destravando o nanciamento à e˚ciência energética no brasil · d. casos internacionais ... e...

36
soluções nanceiras e não-nanceiras para os agentes de mercado Destravando o nanciamento à eciência energética no Brasil: Dezembro | 2014

Upload: letram

Post on 10-Nov-2018

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

soluções �nanceiras e não-�nanceiras para os agentes de mercado

Destravando o �nanciamento à

e�ciência energética no Brasil:

Dezembro | 2014

Page 2: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Créditos

CopyrightConselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)©2014

Idealização e RevisãoConselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)

Pesquisa e Conteúdo: SITAWI Finanças do Bem

Coordenação geral: Câmara Temática de Energia e Mudança do Clima (CTClima)Câmara Temática de Finanças Sustentáveis (CTFin)

Projeto gráfico e diagramaçãoI Graficci Comunicação e Design

Dezembro de 2014Endereço para redes sociaiscebds.org.brFacebook.com/CEBDSBRTwitter.com/CEBDSYoutube.com/CEBDSBR

Endereço CEBDSAv. das Américas, 1155 • sala 208 • CEP: 22631-000Barra da Tijuca • Rio de Janeiro • RJ • Brasil+55 21 2483-2250 • [email protected]

Page 3: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Índice

Mensagem da presidente do CEBDS

O que é o CEBDS?

O que é a CTClima?

O que é a CTFin?

A. Apresentação

B. Contexto da eficiência energética

C. Barreiras ao financiamento da eficiência energética no Brasil

i. Barreiras internas das empresas 16ii. Barreiras internas das instituições financeiras 18iii. Barreiras que impactam outros agentes de mercado 20

D. Casos internacionais

E. Soluções financeiras e não financeiras para o mercado brasileiro

i. Soluções financeiras 27ii. Soluções não financeiras 31

06

07

08

13

07

05

09

22

25

Page 4: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do
Page 5: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 5

A discussão sobre financiamento da sustentabilidade é de grande relevância, tanto no plano nacional como

no internacional, para garantirmos uma mudança de para-digma rumo a uma economia de baixo carbono. No entanto, apenas a existência de recursos não é suficiente. É necessário garantir o pleno acesso aos financiamentos.

Foi pensando neste desafio que as Câmaras Temáticas de Energia e Mudança do Clima (CTClima) e a de Finanças Susten-táveis (CTFin) do CEBDS uniram esforços para identificar os en-traves existentes e contribuir para o aumento do acesso a linhas de financiamento para projetos de sustentabilidade. Empresas e bancos reconhecem a existência de barreiras, em ambos os lados, que dificultam ou até mesmo impedem o desenvolvi-mento de projetos voltados para a sustentabilidade. E para su-perarmos isto é importante traduzirmos a sustentabilidade em números, comprovando que empresas sustentáveis, do ponto de vista ambiental e social, têm menor risco de inadimplência e, portanto, deveriam ter acesso a taxas de juros mais baixas.

O CEBDS escolheu como ponto de partida projetos de efi-ciência energética. Embora tragam resultados positivos do pon-to de vista de redução das emissões de gases de efeito estufa e do consumo de energia elétrica, a viabilização desses projetos ainda enfrenta dificuldades, tanto nas empresas como nas ins-tituições financeiras. Por exemplo, nas empresas esses projetos

Mensagem da Presidência

concorrem nas prioridades de investimento com outras inicia-tivas, sem as devidas ponderações. Nas instituições financeiras, podemos mencionar as lacunas de conhecimento das equipes sobre eficiência energética.

Neste estudo, buscamos identificar os entraves que impe-dem ou dificultam o acesso aos recursos disponíveis e propor mudanças que minimizem essas dificuldades, tanto para as empresas como para os bancos. A mudança para uma econo-mia de baixo carbono é necessária também sob o ponto de vista econômico. Além de ampliar novas atividades de negó-cios, na economia verde estão embutidos itens como eficiên-cia energética e menor impacto no uso de recursos naturais, qualificação de mão de obras e produtividade, bem como a redução de riscos.

Vale reforçar que este é apenas o primeiro de uma série de estudos que deverão ser desenvolvidos. Acreditamos, com total convicção, que promover a integração das diversas áreas dentro de uma mesma empresa, bem como entre os diferentes segmentos da atividade econômica, é fator imprescindível para superarmos as barreiras que bloqueiam o caminho para viabili-zar financeiramente a sustentabilidade.

Marina GrossiPresidente do CEBDS

Page 6: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado6

O que é o Cebds?

O CEBDS é uma associação civil sem fins lucrativos que promove o desenvolvimento sustentável nas empre-

sas que atuam no Brasil, por meio da articulação junto aos go-vernos e a sociedade civil além de divulgar os conceitos e práti-cas mais atuais do tema.

O CEBDS foi fundado em 1997 por um grupo de grandes empresários brasileiros atento às mudanças e oportunidades que a sustentabilidade trazia, principalmente a partir da Rio 92.

Hoje reúne cerca de 70 dos maiores grupos empresariais do país, que representam cerca de 40% do PIB e são responsáveis por mais de 1 milhão de empregos diretos.

Representante no Brasil da rede do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com quase 60 conselhos nacionais e regionais em 36 países, atuando em 22 setores industriais, além de contar com 200 grupos empre-sariais que atuam em todos os continentes.

Primeira instituição no Brasil a falar em sustentabilidade

dentro do conceito do Triple Bottom Line, que norteia a atua-ção das empresas a partir de três pilares: o econômico, o social e o ambiental, o CEBDS é referência na vanguarda da susten-tabilidade tanto para as empresas quanto para parceiros e go-vernos. É reconhecido como o principal representante do setor empresarial na liderança de um revolucionário processo de mudança: transformar o modelo econômico tradicional em um novo paradigma.

O CEBDS foi responsável pelo primeiro Relatório de Sus-tentabilidade do Brasil, em 1997, e ajudou a implementar no Brasil, em parceria com o WRI (World Resources Institute) e a FGV (Fundação Getúlio Vargas), a partir de 2008, a principal fer-ramenta de medição de emissões de gases de efeito estufa no país, o GHG Protocol.

A instituição representa suas associadas em todas as Con-ferências das Partes das Nações Unidas sobre Mudança do Cli-ma (UNFCCC), desde 1998, e de Diversidade Biológica (CDB), desde 2000.

Page 7: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 7

O que é a CTClima

A Câmara Temática de Energia e Mudança do Clima (CTClima) é formada por grandes empresas brasilei-

ras e tem a proposta de tratar dos temas relacionados à ener-gia e mudança do clima e ajudar as empresas a aproveitarem novas oportunidades de mercado e minimizar seus riscos advindos do processo de mudança do clima. A CTClima tam-bém acompanha e participa das Conferências das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas (CoP) e de fóruns do Governo Federal e da sociedade civil.

Representantes (2013 - 2015)

Presidente: David Canassa (Votorantim Participações)

Vice-presidente: Vivian Macknight (Vale)

Coordenadora: Raquel Souza (CEBDS)

L ançada oficialmente em 2005, a Câmara Temática de Fi-nanças Sustentáveis (CTFin) é formada por grandes gru-

pos do mercado financeiro do país e já consolidou sua posição como fonte indutora de um novo modelo de desenvolvimento. A CTFin tem a proposta de contribuir para que as instituições financeiras assumam seu papel na promoção do desenvolvi-mento sustentável, fomentando a discussão de princípios e me-lhores práticas, e estimulando a sustentabilidade nos membros, por meio de projetos e parcerias na área de finanças sustentá-veis, que gerem resultados concretos.

Representantes (2013 – 2015)

Presidente: Carlos Nomoto (Santander)

Vice-presidente: Maria Eugênia Sosa Taborda (Itau Unibanco)

Coordenadora: Fernanda Gimenes (CEBDS)

O que é a CTFin

Page 8: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado8

I nvestimentos em projetos de eficiência energética contribuem para redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e do consumo de

energia elétrica, colaborando com as metas nacionais de redução de emis-sões e economia de recursos financeiros por parte das empresas.

Apesar dos benefícios dos projetos de eficiência energética, a sua viabi-lização ainda é uma dificuldade tanto por questões internas às companhias como por questões relacionadas às instituições financeiras.

O projeto Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado surgiu do reconhecimento do CEBDS e associadas do papel chave do setor financeiro e empresas no desenvolvimento de um mercado de eficiência energética no país. Através desse estudo, buscamos identificar os entraves que impedem ou dificultam o acesso do setor empresarial aos recursos disponíveis para financiamentos em sustentabilidade, com foco em eficiência energética, e propor mudanças que minimizem essas dificuldades.

O estudo teve como base metodológica o processo de levantamento e teste das hipóteses de barreiras ao financiamento da eficiência energética no Brasil. Após o entendimento das barreiras mais relevantes a partir de re-visão bibliográfica e levantamento de dados econômico-financeiros, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com profissionais de empresas, instituições financeiras e associações ligadas ao tema. Por fim, buscou-se compreender experiências internacionais antes de sugerir instrumentos fi-nanceiros e não-financeiros de superação das barreiras.

Dentre os segmentos e opções de investimento em eficiência energética, optou-se pela ênfase nas barreiras ao financiamento de projetos na indús-tria ao financiamento de projetos na indústria, focados em equipamentos e melhoria de processos. Outras ações como geração distribuída e cogeração são citadas no estudo, mas devem ser objeto de aprofundamento futuro.

ApresentaçãoA.

8

Page 9: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 9

Contexto da eficiência energética

B.

9

Page 10: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado10

O país apresenta uma série de programas e iniciativas de fo-

mento à eficiência energética. Entre as principais estão o Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PRO-CEL), o Programa Brasileiro de Etique-tagem (PBE), o Programa de Eficiência Energética das Empresas de Distribuição (PEE - ANEEL), além de programas da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natu-ral e Biocombustíveis (ANP). Associações

1 Programa focado em eficiência energética para Hotéis, gerido pela Energia Eficiente com recursos do IFC e Santander

Programa Escala R$ MM3 Focado em EE Contratação Escopo Juros

BNDES

FINEMPROESCO 62 Sim Direto/Indireto ESCOs, usuários finais e

distribuidoras 5,1% + spread

Capacidade Produtiva Industrial 200 Não Direto/Indireto Indústria 5,1% + spread

Fundo Clima

Transporte eficiente 202 Sim Indireto através de bancos comerciais

Transporte 2,5% a 9,5%Máquinas eficientes Sim Indústria e comércio

Outros

Cartão BNDES 9.500 NãoIndireto através de bancos comerciais

Qualquer setor - PME 10,8%

BNDES Automático 9.400 Não Qualquer setor 5,1% + spread

FINAME 23.400 Não Qualquer setor 3,5%

Fundos internacionais IFC, BID... EEGM, Pro Hoteis 200 Não Indireto Edificações n.d.

IFs comerciais Diversos 200 Não Direto Qualquer setor 7% a 20%

Agências regionais Desenvolve SP... 200 Não Direto Qualquer setor n.d.

Distribuidoras de energia Capacidade Produtiva Industrial 200 Não Direto (edital) Industrial/residencial4 n.d.

e federações de indústrias também possuem programas e/ou projetos específicos como, por exemplo, a CNI e a ABRACE.

Um estudo da Carbon Trust identificou, no país, uma oferta de R$ 400 milhões em linhas de financiamento e instrumentos financeiros exclusivos para eficiência ener-gética. Entre as principais linhas exclusivas, destacam-se o ProESCO (BNDES) e o Pro-grama Pro-Hotéis1 e linhas de agências de fomento como a Linha Economia Verde da Desenvolve SP. Se considerarmos linhas não exclusivas, em que se pode captar recur-sos para projetos de eficiência, há um montante de aproximadamente R$ 42 bilhões disponíveis. Entre os recursos não exclusivos, estão o Finame e Fundo Clima (BNDES). A figura 1 traz um resumo das principais linhas exclusivas e não exclusivas para eficiên-cia energética no país.

Figura 1- Mapeamento de linhas para eficiência energética

1) Aproximadamente R$ 42 bilhões se considerar linhas não exclusivas 2) Cada um dos assegurados 4) Edital focado nos dois maiores mercados consumidores de cada distribuidora.Fonte: Carbon Trust; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem.

Page 11: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 11

Apesar do histórico de programas de fomento à eficiência energética e da exis-tência de linhas de financiamento específicas, o Brasil apresenta baixos índices de eficiência energética quando comparado com as principais economias do mundo. Estudo desenvolvido pelo American Council for an Energy-Efficiency Economy (ACEEE)2 demonstra que o país utiliza menos de 30% do seu potencial de eficiência energética ficando na 15ª posição entre 16 economias analisadas. A figura 2 apresenta os países analisados e sua posição no ranking.

Figura 2 - Scorecard internacional de eficiência energética3

2 Organização não governamental dos Estados Unidos que fomenta a eficiência energética através de estu-dos, programas de investimento, atuação política e outros mecanismos.3 Fonte: American Council for an Enerfy-Efficiency Economy (ACEEE).

Fonte: ACEEE – Energy Efficiency Scorecard; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem

#15 Brasil

#16 México

#13 Estados Unidos

#9 Canadá#1 Alemanha

#6 Reino Unido

#4 França

#8 Espanha

#2 Itália

#11 Índia

#3 União Europeia

#4 China

#10 Austrália

#12 Coréia do Sul

#6 Japão

#14 Rússia

Ranks 1-5

Ranks 6-10

Ranks 11-16

Page 12: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado12

A quebra do potencial de eficiência energética por segmento, como aponta a Figu-ra 3, deixa clara a diferença do potencial capturado pelos países como, por exemplo, o desempenho da Alemanha (63%) e da Itália (62%) em relação ao Brasil.

Figura 3 - Pontuação dos países por segmento analisado

Essa diferença se dá principalmente no âmbito das atividades nacionais e industriais, conforme a metodologia do estudo. No caso do segmento nacional, a pontuação do país se explica pelo baixo investimento em eficiência energética e poucos esforços de políticas e programas nacionais na redução da intensidade energética em relação ao PIB, além da inexistência de um mercado de eficiência energética maduro e dinâmico.

Já no segmento industrial, a diferença do aproveitamento é ainda mais discrepan-te. Estudo do BNDES4 em parceria com a COGEN e o GESEL aponta que o potencial inexplorado de geração de energia tenha atingido 14 GW na safra de 2011/12, somen-te no setor sucroenergético. Em estudo realizado pela CNI5 com 13 setores industriais, identificou-se que 82% das oportunidades de economia de energia na indústria estão nos processos térmicos.

4 Determinantes do baixo aproveitamento do potencial elétrico do setor sucroenergético: uma pesquisa de campo.5 CNI: eficiência energética na indústria (2009).

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

México

Brasil

Rússia

Estados Unidos

Coréia do Sul

Índia

Austrália

Canadá

Espanha

Japão

Reino Unido

China

França

União Europeia

Itália

Alemanha

Nacional Edi�cações Indústria Transporte Potencial não aproveitado

Page 13: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 13

barreiras ao financiamento da eficiência energética no brasil

c.

13

Page 14: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado14

A s barreiras ao financiamento da eficiência energética têm sido estudadas por diferentes instituições internacionais como a Agência Internacional

de Energia, a International Finance Corporation (IFC) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), além de governos e agências nacionais, como a americana ACEEE. A partir da análise do estado da arte desses estudos internacionais, identifi-camos 5 principais barreiras para o financiamento à eficiência energética conforme resumido na Figura 4.

6 Fonte: International Energy Agency

Acesso a recursosInformação,

comunicação e conscientização

Desenvolvimento do projeto e custos de

transação

Gestão e avaliação dos riscos

Falta de capacitação

Capacidade limitada de crédito

Inexistência de linhas para EE

Fundos limitados

Informação para ESCOs e consumidores de energia

Comunicação entre desenvolvedores dos projetos e IFs

Projetos de volume financeiro reduzido (comparado a outros de Project Finance)

Custo do desenho e avaliação do projeto

Outros custos

Alta percepção de riscos por IFs

Baixo conhecimento dos riscos e requeri-mentos técnicos das empresas

Falta de capacitação de todos os agentes sobre o tema ...

...tanto do ponto de vista financeiro quanto técnico

Figura 4 - Barreiras ao financiamento a eficiência energética6

Apesar dessas barreiras também estarem presentes no Brasil, é necessário um maior entendimento de como atuam os agentes do mercado de eficiência energética no país. Especificidades como o grau de maturidade do mercado e dos atores atuantes mudam o impacto e relevância dessas barreiras. Questões regulatórias como o mo-delo de remuneração do setor elétrico e a existência ou não de metas de redução de emissões e/ou de eficiência energética, também influenciam no entendimento dessas barreiras para o caso brasileiro.

Page 15: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 15

Figura 5 - Principais desafios do mercado de eficiência energética7

7 Fonte: elaboração própria

Empresas

ESCOs

Governo AgênciasOutras

instituições

Macro

Produtores deequipamentos

Distribuidoras

Agentes terceiros

InstituiçõesFinanceiras

Fundos deCaptação

Financeiro

12

3

4

5

!

!

!

!

!

!

!

! FOCO DO PROJETO

! OUTROS DESAFIOS (ENTRE AGENTES)

!

• Empresas: i. concorrência interna de CAPEX ii. di�culdade para o desenho e identi�cação do potencial (para pequenas e médias)

• Instituições financeiras: i. custo de transação ii. entendimento e avaliação dos riscos iii. concorrên-cia com outras linhas

• Di�culdade no acesso a linhas de �nanciamento

• Baixa aceitação de contratos de energy savings

• Falta de apoio na capacitação e interlocução entre agentes

Cada um dos agentes da figura 5 possui funções especificas no mercado de efi-ciência energética, tais como:

• Empresas. Desenvolvedoras dos projetos, quando não o fazem com recursos próprios, buscam financiamento através de instituições financeiras (CAPEX) ou por ESCOs (OPEX). Em última instância, são as empresas as grandes beneficia-das pelo projeto dada a redução do consumo de energia e emissões e o ganho financeiro atrelado a essa economia.

• Instituiçõesfinanceiras. São os financiadores ou intermediários dos recursos para os projetos, possuem requerimentos específicos próprios e dos fundos de captação.

Fonte: Desk research; Entrevistas; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem

• Agentes macro. Instituições go-vernamentais que exercem pa-péis múltiplos que vão do fomen-to e capacitação de empresas até desenvolvimento de metas e oferta de recursos para financia-mento. Adicionalmente, possuem forte influência na dinâmica do mercado e nos incentivos seja por alterações regulatórias em seto-res correlatos como, por exemplo,

Page 16: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado16

a ANEEL e ANP ou pela definição de metas de eficiência energética ou emissões de GEE para um determinado setor ou atividade econômica.

• ESCOs. As Empresas de Serviço de Conservação de Energia são empresas de engenharia especializadas em promover a eficiência energética e hídrica nas instalações de seus clientes, utilizando-se primordialmente de contratos de performance. Elas auxiliam no desenho e implantação dos projetos e servem como opção de financiamento através de contratos de performance, venda de excedente ou compra de energia.

• Agentesterceiros. Os agentes terceiros de maior destaque são as distribuido-ras de energia e os fornecedores de equipamentos eficientes. As distribuidoras de energia são obrigadas a investir, no mínimo, 0,5% de sua receita opera-cional líquida em projetos de eficiência energética. Por sua vez, os fornece-dores de equipamentos ofertam produtos de maior desempenho energético, possuem conhecimento profundo das tecnologias disponíveis e identificam oportunidades de melhoria. Também podem atuar como financiadores para alguns projetos. Em suma, esses agentes terceiros fornecem tecnologias, kno-w-how, capacitação para os projetos e em alguns casos são financiadores.

O foco do presente estudo são as barreiras que impactam as empresas e institui-ções financeiras, mas também é possível comentar sobre algumas das barreiras que impactam os outros agentes como ESCOs e distribuidoras de energia.

i. barreiras internas das empresasA partir do diagnóstico identificamos uma série de barreiras internas das empresas

ao desenvolvimento e financiamento dos projetos de eficiência energética, entre as principais estão:

1. Concorrência por CAPEX com outros projetos2. Pouco conhecimento sobre os benefícios da eficiência energética3. Baixa competência para identificar oportunidades e executar os projetos 4. Diferença de incentivos entre áreas internas5. Aversão a riscos relacionados aos projetos e investimentos em eficiência

energética

Concorrência por CAPEX

Dentre as barreiras apontadas acima, a concorrência por CAPEX, isto é, orçamento de capital para projetos de investimento, é apontada como a mais crítica pelas empre-sas entrevistadas. Em última instância, mesmo que a empresa tenha identificado um potencial de eficiência e possua interesse em desenvolver o projeto, a capacidade limita-da de levantar recursos inviabiliza o projeto. Assim, os projetos de eficiência energética

acabam competindo com outros projetos finalísticos que, em sua maioria, apresen-tam retorno econômico superiores ou maior alinhamento com os interesses es-tratégicos (competitividade, crescimento, entrada em novos mercados) da empresa.

Adicionalmente, a concorrência por recursos para projetos de eficiência energética é impactada por outros fato-res como o método de contabilização do retorno desses projetos. Usualmente, no cálculo do retorno apenas se contabiliza a economia de energia resultante. Ou seja, as externalidades como ganhos de produtividade, redução de emissões e de custos com manutenção dos equipa-mentos, resultados comuns desses pro-jetos, acabam não incluídos nas contas.

De igual modo, o foco estratégico das empresas também impacta na competi-tividade desses projetos. Mesmo que um projeto de eficiência energética tenha retorno igual ao de outros projetos fi-nalísticos, ele acaba sendo descartado. Um exemplo comum é a decisão entre projetos de expansão de capacidade produtiva versus projeto de ecoeficiên-cia em geral, incluindo energética. Nor-malmente, o primeiro é priorizado em detrimento do segundo, dado o apelo ao crescimento da capacidade produ-tiva e ganho de mercado intrínseco à estratégia competitiva das empresas. Adicionalmente, para alguns setores, o insumo energético pode não represen-tar um fator de custo significativo para a competitividade da empresa. Esse ponto é exemplificado pela falta de metas de ecoeficiência, especialmente energética, nas pequenas e médias empresas.

Page 17: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 17

Em suma, a concorrência por CAPEX faz com que os projetos de eficiência energéti-ca não sejam sequer submetidos às instituições financeiras. Isso ocorre mesmo em casos em que o custo de capital desses projetos é inferior a outros projetos finalísticos ou ao custo médio de capital da empresa, como no caso do financiamento via ProESCO. A figu-ra 6 apresenta de forma ilustrativa uma matriz de priorização entre projetos de uma em-presa e dois casos típicos de como os projetos de eficiência energética são preteridos.

Figura 6 - Modelo ilustrativo de priorização de projetos

Entre os instrumentos para o endereçamento dessas barreiras estão as soluções financeiras que viabilizam projetos sem a necessidade de CAPEX. Essas soluções vão de contratos de performance e venda/compra de energia com ESCOs até emprésti-mos fora do balanço via sociedades de propósito específico. Outros instrumentos são leasing e captação de recursos a fundo perdido como os fundos de pesquisa e desen-volvimento da FINEP.

Outra possível solução é a inclusão do tema eficiência energética ou da redução de emissões de gases de efeito estufa na diretriz estratégica da empresa. Dessa forma, os projetos de eficiência energética passam a ter prioridade na captação de recursos,

TIR

Prazo do retorno

EE1

EE2

Projetos de cumprimento de normas e/ou requerimentos legais/regulatórios:

Implantados independentemente do retorno

Projetos �nalísticos de alto retorno:

Projetos que recebem capital para investimento (priorizados)

Projetos de E�ciência Energética:

EE1: apesar de possuir alto retorno não é priorizado em detrimento de outros projetos

EE2: possui retorno, porém não su�ciente para ser priorizado

Projetos de baixo retorno (não priorizados)

Legendas

Fonte: Desk research; Entrevistas; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem

Page 18: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado18

analogamente ao que ocorre com os projetos de cumprimento normativo, apresen-tados na figura 7. Do mesmo modo, requerimentos e metas regulatórias de eficiência energética acabam induzindo as empresas a priorizarem o investimento no tema.

Figura 7 - Modelo ilustrativo de priorização por diretriz estratégica

TIR

Prazo do retorno

EE1

EE2

• Diretriz estratégica focada em EE ou objetivos relacionadas e.g. Emissões GEE, viabilizam a priorização interna do projeto

• Diretriz estratégica focada em EE ou objetivos relacionados, e.g., emissões GEE, viabilizam a priorização interna do projeto

• Requerimentos como metas regulatórias tornam os projetos de EE como requerimentos legais

Fonte: Desk research; Entrevistas; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem

A inclusão da eficiência energética ou de metas de emissão na estratégia também facilita a implantação de outras soluções. Esse é o caso da quantificação de externali-dades e da sua inclusão em modelos de priorização. Em outras palavras, a empresa é incentivada a incluir diferentes modelos de priorização que levam em conta não ape-nas variáveis econômicas como, por exemplo, uma matriz que cruze emissões de GEE versus retorno financeiro do projeto ou o desenvolvimento de um ranking de impacto socioambiental dos projetos, a ser utilizado como balizador na tomada de decisão.

ii. barreiras internas das instituições financeirasIdentificamos as barreiras internas das instituições financeiras (IFs) a partir da aná-

lise de todo o processo de financiamento a projetos de eficiência energética. Isto é, da

Page 19: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 19

oferta do recurso pela instituição financeira (ou da demanda pelo cliente) até o seu desembolso, conforme ilustra a figura 8.

COMERCIAL AVALIAÇÃO DESEMBOLSO

PRODUTOSFUNDOS /

CAPTAÇÃO

PROJETO

• Identi�ca oportunidades nos clientes

• Relacionamento e oferta de produtos

• Análise da viabilidade �nanceira e riscos

• Sugestão de go/no go

• Desenvolvimento de produtos e serviços

• Análise do mercado e identi�cação de oportunidades

• Fonte de recursos para o �nanciamento

• Impõe requerimentos para o desembolso

Deste modo, mapeamos seis principais barreiras:

1. Alto custo de transação para avaliação e financiamento dos projetos, se com-parado a outros produtos da IF

2. Alta percepção de riscos do projeto 3. Baixo incentivo e/ou conhecimento de equipes de crédito, produtos e comer-

cial em relação à eficiência energética4. “Aversão” a instrumentos e modelos de contrato (performance, garantias)5. Requerimentos de funding inviabilizam o empréstimo6. Inexistência de instrumentos que potencializem os ganhos econômicos do

projeto

Cada uma das seis barreiras citadas acima impacta de forma única o financiamento à eficiência energética.

Figura 8 - Fluxo simplificado do financiamento à eficiência energética

Page 20: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado20

Alto custo de transação

Entre essas barreiras, a de maior destaque é o alto custo de transação existente no financiamento desses projetos no Brasil. Essa barreira impacta desde a identificação de oportunidades e o desenvolvimento de produtos e linhas específicas até a avalia-ção de risco e desembolso do recurso.

Ao serem estruturados como project finance, demandando análises técnicas mais aprofundadas e específicas, os projetos de eficiência energética acabam competindo com projetos de valor muito superior. Isto é, projetos de eficiência energética com va-lores médios abaixo de R$ 10 milhões disputam a atenção e os recursos, financeiros e humanos, das instituições financeiras com grandes projetos que podem chegar à casa dos bilhões como, por exemplo, financiamento a usinas hidrelétricas e parques eóli-cos. Pode-se dizer que o alto custo de transação relativo desses projetos se assemelha muito com a concorrência por CAPEX no caso das empresas. A baixa expectativa de retorno desses projetos desincentiva equipes comerciais na avaliação e assessoria de projetos enviados pelas empresas até o estudo de mercados potenciais e da oferta pró ativa de linhas para eficiência energética. Sendo assim, se fazem necessários instru-mentos que diminuam esses custos de transação, isto é, que tornam o financiamento a eficiência energética um produto padronizado e escalável.

iii. barreiras que impactam outros agentes de mercado

a) ESCOS

O financiamento à eficiência energética através das ESCOs é impactado por duas principais barreiras:

1. Não reconhecimento ou sobrevalorização dos riscos atrelados aos contratos de performance

2. Capacidade limitada de crédito para financiar mais de um projeto ao mesmo tempo

A primeira barreira ocorre, pois, as instituições financeiras não aceitam os contra-tos de performance como garantia financeira para o desembolso do financiamento. Dessa forma, as ESCOs acabam caindo na segunda barreira, uma vez que elas não conseguem financiar a demanda de projetos existentes por não possuírem recursos próprios, além de seus balanços limitarem a tomada de crédito junto a terceiros. Essa situação é ainda mais grave no caso brasileiro, no qual o mercado de ESCOs é pulveri-zado e formado, em sua maioria, por pequenas e médias empresas.

Em outras palavras, essas empresas possuem capacidade limitada para financiar di-ferentes projetos ao mesmo tempo, pois não possuem ativos em seu balanço. Esse fato ocorre mesmo quando a ESCO toma financiamento para um único projeto como no caso

de iniciativas em grandes clientes que re-querem a compra de máquinas (via ESCO), mudança em processos e pagamento em parcelas ao longo de 5 a 7 anos.

Adicionalmente, mesmo quando a ESCO possui um contrato de performan-ce com o seu cliente, o banco não reco-nhece esse contrato como um recebível, nem mesmo nos casos em que o cliente da ESCO é uma empresa sólida, com ba-lanço confiável (como empresas listadas na bolsa). Os únicos casos em que pos-suem melhor situação para captar recur-sos são os das ESCOs integradas a gran-des empresas do setor energético.

Vale destacar que essa barreira é mui-to semelhante ao que ocorre em outros mercados como no financiamento a projetos de geração de energia pelas Co-mercializadoras. Assim como as ESCOs, as Comercializadoras de Energia são em-presas que não possuem ativos físicos suficientes para captarem recursos para o financiamento de projetos de geração elétrica para o mercado livre de energia. Mesmo que a comercializadora possua um contrato de longo prazo (PPA) com um cliente, um instrumento correlato aos contratos de performance, os bancos não os aceitam como recebíveis.

b) Distribuidoras de energia

A grande barreira para as distribui-doras de energia está atrelada ao mo-delo de remuneração regulatória. Como essas empresas são remuneradas pela energia consumida, qualquer redução de consumo, efeito de projetos de efi-ciência energética, causa uma potencial redução do faturamento.

Page 21: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 21

Outros benefícios dos projetos, como a redução da demanda de ponta ou da de-manda de uma determinada subestação, podem vir a penalizar financeiramente essas empresas, visto que são remuneradas a partir de sua base de ativos que é incrementa-da via investimentos feitos ao longo de um ciclo de quatro anos. Se esse investimento for menor que a depreciação do período, por exemplo, por causa da redução de con-sumo, as distribuidoras acabam tendo uma remuneração regulatória menor.

Nesse sentido, há um espaço para estudos de novos modelos ou de remuneração das distribuidoras como revenue cap. Ou de incentivos a eficiência energética, que vão além do investimento compulsório. Entre esses modelos estão a remuneração dos in-vestimentos em eficiência energética pelo WACC (Weighted Average Cost Of Capital) regulatório, remuneração pelo investimento evitado dado o sucesso das inciativas de eficiência energética, entre outros. Estados americanos como a Califórnia e países como Itália, Reino Unido e Alemanha apresentam casos a serem estudados por agen-tes do setor elétrico.

c) Produtores de equipamentos

Entre os produtores de equipamentos uma das principais dificuldades está no atendimento à demanda de projetos através da oferta de produtos nacionais. Isto porque, em alguns casos a solução ideal para um cliente ainda não é fabricada na-cionalmente e necessita ser importada. Entretanto, linhas com taxas atrativas, como FINAME do BNDES, requerem um nível mínimo de nacionalização do equipamento para o seu financiamento. Soma-se a esse desafio questões como o risco cambial e a alta tributação aduaneira.

Sendo assim, um dos possíveis caminhos é a identificação das lacunas tecnológi-cas para a eficiência energética e a realização de um plano de substituição de impor-tações desses equipamentos de forma gradativa. Essa substituição se daria a partir da definição de um período em que os equipamentos importados passem a ser elegíveis a um regime tributário diferenciado e a linhas de eficiência energética, enquanto a empresa se prepara para produzi-lo nacionalmente. Esse modelo ocorre em outros se-tores como no caso das regras de financiamento a painéis solares desenvolvidas pelo BNDES para o recente leilão de reserva de outubro de 2014.

Entre os produtores de equipamentos, uma das principais dificuldades está no atendimento à

demanda de projetos através da oferta de produtos nacionais. Isto porque em alguns casos a solução ideal para um cliente ainda não é fabricada nacionalmente

e precisa ser importada.

Page 22: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado22

CasosInternacionais

D.

22

Page 23: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 23

C om o intuito de levantar boas práticas e soluções para as barreiras identifica-das no Brasil, analisamos 14 casos de sucesso internacionais. A partir da esco-

lha de um perfil heterogêneo de países, buscamos identificar quais são os principais instrumentos, fatores de sucesso e lições aprendidas das experiências desses casos. Entre os países analisados estão economias desenvolvidas com alto índice de eficiên-cia energética como EUA e países da União Europeia, economias em desenvolvimento como China, Índia e Rússia, além de experiências regionais próximas do Brasil como Costa Rica, Equador e México.

A análise dessas experiências possibilitou a investigação de questões chave para o desenvolvimento de propostas e iniciativas para a realidade brasileira como, por exemplo:

• Quais são os agentes envolvidos e impactos?• Quais são os principais objetivos?• Que instituições financeiras participaram?• Qual o modelo de contratação do financiamento?• Qual a escala de desembolso? É direta ou indireta?• Quais as fontes de financiamento?• Quais foram os instrumentos financeiros e não financeiros utilizados?• Quais foram os resultados quantitativos e qualitativos?

Através dessas questões, identificamos um conjunto de fatores e iniciativas que levam ao sucesso de programas de eficiência energética, tais como:

• Apoio governamental e existência de uma governança para eficiência energé-tica, sendo que em alguns países foram desenvolvidas agências para o tema;

• Inclusão da eficiência energética dentro do escopo de iniciativas e estratégia de redução de emissões de GEE do país, seja através do governo como pelos setores industriais;

• Desenvolvimento de um mercado voltado à eficiência energética, com a par-ticipação de ESCOs, utilities de energia, instituições financeiras, produtores de equipamentos e certificadoras

• Capacitação das Instituições Financeiras a respeito de projetos de eficiência energética, além da inclusão desses produtos e serviços nas metas das equipes;

• Iniciativas para mitigação do risco de crédito e tecnológico para as Instituições Financeiras como, por exemplo, programas de fomento ao P&D e instrumen-tos de garantia financeira;

• Projetos vistos pelas empresas como parte de sua estratégia de médio/longo prazo e/ou como diretriz estratégica;

• Desenvolvimento e aplicação de instrumentos de mitigação de risco e redu-ção do custo de transação e.g. certificação de projetos, garantias.

com o intuito de levantar boas práticas e soluções para

as barreiras identificadas no Brasil, analisamos 14 casos de sucesso internacionais. A partir da escolha de um

perfil heterogêneo de países buscamos identificar quais são

os principais instrumentos, fatores de sucesso e lições

aprendidas das experiências dessses casos.

Page 24: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado24

Em suma, identificamos que os casos de sucesso dependem da ação coordena-da e do alinhamento dos diferentes agentes de mercado. A construção de padrões e certificações que possibilitam a criação conjunta de instrumentos financeiros e não financeiros entre os desenvolvedores dos projetos (empresas e ESCOs) e instituições financeiras também é fundamental. Tais instrumentos são soluções simples, existen-tes e/ou já aplicadas em outros mercados e setores, desenvolvidos de acordo com as necessidades específicas do público alvo.

Sobre a coordenação dos agentes, as experiências internacionais demonstram que o sucesso dos programas depende da ação conjunta do governo, desenvolvedores de projeto de eficiência e agentes terceiros. A figura 9 apresenta de forma resumida as principais atividades de cada um dos agentes nos casos de sucesso.

Figura 9 - Atuação dos agentes de mercado8

8 Fonte: elaboração própria

Empresas

1

Instituições

Financeiras

Fundos de

Captação

Financeiro

2

Governo AgênciasOutras

instituições

Macro3

ESCOs

4

Produtores de

equipamentosDistribuidoras

Agentes terceiros5

• Empresas – adesão, diretriz estratégica, submissão dos projetos • Governos/Agências estatais – apoio

nanceiro, expertise e divulgação

• Outras instituições –desenho/ implementação do programa, acesso ao capital, gestão de fundos, garantias

• ESCOs – expertise, auxílio na captação de recursos nanceiros, elaboração dos projetos e contratos de performance

• Terceiros – expertise, listagem de produtos, disponibilidade de recursos, capacitação e projetos

• Bancos de fomento – estabelecimento de garantias, disponibilização de capital e expertise em projetos de benefício social

• Bancos comerciais – intermediação nanceira, em alguns casos, responsáveis pela avaliação

O maior detalhamento dos casos analisados é apresentado na versão completa desta publicação, disponível no site do CEBDS.

Fonte: Desk research; CEBDS; SITAWI – Finanças do Bem

Page 25: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 25

soluções financeiras e não financeiras para o mercado brasileiro

E.

25

Page 26: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado26

A o longo do projeto mapeamos soluções financeiras e não financeiras para aplicação no mercado de eficiência energética brasileiro. Nessa seção, ire-

mos apresentar as principais soluções juntamente com os seus benefícios, riscos, im-pactos esperados, agentes envolvidos, habilitadores e grau de complexidade.

A figura 10 traz um mapeamento desses instrumentos cruzando o impacto esperado e o grau de complexidade, ambas análises qualitativas. No grau de complexidade é con-siderado quais e quantos agentes estão envolvidos, se já existe algo semelhante ou inci-piente no mercado de eficiência energética no Brasil, que países já aplicaram essa solução e quais são os principais desafios para sua implantação. O impacto esperado considera quais agentes e barreiras são impactados, além dos benefícios trazidos por essa solução.

Alguns instrumentos podem ser desenvolvidos individualmente por agentes do mercado, como IFs e empresas. Outros necessitarão de alguma coordenação.

Figura 10 - Matriz de impacto e complexidade das soluções Financeiras (F) e Não Financeiras (NF)

BAIXO

MÉDIO

ALTO

BAIXA MÉDIA ALTA

COMPLEXIDADE

IMPA

CTO

F (v) NF (i)

F (iii) NF (vii)

NF (iv)(vii)F

NF (ii) (v)NF

(ii)F

(i)F

F (iv) NF (vi)

(iii)NF

Área de priorização das iniciativas

F (i) Empréstimo fora do balanço (o� balance sheet)

F (ii) Contratos de performance

F (iii) Contratos de venda de excedente ou compra de energia

F (iv) Modelos alternativos de priorização de projetos

F (v) Fundos não reembolsáveis

F (vi) Fundos de garantia

F (vii) Linhas subsidiadas e/ou temáticas

NF (i) Padronização de processos

NF (ii) Listagem de tecnologias

NF (iii) Cadastramento de ESCOs

NF (iv) Capacitação de empresas e instituições �nanceiras

NF (v) Agentes certi�cadores

NF (vi) Estabelecimento de governança para a e�ciência energética

NF (vii) Fóruns de mercado

F (vi)

Page 27: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 27

I. soluções financeiras

i. Empréstimo fora do balanço (off balance sheet) - Sociedades de

propósito específico

Descrição: empréstimos off balance sheet são uma forma de financiar o projeto de eficiência energética sem que haja a necessidade de investimento em capital (CAPEX). A solução se resume no desenvolvimento de uma sociedade de propósito específico (SPE) mantida pelo prazo do projeto ou até o alcance do objetivo/meta do programa. Nesse instrumento, a SPE é responsável pela captação e gestão financeira do projeto de suas associadas e faz o pagamento das parcelas à instituição financeira. O paga-mento dessas parcelas é feito através de um modelo em que a SPE cobra uma taxa pelos serviços prestados, de igual valor da parcela, da associada que desenvolve o projeto. Nesse modelo, a tomada do financiamento do projeto é garantida pelo aporte de capital que as associadas fazem no momento de constituição da SPE.

Benefícios: o maior benefício da solução é transformar gastos antes considerados como CAPEX, que impactam a capacidade de endividamento das empresas, em gas-tos operacionais correntes - OPEX. Nesse sentindo, evita-se a concorrência de capital entre os projetos de eficiência energética e o restante do portfólio de investimento das empresas.

Complexidade e riscos: alta. A necessidade de coesão de interesses entre um grupo de empresas e de aporte de capital na SPE demandam uma arquitetura de governan-ça bem definida. Algumas empresas, por diretrizes de compliance, podem ter dificul-dades em fazer esse aporte de capital, especialmente multinacionais. Por fim, há o custo para gerir a estrutura e os recursos da SPE além do risco e custos de um possível default de uma das associadas.

Habilitadores: formação de um grupo empresarial ou de ESCOs com objetivos co-muns. Arquitetura de uma governança clara e bem definida. Alinhamento e estudo dos riscos e procedimentos adequados para declaração contábil tanto do aporte de capital na SPE como do pagamento pelos serviços prestados.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: empresas e/ou ESCOs.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: médio prazo. Há a expectativa de lançamento em 2015 de um piloto de SPE no mercado brasileiro: a Sociedade de Efi-ciência Energética, uma iniciativa da CNI em conjunto com a ABRACE.

ii. Contratos de performance

Descrição: contratos em que o pagamento do desenvolvedor do projeto, agente terceiro, está atrelado aos ganhos de eficiência do projeto (estimados). Em outras pa-

lavras, o projeto é financiado por esse agente terceiro, usualmente ESCOs, que realizam o investimento inicial e são pa-gos pelo beneficiado com a economia do projeto. Essa economia é projetada, medida e verificada a partir de padrões internacionais.

Benefícios: assim como as SPEs, o maior benefício da solução é transfor-mar despesas antes considerada como CAPEX em OPEX. Os contratos de per-formance também estão atrelados a par-ticipação de uma ESCO no projeto. Isto é, contrata-se um agente terceiro com conhecimento técnico adequado para o desenho e execução do projeto de efi-ciência energética.

Complexidade e riscos: média. Em sua maioria, os contratos de performance são de médio e longo prazo (de 3 a 7 anos em média), o que acarreta numa relação por igual período entre a empre-sa e a ESCO. Assim, há um risco de con-traparte assumido por ambas as partes. Outro desafio é o desconhecimento das empresas que querem desenvolver os projetos em relação às metodologias de cálculo da economia esperada, da medi-ção e da verificação dessa economia. Por último, como descrito anteriormente, uma das barreiras ao financiamento da eficiência energética é a capacidade li-mitada que as ESCOs possuem em tomar financiamento para grandes projetos.

Habilitadores: entre os habilitadores estão a implantação de soluções não fi-nanceiras como o cadastramento prévio de ESCOs em linhas financeiras para efi-ciência energética e programas de capa-

Page 28: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado28

citação. A utilização de garantias financeiras também auxilia a tomada de crédito pelas ESCOs, potencializando a capacidade delas de financiarem novos projetos.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: empresas e ESCOs.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. Os contratos de per-formance já são utilizados no mercado brasileiro. Espera-se que a implantação dos habilitadores levantados aumentem a utilização desses contratos como instrumento de financiamento.

iii. Contratos de venda de excedente ou compra de energia

Descrição: contratos muito semelhantes aos de performance, porém o pagamen-to da parte terceira se dá pela venda do excedente de energia (ou a compra nos casos em que o ativo que gera energia seja de propriedade da parte terceira). O exemplo mais conhecido dos projetos de venda de excedente é a cogeração, es-pecialmente no setor sucroenergético. Por sua vez, o exemplo mais conhecido de compra de energia são os PPAs de geração distribuída. Nesse modelo, uma parte ter-ceira, normalmente ESCOs ou utilities de energia, investem no projeto e são remune-rados através de um contrato de longo prazo de compra de energia (PPA), celebrado com o beneficiário do projeto.

Benefícios: modelos de contrato como PPA, venda de excedente e compra de ener-gia diminuem a necessidade de investimento inicial das empresas que querem desen-volver o projeto. Em outras palavras, através desses contratos dilui-se o pagamento que seria feito no início do projeto em parcelas a serem pagas por um período de médio/longo prazo. Novamente, há a substituição de CAPEX por OPEX. Por fim, esses modelos de contrato configuram uma solução completa para as empresas, pois a par-te terceira é responsável pelo desenvolvimento, gestão e manutenção do empreendi-mento. Esse é um fator de grande benefício para empresas que não possuem a gestão de energia como parte do seu core bussines.

Complexidade e riscos: baixa. Players do mercado de energia e ESCOs possuem grande conhecimento desses contratos, uma vez que já são aplicados no mercado brasileiro. Entre os riscos estão o de contraparte, por serem contratos de médio ou longo prazo. Outra complexidade é a definição dos parâmetros a serem incluídos no contrato como, por exemplo, indexadores de inflação e variações do preço de mer-cado da energia. Vale ressaltar que esses contratos possuem um mercado específico, pois são aplicados apenas no caso em que há geração de energia como, por exemplo, cogeração e geração distribuída.

Habilitadores: capacitação das empresas para identificarem oportunidades de projetos, políticas e incentivos específicos para cogeração, geração distribuída e aproveitamento de processos térmicos. Maior diálogo entre desenvolvedores dos

projetos (utilities de energia ou ESCOs) e instituições financeiras para o dese-nho de soluções completas que incluam desde a engenharia do projeto até o seu financiamento.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: empresas, ESCOs, utilities de energia

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. Modelos já são aplicados no mercado brasileiro, espe-cialmente em setores em que os resí-duos produtivos podem ser utilizados como insumos energéticos – bagaço de cana, laranja, resíduos florestais (palha e pallets) entre outros.

iv. Modelos alternativos de

priorização de projetos

Descrição: modelos alternativos de priorização tem como objetivo incluir externalidades positivas dos projetos de eficiência energética quando compara-dos com o pipeline de investimento da empresa. Entre os modelos estão:

a) WACC (taxa de desconto) diferen-ciada (mais baixa) para projetos de eficiência energética;

b) Matrizes alternativas de prioriza-ção, a partir da inclusão de ou-tras variáveis, além do retorno financeiro, como nível de emis-sões de GEE do projeto ou redu-ção da intensidade energética do processo industrial;

c) Modelos de pontuação em que há um ranqueamento a partir de um conjunto de notas quantitati-vas (retorno financeiro, emissões

Page 29: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 29

e outros) e qualitativas (impacto institucional, criticidade do tema, adesão a diretriz estratégica da empresa e outros)

Benefícios: modelos incluem externalidades positivas dos projetos de eficiência energética, aumentando a sua competitividade na captação de recursos das empre-sas, em relação a outros projetos como, por exemplo, expansão da capacidade produ-tiva.  Criam-se na empresa novos processos que incluem questões chave da sustenta-bilidade em sua decisão de investimento e diretriz estratégica.

Complexidade e riscos: alta. Não há uma metodologia padrão para a inclusão e quantificação dessas externalidades, uma vez que esses modelos ainda são incipien-tes e não fazem parte do mainstream das práticas de gestão.

Habilitadores: estudos em conjunto com especialistas financeiros, universidades e organizações que trabalham com sustentabilidade para a identificação dos modelos existentes e/ou possibilidade de construção de novos modelos. Desenvolvimento de projetos pilotos e troca de boas práticas e desafios em fóruns como CEBDS e federa-ções de indústria.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: empresas

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: longo prazo. Iniciativa requer estu-dos, projetos pilotos e troca de experiência entre empresas e agentes do mercado. So-ma-se o fato que há uma gama de empresas que necessitam dar os primeiros passos no tema da sustentabilidade e ecoeficiência.

v. Fundos não reembolsáveis

Descrição: em sua maioria, fundos não reembolsáveis são utilizados para projetos que possuem uma alta percepção de risco, consequentemente a precificação das ta-xas pelo mercado inviabiliza o seu financiamento. Esses fundos buscam fomentar um tipo específico de tema ou tecnologia/processo ainda incipiente ou não desenvolvido no mercado. O exemplo mais conhecido são os fundos focados em P&D como as linhas da FINEP e de agências de fomento. Vale ressaltar que a maior parte desses fundos são

financiados por recursos públicos ou por órgãos internacionais multilaterais (ou bilaterais) de fomento.

Benefícios: fundos não reembolsá-veis fomentam o desenvolvimento e/ou tropicalização de novas tecnologias e processos. Assumindo o risco de ino-vação, esses fundos proporcionam que novas tecnologias e processos passem a ser acessíveis ao mercado e que eles já possuam um track record. Diminui-se a percepção de risco e consequentemente a sua precificação por parte dos financia-dores dos projetos.

Complexidade e riscos: baixa. Fun-dos não reembolsáveis já existem no mercado brasileiro e alguns abrangem projetos de eficiência energética como, por exemplo, o Programa de Eficiência Energética da Aneel. Entretanto, é im-portante ressaltar que em sua maioria, o desenvolvimento desses fundos de-pende de recursos públicos. Esse fator traz uma certa morosidade dados os ritos legais e disputa orçamentária. Ou-tros fatores de complexidade são a defi-nição de critérios para acesso ao fundo, avaliação do projeto e a definição do modelo de compartilhamento da pro-priedade intelectual entre tomadores

Em sua maioria, fundos não reembolsáveis são utilizados para projetos que possuem uma alta percepção de risco,

consequentemente a precificação das taxas pelo mercado inviabiliza o seu financiamento. Esses fundos buscam fomentar um tipo específico de tema ou tecnologia/

processo ainda incipiente ou não desenvolvido no mercado.

Page 30: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado30

do recurso, credores e polos de inovação (universidades, laboratórios…) participan-tes do projeto.

Habilitadores: diálogo entre instituições financeiras, governo e associações/federa-ções empresariais para adequação, definição do foco e objetivos da linha de financia-mento. Definição de governança, critérios para acesso a linha e avaliação dos projetos são chave para o sucesso do fundo.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: governo, instituições financeiras, empresas e agentes terceiros como, por exemplo, universidades.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. País possui know how de construção de fundos não reembolsáveis. Necessidade de capacitar empresas para a identificação de oportunidades e desenvolvimento de um pipeline de projetos que possam ser financiados por esses fundos.

vi. Fundos de garantia

Descrição: fundos que visam dar garantias financeiras ao financiador, isto é, fun-cionam como seguro do projeto. No caso do segmento de eficiência energética esse instrumento é fundamental, pois traz um conforto para as instituições financeiras, es-pecialmente nos projetos em que o retorno está atrelado a performance de economia gerada e é desenvolvido por ESCOs – apresentam menor capacidade de endividamen-to que seus clientes, em sua maioria médias e grandes empresas.

Benefícios: contratos de garantia facilitam a tomada de crédito por parte de agen-tes que visam pagar as parcelas do financiamento a partir da economia esperada do projeto. Este instrumento é essencial para o caso das ESCOs, em sua maioria pequenas e médias empresas, que normalmente possuem capacidade de crédito limitada quan-do analisado apenas o seu balanço financeiro. Cartas garantia, também, possibilitam taxas de juros menores dada a redução do risco do financiador.

Complexidade e riscos: média. Apesar de ser um instrumento comum em outros segmentos financeiros, a garantia para projetos de eficiência energética no Brasil é nova - primeiro mecanismo de garantia (EEGM) foi lançado em 2013 pela Atla Con-sultoria em conjunto com o BID, PNUD e GEF. Sendo assim, há necessidade de capa-citação dos agentes de mercado para o instrumento. Outro fator de risco é que essas garantias trazem um custo financeiro adicional ao projeto.

Habilitadores: capacitação das instituições financeiras para o instrumento de ga-rantia com o objetivo de proporcionar maior conforto do mercado em relação a esse produto. Divulgação entre empresas e ESCOs.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: ESCOs, consumidores de energia, instituições financeiras (bancos, agências de fomento…)

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. Carta garantia já foi emitida no país, pelo Banco Indusval & Partners (BI&P) para o financiamento do projeto da APS Soluções.

vii. Linhas subsidiadas e/ou

temáticas (podendo ou não

serem concessionais e/ou sem

garantia)

Descrição: linhas com foco específico, seja ele tecnológico, setorial e/ou temáti-co. Em sua maioria, essas linhas possuem algum subsídio ou incentivo como taxas de juros reduzidas ou o não requerimento de garantias. Esse instrumento é aplicado tanto internacionalmente, como os casos demonstram, como também no Brasil. Para a eficiência energética a linha mais conhecida é o ProESCO, gerido pelo BN-DES.

Benefícios: linhas temáticas trazem uma menor competição entre recursos para a eficiência energética versus outros projetos finalísticos. Essas linhas facilitam a construção de produtos específicos para a eficiência energética e reduzem os custos de transação, pois proporcio-nam o desenvolvimento de uma listagem prévia de tecnologias, produtores de equipamento, ESCOs e empresas/setores elegíveis para o financiamento. Em suma, o processo de formação das linhas temá-ticas cria um ambiente favorável para a coordenação e engajamento de diferen-tes agentes do mercado.

Complexidade e riscos: média. Linhas temáticas necessitam de coordenação

Page 31: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 31

entre diferentes agentes o que traz uma maior complexidade no seu processo de cons-trução. Além disso, é necessário um desenho que atenda as demandas e características dos tomadores do financiamento sejam eles empresas ou ESCOs. O desenho inade-quado tanto da linha quanto do processo de avaliação do projeto inviabiliza a tomada de financiamento, conforme demonstram a alta ociosidade de linhas, apesar de seus benefícios e subsídios como, por exemplo, o ProESCO – atualmente em reformulação.

Habilitadores: a construção de linhas temáticas depende, principalmente, de so-luções não financeiras como listagem de tecnologias, cadastramento de ESCOs e ter-ceiros e a capacitação de empresas para a tomada desse crédito. Além disso, é funda-mental a participação de instituições financeiras como bancos privados atuando na intermediação financeira dessas linhas.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: governo, produtores de equipamentos, empre-sas, instituições financeiras e outros agentes do mercado de eficiência energética.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. País já apresenta li-nhas temáticas tanto para eficiência energética como para outros temas. Adicional-mente, grandes eventos como a Copa do Mundo ocorrida em julho de 2014 e as Olimpíadas no Rio de Janeiro trazem um cenário favorável para a construção dessas linhas temáticas.

II. soluções não financeiras

i. Padronização de processos

Descrição: estabelecimento de padrões nos processos de seleção ao financiamento e de avaliação da performance dos projetos a serem financiados. Essa padronização pode ser obtida pela clara determinação de:

a) Requisitos de elegibilidade dos projetos; b) Categorização dos projetos; c) Etapas a serem seguidas após a sua submissão; d) Procedimentos e relatórios para auditoria e monitoramento da performance

em todas as fases do programa, com informações como riscos técnicos, cálcu-los financeiros, eficiência energética e viabilidade.

Além do estabelecimento de processos padrão específicos do programa, podem ser adotados selos e certificações nacionais ou internacionais para facilitar a seleção e classificação dos projetos.

Benefícios: feita a padronização dos processos, consegue-se melhor compreen-são acerca dos mecanismos de financiamento. Assim, consumidores finais e ESCOs conseguem identificar mais facilmente as oportunidades para submeter projetos ao financiamento. Ainda nesse contexto, há ganhos na percepção de fornecedores e

desenvolvedores de projetos a respeito das oportunidades de mercado para de-senvolvimento de produtos e serviços frente aos requerimentos do projeto. Por sua vez, agências governamentais, instituições financeiras e fundos conse-guem ter melhor percepção dos riscos. A padronização permite agilizar a sele-ção e a classificação dos projetos, redu-zindo os custos de transação e tornan-do o financiamento mais escalável. Em caso de adoção de normas e padrões amplamente conhecidos, há ainda os benefícios de popularizar o mecanismo, reduzindo a aversão dos agentes a ins-trumentos, modelos de contrato e dimi-nuindo os spreads.

Complexidade e riscos: baixa. Ao pa-dronizar as etapas de seleção e classifica-ção de projetos, estas etapas se tornam menos flexíveis, podendo tornar bons projetos inelegíveis ao financiamento. Além disso, como em todo o processo de padronização, especificidades de um determinado setor ou empresa podem prejudica-la na tomada do financiamen-to. Sendo assim, deve-se criar ambientes e processos dentro do fluxo de avaliação em que “projetos diferentes” possam ser avaliados com maior profundidade. Por

A padronização permite agilizar a seleção e a classificação dos projetos, reduzindo os custos

de transação e tornando o financiamento mais escalável.

Page 32: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado32

fim, a rigidez dos processos de requerimento e avaliação pode criar procedimentos excessivamente burocráticos.

Habilitadores: esforços cooperativos entre governo, fundos e instituições financei-ras a fim de identificar melhores práticas de padronização de processos. Consolidação de parcerias com instituições que auditam projetos e produtos (como o Inmetro) e ca-pacitação das equipes dos financiadores para compreensão dos processos de tomada de crédito, desde a oferta do produto até a análise de crédito e desembolso.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: consumidores finais, ESCOs, governos, fun-dos e instituições financeiras, além de desenvolvedores de projetos e fornecedores de forma indireta.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. Solução depende es-sencialmente de esforços no mapeamento e definição de processos a serem padroni-zados. Além disso, no caso da adoção de padrões já existentes para seleção e categori-zação de projetos, há certificações de eficiência energética amplamente utilizadas no mercado brasileiro como o Selo Procel e as chamadas de projeto feitas pelas distribui-doras de energia.

ii. Listagem de tecnologias

Descrição: assim como a padronização de processos, a definição de uma lista de tecnologias é um instrumento de uniformização no processo de contratação do cré-dito. Ele consiste em elencar um conjunto de tecnologias elegíveis ao financiamento em projetos para eficiência energética. Essas tecnologias podem ser tanto máquinas e equipamentos (tais como maquinário agrícola, painéis solares e sistemas de refrige-ração), quanto processos.

Benefícios: a definição de tecnologias elegíveis auxilia na padronização dos proces-sos de financiamento. Assim, facilitam-se os procedimentos de seleção e classificação uma vez que há menos variáveis a serem consideradas. Dessa forma, contribui-se para uma melhor percepção dos riscos pelos agentes financiadores, além de uma maior compreensão das opções financiáveis e requerimentos por clientes e desenvolvedo-res de projetos. Nessa solução, os benefícios para fornecedores de tecnologia podem ser ainda maiores que na padronização de processos de forma geral, por atuar especi-ficadamente em seu mercado.

Complexidade e riscos: média. Mais que a padronização de processos, a predefi-nição de tecnologias restringe a participação de projetos com potencial de redução energética, mas que não se enquadram na listagem. Em outras palavras, programas com listagem prévia apresentam um escopo menor. Dessa forma, ao definir quais tecnologias serão elegíveis, é necessário conhecer o impacto de sua adoção a fim de adequar a listagem aos objetivos do programa.

Habilitadores: estudo conjunto dos agentes financiadores a respeito das tecnologias utilizadas no país, apoiado por relacionamento com fornecedores de tecnologia e organismos de certifica-ção (como o Inmetro). Exemplos como o Carbon Trust demonstram que esse pro-cesso requer uma contínua atualização e revisão, tanto na inclusão de novas tec-nologias como na substituição daquelas que já estão ultrapassadas.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: governo, instituições financeiras, fundos, desenvolvedores de projetos e fornece-dores de tecnologia.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: médio prazo. Deve-se estudar o mercado brasileiro de modo que a listagem de tecnologias não seja restri-tiva demais, nem tão extensa de modo que perca seus objetivos. O processo de construção da lista requer a coorde-nação com outros agentes e deve ser muito transparente para que não haja a percepção de que um ou outro produtor de equipamento tenha sido beneficiado inadequadamente. Sendo assim, espera-se que o processo de listagem tome um tempo significativo, já que se faz neces-sária a definição de etapas claras, crité-rios de inclusão e de comunicação/ques-tionamento por parte desses produtores de equipamentos.

iii. Cadastramento de ESCOs

Descrição: cadastramento de ES-COs, consultorias e empresas desen-volvedoras de projetos para que haja uma listagem previamente definida de

Page 33: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 33

organizações que podem participar dos projetos financiados e/ou serem elegíveis ao financiamento.

Benefícios: para elaborar um cadastro prévio, são definidos inicialmente quais os requisitos que estes agentes devem cumprir. Desse modo, pode-se reduzir o ris-co de contraparte, que afasta investidores de projetos de financiamento energé-tico. Ainda, essa iniciativa tem potencial de reduzir o custo de transação, que tem foco nos tomadores de financiamento. O processo de financiamento ganha em credibilidade e essa informação propicia maior conforto às instituições financeiras envolvidas. Além disso, o cadastramento pode potencializar iniciativas de capaci-tação dessas organizações para que estejam melhor preparadas para execução de seus projetos financiados.

Complexidade e riscos: médio. Não há nenhuma iniciativa semelhante a essa no país, sendo necessário organizar o mapeamento e categorização dessas organizações para construção de um cadastro abrangente e confiável. Além disso, o mercado de ESCOs ainda é incipiente no país.

Habilitadores: esforços conjuntos entre governo, agências reguladoras, associações do setor (e.g. ABESCO) e organizações certificadoras para definição de metodologias de certificação de ESCOs e terceiros.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: ESCOs, consultorias e outros desenvolvedo-res de projetos.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: médio prazo, sendo necessário sufi-ciente direcionamento de esforços. A concessão de garantias por agências do governo e instituições financeiras internacionais para a mitigação dos riscos de contraparte, descrita anteriormente nessa seção, ainda é uma alternativa mais próxima à realidade.

iv. Capacitação de empresas e instituições financeiras

Descrição: oferta de cursos, treinamentos e campanhas de capacitação voltadas a empresas (potenciais tomadores de crédito) e instituições financeiras a respeito de oportunidades, modelagem de projeto, tecnologias, riscos e outros aspectos relacio-nados ao financiamento a eficiência energética.

Benefícios: agentes capacitados tornam-se aptos a identificar mais oportunidades de financiamento e avaliar sua possível atuação e o potencial de impactos e riscos dos projetos. Isso resulta em um maior número de linhas de financiamento, melhor avaliação de projetos e maior demanda de desenvolvimento de projetos. A assimetria de informação entre agentes pode ser reduzida por meio dos cursos, treinamentos e campanhas, facilitando o diálogo entre elas, o qual também é favorecido pela intera-ção nos ambientes de capacitação.

Complexidade e riscos: baixo, sendo necessário inicialmente identificar os estágios de conhecimento e carências das instituições financeiras e empresas a respeito do financiamento de eficiência energética.

Habilitadores: diálogo entre institui-ções financeiras, empresas e governo, com a colaboração das distribuidoras de energia. A participação de instituições que já promovem o relacionamento en-tre um grande número de instituições de um mesmo grupo de agentes (e.g. Febra-ban, CEBDS, ABESCO) facilita a criação de ambientes de capacitação, como fóruns, workshops e treinamentos em conjunto.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: todos os agentes de mercado.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo. No país, há inicia-tivas semelhantes que envolvem capa-citação, como o projeto “Transformação de Mercado para Eficiência Energética no Brasil” uma cooperação entre GEF, BID e governo brasileiro, com foco na eficiên-cia em edifícios.

v. Agentes certificadores

Descrição: participação de organis-mos que certificam projetos, assegu-rando que as metodologias são válidas, mensurando o risco e impacto e garan-tindo a viabilidade desses projetos.

Benefícios: na medida em que tais agentes utilizam métricas pré-definidas para certificar a viabilidade e riscos dos projetos, há uma melhor percepção dos riscos, além de redução do tempo de aná-

Page 34: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado34

lise. Em outras palavras, há uma minimização de adaptações para avaliação dos projetos, propiciando a redução dos custos de transação. Os agentes certificadores podem ainda verificar se a execução está de acordo com as premissas, garantindo melhor controle de qualidade. Além disso, a existência de uma metodologia de certificação pode facilitar o de-senvolvimento de projetos que se enquadrem nas restrições das linhas de financiamento.

Complexidade e riscos: média. Há metodologias internacionais, porém deve-se es-tudar a sua melhor aplicação para a realidade brasileira. Adicionalmente, no Brasil há poucos agentes que já exercem essa função, o que representa uma capacidade limita-da para atendimento às demandas do mercado.

Habilitadores: transferência de conhecimento de instituições certificadoras, além da atuação do governo e distribuidoras – pelo conhecimento inerente as suas ativida-des fim - no fomento e suporte a novos certificadores.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: instituições financeiras, desenvolvedores de projetos, certificadores e distribuidoras de energia.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: médio prazo. Inicialmente, é ne-cessário fomentar a criação de agentes certificadores, apoiando, inclusive, sua capa-citação. Ademais, instituições financeiras devem incluir essas certificadoras em seu processo de avaliação dos projetos.

vi. Estabelecimento de governança para a eficiência energética

Descrição: estabelecimento de um sistema de governança, com a definição de normas, processos e coordenação entre os agentes, e seus papéis, a fim de propiciar uma atividade mais intensa e mais organizada no financiamento a eficiência energé-tica. Essa governança pode funcionar a partir da criação de um programa abrangente sobre o tema, desenvolvimento de uma agência específica ou da definição clara do papel de cada agente de mercado – dos agentes governamentais às distribuidoras de energia, produtores de equipamento e instituições financeiras.

Benefícios: de maneira geral, o benefício mais evidente é o de redução da inse-gurança institucional, já que o papel e os limites de participação de cada agente são definidos de forma clara e transparente. A maior segurança institucional reduz a per-

cepção do risco para as instituições fi-nanciadores e aumenta a possibilidade de investimentos no âmbito da eficiên-cia energética.

Complexidade e riscos: alta. Depende de uma alta capacidade de coordena-ção entre todos os agentes envolvidos no tema, além de demandar discussões e possíveis modificações em relação à legislação atual. Processo requer audiên-cias públicas, discussão em diferentes fó-runs e constante diálogo entre governo e representantes do setor empresarial, financeiro e sociedade civil organizada.

Habilitadores: solução depende da capacidade de todos os agentes dialo-garem, colocando em pauta suas ex-periências e objetivos e buscando me-lhores práticas. Para isso, é necessário envolver o governo, empresas e a socie-dade civil, além de desenvolver fóruns específicos e estudos para aprofundar como esse processo se deu em outros países e como construir essa arquitetu-ra de governança no Brasil.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: por se tratar de governança, todos os agentes têm forte participação, sendo o governo, as instituições financeiras e as empresas, os maiores envolvidos nessa solução.

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: longo prazo. Para o estabele-cimento de uma governança que defina claramente o papel dos agentes e o am-biente regulatório, é necessária a condu-ção de fóruns de discussão, workshops e estudos que estimulem a participação dos diversos interlocutores, além dos

O benefício mais evidente do estabelecimento de governança é o da redução da insegurança institucional,

já que o papel e os limites de participação de cada agente são definidos de forma clara e transparente.

Page 35: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

CEBDS 35

processos legais como audiências e consultas públicas. Apenas depois disso, é possí-vel chegar a conclusões sobre legislação e regulação

vii. Fóruns de mercado

Descrição: participação das empresas, desenvolvedores de projetos, ESCOs e de-mais agentes em congressos, grupos de trabalho e demais articulações em torno de associações e instituições do setor industrial (e.g., FIESP), específicas do setor elétrico (e.g. Aneel, ABESCO) e outras relacionadas ao ecossistema empresarial (e.g. Sebrae).

Benefícios: maior interação entre os agentes, fomentando a organização de am-bientes de discussão sobre financiamento climático e racionalizando os esforços na busca de alternativas como as apresentadas nesse documento. Além disso, a partici-pação de associações consolidadas que dispõem de uma grande rede de membros associados facilita a divulgação a respeito do tema e o interesse de novos agentes.

Complexidade e riscos: baixo, visto que o país já apresenta fóruns consolidados nos quais outros temas são discutidos por meio da articulação de suas redes.

Habilitadores: tal como a iniciativa anterior, a efetividade dos fóruns de mercado depende da articulação de todos os agentes, sendo facilitada por ambientes de dis-cussão já consolidados.

Agentes envolvidos e/ou beneficiados: articulação principalmente das empresas, ES-COs e desenvolvedores de projetos em associações setoriais, com apoio de agências governamentais (e.g. Aneel).

Horizonte de aplicação para o cenário brasileiro: curto prazo, a partir da utilização das estruturas já existentes (Federações de Indústria, Aneel, ABESCO, Sebrae, CEBDS e outros).

Page 36: Destravando o nanciamento à e˚ciência energética no Brasil · D. Casos internacionais ... e bancos reconhecem a existência de barreiras, ... Representante no Brasil da rede do

Destravando o financiamento à eficiência energética no Brasil: | soluções financeiras e não-financeiras para os agentes de mercado36

Nota de isenção de responsabilidade*

*Este documento foi publicado em nome do CEBDS. Isso não significa que todos os associados do CEBDS endossem ou concordem necessariamente com todas as decla-rações neste relatório. Fica a critério do leitor usar o relatório ou nele basear-se.

Realização

Patrocínio Master

Patrocínio Ouro

Patrocínio Prata