desistência da tentativa
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D. PenalTRANSCRIPT
A chamada desistência da tentativa, tentativa
abandonada ou tentativa qualificada engloba tanto
a desistência voluntária quanto o arrependimento
eficaz. Está previsto no artigo 15 do Código Penal.
Por Irving Marc Shikasho Nagima
CONCEITO, ELEMENTOS, DISTINÇÃO E FUNDAMENTOS
Para melhor entender os institutos da desistência voluntária e do
arrependimento eficaz, espécies da desistência da tentativa,
necessário se faz a diferenciação entre tentativa inacabada e
acabada. Nas palavras de Juarez CIRINO dos Santos:
Na tentativa inacabada as ações realizadas são representadas como
insuficientes para o resultado – ou seja, o autor ainda não realizou
todo o necessário para produção do resultado, sendo suficiente a
desistência das ações futuras para evitar o resultado: facada no
pescoço reconhecida como sem perigo para a vida da vítima.
Na tentativa acabada as ações realizadas são representadas como
suficientes para o resultado – ou seja, o autor já realizou todo o
necessário para produção do resultado, cuja ocorrência depende,
apenas, da ação normal dos fatores causais postos pelo autor, sendo
necessária nova atividade para evitar o resultado: a ação de
estrangulamento é cessada porque o autor acreditava que a vítima
morrerá. (CIRINO, 2011, p. 219).
Ponderadas as diferenças entre tentativa inacabada e tentativa
acabada, passa-se a conceituar os institutos componentes da
tentativa abandonada.
A desistência voluntária é “a atitude do agente que, podendo chegar
à consumação do crime, interrompe o processo executivo por sua
própria deliberação” (DOTTI, 2010, p. 413). Ou seja, o agente
quando inicia “a realização de uma conduta típica, pode,
voluntariamente, interromper a sua execução” (BITENCOURT, 2007,
P. 406), conduta essa impunível. Em outras palavras, “o agente,
voluntariamente, abandona seu intento durante a realização dos atos
executórios” (CUNHA, 2010, p. 69).
Desse conceito, pode-se extrair que para a ocorrência da desistência
voluntária é necessária a paralisação concreta da execução do fato
delituoso (critério objetivo) e que essa desistência seja voluntária
(critério subjetivo). Havendo a cessação (abstenção) da execução do
crime, por deliberação própria do agente, ele só responderá pelos
atos até então praticados, se infrações penais forem considerados
tais atos.
Já o arrependimento eficaz, também chamado de arrependimento
ativo, ocorre “quando o agente, tendo já ultimado o processo de
execução do crime, desenvolve nova atividade impedindo a produção
do resultado” (JESUS, 2006, p. 343/344). Exige uma ação positiva do
agente, pois “o processo de execução do delito se encontra esgotado
(ação típica realizada)” (PRADO, 2010, p. 84), com a finalidade de
evitar a produção do resultado.
Destarte, para que se configure o arrependimento eficaz é imperioso
que haja o impedimento eficaz do resultado (critério objetivo) e que
seja de forma voluntária (critério subjetivo).
A desistência voluntária está para a tentativa inacabada do mesmo
modo que o arrependimento ativo está para a tentativa acabada. A
fim de demonstrar as diferenças entre os dois institutos, eis o
magistério de Celso DELMANTO e outros:
Na desistência voluntária, o agente interrompe o processo de
execução que iniciara; ele cessa a execução, porque a quis
interromper (mesmo que haja sido por medo remorso ou decepção) e
não porque tenha sido impedido por fator externo à sua vontade. No
arrependimento eficaz, embora já houvesse realizado todo o processo
de execução, o agente impede que o resultado ocorra. Em ambos os
casos, sempre voluntariamente. (DELMANTO, 2010, p. 141/142).
Quanto ao fundamento da tentativa abandonada, há quem entenda
que se trata de política criminal (verdadeira “ponte de ouro”), outros
que se trata de graça (ou prêmio ao agente por evitar o resultado
lesivo), e ainda àqueles que creem pela desnecessidade de pena,
ante seu caráter de prevenção geral ou especial. Novamente reporta-
se, com a devida permissão, às lições de Juarez CIRINO dos Santos:
Existem várias teorias para explicar a exclusão da pena da
desistência da tentativa, como a teoria de política criminal, a teoria
da graça (ou do prêmio) e a teoria dos fins da pena.
1. A teoria de política criminal formulada por FEUERBACH, define a
exclusão da pena da desistência da tentativa como ponte de ouro
para regresso do autor à esfera do Direito: a promessa de exclusão
de pena seria um estímulo ao autor para desistir da tentativa ou
evitar o resultado. A crítica apresenta várias objeções: a) a promessa
de exclusão de pena não exerceria influência sobre a decisão do
autor, e seria desconhecida da população; b) a prática judicial parece
indicar que a desistência da tentativa pode ter todos os motivos
possíveis, menos suprimir uma pena já efetiva.
2. A teoria da graça considera a exclusão de pena da desistência da
tentativa uma recompensa ao autor por suspender a execução ou
evitar o resultado do tipo de injusto: a supressão do perigo para o
bem jurídico justificaria a indulgência sobre o autor – ou a atitude do
autor seria compensada pelo mérito da desistência ou da evitação do
resultado, desde que voluntária, mas independentemente de motivos
de valor ético.
3. A teoria dos fins da pena reconhece na desistência da tentativa
uma insuficiente vontade antijurídica para prosseguir na execução do
fato ou permitir a produção do resultado; logo a pena não se
justificaria por motivo de prevenção geral ou especial, nem por
qualquer outra existência de justiça. (CIRINO, 2011, p. 218).
Em uma análise breve de direito comparado, ainda sobre o
fundamento do abandono da tentativa, Santiago MIR PUIG instrui que
“A doutrina germânica admite geralmente a denominada teoria do
prêmio, segundo a qual a desistência voluntária apresenta-se como
um mérito que pesa tanto quanto a tentativa subsistente e que deve
ser premiado com o perdão ou a suspensão da punição que
reclamaria a tentativa não desaparecida. Na Espanha, entretanto,
geralmente são acolhidas fundamentações de cunho político-criminal,
seja no sentido da teoria da prata ao inimigo que foge (Feuerbach),
seja na linha das teorias que fundamentam a impunidade no
desaparecimento da necessidade preventiva de pena”. (MIR PUIG,
2007, P. 319).
NATUREZA JURÍDICA – TEORIAS E CRÍTICAS
A grande questão envolvendo a tentativa abandonada certamente é a
sua natureza jurídica. Seria a tentativa abandonada causa de
extinção de punibilidade ou causa de exclusão de tipicidade
(inadequação típica)?
Para Nelson Hungria, Magalhães Noronha, Aníbal Bruno, Eugênio Raul
Zaffaroni, José Henrique Pierangeli, Luiz Regis Prado e Rene Dotti,
embora não catalogada no rol exemplificativo do artigo 107 do
Código Penal, a desistência da tentativa caracteriza-se como
verdadeira causa de extinção de punibilidade, vez que “há uma
renúncia do Estado do jus puniendi (...), inspirada por motivos de
oportunidade” (HUNGRIA, 1978, P. 93).
Neste sentido, confira-se o ensinamento de Eugênio Raul Zaffaroni e
José Henrique Pierangeli sobre a matéria:
No caso de desistência voluntária e de arrependimento eficaz cria-se
em favor do autor uma causa pessoal de isenção da pena. A razão
pela qual esta causa pessoal de exclusão de pena ocorre encontra-se
na própria finalidade da pena: a pena cumpre uma função preventiva,
que no caso, a atitude do autor demonstra não ser necessária. Por
isto o direito penal estende esta “ponte de ouro” ao delinquente
(Liszt).
(...)
Optamos pela causa pessoal de isenção de pena, porque entendemos
que o delito tentado encontra-se completo em todos os seus
elementos apesar da mediação da desistência voluntária.
(ZAFFARONI e PIERANGELI, 2004, p. 672).
Por outro lado, para Damásio de Jesus, Cezar Bitencourt, Miguel
Reale, Celso Delmanto, Julio Mirabete e Fernando Capez, a tentativa
abandonada não é causa de “extinção de punibilidade, pois esta
pressupõe a causa da punibilidade, que, na hipótese, seria a
tentativa, que não existiu. Não havendo tentativa, pela falta de um
dos seus elementos (não-ocorrência por circunstâncias alheias à
vontade do agente), não se pode falar em extinção da punibilidade,
mas deve-se falar tão-somente em inadequação típica”
(BITENCOURT, 2007, P. 405).
A propósito, eis a doutrina de Damásio de Jesus:
Na verdade, a desistência voluntária e o arrependimento ativo são
causas de exclusão da adequação típica. A tentativa constitui um dos
casos de adequação típica de subordinação indireta. Através da
norma de extensão que a descreve, iniciada a execução do crime, e
não se consumando por circunstâncias alheias à vontade do agente,
os atos por ele cometidos tornam-se típicos. Assim, quando o agente
não atinge o momento consumativo por força da vontade do agente,
não incide a norma de extensão e, em consequência, os atos
praticados não são típicos em face do delito que pretendia cometer.
Se a tentativa é a execução iniciada de um crime que não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente, é evidente
que não há conatus quando o delito não atinge o seu momento
consumativo em face da própria vontade do sujeito. (JESUS, 2006, p.
342).
Dependendo da natureza jurídica escolhida, haverá consequências
próprias quanto ao concurso de pessoas, analisado a frente.
VOLUNTÁRIO, ESPONTÂNEO, INVOLUNTÁRIO E MOTIVAÇÃO
Comum à desistência voluntária e ao arrependimento eficaz é o
elemento subjetivo da voluntariedade. Voluntário é aquilo que se faz
por vontade própria, sem coação (moral ou física) de ninguém. Isto
é, o agente, de moto própria (livre vontade) deixa de praticar o
delito, fazendo não produzir o resultado outrora esperado.
Todavia, não se exige que a desistência seja espontânea.
“Espontânea ocorre quando a ideia inicial parte do próprio agente, e
voluntária é a desistência sem coação moral ou física, mesmo que a
ideia inicial tenha partido de outrem, ou mesmo resultado de pedido
da própria vítima” (BITENCOURT, 2007, p. 403/404). “Por
conseguinte, se o agente desiste ou se arrepende por sugestão ou
conselho de terceiro, subsistem a desistência voluntária e o
arrependimento eficaz” (CAPEZ, 2007, p. 250).
Importante deixar consignado que a voluntariedade é, aqui, sinônima
de autonomia, ou seja, o agente para de realizar os atos executórios
do delito porque quer, e não por circunstâncias alheias à sua vontade
(o que caracteriza a tentativa) ou pela impossibilidade da
consumação do delito (crime impossível, tentativa falha). Tais
circunstâncias caracterizam a involuntariedade do agente. Juarez
CIRINO dos Santos aconselha que “a desistência é involuntária se
para evitar o flagrante, ou por receio de bloqueio das vias de fuga, ou
porque o fato foi descoberto etc.” (CIRINO, 2011, p. 220).
Ainda, nesse raciocínio, vale lembrar a famosa frase de Frank, citada
por Nelson Hungria, no livro de Fernando CAPEZ “a desistência é
voluntária quando o agente pode dizer: ‘não quero prosseguir,
embora pudesse fazê-lo’, e é involuntária quando tem de dizer: ‘não
posso prosseguir, ainda que o quisesse’” (CAPEZ, 2007, p. 251).
Neste diapasão, eis o aresto do Superior Tribunal de Justiça sobre um
caso concreto envolvendo a voluntariedade do agente:
PENAL. RECURSO ESPECIAL. ROUBO. TENTATIVA OU DESISTÊNCIA
VOLUNTÁRIA. AGENTE QUE NÃO SUBTRAI OUTROS OBJETOS DO
ESTABELECIMENTO COMERCIAL OU DEMAIS CLIENTES, DEPOIS DE
VERIFICAR NÃO HAVER DINHEIRO NO CAIXA. TIPIFICAÇÃO CORRETA: CRIME TENTADO. INEXISTE DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA
QUANDO A CIRCUNSTÂNCIA DE INTERRUPÇÃO DO ITER CRIMINIS
OCORRE INTEIRAMENTE À REVELIA DO AGENTE. PRECEDENTES.
PARECER MINISTERIAL PELO NÃO CONHECIMENTO DO RECURSO. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO. 1. Se o crime não se consuma
por circunstância alheia à vontade do agente, o fato é tentado; não
há desistência voluntária. 2. Há tentativa de roubo e não desistência
voluntária se, depois de descoberta a inexistência de fundos no caixa da casa comercial alvo da pilhagem, o larápio nada leva desta ou de
seus consumidores. Precedentes desta Corte. 3. Em hipóteses como
a tal, o agente não leva ao fim o feito que havia planejado por
circunstância que lhe corria inteiramente a revelia, sua vontade não concorre para evitar a subtração como planejada; não pode, por isso,
ser premiado pela interrupção criminosa para a qual não contribuiu.
4. Recurso Especial desprovido. (STJ. REsp 1109383 / RN. Relator(a)
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO. Órgão Julgador T5. Data do
Julgamento 23/03/2010 Data da Publicação/Fonte DJe 03/05/2010).
Deste modo, não importam os motivos que levaram o agente a
desistir do crime (i.e., não se exige a demonstração do conteúdo de
valor ético), seja pelo medo, piedade, receio, remorso, etc., contudo,
deve-se mostrar de forma voluntária pelo agente.
CRIMES CULPOSOS, UNISSUBISISTENTES, DE MERA CONDUTA
E FORMAIS
É possível o reconhecimento da desistência da tentativa (ou tentativa
abandonada) nos crimes culposos, unissubsistentes, de mera conduta
ou formais?
Em uma rápida pincelada, o crime culposo é aquele cometido sem
dolo do agente, porém, resultou por motivos de negligência,
imprudência ou imperícia (a lei deve prever a punibilidade como
crime culposo, como, p. ex., homicídio, lesão corporal, etc.). Crime
unissubisistente é aquele que se realiza com um ato só (p. ex., injúria
verbal). Nos crimes de mera conduta não há resultado naturalístico,
pois o legislador descreve como delituoso o simples comportamento
do agente (p. ex. invasão de domicílio, porte ilegal de arma de fogo,
desobediência). Já o crime formal o tipo penal menciona o
comportamento e o resultado, porém, não é necessária sua
ocorrência para a consumação (p.ex. injúria, difamação, ameaça,
etc.).
Assim, a tentativa abandonada é incompatível com os crimes
culposos, posto que a desistência da tentativa pressupõe a vontade
de querer realizar o resultado (DOTTI, 2010, pp 413 e 415).
Nos delitos unissubsistentes “não se admitem desistência voluntária,
uma vez que, praticado o primeiro ato, já se encerra a execução,
tornando impossível a sua cisão” (CAPEZ, 2007, p. 249). Já os crimes
de mera conduta e os formais “não comportam arrependimento
eficaz, uma vez que, encerrada a execução, o crime já está
consumado, não havendo resultado naturalístico a ser evitado”.
(CAPEZ, 2007, P. 249)
ARREPENDIMENTO INEFICAZ
Dá-se o nome de arrependimento ineficaz o ato, voluntário, pelo
agente, que tenta evitar a sua consumação, porém, por
circunstâncias alheias, o delito produz o resultado quisto inicialmente.
Esse tipo de arrependimento é típico e não constitui causa de isenção
de pena. Assim, o agente responde pela infração penal praticada,
embora, na dosimetria da pena, o arrependimento ineficaz deve ser
relevado para fins da valoração da culpabilidade (ZAFFARONI e
PIERANGELI, 2004, p. 675).
TENTATIVA QUALIFICADA - EFEITOS
A nomenclatura tentativa qualificada se dá pelo fato de que o agente
responderá criminalmente pelos atos já praticados, que, por si só,
constituam outros delitos menores. Dessa maneira, embora seja o
agente isento do crime que voluntariamente evitou seu resultado,
deverá responder pelos atos até então praticados, desde que
relevantes do Direito Penal, vez que “não podem ser desfeitos tipos
de injusto consumados na tentativa de realizar outro delito maior”
(CIRINO, 2011, p. 222).
A título ilustrativo, no caso em que o agente inicia sua investidura
criminosa para matar seu desafeto, e dela desiste, responderá
somente pela lesão corporal ou vias de fato, dependendo do caso.
Outro exemplo, no caso em que o ladrão invade a casa da vítima e
desiste de consumar o furto, responderá pela violação de domicílio.
Nesses casos, advertem Eugênio ZAFFARONI e José PIERANGELI que
“persiste a pena dos delitos que foram consumados em seu curso. Em
outras palavras, o que fica impune é a tentativa em si mesma, mas
não os delitos consumados em seu curso, cuja tipicidade sofria
interferência somente por efeito da punibilidade da tentativa, mas
que ressurge com o desaparecimento desta” (ZAFFARONI e
PIERANGELI, 2004, pp. 676/677).
No mesmo sentido é o posicionamento do Superior Tribunal de
Justiça:
(...) DESISTÊNCIA VOLUNTÁRIA. CONFIGURAÇÃO. AFASTAMENTO DA TENTATIVA. RESPONSABILIDADE PELOS ATOS JÁ PRATICADOS.
IMPOSSIBILIDADE DE ACOLHIMENTO DO PLEITO. 1. A configuração
da desistência voluntária afasta, inevitavelmente, o delito na sua
forma tentada, respondendo o agente pelos atos já praticados. 2. "Não há dúvida, entretanto, que na tentativa o resultado não se
consuma por circunstâncias alheias à vontade do agente. No caso, há
esgotamento de todos os atos executórios ou o agente é impedido de
exauri-los. O dolo inicialmente pretendido, entretanto, remanesce. Já na desistência voluntária e no arrependimento eficaz, por
opção/escolha do agente, o fim inicialmente pretendido pelo agente
não se realiza. Ou seja, ao alterar o dolo inicialmente quisto, enseja a
ocorrência da atipicidade, respondendo, entretanto, pelos atos já
praticados" (REsp 497.175/SC). (...) (STJ. HC 184366 / DF. Relator(a) Ministro JORGE MUSSI. Órgão Julgador T5. Data do
Julgamento 02/08/2011 Data da Publicação/Fonte DJe 29/08/2011.
Damásio de JESUS, a propósito, disserta que a tentativa qualificada
se fundamenta no princípio da consunção. Veja-se:
Entendemos, porém, que o problema deve ser resolvido pelo princípio
da consunção. Se a norma consuntiva (a que define a tentativa) não
tem aplicação por força da desistência ou do arrependimento, a lei
inicialmente consumida (a que descreve os atos anteriores) readquire
sua autonomia. Não é possível declarar impune o autor de um
comportamento delituoso só porque pretendia cometer outro de
maior gravidade. (JESUS, 2006, p. 346).
CONCURSO DE PESSOAS – COAUTORIA E PARTÍCIPE
Há quem entenda (para a corrente que vê a tentativa abandonada
como extinção de punibilidade) que a desistência voluntária e o
arrependimento eficaz possui caráter personalíssimo e, portanto, não
pode beneficiar os coautores e/ou partícipes do delito.
Já para os que seguem a corrente de que a desistência da tentativa é
causa de atipicidade, o benefício se estende aos demais partícipes.
Deste modo, “se os atos tornam-se atípicos, por eles não podem
responder os partícipes” (JESUS, 2006, p. 346).
Resumindo: “a consequência mais importante a respeito de sua
natureza jurídica de causa pessoal de exclusão de pena é que a
desistência do autor não beneficia aos partícipes e nem vice-versa.
Para aqueles que entendem que é uma causa de atipicidade, a
desistência do autor beneficia o partícipe, embora a do partícipe não
beneficie o autor (dado que a participação é acessório da autoria,
mas não a autoria da participação)”. (ZAFFARONI e PIERANGELI,
2004, p. 673).
Finalizando, não é demais inserir a síntese do estudo de Juarez
CIRINO dos Santos sobre o concurso de pessoas e a tentativa
abandonada:
Hipóteses de participação: a) no caso de participação por instigação
só é possível o arrependimento eficaz mediante neutralização dos
efeitos psíquicos produzidos sobre o autor – ou sério esforço para
evitação do fato; b) no caso de participação por cumplicidade, o
cúmplice deve, voluntariamente, (a) omitir sua contribuição para o
fato e (b) demover o autor do propósito de realizar o fato – ou,
alternativamente, impedir a produção do resultado, gerando situação
de tentativa inidônea ou falha, ou se esforçar seriamente para
impedir o resultado, de modo que o fato concreto apareça como obra
exclusiva do autor.
Hipóteses de coautoria: no caso de coautoria, caracterizada pelo
domínio comum do fato, o coautor deve, voluntariamente, impedir o
resultado – ou, alternativamente, se esforçar seriamente para evitar
o fato, mediante (a) omissão de sua contribuição causal para o fato
comum e (b) comunicação da posição ao(s) outro(s) coautor(es)
antes da realização do fato comum, de modo que o fato concreto
apareça como exclusiva obra alheia. (CIRINO, 2011, p. 223).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Geral. 11. Ed. São Paulo: Saraiva, 2007. Vol. 1.
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www.stj.jus.br/SCON acesso em 30.05.2012.
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DELMANTO, Celso. Et al. Código Penal Comentado. 8. Ed. São
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SANTOS, Juarez Cirino dos. Manual de Direito Penal: Parte Geral.
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ZAFFARONI, Eugênio Raul. PIERANGELI, José Henrique. Manual de
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