despacho da pre sobre denúncia de josé augusto maia de propina do psb

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Despacho da Procuradoria Geral Eleitoral em Pernambuco (PRE-PE) sobre denúncia do deputado federal José Augusto Maia (PROS) de que recebeu oferta de propina para apoiar a candidatura do ex-secretário da Fazenda Paulo Câmara (PSB) na eleição para governador do Estado.

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  • 1. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco DESPACHO Trata-se de representao proposta pela coligao Pernambuco Vai Mais Longe, relatando fatos que, em tese, enquadram-se em diversas hipteses de ilcitos eleitorais. A representao tem por base matrias publicadas em blogs e nas mdias local e nacional, que noticiam declarao do deputado federal Jos Augusto Maia, afirmando que teria recebido e recusado oferta de vantagem financeira para que seu partido (PROS PE) integrasse a coligao do candidato a governador Paulo Cmara (PSB), escolhido pelo presidencivel Eduardo Campos para suced- lo em Pernambuco. Tal oferta teria sido feita pelo presidente nacional do PROS, Eurpedes Jnior, e pelo lder da bancada do PP na Cmara dos Deputados, Eduardo da Fonte. Segundo a coligao representante, as condutas relatadas amoldam-se, em tese, aos artigos 299 do Cdigo Eleitoral (crime de corrupo eleitoral), 22 da Lei Complementar n 64/90 (abuso de poder poltico e econmico), 41-A da Lei n 9.504/97 (captao ilcita de sufrgio), bem como ao art. 14, 10 da Constituio Federal (AIME). Analisemos as hipteses de adequao tpica das condutas acima delineadas. A Lei de Inelegibilidades (LC n 64/90) prev em seu 22 a abertura de investigao judicial eleitoral para apurar o uso indevido, desvio ou abuso do Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br

2. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco poder econmico ou do poder de autoridade, ou a utilizao indevida de veculos ou meios de comunicao social, em benefcio de candidato ou de partido poltico. Em seu inciso XIV, comina, para a hiptese da procedncia da representao, a inelegibilidade do representado, alm da cassao de registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferncia do poder econmico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicao 1 . Por abuso de poder poltico ou de autoridade, compreende-se a utilizao, por agente pblico 2 , da mquina administrativa estatal visando a beneficiar candidatura prpria ou alheia. Como se v, no a hiptese do caso aqui analisado vista de que a representao versa, apenas, sobre a suposta oferta de vantagem financeira. J o abuso de poder econmico, configura-se pela utilizao excessiva, anormal, desproporcional de recursos financeiros de que algum se vale visando a beneficiar candidato ou partido poltico. Porm, o art. 22 da Lei das Inelegibilidades prev a punio da conduta praticada, que tem por consequncia o beneficiamento de algum partido ou candidato, de maneira que, no tendo ocorrido o recebimento da suposta oferta, no h como se concretizar o mencionado abuso. 1 XIV julgada procedente a representao, ainda que aps a proclamao dos eleitos, o Tribunal declarar a inelegibilidade do representado e de quantos hajam contribudo para a prtica do ato, cominando-lhes sano de inelegibilidade para as eleies a se realizarem nos 8 (oito) anos subsequentes eleio em que se verificou, alm da cassao do registro ou diploma do candidato diretamente beneficiado pela interferncia do poder econmico ou pelo desvio ou abuso do poder de autoridade ou dos meios de comunicao, determinando a remessa dos autos ao Ministrio Pblico Eleitoral, para instaurao de processo disciplinar, se for o caso, e de ao penal, ordenando quaisquer outras providncias que a espcie comportar; 2 c.-TSE, de 23.6.2009, no RO n 1.413: "Para a incidncia da inelegibilidade, por abuso de poder poltico [...] necessrio que o candidato tenha praticado o ato na condio de detentor de cargo na administrao pblica". Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br 3. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco Com efeito, o bem jurdico tutelado pela norma de regncia tratada , no dizer de Jos Jairo Gomes, a legitimidade, normalidade e sinceridade das eleies, de modo que para a incidncia da Lei 64/90 pressupe-se a efetiva ocorrncia do abuso e no apenas a inteno de faz-lo, como no caso em anlise. Quanto prtica do ilcito previsto no art. 41-A da Lei 9.504/97, tambm no se amolda s condutas relatadas, pois esse dispositivo trata de captao de sufrgio, o que diverso da conduta de obter-se apoio poltico- partidrio para as eleies. A captao ilcita de sufrgio conhecida por compra de votos e, assim, distingue-se da conduta relatada nos autos, uma vez que, conforme a declarao de Jos Augusto Maia, houve tentativa de compra de apoio poltico. O art. 41-A da Lei n. 9.504/97 dispe que constitui captao de sufrgio, vedada por esta Lei, o candidato doar, oferecer, prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou funo pblica, desde o registro da candidatura at o dia da eleio (grifo nosso). Dessarte, a prpria legislao deixa claro que a captao de sufrgio ocorre quando a promessa de benesse feita, ainda que indiretamente, ao eleitor. H controvrsia quanto ao que caracterizaria a compra de voto indireta. Alguns julgados entendem que o fato de polticos tentarem comprar o apoio poltico de outro poltico ou partido, implicaria a compra indireta dos eleitores que apoiam o candidato comprado 3 . 3 Processo: AIME 713 PA; Relator(a): EVA DO AMARAL COELHO; Julgamento: 28/05/2013; Publicao: DJE - Dirio da Justia Eletrnico, Tomo 110, Data 25/06/2013, Pgina 1 e 2. Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br 4. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco Todavia, tal entendimento decorre de uma interpretao extensiva da norma jurdica prevista no art. 41-A da Lei das Eleies, o que no possvel, pois, de acordo com as regras de hermenutica, as normas que restringem direitos e aplicam sanes no podem ser interpretadas para ampliar a sua incidncia, sob pena de ofensa ao princpio da legalidade. Assim, in casu, no h que se falar em captao ilcita de sufrgio, tendo em vista que nessa modalidade, o que se protege a liberdade de voto, a vontade do eleitor em si. Compartilha desse entendimento, o doutrinador Jos Jairo Gomes, em sua obra Direito Eleitoral 4 : [...]o bem jurdico que se visa salvaguardar a liberdade do eleitor de votar conforme os ditames de sua prpria conscincia. a liberdade de formar sua vontade de votar livremente, escolhendo quem bem entender para o governo. Quanto possibilidade da conduta impugnada ensejar a propositura de ao de impugnao de mandato eletivo, verifica-se que no o momento oportuno, pois, nos termos do art. 14, 10 da Constituio Federal, o mandato eletivo poder ser impugnado no prazo de 15 dias aps a diplomao, no caso de abuso de poder econmico, corrupo ou fraude. Alm disso, seria necessrio que o mandato eletivo estivesse contaminado por alguma ilegalidade, o que no ocorre no presente caso, pois se trata de mero oferecimento de vantagem financeira. Dessa forma, no se vislumbra a configurao de qualquer infrao eleitoral cuja apurao seja de atribuio desta Procuradoria Regional Eleitoral. 4 GOMES, Jos Jairo. Direito Eleitoral. 8. ed. So Paulo: Atlas, 2012, p. 523. Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br 5. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco Com relao possibilidade de incidncia do art. 299 do Cdigo Eleitoral sobre o fato em anlise, verifica-se que a notcia aponta como autores do suposto ilcito, Eurpedes Jnior, presidente nacional do PROS, e Eduardo da Fonte, deputado federal, no exerccio do mandato, que, nos termos do art. 53, 2 5 e art. 102, I, b 6 da CF possui foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal 7 . Assim, at mesmo o juzo quanto convenincia de, eventualmente, se determinar a investigao criminal compete ao Ministrio Pblico atuante perante os Tribunais Superiores. Diante do exposto, determino a remessa dos autos ao Procurador- Geral Eleitoral, em funo da prerrogativa de foro do representado Eduardo da Fonte, deputado federal. Recife, 29 de julho de 2014. 5 Art. 53. Os Deputados e Senadores so inviolveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opinies, palavras e votos. 1 Os Deputados e Senadores, desde a expedio do diploma, sero submetidos a julgamento perante o SupremoTribunal Federal. 6 Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituio, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente: b) nas infraes penais comuns, o Presidente da Repblica, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus prprios Ministros e o Procurador-Geral da Repblica; 7 Como a conduta teria sido praticada pelo deputado federal em conjunto com o Sr. Eurpedes Jnior, a este tambm ser aplicada a prerrogativa de foro. Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br 6. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco JOO BOSCO ARAUJO FONTES JNIOR Procurador Regional Eleitoral Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br 7. MPF Ministrio Pblico Federal Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco JOO BOSCO ARAUJO FONTES JNIOR Procurador Regional Eleitoral Rua Frei Matias Tves n. 65, Paissandu, Recife-PE CEP 50.070-450 Tel.: (081)3081.9980 Home Page: www.prepe.mpf.mp.br