é assegurada por um técnico internacional e operacionalizada por técnicos nacionais. Conforme as necessidades do programa, é actualizada progressivamente por uma empresa externa, responsável pela criação e manutenção do software.

283282

Da mesma forma, em Setembro de 2004 foi criada a Comissão para os Assuntos dos Quadros da Resistência (CAQR) para efectuar o registo dos quadros civis. Posteriormente, foram instituídas as Comissões de Validação e de Consolidação de Dados (2006), com o objectivo de conjugar, esclarecer e validar todos os registos existentes.

Do trabalho destas Comissões resultaram 76.063 pedidos de registo para atribuição da qualidade de Combatente da Libertação Nacional, distribuídos da seguinte forma:

Gráfico 1. Pedidos de Registo por Distrito (1ª fase)

Aileu 6.179Ainaro 5.630Baucau 8.798Bobonaro 6.440Covalima 4.367Dili 4.349Ermera 8.611

Lautem 4.949Liquiçá 6.413Manatuto 5.456Manufahi 5.008Oecusse 2.416Viqueque 7.430Fora Timor 17

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

Em Fevereiro de 2010 é criada a Comissão Eventual de Verificação de Dados, com vista à resolução da difícil questão da validação dos pedidos de registo pendentes.

Esta Comissão, constituída por membros das estruturas da Resistência, terminou o seu mandato em Dezembro de 2011, estando validados até à data 94,5% do total de 76.063 pedidos de registo, dos quais 3,5% foram considerados não Combatentes, restando ainda 4.220 processos pendentes.

Com base nesta validação, que decidiu sobre a elegibilidade para atribuição da qualidade de Combatente da Libertação Nacional, o gráfico seguinte dá conta da distribuição dos Combatentes e Mártires elegíveis para pensão ou prestação pecuniária única.

Gráfico 2. Distribuição dos Combatentes e Mártires Elegíveis para Pensão ou Prestação Pecuniária única

194531 5

7296

392

13779

10

15502

B

D

E

F

G

H

C A

A Pensão Especial de Reforma Escalão 1(20-24 anos)

B Pensão Especial de Reforma Escalão 2 (15-19 anos)

C Pensão Especial de Reforma (valor de Distinção)

D Pensão Especial de Sub-sistência (8-14 anos)

E Pensão Especial de Sub-sistência por incapacidade para o trabalho

F Pensão de Sobrevivência

G Pensão de Sobrevivência (Valor de distinção)

H Prestação Pecuniária Única (4-7 anos)

194

531

5

7.296

392

13.779

10

15.502

285284

Reconhecendo a existência de um número considerável de pessoas que ainda não haviam requerido registo e que demonstravam vontade em fazê-lo, é aprovado o Regulamento do Segundo Período de Registo dos CLN.10

Assim, entre o dia 1 de Maio e o dia 30 de Novembro de 2009 decorreu a segunda e última campanha de registo dos CLN, cobrindo todo o território nacional, com equipas de registo em todos os sub-distritos do país, tendo sido recebidos mais 121.570 pedidos de registo, os quais estão actualmente em fase de correcção e verificação dos dados, para posterior validação final (ver distribuição nos Gráficos 3 e 4).

Gráfico 3. Pedidos de Registo por Tipo de Combatente (2.ª fase)

Vivos78,248

Mortos / Desaparecidos43,322

10Aprovação pelo Secretário de Estado dos Assuntos dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional e o Presidente da Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos, pelo Despacho Conjunto n.º 1/2009, de 22 de Maio.

Gráfico 4. Pedidos de Registo por Distrito (2ª Fase)

A campanha de registo foi realizada em estreita colaboração com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, de forma a garantir, igualmente, o acesso a todos os cidadãos timorenses a residir no estrangeiro.11

Simultaneamente, deu-se início à primeira campanha de registo dos CLN da Frente Diplomática, CLN estrangeiros, cidadãos, instituições e governos apoiantes da luta de libertação nacional, a qual está ainda em curso.

Aileu 6.179Ainaro 5.630Baucau 8.798Bobonaro 6.440Covalima 4.367Dili 4.349Ermera 8.611

Lautem 4.949Liquiçá 6.413Manatuto 5.456Manufahi 5.008Oecusse 2.416Viqueque 7.430Fora Timor 17

0

1600

3200

4800

6400

8000

9600

11200

12800

14400

16000

11Despacho Conjunto n.º 01/2009, de 16 de Junho – Registo dos cidadãos timorenses a residir no estrangeiro.

287286

2.2. Homenagem e Condecorações

Em Setembro de 2006 iniciou funções a Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos (CHSRR), com as seguintes competências:

1) Estudar e propor ao Presidente da República e ao Governo medidas sobre todos os assuntos relativos a distinções, cerimónias de desmobilização e outros actos de homenagem.

2) Supervisionar o processo de registo.

3) Ouvir e decidir sobre os recursos relativos aos registos, bem como sobre pedidos de correcção de erros e omissões.

Neste âmbito, em 28 de Novembro de 2006 foi realizada a primeira cerimónia de condecoração dos Combatentes da Libertação Nacional, com a atribuição das ordens honoríficas de D. Boaventura e Nicolau Lobato. Desde aí até à data, foram atribuídas 30.230 condecorações (ver Quadro em Anexo).

2.3. Honras Fúnebres

Com vista ao reconhecimento público dos heróis nacionais que tombaram pela independência de Timor-Leste, no ano fiscal de 2005/2006 foi iniciada a construção do Jardim dos Heróis da Pátria, em Metinaro – Díli, o qual se encontra hoje em fase de conclusão e melhoria.

Actualmente, estão também a ser construídos ossuários e cemitérios especiais nos restantes distritos do país, para sepultamento dos Combatentes e Mártires da Libertação Nacional.

Neste âmbito, e inserida nas comemorações do 10.º aniversário do Referendo, foi realizada no dia 29 de Agosto de 2009 a primeira Cerimónia de Honras Fúnebres aos Mártires da Libertação Nacional, presidida pelo Presidente da República, no Jardim dos Heróis da Pátria, tendo sido sepultados os restos mortais de 442 mártires.

Da mesma forma, no dia 8 de Março de 2012 foi igualmente realizada no Jardim dos Heróis da Pátria, a cerimónia fúnebre de Francisco Xavier do Amaral, Proclamador da Independência de Timor-Leste em 1975 e primeiro Presidente da República Democrática de Timor-Leste, com Honras de Estado.

2.4. Desmobilização dos Combatentes da Frente Armada

No âmbito da dimensão moral das políticas públicas previstas pelo Estatuto, realizou-se no dia 20 de Agosto de 2011 a primeira cerimónia solene de desmobilização e reconhecimento dos Combatentes da Frente Armada da Resistência Timorense, presidida pelo Presidente da República e alusiva às comemorações do dia nacional das FALINTIL.

Com vista à regulamentação deste processo, o Governo aprovou o Decreto-Lei n.º 37/2011, de 17 de Agosto, decidindo pela sua implementação faseada, pela desmobilização dos quadros civis e militares da Frente Armada, activos em 25 de Outubro de 1999, e pela homenagem daqueles que participaram por um longo período na luta de libertação nacional.

Assim, sob proposta do Governo e após consultado o Estado-Maior General das F-FDTL, nesta primeira cerimónia foram desmobilizados e/ou reconhecidos com honras de Estado 165 quadros militares e 71 quadros civis, com 15 a 24 anos de participação sem interrupção na Frente Armada da Resistência Timorense, num total de 236 Combatentes.

Tratando-se de um acto oficial com uma forte carga simbólica, constituiu o culminar do reconhecimento público daqueles que corajosamente lutaram pela soberania nacional. O Estado agradeceu publicamente pela dedicação dos mesmos à causa timorense, através da atribuição de duas fardas a usar nas cerimónias públicas de comemoração da independência nacional, com a respectiva insígnia condizente com o último posto/cargo ocupado na luta, e o agraciamento com uma medalha comemorativa e um diploma de honra pelos serviços prestados ao Estado, para além do livro denominado “Memória Moris I”, que pretendeu registar o momento e deixá-lo como legado histórico às novas gerações.

289288

2.5. Conselho dos Combatentes da Libertação Nacional

O Governo tem actualmente em fase de preparação o diploma legal de regulamentação do Conselho dos Combatentes da Libertação Nacional, previsto pelo Estatuto, e em resposta ao pedido expresso pelos Combatentes das várias frentes, associações e organizações, para desempenharem um papel mais activo enquanto parceiros do Estado na prossecução dos objectivos de garantia dos direitos e deveres dos Combatentes da Libertação Nacional. As várias propostas apresentadas pelos diferentes participantes estão agora em análise, para concertação da proposta do Governo e das contra-propostas recebidas.12

3. DIMENSãO DE PROTECçãO SOCIAL ESPECIAL

3.1. Regime de Atribuição de Pensões

3.1.1. ObjectivosO envolvimento de vários cidadãos timorenses na luta de libertação nacional por um longo período de tempo, nomeadamente na Frente Armada, reflecte-se ainda hoje nas dificuldades que alguns sentem em garantir uma condição de vida sócio-económica digna. Muitos destes combatentes encontram-se hoje, infelizmente, numa condição de especial vulnerabilidade sócio-económica.

Face à constatação desta realidade, e seguindo a lógica da implementação faseada das medidas previstas pelo Estatuto, o Governo regulamentou em 2008 a atribuição de três tipos de pensões aos combatentes, veteranos e herdeiros dos mártires, com vista a contribuir para a melhoria das condições de vida daqueles que lutaram pela independência, bem como das suas famílias.13

3.1.2. Beneficiários e Critérios de ElegibilidadeDe acordo com os critérios previamente definidos por lei, os beneficiários das pensões são os seguintes:

12O primeiro esboço de Decreto-Lei já foi apresentado em Conselho de Ministros no dia 6 de Abril de 2011, tendo sido realizada, no dia 19 de Maio do mesmo ano, uma reunião de consulta alargada com mais de 200 Combatentes, representativos das três frentes da Resistência, de todas as regiões, sub-regiões e zonas da luta, e das cerca de 30 organizações/associações da Resistência Timorense – ver Anexo. 13Decreto-Lei n.º 15/2008, de 4 de Junho.

14Resolução do Governo n.º 10/2008, de 4 de Junho. São consideradas figuras proeminentes da Resistência Timorense: Francisco Xavier do Amaral – Proclamador da República e Primeiro Presidente da República; Nicolau dos Reis Lobato – Primeiro Primeiro-Ministro e Segundo Presidente da República; Hermenegildo Pereira Alves – Vice Ministro da Defesa; Domingos Ribeiro – Chefe do Estado-Maior das FALINTIL; Guido Diamantino Soares – Chefe do Estado-Maior das FALINTIL; José António da Costa Gomes (Ma’Huno) – Sub Chefe do Estado-Maior das FALINTIL; David Alex (Dai Tula) – Sub Chefe do Estado-Maior das FALINTIL; Antonino Dias Santana (Nino Konis Santana) – Secretário da Região Fronteira e

• Pensão Especial de Reforma Escalão 1 – Veteranos com 20 a 24 anos de tempo inteiro de participação.Escalão 2 – Veteranos com 15 a 19 anos de tempo inteiro de participação.• Pensão Especial de SubsistênciaCombatentes com 8 a 14 anos de tempo inteiro.Combatentes incapacitados para o trabalho por motivos de diminuição física ou mental, sofrida em consequência da luta.• Pensão de Sobrevivência Herdeiros dos Mártires, com a seguinte ordem de prioridade: 1. Viúvas/os.; 2. Filhos/as.; 3. Pais.; 4. Irmãos/ãs.

Para além destes critérios gerais, são distinguidas pelo seu relevante mérito na Luta de Libertação pela Independência, com um valor superior de pensão, 15 figuras proeminentes da Resistência Timorense. 14 Todas estas pensões são vitalícias, ou seja, terminam à data do falecimento dos respectivos beneficiários.15

3.1.3. Montantes das PensõesDe acordo com o definido por lei, as fórmulas de cálculo e os montantes actuais de cada pensão são os seguintes:

Tipo de pensão Grau Fórmula de Cálculo Montante Mensal Actual

Pensão Especial de Reforma Escalão 1

1 5 x VM $ 575,00

2 4,5 x VM $ 517,50

3 4 x VM $ 460,00

Pensão Especial de Reforma Escalão 2

1 4 x VM $ 460,00

2 3,5 x VM $ 402,50

3 3 x VM $ 345,00

Pensão Especial de Subsistência

1 60% x (5 x VM) $ 345,00

2 60% x (4,5 x VM) $ 310,50

3 60% x (4 x VM) $ 276,00

Pensão de Sobrevivência

1 50% x (5 x VM) $ 287,50

2 50% x (4,5 x VM) $ 258,75

3 50% x (4 x VM) $ 230,00

Valor de distinção $ 750,00

Chefe do Conselho da Comissão Executiva da Luta, Frente Armada/Frente Clandestina; José Maria de Vasconcelos (Taur Matan Ruak) – Vice-comandante em Chefe das FALITIL e Chefe do Estado-Maior das FALINTIL; Sebastião Maria Doutel Sarmento (Kakoak) – Primeiro Comandante da Brigada de Choque Nacional; José da Costa (Mau Hudo) – Comissário Político e Vice-secretário do CDF; Tito da Costa (Lere Anan Timor) – Sub Chefe do Estado- Maior das FALINTIL; António Duarte Carvarino (Mau Lear) – Ministro da Justiça e Segundo Primeiro-Ministro; Vicente Manuel dos Reis (Sahe) – Ministro do Trabalho e Previdência Social e Comissário Político Nacional; Francisco Guterres (Lu’Olo) – Secretário do Conselho Directivo da FRETILIN e Secretário da Frente Política Interna. 15A única excepção prevista por lei refere-se ao caso das/os viúvas/os, beneficiárias/os da Pensão de Sobrevivência, que, no caso de falecerem e existirem filhos do Mártir com menos de 21 anos de idade, ou a frequentarem activamente a escola, a pensão é-lhes devida (Nº 14 do Artigo 27º da Lei n.º 2/2011, de 23 de Março – Segunda Alteração da Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril).

291290

Os graus de cada tipo de pensão são referentes aos postos/cargos assumidos durante a luta (grau 1 – postos/cargos de nível superior; grau 2 – postos/cargos de nível intermédio; grau 3 – postos/cargos de nível inferior).

3.1.4. Processo de Requerimento e Atribuição das PensõesTendo por base a publicação dos Editais com o resultado dos vários processos de validação do registo dos CLN, o primeiro período de requerimento das pensões começou em Maio de 2008 e os primeiros pagamentos foram efectuados em 15 de Julho desse mesmo ano. O processo de requerimento segue os trâmites e prazos fixados pelo respectivo diploma legal, exigindo a apresentação, por parte do requerente, de uma série de documentos que comprovem a sua identidade e, no caso de ser familiar do Mártir, a sua filiação com o mesmo (exs. Cartão de Eleitor, certidões de nascimento do próprio e do mártir, certidão de casamento).

Após a análise e introdução de todos os processos de requerimento na base de dados da DNACLN, são afixadas publicamente listas com a enumeração dos processos incompletos por falta de documentos, com a afixação de um prazo para supressão da falta dos mesmos. Passado este prazo, são novamente analisados todos os processos e afixadas publicamente as decisões sobre a aprovação e não aprovação dos mesmos, sob a forma de Edital.

Decorrem, então, a partir daí os prazos para interposição de reclamações, contestações e recursos hierárquicos, sendo os primeiros pagamentos processados após conclusão e decisão final sobre cada processo de requerimento, contemplando sempre o pagamento de retroactivos com referência à aquisição do direito à pensão.

Os pagamentos são efectuados, sem excepção, através de transferência bancária, para a conta indicada pelo requerente ou, nos casos omissos, para uma conta bancária aberta automaticamente numa das entidades bancárias comerciais a operar em Timor-Leste, sendo a sua abertura formalizada posteriormente pelo beneficiário.

Quer o processo de requerimento, quer o processo de divulgação de informação e afixação de Editais, quer o pagamento por transferência bancária, abrange todo o território nacional, através da deslocação periódica dos funcionários da DNACLN aos vários distritos do país e em cooperação com as Administrações de Distrito, Centros Regionais do MSS e entidades bancárias.

3.1.5 Dados de ExecuçãoAté à data, relativamente aos 22.205 potenciais beneficiários publicados em Edital, foram recebidos 28.254 requerimentos, sendo que, no que respeita à Pensão de Sobrevivência, podem existir vários requerentes para cada um dos mártires ou combatentes falecidos.16 Neste momento, ainda subsistem 13.728 potenciais beneficiários relativamente aos quais não foi requerida pensão.

Até Fevereiro de 2012, do total de 28.254 requerimentos recebidos foram aprovadas e estão em pagamento, através de transferência bancária mensal, 10.981 Pensões, correspondendo a 11.146 beneficiários e a 39% dos processos em curso. Os gráficos a seguir apresentados dão conta da distribuição das mesmas, por tipo de pensão e por tipo de beneficiário.

Gráfico 5. Distribuição por Tipo de Pensão em Pagamento (total = 10.981 pensões)

P.E. Reforma 2%

P.E. Subsistência2%

P.E. Incapacidade Trabalho1% P. Sobrevivência

95%

16Publicação em Edital: 12.536 em Abril de 2008; 1.847 em Março de 2011; 7.822 em Dezembro de 2011.

293292

Gráfico 6. Distribuição por Tipo de Beneficiário 17

O pagamento destas pensões traduz um elevado peso orçamental anual para o Estado, considerando que todas as despesas inerentes a este processo saem directamente do Orçamento Geral do Estado, não tendo sido criado até ao momento qualquer tipo de fundo de pensões (ver Recomendações). Assim, desde 2008 até 2011 o gasto orçamental tem vindo a aumentar consideravelmente, em função da aprovação de um maior número de pensões, conforme se pode ver no gráfico seguinte:

Gráfico 7. Despesa Anual

Combatentes/ Veteranos636

Viúvas/os dos Mártires1,417

Filhos dos Mártires2,892

Pais dos Mártires494

Irmãos dos Mártires5707

$0

$30,000,000.00

$60,000,000.00

$90,000,000.00

$120,000,000.00

2008 2009 2010 2011 2012 Anualmente

Despesa  Anual

17 Correspondente a um total de 10.981 pensões, visto que no caso da Pensão de Sobrevivência uma pensão pode ser dividida equitativamente por vários beneficiários da mesma categoria preferencial – ex: 3 filhos a receber a pensão do pai Mártir.

Legenda:2008 – 2.011 Pensões para 2.011 beneficiários (com retroactivos desde Jan/08)

2009 – 3.969 Pensões para 3.969 beneficiários (com retroactivos desde Jan/08)

2010 – 9.446 Pensões para 9.644 beneficiários (com retroactivos desde Jan/08)

2011 – 10.981 Pensões para 11.146 beneficiários (com retroactivos desde Jan/08 ou Jan/11)

2012 – Estimativa para 22.202 Pensões (com retroactivos desde Jan/08 ou Jan/11)Anualmente – Estimativa da despesa anual para 22.202 Pensões (sem retroactivos)

3.2. Tributo Concedido aos Veteranos

Em homenagem aos veteranos que contribuíram com muitos anos das suas vidas para a causa da independência nacional, em Dezembro de 2007 o Governo realizou uma cerimónia pública para atribuição de um ‘Tributo do Estado a Combatentes da Libertação Nacional com 15 ou mais anos de participação na Frente Armada’.

Nesta cerimónia, 205 veteranos receberam um tributo no valor de US$ 9.600,00, tendo sido a selecção dos beneficiários efectuada por uma Comissão Eventual, criada por despacho do Primeiro-Ministro, de 5 de Novembro de 2007, de acordo com os critérios acordados pela mesma e os dados contidos na Base de Dados de Registo. Em Dezembro de 2010, o Governo completou a lista dos iniciais 205 veteranos contemplados, atribuindo um ‘Tributo do Estado’ a mais 72 veteranos, de acordo com os mesmos critérios iniciais.18

3.3. Regime de Atribuição da Prestação Pecuniária única (PPU)

3.3.1. ObjectivosFace à constatação de que um grande número de Combatentes ficava a descoberto das medidas de compensação ou de reparação já existentes, assim como um número considerável de mártires não tinha familiares vivos elegíveis para receber pensão, foi contemplada, aquando da revisão do Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional, uma alteração à lei, introduzindo a atribuição de uma Prestação Pecuniária Única, para além das situações já abrangidas pelo regime das pensões.19 Esta medida refere-se a um pagamento único, efectuado num determinado momento, com um valor estipulado por lei, aos beneficiários que se enquadrem nas categorias apresentadas de seguida.

18Resolução do Governo n.º 50/2010, de 22 de Dezembro.

19Lei n.º 3/2006, de 12 de Abril, alterada pela Lei n º 9/2009, de 29 de Julho.

295294

0 225 450 675 900 1125 1350 1575 1800 2025 2250

Aileu

Ainaro

Baucau

Bobonaro

Covalima

Dili

Ermera

Lautem

Liquiçá

Manatuto

Manufahi

Oecusse

Viqueque

1.757

651

1.396

1.234

1.356

726

1.114

606

2.204

2.106

1.340259

753

3.3.2. Beneficiários e Critérios de ElegibilidadeA Prestação Pecuniária Única (PPU) tem como beneficiários os cidadãos que correspondam aos seguintes critérios de elegibilidade: 20

1) Combatentes da Libertação Nacional com 4 a 7 anos de participação a tempo inteiro na luta de libertação nacional (PPU-COMBATENTE).2) Familiares dos Mártires da Libertação Nacional, até ao quarto grau da linha colateral, no caso da não existência de herdeiros elegíveis para a atribuição da Pensão de Sobrevivência (PPU-MÁRTIR).

Relativamente a este último tipo de PPU, o mesmo diploma define a seguinte ordem de preferência na sua atribuição:

3.3.3. Montantes da Prestação Pecuniária únicaDe acordo com o definido por lei, os montantes deste tipo de prestação são os seguintes:

Linha Grau Sentido Relação familiar com o Mártir

Recta

2.ºDescendente Neto/NetaAscendente Avô/Avó

3.ºDescendente Bisneto/BisnetaAscendente Bisavô/Bisavó

4.ºDescendente Trisneto/TrisnetaAscendente Trisavô/Trisavó

Colateral

3.ºSobrinho/Sobrinha

Tio/Tia

4.ºSobrinho-neto/Sobrinha-netaPrimo direito/Prima direita

Tio-avô/Tia-avó

Tipo de PPU Fórmula de cálculo Montante

PPU-COMBATENTE US$ 115 x 12 (salário mínimo Função Pública x 12 meses) US$ 1.380

PPU-MÁRTIR (Grau 1) US$ 287,5 x 12 (respectiva Pensão de Sobrevivência x 12 meses) US$ 3.450

PPU-MÁRTIR (Grau 2) US$ 258,75 x 12 (respectiva Pensão de Sobrevivência x 12 meses) US$ 3.105

PPU-MÁRTIR (Grau 3) US$ 230,0 x 12 (respectiva Pensão de Sobrevivência x 12 meses) US$ 2.700

20 De acordo com o estipulado pelo Estatuto e regulamentado pelo Decreto-Lei n.º 5/2012, de 15 de Fevereiro.

3.3.4. Processo de Requerimento e Atribuição da PPUO processo de requerimento desta prestação é muito semelhante ao apresentado anteriormente relativamente às pensões, sendo os prazos para o decurso do mesmo estipulados por Despacho do membro do Governo responsável pelos assuntos dos CLN, sempre que haja necessidade de abrir novo período de requerimento. 21 Considerando a diversidade de familiares possíveis de abranger por esta medida e o respectivo peso administrativo inerente à análise de um vasto número de documentos, está legalmente prevista a possibilidade da implementação gradual da mesma.

Assim, em Janeiro de 2012, deu-se início à recepção de requerimentos da PPU-COMBATENTE, ficando a PPU-MÁRTIR para implementação posterior, sendo que a mesma exige que o processo de análise e decisão de todas as reclamações, contestações e recursos hierárquicos relativos às pensões de sobrevivência esteja previamente terminado, pois só dessa forma é possível determinar quais dos mártires não têm herdeiros elegíveis para pensão e, como tal, passam a configurar os requisitos para atribuição de PPU. Actualmente, 15.502 Combatentes da Libertação Nacional podem requerer a PPU-COMBATENTE, cuja distribuição geográfica é apresentada no Gráfico 8: 22

Gráfico 8. Distribuição Geográfica de CLN (PPU)

21quer em função dos Editais de aprovação do registo publicados, no caso dos Combatentes vivos, quer em função da publicação das decisões finais dos requerimentos das pensões de sobrevivência, no caso dos familiares dos Mártires. 22De acordo com os Editais de validação do registo dos CLN, publicados em Novembro e em Dezembro de 2011.

297296

3.4. Regime de Atribuição de Bolsas de Estudo

3.4.1. ObjectivosCom vista a garantir o acesso à escolaridade aos filhos dos Combatentes com 24 anos de luta, o Governo aprovou o regime de atribuição de Bolsas de Estudo aos filhos dos Mártires e Combatentes da Libertação Nacional falecidos, abrangendo todos os níveis de ensino, desde a escolaridade básica até ao ensino universitário.23

3.4.2. Beneficiários e Critérios de ElegibilidadeDe acordo com a lei, os beneficiários destas bolsas devem responder aos seguintes critérios:

1. Filhos de Mártires ou Combatentes falecidos beneficiários da Pensão Especial de Reforma ou da Pensão Especial de Subsistência.2. A frequentar activamente um estabelecimento de ensino reconhecido pelo Ministério da Educação.3. Com aproveitamento escolar no ano lectivo anterior à candidatura.4. Não ser beneficiário de outro tipo de Bolsa de Estudo.5. Não ter actividade laboral simultânea.

3.4.3. Montantes da PPUDe acordo com o estipulado por lei, os montantes e o número de bolsas a atribuir, para cada um dos diferentes níveis de ensino, são definidos por despacho do membro do Governo com a tutela dos assuntos dos CLN, em cada ano lectivo, “tendo em conta o número de requerimentos recebidos por níveis de ensino, o número de bolsas atribuídas e a taxa de aproveitamento escolar dos bolseiros no ano imediatamente anterior, assim como a disponibilidade financeira do Estado no ano fiscal em causa.” 24

3.4.4. Processo de Candidatura e Atribuição das BolsasA abertura de concurso para atribuição de bolsas é comunicada anualmente através de anúncio público, o qual faz saber acerca do número de bolsas a atribuir por nível de ensino, a duração e os destinatários, o modo de instrução, o prazo e o local de apresentação de candidaturas, a data, a forma e o local de divulgação dos resultados e a legislação aplicável.

23Decreto-Lei n.º 8/2009, de 15 de Janeiro.

24Artigos n.º 7 e 8 do Decreto-Lei n.º 8/2009, de 15 de Janeiro.

As candidaturas são apresentadas através de requerimento, devidamente acompanhado dos documentos comprovativos da relação de filiação entre o candidato e o Combatente da Libertação Nacional, da frequência escolar em regime de exclusividade e do aproveitamento e resultados escolares no ano lectivo imediatamente anterior ao da candidatura. Após análise e introdução de todas as candidaturas na base de dados, os candidatos admitidos são ordenados por níveis e ciclos de ensino, de forma decrescente, de acordo com a média das classificações obtidas no ano anterior.

As listas de classificação final são publicitadas por edital nos locais referidos no anúncio de abertura do concurso, decorrendo os prazos normais de recurso decorrentes das regras gerais do procedimento administrativo. Por fim, o pagamento das bolsas de estudo é efectuado através de transferência bancária para a conta indicada no requerimento.

3.4.5. Dados de ExecuçãoDesde a regulamentação desta medida em 2009 até à presente data foram atribuídas 266 Bolsas de Estudo – 78 no ano lectivo de 2008/2009, 90 no ano lectivo de 2010, e 98 no ano lectivo de 2011. Os gráficos apresentados de seguida dão conta da distribuição das mesmas por nível de ensino e por distrito de residência dos requerentes.

Gráfico 9. Distribuição por Nível de EnsinoBEEB132%

BEEB2+311%

BEES25%

BEESTK1%

BEEU-TL26%

BEEU-RL5%

Legenda:

BEEB1 - 1º Ciclo do Ensino Básico (30 bolsas)

BEEB/2+3 - 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico (85

bolsas)

BEES - Ensino Secundário (66 bolsas)

BEESTK - Ensino Superior Técnico (2 bolsas)

BEEU-TL - Ensino Superior Universitário em

Timor-Leste (70 bolsas)

BEEU-RL - Ensino Superior Universitário fora de

Timor-Leste (13 bolsas)

299298

A distribuição dos beneficiários pelo território nacional parece indicar que o processo tem decorrido de forma equitativa, sem fortes discrepâncias entre os diferentes distritos, sendo que as diferenças existentes são justificadas, na sua maioria, pela maior ou menor incidência de potenciais beneficiários em cada região. Assim, do total de 266 Bolsas de Estudo atribuídas ao longo dos últimos 3 anos, a distribuição geográfica é a seguinte:

Gráfico 10. Distribuição das Bolsas de Estudo por Distrito

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Aile

u

Ain

aro

Bau

cau

Bob

onar

o

Cov

alim

a

Dili

Erm

era

Laute

m

Liquiç

á

Man

atuto

Man

ufa

hi

Oec

uss

e

Viq

ueq

ue

Fora

Tim

or

4

1415

26 26 27

2123

42

10

18

25

13

2

4. DIMENSãO DE PRESERVAçãO DA MEMóRIA

4.1. Pesquisa, Arquivo e Documentação

Entre 2009 e 2011 o Departamento de Pesquisa e Documentação da DNACLN implementou um conjunto de programas que segue uma linha metodológica própria, focado nas duas seguintes áreas: 1) pesquisa de locais históricos da Resistência; 2) pesquisa e recolha de informações sobre os autores da Resistência, de forma a ter informações e dados completos para a redacção da História da Resistência de Timor-Leste.

4.2. Objectivos

O primeiro passo é o de integrar o sistema e a metodologia de investigação no departamento aquando da implementação do plano já traçado. Alguns programas foram já implementados através da investigação ao nível de base, nomeadamente:

• Identificação de locais históricos associados à Resistência em todo o território.• Recolha de informações/dados/factos históricos sobre os autores da Resistência ou testemunhas (inclui a recolha de alguns documentos da Resistência, bem como de fotografías).• Recolha de informações/dados/factos históricos sobre locais históricos, transmitidos por autores da Resistência ou testemunhas.• Recolha de informações/dados/factos históricos através de fotografías, vídeos e medidas de GPS.• Sistema de arquivo e documentação.• Investigação através de fontes secundárias.

4.3. Resultados

De acordo com o gráfico apresentado abaixo, os locais históricos são acima de tudo locais de detenção. Seguem-se os locais de captura/assassinato, os locais de actividade clandestina, e por aí adiante (ver Gráfico 11).

301300

Gráfico 11: Locais Históricos da Resistência

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Acantonamento AniquilamentoAssalto Base campo militar IndonésiaBase de Apoio BombardeamentoPessoas desaparecidas DetençõesCapturas mortes Locais de assaltoAbrigos/esconderijos das FALINTIL InvasãoLocais acção da Frente Clandestina Campo de concentraçãoLocal de reconciliação Vala comum de massacresComando das forças ABRI Comando das forças das MilíciasComando das forças das FALINTIL Comando das forças das Milícias FALINTILMassacres Mortes por fomeDeslocações obrigatórias Detenções preventivasSítios Políticos Locais onde escondiam mortosViolações sexuais

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27

TOTAL: 738

2 2

18

192

146

2

29

3

106

36

16

1

6 1 5 2

37

2

14

7

73

1 3

1

29

3

1

123456789

1011121314

15161718192021222324252627

4.4. Resultados Provisórios

Tendo em conta a definição e limitação da investigação, o conteúdo da mesma está mais focado na forma como os guerrilheiros organizavam o sistema e na estratégia da Resistência de acordo com as várias etapas – início, meio e fim da luta (hahú, hatutan no hakotu funu), de 1975 a 1999 – de acordo com a experiência e conhecimento dos autores da Resistência e das próprias testemunhas, resultantes do papel que assumiram na estrutura militar ou civil ao longo das diferentes fases da luta de libertação nacional – FRETILIN, FALINTIL, CRRN, CNRM e, posteriormente, CNRT.

Dada a limitação de recursos, o Departamento de Pesquisa e Documentação desenvolveu as suas actividades de pesquisa em apenas três distritos: Aileu, Manatuto e Manufahi. Foram aqui recolhidas informações e dados sobre os autores da Resistência e testemunhas da libertação nacional, que contaram a sua história como participantes/ observadores da actividade da Resistência e dos locais históricos.

Entre os períodos da FRETILIN e do CNRT foram recolhidas informações e dados sobre 70 autores da Resistência e testemunhas dos três distritos.

Foram ainda entrevistados 43 autores da Resistência e testemunhas oriundas de outras partes do território, de acordo com o papel que cada um assumiu durante a luta de libertação nacional.

5. AVALIAçãO

5.1. Constrangimentos

Ao longo dos anos de implementação do regime especial dos Combatentes da Libertação Nacional, foram identificados alguns constrangimentos, designadamente: • Insatisfação e falta de compreensão da Lei/ Estatuto dos Combatentes de Libertação Nacional por parte de um número considerável de pessoas

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– nomeadamente, a não concordância com os critérios de atribuição dos benefícios e a determinação da ‘dedicação exclusiva’.• Consequentemente, o elevado número de processos de reclamação, contestação e/ou recurso hierárquico para serem avaliados e retorquidos pela DNACLN, resultando num elevado peso administrativo (sobretudo relativamente à pensão de sobrevivência).• Espaço físico limitado no que respeita ao edifício/instalações da DNACLN.• Recursos humanos limitados e não especializados.• Falta de descentralização dos serviços de atendimento ao público.

5.2. Recomendações

• Garantir a socialização da Lei, dos respectivos critérios de atribuição dos benefícios, bem como das alterações e informações relevantes sobre o Regime.• Reforçar e capacitar os recursos humanos, na medida em que não são suficientes quer a nível da colaboração com os distritos, quer a nível da Direcção Nacional. A nível central, recomenda-se sobretudo o reforço de staff para a avaliação dos processos de reclamação e de recurso, com capacidade técnica de avaliação e análise de documentos; a nível dos distritos, recomenda-se o reforço da equipa para o atendimento ao público e a necessária articulação com o nível local.• Melhorar o espaço físico/instalações da DNACLN.

6. CONCLUSãO

A aprovação do Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional em Abril de 2006, traduz o forte compromisso político do Estado em assegurar benefícios concretos aos que lutaram pela independência nacional.

A implementação do Regime Especial dos CLN implica um forte investimento financeiro por parte do Governo, que se tem traduzido no aumento orçamental do MSS nos últimos anos – efectivamente, em 2009 e 2010 a percentagem do orçamento atribuída à DNACLN representa 48,1% e 60,8%, respectivamente, do orçamento total do MSS.

Refira-se que o pagamento anual de pensões em 2012 estima-se actualmente que ultrapasse o valor de 67 milhões US$, correspondendo a mais de metade das despesas do MSS e a 4% do total de Orçamento do Estado.

As despesas anuais com a implementação do Regime serão ainda mais elevadas, por um lado, com o aumento do número de beneficiários elegíveis e, por outro, tendo em conta os inúmeros familiares sobreviventes dos CLN que poderão beneficiar das pensões nos próximos anos.

Em Março deste ano realizou-se um estudo atuarial preliminar sobre o programa de atribuição de pensões, com o objectivo central de obter uma projecção a longo prazo da evolução da despesa pública na atribuição das pensões, e para discussão e avaliação da sustentabilidade do programa (com base nos dados da validação do 1º período de registo dos Combatentes).25

Torna-se indispensável reflectir atempadamente sobre a questão da sustentabilidade do programa, dado o peso financeiro da sua implementação.

A realização do estudo atuarial constitui já um passo importante, a nível de prevenção dos impactes futuros e, igualmente, para reforçar a necessidade de se pensar numa alternativa futura viável que assegure a sustentabilidade do Regime a médio e longo prazo – a criação de um mecanismo/fundo auto-sustentável, de modo a que o programa de atribuição de pensões não dependa directamente do Orçamento de Estado.

Os resultados do estudo demonstram que a sustentabilidade do programa, a longo prazo, não poderá ser assegurada se não existirem alternativas futuras de financiamento ou se não houver uma clara alteração dos critérios de atribuição das pensões e elegibilidade dos respectivos beneficiários, como é possível verificar através dos gráficos apresentados em seguida. 25

Este estudo foi realizado por um consultor internacional, contratado pela DNACLN para o efeito.

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Gráfico 12. Projecção da Evolução Demográfica dos Beneficiários da Pensão de Sobrevivência (cenários 1 e 2 – novas pensões a serem atribuídas a familiares da mesma faixa etária dos Combatentes, ou seja, irmãos)

Conforme é possível observar, no caso dos requerentes das novas Pensões de Sobrevivência serem da mesma faixa etária dos Combatentes actualmente beneficiários, a curva da evolução demográfica não sofre alterações significativas.

Cenário 1 (low scenario; curva vermelha)Pensões de Sobrevivência em pagamento até à data, ou seja, sem as novas Pensões de Sobrevivência, provenientes da morte dos Combatentes vivos.Este cenário é um mínimo teórico, sem entrar em consideração com novas Pensões de Sobrevivência, prevendo-se que todas as pensões terminem em 2075.

Cenário 2 (middle scenario; curva laranja)Pensões de Sobrevivência em pagamento até à data mais as novas Pensões de Sobrevivência, provenientes da morte dos Combatentes vivos, no caso de estas serem atribuídas a familiares da mesma faixa etária do Combatente (por exemplo, irmãos ou cônjuges da mesma idade).

 

Este cenário é consistente com os requerimentos de pensões verificados no passado, esperando-se, contudo, que o mesmo possa vir a sofrer alterações no futuro. Neste cenário, às Pensões de Sobrevivência actualmente em pagamento, contempladas no cenário 1, acrescentaram-se os prováveis novos beneficiários (3.000 irmãos ou cônjuges), decorrentes da morte dos Combatentes actualmente vivos.

À semelhança do cenário 1, e apesar do aumento do número de pensões no cenário 2, prevê-se que todas as pensões terminem em 2075, pois a distribuição etária dos novos beneficiários é semelhante ao da população actualmente existente.

Gráfico 13. Projecção da Evolução Demográfica dos Beneficiários da Pensão de Sobrevivência (cenário 3 – novas pensões a serem atribuídas a familiares da geração seguinte à dos Combatentes, ou seja, filhos ou cônjuges jovens)

Este gráfico demonstra o número total de beneficiários da Pensão de Sobrevivência, considerando os dois tipos de cenários apresentados anteriormente mais um terceiro cenário:

 

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Cenário 3 (high scenario; curva azul)Pensões de Sobrevivência em pagamento até à data mais as novas Pensões de Sobrevivência, provenientes da morte dos Combatentes vivos, no caso de estas serem atribuídas a familiares da geração seguinte à dos Combatentes (por exemplo, filhos ou cônjuges jovens).

Neste cenário, às Pensões de Sobrevivência actualmente em pagamento, contempladas no cenário 1, acrescentaram-se os prováveis novos beneficiários (6.000 filhos ou cônjuges jovens), decorrentes da morte dos Combatentes actualmente vivos.

Nesta situação, o universo da população beneficiária decresce muito mais lentamente, prevendo-se que as pensões terminem apenas em 2115.

Os números apresentados nos cenários 2 e 3 estão, ainda assim, provavelmente subestimados, pois as famílias podem dividir a pensão entre familiares da mesma categoria, retardando o decréscimo do número de beneficiários ao longo do tempo. Dividindo as pensões, aumenta o número de beneficiários, no entanto não afectará significativamente a data para finalizar todo o pagamento das pensões.

O cenário mais provável de vir a verificar-se no futuro é o cenário 3, visto que grande parte dos Combatentes actualmente a receber pensão voltou a casar após a independência, na sua maioria com mulheres jovens, com as quais constituíram família a partir desse momento, o que pode resultar num número elevado de futuros beneficiários ainda em idade jovem.

Gráfico 14. Projecção da Evolução da Despesa Pública para Pagamento das Pensões

em milhões de dólares do ano 2012

Este gráfico demonstra a despesa anual pública para cada um dos três cenários de evolução demográfica apresentados anteriormente, incluindo também as Pensões dos Combatentes actualmente vivos, ou seja, inclui todas as despesas referentes ao pagamento das Pensões de Sobrevivência e Pensões Especiais de Reforma e de Subsistência.

Cenário 1 (low scenario; curva vermelha)Esta é a despesa mínima teórica, tendo em conta a população actual de beneficiários (Combatentes vivos + familiares dos Mártires), decrescendo gradualmente ao longo dos anos. De acordo com esse cenário, tal como já havia sido dito acima, prevê-se que as pensões terminem em 2075.

 

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Cenário 2 (middle scenario; curva laranja)A despesa pública anual apresenta um valor um pouco mais elevado do que no cenário anterior, significando, no entanto, um baixo custo adicional incorrido em termos relativos. A curva de decréscimo é muito semelhante à do cenário 1, prevendo-se que as pensões terminem na mesma data (2075).

Cenário 3 (high scenario; curva azul)A despesa pública anual inicial é a mesma, divergindo muito, contudo, a longo prazo dos outros dois cenários. De acordo com este cenário, a curva apresenta um padrão de decréscimo muito mais lento, prolongando o pagamento de pensões até 2115, traduzindo-se num aumento substancial de despesa pública entre 2050 e 2100.

Todos os cenários apresentados são baseados em valores de população e despesa pública inicialmente semelhantes. As diferenças no número de beneficiários e no valor da despesa pública só se farão sentir quando já for tarde demais para alterar a legislação que estabelece os direitos adquiridos pelos familiares dos Combatentes falecidos.

Deste modo, é importante antecipar esta situação, nomeadamente promovendo a discussão política e técnica acerca dos principais resultados provenientes deste estudo e da actual legislação em vigor, nomeadamente as questões da indexação dos montantes das pensões ao valor do salário mínimo da Função Pública e do limite de idade dos familiares para receber pensão.

7. PRINCIPAIS METAS PARA O FUTURO

Considerando o conjunto de resultados alcançados até à data, é possível dizer-se que Timor-Leste tem feito um esforço real para cumprir condignamente com o disposto na sua Constituição, no sentido de reconhecer, valorizar e garantir protecção especial aos heróis nacionais que lutaram durante 24 anos pelos ideais da independência e soberania nacional.

Desta forma, para além da continuidade e melhoramento da implementação das medidas apresentadas anteriormente, enumeram-se de seguida as principais metas a atingir num futuro próximo, algumas delas já em fase inicial de implementação:

• Emissão do Cartão Especial de Identificação de Combatente da Libertação Nacional;• Regulamentação da assistência médica e medicamentosa gratuita nos serviços de saúde do Estado, para todos os CLN, cônjuges e filhos.• Regulamentação e atribuição de um subsídio escolar aos filhos dos CLN vivos.• Construção de um monumento alusivo ao massacre de Santa Cruz, ocorrido no dia 12 de Novembro de 1991.• Construção de monumentos/placas informativas em locais históricos dos vários sub-distritos do país.• Definição da política de preservação da história e memória da Resistência Timorense.• Reflexão do Governo para proposta de alternativas financeiras viáveis que assegurem a sustentabilidade do programa a médio e longo prazo.

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ANEXOSQuadro 1. Total de Condecorações Realizadas entre 2006 e 2011

Legenda sobre as Ordens Honoríficas:

D. Boaventura – Combatentes Fundadores do Movimento da Libertação Nacional.Nicolau Lobato – Combatentes e Veteranos que desempenharam cargos civis.Guerrilha – Combatentes e Veteranos que desempenharam cargos militares.FALINTIL – Mártires falecidos a partir de 1 de Janeiro de1979.Funu Nain – Mártires falecidos até 31 de Dezembro de 1978.D. Martinho Lopes – Padres e madres que apoiaram o povo durante a luta de libertação nacional.Lorico Aswain – Jovens falecidos/desaparecidos ou sobreviventes do Massacre de Sta. Cruz.

Ordem Data N.º condecorações Total

D. Boaventura28-Nov-06 61

6419-Mai-07 3

Nicolau Lobato

28-Nov-06 159

13.93420-Mai-08 1.51328-Nov-08 10.98007-Dez-08 1.22506-Dez-11 57

Guerrilha

07-Dez-06 60

39815 a 19 Maio 2007 204

07-Dez-07 7820-Mai-08 106-Dez-11 55

FALINTIL07-Dez-06 90

6.64315 a 19 Maio 2007 5.22606-Dez-11 1.327

Funu Nain07-Dez-06 95

7.27515 a 19 Maio 2007 5.95606-Dez-11 1.224

D. Martinho Lopes 19-Mai-07 5 5

Lorico Aswain

07-Dez-06 49

1.911

15 a 19 Maio 2007 9711-Nov-07 29512-Nov-08 19707-Dez-08 292

981

TOTAL 30.230

Lista das Organizações e Associações da Resistência Timorense

1. BPPM

2. Central Haburas

3. Colimau 2000

4. CPDRDTL

5. Dewan Solidaritas

6. Fitar Bua Malus

7. Fitun

8. FITUN

9. FORSA REPETIL

10. Fuan Hadomi

11. Haok

12. HPPMAI/LENAT

13. OCRN

14. OJETIL

15. OMT

16. OPJLATIL

17. OPMT

18. Órgão n.º 8

19. Presidium

20. RENETIL

21. Sagrada Família

22. Sto. António

23. UJTL

24. Uniamorte

25. Unidade Nacional

26. 001

27. ASSEPOL

28. Associação dos Antigos Combatentes

29. Associação dos Veteranos da Resistência

30. Associação dos Veteranos do CNRT

31. Associação dos Veteranos e Antigos Combatentes da Libertação Nacional

32. Comité 12 de Novembro

33. Fundação dos Veteranos das FALINTIL

34. Veteranos de Manatuto

313312 Fotografía: MSS

VALORIZAR OS VETERANOS DE TIMOR-LESTECillian Nolan, Analista do Sudeste Asiático, International Crisis Group, Jakarta

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Valorizar e honrar a contribuição dos veteranos de Timor-Leste, ou combatentes da libertação nacional, constitui uma pedra angular das políticas sociais mais amplas do Estado. A responsabilidade de valorizar e homenagear os heróis nacionais está consagrada no Artigo 11.º da Constituição. Ao longo dos últimos dez anos, os diferentes governos andaram à procura da melhor forma de implementar esta responsabilidade.

Os esforços de valorização e melhoria do bem-estar dos veteranos do país tiveram início pouco depois da independência. Este empreendimento foi conseguido de forma notável através do trabalho das diversas comissões responsáveis por registar as diferentes contribuições para a luta da resistência de Timor-Leste nas mais variadas frentes. Aqui se incluem a Comissão para os Assuntos dos Antigos Combatentes (CAAC) e a Comissão para os Assuntos dos Veteranos das FALINTIL (CAVF), as quais se encarregaram do registo daqueles que lutaram na frente armada, bem como a Comissão para os Assuntos dos Quadros da Resistência (CAQR) que esteve empenhada no registo dos membros da frente clandestina. Foram registados 76 063 numa primeira fase.

O trabalho inicial das comissões foi um elemento-chave na medida em que não só permitiu que decisões futuras serão tomadas com base na elegibilidade de benefícios, como também realçou a importância da contribuição dos veteranos para a independência, uma componente crucial da valorização. Vários veteranos-chave estiveram envolvidos como comissários, o que ajudou a fortalecer a legitimidade do Estado e do seu governo, em especial no seio dos membros recentemente desmobilizados da frente armada. A decisão de registar os veteranos antes de se tomar decisões quanto aos respectivos benefícios foi inicialmente importante para a gestão das expectativas de um Estado ainda frágil, embora tenha levantado algumas contrariedades: após a aprovação de uma lei em 2006 que determinava a elegibilidade para diferentes categorias de serviço, tornou-se evidente que alguns casos requeriam mais informação. As dificuldades em gerir uma base de dados de tal dimensão, bem como o surgimento de alguns casos de alegada corrupção no manuseamento de processos, contribuíram para o prolongamento do tempo necessário para determinar a elegibilidade de benefícios.

À medida que Timor-Leste foi enriquecendo com o crescimento do Fundo do Petróleo, foram surgindo grandes pressões financeiras sobre o programa de benefícios para os veteranos. A atribuição de outros benefícios, tais como a pensão vitalícia para deputados e antigos funcionários públicos em 2007, bem como outras despesas incorridas pelo Estado, intensificaram a pressão de proceder a pagamentos significativos aos veteranos. O valor total esperado para o pagamento anual de pensões em 2012 ultrapassa actualmente os 67 milhões de dólares americanos, o que corresponde a mais de metade das despesas do Ministério da Solidariedade Social e a 4% do orçamento de estado. Estes valores sofrerão um agravamento com o aumento do número de beneficiários elegíveis. Nem todos os beneficiários são combatentes da libertação nacional, mas sim familiares sobrevivos dos mesmos, muitos dos quais poderão beneficiar das pensões nos próximos anos. O parlamento e o governo eleitos pelos timorenses em 2012 terão de, em conjunto, avaliar a necessidade de se proceder à revisão do valor monetário destes benefícios.

O trabalho das comissões é ainda uma tarefa difícil e está longe de estar finalizado. A segunda fase de registo deu-se em 2009 e ficou marcada pela entrada de mais 121 570 pedidos. Uma comissão de verificação deu início aos trabalhos com o primeiro grupo de reivindicações em 2010 e, através do envolvimento de antigos membros da resistência, procurou reduzir o número de pedidos, alguns alegadamente falsos. O progresso foi limitado, tendo-se apenas conseguido excluir 3,5% dos casos, ficando pendentes 4220. Segundo a opinião de muitos dos comissários envolvidos, muitos outros requerentes não teriam sido verdadeiramente honestos — tal como vários observaram, “se tivesse havido assim tantos veteranos, teríamos conseguido a nossa independência em poucos anos!” Embora a natureza da verificação constitua um trabalho árduo, a melhoria da confiança pública na integridade da base de dados será importante para a promoção da percepção de todos os programas de assistência social.

Uma área prioritária que requer maior clarificação é o tipo de abordagem a desenvolver para a valorização daqueles que estiveram ao serviço da frente clandestina. Uma parcela mais pequena dos que serviram na frente clandestina têm o estatuto de Combatente da Libertação Nacional, tendo em conta o requisito legal de elegibilidade associado à “dedicação com carácter exclusivo” à luta com base no tempo 1. A forma como esta cláusula é interpretada tem vindo

1O período de encarceramento ou no exílio é também contabilizado como serviço prestado e, como tal, um critério de elegibilidade. Ver Artigo 11.º, “Contagem do tempo de militância na luta de libertação nacional”, “Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional”, Lei n.º 3/2006 de 12 de Abril, alterada pela Lei n.º 9/2009 de 29 de Julho.

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a levantar várias questões. Uma vez que a natureza do serviço prestado na frente clandestina foi mantida, por definição, em segredo, será difícil para o Governo preservar a transparência na forma como valoriza o trabalho destes veteranos. Seria importante clarificar de que forma é que estes diferentes tipos de serviços serão contabilizados.

Um outro desafio está na determinação do papel de um Conselho dos Combatentes da Libertação Nacional. Enquanto se espera que o Conselho assuma um papel importante na resolução de algumas questões políticas, a composição em concreto do Conselho, inclusive o peso dado à participação nas frentes armada e clandestina, é ainda um assunto controverso. Se ao Conselho for atribuído um papel consultivo de grande peso na política governamental, tal como foi reivindicado por muitos veteranos, tal poderá abafar outras vozes e grupos.

À medida que Timor-Leste vai expandindo a assistência aos veteranos, mártires e respectivas famílias, o país deverá identificar formas de complementar os benefícios monetários de grande dimensão com outro tipo de assistência. Tal inclui prioridades já identificadas, como o alargamento dos subsídios escolares e a assistência médica, mas deverá ir mais além, nomeadamente no apoio às famílias na gestão de benefícios monetários, de forma a assegurar que os mesmos se traduzem na melhoria dos meios de subsistência. Se o programa de benefícios tem vindo a favorecer consideravelmente os membros da frente armada, é importante continuar a investir na memoralização de todos aqueles que contribuíram para a resistência, bem como progredir no trabalho que se refere a planos de construção de monumentos ao nível subdistrital e de um monumento em homenagem ao massacre de Santa Cruz.

Ao investir desde cedo em iniciativas, quer materiais, quer simbólicas, que visam a valorização dos veteranos da luta pela independência, Timor-Leste evitou o tipo de tensões violentas em torno dos veteranos, que conhecemos já de outros países que emergiram a partir de lutas pela libertação. Os futuros governos terão de examinar cuidadosamente os custos destes benefícios no contexto dos objectivos alargados de assistência social e garantir que os processos de determinação da elegibilidade são o mais transparentes possível.

REGIME TRANSITÓRIO DE SEGURANÇA SOCIAL

Aida Maria Soares Mota, Directora Nacional da Segurança Social

eixo

4

Fotografía: MSS

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1. INTRODUçãO

A segurança social constitui o principal mecanismo de protecção social enquanto sistema de garantia de rendimento e de protecção social dos trabalhadores face aos riscos sociais e eventualidades relacionadas com a incapacidade para o trabalho. Nos países desenvolvidos a segurança social é, efectivamente, o principal instrumento de garantia de protecção social da população, assegurando um rendimento àqueles que não podem exercer uma actividade profissional.

Em Timor-Leste já existia a atribuição de pensões durante o período da colonização Portuguesa e da ocupação Indonésia, havendo timorenses actualmente a receber pensões por terem trabalhado nesses períodos e, também, por terem emigrado.1 No entanto, estes benefícios foram cancelados a partir de 1999, após o início do processo de reconhecimento da independência de Timor-Leste.2

Refira-se ainda que, desde o reconhecimento da Independência em 2002, foram criados pelo Governo determinados esquemas de pensões para certos grupos, como os veteranos e a classe política e, mais recentemente, para a população idosa e inválida.3

No entanto, após quase 10 anos de independência, ainda não existia no país um regime contributivo de atribuição de pensões aos trabalhadores, sendo este regime essencial para o Governo assegurar um direito fundamental dos cidadãos timorenses que exercem, ou exerceram, uma actividade profissional na função pública. Direito que está consagrado pela Constituição da República Democrática de Timor-Leste, em que se estabelece que todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social.

Compete, deste modo, ao Estado, como maior empregador, dar o exemplo e criar uma solução para que os seus funcionários mais velhos possam ir para casa e ter um rendimento que assegure simultaneamente a subsistência e os recompense pela sua carreira profissional, neste caso, pelo serviço prestado ao Estado.

Um longo percurso se foi fazendo desde 2004, ano em que a Comissão da Função Pública avançou, com o apoio do Banco Mundial, uma tentativa de elaboração de uma proposta de modelo de segurança social para Timor-Leste. Uma das recomendações saídas do relatório do Banco Mundial, com base na avaliação de que o país ainda não tinha as condições necessárias ao estabelecimento de um regime de segurança social, foi a atribuição de uma indeminização aos trabalhadores, em vez de uma pensão.4 Na perspectiva do MSS, tal mecanismo não resultaria, sendo Timor-Leste um país fortemente afectado pela pobreza, e a atribuição de uma indemnização incitaria a um aumento dos problemas sociais já existentes.

Em 2006, no âmbito da acção governativa do MTRC, foi criado o Núcleo de Segurança Social,que desenvolveu estudos com vista à elaboração de uma proposta de Lei de base da Protecção Social de Timor-Leste, mas que não chegou a ser discutida.

Em 2007, com o início de funções do novo Governo, e de acordo com a Orgânica do MSS, é criada a Secretaria de Estado da Segurança Social e a Direcção Nacional de Segurança Social 5, sob cuja competência ou tutela é estabelecida a primeira prestação de protecção social universal – o Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos (SAII).6 Aliás, no preâmbulo do diploma aprovado já se fazia referência à criação de um “sistema de protecção social integrado”, ainda em fase de estudo. Na sequência deste processo, em Fevereiro de 2010, foi criado um Grupo de Trabalho Interministerial para o Estudo e Concepção do Sistema de Segurança Social, encarregado de elaborar uma proposta para a implementação de um regime transitório de segurança social em Timor-Leste.7

Em Agosto de 2010 o Conselho de Ministros aceitou a proposta do Grupo de Trabalho e determinou que o regime transitório de segurança social a apresentar deveria seguir o modelo de sistema único e de repartição simples, assente nos príncipios de solidariedade inter-geracional e intra-geracional, e de equidade social.8 Foi com base nesta decisão que se estruturou a acção desenvolvida pelo Grupo de Trabalho, coordenado pelo Ministério da Solidariedade Social, e onde participaram os Ministérios das Finanças e da Saúde, as Secretarias de Estado da Segurança, Defesa e da Formação Profissional e Emprego, a Comissão da Função Pública e os

4Relatório “Criação da Lei de base da protecção social de Timor-Leste”, Banco Mundial, 2004.

5A DNSS é constituída pelo departamento do regime não contributivo, que coordena o programa ‘Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos’, e pelo departamento do regime contributivo que é o responsável pelo Regime Transitório de Segurança Social. 6Aprovação do Decreto-Lei n.º 19/2008, de 19 de Junho. 7Decisão do Conselho de Ministros, através da Resolução n.º 7/2010, de 18 de Fevereiro. Este Grupo de Trabalho, sob a coordenação do MSS, é composto pelo Ministério das Finanças, Ministério da Saúde, Ministério da Defesa e Segurança, e pela Secretaria de Estado da Formação e Emprego. 8Resolução n.º 46/2010, de 1 de Dezembro. No contexto específico de Timor-Leste, considerou-se que o sistema único seria uma mais-valia para o país, tendo em conta diversos factores, nomeadamente a pequena dimensão da população, as poucas oportunidades de emprego, o extenso volume da economia informal relativamente à formal e, sobretudo, o fundamento de justiça social.

1Ainda hoje, cerca de 1480 cidadãos timorenses recebem pensões médias superiores a 500 USD, pagas 14 vezes ao ano (correspondente ao montante de 11 milhões de dólares em 2011). Igualmente, cidadãos timorenses recebem pensões pelo trabalho desempenhado noutros países do mundo. 2Segundo a lei Indonésia, os cidadãos estrangeiros não têm direito a receber esta pensão. Neste caso, o Governo Indonésio devolveu apenas os descontos feitos pelos funcionários timorenses no período da ocupação. 3Estatuto dos Combatentes da Libertação Nacional: Lei 3/2006, de 12 de Abril, com as alterações da Lei 9/2009, de 29 de Junho e da Lei 2/2011, de 23 de Março. Pensão Mensal Vitalícia dos Deputados e Outras Regalias: Lei 1/2007 de 18 de Janeiro; Estatuto dos Titulares dos Orgãos de Soberania: Lei 7/2007, de 25 de Julho. Subsídio de Apoio a Idosos e Inválidos: Decreto-Lei n.º 19/2008, de 19 de Junho.

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parceiros sociais 9, que culminou na Lei nº 6/2012 que aprova o Regime Transitório de Segurança Social na Velhice, Invalidez e Morte para os trabalhadores do Estado.

Em 2011 foi apresentado em Conselho de Ministros um ante-projecto de Proposta de Lei para a Criação de um Regime Transitório de Segurança Social (RTSS), elaborado com base na proposta do Grupo de Trabalho Interministerial, que contou com a assistência técnica da Organização Internacional do Trabalho (OIT) na elaboração de estudos atuariais. Este diploma foi aprovado no dia 25 de Maio de 2011 e enviado para discussão e aprovação no Parlamento Nacional.

Em Janeiro de 2012 é aprovada a Lei do Regime Transitório de Segurança Social pelo Parlamento Nacional, sendo promulgada a 17 de Fevereiro do mesmo ano (Lei nº 6/2012), instituindo o Regime Transitório de Segurança Social na velhice, invalidez e morte para os trabalhadores do Estado. Este diploma regulamenta e define o mecanismo de atribuição e os procedimentos necessários para o pagamento das pensões previstas no Regime Transitório. Ainda que transitório, o presente modelo institui o início do primeiro regime de segurança social em Timor-Leste, constituindo um passo inicial fundamental para o desenvolvimento de um sistema universal.

Síntese das acções realizadas:

• 2004: 1º relatório do Banco Mundial.

• 2006: Elaboração pelo Ministério do Trabalho e Reinserção Comunitária (MTRC) de uma proposta de modelo de segurança social.

• 2007: Constituição do novo Governo.

• 2008: Frequência de curso da OIT (Centro Internacional de Formação, em Turim), pela DNSS do MSS e pela Comissão da Função Pública, sobre mecanismos de atribuição de pensões.

• 2009: Realização de estudo e notas técnicas do Ministério da Previdência Social do Brasil – recomendação de que o modelo de regime único seria uma mais-valia para Timor-Leste.

• Fevereiro de 2010: Nomeação de um Grupo de Trabalho Interministerial para a Segurança Social, encarregado de elaborar uma proposta para a implementação de um regime transitório de segurança social.

• Junho de 2010: Assinatura de protocolo de cooperação com a OIT. 10

• Outubro de 2010: Contratação de Assessor especialista em Segurança Social.

• Agosto de 2010: Aceitação da proposta do Grupo de Trabalho, em Conselho de Ministros, pela Resolução n.º 46/2010, de 1 de Dezembro, determinando que o regime transitório de segurança social deveria ser um modelo de sistema único para o sector do estado e do sector privado, financiado segundo o modelo de repartição simples.

• Janeiro de 2011: Realização de Estudos Atuariais em parceria com a OIT.

• Fevereiro de 2011: Entrega ao Governo da proposta de Regime Transitório (Relatório Técnico, Estudos Atuariais e Ante-Projecto de Proposta de Lei).

• Abril/Maio de 2011: Discussão técnica com o Ministério das Finanças.

• 25 de Maio de 2011: Aprovação pelo Governo da proposta em Conselho de Ministros e respectivo envio para discussão no Parlamento Nacional.

• 18 a 25 de Janeiro de 2012: Apresentação da Proposta no Parlamento Nacional.

• 25 de Janeiro de 2012: aprovação da Lei que institui o Regime Transitório da Segurança Social pelo Parlamento Nacional.

• 17 de Fevereiro de 2012: Promulgação da Lei.

• 29 de Fevereiro de 2012: Lei n.ᵒ 6/2012, de 29 de Fevereiro, que aprova o Regime Transitório de Segurança Social na velhice, invalidez e morte para os trabalhadores do Estado.

• 24 de Maio de 2012: Decreto-Lei nº 23/2012, de 24 de Maio, que regulamenta o regime transitório de segurança social na velhice, invalidez e morte para os trabalhadores do Estado.

Refira-se, por último, que no dia 24 de Abril de 2012 foi assinado um Protocolo de Cooperação Técnica com o Ministério da Solidariedade e da

9Parceiros sociais: Câmara de Comércio e Indústria de Timor-Leste (CCI-TL), Konfederasaun Sindikatu Trabalhador de Timor-Leste (KSTL).

10No âmbito do Programa de Parceria Brasil-OIT para a Promoção da Cooperação Sul-Sul, assinado em Genebra a 15 de Junho de 2010. Este protocolo de cooperação tinha como principais necessidades de colaboração o fortalecimento das políticas timorenses de protecção social através da criação de políticas públicas voltadas para a área da Previdência Social, e o desenvolvimento de instrumentos de capacitação. Refira-se, ainda, a implementação em Timor-Leste do previsto no Programa de Parceria Brasil-OIT para a Cooperação Sul-Sul em Segurança Social (16 de junho de 2009), e a implementação do Protocolo de Intenções entre o Governo do Brasil e o Governo de Timor-Leste sobre Cooperação Técnica na Área da Previdência Social (11 de Julho de 2008).

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Segurança Social de Portugal, com os seguintes domínios de cooperação prioritários: a) realização de estudos atuariais; b) desenvolvimento do processo administrativo e registo de dados; c) capacitação dos recursos humanos.

2. ENqUADRAMENTO LEGAL

A Constituição da República Democrática de Timor-Leste estabelece, no Artigo 56º, que todos os cidadãos têm direito à segurança e à assistência social, nos termos da lei, competindo ao Estado promover, na medida das disponibilidades nacionais, a organização de um sistema de segurança social.

A Lei nº 6/2012, de 29 de Fevereiro de 2012 (acima referida) é considerada de grande importância, na medida em que, por um lado, representa a primeira iniciativa em Timor-Leste para se criar e implementar um sistema contributivo de Segurança Social – e é neste sentido que deve ser apoiada tanto no plano político como no plano técnico – e, por outro lado, constitui uma estratégia de desenvolvimento económico e social, considerando que a segurança social é o principal instrumento do Estado para assegurar a protecção social dos seus cidadãos, estando presente em quase todos os países.

3. OBJECTIVOS

• Em cumprimento do texto constitucional, o Regime Transitório de Segurança Social, nesta fase, destina-se a garantir as necessidades básicas de protecção social dos trabalhadores do Estado e dos seus familiares dependentes. O Estado tem o dever de assegurar protecção social a todos os cidadãos.

• A implementação do RTSS no sector público é necessária, para depois ser alargado a todo o sector privado.

4. O REGIME TRANSITóRIO DE SEGURANçA SOCIAL

O presente Regime Transitório de Segurança Social em Timor-Leste é um sistema único e de repartição simples, o que significa que todos os beneficiários abrangidos (âmbito pessoal) terão acesso à mesma cobertura de riscos pelas prestações sociais (âmbito material) e às mesmas condições na determinação dos montantes das pensões. Isto significa que todos os beneficiários serão tratados da mesma forma, o que assegura o respeito e a promoção pelos princípios da universalidade e da igualdade. Igualmente, a lógica de atribuição assenta no princípio de solidariedade contributiva, em que quem trabalha paga contribuições que servirão para pagar pensões aos mais velhos – solidariedade entre gerações (jovens e idosos) – e para pagar pensões a quem está impossibilitado de trabalhar (por ex. doença, invalidez) – solidariedade dentro da mesma geração. São assegurados aos trabalhadores do Estado três tipos de benefícios:

a) o direito ao benefício da pensão de velhice, quando atingida a idade definida como “velhice” 11 ; b) o direito ao benefício da pensão de invalidez, perante ocorrência que determine a incapacidade permanente para o trabalho; c) o direito ao benefício da pensão de sobrevivência aos seus familiares dependentes, em caso de morte do trabalhador.

Estes benefícios correspondem a prestações pecuniárias, a serem pagas mensalmente.

Quanto ao processo de implementação, o regime é transitório porque, numa primeira fase, começa por garantir a atribuição de pensões apenas aos trabalhadores do Estado – iniciando-se com a definição mínima de 5 anos de trabalho, uma vez que não existem ainda contribuições.12

No entanto, e apesar de se dirigirem apenas aos trabalhadores do Estado, as regras do regime transitório estabelecem direitos sociais que serão a base para o regime geral e definitivo de segurança social, pelo que este é um processo que será irreversível e que deverá prosseguir, desde a sua génese, os princípios de solidariedade na estruturação do modelo de protecção social, universalidade no acesso dos beneficiários, igualdade nos

11A ‘velhice’ ocorre quando o beneficiário atinge a idade mínima legalmente fixada para a cessação do exercício da actividade profissional, correspondente a 60 anos. 12Nº 2 do Artigo 9º da Lei n.6/2012, de 29 de Fevereiro.

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riscos protegidos e prestações atribuídas e equidade na determinação dos montantes dos benefícios sociais.

O regime geral e definitivo de Segurança Social deverá estar a funcionar até 2015, e este prevê a inclusão dos trabalhadores do sector privado13 e, também, a inclusão de outro tipo de benefícios considerados como direitos fundamentais, tais como o subsídio de doença e o subsídio de maternidade. Relativamente a este último, constituiria um passo importante na redução da discriminação em relação às mulheres grávidas no acesso a oportunidades de emprego.

A DNSS deverá apresentar um Plano de Contribuições para 2013, bem como um plano de estabelecimento do Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) em Timor-Leste. O INSS será a entidade responsável pela gestão do regime de atribuição das pensões, do processo de registo dos beneficiários e respectiva base de dados, e permanecerá sob a tutela do ministério na área da solidariedade social.14

Sendo um regime novo no país, construído de raíz, existe um desconhecimento generalizado em relação ao tema da Segurança Social, respectivo funcionamento e benefícios, devendo as entidades competentes empenhar-se na clarificação do conceito e do respectivo regime de atribuições.

Neste sentido, a DNSS pretende iniciar um processo de socialização com os beneficiários através da Comissão da Função Pública, considerando essencial informar de modo adequado os beneficiários sobre a pensão a que têm direito.

4.1. Público-alvo/ beneficiários

• Ser trabalhador do Estado.• Ter pelo menos 60 anos.• Ter completado pelo menos 6 anos de serviço em 2012, 7 anos de serviço em 2013, e assim sucessivamente.

4.2. Tipo de Prestações

A natureza das prestações de segurança social apresenta características específicas, designadamente:

a) em geral são pagas vitaliciamente; b) os benefícios estão estabelecidos como direitos (podem ser reclamados) e assentam no princípio da contribuição – ser membro e ter pago contribuições; c) em termos de protecção social, ser beneficiário da segurança social é como estar protegido antes de se precisar – no caso de surgir algum problema (velhice, morte ou invalidez) o salário está “seguro” pelo sistema de modo a garantir um nível de vida autónomo para que o trabalhador e a sua família não fiquem numa situação de pobreza.

Isto significa que, contrariamente à assistência social, estas prestações visam proteger os trabalhadores antes dos problemas acontecerem, procurando-se evitar a necessidade de assistência social. A lógica da segurança social difere, deste modo, da lógica da assistência social, quer ao nível da definição do sistema – trata-se de um esquema de seguro colectivo em que os trabalhadores e os empregadores contribuem com prestações baseadas numa percentagem dos salários para o mesmo fundo, que é usado para pagar pensões àqueles que não podem trabalhar – quer ao nível dos princípios de funcionamento, cuja base reside na solidariedade contributiva.

Os benefícios concedidos não são acumuláveis com outro tipo de pensão, benefício social ou rendimento de trabalho. Cada beneficiário tem direito a receber apenas uma pensão por exercício de funções ou de cargos no Estado.

4.3. Cálculo e Valor do Benefício

Relativamente ao cálculo e valor das pensões, a Lei define as formas de cálculo dos três tipos de pensão tendo como base 75% do salário ao longo da carreira, mas não define ainda a percentagem de contribuição, estando esta questão actualmente sob dicussão, e devendo ser definida no âmbito do Plano de Contribuições para 2013.

13Refira-se que o Grupo de Trabalho tinha a intenção de incluir no regime, desde o início, os trabalhadores do sector privado. Para isso, iniciou um processo participado e de consulta com a Câmara de Comércio e Indústria de Timor-Leste (CCI-TL) e a Konfederasaun Sindikatu Trabalhador de Timor-Leste. No entanto, dada a impossibilidade de identificar os potenciais beneficiários do sector privado, por falta de registos, decidiu-se incluir numa primeira fase apenas os trabalhadores da função pública. 14O Plano Estratégico 2009-2012 do MSS prevê o estabelecimento de uma Instituição de Segurança Social sustentável em Timor-Leste, que garanta a institucionalização do sistema de segurança social no país.

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4.4. Processo de Pagamento

O início do pagamento das pensões será efectuado já em 2012, sendo processado mensalmente por transferência bancária para a conta do beneficiário ou beneficiado. O processo de pagamento das pensões é implementado pela entidade governamental com a tutela das finanças.

4.5. Fontes de Financiamento

Num sistema contributivo de repartição, o financiamento é da responsabilidade dos beneficiários e não do Estado, daí que deva ser gerido de forma autónoma e com regras específicas. No entanto, nesta fase transitória, uma vez que o regime actual ainda não tem contribuições, os encargos com o pagamento das pensões serão suportados pelo Orçamento de Estado. Refira-se que a DNSS dispõe de um oçamento de 3,5 milhões para o ano de 2012. Porém, já está prevista a criação de um fundo especial destinado à gestão e ao pagamento das pensões, a par do Instituto Nacional de Segurança Social, o qual deverá assegurar futuramente a gestão autónoma deste fundo, sob a tutela do Ministério na área da solidariedade social. Neste âmbito, recomenda-se a criação de um novo grupo de trabalho, com representação tripartida, que inclua o Estado, os sindicatos e os representantes dos empregadores.

4.6. Entidade Responsável e Cooperação Institucional

O êxito da implementação e execução da política de segurança social implica uma estreita cooperação entre os ministérios com a tutela da protecção social, finanças e emprego, bem como com a Comissão da Função Pública, particularmente no que diz respeito ao recurso às informações dos funcionários públicos existentes nas bases de dados e ao processamento do pagamento dos benefícios. O procedimento para atribuição das pensões previstas no presente Regime é da responsabilidade do ministério com a tutela da protecção social, devendo esta entidade promover a articulação interministerial de modo a assegurar as condições de atribuição e a manutenção das pensões.

A certificação dos dados dos trabalhadores é da responsabilidade de cada entidade empregadora, designadamente, a Comissão da Função Pública (CFP), a PNTL, a F-FDTL e os Institutos Públicos.

5. GARANTIAS DE PROTECçãO SOCIAL

Todos os trabalhadores do Estado passam a beneficiar de três pensões:

• Velhice: pensão a partir dos 60 anos de idade, se já tiverem 5 anos de serviço.• Morte: no caso de morte do trabalhador (sem mais condições).• Invalidez: no caso de incapacidade física ou mental do trabalhador para o exercício de actividade profissional, de forma absoluta e definitiva (sem mais condições).

6. DADOS DE EXECUçãO

• Cobertura do Programa em 2012: todos os trabalhadores do Estado – cerca de 30.000.• Número de Pensões: estimativa de 2274 pensões a pagar até 2015.

7. AVALIAçãO

7.1. Impactos do Programa

• Produtividade: o sistema de segurança social permite a substituição de funcionários antigos por novos. Se os novos forem mais qualificados isso pode permitir ao Estado ganhos de produtividade (menos tempo ou menos trabalhadores para executarem determinadas tarefas) o que permitirá diminuir os custos relativos com as pensões.• Rendimento: o facto de as pessoas poderem receber uma pensão

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equivalente a uma percentagem do salário anterior permite um grande aumento do seu consumo privado e, como consequência disso, uma diminuição da pobreza e o aumento do bem-estar de todos.• Desenvolvimento Económico: o aumento do consumo e a diminuição da pobreza têm efeitos positivos no crescimento da actividade económica e, como consequência disso, contribuem para o desenvolvimento do país.

7.2. Constrangimentos

Sumário das principais dificuldades e obstáculos enfrentados:

1. Falta de Recursos Humanos• Não foi recrutada a equipa do Departamento Contributivo da DNSS, solicitada em 2009, concretamente: técnico especialista em segurança social (externo) e técnicos especialistas nas áreas de direito, contabilidade e administração (internos). • Não há em Timor-Leste técnicos nacionais especialistas nesta área.

2. Fraca colaboração institucional• O MSS, para além do Grupo de Trabalho Interministerial (GTI), não recebeu apoio de nenhum Ministério. Mesmo a nível do Grupo de Trabalho, houve em geral uma falta de colaboração e interesse em desenvolver-se trabalho conjunto, principalmente por parte do Ministério das Finanças. Igualmente, o Ministério da Saúde não colaborou de modo efectivo com propostas de beneficios na área de saúde no âmbito do regime transitório de segurança social.

3. Ausência de discussão do tema no âmbito das políticas do Governo – nomeadamente Código de Trabalho, Política do Emprego, Política de Imposto – nem no interior do MSS.

4. Protocolos com a OIT do Brasil e com o Ministério do Trabalho e Segurança Social de Portugal triénio (2007-2010) – não responderam às necessidades.

7.3. Recomendações para o Futuro

• Realizar o recrutamento de técnicos com qualificação adequada para a DNSS e desenvolver formação a todos os funcionários.• Melhorar a colaboração institucional, considerando-se que a integração e a discussão de políticas a nível inter-sectorial e interministerial são fundamentais.• Efectuar mais discussões no âmbito das políticas do Governo.• Realizar acções previstas nos protocolos entre o MSS, a OIT e o Ministério da Solidariedade e da Segurança Social de Portugal.• Assegurar contribuições sociais para um Fundo de Segurança Social.• Ajustar parâmetros – idade de reforma, anos de serviço e taxa de benefício.• Assegurar a universalização do emprego com contrato a toda a população em idade activa.

8. CONCLUSãO

Ao contrário da assistência social, a segurança social procura proteger os trabalhadores antes dos problemas acontecerem. Deste modo, consegue-se diminuir a necessidade da assistência social e sobretudo melhorar as condições de vida dos trabalhadores. Nesta fase transitória, o regime actual ainda não requer contribuições, embora estejam previstas na lei aprovada. Deste modo, os encargos serão suportados pelo Orçamento de Estado.

Como referido nas recomendações, com vista a assegurar a sustentabilidade do sistema de segurança social, há que assegurar três factores essenciais: a) contribuições sociais para um Fundo de Segurança Social; b) ajustamento de parâmetros: idade de reforma, anos de serviço e taxa de benefício; c) universalização do emprego (com contrato) a toda a população em idade activa.

Com estes três instrumentos devidamente aferidos e verificados não deverá haver encargos para as Finanças Públicas, uma vez que este é um

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sistema de seguro que funciona de forma autónoma, segundo uma lógica de repartição em que as contribuições dos trabalhadores são usadas para pagar despesas e pensões.

É de assinalar que o presente regime de segurança social foi baseado em estudos atuariais prévios, de modo a assegurar a informação necessária para que a decisão política tivesse em consideração quer os custos, quer as implicações do regime para o futuro. Da mesma forma, todas as regras e fórmulas dos benefícios propostos foram definidas tendo em conta as suas mplicações financeiras e os fins que visam garantir.

9. METAS FUTURAS

Até 2015 o MSS prevê:

• Universalidade de cobertura para os funcionários públicos na Segurança Social – 2274 pessoas a receber pensões.• Definição e implementação de um esquema de contribuições sociais necessárias para financiar o pagamento das pensões previstas a todos os beneficiários.• Definição de uma proposta de modelo de gestão da Segurança Social e criação do Instituto Nacional de Segurança Social.• Garantia de que o montante das pensões é adequado para assegurar um nível de vida próximo do salário e que promova a equidade social.• Apresentação de uma proposta de Regime Definitivo de Segurança Social, com realização de estudos atuariais, para integração do sector privado.

ANEXO

quadro 1. Estudos Atuariais Orçamento para Execução do Regime Transitório até 2015

PV = Pensão de Velhice; PS = Pensão de Sobrevivência; PI = Pensão de Invalidez

Fonte: DNSS.

*Nota: Não foi possível ainda proceder à estimativa do número de beneficiários da

pensão de invalidez, por falta de dados.

Previsão OIT

No PensionistasEncargos com pagamentos (Taxa de 75%) em Dólares

Despesa TotalPensões (US$)

PV PS PI * PV PS PI

2012 782 345 ? 1.508.199,08 778.690,17 0 2.286.889,25

2013 946 462 ? 2.007.232,60 706.155,24 0 2.713.387,84

2014 1183 579 ? 2.648.657,25 964.509,54 0 3.613.166,79

2015 1425 696 ? 3.321.184,37 1.229.880,66 0 4.551.065,03

TOTAL Regime Transitório 13.164.508,91

Fotografía: MSS DOIS OLHARES REFLEXIVOS

337336 Fotografía: MSS

UMA REFLEXÃO SOBRE AS CONDICIONANTES E A MISSÃO DA PROTECÇÃO SOCIAL EM TIMOR-LESTE Paulo Pedroso, Professor Auxiliar Convidado da Escola de Sociologia e Políticas Públicas do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa, Portugal

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Introdução

A jovem nação de Timor-Leste não está apenas a erigir o Estado Social que a sua Constituição prevê. Está a construir em simultâneo o seu Estado e a fazê-lo numa situação excepcional, mesmo entre as nações que acederam à independência no período pós-colonial. Ao contrário da maior parte das independências pós-coloniais, Timor-Leste não herdou o quadro institucional da metrópole colonial. E também não herdou o da potência ocupante. Acresce que a pluralidade de referências, frequentemente contraditórias, da administração transitória e da cooperação internacional intensa nesse período, esteve longe de construir um quadro institucional minimamente integrado, nomeadamente quanto às funções sociais do Estado.

Este é o enquadramento em que o Ministério da Solidariedade Social (MSS) desenvolveu a actividade que nesta iniciativa oferece ao escrutínio crítico dos seus colegas de governo, das diversas forças políticas com representação parlamentar, da sociedade civil e das instituições religiosas timorenses, bem como de peritos e parceiros internacionais. Antes de prosseguir nas minhas reflexões sobre o que aqui ouvi, tal como me foi solicitado que fizesse, desculpar-me-ão por louvar tal iniciativa e tal exemplo de coragem da Senhora Ministra Maria Domingas Fernandes Alves e da equipa ministerial que dirige. Muito poucos políticos no mundo se exporiam a um exame crítico tão exigente, para mais em final de mandato e na proximidade das paixões que os exercícios eleitorais sempre implicam.

A simples existência desta iniciativa é um testemunho eloquente do trabalho do MSS na remoção dos obstáculos institucionais e na mitigação dos problemas sociais no desempenho da sua missão. Agradeço, pois, o convite para me associar a esta reflexão que é essencialmente vossa e procurei organizar o meu contributo num conjunto de notas sobre as condicionantes e a missão da protecção social em Timor-Leste, tanto quanto consigo captar as primeiras e contribuir para a definição da última.

1. As Condicionantes Derivadas da Situação do País

As condicionantes para a acção do Estado na esfera social que resultam da escassez de recursos do país, da falta de instituições fortes e das aspirações naturalmente elevadas de um povo que lutou com todas as energias pela independência implicam que se actue com extrema prudência e se tenha particular atenção às opções a fazer.

Ao contrário do que tecnocraticamente nos parece evidente, a sustentabilidade do Estado social timorense não pode ser vista apenas a partir da sustentabilidade dos recursos e da capacidade técnica para o gerir. Terá que incluir também a dimensão do contributo para a estabilização do país, para o reforço da sua paz social e para a prevenção e resolução de situações de tensão inevitavelmente ligadas ao percurso de consolidação e legitimação popular do seu Estado.Acresce que o Estado social moderno tem pré-requisitos de organização social que estão também eles em construção no país. Se o Estado social for feito sem que haja a afirmação de uma economia de mercado formal, acabará por ser feito pelo Estado e para o Estado, independentemente da boa vontade dos actores envolvidos. A formalização da economia de mercado é uma das prioridades para gerar as pré-condições de afirmação do Estado social em Timor-Leste. O Estado social timorense necessitará de contar também com um conjunto de contributos de áreas que normalmente não relacionamos com ele, tais como infra-estruturas básicas, começando pelo acesso a água potável e acabando numa rede de infra-estruturas de comunicação que tornem possível chegar a todos os timorenses, onde quer que estejam no território nacional. O país iniciou recentemente, nomeadamente por força do nível crescente de recursos disponíveis obtidos através do petróleo, um caminho de crescimento acelerado do rendimento disponível. O rendimento per capita subiu 50% entre 2007 e 2009 e essa trajectória vai prosseguir. Este crescimento rápido é também desafiador da definição das políticas. Em muitos países este crescimento acelerado, para mais dependente da exploração de recursos naturais, alimentou uma desigualdade enorme e a apropriação do rendimento por minorias poderosas. Cabe às opções que o Estado fizer na alocação de recursos impedir que assim seja ou, pelo contrário, promover esse caminho.

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2. As Condicionantes Derivadas da Fragilidade Institucional na Área da Protecção Social

O Estado social implica o desenvolvimento necessário de uma burocracia própria que demora décadas a conseguir. Será necessário recrutar profissionais qualificados e dar-lhes a formação adequada. Será necessário pensar a estrutura administrativa das diferentes agências e serviços de que se fará a acção do Estado. Será necessário fazer a capacitação administrativa das instituições criadas.

O trabalho do MSS é extremamente meritório. Em pouco tempo criaram-se programas fundamentais de que a pensão universal e a Bolsa da Mãe são exemplos eloquentes. Mas a criação de uma segurança social compreensiva e integrada como a que a recém-aprovada Lei de Bases da Segurança Social prevê implicará um trabalho colossal de edificação institucional que apenas agora pode começar.

Destaco aqui algumas áreas prioritárias, a meu ver de curto prazo, para que a protecção social da responsabilidade do MSS possa desenvolver-se nos próximos anos ao ritmo que o empenhamento político até aqui demonstrado certamente impulsionará.

A administração da segurança social contributiva é uma tarefa exigente e de complexidade sempre crescente.

Na fase transitória, dado que apenas se aplica aos funcionários públicos, esta tarefa é mais simples dado que há um departamento próprio do Estado que gerirá algumas das tarefas necessárias. Mas há que construir um sistema de registo de contribuições fiável e duradouro, que garanta que daqui a trinta ou quarenta anos se sabe com precisão as contribuições que estão a ser feitas hoje. Um sistema que garanta que não há fraude e evasão e que os trabalhadores que se julgam protegidos o estejam mesmo e possam saber se o estão. Ou seja, um sistema capaz de garantir a fiabilidade da informação que recolhe e capaz de garantir que a lei é cumprida por todos os envolvidos.

A segurança social contributiva gerirá um nível de recursos crescente, à medida que for recebendo contribuições e que será necessariamente superavitário durante muito tempo. O tipo de aplicação que for dado aos recursos recebidos no período em que se receberá mais do que se pagará vai influenciar a capacidade do sistema na fase seguinte. A gestão financeira da segurança social é também uma tarefa de alta complexidade, que implicará um orçamento próprio e o desenvolvimento no MSS de competências próprias de gestão financeira.A segurança social contributiva, mas também os outros ramos da segurança social e esses até mais do que esta, requer a capacidade de informar com precisão os cidadãos dos seus direitos e deveres. Assim como requer um trabalho de empoderamento das populações face aos seus direitos. Requer também, em várias acções a triagem de problemas sociais e o acompanhamento de beneficiários potenciais e já apoiados. A função de atendimento social, necessariamente disseminada pelo território nacional, implica a criação de condições para que a segurança social chegue a todos os pontos do pais e exige uma rede de técnicos qualificados, com profissionalismo e sensibilidade humana, capazes de trabalhar em condições adversas e de fazer o Estado dialogar com a diversidade cultural do país, em simultâneo afirmando a cidadania social e respeitando diferenças e tradições.

A segurança social requer também uma eficaz rede de controlo, que vai da garantia do respeito da lei nos pagamentos a fazer à segurança social ao seu respeito nos pagamentos a fazer por esta, que impeça todo e qualquer tipo de favoritismos e seja, por essa via, um pilar do seu respeito pelos cidadãos, da sua legitimação e de resistência a qualquer tentativa – localizada ou nacional – da sua manipulação.

3. A Necessidade de Focalizar Permanentemente as Prioridades

A governação é um exercício de definição de prioridades face a problemas que são sempre maiores que os recursos, financeiros e institucionais, disponíveis. Em particular num país com tão grandes carências e recursos tão limitados e de disponibilidade recente, este exercício é difícil e exige monitorização adequada.A protecção social há-de integrar protecção de cidadania, protecção contributiva

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e serviços sociais. Quanto alocar a cada parte das suas responsabilidades? Optar por transferir recursos para as famílias ou por disponibilizar-lhe serviços? E em que proporção equilibrar uns e outros? Onde localizar quais serviços e com que intensidade? Todas estas questões carecem de resposta.

Na ausência de um planeamento adequado, a “geografia das capacidades” sobrepor-se-á à “geografia das necessidades” na alocação de serviços. Nesses casos, onde a sociedade civil estiver mais organizada e for mais forte, onde as instituições tiverem protagonistas mais capazes de influenciar os serviços, chegarão primeiro.

Do mesmo modo, na definição das prestações sociais, acontece que a “sociologia das influências” se pode sobrepor à “sociologia das necessidades”, nomeadamente na definição de que valores para que prestações ou de que prestações criar primeiro e para que beneficiários.

O MSS tem a grande responsabilidade de promover que a sociologia e a geografia das necessidades se sobreponham às outras, com realismo e com fundamentação técnica. Bem sei que num país onde actuam diversíssimas agências internacionais não faltam, em princípio, os diagnósticos e os estudos tão do agrado dos consultores internacionais. Mas para que eles sejam úteis, o MSS tem que continuar a capacidade de ser “cliente” desses estudos e a procurar que eles respondam às suas necessidades e não apenas ou prioritariamente à vocação sectorial da agência ou agências que se disponibilizam para os fazer. O país necessita de um sólido diagnóstico de necessidades de apoio aos cidadãos, baseado na diversidade das dinâmicas locais de expressão dos problemas e de encontro de soluções, que aponte pistas para as prioridades sectoriais e territoriais de resposta e aponte as vantagens e desvantagens de cada modalidade de resposta possível.

Tal trabalho deveria corresponder ao apoio técnico à definição da estratégia de desenvolvimento e aplicação da Lei de Bases da Segurança Social, que é, parece-me, a prioridade estratégica do MSS, pelo menos para uma década. Findo o período da emergência, chegou a hora da acção estratégica de consolidação institucional.

A definição de uma estratégia implica a arbitragem entre prioridades e o equilíbrio entre tipos de respostas. Procurarei dar exemplos de uma e outra.Desde a sua génese na Europa do fim do séc. XIX, a segurança social dedicou-se a substituição de rendimentos dos trabalhadores, quando atingidos pela incapacidade destes para sustentar as suas famílias. Daí que o primeiro núcleo fundamental da segurança social sejam as pensões de velhice e viuvez, as pensões de invalidez, as compensações por acidentes de trabalho, os subsídios de desemprego e os abonos de família. No quadro de Timor-Leste de 2020 quais devem ser as expressões conjunturais e nacionais deste problema fundador da segurança social?

A estrutura familiar da Europa Ocidental do fim do séc. XIX pode bem não corresponder à do país. A existência de redes informais de absorção de certos riscos ou a sua ausência pode tornar certas respostas mais urgentes que outras. A demografia pode implicar um balanço entre a prioridade a problemas de gerações diferente do que parece óbvio. As dinâmicas familiares e as opções do Estado face a elas podem implicar respostas distintas.

É certo que um país com 40% da sua população menor de 18 anos e com um elevado índice de subnutrição infantil terá que ter uma estratégia própria de prover o apoio social pensada autonomamente da aplicação mecânica dos instrumentos clássicos de segurança social. Parece também claro que o tipo de equilíbrio a construir entre Estado e família carece de uma reflexão própria na sociedade timorense e nas suas instituições democráticas e será matricial do desenvolvimento do Estado social no respeito da Constituição e da Lei de bases da segurança social.

A segurança social não pode, por outro lado, ser cega às especificidades da construção nacional e dos riscos sociais latentes ainda dela derivados. A “crise político-militar de 2006” e, dentro dela, o problema dos IDP’s (Internally Displaced Persons) deve permanecer no espírito dos decisores como exemplo desses riscos sociais específicos que carecem de ser geridos. Neste contexto é necessário manter respostas específicas aos problemas derivados da juventude da nação e da longa luta de libertação nacional. Algumas dessas respostas cabem no perímetro da segurança social, nomeadamente na acção social.

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Outras encontram-se em território de fronteira e outras ainda, no estrito sentido técnico, encontram-se fora do seu perímetro. Mas independentemente de onde se localizem as respostas a prevenção e mitigação dos riscos carecem de um pensamento próprio do sistema de protecção social.

4. Nota Final

Há, finalmente, que ter em conta que Timor-Leste, pátria do séc. XXI, pode ter um sistema de protecção social próprio que vá além da aprendizagem das experiências internacionais do século passado e da especificidade da construção nacional. A sociedade timorense tem, colectivamente, a responsabilidade de definir as prioridades da cidadania social na nação. O que acabará por reflectir-se nos programas políticos e na acção política.

A ajuda ao desenvolvimento é uma variável a ter em conta por muito tempo no planeamento da protecção social em Timor-Leste. Cada agência e país com a sua vocação e prioridades puxarão a nação para o “seu” problema. Mas cabe aos timorenses saber e exigir enquadrar essa generosidade nas suas prioridades nacionais e não se deixar tolher pela sofisticação dessas experiências na busca das respostas próprias. Essas respostas próprias e adequadas à sociedade timorense serão necessárias em muitas esferas, da assistência aos idosos à inclusão social de pessoas com deficiências e incapacidades; da política activa de emprego ao apoio à infância e juventude.

A ajuda ao desenvolvimento tem também a sua agenda doutrinária, frequentemente com um enviesamento anti-estatal derivado da desconfiança da capacidade dos jovens Estados, sobre a qual os timorenses terão que trabalhar e reflectir. O que deve na protecção social ser feito pelo Estado e o que deve ser entregue ao sector não-governamental? O que deve deixar-se aos dinamismos familiares e societais informais e o que deve ter respostas a partir das instituições? O que deve procurar-se que seja respondido por um mercado a desenvolver? Todas estas questões têm que ser respondidas pelo modelo de Estado social de Timor-Leste e resultarão do jogo entre acções e omissões de cada um dos parceiros no seu desenvolvimento.

Há apenas um elemento universal, transcultural e indiferente a projectos políticos e sociais no desenvolvimento dos modelos de promoção do bem-estar: eles visam aumentar a qualidade de vida dos cidadãos. A busca da estratégia adequada para a melhoria da qualidade de vida é um trabalho infinito e em que receitas que funcionaram no passado ou noutro contexto geográfico podem, ou não, ser aplicáveis. A definição da resposta de cada país cabe ao seu povo e às suas instituições legítimas.

Eis as reflexões de um malae bem intencionado para ajuda à reflexão sobre o trabalho notável de Timor-Leste desde a independência e aos seus desafios futuros.

347346 Fotografía: MSS

DESAFIOS DE UM SISTEMA DE PROTECÇÃO SOCIAL EM TIMOR-LESTEProfessor Doutor Alfredo Bruto da Costa

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A minha apresentação versará sobre os três seguintes tópicos: Segurança Social, Pobreza e Estado Social. 1

A consolidação e alargamento do sistema de Segurança Social não deve esgotar-se na prestação de benefícios mínimos e na garantia de um sistema público mínimo, mas deve ser mais amplo e abranger todos os grupos de rendimento. Não deve ser apenas para os pobres, para os grupos mais vulneráveis, mas deve cobrir toda a sociedade de Timor-Leste.

Porquê? Porque a sustentabilidade financeira do sistema está relacionada com a cobertura de todos os grupos sociais e de rendimento. O boom da Segurança Social na Europa deu-se quando a classe média reconheceu a sua importância e a vantagem que tinha em participar nela.

Citando o meu amigo Jos Berghman, da Universidade de Leuven, direi que «Um sistema de Segurança Social só para os pobres é necessariamente um pobre sistema de Segurança Social».

Nos programas apresentados nestes três dias, senti um certo déficit da Acção Social – que é uma componente integrante e essencial, na ampla concepção de Segurança Social. E não se trata de uma opção política, porque as prestações pecuniárias são só uma parte do sistema.

Dar o “material”, o “dinheiro”, não é suficiente. Há todo um trabalho de capacitação das pessoas. A entrega do benefício pecuniário a um pessoa que está privada há muito tempo de dinheiro pode originar que esta possa utilizar e gerir inadequadamente o dinheiro. Em meios pobres de longa duração, o acompanhamento é fundamental.

Assim, em Timor-Leste, a luta contra a pobreza será uma missão importante daqui para a frente…

Há um subsídio de apoio a idosos e inválidos - proponho que palavras como invalidez não façam parte da terminologia política e técnica. A noção e o conceito de invalidez fazem parte de uma sociedade economicista, que vê estas pessoas unicamente como não sendo capazes de trabalhar na economia, de “contribuir”.

O que é a Acção Social comparativamente com a Segurança Social?

A Acção Social em Portugal, e em regiões onde Portugal teve influência cultural, não tem nada a ver com a Acção Social dos países da Europa Central e do Norte.

A Acção Social é um benefício discricionário, concedido ou não, pelo Assistente Social, por vezes com base em critérios discutíveis e avaliações subjectivas; é um benefício cuja atribuição se faz por despacho ministerial, dotando este processo de uma certa vulnerabilidade, em que a pessoa necessitada pode vir a não receber o apoio de que necessita.

Na Carta Social Europeia (do Conselho da Europa), a Acção Social é um direito consagrado em Lei: a pessoa sabe se tem, ou não, direito olhando para a LEI. Se o cidadão vir recusado o que pensa ser seu direito, pode recorrer a um órgão independente, eventualmente um tribunal, caso em que tem direito ao apoio gratuito de um advogado. Trata-se de algo que um político ou um técnico não pode alterar a seu bel prazer.

O sistema de Segurança Social deve ter sempre estas duas componentes: uma contributiva e a outra não contributiva. Aos benefícios deve estar sempre ligada a Acção Social de que as pessoas precisam, no sentido da coesão dos benefícios existentes para garantir uma visão integradora do que já existe.

qual é o fundamento da Segurança Social e do Estado Social?

Uma sociedade só se lembra de ter Segurança Social ou Estado Social devido ao risco social - um conjunto de riscos a que todos os cidadãos estão sujeitos e, se ocorrer, muitas vezes, o cidadão ou a família não podem enfrentar esses riscos sozinhos, por não terem meios para os enfrentar sozinhos. Então, surge a ideia de juntar e partilhar os riscos com os outros cidadãos - de pôr os riscos em comum na sociedade. Por exemplo, todos nós corremos o risco de doença, da velhice, etc.

O segredo do Estado Social está em saber quais são os riscos sociais que cada sociedade considera fundamentais: é a doença? É o desemprego? A morte? Os riscos considerados como sociais são, então integrados no sistema. Acreditar, reconhecer, ou não, a existência do Risco Social é a pedra-chave para a definição do sistema de Segurança Social.

1Palestra proferida por ocasião do encerramento da Conferência “10 Anos depois: O Contributo dos Programas Sociais na Construção de um Estado Social em Timor-Leste”

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Os benefícios não contributivos não são uma esmola, e o reconhecimento da sociedade pelo facto de sermos cidadãos dá o direito aos cidadãos de verem os seus direitos respeitados.

Esquema francês: do ponto de vista científico, o aspecto pecuniário não é o único que o pobre precisa para se libertar da pobreza; ele precisa de um emprego, de ter acesso à saúde, etc. Este esquema permite uma redistribuiçao horizontal (solidariedade dos sãos para com os doentes, dos jovens para com os idosos, etc.) e outra vertical (dos mais ricos para os mais pobres) - duas alternativas complementares de redistribuição que fazem parte do pensamento social.

Os países da Europa ficaram “mentalmente paralisados” a partir de certo momento da história, quando o “pleno emprego acabou”, quando o vínculo laboral e o mercado de trabalho mudaram. Para ultrapassar este problema, a Segurança Social contributiva não deve limitar-se à classe trabalhadora, deve deixar de ser um sistema de solidariedade entre a classe trabalhadora e expandir-se, de modo a abranger todas as fontes de rendimento, contribuindo, assim, para a resolução do problema da sustentabilidade financeira.

No plafonamento do rendimento da pessoa, só uma parte vai para o sistema público, sendo que uma outra parte vai para o sistema de seguros privados. Não concordo com este modelo, por entender que a Segurança Social deve ser Pública.

Pobreza

Deixo a tarefa da definição do limiar de pobreza ao governo de Timor-Leste – seja a sociedade a definir uma linha de pobreza adequada à sociedade de Timor.

Porquê? Este desafio implica ser eu a fazer o “rol”, ser eu a saber o que em cada momento são as necessidades básicas do povo e, a partir daí, ver qual o valor dos recursos necessários para satisfazer essas necessidades básicas. Frequentemente, usamos índices de agências internacionais que têm outras finalidades, designadamente a de permitir fáceis comparações internacionais. Porém, independentemente desses limiares internacionais, cada país deve ter a sua linha de pobreza, deve ter identificadas as suas necessidades básicas, e saber quanto custa (recursos necessários) ter acesso aos bens e serviços considerados básicos: necessidades que os cidadãos devem

adquirir no mercado, bens e serviços que o Estado deve fornecer, directa ou indirectamente. É o exemplo, em Portugal, do Serviço Nacional de Saúde, onde o que o cidadão paga não cobre os custos dos serviços; assim como na educação.

Toda a “luta contra a pobreza” deve ter essa linha de pobreza como referência. A pobreza não é uma situação uniforme, homogénea. Precisamos de saber exactamente a medida em que cada benefício, seja em espécie ou pecuniário, permite modificar a situação do indivíduo/família para cima do limiar da pobreza. Sabemos que quanto mais profunda e extrema for a pobreza, a pobreza de longa duração – e sabemos que em Timor-Leste ela é profunda e de longa duração -, mais complexa é a luta contra a pobreza. A pobreza profunda vai roendo as capacidades do pobre de suplantar a sua própria situação. Podemos perguntar: porque o pobre é pobre? O pobre é pobre porque ele é pobre. O pobre está inserido no ciclo vicioso (ou armadilha) da pobreza onde conhece dificuldades adicionais por ser pobre. Por isso, a luta contra a pobreza não é uma questão de dar dinheiro. Alguns programas “gerem” a pobreza, por isso é muito importante conhecer a natureza do programa.

O problema da pobreza é também um problema de desigualdade – a pobreza pode ser definida como «a cauda da desigualdade»! Então, qualquer programa de luta contra a pobreza que não reduza a desigualdade, não está a ser eficaz.

A pobreza é um problema nacional, regional e mundial.

Como conseguir uma ordem mundial mais justa?

Nestes dias ouvi falar em idosos, crianças pobres... mas não existem crianças pobres! A pobreza não é só um estado de privação. É também uma situação de falta de recursos. A criança não é titular de recursos. Portanto, lutar contra a pobreza infantil é lutar contra a pobreza das famílias dessas crianças. Nós podemos dar-lhe almoço na escola, dar boas condições escolares, mas quando a criança chega a casa não vai ter tecto, não vai ter um local para estudar, pode não ter pais que a possam ajudar a estudar. Tudo quanto se faça para reduzir a privação em que a criança se encontra (alimentação, vestuário, apoios diversos) é importante, indispensável. Porém, se não houver uma intervenção junto da família toda, dificilmente poderemos contribuir para que a criança (e com ela a família) vença a pobreza e supere as causas da pobreza.

CONCLUSÕES

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Como referido anteriormente, um dos objectivos do presente livro é sistematizar os principais resultados e contributos saídos da reflexão conjunta proporcionada pela Conferência do MSS. De igual modo, ao longo do processo de elaboração do livro, surgiram questões fundamentais relacionadas com os diversos programas do MSS que merecem ser destacadas e analisadas.

Neste sentido, este capítulo final integra duas componentes: a) uma primeira em que se identifica e sistematiza as principais conclusões dos oradores sobre a Conferência; b) e uma segunda componente em que se identificam ideias-chave e sistematizam reflexões transversais aos programas e serviços do MSS, apresentadas quer durante a Conferência quer ao longo do processo de elaboração do livro.

1. CONCLUSÕES SOBRE A CONFERêNCIA

A Conferência foi considerada um evento de grande importância, na medida em que constituiu um momento de partilha de informação, de experiências e de aprendizagens, permitindo a criação de sinergias e um espaço de reflexão e de debate construtivo, enriquecido com os contributos de vários peritos.

As intervenções dos peritos, incluindo a apresentação de estudos preliminares , constituíram mais-valias para a melhoria futura dos programas, dos procedimentos e das políticas, das abordagens de intervenção social, dos mecanismos de gestão e de implementação, incluindo o sistema de pagamento e de atribuição dos benefícios.

Por outro lado, a Conferência permitiu que todos os implementadores conhecessem melhor os programas e serviços de cada direcção nacional, com vista a uma coordenação e cooperação mais eficazes. Relativamente à equipa política que liderou durante os últimos cinco anos, o evento permitiu abrir horizontes no sentido de se proceder a uma revisão das políticas públicas na área de intervenção social, de forma a beneficiar todos os cidadãos em termos de protecção social.

O processo de reflexão que se gerou durante e a partir da Conferência, é essencial e potencialmente fomentador de uma auto-avaliação e revisão das políticas desenvolvidas, sobretudo ao longo dos últimos cinco anos, e do que se alcançou até hoje através da implementação de programas e de serviços sociais dirigidos às populações mais pobres e vulneráveis do país.

Torna-se fundamental que o MSS prossiga com a análise e avaliação do grau de eficácia dos programas sociais, no sentido de conhecer se de facto vão ao encontro dos objectivos definidos, se retiram efectivamente as populações mais vulneráveis da situação de pobreza, se dão respostas eficazes às suas necessidades específicas e se contribuem para a melhoria das suas condições de vida.

Além disso, há que analisar os resultados atingidos e reflectir sobre a sustentabilidade dos programas a médio e a longo prazo. Esta é uma questão crucial, e a análise da sustentabilidade deverá incluir não somente uma avaliação da sustentabilidade financeira dos programas, mas igualmente da capacidade efectiva dos programas em promover a sustentabilidade das famílias e dos grupos vulneráveis (esta questão será abordada mais adiante).

2. CONCLUSÕES TRANSVERSAIS AOS PROGRAMAS E SERVIçOS DO MSS

Timor-Leste teve que recomeçar do zero, em termos de construção de um Estado Social, de estabilidade e governação democrática, de consolidação institucional, de capacitação dos recursos humanos e de garantias de direitos sociais aos cidadãos. Tudo isto em apenas dez anos, a par da transição gradual para um processo de desenvolvimento inclusivo e sustentável.

Apenas no último ano e meio o MSS pôde iniciar um processo de reflexão e de questionamento, na medida em que nos primeiros anos de governação as prioridades concentraram-se, sobretudo, em garantir

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respostas de emergência às populações mais afectadas pela extrema pobreza, desenvolvendo e implementando programas de protecção social dirigidos aos grupos mais vulneráveis, ao mesmo tempo que, progressivamente, ia ampliando os seus objectivos para a promoção da igualdade de oportunidades e garantia de direitos sociais e universais à população.

Deste modo, após a fase de emergência e de resolução de inúmeros desafios sociais, o MSS pôde iniciar um processo de reflexão conceptual e política sobre as respostas sociais em desenvolvimento, com vista à sua avaliação. Neste percurso vão surgindo várias questões. Qual o verdadeiro impacto destes programas? Promovem efectivamente a sustentabilidade das famílias? Reduzem a pobreza e a vulnerabilidade das populações? Promovem a justiça e a equidade social? O que foi desenvolvido está de acordo com as aspirações e os objectivos de um Estado Social? O que é a protecção social? Quais os princípios em que se alicerça? A quem se dirige prioritariamente? O que é a vulnerabilidade social e como deverá ser medida?

Quer durante a Conferência, quer ao longo do processo de elaboração do presente livro, foram debatidas temáticas centrais, transversais aos vários programas e serviços do MSS. Destacam-se aqui os temas-chave considerados mais relevantes, que poderão constituir recomendações úteis aos próximos governantes.

Considerando que o objectivo último das políticas de intervenção social é quebrar o ciclo geracional da pobreza, assegurar o bem-estar humano e a protecção social universal, inúmeros desafios se colocam a Timor-Leste no processo de luta contra a pobreza. Quanto mais profunda e extrema é a pobreza – e em Timor-Leste ela é profunda e de longa duração – mais complexa é a luta contra a pobreza. Antes de mais, é fundamental procurar e conhecer as suas causas e o que verdadeiramente mina o desenvolvimento sustentável. Igualmente relevante é conhecer exactamente a medida em que cada benefício, seja em espécie ou pecuniário, permite projectar a situação do indivíduo ou família para além do limiar da pobreza.A multidimensionalidade do fenómeno da pobreza exige uma acção

integrada e coordenada entre diferentes actores (Estado, sociedade civil, parceiros nacionais e internacionais, mercado, comunidades), pelo que se recomenda vivamente o reforço da coordenação e cooperação inter-ministerial e inter-institucional. Igualmente, o reforço da articulação entre as várias direcções e departamentos do MSS, maximizando sinergias entre os programas.

O futuro requer uma visão e abordagem integrada do desenvolvimento, mais efectiva e operacional, que considere as várias dimensões da pobreza. Neste sentido, há que consolidar o trabalho inter-ministerial, em particular entre os Ministérios da Solidariedade Social, da Saúde, da Educação e da Justiça, com vista a uma intervenção multi-sectorial e sustentável que efectivamente combata a pobreza e promova o bem-estar das populações no longo prazo.

Recomenda-se, também, continuar a promover uma intervenção territorializada e próxima das comunidades, que permita a descentralização e a desconcentração dos programas e dos serviços, bem como a maior acessibilidade da população local a esses programas e serviços. O MSS iniciou já a implementação de serviços de proximidade às famílias e às comunidades rurais a partir do estabelecimento dos seis centros regionais. Recomenda-se a sua extensão faseada aos restantes distritos e/ou regiões, de modo a ultrapassar a difícil acessibilidade das populações em situação de maior isolamento e de vulnerabilidade, contribuindo ainda para reduzir as fortes disparidades entre os meios rural e urbano.

O reforço da componente de acção social nos programas é outro aspecto a ter em consideração. Recomenda-se, por um lado, melhorar o serviço de atendimento social, tornando-o mais especializado e com técnicos adequadamente capacitados e, por outro lado, investir no acompanhamento prolongado e regular das famílias, que permita não somente respostas mais imediatas, mas igualmente a resolução efectiva e a prevenção dos problemas. A focalização na família é fundamental como estratégia de intervenção e de prevenção, sendo a unidade familiar que sustenta as crianças.

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Esta abordagem e dinâmica de intervenção pressupõem a capacitação das pessoas e das comunidades, e enquadram-se numa perspectiva de prevenção, de mitigação de riscos e de promoção da responsabilidade social. É essencial promover a participação das comunidades, capacitando-as, responsabilizando-as, informando-as sobre os seus direitos e deveres, socializando os programas e os serviços, a legislação em vigor e os critérios de atribuição dos benefícios. Todos devem contribuir e participar no processo de desenvolvimento nacional.

Recomenda-se ao MSS continuar a capacitar e a qualificar os seus recursos humanos, com base na avaliação de necessidades. Sublinha-se a importância da capacidade técnica dos intervenientes no processo de pagamento e de atribuição dos benefícios, de modo a que estes cheguem às pessoas certas.

É fundamental que o MSS proceda à identificação e definição de critérios de elegibilidade de atribuição dos diversos benefícios, que permitam uma intervenção mais rigorosa e justa e maior equidade no acesso dos beneficiários.

Recomendável será também conhecer onde estão as famílias vulneráveis e como se caracterizam – a sua identificação, caracterização social e mapeamento no território nacional seria um passo fundamental, assim como a definição de um índice de vulnerabilidade para avaliação destas famílias.

Outro grande desafio do MSS consiste na implementação de mecanismos de monitorização e de avaliação que assegurem o acompanhamento efectivo e regular das actividades, dos serviços e dos programas. Uma monitorização que pressuponha regularidade, uma metodologia e critérios de avaliação pré-definidos, incluindo a avaliação dos resultados.

Relativamente ao processo de registo dos beneficiários, propõe-se um registo social único para as famílias vulneráveis com acesso aos programas sociais. Isto facilitaria o processo de registo, permitiria a integração dos dados num sistema único e evitaria tentativas de fraude e duplicação de registos.

O projecto actualmente em curso de criação de um sistema de gestão de informação no MSS permitirá o cruzamento dos dados e dos beneficiários dos diversos programas e serviços. Recomenda-se, deste modo, a sua efectiva implementação e manutenção.

Outro aspecto a melhorar nos diversos programas são os mecanismos de pagamento aos beneficiários. O contexto do país tem dificultado a implementação de um esquema de transferência bancária, persistindo mecanismos de pagamento ainda rudimentares a nível local – efectuados por transporte e pagamento entregue em dinheiro aos beneficiários – que levantam diversas dificuldades e constrangimentos. O MSS deverá continuar a investir na substituição deste esquema, gradualmente e dentro das possibilidades, por um sistema bancário de pagamento aos beneficiários.

Em torno de uma reflexão sobre a sustentabilidade, refira-se que os programas sociais do MSS têm sobretudo procurado dar resposta às necessidades de subsistência das populações e a situações de emergência social. Para além da capacidade de resposta, há que investir numa política de prevenção e de preparação, que consolide a capacidade das comunidades e minimize a ocorrência de riscos sociais.

Recomenda-se, por um lado, uma avaliação da sustentabilidade financeira dos programas e, por outro lado, do impacto dos apoios concedidos em termos de melhoria efectiva da qualidade de vida dos beneficiários. Deste modo, e numa perspectiva de sustentabilidade, propõe-se ao MSS e ao Governo que reflictam sobre opções sustentáveis de financiamento que suportem a execução financeira dos programas sociais. Igualmente, recomenda-se a criação de condições e de programas sociais sustentáveis, com objectivos de actuação a longo prazo, nomeadamente de incentivo à criação de actividades sustentáveis nas comunidades. As prestações pecuniárias não se revelam suficientes para retirar as famílias da condição de pobreza e de vulnerabilidade.

Neste processo, torna-se essencial avaliar o impacto das políticas e dos programas do MSS, de modo a saber se beneficiam efectivamente

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a população mais vulnerável e contribuem para a sua própria sustentabilidade, gerando mudanças positivas nas dinâmicas familiares, sociais e económicas. Este conhecimento ajudará e fundamentará as opções e decisões políticas.

Recomenda-se ainda ao MSS que continue a reforçar o enquadramento legal dos programas, sendo fundamental o estabelecimento de regimes que regulamentem os programas e os serviços.

A definição de um sistema integrado de protecção social, que enquadre todos os programas e serviços em desenvolvimento no país, deverá ser um próximo passo a seguir. Este sistema integrado deverá incluir, de modo equilibrado, três componentes essenciais – uma componente de protecção (reduzir a pobreza extrema), de prevenção (evitar que as famílias caiam na pobreza e reduzir os riscos) e de promoção (promover a saída da pobreza e ampliar as oportunidades de aumento da produtividade e do emprego).

Na medida em que os programas sociais actuais incidem sobretudo na protecção, recomenda-se o reforço das componentes de prevenção e de promoção.

Idealmente, os vários programas sociais deveriam perseguir os princípios de solidariedade na estrutura do modelo de protecção social, de universalidade no acesso dos beneficiários, de igualdade nos riscos protegidos e prestações atribuídas, de equidade na determinação dos montantes dos benefícios sociais, e de complementaridade social através da articulação das diferentes formas de protecção social promovidas pelo Estado e pela sociedade civil, promovendo a co-responsabilização social.

PRINCIPAIS DIFICULDADES E CONSTRANGIMENTOS

Ao longo do processo de implementação das políticas, programas e serviços, o MSS deparou-se com diversas dificuldades e constrangimentos. Destacam-se aqui os mais relevantes.

A apresentação de documentos de identificacão por parte da população constituiu um grande desafio. A difícil identificação dos beneficiários – dada a ausência de um sistema de registo eficaz e a fragilidade dos documentos de identificação pessoal em vigor em Timor-Leste – dificultou a realização dos pagamentos aos beneficiários nas áreas rurais mais remotas.

O desconhecimento do nível de vulnerabilidade e de pobreza das famílias tem constituído um forte constrangimento, bem como a ausência de um mapeamento da pobreza em Timor-Leste que permita identificar e caracterizar a população vulnerável.

A falta de um atendimento social mais especializado, com técnicos devidamente qualificados, não tem permitido uma intervenção social efectiva e adequada, que assegure o trabalho e acompanhamento prolongado junto das famílias.

Não houve suficiente socialização das políticas e dos programas do MSS com a população, permanecendo ainda algum desconhecimento relativamente aos programas e serviços do Ministério, à legislação relevante, aos direitos e deveres dos cidadãos.

Contudo, os desafios enunciados deverão ser progressivamente ultrapassados, à medida das capacidades do Governo, se tivermos em conta as diversas recomendações apresentadas – neste capítulo e ao longo dos doze artigos – a par de políticas transparentes e um forte empenho dos governantes.

Um longo caminho foi já percorrido, no qual a realização da Conferência do MSS constituiu um momento de grande importância, seguido de um outro – a elaboração deste livro.

Deseja-se que estes dois esforços produzam frutos concretos e inspirem futuros governantes e todos aqueles que trabalham na área da intervenção social e em prol do desenvolvimento sustentável de Timor-Leste.

BIBLIOGRAFIAGoverno RDTL (2002), Visão 2020: Nossa Nação, Nosso Futuro.

Governo RDTL (2002), Constituição da República Democrática de Timor-Leste.

Governo RDTL (2002), Plano de Desenvolvimento Nacional, Comissão de Planeamento.

Governo RDTL (2006), Combate à Pobreza como Causa Nacional, Promoção de um Desenvolvimento Equilibrado e da Redução da Pobreza.

Governo RDTL (2007), Lei Orgânica do IV Governo Constitucional da República Democrática de Timor-Leste, Decreto-Lei nº 7/2007, de 5 de Setembro.

Governo RDTL (2008), Lei Orgânica do Ministério da Solidariedade Social, Decreto-Lei nº 10/2008, de 30 de Abril.

Governo RDTL (2009), Plano Estratégico 2009-2012, Ministério da Solidariedade Social.

Governo RDTL (2009), Plano de Longo Prazo 2011-2030, Ministério da Solidariedade Social.

Governo RDTL (2010), Censos Nacional Demográfico e de Saúde de Timor-Leste.

Governo RDTL (2010), Timor-Leste – Demographic and Health Survey 2009-10, Ministério das Finanças.

Governo RDTL (2011), Plano Estratégico de Desenvolvimento de Timor-Leste 2011-2030, Gabinete do Primeiro-Ministro.

Governo RDTL (2012), A Estratégia de Recuperação Nacional: Uma Análise do Processo, Resultados e Lições Aprendidas, Ministério da Solidariedade Social.

UNDP (2006), Relatório de Desenvolvimento Humano em Timor-Leste.

UNDP (2011), Timor-Leste – Human Development Report 2011. Managing Natural Resources for Human Development.

UNDP (2011), Relatório de Desenvolvimento Humano de 2011. Sustentabilidade e Equidade: Um Futuro Melhor para Todos.

World Bank (2009), A 2009 Update of Poverty Incidence in Timor-Leste Using the Survey-to-Survey Imputation Method.

ANEXO Programa da Conferência10 ANOS DEPOIS O Contributo dos Programas Sociais na Construção de um Estado Social em Timor-Leste16, 17 e 18 de Fevereiro de 2012, Centro de Convenções de Díli

07h00 Início do Registo dos Participantes08h30 – 09h00 Abertura Cultural

ABERTURA DA CONFERêNCIA

Presidente da Mesa – Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Fernandes Alves

09h00 – 09h20 Palavras de Acolhimento da Senhora Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Fernandes Alves09h20 – 10h00 Desafios de um Sistema de Protecção Social Integrado Professor Doutor Bruto da Costa 10h00 – 10h20 Discurso de Abertura do Senhor Primeiro Ministro, Kay Rala Xanana Gusmão10h20 – 11h00 Intervalo

EIXO 1 – PROTECçãO SOCIAL DE CIDADANIA

1. SERVIçOS SOCIAIS (GARANTIR O ACESSO)

Presidente da Mesa – Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus Moderador – Dionisio Babo (Assessor Vice Primeiro Ministro para Assuntos Sociais)

11h00 – 11h20 Contexto sócio-económico de Timor-Leste e o Ministerio da Solidariedade Social Eugénio João Amado da Maria Soares (Director Geral do MSS)11h20 – 11h40 Segurança Alimentar Amandio Freitas (Director da DNAS)11h40 – 12h00 Serviço Funerário Agapito Assis Cardoso (Chefe de Departamento da DNAS)12h00 – 12h20 Serviço de Atendimento Social Guido Ricardo Belo (Coordenador do Centro Regional de Oe-cusse)12h20 – 12h50 Debate 13h00 – 14h15 Almoço

2. TRANSFERÊNCIAS (GARANTIR RENDIMENTO)

Presidente da Mesa – Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus Moderador – Dionisio Babo (Assessor Vice Primeiro Ministro para Assuntos Sociais)

14h15 – 14h35 Transferência de Renda Condicional “Programa Bolsa Mãe” Antónia Carmen da Cruz (Directora da DNRS)14h35 – 15h00 Subsidio de Apoio a Idosos e Inválidos Leoneto Vicente Faria Caldeira Pereira (Chefe de Departamento da DNSS)15h00 – 15h20 Resultados Preliminares do estudo realizado pelo Banco Mundial Timor-Leste (a definir)15h20 – 15h50 Debate15h50 – 16h20 Considerações do Perito Fábio Veras (UNDP - Brasil)16h20 – 16h40 Intervalo

3. INSTITUIçõES E APOIOS ESPECIAIS (INCENTIVAR INICIATIVAS)

Presidente da Mesa – Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus Moderador – Joaquim Soares (Director ONG)

16h40 – 17h00 Assistência a Pessoas com Deficiência Mateus da Silva (Chefe de Departamento da DNAS)17h00 - 17h30 Considerações do Perito Clinton Rapley (Escritório Regional da UN, Tailândia)17h30 – 17h50 Instituições que desenvolvem objectivos de Protecção Social Florêncio Pina Dias Gonzaga (Chefe de Departamento da DNRS)17h50 - 18h20 Considerações do Perito Paulo Pedroso (ISCTE- IUL/Portugal)18h20 – 18h50 Debate18h50 – 19h00 Conclusão do Eixo Secretário de Estado da Assistência Social e Desastres Naturais, Jacinto Rigoberto Gomes de Deus

SESSãO EXTRAORDINÁRIA

16h40 – 17h00 O Índice de Protecção Social aplicado a Timor-Leste Sri Wening Handayani (BAD, Filipinas)17h00 – 17h20 Considerações do Consultor Lourenço Camnahas, Timor-Leste17h20 – 17h50 Debate

EIXO 4 – SEGURANçA SOCIAL

Presidente da Mesa – Secretário de Estado da Segurança Social, Vitor da Costa

Moderador – Libório Pereira, Presidente da Comissão da Função Pública

09h00 – 09h30 A definição da politica de Segurança Social para Timor-Leste Aida Maria Soares Mota (Directora da DNSS)09h30 – 10h00 Considerações do Perito (a definir)10h00 – 10h30 Debate 10h30 – 10h40 Conclusão do Eixo Secretário de Estado da Segurança Social, Vitor da Costa10h40 – 11h00 Intervalo

ENCERRAMENTO DA CONFERÊNCIA

11h00 – 12h00 Desafios de um Sistema de Protecção Social em Timor-Leste Professor Doutor Bruto da Costa 12h00 – 12h20 Discurso de Encerramento Presidente do Parlamento Nacional, Fernando Lassama de Araújo12h30 – 13h00 Conferência de Imprensa 13h00 – 15h00 Almoço15h00 – 16h30 Reunião Interna do MSS

EIXO 2 – INTERVENÇÃO SOCIAL EM SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA

Presidente da Mesa – Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Fernandes Alves Moderador – Jose Belo (PNUD – Timor- Leste)

09h00 - 09h20 Intervenção Social em Situações de Emergência e Recuperação de Vitimas de Desastres em Timor-Leste Francisco Franco Mendes do Rosário (Director da DNGDN)09h20 – 09h50 Considerações do Perito Cynthia Burton (Federação Internacional da Cruz Vermelha - IFRC, Austrália)09h50 – 10h10 IDP’S - Lições Aprendidas Amandio Amaral Freitas (Director da DNAS)10h10 – 10h40 Considerações do Perito Christopher Hoffman (OIM, Tailândia)10h40 – 11h10 Debate11h10 – 11h40 Intervalo11h40 – 12h00 Apresentação do relatório “A estrategia de Recuperação Nacional do Governo de Timor-Leste – Uma análise do Processo, Resultados e Lições Aprendidas” (Consultora Independente)12h00 – 12h20 Conclusão do Eixo Ministra da Solidariedade Social, Maria Domingas Fernandes Alves12h20 – 14h00 Almoço

EIXO 3 – REGIME ESPECIAL DOS VETERANOS

Presidente da Mesa – Secretário de Estado dos Assuntos dos Antigos Combatentes da Libertação Nacional, Mário Nicolau dos Reis

Moderador – Roque Rodrigues (Coordenador da Assessoria da Casa Militar da Presidência da República)

14h00 – 14h20 Valorização e Reconhecimento Gil da Cruz (Director da DNACLN)14h20 – 14h40 Projecção da Reportagem/documentario/filme sobre a 1ª Cerimónia Solene de Desmobilização e Reconhecimento das Combatentes da Frente Armada14h40 – 15h00 Protecção Especial Gil da Cruz (Director da DNACLN)15h00 – 15h30 Debate15h30 – 16h00 Considerações do Perito (a definir)16h00 - 16h10 Conclusão do Eixo Presidente da Comissão de Homenagem, Supervisão do Registo e Recursos, Virgílio Simith16h10 – 16h40 Intervalo

IMAGENS DA CONFERÊNCIA 10 ANOS DEPOIS - O Contributo dos Programas Sociais na Construção de um Estado Social em Timor-Leste, 16,17 e 18 de Fevereiro de 2012, Centro de Convenções de Díli

Centro de Convenções de Díli

Intervenção do Professor Doutor Bruto da Costa

Ministra Maria Domingas Fernandes Alves com equipa de assessores e Professor Bruto da CostaMesa da Conferência - Eixo 1

Ministra Maria Domingas Fernandes Alves com Secretários de Estado e convidados Ministra Maria Domingas Fernandes Alves com elementos da equipa do MSS e peritos internacionais