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COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE AVALIAÇÃO DE SONDAS FENAZÍNICAS FLUORESCENTES PARA INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO DE DROGAS COM ATIVIDADE ANTINEOPLÁSICA Rodrigo Bretas Ferreira Rio de Janeiro 2009

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COLEGIADO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

AVALIAÇÃO DE SONDAS FENAZÍNICAS FLUORESCENTES PARA INVESTIGAÇÃO DO

MECANISMO DE AÇÃO DE DROGAS COM ATIVIDADE ANTINEOPLÁSICA

Rodrigo Bretas Ferreira

Rio de Janeiro

2009

ii

RODRIGO BRETAS FERREIRA

Aluno do Curso de Biotecnologia Matrícula 0613800136

AVALIAÇÃO DE SONDAS FENAZÍNICAS FLUORESCENTES

PARA INVESTIGAÇÃO DO MECANISMO DE AÇÃO DE DROGAS

COM ATIVIDADE ANTINEOPLÁSICA

Trabalho de Conclusão de Curso,

TCC, apresentado ao Curso de

Graduação em Biotecnologia da

UEZO como parte dos requisitos para

a obtenção do grau em Biotecnólogo,

sob a orientação do Profo Dr o Carlos

Eduardo Martins Carvalho.

Rio de Janeiro

Julho de 2009

iii

iv

Dedico este trabalho a minha família

pelo apoio, carinho e compreensão

que me foram dedicados durante toda

a minha vida, e especialmente durante

a minha graduação. Os quais foram

fundamentais tanto para a minha

formação pessoal quanto acadêmica.

v

Agradecimentos

Ao Prof.Dr. Carlos Eduardo Martins Carvalho pela amizade e orientação

deste trabalho.

Aos meus pais e irmã pelo apoio incondicional dado em todos os

momentos de minha vida.

Ao amigo e companheiro de laboratório Caio Bruno Rocha Mendonça

pela imprescindível ajuda em todos os momentos

Ao amigo e companheiro de laboratório Tiago Teixeira Guimarães que

foi de relevante importância para a realização deste trabalho.

Aos meus amigos da turma de Biotecnologia da UEZO pelo

companheirismo.

Á Profa. Dra. Nanci do Laboratório de Fotoquímica IQ/UFRJ por conceder

acesso ao laboratório de Fotoquímica permitir que o presente trabalho pudesse

ser realizado.

Ao NPPN pelos corantes usados neste estudo.

Aos Técnicos Leonice e Claudio do Laboratório de Instrumentos e

Pesquisa IQ/UFRJ pelas pesagens.

À FAPERJ pela bolsa de estudos concedida.

A toda a comunidade de Fotoquímica IQ/UFRJ.

vi

SUMÁRIO

LISTA DE FIGURAS.............................................................................................vii

LISTA DE QUADROS..........................................................................................viii

LISTA DE TABELAS...........................................................................................viii

RESUMO................................................................................................................ix

Abstract..................................................................................................................x

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1

1.1. SONDAS MOLECULARES ......................................................................... 2

1.2. QUINONAS ................................................................................................. 4

1.3. NAFTOQUINONAS ..................................................................................... 6

1.4. SONDAS FENAZÍNICAS ............................................................................ 8

2. OBJETIVO ........................................................................................................ 10

3. METODOLOGIA ............................................................................................... 11

3.1. SÍNTESE DOS COMPOSTOS .................................................................. 11

3.2. ESTUDOS POR ESPECTROFOTOMETRIA ............................................ 13

3.2.1 ABSORÇÃO MOLECULAR DE RADIAÇÃO ............................ ............ 14

3.2.2 RENDIMENTO QUÂNTICO ................................................................. 15

3.2.3 TRANFERÊNCIA DE ENERGIA: STERN-VOLMER ............................ 16

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 17

4.1. EFEITO DO SOLVENTE NO ESPECTRO DE FLUORESCÊNCIA .......... 17

4.2. ABSORTIVIDADES MOLARES .................................................................19

4.3. RENDIMENTO QUÂNTICO ...................................................................... 21

4.4. TRANFERÊNCIA DE ENERGIA: STERN-VOLMER ................................. 23

4.5. DESEMPENHO EM MISTURAS BINÁRIAS ............................................. 28

5. CONCLUSÃO ................................................................................................... 31

6. PERSPECTIVAS ............................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 33

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.. Diagrama de Jablonski ........................................................................... 2

Figura 2. Isômeros de posição de naftoquinonas ................................................... 5

Figura 3. Estrutura planar do Lapachol e da β-Lapachona.....................................7

Figura 4. Estrutura do núcleo fenazínico e mapa da densidade total de

carga....................................................................................................................... 8

Figura 5. Estrutura dos corantes fenazínicos estudados........................................9

Figura 6. Espectros de fluorescência normalizados do corante PZ(CH3) ............. 18

Figura 7. Transferência de energia....................................................................... 24

Figura 8. Gráfico de supressão da fluorescência referente ao corante PZ6 em

2-propanol ............................................................................................................. 25

Figura 9. Gráfico de supressão de fluorescência referente ao corante PZ6 em

Dioxano ................................................................................................................. 25

Figura 10. Gráfico de supressão de fluorescência referente ao corante PZ6 em

Acetonitrila............................................................................................................. 26

viii

Figura 11. Gráfico de Stern-Volmer de PZ6 em Acetonitrila. ................................ 27

Figura 12. Gráfico de Stern-Volmer de PZr em Dioxano ...................................... 27

Figura 13. Gráfico do PZ6 em solução binária de água e 2-propanol. ................. 21

Figura 14. Corante PZr em sua forma normal e tautomérica ...................................... 21

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Esquema da síntese da β-lapachona...................................................11

Quadro 2. Esquema da síntese das sondas fenazínicas ....................................12

Quadro 3. Fator de polaridade (Δf) dos solventes estudados...............................17

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Coeficientes de absortividade molar dos corantes................................19

Tabela 2. Valor do rendimento quântico de fluorescência ....................................22

Tabela 3. Efeito da polaridade dos solventes no coeficiente de supressão (K) .... 27

ix

Resumo

O presente trabalho refere-se ao estudo de fenazinas derivadas de

naftoquinonas quanto as suas características fotofísicas para serem utilizadas

como sondas fluorescentes para investigação do mecanismo de ação de

drogas com atividade antineoplásica. Dentre os corantes estudados com essa

finalidade, o corante PZ6 que apresenta elevada sensibilidade é o que pode ser

caracterizado como mais adequado a ser utilizado como sonda durante as

avaliações de mecanismo de ação biomolecular. Essa avaliação foi feita

utilizando-se a espectrometria de fluorescência que é freqüentemente utilizada

em estudos de estruturas, de interações moleculares, na localização de

moléculas especialmente em sistemas biológicos. Os estudos focalizaram a

possibilidade dos corantes conseguirem ter fluorescência para as devidas

finalidades. De acordo com os resultados encontrados há a possibilidade

desses corantes, derivados do Lapachol, por analogia, também serem

utilizados futuramente em terapias e exames investigativos.

Palavras-chave: sonda molecular, fluorescência, fenazínas, quinonas,

β-Lapachona

x

Abstract

This work concerns the study of phenazines-derived from naphthoquinones on

the photophysical characteristics to be used as fluorescent probes to investigate

the mechanism of action of anticancer drugs with activity. Among the dyes

studied for this purpose, the dye PZ6 which shows high sensitivity which can be

characterized as more suitable be used as probes for the evaluation of

biomolecular mechanism of action. This evaluation was performed using a

fluorescence spectrometer that is often used in studies of structures of

molecular interactions, especially the location of molecules in biological

systems. The studies focused on the possibility of fluorescent dyes to get the

necessary goals. According to the results there is the possibility of these colors,

derived from lapachol, by analogy, also be used in future treatments and

investigative tests.

Keywords: molecular probes, fluorescence, phenazines, quinones,

β-lapachone

xi

‘O único homem que está isento de erros, é aquele que não arrisca acertar.’

Albert Einstein (1879 - 1955)

1

1. INTRODUÇÃO

A importância de produtos naturais na terapêutica é conhecida desde a

antiguidade. O conhecimento de plantas alucinógenas pelos ameríndios que as

empregavam em seus rituais, bem como das propriedades afrodisíacas de diversas

porções preparadas a partir de distintas espécies vegetais, acompanha o homem há

muitos milênios (BARREIRO et al., 2001).

A avaliação da estrutura química dos constituintes das plantas medicinais abre

novos horizontes à quimioterapia. Os compostos naturais extraídos dessas plantas e seus

derivados sintéticos constituem novas armas na luta contra as doenças. Dessa forma,

podemos planejar novas moléculas que irão enriquecer o catalogo atual de

medicamentos ou, no mínimo, fornecer bases para novas pesquisas químicas e

farmacêuticas. Como matéria-prima, as plantas medicinais são fontes importantes de

substâncias que, em caso de não possuírem ação biológica, podem ser usados para

síntese de derivados farmacologicamente ativos. Por serem dotadas de componentes

ativos estas plantas são também ideais para a pesquisa farmacêutica (MULLER, J.M,

1964).

Nas últimas décadas, pesquisas relacionadas com as áreas de farmacologia vêm

se desenvolvendo consideravelmente, uma vez que a humanidade vem padecendo de

inúmeras doenças, provocadas por diversos fatores, como: microbiológicos,

contaminações provocadas pelo homem e mutações genéticas. A pesquisa com

fármacos é muito extensa, tendo varias linhas distintas a serem seguidas. Hoje a

pesquisa em fármacos é fundamentada em estudos da funcionalidade de proteínas,

buscando seus inibidores, utilizando-se do conhecimento popular para isolarem

compostos que tenham princípios ativos contra algum mal, extraindo estes princípios

ativos de plantas e animais e ainda explora toda a potencialidade na síntese de

compostos de interesse farmacológicos (SOARES, J.G, 2006).

A grande porção dos fármacos comercializados hoje é sintetizada em

laboratório. Atualmente, tem se procurado desenvolver fármacos que ao mesmo tempo

em que promovem o efeito, permitam acompanhar visualmente o que está ocorrendo.

2

1.1 SONDAS MOLECULARES

Sondas moleculares oferecem uma variada gama de corantes celulares

fluorescentes permeáveis que se associam seletivamente com mitocôndrias, lisossomos,

retículo endoplasmático e Golgi, entre outras organelas em células vivas. Estas sondas

são moléculas orgânicas fluorescentes as quais têm recebido há tempos, certa atenção,

devido seu potencial de uso em química analítica, em estudos do comportamento

celulares e em química forense, entre outros.

Sondas fluorescentes podem ser utilizadas na maioria de técnicas de

espectroscopia de emissão, possibilitando a detecção de complexos componentes do

conjunto celular com requintes de sensibilidade e seletividade. Além disso, as sondas

fluorescentes podem ser usadas para investigar a estrutura e atividade de organelas em

células vivas com o mínimo de perturbação da função celular.

A fluorescência é um processo de emissão no qual as moléculas são excitadas

pela absorção de luz. As espécies excitadas relaxam a um estado metaestável que ao

retornar ao estado fundamental, liberam seu excesso de energia na forma de fóton. O

fóton emitido por fluorescência tem menos energia que o absorvido. Por tanto, possui

uma frequência menor e emite num comprimento de onda maior (Figura 1).

3

Figura 1. Diagrama de Jablonski ilustrando o processo envolvido na criação do estado eletrônico

excitado singlet por absorção (1), relaxamento de molécula Para um estado vibracional de menor energia

do estado excitado (2) e subseqüente emissão de fluorescência (3). Figura modificada do Handbook of

Fluorescent Probes and Research Products

No presente trabalho foram utilizados derivados quinonoídicos para o

desenvolvimento de sondas/fármacos que dentro da atual estratégia sejam utilizados

para reportar o efeito do fármaco na célula.

Considerando a grande importância em relação à estrutura química e a atividade

biológica, a química das quinonas, já há muito, vem sendo descrita em publicações,

estando assim bem documentada sua evolução ao longo do tempo (SILVA, M.N, 2003).

Atualmente, há um grande interesse pelo conhecimento da farmacologia e do

modo de atuação das quinonas. O progresso quanto aos conhecimentos da bioquímica

das atividades enzimáticas, além dos recentes avanços da química computacional, em

muito pode contribuir para o esclarecimento em maior profundidade dos mecanismos de

atividade de fármacos e em conseqüência, para o planejamento de novas drogas

comerciais. A perspectiva de previsibilidade que estes estudos trazem, auxiliam na

busca de agentes antineoplásticos baseados em planejamentos racionais, resultando na

obtenção de substâncias com maior seletividade e eficiência antineoplásica.

4

1.2 QUINONAS

As quinonas representam uma ampla e variada família de metabólitos de

distribuição natural. Ultimamente, intensificou-se o interesse nestas substâncias, não só

devido à sua importância nos processos bioquímicos vitais, como também o destaque

cada vez maior que apresentam em variados estudos farmacológicos. Na natureza estão

relacionadas com etapas importantes do ciclo de vida de seres vivos, principalmente nos

níveis da cadeia respiratória e da fotossíntese (SILVA, M.N, 2003).

Genericamente, as quinonas naturais mais representativas são de vital

importância para vegetais superiores, artrópodes, fungos, liquens, bactérias, algas e

vírus. A distribuição dessas substâncias nos variados organismos implica,

possivelmente, em funções biológicas múltiplas, agindo de forma notável em seus

diversos ciclos bioquímicos (THORNSON e BURNETT, 1967).

Em análises farmacológicas, as quinonas mostram variadas biodinamicidades,

destacando-se dentre muitas, as propriedades microbicidas, tripanossomicidas,

viruscidas, antitumorais e inibidoras de sistemas celulares reparadores, processos nos

quais atuam de diferentes formas. A interferência das quinonas na apoptose constitui-se

hoje em pesquisas interdisciplinar de fronteira na química medicinal, existindo grande

expectativa quanto à delineação de estratégicas racionais visando o combate de

neoplasia, principalmente as relacionadas ao câncer de próstata (SILVA, M.N, 2003).

Com base na sua estrutura molecular, as quinonas são divididas em diferentes

grupos, utilizando-se como critério o modelo de sistema aromático que sustenta o anel

quinonoídico, podem ser classificadas como: Benzoquinonas – um anel benzênico;

Naftoquinonas - um anel naftalêmico; Antraquinonas - um anel antracênico linear ou

angular.

5

De modo muito peculiar, em decorrência de diferentes isômeros, com um

mesmo modelo de anel, pode-se ter, dependendo das disposições relativas das

carbonilas, diferentes quinonas. Por exemplo, no arranjo de base naftalêmico tem-se a

forma isomérica 1,2 ou orto-quinonoídica, quando as carbonilas são vizinhas ou a 1,4

ou para-quinonoídica, com as carbonilas tendo entre si dois carbonos (Figura 2).

Estas formas isoméricas divergem muito em suas propriedades físicas, químicas

e quanto à sua atuação biológica. Um exemplo típico é a orto-naftoquinona, β-

lapachopna, do grupo das tabebuias, que é muito mais ativa contra o Trypanosoma

Cruzi que o seu isômero natural, α-lapachona (SILVA, 2003).

O

O

O

O

Figura 2. Isômeros de posição de naftoquinonas:(A) Estrutura da orto-naftoquinona (1,2-

naftoquinona); (B)Estrutura da para-naftoquinona (1,4-naftoquinona).

Numa observação mais apurada sobre a importância das quinonas,

especialmente de naftoquinonas, pode-se citar o grande número de drogas neste grupo

que possuem aplicações práticas reconhecidas. Algumas, inclusive, chegaram à

produção industrial, como por exemplo, as vitaminas K, as mitomicinas e as

antraciclinas.

A B

6

1.3 NAFTOQUINONAS

Dentre as naftoquinonas naturais destaca-se o lapachol que pode ser considerado

um dos principais representantes do grupo de quinonas das tabebuias. É conhecido

desde 1858 e desde então através dos séculos tem sido encontrado como constituinte da

várias plantas das famílias Bignoniácea, particularmente no gênero Tabebuia (Tecoma),

juntamente com outras quinonas heterocíclicas não menos importantes do grupo. O

lapachol é de fácil extração da serragem de madeira de várias espécies de Ipê, plantas do

Brasil e da fronteira com a Argentina. Há no Brasil cerca de 46 tipos de maneiras

comerciais conhecidas como “ipês” (Tabebuia sp). Antigamente, o lapachol foi

comercializado para utilização como auxiliar no tratamento de certos tipos de câncer,

sendo o medicamento fabricado pelo Laboratório Farmacêutico do Estado de

Pernambuco (LAFEP), não mais disponível no mercado.

Foram atribuídas muitas atividades farmacológicas ao lapachol e aos seus

derivados semi-sintéticos, tais como atividade antimicrobiana e antifúngica;

tripanossomicidas Antimalárico; uso contra enteroviroses; antiinflamatórias;

antiulcerantes, antineoplásica, entre outras (SILVA, M.N., 2003).

Este ativo tem sido bastante estudado visando sua utilização terapêutica em

virtude de suas propriedades farmacológicas. O lapachol é matéria prima para as

sínteses de muitas outras substâncias de distintas biodinamicidades. As mais ativas são

os derivados naftoquinônicos como a β-lapachônicos e muitos outros (SILVA, M.N.,

2003).

7

A β-lapachona tem sido encontrada como constituinte minoritário durante o

isolamento de outras naftoquinonas do cerne das árvores de ipês. Em laboratório essa

naftoquinona é preparada pela isomerização do lapachol com ácido sulfúrico (Figura 3).

A citotoxicidade dessa naftoquinona leva à especulação de que existe uma

propriedade química intrínseca na unidade quinonoídica associada com outros fatores

estruturais, que são responsáveis pela intensidade das atividades antitumorais (SILVA,

M.N., 2003).

OH

O

O

O

O

O

OH

O

O

O

O

O

Figura 3. (A) Estrutura planar do Lapachol; (B) Estrutura planar da

β-lapachona.

Este trabalho estuda o comportamento de fenazinas derivadas da β-lapachona.

Espera se que estes corantes pela sua semelhança estrutural com a β-lapachona

reproduzam sua propriedade farmacologia antitumoral.

A B

8

1.4 SONDAS FENAZÍNICAS

A família das fenazinas é constituída de um grupo de heterocíclicos

nitrogenados, cuja unidade estrutural básica consiste no núcleo 9,10-diaza-antraceno. A

estrutura do mais simples representante da família coincide com o seu próprio núcleo

básico (Figura 4). O núcleo fenazínico é naturalmente fosforescente, mas em função de

modificações estruturais o núcleo fenazínico passa a ser fluorescente.

Fenazinas derivadas da β-lapachona possuem uma fotofísica bastante

interessante do ponto de vista de aplicação como sondas solvatocrômicas. Se for

considerado apenas o monitoramento a partir de espectroscopia do estado estacionário,

informações relevantes podem ser extraídas da forma (estruturada ou gaussiana), da

intensidade (rendimento quântico) e da posição do máximo da banda (energia). As

propriedades fotofísicas como rendimento quântico de fluorescência e o tempo de vida

de fluorescência são também função de suas propriedades dielétricas e aumentam com o

aumento da polaridade do solvente (CARVALHO, C.E.M, 2000).

Figura 4. (A) Estrutura planar do núcleo fenazínico (FENAZINA),

(B) Mapa da superfície da densidade total de carga (SOARES, J.G., 2006)

A

B

9

Estes corantes possuem um comportamento solvatocrômico, isto é, o

comprimento de onda máximo de absorção e fluorescência, é dependente do ambiente

de solvatação.

Atualmente as informações sobre misturas binárias de solventes e sistemas

complexos, consideram relações lineares baseadas em escalas empíricas de polaridade

* e ET(30), que fornecem apenas informações termodinâmicas do sistema. Tal

comportamento linear está longe de representar a realidade para misturas com diferentes

interações dipolares e com variações grandes da constante dielétrica. Apesar disto, tem

sido com esta sistemática que sistemas mais complexos como os biológicos vêm sendo

estudados. A dinâmica destes processos interativos, não somente pode fornecer

informações úteis para o desenvolvimento de novas técnicas para visualização de

imagem, como também do ponto de vista teórico representa um avanço, uma vez que

pouco tem sido feito nesta direção.

Estes corantes pela sua semelhança estrutural com a β-lapachona, serão

utilizados para monitorar os processos de difusão celular e afinidade com sítios

celulares específicos (Figura 5).

N

N

O

N

OM e

N

N

OH

N

PZ6 PZ(CH3) PZr

Figura 5. Estrutura dos corantes fenazínicos estudados

10

2. OBJETIVO GERAL

Avaliar corantes fenazínicos em uma mistura de solventes compatíveis com

organismos vivos, com a finalidade de compreender a dinâmica de solvatação das

sondas moleculares nestes diferentes meios e assim poder inferir sobre as interações dos

corantes com organismos vivos.

Desenvolver uma metodologia e estabelecer as bases para compreender

fenômenos complexos de solvatação preferencial e migrações em microcompartimentos

de sistemas organizados e celulares.

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Avaliar os corantes fenazínicos PZ6, PZr e PZ(CH3) em soluções com Dioxano,

2-Propanol, Acetonitrila e misturas binárias destes solventes com água, com a finalidade

de analisar os processos emissivos e de transferência de energia desses corantes em

função da faixa de polaridade dos solventes empregados.

11

3. METODOLOGIA

3.1- SÍNTESES DOS COMPOSTOS

A parte experimental do projeto iniciou-se na extração da matéria prima para as

sínteses posteriores, o lapachol. Após a extração do lapachol, a β-lapachona foi

preparada pela isomerização do lapachol com ácido sulfúrico (Quadro 1). As sondas

fenazínicas PZ6, PZr e PZ(CH3) utilizadas neste estudo foram obtidas por uma parceria

com o Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais (NPPN-UFRJ). A síntese e purificação

dos corantes (Quadro 2) foram realizadas conforme o descrito na literatura

(CARVALHO, C.E.M., IQ-UFRJ, 2000).

Quadro 1. Esquema da síntese da β-lapachona

12

N H 2

N H 2

N

N

O

OH

O

O

O

O

O

OH

O

O

O

O

O

N H 2

N H 2

N

OH

N

N

OM e

N

C H 2N 2

+

+

β-lapachona Orto-fenilenodiamina PZ6

Lapachol

PZ (CH3)

PZr

Quadro 2. Esquema da Síntese das sondas fenazínicas: (I) Síntese de PZ6 pela reação da β-

Lapachona com orto-fenilenodiamina; (II) Síntese de PZr pela reação do lapachol com orto-

fenilenodiamina; (III) Síntese de PZ(CH3) pela reação de PZr com diazometano(CH2N2)

(I)

(II)

(III)

13

3.2- ESTUDOS POR ESPECTROFOTOMETRIA

Soluções foram preparadas com os corantes PZ6, PZr e PZ(CH3) dissolvidos em

dioxano, 2-propanol, acetonitrila e em misturas binárias destes com água. Foram

utilizados neste trabalho solventes com grau espectroscópico para UV/HPLC

produzidos pela VETEC (Brasil).

A propriedade de polarização dos solventes é um parâmetro importante nos

estudos por espectrofotometria, pois exercem influência sobre as propriedades

fotofísicas das sondas. Esse parâmetro foi calculado pelo fator de polaridade (Δf), pois

este fator advém da relação entre o este índice de refração (η) e constante dielétrica (ε)

dos solventes estabelecida pela equação de Lippert-Mataga:

Δƒ = (η2-1 / 2η2 +1)

Conhecida a escala de polaridade dos solventes, iniciaram-se as análises

espectroscópicas. Os espectros de absorção e fluorescência foram medidos pelos

Espectrofotômetro-UV-visível e Espectrofluorímetro Hitachi F4500, respectivamente

(IQ-UFRJ). Todos os cálculos referentes à fotofísica dos corantes puderam ser

realizados (transferência de energia, Stern-Volmer, Rendimento quântico de

fluorescência, análise de parâmetros solvatocrômicos). No entanto, é importante

ressaltar que os resultados referentes à fotofísica dos corantes são provenientes de

analises simples.

14

3.2.1 Absorção Molecular de radiação

O processo de absorção ocorre ao nível molecular. Assim, como acontece num

átomo, cada molécula caracteriza-se por possuir níveis de energia moleculares

quantizados, os quais podem ser ocupados pelos elétrons das moléculas. Por outro lado,

a radiação eletromagnética (luz) carrega energia, sendo que o valor dessa energia

depende do comprimento de onda da radiação.

A absorção da radiação se dá quando a energia que ela transporta é igual à

diferença entre dois níveis de energia da molécula nessa situação, a energia da radiação

é transferida para a molécula e ocorre a chamada absorção de radiação. Rotineiramente,

a magnitude das absortividades molares que variam da ordem de zero até um máximo

de 105 é observada. Valores de absortividade menores do que 10

3 são de baixa

intensidade.

Os valores das absortividades das moléculas foram calculados com base na lei

de Lambert-Beer.

Ac.l

A lei de Lambert –Beer estabelece relação entre a absorvância a um λ fixo (Aλ),

a absortividade (), a concentração molar (C) do analito e a distância em centímetros

(cm) percorrida pelo feixe luminoso através da amostra(l).

15

3.2.2 Rendimento Quântico de Fluorescência (Ф)

O rendimento quântico é a relação entre o número de fótons emitidos, e o

número total de fótons absorbvidos. As soluções foram preparadas de modo que a

absorvância dos compostos ficasse em torno de 0.08 no comprimento de onda onde

seria excitado. Após esta etapa, analisou-se a emissão no comprimento de onda

determinado e, usando difenilantraceno como referencia (EATON, D.F; 1998.), o

rendimento quântico foi determinado segundo a fórmula:

Onde: O Ф da amostra é expresso pela razão entre a absorvância (A), a área

sobre a curva (F) e índice de refração do solvente (η) para solução com a amostra (u)

pelos respectivos dados do padrão (s), multiplicados pelo rendimento quântico do

padrão(Фs).

16

3.2.3 Transferência de energia: Stern-Volmer

A Transferência de Energia foi estudada acrescentando-se alíquotas do composto

aceptor (β-lapachona) na solução do composto doador (sondas). Os espectros de

fluorescência foram medidos para cada alíquota acrescentada. As constantes de

supressão foram calculadas com base nos dados referentes aos máximos das bandas de

fluorescência do agente doador (sondas) sem o aceptor (β-lapachona) e após o

acréscimo das alíquotas do supressor pela equação de Stern-Volmer:

Onde: IF é a intensidade de fluorescência sem o supressor; IF(Q) é a intensidade da

fluorescência após a primeira alíquota; [Q] é a concentração do supressor; KQ é a

constante de supressão de Stern-Volmer (YUAN, 2008).

17

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1- EFEITO DO SOLVENTE NO ESPECTRO DE FLUORESCÊNCIA

Os valores do fator de polaridade (Δf) dos solventes utilizados no presente

estudo foram calculados segundo a equação de Lippert-Mataga. Esses valores são

apresentados, conforme escala crescente de polaridade, no quadro 3:

Quadro 3: Fator de polaridade (Δf) dos solventes estudados

Solventes η ε f

Dioxano 1,4165 2,209 0,022

2-Propanol 1,3776 18,3 0,273

Acetonitrila 1,34423 37,5 0,305

O efeito do aumento de polaridade dos solventes sobre a posição dos máximos

de fluorescência dos corantes fanazínicos PZ6, PZ(CH3) e PZr é evidenciado, de modo

peculiar, na figura 6. Esses corantes tendem a deslocar seu máximo de fluorescência

para regiões de maior comprimento de onda, tendendo para a região do vermelho.

18

450 500 550 600 650 700

0

500

1000

1500

2000

Inte

nsid

ade

Rel

ativ

a

(nm

Dioxano

Isopropanol

Acetonitrila

Figura 6. Espectros de fluorescência normalizados do corante PZ(CH3) ilustrando o efeito do

Solvente no Espectro de Fluorescência

Esses dados revelam que existe um grande potencial desses compostos. Visto

que o comprimento de onda é inversamente proporcional a energia, é necessário o

fornecimento pouca energia para produzir a excitação desses corantes em sistema

orgânicos. Favorecendo a utilização deles como sondas em estudos por microscopia de

fluorescência.

N

OM e

N

19

4.2- ABSORTIVIDADES MOLARES (ε)

Os valores de ε foram determinados de acordo com a lei de Lambert-Beer. O

comprimento da cubeta onde foram acondicionadas as amostras dos corantes durante

analise espectrofométrica é igual a 1cm, assim, o caminho óptico ou distância percorrida

pelo feixe luminoso através da amostra (L) é igual a 1. Não sendo significante no

cálculo dos épsilons os quais foram determinados em função das absorvâncias e das

concentrações dos respectivos corantes nos distintos solventes utilizados.

A concentração dos corantes foi determinada com precisão. As pesagens dos

compostos foram realizadas numa balança de ultraprecisão do Laboratório de

Instrumentos e Pesquisa no IQ/UFRJ. Isso possibilitou aferir com precisão os valores

das absortividades (tabela 1) dos corantes para o comprimento de onda igual a 410nm.

Tabela 1: Valores dos épsilons dos corantes estudados nos diferentes solventes

Corantes Solventes

Dioxano 2-propanol Acetonitrila

PZ6 9 x103 8x10

3 8 x10

3

PZr 8x103 7,6x10

3 6,6x10

3

PZ(CH3) 8,9x103 -

8x10

3

20

Isso é importante pois através da relação entre e a absorvância pode-se

quântificar substâncias que se encontrem nas soluções analisadas. Genericamente, os

valores das absortividades na ordem de 103 são aceitáveis, pois se localizam dentro da

faixa correspondente a espectroscopia de absorção molecular na região do espectro

visível.

Visto que o valor da é dependente do ambiente. Pode-se observar na tabela 1

que o corante PZr apresentou diminuição da absortividade em função do aumento da

polaridade do meio.

Nos corantes PZ6 e PZ(CH3), de maneira geral, a redução também é perceptível,

no entanto, os resultados se mostram melhores em função dos respectivos valores dos

serem maiores que os encontrados para o corante PZr. Pois, quanto maior a valor do ,

maior será a probabilidade de transição de uma molécula para o estado excitado.

De modo geral, os maiores valores de foram encontrados em ambientes nos

quais a polaridade é menor. Isto indica que os corantes avaliados tem maior

probabilidade de transição em meios pouco polares, o que não seria fovorável para a

utilização destes em estudos espectroscópicos, em função do efeito da polaridade do

meio no deslocamento dos máximos de fluorescência.

Entretanto, os corantes PZ6 e PZ(CH3), mostraram valores de absortividade

consideráveis em meios mais polares. Apesar dos solventes utilizados apresentarem

uma ampla faixa de variação de polaridade. De modo peculiar, o corante PZ6 se

destacou por não alterar o em acetonitrila, apesar desse solvente ser mais polar que o

2-propanol.

Esses dados corroboram o potencial destes corantes quanto a serem utilizados

como sondas

21

4.3- RENDIMENTO QUÂNTICO DE FLUORESCÊNCIA (Ф)

O rendimento quântico de fluorescência foi determinado usando difenilantraceno

como referência e serve para definir a eficiência de emissão de determinado fluoróforo

ou corante fluorescente pela diferença entre a quantidade de fótons emitidos pela

quantidade dos absorvidos.

O ideal nessas análises é encontrar valores de Ф próximos ou iguais ao valor

limite, que é igual a 1. Rendimentos maiores que 1 são possíveis quando ocorre reação

em cadeia fotoinduzida ou por radiação, onde um único próton pode ativar uma longa

cadeia de transformações, mas não é o caso dos corantes avaliados neste trabalho.

Na prática, entretanto, uma pequena faixa de compostos alcançam este

desempenho.

Compostos com valores de Ф elevados são desejáveis, pois são capazes de emitir

fluorescência com maior intensidade.

Assim como o valor de ε, o rendimento quântico é influenciado pela polaridade

do meio no qual se encontrem os corantes, outros fatores que também poderiam

influenciar os dados deste trabalho são a temperatura e a presença de impurezas.

Em condições fisiológicas, ainda teriam que ser considerados, entre outros,

fatores como o pH e interações intracelulares com outros compostos.

Relacionando o Ф com o ε, respeitados os limites das respectivas medidas, se

ambas as medidas fornecerem valores altos, compostos que as associem possuirão uma

emissão favorável. Visto que, quanto maior o valor do ε maior a probabilidade de

transição eletrônica e quanto maior o Ф maior será a fluorescência.

22

Isso significa que concentrações pequenas do corante serão necessárias para que

se tenha uma fluorescência maior. Em casos como o deste estudo, onde os corantes

avaliados são tóxicos, isso implica que concentrações menores sejam utilizadas. Com

isso, a célula na presença destes corantes ficará viável por um tempo maior,

favorecendo estudos pro microscopia de fluorescência.

Com relação à temperatura, esta foi mantida constante a 20ºC durante toda a

verificação do rendimento quântico dos corantes. Também com relação à presença de

impurezas, os corantes usados neste estudo possuem alto grau de pureza.

A tabela 2 expõe os valores dos rendimentos dos corantes em função do aumento

da polaridade do meio. Pode-se perceber que ocorre um aumento sutil dos rendimentos

globais em função do aumento da polaridade do meio (Dioxano<2-

propanol<Acetonitrila) apesar da ampla faixa de variação existente.

Tabela 2: O rendimento quântico de fluorescência.

Solvente Corante

PZ6 PZ(CH3) PZr

Acetonitrila 0,0025 0,00031 0,002

2-propanol 0,0023 0,00030 0,001

Dioxano 0,001 0,00025 0,001

De modo geral, os rendimentos quânticos dos corantes analisados mostram-se

baixos. Isto foi motivo de surpresa num primeiro momento, convêm, entretanto lembrar

que os dados referentes ao rendimento quântico são provenientes de analise simples.

Assim, considera-se que os valores dos Ф dos corantes analisados são aceitáveis.

Os resultados expostos na tabela 2 indicam que os corantes PZ6 e PZr

responderão significativamente melhor à excitação que o composto PZ(CH3), o qual

demonstrou eficiência dez vezes menor que os outros corantes. Apesar destes

resultados, o corante PZ(CH3) demonstrou fluorescência considerável nas analises

realizadas.

23

4.4-TRANSFERÊNCIA DE ENERGIA: STERN -VOLMER

A transferência de energia do agente doador (os corantes estudados) para o

agente aceptor é um fator determinante para a utilização destas sondas em avaliações

futuras por microscopia de fluorescência. Pois, em função da transferência de energia

ocorrerá variação cromática pela qual se dará a produção do contraste da imagem.

Assim, inicialmente se determinou o ponto iso-absortivo de todos os corantes avaliados

em relação ao agente aceptor (β-lapachona) região do comprimento de onda de 410nm

(Figura 7).

350 400 450 500 550 600

0,00

0,02

0,04

0,06

0,08

0,10

Abs

orçã

o- F

luor

escê

ncia

Comprimento de Onda (nm)

____ Abs. Beta-lapachona

Fluor. Fenazina

Figura 7. Transferência de energia. Sobreposição das bandas de emissão e de absorção do agente doador

(PZ6) e do agente aceptor (β-lapachona), respectivamente. Solvente: Acetonitrila

Foram registrados espectros de fluorescência das amostras das fenazinas PZ6,

PZr e PZ(CH3) em concentrações aproximadas de 30μg. Observou-se que a adição da

β-lapachona nas soluções levou a uma supressão da fluorescência e esta supressão

aumenta com o aumento de polaridade do solvente.

24

A transferência de energia é evidenciada nas figuras 8 a 10 pela supressão da

intensidade da banda referente à fluorescência dos corantes sem o supressor.

450 500 550 600 650 700

0

2000

4000

6000

8000

10000

100L- 1,5mL

Inte

nsid

ade

Rel

ativ

a

(nm)

Figura 8. Gráfico de supressão da fluorescência referente ao corante PZ6 em 2-propanol em função do

acréscimo de alíquotas do supressor (β-Lapachona)

450 500 550 600 650

0

2000

4000

6000

8000

Inte

nsid

ade

Rel

ativ

a

(nm)

100L- 1,5mL

Figura 9. Gráfico de supressão de fluorescência referente ao corante PZ6 em Dioxano em função do

acréscimo de alíquotas do supressor (β-Lapachona)

25

450 500 550 600 650 700

0

2000

4000

6000

8000

Inte

nsid

ade

Rel

ativ

a

(nm)

100L - 500L

Figura 10. O gráfico mostra a diminuição da fluorescência da banda referente ao corante PZ6 em

Acetonitrila em função do acréscimo de alíquotas do supressor (β-Lapachona)

A partir dos valores referentes às intensidades de fluorescência dos corantes na

ausência ou presença do supressor, fornecidos pelos gráficos de supressão, fez-se um

tratamento matemático, Stern-Volmer, pelo qual se obteve os gráficos para os corantes

avaliados, conforme às figuras 11 e 12.

Nessas figuras é possível acompanhar a tendência linear da supressão da

fluorescência dos corantes mediante acréscimo do supressor. A mesma tendência é

observada em todas as fenazinas estudadas, independente da polaridade do solvente.

Isso implica podermos precisar a quantidade necessária de supressor (β-

Lapachona) para produção do contraste, bem como planejar e acompanhar em função

do tempo a formação da imagem. Pois, é esperado que os corantes avaliados

reproduzam as propriedades apoptogênicas do seu análogo, a β-Lapachona

(THORNSON e BURNETT, 1967). Assim, aumentando a concentração do supressor

será drasticamente reduzida a duração da imagem.

26

0,0 3,0x10-9

6,0x10-9

9,0x10-9

1,2x10-8

1,5x10-8

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

I F/I

F(Q

)

[Q] (Mol/L)

Figura 11. Gráfico Stern-Volmer de PZ6 em Acetonitrila, construído segundo equação IF/IF(Q)= K[Q] + B

pela adição de 7 aliquotas de 100μL do supressor com concentração igual a 2,5x10-9 cada. K=6x10

7 ; B=

1,006 ± 0,006

3,0x10-9

6,0x10-9

9,0x10-9

1,2x10-8

1,5x10-8

1,8x10-8

2,1x10-8

1,0

1,5

2,0

2,5

I F/I

F(Q

)

[Q] (Mol/L)

Figura 12. gráfico Stern-Volmer de PZr em Dioxano, construido segundo equação IF/IF(Q)= K[Q] + B pela

adição de 15 aliquotas de 100μL do supressor com concentração igual a cada. K= 6,6x107 ; B= 1,0 ±

0,008

27

As constantes de supressão dos corantes nos diferentes solventes analisados

foram agrupadas numa tabela, visando facilitar a comparação das constantes, a qual é

mostrada abaixo:

Tabela 3: Efeito da polaridade dos solventes no coeficiente de supressão (K)

Solvente Corante

PZ6 PZr PZ(CH3)

Dioxano 5x106 6,6x10

7 3,4x10

6

2-propanol 5x107 3x10

6 2,5x10

7

Acetonitrila 6x107 6x10

7 4,1x10

7

Observa-se que com o aumento de polaridade dos solventes ocorre aumento do

coeficiente de supressão de fluorescência das fenazinas estudadas. Isso mostra que esses

corantes, quando na presença do supressor, possuem maior fluorescência em meio cuja

polaridade seja menor, contrastando com meios com maior polaridade os quais serão

evidenciados como regiões escuras.

Esses dados permitem inferir sobre o potencial uso destes corantes como sondas

em avaliação de cultura de células por microscopia de fluorescência. Os dados indicam

de modo peculiar que, dos corantes avaliados, o corante PZ6 responderia melhor

proporcionando bom realce das estruturas celulares.

28

4.5- DESEMPENHO DOS CORANTES EM MISTURAS BINÁRIAS DE

SOLVENTES

450 500 550 600 650 700

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

3500

4000

4500

5000

5500

6000

6500

7000

Inte

nsid

ade

Rel

ativ

a

(nm)

100L-700L

Figura 13. Gráfico PZ6 em solução binária de água e 2-propanol. O gráfico mostra o aumento da

fluorescência do sistema em função do acréscimo de alíquotas da sonda em 2-propanol

É possível observar pelo gráfico que mediante o acréscimo da sonda PZ6 ocorre

o aumento da fluorescência, o mesmo ocorre com os outros corantes avaliados. Isso era

esperado, uma vez que água não apresenta fluorescência, no entanto torna-se importante

observar que o desempenho do corante PZ6 foi significativamente maior que os dos

outros corantes avaliados em misturas binárias em água e um dos solventes em estudo

(Acetonitrila, 2-propanol, Dioxano).

Esse corante mostrou-se particularmente mais sensível, já a partir da primeira

Alíquota. O derivado metilado (PZ(CH3)), também produziu fluorescência significativa

já na primeira alíquota, porém a fluorescência foi bem menor que do corante PZ6.

29

O corante PZr , entretanto mostrou fluorescência significativamente em média a

partir do acréscimo da 5a alíquota. Isso pode ser explicado pelo aumento da

concentração de moléculas dos solventes (Acetonitrila, 2-propanol, Dixano), que

promovem maior solvatação das moléculas do corante fenazínico avaliado.

O corante PZr, entretanto mostrou-se interessante, pois na presença de água

alterou a cor da solução, passando de um tom avermelhado quando na presença de um

dos solventes usados para uma coloração rósea. Isso merece maiores estudos, pois

seria indicativo da formação de tautômero na solução. Tautomerismo é o caso particular

de isomeria funcional no qual dois isômeros ficam em equilíbrio químico dinâmico

(Figura 14).

N

OH

N

N

N

H

O

Figura 14. Corante PZr em sua forma normal (a esquerda) e tautomérica (a

direita).

Geralmente a excitação de uma molécula muda somente seu estado eletrônico.

Porém, existem moléculas (tautomericas) que, no estado excitado, sofrem uma

modificação não somente na estrutura eletrônica como também na estrutura molecular.

Ocorre uma transferência protônica intramolecular no estado excitado (TPIEE).

PZr

30

A energia do estado excitado da forma tautomérica é reduzida em comparação

com a energia da forma normal. Devido à redução da energia do estado excitado da

forma tautomérica, a fluorescência do tautômero é deslocada para o vermelho. Desta

forma, os espectros de absorção e emissão não se superpõem e o efeito da autoabsorção,

quer dizer, a reabsorção de um fóton emitido pela mesma espécie de molécula, é

reduzida ou suprimida.

A ausência de autoabsorção e a facilidade de conversão entre as formas, normal

e tautômera, tornam os compostos com TPIEE vantajoso para estudos espectroscópicos.

31

CONCLUSÃO

De maneira geral, os resultados indicam a potencialidade dos corantes serem

utilizados como sondas de polaridade. Isso ocorre porque eles proporcionam um realce

maior de regiões menos polares em contraste com regiões de maior polaridade em

função da transferência de energia pelo acréscimo do supressor.

De modo peculiar, destacou-se o corante PZ6, que dentre os compostos

analisados foi o que apresentou melhores resultados. O corante PZ(CH3), apesar dos

baixos rendimentos, também merece destaque pois, quando analisado em água

apresentou fluorescência consideravelmente alta, comparável a do corante PZ6. Assim,

ambos são potencialmente aplicáveis como sondas moleculares.

O corante PZr despertou atenção quando em testes preliminares com soluções

binárias indicou formação da forma tautomérica em solução. Isto o torna

particularmente mais interessante, pois à medida que a polaridade do meio muda ocorre

o deslocamento do equilíbrio e a conversão de espécies tautoméricas. Cada entidade

tautomérica possui um espectro de emissão com diferentes intensidades de

fluorescência, assim uma única sonda torna-se um instrumento analítico mais eficiente.

Testes adicionais devem ser realizados com a finalidade de se caracterizar as

propriedades fotofísicas destas entidades.

Diante destes resultados e análises é possível concluir que o corante PZ6 tem

uma melhor aplicabilidade e é o melhor corante dentre os estudados para ser utilizado

como sonda durante as avaliações de mecanismo de ação biomolecular. Porém, isso

não descarta a possibilidade de utilização dos outros.

32

5. PERSPECTIVAS

Há a perspectiva de se aprofundar melhor as análises em misturas binárias de

solventes com potencial aplicação em sistemas fisiológicos. Além disso, podem vir a ser

estudados outros fatores capazes de influenciar a eficiência dos compostos como sondas

de polaridade, tal qual o pH do meio, a temperatura e as interações intracelulares com

outros compostos.

A avaliação do efeito das interações dessas sondas com as células - como

permeabilidade e citotoxidade - e a análise das interações dos compostos com células

tumorais de Ehrlich - utilizando microscopia de fluorescência – podem também vir a ser

utilizados para analisar o mecanismo de ação de drogas com atividade antineoplásicas.

Por fim, há a perspectiva de compreensão futura dos fenômenos complexos de

solvatação preferencial e migrações em microcompartimentos de sistemas organizados e

celulares.

33

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