determinismo e responsabilidade moral em strawson

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Determinismo e Responsabilidade moral em Strawson Prof. Flavio Williges

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Determinismo e Responsabilidade Moral Em Strawson

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  • Determinismo e Responsabilidade moral em StrawsonProf. Flavio Williges

  • Objetivo da aula

    Apresentar as noes de determinismo, livre-arbtrio, responsabilidade moral e suas implicaes na reflexo tica. Pretende-se, ainda, expor o tratamento de Strawson ao problema da relao entre livre-arbtrio e o determinismo.

  • I- Livre-arbtrio e Responsabilidade

  • Dois tipos de liberdade

    Liberdade civil o conjunto de aes permitidas pelas instituies polticas de uma sociedade.

    Liberdade metafsica uma caracterstica da ao e/ou vontade que, aparentemente, est relacionada essencialmente com a responsabilidade moral.

  • Liberdade e livre arbtrio

    Livre-arbtrio a propriedade de ser capaz de fazer escolhas, optar entre dois ou mais cursos de ao.

    Somente se o homem for livre em sentido metafsico (se o homem no for determinado em suas aes por causas estranhas) ele possui livre-arbtrio.

  • Responsabilidade moral

    Ser responsvel implica em poder ter tomado uma deciso livre, independente de coero externa.

  • Responsabilidade moral e livre-arbtrioA responsabilidade moral parece

    pressupor o livre-arbtrio porque ser moralmente responsvel parece ser o mesmo que ser a causa ltima de um determinado evento e ser a causa ltima de um determinado evento exige que nosso poder causal no seja previamente determinado por nada exterior a ns mesmos

  • Exemplo

    Apenas sou moralmente responsvel por um evento se ele resultou de uma cadeia causal cuja causa ltima minha vontade no causada por nada exterior a mim. Tal vontade justamente a vontade livre ou livre-arbtrio.

  • Responsabilidade e Livre-arbtrio

    Pessoas dotadas de livre-arbtrio so passveis de imputao moral, ou seja, atribuio de responsabilidade. Se no fui o autor de uma ao (ainda que tenha passado por mim) ou sou forado (por terceiros) a fazer algo, minha ao no de minha responsabilidade.

  • II Determinismo

  • Determinismo

    Determinismo, em geral, a teoria sobre eventos segundo a qual os eventos (num sentido amplo, que inclui aes) esto previamente determinados a ocorrer

  • Tipos de Determinismo

    lgico, os eventos esto previamente determinados a ocorrer porque dada uma proposio e sua negao uma delas determinadamente verdadeira e a outra determinadamente falsa e isso verdadeiro sobre o futuro.

  • Determinismo teolgico

    determinismo teolgico: os eventos esto previamente determinados a ocorrer porque Deus onisciente, isto , sabe tudo, inclusive os eventos sobre o futuro, e o conhecimento factivo, isto , se um sujeito sabe que vai chover, por exemplo, ento vai chover. Portanto, se Deus sabe que vou pecar, ento vou pecar. Logo, os eventos futuros esto previamente determinados.

  • Determinismo causal

    Determinismo causal: os eventos esto previamente determinados a ocorrer porque todas as seqncias de eventos ocorrem de acordo com leis causais determinsticas.

  • Determinismo causal

    Se o evento A em t1 causa do evento B em t2, ento a ocorrncia do evento B estava j previamente determinada em t1

  • Determinismo e livre-arbtrio

    O determinismo parece ser incompatvel com a existncia da liberdade metafsica entendida como livre-arbtrio (o que Aristteles chamou de a potncia para os contrrios).

    Se uma pessoa possui livre arbtrio, ento tendo realizado uma ao em uma dada circunstncia, ela poderia no t-la realizado naquela mesma circunstncia, ou no tendo realizado uma ao em uma dada circunstncia, ela poderia t-la realizado naquela mesma circunstncia.

  • Problema do livre-arbtrio

    Qualquer forma de determinismo incompatvel com a existncia de responsabilidade moral. Se x est determinado a agir por causas externas, ento x no livre. Se x no livre, ento x no pode ser responsabilizado por suas aes. Essa uma formulao mnima do clssico problema do livre-arbtrio.

  • 23 de Novembro de 1919 13 de Fevereiro de 2006

  • Posies no debate sobre Determinismo 1. Aqueles que julgam no saber o que o

    determinismo. 2. Aqueles que julgam saber o que o determinismo. 2.1 Pessimistas: acreditam que determinismo e

    responsabilidade moral so incompatveis. 2.2 Otimistas: acreditam que determinismo e

    responsabilidade moral so compatveis. 2.3 Cticos: conceitos morais no tm uma aplicao

    quer o determinismo seja verdadeiro, quer seja falso.

  • Estratgia de Strawson

    procura dissolver o problema atacando uma pressuposio da sua formulao, a saber, a super-intelectualizao das nossas prticas morais, cujo resultado o no reconhecimento do papel de certas atitudes reativas naturais na constituio dessas prticas (Strawson, 1962)

  • Strawson e o determinismo moral

    Nossas atribuies de responsabilidade moral no so baseadas em uma metafsica incompatvel com o determinismo, mas em atitudes reativas cuja racionalidade independente do determinismo.

  • Ele pretende mostrar que um entendimento correto da natureza das nossas prticas morais torna invivel qualquer definio de determinado que apresente o determinismo como uma ameaa real a essas prticas, no caso de ser verdadeiro. Se no se trata de uma ameaa real, ento a verdade do determinismo no pe nenhum problema para a responsabilidade moral.

  • Atribuies de responsabilidade moral e atitudes reativas naturais Os filsofos distorcem a natureza das

    nossas prticas morais fazendo-as parecer estarem baseadas em juzos tericos sobre a satisfao de certas condies metafsicas muito gerais para a verdade de atribuio de responsabilidade moral.

  • Inverso da ordem das coisas

    Nossas atribuies de responsabilidade moral so a expresso de certas atitudes reativas naturais e no so baseadas em juzos tericos

  • Eu quero falar, inicialmente pelo menos, de outra coisa: das atitudes no-distanciadas e das reaes das pessoas diretamente envolvidas em transaes com os outros; das atitudes e reaes das partes que sofreram ofensa e da parte que foi beneficiada, de coisas como a gratido, o ressentimento, o perdo o amor e os sentimentos de dor(STRAWSON, 1962, p.5)

  • Atitudes reativas

    As atitudes reativas em questo so atitudes em relao boa ou m vontade de um agente. Elas, portanto, constituem nossas prticas intersubjetivas e esto essencialmente ligadas a certos sentimentos morais.

    Essas atitudes so naturais em seres humanos, ou seja, derivam de certos sentimentos que surgem naturalmente em ns.

  • Tugendhat: primeiro Estgio da Moralidade Uma grande parte da socializao de uma criana consiste

    em ser apoiada no desenvolvimento de um conjunto de capacidades que esto todas em uma escala de melhor e pior[...] Ser bom em tais capacidades ento naturalmente tambm importante em especial para a vida adulta, tanto que se pode dizer que o sentimento de auto-estima de uma pessoa consiste em grande extenso (ou totalmente?) em ter conscincia de ser bom em suas capacidades. Compreender-me como cozinheiro ou violinista [...] significa que isto uma parte de minha identidade.

  • Primeiro estgio: reconhecer-se como participante de uma comunidade moral e partilhando seus padres morais;

  • Segundo Estgio

    Segundo estgio: manifestar os sentimentos naturais apropriados (auto-estima, vergonha e culpa) e reconhecer-se como ente cooperador;

  • vergonha o sentimento de perda de auto-estima aos olhos dos outros (possveis). [...] as normas morais de uma sociedade so exatamente aquelas que fixam tais padres, isto , definem o que significa ser bom ente cooperador.(p.61)

  • Exemplos de atitudes reativas

  • Ressentimento

    Quando percebemos a m vontade de um agente para conosco, reagimos com ressentimento. Situao em que uma pessoa sente-se ofendida ou magoada pela ao de outra, por ter agido deliberadamente para causar-lhe dano.

  • Gratido

    Sentimento de admirao pela boa vontade de algum em relao a mim.

  • Indignao

    Quando percebemos essa m vontade do agente para com outro, sentimos indignao. A indignao como que uma verso generalizada e impessoal do ressentimento e o sentimento moral por excelncia, pois, envolve um desprendimento dos interesses pessoais.

  • culpa

    E quando sentimos que ns mesmos tivemos m vontade para com outrem, sentimos culpa.

  • Atitudes reativas e contextos de no-responsabilizao

  • A anlise da moralidade a partir das AREssa anlise mostra que a

    responsabilizao moral no depende da admisso de teses tericas.

    Responsabilizamos as pessoas como um comportamento natural, independente de nossa vontade.

    As AR seguem um fluxo normal, da vivncia moral cotidiana.

  • Exemplo de atitude reativa natural: Ressentimento e Gratido Se algum pisa na minha mo acidentalmente ao

    tentar me ajudar, a dor no ser menor do que se ele pisasse na mo por um desprezo desdenhoso pela minha existncia ou por um desejo malevolente de me machucar. Mas eu geralmente sentirei, no segundo caso, um tipo e um grau de ressentimento que no sentirei no primeiro. Se as aes de algum ajudam a satisfazer um desejo meu, ento eu me sinto beneficiado, mas se ele pretendeu beneficiar-me em funo de sua boa vontade em relao a mim, eu sentirei, com razo, uma gratido que eu no sentiria se o benefcio fosse uma consequncia acidental (p. 6)

  • Em que circunstncias poderamos considerar as pessoas como no-responsveis segundo as AR?H dois tipos de casos em que, embora o

    agente tenha agido de tal forma que sua ao tenha prejudicado outras pessoas, podemos suspender nossas atitudes reativas.

  • Dois tipos de contexto de anlise das atitudes reativas1) o agente considerado como um agente

    moralmente responsvel, mas no considerado totalmente responsvel pelo prejuzo causado por sua ao, ou porque no tinha conhecimento das conseqncias da sua ao ou porque o que ele fez era a melhor coisa a fazer e, por isso, estava justificado em agir como agiu. Nesse caso, perdoamos o agente.

  • Segundo tipo

    2) O agente desqualificado como agente moralmente responsvel, ou porque sofre de alguma doena mental, ou porque uma criana. Nesse caso, adotamos uma atitude objetiva, onde o agente tratado como algum que precisa de tratamento, ser controlado, ensinado ou at mesmo evitado. Os casos em que a atitude objetiva tomada em relao a um adulto so casos anormais, so excees

  • Exemplos de ocasies do tipo 1, que geram ressentimento e que podem remov-lo1) situaes que permitem empregar

    expresses como ele no quis dizer isso, ele no tinha percebido, ele realmente no sabia

    2) Ele no podia fazer nada: ele estava sob presso, ele tinha que fazer isso, era o nico jeito, no havia alternativa

  • Ocasies do primeiro grupo mostramNenhuma dessas desculpas convida-nos

    a suspender nossas atitudes reativas naturais em relao ao agente. Elas no nos convidam a ver o agente como algum em relao ao qual essas atitudes so imprprias. Elas mostram que ele no foi inteiramente responsvel.No retiram sua boa vontade.

  • Segundo grupo de atitudes reativas

    1)No era ele mesmo!, ele tem sofrido muita presso recentemente ele estava agindo sob sugesto ps-hipntica

    2) Ele apenas uma criana, ele um doido, sua cabea foi sistematicamente desvirtuada isso apenas um comportamento impulsivo dele.

  • Ocasies do segundo grupo mostram queSuspendemos nossas atitudes reativas

    em relao ao agente, ou durante a ao ou sempre. Elas sugerem que vejamos o agente de um modo diferente do que normalmente poderamos ver algum que age como ele age.

  • ns no podemos sentir ressentimento contra o homem que ele por uma ao feita pelo homem que ele no ou, pelo menos, sentiremos menos (p. 9).

  • O segundo subgrupo apresenta o agente como psicologicamente anormal ou no-desenvolvido moralmente. Quando vemos algum desse ngulo, nossas atitudes mudam profundamente.

  • Consequncia da anlise do ltimo grupoPossibilidade de estabelecer uma

    distino entre atitudes de envolvimento e atitudes objetiva

  • Atitude de envolvimento e atitude objetivaAdotar uma atitude objetiva em relao a

    outro significa v-lo como objeto de ateno social, como uma pessoa que, em sentido amplo, precisa de tratamento, etc, mas no como algum que pertence ao envolvimento com outros em relaes interpessoais.

  • Consequncias da anlise das AR para o determinismo moral

  • Determinismo, se significa uma tese incompatvel com a responsabilidade moral, no pode significar a tese que todos os agentes esto em situaes que constituem o primeiro tipo de casos em que suspendemos nossas atitudes reativas: eles ou so ignorantes ou fazem o melhor a ser feito, apesar do prejuzo que suas aes por ventura causem

  • Determinismo tambm no pode significar a tese que todos os agentes esto em situaes que constituem o segundo tipo de casos em que suspendemos nossas atitudes reativas, pois as situaes desse tipo so anormais. Se todos os agentes estivessem nesse tipo de situao, ento ela seria o tipo normal de situao.

  • Para o determinismo ser verdadeiro, deveramos adotar a atitude objetiva permanentemente.

  • Argumento 1

    psicologicamente impossvel adotar a atitude objetiva permanentemente .

    A adoo da atitude objetiva permanentemente implicaria numa mudana to radical no nosso modo de viver que a exclumos como uma impossibilidade prtica.

  • o problema da relao entre determinismo e responsabilidade moral no sobre o que faramos ou sobre o que poderamos fazer se o determinismo fosse verdadeiro, mas uma questo terica sobre o que seria racional fazer, caso ele fosse verdadeiro

  • Podemos escolher racionalmente apenas sob a luz de uma avaliao dos ganhos e perdas da vida humana, seu enriquecimento ou empobrecimento; e a verdade ou falsidade da tese do determinismo no seria relevante para (would not bear on) a racionalidade dessa escolha. (Strawson, 1962, ??[12]) Seria irrelevante porque, quer o determinismo seja verdadeiro, quer seja falso, com o abandono das atitudes reativas perderamos mais do que ganhamos ao mant-las. Nossa organizao social est toda baseada nessas atitudes reativas e no fazemos a menor idia do que seria uma maneira melhor de organiz-la baseada na atitude objetiva.