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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS JULIANA GOUVEIA GALVÃO DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO COSMÉTICA CONTENDO CARREADORES LIPÍDICOS NANOESTRUTURADOS À BASE DE MANTEIGA DE Ouratea sp.: UMA ESTRATÉGIA NANOTECNOLÓGICA PARA O AUMENTO DA HIDRATAÇÃO CUTÂNEA São Cristóvão 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS

JULIANA GOUVEIA GALVÃO

DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO COSMÉTICA CONTENDO CARREADORES LIPÍDICOS

NANOESTRUTURADOS À BASE DE MANTEIGA DE Ouratea sp.: UMA ESTRATÉGIA NANOTECNOLÓGICA PARA O

AUMENTO DA HIDRATAÇÃO CUTÂNEA

São Cristóvão

2015

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JULIANA GOUVEIA GALVÃO

DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO COSMÉTICA CONTENDO CARREADORES LIPÍDICOS

NANOESTRUTURADOS À BASE DE MANTEIGA DE Ouratea sp.: UMA ESTRATÉGIA NANOTECNOLÓGICA PARA O

AUMENTO DA HIDRATAÇÃO CUTÂNEA

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas.

Orientador(a):

Profa. Dra. Rogéria de Souza Nunes

São Cristóvão

2015

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JULIANA GOUVEIA GALVÃO

DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO COSMÉTICA CONTENDO CARREADORES LIPÍDICOS

NANOESTRUTURADOS À BASE DE MANTEIGA DE Ouratea sp.: UMA ESTRATÉGIA NANOTECNOLÓGICA PARA O

AUMENTO DA HIDRATAÇÃO CUTÂNEA

Dissertação apresentada ao Núcleo de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal de Sergipe como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas.

Aprovada em: ___/____/_____

Orientador (a): ___________________________________________

1º Examinador (a): ________________________________________

2º Examinador (a): ________________________________________

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“Quem não sabe o que busca,

não identifica o que acha”

Immanuel Kant

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AGRADECIMENTOS

A Deus por estar sempre presente em minha vida e tornar

tudo possível.

Aos meus pais, Maria de Lourdes e Orlando, pelo amor

incondicional, ao meu irmão, Matheus, pelo apoio, carinho e por me

auxiliar sempre que precisei.

Ao meu namorado Tarcísio, por sempre estar presente, me

dando força para continuar, acreditando no meu potencial e por

diversas vezes entender minha ausência. Muito obrigada, amo vocÊ!

A minha querida orientadora, Dra. Rogéria de Souza Nunes,

que desde a graduação me concedeu a oportunidade de iniciar minha

caminhada científica. Muito obrigada pela confiança, dedicação,

amizade, compreensão, constância, valiosas sugestões e conselhos, bem

como pela oportunidade de crescimento e amadurecimento pessoal e

profissional. Com certeza você foi a pessoa mais importante para esta

conquista.

A Dill, Raquelzinha e Tai pela enorme ajuda nos trabalhos

experimentais, pelas sugestões valiosas de cada uma de vocês, assim

como pela amizade, carinho e companheirismo nas horas em que eu

mais precisei. Amo vocês!

A todos do laboratório de farmacotécnica da UFS, em

especial a Gaby, Joyce, Drika, Lícia, Rosangela, Vivi, Sarah, Adélia,

Alyne, Isabella, Micheline, Maiana, Layane e Dani. A vocês quero

agradecer pela colaboração, carinho, amizade, torcida e é claro, pela

companhia de vocês no laboratório durante todos esses anos. Obrigada

por tudo.

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Aos meus avôs e avós, que sempre rezaram a Deus para que

me iluminasse nessa caminhada.

Aos meus tios, primos e familiares que sempre estiveram por

perto e torcendo por mim.

Às grandes amizades que me acompanham em tudo, Gaby e

Adriano, sempre me apoiando e aconselhando, mesmo com a distância.

Amo vocês!!

Aos professores, Victor, Zaine, Adriano, Iara, Sócrates pelas

sugestões, colaborações e/ou disponibilidade de materiais,

equipamentos e laboratórios para a realização de alguns

experimentos.

A oportunidade de participar do I SAXS Workbench,

realizado no LNLS Campinas-SP. Em especial a Dra.Vesna Stanic por

todo aprendizado, bem como as colegas de curso, especialmente, Geise,

Isabel, Zildiany, Heloísa, Jéssica, Camila, Renata e Mariana.

A oportunidade de participar da 2° Escola de Verão de

colóides e superfícies, realizada na USP. Em especial a Profa. Dra.

Denise Petri, e Prof. Dr. Frank Quina, bem como a todos os monitores

que fizeram acontecer essa semana maravilhosa de conhecimentos

valiosos e a todos os colegas de curso, especialmente, Heloísa, Camila,

Amanda e Clarissa, pelas experiências e conhecimentos trocados

durante todo o curso.

A Capes, FAPERN pelo apoio financeiro.

A Raros Naturals por ceder a manteiga de Ouratea sp. para

o presente trabalho.

Enfim, a todos que de alguma forma, direta ou indiretamente,

contribuíram para a realização deste trabalho.

Muito Obrigada!

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RESUMO

Carreadores Lipídicos nanoestruturados (CLNs) têm sido desenvolvidos visando uma melhor hidratação cutânea. Devido ao seu reduzido tamanho de partícula, há formação de um filme sobre a pele o qual diminui a perda de água transepidermal, aumentando a hidratação. Neste contexto o objetivo deste trabalho foi desenvolver uma formulação contendo CLNs à base de manteiga de Ouratea sp. (Ochnaceae) como uma estratégia para o aumento do efeito oclusivo e da hidratação cutânea. Primeiramente foi realizada a caracterização das matérias-primas como, ácido esteárico (AE), Manteiga Ouratea sp.(MO), Phospholipon 90G® e suas misturas físicas utilizando Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), Termogravimetria (TG) e Difração de raios-X (DRX). Os CLNs foram preparados pelo método de difusão do solvente e avaliados por diâmetro médio de partícula, índice de polidispersão, potencial zeta, pH e condutividade. Os CLNs ainda foram caracterizados por DSC e DRX, Microscopia eletrônica de Transmissão (MET). Por fim, os CLNs foram incorporados no creme base e foram avaliados quanto ao comportamento reológico, efeito oclusivo e potencial hidratação cutânea in vitro. Através da caracterização das matérias-primas foi possível observar que a MF1 (AE + MO) 1:1 mostrou um pequeno deslocamento do ponto de fusão correspondente ao AE (57 a 50°C) e apresentou uma porção amorfa em ~ 20° nas análises de DRX. Essas observações podem ser atribuídas à diminuição da cristalinidade quando comparado com o lipídeo sólido puro, altamente ordenado. Com a adição do Phospholipon 90G® (MF2), o ponto de fusão foi deslocado para uma temperatura menor (57 a 34°C), e apresentou uma pronunciada porção amorfa em ~ 20° no DRX. Partindo do pressuposto que os CLNs devem se manter sólidos a temperatura ambiente e corpórea, é sugerida a utilização de uma menor proporção de Phospholipon® 90G nas formulações de CLNs. A partir da determinação da CMC do tensoativo SDS (8,02 mmol L-1) foi possível sugerir uma faixa de concentração de SDS nas preparações de CLNs. A formulação com a maior concentração de SDS (24 mmol L-

1) demonstrou o menor diâmetro de partícula (~ 240 nm), entretanto, não houve diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma diminuição nos valores de entalpia (ΔHCLN8 = 22,2; ΔHCLN10 = 23,2; ΔHCLN24 = 7,2 J/g) e também um aumento da largura do pico quando comparados com o AE puro (ΔHSA = 164,1). Além disso, as análises de DRX demonstraram que os CLNs apresentaram picos principais similares àqueles encontrados no AE (23,93°; 25,09°; 27,98°), porém com uma menor intensidade. Os resultados de MET confirmaram os dados de diâmetro médio de partícula dos CLNs (200 a 300 nm). Após a incorporação do CLN10 no creme base, foi possível observar um aumento no efeito oclusivo e na hidratação cutânea. Dessa forma os CLNs contendo manteiga de Ouratea sp. podem ser uma alternativa nanotecnológica atrativa para o aumento da hidratação cutânea.

Palavras-chave: carreadores lipídicos nanoestruturados; manteiga Ouratea sp.; efeito oclusivo, hidratação cutânea.

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ABSTRACT

Nanostructured lipid carriers (NLCs) have been developed in order to improve cutaneous hydration. Due to its ultrafine particle size it is possible a film formation on the skin which decreases transepidermal water loss, improving occlusive effect and hydration. In this context, the aim of this work was to develop a formulation containing NLCs based in Ouratea sp. butter (Ochnaceae) as a strategy to increase cutaneous hydration. Firstly, it was performed a characterization of the components such as, stearic acid (SA), Ouratea sp. butter (OB), Phospholipon 90G®, and its physical mixtures by Differential Scanning Calorimetry (DSC), Thermogravimetry (TG) and X ray Diffraction (XRD). The NLCs were prepared using the diffusion solvent method and evaluated for particle size, polidispersity index, zeta potential, pH and conductivity. Moreover, NLCs were characterized by DSC, XRD and Transmission electron microscopy (TEM). Finally, the NLCs were incorporated into a cream base and were evaluated for rheological behavior, occlusive effect and potential cutaneous hydration in vitro. From the raw materials characterization was possible to observe in which the PM1 (SA + OB) 1:1 showed a slightly shift of the melting point corresponding to SA (57 to 50°C) and presented an amorphous portion at ~ 20° in the XRD analysis. These observations could be attributed to a decrease of crystallinity when compared with solid lipid pure, highly ordered. With the addition of Phospholipon® 90G (PM2), the melting point was highly shifted to lower temperature (57 to 34°C), and presented a pronounced amorphous at ~ 20° in XRD. Since the NLCs need to remain solid at room and body temperature, it is suggested that using a lower proportion of the Phospholipon® 90G in NLCs formulations. From the CMC determination of SDS surfactant (8,02 mmol L-1) was possible to suggest a range concentration of the SDS in the NLCs preparations. The formulation with the highest SDS concentration (24 mmol L-1) demonstrated the lowest size particle (~ 240 nm), however there were no difference in the zeta potential over formulation that using 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). The NLCs presented a decrease in the enthalpy (ΔHNLC8 = 22.2, ΔHNLC10 = 23.2, ΔHNLC24 = 7.2 J/g) and also an increase in the width peak when compared with solid lipid SA pure (ΔHSA = 164.1). In addition, the XRD analysis demonstrated that NLCs presented main peaks both formulations are similar to those found in the SA (23.93°, 25.09°, 27.98°), but with a lower intensity. These observations suggest a lipid matrix less ordered which result in NLC formation. TEM results confirmed previous data related to NLCs particle size (200 to 300 nm). After the incorporation of the NLC10 into a cream base, it was possible to observe an increase in the occlusive effect and potential cutaneous hydration. Therefore, NLCs containing Ouratea sp. butter can be an attractive nanotechnology way to increase cutaneous hydration.

Keywords: Nanostructured lipid carriers; Ouratea sp. butter; occlusive effect; cutaneous hydration.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Representação gráfica da estrutura da pele. ............................................ 19

Figura 2: Representação gráfica do teor de água (%) aproximado nas camadas da

pele. .......................................................................................................................... 21

Figura 3: Representação gráfica da espécie Ouratea sp. ........................................ 29

Figura 4: Representação gráfica da manteiga extraída das sementes da

espécie Ouratea sp. .................................................................................................. 30

Figura 5: Representação gráfica do funcionamento de um homogeneizador à alta

pressão. .................................................................................................................... 36

Figura 6: O efeito oclusivo de CLNs depende de vários fatores, tais como

quantidade de lipídeo utilizada, tamanho de partícula, entre outros. ........................ 43

Figura 7: Curva de DSC do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico recristalizado (AE

rec.) analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento 10°C

min-1 na faixa de temperatura de 25 a 200 °C. .......................................................... 55

Figura 8: Curva de DSC do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea sp.(MO);

Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1); Mistura física de

ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2); analisadas em

atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento 10°C min-1 na faixa de

temperatura de 25 a 200 °C. ..................................................................................... 56

Figura 9: Curva de TG/DTG do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico recristalizado

(AE rec.) analisadas em atmosfera de N2 (100 mL.min-1), com razão de aquecimento

10°C.min-1 na faixa de temperatura de 25 a 800 °C. ................................................. 57

Figura 10: Curva de TG/DTG do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea sp.(MO);

Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1); Mistura física de

ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2); analisadas em

atmosfera de N2 (100 mL min-1), com taxa de aquecimento 10°C min-1 na faixa de

temperatura de 25 a 800 °C. ..................................................................................... 58

Figura 11: Difratograma de raios-X do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico

recristalizado (AE rec.) na faixa de 10 a 80°. ............................................................ 59

Figura 12: Difratograma de raios-X do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea

sp.(MO); Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1);

Misturafísica de ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2);

na faixa de 10 a 80°. ................................................................................................. 60

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Figura 13: Variação da condutividade elétrica em função da concentração de SDS

adicionado em água a 25°C. ..................................................................................... 61

Figura 14: Variação do diâmetro médio de partícula e IPD (índice de polidispersão)

em função do tempo de sonicação nas preparações das formulações CLN8, CLN10

e CLN24. ................................................................................................................... 62

Figura 15: Variação do potencial zeta em função do tempo de sonicação nas

preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. ............................................ 63

Figura 16: Variação do pH e da condutividade em função do tempo de sonicação

nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. ..................................... 64

Figura 17: Variação do diâmetro médio de partícula e IPD (índice de polidispersão)

em função da concentração de SDS utilizado nas preparações das formulações

CLN8, CLN10 e CLN24. ............................................................................................ 65

Figura 18: Variação do potencial zeta em função da concentração de SDS utilizado

nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. ..................................... 66

Figura 19: Variação do pH e da condutividade em função da concentração de SDS

utilizado nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. ....................... 66

Figura 20: Curva DSC do lipídeo sólido ácido esteárico (AE), CLNs obtidos

utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10 mmol L-1

(CLN10) e 24 mmol L-1, analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de

aquecimento 10°C min-1 na faixa de temperatura de 25 a 85 °C. ............................. 68

Figura 21: Difração de raios X (DRX) do lipídeo sólido ácido esteárico (AE), CLNs

obtidos utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10 mmol

L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1. ........................................................................................ 70

Figura 22: Fotomicrografias obtidos a partir de microscopia eletrônica de

transmissão (x10.000) dos CLNs: CLN8 (a), CLN10(b), CLN24(c). .......................... 70

Figura 23: Módulo de armazenagem (G’) e módulo de perda (G’’) em função da

frequência referente às amostras de creme base e com CLN (25°C). ...................... 71

Figura 24: Viscosidade complexa (η*) em função da frequência referente às

amostras de creme base e com CLN (25°C). ............................................................ 72

Figura 25: Fator de oclusão (%) do CLN10, do creme base e do creme contendo

CLN10 em função do tempo (h) 6, 24 e 48h realizados a 30°C ± 2 mimetizando a

temperatura da pele. ................................................................................................. 73

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Exemplos de lipídeos e tensoativos utilizados no desenvolvimento de

carreadores lipídicos nanoestruturados (CLNs). ....................................................... 25

Tabela 2: Exemplos típicos de tensoativos e sua classificação. ............................... 31

Tabela 3: Composição dos carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN): ácido

esteárico (AE), Manteiga Ouratea sp. (MO), Phospholipon® 90G (PH), Dodecil

Sulfato de Sódio (SDS) e os tempos de ultrassom que as formulações foram

submetidas. ............................................................................................................... 49

Tabela 4: Dados de perda de massa (Δm%), intervalo de temperatura (ΔT/°C), e

Tpico DTG obtidos a partir das curvas TG/DTG das amostras AE, MO, MF1 e MF2. . 59

Tabela 5: Dados do DSC de Tonset, Tpico de fusão, entalpia (ΔH) e índice de

cristalinidade (IC%) dos CLNs obtidos utilizando concentração de tensoativo de 8

mmol L-1 (CLN8), 10 mmol L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1. ............................................. 69

Tabela 6: Avaliação da hidratação do modelo estrato córneo tratado e não tratado

com CLN10, creme base e creme contendo CLNs através do DSC. ........................ 74

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LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1: Fator de oclusão .................................................................................... 52

Equação 2: Índice de cristalinidade (IC%) ................................................................ 68

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LISTA DE ABREVIATURAS

CLNs: Carreadores Lipídicos Nanoestruturados

NLS: Nanopartículas Lipídicas Sólidas

AE: Ácido esteárico

AE rec.: Ácido esteárico após processo de recristalização

MO: Manteiga de Ouratea sp.

SDS: Dodecil sulfato de sódio

CMC: Concentração Micelar Crítica

CLN8: Carreador Lipídico Nanoestruturado obtido utilizando concentração de

tensoativo de 8 mmol L-1

CLN10: Carreador Lipídico Nanoestruturado obtido utilizando concentração de

tensoativo de 10 mmol L-1

CLN24: Carreador Lipídico Nanoestruturado obtido utilizando concentração de

tensoativo de 24 mmol L-1.

MF1: Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp.

MF2: Mistura física de ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G

DSC: Calorimetria Exploratória Diferencial

DRX: Difração de raios X

TG: Termogravimetria

DTG: Termogravimetria Derivada

HAP: Homogeneização a alta pressão

IPD: Índice de polidispersão

DLS: Espalhamento de luz dinâmico

MET: Microscopia Eletrônica de Transmissão

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 19

2.1 Pele .................................................................................................................. 19

2.2 Nanopartículas Lipídicas: Carreadores Lipídicos Nanoestruturados ................ 23

2.2.1 Principais componentes utilizados na preparação de CLNs ...................... 24

2.2.1.1 Lipídeos ............................................................................................... 26

2.2.1.2 Lipídeos sólidos ................................................................................... 26

2.2.1.3 Lipídeos líquidos .................................................................................. 28

2.2.1.4 Manteiga Ouratea sp. .......................................................................... 29

2.2.1.5 Tensoativos ......................................................................................... 31

2.2.2 Principais Métodos de Preparação de CLNs ............................................. 36

2.2.2.1 Homogeneização à alta pressão (HAP)............................................... 36

2.2.2.2 Método de difusão do solvente ............................................................ 37

2.2.3 Técnicas para caracterização de CLNs ..................................................... 39

2.2.4 Aplicações de CLNs ................................................................................... 41

2.3 Técnicas para avaliação da hidratação in vitro ................................................ 43

3 OBJETIVOS ........................................................................................................... 46

3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 46

3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 46

4 METODOLOGIA .................................................................................................... 47

4.1 Caracterização das matérias-primas ................................................................ 47

4.1.1 Estudo de interação entre os componentes da mistura lipídica ................. 47

4.1.1.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) ........................................ 47

4.1.1.2 Termogravimetria (TG) ........................................................................ 48

4.1.1.3 Difração de raios X (DRX) ................................................................... 48

4.1.2 Determinação da CMC do SDS através de medidas de condutividade

elétrica ................................................................................................................ 48

4.2 Preparação dos CLNs pelo método de difusão do solvente ............................ 48

4.3 Caracterização das dispersões de CLNs ......................................................... 50

4.3.1 Diâmetro médio de partícula, índice de polidispersão e potencial zeta ..... 50

4.3.2 pH e condutividade .................................................................................... 50

4.3.3 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) ........................................... 50

4.3.4 Difração de raios - X (DRX) .................................................................... 50

4.3.5 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) ......................................... 51

4.4 Preparação e incorporação do CLN em creme base ....................................... 51

4.4.1 Comportamento reológico .......................................................................... 51

4.4.2 Efeito oclusivo ............................................................................................ 52

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4.4.3 Estudo de interação com modelo de estrato córneo e avaliação da

hidratação ........................................................................................................... 53

4.5 Análise Estatística ............................................................................................ 53

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 54

5.1 Caracterização das matérias-primas ................................................................ 54

5.1.1 Estudo de interação entre os componentes da mistura lipídica ................. 54

5.1.1.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) ........................................ 54

5.1.1.2 Termogravimetria (TG) ........................................................................ 56

5.1.1.3 Difração de raios-X .............................................................................. 59

5.1.2 Determinação da CMC do SDS através de medidas de condutividade

elétrica ................................................................................................................ 61

5.2 Caracterização dos CLNs ................................................................................ 62

5.2.1 Influência do método de obtenção nos parâmetros de diâmetro médio de

partícula, potencial zeta e propriedades físico-químicas .................................... 62

5.2.2 Influência da concentração do tensoativo SDS nos parâmetros de diâmetro

médio de partícula, potencial zeta e propriedades físico-químicas ..................... 64

5.2.3 Calorimetria exploratória diferencial (DSC) ................................................ 67

5.2.4 Difração de raios X (DRX) ......................................................................... 69

5.2.5 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET) ......................................... 70

5.3 Caracterização do creme base e creme contendo CLN ................................... 70

5.3.1 Comportamento reológico .......................................................................... 71

5.3.2 Efeito oclusivo ............................................................................................ 72

5.3.3 Estudo de interação com modelo de estrato córneo e avaliação da

hidratação ........................................................................................................... 73

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 75

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76

APÊNDICE A – RESUMO ACEITO E CONVIDADO PARA APRESENTAÇÃO ORAL NO IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ANÁLISE TÉRMICA E CALORIMETRIA (SERRA NEGRA-2014) ................................................................ 86

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1 INTRODUÇÃO

A indústria cosmética tem evidenciado uma clara tendência, a partir da

década de 1990, em desenvolver produtos mais eficazes. A eficácia de qualquer

produto contendo um ingrediente funcional é determinada por dois fatores: a

atividade intrínseca da molécula ativa, assim como a ativação ou liberação desta

molécula no seu sítio de ação (ROSSAN, 2011; WIECHERS, 2008).

O desenvolvimento de formulações contendo partículas ou carreadores

lípidicos de dimensões nanométricas possibilita que esta funcionalidade seja

atingida, estando cada vez mais presente nos produtos cosméticos. Dessa forma,

um nanocosmético pode ser definido como uma formulação que veicula ativos ou

outros ingredientes nanoestruturados e que apresenta propriedades superiores

quanto a sua performance em comparação com produtos convencionais

(FRONZA et al., 2007).

Na última década, as nanopartículas lipídicas começaram a ser utilizadas

em formulações tópicas, não apenas para produtos farmacêuticos, mas também

para produtos cosméticos. Além das vantagens das nanopartículas lipídicas como

sistemas carreadores, outro atrativo é que o “time-to-market”, ou seja o tempo de

desenvolvimento do produto até chegar ao mercado é muito curto para produtos

com finalidade cosmética (PARTIDAR et al., 2010)

Na segunda geração de nanopartículas lipídicas surgiram os denominados

carreadores lipídicos nanoestruturados (CLNs) que consistem de partículas

obtidas através de uma mistura de lipídeo sólido e lipídeo líquido ou semissólido,

permanecendo sólidos à temperatura ambiente e corporal (MÜLLER et al., 2007).

O interesse pelo uso de CLNs inclui a proteção contra a degradação

química de substâncias lábeis, controle da liberação de substâncias, aumento da

estabilidade de fármacos, baixa toxicidade, fácil esterilização e transposição em

larga escala, biocompatibilidade, além da formação de filmes sobre a pele

demonstrando propriedades oclusivas e hidratantes (GUTERRES; ALVES;

POHLMANN, 2007; MÜLLER; MÄDER; GOHLA 2000; MEHNERT; MÄDER, 2012;

PARTIDAR et al., 2010).

Os principais componentes utilizados no desenvolvimento de CLNs são

lipídeos como triglicerídeos, misturas glicerídicas e ceras, além dos tensoativos

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utilizados para a estabilização da dispersão (TAMJIDI et al., 2013). Também

pertencente à classe de lipídeos, as manteigas (gorduras) usualmente

apresentam uma ação hidratante/emoliente, conferindo um efeito de suavidade à

pele (DALLARMI et al., 2012; LEAL et al., 2013).

A busca por matérias-primas inéditas de origem natural pela indústria

farmacêutica e cosmética vem se intensificando ao longo das décadas (DUBER-

SMITH et al., 2012). Recentemente observou-se no interior do Rio Grande do

Norte, a utilização por populares das sementes de uma árvore da espécie

Ouratea sp., que após um processamento rudimentar de extração obtinha-se uma

manteiga, utilizada para alimentação. Essa é composta predominantemente por

gorduras insaturadas e saturadas, e entre essas gorduras encontram-se os ácidos

graxos essenciais de maior porcentagem, como por exemplo, o ácido oleico,

palmítico e o ácido linoleico. Dentre suas funções os ácidos graxos essenciais,

podem atuar como potencial emoliente, o qual melhora a função barreira do

estrato córneo, impedindo a perda transepidermal de água, aumentando a

hidratação (FERNANDES, 2008; SUZART et al., 2007; BOOCK, 2007).

Demonstrando que a manteiga Ouratea sp. pode ser uma matéria-prima lipídica

em potencial no desenvolvimento de nanocosméticos.

De um modo geral, a redução da perda de água transepidermal ocorre em

consequência de uma oclusão eficiente da pele. Em 2013, Loo e colaboradores

avaliaram o efeito dos CLNs na hidratação da pele e oclusão in vivo. Após 7 dias

de tratamento, obtiveram um aumento na hidratação da pele em torno de 40-50%.

Contudo, a dispersão de CLNs apresenta baixa viscosidade, sendo este

um inconveniente para o seu uso na pele. Por isso, geralmente os CLNs são

incorporados em géis ou cremes para facilitar sua aplicação sobre a pele

(KHURANA; JAIN; BEDI, 2013).

Dessa forma, esse trabalho consiste no desenvolvimento de uma

formulação cosmética hidratante contendo CLNs que foram preparados pelo

método de difusão do solvente; utilizando como lipídeos sólido o ácido esteárico,

e como lipídeo semissólido a manteiga Ouratea sp..

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19

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 Pele

A pele é o maior órgão do corpo humano, com aproximadamente 2 m² de

superfície (Figura 1). Ela desempenha importantes funções de barreira entre o

ambiente exterior e interior do corpo, proteção contra agressões externas,

proteção contra a radiação ultravioleta, manutenção da temperatura corporal,

além de função sensorial, imunológica, entre outras (DRÉNO, 2009).

Morfologicamente, a pele é constituída por uma camada superficial, a

epiderme, que adere estreitamente à camada mais profunda, a derme (VENUS et

al., 2010; POWELL, 2006).

Figura 1: Representação gráfica da estrutura da pele. Fonte: Brighter looks (http://www.brighterlooks.com/how-it-works/).

A derme, a camada mais profunda da pele, é elástica, resistente e protege

o corpo contra danos mecânicos. É constituída por duas camadas de limites

pouco distintos: a papilar, mais externa, e a reticular, mais profunda (VENUS et

al., 2010). A camada papilar é delgada, constituída por tecido conjuntivo frouxo

que forma as papilas dérmicas. Já a camada reticular é mais espessa, constituída

por tecido conjuntivo denso. Ambas as camadas contêm muitas fibras do sistema

elástico, responsáveis, em parte, pela elasticidade da pele. Além dos vasos

sanguíneos e linfáticos, e das terminações nervosas, também são encontradas na

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derme as seguintes estruturas, derivadas da epiderme: folículos pilosos,

glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

A camada mais superficial da pele, a epiderme, pode ser dividida em cinco

estratos: estrato basal, estrato espinhoso, estrato granuloso, estrato lúcido e

estrato córneo.

O estrato basal é rico em células tronco (stem cells) da epiderme e por isso

é também chamada de germinativo. Apresenta intensa atividade mitótica, sendo

responsável, junto com a camada seguinte (estrato espinhoso), pela constante

renovação da epiderme. Calcula-se que a epiderme humana se renova a cada 15

a 30 dias, dependendo principalmente do local do corpo e da idade da pessoa. As

células da camada basal contêm filamentos intermediários de queratina, que vão

se tornando numerosos à medida que a célula avança para a superfície

(JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

O estrato espinhoso é constituído por células poliédricas, ligeiramente

achatadas, de núcleo central, citoplasma com curtas expansões que contêm

feixes de filamentos de queratina (tonofilamentos). Essas expansões

citoplasmáticas se aproximam e se mantêm unidas com as células vizinhas

através de desmossomos, o que confere a célula um aspecto espinhoso. Os

filamentos de queratina e os desmossomos têm importante papel na manutenção

da coesão entre as células da epiderme e na resistência do atrito

(VENUS et al., 2010).

O estrato granuloso é formado por queratinócitos que contêm grânulos

querato-hialina (VENUS et al., 2010). Esses grânulos se fundem com a

membrana plasmática e expulsam seu conteúdo para o espaço intercelular da

camada granulosa, onde o material lipídico se deposita contribuindo para formar

uma barreira contra a penetração de substâncias e tornar a pele impermeável à

água, impedindo a desidratação do organismo (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

O estrato lúcido é mais evidente na pele espessa e é constituído por uma

delgada camada de células achatadas, cujos núcleos e organelas citoplasmáticas

foram digeridos por enzimas dos lisossomos (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2004).

O estrato córneo é a camada mais externa da pele. É composta de células

achatadas, denominadas corneócitos, que migraram do estrato granuloso e

perderam seus núcleos e organelas citoplasmáticas. Dentre suas principais

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21

funções, o estrato córneo atua como uma barreira efetiva para a maioria dos

microorganismos, produtos químicos e fluidos, embora seja permeável a algumas

substâncias (tratamentos tópicos). Além disso, essa camada da pele protege o

organismo contra a perda excessiva de fluidos (VENUS et al., 2010; POWELL,

2006). Na camada córnea são encontrados os fatores naturais de hidratação

(NMF - Natural Moisturizing Factor), que são formados por aminoácidos (ou seus

derivados), ácido lático, ureia, citrato e açúcares, e atuam como eficientes

umectantes, absorvendo a umidade presente na atmosfera e dissolvendo a

própria água de hidratação, produzida na pele (RAWLINGS; HARDING, 2004).

A água é um dos principais constituintes endógenos, conferindo

plasticidade e elasticidade às camadas superiores da pele. Sabe-se que o

conteúdo de água da pele é elevado na epiderme viável (mais que 70%) e cai

bruscamente na junção entre o estrato córneo e estrato granuloso (15-30%)

(Figura 2). Essa área, também denominada junção córneo-epidermal, é

fundamental no isolamento do estrato córneo do resto do organismo, ajudando a

conservar a água na epiderme viável. Portanto a hidratação da pele é essencial

para sua aparência, proteção, suavidade, e reforço de suas propriedades de

barreira contra fatores ambientais exógenos (BONTÉ, 2011).

Figura 2: Representação gráfica do teor de água (%) aproximado nas camadas da pele.

Fonte: BONTÉ, 2011 Adaptado.

Por muito tempo a hidratação da pele foi relacionada apenas à presença de

agentes higroscópicos naturais localizados dentro dos corneócitos: o fator natural

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de hidratação (NMF - Natural Moisturizing Factor). O NMF é uma mistura de

moléculas higroscópicas que, pela ligação com moléculas de água, ajuda na

hidratação no interior dos corneócitos, mantendo o estrato córneo hidratado e

aumentando sua plasticidade (BONTÉ, 2011). Ele constitui em torno de 20 a 30%

do peso seco do estrato córneo, e é encontrado tanto no meio intracelular como

no extracelular. Seus principais constituintes são aminoácidos básicos e seus

derivados, como ácidos carboxílicos (PCAs), lactatos, carboidratos e ureia, que

compreendem até 50% do seu peso total (BAREL; PAYE; MAIBACH, 2009;

RAWLINGS; HARDING, 2004).

Também contribui para função barreira e de hidratação da pele as junções

oclusivas presentes no estrato granuloso da epiderme. Outra recente descoberta

é a existência de proteínas transportadoras de água na epiderme viável, as

aquaporinas (AQP-3), as quais são reforçadas pela presença das junções

oclusivas. Estas formam um circuito entre a base da epiderme e o estrato córneo

a fim de manter o teor de água constante (BONTÉ, 2011). Então, a função básica

dos NMFs, das junções oclusivas e das aquaporinas, é elevar o conteúdo de água

da epiderme e retardar sua perda para o ambiente (VIEIRA, 2008).

A maioria dos produtos cosméticos que visam o aumento da hidratação da

pele atuam principalmente aumentando o conteúdo de água do estrato córneo.

Para isso empregam-se substâncias umectantes, emolientes e oclusivas na

formulação cosmética. As substâncias umectantes são materiais com alta

capacidade de absorção de água do meio ambiente e da camada da epiderme

subjacente. Entretanto, em condições de baixa umidade no ambiente, os

umectantes podem retirar a água da epiderme profunda e da derme, resultando

no ressecamento da pele. Por esse motivo, os umectantes geralmente são

empregados em combinação com substâncias oclusivas. (VIEIRA, 2008;

BAUMANN, 2009). As substâncias oclusivas, por sua vez, são usualmente

substâncias oleosas e atuam revestindo o estrato córneo, reduzindo a perda de

água transepidermal (TEWL). Já as substâncias emolientes conferem maciez e

suavidade à pele, pois preenchem os espaços entre os corneócitos descamados

resultando em uma superfície lisa. (BAREL; PAYE, MAIBACH, 2009; BAUMANN,

2009).

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Dentre as substâncias umectantes, as mais utilizadas são o glicerol, o

sorbitol, o hialuronato sódico, a ureia, o propilenoglicol, os alfa-hidroxiácidos, os

lactatos, os aminoácidos, e os polissacarídeos. Como emolientes, são

comumente utilizados em formulações cosméticas, a lanolina e estearatos. Os

agentes oclusivos por sua vez, são a melhor opção para tratar a pele seca, pois

atuam tanto como emolientes, assim como diminuem a TEWL. Dentre eles, se

destacam o óleo mineral e a vaselina, a parafina, esqualeno, óleo de soja, óleo de

semente de uva, lanolina, ceras (cera de abelha e cera de carnaúba) e manteigas

(manteiga de karité) (VIEIRA, 2008; BAUMANN, 2009).

2.2 Nanopartículas Lipídicas: Carreadores Lipídicos Nanoestruturados

Comparado a outros sistemas como lipossomas e emulsões, partículas

sólidas apresentam algumas vantagens, como por exemplo, a proteção de ativos

incorporados contra a degradação e maior flexibilidade na liberação destes ativos.

As vantagens de formulações de lipossomas e emulsões são que elas são

formadas por excipientes bem tolerados e que podem ser facilmente produzidos

em larga escala a depender do processamento, sendo estes pré-requisitos para

que o produto seja introduzido no mercado. No início dos anos 1990, as

vantagens de partículas sólidas, emulsões e lipossomas foram combinadas

através do desenvolvimento de “nanopartículas lipídicas sólidas” (NLS). As NLS

foram preparadas pela simples troca do lipídeo líquido (óleo), das emulsões, pelo

lipídeo sólido.

A maioria dos trabalhos publicados na década de 90 relacionados a NLS

eram focados exclusivamente em aplicações farmacêuticas, principalmente em

rotas de administração oral e parenteral. Entretanto na última década, as NLS

começaram a ser utilizadas em formulações tópicas, não apenas para produtos

farmacêuticos, mas também para produtos cosméticos. Além das vantagens das

NLS como sistemas carreadores, outro atrativo é que o tempo para chegar ao

mercado é muito curto para esses produtos (PARTIDAR et al., 2010).

Na segunda geração de nanopartículas lipídicas, denominadas

carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN), as partículas são obtidas através

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de uma mistura de lipídeo sólido e lipídeo líquido ou semissólido, sendo estes

sólidos a temperatura ambiente e corporal (MÜLLER et al., 2007).

A finalidade dos CLNs é a obtenção de partículas nas quais o óleo ou

gordura (lipídeo líquido ou lipídeo semissólido) é incorporado no lipídeo sólido.

Isso aumenta a capacidade de incorporação do ativo, pois este possui uma maior

afinidade pelo óleo do que pelo lipídeo sólido (TAMJIDI et al., 2013). A mistura de

lipídeos nos CLNs retarda a transição polimórfica e diminui o índice de

cristalinidade. Isso se deve principalmente à uma menor organização dos cristais,

aumentando a estabilidade do sistema (MARCATO, 2009; MÜLLER et al., 2007;

MÜLLER et al., 2000).

As principais vantagens desses sistemas do tipo CLNs incluem a proteção

contra a degradação química de substâncias lábeis, o controle da liberação de

substâncias devido ao estado sólido da matriz lipídica, o aumento da estabilidade

de fármacos, a ausência de toxicidade, fácil esterilização e transposição para

larga escala, biocompatibilidade, e a formação de filmes sobre a pele

demonstrando propriedades oclusivas (GUTERRES; ALVES; POHLMANN, 2007;

MÜLLER; MÄDER; GOHLA, 2000; MEHNERT; MÄDER, 2012; PARTIDAR et al.,

2010).

Além disso, os CLNs facilitam o contato de substâncias ativas com o

estrato córneo, devido ao seu reduzido tamanho de partícula, e,

consequentemente à elevada área de superfície, contribuindo para uma alta

permeação de substâncias carreadas através da pele viável (GUTERRES;

ALVES; POHLMANN, 2007).

Os CLNs apresentam algumas desvantagens, tais como, presença

simultânea de estruturas coloidais alternativas (micelas, lipossomas e nano

cristais de droga), e transições polimórficas. Estas podem ser prevenidas ou

evitadas, através da escolha adequada e concentração dos componentes

(lipídeos e tensoativos) utilizados (GUTERRES; ALVES; POHLMANN, 2007;

MEHNERT; MÄDER, 2012; PARTIDAR et al., 2010).

2.2.1 Principais componentes utilizados na preparação de CLNs

Os exemplos de principais componentes utilizados na preparação de CLNs

estão sumarizados na Tabela 1.

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Tabela 1: Exemplos de lipídeos e tensoativos utilizados no desenvolvimento de carreadores lipídicos nanoestruturados (CLNs).

Componentes Exemplos Referências

Lipídeo sólido Ácido esteárico

HU et al. 2005; GUO et al.,

2012

Triestearina SALIMEN et al., 2014

Monoestearato de

glicerila HU et al. 2006

Precirol ATO 5 PUGLIA et al., 2012

Compritol 888 ATO CIRRI et al., 2012; BOSE;

MICHNIAK, 2013

Palmitato de cetila WISSING; MÜLLER, 2003

Cera de abelha TAN et al., 2010

Cera de carnaúba VILLALOBOS-HERNANDEZ; MÜLLER-GOYMANN, 2005;

MITRI et al., 2011

Lipídeo Semissólido

ou líquido Ácido oleico

BOSE; MICHNIAK, 2013;

HU et al., 2005

Miglyol 812

CIRRI et al., 2012; PUGLIA et

al., 2012

Manteiga de karité

(Shea butter)

RAFFIN et al., 2012;

WISSING; MÜLLER, 2003

Manteiga de cacau

(Cocoa butter)

TAN et al., 2010

Tensoativos Dodecil Sulfato de sódio

(SDS)

HU et al., 2005;; TAN et al.,

2010; LEONARDI et al., 2014

Colato de sódio TAN et al., 2010

Polissorbato 80 LEONARDI et al., 2014

Álcool Polivinílico (PVA) VITORINO et al., 2014

Poloxamer 188 TSAI et al., 2012

Lecitinas

GUO et al., 2012; LI;GE, 2012

LOO et al., 2013;

TSAI et al., 2012

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26

No desenvolvimento de CLNs geralmente são utilizados lipídeos sólidos,

semissólidos ou líquidos, tensoativos e água. Dentre os lipídeos empregados,

incluem: triglicerídeos (ex. triestearina), ácidos graxos (ex. ácido esteárico) e

ceras (ex. palmitato de cetila). Uma vantagem da utilização de lipídeos como

matriz dos CLNs, é que eles são biocompatíveis, diminuindo assim os riscos de

toxicidade quando aplicados no organismo.

Para estabilizar a dispersão lipídica os tensoativos ou uma combinação

entre eles são utilizados para prevenir de forma eficiente a aglomeração entre as

partículas. A escolha do tensoativo depende da rota de administração e é mais

limitada para administração parenteral (MEHNERT; MÄDER, 2012).

2.2.1.1 Lipídeos

A seleção de uma mistura lipídica é uma etapa crucial para a produção de

CLNs com características físico-químicas adequadas para sua aplicação. Têm

sido reportado que a mistura lipídica tem um significante impacto na estabilidade

química de substâncias bioativas (MITRI et al., 2011; MÜLLER et al., 2002).

Na seleção dos lipídeos utilizados para o desenvolvimento de CLNs é

necessário considerar a compatibilidade do lipídeo sólido com o líquido, ou seja,

deve ocorrer a miscibilidade entre eles. Kasongo e colaboradores (2011)

utilizaram a Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e um papel hidrofílico para

determinar a miscibilidade entre lipídeos sólido e líquido. Também deve ser

considerada a estabilidade em relação a degradação química (oxidação e lipólise)

da fase lipídica. Além disso, os lipídeos devem ser biodegradáveis, não tóxicos e

capazes de produzir partículas na escala nanométrica (DOKTOROVOVÁ et al.,

2010; MÜLLER; MÄDER; GOHLA, 2000).

2.2.1.2 Lipídeos sólidos

Dentre os lipídeos sólidos mais utilizados na produção de CLNs estão o

ácido esteárico, ácido palmítico, monoestearato de glicerila, palmitoestearato de

glicerila (Precirol ATO 5®), behenato de glicerila (Compritol 888 ATO®), palmitato

de cetila, cera de abelha, cera de carnaúba (Tabela 2). Esses lipídeos são

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27

aprovados como GRAS (Generally Recognized as Safe) pelo órgão americano

FDA. Abaixo estão descritos alguns destes principais lipídeos:

Behenato de glicerila consiste principalmente de diacilgliceróis de ácido

behênico e variáveis quantidades de mono- e tri-acilgliceróis. Esse lipídeo é

largamente utilizado em produtos cosméticos, formulações farmacêuticas de uso

oral e em alimentos. A partir do behenato de glicerila é possível obter CLNs com

elevadas eficiências de encapsulação e estabilidade (CASTRO et al., 2007).

Segundo Chawla e Saraf (2011) essa elevada eficiência de encapsulação pode

ser atribuída à presença de muitas imperfeições na matriz cristalina do lipídeo.

Palmitoestearato de glicerila consiste de uma mistura de mono-, di-, e

triacilgliceróis dos ácidos graxos palmítico e esteárico. Esse lipídeo sólido tem

sido estudado para liberação controlada de fármacos (VIVEK; REDDY; MURTHY,

2007).

Monoestearato de glicerila é largamente utilizado em formulações

cosméticas, farmacêuticas e alimentícias. Esse lipídeo é considerado não-tóxico e

não irritante, e também é utilizado como emulsificante estabilizador não-iônico,

emoliente, e plastificante em variados produtos cosméticos, farmacêuticos e

alimentícios (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).

A farmacopeia americana (USP) descreve ceras de éster cetílico como

misturas de ésteres de álcoois graxos saturados e ácidos graxos saturados (C14-

C18). Dentre as ceras de éster cetílico, o palmitato de cetila não é permitido para

aplicação em alimentos. Entretanto, outras ceras de origem natural, como ceras

de abelha e carnaúba são aprovadas como GRAS e podem ser utilizadas em

formulações de CLNs para uso cosmético, farmacêutico e alimentício (TAMJIDI,

et al., 2013).

O ácido esteárico é um ácido graxo endógeno de longa cadeia e um dos

principais componentes lipídicos de origem animal e vegetal, o qual o torna

biocompatível e com uma menor toxicidade que os demais sintetizados

(FUNDARO et al., 2000). Além disso, apresenta um ponto de fusão (~60°C),

acima da temperatura corporal e é largamente utilizado em formulações

farmacêuticas de uso oral e tópico e em produtos cosméticos e alimentícios

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(ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009). O ácido esteárico é aprovado como GRAS

pelo FDA.

2.2.1.3 Lipídeos líquidos

Os lipídeos líquidos mais utilizados na produção de CLNs são os

Triglicerídeos de Cadeia Média (TCM), ácido oleico e óleos naturais.

Os TCM consistem de uma classe de lipídeos saturados compostos

majoritariamente de ácidos graxos caprílico (50-80%) e cáprico (20-50%) e em

menor quantidade dos ácidos graxos capróico (≤ 2%), láurico (≤ 3%) e mirístico (≤

1%), eles solidificam a ~ 0°C e apresentam baixa viscosidade (28-32 mPa.s a

20°C). Tem sido utilizados em uma variedade de formulações de uso oral,

parenteral, e tópica, além de produtos cosméticos. As vantagens da utilização de

TCM em formulações farmacêuticas incluem: favorecimento a espalhabilidade na

pele, não impedimento da respiração da pele, emoliência, não apresenta filme

visível na superfície da pele, biocompatibilidade, boa estabilidade contra oxidação

e geralmente são considerados materiais não-tóxicos e não-irritantes (listados

como GRAS pelo FDA). Um dos principais exemplos de TCM utilizados na

produção de CLN é o Mygliol 812 (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).

Outro lipídeo líquido bastante utilizado na produção de CLN é o ácido

oleico (ácido cis-9-octadecenóico), o qual é constituinte de vários lipídeos

naturais. É inodoro e geralmente é obtido pela hidrólise de lipídeos animais e

vegetais (ex. óleo de oliva) seguido pela separação dos ácidos graxos. Possui

baixa viscosidade (~ 26 mPa.s a 25°C) e solidifica a 4°C e é utilizado em

formulações farmacêuticas e cosméticas, além de contribuir na promoção da

saúde. Contudo, o ácido oleico é susceptível a oxidação, e por isso pode gerar

radicais livres que por sua vez podem sensibilizar o composto bioativo

encapsulado no CLN (LOPEZ-HUERTAS, 2010).

Óleos naturais como óleo de milho, de soja, de girassol, além de manteiga

de karité (shea butter) e manteiga de cacau (cocoa butter) também tem sido

utilizados na produção de CLN. Esses lipídeos podem conter antioxidantes em

sua composição, como por exemplo, o tocoferol do óleo de milho (CARVALHO et

al., 2013; VALLS et al., 2003). Além disso, são alternativas com um custo menor

que os TCM e o ácido oleico, além do valor agregado atribuído a produtos

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naturais. Além disso, os óleos e manteigas naturais usualmente apresentam uma

ação hidratante emoliente, conferindo um efeito de suavidade à pele. Essas

características as tornam potenciais matérias-primas na produção de cosméticos

(POLEZEL, 2006).

A busca por matérias-primas inéditas de origem natural pela indústria

farmacêutica e cosmética vem se intensificando ao longo das décadas.

Recentemente observou-se no interior do Rio Grande do Norte, a utilização por

populares das sementes de uma árvore da espécie Ouratea sp., que após um

processamento rudimentar de extração obtinha-se uma cera, utilizada para

alimentação.

2.2.1.4 Manteiga Ouratea sp.

A Ouratea sp. é uma espécie pertencente à família Ochnaceae que

compreende cerca de 28 gêneros e 400 espécies de ampla distribuição nas

regiões tropicais e subtropicais de todo o mundo (Figura 3). No Brasil, ocorrem

aproximadamente 9 gêneros totalizando 105 espécies (SUZART et al., 2007).

Figura 3: Representação gráfica da espécie Ouratea sp. Fonte: ÓLEO BATÍ (www.come-se.blogspot.com.br/2010/04/oleo-de-bati).

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O gênero Ouratea ocorre em todo o território nacional, destacando-se no

Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia e

Pernambuco. As espécies de Ouratea espalhadas pelo país recebem

designações específicas como Angelim (Ouratea vaccinoides), Caju Bravo

(Ouratea floribunda e Ouratea salicifolia) e Coração de Bugre (Ouratea parviflora)

(ARAÚJO, 2010).

As espécies de Ouratea são caracterizadas pelas flores geralmente

vistosas, frequentemente de coloração amarela, com desenvolvimento de frutos

entre fevereiro e março. As sementes da Ouratea sp. fornecem a “Manteiga

Ouratea sp.” (Figura 4), óleo adocicado e aromático, utilizado em conservas e

temperos. Nos estudos preliminares relacionados à caracterização química

(dados não publicados) foi identificada em sua composição a existência de ácidos

graxos essenciais como o ácido oleico, palmítico e o ácido linoleico, que dentre

suas muitas funções apresenta atividade anti-inflamatória e pode atuar como

coadjuvante no tratamento de doenças inflamatórias da pele, como psoríase e

eczema atópico, além da sua ação emoliente sobre a pele (FERNANDES, 2008;

SUZART et al., 2007; BOOCK, 2007). O que a torna matéria-prima lipídica em

potencial no desenvolvimento de nanocosméticos.

Figura 4: Representação gráfica da manteiga extraída das sementes da espécie Ouratea sp.

Fonte: ÓLEO BATÍ (www.come-se.blogspot.com.br/2010/04/oleo-de-bati).

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2.2.1.5 Tensoativos

Tensoativo ou surfactante (“surfactant” contração do termo “surface-active

agent”) consiste em substâncias anfifílicas, ou seja, possuem em sua molécula,

uma parte apolar (hidrofóbica) denomidada “cauda” e uma parte polar (hidrofílica)

denominada “cabeça”. Essa característica anfifílica fornece ao tensoativo a

propriedade de adsorver entre interfaces sólidas, líquidas ou gasosas e diminuir a

energia interfacial (FLORENCE; ATWOOD, 2003; SATO, 2011; DALTIN, 2011).

De modo geral, os tensoativos são classificados pela natureza do

grupamento hidrofílico em aniônicos, catiônicos, não-iônicos e zwiteriônicos. A

Tabela 2 mostra alguns exemplos típicos de tensoativos.

Tabela 2: Exemplos típicos de tensoativos e sua classificação.

Classificação Exemplos

Aniônicos

CH3(CH2)16COO- Na+ Estearato de sódio

CH3(CH2)11SO4- Na +

Dodecilsulfato de sódio

(SDS)

CH3(CH2)11 SO3- Na+

Dodecilbenzeno

sulfonato de sódio

(SDBS)

Catiônicos

NCH3(CH2)15

+

Cloreto de

hexadecilpiridínio

CH3(CH2)15 N+(CH3)3Br-

Brometo de cetiltrimetil

amônio (CTAB)

Não-iônicos CH3(CH2)15(CH2CH2O)20OH

Éter hexadecil (20)-

polioxietilênico (Brij

58®)

Anfotéricos

ou

Zwiteriônicos

C11H23CONH(CH2)3N+CH2CO2

-

Cocoamido

propilbetaína

(CAPB)

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Atualmente, os tensoativos aniônicos e não-iônicos correspondem aos

grupos de tensoativos mais consumidos, como detergentes, emulsionantes,

dispersantes e umectantes. Os catiônicos, geralmente possuem excelente

atividade germicida e são empregados em composições anti-sépticas e

desinfetantes de uso doméstico, industrial e hospitalar, além de serem

encontrados em formulações de amaciante de roupas e condicionadores de

cabelo. Porém são menos utilizados que os aniônicos e não-iônicos devido a sua

toxicidade e irritabilidade (FLORENCE; ATWOOD, 2003; SWARBRICK, 2007).

Os anfotéricos ou zwiteriônicos, por sua vez, possuem a característica de

baixo poder de irritação à pele e aos olhos e, portanto, apresentam uma

importante aplicação em formulações de xampus para cabelos e sabonetes para

a pele, principalmente em produtos para uso infantil. Uma desvantagem dessa

classe de tensoativos é o alto custo.

Quando os tensoativos são adicionados à água, eles tendem a se

posicionar na interface água-ar, em que teoricamente o grupamento hidrofílico

estará em contato com a água e o grupamento hidrofóbico se posiciona em

direção ao ar, para manter um estado mínimo de energia livre do sistema. À

medida que a concentração de tensoativo no meio for aumentada a interface

água-ar tenderá a saturação por moléculas de tensoativo. Ao atingir uma

concentração em que a interface esteja saturada, as moléculas no centro do

líquido (água), para manter um estado mínimo de energia livre, se auto-associam

formando estruturas coloidais denominadas micelas (DALTIN, 2011; FLORENCE;

ATWOOD, 2003; SATO, 2011). Essa concentração, por sua vez, é denominada

Concentração Micelar Crítica, a qual é detectável pela alteração de propriedades

físico-químicas do meio, tais como, condutividade elétrica, tensão superficial,

pressão osmótica, RMN, turbidez entre outras (MANIASSO, 2001).

Historicamente, a tensão superficial é uma dos parâmetros mais utilizados

para determinação da CMC de tensoativos. Diferentemente da técnica de

condutividade elétrica, que acompanha uma propriedade da solução, a tensão

superficial avalia uma propriedade da superfície, na interface ar-água (MODOLON

et al., 2009; MORAES; REZENDE, 2004).

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O valor da CMC depende da estrutura do tensoativo (tamanho da cadeia do

hidrocarboneto) e das condições experimentais (força iônica, contra-íons,

temperatura, entre outros). As micelas são termodinamicamente estáveis e

facilmente reprodutíveis, são destruídas pela diluição com água quando a

concentração do tensoativo ficar abaixo da CMC (MANIASSO, 2001).

A CMC é um dos parâmetros mais importantes para determinar a

concentração adequada de tensoativo que será utilizada em formulações

farmacêuticas e cosméticas (TADROS, 2005). No desenvolvimento de CLNs em

especial é requerida uma concentração de tensoativo ou do par de tensoativos

suficiente para diminuir a tensão superficial a um nível mínimo, fornecendo uma

estabilidade coloidal adequada (HEJRI et al., 2013). Entretanto, a concentração

de tensoativo ou do par de tensoativos utilizada na produção de CLNs não deverá

exceder muito além da CMC, a fim de evitar a presença de estruturas coloidais

alternativas (ex. micelas) na dispersão (MEHNERT; MÄDER, 2012). Além disso,

concentrações elevadas de tensoativos são indesejáveis devido a restrições em

produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos; assim como o alto custo

(SALIMEN et al., 2014).

Os tensoativos ou mistura de tensoativos influenciam diretamente nas

propriedades dos CLNs formados (LEONARDI et al., 2014). Segundo Han e

colaboradores (2008), durante a cristalização de partículas coloidais, como CLNs,

a área superficial aumenta significativamente, então o sistema pode tender a

instabilidade. Sendo assim, para obter CLNs com a estabilidade coloidal

adequada se faz necessário melhorar as propriedades de interface dos CLNs.

Para essa finalidade, vários tensoativos (ou associação entre eles) como: dodecil

sulfato de sódio (SDS), colato de sódio, polissorbato 80, álcool polivinílico (PVA),

Poloxamer 188, Lecitinas, entre outros, têm sido utilizados (Tabela 2).

Os tensoativos eletrostáticos (aniônicos ou catiônicos), como o SDS e o

colato de sódio fornecem um potencial elétrico favorável a estabilidade coloidal

dos CLNs (TAN et al., 2010).

O SDS é um tensoativo aniônico largamente utilizado em formulações

cosméticas e farmacêuticas. Possui um valor de Equilíbrio Hidrófilo-Lipófilo (EHL)

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de 40 e CMC de aproximadamente 8 mmol L-1. Pode ser encontrado em

formulações em shampoos medicamentosos, em produtos para limpeza de pele,

em produtos dentífricos, entre outros. Além disso, o SDS é listado como GRAS na

base de dados de excipientes inertes do FDA (21 CFR 172.822) para utilizações

não-parenterais (ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009).

Outro tensoativo aniônico utilizado na preparação de CLNs é o colato de

sódio. TAN e colaboradores (2010) obtiveram CLNs com uma melhor estabilidade

coloidal para os tensoativos SDS e colato de sódio, que atuam através de

repulsão eletrostática, se comparados aos não-iônicos que fornecem estabilidade

pelo impedimento estérico.

Os tensoativos mais utilizados na literatura na preparação de CLNs são os

da classe dos não-iônicos como por exemplo, o Polissorbato 80 e Poloxamer 188.

Nas formulações de CLNs que utilizam tensoativos não-iônicos as

partículas geralmente são estabilizadas por repulsão estérica, e por isso não são

sensíveis a concentração de eletrólitos e pH, além de apresentarem uma boa

estabilidade de congelamento-descongelamento. Entretanto, pode ocorrer uma

floculação fraca (reversível), além de que são necessárias elevadas

concentrações de tensoativo para recobrir a superfície das partículas quando

comparados aos tensoativos eletrostáticos (QIU et al., 2013).

O Polissorbato 80 ou comercialmente conhecido como Tween 80, é um

éster oleato de sorbitol, solúvel em água, não-iônico com valor de EHL de 15

(ROWE; SHESKEY; QUINN, 2009). Também é considerado como GRAS pelo

FDA (21 CFR 172.840), e pode ser utilizando também em formulações de uso oral

e o valor de ingestão diária é de 0-25 mg/Kg peso corporal/dia. Em geral os

tensoativos não-iônicos apresentam uma menor toxicidade e potencial de irritação

quando comparados com os eletrostáticos (MCCLEMENTS; RAO, 2011).

Outro tensoativo não-iônico utilizado nas formulações de CLNs é o

Poloxamer 188 (Lutrol®F68; Pluronic®F68). Possui um valor de EHL de 8 ~ 29 e é

incluído na base de dados do FDA como excipiente inerte (ROWE; SHESKEY;

QUINN, 2009). Poloxamer 188 é um co-polímero baseado em uma estrutura em

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bloco de poli(óxido de etileno)-poli(óxido de propileno)-poli(óxido de etileno). De

uma maneira geral poloxamers apresentam baixa toxicidade, são bastante

utilizados na liberação controlada de fármacos, e são usualmente utilizados em

formulações cosméticas, farmacêuticas e produtos naturais (TRUJILLO; WRIGHT,

2010).

Por fim, outra classe de tensoativos que vêm sendo bastante utilizado na

literatura são as lecitinas. Em geral as lecitinas são extraídas de uma variedade

de fontes naturais, incluindo soja, colza e ovo (FAERGEMAND; KROG, 2003). A

lecitina de soja é um dos tensoativos mais utilizados na indústria de alimentos,

principalmente porque pode ser extraída durante o processamento do óleo de

soja (STAUFFER, 1999). Lecitinas naturais consistem de uma mistura complexa

de diferentes fosfolipídeos, tais como, fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina e

fosfatidilinositol. São essencialmente moléculas hidrofóbicas com valor de EHL

intermediário (~ 8) e portanto, não são adequados para estabilizar os CLNs

individualmente, mas são largamente utilizados em combinação com outros

tensoativos (SALIMEN et al., 2014; HAN et al., 2008; FAERGEMAND; KROG,

2003). A estabilização utilizando uma combinação de lecitinas com outros

tensoativos frequentemente fornecem nanodispersões mais homogêneas, ou

seja, com menor tendência a aglomerar (TAN et al., 2010).

Lecitinas são consideradas tensoativos anfotéricos ou zwiteriônicos, e

podem ter carga positiva, neutra, ou negativa dependendo do pH ou da

concentração de eletrólitos. Em especial, a lecitina de soja pode conter elevadas

concentrações de ácidos graxos insaturados, sendo sensível a oxidação.

Lecitinas são listadas como GRAS pelo FDA e apresentam vários graus de

pureza comercialmente disponíveis (TAMJIDI et al., 2013).

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2.2.2 Principais Métodos de Preparação de CLNs

2.2.2.1 Homogeneização à alta pressão (HAP)

A HAP constitui um método vantajoso para preparar CLNs, uma vez que

não apresenta dificuldades de transposição de escala e permite trabalhar em

condições assépticas. Homogeneizadores à alta pressão atuam impulsionando

um fluido em alta pressão (100-2000 bar) através de um estreito orifício

(≤25-30 µm) (Figura 5). O fluido acelera a uma distância muito curta a uma alta

velocidade (acima de 1000 km/h). Com alta tensão de cisalhamento e as forças

de cavitação as partículas são perturbadas de tal modo a reduzir o seu tamanho à

escala nanométrica (MARCATO, 2009; MEHNERT; MÄDER, 2012).

Figura 5: Representação gráfica do funcionamento de um homogeneizador

à alta pressão.

Fonte: ARTPEÇAS (www.artpeças.com.br).

Duas técnicas básicas têm sido utilizadas para a produção de CLNs a partir

de HAP: a homogeneização à quente e à frio. A homogeneização à quente é

realizada a temperaturas acima do ponto de fusão do lipídeo. Uma pré-emulsão

do lipídeo e do fármaco, se for o caso, são fundidos e vertidos sob uma fase

aquosa emulsionante (mesma temperatura) e submetidos a um dispositivo de

agitação com elevado cisalhamento (Ultraturrax®). A pré-emulsão é levada a HAP,

podendo ser repetida várias vezes. Na maioria dos casos, 3-5 ciclos de

homogeneização a 500-1500 bar são suficientes. O produto resultante da

homogeneização a quente é uma nanoemulsão devido ao estado líquido do

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lipídeo. Partículas sólidas são formadas pelo posterior arrefecimento da amostra a

temperatura ambiente ou a temperaturas inferiores (MARCATO, 2009;

MEHNERT; MÄDER, 2012).

Em contraste, na técnica de homogeneização a frio o lipídeo contendo o

fármaco ou não, é fundido e resfriado. A mistura lipídica é triturada, formando

micropartículas lipídicas (aproximadamente 50 ±100 mm), e essas

micropartículas, então, são dispersas em uma solução fria de tensoativos

formando uma pré-suspensão. Essa pré-suspensão é homogeneizada à

temperatura ambiente ou inferior. No homogeneizador, quando a pressão

absoluta do líquido é reduzida (ou igualada) abaixo da pressão de vapor, a

temperatura constante; parte deste líquido se vaporizará, formando “cavidades”

no interior da massa líquida. Estará aí iniciado o processo de cavitação. As bolhas

de vapor assim formadas são conduzidas pelo fluxo do líquido até atingirem

pressões mais elevadas que a pressão de vapor, onde então ocorre a implosão

(colapso) destas bolhas, com a condensação do vapor e o retorno à fase líquida.

Tal fenômeno é conhecido como cavitação. As forças de cavitação são fortes o

suficiente para quebrar as micropartículas de lipídeo, formando então os CLNs.

Esse processo evita a fusão do lipídeo, e, portanto minimiza a perda de drogas

hidrofílicas para a fase aquosa. (MÜLLER; MÄDER; GOHLA, 2000; PARTIDAR et

al., 2010).

2.2.2.2 Método de difusão do solvente

O método convencional para preparação de CLNs, homogeneização a alta

pressão, apresenta alguns pontos críticos nas condições de processo, tais como

elevada temperatura, elevada pressão, alta concentração de tensoativo, sendo

este último indesejável em produtos farmacêuticos e alimentícios (HU et al.,

2005).

Como alternativa surgiu o método de difusão do solvente, que consiste em

um método fácil, executável em poucas etapas, e que não requer nenhum

equipamento especial. Os principais inconvenientes deste método de preparação

é o uso de solvente orgânico e a falta de relatos de produção em larga escala

(HEJRI et al., 2013; HU et al., 2006).

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A obtenção de CLNs pelo método de difusão do solvente é baseada na

metodologia de emulsificação com difusão do solvente descrita por Kawashima e

colaboradores (1998), na qual o polímero D,L-lactídeo-co-glicolídeo foi dissolvido

em um solvente orgânico miscível em água, para a preparação de nanoesferas

poliméricas.

Entretanto, lipídeos sólidos não são capazes de solubilizar completamente

a temperatura ambiente. Então, HU e colaboradores (2002) adaptaram o método

para a preparação de NLS, utilizando uma temperatura adequada para a

solubilização do lipídeo, além de acidificar o meio ao final da preparação para

facilitar a separação das NLS por centrifugação, já que os lipídeos tem uma

menor densidade em relação à maioria dos polímeros. Em 2005, HU e

colaboradores, baseados em sua publicação anterior (2002), desenvolveram

CLNs a partir do lipídeo sólido ácido esteárico e o lipídeo líquido ácido oleico.

2.2.2.3 Método de diluição de microemulsão

As microemulsões são sistemas heterogêneos termodinamicamente

estáveis, opticamente transparentes, que podem ser formados espontaneamente

devido a uma tensão interfacial reduzida entre uma fase interna e uma fase

externa (MEHNERT; MÄDER, 2012; SOUTO et al., 2011).

Gasco e colaboradores (1993) foram os pioneiros no desenvolvimento de

nanopartículas lipídicas baseados na diluição de microemulsões. Nessa técnica,

primeiramente, uma microemulsão à quente é preparada por agitação, contendo

essencialmente o lipídeo sólido fundido, o tensoativo e o co-tensoativo. Esta

microemulsão à quente é, então dispersa sobre agitação em um excesso

(usualmente uma razão de 1:25 ou 1:50) de água resfriada à 2-3°C (MARGULIS-

GOSHEN E MAGDASSI, 2013).

O processo de diluição e a estrutura da gotícula são criticamente

determinados pela composição da microemulsão. O elevado gradiente de

temperatura utilizado para obtenção de nanopartículas lipídicas a partir de

microemulsões promove uma rápida cristalização e previne a agregação. O

excesso de água é removido por meio de ultra-filtração ou por liofilização. Devido

a etapa de diluição, o conteúdo lipídico obtido será menor quando comparado

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àqueles obtidos na técnica de Homogeneização a alta pressão (MEHNERT;

MÄDER, 2012).

2.2.3 Técnicas para caracterização de CLNs

Uma caracterização adequada dos CLNs é necessária para o controle de

qualidade do produto final. Os métodos de caracterização devem ser sensíveis

para identificar os parâmetros que indicam a qualidade dos CLNs e devem evitar

artefatos. Sendo assim, os métodos mais empregados para avaliação e

caracterização das CLNs são: tamanho de partícula, índice de polidispersão

(IDP), Potencial zeta, análise térmica, Difração de raios-X (DRX), Microscopia

eletrônica de transmissão (MET), entre outras (MEHNERT; MÄDER, 2012).

O tamanho médio das partículas e sua distribuição (índice de

polidispersão) são parâmetros muito importantes, pois são determinantes para a

estabilidade física, solubilidade, atividade biológica, taxa de liberação, turbidez e

estabilidade química. Dependendo do método de obtenção dos CLNs, o tamanho

da partícula será influenciado por uma série de fatores como, a cinética de

adsorção do emulsificante, tensão interfacial entre as fases dispersa e

dispersante, viscosidade entre fases e energia mecânica empregada para

“quebrar” as gotículas (TAMJIDI et al., 2013).

Estes parâmetros podem ser medidos por espectroscopia de correlação de

fótons (PCS), também chamado de espalhamento dinâmico de luz (DLS). PCS ou

DLS consiste na análise das flutuações de intensidade de luz espalhada em um

determinado ângulo. Essa análise fornece informações sobre o movimento da

partícula, movimento este que é a causa das flutuações de intensidade. E é a

partir deste princípio que o DLS pode ser utilizado para determinar parâmetros de

diâmetro hidrodinâmico médio e o índice de polidispersão (IPD) (ENOKI, 2010).

Valores de IPD de 0,1-0,25 demonstram uma distribuição de diâmetro médio das

partículas bastante estreito, enquanto que valores de IPD acima de 0,5 indicam

uma ampla distribuição, a qual tende a um sistema polidisperso (LAKSHMI;

KUMAR, 2010).

O PCS ou DLS abrange um intervalo de poucos nanômetros até cerca de 3

µm, ou seja, não é capaz de detectar partículas de tamanho elevado. Entretanto,

outra técnica, denomidada difração a laser (LD) é capaz de mensurar o tamanho

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de partícula numa faixa de 0,05‐80 μm até 2000 μm (TAMJIDI et al.,

2013;MEHNERT; MÄDER, 2012).

O potencial zeta (ζ) é o potencial elétrico o qual pode ser definido a partir

da superfície de cisalhamento (dupla camada difusa) da partícula abaixo da qual

os contra-íons permanecem anexados fortemente à partícula quando esta se

move em um campo elétrico. É uma medida indireta da estabilidade física do

CLN, ou seja, para desenvolver uma nanodispersão com boa estabilidade é

desejável um potencial zeta ξ (>|30| mV) (LAKSHMI; KUMAR, 2010; MITRI et al.,

2011; TAMJIDI et al., 2013).

Todavia, instrumentos analíticos baseados em PCS e LD estimam o

tamanho da partícula, assumindo que as partículas possuem um formato esférico.

Porém, a maioria das nanopartículas lipídicas assumem o formato não-esférico.

Além disso, a agregação (floculação e coalescência parcial) das partículas de

CLNs se ocorrerem, não será detectada por essas técnicas. Tendo em vista

essas limitações, se fazem necessários métodos adicionais de análise para

fornecer informações diretas sobre as nanopartículas lipídicas. Embora a

microscopia óptica possa ser usada para monitorar a presença de partículas

grandes e cristais de fármaco não solubilizados, esta técnica não é útil para a

visualização de partículas de tamanho abaixo de 500 nm (KLANG et al., 2012;

TAMJIDI et al., 2013).

Desta forma, técnicas de microscopia como, Microscopia Eletrônica de

Varredura (MEV), Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET), são

frequentemente utilizadas para fornecer informações a respeito da forma,

distribuição de tamanho, morfologia, topografia da superfície e até mesmo a

estrutura interna das nanopartículas lipídicas.

A MEV fornece informações sobre a morfologia em três dimensões e

informações de superfície da amostra (DOMINGO; SAURINA, 2012). A maior

vantagem desse tipo de microscopia é a alta profundidade de campo, ou seja,

imagens de estruturas relativamente grandes permanecem em foco, contudo, o

poder de resolução é mais baixo que a MET (KLANG et al., 2012; TAMJIDI et al.,

2013).

A MET por sua vez, fornece imagens em duas dimensões e geralmente a

amostra deve estar marcada com metais pesados para a visualização, pois a

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amostra é detectada por diferença de densidade eletrônica. Essa técnica pode

fornecer informações sobre a estrutura interna das nanopartículas lipídicas, pois

possui um alto poder de resolução. Uma desvantagem desse tipo de microscopia

é que a preparação da amostra é complexa, se comparado ao MEV (DOMINGO;

SAURINA, 2012; KLANG et al., 2012; MARCATO, 2009; SWARBRICK, 2007).

As alterações polimórficas e o comportamento de fusão da fase dispersa

das CLNs regem a forma dos cristais, a morfologia da partícula e o índice de

cristalinidade e a temperatura máxima nas quais as nanopartículas lipídicas

permanecem sólidas. Geralmente a mistura de lipídeos nas partículas de CLNs

mostra um deslocamento para temperaturas mais baixas de ponto de fusão

comparadas com o lipídeo sólido, porém os CLNs obtidos ainda permanecem

sólidos a temperatura corporal (TAMJIDI et al., 2013).

Calorimetria exploratória diferencial (DSC) e difração de raios-X são

largamente utilizadas para investigar, principalmente, as alterações polimórficas e

comportamento de fusão dos CLNs e dos seus excipientes (JANNIN;

MUSAKHANIAN; MARCHAUD, 2008; TAMJIDI et al., 2013). Nanodispersões

podem sofrer alterações na estrutura cristalina que pode ser de uma forma amorfa

ou outros polimorfos, causados pelo método de obtenção, principalmente

homogeneização a alta pressão (LAKSHMI; KUMAR, 2010).

2.2.4 Aplicações de CLNs

Inúmeras são as aplicações dos CLNs na área farmacêutica. No

desenvolvimento de medicamentos, os CLNs vêm sendo estudados como

potenciais sistemas de liberação de fármacos, para a administração por diversas

vias, tais como oral, parenteral oftálmica, pulmonar e dérmica (MARCATO, 2009).

Existem muitas patentes sobre emulsões, microemulsões e lipossomas,

entretanto apenas um número limitado de nanopartículas produzidos a partir de

lipídeos sólidos (NLS), especialmente feitos a partir de misturas de lipídeos

sólidos e líquidos (CLN) (MARCATO, 2009; MÜLLER; RADTKE; WISSING, 2002;

MÜLLER; MÄDER; GOHLA, 2000).

Na incorporação de compostos cosméticos a modulação da liberação é

otimizada utilizando CLNs. Uma característica de interessante desse sistema é a

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estabilização de compostos quimicamente instáveis. A matriz sólida do CLN

protege contra a degradação química, por exemplo, do retinol, descrito por

Jenning e Gohla (2001) (MÜLLER; RADTKE; WISSING, 2002).

Outro recurso é o de proteção solar, resultante do efeito de bloqueio

produzido pelos CLNs. Semelhante às partículas, tais como dióxido de titânio, as

partículas lipídicas cristalinas atuam no espalhamento de luz ultravioleta,

protegendo a pele contra a radiação UV. Além disso, verificou-se que a

incorporação de filtros solares UV conduz a um efeito sinérgico entre o bloqueio

resultante das nanopartículas lipídicas e o bloqueador molecular. In vitro, os CLNs

contendo protetor solar exibiram duas vezes o efeito de proteção UV em

comparação com uma emulsão O/A carregada com o mesmo protetor solar

(MÜLLER; RADTKE; WISSING, 2002).

Similarmente aos lipossomas, os CLNs são formadores de filmes sobre a

pele. Resultados obtidos com CLNs sugerem que sobre a pressão de aplicação,

as partículas formam um filme coerente, que será capaz de restaurar a matriz

lipídica danificada sobre da pele, além de tal filme poder ter um efeito oclusivo.

Para demonstrar este efeito, um creme base e creme base contendo NLS foi

aplicado sobre pele de porco. A aplicação de cremes convencionais, livre de NLS,

somente alterou levemente a estrutura, enquanto que o resultado obtido para o

creme contendo NLS observou-se um aumento na espessura do estrato córneo

(MÜLLER; MÄDER; GOHLA, 2000; MÜLLER; RADTKE; WISSING, 2002).

Também tem sido reportada na literatura a contribuição de CLNs no efeito

oclusivo, através da formação de um filme sobre a pele que impede a perda

transepidermal de água. De acordo com Wissing e colaboradores (2003), o efeito

oclusivo aumenta quando são utilizados lipídeos de baixo ponto de fusão,

partículas altamente cristalinas e partículas de tamanho reduzido (Figura 6).

Partículas menores que 400 nm e contendo ao menos 35% de concentração de

lipídeo de elevada cristalinidade tem sido mais efetivos (WISSING; MÜLLER,

2002; WISSING; LIPPACHER; MÜLLER, 2001). Consequentemente Souto e

colaboradores (2008) encontraram um maior efeito oclusivo para NLS em relação

ao CLN. Comparando CLNs contendo diferentes concentrações de lipídeo líquido,

foi possível concluir que o aumento da concentração de lipídeo líquido leva a uma

diminuição no fator oclusivo (TEERANACHAIDEEKUL et al., 2008).

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43

Figura 6: O efeito oclusivo de CLNs depende de vários fatores, tais como quantidade de lipídeo utilizada, tamanho de partícula, entre outros.

Fonte: Muller e colaboradores (2007).

Devido à redução da perda de água causada pela eficiente oclusão da

pele, a hidratação cutânea é aumentada após a aplicação de NLS, CLN ou

formulações contendo nanopartículas lipídicas (PARDEIKE; HOMMOSS;

MÜLLER, 2009). Wissing e Müller (2003) avaliaram a hidratação cutânea in vivo

de formulações de um creme com e sem NLS, utilizando o cetil palmitato como

lipídeo sólido, e concluíram que ambas foram capazes de aumentar a hidratação

da pele após 4 semanas de tratamento. Entretanto, a formulação creme contendo

NLS produziu um aumento significativo (31,92%) da hidratação da pele

comparado ao creme convencional (24,14%).

Loo e colaboradores (2013) avaliaram o efeito dos CLNs na hidratação da

pele e oclusão in vivo. Após 7 dias de tratamento, obtiveram um aumento na

hidratação da pele em torno de 40-50%. Além disso, eles concluíram que as

formulações que continham propilenoglicol, lecitina e alto teor de lipídeos

demonstraram um efeito mais pronunciado de redução da água transepidermal e

aumento da hidratação da pele.

2.3 Técnicas para avaliação da hidratação in vitro

Nas últimas décadas têm sido reportados estudos para avaliação da

hidratação do estrato córneo in vitro. O teor de água do estrato córneo é um

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importante parâmetro para investigações fisiológicas, terapêuticas, e de

finalidades cosméticas. Técnicas não invasivas como medidas elétricas,

mecânicas, térmicas e espectroscópicas têm sido estudadas para avaliação da

hidratação e de propriedades da pele (EDWARDSON et al.,1991).

Análises de espectroscopia de absorção na região do infravermelho com

transformada de Fourrier (FTIR) utilizando o acessório de refletância total

atenuada (ATR) foram reportadas para determinação da hidratação da pele. Nas

análises por FTIR, o teor de água pode ser calculado pela relação entre as áreas

dos picos de estiramento intenso de OH (3400 cm-1) e menos intenso (2100 cm-1).

Uma vantagem de utilizar esta técnica é que as substâncias tópicas aplicadas

sobre o estrato córneo não absorvem nessa região (EDWARDSON et al.,1991;

EDWARDSON; WALKER; BREHENY, 1993).

Outra técnica utilizada para avaliação de interação entre substâncias e o

estrato córneo, e mais recentemente utilizada para avaliação da hidratação é o

DSC. A mudança estrutural no estrato córneo pode ser avaliada por DSC, a qual

permite a análise dos efeitos que os compostos exercem em sua estrutura,

quando aplicados sobre a pele (BABY et al., 2006a).

Em estudos in vitro, a membrana preferencial de escolha é o estrato córneo

humano, geralmente obtido em cirurgias ou autópsias. Todavia, devido à

dificuldade de obtenção e armazenamento, o uso deste material é limitado. Isso

leva à busca de um modelo de biomembrana alternativo. A pele de cobra

representa uma barreira similar ao estrato córneo humano. As amostras podem

ser obtidas sem o sacrifício de animais de experimentação, já que a pele de cobra

é substituída aproximadamente a cada 2-3 meses no animal adulto, fornecendo

material em abundância. Esta membrana é de fácil armazenamento e não sofre

degradação microbiológica (BABY et al., 2006b).

A estrutura da pele de cobra é formada por três camadas distintas. A pele

mais externa (camada β) é composta basicamente por β-queratina. Logo abaixo,

localiza-se a camada intermediária, similar ao estrato córneo humano, composta

de 3 a 5 camadas de células achatadas e extremamente finas, circundadas por

lipídeos intercelulares. Esta camada atua como principal barreira à

permeabilidade da água. A parte mais interna (camada α) é composta por α-

queratina (BABY et.al, 2006b).

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45

A avaliação do efeito hidratante fornecido por formulações cosméticas pode

ser realizada in vitro utilizando a pele de cobra, que possui uma propriedade

barreira semelhante à pele humana simulando o estrato córneo. De acordo com

Takaoka e colaboradores (2010), a temperatura de pico (Tpico), corresponde à

máxima taxa e evolução do aquecimento detectado, ou seja, quanto mais elevado

o valor de Tpico, mais profunda é a camada da pele em que a água se encontra. E

a entalpia (ΔH), que representa a quantidade de calor necessária para que haja a

evaporação da água presente na amostra e/ou a fusão da sua estrutura cristalina

quanto maior a entalpia, mais elevada é a quantidade de água presente na

amostra.

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46

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Desenvolver uma formulação cosmética contendo carreadores lipídicos

nanoestruturados (CLNs) à base de manteiga de Ouratea sp. como uma

estratégia nanotecnológica para o aumento da hidratação cutânea.

3.2 Objetivos Específicos

Caracterizar as matérias-primas e suas misturas físicas por DSC, TG e DRX;

Preparar os CLNs contendo manteiga de Ouratea sp. através do método de

difusão do solvente;

Caracterizar os CLNs por parâmetros de distribuição e diâmetro médio de

partícula, potencial zeta, pH e condutividade;

Caracterizar os CLNs por DSC, DRX e MET;

Preparar e incorporar o CLN em creme base;

Avaliar o comportamento reológico do creme base e do creme contendo

CLN;

Avaliar o efeito oclusivo do CLN, creme base e do creme contendo CLN

utilizando o método de Vringer in vitro.

Avaliar o potencial de hidratação cutânea do CLN, creme base e do creme

contendo CLN através de modelo de estrato córneo.

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47

4 METODOLOGIA

Este trabalho foi dividido em 4 etapas: a primeira consiste na caracterização

das matérias-primas; a segunda na preparação dos CLNs pelo método de difusão

do solvente; a terceira na caracterização dos CLNs por diâmetro médio de

partícula, potencial zeta, pH, condutividade, DSC, DRX e MET; a quarta na

incorporação do CLN10 em um creme base seguido pela avaliação do

comportamento reológico, efeito oclusivo e hidratação cutânea in vitro.

4.1 Caracterização das matérias-primas

A caracterização das matérias-primas é de fundamental importância na

determinação das condições ideais de preparação de CLNs, assim como da

compatibilidade entre os seus componentes. Neste trabalho foram realizados: o

estudo de interação entre os componentes da mistura lipídica e a determinação

da CMC do tensoativo SDS.

4.1.1 Estudo de interação entre os componentes da mistura lipídica

O estudo de interação foi realizado a partir dos componentes isolados da

mistura lipídica (ácido esteárico - AE, manteiga Ouratea sp.- MO, e Phospholipon®

90G) e suas misturas físicas através de Calorimetria Exploratória Diferencial

(DSC), Termogravimetria (TG) e Difração de raios-X (DRX).

As misturas físicas binária (AE e MO - MF1) na proporção 1:1 e ternária

(AE, MO e Phospholipon® 90G – MF2) na proporção 1:1:1 foram preparadas

através do aquecimento dos componentes da mistura, utilizando um béquer em

chapa aquecedora, a uma temperatura acima do ponto de fusão correspondente a

cada lipídeo sólido e posterior resfriamento até temperatura ambiente. Então as

misturas foram acondicionadas adequadamente e enviadas para as

caracterizações. As análises foram realizadas no Laboratório de Multiusuários do

Departamento de Física da UFS.

4.1.1.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

As curvas DSC foram obtidas em DSC 2010 TA Instruments, onde as

amostras de aproximadamente 2 mg foram colocadas em porta amostra de

alumínio. As análises foram realizadas na faixa de temperatura de 25 a 200ºC, na

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48

razão de aquecimento de 10ºC min-1 e atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL

min-1).

4.1.1.2 Termogravimetria (TG)

As análises termogravimétricas foram realizadas por meio da termobalança

TA Instruments TG/DTA 2960 SDT, na faixa de temperatura de 25 - 800° C, na

razão de aquecimento de 10°C min-1 e atmosfera dinâmica de nitrogênio (100 mL

min-1). As amostras foram colocadas em porta amostra de platina contendo

aproximadamente 10 mg.

4.1.1.3 Difração de raios X (DRX)

A difratometria de raios X foi realizada em equipamento Rigaku D-Max

2500; Radiação: Co Kα (λ = 1,791 Å); variando o ângulo em uma faixa de 10° a

80° a uma velocidade de 1°.min-1 em passos de 0,020, com voltagem de 40 kV e

corrente de 40 mA.

4.1.2 Determinação da CMC do SDS através de medidas de condutividade

elétrica

O tensoativo utilizado neste trabalho foi o SDS (C12H25OSO3Na) de massa

molar (MM) 288,372 g mol-1 e procedente da VETEC®.

As soluções de SDS utilizadas para a determinação da CMC foram

preparadas a partir de uma solução estoque de 50 mmol L-1 em água destilada.

Então, a partir da diluição da solução estoque, foram obtidas amostras com

concentrações crescentes de SDS: 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 12, 14, 16, e 18

mmol L-1.

Essas amostras, em triplicata foram submetidas a um Condutivímetro

CON500, a temperatura ambiente 25ºC ±1, para aferição da condutividade

elétrica.

4.2 Preparação dos CLNs pelo método de difusão do solvente

Os CLN foram obtidos pelo método de difusão do solvente descrito por HU

e colaboradores, 2005. Primeiramente uma pré-dispersão foi obtida a partir de

uma fase lipídica (0,1% m/v da dispersão) composta por lipídeo sólido (ácido

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esteárico, AE) obtido da Dinâmica®, lipídeo semissólido (Manteiga Ouratea sp.,

MO) obtido da Raros Naturals®, e lipídeo semissólido (Phospholipon 90G®, PH)

obtido da Lipoid®, e 24 mL da mistura etanol/acetona (1:1) e uma fase aquosa

composta de 240 mL de água destilada e o tensoativo SDS. Ambas as fases

foram aquecidas a 70ºC. A fase aquosa foi vertida sobre a fase lipídica sob

agitação a 12.000 rpm em ultra-turrax (IKA®, Modelo T25).

Para avaliar o efeito da ultrassonicação nos CLNs, as formulações foram

submetidas, posteriormente, a um Ultrassom Sonics Vibracell® 130 W com

amplitude de 35% por um tempo de 5 e 10 minutos. Após esse período a

dispersão foi mantida sob refrigeração. E para avaliar o efeito da concentração do

tensoativo na formulação dos CLNs, foram utilizados 8, 10 e 24 mmol L-1 de SDS

na sua preparação. As respectivas composições da fase lipídica e aquosa, bem

como o tempo de exposição no ultrassom estão expressas abaixo na Tabela 3:

Tabela 3: Composição dos carreadores lipídicos nanoestruturados (CLN): ácido esteárico (AE), Manteiga Ouratea sp. (MO), Phospholipon® 90G (PH), Dodecil Sulfato de Sódio (SDS) e os tempos de ultrassom que as formulações foram submetidas.

Formulação (%) Mistura lipídica SDS

(mmol L-1) Tempo de Ultrassom AE MO PH

CLN8 50% 40% 10% 8

-

5 min.

10 min.

CLN10 50% 40% 10%

10

-

5 min.

10 min.

CLN24 50% 40% 10%

24

-

5min.

10 min.

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50

4.3 Caracterização das dispersões de CLNs

4.3.1 Diâmetro médio de partícula, índice de polidispersão e potencial zeta

A determinação do diâmetro médio de partícula, índice de polidispersão

(IPD) e do potencial zeta das dispersões de CLNs foram realizadas por

Espalhamento de luz dinâmico (DLS) utilizando o equipamento Zetasizer Nano ZS

(Malvern Instruments®, UK). As dispersões foram adequadamente diluídas em

água Milli-Q® e aproximadamente 1000 μL de amostra foram inseridas em cubeta

apropriada para realização das medidas a uma temperatura de 25ºC. As medidas

foram realizadas com no mínimo 12 leituras e em triplicata para cada amostra.

Foram utilizados como parâmetros de medida, os índices de refração do material,

AE (IR= 1,436) e do meio dispersante, água (IR= 1,333).

4.3.2 pH e condutividade

O pH das dispersões foram mensurados em triplicata utilizando um

medidor de pH ION pHB500 digital equipado com um eletrodo de vidro,

previamente calibrado com solução tampão de pH 4.0 e 7,0, em temperatura

ambiente 25 ±1°C.

A condutividade das dispersões de CLN foi aferida através do

Condutivímetro CON500, em triplicata e em temperatura ambiente 25 ±1°C.

4.3.3 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

As curvas DSC dos CLNs foram obtidas em equipamento DSC Q20 TA

Instruments, onde as amostras de aproximadamente 3 - 5 mg foram colocadas

em porta amostra de alumínio. As análises foram realizadas na faixa de 25 a

85ºC, na razão de aquecimento de 10ºC min-1 e atmosfera dinâmica de nitrogênio

(50 mL min-1).

4.3.4 Difração de raios - X (DRX)

A difratometria de raios-X foi realizada em equipamento Rigaku D-Max

2500; Radiação: Cu Kα (λ = 1,791 Å); variando o ângulo em uma faixa de 10° a

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51

40° a uma velocidade de 2° min-1 em passos de 0,020, com voltagem de 40 kV e

corrente de 40 mA.

4.3.5 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)

As dispersões de CLN8, CLN10 e CLN24 foram observadas através do

microscópio eletrônico de transmissão (JEM-1400Plus, JEOL). As amostras foram

diluídas 100 vezes em água destilada e com auxílio de uma micropipeta foram

depositadas (10 µL) em grades de cobre com recobrimento de filme de carbono

400 mesh (Eletronic Microscopy Sciences). Após 5 minutos da deposição da

amostra, foram depositados 10 µL do corante ácido fosfotúngstico a 1%. Então,

as grades com as amostras foram mantidas 24 horas em dessecador até o

momento da realização das medidas. A MET foi realizada no Centro Multiusuário

de Nanotecnologia (CMNano) da Universidade Federal de Sergipe.

4.4 Preparação e incorporação do CLN em creme base

O creme base não iônico foi preparado pelo método inversão de fases. A

fase oleosa (álcool cetearílico, cerearet 20, óleo mineral, álcool de lanolina e

vaselina – base autoemulsionante O/A e propilparabeno) e a aquosa

(metilparabeno, propilenoglicol e água destilada) foram aquecidas separadamente

a 80ºC em banho-maria. A 80°C, a fase aquosa foi vertida cuidadosamente na

oleosa sob agitação constante utilizando agitador mecânico Fisatom 713® até

atingir a temperatura de 30ºC. Nesta temperatura o CLN10 foi incorporado,

permanecendo sob agitação até atingir a temperatura ambiente (25°C). Para o

creme contendo o CLN10, uma porcentagem de 4% do CLN foi incorporada,

sendo que a fase oleosa do creme nesta formulação será decrescida em 4% a fim

de manter o conteúdo lipídico em ambas as formulações (WISSING; MÜLLER,

2003).

4.4.1 Comportamento reológico

O comportamento reológico do creme base e com CLN incorporado foi

realizado em reômetro Modular Compact Rheometer MCR 302 (Anton Paar) no

modo oscilatório, com geometria do tipo placas paralelas de 25 mm de diâmetro,

separadas por uma distância fixa de 0,3 mm. Todas as medidas foram realizadas

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a temperatura ambiente (25°C). Inicialmente foi realizada varredura dinâmica

oscilatória (0,01 a 100%) a uma frequência constante de 1Hz para determinar a

região viscoelástica linear, e depois de determinada foi realizada a varredura de

frequência de 0,01 a 100 Hz a uma tensão de amplitude oscilatória fixa (0,1%) de

modo a avaliar a evolução dos módulos de armazenamento (G’) e de perda (G”).

As amostras foram cuidadosamente aplicadas à placa inferior, assegurando o

mínimo de cisalhamento e permitindo um tempo de repouso de 1 minuto antes de

cada determinação. As análises foram realizadas no Departamento de Química

da Universidade Federal de Sergipe.

4.4.2 Efeito oclusivo

O fator de oclusão foi determinado pelo teste de Vringer in vitro. Esse teste

consiste em: um béquer contendo 30g de água foi recoberto por papel de filtro

quantitativo (Área= 14,52 cm2) de forma a cobrir todo o recipiente. Uma

quantidade definida de 200 mg de cada amostra (CLNs, o creme base e o creme

contendo CLNs) foram espalhados homogeneamente nesta superfície. Um

béquer, contendo a mesma quantidade de água, recoberto apenas com o papel

de filtro foi utilizado como controle. Ambos permaneceram sob uma placa

aquecedora com temperatura de 30°C ±5 por 6, 24 e 48h. A quantidade de massa

de água perdida no controle e com amostra foram aferidas após 6, 24 e 48h e o

fator oclusão foi calculado a partir da equação (1) (LACERDA, 2009; MULLER;

RADTKE; WISSING, 2002):

𝐹 =𝐴−𝐵

𝐴𝑥 100 (1)

Onde: F = Fator de oclusão

A = Massa de água perdida sem amostra (controle)

B = Massa de água perdida com amostra

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53

4.4.3 Estudo de interação com modelo de estrato córneo e avaliação da

hidratação

Como modelo de estrato córneo foram utilizadas porções ventrais de

membrana de muda de cobra da espécie Boa constrictor, que foram recortadas e

lavadas com água destilada corrente à temperatura ambiente. Estas

permaneceram imersas em água 1h para hidratação. Após este período, as

biomembranas tiveram o excesso de água retirado por papel absorvente, sobre

leve compressão, e deixadas à temperatura ambiente por trinta minutos.

Posteriormente, as biomembranas foram transferidas para placas de Petri onde

permaneceram em contato com o creme por 2h. Decorrido o tempo indicado, as

amostras foram retiradas, lavadas com água destilada, secas entre folhas de

papel de filtro quantitativo sob leve compressão.

Em seguida as amostras de pele de cobra foram analisadas por DSC

utilizando aproximadamente 2,5mg de massa seca seladas hermeticamente em

cadinho de alumínio. As amostras foram submetidas às condições descritas a

seguir utilizando-se o equipamento DSC 50 – Differential Scanning Calorimeter –

SHIMADZU (TAKAOKA et al., 2010):

- Temperatura inicial→25°C;

- Rampa de resfriamento→20°C.min-1 até 0°C;

- Isoterma→5 min;

- Rampa de aquecimento→10°C. min-1 até 200°C;

- Rampa de resfriamento→20°C.min-1 até 0°C;

- Isoterma →5 min;

- Rampa de reaquecimento→10°C.min-1 até 200 °C;

- Temperatura final→25°C

4.5 Análise Estatística

As diferenças estatísticas nos resultados de caracterização de diâmetro

médio, índice de polidispersão, potencial zeta, pH e condutividade dos CLNs e

efeito oclusivo foram avaliados através de One-way ANOVA seguido por post test

Bonferroni.

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54

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 Caracterização das matérias-primas

5.1.1 Estudo de interação entre os componentes da mistura lipídica

5.1.1.1 Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC)

DSC é uma técnica de grande importância para caracterização de CLNs,

fornecendo informações relacionadas ao estado físico e grau de cristalinidade da

amostra, através do comportamento térmico. Essa técnica também permite avaliar

os principais parâmetros de processo utilizados na obtenção dos CLNs, uma vez

que a mistura lipídica é aquecida e depois resfriada (recristalizada) para a

formação dos CLNs (SOUZA, 2011). Baseado no processo de produção dos

CLNs, o lípideo sólido utilizado passou pelo processo de recristalização

(aquecimento-resfriamento) para que fossem avaliadas possíveis modificações

durante o processo de produção dos CLNs.

Dessa forma, na Figura 7 é possível observar a curva de DSC do lipídeo

sólido utilizado para obtenção dos CLNs, o ácido esteárico (AE). Este lipídeo

apresenta um pico endotérmico na faixa de temperatura entre 40 e 65°C (Tpico ~

57°C), o qual está relacionado ao seu ponto de fusão (CHEN et al., 2013; ROWE

et al., 2009).

Também na Figura 7 é possível observar a curva DSC do AE após o

processo de recristalização, o qual não apresentou alterações significativas na

temperatura de fusão (57°C). Segundo Desai, Kothari e Huang (2008) isso ocorre

devido à habilidade do ácido esteárico em voltar a sua forma cristalina original

após o processo de recristalização. Essa habilidade do AE possibilita sua

utilização como lipídeo sólido para obtenção dos CLNs.

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55

Figura 7: Curva de DSC do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico recristalizado (AE rec.) analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento 10°C min-1 na faixa de temperatura de 25 a 200 °C.

As curvas DSC referentes ao AE, MO, MF1 e MF2 estão apresentadas na

Figura 8. É possível observar nessa figura que a MO apresenta 4 eventos

endotérmicos: 1° na faixa de temperatura de 30 - 40°C (Tpico ~ 35°C), 2° na faixa

de 40 - 50°C (Tpico ~ 48°C), 3° na faixa de 50 – 68°C (Tpico ~ 60°C) e 4° na faixa de

70 – 80°C (Tpico ~ 75°C) correspondentes à fusão de ácidos graxos essenciais e

não essenciais presentes na MO.

A curva DSC da MF1 mostra uma sobreposição das curvas do AE e MO,

onde o pico endotérmico de fusão do AE sofreu leve deslocamento para menor

temperatura (Tpico ~ 50°C), e apresenta um pico endotérmico em 34°C referente

ao pico presente na MO levemente deslocado, também para uma menor

temperatura.

Com a adição do Phospholipon® 90G (MF2) houve um deslocamento

significativo desses picos para temperaturas ainda menores (26 e 34°C). Sugere-

se que esse deslocamento tenha ocorrido devido à natureza semissólida do

Phospholipon® 90G, o qual estava presente em proporções iguais em relação ao

AE e MO. Essas temperaturas de fusão (26 e 34°C) são indesejáveis para os

50 100 150 200

-6

-4

-2

0

2

4 AE

En

do

Flu

xo

de c

alo

r (m

W)

Temperatura(°C)

57

AE rec.

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56

CLNs, pois comprometem sua estabilidade física, ou seja, os CLNs não

permaneceriam sólidos à temperatura ambiente (MÜLLER et al., 2007). Dessa

forma, o Phospholipon® 90G foi utilizado em uma proporção de 10% em relação à

mistura lipídica na preparação dos CLNs.

Figura 8: Curva de DSC do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea sp.(MO); Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1); Mistura física de ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2); analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento 10°C min-1 na faixa de temperatura de 25 a 200 °C.

5.1.1.2 Termogravimetria (TG)

A termogravimetria é a técnica de análise térmica em que a variação de

massa da amostra (perda ou ganho) é determinada em função da temperatura

e/ou do tempo, enquanto a amostra é submetida a uma programação controlada

de temperatura (GIOLITO e IONASCHIRO, 1980; LACERDA, 2009). Constitui de

uma importante ferramenta de caracterização que variações na massa da

amostra analisada (Δm) podem fornecer informações quanto à sua degradação

térmica.

50 100 150 200

AE

MO

34

4835

57

En

do

F

luxo

de c

alo

r (m

W)

MF1

MF2

26

50

34

60 75

Temperatura (°C)

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57

A Figura 9 representa a variação de massa das amostras de AE e AE

recristalizado. Ambas apresentaram duas perdas de massa, a primeira no

intervalo de temperatura de 161 – 306°C (Δm1 = 79,63% Tpico DTG ~ 267°C)

característica de decomposição do AE e a segunda no intervalo de 306 - 410°C

(Δm2 = 16,56% Tpico DTG ~ 380°C) característica de eliminação de material

carbonáceos do AE (CHEN et al., 2013; ROWE et al., 2009). Sendo assim não

houve diferenças significativas na degradação térmica após o processo de

recristalização do AE.

.

Figura 9: Curva de TG/DTG do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico recristalizado (AE rec.) analisadas em atmosfera de N2 (100 mL.min-1), com razão de aquecimento 10°C.min-1 na faixa de temperatura de 25 a 800 °C.

As Curvas TG/DTG referentes ao AE, MO, MF1 e MF2 estão apresentadas

na Figura 10 e suas respectivas perdas de massa na Tabela 4. A MO apresentou

duas perdas de massa, a primeira no intervalo de temperatura de 240 – 270°C

(Δm1 =1,21% e Tpico DTG ~ 259°C) e a segunda no intervalo de 300 - 483°C (Δm2

=97,06% e Tpico DTG ~ 414°C). Na curva TG da MF1 foi possível observar três

perdas de massa: 1° na faixa de temperatura de 156 – 306°C (Δm1 =41,10% e

Tpico DTG ~ 258°C), 2° na faixa de 306 – 424°C (Δm2 =52,62% e Tpico DTG ~

399°C) e 3° na faixa de 424 – 466°C (Δm3 =4,52% e Tpico DTG ~ 446°C). Esses

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

100 200 300 400 500 600 700 800

AE rec.

AE

Temperatura(°C)

Perd

a d

e m

assa (

%)

Temperatura (°C)

DT

G

Page 58: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

58

dados sugerem uma sobreposição das perdas de massa do AE e da MO, sendo

que no primeiro evento, a perda massa foi menor em relação ao primeiro evento

de perda de massa do AE e maior em relação a da MO. Já o Tpico de DTG da MF1

foi mais próximo ao da manteiga, sugerindo que a mistura tende a uma menor

temperatura de decomposição térmica.

Com adição do Phospholipon® 90G (MF2) foi possível observar três perdas

de massa: 1° na faixa de temperatura de 167 – 302°C (Δm1 = 25,90% e Tpico DTG

~ 260°C), 2° na faixa de 302 – 423°C (Δm2 = 67,28% e Tpico DTG ~ 372°C) e 3° na

faixa de 423 – 487°C (Δm3 = 4,64% e Tpico DTG ~ 446°C). Esses eventos de perda

de massa podem sugerir que houve um aumento na temperatura de

decomposição térmica com relação a MF1, pois com adição do Phospholipon®

90G e a Tpico DTG maior (258 para 260°C). Justificando sua utilização na

formulação de CLN (SALIMEN, et al., 2014; SCHUBERT, HUMMER, MÜLLER-

GOYMANN, 2006).

Figura 10: Curva de TG/DTG do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea sp.(MO); Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1); Mistura física de ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2); analisadas em atmosfera de N2 (100 mL min-1), com taxa de aquecimento 10°C min-1 na faixa de temperatura de 25 a 800 °C.

100 200 300 400 500 600 700 800

0

20

40

60

80

100

100 200 300 400 500 600 700 800

AE

Pe

rda

de

ma

ss

a (

%)

MO

Temperatura(°C)

MF2

MF1

DT

G

Temperatura(°C)

AE

MO

MF1

MF2

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59

Tabela 4: Dados de perda de massa (Δm%), intervalo de temperatura (ΔT/°C), e Tpico DTG obtidos a partir das curvas TG/DTG das amostras AE, MO, MF1 e MF2.

5.1.1.3 Difração de raios-X

A Figura 11 apresenta os difratogramas de raios-X do lipídeo sólido AE, e

este mesmo lipídeo após processo de recristalização. É possível observar que o

AE, possui picos de difração a um ângulo de 2θ, em 12,6°; 23,0° 25,0°; 28,0°;

42,43° e 47,85° (SHAH et al., 2014). Mesmo após processo de recristalização o

AE não sofreu alterações significativas no seu perfil de difração, ou seja, mesmo

após a recristalização, sua forma cristalina permaneceu intacta, corroborando

com as informações obtidas em que após o processo de recristalização do AE

não se observou alterações significativas na sua temperatura de fusão (57°C)

(DESAI; KOTHARI; HUANG, 2008).

Figura 11: Difratograma de raios-X do ácido esteárico (AE) e ácido esteárico recristalizado (AE rec.) na faixa de 10 a 80°.

Amostra Δm (%) ΔT/°C Tpico DTG

AE Δm1 Δm2

79,63 16,56

161 – 306 306 – 410

267 380

MO Δm1 Δm2

1,21 97,06

240 – 270 300 – 483

259 414

MF1 Δm1 Δm2

Δm3

41,10 52,62 4,52

156 – 306 306 - 424 424 – 466

258 399 446

MF2 Δm1 Δm2

Δm3

25,90 67,28 4,64

167 – 302 302 - 423 423 – 487

260 372 446

10 20 30 40 50 60 70 80

AE

2

AE rec.

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

Page 60: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

60

10 20 30 40 50 60 70 80

2

25°

28°

20°

23°

MO

23°

25°

23°

MF120°

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

28°

25°

28°

MF2

22°

AE

Os difratogramas de raios-X referentes ao AE, MO, MF1 e MF2 estão

apresentados na Figura 12. A MO apresentou halos de difração a um ângulo de

2θ, em 20 e 23°. Já no MF1 foi possível observar que houve uma sobreposição

entre os perfis de difração do AE e da MO, com predominância dos picos

apresentados no AE e a presença de uma porção amorfa em 20°, a qual não está

presente no difratograma do lipídeo sólido puro. Segundo Attama e colaboradores

(2008), isso mostra que a matriz lipídica formada apresenta uma desordem e

menor cristalinidade da matriz lipídica em relação ao lipídeo sólido AE, altamente

ordenado.

Com adição do Phospholipon® 90G (MF2) foi também possível observar

que houve uma sobreposição entre os perfis de difração dos três componentes da

mistura, porém com uma menor intensidade em relação ao AE puro e a presença

de uma porção amorfa em 22°. Ou seja, a MF2 promoveu uma maior desordem

da matriz lipídica do que aquela encontrada na MF1. Esses dados podem ser

correlacionados com aqueles encontrados no DSC em que foi possível observar

um deslocamento dos eventos endotérmicos de fusão em relação ao lipídeo

sólido (MEHNERT; MÄDER, 2012).

Figura 12: Difratograma de raios-X do ácido esteárico (AE); Manteiga Ouratea sp.(MO); Mistura física de ácido esteárico e Manteiga Ouratea sp. (MF1); Mistura física de ácido esteárico, Manteiga Ouratea sp. e Phospholipon® 90G (MF2); na faixa de 10 a 80°.

Page 61: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

61

5.1.2 Determinação da CMC do SDS através de medidas de condutividade

elétrica

A determinação da CMC é um importante parâmetro para estabelecer uma

concentração adequada que seja suficiente, tanto para diminuir a tensão

superficial do sistema quanto para que seja evitada a presença de estruturas

coloidais alternativas indesejáveis, como por exemplo, micelas, na nanodispersão

de CLNs (MEHNERT; MÄDER, 2012).

A CMC do SDS determinada por condutividade elétrica foi obtida através

da intercessão de duas retas. A Figura 13 apresenta a variação da condutividade

em função da concentração de SDS adicionado em água. As duas retas

correspondem ao estado de monômero e micela do tensoativo e o ponto de

intercessão indica o valor da CMC igual a 8,02 mmol L-1. Esse valor está próximo

a CMC obtida através de condutividade elétrica (8,1 mmol L-1) por Moraes e

Rezende (2004).

Figura 13: Variação da condutividade elétrica em função da concentração de SDS adicionado em água a 25°C.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20

0

250

500

750

1000

1250

1500

Co

nd

uti

vid

ad

e (S

/cm

)

[SDS] (mmol L-1)

CMC = 8,02 mmol

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62

5.2 Caracterização dos CLNs

5.2.1 Influência do método de obtenção nos parâmetros de diâmetro médio

de partícula, potencial zeta e propriedades físico-químicas

As condições de preparação das dispersões de CLNs podem influenciar

muito nos parâmetros de distribuição de diâmetro médio de partícula, potencial

zeta e propriedades físico-químicas como pH e condutividade (HEJRI et al.,

2013).

Dessa forma, a Figura 14, apresenta a variação do diâmetro médio de

partícula e IPD em função do tempo sonicação (0, 5 e 10 minutos) na preparação

das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. É possível observar que esses

parâmetros (diâmetro médio e IPD) são pouco alterados pelo método de

sonicação na preparação das formulações dos CLNs.

Figura 14: Variação do diâmetro médio de partícula e IPD (índice de polidispersão) em função do tempo de sonicação nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Não houve diferença estatística significativa no diâmetro médio e IPD das formulações CLN8,

CLN10, CLN24 com o aumento do tempo de sonicação (p>0,05).

O potencial zeta (ξ) das partículas pode ser utilizado para mensurar a carga

da partícula ou repulsão eletrostática. De acordo com a teoria de DLVO, o sistema

pode ser considerado estável, se a repulsão eletrostática dominar as forças

atrativas de Van der Walls. Geralmente, a agregação das partículas tende a

ocorrer menos com altos valores de ξ (>|30| mV), devido a repulsão elétrica (HAN,

0 5 100.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0100

200

300

400

500 CLN8

CLN10

CLN24

Diâ

me

tro

méd

io (

nm

)IP

D

Tempo de sonicação (min)

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63

et al., 2008). A Figura 15 mostra a variação do potencial zeta em função do tempo

sonicação (0, 5 e 10 minutos) na preparação das formulações CLN8, CLN10 e

CLN24. Desta forma, é possível observar que as formulações CLN8 e CLN10

submetidas ao tempo de sonicação de 5 minutos tiveram os valores de potencial

zeta diminuídos. Já a formulação de CLN24 não apresentou diferenças no

potencial zeta em função do tempo de sonicação, provavelmente devido a sua

maior concentração de tensoativo (HEGALSON et al., 2009).

Figura 15: Variação do potencial zeta em função do tempo de sonicação nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Houve diferença estatística significativa no potencial zeta do CLN8 e do CLN10 com o aumento

do tempo de sonicação (p<0,05).

**Não houve diferença estatística significativa no potencial zeta do CLN24 com o aumento do

tempo de sonicação (p>0,05).

A Figura 16 apresenta as variações nos parâmetros físico-químicos de pH

e condutividade das formulações de CLN8, 10 e 24, em função do tempo de

sonicação. Dessa forma, é possível observar que a condutividade das

formulações CLN8, CLN10 e CLN24 não foram alteradas significativamente com o

aumento do tempo de sonicação.

Com relação ao pH (Figura 16), é possível observar uma diminuição a

medida que o tempo de sonicação aumenta. Essa redução pode ser

correlacionada com a diminuição no potencial zeta, ou seja é possível sugerir uma

diminuição na estabilidade coloidal.

0 5 10

-60

-40

-20

0

CLN8*

CLN10*

CLN24**

Tempo de sonicação (min)

Po

ten

cia

l Z

eta

(m

V)

Page 64: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

64

Figura 16: Variação do pH e da condutividade em função do tempo de sonicação nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Houve diferença estatística significativa no pH do CLN8, CLN10, CLN24 com o aumento do

tempo de sonicação (p<0,05).

** Não houve diferença estatística significativa na condutividade do CLN8, CLN10, CLN24 com o

aumento do tempo de sonicação (p>0,05).

Como a sonicação não otimizou os parâmetros de diâmetro médio de

partícula, índice de polidispersão, potencial zeta nas formulações de CLNs

apresentadas como o esperado e além disso promoveu uma diminuição na

estabilidade coloidal. Por essa razão, a sonicação não foi mais utilizada na

preparação dos CLNs para futuras caracterizações.

5.2.2 Influência da concentração do tensoativo SDS nos parâmetros de

diâmetro médio de partícula, potencial zeta e propriedades físico-químicas

A escolha de tensoativos e sua concentração têm um importante impacto

nos parâmetros de diâmetro médio, distribuição e potencial zeta das dispersões

de CLNs (MEHNERT; MÄDER, 2012). A Figura 17 apresenta a variação de

diâmetro médio de partícula e IPD em função da concentração de SDS.

É possível observar que o aumento da concentração de SDS de 8 para 10

mmol L-1 não modificou o diâmetro médio de partícula. No entanto, quando se

aumenta a concentração para 24 mmol L-1, há uma redução significativa no

diâmetro médio da partícula. De acordo com HEJRI e colaboradores (2013) essa

redução de ocorre, pois o aumento da concentração de tensoativo diminui a

tensão superficial do sistema a um nível mínimo. Em relação ao parâmetro de IPD

0 5 104

5

6

7

8

400

600

800

1000

1200 CLN8

pH

Co

nd

.(

S/c

m2)

CLN10

CLN24

Tempo de sonicação (min)

Page 65: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

65

não se observou alteração significativa com o aumento da concentração de

tensoativo.

Figura 17: Variação do diâmetro médio de partícula e IPD (índice de polidispersão) em função da concentração de SDS utilizado nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Houve diferença estatística significativa no diâmetro médio com o aumento da concentração de

SDS para 24 mmol L-1 (p<0,05).

**Não houve diferença estatística significativa no diâmetro médio com o aumento da concentração

de SDS de 8 para 10 mmol L-1 (p>0,05).

***Não houve diferença estatística significativa no IPD com o aumento da concentração de SDS

(p>0,05).

A Figura 18 apresenta a variação do potencial zeta em função da

concentração de SDS utilizado. Nessa figura é possível observar que as três

concentrações de SDS (8, 10 e 24 mmol L-1) apresentaram um adequado

potencial zeta (>|30| mV), ou seja, a agregação entre as partículas pôde ser

evitada, mantendo-se a estabilidade coloidal (NNAMANI et al., 2014).

Também é possível observar na Figura 18 um aumento significativo no

potencial zeta com o aumento da concentração de SDS de 8 para 10 mmol L-1.

HELGASON e colaboradores (2009) sugerem que em baixas concentrações de

tensoativo, ou seja, na concentração de 8 mmol L-1, os CLNs talvez não estejam

completamente recobertos em sua superfície por moléculas de tensoativo. A partir

da concentração de 10 mmol L-1 o potencial zeta não é alterado forma

significativa, provavelmente porque a partir desta concentração a superfície dos

CLNs esteja completamente recoberta por moléculas de tensoativo.

8 10 24

0

100

200

300

400

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Diâmetro médioIPD

[SDS] mmol L-1

Diâ

metr

o m

éd

io (

nm

)IP

D

Page 66: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

66

8 10 24

0

5

10

15

0

200

400

600

800

1000

1200

CondutividadepH

[SDS] mmol L-1

pH

Co

nd

.(S

/cm

2)

Figura 18: Variação do potencial zeta em função da concentração de SDS utilizado nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Houve diferença estatística significativa no diâmetro médio com o aumento da concentração de

SDS de 8 para 10 mmol L-1 (p<0,05).

**Não houve diferença estatística significativa no diâmetro médio com o aumento da concentração

de SDS de 10 para 24 mmol L-1 (p>0,05).

Como é possível observar na Figura 19, com o aumento da concentração

do SDS, há um aumento na condutividade do meio. Isso ocorre devido à

característica aniônica do SDS. Já o pH diminui, quando aumenta-se a

concentração de SDS de 8 para 10 mmol L-1, e permanece inalterado quando

aumenta-se a concentração para 24 mmol L-1.

Figura 19: Variação do pH e da condutividade em função da concentração de SDS utilizado nas preparações das formulações CLN8, CLN10 e CLN24. *Houve diferença estatística significativa na condutividade com o aumento da concentração de

SDS e no pH com o aumento da concentração de SDS de 8 para 10 mmol L-1

(p<0,05).

8 10 24

-60

-40

-20

0

[SDS] mmol L-1

Po

ten

cia

l Z

eta

(m

V)

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67

Apesar da concentração de 24 mmol L-1 de SDS influenciar na redução

significativa do diâmetro médio de partícula, não há uma alteração significativa no

potencial zeta, em relação a concentração de 10 mmol L-1. De acordo com

SALIMEN e colaboradores (2014), elevadas concentrações de tensoativos são

indesejáveis nas formulações de CLNs devido a restrições para produtos

alimentícios ou farmacêuticos, bem como seu elevado custo. Dessa forma, a

concentração de 10 mmol L-1 torna-se uma potencial concentração de tensoativo

para a formulação dos CLNs.

5.2.3 Calorimetria exploratória diferencial (DSC)

O DSC é uma técnica que tem sido frequentemente utilizada para

mensurar a perda ou ganho de calor resultante de mudanças físicas ou químicas

de uma amostra em função da temperatura (ZHENG et al., 2013). Além disso, o

DSC constitui de uma importante ferramenta para a interpretação de fenômenos

de fusão e cristalização de nanopartículas lipídicas (RANPISE; KORABU;

GHODAKE, 2014; JENNING; THÜNEMANN; GOHLA, 2000). No caso dos CLNs,

experimentos de DSC são úteis para o entendimento do comportamento da

mistura do lipídeo sólido com um líquido (ZHENG et al., 2013).

Na Figura 20, mostra a curva DSC para o lipídeo sólido AE e os CLNs

obtidos utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10

mmol L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1 (CLN24). Nessa figura é possível observar que

houve uma redução no evento endotérmico dos CLNs, e um aumento da

diferença entre o Tonset e o Tpico (alargamento de pico) em relação ao pico

endotérmico correspondente do lipídeo sólido utilizado. Segundo Mendes e

colaboradores (2013) essa redução representa uma menor cristalinidade.

Page 68: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

68

Figura 20: Curva DSC do lipídeo sólido ácido esteárico (AE), CLNs obtidos utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10 mmol L-1

(CLN10) e 24 mmol L-1, analisadas em atmosfera de N2 (50 mL min-1), com razão de aquecimento 10°C min-1 na faixa de temperatura de 25 a 85 °C.

Com o objetivo de comparar a cristalinidade entre as formulações de CLNs

desenvolvidas, foi utilizado um parâmetro útil, o qual pode ser definido como a

porcentagem de matriz lipídica recristalizada (HAN et al., 2008). Esse parâmetro

pode ser expresso como índice de cristalinidade (IC%) e pode ser calculado

segundo a equação (2):

𝐼𝐶(%) = 𝐸𝑛𝑡𝑎𝑙𝑝𝑖𝑎 𝐶𝐿𝑁

𝐸𝑛𝑡𝑎𝑙𝑝𝑖𝑎 𝑙𝑖𝑝í𝑑𝑒𝑜 𝑠ó𝑙𝑖𝑑𝑜× 100% (2)

A entalpia e IC% do lipídeo sólido AE e dos CLNs foram listados na Tabela

5. O resultado mostra que, comparado com o lipídeo sólido (AE), a cristalinidade

de todas as formulações de CLNs foi menor do que o lipídeo inicial, sendo que a

menor de todas foi o CLN24 que apresentou o menor diâmetro médio de

partícula. Isso indica uma predominância de uma matriz lipídica menos ordenada

nos CLNs (DAS; NG; TAN, 2012; HAN et al., 2008).

Essa matriz lipídica menos ordenada também pode ser atribuída à

diminuição na entalpia e também aumento da largura de pico dos CLNs em

relação ao lipídeo sólido AE. De acordo com Hu e colaboradores (2006), lipídeos

40 60 80

AE

AE

CLN10

CLN8

CLN24

Temperatura (°C)

Flu

xo

de

ca

lor

(mW

)

Endo

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69

semissólidos ou líquidos como a manteiga de Ouratea sp., também contribuem

em uma menor ordenação cristalina da matriz lipídica dos CLNs

Tabela 5: Dados do DSC de Tonset, Tpico de fusão, entalpia (ΔH) e índice de cristalinidade (IC%) dos CLNs obtidos utilizando concentração de tensoativo de 8 mmol L-1 (CLN8), 10 mmol L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1.

Amostra Tonset Tpico Fusão ΔH Entalpia

(J/g)

IC (%)

CLN8 39,8 48,8 22,2 13,5

CLN10 39,0 49,9 23,2 14,1

CLN24 43,3 49,5 7,2 4,4

AE(bulk) 47,7 56,0 164,1 100

5.2.4 Difração de raios X (DRX)

Os CLNs são formados por uma matriz lipídica composta por lipídeos

sólidos, e modificações na sua cristalinidade afetam diretamente a estabilidade

dos CLNs. Além disso, o sistema composto por tensoativos também pode afetar o

processo de formação do cristal (YANG et al., 2013; ZHENG et al., 2013).

A Figura 21 apresenta os difratogramas de raios X do AE e dos CLNs

obtidos utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10

mmol L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1. É possível observar que o ácido esteárico

apresenta três picos de difração principais a um ângulo de 2θ a 23,93°(d= 0,43

nm), 25,09°(d= 0,41 nm), 27,98° (d= 0,37 nm).

Os CLNs apresentaram alguns dos picos de difração principais

encontrados no lipídeo sólido, porém com uma menor intensidade. Segundo

Tamjidi e colaboradores (2014), essa diminuição na intensidade e alargamento

dos picos apresentados no DRX pelos CLNs resulta de uma matriz lipídica menos

ordenada, ou seja, um menor grau de cristalinidade. Esses resultados estão de

acordo com aqueles encontrados no DSC que demonstra uma diminuição no

índice de cristalinidade após a formação dos CLNs

Page 70: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

70

Figura 21: Difração de raios X (DRX) do lipídeo sólido ácido esteárico (AE), CLNs obtidos utilizando concentração de tensoativo SDS de 8 mmol L-1 (CLN8), 10 mmol L-1 (CLN10) e 24 mmol L-1.

5.2.5 Microscopia Eletrônica de Transmissão (MET)

Análises de microscopia eletrônica de transmissão são frequentemente

utilizadas na caracterização de nanopartículas, a respeito do seu tamanho,

distribuição de tamanho e morfologia (DOMINGO; SAURINA, 2012).

A Figura 22 apresenta as imagens das nanodispersões de CLN8, CLN10 e

CLN24 obtidas através do MET. É possível observar que os CLNs apresentam

formato esférico irregular com diâmetro médio de partícula próximo ao obtido

pelas análises de DLS (200 a 300 nm) (SHETE; PATRAVALE, 2013).

Figura 22: Fotomicrografias obtidos a partir de microscopia eletrônica de

transmissão (x10.000) dos CLNs: CLN8 (a), CLN10(b), CLN24(c).

10 20 30 40

20 25 30

AE

CLN8

CLN10

CLN24

AE

CLN8

CLN10

CLN24

2

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

2

a a

b a

c a

Page 71: DESENVOLVIMENTO DE FORMULAÇÃO … · diferenças no potencial zeta em relação a formulação em que foi utilizado 10 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). CLNs apresentaram uma

71

5.3 Caracterização do creme base e creme contendo CLN

5.3.1 Comportamento reológico

A dispersão de CLNs geralmente apresenta baixa viscosidade, sendo este

um inconveniente para aplicação cutânea. Por esse motivo, é sugerida a

incorporação dos CLNs em géis ou cremes para facilitar sua aplicação sobre a

pele (KHURANA; JAIN; BEDI, 2013). No desenvolvimento de formulações

farmacêuticas ou cosméticas para aplicação cutânea, é importante considerar

suas propriedades viscosas ou elásticas (FANG et al., 2008).

Na Figura 23 apresenta o comportamento reológico do creme base e do

creme contendo CLN. É possível observar que para ambas as formulações, o

módulo de armazenagem (G’) é maior (>) que o módulo de perda (G’’), indicando

que as propriedades elásticas se sobrepõem às viscosas. Já o parâmetro

viscosidade complexa (η*), apresentada na Figura 24, mostrou-se dependente da

frequência, ou seja, quanto maior foi a frequência menor foi valor de η*, sendo

esta uma característica de materiais plásticos (JUNYAPRASERT et al., 2009).

Também é possível observar um menor valor de η* para a formulação do creme

contendo CLN. Segundo FANG e colaboradores (2008), formulações contendo

CLN tendem a uma menor viscosidade.

Figura 23: Módulo de armazenagem (G’) e módulo de perda (G’’) em função da frequência referente às amostras de creme base e com CLN (25°C).

0,01 0,1 1 10 100

0,01

0,1

1

10

100

1000

10000

G'G

'' (

Pa)

G' creme c/CLN

Frequência (Hz)

G'' creme c/CLN

0,01 0,1 1 10 100

0,01

0,1

1

10

100

1000

10000

G' creme base

G'G

'' (

Pa)

Frequência (Hz)

G'' creme base

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72

Figura 24: Viscosidade complexa (η*) em função da frequência referente às amostras de creme base e com CLN (25°C).

5.3.2 Efeito oclusivo

Na maioria dos produtos cosméticos, são empregadas substâncias

oclusivas, geralmente oleosas como a manteiga, que visam o aumento da

hidratação da pele. Essas substâncias quando aplicadas sobre a pele formam

uma barreira lipídica que impede a perda de água transepidermal e

consequentemente aumentam o conteúdo de água do estrato córneo (BAREL;

PAYE, MAIBACH, 2009; BAUMANN, 2009; VIEIRA, 2008).

Diante disso o efeito oclusivo é um parâmetro importante nas formulações

cosméticas que utilizam substâncias oclusivas que melhoram a hidratação

cutânea. Esse efeito pode ser calculado pelo fator de oclusão que varia de 0-

100%, sendo 0% o fator que não ocorre oclusão (controle) e 100% quando obtêm

a máxima oclusão, porém o efeito máximo é indesejável prejudica "o acesso de

oxigênio" para a pele a partir do ar (SOUTO, MÜLLER, 2008).

A Figura 25 apresenta o fator de oclusão do CLN10, do creme base e do

creme contendo CLN10 obtido a partir do método de Vringer in vitro. De acordo

com Teeranachaideekul e colaboradores (2008), o fator de oclusão depende do

volume de amostra, diâmetro médio de partícula, cristalinidade, concentração

0,01 0,1 1 10 100

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

Creme base

Frequência (Hz)

Creme c/CLN

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lipídica e do tipo de sistema coloidal. Dessa forma, o que pode ser observado na

Figura 25 é que houve um aumento da oclusão com a incorporação dos CLN

desenvolvido em relação ao creme base e o CLN10 (MÜLLER et al.,2007).

Figura 25: Fator de oclusão (%) do CLN10, do creme base e do creme contendo CLN10 em função do tempo (h) 6, 24 e 48h realizados a 30°C ± 2 mimetizando a temperatura da pele. * Houve diferença estatística significativa no fator de oclusão das amostras CLN10, Creme base,

Creme c/CLN (p<0,05).

5.3.3 Estudo de interação com modelo de estrato córneo e avaliação da

hidratação

O estudo de interação com modelo de estrato córneo por DSC (Tabela 9)

forneceram resultados importantes de Tpico e ΔH para sugerir a hidratação

cutânea. A amostra tratada com as três amostras (CLN10, creme base e creme

c/CLN) demonstrou uma diminuição na Tpico em relação à pele de cobra não

tratada (Tabela 6). Segundo Takaoka e colaboradores (2010), essa diminuição na

Tpico pode sugerir que o conteúdo de água está localizado na superfície da pele.

Já a entalpia representa a quantidade de calor necessária para que haja a

evaporação da água presente na amostra e/ou a fusão da sua estrutura cristalina.

Então, pode-se sugerir que quanto maior a entalpia, mais elevada é a quantidade

de água presente na amostra. Na Tabela 6, é possível observar um aumento na

CLN10 Creme base Creme c/CLN0

10

20

30

40

50

6h

24h

48h

Fato

r d

e o

clu

são

(%

)

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entalpia nas amostras tratadas em relação à pele sem tratamento, sendo este

mais pronunciado na amostra tratada com o creme contendo CLN. Nesse sentido,

é possível sugerir um aumento na hidratação cutânea com a incorporação do CLN

contendo manteiga de Ouratea sp..

Tabela 6: Avaliação da hidratação do modelo estrato córneo tratado e não tratado com CLN10, creme base e creme contendo CLNs através do DSC.

Amostra T pico(°C) ΔHcalculado(J/g)

Sem

tratamento 106,93 112,32

CLN10 61,23 126,81

Creme base 80,31 287,29

Creme c/CLN 76,36 296,18

Tpico (Temperatura de pico); Tonset (Temperatura onset) e Δ Hcalculado (Entalpia).

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6 CONCLUSÃO

De modo geral, os CLNs contendo Manteiga Ouratea sp. foram

desenvolvidos e apresentaram diâmetro médio entre 200 a 300 nm nas análises

de DLS e MET. Foi possível sugerir a utilização da concentração de 10 mmol L-1

de tensoativo SDS nas formulações de CLNs, tendo em vista que não houve

diferença significativa (p>0,05) no potencial zeta em relação a formulação que foi

utilizado 24 mmol L-1 of SDS (~ -50 mV). Após a incorporação do CLN10 no

creme base, foi possível observar um aumento no efeito oclusivo e na hidratação

cutânea. Dessa forma os CLNs contendo manteiga de Ouratea sp. podem ser

uma alternativa nanotecnológica atrativa para o aumento da hidratação cutânea.

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APÊNDICE A – RESUMO ACEITO E CONVIDADO PARA APRESENTAÇÃO ORAL NO IX CONGRESSO BRASILEIRO DE ANÁLISE TÉRMICA E CALORIMETRIA (SERRA NEGRA-2014)

Efeito da manteiga de Ouratea sp. na cristalinidade de lipídeos sólidos utilizados em sistemas carreadores lipídicos

nanoestruturados

Juliana G. Galvão 1, Gabriela G. G. Trindade 1, Adriana J. Santos1, Joyce K. M. C. Gonsalves1, Rogéria S. Nunes1

1 Departamento de Farmácia da Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, Brasil, [email protected] RESUMO O objetivo deste trabalho foi avaliar o efeito da manteiga de Ouratea sp. na cristalinidade de lipídeos sólidos utilizados em sistemas carreadores lipídicos nanoestruturados. Os lipídeos sólidos tais como, ácido esteárico (AE), cera de abelha (CA) e cera de carnaúba (CC) foram submetidos ao processo de recristalização (aquecimento-resfriamento). Além disso, misturas físicas binárias foram preparadas entre os lipídeos sólidos AE, CA, CC e a manteiga de Ouratea sp. (MO) na proporção de 1:1 (p/p) através do aquecimento dos componentes acima da temperatura de fusão seguido de resfriamento a temperatura ambiente. Após este procedimento as amostras foram caracterizadas por Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e Termogravimetria (TG) e Difração de raios-X (DRX). Através das caracterizações foi possível observar que mesmo após recristalização os lipídeos mantiveram sua estrutura cristalina. As curvas de DSC apresentaram um deslocamento do ponto de fusão para menores temperaturas, nas misturas lipídicas com MO. Os dados de TG sugeriram uma diminuição na estabilidade térmica nas misturas lipídicas contendo AE e CC e um aumento da estabilidade da mistura contendo CA. Por fim, os dados de DRX confirmaram os resultados de DSC, pois mostraram uma diminuição na intensidade dos picos principais de difração nas misturas lipídicas e a presença de uma porção amorfa a um ângulo em 2θ: 22°. Esses resultados sugerem que a misturas lipídicas com MO apresenta uma menor cristalinidade e espera-se que essa porção amorfa facilite a incorporação de fármacos, por exemplo. Palavras-chave: Manteiga Ouratea sp., lipídeos sólidos, cristalinidade, análise térmica.

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ABSTRACT The aim of this work was to evaluate the effect of Ouratea sp. butter on crystallinity of solid lipids used in nanostructured lipid carriers systems. The solid lipids such as, stearic acid (SA), beeswax (BW) and carnauba wax (CW) were submitted to recrystallization process (heating-cooling). Moreover, binary mixtures between solid lipids and Ouratea sp. butter (OB) were prepared in ratio 1:1 (w/w) by heating of the components above the melting point followed by cooling at room temperature. After this procedure, the samples were characterized by Differential Scanning Calorimetry (DSC), Thermogravimetry (TG) and X ray Diffraction (XRD). From the characterizations was possible to observe that after heating-cooling process the lipids preserved its crystalline structure. DSC curves showed a shift of the melting point to lower temperatures in the lipid mixtures with OB. TG data suggested a thermal stability reduction in the lipid mixtures containing SA and CW and an increase thermal stability in the mixture containing BW. Finally, XRD data confirmed DSC results, showing a reduction in intensity of main diffraction peaks of the lipid mixtures and a presence of the amorphous portion in angle 2θ: 22°. These results suggest that lipid mixtures with OB present a lower crystallinity and it is expected that amorphous portion facilitates drug incorporation, for example. Keywords: Ouratea sp. butter, solid lipids, crystallinity, Thermal analysis. INTRODUÇÃO A busca por matérias-primas inéditas de origem natural pela indústria

farmacêutica e cosmética vem se intensificando ao longo das décadas (1).

Recentemente observou-se no interior do Rio Grande do Norte, a utilização por

populares das sementes de uma árvore da espécie Ouratea sp., que após um

processamento rudimentar de extração obtinha-se uma manteiga, utilizada para

alimentação. Essa é composta predominantemente por gorduras insaturadas e

saturadas, e entre essas gorduras encontram-se os ácidos graxos essenciais de

maior porcentagem, como por exemplo, o ácido oleico, palmítico e o ácido

linoleico. Dentre suas funções os ácidos graxos essenciais, podem atuar como

potencial emoliente, o qual melhora a função barreira do estrato córneo,

impedindo a perda transepidermal de água, favorecendo a hidratação cutânea

(2,3).

Dessa forma, a manteiga de Ouratea sp. torna-se um potencial

componente lipídico no desenvolvimento de Carreadores Lípidicos

Nanoestruturados (CLNs). A segunda geração de nanopartículas lipídicas, os

CLNs que consistem de partículas de tamanho nanométrico obtidas através de

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uma mistura de lipídeo sólido e lipídeo líquido ou semissólido dispersos em uma

solução de tensoativos, permanecendo sólidos à temperatura ambiente e corporal

(4,5).

O interesse pelo uso de CLNs inclui a proteção contra a degradação

química de substâncias lábeis, controle da liberação de substâncias, aumento da

estabilidade de fármacos, baixa toxicidade, fácil esterilização e transposição em

larga escala, biocompatibilidade, além da formação de filmes sobre a pele

demonstrando propriedades oclusivas e hidratantes (5–8).

A seleção de uma mistura lipídica é uma etapa crucial para a produção de

CLNs com características físico-químicas adequadas para sua aplicação. Têm

sido reportado que a mistura lipídica tem um significante impacto na estabilidade

química de substâncias bioativas (9,10).

Na seleção dos lipídeos utilizados para o desenvolvimento de CLNs é

necessário considerar a compatibilidade do lipídeo sólido com o líquido, ou seja,

deve ocorrer a miscibilidade entre eles. Kasongo e colaboradores (11) utilizaram a

Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC) e um papel hidrofílico para determinar

a miscibilidade entre lipídeos sólido e líquido. Também deve ser considerada a

estabilidade em relação a degradação química (oxidação e lipólise) da fase

lipídica. Além disso, os lipídeos devem ser biodegradáveis, não tóxicos e capazes

de produzir partículas na escala nanométrica (7,12).

O objetivo deste estudo é avaliar o efeito da manteiga Ouratea sp. na

cristalinidade de lipídeos sólidos necessários para a formação de CLNs, por

Calorimetria Exploratória Diferencial (DSC), Termogravimetria (TG) e Difração de

raios X (DRX).

MATERIAL E MÉTODOS Material. O ácido esteárico, a cera de abelha e a cera de carnaúba foram

adquiridos da Dinâmica®. A manteiga de Ouratea sp. foi produzida pela Raros

Naturals® (Macaíba/RN Brasil).

Preparação das amostras. Os lipídeos sólidos (ácido esteárico - AE, cera de

abelha- CA e cera de carnaúba- CC), foram aquecidos separadamente e

resfriados (processo de recristalização) e foram enviados antes e após a

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recristalização para as caracterizações. As misturas físicas binárias entre os

lipídeos sólidos AE, CA, CC e a manteiga de Ouratea sp. foram preparadas na

proporção de 1:1 através do aquecimento dos componentes da mistura e

posterior resfriamento. Após este procedimento as misturas foram acondicionadas

adequadamente e enviadas para as caracterizações.

Caracterização: Calorimetria exploratória diferencial (DSC). As curvas DSC

foram obtidas utilizando DSC 2010 TA Instruments, onde as amostras de

aproximadamente 2 mg foram colocadas em porta amostra de alumínio. As

análises foram realizadas na faixa de 25ºC a 200ºC, sob razão de aquecimento de

10ºC min-1 e atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1).

Termogravimetria (TG). As curvas TG foram obtidas utilizando equipamento TA

Instruments TG/DTA 2960 SDT, na faixa de temperatura de 25 - 800°C, sob razão

de aquecimento de 10°C min-1 e atmosfera dinâmica de nitrogênio (50 mL min-1).

As amostras foram colocadas em porta amostra de platina contendo

aproximadamente 10 mg.

Difração de raios X (DRX). As medidas de difração de raios X foram realizadas

em difratômetro Rigaku com tubo de cobalto (λ = 1,79 Å), empregando voltagem

de 40 kV e corrente de 30 mA. As medidas foram realizadas no intervalo 10° a

80°, com varredura em etapas de 0,02º e velocidade de varredura de 1° min-1.

RESULTADOS

DSC é uma técnica de grande importância para caracterização das

matérias-primas para formulação de CLNs, fornecendo informações relacionadas

ao estado físico e grau de cristalinidade da amostra, através do comportamento

térmico. Essa técnica também permite avaliar os principais parâmetros de

processo utilizados na obtenção dos CLNs, uma vez que a mistura lipídica é

aquecida e depois resfriada (recristalizada) para a formação dos CLNs (13).

Baseado no processo de produção dos CLNs, o lípideo sólido utilizado passou

pelo processo de recristalização (aquecimento-resfriamento) para que fossem

avaliadas possíveis modificações durante o processo de produção dos CLNs.

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90

Fig. 1 Curva de DSC antes (linha pontilhada) e após (linha cheia)

processo de recristalização do ácido esteárico (a), cera de abelha

(b) e cera de carnaúba (c).

Fig. 2 Curva de DSC da manteiga de Ouratea sp.(d), misturas

físicas: manteiga + ácido esteárico (e), manteiga + cera de abelha

(f), manteiga + cera de carnaúba (g).

As curvas DSC referentes aos lipídeos sólidos antes e após recristalização

estão apresentadas na Figura 1. O AE apresenta um pico endotérmico na faixa de

temperatura entre 40 e 65°C (Tpico ~ 57°C), o qual está relacionado ao seu ponto

de fusão (14,15). Também na Figura 1 é possível observar a curva DSC do AE

após o processo de recristalização, o qual não apresentou alterações

significativas na temperatura de fusão (57°C). Segundo Desai, Kothari e Huang

(16) isso ocorre devido à habilidade do ácido esteárico em voltar a sua forma

cristalina original após o processo de recristalização. Assim como o AE, a CA e a

CC não apresentaram alterações na temperatura de fusão (Tpico ~ 63 e 82°C

respectivamente) após o processo de recristalização (17,18). Isso possibilita a

utilização desses lipídeos sólidos para obtenção de CLNs (19). Sendo que para a

CC, devido a sua elevada temperatura de fusão em relação aos outros dois

lipídeos sólidos, sua utilização pode ser limitada para algumas metodologias de

preparação de CLNs, como por exemplo, o método de difusão do solvente.

Na Figura 2 é possível observar que a manteiga de Ouratea sp. apresenta

4 picos endotérmicos: 1° na faixa de temperatura de 30 - 40°C (Tpico ~ 35°C), 2°

na faixa de 40 - 50°C (Tpico ~ 48°C), 3° na faixa de 50 – 68°C (Tpico ~ 60°C) e 4° na

faixa de 70 – 80°C (Tpico ~ 75°C) correspondentes a complexa composição de

ácidos graxos essenciais e não essenciais presentes.

50 100 150 200

a

b

c

Flu

xo

de c

alo

r (m

W)

Temperatura (°C)

82

Endo

58

63

50 100 150 200

d

e

f

Temperatura (°C)

Flu

xo

de c

alo

r (m

W)

3548 60 75

34

80

g

Endo

30

58

34

50

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A curva DSC da mistura física entre AE e manteiga (e) mostra uma

sobreposição das curvas dos dois componentes isolados, onde o pico

endotérmico de fusão do AE sofreu leve deslocamento para menor temperatura

(Tpico ~ 50°C), e apresenta um pico endotérmico em 34°C referente ao pico

presente na Manteiga levemente deslocado, também para uma menor

temperatura. Já a curva DSC da mistura entre a CA e manteiga (f) apresentou

também uma sobreposição entre os componentes, em que o pico endotérmico de

fusão da CA sofreu um leve deslocamento para menor temperatura (Tpico ~ 58°C),

e apresenta um pico endotérmico em 30°C referente ao pico presente na

Manteiga levemente deslocado. Na mistura física entre CC e manteiga (g)

também foi possível observar uma sobreposição em que o pico da CC foi

levemente deslocado para 80°C, além de apresentar outro pico endotérmico

referente à manteiga (34°C). Esses deslocamentos para menores temperaturas

de fusão nas misturas físicas podem sugerir que a manteiga de Ouratea sp.

promoveu uma desordem cristalina na matriz lipídica (20). Segundo Villalobos-

Hernandez e Müller-Goymann (17), isso ocorre devido a presença de um lipídeo

semissólido ou líquido, o qual impede a completa reordenação da estrutura

cristalina dos lipídeos sólidos.

As Curvas TG referentes aos lipídeos sólidos antes e após recristalização

estão apresentadas na Figura 2. A Figura 2 representa a variação de massa das

amostras dos lipídeos sólidos (AE, CA, CC) antes e após a recristalização. O AE

apresentou duas perdas de massa, a primeira no intervalo de temperatura de

161 – 306°C (Δm1 = 79,63% Tpico DTG ~ 267°C) característica de decomposição

do AE e a segunda no intervalo de 306 - 410°C (Δm2 = 16,56% Tpico DTG ~

380°C) (14,15). A CA apresentou apenas uma perda de massa no intervalo de

180 – 480°C (Δm1 = 99,5% Tpico DTG ~ 396,7°C). A CC apresentou apenas uma

perda de massa no intervalo de 250 – 500°C (Δm1 = 98,5% Tpico DTG ~ 426,1°C).

Mesmo após o processo de recristalização dos lipídeos sólidos, estes não

apresentaram alterações significativas na sua degradação térmica (21).

A MO apresentou duas perdas de massa, a primeira no intervalo de

temperatura de 240 – 270°C (Δm1 =1,21% e Tpico DTG ~ 259°C) e a segunda no

intervalo de 300 - 483°C (Δm2 =97,06% e Tpico DTG ~ 414°C). Na curva TG da

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Fig. 3 Curva de TG antes (linha pontilhada) e após (linha cheia)

processo de recristalização do ácido esteárico (a), cera de abelha

(b) e cera de carnaúba (c).

Fig. 4 Curva de TG da manteiga de Ouratea sp.(d),

misturas físicas: manteiga + ácido esteárico (e),

manteiga + cera de abelha (f), manteiga + cera de

carnaúba (g).

mistura MO e AE foi possível observar três perdas de massa: 1° na faixa de

temperatura de 156 – 306°C (Δm1 =41,10% e Tpico DTG ~ 258°C), 2° na faixa de

306 – 424°C (Δm2 =52,62% e Tpico DTG ~ 399°C) e 3° na faixa de 424 – 466°C

(Δm3 =4,52% e Tpico DTG ~ 446°C). A mistura de MO e CA e a mistura de MO e

CC apresentaram apenas um evento de perda de massa respectivamente no

intervalo 180 – 480°C (Δm1 = 99,5% Tpico DTG ~ 409°C) e no intervalo de

250 – 500°C (Δm1 = 98,5% Tpico DTG ~ 410,0°C). Esses dados sugerem uma

diminuição na estabilidade térmica na mistura lipídica contendo CC e um aumento

da estabilidade da mistura contendo AE e CA, se comparado com os resultados

obtidos pelos lipídeos sólidos puros (21).

Os difratogramas de raios X referentes aos lipídeos sólidos antes e após

recristalização estão apresentados na Figura 5. Os lipídeos sólidos (AE, CA e CC)

apresentaram picos principais de difração a 2θ de AE (23,87°; 25,00°; 27,92°), CA

(22,55°; 25,14°; 28,04°) e CC (25,28°; 27,92°). É possível observar que não houve

diferenças nos picos principais dos lipídeos sólidos antes e após a recristalização,

confirmando os dados obtidos por DSC.

A MO apresentou halos de difração a um ângulo de 2θ, em 20 e 23°. Já

nas misturas entre a MO e os lipídeos sólidos foi possível observar que houve

uma sobreposição entre os perfis de difração, com predominância dos picos

100 200 300 400 500 600 700 800

a

b

Pe

rda

de

ma

ss

a (

%)

c

Temperatura(°C)

100 200 300 400 500 600 700 800

Temperatura(°C)

Pe

rda

de

ma

ss

a (

%)

d

f

g

e

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Fig. 5 Difração de raios X antes (linha pontilhada) e após (linha cheia)

processo de recristalização do ácido esteárico (a), cera de abelha (b) e

cera de carnaúba (c).

Fig. 6 Difração de raios X da manteiga de Ouratea sp.(d),

misturas físicas: manteiga + ácido esteárico (e), manteiga + cera

de abelha (f), manteiga + cera de carnaúba (g).

apresentados pelo lipídeo sólido. Sendo que as misturas apresentaram uma

pequena porção amorfa em aproximadamente a um ângulo de 2θ em 22°, a qual

não está presente nos lipídeos sólidos puros. De acordo com Attama e

colaboradores (22), isso mostra que a matriz lipídica formada apresenta uma

menor cristalinidade e espera-se que essa porção amorfa facilite a incorporação

de fármacos, por exemplo. Além disso, há uma diminuição na intensidade dos

picos principais de difração nas misturas lipídicas com a MO em relação aos

apresentados pelos lipídeos sólidos que são altamente ordenados. Esses

resultados confirmam os dados obtidos no DSC em que as misturas lipídicas

apresentaram um deslocamento da temperatura de fusão para valores menores

do que aqueles apresentados pelos lipídeos sólidos puros.

CONCLUSÃO

Baseado nos resultados obtidos nesse trabalho é possível concluir que

mesmo após recristalização os lipídeos mantiveram sua estrutura cristalina e que

a manteiga Ouratea sp. foi capaz de diminuir a cristalinidade dos lipídeos sólidos

em questão AE, CA e CC. Através do DSC foi possível observar que as misturas

lipídicas apresentaram um deslocamento do ponto de fusão para menores

temperaturas, em relação aos lipídeos sólidos puros. Os dados de TG sugerem

uma diminuição na estabilidade térmica nas misturas lipídicas contendo AE e CC

10 20 30 40 50 60 70 80

d

e

2

Inte

ns

ida

de

(u

.a.)

f

g

10 20 30 40 50 60 70 80

Inte

ns

ida

de

(u

.a.) a

b

c

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94

e um aumento da estabilidade da mistura contendo CA se comparado com os

resultados obtidos pelos lipídeos sólidos puros. Por fim, os dados de DRX

mostraram uma diminuição na intensidade dos picos principais de difração nas

misturas lipídicas com a MO em relação aos apresentados pelos lipídeos sólidos

que são altamente ordenados e a presença de uma porção amorfa a um ângulo

em 2θ de 22°. Esses resultados confirmam os dados obtidos no DSC em que as

misturas lipídicas apresentaram um deslocamento da temperatura de fusão para

valores menores do que aqueles apresentados pelos lipídeos sólidos puros. Isso

sugere que a matriz lipídica formada apresenta uma menor cristalinidade e

espera-se que essa porção amorfa facilite a incorporação de fármacos, por

exemplo.

AGRADECIMENTOS A CAPES, FAPERN e o CNPq pelo apoio financeiro. REFERÊNCIAS 1. Duber-Smith DC, Chang YH, Olson AB, Rosholt AP, Api AM, Vey M, Ugurlayan AM, Srinivasan

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