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1 DESTINO DE LÂMPADAS FLUORESCENTES PÓS- CONSUMO ESTUDO DE CASO EM UM ESTABELECIMENTO DE GOVERNADOR VALADARES - MG Rinara Cruz de Souza Aguilar Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG Campus Governador Valadares. [email protected] Professor Orientador: Mestre Luiz Fernando da Rocha Penna Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais IFMG Campus Governador Valadares. [email protected] RESUMO Hodiernamente nota-se o uso de lâmpadas na iluminação de ruas, casas, e estabelecimentos. Após seu uso as lâmpadas devem ser descartadas, e o descarte indevido pode acarretar danos ao meio ambiente via poluição por metais pesados, e por consequência, danos à saúde. Este trabalho tem como objetivo descrever o destino das lâmpadas fluorescentes pós consumo em um estabelecimento comercial na cidade de Governador Valadares- MG, identificando como o estabelecimento comercial estudado acondiciona as lâmpadas fluorescentes e como é feito o descarte e destinação final das lâmpadas neste estabelecimento. Palavras chave: lâmpadas, descarte pós-consumo, meio ambiente. ABSTRACT It is well known the use of lamps in lighting streets, houses, and stores. After its use the bulbs should be discarded, and the improper disposal can cause damage to the environment via pollution by heavy metals, and therefore, damage to health. This paper aims to describe the fate of post consumer fluorescent bulbs in a commercial establishment in the city of Governador Valadares, Minas Gerais, identifying the premises as studied packaging fluorescent lamps and how is the disposal and disposal of the bulbs at this property. Keywords: bulbs, discard post-consumer, environment.

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DESTINO DE LÂMPADAS FLUORESCENTES PÓS-

CONSUMO – ESTUDO DE CASO EM UM

ESTABELECIMENTO DE GOVERNADOR VALADARES -

MG

Rinara Cruz de Souza Aguilar – Tecnologia em Gestão Ambiental, Instituto

Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG –

Campus Governador Valadares. [email protected]

Professor Orientador: Mestre Luiz Fernando da Rocha Penna – Instituto

Federal de Educação, Ciências e Tecnologia de Minas Gerais – IFMG –

Campus Governador Valadares. [email protected]

RESUMO

Hodiernamente nota-se o uso de lâmpadas na iluminação de ruas,

casas, e estabelecimentos. Após seu uso as lâmpadas devem ser descartadas,

e o descarte indevido pode acarretar danos ao meio ambiente via poluição por

metais pesados, e por consequência, danos à saúde. Este trabalho tem como

objetivo descrever o destino das lâmpadas fluorescentes pós consumo em um

estabelecimento comercial na cidade de Governador Valadares- MG,

identificando como o estabelecimento comercial estudado acondiciona as

lâmpadas fluorescentes e como é feito o descarte e destinação final das

lâmpadas neste estabelecimento.

Palavras – chave: lâmpadas, descarte pós-consumo, meio ambiente.

ABSTRACT

It is well known the use of lamps in lighting streets, houses, and stores.

After its use the bulbs should be discarded, and the improper disposal can

cause damage to the environment via pollution by heavy metals, and therefore,

damage to health. This paper aims to describe the fate of post consumer

fluorescent bulbs in a commercial establishment in the city of Governador

Valadares, Minas Gerais, identifying the premises as studied packaging

fluorescent lamps and how is the disposal and disposal of the bulbs at this

property.

Keywords: bulbs, discard post-consumer, environment.

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1 INTRODUÇÃO

Para Carvalho Filho et. al. (2010), a população atualmente vem crescendo

e com isso aumenta exponencialmente o consumo de produtos, assim nos

deparamos com um grande problema ambiental: os resíduos sólidos.

Os resíduos são gerados após a produção, utilização ou transformação

de bens de consumo. Grande parte destes resíduos são gerados nos grandes

centros urbanos e são originados principalmente, em residências, escolas,

indústrias e construção civil como as lâmpadas, computadores,

eletrodomésticos, pneus (PORTAL BRASIL - RESÍDUOS SÓLIDOS, 2010).

De acordo com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza

Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE, o Brasil gerou no ano de 2012

181.228 toneladas de resíduos sólidos urbanos, por dia. Com base nestes

dados, 58%, são levados para aterros sanitários, e o restante, 42%, ou seja,76

mil toneladas diárias são levadas para lixões ou aterros controlados. Do total

gerado, a região sudeste é responsável por mais de 50% de Resíduos Sólidos

Urbanos (RSU).

A destinação final de resíduos sólidos pode ser feita de várias maneiras,

os processos térmicos que são: incineração, coprocessamento, pirólise e

plasma, os processos físicos: centrifugação, separação gravitacional, redução

de partículas, compostagem, reciclagem e aterro sanitário, mas existem opções

como aterro controlado ou lixões que não são uma opção ecologicamente

correta, a opção correta seria o aterro sanitário, nessas áreas os resíduos são

lançados indiscriminadamente sem nenhuma preocupação com o meio

(MAROUN, 2006). Com isso surgem problemas de ordem ambiental, como a

contaminação dos solos e corpos d’água pelo chorume, surgem também

problemas de saúde pública, por exemplo, proliferação de vetores e insetos,

além disso, o descarte incorreto de lâmpadas que pode ocasionar

envenenamento por intoxicação.

Os primeiros estudos com lâmpadas foram feito pelo Humphry Davy,

que descobriu vários elementos químicos que os unindo surgiria à lâmpada

usada na segurança de mineiros, que protegiam das explosões causadas pelo

metano, a lâmpada de arco, que consistia em um circuito de corrente contínua,

alimentando duas barras de carbono vegetal, dispostas horizontalmente,

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formava-se uma coluna gasosa em forma de arco capaz de emitir luz

(FERNANDES, 2011)

A primeira lâmpada incandescente foi criada pelo cientista Thomas

Edison 1880, depois de várias tentativas surgiu as feitas com filamento de

tungstênio microenrolado e ambiente interno constituído de vácuo ou gás

quimicamente inerte (nitrogênio ou argônio), desta forma foi possível a

construção de lâmpadas com maior vida útil e melhor rendimento (PINHEIRO,

2012), sendo que as lâmpadas do tipo fluorescentes ou de descarga em gases

nasceram quando surgiu os estudos sobre descargas elétricas em atmosferas

gasosas, por volta da metade do século XIX (PINHEIRO, 2012).

Dependendo do princípio utilizado para a geração da luz, elas podem

ser classificadas como lâmpadas incandescentes ou lâmpadas de descarga.

As lâmpadas incandescentes irradiam luz através do aquecimento de um

condutor sólido, quando da passagem de uma corrente elétrica, enquanto que

as lâmpadas de descarga emitem luz devido à passagem da corrente através

de um gás. Existem ainda as lâmpadas mistas, que utilizam os dois processos

anteriores durante seu funcionamento (PINHEIRO, et. al.; 2009).

As lâmpadas incandescentes são classificadas em dois tipos principais:

lâmpadas incandescentes convencionais, e halógenas.

Segundo Pinheiro, et. al. (2009), as lâmpadas incandescentes

convencionais foram as primeiras lâmpadas comercialmente viáveis,

funcionando devido à passagem da corrente elétrica por um filamento de

tungstênio, aquecendo-o e deixando-o incandescente (emitem mais calor do

que luz) na prática, apenas 6% do que consome de energia é transformado

em luz visível, e o restante (94%) é transformado em calor, seu

rendimento luminoso é fraco e sua durabilidade é cerca de 1000 horas, pelo

fato de o filamento ir se tornando mais fino devido ao aquecimento, causando a

depreciação do fluxo luminoso até o momento em que o filamento se

rompe e a lâmpada queima.

Estas são adequadas para aplicações pontuais, como lâmpadas

decorativas, por exemplo, ou onde a iluminação não é constante, possuem

como vantagem a excelente reprodução de cores, o baixo custo e a fácil

substituição, dispensando qualquer dispositivo auxiliar para operarem (ABNT-

5413,1992)

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As lâmpadas incandescentes halógenas são indicadas onde se

necessita uma fonte de luz intensa e bem direcionada, a alta intensidade

luminosa e a excelente reprodução de cores tornam as lâmpadas

incandescentes halógenas adequadas para serem utilizadas em vitrines de

lojas, por exemplo, possuem um rendimento inferior a 22 lm/W e uma vida

útil de cerca de 2000 horas, o dobro das lâmpadas incandescentes

convencionais (ABNT 5413, 1992)

As lâmpadas fluorescentes, cujo funcionamento baseia-se em descargas

a gás, têm sido a principal fonte de iluminação desde o seu desenvolvimento,

com alta eficiência e longa durabilidade, emitem luz pela passagem da corrente

elétrica através de um gás, provocando uma descarga quase que totalmente

formada por radiação ultravioleta (invisível ao olho humano), a radiação

convertida em luz, pelo pó fluorescente que reveste a superfície interna do

bulbo, a composição deste pó que resultam as nas diferentes alternativas de

cores de luz adequadas a cada tipo de aplicação. Além de determinar a

qualidade e quantidade de luz, a eficiência na reprodução das cores, elas são

amplamente utilizadas em setores industriais, comerciais e de serviços, as

primeiras produzidas possuíam o formato tubular (WITKOVSKI, 2012).

No Brasil, o setor de lâmpadas fluorescentes chegou a produzir 70

milhões de lâmpadas fluorescentes tubulares e importou 6 milhões para uso

doméstico em 2002, chegando a cerca de 20 milhões em 2003. No entanto o

uso de cada lâmpada é limitado à cerca de 20000 horas (PHILIPS, 2000). O

seu descarte requer cuidados, com o transporte, armazenamento e tratamento

antes da colocação em aterro ou incineração (MILAZZO, 2004)

As lâmpadas de descarga são divididas em dois grupos principais:

lâmpadas de descarga de baixa pressão e de alta pressão.

Segundo Souza (2005), as lâmpadas de sódio de baixa pressão são

umas das mais encontradas no mercado (102 a 117 lm/W), a sua deficiência

encontra-se na emissão de uma luz monocromática amarela, provocando uma

elevada distorção nas demais cores, a sua utilização restringe-se a ambientes

onde a fidelidade de cores não é crítica, como pontes, viadutos, estradas e

monumentos.

As lâmpadas de sódio de alta pressão apresentam elevada eficiência

luminosa, acima de 110 lm/W e tempo de vida que chega a 16000 horas,

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geralmente são utilizadas onde não é exigida uma alta fidelidade cromática,

como iluminação pública, igrejas (ABNT-5413, 1992).

São lâmpadas nas quais o tubo de descarga contém um excesso de

sódio, para saturar o vapor quando ela está funcionando (a uma pressão de 13

a 26 kN/m2), e permitir a absorção interna na superfície. O tubo de descarga,

feito de óxido de alumínio sintetizado, para resistir à intensa atividade química

do vapor de sódio à temperatura de operação de 700 graus, é colocado num

invólucro de vidro duro, à vácuo (PEREIRA, et. al.; 2005). A vida útil de uma

lâmpada de mercúrio é de 3 a 5 anos, ou um tempo de operação de,

aproximadamente, 20.000 horas, sob condições normais de uso (ZANICHELI

et. al; 2004).

Apresentam vapor de mercúrio sob alta pressão no interior do seu bulbo,

de tal forma que as radiações ocorrem, em sua maioria, na região espectral da

luz visível, apresentam uma eficiência luminosa inferior a das lâmpadas

fluorescentes e possuem tempos de reacendimento e estabilização altos,

em torno dos 5 minutos, geralmente utilizadas em ambientes de iluminação

não intermitente como estacionamentos, praças e quadras poliesportivas

(ALVAREZ, 1998).

De acordo com Alvarez (1998), as lâmpadas mistas utilizam a tecnologia

que englobam as lâmpadas incandescentes e as lâmpadas de descarga,

utilizam um filamento para limitar a corrente de descarga no gás, possuem uma

vida útil que chega a 6000 horas, podendo ser substituídas pelas

incandescentes convencionais, baixo rendimento luminoso e os tempos de

reacendimento e estabilização duram cerca de 5 minutos.

As lâmpadas podem ser consideradas um dos componentes principais

em um sistema de iluminação. O surgimento dessas lâmpadas veio com a

constante modificação da demanda de serviços mais baratos, que a economia

fosse passada para os consumidores, e podendo também ser ecologicamente

tratadas com reciclagem ou na logística reversa.

As lâmpadas pós-consumo contendo mercúrio, do tipo fluorescente, são

resíduos que requerem gerenciamento adequado para evitar impactos ao meio

ambiente e risco à saúde de seres humanos, devido a manuseio,

armazenamento e principalmente destinação final inadequado. O mercúrio

também compõe lâmpadas não fluorescentes, como as de descarga (mista,

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vapor de mercúrio, vapor de sódio e vapor metálico) (DURÃO; WINDMOLLER,

2008).

Com a possibilidade da quebra do tubo, ocasionaria o desprendimento e

a emissão do vapor de mercúrio que há risco de contaminação, mesmo que

uma lâmpada quebrada libere apenas uma pequena quantidade de mercúrio, o

problema ambiental pode ser gerado pelo efeito acumulativo e persistente

desse metal pesado. Além disso, o descarte realizado em aterros não

industriais pode fazer com que esses resíduos contaminem o solo e, mais

tarde, os cursos d’água, chegando à cadeia alimentar (SANCHES, 2008).

O autor também afirma que ciclo de intoxicação do mercúrio causado

pelo descarte inadequado dessas lâmpadas pode ocorrer não só por via

respiratória, mas também por via cutânea, devido ao manuseio inadequado,

assim esse resíduo merece cuidados especiais quanto aos procedimentos de

manuseio (retirada/coleta), acondicionamento, transporte, armazenagem e

destinação final.

De acordo com Durão e Windmoller (2008), o mercúrio utilizado na

fabricação dessas lâmpadas tem uma grande capacidade de se acumular nos

organismos vivos ao longo da cadeia alimentar, processo esse conhecido como

bioacumulação.

Sua toxicidade já é conhecida de longa data, sendo que o mercúrio não

seja funcional ao organismo humano. Dentre as espécies alquiladas do

mercúrio, as de cadeia curta são normalmente acumuladas em organismos

vivos, devido à sua maior facilidade de transporte através de membranas

celulares e com o acúmulo do mercúrio, em especial do metilmercúrio em

peixes de águas contaminadas, pode resultar em risco para o homem, além

dos pássaros e mamíferos que se alimentam dos peixes (UNEP, 2007).

As lâmpadas pós-consumo contendo mercúrio são classificadas como

resíduo perigoso de fontes não específicas, Classe I, sob o código F044, pela

Norma ABNT 10.004/04. Esta norma classifica os resíduos quanto aos riscos

potenciais ao meio ambiente e à saúde pública, indicando aqueles que devem

ter manuseio e destinação mais rigidamente controlados (ABNT, 2004).

A Lei 12.305/10 institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos - PNRS

que estabelece a responsabilidade compartilhada pela destinação final e

ambientalmente correta de produtos, no pós-consumo. Isso significa que

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fabricantes, importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e poder

público são igualmente responsáveis pelo destino correto dos resíduos, que

devem ser reaproveitados, reciclados ou, apenas no caso de rejeitos,

encaminhados para aterros sanitários.

Conforme a PNRS, rejeito é todo resíduo sólido que, depois de

esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos

tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentem outra

possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada. Não

podendo esquecer que existem vários tipos de lâmpadas, que a PNRS não

contempla. Com a PNRS, também será criado no país o sistema de logística

reversa, fazendo com que os produtos retornem, após o uso, para o ciclo

produtivo, através de seu tratamento e de sua reciclagem.

O Governo Federal instalou, no dia 17 de fevereiro de 2011, o Comitê

Orientador para Implementação de Sistemas de Logística Reversa. O Comitê é

formado pelos ministérios do Meio Ambiente, da Saúde, da Fazenda, da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento e do Desenvolvimento, Indústria e

Comércio Exterior e tem por finalidade definir as regras para devolução dos

resíduos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reutilizado) à

indústria, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos

(MMA, 2014)

A PNRS também responsabiliza o consumidor, que deve descartar o

produto corretamente. Se as lâmpadas estiverem em boas condições, é

possível empregar o vidro, o alumínio e o mercúrio na fabricação de outros

produtos. Mas se estiverem quebradas e, consequentemente, contaminadas,

não podem ser reaproveitadas.

A Lei 13.766, de novembro de 2000, aborda sobre a disposição final de

lâmpadas fluorescente. No nível do Conselho Nacional do Meio Ambiente-

Conama, criou um Grupo de Trabalho, responsável pela elaboração do

“Documento de Recomendações a Serem Implementadas pelos Órgãos

Competentes em Todo o Território Nacional Relativas às Lâmpadas com

Mercúrio”.

O Grupo Técnico Temático- GTT das lâmpadas fluorescentes, de vapor

de sódio e mercúrio e de luz mista, são coordenadas pelo Ministério do Meio

Ambiente e tem por objetivo elaborar proposta de modelagem da Logística

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Reversa e subsídios para elaboração do Edital de chamamento para Acordo

Setorial, com o propósito de subsidiar o Grupo Técnico de Assessoramento -

GTA e o Comitê Orientador na tomada de decisões pertinentes ao tema. Vale

destacar que as empresas fabricantes dessas lâmpadas tornaram-se,

praticamente, importadoras, o que causa uma preocupação maior, pois não

existe legislação brasileira que estabeleça limites de concentração de mercúrio

nas lâmpadas, portanto sua composição ainda não é controlada (MMA, 2014).

No Brasil não existe legislação federal específica que abarca os diversos

aspectos para o descarte e disposição de lâmpadas usadas contendo mercúrio.

A Constituição Federal de 1998, no Capítulo VI, ao tratar do meio ambiente, faz

uma abordagem genérica e atribui ao poder público e à coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as gerações presentes e futuras.

O Brasil comercializa cerca de 100 milhões de lâmpadas por ano,

portanto o risco oferecido pelo descarte destas em grande quantidade se

agrava enormemente, enquanto se pensa em uma única lâmpada é quase

nulo, sem contar que as indústrias de reciclagem de lâmpadas de mercúrio são

responsáveis pelo controle de apenas aproximadamente 6% do estoque de

lâmpadas queimadas no país (LUMIÈRE, 2007).

Atualmente há algumas poucas empresas espalhadas pelo Brasil que

realizam a reciclagem de lâmpadas, listadas abaixo:

Apliquim Equipamentos e Produtos Químicos Ltda – localizada

em Paulínia, São Paulo

Brasil Recicle Ltda. – localizada em Indaial, Santa Catarina

HG Descontaminação Ltda. – localizada em Nova Lima, Minas

Gerais

Mega Reciclagem de Materiais Ltda. – localizada em Curitiba,

Paraná

Naturalis Brasil Desenvolvimento de Negócios – localizada em

Jundiaí, São Paulo

Recitec – Reciclagem Técnica do Brasil Ltda. – localizada em

Pedro Leopoldo, Minas Gerais

Silex Indústria e Comercio de Produtos Químicos e Minerais Ltda.

– localizada em Morro da Fumaya, Santa Catarina

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Uma delas é a Naturalis Brasil, uma empresa localizada em Itupeva, no

interior de São Paulo, vem prestando um serviço que auxilia empresas a

reciclarem de forma devida as suas lâmpadas fluorescentes com um aparelho,

chamado de “Papa Lâmpadas”. Funciona da seguinte forma, as lâmpadas a

serem recicladas são introduzidas em um tubo de alimentação e quebradas ao

passarem por uma catraca, os materiais pesados, como o vidro e o alumínio se

depositam no fundo do tambor, já o pó de fósforo, micropartículas de vidro e o

vapor de mercúrio ficam em suspensão e são sugados por um tubo coletor,

passando por 2 filtros de celulose que liberam apenas o mercúrio, este viaja até

um filtro à base de carvão ativado, que o adsorve e libera na atmosfera apenas

o ar já descontaminado, o vapor de mercúrio coletado é posteriormente

processado e retorna para seu estado metálico, sendo possível, assim, ser

reutilizado como matéria prima, o vidro coletado para reciclagem é feito pela

própria Naturalis.

Este trabalho se justifica pelo aumento do consumo de lâmpadas no

país e seu descarte inadequado que pode provocar problemas de grandes

proporções. Diante do exposto, as questões que ficam é: qual a quantidade de

lâmpadas fluorescentes utilizadas no estabelecimento estudado? Como é feito

o acondicionamento dessas lâmpadas, após serem consumidas? E como são

descartadas?

Este trabalho tem como o objetivo geral avaliar o destino das lâmpadas

fluorescentes pós consumo em um estabelecimento comercial na cidade de

Governador Valadares- MG. Os objetivos específicos: Identificar o numero e o

tipo de lâmpadas utilizadas no estabelecimento, identificar como

estabelecimento comercial estudado acondiciona as lâmpadas fluorescentes

pós-consumo, identificar como é feito o descarte e destinação final das

lâmpadas pós-consumo neste estabelecimento.

2 Procedimentos Metodológicos

2.1 Caracterização da Área de Estudo

Governador Valadares é um município

brasileiro no interior do Estado de Minas Gerais, pertencente à mesorregião do

Vale do Rio Doce (Figura 01). Situa-se a 18° 51’ 03’’ latitude sul e 41° 56’ 56’’

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longitude oeste, a 170 metros de altitude, localiza-se à 320 quilômetros a

nordeste da capital do estado, Belo Horizonte, pela BR-381 com

uma população de 275.568 habitantes (IBGE, 2013), sendo assim o nono mais

populoso do estado de Minas Gerais e o primeiro de sua mesorregião, ocupa

uma área de 2.342,319 km², sua densidade demográfica é de 112,58 hab./km²,

segundo o IBGE, no ano de 2013.

Figura 01 – Localização geográfica do município de Governador

Valadares - MG

Fonte: IBGE (2013); CRUZ (2013)

O estabelecimento comercial estudado está localizado no centro da

cidade (Figura 02). É o chamado shopping-feira, localizado na rua Belo

Horizonte, 549, centro. Esse estabelecimento é um galpão que possui vários

boxes, com lojas, praça de alimentação. São vendidas roupas, eletrônicos,

calçados.

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Figura 02 – Faixada do Shopping Feira

Fonte: Própria autora (janeiro, 2014).

2.2 TIPO DE ESTUDO

Este trabalho se trata de uma pesquisa qualitativa e descritiva. De

acordo com Moresi (2003), a pesquisa qualitativa é uma relação dinâmica entre

o mundo real e o sujeito, que não pode ser traduzidos em números, enquanto a

pesquisa descritiva expõe características de uma determinada população ou de

um determinado fenômeno, não tendo o compromisso de explicar os

fenômenos que descrever, embora sirva de base explicação.

2.3 PROCEDIMENTOS DE COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

Para atingir os objetivos propostos foi realizada uma entrevista com a

administradora do estabelecimento a senhora Nathalia Pereira dos Reis, e

realizadas registros fotográficos do estabelecimento, e do local onde as

lâmpadas pós-consumo são acondicionadas.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estabelecimento estudado possui um total de 77 lâmpadas, sendo 65

lâmpadas fluorescentes e 12 HQI`s (Lâmpadas de alta pressão).

O armazenamento é feito após a queima ou a inutilização das lâmpadas

utilizadas no estabelecimento, segundo a administradora, é feito pelo pessoal

responsável pela limpeza e as lâmpadas são colocadas em um deposito

(Figura 03). Entende-se por armazenamento de resíduos sua contenção

temporária em área autorizada pelo órgão de controle ambiental, à espera de

reciclagem, tratamento ou disposição final adequada, desde que atenda às

condições básicas de segurança (ABNT- NBR 12235). A estocagem deve ser

em área separada (princípio da segregação dos resíduos) e demarcada

(MILAZZO, et. al.; 2004).

Figura 03 – Local de armazenamento temporário das lâmpadas pós-

consumo até o descarte

Fonte: Própria autora (fevereiro, 2014)

De acordo com o manual de descarte da Eletrobrás de 2004, as

lâmpadas queimadas ou inservíveis devem ser mantidas intactas,

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acondicionadas preferencialmente em suas embalagens originais, protegidas

contra eventuais choques que possam provocar a sua ruptura, e armazenadas

em local seco, o que não é observado no estabelecimento estudado.

Quando possui uma quantidade considerável de lâmpadas inúteis o

descarte é feito. A maneira que o estabelecimento descarta essas lâmpadas é

a partir da quebra das mesmas, colocando-as em um recipiente e as

identificando. São colocadas junto com o resíduo comercial ou resíduo comum.

Para realizar o descarte de lâmpadas que são quebradas, no caso das

fluorescentes, deve-se ter cuidado especial com relação ao vapor de mercúrio

e ao pó de fósforo que são desprendidos das lâmpadas (MILAZZO, 2004).

Com a quebra das lâmpadas são liberados 12 elementos existentes em

lâmpadas que podem originar impactos ambientais negativos como: mercúrio,

antimônio, bário, chumbo, cádmio, índio, sódio, estrôncio, tálio, vanádio, ítrio e

elementos de terras raras (ETR) (PINHEIRO et al, 2009).

Ainda de acordo com Puente, et.al. (2004), em nenhuma hipótese as

lâmpadas devem ser quebradas para serem armazenadas, pelo risco de

contaminação ambiental e à saúde humana, o descarte das lâmpadas

incandescentes pode ter seu destino final em aterros sanitários sem restrições

de contaminação ambiental por elementos tóxicos. Deve-se sempre pensar que

a reciclagem é o melhor caminho para a destinação final de qualquer resíduo.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estabelecimento estudado mostra desconhecimento das normas

ambientais que regem o descarte de lâmpadas, uma vez que as lâmpadas são

destruídas (quebradas) e acondicionadas de forma irregular, além deste fato

elas seguem para o local de resíduo comum o que vai de encontro a legislação

do país que diz que este tipo de material deve ser destinado a reciclagem de

suas partes pelas as empresas que as produzem, no chamado sistema de

Logística Reversa. Esse acordo da logística reversa ainda está sendo feito

pelos setores fabricantes das lâmpadas, pois ainda não há acordo entre eles

com relação ao descarte das lâmpadas.

Este desconhecimento por parte da responsável do local reflete uma

carência nacional, a população não possui informação sobre como proceder no

descarte de uma simples lâmpada, assim como outros materiais.

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Recomendamos um melhor gerenciamento de lâmpadas pós-consumo

no estabelecimento estudado, ou seja, um armazenamento adequado e evitar

realizar a quebra das mesmas, diminuindo os riscos para quem manipula

diretamente esses resíduos e para o meio ambiente.

Enquanto o sistema de logística reversa para os resíduos como as

lâmpadas pós-consumo não estiver em pleno funcionamento no país as

pessoas que manipulam esse tipo de resíduo e o meio ambiente estarão em

risco.

5 REFERÊNCIAS

ABILUMI – Associação Brasileira de Importadores de Produtos de

Iluminação. Disponível

em:<http://www.idec.org.br/emacao/revista/livrosinacessiveis/materia/lampadas

-fluorescentes-onde-descarta-las/pagina/184>. Acesso 18 de outubro de 2013.

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