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Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde e o Quadro Pós-2015

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Visão, Sonho, Esperança

Vicente José Pinto de Andrade

Vicente José Pinto de Andrade

Tema de Reflexão

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Abril 2013

Visão, Sonho, Esperança

Vicente José Pinto de Andrade

Tema de Reflexão

Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde e o Quadro Pós-2015

Desenvolvimento Sustentável e Economia Verde e o Quadro Pós-2015

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Editor:

Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD)

Prédio das Nações Unidas, 197 Rua Major Kanhangulo, Ingombota Luanda

Tel. 244 222 331 181

Fax 244 222 335 609

e-manil: [email protected]

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© 2013 Programa das Nações Unidas para Desenvolvimento (PNUD)

Governo de Angola - 2012

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As opiniões aqui expressas não refletem necessariamente as do PNUD

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Vicente Pinto de Andrade1

Universidade Lusíada de Angola

Sumário Executivo

A Assembleia das Nações Unidas reuniu-se, entre 6 e 8 de Setembro de 2000, com a presença de 189 Chefes de Estado e de Governo, e aprovou a Declaração do Milénio e

os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs), que se transformaram no principal quadro do desenvolvimento mundial. Nesse âmbito, o desenvolvimento sustentável e a erradicação da pobreza, assim como a protecção do meio ambiente transformaram-se em objectivos fulcrais na acção das políticas públicas dos governos e nas suas estratégias de desenvolvimento. A busca do desenvolvimento sustentável tem encontrado muitos obstáculos na sua implementação. Apesar de ser matéria dos discursos de quase todos os decisores políticos e preocupação das organizações da sociedade civil mundial, dos ecologistas, dos investigadores científicos e das comunidades, o desenvolvimento sustentável ainda representa muito pouco em relação às acções que levam à maior sustentabilidade das actividades económicas e sociais. A Economia Verde surgiu como um meio capaz de operacionalizar as acções na área da produção que reduza os danos ao meio ambiente, aumente o emprego e o rendimento, e contribua para o crescimento e desenvolvimento dos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O presente artigo contextualiza a situação social e ambiental mundial, apresenta os conceitos básicos da Economia Verde, discute um conjunto de ferramentas para a implementação de estratégias a caminho da Economia Verde, ilustra um conjunto de iniciativas positivas em todo o mundo, nomeadamente em África, relaciona as dimensões do desenvolvimento sustentável com os conceitos de Economia verde. O estudo conclui que a Economia Verde é um meio para se atingir o Desenvolvimento Sustentável e que deve constar do Quadro Pós-2015, que inicia com os Objectivos Globais do Desenvolvimento Sustentável, como forma de aprofundar os Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento, articulando o Desenvolvimento Humano com o Desenvolvimento Sustentável.

Palavras-chave: desenvolvimento humano; desenvolvimento sustentável; economia verde.

1 Professor da Universidade Católica de Angola e da Universidade Lusíada de AngolaLinha de investigação: Economia dos Recursos Naturais e do Ambiente e Economia do DesenvolvimentoE-mail: [email protected]

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1. Introdução

A civilização humana encontra-se hoje numa trajectória ecológica insustentável, que nos pode conduzir ao declínio, ou ao afundamento económico. Esses riscos estão associados aos vários fenómenos de perturbação e destruição do meio ambiente, nomeadamente a desflorestação, a expansão dos desertos, a redução dos lençóis freáticos, a erosão dos solos, o esgotamento dos recursos haliêuticos, o aumento das temperaturas, a fusão dos glaciares, a elevação dos níveis dos mares e a força cada vez mais destrutiva das tempestades naturais.

A primeira década do século XXI foi marcada, e ainda está a ser marcada, por um conjunto de crises mutuamente amplificadoras, com particular destaque para o clima, a diversidade biológica, os combustíveis, os alimentos, a água, e, ainda mais recentemente, a crise do sistema financeiro global. Para além de ter-se registado uma errada afectação do capital financeiro e do capital físico, também se investiu relativamente pouco em energias renováveis, na eficiência energética, no transporte público, na agricultura sustentável, na protecção dos ecossistemas e na diversidade biológica, bem como na conservação da terra e da água.

A maior parte das estratégias de crescimento e de desenvolvimento económico encorajaram a rápida acumulação de capital físico, capital financeiro e capital humano, mas à custa de uma excessiva depleção e degradação do capital natural, que inclui a dotação de recursos naturais e os ecossistemas. Ao depletar o stock mundial da riqueza natural, e muitas vezes de maneira irreversível, esse padrão de crescimento e de desenvolvimento tem tido impactos negativos sobre o bem-estar das gerações actuais e apresenta riscos e desafios enormes para o futuro. As mais recentes e múltiplas crises são um sintoma desse padrão.

O modelo económico mundial, fundado nos combustíveis fósseis, remonta à Revolução Industrial surgida na Inglaterra, a partir de 1750, com o uso da hulha, um carvão mineral. Esse modelo já não é mais sustentável e encontra-se em crise. O surgimento das economias emergentes, quer na Ásia, quer na América Latina, quer em África, está a agravar ainda mais a crise associada à exploração frenética dos recursos naturais, quer esgotáveis, quer renováveis, e à degradação do meio ambiente. Neste último caso, a taxa de regeneração destes recursos, em muitos casos, tem sido inferior às taxas de corte e de captura, particularmente no que toca às florestas e ao peixe. É necessário, portanto, repensar o modelo económico actual e adoptar um outro modelo, que comporte, em princípio, três dimensões: reestruturação da economia mundial, de modo a que ela possa assegurar a sobrevivência da civilização humana; esforço máximo para eliminar a pobreza; e estabilizar a população, a fim de favorecer a participação dos países em desenvolvimento e trabalhar-se, de modo sistemático, para inverter a tendência à destruição do meio ambiente.

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O problema da má afectação do capital traduziu-se na criação de externalidades ambientais e sociais. Mas para a reversão dessa situação são necessárias políticas públicas adequadas, incluindo medidas no domínio dos preços e da regulamentação, a fim de se mudar os incentivos perversos que produzem essa má afectação do capital e ignoram as externalidades ambientais e sociais. Além disso, são necessárias políticas e regulações adequadas, bem como investimentos apropriados, que estimulem mudanças no padrão do investimento privado (UNEP 2010).

O Relatório da UNEP “A Caminho da Economia Verde” procura desfazer muitos mitos e concepções erradas sobre o enverdecimento da economia global e constitui um guia para os decisores, no que toca às reformas que devem ser realizadas para libertar o potencial de produção e de emprego da economia verde.

2. Contextualização

A preocupação e atenção dos economistas e dos decisores políticos com a dimensão física da economia são muito recentes. A actividade económica é, no fundo, uma transformação que o homem exerce sobre a natureza. Trata-se, assim, de uma transformação inevitável da natureza. A acção do homem sobre a natureza traduz-se, não só em benefícios, mas também em custos e riscos. No passado, o acento tónico estava nos benefícios. Hoje, as mudanças climáticas e os perigos do uso da energia nuclear, bem como a aproximação a que estamos do peak-oil global, despertaram cientistas, políticos e simples cidadãos para o perigo que paira sobre nós, devido à ignorância da viragem entrópica que a humanidade está a conhecer.

A actividade económica tem lugar através de um duplo movimento: retira da natureza os materiais que utiliza e torna a lançar sobre essa mesma natureza os desperdícios produzidos. Este duplo movimento deu origem a dois novos ramos no domínio da ciência económica: a economia dos recursos naturais, que se preocupa com os princípios segundo os quais se realiza a extracção dos recursos que, depois de transformados, produzem bens económicos; e a economia do ambiente, que descreve as modalidades segundo as quais podem ser geridos os despejos, as poluições, ou os danos causados pela actividade económica (Sylvie Faucheux e Jean-François Noel, 1995).

Durante longos anos, as consequências das actividades humanas, e em particular da actividade económica, eram consideradas insusceptíveis de pôr em causa as regulações que governam a reprodução da biosfera. Daqui derivou a ideia que a economia e a natureza são dois universos distintos, sujeitos cada um deles à sua própria lógica e às suas condições de reprodução. Os economistas interessavam-se pelas regras que governam a optimização económica, esquecendo-se do modo como a natureza assegura, espontaneamente, a sua reprodução.

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Nas últimas quatro décadas, particularmente a partir da década de 70 do século passado, os economistas começaram a perceber que o crescimento demográfico, em uns casos; o aumento acelerado da produção e o uso de técnicas sofisticadas, em outros casos, ameaçam destruir o meio que os suporta. A reprodução da biosfera deixou de ser encarada independentemente da reprodução da economia, e esta não pode ser pensada sem relação com a biosfera. Toma-se consciência, cada vez mais, do significado e da amplitude das relações mútuas entre a economia, os recursos naturais e o meio ambiente. Estas relações tornam-se cada vez mais problemáticas. O risco de esgotamento dos recursos naturais, assim como os danos causados ao meio ambiente, agravam os perigos que recaem sobre a humanidade, fazendo com que os recursos naturais e o meio ambiente sejam, hoje, uma preocupação global.

A questão do vínculo entre a população e os recursos há muito tempo que é abordada pelos economistas, particularmente desde Thomas Malthus. A dependência da actividade industrial em relação às matérias-primas e à energia é igualmente reconhecida desde o século XIX, com William Stanley Jevons. Contudo, durante muito tempo, a reflexão económica acerca dos recursos naturais centrou-se mais na elaboração de regras de boa gestão dos recursos, do que no estudo das relações entre recursos e desenvolvimento.

3. A Ciência Económica, os Recursos Naturais e o Meio Ambiente

A teoria económica tem dois meios bastante diferentes de reforçar o entendimento da economia dos recursos naturais e da economia do meio ambiente. A economia positiva é útil na descrição das acções das pessoas e do impacto dessas acções sobre o activo ambiental. A economia normativa pode fornecer orientação sobre como os fluxos de serviços óptimos podem ser definidos e atingidos. A economia normativa sugere dois critérios precisos para julgar o nível e composição óptimos dos serviços: eficiência e sustentabilidade. O primeiro sugere a maximização do valor actual dos benefícios líquidos para a sociedade. O critério da sustentabilidade permite-nos julgar a equidade dessas afectações intertemporais.

C. W. Howe (Natural Resource Economics; Issues, Analysis and Policy, 1979), na sua definição de recursos naturais, inclui «as terras agrícolas e florestais e os seus múltiplos produtos e serviços; as zonas naturais preservadas com um fim estético, científico ou de lazer, as pescas em água doce ou salgada, os recursos naturais energéticos e não energéticos, as fontes de energia solar, eólica e geotérmica, os recursos de água e a capacidade de assimilação de desperdícios pelo conjunto das partes do meio ambiente.»

Os recursos naturais estão presentes nas primeiras reflexões económicas, por serem factores indispensáveis à produção de riquezas económicas. Em 1651, Thomas Hobbes utiliza o modelo «harveyiano» de circulação dos elementos nutritivos no sangue como metáfora da

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produção dos elementos constitutivos da riqueza. A terra e o mar são os símbolos da natureza em sentido lato: fornecem as matérias-primas que, após extracção, são transformadas e, de seguida, encaminhadas para os utentes. William Petty, Richard Cantillon, os fisiocratas, a escola clássica inglesa, bem como Karl Marx e Friedrich Engels insistiram na dimensão natural da origem da produção económica. Todos eles sublinharam o conjunto dos recursos naturais e o trabalho como os dois únicos factores originais da produção (Eugen von Böhm-Bawerk, 1909), ou como os «bens fundamentais» por excelência (Piero Sraffa, 1960). O capital (no sentido estrito do termo) é, frequentemente, considerado como um factor «produto» ou intermédio, cuja produção depende, em última análise, dos recursos naturais e do trabalho.

As reflexões acerca da teoria do valor-trabalho ocultaram, parcialmente, essa abordagem global da produção. A partir desse momento, teve-se a tendência para dar relevo unicamente aos bens mercantis, aos quais não se ligam a maior parte dos bens e serviços naturais dispensados gratuitamente. Os recursos naturais continuaram a desempenhar um papel crucial na produção, mas só os recursos naturais mercantis (recursos esgotáveis e terra) são, nessa altura, objecto da ciência económica.

No meio do século XVIII, a economia francesa sublinha a importância da actividade económica e social ligada à colheita de trigo, o que justifica a famosa frase do Marquês de Mirabeau (1760): «Toda a política parte de um grão de trigo.»

Os fisiocratas, assim como alguns dos seus antecessores, tais como Pierre Boisguillebert ou Richard Cantillon, consideram que é graças à riqueza que se podem satisfazer as necessidades fisiológicas mais elementares e indispensáveis à economia. Ora, a riqueza não pode provir senão da terra, ou, mais exactamente, dos seus produtos. Para os fisiocratas, a terra é um símbolo: o do conjunto dos fluxos benéficos, directos e indirectos, dispensados pela natureza. Ou seja, o símbolo dos recursos naturais. «Todas as mercadorias do Estado saem directa ou indirectamente das mãos do rendeiro. É a terra que produz todas as coisas excepto o peixe, mas ainda é preciso que os pescadores que apanham o peixe sejam sustentados pelo produto da terra.» (Cantillon, 1755). «Que o soberano e a nação nunca percam de vista que a terra é a única fonte das suas riquezas.» (Quesnay, 1774). «A terra é a mãe de todos os bens.» (Mirabeau, 1760). Para os fisiocratas, a classe produtiva engloba, não só os agricultores, mas também os artífices encarregues de extrair os recursos naturais do solo e de os transformar em matéria-prima. Deste modo, a agricultura não cria produtos a partir do nada e a contribuição dos recursos naturais é mais imediata e mais visível através dos resultados da agricultura. Esta é, efectivamente, a única profissão em que «a natureza se digna trabalhar meses inteiros em recompensa por alguns dias de labor da nossa parte» (Mirabeau, 1760). A terra não é em si mesma produtiva. O que é produtivo é o seu poder de captação e de combinação de recursos dispensados gratuitamente pela natureza, ou que esta armazena ao longo de milénios para os transformar em minerais ou em energia fóssil. O conjunto dos recursos naturais, não só participa na produção, mas sobretudo constitui o seu cerne.

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A teoria clássica atribui aos recursos naturais um lugar privilegiado no seio da sua teoria da produção. Reconhece-lhe um papel motor, tanto na indústria, como na agricultura. A produção constitui, para os clássicos, uma sequência de actividades de extracção de matérias-primas ou de géneros agrícolas e de transformação destas em objectos de uso. Contudo, a multiplicação dos produtos e o desenvolvimento dos mercados levaram os clássicos a adoptar uma verdadeira teoria do valor. Na medida em que «tanto quanto (...) possuam uma utilidade, as mercadorias obtêm o seu valor de troca de duas fontes: a sua raridade e a quantidade de trabalho necessária para as conseguir» (Ricardo, 1821). Os valores de troca dos recursos naturais não produtíveis e disponíveis em abundância são, pois, nulos. Assim, um grande número desses recursos encontra-se excluído da área económica e constituem aquilo que se designa bens livres.

A teoria clássica estabelece uma distinção entre o que pertence à esfera da natureza e o que pertence à esfera da economia. No entanto, os dois conjuntos não se tornam por esse facto independentes. Alguns recursos naturais, devido às operações de extracção e de transformação que requerem, mas também devido à sua raridade, tornam-se apropriáveis e, logo, transitam para o mercado. São, portanto, dotados de um valor de troca, especialmente o valor dos seus custos de extracção e de transformação, e, deste modo, são considerados bens económicos. Esses recursos naturais mercantis são relevantes para os clássicos, chegando ao ponto de serem denominados como capitais. Estes recursos são distintos dos meios de produção tradicionais (máquinas, edifícios, melhoramentos de terras, talentos úteis), os quais formam o «capital fixo», enquanto «as matérias-primas, juntamente com o dinheiro, as reservas de mantimentos e as obras acabadas constituem os «capitais circulantes» (Adam Smith, 1776). Todos os «capitais fixos» resultam da combinação dos capitais circulantes e os capitais circulantes são, em última análise, provenientes dos recursos naturais mercantis. Nessa época, o dinheiro é considerado capital circulante, visto que não havia moeda nenhuma sem substância material. As moedas de ouro e de prata constituem a verdadeira moeda. Trata-se, portanto, de metais preciosos provenientes de minas naturais. Quanto à terra, devido à sua limitação em quantidade e à apropriação daí resultante, ela surge obviamente como um recurso natural mercantil. O seu papel é fundamental por condicionar o crescimento económico. A fecundidade da terra favorece o crescimento económico, enquanto a sua escassez limita-o. Isto foi mostrado por Thomas Malthus e por David Ricardo.

Na concepção de Ricardo, a terra é não só o factor limitador do seu modelo, mas também o único factor irredutível aos dois outros (trabalho e capital fixo), visto que, se as máquinas podem substituir o trabalho em larga escala, somente em pequenas proporções podem substituir a terra. Ricardo apercebe-se, aliás, que é quando a terra faz mais falta que ela adquire o seu valor máximo, o que o faz observar, com mais de um século de antecedência, que não é desejável para um recurso natural ser admitido no mercado, isto é, adquirir um valor de troca, porque isto significa que aquele se torna raro, ou, por outras palavras, que

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está em vias de extinção. «É (...) quando ela é mais abundante, mais produtiva e mais fértil que a terra não produz rendas; somente quando as suas faculdades produtivas diminuem e quando o rendimento do trabalho é menor é que se separa das terras mais férteis uma parte do produto original a fim de constituir a renda. É estranho que esta característica da terra, que teria podido ser considerada como uma imperfeição, comparada aos agentes naturais que assistem aos manufactores, tenha sido apresentada como a razão da sua superioridade. Se o ar, a água, a compressibilidade do vapor e a pressão atmosférica fossem de qualidade variável, se eles pudessem ser apropriados e se cada uma das suas qualidades apenas existisse em quantidade moderada, então estes obteriam uma renda, tal como a terra, à medida que se utilizasse as suas sucessivas qualidades.» (Ricardo, 1821).

Em suma, os clássicos atribuíram um papel privilegiado aos recursos naturais mercantis, ou seja, os recursos naturais dotados de um valor de troca. Mas esta mesma concepção está na origem da exclusão, do campo da análise económica, dos recursos naturais não mercantis, ou seja, livres, visto que é suposto serem suficientemente abundantes.

O estatuto dos recursos naturais na obra de Marx e de Engels merece ser analisado, não só pela importância histórica que teve o marxismo ao longo de quase dois séculos, mas também visto ter sido o paradigma marxista a base da política económica seguida por Angola depois da independência.

Marx e Engels consideram que o homem, por intermédio do seu trabalho, não pode produzir riqueza material sem o concurso da natureza. O trabalho não é, assim, a única fonte de valores. Remontam à concepção expressa por William Petty, no século XVII, de que a riqueza tem como pai o trabalho e a terra (na sua acepção mais vasta) como mãe. «A terra, do mesmo modo que fornece ao homem, desde o início, víveres já preparados, é também objecto universal de trabalho, o qual se encontra aí incluído sem se ver. Todas as coisas que o trabalho apenas separa da sua conexão imediata com a terra são objectos de trabalho por graça da natureza.» (Marx, 1867). Não há, portanto, uma fronteira entre o económico e a natureza.

Marx e Engels não excluem a priori os recursos naturais do âmbito da análise económica. No entanto, não insistem, suficientemente, neste aspecto, no conjunto da sua obra. O que lhes interessa é o funcionamento de um sistema económico particular, o sistema capitalista, cujo campo é circunscrito pelo das mercadorias. Ora, uma mercadoria define-se como um valor dotado de um valor de troca. Logo, privilegiam o estudo das relações e da reprodução dos capitais «mercantis». Os factores naturais desprovidos de valor (de troca) deixam de ser relevantes nos seus estudos.

A concepção de uma natureza pródiga, abundante em água e em terra, leva, inicialmente, a teoria da produção neoclássica a excluir os recursos naturais das suas preocupações e reflexões. Contudo, será essa mesma análise neoclássica a desenvolver todo o corpus teórico qualificado de economia dos recursos naturais.

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A análise neoclássica explica o valor de troca em termos de valor de uso. O conceito de utilidade é, desse modo, aproximado ao conceito de raridade, ou seja, da limitação em quantidade. Se um bem existe em abundância, como a maior parte dos recursos naturais, esse não é um bem económico, mas um bem livre e não é objecto da análise económica. Neste aspecto, a análise neoclássica coincide com os clássicos. No entanto, a primeira afasta-se dos segundos, visto não privilegiar mais os recursos naturais mercantis. Pouco a pouco, o fundamento material da produção é ocultado. A abordagem em termos de dotação apresenta uma lógica de sentido único, desde as dotações iniciais aos preços dos factores (baseados nas raridades e na procura), e dos preços às proporções dos factores utilizados. Esta abordagem ignora o vínculo que liga a produção aos recursos. O propósito da teoria neoclássica é, no fundo, demonstrar a existência e a estabilidade do equilíbrio, sendo conhecidas as dotações iniciais, e não compreender a génese e o processo de produção.

Na análise neoclássica, a teoria da produção já não constitui um tema central, sendo um simples prolongamento da teoria da troca. É o que faz Léon Walras, ao derivar a teoria da produção da teoria da troca, a qual começava pela busca da formação dos preços de consumo. Isto condu-lo, rapidamente, a uma teoria da produção, cujo objecto se reduz à determinação do preço dos serviços produtores e à busca da sua combinação óptima. A consequência directa dessa abordagem é a eliminação progressiva dos recursos naturais mercantis da área da produção.

As abordagens de William Stanley Jevons (1865 e 1871), de Karl Menger (1871 e 1888) e de Alfred Marshall (1920) eliminam, do seio das teorias neoclássicas da produção, os recursos naturais mercantis, excepto a terra, ou seja, as matérias-primas. Essas teorias reduzem-se a um modelo de produção obtido unicamente a partir dos factores capital, trabalho e, provisoriamente, terra. Esta última, mesmo subsistindo, durante algum tempo, enquanto factor de produção, encontra-se desprovida de toda a sua simbólica. Walras insiste, ainda, na irredutibilidade da terra aos outros factores e fala mesmo da sua «potência produtiva». «A colaboração da terra, do homem e do capital é, portanto, a essência da produção económica.» (Walras, 1874). «As terras são capitais naturais e não artificialmente produzidos; são, também, capitais inconsumíveis que não são destruídos pelo uso nem perecem por acidente. A terra é, assim, posta em pé de igualdade com os outros dois factores, o capital e o trabalho. Alfred Marshall, apesar da sua primeira definição da renda como «o rendimento tirado da propriedade do solo e dos outros dons gratuitos da natureza», põe rapidamente em marcha a primeira extensão deste conceito, acrescentando-lhe a «quasi-renda», produzida pela raridade e válida para todo «o capital obtido de um aparelho de produção já fabricado pelo homem». Ele explica, então, que qualquer preço pago pelos serviços dos bens capitais é análogo aos preços dos serviços dos agentes naturais, particularmente em períodos curtos. O termo «renda», em Léon Walras, perde uma boa parte do seu significado, sendo definitivamente banalizado por Vilfredo Pareto (1897), o qual já não atribui esta noção de

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renda à terra, mas sim ao monopólio. Posteriormente, com John Bates Clark (1899), a renda é extensível a todos os factores de produção. Constitui um fenómeno geral, no sentido em que representa um ganho diferencial, que não está ligado a nenhuma produtividade. Phillip Henry Wicksteed (1910) conclui, então, que a habitual definição da terra enquanto «dom gratuito da natureza» deve ser abandonada de uma vez por todas.

O desaparecimento definitivo do factor terra é dado com a função de produção que serve de fundamento à teoria do crescimento económico, isto é, a chamada função Cobb-Douglas. Na verdade, se a análise neoclássica estava, há muito tempo, pronta a transformar a tríade tradicional (trabalho, capital, terra) numa díade (trabalho, capital), esta redução só se cristalizou a partir dos trabalhos de Frank Knight (1921). Anteriormente, Eugen von Böhm-Bawerk (1909) tinha proposto uma díade em que o trabalho e os recursos naturais apareciam como factores originais. Desta proposta, surgiu uma longa discussão entre vários economistas, de que resultou um conjunto de argumentos favoráveis às opiniões de Knight. De acordo com o primeiro argumento, a abundância da maioria dos recursos naturais é tal que estes são economicamente gratuitos, não se tratando, portanto, de bens económicos e ainda menos de factores de produção. Esta análise aproxima-se das opiniões de Wicksteed, o qual, em 1910, insistia no facto da terra não ser limitada, mesmo na Grã-Bretanha, aparecendo, antes, como um factor abundante. Este argumento era bastante para excluir a terra da função de produção. O segundo argumento invocado é que os recursos naturais (por exemplo, a terra) dotados de um preço que não se deve somente aos custos de extracção e que são objecto de transacções no mercado predial, estão já contidos no factor capital. Diz-se que estes recursos naturais são bens ordenados, transformados e mantidos pelo homem e que é o trabalho associado ao capital que faz destes recursos aquilo que eles actualmente são. John Bates Clark, no século XIX, já defendia esta ideia, ao afirmar que os agentes produtivos são apenas o capital e o trabalho, visto a terra ser apropriada e tornada rendível através do trabalho das gerações passadas. Assimilava a terra ao capital produtivo, levando, assim, ao desaparecimento da renda predial enquanto tal. Em suma, com o desaparecimento do factor “terra” dos modelos de análise económica, extingue-se qualquer referência aos recursos naturais. A análise neoclássica decidiu ignorar a especificidade dos recursos naturais.

O predomínio do paradigma neoclássico e do paradigma marxista, durante quase todo o século XX, nas políticas económicas dos países de economia de mercado e dos países de economia centralmente planificada produziu grandes dificuldades no tratamento das questões ligadas aos recursos naturais e ao meio ambiente.

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4. O Alerta do Clube de Roma e o Despertar de Robert Solow

O Relatório do Massachusets Institute of Tecnology (MIT), publicado em 1972, a pedido do Clube de Roma, ficou conhecido na história como “O Relatório do Clube de Roma”.

O Clube de Roma definia-se como um “grupo informal de pessoas, apolítico e internacional, profundamente interessado nos problemas que ameaçam a sociedade humana”. Fundado em 1968, englobava cerca de 70 pessoas de 25 nacionalidades, com formação e origem muito variadas, tais como cientistas, humanistas, educadores, industriais, etc., que não se ocupavam de decisões políticas correntes. Os principais objectivos do Clube, de uma forma sintética, consistiam em “conseguir através da investigação um melhor conhecimento do sistema global em que vivemos e ajudar os políticos mundiais a conceber novas formas de resolver os problemas deste sistema”. O projecto do Clube de Roma foi subsidiado por fundações ligadas a algumas das grandes empresas europeias, nomeadamente a Fundação Volkswagen.

O Relatório do Clube de Roma, de 1972, bem como os choques petrolíferos de 1973-75 e 1979-81, provocaram uma inesperada interrogação acerca da capacidade da biosfera para fornecer os recursos indispensáveis à continuação do desenvolvimento económico. Se é certo que na década de 1970 a preocupação dominante residia no perigo do desenvolvimento encontrar um limite absoluto na disponibilidade dos recursos, nos nossos dias a preferência é encarar os recursos naturais como uma realidade física concreta, como «um stock que é conveniente gerir, tendo em conta, seja os seus ritmos naturais de reprodução (recursos renováveis), seja as suas perspectivas de esgotamento e os prazos necessários para a sua substituição por novos recursos (recursos não renováveis)».

No que concerne aos problemas do ambiente, a evolução foi paralela àquela que os recursos naturais registaram. A década de 1970 corresponde ao início da colocação do problema das relações entre economia e meio ambiente. É um período dominado pelas poluições clássicas da água, do ar e do solo. Desde o fim dos anos 80 do século XX, as questões do meio ambiente ganharam actualidade e os danos que lhe são causados encontram-se perante um novo limiar: as regulações globais da biosfera são postas em causa.

A diminuição da camada de ozono estratosférica e o aumento do efeito de aquecimento são hoje poluições globais. As interacções entre economia e meio ambiente devem ser geridas de modo a responder às necessidades actuais, sem sacrificar a satisfação das gerações futuras. A noção de desenvolvimento sustentável nasceu precisamente do entendimento dessas interacções. Com a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável, os problemas deixaram de ser isoláveis uns dos outros, passando a comportar todos eles várias dimensões. Esta situação explica a multidimensionalidade fundamental dos fenómenos de

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exploração e de esgotamento dos recursos naturais, assim como os da degradação do meio ambiente, e justifica a utilização, para a sua compreensão, de uma abordagem sistémica adaptada a esta multidimensionalidade.

Para além do problema da irreversibilidade, verifica-se a presença de problemas de equidade, tanto intrageracionais, como intergeracionais. As escolhas em relação aos recursos naturais e ao meio ambiente assumem, necessariamente, uma dimensão temporal, pondo em jogo o bem-estar, quer dos indivíduos das gerações presentes, quer das gerações futuras. Um terceiro problema tem a ver com a incerteza. Há incerteza no que respeita às reservas de recursos esgotáveis, quanto às possibilidades dos progressos técnicos futuros, quanto às consequências exactas das poluições futuras e, também, no que toca às preferências das gerações futuras.

Do ponto de vista da teoria económica, o meio ambiente é encarado como um activo compósito, que fornece uma variedade de serviços. É, indubitavelmente, um activo muito especial. Fornece os sistemas de suporte da vida humana. Tal como com os outros activos, deve ser prevenida uma depreciação indevida do valor desse activo. O ambiente abastece a economia com matérias-primas, as quais são transformadas em bens de consumo através do processo de produção, bem como fornece energia, que aprovisiona de combustível esta transformação. Estas matérias-primas regressam ao ambiente como detritos.

O ambiente também fornece serviços directamente aos consumidores. O ar que respiramos, o alimento que recebemos da comida e da bebida, e a protecção que retiramos do abrigo e do vestuário, são benefícios que recebemos, quer directamente, quer indirectamente, do ambiente.

De uma forma bastante alargada, a relação entre o meio ambiente e o sistema económico configura um sistema fechado. Um sistema fechado é um sistema no qual nenhum input (energia, matéria, etc.) é recebido do exterior do sistema e nenhum output é transferido para fora do sistema. Um sistema aberto, pelo contrário, é um sistema no qual o sistema no qual o sistema importa ou exporta matéria ou energia (Jeremy Rifkin, 1980).

Três questões essenciais, nomeadamente, a questão da produção (as quantidades), a questão da distribuição instantânea (os preços) e as transferências no tempo (a dívida), ao ameaçarem o desempenho da economia mundial e das economias nacionais, regressaram às preocupações dos economistas e dos decisores políticos. Nos anos de 1970, nomeadamente com os chamados choques petrolíferos de 1973-74 e 1979-80, surgiu o fenómeno da estagnação económica associada à inflação, conhecido na teoria económica como estagflação ou estagnaflação. Foram anos difíceis e até marcados pelo pessimismo. O célebre Relatório do Clube de Roma, de 1972, bem como os choques petrolíferos de 1973-75 e 1979-81, provocaram uma crescente interrogação acerca da capacidade da biosfera para fornecer os

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recursos indispensáveis à continuação do desenvolvimento económico. Agora, depois de se ter receado um aumento dos preços, enfrentamos o risco da recessão vivida nas economias mais poderosas do mundo se transformar num longo período de contracção da actividade económica, acompanhada de uma contracção estrutural dos preços.

Os anos 70 do século XX representam o despontar de uma genuína preocupação com a análise económica a respeito dos recursos naturais. O Relatório do Clube de Roma coloca o problema do esgotamento dos recursos naturais como um freio ao crescimento. A nova visão do crescimento macroeconómico toma em conta, não só os factores positivos tradicionais do crescimento (população, capital), mas também os factores de travagem (agricultura, recursos não renováveis, poluição). A conclusão mais marcante consiste no facto de se considerar que o prosseguimento do crescimento é impossível, devido ao esgotamento dos recursos naturais, particularmente os recursos energéticos. Para além disso, verifica-se que os recursos renováveis, ultrapassada uma certa taxa de utilização, podem tornar-se esgotáveis. Estes resultados abalaram o tratamento neoclássico dos recursos naturais. Os dois choques petrolíferos da década de 70 amplificaram os ecos desses resultados.

Robert Solow, entre 1973 e 1974, manifesta interesse em investigar o que é que a teoria económica tinha a dizer sobre os problemas ligados aos recursos naturais esgotáveis. A velha distinção entre capital fixo e capital circulante, herdada da escola clássica, é reintroduzida na análise económica. A partir daqui, os recursos naturais mercantis (renováveis e, sobretudo, esgotáveis) são considerados como capitais específicos, ou seja, aquilo que Solow vai designar de «capital natural». Os recursos naturais mercantis (esgotáveis ou renováveis) reencontram o lugar que possuíam no seio das teorias clássicas da produção. No entanto, tal como na tradição clássica, a gestão dos recursos naturais não mercantis, isto é, os recursos livres, não faz parte da nova teoria dos recursos. Hoje, entende-se que as condições atmosféricas, a chuva, o vento, podem representar uma contribuição inegável dos recursos livres para a produção agrícola. Na verdade, os recursos livres correspondem, frequentemente, a funções biogeoquímicas de que a economia beneficia. Estes constituem o «dom gratuito da natureza» em pleno sentido da palavra e são, pois, ocultados pela análise económica.

Melhorou, desde meados do século XX, o conhecimento científico sobre os riscos ecológicos induzidos pelo modelo de crescimento e de desenvolvimento actual. Contudo, só depois dos anos de 1990 é que se acumularam as provas da correlação entre crescimento económico e aquecimento planetário. A mudança climática consta dos programas políticos da maior parte dos governos, mas, até agora, as políticas aplicadas têm-se mostrado pouco eficazes.

As alterações climáticas têm aumentado a frequência de fenómenos meteorológicos, que são duramente sentidos pelas populações dos países menos desenvolvidos. A este respeito a África regista uma das situações mais paradoxais. Contribui com cerca de 4 por cento do total das

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emissões mundiais de gás com efeito de estufa, mas sofre as piores consequências produzidas por esse fenómeno: secas mais longas, inundações mais frequentes, desertificação crescente e redução da diversidade biológica. O Grupo Intergovernamental de Peritos das Nações Unidas sobre a Evolução do Clima (GIEC) estima que, no horizonte de 2020, mais de 400 milhões de Africanos serão duramente atingidos pelo aquecimento planetário. A isto, acrescentam-se as ameaças à saúde pública produzidas pela poluição do ar, da água e dos solos, em particular nos países mais pobres e nas economias em desenvolvimento. A falta de água potável e o tratamento deficiente das águas residuais constituem a primeira causa de doenças no mundo.

5. Desenvolvimento Humano

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou, em 1990, o seu primeiro Relatório sobre o Desenvolvimento Humano (RDH). Este Relatório apelava a uma abordagem diferente da economia e do desenvolvimento. Mahbub ul Haq, economista paquistanês, que exerceu a função de Economista Chefe da Comissão de Planeamento do Paquistão, responsável pela elaboração do Plano Quinquenal do Paquistão, que trouxe um crescimento da economia paquistanesa à volta de 6 por cento ao ano, foi o pioneiro dos RDH (PNUD, RDH 2010).

O ponto de partida da sua iniciativa foi a experiência do seu próprio país, que, durante uma década, cresceu mais de 6 por cento ao ano. Curiosamente, durante a “década de desenvolvimento”, as diferenças regionais no Paquistão tinham-se agravado e os rendimentos dos trabalhadores da indústria tinham-se reduzido. Os ganhos da nação em moeda estrangeira serviam para satisfazer as exigências da elite. “Vinte e duas famílias controlavam dois terços dos activos industriais e quatro quintos da actividade bancária e seguradora. O grandioso crescimento económico dava uma imagem totalmente distorcida do que esse período significou para o Paquistão (PNUD/RDH, 2010).

Perante esse quadro, Mahbub ul Haq convenceu o PNUD a publicar um relatório, elaborado por investigadores independentes, que constituísse uma alternativa à concentração excessiva no produto interno bruto (PIB). Este era o indicador prevalecente entre as organizações internacionais e os economistas. A proposta de Mahbub ul Haq gerou muita polémica e até reacções negativas. Contudo, foi aceite, nascendo assim o Relatório sobre o Desenvolvimento Humano (RDH). O PNUD abraçou o compromisso de preservar a autonomia e a integridade académica do RDH, que tem sido respeitada até agora (PNUD/RDH, 2010).

Para o PNUD, o “desenvolvimento humano é um processo de alargamento das escolhas das pessoas. As mais vitais são as de levar uma vida longa e saudável, de receber instrução e de desfrutar de um padrão de vida digno. As escolhas adicionais incluem a liberdade política,

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os direitos humanos garantidos e o respeito próprio – o que Adam Smith designou como a capacidade de alguém se associar a outros sem sentir «vergonha de aparecer em público».” O desenvolvimento integra a produção e distribuição de bens e a expansão e utilização das capacidades humanas. Mas a abordagem do desenvolvimento humano foi orientada no sentido de análises e políticas práticas para a “promoção do bem-estar”. A concentração exclusiva das atenções no crescimento económico deu lugar a uma visão antropocêntrica do desenvolvimento, sendo as pessoas o centro das atenções. Hoje, a evolução é no sentido da aceitação de que as pessoas e o meio ambiente que as rodeia, e em que vivem, devem ser o centro de todas as políticas de desenvolvimento.

O RDH de 1990 foi lançado após um período de profunda crise económica e de crédito, quando o pensamento político e económico era dominado pelas noções de estabilização económica e ajustamento estrutural. Muitos países em desenvolvimento enfrentaram declínios nos ganhos com as exportações, decréscimo das entradas de capital, escalada das taxas de juro e ascensão da dívida externa. Os países foram forçados a voltar-se para o exterior em busca de ajuda financeira, proveniente das instituições financeiras internacionais, em pacotes de medidas que exigiam medidas de estabilização e reformas estruturais de ajustamento, com vista à obtenção de uma inflação mais baixa, uma diminuição significativa do Estado e uma orientação para o exterior. Esse pacote de reformas ficou conhecido como Consenso de Washington.

Foi também um período de privatizações, que afectaram nomeadamente os serviços ferroviários e postais, as linhas aéreas, os bancos, assim como as redes de serviços públicos de abastecimento. O RDH constituiu, desde o início, um desafio à ortodoxia do Consenso de Washington e estabeleceu uma tradição que veio a aplicar-se às políticas de desenvolvimento. Mahbub ul Haq foi a figura destacada que deu origem a um novo paradigma de desenvolvimento, assente fundamentalmente nas pessoas. Amartya Sen desenvolveu os fundamentos filosóficos do desenvolvimento humano. Mas “as ideias por detrás deste paradigma de desenvolvimento não são novas – são pelo menos tão antigas como Aristóteles que defendeu que «a riqueza não é, evidentemente, o bem que procuramos; pois ela é apenas útil por causa de outra coisa qualquer». Emanuel Kant afirmou, igualmente, que os seres humanos deveriam ser vistos como fins em si mesmos, e não como um meio para outros fins. Ideias paralelas estão reflectidas no pensamento de Adam Smith, Thomas Malthus e John Stuart Mill só para mencionar alguns.” (Francisco Dinz, 2006).

Os RDH de 1990 a 1994 sublinharam a necessidade de se estabelecerem, entre países desenvolvidos e países em desenvolvimento, agendas de desenvolvimento internacional focadas na pobreza. Estas agendas deveriam assumir a forma de convénios e conter mais objectivos operacionais/instrumentais, ou seja, “objectivos globais para o desenvolvimento humano”, com destaque para a redução em metade da pobreza em termos de rendimento e

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objectivos semelhantes para o ensino básico, os cuidados primários de saúde, a água potável e a má nutrição. Os Documentos de Estratégia de Redução da Pobreza (conhecidos na língua inglesa como PRSPs), a Declaração do Milénio e os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs) surgidos no final da década de 1990, embora tivessem reforçado a ideia de um aumento de recursos para os programas de redução da pobreza, podem não produzir frutos a menos que os decisores políticos combatam as fontes estruturais do problema que cria e perpetua a pobreza. (Rehman Sobhan, 2010).

O RDH de 1997 foi pioneiro na abordagem da pobreza, distinguindo a pobreza multidimensional da pobreza de rendimento e fez incidir as atenções no poder político como motor das tendências da pobreza. Antecipou-se ao Relatório do Desenvolvimento Mundial de 2000/2001, produzido pelo Banco Mundial, e que abordou questões relativas ao combate à pobreza.

Em Setembro de 2000, reunidos em Assembleia Geral nas Nações Unidas, 189 Chefes de Estado e de Governo adoptaram a Declaração do Milénio, com princípios e valores que serviram de base para a elaboração dos ODMs. O desenvolvimento e a erradicação da pobreza, bem como a protecção ambiental e os direitos humanos, passaram a ser objectivos partilhados pelas nações subscritoras da Declaração do Milénio. O respeito pela natureza e as responsabilidades partilhadas passaram a fazer parte dos valores fundamentais da humanidade.

Os objectivos, e as metas e indicadores associados, traduzem compromissos relacionados com a fome e a pobreza extrema no que toca ao rendimento, o ensino primário, a igualdade entre os dois géneros, o VIH e o SIDA, a malária e outras doenças, a sustentabilidade ambiental e as parcerias globais para o desenvolvimento.

O RDH de 2000 afirmou que um padrão de vida digno, a nutrição adequada, a educação e a protecção contra calamidades são todos direitos humanos. Sublinhou que a pobreza é um desafio aos direitos humanos.

O RDH de 2010 propõe uma declaração como definição curta de desenvolvimento humano: “O desenvolvimento humano é a ampliação das liberdades das pessoas, para que tenham vidas longas, saudáveis e criativas, para que antecipem outras metas que tenham razões para valorizar e para que se envolvam, activamente, na definição equitativa e sustentável do desenvolvimento num planeta partilhado. As pessoas são, ao mesmo tempo, os beneficiários e os impulsores do desenvolvimento humano, tanto individualmente como em grupos”.

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6. Desenvolvimento Sustentável

Os aspectos multifacéticos da crise actual devem ser vistos como uma manifestação da falta de viabilidade económica, ambiental e social do modelo económico mundial vigente. Hoje, aprofunda-se a percepção e o conhecimento de que a economia é plenamente tributária da ecologia. O economista francês Jacques Généreux (2005) é bem expressivo quando afirma que «as leis económicas» são «leis antrópicas», reflectindo as prioridades e as instituições humanas, enquanto as «leis naturais», que relevam da biologia ou da química, não podem ser contornadas pelas acções humanas sem que daí resultem consequências que podem tornar-se irreversíveis. Para Jean-Paul Fitoussi e Éloi Laurent (2008), «a igualdade ecológica é a chave do desenvolvimento sustentável.»

O conceito de desenvolvimento sustentável é um dos conceitos mais utilizados hoje, quer pela opinião pública, quer pelos académicos. Muitos países constituíram-no em objectivo político, mas poucos são os que, no quadro das suas políticas de desenvolvimento, o têm na devida conta.

A Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, organizada pelas Nações Unidas, e realizada em 1987, na cidade de Estocolmo, produziu um relatório, intitulado “O Nosso Futuro Comum”, mas que ficou mundialmente conhecido como Relatório Brundtland, em homenagem à antiga Primeira-Ministra norueguesa Gro Harlem Brundtland, que, em conjunto com o sudanês Mansour Khalid, chefiou a Comissão. Para esta Comissão, desenvolvimento sustentável é “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas próprias necessidades.” (Relatório Brundtland, 1987).

A Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adoptada em Estocolmo em 16 de Junho de 1972, servirá de ponto de partida para a Cimeira do Rio92. A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Brasil, entre3 a 14 de Junho de 1992, produziu a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que consagrou o conceito de desenvolvimento sustentável. Na Cimeira da Terra, conforme ficou mundialmente conhecida essa Conferência -, com o “ (...) fim de conciliar os desafios do meio ambiente e do desenvolvimento, os Estados decidiram estabelecer uma nova parceria global. Esta parceria incita todos os Estados a comprometerem-se num diálogo construtivo e massivo, inspirado pela necessidade de alcançar uma economia mundial eficiente e equitativa, mantendo em vista o facto de que a interdependência da comunidade das nações e o desenvolvimento sustentável deveriam tornar-se a este respeito uma prioridade na agenda da comunidade internacional”. (CNUCED, 1992). A Agenda 21 traduz a necessidade de uma acção articulada e concertada, quando define os

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nove “major groups”: mulheres; crianças e jovens; povos indígenas; ONGs; autoridades locais; trabalhadores e sindicatos; empresários e industriais; a comunidade técnica e científica; e agricultores. (UNCED, Junho 1992).

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada, no Rio de Janeiro, de 3 a 14 de Junho de 1992, reafirmou a Declaração da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, adoptada em Estocolmo em 16 de Junho de 1972, e proclamou 27 princípios, entre os quais se considera que “os seres humanos estão no centro das preocupações com o desenvolvimento sustentável”, (Princípio 1) que “os Estados […] têm o direito soberano de explorar os seus próprios recursos segundo as suas próprias políticas de meio ambiente e de desenvolvimento […] (Princípio 2) e que “o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de modo a permitir que sejam atendidas equitativamente as necessidades de desenvolvimento e de meio ambiente das gerações presentes e futuras” (Princípio 3). Acrescentava que “para alcançar o desenvolvimento sustentável, a política ambiental constituirá parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada isoladamente deste” (Princípio 4). Além disso, “todos os Estados e todos os indivíduos, como requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, irão cooperar na tarefa de erradicar a pobreza, a fim de reduzir as disparidades de padrões de vida e melhor atender às necessidades da maioria da população do mundo.” (Princípio 5). Continuava, afirmando que os “Estados irão cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, protecção e restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre […] (Princípio 7). No entanto, reconhece que, perante as diversas contribuições para a degradação do meio ambiente, os “Estados têm responsabilidades comuns, porém diferenciadas […] (Princípio 7).

A Declaração da Cimeira do Rio92 sustenta que “para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveis de produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas.” (Princípio 8). Abre, assim, o caminho para uma redefinição do paradigma de desenvolvimento até agora seguido.

7. Desenvolvimento Humano e Desenvolvimento Sustentável

“Não existe tensão entre desenvolvimento humano e desenvolvimento sustentável. Ambos se baseiam na universalidade das pretensões da vida.” (PNUD/Relatório de Desenvolvimento Humano, 1994). Os primeiros RDH chamaram a atenção para as ameaças ambientais, incluindo a crise global de água e as mudanças climáticas. O primeiro RDH, de 1990, já sublinhava a importância de um ambiente seguro – “água potável, alimento e ar” – para as liberdades das pessoas. O RDH de 1994 discutiu a segurança ambiental e, em 1998, o RDH reconhecia a

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injustiça associada à degradação ambiental: chuvas ácidas, esgotamento do ozono e mudanças climáticas. E a maior parte do sofrimento, segundo o RDH de 1998, cabia aos pobres.

O RDH de 2006 demonstrou, por seu lado, que as pessoas dos bairros de lata da África Subsahariana pagam mais pela água potável que os residentes de Nova York e Paris. O RDH de 2007/2008 introduziu uma perspectiva de desenvolvimento humano para realçar os custos das mudanças climáticas, incluindo as armadilhas da pobreza transgeracional causadas pelos choques climáticos e pelo fenómeno do “apartheid da adaptação”. Foi o primeiro grande relatório sobre o desenvolvimento a explorar as implicações das temperaturas mundiais crescentes, reflectidas na fusão das calotes de gelo, na alteração dos padrões de pluviosidade, na subida dos níveis dos mares e na adaptação forçada dos grupos mais vulneráveis do mundo.

Hoje, as mudanças climáticas já são encaradas como uma séria ameaça ao bem-estar humano e as mudanças climáticas induzidas pela acção humana têm consequências potencialmente catastróficas. A maior parte dos habitantes da Terra, em 1990, não tinha essa percepção. Juntamente com outros relatórios importantes (alguns deles referidos neste trabalho), vários RDH contribuíram para transformar a “paisagem política” e alargar o reconhecimento da relevância do meio ambiente e da sustentabilidade.

8. Desenvolvimento Humano Sustentável

Já não é possível separar o desenvolvimento humano e o desenvolvimento sustentável e não são contraditórios nos termos. “O desenvolvimento humano tem a ver com a habilitação das pessoas para que tenham vidas longas, saudáveis, instruídas e gratificantes. O desenvolvimento humano sustentável tem a ver com a garantia de que as gerações futuras possam fazer o mesmo. O desenvolvimento humano, se não for sustentável, não é desenvolvimento humano.” (RDH, 2010).

Outras conferências e documentos se seguiram e que vieram a aprofundar as questões ligadas ao desenvolvimento sustentável, nomeadamente a Declaração de Johnnesburgo sobre o Desenvolvimento Sustentável e o Plano de Implementação da Cimeira Global sobre o Desenvolvimento Sustentável.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada no Rio de Janeiro, de 20 a 22 de Junho de 2012, articulou, em definitivo, o desenvolvimento sustentável e a pobreza, e sublinhou que a erradicação da pobreza constitui o maior desafio que o mundo enfrenta hoje e é uma exigência indispensável para o desenvolvimento sustentável. Vinte anos mais tarde, a Cimeira Rio+20 consagra a ideia-chave de que o desenvolvimento

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sustentável não é possível sem a erradicação da pobreza, justificando, assim, a decisão tomada pelos Chefes de Estado e de Governo, reunidos na Sede das Nações Unidas, em Nova York, de 6 a 8 de Setembro de 2000, em terem aprovado a Declaração do Milénio das Nações Unidas, bem como Os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, em que estabelecem a relação entre Desenvolvimento e Erradicação da Pobreza.

Por um lado, comprometem-se em reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a percentagem da população com um rendimento inferior a 1 dólar por dia, e, por outro, reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a percentagem da população que sofre de fome. (UN General Assembly, A/RES/55/2, 18 September 2000). No domínio da sustentabilidade ambiental, comprometeram-se em “integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais, invertendo a actual tendência para a perda de recursos ambientais”, bem como “até 2015, reduzir para metade a percentagem de pessoas que não têm acesso à água potável” e “melhorar consideravelmente a vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados até 2015”. (UN General Assembly, September 2000).

O que está em causa é, antes de mais nada, um desenvolvimento económico sustentável, indicando o adjectivo sustentável a duração, a continuidade. O desenvolvimento económico pode ser definido em termos de produto interno bruto (PIB) real por habitante ou em termos de consumo real por habitante. Mas pode, também, ser alargado, a fim de incorporar outras dimensões, tais como a educação, a saúde, a qualidade de vida e, obviamente, a qualidade do meio ambiente. Isto é, o conceito de desenvolvimento sustentável é multidimensional.

A Lei da Entropia

O mundo desenvolvido não quer admitir que estamos perante, não só de uma crise financeira e económica internacional, mas também diante da ameaça de uma viragem entrópica, agravada com a procura crescente de matérias-primas por parte dos países de economias emergentes, com destaque para a China e para a Índia. Depois de pouco mais de 400 anos, o mundo está agora a perder a base de recursos esgotáveis que abasteceu a era da revolução industrial na Europa, na América e no Japão, traduzido por um fluxo maciço de energia solar acumulada. Em qualquer estádio da linha do fluxo energético, a desordem está a crescer e os transformadores tecnológicos e institucionais estão a tornar-se mais complexos e mais vulneráveis ao colapso (Jeremy Rifkin, 1980).

As alterações climáticas, os aumentos dos preços das matérias-primas energéticas, o aumento “inesperado” do preço das matérias-primas agrícolas e da comida, seguidos, imediatamente de diminuições também “inesperadas” dos preços da “commodities” são a expressão do colapso do paradigma em que assentou a industrialização do mundo moderno. Os abalos na

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linha do fluxo energético são hoje visíveis no reacendimento da inflação, seguido do receio da deflação. Sem dúvida, a maior preocupação de qualquer cidadão no mundo, quer nos países desenvolvidos, quer nos países em desenvolvimento.

Os recursos naturais energéticos são a base de toda a actividade económica. Por isso, à medida que os custos sobem na fonte, os preços irão aumentar em cada fase da linha do fluxo energético. O consumidor paga a conta em termos de inflação. Temos quatro necessidades básicas de consumo: a energia, a alimentação, a habitação e a saúde. O crescimento dos preços, a nível mundial, está ligado aos custos crescentes de transformação e de troca de energia. O estímulo do Governo angolano à construção de edifícios grandes consumidores de energia é um erro, que irá agravar, no curto prazo, os preços da energia. Hoje, a exploração do petróleo em águas profundas e ultra-profundas é a resposta à escassez de petróleo em águas rasas e em terra. E os números mostram que os custos respeitantes à transformação de energia sobem à medida que as fontes de energia se tornam mais difíceis de localizar, extrair e manejar.

O custo da troca de energia entre instituições, sectores económicos, grupos e indivíduos sobe também, como reflexo dos custos crescentes relativos à extracção e ao manuseamento. A inflação é a medida final do estado de entropia do ambiente. A Lei da Entropia está a tornar-se o paradigma regulador do século XXI (Jeremy Rifkin, 1980). Albert Einstein disse que era a primeira lei de toda a ciência. A Lei da Entropia é a segunda lei da termodinâmica. A primeira lei estabelece que a totalidade da matéria e da energia no universo é constante, que estas não podem ser nem criadas nem destruídas. A segunda, a Lei da Entropia, estatui que matéria e energia só numa direcção podem ser mudadas, isto é, passarem de utilizáveis a inutilizáveis, ou de disponíveis a indisponíveis, ou de ordenadas a desordenadas. Em suma, sempre que se cria uma aparência de ordem, seja onde for na terra ou no universo, é à custa de ocasionar desordens ainda maiores no ambiente circundante. Infelizmente, a maioria dos economistas e dos decisores políticos não se preocupa com as leis da física. Dai o espanto actual com a crise da comida, as oscilações bruscas dos preços das matérias-primas energéticas e agrícolas e as turbulências nos mercados financeiros.

9. A Economia VerdeO Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUE) deu visibilidade ao conceito de Economia Verde, através de um apelo, lançado em 2008, para um Global Green New Deal (GGND). O GGND recomendou um pacote de investimentos públicos, bem como políticas e reformas de preços conducentes a uma transição para uma economia verde, com o objectivo de revigorar as economias atingidas pela crise, gerar empregos e reduzir a pobreza.

A ideia de Economia Verde surge como resposta à crise económica de 2007-2008 e nasce da United Nations’ Green Economy Initiative (Iniciativa das Nações para uma Economia Verde).

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Esta iniciativa, coordenada pelo PNUA, foi uma das nove Joint Crisis Initiatives chefiadas pelo Secretário-Geral das Nações Unidas e pelo Chief Executive Board em resposta à crise financeira e económica de 2008.

Existem três instituições internacionais que propuseram uma definição para o conceito de economia verde. Para o PNUE, a economia verde é aquela que resulta num “bem-estar humano melhorado e na equidade social, ao mesmo tempo que reduz, significativamente, os riscos ambientais e a escassez ecológica” (UNEP, 2010). De forma resumida, uma economia verde é baixa em carbono, eficiente no uso dos recursos, e socialmente inclusiva. Numa economia verde, os crescimentos do rendimento e do emprego são conduzidos pelos investimentos públicos e privados que reduzem as emissões de carbono e de poluição, reforçam a eficiência energética e dos recursos, e previnem a perda da diversidade biológica e dos serviços do ecossistema.

Decisões do Rio+20 sobre a Economia Verde

1. No documento “O Futuro Que Nós Queremos”, afirma-se que existem diversos modelos para se atingir o desenvolvimento sustentável e a Economia Verde (EV) é um deles. A Economia Verde deve ser guiada pelos princípios do Rio, pela Agenda 21, e contribuir para a realização dos ODMs;

2. As políticas de promoção da EV devem contribuir para a eliminação da pobreza e para o crescimento económico sustentável, melhorar a integração social e o bem-estar da humanidade, assegurar a participação de todos os respectivos actores, e criar a possibilidade de emprego e de trabalho decente para todos, ao mesmo tempo que se preserva o bom funcionamento dos ecossistemas do planeta;

3. Respeito da soberania nacional sobre os recursos naturais;

4. Implicação das Comunidades Económicas Regionais (CER) e dos organismos das Nações Unidas, das instituições internacionais, dos organismos intergovernamentais, bem como dos “grandes grupos” para apoiar os esforços dos países em desenvolvimento;

5. Apoiar os esforços dos países em desenvolvimento comprometidos em implementar políticas de promoção da EV, fornecendo-lhes assistência;

6. Apelo ao sector privado para a elaboração de estratégias de DS integrando a EV.

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Iniciativas Mundiais Rumo À Economia Verde

Existem hoje bons exemplos de países comprometidos com uma estratégia conducente a uma economia verde.

A Ilha de Barbados definiu cinco sectores-chave, no âmbito da sua estratégia rumo a uma economia verde: agricultura, pescas, construção, transportes e turismo. Barbados é um país vulnerável, quer devido ao facto dos combustíveis fósseis importados terem preços muito voláteis, quer também aos riscos provocados pelas alterações climáticas que contribuem para a destruição dos ecossistemas marinhos e costeiros. Por isso, a busca de uma trajectória mais verde para o desenvolvimento económico é altamente atractiva. A criação de condições favoráveis a essa trajectória implica reforma em sectores como: finanças, desenvolvimento, acesso e tecnologias; comércio, tarifas e investimento; tributação, incentivos e reforma orçamental; educação, formação profissional e reforço de capacidades; estabelecimento de padrões e regulamentação; compras governamentais; governação e instituições; informação, análise de dados e comunicação.

A Coreia do Sul lançou, em Janeiro de 2009, o primeiro “Green New Deal ”, prevendo consagrar mais de 38 mil milhões de dólares americanos em diversos projectos ecológicos.

A China implementou um plano de 440 mil milhões de dólares americanos a favor da energia eólica e da energia solar. Segundo um recente relatório do banco HSBC, o mercado mundial das energias com fracas emissões de carbono irão quase triplicar nos próximos dez anos e representarão então 2200 mil milhões de dólares americanos por ano. A China pretende liderar nesse desafio. A China já é o primeiro fabricante de engenhos eólicos, de painéis solares e das redes eléctricas com o melhor desempenho. Além disso, a China investe maciçamente no carro eléctrico e no comboio de grande velocidade (TGV).

O Governo do Nepal realizou um Workshop Nacional com peritos e académicos a fim de discutir as pesquisas e as políticas específicas no contexto das alterações climáticas e da economia verde. Pretendiam, em particular, identificar o que é necessário para proteger os recursos naturais, ao mesmo tempo que melhoram a vida dos pobres do meio rural.

A seguir a esse Workshop, foram escritos uma série de artigos que analisaram diferentes áreas da economia verde, com base nos seguintes tópicos: “Integrando Meio Ambiente, Pobreza e Economia Verde no Processo de Planeamento Nacional”, “Escrutinando

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o Clima, Acções de Adaptação, Financiamento e Políticas: Medidas Essenciais para a Melhoria da Vida dos Pobres”, “Pobreza nas Zonas Altas: Exame das Causas, Identificação das Soluções”, “Análise Económica dos Investimentos dos Governos Locais nas Estradas Rurais: Reduzindo a Pobreza através da Gestão dos Riscos Climáticos e Ambientais”, Obtenção de Rendimentos para os Governos Locais a partir dos Recursos Naturais”, “Energias Alternativas Ligando Considerações Climáticas e Ambientais”, “Comunidades vivendo das Florestas e Alterações Ambientais: Implicações para o Ambiente e para as Pessoas Vivendo na Pobreza no Nepal”.

A UNEP elaborou um estudo sobre a Jordânia, no qual se definem os desafios económicos, sociais e ambientais e se identificam os sectores que apresentam as maiores oportunidades para posteriores investimentos conducentes a uma transição para uma economia verde. Esse estudo identifica sectores que incluem a energia, a água, o transporte, a gestão de resíduos, a agricultura e o turismo.

A cidade de Detroit, nos EUA, tem um programa ambicioso de implantação da agricultura urbana.

O Governo do Reino Unido propõe uma visão assente em quatro pontos. A economia verde:

1. crescerá de forma sustentável e no longo prazo: o crescimento e a riqueza serão gerados, enquanto as emissões e outros impactos ambientais são reduzidos.

2. crescerá o uso eficiente dos recursos naturais: a gestão da procura será operacional e medidas de eficiência energética serão implementadas em residências, escritórios e empresas, em todo o país.

3. será mais resiliente: O Reino Unido será menos dependente dos combustíveis fósseis, enquanto mantém ofertas seguras de energia e outros recursos naturais.

4. explorará vantagens comparativas: O Reino Unido estará bem colocado para tirar vantagem do mercado em expansão dos produtos e serviço verdes.

O Governo britânico procura facilitar o processo de transição, através das seguintes medidas: promoção da acção internacional; regulamentação; incentivos financeiros; medidas orçamentais; compras do sector público; provisão de informação; trabalho dirigido para desbloquear barreiras não-financeiras ao fomento de tecnologias de energias limpas. O Governo britânico também prevê acções articuladas com os empresários do Reino Unido.

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O sector eólico na Dinamarca emprega 28400 pessoas e gera, em cada ano, 5.7 mil milhões de euros, segundo as estatísticas anuais da Associação Dinamarquesa da Indústria Eólica.

A Alemanha deseja aumentar para 900 mil os efectivos do sector das energias renováveis em 2030.

Na Alemanha, segundo o Ministério do Ambiente, o sector das energias renováveis empregava 250 mil pessoas em 2007, contra 160 mil em 2004, e 1.8 milhões de pessoas trabalhavam na protecção do meio ambiente em geral, nomeadamente nos serviços e nos investimentos ecológicos.

As notáveis conquistas da Alemanha não foram obtidas de um dia para outro. A reputação da Alemanha, no que toca à energia solar, foi edificada graças a uma forte vontade política a estímulos governamentais aplicados durante vários anos. A sua posição de líder mundial de engenharia foi determinante. O sector da construção também tem sido uma fonte de geração de actividades e empregos, particularmente no que concerne ao uso de painéis solares.

As tecnologias de transporte também podem contribuir para o crescimento verde, como se pode verificar, não só na construção de automóveis, mas também na aeronáutica e no frete marítimo.

A França elaborou uma Estratégia de Desenvolvimento Sustentável Nacional, com um horizonte de 2010 – 2013. A Estratégia propõe um quadro para organizações, quer do sector público, quer do sector privado, que ajude a desenvolver projectos e iniciativas sustentáveis à volta de uma série de indicadores estratégicos acordados através de um amplo consenso. Em alinhamento com compromissos Europeus, a estratégia identifica nove desafios estratégicos que devem ser enfrentados, na trajectória rumo a uma economia verde e equitativa. Esses desafios são os seguintes:

1. Produção e Consumo Sustentável

2. Economia do Conhecimento

3. Governação

4. Alterações Climáticas e Energia

5. Transporte Sustentável e Mobilidade

6. Conservação e Gestão Sustentável da Diversidade Biológica e dos Recursos Naturais

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7. Saúde Pública, Prevenção e Gestão de Riscos

8. Demografia, Imigração e Inclusão Social

9. Desafios Internacionais do Desenvolvimento Sustentável e o Combate contra a Pobreza Global

A estratégia trata de cada um desses desafios de forma independente e oferece uma série de escolhas estratégicas que as organizações podem fazer ao assumir a liderança do desenvolvimento sustentável.

O Canadian Institute for Environmental Law and Policy elaborou um estudo intitulado “A Green Economy for Canada”, no qual apresenta os resultados de uma pesquisa nacional que almeja fornecer as perspectivas dos parceiros Canadianos sobre como a economia verde deveria ser estruturada e o que deveria significar para os Canadianos. O relatório analisa como os Canadianos, e as instituições para as quais eles trabalham, definem a economia verde e os conceitos que lhe estão associados, que ganhos potenciais existem para os simples cidadãos, os sucessos, as boas práticas e as lições aprendidas, os desafios e as oportunidades apresentadas pela transição e o papel do governo e dos outros parceiros.

Em geral, os Canadianos envolvidos nesse estudo acreditam que o Canadá tem muito a ganhar de uma transição para uma economia verde, e teria muito a perder se o país ignorasse o que é “já uma transição global em andamento”. Os próximos passos identificados pelos parceiros incluem:

1. Apelo para uma Liderança Federal;

2. Promoção de um forte diálogo nacional e desenvolvimento de uma visão partilhada;

3. Estabelecer claros sinais de preços e investir em tecnologia, Pesquisa e Desenvolvimento, e em negócios verdes;

4. Liderança federal na fase internacional.

Perspectivas para a África

Na última década, a África registou um rápido e estável crescimento económico, redução na taxa de pobreza, e um progresso assinalável em relação a «um conjunto de Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento. O crescimento económico tem-se registado não só nas economias ricas em recursos e nos países de rendimento médio, mas também nos países de rendimento baixo pobres em recursos. Isto contrasta com a estagnação – e até reversão –

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que se registou no rendimento por habitante de meados da década de 1970 até aos finais da década de 1990. Nestas décadas, o crescimento foi volátil em muitos países, acompanhado de um mau desempenho económico e sem ganhos sociais. De acordo com a Comissão Económica das Nações Unidas para a África, o conjunto das economias africanas cresceu, em média, 5.6 por cento, no período entre 2002 e 2008, tornando-o o segundo continente com a maior taxa de crescimento, atrás da Ásia. Registou um abrandamento somente em 2009, quando cresceu cerca de 2.8 por cento, como resultado da crise económica e financeira global (ECA, 2012).

Um pilar fundamental para a marcha em frente de África é o crescimento sustentado e rápido. Contudo, embora o crescimento seja importante, a natureza do crescimento é crítico para a redução da pobreza e a melhoria do desenvolvimento humano: “somente um crescimento pró-pobre e uma transformação económica podem fazer o trabalho de redução persistente e sustentada da pobreza.” (Meles Zenawi, 2010). Crescimento numa base alargada, que gere empregos, quer nas áreas rurais, quer nas zonas urbanas, e que aumente os rendimentos das famílias pobres, é crucial para a redução da pobreza. A evidência mostra que, apesar dos ganhos nos anos mais recentes, o crescimento em África não tem sido suficientemente eficaz na redução da pobreza, como tem acontecido em outros países em desenvolvimento.

Um outro factor no que se refere à composição do crescimento, traduz-se no facto de se verificar uma lenta diversificação estrutural.

A distribuição do rendimento é um outro factor importante na realização dos Objectivos do Milénio para o Desenvolvimento. O crescimento baseado nos recursos naturais – tipicamente associado com mais elevada desigualdade – associada à fraca governação, é menos bem sucedida na melhoria dos resultados do desenvolvimento humano, do que o crescimento em países com uma distribuição mais equitativa do rendimento. Neste sentido, os esforços de melhorar a distribuição do rendimento e a governação poderá tornar o crescimento mais eficiente na luta contra a pobreza.

Em África, a desigualdade no rendimento, a baixa produtividade agrícola e os elevados rácios de dependência, estão por trás da baixa elasticidade-rendimento da pobreza. Além disso, a redução da vulnerabilidade de curto e longo prazo dos países aos choques externos é importante para diminuir a probabilidade de reforço das armadilhas da pobreza, bem como para se garantir um desenvolvimento sustentável de longo prazo.

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Exemplos de Iniciativas, em África

Angola

O Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo (2013-2017), elaborado pelo Governo angolano, com base na Estratégia Nacional “Agenda 2025”, fixou as Grandes Orientações para o Desenvolvimento de Angola, de que se destacam alguns objectivos, que são relevantes para a elaboração de uma Estratégia de Desenvolvimento Sustentável e Rumo a uma Economia Verde:

Construir uma Sociedade Democrática e Participativa, garantindo as liberdades e direitos fundamentais e o desenvolvimento da sociedade civil;

Promover o Desenvolvimento Humano e o Bem-Estar dos Angolanos, assegurando a Melhoria da Qualidade de Vida, Combatendo a Fome a Pobreza Extrema;

Promover o Desenvolvimento Sustentável, Competitivo e Equitativo, garantindo o Futuro às Gerações Vindouras,

Promover o Desenvolvimento da Ciência, Tecnologia e Inovação;

Apoiar o Desenvolvimento do Empreendedorismo e do Sector Privado.

Entre os Grandes Objectivos nacionais, pelos quais se deve pautar o Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo (2013-2017), encontram-se os seguintes:

Preservação da unidade e coesão nacional.

Garantia dos pressupostos básicos necessários ao desenvolvimento.

Melhoria da qualidade de vida.

Desenvolvimento do sector privado.

O Grande Objectivo no domínio da agricultura consiste em “promover o desenvolvimento integrado e sustentável do sector agrário, tomando como referência o pleno aproveitamento do potencial dos recursos naturais produtivos e a competitividade do sector, visando garantir a segurança alimentar e o abastecimento interno, bem como realizar o aproveitamento das oportunidades relacionadas com os mercados regional e internacional”.

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No âmbito dos programas do sector agrário, destacam-se:

Programa de Relançamento da Fileira da Madeira e de Produtos não Lenhosos, com vista a:

promover a realização de Projectos de Corte, Transformação e Transporte de Madeira;

apoiar Projectos de Povoamento e Repovoamento Florestal;

atribuir Concessões por Concurso Público;

e modernizar a Apicultura Tradicional.

No que toca ao Programa de Gestão Sustentável dos Recursos Naturais, pretende-se:

apoiar o Projecto de Combate à Desertificação;

realizar o Inventário Florestal;

promover a criação de Bancos de sementes florestais;

e realizar a inventariação de terras aráveis.

O Grande Objectivo no domínio das pescas consiste em “promover a competitividade e o desenvolvimento da pesca industrial e artesanal, de modo sustentável, contribuindo para a promoção de emprego, com o objectivo de combater a fome e a pobreza e garantir a Segurança Alimentar e Nutricional.”

No âmbito dos programas das pescas, destacam-se:

Programa de Melhoria da Sustentabilidade da Exploração dos Recursos Pesqueiros, com vista a:

assegurar a Construção do Barco Fábrica para Processamento da Focal;

construir a Sede do Serviço Nacional de Fiscalização e Aquicultura, bem como Oficinas de Apoio.

Programa de Pesca Artesanal, com vista a:

construir o Centro de Apoio à Pesca Artesanal da Ilha de Luanda.

Programa de Desenvolvimento da Aquicultura, com vista a:

implementar o Plano Director da Baía dos Tigres;

construir um Centro de Piscicultura no Moxico.

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O Grande Objectivo no domínio dos petróleos consiste em “assegurar a inserção estratégica de Angola no conjunto dos países produtores de energia e desenvolver o cluster do petróleo e gás natural, contribuindo para financiar o desenvolvimento da economia e sua diversificação.” Neste âmbito, entre as prioridades, encontra-se a promoção de investimentos em biocombustíveis a partir de culturas agrícolas seleccionadas, sem afectar a oferta nacional de alimentos e a segurança alimentar.

O Grande Objectivo no domínio do ambiente consiste em “contribuir para o desenvolvimento sustentável, garantindo a preservação do meio ambiente e a qualidade de vida dos cidadãos”, tendo como prioridades:

assegurar a integração e a conciliação dos aspectos ambientais em todos os planos e programas de desenvolvimento económico e social;

desenvolver um sistema de controlo de indicadores ambientais;

implementar programas nacionais sobre as alterações climáticas;

implementar políticas de saneamento ambiental e garantir a qualidade de vida das populações;

implementar estratégias de gestão dos parques nacionais, reservas naturais integradas e áreas de conservação;

implementar e desenvolver a Estratégia Nacional de Resíduos Sólidos e Urbanos;

promover a utilização de energias limpas e a adopção de tecnologias ambientais, designadamente nos sectores petrolíferos, de gás e da indústria petroquímica.

No âmbito dos programas do ambiente, destacam-se:

Programa Participativo de Gestão Ambiental, através das seguintes medidas:

fortalecer a Comissão Multisectorial do Ambiente e sua descentralização;

fortalecer a integração de entidades executoras da política ambiental, através da intervenção local, bem como o zoneamento ecológico, económico, industrial e urbanístico.

promover o reforço e extensão das aldeias ecológicas.

Programa de Qualidade Ambiental, através das seguintes medidas:

formulação de políticas e legislação contra a poluição e qualquer acção nociva ao ambiente,

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reforço das tecnologias ambientais limpas, para garantir uma melhor qualidade de vida da sociedade;

assegurar a monitorização e avaliação ambiental estratégica dos projectos e respectivas auditorias e desenvolver um Sistema Nacional de Controlo de Indicadores Ambientais;

implementar um Sistema de Gestão Ambiental Urbana (resíduos sólidos, saneamento, ruído, ar, águas, etc.).

Programa de Conservação da Biodiversidade e Áreas de Conservação, através das seguintes medidas:

implementar um sistema de conservação terrestre e marinho;

promover a investigação científica e aplicada na área da biodiversidade,

promover a gestão das florestas urbanas, agrícolas e rurais.

Programa de Promoção de Produção Sustentável, através das seguintes medidas:

promover a gestão ambiental e sustentabilidade no sector produtivo e assegurar a avaliação, o controlo e a prevenção dos impactos das actividades produtivas;

assegurar a eficiência energética e a captação de créditos de carbono;

promover o combate à seca e à desertificação;

aumentar a contribuição das fontes de energia novas e renováveis na matriz energética.

No âmbito das fontes renováveis de energia, estão programadas acções para o aumento da electricidade, com recurso às fontes solar, eólica e hídrica (mini-hídricas). (Ministério do Ambiente de Angola, 2013).

No domínio da energia solar (fotovoltaica), estão previstas as seguintes acções:

construção de 23 Aldeias solares na Província do Huambo;

construção de 75 Aldeias Solares nas Províncias do Bié, Lunda-Norte, Zaire e Malange.

Esses projectos visam satisfazer as necessidades das escolas, dos centros médicos, do accionamento das bombas de água, da iluminação pública, etc.

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No domínio da energia eólica, estão previstas as seguintes acções:

instalação de dois parques eólicos de 1MW cada, nas províncias de Cabinda e Huambo;

instalação de um parque eólico de 4 MW, na Província do Namibe.

O programa de mini-hídricas traduz-se no aproveitamento de mais de 52 projectos já identificados e que deverão ser implementados, ao mesmo tempo que continuarão a ser feitos estudos com vista à identificação de novas áreas com potencialidades para a construção de pequenos aproveitamentos.

O Grande Objectivo no domínio da organização e ordenamento do território consiste em “garantir uma eficaz prestação dos serviços no âmbito da Governação Local e melhoria da gestão pública inclusiva, em prol do desenvolvimento e redução da pobreza”, tendo como uma das prioridades a criação das Autarquias Locais e o apoio à organização e funcionamento dos órgãos e estruturas da Administração Autárquica.

África do Sul: Acordo sobre a Economia Verde

Aprovou um plano de relançamento, em 2008, para cobrir o período 2009 – 2011, no valor de 7.5 mil milhões de dólares americanos, em que 11 por cento foram atribuídos ao desenvolvimento do transporte ferroviário, à eficácia energética na construção, e à gestão da água e dos resíduos;

A África do Sul deu prioridade ao sector da energia na sua trajectória rumo a uma economia verde;

As metas desse pacote orçamental inclui a construção de edifícios com eficiência energética, práticas de gestão da água e dos resíduos, produção e consumo sustentáveis, e também pretende gerar 15 por cento da electricidade da África do Sul a partir de fontes renováveis até 2020;

Organizou uma Cimeira Verde em 2010.

Possui uma “nova estratégia de crescimento”, com que pretende criar 5 milhões de empregos de 2012 a 2020, promover uma economia mais inclusiva e mais verde, através de intervenções no plano macroeconómico e no plano microeconómico.

Em Novembro de 2011, foi aprovado um “acordo de economia verde” entre o governo, os sindicatos, o sector privado e organizações da sociedade civil, a fim de criarem 300 mil novos empregos verdes;

O Development Bank of Southern Africa (DBSA) aprovou, recentemente, um empréstimo de 980 milhões de dólares americanos para 13 projectos solares (DBSA),

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A África do Sul está a encorajar investimentos em projectos solares que venham fora do país. Por exemplo, a Overseas Private Investments (OPIC) dos EUA aprovou 250 milhões de usd para o primeiro projecto solar OPIC na África do Sul;

A África do Sul está prosseguir e a explorar o conceito de empregos verdes, que inclui práticas de gestão de recursos naturais intensivos em mão-de-obra, a fim de fornecer oportunidades de trabalho e vida decente;

A Industrial Development Corporation (IDC) comprometeu cerca de 3 mil milhões de usd para investimentos na economia verde, durante cinco anos (2010 – 2015);

Existe uma série de projectos de economia verde em Limpopo.

A República Democrática Federal da Etiópia aprovou uma estratégia até 2025, com vista ao desenvolvimento de uma economia verde resistente às alterações climáticas. O Governo declara que a Etiópia almeja ser um país de rendimento médio até 2025. Contudo, reconhece que a trajectória convencional de desenvolvimento resultaria num aumento significativo das emissões de carbono e no uso insustentável dos recursos naturais. Pretende, por isso, criar uma economia verde em que os objectivos do desenvolvimento económico sejam atingidos de uma forma sustentável. A estratégia identifica quatro pilares de desenvolvimento rumo a uma economia verde:

1. melhorar as práticas de produção agrícola e animal, com vista a atingir maior segurança alimentar e maior rendimento agrícola, com redução das emissões de carbono;

2. proteger e refazer florestas de modo a melhorar os serviços económicos e dos ecossistemas;

3. expandir a geração de electricidade proveniente de fontes de energia renováveis, quer para o mercado doméstico, quer para o mercado regional;

4. saltar para tecnologias modernas e eficientes do ponto de vista energético, particularmente nos transportes, sectores industriais, e na construção civil.

Marrocos: Desenvolvimento da Energia Solar

Numerosas iniciativas estão em curso no domínio da eficiência energética, do turismo e da gestão da água.

A primeira central solar foi inaugurada em 2010. Esta central deveria produzir cerca de 13 por cento das necessidades de Marrocos.

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Egipto: Desenvolvimento da Energia Eólica

O Egipto adoptou um plano com o objectivo de produzir 20 por cento de electricidade a partir de fontes de energias renováveis, com 12 por cento a partir da eólica.

Uma nova agência foi criada para promover esses objectivos.

Tem um objectivo de criar 3500 MW de capacidade instalada em 2025.

Em 2010, os investimentos nas energias renováveis passaram de 800 milhões de dólares americanos para 1.3 mil milhões de dólares americanos, em grande parte devido a um projecto solar térmico em Kom Ombo e uma fazenda eólica de 220 MW no golfo de Zayt.

Uganda: A Agricultura Sustentável

48-68 por cento menos de emissões de carbono e sequestro de carbono, de 2004 a 2008.

10. Economia Verde e Desenvolvimento Sustentável

A Economia Verde é vista como um meio para se atingir o desenvolvimento sustentável. A economia verde transforma-se num meio e o Desenvolvimento Sustentável continua a ser a meta geral. A Economia Verde deve, portanto, proteger e melhorar a base dos recursos naturais; ampliar a eficiência dos recursos; promover padrões de produção e de consumo sustentáveis; e guiar o mundo na direcção do desenvolvimento com baixo consumo de carbono.

Cada país deve fazer as suas escolhas apropriadas no que respeita à Economia Verde.

A prioridade principal dos ODMs é a erradicação da pobreza extrema e da fome, incluindo a redução para metade da proporção de pessoas que vivem com menos de 1 dólar americano por dia, até 2015. Uma Economia Verde deve não só ser consistente com esse objectivo, mas também assegurar que as políticas e os investimentos virados para a redução dos riscos ambientais e a escassez são compatíveis com a melhoria da pobreza global e da desigualdade social.

A transição para uma Economia Verde tem registado, e continuará a registar, variações de um para outro país, uma vez que depende, crucialmente, das especificidades do capital natural e do capital humano de que cada país é dotado, bem como do seu nível relativo de desenvolvimento. Em muitos casos, as melhorias verificadas no Índice de Desenvolvimento Humano dos países têm sido realizadas à custa da dotação dos recursos naturais, da qualidade do seu meio ambiente e das emissões de gases com efeito de aquecimento.

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A Friedrich Eber Stiftung (FES) e a ENDA Tiers Monde Energie promoveram em Douala, Camarões, entre 16 e 19 de Abril de 2012, uma Conferência Internacional sobre “Como a mudança climática pode servir para transformar as economias africanas rumo a um desenvolvimento sustentável e justo?” Essa Conferência reuniu mais de 40 participantes da África Central, Ocidental, do Norte e Austral com o objectivo de fazer o ponto de situação sobre o debate actual acerca da ligação entre a adaptação às alterações climáticas e a transformação das economias na África Central e Ocidental. Além disso, pretendeu contribuir para a conceptualização da noção de “economia verde” e dos elementos-chave da transformação das economias africanas.

O essencial dos três dias de trabalho está contido na Declaração de Douala, que se pronunciou a favor do reconhecimento de modelos de desenvolvimento sustentável, que devem incluir “a construção de um mundo solidário e em paz, respeitador dos direitos económicos e sociais, da dignidade humana e da diversidade cultural, em que os recursos sejam repartidos equitativamente entre os povos, no quadro de uma governação mundial aberta e inclusiva, respeitadora das dinâmicas sociais e populares e que trabalhe no interesse das gerações actuais e futuras.” (Declaração de Douala, 2012).

A mudança climática representa ameaças para a África, nomeadamente diminuição das rendas agrícolas, fraco acesso à água e à energia, trabalho penoso para as mulheres, vulnerabilidade às epidemias, desertificação e erosão das costas. Mas a adaptação à mudança climática está ligada, também, aos objectivos climáticos e à luta contra a pobreza, podendo dar origem a um novo paradigma de desenvolvimento que integre esses dois objectivos. As oportunidades da mudança climática em África encontram-se nas abordagens territoriais que integrem as dimensões agricultura-clima-energia; a disponibilidade de terras e de florestas; as energias renováveis como base para uma transição energética assim como a descentralização que abra a via ao desenvolvimento de uma economia local/rural. As pistas para tirar proveito dessas oportunidades são, entre outras, a sobriedade, a integração da atenuação, a utilização dos saberes locais, as tecnologias limpas e, finalmente, a inserção da luta contra a pobreza e a mudança climática sob os aspectos de adaptação (resiliência) e de mitigação (limitação das emissões de gases com efeito de aquecimento).

Durante a Conferência de Douala, o açambarcamento de terras foi identificado como a fonte principal dos conflitos regionais e locais, da pobreza e do aumento das desigualdades entre os géneros. Além disso, produziu um conjunto de recomendações e medidas, no âmbito da transição energética, da agricultura e acesso às terras, da economia florestal, da gestão da água, e da descentralização. (Relatório da Conferência, Abril 2012, Douala)

A mudança climática pode tornar-se o motor da transformação das economias africanas e os sectores vulneráveis à mudança climática podem ser, ao mesmo tempo, os sectores portadores de um desenvolvimento sustentável em África (agricultura, florestas, energia, água). Para a

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sua operacionalização, os participantes da Conferência de Doula constataram que é preciso vontade política, assim como sinergia entre as empresas, os governos, as organizações financeiras, as ONGs, e os investigadores científicos.

A Friedrich Eber Stiftung (FES) e a ENDA Tiers Monde Energie, no seguimento da Conferência de Douala, organizaram uma outra Conferência Internacional, em Dakar, Senegal, entre 5 e 6 de Novembro, sobre “Desenvolvimento sustentável, bem-estar social e transformações estruturais. A economia verde oferece novas perspectivas para a África?” A questão central da Conferência de Dakar foi saber se o crescimento verde constitui uma receita para o desenvolvimento social e económico em África. Para os participantes, a Economia Verde é um meio para se atingir os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável; não é uma finalidade.

11. A Agenda de Desenvolvimento Sustentável Pós-2015Brice Lalonde, Presidente da Mesa Redonda sobre o Desenvolvimento Sustentável, define desenvolvimento sustentável como “uma economia que deveria permitir-nos viver melhor, ao mesmo tempo que melhora o nosso meio ambiente e as nossas sociedades, a partir de agora e no contexto da mundialização.” (L’Observateur de l’OCDE nº 261 de 2007).

O mundo vive hoje uma fase de transição energética idêntica à de 1850, quando “os combustíveis provenientes da biomassa representavam 85 por cento dos abastecimentos totais de energia primária (ATEP) do planeta. Em 2005, a parte dos combustíveis fósseis aproximou-se dos 85 por cento. Nos fins dos anos de 1890, quando o consumo de combustíveis fósseis igualou o de biomassa, cada uma destas duas categorias de recursos fornecia cerca de 0.7 Tw (Terawatt, ou 1012 watts); hoje, se nós quiséssemos substituir pelo menos metade dos combustíveis fósseis utilizados por energias renováveis, estas deveriam produzir cerca de 6 Tw. É uma mudança de dimensão colossal.” (Vaclav Smel, 2006). Não existe nenhuma fonte de energia não fóssil imediatamente explorável em quantidade suficiente. Significa que o processo de transição energética, embora necessário para a sobrevivência da espécie humana, vai ser longo e custoso. Se essa transição do uso intensivo de combustíveis fósseis para energias renováveis não se realizar, o nosso planeta poderá não desaparecer, mas a humanidade enfrentará certamente o risco da sua extinção, ou substancial redução.

Três factores-chave estão na origem da transição para os combustíveis fósseis, no século XIX: a diminuição dos combustíveis fósseis (desflorestação), a qualidade superior do carvão e dos hidrocarbonetos (mais forte densidade energética, maior facilidade de stockagem, facilidade acrescida) e o baixo custo destes combustíveis. Com base nesses três pontos, verifica-se que não há urgência em acelerar a transição para um mundo sem energia fóssil: os recursos em combustíveis fósseis são suficientes para as próximas gerações, as energias alternativas não são superiores qualitativamente, e a sua produção não será muito menos custosa (Vaclav Smil, 2006).

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Os argumentos a favor de uma transição acelerada repousam quase exclusivamente nas preocupações a respeito da mudança climática. E em virtude das necessidades técnicas e infra-estruturais colossais geradas por esta transição, serão necessárias várias décadas para conquistar partes do mercado à escala de cada um dos nossos continentes, ou à escala mundial. Um mundo onde a energia fóssil não será mais utilizada é, talvez, muito desejado, mas a tarefa será longa e difícil (Vaclav Smil, 2006).

O aquecimento planetário, o esgotamento dos combustíveis fósseis e os riscos geopolíticos tornam inevitável a passagem às energias renováveis. O desafio apresenta muitas incertezas, mas a inacção será pior. Uma estratégica energética alternativa realista é possível. Contudo, mesmo tendo em conta os cenários mais optimistas, a maior parte das nossas necessidades energéticas continuarão a ser cobertas por combustíveis fósseis, durante um certo tempo. Além disso, são possíveis novas estratégias para utilizar a energia de modo mais limpo, mais seguro e mais económico (AIE, 2006).

O processo para a elaboração até 2015 de um conjunto de Objectivos Globais de Desenvolvimento Sustentável (OGDS) deve ser inclusivo e reflectir um tratamento integral e balanceado das quatro dimensões do desenvolvimento sustentável: a política, a económica, a social, e a institucional. Os OGDS devem ser consistentes com os princípios da Agenda 21, universais e aplicáveis a todos os países, mas dando espaço a abordagens diferenciadas entre países.

Os OGDS devem incluir os padrões de produção e de consumo sustentáveis, assim como áreas prioritárias como os oceanos; a segurança alimentar e a agricultura sustentável; a energia sustentável para todos; acesso e eficiência da água; cidades sustentáveis; trabalhos verdes, empregos decentes e inclusão social; redução de riscos e resistência a desastres. Os OGDS devem ser complementares e fortalecer os ODMs na agenda de desenvolvimento para o período pós-2015, com o objectivo de estabelecer um conjunto de metas em 2015 que sejam parte integrante da Agenda de Desenvolvimento das Nações Unidas Pós-2015.

Um dos sectores de maior potencial, não só para acelerar o crescimento económico verde, mas também com grande impacto na qualidade de vida, é, sem dúvida, a agricultura. Agricultura, não só nos campos, mas também nas cidades. Uma agricultura urbana em grande escala poderia fazer florir os germes de um novo crescimento, e melhorar a vida das pessoas.

Uma agricultura urbana aumenta a prosperidade económica, através da criação de empregos e de novas actividades locais. Além disso, melhora a saúde e a segurança dos residentes, fornecendo-lhes alimentos sadios e um melhor acesso a espaços verdes bem conservados, favorece o sentimento de pertença a uma comunidade, reforça o tecido social e a capacidade de organização, e une os habitantes em torno de um objectivo comum. A agricultura urbana melhora também o meio ambiente local, substituindo os espaços vazios e reverdejando os campos (John Mogk, 2011).

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12. Medição do Progresso Global de Uma Economia a Caminho de Uma Economia Verde

É difícil, se não mesmo impossível, gerir aquilo que não é mensurável. E mesmo os objectivos de difícil quantificação, devem ser quantificados. Daí ser necessário elaborar um conjunto de indicadores macroeconómicos e sectoriais que permitam informar e conduzir a transição para uma economia verde. Os indicadores económicos convencionais, tal como o PIB, não reflectem a extensão em que as actividades de produção e de consumo levam ao esgotamento do capital natural.

De um ponto de vista ideal, reconhece-se que as mudanças nos stocks do capital natural deveriam ser avaliadas em termos monetários e incorporadas nas contas nacionais. Este trabalho está, neste momento, a ser feito no quadro do Sistema de Contabilidade Económica e Ambiental (SEEA) por parte da Divisão de Estatística das Nações Unidas e pelo Banco Mundial, com a criação de métodos de cálculo da poupança nacional líquida ajustada do Banco Mundial. (World Bank, 2006).

O uso mais amplo de tais medidas deverá fornecer uma melhor indicação do nível real e da viabilidade do crescimento do rendimento e do emprego. A Contabilidade da Riqueza Inclusiva ou a Contabilidade Verde são quadros disponíveis que se espera venham a ser, inicialmente, adoptados por alguns países e a seguir abrirem o caminho para uma economia verde a nível macroeconómico. (Nagoya, CBD COP-10, October 2009).

O Modelo T21 foi desenvolvido, não só para analisar as estratégias para o desenvolvimento de médio e longo prazo, mas também para avaliar a redução da pobreza. Além disso, é complementado por instrumentos de análise dos impactos a curto prazo das políticas e dos programas. O crescimento, através do uso do Modelo T21, tem como motor a acumulação de capital, quer físico, humano ou natural, através do investimento, tendo também em conta a depreciação ou depleção dos stocks de capital. O modelo está calibrado para reproduzir o período de 40 anos de 1970 – 2010; as simulações são conduzidas ao longo dos próximos 40 anos, de 2010 – 2050. A inclusão dos recursos naturais como um factor de produção distingue o Modelo T21 de todos os outros modelos macroeconómicos globais. (Pollitt et al. 2010).

Reconhecidas as insuficiências dos indicadores económicos convencionais, nomeadamente o PIB, para medirem o progresso de uma economia rumo ao seu enverdecimento, alguns economistas propuseram a tomada em conta de três dimensões e a construção de uma bateria de indicadores associados. As três dimensões são o bem-estar; a intensidade energética e a emissão de gases com efeito de estufa; e a utilização dos recursos naturais nos sistemas alimentares. Em relação à primeira dimensão, são propostos como indicadores de medição o crescimento do produto (PIB por habitante) e o progresso do rendimento (rendimento nacional disponível líquido por habitante); em relação à segunda dimensão, é proposto, por exemplo, a intensidade das emissões directas e indirectas de CO2 em relação a uma medida de rendimento; em relação à terceira dimensão, são apresentadas medidas para melhorar a produtividade e a durabilidade dos sistemas alimentares: redução dos dejectos/desperdícios

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nas cadeias de aprovisionamento (melhoria na gestão das pessoas; melhoria na gestão das terras; melhoria na gestão dos elementos fertilizantes utilizados como insumos); e medição do impacto da produção alimentar sobre a qualidade da água e da biodiversidade em relação à produção.

O fim do uso dessas medidas é: situar a primeira medida sobre uma trajectória ascendente; situar a segunda medida sobre uma trajectória descendente e situar a terceira medida sobre uma trajectória também descendente.

13. Conclusões e RecomendaçõesO Relatório do Clube de Roma, de 1972, bem como os choques petrolíferos de 1973-74 e 1979-80, provocaram uma crescente interrogação acerca da capacidade da biosfera para fornecer os recursos indispensáveis à continuação do desenvolvimento económico. Se é certo que na década de 1970 a preocupação dominante residia no perigo do desenvolvimento encontrar um limite absoluto na disponibilidade dos recursos, nos nossos dias a preferência é encarar os recursos naturais como uma realidade física concreta, isto é, como «um stock que é conveniente gerir, tendo em conta, seja os seus ritmos naturais de reprodução (no caso dos recursos renováveis), seja as suas perspectivas de esgotamento e os prazos necessários para a sua substituição por novos recursos (no caso dos recursos não renováveis)».

No que concerne aos problemas do ambiente, a evolução foi paralela àquela que os recursos naturais registaram. A década de 1970 corresponde ao início da colocação do problema das relações entre economia e meio ambiente. É um período dominado pelas poluições clássicas da água, do ar e do solo. Desde o fim dos anos 80 do século XX, as questões do ambiente ganharam actualidade e os danos que lhe são causados encontram-se perante um novo limiar: as regulações globais da biosfera são postas em causa.

A diminuição da camada de ozono estratosférica e o aumento do efeito de estufa são hoje poluições globais. As interacções entre economia e meio ambiente devem ser geridas de modo a responder às necessidades actuais, mas sem sacrificar a satisfação das gerações futuras. A noção de desenvolvimento sustentável nasceu precisamente do entendimento dessas interacções. Com a introdução do conceito de desenvolvimento sustentável, os problemas deixaram de ser isoláveis uns dos outros, passando a comportar várias dimensões. Esta situação explica a multidimensionalidade fundamental dos fenómenos de exploração e de esgotamento dos recursos naturais, assim como os da degradação do meio ambiente, e justifica a utilização, para a sua compreensão, de uma abordagem sistémica adaptada a esta multidimensionalidade.

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Para além do problema da irreversibilidade, verifica-se a presença de problemas de equidade, tanto intrageracionais, como intergeracionais. As escolhas em relação aos recursos naturais e ao meio ambiente assumem, necessariamente, uma dimensão temporal, pondo em jogo o bem-estar, quer dos indivíduos das gerações presentes, quer das gerações futuras. Um terceiro problema tem a ver com a incerteza. Há incerteza no que respeita às reservas de recursos esgotáveis, quanto às possibilidades dos progressos técnicos futuros, quanto às consequências exactas das poluições futuras e, também, no que toca às preferências das gerações futuras. Tudo isso aconselha a que as opções sejam feitas com base no princípio da prudência.

Do ponto de vista da teoria económica, o ambiente é encarado como um activo compósito, que fornece uma variedade de serviços. É, indubitavelmente, um activo muito especial. Fornece os sistemas de suporte da vida humana. Tal como com os outros activos, deve ser prevenida uma depreciação indevida do valor desse activo. O meio ambiente abastece a economia com matérias-primas, as quais são transformadas em bens de consumo através do processo de produção, bem como fornece energia, que aprovisiona de combustível esta transformação. Estas matérias-primas regressam ao ambiente como detritos.

O meio ambiente também fornece serviços directamente aos consumidores. O ar que respiramos, o alimento que recebemos da comida e da bebida, e a protecção que retiramos do abrigo e do vestuário, são benefícios que recebemos, quer directamente, quer indirectamente, do ambiente.

De uma forma bastante alargada, a relação entre o meio ambiente e o sistema económico configura um sistema fechado. O tratamento do nosso planeta e seus arredores como um sistema fechado tem uma importante implicação, que pode ser resumida na primeira lei da termodinâmica: energia e matéria não podem ser criadas, nem destruídas. A relação das pessoas com o meio ambiente é condicionada por uma outra lei: a segunda lei da termodinâmica. Conhecida como a lei da entropia, implica, quando aplicada aos processos energéticos, que nenhuma conversão de uma forma de energia para outra forma de energia é completamente eficiente e que o consumo de energia é um processo irreversível. Durante a conversão, alguma energia é sempre perdida.

Durante os últimos 25 a 30 anos, que corresponde a emergência das economias da China e da Índia, em particular, a economia mundial, medida pelo produto interno bruto (PIB), quadruplicou, beneficiando centenas de milhões de pessoas. (FMI, 2006). Contudo, 60 por cento dos principais bens e serviços do ecossistema que sustentam as famílias degradaram-se ou foram usados de modo insustentável. (Millenium Ecosystem Assessment, 2005). Isto deve-se ao facto do modelo de crescimento e de desenvolvimento económico mundial ter sido cada vez mais intensivo no uso dos recursos naturais, não permitindo uma regeneração dos seus stocks e provocando uma perda ou uma degradação dos ecossistemas.

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As estratégias gerais de desenvolvimento sustentável incorporadas nos planos de desenvolvimento nacional são instrumentos-chave para a implementação dos compromissos de desenvolvimento sustentável, a todos os níveis de intervenção pública. Ao nível dos actores colectivos, a criação de Conselhos Nacionais de Desenvolvimento Sustentável, que coordenem, consolidem e assegurem a institucionalização de questões abrangentes e permitam a participação de todos os stakeholders, é um caminho a seguir.

A transição para uma economia verde depende de um conjunto de condições específicas, que envolvem regulamentos nacionais, políticas, subsídios e incentivos, bem como um mercado internacional e uma infra-estrutura legal, comércio e assistência técnica. (AIE, 2010). Além disso, uma economia que se deseja ver-se a desenvolver com base no conhecimento, na pesquisa e desenvolvimento, no capital humano e na inovação, não deveria fornecer os recursos naturais como se fossem bens livres. Para ser verde, uma economia deve ser não só eficiente, mas também justa. A meta deve ser garantir a transição para uma economia que seja reduzida em carbono, eficiente no uso dos recursos e socialmente inclusiva.

A transição para uma economia verde, nos países em desenvolvimento, vai exigir ajustamentos estruturais, que podem traduzir-se em custos adicionais para as suas economias, sendo necessário, por isso, o apoio da comunidade internacional. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) agrupa os países mais desenvolvidos do mundo. Felizmente, esta organização também tem sido um centro de reflexão sobre as questões gerais do desenvolvimento no mundo. Também tem participado na elaboração de uma nova abordagem da relação entre economia, natureza e sociedade. Há uns dez anos, a OCDE forjou um novo paradigma triangular de acção pública, implicando a conciliação entre crescimento económico, protecção do meio ambiente e progresso social.

Hoje, esse paradigma transparece no objectivo declarado de uma economia mundial «mais forte, mais sadia e mais justa», onde «mais sadia» refere-se ao meio ambiente, mas também à governação. Este objectivo aparece sob diversas outras formas: a estratégia de crescimento «verde», o desenvolvimento sustentável, a estratégia para a inovação e os indicadores de progresso social são justamente alguns dos recentes exemplos. (Ron Gass, 2011). Podemos chamar a isso o Paradigma da OCDE. Partilhado, hoje, no fundo, pelas mais importantes agências internacionais de desenvolvimento. Está passado o tempo em que se pensava que a economia de mercado conduziria por si só à utilização dos recursos naturais e à sociedade óptima.

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Construir uma economia que permita um progresso económico durável exige um esforço de concertação e de cooperação mundial. Isto pressupõe a eliminação da pobreza e a estabilização da população. Estabilização da população significa, nuns casos, evitar o envelhecimento da população; noutros, casos, contrariar a explosão demográfica. Os países da Europa Ocidental vivem, hoje, a primeira situação; alguns países da Ásia e da África enfrentam a segunda situação. Jeffrey Sachs tem afirmado repetidas vezes que o mundo tem os recursos necessários para garantir um progresso económico durável. Mas nenhuma estratégia de erradicação da pobreza é possível se os recursos ambientais desaparecem. “É pois necessário um orçamento especificamente destinado a regenerar a terra, reflorestar a terra, reconstituir os recursos haliêuticos, eliminar a sobrepastagem, proteger a diversidade biológica, e aumentar a produtividade da água até poder estabilizar o nível dos lençóis freáticos e restaurar o débito dos cursos de água (Lester R. Brown, 2006).

A reestruturação da economia passa não tanto por ter um orçamento próprio para financiar essas actividades, mas sim pela reafectação de recursos financeiros e pela transição de uma economia assente nos combustíveis fósseis para uma economia com base nas energias renováveis. E isto pode ser feito progressivamente, através da reafectação dos recursos financeiros disponíveis. As principais ameaças que a humanidade enfrenta são, fundamentalmente, a degradação do meio ambiente, a mudança climática, a persistência da pobreza e o desespero. Em muitos países, existem recursos suficientes para se enfrentarem essas ameaças.

Os novos motores do crescimento económico têm intensificado a procura por mais recursos. Mas os impactos ambientais registam-se, não só nos países que procuram mais recursos naturais para crescerem, mas também nos países dotados desses recursos. A China é, ao mesmo tempo, causador e sofredor desse processo, de tal como que, por exemplo, regista, anualmente, um milhão de mortes provocadas pela poluição.

Os esforços internacionais para ajudar os países a estabelecerem uma economia verde, no contexto do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza, não podem:

• criar novas barreiras comerciais;• impor novas condições para assistências e financiamentos;• ampliar diferenças tecnológicas ou exacerbar a dependência tecnológica dos países

em desenvolvimento em relação aos países desenvolvidos;• restringir o espaço político para que os países busquem os seus próprios caminhos

para o desenvolvimento sustentável.

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Existe um conjunto de instrumentos para o estabelecimento de uma economia verde: reconhecimento da necessidade de uma mistura de políticas e medidas adaptadas às necessidades e preferências de cada país; as opções políticas devem incluir, entre outros, instrumentos regulamentares, económicos e fiscais, investimento em infra-estrutura verde, incentivos financeiros, reforma dos subsídios, contratações públicas sustentáveis, divulgação de informações, e parcerias voluntárias entre diferentes actores sociais; necessidade de um conjunto de indicadores para medir o progresso. Também se deve proceder à eliminação gradual de subsídios que exerçam efeitos consideravelmente negativos sobre o meio ambiente e sejam incompatíveis com o desenvolvimento sustentável, complementando com medidas para proteger grupos pobres e vulneráveis.

Os Estados devem realizar apresentações nacionais sobre as suas experiências dentro da apropriada estrutura institucional; as estratégias de economia verde devem ser desenvolvidas através de um processo transparente de consulta a vários stakeholders (departamentos governamentais, empresas, organizações da sociedade civil, trabalhadores, sindicatos, comunidades, etc.).

Angola está no momento apropriado para iniciar o processo de elaboração da estratégia de desenvolvimento sustentável rumo a uma economia verde: possui um Plano Nacional de Desenvolvimento de Médio Prazo (2013-2017), com programas, projectos e políticas orientadas para o desenvolvimento sustentável, que podem ser o ponto de partida para o processo de Elaboração de Uma Estratégia Rumo a Uma Economia Verde. Por isso, se recomenda a:Preparação de uma Estratégia de Economia Verde (EV) e de um Programa

Nacional para o Desenvolvimento de Uma EV em Angola, com vista a encorajar os investimentos verdes e a elaboração de políticas públicas de acompanhamento. Este trabalho deverá contar com o concurso de consultores nacionais e internacionais;

Criação e operacionalização de uma plataforma institucional que facilite a acção comum das autoridades públicas, do sector privado e da sociedade civil;

Criação de uma Comissão Inter-Ministerial que oriente um Comissão Técnica, dividida em Sub-Comissões Técnicas, cujas áreas de trabalho devem corresponder aos sectores-chave da economia relevantes para o processo de transição rumo a uma EV;

Identificação das Instituições Governamentais e dos Peritos integrantes das Comissões acima referidas;

Selecção dos sectores da economia relevantes para a Implementação de uma EV;Identificação e selecção das Iniciativas Prioritárias rumo a uma EV;Definição de critérios de priorização: relevância e viabilidade para a implementação

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local, contribuição para atingir as metas do PND 2013-2017, etc;Realização de consultas provinciais e sectoriais;Desenho da estrutura do sistema institucional permanente;Formulação das políticas de adaptação e de atenuação associadas às alterações

climáticas;Realização de estudos sobre os Gases com Efeito de Aquecimento;Inclusão da Estratégia de EV nos planos de desenvolvimento;Preparação da implementação, dos recursos e dos planos de investimento;Avaliação dos custos e dos benefícios das estratégias e das políticas;Integração no Questionário do Recenseamento Geral da População e da Habitação

(RGPH) de perguntas que permitam um conhecimento mais profundo da situação de Angola, com vista à elaboração da Agenda Nacional no Quadro Pós-2015.

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