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  • 7/30/2019 Determina a suspenso da constituio de novos agrupamentos de escolas estabelece regime juridico reversao pr

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    PARTIDO COMUNISTA PORTUGUS

    Grupo Parlamentar

    Projeto de Lei n. /XII-2.

    Determina a suspenso da constituio de novos agrupamentos escolares e

    estabelece o regime jurdico da reverso dos processos em curso

    Prembulo

    Em 2008, em pleno mandato do primeiro Governo PS/Scrates, iniciou-se um processode reconfigurao da rede escolar que viria a traduzir-se, tal como o Partido ComunistaPortugus denunciara desde o primeiro instante, num autntico golpe contra a

    natureza democrtica da Escola Pblica e num plano de encerramento de instalaes edespedimento de profissionais da Educao. A pretexto da racionalizao e da

    eficcia, torna-se a Escola Pblica num instrumento irracional de formaoprofissional ineficaz, despedem-se milhares de professores e reduz-se o nmero defuncionrios no docentes afetos ao sistema educativo para l dos mnimos crticos.

    Mais de 4500 escolas encerradas, aglomerao de milhares de estudantes em centrosescolares distantes dos locais que habitam, mais concentrao urbana e maisdesertificao foram tambm efeitos desta estratgia que se apresentava comoeconomicista para, na prtica, funcionar como autntico anncio publicitrio do Ensino

    Particular e contra a Escola Pblica. Ao mesmo tempo, esse reordenamento da redeveio provocar aglutinaes de escolas em agrupamentos, incluindo mesmo escolassecundrias mesmo sem a devida cobertura legal o que veio a justificar aaprovao na Assembleia da Repblica de um Projeto de Resoluo do GrupoParlamentar do PCP que determinava a suspenso do processo e a elaborao de umaCarta Educativa Nacional como instrumento de planificao da Rede Escolar.

    A autonomia das escolas, a qualidade do ensino, o devido acompanhamento dosestudantes por professores e funcionrios no docentes, por profissionais das Cinciasda Educao e Psicologia, bem como a proximidade e a gesto democrtica das escolas

    foram substitudas por uma estrutura autocrtica, governamentalizada e cada vez maisempresarializada. Alm disso, foram criados agrupamentos e os chamados megaagrupamentos que congregam sob a mesma unidade orgnica milhares e milhares de

    estudantes, sem qualquer limitao de ordem pedaggica, afastando a administraoescolar do primeiro objetivo que lhe deve caber: o de ensinar e garantir a eliminaodas assimetrias cognitivas da populao, assim combatendo as sociais.

    A burocratizao do trabalho de gesto e administrao escolar, a diminuio doscrditos de escola, e a forma como os sucessivos governos vm determinando aorganizao dos anos letivos e a componente letiva e no letiva do horrio dos

    professores, determinam uma escola cada vez menos humanizada e orientadaexclusivamente para o preenchimento administrativo de requisitos determinados pelo

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    padronamento neo-liberal que encontra nas avaliaes e orientaes da OCDE, cadavez mais, o alfa e o mega de todos os problemas do ensino.No entanto, independentemente das caracterizaes que resultam da aplicao dessespadres, a realidade demonstra que a Escola Pblica em Portugal se transfigura deuma Escola orientada para a eliminao das assimetrias e para a emancipao

    individual e coletiva dos cidados, partindo da abrangente formao da cultura integraldo indivduo, em uma Escola que funciona como um instituto de formao profissionalem banda estreita e ao servio dos interesses flutuantes e efmeros do mercado.

    O processo de reorganizao da rede foi, desde o seu incio, marcado por oposiofrontal de municpios, escolas e rgos pedaggicos das escolas, muitas vezesenvolvendo pais e comunidades locais. Ainda hoje, j em perodo de vigncia dosdiplomas legais que do cobertura a este processo injusto, professores, diretores,conselhos municipais de educao, autarquias, conselhos pedaggicos, se opem aeste processo de eroso da autonomia escolar. Todavia, apesar de terem mostrado

    simpatia para com a luta das populaes escolares durante o Governo PS, PSD e CDSno demonstram agora nenhuma disponibilidade para assegurar a democraticidade dagesto da rede escolar e impem, sem qualquer contemplao, a mesma receita deausteridade educativa, particularmente no que toca determinao da agregao de

    escolas a todo o custo, extinguindo rgos designados luz da legislao e nomeandoa seu bel-prazer os novos rostos da administrao escolar, como se as escolas fossemsuas e no do povo portugus e daqueles que com seu prprio esforo as construrame ergueram dos escombros do regime fascista, fazendo florescer uma verdadeiraEscola Pblica em Portugal.

    Unidades orgnicas com mais de 4000 estudantes, com mais de 500 professores, sob aorientao de um nico diretor submetido por sua vez cadeia de comando doGoverno, que passa pelo Ministrio da Educao so o exemplo maior dasconsequncias de um reordenamento da rede escolar que no passa, na realidade, deum encerramento e despedimento massivo sem qualquer inteno de ordenar coisaalguma. Por tudo isso, mas tambm porque urge defender as caractersticasfundamentais da Escola Pblica e afirm-la como parte incontornvel para a situaodramtica que o pas atravessa, o Grupo Parlamentar do PCP prope a suspenso dodesignado processo de reordenamento semelhana do que props e viu aprovar naAssembleia da Repblica atravs do Projeto de Resoluo n 190/XI com os votos

    favorveis do PSD e CDS e a reverso das agregaes impostas contra a vontade dasescolas ou autarquias. Da mesma forma, o PCP prope que seja recuperada aformulao legislativa inicial para a constituio de agrupamentos, atribuindo acapacidade de propor e decidir sobre a sua necessidade e vontade de agregao sescolas, assegurando a sua autonomia.

    Nesses termos, ao abrigo das disposies regimentais e constitucionais aplicveis, osDeputados do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Portugus apresentam oseguinte Projeto de Lei:

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    Artigo 1.Objeto

    A presente lei determina a suspenso da constituio de novos agrupamentosescolares e estabelece o regime jurdico da reverso dos processos em curso,

    assegurando a autonomia escolar e a cooperao com os rgos das autarquias locais.

    Artigo 2.Suspenso dos processos em curso

    1. A constituio de agrupamentos ou a agregao de estabelecimentos de ensino a

    agrupamentos pr-existentes fica suspensa, sem que sejam constitudos os rgos de

    gesto previstos no Decreto-Lei n. 75/2008, de 22 de Abril e no Decreto-Lei n.

    224/2009, de 11 de setembro, nem extintos os de qualquer escola,

    independentemente da proposta apresentada pela administrao escolar.

    2. A suspenso referida no nmero anterior mantm-se at apresentao, pelo

    Governo, de uma Carta Educativa Nacional.

    Artigo 3.Reverso dos processos

    1. Nos casos em que se verifique oposio de um dos estabelecimentos de ensino a

    agregar ou agrupar, por expresso dos seus rgos de gesto, revertida a suaconstituio em agrupamento com outro estabelecimento de ensino ou a sua

    agregao a agrupamento j existente.

    2. Nos casos em que se verifique parecer desfavorvel agregao ou agrupamento

    por um municpio, revertida a constituio de todo o agrupamento ou o processo de

    agregao em curso at reconstituio da situao pr-existente.

    3. Nos casos de reverso, de acordo com os nmeros anteriores, so reconstitudos

    integralmente os estabelecimentos de ensino, incluindo os seus rgos de gesto,

    tendo como referncia o ano de 2010 para a definio da situao pr-existente.

    4. Havendo lugar a reverso, nos termos dos nmeros anteriores, a gesto do corpodocente e no-docente, bem como dos recursos materiais dos estabelecimentos de

    ensino realizada nos termos em que se realizava na situao pr-existente.

    5. No h reverso para uma situao pr-existente, desde que se verifique uma das

    seguintes condies:

    a) No existam escolas secundrias agregadas ou agrupadas no agrupamento

    em causa;

    b) No tenha existido manifestao contrria agregao ou agrupamento

    por parte de nenhuma das escolas envolvidas;

    c) No tenha existido manifestao contrria proposta da administraoescolar por parte das autarquias competentes.

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    Artigo 4.Carta Educativa Nacional

    1. A Carta Educativa Nacional um instrumento legislativo de planificao da rede

    escolar.

    2. A Carta Educativa Nacional contempla a planificao local da rede de ensino prevista

    nas Cartas Educativas Municipais e discutida, antes da sua aprovao pelo Governo,

    por cada municpio tendo como referncia o seu territrio administrativo e a rede

    escolar prxima.

    3. A Carta Educativa Nacional articula-se com as Cartas Municipais, no sendo

    hierarquicamente superior nem inferior.

    4. A Carta Educativa Nacional definida para perodos de 10 a 15 anos e revista em

    cada 5 anos, definindo uma estratgia para a educao, para a escolaridade

    obrigatria e para o ingresso no Ensino Superior, tendo em conta as diversas

    realidades regionais, a necessidade de desenvolvimento regional e uma estratgia para

    a ocupao do territrio que potencie todos os recursos nacionais.

    6. O Governo aprova a Carta Educativa Nacional no prazo de dois anos, ouvidas as

    autarquias locais.

    Artigo 5.

    Alterao dos artigos 6. e 7. do Decreto-Lei n. 75/2008, de 22 de abril, alteradopelo Decreto-Lei n. 224/2009, de 11 de abril e pelo Decreto-Lei n. 137/2012, de 2

    de julho

    1. O artigo 6. do Decreto-Lei n. 75/2009, de 22 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n

    224/2009, de 11 de setembro e pelo Decreto-Lei n. 137/2012, de 2 de julho passa a

    ter a seguinte redao:

    Artigo 6.

    []1 O agrupamento de escolas uma unidade organizacional, dotada de rgos

    prprios de administrao e gesto, constituda pela integrao de estabelecimentos

    de educao pr -escolar e escolas de diferentes nveis e ciclos de ensino, com exceo

    de escolas secundrias e escolas profissionais, com vista realizao das seguintes

    finalidades:

    ().

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    2. O artigo 7. do Decreto-Lei n. 75/2008, de 22 de abril, alterado pelo Decreto-Lei n.

    224/2009, de 11 de setembro e pelo Decreto-Lei n. 137/2012, de 2 de julho passa a

    ter a seguinte redao:

    Artigo 7.

    []Para fins especficos, designadamente para efeitos da organizao da gesto do

    currculo e de programas, da avaliao da aprendizagem, da orientao e

    acompanhamento dos alunos, da avaliao, formao e desenvolvimento profissional

    do pessoal docente, pode a administrao educativa, mediante proposta dos

    agrupamentos de escolas e escolas no agrupadas ou ante pleno acordo das escolas e

    agrupamentos envolvidos, constituir unidades administrativas de maior dimenso por

    agregao de agrupamentos de escolas e escolas no agrupadas.

    Artigo 6.

    Recursos humanos

    Sempre que o processo de reverso dos agrupamentos escolares envolver gesto ouafetao de recursos humanos, os trabalhadores afetados passam a integrar aadministrao pblica central.

    Artigo 7.

    Entrada em vigor

    A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicao.

    Assembleia da Repblica, 4 de janeiro de 2013

    Os Deputados,

    MIGUEL TIAGO; RITA RATO; JOO OLIVEIRA; CARLA CRUZ; BRUNO DIAS; BERNARDINOSOARES; JERNIMO DE SOUSA; ANTNIO FILIPE; JORGE MACHADO; JOS LOURENO;

    HONRIO NOVO; PAULO S; JOO RAMOS