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Ana Neri da Paz Justino

Desenvolvimento e

Sustentabilidade AmbientalLivro-texto EaD

Natal/RN2010

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J96d Justino, Ana Neri da Paz. Desenvolvimento e sustentabilidade ambiental / Ana Neri da Paz Justino. – Natal: EdUnP, 2010. 188p. : il. ; 20 X 28 cm

Ebook – Livro eletrônico disponível on-line. ISBN 978-85-61140-06-9

1. Sustentabilidade ambiental. I. Título.

RN/UnP/BCSF CDU 504.064.2

DIRIGENTES DA UNIVERSIDADE POTIGUAR

Chancelaria

Prof. Paulo Vasconcelos de Paula

Reitoria

Prof.ª Sâmela Soraya Gomes de Oliveira

Pró-Reitoria de Graduação

Prof.ª Sandra Amaral de Araújo

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação

Prof. Aarão Lyra

Pró-Reitoria de Extensão e Ação Comunitária

Prof.ª Jurema Márcia Dantas da Silva

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

DA UNIVERSIDADE POTIGUAR - UnP

Coordenação Geral

Prof. Barney Silveira ArrudaProf.ª Luciana Lopes Xavier

Coordenação Acadêmica

Prof.ª Flávia Helena Miranda de Araújo Freire

Coordenação Pedagógica

Prof.ª Edilene Cândido da Silva

Coordenação de Produção

de Recursos Didáticos

Prof.ª Michelle Cristine Mazzetto Betti

Revisão de Estrutura e Linguagem EaD

Prof.ª Priscilla Carla Silveira MenezesProf.ª Úrsula Andréa de Araújo SilvaProf.ª Thalyta Mabel Nobre Barbosa

Coordenação de Produção de Vídeos

Prof.ª Bruna Werner Gabriel

Coordenação de Logística

Helionara Lucena Nunes

Assistente Administrativo

Gabriella Souza de Azevedo Gibson Marcelo Galvão de Sousa Giselly Jordan Virginia Portella

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Ana Neri da Paz Justino

Desenvolvimento e

Sustentabilidade AmbientalLivro-texto EaD

Natal/RN2010

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EQUIPE DE PRODUÇÃO DE RECURSOS DIDÁTICOS

Organização

Profª. Michelle Cristine Mazzetto BettiProf.ª Luciana Lopes Xavier

Coordenação de Produção de Recursos Didáticos

Prof.ª Michelle Cristine Mazzetto Betti

Revisão de Estrutura e Linguagem em EaD

Prof.ª Priscilla Carla Silveira MenezesProf.ª Thalyta Mabel Nobre BarbosaProf.ª Úrsula Andréa de Araújo Silva

Ilustração do Mascote

Lucio Masaaki Matsuno

EQUIPE DE EDITORAÇÃO GRÁFICA

Delinea - Tecnologia Educacional

Coordenação de Editoração

Charlie Anderson OlsenLarissa Kleis Pereira

Coordenação Pedagógica

Profª. Margarete Lazzaris Kleis

Ilustrações

Alexandre Beck

Revisão Gramatical e Normativa

Morgana do Carmo Andrade Barbieri

Diagramação

Regina Cortellini

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EC

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DO

O A

UT

ORPROF.ª ANA NERI DA PAZ JUSTINO

Olá, como vai? No período dessa disciplina, estaremos muito

“próximos” e, por isso, gostaria de me apresentar. Eu sou gradua-

da em Turismo e Especialista em Educação Ambiental, ambas pela

Universidade Potiguar-UnP.

Atualmente sou professora DNS II desta instituição, onde le-

ciono disciplinas ligadas às Escolas de Comunicação e Artes, Gestão

e Negócios e Hospitalidade e Gastronomia, bem como da Pós-gra-

duação. Também nessa instituição, sou coordenadora do Labora-

tório de Lazer do Curso de Turismo (Projeto Sabor de Brincar: Brin-

quedoteca Cultural) e do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em

Gestão e Organização de Eventos.

Ainda exerço a função de Professora Bolsista no Projeto Bar-

co-Escola Chama-Maré, uma proposta de educação ambiental e

patrimonial do IDEMA, executado pela FUNDEP, que é a fundação

para a pesquisa da Universidade Potiguar.

Como experiência profissional na área de Desenvolvimento e

Sustentabilidade, posso elencar as atividades a seguir:

� Ministrei vários blocos curriculares em diversos cursos profis-

sionalizantes no Centro Educacional Dom Bosco (Consórcio

Social da Juventude de Natal e Região Metropolitana), Insti-

tuto Potiguar de Juventude e Cidadania, Ministério do Turis-

mo e SENAC/RN;

� Fui responsável pelo Bloco do Conhecimento Educação Am-

biental, oferecido pela Pós-Graduação Lato Sensu em Ensino

Fundamental em Parnamirim-RN, oferecida pela UnP, além da

orientação de vários trabalhos de conclusão de curso da gra-

duação e pós-graduação com esta mesma temática;

� Proferi várias palestras em instituições de ensino médio sobre

a questão ambiental e suas implicações por ocasião da reali-

zação de Semanas de Meio Ambiente;

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� Sou Gestora Ambiental do Programa Nacional de Gestores Ambientais; vin-

culado ao Ministério do Meio Ambiente;

� Faço parte do quadro de consultores Start Pesquisa e Consultoria Técnica

Ltda.;

� Atuei por oito anos à frente da Coordenadoria de Turismo da Secretaria de

Infraestrutura, Meio Ambiente e Turismo do Município de Ceará-Mirim/RN.

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DESENVOLVIMENTO E

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

Olá! Você está iniciando o estudo da disciplina Desenvolvi-

mento e Sustentabilidade Ambiental. Ao final da mesma, você de-

verá ter apreendido os seguintes conteúdos curriculares: Cidadania

Planetária e Desenvolvimento Sustentável, Ecologia Humana e Eco-

nomia Solidária.

No decorrer dos nossos estudos, você perceberá o quanto as

questões que cercam essa temática estão diretamente ligadas à

cultura de cada povo, bem como que, para o alcance do desenvol-

vimento sustentável, surge a necessidade de mudança de postura,

especialmente no que diz respeito ao consumo.

Assim serão tratados temas envolvendo a questão de ética,

o desenvolvimento sustentável e as novas possibilidades de apro-

priação da natureza. Além desses, também trataremos de questões

relacionadas à participação da sociedade por meio do movimento

ambientalista, juntamente com as novas formas de produção atrela-

das à cooperação e à autogestão, a exemplo da economia solidária.

A escolha dos conteúdos componentes dessa disciplina se deve

ao fato de que a cada dia precisamos pautar nossa atuação profis-

sional em princípios que levem ao consumo racional dos recursos,

de modo a garantir a qualidade ambiental para todos os seres vivos.

É evidente que você, como aluno da UnP, não poderia ficar de

fora dessas discussões, tendo em vista que nosso interesse é formar

profissionais polivalentes e capazes de se adaptar às novas situa-

ções, e a problemática ambiental é uma delas.

Espero que este seja o início de uma caminhada exitosa rumo

ao Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental!

Desejo a você bons estudos!

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CURSO: NEaD - DISCIPLINAS DE GRADUAÇÃO A DISTÂNCIA

DISCIPLINA: DESENVOLVIMENTO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL

PROFESSORA AUTORA: ANA NERI DA PAZ JUSTINO

MODALIDADE: A DISTÂNCIA

1 IDENTIFICAÇÃO

Cidadania Planetária e Desenvolvimento Sustentável, Ecologia Humana, Economia Solidária.

2 EMENTA

Estimular nos discentes a adoção de posturas éticas, socialmente justas, ecologicamente corretas e economicamente viáveis, de modo que os mesmos apresentem formas de utilização do meio ambiente que possibilitem o tempo necessário para recomposição dos ecossistemas, explicando como os movimentos sociais são um ingrediente fundamental para o estímulo do protagonismo dos indivíduos deixados à margem do sistema capitalista, bem como, para a validação da causa ambiental por meio da demonstração de possibilidades de adoção da economia solidária como sistema econômico alternativo ao capitalismo econômico.

3 OBJETIVO

� Perceber como as questões ambientais estão relacionadas com posturas adotadas na utilização dos recursos naturais;

� Compreender a abrangência do tema sustentabilidade ambiental;

� Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente viável;

� Identificar as estratégias e os desafios para a promoção da par-ticipação da sociedade como um todo no movimento ambien-talista;

4 HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

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Formação de profissionais comprometidos com o bem-estar da coletividade e do meio ambiente, não permitindo que os interesses econômicos se sobreponham aos demais, de modo que sua atuação profissional leve em conta os princípios e as dimensões da sustentabilidade ambiental, mesmo que para isso os projetos por eles desenvolvidos gerem menor lucratividade.

5 VALORES E ATITUDES

UNIDADE I

� A questão ambiental, a educação e suas implicações: a ética, a moral e a justiça ecológica;

� Princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial;

� O desenvolvimento sustentável;

� Ecologia humana - um novo olhar para o desenvolvimento.

UNIDADE II

� O movimento ambientalista a partir da visão holística: homem x natureza;

� Economia solidária: perspectivas de gestão com foco no futuro;

� Políticas públicas para a economia solidária: estímulo à autogestão e ao cooperativismo;

� Desenvolvimento comunitário x desenvolvimento estratégico.

6 CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

� Perceber a economia solidária como ferramenta de alcance para o desenvolvimento sustentável a partir da cultura do desenvolvimento comunitário;

� Executar sua atividade profissional orientada pelos princípios da ética ambiental;

� Pesquisar formas de uso sustentável dos recursos naturais, considerando a capacidade de regeneração dos ecossistemas;

� Participar ativamente das decisões políticas de sua localidade;

� Desenvolver estratégias de promoção ao desenvolvimento local.

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� Pontualidade e assiduidade na entrega das atividades (propostas no material didático impresso (livro-texto) e/ou no Ambiente Virtual de Aprendizagem) solicitadas pelo Tutor;

� Realização das avaliações presenciais obrigatórias nos encontros presenciais obrigatórios.

8 ATIVIDADES DISCENTES

A avaliação ocorrerá em todos os momentos do processo ensino-aprendizagem, considerando:

� Leitura do material didático impresso (livro-texto);

� Interação com tutor por meio do Ambiente Virtual de Aprendizagem (UnP Virtual);

� Realização de atividades propostas no material didático impresso (livro-texto) e/ou no Ambiente Virtual de Aprendizagem;

� Aprofundamento nos temas por pesquisas extras ao material didático impresso (livro-texto).

9 PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO

� Utilização de material didático impresso (livro-texto);

� Interação pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem (UnP Virtual);

� Utilização de material complementar (sugestão de filmes, livros, sites, músicas, ou outro meio que mais se adéque à realidade do aluno).

7 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

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BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do humano - compaixão da Terra. 7ª ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. 7ª ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

12.2 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

12.3 BIBLIOGRAFIA INTERNET

GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo: Instituto Paulo Freire, 2009.

NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do & VIANNA, João Nildo.(orgs). Dilemas e Desafios do Desenvolvimento Sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 7ª. ed. Petrópolis: Vozes, 2009.

12.1 BIBLIOGRAFIA BÁSICA

Disponível em: <http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/pub_avaliacao_politicas_publicas.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2009.

Disponível em: <http://www.unitrabalho.org.br/noticias/artigos/pdf/economiasolidaria.pdf>. Acesso em: 05 nov. 2009.

12 BIBLIOGRAFIA

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SU

RIO

Capítulo 1 - A questão ambiental, a educação e suas implicações:

a ética, a moral e a justiça ecológica .......................................................... 17

1.1 Contextualizando ........................................................................................................... 171.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 18 1.2.1 A questão ambiental na atualidade .............................................................. 18 O começo de tudo: o crescimento pautado no consumismo ...........................................18 1.2.2 A sustentabilidade das ações antrópicas .................................................... 21 1.2.3 A educação como ferramenta para o uso sustentado do planeta ..... 24 1.2.4 A ética, a moral e a justiça ecológica como premissas para a mudança de postura ............................................................................. 28 A ação baseada na ética e na moral ............................................................................................301.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 321.4 Para saber mais ............................................................................................................... 351.5 Relembrando ................................................................................................................... 361.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 36Onde encontrar ...................................................................................................................... 37

Capítulo 2 - Princípios e dimensões da sustentabilidade:

econômica, social, ecológica, cultural e espacial ...................................... 39

2.1 Contextualizando ........................................................................................................... 392.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 40 2.2.1 A sustentabilidade econômica ........................................................................ 40 2.2.2 A sustentabilidade social .................................................................................. 44 2.2.3 A sustentabilidade ecológica........................................................................... 46 2.2.4 A sustentabilidade cultural ............................................................................... 49 2.2.5 A sustentabilidade espacial .............................................................................. 512.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 532.4 Para saber mais ............................................................................................................... 562.5 Relembrando .................................................................................................................. 572.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 57Onde encontrar ...................................................................................................................... 58

Capítulo 3 - O desenvolvimento sustentável............................................. 59

3.1 Contextualizando ........................................................................................................... 593.2 Conhecendo a teoria ..................................................................................................... 60 3.2.1 Entendendo o desenvolvimento .................................................................... 60 3.2.2 Prevenção como condição para o desenvolvimento sustentável ...... 63 3.2.3 O papel das políticas públicas para garantir o desenvolvimento

sustentável ............................................................................................................. 65 3.2.4 Gestão sob a ótica ambiental: um caminho para a harmonia ............. 68 A matriz energética ..........................................................................................................................69 O uso e ocupação do solo ...............................................................................................................71 A geopolítica como diretriz de caminhos .................................................................................72 A educação como um mecanismo de revolução ...................................................................733.3 Aplicando a teoria na prática ..................................................................................... 753.4 Para saber mais ............................................................................................................... 773.5 Relembrando .................................................................................................................. 783.6 Testando os seus conhecimentos ............................................................................. 78Onde encontrar ...................................................................................................................... 79

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Capítulo 4 - Ecologia humana - um novo olhar para o desenvolvimento ................... 81

4.1 Contextualizando .................................................................................................................................... 814.2 Conhecendo a teoria .............................................................................................................................. 82 4.2.1 Comentando a ecologia humana ........................................................................................... 82 4.2.2 Uma relação complexa: o homem e a natureza................................................................. 84 O homem como centro da natureza ......................................................................................................................... 85 O homem como parte da natureza ........................................................................................................................... 86 4.2.3 O processo interativo homem x natureza ............................................................................ 88 O equilíbrio proporcionado pelo saber ambiental .............................................................................................. 89 As estratégias de manejo como garantia de sustentabilidade ....................................................................... 91 As tecnologias limpas e o consumidor verde ........................................................................................................ 934.3 Aplicando a teoria na prática .............................................................................................................. 964.4 Para saber mais ........................................................................................................................................ 984.5 Relembrando ........................................................................................................................................... 994.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................100Onde encontrar .............................................................................................................................................101

Capítulo 5 - O movimento ambientalista a partir da visão holísitca:

homem x natureza .........................................................................................................103

5.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1035.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................104 5.2.1 O princípio de tudo: o homem se apropria da natureza ..............................................104 5.2.2 O despertar da conscientização ............................................................................................106 5.2.3 O significado do movimento ambientalista ......................................................................107 5.2.4 A participação social para garantir o uso e manejo dos recursos de maneira Sustentável ............................................................................................................109 5.2.5 Separando o joio do trigo ........................................................................................................111 5.2.6 Desafios para a visão holística homem x natureza ........................................................113 A democracia como meta do movimento ambientalista ...............................................................................114 O impacto do discurso ambientalista ....................................................................................................................115 Estimular estratégias para transformar a racionalidade econômica dominante ...................................115 Um estado multiétnico como garantia de sustentabilidade ........................................................................116 As disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento ..........................1175.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1185.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1205.5 Relembrando .........................................................................................................................................1215.6 Testando os seus conhecimentos ...........................................................................................................121Onde encontrar .............................................................................................................................................122

Capítulo 6 - Economia solidária: perspectivas de gestão

com foco no futuro ........................................................................................................123

6.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1236.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................124 6.2.1 Economia solidária: muito prazer! ........................................................................................124 6.2.2 A educação transformadora como caminho para a economia solidária ................126 A renovação do sistema educacional para o alcance do aprendizado solidário ...................................128 A organização do saber para o alcance do trabalho decente .......................................................................130 Educação cooperativa como princípio para a autogestão ............................................................................131

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6.2.3 A economia solidária como alternativa de desenvolvimento sustentável ............1336.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1386.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1396.5 Relembrando .........................................................................................................................................1416.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................141Onde encontrar .............................................................................................................................................142

Capítulo 7 - Políticas públicas para a economia solidária: estímulo

à autogestão e cooperativismo ....................................................................................143

7.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1437.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................144 7.2.1 Um pouco de política pública ................................................................................................144 7.2.2 Política pública e economia solidária ..................................................................................146 7.2.3 As parcerias entre o poder público e os movimentos sociais para

autogestão e a economia solidária .......................................................................................150 7.2.4 A comunicação como ferramenta para a economia solidária ....................................152 7.2.5 As redes de cooperação para a economia solidária .......................................................1547.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1577.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1587.5 Relembrando ..................................................................................................................................................1607.6 Testando os seus conhecimentos ....................................................................................................160Onde encontrar .............................................................................................................................................161

Capítulo 8 - Desenvolvimento comunitário x desenvolvimento estratégico ...........163

8.1 Contextualizando ..................................................................................................................................1638.2 Conhecendo a teoria ............................................................................................................................164 8.2.1 Entendendo a cultura do desenvolvimento comunitário ............................................164 8.2.2 Algumas iniciativas de estímulo ao desenvolvimento comunitário estratégico ...........................................................................................................167 8.2.3 O desenvolvimento comunitário na prática .....................................................................173 8.2.4 A sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário .............................1768.3 Aplicando a teoria na prática ............................................................................................................1788.4 Para saber mais ......................................................................................................................................1808.5 Relembrando ..........................................................................................................................................1818.6 Testando seus conhecimentos .........................................................................................................182Onde encontrar .............................................................................................................................................182

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 17

1.1 Contextualizando

Três temáticas fundamentam a questão ambiental e a educação: a ética,

a moral e a justiça ecológica. Neste sentido, a necessidade da abordagem de

tais conteúdos se faz eminente para que você compreenda os alicerces em que

está fundamentada a problemática ambiental, constituindo-se assim na base

para todo percurso deste livro texto.

Chamar sua atenção para esse fato é pertinente nesse momento,

pois, à medida que compreendemos o contexto dos problemas ambientais

planetários, ficamos sensíveis para assumirmos uma postura que contemple

a busca para a resolução dos mesmos.

Neste sentido, perceber a importância do conteúdo proposto para

este capítulo é ferramenta indispensável para um entendimento coerente

a respeito da disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental.

Assim, esperamos que, ao final deste capítulo, você esteja apto a:

� Descrever as questões ambientais atuais;

� Identificar como a ética, a moral e a justiça estão ligadas às questões

ambientais;

� Despertar sua responsabilidade individual para a manutenção da quali-

dade ambiental;

� Optar por ações de promoção a justiça ecológica.

A QUESTÃO AMBIENTAL, A EDUCAÇÃO E SUAS IMPLICAÇÕES:

A ÉTICA, A MORAL E A JUSTIÇA ECOLÓGICA

CAPÍTULO 1

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

18

Vale salientar que muitas das questões a serem analisadas constituem

o nosso dia a dia e cada um de nós tem a responsabilidade para contribuir

na formação de uma sociedade com cidadania planetária, capaz de cooperar

para a inclusão do tema sustentabilidade no seu cotidiano.

Esperamos que esta seja mais uma experiência produtiva e enriquecedora

para você.

1.2 Conhecendo a teoria

1.2.1 A questão ambiental na atualidade

Iniciaremos nossa discussão com algumas perguntas:

Como você visualiza a problemática ambiental atual?

Você acha que estamos vivendo uma crise de várias ordens (clima, valores, atitudes, etc.)?

Em caso afirmativo, como você se vê diante de tudo isso?

REFLEXÃO

Ficou inquietado com os questionamentos apresentados na reflexão?

Eles são o ponto de partida da nossa conversa. Para que você compreenda

melhor a questão ambiental, é preciso fazer uma retrospectiva dos fatos

que a cercam, bem como suas consequências para o mundo. Para facilitar

seu entendimento, vamos fazer uma retrospectiva de fatos que marcaram a

apropriação ambiental a partir da Revolução Industrial.

O começo de tudo: o crescimento pautado no consumismo

Com o advento da Revolução Industrial surge um modelo de crescimento

econômico pautado no consumismo imediatista. Esse consumo vem acarretar

um colapso nas reservas do planeta, pois, à medida que se retira do ambiente

mais do que o necessário para a sobrevivência humana, não se dá o devido

tempo para sua renovação. Infelizmente, o despertar para essa realidade

ainda é muito recente a partir da década de 1960.

Page 21: Desenvolvimento e Sustentabilidade UnP · Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável ... Economia solidária:

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

19

Nesse contexto, cabe elencar fatos condicionantes para essa postura

reflexiva, responsável por uma nova visão do ambiente. Pode-se considerar

um marco nesse processo o ano de 1962, quando a jornalista Rachel Carson

publica o livro Primavera Silenciosa. Daquele momento em diante ocorrem

inúmeros encontros com a intenção de discutir a crise ambiental, bem como

medidas mitigadoras, ou seja, que minimizem os impactos das intervenções

humanas na natureza. Observe o quadro 1 e verifique os eventos ocorridos

desde a década de 1960:

ANO EVENTOS

1968 Clube de Roma - Publicação do estudo Limites do crescimento (culpava o crescimento populacional dos países pobres e não os padrões de consumo). Este momento foi um marco para a problemática ambiental em nível planetário

1972 Estocolmo (Suécia) - 1ª Conferência Mundial de Meio Ambiente Humano, cujo tema foi a poluição industrial. Nessa conferência, o Brasil adota a seguinte postura “a poluição é o preço que se paga pelo progresso”, ainda sobre Estocolmo: educar o cidadão para a resolução de problemas ambientais, ou seja, Educação Ambiental (EA). Nesse período, surge o conceito de ecodesenvolvimento, formulado pelo economista polonês Ignacy Sachs que, anos depois, daria origem à expressão desenvolvimento sustentável (BUARQUE, 2007).

1975 Belgrado (Iugoslávia) - Carta de Belgrado (objetivos da EA).

1977 Conferência intergovernamental sobre educação ambiental em Tibílissi (Geórgia, ex URSS) – Tradado sobre EA.

1987 Gro-Brundtland (Ministra da Noruega) – reuniões em várias cidades do mundo resultando no livro Nosso Futuro Comum ou Relatório de Brundtland (conceito de desenvolvimento sustentável mais conhecido).

1992 Rio 92 - AGENDA 21, mudanças climáticas, biodiversidade.

2002 Rio+10 (Johannesburg – África do Sul): poucos avanços, pois os governos dos países em desenvolvimento ficaram mais preocupados em aplicar o Consenso de Washington e os programas de ajuste estrutural do FMI do que em implementar as recomendações da Agenda 21.

2009 Cerca de 180 países se reuniram em Copenhague (Dinamarca) em dezembro para tentar estabelecer um acordo que substituísse o Protocolo de Kyoto, o principal instrumento da Organização das Nações Unidas (ONU) contra a mudança climática, que expira em 2012. Os resultados do evento foram inexpressivos.

Quadro 1: Eventos para discutir os efeitos do crescimento pautado no consumismo

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

20

Diante desses aspectos, temas como: mudanças climáticas, aquecimento

global, escassez de recursos naturais, crise energética, desertificação, reciclagem,

entre outros relacionados ao fim, ou a modificação de determinados ciclos

da natureza permeiam as discussões nos variados níveis sociais, tendo em

vista que todos (sem exceção) já começam a sentir os efeitos da degradação

ambiental vigente.

Tratar dos temas apresentados no parágrafo anterior é destacar o

quanto as ações humanas têm impactado o ambiente, causando malefícios

a todos. Acreditamos, ainda, que tenhamos verificado como tais impactos

são provenientes da nossa cultura voltada para o consumo exacerbado, com

destaque especial para o povo do Ocidente, a partir de uma visão egocêntrica

de mundo visando a atender apenas aos interesses econômicos.

Conforme demonstrado, esse modelo de desenvolvimento, pautado no

consumismo, não atende mais a oferta de recursos do planeta. Tal fato torna

emergente uma mudança de postura, ou seja, o chamado ecodesenvolvimento,

que tem como premissa usufruir os recursos sem comprometer sua utilização

futura.

Agora, retomamos as perguntas iniciais da nossa conversa, acrescentando

mais uma: com essa leitura, você é capaz de se sentir responsável pela

problemática ambiental da atualidade?

EXPLORANDOEXPLORANDO

Caso sua resposta seja afirmativa, é hora de optar por novas atitudes de consumo dos recursos do planeta. Em caso negativo, sugerimos o acesso ao endereço eletrônico http://planetasustentavel.abril.com.br/download/stand2-painel5-agua-por-pessoa2.pdf para verificar o consumo de água em várias partes do mundo.

E aí, conseguiu perceber o quanto são emergentes ações que minimizem

os impactos ambientais? Neste caso, muito do que precisa ser feito faz parte

das decisões tomadas por cada indivíduo na hora do consumo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

21

1.2.2 A sustentabilidade das ações antrópicas

No item anterior, tivemos um panorama da atual situação da problemática

ambiental, trazendo os principais apontamentos que permeiam o tema. Ficou

perceptível que a ação antrópica (ação do homem) tem grande influência nos

números da devastação e que a preocupação com estas questões são oriundas

da segunda metade do século XX. Com elas, surge o desafio para a conquista

do desenvolvimento voltado para a sustentabilidade.

Assim, iniciam-se as discussões na comunidade internacional para a

divisão dos custos desse processo, que prevê nada menos que a revisão do

modelo econômico vigente alicerçado no consumismo.

Por isso, tantos encontros, seminários, congressos e acordos, conforme

elencados no item anterior, ocorreram e continuam ocorrendo visando à

solução da crise ambiental mundial. Assim, há uma difusão do discurso da

sustentabilidade, entretanto, a prática para alcançar tal premissa anda a

passos lentos, pois muito se fala e pouco se faz para alcançá-la.

A incidência dessa situação se dá em função de fatores como as

disparidades entre os países ricos e pobres e suas formas de crescimento,

bem como seus interesses individuais. “Esses interesses se manifestaram nas

dificuldades para conseguir acordos internacionais sobre os instrumentos

jurídicos para orientar a passagem para a sustentabilidade” (LEFF, 2008, p. 21).

Para que você compreenda o significado de sustentabilidade, é importante

conhecer o conceito de desenvolvimento sustentável.

CONCEITOCONCEITO

Desenvolvimento sustentável é um processo que permite satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras (ONU,1987).

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

22

Percebe-se aí não somente uma crise ambiental, mas, sim, uma crise

de valores, na qual ninguém quer perder sua fatia de um bolo que já está

passando do ponto e que, se não tivermos o cuidado adequado, trará efeitos

irreversíveis. Diante disso, é visível como a ação do homem tem relevância no

enfrentamento dessa questão, ou seja, a minimização da citada crise perpassa

por discussões de ordem econômica, social, ecológica, cultural e espacial.

Alex Rio Brazil

Figura 1 - Homem se apropriando dos recursos do planeta Terra.

Esse impasse pode ser entendido por duas ordens de posicionamento: um

macro, que depende das articulações internacionais provenientes dos acordos

gerados nas intensas rodadas de negociações dos grandes encontros; e outro

micro, que dependente das nossas ações individuais e cotidianas. Para ilustrar

essa afirmativa, utilizamos o jargão bastante difundido: agir local, pensar global.

Você deve estar percebendo o quanto nossa conversa gira em torno de

uma temática, a ação antrópica como divisor de águas para a minimização

dos impactos ao meio ambiente. E que homem é esse? É o Presidente da

República, é o grande industrial, o presidente de uma transnacional, é o

proprietário de uma madeireira e é você. Ficou surpreso com a sua inclusão

no rol dos responsáveis?

Em caso afirmativo, não fique, pois é você quem elege o presidente da

república e todos os outros cargos eletivos existentes, cuja responsabilidade

é defender nossos interesses. Além disso, você consome os bens e serviços

produzidos e comercializados pelas indústrias e corporações transnacionais

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

23

sem nem perguntar a procedência dos insumos (matéria-prima, energia) tão

pouco as condições de trabalho daqueles que os produziram.

Continua achando que não tem nada a ver com isso? Então, responda

essa pergunta: você sabe a origem da madeira queimada para fabricar o pão

que vai para sua mesa todos os dias, ou, se os grãos constantes na sua pirâmide

alimentar, bem como a madeira dos móveis da sua casa são fruto de uma área

desmatada de forma ilegal ou subtraída de uma população tradicional?

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acesse os artigos a seguir e reflita como a falta de conhecimento da origem dos produtos que consumimos pode contribuir para o caos ambiental instalado no planeta.

Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza.

http://www.eco21.com.br (artigo publicado na edição 80 da revista)

2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista Conservação Internacional Brasil indicam que o Cerrado deverá desaparecer até 2030).

http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/artigos.html

Parece que, individualmente, não estamos isentos da responsabilidade

com o quadro crítico em que o planeta se encontra, pois o consumismo

desenfreado, ou seja, insustentável, é o grande responsável pelo mesmo. Isso

significa dizer que o modelo econômico vigente não tem permitido às reservas

naturais o tempo necessário para sua recomposição.

LEMBRETELEMBRETE

Lembre-se que o conceito de desenvolvimento sustentável apresentado no Relatório de Bruntland é bem claro, quando diz que é preciso consumir somente o necessário para a nossa sobrevivência, levando em considerações as necessidades das gerações futuras.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

24

Os condicionantes apresentados até o momento demonstram a

necessidade de um caminho em direção a mudança. Nele, verifica-se a educação

como um fator crucial na tentativa da sensibilização dos indivíduos para a

mudança de postura, de modo que cada um se sinta responsável e mobilize

esforços para a realização de um trabalho lento e gradual de transformação,

semelhante ao das formiguinhas.

A esse respeito, Boff (2004, p.27) destaca que

Importa construir um novo ethos que permita uma nova convivência entre os humanos com os demais seres da comunidade biótica, planetária e cósmica; que propicie um novo encantamento face à majestade do universo e à complexidade das relações que sustentam todos e cada um dos seres. [...] A casa humana hoje não é mais o estado-nação, mas a Terra como pátria/mátria comum da humanidade.

Isso significa dizer que realmente são necessárias novas posturas de

sobrevivência, implicando em atitudes de cuidado, tendo por princípio a

atenção, o zelo e o desvelo (BOFF, 2004). Por se tratarem de posicionamentos

individuais com reflexo no coletivo, é pertinente ressaltar que o compromisso

gerado em Estocolmo em 1972 precisa ser reafirmado sempre, ou seja, a

educação ambiental permanente (seja ela formal, informal ou não formal),

pois é perceptível que, além dos interesses econômicos, estão também incluídas

questões socioculturais no contexto ambiental.

1.2.3 A educação como ferramenta para o uso sustentado do

planeta

Recapitulando nossa conversa inicial, lembra das quatro perguntas

que lhe foram feitas? Acreditamos que os dados tratados nesse capítulo

explicitam que você e eu somos tão responsáveis por cuidar do planeta

quanto os representantes políticos de países como Estados Unidos e China,

grande poluidores mundiais.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

25

“Quando dizemos, por exemplo: “nós cuidamos de nossa casa” subentendemos múltiplos atos como: preocupamo-nos com as pessoas que nela habitam dando-lhes atenção, garantindo-lhes as provisões e interessando-nos com o seu bem-estar. Cuidamos da aura boa que deve inundar cada cômodo, o quarto, a sala e a cozinha. Zelamos pelas relações de amizade com os vizinhos e de calor com os hóspedes. Desvelamo-nos para que a casa seja um lugar de benquerença deixando saudades quando partimos e despertando alegria quando voltamos. Alimentamos uma atitude geral de diligência pelo estado físico da casa, pelo terreno e pelo jardim. Ocupamo-nos do gato e do cachorro, dos peixes e dos pássaros que povoam nossas árvores. Tudo isso pertence à atitude do cuidado material, pessoal, ecológico e espiritual da casa” (BOFF, 2004, p. 33).

Isso significa lembrá-lo que o ser humano é um animal racional, portanto,

desde o nascimento adquire conhecimento e discernimento do que é benéfico ou

maléfico, seja usando o senso comum ou por meio do conhecimento científico. Fica

evidente que a educação é um processo permanente, sendo importante reforçar

a significância de sua contribuição para a utilização sustentável do planeta.

Visite o endereço eletrônico http://www.mma.gov.br/ e procure no campo de pesquisa a publicação Aqui é onde eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o Município Educador Sustentável, constantes na série desafios da educação ambiental. Leia o conteúdo do capítulo três (O meu e deles, o nosso e o de todos nós) e faça um resumo crítico do mesmo.

DESAFIO

Para que a EA ocorra a contento, é importante sempre retomar seus

objetivos e características estabelecidos na Conferência de Tbilisi (CEI, Geórgia)

realizada de 14 a 26 de outubro de 1977.

Assim, é interessante observar que, a partir de um processo onde

apreendamos como funciona o ambiente, a forma como dependemos dele,

como nossas atitudes, por mais simples que pareçam, são fornecedoras de

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

26

impactos, encontraremos mecanismos para a promoção da sustentabilidade.

E é nessa premissa que consiste uma EA consciente, crítica e transformadora,

capaz de fomentar atitudes revolucionárias para o enfrentamento da

problemática vigente. Para reforçar seu entendimento, o esquema, a seguir,

demonstra os caminhos para a EA transformadora.

CONHECIMENTOCOMPREENSÃOHABILIDADESMOTIVAÇÃO

SOLUÇÕESSUSTENTÁVEIS

VALORESMENTALIDADES

ATITUDES

QUESTÕES / PROBLEMASAMBIENTAIS

desenvolver

necessários para lidar com

e encontrar

para adquirir

FIGURA 2 - Esquema para EA crítica e transformadora (DIAS, 2004, p. 100)

Diante do exposto, como fazer para conseguir o pressuposto da EA crítica

e transformadora? Primeiro, é necessário um exercício individual. Responda às

perguntas abaixo, com base no seu cotidiano:

� Ao acordar, quais são as suas primeiras atitudes?

� Quanto e como você utiliza seu tempo no banheiro?

� Que tipos de alimentos são consumidos nas suas refeições?

� Como se dá o uso de equipamentos elétricos em sua residência? Quais e quantos existem? Qual o consumo de energia por eles dispensado?

� Quando você vai às compras, você atende às suas necessidades ou aos desejos impostos pela indústria cultural?

� Em sua casa tem jardim? Em caso afirmativo, como ele é regado?

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Capítulo 1

27

� Como é feito o descarte dos resíduos gerados em sua residência? Existe algum tipo de separação? Qual?

� Que tipo e com que combustível é movido o transporte por você utiliza-do? No caso de veículo próprio, como ocorre a lavagem do mesmo e em que periodicidade?

� Quantas peças existem em seu armário, incluindo roupas e calçados? Quais você utiliza?

� Qual a origem da água e energia elétrica que chega a sua casa, junta-mente com os móveis, equipamentos e utensílios?

� Em seu trabalho, existem medidas para evitar o desperdício de água, energia e papel? Você as utiliza?

� Como estas palavras REDUZIR, REUTILIZAR E RECICLAR estão empregadas no seu cotidiano?

Então, suas respostas são satisfatórias? Viu como você é dependente dos

recursos naturais? Não se assuste, pois, assim como seu cotidiano é impactante,

também é o de muitos outros ao redor do planeta. O importante é que, a

partir de agora, você é menos um sem conhecimento e com discernimento

para realizar suas escolhas com mais cuidado e zelo com o meio ambiente.

INTERAGINDOINTERAGINDO

Entre em contato com seus colegas de turma por meio do ambiente virtual de aprendizagem e discuta com os mesmos os resultados encontrados no questionário acima, levantando medidas mitigadoras para os impactos por vocês gerados.

Toda essa discussão foi para reforçar seu entendimento de quão complexa

é a questão ambiental, envolvendo também o enfoque econômico, social,

cultural e social, necessitando reflexão individual e coletiva com a premissa de

uma mudança de postura alinhada com a ética, a moral e a justiça ecológica.

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Capítulo 1

28

1.2.4 A ética, a moral e a justiça ecológica como premissas para a

mudança de postura

A grande perversão do nosso tempo, muito além daquelas que são comumente apontadas como vícios, está no papel que o consumo veio representar na vida coletiva e na formação do caráter dos indivíduos. [...] A moda é um desses artifícios com o qual as coisas ficam as mesmas, embora apresentando uma transformação. A moda é a manivela do consumo, pela criação de novos objetos que se impõem ao indivíduo. (SANTOS, 2007, p. 47 e 49).

Acreditamos que o discurso da citação anterior ilustra bem o caminho

que pretendemos percorrer ao apresentar a ética, a moral e a justiça ecológica

como premissas para a mudança de postura. Isto não significa dizer que, a

partir de agora, você deva realizar uma mudança radical nos seus hábitos e

posturas, entretanto, é imprescindível que ela ocorra de alguma forma.

Vivemos na sociedade do consumo, representada pelos shoppings centers,

grandes redes de supermercados, de lojas de departamentos, de fast foods,

entre tantos outros símbolos da vida moderna. Some-se a isso o fato de sermos

obrigados a conviver com tais símbolos cotidianamente, especialmente por

meio dos apelos criados pelos meios de comunicação de massa em campanhas

publicitárias com tamanho requinte e qualidade, que nos seduzem ao ponto

de cairmos na tentação do consumismo.

Diante disso, são criadas ou apropriadas pelo comércio inúmeras datas

comemorativas para o aquecimento das vendas, dentre elas citamos: carnaval,

páscoa, dias das mães, dos namorados, dos pais, das crianças e, é claro, o natal

(principal fonte de lucro para o comércio).

Santos (2007) ainda reforça esse condicionante, afirmando que esta

não é simplesmente uma sociedade do consumo e, sim, do consumo que gera

desperdício. Lembra quando dissemos anteriormente que se retiram os recursos

da natureza de forma tão veloz que não se permite à mesma o tempo hábil para

a regeneração? Pois bem, um grande contribuinte para isso é o desperdício.

Gostaríamos que você retomasse ao exercício cotidiano citado anteriormente e

verificasse em que respostas o desperdício é perceptível em seu consumo diário.

Para entender melhor o pressuposto do parágrafo anterior, é interessante

destacar que existe toda uma cadeia produtiva envolvida para isso, partindo

dos insumos primários até a chegada ao consumidor final.

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Capítulo 1

29

Acesse o endereço eletrônico:http://www.akatu.org.br/consumo_consciente/dicas/agua e leia a dica Use os dois lados de uma folha de papel. Feito isso, analise o grau de importância desse bem para a sua sobrevivência.

DESAFIO

É de extrema importância que você realize o desafio proposto, para uma

melhor compreensão do que estamos tentando demonstrar ao enfatizar, em diversos

momentos nesse texto, que estamos diante da sociedade do consumo alienado. Essa

afirmativa constante tem intenção de nos remeter ao fato de que muitas vezes somos

estimulados pelos apelos midiáticos para adquirirmos produtos desnecessários.

Essa aquisição, além de utilizar recursos de forma excedente, faz com

que seja gerado um número maior de resíduos no ambiente, levando a outro

problema sério, especialmente dos grandes centros urbanos: a destinação

final correta do lixo, desencadeando uma série de outros problemas, inclusive

de saúde ambiental provenientes do lixo.

Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a quantidade de lixo depositada no Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal (em toneladas):

Jan 2008: 28.702,06Fev 2008: 26.077,42Mar 2008: 26.462,76Abr 2008: 27.667,42Mai 2008: 26.142,93Jun 2008: 25.891,40Jul 2008: 27.112,26

CURIOSIDADE

BRASECO (2008)

Mais uma vez, retomamos a importância do processo educativo com

vistas ao estímulo da ação antrópica, pautada na minimização da problemática

ambiental, na qual se verifique a emergência de que a sociedade atual necessita

apresentar um novo aprendizado: a reeducação para o consumo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

30

Baudrillard apud Santos (2007, p. 48) contextualiza esse pressuposto,

quando afirma que:

A sociedade do consumo é também a sociedade de aprendizado do consumo, do condicionamento social do consumo - isto é, um modo novo e específico de socialização, em relação com a emergência de novas forças produtivas e a reestruturação monopolística de um sistema econômico a produtividade alta.

Fica evidente que, quando se fala em reeducação para o consumo, não

significa apresentar um modelo predefinido para tal, composto por sugestões

engessadas. Na verdade, cada um, por meio da análise prévia, é quem vai

decidir entre a necessidade para sua sobrevivência e o desejo imposto pela

mídia na hora da compra. Neste aspecto, é perceptível quão subjetiva é essa

questão, perpassando por princípios éticos e morais para nossas escolhas.

A ação baseada na ética e na moral

Ao travar um diálogo em torno da ética e moral, é preciso lembrar a

importância de pensarmos e agirmos de modo que os interesses individuais

nunca sobreponham os coletivos. Na atualidade, fica cada vez mais difícil

pautar ações seguindo esse contexto, pois vivemos num tempo de disputas e

jogo de interesses na busca da conquista e acumulação de bens e capital como

estilos de vida padrão. “O progresso econômico colocou o mundo às portas de

uma sociedade de ‘pós-escassez’, fundada em valores pós-materiais e liberada

dos constrangimentos da necessidade”(INGLEHART apud LEFF, 2008, p. 84).

Por isso, é importante frisar que esta é uma crise com características de

subjetividade, na qual os valores de cada um devem ser levados em conta para

a adoção de mudanças significativas, que reflitam na melhoria das condições

ambientais atuais. Em outras palavras, pode-se dizer que a eminência é

satisfazermos nossas necessidades, agindo de maneira a não prejudicar as dos

outros seres vivos existentes no planeta, ou seja, a cidadania planetária.

Toda a formação social e todo tipo de desenvolvimento estão fundados num sistema de valores, em princípios que orientam as formas de apropriação social e transformação da natureza. A racionalidade ambiental incorpora assim as bases do equilíbrio ecológico como norma do sistema econômico e condição de um desenvolvimento sustentável; da mesma forma se funda em princípios éticos (respeito e harmonia com a natureza) e valores políticos (democracia participativa e equidade social) que

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

31

constituem novos fins do desenvolvimento e se entrelaçam como normas morais nos fundamentos materiais de uma racionalidade ambiental. (LEFF, 2008, p. 85)

Novamente retomamos o discurso da mudança de postura, atrelada ao

comportamento humano em harmonia com a natureza, ou seja, uma nova ética

traduzida em práticas sociais transformadas por meio de uma racionalidade

social e alternativa.

Diante do exposto, surge uma pergunta que não quer calar: como você, em suas atitudes diárias, pode fazer para colaborar com a mudança da realidade vigente, bem como estimular naqueles que o (a) cercam atitudes proativas com esta finalidade?

REFLEXÃO

Nossa intenção aqui não é sugerir que você reescreva toda a sua história de

vida a partir de uma visão radical para novas posturas e, sim, que você verifique

outras possibilidades a respeito de suas escolhas de hoje em diante. Essas devem ter

em vista a premissa da adoção de valores humanistas que busquem “a integridade

humana, o sentido da vida, a solidariedade social, o reencantamento da vida e a

erotização do mundo” (LEFF, 2008, p.87). Essa afirmativa remete ao pressuposto

da cidadania, ou seja, da preocupação com outro, independente de quem ele seja.

Isso tudo nos permite afirmar ainda que, ao adotarmos posturas

humanistas, estejamos criando condições para a melhoria da qualidade de

vida associada ao consumo sustentável.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Para aprofundar seus conhecimentos sobre consumo sustentável acesse o link http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos.html e pesquise o artigo Guia de boas práticas para o consumo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

32

Com a sugestão acima, encerramos nossa discussão teórica, esperando

que ela tenha contribuído para despertá-lo para ações que promovam sua

cidadania planetária. Não esqueça a máxima: agir local, pensando no global,

pois o planeta Terra é de todos os seres vivos.

No próximo capítulo, aprofundaremos essa discussão, apresentando

o conteúdo: princípios e dimensões da sustentabilidade: econômica, social,

ecológica, cultural e espacial. Até lá.

1.3 Aplicando a teoria na prática

Leia o texto a seguir:

O cotidiano de Bia

Bia é uma engenheira com 33 anos, solteira, que mora sozinha num apartamento em uma grande metrópole e, por isso, tem acesso a inúmeras facilidades proporcionadas pelo desenvolvimento tecnológico.

O seu dia a dia é bastante agitado, em função das inúmeras obras que toca na construtora em que trabalha. Isso faz com que ela passe pouco tempo no seu lar. Apesar de todo esse movimento, em seu apartamento de dois cômodos, ela mantém os seguintes equipamentos: dois televisores, dois refrigeradores de ar, um computador e um notebook (com o qual realiza seus trabalhos), dois ventiladores, dois aparelhos de DVD, entre outros, que passam ociosos a maior parte do tempo, em função de sua vida tumultuada.

Bia não perde uma liquidação, por achar que é uma ótima oportunidade para adquirir utensílios que julga necessários ao seu cotidiano. Muitos desses não chegam nem a sair das embalagens.

No seu exercício profissional, ela prima pela qualidade nos projetos que elabora, no entanto, como trabalha em uma grande empresa, tem que priorizar a escolha de material com menor custo. Assim, não há nenhum tipo de preocupação com material que economize água e energia na utilização diária.

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Capítulo 1

33

Como mora só, Bia não vê necessidade de empregada doméstica, utiliza os serviços de uma diarista. Neste sentido, quando está em casa, ela compra comida pronta, fato que gera muito desperdício, pois ela sempre pede comida em excesso, por medo de não saciar sua fome.

Recentemente, com o objetivo de adquirir novos conhecimentos, almejando garantir empregabilidade, Bia iniciou um curso de especialização em saneamento ambiental. Neste curso, ela está conhecendo os princípios do desenvolvimento sustentável. A partir deles, ela pretende mudar seus hábitos pessoais e profissionais para garantir o usufruto dos recursos pelas gerações futuras, até porque agora ela está pensando em casar e constituir família.

Diante da problemática levantada, vamos ajudar Bia a mudar de postura

e a adotar práticas cotidianas sustentáveis.

Inicialmente, é importante propor a Bia a resolução do questionário sobre

o exercício cotidiano de nossas ações para que ela possa ter a dimensão do

quanto suas atitudes do dia a dia são insustentáveis para o futuro do planeta.

Bia também deve ter ciência que não se muda de um dia para outro, e que

as mudanças ocorrem de forma paulatina e pela educação ecológica. Para isso,

ela precisa se tornar uma pesquisadora constante, pois, além de consumidora

desenfreada, ela é profissional da construção civil, área extremamente

impactante e que requer medidas mitigadoras para os impactos que gera.

De acordo com Boff (2004, p. 134), essa engenheira precisa perceber que:

[...] cada pessoa precisa descobrir-se como parte do ecossistema local e da comunidade biótica, seja em seu aspecto de natureza, seja em sua dimensão de cultura. Precisa conhecer os irmãos e irmãs que compartem da mesma atmosfera, da mesma paisagem, do mesmo solo, dos mesmos mananciais, das mesmas fontes de nutrientes; precisa conhecer o tipo de plantas, animais e microorganismos que convivem naquele nicho ecológico comum; precisa conhecer a história daquelas paisagens, visitar aqueles rios e montanhas, freqüentar aquelas cascatas e cavernas; precisa conhecer a história das populações que aí viveram sua saga e construíram seu habitat, como trabalharam a natureza, como a conservaram ou a depredaram, quem são seus poetas e sábios, heróis e heroínas, santos e santas, os pais/mães fundadores de civilização local.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

34

É importante que Bia desenvolva e pratique a cidadania planetária capaz

de reduzir o consumo, por meio da doação dos bens em excesso que adquiriu,

bem como da vigilância para não comprar somente pelos apelos midiáticos.

Ela deve também evitar os descartáveis à medida que prioriza os reutilizáveis.

A engenheira ainda pode contribuir fazendo a separação do seu lixo, dando a

destinação correta para o mesmo, ou seja, retirando os recicláveis, separando

inclusive grandes vilões, como pilhas e baterias. Além disso, ela pode utilizar

a tecnologia a favor do ambiente por meio da busca de conhecimento sobre

formas sustentáveis de consumo e geração de energia.

É preciso destacar que não se trata de desenhar uma nova Bia, esquecendo

seu passado, ou ainda, colocá-la como vilã do planeta por causa dos seus erros.

O que importa aqui é fazer com ela perceba o quanto tem agido errado e

que ela pode corrigir esses erros a partir da adoção de novas posturas de

sobrevivência com a premissa de buscar qualidade de vida associada a modo

de vida sustentável.

Por isso, é importante que ela perceba que:

O que vale para o indivíduo vale também para a comunidade local. Ela deve fazer o mesmo percurso da inserção no ecossistema local e cuida do meio-ambiente; utilizar seus recursos de forma frugal, minimizar desgastes, reciclar materiais, conservar a biodiversidade. Deve conhecer a sua história, seus personagens principais, seu folclore. Deve cuidar da sua cidade, de suas praças e lugares públicos, de suas casas e escolas, de seus hospitais e igrejas, de seus teatros, cinemas e estádios de esporte, de seus monumentos e da memória coletiva do povo. Assim, como exemplo, escolher espécies vegetais do ecossistema local para plantar nos parques e vias públicas, e nos restaurantes valorizar a cozinha local e regional. (BOFF, 2004, p.136)

Mais uma vez, é preciso lembrar que Bia deve ter em mente que, para fazer

sua parte e ser uma cidadã comprometida com o mundo, é necessário o exercício

diário e a busca constante de novas informações sobre medidas mitigadoras.

Vale lembrar, ainda, que ela deve assumir o compromisso com a difusão

e intercâmbio desses novos saberes, bem como incluí-los na sua vida pessoal e

profissional. Isto significa dizer que, em termos ambientais, temos só uma vida

e o compromisso de contribuir para a salvaguarda da qualidade de todos os

seres vivos do planeta Terra, que, aliás, é apenas um.

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Capítulo 1

35

1.4 Para saber mais

BARBIERE, José Carlos. Desenvolvimento e Meio Ambiente. 11. ed. Petrópolis:

Vozes, 2009.

O livro discute os seguintes questionamentos atuais: como crescer sem

poluir tanto a água, o ar e o solo? Como conciliar crescimento econômico e

melhoria do nível de vida? Como explorar os recursos naturais, sem esgotar

o planeta?

CARVALHO, Isabel Cristina M. Educação Ambiental: a formação do sujeito

ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. 256 p.

O livro discute o conceito de sujeito ecológico, entendido como um

conjunto de crenças e valores, que serve de orientação e modelo de identificação

para a formação de identidades individuais e coletivas. A proposta educativa,

que inspira este livro, é contribuir para a formação de sujeitos capazes de

compreender o mundo e agir nele de forma crítica.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São

Paulo: Gaia, 2004.

Este livro, um clássico de referência na literatura ambientalista brasileira,

reúne um conjunto de informações fundamentais para a promoção do processo

de Educação Ambiental.

SENAC.DN. Se cada um fizer sua parte... ecologia e cidadania. Rio de Janeiro:

Senac Nacional, 1998.

O livro traz um panorama de como a preocupação com o meio ambiente

diz respeito ao cidadão, fazendo parte do seu cotidiano e de sua condição de

agente transformador da realidade por meio de uma solidariedade planetária.

Filme: O DIA DEPOIS DE AMANHÃ. (EUA, 2004. Duração: 124 min.) Dirigido

por Roland Emmerich.Roteiro de Roland Emmerich e Jeffrey Nachmanoff.

Produção: Roland Emmerich, Ute Emmerich, Stephanie Germain, Mark

Gordon, Thomas M. Hammel, Lawrence Inglee, Kelly Van Horn, Kim H. Winther.

Distribuição: Fox Film do Brasil.

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Capítulo 1

36

A Terra sofre alterações climáticas que modificam drasticamente a vida da

humanidade. Com o norte se resfriando cada vez mais e passando por uma nova era

glacial, milhões de sobreviventes rumam para o sul. Porém, o paleoclimatologista

Jack Hall (Dennis Quaid) segue o caminho inverso e parte para Nova York, já que

acredita que seu filho Sam (Jake Gyllenhaal) ainda está vivo.

1.5 Relembrando

Chegamos ao final do nosso primeiro momento. Neste capítulo, você viu

a questão ambiental e sua interface com a educação na atualidade, percebendo

a importância de inserir a ética e a moral como elementos norteadores para o

alcance da justiça ecológica a fim de se atingir a cidadania planetária.

Diante disso, foi traçada uma estrutura para facilitar seu entendimento

sobe o tema, elencando procedimentos e sugestões passíveis de serem adotados

por cada um com o intuito da mudança de postura frente à maneira como é

encarado o consumo, tendo em vista que este deve primar pela sustentabilidade

da ação humana.

Desse modo, encerramos esse capítulo na esperança de ter contribuído

para sua reflexão, seguida da adoção de práticas cotidianas capazes de minimizar

impactos ao nosso planeta.

1.6 Testando os seus conhecimentos

Com o objetivo de propiciar a aplicação dos conteúdos apresentados

durante este capítulo, bem como verificar a compreensão dos mesmos, é

apresentado o presente questionamento a ser desenvolvido de acordo com a

sequência dos conteúdos.

A diretriz do desenvolvimento sustentável pressupõe uma perspectiva

ética em que o conceito de desenvolvimento econômico vem necessariamente

articulado com as dimensões sociais e ambientais. Compreender a crise

ambiental em que o planeta está imerso, implica perceber que temos

coparticipação com a mesma. Ao chegarmos nessa dimensão do saber, surge

a necessidade da concepção de novas posturas, orientadas por atitudes que

envolvam princípios éticos e morais capazes de promover a justiça ecológica.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

37

Diante do exposto, é imprescindível o exercício permanente para a reflexão

das atitudes diárias. Trata-se de um processo educativo constante, onde cada

dia funciona como um treino para fazermos sempre a escolha certa de modo a

contribuirmos para a sustentabilidade do planeta pelo exercício da cidadania.

Como a educação é uma ferramenta de destaque para a ocorrência do

consumo sustentável, de modo a evitar o desperdício, diminuindo a geração

de resíduos, surge a seguinte problemática: de que forma cada um pode fazer

sua parte dentro desse processo educativo? Que atitudes podem ser tomadas

para minimizar a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa? O que fazer

para reduzir o consumo de energia, água e geração de resíduos na natureza?

Onde encontrar

AMBIENTE BRASIL. Guia de Boas Práticas para o Consumo Sustentável.

Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/artigos/

guia_de_boas_praticas_para_o_consumo_sustentavel.html?query=Dicas+de+c

onsumo+sustent%C3%A1vel. Acesso em: 22 mar. 2010.

______. 2030: o ano final do Cerrado (Estudos da ONG ambientalista Conservação

Internacional Brasil (CI-Brasil) indicam que o Cerrado deverá desaparecer

até 2030). Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/florestal/

artigos/2030%3A_o_ano_final_do_cerrado.html?query=desmatamento,

Acesso em: 08 mar. 2010.

BAUDRILLARD, Jean. La société de consommation. Paris: Denöel, 1970. In:

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: ética do Humano-Compaixão pela Terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

BRASECO INFORMA. Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a quantidade de

lixo depositada no Aterro Sanitário da Região Metropolitana de Natal. Boletim

Braseco Informa, Natal/RN, ano 3, n. 1, 2008. Disponível em: <http://www.

braseco.com.br/2008/informativo/ano3no1.pdf>. Acesso em: 09 jan. 2010.

BUARQUE, Cristovam Buarque. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar

Pinheiro do; VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento

sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 1

38

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental: princípios e práticas. 9. ed. São

Paulo: Gaia, 2004.

COMÉRCIO comemora aumento de 11% no número de vendas no Natal.

Disponível em: http://videos.r7.com/comercio-comemora-aumento-de-11-no-

numero-de-vendas-no-natal/idmedia/bd3163a7df9b5352830a7091be946dee.

html, Acesso em: 09 jan. 2010.

INGLEHART, R. El cambio cultural en las sociedades industriales avanzadas.

Madri: Siglo XXI, 1991. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade,

racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

INSTITUTO Akatu pelo consumo conciente. Use os dois lados de uma folha de

papel. Disponível em: http://www.akatu.net/consumo_consciente/dicas/agua/

use-os-dois-lados-de-uma-folha-de-papel. Acesso em: 22 mar. 2010

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum. Oslo:

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD),

1987. Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl

=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.un-documents.net%2Fwced-ocf.htm.

Acesso em: 16 mar. 2010.

PARE o mundo que eu quero descer. Consumo de água de uma família de

classe média. Disponível em: <http://pareomundo.spaceblog.com.br/r14734/

Consumo-Consciente-dicas/>. Acesso em: 09 jan. 2010.

REVISTA Eco 21. Desmatamento, perda de biodiversidade e pobreza. Disponível

em: http://www.eco21.com.br/home/index.asp. Acesso em: 08 mar. 2010

SANTOS, Milton. O Espaço do Cidadão. São Paulo: Nobel, 2007.

SÉRIE desafios da educação ambiental. Disponível em: http://www.mma.gov.

br/sitio/index.php?ido=conteudo.monta&idEstrutura=20&idConteudo=4393&

idMenu=2304. Acesso em: 09 jan. 2010.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 39

2.1 Contextualizando

No capítulo anterior, tivemos a dimensão do quanto às ações humanas são

impactantes ao bom funcionamento do planeta Terra. Vimos também que essa

situação é passível de ser minimizada, desde que cada um se comprometa em

fazer sua parte para a promoção da justiça ecológica. Portanto, é imprescindível

confirmar que esse processo diário de mudança de hábitos degradantes faz

parte da reeducação do ser humano para uma cidadania planetária.

Neste capítulo, daremos continuidade à discussão da disciplina

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, apresentando os princípios e

dimensões da sustentabilidade: econômica, social, ecológica, cultural e espacial.

Com esse conteúdo, será possível verificar que falar de sustentabilidade implica

em trazer o contexto multidisciplinar necessário para uma apreensão coerente da

mesma, por meio dos cinco pilares aqui apresentados. Desse modo, sistematizar

ações pautadas nos princípios e dimensões apresentados no presente capítulo será

mais uma ferramenta para garantir o difundido desenvolvimento sustentável.

É importante que, ao final desse capítulo, você esteja apto a:

� Descrever os princípios norteadores da sustentabilidade ambiental;

� Identificar a importância de cada princípio norteador da sustentabilida-

de ambiental, bem como sua inter-relação.

� Descrever a dimensão dos princípios norteadores da sustentabilidade;

� Verificar a aplicabilidade de tais princípios no exercício profissional, ado-

tando medidas mitigadoras e de compensação ambiental.

PRINCÍPIOS E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE: ECONÔMICA, SOCIAL,

ECOLÓGICA, CULTURAL E ESPACIAL

CAPÍTULO 2

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

40

Esperamos que você aproveite ao máximo os conteúdos discutidos neste

capítulo e tenha um bom estudo!

2.2 Conhecendo a teoria

2.2.1 A sustentabilidade econômica

Iniciamos nossa discussão trazendo à luz o princípio de maior conflito

conceitual quando se fala em sustentabilidade, pois pensá-la atendendo aos

interesses econômicos requer visualizá-la do ponto de vista da acumulação

de riquezas de forma justa e igualitária. Quando se fala em economia, logo

se remete a sua mola propulsora, o consumo, pois é ele quem a movimenta e

alimenta seu crescimento.

Ao tratar dessa temática no capítulo anterior, ficou perceptível como a

humanidade tem se comportado diante do consumo e como os apelos midiáticos

têm se mostrado verdadeiramente sedutores, ao ponto de transformar os

desejos em necessidades básicas à sobrevivência humana.

A esse respeito, Leff (2008, p.42-43) afirma que “a convulsão dos

fundamentos que sustentam hoje a ordem econômica dominante nos

coloca diante do desafio de transformar, a partir de suas bases, o paradigma

insustentável da economia.”

Em outras palavras, Leff (2008) critica a forma como o consumo tem

direcionado a economia, por meio da busca incessante pela acumulação

do capital privado.

Isso se deve ao fato de que, ao longo de sua evolução, a humanidade

passou a querer suprir mais do que sua necessidade de sobrevivência, pois,

à medida que foram surgindo os avanços tecnológicos, outros objetivos

passaram a ser perseguidos. Temas como espiritualidade longevidade, prazer,

conforto, beleza e convivência são alvo das aspirações humanas.

Novamente vem à tona a dicotomia necessidade versus desejo. E é aí

que entra em pauta o modelo econômico vigente, ou seja, o capitalismo, cujo

crescimento está alicerçado nos pilares do consumo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

41

O Capitalismo é um modo de produção pelo qual a economia se dá em unidades chamadas empresas, que são de propriedade privada, embora algumas possam ter o governo como proprietário (SINGER, 1998).

SAIBA QUE

Em linhas gerais, esta é a forma de organização das atividades produtivas

(econômicas) da sociedade baseada no princípio de que os indivíduos podem

exercer domínio sobre os recursos, com o intuito de transformá-los em bens e

serviços, agregando sempre um novo valor. Essa ação se perpetua por meio de

uma cadeia, cujo eixo norteador é o acúmulo privado de capital, justificado na

máxima do crescimento econômico.

Essa forma de quantificação de crescimento (centrado na produção)

gera uma necessidade que deve ser atendida por todos nós: achar um ponto

de equilíbrio para tal, de modo que todos possam usufruir dos benefícios

intrínsecos ao crescimento.

Boff (2004, p. 17) confronta esse condicionante quando afirma que “o

projeto de crescimento material ilimitado, mundialmente integrado, sacrifica

2/3 da humanidade, extenua recursos da Terra e compromete o futuro das

gerações vindouras.” Isto significa dizer que a prioridade está na apropriação

dos indivíduos sobre todas as coisas detentoras de valor, para um posterior

acúmulo de capital, seguindo os pressupostos do neoliberalismo.

Neoliberalismo: intervenção artificial do Estado no plano jurídico e econômico, sendo este efeito apenas transitório, ou seja, o mercado é quem orienta o rumo das decisões de governo (SINGER, 1998).

Infelizmente, o objeto da apropriação humana é o Planeta Terra, e

esta ocorre de forma desigual, ou seja, uns se tornam cada vez mais ricos em

detrimento de outros cada vez mais pobres (Quadro 1). Essa máxima ainda

ocorre em um sistema competitivo gerador de exclusão e individualismo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

42

CONSUMO (DO TOTAL

OFERECIDO)

20% DA POPULAÇÃO

MAIS RICA

20% DA POPULAÇÃO

MAIS POBRE

�� Carne e peixe 45% menos de 5%

�� Energia 58% menos de 4%

�� Linhas telefônicas 74% 1,5%

�� Papel 84% 1,1%

�� Veículos 87% menos de 1%

Quadro 1 - Balança de consumo entre ricos e pobres (PNUD, 2003)

Os dados apresentados no quadro 1 elucidam o que estamos tentando

abordar ao afirmar que o modelo econômico atual aponta para o crescimento e

não para o desenvolvimento como premissa para o alcance da sustentabilidade.

Neste caso, reforçamos a conceituação que vem sendo trabalhada desde o

início deste livro texto de que sustentabilidade significa consumir hoje, sem

comprometer os recursos para o amanhã.

Neste sentido, é importante destacar que, para atingir a sustentabilidade

econômica, é imprescindível a igualdade na distribuição dos recursos. A esse

respeito é válido mencionar alguns preceitos da Agenda 21, fruto da Rio-92

(citada no capítulo anterior), que traz como principais pontos a erradicação da

pobreza, a proteção aos recursos naturais e mudança de modos de produção

e hábitos de consumo.

Adotar esses pontos significa rever a estrutura econômica vigente, ou

seja, uma sociedade onde todos os seus membros estivessem em situação de

igualdade. Para isso ocorrer, seria necessário o estímulo e a cooperação entre

os participantes da atividade econômica (SINGER, 2002).

Ao apresentar essa afirmativa, Singer evidencia o quanto é urgente para

a humanidade pensar em um sistema econômico alternativo ao capitalismo,

em função das desigualdades sociais que o mesmo gera, uma vez que o

acúmulo de riqueza é a sua principal meta.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

43

Para ilustrar essa afirmativa, mencionamos o exemplo do Banco Comunitário da localidade de Palmas, existente na periferia de Fortaleza – CE. Trata-se de um serviço financeiro, de natureza comunitária, que tem por base os princípios da Economia Solidária e que oferece à população de baixa renda da citada localidade quatro serviços: fundo de crédito solidário, moeda social circulante local, feiras de produtores locais e capacitação em Economia Solidária. Esta iniciativa é uma referência para a América Latina. Além disso, ganhou o Prêmio Finep de Inovação na categoria tecnologia social no ano de 2008 e tem contribuído para a melhoria da qualidade de vida dos 30.000 cidadãos que ali residem.

SAIBA QUE

Apesar de iniciativas como a do Banco Palmas já se apresentarem como

uma realidade na busca por alternativas tecnológicas sociais, a humanidade

ainda não conseguiu implantar mecanismos dessa natureza de forma global.

Isso tem estimulado as pressões populares para um reposicionamento de

governos e empresas frente aos problemas ambientais.

Como reflexo disso, percebe-se um cuidado maior nas decisões tomadas,

tendo em vista o fato de esta poder ser avaliada e divulgada pelo prisma da

sustentabilidade, especialmente a partir dos mecanismos do Protocolo de Kyoto.

Conforme informação tratada no capítulo 1 deste livro-texto, você pôde

verificar que o protocolo de Kyoto foi gerado a partir da preocupação da

comunidade internacional como os rumos da intervenção humana no clima,

especialmente com relação às emissões de gases poluentes. Neste sentido,

criou-se o mercado de créditos de carbono ou redução simplificada dos gases

que provocam o efeito estufa por meio da certificação. Para tal, a bolsa

do clima foi criada nos Estados Unidos, com a finalidade de intermediar as

negociações desse Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).

Fica evidente que essas ações são fruto da participação social ativa. Entretanto,

tais avanços poderiam ser bem maiores, caso o controle e a participação social dos

cidadãos ocorresse com maior expressividade nos países em desenvolvimento.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

44

2.2.2 A sustentabilidade social

Retomando o capítulo anterior, trazemos a constatação de que vivemos

em uma sociedade marcada por estereótipos e desejos de consumo implantados

pela indústria cultural. Surge, assim, uma homogeneização dos desejos e

atitudes nas relações sociais, marcada pelo estímulo ao individualismo seguido

da competição desmedida, onde nem sempre se pode ter o que se quer.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Ilustrando esse caso, temos a revista Forbes, que publica anualmente a lista das pessoas mais ricas do mundo. Se você acessar o site http://www.forbes.com/lists/ e buscar por Billionares poderá encontrará esse ranking.

Esses aspectos de homogeneização são marcantes para instauração do

quadro de desigualdades sociais vigentes no planeta, oriundas da concentração

de renda gerada pelo propósito da acumulação de capital. Essa retórica faz com

que se criem verdadeiros bolsões de pobreza, onde reina a fome e a miséria

absoluta de um lado e, do outro, acúmulo de riqueza gerando ostentação e luxo.

Como falar em sustentabilidade diante dos aspectos elencados acima, marcando a divisão do planeta em dois mundos: um, em que os indivíduos não podem sequer ser considerados cidadãos, uma vez que lhes é negado todas as condições de sobrevivência; e outro tão individualista ao ponto de possuir um par de sapato para cada peça de roupa existente no roupeiro?

REFLEXÃO

Para clarear seu entendimento, pense no catador de lixo que tem seu

sustento a partir da colheita dos resíduos gerados por nós e depositados em

um lixão. De repente, esse indivíduo se depara com a construção de um aterro

sanitário (melhor forma de destinação final do lixo), que acabará com o lixão. Será

que esse cidadão apresenta condições de discernir sobre a importância da obra?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

45

Provavelmente, o caso não é apenas se é necessário que ele retire as

sobras de um lixão para sobreviver, obviamente o sistema não favoreceu ao

mesmo acesso à educação, garantindo-lhe empregabilidade. Ele significa ainda

afirmar que, para o mesmo, é melhor que o lixo continue sendo destinado de

forma errônea, pois, se não mais ali existir, seu sustento ficará comprometido.

Novamente, fica evidente a complexidade do termo sustentabilidade,

bem como os encaminhamentos que ele suscita dada a sua característica

multidisciplinar. Para ilustrar essa proposição, vamos mencionar a abordagem

apresentada por Leff apud Leff (2008, p. 58), quando diz que:

Hoje o número de pobres é maior do que nunca antes na história da humanidade, e a pobreza extrema avassala mais de um bilhão de habitantes do planeta. Este estado de pobreza ampliada e generalizada não pode ser atribuído às taxas de fertilidade dos pobres, às suas formas irracionais de reprodução e à sua resistência a integrar-se ao desenvolvimento. Hoje, a pobreza é resultado de uma cadeia causal e de um círculo vicioso de desenvolvimento perverso-degradação ambiental-pobreza, induzido pelo caráter ecodestrutivo e excludente do sistema econômico dominante.

Para uma melhor compreensão do discurso acima, bem como prosseguimento ao conteúdo aqui exposto, sugerimos que você visite a biblioteca do campus Salgado Filho e pesquise no documento Síntese de indicadores sociais 1998 do IBGE, dados sobre: educação, nível de renda, taxa de desemprego de sua cidade. Acrescentamos que será produtivo se você realizar uma análise comparativa dos dados, considerando a realidade das regiões mais abastadas com as menos favorecidas.

DESAFIO

As informações tratadas até o momento demonstram que pensar em

desenvolvimento sustentável implica considerar os aspectos que permitam a

formatação de uma sociedade justa e igualitária.

Com essa visão voltada para a racionalidade social no ano 2000, 189

países se comprometeram com a Declaração do Milênio (veja o quadro 2), fato

que demonstra a necessidade urgente de se alcançar a sustentabilidade social,

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

46

ou seja, democratizar o acesso à informação e ao conhecimento como forma

de promover a qualidade de vida dos indivíduos. Além disso, é fundamental

a criação de mecanismos que possibilitem a participação e o controle social.

1 – erradicar a extrema pobreza e fome;

2 – atingir o ensino básico universal;

3 – promover a igualdade de gênero e a autonomia das mulheres;

4 – reduzir a mortalidade infantil;

5 – melhorar a saúde materna; 6 – combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças;

7 – garantir a sustentabilidade ambiental;

8 – estabelecer parceria mundial para o desenvolvimento.

Quadro 2 - Metas da Declaração do Milênio (CAMARGO, 2010)

Isso somente será possível à medida que for incorporado um novo olhar para

o sistema produtivo, por meio de propostas que contemplem o desenvolvimento

social. Ele deve observar, em sua pauta, propostas que contemplem o

aproveitamento total dos recursos como forma de fazer frente aos impactos

gerados pelo desemprego. Tal premissa só será possível quando houver integração

dos projetos produtivos das comunidades tradicionais, sejam elas rurais, indígenas

ou urbanas. Os eixos norteadores dessa ação deverão ser a descentralização das

tomadas de decisão a partir de uma política de incentivo a autogestão. (LEFF, 2008)

Diante dessa explanação, a palavra de ordem se chama ‘planejamento’,

ou seja, conhecer a realidade de cada localidade para propor estratégias de

atuação com foco na resolução dos problemas.

Vale salientar que planejar o desenvolvimento social requer um olhar para

os ecossistemas nos quais se está inserido, levando sempre em consideração o

manejo das atividades produtivas.

2.2.3 A sustentabilidade ecológica

Acreditamos que, com o avanço do conteúdo, você esteja percebendo que

a sustentabilidade não é um tema que deva ser tratado apenas nas discussões

teóricas ou restritas aos ambientalistas. Aliás, com os desdobramentos

apresentados por essa temática, cada indivíduo deve ser um ambientalista

nato, diante do propósito da conservação das espécies do planeta.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

47

Diante disso, é importante ressaltar que falar em sustentabilidade significa pensar

nela incluindo o ponto de vista ecológico. Para tal, é fundamental perceber como se

processa a vida sob todos os aspectos, reconhecendo sua importância e o significado

de cada ser, bem como nossa responsabilidade para a manutenção da mesma.

“É injusto e imoral tentar fugir às conseqüências dos próprios atos. É justo que a pessoa que come em demasia se sinta mal e jejue. É injusto que quem cede aos próprios apetites fuja às conseqüências tomando tônicos e outros remédios. É ainda mais injusto que uma pessoa ceda à próprias paixões animalescas e fuja às conseqüências dos próprios atos”. (Mahatma Gandhi).

Diante do pensamento acima, como se pode mensurar a responsabilização do ser humano para o alcance da sustentabilidade ecológica e manutenção da vida?

REFLEXÃO

Para complementar seu entendimento da discussão que estamos

iniciando, destacamos o posicionamento de Boff (2004, p. 133) ao mencionar

a emergência do cuidado com o nosso único planeta:

Cuidado todo especial merece nosso planeta Terra. Temos unicamente ele para viver e morar. É um sistema de sistemas e superorganismo de complexo equilíbrio, urdido ao longo de milhões e milhões de anos. Por causa do assalto predador do processo industrialista dos últimos séculos este equilíbrio está prestes a romper-se em cadeia. Desde o começo da industrialização, no século XVIII, a população mundial cresceu 8 vezes, consumindo mais e mais recursos naturais; somente a produção, baseada na exploração da natureza, cresceu mais de cem vezes. O agravamento deste quadro com a mundialização do acelerado processo produtivo faz aumentar a ameaça e, conseqüentemente, a necessidade de um cuidado especial com o futuro da Terra.

Será que estamos numa encruzilhada? O método atual de apropriação da

natureza coloca em risco as condições físicas de vida no planeta? Perguntamos,

ainda, como impor limites ao crescimento, atendendo todas as circunstâncias

(energia, alimentos, moradia, água, etc.) que esta demanda implica?

Os questionamentos acima servem de alerta para a seguinte situação:

estamos na era do conhecimento e o avanço tecnológico tem proporcionado a

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

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criação de mecanismos que contribuem para intervenções menos impactantes

no ambiente, que são, em alguns momentos, negligenciadas em função dos

custos de implantação ou manutenção, ou, até mesmo, por falha do sistema,

quando as agências reguladoras não realizam a fiscalização necessária.

Isso significa reforçar o conteúdo visto no capítulo anterior dessa

disciplina, pois toda a ação antrópica desencadeia um impacto no ambiente.

A partir desse pressuposto, é necessário adotar medidas capazes de mitigá-lo.

Para isso, é importante que, em cada intervenção, se verifique os cuidados

necessários, bem como as formas de compensação para danos inevitáveis.

Assim, é preciso compreender os atributos e a definição de parâmetros

de valoração dos impactos ambientais originados nas intervenções ambientais.

Estes podem ser entendidos pelo disposto no quadro 3:

ATRIBUTOS PARÂMETROS DE VALORAÇÃO

�� Caráter: expressa a alteração ou modificação gerada por uma ação.

Benéfico: quando for positivo Adverso: quando for negativo.

�� Magnitude: extensão do impacto num dado componente do fator ambiental afetado.

Pequena, média, grande.

�� Importância: o quanto cada impacto é relevante na sua relação de interferência com o meio ambiente ou quando compa-rado com outros impactos.

Não significativa, moderada, significativa.

�� Duração: tempo de permanência do impacto depois da ação que o gerou

Curta, média, longa.

�� Ordem: relação entre a ação e o impacto. Direta, indireta.

�� Reversibilidade: delimita a possibilidade de retorno ou não ao estado original com o fim de determinada intervenção ambiental.

Reversível, irreversível.

�� Temporalidade: interinidade da interven-ção ambiental.

Temporário, cíclico, permanente.

�� Escala: grandeza do impacto com relação à área de abrangência.

Local, regional.

Quadro 3 - Conceituação dos atributos e definição dos parâmetros de valoração dos impactos ambientais (TAVARES, 2008)

Estes elementos são indispensáveis para a definição de medidas

mitigadoras e compensatórias, ou seja, de formas para atenuar e/ou minimizar

os impactos da intervenção humana em determinado fator ambiental.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

49

Um instrumento que deve ser levado em consideração no atendimento à

valoração dos impactos ambientais é o documento Cuidado do planeta Terra

(veja o quadro 4). Tal mecanismo é uma estratégia elaborada pelo Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNU-MA), o Fundo Mundial para

a Natureza (WWF) e União Internacional para a Conservação da Natureza

(UICN), cujos princípios fundamentam-se no cuidado. (BOFF, 2004).

1 – Construir uma sociedade sustentável.

2 – Respeitar e cuidar da comunidade dos seres vivos.

3 – Melhorar a qualidade da vida humana.

4 – Conservar a vitalidade e a diversidade do planeta Terra.

5 – Permanecer nos limites de capacidade de suporte do planeta Terra.

6 – Modificar atitudes e práticas pessoais.

7 – Permitir que as comunidades cuidem do seu próprio meio ambiente.

8 – Gerar uma estrutura nacional para inte-grar desenvolvimen-to e conservação.

9 – Construir uma aliança global.

Quadro 4 – Estratégias de cuidado com o planeta Terra (BOFF, 2004, p. 134)

Fica evidente que as estratégias estão postas à mesa, sendo preciso,

portanto, compromisso político, uma tarefa extremamente complexa dada a

necessidade de fixar limites em nível planetário. Incluir a política nesse diálogo

traz a necessidade de pensar fator cultural de cada povo e sua influência em

esfera global.

2.2.4 A sustentabilidade cultural

Vivemos no mundo dos modismos arraigados por conceitos estereotipados

de feio e belo, de divisão em seres com inteligência superior e inferior e

tantas outras subjetividades criadas para afirmar o poder do capitalismo. Essas

características tornaram-se mais evidentes com o advento da globalização

impulsionada pelo desenvolvimento tecnológico, favorecendo a igualdade de

costumes, hábitos e atitudes, entre outras.

Evidenciar um estilo de vida padronizado leva à desconsideração dos

saberes e manifestações tradicionais do conteúdo local, por serem percebidos

como arcaicos e rudimentares, não atendendo a necessidade de produção

massificada. Assim, gera-se uma construção de desigualdades e pobreza.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

50

Esta destruição da base dos recursos do planeta e seu impacto nos valores culturais e humanos gerou a necessidade de orientar as formas de desenvolvimento para eliminar a pobreza crítica e passar da sobrevivência á melhoria da qualidade de vida. (LEFF, 2008, p. 90)

Esse raciocínio demonstra que, felizmente, o modo de apropriação da

cultura, por muito tempo pregado como o ideal, tem sido negado a fim de

atender aos princípios da sustentabilidade.

Essa preocupação tem sido percebida pela forma que o estilo de vida

adotado por personagens, como Madre Tereza de Calcutá e Mahatma Gandhi,

tem estimulado a adoção de comportamentos baseados no cuidado do outro.

Madre Tereza de Calcutá (910-1997), à esquerda, foi uma missionária católica albanesa, nascida na República da Macedônia e naturalizada indiana, beatificada pela Igreja Católica.

Mahatma Gandhi (1869 – 1948), à direita, foi um líder político e espiritual da Índia. Soube utilizar-se engenhosamente de toda a tradição para reerguer o orgulho de sua gente, abalada pela dominação e deu muito que pensar àqueles que se consideravam “superiores” e, por isso, dominavam.

BIOGRAFIA

Esse pressuposto do cuidado sugere a adoção de estratégias de

desenvolvimento, que priorizem os saberes tradicionais de manejo, ou seja, a

valorização do local em detrimento do global. Surge, assim, a necessidade de

valorização das identidades nacionais, por meio da afirmação de sua cultura e

conhecimento acumulado ao longo da evolução humana.

Cabe ainda considerar, nesse aspecto, a sabedoria de povos tradicionais, como

camponeses e indígenas, bem como o patrimônio cultural (material e imaterial)

constituído na formação dos povos. Como exemplo de patrimônio material e

imaterial, podemos citar a arquitetura e a gastronomia local, respectivamente.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

51

É válido destacar o raciocínio apresentado por Leff (2008, p.93), quando

afirma que “a ética ambiental vincula a conservação da diversidade biológica do

planeta ao respeito à heterogeneidade étnica e cultural da espécie humana.”

Levantar essa questão implica no reconhecimento do espaço individual e

coletivo e uma apropriação coerente do mesmo.

2.2.5 A sustentabilidade espacial

No decorrer deste capítulo trouxemos a discussão da sustentabilidade

por meio dos princípios e dimensões que a cercam. Incluso neles, está à defesa

da sustentabilidade espacial por aqueles que estudam e debatem o tema.

Falar em sustentabilidade espacial significa elencar fatos como

concentração populacional, densidade demográfica, urbanização. A esse

respeito Leff (2008, p. 340) diz que “o lugar é o locus das demandas e das

reivindicações das pessoas pela degradação ambiental, assim como suas

capacidades de reconstruir seus mundos de vida”.

Você já parou para pensar no percentual de urbanização planetária? Quais a condições de vida das grandes metrópoles?

REFLEXÃO

Quando trazemos elementos que sugerem a reflexão sobre qualidade de vida

para a discussão, temos a intenção de fazê-lo compreender o quanto a concentração

populacional em torno das grandes cidades tem contribuído para o caos ambiental.

Problemas como: poluição atmosférica, contaminação do lençol freático, consumo

excessivo de água, geração de resíduos, precariedade dos assentamentos humanos,

segregação socioespacial, entre outros, são mais acentuados nos centros urbanos.

Como forma de ilustrar esse discurso, apresentamos a verticalização de

cidades litorâneas em função da especulação imobiliária, em alguns momentos,

em outros, pelo déficit habitacional. Essas edificações têm ocasionado o

surgimento de ilhas de calor, provocadas pelo aumento da temperatura.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

52

Jeff Belmonter

Figura 1 - Verticalização nas Praias do Leblon e Ipanema, no Rio de Janeiro.

Além disso, podemos acrescentar ainda a ocorrência de sobrecarga nos

sistemas de abastecimento de água e energia, bem como no esgotamento

sanitário, como consequência da urbanização crescente nessas áreas,

localizadas especialmente em regiões metropolitanas.

Imbuídas do desejo de melhores condições de vida, por meio do alcance

do emprego ideal, as pessoas se inserem no contexto das grandes cidades,

pois são elas que apresentam as melhores oportunidades. Entretanto, o que

se observa são fatos como: o aumento da periferia nas regiões metropolitanas

e o empobrecimento da população em função da oferta precária de trabalho.

Tratar dessas questões significa considerar que o processo de

urbanização traz consigo a necessidade do planejamento para atender as

demandas dos assentamentos humanos, que se instalam nas metrópoles e

em seu entorno. “No mundo de hoje, cada vez mais pessoas se reúnem em

áreas mais reduzidas, como se o hábitat humano minguasse. Isso permite

experimentar, através do espaço, o fato da escassez.” (SANTOS, 2007, p. 80).

Dessa forma, é imprescindível mitigar os efeitos desse aglomerado

populacional por meio de iniciativas que considerem aspectos como:

possibilidades de fixação das comunidades tradicionais em suas regiões de

origem, garantido a elas condições de sobrevivência; democratização do

espaço para o assentamento humano, oferecendo condições necessárias

de educação, moradia, mobilidade, transporte, saúde e segurança;

tratamento adequado e técnico para abastecimento de água, energia,

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

53

destinação dos resíduos sólidos, qualidade do ar, distribuição racional dos

equipamentos públicos, acessibilidade e inúmeros outros, menos óbvios,

porém não menos importantes.

Sendo assim, as informações apresentadas neste capítulo evidenciam a

necessidade de pensar sobre a sustentabilidade de forma prática e em todas

as dimensões da intervenção humana no ambiente.

Vale salientar que é imprescindível considerar os princípios norteadores

para tal pressuposto: econômico, social, ecológico, cultural e espacial. Pensar

e agir usando como fundamento essa premissa é uma maneira de garantir o

alcance do desenvolvimento sustentável.

2.3 Aplicando a teoria na prática

Venha para Natal: a cidade sustentável

O turismo é a principal atividade econômica da cidade do Natal, responsável pela geração de divisas, bem como de ocupação e renda. Sendo um dos principais destinos de sol e mar do Brasil, a prefeitura local realiza constantemente investimentos em divulgação do destino.

Neste sentido, para convencer os turistas, que buscam sol, praias, dunas e emoções, de que Natal é o melhor lugar para passar suas férias a Secretaria de Turismo do Município decide produzir um clipe sobre os atrativos locais.

Tal peça publicitária será veiculada em horário nobre das principais emissoras de TV aberta do país, para o público do principal centro emissor de turistas para a cidade: São Paulo e região metropolitana.

Assim, são contratados os serviços de uma agência de publicidade para realizar tal tarefa. Como o slogan da cidade é ser uma cidade sustentável, é imprescindível que esta intervenção ocorra atendendo os princípios e dimensões da sustentabilidade. Outro detalhe da atividade é a exigência de uma ação interdisciplinar entre profissionais de turismo, comunicação e gestão ambiental.

Diante da problemática apresentada, quais fatores nortearão essa

produção audiovisual?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

54

Para responder a esse questionamento, devem-se considerar os princípios

e dimensões da sustentabilidade ambiental como fatores norteadores para a

gravação do vídeo, requerendo dos profissionais envolvidos a adoção de uma

consciência representada por ações práticas.

É sabido que toda intervenção no ambiente provoca impacto. Seguir

o modelo apresentado no quadro 4, que trata do consumo de água virtual,

ou seja, da quantidade de água utilizada direta ou indiretamente na

produção de algo é uma ferramenta para mitigar o consumo de água na

produção do vídeo.

É a quantidade de

água usada, direta

ou indiretamente, na

produção de algo.

Veja quantos litros de

água virtual existem em

cada produto.

32 litrosMicrochip(2 g)

140 litrosXícara de café(125 ml)

10 litrosFolha de papel A4(80 g/m2)

2.000 litrosCamiseta de algodão (250 g)

Em produtos de origem animal, a maior parte da água virtual tem origem na produção da ração que alimenta a criação

200 litrosCopo de leite (200 ml)

135 litrosOvo(40 g)

2.325 litrosCarne bovina(150 g)

720 litrosCarne suína(150 g)

8.000 litrosPar de sapatos de couro

Quadro 5 – Consumo de água virtual (ALMANAQUE ABRIL, 2010)

A equipe também pode aplicar esse modelo aos demais insumos

utilizados no trabalho, como combustível, fitas de vídeo, bateria, entre outros.

Os dados provenientes desse levantamento do consumo provocado podem ser

utilizados para a realização de medidas mitigadoras do impacto causado.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

55

O grupo atuante na execução da tarefa proposta deve considerar o

seguinte discurso de Boff (2004, p. 95):

Pelo cuidado não vemos a natureza e tudo que nela existe como objetos. A relação não é sujeito-objeto, mas sujeito-sujeito. Experimentamos os seres como sujeitos, como valores, como símbolos que remetem a uma Realidade frontal. A natureza não é muda. Fala e evoca. Emite mensagens de grandeza, beleza, perplexidade e força. O ser humano pode escutar e interpretar esses sinais. Coloca-se ao pé das coisas, junto delas e a elas sente-se unido. Não existe, co-existe com todos os outros. A relação não é de domínio sobre, mas de con-vivência. Não é pura intervenção, mas inter-ação e comunhão.

Dessa forma, todos os profissionais envolvidos no processo devem primar

pela manutenção do equilíbrio, por meio de atitudes proativas de cuidado com

a natureza, baseando-se na contabilidade ambiental que considera impacto x

mitigação do impacto.

Cuidar das coisas implica ter intimidade, senti-las dentro, acolhê-las, respeitá-las, dar-lhes sossego e repouso. Cuidar é entrar em sintonia com, auscutar-lhes o ritmo e afinar-se com ele. A razão analítico-instrumental abre caminho para a razão cordial, o esprit de finesse, o espírito de delicadeza, o sentimento profundo. (BOFF, 2004, p. 96).

Sendo a atividade turística pautada no uso do patrimônio (natural e

cultural) de uma localidade, além de incutir ações mitigadoras dos impactos

causados na gravação do material publicitário, deve-se utilizá-lo para transmitir

a mensagem da conservação dos recursos. Isso significa demonstrar, no clipe,

atitudes estimulantes para a prática sustentável do turismo junto àqueles

potenciais visitantes do destino.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

56

2.4 Para saber mais

AZEVEDO, Júlia; IRVING, Marta de Azevedo. Turismo: o desafio da

sustentabilidade. São Paulo: Futura, 2002.

Neste livro são analisados o potencial do turismo e os desafios, que terão

de ser enfrentados para atingir a sustentabilidade, garantindo três objetivos:

satisfazer o turista, preservar o meio ambiente e assegurar a qualidade de vida

da comunidade que reside no destino turístico.

BANCO DO NORDESTE. Manual de impactos ambientais: orientações sobre os

aspectos ambientais de atividade produtivas. Fortaleza: Banco do Nordeste, 1999.

Destinado a facilitar o trabalho de pequenos, médios e grandes

empreendedores, ele contribui para capacitar elaboradores de projetos,

analistas de crédito de entidades financiadoras e demais profissionais

envolvidos com a atividade produtiva e suas implicações na conservação

ambiental.

FONSECA, Igor Ferraz da; BURSZTYN, Marcel. A banalização da sustentabilidade:

reflexões sobre governança ambiental em escala local. Soc. estado, Brasília, v.

24, n. 1, abr. 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_

arttext&pid=S0102-69922009000100003&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 21

jan. 2010. doi: 10.1590/S0102-69922009000100003.

O objetivo deste estudo é demonstrar como os quesitos considerados

necessários para uma boa governança são produzidos e reproduzidos ao longo

do tempo.

http://www.cidades.gov.br/conselho-das-cidades/conferencias-das-cidades/4a-

conferencia-das-cidades.

Com a criação do Ministério das Cidades em 2003, o Brasil passou a ter um

instrumento de participação e controle social que direciona o nosso destino: a

Conferência das Cidades, incluindo temáticas como o orçamento participativo.

Acesse e descubra maiores informações.

PORTILHO, Fátima. Sustentabilidade Ambiental, Consumo e Cidadania. São

Paulo: Cortez Editora, 2005.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

57

O livro contribui certamente para aprofundar o conhecimento sobre um

processo que opera na intersecção entre a vida pública e privada, e, assim,

a questão ambiental pode ser colocada num lugar onde as preocupações

privadas e as questões públicas se encontram.

2.5 Relembrando

Caracterizar as relações humano-natureza de forma justa e igualitária na

distribuição dos recursos é considerar que toda e qualquer intervenção pode

provocar impacto no ambiente. Neste caso, é preciso a adoção de medidas

mitigadoras e compensatórias aliadas à implantação de tecnologias limpas,

visando à equidade no usufruto dos recursos.

Neste sentido, o desenvolvimento tecnológico deve levar em conta

as particularidades de cada povo, evitando a homogeneização de hábitos,

costumes e atitudes. Este fato leva à proposição de valorização das identidades

nacionais por meio da afirmação de sua cultura e conhecimento, garantindo a

manutenção das técnicas tradicionais de produção e manejo.

Esta garantia favorece a fixação dessas comunidades em seu local de

origem, minimizando os efeitos ocasionados pelos grandes assentamentos

humanos existentes nas regiões metropolitanas, que são fortes contribuintes

para a instalação do caos ambiental vivido hoje.

Em suma, não se pode pensar/agir de forma sustentável sem conceber

os princípios econômicos, sociais, ecológicos, culturais e espaciais, bem

como a dimensão da importância que os mesmos apresentam para a

qualidade ambiental.

2.6 Testando os seus conhecimentos

Nos dias atuais, as novas tecnologias se desenvolvem de forma

acelerada, assumindo papel importante na dinâmica do cotidiano das pessoas

e da economia mundial. Escolher uma profissão requer de cada indivíduo

apropriar-se dos conhecimentos que o cercam, assim como a melhor forma de

utilizar a tecnologia para realizar suas atividades profissionais.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 2

58

A emergência da adoção dos princípios que norteiam a sustentabilidade

faz com que cada profissional escolha técnicas de exercício da profissão que

contemplem o uso de tecnologias limpas como forma de mitigar e compensar

os efeitos de suas atividades no ambiente.

Desse modo, como o processo de formação profissional deve contemplar

conteúdos que fundamentem essa premissa, estimulando a adoção de práticas

cotidianas sustentáveis?

Onde encontrar

ASSOCIAÇÃO de Amigos e Moradores de Boa Viagem. Especulação: limite das

edificações já. Disponível em: http://www.amabv.hpg.ig.com.br/especulacao.html.

Acesso em: 29 jun. 2010

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

CAMARGO, Paulo de. 8 jeitos de mudar o mundo: nós podemos. Disponível

em: http://www.facaparte.org.br/new/download/Livro%20Objetivo%201%20

-%20Fome.pdf. Acesso em: 24 fev. 2010.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

______. Pobreza, gestión participativa de los recursos naturales y desarrollo

sustentable em lãs comunidades rurales. Una visión desde América Latina.

Ecologia Política, n. 8, Barcelona: Icaria, 1994. In: LEFF, Enrique. Saber ambiental:

sustentabilidade, racionalidade, complexidade, poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO. RELATÓRIO

DO DESENVOLVIMENTO HUMANO 2003. New York, USA: PNUD, 2003. Anual.

ISBN 978-8730-08-X.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7.ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.

______. O que é economia. 2. ed. ver. ampl. São Paulo: Contexto, 1998.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 59

3.1 Contextualizando

Continuando nossa trajetória discursiva a respeito da disciplina

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental, trazemos, neste capítulo, O

Desenvolvimento Sustentável como conteúdo incluso na temática abordada

pela mesma.

Apreender os conteúdos aqui abordados norteará sua formação,

favorecendo uma atuação profissional orientada para a adoção de práticas

que busquem a articulação entre desenvolvimento e sustentabilidade. Isso

será possível por meio da forma como o tema será tratado, cujo foco central

da discussão é a visualização do local (lugar onde as comunidades estão

assentadas) como estratégia de desenvolvimento.

Assim, temas como prevenção, políticas setoriais e gestão serão debatidos

para que você compreenda o quanto é importante e urgente pensar (de

modo individual ou coletivo) em intervenções que atendam as demandas do

desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, ao final deste capítulo, espera-se que você esteja apto a:

� Identificar as diferenças entre crescimento e desenvolvimento e o modo

como eles se complementam;

� Perceber como é possível intervir no ambiente prevenindo danos irreversíveis;

� Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimen-

to socialmente justo, ambientalmente sustentável e economicamente viável.

O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

CAPÍTULO 3

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

60

Desejamos que este conteúdo seja proveitoso para seu desenvolvimento

profissional. Tenha uma boa leitura!

3.2 Conhecendo a teoria

3.2.1 Entendendo o desenvolvimento

Você percebe alguma diferença entre os termos crescimento e

desenvolvimento?

Esses dois termos são considerados como sendo semelhantes,

especialmente se forem analisados sob o prisma econômico, à medida que se

consideram os Produtos Interno Bruto – PIB nacionais.

“Produto Interno Bruto (PIB) é o somatório de todos os bens e serviços finais produzidos dentro do território nacional num dado período.” (VASCONCELLOS; GARCIA, 2005, p. 108).

SAIBA QUE

A característica do PIB fica evidente, quando verificamos os veículos de

comunicação trazendo em seus noticiários temas como: déficit ou superávit

da balança comercial, cotações de moedas estrangeiras, números de bolsas de

valores, entre tantos do vocabulário econômico.

A esse respeito, devemos ter em mente como a forma adotada por cada

nação para lidar com esses indicadores condiz com sua posição nas decisões

internacionais, conforme destaca Sousa (2003, p.181-182):

O crescimento econômico de determinado país acontece em uma política de dinamização no processo produtivo, isto no que diz respeito ao setor primário, ou agricultura; ao setor secundário, ou de transformação e beneficiamento; e, ao setor terciário, ou de serviços. [...] O processo de crescimento de um país depende muito da ideologia que tal nação se encontra estruturada.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

61

Como forma de esclarecer essa afirmativa, é importante considerar que

o pilar de sustentação da economia mundial está pautado na acumulação de

capital privado por meio da maximização dos lucros.

A esse respeito, vale que você faça a seguinte reflexão:

O desenvolvimento socialmente justo e ambientalmente sustentável estaria realmente na contramão do crescimento econômico?

REFLEXÃO

É importante refletir sobre esse questionamento à medida que o

termo crescimento é anterior ao surgimento das terminologias atreladas ao

desenvolvimento, ou seja, foi a partir da incidência do primeiro que se percebeu

a necessidade do segundo. Esse aspecto denota a forma como ambos estão

intrínsecos, ficando visível que, para entender o desenvolvimento, é preciso

compreender o condicionante para seu surgimento, o crescimento.

Reforçando esse pressuposto, é importante retomar o capítulo 2, onde

você viu que, entre os princípios e dimensões norteadores da sustentabilidade,

está a equidade econômica. Isso significa dizer que não se pode falar em

desenvolvimento sem atrelá-lo a crescimento econômico.

Nesse aspecto, ainda é válido destacar que não só é possível, mas

necessário, um crescimento que proponha a conciliação com os pilares do

desenvolvimento. Para isso, é válido incorporar a sensibilidade com a dimensão

social, a prudência ambiental e a viabilidade econômica como forma de

garantir o atendimento aos objetivos socialmente desejáveis e a minimização

dos impactos ambientais negativos.

Diante dos argumentos acima, é importante chamar novamente a sua

atenção para o significado de desenvolvimento sustentável abordado em

momento anterior:

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

62

LEMBRETELEMBRETE

Vale a pena lembrar que um fator inerente ao desenvolvimento sustentável é satisfazer as necessidades da população atual sem comprometer a capacidade de atender as gerações futuras (ONU,1987).

É válido relembrar ainda que este é um conceito relativamente recente,

apresentado na década de 1980, e que, portanto, sua aplicação eficiente carece da

articulação ético-política capaz de mobilizar uma revolução, tanto pelas reformas

do Estado como pelo fortalecimento das organizações da sociedade civil.

Em outras palavras, a proposta é suavizar as ressalvas impostas pela

economia de mercado, por meio da implantação de mecanismos tecnológicos,

que considerem e assegurem as ações ocorridas a partir dos conhecimentos

individuais e culturais da sociedade.

[...] para que as coisas aconteçam, é preciso que sejam economicamente viáveis. A viabilidade econômica é uma condição necessária, porém certamente não suficiente para o desenvolvimento. O econômico não é um objetivo em si, é apenas o instrumental com o qual avançar a caminho do desenvolvimento includente e sustentável. (SACHS, 2007, p. 23)

Isso significa destacar que pensar e agir de forma orientada para

o desenvolvimento sustentável é colocar o crescimento econômico como

condição necessária para sua ocorrência. Entretanto, devemos seguir o preceito

popular - ele afirma que prevenir é melhor do que remediar - como condição

imprescindível para qualquer crescimento econômico.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

63

3.2.2 Prevenção como condição para o desenvolvimento

sustentável

Observe o texto abaixo:

Um cientista muito preocupado com os problemas do mundo passava dias em seu laboratório, tentando encontrar meios de minorá-los.

Certo dia, seu filho de sete anos invadiu o seu santuário decidido a ajudá-lo. O cientista, nervoso pela interrupção, tentou fazer o filho brincar em outro lugar. Vendo que seria impossível removê-lo, procurou algo que pudesse distrair a criança. De repente, deparou-se com o mapa do mundo. Estava ali o que procurava. Recortou o mapa em vários pedaços e, junto com o rolo de fita adesiva, entregou-o ao filho, dizendo:

--- Você gosta de quebra-cabeça? Então vou lhe dar o mundo para consertar. Aqui esta ele, todo quebrado. Veja se consegue consertá-lo bem direitinho! Mas faça tudo sozinho!

Pelos seus cálculos, a criança levaria dias para recompor o mapa. Passadas algumas horas, ouviu o filho chamando-o, calmamente.

--- Papai, pai, já terminei tudinho!

A princípio, o pai não deu crédito às palavras do filho. Seria impossível, na sua idade, conseguir recompor um mapa que jamais havia visto. Relutante o cientista levantou os olhos de suas anotações, certo de que veria o trabalho digno de uma criança. Para sua surpresa, o mapa estava completo. Todos os pedaços haviam sido colocados nos devidos lugares. Como seria possível? Como o menino havia sido capaz?

--- Você não sabia como era o mundo, meu filho, como conseguiu?

--- Pai eu não sabia como era o mundo, mas quando você tirou o papel da revista para recortar, eu vi que do outro lado havia a figura de um homem. Quando você me deu o mundo para consertar, eu tentei, mas não consegui. Foi aí que me lembrei do homem, virei os recortes e comecei a consertar o homem, que eu sabia como era. Quando consegui consertar o homem virei a folha e vi que havia consertado o mundo. (Autor desconhecido)

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

64

Você deve estar se perguntando qual a relação do texto acima com a

temática que será abordada nesse momento, acertei? Realmente, parece fora

de contexto trazer essa discussão nesse momento. Entretanto, sugiro retomar

o capítulo 1, quando abordamos a sustentabilidade das ações antrópicas e

foi dito que são necessárias novas posturas de sobrevivência, implicando em

atitudes de cuidado tendo por princípio a atenção, o zelo e o desvelo.

Ao retomar essa discussão, sob a ótica ilustrada no texto anteriormente

citado, percebemos o quanto as intervenções humanas são responsáveis pelos

problemas do mundo. Isso traz consigo a necessidade de um cuidado revestido

na prevenção, ou seja, na vigilância, tanto para preparar a decisão, quanto

para acompanhar suas consequências.

Complementando esse raciocínio, Sachs (2007) fala que, atualmente,

tem-se discutido muito a questão da responsabilidade dos cientistas, tantos

das ciências exatas e naturais, quanto dos cientistas sociais com relação ao

pensamento de um desenvolvimento includente, sustentável e sustentado.

Neste sentido, não se trata apenas do posicionamento humano, mas

das consequências que tal atitude pode incidir. Ao abordar esse enfoque,

evidenciamos o quanto analisar a possibilidade de uma ação humana causa

dano a alguém, ainda que sem culpa, e pode ser fator condicionante ao

desenvolvimento sustentável.

Ainda nesse contexto, ao adotar essa condição como eixo para as

intervenções humanas, é preciso ter em mente o comportamento prudente

dos atores envolvidos no processo decisório. Tal prudência emana a avaliação

dos impactos socioeconômicos, culturais e ambientais decorrentes da

decisão de agir ou vetar determinadas intervenções. Essa avaliação requer

o chamamento para a responsabilização de forma individual e coletiva, em

caso de um dano irreversível.

A esse respeito, a Constituição da República Federativa do Brasil traz a

seguinte matéria no seu artigo 225 §30:

As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, as sanções penais e administrativas, independente da obrigação de reparar os danos causados. (BRASIL, 2008, p.144).

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Capítulo 3

65

Ao considerar essa premissa, aplicando o princípio da prevenção, é preciso

compreender quais as características dos ecossistemas em questão, bem como

a forma em que os mesmos estão inseridos no espaço e no tempo, além de

sua resposta às interferências humanas. Ao analisar esses parâmetros, também

é necessário reconhecer as limitações técnicas por meio da implantação de

programas de monitoramento, para verificar como estão ocorrendo as

intervenções do homem nos ecossistemas.

Evidentemente, quando falamos em estabelecimento de parâmetros para

delimitar as intervenções antrópicas, aparece à necessidade de fixação dos mesmos.

Para esse fim, é essencial um protagonista nesse processo: o poder público.

Este deve estabelecer as políticas necessárias, bem como as medidas

restritivas aos interesses mercadológicos (instrumentos de regulação,

acompanhados de legislação específica, ex: Código de Meio Ambiente),

de modo a salvaguardar o pressuposto do conceito de desenvolvimento

sustentável, cuja premissa é garantir o usufruto dos recursos para as

futuras gerações.

3.2.3 O papel das políticas públicas para garantir o desenvolvimento

sustentável

Ainda em referência ao capítulo 1 deste livro texto, retomamos a

discussão a respeito das políticas de estímulo à conservação ambiental,

iniciadas a partir da década de 1960. Esse período marca o início da tomada

de consciência da comunidade internacional sobre os inúmeros problemas

ambientais decorrentes da ação antrópica. Assim, o meio ambiente passa a ser

objeto de estudo e de políticas públicas em todo o mundo.

Complementando esse raciocínio na seção anterior, tratamos do princípio

da prevenção como mecanismo de salvaguarda ambiental. Neste momento,

falaremos daquelas, que são a chave para o alcance de tal pressuposto, as

políticas públicas.

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Capítulo 3

66

Diante da importância e da força que as políticas têm para uma nação, o governo brasileiro tem estimulado e construído mecanismos de salvaguarda ambiental. Assim, para que você saiba detalhes desta matéria, realize uma pesquisa a respeito da Lei 6931/81, que dispõe sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, bem como sobre o artigo 225 da Constituição Federal. Eles trazem como pauta a temática ambiental.

DESAFIO

Quando falamos em políticas públicas, não podemos deixar de considerar

que essas fazem parte do processo de planejamento e, por isso, denotam a

necessidade de estudos, conhecimento técnico e participação social para que

sejam implementadas.

A característica de estudos, conhecimento técnico e participação social

têm conexão com o grau de consciência e da responsabilidade que a sociedade

tem com sua história e seu posicionamento com relação ao futuro.

Apesar de estarmos no século XXI e as questões fundamentais da

existência humana sempre permearem o viés da globalização (conhecimento

científico, usos e costumes dos povos, entre tantos outros temas), é preciso

entender que as decisões ocorrem de forma localizada.

Isso significa apontar que é preciso fortalecer a governança local, por

meio do estímulo à participação cidadã. A esse respeito, na discussão sobre

participação e controle social do capítulo anterior, pretendíamos estimular a

reflexão do quanto a construção participativa de metas locais tem o poder

de influenciar as decisões globais, sendo, portanto, necessária a tomada de

consciência do papel que cada um tem nesse patamar.

[...] a visão de desenvolvimento no futuro é um desenvolvimento participativo e negociado. Ou seja, deve-se se organizar o debate em todos os níveis, desde o desenvolvimento local, por exemplo. Pode-se começar por um fórum de desenvolvimento local, mais tarde esse fórum se transforma num conselho consultivo que com o tempo cresce para ser um conselho deliberativo. (SACHS, 2007, p. 28)

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Capítulo 3

67

A consciência, neste sentido, perpassa pela delimitação de visão de futuro

da sociedade, tendo vista o contexto histórico em que ela está inserida. Pensar e

planejar o futuro tem relação com as responsabilidades individuais, que fazem

parte de um contexto de maior complexidade, e com as responsabilidades

coletivas, direcionadas para o desenvolvimento local.

Olivier Bresmal

Figura 1 - A responsabilidade individual para a qualidade do planeta

Pensar, considerando o futuro, é compreender que, embora uma

conciliação entre crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável

pareça remota, não se pode eximir a responsabilidade de cada um para com o

planejamento direcionado a atingir essa conciliação.

Esperamos que cada localidade se organize de modo a concentrar esforços

com o propósito de incentivar maneiras sustentáveis de desenvolvimento.

Uma maneira plausível para esse fim é o fortalecimento das redes sociais, a

partir de sua inserção nos processos políticos administrativos.

Você deve está se perguntando se realmente isto é possível ou, até mesmo,

questionando o fundamento desse discurso. Afirmamos que não se trata de uma

utopia e, sim, de uma realidade a ser perseguida, pois, quando decidimos que

futuro nós queremos em nível local, pressionamos as decisões tomadas pelos

nossos representantes (constituídos de forma legal) em escala global.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

68

Mello (2007, p. 62) reforça essa afirmativa, quando destaca que:

Se concentrarmos estudos, mecanismo, trabalho, incentivos financeiros, econômicos, tecnológicos e técnicos, sem qualquer dúvida dentro de alguns anos estaremos dando um grande passo, de longo alcance. Já estamos atrasados, é preciso começar já, imediatamente.

Portanto, refletir e agir de forma orientada para o estímulo às políticas

públicas com o foco no desenvolvimento sustentável significa traçar um

caminho harmônico de gestão alicerçado nos pilares da sustentabilidade.

3.2.4 A gestão sob a ótica ambiental: um caminho para a harmonia

O desenvolvimento é por essência um conceito dinâmico, e as instituições para o desenvolvimento são também conceitos, que eu pelo menos, vejo como dinâmicos, como evolutivos. E é dentro desse movimento que devemos definir estratégias. (SACHS, 2007, p.29-30).

Corroborando com o discurso do Professor Sachs, propomos refletirmos

sobre gestão como estratégia para atingir o desenvolvimento. Quando falamos

em gestão, trazemos inserido no seu contexto a questão do planejamento.

Neste sentido, somos gestores da nossa casa, da nossa carreira profissional, das

nossas finanças, entre tantas outras coisas que necessitam sempre de tomadas

de decisões.

Cozzolino

Figura 2 - Assembleia popular acontecendo no meio da rua

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

69

O meio ambiente não poderia ficar de fora, uma vez que as decisões que

tomamos têm influência direta no mesmo. Tal premissa nos leva a dizer que, em

função do contexto ambiental vigente, devemos pautar nossas intervenções

para o alcance da harmonia natureza x economia.

Para encontrar soluções harmônicas de gestão, é importante considerá-

la por diversos pontos de vista, dentre eles, podemos citar: a matriz energética,

a educação e o território (espaço).

Sachs (2007) contextualiza esse pressuposto, quando afirma que não devemos focar nossa intervenção apenas no discurso ético e, sim, em práticas direcionadas pelo mesmo, ou seja, devemos criar alternativas viáveis de desenvolvimento. Essa afirmativa deixa implícita a necessidade de uma gestão harmônica para o uso dos recursos.

A partir dessa fala, surge o seguinte questionamento: como operacionalizar a gestão com foco na harmonia?

REFLEXÃO

Para respondê-la de modo coerente, deve-se pensar na gestão de forma

holística, ou seja, com uma visão global das intervenções humanas, abordando

temas como matriz energética, uso e ocupação do solo com foco na biodiversidade,

geopolítica e especialmente educação.

A matriz energética

Falar de matriz energética como estratégia de gestão significa adotar

medidas que estimulem a saída da dependência do petróleo para outras

formas de energia. Apesar de ser de conhecimento de todos os interessados

no assunto que existe um ponto final para a era do petróleo, ainda somos

extremamente dependentes do mesmo como uma fonte de energia.

A busca pela independência do petróleo justifica-se em três motivos

fundamentais:

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

70

� Seria o início da minimização da emissão de gases que provocam o efeito

estufa, contribuindo para o cumprimento das metas estabelecidas pelo

protocolo do Kyoto;

� Novas fontes de energia diminuiriam as tensões internacionais motiva-

doras de guerras, cuja origem está nas disputas pelo petróleo;

� Abriria caminhos para os biocombustíveis, bem como para toda a cadeia

produtiva que esta saída é capaz de gerar.

Ao valorizarmos os biocombustíveis, estaríamos estimulando também o desenvolvimento local, uma vez que biomassa pode ser: alimento, forragem, adubo verde, bioenergia, material de construção, matéria-prima industrial, fármaco, cosmético, entre tantas possibilidades de uso que a ciência pode apontar (SACHS, 2007).

SAIBA QUE

Você pode imaginar a dimensão do impacto positivo em pensar sobre os

biocombustíveis como indutores de desenvolvimento? Apontaremos alguns

desdobramentos dessa finalidade:

� No que diz respeito aos assentamentos humanos nas áreas rurais, o de-

senvolvimento local estaria atrelado às bases comunitárias, ou seja, às

populações residentes nos pequenos núcleos. E isso seria possível à medi-

da que os recursos gerados favoreceriam a criação de toda a infraestrutu-

ra necessária para a permanência dos indivíduos no seu local de origem;

� Fixar as pessoas em local de origem favoreceria a minimização da con-

centração populacional nas grandes cidades, pois não seria mais preciso

migrar em busca de novas oportunidades. Isso também minimizaria o

caos urbano instalado nas grandes cidades.

Assim, um novo ciclo de desenvolvimento rural seria favorecido e, neste

sentido, países com as características geográficas de grandes extensões rurais,

como é o caso do Brasil, seriam extremamente beneficiados.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

71

Ao tratar dessas particularidades, torna-se pertinente considerar que,

para que tais avanços ocorram, é imprescindível abordar a questão do uso e

ocupação de solo, tendo em vista que, para a produção da biomassa, evidencia-

se a necessidade de destinação de espaços para tal.

O uso e ocupação do solo

Discutir o uso e ocupação do solo remete a contextualizá-lo com o lugar,

ou seja, o espaço, o território onde as pessoas estão inseridas. Além disso, é

fundamental considerar as necessidades e implicações contidas neste tema.

Enxergar as regiões do ponto de vista de gestão do território inclui

considerar aspectos como: os recursos naturais; as atividades econômicas; o

acesso às condições básicas de saúde, educação, trabalho, moradia, lazer, bem

como o respeito aos costumes e tradições.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Você sabia que existem mecanismos de regulação para instrumentalizar os aspectos da gestão de território? Acesse o link http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res97/res23797.html e conheça como o Conselho Nacional de Meio Ambiente operacionaliza a questão do licenciamento ambiental.

Outro instrumento normativo que você pode conhecer é o Estatuto das Cidades, acessando: http: / /www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis /LEIS_2001/L10257.htm.

Continuando nossa discussão sobre território e os mecanismos de

gestão, vale à pena retomar a discussão da seção 3.2.3, destacando o quanto

as políticas públicas neste sentido são fundamentais. Isso implica considerar o

local como foco da gestão, seja ela o espaço urbano ou o rural. O que importa,

neste contexto, é possibilitar um ambiente favorável à sustentabilidade por

meio de ações direcionadas aos mais diversos setores de ação.

Como a questão das políticas públicas é eminentemente correlata às funções

dos estados nacionais, Mello (2007, p.61-62) apresenta o seguinte discurso:

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

72

[...] para delimitar a questão dos dois grandes desafios brasileiros, eu diria que um é a mudança do padrão de ocupação do território e das condições de acesso produtivo à terra [...]. E o outro é o desafio urbano, relacionado com a qualidade dos recursos hídricos.

Fica evidente, portanto, que muito ainda precisa ser feito em nível local.

Entretanto, estamos na era da globalização, ou seja, as decisões tomadas têm

reflexos globais.

Tal fator merece destaque do ponto de vista das decisões geopolíticas,

bem como dos acordos firmados entre os países como forma de garantir o

desenvolvimento sustentável, por meio da gestão que leve em consideração

os ecossistemas do espaço envolvido.

A geopolítica como diretriz de caminhos

Considerar a geopolítica (decisões tomadas pelos países em âmbito

internacional) dentre as estratégias de gestão, traz a necessidade de

enfatizar o entendimento global sobre o desenvolvimento apresentado ao

longo deste livro texto.

Ricardo Stuckert/PR

Figura 3 - Reunião do G8 (Grupo dos oito países mais ricos do mundo), 2009

Inicialmente, a partir da década de 1960, as discussões mundiais giraram

em torno da imposição de limites ao crescimento econômico, em momento

posterior chegou-se à conclusão de que era preciso conciliar as características

do mercado com as necessidades do meio ambiente.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

73

Posicionando-se a respeito dessas discussões, Bursztyn (2007, p. 91)

declara que é:

Necessário rever também alguns modismos intelectuais, porque não se trata de engessar a possibilidade de expansão das atividades econômicas: é preciso levar em consideração que não é possível repetir as mesmas trajetórias do passado.

Acontece que tal posição requer articulação entre os interesses dos

países desenvolvidos com os interesses dos países em desenvolvimento como é

o caso do Brasil. Neste sentido, a revisão de alguns acordos se faz necessária,

possibilitando aos países em desenvolvimento o acesso a tecnologias

mais sustentáveis, por meio da disponibilização de recursos pelos países

desenvolvidos, como um tema a ser amplamente discutido e aprovado nas

negociações internacionais (BURSZTYN, 2007).

Revisar as estratégias geopolíticas como pressuposto para a gestão

harmônica significa considerar que é necessário aliá-las ao desenvolvimento

tecnológico. Neste caso, uma ferramenta imprescindível é a educação,

seja ela a educação básica ou a educação fundamental nas pesquisas para

soluções sustentáveis.

A educação como um mecanismo de revolução

No capítulo 1, trouxemos a discussão de como a educação é uma ferramenta

fundamental para o alcance do desenvolvimento sustentável. Ela foi abordada

na perspectiva da adoção de uma nova ética de apropriação da natureza.

Esta, por sua vez, deve ser acompanhada de estratégias que visem à

inclusão de todos no processo de desenvolvimento. Ao trazer esta possibilidade

a partir do processo educativo, lembramos que este é intrínseco a todos os

momentos da vida humana, ou seja, começa quando somos crianças ao nos

alfabetizarmos, continuando com presença constante em nossas vidas.

É fácil confirmar esta afirmativa, quando percebemos que a construção

do conhecimento é contínua. Como exemplo disso, é válido citar as novas

tecnologias que são criadas e apresentadas a cada dia, implicando na

necessidade de estarmos sempre aprendendo sobre e com as mesmas.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

74

Como referência de um processo educativo estratégico para o desenvolvimento sustentável, apresentamos o Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), uma associação sem fins lucrativos dedicada à promoção da reciclagem dentro do conceito de gerenciamento integrado do lixo. Fundado em 1992, o CEMPRE é mantido por empresas privadas de diversos setores. O CEMPRE trabalha para conscientizar a sociedade sobre a importância da redução, reutilização e reciclagem de lixo usando publicações, pesquisas técnicas, seminários e bancos de dados. Os programas de conscientização são dirigidos principalmente para formadores de opinião, tais como prefeitos, diretores de empresas, acadêmicos e Organizações Não Governamentais (ONGs).

CURIOSIDADE

Ao apresentar essa curiosidade, trazemos a discussão a respeito do

quanto a educação é um processo imprescindível para atender aos critérios

da relevância social, prudência ecológica e viabilidade econômica, pois, para

conhecer determinadas práticas de sucesso, é preciso ter acesso à informação.

E isso fica bem exemplificado com o seu caso prezado(a) aluno(a), que, neste

momento, está tendo acesso ao conhecimento acerca das temáticas inerentes

ao desenvolvimento e sustentabilidade ambiental.

Assim é possível apresentar a educação como mecanismo que vai além

da simples formação capaz de promover, entre outras coisas, uma revolução,

como afirma Gadotti (2009, p.62):

A qualificação do trabalhador aprimora sua formação geral e pode desenvolver, se for oferecida a partir de uma visão emancipadora, uma cultura de solidariedade, de paz e de sustentabilidade. A qualificação profissional vai além da atualização dos conhecimentos técnico-tecnológicos e gerenciais.

Contar os fatos apresentados nessa seção demonstra a necessidade

de qualificação constante da sociedade, possibilitando o acesso constante

a informações de qualidade, contribuindo, assim, para um posicionamento

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

75

crítico e consciente da mesma. Entretanto, uma nova mentalidade só será

visível à medida que formos eficientes o suficiente para influenciar toda a

coletividade, desde as crianças aos idosos, ou seja, promover uma verdadeira

revolução. E você sabe qual é o caminho? A educação (BUARQUE, 2007).

Falar da revolução por meio da educação é, portanto, ressignificar os

meios de produção, por meio da adoção de novas estratégias. Estas, por

sua vez, devem considerar o local como objeto de estudo, bem como o

desenvolvimento das atividades econômicas, propiciando uma humanização

dos processos produtivos ao considerar as características ecológicas do lugar.

Neste sentido, atender essa premissa consiste em conseguirmos ser

gestores apoiados nas estratégias de administração de negócios que a

economia de mercado exige, sem pensar apenas na lucratividade financeira

que a mesma promove. São necessárias estratégias de gestão que associem o

social e o ambiental ao econômico.

Conseguir conciliá-los é afirmar a educação como mecanismo revolucionário

para garantir a gestão sob a ótica ambiental como um caminho para a harmonia.

3.3 Aplicando a teoria na prática

Vamos construir o Plano Diretor Participativo?!

O Estatuto da Cidade (Lei n0 10.257/2001) é um instrumento que estabelece as diretrizes gerais da política urbana. Ele delega para cada município o planejamento e gestão do solo urbano a partir de um processo público e democrático (BRASIL, 2005).

Diante das prerrogativas desta lei, que apresenta como premissa construir “a cidade que queremos” (BRASIL, 2005, p. 22), bem como atendendo as exigências das seguintes leis - Constituição Federal do Brasil; Estatuto da Cidade; Constituição Estadual do Rio Grande do Norte; Lei Orgânica do Município - a Prefeitura Municipal da cidade hipotética Soledade resolve construir seu Plano Diretor Participativo.

Sendo esta oportunidade de discussão participativa com foco no local, que princípios devem servir de eixo norteador para seus moradores a respeito das regras de desenvolvimento sustentável do município?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

76

Para resolver essa questão, inicialmente o poder público de Soledade deve

garantir o acesso às informações que serão tratadas nessa discussão a todos os

atores da sociedade civil organizada. Isso será possível por meio da transparência dos

processos adotados, bem como da disponibilização de um corpo técnico competente,

a fim de esclarecer toda a terminologia e metodologia que tal atividade implica.

Em seguida, devem-se tornar públicos todos os momentos da discussão

por meio de ampla divulgação para a convocação e estímulo ao protagonismo

social que o processo decisório requer.

A esse respeito, Mello (2007, p. 52) destaca:

Não ser trata apenas de tentar explicar a concentração de problemas ambientais em determinados espaços geográficos e de buscar saídas para a degradação e os desgastes que estão submetidos os suportes físicos da vida do nosso planeta, os solos, as águas, a atmosfera, as florestas. Trata-se de incluir na análise as relações da sociedade com o seu lugar, percebendo que este, ao mesmo tempo, é a base e elo participante do processo global.

Assim, é preciso garantir o pensamento estratégico para a região por

meio da construção de consensos, orientados para a gestão de conflitos com o

intuito de se articular parcerias, visando à construção de projetos articulados.

Deve-se fomentar uma discussão participativa a partir de aspectos como:

dinâmica socioeconômica; infraestrutura; uso e ocupação do solo; aspectos

ambientais, paisagísticos, histórico-culturais e turísticos; e capacidade jurídica,

institucional e administrativa municipal.

Para finalizar, acrescentamos o comentário da Professora Mello (2007, p.

53-54), quando afirma que:

A idéia de lugar expressa o elemento de base do espaço geográfico: é um ponto, mas um ponto singular, identificável e identificado, distinto dos outros, apropriado, e transformado, na atualidade, em um nó de conexões local – global. E os lugares têm condições específicas porque dispõem de infra-estrutura, equipamentos e são acessíveis, mas também porque são organizados, possuem leis de toda ordem, têm estruturas e relações sociais estabelecidas.

Portanto, pode-se afirmar que o desenvolvimento local é o movimento

para a ação. E isso só será possível por meio da organização, do planejamento

e da capacidade de gestão com foco no desenvolvimento sustentável.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

77

3.4 Para saber mais

GOMES, Maria Leonor; MARCELINO, Maria Margarida; ESPADA, Maria

da Graça. Proposta para um Sistema de indicadores de desenvolvimento

sustentável. Portugal: Direção Geral do Ambiente; 2000. Disponível em: http://

www.iambiente.pt/sids/sids.pdf.> Acesso em: 22 mar. 2010.

A proposta para um Sistema de Indicadores de Desenvolvimento

Sustentável engloba 132 indicadores, dos quais 72 ambientais, 29 econômicos,

22 sociais e 9 institucionais. Os autores pretendem que este seja alvo da

atenção, crítica e sugestões por parte de organismos dos vários Ministérios,

Organizações não Governamentais e dos cidadãos em geral.

INSTITUTO DE ASSESSORIA PARA O DESENVOLVIMENTO HUMANO (IADH).

Desenvolvimento local: trajetórias e desafios. Recife: Gráfica e Editora Nacional

LTDA, 2005.

Coletânea de artigos produzidos por meio de uma visão holística da

realidade, centrada no ser humano, num processo dialógico de aprendizagem

e de construção de autonomia dos autores. Tal processo é fruto da experiência

construída pelos autores a partir da vivência em prol do Desenvolvimento Local,

seja em projetos de cooperação internacional ou em assessorias a programas

governamentais e não governamentais.

Secco, Patrícia Engel. O livro de gaia: uma pequena lição de amor. Disponível

em: http://www.cempre.org.br/download/pdf%20gaia.pdf. Acesso em: 22

mar. 2010.

Na natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma. Dentro deste

ponto de visto, esta publicação trata de forma simples e didática a questão da

reciclagem, como forma de transformar, utilizar coisas que já usamos e que não

nos servem mais, como matéria-prima para a fabricação de novos produtos.

PROGRAMA Cidades e Soluções do Canal Globo News. Disponível em: http://

globonews.globo.com. Acesso em: 22 mar. 2010.

O Programa Cidades e Soluções apresenta a busca por soluções para um

mundo sustentável, destacando iniciativas que já dão resultado e podem ser

aplicadas no Brasil.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

78

SACHS, I. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Org: Paula Yone

Stroh. Rio de Janeiro: Garamond, 2002.

Introdução às ideias de Sachs sobre a eco-sócio-economia, uma ciência

nova que interliga três disciplinas - a ecologia política, a sociologia e a economia

- e propõe uma nova maneira de enxergar o desenvolvimento. O livro traz,

ainda, um anexo com os critérios de sustentabilidade social, cultural ecológica,

ambiental, territorial, econômica, política nacional e política internacional,

além de uma pequena biografia e bibliografia do autor.

3.5 Relembrando

Neste capítulo, apresentamos a você a relação entre crescimento e

desenvolvimento, bem como a forma como ambos estão interligados. Dessa

relação resulta a necessidade da definição de estratégias que visem à garantia

do desenvolvimento sustentável.

Dentre as estratégias apresentadas, citamos: a prevenção como forma de

garantir o usufruto dos recursos pelas gerações futuras; o papel das políticas

setoriais; as articulações em prol do desenvolvimento local; e mecanismos para

a gestão orientada à harmonia entre o econômico, social e ambiental.

Dessa forma, demonstramos como a existência do planejamento orientado

pela visão de futuro, aliado com o estímulo ao protagonismo social é fundamental

para o alcance do distante, porém possível desenvolvimento sustentável.

3.6 Testando os seus conhecimentos

Quando verificamos as literaturas pertinentes ao desenvolvimento

sustentável, identificamos que muitas se direcionam ao desenvolvimento

como foco no local.

Trazer essa afirmativa para o debate significa destacar que falar

de local é atrelar ao seu conteúdo o fato do local como espaço, lugar

ou território. Neste sentido, surge a necessidade de reforçar que esses

territórios são unidades independentes, que fazem parte de um todo

complexo de relações e realizações.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

79

Ao identificarmos os espaços locais, evidenciamos que os mesmos são

dotados de estruturas organizacionais legalmente constituídas, responsáveis

pela definição de parâmetros e instrumentos de gestão.

Diante dos condicionantes apresentados, como podem os poderes locais

orientar suas estratégias de gestão para o alcance do desenvolvimento sustentável?

Onde encontrar

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. RESOLUÇÃO Nº 237 DE 19 DE

DEZEMBRO DE 1997. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/

res97/res23797.html. Acesso em: 22 mar. 2010.

______. CASA CIVIL. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/LEIS_2001/L10257.htm. Acesso em: 22

mar. 2010.

______. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 2008.

______. ESTATUTO DA CIDADE. Estatuto da cidade: um guia para implementação

pelos municípios cidadãos. Brasília: Câmara dos Deputados, 2005.

BUARQUE, Cristovam Buarque. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar

Pinheiro do; VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento

sustentável no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

BURSZTYN, Marcel. Outras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;

VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável

no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:

Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.

MELLO, Neli. Primeiras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;

VIANNA, João Nildo (org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável

no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

Page 82: Desenvolvimento e Sustentabilidade UnP · Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável ... Economia solidária:

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 3

80

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU). Relatório da Comissão Mundial

sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento: Nosso Futuro Comum. Oslo:

COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO (CMMAD),

1987. Disponível em: http://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl

=en&tl=pt&u=http%3A%2F%2Fwww.un-documents.net%2Fwced-ocf.htm

acesso em: 16 mar. 2010.

SACHS, Ignacy. Primeiras intervenções. In: NASCIMENTO, Elimar Pinheiro do;

VIANNA, João Nildo (Org.). Dilemas e desafios do desenvolvimento sustentável

no Brasil. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

VASCONCELLOS, Marco Antônio Sandoval de; GARCIA, Manuel Henriques.

2. ed. São Paulo: Saraiva, 2005.

Page 83: Desenvolvimento e Sustentabilidade UnP · Caracterizar a gestão responsável como um caminho para o desenvolvimento socialmente justo, ambientalmente sustentável ... Economia solidária:

Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 81

4.1 Contextualizando

Continuando nossa discussão sobre os assuntos que permeiam

a problemática do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental,

apresentamos, neste capítulo 4, o olhar acerca da Ecologia Humana e sua

contribuição como estratégia promotora do Desenvolvimento Sustentável.

Nesta perspectiva, os conteúdos aqui tratados trazem o enfoque na

relação do homem com a natureza, bem como a forma dele se ver diante da

mesma. Assim, faz-se pertinente apresentar temas cuja abordagem gire em

torno da interação humano/natureza, orientadas por um saber direcionado

para a causa ambiental, contemplando a adoção de estratégias equilibradas

de manejo, com a adoção de tecnologias limpas.

Tais pressupostos devem estar orientados para um novo tipo de consumidor,

que se apresenta: o consumidor “verde” ou sustentável. Este, por sua vez, é um

indivíduo com características de conhecimento e adesão à causa ambiental, capaz

inclusive de promover campanhas de boicote àqueles produtos que julgue ser

lesivos ao meio ambiente, lutando inclusive com as armas que a legislação oferece.

Ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:

� Verificar a relação de complexidade existente entre o homem e a natureza;

� Apreender como funciona o processo interativo humano/ambiental;

� Identificar estratégias de promoção às tecnologias limpas.

Esperando contribuir com o seu crescimento intelectual, desejamos um

bom estudo!

ECOLOGIA HUMANA - UM NOVO OLHAR PARA O DESENVOLVIMENTO

CAPÍTULO 4

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

82

4.2 Conhecendo a teoria

4.2.1 Comentando a ecologia humana

Você já parou para pensar o quanto as ações humanas têm contribuído

para a problemática ambiental atual? Acreditamos que, com o avanço do

nosso conteúdo, este já seja um questionamento constante em sua memória.

Realmente, muito do que vemos de efeitos negativos no ambiente é

fruto da forma inadequada de apropriação da natureza, atendendo somente

ao viés da economia de mercado.

Há aproximadamente 40 anos, com o início das discussões em torno dos

problemas ocasionados pelo crescimento econômico sem limites, pensava-

se na opção de simplesmente não utilizar os recursos naturais ou, ainda, de

deixar a natureza intocada.

Nesse contexto, surgem duas frentes de posicionamento: a primeira dos

que defendem a continuidade do modelo de crescimento como forma de

proporcionar aos países em desenvolvimento os mesmos benefícios alcançados

pelos desenvolvidos; e a segunda apresenta-se totalmente contrária a anterior,

pregando o famoso “vamos parar tudo” como forma de garantir a manutenção

dos recursos do planeta.

A esse respeito, perguntamos a você, prezado(a) aluno(a): como encontrar um meio termo para essas frentes de posicionamento? Como agir de forma orientada para uma visão de futuro da humanidade?

REFLEXÃO

Como resposta a esses dois questionamentos, a comunidade científica

apresenta a ecologia humana como uma forma de pensar e agir a partir

do ecossistema em que o homem está inserido. “Daí a necessidade de se

adotar padrões negociados e contratuais de gestão da biodiversidade”

(SACHS, 2008, p. 53).

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

83

Leff (2008) ainda ressalta que isso tudo requer um novo posicionamento

do conhecimento científico, onde este seja orientado para a saída da

visão fragmentada dos saberes, sendo eles direcionados para a adoção

de práticas holísticas, visando à aplicação dos conhecimentos teóricos de

forma coerente para a resolução dos problemas ambientais.

Você sabia que adotar práticas holísticas como estratégia de ação é a mesma coisa que agir de forma completa para alguma coisa, ou seja, ter uma visão geral acerca de determinado problema. No caso do saber ambiental, seria a construção do conhecimento de todas as áreas científicas com direcionamento para o uso sustentável do ambiente.

SAIBA QUE

Tratar desse assunto significa evidenciar a forma como o homem se

relaciona com a natureza, ou seja, se ele se vê como proprietário ou como

parte dela.

NASA/AxelBoldt

Figuras 1 e 2 - Incêndio florestal e extração de látex, respectivamente.

Pelas figuras apresentadas, podemos perceber que o possível meio termo

está no desenvolvimento endógeno, ou seja, de dentro para fora; de baixo

para cima; melhor ainda: do local onde a comunidade está assentada.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

84

4.2.2 Uma relação complexa: o homem e a natureza

Historicamente, o homem tem suas necessidades satisfeitas a partir do

usufruto da natureza. Inicialmente, como nômade, consumindo somente o

que ela produzia, depois, de forma fixa, impulsionado por técnicas de cultivo.

Recentemente, há pouco mais de 200 anos, a Revolução Industrial motiva

mudanças estruturais na fisionomia da natureza e na forma como o homem se

vê inserido na mesma, ou seja, acontece uma verdadeira especulação ambiental.

Surge assim uma generalização em escala mundial dos padrões tecnológicos

de produção e de consumo. Isso tem gerado uma transformação negativa no

ambiente, refletida na gama considerável de impactos que ela provoca.

Verifique no Sistema Integrado de Bibliotecas (SIB) da UnP literatura sobre história contemporânea e produza uma linha do tempo acerca das implicações da Revolução Industrial para a nossa sociedade, destacando o valor econômico dado aos bens e serviços ambientais.

DESAFIO

É fato que o meio ambiente apresenta uma valoração econômica,

entretanto, esta nem sempre é contabilizada no custo final dos bens e serviços.

Marques e Comune (1999, p. 25) ainda acrescentam que:

Sob uma ótica mais restrita, pode-se assumir que os bens e serviços econômicos, de forma geral, utilizam o meio ambiente – ar, água, solo – impactando sua capacidade assimilativa acima de sua capacidade de regeneração. Isto implica que aqueles bens e serviços detêm custos de produção que são compostos de fatores comercializados no mercado (terra, capital e trabalho), portanto, com preços explícitos e fatores não comercializados no mercado – os bens e serviços ambientais.

Essa abordagem se dá a partir da constatação da forma como o homem tem

se posicionado perante a natureza, impondo à mesma característica de dispensa.

Falar desse posicionamento implica afirmar que podemos usufruir de tudo que

a natureza nos proporciona, não importando se essa atitude vai gerar escassez.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

85

O homem como centro da natureza

Reafirmando que, desde os tempos mais remotos da história da

humanidade, existe a relação humano x natureza, ou seja, a sobrevivência

humana sempre esteve condicionada à existência de recursos naturais.

Inicialmente, essa relação ocorreu de forma harmônica, uma vez que o

homem só retirava da natureza o essencial para seu sustento, dando à mesma

as condições e o tempo hábil de regeneração.

Porém, a partir do século XVIII, essa fisionomia de convivência com

a natureza muda de configuração amparada pelos avanços tecnológicos

sucessivos à Revolução Industrial.

Outro fator que merece destaque nesta mudança de postura no contato

com a natureza são as duas grandes guerras mundiais e o aparato tecnológico

proveniente do poderio bélico construído para atender às demandas

armamentistas pautadas na defesa do território.

Esses elementos que, de forma distinta, não parecem estar correlacionados

são grandes contribuintes para o padrão de consumo ora instalado na

civilização contemporânea.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acesse a Revista Turismo e Sociedade (publicação da Universidade Federal do Paraná) disponível no endereço http://www.ser.ufpr.br/, leia o capítulo 2 (Primórdios da aviação na América do Sul) contido no artigo Correio Aéreo e aviação civil: Os primeiros passos da Varig, publicado no volume 2, número 2 de 2009. Após sua leitura verifique como a aviação civil é um exemplo das facilidades criadas a partir do pós-guerra.

Sobre os fatos até agora apresentados, chamamos sua atenção para

a forma como surgiram esses benefícios, ou seja, a partir da apropriação

humana sobre os recursos naturais do planeta.

Esta apropriação acelerou-se à medida que a Revolução Industrial

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

86

e os fenômenos em decorrência da mesma aconteciam. Podemos citar,

como exemplo, o incremento dos meios de transporte aliado às formas de

comunicação.

Ainda, em referência à apropriação dos recursos, vale salientar que

a mesma não se deu por vias harmônicas de convivência. Tal constatação é

coerente quando se observa que as intervenções, com o objetivo de promover o

desenvolvimento tecnológico, não colocam o homem como parte da natureza

e sim como proprietário dos recursos dela provenientes.

A degradação da natureza aparece nesta perspectiva como um efeito de racionalidade econômica que nega e desconhece a natureza, que tenta reduzir e capitalizar a ordem da vida e da cultura. (LEFF, 2008, p. 190)

Isso tudo se deve principalmente à visão e conceito que cada um tem de

ambiente, bem como a forma como nos vemos diante do mesmo.

Pense em um agropecuarista detentor de extensas propriedades rurais. Como seria o posicionamento dele ao se deparar com a seguinte situação: necessidade da ampliação das áreas de pasto a partir do desmatamento?

REFLEXÃO

Quando trazemos esse paradigma para a discussão, é para que

percebamos como tem sido nossa relação com a natureza. Uma relação de

propriedade x proprietário, na qual não são consideradas as necessidades que

a propriedade apresenta para sua manutenção.

O homem como parte da natureza

Levar em consideração as necessidades que a natureza apresenta significa

compreender que a finalidade dela aqui não é para atender aos nossos desejos

e sim que somos parte da mesma.

Assim, para esse convívio ocorrer de forma harmônica, é preciso adotar

estratégias de convivialidade condizentes entre a satisfação das necessidades

humanas, atendendo as da natureza.

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Capítulo 4

87

Neste caso, acrescentamos as palavras de Boff (2004), quando ele

questiona sobre o que se entende por convivialidade, ressaltando que a boa

aplicação dessa expressão seria a combinação do valor técnico da produção

material com o valor ético da produção social.

Responder a esse questionamento significa conceber que praticar a

convivialidade seria tentar reverter a crise ecológica hoje existente, sabendo

que a mesma foi instrumentalizada pelo poder-dominação, aliado à produção-

exploração da natureza.

Apreender esses preceitos significa ir além da concepção de mercado, considerando outras racionalidades nesta perspectiva. Neste sentido, vale assimilar a postura de convívio adotada no Oriente, especialmente pelos adeptos do hinduísmo. A esse respeito, podemos considerar uma medida adotada pelos discípulos de Gandhi, especialmente J. C. Kumarappa, quando apresenta a economia da permanência, que prevê a satisfação das genuínas necessidades humanas, autolimitadas por princípios que evitam a ganância, caminhando junto com a conservação da biodiversidade.

SAIBA QUE

Compreender a natureza sob esse ponto de vista é apreender a habilidade

de transformar seus recursos sem destruir o capital natural. Vale salientar

que o conceito de recurso é cultural e histórico, bem como o conhecimento

social a respeito do potencial ambiental (SACHS, 2008). “O que hoje é recurso,

ontem não era, e alguns recursos dos quais somos dependentes hoje, serão

descartados amanhã.” (SACHS, 2008, p. 70).

Tudo isso condiz com a forma de visualização da natureza pelo homem,

ou seja, à medida que ele se percebe como parte dela, existe a tendência de

minoração de suas ações predatórias, pois ele entende que das boas condições

do planeta dependem sua qualidade de vida.

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Capítulo 4

88

Márcio Cabral de Moura

Figura 3 - A reciclagem como alternativa de destinação de lixo

Assim, quando se vê como parte da natureza, o homem proporciona a

criação de relações interativas capazes de promover o equilíbrio racional da

utilização dos recursos com a ajuda da ciência. Essa será possível a partir da

implantação de novas estratégias de manejo, proporcionando a implantação

de tecnologias limpas, ocasionando o surgimento do consumidor verde, ou

seja, um ser humano crítico e bem informado acerca da origem dos bens e

serviços que consome.

4.2.3 O processo interativo homem x natureza

Falar na interação do homem com a natureza significa pensar numa

influência mútua e harmoniosa. A esse respeito, Santos (2007, p. 153; 161) diz que:

Uma grande tarefa deste fim de século é a crítica do consumismo e o reaprendizado da cidadania. [...] Ficar prisioneiro do presente ou do passado é a melhor maneira para não fazer aquele passo adiante.

A intenção de trazer essa afirmativa tão forte neste momento é levá-lo

mais uma vez a refletir sobre os vários conteúdos que estamos tratando nessa

disciplina, ou seja, para que você tenha o conhecimento necessário e, quem

sabe com isso, repensar suas atitudes individuais e coletivas. Isso significa

pensar em você como um indivíduo conhecedor e executor da matéria em

prol da interatividade do homem com a natureza.

Neste sentido, pergunto: você poderia afirmar a forma como aconteceria

essa interatividade?

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Capítulo 4

89

O ponto de partida para que ocorra a interatividade é uma revolução

científica, por meio da problematização do saber ambiental. Nisso estaria

implícita uma transformação do conhecimento, induzida pela construção

de uma nova racionalidade ambiental. Aí entram a ecologia, economia,

sociologia, direito, antropologia, matemática, geografia, etc.

Enfim, observa-se a necessidade de revisar toda a estrutura científica

como forma de construir um modelo de desenvolvimento focado na satisfação

das necessidades humanas, eliminando os conflitos socioeconômicos, o

desemprego, a pobreza e a privação sem, com isso, esgotar os recursos do

planeta, bem como considerando os saberes tradicionais do lugar.

Neste sentido, é possível propor uma dialética entre a construção do conhecimento e a construção do real. [...] uma racionalidade ambiental orienta a construção de uma realidade social e uma racionalidade produtiva fundadas em novos valores éticos de produtividade, que partem de outros princípios de realidade: diversidade, complexidade, interdependência, sinergia, equilíbrio, eqüidade, solidariedade, sustentabilidade e democracia. (LEFF, 2008, p. 162)

É nesse ponto que queremos chegar ao trazer a discussão da interação do

homem com a natureza neste momento do nosso livro texto, pois é importante

perceber que existe uma luz no fim do túnel e que não estamos falando de

utopias e, sim, das emergentes necessidades, das quais dependem a qualidade

da sobrevivência das espécies, inclusive, a humana.

O equilíbrio proporcionado pelo saber ambiental

Um ponto interessante para iniciar nossa conversa a respeito do

equilíbrio racional, que pode ser proporcionado pela ciência, está na questão

da fragmentação do conhecimento.

Há muito o ser humano tem orientado sua construção do conhecimento

de maneira isolada, onde cada ramo da ciência apresenta sua própria ótica

acerca de determinado tema. Assim, o que ocorre é uma construção desconexa

e desarticulada, levando a inúmeras interpretações sobre um dado problema.

Com as questões ambientais, isso não foge à regra, ou seja, cada ramo da

ciência apresenta uma ótica muito particular.

Abordando uma visão atual dessa divisão, apontamos algumas áreas e

suas interferências: na racionalidade econômica, evidenciasse a construção

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Capítulo 4

90

de um novo eixo produtivo; no Direito, propõe-se uma nova estruturação do

direito, cujo ordenamento jurídico responda a novas formas de propriedade e

apropriação das formas de vida e produção; a antropologia visa à integração

sociocultural a partir da articulação da organização cultural com as condições de

seu meio ambiente; na ecologia e na geografia, uma visão recente é a construção

de unidades operacionais de manejo dos recursos naturais (LEFF, 2008).

Por meio desta ótica, é possível que você perceba o caráter inter (multi)

disciplinar, no qual o saber ambiental se orienta. Entretanto, torna-se urgente

sistematizar o conhecimento humano numa perspectiva de complementaridade,

de modo a atingir a maximização da produção do conhecimento em prol do

favorecimento do processo interativo homem x natureza.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acessando o link http://www.ispn.org.br, você conhecerá o Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN, um centro de pesquisa e documentação independente, brasileiro, sem fins lucrativos, fundado em abril de 1990 e sediado em Brasília. Ele tem como objetivo central contribuir

para a viabilização do desenvolvimento sustentável com equidade social e equilíbrio ambiental. Para tanto, realiza e promove a pesquisa científica, dissemina conhecimentos e estimula o intercâmbio entre pesquisadores. Ao mesmo tempo, subsidia a atuação de movimentos sociais e ambientais e a formulação de políticas públicas nas interfaces entre desenvolvimento, população e meio ambiente.

Pensar de forma orientada pelo raciocínio que fundamenta o ISPN

significa promover uma articulação dos saberes para essa finalidade, ou seja,

é preciso pensar em ideias sustentáveis e essa é um bom exemplo, que merece

conhecimento e apropriação pelos cientistas, sejam eles naturais ou sociais.

A partir dessa ambientação inter e transdisciplinar do saber, é possível

promover um novo olhar para o conhecimento, construído de forma holística.

Observamos, entretanto, que este saber ainda passa por um processo de

gestação, pois, para sua sistematização, é imprescindível vencer o desafio de

sairmos da sociedade do consumo sem controle (ditado pela força do mercado)

para a sociedade do consumo sustentável.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

91

Desta ruptura epistemológica e desta postura sociológica sobre as relações entre o saber, o conhecimento e o real, são deduzidos os princípios conceituais para pensar o ambiente como potencial produtivo e a racionalidade ambiental como a articulação de valores, significações e objetivos que orientam um processo de reconstrução social, onde o pensamento da complexidade se abre caminho na encruzilhada da democracia, da eqüidade e da sustentabilidade, num campo atravessado pelas estratégias de poder no saber. (LEFF, 166 2008)

Atender a afirmativa do parágrafo anterior possibilitará a estruturação

de estratégias de manejo capazes de conciliar os diversos interesses dos

ecossistemas envolvidos.

As estratégias de manejo como garantia de sustentabilidade

Quando falamos em estratégias de manejo, trazemos a discussão de

como manipular a natureza, de modo a garantir a sustentabilidade, pois

sabemos que essa não é uma tarefa fácil de ser realizada, exigindo muito

esforço individual e coletivo.

Você sabia que Odaiba, o bairro mais moderno de Tóquio, fica em uma ilha artificial, aterrada e construída – em grande parte – com lixo. Este bairro é um exemplo de convivência com o lixo: praticamente 100% são reaproveitados. O lixo segue automaticamente para uma usina, levado por tubos, vindos das cinco regiões do bairro. Toneladas de lixo são despejadas a cada minuto. Uma gigantesca garra mecânica, controlada por um comando parecido com o de videogame, recolhe tudo e joga na fornalha. Além disso, o calor produzido na usina gera eletricidade e nenhum grão de sujeira é desperdiçado. As cinzas que sobram dessa queima são reaproveitadas, por exemplo, para pavimentar as ruas, e a energia produzida a partir do lixo abastece até 10 mil residências. (KOVALICK, 2010)

SAIBA QUE

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Capítulo 4

92

Outro ponto, que merece destaque no Japão, é que lá não há lixeiras nas

calçadas, ou seja, se a gente quiser se livrar de uma garrafa de refrigerante, por

exemplo, precisa ir até uma loja de conveniência, onde há um ponto de coleta para

reciclagem. Neste sentido, o lixo é dividido em quatro categorias e a separação é

feita assim: primeiro, joga-se o resto do refrigerante no ralo; quando a garrafa

estiver vazia arranca-se o rótulo, que vai para a lata dos plásticos, aí, finalmente,

pode-se jogar a garrafa fora, em lugar apropriado. Dá trabalho? Claro que dá. O

prêmio é viver em cidades que raramente alagam em dias de chuva e com ruas

que parecem sempre ter acabado de passar por uma boa faxina. (Op. Cit.)

Comparando os fatos mencionados com a nossa realidade parece até que

estamos falando de um filme de ficção científica, cuja visão é extremamente

futurista, ou seja, algo irreal. O problema é que estamos tão (mal) acostumados

com a forma atual de intervenção no ambiente, que simplesmente cogitar

em adotar novos padrões intervencionistas se configura como uma coisa tão

distante e difícil de ser alcançada que, muitas vezes, nem ousamos tentar.

Entretanto, não só é possível como é viável e, neste aspecto, mais vezes

nós retomamos o componente educativo como eixo norteador para essa nova

configuração. E por que a educação é indispensável, neste sentido? Sabemos que todo

processo de mudança requer a passagem por um processo ensino-aprendizagem,

pois, sem ele, não é possível a adaptação às novidades que se apresentam.

Assim, pensar e praticar as estratégias de manejo como garantia de

sustentabilidade requer coragem, força de vontade e capital humano. Este último

tem que apresentar muita disposição para apreender novas técnicas e aplicá-las

no cotidiano, de forma simples e conectada por um sentimento de pertencimento,

ou seja, por meio de uma humanização das intervenções ecológicas.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Para melhor ilustrar como seria a humanização das inovações tecnológicas sugerimos que você acesse o endereço http://planetasustentavel.abril.com.br/download/painel_inicial_casa_sustentavel.pdf e conheça a casa sustentável, uma casa protótipo, que foi planejada para mostrar que sim, é possível ter uma vida sustentável.

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Capítulo 4

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Reafirmamos que se trata de uma revolução sem fronteiras, ainda dentro

do contexto do agir local e pensar global. E você, caro(a) aluno(a), como irá

orientar sua atuação profissional diante do quadro que se configura?

Trazer a discussão sobre posicionamento profissional é pertinente neste

momento, pois, independentemente da área de atuação dos profissionais, uma

palavra que precisa ser posta em prática (mesmo de forma mínima) para o alcance

do desenvolvimento sustentável é o manejo das intervenções no ambiente. Neste

caso, manejo é pré-requisito para desenvolvimento sustentável.

E como isso será possível? Precisamos conhecer casos de sucesso e adaptá-

los a nossa realidade, por isso que, no decorrer do nosso livro-texto, temos

sempre procurado apresentá-los. A esse respeito, o Professor Sachs (2008) fala

da conservação da biodiversidade por meio do ecodesenvolvimento, trazendo

o exemplo da Índia, que está implementando diversos projetos em torno de

reservas de tigres e em parques nacionais.

Evidentemente que isso tudo depende muito de vontade política, como

já mencionamos em momento anterior, pois a efetiva participação e controle

social (especialmente em países como o Brasil) se tornam evidente para que os

estudos saiam do papel e propiciem a reconciliação do desenvolvimento com

a biodiversidade. Isso também será complementado com o surgimento de um

“novo” consumidor consciente e crítico.

As tecnologias limpas e o consumidor verde

Naturalmente que falar em tecnologias limpas remete a refletir sobre

desenvolvimento tecnológico. A esse respeito é válido retomar que estamos

em pleno século XXI e nunca em momento da história se viu tantos avanços e

descobertas na ciência.

Como é possível que a solução para a problemática ambiental não tenha sido aplicada de forma eficaz, se estamos na Era do Conhecimento, onde em todos os dias são apresentados maiores avanços?

REFLEXÃO

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Capítulo 4

94

No capítulo 2, apresentamos como a teoria neoliberal impulsiona a

composição econômica, ou seja, pelos desígnios do mercado. Atrelado a isso,

podemos acrescentar o modelo de inovações tecnológicas atual.

Neste sentido, existe toda uma lógica de concepção de produtos e

mercadorias voltadas para a minimização dos custos de produção, aliada à

maximização dos lucros na comercialização. Isso tudo ainda faz parte de um

complexo rol de estratégias de competitividade no setor produtivo.

Além disso, essas estratégias estão atreladas ao processo decisório dos

agentes econômicos, especialmente no que se refere à dinâmica de surgimento

das inovações tecnológicas. Um ponto merecedor de destaque é que essa dinâmica

atende preferencialmente às inovações que contemplem, em sua concepção,

formas de simplificar a vida humana, por meio da criação de zonas de conforto.

Entretanto, embora de forma lenta, porém gradual, existe uma mudança

neste panorama. Isso se deve, em parte, à irreversível mudança de postura da

humanidade nos últimos cinquenta anos, a partir da tomada de consciência da

problemática ambiental e das consequências que a mesma acarreta.

Assim, surge um “novo” consumidor: o consumidor verde ou sustentável,

cujos interesses seletos têm provocando uma mudança nas estratégias de

produção. Essas podem ser percebidas em todos os aspectos, indo desde a

concepção dos produtos às formas de comercialização.

Vale salientar, inclusive, que, nos últimos anos, até as campanhas

promocionais têm concebido novas formas de criação e execução, tendo em

mente sempre atender às expectativas de um consumidor consciente, crítico e

reclamante de seus direitos junto aos órgãos competentes.

A esse respeito, Romeiro e Salles Filho (1999, p.107) salientam:

Uma empresa pode se antecipar a qualquer legislação ou imposição externa e resolver buscar e incorporar uma inovação com a qual ela imagine poder conquistar uma vantagem competitiva. Se há por parte da firma uma expectativa de resposta positiva de consumo a uma inovação que explore o lado ecológico da preferência do consumidor, então a firma pode estar desenvolvendo uma certa trajetória tecnológica, amigável do ponto de vista ambiental, por uma determinação essencialmente endógena.

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Capítulo 4

95

Retomando o capítulo 3, ainda afirmamos que, à medida que as

inovações “verdes” forem economicamente viáveis, atendendo aos anseios do

consumidor, o mercado irá requerê-las.

Você já ouviu falar no Eco4Planet, o buscador ecológico? Quando falamos em buscar alguma informação na rede mundial de computadores (internet) o primeiro nome que vem em nossa mente é o Google, não é mesmo? Acontece que este não é o único, e, como alternativa verde, existe o Eco4Planet (www.eco4planet.com/pt/), um site que lança mão do mesmo mecanismo de buscas do Google, só que, para cada 50 mil pesquisas realizadas, uma árvore é plantada no Brasil.

Só para você ter ideia: se o mundo inteiro utilizasse esse buscador com a tela preta, seriam economizados cerca de sete milhões de kilowats-hora em um ano, ou o mesmo que 58 milhões de computadores desligados por 1 hora.

(http://olhardigital.uol.com.br)

CURIOSIDADE

Ainda como tendência de mercado com novas tecnologias para

atender aos anseios dos consumidores conscientes, podemos citar a indústria

automobilística, cujos modelos apresentados pelos salões de automóveis no

mundo afora são os veículos híbridos (movidos à energia elétrica e a combustível

fóssil). Além da indústria automobilística, todos os setores produtivos estão

se rendendo aos apelos ambientalistas. A esse respeito aprofundaremos a

discussão no capítulo 5 deste livro-texto.

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Capítulo 4

96

4.3 Aplicando a teoria na prática

Estádios da Copa deverão adotar selo de sustentabilidade ambiental

Os estádios da Copa 2014 deverão ter certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) para atestar a sustentabilidade ambiental dos empreendimentos. A informação vem do Comitê Local da Copa 2014 (COL), que, em comunicado oficial, enviado nesta terça-feira (4/8) aos coordenadores e arquitetos das cidades-sedes, recomendou “fortemente” a certificação das arenas do Mundial.

“Sabemos das iniciativas individuais dos projetos de cada uma das Cidades e parabenizamos as mesmas. No entanto, no sentido de organizar os processos de sustentabilidade e oficializar os mesmos, recomendamos que certifiquem seus projetos e obras pelo selo LEED”, informou o Consultor Técnico de Estádios do comitê, Carlos de La Corte.

De acordo com o COL, a certificação tem o objetivo de oficializar e organizar os processos de sustentabilidade das arenas do Mundial, e reflete o comprometimento do comitê com a neutralização das emissões de carbono das atividades da Copa 2014.

Segundo o comunicado, o COL recomenda aos estádios o selo LEED Certified, o menor dos quatro graus oferecido pelo U.S. Green Building Council, organização não governamental norte-americana, que implanta o sistema de certificação. “Ficaríamos muito satisfeitos apenas com a certificação simples (LEED Certified - 40 a 49 pontos e 8 pré-requisitos), já que existem outros selos mais sofisticados de certificação LEED (Silver, Gold e Platinum)”, diz o texto.

Para o COL, a implantação do selo tornaria o Brasil referência mundial em arenas sustentáveis. “O Brasil seria, então, o primeiro país a ter todos os estádios da Copa certificados pelo LEED, servindo de exemplo mundial”.

(http://www.copa2014.org.br/noticias/866/ESTADIOS+DA+COPA+DEVERAO

+ADOTAR+SELO+DE+SUSTENTABILIDADE+AMBIENTAL.html.Consulta em

06-04-2010)

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Capítulo 4

97

Baseando-se na reportagem, como você considera que deve ser o

posicionamento dos gestores das cidades-sedes para atender, de maneira

satisfatória, essas exigências impostas pela Federação Internacional de Futebol

(FIFA), atingindo a meta da “Copa Verde”?

Para responder esse questionamento, é preciso conceber que este é

um grande desafio e, para vencê-lo, inicialmente os profissionais de todos os

segmentos atingidos pelo evento deverão visualizar-se como parte da natureza

e dos ecossistemas que serão afetados com as intervenções provenientes das

demandas da FIFA.

Assim, o primeiro passo a ser dado será o de identificar o nível do saber, ou

seja, o conhecimento dos profissionais envolvidos acerca do saber ambiental.

Isso deverá ser feito a partir de uma pesquisa inter (multi) disciplinar, uma vez

que um evento desta magnitude envolve profissionais de diversas áreas do

conhecimento, ou seja, desde os cientistas naturais (na elaboração dos Estudos

de Impacto Ambiental) até os sociais (aqueles que irão atuar na promoção e

execução do evento).

Outra questão que merece destaque é o nível desses profissionais envolvidos

(desde serventes a mestres e doutores), o que implica um nivelamento acerca das

questões ambientais e das demandas que a intervenção na natureza requer.

Para a concepção de um mega evento desse porte, todos os esforços

deverão ser canalizados para um equilíbrio na relação homem x natureza.

Isso significa afirmar que existe uma necessidade eminente de pesquisas para

encontrar soluções tecnológicas de manejo (tanto viáveis economicamente

como ecologicamente).

Quem estiver à frente de um processo tão dinâmico e complexo como

é um evento deste porte, não deve esquecer que os olhos do mundo estarão

voltados para as cidades-sedes durante pelo menos dois meses. E isso é

válido lembrar, pois a FIFA apresenta mais membros filiados do que a própria

Organização das Nações Unidas – ONU.

Neste todos e tudo, o que for feito em prol do evento será alvo de

especulação e, caso não esteja coerente com os padrões preestabelecidos,

terá uma repercussão negativa, acarretando em efeitos de longo alcance. E

ninguém quer ter seu nome atrelado a algo que fracassou, não é verdade?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

98

4.4 Para saber mais

BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Consumo Sustentável - Manual de

Educação. DF, 2005. (série desafios da educação ambiental)

Esta publicação, em parceria com o Idec Consumers International, propõe

uma nova postura diante do consumo, introduzindo novos argumentos

contra os hábitos de desperdício, que caracterizam o padrão de consumo

das sociedades ocidentais modernas, que, além de ser socialmente injusto, é

ambientalmente insustentável.

MATER NATURA: Instituto de Estudos Ambientais. Disponível em:

< http://www.maternatura.org.br>. Acesso em: 17 abr. 2010.

O Mater Natura - Instituto de Estudos Ambientais é uma associação civil

ambientalista, sem fins lucrativos, de caráter científico, educacional e cultural.

Sua missão é contribuir para a conservação da diversidade biológica e cultural,

visando à melhoria da qualidade da vida.

LAYRARGUES, Philippe Pomier. Sistemas de Gerenciamento Ambiental,

Tecnologia Limpa e Consumidor Verde: a delicada relação empresa–meio

ambiente no ecocapitalismo. Revista de Administração de Empresas. São

Paulo, v. 40, n. 2, p. 80-88, Abr./Jun. 2000.

O texto sustenta o argumento de que a ISO 14000 não resolverá a

complexa problemática ambiental brasileira. O autor aponta que sua

incorporação na empresa não representa ainda uma mudança paradigmática

em direção à sustentabilidade, mas, sim, uma mudança da cultura empresarial

provocada mais pelas transformações político-econômicas mundiais do

que por uma possível conscientização ambiental. Apesar de a tecnologia

limpa ser apontada como a maior vantagem competitiva contemporânea

no atual cenário de desregulamentação governamental, seu alcance

ainda é limitado devido à sua intrínseca dependência da demanda de um

significativo mercado verde.

RICKLEFS, ROBERT E. A economia da natureza. 5. ed. Rio de Janeiro:

GUANABARA KOOGAN S.A., 2003.

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Capítulo 4

99

O livro aborda o ambiente físico e as formas pelas quais os organismos

se adaptam às suas vizinhanças. Ele introduz o conceito de bioma, discute

o movimento da energia dos alimentos, tratando a adaptação e as trocas

fundamentais que os organismos fazem. Isso é seguido por discussões de

estrutura e dinâmica populacional e de interações entre populações de

diferentes espécies, bem como da organização e da regulação das comunidades

ecológicas. Ele enfatiza como os sistemas ecológicos são continuamente

desafiados e mantidos, e como a dinâmica desses sintomas formam padrões de

biodiversidade no planeta. Para finalizar, o autor apresenta uma visão geral

dos problemas ambientais e algumas de suas soluções.

4.5 Relembrando

Neste capítulo, apresentamos a discussão de como visualizar a Ecologia

Humana como pressuposto para uma nova visão acerca do desenvolvimento

sustentável.

Para ilustrar esta temática, a abordagem do conteúdo foi direcionada de

modo a estimular a compreensão sobre a complexa relação entre o homem e a

natureza, bem como o entendimento relacionado à necessidade de existência

de um processo interativo entre tais atores.

Finalizando o capítulo, mostramos como as inovações tecnológicas

de cunho ambiental são possíveis para a busca do equilíbrio racional na

apropriação dos recursos, principalmente após o surgimento do consumidor

“verde” (o consumidor consciente), obrigando o mercado a se adequar a este

novo paradigma.

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Capítulo 4

100

4.6 Testando os seus conhecimentos

Pesquisas mostram que edifícios sustentáveis reduzem em 30% o consumo de energia e em 50% o consumo de água. A procura pela certificação é grande, mas os desafios são maiores. No Brasil, são aplicadas atualmente duas certificações ambientais: o Aqua e o Leed (Leadership in Energy and Environmental Design), de origem americana. Há ainda os selos Sustentax e Procel Edifica, ambos brasileiros.

Entretanto, ser sustentável no Brasil não é fácil. Muitos consumidores duvidam da reputação e da qualidade dos produtos e serviços sustentáveis, porque confundem sustentabilidade com ecologia, baixa qualidade, rusticidade, etc. Eles acham que tudo o que é sustentável é mais caro e não tem ampla oferta no mercado, além de desconhecerem os critérios que os tornam verdes. No Brasil, apenas 29% das empresas desenvolvem alguma ação de modo a organizar uma rede de fornecedores socialmente responsáveis e 31% possuem políticas para efetivar “compras verdes”.

(COELHO, Laurimar. Certificação ambiental. Revista Téchne, São Paulo, 156. ed.,

ano 18, Mar. 2010. Disponível em: <http://www.revistatechne.com.br/engenharia-

civil/155/artigo162886-2.asp>. Acesso em: 17 abr. 2010)

Diante da situação citada, como articular conhecimentos dos profissionais

das áreas de construção civil e comunicação para estimular o aumento

da credibilidade da população, a fim de unir esforços para o aumento das

construções com certificação ambiental?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 4

101

Onde encontrar

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

GASTAL, S. A. Correio Aéreo e aviação civil: Os primeiros passos da Varig.

Turismo & Sociedade, Curitiba, v. 2, n. 2, p. 185-211, outubro de 2009.

KOVALICK, Roberto. Moradores de bairro japonês reaproveitam quase 100%

do lixo. Bom dia Brasil, Tóquio, 09 Abr. 2010. Disponível em: <http://g1.globo.

com/bomdiabrasil/0, MUL1562975-16020,00-MORADORES+DE+BAIRRO+JAPO

NES+REAPROVEITAM+QUASE+DO+LIXO.html> Acesso em: 15 abr. 2010.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

MARQUES, João Fernando; COMUNE, Antônio Evaldo. A teoria neoclássica e a

valoração ambiental. In: ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip;

LEONARDI, Maria Lucia Azevedo (Org.). Economia do meio ambiente: teoria,

políticas e a gestão de espaços regionais. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1999.

OLHAR DIGITAL. Eco4Planet, o buscador ecológico. Digital News. 03 Mar,

2010. Disponível em: <http://olhardigital.uol.com.br/central_de_videos/video_

wide.php?id_conteudo=10181&/ECO4PLANET+O+BUSCADOR+ECOLOGICO>.

Acesso em: 17 abr. 2010.

ROMEIRO, Ademar Ribeiro; SALLES FILHO, Sergio. Dinâmica de inovações sob

restrição ambiental. In: ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip;

LEONARDI, Maria Lucia Azevedo (Org.). Economia do meio ambiente: teoria,

políticas e a gestão de espaços regionais. 2. ed. Campinas, SP: UNICAMP.IE, 1999.

SACHS, Ygnacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. 3. ed. Rio de

Janeiro: Garamond, 2008.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7.ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 103

5.1 Contextualizando

Estamos iniciando mais um capítulo rumo ao entendimento da

problemática do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Neste capítulo

5, abordaremos os desdobramentos pertencentes ao movimento ambientalista.

Assim, verificaremos como se deu o despertar dos movimentos sociais

para este tema e como a participação consciente da sociedade se faz necessária

para garantir o manejo dos recursos de maneira sustentável.

Neste sentido, é preciso ficar atento para não cairmos nas armadilhas

criadas pela mídia para entender e colaborar com a superação dos desafios

lançados ao movimento ambientalista de modo a garantir o predomínio da

visão holística para com a natureza, ou seja, contemplar todos os ecossistemas

envolvidos para o alcance da qualidade ambiental.

Portanto, finalizando o estudo deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:

� Caracterizar o movimento ambientalista;

� Apreender como funcionam as relações provenientes dos movimentos

sociais;

� Identificar as estratégias e os desafios para a promoção da participação

da sociedade como um todo no movimento ambientalista.

� Desejamos uma excelente leitura e bons estudos!

Até o próximo capítulo!

O MOVIMENTO AMBIENTALISTA A PARTIR DA VISÃO HOLÍSITCA: HOMEM X NATUREZA

CAPÍTULO 5

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

104

5.2 Conhecendo a teoria

5.2.1 O princípio de tudo: o homem se apropria da natureza

Desde os escritos iniciais deste livro-texto em nosso primeiro capítulo,

chamamos sua atenção para a interface homem x natureza, bem como a forma

como o primeiro se apropriou da segunda durante todo seu processo evolutivo.

Quando falamos no processo evolutivo, a intenção é verificarmos o

quanto o homem sempre foi dependente dos recursos naturais e como,

com o passar dos tempos, os avanços tecnológicos foram criando novas

formas de explorá-los.

Falando nisso! Você já parou para pensar que nós (seres humanos) somos a única espécie de seres vivos que come praticamente de tudo e de todas as formas? Perguntamos ainda: frágeis como sempre fomos diante dos outros seres vivos, como é possível nossa sobrevivência e supremacia diante das demais espécies?

REFLEXÃO

Intrigante não é mesmo? Alguns estudiosos dizem inclusive que

isso só possível graças as nossas condições de adaptabilidade, mediante a

transformação da natureza.

A esse respeito, Brandão (2005, p. 22) afirma que:

De um modo ou de outro, ao longo da difícil história da espécie humana, convivemos com todo o planeta Terra e habitamos todos os seus cenários naturais. E aprendemos a habitar o lugar onde vivemos de uma maneira inteiramente nova e inovadora, se nos compararmos com todos os seres que dividem conosco a aventura da Vida na Terra.

Vale salientar ainda que, ao longo da nossa evolução, diferentemente

dos outros seres vivos, fomos moldando a natureza para adaptá-la as

nossas necessidades.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

105

Isso ocorreu desde as formas mais rudimentares de sobrevivência há muito

tempo até as mais complexas criações como um ônibus espacial, por exemplo.

William Warby

Figuras 1, 2 e 3 – O uso da natureza pelo homem ao longo do tempo

Assim, podemos observar que existe uma dialética humano x natureza,

onde talvez sejamos a única espécie (parece até muita pretensão) que sabe,

sabe que sabe, pensa, pensa sobre o que sabe e faz o que pensa e sabe.

Confuso? É não! Nós conseguimos pensar e agir, para manipular a natureza

de modo a atender as nossas demandas desde que nos entendemos como gente.

O que ocorre é que nem sempre essa reflexão gera uma ação de equilíbrio

no manejo dos recursos, pois, muitas vezes, nos preocupamos tanto com o

nosso bem-estar que o colocamos acima de qualquer outro ser vivo. Isso chega

a ser inclusive egoísta de nossa parte. Não acha?

Assim, podemos dizer que somos capazes de ser aliados da natureza

quando interagimos com ela de modo equilibrado ou somos inimigos da

mesma quando a ignoramos para atender aos nossos desejos.

No caso dos desejos, sempre é bom relembrar que eles foram intensificados

com o advento da Revolução Industrial, especialmente pelas facilidades surgidas

a partir da mesma. Acrescente-se a isso o fato da busca constante por inovações,

cujo objetivo é tornar a vida humana mais fácil e com maior conforto e bem-estar.

Infelizmente, como vimos no capítulo 4, historicamente não houve uma

conciliação entre as inovações e as necessidades da natureza. Entretanto, a

partir da segunda metade do século XX, a comunidade internacional começou

a despertar para essa necessidade, iniciando um processo histórico de tomada

de consciência para tal: o movimento ambientalista.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

106

5.2.2 O despertar da conscientização

Após a explosão das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki (Japão) e

os desdobramentos causados por ambas, o mundo percebeu a força destrutiva

do ser humano ao manipular a natureza para fins bélicos.

Assim, intensificaram-se as discussões em torno do cuidado para com

as inovações tecnológicas, visto que estas já estavam pondo em risco até a

própria vida humana.

Juntamente com isso surgiramm os escritos apontando para tal

pressuposto, bem como personagens dentre os quais citamos o engenheiro

florestal norte-americano Aldo Leopold e o médico alemão Albert Schweitzer

que despontaram como ícones nessa empreitada: alertar para os rumos

desenfreados do crescimento.

Aldo Leopold (1887-1948), engenheiro florestal, cuja luta em defesa da natureza foi intensa. Publicou mais de 350 artigos científicos sobre o tema. É considerado como a figura mais importante da conservação da vida selvagem dos EEUU. Foi consultor da ONU nesta área. A sua obra mais conhecida é o Sand County Almanac, onde lançou as bases para a Ética Ecológica.

Albert Schweitzer (1875-1965), filósofo, teólogo luterano, organista intérprete de Bach, tornou-se um médico missionário e sua mulher uma enfermeira, na África Equatorial. Recebeu o Prêmio Nobel da paz em 1952 pelos seus esforços pela “Irmandade das Nações”.

BIOGRAFIA

Assim, iniciou-se o movimento ambientalista, e a ética ambiental

começou a ser vista pelo mundo. Entretanto, as discussões ocorreram de

maneira cautelosa, tendo em vista que a pauta das reuniões organizadas para

discuti-la permeava a questão do crescimento econômico e isso sempre foi

motivo de conflito com as determinações do mercado.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

107

Falar em mercado significa afirmar que ele é uma das forças modeladoras da sociedade como um todo, fato que muitas vezes gera profundas desigualdades, à medida que se criem necessidades supérfluas. (SANTOS, 2007)

SAIBA QUE

5.2.3 O significado do movimento ambientalista

Não podemos falar de movimento ambientalista sem retomar a

cronologia apresentada no capítulo 1, onde você viu que as discussões em torno

da convivência equilibrada do homem com a natureza foram intensificadas

a partir da Conferência de Estocolmo em 1972. Desde esse período, houve

avanços na questão ambiental, porém, muito ainda precisa ser feito. A esse

respeito, Leff (2008, p. 96) comenta que:

A problemática ambiental do desenvolvimento deu lugar a um movimento, na teoria e na prática, para compreender suas causas e resolver seus efeitos na qualidade de vida e nas condições de existência da sociedade.

Assim, evidenciamos que esse despertar originou-se na implicação que

a crise ambiental traz para a qualidade de vida humana, ou seja, a partir

do momento em que as condições climáticas começaram a modificar a zona

de conforto da nossa sobrevivência, uma parte da humanidade começou a

perceber e se preocupar com o ambiente.

Entretanto, apesar de Estocolmo ser um marco, tudo é muito relativo

se considerarmos o jogo de interesses envoltos na problemática. Quando

trazemos essa afirmativa, lembramos os interesses interligados às questões

ambientais, bem como às soluções de manejo encontradas para mitigá-los.

A percepção da problemática ambiental não é homogenia e cobre um amplo espectro de concepções e estratégias de solução. As manifestações da crise ambiental dependem do contexto geográfico, cultural, econômico e político, das forças sociais e dos potenciais ecológicos sustentados por estratégias teóricas e produtivas diferenciadas. Neste sentido, não pode haver um discurso nem uma prática ambiental unificados. (LEFF, 2008, p. 96)

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

108

Isso significa retomar o capítulo 3, quando falamos das estratégias para

alcançar o desenvolvimento sustentável, pois, discuti-las, entendê-las e pra-

ticá-las é o caminho para encontrar o desenvolvimento sustentável. E essa é a

bandeira do movimento ambientalista, fundamentar as intervenções humanas

nos pressupostos da ética ambiental.

Você já ouviu falar em Ecovila? Ecovila é um movimento que adota a concepção de comunidades sustentáveis e está se espalhando pelo mundo inteiro, através da Rede Global de Ecovilas - GEN. Seu objetivo é utilizar a matéria-prima, ou seja, os elementos naturais reciclados das indústrias para fabricação de móveis e utilitários domésticos, a Premacultura. Este modelo foi incorporado pelas Nações Unidas no Programa de Desenvolvimento de Comunidades Sustentáveis (SCDP), entretanto, no Brasil, este movimento ainda é muito tímido.

CURIOSIDADE

Assim, agir de forma orientada por esse princípio seria gerar as condições

necessárias, tendo em mente sempre a sustentabilidade e os pilares que a

cercam, e usando a promoção da autonomia cultural, da autodeterminação

tecnológica e da independência política dos povos. (LEFF, 2008)

Isso tudo significa dizer que os governos têm um papel fundamental,

porém, nem sempre o mercado tem permitido essa ocorrência, pois, conforme

afirmação constante neste livro-texto, muitos são os interesses envolvidos no

contexto ambiental.

Diante das dificuldades encontradas pelo setor público em fazer com que

a iniciativa privada acate as demandas para a sustentabilidade ambiental, surge

um novo segmento, o terceiro setor, como forma de mobilização da sociedade

civil organizada para fortalecer essa luta em prol de um desenvolvimento

economicamente viável, socialmente justo, ambientalmente equilibrado.

Neste caso, mencionamos que as Organizações Não Governamentais

– ONG’s têm papel fundamental no desenvolvimento do movimento

ambientalista em todo o mundo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

109

EXPLORANDOEXPLORANDO

Certamente você já deve ter ouvido falar em Greenpeace ou em Fundo Mundial para a Vida Selvagem – WWF, instituições com atuação planetária na defesa do meio ambiente. Para conhecer melhor como são suas ações e como participar das mesmas, acesse os endereços eletrônicos http://www.greenpeace.org/brasil/ e http://www.wwf.org.br/ respectivamente e verifique a importante atuação das mesmas para o movimento ambientalista.

Ainda a respeito das ONGs, podemos considerar que elas atualmente têm

atuado não só como vigilantes, mas, também, têm influenciado as decisões

políticas que são tomadas em escala local, regional e global.

5.2.4 A participação social para garantir o uso e manejo dos recursos

de maneira sustentável

Leia o texto abaixo:

Dito em termos simples, o desenvolvimento social visa a melhorar a qualidade da vida humana enquanto humana. Isso implica em valores universais como vida saudável e longa, educação, participação política, democracia social e participativa e não apenas representativa. [...] Tais valores somente se alcançam se há um cuidado na construção coletiva do social, se há convivialidade entre as diferenças, cordialidade nas relações sociais, compaixão com todos aqueles que sofrem ou se sentem à margem, criando estratégias de compensação e de integração. (BOFF, 2004, p. 138)

A escolha deste posicionamento do Professor Boff, ao iniciarmos

esta seção, serve para relembrar a fala citada em momento anterior,

apresentando o posicionamento de que o homem talvez seja o único

ser vivo pensante. O porquê dessa recordação é para compreendermos

o quanto somos responsáveis pela manutenção da qualidade ambiental

tanto individual quanto coletivamente.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

110

Isso significa dizer que não devemos destinar a responsabilidade por

implantação de medidas atenuantes aos impactos das intervenções humanas,

bem como a culpa pelos danos causados pela omissão das mesmas somente ao

poder público ou à iniciativa privada.

Observe a fábula utilizada por Herbert José de Sousa (Betinho), como metáfora de solidariedade.

Houve um incêndio na floresta e enquanto todos os bichos corriam apavorados, um pequeno beija-flor ia do rio para o incêndio levando gotinhas de água em seu bico.

O leão, vendo aquilo, perguntou ao beija-flor:

- “Ô beija-flor, você acha que vai conseguir apagar o incêndio sozinho?”

E o beija-flor respondeu:

- “Eu não sei se vou conseguir, mas estou fazendo a minha parte”.

CURIOSIDADE

Dessa forma, é necessário considerar que também é dever da sociedade

civil se mobilizar no sentido de promover a participação social para garantir o

uso e manejo dos recursos de maneira sustentável.

Obviamente que isso não deve ser feito com base apenas em

posicionamentos ideológicos, pois o mercado e todo o aparato tecnológico

que o cerca facilmente conseguiria derrubá-los.

Neste sentido, a sociedade não pode ficar alinhada apenas ao plano das

ideias e, sim, caracterizar suas reivindicações no plano científico para poder

ter direito à voz e, quem sabe, ao voto no plano das instâncias de governança.

Esse seria um dos fundamentos do movimento ambientalista, não nos

acomodarmos com as imposições do sistema capitalista e lutarmos por uma

maneira mais igualitária de desenvolvimento.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

111

A emancipação dos povos na perspectiva ambiental vai mais além de sua independência formal, questionando a incidência da ordem econômica internacional no esgotamento de seus recursos e reclamando um direito para o aproveitamento endógeno e democrático. Deste modo a política do ambientalismo transforma as relações de poder nos níveis nacional e internacional, questionando os benefícios produzidos pela economia de mercado e oferecidos pelo Estado benfeitor. (LEFF, 2008, p.99)

A mobilização popular em torno desses eixos norteadores se faz necessária

para a consolidação de um movimento ambientalista forte e convincente.

Esse, por sua vez, deve ser fomentado de maneira organizada, pois, sozinho,

cada indivíduo é apenas mais um, e uma causa tão nobre merece um luta

proveniente de quantidade com qualidade.

Quando trazemos a palavra qualidade para a discussão é para reforçar

que o discurso ambientalista não deve ser orientado por palavras soltas ao

vento, para não se tornar vulnerável e ficar no plano dos sonhos.

Ainda complementando as razões para uma discussão orientada de modo

racional é o fato da credibilidade empunhada pelo conhecimento científico e

sua capacidade de persuasão.

Essa se torna cada vez mais necessária diante da necessidade de

sensibilização e mobilização social para fazer frente às facilidades e

benefícios que o mercado oferece, posto que muitas vezes a indústria do

consumo maquia a realidade.

5.2.5 Separando o joio do trigo

Com a difusão da problemática ambiental e dos desdobramentos de

seus impactos nas condições da vida humana, é perceptível a disseminação de

informações e o estímulo de atitudes neste sentido.

Assim, estamos diante de uma onda “verde” onde muitas vezes a realidade

do discurso das pessoas não condiz com práticas sustentáveis em seu cotidiano.

Ser ecologicamente correto está se tornando tão banal à medida que

muitos vestem a camisa do movimento ambientalista por questões de status

pelo fato de ser a moda em vigor.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

112

Isso tem se tornado um perigo na medida em que gera confusão conceitual

acerca do real fundamento deste movimento. São empresas, políticos, artistas,

enfim, uma infinidade de pessoas e instituições anônimas ou famosas com o

discurso da sustentabilidade na ponta da língua.

Entretanto, na prática, a coisa muda de configuração, especialmente

quando mexe com a zona de conforto individual marcada especialmente pela

adoção de estilos de vida mais simples. Também é válido acrescentar que,

quando são implantadas medidas atenuantes de intervenção, aumentando os

custos de produção e gerando a consequente diminuição das margens de lucro,

muitos empresários recuam nas estratégias de produzir de maneira sustentável.

PRATICANDOPRATICANDO

Diariamente tomamos conhecimento, por diversas campanhas publicitárias veiculadas na mídia, a respeito do compromisso de instituições bancárias com a causa da sustentabilidade ambiental. Para comprovar essa afirmativa, solicitamos que você visite um banco existente em sua cidade e verifique se, na rotina de trabalho do cotidiano de seus funcionários, esse princípio é realmente posto em prática.

Verificar as informações que recebemos para comprovar sua veracidade se

faz necessário para não comprarmos gato por lebre, pois a temática ambiental

está tão popular que muitas vezes não conseguimos identificar o que é correto.

A esse respeito, Santos (2007, p. 155) destaca:

O homem moderno é, talvez, mais desamparado que os seus antepassados, pelo fato de viver em uma sociedade informacional que, entretanto, lhe recusa o direito a se informar. A informação é privilégio do aparelho do Estado e dos grupos econômicos hegemônicos, constituindo uma estrutura piramidal. No topo, ficam os que podem captar as informações, orientá-las a um centro coletor, que as seleciona, organiza e redistribui em função de seu interesse próprio. Para os demais não há, praticamente, caminho de ida e volta. São apenas receptores, sobretudo os menos capazes de decifrar os sinais e os códigos com que a mídia trabalha.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

113

Podemos também aplicar esse raciocínio a diversos segmentos, sejam

eles poder público, iniciativa privada ou terceiro setor, que se apresentam

como verdadeiros lobos em pele de cordeiro, e cujo objetivo principal termina

sendo a captação de recursos a fim de atender seus desejos nada sustentáveis.

É por isso que devemos ter muito cuidado com as informações que

recebemos sobre a causa ambiental (pois nem sempre o que parece é), uma

vez que, quanto mais nos tornamos sensíveis e conscientes acerca do tema

mais ficamos suscetíveis à multiplicação das informações. Isso significa que

devemos aprender a filtrar e confirmar tudo o que lemos, ouvimos e vemos

para o nosso bem, assim como do planeta Terra.

É evidente que filtrar informações, reconhecendo seus aspectos positivos,

requer senso crítico individual orientado pela visão holística do homem

incluído na natureza, fruto do movimento ambientalista.

5.2.6 Desafios para a visão holística homem x natureza

Como estamos acompanhando no decorrer deste capítulo, a amplitude

de temas interligados ao movimento ambientalista é tamanha e tão complexa,

sendo capaz de gerar segmentação, fragmentação e até mesmo estratificação

dos organismos e pessoas envolvidos com a causa.

São tantas as reivindicações que sua articulação termina ficando limitada

e restrita a pequenos extratos sociais. Assim, a necessidade de definir estratégias

de ação orientadas pelo ambientalismo muitas vezes é inviabilizada, e o poder

econômico do mercado é fortalecido pela desarticulação dos movimentos.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Para comprovar essa afirmativa, apresentamos alguns endereços eletrônicos para que você possa comparar a diversidade de causas levantadas em torno da problemática ambiental:

� Contra a devastação da Amazônia: www.amazoniaparasempre.com.br

� Contra a extinção do peixe-boi: www.amigosdopeixeboi.org.br

� A favor de várias causas ambientais: www.greenpeace.org/brasil

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Capítulo 5

114

Dessa forma, faz-se necessária a busca da coesão entre os militantes da

causa ambiental de forma distinta no sentido da criação de demandas comuns,

aliadas às estratégias eficazes de transformação social.

É evidente que não podemos deixar de fora desse jogo de interesses a

racionalidade econômica dominante e a forma como esta se insere no contexto

do movimento ambientalista. A importância de verificar essa necessidade

conduz a incorporação de condições de sustentabilidade, equidade e

democracia aos processos produtivos.

Neste caso, você precisa ficar atento aos seguintes desafios: democracia;

impacto do discurso ambientalista; estratégias para transformar a racionalidade

dominante; fundamentação de um estado multiétnico; disparidades dos

interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

A democracia como meta do movimento ambientalista

Quando trazemos o desafio do alcance da democracia para uma

experiência exitosa relacionada ao movimento ambientalista, queremos

demonstrar a necessidade de uma coalizão, ou seja, união de todos que

acreditam e fundamentam propósitos nessa causa.

Isso é necessário dentro da perspectiva do fortalecimento das

organizações com inclusão na esfera política partidária, tendo em vista que

grande parte dos danos ambientais que presenciamos é fruto de decisões

políticas fundamentadas apenas pelo viés econômico.

Assim, é imprescindível a inserção dos integrantes do movimento

ambientalista nos partidos políticos, bem como a obtenção de representação

popular constituída. Até porque são os políticos quem decidem os rumos de

uma determinada localidade, região ou país.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Você pode conhecer um pouco do perfil dos políti-cos do nosso país acessando www.camara.gov.br/ ou www.senado.gov.br/, ambos os domínios são da Câmara dos Deputados e do Senado Federal respecti-vamente. Acesse e confira quem está em consonância com as necessidades do movimento ambientalista.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

115

Ultrapassar essa barreira será uma vitória para o movimento ambientalista,

tendo em vista a possibilidade de favorecer a democratização da prática ambiental.

O impacto do discurso ambientalista

Esse é outro desafio eminente desta causa ambiental e seus movimentos.

É preciso conhecer até que ponto as discussões estão surtindo efeito para a

mudança dos padrões de produção e consumo vigentes.

Até porque, como sempre estamos apresentando nesse livro-texto,

inúmeros são os encontros realizados no sentido de discutir a problemática do

meio ambiente, assim como a abrangência dos mesmos.

Entretanto, será que na realidade os propósitos, valores e práticas estão

conseguindo penetrar nas políticas econômicas, bem como nas necessidades

individuais das pessoas?

Para falar a esse respeito, é preciso retomar questões como a manutenção

da zona de conforto humana e da maximização dos lucros, estimuladas pela

economia de mercado.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acesse o link www.ambientebrasil.com.br e pesquise o tema marketing ambiental no campo de busca. Você poderá conferir que, apesar da manutenção da zona de conforto, todos precisam ceder em função desta causa..

Realmente, esse é um grande desafio a ser vencido: o da mudança de

postura individual e coletiva em todos os setores da sociedade para que se

comprove a eficácia do discurso ambientalista.

Estimular estratégias para transformar a racionalidade econômica

dominante

Já verificamos em vários momentos a dimensão das discussões em

torno da causa ambiental. Neste sentido, muitas são as conclusões para o

alcance da sustentabilidade.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

116

Entretanto, para a orientação de uma ação coerente, é preciso chegar a

um consenso sobre qual é o melhor caminho e quais os esforços precisam ser

mobilizados para tal premissa.

Nessa perspectiva, Boff (2008, p. 108) enumera que é preciso “esclarecer

as estratégias de poder destes novos movimentos da sociedade civil para

transformar a racionalidade dominante, incorporando valores éticos e

princípios produtivos ao ambientalismo.”

Assim, mais do que nunca, pensar orientando-se pelos princípios “juntos somos

fortes” ou “andorinha só não faz verão” é a máxima do movimento ambientalista.

Um estado multiétnico como garantia de sustentabilidade

À medida que os movimentos sociais conseguirem ultrapassar a barreira

da definição de estratégias de ação e alcançarem a transformação da

racionalidade econômica vigente será possível pensar em um Estado capaz de

internalizar os princípios do ambientalismo.

Isso ficará evidente quando visualizarmos o desenvolvimento endógeno

(participação efetiva da população do local envolvido), fundamentado no

respeito às comunidades tradicionais por meio da contemplação de suas

formas de vida como estratégia de manejo.

A Reforma Agrária é um tema bast ante discutido em nosso país. Normalmente, os assuntos em pauta são as invasões do Movimento dos Sem Terra, as formas como as famílias são assentadas e linhas de crédito para esses trabalhadores.

Em Ceará-Mirim, cidade localizada na região do Mato Grande, no litoral Nordeste do Rio de

Grande do Norte, a Piscicultura muda a vida de várias famílias no Assentamento Rosário Agrovila Canudos. Lá a criação de tilápias (Tilapicultura) trouxe renda mensal para os agricultores familiares. A proposta foi idealizada pelo Banco do Brasil usando a estratégia de Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) do Banco do Brasil em parceria com o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF.

SAIBA QUE

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

117

Assim será promovido o direito à manutenção da cultura local e à

perspectiva de um desenvolvimento nacional orientado pelo respeito às várias

etnias existentes em um determinado território.

As disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em

desenvolvimento

Para que se alcancem todos os desafios anteriores, existe um desafio

fundamental: ultrapassar as disparidades dos interesses entre países

desenvolvidos e em desenvolvimento.

Isso se deve à forma distinta como ambos estão inseridos no movimento

ambientalista, pois, conforme destaca Leff (2008, p. 112)

Nos países do Norte, o movimento ecológico se orienta para a conservação da natureza e o controle da contaminação, ao mesmo tempo que os problemas associados à exploração excessiva dos recursos são transferidos aos países mais pobres.

Assim, afirmar como sendo uma das premissas para o êxito do movimento

ambientalista a ultrapassagem das imposições criadas pela divisão do mundo

em Norte e Sul nos remete ao posicionamento que as questões ambientais

tanto são locais como globais.

Compreender esse posicionamento significa verificar que o sucesso do

movimento ambientalista está na dependência tanto do manejo sustentável

em um assentamento rural no Nordeste brasileiro, quanto nos acordos

internacionais para a redução mundial dos gases que ocasionam o efeito

estufa.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

118

5.3 Aplicando a teoria na prática

Passeando pela EXPO: o terceiro maior evento do mundo

A Expo “Grande Exposição dos Trabalhos Industriais de Todas as Nações” é um evento que acontece há mais de um século e meio, sendo considerado, na atualidade, como o terceiro maior evento em termos de impacto cultural e econômico no mundo, perdendo apenas para as Olimpíadas e para a Copa do Mundo. Sua marca registrada é a influência no desenvolvimento de vários aspectos da sociedade, incluindo arte, design, relacionamento internacional e turismo.

Em 2010, a sede do evento será em Xangai na China. O destaque da feira ficará por conta do tema abordado, evidenciando uma tendência mundial: o movimento ambientalista. Neste caso, o pano de fundo das apresentações será a cidade (tendo em vista que hoje mais de 50% da população mundial está concentrada nelas), destacando os problemas globais e soluções voltadas para o futuro.

O tema “Better City, Better Life” (Melhor Cidade, Melhor Vida), que é o tema do evento, será apresentado como uma chamada para estratégias de desenvolvimento urbano sustentável e integrado, refletindo o desejo das pessoas por uma vida melhor nas cidades do futuro.

O conceito melhor cidade, melhor vida, a ser demonstrado pelo Brasil, será o de experiências positivas de inclusão social e política, diversidade e sustentabilidade. Assim, um misto de eventos artísticos, culturais, turísticos, empresariais e de gastronomia, além de discussões temáticas (com os temas: água, energia renovável e mudanças climáticas) e de uma grande mostra da diversidade étnica, cultural e paisagística do Brasil por meio de fotos, vídeos, músicas, shows e comidas, demonstrarão para o mundo o nosso país.

Disponível em: http://www.expoxangai.com.br/expo.html e http://www.expo2010brasil.com/portal_apex/publicacao/engine.wsp?tmp.area=729&tmp.idioma=1.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

119

Sabendo que, além de todas as informações apresentadas sobre a

Feira Internacional EXPO, o evento de 2010 traz um marco: a primeira

Exposição Universal Ecológica, pergunta-se: Qual a influência do movimento

ambientalista para tais desdobramentos?

Para responder esse questionamento, partimos do princípio de que a

apropriação da natureza é um fato histórico da evolução humana, e isso nos

é apresentado nos escritos acadêmicos, onde podemos verificar que, desde os

primórdios de vida do homem na Terra, a relação homem x natureza é existente.

Assim, numa busca constante por conforto, o homem foi se distanciando

cada vez mais da manutenção harmônica para a exploração dos recursos

naturais, culminando com a crise ecológica vivenciada atualmente.

Isso motivou o surgimento de movimento sociais de alerta para esse modo

destrutivo de manipular a natureza, o chamado movimento ambientalista.

Consideramos como marcos conceituais o período pós-guerra e os

desdobramentos provenientes do mesmo como, por exemplo, a criação da

Organização das Nações Unidas – ONU.

Assim, nas últimas décadas, pessoas em todo o mundo têm se mobilizado

para garantir que os princípios e dimensões da sustentabilidade sejam

atendidos pelos seres humanos.

Especial atenção tem sido dada à forma como o componente social

tem se incluído no processo de mudança de postura, cujas necessidades

envolvem a ultrapassagem de grandes desafios: alcance da democracia; os

efeitos do impacto do discurso ambientalista; as estratégias para transformar

a racionalidade dominante; a fundamentação de um estado multiétnico; e as

disparidades dos interesses entre países desenvolvidos e em desenvolvimento.

Quando visualizamos um evento de grande porte, a exemplo da

EXPO, que envolve todas as esferas do conhecimento, adotar como tema

a qualidade ambiental nas grandes cidades, percebemos que sim, o

movimento ambientalista está saindo do papel e influenciando as decisões

em nível local, regional e internacional. Este fato favorece a visão holística:

homem x natureza.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

120

5.4 Para saber mais

Bursztyn, Marcel. A grande transformação ambiental: uma cronologia da

dialética do homem-natureza. Rio de Janeiro: Garamond, 2008.

O autor deste livro oferece um levantamento de fatos e eventos

que, direta ou indiretamente, têm a ver com as relações entre o homem

e a natureza em torno da questão ambiental. O foco principal é o Brasil

e, nesse sentido, o período abordado é principalmente o meio milênio

da nossa história, desde a chegada dos ibéricos até o Novo Mundo. O

objetivo é aumentar a informação, o entendimento e a consciência sobre

as características e os riscos ao meio ambiente em nosso país, contribuindo,

assim, para o desenvolvimento sustentável.

______(Org.) A difícil sustentabilidade: política energética e conflitos

ambientais. Rio de Janeiro: Garamond, 2001.

Esta obra reúne trabalhos que foram produzidos no quadro do Curso de

Estratégias de Negociação de Conflitos Socioambientais, realizado pelo Centro

de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB), no

segundo semestre de 2000. Foram parceiros da iniciativa a Fundação Avina,

que financiou boa parte das atividades, e a empresa Vibhava Consultoria

Empresarial S/C Ltda., que contribuiu com a mobilização dos participantes e

com competência específica. Adotaram-se os conflitos em torno da questão

hidroenergética como tema gerador do processo.

JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representação social e

complexidade da articulação de práticas coletivas. In: RIBEIRO, Wagner Costa (Org.).

Patrimônio ambiental brasileiro. São Paulo: Edusp (Imprensa Oficial SP), 2003.

O texto destaca o movimento ambientalista brasileiro a partir da década

de 1950, com ênfase nas organizações e personalidades surgidas neste sentido.

Assim, são apresentados nomes como Chico Mendes e instituições como os

Amigos da Terra, ilustrando o discurso e as ações do citado movimento.

Acesse o site da maior rede de educação superior privada do mundo

(www.laureate-inc.com) e confira como a sustentabilidade ambiental faz

parte de seu currículo, bem como dos serviços e operações necessários para a

oferta educacional da rede.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

121

5.5 Relembrando

Neste capítulo você viu como se deu a apropriação da natureza pelo

homem através dos tempos e a maneira como ele despertou para a forma

indevida de como ela ocorreu a partir das inovações proporcionadas pela

Revolução Industrial.

Isso aconteceu com maior expressividade depois da segunda metade

do século XX, quando muito teóricos começaram a publicar e defender

instrumentos para a exploração equilibrada dos recursos.

Assim foi intensificado o movimento ambientalista e, desde então, são

apresentadas várias estratégias para esse fim. Entretanto, são grandes os

desafios que merecem ser observados e vencidos para a adoção de uma visão

holística da relação homem x natureza.

Para uma mobilização popular efetiva é preciso apreender como funcionam as

relações provenientes dos movimentos sociais, no sentido de identificar tais estratégias

de atuação para a participação da sociedade como um todo neste movimento.

5.6 Testando os seus conhecimentos

Atualmente, a qualidade ambiental tem sido um tema bastante

difundido seja no contexto acadêmico-científico ou pelo senso comum (com

grande contribuição do poder da mídia).

Isso se deve tanto à forma como os assentamentos humanos têm se

organizado, especialmente nos grandes centros urbanos, quanto à organização

do sistema produtivo para as demandas de consumo da sociedade.

Em função desses fatos, é preciso orientar discussões em busca de soluções

sustentáveis para adoção de práticas de apropriação que contemplem a visão

holística homem x natureza. Isso significa intervir de maneira equilibrada,

partindo de uma visão completa de todo o ecossistema envolvido.

Nesta perspectiva está fundamentado o movimento ambientalista, cujos

pressupostos principais são reivindicar melhores condições de vida para todos

os habitantes deste grande organismo chamado Planeta Terra.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 5

122

Diante das afirmativas acerca do movimento ambientalista, pergunta-se:

quem é responsável por torná-lo uma realidade e para que o mesmo não fique

restrito a discussões intelectuais ou a modismos impostos pela mídia?

Onde encontrar

AMBIENTE Brasil. Marketing Ambiental. Disponível em <http://www.

ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.html&conteudo=./

gestao/artigos/markverde.html>. Acesso em 02. maio 2010.

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Carlos Rodrigues Brandão. Aqui é onde

eu moro, aqui nós vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o Município

Educador Sustentável. DF, 2005. (série desafios da educação ambiental)

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

FUNDO Mundial para a Vida Selvagem – WWF. Disponível em: <http://www.

wwf.org.br/ >. Acesso em: 30. abr 2010.

GREENPEACE. Disponível em: <http://www.greenpeace.org/brasil/>. Acesso

em: 30. abr 2010.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

PORTAL da Câmara dos Deputados. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>.

Acesso em: 02. maio 2010.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

SENADO Federal do Brasil. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/>.

Acesso em: 02. maio 2010.

SOUSA, Herbert de José de. Fábula utilizada por Betinho como metáfora de

solidariedade. Disponível em: <http://www.truco.com.br/beijaflor/betinho.html>.

Acesso em: 02. maio 2010.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 123

6.1 Contextualizando

Estamos diante de um mundo cada vez mais globalizado e encontrar

alternativas à lógica que rege o trabalho pelo capitalismo é uma necessidade

eminente.

Assim, surge a necessidade de buscarmos novas opções econômicas, ou seja,

outra economia. Ao contrário da economia capitalista, esta nova opção deve ser

baseada na solidariedade e na generosidade humana: a economia solidária.

Diante disso, neste capítulo 6, nós abordaremos temas relacionados a essa

nova economia, cujos pilares estão alicerçados na participação, cooperação e

pactuação, por meio de um (re)aprendizado constante e mútuo.

Portanto, ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:

� Entender os aspectos funcionais da economia solidária;

� Compreender a forma como eles estão atrelados a um novo processo

educativo;

� Perceber a economia solidária como ferramenta de alcance do

desenvolvimento sustentável.

Esperando contribuir com seus conhecimentos acerca dos caminhos para

o desenvolvimento sustentável, desejamos bons estudos!

ECONOMIA SOLIDÁRIA: PERSPECTIVAS DE GESTÃO COM FOCO NO FUTURO

CAPÍTULO 6

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

124

6.2 Conhecendo a teoria

6.2.1 Economia solidária: muito prazer!

Ao longo de nossos escritos, estamos sempre afirmando e reafirmando

os efeitos gerados pela busca incessante de lucro gerado pela economia de

mercado. Consideramos também que isso se deve principalmente aos avanços

gerados a partir do advento da Revolução Industrial, ocasionando uma

sobrecarga nos ecossistemas terrestres.

Pare um pouco e pense: não parece contraditório falarmos que os avanços tecnológicos têm uma parcela de contribuição para o contexto ambiental mundial?

REFLEXÃO

Na verdade, a chave de resposta desta questão está ligada a formas como

as inovações tecnológicas são utilizadas, pelo único ser vivo capaz de manipular

a natureza para atender seus desejos. Ou seja, isso tudo está intimamente

ligado à zona de conforto humana e às maneiras encontradas para mantê-la.

Podemos acrescentar que o conforto custa caro e uma forma de financiá-

lo é a partir da economia de mercado, pois, se as inovações tecnológicas não

tiverem viabilidade econômica, fatalmente elas serão descartadas.

Entretanto, apesar de todas essas justificativas acerca do poder do mercado

na manipulação das inovações tecnológicas, é importante considerar que o Planeta

precisa que trilhemos outro caminho, o caminho do desenvolvimento sustentável.

LEMBRETELEMBRETE

Não custa nada lembrá-lo(a) que o caminho para o alcance do desenvolvimento sustentável é o atendimento das necessidades das gerações atuais sem o comprometimento dos recursos, para que as gerações futuras também possam usufruí-los.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

125

Assim, em nosso livro-texto, estamos sempre discutindo a necessidade de

buscarmos novas formas de consumo, aliando o suprimento das nossas necessidades

diárias com as de recomposição dos recursos que utilizamos do Planeta.

Evidenciamos também a busca da humanização da economia, por meio

da adoção de mecanismos que ultrapassem os desígnios do mercado. Assim,

surge a temática da ecologia humana como forma de mitigar essa ação danosa.

INTERAGINDOINTERAGINDO

Você pode enriquecer essa discussão entrando em contato com os seus colegas de turma pelo Ambiente Virtual de Aprendizagem e discutindo formas de melhor utilizar os recursos do planeta de modo a garantir a sustentabilidade.

Neste caso, retomamos os preceitos do autor Leonardo Boff, quando ele

fala da compaixão, da solidariedade, do amor ao próximo (independentemente

de quem ele seja), entre tantas emoções positivas que surgem nesse contexto

da subjetividade humana.

Espere um momento! Já estamos nesta altura conhecendo a teoria e

ainda não fomos apresentados à economia solidária. Realmente, não com

palavras explícitas, porém, desde o momento que iniciamos a discussão acerca

de um novo rumo para o planeta, direcionado para o consumo sustentável,

estamos apresentando diretrizes para este novo caminho.

CONCEITOCONCEITO

A economia solidária não se resume a um produto, a um objeto. Ela se constitui num sistema que vai muito além dos próprios empreendimentos solidários. Ela é, sobretudo, a adoção de um conceito. A economia solidária respeita o meio ambiente, produz corretamente sem utilizar mão de obra infantil, respeita a cultura local e luta pela cidadania e pela igualdade (GADOTTI, 2009, p.24).

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

126

Assim, percebemos que ela é mais do que uma ideologia, ou seja, a

economia solidária se apresenta como uma alternativa à economia de mercado.

Isso significa que sua prática vai além do simples discurso, pois, é necessária a

um novo aprendizado para conseguir colocá-la em prática.

Mais uma vez nos deparamos com a questão educacional permeando o

desenvolvimento sustentável. Tal fato vem reafirmar que ela é uma ferramenta

indissociável para o alcance de novas formas de produção de consumo e da

própria educação.

Estes, por sua vez, devem ser orientados por um saber ambiental

que contemple os seguintes aspectos: cooperação; corresponsabilidade;

comunicação; comunidade, o chamado fator C (GADOTTI, 2009).

6.2.2 A educação transformadora como caminho para a economia

solidária

Gadotti (2009) afirma que apreender o conceito de economia solidária é

compreender, antes de tudo, como ele está ligado à premissa de viver bem, ou

seja, para que isso ocorra, é necessário a compreensão da forma como é feito

na prática.

Neste caso, ocorre uma dependência mútua de ambos os temas

(economia solidária x educação), pois o princípio da cooperação,

fundamento da economia solidária, se apresenta como uma oportunidade

de revolução educacional.

Dessa forma, novamente estamos diante da questão que é precioso

reorientar o aprendizado se pretendermos alcançar a humanização a partir

dos direcionamentos dados pela cooperação.

DEFINIÇÃODEFINIÇÃO

Cooperação é um processo de interação social, onde os objetivos são comuns, as ações são compartilhadas e os benefícios são distribuídos para todos.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

127

Fundamentar a ação orientada pela cooperação significa agir em oposição

ao mercado, cujo fundamento está intimamente ligado com a competição

alicerçada na maximização do lucro.

O capitalismo se tornou dominante há tanto tempo que tendemos a tomá-lo como normal ou natural. O que significa que a economia de mercado deve ser competitiva em todos os sentidos: cada produto deve ser vendido em numerosos locais, cada emprego deve ser disputado por inúmeros pretendentes, cada vaga na universidade deve ser disputada por numerosos vestibulandos, e assim por diante. (SINGER, 2002, p.07)

Neste sentido, para agir em oposição ao pressuposto desta citação, é necessária

a passagem por um processo de reaprendizado. Tal processo deve ser alicerçado

no contexto solidário, uma vez que somente com a adoção desse sentimento será

possível a revolução na configuração econômica com inclusão social.

Reforçando esse raciocínio ainda é possível referenciar Paul Singer (2002,

p.10), quando ele escreve a respeito de economia solidária, afirmando ser este

um modo de produção “cujos princípios básicos são a propriedade coletiva ou

associada do capital e o direito a liberdade individual”.

Dessa forma, é preciso aprender a empreender e a trabalhar em

equipe para poder alcançar a gestão participativa. Esse fato nos traz a

necessidade de voltarmos aos estudos, pois não é possível fundamentar

a gestão solidária com as características de mercado, que são impostas no

sistema educacional tradicional.

vwww.barcoescola.org.br

Figura 1 - Exemplo de uma nova metodologia educacional

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

128

A renovação do sistema educacional para o alcance do aprendizado

solidário

Para iniciarmos a conversar sobre esse tema, é preciso, primeiro, falar em

inclusão, pois, como podemos pensar em mudança no modelo educacional,

quando (no caso do Brasil) temos uma significativa parcela da educação que

não tem acesso nem ao sistema tradicional?

Para enriquecer seu estudo pesquise a respeito da taxa de analfabetismo no Brasil, percebendo como ela se apresenta em cada região. Com essas informações, você poderá traçar um panorama de exclusão a partir do analfabetismo. Para contribuir com a sua pesquisa, indicamos o seguinte endereço eletrônico: http://ideb.inep.gov.br

DESAFIO

Quando falamos em inclusão, não é somente possibilitar às pessoas o acesso

ao sistema educacional, também é preciso que o acesso seja acompanhado da

incorporação de posicionamento crítico diante os fatos sociais.

Alcançar o posicionamento crítico dos cidadãos rumo à democracia

efetiva significa quebrar vários tabus, como o do emprego assalariado como a

única forma de obtenção de capital, por exemplo.

Neste caso, as pessoas precisam compreender e acreditar que existem

outras possibilidades de alcance de recursos financeiros, que são alternativas

ao modelo econômico do mercado.

Um caminho para chegar a esse consenso será por meio de um novo

sistema educacional, que ensine as crianças como ultrapassar as barreiras

impostas pelo mercado por meio de uma educação libertadora.

A busca, pelo indivíduo, do futuro, e a libertação dos grilhões que o amarram e o tornam obediente a uma realidade cruel somente se alcançam pela negatividade. [...] Dizer não é mostrar-se plenamente vivo e portador de uma existência ativa, é recuperar os poderes perdidos e levantar-se sobre os próprios escombros, reaprendendo a liberdade. (SANTOS, 2007, p. 74)

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

129

A afirmativa do autor deixa claro o quanto é necessário e urgente pensar

em uma alternativa ao mercado, pois, só assim, os excluídos do sistema teriam

condições de conviver em condições de igualdade.

Mais uma vez os princípios da economia solidária se apresentam como

mecanismo para que isso seja alcançado. Porém, ela só terá condições de

ser efetiva com a participação popular de fato, e isso só será possível se

aos excluídos for ofertada a condição necessária de inclusão por meio do

aprendizado coerente com esta nova demanda educacional.

Por isso é tão importante a renovação do sistema educacional, cuja

orientação deve ser direcionada para a autonomia dos envolvidos. Com isto, eles

entenderão que a economia solidária apresenta-se como uma oportunidade de

trabalho decente, não alienado, com igualdade e sem discriminação, baseada

na planificação participativa e na autogestão (GADOTTI, 2009).

EXPLORANDOEXPLORANDO

Como estamos falando muito em necessidades educacionais promotoras de liberdade, você pode até pensar que não existem ações nesta perspectiva. Entretanto, apresentamos um direcionamento educa-cional neste sentido: a publicação Economia Solidária e Trabalho disponível no endereço eletrônico:

portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/04_cd_al.pdf.

Esta é uma publicação integrante dos Cader-nos da Educação de Jovens e Adultos – EJA. Trata-se de materiais pedagógicos para o 1º e o 2º segmentos do ensino fundamental de jovens e adultos, cujo tema da abordagem é o trabalho, pela importância que ele tem no cotidiano dos alunos.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

130

A organização do saber para o alcance do trabalho decente

Pelas afirmações apresentadas até o momento, evidenciamos como

são desafiadores os caminhos para o alcance da economia solidária,

tendo em vista sua necessidade de convivência com a economia de

mercado, até que um dia, talvez, seus pressupostos consigam superar as

determinações do mercado.

Enquanto isso não acontece, devemos pensar sob a ótica da organização

do saber para que as ações de economia solidária não sejam falhas e caiam

diante da força econômica da competição de mercado.

A esse respeito, Gadotti (2009, p. 32) afirma que:

A formação se constitui numa maneira muito concreta de apoiar e dar sustentabilidade aos empreendimentos de economia solidária. Ela não se restringe a aspectos informativos e formativos, mas envolvem também aspectos organizativos e produtivos.

Neste caso, para o êxito da economia solidária, é importante que todos

os membros de um processo de cooperação recebam formação coletiva, tendo

em vista que o sistema educacional capitalista não oportuniza a criação de uma

cultura de participação, bem como de tomadas de decisões coletivas. Tal iniciativa

será capaz de oportunizar a passagem do estado ocioso para a ocupação com

qualidade de muitas pessoas que se encontram à margem do processo produtivo.

Figura 2 - Oportunidades proporcionadas pela economia solidária

Essa afirmativa nos leva a remetê-lo(a) ao capítulo 2, quando

apresentamos os princípios e as dimensões da sustentabilidade, especialmente

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

131

no que diz respeito à participação e ao controle social como uma nova cultura

para o alcance do desenvolvimento sustentável.

A Universidade Estadual de Maringá–UEM(PR), por meio da Fundação Unitrabalho, criou uma Empresa Júnior de Consultoria, que atua elaborando projetos na perspectiva da gestão de empreendimentos econômicos solidários. Um exemplo de ação neste sentido foi o projeto Resgate da cidadania, uma proposta realizada por meio de convênio entre a UEM e a Secretaria do Meio Ambiente de Maringá, cuja finalidade foi a organização coletiva para a população que sobrevive da venda dos produtos recicláveis da cidade.

CURIOSIDADE

Tendo em vista que muitas vezes o sistema distancia propostas deste

tipo de quem mais precisa, faz-se necessária a mobilização das Instituições de

Ensino Superior – IES, por meio de ações de extensão e de ação comunitária

para garantir que todos tenham acesso, de acordo com o exemplo da UEM.

Dessa forma, a autogestão apresenta-se como uma ferramenta para

o exercício da economia solidária. Como estamos falando de um processo

baseado na democracia participativa, é imprescindível a inclusão social a

partir do componente educativo, fruto da organização do saber orientado

para o alcance da democracia, cujo desdobramento será o favorecimento do

surgimento de trabalho decente para os indivíduos envolvidos.

Educação cooperativa como princípio para a autogestão

No momento em que os indivíduos perceberam que é possível a

implantação da gestão compartilhada nos negócios sustentáveis, cada vez

mais pessoas estão aderindo a tal perspectiva. Assim, o empreendedorismo

econômico solidário tem se consolidado como proposta de autogestão.

(GADOTTI, 2009)

O componente educativo está diretamente ligado ao discurso de Gadotti,

pois, para ele ser colocado em prática, é preciso reaprender a aprender.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

132

Até porque fomos educados para ser subordinados, agindo sempre de

acordo com a normalização proporcionada pelo mercado de trabalho formal

(assalariado), organizado pela cultura do capitalismo.

Assim, a autogestão está ligada ao processo de planejamento, envolvendo

questões como marketing estratégico, custos e formação de preços, pesquisa

de mercado, eficiência econômica, entre tantos termos comuns ao capitalismo.

Entretanto, não estamos afirmando aqui que a economia solidária deve

atender aos preceitos do mercado, porém, ela deve se orientar na perspectiva

da eficiência econômica da gestão.

Quando falamos em eficiência econômica não estamos direcionando-a ao

pressuposto da maximização dos recursos e, sim, à importância da manutenção

dos negócios solidários.

Por isso, é importante que todos os cooperados de um empreendimento

solidário sejam orientados, ou seja, recebam formação para a autogestão do

mesmo, tendo em vista que, além do componente solidário, é pertinente a

inclusão do componente empreendedor nesse tipo de negócio.

Por cooperativas podemos compreender a associação autônoma de pessoas, que se unem voluntariamente para satisfazer aspirações e necessidades econômicas, sociais e culturais comuns.

DEFINIÇÃO

Para o alcance da união entre solidariedade e empreendedorismo, os

envolvidos em um projeto com a perspectiva da autogestão não podem se

distanciar do componente educativo, ou seja, a qualificação constante.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

133

Figura 3 - Oficina de formação de uma cooperativa

Mais uma vez afirmamos que, para isso ocorrer, é imprescindível a

existência de práticas pedagógicas como orientação para a formação de

lideranças que se apropriem da forma como a economia de mercado pode

funcionar, adaptando-a à gestão compartilhada entre sócios.

PRATICANDO

Tendo em vista a necessidade de uma nova orientação do saber para a articulação de negócios solidários, entre em contato com os seus colegas de turma e apresente sugestões de empreendimentos cooperativos dentro da sua área de atuação.

Solicitamos uma prática neste sentido, já que não existe receita para a

autogestão. Ela precisa ser exercitada por meio de prática executiva.

6.2.3 A economia solidária como alternativa de desenvolvimento

sustentável

Estamos na década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável

(2005 a 2014), por isso é pertinente apresentarmos a economia solidária como

um componente educativo de grande contribuição para esse fim.

Associamos a economia solidária ao desenvolvimento sustentável, e mais precisamente à vida sustentável, porque entendemos a sustentabilidade como o sonho de bem viver, o equilíbrio dinâmico com o outro e com a natureza, a harmonia entre os diferentes princípios perseguidos também pela economia solidária. (GADOTTI, 2009, p. 30)

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

134

Essa relação se deve ao fato de as premissas da sustentabilidade e

da economia solidária serem correlatas, uma vez que ambas defendem a

solidariedade, a justiça, a democracia e a igualdade. Estes fatos se refletem

no respeito à vida e no cuidado diário com o Planeta, que os princípios e

dimensões da sustentabilidade inspiram.

Acrescentamos a esse raciocínio que tanto a economia quanto o mercado

sempre existiram. A diferença entre a economia capitalista e a economia

solidária é que a primeira está fundamentada na livre concorrência geradora

de exclusão social e a segunda tem sua concepção orientada para a cooperação,

ou seja, ela privilegia o que nos une e não o que nos separa.

Para fundamentar esse raciocínio, apresentamos o discurso de Leff (2008,

p. 405), quando ele afirma que:

A transição para o terceiro milênio é uma virada dos tempos em novas direções. A sustentabilidade não poderá resultar da exploração dos processos naturais e sociais gerados pela racionalidade econômica e instrumental dominante.

Assim, podemos novamente evidenciar o quanto a economia solidária pode

ser uma alternativa de desenvolvimento sustentável. Isso é possível sim, uma vez

que ela se apropria das estratégias de gestão criadas pela economia capitalista,

entretanto, não busca a maximização dos lucros como fonte de sua existência.

Visando a apresentar uma alternativa econômica ao sistema de mercado capitalista, a Organização Não Governamental Amigos da Terra - Amazônia Brasileira criou o Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis, com o objetivo de gerar trabalho e renda em empreendimentos que contribuam para a proteção e uso dos recursos agroflorestais. O Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis atende empreendimentos comunitários, micro e pequenas empresas, que carecem de acesso aos serviços empresariais necessários para se consolidar, mas, por outro lado, demonstram determinação e compromisso na busca do crescimento de seu próprio negócio e de sua sustentabilidade. Para saber mais, acesse: http://negocios.amazonia.org.br/.

SAIBA QUE

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

135

Assim, retomamos conteúdos abordados em capítulos anteriores quando

mencionamos que o alcance da sustentabilidade está intimamente ligado com

os aspectos referentes à união harmônica das intervenções humanas com a

natureza.

Para que isso ocorra, é preciso atrelar o princípio da cooperação às

atividades econômicas, visto que

A economia é a forma como a sociedade produz e distribui o de que necessita para reproduzir e sustentar. O ato de cooperar é uma forma de trabalho em que muitos trabalham para o mesmo fim. A cooperação de pessoas no trabalho é um dos maiores avanços da humanidade. (GADOTTI, 2009, p.39)

Neste caso, evidenciamos a possibilidade de uma nova concepção da

sociedade contrária ao modo capitalista de produção. Essa sociedade se orienta

por um modelo de produção que contemple a descentralização, a participação

e a pactuação.

Assim, surge uma sociedade que, além de compreender a necessidade

das inovações tecnológicas, também está atenta para o estabelecimento

de limites para as mesmas. À medida que esse raciocínio é incorporado às

estratégias produtivas, vemos uma luz no fim do túnel rumo ao alcance

da sustentabilidade.

Não custa nada relembrar que um caminho a ser perseguido para

chagarmos a esse destino é o (re)aprendizado de como conviver com o

mesmo. Dessa forma, todos os segmentos produtivos, que pretendem adotar

a economia solidária como estratégia sustentável de gestão, devem estar

abertos ao aprendizado desse novo modelo de organização econômica.

Como dissemos anteriormente que para o êxito da economia solidária é

preciso descentralização, participação e pactuação, podemos compreender

que é necessário aprendermos a trabalhar em equipe para que as coisas

dêem certo.

Assim, podemos apresentar o associativismo como ferramenta

nesse processo de (re)aprendizado. Esse fato está fundamentado na

corresponsabilidade dos membros em redes de apoio mútuo, para distribuição

dos benefícios por meio de acordos compartilhados.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

136

Esse raciocínio nos orienta que isso tudo depende de um novo

posicionamento cultural, onde, a partir de uma cultura solidária, seja possível que

as pessoas compreendam o que é melhor para elas e para todos os envolvidos.

Assim, Gadotti (2009, p.44) evidencia que:

A economia solidária propõe uma forma de vida sustentável que concretiza a utopia socialista, a utopia de uma sociedade de iguais e diferentes: uma economia não-capitalista nos interstícios da economia capitalista. E isso pode ser feito desde já.

Reforçamos toda a discussão deste livro-texto: a mudança de postura

como forma de alcançar o desenvolvimento sustentável, uma vez que estamos

sempre apresentando inovações para a cultura produtiva. E, para que elas

sejam postas em prática, é preciso a existência de interessados para tal.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acessando http://www.forumsocialmundial.org.br/, você poderá conhecer o Fórum Social Mundial, um espaço de debate democrático de ideias, aprofundamento da reflexão, formulação de propostas, troca de experiências e articulação de movimentos sociais, redes, ONGs e outras organizações da sociedade civil que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer forma de imperialismo. Ele se propõe a facilitar a articulação, de forma descentralizada e em rede, de entidades e movimentos engajados em ações concretas, do nível local ao internacional, pela construção de outro mundo, mas não pretende ser uma instância representativa da sociedade civil mundial.

Embora seja bastante salutar continuarmos a discussão a respeito do

associativo como uma nova forma de organização social, não o faremos neste

capítulo. Maiores detalhes a esse respeito serão abordados nos próximos

capítulos. Até lá!

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

137

6.3 Aplicando a teoria na prática

Salão do Turismo - Roteiros do Brasil

O Salão do Turismo é uma estratégia de mobilização, promoção e comercialização dos roteiros turísticos desenvolvidos a partir das diretrizes do Programa de Regionalização do Turismo - Roteiros do Brasil.

Promovido pelo Governo Federal por meio do Ministério do Turismo, o evento apresenta o turismo brasileiro para quem quer viajar ou fechar bons negócios. O Salão está dividido em diversos módulos de atividades: Feira de Roteiros Turísticos, Área de Comercialização (onde o visitante pode comprar sua viagem), Vitrine Brasil (artesanato, moda, produtos da agricultura familiar, manifestações artísticas e gastronomia), Núcleo de Conhecimento, Rodada de Negócios (encontros pré-agendados entre os agentes de comercialização do produto turístico brasileiro), Missões Promocionais - Caravana Brasil (visitas técnicas de agentes de turismo/operadores) e Missões Promocionais - Press Trip (visitas técnicas de profissionais de imprensa nacional e internacional).

Dentre os espaços desse grande evento, a Vitrine Brasil é um local que tem como objetivos principais sensibilizar e conscientizar os visitantes, operadores, agentes de viagens e empreendedores do setor turístico para a valorização e a inserção dos produtos associados a viagens, empreendimentos, roteiros turísticos, além de incentivar a abertura de novos canais de comercialização aos produtores brasileiros.

http://www.salao.turismo.gov.br

Como em todas as áreas da Vitrine Brasil, o espaço Mercado da Agricultura

Familiar busca valorizar a identidade e as principais características dos destinos

turísticos, ressaltando suas riquezas de forma que seja possível agregar valor

aos roteiros turísticos para que estes sejam mais interessantes e vendáveis.

Lá são apresentados e comercializados os alimentos e bebidas produzidos e

processados por agricultores familiares das 5 macrorregiões brasileiras.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

138

Neste sentido, como podemos considerar que a união de tais produtores

em redes, cooperativas e associações pode estar atrelado ao aprendizado

oportunizado pela economia solidária?

De acordo com a apresentação do evento Salão do Turismo, podemos

observar que se trata de uma iniciativa bastante significativa, não só para o

setor, mas para toda a cadeia produtiva que tal atividade econômica agregar.

Neste sentido, como resposta ao questionamento apresentado,

observamos que: no momento em que se inclui a produção originada na

agricultura familiar neste tipo de evento, percebemos que estamos diante de

momento ímpar na história do nosso país, onde a organização do saber está

oportunizando o trabalho decente a milhares de brasileiros.

Podemos acrescentar ainda que o êxito de tais iniciativas consiste na

organização coletiva dos envolvidos por meio da cooperação mútua. Dessa

forma, é possível considerar que estamos diante de um processo de passagem

do estado ocioso para a ocupação com qualidade de muitas pessoas que se

encontram à margem do processo produtivo.

Com isso, voltar aos estudos para aprender a empreender possibilita a

fundamentação da gestão solidária e favorece a ultrapassagem das barreiras

impostas pelo mercado por meio do sistema educacional tradicional.

Portanto, ao visualizarmos espaços como o Mercado da Agricultura

Familiar sendo uma das áreas de destaque em um evento com expectativa de

mais de mais de 100.000 pessoas, percebemos como a organização do saber

tem fortalecido o exercício da economia solidária.

6.4 Para saber mais

CUNHA, Gabriela Cavalcanti; DAKUZAKU, Regina Yoneko (Org.). Uma outra

economia é possível: Paul Singer e a economia solidária. São Paulo: Contexto, 2002.

Os textos aqui reunidos mostram que, mesmo em um mundo cada

vez mais globalizado, há saídas e alternativas à lógica perversa que rege o

trabalho no capitalismo. Os autores relatam uma série de experiências bem-

sucedidas, que revelam, na prática, ser realmente possível uma outra economia,

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

139

baseada na solidariedade e na generosidade humana. O livro faz ainda uma

homenagem ao economista Paul Singer, um dos maiores estimuladores da

chamada economia solidária no Brasil.

SINGER, Paul; SOUZA, André Ricardo (org.) Economia Solidária no Brasil:

Autogestão como Resposta ao Desemprego. São Paulo: Contexto, 2000.

O economista Paul Singer e o sociólogo André Ricardo de Souza reúnem

textos de professores, pesquisadores e militantes, elaborando a mais completa

obra sobre economia solidária no Brasil. Ao abordar diversos temas da economia

solidária, tais como cooperativas, redes e fóruns, sindicalismo, autogestão,

reforma agrária e papel das universidades, os organizadores vislumbram

possibilidades concretas de combate à exclusão social e ao desemprego.

http://cirandas.net/ - Estamos falando de um site para cada

empreendimento de economia solidária no Brasil apresentar sua história e

trabalho, permitindo a articulação entre empreendimentos solidários, por meio

de redes e cadeias solidárias, possibilitando organizar compras coletivamente

com outras pessoas, para adquirir produtos diretamente de empreendimentos

solidários de todo o país.

O site do Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES (http://www.

fbes.org.br/), resultante do processo que culminou no I Fórum Social Mundial

(I FSM), foi constituído por um Grupo de Trabalho Brasileiro de Economia

Solidária (GT- Brasileiro), composto de redes e organizações de uma diversidade

de práticas associativas do segmento popular solidário: rural, urbano,

estudantes, igrejas, bases sindicais, universidades, práticas governamentais de

políticas sociais, práticas de apoio ao crédito, redes de informação e vínculo às

redes internacionais. O FBES atua em três segmentos do campo da Economia

Solidária: empreendimentos da economia solidária, entidades de assessoria e/

ou de fomento e gestores públicos.

O fórum eletrônico Grupo de Interesse em Pesquisa para a Agricultura

Familiar (GIPAF - http://gipaf.cnptia.embrapa.br/) é um ponto de referência

nacional para informações científicas e análises sobre a pesquisa em agricultura

familiar e meio ambiente. A página aberta na rede mundial de computadores

visa, ao mesmo tempo, promover e estimular a comunicação, a discussão e a

cooperação entre diversos agentes envolvidos.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

140

6.5 Relembrando

Com a expectativa de contribuir para a ampliação de seus conhecimentos

no entendimento dos caminhos para o desenvolvimento sustentável,

escrevemos este capítulo 6 a respeito da economia solidária.

Assim, abordamos temas como a humanização da economia por meio

de práticas pedagógicas, além da forma como a solidariedade da economia

desponta como opção as estratégias de maximização do consumo apresentadas

pela economia de mercado capitalista.

Para ilustrar o discurso neste sentido, trouxemos a reorganização do

saber em torno das temáticas que regem a economia solidária, como, por

exemplo, a autogestão como ferramenta para a saída da ociosidade, criando

oportunidade ao trabalho decente, àqueles que ficam à margem do processo

produtivo mercantilista.

Finalizando o capítulo, destacamos a forma como a ética, compaixão,

associativismo, entre outros preceitos relacionados à economia solidária,

também estão atrelados aos princípios da sustentabilidade. Verificando esse

raciocínio evidenciamos como é intima a relação da economia solidária com

o desenvolvimento sustentável, onde essa apresenta condições de contribuir

para o mesmo.

6.6 Testando os seus conhecimentos

No limiar do terceiro milênio, a humanidade está chegando ao consenso

de que não é mais possível a convivência desarmonizada sob vários aspectos,

especialmente no tocante ao desenvolvimento sustentável.

As palavras de ordem são: mudança de postura, busca de novas opções

de organização do sistema produtivo, redimensionamento do sistema

educacional, entre tantas, para possibilitar o atendimento dos princípios e

dimensões da sustentabilidade.

Assim, surge a economia solidária, um novo conceito de modelo

econômico, o do bem viver. Para atender as demandas dessa nova forma

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 6

141

de organização da economia são criadas as necessidades de cooperação

e associativismo, apoiadas nas filosofias das decisões descentralizadas e

pactuadas pelo consenso.

Diante dessas afirmativas, pergunta-se: como o princípio da cooperação

representa uma oportunidade para a renovação dos currículos educacionais?

Onde encontrar

BALCÃO DE SERVIÇOS PARA NEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS. Disponível em: <http://

negocios.amazonia.org.br/>. Acesso em: 02 maio 2010.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Economia solidária e trabalho. Brasília:

Fundação Unitrabalho, 2007. (Coleção Cadernos de EJA). Disponível em: <http://

portal.mec.gov.br/secad/arquivos/pdf/04_cd_al.pdf>. Acesso em: 02 maio 2010.

FÓRUM SOCIAL MUNDIAL. Disponível em: <http://www.forumsocialmundial.

org.br/>. Acesso em: 02 maio 2010.

GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:

Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu

Abramo, 2002.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ. NÚCLEO LOCAL DA UNITRABALHO.

ADECON - EMPRESA JÚNIOR CONSULTORIA. Curso de Gestão para

Empreendimentos Econômicos Solidários: COOPERMARINGÁ. Maringá (PR):

Fundação Unitrabalho, 2004. Disponível em: <http://www.unitrabalho.org.br/

imagens/arquivos/arquivos/economiasolidaria/14-12-05/UEM_Curso_Gestao_

atualizada.pdf>. Acesso em: 30 Abr 2010.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 143

7.1 Contextualizando

Olá, como vai? Já estamos chegando à reta final dos nossos estudos e

agora é hora de discutir como as políticas públicas para a economia solidária

podem ser estímulo de autogestão e cooperativismo.

Assim, neste capítulo 7, iremos abordar as políticas públicas no contexto

da economia solidária, demonstrando o quanto essa temática é recente,

especialmente no Brasil, cujo surgimento se deu apenas no século XXI.

Outro detalhe que abordaremos será a forma como a gestão compartilhada

entre poder público e movimentos sociais apresenta contribuição para a formação

de redes de cooperação e autogestão, por meio do estímulo ao protagonismo social,

principalmente em regiões com baixo Índice de Desenvolvimento Humano – IDH.

Ao final deste capítulo, esperamos que você esteja apto a:

� Entender a relação entre políticas públicas e economia solidária;

� Perceber a importância da parceria do poder público com os movimentos

sociais para a execução das políticas direcionadas a economia solidária;

� Verificar a contribuição da comunicação gerada pelas redes de cooperação

para as iniciativas de economia solidária.

Esperamos que seu estudo seja tão proveitoso quanto nos capítulos

anteriores. Até o próximo capítulo!

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A ECONOMIA SOLIDÁRIA: ESTÍMULO À AUTOGESTÃO

E COOPERATIVISMO

CAPÍTULO 7

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

144

7.2 Conhecendo a teoria

7.2.1 Um pouco de política pública

Para entendermos como funcionam as políticas públicas para a economia

solidária, precisamos compreender o que significa política pública e como ela

se constrói.

Neste sentido, podemos considerar a política pública como um processo

de planejamento, no qual se inserem vários atores: poder público (executivo,

legislativo e judiciário), iniciativa privada, sociedade civil organizada (ONGs e

Movimentos Sociais).

EXPLORANDOEXPLORANDO

Caso você tenha interesse, aprofunde seu conhecimento sobre a forma como ocorre a participação de cada um nesse tema consultando o documento Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da análise de políticas públicas no Brasil, disponível no endereço eletrônico:

http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp21/Parte5.pdf.

Consideramos ainda que, para o bom funcionamento de uma política

pública, é preciso envolvimento e participação democrática de todos. Essa

afirmativa encontra maior reforço quando verificamos que, para a construção

de uma política pública, muitos são os interesses envolvidos, e os direitos da

coletividade sempre devem estar acima dos demais.

Mais uma vez, enfatizamos que para o exercício cidadão na elaboração

das políticas públicas, é preciso que este esteja consciente do seu papel. Tal

consciência somente se fará visível por meio de transformações profundas no

sistema educativo.

Ainda a esse respeito, Santos (2007, p. 154) afirma:

A educação não tem como objeto real armar o cidadão para uma guerra, a da competição com os demais. Sua finalidade, cada vez menos buscada e menos atingida, é a de formar gente capaz de se situar corretamente no mundo e de influir para que se aperfeiçoe a sociedade humana como um todo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

145

Neste sentido, falar em política pública com participação dos cidadãos

significa esperar que os mesmos apresentem condições críticas para formular

respostas a inúmeras situações-problema no mundo contemporâneo.

São questões relacionadas à saúde, educação, habitação, distribuição

de terras, investimentos sociais, infraestrutura, entre tantas demandas que

permeiam a distribuição e destinação dos recursos públicos. Incluso nessa

extensa lista está a economia solidária como um setor requerente de políticas

que contribuam para a articulação da mesma em condições de igualdade com

a economia capitalista de mercado.

Favorecer articulações de forma igualitária significa criar mecanismos

que promovam a autogestão, o cooperativismo, por meio da organização e

sistematização de rede de cooperação e de distribuição dos produtos e serviços

oriundos da economia solidária.

Figura 1 - Todos juntos em um só destino: a economia solidária

Cooperativismo

Autogestão

Rede de Cooperação

Neste caso, estamos falando de assistência e não de assistencialismo

(distribuição de recursos financeiros, visando ao atendimento de necessidades

básicas, como comer e vestir). Colocamos aqui a necessidade de posicionamentos

iguais de atenção, pois, assim como os recursos públicos são destinados a

financiamentos ou até são deixados de ser arrecadados (no caso da isenção de

impostos) para fortalecer o setor produtivo privado capitalista, eles também

podem ser canalizados para o incremento da economia solidária.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

146

Assim, fortalecer a economia solidária brasileira é garantir que se

cumpram os pressupostos expressos no artigo 3º da Constituição da República

Federativa do Brasil:

Art. 3º constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. (BRASIL, 2008, p. 13)

Portanto, falar em política pública significa garantir que a participação

democrática cidadã não fique restrita a enunciados da legislação, ou ainda aos

discursos políticos. É preciso colocá-la em prática e uma boa chance para que

consiga êxito nessa intenção é a prática da economia solidária.

LEMBRETELEMBRETE

É importante que você lembre que, conforme visto no capítulo 6, a economia solidária é um processo que exige cooperação, corresponsabilidade, comunicação, comunidade, o chamado fator C. E esses são fatores imprescindíveis à boa construção de políticas públicas.

7.2.2 Política pública e economia solidária

O movimento popular direcionado para a economia solidária no formato

que temos nos dias de hoje é consideravelmente recente. Apesar de ser um

movimento com raízes no mundo inteiro, foi na América Latina que ele

ganhou força e apresenta as melhores práticas neste sentido.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

147

Um ícone desse período, que permanece em atividade até os dias atuais, é o Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul – PACS, uma organização sem fins lucrativos dedicada ao Desenvolvimento Solidário. A instituição foi fundada em 1986, como parte brasileira do PRIES – Programa Regional de Investigações Econômicas e Sociais para o Cone Sul da América Latina. A proposta do PACS é colocar o trabalho e a criatividade de sua equipe à disposição dos movimentos sociais, das entidades eclesiais, dos governos populares, dos grupos de produção associada, das escolas públicas e de outras organizações de desenvolvimento solidário.

Caso você deseje saber mais sobre esta insti-tuição, acesse http://www.pacs.org.br, onde você irá encontrar um vasto conteúdo na perspectiva da economia solidária.

SAIBA QUE

Assim, as iniciativas em prol da economia solidária começaram a ganhar

terreno no campo das políticas públicas a partir da década de 1990. No Brasil

essa realidade teve maior visibilidade a partir do ano de 2003, com a criação da

Secretaria Nacional de Economia Solidária – SENAES, no âmbito do Ministério

do Trabalho e Emprego – MTE.

A Secretaria Nacional de Economia Solidária - SENAES - foi criada no âmbito do Ministério do Trabalho e Emprego com a publicação da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003 e instituída pelo Decreto n° 4.764, de 24 de junho de 2003 [...] Em consonância com a missão do Ministério do Trabalho e Emprego, tem o objetivo viabilizar e coordenar atividades de apoio à Economia Solidária em todo o território nacional, visando à geração de trabalho e renda, à inclusão social e à promoção do desenvolvimento justo e solidário. (BRASIL, 2010)

SAIBA QUE

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

148

A SENAES é fruto de discussões ocorridas no III Fórum Social Mundial, ocorrido

em 2002, sendo considerada parte da história de mobilização e articulação do

movimento da economia solidária existente no país. (BRASIL, 2010)

Esse fato é considerado por muitos autores como um divisor de águas na

política pública brasileira para a economia solidária. Entre eles, apresentamos

Gadotti (2009, p. 51), que considera o seguinte: “Tudo isso só foi possível

porque o governo Lula valorizou a educação não-formal e inclusiva como

educação política e cidadã, que permeia hoje vários ministérios”. À frente da

SENAES está o economista Paul Singer.

Paul Israel Singer nasceu em Viena na Austria em 24 de março de 1932, é radicado no Brasil desde 1940. Pela trajettória acadêmica de estudo e propostas para a implantação da economia solidária, Singer é considerado uma referência mundial no assunto. Entre uma de suas realizações está o apoio à criação da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP em 1998..

BIOGRAFIA

A partir da articulação do secretário Paul Singer, surgem alguns projetos,

como o de Promoção do Desenvolvimento Local e Economia Solidária – PPDLES,

criado em 2006 com a perspectiva de

promover a geração de emprego e renda, estimular o desenvolvimento sustentável e solidário e fortalecer os empreendimentos de economia solidária em comunidades historicamente excluídas. Diversos segmentos são atendidos pelo projeto. São eles: Mulheres, Juventude, Quilombolas, Indígenas, Desenvolvimento Comunitário, Trabalhadores Desempregados, Cadeias e Redes de Economia Solidária, Catadores de material reciclável e Turismo, que totalizam 252 agentes em todo o país. (BOLETIM INFORMATÍVO PPDLES, 2006)

Assim, a SENAES é reflexo do posicionamento de décadas dedicadas à

pesquisa em nome da economia solidária do Secretário à frente da mesma.

Ainda neste contexto surge a figura de agente de desenvolvimento solidário

como um instrumentador executivo das ações de economia solidária.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

149

DEFINIÇÃODEFINIÇÃO

Agente de desenvolvimento solidário é um profissional que tem a capacidade de relacionamento e articulação com diversos segmentos sociais (associações locais, órgãos públicos, ONGs, universidades, sindicatos, movimentos sociais, etc.). Ele elabora relatórios e coordena reuniões direcionadas para o desenvolvimento local.v

Como reflexo das ações em escala federal, as propostas em nível local

já despontam como iniciativas promissoras. Um exemplo a ser citado é o da

Prefeitura Municipal de Porto Alegre (RS), apresentando um novo conceito

de governo.

Este novo conceito está expresso no Programa Nossa Cidade, nosso

futuro, uma proposta que visa a articular poder público, inciativa privada e

sociedade civil organizada para a indução do desenvolvimento local, a partir

da criação de um ambiente favorável para o investimento em capital social.

No capítulo 5, citamos o exemplo da Expo Xangai como um divisor de

águas para as tecnologias limpas (em especial a edição 2010). Neste evento, o

sucesso da pioneira experiência gaúcha foi comprovado, pois ela teve seu lugar

de destaque no mesmo como um exemplo de proposta para o desenvolvimento

local com enfoque na democracia participativa e na articulação conjunta de

poder público, sociedade e iniciativa privada.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Para enriquecer seu conhecimento acerca da experiência desenvolvida no Município de Porto Alegre, acesse http://www2.portoalegre.rs.gov.br/expo2010/ e confira os detalhes deste caso de sucesso com reconhecimento internacional.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

150

7.2.3 As parcerias entre o poder público e os movimentos sociais

para autogestão e a economia solidária

No capítulo anterior, iniciamos a conversa sobre autogestão com a

proposta de continuá-la em momento posterior do nosso livro-texto. Você

lembra o que é autogestão?

LEMBRETELEMBRETE

No capítulo 6, dissemos que a autogestão é um processo baseado na democracia participativa, que se apresenta como uma ferramenta para o exercício da economia solidária, cujo desdobramento ocasiona o favorecimento do surgimento de oportunidades de trabalho decente para os indivíduos envolvidos.

Neste momento, iremos apresentar exemplos práticos para o alcance da

economia solidária por meio da autogestão. Assim, elegemos algumas propostas

constantes no âmbito das políticas públicas, que podem ser apropriadas para nossa

discussão, tais como: a Rede de Educação Cidadã, o MOVA-Brasil e o PlanSeQ-Ecosol.

a) A Rede de Educação Cidadã (www.recid.org.br/)

Essa rede tem a missão de realizar processos sistemáticos de sensibilização,

mobilização e educação cidadã junto à população brasileira, promovendo

a participação ativa e consciente na formulação e controle social nas

políticas estruturantes de segurança alimentar e nutricional, incentivadas

pelo Fome Zero, na superação da miséria, afirmando um projeto popular,

democrático e soberano da nação.

Mais de 989 entidades envolvidas no combate à miséria e pobreza e na

mobilização para a cidadania da população brasileira estão integradas

a esta rede. A superação da fome, reforço da autoestima e conquista de

uma política de segurança alimentar e nutricional a partir da organização

popular e da inclusão, bem como a construção de alternativas que

ajudem as famílias a encontrarem as “portas de saída” aos programas de

transferência de renda e capacitação dos(as) cidadãos(ãs) para o controle

social dos gastos públicos, são aspectos que norteiam o trabalho da rede.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

151

A Rede de Educação Cidadã trabalha a partir de três linhas de ação:

� Consolidação da Rede de Educação Cidadã;

� Democratização do acesso e controle social das políticas estruturantes de

superação das situações de miséria e fome;

� Formação de Educadores/as populares e agentes multiplicadores/as,

respeitando a autonomia do diversificado trabalho de educação popular

nas regiões brasileiras.

PRATICANDOPRATICANDO

Ao acessar o link http://www.recid.org.br/ e procurar pela sala de debates, você poderá entender melhor como funciona essa rede de educação, participando dos fóruns de discussão a respeito da temática da economia solidária.

b) O Projeto MOVA–Brasil (www.paulofreire.org/Programas/MovaBrasil)

Esse é um projeto nasceu fundamentado na filosofia de Paulo Freire, cuja

proposta é orientar a ação pedagógica com base na leitura de mundo.

Paulo Reglus Neves Freire (1921-1997): foi um educador e filósofo brasileiro. Destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.

BIOGRAFIA

Inspirado no Movimento de Educação para Jovens e Adultos, esta é

uma ação fruto da parceria entre a Petrobras, a Federação Única dos

Petroleiros – FUP e o Instituto Paulo Freire – IPF.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

152

Desde 2008, o projeto é desenvolvido nos seguintes estados: Rio de

Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio

Grande do Norte, Ceará e Amazonas.

c) O PlanSeQ-Ecosol

O Plano Setorial de Qualificação em Economia Solidária – PlanSeQ-Ecosol

é mais uma parceria entre Ministério do Trabalho e Emprego e o Instituto

Paulo Freire. Trata-se de um projeto de qualificação social e profissional de

trabalhadores de empreendimentos econômicos solidários, organizados

em redes ou cadeias de produção e comercialização.

Com versões anuais desde 2006, este plano integra o Plano Nacional de

qualificação e sua execução tem ligação direta com a Rede Mova Brasil.

Acesse o endereço eletrônico http://www.paulofreire.org/ e identifique outras propostas de ação fundamentadas na parceria poder público e movimentos sociais para a autogestão e a economia solidária.

DESAFIO

7.2.4 A comunicação como ferramenta para a economia solidária

No capítulo 6, apresentamos o http://cirandas.net/ como um espaço

para a articulação entre empreendimentos solidários, por meio de redes e

cadeias solidárias, possibilitando organizar compras coletivamente com outras

pessoas, para adquirir produtos diretamente de empreendimentos solidários

de todo o país.

Agora, iremos incrementar essa discussão tratando da forma como

a articulação em redes tem facilitado a difusão desse tipo de organização

econômica com base na cooperação mútua dos envolvidos.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

153

Fortalecendo essa afirmativa, GADOTTI (2009, p.56) diz que

O Movimento por uma outra economia não está separado de um conjunto de movimentos sociais e populares que, em diversos campos, têm lutado por um outro mundo possível e reinventado modos de vida sustentáveis, produtivos e justos. É nesse contexto mais amplo que aparecem também novos métodos, traduzidos por novas expressões, tais como a de “tecnologia social”, que tem tudo a ver com a economia social e solidária.

Vale salientar, ainda, que o lucro não é o objetivo principal dos envolvidos

nessas redes, e sim a busca da ocupação digna capaz de gerar dividendos que

favoreçam a sobrevivência dos envolvidos.

Neste sentido, para garantir o fortalecimento das redes e integrando as

ações da SENAES, em 2006 é instituído o

Sistema Nacional de Informações em Economia Solidária - SIES com a finalidade de identificação e registro de informações de Empreendimentos Econômicos Solidários e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento à Economia Solidária no Brasil. (BRASIL, 2006)

EXPLORANDOEXPLORANDO

Consultando o link http://www.mtb.gov.br/ecosolidaria/sies.asp, você poderá conferir informações acerca de Empreendimentos Econômicos Solidários (EES) e de Entidades de Apoio, Assessoria e Fomento (EAF).

Assim, fica claro que a articulação da economia solidária está

diretamente ligada com o gerenciamento de informações. Neste caso, as

redes de cooperação são um excelente espaço para socialização de estratégias

bem sucedidas na sua execução. Mais uma vez enfatizamos a necessidade da

inclusão de ferramentas educativas neste processo.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

154

E por que batemos tanto na tecla da educação como indutora da economia solidária? Você já parou para pensar quem é o público-alvo da economia solidária? São aqueles que se encontram à margem do processo produtivo da economia de mercado, não é mesmo?

Então, é preciso qualificar essas pessoas para que consigam gerenciar as novas formas de tecnologia social.

REFLEXÃO

Outro exemplo que podemos citar sobre a questão da comunicação é

o Ciranda Brasil (http://www.ciranda.net), uma iniciativa de comunicação

compartilhada, cuja premissa é: “Para que outro mundo seja possível, é preciso

reinventar a comunicação”.

7.2.5 As redes de cooperação para a economia solidária

Para finalizar este capítulo, trazemos algumas redes de cooperação que

se articulam com as políticas públicas para a promoção da autogestão e da

cooperação, premissas da economia solidária.

Elas são apontadas por Moacir Gadotti como parceiras do Instituto Paulo

Freire na execução do PlanSeQ-Ecosol. São elas: Movimentos em Rede, Unisol

– Brasil, Grupo Colmeias, ANTEAG e IRPAA.

a) Movimentos em Rede (http://www.emrede.org/)

A Movimentos em Rede é uma organização sem fins lucrativos, cuja

missão é fortalecer as articulações em rede dos movimentos populares

e organizações sociais para que possam ampliar suas ações e alcançar

maior representatividade política.

A atuação prévia da equipe que forma a Movimentos em Rede junto

a diversas organizações de base revelou que geralmente o impacto

de suas atividades se restringe à questão local, com baixa influência

na formulação de políticas públicas. Esse isolamento, associado a uma

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

155

dinâmica social que banaliza as desigualdades, resulta em políticas

compensatórias e avanços escassos na área social.

Por isso, a Movimentos em Rede investe no estreitamento das relações

entre organizações e em novas formas de mobilização, que sejam

fundamentadas em práticas democráticas, com participação política

e socialmente inclusiva.

b) Unisol – Brasil (http://www.unisolbrasil.org.br/inicio.wt)

A União e Solidariedade das Cooperativas Empreendimentos de

Economia Social do Brasil – UNISOL-Brasil consiste em uma associação

civil sem fins lucrativos, de âmbito nacional, de natureza democrática,

cujos fundamentos são o compromisso com a defesa dos interesses reais

da classe trabalhadora, a melhoria das condições de vida e de trabalho

das pessoas e o engajamento no processo de transformação da sociedade

brasileira em direção à democracia e à uma sociedade mais justa.

Com base em laços de solidariedade e cooperação, a associação

tem por objetivo principal reunir as entidades, empresas coletivas

constituídas por trabalhadores e quaisquer outras modalidades de

pessoas jurídicas, que atendam às finalidades do seu estatuto, a fim de

promover efetivamente a melhoria socioeconômica de seus integrantes,

garantindo-lhes trabalho e renda com dignidade.

c) O Grupo Colmeias (http://www.colmeias.org.br/)

O Grupo Colmeias de Projetos, Assessorias e Serviços é uma ONG de direito

privado, com personalidade jurídica própria, de caráter ecumênico, com

autonomia administrativa e financeira, sem fins lucrativos. Trata-se de

um Grupo de ação social a serviço dos movimentos sociais, em diversas

atividades no campo e na cidade.

Este grupo possui a missão de atuar com criatividade, qualidade e

autonomia, possibilitando aos sujeitos e atores sociais construírem

alternativas políticas, econômicas e culturais, buscando, em harmonia

com a natureza, as mudanças sociais.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

156

d) A ANTEAG (http://www.anteag.org.br)

A Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão –

ANTEAG é uma entidade que assessora a empresas e empreendimentos

de autogestão em diversos setores no Brasil.

Este trabalho é desenvolvido a partir do incentivo à construção, divulgação

e desenvolvimento de modelos autogestionários, que contribuam para

criar/recriar trabalho e renda, desenvolvendo a autonomia e formação dos

trabalhadores, estimulando ações solidárias e fraternas e representando

as empresas/empreendimentos autogestionários.

e) O IRPAA (http://www.irpaa.org/)

O Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA é

uma ONG sediada em Juazeiro, na Bahia. Por seus diversos projetos, a

organização propõe soluções eficazes, que respeitam as características

do povo e das terras desta região do semiárido brasileiro. O IRPAA

busca a convivência harmônica a partir do conhecimento e do domínio

das técnicas de produção apropriadas para este clima, buscando uma

distribuição justa das terras, das águas e políticas públicas.

Chegamos ao final de mais um “Conhecendo a teoria”. No próximo

capítulo, trataremos do desenvolvimento comunitário x desenvolvimento

estratégico, finalizando este tema, bem como o conteúdo programático

desta disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Até lá!

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

157

7.3 Aplicando a teoria na prática

Bancos comunitários e moedas paralelas

Você conhece o Real, o Dólar, o Euro. Mas sabia que muito mais moedas correm pelas transações comerciais, aqui no Brasil? Milhares de Reais estão impressos em cédulas de moedas alternativas, em todo o país. Mas, de onde vem esse dinheiro novo? A resposta está nos bancos comunitários. Eles são o resultado de projetos de apoio a economias populares de municípios de baixo IDH e prestam serviço financeiro solidário em rede de natureza associativa e comunitária, voltados para a geração de trabalho e renda. Esses bancos são de propriedade da comunidade, que também é responsável por sua gestão.

Os bancos atuam então com duas linhas de crédito: uma em Real e outra em moeda social circulante. Estas linhas de crédito estimulam a criação de uma rede local de produção e consumo, promovendo o desenvolvimento da comunidade, de fora para dentro. A Secretaria Nacional de Economia Solidária aposta muito no projeto que motiva a inauguração de novos bancos comunitários.

http://vilamulher.terra.com.br/bancos-comunitarios-e-moedas-paralelas-5-1-38-158.html.

No decorrer deste capítulo, você percebeu o quanto a organização social

por meio das redes é fator decisivo para a implantação das políticas públicas

de economia solidária. Também foi demonstrado que este é um movimento

recente já que a sua inclusão em nível federal, como um setor específico da

estrutura de governo, é muito recente.

Assim, os ensinamentos de ícones como Paul Singer e Paulo Freire estão sendo

postos em prática do ponto de vista das redes de cooperação e autogestão. Diante

do exposto, é possível afirmar que existe contribuição dos bancos comunitários e

das moedas paralelas para o fortalecimento das iniciativas de economia solidária?

Podemos responder essa pergunta passeando pelo Conhecendo a Teoria

deste capítulo 7, uma vez que estamos falando da articulação entre sociedade e

poder público para a sua execução. É válido afirmar a necessidade fundamental

da existência dessa articulação, pois, por mais organizadas que forem as

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

158

comunidades que detêm em seu território esse tipo de sistema financeiro, a

ausência de políticas públicas faria com que o processo ficasse estacionado.

Para gerenciar um processo minucioso como é o do sistema bancário, é

preciso conhecimento e este não se encontra na esquina. É preciso estimular

programas de qualificação, como é o caso do PlanSeQ-Ecosol, pois cidadãos

que se encontram à margem do processo produtivo certamente o estão por

falta de qualificação profissional. Neste sentido, sem ela também ficaria

inviabilizado qualquer processo de autogestão.

Além disso, para o sucesso de iniciativas como essa é preciso que esse

conhecimento seja canalizado para o trabalho em equipe, por meio do

incentivo à autogestão com a participação de todos os envolvidos.

Ao aglutinar todos esses requisitos, a comunidade pode implantar essa

nova modalidade financeira, passando a ter maior controle do seu sistema

econômico. Assim, é possível girar a economia da comunidade, com esses

novos dinheiros criados e aceitos apenas pelo varejo local. Eles ampliam o

poder de comercialização, aumentando a riqueza circulante na comunidade,

gerando trabalho e renda.

Dessa forma, qualquer produtor/comerciante cadastrado no Banco

Comunitário pode trocar moeda social por Reais, caso necessite fazer uma

compra ou pagamento fora do município/bairro, fazendo com que o controle

e as riquezas geradas pela moeda fiquem na comunidade.

Portanto, é possível sim afirmar que, para o fortalecimento da economia

solidária, iniciativas como os bancos comunitários e as moedas paralelas são

um divisor de águas.

7.4 Para saber mais

ENCONTRO BRASILEIRO DE CULTURA E SOCIOECONOMIA SOLIDÁRIAS, 2000.

Mendes, RJ. Construindo a rede brasileira de socioeconomia solidária. Rio de

Janeiro: PACS – Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul, s.d. Disponível

em: < http://www.ifil.org/redesolidaria/>. Acesso em: 17. maio 2010.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

159

O objetivo deste documento de trabalho é compartilhar uma síntese

das reflexões e propostas elaboradas no Encontro Brasileiro de Cultura e

Socioeconomia Solidárias, realizado em Mendes, Rio de Janeiro, de 11 a 18

de junho de 2000.

O evento contou com a participação de aproximadamente 80 pessoas,

integrantes de empreendimentos econômicos solidários ou de organizações

de apoio a essas iniciativas - em sua maioria provenientes de diversas regiões

do Brasil - contando com a participação de alguns representantes de outros

países da América Latina e Europa.

PACS - Instituto Políticas Alternativa para o Cone Sul. Moeda Social e Trocas

Solidárias: experiências e desafios para ações transformadoras. Rio de Janeiro,

PACS, 2005. (Série Semeando Socioeconomia, volume 8). Disponível em: < http://

www.pacs.org.br/uploaded_files/20090107073315_printed_serisesemeando_

c2VtZWFuZG84LnBkZg==.pdf>. Acesso em: 17. maio 2010.

Esta publicação é uma obra aberta e coletiva e pode ser lida de forma

modular, não consecutiva. É direcionada para diferentes leitoras e leitores,

que se interessem, de algum modo, por informações sobre socioeconomia

solidária, trocas solidárias e moedas sociais.

Associação Brasileira das Organizações não governamentais - http://www.

abong.org.br/.

A Abong foi fundada em agosto de 1991. Entre suas principais ações

podemos citar: a realização de um cadastro de ONGs atuantes no país; o apoio

aos processos regionais, estaduais e locais de articulação; o estímulo a reflexão

acerca da relação entre a Associação e os movimentos sociais, bem como acerca da

interlocução entre as ONGs de desenvolvimento e organizações ambientalistas.

BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Avaliação das políticas públicas de

economia solidária. Disponível em: <http://www.mte.gov.br/economiasolidaria/

pub_avaliacao_políticas_publicas.pdf>.

Este documento apresenta uma pesquisa, cujo propósito maior é

conhecer em maior profundidade a natureza e singularidades desse gênero

novo de política pública no Brasil, voltado para o tema da economia solidária.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

160

7.5 Relembrando

Neste capítulo, você foi apresentado ao universo das políticas

públicas, passando por aspectos da sua concepção, inclusive como direito

constitucional garantido, com enfoque principal a políticas direcionadas à

economia solidária.

Abordamos também alguns aspectos que contribuem para sua

consolidação, como, por exemplo, a concepção de parcerias entre o poder

público e os movimentos sociais para a execução deste novo modelo de

organização econômica.

Finalizando, trouxemos alguns exemplos de organizações originadas nos

movimentos sociais, bem como sua contribuição por meio da formação das

redes para as iniciativas de economia solidária.

7.6 Testando os seus conhecimentos

Com o advento da democracia, especialmente nos países da América

Latina, a participação popular torna-se um ingrediente significante para a

concepção das políticas públicas de qualquer país.

Neste sentido, quando falamos de políticas direcionadas ao incentivo

à economia solidária, podemos considerar que movimentos como o Fórum

Social Mundial são de extrema contribuição para o estímulo à participação

popular com este foco.

Sabendo que as políticas públicas brasileiras direcionadas à economia

solidária são originárias das pressões populares advindas dos desdobramentos

deste fórum de discussão, pergunta-se:

Qual a contribuição dos movimentos da sociedade civil organizada para

o incremento das políticas públicas de economia solidária?

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 7

161

Onde encontrar

Boletim Informativo PPDLES, 2006.

BRASIL, 2010 - Portaria de criação da SENAES, no âmbito do Ministério do

Trabalho e Emprego – MTE. - http://www.mte.gov.br/ecosolidaria/secretaria_

nacional_apresentacao.asp.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado

Federal, 2008.

GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:

Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.

SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. 7. ed. São Paulo: EDUSP, 2007.

Políticas públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à prática da

análise de políticas públicas no Brasil, disponível no endereço eletrônico:

http://www.ipea.gov.br/pub/ppp/ppp21/Parte5.pdf.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental 163

8.1 Contextualizando

Olá! Estamos chegando ao final do conteúdo programático da nossa

disciplina Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental. Dentre os temas

abordados, a cidadania planetária, o desenvolvimento sustentável, a ecologia

humana e a economia solidária permearam a nossa discussão rumo ao

entendimento sobre as possibilidades de intervenção do homem na natureza

em busca do desenvolvimento sustentável.

Agora, vamos trilhar neste capítulo 8 por um conteúdo que, de modo

geral, retomará temas que já foram abordados durante toda a disciplina, ou

seja, traremos do desenvolvimento comunitário como possibilidade para o

alcance do grande desafio da sustentabilidade.

Nossa intenção aqui não é esgotar os assuntos que permeiam essa temática

e sim apresentar a ponta para um novelo inesgotável, chamado conhecimento.

Assim, traremos novamente a questão cultural como um fator imprescindível

a adoção de novas práticas econômicas, apresentando iniciativas de estímulo ao

desenvolvimento local, juntamente com casos práticos dessa temática.

Para finalizar, discutiremos a dimensão da contribuição do desenvolvimento

comunitário para o alcance do almejado desenvolvimento sustentável.

Neste sentido, ao final deste capítulo você deve estar apto a:

� Entender como se processa a cultura do desenvolvimento comunitário;

� Perceber iniciativas de estímulo a este modelo de desenvolvimento;

� Verificar o desenvolvimento local na prática.

DESENVOLVIMENTO COMUNITÁRIOX

DESENVOLVIMENTO ESTRATÉGICO

CAPÍTULO 8

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

164

Esperando estimular o seu “eu” pesquisador de modo que, ao final do

conteúdo programático dessa disciplina, não se esgotem suas buscas pelo

conhecimento acerca do Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental,

desejamos um excelente estudo!

8.2 Conhecendo a teoria

8.2.1 Entendendo a cultura do desenvolvimento comunitário

Você percebeu que o alcance do desenvolvimento sustentável tem profunda

ligação com a cultura de cada povo, conforme tratamos no capítulo 2. Incrementando

essa discussão, trouxemos, nos capítulos 6 e 7, a economia solidária como uma

alternativa de organização cultural para o sistema produtivo, possibilitando a inserção

daqueles que, por diversos motivos, ficam à margem da economia capitalista.

Saiba que “toda organização cultural é um complexo sistema de valores, ideologias, significados, práticas produtivas e estilos de vida que se desenvolveram ao longo da história e se especificam em diferentes contextos geográficos e ecológicos” (LEFF, 2008, p. 327).

SAIBA QUE

Isso indica que, neste século XXI, estamos diante de inúmeras necessidades

de mudança de postura, desde as simples atitudes cotidianas de combate ao

desperdício até a forma de compreender e assumir um novo sistema produtivo.

Este, por sua vez, deve contemplar aspectos da ecologia humana orientada

por uma convivência harmônica do ser humano com a natureza.

Para que isso ocorra, é pertinente ressaltar a necessidade do compromisso

político de todos os envolvidos nessa causa, expressos no movimento

ambientalista, de modo que seja possível pensar em soluções, que possam ser

executadas de forma prática e com custo acessível.

Novamente nos deparamos com a relação estreita entre o alcance da

sustentabilidade e a formação cultural dos povos envolvidos nesta empreitada,

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

165

de modo que cada localidade perceba formas alternativas à cultura capitalista.

Neste sentido, desde o capítulo 6 tratamos de temas relacionados à

economia solidária como perspectiva de gestão direcionada ao estímulo da

autogestão e do cooperativismo.

LEMBRETELEMBRETE

A economia solidária se apresenta como uma alternativa à economia de mercado, contemplando aspectos como respeito ao meio ambiente, produção correta sem utilizar mão de obra infantil, respeito à cultura local, aliados a uma busca constante pela cidadania e pela igualdade.

Assim, para continuarmos nossa discussão a respeito do associativo como

uma nova forma de organização social, é preciso compreender que o mesmo

está atrelado ao desenvolvimento local, ou seja, comunitário.

Dessa forma, na busca de alternativas de desenvolvimento com condições

de igualdade entre os envolvidos, vários organismos nacionais e internacionais

têm buscado estimular a implantação de propostas que priorizem o

protagonismo social (os indivíduos como atores principais no processo) a partir

do desenvolvimento comunitário.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acessando o link http://www.pnud.org.br/projetos/pobreza_desigualdade/, você poderá navegar no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e verá como este apoia propostas de cunho comunitário, por meio de quatro eixos principais: a introdução de políticas que visam fortalecer setores críticos para o desenvolvimento humano; a promoção dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio e do desenvolvimento humano sustentável; o fortalecimento de distintos segmentos das políticas públicas, como desenvolvimento social, educação, saúde, cultura, esporte, direitos humanos, justiça e segurança pública; e a cooperação técnica prestada e recebida no âmbito da cooperação sul-sul.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

166

Neste caso, fazendo uma ponte com a questão do desenvolvimento

comunitário local como ferramenta para o desenvolvimento sustentável, ainda

referenciamos o posicionamento de Leff (2008, p. 328), quando ele afirma que:

Nas áreas rurais do Terceiro Mundo, as práticas sociais e produtivas estão intimamente associadas a valores e processos simbólicos que organizam as formas culturais de apropriação da natureza e a transformação do meio ambiente. A organização cultural regula o uso de recursos para satisfazer as necessidades de seus membros.

Embora pareça que estamos dando conotação ao desenvolvimento

comunitário apenas nas atividades desenvolvidas em áreas rurais, não é esta

a nossa intenção. Se assim fosse, agir de acordo com essa premissa estaria

inviabilizando o desenvolvimento comunitário em todo o mundo, uma vez

que grande parte da população mundial se concentra em grandes metrópoles

e em seu entorno.

Falar em desenvolvimento local é caracterizá-lo do ponto de vista da

superação da visão que atrela o desenvolvimento exclusivamente a aspectos

econômicos, uma vez que é preciso considerar o capital humano, social,

empresarial e natural da localidade, seja ela rural ou urbana.

PRATICANDOPRATICANDO

Você pode visualizar essa teoria na prática ao levantar dados sobre a ASCAMAR (Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis), uma instituição fundada em 1999 pela necessidade de proporcionar trabalho digno àqueles que retiravam seu sustento a partir do lixão de Cidade Nova, um bairro da cidade do Natal-RN.

O que importa neste contexto é a forma como as comunidades se

organizam, ou seja, qual a cultura organizacional utilizada. Assim, deveremos

observar quais as características econômicas observadas nestes espaços:

competitiva/capitalista ou cooperativa/solidária.

Perceber esses aspectos fará toda a diferença na hora de apresentarmos

modelos de condução equitativa do sistema econômico com a natureza.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

167

8.2.2 Algumas iniciativas de estímulo ao desenvolvimento

comunitário estratégico

Ao longo deste livro-texto, percebemos o quanto a sociedade civil, o

poder público e o terceiro setor têm buscado estimular o desenvolvimento local,

ou seja, o desenvolvimento comunitário como estratégia para o protagonismo

social, aliado com o manejo ambiental sustentável.

No capítulo 7, trouxemos exemplos de parcerias criadas neste sentido,

bem como da organização de redes de comunicação como um espaço para

produção e disseminação de conhecimento.

Estimular a prática da solidariedade econômica por meio de mecanismos

como autogestão e cooperativismo é um elemento de considerável

aplicabilidade para garantir a adoção de “valores universais como vida saudável

e longa, educação, participação política, democracia social e participativa [...],

garantia de respeito aos direitos humanos e de proteção contra a violência

[...].” (BOFF, 2004, p.138).

Isso demonstra que estamos diante da busca pelo princípio de uma

economia para o “bem viver”, como defende Moacir Gadotti.

CONCEITOCONCEITO

O conceito de bem viver refere-se à busca de uma vida digna, dentro das condições que dispomos hoje, sem adiar a vida plena para amanhã, quando conseguirmos todas as condições concretas de bem viver. Ele implica no bem-estar pessoal no ambiente onde vivemos e trabalhamos, implica manter relações interpessoais com ênfase na ética, no respeito e no companheirismo. (GADOTTI, 2009, P. 117)

Analisando este conceito, percebemos que nunca é demais divulgar

instituições e programas que trabalham em prol dessa necessidade,

especialmente os que têm estimulado e apresentado metodologias na

intenção de mostrar o desenvolvimento comunitário como uma possibilidade

de desenvolvimento estratégico.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

168

Dando continuidade a esse raciocínio, vamos apresentar iniciativas

de atuação com a perspectiva da instalação da cultura do desenvolvimento

comunitário, o estímulo à autogestão, tendo como consequência o

fortalecimento da economia solidária.

a) Expo Brasil Desenvolvimento Local (http://www.expobrasil.org)

Criada com o objetivo de promover a mobilização e a troca de

experiências entre atores que participam do processo de construção do

desenvolvimento local no País, a Expo Brasil, realizada anualmente desde

2002, se consolidou como o maior evento nacional sobre desenvolvimento

territorial e uma referência internacional no tema.

Trata-se de uma oportunidade de aprendizagem compartilhada,

articulação de parcerias e ações conjuntas, que reúne, durante três dias

de atividades, todos os interessados em apresentar, conhecer, debater e

impulsionar iniciativas de desenvolvimento local no Brasil.

Os objetivos principais da Expo Brasil são: visibilidade (tornar visíveis

iniciativas de desenvolvimento territorial em curso, com seus avanços e

desafios); formação (propiciar a aprendizagem compartilhada em torno

do desenvolvimento local); articulação (facilitar a constituição de novas

articulações, parcerias e elos de rede que impulsionem o desenvolvimento

com base territorial); e fortalecimento de agenda estratégica (fortalecer

o desenvolvimento local, como estratégia de inclusão e transformação

social, no contexto brasileiro e no diálogo internacional).

Os principais eixos orientadores da Expo Brasil são governança democrática,

inclusão produtiva e meio ambiente, tendo como referência o desenvolvimento

construído de baixo para cima, de dentro para fora, em bases territoriais.

Mas a sua principal força está na participação ativa de agentes locais, atores da

base da sociedade, que promovem, em seus territórios, o cotidiano das iniciativas

de desenvolvimento sustentável. Destacam-se duas características do público

participante: diversidade (social e institucional) e pluralidade (de pontos de

vista). Ou seja, o evento é uma oportunidade especial de aproximação entre

agentes sociais, produtivos e governamentais, pessoas de todas as faixas de

renda e escolaridade, vindas de diversos lugares, com diferentes abordagens,

em um ambiente de rara liberdade e facilidade de comunicação.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

169

Dentro deste contexto de desenvolvimento territorial construído de baixo para cima por meio da participação popular democrática, em junho de 2008, foi criada a Escola-de-Redes: uma rede de pessoas dedicadas à investigação teórica e à disseminação de conhecimentos sobre redes sociais e à criação e transferência de tecnologias de netweaving, onde são costuradas trocas de saber.

Um dos idealizadores dessa proposta é o professor e pesquisador Augusto de Franco, cuja atuação profissional tem sido dedicada às redes sociais (seja pelo estudo, pela investigação teórica, pela experimentação ou, inclusive, pela vivência-em-rede) e em compartilhar tal conhecimento com outras pessoas interessadas em conhecer mais sobre redes sociais.

Para saber mais, acesse: http://escoladeredes.ning.com

CURIOSIDADE

b) Projeto URBE: Projeto do SEBRAE que atua na construção de redes

locais para o desenvolvimento e promove ações geradoras de negócios

sustentáveis.

O Projeto URBE colabora para a construção de redes locais na promoção

do desenvolvimento, organiza os recursos humanos e logísticos do

território e promove ações geradoras de oportunidades sustentáveis de

negócios para micro e pequenas empresas.

A crescente urbanização impõe desafios para o desenvolvimento de

uma sociedade com equilíbrio socioeconômico. O SEBRAE tem como

missão criar um ambiente favorável ao estímulo e à promoção de

oportunidades de negócios, como estratégia de desenvolvimento para

proporcionar inclusão social e redução das desigualdades. O Projeto

URBE atua em parceria com prefeituras, agentes públicos, atores locais

e outras entidades.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

170

Na região central do Rio de Janeiro, existe um bairro chamado Santa Teresa. Desde o ano 2000, lá existem iniciativas comunitárias com vistas à sustentabilidade, como a criação da Agenda 21 Local. Entretanto, essas ações foram intensificadas com a implantação do Projeto URBE do SEBRAE a partir da decisão de explorar de forma sustentável a vocação turística do bairro. Ainda sobre esse bairro, vale acrescentar que, em 1982, o mesmo foi transformado em Área de Proteção Ambiental – APA (a primeira neste estilo do Brasil).

SAIBA QUE

c) IADH (http://www.iadh.org.br/)

O Instituto de Assessoria para o Desenvolvimento (IADH) é uma

Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, que tem como

missão contribuir para o desenvolvimento local/territorial sustentável,

com ênfase no combate à pobreza e redução das desigualdades sociais.

Fundado há quatro anos, é formado por profissionais especializados e

com ampla experiência prática de trabalhos em campo em programas e

projetos pioneiros no Brasil.

O objetivo do Instituto é trabalhar para fortalecer o capital social dos

territórios, a base econômica local e a governança, contribuindo para a

construção de alternativas que promovam o desenvolvimento humano.

O estímulo à cidadania, ao empreendedorismo e à inclusão social são

princípios fundamentais do trabalho do IADH, que utiliza metodologias

priorizando a participação com responsabilidade social, descentralização

e solidariedade.

As experiências de apoio ao desenvolvimento de regiões com baixo

dinamismo econômico e alta concentração de pobreza, no Brasil e no

Mundo, revelam que há pontos em comum entre as diferentes realidades.

Apesar do uso de diversas nomenclaturas, como local, regional ou

territorial, é frequente a utilização de abordagens mais sistêmicas e ações

intersetoriais para trabalhar a construção de estratégias alternativas de

mudança cada vez mais sustentáveis.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

171

É neste contexto que o IADH atua, usando uma abordagem holística

da realidade, centrada no ser humano, num processo dialógico de

aprendizagem e de construção de autonomia dos atores. Com experiência

no acompanhamento e análise de diferentes iniciativas, além da

vivência em campo, seus profissionais estão aptos a formular estratégias

de inserção para territórios, apoiando instituições, organizações

populares, bem como entidades do terceiro setor, preocupadas com

a eficiência na aplicação dos recursos. Uma referência para o IADH no

desenvolvimento de projetos com o intuito do desenvolvimento local é

o economista Ladislau Dowbor.

EXPLORANDOEXPLORANDO

Acessando a homepage http://dowbor.org, você pode conhecer a trajetória de Ladislau Dowbor, bem como os projetos por ele desenvolvidos de estímulo ao desenvolvimento local.

d) Territórios da cidadania: a política pública no foco do desenvolvimento

local (http://www.territoriosdacidadania.gov.br)

Criado em 2008, o Programa Territórios da Cidadania tem como objetivos

promover o desenvolvimento econômico e universalizar programas

básicos de cidadania por meio de uma estratégia de desenvolvimento

territorial sustentável. A participação social e a integração de ações

entre Governo Federal, estados e municípios são fundamentais para a

construção dessa estratégia.

Até o ano de 2010 foram criados 120 territórios em todas as regiões

brasileiras, apoiando projetos que contemplem ações de: Direitos e

Desenvolvimento Social; Organização Sustentável da Produção; Saúde,

Saneamento e Acesso à Água; Educação e Cultura; Infraestrutura;

Apoio à Gestão Territorial; Ações Fundiárias.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

172

Caso você deseje conhecer detalhes dos territórios da cidadania, acesse o portal http://www.territoriosdacidadania.gov.br e verifique a abrangência do programa.

CURIOSIDADE

Convém destacar que, com a criação dos territórios da cidadania, parte

dos investimentos públicos é direcionada para essas localidades, de modo a

estimular o protagonismo daqueles que habitam tais regiões.

Além disso, também foi criada no portal da cidadania uma ferramenta

virtual com a finalidade de sistematizar a comunicação em rede daqueles que

estimulam a produção associada como alternativa econômica.

Assim, o acesso ao portal possibilita o contato com Redes Temáticas

de ATER (Assistência Territorial), um espaço colaborativo organizado

pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, em conjunto com as

organizações de Ater, credenciadas no Sistema Nacional Descentralizado de

Assistência Técnica e Extensão Rural – SIBRATER, em parceria com a Pesquisa

Agropecuária, Universidades e organizações dos agricultores familiares.

Seu principal objetivo é promover a construção coletiva do conhecimento

e disponibilizar informações técnicas e científicas, propostas tecnológicas e

experiências exitosas, nas diversas temáticas relevantes para a Agricultura

Familiar e o Desenvolvimento Rural sustentável.

Outro aspecto que merece destaque, quando falamos do programa

Territórios da Cidadania, é a possiblidade de comunicação em rede que

ele abre por meio da participação dos envolvidos em comunidades de

relacionamento. Estas, por sua vez, trazem a finalidade da troca de

experiências entre os envolvidos.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

173

Você pode incrementar seu conhecimento realizando a leitura crítica da Cartilha sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (uma publicação da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional) e discutindo seus pressupostos com os seus colegas de turma. Tal documento está disponível em:

http://www.integracao.gov.br/desenvolvimentoregional/publicacoes/cartilha.asp.

DESAFIO

8.2.3 O desenvolvimento comunitário na prática

Estamos sempre retomando que a questão do desenvolvimento

sustentável tem estreita ligação com a cultura dos povos, ou seja, hábitos e

costumes. Levando essa teoria para a prática, percebemos que os processos

produtivos também estão atrelados a esse raciocínio.

Em outras palavras, podemos dizer que:

Na prática a sociedade deve mostrar-se capaz de assumir novos hábitos e de projetar um tipo de desenvolvimento que cultive o cuidado como os equilíbrios ecológicos e funcione dentro dos limites impostos pela natureza. Não significa voltar ao passado, mas oferecer um novo enfoque para o futuro comum. Não se trata simplesmente de não consumir, mas de consumir responsavelmente. (BOFF, 2004, p.137).

Neste caso, cabe-nos utilizar o conhecimento produzido e apresentado

nas inovações tecnológicas como ferramenta para a criação de novas

tecnologias: sociais, produtivas e econômicas.

Dentro deste contexto, encontramos a proposta do desenvolvimento

comunitário como forma de aglutinar capital humano, social, empresarial e

cultural. Assim, apresentamos alguns casos de iniciativas bem sucedidas nesta

perspectiva de contribuir com o seu entendimento a respeito do tema.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

174

a) O PROMATA (http://www.promata.pe.gov.br/)

O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável a Zona da Mata

de Pernambuco - PROMATA tem como finalidade principal apoiar o

desenvolvimento sustentável da mesorregião da Mata de Pernambuco

(definida pelo IBGE e composta por 43 municípios pernambucanos), tendo por

base o conceito de desenvolvimento territorial integrado. Integra o conjunto

de ações do Governo de Pernambuco para promover o desenvolvimento

local dos diversos municípios do Estado e suas respectivas Regiões de

Desenvolvimento (RD).

O PROMATA atua em dois âmbitos territoriais locais complementares,

com os seguintes objetivos específicos: (i) no âmbito municipal, executa

ações visando ao fortalecimento da capacidade de gestão municipal

das prefeituras e das organizações comunitárias locais, à promoção da

participação da sociedade civil no processo de planejamento e à melhoria

da oferta e qualidade dos serviços básicos, especialmente no aumento

da cobertura dos sistemas de saneamento básico em distritos rurais da

Zona da Mata; e (ii) no âmbito regional, promove ações visando a apoiar

a diversificação econômica e ao manejo sustentável dos recursos naturais

da região.

b) A COOESPERANÇA (http://www.esperancacooesperanca.org.br)

A COOESPERANÇA é a Cooperativa Mista dos Pequenos Produtores Rurais e

Urbanos Vinculados ao Projeto Esperança. É uma Central que, juntamente

com o Projeto Esperança, congrega e articula os grupos organizados,

e viabiliza a comercialização direta dos produtos produzidos pelos

empreendimentos solidários no Campo e na Cidade e que se fortalecem

juntos.

A teia esperança, uma rede dos empreendimentos solidários associados

ao Projeto Esperança/Cooesperança foi criada no dia 14 de janeiro

de 2003, com o objetivo principal de articular os empreendimentos

solidários, associados ao Projeto Esperança/Cooesperança, para uma

maior articulação dos produtores(as) e consumidores(as) para motivar

o comércio justo, o consumo ético e solidário usando os pontos de

Comercialização direta dos municípios da região Centro e a articulação

dos Empreendimentos entre si.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

175

São mais de 40 espaços fixos de comercialização direta dos diversos grupos

nos Municípios da Região Central - RS. A teia esperança tem como ponto

de articulação e integração o terminal de comercialização direta, com troca

de experiências e de produtos, todos os sábados no feirão colonial semanal.

É uma forma eficaz e muito eficiente de fortalecer os grupos, consolidar

a articulação e construir Políticas Públicas articuladas em rede solidária.

O Projeto Esperança/Cooesperança é uma experiência exitosa que deu

certo e afirma com certeza que “outra economia é possível”.

Nestes pontos, comercializam-se produtos coloniais, hortigranjeiros

ecológicos, caseiros, artesanais, panificação, confecção, serigrafia,

artesanato em material reciclado, produtos da agroindústria familiar,

carne de ótima qualidade e Prestação de Serviços.

Assim, é articulada a proposta da economia solidária, na perspectiva

de gerar trabalho e renda, dignidade pelo trabalho organizado, com a

valorização do trabalho acima do capital, na construção da cidadania e

inclusão social. Os pontos da teia esperança são administrados de forma

colegiada pelos próprios empreendimentos solidários, organizados e

associados ao Projeto Esperança/Cooesperança e à teia esperança.

c) Projeto Bagagem (http://www.projetobagagem.org)

O Projeto Bagagem é uma ONG que visa à criação de uma Rede de

Economia Solidária de turismo comunitário no Brasil. Sua principal

estratégia é apoiar a criação de roteiros turísticos, que beneficiam

prioritariamente as comunidades visitadas pela geração de renda e

participação direta da população local.

A equipe do Projeto Bagagem identifica ONGs que são referência no Brasil por

seus projetos em diversas áreas, e, em parceria com elas, constrói um roteiro

de turismo e convivência, que se torna fonte de renda para as comunidades

e aprendizagem para os participantes. Os roteiros do Bagagem apresentam

3 componentes: o destino especial, o visitante especial, a viagem especial.

O Projeto Bagagem desenvolve 3 programas com o objetivo de fortalecer

a Rede de Turismo Comunitário no Brasil em parceria com Núcleos de

Jovens de ONGs parceiras.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

176

Rede de Destinos

Comercialização Rede de Saberes

Figura 1 – Articulação de Programas no Projeto Bagagem

8.2.4 A sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário

Estamos em pleno século XXI e nos deparamos com a problemática da

crise ambiental como o grande desafio do milênio. E que desafio, não? O

mundo contemporâneo está organizado de acordo com as características

impostas pelo capitalismo, cujas bases estão alicerçadas na competitividade

e na maximização dos lucros por meio da exploração indiscriminada dos

recursos.

Dentro desse contexto, emerge a necessidade da busca por alternativas

a esse modelo de crescimento, ou seja, um modelo que considere a

necessidades de manejo dos recursos naturais. Além dessa consideração,

também é necessário que esse modelo contemple o protagonismo social

daqueles que ficam excluídos da competição capitalista. Essas demandas

levam às diretrizes do desenvolvimento sustentável, uma vez que as

mesmas consideram as necessidades das futuras gerações na apropriação

dos recursos do planeta.

Neste caso, é preciso humanizar o sistema produtivo, por meio de

práticas que considerem a visão holística na relação homem x natureza. É

evidente que, para que isso ocorra, é preciso que a sociedade esteja envolvida,

participando ativamente dos processos decisórios, principalmente com

participação direta na política partidária de suas localidades, com direito a

voz e poder de decisão.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

177

Diante desta constatação, como seria a sua atuação profissional a partir da conciliação das necessidades econômicas com as da natureza?

REFLEXÃO

Por esses aspectos percebemos que não é mais possível pensar somente

no capitalismo como sistema econômico. A inclusão da economia solidária

na pauta das decisões das comunidades proporciona posicionamentos éticos,

cooperativos e autogestionários, comprometidos como a qualidade ambiental

de todos os seres vivos inseridos no contexto da comunidade envolvida.

Considerar o desenvolvimento comunitário como uma estratégia para

alcançarmos a sustentabilidade apresenta-se como uma realidade possível

a ser perseguida por todos que desejam deixar como legado um presente

equilibrado e um futuro promissor.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

178

8.3 Aplicando a teoria na prática

Cáritas brasileira: solidariedade pela vida

Com o objetivo de apoiar pequenos Projetos Alternativos Comunitários (PACs), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lançou, em 1981, os Fundos Solidários. A intenção era disponibilizar auxílio técnico e financeiro às propostas de desenvolvimento local em diversas regiões do País – elaboradas pelas próprias comunidades.

Os PACs foram as sementes do que hoje é chamada de Economia Popular Solidária (EPS). Nesses 25 anos, a Cáritas Brasileira tem apoiado grupos (associações, movimentos sociais, redes e cadeias produtivas) por meio de projetos social-organizativos ou econômico-produtivos, baseados em formas autogestionárias de trabalho. E os Fundos Solidários tornaram-se uma das principais vertentes do movimento de economia popular solidária no Brasil.

Desde 2000, o programa nacional de EPS passou a ter três objetivos: promoção e formação de agentes e lideranças da Cáritas, acesso aos recursos dos Fundos e articulação em redes e fóruns. As feiras de EPS, além de espaços de comercialização, possibilitam também o intercâmbio de experiências entre os empreendimentos.

De 2004 a 2007, cerca de 10 mil trabalhadores/as associados/as (2 mil grupos) foram apoiados por meio do fortalecimento de redes de cooperação de produção, comercialização e consumo. Aproximadamente 600 agentes Cáritas de 160 entidades-membro acompanharam os empreendimentos formados por adolescentes, jovens, grupos de cultura, catadores, mulheres, populações rurais e urbanas, migrantes, comunidades em situações de risco, famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa-Família, quilombolas, indígenas, acampados e assentados da reforma agrária.

Acesso em: http://www.caritas.org.br/programas.php?id=3&code=9.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

179

Nunca é demais apresentar iniciativas bem-sucedidas no estímulo

ao desenvolvimento local, ou seja, um desenvolvimento estimulado pelo

protagonismo social comunitário de uma comunidade de determinado

território (espaço geográfico).

Como o próprio texto menciona, o Movimento Cáritas é um dos mais

antigos do Brasil neste sentido. Podemos considerar ainda que seu grande

mérito esteja em oportunizar aos grupos marginalizados pelo sistema produtivo

capitalista o acesso ao conhecimento para geração de ocupação e renda.

Diante desses aspectos, pergunta-se: é possível ampliar a participação

cidadã, aliada ao reconhecimento político dos envolvidos em projetos de

desenvolvimento comunitário?

Para responder a essa questão, basta observarmos os exemplos práticos

demonstrados no decorrer de todo esse livro-texto, onde podemos perceber

que sim, é possível uma outra economia, que resgate aqueles que o sistema

capitalista tratou de excluir.

Ela deve estar orientada pelos princípios da solidariedade, como

mencionamos no capítulo 6, o Fator C, ou seja, cooperação; corresponsabilidade;

comunicação; comunidade.

Para agir de acordo com essa proposição, concluímos que é preciso

deixar em primeiro plano o coletivo, ou melhor, o comunitário. Neste caso,

quando aprendemos a lidar com as situações de maneira articulada, agindo

em prol de interesses comuns, temos plena competência para atuarmos no

plano político partidário, pois sabemos considerar as necessidades de todos ao

invés dos interesses individuais.

Portanto, mais do que nunca é preciso lutar e buscar uma forma mais

justa e equilibrada de desenvolvimento, oportunizando a participação cidadã

e o reconhecimento político. Estamos diante de uma proposta com vários

exemplos exitosos: o desenvolvimento comunitário.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

180

8.4 Para saber mais

CAVALCANTI, Marly (org.). Gestão social, estratégias e parcerias: redescobrindo

a essência da administração brasileira de comunidades para o Terceiro setor.

São Paulo: Saraiva, 2006.

O conteúdo abordado neste texto traz a temática do Terceiro Setor com

profundidade conceitual e abordagem totalmente original. Cada capítulo faz

um interessante contraponto entre determinada categoria de intervenção social

e um personagem do folclore nacional, estabelecendo associações, que tornam

a leitura rica e agradável. Completo, traz casos, questões e exercícios divididos

entre os temas do cooperativismo, empresa-cidadã, filantropia empresarial,

parcerias sociais, capital humano, redes sociais, marketing social, compromisso

social, trabalho multidimensional e empreendedorismo estratégico para o

Terceiro Setor. Uma obra tão dinâmica quanto os temas em questão.

LAGES, VINICIUS. Territórios em movimento: cultura e identidade como estratégia

de inserção competitiva. Rio de Janeiro: Relume Dumará; Brasília: Sebrae, 2004.

Esta publicação reúne artigos que exploram os desafios e experiências

bem sucedidas de desenvolvimento territorial, que possibilitam a organização

social e econômica de forma interativa e flexível. Os textos demonstram como a

autonomia das comunidades, aliada à absorção das características particulares

de cada localidade, contribui para o melhor funcionamento dos mercados, e

representa um grande avanço na redistribuição de renda e diminuição das

desigualdades regionais. Fruto da experiência do SEBRAE na fomentação de

empreendimentos, “Territórios em movimento”, ela defende um novo modelo

de desenvolvimento, em substituição àquele baseado exclusivamente nos

grandes empreendimento que só ajudavam a aprofundar as desigualdades; um

modelo que resulte do conhecimento e do aproveitamento das potencialidades,

oportunidades e vantagens competitivas já existentes em cada território.

SCHLITHLER, CELIA REGINA BELIZIA. Redes de Desenvolvimento Comunitário:

iniciativas para a transformação social. São Paulo: Global, 2004. (Coleção

investimento social)

Nesta obra, a autora aborda o processo de formação e desenvolvimento

de uma rede social com destaque especial para a capacitação de facilitadores.

Descreve as melhores práticas para a preparação de reuniões, técnicas de

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

181

relacionamento de grupos e formas de conduzir um planejamento estratégico

em rede. Mostra como as organizações empresariais podem participar de uma

rede social.

Em http://www.pnud.org.br/publicacoes/ você pode verificar os trabalhos

do projeto BNDES/PNUD - Desenvolvimento Local (BRA/00/031), visualizando

estratégias metodológicas para implantação de iniciativas com foco no

desenvolvimento local.

8.5 Relembrando

Finalizando nossa trajetória de estudos acerca do Desenvolvimento

e Sustentabilidade Ambiental, trouxemos, neste capítulo 8, a discussão em

torno do desenvolvimento comunitário com enfoque para sua utilização

como forma de oportunizar o protagonismo social atrelado ao alcance do

desenvolvimento sustentável.

Abordamos a cultura do desenvolvimento comunitário, registrando que,

para sua ocorrência, é necessário que as pessoas estejam abertas a recebê-lo,

tendo em vista que sua prática está ligada a um novo modelo de produção,

ou seja, o desenvolvimento comunitário perpassa pela mudança de postura

frente ao sistema produtivo.

Outro aspecto que vale relembrar é a existência de várias iniciativas em prol

do desenvolvimento local, conforme apresentamos no decorrer deste capítulo.

Entretanto, estas não são únicas e você pode buscar novos conhecimentos,

identificando outras iniciativas além das apresentadas. Essa informação é válida

também para os casos de sucesso, pois são inúmeros no Brasil e em todo o mundo.

Ao final do capítulo, apresentamos, de forma sucinta, como os

conteúdos dessa disciplina estão interligados, ao levantarmos a forma como

a sustentabilidade alicerçada no desenvolvimento comunitário, uma vez que,

para que o mesmo ocorra, é preciso que se considerem todas as temáticas que

foram tratadas no âmbito deste livro-texto.

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental

Capítulo 8

182

8.6 Testando os seus conhecimentos

Com o crescimento da globalização, percebemos a cada dia como as

particularidades dos povos são significativas para a manutenção da identidade

de cada território.

Estimular o desenvolvimento endógeno, ou seja, de dentro para fora

das localidades, apresenta-se como uma estratégia na busca constante que

estamos presenciando neste século XXI: o desenvolvimento sustentável.

Não se trata apenas de um discurso e sim de orientar as comunidades

para o alcance de seu protagonismo, pois as pessoas devem apreender como

isso funciona. Isso significa afirmar o quanto é necessário a existência de

organismos de estímulo ao desenvolvimento local.

Neste sentido, convém perguntar qual a importância das metodologias

utilizadas para a promoção do desenvolvimento local?

Onde encontrar

BOFF, Leonardo. Saber Cuidar: Ética do Humano-Compaixão pela Terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

GADOTTI, Moacir. Economia solidária como práxis pedagógica. São Paulo:

Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2009.

LEFF, Enrique. Saber ambiental: sustentabilidade, racionalidade, complexidade,

poder. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.

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183

Referências

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www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./gestao/index.

html&conteudo=./gestao/artigos/markverde.html>. Acesso em: 2 maio 2010.

AMBIENTE BRASIL. Guia de boas práticas para o consumo sustentável.

Disponível em: <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/educacao/

artigos/guia_de_boas_praticas_para_o_consumo_sustentavel.html?que

ry=Dicas+de+consumo+sustent%C3%A1vel>. Acesso em: 22 mar. 2010.

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AMIGOS da terra: Amazônia brasileira: balcão de serviços para negócios

sustentáveis. Disponível em: <http://negocios.amazonia.org.br/>. Acesso

em: 2 maio 2010.

ASSOCIAÇÃO de Amigos e Moradores de Boa Viagem. Especulação:

limite das edificações já. Disponível em: http://www.amabv.hpg.

ig.com.br/especulacao.html>. Acesso em: 22 mar. 2010.

BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano-compaixão pela terra.

Petrópolis: Vozes, 2004.

BRASECO INFORMA. Acompanhe de janeiro a julho de 2008 a

quantidade de lixo depositada no Aterro Sanitário da Região

Metropolitana de Natal. Boletim Braseco Informa, Natal/RN, ano 3,

n. 1, MÊS 2008. Disponível em: <http://www.braseco.com.br/2008/

informativo/ano3no1.pdf>. Acesso em: 9 jan. 2010.

BRASIL. Câmara dos Deputados. Estatuto da cidade: um guia para

implementação pelos municípios cidadãos. Brasília, 2005.

______. (Constituição 1988). Constituição da República Federativa do

Brasil. Brasília: Senado Federal, 2008.

______. Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001. Regulamenta os arts. 182

e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política

RE

FE

NC

IAS

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Desenvolvimento e Sustentabilidade Ambiental184

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