desnacionalização e concentração da indústria láctea no brasil

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO 6130 DESNACIONALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA INDÚSTRIA LÁCTEA NO BRASIL PABLO JONAS CAMILO 1 Resumo: O presente trabalho buscara apresentar alguns dados qualitativos e quantitativos do indelével processo de desnacionalização e concentração que a indústria láctea do Brasil vem apresentando desde os anos de 1990. Este fenômeno se da em grande parte pelos IED´s realizados por empresas multinacionais que já atuam no segmento e por capitais oriundos de Fundos de Investimento e Pensão. Suas estratégias de atuação concretizam-se via processos de fusões e aquisições de empresas nacionais (tradicionais) e suas respectivas estruturas de transformação e fomento. Este fenômeno esta promovendo uma forte reestruturação deste segmento e auferindo significativas mudanças por toda a cadeia produtiva. Palavras Chave: Lácteos, Desnacionalização, Concentração Abstract: This work sought to present some qualitative and quantitative data indelible denationalization process and concentration that the dairy industry in Brazil has been showing since the 1990. This phenomenon is of largely by IED´s made by multinational companies that already operate in the segment and capital arising Investment and Pension Funds. Their strategies materialize up via mergers and acquisitions of domestic companies acting (traditional) and their transformation and development structures. This phenomenon is promoting a strong restructuring of this segment and earning significant changes throughout the production chain. Keywords: Dairy, Denationalization, Concentration 1 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia PPGG da Universidade Federal de Santa Catarina UFSC. Membro do grupo de Pesquisa - Formações Espaciais: Progresso Técnico e Desenvolvimento Econômico. Endereço eletrônico [email protected]

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A DIVERSIDADE DA GEOGRAFIA BRASILEIRA: ESCALAS E DIMENSÕES DA ANÁLISE E DA

AÇÃO DE 9 A 12 DE OUTUBRO

6130

DESNACIONALIZAÇÃO E CONCENTRAÇÃO DA INDÚSTRIA

LÁCTEA NO BRASIL

PABLO JONAS CAMILO1

Resumo:

O presente trabalho buscara apresentar alguns dados qualitativos e

quantitativos do indelével processo de desnacionalização e concentração que

a indústria láctea do Brasil vem apresentando desde os anos de 1990. Este

fenômeno se da em grande parte pelos IED´s realizados por empresas

multinacionais que já atuam no segmento e por capitais oriundos de Fundos

de Investimento e Pensão. Suas estratégias de atuação concretizam-se via

processos de fusões e aquisições de empresas nacionais (tradicionais) e

suas respectivas estruturas de transformação e fomento. Este fenômeno esta

promovendo uma forte reestruturação deste segmento e auferindo

significativas mudanças por toda a cadeia produtiva.

Palavras Chave: Lácteos, Desnacionalização, Concentração

Abstract:

This work sought to present some qualitative and quantitative data indelible

denationalization process and concentration that the dairy industry in Brazil has

been showing since the 1990. This phenomenon is of largely by IED´s made by

multinational companies that already operate in the segment and capital arising

Investment and Pension Funds. Their strategies materialize up via mergers and

acquisitions of domestic companies acting (traditional) and their transformation

and development structures. This phenomenon is promoting a strong

restructuring of this segment and earning significant changes throughout the

production chain.

Keywords: Dairy, Denationalization, Concentration 1 Doutorando do Programa de Pós Graduação em Geografia – PPGG da Universidade Federal

de Santa Catarina – UFSC. Membro do grupo de Pesquisa - Formações Espaciais: Progresso Técnico e Desenvolvimento Econômico. Endereço eletrônico [email protected]

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1 - Introdução

O ambiente econômico, social e institucional estabelecido no Brasil a

partir da década de 1970 foi fundamental pra promover algumas

características peculiares na indústria láctea. Entre 1930 e 1970 a consolidação

de uma grande variedade de indústrias de laticínios tiveram com principal

fomentadores as políticas de substituição de importações, proteção e

tabelamento de preços, financiamentos Federais e Estaduais, tributação

diferenciada, pouca ou nenhuma restrição de caráter ambiental. Ainda

obtiveram a formação de mercados consumidores urbanos com a

desintegração do complexo rural orientados pela formação e ampliação de

uma estrutura complexa voltada ao transporte, circulação de mercadorias e

comunicação articulação do território

Estes elementos garantiram o amadurecimento de uma indústria nacional

durante décadas que acompanhava e concorria diretamente com algumas

empresas multinacionais que aqui se instalavam. As cadeias produtivas com

suas respectivas estruturas, principalmente a produção primaria, consolidaram-

se e atualmente o Brasil destaca-se como 6º maior produtor de leite do mundo.

A partir das décadas de 1970 o ambiente político estabelecido criou o

ambiente favorável para a entrada de novas empresas multinacionais no

mercado brasileiro, marcando o inicio de uma nova faze para este mercado

com a introdução de inovações nas embalagens (descartáveis) o surgimento

do leite tipo B, as e a instalação da indústria de equipamentos. Deste período

em diante as empresas detentoras maiores volumes de capital e tecnologias

passaram a organizar economias de escopo e inovações em produto.

A década de 1990 marca um amplo processo de desnacionalização da

indústria láctea a partir de amplos processos de fusões e aquisições criando

grandes empresas capazes de condicionar de forma mais eficiente e agressiva

os setores a montante e a jusante. Assim:

O processo de globalização, na medida em que ampliou os mercados por meio de quedas das barreiras aos fluxos de bens, serviços e capitais, alterou também o ambiente institucional no qual as empresas estavam acostumadas a operar. Além disso, levou ao

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acirramento da concorrência interempresarial não apenas no Brasil, mas também no mundo. Dessa maneira, a evolução das fusões e aquisições deve ser entendida como resposta estratégica das corporações ao surgimento desse novo ambiente institucional e concorrencial proporcionado pelo processo de globalização. As principais conseqüências dessa evolução são o aparecimento de megacorporações, a concentração produtiva e a elevação das escalas mínimas de produção em diversos setores. Entre as principais motivações do movimento de fusões e aquisições, destacam-se: a penetração em novos mercados, em curto período de tempo; a consolidação do market share a nível global; as oportunidades de investimento, em função da desregulamentação dos mercados; a alteração no padrão tecnológico, proporcionando amplas escalas de produção e a redução de custos; a obtenção de sinergias de natureza tecnológica, financeira, mercadológica e organizacional; a possibilidade de ganhos de natureza financeira. (FILHO e SILVA, 1999, pg. 380)

Isto posto, serão apresentados alguns dados sobre o atual complexo

produtivo de leite do Brasil e alguns exemplos de fusões e aquisições que

ocorreram nos últimos anos.

2 - Fusões e aquisições da indústria láctea

Fusões e aquisições estão sendo o principal elemento para promover

crescimento e concentração das empresas Segundo Benetti (2004, p. 22) o

ambiente comercial agroindustrial dos países de primeiro mundo dava indícios

de estagnação desde a década de 1980, estimulando assim as empresas

multinacionais a promoverem entrada em novos mercados através da criação

de filiais2 que são os reflexos de Investimentos Externos diretos. Estas filiais

tinham como objetivo sondar o mercado nacional e verificar seu potencial.

De acordo com a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento - Unctad (1998)], o processo de fusões e aquisições é o principal motor dos fluxos de investimento direto estrangeiro. Só em 1997, as transações transfronteiriças envolvendo empresas de

2 Em 1982, das 42 multinacionais que tinham como atividade principal o leite apenas 6 tinham

atividades no Brasil, através de 16 filiais. As unidades industriais estavam distribuídas da seguinte forma: 8 da Nestlé; 1 da Beatrice Foods; 2 da Borden; 2 da BSN Gervais Danone; 1 da Snow Brand Milk Prod; e 2 da Sodima Yoplait. Após esse período outras empresas multinacionais instalaram-se no Brasil, tais como La Sereníssima, Sancor, sendo que o grande destaque foi aParmalat, que “revolucionou” o setor. (CARVALHO, 2010, pg. 02) Modificações no quadro patrimonial também se fizeram presentes, em 1993 a distribuição dentre as maiores captadoras era 33% de multinacionais, 50% de cooperativas e 17% de empresas privadas nacionais. (CARVALHO, 2010, pg. 04)

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diferentes nacionalidades . representaram 85% dos fluxos de investimento direto estrangeiro - Unctad (1998)], tendo crescido a uma taxa de 21% a.a. no período 1987-1990, de 30,2% a.a. no período 1991-1995 e de 45,2% a.a. entre 1996 e 1997.(FILHO e SILVA, 1999, pag. 381)

Sobre as vantagens de promover fusões e aquisições Belik (1994)

destaca:

Diversas razões são comumente apontadas como explicativas para o grande volume de fusões e aquisições ocorrida na última década nesta indústria. Entre elas podemos apontar a busca de “economias de escopo” por parte das empresa líderes, a busca de melhores posições em mercados emergentes, as boas possibilidades de retorno na compra de participações em empresas subavaliadas e, evidentemente, as possibilidades de introdução de barreiras tecnológicas permitindo a consolidação de determinadas lideranças de mercados. (BELIK , 1994, p.60)

A estratégia de fusões e aquisições podem garantir a eliminação de

concorrentes, contenção a entrada de novas empresas, saltar etapas no

processo de crescimento, garantir o suprimento de matérias primas, insumos e

os canais de distribuição da empresa adquirida e agilizar a entrada no

mercado3. Sem contar o fato de que através de fusão ou aquisição as

atividades são iniciadas de forma imediata e o aumento da concentração de

capital se torna elemento chave para a negociação de ativos em bolsas de

valores. Isso demonstra que:

De uma maneira geral, a trajetória das empresas multinacionais ocorre do seguinte modo: inicialmente existe uma prospecção de mercado, quando a empresa através da importação realiza uma testagem do mercado, posteriormente a empresa realiza alianças com empresas nacionais, utilizando o aparato de comercialização da empresa nacional e só depois passa para a etapa em que terá produção própria, com a sua marca. (BELIK, 1999, p.45)

3 3

A empresa Parmalat tornou-se uma das 20 maiores empresas de alimentos do mundo e

líder mundial no mercado de leite fluido, tendo-se estruturado em 30 países, através de uma gigantesca rede de 139 centros de produção, que ocupou mais de 36 mil funcionários e integrou milhares de pequenos produtores de leite. O resultado final do processo de aquisições da Parmalat no Brasil foi o desaparecimento de empresas de pequeno e médio portes operando em mercados regionais e de suas marcas e um conseqüente aumento da concentração da produção no setor de laticínios. Dados dos anos 2000 mostraram que quatro empresas respondem por 35% do mercado nacional de laticínios e que apenas duas, a Elegê (recentemente adquirida pela Lactális) e a Parmalat, por 70% do mercado gaúcho (GAZETA MERCANTIL, 2000).

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Para se ter ideia, no mundo segundo a Rabobank (2013) em 2012

ocorreram 111 transações de empresas lácteas, e em 2013 foram 124, e o

maior número desde 2007. Até meados de 2014 , já foram feitas e confirmadas

41 transações no mercado de lácteos e 14 das 20 maiores companhias de

lácteos fizeram fusão, aquisição ou estabeleceram uma join-ventures com uma

ou mais companhias nos últimos 12 meses. Além disso muitas outras

empresas ainda estão em processo de negociação.

Dentre as 12 maiores empresas de lácteos atuantes no Brasil 5 são

multinacionais captando aproximadamente 25 % do leite produzido. As 20

maiores empresas processadoras em 2013 captam 40 % de do leite recolhido

no mundo, destas 4 estão presentes no Brasil. International Farm Comparison

Network –IFCN, (2014). Observe o quadro na sequencia com a relação das

maiores empresas de lácteos do Brasil e do Mundo.

* Multinacional classificada entre as 20 maiores do mundo que estão presentes no Brasil.

** Multinacional presente no Brasil *** Dados não revelados

Quadro 01 – Maiores empresas de laticínios do Brasil e do Mundo. Fonte: Para o Brasil - LEITE BRASIL, CNA, OCB, CBCL, VIA LÁCTEOS e EMBRAPA/Gado de

Leite; Para o Mundo - Rabobank International Food & Agribusinees Research and Advisory. Global Dairy Top. 20.

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A formação de grandes industrias tem a capacidade de impelir os

Estados Nacionais a criarem as condições institucionais e legais para sua

formação e ainda fazer uso de seus recursos financeiros através de bancos

públicos para adquirir capital via financiamentos. Segundo Bukarin (1928, p.

155 “Uma oligarquia financeira instalou-se no poder e dirige a produção,

reunida pelos bancos em um só feixe. Este processo de organização da

produção partiu de baixo para vir a consolidar-se nos quadros do Estado

modernos, intérpretes fiéis dos interesses do capital financeiro”. Neste sentido

podemos perceber que as novas faces do modo de produção capitalista

atribuem ao Estado um papel de subordinação em relação ao capital e as

grande empresas.

Para demonstrar de forma pratica tem-se o exemplo da constituição da

empresa Lácteos Brasil – LBR. Segundo informações do site sua formação se

deu em 2008 quando a GP investimentos (fundos de investimentos) adquiriu a

LeitBom que acabara de se transformar em S.A. no mesmo ano foram

adquiridos a marca Poços de Caldas e ativos a ela relacionados. Em junho de

2010, a LeitBom licenciou a marca Parmalat no Brasil. No final do mesmo ano,

as duas empresas, LeitBom e Bom Gosto, apoiadas pelo BNDES, constituíram

a LBR. Com os processos de fusões e aquisições de plantas por quase todo o

Brasil a LBR deteve o direito de uso das marcas Parmalat, Poços de Caldas,

Boa Nata, Bom Gosto, Líder e LeitBom e Cedrense. Chegou a capacidade de

produzir mais de 2 bilhões de litros de leite por ano, empregando 5,8 mil

pessoas e abrangendo uma cadeia de 56 mil produtores de leite.

Este caso representa claramente a atuação do Estado na tentativa de

promover a formação de grande grupos nacionais, segundo Fiegenbaum e

Rohenkohl, (2012, p. 13) “existe uma estratégia por parte do BNDES em

capitalizar grandes empresas nacionais no setor de lácteos, para que as

mesmas possam atuar no exterior”. Em outras palavras, apesar de promover a

reprodução do capital financeiro e a consolidação de grandes empresas de

caráter monopólico. O Estado esta atuando estrategicamente no sentido de

colocar no mercado nacional e mundial uma empresa de lácteos de origem

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brasileira a altura dos grandes grupos multinacionais já consolidados. Para

tanto Rangel aponta:

Não passa sem consequências a escolha entre desmantelar ou controlar os monopólios ou formações a este aparentadas (os oligopólios). Casos há em que o monopólio emerge como um imperativo de ordem técnica ou econômica, de tal modo que seu desmantelamento evolveria a própria desnutrição da indústria ou do serviço ou, no melhor dos casos, um sério retrocesso tecnológico, com graves repercussões sobre os custos. Esses casos aumentam de número, à medida que a economia progride, que a tecnologia avança. Em tais casos, o disciplinamento do uso dou próprio exercício do poder monopólio pelo poder público surge como única solução para o problema, sem alternativa possível. (RANGEL, 1963, p. 621)

Apesar de a empresa não divulgar dados oficiais estima-se que entre

2011 e 2014 a LBR tenha ficado entre as 3 maiores empresas de lácteos do

Brasil em volume de captação, concorrendo com as multinacionais Nestle,

Danone e Vigor. Porem atualmente encontra-se em recuperação judicial e 17

de suas plantas industriais foram adquiridas pela multinacional francesa

Lactális4, sua derrocada possibilitou que mais uma grande empresa

multinacional se estabelecesse no Brasil.

O organograma apresentado na sequência mostra como a multinacional

Lactális tornou-se detentora de uma ampla gama de unidades industriais,

marcas e empresas, pois adquiriu empresas que desde o início da década de

1990 vinham praticando processos de fusões e aquisições. Assim

considerando as fusões realizadas pelas empresas adquiridas pela Lactális

constitui-se uma complexa estrutura.

4 Segundo a revista Exame em reportagem exibida em 04/09/2014 A multinacional francesa

Lactalis esta entre as maiores empresas de lacteos do mundo, possuindo 200 unidades industriais em 145 países, sendo atualmente proprietária de 83% da Parmalat na Itália. Conta com 61 mil funcionários e movimenta 16 bilhões de euros, opera em 8 divisões de negócios. A Lactális também adquiriu por 1,8 bilhões o setor lacteos da BRF formada pela fusão da Elegê (Avipal S.A. Sadia) e Batavo (Perdigão).

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* Os métodos utilizados para a elaboração deste organograma não fazem distinção entre unidade industrial, marca ou empresa.

ORGANOGRAMA 01 – Principais fusões e aquisições realizadas por empresas adquiridas pela Lactalis.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em pesquisas em diversas reportagens e homepage de empresas.

O que se pode perceber por parte dos proprietários das empresas

nacionais é que estes realizam fusões e aquisições visando aumentar a

concentração e receitas ampliando assim a capacidade de atrair investimentos

e negociarem ativos no mercado financeiros. Uma vez estando formada uma

grande empresa a partir de fusões e aquisições de empresas nacionais

menores, estas companhias são postas a venda para grupos de investidores

e/ou fundos de pensão que estão buscando entrar no mercado brasileiro de

forma agressiva e especulativa.

Nesse contexto, novos agentes ganham relevo enquanto articuladores estratégicos do controle de grandes empresas nacionais: os investidores institucionais, em especial os fundos de pensão, e os investidores externos. Alianças estratégicas também são formadas entre grupos nacionais, estabelecendo-se arranjos societários envolvendo a participação desses atores. Enfim, são novas formas de governança corporativa na economia brasileira. .(FILHO e SILVA, 1999, pg. 339)

Corlac

Glória

Lactis

Poços de Caldas

Lacesa - RS

Saga Agroindustrial Friolat - SP

Boa Nata Via Láctea - SP

Comleite Laticínios Teixeira

Alimbra - BH

Lavisa - BH

Alpha - RJ

Suprema - MG

Santa Helena - GO

Go-GO - Goiás

Mocóca - GO

Planalto - MG e RJ

SPAM - RJ

Avaré

Naturalat/leiteSol - SP

Bethânia

Ouro Preto

Ivoti - RS

Batavo - PR

Queijo Minas - MG

Mococa - SP e PR

Cilpe

Sodilac - RS

Fiorlat

Yolat - SP

COTRIJUC

Parmalat

Lat. Dobon

Lat. Sta Rosa

El Vaquero

COAGRISOL

COMTUL

COOLAN

COOPERMIL

COOPIBI

COTRIFRED

COTRIJAL

Cedrense

Lider

Batavia S.A

Cotochés

Morrinhos

Pulista

Nestle (1 unidade)

Coroada

CCLPL - Coop. Central de Laticínios

Elegê (Avipal)

Leite Bom

LACTALIS

São Gabriel

LBR

COTRISOJA

COTRIBÁ

SANTA CLARA

COCPELL*

BOM

GOSTO

Da Matta

Ibituruna

Sarita

Bom Gosto

COTRIJUI

COTRICAMPO

COTRIMAIO

COTRIPAL

2º Colocado

2,6 Bilhões de litros

(estimativa)

1,3 Bilhões de litros da

BRF e 1,3 Bilhões de

litros da LBR

(estimativa)

Obs. Ocupa a segunda

colocação por divulgar

apenas o volume

captado pela BRF.

BRF (Sadia e

Perdigão)

COTRIROSA

COTRISAL

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Outra forma de organização empresarial no modo de produção capitalista

são as cooperativas, que no mercado de lácteos estabeleceram-se entre as

maiores empresas de laticínios entre 2008 e 20135. Porem estas empresas

estão aderindo as condições impostas pelos novos padrões de atuação do

capital.

Segundo informações extraídas da homepage da Itambé, a cooperativa

figurou entre as quatro maiores em 2012, obteve este patamar ao estabelecer

parceria em 2002 com a Sertrading (empresa de serviços de comércio exterior

e distribuição de produtos), fundando a Serlac, join-venture voltada para

exportação de lácteos. Como resultado a exportação passou de 13 para 63

países, tornando-se a maior exportadora de lácteos do Brasil. De acordo

informações da Sertrading (2012), em 2004 as exportações da Serlac

representaram 33% das exportações de lácteos do Brasil.

Recentemente a Itambé tornou-se S.A. e teve 49% de seus ativos

adquiridos pela multinacional Vigor, esta por sua vez possui desde 1986 uma

join-venture com a dinamarquesa Arla Foods, à razão de 50%, por meio da

qual criaram a Dan Vigor Indústria e Comércio de Laticínios Ltda, em 1990 a

Dan Vigor adquiriu a Leco e a Lat. Serrabella. Em meados de 1990 a Dan

Vigor foi adquirida pela Bertin. Por fim, ao final dos anos 2000 a FB

participações (Fundos de Investimento) financiou a aquisição da Bertin pela

JBS. Logo a Mineira Itambé e a Laticínios Vigor são 50% e 100%

respectivamente da multinacional JBS.

Isso demostra que as empresas lácteas de caráter cooperativista também

estão aderindo a novas estratégias para garantir maiores concentrações de

capital, aquisição de tecnologias e reposicionamento do mercado. Isso significa

que mesmo sendo cooperativa as empresas atuam como grandes instituições

capitalistas e que por tanto irão condicionar suas cadeias produtivas para que

os agentes a ela relacionados sejam enquadrados de forma a garantir a

maximização da exploração das atividades.

5 Ver tabela 01 - As empresas Itambé, Batavo e Frimesa são cooperativas.

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3 – Conclusão

A cadeia produtiva do leite do Brasil ao longo de muitos anos foi

condicionada pela forte presença de empresa multinacionais. Em um primeiro

momento a presença destas empresas foi fundamental para o desenvolvimento

de técnicas de produção e transferência de tecnologia de suas matrizes.

A partir da década de 1980 figurou entre o setor produtivo um amplo

processo de fusões e aquisições na industria láctea que culminaram na década

de 1990 num processo de desnacionalização do setor. A participação do capital

financeiro para este processo foi maciço e atribuiu ao setor produtivo novas

dinâmicas de atuação na cadeia produtiva. Grandes empresas se formaram e

deram origem a processos que se caracterizam em ambientes oligopolistas e

monopsôlistas.

Esta atual figuração esta provocando profundas alterações nas relações

comerciais existentes entre indústria e fornecedores, principalmente na

produção primária. Da mesma forma o mercado consumidor esta a vulnerável

ao controle de preços e indução de preferencias praticado pela industria.

Por outro lado não se descarta o fato de que a consolidação de grandes

empresas dentro das cadeias produtivas tem perfil estratégico no âmbito

internacional. Capaz de condicionar toda a cadeia produtiva para o

desenvolvimento estrutural e superestrutural. Considerando que os atuais

níveis de crescimento da produção nacional e consumo mundial o leite pode

ser um importante recurso gerador de divisas. Sendo assim, os ensinamentos

de Rangel apontam para o papel fundamental do Estado fomentando o

surgimento de grandes empresas mas controlando suas ações para inibir a

formação de oligopólios e oligopsônios.

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4 – Referências BELIK, Walter. Agroindústria e reestruturação industrial no Brasil:elementos para uma avaliação. Cadernos de Ciência & Tecnologia, Brasília, v.11, n.1/3, p.58-75, 1994 BENETTI, Maria Domingues. Globalização e desnacionalização do agronegócio brasileiro no pós 1990. Documentos FEE n. 61. Porto Alegre, outubro de 2004. BUKARIN, Niolai I. O Imperialismo e a Economia Mundial. Editora Melso S.A. Rio de Janeiro. 1915 CARVALHO, Glauco Rodrigues ; Oliveira, Clesiane de. Indústria de Laticínios do Brasil Contexto Internacional. REVISTA AGROANALYSIS – Revista de Agronegócios FGV. Agoto de 2010. Disponível em: http://www.agroanalysis.com.br/materia_detalhe.php?idMateria=870 CARVALHO, Marcelo Pereira. Retrato do Setor Lácteo. In Revista de Laticínios – Entrevista. Postado em 09/2011. Edição número 92. Disponível em: http://revistalaticinios.com.br/wp-content/uploads/2011/09/Revista-iL92_008a015.pdf. CARVALHO, Vera Regina F. Mudanças patrimoniais na indústria de laticínios do Rio Grande do Sul: os principais grupos econômicos nas décadas de 80 e 90. Faculdade UNIVATES, Lageado RS. 2010. FIEGENBAUM, J.; ROHENKOHL, J. E. A expansão da indústria do leite: uma análise das estruturas de mercado no Brasil entre os anos de 2004 a 2010. In: CONGRESSO DA SOBER, 50., 2012. Anais. Vitória - ES, 2012. FILHO, Pascoal José Marion. MOURA, Ana Carolina. BRITES, Marindia. LORENZONI, Rodrigo Klein e SCHAEFER, Roberto Osvino. Concentração e Centralização do Capital na Indústria de Laticínios Brasileira (2000-2011). Revista de Administração e Negócios da Amazônia, v.5, n.3, set/dez. 2013. pp. 33-48 GAZETA MERCANTIL). São Paulo, 13 abr. 2000. p.C-1. IFCN – International Farm Comparison Network. Top 20 milk processor list 2014 – ranked by milk intake IFCN. Dairy Research Center. Disponível em: http://www.ifcndairy.org/en/start/index.php

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