desvendando a complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias

24
Claudio de Paiva Franco Claudio de Paiva Franco UFRJ / 2010.01 UFRJ / 2010.01 Desvendando a Desvendando a complexidade: complexidade: origens, origens, definições e definições e desdobramentos desdobramentos de teorias de teorias

Upload: claudio-franco

Post on 06-Jun-2015

3.694 views

Category:

Technology


0 download

DESCRIPTION

Apresentação complementar ao trabalho "Desvendando a Complexidade" (FRANCO, no prelo)

TRANSCRIPT

Claudio de Paiva FrancoClaudio de Paiva FrancoUFRJ / 2010.01UFRJ / 2010.01

Desvendando a Desvendando a complexidade:complexidade:

origens, origens, definições e definições e

desdobramentodesdobramentos de teoriass de teorias

Esta apresentação está organizada da seguinte forma:

1.A origem do termo “caos” 2.A origem do termo “complexidade”3.Caos e Complexidade4.Os Sistemas Complexos5.A Teoria do Caos6.O Pensamento Complexo7.Considerações Finais8.Referências

A origem do termo “caos” 1/2•do grego χάος ou khaos = abismo;

•século XV - ato de ficar boquiaberto ou bocejar;

•século XVI - “confusão total” (uso teológico da palavra para fazer menção ao “vazio no início da criação”, de Gênesis);

•mitologia grega - abismo desordenado e tenebroso; pré-universo monstruoso; o vazio primordial do universo que existia antes da criação do mundo.

A origem do termo “caos” 2/2No começo era o Caos. Não havia

luz e também as trevas não existiam. Era o Nada, o vazio total. Nele o Grande Espírito existia sem consciência de sua própria existência. Não havia o Tempo, não havia o amor, não havia nada. Mas a não-consciência do Grande Espírito não impedia sua existência, mergulhada em sono eterno, sono que pulsava em cadências de expansão e recolhimento. E este movimento milenar começou a organizar o Caos em ondas de energia. E passou a existir a consciência dessa energia. (...)

KhaosKhaos

A origem do termo “complexidade”

•do latim complexus - natureza composta ou intricada; o que é entrelaçado, tecido em conjunto.

• Para Morin (2007, p.13):A um primeiro olhar, a complexidade é um tecido (complexus: o que é tecido junto) de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, a complexidade é efetivamente o tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem nosso mundo fenomênico.

Caos e Complexidade

•Quanto à constituição semântica dos termos “caos” e “complexidade”, segundo Oliveira (2009, p. 15), deve-se considerar: 1)o fato de que em ambos os casos esses termos aludem à inseparabilidade das partes de um todo, seja este um fenômeno, um sistema ou, ainda, um fenômeno enquanto sistema – a desordem faz parte da ordem, um sistema e seus componentes são interdependentes; 2) o fato de que nas imbricações do complexo que Morin menciona podemos vislumbrar a natureza cosmológica da concepção mitológica de caos.

Os Sistemas Complexos 1/7•Teoria da Complexidade =

Teoria dos Sistemas Complexos;

•O que é um sistema?Um conjunto de componentes que interagem entre si e que formam um todo integrado e coerente (http:/ / www. calresco.org / glossary.htm).

Uma representação de um recorte da realidade, podendo ser analisado como uma totalidade organizada (GARCÍA, 2002) .

Os Sistemas Complexos 2/7•E um sistema complexo?

Constituem “um novo campo da ciência que estuda como as partes de um sistema concebem comportamentos do sistema como um todo e como esse sistema interage com seu ambiente (New England Complex Systems Institute).

Um sistema complexo não é um estado, mas um processo. Cada componente do sistema pertence a um ambiente construído pela interação entre suas partes. Nada é fixo, ao contrário, existe um constante movimento de ação e reação e mudanças acontecem como passar do tempo (PAIVA, 2006, p. 91).

Os Sistemas Complexos 3/7Para ser um sistema complexo é preciso que

haja não apenas a soma dos subsistemas, mas também interação entre esses subsistemas. Ainda mais: essa interação não deve ficar restrita aos subsistemas de uma determinada camada, (...) mas deve incluir também subsistemas de outras camadas. (...) A primeira característica essencial de um sistema complexo é, portanto, essa capacidade de transpor não só as fronteiras do próprio sistema, no sentido horizontal, mas também de alcançar os sistemas que habitam em outras camadas, no sentido vertical (LEFFA, 2009, p. 25).

Os Sistemas Complexos 4/7Exemplos de sistemas complexos:

climaclima

tráfegotráfego

mercado mercado acionárioacionário

Os Sistemas Complexos 5/7Exemplos de sistemas complexos:

corpo/ corpo/ ser ser humanohumano

transmissão de transmissão de doenças doenças

infectocontagiosasinfectocontagiosas

fauna e fauna e floraflora

Os Sistemas Complexos 6/7Características dos sistemas complexos

(LARSEN-FREEMAN, 1997):

•dinâmicos dinâmicos - mudam com o passar do tempo;•não-linearesnão-lineares - o efeito é desproporcional à causa;•imprevisíveisimprevisíveis - comportamento inesperado;•caóticoscaóticos - aparente aleatoriedade/impactos desastrosos;•sensíveis às condições inicias sensíveis às condições inicias - dependência ao estágio inicial;•sensíveis ao feedback sensíveis ao feedback - regulador de mudanças;•abertosabertos - troca energia com o ambiente externo;•auto-organizáveis auto-organizáveis - as partes se reorganizam;•adaptativosadaptativos - reagem às variações do ambiente.

Os Sistemas Complexos 7/7Resumindo...

“Vimos que esses sistemas são formados por elementos ou agentes que interagem entre si ao longo do tempo e de formas distintas. A troca de energia entre as partes e com o meio externo permite que os sistemas se auto-organizem de modo que o todo se torna mais complexo. Como os sistemas não são lineares, causa e efeito não assumem uma relação proporcional e também não é possível prever quando um comportamento aleatório vai ocorrer” (FRANCO, no prelo).

A Teoria do Caos 1/4

•Está inserida na Teoria da Complexidade;•É usada para estudar o comportamento de sistemas complexos e dinâmicos;•Edward Lorenz (1960) – meteorologista que primeiro trabalhou com a teoria do caos.Suas equações configuradas por um computador o ajudavam a fazer previsões do tempo. Uma pequena diferença de 3 casa decimais causou um enorme mudança na previsão.

Gráfico de Gráfico de LorenzLorenz

A Teoria do Caos 2/4

•Efeito Borboleta – termo alegórico para a alta sensibilidade às condições iniciais, na teoria do caos:

O bater de asas de uma simples borboleta poderia influenciar o curso natural das coisas e, assim, talvez provocar um tufão do outro lado do mundo.

•Na teoria do caos, isso significa que um deslocamento menor nas condições iniciais pode levar a transformações imprevisíveis e aleatórias a longo prazo.

A Teoria do Caos 3/4

Exemplos de fenômenos caóticos:

batidas batidas do do coraçãocoração

quedas-quedas-d’águad’água

disparo de disparo de neurôniosneurônios

A Teoria do Caos 4/4

•Lorenz (2001) define caos = comportamento não-periódico;

•Caos “é a ciência do processo, em vez do estado; do tornar-se, em vez do ser” (GLEICK, 1987, p. 5);

•O termo “caos” refere-se a uma interconectividade subjacente que existe em fatos aparentemente aleatórios. A ciência do caos enfoca matizes, padrões ocultos, a “sensibilidade” das coisas e as “regras” que regem os meios pelos quais o imprevisível causa o novo. É uma tentativa de compreender os movimentos que criam as tempestades, rios turbulentos, furacões, picos pontiagudos, litorais nodosos e todos os tipos de padrões complexos, desde deltas de rios até os nervos e vasos sanguíneos do nosso corpo (BRIGGS e PEAT, 2000, p. 2).

O Pensamento Complexo 1/4

•Proposto pelo filósofo francês Edgar Morin;

•Para Morin, o pensamento humano não pode ser reduzido a um mecanismo de relógio, sistema fechado que não realiza trocas de energia com o mundo externo e é regido por regras simples.

•“O antigo universo controlava e destilava o tempo. O novo universo é levado pelo tempo” (MORIN, 2008, p. 85).

Edgar MorinEdgar Morin

O Pensamento Complexo 2/4

•O pensamento complexo (novo universo) opõe-se à visão newtoniana de causa e efeito e o dualismo cartesiano, ou seja, opõe-se ao paradigma da simplificação (velho universo).

•No paradigma simplificador, cientistas e físicos estavam preocupados em encontrar uma lei única a qual pudesse por ordem no universo e acabar com a desordem. Morin chama essa antiga obsessão de “inteligência cega”, a qual “destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos os seus objetos do seu meio ambiente. Ela não pode conceber o elo inseparável entre o observador e a coisa observada” (MORIN, 2007, p. 12).

René Descart

es

Sir Isaac

Newton

Sir Isaac

Newton

O Pensamento Complexo 3/4

•Em estudo complementar à segunda lei da termodinâmica, descobriu-se que o universo tende à desordem máxima.

•Percebeu-se que ordem e desordem, apesar de opostas, contribuem para organizar o universo (big bang).

•“É no curso dessa agitação calorífica intensa – o calor é da agitação, do turbilhonamento, do movimento em todos os sentidos – que partículas vão se formar e que certas partículas vão se unir umas às outras” (MORIN, 2007, p. 62).

O Pensamento Complexo 4/4

Morin (1999) propõe 7 princípios para pensar a complexidade:•Princípio sistêmico: a soma das partes é maior que o todo;•Princípio hologramático: o todo está em cada parte;•Princípio do anel retroativo: a causa age sobre o efeito e vice-versa;•Princípio do anel recursivo: os produtos originam aquilo que os produz;•Princípio de auto-eco-organização: o homem se recria em trocas com o meio ambiente;•Princípio dialógico: une dois termos indissociáveis, antagônicos;•Princípio da reintrodução: todo conhecimento é reconstruído sob influência cultural e temporal.

Considerações Finais•Buscou-se articular a relação entre os sistemas complexos, a teoria do caos e o pensamento complexo para melhor compreender a complexidade.

•Partiu-se de uma investigação das origens dos termos “caos” e “complexidade”, resgatando mitos e alegorias relacionados a esses termos.

•Em seguida, deu-se início à discussão das características de sistemas complexos. Algumas particularidades da teoria do caos e do pensamento complexo também foram endereçadas.

• Por fim, apresentou-se, de maneira breve, a teoria do caos e os princípios do pensamento complexo, propostos por Morin.

ReferênciasBRIGGS, J.; PEAT, F. D. A sabedoria do caos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 2000. FRANCO, C. P. Desvendando a complexidade: origens, definições e desdobramentos de teorias. (no prelo).GARCÍA, R. O conhecimento em construção: das formulações de Jean Piaget à teoria dos sistemas complexos. Porto Alegre: Artmed, 2002.GLEICK, J. Caos: a criação de uma nova ciência. Rio de Janeiro: Campus, 1987.LEFFA, J. Se mudo o mundo muda: ensino de línguas sob a pe rspectiva do emergentismo. Calidoscópio, vol. 7, n. 1, p. 24-29, jan/abr 2009. LORENZ, E.N. The essence of chaos. Seattle: The University of Washington Press, 2001.MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 3ª. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007._________.O método 1: a natureza da natureza. 2ª. ed. Porto Alegre: Sulina, 2008._________. Da necessidade de um pensamento complexo. In: MARTINS, F. M.; SILVA, J. M. (Orgs.) Para navegar no século XXI: tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: Sulina/EDIPUCRS, 1999.OLIVEIRA, R. Complexidade: conceitos, origens, afiliações e evoluções. In: PAIVA, V.L.M.O.; NASCIMENTO, M. (Orgs.). Sistemas adaptativos complexos: lingua(gem) e aprendizagem. Belo Horizonte: Faculdade de Letras da UFMG, p. 13-34, 2009.LARSEN-FREEMAN, D. Chaos/complexity science and second language acquisition. Applied Linguistics. Oxford: Oxford University Press, vol. 18, n. 2, p.141-165, 1997.____________________.; CAMERON, L. Preview Article: Complex Systems and Applied Linguistics. International Journal of Applied Linguistics, vol. 17, n. 2, p.226-240, 2007.PAIVA, V.L.M.O. Autonomia e complexidade. Linguagem & Ensino, vol. 9, n.1, p. 77-127, 2006.

Adotar a epistemologia da complexidade é uma escolha, antes de tudo, pessoal. É o

comprometer-se em problematizar constantemente e querer viver no limite do

caos, pois é lá que o turbilhão de interações pode nos renovar e abalar nossas quase-

verdades que, em breve, transformar-se-ão em verdadeiras incertezas (FRANCO, no

prelo).

Claudio de Paiva [email protected]