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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    DESENVOLVIMENTO LOCAL

    NAS MÃOS DA JUVENTUDEGuia do Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social

    FICHA TÉCNICA

    Coordenação da publicaçãoArianne Brianezi e Giovanni Gigliozzi Bianco

    Texto e ediçãoHeloisa Bio

    Projeto Gráfico e diagramação

    Felipe Sleiman RizzattoConsultoria técnicaOndalva Serrano, Bely Pires e Vanessa Cordeiro

    Revisão

    Ana Cecília Bruni

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    DESENVOLVIMENTO LOCALNAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social

    Realização:

    Colaboração:

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O significado do Programa de Jovens para aAHPCE - Associação Holística de ParticipaçãoComunitária Ecológica é imenso. Seunascimento se deu a partir do Programa deJovens, para se constituir como a organizaçãoda sociedade civil que desse suporte para odesenvolvimento, a mobilização de recursose as ações do programa.

    Isso aconteceu em 1996, e de lá para cá,muitos Núcleos de Educação Ecoprofissionalforam implementados, milhares de jovenspassaram pelo programa, centenas de açõesforam desenvolvidas, encontros da rede doprograma foram realizados e, certamente,

    o mais importante de tudo: pessoas ecomunidades foram transformadas.

    No fundo, esta é a grande contribuiçãopara as pessoas que se envolvem com o PJ-MAIS, tanto para os jovens quanto para oseducadores e coordenadores dos Núcleos.Todo o trabalho é focado em duas grandes

    frentes: a formação integral e a capacitaçãoecoprofissional dos jovens, e frente a estesdois grandes objetivos, o ser humano emsua totalidade e na sua relação criativa eequilibrada com o meio, é o cerne de nossasatenções e das atividades dos Núcleos.

    Por isso, neste momento especial, emque completamos 18 anos de história doprograma e 20 anos da Reserva da Biosferado Cinturão Verde da Cidade de São Paulo,fizemos questão de gerar esta publicaçãopara contar um pouco mais. Sobre seusresultados, sua trajetória, sua metodologiae a imensa riqueza das experiências de

     jovens, educadores e coordenadores dosNúcleos. A construção deste guia teria sidoimpossível sem a contribuição generosa daspessoas que fazem ou fizeram o programaacontecer. Em todos, vemos ainda acesa apaixão e o compromisso com esta proposta,pois, como dizem os próprios jovens, “umavez PJ, sempre PJ!”.

    Para seguir em nossa missão de transformar realidades complexas, precisamos estar abertosàs mudanças. No momento em que o Programa de Jovens atinge sua maturidade ou 18 anos,honrando sua história e imaginando seu futuro, a AHPCE também ousa novos voos. Renasce, agoracomo Instituto AUÁ de Empreendedorismo Socioambiental, reafirmando seu compromisso como bem-estar humano e a sustentabilidade com uma visão renovada e, neste mesmo espírito deinovação, desejando contribuir para que o PJ-MAIS expresse seus enormes potenciais.

    Nossa expectativa é que o leitor consiga perceber esta riqueza e potencial, visíveis nas experiênciasvividas e convividas no âmbito da rede de Núcleos do programa.

    Esta publicação também é um convite para tomadores de decisão e colaboradores de órgãospúblicos, organizações da sociedade civil e da iniciativa privada. Desejamos que mais pessoase instituições, comprometidas com o empoderamento da juventude e das comunidades para asustentabilidade, sintam-se convidadas a integrar essa rede, enriquecê-la, fortalecê-la e até ampliá-la, proporcionando transformações significativas em suas realidades e na vida destes jovens.

    Deixe-se levar pelas histórias deste guia e faça uma boa leitura!

    Arianne Brianezi e G iovanni Gigliozzi Bianco

    Empreendedores Sociais da AHPCE | Instituto AuÁ de Empreendedorismo SocioambientalGestores do Programa de Jovens - Meio Ambiente e Integração Social

    Programa de Jovens

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O Programa de Jovens – Meio Ambiente eIntegração Social (PJ-MAIS) teve início emSão Roque, em 1996, numa parceria com aantiga Estação Experimental de AgriculturaOrgânica do Instituto Agronômico deCampinas, e a partir das reflexões, sonhose militância de Ondalva Serrano. Sempreesteve voltado ao trabalho com jovens,estimulando sua visão crítica de nossasociedade e a formação de uma consciênciapró-ativa na construção de uma novarelação homem-natureza e de convíviosocial.

    Quando, entre 1988 e 1990, o governodo Estado propôs a construção daVia Perimetral impactando o Parqueda Cantareira, um grande número decidadãos se mobilizou contra a proposta,liderados por Vera Lucia da Silva Braga.Perceberam a oportunidade de criar umaação permanente em defesa das áreasverdes em torno da cidade, através da

    constituição de uma Reserva da Biosfera.Em processo iniciado pela reivindicação de150 mil pessoas, a Organização das NaçõesUnidas para a Educação, a Ciência e a Cultura(UNESCO) credenciou a existência da Reservada Biosfera do Cinturão Verde da cidade deSão Paulo (RBCV), em 1994.

    A RBCV necessitava de estratégias parapromover o uso sustentado dos recursos.E o PJ-MAIS foi trazido para o âmbito daReserva como seu primeiro instrumento degestão. Sua proposta é de uma profundaação transformadora. Com o tempo, novos

    instrumentos de gestão foram sendoincorporados a RBCV, como a avaliaçãoecossistêmica do milênio, o estímulo àcriação e aprimoramento da gestão dasunidades de conservação e a criação deum Grupo de Trabalho com as prefeituras,para formação de agenda comum. Esteconjunto de instrumentos integram ações detransformação de ampla abrangência.

    As ações estratégicas do PJ-MAIS precisam considerar as oportunidades criadas pelas outrasações da RBCV a para formação e trabalho dos jovens. Os projetos dos alunos do PJ precisam sebeneficiar das oportunidades dessas ações da RBCV.

    Assim, o impacto do projeto não se restringe aos dois anos em que o estudante está formalmentesendo capacitado, mas, principalmente quando se integra ao mercado de trabalho. Isto evidenciaa importância que cada Núcleo precisa dar à questão da ecoprofissionalização e do ecomercadode trabalho. Trata-se de desenvolver a capacidade empreendedora dos jovens e de estabelecerparcerias com o setor público e privado local para engajar os jovens nas ações previstas oupropostas especialmente para eles nestas instituições.

    A iniciativa da AHPCE - Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica dedesenvolver este guia vem atender uma das maiores necessidades do Programa, que é a deorganizar as informações sobre os diversos núcleos, incentivar a busca de autonomia financeira,o planejamento e monitoramento dos trabalhos, produzindo paralelamente indicadores dedesempenho. Esta publicação dá início, assim, a uma nova fase do PJ associando técnicas deplanejamento à sua gestão. Muito sucesso a todos!

    Yara M. Chagas de CarvalhoPresidente do Conselho

    Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de São PauloGestão 2014-2015

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    A história do novo Instituto Auá deEmpreendedorismo Socioambientalnasce com a AHPCE – Associação Holísticade Participação Comunitária Ecológica,enraizada na prática de formação de jovensno contexto da Reserva da Biosfera doCinturão Verde de São Paulo (RBCV).

    Uma metodologia pioneira de formaçãointegral do ser humano, desenvolvida pelaagrônoma Ondalva Serrano, dá início aoPrograma de Jovens da RBCV, em 1996,com apoio da UNESCO, e origina a própriaAHPCE, que seria a instituição parceira

    entre o governo do Estado e os organismosinternacionais, garantindo a continuidadeda iniciativa.

    A entidade plantou as sementes damobilização e participação, e teve seu nomedefinido pelo conceito “comunitário”, combase nas comunidades dos 78 municípiosdo Cinturão Verde, e “ecológico”, com a

    visão de que todos os processos devem serviáveis ambientalmente.

    Naturalmente, a linha de agroecologiatambém tomou corpo na ONG, visandoa sustentabilidade dos processosprodutivos e o envolvimento com políticassocioambientais. E em 18 anos a instituiçãopassou por importantes momentosde crescimento, envolvendo-se com acondução de programas como a Rotado Cambuci, o Ângela de Cara Limpa, oProjeto Escolinha do Futuro ou a Avaliaçãodos Serviços Ecossistêmicos da RBCV.

    Em 2013, a ONG passa por um amploprocesso de reestruturação organizacional,redefinindo seu propósito, valores,princípios e formas de atuação. Define-se este propósito como a busca pelodesenvolvimento do potencial humanoe o fortalecimento de empreendimentossocioambientais para a su stentabilidade.

    As frentes de atuação orientam-se para educação, agroecologia, arte e cultura, resíduos sólidos,ciência e tecnologia, ocupação sustentável, economia solidária e conservação ambiental.

    E em 2014, a entidade muda de nome, marca e identidade visual, passando a se chamar InstitutoAuá de Empreendedorismo Socioambiental, em referência ao tupi “Auá” que significa gente esua diversidade.

    Para atingir novas realidades e produzir transformações mais amplas, a organização passaa impulsionar empreendimentos socioambientais, a partir de um modelo organizacionaldescentralizado. E a difundir conhecimentos sistematizados em materiais próprios, do qual esteGuia é um importante fruto. Você está convidado a conhecer o Instituto Auá e navegar por nossafrente de educação por meio da leitura do Guia “Desenvolvimento Local nas Mãos da Juventude”

    Bely Pires

    Diretora GeralInstituto AUÁ de Empreendedorismo Socioambiental

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    ONDALVA SERRANO

    No processo construtor de nossaestrutura corporal, orgânica e energética,observamos a consolidação do potencialhumano em todas as etapas da vida: daconcepção, gestação e nascimento até orico processo de formação do indivíduo nainfância, pré-adolescência, adolescência,

     juventude, maturidade e velhice. Em todosesses momentos, vamos nos habilitando aconhecer e a gerenciar nosso potencial deação e decisão.

    O momento da adolescência, geralmentena fase em que os jovens entram noensino médio, é de intenso processo de

    transformação fisiológica e funcional,exigindo muita atenção e cuidadopara que se possa orientar os jovensde modo respeitoso, observando suascaracterísticas individuais, no momentode maior metamorfose física, energética ecomportamental.

    Desenvolver um programa de convivência,num espaço educador saudável erespeitoso, com atividades práticas etambém reflexivas, levando em contaos processos produtivos e de serviçosnecessários ao atendimento de demandasessenciais à vida em nossa sociedade, foi abase primordial da construção da propostado PJ-MAIS.

    Partimos da percepção de que: é a partir daconvivência interativa que o ser humanoaprende a conhecer sua realidade interna eexterna, e que há quatro saberes essenciaisà vida coletiva:

    - Conviver comigo para me conhecer esaber me administrar;

    - Conviver com o outro para conhecer ooutro e assim poder conhecer um poucomais de mim mesmo, nesse processointerativo;

    - Conviver com a família e a sociedade local, comunitária, permite conhecer as regras que regem enorteiam nossa vida em sociedade, com seus conceitos, valores e princípios;

    - Conviver com a natureza, para entender as leis que regem a vida em todas as suas dimensõese poder aprender a tomar decisões em respeito a essas leis ambientais, que com sua ciclagem,condicionam a continuidade da vida de todas as espécies no planeta Terra.

    Deste modo, o processo educador integral da pessoa a torna capaz de revelar ao longo de sua vida,todo seu potencial de ser, saber, fazer, ter, empreender. Essa educação se resume na conduçãodo aprendizado em condições saudáveis, afetivas e responsáveis, enforcando a autoformação, aheteroformação, e a ecoformação (social e ambiental), que capacitam para a vida pessoal, familiar,profissional e social do ser.

    Em síntese, a rica experiência do Projeto Piloto de 1996 até os dias atuais, sempre renovado pornovas equipes, leva à seguinte mensagem: somos consequência e resultado de nossas vivênciase múltiplas oportunidades de convivências que constroem nossa capacidade de ler o mundo

    externo e nosso mundo interior; o mundo do corpo e da alma, que pensa, sente e deseja, podepassar por um processo de aprendizado que permite harmonizar e gerenciar todos esses aspectos,compondo um Eu Consciente, capaz de se sobrepor a todos os demais impulsos internos e externose fazer despertar nossa espiritualidade interior.

    Ondalva Serrano

    Responsável pela concepção da metodologia do PJ-MAIS e membro da AHPCE

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Agradecimentos

    Nestes 18 anos de história, é quaseimpossível contemplarmos todas aspessoas envolvidas. Faremos aqui umexercício de memória e resgate, e já nosdesculpamos pela não recordação dealgumas pessoas, mas com a certeza deque seremos perdoados por isso.

    Tem pessoas dentro da história doPrograma que queremos agradecer comum pouco mais de ênfase, devido aoseu envolvimento intenso nas ações eestratégias da iniciativa.

    A primeira delas é Ondalva Serrano, com

    certeza sem ela o Programa não teria sidocriado, nem teria transformado tantasvidas. Sua contribuição e participação vaimuito além dos aspectos metodológicosdo Programa, vai na direção da inspiraçã o,comprometimento, dedicação e amor aoser humano.

    Ao Rodrigo Victor, que se envolveu de corpoe alma nas atividades do Programa, e nãomediu esforços para que este ampliassesua abrangência.

    À Vanessa Cordeiro, que por mais de11 anos participou da coordenação doPrograma, e se dedicou com muito amor eresponsabilidade às atividades.

    À Bely Pires, pela participação no Programadesde os seus primeiros anos, e peladedicação com que apoiou as atividades efomentou suas ações.

    Agradecemos muito aos entrevistados dapublicação que permitiram contar essahistória em detalhes. E não podemos deixarde agradecer e homenagear todos os jovensque fizeram parte do PJ-MAIS.

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    COMO USAR SUMÁRIO

    Esta publicação pode ser usada de duas formas: como um livro

    para interessados em conhecer processos educativos parao desenvolvimento de base local, especialmente voltado à

     juventude; e como um guia para aqueles que se interessam emimplantar o Programa de Jovens em seu município.

    Os capítulos são apresentados visando a compreensão panorâmicado tema até o foco na realidade local:

    I - Caminhos para Transformações Locais – discute o contextoda RBCV, do jovem, da sustentabilidade, do ecomercado e dodesenvolvimento de base local;

    II - Formando o Ser Humano Integral – aprofunda a metodologiado PJ-MAIS;

    III - Agora é a Sua Vez – orienta a estruturação do Núcleo segundoa metodologia, na forma de um passo a passo.

    Todo o material é acompanhado de Boxes explicativos(detalhandoo conteúdo), Histórias (sobre a prática nos municípios),Dicas (associadas ao texto)e Curiosidades (para aprofundamentono tema).

    Vamos em frente!

    I – CAMINHO PARA TRANSFORMAÇÕES LOCAIS ......................... ............... .. 16A Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo ................ 18Um pouco de história ......................................................................................................... 24A Rede ........................................................................................................................................ 28O Jovem ..................................................................................................................................... 30

    Sociedades Sustentáveis ..................................................................................................... 34O Ecomercado ......................................................................................................................... 38Desenvolvimento real ...........................................................................................................  44

    II – FORMANDO O SER HUMANO INTEGRAL ................ .............. ............... .... 48Hora de descobertas ............................................................................................................ 52Jovem educa jovem ............................................................................................................. 58O mundo é uma sala de aula ........................................................................................ 62Ecomercado para o desenvolvimento local ................................................................ 66

    III - AGORA É A SUA VEZ .............. ............... ............... .............. ............... ............... 70Capacitação das E quipes Locais ........................................................................................ 74O perfil educador ................................................................................................................... 78Articulação local e parcerias ................................................................................................ 82Mobilização de recursos ........................................................................................................ 84Diagnóstico Local .................................................................................................................. 88

    Projeto do Núcleo Local ........................................................................................................ 90Processo seletivo ..................................................................................................................... 100As oficinas .................................................................................................................................. 102Avaliações ................................................................................................................................... 114

    III - SAIBA MAIS ............................................................................................................ 118

    III - AGRADECIMENTOS FINAIS ................................................................................ 122

    III - MEMÓRIAS EM FOTO ........................................................................................... 128

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    CAMINHO PARATRANSFORMAÇÕES

    LOCAIS

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    A Reserva da Biosfera do Cinturão Verdeda Cidade de São Paulo

    Por que o Programa de Jovens nasceu na Reservada Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de SãoPaulo? Ou como as características desse territórioinfluenciaram no desenho do programa? Sempreque falarmos dos principais conceitos doPrograma de Jovens, devemos ter em mente obioma Mata Atlântica e sua relação com a regiãomais urbanizada e populosa do país. A criaçãoda Reserva da Biosfera do Cinturão Verde de SãoPaulo (RBCV) foi a resposta à busca por integraressas duas realidades.

    Para conhecer a história do PJ-MAIS, precisamosentender melhor os princípios de uma Reservada Biosfera e como essas áreas protegidas podemser uma oportunidade para o desenvolvimentosustentável. Reservas da Biosfera existem parapromover uma convivência harmônica entre oser humano e seu meio, e por isso fazem parte doPrograma MaB – Homem e Biosfera, da UNESCO.A formação integral dos jovens está diretamenteligada ao ideal de envolvimento da sociedadecom a conservação de seu patrimônio ambiental.

    Em meados da década de 1970, quandoo Programa MaB foi criado, já existia acompreensão no mundo de que áreas naturaisrelevantes deveriam ser protegidas para o futuro.

    Mas não como parques fechados, e sim como“laboratórios”de experiências que combinassema conservação dos ecossistemas com odesenvolvimento econômico, humano e científico.

    Essas são as funções das Reservas da Biosferaaté hoje, as quais estão presentes em regiõestão diferentes como o Ártico, os desertos ou asflorestas tropicais, e formam um conjunto de627 reservas no planeta (2014). No Brasil, há seteReservas da Biosfera, cobrindo 19% do territórionacional, e compreendendo a proteção de nossosprincipais biomas.

    Diferente de outros países, aqui inauguramosum novo paradigma de áreas protegidas,criando Reservas da Biosfera na mesma escalados grandes biomas, ou seja, abrangendo todoo domínio da Mata Atlântica, do Pantanal ouda Caatinga, e permitindo sua conservação

    articulada. A Reserva da Biosfera do CinturãoVerde de São Paulo, na Mata Atlântica, tambémrepresentou um passo inovador, pois abraçoua mancha urbana da quinta maior metrópoledo mundo, com o objetivo de fazer a gestãointegrada das cidades com os ecossistemas.

    Tudo começou com um movimento popularcontra a construção da rodovia Perimetral

    Metropolitana, no entorno deSão Paulo, o qual reivindicavaa maior participação dasociedade na gestão do seuterritório. Era início dos anos1990, e este movimentoconseguiu coletar até 150mil assinaturas, solicitandoque fosse declarada umaReserva da Biosfera sobreos remanescentes de MataAtlântica que cercavam aregião metropolitana. Valelembrar a situação únicado Cinturão Verde de SãoPaulo, que apesar do enormecrescimento urbano, aindamantém florestas nativas e é afonte dos serviços ambientais

    que sustentam o bem-estarda população, tais como clima,água, alimentação, cultura,turismo, entre tantos outros.

    A RBCV foi decretada em1994 e incluiu as regiõesmetropolitanas de São Pauloe da Baixada Santista, algo

     S e r v i ç o s  a m b i

     e n t a i s  s ão  p roc

    e s so s  ge r ado s 

     pe l a   p ró p r i a   n

     a t u re z a   po r   m

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    o m  a   n a l id ade

     de  s u s te n t a r 

     a  v id a  n a  Te r r

     a.  S ão o s  re s p

    o n s á ve i s  pe l a 

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     s,   se me n te s,  co m b u s t í ve

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     se r v iço s.

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    até então inédito numa área dessetipo. Possuía 1,7 milhões de hectaresquando foi criada, e hoje contém2 milhões e 100 mil hectares, dosquais 600 mil são áreas de vegetação,além de abrigar cerca de 24 milhõesde habitantes e quase 20% doPIB brasileiro, em apenas 0,2% doterritório nacional.

    Seu grande desafio é articulara proteção da biodiversidade,incluindo a recuperação das áreasnaturais, com o desenvolvimentoda maior economia do país ea complexa relação entre asinstituições, as políticas públicas eas pessoas. Devemos lembrar que oCinturão Verde mantém as cabeceirasde todo o sistema de abastecimentode água da região metropolitana,ou que a Serra do Mar e aMantiqueira estão entre as 78 regiõesconsideradas insubstituíveis nomundo em termos de biodiversidade,ao lado de Galápagos ou deMartinica (IUCN). Por outro lado, aRBCV abriga altos índices de exclusão

    social, reforçados pela degradaçãoambiental, e cidades como SãoPaulo apresentam sinais claros dosimpactos do aquecimento global,tendo assistido a um aumento detemperatura média de até 2ºC noúltimos 70 anos (IAG-USP).

    Apesar de não impor restriçõesdiretas ao uso do território,a RBCV é reconhecida peloSistema Nacional de Unidadesde Conservação (SNUC), e podereforçar legislações locais, comoo papel de influência em políticasambientais em áreas de interesseespecial que vem exercendo. Os78 municípios compreendidos

    pela RBCV (ver mapa ao lado) contam com a Reserva da Biosferatanto em ações de pesquisae monitoramento, quanto noapoio à políticas públicas e,principalmente, em iniciativaseducacionais, entre as quaiso Programa de Jovens MeioAmbiente e Integração Social é aprincipal e mais antiga ação.

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    UM POUCO DE HISTÓRIA

    Quase duas décadas se passaram desde aprimeira experiência de formação de jovensna RBCV e o amadurecimento dessa propostacomo um modelo para ser replicado emdiferentes municípios e até biomas. A construção

    metodológica do programa ampara-se emreferencial teórico ligado à compreensão sistêmicae transdisciplinar do conhecimento humano.

    Mas sua origem também está enraizada naexperiência profissional da ambientalistaOndalva Serrano, responsável pela concepçãodo método de educação integral da juventude,dentro do contexto da RBCV. Vários caminhoslevaram à elaboração da proposta do PJ-MAIS,que visa trabalhar o jovem em sua integridade,capacitando-o a pensar, refletir e tomar decisõeséticas, mas a relação com o universo rural, baseadano convívio direto com a natureza, tambéminfluenciou fortemente na estrutura do programa.

    Com formação em agronomia, Ondalva atuounas Escolas Famílias Agrícolas, presentes emtodo o país, e foi responsável pela EscolaAgrícola Municipal do Goianã em São Roque,onde as crianças do ensino fundamental

    vivenciavam técnicas de cultivo orgânico,colheita e produção agroindustrial artesanal,antes que a Organização das Nações Unidas paraAgricultura e Alimentação (FAO) fizesse o convitepara a implantação de um curso de “PráticasAgroflorestais e Participação Juvenil”, em 1992,no Estado de São Paulo. Em 1994, a UNESCOdecretaria a criação da Reserva da Biosfera doCinturão Verde, e o primeiro piloto do Programade Jovens aconteceu em 1996, na EstaçãoExperimental do Instituto Agronômico de SãoRoque, sob a coordenação da RBCV, com sede noInstituto Florestal em São Paulo e com recursos eapoio da agência da UNESCO em Paris.

    Apesar de ainda estar numa fase “laboratorial”,o programa – baseado inicialmente naPedagogia da Alternância das Escolas FamíliasAgrícolas, que enfocam as vivências do

    aluno na realidade do campo e nos ritmos danatureza – envolveu a formação de 40 jovensdo ensino médio para o ecomercado detrabalho.

    Ao longo dos anos, várias fases deaprimoramento tiveram lugar na experiênciaconcreta, marcadas principalmente peloperíodo entre 2000 e 2004, com recursos daFundação Ted Turner, que possibilitaram aexpansão do PJ-MAIS para seis Núcleos deEducação Ecoprofissional – em Guarulhos,Santos, São Bernardo do Campo, São Roque,Cotia e Paranapiacaba – dando origem à redede mobilização do programa. A partir de

    2004, a iniciativa ampliou-se ainda mais com avivência prática dos alunos em monitorias nosmunicípios, com a entrada de Cotia na rede e,em 2006, com aportes de recursos do BancoMundial, a rede consolidou-se abrangendonovas cidades. Somados, esses Núcleosatingiram 17 municípios da região do CinturãoVerde, até 2014.

    - Mais de 20 núcleosimplantados em 17cidades;

    - Mais de 2,5 mil jovensformados; mais de 15 milfamiliares, professores e

    colegas envolvidos;

    - Mais de 500 mil pessoasimpactadas pelas

    ações na comunidade,escolas, seminários,

    eventos, oficinas,

    monitorias, atividadesde educação ambiental,

    reflorestamentos,recuperação de áreas,

    etc.

    O PROGRAMA EMNÚMEROS

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    É importante destacar como o nascimento do Programa de Jovenstambém esteve ligado à criação de uma instituição de terceirosetor, para ser o elo de relacionamento entre os municípios, oGoverno do Estado, e os organismos internacionais, a exemplo daUNESCO, que responde pelas Reservas da Biosfera a nível global. A

    Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE)foi fundada em 1996 e formalizada em 1997 (no mesmo ano deestreia do programa), com a função organizacional de manter oprograma apesar dos ciclos políticos, garantindo ainda os princípiosque norteiam uma iniciativa dessa natureza, mais ampla que umprograma de um só governo.

    Finalmente, o Programa de Jovens consolida-se como uma dascontribuições mais significativas da Reserva da Biosfera para apreservação de áreas críticas com a participação das sociedadesnelas presentes. Para além da formação integral do ser humano,possibilita também o desenvolvimento de base local, com ageração de renda e o envolvimento das famílias desses jovens natransformação de sua realidade.

     Em quase duas décadas, o programa foi selecionado pela UNESCOentre as quase 400 outras Reservas da Biosfera do mundo, em2000, para receber financiamento das Nações Unidas, e ganhouo primeiro lugar, em 2001, como melhor projeto em Reservas daBiosfera da América Latina e Caribe, em concurso da UNESCO.Venceu ainda o concurso internacional Development Marketplace,do Banco Mundial, em 2005, entre os 30 projetos, de 2,7 milconcorrentes, com experiências de educação relevantes.

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    A REDE

    O conceito de rede é aquele que permite àspessoas trabalharem de forma interligada eao mesmo tempo independente, como os nósde uma grande trama. Da mesma forma, cadamunicípio do Programa de Jovens é um elo da

    estrutura coletiva, e para implantar um Núcleo deEducação Ecoprofissional é preciso ter em menteeste modo descentralizado e participativo defuncionar. Essa estrutura garantirá a manutençãoda iniciativa no longo prazo, com a diversidade deatores e potencialidades inspirando a qualidadedo trabalho e a coesão do programa.

    A Rede do Programa de Jovens nasceu paradifundir os procedimentos implementados emcada município e, da mesma forma, aglutinar osnovos Núcleos num só sistema de gestão. Assim,os interessados em ingressar na Rede do PJ-MAIScontam com uma contextualização da propostametodológica em sua realidade (educativa,

    socioambiental e institucional), para só entãoconceberem e conduzirem a estruturação donovo Núcleo.

    Esse “senso de coletividade” acontece em váriosmomentos, principalmente nas reuniões eencontros da rede, em que se discutem e validamos direcionamentos e decisões sobre as ações

    dos Núcleos em seus municípios. Por ser amaior instância de decisão do PJ-MAIS, a redetambém significa muito para os jovens, que têmnos encontros uma rara oportunidade de seconhecerem, interagirem e se sentirem incluídos

    em algo maior do que seu Núcleo.

    O funcionamento em rede é um procedimentofundamental, transformando a equipe local emcorresponsável pelo sucesso do programa, aomesmo tempo em que há um enraizamentodos princípios no Núcleo, dentro de suas reaispossibilidades e necessidades. Para isso, aequipe técnica local deve se envolver desde oinício nos diagnósticos e na caracterização dasproblemáticas (educativas, sociais, ambientais)que serão solucionadas com o programa.

    Dentro da Rede, os Núcleos já chegaram a sesub-dividir em bases regionais, com equipes

    próprias na regional Norte (sede em Guarulhos),regional Sudeste (sede em São Bernardo doCampo) e regional Sudoeste (sede em Embu-Guaçu), mas a indisponibilidade de recursoslevou à redução gradativa no número de Núcleose essa organização.

    A partir de um calendário comum, atualmente,os membros comprometem-se a participar

    “  A   R  e  d  e   d o   P  r o  g  r  a  m  a   d  e   J o v  e  n  s   p  r o  m o v  e   a  r t  i  c  u  l a  ç  ã o   e  n t  r  e  o  s   N  ú  c  l e o  s   e   p o  d  e   s  e  r  

     u  m  a  o  p o  r t  u  n  i  d  a  d  e   p  a  r  a  o  f  e  r t  a  s   d  e  t  r  a  b  a  l h o  p  a  r  a   j o v  e  n  s   d  e   d  i  f  e  r  e  n t  e  s   m  u  n  i  c  í  p  i o  s ” 

    de reuniões periódicas decapacitação, encontro de técnicose de estudantes monitores, daatividade de Turismo Irmanado (vercapítulo IV), do seminário sobre

    ecomercado em cada região, e deoutras práticas.

    A Rede do Programa de Jovens étambém uma estratégia de formaçãode ecoprofissionais, criação deecoempreendimentos e ampliaçãodas oportunidades de trabalho, coma constante troca de informaçõesentre as equipes técnicas dosNúcleos. O diálogo torna possívelrefletir sobre as vivências locaise, a partir de experiênciascompartilhadas, desenvolvermudanças para adaptação às suas

    condições específicas. Assim, cadaNúcleo apoia-se reciprocamente,conduzindo combinações própriasde vivências de interação e módulosde formação.

    As informações sobre o Programade Jovens, reunidas numa

    mesma plataforma, oferecem o referencial para quem desejatrabalhar de acordo com sua realidade. Elas vão desde osprocedimentos necessários à implantação, as orientações paraformar estudantes monitores, até instrumentais pedagógicos emetodológicos, as propostas de conteúdos programáticos e suaaplicação, todos para uso na rede.

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O JOVEM

    Cada município do Cinturão Verdepossui “cara” própria e a caracterizaçãode suas necessidades básicas condicionatodo o processo de criação do Núcleolocal, com seus profissionais e conteúdos

    particulares. Em comum, todos contamcom os jovens entre 14 e 21 anos,prioritariamente cursando o ensinomédio na rede pública, para as oficinase vivências, visando o desenvolvimentode suas competências e a consequenteinfluência em sua comunidade.

    Todos esses jovens vivem a mesmasituação característica das zonasperiurbanas das regiões metropolitanas,representada pelo processo de exclusãoe desigualdade social da população.São eles os que mais sofrem os efeitosdo desemprego e da desestruturação

    familiar, além dos problemas degravidez precoce, tráfico de drogase violência, causados pela falta deopções de educação e cultura. Tamanhavulnerabilidade social ocorre justamenteno momento em que experimentam aformação de sua identidade, valores epotenciais como ser humano.

    O Programa de Jovens atua então no fomento à formaçãointegral e sua expressão de potenciais humanos, incluindo asperspectivas de trabalho ético que garantam sua necessidadede sustentação econômica, diante da situação de risco socialem que vive. Primeiro, o programa parte do princípio de que os

     jovens são fortes agentes mobilizadores, com grande potencialde transformação de seu entorno, podendo articular e levarinformações para mais pessoas.

    Mais do que a aquisição de conhecimentos técnicose profissionais, estamos falando da experiência deautoconhecimento e da descoberta de seus próprios donse habilidades, que possam se transformar em competênciaspara verdadeiros processos sustentáveis. Assim, o Programade Jovens também visa a realização do pleno potencialhumano dos adolescentes, mudando sua relação consigomesmo, com seu próximo e com seu meio ambiente. Aorespeitar vocações, o jovem pode desenvolver sua vidaprofissional, tomando decisões que alinhem o “querer fazer”com o “dever fazer”, contribuindo com trabalhos para um

    mundo mais justo e sustentável.

    O PJ-MAIS acredita que a fase de vida do adolescente é decisiva nadefinição de seu futuro como cidadão e, por isso, o momento chavepara se formar como um ecoprofissional. Por esse conceito, qualquercampo da atividade humana, seja nas artes, na cultura, nas ciênciasou nos processos produtivos, pode ser conduzido por profissionais,dessas áreas, que tenham um olhar crítico, ético e afetuoso.

    Você sabia queuma pesquisa

    sobre novidadesna educação

    mostrou que 65%dos jovens de hoje

    terão empregos queainda não foram

    inventados? São aschamadas profissõesdo futuro, como por

    exemplo: especialistaem sustentabilidade,

    gerente decomunidade ouespecialista em

    conteúdo!

    (fonte: ExamTime).

    O FUTURO DASPROFISSÕES

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Quase 30% da população brasileirapossui entre 14 e 29 anos, e desses, 30%

    abandonaram a escola!

    Ao longo dos anos de existência do Programa de Jovens, épossível notar que nem sempre o adolescente formado pelocurso entra para o chamado ecomercado, mas que todospassam por transformações pessoais que ampliam sua atitudede responsabilidade e seriedade nas relações. Com isso, cresce

    o nível de empregabilidade desses jovens, ao adquiriremmaior habilidade de ler e interpretar a realidade, mas tambéma confiança em sua capacidade de intervir no meio em quevivem.

    No capítulo sobre a metodologia do programa, veremoscomo a formação promove o resgate de valores, levandoao protagonismo e à autonomia desses jovens e,consequentemente, a novas possibilidades de inserção noecomercado de trabalho.

    “ O   j o v  e  m   n  ã o   é  o   ú  n  i  c o  q  u  e   s  e   d  e  s  e  n v o  lv  e  n o   p  r o  g  r  a  m  a  , o   e  d  u  c  a  d o  r   c  r  e  s  c  e   j  u  n t o  , a  p  r  e  n  d  e   a   f o  r  m  a  r   g  r  u  p o  s   e   a  

     c o  n  s t  r  u  i  r  d  e   f o  r  m  a   c o  l a  b o  r  a t  i v  a ” 

    A JUVENTUDE DE HOJE

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    SOCIEDADES SUSTENTÁVEIS

    Todo o esforço realizado por organizaçõesda sociedade civil, grupos sociais e projetosque lutam pela conscientização ambiental dasociedade tem raiz na grave crise do modeloeconômico construído ao longo de nossa

    história. A falência desse sistema já é notávelem situações como a de consumo excessivodos recursos naturais, desmatamento e perdade biodiversidade, urbanização acelerada, eausência de políticas públicas que considerem odesenvolvimento sustentável.

    Ao trabalharmos a sustentabilidade no contextodo Programa de Jovens, é necessário refletirmosantes sobre a herança insustentável querecebemos: tecnologias poluidoras, expansãourbana sem planejamento, falta de qualidadede vida, desperdício e geração descontroladade resíduos, produção agropecuária baseadano uso de agrotóxicos, e enorme desigualdade

    social. São esses os elementos a serem enfrentadosna busca por um mundo mais saudável.

    No caso do Cinturão Verde de São Paulo,caracterizado pela alta urbanização econcentração demográfica, percebe-se maisfortemente a incapacidade de gestão territorial.Dados da Reserva da Biosfera do Cinturão Verde

    mostram que, até 2013, a ocupação urbana naregião metropolitana de São Paulo terá dobrado seforem mantidos os mesmos padrões de crescimento.

    Para fazer frente a esse modelo, são necessárias

    alternativas de desenvolvimento econômico, emque a preocupação socioambiental esteja inseridanas diferentes atividades produtivas. O Programade Jovens surge como estratégia para essedesenvolvimento integrado e pode ser visto comoum programa que transcende “o jovem”, pois suastransformações impactam a sociedade de forma geral.

    Isso implica na criação de uma nova cultura emque as necessidades atuais não comprometam asnecessidades futuras, o que só será alcançado pormeio de uma educação integral do ser humano,que leve em conta o desenvolvimento de suasmúltiplas potencialidades.

    O Programa de Jovens trabalha seu referencialteórico e prático a partir das várias dimensões dasustentabilidade, com o objetivo final de construirsociedades solidárias e sustentáveis.

    Isso compreende transitar por todas as áreas dosaber, usando abordagens transdisciplinares sobreo conhecimento humano. Programas de educaçãopermanente conseguem refletir a ideia de que

    a cooperação , como ocorre entre as espécies na natureza, assegura a continuidade da vida. Essacooperação diz respeito a parcerias e integração entre os setores público, privado e a sociedade civilpara viabilizar políticas voltadas à sustentabilidade.

    Cultura

    Artístico

    Religioso

    Sociológico

    Educacional

    EconômicoLegislativo

    Institucional

    Ambiental

    Tecnológico

    Gerencial

    Político

    Difusor

    Desenvolvimento Local

    DIMENSÕES DASUSTENTABILIDADE

    Tecnologias sustentáveis despertam talento jovem em Parelheiros (SP)

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O Programa de Jovens do Núcleode Parelheiros, extremo sul deSão Paulo, teve um impulsodiferenciado ao conquistarapoio financeiro do FundoEspecial de Meio Ambiente(FEMA) da Secretaria do Verdee Meio Ambiente de São Paulo.Com recursos públicos, o

    Núcleo ganhou característicassingulares, como as aulassobre sistemas agroflorestaispara preservação da Áreade Preservação Permanente(APP) local, profissionais deinstituições públicas altamentecapacitados – da Secretariado Verde, mas também doInstituto Botânico e do Institutode Economia Agricola (IEA) – ea participação direta de umadas fundadoras do PJ-MAIS, aeducadora Ondalva Serrano,que atuou por dois anos e meio

    no (do) Programa de Parelheiros.“Construímos uma históriaúnica, o contato com o meionatural do Centro AnnaLapini, onde fica o Núcleo, ea qualidade dos professoresforam marcantes. A formação

    dos jovens foi tão sólida, quehoje não é possível diferenciarquem é professor e quem éaluno formado”, diz Ondalva.

    E foi a falta de oportunidadesde emprego na região queoriginou uma oficina exclusivaem Parelheiros, a chamadaoficina de Tecnologias

    Socioambientais (TSA),para conhecimentos quepermitissem aos jovens prestarserviços em sua comunidade.Assim, foram empoderadoscomo autônomos em técnicascomo a de captação de águada chuva, compostagem deresíduos orgânicos , produçãode mudas (e composição deagroflorestas), minhocário,sistema de secagem de frutas,entre muitas outras práticassustentáveis. ( as atividades

    de sistemas agroflorestais ouSAF se constituiu em basede trabalho da oficina dePROMAFS)

    A formação em turismocapacitou-os também a recebergrupos no próprio Núcleo,

    multiplicando o conhecimentoacumulado.

    “Muita gente acha a questãoambiental linda, mas só quandocolocamos a mão na massa,cuidamos da planta ou da terra,surge o desejo de preservar”,opina Danielle Gomes, alunaatual do curso. A colega de

    turma, Rayssa Resende, mostraque não é possível falar demeio ambiente sem pensar nofuturo: “para cada quatro coposde água que o paulistano bebe,um vem dos mananciais daregião de Parelheiros. Preservaras APPs é garantir água dequalidade na cidade”, ensinoudurante a monitoria de umgrupo no Núcleo.

    Assim como nos ecossistemas,em que a diversidade é umagarantia de equilíbrio e desistemas sustentáveis nolongo prazo, as sociedades

    sustentáveis tambémvalorizam as comunidadeslocais e suas diferenças.Levam em conta os recursosnaturais, mas também ostalentos locais e a cultura decada região.

    Por fim, a educação para asustentabilidade considera anecessidade de mudança depadrões de consumo, com odesenvolvimento de uma novapercepção da vida baseadana simplicidade e não em

    valores materiais. Veremosa seguir como a economiafundamentada no ecomercadode trabalho prioriza aqualidade de vida e a vocaçãonatural das comunidades.

    Tecnologias sustentáveis despertam talento jovem em Parelheiros (SP)

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O ECOMERCADO

    O termo “ecomercado” usado pelo Programa deJovens não significa a segmentação de atividadesdo mercado convencional, sujeitas a forçaseconômicas específicas, e sim um movimentoque busca trazer o bem-estar humano e a

    conservação ambiental para o centro dos setoresprodutivos. Sempre com o compromisso deintervir no meio natural de modo coerente comas leis da natureza , sem destruir sua capacidadede se renovar. É um movimento incipiente eque exige trabalhar a formação e a inserçãode um novo tipo de profissional no mercado,o qual estará exposto às mesmas forças doatual mercado, porém se diferenciando poratuar dentro de princípios de responsabilidadehumana, social e ambiental.

    Existem potenciais oportunidades de trabalhono campo das políticas públicas e das legislaçõesambientais, por exemplo, com a conversão

    de passivos ambientais em possibilidadespara os jovens ou mesmo a geração de postosde trabalho pela compensação de grandesempreendimentos. Mas o ecomercado futurodeve incluir todos os campos de atividades,das ciências à fabricação de novos produtos,importando mais o compromisso e olhar crítico doprofissional com suas possibilidades de atuação.

    Há exemplos mais específicos de trabalhoscom fortes componentes ambientais, como aatuação com ferramentas de demarcação depropriedades rurais, ou assistência a equipesde pesquisa em Planos de Manejo, e até apoios

    locais à fiscalização e monitoramento deUnidades de Conservação. O que caracteriza essetipo de mercado previsto no Programa de Jovensé seu potencial para gerar desenvolvimentolocal, transformando recursos financeiros embenefícios para a sociedade da região em quedeterminado negócio acontece.

    O caminho está em transformar oportunidadesdo mercado convencional em ecoempregos,ou seja, identificar onde estão os fluxos derecursos para que estes se convertam em novosmercados, que consideram a conservaçãoambiental e o bem-estar humanos por princípio.

    A chave para passar de oportunidades virtuaisa um verdadeiro ecomercado de trabalhopassa por aproveitar os profissionais da própriaregião onde estão os recursos, e acima detudo, “institucionalizar” esses mecanismos quepriorizam a população local. Para o diretorda Fundação Florestal, Rodrigo Vitor, essesmecanismos institucionais dependem ainda

     Eco me rcado  pode

      se r  de fn ido  co m

    o

    u m  no vo  ve to r  de  d

    esen vo l v i men to  que

     inco rpo ra de   fo r ma 

     in teg rada aspec tos

    soc ia is,  econô m icos 

    e  a m b ien ta is,  co m

    a t i v idades  q

    ue  ca rac te r iza m 

    co mo

    necessá r ias  pa ra  a   i mp lan t

    ação  do

    desen vo l v i men to sus t

    en tá ve l.

    Inc lu i   todo  se to r  p r

    odu t i vo  de   bens  e 

    se r v iços ú te is e neces

    sá r ios à  v ida e à saúde

     

    dos  se res  hu manos 

    que,   fazendo  uso  e

     mane jo  sus ten tá ve l d

    os  recu rsos na tu ra is,

     

    da  ene rg ia,  p ro mo

     vendo  cond ições  e

     re lações é t icas,  se

    gu ras  e d ignas  de

     t ra ba l ho, po r usa r  tec

    no log ias ap rop r iadas,

     b randas, de  ba i xo  i mpa

    c to soc ia l e a m b ien ta l 

    e m  seu  me io,  se m

      depos ição  de  ene rg i

    as

    e  p rodu tos  po luen tes  e   tó x icos,  g

    e ra m

    opo r tun idades  de  inc

     lusão  da  popu lação

     t ra ba l hado ra e consu m

     ido ra.

    da construção de um plano

    de ecomercado, contendo olevantamento dos recursosfinanceiros e econômicosda região, a perspectivade aplicação destes nodesenvolvimento local e até umacerta “reserva de mercado” paraos jovens do programa.

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    C r i a n d o  m e r c a d o  c o m  t e c n o l o  g i a s  s u s t e n t á v e i s Ne m s e mpr e  e s t e  me r c ad o  l o 

    c al  e s t á  e s t r ut ur ad o  

    e   o r g ani z ad o ,  po d e nd o   nas c e r   d e   i ni c i at i v as 

    d e nt r o   d o   pr ó pr i o   P r o g r ama  d e   J o v e ns .  No 

    Núc l e o  d e  P ar e l he i r o s , e m S ã o  P aul o , a c ar ê nc i a 

    d e   v ag as   d e   t r abal ho   na  r e g i ã o ,  pr o d uz i u  o 

    c ur s o   d e   T e c no l o g i as   S o c i o ambi e nt ai s   ( T S A) , 

    c r i at i v ame nt e   r e al i z ad o   par a  e mpo d e r ar 

    o s    j o v e ns   a  s e r e m  pr e s t ad o r e s   d e   s e r v i ç o s 

    aut ô no mo s  e m s uas  c o muni d ad e s . Ne s t e  c as o ,

    e l e s  pas s am a apr e nd e r  a c o ns t r ui r  t e c no l o g i as 

    q ue   v ã o   d e   s i mpl e s   mi nho c á r i o s   a  c o mpl e x o s 

    s i s t e mas  ag r o f o r e s t ai s  e  d e  c apt aç ã o  d e  á g ua

    d a c huv a.

    “Projetos Demonstrativos de

    Ecomercado” é o nome doprojeto da Reserva da Biosferado Cinturão Verde de São Pauloque teve financiamento doBanco Mundial e conseguiu setornar um modelo na criaçãode empregos para jovens naárea agroflorestal.

    A oficina de Produção eManejo Agrícola e FlorestalSustentáveis (Promafs) sempreofereceu maior potencial parao ecomercado, mas até 2005quase nenhum jovem haviase empregado na área. Nestemesmo ano, o Programa deJovens foi um dos 30 premiados,entre 2,7 mil inscritos, peloBanco Mundial para um projetodemonstrativo (PDA) visandoa implantação de módulos

    florestais que fomentassem o

    mercado local.“O objetivo foi promover ainteração entre o jovem e o setorprivado, num modelo em queeles faziam o reflorestamentode determinada área, porexemplo, e a empresa secomprometia em contratá-los”, conta Rodrigo Vitor, hojediretor da Fundação Florestal.

    Diversos foram os casosconcretos que romperamas barreiras da sala de aula,levando os jovens para a

    prática profissional. Em SantoAndré, criou-se um viveiro deprodução de mudas e umahorta comunitária no Parquedo Pedroso, contabilizando7 hectares reflorestados. São

    Bernardo do Campo kits de

    alimentos orgânicos e umprojeto experimental deneutralização de carbono

     junto à Prefeitura. Diademapromoveu a rearborizaçãourbana e Guarulhos produziumudas para reflorestamentoinédito de áreas dentro dacidade, recompondo 1 hectarede mata.

    Projeto de ecomercado aponta como criar empregos agroflorestais

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    E o que está em jogo na formação para o ecomercado é o conhecimento dosdiferentes atores que influenciam em cada aspecto de um negócio específico,suas expectativas e como planejar a venda de produtos e serviços ao mesmotempo em que se busca alterar a realidade local. Se a mídia busca influenciar aopinião pública e revelar novidades, e o Estado cobra o respeito à legalidade,

    a sociedade civil exige cada vez mais responsabilidade social e ambientaldos negócios, enquanto esses devem manter relações transparentes comfornecedores e clientes. A competitividade é grande, e inclui ainda considerara formação dos preços, os custos envolvidos com transporte, impostos, alémde pesquisa sobre os concorrentes e demandas dos consumidores.

    Na verdade, o conceito de “ecomercado” nasce ligado à demanda da UNESCO,em 1996, de se trabalhar com os jovens visando formá-loscomo ecoprofissionais.

    Como já dito, há inúmeros exemplos de ecomercado em que o jovempode atuar, fornecendo serviços para o poder público, vendendo produtos,atuando em ações da sociedade civil, mas vale dizer que isso inclui: alimentos,mudas, sementes, artesanatos, implantação de viveiros, neutralizaçãode carbono, hortas, atividades turísticas, oficinas, voluntariado, projetos

    socioambientais.O desafio se coloca na necessidade desse jovem assumir vários papeis e naimportância de ter claras as dificuldades de formar o espírito empreendedorpara a geração de renda. O empreendedorismo vai além da abertura de umnegócio próprio, significando mais a posse de meios que viabilizem o acessoa processos produtivos geradores de autonomia. Além disso, é necessáriadisposição para trabalhar em redes ar ticuladas e cooperativas, com novosmodelos de gestão participativa e arranjos sustentáveis.

    DESENVOLVIMENTO REALCubatão mostra pontos fortes do desenvolvimento comunitário

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    DESENVOLVIMENTO REAL

    Vimos que o Programa de Jovens influenciafortemente no empoderamento individual e noecoempreendedorismo dos adolescentes, então é omomento de perguntarmos o quanto esta formaçãoindividual impacta no desenvolvimento local,

    afetando a coletividade como um todo. É inevitávelque a educação do jovem trabalhada de formaintegral produza transformações mais amplas, masdevemos conhecer um pouco mais os princípios dodesenvolvimento de base local e do desenvolvimentosustentável a que o PJ-MAIS se relaciona.

    O desenvolvimento de base local já estevefortemente vinculado aos movimentos popularese à luta pela democracia, nos anos de 1970 e1980. Isso refletiu -se num importante caminhode mobilização e organização comunitária, paraas potencialidades, mais que as fragilidades,existentes em determinado território. Hoje, odesenvolvimento local está vinculado à criação de

    capacidades locais, ou seja, no aumento da articulaçãoe colaboração nas comunidades para formação dochamado capital social. Inevitavelmente, este aumentode conexões levará a conquistas no grupo e aodesenvolvimento coletivo como um todo.

    Pela visão sistêmica, fica ainda mais claro ainseparabilidade do indivíduo em relação ao

    coletivo e vice-versa, já que a parte compreendeo todo, que também contém a parte. Um bomexemplo é a influência que a mudança de hábitosindividuais de consumo pode ter na comunidade,promovendo um ambiente favorável para a

    redução do consumismo de forma geral.Da mesma forma, a permantente interação do

     jovem do PJ-MAIS com sua comunidade e oaprendizado prático, extrapolando a formaçãoem sala de aula, constrói as bases para odesenvolvimento local. Em outras palavras, adescoberta de novos valores e papeis pelo jovemrelaciona-se a processos de inovação social,buscando-se novas soluções para problemassociais, com benefícios para toda a sociedade.

    No entanto, esse desenvolvimento de base localtambém diz respeito ao desenvolvimento sustentávele a visão do programa de que todo crescimento deve

    respeitar os limites de funcionamento da natureza eseus processos. Aliás, o conceito de desenvolvimentosustentável, originado do Relatório Nosso FuturoComum, na década de 1970 - cuja definição está nacapacidade de suprir as necessidades da geraçãoatual, sem comprometer a capacidade de atenderas necessidades das futuras gerações - foi bastantealterado.

    Duas ideias “ecológicas”abriram o caminho para arelação do PJ-MAIS de Cubatãocom a comunidade local, nosbairros-cota da Serra do Mar. Oprofessor da oficina de Promafsem 2009, propos a instalaçãode um um aquecedor solarnuma das casas do bairro, eos vizinhos foram chamadospara ajudar no projeto. Comonão cabiam todos em cima dacaixa d’água, o grupo tambémse dedicou a fazer uma hortano local. “Foram sementespara o relacionamento coma comunidade, o qual sefortaleceu com as monitorias deturismo, em que envolvíamos ospais dos alunos na preparaçãodos lanches dos turistas,revertendo em renda para aprópria comunidade”, conta

    Elaine Gama, coordenadora doNúcleo de Cubatão.

    Em 2012, ela percebeu queessas ações pontuais podiamse transformar num trabalhopermanente com a comunidade

    local pois reforçavam os valoresdos jovens em relação ao meiosocial e ambiental. Tiveraminício então os mutirões deplantio em praça pública, com arevitalização de praças e jardinscom mudas nativas, além de duashortas comunitárias no bairro.

    “Sempre conseguimos convocartodos, famílias, crianças, jovens,e realizar uma palestra inicialmostrando o valor do seu

    meio ambiente, a importânciada Mata Atlântica e o papeldas árvores frutíferas. Nãoficamos mais de seis meses semtrabalhar esse envolvimentocomunitário”, conta.

    Mas o ponto forte do PJ-MAIS em Cubatão tem sido avivência dos estudantes nasescolas, asilos e abrigos locais.Os jovens se tornam monitoresde crianças do ensino infantile do ensino fundamental,ensinam conceitos e valoresnos abrigos onde muitosinclusive residem, e atendemos idosos em cuidados básicoscomo higiene e o caminharcom a cadeira de rodas. “Essa

    vivência na comunidadetransmite a importânciado convívio, do respeito e,principalmente, a ideia de quepodem mudar a realidade aoseu redor”.

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    O conceito de desenvolvimento é bem mais amplo que o de crescimento, incluindo o desenvolvimentohumano, não só sob a ótica de necessidades atendidas, mas em termos de solidariedade com aspessoas e o planeta. Isso inclui nossa capacidade de pensar, agir e fazer escolhas. Para pensadores comoAmartya Sen ou Ignacy Sachs, desenvolvimento é como os recursos gerados pelo crescimento sãousados, levando-se em conta uma vida digna e a participação da vida em comunidade.

    Promover o desenvolvimento sustentável significa harmonizar objetivos sociais, ambientais eeconômicos. Traduzindo para o dia a dia, a sustentabilidade passa pela questão de como gerimosnossos resíduos, nos preocupamos com a poluição, com a economia da água e o desmatamento,mas também como usamos novas tecnologias, melhoramos a qualidade da educação e respeitamosa diversidade cultural, até as políticas públicas que reduzam a desigualdade, ampliem a felicidade, aqualidade de vida e o bem-estar.

    FORMANDO O

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    FORMANDO OSER HUMANO

    INTEGRAL

    FORMANDO O SER HUMANO INTEGRAL

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    FORMANDO O SER HUMANO INTEGRAL

    Alguns aspectos da metodologia do Programade Jovens serão esclarecidos neste capítulo, paracomeçarmos a entender como o adolescentetorna-se autônomo e capaz de interagir comseu meio humano (pois somos um ecossistema

    próprio), ambiental e social. Mas pouco adiantaconhecer esse método, se você não captar aabordagem que enxerga a realidade como umsistema complexo e sem separações entre asdiferentes áreas do saber, ou seja, a realidademúltipla e sistêmica em que vivemos.

    Só é possível conhecer o mundo transitandopelas diversas áreas das ciências, da cultura eaté da espiritualidade, e percebendo que todasas formas de vida dependem das condições dosistema natural. Dispomos de todos os meiosnecessários à vida, mas antes necessitamosaprender a conviver com a natureza. Areconhecer que nossa realidade é dinâmica e

    interdependente, e que todos estão interligadosnuma só teia, regida por leis espontâneas enaturais. Essa interpretação permite construiruma relação sustentável e responsável com oplaneta.

    Apesar de complexa, a visão sistêmica nos fazreconhecer que qualquer criação humana ou

    social pode ser modificada a partir de u maampliação da consciência e do conhecimento.Mais concretamente: ao levar em conta osvários aspectos de uma realidade, absorvendo-acom todos os sentidos e a par tir de diferentes

    perspectivas, é mais fácil vivenciar os diferenteslados de uma situação, comparar, pesquisar,identificar semelhanças e diferenças, paratirar conclusões, e daí se aproximar das leis emecanismos que regem a natureza e a sociedade.

    No contexto do Programa de Jovens, aabordagem sistêmica permite vivênciase experiências que levam ao plenodesenvolvimento das potencialidades inerentesao ser humano, ampliando as possibilidades do

     jovem interagir consigo, com o outro e com seumeio social e natural.

    Com isso, crescem as capacidades de observaçãoe interpretação da realidade, o protagonismoe o empreendedorismo. As oportunidadesde inserção no ecomercado de trabalhotornam-se quase uma consequência dessedesenvolvimento.

    Vale destacar também que a formaçãoecoprofissional parte do entendimento deque a educação é algo universal, amparada

    em legislações que protegem os direitosdo jovem, como o Estatuto da Criança e doAdolescente, o Estatuto da Juventude e a Leide Diretrizes e Bases da Educação. Esta última,além de prever o pleno desenvolvimento do

    educando e sua qualificação para o trabalho,cria o Plano Nacional de Educação, o qualtrata da ampliação da jornada escolar e daeducação integral.

     “ C o m b i n e  v á r i o s  t i p o s

      d e  a t i v i d a d e s

     n a  f o r m a ç ã o  d o  j o v e m ,  s e m p r e  e s t i m u l a n

     d o

     a  a t u a ç ã o  e m  s e u  m e i o  p a r a

      q u e  s e j a  c a p a z

     d e  a l t e r a r  s u a  r e a l i d a d e ” .

    - Constituição Federal de 1988- Estatuto da Criança e do

    Adolescente (ECA), Lei 8.069 de1990

    - Lei Orgânica da AssistênciaSocial (LOAS), Lei 8.742 de 1993

    - Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional (LDB), Lei

    9394 de 1996

    - Programa Mais Educação, doMEC, instituído pela Portaria 17

    de 2007

    - Plano Nacional de Educação(PNE), Lei 10.172, de 2001

    - Compromisso Todos pelaEducação, instituído peloDecreto nº 6.094, de 2007

    LEIS RELACIONADAS À EDUCAÇÃOINTEGRAL NO BRASIL

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Vale lembrar que cada umpossui trajetórias humanassingulares, inicialmenterealizadas dentro da vida emfamília, e mais tarde no convívio

    com a escola, a vizinhançae o mundo do trabalho. Aospoucos, o ser humano vaisomando a cultura familiara outras formas de viver emgrupo. Nessa interação, constróiseus valores e seu caráter,tornando claro o quanto oprocesso de desenvolvimentoocorre durante toda a vida e deacordo com as oportunidadesde vivências, aprendizado eeducação.

    Mas o processo de evolução

    traz consigo entraves quedevem ser enfrentadosno momento em que aaprendizagem acontece,envolvendo as carências,

     julgamentos de valor epreconceitos, medos edesconhecimento dos

    O pr ocesso de v iv er  não se separ ado pr ocesso de apr ender .

    O  Pr og rama  de  Jovens  tr abalha  o apr endizado com base na visão de que:- o ser  

    humano capta impressões do meio usando todos os sentidos- o ser  humano pr ocessa as impr essões,f azendo  análises, compar ações  ededuções, e  adquir indo  conhecimentodas leis natur ais- A  vivência  e  convivência  per mitem  odiálog o consig o, o outr o e a sociedade,levando  ao  desenvolvimento  dasmúltiplas intelig ências- a cultur a local condiciona a constr uçãodo  sab

    er , porém  ao  desenvolver   seuspotenciais,  o  indivíduo  transfor ma  suacultura

    - a tomada de consciência exig e atenção,disciplina  e  estudo  sistemáticos  para  acapacidade de compr eensão.

    mecanismos que regem a vidae até preguiça, acomodação ebaixa auto-estima.

    Com base nisso, osinstrumentais pedagógicos

    do Programa de Jovenscompreendem diferentesmeios e momentos daformação: criação de espaçoseducadores de convívio ético esolidário; dinâmicas de grupo,

     jogos cooperativos e atividadesparticipativas; oficinas práticase reflexivas; visitas técnicas deestudo e pesquisa; exercíciosde monitoria; aulas e palestras;elaboração e apresentaçãode projetos; participação emprojetos socioambientais da

    comunidade (na família, escolae vizinhança); e finalmente,exercícios de inserção nasociedade civil organizada locale no ecomercado de trabalho.

    O curso está divididoem quatro módulos com

    abordagem pedagógicaespecífica: no 1º módulo, o

     jovem aprende a convivercom o universo do espaçoeducador, experimentando

    a ecoformação em relaçãoao meio social e natural; o2º módulo é o momentode se autoconhecer maisprofundamente e fazerescolhas, com foco naautoformação; o 3º módulovolta-se ao convívio como outro, buscando-se orespeito e ampliação da trocade saberes, com foco naheteroformação; o 4º móduloune as três experiências epassa pela reflexão em todosos níveis.

    Os dois anos de formaçãobásica são o tempo ideal decurso, mas os estudantes quedeixarem a programaçãoem menos tempo, recebemcertificado referente aosmódulos que participaram.

    Já os estudantes formados em doisanos, podem continuar atuando noNúcleo por meio da elaboração deum plano de trabalho ou de negócio,voltado ao empreendedorismo. O

    ideal é também que as atividadesocorram cinco dias por semana, comquatro horas diárias, em períodocomplementar à escola, mas háNúcleos que funcionam até comdois dias por semana.

    São vários os perfis de quem ministraaulas no Programa de Jovens,com corpo docente constituídoprincipalmente por técnicos locais(muitos de secretarias municipais),universitários e convidados, amaioria capacitada pela equipe doprograma. E o número de vagas

    por ano costuma ser de 20 a 30por turma, devido ao tratamentopersonalizado necessário aofuncionamento da iniciativa.

    No capítulo IV veremos detalhessobre as oficinas e o currículomínimo obrigatório.

    O jovem do PJ tem um papel de tomador de decisões

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    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Os principais con teúdos curricula

    res

    do PJ-MAIS incluem:

    • Temas rele van tes a tuais

    • Concei tos,  valores e princípio

    s humanos, sociais e

    ambien tais

    • Processos cria ti vos,produ tivos, 

    decisórios e gerenciais

    • Os múl tiplos aprenderes e in t

    eligências humanas

    •  Tecnologias  de  produ tos

      e  de  processos

    sus ten tá veis

    •  Produções  da  ci vilização  hum

    ana:  ar tes,  cul tura,

     loso a,  tradições religiosas, ciê

    ncias e  tecnologias

    • Leis e mecanismos dos ecossis

     temas e da sociedade

    humana,  fren te às ações an trópic

    as e seus impac tos

    • Ins trumen tais,  me todolo

    gias  e  dinâmicas

    par ticipa ti vas

    •  Legislações  municipais  e  polí ticas  públicas  para

    recuperação  ambien tal  e  qualid

    ade  da   vida,  e  o

    direi to de organização e ação so

    cial

    •  Programas e  proje tos  pú

    blicos  de  apoio  e

     nanciamen to à educação e à in

    iciação ao  trabalho

    Essa é a opinião de Vanessa Cordeiro, gestora doPrograma de Jovens pela AHPCE, que coordenoua articulação entre os Núcleos por anos aolongo de sua história. Segundo ela, quandoa comunidade percebe que o jovem tem umpapel e deve ser ouvido pelo poder público,passa a acreditar que o PJ traz benefícios acomunidade local, com efeitos duradouros e

    de longo prazo. “No Núcleo de Morro Grande,

    em Cotia, chegamos a ter fila para inscrição dos jovens, os educadores e técnicos inventaram umprocesso seletivo para dar conta desse interesse.Já no Núcleo de São Bernardo do Campo, os paischegavam a participar das aulas e a contribuir comas oficinas. Lá, jovens da oficina de AgroindústriaArtesanal influenciaram na mudança de cardápioem casa, para uma alimentação mais saudável”,

    lembra Vanessa.

    JOVEM EDUCA JOVEM

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Em permanente construção, a metodologiado Programa de Jovens mantém-se abertae flexível de acordo com a prática adquiridapor cada Núcleo. Como já foi dito, os métodosreproduzem modelos naturais – sistêmicos,

    dinâmicos e integrados com a realidade – eusam instrumentais de rede, como o fluxo e atroca constante de conhecimentos.

    Essa realização coletiva não parte do modeloprofessor-aluno, mas do compromisso coma construção do conhecimento individual,baseada na educação pelo convívio. Os

     jovens encontram-se num momentodelicado de sua etapa de vida, em que devemestabelecer respeito pelos outros e seu meio,responsabilizando-se pelo aprendizadoadquirido e por sua transmissão. Assim,uma etapa fundamental da formação doprograma ocorre no 3º módulo, quando os

    adolescentes passam a educar os colegasrecém aceitos no 1º módulo, assumindo partedo papel que antes cabia ao educador. Comisso, a metodologia do PJ-MAIS visa a criaçãodo respeito e reconhecimento de que todospossuem potenciais diferentes, gerandoaprendizados recíprocos.

    Tal formação reflete no aprender a conviver emsociedade: o jovem passa a respeitar a diversidadede culturas e comunidades e o direito de todosa participar e tomar decisões, reconhecendo oprocesso histórico que condicionou a realidade

    atual e gerou oportunidades de desenvolvimentomaiores para uns e menores a outros.

    No plano individual, o processo de formaçãode consciência acontece numa conversa íntimaconsigo mesmo, em que cada pessoa aprende acoordenar seus centros de tomada de decisão e,principalmente, a fazer escolhas. Entram em j ogo ostrês centros do ser: o querer, o dever e o fazer, nemsempre coerentes entre si.

    Para entender a importância da integração entre ostrês aspectos, basta imaginar uma situação que exijauma escolha imediata. Se o jovem tem o dever deescolher, mas não quer, sente-se frustrado; se querrealizar um desejo, por exemplo, mas não faz algo

    concreto, sente culpa; e caso se omita quando deveassumir algo, sente sofrimento; o sentimento de pazacontece com a sintonia dos três mecanismos nasdiferentes situações. Só a formação da consciênciade si mesmo, do outro e do mundo, permitirá essenível de escolha.

    Os   m ú l t i p lo s   a s

     p ec to s do   s e r 

    s ão

    co ns t r u ídos de  v

    á r ias  ma ne i ras :

     Se r  -  Sa be r

     Se r  –  Fa ze r

     Se r  –  Te r

     Se r  – E m p ree nde

     r

     Se r  –  Pa r t i l ha r/ D

     i f u nd i r

     Se r  –  Ed uca r/  Fac

     i l i ta r

    MECANISMOS DE ESCOLHASE DECISÕES HUMANAS

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Pólo Ecoturístico Caminhos do Mar ganha jovens “altamente qualificados”

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Com a Calçada do Lorena oua Estrada Velha de Santoscomo “sala de aula”, osadolescentes do Programa deJovens do Núcleo Caminhosdo Mar, em São Bernardodo Campo experimentaram

    momentos muito ricos emsua formação pessoal eprofissional. Na verdade, aoficina de Turismo Sustentávelensinou-os conhecimentossobre condução de grupos oumeio ambiente e, já formados,muitos se tornaram monitoresdo programa de visitação dogoverno do Estado, recebendo aformação histórica diretamenteno local de trabalho.

    “Digo que o governo ganhoumonitores altamente qualificados,tanto que o Estado reduziu em doisterços o conteúdo da formação quedava para os monitores no caso dos

     jovens do PJ-MAIS, pois já traziamesse conhecimento. No Núcleo,

    aprendemos a estabelecer comesses adolescentes, que têm umalto nível de questionamento, umprocesso de crescimento conjunto”,conta o arquiteto Carlos HenriqueAndrade de Oliveira, que coordenouo programa ali.

    Ele acredita que hoje estes jovenspodem estar em “qualquer lugar”,recebendo valores condizentescom suas atividades profissionais.Mas lembra que há entraves à

    institucionalização desse tipode programa de formaçãointegral, pois o poderpúblico trabalha de formasegmentada, em diferentessecretarias, e sem articulaçãocom o setor privado.

    “Pode ser que também nãoestejamos nos comunicandobem com a sociedade,colocando-nos no lugardos interlocutores quenão conhecem sobresustentabilidade, paraque nossa mensagem sejainteligível”, reflete.

    O PJ-MAIS durou dez anosem São Bernardo do Campo,desde 1998, contandocom frutos importantes,a exemplo do jovem da

    primeira turma que abriuuma empresa de ecoturismopara visitas monitoradasnas trilhas estruturadas peloprograma.

    g j q

    - Oficinas Básicas

    - Conhecimento da

    sua realidade e

    despertar vocacional

    - Aprofundar as

    oficinas escolhidas

    - Acompanhamento

    na escolha de sua

    atuação

    - Monitoria

    - Criação de Projetos

    de vida, de ação no

    meio e de atuação

    ecoprofissional

    - Monitoria

    - Consolidação das

    competências para

    atuação cidadã e

    ecoprofissional

    O jovem escolhe a(s)

    oficina(s) que deseja

    aprofundar

    1º Módulo 2º Módulo 3º Módulo 4º Módulo

    Torna-se monitor dos

    novos estudantes

    1º Módulo 2º Módulo

    Capacitação para atuar

    com responsabilidade

    A formação acontece ao longo de 2 anos, em 4 Módulos semestrais, nos Núcleos deEducação Ecoprofissional (NEEs), sendo realizada em caráter complementar à educação do ensino médio.

    Módulos do Programa de Jovens

    O MUNDO É UMA SALA DE AULA

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Por ser um programa de formação prática,não haveria sentido manter os estudantesdentro da sala de aula, como se faz na escolacom os alunos durante todas as etapas docurso. O contato com o campo, observando os

    ambientais naturais, os sistemas produtivos e osproblemas do município em que vive, permiteconstruir uma visão transversal da realidade,aproximando várias áreas do conhecimento,não mais divididas em bloco, mas partes de ummesmo universo em transformação.

    As histórias do PJ-MAIS mostram como a uniãoentre teoria e prática influencia na formaçãode cada talento, já que é possível aprender detudo um pouco com os chamados “projetosexperimentais” – desenvolvidos pelos alunos apartir de uma temática de sua região.

    A culinária do município fornece conteúdopara se trabalhar a oficina de Agroindústria

    Artesanal, já os espaços rurais são mundosde relações entre plantas, animais, cultivos ereservas florestais, para a oficina de Produçãoe Manejo Agrícola e Florestal Sustentáveis. Aoficina de Consumo, Lixo e Arte leva à buscapela reutilização dos materiais descartáveis,de origem natural ou industrial, denominados

    de resíduos sólidos, além da importante questãodo consumo consciente, enquanto a oficina deTurismo Sustentável é um passo para a descobertadas potencialidades do local onde se vive,ensinando que toda cidade possui história e

    cultura próprias, com importantes atrativos para oturista.

     “ S a i a  d a  s a l a  d e  a u l a ,

      i n v e n t e  p r o j e t o s

     d e m o n s t r a t i v o s  p a r a  q

     u e  o  t r a b a l h o 

     s e j a  v i s t o  p e l a s  p e s s o a s ,  c r

     i a n d o 

     u m a  ‘ v i t r i n e ’  d o  p r o g r a m a ”

    É quando o jovem realiza amonitoria ambiental, comoparte do currículo do curso, quedescobre na prática o potencial deexpressão de suas habilidades, que

    podem ir do talento de falar empúblico à capacidade de memorizarnomes e informações específicas,o espírito empreendedor ou avocação artística.

    Nesse sentido, o espaçofísico do Núcleo de EducaçãoEcoprofissional ganha importância,por estimular uma nova relaçãocom o espaço, o convívio esentido de responsabilidadee, principalmente, o sensode pertencimento traduzidoem cuidado com o lugar

    do aprendizado. Além dainfraestrutura básica de sala deaula e instalações para as oficinas,o Núcleo deve ser um conjunto deespaços educadores, representadopor estruturas que suportemas atividades pedagógicas eprodutivas com os estudantes.

     “ L e m b r e - s e  d e  f a z e r  o s  j o v e n s  s e n t i r e m

     q u e o  e s p a ç o  d o  N ú c l eo  é  d e l e s ,  c r i a n d o

     u m  s e n s o  d e  p e r t e n c im e n t o  a o  l o c a l”

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    É possível perceber ainda quea metodologia do PJ-MAIS estáfortemente vinculada à educaçãoambiental, com o objetivode transformar a relação dos

    homens com a natureza. Existemdiferentes abordagens de educaçãoambiental, algumas com trabalhosmais objetivos e racionais e outrascom trabalhos mais subjetivos esensíveis, mas todas abordam osvalores humanos, e as atitudes ehábitos em prol do meio ambiente.O que a educação ambiental queré mudar nossa relação com tudo oque é natural e, para isso, algumaspremissas são importantes: oconhecimento de si, do outro edo ambiente onde vivo e convivo.Desta forma todos os aspectos

    da formação integral trabalhamcom as premissas da educaçãoambiental, só que organizadas deuma outra forma.

    A in fraes tru tura de um Núcleo co

    ns ta de:

    - Espaços educadores socioambie

    n tais

    - Ins talações e equipamen tos pa

    ra as o cinas

    - Recursos ma teriais e  

    nanceiros

    - Recursos humanos mul tidisciplinares

    -  Banco  de  dados,  imagens,  in

     formações  e

     tecnologias

    - Sis tema de comunicação dire ta, 

    presencial e

     vir tual

    -  Banco  de  me todologias  e  pr

    ocedimen tos

    par ticipa ti vos

    ECOMERCADO PARA ODESENVOLVIMENTO LOCAL

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    DESENVOLVIMENTO LOCAL NAS MÃOS DA JUVENTUDE

    Guia do Programa de Jovens Meio Ambiente e Integração Social

    Após a ampla formação humana,ambiental e social do jovem, a questãoda inserção no ecomercado de trabalhodeve ser encarada como elementochave do programa, não só por integraro viés econômico ao esforço realizado,como por influir na transformação doterritório e, principalmente, ser umaferramenta de inclusão social. Se oterritório pode ser transformado pormeio de ecoprofissões que viabilizam arecuperação ambiental ou o potencialturístico que evita desmatamentos, ainclusão social ocorre pela possibilidadedo ecomercado trazer o jovem para umnovo patamar de cidadania.

    De uma situação de fragilidade social,violência familiar e isolamento, esse jovempassa a acessar novas oportunidades

    socioeconômicas, avançando de umaposição “à margem”para um novo papelna sociedade a que pertence.

    Pode-se dizer, portanto, que a indicaçãodo sucesso do Programa de Jovens estáligada a três resultados: à melhoria pessoaldo jovem, com o desenvolvimento de

    seu potencial crítico, analítico e de convívio; à evolução doinvestimento nesse jovem traduzida em novas formações,a exemplo do ingresso na universidade; e ao trabalho noecomercado, como etapa fundamental de sua atuação,diferenciada do mercado convencional.

    Antes mesmo do início do curso, na fase do diagnóstico local, é necessário conhecer asnecessidades desse jovem, desde suas expectativas e preferências profissionais até à possibilidadereal de atender a esses interesses. Seja em ecoempregos florestais, seja na liderança de grupos deturistas, ou na abertura do próprio negócio, a qualificação profissional deve estar ligada tanto àsaptidões e preferências do jovem como à viabilidade do mercado (de remuneração, de funçõesexistentes, etc) frente a esse interesse.

    A formação dos adolescentes dependerá da forma com que serão atraídos para o ecomercado, apartir de como se fale sobre as profissões e as diferenças entre os chamados trabalhos “intelectuais”e “braçais”. Isso porque, o baixo interesse pelo trabalho no campo, por ser em geral consideradobraçal, pode se transformar em desejo de atuação do jovem, caso compreenda seu significado parao planejamento territorial ou a recuperação florestal.

    Frente ao ecomercado, está em jogo a própr ia capacidade de planejamento do jovem, comqualificações que vão do conhecimento de