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• Documentos • Carta Pastoral para 2007/2008 • pág. 179 Testemunhas da Ternura de Deus • História • Saul António Gomes • pág. 309 O Património Crúzio em Leiria nos inícios do século XV DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DO ANO XV • NÚMERO 44 • JULHO / DEZEMBRO • 2007 • Destaque • Nova Cúria Diocesana • págs. 173 e 255 Mudanças de fundo nos serviços

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• Documentos • Carta Pastoral para 2007/2008 • pág. 179

Testemunhas da Ternura de Deus

• História • Saul António Gomes • pág. 309

O Património Crúzio em Leiria nos inícios do século XV

DOCUMENTOS • decretos • escritos episcopais • VIDA ECLESIAL • notícias • entrevistas • REFLEXÕES • teologia/pastoral • história • DOCUM

ANO XV • NÚMERO 44 • JULHO / DEZEMBRO • 2007

• Destaque • Nova Cúria Diocesana • págs. 173 e 255

Mudanças de fundo nos serviços

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Leiria-FátimaÓrgão Oficial da Diocese

ANO XV • NÚMERO 44 • JULHO / DEZEMBRO • 2007

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| Luís Inácio João

| Luís Miguel Ferraz

| Henrique Dias da Silva

| Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,Manuel Melquíades, Saul Gomes

| Luís Miguel Ferraz

| Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais

| Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 LeiriaTel.: 244832760 • Fax: 244821102Correio Elec.: [email protected]

| Semestral

| 330 exemplares

| 6 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)

| Gráfica de Leiria

| 64587/93

Director

Chefe de Redacção

Administrador

Conselho de Redacção

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Ficha Técnica|

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Índice

Índice GeralEditorial

Laicidade, serviço à pessoa e à sociedade 165

Documentos•••. decretos .

Nomeações diversas para o ano pastoral 2007/2008 171Cúria da Diocese de Leiria-Fátima 173

Nomeação do Vigário Paroquial da Maceira 176Nomeação dos Vigários da Vara 176

Comissão para a Revisão do Regulamento da Administração dos Bens da Igreja na Diocese 177Suspensão de exercício 178

Nomeação do Director da Casa Diocesana do Clero 178

. documentos pastorais .Carta Pastoral para 2007/2008 • TESTEMUNHAS DA TERNURA DE DEUS 179

Convocatória • Assembleia Diocesana 195Mensagem para o Dia Mundial das Missões • Uma Igreja Missionária 196

Carta de Anúncio • Visita Pastoral 197Mensagem de Natal 2007 • A Estrela da Ternura 199

Mensagem às famílias 200Carta aos Jovens 201

. escritos episcopais .Homenagem ao prof. Carvalho Guerra • A Universidade para um novo humanismo 202

Artigo para a Gala da Rádio Central FM • Orgulho Nacional e Abertura Universal 210Homilia no Santuário de Fátima • A Beleza de Maria e do nosso destino humano 211

Abertura de Exposição • Salvé Rainha 214Mensagem no Diário de Notícias • Fátima: 90 anos depois 215

Mensagem • Movimento da família do sacerdote 217Jubileu dos padres Luciano Guerra e Adelino Ferreira • A grandeza e a humildade do sacerdócio 218

Intervenções de abertura e encerramento do congresso • “Fátima para o Século XXI” 223Homilia no Congresso Fátima para o Século XXI • Maria, templo do Senhor, ícone do Mistério 22890º aniversário das Aparições • Saudação a Sua Eminência, o Cardeal Legado do Santo Padre 231

Mensagem a Sua Santidade, o Papa Bento XVI 233Entrevista ao Jornal de Notícias • A igreja da Santíssima Trindade 234

Assembleia do Clero • A espiritualidade da organização e da partilha ao serviço da comunhão 236Homilia de Final do Ano • Confiemo-nos à Esperança que não desilude 245

. diversos .Comunicado • Conselho Pastoral Diocesano 249

Comunicado • Conselho Presbiteral Diocesano 250Ano Pastoral 2007-2008 • Objectivos e principais acções do ano 251Ano Pastoral 2007-2008 • Pistas para a reflexão da Carta Pastoral 252

Vida Eclesial•••. destaque .

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Índice

. notícias .Falecimento • Padre Manuel Duarte Alexandre 258

Assembleia Diocesana – início do ano pastoral • 2007/2008 sob o signo da “ternura” 259Marcelo Cavalcante de Moraes • Novo sacerdote diocesano 261

Padres Luciano Guerra e Adelino Ferreira • Bodas de ouro sacerdotais 262Celebrar a Confirmação de forma solene 264

Aniversário da dedicação da Catedral 264Conselho de Coordenação Pastoral 265

Diocese celebra Santo Agostinho 26610º aniversário do órgão da Sé 266

D. António Marto visitou Santuário de Trani 266Encontro diocesano de catequistas 267

Grande oração pelas vocações 268Assembleia do clero e o estado da Diocese 268

Professores de EMRC preocupados com secularização 269Vigílias vocacionais vicariais 269

Formação sobre arquivos eclesiásticos 271Novos vigários forâneos 272

Jornada Diocesana da Pastoral Familiar 273Renato Rosa, instituído Leitor 273

Bispo visita equipas sacerdotais 273

. Santuário de Fátima .Indefinições na Concordata atrasam contas de Fátima 275

Migrantes enchem Santuário de Fátima 275Comemorações dos 90 anos das Aparições terminam 276

Grande Espaço Coberto para Assembleias 278Colóquio “O Cristianismo no Japão” 279

Santuário de Fátima recebe Medalha de Ouro 280

. serviços e movimentos .“Dez Milhões de Estrelas – Um gesto pela Paz” • Campanha de Natal da Cáritas 281

Ano lectivo 2007-2008 • Centro de Formação e Cultura 284Serviço Diocesano de Pastoral Juvenil • Novos desafios 286

Obras Missionárias Pontifícias • Missão para todos 289Semana dos Seminários • No Seminário cresce o futuro! 292

. entrevistas .Padre Luís Miranda, membro da equipa do Seminário • A Semana dos Seminários 295

Dois irmãos, padres angolanos, em Leiria • “Deus encontra pouco espaço na vida do homem” 297Pe. Augusto Pascoal, responsável da comunidade • S. Romão e Guimarota - centro de vida cristã 299

Reflexões•••. teologia/pastoral .

D. Benedito Roberto, Bispo do Sumbe • Uma diocese chamada Sumbe 303Teresa Eugénio • Uma experiência de missão 305

. história .Saul A. Gomes • O Património Crúzio em Leiria nos inícios do século XV – Elementos para o seu estudo 309

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Editorial

Laicidade, serviço à pessoa e à sociedadeEstá já nos nossos códigos mentais, a laicidade refere-se ao princípio da inde-

pendência do Estado em relação a qualquer religião, e ao modo como o mesmo trata com os grupos e as pessoas em matéria religiosa. Habituados à palavra e ao seu sentido, que veicula a ideia da autonomia entre o religioso e o político e sugere a não confessionalidade do Estado, poderíamos pensar que se recorre a um procedimento inédito. Não é exacto. A laicidade assenta nos direitos fundamentais, intimamente conexos, da liberdade de pensamento e expressão, e da liberdade de associação, cujo exercício, apenas limitado pela dupla exigência de ser garantido a todos e de não afrontar o bem comum, se aplica a qualquer âmbito em que a pessoa, investindo a sua inteligência e a sua decisão, desenvolve e explana a sua personalidade indisso-ciável da dimensão social. A prioridade não vai, pois, para a religião, a política, a economia ou outra qualquer actividade humana, mas directamente para a pessoa que se exprime nessas dimensões. A laicidade não é excepção nem privilégio, é apenas um caso de aplicação do respeito das liberdades fundamentais mencionadas.

A ligação básica com os direitos humanos confere pertinência à laicidade mesmo em contextos de desvanecimento da referência e do sentido de pertença às grandes religiões, de diminuição da prática religiosa e de expressão tendencialmente indivi-dualista e anárquica da religiosidade persistente, e até de avanço do indiferentismo e dos vários agnosticismos.

Hoje, a questão religiosa evidencia mais claramente a sua natureza sócio-cultu-ral, girando como nunca em torno dos valores humanos e sociais. As próprias igre-jas, findo o regime da mistura indistinta do temporal com o espiritual, ocupam o seu espaço natural na sociedade civil, ao lado dos demais actores que aí se constituem, cooperam e se confrontam, todos testando o valor e a força das suas convicções e a pedagogia das suas propostas. Neste novo contexto em que a liberdade de pensar, ex-primir-se e associar-se, reclama dos cidadãos, crentes ou não, níveis elevados de res-peito, discernimento e aceitação, a laicidade, diríamos, antes que política, é civil.

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Incumbindo ao Estado zelar pela boa saúde da nação, sociedade plural, partici-pativa e inclusiva, com capacidade de aproveitar a imensa variedade de pensares, iniciativas e cooperações, ele não pode cingir-se a manter a ordem e a vigiar a com-patibilidade com o bem comum. Muito menos poderá ceder à tentação de adoptar uma qualquer confissão ou de declarar sua doutrina a negação da religião, o que lesaria gravemente o direito à diversidade, a dignidade dos cidadãos e o próprio bem comum. Impende sobre o Estado a obrigação de um apoio positivo aos órgãos que são fruto e expressão da vitalidade da sociedade civil.

As igrejas, por seu lado, nada tendo a reclamar a outro título, têm, nesta sua condição de emergentes e radicadas na pessoa e na sociedade, a base bastante dos seus direitos, os mesmos que devem defender para os seus parceiros. Sem dúvida que há uma especificidade religiosa, nomeadamente no cristianismo, que tem em Jesus Cristo o seu fundamento e na pessoa humana o primeiro destinatário. Mas isso, que pertence à natureza dos conteúdos, sem trazer privilégios sociais, e inclui o acolhimento delicado da verdade que esteja no outro, reforça ainda a exigência de a “mensagem” ser apresentada às decisões livres e responsáveis, em termos de proposta pedagogicamente válida.

Poder pensar, exprimir-se e associar-se não é apenas corolário, é também con-dição da sociedade democrática, cuja “subjectividade” nunca pode ser dada como definitivamente adquirida. Além do imprescindível cimento solidário, é essencial a dimensão orgânica de cada um, pessoa, famílias e associações, com a especificida-de dos respectivos contributos. Mesmo quando a nação deputa alguém para a sua governação, está ainda a garantir as condições da própria subsistência apostando no incremento coordenado das capacidades criativas.

A experiência não engana: a construção democrática é árdua, permanente, de todos. Na nossa ambição infantil primordial, precisámos que o papá e da mamã nos avisassem: só garantiríamos a nossa parte deixando metade para o irmão. Este reco-nhecimento imposto terá desbloqueado a grande descoberta: o amor materno, sím-bolo de todos os bens, não diminui se partilhado, e a solidariedade fraterna não tem preço. Contudo, mesmo que o conflito inicial se resolva a contento, só um amadure-cimento contínuo impede o regresso à antiga ambição e à “democracia negativa” de

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apenas conceder para obter e respeitar para fugir ao castigo. Neste aspecto, os ventos não parecem correr de feição: esse regresso já motiva apelos incessantes ao Estado de Direito, que a evidente impossibilidade de vigiar a todos, mesmo os vigias, torna claramente infrutíferos.

Entre nós, um deficit manifesto de “socialização” de valores imprescindíveis, leva o Estado a voltar-se para a reforma escolar, de indesmentível urgência. Erra, não obstante, se açambarcar o que só lhe incumbe de forma parcial e subsidiária. Não seria a primeira vez que intervencionismos estatais na transmissão e (re)produção da cultura redundam em abusos de lesa democracia. Ao Estado nunca é permitido nem substituir-se às instâncias intermédias da sociedade civil, nem “professar” ou impor qualquer ideologia mesmo que a do partido maioritário. Aliás estaria a amaneirar as bases do Direito que o legitima e pelo qual deve reger-se. Decididamente, o debate ideológico e cultural não é o seu campo. Pelo contrário, incumbe-lhe criar as con-dições para que as instâncias competentes o assumam e levem a bom termo. Entre-tanto, urge estar atento à sociedade civil que, demitindo-se com facilidade, pactua, conivente, com excessivas estatizações. Renitente, às vezes em demasia, quanto à intervenção na área económica, parece não se importar que sejam negadas às famí-lias a prioridade e a liberdade de escolha e de intervenção na educação dos filhos.

Ainda no parto da democracia moderna, o século XIX preocupou-se com os fundamentos de instituições como o voto individual, o poder da maioria, o respeito pelas minorias e a participação cívica. As novas elites, que se atacaram à religião instituída, tentaram logo congeminar deísmos substitutos, não viessem a faltar algu-mas referências essenciais. Os esforços foram inglórios, mas o desafio de informar de sentido a construção social continuaria com as elaborações positivistas, raciona-listas, materialistas, burocratas, que se foram sucedendo e acumulando. Em meados do século XX, o Ocidente, que alternara a “loucura” de alguns anos com o horror de outros, conseguia, mesmo assim, salvaguardar a herança democrática. As elites não criaram novas fontes mas também não conseguiram eliminar as antigas. Subsistiam alicerces. Mas à entrada do novo milénio, a situação modificou-se profundamente. A erosão que deixara moribundas as ideologias atingia também as grandes religiões. A coesão social fragiliza-se numa espécie de democracia de mínimos, que reivindica direitos e desleixa deveres, como se a satisfação dos egoísmos pudesse garantir o bem comum.

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Para que o respeito e o apreço pela diversidade entrem na consciência colectiva, como património comum, têm de ser transmitidos logo na primeira socialização, nos processos educativos subsequentes e na laboração sócio-cultural contínua, nada ficando garantido por mera proclamação de princípios. A questão do lugar para to-dos, na diversidade, que a todos preocupa, a todos deve ocupar, desde o cidadão e a família às inúmeras e complexas estruturas de iniciativa civil, até ao Estado. Este, existindo em função das demais instâncias, sem que nenhuma esteja em função dele, é mesmo assim imprescindível. Não é demais insistir que lhe cabe respeitar e promo-ver a garantia dos direitos fundamentais, que também inspiram e fundam o princípio da laicidade. Mas percebemos ainda quão grande é o dever de não privar a nação, os vários órgãos sociais e os próprios cidadãos dos benefícios do livre confronto sobre os valores fundamentais. Com este sentido do bem comum, sem o qual o Estado perderia a sua legitimidade, aclara-se a laicidade como um conjunto de políticas positivas e concretiza-se um dos melhores serviços do poder estatal constituído.

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Documentos. decretos . documentos pastorais .

. escritos episcopais . diversos .

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Nomeações diversas para o ano pastoral 2007/2008As nomeações que hoje se tornam públicas são fruto de muito diálogo, de muita

escuta e oração, para corresponder às necessidades do Povo de Deus. Por isso, con-fio-as ao Espírito Santo por intercessão de Maria Santíssima. Confio também que sejam acolhidas por todos os diocesanos em espírito e comunhão eclesial. É neste espírito que as apresento à Diocese, tal como se segue:

1. Em documento próprio é apresentada uma remodelação da cúria diocesana, com uma estrutura mais clara e uniforme e com redistribuição das competências entre os organismos da Diocese. Esta alteração é feita para procurar um melhor ajustamento das estruturas pastorais e administrativas à realidade diocesana actual e contribuir para uma acção pastoral mais organizada e coordenada, simplificando os órgãos de governo pastoral.

2. O P. Dr. Carlos Cabecinhas é enviado para Roma a fim de concluir os estudos no âmbito do Doutoramento, deixando a equipa formadora do Seminário de Coim-bra.

3. O P. Marcin Strachanowski, da Diocese de Cracóvia, na Polónia, é nomeado Capelão do Santuário de Fátima.

4. O P. Francisco Pereira é nomeado Capelão do Santuário de Fátima e deixa a paroquialidade do Souto da Carpalhosa.

5. O P. Doutor Augusto Pascoal é nomeado Sacerdote Penitenciário da Catedral, mantendo os serviços que exerce até à data.

6. O P. Dr. Gonçalo Diniz é nomeado Director do Departamento de Pastoral Juvenil e Escolar. Deixa o serviço paroquial dos Marrazes e assume funções de docência no Instituto Superior de Estudos Teológicos de Coimbra e no Centro de Formação e Cultura de Leiria.

7. O P. André Baptista é nomeado Director do Pré-Seminário, deixando o serviço paroquial da Maceira. É também designado para assumir a responsabilidade pastoral das capelanias militares do Regimento de Artilharia de Leiria e da Base Aérea de Monte Real.

8. O P. Dr. Luís Inácio João é nomeado Director do Departamento de Pastoral Social, acumulando com as funções que já desempenha.

9. O P. Dr. Jorge Guarda, Vigário Geral, é nomeado Moderador da Cúria, Direc-tor do Departamento das Vocações Cristãs e Coordenador do Serviço de Animação Vocacional.

10. O P. Henrique Fonseca é nomeado Coordenador do Serviço de Apoio ao Clero, continuando como Pároco da Ortigosa.

. decretos .

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11. O P. Dr. Adelino Guarda é nomeado Director do Gabinete de Apoio aos Ser-viços Pastorais, acumulando com as funções que já exerce.

12. O P. Manuel Henrique Jesus é nomeado Assistente Diocesano do Movimento Convívios Fraternos e dispensado da responsabilidade do Secretariado de Pastoral Juvenil; continua com as funções de Vigário Paroquial da Marinha Grande.

13. A Ir. Nancy Ortiz Casas, da Congregação Filhas de Santa Maria de Guadalu-pe, é nomeada Assistente Diocesana da Juventude Operária Católica.

14. O P. Cristiano Saraiva, Ecónomo diocesano, é nomeado Administrador da Grá-fica de Leiria e deixa a paroquialidade da Cruz da Areia, mantendo a da Barreira.

15. O P. Rui Marto, dos Padres Claretianos, é nomeado Pároco de Fátima e Co-ordenador do Serviço para a Vida Consagrada.

16. O P. Bernardo Morganiça é nomeado Pároco de Santa Eufémia e Notário da Câmara Eclesiástica, deixando o serviço paroquial de Pedreiras e Calvaria.

17. O P. Sérgio Fernandes é nomeado Pároco de Pedreiras e de Calvaria. Deixa o serviço paroquial em Alpedriz e Pataias, bem como a assistência pastoral das cape-lanias militares de Monte Real e Leiria.

18. O P. Rui Acácio Ribeiro é nomeado Pároco da Cruz da Areia, acumulando este serviço com as funções que tem desempenhado.

19. O P. José Baptista é nomeado Pároco do Souto da Carpalhosa, deixando o serviço no Santuário de Fátima.

20. O P. Virgílio Francisco é nomeado Pároco de Alpedriz, acumulando com a paroquialidade de Pataias.

21. O P. João Feliciano é nomeado Pároco de Colmeias, deixando o serviço pa-roquial em Ourém e continuando os estudos de Direito Canónico na Universidade Católica de Lisboa.

22. O P. Jacinto Gonçalves é nomeado Pároco da Bidoeira, acumulando com a paroquialidade de Milagres e a redacção de “A Voz do Domingo”.

23. O P. Marco Brites é nomeado Vigário Paroquial de Marrazes, deixando o serviço paroquial em Regueira de Pontes.

24. O Diác. Marcelo Moraes é designado para colaborar no serviço pastoral da paróquia de Maceira.

25. O P. Boaventura Vieira deixa as funções de Administrador da Gráfica de Leiria, a seu pedido, e mantém o serviço de Capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real.

26. O P. Nelson Araújo, a seu pedido, é dispensado da paroquialidade de Col-meias e Bidoeira.

27. O P. Manuel António Henriques é dispensado da paroquialidade de Fátima, a seu pedido por motivos de saúde.

28. O P. Raúl Carnide deixa o serviço na Câmara Eclesiástica para se dedicar a tempo pleno ao serviço paroquial.

29. O P. Manuel Pina Pedro deixa as funções de Assistente do Secretariado Dio-

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cesano da Pastoral dos Ciganos, por este organismo ter sido extinto e as suas funções terem sido integradas no novo Serviço de Apoio Pastoral à Mobilidade, do Depar-tamento de Pastoral Social. Mantém as funções de Capelão dos Estabelecimentos Prisionais de Leiria.

30. O P. Joaquim Duarte Pedrosa é dispensado da paroquialidade de Santa Eufé-mia, a seu pedido, por motivos de saúde.

As tomadas de posse ocorrerão durante o mês de Setembro.A quantos deixam os cargos precedentes expresso o mais sincero reconhecimen-

to por quanto fizeram, na certeza de que o Senhor os saberá recompensar.A cada um, pessoalmente, asseguro a proximidade na oração e o meu pleno

apoio.Leiria, 13.07.2007, Solenidade da Dedicação da Catedral.

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Cúria da Diocese de Leiria-FátimaA Cúria Diocesana é o conjunto de organismos e de pessoas que colaboram com

o Bispo Diocesano no governo da Diocese, de modo particular na direcção da acção pastoral, na administração da Diocese e no exercício do poder judicial (cf. CDC. c. 469). A Cúria Diocesana participa no tríplice ministério apostólico do Bispo dioce-sano: ensinar, santificar e governar. De facto, ela é a “estrutura de que o Bispo se serve para manifestar a caridade pastoral nos seus vários aspectos” (Pastores Gregis 45). Está, pois, ao serviço da comunhão e da missão evangelizadora de toda a Igreja diocesana.

Os organismos diocesanos existentes foram surgindo ao longo dos últimos 40 anos como resposta às necessidades que se fizeram sentir. Os serviços foram-se multiplicando e especializando, dando lugar a novos organismos ou reajustando as competências dos que existiam. O tempo e a alteração das circunstâncias exigem uma reorganização destes serviços e uma redistribuição das tarefas e competências.

Por isso, tendo auscultado o Conselho Presbiteral, e de acordo com as disposi-ções do Direito geral da Igreja, procedemos a uma reestruturação destes organismos da Cúria, motivada por uma necessidade de melhor ajustamento das estruturas pas-torais à realidade da Diocese. Com isto pretende-se uma melhor coordenação, uma acção pastoral mais organizada e uma maior operacionalidade nos diversos âmbitos pastorais.

Assim, em virtude do cânone 391 e seus concordantes decretamos a reestrutura-ção da nossa Cúria diocesana, tal como segue:1. Gabinete Episcopal

• Gabinete de Imprensa2. Vigararia Geral

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3. Chancelaria (Câmara Eclesiástica)• Secretaria Geral• Arquivo Diocesano

4. Departamento de Administração Diocesana• Serviços Administrativos da Diocese• Comissão para o Fundo Diocesano o Clero• Gabinete de Contabilidade e Assuntos Fiscais

5. Departamento de Património Cultural• Comissão de Bens Culturais• Comissão de Construção e Manutenção de Edifícios

6. Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais (Gaspa)7. Tribunal Eclesiástico8. Centro de Formação e Cultura9. Departamento de Educação Cristã

• Serviço Diocesano de Catequese• Serviço de Apoio ao Catecumenato• Comissão de Catequese com Adultos

10. Departamento de Pastoral Juvenil e Escolar• Serviço Diocesano de Pastoral Juvenil• Serviço de Pastoral do Ensino Secundário• Serviço para o Ensino da Igreja nas Escolas• Centro de Apoio ao Ensino Superior• Centro de Apoio aos Docentes Católicos

11. Departamento de Pastoral Social• Cáritas Diocesana • Comissão Diocesana Justiça e Paz• Serviço de Apoio Pastoral à Mobilidade• Serviço Pastoral da Comunicação Social• Serviço de Pastoral da Saúde

12. Departamento de Pastoral Familiar• Serviço de Pastoral da Família

13. Departamento das Vocações Cristãs• Serviço de Animação Vocacional• Serviço de Apoio ao Clero• Serviço para o Diaconado Permanente• Serviço para a Vida Consagrada• Serviço de Animação Missionária

14. Departamento de Liturgia• Serviço de Pastoral Litúrgica e Música Sacra• Comissão de Espaços Religiosos e Litúrgicos• Comissão de Coordenação das Celebrações Diocesanas

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As competências e o âmbito de responsabilidade dos diversos organismos são apresentados em documento próprio que será enviado, em anexo, a todos os respon-sáveis de departamentos e serviços da Cúria.

A fim de se poder coordenar adequadamente o funcionamento e actividade dos diversos órgãos da Cúria é criado o Conselho de Coordenação Pastoral, presidido pelo Bispo diocesano e constituído por todos os directores de departamento, ou equiparados. A moderação da Cúria é da responsabilidade do Vigário Geral, P. Jorge Guarda, de acordo com o cânon 473 do Código de Direito Canónico.

Os responsáveis dos diversos organismos são nomeados ou confirmados como a seguir se indica:Gabinete Episcopal

Chefe de Gabinete: P. Doutor Vítor Manuel Leitão CoutinhoCoordenador do Gabinete de Imprensa: P. Dr. Rui Acácio Amado Ribeiro

Vigário Geral: P. Dr. Jorge Manuel Faria GuardaCâmara Eclesiástica

Chanceler: P. Doutor Américo FerreiraDepartamento de Administração Diocesana

Ecónomo Diocesano: P. Cristiano João Rodrigues SaraivaDepartamento de Património Cultural

Director: P. Dr. Manuel Armindo Pereira JaneiroGabinete de apoio aos Serviços Pastorais

Director: P. Dr. Adelino Filipe GuardaTribunal Eclesiástico

Vigário Judicial: P. Dr. Fernando Clemente VarelaCentro de Formação e Cultura

Director: P. Dr. Adelino Filipe GuardaDepartamento de Educação Cristã

Director: P. Dr. José Henrique Domingues PedrosaDepartamento de Pastoral Juvenil e Escolar

Director: P. Dr. Gonçalo Corrêa Mendes Teixeira DinizDepartamento de Pastoral Social

Director: P. Dr. Luís Inácio JoãoPresidente da Cáritas Diocesana: Ambrósio Jorge dos SantosPresidente da Comissão Diocesana Justiça e Paz: Dr. Tomás Oliveira DiasCoordenador do Serviço de Apoio Pastoral à Mobilidade: P. Sérgio Feliciano

Sousa HenriquesCoordenador do Serviço Pastoral da Comunicação Social: P. Dr. Rui Acácio

Amado RibeiroCoordenador do Serviço de Pastoral da Saúde: P. Dr. Adelino Filipe Guarda

Departamento de Pastoral FamiliarDirector: P. Dr. Luís Inácio João

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Departamento das Vocações CristãsDirector: P. Dr. Jorge Manuel Faria GuardaCoordenador do Serviço de Animação Vocacional: P. Dr. Jorge Manuel Faria GuardaCoordenador do Serviço de Apoio ao Clero: P. Henrique Fernandes da FonsecaCoordenador do Serviço para o Diaconado Permanente: P. Dr. Virgílio do Nas-

cimento AntunesCoordenador do Serviço para a Vida Consagrada: P. Dr. Rui Manuel Reis MartoCoordenador do Serviço de Animação Missionária: P. Vítor José Mira de Jesus

Departamento de LiturgiaDirector: P. Dr. Carlos Manuel Pedrosa CabecinhasEsta remodelação entra em vigor no dia 1 de Setembro de 2007.

Leiria, 13 de Julho de 2007, Festa da dedicação da igreja catedral de Leiria.† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Nomeação do Vigário Paroquial da MaceiraAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz

saber quanto segue:Sendo necessário prover ao cuidado pastoral do Povo de Deus que nos foi con-

fiado, havemos por bem nomear Vigário Paroquial de Maceira o Rev. P. Marcelo Cavalcante de Moraes, que entra em funções após a ordenação presbiteral.

Exercerá o seu ministério em colaboração com o Revº Pároco, P. Fernando Pereira Ferreira, e com todos os direitos e deveres previstos no Código de Direito Canónico, nomeadamente as faculdades consignadas no cânone 1111.

Esta nomeação é válida pelo período de seis anos. Leiria, 21 de Outubro de 2007.

† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Nomeação dos Vigários da VaraAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz

saber quanto segue:Sendo necessário proceder à nomeação de novos Vigários da Vara, de acordo

com os cân. 553–555 do Código de Direito Canónico, e tendo consultado os presbí-teros das respectivas vigararias, nomeamos os seguintes Vigários:

Vigararia da Batalha: P. Nuno Miguel Heleno GilVigararia de Colmeias: P. Filipe da Fonseca LopesVigararia de Fátima: P. António RamosVigararia de Leiria: P. Joaquim de Almeida Baptista

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Vigararia de Marinha Grande: P. Virgílio do Rocio FranciscoVigararia de Milagres: P. Vítor José Mira de JesusVigararia de Monte Real: P. José Lopes BaptistaVigararia de Ourém: P. Armindo Castelão FerreiraVigararia de Porto de Mós: P. Orlandino Barbeiro BomOs novos Vigários da Vara entram em funções no dia 21 de Novembro de 2007,

dia da tomada de posse, e o seu mandato é válido por três anos.Leiria, 29 de Outubro de 2007.

† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Comissão para a Revisão do Regulamento da Administração dos Bens da Igrejana Diocese de Leiria-Fátima

A Igreja precisa de bens materiais para desempenhar a sua missão espiritual no mundo. Com essa finalidade, recebe-os dos fiéis e procura administrá-los de forma competente e transparente.

Em ordem a fomentar a partilha de bens e a sua boa administração e garantir aos sacerdotes e a outros servidores da Igreja diocesana a tempo inteiro meios de sus-tentação, o meu predecessor, com o contributo do Conselho Presbiteral, publicou o Regulamento da Administração dos Bens da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima, que entrou em vigor de modo obrigatório no dia 1 de Janeiro de 1998.

Passaram entretanto dez anos e, em 2004, foi assinada a nova Concordata entre a Sé Apostólica e o Estado Português que tem várias implicações sobre os bens da Igreja.

Na sua reunião do passado dia 30 de Outubro, o Conselho Presbiteral avaliou positivamente os frutos do dito Regulamento e considerou que é oportuno proceder à sua revisão em ordem a actualizá-lo segundo as exigências da situação presente.

Assim, em ordem à recolha e elaboração de uma proposta para a actualização do dito Regulamento, nomeio a Comissão constituída pelas seguintes pessoas:

- Padre Jorge Manuel Faria Guarda, vigário geral da Diocese;- Padre Manuel Armindo Pereira Janeiro, secretário do Conselho Presbiteral;- Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, pároco e ecónomo diocesano;- Mons. Henrique Fernandes da Fonseca, pároco e coordenador do Serviço de

Apoio ao Clero;- Henrique Dias da Silva, dos Serviços Administrativos da Diocese.A Comissão será coordenada pelo Vigário Geral e entra imediatamente em funções.

Leiria, 23 de Novembro de 2007.† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Suspensão de exercícioAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz

saber quanto segue:Atendendo ao pedido feito pelo Revº Padre Nélson José Nunes Araújo de sus-

pender o exercício do ministério ordenado, e considerando que a Igreja é Mãe e Mestra, e que a salvação das almas é a Lei Suprema da Igreja, (cf. cân. 1752), de-cretamos, de acordo com o cân. 1317 do Código de Direito Canónico, a suspensão do exercício do ministério sacerdotal do referido sacerdote, ficando, pois, impedido de exercer todas as actividades do seu ministério, salvo o prescrito no cân. 976. Pelo mesmo facto fica privado de todos os ofícios e cargos bem como de qualquer poder delegado (cf. cân. 292).

A decisão que agora se publica foi tomada após longo período de diálogo e re-flexão entre o Bispo diocesano e o presbítero em questão, que deixou de exercer o ministério ordenado a 23.09.2007, tendo-se-lhe concedido o prazo de um ano para regularizar a sua situação canónica.

Leiria, 15 de Dezembro de 2007.† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Nomeação do Director da Casa Diocesana do CleroAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, faz

saber quanto segue:Sendo necessário prover a Casa Diocesana do Clero de um novo responsável,

havemos por bem nomear Director da Casa Diocesana do Clero o Revº P. Clemente Dotti, para o quinquénio de 2008 a 2012.

Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispo dio-cesano.

Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.Leiria, 20 de Dezembro de 2007.

† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Carta Pastoral para 2007/2008

TESTEMUNHAS DA TERNURA DE DEUS

Caríssimos DiocesanosIrmãos e Irmãs no Senhor“A graça do Senhor Jesus esteja convosco. Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus”

(1 Cor 16,23-24). Com estas palavras do Apóstolo Paulo saúdo-vos cordialmente e expresso-vos o meu fraterno afecto, bem como a minha gratidão pela vossa colabo-ração durante o meu primeiro ano entre vós.

Foi para mim verdadeiramente consolador sentir um povo interessado e entusias-mado em descobrir e celebrar a beleza e a alegria da vocação cristã. Pude verificá-lo, de modo mais visível, no bom acolhimento da carta pastoral e da carta às crianças, nas vigílias vocacionais, na grande peregrinação diocesana a Fátima, na celebração das ordenações sacerdotais e do jubileu das várias vocações, no reiniciar do pré-se-minário e no grupo vocacional Santo Agostinho.

Não é possível medir o acontecimento de graça que, ao longo do ano, tocou as consciências e as comunidades, nem os frutos da semente lançada. Mas, no termo do ano pastoral, quero agradecer convosco as pequenas e grandes maravilhas que o Senhor fez por nós, com a oração do salmista: “Louvai o Senhor porque Ele é bom, porque é eterno o Seu amor” (Sl 118,1).

Hoje – após ampla consulta aos vários órgãos diocesanos, cujos preciosos contri-butos agradeço –, apresento-vos o percurso pastoral para o ano 2007/08 com o título “Testemunhas da Ternura de Deus”.

1. Uma paragem em Elim

A Sagrada Escritura, narrando-nos a caminhada do êxodo do povo de Deus atra-vés do deserto, diz a certa altura: “Chegaram a Elim onde estão doze nascentes e setenta palmeiras. E acamparam ali à beira da água” (Ex 15, 27).

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O lugar de Elim, com as setenta palmeiras e as doze fontes, é um autêntico oásis que oferece ao povo, já fatigado pela longa caminhada, a possibilidade de parar, de re-tomar fôlego e de fazer o ponto da situação: onde estamos? Como vivemos esta cami-nhada? O que nos espera? Como e por onde nos conduz o Senhor? A que nos chama?

Este episódio serve para iluminar o nosso caminho pastoral já traçado pelo síno-do diocesano. Após o primeiro biénio dedicado ao acolhimento e à vocação cristã, também nós sentimos a necessidade de fazer uma paragem. Com isso queremos consolidar os dinamismos, as iniciativas e propostas, as acções que foram desenca-deadas e corriam o risco de depressa serem esquecidas, sem lançarem raízes sólidas em todas as comunidades e vigararias.

É também um convite a saborear de novo, a gostar interiormente, a sentir como são deliciosos para nós os dons de Deus, concretamente os dons do acolhimento e da vocação, tão característicos da existência cristã.

Por isso, escolhemos como lema bíblico para este ano pastoral 2007/2008 a frase do salmista: “Saboreai e vede como é bom o Senhor” (SI 34,9). Saboreai e vede, isto é, saboreai e então vereis, sereis iluminados pela bondade do Senhor, pela sua ternura; vereis como a vossa vida se ilumina e adquire grandeza e beleza. E, como símbolo, escolhemos a Bíblia porque contém os mais belos testemunhos da ternura de Deus e também para estarmos em sintonia com a preparação do próximo sínodo dos bispos sobre “A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja”

A temática do primeiro biénio pastoral estava centrada na “Vocação como dom e missão”. Mas na base, como ponto de partida, pôs-se o “Acolhimento”. De facto, o acolhimento é o pressuposto, a atitude fundamental que nos abre a Deus, aos ou-tros, ao mundo e, por conseguinte, à nossa vocação e missão. Antes de empreender e organizar iniciativas, devemos pôr-nos a questão: somos cristãos e comunidades capazes de acolher Deus e os outros?

Assim, nesta carta pastoral, retomo os temas do acolhimento e da vocação em conjunto, procurando conjugá-los e iluminá-los na perspectiva da ternura de Deus.

2. Um mundo inóspito que invoca ternura

Vivemos numa sociedade que, antes de mais, quer recuperar o valor do aco-lhimento porque sente que a vida se torna demasiado dura e fria se não há relação verdadeira e calorosa com os outros.

Pertencemos à era fascinante da comunicação global. E, todavia, hoje aumenta cada vez mais a pobreza relacional e o vazio de sentido.

Vivemos num mundo que se move e transforma a grande velocidade, que privi-legia o ritmo empresarial e a eficácia imediata. Somos a primeira geração do stress e do zapping, símbolos do activismo frenético e da febre do consumismo de coisas, e de afãs tantas vezes inúteis. Não temos tempo para parar, olhar, escutar prestar

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atenção, acolher, cuidar do outro. Não temos tempo para Deus. Por isso a nossa sociedade encontra muita dificuldade em criar espaços, tempos, lugares e condições para o acolhimento. O acolhimento torna-se cada vez mais aleatório.

Um outro fenómeno é o crescente individualismo e o escasso sentido de comuni-dade. Cada um ocupa-se de si e dos seus interesses, pensa que pode realizar-se e ser feliz sem os outros. Ou vê o outro em função da sua própria realização pessoal. Este facto traz como consequência uma quebra de fraternidade e solidariedade entre as pessoas. As relações são dominadas pela competição agressiva e invasora.

Acresce ainda a cultura mercantilista que afecta as relações humanas. Vivemos num mundo onde tudo se compra e vende. O modelo do êxito social e de felicidade veiculado pelos “media” é o da aquisição do poder, do saber e do ter. Perde-se o sentido da gratuidade para com os outros, já desde a própria infância. Tende-se a marginalizar os que não têm poder nem eficácia produtiva.

À escala mundial assistimos ao fenómeno da mobilidade e da imigração que nos introduz numa sociedade e num tipo de convivência com diversas culturas e religi-ões. Mas tal facto traz consigo os problemas do desenraizamento e as dificuldades de acolhimento e integração daquele que é diferente. Esta diversidade cultural pode tornar-se num enriquecimento, mas também pode suscitar reacções de xenofobia, de violência e transformar-se num “choque de civilizações” e de culturas.

O estilo de vida frenético e consumista, o individualismo e a indiferença, a am-bição e a avidez desenfreada, a cultura mercantilista produzem o drama moderno da incomunicabilidade, do anonimato, da solidão existencial. Por vezes temos a sensa-ção de vivermos num “arquipélago de solidões” em que cada um se sente uma ilha no meio de muita gente, estranho ao outro e, por fim, estranho a si mesmo.

Tudo isto repercute-se na questão fundamental de cada pessoa sobre o sentido a dar à sua vida, isto é, na questão da vocação. Numa sociedade fragmentada e confusa, a vida torna-se para muitos apenas uma coisa ocasional a usar e gozar no momento presente, sem projecto. Outros sentem-se “perdidos”, sem bússola, e por isso sem norte e sem rumo. Sintomas disso são o alto número de doenças psíquicas ligadas à solidão, ao stress, ao vazio interior e a busca de seitas onde muitos encon-tram acolhimento com a aceitação de regras claras e seguras. É muito significativo que, nos países onde as grandes religiões diminuem em número de fiéis, proliferam seitas, bem como grupos de terapia, de auto ajuda…

Que sociedade se está a construir no início do terceiro milénio? Que futuro se está a preparar?

Numa leitura evangélica dos sinais dos tempos, nós, cristãos descobrimos nesta situação um desafio e uma vocação. Trata-se de criar uma cultura da ternura e do acolhimento, da comunhão e da solidariedade, como alternativa à anti-cultura do egoísmo, da indiferença, da dureza e da frieza de relações, da divisão e da violência. Mas devemos começar por nos interrogar a nós mesmos: qual a qualidade do nosso acolhimento nas relações interpessoais, na família, na comunidade cristã? Ofere-

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cemos propostas sérias para o discernimento da vocação cristã no mundo de hoje, sobretudo aos jovens? Não nos deixámos contaminar pela lógica do mundo?

Sempre me impressionou, profundamente, a reprovação que Heinrich Boll, pré-mio Nobel da Literatura em 1972, dirige aos católicos: “Aquilo que até hoje faltou aos mensageiros do cristianismo é a ternura” aos vários níveis: de comunicação, de vida afectiva, de compromisso social. Sem ternura não há vida, não há beleza, não há felicidade!

3. O Evangelho da Ternura

O Deus de Jesus Cristo convida-nos, através do salmista, à contemplação des-lumbrante do seu mistério de Amor: “O Senhor é bom para com todos; cheio de ternura para com todas as suas criaturas” (Sl 144,9). E pede-nos que nos tornemos, uns com os outros e uns para os outros, testemunhas da Sua ternura, se queremos que a casa do mundo possa ser acolhedora para todos e generosa para com todos. Levar a ternura de Deus ao mundo é levar a salvação do Evangelho.

O acolhimento de que falamos não é o que se oferece num hotel ou num ae-roporto ou numa agência bancária. Não é uma estratégia para captar ou fidelizar clientes. É antes um estilo de vida. Acolhemos o outro a partir da nossa identidade de discípulos de Jesus Cristo e do Seu Evangelho. Este acolhimento requer pois uma espiritualidade que o sustente e uma pedagogia que o configure a partir da fé.

Deus é Amor. Por isso é Deus da ternura. As entranhas da Sua ternura mani-festam-se como acolhimento puro. E o nosso próprio acolhimento é um dom de Deus, reflexo da sua ternura. A Bíblia narra histórias maravilhosas de acolhimento e hospitalidade de Deus para com os homens e destes para com Ele, que são também histórias de vocação e que vamos contemplar e meditar.

3.1 Deus é o primeiro a acolher-nos

3.1.1 “E Deus viu que tudo era muito bom e belo”: o encanto do primeiro acolhimentoLogo nos primeiros capítulos, o livro do Génesis mostra-nos como e quanto

Deus é acolhedor das suas criaturas. É com uma exclamação cheia de encanto e de deslumbramento, terna e amorosa, que Deus acolhe o homem e a mulher, a obra-prima da sua criação, à sua imagem e semelhança: “ E Deus viu que era muito bom e belo” (1,31)!

E o capítulo segundo, num estilo narrativo-simbólico, põe-nos a contemplar Deus como o Artista divino que modelou o homem e lhe “soprou um alento de vida” (2,7). O verbo “soprar”, na língua original (naphah), admite também o significado de “dar um beijo”: a criatura humana recebe no seu rosto um beijo de Deus, símbolo de

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ternura e intimidade, tal como o primeiro beijo da mãe ao acolher, em seus braços, o filho que acaba de dar à luz!

De seguida, é-nos apresentado o homem na sua solidão existencial: “Não é bom que o homem esteja só” (2,18). Esta solidão prepara-o para o acolhimento da mu-lher, o seu semelhante, que não encontrara no mundo infra-humano. E como que despertando de um sono e de um sonho ansiado, o homem acolhe-a com um hino de júbilo: “Finalmente, esta é carne da minha carne, osso dos meus ossos” (2,23). O ser humano adverte que, só acolhendo o outro, se torna plenamente humano.

Criando-os à Sua imagem e semelhança, Deus inscreveu no coração de cada homem e de cada mulher a capacidade e a vocação de amar, de acolher.

Deus, porém, continua a acolher o homem ao longo da história com as suas alegrias e tristezas, com as suas fragilidades e fadigas. Jesus, o Filho de Deus feito homem, é um ser de acolhimento. Ao longo do Evangelho podemos contemplar a qualidade e a universalidade do Seu acolhimento.

3.1.2 “Se conhecesses o dom de Deus”: acolhidos nas nossas fragilidades

O encontro entre a Samaritana e Jesus junto ao poço de Jacob (Jo 4,1-42) é bem conhecido.

Num país onde a água é rara, os poços de água são lugares privilegiados de en-contros e comunicação, de conflitos e reconciliação, de recordações e surpresas do quotidiano da gente.

Sozinha, com o cântaro vazio, à hora de maior calor talvez para não encontrar ninguém, esta mulher solitária chega ao lugar onde Jesus está sentado. E é surpreen-dida pela iniciativa da palavra de Jesus: “Dá-me de beber.” Surpresa para a mulher, que um judeu fale a uma samaritana; e para os discípulos, que o Mestre fale à pri-meira mulher que encontrou. A palavra do Mestre começou por derrubar as barreiras sociais, culturais e religiosas. Como se quisesse pôr em comunicação pessoas e mun-dos que as sociedades e religiões fecham nas suas particularidades e preconceitos.

Para Jesus, o que conta é a pessoa concreta, única, amada por Deus. Assim, o encontro casual junto ao poço de Jacob torna-se ocasião para entrar no “poço pro-fundo” da consciência e da vida atribulada da mulher samaritana.

Com uma pedagogia humano-divina, Jesus aceita, de início, que o diálogo come-ce pelas coisas banais, por lugares comuns, feito até com alguma ironia. Mas depois, lenta e delicadamente, entra no coração da samaritana. Leva-a a interrogar-se, a en-trar no profundo dos seus problemas, a confessar as desilusões e amarguras da vida e a abrir-se à novidade de Cristo: “Se conhecesses o dom de Deus!”.

O encontro com a samaritana revela como Jesus acolhe a partir da situação espi-ritual concreta da pessoa, com uma grande e delicada atenção, sem pretender domi-nar, sem fazer juízos nem proferir condenações à partida; mas também sem se deixar capturar, condicionar e bloquear. Antes, ajuda a superar os bloqueamentos.

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O Senhor revela à sua interlocutora uma experiência surpreendente: um caminho para o interior de si mesma que a abre ao exterior, que a conduz ao Deus vivo e aos outros. O caminho vivo de Amor e a vocação a testemunhá-lo.

No final, ela reconhecerá e acolherá abertamente o “dom de Deus” que transcen-de toda a discriminação de pessoas e todas as barreiras interiores e exteriores: esse dom é Jesus, o Cristo, a fonte de água viva, que sacia toda a sua sede, todo o desejo de viver.

Tendo-O escutado até ao fim, a mulher, abandonando o seu cântaro, correu à cidade a testemunhar esta experiência de Cristo e da Sua Palavra que transformou e transfigurou a sua vida. Ei-la missionária de Cristo!

A samaritana é figura de todos nós; é a nossa sociedade desiludida depois de tantas experiências e promessas, tentada a fechar-se sobre si, sobre os seus egoísmos e as suas desilusões, sobre o tédio da vida, mas à espera de ser acolhida por Alguém que a ajude a retomar respiração, ânimo e entusiasmo, a reencontrar o melhor de si mesma.

3.1.3 “Fitando nele o olhar, amou-o”: acolhidos apesar da recusa

O encontro do jovem rico com Jesus (Mc 10,17-22) não é ocasional. É desejado e procurado: “o jovem corre para Ele, ajoelha-se, pergunta e escuta”.

Trata-se de um jovem rico, uma pessoa com possibilidades, energias, talentos, riquezas. Pelo seu modo de agir e falar aparece como um jovem simpático, religioso enquanto cumpre e respeita formalmente a religião, procurando agir correctamente, preocupado pelo que faz e lhe falta ainda fazer.

Olha para Jesus como alguém em quem põe a sua confiança, com quem pode falar sobre as suas interrogações existenciais sem medo de ser mal entendido. E põe-lhe a questão mais importante e mais séria sobre o sentido a dar à sua vida, para que seja vida verdadeira, plena e feliz: “Que devo fazer para alcançar a vida eterna?”.

“Jesus fitando nele o olhar, amou-o” – diz o texto. Quer dizer, Jesus acolheu-o com amor.

Com o seu olhar de afecto, manifestou-lhe a sua ternura, ofereceu-lhe a sua ami-zade, fê-lo sentir no centro da própria atenção, valorizou a sua boa vontade e a sua rectidão, mostrou-lhe quanto é precioso aos seus olhos e digno de estima.

E responde à sua questão de fundo convidando-o a dar um salto qualitativo na sua vida: abrir-se à novidade do Evangelho e à beleza da santidade de vida. O que Jesus lhe propõe é a liberdade do coração para O seguir e partilhar a riqueza dos seus bens e talentos com os que precisam. Mostra-lhe o caminho da vocação cristã em que se realiza o homem e a sua dignidade. Porém, o jovem partiu triste e, porventura, desiludido com Jesus.

Estava disposto a observar as regras fundamentais da vida, mas fechado no mun-do das suas coisas e seguranças. Não acolhe a novidade de Jesus. Chegou à fronteira

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duma nova etapa e vocação da sua vida, mas não teve a coragem de a transpor. Ficou só com a religiosidade da lei de não fazer mal aos outros (não mato nem roubo), mas sem ir mais longe.

Parece-nos um “falhanço” pastoral de Jesus! Estamos diante do mistério do dom da fé e da liberdade do homem. Mistério que requer respeito!

Os encontros de Cristo contêm uma espiritualidade e uma pedagogia do aco-lhimento. Para Jesus, cada pessoa é única, com o seu nome próprio, o seu rosto, a sua história. Através de um procedimento progressivo e revelador, Jesus valoriza, purifica e leva à verdade plena o desejo de vida, de amor, de verdade, de alegria e esperança que move o coração e a liberdade de cada pessoa.

3.2 Chamados a acolher Deus e os seus dons

3.2.1 “Não passes adiante sem parar em casa do teu servo”: acolher Deus no quotidiano

É clássico o episódio do acolhimento de Deus por Abraão junto ao carvalho de Mambré (Gen18,1-15) onde está acampado. Vemos aí três personagens, desconheci-das e misteriosas, acolhidas por Abraão e Sara. Prometem que Sara gerará um filho na sua velhice. Abraão descobre nesta visita inesperada a passagem de Deus, a sig-nificar que Deus chega sempre de surpresa: “Senhor, peço-te que não passes adiante sem parar em casa do teu servo”.

A hospitalidade generosa de Abraão é-nos descrita com traços de significado místico-simbólico. Configura-se como uma liturgia do acolhimento, uma festa de alegria do encontro à mesa. Oferece o melhor que tem, dá-lhe o lugar central; dá-lhe o tempo que é necessário e não à pressa. Tem tempo para Deus.

O gesto de Abraão indica que a experiência espiritual da fé exige uma tomada de consciência da presença de Deus no nosso quotidiano. Querendo que Deus pare em sua casa, Abraão deseja que Deus se torne familiar. A vida de fé traz em si o desejo de não deixar que Deus passe ao lado, de O acolher “em casa ”. Deus quer ser aco-lhido: e quando O acolhemos, Ele torna fecunda a nossa vida, abre-nos um futuro novo, desperta em nós o sentido do outro e da missão, a vocação.

3.2.2 “Sentada aos pés do Senhor, escutava a Sua Palavra”: acolher a Palavra

Esta página do Evangelho (Lc 10, 38-42) mostra-nos Jesus acolhido por Marta e Maria em sua casa, onde ele gostava de saborear a amizade, a intimidade, o repouso sereno.

Marta, como boa dona de casa, dispõe-se a preparar tudo para um acolhimento digno de tão estimado hóspede. Maria “sentada aos pés do Senhor, escutava a Sua palavra”. Marta mostra-se agitada, inquieta, perturbada, ansiosa e impaciente pelas muitas coisas a fazer, e pede a Jesus que reprove o aparente desinteresse de Maria.

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E a resposta de Jesus soa como uma advertência afectuosa: “Marta, Marta, andas tão inquieta e perturbada, mas uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”.

Não se trata aqui de uma lição de cortesia, de boas maneiras. Jesus não é tão ingénuo que desconheça tudo o que é preciso fazer para receber bem um hóspede. A frase de Jesus constitui um pequeno “evangelho”: é o anúncio da Palavra que pode preencher o coração, salvando-o da dispersão das muitas coisas. Quer salvar do pe-rigo de perder o valor da Sua visita, da Sua presença, da Sua palavra sobre Deus e sobre o mistério da vida.

Os traços do carácter de Marta podem ser vistos no homem moderno: o homem frenético, doente da pressa e da ansiedade crónica, que cai num activismo sem pro-fundidade, vazio de interioridade, com a ânsia de fazer muitas coisas. E corre o risco de perder o centro de gravidade, o sentido do essencial.

As muitas coisas impedem não só a escuta, mas também o verdadeiro serviço. Fazer muito é sinal de amor; mas também pode fazer morrer o amor, até na família, quando desvia a atenção para as coisas em detrimento das pessoas. Acolher não é só fazer ou dar coisas, mas, antes de mais, é dar atenção à pessoa, fazer companhia, dar tempo e espaço para escutar a Palavra.

Maria é o símbolo do discípulo e da Igreja à escuta de Cristo: abre-lhe o seu cora-ção, deixa-o entrar na sua vida, cultiva a amizade pessoal com Ele, consciente de que “nem só de pão vive o homem, mas de toda a Palavra que sai da boca de Deus”.

Também, nesta história, Aquele que é acolhido é o mesmo que vem para acolher, para dar uma Palavra de vida, de luz, de esperança, de alegria e de paz. Esta é a “par-te melhor” que não será retirada: o que dá consistência e sentido à vida do discípulo, aquilo que permanece e não passa.

“Feliz aquele que escuta a Palavra e a põe em prática”, diz Jesus, conjugando assim as atitudes do acolhimento completo: o coração disponível, à escuta, de Maria e as mãos serviçais de Marta. A Palavra acolhida é um dom que contém em si a vo-cação à missão, ao serviço, ao testemunho.

3.2.3 “Hoje, a salvação entrou nesta casa”: acolher a Misericórdia

Vejamos ainda a narração admirável do encontro de Zaqueu com Jesus (Lc 19,1-10). A personagem de Zaqueu é-nos descrita com cores negativas: “chefe dos publicanos e rico”. É colaboracionista do poder romano, um odiado cobrador de im-postos, corrupto, ávido de lucro e escravo do dinheiro, desprezado pelo povo, temido mas isolado. É um pecador público.

E, todavia, este homem tem uma ansiedade interior: “Procurava ver Jesus” e sou-be aproveitar a ocasião de uma passagem irrepetível de Jesus pela cidade.

Provavelmente tinha mais do que simples curiosidade; talvez uma insatisfação, uma inquietação interior. Intui que Jesus tem algo de misterioso e fascinante que o

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atrai. Adverte que Jesus pode fazer algo por ele. Sente-se pequeno e distante, mas arrisca, até ao ridículo, subindo a uma árvore.

E Jesus, passando “levantou os olhos” e disse-lhe uma palavra imprevista, extra-ordinária, inesperada: “Zaqueu, desce depressa, porque hoje devo hospedar-me em tua casa”. E Zaqueu acolhe-o “cheio de alegria”, expressão típica de S. Lucas que manifesta bem a consequência interior de acolher Deus.

A entrada de Jesus naquela casa é a entrada da misericórdia. Ao acolher Jesus, Zaqueu acolhe a misericórdia. É essa experiência de misericórdia, e só ela, que abre o coração de Zaqueu à generosidade (“darei a metade dos meus bens aos pobres; e se defraudei alguém, restituirei quatro vezes mais”). De cobrador passa a dador. Ganha uma nova sensibilidade para os outros dando-lhes muito mais do que é devido: ao receber ele próprio mais do que merecia (a entrada de Jesus em sua casa), dá muito mais do que os outros merecem. Podemos ver isto em perspectiva vocacional: quem não (se) dá, é porque não recebeu; quem não vive a sua vocação é porque não aco-lheu a ternura, o amor terno de Jesus.

Notemos que este encontro acontece por iniciativa de Jesus, do seu olhar de amor, que procura Zaqueu superando todos os obstáculos, como a sua condição de pecador ou a hostilidade e a crítica da multidão que se escandaliza e murmura

A própria busca de Zaqueu é acolhida, valorizada, purificada e regenerada de tal modo que, de curiosidade inicial, se transforma em acolhimento alegre de Jesus e em generosa vocação a segui-l’O.

3.3 “Acolhei-vos uns aos outros como Cristo vos acolheu”: o acolhimento fraterno

O acolhimento de Cristo na fé prolonga-se no acolhimento de Cristo nos irmãos: “Quem acolhe um destes pequeninos, é a Mim que Me acolhe; e quem Me acolhe a Mim, acolhe o Pai que Me enviou” (Mc 9, 37). Mais rica e paradoxal é outra afirma-ção de Jesus, no contexto do juízo final: “Eu era estrangeiro e vós acolhestes-Me” (Mt 25, 35). Aqui está toda a espiritualidade específica do acolhimento cristão.

Por isso, S. Paulo, depois de ter contemplado o mistério de Cristo em dimensão universal, exclama na carta aos Romanos: “O Deus da perseverança e da consola-ção vos conceda os mesmos sentimentos de uns para com os outros segundo Jesus Cristo, para que, com um só coração e uma só voz, glorifiqueis a Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por isso, acolhei-vos uns aos outros como Cristo vos acolheu para glória de Deus” (15, 5-7).

S. Paulo vê no acolhimento uma expressão da vocação cristã e da realização da lei de Cristo. Convida-nos a ter o nosso olhar fixo em Jesus para nos acolhermos mu-tuamente. Ele acolheu todos para nos reunir numa única grande família de irmãos, filhos do único Pai. Viver como cristãos significa, pois, viver acolhendo-nos no amor recíproco. Não se trata de um mero altruísmo ou de uma filantropia natural. Exige

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uma conversão do coração, uma mudança de estado de espírito. No sentido cristão do termo, o acolhimento fraterno é modelado pelo Evangelho de Jesus e pela graça de Deus.

Assim, a partir daqui, podemos ver as suas características:O acolhimento é, antes de mais, abertura relacional. É mais amplo que a simples

ajuda, porque significa abrir-se à pessoa e não só às suas necessidades. Significa abrir o coração e não só dar ajuda; tratar o outro como a si mesmo e nele servir o Senhor de todo o coração. Tudo começa pelo apreço do outro, pela atenção, escuta, diálogo, respeito e delicadeza.

O acolhimento implica a disponibilidade. Para que o outro possa ser recebido como um ser único é preciso tempo, a fim de que a pessoa possa “dizer-se”, expri-mir-se, sentir-se à vontade, desafogar os seus problemas, as suas dores por vezes profundas e ocultas. Isto não suporta a precipitação.

O acolhimento cristão é solidariedade, comunhão e partilha nas alegrias e triste-zas, sem qualquer sentimento de superioridade ou relação paternalista. Assim resul-tará num enriquecimento mútuo.

O acolhimento cristão é também universal, sem fazer acepção de pessoas, sem restrição nem segregação. Por isso, estende-se em diversas direcções: em relação ao próximo que vive continuamente a nosso lado (familiar, vizinho, companheiro de tra-balho); ao diferente, àquele que não pensa, nem vive como nós, que não é da nossa re-ligião, do nosso partido, da nossa raça, da nossa formação; ao “indiferente”, ao margi-nalizado, excluído, que faz parte da multidão de anónimos, com quem não há nenhuma relação; e, por fim, até ao inimigo, ao adversário, através do perdão, da comunicação reencontrada que nos leva a ultrapassar as atitudes de ódio, vingança e desprezo.

O acolhimento e o cuidado dos outros é ainda um lugar e um caminho para des-pertar e descobrir a vocação e as diferentes vocações na Igreja. Deus chama-nos tam-bém através das necessidades da Igreja e do mundo. Quantos e quantas descobriram, deste modo, a sua vocação ao sacerdócio ou à vida religiosa e missionária!

4. A Igreja, “casa e escola” do Acolhimento

A Igreja, porque é habitada pelo Espírito de Jesus – que é Espírito de caridade e comunhão – é pois, por natureza e vocação, “casa e escola” de acolhimento cristão.

Não é, então, possível imaginar o acolhimento como uma prótese, um suple-mento das comunidades cristãs delegado a alguns “especialistas” ou profissionais de relações públicas. Toda a pessoa é um apelo que pede para ser acolhida e escutada.

O acolhimento é como um livro aberto onde cada um de nós pode ler que tam-bém à sua vida, tão cheia de coisas, falta o “único necessário”, que é a capacidade de relação, de partilha, de amor, de dedicação, e vocação ao serviço dos outros.

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Na atitude de acolhimento e em comunidades acolhedoras é onde a nossa ci-vilização encontrará os novos “poços de Jacob” para saciar a sua sede, abrigar-se do calor abrasador, receber o dom da vida verdadeira. É aqui que muitos homens e mulheres encontrarão remédio para a solidão.

A pastoral do acolhimento é pois um elemento constitutivo e básico da Igreja que revela o coração de Cristo cheio de ternura, misericórdia e esperança. O acolhimento deve dar uma alma e um pouco de coração, de afecto e calor humano às relações, à vida e às estruturas de cada comunidade. Assim, apresentamos algumas pistas de acção a serem reflectidas em cada comunidade, para um exame de consciência e iniciativas pastorais concretas.

4.1 Cultivar a espiritualidade do acolhimento

Antes de programar iniciativas concretas é preciso promover uma espiritualidade do acolhimento e da comunhão.

Em primeiro lugar, esta espiritualidade tem a sua fonte na oração e em toda a celebração litúrgica. A oração é, antes de mais, um momento de acolhimento em que se escuta Deus que fala à mente e ao coração, em que nos deixamos acolher por Deus que vem ao nosso encontro, nos precede, acompanha e chama a colaborar com Ele.

Ele é o primeiro que nos acolhe tal como somos e na situação em que nos encontra-mos. É Ele que dilata o nosso coração e o abre aos outros. Mas o acolhimento de Deus requer o nosso recolhimento. É necessário estar disponível, ter tempo para Deus.

Nesta linha, propomos viver a Quaresma como um tempo de recolhimento, dando-lhe o carácter de um “retiro popular”, isto é, para todo o povo de Deus: cada comunidade reunir-se-á uma vez por semana, para meditar sobre a espiritualidade e a pastoral do acolhimento e da vocação cristã. Para isso ofereceremos, a seu tempo, as meditações quaresmais, sob a forma de leitura familiar e orante da Palavra de Deus (Lectio divina), que nos põe à escuta de Deus e nos faz sentir que a Sua Palavra não é longínqua nem impessoal, mas fala hoje, pessoalmente, ao coração de cada um. Peço aos párocos que façam, atempadamente, uma especial sensibilização e organização do povo de Deus para este aspecto.

4.2 Presença de proximidade na paróquia

A paróquia é a presença viva e visível da Igreja de Jesus no meio das casas dos homens. Não há-de ser vista como estação de serviços religiosos, mas como casa de acolhimento fraterno das pessoas e de experiência significativa do Evangelho. É preciso, pois, incrementar e dar qualidade evangélica à dimensão do acolhimento, como expressão de um amor que a todos abraça: homens e mulheres, fracos e fortes, entusiastas e desiludidos, estranhos e conhecidos. Significa dar testemunho de uma Igreja interessada mais nas pessoas que nas estruturas, dialogante, calorosa.

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A presença de proximidade exprime-se em tecer relações próximas, directas com todos os seus habitantes, cristãos ou não, participantes da vida da comunidade ou à sua margem. Nada na vida das pessoas, acontecimentos alegres ou tristes, deve escapar à presença discreta e activa da paróquia, feita de proximidade, de atenção e partilha. Por isso há que cuidar, à partida, de aspectos e atitudes fundamentais:

- No serviço pastoral dedicar mais tempo a cada pessoa, escutá-la, estar a seu lado nos acontecimentos mais importantes e ajudar a buscar, com ela, as respostas às suas dificuldades e necessidades. Façamos com que todos, ao serem e sentirem-se valorizados, se possam sentir na Igreja como na sua própria casa;

- Programar o acolhimento em forma de “rede de relações” de conhecimento, amizade, convite, colaborações, através de pessoas dedicadas e idóneas para os vá-rios âmbitos. Trata-se de criar e valorizar o ministério do acolhimento que é como que o “cartão de visita” duma comunidade;

- Cuidar do atendimento a quem vem pedir um serviço ou informação ou ex-por um problema, através de um estilo de atenção, delicadeza, escuta, paciência, compreensão e disponibilidade de tempo programado (que entra nos programas) de modo que as pessoas se sintam à vontade. São contrárias a este estilo as atitudes de frieza, indiferença, falta de gentileza ou o querer despachar de qualquer modo e o mais rapidamente possível;

- Dar vida a pequenos grupos ou comunidades onde seja possível viver melhor o acolhimento fraterno (a escuta recíproca, a partilha, a oração) e relações mais pró-ximas e familiares;

- Aproveitar ou criar o “dia da comunidade paroquial” como ocasião para sair das relações anónimas, para o mútuo conhecimento, para derrubar barreiras e incremen-tar o sentido de família e de fraternidade.

Nos momentos mais significativos da vidaNos momentos mais importantes e significativos da vida, alegres ou tristes, de

êxito ou fracasso – nascimento, casamento, morte – é quando aflora, mais ou menos fortemente, à consciência e ao coração humano o sentido do sagrado e da transcendên-cia, a dimensão espiritual que envolve a existência humana. São ocasião de uma maior aproximação à Igreja para pedir os sacramentos. São momentos carregados de fortes emoções. Muitas pessoas vivem afastadas da Igreja, com uma fé ténue; sem saber o que é preciso fazer e sentem-se embaraçadas num ambiente que não lhes é habitual.

Nestas situações requere-se um acolhimento muito próprio de empatia, delicade-za e compreensão, de esclarecimento inteligente e paciente, de diálogo sereno.

Há que valorizar estes momentos com propostas em ordem a uma boa preparação e a uma boa celebração do baptismo e do matrimónio para que os dons de Deus se-jam acolhidos, por quem os pede, com seriedade, dignidade, verdade e beleza.

Esta mesma sensibilidade e empatia são necessárias para o acolhimento relativo ao sacramento da reconciliação e à celebração dos funerais. Neste último aspecto,

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todos sabemos o que representa a dor da perda de uma pessoa querida. A comunida-de cristã sente-se interpelada a manifestar os seus sentimentos de comunhão com a família enlutada. Quando for possível e oportuno, com a colaboração das irmanda-des e confrarias e de outros animadores leigos, pode propor às famílias um momento de oração no lugar do “velório”, preparando-o cuidadosamente. Além disso, podem envolver-se os familiares na celebração confiando-lhes a leitura da Palavra ou a for-mulação das intenções dos fiéis. E como é importante a homilia de estilo meditativo e afectuoso! Não há nada de mais irritante que uma prédica de lugares comuns ou fria como um acto notarial.

Nas situações de fragilidadeUm acolhimento particular, solidário e afectuoso, deve ser reservado às pessoas

em situação de maior fragilidade, por motivo de qualquer forma de pobreza ou de sofrimento.

Penso, em primeiro lugar nos doentes, nos idosos e nas pessoas portadoras de deficiência juntamente com os seus familiares. É um aspecto para que as nossas co-munidades já estão bastante sensibilizadas e a que vão procurando dar resposta. Mas ainda há muito a fazer e a melhorar. Neste momento, gostaria, sobretudo, de lembrar aos catequistas e aos párocos a situação das crianças portadoras de deficiência, na catequese e nos sacramentos de iniciação. Estas crianças, capacitadas de modo dife-rente, também apreendem a mesma fé, ainda que de modo diverso. É necessário ter isto presente para que, de modo nenhum, sejam discriminadas, prejudicadas e muito menos humilhadas.

Hoje batem à porta das nossas comunidades cada vez mais pessoas com pro-blemas ou perturbações de ordem psíquico-espiritual, com uma fragilidade interior a toda a prova. Para elas é necessário criar espaços e condições de acolhimento, escuta, aconselhamento, acompanhamento e oração que levem à cura ou ao alívio das suas feridas, através de pessoas idóneas, preparadas para isso. Uma cura que, por vezes, é uma longa viagem de libertação e de reconciliação com Deus, consigo mesmas e com os outros. Com esta finalidade propomo-nos constituir um grupo multidisciplinar de voluntários no Santuário de Fátima. E organizaremos também um seminário para partilha de experiências e reflexão sobre este problema.

Um outro tipo de pessoas em situação de fragilidade é o dos imigrados, estran-geiros, diversos de nós pela sua cultura, pelos seus costumes, pela sua língua e pela sua religião. O nosso acolhimento manifestar-se-à na convivência fraterna e em ajudar a criar espaços e condições para a sua integração.

Nas famíliasA família é o lugar primordial da ternura e do acolhimento. E, no entanto, em

muitas famílias, vivem-se situações silenciosas de azedume, de amargura, de ressen-timento e de ruptura entre cônjuges e entre pais e filhos, que se prolongam porque

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cada um se fecha no seu casulo, no seu mutismo e não se cultiva o acolhimento quotidiano, sincero e transparente, respeitador e sereno. Porque não recuperar a oração em família, ao menos uma vez por semana, que ajuda a abrir e pacificar os corações?

Quero deixar aqui uma palavra esclarecedora e pacificadora a propósito de duas situações familiares hoje muito frequentes.

Que fazer quando um filho segue o seu caminho, mas que é contrário aos prin-cípios e valores dos pais, por exemplo, quando opta por uma “união de facto”? Naturalmente estes pais têm o direito de dizer ao filho que, no seu modo de ver, tal comportamento não é correcto. Será necessário dizê-lo de modo claro, leal e respei-toso. Mas, uma vez esclarecido o assunto, é preciso acrescentar: “continuamos a ser os teus pais, não te fechamos a porta. Porque o sofrimento que sentimos e a provação que sofrem as nossas convicções religiosas não nos eximem do primeiro dever de pais, o de amar o nosso filho apesar de tudo”.

A outra situação refere-se aos divorciados recasados que querem conservar a sua fé. É um dos problemas mais delicados na Igreja de hoje. Que acolhimento lhes reserva a Igreja? Só diz ou só pode dizer mal do segundo casamento?

Antes de mais, só Deus conhece o coração de quem se divorcia e volta a casar. Só Ele julga da sua culpabilidade. Nem todos os casos são iguais. Mas, objectivamente, o novo casamento depois do divórcio não pode ser reconhecido pela Igreja, por fide-lidade ao Evangelho do matrimónio uno e indissolúvel. Por isso, a Igreja lhes pede que se abstenham dos sacramentos. Mas isso não significa que estejam ex-comun-gados da Igreja: “os divorciados recasados, não obstante a sua situação, continuam a pertencer à Igreja, que os acompanha com especial solicitude na esperança de que cultivem, quanto possível, um estilo cristão de vida, através da participação na Santa Missa ainda que sem receber a comunhão, da escuta da Palavra de Deus, da adora-ção eucarística, da oração, da cooperação na vida comunitária, do diálogo franco com um sacerdote ou mestre de vida espiritual, da dedicação ao serviço da caridade, das obras de penitência, da educação cristã dos filhos” (Bento XVI, Sacramentum Caritatis, 29).

Apesar da atitude rigorosa da Igreja, não é esta, de algum modo, uma boa pa-lavra de acolhimento para eles? Mas é dita raramente e quase nunca no momento oportuno...

4.3 Acolher o dom da vocação: uma chama que ama e chama!

No ano passado, propusemo-nos descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã. Agora, ao longo desta carta, consideramo-la na perspectiva da ternura de Deus e do acolhimento: acolher a vocação (chamamento) como dom da Sua ternura. A vida é bela porque Deus nos ama e chama; e é séria porque Deus nos confia uma missão.

De facto, aquele que acolhe e recebe a ternura de Deus, sente-se, por sua vez,

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chamado a testemunhar, comunicar e servir aos outros essa ternura que quer esten-der-se a todas as criaturas. Todas as vocações são um raio da beleza da ternura de Deus que quer encher o mundo: a vida laical de quem assume a vida e o trabalho no mundo na fidelidade ao Evangelho e como uma missão em ordem ao desenvolvi-mento justo, solidário, fraterno e acolhedor para todos; o matrimónio como primeiro lar e comunidade particular da ternura de Deus no mundo; o sacerdócio de quem sente arder a ternura de Deus dentro de si e se oferece todo para ser servidor dos dons da ternura de Deus (palavra, sacramentos, comunhão fraterna) aos homens; a voca-ção de especial consagração ao Senhor, na vida religiosa, missionária ou laical, para testemunhar, de modo profético, o amor à ternura de Deus e a sua universalidade, sobretudo aos pequeninos e aos mais necessitados.

O nosso objectivo é imprimir um novo ardor à pastoral vocacional, levando-a ao coração de cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento constitutivo da experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz respeito. O próprio símbolo do ano vocacional, a lamparina a arder e a passar de co-munidade em comunidade, é muito significativo também para este ano: uma chama (ternura de Deus) que ama e chama! Importa manter esta chama acesa no coração e na pastoral.

Assim propomo-nos reavivar e consolidar as acções mais significativas que já iniciámos: continuar a “grande oração pelas vocações” sobretudo com uma vigília, particularmente destinada a adolescentes e jovens, em cada vigararia; manter o funcionamento do “grupo vocacional Santo Agostinho” para os jovens seriamente interessados na descoberta da sua vocação e incrementar o pré-seminário para os interessados no discernimento da vocação sacerdotal; aproveitar a preparação para o Crisma como um particular momento vocacional; criar o grupo de animadores vocacionais nas vigararias ou na paróquia.

5. Nossa Senhora da Ternura e do Acolhimento

Maria, mãe de Jesus, é a Mãe da ternura. Contemplá-la é contemplar a ternura de Deus e as maravilhas que esta realiza quando a criatura humana se abre e acolhe a Palavra de Deus e a Sua graça.

Ninguém mais do que Maria é o símbolo do acolhimento, precisamente porque ninguém como ela acolheu o Filho de Deus no seu coração e no seu seio – a ternura de Deus encarnada. Com o “Sim” acolhedor da fé respondeu à vocação, dispondo-se inteiramente a colaborar, como Mãe, na dádiva da ternura de Deus à humanidade. Acolhe o dom e dá-o, por sua vez, partilha-o, como no encontro com Isabel. Aí ve-mos como o acolhimento de Deus faz brotar o reconhecimento alegre da Sua bonda-de, no cântico do Magnificat, o cântico da Ternura de Deus de geração em geração.

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A Ela confiamos a realização do nosso caminho pastoral:

Ó Virgem Maria,Mãe da Ternura,Rainha do acolhimento e da comunicação,Senhora do sim ao chamamento do Pai,Tu, espelho fiel do rosto da ternura de Deus:Alcança-nos a graça de sermos Igreja do acolhimento,Casa aberta para todos.Ajuda-nos a ser como Tu:Acolhedores e testemunhas da ternura de Deus, Atentos às necessidades dos irmãos,Generosos no sim à vocação a que o Senhor nos chama.Acompanha e guia a nossa Igreja no seu caminho pastoral!

Saúda-vos afectuosamente,† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima 8 de Setembro de 2007, Festa da Natividade de Nossa Senhora

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Convocatória

Assembleia DiocesanaCaríssimos Diocesanos, Irmãos e Irmãs no Senhor!“A graça do Senhor Jesus esteja convosco. Eu amo-vos a todos em Cristo Jesus”

(1 Cor 16, 23-24). Com estas palavras do Apóstolo Paulo saúdo-vos cordialmente e expresso-vos o meu fraterno afecto, bem como a minha gratidão pela vossa colabo-ração durante o meu primeiro ano entre vós.

Foi para mim verdadeiramente consolador sentir um povo interessado e entusias-mado em descobrir e celebrara a beleza e a alegria da vocação cristã.

Neste espírito de caminhada comum, na comunidade de idêntica realização nos anos passados, venho convocar uma ASSEMBLEIA DIOCESANA, que terá lugar na tarde do Domingo 7 de Outubro, no salão de festas do Colégio da Cruz da Areia – Lei-ria, com início às 15h00 e termo com a missa, na igreja da Cruz da Areia, ás 18h00.

São objectivos deste encontro: fazer experimentar que, como Igreja diocesana, somos muitos, mas um só corpo, em Cristo; apresentar a carta pastoral Testemunhas da ternura de Deus e o programa do ano; celebrara o Dia da Igreja Diocesana.

Os destinatários são os principais agentes da Diocese e outros fiéis empenhados na sua vida e missão, nomeadamente: padres, membros dos conselhos paroquiais e diocesanos, colaboradores dos serviços diocesanos, responsáveis dos movimentos e associações eclesiais, membros das comunidades religiosas, catequistas, colabora-dores na liturgia e outros fiéis no apostolado.

O programa da Assembleia será o seguinte:15h00: Acolhimento e retrospectiva da caminhada diocesana;16h00: tempo de convívio;16h30: Apresentação da nova Carta Pastoral do senhor Bispo;18h00: Eucaristia na igreja da Cruz da Areia.Da parte da manhã desse dia e no mesmo local, realiza-se o encontro anual dos

catequistas da Diocese, promovida pelo Departamento da educação cristã.Estes eventos marcam o início do novo ano pastoral, visando promover um es-

pírito eclesial, que leve os principais colaboradores da vida da Igreja diocesana nos seus vários serviços e comunidades a sentirem-se membros co-responsáveis de uma mesma e única família espiritual.

Reserve na sua agenda a disponibilidade para participar, não marcando qualquer outra actividade no âmbito da sua responsabilidade pastoral, informe e motive os seus mais imediatos colaboradores para o acompanharem.

Tendo em conta as orientações diocesanas, peço a todos o melhor empenho na programação pastoral para o próximo ano.

†António Augusto dos Santos Marto

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Mensagem para o Dia Mundial das Missões

Uma Igreja Missionária

Uma Igreja missionária é uma Igreja apaixonada por Cristo e pelo Seu Evange-lho, desejosa de comunicar o dom da fé com a Palavra e o Testemunho, de oferecer a “boa notícia” aos homens e mulheres de cada povo e etnia, de cada cultura e língua espalhados pelo mundo.

Queria evocar aqui o exemplo do grande apóstolo e missionário do Oriente, S. Francisco Xavier, cujo quinto centenário do nascimento comemorámos no ano passado. O segredo do seu fogo missionário estava na contemplação de Cristo cru-cificado, que se entregou por todos. Isso levou-o a ultrapassar todos os obstáculos e sofrimentos.

Ás nossas Igrejas do Ocidente, que, no actual momento social e cultural, correm o risco de se fecharem nas suas dificuldades, de se deixarem tentar pelo desânimo e pelo medo, Francisco Xavier recorda-nos que o Evangelho é sempre palavra de alegria e esperança para todos os povos, capaz de incarnar e dar uma alma nova a toda a cultura e expressão humanas. E é também fonte de alegria para quem o leva e comunica:

“Não podeis imaginar quão abundantes são as consolações espirituais nestes lu-gares. Todos os perigos, todas as fadigas, quando são enfrentadas por amor e serviço a Deus, transformam-se em fontes de grandes consolações. Não recordo ter experi-mentado tanta alegria como nestas terras”.

Este testemunho de S. Francisco evoca-nos a frase de Jesus: “Há mais alegria em dar do que em receber”. Convida-nos também à partilha de dons e de bens entre as Igrejas para o testemunho do Evangelho. O que não é dado, perde-se!

Que este testemunho sirva como estímulo para o dinamismo missionário da nossa diocese. Deixo também uma palavra de apreço e gratidão a toda a equipa do serviço de animação missionária diocesana que aqui nos apresenta o seu relatório.

10 de Setembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Carta de Anúncio

Visita PastoralCaríssimos Diocesanos,Irmãos e irmãs no Senhor,Decorrido um ano após o início do meu ministério episcopal nesta Igreja de Lei-

ria-Fátima e tendo já encontrado, em diversas ocasiões, pessoas, grupos e comunida-des, chegou agora o tempo de proceder à Visita Pastoral às paróquias da Diocese. É um dever do Bispo, enquanto pai e pastor da porção do povo de Deus confiada à sua solicitude, para aprofundar o conhecimento, a estima e a ajuda recíproca.

A Visita Pastoral não é, pois, um facto burocrático ou só celebrativo. “É um acon-tecimento de graça que reflecte, de algum modo, aquela tão especial e maravilhosa visita com a qual o supremo Pastor e Bispo das nossas almas, Jesus Cristo, visitou e redimiu o seu povo”(Directório do ministério pastoral dos bispos, 220) e continua a visitar-nos com o dom do Espírito Santo.

Continuador do ministério apostólico, o Bispo, princípio visível e fundamento da unidade da Igreja diocesana, realiza a visita com os sentimentos de Jesus, Bom Pastor, para anunciar o Seu Evangelho e confirmar os irmãos na fé. É o pai que se encontra com os filhos para os iluminar e encorajar, para promover a unidade e a comunhão em Cristo e na Igreja, e dar um novo impulso missionário.

Ao anunciar a Visita Pastoral, sinto o mesmo desejo do apóstolo Paulo, quando se propunha ir ao encontro dos cristãos: “Voltamos a fazer visita aos irmãos em to-das as cidades em que anunciámos a Palavra do Senhor, para ver como estão” (Act 15,36); “Desejo ver-vos para vos comunicar algum dom espiritual a fim de que sejais reconfortados, ou melhor, para no meio de vós, me sentir reconfortado mediante a fé que temos em comum, vós e eu” (Rom 1,11).

Com esta carta anuncio oficialmente à Diocese a minha primeira Visita Pastoral que, com a graça de Deus, terá início em Janeiro de 2008 e se prolongará até 2012, de acordo com o calendário que será publicado.

A Visita Pastoral propõe-se os seguintes objectivos:a) encorajar em todos um renovado encontro com Cristo que leve a redescobrir a

beleza e a alegria da fé e da vocação cristã;b) valorizar o sentido de co-responsabilidade do Povo de Deus, revitalizando os

organismos de participação (conselho pastoral e conselho económico) e os ministé-rios nos vários sectores da pastoral;

c) promover a comunhão eclesial, intensificando o diálogo, a colaboração e a partilha, para fortalecer a experiência da fraternidade cristã na paróquia, na vigararia e na diocese.

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d) avivar em todos os fiéis cristãos a consciência da missão, para que o dom da fé irradie na sociedade actual.

No cumprimento deste acto do meu ministério tenciono servir-me, de acordo com o cânone 396.2, da colaboração de alguns sacerdotes. Por isso, nomeio o Pa-dre Jorge Guarda, Vigário Geral, como Coordenador da Visita Pastoral; e os Padres Manuel Armindo Janeiro, Director do Departamento de Património Cultural, e Ber-nardo Morganiça, Notário na Câmara Eclesiástica, como Examinadores do estado do Arquivo paroquial.

Convido todos os Diocesanos, a empenharem-se na preparação e realização da Visita, segundo a orientação dos sacerdotes nomeados, dos párocos e outros anima-dores.

Confio o bom êxito desta Visita à intercessão dos nossos padroeiros, Nossa Senhora de Fátima e Santo Agostinho, e também dos Beatos Francisco e Jacinta Marto.

Peço a todos, e em particular às Irmãs de vida contemplativa, que acompanhem a Visita Pastoral com a oração, para a qual ofereço a seguinte proposta:

Senhor Jesus,Tu és o Caminho, a Verdade e a Vida!Tu vives e estás presente na Tua Igreja:nela infundes o Espírito e fazes ressoar a Palavra;difundes dons e carismas e confias missões; através dela irradias para todos os homensa Tua luz e a Tua força, o Teu amor e a Tua paz.Somos nós a Tua Igreja, que agora visitas através do Bispo. Faz com que recebamos esta Visita Pastoral como uma graça que ofereces à nossa comunidade:para reavivar a fé adormecida e renovar a vida cristã;suscitar a alegria da comunhão e libertar-nos do medo;encorajar-nos nas dificuldades e superarmos as divisões;e assim darmos testemunho alegre e corajoso do Evangelho!Nós te pedimos por intercessão do nosso Padroeiro, (N) …e de Maria, Tua e nossa Mãe.Que Eles nos acompanhem e guiem na descoberta da Tua Palavrae na contemplação do Teu rosto, agora e sempre. Ámen!

O Senhor conceda à nossa Igreja revitalizar-se na fé, crescer na comunhão e testemunhar com entusiasmo, a quantos vivem no nosso território, a Sua Ternura e a Sua Misericórdia.

Leiria, 25 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem de Natal 2007

A Estrela da TernuraNo tempo de Natal há estrelas por toda a parte a enfeitar ruas, montras e janelas.

De certo modo, elas fazem parte da festa, mas quase ninguém se admira e surpre-ende com isso. Muitos já nem sabem a origem desta tradição, que remonta à estrela que serviu de sinal à peregrinação dos Magos até parar sobre o lugar onde estava o Menino: “Vimos a Sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”.

O poeta e dramaturgo inglês W.H. Anden, numa “Oratória de Natal” explica por-que os Magos seguiram a estrela: “O primeiro diz: Devo descobrir como ser verdadeiro hoje: eis porque eu segui a estrela. O segundo diz, por sua vez: Quero descobrir como viver hoje: eis porque eu segui a estrela. Por fim, o terceiro afirma: necessito descobrir como amar hoje: eis porque eu segui a estrela. E, depois, dizem todos juntos: devemos descobrir como ser homens hoje: eis porque nós seguimos a estrela”!

A mensagem da estrela do Natal de Cristo fala-nos de Deus e dos homens!Nós não celebramos o Natal à maneira de uma comemoração dos aniversários de

grandes homens da história e da obra que nos deixaram. Para nós Jesus não é apenas um homem. No seu nascimento celebramos a presença do Deus invisível que se tor-na visível e próximo. O Natal é a descoberta surpreendente de Deus que manifesta o Seu rosto de amor na fragilidade da carne humana, no rosto do Filho feito menino, rico de misericórdia e ternura. É este o estilo de Deus que Jesus exprimirá no seu modo de viver com os homens.

É de facto um mistério de ternura! Ele vem, sempre de novo, encher os nossos olhos com a Sua luz de verdade, aquecer os nossos corações com o fogo do Seu amor, dar esperança à nossa vida com a força do Seu Espírito, superar as nossas divisões com a graça da Sua Paz. “Deus ama-nos e por isso espera que abramos o coração ao Seu amor, que ponhamos a nossa mão na Sua e nos recordemos de ser Seus filhos” (Bento XVI).

Eis porque o Natal de Cristo não nos pode deixar indiferentes. É um momento particular em que uma onda de ternura e de esperança enche o nosso ânimo, jun-tamente com uma grande necessidade de intimidade e de paz. O que seria o nosso mundo sem esta ternura? Tornar-se-ia inóspito, árido, frio, inabitável, desumano. Sem ternura não há vida, não há beleza, não há felicidade! Porém, aquilo que torna a ternura concreta e contagiante não são as coisas, mas as relações interpessoais, que são a essência da riqueza humana. Menos coisas, menos consumismo e mais rela-ções ternas e fraternas (mais partilha) para um Natal mais autêntico!

No mais profundo de cada um de nós há uma “estrela interior” que nos guia na peregrinação à fonte da ternura e da confiança – Jesus Cristo. Segue a estrela que brilha no teu coração e nos teus olhos!... Santo Natal e Feliz Ano 2008!

Leiria, 4 de Dezembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem às famílias

Na solenidade do Natal do Senhor, celebramos a festa da Sagrada Família. Os dois esposos, Maria e José, acolhem e envolvem na sua ternura Jesus, o Filho de Deus, anunciado pelos Anjos como o Salvador. O Menino, que lhes nasceu e que contemplam em seus braços, ilumina-os e enche-os de felicidade. Ele, que veio para todos nós, ilumine também, com a sua luz, a vossa família.

Neste Ano Pastoral, a Diocese dedica-se, particularmente, a apreciar e saborear a ternura de Deus nos dons do acolhimento e da vocação, para tomar novo fôlego e consolidar novos dinamismos. Dirigindo-me especialmente às famílias, e sabendo como estão a ser duramente comprovadas, quero endereçar a cada uma este mesmo convite: redescobri a beleza e a bondade da família como expressão particular da ternura de Deus no mundo! Retomai novo fôlego!

Foi com todo o amor que Deus criou o homem e a mulher, à sua imagem e seme-lhança, e os acolheu ternamente, cheio de encanto e deslumbramento, vendo “que tudo era muito bom e belo” como diz o texto bíblico (Gn 1,31).

Criando-os à sua imagem e semelhança, Deus inscreveu no coração de cada ho-mem e de cada mulher a capacidade de amar, de acolher. Esta é a vocação do casal humano, na conjugalidade quotidiana das vidas: como escreveu o saudoso Papa João Paulo II, Deus que chamou os esposos «ao» matrimónio, continua a chamá-los «no» matrimónio (FC 21).

É por desígnio de Deus que a vossa comunhão conjugal se torna fecunda e tam-bém os vossos filhos recebem, com o dom da vida, a preciosa vocação à família, para que nela cresçam e se desenvolvam. É vontade de Deus que a família se realize numa teia harmoniosa de laços conjugais, parentais, filiais e fraternos, e que a humanidade se torne uma família de famílias. A beleza da família sobressai, de modo especial, como “berço da vida e do amor” e como “lugar primário da humanização da pes-soa e da sociedade”.

Neste dia da Sagrada família, convido-vos a descobrir o amor de Deus que se assinala e se diz no afecto que demonstrais uns aos outros e quereis melhorar na vivência quotidiana dos laços familiares. A vossa felicidade passa obrigatoriamente por aí. Parafraseando João Paulo II, digo a todos: Deus que vos chamou à família, continua a chamar-vos na família. É preciso dizer, em cada dia, o próprio “sim” a esta vocação que Deus inscreveu na nossa natureza humana.

Que Deus Pai, Criador e autor da família, seja por vós acolhido e louvado. Que pelo seu Espírito encontreis a vossa alegria no serviço mútuo, generoso e dedicado; que o vosso testemunho transvaze para os outros, na Igreja e na sociedade, e sobre-tudo na vossa paróquia, na participação alegre e comprometida na acção organizada,

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de família a família, a que chamamos pastoral familiar. Que o Senhor Jesus, o Filho de Deus feito homem, que abraçou a vocação familiar e tornou Sagrada a Família de Nazaré, abençoe e santifique também a vossa família.

Com votos de Feliz Ano 2008, saúdo-vos com fraterno afecto,† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Carta aos JovensCaros amigos jovens das comunidades cristãs:O vosso irmão bispo resolveu escrever-vos uma carta especialmente dirigida a vós.Talvez fiqueis um pouco surpreendidos. Mas, na sequência do apelo: “dai um

projecto belo à vossa vida”, que vos fiz na minha primeira carta pastoral, venho hoje apresentar-vos uma proposta nova: um itinerário vocacional com o nome “Grupo Vocacional Santo Agostinho”.

Não se trata de mais catequese nem de aprender a rezar; nem sequer pretender dar soluções para todas as dúvidas. É antes uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é: ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito.

Trata-se duma busca séria e programada de modalidades pessoais através das quais cada um pode projectar e viver a sua vida à luz do Evangelho. Esta busca está aberta a todo o tipo de vocações: como leigos ou sacerdotes ou consagrados(as).

O meio para alcançar esta finalidade é o discernimento espiritual, quer dizer, um exercício de atenção e escuta da Palavra de Deus e do Espírito Santo na história de cada um, em clima de recolhimento e oração.

Creio que poderá ser uma experiência importante para vós neste tempo em que se vive tão apressada e superficialmente. Espero que vos possa proporcionar uma alegre descoberta.

Agradeço-vos profundamente a vossa atenção e envio-vos cordiais saudações. No nome do Senhor Jesus que nos revela os horizontes imensos do desígnio de Deus para cada pessoa, abençoo-vos com fraterno afecto.

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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A Universidade para um novo humanismo 1. Crise dos modelos de Universidade

Nos últimos decénios fala-se muito de crise social, de crise cultural e também de crise da Universidade. “Crise” significa que os paradigmas do passado abriram bre-chas ou foram submetidos a importantes transformações e os paradigmas futuros são ainda esboços provisórios e incertos. Anda-se ainda à procura de novos modelos.

Assim, por exemplo, o nascimento e autonomia progressiva das diferentes disci-plinas humanísticas e científicas modernas pôs em crise o modelo de Universidade medieval, como também a sua função de suporte à sociedade que a viu nascer.

A evocação desta crise serve como pano de fundo para afirmar que hoje nos en-contramos perante uma crise semelhante, mesmo se a sua natureza é mais complexa e difícil de interpretar.

No Ocidente, agrupam-se numerosas funções ou mesmo múltiplas ideias (e mo-delos) de Universidade:

- A ideia napoleónica de Universidade, concebida como sede de aquisição de um saber profissional;

- A ideia humboldtiana ou positivista em que a Universidade é concebida essen-cialmente como sede da investigação pura e desinteressada da ciência sem outros fins, e neutra no plano dos valores;

- A ideia iluminista-humanista que concebe a Universidade como a sede da for-mação de um espírito crítico para fins não só individuais, mas sobretudo sociais.

Estas três ideias de Universidade confluíram nas nossas universidades europeias que, de modos diferentes e segundo as diversas faculdades, se vêem carregadas de funções, seja de preparar para a profissão, seja de desenvolver uma investigação pura, seja de elaborar um espírito crítico para fins sociais.

A unificação e coordenação destas funções nunca foram completas. E hoje verificamos tornar-se cada vez mais problemática a realização destas funções e a possibilidade de coordenação.

A Universidade tornou-se como que “parque de estacionamento” para retardar o momento de entrada na profissão, e produz mesmo desempregados intelectuais; a investigação revelou-se subordinada ao poder económico e financeiro e condiciona-da pela escala de valores da sociedade estabelecida; e, por fim, a crise das ideologias marcou o fim da Universidade como “consciência crítica da sociedade” o fim dum mito que tantas esperanças de renovação suscitara a partir de 1968.

* Texto de homenagem ao Prof. Carvalho Guerra

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A única unificação imaginável pareceu ser, para muitos, uma subordinação rígi-da das funções de investigação e crítica a um projecto (modelo) de racionalização técnico-profissional em que se dá um atrofiamento cultural da Universidade e se pri-vilegia o seu conteúdo pragmático, utilitário e produtivista, técnico e economicista, eficaz e eficientista. A racionalidade cognitivo-instrumental assume assim um papel de hegemonia sobre a racionalidade moral do direito e da ética, e sobre a racionalida-de estético-expressiva das artes e da literatura. Tomou-se o modelo predominante em correspondência à civilização da técnica e do mercado para responder às solicitações deste.

Também este modelo começa a entrar em crise, sobretudo porque abre caminho à tecnocracia que significa o fim ou a morte do humano. Conhecimento e manipulação técnica tomaram-se dois pólos duma mesma entidade global a que se chama a tecno-ciência. Este desenvolvimento implica o da indústria que, por sua vez, o amplifica e, penetrando no coração das sociedades contemporâneas, comanda em grande medida o devir dos homens e dos povos.

O conhecimento científico trouxe prodigiosas elucidações sobre o cosmos, a realidade física, a organização da vida, etc. Suscitou progressos técnicos inauditos como a domesticação da energia atómica, a conquista espacial, o conhecimento do genoma humano, as novas auto-estradas electrónicas da informação e comunicação. Mas trouxe também possibilidades de manipulação e subjugação como os meios capazes de destruir a humanidade e a própria natureza. O rosário das ameaças que transitaram para o novo milénio é assustador: o aquecimento climatérico, o buraco na camada de ozono, a desertificação de áreas crescentes da terra, o desaparecimen-to descontrolado das florestas, o esgotamento dos recursos naturais, a poluição da atmosfera e dos oceanos, o uso da manipulação genética contra o homem (v.g. clona-gem) e contra a biodiversidade, a pobreza de milhões de homens e mulheres, etc.

Acrescentemos que, devido a uma cada vez maior especialização da investiga-ção, se dá, consequentemente, uma maior parcelarização do conhecimento que faz explodir todos os problemas fundamentais em questões técnicas parciais. Estamos num momento em que a super-especialização das disciplinas e dos peritos mata o sentido do global.

Será preciso deixar reinar os especialistas, cada um fechado numa parcela de competência, incapaz de discernir as interferências entre os diversos sectores da especialização, incapaz de discernir a multidimensionalidade dos problemas e de ver para além do muro da sua disciplina? Não se enganaram por vezes os especialistas por mera miopia?

Ao que acabamos de dizer junta-se um outro factor novo: a globalização, uma palavra que já pertence ao vocabulário corrente, com as suas luzes e sombras, mas que nos leva a tomar consciência de que vivemos numa era planetária em que tudo é interdependente. Tudo - política, economia, ecologia - deve ser concebido num qua-dro planetário. E se o desafio é planetário, a resposta não pode - ser solitária, mas de

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solidariedade (solidária). Na ciência como na vida quotidiana é preciso lutar contra o pensamento compartimentado, redutor, que desintegra as realidades de conjunto e os problemas fundamentais.

Por último, é preciso não confundir eficácia/eficiência e compreensão. Um co-nhecimento técnico-operacional que tem domínio sobre as coisas deste mundo não oferece contudo uma compreensão do próprio mundo. Podemos tirar muitas lições da natureza, mas não em matéria de democracia, liberdade, justiça, progresso hu-mano.

2. Universidade, progresso e cultura Perante estas questões que acabamos de mencionar, a Universidade não pode

ficar indiferente. Não é uma ilha isolada. Tem uma função essencial na sociedade, que requer intuito cultural e vontade específica de servir não só os indivíduos mas também as aspirações da comunidade e o progresso dos povos.

Todavia o progresso é antes de mais um problema de cultura. Seria contraditório se se limitasse ao campo material ou físico. A sociedade deve sem dúvida aumentar os bens materiais, mas também os bens da cultura que elevam e asseguram a digni-dade e a liberdade do Homem, a justiça social, a salvaguarda da criação.

Num livro intitulado “Justiça como problema de cultura”, Joseph Fitzpatrick su-blinha com muita justeza: “Pensa-se globalmente na justiça em termos económicos: que alimentação tem uma pessoa? Pode vestir-se e vestir a sua família? Tem um lugar decente para viver? A questão crucial, no que diz respeito a estes problemas práticos, não é a actividade económica... A questão crucial é esta: que significam estes problemas em termos de interesse humano, em termos de destino humano e de sentido a dar à vida humana? Este aspecto ”de significação” é o que constitui a cul-tura e é aí que reside o coração do problema”. Isto mesmo se pode dizer em relação ao progresso.

Quem negará que o desenvolvimento entendido neste sentido integral será o grande desafio e empreendimento do nosso tempo e a responsabilidade comum dos homens? E dado que é fundamentalmente uma questão de cultura, quem negará que este empreendimento também diz respeito à Universidade de modo particular? A Universidade, como centro de racionalidade, é uma instituição cultural privilegiada para abordar as grandes questões do nosso tempo (pobreza, modelos de desenvolvi-mento, administração pública, questões da biotecnologia e da ecologia) com rigor, isenção, competência e credibilidade, dentro de uma enorme responsabilidade éti-ca.

É preciso ensinar ao Homem moderno a acolher positivamente tudo o que na ciência e na técnica o engrandece, mas também lembrar-lhe que há outros valores indispensáveis para o seu progresso integral. A própria orientação científico-técnica da investigação e do ensino exige ser desenvolvida num quadro humanista. Daí, como dizia há anos o Professor Pinto Machado, a necessidade da “formação de ho-

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mens integrais não apenas no domínio do campo científico, mas também ético. Um profissional não competente é um parasita; um competente egoísta (amoral) é um opressor em potência”.

A cultura do Homem nutre-se de conhecimentos científicos e técnicos precisos, mas requer também, no centro de cada saber, uma visão coerente do Homem e do Mundo e uma sabedoria sem a qual a ciência sem uma consciência e a técnica sem uma ética se tomam uma ruína para o Homem. Trata-se, na expressão de Edgar Morin, da necessária aliança entre ciência e consciência, técnica e ética, ética e estética.

O balanço de um progresso material que não é acompanhado por aquele “su-plemento de alma” de que Bergson já tinha sublinhado a necessidade vital, tem-se revelado trágico.

3. Para uma cultura universitária verdadeiramente humanista: interpelações e sugestões

Nestas circunstâncias, a Universidade é chamada a repensar-se a si mesma re-lativamente a um futuro que vem ao nosso encontro com o passo da novidade e da diversidade, e a buscar um novo modelo de trabalho cultural. É interessante verificar que num discurso aos participantes no Encontro Mundial dos Docentes Universitá-rios, em 9/10/00, o Papa João Paulo II fez-se eco do apelo a “uma cultura univer-sitária verdadeiramente humanista” ou novo humanismo. E explicitou, declarando que “a cultura deverá ser à medida da pessoa humana, superando a tentação de um saber rendido ao pragmatismo ou disperso nos infinitos rios da erudição e, por isso, incapaz de dar sentido à vida”.

Trata-se, antes de mais, de um apelo a trabalhar para uma cultura verdadeiramen-te humana, isto é, do homem todo e de todos os homens: do homem todo e não ape-nas da sua parte racional; de todos os homens e não apenas de uma parte privilegiada da humanidade. A educação para o sentido crítico e a aquisição de métodos cientí-ficos são certamente importantes. Mas não menos necessários para o nosso tempo são a abertura aos valores, a formação de um juízo pessoal capaz de discernimento, o afinamento do sentido ético, a aquisição do gosto estético, o aprofundamento do sentido espiritual sem os quais não há humanismo verdadeiro e pleno, e a vida se torna inumana. Os valores da verdade, do bem, do belo, os ideais de dignidade, jus-tiça e solidariedade representam o “húmus” nutritivo do desenvolvimento integral, pessoal e comunitário, onde cada um encontra o lugar que lhe compete na sociedade e na grande comunidade dos povos.

Por conseguinte, a lógica da eficiência a que muitas vezes se apela como princí-pio de reorganização do sistema universitário, embora apreciável e mesmo necessá-ria em certos aspectos, não pode constituir a referência predominante e exclusiva do repensamento da Universidade. Em primeiro lugar, devem permanecer a instância educativa e a resposta à busca de formação que põem no centro a pessoa humana

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e ordenam para o seu serviço toda a actividade de investigação e de didáctica. Em segundo lugar, não é possível prescindir dos valores nem sequer na Universidade. Deste ponto de vista, a Universidade pode contribuir para alargar (ampliar) as ques-tões da sociedade de que participa, ligando progresso científico, desenvolvimento económico e crescimento civil e cultural, oferecendo uma visão do mundo (mun-dividência) que não seja exclusivamente técnica e profissional, mas que permita compreender as técnicas e as profissões ligando-as a uma capacidade de valoração mais englobante, isto é, ao contexto social e cultural.

Para avalizar esta perspectiva, desejaria citar uma passagem do famoso relató-rio americano, elaborado por uma comissão de cientistas, técnicos informáticos, engenheiros, economistas, para dar resposta à seguinte interrogação: “Que tipo de competências profissionais requer Silicon Valley?”, isto é, o mítico símbolo da sociedade do futuro. E diz a passagem: “A melhor preparação que se pode dar aos jovens em tempos de mudanças contínuas não é o “training” ao longo de percursos modestos, não é a ilusão de prefabricar especialistas. O caminho justo encoraja a fantasia, estimula a agilidade mental e psicológica, favorece o espírito criativo, per-mite a ambientação sólida. A cultura humanista enriquece o sentido da escolha, o panorama das opções, a capacidade de avaliar os problemas, segundo a qualidade e não só segundo a quantidade. Qualquer um pode aprender, em três meses, a usar um computador. Ninguém, ou muito poucos, conseguirão recuperar uma cultura huma-nista que nunca tiveram”.

Houve um tempo em que a cultura humanista pareceu ultrapassada relativamente aos novos modelos de saber, nos quais a racionalidade científico-técnica parecia impor à Universidade a busca afanosa de novos territórios e novas disciplinas, em relação às que a tinham caracterizado em épocas anteriores. É interessante notar que João Paulo II, no discurso já referido, tenha observado que “hoje, a mais atenta reflexão epistemológica reconhece a necessidade de que as ciências do Homem e as da natureza voltem a encontrar-se, para que o saber reencontre uma inspiração profundamente unitária”.

A separação entre as “duas culturas” não tem razão de existir. Na aurora da revolução científica, as ciências do Homem (que então eram a filosofia, história e literatura) e as ciências da natureza não foram separadas. E hoje não há motivo para se armarem umas contra as outras.

É verdade que a desconfiança com que se olha para o saber filosófico, a facili-dade com que, numa celebração embriagada pós-modema do presente, se pensa pôr entre parêntesis o saber histórico, a pressa com que se põe de parte o estudo sistemá-tico das formas da arte e da literatura parecem constituir o prelúdio de uma guerra de supremacia, o que contradiz “a mais atenta reflexão epistemológica”.

Ora, as disciplinas humanistas são precisamente aquelas em que não se ilustram simplesmente os processos, mas se põem questões sobre a origem e a finalidade dos processos, sobre os efeitos que produzem para o Homem que deveria ser posto em

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condições de valorar e governar os processos tecnológicos e os mecanismos eco-nómicos e sociais. São questões que não se formulam num vazio de conhecimento histórico e na indiferença ética que deriva da decisão de tomar apenas conhecimento dos factos, de não problematizar, de contentar-se com a simples constatação de que as coisas são como são.

Quando se diz que a cultura humanista não está longe do saber científico, diz-se também que, no campo das ciências exactas, o conhecimento é uma aventura pes-soal. O homem de ciência participa na descoberta e vive-a a partir de dentro como humano, ou seja, como actor e não como mero espectador. Não é impassível perante quanto vai descobrindo, não suspende a sua aptidão crítica, situa os próprios objec-tos dentro de uma visão do mundo. Só com a especialização e com a redução tecno-lógica se reduziram as margens da individualidade para os estudiosos neste domínio. Produziu-se assim um desequilíbrio que pode ser compensado com um regresso do parcelar à totalidade complexa, às regiões da palavra e da imagem, à consciência da continuidade histórica que nos liga ao passado, retomando a atenção às questões ini-ciais e finais, isto é, às questões do sentido. Recusar fazer a ligação entre o parcelar e o global é obscurantismo.

Estes desequilíbrios deveriam ser sanados. Uma formação universitária, mesmo de tipo jurídico, económico, científico tiraria proveito de conhecimentos filosóficos, históricos, literários, éticos e estéticos. O verdadeiro inimigo parece ser a especiali-zação exagerada que é seguida por alguns como premissa para a construção de figu-ras profissionais eficientes e sem complicações e problematizações inúteis. Até há poucos anos, nos currículos dos universitários dos Estados Unidos, o conhecimento dos clássicos europeus, de Dante a Shakespeare, era pré-requisito para cada “iter” dos estudos. Ainda hoje, as universidades americanas estabelecem para cada curso um “núcleo” de disciplinas de que não se pode prescindir, deixando depois ampla margem a opções que a nós nos podem parecer extravagantes. A distribuição de horários nas mais prestigiosas escolas técnicas do Estados Unidos previam 1/3 para ciências puras, 1/3 para tecnologias e 1/3 para disciplinas humanistas.

As opções guiadas (não arbitrárias) são, em princípio, remédio a uma especiali-zação fechada em si. A tendência à especialização fechada podia ser atenuada pela sabedoria daqueles que são chamados a formular os planos de estudo no âmbito da autonomia universitária.

Poderia ser favorecida a flexibilidade na organização demasiado rígida dos cursos pela via de compenetração ou aproximação de vários saberes, pela interdis-ciplinaridade. Nesta linha deveria também ser consentida a excursão não esporádica em disciplinas de outras faculdades, guiada por um tutor ou por conselheiros de orientação, valorizando o método dos créditos.

A meta - que por ora é um sonho mas não irrealizável - poderia ser um curso breve que cada faculdade pusesse à disposição dos estudantes de outras faculdades, em que fossem explicados os princípios, os métodos, os objectivos que naquele

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âmbito disciplinar se visam e cultivam. Aos estudantes de faculdades diversas pode-riam oferecer-se lições de actualização sobre o estado de uma disciplina particular, confiadas a estudiosos que, no parecer da Universidade, tenham dado contributos relevantes, segundo a tradição alemã do “collegium publicum” Por exemplo, cursos que ofereçam uma visão das culturas nacionais europeias poderiam ser oferecidos, com proveito, em várias faculdades.

Numa Universidade não deveriam faltar lugares de síntese como podem ser os debates, as discussões e as lições de professores convidados, que podem tornar-se, para os estudantes, ocasiões para abrir perspectivas, para além do horizonte do seu estudo. Como também jornadas dedicadas a um tema cultural, a uma personagem de relevo da vida civil, cultural ou religiosa. Acontecimentos estes que devem ser sentidos pelos estudantes como algo que lhes diz respeito. A sugestão dos tutores ou conselheiros poderia evitar-lhes perder-se no fluxo das iniciativas que decorrem numa grande Universidade.

Encontramo-nos também frente à necessidade de optar entre uma Universidade de acumulação de informações e uma Universidade de orientação. O aumento da quantidade e da rapidez do acesso à informação, muitas vezes aumenta também a solidão e a incomunicabilidade. É o aspecto paradoxal da revolução que nos invade: dado que tudo está virtualmente presente, pode surgir a ilusão de poder deixar de investigar e de ser poupada a fadiga da experiência pessoal, uma vez que já está tudo concentrado nas memórias dos computadores. A ilusão de riqueza que a posse quantitativa, real ou virtual gera, torna difícil a identificação daquilo que, no grande mar das redes e da comunicação de massa, é útil ou supérfluo. É uma riqueza que pode tornar pobre. A disponibilidade horizontal das informações faz com que seja mais árduo estabelecer uma graduação de valor. No futuro próximo, o “saber usar” a informação será a fronteira entre aqueles que tiram proveito de um instrumento e aqueles que nele se afundam. A informação sem formação flutua num vazio .”

Para além de aumentar a produção informativa, a nova Universidade deveria pro-por e favorecer também a concentração da mente, a criação de espaços de reflexão nos quais possa ajudar os jovens a traçar mapas conceptuais, a fazer concatenações primárias, projectos interconexos, argumentações lógicas, discussões alargadas e não sobrepostas nem afuniladas. Será salutar uma orientação prévia e que nasça a partir do interior de cada saber e ensino.

Em relação a um universo fragmentado e desagregado, o lugar da síntese ou da unidade é, em última análise, a própria pessoa. Embora na mentalidade comum se pense numa Universidade que unicamente oferece conhecimentos, continua a ser verdade que ela foi originariamente, e permanece, o lugar da maturação intelectual e crítica dos jovens estudantes. A própria maturação profissional caminha a par da maturação da pessoa. Esta maturação acontece através e para além dos conhecimen-tos, num movimento lento e profundo que desperta quanto está ínsito na pessoa. É próprio do conceito de educação o “tirar para fora”, despertar as potencialidades

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da pessoa. Uma pessoa cresce e desenvolve-se quando é ajudada a desenvolver o conjunto de possibilidades que tem em si. Para os estudantes, o sentido dos anos que passam na Universidade deve ser captado como ocasião única na vida de trazer à luz tudo quanto eles já possuem, de fazer vir ao de cima o que já são.

Para a Universidade, a função educativa assim compreendida não pode ser ofuscada pelas urgências do mercado de trabalho, embora dignas da máxima consi-deração. Deste ponto de vista, os apelos que provêem do mundo empresarial são sa-lutares. Todavia, para a Universidade não existe; só o mercado. “A função educativa - observa João Paulo II - deve ser posta no centro das reformas e das adaptações que esta antiga Instituição pode ter necessidade para se adequar aos tempos”.

Apontei um ideal e algumas sugestões para uma cultura universitária verdadei-ramente humanista - a fim de que a Universidade não se reduza a uma oficina de exames e a uma fábrica de diplomas - sem pretensão de parecer uma panaceia, uma receita milagrosa para todos os problemas da Universidade. Não é fácil realizar este ideal: mas, como diz o provérbio, “onde há uma vontade, aí há um caminho”.

3 de Julho de 2007† António Augusto dos Santos Marto

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Artigo para a Gala da Rádio Central FM

Orgulho Nacional e Abertura UniversalO lugar onde o homem nasce (natio-nação), cresce e vive, oferece-lhe ambiente e

respira-ção, abrigo e horizonte. Dele a vida tira alento e imaginação; dele lhe advêm as memórias (raízes) e brotam também as esperanças.

A nossa vida inscreve-se numa pátria, numa língua, numa cultura, num povo com uma histó-ria que nos forma, conforma (configura) e reforma (renova).

O homem vive “enraizado” recebendo a seiva e a vida das suas raízes culturais e, por tudo isso, capacitado para crescer, florescer e frutificar. Como diz Simone Weil: “O enraizamento é talvez a necessidade mais importante e a mais desconhecida da alma humana. Um ser humano tem raiz pela sua participação real, activa e natural na existência de uma colectivi-dade que conserva certos tesouros do passado e cer-tos pressentimentos do porvir”. Tal como nos sentimos herdeiros de uma família, também nos sentimos herdeiros responsáveis de um povo-nação a que pertencemos, com as suas gestas, as suas virtudes e os seus defeitos. Por isso podemos falar de um “são orgulho nacional” hoje tão esquecido por falta do cultivo da memória e da história.

Mas o homem, cada homem é também cidadão do mundo, membro da família humana uni-versal. O “são orgulho nacional” não pode fechar-nos num “chauvinis-mo nacionalista” do orgulhosamente sós. O “são orgulho nacional” não é incompatí-vel com a necessária abertura à universalidade – uma alma cosmopolita – no apreço, na estima, na colaboração e na soli-dariedade recíprocas à escala mundial, entre as nações e os povos que constituem uma úni-ca família humana.

Miguel Torga, talvez como nenhum outro, traduz admiravelmente este “são orgulho” de ser português de que faz parte a sua vocação universal: “Original na sua maneira de ser, de sen-tir e de pensar, a cultura universal deve-lhe um modo específico de encarar a vida e os valo-res. (…) E é essa vocação planetária, essa inquietação dispersiva que faz do português um peregrino das sete partidas, um cidadão do mundo. Despido de pruridos raciais, uma vez em terra alheia, miscigena-se, adapta-se, integra-se, mas sem perder nunca os traços nativos” (Diário XV 138). E ainda: “Aonde chegue um emigrante lusíada, chega uma criatura convin-cente, prestante, diligente e influente que concilia, congrega, desbrava, cria riqueza, funda instituições benemerentes, semeia humanidade” (Diário XV, 38)!

15 de Julho de 2007† António Augusto dos Santos Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia no Santuário de Fátima

A Beleza de Mariae do nosso destino humano

Senhor D. Serafim, meu caro irmão no episcopado,meus caros irmãos padres concelebrantes, minhas irmãs e meus irmãos em humanidade e na fé em Jesus Cristo.

Hoje é um dia de grande festa para toda a Igreja, aliás, expressa nas numerosas festas do nosso povo cristão. Celebramos o mistério da Assunção de Maria, Mãe de Jesus, ao céu. No termo da sua vida terrena, passando através do sono da morte, ela é assumida e elevada ao céu, à plena comunhão com Deus, na integridade de todo o seu ser humano corpóreo-espiritual, quer dizer, na plenitude da sua humanidade, da sua corporeidade, da sua feminilidade e da sua maternidade como Mãe de Jesus.

Contemplando Maria elevada ao céu, toda a Igreja se alegra, porque contempla nela o ponto de chegada, o coroamento final da nossa história, da história de cada um de nós e da história da humanidade.

Neste ambiente de alegria, saúdo cordialmente cada um de vós aqui presentes que vieste em tão grande número, não obstante a própria chuva.

Este mistério da Assunção de Maria é como que a síntese final de toda a beleza de Maria. Por isso eu quero convidar-vos a contemplar comigo, ainda que brevemente, esta beleza de Maria que nos ajuda a compreender também algo da beleza de Deus e da beleza da nossa vida com Deus em Cristo. Deixemo-nos inspirar nesta contem-plação pelas leituras da Palavra de Deus que acabámos de ouvir.

A beleza da fé vitoriosa sobre o malA primeira leitura, se os meus irmãos e as minhas irmãs ainda se recordam, fala-

nos simbolicamente de uma luta que se trava entre a mulher e o dragão. Por isso, ajuda-nos a compreender um aspecto da beleza de Maria que consiste precisamente na sua fortaleza de alma, na fortaleza de alma com que ela, a mulher, combate o dragão sanguinário, símbolo de todas as forças do mal, de violência, da mentira, da injustiça, da opressão, da morte e do desespero que atravessam o teatro da história de todas as gerações.

A beleza daquela força interior da fé faz com que Maria combata o poder do mal no mundo, na história, não com as armas deste mundo, mas com as armas da fé, do evangelho, da mansidão e da não-violência.

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É imensa esta beleza da fortaleza da fé que a faz acreditar que a graça de Deus é mais forte do que o pecado do mundo, que a faz acreditar na vitória da vida sobre a morte.

Contemplando Maria elevada ao céu, ela é para nós, para cada um de nós e para toda a Igreja, motivo de conforto e de consolação; põe em nós a esperança de vencer, de não sucumbir ao mal e ao pecado; põe em nós aquela confiança incondicional em Deus que nos leva a esperar confiadamente no futuro de Deus, no futuro que Deus reserva para nós.

A beleza da Ressurreição com CristoNa segunda leitura somos ajudados a contemplar a beleza de Maria, enquanto

ela participa, de modo singular, na ressurreição de Cristo. É aquela beleza definitiva reservada para todo o género humano. Diria é como que a síntese e o coroamento final de todas as belezas da nossa vida e da nossa história de salvação. É bela a mãe de Jesus, porque Ela é obra-prima e perfeita de Deus na sua humanidade glorificada. E, também nós somos chamados a ser obra-prima de Deus na sua eternidade, quando Ele, como artista final, der o último retoque a esta obra de beleza que começou em nós e acompanhou connosco ao longo da sua peregrinação na terra.

Contemplando Maria elevada ao céu, ela proclama-nos que tudo aquilo que de bom, de justo, de belo, de santo e de autêntico que existe na nossa vida que cons-truímos no nosso mundo, nada disso se perde. Será assumido connosco na glória com Deus. Podemos, pois dizer, que contemplando Maria, celebrando o mistério da Assunção de Maria, esta festa consagra a beleza do destino humano. É belo ser homens e mulheres desta história que, não obstante esta luta entre o bem e o mal que a atravessa, tem um destino tão extraordinário e glorioso já agora vivido por Maria.

A beleza da exultação do coraçãoE, finalmente, o Evangelho ajuda-nos a compreender um terceiro aspecto da

beleza de Maria. Ela é a mulher da alegria, da exultação, do canto da graça e da misericórdia de Deus ao longo das gerações. E, contemplando-a neste seu canto, Ela transmite alegria ao nosso coração e ao nosso mundo. E diz-nos o segredo desta alegria: Maria cantou o Magnificat há dois mil anos. Podemos pensar, justamente, que ela certamente continua a cantá-lo junto da plenitude de Deus, olhando em re-trospectiva para toda a sua vida e toda a sua história com os homens no mundo, vida e história tecida de mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos, tal como é tecida também a nossa história, a história de cada um e a história do mundo por estes mistérios.

Por isso, Ela convida-nos e ajuda-nos a cantar em cada dia este Magnificat, este canto da alegria, da graça e da misericórdia, porque nos convida a acreditar hoje que o Senhor fez e continua a fazer coisas grandes, maravilhas de graça em nós, no meio de nós, através de nós pobres e frágeis criaturas. Chama-nos à vida, chama-nos à

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vida de fé, chama-nos a uma vida de comunhão fraterna. Chama-nos a construir com Ele, em equipa com Ele este mundo na verdade, na justiça e fraternidade e chama-nos finalmente à comunhão plena e eterna com Ele. Então, Maria ensina-nos aqui o segredo da alegria e de exultação que nascem da fé e que dominam a nossa existên-cia em cada dia, e a existência de todas as pessoas que amamos e encontramos ao longo do nosso caminho.

Terminamos, então, com uma brevíssima oração a Nossa Senhora:

Senhora da Assunção, Senhora da alegria.Convosco se eleva ao céu o nosso canto,Eterna glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito SantoPor toda a eternidade Ámen! Aleluia!

15 de Agosto de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Abertura de Exposição

Salvé Rainha Salvé Rainha, Mãe de Misericórdia! – é o título desta exposição iconográfica.

Tal como a oração tão conhecida e cara ao povo cristão, donde é tomado o título, assim a exposição pretende ser um hino à realeza de Maria, na manifestação da sua misericórdia, que se explicita como “vida, doçura, esperança nossa”.

A exposição insere-se na comemoração dos noventa anos das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Elas representam uma particular manifestação da Mise-ricórdia Divina que, através de Maria, se inclina sobre o Seu povo ameaçado pela perseguição à fé e sobre a humanidade em risco de se afundar no abismo do ódio, da violência e da guerra.

A figura de Maria só se compreende verdadeiramente ao serviço do projecto salvífico de Deus. A Igreja vê-a sempre como “a mulher ícone do Mistério”, isto é, dentro do mistério de Cristo, da Igreja e do homem redimido. Todas as passagens da Bíblia e todas as imagens de Maria reflectem e descrevem a única acção redentora de Deus em Cristo. Mas as imagens de Maria procuram tornar compreensível e visível aos nossos olhos, em traços humanos, esta acção divina.

Em Maria, a acção de Deus é envolvida por uma luz humana de modo a tornar-se para nós compreensível, atraente, fascinante. Toca o nosso coração. Este coração procura imagens para contemplar e engrandecer a surpresa da misericórdia infinita de Deus no mistério da Encarnação redentora desde o Nascimento até à Cruz: Deus connosco e Deus por nós.

Maria, tão intimamente associada a este mistério, reflecte, como um espelho pre-ferido, a Sua beleza e santidade e indica-nos o mistério da nossa existência redimida e o caminho que nos conduz até Deus, como o expressou à vidente Lúcia: “O meu Coração Imaculado conduzir-te-à até Deus”. Por isso, visitar esta exposição é um convite a uma peregrinação interior.

Deixo uma palavra final de parabéns e gratidão a quantos se empenharam para tornar possível tão expressiva exposição em honra da Mãe de Misericórdia!

10 de Setembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem no Diário de Notícias

Fátima: 90 anos depoisAs celebrações dos aniversários das aparições de Nossa Senhora em Fátima são

sempre uma ocasião para revisitar e aprofundar o significado da Mensagem que aí ecoou como um apelo profético à Igreja e à humanidade, numa das maiores crises da história mundial.

A comemoração dos 90 anos insere-se nesta linha com uma série de iniciativas, tais como três congressos de alto nível teológico-pastoral, algumas exposições ar-tísticas e a inauguração da nova igreja, dedicada à Santíssima Trindade, no próximo dia 12 de Outubro. Nada disto reveste um tom triunfalista. Antes, procura levar ao essencial da Mensagem.

De facto, a Mensagem de Fátima permanece para muitos incompreendida no seu cerne, fixando-se em aspectos marginais. Infelizmente, nos últimos anos do século passado, Fátima chamou mais a atenção pelo carácter sensacionalista que se gerou à volta do chamado “Terceiro Segredo” em tons apocalípticos, do que pelo conteúdo total e central da mensagem.

O que há afinal de particular na Mensagem que justifique a atenção que suscita, a atracção que exerce e o amplo eco que alcançou? Num primeiro momento e à primeira vista parece que nada tem de especial, porque é uma mensagem confiada a crianças iletradas, adaptada à sua mentalidade, ao seu mundo simples; uma men-sagem de há muitos anos, expressa em conceitos que se referem à linguagem da época.

Mas, precisamente por isso, espanta-nos que o contexto e o conteúdo da mensa-gem não se restringem a um caminho de fé pessoal dos pequenos videntes ou a uma circunstância particular. O seu horizonte é de alcance mundial, internacional; as duas guerras mundiais, os sofrimentos da humanidade, a menção específica de nações como a Rússia, os sofrimentos da Igreja com a menção dos mártires do século XX (hoje contabilizados em 26.685.000, pelo historiador Andrea Riccardi), dos bispos e do Papa, e a grande causa da paz entre ao povos. E tudo isto acompanhado por um chamamento a não se resignar à banalidade e à fatalidade do mal: é possível vencer o mal a partir da nossa conversão a Deus.

A Mensagem ajuda-nos, pois, a olhar mais longe, a manter o olhar aberto aos horizontes mundiais, dolorosos e obscuros, e a procurar neles os sinais da presença de Deus e os seus apelos.

* Texto introdutório numa revista editada em fascículos pelo Diário de Notícias, com que este jornal se associou às comemorações dos 90 anos das Aparições.

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A sombra luminosa de Fátima cobre todo o século XX, o século mais cruel e san-guinário da história. É dentro deste contexto trágico que a Virgem Maria surge como uma “visão de paz” e uma imagem de esperança. A difusão da Mensagem contribuiu muito para que crescesse na Igreja e no mundo o amor à paz e a rejeição da guerra.

Quem melhor captou e traduziu a dimensão histórico-profética de Fátima foi, sem dúvida, o Papa João Paulo II, de santa memória, numa memorável página, por ocasião do 80º aniversário das aparições: “ Às portas do Terceiro Milénio, ob-servando os sinais dos tempos neste século XX, Fátima conta-se certamente entre os maiores, até porque anuncia na sua mensagem muitos dos sinais sucessivos e convida a viver os seus apelos; sinais como as duas guerras mundiais, mas também grandes assembleias de nações e povos sob o signo do diálogo e da paz; a opressão e as convulsões vividas por diversos países e povos, mas também a voz e a vez dadas a populações e gentes que entretanto se levantaram na arena internacional; as crises, as deserções e tantos sofrimentos dos membros da Igreja, mas também um renovado e intenso sentido de solidariedade de recíproca dependência no Corpo Místico de Cristo, que se vai consolidando em todos os baptizados [...]; o afastamento e aban-dono de Deus por parte de indivíduos e sociedades, mas também uma irrupção do Espírito de Verdade nos corações e nas comunidades tendo-se chegado à imolação e ao martírio para salvar a “imagem e semelhança de Deus no homem” (Gn 1,27), para salvar o homem do homem.

De entre estes e outros sinais dos tempos, como dizia, sobressai Fátima, que nos ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo também deste século XX”.

19 de Setembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem

Movimento da família do sacerdoteQuando visito uma paróquia e sou hóspede da casa paroquial, no fim da refeição

faço questão de ir à cozinha agradecer à pessoa ou às pessoas que prepararam o re-pasto e que são, normalmente, as auxiliares domésticas dos párocos.

Não faço isto por mera cortesia. Faço-o, intencionalmente, para manifestar a estima e gratidão por tanta dedicação e carinho com que auxiliam e servem os sa-cerdotes.

Lembro-me de Marta e Maria, em cuja casa Jesus gostava de repousar serena-mente da sua fadiga apostólica. Lembro as várias mulheres a quem S. Paulo, nas suas cartas, agradece o acolhimento e a hospitalidade que lhe reservaram nas suas viagens e visitas pastorais. É um trabalho escondido, feito de tantas pequenas coisas, atenções e sacrifícios para que o apóstolo se sinta bem e possa desempenhar, com alegria e serenidade, a sua missão.

Por estes motivos, considero-vos “auxiliares dos apóstolos”, a retaguarda de apoio à sua missão, participantes do seu apostolado. Deixo-vos aqui expresso o mais sentido reconhecimento e a minha sincera estima. Que Deus vos abençoe e recompense!

24 de Setembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia no jubileu dos padres Luciano Guerra e Adelino Ferreira

A grandeza e a humildade do sacerdócio

Como é belo encontrarmo-nos aqui todos reunidos, como no ambiente do cená-culo da última ceia com Cristo e, aqui, com Maria, Sua e nossa Mãe, para agradecer ao Senhor o dom do sacerdócio que Ele nos deixou como um dom da intimidade do Seu testamento; e para lhe agradecer, concretamente, o dom do sacerdócio encarna-do nas pessoas concretas destes dois irmãos no sacerdócio, Padre Luciano Guerra e Padre Adelino Ferreira, que celebram os 50 anos da sua ordenação sacerdotal e a quem queremos unirmo-nos de coração nesta sua acção de graças.

Júbilo e GratidãoA nossa presença aqui, em tão grande número, forma como que uma coroa de co-

rações à volta destes dois sacerdotes para lhes fazer sentir o calor humano do nosso júbilo e da nossa gratidão. Todos nós, hoje, estamos cheios de júbilo e de gratidão. Antes de mais, por tudo o que o Senhor fez neles e através deles a favor do seu povo. Cheios de júbilo e de gratidão também, porque tomamos consciência de que a vocação ao sacerdócio não é uma realidade do passado, é uma graça do presente. Recebemos este dom misterioso não de uma vez para sempre, mas continuamente. Este dom supõe uma relação com Deus, de carácter de intimidade e de fidelidade, dia e noite. E, por isso, em nome de todo o presbitério aqui presente na sua quase tota-lidade, em nome de todos os presentes, em nome de toda a diocese e em meu nome pessoal, quero exprimir aos dois o nosso fraterno afecto, as nossas congratulações, os mais vivos e jubilosos parabéns. Parabéns a eles e parabéns a Deus por tudo o que de bom, de justo, de santo e de belo realizou neles e através deles.

Recebi um telegrama de congratulações para eles, telegrama singular, que diz somente isto: “vós sois os que preservastes comigo nas minhas provações”. Assina: Jesus Cristo Ressuscitado, Cabeça do Corpo Místico da Igreja e da Humanidade! É um sinal de que vós vos deixastes conduzir pela mão do Senhor em cada dia e de que Ele vos conduziu pela Sua mão. Mais uma vez parabéns, agora da parte do Senhor Jesus Cristo Ressuscitado.

O contexto do JubileuA beleza deste momento que estamos a viver, resplandece ainda mais se a colo-

carmos num contexto de acontecimentos próximos que vivemos ao nível da Igreja, da diocese e da própria liturgia.

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Antes de mais, celebramos este jubileu sacerdotal dentro das comemorações dos 90 Anos das Aparições de Maria, aqui em Fátima, como Mãe da misericórdia que se volta com ternura para a humanidade. Que mais belo lugar poderíamos ter escolhido para celebrar este jubileu senão esta Basílica, já que ainda não o podemos fazer na nova igreja da Santíssima Trindade!

Depois, celebramos o jubileu também no início do ano pastoral na nossa Dioce-se, colocado, sob o signo da ternura de Deus: chamados a ser testemunhas da ternura de Deus no mundo e, concretamente, também através dos sacerdotes.

E por último, celebramos este jubileu num dia litúrgico em que fazemos memória de um Santo muito simpático e extremamente fecundo para a vida da Igreja e da so-ciedade, o dia de São Vicente de Paulo, que também foi presbítero, sacerdote.

Sacerdotes ao serviço da Ternura de DeusTudo isto serve de enquadramento para a meditação da Palavra de Deus que

nos convida naturalmente a descobrir a grandeza, e ao mesmo tempo, a humildade do sacerdócio. Olhando para as multidões, o Senhor teve compaixão delas, porque estavam abatidas, fatigadas, como ovelhas sem pastor. A escolha e o envio dos após-tolos, deu-se precisamente neste contexto. Aparece como fruto da compaixão do Senhor pelas multidões do nosso mundo, que andam à busca do pão da verdade, do pão do amor, do pão da vida verdadeira e, porque não o encontram, estão como que extenuadas, exaustas, abatidas. O Senhor cuida delas, dando-lhes os pastos da vida verdadeira, e cuida delas curando as suas feridas, as feridas do seu coração e da sua alma. O que é isto senão a revelação da ternura de Deus, do amor terno, paterno e materno de Deus para com a humanidade? O Senhor chama os apóstolos a participar deste serviço de ternura de Deus, que é Ele mesmo, a favor da humanidade, a favor do Seu povo.

O Senhor cuida do Seu povo, não através de um exército de infantaria ou de cavalaria, mas através de pastores, segundo o seu coração. Sim, as pessoas têm ne-cessidade de sair do anonimato, da incomunicabilidade, do medo da vida e dos pro-blemas da vida. Precisam de ser conhecidas e chamadas pelo nome, como pessoas únicas. Precisam de caminhar seguras nas estradas da vida com referências fortes da Palavra e do Evangelho de Cristo. Precisam se ser encontradas e levantadas se, por ventura, se perderam e caíram. Precisam de ser amadas, compreendidas, acolhidas no meio das suas dificuldades e fragilidades. Precisam de receber o pão da verdade, o pão da vida, o pão do amor, o pão quotidiano. O pão-nosso de cada dia nos dai hoje, é este pão! Precisam de receber a salvação, uma palavra como dom supremo de Deus. Tudo isto o fazem os sacerdotes, chamados a serem servidores da ternura de Deus aos homens, a cada pessoa singular. Eis a grandeza do sacerdócio!

O sacerdócio é grande, porque participa da grandeza da ternura de Deus para com a humanidade. E por isso, o Senhor avisa: “a seara é grande, os operários são poucos. Rogai ao Senhor da Messe que envie operários”, porque o sacerdócio não

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se pode escolher como uma profissão qualquer. Deriva da contemplação de Cristo, ternura encarnada de Deus. E só quem se deixa tocar por esta ternura no íntimo do seu coração, pode, de facto, responder ao chamamento, fazer-se apóstolo e servo desta ternura.

Por isso, também na nossa diocese queremos continuar a dar vida à grande ora-ção pelas vocações para que elas despertem com uma fé viva e com um coração encantado e apaixonado pelo Senhor e pelo Seu povo.

Sacerdotes, discípulos e penitentesO sacerdócio é grande, mas é também humilde, porque é exercido por homens

pobres, frágeis, limitados. É algo paradoxal para o qual nos chama a atenção o após-tolo São Paulo na Primeira Carta aos Coríntios que ouvimos. Naturalmente, ele diz isso a todos os cristãos. Mas, hoje, de um modo particular, aplicado aos sacerdotes: “Vede quem sois, vós que fostes chamados por Cristo. Não há entre vós poderosos nem sábios, nem grandes do mundo, porque Deus escolheu o que é fraco, o que é desprezível para confundir os fortes e os poderosos. Escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os sábios”. Suscita-nos uma atitude de espanto diante desta lógica de Deus tão diferente da lógica do mundo! Deus escolheu o que é fraco, o que é desprezível, o que é louco. Só assim é que a gente tem um pouco de coragem de assumir uma missão tão grande, tão empenhativa, tão responsável ao serviço de Deus e ao serviço do Seu Povo. O Senhor escolheu o que é fraco para que nós tomemos consciência do que é esta missão e que o poder que ela tem vem de Deus e não vem de nós, dos homens. Nós não somos os salvadores do mundo: é Ele e só Ele. E tanto mais nos damos conta da nossa pobreza, da nossa fragilidade, da nossa condição de pecadores, nós padres e bispos.

Quanto mais conhecemos a Igreja por dentro, nas suas debilidades e fragilidades, tanto mais somos tomados por este assombro, por este maravilhamento perante a imensa misericórdia de Deus e a sua força extraordinária. No fundo, é a confirmação de que o Senhor age através de instrumentos fracos, inadequados. Eles mesmos se sentem indignos. O apóstolo nunca deixa de se sentir discípulo e penitente. É uma confirmação que nos ajuda a crescer na humildade. Apóstolos humildes! É esta a Palavra de Deus nas leituras.

O testemunho de S. Vicente de PauloMas Deus fala-nos, também, através dos Seus Santos e, concretamente, do Santo

de hoje, São Vicente de Paulo. Como disse no início, é um Santo simpático e extra-ordinariamente fecundo para a vida da Igreja e da sociedade ainda hoje. Para mim é muito simpático e sabem porquê, logo a começar? Porque não nasceu santo e, nos primeiros dos anos de sacerdote, não era santo, não. Um rapaz, filho de gente do campo, humilde e pobre, olhou para o sacerdócio como uma boa oportunidade de ter um estatuto social e uma boa situação económica. E foi isso que procurou durante os

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primeiros doze anos: fazer carreira eclesiástica e económica. Aos 31 anos foi nome-ado pároco de uma paróquia nos arredores de Paris. Foi aí que se deu a viragem na sua vida. E sabem quem o levou a dar a viragem na vida? O povo simples e humilde! Ficou impressionado pela devoção e oração dos seus fiéis, pela fé orante dos seus fiéis, e foi aí que tudo virou. Então, começou a dedicar-se aos pobres, aos doentes e aos miseráveis. Suscitou toda uma onda de caridade e de caridade organizada. Che-gou até hoje, enfim, na família vicentina que todos conhecem sobre a qual não me debruço. E depois, o seu poder de atracção foi tal que os próprios bispos queriam que ele formasse os sacerdotes nesse espírito de amor a Cristo e aos pobres. E daí surgiu, então um grupo de sacerdotes que se uniu a ele e deu origem à congregação da Mis-são ou de São Vicente de Paulo, dedicada à formação dos sacerdotes e à missão da pregação ao povo rude e simples do campo e das cidades.

E de onde lhe veio esta vitalidade, este vigor, este fogo capaz de o entusiasmar a si mesmo e capaz de entusiasmar os outros? Resumo e sintetizo: de três aspectos da sua espiritualidade que ele foi beber a outros. Em primeiro lugar, da oração íntima que o mantinha num contacto íntimo e contínuo com Deus, mesmo no meio das suas actividades mais empenhativas. Em segundo lugar, o humanismo cristão que rece-beu de S. Francisco de Sales que tira a santidade dos muros dos mosteiros e dos con-ventos para a levar ao coração do mundo, na vida diária de cada um e embelezar o mundo com esta santidade. Chama-se humanismo cristão. E em terceiro lugar, bebeu de Santo Inácio de Loiola a fidelidade à Igreja, sobretudo em ordem a servi-la nos lugares onde é mais carenciada a presença dos cristãos. Três grandes desafios para nós, para a nossa Igreja, hoje concretamente, para o nosso ministério sacerdotal.

E termino com palavras de São Vicente de Paulo, um texto muito lindo que ele deixou nos seus escritos e sintetiza, enfim, todo o dia de hoje.

Está escrito que busquemos o reino de Deus.É apenas uma frase, mas parece-me que encerra muitas coisas.Ensina-nos a aspirar àquilo que recomenda,a trabalhar continuamente pelo reino de Deus,a não permanecer num estado de inércia e indolência,a reflectir na nossa própria vida íntima a fim de orientá-la bem,e não em coisas exteriores para encontrar prazer nelas.Buscar significa preocupar-se, significa acção.Buscai Deus em vós,porque Santo Agostinho confessa que, enquanto buscou fora dele, não O encontrou.

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Buscai-O na vossa alma, a morada que lhe é mais agradável.Este é o lugar onde os seus servos procuram pôr em prática todas as virtudes. É necessária a vida interiore nela devem convergir todos os nossos esforços.Se falhamos nisto, falhamos em tudo. E quem falhou deve humilhar-se, implorar a misericórdia de Deus e emendar-se. Se há algum homem que tem necessidade disto,é este miserável que vos fala. Eu caio, recaio, saio a medo fora de mim eraramente entro em mim. Acumulo culpas sobre culpas.

Esta é a mísera vida que levo e o mau exemplo que dou!Ámen.

Santuário de Fátima, 27 de Setembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Intervenções no congresso

“Fátima para o Século XXI”Sessão de Abertura

Senhor Professor Doutor Jacinto Farias, Presidente da Comissão Científica do Congresso, Senhor Dr. Armindo Janeiro, Secretário,

Senhores bispos,Senhoras e Senhores congressistas.É para mim motivo de grande alegria poder acolher-vos e dar-vos as boas-vindas

como bispo da Igreja local. Saúdo-vos a todos, de todo o coração. Saúdo com par-ticular afecto os irmãos do episcopado a começar pelo Sr. Cardeal Dom Alexandre dos Santos, arcebispo emérito de Maputo, Sr. Dom Diego Bona, bispo emérito de Saluzo na Itália, Sr. Dom Serafim, Bispo emérito de Leiria Fátima, Sr. Dom Manuel Madureira, bispo emérito do Algarve, Sr. Dom Manuel Quintas, bispo residencial do Algarve.

Antes de mais, uma palavra breve de congratulação com a realização deste congresso que, como disse o senhor Professor Doutor Jacinto, culmina o ciclo dos congressos que marcaram as comemorações destes 90 anos das Aparições e que, na medida em que pude assistir, devo dizer que foram congressos de alto nível teológi-co e pastoral, o que me deixa, naturalmente, muito satisfeito.

As comemorações dos aniversários das Aparições de Fátima são sempre uma oportunidade para revisitar e aprofundar a mensagem de Fátima, no confronto com a história, por conseguinte, fazer o ponto da situação da recepção da mensagem ao longo dos tempos e da história dos seus efeitos. Que há de especial, de particular, nesta mensagem de Fátima que justifique, de algum modo, um congresso intitulado Fátima para o século XXI?

Num primeiro momento e à primeira vista, parece que não há nada de espe-cial nem particular. É uma mensagem confiada a crianças iletradas, analfabetas, adaptada à sua mentalidade, ao seu mundo simples, expressa com conceitos que se referem à linguagem da época, daquele tempo, e que nos parecem culturalmente até distantes. Mas precisamente por isso, espanta-nos, deixa-nos verdadeiramente cheios de assombro que o horizonte da mensagem não é restrito ao caminho pessoal de fé dos três pequenos videntes, nem a uma circunstância histórica particular. É um horizonte mundial, internacional: as duas guerras mundiais, os sofrimentos da humanidade, a menção de nações, a menção explícita de nações, concretamente da Rússia, os sofrimentos da própria Igreja, a menção explícita dos mártires do século XX, hoje contabilizados por um historiador insuspeito, o italiano André Ricardi, em

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26.685.000 mártires das várias confissões cristãs, e ainda a grande causa da Paz entre os próprios povos.

Este é o horizonte mundial, internacional. Tudo isto, acompanhado por um chamamento forte a não resignar-se à banalidade e à fatalidade do mal. É possível vencer o mal a partir da conversão dos corações a Deus. E depois ainda, umterceiro aspecto, com a indicação e a oferta de uma espiritualidade própria em ordem a esta conversão dos corações que é a espiritualidade do Coração Imaculado de Maria que, explicitamente, se apresenta como um “Coração que leva até Deus”, usando a linguagem do coração a coração, tão sensível aos homens e às pessoas e com uma promessa final: Por fim o meu Coração Imaculado triunfará. Triunfo da misericórdia divina através do Coração Imaculado da Mãe. Creio que são, a meu ver, as grandes coordenadas teológicas da mensagem que justificam o eco mundial que ela alcançou, sem que daqui de Portugal se tenha feito, explicitamente, um grande trabalho, quase pela força interior que a mensagem traz consigo. Por isso, a mensagem ajuda-nos a olhar longe, a manter o olhar aberto aos horizontes mundiais dolorosos e obscuros e a descobrir neles os sinais da presença de Deus e dos Seus apelos. Quer-nos ajudar a penetrar no mistério do mal mas também no mistério da luz que vence as trevas. Apresenta-se como uma resposta do céu à “noite do mundo”, usando a expressão de Heidegger, noite diante da qual, o filósofo confessava na sua última entrevista: Só um Deus pode ainda salvar-nos. E agora trata-se de, como bons escribas, os pensa-dores convidados para este Congresso saberem tirar coisas novas do tesouro antigo e que nos possam oferecer perspectivas luminosas a partir da mensagem de Fátima para iluminar a noite do mundo do século XXI.

São estes os meus votos e a minha esperança. Desejo a todos uma boa partici-pação neste Congresso e que eu acompanharei também na medida em que os meus compromissos pastorais mo permitirem.

Bom Congresso e muito obrigado!Fátima, 9 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Sessão de Encerramento

Senhor Cardeal Dom José Saraiva Martins, e demais membros desta mesa, Sr. Dom Manuel Monteiro, Núncio Apostólico de Sua Santidade em Madrid, Senhores Bispos,Ilustres Congressistas.Fátima, 90 Anos depois(?) é a pergunta que me põem os jornalistas. Fátima para

o século XXI é o título deste Congresso. Os jornalistas perguntam se Fátima se es-gotou, se já se cumpriu totalmente. Nós aqui no Congresso interrogamo-nos sobre o que a mensagem de Fátima pode trazer ao século XXI. Já disse aqui no início

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que toda a comemoração de um aniversário das Aparições é sempre uma ocasião para revisitar e aprofundar a mensagem no seu confronto com a história. Quando comemoramos os aniversários do Concílio Vaticano II, normalmente há sempre este aspecto: o significado permanente do Concílio. Também me lembrei de aplicar esta designação a este momento: o significado permanente da mensagem de Fátima. Como explicá-lo? Como compreendê-lo?

O género da mensagem, como todos já compreenderam, é um género de “profe-cia em devir”, que se foi realizando e nós fomos compreendendo na medida em que se realizava. E assim se foi descobrindo a grandeza, a beleza, e universalidade desta mensagem que partiu de um lugar recôndito, isolado de todo o mundo e ignorado por ele. Ora as profecias de Fátima naquele sentido mais imediato e directo que se lhes reconhece já se realizaram verdadeiramente. Todavia, o significado da mensagem permanece válido ainda hoje, exactamente de modo análogo às profecias bíblicas que foram escritas para um determinado momento da história, mas cuja riqueza não se esgotou naquele momento histórico. E por isso Fátima tem também um significa-do permanente, uma realidade-símbolo que sintetiza em si, onde se reflectem tanto os perigos e os riscos do século XX como do século XXI e também o caminho para ser salvo desses riscos e desses perigos. E eu queria sublinhar alguns desses aspectos que já foram ditos aqui noutro contexto, de carácter permanente e para aplicação ao século XXI.

1. Primeira coisa é o primado de Deus, o mistério do Seu Amor Trinitário a ser adorado, isto é, acolhido totalmente pelo coração dos homens.

Para mim, um dos aspectos essenciais da mensagem é exactamente este: recon-duzir a adoração de Deus para o centro da vida da igreja e do mundo frente, natural-mente, àquele ambiente de ateísmo militante e persecutório que procurava erradicar Deus das consciências e da sociedade como se erradicam raízes de um cancro. Ora hoje, porventura, o risco não é tanto esse ateísmo militante e persecutório mas é a indiferença religiosa, a indiferença em relação a Deus. É o niilismo vazio da fé e da esperança e, portanto, o desafio é exactamente fazer ou ajudar a descobrir ou a redescobrir aquela beleza e aquele encanto de Deus que foi dado a conhecer, por graça extraordinária, e a experimentar aos pequenos pastorinhos. Portanto, descobrir o gosto de Deus e o gosto da beleza de Deus e do Seu Amor Trinitário frente àquilo que há momentos se disse, nesta fase de um eclipse cultural de Deus, ao ocultamanto de Deus nas consciências e na cultura.

2. E depois disso, também aquela mensagem de conforto e consolação para os cristãos século XX, e agora para os cristãos do século XXI: o não ter medo. Quer dizer, é um chamamento a não se resignar à banalidade e à fatalidade do mal a que hoje, comummente, a gente se resigna porque dizemos ‘somos impotentes, não podemos fazer nada diante dessas forças e desses impérios e desses lobbys do mal organizados’. Ora, esta é uma mensagem exactamente de resistência e de superação do limite do mal com a graça da conversão. É possível vencer o mal, a partir da

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conversão do coração a Deus e, por consequência, a partir da reparação; a reparação entendida como um chamamento à co-responsabilização dos homens na salvação do mundo, com Deus, naturalmente. E, portanto, Fátima ajuda-nos a ler a história, a história do século XX mas também a história do século XXI, no sentido de que é possível mudar a história a partir de dentro, com a força que vem do alto. Às vezes, pensamos que só se muda a história através, dos acordos, das cimeiras e dos trata-dos políticos, e aqui, diz-nos exactamente isto: é possível mudar a história através da conversão dos corações, da oração, da adoração, em primeiro lugar de Deus, da reparação. Porquê? Porque a história da humanidade começa-se a escrever, antes de mais, nas consciências e só se muda bem a partir de dentro, da conversão das consciências e da conversão dos corações e da comunhão dos santos, quer dizer, da solidariedade no bem. É isso um dos aspectos mais impressionantes da mensagem de Fátima, é chamar à solidariedade na graça, porque nós só olhamos para o negativo e só pensamos que somos solidários no mal e o Senhor vem-nos chamar a ser solidá-rios na graça, solidários no bem. Tem aí sentido a oração, a comunhão reparadora, a reparação, etc.

3. O debruçar-se sobre os sofrimentos do homem, a misericórdia, a ternura de Deus que nos leva à misericórdia, à ternura entre nós homens. De facto é uma men-sagem de misericórdia e de ternura que se inclina sobre os sofrimentos da humanida-de, não da humanidade só como um colectivo mas de cada homem e de cada mulher que sofre. Isso nunca o podemos esquecer. Também este debruçarmo-nos, com a acção e as atitudes, sobre o sofrimento dos homens é sempre uma vocação de Fátima de uma maneira privilegiada.

4. O desafio ao testemunho. A terceira parte do segredo refere-se aos mártires do século XX. Hoje, para já, assim a nível global, embora haja umas bolsas isola-das onde temos esta perseguição violenta à fé dos cristãos, somos chamados a dar testemunho num ambiente de hostilidade; de hostilidade da cultura, hostilidade dos ambientes, algo que é programado muitas vezes em ordem a apagar a memória viva do Cristianismo da própria cultura. É preciso testemunhas corajosas e convictas, como disse o senhor Cardeal aqui. Depois a santidade como já aqui foi referida: a santidade das crianças. É interessante nós já tivemos aqui um bom sinal que é a peregrinação das crianças e que a mim me fez ver uma outra dimensão. É que o Senhor não Se serviu só de adultos para transformar o mundo e a história; serviu-Se de crianças. Quer dizer que as crianças são muito importantes, muito importantes na realização dos projectos dos desígnios de Deus. Nós, adultos, já estamos muito viciados, já estamos muito feridos, mas as crianças, Senhor, as crianças merecem uma nova atenção, para elas mesmas descobrirem a importância que têm em ordem à transformação do mundo também. Eu penso que será um caminho de esperança também para o século XXI.

5. O crescimento no empenho da paz. Isso é uma constante. Está ainda por fazer um estudo que nos mostre quanto a mensagem de Fátima e, sobretudo, a imagem

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da virgem peregrina pelo mundo contribuiu para o amor à paz e para a rejeição da guerra, para o crescimento de uma consciência religiosa, ética, jurídica e política da paz e, por conseguinte, a rejeição da guerra como meio de resolver os conflitos entre os homens. Tantas graças, o Senhor nos concedeu ao século XX e seguramente ao século XXI, através desta mensagem que está longe de ser uma devoção sentimental; é um apelo suplicante à nossa geração para que reconheça a tarefa da hora histórica, a fim de não deixar cair a humanidade num abismo nem sucumbir ao poder do mal e confrontar os homens com uma dimensão sobrenatural, a dimensão do mistério de Deus que a cultura actual procura tantas vezes ocultar ou à qual os homens procuram fugir. Fátima será também um símbolo sempre vivo desta dimensão sobrenatural do homem.

Penso que mostrei alguns dos aspectos da actualidade permanente, do significa-do permanente de Fátima. Os pedidos da Virgem, na sua substância, permanecem sempre válidos: conversão e oração, solidariedade espiritual e moral com os outros, reparação, não resignar-se à banalidade e à fatalidade do mal, a entrega ao abando-no total a Deus com Maria, a consagração ao Imaculado Coração de Maria, como expressão do abandono total a Deus, através de Maria e com Maria, constituem inspiração para toda a Igreja e não só para alguns Movimentos. Acho que temos um caminho muito aberto para Fátima, no século XXI, sem contudo fechar portas às surpresas de Deus. Eu creio que até à comemoração dos cem anos das Aparições, o Senhor nos trará, ainda surpresas que neste momento, porventura, nem nos passam pela mente, nem pela imaginação para descobrir ainda mais facetas da beleza e da riqueza desta mensagem.

Resta-me uma última palavra de agradecimento. Quero agradecer aqui ao Se-nhor Cardeal Saraiva Martins pela bela conferência sobre a Santidade dos Pastori-nhos como um desafio a este Santuário, em ordem a uma pastoral pensada e bem estruturada sobre a santidade, uma pastoral da santidade; uma santidade popular, quer dizer, acessível a toda a gente, a todo o povo. Agradecer ao Santuário e aos organizadores deste Congresso que teve um alto nível teológico, espiritual e pasto-ral: agradecer concretamente, como já aqui foi salientado, a acção escondida mas infatigável do Dr. Manuel Armindo Janeiro, à Comissão Científica presidida pela Faculdade de Teologia da Universidade Católica na pessoa do meu caro amigo, o Sr. Prof. Doutor Jacinto Farias, a todos os conferentes que partilharam connosco o esforço do seu trabalho de investigação e da sua reflexão e a todos os meus caros amigos e amigas congressistas.

Parabéns a Deus, parabéns a Nossa Senhora, parabéns ao Santuário, parabéns a todos os congressistas! Laus Deo, Virginique Matri!

11 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia no Congresso Fátima para o Século XXI

Maria, templo do Senhor, ícone do MistérioCaros irmãos bispos, sacerdotes, diáconos e demais fiéis em Cristo:Como compreendeis, este dia foi um dia de azáfama para o bispo de Leiria-Fá-

tima e por isso, não pude acompanhar o nosso Congresso. Todavia, foi-me dada a graça de poder estar aqui convosco a celebrar esta Eucaristia e de poder oferecer-vos também uma meditação que espero seja breve, deixando-nos inspirar, naturalmente, por toda a liturgia e toda a palavra de Deus que acabámos de escutar.

Nas vésperas da celebração da dedicação da nova Igreja da Santíssima Trindade, a liturgia eucarística que celebramos convida-nos a contemplar Maria, templo do Senhor para de algum modo já prepararmos a vivência da celebração de amanhã. Contemplaremos melhor este traço de Maria, Mãe de Jesus, templo do Senhor, se a considerarmos como um ícone do mistério. Um ícone - vós conheceis os ícones orientais -, um ícone, no seu fragmento, remete para a totalidade do mistério de Deus connosco na sua aliança e, ao mesmo tempo, reflecte esse mistério para nós. Maria é totalmente remetida ao mistério de Deus e a nós, Igreja de Deus. Este ícone de Maria, Templo de Deus, só o contemplaremos em profundidade se o pusermos em paralelo com o outro ícone que a liturgia de hoje nos oferece na primeira leitura do Livro dos Reis: a festividade, a grande festa da entronização da Arca da Aliança no Templo de Salomão. Portanto, vamos contemplar um díptico: as duas telas.

O templo de SalomãoA entronização da Arca, no templo de Salomão, foi uma festa para todo o povo

porque este Templo construído por Salomão foi um momento culminante duma história que tinha começado com uma promessa de Deus no Sinai: Far-me-ão um Santuário e eu habitarei no meio deles(Ex 25,8). Por conseguinte, o povo vibra com a entronização da Arca porque o templo encerra toda uma história; a história do êxodo.

A história de um povo que se foi constituindo como tal à volta da Aliança de Deus com ele e de que é memorial itinerante a Arca da Aliança, que continha as Tábuas da Aliança;

É também a história de um caminho, guiado por Deus, presente e acompanhante, de que é símbolo a nuvem que, ao mesmo tempo, oculta e revela;

E é também a história de uma revelação de que a “glória de Deus”, que enche o Templo, é o sinal luminoso, a luz, o esplendor da beleza e da santidade de Deus, que brilha no rosto de quem O encontrou.

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Santa Maria, Templo do Senhor, do AltíssimoTendo este ícone como pano de fundo, compreendemos melhor Maria Templo do

Senhor, tal como nos é apresentado neste mistério único, inaudito e inimaginável da encarnação: Deus connosco, no coração e no seio de Maria.

É interessante ver como S. Lucas, para falar da vinda do Espírito Santo sobre Maria, usa a expressão “cobrir com a Sua sombra”, aludindo, exactamente, a estas narrações do Antigo Testamento sobre a “nuvem sagrada”: tal como a nuvem paira sobre o Templo e é sinal de que o interior do templo está cheio da glória, da presença da santidade e da luz do Altíssimo, assim também o poder do Altíssimo cobrirá com a Sua sombra Maria e fará dela a Sua habitação. Ela, no seu coração e no seu seio fica cheia do Santo que se chama Filho de Deus; o Filho de Deus Eterno e Santo faz desta mulher casa e templo que Ele enche com a Sua presença; faz dela Arca da nova Aliança que - usando a linguagem de hoje, no prefácio da liturgia -, “contém o autor da nova Lei e da nova Aliança”. Portanto, nela, celebra-se a nova aliança entre o Céu e a Terra que é o próprio Jesus em pessoa, Filho de Deus e Filho de Maria.

O seu “sim” torna-a o templo onde Deus recebe acolhimento. Esse Deus, que não vive entre as pedras, vive neste “sim”, dito de corpo e alma inteiros. Deus fez de um ser humano o lugar da Sua habitação e inabitação. Ó Mistério tremendo e fascinante ao mesmo tempo! Só podia vir da loucura do Amor eterno e santo. Aos homens não era dado imaginar isso.

Por isso, o símbolo do Templo e da Arca adquire agora uma força de realidade inaudita: Deus presente na carne (corpo) de uma pessoa, carne que se torna a Sua morada no meio da criação, carne que reflecte e irradia para nós este mistério.

Maria, templo do Senhor, é o espelho da IgrejaContemplámos, de facto, a beleza, a riqueza, a grandeza inimaginável, insupe-

rável, imperscrutável deste mistério de Deus na Sua Aliança com a humanidade que toma traços humanos em Maria e através de Maria. Mas contemplemo-lo para nós, e então, Maria aparece-nos como espelho da Igreja porque ela existe à medida de Cristo e de Deus, habitada por Ele. E para que é que existe a Igreja de Deus senão para ser habitação de Deus no mundo? Sem isso, não tem outra razão de ser. Porque Organizações não governamentais de beneficência ou de solidariedade há muitas. Quanto mais formos inabitação de Deus em nós, mais seremos Igreja e mais a Igre-ja será ela mesma, aquilo que Deus quer que Ela seja: habitação de Deus no meio dos Homens, lugar de encontro que, irradie como Maria, a beleza e a riqueza da santidade de Deus, do Seu amor, da Sua misericórdia, da Sua ternura para toda a humanidade. Mas também cada um de nós em particular é templo de Deus a partir do baptismo. Por isso, a oração colecta que ouvimos nos lembrava a graça baptismal “para que, à semelhança de Maria, através da graça baptismal, sejamos moradas dignas da Tua glória”.

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O Santuário, caminho para a santidadeComo é que se pode acolher Deus, senão deixando que Ele seja Deus em nós e

connosco? Essa atitude chama-se adoração. Adoração em espírito e verdade. Que Deus seja Deus em nós e connosco! Que Ele trabalhe, que Ele nos trabalhe! E que nós deixemos que Ele nos trabalhe com o Seu espírito de santidade e de vida. E isso ilumina também a missão deste Santuário de Fátima. Que o Santuário seja um caminho para a santidade dos homens que a ele peregrinam. Que nesta etapa da peregrinação da vida, cada paragem, aqui, seja como encontrar um oásis espiritual que lhe oferece o conforto, a consolação, a frescura, o retomar energias, o encontro verdadeiro com Deus, com o Deus Santo através do Coração Imaculado de Maria: “O meu Imaculado Coração conduzir-te-à até Deus”, disse Nossa Senhora a Lúcia e di-lo a nós hoje.

Por isso, fazemos votos que este Santuário seja tenda do encontro de Deus com o Seu povo, lugar da revelação do Seu amor e da Sua misericórdia para com a hu-manidade, templo da reconciliação e da paz. Isso é feito não só por aqueles que tra-balham aqui permanentemente mas também pelos peregrinos que aqui vêm. É obra de todos. E que o Santuário possa também oferecer uma pastoral bem pensada e bem estruturada da santidade. A santidade da vida quotidiana que engrandece, enobrece e embeleza a nossa vida; uma santidade que seja verdadeiramente popular, quer dizer, acessível a todos, para todos, de todas as idades, condições e estados de vida; desde as crianças aos idosos, os solteiros, casados, viúvos, celibatários... todos possam en-contrar aqui um raio, um pequeno raio de beleza da santidade de Deus. Daí a nossa prece à Mãe celeste: Nossa Senhora, Templo do Senhor, Arca da Aliança, Porta do Céu, rogai por nós.

11 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Abertura da peregrinação do 90º aniversário das Aparições

Saudação a Sua Eminência,o Cardeal Legado do Santo Padre

“Louvado seja Jesus Cristo!Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, Eu Vos adoro profundamente!”

1. Foi com esta oração dos pastorinhos que o Papa João Paulo II, de santa e saudosa memória, abriu a inesquecível peregrinação de Maio de 1982, num acto de profunda adoração a Deus, no Seu Mistério de Amor Trinitário. Do mesmo modo, também nós queremos iniciar esta peregrinação de 12 e 13 de Outubro de 2007, que se reveste de características especiais.

Antes de mais, ela encerra as comemorações dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora em Fátima, cuja mensagem, no seu núcleo, é um convite a reconduzir para o centro da vida cristã e do mundo, a adoração de Deus, do Seu primado salvífico, numa das maiores crises da história mundial.

Maria acolhe-nos hoje, aqui neste cenáculo a céu aberto, como Mãe e Mestra, que nos ajuda a erguer o olhar e a elevar o coração para contemplar a beleza do Rosto Trinitário de Deus, como um abismo de Beleza – a Beleza do amor que salva – tal como o fizera compreender aos pastorinhos. Por isso repetimos: “Santíssima Trinda-de, Pai, Filho e Espírito Santo, eu Vos adoro profundamente”!

Nesta sequência insere-se a inauguração e a dedicação da nova igreja que, com a sua denominação e toda a sua simbólica, dá corpo visível a esta dimensão da Mensa-gem e que perdurará no tempo como um Hino à Santíssima Trindade e ao seu Amor compassivo e misericordioso.

Por fim, temos a graça e a alegria de ter connosco, a presidir a esta peregrinação, Sua Eminência o Senhor Cardeal Tarcisio Bertone, como Legado especial do Santo Padre Bento XVI.

2. É, pois, com viva alegria e júbilo de alma que, em nome do episcopado portu-guês, de todos os fiéis aqui presentes e no meu nome pessoal, como bispo de Leiria-Fátima, saúdo Vossa Eminência e lhe dou as boas-vindas, do fundo do coração: Seja bem-vindo, Senhor Cardeal. E muito obrigado por ter aceite esta missão especial que o Santo Padre lhe confiou junto de nós. Queira, Vossa Eminência, transmitir ao Santo Padre Bento XVI, a nossa gratidão por nos ter enviado, como Legado Pontifício, o seu mais próximo colaborador e um arauto da Mensagem de Nossa Senhora.

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A presença e a presidência de Vossa Eminência é para nós muito significativa e particularmente grata. Sabemos bem da sua ligação íntima e profunda à Mensagem de Fátima, quer na compreensão e divulgação da terceira parte do “Segredo de Fáti-ma”, quer como interlocutor oficial e privilegiado da Irmã Lúcia.

Queremos também agradecer-lhe as tantas recordações desses colóquios que nos confia no seu último livro “A última vidente de Fátima”, “para que… tratando-se de acontecimentos que marcaram a Igreja nos últimos anos do século XX, sejam entregues à memória colectiva como vestígios não privados de significado na sua história secular”, no dizer do próprio Papa Bento XVI. Mais uma vez, o nosso muito obrigado!

3. Saúdo com afecto os irmãos no episcopado, os sacerdotes e todos os peregri-nos, que dos vários ângulos do país e do mundo acorreram a esta especial peregrina-ção. Em comunhão de intenções com o Santo Padre, queremos glorificar com Maria a imensa bondade de Deus e agradecer todos os benefícios recebidos, particularmen-te o dom da fé.

A Nossa Senhora de Fátima queremos pedir a sua protecção para a Igreja no início deste milénio, a sua intercessão pelo dom de muitas e boas vocações, a sua ajuda para as famílias, a sua oração misericordiosa pela conversão dos corações, a sua solicitude materna pelos doentes, idosos e todos os necessitados, a sua especial intercessão pelo dom da paz entre os povos, sobretudo no Médio Oriente, na Birmâ-nia e no Darfur.

Ao seu Imaculado Coração de Mãe da Misericórdia confiamos os sofrimentos e as esperanças da humanidade na hora presente e, de modo particular, do nosso querido Portugal.

A ela elevamos a nossa prece:Senhora do Rosário, Mãe de Misericórdia, Convosco se eleve ao céu o nosso canto:Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, Agora e por toda a eternidade! Ámen!

Santuário de Fátima, 12 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Mensagem a Sua Santidade, o Papa Bento XVI

Reunidos com Maria, neste cenáculo que é o Santuário de Fátima, onde pulsa o coração materno de Portugal, encerrámos, solenemente, as celebrações dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora, sob a presidência do Vosso Legado especial, Sua Eminência, o Senhor Cardeal Tarcisio Bertone.

Com Maria glorificámos a imensa bondade de Deus, cantámos o Magnificat de louvor à Santíssima Trindade com a dedicação da nova igreja e agradecemos-Lhe os dons da Sua Misericórdia ao longo destes noventa anos.

Em comunhão de intenções com Vossa Santidade, confiámos ao Imaculado Co-ração de Maria os sofrimentos e as esperanças da humanidade na hora actual.

Obrigado, Santo Padre, por se ter associado a nós com um gesto de peculiar afec-to, ao enviar-nos como Legado Pontifício o seu mais próximo colaborador e arauto da Mensagem de Nossa Senhora. Obrigado pela sua especial Bênção Apostólica!

Da nossa parte, posso assegurar-lhe a profunda comunhão e o sincero afecto de todo o nosso povo pela sua Pessoa e o seu Magistério. Conte sempre com a nossa oração e o nosso filial afecto. E permita-nos exprimir a nossa esperança de que Vossa Santidade nos possa visitar em tempo oportuno!

Com os melhores sentimentos de afecto e profunda comunhão,

Santuário de Fátima, 13 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Entrevista ao Jornal de Notícias

A igreja da Santíssima Trindade1. Que importância tem para a diocese e para os católicos a nova igreja da San-

tíssima Trindade?A nova igreja surgiu para responder a uma necessidade de espaço celebrativo e

de recolhimento para assembleias médias de peregrinos que a antiga basílica já não comportava, visto que só permite o máximo de 800 lugares sentados. A nova igreja dispõe de 9000 lugares sentados e oferece abrigo e conforto nos tempos de intempé-rie ou de maior calor.

2. Gosta do estilo e das obras de artes que foram escolhidas?Creio que o arquitecto Tombazis foi muito feliz. A igreja está muito bem en-

quadrada do ponto de vista ambiental. O estilo da igreja e as 9 obras de arte que a integram fazem dela uma igreja que transmite luz e paz, um lugar de encontro e de comunhão, de recolhimento e de contemplação.

Como é natural, cada um de nós tem preferência por determinadas obras de arte em relação a outras.

3. Como reage às critícas dos que entendem que foi gasto dinheiro em excesso na construção na nova igreja?Uma obra destas tinha se ser projectada em termos de futuro e de qualidade em

todos os aspectos. Começou a ser projectada em 1994. No espaço de 13 anos tudo encarece. Depois, como em todas as grandes obras, há os imprevistos que aumentam os custos. No caso concreto, foram a implantação das fundações que deparou com a dificuldade dos solos cheios de pequenas grutas e as vigas de betão branco que suportam todo o edifício. Os gastos ficam relativizados se comparados com os do Centro Cultural de Belém ou da Casa da Música no Porto.

4. Esta igreja será um marco para Fátima? Para os católicos? Porquê?Naturalmente, esta igreja é um marco para Fátima num duplo sentido. Em pri-

meiro lugar é uma obra única de arquitectura religiosa contemporânea de projecção e referência mundial. Depois, do ponto de vista simbólico ela dá corpo a um aspecto central da Mensagem de Fátima. No centro da Mensagem está a adoração de Deus, no seu Amor Trinitário, que se volta, compassivo para a humanidade, para iluminar os seus passos no caminho da paz.

* Publicada numa revista comemorativa da inauguração da nova igreja, em 13-10-2007.

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5. A Igreja espera, a partir de agora, que acorram no Santuário mais peregri-nos?É natural que, durante algum tempo, a nova igreja seja um “chamariz” de pere-

grinos. Mas não é esse o grande motivo que faz peregrinar até Fátima.

6. No ano em que se assinalam os 90 anos das Aparições, o que mudou?Só estou há um ano como bispo de Leiria-Fátima. Honestamente, não me sinto

em condições para responder a esta questão.

7. O que se pode esperar para daqui a 10 anos, quando se assinalar o centenário das aparições?Não quero fazer futurologia. Fátima acompanha a história da Igreja e da huma-

nidade. Pode ser que os acontecimentos da história nos indiquem a perspectiva do centenário das aparições. Do ponto de vista pessoal gostaria que pudessemos cele-brar a beatificação da Irmã Lúcia.

8. Está a diocese empenhada nos processos de beatificação da Lúcia, e na cono-nização de Jacinta e Francisco?O processo de beatificação da Irmã Lúcia diz respeito à diocese de Coimbra onde

ela viveu e morreu. O processo de canonização de Jacinta e Francisco está a decorrer, segundo os trâmites normais, com todo o empenho da diocese de Leiria-Fátima.

9. Para quando a visita do Papa a Fátima?Uma bela pergunta para a qual eu próprio gostaria de ter uma bela resposta! Mas

por vezes, há surpresas de Deus que não entram nos nossos cálculos. Confiemos!

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Na Assembleia do Clero de Leiria-Fátima

A espiritualidade da organizaçãoe da partilha ao serviço da comunhão

Introdução

Na reforma e renovação da Igreja promovida pelo Concílio Vaticano II, olhando simultaneamente às suas origens, à sua essência e à sua missão pastoral no mundo contemporâneo, emergiu e impôs-se a categoria da “comunhão”. Foi um vigoroso impulso renovador de ordem teológica, espiritual, canónica e pastoral.

A comunhão é a forma da existência, da vida e da missão da Igreja, tanto a nível da vivência como da instituição:

a) O ser cristão está radicalmente modelado pela fraternidade e pela comunhão;b) As instituições e a organização da Igreja actuam impregnadas pela comunhão.Tanto a unidade da Igreja como a sua diversidade (de articulações, carismas,

ministérios e organização) devem ser entendidas no quadro da unidade na comu-nhão. O Vaticano II usa, significativamente, a expressão unidade de comunhão (LG 4.15.18.50).

“ O seu sentido não é de um afecto vago, indefinido, mas de uma realidade orgâ-nica que exige também uma fórmula jurídica e que, por sua vez, está animada pela caridade”. Esta estrutura da comunhão eclesial deve ser tida em conta na organiza-ção da vida da Igreja. Deve manifestar-se nas diversas perspectivas da comunidade cristã, já que é a sua lei de fundo e profunda.

A comunhão inclui diferentes aspectos:- a sua amplidão parte da unidade na fé, na esperança e no amor cristão, selados

sacramentalmente pelo baptismo que cria a situação básica da comunhão: todos fi-lhos de Deus, todos irmãos;

- reforça-se pela participação na Eucaristia, essencialmente orientada à “unitas Ecclesiae” (Corpo de Comunhão), e refaz-se pelo sacramento da reconciliação com Deus e com a Igreja;

- traduz-se, comunitariamente, em relações de comunhão fraterna, no intercâm-bio de dons oferecidos e recebidos em reciprocidade aberta e confiante e na “colec-ta” de bens para os necessitados e as necessidades da Igreja;

- é visivelmente presidida e salvaguardada pelos que receberam o ministério apostólico.

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À luz do que acabamos de dizer, compreende-se facilmente que a própria exis-tência cristã, toda a vocação específica, os diferentes ministérios e carismas, as di-versas acções através das quais a Igreja realiza a sua missão, a sua organização e os seus organismos pastorais… levam o selo característico da comunhão com o Senhor e entre os discípulos.

A comunhão eclesial é harmonia vital no funcionamento de todos os membros e sistemas do corpo. O contrário da comunhão que flui, seriam os apertos, estenoses, oclusões, tromboses… no corpo humano.

A carta apostólica “Novo Millennio Ineunte” recorda como tarefa pastoral para o futuro, a realização da comunhão: “Outro aspecto importante em que será necessário pôr decidido empenho programático, tanto no âmbito da Igreja universal como no das Igrejas particulares, é o da comunhão que incarna e manifesta a própria essência da Igreja” (n. 42). Todo o capítulo IV da carta, intitulado “Testemunhas do Amor”, assinala diferentes perspectivas da comunhão: “espiritualidade da comunhão, varie-dade de vocações, campo ecuménico, apostar na caridade, diálogo inter-religioso, missão…”.

A comunhão eclesial vivida levará o bispo e os pastores a um estilo pastoral cada vez mais aberto à colaboração de todos já que a solicitude pastoral tem como finali-dade criar e fortalecer a comunhão.

O bispo é o primeiro responsável em conseguir esta unidade na diversidade, fa-vorecendo a sinergia dos diferentes agentes pastorais de modo que seja possível per-correr juntos o caminho comum da fé e da missão. O seu ministério não se reduz, de modo algum, a um simples moderador já que a autoridade recebida do Senhor inclui um aspecto jurisdicional e, por isso, deve promover a espiritualidade de comunhão, suscitar sempre formas de participação e dar vida a estruturas de comunhão. A Igreja como corpo de Cristo tem uma estrutura na qual todos os membros colaboram para o bem do todo, mas têm funções e responsabilidades diversas.

Como se traduz esta espiritualidade da comunhão na organização e na economia da comunidade cristã? Deixemo-nos iluminar e inspirar, antes de mais, por alguns ícones bíblicos.

1. Um ícone: Moisés condutor e “ecónomo” do povo

A Moisés, o Senhor confiou a tarefa da recomposição da unidade de um povo, que inclui, por sua vez, o serviço de ecónomo dos bens fundamentais (pão, água e carne) e o serviço da comunhão. Dele aprendemos o que ele mesmo teve de aprender na condução do povo ao fazer caminho com ele: a espiritualidade do “governar” ao serviço da comunhão ( a subsidiariedade e a corresponsabilidade).

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Livro do Êxodo, 18, 13-26Jetro ensina-lhe o princípio da subsidariedade e da colegialidade (corresponsa-

bilidade). Foi um momento importante na vida de Moisés: também devia aprender a governar. No início, na sua incompetência, julgava que tinha que fazer tudo. Depois, aprendeu a distribuir tarefas. De facto quando o Deuteronómio resume a história da sua vida, desde o capítulo 1, recordará aquele momento como algo de importante.

Por outro lado, também os doze apóstolos em Jerusalém, num certo momento dirão: “não podemos fazer tudo, por isso nomearemos diáconos… (Act 6). Há que aceitar as nossas limitações de criaturas. Não somos omnipotentes, nem omniscien-tes. Um padre cansado cansa-se e cansa o seu povo; vive numa constante ansiedade que pode ir até à depressão.

Livro dos Números 11, 11-17.24-29Moisés está realmente esgotado. Não tem mais remédio que constatar a sua fra-

gilidade, as suas debilidades. Vê-se obrigado a reconhecer amargamente: “Não sou o que pensava ser; é demasiado para mim; não posso mais”. Esta atitude deixa-nos perplexos, a nós que prestamos um certo culto ao heroísmo ou ao protagonismo, ao individualismo do chefe. Mas a Bíblia, que é mais humana do que nós, apresenta-nos essa atitude mais que uma vez: vg. a atitude de Elias: “Senhor, faz que morra; não sou melhor que meus pais”. Pode acontecer a qualquer um de nós. É muito humano este aspecto de Moisés, mas é também humilhante. Moisés tem que reconhecer que se julgava alguém capaz de tudo mas tem que render-se.

Deus aceita. A crise de Moisés é uma crise útil e salvífica porque no fundo fá-lo tomar consciência de um “êxodo interior” que Deus lhe pede. Tal como nos sucede a nós quando nos metemos num assunto que julgamos dominar e depois damos conta que nos escapa e temos necessidade dos outros.

É uma passagem a uma espécie de “passividade”: nem tudo depende de mim, não sou o único, tenho que descentralizar as coisas, tenho que buscar colaboração ainda que me custe… Nestas ocasiões, o Senhor quer purificar-nos de uma forma de orgulho.

Este difícil “êxodo interior” de Moisés é o êxodo da sua auto-suficiência e auto-complacência – que lhe tinha permitido fazer muitas coisas boas –, para uma partici-pação (partilha) cordial do próprio peso com os outros. Moisés aceita dar este passo e deste modo cresce como homem, como crente e como chefe (condutor do povo). De facto, Moisés convoca os anciãos, o Senhor desce sobre a nuvem, toma o seu Espírito e infunde-o sobre os 70 anciãos. Eis como Moisés realizou verdadeiramente um êxodo, se tornou livre, não sentiu ciúmes, nem sentiu ameaçada a sua autoridade pelos dons dos outros e reconheceu neles a acção do Espírito. E tomou consciência de que só assim estava à altura da sua responsabilidade de servir melhor e do melhor modo de poder servir. “Moisés era um homem humilde, mais humilde que algum homem sobre a face da terra” diz Num 12,3.

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O Novo Testamento explicita como o Espírito suscita e distribui vários dons, serviços e ministérios para a edificação e crescimento da Igreja que devem ser coor-denados e articulados como os vários membros de um corpo. “É a partir d’Ele (Cris-to) que o corpo inteiro coordenado e bem unido pela união de todas as articulações que o sustentam, segundo uma actividade repartida à medida de cada um (membro) realiza o seu crescimento orgânico para se construir a si mesmo no amor” (Ef. 4,16; cf. 1 Cor 12; Rom 12, 3-8).

A Igreja é um corpo organizado, estruturado, articulado; não é um campo de mortos nem de aventureiros espontâneos e anárquicos, nem uma empresa em auto-gestão.

O presbítero possui o ministério da síntese (comunhão), mas não a síntese (o açambarcamento) dos ministérios. Compete-lhe suscitar e organizar a participação diversificada dos fiéis com os seus dons, serviços e ministérios, elencando as tarefas e confiando-as a alguns fiéis idóneos. A comunhão implica a partilha ou participação activa na vida da comunidade que é de todos, onde todos recebemos e damos de tal modo que “o bem de todos torna-se o bem de cada um e o bem de cada um torna-se o bem de todos”(ChFL 28). Inclui a participação e corresponsabilidade de todos.

Para que a comunhão construtora da comunidade se exerça realmente, de modo orgânico e articulado, deve ter expressão em organismos de participação onde se realiza a comunhão de intenções e projectos pastorais na diversidade dos dons: os diversos conselhos, cuja coordenação o pároco deve promover. Estes órgãos de par-ticipação são uma etapa decisiva para configurar a Igreja comunhão. Isto faz parte da santidade dos cristãos, leigos e padres, como estilo de vida em comunhão.

2. Outro ícone: a colecta em favor de Jerusalém (2 Cor 8 e 9), a organização material das comunidades e a espiritualidade de comunhão.

1 Cor 16, 1-4; Rom 15, 25-28: justifica o projecto com o motivo de fazer comunhão.

2 Cor 8, 10-21; 9, 6-14: comunhão e motivo de culto a Deus (v.12).

Os capítulos 8 e 9 da Segunda Carta aos Coríntios constituem o texto mais longo da Igreja antiga no qual se fala de problemas financeiros e económicos. Encontramos aqui uma preciosa indicação sobre a organização material das igrejas paulinas e a sua solidariedade financeira. É interessante notar que também o Novo Testamento enfrenta esta temática com grande dignidade e, ao mesmo tempo, com grande efi-cácia.

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Em 2Cor 9 é citado um provérbio geral que se pode aplicar à generosidade com os pobres, à Igreja, às necessidades da caridade e do serviço de Deus: “Ficai saben-do: quem semeia pouco, também pouco recolherá; mas quem semeia com generosi-dade, com generosidade também recolherá” (v.6).

Ao provérbio segue uma exortação: “Cada um dê conforme decidiu no seu co-ração, não com tristeza e à força, porque Deus ama quem dá com alegria” (v.7). É o convite a oferecer o sustentamento à Igreja com a mesma alegria com que se vivem os outros aspectos da vida cristã.

Uma alegria que é reforçada por uma perspectiva de confiança: “ Deus tem o po-der de vos cumular de toda a espécie de graças para que, tendo sempre o necessário em tudo, ainda vos sobre para as boas obras de todo o género” (v.8). Quer dizer, o Senhor é grande em generosidade com os que são generosos.

E acrescenta uma promessa: “Aquele que dá a semente ao semeador e o pão em alimento, também vos dará a semente em abundância e multiplicará os frutos da vos-sa justiça. Assim, sereis enriquecidos em tudo, para exercer toda a espécie de gene-rosidade que suscitará, por nosso intermédio, a acção de graças a Deus” (v.10-11)

No cap. 8 acresce ainda um dado interessante de grande relevo, a transparência e a boa gestão em equipa: “Queremos, assim, evitar o risco de que alguém nos censure a respeito desta abundante colecta que é administrada por nós, porque nos esforça-mos por fazer o bem não só diante do Senhor, mas também diante dos homens. Com eles enviámos também o nosso irmão…”. Trata-se, pois, da transparência na gestão de tal modo que nem sequer permita levantar suspeitas. Isto significa que “à mulher de César não lhe basta ser honesta; é preciso que apareça como tal”.

Encorajados pelas indicações de S. Paulo, que pertencem à palavra inspirada de Deus, procuraremos exprimir algumas reflexões sobre o significado dos bens da Igreja e sobre o Conselho Económico Paroquial, ao qual é confiada a gestão dos bens da comunidade cristã, exercendo assim a corresponsabilidade pastoral.

3. Qual o significado dos bens eclesiásticos?

Na linha da grande reflexão conciliar, o Código de Direito Canónico, que pro-curou traduzi-la em disciplina concreta, enquadra a sempre delicada relação entre a Igreja e os bens temporais dentro da missão, deixando claro que eles são somente instrumentos para a consecução dos fins espirituais da Igreja: a realização do culto divino, o exercício das obras de apostolado e caridade, especialmente dos mais ne-cessitados, prover ao honesto sustentamento do clero e a quanto se refere à missão espiritual que Cristo lhe confiou.

Portanto, a própria constituição da Igreja, ao mesmo tempo comunhão espiri-tual e comunidade visível, institucional e jurisdicionalmente organizada, justifica a existência dos bens eclesiais, identifica e precisa a sua natureza, delimita com rigor

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as finalidades: são um meio e só um meio para a Igreja realizar a própria missão espiritual, evangelizadora.

Não é, certamente, conforme à natureza da Igreja uma busca do dinheiro e dos meios materiais como fim em si mesmo, uma procura finalizada à acumulação ou ao uso indiscriminado. Isto vale para cada comunidade. Não se trata de aumentar sem medida as possibilidades concretas de uma paróquia, seja em relação aos meios financeiros, seja em relação às estruturas. Se uma comunidade tem meios em abun-dância, deve pensar – depois de ter provido às próprias necessidades – numa equita-tiva partilha de recursos com paróquias menos avantajadas.

O Evangelho condena sem meios termos uma acumulação de bens como fim em si mesmo e uma subjugação ao “mamona iniquitatis”; o dinheiro não é um ídolo a adorar e o afecto desordenado ao dinheiro é rotulado como demoníaco. Ao contrário, o dinheiro usado responsavelmente e em medida equitativa ao serviço da missão da Igreja torna-se facto positivo e necessário. É preciso, pois, estar animados por uma atenta vigilância e uma sábia prudência, nunca perdendo de vista a radicalidade evangélica: “Bem aventurados os pobres de espírito (que o são no seu íntimo) por-que deles é o Reino dos Céus”. Todavia devemos recordar que é parte da pobreza da Igreja o saber fazer um bom uso, correcto, transparente, responsável e solidário dos recursos que lhe são confiados e, por conseguinte, de uma gestão inteligente, racional e honesta dos mesmos.

O tomar consciência do justo fundamento do direito da Igreja a possuir e utilizar bens materiais, económicos e financeiros, e as suas finalidades, pode fazer resplandecer melhor o verdadeiro rosto da Igreja e chamar os fiéis a partilhar os bens, inspirando-se no ideal evangélico incarnado pela comunidade apostólica primitiva (Cf. Act 2, 44-45).

3.1. Natureza do Conselho para os Assuntos EconómicosO C.A.E. situa-se dentro da realidade da Igreja mistério de comunhão na qual se

insere também a perspectiva da valorização do contributo dos fiéis leigos.Por isso, a constituição e o funcionamento efectivo do CAE constitui um sinal da

vontade de acolhimento da comunhão na vida concreta de cada paróquia.De facto, os fiéis não são chamados só a partilhar os bens necessários para a

missão da Igreja, mas também à sua cuidadosa e transparente administração através da participação directa nos órgãos colegiais indicados pela normativa canónica. O C.A.E. é um desses organismos, obrigatório pelo direito.

Lembro que ele se constitui incluindo representantes das comissões administra-tivas das várias igrejas ou capelas da paróquia.

3.2. CaracterísticasSe é esta a natureza do Conselho, quais as características?Recordo sobretudo três: participação corresponsável, transparência e sentido

eclesial, a observar com rigor.

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Todos nos damos conta de que a Igreja, no seu conjunto, se torna credível quan-do cada fiel participa corresponsavelmente e quando a administração dos bens é transparente e correcta. Esta transparência obtém-se graças também ao contributo profissional e competente dos leigos. É claro que a capacidade técnica e eficiente se deve conjugar com um forte sentido eclesial porque está ao serviço de uma comu-nidade paroquial, integrada numa diocese, e não de um empresa privada. Tudo isto exige pois:

- contabilidade organizada como pressuposto para uma gestão racional e trans-parente;

- apresentação de contas à paróquia e à diocese: a responsabilidade de prestar contas de bens que não são nossos, mas apenas confiados à nossa administração;

- partilha com a diocese: a paróquia não é uma ilha isolada e autónoma. É parte de um todo, uma célula da Igreja local, um membro do corpo que é a Igreja dio-cesana. Cada membro deve contribuir para o bem do corpo. Entre a diocese e as paróquias existe uma circulação recíproca de vida, de serviços e de bens espirituais e materiais. É urgente uma educação das comunidades para o sentido eclesial da partilha de bens com a diocese. E os primeiros promotores desta educação devem ser os párocos ajudando a ultrapassar uma determinada visão da paróquia – que se vai difundindo, mesmo entre alguns padres – como se fosse propriedade privada, “propriedade nossa”, sem qualquer responsabilidade, isto é, sem deveres para com a Igreja diocesana. Se as paróquias não contribuem agora para o bem da diocese, estão a hipotecar o funcionamento normal e o futuro da própria diocese.

3.3 Tarefas e bom funcionamentoDaqui deriva o empenho dos membros do Conselho para os assuntos económi-

cos a viver, por dentro, a vida da comunidade e a saber interpretá-la no âmbito dum território preciso e de uma história particular da paróquia, da igreja diocesana e da igreja universal.

Requer uma relação de comunhão com o pároco que, de facto, é o representante jurídico da paróquia e, através dele, com os organismos diocesanos responsáveis pela vigilância solícita dos bens eclesiásticos da diocese.

Neste quadro, o Conselho é chamado a desempenhar uma função consultiva em ordem ao cumprimento de todas as obrigações, a que, pelo direito canónico ou pela norma civil, a paróquia está obrigada - e sobre cujo cumprimento o Bispo também é responsável com a sua atenção vigilante e o seu estímulo -, tais como:

- passagem obrigatória do sistema beneficial ao fundo paroquial;- os ofertórios consignados, de nível diocesano, nacional e universal, devem ser

entregues na cúria, atempadamente. É uma questão de justiça que onera gravemente a consciência!

- a entrega do contributo de cada comunidade para a igreja diocesana (3% da receita bruta);

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- o registo de propriedade dos bens imóveis;- a inventariação dos bens móveis e imóveis e sua conservação e preservação;- cuidar do património documental: trata-se de guardar e salvaguardar a memória

das comunidades e das pessoas (vg. Assentos, extractos, o risco de que se percam os livros…).

Quero lembrar aqui a obrigatoriedade moral e jurídica que impende sobre os pá-rocos de procederem ao assento de registo dos baptismos e dos casamentos (e a co-municação atempada destes ao registo civil). É uma questão de respeito e de justiça para com os direitos dos fiéis. Uma omissão deste género lesa gravemente os fiéis!

Gostaria de sublinhar ainda que um bom funcionamento do Conselho não pode depender exclusivamente dos mecanismos institucionais, mas exige por parte de todos os membros uma consciência profunda de comunhão eclesial, um estilo de co-municação fraterna e a convergência comum no projecto pastoral. Se uma boa pre-sidência requer do pároco a disponibilidade à escuta, a delicadeza no discernimento, a paciência na relação, todavia na base tem de estar a solicitude pelo bem comum da igreja que requer em todos a aptidão para o diálogo, a argumentação das propostas, a familiaridade com o Evangelho e com a doutrina e a disciplina da Igreja.

Para o bom funcionamento dos conselhos económicos promoveremos uma acção de formação para os seus membros, ao nível de cada vigararia. A Administração diocesana e o Centro de Formação e Cultura cuidarão de apresentar propostas, a seu devido tempo.

4. No âmbito da Nova Concordata: conversão de mentalidade e de actuação

A nova Concordata apoia-se em dois princípios que favorecem uma correcta re-lação entre a comunidade eclesial e a comunidade política: independência e autono-mia, cada uma no seu próprio campo; e colaboração recíproca ao serviço do homem e para bem comum do país.

A Igreja, naturalmente, deve poder gozar daquela liberdade que lhe deu o Senhor Jesus para caminhar segura e livre na história, de modo a realizar a sua missão de evangelização e de comunhão.

O novo sistema concordatário introduziu alguns elementos novos no regime fiscal que vão exigir de nós e das comunidades uma mudança e mesmo uma conversão de mentalidade e de actuação. Uma das novidades é que os sacerdotes passam a estar su-jeitos ao IRS pelo que recebem no exercício do seu múnus pastoral. Qualquer que seja a modalidade de o fazer (retenção na fonte ou declaração posterior dos rendimentos), requer que se organize a contabilidade pessoal e a contabilidade da paróquia.

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As obrigações fiscais relativas ao IRS são pessoais, fazem parte dos deveres sociais perante o Estado e a sociedade. É uma responsabilidade pessoal. Somos chamados a ser cidadãos conscientes, responsáveis e honestos neste campo. Mas há também responsabilidades institucionais relativas a alguns impostos dos quais a Igreja não está isenta.

As mudanças custam sempre; são porventura dolorosas. Procuremos enfrentar esta mudança com seriedade e serenidade. Não é drama nem tragédia. Esta reforma traz consigo a potencialidade de mostrar a imagem do sacerdote como homem livre e sem privilégios, com dedicação desinteressada à sua missão espiritual e pastoral.

Poderá também exigir algo mais às comunidades. Será ocasião para apelar aos fiéis a amar os seus sacerdotes, a colaborar com eles e a apoiá-los com o contributo económico, lembrados das palavras de S. Paulo: “Os que anunciam o Evangelho, vivam do Evangelho” (1 Cor 9, 14).

A ajuda económica aos sacerdotes é um investimento que gera outros recursos: eles estão na primeira linha na acção pastoral e em muitas iniciativas de assistência e caridade e, por isso, pô-los em condições de trabalhar melhor significa promover todas as outras realidades eclesiais e actividades ao serviço dos irmãos mais neces-sitados.

Enfrentemos esta nova situação com confiança e responsabilidade, como um desafio e uma “chance” para uma maior e mais solidária comunhão entre nós padres, em presbitério, e nas nossas comunidades. Também este aspecto é uma manifestação da ternura de Deus que somos chamados a testemunhar neste ano pastoral!

Assembleia do Clero, 23 de Outubro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Homilia de Final do Ano

Confiemo-nos à Esperança que não desilude

“Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo” (Ef 1,3).

No final de um ano, este hino do Apóstolo tem ressonância particular no nosso coração. Por isso nos encontramos aqui reunidos, nesta noite, para elevar um hino de acção de graças a Deus, Senhor do tempo e da história, pelos numerosos benefícios concedidos a cada um, às nossas famílias, à Igreja e à humanidade.

Ao terminar o ano de 2007 e na vigília de 2008 é nosso dever, nossa alegria e nossa salvação louvar e agradecer Aquele que nos acompanha no tempo sem nunca nos abandonar e que vela sempre sobre a humanidade com a fidelidade do Seu amor terno e misericordioso.

Neste espírito somos convidados a percorrer o ano que hoje finda, a revisitar muitos dons já recebidos da bondade do Senhor e a enfrentar com esperança o ano que agora se abre diante de nós.

No recolhimento e no silêncio da meditação pessoal, cada um de nós poderá encontrar motivos particulares para dar graças a Deus e recordar as ressonâncias suscitadas no nosso coração pelas maravilhas que Deus realizou, ao longo do ano, em nosso favor.

Neste contexto desejaria fazer-me porta-voz da memória colectiva da Igreja, para elevar ao céu a nossa comum acção de graças por alguns dons mais significativos para a Igreja diocesana, nacional e universal. Evoco-os brevemente.

1. Antes de mais quero recordar a comemoração dos 90 anos das Aparições de Nossa Senhora em Fátima. Foi uma ocasião para revisitar e aprofundar a actualidade e a beleza da Mensagem profética de misericórdia, consolação e esperança que a Senhora trouxe do céu à Igreja e à humanidade numa das horas mais dramáticas da sua história.

Fizemo-lo através de uma série de iniciativas como três congressos de alto nível teológico-pastoral, algumas exposições artísticas e a inauguração da nova igreja dedicada à Santíssima Trindade. A nova igreja deu corpo visível a uma dimensão essencial da Mensagem. É um hino à Santíssima Trindade. Torna-se um convite e uma ajuda a erguer o olhar e o coração para contemplar o Rosto Trinitário de Deus, como um abismo de Beleza – a Beleza do amor que salva – tal como foi dado a contemplar aos pastorinhos.

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Representa também o novo desafio à espiritualidade e à pastoral de Fátima hoje, quando assistimos a um eclipse cultural de Deus e à erosão da fé em muitos cristãos. Fátima é chamada a ser um “lugar místico” e mistagógico onde resplandeça a beleza do Rosto Trinitário de Deus; um lugar onde se desperte a dimensão contemplativa e mística da fé para lhe dar calor e alegria; onde se anuncie o permanente advento de Deus à história dos homens como início e fundamento de uma esperança capaz de mudar o mundo e a vida.

2. Em relação ao caminho da diocese de Leiria-Fátima desejava deter-me breve-mente sobre o programa pastoral diocesano que este ano dedica a sua atenção ao aco-lhimento e à vocação, escolhendo como tema: “Testemunhas da Ternura de Deus”. Com este título, eu próprio escrevi uma carta pastoral onde convido a contemplar as entranhas da ternura de Deus revelada em Cristo para tornar este nosso mundo mais terno e fraterno. “Sem ternura não há vida, não há beleza, não há felicidade!”. Daí deriva a pastoral do acolhimento como elemento constitutivo da Igreja que revela o coração de Cristo cheio de ternura, misericórdia e esperança. O acolhimento deve configurar o rosto da Igreja acolhedora, dialogante e calorosa, mais interessada nas pessoas do que nas estruturas; deve dar uma alma e um pouco de coração, de afecto e calor humano às relações e à vida de cada comunidade.

A ternura de Deus é como uma chama que ama e chama. Aquele que a acolhe, sente-se chamado a testemunhá-la e servi-la nos outros. Nela encontra o seu “hu-mus”, a pastoral vocacional.

Alegro-me porque o programa da diocese está a caminhar positivamente através de uma acção apostólica capilar. Disso são um sinal as vigílias vocacionais com grande participação de adolescentes e jovens.

Que o Senhor nos conceda que este esforço comum conduza a uma renovação das comunidades e a um florescimento de muitas e boas vocações ao matrimónio cristão, ao sacerdócio e à vida consagrada.

3. A nível da Igreja em Portugal quero referir a visita “ad limina” que os bispos realizaram ao Santo Padre e à Sé Apostólica. Foi um momento importante da expres-são da nossa comunhão e do nosso afecto com o Sucessor de Pedro, o Papa Bento XVI, que preside à comunhão da Igreja universal. E foi, também, um momento de balanço e de verificação da vida cristã e eclesial das nossas dioceses.

Particularmente significativo foi o discurso do Santo Padre aos bispos e, através deles à Igreja em Portugal. Evoco, em síntese, os pontos deste discurso, por vezes tão mal interpretado pela comunicação social.

Em primeiro lugar, o Papa convida a Igreja a olhar-se à luz do mistério de Deus que se revela e comunica a nós em Cristo. Como quem diz: a Igreja vive de Cristo e com Cristo; vive do “fogo” de Cristo que a ilumina, purifica e lhe dá o calor do amor e da comunhão.

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Em seguida, à luz da Igreja mistério de comunhão, afirma: “a palavra de ordem era e é construir caminhos de comunhão. É preciso mudar o estilo de organização da comunidade eclesial portuguesa e a mentalidade dos seus membros para se ter uma Igreja ao ritmo do concílio Vaticano II, na qual esteja bem estabelecida a função do clero e do laicado, tendo em conta que todos somos um, desde quando fomos bapti-zados e integrados na família dos filhos de Deus, e todos somos corresponsáveis pelo crescimento da Igreja”. É um chamamento à corresponsabilidade de todos na vida da Igreja e a um maior afecto e sentido de pertença à Igreja de Jesus.

Depois, voltando-se para a missão da Igreja, chama ao essencial desta missão: “a Igreja não deve falar primariamente de si mesma, mas de Deus”. E lembra que a evangelização hoje depende do encontro vivo com Jesus Cristo vivo. Neste sentido, convida a rever os percursos de iniciação à fé para que alcancem este objectivo.

E por fim refere-se, de um modo muito belo, a Fátima “como escola de fé com a Virgem Maria por Mestra; lá ela ergueu a sua cátedra para ensinar aos pequenos videntes e às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”.

O discurso do Papa é um apelo forte à revitalização da fé à qual falta alegria e entusiasmo; à renovação das comunidades vencidas pelo cansaço e pela rotina; a um novo vigor missionário da nossa Igreja. Sim,“se não estivermos entusiasmados pela beleza e profundidade da nossa fé, não podemos verdadeiramente transmiti-la nem aos vizinhos, nem aos filhos, nem às gerações futuras” (Cardeal Lehmann).

O futuro do cristianismo repousa sobre a força da Palavra de Deus e da comu-nhão e sobre a alegria e o entusiasmo dos cristãos.

4. Alargando o nosso olhar à Igreja universal, quero recordar a recente encíclica “Salvos na Esperança”, como um dom de Bento XVI à Igreja e à humanidade. É um verdadeiro hino à Esperança.

Perante os cenários do tempo em que vivemos, marcados pela insegurança eco-nómica e social, pela angústia do terrorismo e da guerra, pela incerteza do futuro, pelo vazio interior dos grandes ideais e valores e pela perda do sentido para vida e a história, o Papa convida-nos a redescobrir a beleza e a profundidade da esperança cristã.

A esperança cristã é única no seu género porque está fundada sobre a fé em Deus-Amor, Pai misericordioso, que “amou tanto o mundo que lhe deu o seu Filho unigénito”, para que os homens tenham vida e vida em abundância, já agora e depois em plenitude na eternidade. É este amor que nos faz renascer para uma esperança viva. “Um amor humano, só por si não resolve o problema da vida. É um amor que permanece frágil; pode ser destruído pela morte. O ser humano tem necessidade do amor incondicional” até ao fim e para além da morte. A esperança é a confiança neste Amor mais poderoso que o mal, mais forte que a morte.

A esperança em Deus que não desilude, dá-nos a força para viver o presente com paixão e abrir-nos com confiança ao futuro e dá-nos a ousadia para abrir caminhos

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novos para um mundo novo. Só quando há uma grande esperança em nós, é que podemos dar sentido à vida, resistir às provações, amar para além de toda a medida e de todo o cansaço. Confiemo-nos pois à Esperança que não desilude!

5. Numa perspectiva ecuménica, faço uma referência muito breve à “peregrina-ção de confiança sobre a terra” de 40.000 jovens cristãos de várias confissões, em Genebra, convocados pela comunidade de Taizé. É um sinal de esperança para o ecumenismo e para a Europa. É um encontro “simbólico” que nos permite escutar o palpitar da Europa na sua juventude, vinda de 50 países europeus, e que se propõem lançar um dinamismo criador de paz, confiança e reconciliação, nos lugares da sua vida e com todas as gerações.

Enquanto nos despedimos do ano que se concluiu e estamos prestes a entrar no ano novo, o nosso pensamento volta-se para Maria, Mãe de Deus, cuja solenida-de celebramos amanhã. Peçamos-lhe que interceda por nós. Que a sua protecção materna nos acompanhe hoje e sempre para que Cristo nos confirme na verdadeira esperança, como reza o Te Deum que vamos cantar:

“Em Vós espero, meu Deus; Não serei confundido eternamente”! Ámen!

Santuário de Fátima, 31 de Dezembro de 2007† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

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Comunicado

Conselho Pastoral DiocesanoSob a presidência do Bispo D. António Marto reuniu-se, na manhã do dia 20 de

Outubro, no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da Diocese de Leiria-Fá-tima, tendo como ponto principal da sua ordem de trabalhos “Perspectivas do ano pastoral: apresentação pelos conselheiros de propostas para melhorar o acolhimento e a pastoral vocacional.”

Aos conselheiros presentes, D. António Marto, apresentou a sua Carta Pastoral “Testemunhas da Ternura de Deus”, salientando a espiritualidade e as sugestões de actividades concretas aí presentes.

Seguidamente, convidados a apresentarem propostas para melhorar o acolhimen-to e a pastoral vocacional, os conselheiros destacaram que, se deverá, nomeadamen-te, investir nas pessoas, na sua formação. Pareceu ainda importante para os conse-lheiros cuidar da transmissão de informação, ou seja, dever-se-á arranjar estratégias para fazer com que todas as informações cheguem a todos. Neste ponto D. António Marto solicitou, ainda, que o Conselho Pastoral se pronunciasse sobre possíveis formas de envolver os adolescentes e os jovens nos acontecimentos da Diocese. Na opinião dos conselheiros a participação dos jovens e adolescentes terá passar pela sua motivação, sendo a catequese o momento privilegiado para o fazer.

Finalmente, o Conselho expressou a sua congratulação pelo testemunho evan-gélico, beleza e dignidade manifestados nas celebrações dos 90 anos das aparições marianas em Fátima, enaltecendo o trabalho de todas as pessoas que estiveram en-volvidas para que tal evento atingisse tão grande êxito.

20 de Outubro de 2007O Secretariado Permanente

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Comunicado

Conselho Presbiteral DiocesanoO Conselho Presbiteral da diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência de D.

António Marto, reuniu-se na manhã do dia 30 de Outubro, no Seminário Diocesano, para a avaliar a primeira década da entrada em vigor do Regulamento da administra-ção de bens da diocese de Leiria-Fátima e dar início ao seu processo de revisão.

Depois do canto dos salmos, os Conselheiros avaliaram o impacto e o percurso deste «instrumento de partilha e de comunhão de bens» da Igreja Diocesana, não deixando de salientar o esforço de muitos na sua implementação e a necessidade de todos aprofundarmos os seus pressupostos teológicos e espirituais, fruto da renova-ção conciliar. Estes princípios são imprescindíveis para a mudança de mentalidade que o Regulamento exige, como no-lo recordava a intervenção de D. António Marto, na Assembleia do Clero do dia 23 do corrente.

Depois do intervalo, a reflexão centrou-se no Estatuto Económico do Clero, parte integrante do mesmo Regulamento, e no que ele significou de novidade, seguindo as orientações conciliares (PO 20). Estas determinaram a substituição do sistema beneficial por um fundo comum, que ao nível diocesano, quer ao nível paroquial. Deste modo se acompanhava o evoluir dos tempos, dando mais transparência à ad-ministração dos bens da Igreja, e se criavam melhores condições para a prática da caridade e da justiça.

Por último, foram recolhidas sugestões dos Conselheiros para melhorar o arti-culado do Regulamento, e o Sr. Bispo informou que iria nomear a Comissão para conduzir a sua revisão.

30 de Outubro de 2007O Secretariado

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Ano Pastoral 2007-2008

Objectivos e principais acções do ano

Objectivo 1 – Cultivar a espiritualidade do acolhimento- Viver a oração e as celebrações litúrgicas como fonte da espiritualidade do aco-

lhimento, deixando-se acolher por Deus. - Promover um Retiro popular durante a Quaresma, mediante a leitura familiar e

orante da palavra de Deus (lectio divina).

Objectivo 2 – Promover a presença de proximidade na paróquia- Cuidar do atendimento a cada pessoa, com dádiva do próprio tempo, em atitude

de diálogo inteligente e paciente.- Criar e valorizar o ministério do acolhimento nas comunidades.- Dar vida a pequenos grupos e comunidades, onde se pratiquem a escuta, a partilha

e a oração.- Aproveitar ou criar o “dia da comunidade paroquial”. - Cuidar da preparação e celebração dos sacramentos, especialmente do baptismo,

matrimónio, e reconciliação, e valorizar a liturgia dos funerais.

Objectivo 3 – Proporcionar acolhimento especial nas situações de fragilidade- Particular atenção e apoio às crianças portadoras de deficiência, na catequese e

noutras actividades.- Constituir em Fátima um grupo multidisciplinar de acolhimento e ajuda a pessoas

com problemas ou perturbações de ordem psíquico-espiritual.- Organizar um seminário sobre perturbações de ordem psíquico-espiritual, com

reflexão e partilha no campo da ajuda a prestar. - Apoiar a convivência com imigrantes e estrangeiros e colaborar da sua integração.- Promover a oração em família e apoiar as famílias em situações difíceis.

Objectivo 4 – Imprimir um novo ardor à pastoral vocacional.- Dar continuidade à “grande oração pelas vocações”, sobretudo com uma vigília

em cada vigararia, para adolescentes e jovens, presidida, se possível pelo Bispo da Diocese.

- Editar e distribuir uma estampa com a oração a Maria, Mãe da Ternura. - Promover a “Quinta-feira vocacional”, em cada comunidade.- Manter a funcionar o grupo vocacional S. Agostinho e incrementar o pré-seminário.- Integrar um retiro ou um encontro vocacional na preparação para o crisma.- Criar ou reorganizar o grupo de animadores vocacionais nas vigararias.

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Ano Pastoral 2007-2008

Pistas para a reflexão da Carta PastoralFoi distribuído com a Carta Pastoral um folheto com questões e propostas para

ajudar à sua compreensão, em leitura e reflexão, pessoal ou em grupo:

Capítulo 1: Uma paragem em Elim.1. Que caminhada fez a nossa paróquia, comunidade ou grupo nos dois primeiros

anos do projecto pastoral dedicados ao acolhimento e à vocação cristã?2. Temos tempos de pausa para avaliar o caminho feito e projectar o futuro?

Capítulo 2: Um mundo inóspito que invoca ternura.1. Enquanto cristãos, individual ou comunitariamente, somos coerentes com a nos-

sa identidade ou deixamo-nos seduzir pelo meio envolvente? 2. No contexto em que nos encontramos, qual a imagem de Deus e da Igreja que

deixamos transparecer?

Capítulo 3: O Evangelho da Ternura.3.1. Deus é o primeiro a acolher-nos1. No que somos e fazemos, temos consciência de que Deus tem sempre a iniciativa?2. Em que momentos e sinais concretos se manifestou, na nossa vida e na vida da

comunidade, a ternura de Deus que ama sempre primeiro?3.2. Chamados a acolher Deus e os seus dons1. Temos como prioridade da nossa vida a busca permanente de Deus?2. Qual a importância que damos quotidianamente à escuta da Palavra, às celebra-

ções da Fé e à oração, enquanto espaços de acolhimento de Deus?3.3. O acolhimento fraterno1. Que espaços e tempos dedicamos ao acolhimento dos que estão mais afastados e

aos que estão fora das nossas comunidades cristãs?2. Qual o lugar dos «últimos» (pobres, doentes, portadores de deficiência...) nas

nossas comunidades?

Capítulo 4: A Igreja, “casa e escola” do Acolhimento1. O que já se faz nas nossas comunidades para viver uma espiritualidade do aco-

lhimento e da comunhão? E para criar proximidade com as pessoas, nas suas situações concretas? Que outras acções se podem implementar?

2. O que podemos fazer para manter acesa a chama da vocação no coração e na nossa comunidade?

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Vida Eclesial. destaque . notícias . Santuário de Fátima .

. serviços e movimentos . entrevistas .

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Nova Cúria Diocesana

Mudanças de fundo nos serviços Por Luís Miguel Ferraz

“Muito diálogo com todos os envolvidos, consulta aos colaboradores mais próxi-mos e oração insistente para que o Espírito Santo ilumine as nossas decisões”. Assim se referia D. António Marto aos passos que levaram à reestruturação dos serviços pastorais, dada a conhecer a 13 de Julho, dia da dedicação da catedral de Leiria. É a mudança mais radical dos últimos anos, na diocese, com 29 nomeações directas e um organigrama totalmente reformulado para “agilizar e tornar mais eficazes as estruturas ao serviço da evangelização, através de uma coordenação dos diversos sectores da actividade eclesial, por afinidades”.

Nova CúriaA reformulação da Cúria procurou “pôr ordem e coordenar os vários serviços

pastorais que foram surgindo, sobretudo após o Vaticano II, em resposta a necessi-dades imediatas”, e “corresponde a um plano estudado por uma equipa, dialogado com os responsáveis dos vários sectores da pastoral e aprovado pelo Conselho Presbiteral”, No entanto, adiantou D. António, “é uma estrutura flexível e adaptável conforme for sendo testada a sua aplicação”. Para já, pretende-se uma clarificação em torno de vários departamentos, que congregam os serviços com maior afinidade, tudo na busca de uma resposta mais eficaz às exigências pastorais nos vários âmbitos da acção.

Dentro da situação que foi conhecendo neste seu primeiro ano em Leiria, o Bispo diocesano resolveu dar prioridade à reorganização da pastoral social e, sobretudo, à animação vocacional: “Sendo uma área considerada prioritária, para o próximo ano pastoral, a animação vocacional mereceu-nos especial atenção, com várias equipas organizadas em torno do novo Departamento das Vocações Cristãs e a nomeação de um padre especificamente para o pré-seminário”.

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As adequações possíveisAs nomeações para os vários serviços e, sobretudo, para algumas paróquias,

como explicou D. António, não puderam trazer de imediato uma adequação sufi-ciente das disponibilidades às necessidades de cada comunidade. Só um estudo mais longo o permitiria, com uma reorganização territorial e uma redistribuição ainda mais ampla do clero. Mesmo assim, procedeu-se da melhor forma, tendo também em consideração os pedidos de mudança feitos por alguns párocos, no respeito de idades avançadas, e segundo critérios objectivos, prioritários.

Em conclusão, o prelado assume ter havido “dificuldades e imprevistos” normais num processo deste tipo, que considera “tarefa árdua e de algum modo ingrata” da sua missão episcopal, pois “nem sempre é possível realizar as expectativas de todos – Bispo, padres e comunidades”. Mas está convicto de que “após um trabalho in-tenso de diálogo, escuta e oração, se conseguiu um consenso nas decisões tomadas, garantindo a harmonia colegial e uma resposta pacífica às necessidades”.

Uma nova pastoral?Uma situação a rever talvez já no próximo ano, é o número das celebrações

eucarísticas dominicais, que exige se estabeleçam critérios num novo contexto pas-toral. Interpelado sobre a possibilidade de os padres poderem continuar a responder a todas as solicitações, D. António, reconhecendo que ainda se vão satisfazendo as necessidades básicas, advertiu que não será assim, nos próximos anos. Impõe-se a adopção de um novo estilo de pastoral, em economia de recursos, maior valorização da vocação laical nas paróquias e nos serviços, e corrigindo pouco a pouco a men-talidade do ‘padre faz-tudo’ e da ‘Igreja supermercado’ onde se pretende encontrar, com rapidez, tudo o que se procura.

A escassez de sacerdotes, foi tema da sua homilia na festa da Dedicação da cate-dral (ver secção “Documentos”) e a crise de vocações em geral, desafio e estímulo para a acção dos próximos anos, foi o pano de fundo para a apresentação das mais recentes decisões pastorais.

A mudança em perspectiva, que se vai operando em todo o País e na generalidade das Igrejas ocidentais, tocará as próprias mentalidades. A nova pastoral centrar-se-á nas necessidades espirituais essenciais com optimização dos recursos. Os padres reagrupar-se-ão em equipas ágeis e multidisciplinares e os leigos serão mais integra-dos na responsabilidade e animação das comunidades. Entretanto, rumando já nessa direcção, é necessário garantir o acompanhamento das comunidades e dinamizar os vários sectores da vida eclesial.

Primeira reunião da nova Cúria“Comunhão” e “colaboração” foram as palavras mais usadas por D. António

Marto, no encontro com os membros das várias equipas dos organismos pastorais e administrativos, que assistem o Bispo, de forma mais directa, no governo da Igreja

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diocesana. “Para que a pastoral da Igreja não seja uma burocracia sem alma, é fun-damental a comunhão vital dos seus agentes entre si e com o Bispo, pelo amor de Cristo”, frisou.

No encontro, que decorreu no passado dia 10 de Setembro, no Seminário, toma-ram parte meia centena de pessoas, desde os directores dos departamentos, serviços e comissões da Cúria, a alguns funcionários e voluntários que dão colaboração de forma mais regular. A todos o Bispo diocesano quis agradecer a colaboração já prestada e a disponibilidade para continuarem em espírito de colaboração e serviço, salientando que “este trabalho só será eficaz e com sentido se cada um souber que faz parte de um todo e não está sozinho no seu serviço específico, mas coordenado com a acção eclesial de conjunto, cujo primeiro servidor e responsável é o Bispo”.

Citando as disposições do Directório dos Bispos, D. António lembrou que “a Cúria é composta por pessoas e, portanto, precisa de organização e estrutura, mas a salvação das almas, isto é, o serviço ao bem comum do Povo de Deus, deverá estar sempre acima das estruturas”. Para tal, “procurámos uma organização leve e funcional, que não se perca em burocracia, e com economia de recursos e energias, dado que a diocese não é rica e precisa de uma gestão muito equilibrada de recursos para poder subsistir”. O fundamental, lembrou ainda, é que “entre todos reine um espírito de comunhão e de serviço solidário, em ligação a Cristo e alimentado pelo Seu amor”.

No final, cada um dos presentes fez o seu compromisso solene de cumprir as respectivas tarefas “em comunhão com a Igreja Católica, com diligência, competên-cia e fidelidade, segundo as normas do direito canónico e as orientações do Bispo diocesano, colaborando lealmente com os outros servidores e organismos da Igreja Diocesana, como membro do mesmo e único Corpo de Cristo”.

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Falecimento

Padre Manuel Duarte AlexandreAos quase 92 anos de idade, o pa-

dre Manuel Duarte Alexandre faleceu no dia 4 de Dezembro, no Hospital de Santo André, em Leiria. O seu fune-ral realizou-se no dia 5, na igreja de Monte Real, e os seus restos mortais repousam no cemitério local.

Filho de Jacinto Duarte Alexandre e de Joaquina Duarte André, nasceu em Monte Real, a 14 de Dezembro de 1915. Frequentou o Seminário de Leiria e foi ordenado sacerdote em 7 de Agosto de 1938, na Sé de Leiria, pelo bispo D. José Alves Correia da Silva. Na sua longa actividade sacer-dotal, foi coadjutor na paróquia do

Olival, pároco em Urqueira, capelão militar em Angola, onde também exerceu o ministério pastoral nas dioceses de Luanda e Benguela. Regressado daquele país, em 1978, foi pároco da Batalha, capelão do Hospital de S. João de Deus em Montemor-o-Novo e capelão do Mosteiro de Santa Clara em Monte Real. Entretanto, temporariamente, foi ainda administrador paroquial de Atouguia. Desde 1997, encontrava-se na situação de emérito, residindo na sua casa em Fátima, assistido na sua doença pelas irmãs Pias Discípulas do Divino Mes-tre.

Que o Senhor o acolha na sua Glória.

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Assembleia Diocesana – início do ano pastoral

2007/2008 sob o signo da “ternura”O início do ano pastoral é sempre um momento marcante da vida da Diocese.

Reunidos em Assembleia, cerca de 600 responsáveis das comunidades e serviços – leigos, padres e consagrados – partilham os frutos e as expectativas do seu traba-lho, recebem do seu Bispo as orientações para a caminhada e celebram a confiança em Deus que não falta ao Seu Povo com a abundância dos seus dons. Foi assim, mais uma vez, no passado 7 de Outubro.

D. António Marto apresentou o lema para 2007/2008, que desenvolvera na sua mais recente carta pastoral (ver secção documentos): “Testemunhas da Ternura de Deus”. Convicto de que “este será um ano para transformar em vivência a reflexão já feita”, e retomando os temas do acolhimento e da vocação que pautaram os últimos dois anos, primeiro biénio do Projecto Pastoral em curso, D. António explicou que esta retoma é como que uma pausa “não para descansar, mas para aprofundar estes importantíssimos aspectos da pastoral da Igreja”.

O primeiro momento do encontro, dedicado à revisão do caminho trilhado desde 2005, começou com uma atenção especial ao “acolhimento dos dons de Deus” e ao

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“acolhimento dos irmãos”, recordando iniciativas das comunidades, instituições e serviços, na continuidade do trabalho entre mãos ou completamente novas. O mes-mo se passou em relação à “descoberta da beleza e da alegria da vocação cristã”, tema do segundo ano, com uma consciência mais viva de chamados por Deus à vida e ao amor, por caminhos diversificados de realização, todos coincidentes com o projecto divino, único, de salvação e felicidade, já sobre a terra e a consumar depois, plenamente, junto do Pai.

Sobre as premissas do “acolhimento” e da “vocação” D. António assentou a sua abordagem da “Ternura de Deus” cujo amor de Pai se torna para a Igreja e para cada cristão “uma chama, que chama e que ama”. Num “mundo de competição, mercan-tilista, onde faltam as relações pessoais e se perdeu a consciência da gratuidade, do dom de si mesmo ao outro”, empenhar-se por uma “nova cultura de acolhimento e de atenção ao próximo e a Deus” não pode ser “como uma operação de charme de uma empresa que quer cativar clientes, mas como um novo estilo de vida, com uma espiritualidade e uma pedagogia novas, que testemunhem, de facto, essa ternura com que Deus nos acolhe, nos ama e nos chama a viver”.

Na Bíblia, “Boa-Nova” da ternura de Deus, “o primeiro a acolher-nos”, e no ícone mariano, representando Aquela que melhor correspondeu à ternura de Deus, a Igreja diocesana encontrará as duas referências para ser “casa e escola” onde se hão-de concretizar os objectivos e as iniciativas propostos na Carta Pastoral.

Na Eucaristia de encerramento, D. António reforçou o seu apelo em forma de oração: “Senhor, aumenta em nós a fé, que nos dará a força para fazermos até o que julgamos impossível”; e apontou como segredo do bom fruto do trabalho pastoral o reconhecimento humilde de sermos “simples servos do maior e mais poderoso dos senhores”.

Corporizando o envio de todos às comunidades e ao mundo, a trabalhar na construção de “uma Igreja viva, que não seja nunca uma burocracia sem alma”, foi entregue à vigararia de Ourém a lamparina vocacional que, à semelhança do ano passado, irá passando sucessivamente pelas restantes vigararias, fazendo conjunto com os outros sinais maiores da Bíblia e do ícone de Nossa Senhora.

Assembleia diocesana em DVDFoi elaborado um DVD sobre esta Assembleia Diocesana, com várias inter-

venções, com destaque para a apresentação que o Senhor Bispo fez da sua Carta Pastoral. A Comunidade Canção Nova produziu um outro, mais curto, com a du-ração aproximada de 10 minutos, em forma de documentário. Além de imagens da Assembleia e da celebração eucarística, contém depoimentos de D. António Marto, do Reitor do Santuário de Fátima e do Vigário Geral, sobre o novo ano pastoral e seus objectivos. Podem ser adquiridos no Seminário de Leiria.

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Marcelo Cavalcante de Moraes

Novo sacerdote diocesano A diocese de Leiria-

Fátima tem mais um sa-cerdote, ordenado por D. António Marto, no passa-do dia 21 de Outubro, na sé de Leiria. Trata-se de Marcelo Cavalcante de Moraes, natural de Pin-damonhangaba, Brasil, que veio para a diocese em 1999, então integrado na Comunidade Canção Nova. Depois de uma ex-periência na paróquia de Albergaria dos Doze, fez os estudos filosófico-teo-lógicos no ISET (Instituto Superior de Estudos Teo-lógicos), em Coimbra.

Com o templo repleto, D. António Marto expres-sou a sua alegria e, na homilia, relacionando o acontecimento com a liturgia do domingo, lembrou que a oração é ponto-chave da vida da Igreja e do sacerdote, e incentivou o neo-sacerdote a tornar-se sempre mais “um homem de Deus”, para poder levar Deus aos homens e os homens até Deus: “Crê o que lês, ensina o que crês e vive o que ensinas”. De forma clara, descreveu o papel do sacerdote na sociedade e recordou a necessidade de cada vez mais se tornar o dispensador dos mistérios de Deus ao povo sedento e carente da ternura e do amor de Deus. Apelando a que a verdade seja cada vez mais o distintivo do sacerdote, elogiou ao mesmo tempo a vida gasta e entregue ao serviço do Reino.

A presença numerosa do presbitério diocesano reforçou a comunhão de todos expressa na imposição das mãos sobre o jovem sacerdote, em união com o Bispo.

O novo sacerdote está agora a iniciar o seu ministério como Vigário paroquial em Maceira.

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Padres Luciano Guerra e Adelino Ferreira

Bodas de ouro sacerdotaisNo ano de 1957, há cinquenta anos, na Sé Catedral, D. João Pereira Venâncio,

então Bispo de Leiria, ordenou cinco novos presbíteros: três a 18 de Agosto e dois a 21 de Setembro. Um deles viria a pedir a dispensa dos compromissos sacerdotais e do exercício do ministério; dois já faleceram, os Padres Adelino da Silva Nunes e Filipe Luciano de Oliveira Vieira; estão ainda entre nós os Padres Adelino Rodrigues Ferreira e Luciano Gomes Paulo Guerra que foram homenageados pelas suas bodas de ouro sacerdotais no dia 27 de Setembro de 2007.

A basílica do Santuário de Fátima foi pequena para os muitos amigos, parentes e conhecidos que se juntaram à celebração promovida pela Fraternidade Sacerdotal. D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, que presidiu à Eucaristia concelebrada por mais de 50 sacerdotes, referiu o contexto privilegiado dos noventa anos das aparições de Fátima, do início de um novo pastoral sob o signo da contemplação da ternura de Deus, e da festa litúrgica do presbítero S. Vicente de Paulo que se dedicou à formação dos sacerdotes.

Na homilia, D. António falou da grandeza e humildade do sacerdócio. Grandeza patente na escolha e eleição dos apóstolos, fruto da compaixão de Deus pela huma-nidade: “O amor terno, paterno e materno de Deus, para com os homens levou-O a escolher colaboradores que participassem nessa ternura e nessa paternidade de Deus, à medida do seu coração”. No mundo que “tem fome do pão da verdade, o pão da vida, o pão do amor, o pão quotidiano”, “A missão do sacerdote é matar essa fome, sendo servidor da ternura de Deus que ama a humanidade. O sacerdócio não é, pois, uma mera profissão, mas é fruto da contemplação e da oração que enraíza na ternu-ra e no amor de Deus”. Mas o sacerdócio também é humilde, porque exercido por homens fracos, pequenos e pecadores: “Deus escolheu o que é fraco, o que é despre-zível, o que é louco, aos olhos do mundo para o tornar forte e grande”. Exemplo e expressão desta grandeza e humildade, S. Vicente de Paulo que, no início, “entendeu de forma errada a missão do sacerdote, mas, no contacto com os homens, acabou por descobrir o verdadeiro sentido do ministério”, teve uma vida marcada por aspectos que constituem “um excelente programa para o homem contemporâneo: a oração, o humanismo cristão e a fidelidade à Igreja”.

No final da celebração, os jubilados agradeceram a presença, ao longo da vida, de tantos amigos e companheiros de caminhada. Sobretudo agradeceram a Deus o Seu chamamento pelo qual se declararam honrados e felizes.

Terminada a celebração, a Fraternidade Sacerdotal ofereceu um almoço de confraternização aos aniversariantes, a todos os seus familiares e aos sacerdotes presentes.

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Adelino Rodrigues FerreiraFilho de José Ferreira Júnior e de Emília Ferreira Rodrigues,

nasceu a 1 de Dezembro de 1933, numa parcela da então fregue-sia de Pousos, actualmente freguesia de Santa Eufémia, concelho de Leiria. Entrou no Seminário a 14 de Outubro 1946 e recebeu a ordenação sacerdotal a 18 de Agosto de 1957. Foi nomeado coadjutor da Freixianda em 2 de Janeiro de 1958, pároco da Urqueira em 5 de Agosto de 1965 e Director Espiritual do Semi-nário Médio de Leiria em Outubro de 1967. A 3 de Março de 1971 foi para Lamego, como secretário do Bispo D. Américo Henriques, e, em 29 de Maio de 1972, obteve licença para o acompanhar, para a Diocese de Nova-Lisboa, Angola. Em Outubro de 1974, regressado à Diocese e ao Seminário, retoma o cargo de Director Espiritual e professor. Em 1988 é nomeado Director Diocesano do Apostolado de Oração e res-ponsável da Cruzada Eucarística e da Liga Eucarística. Em 15 de Outubro de 1993 é nomeado pároco dos Parceiros, onde se mantém actualmente, em acumulação com os outros cargos. A 15 de Março desse ano é confirmado Juiz no Tribunal Eclesiásti-co e, a 5 de Abril de 1999, reconduzido na mesma função. Foi Ecónomo Diocesano desde 9 de Junho de 1994 até Março de 2007. Também foi Ecónomo da Casa Dio-cesana do Clero desde a sua fundação até há poucos anos, e locutor das celebrações aniversárias do Santuário de Fátima durante cerca de trinta anos.

Luciano Gomes Paulo GuerraFilho de Joaquim Paulo Guerra e de Maria do Rosário Go-

mes Louro, nasceu na freguesia de Calvaria, concelho de Porto de Mós, no dia 31 de Agosto de 1932. Entrou no Seminário de Leiria a 15 de Outubro de 1943, onde cursou humanidades e filosofia, e recebeu a ordenação sacerdotal, na Sé de Leiria, a 21 de Setembro de 1957. Continuou os estudos eclesiásticos na Universidade Gregoriana de Roma, de 1952 a 1958. Licenciado em filosofia, veio a concluir o curso de Teologia, em Salamanca, no ano de 1959. De 1959 a 1961 exerceu as funções de Capelão do Santuário de Fátima e Director da Pia União dos Servitas. Foi Director do Externato Dr. Afonso Lopes Vieira, na Marinha Grande, de 1961 a 1964. De 1964 a 1968, trabalhou em várias paróquias de Paris, em França, onde fez o currículo para a Láurea em filosofia, no Instituto Cató-lico. Regressou a Portugal para retomar o cargo de Director do Externato Dr. Afonso Lopes Vieira, de 1968 a 1973. Desde 13 de Fevereiro de 1973, é reitor do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, onde desempenha também as funções de Director do Jornal Voz da Fátima e do Boletim Internacional Fátima Luz e Paz. Foi nomeado Monsenhor/Capelão de Sua Santidade pelo Papa João Paulo II, a 14 de Fevereiro de 1983, e a dez de Abril de 1988 foi nomeado Cónego da Sé de Leiria. Desde 25 de Julho de 2001, é membro do Colégio de Consultores.

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Celebrar a Confirmação de forma soleneA crescente diminuição de nascimentos deve levar a Igreja a reflectir sobre a

necessidade de rever os seus métodos de catequese e mesmo quanto à administração dos Sacramentos da Iniciação Cristã. D. António Marto manifestou desejo de que a celebração da Confirmação se inscreva num processo catecumenal estruturado e integrado no itinerário cristão, e seja verdadeiramente expressão da comunhão eclesial. Nesse sentido, convidou as vigarias e paróquias a considerarem as van-tagens de cooperarem entre si, desde a preparação dos candidatos até ao momento celebrativo.

Algumas paróquias vizinhas e de dimensões mais pequenas, Barreira, Cortes e Cruz da Areia, já uniram esforços e partilham os preparativos de uma grande cele-bração conjunta.

O exercício efectivo da colaboração e entreajuda serão a melhor forma de pre-dispor para a vivência da comunhão e do compromisso eclesial que o Sacramento do Crisma significa e realiza. Párocos, catequistas, crismandos, as comunidades in-teiras, na diversidade dos seus membros, descolando da sua autarcia, sentir-se-ão a crescer, pois iniciativas como a dos grupos corais de três paróquias que, em ensaios de conjunto, vão preparando a animação da grande liturgia que se aguarda, não são apenas simbólicas.

Aniversário da dedicação da CatedralD. António Marto presidiu, no passado dia 13 de Julho, à Eucaristia que assina-

lou o aniversário da dedicação da Catedral.Entre outros membros do presbitério, concelebraram o Vigário Geral, o Presiden-

te do Cabido, e o Pároco da Sé. Participaram também alguns religiosos e cerca de uma centena de fiéis leigos.

Na sua homília, D. António Marto considerou a data “de grande significado para toda a comunidade católica da Diocese”, destacou o papel de todos na construção da única Igreja de Jesus Cristo e referiu-se à Sé de Leiria também como elemento fundamental da história da região.

Aproveitando ainda a circunstância para salientar a importância da reestrutu-ração da Cúria Diocesana e da renovação de alguns sectores da pastoral, anunciou algumas nomeações eclesiásticas para as paróquias e outros serviços, de acordo com as necessidades concretas e dentro dos limites da crise das vocações e da idade avan-çada de grande número de sacerdotes.

Finalmente, D. António Marto não esqueceu a preocupação de um Seminário com apenas quatro jovens em Teologia e de, para o ano de 2008, não se vislumbrar qualquer ordenação sacerdotal. Mesmo assim, deixou a todos uma mensagem de esperança e o desafio de abraçarem com fé a tarefa de procurar alterar a situação.

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A Sé de LeiriaSituada perto do castelo de Leiria, a actual Sé começou a ser construída em mea-

dos do século XVI, segundo projecto de Afonso Álvares, e foi congregando a cidade à sua volta. Com a sucessão dos bispos foi recebendo acrescentos e alterações, com relevo para a da fachada principal, de que restaram apenas os três frontais após os graves danos causados pelo o terramoto de 1755. O interior é composto por três naves principais e três capelas. Na capela do Baptistério, na nave lateral esquerda, encontra-se uma pia baptismal monolítica, e na capela-mor destaca-se o retábulo com quatro painéis da autoria de Simão Rodrigues. O claustro, por detrás da cape-la-mor, é constituído por três galerias, em volta do pátio interior, com o tradicional poço. A sacristia, situada na galeria lateral direita, é decorada com painéis de azulejo do século XVII e tem no seu interior um fontanário. No exterior, a Sé é antecedida por um grande adro, com escadaria ondulada, mandado construir por D. Pedro de Castilho. A sua torre sineira tem a particularidade de se encontrar a algumas dezenas de metros do corpo principal da igreja, numa das antigas portas do castelo.

Conselho de Coordenação PastoralInstituído na sequência da reestruturação da Cúria Diocesana, o Conselho de

Coordenação Pastoral, composto pelos directores dos diferentes departamentos pas-torais, foi convocado D. António Marto para a sua primeira reunião, no passado dia 30 de Julho. Da agenda desatacou a definição dos objectivos e principais acções a desenvolver ao longo do ano, a preparação da assembleia diocesana e a celebração da festa de Santo Agostinho, padroeiro da Diocese.

D. António Marto deu a conhecer as linhas gerais da Carta pastoral “Testemunhas da ternura de Deus”, sobre o acolhimento e a vocação, que tem em preparação e con-ta divulgar no próximo mês de Setembro. Para dar o tom da caminhada da diocese durante o ano pastoral, foi escolhida a frase bíblica “saboreai e vede como o Senhor é bom” (Sl 39,4) e a Bíblia, na qual se encontram os principais testemunhos da ternu-ra de Deus, foi adoptada como símbolo de referência, de algum modo concentrando já as atenções sobre o próximo Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus.

Quanto à Assembleia Diocesana de 7 de Outubro, o Conselho deu indicações para o respectivo programa, que incluirá uma retrospectiva dos dois anos do Projecto Pastoral já cumpridos, a apresentação da nova Carta pastoral, a indicação e especifi-cação dos principais objectivos e acções previstas para o novo ano e a celebração da Eucaristia. Na parte da manhã, terá lugar o habitual encontro diocesano de catequis-tas, orientado pelo Departamento da Educação Cristã.

Sobre a festa do padroeiro, S. Agostinho, no dia 28 de Agosto, nada de especial foi sugerido, para além da celebração da eucaristia a que D. António Marto faz ten-ção de presidir, na igreja da cidade dedicada ao Santo Padroeiro.

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Diocese celebra Santo AgostinhoNo dia 28 de Agosto, a Diocese celebrou Santo Agostinho, seu co-padroeiro

juntamente com Nossa Senhora de Fátima. Na Igreja da cidade, dedicada ao Santo Bispo, D. António Marto celebrou a Eucaristia, que foi concelebrada por alguns sacerdotes e participada por fiéis, religiosos e leigos, entre os quais muitos colabora-dores e responsáveis de movimentos e acção apostólica, nomeadamente nos serviços e concelhos diocesanos.

Santo Agostinho foi declarado padroeiro em 1918, aquando da restauração da Diocese, certamente recordando que, desde o século XII até ao ano de 1545, ela foi uma vigararia do Mosteiro de Cónegos Regrantes de Santa Cruz de Coimbra, da Ordem de Santo Agostinho, e à semelhança das dioceses de Coimbra e de Viseu, igualmente ligadas a Santa Cruz e colocadas sob a protecção do mesmo patrono. A pedido de D. João Pereira Venâncio, então Bispo de Leiria, o Papa João XXIII con-cedeu à Diocese dois padroeiros principais em 13 de Dezembro de 1962: mantendo Santo Agostinho, acrescentou Nossa Senhora de Fátima.

10º aniversário do órgão da SéNo passado dia 1 de Setembro, o Grande Órgão da Catedral de Leiria recebeu

em concerto um dos maiores organistas e pedagogos musicais alemães, o Professor Doutor Bernard Scherers. Assim se deu início ao programa do 10º aniversário do Grande Órgão da Sé, construído pelo organeiro alemão Georges Heintz e inaugu-rado pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, em 4 de Outubro de 1997. Do programa constaram obras diversas e características do repertório alemão e francês, numa organização da Sociedade Artística Musical dos Pousos (SAMP), com o apoio da paróquia da Sé e do Cabido da Catedral.

D. António Marto visitou Santuário de TraniConvidado pelo Bispo local, D. António Marto deslocou-se ao sul de Itália, nos

dias 15 e 16 de Setembro, para presidir ao 50° aniversário do Santuário de Nossa Se-nhora de Fátima, em Trani. Nas celebrações e nas entrevistas dadas a diversas televi-sões, D. António pôde salientar a actualidade da mensagem de Fátima e explicar as razões do interesse que ela suscita e de que se reveste em todo o mundo. Aprofundou sobretudo os desafios da mensagem de Fátima à cultura contemporânea.

A igreja do Santuário de Trani, a primeira, na Itália, dedicada a Nossa Senhora de Fátima, tem contado com presenças de Leiria-Fátima em momentos significativos da sua história: o reitor do Santuário de Fátima, Monsenhor António Borges, esteve na sua inauguração, em 1957, e a imagem aí venerada foi entregue, em 1961, por

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D. João Pereira Venâncio, Bispo de Leiria, que também consagrou os três altares do mesmo santuário. O culto a Nossa Senhora de Fátima organiza-se em Trani desde 1942, com uma ligação cada vez mais visível a Fátima, que extravasa do santuário a toda a região e se manifesta em muitas expressões populares. Não é pois de estranhar que, no encontro com o presidente do município da cidade, tenha emergido o desejo de uma futura geminação entre Trani e Fátima.

Aproveitando esta viagem, D. António Marto reuniu-se, no dia 14, com o Se-cretário de Estado do Vaticano, Cardeal Tarcisio Bertone, para prepararem a sua deslocação a Fátima, onde viria presidir às celebrações de encerramento do 90° Aniversário das Aparições, de 12 a 14 de Outubro, como Legado Pontifício. No encontro ocorrido no Palácio Apostólico do Vaticano, o Cardeal Bertone falou dos colóquios que teve com a Irmã Lúcia e do livro que iria publicar em Portugal nessa ocasião. Os dois prelados reflectiram ainda sobre a irradiação de Fátima no mundo, atraindo multidões de todos os quadrantes geográficos e culturais.

Ainda durante esta visita, o Bispo de Leiria-Fátima encontrou-se, no dia 15, com um grupo de artistas que anualmente expõem nesta cidade do sul de Itália. O encon-tro decorreu no contexto de uma mostra sobre a figura de Maria, óptimo ensejo para apreciar as obras e dialogar com os seus autores. D. António Marto aproveitou para sublinhar a importância da expressão estética na dimensão religiosa, valorizou o facto de uma boa parte das produções cruzarem recursos modernas e clássicos para transmitirem de forma apelativa conteúdos significativos da beleza cristã. O interes-se do Bispo de Leiria-Fátima pela arte insere-se na reflexão que já há algum tempo vem desenvolvendo sobre uma “teologia da estética”, que acentua a relação entre as expressões de beleza e a experiência do sagrado.

Encontro diocesano de catequistasDurante a manhã do domingo, 7 de Outubro, o Encontro Diocesano de Cate-

quistas juntou cerca de 350 participantes, no colégio da Cruz da Areia, sob o tema “Catequese e Vocação – O papel do catequista na dinâmica do discernimento voca-cional”.

Procurava-se responder à pergunta: como poderá o catequista ajudar os catequi-zandos no seu caminho de descoberta vocacional? – partiu-se do princípio que “a vo-cação se descobre e vive num quadro de relações fundamentais”: relação com Deus, que chama; relação do próprio consigo mesmo, que se descobre nos dons de Deus e aí percebe o que é convidado a ser; relação com os outros, em Igreja e no mun-do, onde se compreendem os desafios feitos. Como explicou o director do Serviço Diocesano de Catequese, padre José Henrique, “em toda esta dinâmica, o catequista pode e deve ser um mediador, que ajuda o catequizando a conhecer-se, a conhecer a Deus e a abrir-se ao diálogo com quem já fez o seu caminho vocacional”.

A participação nos 21 ateliers, ou oficinas, foi muito animada, ao nível da oração,

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do auto-conhecimento e do acompanhamento e diálogo. Ficou o desejo de repetir este modelo do Encontro, com pequenos espaços de trabalho e partilha, que facilitam a aproximação e o envolvimento.

Além da forma como decorreu o encontro, registou-se a elevada participação de cerca de um décimo dos catequistas da diocese.

Grande oração pelas vocaçõesDando continuidade à “grande oração pelas vocações” e acolhendo o propósito

do Bispo diocesano de instituir a “quinta-feira vocacional”, o Seminário e o Pré-Se-minário passaram a organizar um tempo mensal de vigília e adoração ao Santíssimo Sacramento. D. António Marto fez questão de presidir ao seu início, no passado 18 de Outubro, na igreja do Seminário.

O objectivo é ajudar a criar uma relação de intimidade pessoal e comunitária com Deus, que chama porque ama, e a saborear em profundidade a sua presença na vida de cada qual e na vida daqueles com quem se convive e partilha o dia-a-dia. Espera-se que, a partir da oração, nasça um empenho renovado na pastoral das vocações ao presbiterado, bem como uma maior proximidade entre as comunidades cristãs e o Seminário, “coração da diocese”.

Assembleia do clero e o estado da DioceseNo passado dia 23 Outubro, cerca de 70 sacerdotes concentraram a sua atenção

na análise da situação actual da Igreja diocesana. Depois de um espaço de oração, D. António Marto, lembrando o espírito do Con-

cilio Vaticano II, sublinhou a comunhão como fundamento de toda a vida eclesial, salientou alguns aspectos dessa mesma comunhão à luz do Novo Testamento e da vida da Igreja Primitiva, e incentivou a uma verdadeira espiritualidade de comu-nhão, nos vários sectores da vida e do ministério.

Num segundo momento, foram dadas informações detalhadas sobre a situação económico-financeira da diocese, do Fundo Diocesano Económico e do Fundo Dio-cesano do Clero.

Por último, teve lugar a assembleia da Casa do Clero, para realização das elei-ções estatutárias dos novos corpos gerentes. Além do presidente, padre Clemente Dotti, de nomeação episcopal, a direcção ficou completa com os seguintes membros eleitos: Vítor José Mira de Jesus, António Lopes de Sousa, Armindo Castelão Fer-reira e António Ramos. Para o Conselho Fiscal, foram escolhidos os padres Adelino Filipe Guarda, Virgílio do Rocio Francisco e Bertolino Vieira.

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Professores de EMRC preocupados com secularizaçãoEm encontro que teve lugar no pretérito 10 de Novembro, no Seminário de Lei-

ria, os professores de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC) dedicaram uma manhã ao tema “Pensar Deus na Europa”.

Em representação do Bispo diocesano, o Vigário-geral, Padre Jorge Guarda, abriu os trabalhos e lembrou a urgência de uma nova pedagogia para falar de Deus. Sempre, e sobretudo em tempo de recusa dos ensinamentos e dos mestres, Deus tem que ser proclamado de forma humilde e testemunhal, no interior de um relaciona-mento interpessoal e cordial.

O tema do encontro foi desenvolvido pelo director do Serviço de Ensino da Igre-ja nas Escolas (SEIE), padre Gonçalo Diniz. Iniciando a sua intervenção com a cons-tatação de uma mentalidade emergente das actuais orientações políticas europeias, que ofusca o verdadeiro humanismo negando ou relegando para segundo plano as questões humanas, os princípios e os valores, descreveu o ambiente sócio-cultural que recusa o discurso religioso e faz crer que a modernidade conduz necessariamen-te ao declínio e à queda da religião. Chamando a atenção para indicadores de sentido contrário, salientou a procura crescente, embora não institucionalizada, do transcen-dente e da espiritualidade, prenúncio de uma modernidade religiosamente plural.

Especificando alguns aspectos da situação em Portugal, onde a Igreja é colocada sob suspeita, o Director do SEIE apelou ao sentido crítico dos docentes de EMRC para compreenderem as tentativas permanentes de desautorização do discurso da Igreja e de esvaziamento da proposta religiosa, mais no campo moral do que doutri-nal. Além de um discurso sério e à altura dos desafios, sublinhou, a resposta exige uma fé madura e pessoalmente assimilada, que garanta opções fortes e grande capa-cidade de diálogo.

Depois da parte mais expositiva, o encontro foi completado por uma partilha de ideias, experiências e preocupações, que deu a todos o desejo, transformado pela equipa do SEIE em proposta, da promoção cíclica de momentos como este.

Vigílias vocacionais vicariaisNa sua carta pastoral “Testemunhas da Ternura de Deus”, D. António Marto pede

uma Vigília Vocacional por vigararia, para “imprimir um novo ardor à pastoral vo-cacional, levando-a ao coração de cada comunidade cristã para que a sinta e assuma como elemento constitutivo da experiência de fé viva e como uma responsabilidade que a todos diz respeito”. Com especial insistência na participação dos adolescentes e jovens D. António acrescenta: “O próprio símbolo do ano vocacional, a lamparina a arder e a passar de comunidade em comunidade, é muito significativo também para este ano: uma chama (ternura de Deus) que ama e chama! Importa manter esta chama acesa no coração e na pastoral”,.

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Aas vigílias pretendem-se experiência da proximidade e da ternura de Deus, conforme o convite do salmista: “Saboreai e vede como o Senhor é bom” (Sl 34,9). Escuta e meditação da Palavra, cânticos, silêncios, interiorização, gestos e símbolos serão os ingredientes deste tempo de oração, que poderá tocar e sensibilizar para o chamamento de Deus para uma determinada vocação ou, pelo menos, para um com-promisso pessoal mais decisivo com Ele.

Vigararia de OurémA primeira destas vigílias realizou-se, a 16 de Novembro, na igreja de Rio de

Couros, para a vigararia de Ourém, presidida por D. António Marto. O templo encheu-se por completo, com cerca de 800 pessoas, muitas delas adolescentes e jovens.

Houve tempo para ouvir e meditar a Palavra do Evangelho, proclamar Maria como ícone da ternura de Deus e para uma resposta de compromisso para com Deus, cada um, a Igreja e a humanidade. Um só desafio: corresponder ao amor de Deus, procurando a Sua Vontade e seguindo a vocação a que cada um é chamado.

No final, em jeito de passagem de testemunho, foram entregues os símbolos à vigararia de Leiria: o ícone de Nossa Senhora da Ternura, a Bíblia e a lamparina da “grande oração vocacional”.

Vigararia de LeiriaA 30 de Novembro foi a vez da vigararia de Leiria. A Sé revelou-se pequena para

mais de 700 participantes, adolescentes, jovens e adultos. Agradecendo tamanha pre-sença, D. António deixou falar o coração, exclamando: “Como é bela a minha Igreja de Leiria-Fátima, como é bela a Igreja que Jesus Cristo me confiou como Bispo”.

Depois de uma breve encenação introdutória, com apresentação multimédia e um bailado, a Palavra de Deus deu entrada solene na celebração e foi lida na narração evangélica do encontro de Jesus com o jovem rico (Mc 10,17-27). Na homilia, o Pastor dirigiu-se a todos definindo este jovem como “alguém que traz consigo as marcas da juventude moderna” que possui tudo, extremamente rica de bens, mas vive insatisfeita: “A solidão, a falta de amizades verdadeiras, o medo marcam os jovens de hoje. Que fazer então? Jesus convida cada um a descobrir-se a si mesmo através dos mandamentos. Depois dessa descoberta, Jesus convida ainda a dar um salto qualitativo na vida, Ele oferece a sua amizade, Ele oferece o seu amor, Ele valoriza cada um de nós”. E, terminando, apontou para a insistência do convite de Jesus “a partilhar a ternura, a juventude, a vida e o amor experimentados”.

De forma amistosa e próxima, o Bispo garantiu aos jovens que cada um deles tem um lugar especial no coração de Deus e que dessa predilecção divina nasce a vo-cação a partilhar com os outros, no matrimónio, no ministério sacerdotal ordenado, na vida religiosa, ou em outras formas de dedicação e entrega. “Todas as vocações estão ao serviço da ternura de Deus, vivida na experiência pessoal com Deus. O

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jovem do Evangelho saiu triste porque não foi capaz de responder positivamente ao convite à partilha (tinha muitos bens). Mas muitos saem felizes deste encontro com Deus, como S. Francisco de Assis”.

A concluir, cada jovem recebeu uma vela iluminada, símbolo da ternura de Deus, manifestada na sua Palavra e na experiência vivida e partilhada nesta vigília, logo desde a sua preparação.

Vigararia das ColmeiasNo dia 14 de Dezembro, coube à vigararia das Colmeias. A igreja de Albergaria

dos Doze ficou repleta com os que ouviram o apelo: “Saboreai e vede com o Senhor é bom”. A todos D. António Marto deixou uma mensagem de entusiasmo, alegria e ternura.

O esquema da vigília, voltado em especial para os jovens e adolescentes do 7º ao 10º anos de catequese, processou-se em três partes distintas: “Deus acolhe-nos”, “Acolher Deus e os seus dons”, e “Acolhei-vos uns aos outros”. O exemplo de Ma-ria, Mãe da ternura, acabou por transformar-se em forte desafio de acolhimento e fidelidade à vocação pessoal e comunitária dos cristãos.

Restantes vigarariasAs vigílias prosseguirão: Milagres, a 18 de Janeiro; Batalha, a 29 de Fevereiro;

Porto de Mós, a 11 de Abril; Marinha Grande, a 18 de Abril; Monte Real, a 16 de Maio; e Fátima, a 6 de Junho.

Formação sobre arquivos eclesiásticosPorque a inventariação, preservação e disponibilização pública dos arquivos

fazem parte das preocupações pastorais da Igreja de Leiria-Fátima, o Departamento do Património Cultural (DPC) promoveu uma acção de formação sobre o assunto, no passado dia 17 de Novembro, no Seminário de Leiria.

Os participantes, cerca de cinquenta, provenientes de todo o País, puderam ouvir um painel de especialistas na matéria.

Intervir urgentemente para salvaguardar o que ainda subsiste, foi o leitmotiv, cor-respondendo à preocupação inicial dos organizadores, convictos do valor histórico-artístico do património e da sua importância no contexto da nova evangelização.

A primeira intervenção coube ao padre Luciano Cristino, director do Serviços de Estudos e Difusão (SESDI) do Santuário de Fátima, que abordou o tema “arquivos religiosos ao longo do tempo”, numa breve resenha histórica da Diocese, com refe-rência para algumas preciosidades documentais que são simultaneamente pastorais. Registando o bom trabalho de inventariação do património móvel artístico, desejou e pediu algo de semelhante para os arquivos documentais, na área gráfica, tão vulne-ráveis ao tempo e outros factores externos.

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Acácio de Sousa, director do Arquivo Distrital de Leiria, centrou a sua interven-ção na “valorização da memória histórica através do património documental” e re-feriu, sobretudo, a importância dos documentos no tempo, “porque o que é hoje um objecto banal poderá ser um valioso testemunho cultural e caracterizador da época, passados trinta, quarenta ou cinquenta anos”. Por último, aludiu à relação da Igreja com o Estado, com avanços e recuos, também nesta área.

Pedro Penteado, director dos serviços de Arquivística e Apoio Técnico da Di-recção Geral de Arquivos, centrou o seu discurso nas “políticas e boas práticas arquivísticas no âmbito diocesano”, com alguns bons exemplos de boas políticas de gestão, especialmente em Itália, onde o Estado e a Igreja caminham juntos. “Os bens culturais da Igreja necessitam de ser identificados, catalogados, acondicionados correctamente, restaurados de forma profissional e com recursos humanos compe-tentes”, afirmou, em jeito de desafio à Diocese de Leiria-Fátima.

No final, Sónia Domingos, conservadora/restauradora do Instituto dos Arquivos Nacionais Torre do Tombo, falou do “acondicionamento e restauro de documentos gráficos”, e indicou algumas práticas correctas.

D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, presente em parte desta jornada, teve ocasião de manifestar “a preocupação e disponibilidade diocesanas para preservar todo o seu património documental”, e destacou a importância da memória docu-mental como “contributo para fazer crescer o sentido de pertença eclesial de cada geração”.

Novos vigários forâneosNo passado dia 21 de Novembro, no Seminário de Leiria, D. António Marto deu

posse aos novos vigários forâneos (ou da vara) recentemente nomeados e recebeu o seu compromisso de colaboradores próximos do Bispo diocesano, na dinamização e coordenação pastoral das respectivas vigararias e suas paróquias.

Nas palavras que lhes dirigiu, D. António Marto considerou as paróquias impor-tantes para o serviço espiritual que a Igreja presta aos homens, mas insuficientes, nos dias de hoje, pelo que as vigararias adquirem especial relevo, com serviços que é difícil proporcionar no âmbito restrito da paróquia.

Convidou então a um olhar e estilo novos na acção pastoral, com prioridade para a comunhão com Cristo e com os outros, de onde brota o sentido da co-responsa-bilidade e da colaboração em espírito eclesial, e lembrou que além de “colaborador próximo do bispo” o vigário é “solícito irmão maior” dos sacerdotes, com a missão de animador e coordenador de todos os cristãos empenhados na vigararia, com as iniciativas e serviços diversos e comuns.

A palavra vigário significa aquele que actua em nome ou na vez de outrem. No caso aqui mencionado, é o sacerdote a quem o bispo confia algumas responsabilida-des no âmbito da vigararia. Para tal cargo, normalmente, o Bispo aceita um dos pá-

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rocos sugeridos pelos colegas, a quem dá nomeação por três anos. Presentemente, na diocese de Leiria-Fátima há nove vigararias regionais: Batalha, Colmeias, Fátima, Leiria, Marinha Grande, Milagres, Monte Real, Porto de Mós e Ourém.

Jornada Diocesana da Pastoral FamiliarA Jornada Diocesana da Pastoral Familiar, no passado dia 1 de Dezembro, no

Seminário de Leiria, foi dedicada à família como vocação de Deus, e inspirada no tema nacional desenvolvido na Semana da Vida e nas Jornadas Nacionais promovi-das pelo Departamento Nacional da Pastoral Familiar, sob os auspícios da Comissão Episcopal do Laicado e Família.

O tema “Também na cultura globalizada, a felicidade da Família Humana é pre-ocupação de Deus” foi a bordado pela professora Teresa Ribeiro. Numa pedagogia acessível, a conferencista permitiu aos presentes uma abordagem simultaneamente psicológica e cristã da família e da união conjugal, em especial.

A Jornada foi aproveitada para incentivar a formação de equipas paroquiais de pastoral familiar e apoiar as que, neste momento, já funcionam. Ao mesmo tempo, o Serviço de Pastoral Familiar da Diocese apresentou o seu plano para a constituição do futuro Conselho Diocesano da Família, onde terão lugar os casais representantes das vigararias da Diocese e dos movimentos eclesiais da família, um projecto que se espera avance logo a partir do Dia Diocesano da Família, marcado para 18 de Maio de 2008.

Renato Rosa, instituído LeitorNo dia 8 de Dezembro, o seminarista Renato David Silva Rosa, finalista da dio-

cese de Leiria-Fátima, de 24 anos, natural de Loureira, paróquia de Santa Catarina da Serra, foi instituído no Ministério dos Leitores. A celebração realizou-se na igreja do Seminário. É um primeiro passo do candidato em direcção ao sacerdócio. Actu-almente no Seminário de Coimbra, onde se encontram os seminaristas teólogos de Leiria-Fátima, alunos do Instituto Superior de Estudos Teológicos, o Renato vem exercendo actividade pastoral de fim-de-semana na paróquia das Cortes.

Bispo visita equipas sacerdotais“Trabalhai menos, trabalhai melhor, trabalhai mais unidos. Rezai mais e mais

unidos”. Esta é a mensagem que D. António Marto, bispo de Leiria-Fátima, levou aos párocos e vigários paroquiais, nas visitas que efectuou às reuniões vicariais do clero, no final de 2007. Para propor a Boa Nova de Jesus Cristo aos homens de hoje, é preciso uma acção pastoral renovada que implica muita colaboração dos padres

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entre si e com os leigos, num horizonte que, sem excluir a paróquia, valoriza as potencialidades da vigararia.

Com esta visita, D. António quis conviver mais de perto com os padres, escutá-los, deixar-lhes uma palavra de ânimo para a sua missão, e convidá-los “um novo olhar pastoral”, que começa na relação pessoal e estreita com Cristo, cultivada na contemplação do seu rosto e na meditação do Evangelho, e se prolonga na comu-nhão, co-responsabilidade e colaboração com os outros, padres, religiosos e leigos.

Em mensagem dirigida aos párocos, D. António Marto considerava que, nas novas situações, é necessário repensar o lugar da paróquia, na sua relação com a Diocese e com a comunidade humana em que se insere. “O caminho da missão da Igreja requer que se pratique uma pastoral integrada e integral. Integrada, no sentido de que sabe aproveitar todas as energias de que dispõem as comunidades cristãs e as põe em rede, numa colaboração dentro de cada paróquia e entre as que formam a vigararia. E integral, porque cuida de abranger todas as dimensões da vida cristã, valoriza os diferentes ministérios que dão corpo à participação plural na Igreja e cultiva também o diálogo com as pessoas que, estando de fora, aceitam fazer algum caminho juntamente com grupos ou comunidades da Igreja”.

Para reforçar a importância do trabalho e da caminhada em equipa, preciosa ajuda em muitas circunstâncias da missão e do caminho, D. António citou o seguin-te provérbio africano: “Se queres chegar depressa, corre sozinho; se queres chegar longe, corre com os outros”.

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Indefinições na Concordata atrasam contas de FátimaAs contas do Santuário de Fátima não foram reveladas em Junho, contrariamente

ao que é habitual, devido à indefinição a nível fiscal gerada pelo atraso na regula-mentação da Concordata, revelou o reitor do Santuário, Monsenhor Luciano Guerra. “Estamos numa certa indefinição a nível fiscal”, afirmou, lamentando que o Estado ainda não tenha regulamentado os diplomas legais que gerem a relação da Igreja com os impostos. “O Santuário tem de dividir muito bem a zona comercial e a reli-giosa, e não se sabe ainda muito bem que impostos se vão pagar”, explicou o reitor como causa do adiamento da publicação das contas.

“Estamos a ser prejudicados porque nalguns casos há indefinições e algumas possíveis contradições no tratamento da Igreja pela máquina fiscal, que já cobrou descontos nos rendimentos de capitais, apesar de não existir regulamentação desta matéria. Penso que os depósitos feitos pela Igreja devem render para a Igreja mas acho muito bem que os rendimentos de actividades comerciais paguem impostos”, afirmou Monsenhor Luciano Guerra.

Migrantes enchem Santuário de FátimaUm apelo em favor de quem parte da sua terra à procura de melhores condições

de vida marcou, no passado dia 13 de Agosto, a 35ª Peregrinação do Migrante e Refugiado a Fátima, a terceira maior peregrinação do ano. Milhares de emigrantes em férias no nosso país e de imigrantes que vivem entre nós marcaram presença no recinto. Foram confirmados mais de 40 grupos de 16 países.

O Cardeal O’Malley evocou o contacto pessoal com muitos imigrantes nos EUA, durante 20 anos, e mostrou-se tocado pelo seu testemunho de fé, colocando “Deus em primeiro lugar”. Nesse sentido, disse que “quando descobrimos Deus, descobri-mos quem somos” e o que “devemos fazer da nossa vida”.

O Cardeal falou dos muitos “sacrifícios” que os migrantes fazem pelas suas famí-lias, bem como as “humilhações, privações” por que passam numa terra estrangeira com “língua estranha, culturas diferentes e, não poucas vezes, um ambiente hostil”.

As cerimónias foram subordinadas ao tema “Família: Santuário de vida, amor e identidade”, reflectido ao longo da Semana Nacional das Migrações, promovida pela Igreja Católica de 12 a 19 de Agosto. Ao longo destes dias, os peregrinos são con-vidados a rezar em particular pela comunidade emigrante no continente americano, que perfaz cerca de dois milhões de pessoas, segundo a estatística da Igreja.

Seguindo uma tradição já com quase 70 anos, a Peregrinação de Agosto contou com a oferta do trigo, que se destina ao fabrico das hóstias utilizadas no Santuário de

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Fátima. Grupos de Portugal e um grupo de Bari (Itália) ofereceram ainda produtos típicos da terra.

Na ocasião, os peregrinos foram informados de que em 2006 foram oferecidos 6031 quilos de trigo, utilizados em mais de um milhão e meio de hóstias e partícu-las consagradas nas 6786 Missas que foram celebradas no Santuário durante o ano passado.

Comemorações dos 90 anos das Aparições terminamCom o congresso internacional “Fátima para o Século XXI”, que teve lugar de 9

a 12 de Outubro, no Centro Pastoral Paulo VI, a inauguração da Igreja da Santíssima Trindade, na tarde de 12 de Outubro, e a Peregrinação Internacional Aniversária de Outubro, encerraram-se as celebrações do nonagésimo aniversário das Aparições de Fátima. Mais de 350 mil pessoas terão passado, nestes três dias, pelo Santuário.

O cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, presidiu a estas celebrações como Legado Pontifício, isto é, como representante pessoal do Papa. Ali destacou a actualidade de Fátima, “lugar escolhido por Nossa Senhora para oferecer, através dos três Pastorinhos, uma mensagem maternal à Igreja e ao mundo inteiro” e manifestou a sua alegria pela “profunda veneração pelo Sucessor de Pedro que se respira em Portugal”. Lembrando que “completados noventa anos das aparições, Fá-tima continua a ser um farol de consoladora esperança, mas também um forte apelo à conversão”, salientou o facto de “serem as crianças os escolhidos como colaborado-res privilegiados para combater, com as armas da oração e da penitência, o sacrifício e o sofrimento, a terrível lepra do pecado que corrompe a humanidade”.

Papa uniu-se a FátimaO próprio Santo Padre quis unir-se pessoalmente a estes dias de encerramento

das celebrações dos 90 anos das aparições na Cova da Iria, um “significativo aniver-sário” de que recordou a mensagem de penitência e conversão, perante milhares de peregrinos reunidos na praça de São Pedro para a recitação do Angelus, e em ligação directa a à igreja da Santíssima Trindade, que se encontrava completamente lotada e com milhares de pessoas a acompanharam a cerimónia no exterior.

Falando em português, Bento XVI lembrou a aparição de 13 de Outubro de 1917 e deixou um pedido especial: “Nunca esqueçais o Papa”. Depois, exortou os peregri-nos a “renovarem pessoalmente a sua própria consagração ao Imaculado Coração de Maria” e a viverem “este acto de culto com uma vida cada vez mais conforme à von-tade divina e em espírito de serviço filial e devota imitação da sua celeste Rainha”. Falando concretamente de Fátima, lembrou que “desde há noventa anos, continuam a ecoar os apelos da Virgem Mãe, que chama os seus filhos a viverem a própria con-sagração baptismal em todos os momentos da existência”, e pediu uma entrega dos crentes a Maria, com o sinal palpável da “reza diária do terço”.

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Momentos religiosos culturaisVárias jornadas, congressos, cursos, retiros, peregrinações, vigílias, celebrações,

espectáculos de teatro e música, concursos, festivais, publicações, etc., marcaram o último ano. A Oratória “Fátima, sinal de Esperança para a Humanidade” foi o últi-mo destes eventos, composta propositadamente para o encerramento. A obra passa em revista os acontecimentos religiosos, políticos e sociais do século passado, com ligação a Fátimausando expressões como “ideologias do mal” (citando João Paulo II), Goulag, Holocausto, o “Bispo vestido de branco” e a promessa de esperança com que a obra olha para o futuro. Foi executada por 366 elementos, incluindo oito solistas (5 crianças e 3 adultos), um coro composto por 11 grupos (6 de Leiria, 4 de Beja e o Coro Infantil do Santuário de Fátima) e a orquestra Filarmonia das Beiras, dirigidos pelo maestro Mário Nascimento. O texto foi organizado por A. Aparício e J. Paulo Quelhas, tendo como base as “Memórias da irmã Lúcia”. A música é da autoria do compositor Padre António Cartageno.

Cardeal Bertone publica conversa com Irmã LúciaNo dia 13, presidiu à cerimónia da bênção da Sala de Imprensa da Igreja da San-

tíssima Trindade e à primeira conferência de imprensa naquele espaço, com o pre-feito da Congregação para a Causa dos Santos, o Cardeal Saraiva Martins, o Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e o Reitor do Santuário de Fátima, Monsenhor Luciano Guerra. Na ocasião, o Cardeal Bertone apresentou a edição em Português da sua obra “L´Ultima Veggente di Fatima: I miei colloqui con Suor Lúcia” (“A Última Vidente de Fátima - As Minhas Conversas com a Irmã Lúcia”), um trabalho editado em Italiano, em Maio deste ano, com a colaboração do jornalista e escritor italiano Giuseppe De Carli.

Trata-se de uma conversa histórica entre a Irmã Lúcia, a última dos três pasto-rinhos de Fátima, e este Cardeal, a pedido do Papa Wojtyla, onde ficou recolhido o testemunho final da vidente. Pela viva voz da protagonista, o diálogo regista o acon-tecimento sobrenatural que marcou o século XX: aparições, profecias sobre a guerra e sobre o destino da Rússia, o longo enigma do Terceiro Segredo revelado por João Paulo II no ano 2000 e teorias acerca do Quarto Segredo, que esboçam cenários apo-calípticos e insinuam silêncios comprometidos. Para além de qualquer polémica e sensacionalismo, estas páginas dão vida à experiência do divino encetada pelos três pastorinhos. A “gramática celeste” do anúncio mariano, a figura e a personalidade de uma carmelita “persistente, obstinada, exuberante”, uma inquietação para os Papas do século XX, mas transbordante de fervor espiritual. A reconstrução dos aconteci-mentos tem o suporte de um rigoroso reconhecimento dos documentos e refere as páginas assinadas pela Irmã Lúcia e a interpretação teológica do actual Papa, então Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Joseph Ratzinger.

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Grande Espaço Coberto para AssembleiasA igreja da Santíssima Trindade é vista e falada por todos como se de um espaço

único e singular se tratasse. A verdade, porém, é que ela faz parte de um complexo mais vasto, designado “Grande Espaço Coberto para Assembleias” (GECA), com-posto por duas zonas principais: zona da Reconciliação (GECA 1) e zona da igreja da Santíssima Trindade (GECA 2).

A primeira é composta de uma área para peregrinos portugueses (lado direito de quem sobe da Capelinha das Aparições), com salão-capela de 600 lugares sentados e 32 gabinetes/confessionários; uma área para peregrinos estrangeiros (lado esquer-do), com 2 capelas de 120 lugares cada e 32 gabinetes/confessionários. Os acessos fazem-se por duas escadas centrais paralelas (com espelhos de água ao fundo) e duas rampas laterais.

Já a segunda zona compreende a implantação da igreja: entre a Cruz Alta e a avenida D. José Alves Correia da Silva. A igreja forma um círculo de 125 metros de diâmetro, sem quaisquer colunas. A altura exterior ultrapassa levemente a actual colunata, permanecendo a torre da Basílica o elemento dominante. A capacidade é de 9000 fiéis sentados, com lugares reservados a pessoas com deficiência. Para assembleias até 3000 pessoas, o espaço da frente pode ser separado do restante por uma divisória de 2 metros de altura. Tanto os acessos como o pavimento interior são em rampa, sem degraus. Um túnel para veículos, sob a Av. D. José Alves Correia da Silva, permitirá uma vasta praça para peões, que poderão passar livremente da igreja para o Centro Pastoral Paulo VI. A porta principal é consagrada a Cristo e as laterais aos Apóstolos, formando um conjunto total de 13 portas. O interior da igreja é ilumi-nado com luz natural pelo tecto e através de janelas viradas para Norte.

Algumas áreas completam esta zona principal: a) Acolhimento e sacristias, si-tuadas dos dois lados da entrada principal; b) Cabines para meios de comunicação social, no interior da igreja, com aberturas nas paredes laterais; c) Camarins, por trás do presbitério; d) Átrio a funcionar como espaço complementar aquando de encon-tros de evangelização ou outros eventos, situado no piso enterrado, junto dos pátios com espelhos de água; e) Instalações técnicas (ventilação, aquecimento) subterrâne-as, sob o corpo da igreja; f) Instalações sanitárias subterrâneas, à altura do fundo da igreja, acessíveis aos peregrinos a partir de fora.

O custo total desta obra cifrou-se nos 60 milhões de euros, suportados exclusi-vamente pelo Santuário. Para além desta quantia avultada, o Santuário custeará tam-bém o túnel que vai ligar ao outro lado da avenida D. José Alves Correia da Silva, com o objectivo principal de proteger os peregrinos do trânsito de superfície.

De referir que a “Primeira Pedra” deste templo, oferecida pelo Santo Padre João Paulo II, foi colocada na parte da frente do altar-mor da igreja, de modo a permane-cer à vista de todos, para “tornar mais patente a gratidão ao Santo Padre”.

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Artistas da nova igrejaÉ autor do projecto da Igreja da Santíssima Trindade o arquitecto Alexandros

Tombazis, da Grécia. Mas vários outros artistas de renome internacional e de vá-rios países são responsáveis pela concretização das principais peças iconográficas da Igreja da Santíssima Trindade. Exemplo disso é o Crucifixo do altar da Igreja da Santíssima Trindade, da autoria da irlandesa Catherine Green. Outro exemplo é “Cruz Alta”, instalada no exterior da igreja da Santíssima Trindade, do artista Robert Schad, da Alemanha. Feita em aço, tem 34 metros de altura ao nível do solo e cerca de 17 metros de largura transversal. Também deste lado norte, denominado Praça João Paulo II, está a estátua de João Paulo II, o falecido sumo pontífice que se fez peregrino de Fátima em 1982, 1991 e no ano 2000, ocasião em que beatificou Fran-cisco e Jacinta Marto. O trabalho é da autoria de Czeslaw Dzwigaj, de nacionalidade polaca, tal como o falecido Papa.

Arquitecto Tombazis publica esboçosA 15 de Outubro, três dias após a consagração da Igreja da Santíssima Trindade,

o autor do projecto arquitectónico, arquitecto Alexandros Tombazis, tomou a deci-são de publicar, como forma de agradecimento a “todos aqueles que tornaram este projecto possível”, um livro de esboços seus com imagens da nova igreja e de outros espaços do Santuário de Fátima. Intitulada “Fátima”, a publicação expõe mais de três dezenas de desenhos, alguns com perspectivas gerais, outros com vistas mais em pormenor, de vários locais do Santuário. Em dez idiomas, Alexandros Tombazis, explica a razão de ser deste trabalho, essencialmente visual: “Partilhar memórias comuns, uma experiência maravilhosa, o espírito de um lugar muito especial”. Na mesma introdução, o arquitecto não esquece “os muitos amigos que fiz e que desejo carinhosamente manter presentes”.

Colóquio “O Cristianismo no Japão”Nos dias 17 e 18 de Novembro, realizou-se um colóquio em Fátima, sobre o tema

“O Cristianismo no Japão – Universalismo Cristão e Cultura Nipónica”. A abertura foi marcada pela inauguração da exposição sobre os 100 anos da Sociedade Verbo Divino no Japão. Ao longo da jornada, exploram-se temas como “Matriz Cultural e Religiosa do Povo Japonês – Xintoísmo”, “Implantação do Budismo e processo de homogeneização cultural”, “Espiritualidade Emergentes: Novos movimentos religiosos no Japão”, “Oriente/ Ocidente – Ecos de uma tradição espiritual única?”, “Entre os desafios e as soluções: o percurso histórico do Cristianismo no Japão”, “Estado e Religião: Xintoísmo Estatal e a formação do mito da identidade nacional”, “O Cristianismo em diálogo com as religiões no Japão”, “A contribuição do cristia-nismo no ensino no Japão, séc. XVI-XXI, Migrantes, Arte”.

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Santuário de Fátima recebe Medalha de OuroO Santuário de Fátima recebeu, na pessoa do director do Serviço de Estudos e

Difusão, padre Luciano Cristino, a primeira Medalha de Ouro da ACISO - Asso-ciação Empresarial Ourém-Fátima. No decorrer da sessão solene, no âmbito do XII Encontro de Empresários em Ourém, realizada no complexo turístico D. Nuno, em Fátima, foi apresentado um documento que resume alguns dos factos históricos mais significativos de Fátima e feita a justificação da concessão desta medalha: o essen-cial da mensagem de Fátima é a procura “de um caminho de paz” e, também em termos económicos, o Santuário tem sido um importante motor de desenvolvimento. De referir que a “Fábrica do Santuário de Nossa Senhora do Rosário de Fátima” é associada da ACISO desde 2 de Janeiro de 1959.

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“Dez Milhões de Estrelas – Um gesto pela Paz”

Campanha de Natal da Cáritas“Dez Milhões de Estrelas – Um gesto pela paz” é o nome da campanha que a

Cáritas Portuguesa tem vindo a promover desde há 5 anos em todas as dioceses, es-tendendo a iniciativa nascida em França há cerca de 30 anos. Tem como objectivo a sensibilização e a educação para a Paz, cuja construção radica na solidariedade e na justiça, valores subjacentes ao Natal de Jesus Cristo, e valores universais partilhados hoje por todos os homens de boa vontade, mas esquecidos e desprezados em tantos lugares da terra.

“Num mundo tão atravessado de contradições, conflitos e graves ameaças à segurança humana e ambiental, torna-se difícil exagerar a importância e a plena actualidade de todos os esforços e iniciativas de exposição pública da causa da paz”, afirma o presidente da Cáritas Dioceana, Ambrósio Santos, lembrando que “estando as questões da solidariedade e do desenvolvimento, da pobreza e da exclusão, tão in-dissoluvelmente associadas à causa da paz, compreender-se-á que a Cáritas, a todos os níveis da sua organização, abrace também com entusiasmo a causa da paz, por ser ela o suporte insubstituível que condiciona todos os projectos e estratégias que visem a promoção de todos os seres humanos às condições de vida conformes à sua mesma dignidade comum”.

Em declarações à agência Ecclesia, D. José Alves, presidente da Comissão Epis-copal para a Pastoral Social, refere que “a construção da paz passa por uma atitude profética, de profeta sem armas”. Isto, porque “num mundo dilacerado pela guerra, é mais do que nunca necessário actuarmos em conjunto para promovermos a paz, a solidariedade e a reconciliação; só unidos e com gestos concretos teremos capacida-de para nos opormos à violência”.

A mobilização para esta iniciativa acontece em todas as dioceses, sendo o seu ponto alto durante a época de Natal. É materializada através de manifestações de vária índole, designadamente de natureza espiritual, cultural, artística e desportiva. Partindo da simbologia da luz, a campanha propõe-se desencadear diversas dinâmi-cas junto dos vários sectores da sociedade, sobretudo os mais novos, para a promo-ção de actividades que evidenciem o diálogo e compreensão para a construção da paz, entre os indivíduos, no seio das famílias e entre todos os povos da terra.

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Uma vela solidáriaA principal e mais abrangente dessas propostas é dirigida às famílias, que são

convidadas a fazer brilhar a chama de uma vela na noite de Natal, nas janelas ou varandas de suas casas. Apenas um símbolo, que dará visibilidade à esperança de um mundo mais justo e solidário, evocada naquela noite. Solidariedade também na aqui-sição daquela vela, já que “a vela é apenas um sinal e será também um instrumento para facilitar a partilha de bens com os mais pobres, porque enquanto persistirem tantas e tão graves desigualdades não haverá paz na terra, mesmo para os homens de boa vontade”, indica a Cáritas. Em 2007, o produto da venda destas velas (1 euro) irá para projectos, nacionais e internacionais, de apoio a mulheres em situação de risco. Das verbas recolhidas, 30% serão aplicadas no apoio a esta acção em Angola, e os restantes 70% para cada Cáritas diocesana, também para os seus projectos na mesma área.

Festa públicaO início da campanha, na nossa Diocese, foi marcado pela conferência, na

Batalha, sobre “A Insegurança Mundial”, com o professor Adriano Moreira, numa sessão presidida pelo Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto e que contou com a presença de cerca de 200 pessoas.

O momento alto da campanha, à semelhança do que se fez em todo o mundo, nesse dia 15 de Dezembro, teve lugar a nível diocesano, na vila da Batalha. D. Antó-nio Marto quis realçar a importância da iniciativa, honrando-a com a sua presença.

Para o sucesso e brilho deste evento contribuiu a co-organização da Câmara Municipal, Paróquia e Rádio Batalha, bem como a colaboração do Agrupamento de Escolas, da Escola Secundária, do Colégio de S. Mamede, do grupo de jovens “Para Sempre”, do Centro Recreativo da Golpilheira, do Centro Recreativo dos Pinheiros, da “Escolinha Intercultural” eslava e de três dos vencedores do concurso “Caça Talentos” da Rádio Batalha. Todas estas participações levaram ao palco da praça Mouzinho de Albuquerque cerca de 200 crianças, jovens e adultos, em duas horas de espectáculo inesquecível, de poesia, canto, dança e coreografias diversas. Mais de 300 pessoas passaram pelo recinto, apesar do frio próprio da época, mas com um sol que foi também uma “estrela” a juntar-se às muitas que brilharam naquela tarde.

Paralelamente, miúdos e graúdos foram decorando o espaço com obras de pintu-ra e outros materiais plásticos, na oficina dirigida pelo artista Malé. No jardim junto ao local ficou para sempre recordado o acontecimento, em bela lápide concebida pela Escola Tradicional de Artes e Ofícios Tradicionais da Batalha.

O símbolo principal foi a luz, em vasos de cera que se foram iluminando em redor do palco. Alguns deles, trazidos com mensagens de paz pelas mãos de representantes de crianças, jovens e idosos de todo o mundo, de uma escuteira do agrupamento 194 da Batalha – que deu também o apoio na logística – e ainda de personalidades como Ambrósio Santos, presidente da Cáritas Diocesana, Júlio Órfão, director do Mostei-

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ro, José Travaços Santos, homem da cultural local, João Carvalho, professor batalhense, António Lucas, presidente da autarquia, e D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. Todos desejaram paz e justiça para o mundo, para os povos, para as famílias, para o coração de cada ser humano... a começar nos pequenos gestos do dia-a-dia, como foi recordando Ana Sofia, brilhante animadora da festa.

No final, os vasos de luz fo-ram levados por todos os presen-tes para a entrada na vila, junto ao IC2, para completar um jogo de iluminação já iniciado, ao redor da grande rotunda, onde se fez so-bressair a palavra “PAZ”. Foi um belo efeito que a todos encantou e fez disparar muitos “flashes”, imagem perfeita da beleza da iniciativa e da nobreza desta causa, que ficou a brilhar ao longo de toda noite.

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Ano lectivo 2007-2008

Centro de Formação e Cultura

Escola Diocesana Razões da EsperançaA Escola Diocesana Razões da Esperança deu início ao ano lectivo de 2007-

2008, no dia 2 de Outubro, com o primeiro encontro de formação, no Seminário de Leiria. Quinzenalmente, à terça-feira, entre as 21h00 e as 23h00, a primeira hora para matérias comuns e a segunda de formação específica para catequistas, cursistas, agentes litúrgicos, etc., é um espaço que nasceu da coordenação de esforços e da colaboração de vários serviços e movimentos diocesanos, para benefício de todos. Deste modo, para além da evidente finalidade formativa e testemunho de unidade, torna-se efectivo o desejo de “colaboração e coordenação” já patente na criação da Escola de Formação Teológica de Leigos e sublinhado no último Sínodo Diocesa-no.

O curso “Razões da Esperança”, com a duração de três anos, é organizado por semestres, num total de seis disciplinas, duas em cada semestre, nas áreas de Sagrada Escritura, Dimensões fundamentais da fé e Vida cristã. As disciplinas da primeira hora tratam das dimensões fundamentais da fé e da vida cristã; as matérias da segunda hora estão a cargo de cada Movimento e Serviço para o que lhes é espe-cífico. Simultaneamente, neste segundo tempo, há a preparação dos textos da liturgia dominical, aberta a todos.

Centro de Formação e Cultura (CFC)O Curso Geral de Teologia, de nível médio, decorre no Seminário e tem a du-

ração de 8 semestres, com duas disciplinas por semestre e uma aula por semana, apresentando de forma compacta as principais áreas da teologia, numa visão global das diferentes disciplinas.

A Formação Complementar é um plano de estudos que, por um lado, comple-menta o Curso Geral com disciplinas mais específicas e, por outro lado, proporciona cursos monográficos ou sectoriais que respondam ao interesse e necessidade de situações especiais.

O Curso “Pensar a Fé” é uma formação catequética avançada, a decorrer em di-versas vigararias da Diocese, com os objectivos de aproximar a escola diocesana das comunidades cristãs, promover a formação dos agentes pastorais locais e oferecer a todos os interessados um espaço de iniciação à reflexão teológica. É uma apresenta-ção acessível e sintética dos principais temas do mistério cristão, com a duração de 8 semestres, ao ritmo de uma disciplina por semestre e uma aula por semana.

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No primeiro semestre do ano lectivo de 2007-2008, o Centro de Formação e Cultura terá: no Curso Geral de Teologia, as disciplinas de “Mariologia” e “Escato-logia”; na Formação Complementar, as disciplinas de “Liderança, Eficiência pessoal e Gestão do Tempo” e “Lectio Divina”; no Curso “Pensar a Fé”, as disciplinas de “Concepção Cristã da Fé” e “Iniciação à Relação de Ajuda”, ministradas na Marinha Grande.

Formação específicaO CFC promove ainda algumas acções de Formação Específica, planeadas

ocasionalmente, para responder a necessidades concretas e pontuais, dirigidas a um público-alvo específico ou para formar grupos com interesses comuns definidos.

Estas acções de formação, de maior ou menor duração, abordam temáticas es-pecíficas e dirigidas a grupos definidos, proporcionando uma formação que sirva de apoio e se oriente à acção concreta dos diferentes grupos. Pode incluir também o estudo de questões pontuais da vida da Igreja diocesana ou da Igreja universal (te-mas pastorais, documentos do Magistério, etc.). Têm o objectivo de preparar pessoas para o exercício de ministérios nas comunidades, promovendo a formação para o desempenho de serviços pastorais ou administrativos na Igreja (conselhos pastorais e económicos, ministros litúrgicos, diversos grupos pastorais, serviços diocesanos, direcções de movimentos, etc.), ou tarefas específicas (como cantores, catequistas, ministros extraordinários da comunhão, leitores, animadores litúrgicos, de jovens, etc.). Podem ainda aprofundar temáticas de interesse dos serviços diocesanos, das orientações actuais da Diocese, ou de necessidade pontual.

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Serviço Diocesano de Pastoral Juvenil

Novos desafiosPe. Gonçalo Diniz

Estamos em época de arranque, em início de ano. Ficam para trás as férias e o verão, voltamos ao dia a dia, mas também encontramos novas realidades e desafios.

É isso que o SDPJ propõe neste início de ano: por um lado reiniciam-se as actividades que já fazem parte da nossa vivência da fé – o shemá, a peregrinação diocesana, os encontros de Taizé, etc.; por outro, o ano lectivo traz novas propostas e iniciativas, a começar pela vontade de unirmos os nossos esforços aos de outros serviços e movimentos, para melhor aproveitamento de tudo o que se vai fazendo. Nesse sentido, vamos apoiar a peregrinação a Taizé, organizada pelo CAES (Centro de Apoio ao Ensino Superior) e organizar o Festival da Canção Jovem (vão afinando as vozes!…) com todos os que queiram colaborar.

A nível de actividades, este ano, temos duas propostas especiais: as vigílias de oração para jovens e adolescentes, em cada vigararia, que serão momentos impor-tantes de encontro com o nosso Bispo, em ambiente de oração; e a tão esperada Jornada Mundial da Juventude, em Julho de 2008, na Austrália. Apesar do preço e da distância, já há grupos mobilizados a juntar fundos, o que é boa notícia! (Em breve haverá mais informações).

O ano promete ser cheio de acontecimentos que esperamos nos ajudem a todos na caminhada cristã. O programa aqui fica, mas não esqueçam de ver www.sdpjleiria.com, para uma informação mais actualizada.

Festival da Canção JovemO SDPJ vai organizar o Festival Jovem 2008, a 25 de Maio de 2008, pelas 15h00,

no jardim de Santo Agostinho, em Leiria. Os objectivos são: Incentivar a criação poético-musical, partindo dos valores religiosos; promover a canção religiosa como valor na evangelização e no quotidiano dos jovens; possibilitar o encontro e o con-vívio são e construtivo entre os jovens da Diocese; Animar o Ano Pastoral Juvenil 2007-08, marcando a caminhada de forma criativa, festiva e entusiasta.

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XXIII Jornada Mundial da JuventudeA XXIII Jornada Mundial da Juventude será em Julho, em Sidney, Austrália.

Na continuação das Jornadas iniciadas por João Paulo II, que tanto impacto tiveram junto dos jovens, Bento XVI convoca os jovens do Mundo inteiro para a Jornada da Austrália. Será uma ocasião única para conviver e partilhar a fé com jovens de culturas tão diferentes, em união com o sucessor de Pedro. A participação da nossa Diocese será integrada no grupo do Departamento Nacional da Pastoral Juvenil, que assume a organização, mas, em data a marcar, teremos alguma actividade diocesana preparatória.

Blog “Fala-me de Fé!”É um blog criado pelo serviço da Pastoral Juvenil de Leiria-Fátima, nascido a

partir das palavras de D. António Marto quando, ainda na diocese de Viseu, pediu aos jovens que falassem da beleza da fé. Na altura, incentivou a que a “linguagem da beleza de fé” fosse a chave para falar ao mundo. “Hoje é preciso falar a linguagem da beleza da fé para nos fazermos compreender pelo mundo, tantas vezes indiferente”, disse, lembrando a importância do diálogo com os jovens “com histórias verdadei-ras, entrando nos seus problemas”.

O site permite pôr questões que depois serão escolhidas pelos moderadores. As respostas são dadas pelos visitantes, que vão deixando os seus comentários. O ende-reço é: www.falamedefe.blogspot.com.

Programa do anoDia 26 de Outubro: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de LeiriaDia 16 de Novembro: Vigília de Oração para jovens e adolescentes na Vigararia

OurémDia 30 de Novembro: Shemá – Vigília de Oração para jovens e adolescentes na

Sé de LeiriaDia 14 de Dezembro: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia

ColmeiasDia 28 de Dezembro: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de

LeiriaDia 28 a 1 de Janeiro: Encontro Europeu de TaizéDia 18 de Janeiro: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia dos

MilagresDia 25 de Janeiro: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de LeiriaDias 9 e 10 de Fevereiro: Retiro quaresmal de jovensDia 22 de Fevereiro: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de Lei-

ria

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Dia 29 de Fevereiro: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia da Batalha

Dia 8 de Março: Peregrinação Diocesana Jovem a FátimaDia 9 de Março: Peregrinação DiocesanaDias 15 a 24 de Março: Peregrinação a Taizé Dia 28 de Março: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de LeiriaDia 11 de Abril: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia de

Porto de MósDia 18 de Abril: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia da

Marinha GrandeDia 25 de Abril: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de LeiriaDia 23 de Maio: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia de

Monte RealDia 25 de Maio: Festival da Canção JovemDia 30 de Maio: Shemá – Encontro de Oração Jovem no Seminário de LeiriaDia 6 de Junho: Vigília de Oração para jovens e adolescentes da Vigararia de

FátimaJulho: Jornada Mundial da Juventude em Sidney, Austrália.

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Obras Missionárias Pontifícias

Missão para todosPor Padre Vítor Mira

Já lá vai o tempo em que os cristãos pensavam que a Missão era só para os padres, irmãos e irmãs de vida religiosa. A consciência de que toda a Igreja é missionária tem-se traduzido num conjunto de sinais e acontecimentos aos quais não podemos passar indiferentes. O movimento missionário laical em Portugal é de longa data, mas nos últimos 15 anos assumiu uma nova dimensão. Há quem lhe chame moda, desejo de aventura, busca de novas experiências… também pode ser um pouco isto. Mas é mais, muito mais do que isto. E a prova é que se vai passando de tempo de missão de curta duração para períodos mais longos. No espírito da maioria dos que partem está o desejo sincero de fazer algo bom pelos outros, de testemunhar o Amor de Deus junto dos mais desfavorecidos.

Neste ano 2007 partiram em missão um total de 263 voluntários, integrados em 32 entidades diferentes. Destes, 198 vão por um ou dois meses e 65 por um ou dois anos. Este ano, os países de destino são: Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Moçambi-que, São Tomé e Príncipe, Timor e Honduras. Também é de referir que a Missão se está a fazer mais no feminino: do total dos missionários leigos, 197 são do sexo feminino, e 66 do masculino.

Diocese Leiria-Fátima em MissãoNa semana que culmina com o Dia Mundial das Missões, gostaríamos de parti-

lhar o percurso feito pela equipa missionária da nossa diocese que está na diocese do Sumbe, Angola.

Recordamos que em Março de 2006 se celebrou a geminação entre as dioceses de Leiria-Fátima e Sumbe, que previa, entre outras coisas, a ida de uma equipa mis-sionária para a comunidade do Gungo.

Em Agosto de 2006 partiu o primeiro grupo, constituído por dois padres e três leigas, que tinha como prioridade construir uma casa nos arredores da cidade do Sumbe para apoio ao trabalho no Gungo, região algo distante e isolada devido ao mau estado das picadas. Para apoio ao projecto partiram dois contentores com mate-riais de construção e outros bens.

Em Setembro, os contentores foram descarregados e em Outubro deu-se início à construção da casa. Porque Angola acaba de sair de uma longa guerra civil, os meios de construção e materiais à disposição não são os mesmos que temos no nosso país. Por isso, e também devido à opção de construir por administração directa a fim de reduzir os custos, a construção da casa prolongou-se até ao passado mês de Agosto.

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Ainda em Agosto de 2006, a equipa missionária foi apresentada à comunidade do Gungo, uma região muito vasta com uma área superior a 2.100 km2, habitada por cerca de 25.000 pessoas dispersas por mais de cem aldeias. É uma zona de mato sem água potável, sem energia eléctrica e sem comunicações. Nesta fase o acompanha-mento da comunidade era feito apenas ao fim-de-semana. O apoio começou a dar-se nas áreas da pastoral, promoção feminina, saúde e educação.

Ainda dentro do primeiro ano, chegou o jipe para apoio à missão e cuja aquisi-ção foi possível graças à “campanha das peças” feita junto das crianças das escolas e catequeses, “campanha dos parafusos” feita através dos mealheiros distribuídos em lugares públicos, ajudas pessoais e ainda ao apoio da MIVA, uma organização austríaca que ajuda as Missões.

O fim do primeiro ano de missão marcou a conclusão da casa da missão, a reno-vação da equipa e o início de uma nova fase com o apoio mais directo e permanente à comunidade do Gungo.

Neste momento a equipa presente em Angola é constituída pelo padre David Ferreira, Sónia Cruz (ambos transitaram do primeiro ano), Lina Teixeira e Sara Moniz que partiram em missão por um ano, em Julho deste ano. Deixaram tudo para irem em missão e encontram-se em regime de voluntariado puro, sem qualquer remuneração económica. Antes da presença destes missionários o Gungo não tinha qualquer apoio a este nível. Também ao nível social é uma comunidade muito pobre: a assistência médica não existe, os medicamentos são de difícil acesso, as escolas são poucas e apenas uma lecciona até ao sexto ano.

Neste momento a equipa missionária desloca-se ao Gungo por períodos de duas ou três semanas e ali permanece vivendo nas mesmas condições das pessoas que lá habitam em casas muito pequenas, feitas de adobes e cobertas de capim. O trabalho vai sendo organizado de acordo com as solicitações. Devido às chuvas grande parte da picada principal ficou intransitável o que obriga a grandes caminhadas a pé para chegar a algumas aldeias principais.

Para conhecer mais do grupo missionário que promove este projecto pode assistir à apresentação pública que terá lugar no a 27 de Outubro, no Seminário de Leiria.

Curso de MissiologiaComo vem acontecendo há alguns anos, teve lugar um curso de missiologia aber-

to a todos os cristãos, em Fátima, no Centro Missionário Allamano (Missionários da Consolata), de 20 a 25 de Agosto. Sendo um curso de dois anos, seguir-se-á o 2º ciclo bienal. Entre os seus objectivos, contam-se os de apresentar as bases bíblico-teológicas da missão ad gentes, repensar a Missão à luz do Vaticano II e dos docu-mentos recentes do Magistério; percorrer as etapas mais importantes da História da evangelização e da reflexão missiológica; apresentar exemplos concretos da prática missionária actual e preparar para os desafios da inculturação e do diálogo do cris-tianismo com as outras religiões.

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Jornadas MissionáriasAs Jornadas Missionárias de 2007 reuniram em Fátima cerca de meio milhar

de participantes, de 14 a 16 de Setembro, a reflectir sobre “O Futuro da Missão ad Gentes – perspectivas para o século XXI”. E porque o futuro não faz esquecer o presente, sobretudo se o clamor pela justiça e pela paz é gritante, os participantes, uniram-se à campanha “Por Darfur” e disseram: “quando o silêncio mata, a tua voz pode salvar”.

Cristo é a fonte inexaurível da missão da Igreja. Daí a necessidade de uma expe-riência de fé para redescobrir, no meio de alguma confusão desnorteadora, o sentido fundamental da Missão como Anúncio de Cristo, como testemunho de vida.

Um mundo em mudança, caracterizado por grande variedade de manifestações religiosas e pelo relativismo, exige nova forma de ser Missão. É necessário encontrar linguagem e modos novos que contemplem a evangelização das emoções e expri-mam de forma significativa a mundividência cristã.

O coração da Missão, do presente e do futuro, é a Igreja local. Como sacramento de salvação a Igreja participa na missão de Cristo. Dessa forma, ela realiza no mun-do a entrega eucarística ao Pai, pelo Espírito Santo, na comunhão dos seus membros que se dão pelos outros. O desafio do futuro da Missão é fazer da Igreja, das dioceses e paróquias, a casa e a escola da comunhão, numa espiritualidade que abra horizon-tes de fraternidade universal.

O empenho concreto de todos na animação missionária e vocacional da Igreja local é imprescindível. Este é mais enriquecedor e eficaz quando os próprios páro-cos e responsáveis diocesanos dão corpo e espírito às várias iniciativas que são um testemunho vivo da comunhão na Missão.

Na comunhão das Igrejas todos são corresponsáveis pela Missão. Somos cha-mados a criar, animados pelo Espírito, novas formas de comunhão, programas de cooperação e de colaboração que conduzam a uma maior participação de todos os carismas e ministérios.

A colaboração entre os leigos e os Institutos de Vida Consagrada é um enrique-cimento mútuo que exige alguma ousadia na criação de novas formas de pertença e co-responsabilidade na missão da Igreja. Tal dinâmica de comunhão será favorecida pela continuação do debate, do diálogo e da formação, em actividades de carácter local, diocesano ou nacional.

Estas Jornadas Missionárias apontaram para a grande celebração e sensibilização missionária que se pretende com o Congresso Missionário Nacional, a realizar de 3 a 7 de Setembro 2008. Todas as dioceses, paróquias, movimentos, institutos estão assim convidados a fazerem da preparação, participação e acolhimento deste Con-gresso uma oportunidade para renovarem o seu empenho missionário como diz o lema: Portugal, vive a Missão, rasga horizontes.

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Semana dos Seminários

No Seminário cresce o futuro!Por Padre Armindo Janeiro

A Semana dos Seminários, de 11 a 18 de Novembro, foi subordinada ao tema “No Seminário cresce o futuro”. É uma afirmação feliz que recolhe o sentido pro-fundo da instituição que a Igreja decidiu criar nos inícios da modernidade para nela preparar aqueles que, em nome do Senhor, haveriam de servir, pelo ministério orde-nado, os seus irmãos na fé.

Como instituição, o Seminário acompanhou a evolução dos tempos, promoveu a formação de muitos, dialogou com as culturas locais e passou pelas mesmas dificul-dades das Igrejas particulares.

Como comunidade, hoje como ontem, o Seminário é constituído por aqueles que o Senhor chama para estarem com Ele e d’Ele aprenderem o estilo de vida do «Bom Pastor»! Jesus convida-os a entrar na sua relação de intimidade com o Pai e fá-los participantes dos seus sentimentos de ternura e misericórdia. Desta experiência feliz brota o dinamismo evangelizador de todo o discípulo do Senhor.

Neste contexto, o Seminário é lugar de acolhimento de quantos foram surpreen-didos pelo chamamento do Senhor da Messe e pensam seriamente em responder-Lhe com um Sim total. Por isso, é também o tempo em que, na generosidade e nobreza de propósitos, cresce e amadurece a semente lançada em seus corações pelo Espírito Santo.

Este amadurecimento dá-se com a passagem da experiência de se sentir e se saber amado pelo Pai ao desejo de andar com o Senhor para anunciar, na força do Espírito Santo, a Boa Nova do Reino de Deus. Deste modo, no coração do discípulo, vai-se delineando um projecto de vida sacerdotal, capaz de servir a missão da Igreja no meio dos homens que Ele quer salvar.

A nós, que de algum modo estamos ligados a estas belíssimas histórias do Amor de Deus (família, comunidades cristãs e presbitério), é-nos dada a alegria de teste-munhar o convite do Senhor, e de trabalhar na criação das condições necessárias para que os chamados possam, livre e radicalmente, responder ao Senhor que os escolheu.

Convidamos todas as comunidades cristãs e seus membros a rezar para que o Se-nhor envie os trabalhadores de que a sua Messe tem necessidade. Peçamos-Lhe que nos faça cada vez mais dignos dos dons e carismas que Ele nos quer enviar.

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História da instituiçãoO actual edifício do Seminário de Leiria começou a ser construído em 10 de Ju-

nho de 1962, dia do lançamento da primeira pedra. O projecto de construção previa a divisão do edifício em 3 secções: 1º e 2º ano do preparatório; 3º,4º,5º e 6º ano e Seminário Maior. Na ocasião estudava-se a possibilidade de edificar o Seminário Menor em Fátima, em edifício totalmente independente. De um momento para o outro aparece o anúncio e o início de uma obra a ser edificada em Leiria, na Quinta da Bela Vista, e com uma estrutura capaz de abranger as duas entidades (Seminário Menor e Maior). D. João Pereira Venâncio foi o grande impulsionador. A obra foi então adjudicada pelo valor de 18.895.375$00, com a obrigação de ser concluída no espaço de 3 anos. O Seminário abriu as portas em 2 de Novembro de 1965 (fez agora 42 anos), com cerca de 187 alunos. Oficialmente a obra foi dada como concluída apenas no dia 22 de Maio de 1968.

Construído para 250 alunos, o edifício ocupava uma área coberta de 19.070 me-tros quadrados, com comprimento máximo de 162 metros e largura máxima de 87 metros.

Volvidos 42 anos, os espaços estão a ser alvo de uma profunda reestruturação. Actualmente, uma equipa liderada pelo actual reitor está a projectar uma adaptação do edifício às exigências actuais. A parte central do projecto prevê a continuação do edifício do seminário, com alojamento para alunos e pessoal auxiliar. Esta parte será ladeada de estruturas adequadas à realização de retiros, encontros de reflexão, e encontros ou reuniões de carácter pastoral. Outra grande novidade é a afectação de uma área à instalação dos departamentos e serviços diocesanos, com as condições de um verdadeiro Centro Pastoral Diocesano.

As obras estão prestes a começar e os financiamentos deverão chegar da parte de todos e cada um dos diocesanos, pelo que oportunamente serão lançadas campanhas de que daremos notícia.

Entretanto, e enquanto as obras não começam, vamos conhecendo e amando a casa que é desde sempre conhecida como o coração da diocese. Cuidar dele é cuidar de todo o tecido diocesano.

Pré-SeminárioNas duas Cartas Pastorais escritas pelo nosso Bispo nos últimos 2 anos, encon-

tramos sempre uma referência explícita ao “Pré-Seminário ou Seminário em Família como itinerário Vocacional específico de acompanhamento, orientação e discerni-mento (...) em ordem ao sacerdócio” (DBAVC 4.4).

O Pré-Seminário é este serviço, integrado na estrutura do Seminário Diocesano, que pretende acolher, acompanhar e encaminhar os adolescentes e jovens da Diocese que sintam ou manifestem sinais de vocação sacerdotal.

Tentando responder a este objectivo, promoveram-se no último ano encontros mensais, no primeiro Sábado de cada mês, em que participaram 77 rapazes de ape-

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nas 23 paróquias da Diocese. Ao longo deste ano, esses encontros irão continuar, no 1º sábado de cada mês, abertos a adolescentes e jovens a partir dos 12 anos, que deverão contactar os seus párocos.

O Pré-Seminário irá ainda propor a alguns jovens com maior maturidade um acompanhamento mais próximo e exigente. Pretende também ajudar a criar na Diocese, concretamente junto dos catequistas e animadores, a consciência de que a Igreja precisa de padres e que o Senhor da Messe continua a chamar trabalhadores. Cabe-nos estar atentos a esses sinais, ajudar e criar condições para que a voz de Deus possa ser ouvida, interpretada e respondida com um “sim” generoso.

O Pré-Seminário tem por base toda a vivência cristã das comunidades. E só terá razão de existir se antes houver um trabalho, em toda a Diocese, de promoção e dig-nificação da beleza da vocação sacerdotal e a coragem de interpelar os jovens que possam sentir esse chamamento de Deus.

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Padre Luís Miranda, membro da equipa do Seminário

A Semana dos SemináriosO padre Luís Miranda é sacerdote da Diocese de

Coimbra e acompanha os seminaristas que frequen-tam o Tempo Propedêutico no Seminário de Leiria. Está também ligado à pastoral vocacional da sua diocese. Fomos ouvi-lo falar sobre a Semana dos Seminários...

Estamos na semana dos Seminários. Na sua opi-nião, é importante celebrá-la?

Claro que sim! Embora seja necessário escla-recer um aspecto a meu ver importante. A semana de oração pelos seminários não deve ser entendida como o único tempo do ano em que prestamos

atenção “ao edifício” e às pessoas que lá habitam, também não deve ser um tempo para a lamentação do “há poucos e devia haver mais…”, muito menos é um tempo para fazer estatística! A celebração desta semana é um desafio, em primeiro lugar, à oração. Depois, nessa intimidade e comunhão com Deus, há-de nascer a exigência de sermos sérios no exame do passado na preparação do futuro. Mais do que dizer que queremos padres, é essencial perceber que padres queremos. Vivida em profun-didade, esta semana pode constituir para toda a diocese, para todas as comunidades cristãs e para cada um de nós, baptizados, o início de um tempo em que nos preo-cupamos menos com os números e mais com as pessoas. Creio que assim nascerá em todos uma consciência vocacional orante e interpeladora…e desta forma todos nos sentiremos mais comprometidos e empenhados não tanto em “arranjar” padres mas sobretudo em formar cristãos conscientes, audazes e felizes. Neste contexto, ser padre aparecerá como uma questão natural.

Acompanha os jovens no Ano Propedêutico. Que é isso? Estágio, pré-admissão, iniciação…?

Eu próprio, considero-me fruto dessa experiência determinante, pelo conjunto de experiências que me proporcionou, pelos desafios que me colocou e sobretudo por ser um ano de aprofundamento (discernimento) e consolidação vocacional.

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Num tempo tão confuso e alérgico à profundidade e ao compromisso, como é o nosso, um ano destes é determinante não só para ser padre mas acima de tudo para se ser cristão. Daí a importância desta iniciação à vida comunitária, à oração, ao apro-fundamento do mistério da fé, a uma leitura objectiva do tempo e da cultura, e acima de tudo por haver tempo para o essencial. O padre não pode ser um “atarefado faze-dor de muitas coisas” ou um “super-padre”. Sendo servidor do baptismo dos irmãos ou, como gostava de dizer o Papa João Paulo II, sendo um homem para os outros, o padre deve em primeiro ser um sinal do Eterno, de Deus, e isso não se improvisa, tal como não se improvisa a proximidade, a ternura de um acolhimento sincero, a expe-riência de levar a misericórdia de Deus a todos os que andam afadigados, esmagados pelo peso da vida e dos seus muitos problemas… É por isto que é determinante um tempo propedêutico. Não sendo um fim em si mesmo, é um ponto de partida para o seminário maior e para a vida toda-

Tem esperança no futuro próximo, concretamente na área sacerdotal?Sem cair num optimismo semelhante ao daqueles que porventura não querem ler

a realidade, eu diria, apesar de tudo, que temos bons motivos para a esperança. O primeiro deles prende-se com os jovens que estão no nosso seminário maior, no ano propedêutico e no pré-seminário: eles são para mim o rosto da esperança, a certeza de que Deus não falta aos que nele confiam. No entanto há um segundo aspecto a ter em conta: é preciso recomeçar sempre! Para ser padre, para haver padres, é preciso que haja cristãos, homens que se questionem, que rezem, que se deixem inquietar pelo Evangelho. Por isso, um aspecto determinante para que a nossa esperança seja alegre e real, advirá do empenho que todos colocarmos numa pastoral que seja toda ela vocacional. Haver ou não mais padres depende em primeiro lugar de Deus…mas que ninguém se sinta dispensado de rezar, de formar, de chamar. O Papa Bento XVI tem recordado que os padres surgem nas comunidades onde se reza, mas lembra também que rezar não significa fugir da realidade mas empenhar-se plenamente nela. A esperança de mais vocações ao ministério presbiteral reclama mais empenho, mais carinho e mais acolhimento pelo trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelo nosso seminário maior, pelo pré-seminário, pelo ano propedêutico e pela pasto-ral das vocações. E reclama também admiração e gratidão pelos padres que servem generosa e abnegadamente as nossas comunidades cristãs. É muito ao seu testemu-nho de fidelidade, de alegria e de fraterno acolhimento que se devem as vocações que estamos a colher, e isto não pode ser esquecido!

Que palavra deixaria aos jovens do seminário e do pré-seminário e aos que porventura venham a pensar nisso?

A todos e a cada diria o que o Papa João Paulo II disse aos jovens: “Não tenhas medo de ser santo! É possível seres jovem e radicalmente fiel a Cristo”.

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Dois irmãos, padres angolanos, em missão em Leiria

“Deus encontra pouco espaçona vida do homem”

Entre Setembro e Dezembro de 2007, estiveram connosco os padres Pedro Jamba, Missionário de Nossa Senhora de La Salete, ordenado em 2001, e Paulo Hosi, diocesano de Benguela, em missão na diocese do Sumbe, ordenado em 1999. Para além do ministério, une-os o facto de serem irmãos gémeos, nascidos a 12 de Dezembro de 1970. Estiveram integrados nas comunidades de Regueira de Pontes e das Cortes, com o intuito de contac-tarem directamente com a vida da nossa Diocese. Fomos con-versar com eles sobre a Igreja em Angola e sobre a sua experiên-cia na Europa.

Como se vive a fé no quotidiano angolano?A fé como resposta à ternura de Deus vive-se na Eucaristia, na oração diária, nos

actos piedosos, na busca constante da reconciliação e no diálogo dos fiéis com os sacerdotes, em busca de orientação espiritual. Vive-se também na permuta constante entre organismos ou movimentos apostólicos, paróquias ou missões, na troca de experiências, na vivência cristã e na solidariedade, sobretudo nos momentos mais difíceis.

Quais as principais dificuldades nessa vivência da fé?Tirando a guerra, que cercava as famílias e as comunidades, e que, felizmente, já

acabou, não há dificuldades para além do normal, como em todos os países.

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Como vêem o futuro da Igreja em Angola?O futuro da Igreja em Angola não é preocupante, mas promissor. Por enquanto,

a Igreja está atenta à formação dos seus membros. Assistimos à abertura de institu-tos de ciências religiosas e ao envio de sacerdotes para formação, em Angola. Isto garante a confiança no futuro. Olhando à solicitação das vocações, que o Senhor faz cada dia, a Igreja de Angola não terá dificuldade em avançar.

Que aspectos da vida e da sociedade, na Europa, mais os chocam?A busca frenética, o individualismo, a pressa com que tudo se faz, a corrida a

trás do tempo e das tecnologias, que avançam cada dia. Parece que Deus encontra pouco espaço na vida do homem. A vida é um dom de Deus e quando não se vive na comunhão, transforma-se num vazio absoluto.

Como vêem a liturgia, a celebração da fé em Portugal?A Igreja na Europa, a nosso ver, precisa de se abrir um pouco mais ao tempo de

Deus para acolher o bem, este dom da ternura de Deus, segundo apela D. António Marto, pois quando se dá pouco tempo a Deus, apesar de ser o dono de tudo, vive-mos pouco este amor de Deus na Liturgia e na Eucaristia, e a participação torna-se morna e monótona.

Por isso, segundo o apelo do Papa Bento XVI na mensagem para o dia mundial das missões 2007, a Igreja da Europa apesar de ter sido a Igreja mãe na evangeliza-ção dos povos deve estar pronta e aberta para acolher os seus próprios filhos neste intercâmbio para que ela continue viva e actuante já que a missão é obrigação da Igreja Universal.

Angola é um país de missão? Em que aspectos?Angola continua a ser terra de missão, tal como outros países, pois que a missão é

obrigação da Igreja Universal, por isso Angola, neste pós-guerra, precisa deste inter-câmbio para uma cooperação entre as Igrejas ao serviço da missão, como diz o Papa Bento XVI, na mensagem citada, para crescer com novas experiências e aprender novas técnicas que garantam meios próprios, como canais facilitadores para levar a mensagem do Evangelho a todos os recantos do povo angolano.

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Pe. Augusto Pascoal, responsável da comunidade

S. Romão e Guimarota- centro de vida cristã

A zona geográfica de São Romão e Guimarota está a ser alvo de uma atenção particular por parte da diocese de Leiria-Fátima, pois, a longo prazo, esta é uma zona que poderá vir ser uma nova paróquia na malha urbana da cidade. Fomos ao encontro do padre Augusto Ascenso Pascoal, actual responsável pela dinamização pastoral desta “Comunidade de São Romão e Guimarota”.

A comunidade de São Romão e Guimarota está num processo de autonomização, prevendo-se que se torne uma nova paróquia de Diocese de Leiria. Em que fase está esse processo actualmente?

Em primeiro lugar, falar de “processo de autonomização”, talvez não seja o modo mais correcto de se referir ao projecto em que se inserem as iniciativas de ordem pastoral que levaram à criação da referida comunidade. Essa linguagem, de facto, vem do tempo em que as estruturas eclesiásticas coincidiam com as adminis-trativas da sociedade civil.

Relativamente a São Romão e Guimarota, o processo de autonomização só pode existir na medida em que se procura criar um novo centro de vida cristã, aproximan-do os serviços essenciais da população, que irá criando a pouco e pouco a consciên-cia de pertença a uma comunidade crente.

Não será, pois, fácil determinar a fase do processo, devido à sua concepção e ao seu dinamismo específicos.

Quais as maiores dificuldades que tem encontrado como animador pastoral desta zona?

Além das dificuldades comuns a toda actividade pastoral em zonas de população totalmente desenraizada, as específicas de projectos desta natureza, que começam por ser mal compreendidos pelos responsáveis pastorais a todos níveis. Até pelo carácter excepcional de que se reveste e a sua originalidade na diocese.

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Em seu entender quais as acções mais urgentes a implementar?Diria que são todas urgentes; e como são todas urgentes, temos de começar pelas

mais importantes. Ora, na definição do mais importante, nem sempre os critérios são coincidentes. Em meu entender, além da necessidade de dar um novo impulso às três áreas da pastoral – evangelização, culto e solidariedade cristã – é muito importante a solução dos problemas relacionados com os projectos de construção, que constituem um ponto de referência necessário para a mobilização das pessoas que têm necessi-dade de ver obras materiais.

Qual o programa pastoral que está já em curso: celebrações, cartório, cateque-se, acção social?

Diríamos que está tudo na pergunta: tentamos desenvolver a pastoral celebra-tiva, partindo principalmente das festas da catequese, que é, quanto à pastoral de evangelização, o que tem crescido mais e que começa a organizar-se já antes da criação da Comunidade. Relativamente à acção social, temos intenção de começar no próximo ano pastoral com acções concretas, em colaboração com o Centro Social Paroquial dos Pousos e tirando partido de uma sondagem feita por alunas estagiárias da ESEL.

É possível fazer uma previsão sobre a data em que São Romão e Guimarota será erecta canonicamente em paróquia?

Apesar do que possam pensar certas pessoas, e como se deu já a entender, a erecção canónica de uma paróquia é um projecto tão distante, que nem sequer vale a pena fazer previsões a esse respeito.

Nós queremos criar uma comunidade crente, um novo centro de vida cristã; o que não significa necessariamente uma paróquia, pelo menos no sentido tradicional do termo.

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Reflexões. teologia/pastoral . história .

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. teologia/pastoral .

Uma diocese chamada SumbePor D. Benedito Roberto, Bispo do Sumbe

Alguém podia duvidar da força jurídica deste título, na medida em que mesmo o Anuário Pontifício de 2006 desconhece o nome Sumbe, como designando uma dio-cese. De facto desde a sua erecção em 1975, desmembrada da Arquidiocese de Luan-da, foi sempre conhecida e chamada de diocese de Novo Redondo, nome da cidade que albergava a sede desta Igreja Particular. Interessante que dioceses criadas com a mesma Bula Papal – Henrique Carvalho, Serpa Pinto e Pereira D’Eça – mudaram para designações locais os seus nomes, chamando-se respectivamente de Saurimo, Menongue e Ondjiva, enquanto novo Redondo continuou assim até 2000, não obs-tante ser para o povo do Kwanza-Sul e principalmente os jovens, incompreensível chamar-se Novo Redondo ao Sumbe.

O facto de politicamente, desde a Independência Nacional, no mesmo ano da criação da Diocese o nome da Capital da Província ter mudado duas vezes, primeiro para Ngunza Cabolo e depois para Sumbe, explica a posição da Santa Sé em preferir manter primeiro. Quando trinta e um anos depois da sua criação, a Diocese realizava o seu 1º Congresso Eucarístico, estavam felizmente assentes as águas e, assim o histórico nome de Sumbe, “kussumba” – comprar, da língua quimbundo de que tem origem, e que correspondia às transacções comerciais praticadas pelos povos da terra com os comerciantes europeus na costa marítima, Sumbe ganhou finalmente peso sobre os outros dois nomes e até porque designa presentemente também a Capital da Província do Kwanza-Sul.

Mas tenha sido da Arquidiocese de Luanda, haja conhecido o nome de Novo Re-dondo ou se chame Sumbe hoje, não é tanto isso que importa, mas antes o percurso dos caminhos que a fé seguiu até fazer dos povos do Kwanza-Sul o povo de Cristo. O 1º Congresso Eucarístico Diocesano, procurou aprofundar ao longo de quase três anos de intensa preparação o segredo desta aceitação de Cristo pelo nosso povo. A penetração pelo Litoral Sul com o clero secular, inicialmente para a assistência espiritual aos portugueses aqui radicados ou em serviço, mas que em breve se ex-pandiria para o interior, onde do reencontro dos missionários da Congregação do

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Espírito Santo, a partir do Libolo-Calulo, floresceram Paróquias e Missões com as suas estruturas sócio-educativas que marcaram profundamente a realidade eclesial e social que se fazem sentir hoje, é isto que constitui o essencial e o mais importante da missão no Kwanza-Sul.

Com a guerra e consequências dela advindas, mudaram consequentemente os homens e os tempos, mas a semente da fé germinada da evangelização desses ho-mens e mulheres se foi desenvolvendo no solo da nova realidade criada. Também hoje, como diz o Santo Padre o Papa Bento XVI, a alegria de fazer conhecido Cristo continua a mesma: “Não há nada de mais belo do que ser alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo. Não há nada de mais belo do que conhecê-Lo e comu-nicar aos outros a amizade com Ele” (Sacramentum Caritatis 84). Ao número ainda insuficiente de sacerdotes do clero secular da Diocese, das irmãs consagradas de quase duas dezenas de congregações religiosas femininas e de uma plêiade de zelo-sos catequistas e movimentos eclesiais para uma extensão de 60 000 Km2, vieram juntar-se os missionários de Leiria-Fátima (sacerdotes e leigos) na perspectiva e celebração da Geminação das dioceses de Leiria e Sumbe. Desta Geminação o povo do Gungo, não é o único beneficiário como o demonstrou a experiência dos vários grupos que por aqui passaram até este último, na partilha das experiências de vida com os irmãos encontrados vivendo com eles quer no Gungo ou em comunidades do Sumbe como fez a jovem Jacinta. Mas mais forte se faz agora esta partilha com a residência praticamente concluída, construída por Leiria na cidade do Sumbe, que facilitará sem dúvida maior colaboração nos vários serviços da Diocese como expli-cita o protocolo de Geminação.

A Geminação celebrada abre pois para dimensões eclesiais e sociais grandes, beneficiando ambas as dioceses. Caberá apenas às comissões constituídas em cada Diocese a implementação do protocolo de Geminação.

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Uma experiência de missãoPor Teresa Eugénio

Há 4 anos estive na Índia, em Calcutá durante 3 semanas para fazer uma experi-ência de voluntariado com as Missionárias da Caridade pois desde adolescente que tinha o sonho de conhecer a “casa mãe” e os locais onde Madre Teresa de Calcutá tinha iniciado a sua obra. Considero-me uma apaixonada pela sua vida!

Agora compreendo que tinha de voltar…Trazia uma angústia no meu coração, tanto sofrimento, tanta pobreza… porquê,

Meu Deus? E eu no meu conforto, com família, amigos, casa, trabalho… tanto! Ten-tei apagar da minha memória as imagens que me despedaçaram o coração e tentava não falar muito da minha experiência lá. As minhas palavras resumiam-se a pouco mais que: “é uma país muito duro, com uma realidade muito dura”. Pouco mais era capaz de articular e o meu coração ia tentando esquecer/ camuflar essa experiência riquíssima, que me tinha feito crescer vários “metros” e perceber que o verdadeiro sofrimento existe mas o verdadeiro Amor também.

Eu conhecia o sofrimento da doença de conhecidos, de problemas graves de famílias, de abandono de idosos mas normalmente por passa palavra. Mas é muito diferente quando todos os dias durante 3 semanas somos confrontados com rostos magros que vivem na rua, no passeio onde eu tinha de caminhar logo às 5.30 da ma-nha, cerca de 40 minutos para chegar à casa das Missionárias da Caridade (grandes almas de Deus, não lhe posso poupar qualquer elogio). Os passeios àquela hora esta-vam repletos de gente a dormir, e não eram só homens (como também infelizmente vemos em Lisboa), eram famílias inteiras, homens, mulheres e crianças.

Se passava um pouco mais tarde, já estavam a acordar, a começar a lavar-se, a vestir-se, a comer, ali mesmo no passeio… tudo exactamente no mesmo espaço. O cheiro em muitas ruas era nauseabundo, mesmo difícil de suportar, existiam alguns urinóis mas nem sempre! As lixeiras eram abundantes onde brincavam crianças e abutres! O cenário eram chocante e dia após dia o meu coração sangrava, chorava.

Estava sozinha… fiz muitos amigos, voluntários dos 4 cantos do mundo, mas não havia um português sequer (com excepção da Irmã Maria do Carmo que encontrei mais tarde). Guardava tudo no meu coração… era difícil partilhar o que me ia na alma.

À chegada estava muito confiante. Já tinha estado 9 meses em Moçambique como voluntária a trabalhar nos bairros, vinha de uma “missão” em Timor de cerca de 3 meses, já tinha ouvido algumas dezenas de histórias e testemunhos lindíssimos de missão, logo não pensei que fosse tão diferente. No meu intimo estava conven-

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cida que estava preparada. Nunca tinha falado com ninguém que lá tivesse estado nem visto fotografias de qualquer voluntário… mas tinha lido todos os livros que encontrava de Madre Teresa de Calcutá e visto inúmeras fotografias desde a minha adolescência. Mas… o confronto com a realidade é tão diferente… as fotografais, os livros e até as palavras não têm cheiro, não têm sabor, não têm o palpitar dos corações...

No regresso a minha conclusão era: a experiência de missão no Nirmal Hirday, na casa do moribundo, a primeira casa que Madre Teresa fundou, onde trabalhei como voluntária durante essas 3 semanas, foi muito boa, dura mas muito reconfor-tante, o verdadeiro Dar e Receber lindíssimo da Missão, mas toda aquela pobreza que me parecia infinita levavam-me a dizer que “a Índia é um pais onde não tenciono voltar”. Mas tantas vezes que Deus nos troca as voltas…

E parece que Deus tencionava trocá-las desta vez. Quatro anos depois, no fim de ter pensado em diferentes destinos para estas férias, como Moçambique, Birmânia, Camboja, e já estar quase tudo pensado para o Peru, eis que dou por mim já com os bilhetes comprados para a Índia. Quando tomei consciência, não escondo que senti um frio pela espinha e um aperto no coração. Algum medo instalou-se. No primeiro dia, que cheguei, (fui para Deli, a capital da Índia), antes de dormir, chorei, chorei, chorei… aquelas lágrimas eram de há 4 anos atrás mas porque estava sozinha e não podia ficar doente nem “desprotegida”, “calquei-as” no meu coração. Todas aquelas questões voltavam: Mas porque é que eu não posso fazer nada? Mas porque é que milhares de pessoas têm de viver nestas condições nos nossos dias em que outros es-banjam tanto? Mas porque é que tantas crianças não têm espaço para brincar naque-las ruas da cidade onde vivem cerca de 22 milhões de pessoas? Qual o meu papel?

E pedia ajuda a Deus. Percebi que me acalmava, era como se a minha querida Madre Teresa de Calcutá estivesse ali ao meu lado e me recordasse as palavras do poema pegadas na Areia: “Minha querida filha jamais te abandonarei”, aquele con-forto de mãe, de pai. Parecia que ela segredava ao meu ouvido, para eu ler as suas palavras no livrinho da sua novena que tinha comigo (que tem como titulo: Jesus é o meu tudo em tudo” – que as irmãs de Lisboa me tinham oferecido) e abri na pá-gina 19. Parecia que ali estava a resposta e começava a perceber o porquê do meu regresso à Índia.

Nesta página tinha o texto para o sétimo dia que fala da alegria – Deus ama quem dá com alegria. “O serviço a Deus e às almas é sempre duro, por isso com maior ra-zão devemos tentar adquirir a alegria e fazê-la crescer em nossos corações. A alegria é oração. A alegria é força. A alegria é amor. A alegria é uma rede de amor com a qual se pode pescar muitas almas.” Palavras tão simples e que faziam tanto sentido no meu coração. Pedi muito que os meus anjos me acompanhassem naqueles dias que estavam para vir, que me dessem muita força para enfrentar toda aquela pobreza e principalmente capacidade de entendimento e aceitação para que pudesse passar os meus dias a sorrir, a dar o sorriso de Jesus, essa alegria que Deus tanto aprecia.

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Novamente o táxi chegou à Rose Boad e parou junto do 54A, a Mother House, em Calcutá, como há 4 anos atrás. Mas agora senti uma paz invadir o meu coração… que milagre! Ao entrar naquela portinha castanha uma alegria apertou o meu cora-ção, o regresso ao lar da minha tão estimada Madre Teresa. Sentia sinceramente uma paz naquele lugar que já me tinha esquecido de tantas tarde que ali passara a “con-versar” junto ao túmulo da “Mother” ou na capelinha junto à sua estátua joelhada na sua almofada. Que bom! Mais uma vez percebia o significado do meu regresso. Afinal os “fantasmas” estavam a desaparecer.. ou será que eles existiam? Acho que os criei eu própria como refúgio.

E Deus tinha mais uma surpresa preparada para mim. Á chegada enquanto falava com a irmã e a questionava sobre qual o alojamento que nos sugeria, ela chamava um Padre espanhol que tinha acabado de chegar com um grupo de 20 universitários para missão. E dizia “Eu acho que eles estão na Monica’s House e provavelmente vocês podem ficar lá”. O jovem padre chegou com os seus jovens. Aquela cara não me pa-recia desconhecida. Ele olhou para mim e foi um momento de grande emoção…era o Padre Peter. Conhecemo-nos há 4 anos atrás. Ele tinha estado lá, em 2002, com outro grupo de espanhóis, que eu conhecera. Que excelente surpresa! Deus é assim! Conversámos, também ele não tinha voltado durante estes 4 anos e tinha chegado no dia anterior para mais uma experiência de cerca de 1 mês!

Os dias sucederam-se, o meu coração estava invadido de uma paz inexplicável. Olhava para as pessoas na rua e apoderava-se de mim um sentimento de Amor e não de dó… uma transformação divina no meu sentir… olhava aquelas pessoas com carinho e já conseguia discernir que muitos mendigavam por “profissão”, como as irmãs nos alertavam. As crianças afinal sorriam. Encontrei a mesma pobreza, mas conseguia dar com muita alegria.

Decidi ser a Irmã Karina (que é uma das responsáveis pelos voluntários) a esco-lher o local onde ficaria desta vez a trabalhar. E ela sem hesitações perguntou se eu estava disponível para trabalhar no Nirmal Hirday (as irmãs têm cerca de 9 casas em Calcutá onde os voluntários podem trabalhar). Outro sinal de Deus. Deus queria que eu voltasse a trabalhar exactamente onde estivera há 4 anos atrás. Aceitei, pronta-mente, e no dia seguinte lá estava. Também ali o regresso foi com muita serenidade. Percebi que sentia muitas saudades daquele lugar e que apesar dos primeiros dias, há 4 anos, terem sido difíceis, agora recordava apenas tantos bons momentos que ali passara. Olhava as camas e recordava os rostos anteriores. Que engraçado! Recor-dava as massagens que tinha feito à senhora que estava na cama 32, e a canção que tinha cantado à jovem da cama 17…

As tardes passadas no Nirmal Hirday voltaram a ser muito bonitas. O Nirmal Hirday, também conhecido como casa do moribundo, é uma casa onde são acolhidas pessoas em estado muito grave, muitas vão ali para morrer, vêm das ruas, sozinhas, doentes, com fome. Há uma secção para homens e outras para senhoras, chegam a estar cerca de 100 doentes. É tão bonito perceber como muitos deles recuperam…

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Recordo entre muitas histórias, o dia em que decidi comprar um verniz para lhes pintar as unhas (as senhoras são vaidosas em todos os cantos do mundo!!). Uma velhinha quis uma pintura completa de mãos e pés! No fim, por gestos, pois eu não percebia o seu bengali e ela não entendia o meu inglês (nem português!) lá percebi que íamos trocar de posições e ela pintou-me também as unhas dos pés e das mãos. Foi um momento tão bonito! Mais uma vez Jesus estava ali, nos pequenos gestos. Exactamente como Madre Teresa tantas vezes dizia: “Não podes fazer grandes coisas mas podes fazer coisas pequenas com grande Amor” ou “Não interessa a quantidade de coisas que fazes, interessa o amor que colocas em cada uma delas”! Sem duvida que Madre Teresa é para mim uma grande referencia, uma mulher dos nossos dias que, como é relatado na sua história, “deixou o conforto do convento para se dedicar aos pobres da ruas de Calcutá”. E o testemunho das Irmãs é excelente, verdadeiras missionárias ao serviço dos pobres dos mais pobres. Bem Hajam. E todos nós que temos o privilégio de conhecer almas, assim, grandes, temos também a obrigação de fazer “pequenas coisas mas com muito Amor”.

Percebia agora as coisas de forma muito mais clara, que a angústia que me do-minava em relação à pobreza extrema que tinha conhecido em Calcutá era agora substituída por esta compreensão.

Agradeço profundamente a Deus por este regresso a Calcutá…Se quiserem saber mais pormenores desta experiência e aspectos logísticos, de

como fazer voluntariado em Calcutá, perguntem. Os aspectos logísticos são muito fáceis, chegam lá pessoas de todas as idades, de todos os continentes, sozinhas ou e grupo, por uma semana ou por muitos meses. As irmãs recebem todos de braços abertos, desde que levem muito Amor no seu coração… porque Jesus é assim!

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O Património Crúzio em Leirianos inícios do século XV— Elementos para o seu estudo

Saul António Gomes 1 — Há alguns anos, pudemos transcrever entre os numerosos documentos do

fundo do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, existentes no então chamado Arquivo Nacional da Torre do Tombo, um importante texto com a relação do património e das rendas que o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra detinha no Priorado de Leiria. A relação em causa, datada de 1399 e de 1431, encontra-se compilada num antigo livro, em papel, oriundo desse Mosteiro, vulgar e habitualmente chamado Livro No-bre, ocupando os fólios 275 a 287vº.

Na lauda de abertura deste Livro Nobre pode ler-se a inscrição seguinte:

“Livro chamado o Nobre aonde estão escritas todas as propriedades que o Mos-teiro pesuhia e o foro e penção que dellas se pagua ao tempo que se fez que foi no anno do Nascimento de Noso Senhor Jesu Christo de 1431, aos 26 dias do mes de Mayo do dito anno e foi feito por Diogo Affonso como se conta a fl. 367vº”1.

Por ela, como se vê, todo o teor do manuscrito cartáceo é atribuído ao ano de Cristo de 1431. Na verdade, contudo, a composição deste grosso cartapácio monás-tico é mais complexa, nele tendo sido reunidos, a partir da documentação arquivada em Santa Cruz de Coimbra, textos de proveniências, datas e conteúdos diversos. É o que sucede com a relação dos bens e rendas dos aniversários que o Mosteiro co-nimbricense dispunha em Leiria e no seu termo que, como escrevemos, tem como balizas cronológicas os anos de 1399 e de 1431.

Em torno de 1400, em Portugal como por toda a Cristandade ocidental, veri-ficou-se uma acentuada crise de mercados que obrigou a políticas financeiras de uma quase permanente desvalorização da moeda. A essa crise outras se juntaram, como a recessão demográfica provocada pela Peste Negra de 1348, a irregularidade das colheitas cerealíferas que não permitiam a sustentabilidade dos mercados de pão e causavam reiterados ciclos de fome, a multiplicação de surtos epidémicos de

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doenças, as guerras frequentes entre Estados no contexto da Guerra dos Cem Anos, as migrações das populações rurais para os centros urbanos em busca de melhores salários e condições de vida, levando à multiplicação de manchas de pobreza e de marginais, as revoltas camponesas ou citadinas contra senhores feudais ou governos tirânicos, as crises sucessórias dinásticas ou as divisões dentro da Igreja Romana, que acabariam na eclosão do Cisma do Ocidente, em 1378, entre outros factores, demonstram suficientemente que os finais de Trezentos foram um período de dificul-dades económicas e de tensões sociais e políticas generalizadas.

Ao longo do primeiro terço de Quatrocentos, contudo, a situação económica ten-derá a melhorar paulatina e sustentadamente, permitindo a recuperação da confiança dos agentes sociais criadores de riqueza e de investimento. Para Portugal, esse foi o tempo da implementação da paz com Castela e Leão e, simultaneamente, de uma política de afirmação internacional da nova dinastia de Avis a qual teve, na conquista de Ceuta, em 1415, nas vésperas da cessação do Cisma da Igreja, um dos seus mo-mentos mais sensíveis.

Não estranhará que, face a esse novo clima de optimismo e crescimento econó-mico, potentados da época, como o eram os grandes senhorios eclesiásticos, caso do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra ou do de Alcobaça, tivessem sentido necessi-dade de afinar as suas práticas de gestão patrimonial ou temporal, base da riqueza que lhes permitia o desempenho da missão pastoral e eclesial para que se sentiam vocacionados e da qual tinham perfeita consciência histórica.

É neste contexto que, cremos, os cónegos regrantes de Santo Agostinho, esta-belecidos em Santa Cruz de Coimbra como, ainda, noutras canónicas, procuraram implementar estratégias de gestão temporal que lhes permitissem dispor de uma in-formação actualizada dos seus cadastros patrimoniais e das rendas por eles geradas. Com essa informação, os religiosos crúzios, como os de todas as demais comunidades conventuais de Portugal, poderiam programar mais eficazmente o armazenamento de bens percebidos, a sua colocação e venda nos mercados ou, mesmo, regular de modo previdente os seus gastos e investimentos pastorais, litúrgicos e de formação cultural e intelectual, bem como fasear a distribuição ou partilha caritativa de uma parte desse produto pelos seguramente muitos e muitos necessitados e pedintes que acorriam às suas portarias procurando, por caridade, hospitalidade ou algum alimento.

Nestas circunstâncias compreenderemos melhor a organização, por determina-ção de D. Gonçalo Gil, prior-mor de Santa Cruz de Coimbra, do conhecido Livro Nobre. Nele, como referimos, foi integrada a relação dos bens e rendas do mosteiro coimbrão por terras leirienses. Só uma parte do caderno respeitante a Leiria, que ocupa os fólios 275 a 287, contudo, pode atribuir-se ao ano de 1431. Referimo-nos aos fólios 275 a 277 que são seguramente desse ano ou de uma data muito aproxi-mada. A restante informação contígua, entre os fólios 277vº e 287, é mais antiga, resultando de um traslado, feito em 1399, a partir de num inventário preexistente das rendas dos aniversários crúzios em Leiria.

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Foi este traslado lavrado, no mês de Março da Era de César ou Hispânica de 1437, correspondente ao ano cristão de 1399, por um tal Fernando, filho de João Martins, escrivão das sisas de Leiria, conforme aparece registado no próprio manuscrito:

“Estes som os aniverssairos que eu Ffernando ffilho de Joham Martinz scripvam da ssissa de Leirea tralladey no mes de Março de mil iiijc e xxxbij anos e os que andam enprazados per esta moeda ora corrente desta Era sobredicta logo diz desta moeda. E os que andam enprazados per moeda antiga nom diz nada salvante diz a penssom por que cada huum anda arrendado ou enprazado por tantas libras ou por tantos soldos primeiramente (…)”2.

O mencionado João Martins aparece citado como escrivão das sisas de Leiria em diplomas de 14 de Abril de 14023 e de 26 de Novembro de 14174. Sabemos que João Martins era também tabelião régio em Leiria. Descobrimo-lo, efectivamente, a redactar actos tanto nesta vila, como na povoação de Paredes, entre 1368 e 1416. Neste último ano, João Martins declarava, no fecho de um seu acto notarial, estar “em a villa de Leyrrea em as casas de mym tabeliam”, subscrevendo-se como criado e escudeiro del-rei, público tabelião e escrivão de Leiria5. Sabemos que a 2 de Julho de 1368 se intitulava tabelião de Paredes6.

Será em Leiria, contudo, que centrará a sua actividade. Documentamo-lo, como tabelião del-rei, a redigir actos diante das casas do almoxarife da vila (1370)7, na Praça de S. Martinho (13798, 13839), entre outros espaços10. Por vezes deslocava-se a lugares do termo leiriense como fez, em 1396, à Maceira11 ou, em 1401, à Batalha, “no moesteyro del Rey que El manda fazer”12, aqui regressando, uma vez mais para celebração de acto notarial, no dia 18 de Agosto de 140813.

A 19 de Janeiro de 1397, encontramo-lo em Coimbra, aí contratando com a Sé desta cidade o emprazamento da Quinta da Golpilheira e de um olival na Gândara [dos Olivais], pelo que se comprometia a pagar uma renda anual de 25 libras antigas de dez soldos o real, equivalentes, segundo os cálculos estabelecidos no dito contra-to, a 200 libras novas correntes, indicador bastante significativo dos tempos de infla-ção económica que Portugal atravessava então14. Por esse contrato, aliás, tomamos conhecimento de que João Martins era casado com Mafalda Esteves15. A 20 de Maio de 1404, João Martins desloca-se novamente em Coimbra, a fim de contratar com a Sé uma nova avença pela casa que refizera na Quinta da Golpilheira, a qual ficaria desde então como cabeça predial da dita Quinta16.

Pensamos que será pessoa distinta, ainda que homónima, um outro João Martins, também tabelião leiriense, activo entre os anos de 1448 e 1455 e com o estatuto de criado e escudeiro régio, desempenhando ainda os ofícios de escrivão dos órfãos (1451) e dos feitos das sisas (1453) — escrivaninha esta que lhe foi retirado, por acusações de erros, justamente em 1453, sendo então confiada a Álvaro Fernandes, por pedido do fidalgo D. Vasco de Ataíde17 — acabando por renunciar ao tabeliado das notas antes de 25 de Junho de 145518.

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Foi um filho de João Martins, de nome Fernando, como escrevemos, o respon-sável pela cópia da relação das rendas crúzias em Leiria nesse ano de 1399. Mas sobre o percurso deste escrivão, por ora, nada podemos adiantar, para além de o identificarmos num trabalho útil ao arquivo e à administração corrente do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, instituto para o qual trabalharam, nesses tempos de re-novação da memória arquivística como da livraria conventual, numerosos letrados, copistas e notários.

2 — Em 1431, quando o Livro Nobre foi compilado, era prior-mor do Mosteiro D. Gonçalo Gil, dito da “Boa Memória”, cognome que lhe ficou como homenagem à sua governação eclesiástica restauradora e mesmo, até certo ponto, reformadora. Religioso profícuo, foi reitor da igreja de S. Julião do Juncal, na Arquidiocese de Lisboa.

No dia 24 de Outubro de 1416, já como prior eleito, apresenta-se no Mosteiro da Batalha onde, perante o rei D. João I e toda a sua corte e grandes da nobreza e da clerezia de Portugal, ali reunidos para os funerais da rainha D. Filipa de Lencas-tre, lavra um protesto por entender que os direitos jurisdicionais de Santa Cruz de Coimbra, naquele acto, estavam a ser desrespeitados19. A 11 de Novembro desse ano, ainda D. Gonçalo Gil não estava confirmado no priorado-mor. Nesta data, na verdade, a comunidade canonical, encabeçada pelo prior claustral, D. Pedro Eanes, sendo o “Monsteiro asi vago”, reafirma o protesto lavrado na Batalha por ocasião do soleníssimo “sotorramento” da rainha D. Filipa. Nestas exéquias foram oferecidos ao Mosteiro da Batalha muitos dons e esmolas, contando-se entre eles 70 peças de panos de ouro e seda “novos enteiros mui nobres e mui ricos”, dos quais Santa Cruz reclamava uma quarta parte, e não a décima parte que lhe haviam ofertado, como direito da freguesia matriz de Santa Maria da Pena de Leiria20.

A confirmação de D. Gonçalo Gil na cátedra claustral de Santa Cruz, contudo, só ocorrerá no ano seguinte, havendo tradição, entre os cronistas crúzios, de que D. Gonçalo Gil recebeu a nomeação prioral no dia 24 de Dezembro de 1417. Quer seja, quer não, com a eleição de D. Gonçalo Gil, os cónegos regrantes punham fim ao pernicioso cisma que os dividira em dois partidos opostos entre os anos de 1414 e 1417.

Na verdade, tendo falecido D. Afonso Martins, prior-mor do Mosteiro desde 1393, no dia 21 de Julho de 1414 — do qual, aliás, guardaria o Mosteiro uma lembrança negativa, dado que este prelado não hesitou em apropriar-se de parte do tesouro conventual para satisfação de despesas familiares21 — não se entenderam os conventuais quanto à eleição do seu sucessor. Dividiram-se os votos por duas fac-ções22. Uma apoiava D. Fernando Afonso, prior que era de Arruda dos Vinhos; outra louvava-se em D. Pedro Eanes, o qual fora prior claustral da canónica, ocupando, já em 1396, o cargo de vigário-geral do priorado de Leiria23:

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“E depoys vagou o moesteiro de Santa Cruz E emlegerom os conjgos huum Fernamd Afomso prior da Arruda que fora conjgo E prior clesteiro do moesteiro de Santa Cruz. E ouue a dicta Jgreja per corte. E emlegerom Outros conjgos em hum Pero Anes que era aquj prior clesteiro E despois por tempo veeo a seer vigairo de Leirea E hy Jaz.

E este Pero Anes E Fernamd Afomso seendo em[de] emleitos Ja como dicto he foran se a El Rey Dom Joham cada huum com sua emliçom. E huum dise mall a El Rey do outro. E o outro do outro. Em tall maneira que foi mall edificado E pior consolado pollas fautas que cada huum dizia do outro. E mandou lhe El Rey Dom Joham per frey Joam Xira Seu confesor anbos de dous que El Rey fora E era muj mall contente de Suas Jnliçooeens por mujtos ujtuperios que anbos diziam Em mujto Seu desfazimento. E que logo Se partisem E se veesem <ao> Mosteiro E todos em-Senbra disesem huã mjsssa aa onrra do Espiritu Santo mujto deuotamente. E logo entrasem Juntamente em seu Cabijdo E que lh<e> apresentaseem huum com todas as vozes dos conjgos. E que elle lhe daria Suas suppricaçooens pera o Santo Padre. E qu<e> açerqua deste moesteiro elle tijnha Ja escripto aos <seus> procuradores24 que estam em corte de Roma que nemhuum nom se trabalhase que gaanhase o seu moesteiro de Santa † E que fose mujto çerto que o que fezese o contrairo que nunca comeria o moesteiro nem aueria a pose. E os sobredictos Conjgos comprirom com mujto booa voontade o que lhe mandou o dicto Rey. E dicta a mjsa do Espiritu Santo logo emtrarom Em Seu capitollo todos. E todos Em huum Coraçom e Em huã voz fezerom Sua enliçom (…) ”25.

Santa Cruz de Coimbra: fachada (Foto IPPAR)

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3 — Não se viu confirmado na prelatura crúzia, como vimos, D. Pedro Eanes, o qual faleceria, mais tarde, quando vigário-geral da então vila de Leiria, onde veio a ser sepultado. Não nos chega muita documentação sobre o seu vicariato mas, da que conhecemos, podemos ajuizar da sua capacidade de gestão e de defesa dos interesses jurisdicionais de Santa Cruz nestas terras. Foi durante o seu governo à frente do Prio-rado de Leiria, mais precisamente no ano de 1399, que se procedeu, como vemos, ao apuramento das respectivas rendas crúzias.

A 10 de Outubro de 1396, D. Pedro Eanes promulgava uma sentença contra Afonso de Ourém, que semeara numas terras junto à vila, mais precisamente na Portela, usadas tradicionalmente para trigo e cevada, açafrão (“e ouve em ella xxx arratees d açafram e perrall (…) que é ortariça (…) huuã semente grosa e de grande valor”) novidade na paisagem tradicional agrária local, mas de que o dito agricultor não podia eximir-se ao pagamento do dízimo devido ao senhorio espiritual, avaliado sobre uma produção de 30 arráteis (cerca de 14 quilos) ou 1500 reais brancos por eles, num valor de 50 reais o arrátel (0,459 kg)26.

Já a 7 de Dezembro de 1402, perante D. Afonso Martins, prior-mor de Santa Cruz de Coimbra, D. Pedro Eanes, prior claustral da canónica, encabeça os interesses dos clérigos raçoeiros de Santa Maria de Leiria que pretendiam ver respeitados os com-promissos estabelecidos entre eles e o Município leiriense em matéria de proposição de novos clérigos para o Priorado, os quais deveriam ser naturais da concelho ou que pelo menos um dos progenitores o fosse27.

No ano seguinte, a 2 de Abril, visitando o Priorado o cónego D. Fernando Afon-so, foi por este lavrada sentença segundo a qual os moradores da Granja de Carvide, lavradores de Inverno e pescadores no Estio, seriam obrigados à satisfação da déci-ma de todo o peixe que pescassem: “Estes sobredictos moradores na dicta Granya de Carvide depois que ora abriram ho Campo tragem hua barca com que vãao pescar do mar asy com redes come sem dellas. E esomedes no dicto ryo. E matavam e pescavam muitos pescados asi no dicto mar como em no dicto ryo”28.

Não se vislumbra intervenção directa de D. Pedro Eanes na concessão, pelos có-negos crúzios, em 17 de Maio de 1407, de um prazo em favor de Gomes Lourenço, tecelão, sobre um chão de vinha “que está ante Sam Francisco e Samt Amdrel aleen do Rio”29. A mesma ausência se detecta na carta de compromisso estabelecido por acordo entre o prior-mor de Santa Cruz e o Cabido de Santa Maria da Pena, de Lei-ria, para que o número de clérigos beneficiados leirienses, atendendo às dificuldades económicas que se viviam, se fosse reduzindo de 40 até 25, dada a falta de recursos materiais para suportamento dessas prebendas30, situação que parece confirmar-se igualmente a propósito da confirmação do citado compromisso, lavrada, em Coim-bra, no dia 19 de Abril de 141431.

A não nomeação de D. Pedro Eanes nestes importantes contratos parece indicar o seu possível afastamento de Santa Maria de Leiria ao menos durante algum tempo. Sabemos que ele exerceu o cargo de prior claustral em Santa Cruz, como sucedia,

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conforme referimos, em 1416, facto que nos indica que não pode ter ocupado perma-nentemente o vicariato leiriense. Encontrava-se à frente do Priorado, contudo, em 2 de Setembro de 1419, momento em que encabeçou uma enérgica oposição à pastoral dos Frades Menores em Leiria, acusados de desviarem os fiéis das igrejas paroquiais da vila e de não respeitarem os privilégios eclesiásticos crúzios aqui estabelecidos32. É muito provável que seja ainda este D. Pedro Eanes que, episodicamente, em 1438, vem citado como vigário e prior de Leiria por D. Gonçalo, prior-mor de Santa Cruz33.

Com maior ou menor estabilidade, de forma continuada ou com interstícios no exercício do múnus vicarial, a verdade é que o governo de D. Pedro Eanes, em Lei-ria, recai numa época particularmente brilhante na vida local. Lembremos que foi nesses anos de finais do Século XIV e do primeiro terço do Século XV que o rei D. João I e sua esposa D. Filipa de Lencastre patrocinaram uma importantíssima cam-panha mecenática de obras góticas dentro e fora da vila.

Na urbe, como se sabe, fizeram edificar os Paços Novos ou do Castelo, que hoje observamos restaurados, patrocinaram uma profunda reforma artística no Convento de S. Francisco de Leiria, ergueram a nova ermida de S. Gabriel, mais tarde Nossa Senhora da Encarnação. Fora de Leiria, como é bem conhecido, deram fundação ao majestoso Mosteiro de Santa Maria da Vitória.

Não devemos esquecer, naturalmente, a importantíssima obra de reforma da igreja matriz do Priorado, Santa Maria da Pena, na qual se inscreveu toda uma em-blemática de exaltação da memória régia de D. João I em consonância, aliás, com a emergência de uma novel devoção ao Nome de Jesus, bem simbolizadas na incor-poração da letra pitagórica “Y” na numária real (“Yesus” / “Yohannes”) ou, ainda que a um nível diferente mas não dissociado pela devoção crística que revela, nos selos de autenticidade de D. Afonso Martins, o prior-mor crúzio falecido em 1414, do qual sabemos ter sido prelado cortesão e muito próximo do círculo régio avisino mais restrito34.

A Leiria gótica conhecia, ainda, inovações tecnológicas relevantes. Lembremos que, por carta de 29 de Abril de 1411, Gonçalo Lourenço [de Gomide], escrivão da puridade de D. João I, recebia privilégio real para construir, junto à Ponte dos Ca-niços, uns engenhos, artifícios e moinhos novos “de fazer ferro e serrar madeira e pisar burel e fazer papel ou outras alguãs cousas que se façam com arteficio d agoa quãaes el enternder mais por sua prol”35. No termo da vila, instituiu-se a feira anual de Agosto na Batalha, em 141336, e dinamizaram-se obras de drenagem e de vala-mento do Campo, enquanto florescia o comércio das madeiras, base da prosperidade de unidades portuárias mais circunvizinhas como eram a Foz do Rio Lis (Vieira), S. Pedro de Muel, Paredes e Pederneira37. Progressos que se faziam sentir igualmente nas terras contíguas a Leiria da jurisdição da Ordem de Cristo (Pombal), do Dom Abade de Alcobaça38 ou do Conde de Ourém39.

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Claustro do Silêncio de Santa Cruz de Coimbra: pormenor (Foto IPPAR)

4 — O “Livro das possisõees de Leirea e sseu termho” ocupa, como escrevemos, os fólios 275-287vº do Livro Nobre de Santa Cruz de Coimbra. Não se trata ver-dadeiramente de um “livro” na acepção comum, mas antes de um pequeno tombo ou caderno no qual foram lançadas as propriedades rústicas e urbanas do Mosteiro conimbricense em Leiria.

Verificámos, antes, a organização cronológica dessa informação. Cumpre, agora, anotar que os primeiros 29 artigos inventariados correspondem a património exclu-sivo do prior-mor de Santa Cruz. A este núcleo inicial sucede o “titulo das egrejas e herdadas d arredor da vila e termho”, do qual se excluem as igrejas matrizes de fre-guesias, perfazendo um total de 17 itens respeitantes a 20 igrejas, uma vez que, em três desses itens, se mencionam duas igrejas (S. Bartolomeu e S. Bento do Freixial, S. João de Monte Real e S. Lourenço [de Carvide], os S. Miguéis.

Um grupo distinto de rendimentos era proporcionado pelos direitos sobre o sal, pela dízima dos pescados das Paredes, pela terça dos vinhos, pela metade das oblações das igrejas da vila aos Domingos e festas e, finalmente, pelo produto das mortuárias e missas de aniversário. O terceiro e último grupo do inventário engloba “os aniverssairos”, ou seja, as propriedades doadas ao Mosteiro sob condição de, dos

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seus rendimentos, se realizarem aniversários ou missas por alma. Este grupo, com 128 artigos, é o mais longo de todo o inventário.

Esta relação das possessões e rendas crúzias em Leiria, de 1399 e 1431, não esgota a informação possível acerca da gestão temporal do Priorado, uma vez que existiam muitas outras fontes de rendimento que ficam omissas. Ainda assim, este documento é um testemunho precioso para a reconstituição da paisagem urbana e rural local, bem como para percepcionar de modo mais pormenorizado a tessitura social leiriense.

Nos alvores de Quatrocentos, do ponto de vista da tipologia dos bens de raiz que Santa Cruz aqui detinha, predominavam as herdades (24,20%) e as vinhas (25,47%). Às primeiras, contudo, deveremos associar outras unidades rurais como os “luga-res” (5,09%), as quintas (3,18%), os casais (1,91%) e os conchousos ou chousos (1,91%), o que fará subir o índice percentual das terras essencialmente dedicadas ao cultivo do cereal.

As vinhas, naturalmente, atingindo 25,47% das unidades arrendadas por Santa Cruz, representavam um importantíssimo património e, com elas, o olival (8,91%), a que deveremos associar, pelo significado na dieta alimentar do homem medieval — que tinha no pão, no vinho, no azeite e nos verdes elementos determinantes — as almuinhas e os pomares (4,45%), dos quais se podiam colher verças e fruta diversa.

Surpreende, no entanto, o baixo peso das salinas de sal-gema, com 1,27%, dada a importância do sal na alimentação quotidiana mas, sobretudo em Leiria, como produto comercial muito procurado. Por esses anos, curiosamente e por contraste com o caso crúzio, pudemos já verificar que a produção e venda de sal era um opção muito relevante, por exemplo, na vida económica do Mosteiro da Batalha, como entre muitos proprietários livres40.

Distribuíam-se maioritariamente as herdades e terras de pão de Santa Cruz de Coimbra por lugares como Alcanada, Brancas, Alpentende, Magueixa, Reguengo, Rio Seco, Cortes, Opeia (Caranguejeira) e Ulmar (Monte Real), entre outros lugares não distantes do eixo dinamizador que eram ou o Rio de Alpentende ou Lena ou o Rio de Leiria depois chamado Lis. Muito poucas eram aquelas que se aproximavam das muralhas da vila. Distante, também, eram os casais (Mouta do Gato, Cirol), os lugares (raramente localizados na fonte que usamos), ou as quintas (Porqueira (hoje Vale de Santa Margarida, nas imediações do Soutocico, freguesia do Arrabal), na Fonte da Pedra, na Golpilheira ou no Cirol.

Num raio bem mais concêntrico ao castelo estavam os vinhedos, densos nas áreas das Cortes, do Vidigal, do Casal da Baralha, da Barreira, da Barosa, de Santo Estêvão e de Porto Moniz e suas salinas, no Rego Travesso, na Azoia, nas Mestas (Barosa), na várzea do Arrabalde de Santiago, no entorno da Gafaria de Santo An-dré e do Convento de S. Francisco ou subindo pelas colinas de Valoco e da Fonte da Parviceira (Marrazes), estendendo-se ao Rego Travesso, às Quebradas e à Costa (Maceira). O olival, por seu lado, acompanhava de perto a vinha, estendendo-se pela

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Gândara (que lhe tomaria o nome em tempos mais tardios), pela Areia dos Vasos (hoje Cruz da Areia), pelo Rossio Velho, pelo Arrabalde da Ponte, chegando ainda a alturas da Azoia ou de Regueira de Pontes. Bem contíguas ao núcleo urbano esta-vam as almuinhas, terras de aluvião e ribeirinhas ao Lis, as melhores das quais nas imediações da bem conhecida Fonte Quente ou, a par destas, paredes-meias com a Gafaria.

As propriedades rústicas permitiam boas rendas a Santa Cruz, bem como o abas-tecimento dos mercados e das feiras locais. A Leiria medieva era uma urbe com vida comercial apetecível. A sua comunidade judaica, nela instalada desde cedo, prova-o bastamente41.

A fonte que continuamos a usar confirma muito bem essa vocação comercial e urbana leiriense. Os prédios urbanos que os crúzios aqui detinham repartia-se por casas (15,91%), tendas (3,18%), lagares (2,54%) e uma importante adega. Trazia o Mosteiro tendas de comércio arrendadas nas Ruas da Sapataria e da Ferraria, mas, sobremodo, um interessante número de prédios urbanos concentrados muito em es-pecial no Arrabalde da Ponte de Santiago, junto à Rua da Ponte, ao Arco e ao adro de Santiago. No entorno da igreja de S. Martinho tinham os cónegos um razoável património construído, disperso pela Rua Nova, à Praça de S. Martinho, pela Rua da Lã dos Mercadores, pelas já mencionadas Ruas da Sapataria, da Ferraria e na Judiaria, localizando-se na área de influência desta paróquia, cremos, a original Rua das Cavaleiras. Mais acima, na Portela, umas casas rendiam 30 libras ao ano. Laga-res de azeite e de vinho, bem como a adega grande do Mosteiro, que se localizava seguramente dentro das muralhas, lembram o papel da cidade medieva como centro de transformação e de armazenamento de bens e alimentos42.

Em 87 itens não encontramos explicitadas as profissões dos foreiros de Santa Cruz. Coincidem, na maior parte, estas omissões com foros sobre prédios rústicos como sucedia com as herdades. Muitos dos que as arrendavam poderiam ser agri-cultores ou gentes envolvidas nos circuitos de exploração agrária do termo leiriense. Lembremos que, por 1400, a aristocracia leiriense dos homens-bons, que controla-vam o poder municipal, tinha fortes ligações ao mundo rural.

A propriedade mais peri-urbana ou plenamente urbana era trazida sobretudo por clérigos de famílias locais — 25 casos, um dos quais respeitante ao Cónego Couvi-nha (nº 7), outro ao Prior da Atouguia (nº 116) e um terceiro a um frade de Santa Zita (nº 120) — oriundos, na sua grande maioria, das classes populares.

Mas era no grupo dos “mecânicos”, dos que viviam do trabalho mesteiral ma-nual, que maior número de rendeiros surgia. Destacavam-se, por maior número de ocorrências, os ferreiros (seis notícias, posto que preponderasse o Mestre Ferreiro, arrendatário de várias parcelas urbanas(nºs 76 a 76 e 135)), os carpinteiros (4 casos mais um marceiro), sapateiros (4 casos), tecelões (4 casos), mercadores (3 casos), almocreves (3 casos), tabeliães (3 casos), para além de elementos singulares para profissões como as de alfaiates, bainheiros, albardeiros, cacifeiros, cuiteleiros,

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moleiros, farinheiros, alfeloeiros, vinheiros, carniceiros e pedreiros. Notemos um pegueiro, lembrando os pinhais vizinhos e a extracção de pez e resinas, um falcoeiro, numa região rica cinegeticamente e um jogral, decerto apreciado nas cortes senho-riais que visitavam amiúde Leiria. Surge, finalmente, um judeu, lembrando a plurali-dade de crenças bem característica das vilas e cidades medievais portuguesas.

Na sua maioria, os foreiros eram naturais da terra, surgindo filhos herdeiros e do-nas viúvas administrando fazendas e bens familiares. Alguns há, no entanto, que nos lembram migrações talvez recentes que tiveram em Leiria um local de acolhimento. Lembremos o Franco da Portela (nº 16), João de Baião (nº 17), Martim Galego (nº 18), Gonçalo de Amarante (nº 23), João de Viseu (nºs 25 e 65), talvez Gonçalo Deyllam (nº31), João de Pinhel (nº 61), Rolão, almocreve (nº 78), Bartolomeu de Arouca (nº 131), Afonso de Aveiro (nº 136), Petre jogral (nº 114) ou o citado judeu, de seu nome Mousem Francês (nº 107).

Desses e doutros leirienses dá esta fonte um importante testemunho permitindo esboçar linhas caracterizadoras, como temos visto, do quadro histórico local em torno de 1400. Por ele ecoam junto de nós as vozes do homem medieval leirenense, gentes desvairadas mas bem conhecidas por nomes, sobrenomes e apodos inconfun-díveis como o Palmeiro, o Leite Coito, a Gaga, o Castelão, o Couvinha, o Ferreiro, o Barregam, o Aburelado das Brancas, o Pardinho e o Mergulhom, ambos da Ponte — e a Ponte de Santiago era, escusado seria sublinhá-lo, um elemento muito, muito central no urbanismo dessa antiga Leiria dos tempos de D. Dinis e de D. João I —, a Antoninha, o Maravilhas, o ou a Bazalha Cabeça, a mulher do Moxardia, o Cas-queira, o Testa Branca, o Saia, o Vilhano, o Picanço, o Eirigo de Rio Seco, o Fome, o Namorado, o Pão e Água, o Pão Seco, o Frade, o Chumaço, o marido da Maria Bela, o Rengel, o Peixeirinho, o Bacinho de Àmor, o Infantinho, o Farfolo, o Paci-nho da Azoia, o Bochardo, o genro da Picoa e tantos, tantos outros nomes que hoje redescobrimos pela documentação arquivística em que se inscreve a memória destas terras da Alta-Estremadura.

Uma fonte aparentemente árida como um inventário de bens rústicos e urbanos, dos seus rendimentos e dos foreiros que os emprazavam, permite, naturalmente, abordagens plurais que não cumpre, neste momento, prolongar. Deixamos essa im-portante fonte ao leitor, associando-a a alguns outros documentos esclarecedores da passagem pelos destinos do Priorado de Leiria, sediado na bela igreja gótica de San-ta Maria da Pena, do vigário-geral de Leiria, D. Pedro Eanes, que, como se referiu, aqui morreu e foi sepultado.

Com este artigo damos continuidade à publicação e ao estudo das fontes docu-mentais que devisam tanto os horizontes do passado religioso e espiritual do Prio-rado de Santa Maria de Leiria, quanto as demais vertentes económicas, sociais, po-líticas e culturais que caracterizaram o devir de toda a região e lhe conferem, ontem como hoje, uma identidade singular marcada por uma profunda e cívica consciência histórica.

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PROPRIEDADE E RENDAS CRÚZIAS EM LEIRIA: 1399 e 1431

Propriedade Localização RendaData de

pagamentoda renda

HerdadesHerdade Alcanada 1/3, dízimo e 2 galinhas —Herdade Ulmar 3,5 libras —Herdade “So o muro” 3 libras —Herdade [Brancas] 7 libras —Herdade Cortes — —Herdade Ponte da Retura 43 soldos S. MiguelHerdade “A par das casas de Leite Coito” 4 libras NatalHerdade Alcanada 40 soldos NatalHerdade Ponte Pequena / Vidigal 6 libras novas 15 de AgostoHerdade Alcanada 30 soldos 1 de MarçoHerdade Barros do Andainho 1/3 —Herdade Rio Seco “Pão sabudo” e 1 par de frangãos —Herdade Rio Seco 30 soldos —Herdade [Reguengo] 30 soldos —Herdade Opeia 3,5 libras NatalHerdade S. Sebastião 50 soldos —Herdade — 30 soldos NatalHerdade Opeia — —Herdade Ribeira da Opeia 3 libras NatalHerdade Magueija 3 libras —Herdade Aso a Portela 40 soldos —Herdade Amor 30 soldos —Herdade Rio Seco 30 soldos —Herdade Rio Seco 3 libras Natal

Herdade e lagar Portela 6 libras NatalHerdade e vinha Cortes 40 soldos S. Miguel

Herdades Baraçal e Rio Seco 50 soldos PáscoaHerdades Cortes 3,5 libras —Herdades Alpentende/Casal Mão 3 libras e 5 soldos NatalHerdades Alpentende/Casal de D. Constança 4 libras —Herdades [Canoeira] 33 soldos —Herdades Freixial 30 soldos —Herdades Rio Seco 30 soldos S. MiguelHerdades Andoinho “Pão sabudo em cada ano” —

2 Herdades Pousadas das Vinagreiras 10 libras novas 15 de Agosto3 Talhos de herdades

e vinha Casal da Baralha 35 soldos NatalHerdamento Vidigal 3 libras e 5 soldos e 2 frangãos 15 Agosto

Herdade e olival Pêra Curva 8 libras 1 de MaioCasais

Casal Mouta do Gato 1/3 —Casal Cirol 20 libras —Casal A de Durão 10 libras Natal

LugaresLugar — 6 libras 5 soldos —Lugar — 40 soldos —Lugar — 40 soldos —

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Lugar — 14 libras —Lugar — 3 libras —

[Lugar] Alpentende 35 soldos —Lugar — 4 libras —

Lugares — 30 libras, 2 frangões —Quintas

Quinta Porqueira [Arrabal] 10 libras —Quinta Fonte da Pedra 5 libras —Quinta Golpilheira 20 libras —Quinta “que foi de Vicente Lopes” — —Quinta Cirol 20 libras —

ConchousosConchouso — 3 libras —Conchouso Areal 11 libras novas ou 44 soldos antigos Stª Maria de SetembroConchouso — 10 soldos novos —

AlmuinhasAlmuinha — 4 libras —Almuinha — 6 libras —Almuinha — 12 librasAlmuinha Fonte Quente 55 soldos —Almuinha Fonte Quente 40 soldos MaioAlmuinha Fonte Quente 20 soldos —Almuinha Gafaria 45 soldos e dízimo —

OlivaisOlival Gândara 50 soldos EntrudoOlival Gândara 6 libras PáscoaOlival Gândara 40 soldos PáscoaOlival Areia dos Vasos 3,5 libras Véspera de S. MiguelOlival Acima da Gafaria 3 libras —Olival Carreira de Regueira de Pontes 55 soldos EntrudoOlival Rossio Velho 40 soldos AgostoOlival — 10 soldos ou 6 libras novas —Olival Sampom 40 soldos PáscoaOlival Além da Ponte 3 libras PáscoaOlival [Azoia] 3 libras S. NicolauOlivais Areia dos Vasos 115 libras novas e o dízimo —

Olival e vinha — 30 soldos —Olival e vinha Fonte da Parviceira 50 soldos —

VinhasVinha Porto Moniz 3,5 libras —Vinha Ponte do Vidigal 7,5 libras —Vinha — 20 soldosVinhas [Comeira do Paço] 50 soldos —Vinhas — 3,5 libras —Vinha Fervença 3 libras —Vinha Senta [Santo Estêvão] 3libras e 2 soldos PáscoaVinha Costa 14 libras PáscoaVinha Sentas 20 libras novas e dízimo NatalVinha Estrada das Mestas 45 soldos NatalVinha Paio Alvo 6 libras novas NovembroVinha Rego Travesso 40 soldos PáscoaVinha Vidigal 4 libras PáscoaVinha Sentas 30 soldos S. MiguelVinha Estrada das Mestas 4 libras NatalVinha “Aso a Azoia” 50 soldos —

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Vinha Portela 3 libras e 8 soldos NatalVinha Cirol/Casal do Barro 20 soldos S. MiguelVinha Vidigal 40 soldos —Vinha Vidigal 4 libras e dízimos —Vinha Ponte do Arco 3 libras —Vinha Vale Boco 50 soldos —Vinha Azoia 4 libras DezembroVinha Azoia 40 soldos S. MiguelVinha Rego Travesso — —Vinha Porto Moniz 4,5 libras PáscoaVinha Mestas 20 soldos —Vinha Casal da Baralha 15 soldos NatalVinha Quebradas 50 soldos —Vinha Costa 50 soldos antigos Maio

Vinha e pomar Gafaria 6 libras S. MatiasVinha e pomar Cortes — —Vinha e olival Fervença 15 libras S. MiguelVinha e olival Lagar de Paio Togeiro 25 soldos —Vinha e olival Albarrol 3 libras —Vinha e olival Fonte da Raia 3 libras NatalVinha e olival Pereira Curva 20 soldos Natal

Vinha, olival e almuinha Vale Boco [Valoco] 15 libras Páscoa2 vinhas e herdades Alpentende 4 libras Entrudo

Bacelo Vidigal 40 soldos MaioSalinas

Salinas –3 talhos de sal e 1 vinha e herdade

Sentas de AlcanadaCabreira (herdade) 60 libras novas e o dízimo Terças do ano

Salina – 1 talho Sentas 3 libras S. MiguelCasas

Casa — 20 soldos —Casas S. Martinho 3 libras NatalCasa Rua Nova 20 soldos —Casa Ponte 30 soldos EntrudoCasa Ponte 5 libras AgostoCasa Rua da Ponte 50 soldos PáscoaCasa Rua da Ponte 10 libras novas ou 3 antigas S. MiguelCasa Rua da Ponte 5 libras AgostoCasa Adro de Santiago 35 soldos —Casas “onde mora” 6,5 libras —Casas S. Martinho 8 libras PáscoaCasas Rua das Cavaleiras 5,5 libras PáscoaCasa Rua das Cavaleiras 3 libras NatalCasa S. Martinho 6 libras Véspera S. MiguelCasa Santiago 10 libras novas —Casa “A par de João Sarrão” 35 soldos —Casa Rua de Gil Martins 3 libras antigas ou 10 libras de

real a 10 librasVéspera Stª Maria

de SetembroCasa Santo Estêvão 20 soldos S. MiguelCasa Rua da Lã dos Mercadores 20 soldos —Casa Sapataria 30 soldos Páscoa

Casa tenda Ferraria 3 libras S. MiguelCasas Portela 30 libras Stº EstêvãoCasas Rua da Sapataria 3 libras antigas ou 10 novas —Casas Judiaria 3 libras —

Casa e conchouso Vila Nova 3 libras novas —

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TendasTenda Sapataria 27 soldos S. MiguelTenda Sapataria 10,5 libras novas PáscoaTenda Ferraria 30 soldos (por metade da

tenda) Natal

Tenda Ferraria 5 libras antigas ou 25 libras novas S. Miguel

Tenda Sapataria 30 ou 40 soldos —Adega

Adega [Leiria] 1/2 renda —Lagares

Lagar de azeite [Ponte] 5 libras JaneiroLagar Santo Estêvão 40 soldos —Lagar Fontainhas 5 libras PáscoaLagar A par de Vicente Peres Amo 3 libras —

Não identificados[Não identificado] — 5 alqueires de azeite —[Não identificado] Gafaria — —

Igreja de Santa Maria da Pena (Castelo de Leiria):pormenor da abside e da torre sineira

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APÊNDICE DOCUMENTAL

Doc. 11399 e 1431 — Relação das propriedades e rendas do Mosteiro de Santa Cruz

de Coimbra na vila de Leiria e no seu termo.TT — Santa Cruz de Coimbra, Livro 94, fls. 1, 275-287vº

[Fl. 1] Livro chamado o Nobre aonde estão escritas todas as propriedades que o Mostei-

ro pesuhia e o foro e penção que dellas se pagua ao tempo que se fez que foi no anno do Nascimento de Noso Senhor Jesu Christo de 1431, aos 26 dias do mes de Mayo do dito anno e foi feito por Diogo Affonso como se conta a fl. 367vº.

[Fl. 75]Livro das possisõoes de Leirea e sseu termho.Estes som os lugares de Santa Cruz que som enprazadas de que os crelligos nom

ham d aver nada 44. E ssom do prior primeiramente:[1] Item Martim Perez jenrro do Palmeiro traz huuã erdade em Alcanada ao terço

e ha de dar o dizimo e duas gallinhas.[2] Item Lourenço Martinz Leyte Coyto tabeliam traz huuã herdade no Hurmar e

ha de pagar tres libras e mea antigas.[3] Item Joham Duraaez ffilho da Gaga traz vinhas ao Porto Moniz e ha de pagar

tres libras e mea antigas.[4] Item Afomso Fferrnandez ffilho do do [sic] Castellãao trage huuã almoinha e

ha de pagar quatro libras antigas.[5] Item Pero Ffrangeiro trage huuã almoynha por bjc libras antigas.[6] Item Joham Vicente criado d Andre Martinz tecellam da Ponte trage huuã

binha aa Ponte do Vidigal por bij libras e mea antigas.[7] Item Afonso Martinz coonigo dicto Couvynha trage huuã quintaa na Porquei-

ra que foi de Ffernam Perez crelligo por x libras antigas. // [Fl. 275vº][8] Item a molher que foi de Gomez Fferreiro da Fonte da Pedra trage huuã quin-

taa no dicto logo e ha de pagar b libras antigas.[9] Item a quintaa que ffoi de Vicente Lopez da par da Golpelheira tragea Gill

Martinz por xx libras antigas.[10] Item a quintaa que foi de Vicente Lopez45.[11] Item o Casall da Mouta do Gato trageo Barregam enprazado ao terço.[12] Vasco Anes mercador trage huum casal em Ciroll de que ha de pagar xx

libras antigas.[13] o dicto Vasco Anes trage huuã herdade que jaz so o muro por tres libras

antigas.

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[14] Stevam Vicente alffayate trage huuã quintaa em Ciroll que foi de Stevam Martinz irmãao do Prior por xx libras antigas.

[15] Item Vicente Dominguez ffilho de Domingos Perez crelligo trage huuã casa por xx 46 <soldos> antigos.

[16] Item o Ffranco da Portella trage huuã coirella de vinha por xx 47 soldos antigos. // [Fl. 276]

[17] Item Joham de Bayom albardeiro trage huum lugar por bj libras e b soldos antigos.

[18] Item Martim Galego almocreve trage huum lugar por Rta soldos antigos.[19] Item Gill Martinz da Comeeyra do Paaço trage vinhas que soya de trager a

molher de Apariço Eyrigo por l soldos antigos.[20] Item Joham Lourenço mercadeiro trage vinhas por tres libras e mea anti-

gas.[21] Item Pero Manso trage lugares por xxx libras desta moeda e dous ffran-

gõos.[22] Item Joham Vicente ffilho de Vicente Anes Aburellado das Brancas trage

huuã erdade por bij libras antigas.[23] Item Gonçalo d Amarante çapateiro trage huum lugar por Rta soldos antigos.[24] Item a meatade da renda da adega dos crelligos.[25] Item Joham de Viseu da Ponte trage huum lugar por xiiij libras antigas. //

[Fl. 276vº][26] Item Vicente Vicente Pardinho da Ponte trage huum lugar por tres libras

antigas.[27] Item Pero Dominguez ffilho de Christovam Mergulhom da Ponte trage

huum conchouso por iiij libras antigas.[28] Item Gonçalo Gonçallvez da Ponte ha de pagar b alqueires d azeite.[29] Item Antoninha que mora em Porto Covo trage huuã almoynha que tragia a

Gazea por xij libras antigas. // [Fl. 277]Titulo das egrejas e hermidas d arredor da villa e termho primeiramente:Item Sam Pedro de MuellItem Santa Maria do Regeengo.Item Santa Maria de Patayas.Item Santa Maria de Maceeira.Item Sam Mamede d Alcugulhe.Item Santa Maria da Gayolla.Item Sam Beento da Cividade.Item Santa Eyrea.Item Sam Valleriam.Item Sam Mamede da Serra.Item Santa Margarida de Soutossecto.Item Sam Bertollameu e Sam Beento do Ffreixeal // [Col. B]

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Item Santa Offemea de Ciroll.Item Sam Paullo d Aamor.Item Sam Joham de Monrreal e Sam Lourenço.Item Santo Antoninho.Item <os> Sam Migéés.Item o ssall.Item sopolturas e aniverssairos.Item a dizima dos pescados das Paredes.Item a terça dos vinhos.Item a meatade das egrejas da villa aos Domingos e festas ect. // [Fl. 277vº]

Estes som os aniverssairos que eu Ffernando ffilho de Joham Martinz scripvam da ssissa de Leirea tralladey no mes de março de mil iiijc e xxxbij anos e os que andam enprazados per esta moeda ora corrente desta Era 48 sobredicta logo diz desta moeda. E os que andam enprazados per moeda antiga nom diz nada salvante diz a penssom por que cada huum anda arrendado ou enprazado por tantas libras ou por tantos soldos primeiramente:

[30] Item Joham Estevez tabeliam trage huuãs casas a par da egreja de Sam Mar-tinho por tres libras e paga por Natall.

[31] Item Gonçalo Deyllam da Azoya trage huuã [sic] em Alpentynde por xxxb soldos.

[32] Item Afomso Vicente carpenteiro irmãao de Gonçalo Vicente carpenteiro trage huum lugar por iiij libras.

[33] Item Joham Afomso caciffeiro trage huum olival na Gandara por l soldos. Paga por Entruydo.

[34] Item huuã erdade nas Cortes que leixou Martim Sueiro que parte com Amtam Gonçallvez. E está por enprazar. // [Fl. 278]

[35] Item Joham Afomso ffilho de Joham Afomso das Maravilhas trage huuã herdade a par da Ponte da Retura por Rta iiij soldos paga por Sam Migel ou xij libras desta moeda e tem strumento.

[36] Item Joham Nabãaes trage huuã casa na Rua Nova por xx soldos.[37] Item Andre Dominguez tecellam da Ponte trage huuã casa por xxx soldos.

Paga por Entruydo.[38] Item a molher de Lourence Anes que foi da Ponte trage huum lagar d azeite

por b libras. Paga por Janeiro.[39] Item Afomso Perez carpenteiro trage huum olival a Area dos Vasos por tres

libras e mea. Paga por vespera de Sam Migell.[40] Item Afomso Stevez da Ponte que casou com a molher que foi de Joham Aba-

de trage huuã vinha e pumar a par da Gafaria por bj libras. Paga por Sam Matya[s].[41] Item Alvaro Perez Vilhano trage huuã almoynha na Fonte Queente por lb

soldos.

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[42] Item Gomez Martinz crelligo trage huum olival acima da Gafaria por tres libras.

[43] Item Joham Afomso do Vidigal trage huum herdamento em ell por tres libras e b soldos e dous ffrangãaos e paga por Santa Maria d Agosto. // [Fl. 278vº]

[44] Item Gonçalo Gomez çapateiro trage huuã tenda na çapataria por xxbij sol-dos. Paga por Ssa’Migel.

[45] Item Bazalha Cabeça trage huuã casa na Rua da Ponte por l soldos. Paga por Pascoa.

[46] Item Martim Vicente almocreve da Ponte trage huuã vinha e olival e almoy-nha em Val Boco por xb libras desta moeda. Paga por Pascoa.

[47] Item Domingos ffilho de 49 <Vicente> Anes da Marynha trage huum casal no logar que chamam A de Duram por x libras desta moeda e tem no por ix anos. Paga por Natal.

[48] Item Joham Perez da Estalagem trage huuã vinha na Ffervença por tres libras.

[49] Item Joham Sanchez pegeiro trage huuãs casas em que ora mora per bj libras e meia.

[50] Item huuã tenda na Fferraria Joham Estevez fferreiro ffilho de Stevam D Ourem trage a metade della por xxx soldos. Paga por Natall. Bertollameu Stevez a paga.

[51] Item Domingos Perez crelligo que foi tragia duas vinhas e herdades em Alpyntyde por iiij libras. Paga por Entruydo. // [Fl. 279]

[52] Item Joham Perez falcoeiro trage huuã vinha e olival na Ffervença por xb libras desta moeda. Paga por Sam Migell.

[53] Item huua vinha na Seenta aso Santo Estevom a molher de Moxardia a trou-ve ja por iij libras e ij soldos e depois trouve a Alvaro Afonso da Çapataria crelligo por a dicta contia e nom a trage ja e ham de saber quem a trage. Paga por Pascoa.

[54] Item Stevam Anes Casqueira carniceiro trage huuã herdade a par das casas de Leyte Coyto por iiij libras. Paga por 50 Natal.

[55] Item Diego Vicente Pardynho da Ponte trage tres talhos de sal nas Seentas d Alcanada e vinha e herdade hu chamam a Cabreira tem todo por lx libras desta moeda e ho dizimo ha de dar de todo esto e paga aas terças do ano.

[56] Item o neto de Joham Neto Monte Redondo trage herdade em Alcanada a par 51 de Dona Constança por Rta soldos e enquanto correr desta moeda reaal a dez soldos ha de pagar x libras em cada huum ano. Paga por Natal.

[57] Item Joham Afomso caciffeiro trage huum olival na Gandara por bj libras. Paga por Pascoa.

[58] Item Vasco Afomso genrro de Testa Branca trage huuã vinha na Costa por xiiij libras desta moeda. Paga por Pascoa. // [Fl. 179vº]

[59] Item Stevam Martinz Ssaya trage herdade e olivall a par de <Pera Curva> 52 por biij libras. Paga por primeiro dia de Mayo.

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[60] Item Johane Anes baynheiro trage huuã tenda na Çapataria por x libras desta moeda. Paga por Pascoa.

[61] Item Joham de Pinhel mercador trage huuãs casas a par da egreja de Sam Martinho por biij libras. Paga por Pascoa.

[62] Item Afomso Martinz da Lapa trage huuãs casas na Rua das Cavaleiras por 53 <cinque> libras e mea. Paga por Pascoa.

[63] Item Joham Martinz ffarinheiro marido da Mouta trage huuã casa a par da egreja de Sam Martinho por bj libras. Paga por vespera de Sam Migel.

[64] Item Estaço da Ponte trage huum conchouso no Areal por xj libras desta moeda e se abaixar ha de pagar Raiiij soldos da moeda antiga e paga por Santa Maria de Setenbro. // [Fl. 280]

[65] Item Joham de Viseu da Ponte trage huum conchouso por x soldos desta moeda.

[66] Item Alvaro Perez Vilhano crelligo trage huum olival na carreira de Regeira de Pontes por lb soldos. Paga por Entruydo.

[67] Item Joham Afomso da Varella da Ponte crelligo trage huuã almoynha na Fonte Quaente por Rta soldos. Paga por Mayo.

[68] Item Martim Vaasquez genrro de Ciroll trage olival e vinha por xxx soldos Ffernam Galego e Joham Vaasquez e pagam todo he dos crelligos.

[69] Item Stevam Gonçallvez çapateiro da Ponte trage 54 huum olival na Gandara por Rta soldos. Paga por Pascoa, mortorio.

[70] Item Gomez Martinz crelligo trage huum olival no Resyo Velho por Rta soldos 55. Paga por Agosto.

[71] Item Joham Afomso da Barella crelligo da Ponte trage huum olivall por x soldos. Joham de Patayas crelligo o tem per bj libras desta moeda. // [Fl. 280vº]

[72] Item Afomso Gonçallvez trage huuã casa que leixou Petro Ssarrãao na egre-ja de Santiago por x libras desta moeda.

[73] Item Gonçalo Anes Picanço trage huum bacello no Vidigal por Rta soldos. Paga por Mayo.

[74] Item o Meestre Fferreiro trage vinha e olivall ao lagar do Paay Togeiro por xxb soldos.

[75] Item o dicto Meestre Fferreiro trage huuã casa a par de Joham Ssarrãao por xxxb soldos.

[76] Item o ssobredicto Meestre trage huuã tenda na Fferraria por b libras da moeda antiga ou xxb libras desta. Paga por Ssan Migell.

[77] Item Lourenço Eyrigo de Ryo Seco trage herdades em o Baraçal e a par desy por l soldos. Paga por Pascoa.

[78] Item Rollam almocreve trage huuã casa na Rua de Gil Martinz alcaide por iij libras da moeda antiga e enquanto correr esta real por x libras ha de pagar x libras desta moeda. Paga por vespera de Sancta Maria de Setenbro, // [Fl. 281]

[79] Item Martim Lourenço crelligo trage tres talhos d erdades e vinha no Casal

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da Baralha por xxxb soldos. Paga por Natall.[80] Item o ffilho de Gonçalo da Alagoa trage duas herdades aas Pousadas das

Vinagreyras por x libras desta moeda. Paga por Santa Maria d Agosto.[81] Item Rodrigue Estevez crelligo ffilho de Maria d Alffena trage huuã erdade

no Vidigall aa Ponte Pequena por bj libras desta moeda e aa de chantar em vinha. Paga por Santa Maria d Agosto.

[82] Item Alvaro Soupana de Santo Stevam trage huuã vinha nas Seentas por xx libras desta moeda e ha de dar o dizimo e paga por Natal.

[83] Item Stevam Anes Fome trage huuã casa na ffregisia de Santo Stevam por xx soldos. Paga por Sam Migell.

[84] Item Johane Anes baynheiro trage huuã casa tenda na Fferraria por tres libras. Paga por Sam Migell.

[85] Item o ffilho de Joham d Oupea trage herdade em Alcanada por xxx soldos paga por primeiro dia de Março. // [Fl. 281vº]

[86] Item Gill Vicente molleiro morador nas Ffontes trage herdade e huuã vinha nas Cortes por Rta soldos. Paga por Ssan Migell.

[87] Item Martim Anes pedreiro da Ponte trage huuã vinha na estrada das Mestas por Rtab soldos e paga por Natall e paga Diego vinhateiro.

[88] Item Johane Anes cuytelleiro trage huuãs casas na Portella por xxx libras desta moeda por dia de 56 Inueençio57 Sancti Steffani.

[89] Item Tareyja Perez molher que ffoi de Domingos Giaaez leixou em na egreja de Ssantiago herdades nas Cortes. Stevam Martinz Loureiro as teve e depois as teve Cardeall por tres libras e mea e ora nom som enprazadas.

[90] Item Afomso Anes Coto que mora do Casall trage erdades em Alpepentyde [sic] no logo que dizem Casall Mãao por tres libras e b soldos e paga por Natall.

[91] Item Pedre Anes Namorado da Ponte trage huuã vinha no logo que hé dicto Paay Alvo por bj libras desta moeda para por Novembro.

[92] Item Stevam Anes ffilho de Joham Afonso Cercoso trage herdades no Ffrei-xeal por xxx soldos. // [Fl. 282]

[93] Item Joham Afomso da Barella crelligo da Ponte trage huum olival em Ssampom por Rta soldos. Paga por Pascoa.

[94] Item Johane Anes vynheiro trage casas na Rua da Çapataria por x libras desta moeda e se sse abaixar ha de pagar tres libras antigas.

[95] Item Lourenço Eurigo trage herdades em Ryo Seco por xxx soldos. Paga por Ssam Migel

[96] Item Joham Afomso Pam e Augoa trage huum lagar a Ssanto Stevam por Rta soldos.

[97] Item Gomez Martinz crelligo trage herdades em Alpentinde a par do Casal de Dona Costança por iiij libras. // [Fl. 282vº]

[98] Item Apariço Vicente trage huuã herdade nos Barros do Andaynho ao ter-ço.

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[99] Item Joham Vicente ssobrinho de Stevam Gonçallvez da Canoeira trage herdades que leixou este seu tyo Stevam Gonçallvez por xxxiij soldos. Lopo Afomso Copeas as tem ja ora por x libras desta moeda e abaixando ha de pagar Rta soldos da moeda antiga. A molher de Joham Vicente da Canoeira as trage.

[100] Item Stevam Periz de Porto do Carro trage herdades no Andoynho [sic] e ha de dar pam sabudo em cada huum ano.

[101] Item Bertollameu Martinz sobrinho de Bertollameu Estevez trage os oliva-aes que tragia Domingos Perez crelligo a Area dos Vasos e outro que leixou Stevam Perez o Vogado no dicto logo todo por cento xb libras e ho dizimo desta moeda.

[102] Item Johane Anes Frade que mora em Ryo Seco trage huuã herdade e ha de dar pam sabudo do que Deus hi der e huum par de ffrangãaos. // [Fl. 283]

[103] Item Ffernando Anes do Regeengo trage huuã herdade por xxx soldos.[104] Item Domingos Anes tecellam trage huuã casa na Rua da Ponte por dez

libras desta moeda e abaixando ha de pagar iij libras da moeda antiga por Sam Mi-gel.

[105] Item Martim Vicente Maçoeira que mora em O<u>pea trage huuã herdade no dicto logo d Oupea por tres libras e mea. Paga por Natall.

[106] Item Joham Vicente Chumaço trage huuã vinha em Rego Travesso por Rta soldos. Paga por Pascoa.

[107] Item Mousem Frances judeu trage casas na Judaria por tres libras.[108] Item Joham Vicente Chumaço trage huuã vinha no Vidigal por quatro li-

bras. Paga por Pascoa. // [Fl. 283vº][109] Item Joham Perez Casqueiro trage huuã erdade acima de Ryo Seco por

xxx soldos.[110] Item o marido de Maria Bella trage huum lagar aas Fontaynhas por b libras.

Paga por Pascoa.[111] Item Acenço Chaveiro trage huuã herdade aalem de Sam Ssavastiam por

l soldos.[112] Item Joham Perez Padello crelligo trage huuã casa e conchouso em Vila

Nova por tres [libras] desta moeda.[113] Item Gonçalo Anes crelligo da Ponte trage olival e vinha acima da Fonte da

Parviceira por l soldos e dizem que Joham Dominguez tecelam da Ponte tolhe outro olival que hi ha e nom da penssom.

[114] Item Petre iogal58 e sa molher leixaram em na egreja de Santiago sobre a Gaffaria e nom he ora emprazada. // [Fl. 284]

[115] Item Stevam Dominguez Rangell ffilho de Domingos Perez trage huuã vinha nas Seentas por xxx soldos. Paga por Ssam Migel.

[116] Item Joham Fferrnandez prior da Atougia irmãao de Mestre Gonçalo trage huum talho nas Sseentas por tres libras. Paga por Sa’Migel.

[117] Item a molher de Domingos Dominguez Vinagre morador na Ponte trage huuã casa na Rua do dicto logo por xij libras desta moeda. Paga por Sa’Migell.

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[118] Item Joham Ffernandez crelligo trage huuã casa na Ponte por b libras. Paga por Agosto.

[119] Item Stevam Vicente Rengell trage huuã vinha na estrada das Mestas por iiij libras. Paga por Natal.

[120] Item Gonçalo Stevez frade de Sancta Çita trage huuã casa na Rua das Cavaleiras por tres libras. Paga por Natal. Vicente Perez amo do Conde a trage ja. // [Fl. 284vº]

[121] Item Joham Dominguez Pereiro crelligo que foi tragia huuã vinha aso a Azoya por l soldos. Gonçalo Anes carpenteiro seu genrro a trage.

[122] Item Joham Duraaes carpenteiro trage huuã vinha na Portella por tres libras e biij soldos. Paga por Natal.

[123] Item a molher de Pero Ssynal trage huuã herdade por xxx soldos. Paga por Natal.

[124] Item Martim Lourenço crelligo trage huuã almoynha a par da Gaffaria por Rta b soldos e o dizimo.

[125] Item Alvaro Afomso marido de Turcicolles trage vinha e olival em Albar-rol por tres libras.

[126] Item o ffilho do Infantynho da Ponte trage huuã vinha a par da Ponte do Arco aso a vinha del Rey por tres libras. // [Fl. 285]

[127] Item Martim Lourenço crelligo trage huuã casa a par do adro de Santiago por xxxb soldos.

[128] Item Diego Afomso ffilho de Joham Afomso das Maravilhas trage huuã vinha em Ciroll aso o Casall do Barroo por xx soldos. Paga por Sam Migel.

[129] Item Gonçalo Anes çapateiro dicto Ffidalgo trage huuã tenda na Çapataria por xxx ou Rta soldos.

[130] Item Vicente Anes Peixeirinho trage huuã vinha e olival hu chamam a Fonte da Raya por tres libras. Paga por Natal.

[131] Item Bertollameu d Arouca leixou vinha e pumar nas Cortes e trouve o ja Domingos Johanes dicto Palmeiro morador na Alcaydaria e ora nom está empraza-da.

[132] Item Vasco Anes Peixeirinho tecelam trage huuã casa na Rua da Lãa dos Mercadores por xx soldos. // [Fl. 285vº]

[133] Item Martim Fficalho leixou herdade em Oupea e Giãao de Soutossico a trouve ja e está ora por enprazar.

[134] Item Joham Gonçallvez de Sant’Andrel que casou com a molher de Pee de Rodo trage huuã erdade aso a Portella por Rta soldos.

[135] Item o Meestre Fferreiro trage huum lagar e herdade na Portella por bj libras. Paga por Natal.

[136] Item Afomso d Aaveiro tragia no Vidigal huuã vinha por Rta soldos desta moeda.

[137] Item o Bacinho d Aamor trage herdade no dicto logo por xxx soldos.

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[138] Item o ffilho de Gonçalo da Allagoa trage no Vidigal huuã vinha por iiij libras e ho dizimo. // [Fl. 286]

[139] Item Alvaro Perez Villano trage huuã vinha em Vallbooco por l soldos.[140] Item Gomez Lourenço 59 crelligo trage na Azoya huuã vinha por iiij libras.

Paga por Dezembro.[141] Item Costança Fferrnandez da Ponte trage huuã almoynha na [Fonte] Quo-

ente por xx soldos.[142] Item Joham Dominguez Pereiro crelligo que ffoi tragia vinha na Azoia por

Rta soldos. Pagam por Sam Migel Lourence Anes seu ffilho a trage.[143] Item Stevam Anes Farffollo trage vynha e olivall aa Pereira Curva por xx

soldos. Paga por Natal.[144] Item Domingos da Gaga e sa molher Tareija Paaes leixarom huuã vinha

em Rego Travesso e trouve a ja Joham Dominguez Mata Mouros e ora está por em-prazar, // [Fl. 286vº]

[145] Item Afomso Perez carpenteiro trage huuã vinha ao Porto Moniz por iiij libras e mea pagam por Pascoa.

[146] Item Joham Afomso crelligo da Barella da Ponte trage huuã vinha nas Mestas por xx soldos.

[147] Item Martim Vaasquez tabeliam trage huuã vinha no Casal da Baralha por xb soldos. Paga por 60 Natal.

[148] Item Joham Vicente Paacinho da Azoya tragia huum olival por tres libras. Paga por Sam Nicollaao. Ffernam Dornellas seu tetor ho há agora de veer.

[149] Item Andreu do Regeengo trage huuã herdade na Mageyia por tres libras.[150] Item Afomso Anes Barreiro ssogro de Diego Mingeiros de Cirol trage her-

dade a par da Ribeira d Oubea [sic] por tres libras. Paga por Natal. Pedro Afomso Rapas o trage ja. // [Fl. 287]

[151] Item Johane Stevez sobrinho do Abbade trage vinha nas Quebradas por l soldos.

[152] Item Pedre Anes crelligo thesoureiro de Santa Maria trage erdade em Ryo Sseco por xxx soldos.

[153] Item Ffrancisque Eanes Bochardo trage aniverssairo em Ryo Sseco por iij libras. Paga por Natal. Stevam 61 <Acenço> de Ryo Seco o tem.

[154] Item Johane Anes marceiro genrro da Picoa trage huum olival aalem da Ponte por tres libras. Paga por Pascoa.

[155] Item Gonçalo Stevez Ffrade que morava na Praça trage huum lagar que está a par de Vicente Perez Amo por tres libras da moeda antiga.

[156] Item Joham Vicente Balbooto trage huuã vinha na Costa e ha de pagar L soldos antigos por Mayo. // [Fl. 287vº]

[157] Item Afomso Ffernandez ou Lourenço Fferrnandez alffelloeiro trage huuã casa na Çapataria por xxx soldos. Paga por Pascoa. Joham Ba[r]queiro da Azoya a tem ja.

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Doc. 21402 DEZEMBRO, 7, Coimbra, Mosteiro de Santa Cruz — D. Afonso, prior-mor

de Santa Cruz de Coimbra, compromete-se perante D. Pedro Eanes, prior claustral e demais comunidade canonical crúzia, a respeitar o acordo estabelecido entre ele o Município de Leiria, a propósito das rações de Santa Maria da Pena da dita vila.

TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 2, Documento com a cota antiga “Alm. 41, Mº 14” (?).

Obs.: Documento em mau estado de conservação.

Sabham quantos este estormento virem que aos sete dias do mes de Dezenbro Era de mill e quatrocentos e quarenta anos na cidade de Coinbra dentro no Moesteiro de Santa62 Cruz da dicta cidade, estando hy [o] onrado relegioso Dom Afomso prioll do dicto Moesteiro. E outrosy seendo hy Pedr’Eanes priol crasteiro do dicto Moesteiro, estando outrosy hy Vasco Dominguez priol d’Aronches e Rodrig’Eannes e Joham de Lorvaao conigos e outros muitos [clerigos] do dicto Moesteiro, presente mim Joham Annes tabeliam jeerall per meu senhor el Rey em todos seus Reinos e testemunhas adeante escritas logo pello dicto senhor prioll foy [dicto que] elle em cabydoo [com outor]gamento do dicto 63 convento do dicto Moesteiro fezeram e outorgaram hum estormento de enadiçom antre o dicto senhor [priol e convento] e o Concelho de Lei-reã em que se obrigaram a teer e manteer e aguardar os compromisos que antre elles avia fectos per razom das raçoes de Santa Maria da Pena da [dicta villa de Leirea] so certas penas de mil marcos de prata. O quall dicto senhor prioll disse que como quer que se ele e o dicto convento obrigara a comprir e manteer os dictos contrautos [sob a dicta] pena. E [outrosy] se obrigava e obrigou logo que se elle dicto prioll fosse contra elles sem outorgamento do dicto convento que elle pagasse as dictas penas dos dictos mill marcos de prata ou fezesse quite e livre dellas o dicto Convento sem sua perda e dapno so obrigamento de todos seus beens e da mesa do dicto prioll que pera ello obrigou.

Das quais cousas o dicto prioll crasteiro em nome do dicto Convento pedio hum estormento fecto no dicto logo dias e mes Era sobredictas. Testemunhas Diego da Rossa e Martim Stevez dicto Mestre criados do dicto senhor prioll e outros.

E eu sobredicto tabeliam que este estormento escrevy em que meu sinal fiz que tal hé (sinal). En testemunho de verdade.

Doc. 31407 MAIO, 17, Leiria — João Afonso, vestiário do Mosteiro de Santa Cruz de

Coimbra, e Afonso Martins, cónego do mesmo Mosteiro, como seus procuradores, emprazam a Gomes Lourenço, tecelão, um chão além-rio, diante de S. Francisco e

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de Santo André, para que nele se refizesse uma vinha, pagando-se, nos três primei-ros anos, dois puçais de vinho de renda e, depois, um terço do vinho mais o dízimo ou, caso o foreiro deixasse de amanhar o dito chão, pagar dois moios de vinho. In-sere procuração de 11 de Maio de 1407, Coimbra, na qual se alude também à adega da Vestiaria de Santa Cruz em Leiria.

Arquivo da Universidade de Coimbra — Pergaminhos de Santa Cruz de Coim-bra, Dep. V, III Secção, Móvel, 3, Gaveta 8, Nº 2 (Cota antiga “Alm. 34, Mº 2, Nº 3”).

Saibham todos quantos este estormento de emprazamento virem como eu Joham Afonso vistiairo do Moesteyro de Samta Cruz da cidade de Coinbra [e] eu Afonso Martinz conigo do dicto Moesteiro e priol de Sam Martinho d’Alcova e procurado-res do cabido do dicto Moesteiro anbos juntamente ssegundo hé conteudo em huuã procuraçom que tal hé:

Sabham todos os que esta procuraçom virem que pressente mym Afonso Anes tabeliom de noso senhor el Rey na cidade de Coinbra e as testemunhas adeante es-critas, os onrrados relegiosos Dom Afonso prioll e convento do Moesteiro de Santa Cruz da dicta cidade que presentes estavam no cabidoo do dicto sseu Moesteiro todos juntos per campa tanguda e cabidoo fazendo ssegundo sseu custume especial-mente pera esto que sse adeante ssegue, os ssobredictos prioll e convento fezerom e ordinarom e estutuirom por sseus certos procuradores lidimos avondosos ssoficien-tes asy e como e pella guisa que elles milhor e mais compridamente podem e devem seer e de direito mais valer perfectos e compridos em todo abastantes pera esto que sse adeante ssegue Joham Afonso conigo profeso do dicto Moesteiro e Afonso Mar-tinz priol d’Oninhas anbos enssembra e cada huum pollo todo asy que a condiçom duum nom sseja moor nem meor que a do outro e o que huum cometer que o outro o posa sseguir e acabar.

E derom lhes comprido poder e especial mandado que por elles e en sseus nomes posam enprazar huuã adegua que a Vistearia do dicto Moesteiro há en Leirea que trazia enprazada Joham Gonçallvez que foy alcaide meor do castello da dicta villa que deziam que renuciara ao dicto Moesteiro e que elles lha receberom.

Outrosy huum chãao que a dicta Vistearia há en a dicta villa que está ante Sam Francisco e Samt’Amdrel aleen do Rio a Fernam Pirez alcaide da dicta vila ou outros quãeesquer pesoas que elles quiserem e por bem teverem por preços e contias que lhes provese en tres vidas e mais nom que elles mandem pera esto sseer fectas escre-turas que pera ello forem compridoiras e necesarrias e com as clasollas que o fazer quiserem asy come bóós e verdadeiros procuradores. E ouverom e prometerom a aver por firme e estavil pera ssempre todo o que pellos ssobredictos e per cada huum delles for fecto sso obrigaçom do dicto Moesteiro que pera esto obriguarom.

Fecta no dicto logo aos onze dias de Maio Era de mil e quatrocentos e quarenta

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e cinque annos. Testemunhas que pressentes forom Gil Lourenço priol de Sam Fa-gundo e Alvaro Gil filho do Esteiro e Joham Regel d’Almalagues criados do dicto Moesteiro.

E [eu] tabeliom ssobredicto que esta procuraçom escrevy sso meu sinal que tal hé.

A qual procuraçom asy leuda e mostrada os ssobredictos Joham Afonso e Afonso Martinz en ella procuradores enprazarom logo a Gomez Lourenço tecelam que pre-sente estava morador na Ponte em a dicta villa de Leirea huuã herdade que foy vinha que a dicta Vistearia há en o dicto logo que jaz antre ho Moesteiro de Sam Francisco e Samtrandel [sic] ssegundo hé conteudo en a dicta procuraçom que parte com a dicta Vistearia e com rio e com caminho probico e com a molher que foy de Pero Martinz convem a saber en dias de ssua vida e de duas pesoas e depois da ssua morte qual o prostomeiro nomear a ssua morte, convem a ssaber que o dicto Gomez Lou-renço chante a dicta herdade e rechante e faça en bõa vinha ataa tres annos primeiros sseguintes e dar en cada huum dos dictos tres annos dous puçãees de vinho a bica no laguar recebundo. E des os dictos tres annos en deante que a dicta vinha deve a sseer fecta, dar o terço do vinho que Deus em ella der no laguar a bica e mais o dizimo a dicta Vistearia. E nom ha chantando e fazendo como dicto hé que de e pague des os dictos tres annos en deante en cada huum anno asy o dicto Gomez Lourenço come as dictas pesoas despos ell dous moios de vinho. E que vós adubedes e as dictas pesoas depos vós a dicta vinha de todo boom adubio que lhe comprir e fezer mester em cada huum anno com tenpo e com sazom bem e fielmente de podar e enpar e cavar e arrendar [sic] e de todo ho outro boom adubio que lhe comprir e fezer mester. E que per ssuas mortes das dictas pesoas a dicta vinha fique a dicta Vistearia melhora[da] e nom pegorada com toda ssua benfeyturia e melhoria.

E nós ssobredictos Afonso Martinz e Joham Afonso procuradores louvamos e outorguamos e avemos por firme e estavil pera todo ssenpre o dicto enprazamento pella guisa que o dicto hé. E nos obriguamos pellos beens do dicto Moesteiro a vos defender e as dictas pesoas depos vós e nom tolher o dicto enprazamento pella guisa que dicto hé. E nom vo llo defendendo ou vo llo tolhendo que vos paguemos e corre-guamos todas perdas e dannos e custas e despesas que vós fezerdes polla dicta razom e mais paguarmos pelos beens do dicto Moesteiro por pena e en nome de pena cem libras da moeda antigua.

Eu ssobredicto Gomez Lourenço receby en mym o dicto enprazamento com as claosollas e condiçoees que dictas som por mym e por as dictas pesoas e me obrigo a o teer e manteer e fazer e refazer e adubar e en cada huum anno a dicta vinha de todo <o dicto> adubio pella guisa que dicto hé e as dictas pesoas depos mym e paguar en os dictos tres annos primeiros os dictos dous puçãees de vinho pella guisa que dicto hé. E depois dos dictos tres annos em que a dicta vinha ha de sser fecta dar o terço do vinho e dizimo que Deus en ella der pella guisa que dicto hé e condições ssusodictas

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e as dictas pesoas depos mym. E nom o fazendo nem mantendo nem comprindo ou nom paguando pella guisa que dicto hé que pague e corregua toda perda e dano que a dicta Viste[a]ria polla dicta razom receber. E paguar por pena e en nome de pena outras cem libras da dicta moeda antigua. E desto me nom escusar por agua nem per fogo nem per guerra nem per outro nenhuum caso furt[u]ito.

Das quãees cousas as dictas partes louvarom e outorguaroom todo o que dicto hé e ouverom por firme e estavil. E pedirom senhos estormentos de huum teor os dictos procuradores en nome da dicta Vistearia huum. E o dicto Gomez Lourenço outro.

Fectos em Leirea ante as portas das casas da morada de mym tabeliom adeante escrito, dez e ssete dias de Maio Era de mill e quatrocentos e quarenta e cinque an-nos. Testemunhas Afonso Lourenço conigo do Moesteiro de Santa Cruz e Domingos Afonso da Ponte e Vasco Lourenço dos Banhos tecelãees moradores em a dicta villa e outros.

Eu Pero Lourenço tabeliom que este estromento pera a dicta Vistearia escrevy e aqui meu sinal fiz que tal hé (sinal). En testemunho de verdade.

Pagou x reais.

[No verso do pergaminho e de mão coeva]Leva o prior clasteiro sete mill e novecentos e vinte e duas e meia de Pero Lou-

renço tabeliom das vinhas da Vestiaria que trouve.

Doc. 41419 SETEMBRO, 2, Leiria — Rol dos agravos da Clerezia de Leiria contra os

Frades Menores da mesma vila.64

[Fragmento A] TT — Santa Cruz de Coimbra, Caixa 249, Mº 248, não numera-do; [Fragmento B] Pasta 38, “Alm. 36, Mº 6, Nº 1 (29)”; [Fragmento C] Pasta 39, “Alm. 36, Mº 5, Nº 1 (-24)”.

Pub.: [Fragmentos B e C] S. A. Gomes, “O Convento de S. Francisco de Leiria na Idade Média”, in Itinerarium, XL (1994), Braga, pp. 399-502: 454-456.

Sabham quantos este estormento virem que aos dous dias do mes de Setembro Era de mil e quatrocentos e cinquoenta e sete anos em Leirea dentro no Moesteiro de Sam Francisco da dicta vylla estando hi Ffrei Diego gardiam do dicto Moesteiro e Frey Joham de Bragança frade da dicta Hordem perante o dicto gardiam em presença de mym Joham Anes tabaliam geral por El Rey meu senhor em todos sseus regnos e testemunhas adeante escritas pareceo Pere Anes frade professo do Moesteiro de Santa Cruz da cidade de Coinbra e vigairo em a dicta villa por ho priol do dicto Moesteiro e outrosy Joham Lourenço priol da Aguada e raçoeiro em Santa Maria da Pena desta meesma e procurador que se dezia do dicto priol e convento do dicto Mo-

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esteiro de Santa Cruz. E amostrarom e ler fezerom por mim dicto tabeliam presente o dicto gardiom huã carta escrita em papel da qual ho teor se adeante se[gue] d afronta e requerimento que nós o priol e convento do Moesteiro de Santa Cluz de Coinbra fazemos ao gardiam e custodio e frades do Moesteiro de Sam Francisco <estamdo> na vyla de Leirea, vós nos daredes huum e dous e mais estormentos pera guarda de nosso direito. E pera podermos aver e derrençar aaquel que pera esto poder aja em nos poer remedio e muytos agravos que delles nós e nosos sudictos recebemos.

Primeiramente em como elles sejam bem certos que nós e o dicto noso Moesteiro ajamos toda jurdiçom episcopal na dicta vylla de Leirea e outrosy quatro ou cinquo egrejas parrochiaaes limitadas por fregesias e cada huã delas aia fregeses e pia de bautizar as quaaes se acustumarom sseerem regidas por raçoeiros clerigos perpetu-amente instituidos pera darem os sacramentos aos freegeses en as quaaes em cada huum diia se dizem misas muitas moormente nos Domingos e festas. E aalem desto ajamos senpre na dicta vyla vigairo e coonigos que ajam o regimento das dictas igrejas sabendo elles outrosy que de direito cumum os fregeses ao menos nos dyas dos Domingos e festas devem recorrer aas igrejas suas madres e em elas ouvirem suas misas. E nenhuum nom deve receber freeges alheo em sua egreja nos dictos dyas em prejuizo da sua egreja mais ante o devem lançar fora doutra guissa pecaria gravemente. Os ssobredictos relegiosos com entençam de fraudar as dictas egrejas de seu direito emduzem e tirom os dictos freegeses que nom husem nem vaao aas dictas fregesias suas. E os recebem e consentem em seu Moesteiro em gissa que os dictos fregeses nom vaao ouvir as misas nos dictos dyas nem fazer suas obraçooes e cousas a que som teudos e ficam as dictas igrejas desertas e deslladas.

Item as dictas igrejas e cada huã dellas acustumarom d aver certos oragoos em onra dalguuns santos dos quaaes as festas quando acontece viirem no ano eles singu-larmente e com grande honrra senpre de muy longos tempos solenizarom com pree-gaçooes e com toda honrra que podyam. E ora os dictos relegiosos com entençom de fraudar e vilependem às dictas igrejas e em beneficio das deles novamente poserom outros oragos taaes como nas dictas igrejas erom solenizados. E em aqueles dyas nom querem preegar nas dictas igrejas nem … as dictas festas …

[Fragmento B] do dicto seu Moesteiro. E ao tempo que… dictas igrejas elles começom as prega-

çooes em seu Moesteiro por o chamarem asy todo o povoo e ficarem as igrejas asy como ficam soos. E como quer que o nosso Vigairo que na dicta vyla está em noso nome queira fazer pregar perante sy nas dictas egrejas e requeira os dictos relegios-sos que o nom enbargem em suas solenidades que senpre custumarom fazer, elles em nosso desprezamento e da clerezia e direito comum nom querem leixar comprir suas vontades dizendo que sam privyligiados nom curom de nosa judiriçom sem querendo elles mostrar seus privilegios como quer que muitas vezes forom e sam requeridos.

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Item como quer que sejom certos seerem thudos e obrigado induzem a faze<er>em conciencya ao poboo probicamente e escondudamente nas preegaçooes e em suas confisooes que bem e verdadeiramente paguem as dizimas e premicias aa-quelas egrejas que as am d aver os sobredictos religiossos em grande prigoo de suas concencias e desprezamento das sentenças e mandados da Santa Igreja e dos Santos Padres dizem asy em pubrico come em escondudo alguuns maldizeres e detraçõoes dos reitores e ministros das dictas igrejas e outras palavras per que se conrronpem e tirom os cor[aç]ooes e voontades daquelles que as ouvem a nom pagarem verdadei-ramente as <dictas> dizimas e primicias como som teudos e consentiam <e consen-tem> as pesoas que taaes coussas dizem antre sy dando lhes autoridade conselho e favor e ajuda contra as dictas igrejas e beneficiados dellas.

Item induzem os freegesses das dictas egrejas a leixarem os sepulcros dos sseus maiores e scolherem e prometerem d escolher as sopolturas no dicto Moesteiro e contra a defessa e mandado da Santa Igreja e de sua Regula procuram sseer presentes quando os ssobredictos fregeses fazem seus testamentos e os removem e tirom de fazer alguus legados aas dictas igrejas suas madres. E se perventura os sobredictos testadores sam obrigados e thudos em alguas divydas os encaregos certos ou nom certos trabalham com elles e os induzem a leixar as dictas divydas e coussas em que asy sam thudos ao dicto seu Moesteiro e a elles ou alguus delles em espicial saben-do elles bem que esta coussa perteence a nós de direito comum como aaqueles que avemos a judiriçom hordenaira no dicto logo.

Item nom entendendo os ssobredictos relegiossos que segundo natural razom aquelle que aho trabalho e emcarego deve <aver> o proveito e aquelle que hé qui-nhoeiro no trabalho deve sseer conpanheiro na folgança. E como os beneficiados nas dictas [igrejas]…

[Fragmento C] Egrejas tomam trabalham com sseus fregesses a lhes darem seus sacramentos

induzem em grande perigoo de ssuas comciencias os ssobredictos freegesses asy em suas saudes come em suas infirmidades que em suas vydas e depos ssuas mortes mandem cantar tryntairos e missas e façam esmolas no dicto seu Moesteiro e nom leixem nem dem coussa aas dictas igrejas nem aos beneficiados dellas em gissa que nenhuu freges ja nom manda dizer mysa nem faz obraçom asy como hé thudo em sua propia egreja salvo no dicto Moesteiro. Nem outrosy dam os dictos relegiosos aas sobredictas igrejas e beneficiados delas a sua direita parte tauxada em direito daque-las coussas que com os finados vãao ou per razom delas ou sam leixadas e dadas ao dicto seu Moesteiro figindo outros modos per suas sotelezas per que ajam as dictas cousas por nom averem as igrejas a sua direita parte.

Item sabendo elles bem e avendo razom de saber que de direito comum nhuu posto que priviligiado e heisento seja nom deve receber sua p[arti]cipaçom esco-mungado nhuu ante ho deve esquivar quanto em el for, os sobredictos relegiossos

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receberom e recebem em desprezamento da nossa jurdiçom e do direito cumum a sua partecipaçom algua pesoas escomungadas per os vigairos postos per nós e nos-sos antecesores na dicta vylla de Leirea e <lhes> davam e derom conselho e favor e ajuda e os nom esquivarom nem quiserom esquivar posto que pera ello fosem re-queridos alegando que avyom privilegios per que esto podiam fazer os quãaes nom quiseram nem curarom mostrar posto que lhe per muitas vezes fosse pedido.

Item sabendo elles bem que nós avemos a jurdiçom toda episcopal na dicta vylla como dicto hé e que a nós perteence o regimento e hordinamento da justiça e coussas esperituaaes. E como outrosy nós e as dictas nosas igrejas por nós e nosos antecesores <estam> em posse de tanto tempo de que a memoria dos homeens nom hé em contrairo per o qual foy senpre acostumado no dya de Corpo de Deus ir a precisom ao Rosio da dicta vylla que hé lugar espaciosso em que honrradamente e sollenymente se fez senpre e faz a dicta comemoraçom, os ssobredictos relegiosos porque de rogo e de mandado de nosa senhora a Reinha a que Deus perdooe a dicta procisom foy hua vez ao dicto seu Mosteiro, agora recusom e nom querem hir na dicta procisom nem preegar em ela salvo salvo [sic] se a dicta procisom for ao dicto seu Moesteiro. E o que peor hé induzem os leigos e os poderios sagrãaes a nos cos-trangerem e o dicto noso vigairo e crelezia da dicta vylla de Leirea a irem per força e contra sua voontade com a dicta procisom ao dicto seu Moesteiro em deregaçom da dicta nosa jurdiçom e poderio e da cresiastica liberdade.

Item sabendo bem e avendo razom de saber que nenhuu relegiosso quanto quer que seja privyligiado e eisento e liberdade nem pode nem deve dar os sacramentos da bendiçom e comunhom a nemhuus fr[eg]eses alheo sem lecença de seu reitor. Os sobredictos religiosos em grande perygoo de ssuas almas e desprezamento das sentenças e mandados da Santa Igreja e dos Santos Padres e em derogarem da nosa judiriçom e privylegio armaram altar portatile em cassas dalguus fregeses das so-bredictas nosas igrejas e diseram missa e derom o sacramento da comunhom aos fregeses das dictas igrejas sem avendo de nós e do dicto noso Vigairo nem doutro nenhuu que pera ello poder ouvese lecença.

Item sabendo bem e avendo ra[zom]…

Notas1 Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo (doravante citado por TT) — Mosteiro

de Santa Cruz de Coimbra, Livro 94, fl. 1.2 TT — Mosteiro de Sanata Cruz de Coimbra, Livro 94, fl. 277vº.3 TT — Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Livro 39, Doc. Do “Mº 3, Nº 22”.4 TT — Mosteiro de Alcobaça, 2ª incorporação, Mº 1, Doc. 42; Dourados de Alcobaça, Livro

4, fls. 13vº-14, Doc. 30.5 TT — Santa Clara de Coimbra, Caixa 4, Séc. XV, Doc. “Nº 79”.

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6 TT — Mosteiro de Alcobaça, Documentos Régios, M0 2, Doc. 21.7 TT — Mosteiro de Santa Ana de Coimbra, 2ª incorp., Caixa 3, Documento não numerado

(13 de Setembro de 1379, Leiria).8 TT — S. Bento de Santarém, Mº 1, Pergaminho 32 (4 de Setembro de 1379); Santa Cruz de

Coimbra, 2ª incorp., Mº 18, Doc. Com a cota antiga “Alm. 34, Mº 1, Nº 22” (14 de Agosto de 1379).

9 TT — Santa Clara de Coimbra, Caixa 1, Séc. XIV, “Nº 54”.10 TT — Sé de Coimbra, 2ª incorp., Mº 28, Doc. 1168 (22 de Outubro de 1394).11 TT — Sé de Coimbra, 2ª incorp., Mº 8, Doc. 374 (7 de Outubro de 1396).12 TT — Mosteiro da Batalha, Livro 4, Doc. 142 (27 de Dezembro de 1401).13 TT — Mosteiro da Batalha, Livro 4, Doc. 152.14 Sobre este problema, leiam-se as páginas de A. H. de Oliveira Marques, Portugal na Crise

dos Séculos XIV e XV, Vol. 4 de Nova História de Portugal (Dir. Joel Serrão e A. H. de Oliveira Marques), Lisboa, Presença, 1987, pp. 204-219.

15 TT — Sé de Coimbra, 2ª incorp., Mº 8, Doc. 334.16 TT — Sé de Coimbra, 2ª incorp., Mº 28, Doc. 1162.17 Este D. Vasco de Ataíde foi prior do Crato entre 1453 e 1492. Era filho de Álvaro Gonçalves

de Ataíde, conde da Atouguia, e de D. Guiomar de Castro. Doou, em vida, ao Convento de S. Francisco de Leiria, três potes flamengos de latão, revestidos de ouro finíssimo. Seu familiar era D. Diogo de Ataíde, falecido em 1453, e soterrado nesse mesmo Convento. Vd. José Anastácio de Figueiredo, Nova Historia da Militar Ordem de Malta e dos Senhores Grão-Priores della em Portugal, Vol. 3, Lisboa, Oficina de Simão Tadeu Ferreira, 1800, pp. 60-93; Humberto Baquero Moreno, A Batalha de Alfarrobeira. Antecedentes e Significado Histórico, Vol. 1, Coimbra, Biblioteca Geral da Universidade, 1980, p. 726; A. Braamcamp Freire, Brasões da Sala de Sintra, Vol. I, Lisboa, INCM, 1973, pp. 80-84; S. A. Gomes, “O Convento de S. Francisco de Leiria na Idade Média”, in Itinerarium, XL (1994), Braga, pp. 399-502: 414.

18 TT — Ordem de Avis, Doc. 670 (20 de Abril de 1448); Mosteiro da Batalha, Livro 4, Docs. 152, 43a (18 de Agosto de 1448 e 30 de Janeiro de 1451); Santa Clara de Coimbra, Docu-mentos Particulares, Mº 11, Docs. 31 e 32 (11 e 12 de Fevereiro de 1452); Chancelaria de D. Afonso V, Livro 3, fl. 23vº e Livro 15, fl. 54 (9 de Março de 1453 e 25 de Junho de 1455); Santa Clara de Coimbra, Caixa 3, Séc. XV, Doc. “Nº 27” (11 de Março de 145).

19 TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorp., Mº 18, Doc. com a cota antiga “Alm. 34, Mº 3, Nº 22”. Publicado por A. D. de Sousa Costa, “A Jurisdição quase episcopal do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra em Leiria e seus termos, reivindicada em processo judicial perante D. Álvaro Afonso, Bispo de Silves e legado a latere do papa Calisto III”, in Itinearium, XXXI, Nº 123 (1985), pp. 432-435; S. A. Gomes, Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII), Vol. I, Lisboa, IPPAR, 2002, Doc. 35, pp. 93-95.

20 TT — Santa Cruz de Coimbra, 2ª incorp., Mº 18, Documento com a cota antiga “Alm. 34, Mº 3, Nº 23”. Publicado por A. D. Sousa Costa, Op. cit., pp. 435-436; S. A. Gomes, Op. cit., Doc. 36, pp. 96-97.

21 Eis como os Anais Quatrocentistas de Santa Cruz recordam o priorado de D. Afonso Martins: Ҧ O prior dom Afonso tijnha huum <filho> Em Bollonha mantiudo a custa de Santa Cruz E manteue<o> per mujtos annos ataa que foy doutor E este seu filho auja nome Fernando

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Afonso E foy desenbargador Em casa dEl Rey. E asy pera despesa do estudo Como pera Seer doutor o dicto prior geitou a Jmagem de Santa Maria da prata a penhor por çerto ouro que lhe emprestou huum Ruy Diez morador em esta çidade E huum outro homem morador em Aaueyro. E o dicto prior lhes moueeo demanda aquj per aa See E pera Bragaa E Julgarom pollo Mosteiro nom a dando a huum tempo çerto alyas E asy veeo a Jmagem de Sancta Maria pera o moesteiro.Este prior dom Afonso pedio huã soma douro Emprestado a huum Ruy Vaasquez Ribeiro Senhor de Figueiroo pera Se doutorrar Fernam Dafomso filho deste prior. E geitou lhe a penhor huã † douro que aquj deu El Rey Dom Sancho. E dom Gonçalo pagou ho ouro por que Jazia apenhada E em meeo da † leuaua huum pedaço do lenho Em que Christo pos as espadoas E quando veeo nom o trazia. E quando veeo este Fernam Dafonso de Bollonha Ja Seu pay Era finado E ueeo per este moesteiro mujto esguarro E o prior E o prior [sic] dom Gonçalo O uestio honrradamente E dous cauallos huum pera elle E outro pera huum escudeiro E dous moços, E como chegou a casa dEl Rey foy mujto bem Reçebido Ca era huum sofiçiente leterado E logo o El Rey fez desenbargador E do seu conselho teendo dom Gonçallo polos benefiçios Ja recebidos desta casa que punaria por ella E Deus Sabe que nom foy asy.E seu pay lhe deu duas quintaaens Em Lixbooa E senpre cada huã andou Sobre Sy das quaaes qujntaans lhe dam quareenta mjl Reais em cada huum anno. E ora Seu filho Joham Fernandez doutor pagua pagua [sic] por ellas E por huã<s> casas que som Em a Rua Noua de Lixboa xj Reais E a elle dam iij Reais por as casas as quaaes estam mujto mall Repayradas E quando elle morrer que e a terçeira pesoa da llas ha o moesteiro por annos a quem nas Corregua. E asy vay o Mosteiro de pyor em pyor.” (Anais, Crónicas e Memórias Avulsas de Santa Cruz de Coimbra (Textos publicados com uma introdução por António Cruz), Porto, Biblioteca Pública Municipal, 1968, p. 125).

22 Vd. D. Fr. Timóteo dos Mártires, Crónica de Santa Cruz, Tomo I, Coimbra, Biblioteca Municipal, 1955, pp. 71-73.

23 Sobre o Priorado que Santa Cruz de Coimbra tinha em Leiria, seja-nos permitido remeter para as nossas páginas coligidas em: Introdução à História do Castelo de Leiria, 2ª edição, Leiria, C. M. L., 2004, pp. 151-170; “O Priorado Crúzio de Santa Maria de Leiria do Século XII à criação da Diocese”, in Catedral de Leiria. História e Arte (Coord. de Virgolino Jorge), Leiria, Diocese de Leiria-Fátima, 2005, pp. 13-46; “ ‘O ano do trigo sujo’: as rendas do Mos-teiro de Santa Cruz de Coimbra no Priorado de Leiria nas vésperas da criação do Bispado (1541-1545)”, in Leiria - Fátima. Órgão Oficial da Diocese, Ano XII, Nº 34, Janeiro-Abril 2004, pp. 115-159; “A Capela de S. Simão de Leiria”, in Leiria-Fátima. Órgão Oficial da Diocese, Ano XV, Nº 43, Janeiro de 2007, pp. 125-160.

24 Corrigimos a leitura proposta de “portugueses”.25 Anais, Crónicas e Memórias Avulsas…, cit., p. 120.26 TT — Santa Cruz de Coimbra, Antiga Sala 25, Caixa única de documentos não numerados,

documento com a cota antiga: “Alm. 38, Mº ?, Nº 13-20”. Publicado por S. A. Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, cit., p. 315.

27 Vd. S. A. Gomes, “Organização Paroquial e Jurisdição Eclesiástica no Priorado de Leiria nos Séculos XII a XV”, in Lusitania Sacra, Revista do Centro de Estudos de História Religiosa da Universidade Católica Portuguesa, Tomo IV, 2ª Série, Lisboa, 1992, pp. 163-310.

28 TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 3, Documento com a cota antiga “Alm. 1, Mº 5, Nº 10”. Publicado por S. A. Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, cit., p. 317.

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29 Arquivo da Universidade de Coimbra — Pergaminhos de Santa Cruz de Coimbra, Dep. V, IIIª Secção, Móvel 3, Gaveta 8, Nº 2, com a cota antiga “Alm. 34, Mº 2, Nº 3”. Publicamos neste estudo este documento. Nele se refere a adega que a Vestiaria de Santa Cruz de Coim-bra trazia em Leiria, a qual andara emprazada a João Gonçalves, alcaide-menor do castelo leiriense, antes de 1407. Esta adega, creio, situar-se-ia seguramente dentro das muralhas da vila medieval, sendo, decerto, edifício contíguo à igreja românica de S. Pedro. Por outro lado, consideremos que esta adega poderá ser a que vem mencionada no conhecido Compromisso de 1211, associada justamente à vinha de “além do rio” ou da “Ponte” [de Santiago] nos seguintes termos. “De vinum tingatur de vinea nostra de Ponte quam vineam debemus colere insimul fratres et clerici per singulos annos secundum quod ex ipsa nos fratres duas partes et clerici sunt tertiam precepturi. Vinum autem totum ad appotecam fratrum Sancti Petri portetur et ibidem crudum dividatur per tercias sicut superius est expressum. Eodem modo et tinta ipsius vinee de Ponte ad appotecam nominatam portetur per fratres et clericos et ibidem similiter dividatur.” (TT — Santa Cruz de Coimbra, 1ª incorp., Mº 15, Docs. 34 e 35; vd., entre outros, Introdução à História do Castelo de Leiria, cit., pp. 228-229). Em 1545, com a instauração da Diocese, esses bens passam, em grande parte, para a mesa episcopal. O edifício desta antiquíssima adega, cremos, ainda hoje se pode visitar, na sua arqueologia estrutural, junto à dita igreja de S. Pedro. Depois de caserna militar do antigo Quartel de Artilharia 4, sofre actualmente (2007) obras de adaptação a unidade museológica, nela tendo sido feitas algumas sondagens arqueológicas cujos resultados desconhecemos.

30 TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 9, Documento com a cota antiga “Alm. 28, Mº 2, Nº 6”. Pub.: S. A. Gomes, “Organização Paroquial…”, cit., pp. 298-301.

31 TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 4, Documento com a cota antiga “Alm. 3”, sem maço, sem número. Pub.: S. A. Gomes, “Organização Paroquial…”, pp. 302-304.

32 TT — Santa Cruz de Coimbra, Caixa 249, Mº 248, fragmento; Pasta 38, fragmento com a cota antiga “Alm. 36, Mº 6, Nº 1 (29)”; Pasta 39, fragmento com a cota antiga “Alm. 36, Mº 5, Nº 1 (-24)”. Pub.: S. A. Gomes, “O Convento de S. Francisco de Leiria na Idade Média”, in Itinerarium, XL (1994), Braga, pp. 399-502: 454-456.

33 TT — Santa Cruz de Coimbra, Pasta 5, documento com a cota antiga “Alm. 41, Mº 3, Nºs 1(-15)”.

34 Vd., sobre estes selos e emblemática, S. A. Gomes, Introdução à História do Castelo de Leiria, cit., pp. 158-160; Idem, In limine conscriptionis. Documentos, chancelaria e cultura no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra (Séculos XII a XIV), Viseu, Palimage, 2007, p. 1018, estampas nºs 49 e 50.

35 TT — Chancelaria de D. João I, Livro 3, fls. 127-128. Publicado em Introdução à História do Castelo de Leiria, cit., pp. 317-318.

36 TT — Chancelaria de D. João I, Livro 3, fls. 163vº-164. Publicado por S. A. Gomes, Fontes Históricas e Artísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha…, Vol. I, cit., Doc. 29, p. 78.

37 Vd. Arala Pinto, O Pinhal do Rei. Subsídios, 2 vols., Leiria, 1938, passim.38 Vd. iria Gonçalves, O Património do Mosteiro de Alcobaça nos Séculos XIV e XV, Lisboa,

Universidade Nova de Lisboa, 1990; Idem, Alcobaça e Leiria: uma relação de vizinhança ao longo da Idade Média, separata da Revista da Faculdade de Letras, II série, Vol. IV, Porto, 1987.

39 Cf. S. A. Gomes, Porto de Mós. Colectânea Histórica e Documental. Séculos XII a XIX,

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Porto de Mós, C. N. P. M., 2005; Idem, “O Condado de Ourém em tempos medievais”, in D. Afonso, 4º Conde de Ourém e sua Época. Congresso Histórico. Ourém, 6 a 8 Novembro 2003. Actas, (Coord. Carlos Ascenso André), Ourém, Câmara Municipal de Ourém, 2004, pp. 93-156.

40 S. A. Gomes, O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV, Coimbra, Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1990, pp. 205-207. Na vila de Leiria havia mesmo a “casa do sal”, tendo-se notabilizado, entre os principais comerciantes deste produto, a cortesã e concubina do rei D. Pedro I, Beatriz Dias de Leiria. Vd., sobre este percurso singular na Leiria medieval, o nosso artigo Uma Dama na Leiria Medieval: Beatriz Dias, “manceba del-rei” D. Pedro I”, in Economia, Sociedade e Poderes. Estudos em Homenagem a Salvador Dias Arnaut (Coord. Leontina Ventura), Coimbra, 2002 [2004], pp. 301-329. [Também publicado em Biblos. Revista da Faculdade de Letras, Vol. LXXVII. 2ª Parte da Miscelânea em Honra do Doutor Salvador Dias Arnaut. “Sociedade e Economia”, Coimbra, 2001, pp. 115-143]. Permita-se-nos, ainda, a remissão para o nosso estudo, onde apresentamos dados mais plurais sobre a produção salinífera em Leiria, intitulado “Notas sobre a produção de sal-gema e de papel em Leiria e em Coimbra durante a Idade Média”, in Revista Portuguesa de História, T. XXXI, Vol. I (1996), pp. 431-446.

41 Vd. S. A. Gomes, “Os Judeus de Leiria Medieval como Agentes Dinamizadores da Economia Urbana”, in Revista Portuguesa de História, T. XXVIII, Coimbra, 1993, pp. 1-31; “Leiria e a Tipografia Judaica dos Ortas...”, in Estudos Orientais. VI. Homenagem ao Professor António Augusto Tavares, Lisboa, Instituto Oriental - Universidade Nova de Lisboa, 1997, pp. 221-235.

42 Veja-se, para tudo isto, o quadro relativo à propriedade e rendas crúzias em Leiria, em 1399 e 1431, que aqui publicamos.

43 Seguimos as seguintes principais regras de transcrição: a) respeito pela ortografia original, mas normalizando o uso de maiúsculas e de minúsculas; b) desabreviámos as palavras abreviados sem destacar as letras restituídas; c) normalizámos o uso do “u” e do “j” quando com valor de “v” e “i”; d) os numerais vão em numeração romana, devendo esclarecer-se que o “b” vale 5, o “R” equivale a 40 e o “l” minúsculo vale 50; e) abrimos parágrafos e introduzimos alguma pontuação em ordem a tornar mais acessível aos leitores o sentido do texto documental.

44 Riscado “primeiramente”.45 Este item foi riscado.46 Riscou “libras”.47 Riscou “libras”.48 O registo destes aniversários respeita ao ano de Cristo de 1399. João Martins, o escrivão

mencionado, aparece documentado como tabelião de Leiria entre 1373 e 1397 e, ainda, como escrivão justamente das sisas, em 1402.

49 Riscado “Dos.”50 Riscou “Pascoa”.51 Riscou “Doda”.52 Riscou “dedia coma”.53 Riscado “xij”.54 Riscado um “h”.

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55 Riscado um “p”.56 Riscado “jn”.57 No texto parece mais claro “jnuçençio”, mas deve antes referir-se à festividade da trasla-

dação do corpo de Santo Estêvão, que se comemora a 3 de Agosto. Não faria sentido que o pagamento se fizesse em dia de S. Inocêncio (28 de Dezembro) e também de Santo Estêvão (26 de Dezembro).

58 Entenda-se “jogral”.59 Riscado “cóónigo”.60 Riscado “Pascoa”.61 Riscado “Afomso”.62 No documento “Santo”.63 Riscou “Moesteiro”.64 Alude a este documento Fr. Manuel da Esperança na sua Historia Serafica da Ordem dos

Frades Menores de S. Francisco na Provincia de Portugal (Iª Parte, Lisboa, 1656, Livro III, Capº XXXV, pp. 369-370) nos seguintes termos: “Mas he duro querer levantar cabeça a respeito de quem está poderoso, logrando de muito tempo a sua autoridade, como aqui nos succedeo em Leiria, onde nossos privilegios se julgavão por aggravos, e a frequencia do povo na nossa igreja por desprezo e injuria das outras. Pelo que a 2 do mez de Setembro de 1419 <archivo de S. Cruz de Coimbra> vierão fazer ao nosso Guardião requerimento de aggravo Pere Annes (como diz a escritura) frade profeso do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e Vigairo em a dicta villa de Leiria por o Priol do dito mosteiro; e outrosi João Lourenço, Priol da Aguada e Raçoeiro em Santa Maria da Penna desta mesma villa e Procurador do dito Priol e convento. Onze artigos se continhão no aggravo, cuja materia ou tocava à nossa immunidade, da qual podiamos usar: ou nascia de falsas informações contra o respeito e grandeza daquele Real mosteiro, que nós nunqua pretendemos offender. E assi o declarou o Guardião, que chamavão frei Diogo: se com palavras grosseiras, como então se usavão, cheas porém de espirito; que bem o justificavão. Respondemos (disse elle) ao seu requerimento, e dizemos que he injusto, e digno de todo doesto, porque em elle são conteudas cousas nom dignas de serem ouvidas, das quaes nós somos innocentes, e som testemunhos falsos a nós assacados. Deos perdoe a todos e falsidades. Cá ainda que nós fossemos os mais pecadores e desembestados homens do mundo, nom fariamos taes cousas. Mas todo o nosso desejo he salvar nossas almas e rogar a Deos por a fé Christaam. Entre as chamadas culpas, de que lhes fazião cargo, hua era levantar cruz nos enterros dos defuntos; a outra não pagar quarta funeral. Mas o primeiro he praticado no reino e conforme aos nossos privilegios; o segundo introduzio em Leiria o costume, como tambem noutras partes.”

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