desenvolvimento experimental de um protÓtipo do …

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO CENTRO DE ENGENHARIAS ENGENHARIA MECÂNICA LILIANE FERREIRA ARAÚJO DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO MOTOR STIRLING MODELO ALFA MOSSORÓ RN 2017

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Page 1: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO

CENTRO DE ENGENHARIAS

ENGENHARIA MECÂNICA

LILIANE FERREIRA ARAÚJO

DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO MOTOR

STIRLING MODELO ALFA

MOSSORÓ – RN

2017

Page 2: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

LILIANE FERREIRA ARAÚJO

DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO MOTOR

STIRLING MODELO ALFA

Projeto de conclusão de curso II apresentado à

Universidade Federal Rural do Semi-Árido –

UFERSA, Campus Mossoró, para obtenção do

título de Engenheira Mecânica.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Edson

Nogueira Fraga – UFERSA

MOSSORÓ – RN

2017

Page 3: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

© Todos os direitos estão reservados a Universidade Federal Rural do Semi-Árido. O conteúdo

desta obra é de inteira responsabilidade do (a) autor (a), sendo o mesmo, passível de sanções

administrativas ou penais, caso sejam infringidas as leis que regulamentam a Propriedade

Intelectual, respectivamente, Patentes: Lei n° 9.279/1996 e Direitos Autorais: Lei n°

9.610/1998. O conteúdo desta obra tomar-se-á de domínio público após a data de defesa e

homologação da sua respectiva ata. A mesma poderá servir de base literária para novas

pesquisas, desde que a obra e seu (a) respectivo (a) autor (a) sejam devidamente citados e

mencionados os seus créditos bibliográficos.

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

A658d Araújo, Liliane Ferreira. Desenvolvimento experimental de um protótipo

do motor stirling modelo alfa / Liliane Ferreira

Araújo. - 2017.

69 f. : il.

Orientador: Francisco Edson Nogueira Fraga.

Monografia (graduação) - Universidade Federal

Rural do Semi-árido, Curso de Engenharia

Mecânica, 2017.

1. Motor Stirling Alfa. 2. Avaliação dinâmica.

3. Massa do volante. 4. Taxa de compressão. 5. Combustível. I. Fraga, Francisco Edson

Nogueira, orient. II. Título.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi

desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e

gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA),

sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação

dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e

Programas de Pós-Graduação da Universidade.

Page 4: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

LILIANE FERREIRA ARAÚJO

DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO MOTOR

STIRLING MODELO ALFA

Projeto de conclusão de curso II apresentado à

Universidade Federal Rural do Semi-Árido –

UFERSA, Campus Mossoró, para obtenção do

título de Engenheira Mecânica.

Page 5: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

AGRADECIMENTOS

Aos meus pais Edilson dos Santos Araújo e Dionice Ferreira da Silva, por todo o apoio ao longo

da minha caminhada, e por terem investido e insistido na realização desse sonho.

Ao meu esposo por sua cumplicidade, ajuda, por vibrar nos momentos de conquistas durante o

projeto, por não me deixar desistir de alcançar meus objetivos.

À minha filha, amada, por simplesmente existir e fazer toda a diferença na minha persistência

nessa caminhada.

Ao meu professor orientador Francisco Edson Fraga, por seu auxílio, incentivo e especialmente

orientações.

À universidade pela assistência técnica para realização desse trabalho.

Às minhas irmãs, Luciana Ferreira Araújo e Laura Layane Ferreira Araújo, por todo o apoio e

compreensão.

Aos projetos PET-Mecânica & Energia e Cactus Baja através dos quais pude aprimorar todos

os conhecimentos necessários à minha formação e desenvolvimento do projeto.

Aos meus amigos, Alyne Loise Bezerra de Almeida, Mariana Hellen de Freitas, Jakson Gomes

de Oliveira Júnior, João Lucas Filgueira Nogueira, Tiago Regis de Melo, Antonimar, Paulo

Cezar e Yago Lima Leite por todo o companheirismo e apoio.

Page 6: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

“Mesmo não atingindo o alvo, quem busca e

vence obstáculos, no mínimo fará coisas

admiráveis.”

(José de Alencar)

Page 7: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

RESUMO

Este trabalho trata-se do desenvolvimento experimental de um protótipo didático do

motor Stirling com configuração Alfa, cujos parâmetros dimensionais foram estabelecidos com

base em protótipos já desenvolvidos. A experimentação visa o levantamento de informações

pertinentes, como características construtivas e parâmetros essenciais ao desempenho do motor.

Os principais componentes do protótipo consistem em seringas de vidro de 10 e 20 ml que

atuam como cilindros e pistões necessários à geração do movimento alternativo que é

transformado em movimento rotativo através de um mecanismo biela-manivela. Utiliza ar como

fluido de trabalho. Grande parte dos materiais utilizados na fabricação do mesmo consistem

em componentes reaproveitados que suprem a necessidade para o funcionamento. Através da

construção e análise do protótipo foi possível realizar uma avaliação dinâmica do

comportamento do motor em resposta à diferentes massas do volante, ao aumento da taxa de

compressão e à diferentes combustíveis, como também listar os possíveis problemas

relacionados a erros de fabricação e outras avarias. As principais conclusões obtidas foram a

necessidade de um combustível de alto poder calorífico para um volume elevado de fluido de

trabalho, como também massa da volante maior para obtenção de torque e potência elevadas.

Além disso, o cuidado com as dimensões dos componentes é imprescindível ao funcionamento

do protótipo.

Palavras – Chaves: Motor Stirling, Alfa, Avaliação dinâmica, Massa do volante, Taxa de

compressão, combustível.

Page 8: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

ABSTRACT

This work deals with the experimental development of a didactic prototype of the

Stirling engine with Alpha configuration, whose dimensional parameters were established

based on already developed prototypes. The experimentation aims at the collection of pertinent

information, such as constructive characteristics and parameters essential to the performance of

the engine. The main components of the prototype consist of 10- and 20-ml glass syringes that

act as cylinders and pistons required to generate the reciprocating motion that is turned into

rotary motion through a crank-crank mechanism. Uses air as working fluid. Much of the

materials used in the manufacture of the same consist of reused components that supply the

need for the operation. Through the construction and analysis of the prototype it was possible

to perform a dynamic evaluation of the behavior of the engine in response to different masses

of the flywheel, the increase of the compression ratio and the different fuels, as well as to list

the possible problems related. The main conclusions were the need for a high calorific fuel for

a high volume of working fluid, as well as larger flywheel mass for high torque and power

output. In addition, care with the dimensions of the components is essential to the operation of

the prototype.

Keywords: Engine Stirling, Alfa, Dynamic evaluation, Steering wheel mass, Compression

ratio, fuel.

Page 9: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12

1.1 OBJETIVOS ....................................................................................................................... 13

1.1.1 Objetivo Geral ............................................................................................................... 13

1.1.2 Objetivos Específicos ..................................................................................................... 13

2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................. 14

2.1 MOTOR STIRLING .......................................................................................................... 14

2.1.1 História do motor Stirling ............................................................................................. 14

2.1.2 Componentes do motor Stirling ................................................................................... 16

2.1.2.1 Fonte externa de calor................................................................................................... 17

2.1.2.2 Cilindro de alta temperatura ......................................................................................... 17

2.1.2.3 Cilindro de baixa temperatura ...................................................................................... 18

2.1.2.4 Pistões de compressão e expansão................................................................................ 18

2.1.2.5 Conexão entre os cilindros ........................................................................................... 18

2.1.2.6 Regenerador .................................................................................................................. 19

2.1.2.7 Volante ......................................................................................................................... 19

2.2 FUNCIONAMENTO DO MOTOR STIRLING ................................................................ 19

2.2.1 Princípio de funcionamento do motor ......................................................................... 20

2.2.2 Ciclo Stirling .................................................................................................................. 21

2.2.3 Calor envolvido em cada processo do ciclo Stirling ................................................... 23

2.2.4 Rendimento teórico do motor Stirling ......................................................................... 25

2.3 CONFIGURAÇÕES DO MOTOR STIRLING ................................................................. 26

2.3.1 Alfa .................................................................................................................................. 27

2.3.2 Beta ................................................................................................................................. 28

2.3.3 Gama ............................................................................................................................... 29

2.4 TEOREMA DE SCHMIDT PARA MOTORES STIRLING ALFA ................................. 30

2.5 FLUIDOS DE TRABALHO UTILIZADO EM MOTORES STIRLING ......................... 37

2.6 AVALIAÇÕES EXPERIMENTAIS DE PROTÓTIPOS DO MOTOR ............................ 41

3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL ............................................................................. 45

3.1 FABRICAÇÃO E MONTAGEM ...................................................................................... 45

3.1.1 Protótipo I ...................................................................................................................... 45

3.1.2 Protótipo II ..................................................................................................................... 46

3.2 MECANISMO DE MEDIÇÃO DE TORQUE .................................................................. 52

Page 10: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

3.3 AVALIAÇÃO TEÓRICA DO RENDIMENTO ................................................................ 55

3.4 ETAPA DE TESTES .......................................................................................................... 56

3.4.1 Teste I ............................................................................................................................. 57

3.4.2 Teste II ........................................................................................................................... 58

3.4.3 Teste III .......................................................................................................................... 58

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 59

4.1 SIMULAÇÃO DAS CURVAS DE POTÊNCIA INDICADA E ROTAÇÃO .................. 59

4.2 MEDIDAS DE TORQUE E POTÊNCIA EXPERIMENTAL........................................... 62

4.3 MEDIDAS DE RENDIMENTO ........................................................................................ 64

4.4 POBLEMAS ENCONTRADOS ........................................................................................ 65

4.5 SUGESTÕES DE MELHORIAS ....................................................................................... 66

5. CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 67

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 68

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Primeiro Protótipo do Motor Stirling ........................................................................ 15

Figura 2: Componentes de um motor Stirling .......................................................................... 17

Figura 3: (Esquerda) Diagrama Pressão versus Volume (P x V) e (direita) Diagrama da

Temperatura versus Entropia (T x S) do Ciclo Stirling ............................................................ 22

Figura 4: Motor Stirling – Modelo Alfa e diagrama correspondente da Pressão versus Volume,

(P x V) em cada Processo. ........................................................................................................ 28

Figura 5: Motor Stirling – Modelo Beta ................................................................................... 29

Figura 6: Motor Sitrling – Modelo Gama ................................................................................. 30

Figura 7: Curvas de Desempenho para o Ar, Hélio e Hidrogênio utilizado em Motores Stirling

como Fluido de Trabalho. ......................................................................................................... 38

Figura 8: Protótipo de um Motor Stirling ................................................................................. 41

Figura 9: Protótipo do motor Stirling modelo Gama ................................................................ 42

Figura 10: Protótipo modelo Beta ............................................................................................ 43

Figura 11: Protótipo do motor Stirling modelo Gama .............................................................. 43

Figura 12: Modelagem do protótipo utilizando o Software Siemens NX ................................ 45

Figura 13: Suporte do eixo ....................................................................................................... 47

Figura 14: Dimensões do eixo do motor .................................................................................. 47

Figura 15: Suporte para seringas .............................................................................................. 48

Figura 16: Projeção 2D para as luvas das seringas ................................................................... 48

Figura 17: Suporte das seringas ................................................................................................ 49

Figura 18: Componente para movimento angular da biela ...................................................... 49

Figura 19: Conjunto Biela - Virabrequim ................................................................................ 50

Figura 20: Fixação do volante ao virabrequim ......................................................................... 51

Figura 21: Montagem final do protótipo .................................................................................. 52

Figura 22: Sistema de medição de torque ................................................................................. 53

Figura 23: Componentes do mecanismo de medição de torque ............................................... 54

Figura 24. a) Montagem do mecanismo ................................................................................... 54

Figura 25. b) Montagem do motor com a correia acoplada ao mecanismo.............................. 55

Figura 26: Fluxograma de sequência de testes ......................................................................... 56

Page 12: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Configurações 1x2 (Volante 1xVolante2) ............................................................... 60

Gráfico 2: Configurações 3x4 (Volante 1 x Volante 2)............................................................ 61

Gráfico 3: Configurações 5x6 (Volante 1 x Volante 2)............................................................ 62

Page 13: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Parâmetros utilizados e suas simbologias ................................................................. 32

Tabela 2: Propriedades dos fluidos de trabalho mais utilizados nos motores Stirling ............. 40

Tabela 3: Massas dos Volantes ................................................................................................. 50

Tabela 4: Configurações analisadas ......................................................................................... 57

Tabela 5: Resultados de torque e potência aproximados para as diferentes configurações ..... 63

Tabela 6: Estimativa de Perdas ................................................................................................. 64

Tabela 7: Rendimentos teóricos para os combustíveis analisados ........................................... 64

Tabela 8: Rendimento experimental para cada configuração ................................................... 65

Page 14: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

12

1. INTRODUÇÃO

O motor Stirling desenvolvido por Robert Stirling no século XIX é capaz de transformar

energia térmica oriunda de diversas fontes como, biomassa, solar, carvão ou combustíveis

fósseis, em energia mecânica (SULZBACH, 2010 apud PAUTZ, 2013). Também permite o uso

de diferentes fluidos de trabalho, como ar, hélio e hidrogênio, os quais são selecionados

avaliando-se propriedades específicas de cada uma dessas substâncias.

O fluido de trabalho presente nos cilindros passa por um processo de aquecimento e

resfriamento continuamente, em que a expansão e compressão recorrente dão origem a um ciclo

que por meio de um mecanismo adequado, o virabrequim, transforma o movimento alternativo

dos pistões em movimento de rotação. Dessa forma o motor também pode ser utilizado no

acionamento de qualquer equipamento que necessite desse movimento (PAUTZ, 2013).

Seus componentes consistem basicamente em câmaras quente e fria interligadas por um

regenerador, pistões, mecanismo de conversão do movimento alternativo em movimento

rotativo e volante.

Em virtude das características construtivas e de funcionamento desse motor, decidiu-se

construir e avaliar teórica e experimentalmente o desempenho de um protótipo do motor Stirling

com configuração alfa por meio da obtenção de medidas de rotação, torque, potência e

rendimento do mesmo.

Page 15: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

13

1.1 OBJETIVOS

1.1.1 Objetivo Geral

Desenvolver e analisar experimentalmente um protótipo do motor Stirling modelo alfa

utilizando seringas de vidros como cilindros e pistões.

1.1.2 Objetivos Específicos

Estudar o comportamento dinâmico do motor, alterando-se o volume total de ar, a massa

do volante e o combustível (Álcool 70% e Gasolina) com base nas medidas de rotação,

torque, potência e rendimento aproximados obtidos experimentalmente.

Realizar comparação entre os resultados experimentais e teóricos obtidos através do

teorema de Schmidt.

Page 16: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

14

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 MOTOR STIRLING

Os irmãos James e Robert Stirling criaram em 1815 um novo meio de converter

energia térmica em energia mecânica, tal meio ficou conhecido como mecanismo Stirling, o

qual surgiu devido à busca por uma alternativa mais segura para os motores a vapor

convencionais. O primeiro protótipo do motor foi criado nesse mesmo ano. Teoricamente ele é

capaz de realizar a conversão de energia térmica em energia mecânica com eficiência máxima.

Também é chamado de motor de combustão externa por ter a combustão ou fonte de calor

necessária ao movimento dos pistões fora dos cilindros (CRUZ, 2012).

Além de possuir a capacidade de trabalhar com alta eficiência, emite baixos níveis de

poluentes se comparados aos motores de combustão interna, que são aqueles que utilizam os

próprios gases de combustão como fluido de trabalho, os quais também realizam o processo de

compressão, aumento de temperatura (queima), expansão e exaustão.

Dentre os métodos existentes para o processo de transformação dessas duas formas de

energias, o motor Stirling é dos mais estudados nos últimos anos (PAUTZ,2013).

2.1.1 História do motor Stirling

Por volta do início da revolução industrial, os irmãos Stirling, buscando uma

alternativa mais segura para os motores convencionais da época, desenvolveram um mecanismo

conhecido como Mecanismo de Stirling e construíram um protótipo. A patente original, n°

4081, de Robert foi intitulada de: “Improvements for Diminishing the Consumption of Fuel,

and in Particular an Engine Capable of Being Applied to the Moving (of) Machinery on a

Principle Entirely New – Melhora para Redução do Consumo de Combustível, e em Particular

um Motor Capaz de ser Aplicado ao Movimento de Máquina com um Princípio Completamente

Novo” (PAUTZ,2013).

Robert aplicou a primeira de suas patentes para o Motor Stirling e o Regenerador. O

regenerador se tornou a porção mais importante de sua patente. Este permitia armazenar uma

quantidade de calor em uma das fases do ciclo e devolver a mesma quantidade em outro ponto

do ciclo (DEYÁ; BARRIO, 2014).

Page 17: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

15

Segundo Barros (2005), o motor foi utilizado pela primeira vez em 1818, para bombear

água para uma pedreira.

No motor original de Robert, o calor era gerado por uma fornalha, através da queima

de um combustível, cujos gases de combustão passava através de um canal em direção a um

grande cilindro que contém ar pressurizado, os gases da combustão saem por uma tubulação de

escape. O aquecimento do cilindro devido aos gases de combustão faz com que o ar se expanda

e um pistão de deslocamento em seu interior se mova deslocando o ar alternadamente entre a

região quente e fria do cilindro gerando simultaneamente a potência necessária.

A Figura 1 mostra a geometria do primeiro protótipo do motor criado por Robert.

Figura 1: Primeiro Protótipo do Motor Stirling

Fonte: CONTAR, 2008

Uma das maiores aplicações desse mecanismo foi a construção de uma grande

máquina de duplo efeito, desenvolvida na empresa de seu irmão James Stirling, a qual possuía

duas secções de expansão. A máquina foi capaz de fornecer a energia necessária para a empresa

durante anos, no entanto o material desgastado levou a substituição da máquina por uma a vapor

novamente (DEYÁ, BARRIO, 2014).

O sucesso comercial do motor só foi obtido por volta de 1900, competindo com as

máquinas a vapor para bombear água, porém foi substituído pelos motores de combustão interna

e os motores elétricos (TOLEDANO, 2009).

Em 1930, objetivando a expansão das vendas de rádio para zonas rurais onde não havia

chegado a eletricidade, a empresa Philips resolveu estudar as diferentes alternativas para

fabricação de um gerador de baixa potência. Após uma análise aprofundada, descobriram o

Page 18: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

16

motor Stirling, que além de silencioso e reduzir a interferência com as ondas de rádio também

poderia ser utilizado com uma ampla variedade de fluidos de trabalho. Nessa época o motor já

se encontrava praticamente em desuso (PAUTZ, 2013).

A empresa começou a trabalhar na evolução do motor aplicando novos materiais e

novas tecnologias existentes até o momento. Com isso conseguiram fabricar um pequeno motor

capaz de proporcionar a potência necessária para os rádios e pequenos aparelhos elétricos. No

entanto um problema surgiu quando começaram a comercializar, e uma nova série de rádios

havia começado a ser comercializada e não necessitava de rede elétrica para o seu

funcionamento, foi quando desenvolveram as baterias (TOLEDANO, 2009).

No entanto as pesquisas relacionadas ao motor retornaram devido as suas vantagens e

capacidades diferenciadas. Segundo Sanchez (2011), nos momentos iniciais da guerra os

engenheiros da Philips já aviam superado 10% de resistência em novos protótipos do motor.

Dentre os maiores desenvolvimentos desses motores destacam-se as empresas como a

General Motor 3, que aplicou um gerador Sitrling elétrico a um carro híbrido e outro grande

desenvolvimento se deu graças a NASA que aplicou o motor para mover diretamente veículos

de pequeno porte para fins comerciais. Além disso, atualmente, várias empresas europeias,

norte-americanas, japonesas e chinesas estão se dedicando ao desenvolvimento do motor

Stirling para geração de energia em sistemas terrestres e marítimos (TOLEDANO, 2009).

2.1.2 Componentes do motor Stirling

De modo geral os motores Stirling se caracterizam por apresentarem os mesmos

principais mecanismos para realização de trabalho, o bombeio de calor. No entanto eles podem

ser diferenciados de acordo com a disposição dos pistões, formato, tamanho etc. Tais

mecanismos envolvem componentes que associados realizam o trabalho necessário para

converter a energia térmica proveniente de uma fonte externa de calor, qualquer, em energia

mecânica.

Os componentes principais do motor Stirling são: Fonte externa de calor, cilindro de

alta temperatura, cilindro de baixa temperatura, pistões de expansão e compressão, canal de

conexão entre os cilindros, regenerador e roda de inércia. A Figura 2 mostra os componentes

do motor em um protótipo.

Page 19: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

17

Figura 2: Componentes de um motor Stirling

Fonte: Autoria própria, 2017

2.1.2.1 Fonte externa de calor

A fonte de calor é o componente responsável por iniciar o processo do ciclo Stirling,

pode ser entendido como o combustível do motor, como qualquer outro. Fica localizada ao lado

do cilindro de ar quente, também conhecido como cilindro de alta temperatura. Além de ser o

principal constituinte do motor para realização do trabalho, pode se apresentar de diferentes

formas, possibilitando o uso de diferentes fontes como, energia solar, nuclear, vapor de água,

queima de combustíveis etc. Qualquer tipo de material pode ser utilizado, desde que forneça

calor suficiente para obter uma boa potência (SANCHEZ, 2011).

2.1.2.2 Cilindro de alta temperatura

Este cilindro é o componente que será aquecido constantemente pela fonte de calor

externa, funciona como um trocador de calor cujo aquecimento transfere energia na forma de

calor para o fluido contido fazendo com que se expanda durante o processo. O material

empregado nos cilindros podem variar entre ser metais e vidros que sejam capazes de suportar

elevadas temperaturas (SANCHEZ, 2011).

Page 20: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

18

2.1.2.3 Cilindro de baixa temperatura

O cilindro de baixa temperatura, mais conhecido como cilindro de ar frio, também é

um componente essencial no ciclo Stirling e funciona como um trocador de calor. Pode estar

ligado a uma fonte fria ou somente em contato com o ar do ambiente, de forma que o fluido

presente dentro do cilindro sofra uma redução em sua temperatura ao entrar em contato com as

paredes do mesmo. Além disso, é responsável por tornar o processo um ciclo, em que o

resfriamento do fluido aquecido, fecha o ciclo, tornando o movimento contínuo enquanto

houver aquecimento e resfriamento (SANCHEZ, 2011).

2.1.2.4 Pistões de compressão e expansão

Esses pistões têm a função de levar o fluido de trabalho de uma câmara, ou cilindro,

para outro, de modo que o fluido passe alternadamente pela fonte de calor. Esse movimento é

conseguido mais precisamente pela diferença de temperatura existente no sistema, uma vez que

isso é que faz com que o fluido se expanda e se contraia movimentando os pistões fazendo com

que exerçam o mínimo esforço possível.

O pistão de expansão e o pistão de compressão trabalham conjuntamente de modo a

atingir um mesmo objetivo, fazer com que o fluido de trabalho caminhe de uma câmara para a

outra. O pistão de expansão tem seu nome devido ao primeiro processo realizado sobre o pistão

no cilindro de alta temperatura, a expansão. Já o pistão de compressão, realiza inicialmente o

trabalho de compressão no cilindro de baixa temperatura (SANCHEZ, 2011).

2.1.2.5 Conexão entre os cilindros

A conexão entre os cilindros, ou passagem do fluido é um componente que recebe

diretamente os efeitos ocasionados pelo percurso do fluido dentro do sistema fechado, o qual

envolve o aquecimento e resfriamento. Sua condutividade térmica deve ser suficientemente

baixa para manter a diferença de temperatura entre os dois cilindros, quente e frio. Consiste em

um canal através da qual escoa o fluido quente e o fluido frio alternadamente.

A forma de ligação desse canal com os cilindros é de fundamental importância para o

sistema, tendo em vista que uma má vedação deste componente em conexão com os cilindros,

reduzem a eficiência do motor. Na maioria dos protótipos essa conexão é feita com materiais

metálicos, alguns utilizam também um tipo de polímero adequado (SANCHEZ, 2011).

Page 21: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

19

2.1.2.6 Regenerador

É um componente opcional e pode ser incluso no motor junto com a conexão entre os

cilindros desempenhando funções semelhantes. Consiste em um pacote de lã de aço em que ao

escoar o fluido quente parte de sua energia térmica é deixada, em seguida o fluido frio passa e

absorve esse calor (SOUSA, 2009).

O regenerador também permite que o canal de conexão entre os cilindros execute bem

sua função, de modo que o calor fornecido ao cilindro de alta temperatura não seja transmitido

ao cilindro de ar frio fazendo com que todo o fluido fique a uma mesma temperatura e acabe

reduzindo o desempenho do motor.

Segundo Cruz (2012), o regenerador tem a finalidade de receber e ceder calor ao fluido

de trabalho de modo que haja um aumento da eficiência do ciclo.

2.1.2.7 Volante

A roda de inércia, mais conhecida como volante, é um dos componentes principais do

motor, é parte que torna visível a energia mecânica que foi gerada. O pistão de expansão

transfere energia cinética para a roda, de modo que ao girar auxilia no trabalho que deve ser

realizado pelo pistão de compressão, assim, o ciclo realizado pelo fluido de trabalho se completa

(SANCHEZ, 2011).

Este componente possui elevada importância na análise geral do funcionamento do

motor, possibilitando a análise de inúmeros parâmetros, tais como eficiência do motor, a

quantidade de energia capaz de gerar com base na velocidade do volante, medida em rotações

por minuto, como também o estudo de possíveis aplicações.

2.2 FUNCIONAMENTO DO MOTOR STIRLING

O motor Stirling assim como os motores a combustão interna durante seu

funcionamento descrevem ciclos de potência, no entanto há diferenças entre cada um desses

ciclos. Na termodinâmica existem uma série de ciclos de potência, cuja análise de diferentes

fatores como energia interna, trabalho realizado por um componente, calor liberado em uma

fase do ciclo são essenciais.

Page 22: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

20

Esse motor, diferentemente das máquinas a vapor que usam a água tanto no estado

líquido como gasoso, contém somente gás pressurizado, que pode ser ar, hélio, ou hidrogênio

(PAUTZ, 2013).

Nos motores a combustão interna a potência é gerada pela combustão do gás dentro

dos cilindros, já no motor Stirling, de combustão externa, a potência é gerada somente pelo

aquecimento e resfriamento do fluido de trabalho externamente ao cilindro. Esse fluido é

movimentado da parte fria para a parte quente e vice-versa através de pistões, que ora exercem

trabalho sobre o fluido ora o fluido exerce trabalho sobre eles.

Segundo Cachuté (2006), a mudança de temperatura resulta em uma mudança na

pressão do gás contido no interior do cilindro que em seguida transmite a força gerada pela

pressão ao pistão, este por sua vez, passa essa força ao eixo do volante que avaliamos como a

potência de saída do motor.

2.2.1 Princípio de funcionamento do motor

O princípio de funcionamento do motor Stirling baseia-se em um ciclo fechado, em

que o gás, ou fluido de trabalho fica contido dentro de cilindros nos quais calor é adicionado e

removido do espaço de trabalho através de trocadores de calor (PAUTZ, 2013).

O motor se constitui de fronteiras não bem definidas em que os processos ocorrem em

diferentes regiões. Seu funcionamento ocorre segundo quatro processos físicos básicos;

compressão, aquecimento, expansão e resfriamento, que acontecem continuamente, onde uma

fase se inicia antes do término da fase anterior (CACHUTÉ, 2006).

De modo geral pode-se descrever o processo de funcionamento do motor de forma

que, inicialmente há o aquecimento de um cilindro (cilindro de ar quente), através de uma fonte

de calor externa qualquer. Ao ser aquecido o ar se expande, simultaneamente, no cilindro de ar

frio, há a compressão do ar contido, sendo este empurrado para o cilindro de ar quente. Durante

a expansão e compressão, os pistões conectados a ambos os cilindros realizam um movimento

combinado, que através de uma conexão adequada do virabrequim ao volante fazem com que

este gire e facilite a continuidade do processo.

Em muitos casos necessita-se de um impulso para que o motor ganhe velocidade. Essa

partida pode ser realizada de forma elétrica ou manualmente dependendo do porte do motor.

Alguns motores chegam a atingir a velocidade de 1800 rpm, no entanto muitos fatores

influenciam nesse desempenho como, o modelo projetado, erros durante a construção, a má

vedação do gás utilizado e o fluido de trabalho (BARROS, 2005).

Page 23: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

21

Apesar de existirem diversas geometrias de protótipos, todos funcionam com base em

um mesmo princípio.

2.2.2 Ciclo Stirling

Um ciclo termodinâmico pode ser entendido como uma sequência de processos que

começa e termina no mesmo estado, desse modo, ao fim do ciclo as propriedades são

exatamente iguais ao início do ciclo em termos de valor.

A segunda lei da Termodinâmica explica a impossibilidade de uma máquina térmica,

operando em ciclos, transformar toda a energia recebida na forma de calor de uma fonte quente

em trabalho mecânico. Isso mostra a incapacidade de uma máquina térmica operar com 100%

de eficiência na prática.

De acordo com isso os corolários de Carnot foram desenvolvidos, afim de avaliar a

eficiência teórica máxima para sistemas que percorrem ciclos de potência enquanto se

comunicam termicamente com dois reservatórios a temperaturas diferentes (MORAN;

SHAPIRO 2012).

1. A eficiência térmica de um ciclo de potência irreversível é sempre menor que a

eficiência térmica de um ciclo de potência reversível quando cada um opera entre

os mesmos dois reservatórios térmicos.

2. Todos os ciclos de potência reversíveis operando entre os mesmos dois

reservatórios térmicos possuem a mesma eficiência térmica.

O ciclo Stirling é um exemplo do ciclo de Carnot, tendo em vista que durante a

execução do ciclo o sistema passa pelos mesmos quatros processos internamente reversíveis.

O ciclo de Carnot é um ciclo reversível, ou seja, que pode ser revertido no sentido de

voltar ao seu estado inicial. É constituído de dois processos isotérmicos (temperatura constante)

e dois processos isocóricos (volume constante). É possível fazer qualquer substância executar

o ciclo de Carnot (SHAPIRO; MORAN, 2012). Ao desenvolver esses mesmos processos, o

motor descreve um ciclo, semelhante ao ciclo de Carnot, ciclo ideal.

Page 24: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

22

Figura 3: (Esquerda) Diagrama Pressão versus Volume (P x V) e (direita) Diagrama da Temperatura

versus Entropia (T x S) do Ciclo Stirling

Fonte: CRUZ, 2012

A Figura 2 acima, representa os processos do ciclo Stirling em um diagrama PxV e

TxS que correspondem as relações entre pressão e volume, e temperatura e entropia

respectivamente. Os estados do processo são representados pelos números 1, 2, 3 e 4.

No diagrama (P x V) o primeiro processo, 1-2, correspondente a mudança do estado 1

para o estado 2, representa uma compressão isotérmica, na qual tem-se a variação da pressão e

volume a uma temperatura constante. Em seguida, processo 2-3, calor é transferido ao fluido

de trabalho através do trocador de calor a um volume constante. No processo 3-4 ocorre a

expansão isotérmica, em que também há transferência de calor ao fluido de trabalho. Por fim,

no processo 4-1 calor é rejeitado pelo sistema a volume constante completando o ciclo.

Já no diagrama (T x S), considerando a entropia envolvida, o processo 1-2 indica uma

compressão isoentrópica, tendo em vista que a variação de entropia nessa etapa é mínima e o

processo é ideal. Ocorre também uma compressão adiabática, já que não há mais diferença de

temperatura entre os corpos. O processo 2-3 corresponde ao aquecimento, em que há um

aumento da temperatura e aumento aumentando a entropia lentamente. O processo 3-4 indica

uma expansão isoentrópica e adiabática, o ar expande aumentando a entropia à temperatura

constante. Por fim no processo 4-1 a entropia retorna, em termos de valor, ao seu estado inicial

através da rejeição de calor reduzindo sua temperatura. O ciclo faz com que a entropia envolvida

seja sempre a mesma ao final de cada ciclo.

Um processo adiabático reversível é também um processo isoentrópico, apesar do

gráfico mostrar uma pequena variação na entropia durante o os processos adiabáticos, essa

variação é mínima, caracterizando o ciclo Stirling como reversível.

Page 25: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

23

Esses processos são somente uma análise teórica, na prática essas etapas não ocorrem

isoladamente.

2.2.3 Calor envolvido em cada processo do ciclo Stirling

De acordo com a primeira lei da termodinâmica, conservação da energia para sistemas

fechados, a variação da energia somente pode ser obtida através da transferência de energia por

meio de calor e trabalho e pode ser expressa da seguinte forma:

∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊

Onde, Q é o calor transferido ao sistema (+) ou cedido pelo sistema (-), W é o trabalho

realizado pelo sistema (+) ou sobre o sistema (-) e ∆U é a variação da energia interna do sistema

fechado.

Cada processo do ciclo Stirling relaciona uma equação para o calor cedido ou

transferido ao sistema através das relações entre temperatura e volume para um gás ideal. Essa

quantidade de calor envolvida em cada processo do ciclo pode ser obtida da forma apresentada

abaixo (CRUZ, 2012):

Processo 1-2: Compressão Isotérmica

O gás contido no cilindro frio varia sua pressão e reduz seu volume de VM para Vm

enquanto o exterior empurra o pistão comprimindo o gás realizando trabalho sobre ele e

dissipando calor para o ambiente. Observe que para uma temperatura constante a variação da

energia interna é igual à zero, tendo em vista que a energia interna varia com a temperatura.

Desse modo, o calor dissipado pode ser calculado:

∆𝑈 = 0, Como o trabalho é definido como W12 = ∫ 𝑝𝑑𝑣2

1, temos:

Q12 = W12 = ∫ 𝑝𝑑𝑣 =2

1 P1V1 ln(V2/V1)

Sabendo que para um gás ideal P1V1 = 𝑛𝑅𝑇, neste processo o calor será

Eq. 1

Eq. 2

Page 26: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

24

Q12 = 𝑛 . 𝑅 . 𝑇𝑓 . ln (Vm/VM).

Onde, R é a constante universal para gases perfeitos, n é o número de mols de fluido

presente nos cilindros, 𝑇𝑓é a temperatura do fluido no cilindro frio, Vm é o volume após a

compressão no cilindro frio e VM.é o volume antes da compressão.

Processo 2-3: Aquecimento Isocórico

Ocorre o aquecimento do gás a volume constante, de uma temperatura TC para TH. O

gás contido no cilindro de ar frio está sendo transferido devido a fase 1-2 para o cilindro de ar

quente através de uma conexão para passagem do gás. Ao chegar ao cilindro quente o gás é

aquecido a partir da fonte de calor externa aumentando sua temperatura a um volume constante.

Nenhum trabalho está sendo realizado, logo o calor envolvido nesse processo é igual a variação

da energia interna do gás

W = 0,

Q23 = ∆U23 = 𝑛 . 𝐶𝑣 . (Tq – Tf)

sendo 𝐶v o calor específico molar a volume constante. Logo podemos reescrever a

equação acima como:

∆U23 = 𝑛. 𝐶V. ∆T,

o calor total neste processo é:

Q23 = 𝑛 . 𝐶V.(Tq – Tf).

Processo 3-4: Expansão Isotérmica

Ocorre expansão do gás contido no cilindro quente à temperatura constante. O

aumento de pressão do gás que faz com que seu volume aumente de Vm para VM a temperatura

constante, TH. O gás realiza trabalho empurrando o pistão de expansão. Como já mencionado,

a temperatura constante implica em uma energia interna nula, assim:

∆𝑈 = 0,

Q34= 𝑛 . 𝑅 . 𝑇𝑞 . 𝑙𝑛 (Vm/VM).

Eq. 3

Eq. 4

Eq. 5

Eq. 6

Eq. 7

Page 27: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

25

Processo 4-1: Arrefecimento Isocórico

O pistão de expansão realiza trabalho sobre o gás quente e retorna a sua posição inicial

voltando para o cilindro frio, no qual sua temperatura é reduzida sem que se perceba variações

no volume. Pode - se dizer que o calor é rejeitado a volume constante.

W = 0,

Q41 = 𝑛 . 𝐶V.(Tq – Tf).

Quando o gás se expande há a realização de trabalho sobre o pistão, quando está sendo

comprimido, o pistão é que realiza trabalho sobre o gás, logo, nos processos isocóricos, nenhum

trabalho é realizado sobre o pistão ou pelo pistão.

Propriedades como o calor específico a volume constante, Cv, depende unicamente do

tipo de gás utilizado como fluido de trabalho.

2.2.4 Rendimento teórico do motor Stirling

O propósito do motor é converter a energia fornecida na forma de calor em trabalho.

O máximo desempenho é a produção da quantidade de requerida de trabalho utilizando uma

quantidade de mínima de calor (FERNANDES; SOUSA, 2010).

A primeira Lei da Termodinâmica afirma que para qualquer ciclo ou sistema fechado,

onde não há fluxo de matéria saindo ou entrando no sistema, o calor líquido transferido é igual

ao trabalho líquido produzido. Assim pode-se assumir que:

∮ 𝛿𝑄 = ∮ 𝛿𝑊

Qentra – Qsai = ∮ 𝛿𝑊

A diferença, Qentra – Qsai, pode ser entendida como a quantidade bruta de calor

fornecido ao sistema menos a quantidade de calor rejeitado pelo sistema. Como Qsai é diferente

de zero, então o trabalho líquido realizado pelo sistema é menor que o calor recebido por ele, o

que mostra que o calor fornecido ao sistema não é transformado completamente em trabalho

(MORAN; SHAPIRO, 2012).

Eq. 8

Eq. 9

Eq. 10

Page 28: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

26

Sabendo que o rendimento de uma máquina térmica é definida como a razão entre o

trabalho líquido produzido e o calor bruto fornecido ao motor durante um ciclo.

𝜂 = ∮ 𝛿𝑤/Qentra = (Qentra – Qsai)/( Qentra) = 1 – (Qsai/Qentra)

O calor rejeitado, Qsai, é recolhido no cilindro frio à temperatura Tf, Qentra é transferido

ao sistema pelo cilindro quente à temperatura absoluta Tq. De acordo com a escala de

temperatura absoluta a quantidade relativa de calor fornecida “para” e “pelo” sistema que

realiza um ciclo reversível entre dois reservatórios às temperaturas TC e TH são iguais a relação

entre as temperaturas. Assim,

Qsai/Qentra = Tf/Tq

A rendimento térmico do motor pode então ser definido como:

𝜂 = 1 − (Tf/Tq)

Essa expressão é usada para determinar a eficiência de um ciclo de Carnot e também

o valor máximo de eficiência para qualquer ciclo operando entre dois reservatórios, quente e

frio.

O motor Stirling também opera em um ciclo “reversível” entre dois reservatórios

térmicos, logo seu rendimento pode ser determinado da mesma forma. Sendo assim, é possível

deduzir pela equação que uma maior diferença entre as temperaturas das regiões quente e fria

proporcionam um maior rendimento térmico para o motor.

2.3 CONFIGURAÇÕES DO MOTOR STIRLING

O motor Stirling possui diferentes configurações com base no mesmo princípio, o qual

envolve especificamente o aquecimento, resfriamento, expansão e compressão de um gás. A

única diferença entre essas configurações está na disposição dos cilindros e pistões e

consequentemente na sequência de funcionamento.

Para Cachuté (2006), a classificação geral para os motores Stirling é feita com base

em três grupos, Alfa, Beta e Gama.

Eq. 11

Eq. 12

Eq. 13

Page 29: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

27

Segundo Pautz (2013) esses motores ainda podem ser classificados em motores de

deslocamento e motores de dois pistões. Os motores de deslocamento possuem um dispositivo

chamado deslocador ou, displacer. Neste caso, os motores de deslocamento são os tipos Beta e

Gama, já os motores de dois pistões são os modelos Alfa. O deslocador é um componente que

permite a realização do ciclo através de um único pistão, o pistão deslocador.

2.3.1 Alfa

O modelo Alfa tem como principal característica o arranjo em série de dois cilindros

separados e conectados por meio de um canal para a passagem do gás contendo ou não um

regenerador. Cada cilindro está conectado a um pistão, desse modo, um pistão atua na região

quente e o outro atua na região fria. De acordo com Pautz (2013), os pistões estão defasados

em 90º e estão ligados a um sistema de alavancas e virabrequins que se movimentam

determinando o fluxo ideal do gás dentro do motor.

Segundo Cruz (2012), nesse modelo do motor Stirling ocorre inicialmente a expansão

do gás contido no cilindro quente, devido ao aquecimento do mesmo, fazendo com que o pistão

de expansão se mova, correspondendo ao processo 1-2. Em seguida no processo 2-3 ocorre a

compressão no cilindro quente fazendo com que o ar quente passe pelo regenerador,

armazenando calor. No processo 3-4 ocorre o resfriamento do gás de trabalho presente no

cilindro de baixa temperatura e consequentemente sua compressão isotérmica, em seguida o

gás retorna ao cilindro quente completando o ciclo no processo 4-1 em que absorve o calor

armazenado no regenerador sem variar sua pressão e volume.

A Figura 4 abaixo mostra a forma de arranjo dos cilindros e pistões de um motor

Stirling tipo alfa e o diagrama (P x V) ao lado indicando cada processo ocorrido.

Page 30: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

28

Figura 4: Motor Stirling – Modelo Alfa e diagrama correspondente da Pressão versus Volume, (P x V) em

cada Processo.

Fonte: WAGNER, 2015

Apesar de possuir uma configuração mais simplificada o modelo alfa apresenta a

desvantagem da necessidade de boa vedação na conexão entre os dois cilindros e entre os

pistões e o cilindro para conter o fluido de trabalho (PAUTZ, 2013).

2.3.2 Beta

Para Cachuté (2006), o modelo beta do motor Stirling é considerado o modelo clássico,

pois foi o mecanismo original projetado por Robert Stirling.

O diferencial desse modelo frente a outros é que possui o deslocador e o pistão de

trabalho alinhados em um único cilindro. Devido a sobreposição entre cada movimento de

ambos os pistões é possível alcançar maior potência que no motor tipo gama, pois uma maior

taxa de compressão é obtida (PAUTZ, 2013).

Nesse modelo as fases do ciclo correspondem a ordem apresentada anteriormente ao

modelo alfa, em que no início do ciclo, processo 1-2 ocorre a compressão do gás no cilindro de

baixa temperatura, de forma que a compressão ocorre a uma temperatura constante. No

processo 2-3 o pistão de deslocamento, displacer, é movimentado fazendo com que o gás passe

através do canal de conexão para o cilindro de alta temperatura onde o gás é aquecido a volume

constante. Em seguida no processo 3-4 ocorre a expansão do gás a temperatura constante que

faz com que o gás presente no cilindro se expanda e ao retornar, processo 4-1 comprime o gás

quente fazendo-o percorrer o canal de conexão para o cilindro de baixa temperatura, onde o

Page 31: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

29

ciclo inicia novamente. A Figura 5 mostra um corte longitudinal de como são dispostos os

componentes básicos do motor Stirling tipo beta.

Figura 5: Motor Stirling – Modelo Beta

Fonte: WAGNER, 2015

Um dos maiores problemas desse modelo é que sua construção é bastante complexa se

comparado aos outros.

2.3.3 Gama

Esse modelo é semelhante ao tipo beta, no entanto os pistões são montados em

cilindros diferentes (CRUZ, 2012).

Segundo Barros (2005), essa configuração se diferencia do modelo beta por separar a

parte quente associada ao pistão deslocador da parte fria associada ao pistão de trabalho.

O ciclo realizado por esse modelo consiste inicialmente na movimentação do pistão

deslocador, ou de deslocamento, realizando a compressão do gás contido na parte quente a uma

temperatura constante, enquanto há a rejeição de calor na parte fria, processo 1-2. Na sequência

o pistão de deslocamento se move para baixo de forma a fazer com que o fluido de tralho passe

para a parte quente recebendo calor da fonte externa e aumentando sua pressão, processo 2-3.

No processo 3-4 com o aumento da pressão o pistão de trabalho se desloca para baixo realizando

trabalho sobre o volante. Por fim no processo 4-1 o pistão de deslocamento é movimentado

para cima fazendo o gás passar para o espaço de compressão, região fria, para que o processo

Page 32: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

30

inicie novamente. A Figura 6 a seguir mostra em detalhes todos os componentes, a disposição

dos cilindros e pistões do motor Stirling tipo gama.

Figura 6: Motor Sitrling – Modelo Gama

Fonte: WAGNER, 2015

Sua maior desvantagem está na redução da potência de saída devido parte do processo

de expansão ocorrer no espaço de compressão (MELLO,2001 apud PAUTZ, 2013).

A configuração Alfa por possuir maior simplicidade comparada aos outros modelos

deve ser aplicada a sistemas de grandes potências. O modelo beta, apesar gerar uma maior

pressão, possui um sistema de ligação entre os cilindros complicado e difícil de construir. Já o

modelo Gama deve ser utilizado quando é mais vantajoso construir um motor de dois cilindros

com baixa potência (COSTA, 2013).

2.4 TEOREMA DE SCHMIDT PARA MOTORES STIRLING ALFA

O teorema de Schmidt foi desenvolvido por Gustav Schmidt em 1871 pois ao ser

projetado e construído por Robert Stirling não havia conhecimento termodinâmico suficiente

para definir um modelo matemático que descreve-se todos os processos e indicasse os

parâmetros de potência e eficiência do motor a partir dos parâmetros construtivos e vice versa.

Atualmente é o método mais utilizado para obter uma aproximação teórica do desempenho do

motor (ROXO, 2007).

Page 33: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

31

O teorema consiste em um método de cálculo isotérmico, baseado na compressão e

expansão isotérmica de um gás ideal. Segundo Cruz (2012) considera o teorema mais realista

do que o ciclo de Stirling ideal, sendo está uma ferramenta muito útil na fase projeto.

Barros (2005) utilizou do teorema de Schmidt para avaliar teoricamente o motor

Stirling modelo Solo 161 e apresentou uma comparação entre os resultados práticos e os

resultados obtidos através do teorema.

Apesar de muito útil o teorema necessita de considerações e simplificações durante a

análise por se tratar de um método teórico, assim na prática, afirma-se que o desempenho

apresentado pelo motor é geralmente menor que 60% do desempenho obtido pelo teorema

ROGDAKIS, 2002 apud PAULA 2007).

Dyson (2004) afirma que esta análise não considera perdas ocorridas durante o

processo sendo que, para casos reais, é aplicado um fator para levar em conta essas perdas.

O desempenho do motor é em geral obtido pelo diagrama P-V, o volume de ar pode

ser obtido facilmente a partir das geometrias internas do motor. Conhecendo-se a massa do

fluido, o volume e a temperatura, a pressão pode ser calculada pela equação geral dos gases

perfeitos.

PV = mRT Eq. 14

Em geral assumem-se as seguintes considerações para análise de motores Stirling

segundo o teorema de Schmidt (PAUTZ, 2013):

1- Não existem perdas de calor durante as trocas de calor.

2- A pressão é a mesma em todo o espaço ocupado pelo fluido.

3- Os processos de expansão e compressão são isotérmicos.

4- A regeneração ocorre sem perdas.

5- O volume morto do cilindro quente mantém a temperatura do gás na expansão – (Te)

durante o ciclo.

6- O volume morto do cilindro frio mantém a temperatura do gás na compressão – (Tc)

durante o ciclo.

7- A temperatura do gás no regenerador é uma média logarítmica das temperaturas Te e

Tc.

8- Os volumes de compressão e expansão, Vc e Ve respectivamente variam conforme uma

senoide.

9- A massa total do gás no interior do motor é constante.

Page 34: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

32

Os parâmetros envolvidos no processo com suas respectivas simbologias e unidades

estão listados na Tabela 1.

Tabela 1: Parâmetros utilizados e suas simbologias

Parâmetros Símbolo Unidade

Pressão de trabalho do motor P MPa

Volume percorrido pelo pistão de expansão ou de

deslocamento 𝑉𝑑𝑒 m³

Volume percorrido pelo pistão de compressão ou de potência 𝑉𝑑𝑐 m³

Volume morto do espaço de expansão 𝑉𝑚𝑒 m³

Volume do regenerador 𝑉𝑟 m³

Volume morto do espaço de compressão 𝑉𝑚𝑐 m³

Volume momentâneo do espaço de expansão 𝑉𝑒 m³

Volume momentâneo do espaço de compressão 𝑉𝑐 m³

Volume total momentâneo V m³

Ângulo do Virabrequim θ °

Comprimento percorrido pelo pistão de expansão Le m

Comprimento percorrido pelo pistão de compressão Lc m

Massa total do gás de trabalho M Kg

Massa do gás presente no espaço de expansão me Kg

Massa do gás presente no espaço de compressão mc Kg

Massa do gás presente no regenerador mr Kg

Constante de gás R J/Kg°C

Temperatura do gás no espaço de expansão 𝑇𝑒 °C

Temperatura do gás no espaço de compressão 𝑇𝑐 °C

Temperatura do gás no Regenerador 𝑇𝑟 °C

Ângulo de fase 𝛿 °

Temperatura relativa 𝑇′ =

𝑇𝑐

𝑇𝑒

-

Volume percorrido relativo V=

𝑉𝑑𝑐

𝑉𝑑𝑒

-

Volume morto relativo para o pistão de compressão 𝑋𝑚𝑐 -

Volume morto relativo para o pistão de expansão 𝑋𝑚𝑒 -

Page 35: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

33

Volume morto reativo para o regenerador 𝑋𝑟 -

Energia indica em um ciclo do motor Ei J

Energia indicada de expansão Ee J

Energia indica de compressão Ec J

Rendimento teórico η -

Potência indicada Pot W

Fonte: Autoria própria, 2017

Cachuté (2006) mostra a seguinte análise com base no teorema de Schmidt para

motores Alfa:

Considerando que a massa do gás no motor não se perde, tem-se que:

M = mc + mr + me Eq.15

A partir da equação geral para os gases ideais, equação 1, isolando-se m, mantendo P

e R constante e substituindo na equação 2 é possível obter a seguinte equação:

M = P (Vc

T𝑐+ +

Vr

Tr+

Ve

T𝑒) me/ 𝑅 Eq.16

Da consideração 7, a temperatura efetiva no regenerador Tr será dada pela temperatura

média logarítmica:

Tr = (Te−T𝑐

ln(TeT𝑐

)) Eq.17

Assim, a pressão P pode ser determinada de acordo com a equação:

P = MR/Vc

T𝑐+

Vr ln(TeT𝑐

)

Te−T𝑐+

Ve

T𝑒 Eq.18

O trabalho durante um ciclo completo pode ser determinado como a soma dos

trabalhos realizados durante a compressão e expansão.

W = Wc + We Eq.19

Page 36: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

34

We = Qe = ∮ (PdVe

dθ) dθ =

PmedVdeπc

1 + √1 − c²⁄ Eq.20

Wc = Qc = ∮ (PdVc

dθ) dθ =

PmedVdeπcT′

1 + √1 − c²⁄ Eq.21

A potência indicada pode ser determinada pelo produto do trabalho na expansão pela

velocidade em radianos por segundo do motor.

𝑃𝑜𝑡 = 𝑊𝑒 . 𝑣

E o rendimento resulta em:

η =W

Qe

Outra abordagem do teorema considera um dado ângulo do virabrequim, considerado

zero quando o pistão de expansão está em seu deslocamento máximo, no ponto morto inferior.

O volume de expansão instantâneo Ve é descrito em função do volume deslocado

durante a expansão, do ângulo do virabrequim e do volume morto no ponto mais alto. Conforme

a consideração 8 tem-se (HIDRATA, 1998):

Ve = (Vde

2) (1 − cosθ) + Vme

O volume de compressão instantâneo Vc é descrito em função do volume deslocado

durante a compressão Vdc, volume morto Vmc, o ângulo do virabrequim θ e o ângulo de fase δ

entre os pistões de compressão e expansão (HIDRATA, 1998).

Vc = (Vdc

2) (1 − cos (θ − δ)) + Vmc

A massa do fluido de trabalho do motor com base nas mesmas premissas resume-se a:

Eq.23

Eq.24

Eq.25

Eq.22

Page 37: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

35

M = PVe

RTe+

PVr

RTr+

PVc

RTc

Hidrata (1998) ainda propõe que as razões de temperatura T, de volume deslocado V,

e outras razões referentes aos volumes de espaço morto sejam encontradas através das seguintes

relações:

T′ = Tc

Te

V = ( Vdc/Vde)

Xme = Vme

Vde

Xmc = Vmc

Vdc

Xr = Vr

Vde

Diferentemente da abordagem de Cachuté (2006), a temperatura do regenerador é

definida como a média das temperaturas do cilindro quente e do cilindro frio:

Tr = (Tc + Te)/2

Substituindo as equações 27 e 31 na equação 26 tem-se:

M =PV𝑑𝑒

2RTc[(T′ + 2Xme +

4T′Xr

1 + T′ + V + 2Xmc)

− (√(T′)2 + 2T′Vcosδ + V2) cos(θ − (tan−1 (Vsen δ

T′ + cos δ))]

Logo, a pressão média de trabalho do motor pode ser obtida quando M é conhecido

por:

P = 2MRTc/Vde(B − Scos(θ − Z))

Em que, S = T′ + 2Xme +4T′Xr

1+T′ + V + 2Xmc ; B = √(T′)2 + 2T′Vcosδ + V2 e Z =

tan−1 (Vsen δ

T′+cos δ)

EEEq.26

EEEq.27

EEEq.28

EEEq.29

EEEq.31

EEEq.32

EEEq.33

EEEq.34

EEEq.30

Page 38: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

36

A pressão do média do motor pode ser obtida da seguinte forma:

Pmed = 2MRTc/Vde(√B2 − S2)

Pressão do motor através da pressão média é obtida por:

P =Pmed√1 − c2

1 − c cos (θ − Z)

Onde, 𝑐 =𝐵

𝑆

Quando (𝜃 − 𝑍) = -1, a pressão do motor torna-se mínima, logo a pressão baseada na

pressão mínima resulta em:

P =Pmín(1 + c)

1 − c cos (θ − Z)

Quando (𝜃 − 𝑍) = 1, a pressão do motor torna-se máxima, logo a pressão baseada na

pressão máxima resulta em:

P =Pmáx(1 − c)

1 − c cos (θ − Z)

As energias indicadas para o motor Stirling alfa, no lado de expansão e no lado de

compressão podem ser obtidas a partir da pressão média utilizando os coeficientes definidos

acima. Assim temos:

Ee = ∮ PdVe =PmedVdeπcsen(z)

1 + √1 − c²

Ec = ∮ PdVc = − PmedVdeπcT′sen(z)

1 + √1 − c²

A energia indicada em um ciclo do motor é calculada utilizando a equação a seguir:

Ei = Ec + Ee

EEEq.35

EEEq.36

EEEq.37

EEEq.38

EEEq.39

EEEq.40

EEEq.41

1

Page 39: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

37

Ei =PmedVdeπc(1 − T′)sen(z)

1 + √1 − c²

Sabendo que a energia indica de expansão Eesignifica o calor fornecido ao cilindro

quente pela fonte externa e que a energia indicada de compressão Ec é a energia que é rejeitada

no cilindro de compressão durante o resfriamento, a eficiência térmica do motor pode ser obtida

da seguinte forma:

η =Ee + Ec

Ee=

Ei

Ee

Segundo Roxo (2007), o rendimento na prática desses motores resulta em torno de

60% do valor obtido através do teorema.

2.5 FLUIDOS DE TRABALHO UTILIZADO EM MOTORES STIRLING

Diferentes fluidos podem ser usados nos motores Stirling, os mais comuns são ar, hélio

e hidrogênio, os quais possuem excelente condutividade térmica.

De acordo com Barros (2005) a maioria dos motores regenerativos do século XIX

utilizavam o ar como o fluido de trabalho, esse fato que deu origem aos nomes “motores de ar”,

ou “motores de ar quente”. A maioria desses motores operavam com pressão próxima a pressão

atmosférica. O ar por possuir baixo custo e disponibilidade em grande escala era um excelente

candidato a ser utilizado e até hoje continua sendo.

Ainda segundo Barros (2005), a primeira comparação numérica entre os três diferentes

fluidos de trabalhos mais utilizados em motores Stirling, foi realizada pela empresa Philips após

um estudo aprofundado de otimização computacional, por meio de um programa de simulação

para motores Stirling. A Figura 7 apresenta as curvas de desempenho para os diferentes fluidos

de trabalho, testados em motores Stirling com capacidade de 165kW com temperatura de

aquecimento de 700°C, temperatura de resfriamento de 25°C e pressão máxima do gás a 110

bar.

EEEq.43

EEEq.42

Page 40: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

38

Figura 7: Curvas de Desempenho para o Ar, Hélio e Hidrogênio utilizado em Motores Stirling como

Fluido de Trabalho.

Fonte: BARROS, 2005.

As três curvas mostradas acima correspondem ao desempenho do uso do Ar, Hélio e

Hidrogênio nas condições de pressão e temperatura já mencionadas. As curvas foram

delimitadas pelas velocidades correspondentes a máxima potência específica por volume

percorrido pelo pistão e a máxima eficiência global. Para o ar, por exemplo, a velocidade 400

rpm corresponde a uma eficiência máxima de 27% e uma potência específica máxima de 18

bhp/L.

Traçando uma linha reta horizontal da velocidade 250 rpm indicada em cada curva,

Ar, Hélio e Hidrogênio até o eixo das ordenadas, correspondente a eficiência global, é possível

perceber que utilizando hidrogênio o motor apresenta um rendimento pouco maior, chegando a

atingir aproximadamente 48% em eficiência, enquanto o hélio chega a 47% e o ar a 38% para

a mesma velocidade. A potência específica por volume percorrido pelo pistão, eixo das

abscissas, também não difere significativamente entre os fluidos para essa mesma velocidade,

variando de 15 a 20 bhp/cilindro, também pode ser determinada traçando uma linha reta até o

eixo horizontal. Isso indica que a baixas potências e baixa rotação, o ar se torna preferível em

relação aos outros fluidos, tendo em vista que apresenta eficiência aproximada e principalmente

pelo baixo custo.

No caso da necessidade de um motor Stirling de alta velocidade e potência específica

maior, ar não pode ser utilizado, nesse caso o hidrogênio torna-se significativamente superior

ao ar e ao hélio também.

Page 41: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

39

O hélio por ser um gás inerte somente deve ser utilizado em aplicações que seja

necessário grande segurança, como em situações de confinamento: navios, bombas de calor,

geração estacionária em um prédio etc (BARROS, 2005). No entanto, em alguns casos faz-se

necessário a seleção do hélio e vez do hidrogênio que é bastante reativo com o oxigênio e possui

elevado grau de inflamabilidade.

As propriedades mais importantes e que devem ser avaliadas na escolha de um fluido

de trabalho para os motores Stirling são as propriedades de transporte, essas incluem a

viscosidade (µ), condutividade térmica (k), calor específico (Cp) e densidade (ρ). Essas

propriedades têm grande importância devido à forte influência na transferência de calor e nas

perdas por fricção aerodinâmica.

O calor específico e a condutividade térmica influenciam especialmente na

transferência de calor tanto no contato com o cilindro de baixa temperatura como no cilindro

de alta temperatura. Já a densidade e a viscosidade influenciam essencialmente no fluxo do

fluido dentro do motor já que a velocidade com que o fluido caminha alternadamente entre as

regiões frias e quentes influencia na velocidade final de rotação do motor, ou seja, na potência

fornecida pelo motor. A Tabela 2 mostra essas propriedades para os três tipos de fluidos de

trabalho mais utilizados nos motores Stirling em diferentes temperaturas, sujeitos a pressão de

1 atm e suas respectivas massas atômicas.

Page 42: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

40

Tabela 2: Propriedades dos fluidos de trabalho mais utilizados nos motores Stirling

Fluido Propriedades Temperatura

250°C 500°C 1000°C

Ar

1atm

M = 28,9 u

Cp (kJ/kg.K)

ρ = (kg/m³)

µ x 106 (kg-ms)

k x 106 (kW/mK)

1,003

1,412

15,99

22,27

1,029

0,706

26,70

40,41

1,141

0,353

41,53

67,54

Hidrogênio

1 atm

M = 2 u

Cp (kJ/kg.K)

ρ = (kg/m³)

µ x 106 (kg-ms)

k x 106 (kW/mK)

14,05

0,098

7,92

156,1

14,51

0,0491

12,64

271,8

14,98

0,0246

20,13

452,2

Hélio

1 atm

M = 4 u

Cp (kJ/kg.K)

ρ = (kg/m³)

µ x 106 (kg-ms)

k x 106 (kW/mK)

5,19

0,195

18,40

134,0

5,19

0,097

29,30

202,6

5,19

0,048

46,7

-

Fonte: BARROS (2005)

Observando a tabela, pode-se perceber que todas as propriedades citadas variam com

relação à temperatura. Um fluido de trabalho que proporcione melhor desempenho ao motor

deve possuir principalmente poucas perdas por fricção, o que está diretamente ligada à

densidade do fluido. Além disso, deve possuir um elevado coeficiente de transferência de calor,

o que envolve especialmente a viscosidade, condutividade térmica e o calor específico. Para

um determinado nível de perda por fluxo em um motor, com uma pressão e temperatura em

particular, o motor pode trabalhar mais rápido e portanto, gerar uma maior potência (BARROS,

2005). Percebe-se também que o hidrogênio tem as melhores propriedades de transporte, em

diferentes temperaturas, comparado ao ar e ao hélio, mas esses também podem ser usados para

diversas aplicações.

Existem muitos gases que podem ser utilizados nesses motores, no entanto não

possuem propriedades tão relevantes para a aplicação, como o hélio e o hidrogênio, assim,

utilizar outro fluido para teste, só resultaria em um menor rendimento. E para aplicações em

Page 43: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

41

que a baixa potência seja necessária, o ideal seria usar o ar que existe em grande abundância e

sem custo.

2.6 AVALIAÇÕES EXPERIMENTAIS DE PROTÓTIPOS DO MOTOR

Contar (2008) em seu trabalho de conclusão de curso desenvolveu um protótipo do

motor Stirling alfa acoplado a uma placa parabólica coletora de energia solar, utilizou seringas

de vidro para construção dos cilindros e grafite em pó para redução do atrito entre os cilindros

e pistões. Seu protótipo encontra-se apresentado na Figura 8 abaixo.

Figura 8: Protótipo de um Motor Stirling

Fonte: CONTAR (2008)

Ela concluiu que a defasagem de 90º entre os colos de apoio das bielas era

imprescindível ao funcionamento do mesmo, pois descaracteriza o ciclo termodinâmico no

interior dos cilindros. Também percebeu que o curso dos pistões estava desproporcional às

dimensões do par de volantes, gerando uma pressão tão elevada entre as câmaras que os

volantes não podiam vencer a inércia para que o movimento se repetisse para completar ciclos

sucessivos. Após o ajuste do mesmo foi possível fazê-lo funcionar no entanto o rendimento caiu

devida a migração de calor do cilindro quente para o frio.

Pautz (2013) projetou e criou uma maquete de um protótipo do motor e enfatizou em

sua conclusão que existe uma grande dificuldade no acerto dos parâmetros para o perfeito

funcionamento do motor.

Page 44: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

42

Cruz (2012) em sua dissertação de mestrado construiu um protótipo modelo gama,

utilizando resistências elétricas para aquecer o cilindro quente e um sistema de resfriamento por

fluxo de água. Analisou o protótipo através do teorema de Schmidt como também

experimentalmente. A Figura 9 mostra seu protótipo.

Figura 9: Protótipo do motor Stirling modelo Gama

Fonte: CRUZ (2012)

Em sua análise ele constatou que ao alcançar uma maior temperatura de aquecimento

no cilindro quente, melhor era desempenho do motor, percebendo o aumento do torque e em

consequência potência e rendimento. Seu protótipo alcançou uma potência máxima de 2,2 W

com uma rotação de 138 rpm e um rendimento máximo de 0,55% levando-o a concluir que há

a necessidade de se trabalhar com pressões e temperatura de aquecimento mais elevadas, além

disso os resultados obtidos através do teorema Schmidt não foram aproximados do valor obtido

experimentalmente.

Dias (2016) construiu e avaliou um protótipo didático modelo beta em sua dissertação

de mestrado. Durante a avaliação ela realizou uma simulação computacional do rendimento do

protótipo fabricado através do teorema de Schmidt, cujos resultados foram um rendimento de

18,38% e potência de 1,082 kW para um volume deslocado de 253 cm³. Também analisou a

influência da pressão de trabalho na potência final do motor em que constatou que se possível

operar em pressões elevadas, o motor desenvolverá uma maior potência. As temperaturas

alcançadas para os cilindros frio e quente foram 32° e 167° C respectivamente. Seu protótipo

Page 45: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

43

atingiu o regime estacionário de rotação de aproximadamente 1140 rpm. A Figura 10 a seguir

mostra o protótipo construído.

Figura 10: Protótipo modelo Beta

Fonte: DIAS (2016)

Duarte, Toledo e Oliveira (2013) também fabricaram e fizeram análise de um protótipo

modelo gama para conclusão do curso superior de tecnologia em mecatrônica industrial. A

Figura 11 apresenta o protótipo desenvolvido.

Figura 11: Protótipo do motor Stirling modelo Gama

Fonte: DUARTE; TOLEDO; OLIVEIRA (2013)

Page 46: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

44

O protótipo apresentou uma eficiência de 1,2 % com rotações de 800 rpm. Ele

considerou em seus cálculos para a potência térmica fornecida a potência do maçarico de butano

utilizado como combustível em 0,315W sem considerar perdas decorrentes das trocas térmicas

por condução e convecção, e como potência de saída a potência elétrica gerada, considerando

perdas por atrito e folgas de 4,04. 10-3 W.

Page 47: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

45

3. METODOLOGIA EXPERIMENTAL

3.1 FABRICAÇÃO E MONTAGEM

3.1.1 Protótipo I

A fabricação do primeiro protótipo foi realizada em três etapas, a primeira delas

consistiu no dimensionamento, a segunda na modelagem e simulação do mecanismo de

funcionamento do mesmo e a terceira na construção e reajuste.

Na primeira etapa foram adotados parâmetros dimensionais baseados na literatura, os

quais utilizavam para protótipos didáticos seringas de 10 ou 20 ml, assim, foram adotadas

dimensões para todos os componentes de modo que houvesse proporcionalidade entre eles para

um volume de 10 ml das seringas.

Na segunda etapa foram realizadas a modelagem e simulação do protótipo utilizando

o software Siemens® NX 10 com a finalidade de verificar o mecanismo de funcionamento e a

eventual existência de erros de dimensionamento, sem considerar as condições de vedação,

folgas, atrito, aquecimento e resfriamento do fluido de trabalho. As ferramentas do software

utilizadas foram, Modeling na modelagem individual de cada componente, Assembly na

montagem do protótipo e o Motion na simulação do mecanismo de funcionamento. A Figura

12 a seguir mostra a montagem do protótipo realizada através do software.

Figura 12: Modelagem do protótipo utilizando o Software Siemens NX

Fonte: Autoria própria (2017)

Page 48: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

46

Na terceira etapa foram usinados os componentes dimensionados, bielas de alumínio,

volantes de bronze e eixo do motor de aço 1020. Os suportes para o eixo e para as seringas

foram confeccionados em madeira, assim como a base para fixação dos mesmos. O fluido de

trabalho utilizado era ar e o combustível álcool 70%. No entanto o protótipo não teve êxito em

seu funcionamento devido às folgas existentes, atrito excessivo e massa do volante muito

pequena para vencer a pressão gerada. Em detrimento disso construiu-se um novo protótipo,

que é o objeto de estudo do presente trabalho. A seguir está descrita a metodologia de fabricação

e montagem utilizada.

3.1.2 Protótipo II

3.1.2.1 Suporte do Eixo

Foram aproveitados um cabeçote de aparelho VHS e um HD de computador para

construção do suporte para o eixo. A estrutura do suporte é formada pela carcaça do HD na

qual foi fixada parte do cabeçote contendo rolamentos com 14 mm de diâmetro. A Figura 13 a

seguir mostra toda a estrutura adaptada para servir de suporte.

Page 49: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

47

Figura 13: Suporte do eixo

Fonte: Autoria própria , 2017

As dimensões gerais da estrutura de alumínio aproveitada são 145 mm de altura e 116

mm de largura.

O eixo também foi aproveitado do aparelho de VHS, suas dimensões estão

apresentadas na Figura 14.

Figura 14: Dimensões do eixo do motor

Fonte: Autoria própria, 2017

3.1.2.2 Suporte das seringas

Foram fabricados dois suportes para as seringas utilizando aço baixa liga com a

geometria e dimensões apresentada na Figura 15.

Page 50: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

48

Figura 15: Suporte para seringas

Fonte: Autoria própria

Todas as dimensões apresentadas na figura estão em milímetros. Os furos de 6 mm

foram realizados para fixação do suporte na base por meio de rosca sem fim, porcas e arruelas,

permitindo a regulagem da distância do mesmo à base. Para realizar o encaixe das seringas,

foram confeccionadas luvas de tecnil com as dimensões apresentadas na Figura 16.

Figura 16: Projeção 2D para as luvas das seringas

Fonte: Autoria própria, 2017

Após fabricadas, as luvas foram prensadas no interior dos suportes. A montagem das

seringas de 20 ml pode ser vista na Figura 17 a seguir.

Page 51: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

49

Figura 17: Suporte das seringas

Fonte: Autoria própria, 2017

3.1.2.3 Mecanismo Biela - Manivela

Através dos componentes de leitura e gravação presentes em HD de notebook, foram

obtidas as bielas do motor. Estas, possuem rolamentos de 5 mm de diâmetro que permitem a

fixação da mesma por meio de parafuso.

Para conectar hastes entre os pistões e bielas, foram usados conectores de fios de luz

soldados com estanho em chapinhas de alumínio. Nas conexões entre as hastes e os pistões

foram fixados dispositivos para permitir a liberdade angular necessária à movimentação das

bielas. Os dispositivos foram aproveitados de mecanismos de movimentação presentes no

aparelho. A Figura 18 mostra o dispositivo conectado ao pistão

Figura 18: Componente para movimento angular da biela

Fonte: Autoria própria, 2017

As hastes utilizadas são aros de 3 mm de diâmetro que foram cortados em dois

comprimentos, 10,8 mm para o pistão do cilindro quente e 9,6 mm para o pistão do cilindro

frio, resultando em um volume morto na ponta das seringas de 4ml e 2ml respectivamente.

Page 52: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

50

O virabrequim ou eixo de manivelas foi fabricado a partir de uma adaptação das

tampas dos cabeçotes. Ele é formado por duas peças que são encaixadas no eixo de modo que

haja uma defasagem de 90° no posicionamento de uma peça em relação a outra. A Figura 19 a

seguir mostra a montagem do conjunto biela-manivela.

Figura 19: Conjunto Biela - Virabrequim

Fonte: Autoria própria, 2017

As bielas foram fixadas através dos rolamentos a uma distância do centro do eixo do

motor de 13 mm e 11 mm para o pistão de expansão e compressão respectivamente. Tal

configuração resulta em um curso de 26 mm para o pistão de expansão e 22 mm para o pistão

de compressão.

3.1.2.4 Volantes

Foram fabricados dois volantes de diferentes massas, a partir de discos abrasivos e CDs

ROM. As massas de cada volante foi obtida por meio de uma balança analítica Marte modelo

AD 3300 com precisão de 0,01g. A Tabela 3 indica a massa de cada volante fabricado.

Tabela 3: Massas dos Volantes

Volante Massa

1 49,51 g

2 30,42 g

Fonte: Autoria Própria

Page 53: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

51

O volante é fixado a uma das peças do virabrequim por meio de parafusos. A Figura

20 a seguir mostra a montagem do volante.

Figura 20: Fixação do volante ao virabrequim

Fonte: Autoria própria, 2017

3.1.2.5 Montagem final

A base do motor consiste em uma chapa de alumínio 15 x 30 mm e espessura de 3

mm, na qual todos os componentes são fixados através de parafusos. Foram posicionadas hastes

de apoio para redução da vibração das estruturas.

O combustível a ser queimado é posto em um frasco de vidro no qual o algodão é

imerso deixando parte em contato com ar externo através de um orifício na tampa do frasco, a

queima ocorre externamente ao frasco, o combustível é absorvido pelo algodão constantemente

durante a queima. Foi utilizada uma tubulação de silicone para fechar o sistema, posicionando

a chama de modo que a tubulação não entrasse em contato com a mesma.

A montagem final do protótipo está apresentada na Figura 21. Algumas hastes foram

utilizadas para reduzir a vibração da estrutura. Também foram utilizados lenços de papel

umedecidos para reduzir o aquecimento do cilindro frio.

Page 54: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

52

Figura 21: Montagem final do protótipo

Fonte: Autoria própria, 2017

3.2 MECANISMO DE MEDIÇÃO DE TORQUE

Para medição de torque, foi desenvolvido um mecanismo de polias de mesmas

dimensões, através do qual o movimento é transferido do eixo motor a um eixo secundário.

Através do eixo secundário outra polia é utilizada para acoplar uma carga por meio de um fio

de massa desprezível. O fio é acoplado à polia ao atingir um regime rotação, nesse instante o

tempo é cronometrado e a carga é puxada até uma altura máxima. A distância é previamente

estabelecida e a parada imediata do motor é realizada quando o mecanismo trava ao encontrar

a base do mesmo.

O torque do motor é definido como o produto entre a força gerada no eixo sendo esta,

aplicada à uma distância d do centro do eixo. A equação abaixo define o torque

𝜏 = 𝐹. 𝑑

A força gerada F é o produto da massa do corpo pela aceleração com que esse corpo

se move. Conhecendo-se a massa do corpo, a distância a que o corpo foi deslocado e o tempo

necessário à aplicação da força, pode-se obter a força partir da equação 45.

𝐹 = 𝑚.ℎ

𝑡2

Eq. 44

Eq. 45

Page 55: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

53

Assim o torque a partir do mecanismo desenvolvido foi calculado com base na equação

46 a seguir.

𝜏 = 𝑚.ℎ

𝑡2. 𝑑

Em que m é a massa do corpo levantado (26,1. 10-3 Kg), h é a distância percorrida pela

carga, t é o tempo necessário para que a carga percorra a distância e d é o raio da polia que faz

com que a corpo se desloque. Como as polias tem mesmas dimensões a rotação é igual a rotação

do eixo. A Figura 22 a seguir mostra esquematicamente o sistema utilizado.

Figura 22: Sistema de medição de torque

Fonte: Autoria própria

Para obtenção do mecanismo foram aproveitadas polias do aparelho de VHS de

diâmetro 16,6 mm, cabeçote e eixo. Para prender o mecanismo à base foi utilizada uma presilha

e parafusos. A Figura 23 mostra todos os componentes utilizados para confecção do

mecanismo.

Eq. 46

Page 56: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

54

Figura 23: Componentes do mecanismo de medição de torque

Fonte: Autoria própria

Uma polia foi fixada ao eixo do motor e as outras duas ao eixo do mecanismo de

medição. Uma correia lisa de couro de 28 mm de comprimento, secção retangular, foi acoplada

às polias, motora e movida, para transmissão da rotação de um eixo a outro. As Figuras 20. a)

e 20. b) mostram o mecanismo e a montagem do mesmo junto ao motor. Também é possível

ver o acoplamento da correia através da Figura 21 já apresentada.

Figura 24. a) Montagem do mecanismo

Fonte: Autoria própria, 2017

Page 57: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

55

Figura 25. b) Montagem do motor com a correia acoplada ao mecanismo

Fonte: Autoria própria, 2017

3.3 AVALIAÇÃO TEÓRICA DO RENDIMENTO

Para obter o rendimento teórico máximo, foram medidas as temperaturas dos cilindros

quente e frio durante a partida do motor através de um pirômetro, sendo estas medidas

consideradas para o fluido no interior das câmaras.

O teorema de Schmidt foi utilizado para estimar o rendimento e a potência indicada

por meio de simulações das equações 43 e 22, respectivamente, demonstradas no referencial

teórico realizadas no software Excel, cujos dados de entrada consistiram nas dimensões e

condições de operação do protótipo.

Já experimentalmente, o rendimento mecânico foi obtido por meio da razão entre a

potência mecânica e a potência térmica em função do consumo do combustível. A equação para

obtenção da potência térmica está apresentada a seguir:

𝑃𝑡 = (𝑚𝑐

∆𝑡) . 𝑃𝐶𝐼

Em que 𝑚𝑐 é a massa consumida de combustível, ∆𝑡 é o tempo médio de consumo, e

PCI é o poder calorífico inferior do combustível.

Eq. 47

Page 58: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

56

Logo o renidmento resulta na equação 48, em que 𝜏 é o torque do motor e 𝑣 é a velocidade

constante durante a subida da carga.

𝜂 = 𝜏.𝑣

(𝑚𝑐

∆𝑡 ) . 𝑃𝐶𝐼

A massa consumida de combustível foi obtida medindo-se a massa do frasco contendo

o combustível antes e após um minuto de queima, assim, obteve-se a massa consumida em kg/s

para cada combustível.

3.4 ETAPA DE TESTES

Nesta etapa foram realizados testes experimentais a partir da variação do volume das

seringas, combustível e volantes conforme a sequência do fluxograma apresentado na Figura

26 abaixo.

Figura 26: Fluxograma de sequência de testes

Fonte: Autoria própria

Na primeira etapa foram feitos os testes com as seringas de 10 ml, utilizando álcool

70% como combustível e utilizando o volante 1 e volante 2.

Seringas (10ml)

Álcool 70%

Volante 1

Volante 2

Gasolina

Volante 1

Volante 2

Seringas (20ml)

Álcool 70%

Volante 1

Volante 2

Gasolina

Volante 1

Volante 2

Eq. 48

Page 59: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

57

Não foi possível realizar os testes com as seringas de 10 ml para a gasolina, pois

durante os procedimentos anteriores ocorreu a quebra das seringas.

Na segunda etapa utilizou-se as seringas de 20 ml, álcool 70% como combustível e

variando-se somente os volantes 1 e 2.

Na terceira etapa também foram usadas as seringas de 20 ml, gasolina como

combustível e volantes 1 e 2.

O total de arranjos resultam em 8 configurações, das quais, 6 foram possíveis analisar.

A Tabela 4 a seguir indica os parâmetros de cada configuração analisada com base na sequencia

apresentada no fluxograma.

Tabela 4: Configurações analisadas

Configuração

do motor

Parâmetros

Volume total

(m³) Combustível

Massa do

volante

(kg)

1 8,272.10-6 Álcool 70% 49,51.10-3

2 8,272.10-6 Álcool 70% 30,42.10-3

3 1,521.10-5 Álcool 70% 49,51.10-3

4 1,521.10-5 Álcool 70% 30,42.10-3

5 1,521.10-5 Gasolina 49,51.10-3

6 1,521.10-5 Gasolina 30,42.10-3

Fonte: Autoria própria

Para as configurações 1 e 2 não foram feitas análises de torque, potência e rendimento,

também devido à quebra. As configurações 1 e 2 correspondem às seringas de 10 ml e 3, 4, 5 e

6 correspondem às de 20 ml. A seguir estão descritos os procedimentos realizados em cada

teste.

3.4.1 Teste I

Na primeira fase foram utilizadas medições com as configurações 1 e 2.

Considerou-se um tempo médio de espera para o aquecimento de 5 minutos resultando

em uma temperatura os cilindros de compressão e expansão no ponto de partida de 49° e 284°

respectivamente, cujos valores foram obtidos por meio de um medidor de temperatura

infravermelho.

Page 60: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

58

Foram feitas medições da rotação e tempo utilizando um tacômetro foto digital MDT

– 2238A e cronômetro para as duas massas de volante confeccionadas.

Não foi possível coletar os dados para calcular o torque dessas configurações devido

à quebra de uma seringa.

3.4.2 Teste II

Na segunda fase, foi realizada a troca das seringas de 10 ml pelas seringas de 20 ml,

resultando em um volume total de ar de 1,521.10-5 m³.

Os testes foram realizados utilizando o álcool 70% como combustível e as duas massas

de volante.

A temperatura durante a partida foi monitorada pelo medidor de temperatura de modo

que a partida fosse iniciada com as mesmas temperaturas de partida do teste I.

Para medição de torque com cada volante, utilizou-se um corpo de massa igual 21,6

.10-3 kg preso a extremidade de um fio de massa desprezível. O fio foi acoplado manualmente,

através de sua outra extremidade à polia ao atingir a rotação máxima, monitorada pelo

cronômetro, e o tempo de subida da carga até a altura de 0,72 m foi cronometrado. A polia

possui uma geometria em v para prender uma correia, tal geometria permitiu que o fio não

deslizasse. Assim, ao encaixar o fio no corte, este enrolava na polia fazendo a carga subir.

3.4.3 Teste III

Nesta fase foram realizados testes utilizando a gasolina como combustível, partindo dos

mesmos parâmetros utilizados no teste II, com exceção das temperaturas das câmaras, agora

com valores maiores, 410°C no cilindro quente e 55°C no cilindro frio, também obtidas por

meio de um aparelho para medir temperatura. Também foram realizados testes com as

diferentes massas de volante.

Page 61: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

59

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Neste capítulo são apresentados resultados obtidos da simulação computacional das

equações de Schmidt aplicadas ao protótipo para potência indicada com base nas medições de

rotação obtidas e pressão média, medidas de torque e potência experimentais, rendimentos

teóricos e experimentais, análise das informações coletadas, problemas encontrados e proposta

de soluções.

4.1 SIMULAÇÃO DAS CURVAS DE POTÊNCIA INDICADA E ROTAÇÃO

Com base nas medidas de rotações obtidas durante o funcionamento do protótipo foi

possível por meio das equações de Schmidt para potência indicada aferir informações do

comportamento da potência em função da rotação para as diferentes configurações do protótipo

durante o tempo de funcionamento do mesmo.

A potência indicada é uma estimativa da pressão de expansão, potência desenvolvida

nos cilindros devido à pressão do fluido de trabalho sobre os pistões. Segundo o teorema de

Schmidt o trabalho indicado, aumenta com o volume deslocado no espaço de expansão,

diferença entre as temperaturas dos cilindros e o volume total de ar. Uma rotação elevada

implica que o tempo de expansão do gás para movimentar o pistão é menor.

O Gráfico 1 mostra as curvas referentes as configurações 1 e 2, que utiliza álcool 70%

como combustível e seringas de 10 ml, volante 1 para configuração e volante 2 para a

configuração 2.

Page 62: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

60

Gráfico 1: Configurações 1x2 (Volante 1xVolante2)

Fonte: Autoria própria

Analisando o comportamento das curvas para as configurações 1 e 2 apresentadas,

percebe-se que para a primeira configuração, a rotação máxima alcançada foi de 833,5 rpm,

cuja potência indicada máxima foi de 0,57 W. Já para uma menor massa do volante,

configuração 2, a velocidade aumentou substancialmente, assim como a potência indicada. Foi

obtido um valor máximo de rotação de 1660 rpm e potência de 1,14 W. O protótipo aumentou

em quase 50 % sua rotação máxima como também sua potência indicada em resposta à uma

redução de 38,56 % da massa do volante. Ao reduzir a massa do volante, reduz-se o momento

de inercia de massa do corpo, o que faz com a energia necessária para fazê-lo girar seja menor,

o que explica o aumento da rotação e potência indicada. No entanto houve problema quanto à

continuidade de funcionamento do protótipo em ambas as configurações. É possível notar,

através do Gráfico 1 a perda de carga até a parada completa do motor.

Para a primeira configuração, a perda de carga foi ocasionada devido à falta de calor

para fazer o fluido de trabalho se expandir mais rapidamente, além do atrito gerado no interior

dos cilindros. Já durante o teste da segunda configuração, houve a parada brusca do motor

decorrente do travamento do mecanismo de liberdade angular, existente entre as bielas e

pistões, decorrente da desmontagem e montagem para troca do volante. Além disso, o teste não

pôde ser repetido devido à quebra da seringa.

Ao trocar as seringas, pelas de volume 20 ml, foi possível perceber o comportamento

apresentado no Gráfico 2 a seguir.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

2 6 10 14 18 22 26 30 34 38 42 46 50

Ro

taçã

o (

rpm

)

Po

tên

cia

ind

icad

a (W

)

Tempo de funcionamento (s)

Configuração 1

Configuração 2

Page 63: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

61

Gráfico 2: Configurações 3x4 (Volante 1 x Volante 2)

Fonte: Autoria própria

O aumento no volume resulta em uma maior taxa de compressão, ela refere-se a

quantidade de volume que deve ser comprimida no interior dos cilindros entre as fases do ciclo.

Seu aumento resulta na necessidade de uma maior temperatura do cilindro quente para que a

força de expansão do fluido vença a pressão gerada. A rotação máxima alcançada pela

configuração 3, Gráfico 2, foi de 347,3 rpm, indicando uma potência máxima de 0,36 W. Já a

configuração 4, apresentou maior velocidade e maior potência, mostrando novamente que a

redução no momento de inércia de massa aumenta a velocidade de rotação.

Também houve melhoria no desempenho no que diz respeito a sustentação do

movimento, em que o regime de rotação foi atingido. Esta melhoria deve-se a redução do atrito

gerado entre os cilindros e pistões pela troca das seringas.

O Gráfico 3 a seguir mostra o comportamento do protótipo em reposta à gasolina,

através do qual pode – se ver o mesmo comportamento em relação a massa e o aumento da

velocidade para as duas massas de volante em comparação as configurações 3 e 4 apresentadas

anteriormente utilizando álcool 70% como combustível.

0

100

200

300

400

500

600

700

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

1 6 12 18 24 30 36 42 48 54 60 66 72 78 84 90 96

Ro

taçã

o (

rpm

)

Po

ênci

a in

dic

ada

(W)

Tempo de funcionamento (s)

Configuração 4

Configuração 3

Page 64: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

62

Gráfico 3: Configurações 5x6 (Volante 1 x Volante 2)

Fonte: Autoria própria

Com a troca do combustível foi possível atingir temperatura mais elevadas, 55º e

410ºC dos cilindros frio e quente, resultando em uma aumento na velocidade de rotação do

motor, com regime aproximado de 500 e 340 rpm para as configurações 5 e 6 respectivamente.

Esse resultado mostra que uma maior temperatura do cilindro quente aumenta a

energia interna do gás permitindo a expansão mais rápida do mesmo, o que gera uma velocidade

maior de avanço dos pistões e consequentemente maior rotação.

Com base nas observações realizadas, e nos valores obtidos, maiores massas do

volante reduzem a velocidade de rotação, como também o aumento da taxa de compressão

necessita de temperaturas mais elevadas para que a velocidade e a potência indicada aumentem.

Outro fator importante é combinação da taxa de compressão com a massa de volante

configurada. Taxas de compressão elevadas com alta temperatura do cilindro quente a maiores

massas de volante resultam em um melhor desempenho do motor, pois como a energia cinética

de rotação aumenta proporcionalmente ao aumento do momento de inercia do volante e a sua

rotação, maiores serão o toque e potência atingidos pelo motor.

4.2 MEDIDAS DE TORQUE E POTÊNCIA EXPERIMENTAL

O torque e a potência experimental foram estimadas para as configurações 3,4,5 e 6

em velocidades constantes de rotação, cuja massa deslocada pelo protótipo era de 26,1.10-3Kg.

0

100

200

300

400

500

600

700

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

1 8 16 24 32 40 48 56 64 72 80 88 96

Ro

taçã

o (

rpm

)

Po

tên

cia

ind

icad

a (W

)

Tempo de funcionamento (s)

Configuração 6

Configuração 5

Page 65: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

63

Os dados pertinentes a obtenção dos resultados e os resultados estão apresentados na Tabela 5

a seguir.

Tabela 5: Resultados de torque e potência aproximados para as diferentes configurações

Configuração

do motor

Tempo de

subida da carga

(s)

Velocidade

de rotação

(rpm)

T

(10 -5 N.m) Pot (10 -5 W)

3 3,0 180 1,7 32,65

4 3,2 146 1,52 23,27

5 2,2 250 3,22 84,32

6 2,4 210 2,71 57,52 Fonte: Autoria própria

Através da tabela pode-se observar que a configuração 3 (volante 1 x álcool) levou

cerca de 3 segundos para içar a carga enquanto que a configuração 5 (volante 1 x gasolina)

necessitou somente de 2,2 s, logo a mudança para um combustível de maior poder calorífico,

aumentou a potência do motor. O mesmo pode ser visto comparando os resultados para as

configurações 4 e 6.

Já para a mudança na massa do volante, o tempo foi maior para menores massas, assim

como a rotação. A redução na rotação ao acoplar a carga é maior para os volantes de menor

massa, pois a energia cinética é menor, daí a importância de se ter um volante de massa

adequada à uma aplicação que necessite de torque elevado. Apesar do resultado mostrar um

torque praticamente inexistente, as variações do mesmo correspondem com o que ocorre na

realidade.

O torque depende de quatro medidas, momento de inércia de massa do volante,

aceleração angular, força aplicada e a distância de aplicação da mesma. Para existência do

torque, seu valor deve ser maior que a soma dos torques obtidos pelos fatores mencionados

como mostra a Equação 49.

𝑇 > 𝐼𝛼 + 𝐹𝑟

A equação mostra que a condição para o torque existir depende da força aplicada e do

momento de inercia de massa do volante. Não é possível obter a o valor da força aplicada ao

volante para dar partida ao protótipo, no entanto sabe-se que o momento de inércia de massa

aumenta para maiores massas do volante, resultando consequentemente em um maior torque.

Eq. 49

Page 66: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

64

Também é possível estimar as perdas por atrito para cada configuração do protótipo

através da diferença entre a potência indica em função da velocidade e a potência efetiva obtida

através do torque. A Tabela 6 a seguir mostra os resultados das perdas por atrito para cada

configuração.

Tabela 6: Estimativa de Perdas

Configurações

Potência

efetiva

(10-5.W)

Potência

indicada (W) Perdas (W)

3 32,65 0,191 0,19067

4 23,27 0,153 0,15276

5 84,32 0,285 0,28415

6 57,52 0,24 0,23942 Fonte: Autoria própria, 2017

De modo geral as perdas para todas as configurações foram bastantes elevadas, quase

proporcional a potência indicada resultando em um potência efetiva muito baixa. Não é possível

comparar as perdas por atrito entre uma configuração e outra, mas sabe-se que durante os

procedimentos para realização dos testes são necessários cuidados especiais entre as trocas das

seringas e volantes, especialmente, para não gerar atrito elevado impedindo o funcionamento

do protótipo.

4.3 MEDIDAS DE RENDIMENTO

Para obter os rendimentos máximos teórico para os dois combustíveis, foi utilizada a

equação de Schmidt, cujo resultado também corresponde ao rendimento obtido através do ciclo

ideal em que somente as temperaturas do reservatório quente e frio influencia. Os resultados

obtidos estão apresentados na Tabela 7.

Tabela 7: Rendimentos teóricos para os combustíveis analisados

Combustível

Temperatura

Cilindro Quente

(°C)

Temperatura

Cilindro Frio

(°C)

Rendimento

Teórico

Álcool 70% 284 49 82,75%

Gasolina 420 55 86,60% Fonte: Autoria própria

Percebe-se que o rendimento teórico obtido aumenta com a diferença de temperatura

entre as câmaras, no entanto esse aumento não foi tão considerável, pois a temperatura da

Page 67: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

65

câmara fria também aumentou devido a migração de calor, tendo em vista que a gasolina

apresentou uma chama muito maior e as câmaras não são isoladas. O ideal seria manter a

temperatura da câmara fria a mesma temperatura para os dois combustíveis.

Já o resultados experimentais do rendimento, aproximados, foram determinados

através da equação 48 definida na metodologia. A Tabela 8 a seguir, mostra os valores obtidos

para as configurações 3,4,5 e 6.

Tabela 8: Rendimento experimental para cada configuração

Configuração

do motor

Consumo

(10 -5 Kg)

Rendimento

experimental

3 1,87 0,041%

4 1,99 0,034%

5 1,42 0,065%

6 1,55 0,050% Fonte: Autoria própria

Através dos resultados experimentais potência mecânica e potência térmica, sem

considerar as perdas térmicas e perdas por atrito, percebe-se que o rendimento do protótipo foi

bastante inferior ao esperado, o que pode ser explicado pelo valor elevado das perdas

apresentadas anteriormente. Também é possível verificar que o rendimento é menor para

maiores massas do volante, como também utilizando álcool como combustível.

Os resultados dos rendimentos experimentais foram completamente diferentes dos

rendimentos teóricos, tendo em vista que as perdas por atrito e térmicas foram bastante elevadas

e que o rendimento teórico considera apenas relações entre as temperaturas dos cilindros quente

e frio.

No protótipo desenvolvido aqui, o volume total identificado como mais adequado foi

de 1,521.10-5 m³, com uma temperatura de 410° C para a câmara quente, utilizando a gasolina

como combustível, uma temperatura de 55°C da câmara fria, e um volante de 49,51 .10 -5Kg

permitindo obter um regime de rotação de 340 rpm com torque, potência mais elevada.

4.4 POBLEMAS ENCONTRADOS

O protótipo fabricado possui características construtivas que possibilitam sua modificação

de inúmeras maneiras para obtenção de diversos resultados, no entanto, a montagem e

Page 68: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

66

desmontagem constante gera desgaste, folgas e até a quebra, fazendo com que haja

necessidade de troca constante dos componentes.

Não houve alinhamento adequado das bielas decorrente de erros durante o processo de

fabricação dos suportes, gerando atrito lateral do protótipo.

Acúmulo de impurezas na superfície deslizante do pistão ocorria constantemente,

principalmente em intervalos de tempo muito grandes entre um teste e outro, gerando muito

atrito e impedindo o funcionamento do motor, sendo necessário sempre a desmontagem

dos suportes para limpeza das seringas entre cada teste.

Migração de calor para o cilindro frio.

4.5 SUGESTÕES DE MELHORIAS

Como propostas de melhorias com relação ao protótipo fabricado tem-se:

Usinar todos os componentes obedecendo estritamente as dimensões pré-estabelecidas;

Utilizar um sistema de resfriamento para o cilindro frio, impedindo a absorção de calor

proveniente da queima do combustível;

Utilizar material metálico para uma melhor absorção do calor por parte do fluido sendo

transferido;

Reduzir atrito entre os cilindros e pistões através do polimento.

Desenvolver sistema de alavanca para acoplar o fio à polia para levantamento da carga

reduzindo erros durante as medições.

Page 69: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

67

5. CONCLUSÃO

O desenvolvimento experimental permitiu verificar as características vantajosas de

funcionamento do mesmo, como aplicação de diferentes combustíveis e rotações elevadas.

Também foram observadas as desvantagens apontadas na literatura, como a partida do motor,

variação da velocidade na partida muito rápida e baixo torque, o que prejudica a aplicação do

mesmo em veículos.

Também foi possível analisar com base na metodologia adotada valores aproximados

para o torque, potência e rendimento. Através do qual percebeu-se que tanto o protótipo

desenvolvido como outros protótipos didáticos apresentam um torque muito baixo, o que pode

ser percebido até empiricamente, que ao tocar levemente o volante durante o funcionamento é

possível pará-lo por completo. Com relação a potência percebeu-se seu aumento com o aumento

da temperatura gerada pela queima do combustível, como também o rendimento do mesmo.

Ao utilizar gasolina como combustível, tem-se um maior aquecimento da câmara

quente, o que melhora o torque, a potência e o rendimento do protótipo.

O teorema de Schmidt apresentou rendimentos bastante diferentes do que foi obtido

na prática. Erros de medições, além das perdas elevadas, podem estar associados ao resultado

experimental muito baixo, no entanto foi possível verificar a resposta das diferentes

configurações, atingindo o objetivo desde trabalho.

A partir das avaliações experimentais foi possível concluir que um motor Stirling

necessita de grandes taxas de compressão, altas temperaturas de aquecimento e volante de

massa apropriada para atingirem potências e torques elevados.

Além disso, em virtude das altas rotações que podem ser alcançadas pelo motor

Stirling, conclui-se que o mesmo é bastante promissor na área geração de energia elétrica, no

entanto estudos e projetos mais aprimorados precisam ser desenvolvidos com o objetivo obter

uma configuração mais sustentável e eficiente para uso.

Page 70: DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL DE UM PROTÓTIPO DO …

68

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