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DESFILES ESCOLARES: A ANÁLISE DO CIVISMO PELA VIA D AS
FOTOGRAFIAS
STRUJAK, Ana Paula1 - UNICENTRO
LEDESMA, Maria Rita Kaminski2 - UNICENTRO
ZANLORENZI, Claudia Maria Petchak3 – UEPG
Grupo de Trabalho – Historia da Educação
Agencia Financiadora: não contou com financiamento Resumo O referido artigo, denominado Desfiles Escolares: a análise do civismo pela via das fotografias é resultado de uma pesquisa bibliográfica, e iconográfica, a qual tem como objetivo apresentar a análise de como se desenvolveu o civismo na cidade de Irati-PR, principalmente no que se refere, aos Desfiles Escolares realizados a partir da década de 1920; como o imaginário cívico foi desenvolvido na população, e como as escolas trabalhavam esse imaginário cívico, que começou a se desenvolver no Brasil com a República. Para o seu desenvolvimento, foi apontado um breve histórico sobre o civismo e como esse foi desenvolvido a partir da Primeira República no Brasil. Posteriormente, foram realizadas algumas reflexões sobre a fotografia como fonte histórica, e alguns aspectos sobre a realização da análise das mesmas e, em seguida, finalizado com a análise das fotografias de Desfiles Escolares realizados no Município de Irati-PR, a partir da década de 1920. Para a realização do artigo, foram utilizados autores como: Carvalho (2011), Maia (2010), Mauad (2008), Strujak; Zanlorenzi (2012), os quais discutem sobre o tema civismo em seu aspecto formativo, bem como, a análise de fotografias, como fonte histórica. No que se referem às fotografias dos desfiles Escolares, as análises foram realizadas como meio de continuação e conclusão de uma pesquisa iniciada e citada como fundamentação para a última parte do artigo, a qual mostra, de forma abrangente, como o ideário cívico era organizado no decorrer dos desfiles. A pesquisa e análise possibilitaram uma clara consideração de que ao observar o desenvolvimento dessa manifestação cívica popular, as pessoas passavam adorar a sua nação, visto que nos mesmos desfiles, elas observavam tanto, os vários mitos e símbolos, como também, a formação que as crianças recebam desde pequenas nas escolas. Palavras-chave: Civismo. Desfiles Escolares. Fotografia.
1 Acadêmica do curso de Pedagogia da UNICENTRO- campus Irati. E-mail: [email protected]. 2 Professora Doutora do Departamento de Pedagogia da UNICENTRO - Campus Universitário de Irati. E-mail: [email protected]. 3 Doutoranda em Historia da Educação (UEPG), membro de pesquisa HISTEDBR – Campos Gerais. Secretária Municipal de Educação de Irati-PR. E-mail: [email protected].
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Introdução
O tema que embasa a presente pesquisa é o civismo e a sua relação com a educação,
tendo como objetivo conhecer a trajetória histórica das ideias cívicas no Brasil, partindo da 1ª
República, e investigar a legitimação do civismo em Irati a partir da análise das iconografias
de desfiles escolares.
Segundo Strujak; Zanlorenzi (2012), o civismo foi propagado há muito tempo sobre as
influências liberais. As concepções que vinham sendo formadas de uma nova sociedade, com
características soberanas, acabaram sendo concretizadas no Brasil, por meio de ações que
viriam a formar desde cedo nos cidadãos, os valores nacionalistas.
Na concepção de Maia (2010), foi por meio da educação, considerada um dos
principais meios de formar o sujeito, que esses eram moldados, com base nos modelos,
valores e morais dessa nova sociedade. As instituições escolares foram à base para se alcançar
os objetivos cívicos, utilizando-se de diversos meios, todos os quais possibilitassem essa
formação, dentro e fora da escola, através de celebrações cívicas.
É fundamentado nessa premissa, que o problema da pesquisa se delimita, em
investigar como ocorreu essa legitimação cívica na cidade de Irati-PR, por meio da análise de
fotografias de desfiles escolares realizados na cidade.
A presente pesquisa foi realizada, a princípio, por meio de uma pesquisa bibliográfica,
na qual foi apresentada uma breve contextualização histórica sobre o desenvolvimento dos
ideais cívicos no Brasil, e a delimitação de como ocorre a análise de imagens, priorizando-a
como fonte histórica. A pesquisa ocorre através da análise de dados, obtidos por meio de
livros, artigos, e outras fontes secundárias. Posteriormente, foi realizada uma análise de
iconografia, de fotografias selecionadas de desfiles escolares realizados em Irati-PR, a partir
de 1920, e que foram obtidas no Museu Municipal de Irati.
A utilização da fotografia como pesquisa pode possibilitar um conhecimento visual de
aspectos históricos. A fotografia é uma fonte histórica e pode revelar inúmeros pontos além
da imagem que nela está exposta, pode revelar todo um contexto, um período, costumes, que
devem ser analisados além da aparência. Como afirma Mauad (2008, p.28) “A fotografia
comunica por meio de mensagens não-verbais, cujo signo constitutivo é a imagem. [...]”.
Essa pesquisa será de cunho relevante para os estudos educacionais do município, bem
como para a contribuição histórica, como fonte bibliográfica, visto que poucas pesquisas
sobre a história educacional de Irati foram desenvolvidas.
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Histórico sobre o civismo no Brasil
A ideia de Civismo começou a ser discutida no Brasil na égide da Proclamação da
República e essa foi marcada pela imposição de valores e de uma ideologia a uma sociedade
que necessitava naquele momento, de mudanças significativas em sua estrutura e organização.
Segundo Strujak; Zanlorenzi (2012), no Brasil o civismo teve início com a Primeira
República, a qual se caracterizou como um novo regime que se desenvolveu no país e foi
regado por influências de outros países que já vinham desenvolvendo essa nova forma de
governo, e foi com o olhar voltado para eles, que se instaurou no Brasil, por meio de uma
ideologia. Segundo Carvalho (2011, p. 09) “O instrumento clássico de legitimação de regimes
políticos no mundo moderno é, naturalmente, a ideologia [...]”, e nesse contexto de nova
ordem, essa foi preponderante.
O civismo foi uma ordem ideológica, desenvolvida como forma de mudança social,
que objetivava formar cidadãos nacionalistas para uma sociedade mais liberal, e foi partindo
dessa visão que as várias correntes ideológicas disputavam a forma para definir o novo
regime. O cidadão era um dos pontos chave para se conquistar o poder, moldando-os a partir
de ideologias, ou modelos e valores, que eram transmitidos socialmente. Segundo Maia
(2010) essa ideologia baseava nos discursos de cidadania, no entanto, estaria à disposição de
alterações, a fim de manter e preservar a harmonia da sociedade.
Eram três as correntes que disputavam o novo regime, e que como afirma Carvalho
(2011, p. 09), compunham-se do “[...] liberalismo à americana, o jacobinismo à francesa, e o
positivismo. [...]”. Todas as correntes utilizaram instrumentos ideológicos que caracterizavam
as utopias, transmitindo cada uma um modelo diferente de república, bem como, um novo
modelo para a sociedade.
Na concepção de Carvalho (2011) para o modelo do jacobinismo, exaltava-se um
modo de democracia clássica e direta, com a plena participação direta da população. Já para o
liberalismo, a idealização era a de indivíduos autônomos, em que era o papel do governo não
interferir na vida dos cidadãos. E o positivismo possuía um aspecto relevante, objetivando
uma possível idade de ouro, sendo que as pessoas poderiam viver bem, em meia a uma
sociedade mitificada.
As ideologias que estavam definidas para a república tinham as características dos
grupos de elite, no entanto para a realização de um movimento “extra-elite”, como descreve
Carvalho (2011), era necessário atingir a população de forma diferenciada, e não através de
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discursos, para uma população que possuísse um baixo nível intelectual. Deveriam ocorrer
através de sinais universais, elementos simples, que pudessem ser compreendidos por todos,
como por exemplo, imagens, símbolos e mitos.
Entre as correntes existiam batalhas entre os símbolos, com a intenção de influenciar o
imaginário da população. Segundo Carvalho (2011, p.10):
A elaboração de um imaginário é parte integrante da legitimação de qualquer regime político. É por meio do imaginário que se podem atingir não só a cabeça mas, de modo especial, o coração, isto é, as aspirações, os modos e as esperanças de um povo. É nele que as sociedades definem suas identidades e objetivos, definem seus inimigos, organizam seu passado, presente e futuro. O imaginário social é constituído e se expressa por ideologias e utopias, sem dúvida, mas também (...) por símbolos, alegorias, rituais, mitos.
Foram amplas as representações simbólicas, as principais compunham-se de bandeira,
festas cívicas, barrete frígio, entre outros. Das correntes que disputavam a república, a liberal
foi a que menos se dispôs a utilizar os símbolos, pois, segundo Carvalho (2011), esta não
necessitava de competições simbólicas, a pouca utilização da simbologia poderia ser
explicada pelo pouco interesse em conquistar o interior da população que já possuía tais
valores e construir uma política popular.
Ao contrário do que se expressava a corrente liberal, a corrente dos jacobinos e a
positivista eram mais crentes na força simbólica e do seu uso para uma possível vitória do seu
modelo de república. O hino e a bandeira foram dois símbolos utilizados como enaltecimento
àquele momento, considerados por Carvalho (2011), os símbolos detentores de maior
evidência e obrigatoriedade.
[...] A luta pelo mito de origem, pela figura do herói, pela alegoria feminina, era parte importante na legitimação do novo regime e talvez mais reveladora por não se tratar de exigência legal. Mas era luta de resultado menos conclusivo, pois não decidia a representação simbólica oficial da República. Era batalha de contornos indefinidos, de frentes móveis, de duração imprecisa. Não foi assim com a bandeira e o hino. De adoção e uso obrigatório, esses dois símbolos tinham de ser estabelecidos por legislação, com data certa. Era batalha decisiva (CARVALHO, 2011, p. 109).
Durante a Proclamação da República, seus principais representantes não estavam
munidos de um símbolo característico para a realização dos desfiles; utilizavam somente a
Mersalhesa4, que na descrição de Carvalho (2011, p.110), “[...] era símbolo que extrapolava
as fronteiras nacionais, era símbolo universal da revolução, (...) era a revolução, a república
4 Mersalhesa: Hino revolucionário francês, que se tornou hino nacional na França, somente no ano de 1879.
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radical, [...]”. Houve intensa dificuldade de representar esse fato, os republicanos eram
indecisos devidos as várias opções de bandeiras que surgiam.
A bandeira considerada símbolo da Proclamação foi hasteada por José do Patrocínio
na Câmara Municipal, a qual era uma cópia da bandeira norte-americana. Várias bandeiras e
diversos modelos foram confeccionados, algumas muito parecidas, mas que, no entanto,
apresentavam detalhes com as características das lutas vivenciadas até a Proclamação da
República.
Todo esse processo de escolha durou até a elaboração de outro modelo de bandeira,
desenhada por Décio Villares e enviada ao Governo Provisório com o auxílio de Benjamin
Constant. Esta nova bandeira apresentava aspectos positivistas, tendo como inspiração as
indicações de Comte. Parte das características da bandeira Imperial foi mantida, a mudança
que caracterizou a posição política, foi a divisa “Ordem e Progresso”.
[...] Tomaram então a bandeira imperial, conservaram o fundo verde, o losango amarelo e a esfera azul. Retiraram da calota os emblemas imperiais: a cruz, a esfera armilar, a coroa, os ramos de café e tabaco. As estrelas que circulavam a esfera foram transferidas para dentro da calota. A principal inovação, a que gerou maior polêmica, a que ainda causa resistência, foi a introdução da divisa “Ordem e progresso” em uma faixa que, representando o zodíaco, cruzava a esfera em sentido descendente da esquerda para a direita (CARVALHO, 2011, p. 112-113).
Essa nova bandeira foi adotada por meio de decreto do Governo Provisório, no dia 19
de novembro, e ficou ao cargo de Teixeira Mendes, a árdua tarefa de justificar a divisa
positivista que havia sido acrescentada na bandeira. “[...] Sempre de acordo com os princípios
positivistas, alega que o emblema nacional deve ser símbolo de fraternidade e ligar o passado
ao presente e ao futuro [...]” (CARVALHO, 2011, p. 113).
Justificando a ligação com o passado, Teixeira Mendes mencionou a ideia de preservar
as características da bandeira imperial, bem como as suas cores. Na ligação com o presente, o
qual representava o novo regime, e também o futuro, cumpria-se o papel que havia sido
destinado à divisa “Ordem e Progresso”. Segundo Carvalho (2011), Teixeira Mendes
explicou ainda a permanência da cor verde, a qual foi atribuída à filiação que os mesmos
acreditavam ter com a França. Esta cor seria responsável por representar a esperança e a paz,
que haviam sido instituídas pela Revolução Francesa.
A distribuição das estrelas, presentes na bandeira, também foi alvo de críticas da
oposição, a qual foi considerada por muitos como um “equívoco científico”. Em defesa,
explicitou-se que as mesmas representariam o céu do Brasil. Houve manifestos contra e a
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favor da permanência de suas características e, até mesmo, a tentativa de substituir as estrelas
por armas da República. Apesar de todos os confrontos verbais e críticas destinadas à ela, a
bandeira foi o símbolo mais aceito, quando exposta a comparação, aos heróis, que deram vida
ao dia 15 de novembro.
Diferente da batalha travada pela bandeira, a batalha pelo Hino Nacional pode ser
claramente considerada uma vitória popular, como afirma Carvalho (2011, p. 122), “[...]
talvez a única intervenção vitoriosa do povo na implantação do novo regime.”. Da mesma
forma que correu na situação da bandeira, os republicanos não dispunham de um hino próprio.
O hino que utilizavam era a Mersalhesa, a qual era aclamada e cantada em todas as
manifestações.
A Mersalhesa, segundo Carvalho (2011), era muito mais do que o hino Francês, era o
hino aclamado pelos revolucionários da maioria dos países. Vista a dificuldade de sua
implantação como Hino Nacional da França, nos outros países, a Mersalhesa continuou como
um canto de guerra. Ela era percebida por toda a população como o espírito republicano vivo;
no entanto, era vista a necessidade de atribuir a esse isso, características brasileiras.
Muitos tentaram buscar uma letra brasileira para esse hino, o primeiro foi Silva
Jardim. Em seguida, Olavo Bilac e Luís Murat criaram uma letra. Posteriormente, houve um
concurso para a escolha de uma música para essa letra.
[...] Nesse meio tempo, no entanto, ocorreu um episódio que mudou a direção dos acontecimentos. O major Serzedelo Correia preparara uma manifestação militar a Deodoro no dia 15 de janeiro de 1890, com fim não declarado de promover por aclamação aos membros do governo provisório. Povo e tropas da marinha ajuntaram-se em frente ao palácio do Itamaraty. Proclamados Deodoro generalíssimo, Wandenkolk, vice-almirante, e o ministro da Guerra, Benjamin Constant, general-de-brigada, as bandas tocaram a Mersalhesa e marchas militares, sem despertar o entusiasmo da pequena multidão que se aglomerava em frente ao palácio. [...]”. (CARVALHO, 2011, p. 124).
Ainda naquele momento, desconhecendo sua origem, veio o pedido para que tocassem
o Hino de Francisco Manuel da Silva. O pedido foi levado às autoridades, aceito pelas
mesmas e instaurado como Hino Nacional. Segundo Carvalho (2011) não houve oposição ao
fato de manter o hino monárquico, como o hino nacional, afinal, o hino de Francisco Manuel
já era característica da tradição popular.
Esse hino foi ainda referendado por Moreau Gottschalk, um pianista que veio ao Rio
de Janeiro em 1869 e elaborou um grande concerto, com mais e 600 músicos e inúmeras
bandas. A estréia desse concerto aconteceu no dia 24 de novembro, e “[...] Depois de várias
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obras de Gottschalk e outros compositores, o programa terminou com uma Marcha solene
brasileira, fantasia sobre hino nacional [...]”. (CARVALHO, 2011, p. 126).
Após esse fato, o concurso que fora proposto pelo governo, não teria mais o objetivo
de escolher o hino nacional, mas sim o hino da proclamação da República. Grandes músicos
da época competiram, no entanto, o grande vitorioso foi Leopoldo Miguez. Ainda, ao hino de
Francisco Manuel da Silva, foi incluída a letra composta por Osório Duque estrada, pelo
motivo de que a letra original, já não possuía o mesmo uso.
Outro meio que direcionava o imaginário populacional, foi o culto a heróis. Os heróis
eram considerados, segundo Carvalho (2011), modelos de aspirações e de ideias, eram
pessoas com as quais a população identificava-se, que lutava pelo bem comum de todos.
Durante a República, os heróis surgiam de diversas formas, alguns já estipulados pelos
regimes em questão, outros surgiam naturalmente pelo espírito de luta que possuíam e pelas
atitudes que tinham perante as mesmas lutas. Esse herói apresentava um envolvimento com a
população. Cada herói deveria possuir as características da sua nação.
Enfim, a República foi à grande propagadora de ideologia cívica, a partir de inúmeros
símbolos, como os heróis, a bandeira, os hinos, entre outros. Foi a partir desses símbolos que
essa ideologia pode tomar conta do imaginário popular, e organizar a sociedade em suas bases
cidadãs.
Foram os positivistas que tiveram participação notória, no decorrer de toda a batalha
simbólica, e também, os mais ativos, na busca de tornar a República, um regime adorado por
toda a população. Essa atuação positivista teve como marco a doutrina de Comte, bem como,
adotar no Brasil as mesmas concepções políticas adotada por ele.
Em seguida, será realizada uma breve caracterização da fotografia como instrumento e
fonte histórica, e os vários aspectos a serem considerados para a sua análise.
Fotografia como fonte histórica
Há muito tempo as fotografias registram fatos, situações, celebrações, momentos
marcantes da história. No entanto, faz pouco tempo que esse material vem sendo utilizado
como um instrumento de investigação histórica.
A fotografia é uma fonte histórica, e independente da sua intencionalidade de
reprodução, é necessário considerá-la tanto como documento, quanto como monumento. A
fotografia enquanto documento representa-se “[...] como índice, marca de uma materialidade
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passada, [...]”. (MAUAD, 2008, P.22), Ou seja, de que em algum momento, ela possibilita a
compreensão de alguns aspectos determinantes no passado, como as condições de vida e de
trabalho.
Ao considerar a fotografia como monumento, ela representa um símbolo, ou a imagem
destinada naquele momento histórico, como representação para a o futuro. “Os textos visuais,
inclusive a fotografia, são resultado de um jogo de expressão e conteúdo, que envolve,
necessariamente, três componentes: o autor, o texto propriamente dito e um leitor. [...]”
(MAUAD, 2008, p.22)
O autor da fotografia tem uma função essencial que pode ser profissional ou amador.
As técnicas e o controle dependem, especificamente, dos objetivos previstos para o resultado.
O leitor é a peça fundamental para atribuir sentido a imagem, o qual deve compreendê-la por
completo, e para que essa compreensão ocorra, devem–se considerar dois níveis que
abrangem a imagem fotográfica:
• nível interno à superfície do texto visual, originado a partir das estruturas espaciais que constituem tal texto, de caráter não-verbal;
• e nível externo à superfície do texto visual, originado a partir de aproximações e inferências com outros textos da mesma época, inclusive de natureza verbal. Neste nível, pode-se descobrir temas conhecidos e inferir informações implícitas (MAUAD, 2008, p.24).
Além dos elementos presentes na fotografia, é preciso conhecer todo o aspecto
histórico, a partir de outros documentos, para que se possa alcançar a compreensão total, pois
a “[...] Percepção e interpretação são faces de um mesmo processo: o da educação do olhar.
[...]”. (MAUAD, 2008, p.24) É a comunidade de leitores que implementa regras para a
realização de leituras de imagens, essas são estabelecidas com o objetivo de possibilitar uma
leitura adequada para se alcançar o verdadeiro significado da imagem
Não deixando de ser considerada uma produção textual, a fotografia apresenta
segmentos para a sua produção, como descreve Mauad (2008, p.25), a “[...] expressão e
conteúdo. [...]”. A expressão envolve os aspectos estéticos e técnicos, como o contraste da
fotografia, a cor, a iluminação. O conteúdo envolve os objetos, as pessoas presentes na
imagem, as vivências que podem ser observadas.
Em seu aspecto histórico, a fotografia, como as outras formas de texto, expressa “[...] a
textualidade de determinada época [...]”. (MAUAD, 2008, p. 25), e dessa forma, como
qualquer outro texto histórico, precisa de interpretação por parte do leitor.
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[...] as imagens são históricas, que dependem de várias técnicas e estéticas do contexto histórico que as produziram e das diferentes visões de mundo que concorrem no jogo das relações sociais. Nesse sentido, as fotografias guardam, na sua superfície sensível, a marca indefectível do passado que as produziu e consumiu. Um dia já forma memória presente, próxima àqueles que as possuíam, as guardavam e colecionavam como relíquias, lembranças ou testemunhos. [...] (MAUAD, 2008, p. 26).
A fotografia deve ser entendida como um produto determinador de cultura, a qual foi
produzida socialmente. Como todo documento histórico deve passar pelo caminho da crítica
externa e interna, para posteriormente organizar-se em séries. Para tanto é imprescindível uma
sistematização para análise fotográfica que pode ser concretizado a partir de passos.
Primeiramente é importante perceber que dentro da sociedade articulam-se inúmeros códigos,
bem como seus níveis, os quais proporcionam ao mundo da cultura, um significado
específico. Esses códigos são elaborados socialmente e jamais devem ser entendidos com
fontes não históricas (MAUAD, 2008).
Um segundo passo explicado por Mauad (2008, p.27), contempla “[...] a fotografia
como resultado de um processo de construção de sentido. [...]”, a qual tem a capacidade de
comunicar de forma não verbal; e o terceiro passo certifica que desde a sua criação, até a sua
leitura, a fotografia constitui-se em um processo de formação de sentido, o qual deve se
desenvolver estruturadamente.
Para a obtenção do plano de forma da expressão da imagem, determinam-se alguns
campos, os quais se compõem de tamanho, formato e suporte, tipo de foto, enquadramento e
nitidez. O tamanho é um campo que varia dependendo da série em que se delimita, as quais
poderiam seguir os padrões proporcionados pela própria câmera, como aconteciam
geralmente nas fotografias privadas, familiares; ou ainda, pela importância da informação que
por ela é transmitida, como, por exemplo, as fotografias de revistas, que quanto maior sua
informação, maior o seu tamanho.
Outro campo é o formato e suporte, nesse campo, como ocorre no tamanho, a variação
se realizaria a partir da sua série. No que diz respeito ao tipo de foto, “[...] define-se se a foto e
instantânea ou posada. A sua definição se faz em virtude da presença ou não de uma
encenação ou, ainda, a disponibilidade técnica para a realização da foto instantânea. [...]”
(MAUAD, 2008, p.30).
Com relação ao enquadramento, especificam-se algumas características, como
enquadramento para dar sentido à fotografia, os quais se definem pela posição dos eixos
horizontais ou verticais, os quais eram associados ao estilo que se pretendia para a fotografia;
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o enquadramento para a direção da foto, o qual define a direção que o olhar do leitor vai
passar para a realização da leitura, e o que define esse campo, é o papel resultante de
determinada série.
O enquadramento para a distribuição de planos remete, na concepção de Mauad
(2008), que quanto maior o número de planos contidos em uma determinada fotografia, maior
o número de informações que o fotógrafo deseja passar. Toda fotografia tem um objeto
central, o qual indica a qualidade da mesma, no entanto, deve ser relacionado com o fundo
presente na foto. Por fim, a nitidez considera as condições de entendimento da fotografia.
No plano de forma de conteúdo da fotografia, consideram-se alguns campos como, os
objetos presentes, as pessoas e suas características, os locais. “No desenvolvimento da análise,
o conceito de espaço assume a função de campo semântico, ao aglutinar as unidades culturais
num nível de significação mais complexo. [...]”. (MAUAD, 2008, p.33).
Partindo dessa premissa, Mauad (2008) estrutura cinco dimensões espaciais. O espaço
fotográfico abrange o recorte ou parte do espaço do qual a fotografia é composta, na qual se
insere também a sua organização; o espaço geográfico restringe-se ao espaço físico da
fotografia, caracterizado pelo lugar em que a mesma foi tirada, bem como, as mudanças que
esse lugar passou. O espaço do objeto especifica-se todos os objetos e a simbologia dos
mesmos. Nessa categoria, compreende-se todo o sentido de determinado objeto, e a relação
que o mesmo apresenta com a experiência e espaço. Sobre espaço de figuração e de vivência,
o primeiro corresponde às pessoas presentes no retrato, e a segunda,
Estão circunscritas as atividades, vivências e eventos que se tornam objeto do ato fotográfico. O espaço da vivência é concebido como uma categoria sintética, por incluir todos os espaços anteriores e por ser estruturada a partir de todas as unidades culturais. É a própria síntese do ato fotográfico [...]. (MAUAD, 2008, p. 34).
As experiências provam a necessidade dos pesquisadores atualizarem seus métodos de
análise. De forma individual, cada um pode tornar a sua metodologia flexível a depender de
seu gosto e de suas práticas.
Toda imagem é um produto histórico, a forma como foi elaborada, o período em que
foi retratada estão presentes em cada detalhe e em cada elemento que a compõe. [...] A
histórica embrenha as imagens, nas opções realizadas por quem escolhe, uma expressão e um
conteúdo, compondo por meio de signos, de natureza não-verbal, objetivos de civilização,
significados de cultura. (MAUAD, 2008, p.36).
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É com base nesse contexto, que se dada sequência ao trabalho. Na última parte se
realiza a análise de fotografias nos desfiles escolares realizados em Irati-PR, com o objetivo
de investigar a legitimação do civismo na cidade.
Análise das fotografias
O civismo caracterizou-se como uma ordem ideológica, que se desenvolveu o Brasil,
com o objetivo de formar cidadãos nacionalistas. Esse objetivo acabou se demonstrando
necessário para resguardar toda a cultura e os valores, que naquele contexto, eram
indispensáveis para a sua legitimação e os principais agentes para a defesa da pátria, eram os
próprios cidadãos.
Essa ideologia, fruto das condições concretas da sociedade e não como um élan abstrato, tem seu fundamento no ideário republicano. Era preciso ver para crer que aquela forma de governo que estava no seu alvorecer era a mais indicada a fim de igualar o Brasil aos países europeus e norte americanos (STRUJAK, ZANLORENZI, 2012, P. 2200).
A educação acabou sendo considerada a forma mais adequada de atingir os objetivos
nacionalistas, e atingir a maioria da população. As instituições utilizavam-se de inúmeras
formas de formar o ideal cívico na população, no entanto, os desfiles escolares foi o meio de
celebração cívica, aberta à comunidade, responsável por mostrar a todos, o desenvolvimento
concreto dessa formação e o amor a pátria que também era ensinado desde cedo, e que deveria
ser preservado nas pessoas no decorrer de sua vida, pois eram uma:
[...] demonstração à população dos valores que estavam sendo trabalhados em sala de aula e que dessa forma atingiriam uma grande massa, ou seja, do micro contexto da escola era direcionado e demonstrado ao macro de uma sociedade, em uma nova ordem: a republicana (STRUJAK; ZANLORENZI, 2012, p.2199).
Os mesmos aconteciam de forma geral, em locais privilegiados da cidade, e neles
participavam autoridades municipais, grupos de alunos e professores de escolas da região, e
parte da população do município, que apreciavam a celebração que seria realizada.
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Figura 1 - Desfile escolar em Irati (1934)
Fonte: Museu Municipal de Irati
A ideologia que se passava era uma camuflagem de situações desiguais, presentes no
decorrer da sua organização e do seu desenvolvimento. Os alunos permaneciam em ordem,
vestidos com uniformes iguais, caminhavam a passos padronizados, em marcha e em filas.
A ordem além de todos os outros elementos presentes nos desfiles demonstrava como
desde o início da sua história, as pessoas seguiam o modelo nacionalista e que viam esse
como um ato de respeito e amor a pátria. No entanto, a padronização que esse elemento trazia
tornava todos os indivíduos igual, trajados com roupas iguais, cantando as mesmas canções,
todos ao mesmo passo até a presença das autoridades.
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Figura 2 – Desfile Cívico de Irati-PR (1957)
Fonte: Museu Municipal de Irati-PR
Como demonstra a fotografia 2, a qual ilustra de forma clara que, desde pequenas as
crianças já eram educadas com base nas influências nacionalistas, já participavam dos desfiles
cívicos realizados no município. As crianças seguiam em ordem, em filas pelas ruas da
cidade, e eram guiadas pelas professoras, que as orientavam também, a levar algum símbolo
patriótico. Ao redor permanecia a população que observava e adorava aquele “espetáculo”
proporcionado pelos alunos.
As crianças eram o futuro nacionalista, pois através delas é que todos os valores
nacionalistas seriam preservados e enaltecidos, principalmente, por meio da educação.
Moldadas desde pequenas seguiriam os costumes e todas as perspectivas que naquele
momento histórico eram consideradas essenciais. Eram ensaiadas e treinadas nas instituições
escolares, para que naquele momento, fosse realizada com perfeição.
As bandeiras também compunham uma parte importante nos desfiles, pois elas
demonstravam de certa forma, todo um histórico e legitimação das lutas ocorridas no período
republicano. Foram os símbolos mais disputados e que eram de utilização e exaltação quase
obrigatória, não somente dentro das principais instituições municipais, mas, principalmente
nas celebrações cívicas, abertas a toda a população.
A bandeira é o símbolo vivo do país e quando hasteado, independente do local, exige e
evidencia o respeito da população pela sua imagem, pela simbologia que traz, desde os idos
da República, até os tempos que se seguiram.
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Figura 3 - Desfile Cívico de Irati-PR (1930).
Fonte: Museu Municipal de Irati-PR
Nos desfiles escolares eram enaltecidas demonstrando a consciência nacionalista que a
população deveria ter e por meio dessas atividades, que além de serem desenvolvidas nos
desfiles, eram veneradas juntamente com o hino nacional, o qual era cantado juntamente com
o hasteamento da bandeira.
O hino Nacional também era um elemento presente nos desfiles escolares, eram, como
em tantos outros momentos históricos, cantados juntamente com o hasteamento da bandeira.
O hino era a canção que representava a emoção e o sentimento cívico dos cidadãos
nacionalistas e esse era cantado em todos os momentos em que essas pessoas defendiam e
adoravam a sua pátria.
Esse culto à pátria também era reservado àquelas que vinham fazendo história, que
mostravam a sua autoridade ao resto da população, permanecendo presente nessa celebração,
no entanto, em um lugar mais alto da arquibancada.
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Figura 4 - Desfile Cívico de Irati-PR (1967)
Fonte: Museu Municipal de Irati-PR
Esse lugar em que as autoridades ficavam eram mais confortáveis que os demais e
ficava posicionado geralmente no meio do desfile, e era nesse local, em que as
demonstrações, encenações e caracterizações de todos os elementos que eram desenvolvidos
no desfile, bem como, o enaltecimento dos símbolos cívicos eram mais intensas. Isso
demonstrava também, uma forma de submissão da população a essas autoridades.
Nos desfiles vários elementos e símbolos cívicos eram enaltecidos. O hino, a bandeira,
os heróis, entre outros, não desvalorizando a sua devida importância, estavam presentes no
desenvolvimento dos desfiles, e a educação como elemento formador nacionalista maior,
capaz de formar a grande massa popular, com o passar do tempo.
Nesse sentido, observamos o verdadeiro valor que obtiveram as celebrações cívicas.
Tornar os cidadãos nacionalistas e defensores da sua pátria e da sua cultura era uma
necessidade nacional, e torna a educação a chave para se alcançar esse objetivo foi o grande
marco. O desfile escolar apesar de ser considerado uma das várias manifestações cívicas,
contribui para legitimar e assegurar a cultura cívica na população infantil, como era realizado
desde a infância, e também de todos os outros indivíduos que prestigiavam os desfiles.
Considerações finais
O civismo foi uma ordem ideológica desenvolvida no Brasil com a Primeira República
e atingiu através da ideologia o imaginário popular, o qual, naquele contexto foi fundamental.
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Essa ordem objetivou formar os cidadãos nacionalistas admiradores e defensores da sua
pátria, os quais eram manifestados através de mitos, manifestações abertas à população e
adoração a símbolos cívicos, como a bandeira, o hino nacional, o culto aos heróis, e tantos
outros que tomaram conta da cabeça e do coração das pessoas.
Os desfiles cívicos foram manifestações cívicas sociais, que disseminaram todos os
símbolos e mitos, e transmitiam à população a educação e formação nacionalista via civismo,
que era transmitida desde a infância nas Instituições escolares. As pessoas por meio desses
desfiles, também estavam abertas a essa formação através da veneração às manifestações.
E foi com base nesses aspectos que a análise das fotografias dos desfiles Escolares
realizados em Irati-PR foi desenvolvida. As fotografias são fontes históricas que transmitem
as marcas do passado, ou do momento histórico em que é produzida. Cada detalhe que a
compõe apresenta as características do passado e pode revelar todo um contexto, no qual parte
dos indivíduos não estava presentes, mas que podem ser apreciados.
Com a análise das fotografias dos desfiles escolares realizados no município de Irati-
PR, pode-se observar o valor que essa celebração cívica apresentava para todos. O sentimento
e a emoção da população em observar no decorrer do desfile todos os símbolos, os heróis, a
visão da formação que as crianças recebiam desde pequenas, era o marco para desenvolver a
adoração pela nação em que viviam.
Tal importância que apresentava, podem-se observar ainda nos dias atuais, em que se
realizam os desfiles, com características talvez um pouco diferentes das realizadas naquela
época, mas apresentando sempre o mesmo objetivo, educar o olhar das pessoas, bem como a
sua consciência, para o amor a nação.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: O imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
MAIA, Tatyana de Amaral. “Cardeais da Cultura Nacional”: o Conselho Federal de Cultura e o papel cívico das políticas culturais na ditadura civil militar (1967-1975). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Ciências Humanas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Rio de Janeiro, 2010. Disponível em: http://bndigital.bn.br/. Acesso em: 01/06/2011.
MAUAD, Ana Maria. Fotografia e História – possibilidades de análise. IN: CIAVATTA, Maria; et al. A Leitura de Imagens na Pesquisa Social. São Paulo: Cortez, 2008.
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STRUJAK, Ana Paula; ZANLORENZI, Claudia Maria Petchak. Desfiles Escolares e a Legitimação do civismo em Irati. IX Seminário Nacional de Estudos e Pesquisas “História, Sociedade e Educação No Brasil”. Universidade Federal da Paraíba; João Pessoa: Anais Eletrônicos, 2012. Disponível em: <http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/3.15.pdf.> Acesso em: 14 abr. 2013.