despacho do mpf

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO 2º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA Ref. Procedimento Preparatório nº. 1.26.000.004096/2014-27 Promoção de Arquivamento MPF/PR-PE nº. 403/2015 Cuida-se de procedimento preparatório instaurado a partir de representação formulada por PEDRO NAPOLEÃO MACEDO, noticiando possíveis irregularidades relacionadas à disposição, pela Prefeitura do Recife, de área pertencente à União (no caso a Vila Naval), situada no bairro de Santo Amaro, nas proximidades da Av. Cruz Cabugá. Conforme relatado, parte da área pertencente à União será demolida para o alargamento das vias, transferindo, assim, parte do trânsito da Av. Cruz Cabugá para essas novas vias. A fim de instruir os autos, expediu-se ofícios à Prefeitura do Recife e à Marinha do Brasil, requisitando a manifestação sobre o teor da representação e o envio de cópias dos Processos Administrativos e/ou documentação pertinente acerca da cessão e utilização do imóvel. Em resposta, a Marinha do Brasil, por meio do Comando do 3º Distrito Naval, informou que: a) ingressou, por intermédio da AGU, com Ação Ordinária sob o nº 0000959-38.2011.4.05.8300, que tramitou na 7ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco contra a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) pedindo a nulidade de decreto municipal que declarava a área da ex-Estação Rádio Pina como Parque Natural Municipal dos Manguezais; b) o juiz decidiu que não havia razão para PCR anular o referido decreto municipal, devendo as entidades federativas buscar uma solução conciliatória; c) a Marinha do Brasil, tendo avaliado a área e na tentativa de solucionar o impasse e buscar um valor justo, pediu uma indenização de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões) pela área à PCR, que por sua vez, alegou que não dispunha do montante; d) diante da necessidade premente da Marinha do Brasil de construir residências em Recife para atender o lado social dos militares que passam a servir nesta cidade, propôs à PCR a elaboração de um acordo, de forma a obter a justeza e o equilíbrio nas contrapartidas compensatórias, no qual a PCR aumentará o potencial construtivo da área da Vila Naval do Recife (VNRe), para que a Marinha do Brasil possa alienar por permuta, com a iniciativa privada, parte da área da VNRe e, consequentemente, custear a transferência de determinadas propriedades para a 1

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Page 1: Despacho do MPF

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO

2º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA

Ref. Procedimento Preparatório nº. 1.26.000.004096/2014-27

Promoção de Arquivamento MPF/PR-PE nº. 403/2015

Cuida-se de procedimento preparatório instaurado a partir de representação

formulada por PEDRO NAPOLEÃO MACEDO, noticiando possíveis irregularidades

relacionadas à disposição, pela Prefeitura do Recife, de área pertencente à União (no caso a

Vila Naval), situada no bairro de Santo Amaro, nas proximidades da Av. Cruz Cabugá.

Conforme relatado, parte da área pertencente à União será demolida para o alargamento

das vias, transferindo, assim, parte do trânsito da Av. Cruz Cabugá para essas novas vias.

A fim de instruir os autos, expediu-se ofícios à Prefeitura do Recife e à

Marinha do Brasil, requisitando a manifestação sobre o teor da representação e o envio de

cópias dos Processos Administrativos e/ou documentação pertinente acerca da cessão e

utilização do imóvel.

Em resposta, a Marinha do Brasil, por meio do Comando do 3º Distrito

Naval, informou que: a) ingressou, por intermédio da AGU, com Ação Ordinária sob o nº

0000959-38.2011.4.05.8300, que tramitou na 7ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco

contra a Prefeitura da Cidade do Recife (PCR) pedindo a nulidade de decreto municipal

que declarava a área da ex-Estação Rádio Pina como Parque Natural Municipal dos

Manguezais; b) o juiz decidiu que não havia razão para PCR anular o referido decreto

municipal, devendo as entidades federativas buscar uma solução conciliatória; c) a

Marinha do Brasil, tendo avaliado a área e na tentativa de solucionar o impasse e buscar

um valor justo, pediu uma indenização de R$ 20.000.000,00 (vinte milhões) pela área à

PCR, que por sua vez, alegou que não dispunha do montante; d) diante da necessidade

premente da Marinha do Brasil de construir residências em Recife para atender o lado

social dos militares que passam a servir nesta cidade, propôs à PCR a elaboração de um

acordo, de forma a obter a justeza e o equilíbrio nas contrapartidas compensatórias, no qual

a PCR aumentará o potencial construtivo da área da Vila Naval do Recife (VNRe), para

que a Marinha do Brasil possa alienar por permuta, com a iniciativa privada, parte da área

da VNRe e, consequentemente, custear a transferência de determinadas propriedades para a

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Page 2: Despacho do MPF

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM PERNAMBUCO

2º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA

PCR (dentre as quais, uma faixa de doze metros na extensão da VNRe, para alargamento

da Av. Cruz de Cabugá); e) após o aumento do potencial construtivo, a ser promulgado por

lei específica municipal, a Marinha do Brasil assinará um acordo, que será encaminhado

para aprovação da Advocacia-Geral da União, bem como do Ministério Público Federal –

PE, e análise do Juízo da 7ª Vara Federal para futura homologação pelas partes; f) a partir

daí, a Marinha do Brasil lançará edital de concorrência pública, para alienar por permuta

parte da VNRe por construção de Próprios Nacionais Residenciais (PNR) e obras de

interesse da MB, com valores compatíveis ao mercado. Ao final, esclareceu que a

alienação proposta pela Marinha encontra-se amparada pelo Art. 1º da Lei 5.658/71, o qual

dispõe sobre a venda e permuta de bens imóveis da União, sob suas jurisdições, cuja

utilização não atenda mais às necessidades da Marinha e da Aeronáutica.

A Prefeitura do Recife, por sua vez, informou que vem desenvolvendo Plano

Urbanístico Específico para a Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico e

Cultural ZEPH 19 – Hospital de Santo Amaro/Vila Naval, tendo, inclusive, realizado

audiência pública, como forma de ampliar o debate do tema com a comunidade. Ademais,

indicou que o Município possui prerrogativa constitucional, fundada no artigo 30, VIII, c/c

artigo 182 da Constituição Federal, para o controle e ordenamento do solo urbano, em

especial para a ordenação do seu sistema viário e proteção do patrimônio histórico e

cultural, independentemente da titularidade dos bens inseridos no território a ser ordenado.

Em relação à cessão de bens pertencentes à União e sob a jurisdição da Marinha, esta será

tratada em consonância com as normas legais e regulamentares aplicáveis à espécie.

Registrou-se, em informação à fl. 19, que os autos da supramencionada ação

ordinária estão vinculados ao 5º Ofício da Tutela Coletiva. Ainda, em consulta à página

eletrônica da JFPE, verificou-se que foi proferida sentença de improcedência dos pedidos

formulados na ação, contra a qual a União interpôs apelação, tendo o processo sido

encaminhado ao TRF da 5ª Região, para processamento e julgamento do recurso em 08 de

abril de 2015.

É o relatório.

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Cristiano
Nota
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2º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA

A NF se insurge contra a realização de projeto urbanístico e de mobilidade

em área pertencente à Marinha com base em, basicamente, duas alegação: (i) a Prefeitura

do Recife não poderia dispor de patrimônio da União Federal; (ii) a Marinha do Brasil não

possui personalidade jurídica que a permita negociar/dispor de patrimônio público, o que

somente poderia ser feito através do Poder Legislativo federal.

Pois bem. A Marinha do Brasil, como órgão da União, possui prerrogativa

de negociar áreas de sua propriedade, conforme dispõe o já mencionado art. 1º da Lei

5.658/71, in verbis:

“Art 1º Os Ministérios da Aeronáutica e da Marinha são autorizados a proceder à

venda ou permuta de bens imóveis da União, de qualquer natureza, sob suas

jurisdições, cuja utilização ou exploração não atenda mais às necessidades da

Marinha e da Aeronáutica.”

Trata-se, inclusive, de procedimento recomendável, pois confere utilidade a

imóveis que não sejam mais úteis às Forças Armadas ou se estejam sendo subutilizados.

O Município, por sua vez, detém atribuição para ordenamento do solo e

planejamento urbano, mediante a ampliação do sistema viário e execução de projetos de

mobilidade urbana, conforme a disposição constitucional do artigo 30, VIII, c/c artigo 182,

cabendo a desapropriação da área, casa se trate de imóvel particular, ou, como no caso,

negociar a cessão da área pública.

Ademais, já tramita ação ajuizada pela União, Ação Ordinária nº 0000959-

38.2011.4.05.8300, com o objetivo de resguardar os interesses da Marinha do Brasil, que

atualmente dizem respeito a contrapartidas para compensar a cessão das áreas destinadas

pelo município para implantação dos parques e ampliação da Av. Cruz Cabugá, conforme

esclarecimentos prestados nos autos pelos órgãos interessados.

Assim, sob o aspecto da Administração pública, considerando os

esclarecimentos prestados, entendo que não foram comprovadas as irregularidades

apontadas na representação, logo não se justifica a continuidade do presente procedimento.

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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL

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2º OFÍCIO DA TUTELA COLETIVA

Subsiste, porém, a necessidade de apurar, autos específicos, as eventuais

implicações do projeto urbanístico em área federal, inclusive no que tange ao patrimônio

histórico federal, considerando a poligonal de entorno do Sítio Histórico de Olinda, que se

estende até o complexo de salgadinho, próximo à área da vila naval1.

Ante todo o exposto, decido pelo ARQUIVAMENTO do feito e determino

à DICIV que informe o representante da presente decisão, cientificando-o da previsão

constante do art. 17, § 3º da Resolução CSMPF n. 87, de 2006.

Após, encaminhem-se os autos ao NAOP 5ª Região, para fins de revisão, no

prazo estipulado no § 2º, do art. 17, da Resolução CSMPF nº 87, de 2006, com a nova

redação dada pela Resolução CSMPF nº 106, de 2010.

Ademais, considerando a necessidade de apuração sob o aspecto urbanístico

do patrimônio histórico, determino à DICIV a autuação de notícia de fato a partir de cópia

dos autos, inclusive a presente promoção de arquivamento, com o objetivo de apurar as

eventuais implicações do projeto urbanístico para a Zona Especial de Preservação do

patrimônio Histórico e Cultural ZEPH 19 - Hospital de Santo Amaro/Vila Naval do Recife,

inclusive no que se refere ao patrimônio histórico federal (área de entorno do sítio

histórico de Olinda) a ser distribuído aleatoriamente dentro da área temática Meio

Ambiente, Patrimônio Histórico e Urbanismo.

Recife/PE, 1º de julho de 2015.

MONA LISA DUARTE ABDO AZIZ ISMAIL

Procuradora da Repúblicatcgh// 4096 14 arquivamento 403 15

1 Rerratificação da Notificação n.º 1155/79/IPHAN.

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