desenvolvimento sustentÁvel e a questÃo urbano … ii coninter/artigos/662.pdf · confeccionista...

18
II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO AMBIENTAL DA INDÚSTRIA DA CONFECÇÃO EM DIVINÓPOLIS- MG. NOGUEIRA, Maria L. C. (1); DINIZ, Luciano S. (2) 1. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais CEFET-MG. Coordenação de Produção de Moda Campus Divinópolis Rua Álvares de Azevedo, nº 400, Bela Vista, Divinópolis/MG, Brasil, CEP 35503-822 Telefone: 55 (37) 3229-1150 [email protected] 2.Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais CEFET-MG Departamento de Ciências Sociais Aplicadas DCSA. Av. Amazonas, nº 7675, Nova Gameleira, sala 203 Prédio principal, Belo Horizonte/MG, Brasil, CEP 30510-000, Telefax: 55 31 3319-6867 [email protected] RESUMO A proteção do meio ambiente é destaque no cenário da sociedade contemporânea. A partir da revolução industrial, com a aceleração da produção, verificou-se a geração de um grande volume de resíduos industriais, o que resultou em impactos negativos ao meio ambiente e a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável, conciliando-se o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio ambiente. No meio urbano, um dos principais fatores que prejudicam a sustentabilidade do ambiente é o excesso de lixo produzido por indivíduos e empresas. A cidade de Divinópolis, com aproximadamente 200 mil habitantes, é considerada o principal polo confeccionista do estado de Minas Gerais e produz cerca de 120 toneladas/dia de lixo. Desse total, boa parte são resíduos têxteis destinados à “coleta de lixo domiciliar”. Assim, a gestão dos resíduos sólidos é um dos maiores desafios da gestão pública nas cidades, tendo, como marco regulatório, a Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. O objetivo geral deste artigo é analisar o desenvolvimento sustentável focado na questão urbano ambiental da indústria da confecção em Divinópolis-MG, discutindo-se, ainda, a geração e o descarte adequado dos resíduos têxteis. Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável. Questão urbano ambiental. Setor confeccionista.

Upload: buiphuc

Post on 14-Dec-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO

AMBIENTAL DA INDÚSTRIA DA CONFECÇÃO EM DIVINÓPOLIS-

MG.

NOGUEIRA, Maria L. C. (1); DINIZ, Luciano S. (2)

1. Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG.

Coordenação de Produção de Moda – Campus Divinópolis Rua Álvares de Azevedo, nº 400, Bela Vista, Divinópolis/MG, Brasil, CEP 35503-822

Telefone: 55 (37) 3229-1150 [email protected]

2.Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG

Departamento de Ciências Sociais Aplicadas – DCSA. Av. Amazonas, nº 7675, Nova Gameleira, sala 203 – Prédio principal, Belo Horizonte/MG, Brasil,

CEP 30510-000, Telefax: 55 31 3319-6867 [email protected]

RESUMO

A proteção do meio ambiente é destaque no cenário da sociedade contemporânea. A

partir da revolução industrial, com a aceleração da produção, verificou-se a geração de

um grande volume de resíduos industriais, o que resultou em impactos negativos ao

meio ambiente e a necessidade de promover o desenvolvimento sustentável,

conciliando-se o desenvolvimento econômico e social com a preservação do meio

ambiente. No meio urbano, um dos principais fatores que prejudicam a sustentabilidade

do ambiente é o excesso de lixo produzido por indivíduos e empresas. A cidade de

Divinópolis, com aproximadamente 200 mil habitantes, é considerada o principal polo

confeccionista do estado de Minas Gerais e produz cerca de 120 toneladas/dia de lixo.

Desse total, boa parte são resíduos têxteis destinados à “coleta de lixo domiciliar”.

Assim, a gestão dos resíduos sólidos é um dos maiores desafios da gestão pública nas

cidades, tendo, como marco regulatório, a Lei nº 12.305/10, que instituiu a Política

Nacional de Resíduos Sólidos. O objetivo geral deste artigo é analisar o desenvolvimento

sustentável focado na questão urbano ambiental da indústria da confecção em

Divinópolis-MG, discutindo-se, ainda, a geração e o descarte adequado dos resíduos

têxteis.

Palavras-chave: Desenvolvimento sustentável. Questão urbano ambiental. Setor

confeccionista.

Page 2: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

INTRODUÇÃO

Atualmente muito se comenta sobre os diversos fatores que prejudicam o meio

ambiente, como, por exemplo, os resíduos descartados de maneira inadequada e o excesso

de lixo. A sustentabilidade é uma questão de responsabilidade com o meio ambiente e com

a sociedade. Ao se contextualizar no ambiente onde se insere o homem contemporâneo, a

sustentabilidade envolve questões como a inclusão social, a informação, a capacitação, a

educação, a economia criativa e a preservação da fauna, da flora e dos recursos naturais.

O tratamento da questão ambiental em meio urbano é, hoje, um desafio ao

desenvolvimento, e mobiliza instituições que atuam neste âmbito (instituições financeiras,

associações de bairro, ONGs, etc) que contribuem com práticas sociais e modos de gestão

no meio urbano.

O principal objetivo deste artigo é analisar o desenvolvimento sustentável e a

questão urbano ambiental da indústria da confecção em Divinópolis-MG. Pretende-se,

também, discutir a geração e o descarte adequado dos resíduos têxteis produzidos pelas

indústrias confeccionistas do município.

A cidade de Divinópolis possui cerca de 200 mil habitantes e é considerada o

principal polo confeccionista do estado de Minas Gerais. O exagerado volume de lixo

produzido, aproximadamente 120 toneladas/dia, compõe-se, em considerável parte, de

resíduos têxteis gerados na cidade e que são destinados à “coleta de lixo domiciliar”. Neste

contexto, a gestão dos resíduos sólidos é um dos maiores desafios enfrentados pelo

governo municipal.

O presente artigo é classificado como bibliográfico, de cunho descritivo e

documental. Bibliográfico, tendo como base livros, jornais, redes eletrônicas, teses, dentre

outros. Descritivo por buscar conhecer o modo de organização do espaço urbano, podendo,

assim, sugerir propostas adequadas de direcionamento dos resíduos do setor confeccionista

da cidade de Divinópolis. E documental, pois a partir do material existente nos arquivos

públicos e instituições ligadas ao setor confeccionista torna-se possível sugerir propostas

que colaborem para a solução de problemas ambientais.

Page 3: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

1. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO AMBIENTAL

O termo sustentabilidade tornou-se destaque em todas as esferas de discussão,

especialmente por ser uma questão de responsabilidade com o meio ambiente e com a

sociedade. Torna-se premente a conscientização da sociedade no que se refere à

compatibilização da produção para atendimento da demanda populacional com a

preservação do meio ambiente.

Mano et al (2010, p.169) afirma que “a Humanidade precisa atingir o equilíbrio entre

o que é produzido e consumido e o que é descartado. Há uma tendência irreversível à

reciclagem dos materiais pós-consumidos. Assim, o Homem terá conseguido integrar

eficiência a sua atividade dentro dos ciclos da Natureza.”

A Revolução Industrial acarretou grandes transformações sociais e econômicas. O

trabalho manual foi substituído por máquinas, favorecendo a produção de bens em larga

escala. Dentre os produtos manufaturados da época, destacavam-se os tecidos de algodão,

linho, lã e seda; materiais de construção, cobre, ferro, além de couro, carvão e papel, os

quais, de origem natural, favoreciam a decomposição natural dos refugos e diminuíam o

impacto ambiental: tinha-se uma demanda e produção reduzida que era totalmente

consumida e sofria uma degradação natural.

Dias (2009, p.7) alerta que “os processos de industrialização aumentaram de forma

espetacular, mas tendo como resultado, grandes problemas ambientais que afetam todo

planeta nos dias atuais. Um dos problemas causados pela industrialização é a destinação

dos resíduos do processo produtivo, afetando o meio natural e a saúde humana”.

Mano et al (2010, p.48) afirma que:

“A manutenção da vida na Terra depende da riqueza e multiplicidade de

ambientes, dos seres e seus relacionamentos, numa rede de interações

globais em que todos os organismos, dos vírus às árvores, colaboram

mutuamente para as condições de existir. O ser humano, no entanto, com

um modelo de desenvolvimento que usa e descarta recursos ambientais em

massa, tem exaurido o planeta.”

Segundo Mano et al (2010, p.42), “pode-se atribuir a duas causas principais a

poluição ambiental: o contínuo aumento da população e o vertiginoso desenvolvimento

industrial. A população mundial que era em torno de 750 milhões por volta de 1750, atingia

Page 4: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

1,5 bilhão em 1900 e mais que dobrou (2,5 bilhões) em 1950, chegando a 5,5 bilhões em

1990.” Atualmente este número já ultrapassa os 6 bilhões. O aumento da população é um

fator que está diretamente relacionado com o aumento da produção de alimentos e

consequentemente o uso de fertilizantes e agrotóxicos.

O necessário questionamento que se faz é: como conciliar a demanda, a produção, o

consumo e o descarte com a manutenção do sistema de forma equilibrada, visto que quanto

maior a população, maior é o consumo e, consequentemente, maior o descarte dos

resíduos, favorecendo o enorme volume de lixo e uma poluição indesejável.

O que se pode perceber, a primeira vista, é uma relação de incompatibilidade entre o

desenvolvimento econômico e a preservação ambiental. Enquanto o desenvolvimento

econômico está essencialmente em busca da geração e acumulação de riquezas, a

preservação ambiental prima-se pela manutenção, proteção e equilíbrio da fauna, flora, dos

recursos naturais e da preservação da vida no e do planeta. A junção simultânea destas

ações na busca por um desenvolvimento sustentável precisa ser a meta principal.

De acordo com a definição clássica de desenvolvimento sustentável, deve-se

“atender às necessidades da geração atual sem comprometer o direito de suas futuras

gerações atenderem as suas próprias necessidades, mas se torna necessário ir além da

condição social e econômica do nosso planeta.” (FERREIRA & KELLER, 2007, p.3)

Para que as gerações futuras tenham segurança e qualidade de vida, é necessário

que haja um equilíbrio entre os três pilares do desenvolvimento sustentável - o meio

ambiente, o setor econômico e a sociedade. Contribuir para a aceleração da consolidação

do desenvolvimento sustentável é essencial para a manutenção da qualidade de vida das

gerações futuras.

Cavalcanti (1998, p.430) afirma que o desenvolvimento sustentável possui seis

aspectos prioritários e que devem ser vistos como metas:

(i) A satisfação das necessidades básicas da população (educação,

alimentação, saúde, lazer); (ii) A solidariedade para com as gerações

futuras (preservar o ambiente de modo que elas tenham chance de viver);

(iii) A participação da população envolvida (todos devem se conscientizar da

necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um à parte que lhe cabe

para tal); (iv) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio, vegetais,

animais); (v) A elaboração de um sistema social garantindo emprego,

segurança social e respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do

Page 5: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

preconceito e do massacre de populações oprimidas, como por exemplo, os

índios); (vi) A efetivação dos programas educativos.

1.1. A evolução dos conceitos

A preocupação ambiental ocorreu quando a sociedade internacional deparou-se com

situações emergenciais, relativas à deterioração do ambiente, devido a poluições de toda a

natureza produzidas pela intensa utilização de tecnologias mal controladas e uma série de

catástrofes ecológicas, que constituíam graves ameaças à saúde humana (DINIZ, 2008).

Em termos gerais, desde o final da década de 1960, questões como poluição,

crescimento populacional e tecnologia passaram a suscitar debates que se traduziram, mais

tarde, na realização da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente Humano, em Estocolmo (Suécia), em 1972, reunindo 113 países, constituindo o

primeiro fórum intergovernamental destinado a discutir as questões políticas, sociais e

econômicas geradoras de impactos no meio ambiente, com a perspectiva de suscitar

medidas corretivas e de controle.

Tendo-se em vista que o progresso em matéria ambiental fora insignificante, a ONU

convoca uma nova Conferência, iniciando-se pela criação, em 1983, da Comissão Mundial

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida por Gro Harlem Brundtland, cujas

atividades resultaram na publicação do manifesto “Nosso Futuro Comum”, também

conhecido como “Relatório Brundtland”, em que foi expresso, pela primeira vez, o conceito

de desenvolvimento sustentável.

Passados vinte anos da Conferência de Estocolmo, a ONU promoveu um novo

encontro internacional no Rio de Janeiro, a Conferência da Organização das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, para que se pudesse avaliar como os países

haviam efetivado as diretrizes de proteção ambiental traçadas na Conferência de 1972 e

discutir novos procedimentos a serem adotados. Como principais resultados da Conferência

de 1992, destacam-se: (i) a Declaração do Rio sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento;

(ii) a Agenda 21; (iii) a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima.

A partir das diretrizes traçadas pelos princípios ambientais oriundos da Conferência

de 1972 (posteriormente reprisados na Conferência de 1992), os Estados passaram a

Page 6: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

adotar políticas ambientais destinadas a administrar, controlar e planejar a utilização dos

recursos naturais, com a finalidade de preservar o meio ambiente e garantir o direito dos

cidadãos ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (DINIZ, 2008).

1.2. Gestão dos Resíduos Sólidos

Um dos marcos regulatórios para a temática dos resíduos sólidos é a Lei 12.305/10

que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos, tornando obrigatória a elaboração de

planos de gestão de resíduos sólidos nos municípios, trazendo alternativas para a

destinação adequada dos insumos e propostas de projetos de reaproveitamento dos

resíduos industriais e, ainda, alerta para a necessidade de uma educação ambiental para o

cidadão.

Em atendimento à legislação federal, a cidade de Divinópolis tem atuado no sentido

de implementar o Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos de Divinópolis

(PMGIRS). Uma destas ações foi a Audiência Pública ocorrida em Julho/2013, com o intuito

de conhecer, debater, informar e receber sugestões da comunidade, através da

apresentação e disponibilização da minuta de proposta do Plano Municipal de

Gerenciamento Integrado dos Resíduos Sólidos Urbanos.

De acordo com o PMGIRS (2013, p.9-10),

O Gerenciamento Integrado do Sistema de Limpeza Pública Urbana é, em

síntese, produto do envolvimento de diferentes órgãos da administração

pública e da sociedade civil com o propósito de realizar a limpeza pública

urbana, a coleta, o tratamento e a disposição final do lixo, elevando assim, a

qualidade de vida da população e promovendo o asseio da cidade. Para

tanto, são considerados as características das fontes de produção, o

volume os tipos de resíduos, as características sociais, culturais e

econômicas dos cidadãos e as peculiaridades demográficas, climáticas e

urbanísticas locais. (...) Em geral, diferentemente do conceito de

gerenciamento integrado, os municípios costumam tratar o lixo produzido na

cidade apenas como um material não desejado, a ser recolhido,

transportado, podendo, no máximo, receber algum tratamento manual ou

mecânico para ser finalmente disposto em aterros. Trata-se de uma visão

distorcida em relação ao foco da questão social, encarando o lixo mais

como um desafio técnico no qual se deseja receita política que aponte

eficiência operacional e equipamentos especializados.

Page 7: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

O PMGIRS preconiza programas de limpeza urbana, enfocando meios para que

sejam obtidos a máxima redução da produção de lixo, o máximo reaproveitamento e

reciclagem de materiais e, ainda, a disposição dos resíduos de forma mais sanitária e

ambientalmente adequada, abrangendo toda a população e a universalidade dos serviços.

Essas atitudes contribuem significativamente para a redução dos custos do sistema, além

de proteger e melhorar o ambiente.

1.3. A Coleta Seletiva: possibilidade de descarte adequado do lixo

Ao se produzir ou utilizar qualquer tipo de material sólido, seja urbano, industrial ou

agrícola, sobram resíduos, muitas vezes denominados lixo. O lixo é considerado pelos seus

geradores como algo não mais necessário, inútil, descartável e muitas vezes indesejável.

Para Mano et al (2010, p.100), “O problema do acúmulo do lixo surgiu quando o

homem se fixou em determinado local. A preocupação com a eliminação dos resíduos

produzidos implicou sua destinação para locais afastados das aglomerações humanas.”

Inúmeros fatores interferem na composição do lixo, entre eles o número de

habitantes, os hábitos e costumes da população, o poder aquisitivo, o nível educacional.

Também são várias as formas escolhidas de destinação dos resíduos urbanos pós-

consumo, que podem ocorrer através de aterros, reciclagem, compostagem ou incineração.

Todas essas formas têm suas vantagens e desvantagens.

No que se refere ao lixo, o conceito dos 3R’s – Reduzir, Reutilizar e Reciclar pode

ser considerado um dos princípios básicos para a educação ambiental:

- REDUZIR (MINIMIZAR): antes do consumo, é necessário reduzir o volume do material a

ser descartado, o que pode ser feito através do redimensionamento das embalagens em

relação ao material utilizado e modificação no formato dos recipientes.

- REUTILIZAR: tendo em mente a possibilidade de reutilização da embalagem pelo

consumidor, o fabricante deve planejar uma embalagem que possa ter uma nova utilidade,

estendendo a vida útil do artefato.

- RECICLAR: é o aproveitamento do material refugado transformando-o em uma nova peça

ou para recuperar a energia, retornando-a ao ciclo produtivo parte das matérias primas ou

da energia.

Page 8: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

Em sua análise, Barros (2012, p.254) acrescenta aos 3R’s citados, outro R que se

refere ao “reempregar”, que consiste em dar uma nova utilização a um produto ou material

recuperado para uso semelhante a sua primeira função.

Mano et al (2010, p.113) esclarece que “O gerenciamento da destinação dos

resíduos urbanos é um conjunto de ações normativas, operacionais, financeiras e de

planejamento para disposição do lixo de forma ambientalmente segura, utilizando

tecnologias compatíveis com a realidade local.”

Ao se referir ao lixo produzido nas cidades, Barros (2012, p.36) afirma que:

O que define o que de fato é lixo é esta possibilidade de escolher o que

guardar – e usar – ou jogar fora, uma escolha sempre renovada e que está

implícita em cada gesto de cada pessoa. Não é uma noção estática: varia

no tempo e no espaço, segundo contextos socioeconômicos e

comportamentos específicos. Muitos dos objetos comprados e consumidos

se transformam em lixo antes de terem se tornados impróprios para o uso

ou de terem esgotado todas as possibilidades de seus préstimos: os artigos

de moda são o exemplo clássico disto, segundo uma obsolescência

programada. Como corolário do processo de consumo, um detentor de um

bem decide dele se desfazer, segundo critérios variados, e aí gera RS: os

consumidores somos os geradores de lixo.

O autor apresenta um paralelo sobre a questão da sustentabilidade e as cidades, ao

afirmar que:

A gestão sustentável e integrada dos RS municipais é imprescindível para

obter e manter uma boa qualidade de vida de uma comunidade,

principalmente nas áreas urbanas, onde a concentração populacional segue

aumentando. A problemática dos RS tem que ser analisada de maneira

mais abrangente que a mera solução tecnológica (e fundamentalmente

operacional), de modo geral concentrada na etapa da disposição final: é

preciso também ver a montante da produção crescente de RS,

questionando os mecanismos que levam a ela e as consequências daí

advindas. Esta abordagem integrada considera as interfaces com aspectos

culturais, socioeconômicos, ambientais, administrativos, políticos e mesmo

éticos: não é possível constatar que há ainda dezenas de milhares de

pessoas catando informalmente nas ruas e nos lixões do Brasil, sem se

imaginar o que os empurra para esses locais. Não se pode mais

desconsiderar os altos custos e os graves impactos ambientais, de curto e

médio e longo prazos, derivados da aceleração do consumo – do inelutável

aumento da produção de RS –, e a inexorável necessidade de lhes dar uma

destinação ambientalmente correta (2012, p.16).

Page 9: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

A coleta seletiva pode ser caracterizada pela separação dos materiais inicialmente

pela população e posteriormente pela coleta e envio aos centros de triagem, cooperativas

ou catadores. A coleta seletiva é considerada a principal ação para o desenvolvimento da

reciclagem e da reutilização; e pode ser realizada de porta a porta ou através dos postos de

entrega voluntária.

A coleta seletiva proporciona entre outras ações, a redução do volume a ser

descartado; a boa qualidade dos materiais recuperados; a possiblidade de parcerias com

agentes envolvidos no processo; o estímulo à cidadania. No entanto, tem como aspectos

negativos a organização da logística do espaço, necessitando de veículos especiais que

recolham o material em dias diferenciados dos da coleta convencional e a necessidade de

um centro de triagem para a separação dos materiais por tipos especificados.

A educação ambiental é considerada fundamental para o sucesso de qualquer

programa, especialmente, o da coleta seletiva. É através dela que o cidadão se conscientiza

do seu papel na sociedade como sujeito gerador e responsável pelo seu lixo.

2. CONTEXTUALIZANDO DIVINÓPOLIS: A CIDADE POLO DA CONFECÇÃO

Divinópolis, fundada, em 1767, está situada na região Centro-Oeste de Minas Gerais,

a aproximadamente 110 quilômetros da capital, Belo Horizonte. A cidade possui uma

excelente malha rodoviária que a aproxima dos principais centros urbanos do país. A

estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para a população

residente no município de Divinópolis no ano de 2012 era de 217.404 habitantes.

Nogueira (2010, p.13) afirma que:

No final da década de 1970, a grave crise econômica da indústria

siderúrgica, considerada até então a principal fonte de renda da cidade e da

região, culminou na demissão e fechamento de várias empresas do setor.

Pode-se dizer que essas dificuldades provocaram o surgimento da indústria

de confecção do vestuário que contribuiu com o desenvolvimento local

através da quebra da hegemonia da siderurgia e significou novas formas de

geração de trabalho e renda.

Page 10: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

Divinópolis, considerada a 5ª cidade com melhor Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH) do estado1, se caracteriza por ser essencialmente industrial e tornou referência nas

áreas de indústrias siderúrgicas, metalúrgicas e de confecções, abrindo oportunidades de

emprego a diversos segmentos da sociedade. A cidade é considerada polo da região

Centro-Oeste de Minas Gerais e está entre os 10 principais municípios do estado.

Dados do relatório anual divulgado pela Federação das Indústrias do Estado de

Minas Gerais (FIEMG)2 mostram que a cidade de Divinópolis é o principal polo

confeccionista no estado, ficando a frente da capital, Belo Horizonte, que ocupa a segunda

colocação e da cidade de Juiz de Fora, que vem em terceira. O setor confeccionista

emprega aproximadamente 10% da população.

Por não ter tido um planejamento estratégico, a cidade expandiu-se

desordenadamente. Seu crescimento urbano, acelerado nos últimos anos e os loteamentos

aprovados indevidamente no passado são fatores que dificultaram ainda mais as obras de

infraestrutura básica.

2.1. O Polo Confeccionista de Divinópolis

O polo têxtil de Divinópolis tem em sua cadeia produtiva, lavanderias, estamparias,

confecções, entre outros. A cidade possui mais de 500 lojas e seis centros comerciais com

estrutura para receber compradores de várias cidades de Minas Gerais e de outros estados

do Brasil.

Atualmente o município possui 786 empresas registradas no setor confeccionista,

que são responsáveis por 21,4% de toda a produção do estado. Quando avaliado apenas o

vestuário, a participação sobe para 24,9%. A cidade também é responsável por 17,7% dos

postos de trabalho, com 26.501 funcionários.

Em Divinópolis, as confecções e facções se espalham por toda a cidade. Várias

residências e até condomínios residenciais abrigam as confecções. É bastante comum

1 Dados obtidos no Anuário Estatístico de Divinópolis – 2009.

2 Dados obtidos em: http://g1.globo.com/minas-gerais/triangulo-mineiro/noticia/2013/02/relatorio-aponta-

divinopolis-como-maior-polo-de-confeccao-do-estado.html

Page 11: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

encontrarmos edifícios com o pavimento térreo destinado à confecção e os demais andares

de apartamentos residenciais.

Divinópolis enfrenta o problema do exagerado volume de lixo produzido, cerca de

120 toneladas/dia. Por se tratar de um polo confeccionista, grande parte do volume de

resíduos têxteis descartados pelas indústrias são direcionados junto ao lixo domiciliar. A

situação do lixo em Divinópolis tornou-se um desafio para toda a comunidade, pois, ao

caminhar pelas ruas da cidade, é comum encontrarmos nas calçadas sacos cheios de

retalhos de tecidos, bem como resíduos das confecções.

A crescente busca por soluções para a diminuição do lixo e do desemprego, e de

educação ambiental na sociedade atual, mostra a necessidade de enfrentamento destes

problemas socioambientais.

A pesquisa intitulada Diagnóstico Ambiental das Confecções de Divinópolis,

desenvolvida entre os anos de 2008/2009, pelo CEFET/MG mostra que em relação aos

tipos de resíduos gerados direta e indiretamente na produção, 93% das empresas

entrevistadas afirmam ter como principal fonte de resíduos os retalhos de tecidos. Em

relação ao destino destes resíduos têxteis, a pesquisa revela ainda que 16% destes são

vendidos, ou seja, retornam como lucro para a empresa. No entanto, nota-se preocupação

por parte das empresas que doam seus resíduos, seja para terceiros, para instituições,

programas sociais ou ainda colocados na rua para coleta urbana e/ou catadores de retalhos.

A pesquisa mostra ainda, que em 31% das empresas consultadas, a preocupação com a

preservação do meio ambiente não é realizada de forma efetiva, e que em 78% das

empresas pesquisadas existe perda de matéria-prima antes ou durante a produção.

A pesquisa mostra também que a maioria das empresas de pequeno porte não tem

acesso às tecnologias de mapeamento e corte informatizados o que dificulta a etapa de

corte das peças. O setor de corte é o responsável pela sobra dos retalhos, pois um corte

mal planejado compromete toda uma produção, encarecendo a peça e produzindo uma

maior quantidade de retalhos. Esta informação pode mostrar que grande parte dos

empresários das confecções de pequeno porte não conhecem os princípios básicos da

sustentabilidade (produtos devem ser economicamente viáveis, socialmente justos e

ambientalmente corretos). Os dados apresentados demonstram que possivelmente estes

empresários não tem consciência da questão ambiental e provavelmente desconhecem ou

Page 12: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

não aplicam ações que destinam a tratar adequadamente ou a minimizar o volume dos

resíduos têxteis.

A pesquisa mostra, ainda, que existe por parte dos empresários, preocupação com a

preservação do meio ambiente, pois 48% das empresas consultadas selecionam

fornecedores que trabalham com matérias-primas ambientalmente corretas. Para 31% das

empresas consultadas, a preocupação com a preservação do meio ambiente não é

realizada de forma efetiva, e em 78% das empresas pesquisadas se verifica perda de

matéria-prima antes ou durante a produção. Em 76% destas empresas, o setor de corte foi o

que apresentou maior perda de matérias-primas.

No que tange ao destino dos resíduos têxteis, a pesquisa mostra que, parte destes,

16% são vendidos, ou seja, retornando em forma de lucro para as empresas. No que se

refere à doação dos resíduos têxteis, os empresários não tem controle se estes foram

recebidos por instituições, programas sociais ou ainda colocados na rua para coleta urbana

e/ou catadores de retalhos.

Em relação à adoção de medidas que causem menor impacto ambiental, as

empresas afirmaram que os maiores complicadores são a limitação de recursos físicos,

funcionários e/ou instalações adequadas e, a falta de informação/conhecimento das

questões ligadas ao impacto ambiental o que acaba por denunciar a necessidade de uma

educação ambiental, bem como, programas de gestão ambiental destinados ao setor.

Outros estudos e propostas para a gestão dos resíduos têxteis em Divinópolis

encontram-se em andamento, dentre eles o projeto Retalhos Sustentáveis: a criatividade

urbana; a proposta de criação da ONG Lixo & Cidadania, do projeto Retalhos e Cidadania,

que tem como objetivo a montagem de uma central de retalhos, onde serão acolhidos,

triados e distribuídos para serem reaproveitados na confecção de produtos artesanais ou

afins.

2.2. Impactos gerados pelas indústrias de confecções em Divinópolis: a visão

dos agentes envolvidos

A geração de resíduos constitui uma das principais dificuldades de uma comunidade

que busca conciliar o desenvolvimento econômico, social e ambiental de forma equilibrada.

Page 13: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

Outro projeto também desenvolvido pelo CEFET-MG e que se encontra em fase de

conclusão é o Sustentabilidade e a Questão Urbano Ambiental na cidade de Divinópolis, em

que foram realizadas várias entrevistas3 com sujeitos comprometidos com a questão

ambiental para que fosse possível verificar as diversas opiniões sobre o tema em questão.

Um dos entrevistados foi o então Secretário do Meio Ambiente de Divinópolis – MG,

que informou que os problemas graves do município já estão sendo solucionados. O antigo

“Lixão”, que anteriormente retratava uma situação caótica de crianças e adultos convivendo

com o lixo, aves e chorume, foi transformado em aterro sanitário controlado onde será

instalada uma usina de compostagem. O tratamento do esgoto está em andamento e com

previsão para estar completo até 2016. A coleta seletiva foi ampliada e beneficiada pela

criação do Centro Municipal de Triagem, além de outros projetos como os de combate à

poluição sonora e visual e também o de arborização urbana.

O secretário afirma que grande parte dos resíduos das indústrias de confecção são

deixados nas ruas para serem encaminhados como lixo doméstico, assim, é a comunidade

que paga por tonelada de lixo aterrada, o que deveria ser de responsabilidade e ônus da

própria indústria. É possível que a partir do momento em que as indústrias forem

responsabilizadas pelo ônus do lixo produzido, possivelmente várias ações sustentáveis

tendem a ser incrementadas, minimizando a geração dos resíduos têxteis e encaminhando-

os para outras formas de reaproveitamento.

Ao ser questionado sobre qual seria os motivos desta má destinação dos resíduos, o

secretário afirma que: “o que falta realmente é essa união de poder público e empresarial

para poder discutir uma ação correta e concreta que efetive a realização deste trabalho que

não é só ambiental, mas também social, de aproveitamento destes resíduos.”

Outra entrevistada foi a Coordenadora do Núcleo Técnico de Projetos da ONG Lixo &

Cidadania. A referida ONG, criada em 1999, é voltada para a conscientização ambiental e a

sustentabilidade, principalmente através do reaproveitamento de resíduos. Os trabalhos são

desenvolvidos com todo tipo de resíduos, doados pelas empresas colaboradoras. A ONG

tem como foco a educação ambiental, que se sintetiza na própria realização desses

trabalhos artesanais: aquilo que é aprendido sobre reaproveitamento e sustentabilidade é

praticado. A criatividade se faz a partir de resíduos que iriam tornar-se mais lixo acumulado.

3 As entrevistas foram feitas pela bolsista do projeto Sarah Ferreira Rodrigues.

Page 14: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

O descartável se torna reaproveitável, podendo inclusive gerar renda para aquele que

produziu algo com o “lixo”.

Para a coordenadora um dos motivos pelo qual o Programa de Gestão de Resíduos

Têxteis (PGRT) ainda não foi implementado pode ser o desinteresse dos empresários,

talvez por não perceber vantagens ou pela falta de efetividade política. A coordenadora

acredita que até 2014, o programa será incorporado, pois, é este o prazo limite estipulado

pelo governo para a implementação do programa, sendo que, o município que não possuir

um plano de gestão para seus resíduos sólidos, incluindo a reciclagem e o tratamento do

lixo, não poderá contar, por exemplo, com os recursos da União para a melhoria da coleta e

a construção de aterros.

Outra entrevistada pelo projeto foi a superintendente da SUPRAM –

Superintendência Regional de Meio Ambiente do Alto São Francisco, órgão responsável em

executar uma política de proteção, conservação e melhoria da qualidade ambiental no que

concerne a prevenção, a correção da poluição ou da degradação ambiental provocada pelas

atividades industriais.

De acordo com a Superintendente da SUPRAM, após a concessão da licença

ambiental e definição das medidas de controle a serem adotadas, não há, por parte do

órgão, a regular fiscalização das atividades, de modo a certificar se as medidas estão sendo

implementadas.

Em se tratando da cadeia de produção da indústria têxtil quase todos os processos

são passíveis de regularização ambiental, como é o caso das lavanderias, estamparias,

tinturarias e tecelagem. As confecções não necessitam de licença ambiental para seu

funcionamento, pois seus resíduos, especialmente os retalhos, possuem baixo teor

poluente.

A superintendente afirma que

“O cidadão precisa entender que ele também faz parte do meio ambiente.

Pois quando se fala que a geração de resíduos afeta a condição ambiental

de uma cidade, não se fala apenas da condição de um rio, de um solo, fala-

se da condição de vida da população também. Prejudica-se também o

conforto, e a qualidade de vida sadia da população também. Ninguém quer

um pacote de retalho ou um lodo de uma estamparia do lado de sua casa.

Então o cidadão precisa entender que quando se fala em meio ambiente ele

está inserido nesse contexto e que se o próprio cidadão não conseguir

Page 15: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

fiscalizar e denunciar o que está vendo para o órgão ambiental, é difícil

fazermos este controle sozinhos. Desta forma, seria ótimo para a melhoria

da qualidade ambiental que o próprio cidadão se conscientizasse e

cobrasse dos empreendimentos esta atitude correta de descarte de

resíduos. O empreendimento iria corrigir suas falhas não devido a cobrança

do órgão ambiental, mas sim da própria comunidade.”

Outra entrevista realizada foi com as idealizadoras do projeto “Retalhos

Sustentáveis”, que tem como principal objetivo capacitar pessoas para trabalhar com os

resíduos têxteis (retalhos) de forma sustentável. Em 2011, o projeto foi aprovado pela Lei

Municipal de Incentivo à Cultura e, em 2012, pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura

ampliando a área de atuação para Divinópolis e região. Por falta de interesse por parte dos

empresários, que em contrapartida ao investimento poderiam abater em seus impostos

parte do valor investido, o projeto não se concretizou. Ainda assim, as idealizadoras do

projeto iniciaram as atividades na ONG Lixo & Cidadania. Para elas é urgente a

necessidade de uma educação ambiental destinada especialmente aos empresários do

ramo que ainda estão desinteressados nas questões relacionadas à sustentabilidade

ambiental.

A última entrevista da pesquisa ocorreu com os responsáveis pelo Centro de

Triagem do Lixo de Divinópolis, onde os resíduos domésticos depois de coletados pelos

catadores são triados, pesados e preparados para a venda. Ao cidadão cabe separar seu

lixo e disponibilizá-lo para que os catadores possam recolhê-los. Infelizmente não é esta a

realidade de Divinópolis onde a população ainda não se conscientizou da necessidade de se

separar corretamente o lixo amenizando os impactos ambientais. Especificamente em

relação aos resíduos têxteis, estes estão sendo direcionados ao aterro sanitário.

A partir das declarações dos entrevistados fica clara a necessidade de

conscientização por parte de todos os sujeitos envolvidos, aqui especialmente, no setor

confeccionista.

Diniz reforça esta necessidade ao afirmar que

“a crise ambiental contemporânea configura-se, essencialmente, no

esgotamento dos modelos desenvolvimentistas levados a efeito nas últimas

décadas, notadamente as de sessenta e setenta, que, a despeito dos

benefícios científicos e tecnológicos daí decorrentes, trouxeram, no seu

bojo, a devastação do meio ambiente e a escassez dos recursos naturais

em nível planetário, manifestadas principalmente por acontecimentos

globais como o efeito estufa, a chuva ácida, a perda da biodiversidade, o

Page 16: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

desmatamento, a poluição do ar, a exaustão do solo, a erosão e a morte

dos rios e dos lagos. Manifestações essas decorrentes da maciça ausência

de políticas governamentais capazes de conter a atuação parasita e

desenfreada do homem sobre o meio ambiente, tomando o que dele deseja

com pouca atenção pelo sistema de sustentação da sua vida. (2008, p.458-

475)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O último século foi marcado pelo aceleramento do desenvolvimento tecnológico que

trouxe benefícios, mas também problemas socioeconômicos, causando prejuízos

ambientais, especialmente ao sobrepor à questão da preservação e do equilíbrio ambiental.

Conscientizar a sociedade para a responsabilidade socioambiental torna-se

imprescindível. O que se pode perceber é que, atualmente, no meio empresarial existe uma

maior preocupação em assumir formas de gestão mais limpas (Empresas Verdes) do que a

conscientização da necessidade de um desenvolvimento econômico sustentável. A busca

por este desenvolvimento não pode ser vista isoladamente como uma ação pontual, ela faz

parte de um processo e assim sendo, necessita de continuidade.

O gestor tem um papel fundamental neste processo, pois cabe a ele a

responsabilidade e a dedicação pessoal na busca pela redução do impacto ambiental da

organização, especialmente ao conseguir engajar todos os sujeitos envolvidos na

organização.

A sustentabilidade precisa ser vista como um processo contínuo de melhoria e a

indústria da confecção tem sua parcela nos graves impactos gerados ao meio ambiente,

seja através do uso de agrotóxicos das lavouras; do descarte de efluentes das tinturarias e

lavanderias ou ainda, pela promoção do consumismo e da cultura do descartável.

A conscientização da necessidade de uma produção mais sustentável por parte das

empresas, mesmo que incipiente, começa a se tornar uma realidade. A moda está deixando

de ser a vilã da sustentabilidade para se tornar uma aliada, colaborando para que o

consumo ocorra de forma mais consciente.

Page 17: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

É premente a busca por alternativas que visam a redução dos resíduos,

especialmente em relação aos resíduos têxteis e a primeira ação seria a redução das sobras

de retalhos através da otimização do mapeamento usado como guia para o corte dos

tecidos. Outra ação seria a separação das sobras de tecidos por cor e por tipo de fibra,

facilitando a reutilização por parte dos artesãos.

Torna-se necessário também uma maior conscientização dos consumidores no

momento da compra do produto. Se o consumidor optar por produtos ecologicamente

corretos, as empresas irão se adequar e consequentemente minimizarão os prejuízos ao

meio ambiente.

Embora a sustentabilidade seja uma questão atual e frequentemente discutida, este

artigo não tem a pretensão de esgotar o assunto e sim contribuir para o desenvolvimento

sustentável, especialmente do setor confeccionista. Espera-se que outras pesquisas

possam abordar outros aspectos da sustentabilidade e tragam propostas de discussões e

soluções aos problemas relacionados a esta temática.

Page 18: DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A QUESTÃO URBANO … II Coninter/artigos/662.pdf · confeccionista do estado de Minas Gerais e produz ... especialmente por ser uma questão de

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

REFERÊNCIAS

ANUÁRIO ESTATÍSTICO DE DIVINÓPOLIS. Divinópolis: 2008/2009. Edição especial.

BARROS, R. T. V. Elementos de gestão de resíduos sólidos. Belo Horizonte: Tessitura, 2012.

CAMPOS, A. G.; NOGUEIRA, M. L. C.; FONSECA, L. P. G. Diagnóstico ambiental do setor confeccionista de Divinópolis. Congresso Nacional de Técnicos Têxteis, 23., 2009, São Paulo.

CAVALVANTI, C. Desenvolvimento e natureza: estudos para a sociedade sustentável. 2 ed.

São Paulo: Cortez, 1998.

DIAS, R. Gestão ambiental: responsabilidade social e sustentabilidade. São Paulo: Atlas,

2009.

DINIZ, L. S. A influência do direito internacional do meio ambiente no processo de soberania

dos Estados. Dissertação de Mestrado em Direito, PUC Minas, Belo Horizonte, 2008. 133f.

DIVINÓPOLIS – PREFEITURA MUNICIPAL. Termo de Referência – Plano Municipal de

Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos. Estudo de concessão do sistema de limpeza

urbana e destinação final. Maio/2013. Disponível em

http://www.divinopolis.mg.gov.br/documentos/conspublica/plano.pdf . Acesso em 29 de julho de

2013.

FERREIRA, D. D. M; KELLER, J. K. Geração e Descarte de Resíduos do Processo Têxtil:

Uma Pesquisa sob a Ótica dos Colaboradores. In: Encuentro Latinoamericano de Diseño.

Actas de Diseño. Facultad de Diseño y Comunicación. Universidad de Palermo. ISSN 1850-

2032. Disponível em:

http://fido.palermo.edu/servicios_dyc/encuentro2007/02_auspicios_publicaciones/actas_diseno/articul

os_pdf/ADC086.pdf [Consult. 29 jul.2013]

FRANÇA, J. L. et al. Manual para normalização de publicações técnico-científicas. 8. ed.

Belo Horizonte: UFMG, 2007.

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

MANO, E. B. ; PACHECO, E. B. A. V. ; BONELLI, C. M. C. . Meio Ambiente, Poluição e

Reciclagem. Rio de Janeiro, RJ: Editora Edgard Blücher, 2005. 128p.

NOGUEIRA, M. L. C. Formação profissional e emprego: o caso das egressas do curso

técnico em vestuário do CEFET-MG, Campus Divinópolis. Dissertação de Mestrado em

Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2010, 69 f.

RODRIGUES, S. F.; NOGUEIRA, M. L. C.; CAMPOS, A. G. Sustentabilidade e a Questão Urbana Ambiental no Setor de Confecções na cidade de Divinópolis – MG. Relatório do Projeto de Bolsa de Iniciação Científica - CEFET-MG. Divinópolis-MG, 2013. No prelo.